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Estocagem Subterrânea de Gás Natural:

Um estudo do potencial dos campos depletados da Bacia do

Recôncavo

Camilo Guimarães Lima

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia de Petróleos

Orientador: Professor Doutor Amílcar de Oliveira Soares

Júri

Presidente: Professor Doutor António Jorge Gonçalves de Sousa

Orientador: Professor Doutor Amílcar de Oliveira Soares

Vogal: Professora Doutora Maria Matilde Mourão de Oliveira Carvalho

Horta Costa e Silva

Junho, 2014

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I

Agradecimentos

Ao Professor Amílcar Soares, por sua orientação e apoio, e à Professora Maria João, por sua ajuda e

atenção ao longo dos últimos dois anos.

À Mabel e à Dona Socorro.

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II

Resumo

Este trabalho teve como objetivo principal estudar o potencial dos campos depletados da Bacia do

Recôncavo, localizados no estado da Bahia na região Nordeste do Brasil, para serem transformados

em Estocagem Subterrânea de Gás Natural (ESGN). O estudo ateve-se na abordagem dos aspectos

geológicos e técnicos destes reservatórios, onde se criaram as bases teóricas, preliminares, para a

avaliação do potencial dos campos estudados. A pesquisa incluiu uma análise quantitativa e

qualitativa das reservas, da produção, do consumo e dos principais mercados de gás natural do

mundo (Estados Unidos da América, Canadá, Rússia, Alemanha, Itália e França). Esta abordagem

teve como intuito conhecer a dinâmica destes mercados maduros e fazer o aporte das características

que mais se assemelhavam e adaptavam ao mercado incipiente de gás natural do Brasil. Concluiu-

se que o mercado brasileiro comporta a instalação de uma unidade de Estocagem Subterrânea de

Gás Natural (ESGN) junto aos centros consumidores e industriais e que esta se torna cada vez mais

fundamental para garantir o fornecimento contínuo de gás natural às usinas termelétricas existentes,

além de aumentar a eficiência da rede de gasodutos e possibilitar o melhor ajuste da produção, do

transporte e do processamento, além de balancear a oferta e a demanda de gás natural. O estudo,

também, constatou que apesar da inexistência de uma estrutura para o armazenamento geológico de

gás natural em território brasileiro, já existe o arcabouço regulatório para o desenvolvimento da

atividade no Brasil.

Palavras-Chave: Estocagem Subterrânea; Gás natural; Campos Depletados; Bacia do Recôncavo.

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III

Abstract

This work aimed to study the potential of the depleted fields of Reconcavo Basin, located in the state

of Bahia in Northeast from Brazil, to be transformed into the Underground Natural Gas Storage. The

study analysed the geological and technical aspects of these reservoirs, and it created the initial

theoretical bases for the evaluation of these fields. The research included a quantitative and

qualitative analysis of reserves, production, consumption and main natural gas markets of the world

(United States of America, Canada, Russia, Germany, Italy and France). This approach had the

intention to understand the dynamics of these mature markets and capture the contribution of these

features that most resembled and adapted to the immature natural gas market in Brazil. It was

concluded that the Brazilian market requires the installation of a unit of Underground Natural Gas

Storage close to the consumer and industrial centers and that it becomes increasingly important to

ensure the continuous supply of natural gas to existing power plants, besides increasing the efficiency

of the pipeline network and also organizing the production, the transport and the processing, in

addition to balancing supply and demand for natural gas. The study also found that despite the lack of

a framework for the geological storage of natural gas in Brazilian territory, the regulatory framework

already exists for the development of activity in Brazil.

Keywords: Underground Storage; Natural Gas; Depleted Fields; Reconcavo Basin.

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IV

Índice

1 Introdução ................................................................................................................................ 1

1.1 Objetivo............................................................................................................................ 2

1.2 Justificativa ...................................................................................................................... 3

2 O gás natural ............................................................................................................................ 4

2.1 Definição .......................................................................................................................... 5

2.2 Reservas, produção e consumo mundial .......................................................................... 6

2.3 Geração de energia elétrica a partir do gás natural ......................................................... 10

2.4 Impactos ambientais da geração de energia elétrica ....................................................... 11

2.5 Aplicações não energéticas do gás natural ..................................................................... 11

2.6 A convergência entre a indústria do gás natural e da energia elétrica ............................. 12

3 Segurança do suprimento de gás natural ............................................................................. 13

3.1 Diversificação de fornecedores ....................................................................................... 13

3.2 Utilização do gás natural liquefeito (GNL) ....................................................................... 16

3.3 Estocagem de Gás Natural em Formações Geológicas .................................................. 17

4 Estocagem Subterrânea de Gás Natural (ESGN) .................................................................. 18

4.1 Características da ESGN................................................................................................ 18

4.2 Tipos de ESGN .............................................................................................................. 19

4.2.1 Cavernas salinas ............................................................................................... 19

4.2.2 Reservatórios depletados de gás natural e de petróleo ...................................... 20

4.2.3 Aquíferos ........................................................................................................... 20

4.2.4 Minas desativadas ............................................................................................. 21

4.2.5 Cavernas de rochas alinhadas ........................................................................... 22

4.3 Custos ........................................................................................................................... 22

4.4 A ESGN no mundo ......................................................................................................... 23

4.4.1 Estados Unidos da América ............................................................................... 25

4.4.2 Canadá .............................................................................................................. 27

4.4.3 Alemanha .......................................................................................................... 29

4.4.4 França ............................................................................................................... 30

4.4.5 Itália ................................................................................................................... 31

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V

4.4.6 Rússia ............................................................................................................... 31

5 A Estocagem Subterrânea de Gás Natural no Brasil ............................................................ 34

5.1 Objetivos estratégicos da ESGN no Brasil ..................................................................... 35

5.2 A infraestrutura de transporte de gás natural .................................................................. 36

5.3 Prospecção de estruturas geológicas com potencial para ESGN .................................... 38

5.3.1 Bacia do Paraná ................................................................................................ 39

5.3.1.1 Enquadramento Geológico ..................................................................... 39

5.3.2 Bacia do Recôncavo ......................................................................................... 41

5.3.2.1 Enquadramento Geológico ..................................................................... 43

5.4 A ESGN e a questão da flexibilidade na indústria do GN no Brasil ................................. 44

5.5 A regulação da indústria de GN e da ESGN no Brasil ..................................................... 45

6 Potencial dos campos depletados do Recôncavo baiano para a ESGN ............................. 47

6.1 A Bacia do Recôncavo ................................................................................................... 48

6.1.1 Estratigrafia e Arcabouço estrutural .................................................................... 48

6.1.2 Evolução tecno-sedimentar ................................................................................ 50

6.1.3 Sistemas petrolíferos ......................................................................................... 51

6.2 Reservatórios depletados no Recôncavo Baiano ............................................................ 54

6.2.1 Dias D’Ávila ....................................................................................................... 54

6.2.1.1 Aspectos geológicos e petrofísicos ......................................................... 55

6.2.1.2 Histórico de produção ............................................................................ 56

6.2.1.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN..................................... 57

6.2.2 Fazenda Gameleira............................................................................................ 57

6.2.2.1 Aspectos geológicos e petrofísicos ......................................................... 57

6.2.2.2 Histórico de produção ............................................................................ 59

6.2.2.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN..................................... 60

6.2.3 Lagoa verde ....................................................................................................... 60

6.2.3.1 Aspectos geológicos e petrofísicos ......................................................... 61

6.2.3.2 Histórico de produção ............................................................................ 62

6.2.3.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN..................................... 63

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VI

6.2.4 Vale do Quiricó .................................................................................................. 63

6.2.4.1 Aspectos geológicos e petrofísicos ......................................................... 64

6.2.4.2 Histórico de produção ............................................................................ 66

6.2.4.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN..................................... 66

6.2.5 Miranga Leste .................................................................................................... 67

6.2.5.1 Aspectos geológicos e petrofísicos ......................................................... 67

6.2.5.2 Histórico de produção ............................................................................ 69

6.2.5.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN..................................... 70

6.2.6 Fazenda Azevedo Oeste .................................................................................... 70

6.2.6.1 Aspectos geológicos e petrofísicos ......................................................... 71

6.2.6.2 Histórico de produção ............................................................................ 73

6.2.6.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN..................................... 74

6.2.7 Beija-Flor ........................................................................................................... 75

6.2.7.1 Aspectos geológicos e petrofísicos ......................................................... 75

6.2.7.2 Histórico de produção ............................................................................ 76

6.2.7.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN..................................... 77

6.2.8 Caracatu ............................................................................................................ 77

6.2.8.1 Aspectos geológicos e petrofísicos ......................................................... 77

6.2.8.2 Histórico de produção ............................................................................ 78

6.2.8.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN..................................... 79

6.3 Localização e infraestrutura de transporte ...................................................................... 79

6.4 Potencial de armazenamento subterrâneo ...................................................................... 81

7 Conclusões ............................................................................................................................ 84

8 Referências ............................................................................................................................ 85

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VII

Índice de Figuras

Figura 1 – Oferta interna de energia no Brasil (MME, 2013) ............................................................... 4

Figura 2 – Oferta interna de energia elétrica (MME, 2013) ................................................................ 5

Figura 3 – Histórico das reservas por região (trilhões de m³) (BP Global, 2013) ................................ 6

Figura 4 – Histórico da produção por região (bilhões de m³) (BP Global, 2013) ................................. 8

Figura 5 – Reservas provadas de GN no Brasil (bilhões de m³) (ANP/SDP; MME, 2006) .................. 9

Figura 6 – Distribuição geográfica das reservas brasileiras de gás natural em 2013 (bilhões de m³)

(ANP, 2013) .................................................................................................................................... 9

Figura 7 – Demanda por energia primária no mundo (EIA, 2013 (adaptado)) .................................. 10

Figura 8 – Cadeias das indústrias de GN e EE (Petrobras, 2006 (adaptado)).................................. 12

Figura 9 – Custos das ESGN (Foh et al., 1979 (adaptado)) ............................................................. 23

Figura 10 – Tipos de ESGN nos EUA e o volume de gás de trabalho por tipo de instalação (IEA, 2013

(adaptado)) ..................................................................................................................................... 26

Figura 11 – Localização das estocagens subterrâneas (IEA, 2013 (adaptado)) ............................... 26

Figura 12 – Tipos de ESGN no Canadá e o volume de gás de trabalho por tipo de instalação (IEA,

2012 (adaptado)) ............................................................................................................................ 28

Figura 13 – Gás natural armazenado no Canadá (Canadian Gas Association, 2013) ...................... 28

Figura 14 – Tipos de ESGN na Alemanha e o volume de gás de trabalho por tipo de instalação (IEA,

2012 (adaptado)) ............................................................................................................................ 29

Figura 15 – Tipos de ESGN na França e o volume de gás de trabalho por tipo de instalação (IEA,

2012 (adaptado)) ............................................................................................................................ 30

Figura 16 – Tipos de ESGN na Rússia (Gazprom, 2014 (adaptado))............................................... 32

Figura 17 – Localização das ESGNs na Rússia (http://www.gazprom.com/, 2014 (adaptado)) ........ 33

Figura 18 – Gasodutos de transporte (ABEGÁS, 2014) ................................................................... 38

Figura 19 – Mapa de localização da Bacia do Paraná (Milani, 1997) ............................................... 40

Figura 20 – Seção geológica da Bacia do Paraná. Sentido da esquerda para direita: NW-SE (Milani e

Zalán, 1998 (Modificado de Raffaelli et al., 1996) ).......................................................................... 40

Figura 21 – Localização dos Poços Pioneiros na Bacia do Recôncavo (ANP, 2006) ....................... 41

Figura 22 – Poços exploratórios perfurados por ano (ANP, 2013) ................................................... 42

Figura 23 – Evolução da produção de petróleo e gás (ANP, 2013) .................................................. 42

Figura 24 – Mapa de localização da Bacia do Recôncavo (Milani e Davison,1988) ......................... 43

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VIII

Figura 25 – Seção geológica da Bacia do Recôncavo (ANP, 2013 (Retirado de Cupertino e Bueno,

2005))............................................................................................................................................. 44

Figura 26 – Arcabouço estrutural da Bacia do Recôncavo (Santos e Braga, 1990).......................... 49

Figura 27 - Seções geológicas da Bacia do Recôncavo (Santos e Braga, 1990) ............................. 50

Figura 28 – Sistemas de acumulação de hidrocarbonetos (A) Pré-rifte; (B) Rifte-Candeias; e (C) Rifte-

Ilhas. (Santos e Braga, 1990) ......................................................................................................... 52

Figura 29 – Carta estratigráfica da Bacia do Recôncavo. (a) Pré-rifte; (b) Rifte-Candeias; e (c) Rifte-

Ilhas. (Santos e Braga, 1990 (adaptado de Netto, Oliveira, 1985)) .................................................. 53

Figura 30 – Perfil composto do poço 1-DA-1-BA, intervalo 2.680 a 2.975 metros, englobando a zona

de acumulação de hidrocarbonetos (ANP, 2011) ............................................................................ 55

Figura 31 – Histórico de produção de gás natural (ANP, 2011) ....................................................... 56

Figura 32 – Trecho do perfil composto do poço 1-FGA-1-BA, intervalo de 585 a 730 metros,

englobando as zonas de acumulação de hidrocarbonetos (ANP, 2011) .......................................... 58

Figura 33 – Histórico de produção de gás natural (ANP, 2011) ....................................................... 59

Figura 34 – Trecho do perfil composto do poço 1-LV-1-BA, intervalo 1.330 a 1.520 metros,

englobando zonas de acumulação da Formação Marfim (ANP, 2011)............................................. 61

Figura 35 – Histórico de produção de gás natural (ANP, 2011) ....................................................... 62

Figura 36 – Trecho do perfil do poço 1-QV-1-BA, intervalo 1.580 a 1.725 metros, englobando a zona

de acumulação de gás da Formação Marfim (ANP, 2011)............................................................... 64

Figura 37 – Trecho do perfil do poço 1-QV-1-BA, intervalo 1.705 a 1.850 metros, englobando a zona

de acumulação de óleo da Formação Marfim (ANP, 2011) .............................................................. 65

Figura 38 – Histórico de produção de óleo e água (ANP, 2011) ...................................................... 66

Figura 39 – Histórico de produção de gás natural (ANP, 2011) ....................................................... 66

Figura 40 – Trecho do perfil do poço 4-MGL-1-BA, intervalo 1.275 a 1.420 metros, englobando a

zona de acumulação de óleo da Formação Pojuca (ANP, 2011) ..................................................... 68

Figura 41 – Histórico de produção de óleo e água (ANP, 2011) ...................................................... 69

Figura 42 – Histórico de produção de gás natural (ANP, 2011) ....................................................... 70

Figura 43 – Trecho do perfil do poço 1-FAO-1-BA, do intervalo de 2.420 a 2.565 metros, englobando

a zona de acumulação da Formação Candeias (ANP, 2011)........................................................... 71

Figura 44 – Histórico de produção de óleo e água (ANP, 2011) ...................................................... 74

Figura 45 – Histórico de produção de gás natural (ANP, 2011) ....................................................... 74

Figura 46 – Trecho do perfil do poço 4-MP-12-BA, intervalo 2.190 a 2.330 metros, englobando as

zonas de acumulação da Formação Maracangalha. (ANP, 2011) ................................................... 75

Figura 47 – Histórico de produção de gás natural (ANP, 2011) ....................................................... 76

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IX

Figura 48 – Histórico de produção de óleo e água (ANP, 2011) ...................................................... 76

Figura 49 – Trecho do perfil do poço 1-CTU-1-BA, intervalo 2.760 a 3.050 metros, englobando a zona

de acumulação da Formação Sergi (ANP, 2011) ........................................................................... 78

Figura 50 – Produção acumulada de óleo e de gás natural (ANP, 2011) ......................................... 79

Figura 51 – Localização dos campos (http://www.bahiagas.com.br/, 2014 (adaptada) ..................... 81

Índice de Tabelas

Tabela 1 – Produção de Gás Natural em 2012 (BP Global, 2013) ...................................................... 7

Tabela 2 – Consumo de Gás Natural em 2012 (BP Global, 2013) ...................................................... 7

Tabela 3 – Propriedades petrofísicas (ANP, 2011) ........................................................................... 61

Tabela 4 – Análises PVT (ANP, 2011) ............................................................................................. 69

Tabela 5 – Análises PVT do poço 1-FAO-1-BA (ANP, 2011) ............................................................ 72

Tabela 6 – Análises PVT do poço 1-FAO-2-BA (ANP, 2011) ............................................................ 73

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X

Lista de Siglas

ABEGÁS – Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás

AFG – Association Française du Gaz

ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica

ANP – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis

BP – British Petroleum Company

CAL – Caliper

CEDIGAZ – Centre International d’Information sur Le Gaz Naturel et tous Hydrocarbures Gazeux

CEI – Comunidade dos Estados Independentes

DEPG – Departamento de Política de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural

DLT – Diagnostic Log and Trace

DT – Interval Transit Time over 24 Inch Interval

DTS – Shear Sonic Travel Time)

EIA – Independent Statistics & Analysis of United States

EPE – Empresa de Pesquisas Energéticas

ESGN – Estocagem Subterrânea de Gás Natural

EU – União Europeia

FERC – Federal Energy Regulatory Commission

FINEP – Financiadora de Estudos e Projetos

GASBOL – Gasoduto Brasil-Bolívia

GASENE – Gasoduto Sudeste-Nordeste

GDF – Gaz de France

GN – Gás Natural

GNL – Gás Natural Liquefeito

GR – Gamma Ray

LLD – Laterolog Deep Resistivity

LLS – Laterolog Shallow Resistivity

LRC – Lined Rock Cavern

MME – Ministério de Minas e Energia

MZINE – MJMEnergy Ltd.

NPHI – Neutron Porosity

ONS – Operador Nacional do Sistema Elétrico

IEA – International Energy Agency

IBP – Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás

ILD – Induction Resistivity

INT – Instituto Nacional de Tecnologia

IPE – Instituto de Pesquisa Energética

IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas

PEN – Plano da Operação Energética

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XI

Petrobras – Petróleo Brasileiro S.A.

PROFEX – Programa de Tecnologia em Fronteiras Exploratórias

RILD – Deep Induction Resistivity

RHOB – Bulk Density

SP – Spontaneous Potential

SN – Short Normal Resistivity

STOGIT – Stoccaggio Gas Italia SpA

TANAP – Trans Anatolian Natural Gas Pipeline

TAP – Trans Adriatic Pipeline

TBG – Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil

TIGF – Total Infrastructures Gaz France

Transpetro – Petrobras Transporte S.A.

TSB – Transportadora Sulbrasileira de Gás S.A.

UGSS – Unified Gas Supply System

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1

1 Introdução

O gás natural é hoje a fonte de energia de origem fóssil que registra o maior crescimento no

mundo. O interesse pelo gás natural está diretamente relacionado à busca de alternativas ao

petróleo e de fontes menos agressivas ao meio ambiente. Este comportamento resultou na

intensificação das atividades de prospecção e exploração, particularmente, entre os países em

desenvolvimento. O resultado foi não só o aumento do volume, mas também a expansão geográfica

das reservas provadas, aproximando-se dos mercados consumidores, favorecendo o seu transporte

e a sua comercialização, pois este era um dos maiores entraves para a sua disseminação, tendo em

vista os altos investimentos para criação de uma infraestrutura para o seu beneficiamento.

A exploração do recurso, no Brasil, começou em meados dos anos 40, com as descobertas

de gás associado ao petróleo na Bacia do Recôncavo, no estado da Bahia. Inicialmente, a produção

atendeu apenas às indústrias do Recôncavo Baiano. Após alguns anos, a exploração e produção

estenderam-se também às bacias de Sergipe e Alagoas. O grande salto das reservas ocorreu nos

anos 80, com a descoberta na Bacia de Campos. Finalmente, o início de operação do gasoduto

Bolívia-Brasil (GASBOL) em 1999, com capacidade para transportar 30 milhões de m3/dia, aumentou

significativamente a oferta do gás natural no país. Segundo o Ministério de Minas e Energia – Atlas

de Energia Elétrica do Brasil (2009), a descoberta do campo de Júpiter, rico em gás natural e

localizado na camada pré-sal da Bacia de Santos, poderá conferir ao Brasil, no médio prazo, a

autossuficiência, cujas reservas são estimadas entre 176 bilhões e 256 bilhões de m3.

É neste contexto econômico e financeiro que se pretende fazer um estudo da viabilidade da

concepção de uma Estocagem Subterrânea de Gás Natural (ESGN), de modo que os capítulos desta

dissertação estão estruturados a dar a melhor percepção sobre o assunto, cujo conhecimento é

criado gradativamente ao longo dos capítulos. Sendo assim, o capítulo 2 (introdutório) pretende fazer

uma análise quantitativa e qualitativa do mercado do gás natural mundial, cuja ênfase se dará no

mercado brasileiro, sendo um estudo de levantamento de dados das reservas provadas, da produção

e do consumo do gás natural nos principais países do mundo. Depois, devido ao elevado consumo

de gás natural em usinas termelétricas, pretende-se falar sobre a sua aplicação para a geração de

energia elétrica, aludindo os benefícios por este ser um combustível mais limpo, mas também

mostrando a vulnerabilidade por ele ser uma fonte de energia não renovável e os impactos

ambientais associados a ele. Por fim, mostra-se o processo de convergência das cadeias produtivas

entre a indústria do gás natural e a indústria da energia elétrica, explicitando que a convergência

entre ambas se dá, justamente, nas termelétricas.

O capítulo 3 se propõe a elucidar alternativas que podem ser adotadas pelas nações para

aumentar a segurança na continuidade do suprimento de gás natural, tais como: diversificação de

fornecedores; integração das malhas de transporte; utilização do gás natural liquefeito (GNL) e a

criação de uma estrutura para a Estocagem Subterrânea de Gás Natural (ESGN), além de fazer um

resumo mostrando as principais variáveis inerentes a esta cadeia. Já no capítulo 4, pretende-se

elaborar um resumo do atual panorama da ESGN no mundo, dando maior ênfase nos principais

produtores de gás natural (Estados Unidos, Canadá e Rússia), nos importadores (Estados Unidos,

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2

Alemanha, França e Itália), nos consumidores (Estados Unidos, Canadá, Rússia, Alemanha, França

e Itália) e nos exportadores (Rússia e Canadá). A abordagem terá como intuito conhecer a dinâmica

destes mercados maduros de gás natural, cujo principal objetivo será o aporte das características

que mais se assemelham e se adaptam à realidade do mercado incipiente de gás natural do Brasil.

Pretende-se falar mais detalhadamente dos tipos de estocagem, mostrando as principais variáveis de

desenvolvimento e de operação, bem como os custos inerentes de cada tipo de armazém.

O cenário brasileiro será tratado com mais detalhes no capítulo 5. Na primeira parte deste

capítulo, o enfoque será dado sobre a necessidade de uma unidade de ESGN no Brasil e de como

esta unidade poderá ser utilizada estrategicamente, como uma mais valia, pelo governo brasileiro.

Na segunda parte do capítulo, pretende-se falar sobre a infraestrutura atual para receber um

empreendimento como este, mais especificamente da infraestrutura de transporte, para em seguida

falar de áreas com estruturas geológicas capazes de servir como ESGN. A primeira área que será

discutida será a Bacia do Paraná, a qual possui alguns estudos que buscaram estruturas (aquíferos)

para o armazenamento de gás natural. O propósito deste item é apresentar, de forma introdutória,

um estudo sobre a ESGN realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em parceria com

o Programa de Tecnologia em Fronteiras Exploratórias (PROFEX) da Petrobras e com o recurso

financeiro da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP).

A segunda área discutida será o Recôncavo Baiano, onde existem vários campos depletados

de óleo e de gás. Será uma abordagem mais rica em detalhes, cujo objetivo é mostrar o potencial da

área para a instalação de uma ESGN, onde será relatado o início e o desenvolvimento das atividades

de exploração e de produção, retratando o atual estágio de evolução das atividades petrolíferas

nesta região. Apesar de não haver nenhum estudo disponível sobre a transformação destes campos

em ESGN, a análise justifica-se pelo fato dos reservatórios depletados não exigirem tanto

investimento inicial e por serem os mais fáceis de desenvolver, de operar e de manter, pois suas

características geológicas são bem conhecidas. Ainda mais, pelo fato de estar ao pé da malha de

gasodutos e ter acesso a grande parcela de todo o mercado consumidor de gás natural do Brasil.

O capítulo 6 entrará especificamente no assunto sobre a avaliação do potencial do

Recôncavo Baiano para abrigar uma Estocagem Subterrânea de Gás Natural. Neste capítulo serão

apresentados e caracterizados os campos depletados que possuem poços que realmente

produziram hidrocarbonetos, possuindo históricos de produção e o perfil do poço descobridor. Por já

terem sido tratados com mais pormenores nos capítulos anteriores, outros assuntos serão abordados

mais rapidamente como a localização dos campos, a malha de gasodutos e aspectos sobre a

viabilidade do investimento.

1.1 Objetivo

A Bacia do Recôncavo encontra-se já bastante depletada, isto é, cujos reservatórios

maduros operam com pressão bem abaixo da pressão original e em constante declínio de produção.

Além disto, existem diversos outros campos, totalmente inativos, com acumulações marginais que

foram devolvidos à ANP e que esta pretende fomentar as pequenas e médias empresas, produtores

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independentes de petróleo, a investir na produção de hidrocarbonetos em bacias terrestres

depletadas, cuja infraestrutura de tratamento e de transporte já estão instaladas.

Entretanto, pretende-se mostrar o potencial destes campos depletados para serem

transformados em Estocagens Subterrâneas de Gás Natural de modo a garantir o fornecimento

contínuo de gás natural às usinas termelétricas, melhorar o rendimento da rede de gasodutos

existente, possibilitar a modulação da produção, do processamento e da demanda de gás natural. Ou

seja, estudar-se-á o potencial dos campos depletados da Bacia do Recôncavo para serem

transformados em ESGN, tendo como interesse mostrar os aspectos geológicos e técnicos destes

reservatórios e criar as bases teóricas para que se consiga avaliá-los de modo preliminar.

1.2 Justificativa

Como o Brasil não dispõe de uma instalação de Estocagem Subterrânea de Gás Natural, o

desenvolvimento da infraestrutura da cadeia de gás natural exigirá a construção de uma estrutura

deste tipo. Então, um trabalho de pesquisa mais minucioso, sobre o assunto e sobre as possíveis

áreas para alocar estas instalações, é extremamente relevante para servir de fonte de informação

técnica e bibliográfica para ajudar futuros trabalhos.

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4

2 O gás natural

O gás natural é hoje a fonte de energia de origem fóssil que registra o maior crescimento no

mundo. O interesse pelo gás natural está diretamente relacionado à busca de alternativas ao

petróleo e de fontes menos agressivas ao meio ambiente. Este comportamento resultou na

intensificação das atividades de prospecção e exploração, particularmente, entre os países em

desenvolvimento. O resultado foi não só o aumento do volume, mas também a expansão geográfica

das reservas provadas, que se aproximaram dos mercados consumidores, favorecendo o seu

transporte e a sua comercialização, pois este era um dos maiores entraves para a sua disseminação,

tendo em vista os altos investimentos para criação de uma infraestrutura para o seu beneficiamento.

Seguindo características bem distintas, a oferta interna de energia no Brasil, ao contrário do

que acontece no resto do mundo, mantém alto conteúdo de renováveis, atingindo níveis acima de

42,4%. Enquanto que outras fontes não renováveis, como o gás natural, tem aumentado a sua

participação nos últimos anos, atingindo a quarta posição na matriz energética nacional, participando

com 11,5%. Para citar um exemplo, quando se compara a demanda de gás natural entre os anos de

2011 e 2012, há um aumento de 17,6%, em razão do acentuado aumento do uso de gás natural na

geração de energia elétrica, como forte complementação ao baixo desempenho da geração

hidráulica em 2012. A figura 1, que representa a matriz energética do Brasil, mostra as principais

fontes energéticas utilizadas, explicitando à proporção que cada fonte representa no mercado

brasileiro.

Figura 1 – Oferta interna de energia no Brasil. (Fonte: MME, 2013).

Quando se trata da geração de energia elétrica, o gás natural tem uma participação muito

relevante na produção de eletricidade no Brasil, sendo a segunda fonte mais importante com 1,6%

de participação, ficando apenas atrás da energia hidráulica, que é de longo a principal fonte para a

geração de energia elétrica do Brasil, cuja participação na matriz de energia elétrica é de 70,1%.

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Assim como na matriz energética, ainda é extremamente relevante a participação das energias

renováveis para a produção de energia elétrica, representando aproximadamente 83,7%. A figura

seguinte mostra detalhadamente estes aspectos mencionados.

Figura 2 – Oferta interna de energia elétrica. (Fonte: MME, 2013).

2.1 Definição

O gás natural é um hidrocarboneto que resulta da decomposição da matéria orgânica

durante milhões de anos, sendo encontrado no subsolo em formações rochosas que possuem certas

características tais como porosidade, permeabilidade, fraturas, entre outras, sendo cobertas por

formações impermeáveis que impedem que o gás natural escape e alcance a superfície. Em suas

primeiras etapas de decomposição, esta matéria orgânica de origem animal produz o petróleo. Em

seus últimos estágios de degradação, o gás natural. Por isso, é comum a descoberta do gás natural

tanto associado ao petróleo quanto em campos isolados (gás natural não associado).

O gás natural não é uma substância pura do ponto de vista químico e, embora diversas

definições sejam formuladas, quase todas ressaltam seu estado gasoso nas condições atmosféricas

e sua relação com o petróleo. Tecnicamente, o termo “gás natural” é reservado para misturas

características de materiais gasosos, incluindo hidrocarbonetos ou não, que são encontradas em

reservatórios, geralmente associadas ou não ao petróleo (Tiratsoo, 1972). Basicamente, o gás

natural é constituído por moléculas de hidrocarbonetos encontradas em estado volátil e de baixa

densidade. O elemento predominante é o gás metano (CH4), mas também há, em proporções

variadas, etano (C2H6), propano (C3H8), butano (C4H10), gás carbônico (CO2), nitrogênio (N2), água

(H2O), ácido clorídrico (HCL), metanol (CH4O), etc. A proporção de cada elemento na composição

final do gás natural depende de variáveis naturais, como o processo de formação e as condições de

acumulação no reservatório.

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2.2 Reservas, produção e consumo mundial

Segundo dados da BP Global – Statistical Review of World Energy 2013, as reservas totais

provadas no mundo eram, ao final de 2012, de 187,29 trilhões de m3. O Oriente Médio liderava o

ranking mundial, com 80,50 trilhões de m3, correspondentes a 42,98% do total. Beneficiado pelos

recursos existentes no Irã e pela intensificação das atividades de exploração nos últimos 20 anos, a

região superou a tradicional Europa & Eurásia, que hoje detém 31,18% de participação, diante dos

42,20% de 1987. A América do Norte, outra região tradicional entre as maiores do ranking, também,

reduziu sua participação no período: de 9,5% para 5,79%. O Brasil aparece neste cenário de forma

mais simplória, cuja reserva é da ordem dos 0,45 trilhões de m3, ou seja, 0,24% das reservas

mundiais. A próxima figura mostra a evolução das reservas de gás natural por região, entre os anos

de 1978 e 2012.

Figura 3 – Histórico das reservas por região (trilhões de m³). (Fonte: BP Global, 2013).

As regiões da Eurásia e América do Norte continuam, no entanto, a serem as maiores

produtoras mundiais, beneficiadas pelas atividades da Rússia (592,27 bilhões de m3

ou 17,61%) e

Estados Unidos (681,39 bilhões de m3 ou 20,26%). Ambas são também as maiores consumidoras

mundiais e contam, como elemento favorável às atividades, com a rede de gasodutos já existente,

erguida ao longo do século XX. Com o consumo de 722,14 bilhões de m3 em 2012, os Estados

Unidos não apenas absorvem toda a produção interna (681,39 bilhões de m3

em 2012), como

importam parte do gás natural do Canadá e do México. Já a Rússia, que em 2007 produziu 592,27

bilhões de m3

para um consumo de 416,24 bilhões de m3, exporta parte da produção, tanto para os

países que compunham a antiga União Soviética quanto, por meio deles, para os mercados

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europeus. O Brasil possui números bem mais modestos, pois produziu, no mesmo período, 17,40

bilhões de m3 e consumiu 29,17 bilhões de m

3 de gás natural, tendo que importar 11,77 bilhões de

m3 da Bolívia, o que representa 40,34% de seu consumo interno.

A produção total de gás natural no mundo em 2012, excluindo a queima de gás e a reinjeção,

foi de 3.363,90 bilhões de m3, enquanto que o consumo mundial foi de 3.314,40 bilhões de m

3, de

acordo com os dados divulgados pela BP Global – Statistical Review of World Energy 2013.

Produção de Gás Natural em 2012

País Bilhões de m3 %

1° EUA 681,39 20,26

2° Rússia 592,27 17,61

3° Irã 160,50 4,77

4° Qatar 157,05 4,67

5° Canadá 156,55 4,65

6° Noruega 114,92 3,42

7° China 107,22 3,19

8° Arábia Saudita 102,80 3,06

9° Argélia 81,50 2,42

10° Indonésia 71,07 2,11

32° Brasil 17,40 0,52

Tabela 1 – Produção de Gás Natural em 2012. (Fonte: BP Global, 2013).

Consumo de Gás Natural em 2012

País Bilhões de m3 %

1° EUA 722,14 21,79

2° Rússia 416,24 12,56

3° Irã 156,09 4,71

4° China 143,84 4,34

5° Japão 116,74 3,52

6° Arábia Saudita 102,80 3,10

7° Canadá 100,71 3,04

8° México 83,66 2,52

9° Reino Unido 78,28 2,36

10° Alemanha 75,24 2,27

31° Brasil 29,17 0,88

Tabela 2 – Consumo de Gás Natural em 2012. (Fonte: BP Global, 2013).

Segundo o Ministério de Minas e Energia (2007), uma característica do mercado do gás

natural é o aquecido comércio internacional. Mas se, de um lado, ela favorece a expansão do

consumo, de outro se subordina à política externa do país fornecedor e às relações bilaterais entre

fornecedor e comprador, o que causa certa insegurança com relação ao suprimento. Como exemplo

destes embates políticos e comerciais, pode-se citar o momento vivenciado pelo Brasil no ano de

2007, quando houve uma redução dos volumes de gás natural importados da Bolívia e da Argentina,

que comprometeram a operação de várias termelétricas abastecidas pelo combustível em um

período de baixas taxas pluviométricas, quando era crucial preservar a água dos reservatórios das

usinas hidrelétricas.

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De acordo com a publicação da BP Global – Statistical Review of World Energy 2013, nas

Américas Central e do Sul, as reservas não são tão significativas em nível mundial: respondem por

apenas 5,3% do total e se mantiveram praticamente inalteradas ao longo dos últimos 26 anos. No

entanto, considerando o volume produzido (relação reserva/produção) ao longo dos últimos anos, os

recursos existentes são suficientes para cerca de 50 anos. Em 2012, os maiores produtores são

Trinidad & Tobago (42,22 bilhões de m3), Argentina (37,73 bilhões de m

3), Venezuela (32,80 bilhões

de m3), Bolívia (18,71 bilhões de m

3) e Brasil (17,40 bilhões de m

3).

A participação individual de cada um desses países na oferta mundial de gás natural é pouco

expressiva: oscila em torno de 1%. A importância da produção, portanto, é regional. Um exemplo é a

relação Bolívia-Brasil-Argentina, países que, por meio de uma rede de gasodutos, podem

intercambiar o gás natural. A próxima figura mostra a produção de gás natural mundial por Região

em bilhões de m³. Note que a participação da América do Sul e Central é a menor no cenário

mundial.

Figura 4 – Histórico da produção por região (bilhões de m³). (Fonte: BP Global, 2013).

A exploração do recurso no Brasil começou em meados dos anos 40, com as descobertas de

gás associado ao petróleo na Bahia. Inicialmente, a produção atendeu apenas às indústrias do

Recôncavo Baiano. Após alguns anos, a exploração e produção estenderam-se também às bacias

de Sergipe e Alagoas. O grande salto das reservas ocorreu nos anos 80, com a descoberta na Bacia

de Campos. Finalmente, o início da operação do gasoduto Bolívia/Brasil (GASBOL) em 1999, com

capacidade para transportar 30 milhões de m3 por dia, aumentou significativamente a oferta do gás

natural no país.

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Segundo o Ministério de Minas e Energia (2009), com o anúncio da descoberta do campo de

Júpiter em 2008, rico em gás natural e localizado na camada pré-sal da Bacia de Santos, o Brasil

poderá ser autossuficiência em gás natural no médio prazo. A estimativa de reservas ainda está em

fase de levantamento, mas as dimensões do campo de Júpiter são similares ao campo de Tupi,

descoberto em 2007 e também localizado na Bacia de Santos, cujas reservas são estimadas entre

176 bilhões e 256 bilhões de m3 de gás natural.

Figura 5 – Reservas provadas de GN no Brasil (bilhões de m³). (Fonte: ANP/SDP; MME, 2006).

Figura 6 – Distribuição geográfica das reservas brasileiras de gás natural em 2013 (bilhões de m³).

(Fonte: ANP, 2013).

De acordo com os dados divulgados pela ANP, as reservas nacionais em 2013, encontradas

em sua maior parte na forma de gás associado, apresentam um perfil bastante concentrado, com

destaque absoluto para o estado do Rio de Janeiro que detém 53,67% destas reservas, seguido dos

estados de São Paulo, Amazonas e Espírito Santo, com respectivamente 13,14%, 11,28% e 9,39%.

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De todo o gás natural que compõe as reservas do país, 15,21% está localizado em terra,

principalmente, no campo de Urucu (AM) e em campos produtores no estado da Bahia, enquanto

que os 84,79% restantes estão localizados no mar, principalmente, na Bacia de Campos, no estado

do Rio de Janeiro.

2.3 Geração de energia elétrica a partir do gás natural

Segundo a publicação Golden Rules for a Golden Age of Gas 2013 da International Energy

Agency (IEA), a demanda do gás natural participa com cerca de um terço do aumento global da

procura de energia primária, uma contribuição maior do que a feita por qualquer outro combustível e

equivalente ao crescimento combinado da demanda por carvão, petróleo e energia nuclear. As

perspectivas é que em 2035 o gás natural ultrapasse o carvão para se tornar o segundo combustível

mais importante na matriz energética mundial.

De acordo com esta mesma publicação, a principal demanda por gás natural, em 2035, será

para a geração de energia elétrica, possuindo uma participação de aproximadamente 40% do total

de gás consumido. Devido ao menor impacto ambiental, o gás natural apresenta uma vantagem

significativa em relação aos outros combustíveis fósseis, sendo um dos fatores determinantes para o

preço deste combustível no futuro, de modo que este apresentará uma melhora na sua

competitividade e aumentará a demanda para a geração de energia elétrica.

Figura 7 – Demanda por energia primária no mundo. (Fonte: EIA, 2012 (adaptado)).

No Brasil, a matriz da energia elétrica é predominantemente hidráulica e esta característica

não deverá se alterar no médio prazo. No entanto, de acordo com o Plano Nacional de Energia 2030,

produzido pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a participação das termelétricas movidas a

gás natural deverá aumentar, no curto e no médio prazo. Essas usinas operariam de maneira

complementar às hidrelétricas. Em outras palavras, seriam colocadas em operação em momentos de

acentuado aumento de demanda ou redução da oferta hidráulica, por exemplo, nos períodos de

estiagem, onde é necessário preservar os reservatórios.

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Segundo o Anuário Estatístico de Energia Elétrica de 2013 do MME, as usinas termelétricas

são responsáveis por 27,1% da capacidade instalada para a geração de energia elétrica no Brasil,

sendo que este número contabiliza todas as usinas termelétricas independente da fonte de energia

(carvão mineral, gás natural, gás de processo, óleo combustível, óleo diesel, urânio e vapor). No

caso da geração efetiva de energia elétrica, as termelétricas tiveram uma participação de 23,9% no

ano de 2012, onde o gás natural contribuiu com 8,5% da energia elétrica gerada no Brasil. Este valor

está dentro de um cenário onde se inclui a autoprodução por parte de várias empresas do segmento

industrial, diferentemente da Figura 2, quando esta parcela não está incluída.

2.4 Impactos ambientais da geração de energia elétrica

O gás natural é uma fonte de energia extremamente importante para a redução da poluição e

para a manutenção de um ambiente limpo e saudável. Além de ser considerada como fonte de

energia abundante em alguns países, o seu uso pode oferecer um número suficiente de benefícios

ambientais em relação às outras fontes de energia, particularmente os combustíveis fósseis.

Quando se fala das emissões devido à combustão, o gás natural é o mais limpo dentre todos

os outros combustíveis fósseis. Composto essencialmente de metano (CH4), os principais produtos

da combustão são dióxido de carbono (CO2) e vapor d’água, os mesmos compostos gerados na

respiração. A combustão do gás natural ainda libera uma pequena quantidade de dióxido de enxofre

(SO2) e de óxido de nitrogênio (NO), mas sem fuligens ou partículas suspensas, possuindo níveis

mais baixos de dióxido de carbono (CO2), monóxido de carbono (CO), hidrocarbonetos e outros

reativos.

O gás natural está aumentando a sua importância na geração de energia elétrica em muitos

países, pois além de ser extremamente eficiente, a sua inclusão permite uma melhora nos índices de

emissões de poluentes da indústria elétrica. Além disso, existe o fato de seus gases de combustão

não exigirem um tratamento especial, o que implica em um menor custo na manutenção industrial

quando se utiliza o gás natural em detrimento aos outros combustíveis, além de apresentar várias

outras vantagens.

2.5 Aplicações não energéticas do gás natural

Na indústria química, podem-se obter diversos produtos químicos a partir do gás natural.

Pode-se citar, como exemplo de uma aplicação não energética do gás natural, a produção do

metanol (CH4O), que por sua vez é utilizado para a fabricação de formaldeído (CH2O) para obtenção

de resinas, filmes e polímeros, além de uma larga variedade de solventes.

Como o gás natural é rico em metano, a partir deste, pode-se obter o gás de síntese e, para

a indústria de fertilizantes, a amônia (NH3) e a ureia (CH4N2O). A partir das frações mais pesadas do

gás natural, é possível obter o eteno (C2H4) e o propeno (C3H6) para a indústria petroquímica. Nas

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refinarias, pode-se utilizar o gás natural como matéria-prima para a produção de hidrogênio e,

finalmente, na siderurgia, ele pode ser empregado como combustível no processamento de minérios.

2.6 A convergência entre a indústria do gás natural e da energia elétrica

O Brasil, ao contrário do que acontece em outros países, possui um sistema de geração de

energia elétrica constituído principalmente por fontes renováveis de energia, sendo que a grande

parcela (mais de 70%) é dada pela energia provinda das usinas hidrelétricas. Deste modo, o

fornecimento de energia elétrica no Brasil está intimamente relacionado com o nível de água dos

reservatórios das usinas. Quando este nível atinge patamares baixos, entrando em estado de alerta,

automaticamente as termelétricas entram neste contexto de modo que supram a demanda imediata

de energia elétrica.

É neste contexto complementar que surgem as termelétricas no cenário brasileiro,

diferentemente do que acontecem na Europa, América do Norte e Ásia, onde a sazonalidade

característica das termelétricas se dá devido aos invernos rigorosos, onde há o aumento do uso de

energia elétrica para o aquecimento dos lares e dos ambientes públicos e sociais. Neste cenário, o

gás natural entra como principal fonte de energia para as usinas termelétricas.

No Brasil, os segmentos residencial e comercial possuem um pequeno consumo e

praticamente não apresentam variação de demanda ao longo do ano, bem como os outros

segmentos, de modo que a única exceção é o segmento termelétrico, que conforme descrito

anteriormente, é requerido de forma complementar pela indústria da energia elétrica, o que se traduz

num comportamento de demanda com característica aleatória. A próxima figura ilustra a

convergência das cadeias produtivas entre as duas indústrias, mostrando que esta convergência

entre ambas se dá, justamente, nas termelétricas.

Figura 8 – Cadeias das indústrias de GN e EE. (Fonte: Petrobras, 2006 (adaptado)).

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3 Segurança do suprimento de gás natural

A cadeia de suprimento de gás, assim como a de óleo, pode ser complicada e, algumas

vezes, ser um sistema obscuro para muitos que dependem de seus produtos e serviços. Estes

sistemas precisam ter um modelo que forneça uma descrição visual simples de seus principais

componentes e de seus clientes e serviços que são dependentes desta energia. Reconhecer os

componentes críticos e suas localizações fornece o contexto para o entendimento da diversidade

desta cadeia de suprimento, além de ajudar nas questões que podem afetar os vários estágios de

desenvolvimento desta, assim como o estágio de produção e de distribuição.

O gás natural além de ser uma fonte de energia importante para as residências, escritórios,

shopping centers, bares, entre outros, também é extremamente importante para as indústrias de

manufaturados, de geração de energia elétrica e de transporte, tornando-se, a cada dia, mais

importante para a vida moderna. Logo, cada nação, onde o consumo deste energético é crucial para

sua economia, deve se proteger quanto à falta de fornecimento deste, seja por aumentar o leque de

fornecedores, não ficando dependente apenas de poucos, seja por procurar fontes de energia

substitutas para o gás natural.

O gás natural se caracteriza por precisar de uma infraestrutura de grandes dimensões para a

sua distribuição, além de precisar de investimentos vultosos para a implantação de uma malha de

gasodutos, que não é estruturada no curto prazo para suprir uma falta momentânea de oferta de

mercado. Caso, um país tenha o fornecimento de gás natural cessado por questões políticas ou

econômicas, este poderá sofrer vários riscos e até parar as atividades econômicas.

Ressalta-se, entretanto, que a coexistência de gás natural e de infraestrutura de escoamento

é uma condição necessária, mas não suficiente para garantir o suprimento deste energético. Mesmo

com contratos de gás assinados e com uma rede eficiente de transporte, pode haver interrupção no

fornecimento por conta de aspectos políticos e econômicos entre os países que participam da cadeia

de abastecimento.

Este capítulo se propõe a elucidar algumas alternativas para aumentar a segurança na

continuidade do suprimento de gás natural, tais como: diversificação de fornecedores; integração das

malhas de transporte; utilização do gás natural liquefeito (GNL) e Estocagem Subterrânea de Gás

Natural (ESGN), além de fazer um panorama geral, mostrando as principais variáveis inerentes a

esta cadeia.

3.1 Diversificação de fornecedores

A energia é requisito básico para toda atividade humana, enquanto a continuidade no seu

suprimento é crucial para a estabilidade socioeconômica das economias modernas. A segurança

energética possui duas dimensões: confiabilidade e segurança de abastecimento. A confiabilidade

refere-se à habilidade do sistema de energia em evitar um corte abrupto no fornecimento de energia

para os consumidores. Este tipo de situação pode ocorrer como uma consequência de um fenômeno

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natural (tempestades ou terremotos) ou como resultado de uma falha na operação da logística do

abastecimento de energia. Logo, rotas alternativas para o fluxo energético são essenciais para

assegurar o abastecimento quando se dá este tipo de problema.

Já a segurança do abastecimento se refere à proteção contra eventos que exigem cortes de

fornecimento de energia por longos períodos de tempo. Neste caso, o problema é o risco de

comportamento oportunista dos agentes de se beneficiar de um contexto que lhes é favorável, como

acontece sistematicamente nas relações bilaterais de fornecimento de gás natural. Sob tais

circunstâncias, o risco de comportamento oportunista aumenta os custos de transação, levando a má

seleção na escolha de projetos alternativos. Soluções de menor custo para o fornecimento de

energia são negligenciadas e soluções de maior custo, que eliminam riscos de cortes de

fornecimento, são adotadas em seu lugar.

O gás natural, ao contrário do petróleo que é uma commodity1 global, é uma commodity

regional, com seus compradores e seus vendedores exercendo maior influência. A diversificação de

fornecedores de gás natural é uma das principais estratégias utilizadas pelos países com vistas à

redução de sua vulnerabilidade, objetivando a garantia de suprimento.

O caso particular da Europa é bem interessante e chama a atenção do mundo. A produção

de gás natural na Europa entrou em declínio nos últimos anos, o que tem aumentado sua

dependência de importações, tornando-a cada vez mais dependente como um todo de seu principal

fornecedor, a Rússia, que se mostra com mais inclinação de utilizar este recurso para fins políticos,

ganhando vantagens na negociação. Ao longo da última década, os países europeus aumentaram

suas atenções quanto aos possíveis cortes de fornecimento do gás natural por parte da Rússia. Até

recentemente, a maior parte do gás natural russo era escoado para a Europa através da Ucrânia e

da Bielorússia e devido às relações frágeis e até hostis entre Kiev, Minsk e Moscou que ocorreram

no passado, acabou resultando na interrupção de fluxo de gás para várias partes da Europa, como

aconteceu em 2006 e em 2009. Alguns países do leste europeu, que dependem exclusivamente das

importações do gás russo, estão susceptíveis a estas flutuações de mercado.

Segundo o CRS Report for Congress (2013), como resposta ao que ocorreu em 2006 e em

2009 e se precavendo às possíveis interrupções futuras, os países europeus têm buscado aumentar

sua segurança energética através da constante procura por diversificar suas opções de

fornecimento. Uma das alternativas foi a busca por rotas de trânsito alternativas para o gás russo,

que inclui a decisão da Alemanha em construir um gasoduto conectando-a diretamente a Rússia.

Enquanto que a Rússia também se comprometeu em construir um gasoduto através do Mar Negro

para fazer sua interligação à Bulgária e à Hungria.

Outra estratégia adotada pela Europa foi o planejamento da construção da Trans Anatolian

Natural Gas Pipeline (TANAP) que se conectará à Trans Adriatic Pipeline (TAP), que vai desde a

fronteira da Turquia, passando através da Grécia e Albânia, até a Itália. Ao mesmo tempo, estudam-

se alternativas de suprimentos de outras regiões do mundo, como do norte da África ou da Ásia

central, mas estes encaram maiores desafios e bem mais significantes.

1 Mercadoria primária cuja produção se dá em larga escala e cujo preço é regulado de acordo com a oferta e a

demanda.

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Por fim, um terceiro aspecto das políticas de segurança de energia da Europa é a integração

e a liberação do mercado interno de energia europeu, assegurando que todos os estados membros

estejam conectados à malha de fornecimento energética europeia por volta de 2015, ajudando na

eficiência energética através da Europa (CRS Report for Congress, 2013).

As alternativas, para o mercado europeu, seriam o aumento da importação de gás natural do

norte da África, de países como a Líbia, o Egito e a Algéria. A Líbia passa por mudanças no seu

regime político e pode representar parcela importante no futuro, enquanto que o Egito passa por

problemas sociais graves, mas aparece com grande potencial de fornecimento de gás para a Europa.

A Algéria é o maior exportador de gás do norte da África, sendo o terceiro principal fornecedor da

Europa, mas caso haja desenvolvimento na exploração do gás de xisto, pode assumir papel de mais

destaque na economia europeia.

Saindo da Europa e se inserindo no contexto da América do Sul, há uma diferença crucial

entre estas regiões: quase não há integração da indústria do gás natural entre os países sul-

americanos. Segundo Oliveira (2010), a integração da indústria de gás natural iniciou-se com a

construção do gasoduto para transportar o gás da Bolívia para a Argentina, sendo concretizado com

a construção do gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL) e de outros gasodutos de transporte de gás

argentino para o mercado chileno. As usinas termelétricas, percebidas como âncoras para o rápido

desenvolvimento dos mercados de gás natural na região, criou a necessidade de avaliar a viabilidade

econômica de gasodutos necessários para o transporte de reservas naturais significativas em países

sul-americanos.

Segunda a BP Global – Statistical Review of World Energy 2013, a Venezuela possui as

maiores reservas provadas de gás natural das Américas do Sul e Central, possuindo 5,6 trilhões de

m3 ou 3% de toda a reserva mundial. O desenvolvimento de relações bilaterais ou multilaterais com

outros países sul-americanos é um caso interessante e necessita de uma análise mais minuciosa de

mercado, numa tentativa de expandir a oferta de gás natural e aumentar a eficiência energética na

América do Sul.

O Brasil, por sua vez, devido à sua posição geográfica e do tamanho do seu mercado de

energia, tem um papel decisivo a desempenhar na promoção dos fluxos de energia regionais.

Durante a década de 1990 grandes investimentos foram feitos para desenvolver a infraestrutura

necessária para promover fluxos significativos de eletricidade e gás natural a partir de países

vizinhos para o mercado brasileiro de energia. No entanto, os acordos bilaterais adotados para fazer

uso dessa infraestrutura se mostrou incapaz de resistir às mudanças no contexto de energia e

política regional (Oliveira, 2010).

O governo brasileiro, então, empreendeu crescentes esforços para reduzir a sua conta de

importação de gás natural, através da utilização do seu potencial hidrelétrico, do aumento da

produção interna de petróleo e gás e da utilização de biomassa renovável. Como medidas adicionais

para a redução da dependência energética, no início dos anos 2000, a indústria nacional foi

estimulada a racionalizar o consumo e/ou substituir energéticos tradicionais como os combustíveis

derivados de petróleo, da lenha e do carvão, pelo gás natural. Neste sentido foi incentivada a

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cogeração e a autogeração nos grandes consumidores de energia elétrica, principalmente no

segmento dos “eletrointensivos” (Ramos et al., 2007).

Em suma, a diversificação das fontes de suprimento tem relação direta com a construção de

infraestrutura para o escoamento de gás natural. Pode-se, então, construir gasodutos para a

importação de gás natural ou instalações que permitam a importação deste energético no estado

líquido. Durante muito tempo a utilização de gasodutos foi o principal meio de transporte de gás

natural entre países. Hoje, o transporte do GNL tem se tornado uma opção cada vez mais

interessante.

A integração energética continua sendo a melhor alternativa econômica para o incremento

competitivo da segurança do abastecimento de energia do Brasil e da América do Sul. Ela oferece

acesso aos recursos energéticos de países vizinhos a baixo custo de oportunidade, especialmente,

aos países situados no centro do continente. Quanto aos outros países da região, a integração

energética pode oferecer a oportunidade de melhorar a segurança energética de cada país, além de

proporcionar o acesso ao mercado brasileiro de seus recursos energéticos, que de outra forma,

permaneceriam inertes, e permitiria que eles participassem da cadeia produtiva do sistema

energético brasileiro. De uma forma geral, a região como um todo ganharia em proporcionar um

suprimento de energia mais seguro e competitivo aos investidores.

3.2 Utilização do Gás Natural Liquefeito (GNL)

Outra forma de um país se precaver de uma possível interrupção no abastecimento de gás

natural é diversificar tanto a fonte, como o fornecedor. Nos países onde se dá elevado consumo de

gás natural, quando não se pode substituí-lo, busca-se diversificar as fontes de suprimentos, tanto

pela construção de novos gasodutos, quanto por meio do crescimento da utilização do GNL.

Se por um lado, no início da expansão da indústria do gás natural, a larga prospecção por

novas reservas fez com que estas se aproximassem dos mercados consumidores, o que acontece

hoje é o contrário, pois a exploração destas reservas fez com que a produção de gás natural

entrasse em declínio nos últimos anos (principalmente na Europa), fazendo com que as reservas

mais significativas deste energético localizem-se cada vez mais distantes dos principais mercados

consumidores. Como transportar o gás natural exige uma infraestrutura, robusta e cara, interligando

os países fornecedores dos consumidores, as transações internacionais de comercialização de GNL

aumentaram de maneira significativa.

O GNL também requer uma grande infraestrutura como a construção e operação de

terminais de gaseificação e regaseificação, mas são plantas bem menos pomposas e grandiosas

quando comparadas às malhas de gasodutos, além dos custos inerentes ao seu transporte serem

menores que a manutenção destas linhas. Os custos de transporte do GNL variam em função da

operação e amortização dos navios, do tamanho dos metaneiros e da distância transportada. Custos

relacionados à construção e operação de terminais de regaseificação (descarregamento,

armazenagem e regaseificação) variam significativamente em função da localização das plantas.

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Hoje em dia, em função de questões como às relacionadas aos direitos de passagem por

cada nação e, principalmente, a questão da flexibilidade e aliada à redução nos custos do transporte

do GNL, este tem se tornado uma opção cada vez mais interessante. A utilização do GNL tem

crescido nos últimos anos e perspectivas apontam para um incremento ainda mais significativo desta

modalidade de transporte de gás natural no futuro.

3.3 Estocagem de Gás Natural em Formações Geológicas

O conceito de estocagem de gás natural em formações geológicas surgiu da necessidade de

fornecimento de gás para os consumidores durante os períodos de alta demanda sazonal. O

armazenamento de gás natural também é uma política de segurança contra acidentes e catástrofes

naturais. Existem diversos tipos de armazenamento subterrâneo, sendo que os mais utilizados no

mundo são: reservatórios depletados de óleo e gás; aquíferos e cavidades salinas.

Esta técnica é largamente empregada nos Estados Unidos e no Canadá e em muitos países

da Europa, como na Alemanha, França, Itália, Espanha, Reino Unido, entre outros países. Este é um

processo que visa adequar o suprimento, geralmente proveniente de grandes dutos, às demandas

variáveis dos mercados, as quais dependem de fatores diversos tais como o clima, a estação do ano,

etc. Nestas nações, a ESGN melhora a eficiência do sistema de produção e o transporte de gás

natural, o que dispensa a construção de novas instalações de produção ou de gasodutos de maior

capacidade para atender às maiores demandas das estações mais frias do ano, sendo que estas

ampliações permaneceriam paradas no verão, período de menor consumo de gás natural.

As principais vantagens do uso da ESGN são: equilibrar oferta e demanda de gás natural;

servir como estoque estratégico para os casos de interrupção do fornecimento causados por fatores

técnicos ou políticos; promove a expansão da infraestrutura de transporte de gás natural e aumento

da confiabilidade do sistema de fornecimento como um todo; dar vantagens econômicas

provenientes das flutuações de preços da commodity e realizar ajustes sazonais da demanda e para

o atendimento dos picos diários de demanda.

No caso de países exportadores de gás natural, acrescentam-se aos objetivos acima:

assegurar o abastecimento para os países importadores; aperfeiçoar a rede de transporte e torná-la

mais complexa e ramificada; aumentar a regularidade das instalações de produção e processamento

e, por fim, conceder vantagens econômicas para estes países exportadores, garantindo-lhes mais

poder de barganha na comercialização do gás.

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4 Estocagem Subterrânea de Gás Natural

O primeiro empreendimento de sucesso da estocagem subterrânea de gás natural ocorreu

em 1915, na região de Weland, Ontário, no Canadá, e se deu em um reservatório depletado de gás

natural. No ano seguinte, os Estados Unidos desenvolveram o seu primeiro campo para o

armazenamento de gás natural perto de Buffalo, no estado de Nova York. Este campo, conhecido

como Campo de Zoar, ainda está em operação nos dias de hoje. Os Estados Unidos continuaram

desenvolvendo pesquisas e estudos nesta área e, já na década de 1930, existiam nove campos em

seis estado norte-americanos.

Após a Segunda Guerra Mundial, houve um aumento significativo na produção e expansão

no pós-guerra e não foi possível viabilizar a construção de dutos para transportar o gás com

capacidade suficiente para atender a demanda. Em resposta, várias outras unidades de estocagem

subterrânea foram desenvolvidas. Com o passar dos anos, com o desenvolvimento de novas

técnicas e tecnologias, outros tipos de estocagem geológica foram desenvolvidos e se tornaram uma

realidade.

Em 1946, a primeira estocagem geológica em aquíferos foi realizada em Kentucky, nos

Estados Unidos, enquanto que a primeira estocagem de gás natural em cavernas salinas só se

tornou realidade em 1961, quando foi desenvolvida uma unidade em Michigan, também nos Estados

Unidos. A primeira armazenagem de gás em domos salinos também foi desenvolvida pelos Estados

Unidos no ano de 1970, no Mississipi. A última forma de ESGN foi desenvolvida recentemente na

Suécia, sendo finalizada no ano de 2002. Trata-se do armazenamento em cavernas de rochas

alinhadas, que teve bastante êxito na fase de teste, tornando-se uma realidade para a implantação

em diversas outras regiões do mundo.

A concentração e o tipo de instalações de estocagem subterrânea de gás natural variam de

região para região, dependendo essencialmente da situação energética do país em que estão

contidas, do suprimento de gás, da distância entre as áreas produtoras e os centros de consumo, da

taxa de penetração do combustível em cada setor, dentre outros fatores (Maculan e Confort, 2007).

4.1 Características da ESGN

Cada instalação de estocagem subterrânea se caracteriza por possuir características

específicas e inerentes ao seu tipo, sejam características físicas, como econômicas. As principais

características físicas são a porosidade, a permeabilidade, a capacidade de retenção do fluido, entre

outras. Como características econômicas relevantes e de grande impacto na escolha do tipo de

armazenamento, podem-se citar, principalmente, os custos de instalação da estrutura e os custos de

manutenção, bem como as taxas de entrega e a capacidade de ciclos (operação de armazenar e

retirar o gás). Sendo estas propriedades que guiam a sustentabilidade dessas instalações,

reforçando a ideia de sua finalidade: atender demandas sazonais ou picos de emergência.

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Outros aspectos de suma importância são os critérios de operação da estrutura de

armazenagem (tanto o operacional, como o comercial), pois são estes que definem a eficiência de

entrega do suprimento à demanda de mercado. Logo, a capacidade de armazenamento é um ponto-

chave, tendo como principais variáveis o tempo e o volume, que condicionam todo o processo. Outro

critério adotado é a taxa de entrega do gás (taxa de retirada), sendo dimensionado como a razão de

fluxo: volume/tempo.

Dois conceitos importantes serão inseridos nesta seção: o gás de base e o gás útil (gás de

trabalho). O gás de base é o volume de gás necessário dentro da estocagem geológica para manter

a pressão interna e conseguir realizar as operações de injeção e retirada de gás. O gás de base é

um volume que sempre permanece dentro da estocagem e quanto maior for este, maior será a

pressão e, consequentemente, maiores serão as taxas de retirada de gás. Sendo uma variável

controlada pelo operador da estrutura. Já o gás útil é o volume armazenado de fato, que é estocado

temporariamente com o propósito de ser retirado em datas futuras.

4.2 Tipos de ESGN

Os principais tipos de armazenamento subterrâneo de gás natural são cavernas salinas,

reservatórios depletados de gás natural e de óleo, aquíferos, minas desativadas e cavernas de

rochas rígidas ou alinhadas. A seguir, falar-se-á mais detalhadamente de cada uma destas.

4.2.1 Cavernas salinas

As formações salinas são encontradas abaixo da superfície terrestre na forma de camadas,

de domos, de diápiros, etc. Deve-se analisar a geologia destas estruturas para poder considerar a

viabilidade de utilização de cavernas para o armazenamento. Caso, não haja outra estrutura

geológica para a estocagem, é que se procura idealizar a construção das cavernas salinas, devido

ao seu alto custo.

As cavernas de sal são abertas pela dissolução de grandes cavidades através da injeção de

água. O sal ao redor da caverna é altamente impermeável e praticamente a prova de escapes, sendo

que o lugar mais provável para ter uma fuga de gás é pelo próprio poço, através do qual a

estocagem é operacionalizada. As cavernas construídas, dentro das formações de sal, oferecem

uma boa alternativa para a estocagem subterrânea de gás natural, sendo bastante eficientes para

atender picos diários de consumo de gás, sendo excelentes devido à alta capacidade de ciclos, onde

o gás é liberado dentro de poucas horas após a notificação, com altas taxas de entrega.

As cavernas operam com uma pequena quantidade de gás de base, sendo até

desnecessário em alguns casos, pois podem ser operadas com pressões constantes ou variáveis.

Segundo Beckman et al. (1995), sob pressões variáveis, é necessário que aproximadamente 1/3 da

caverna contenha gás de base. Quando o gás útil é retirado, a pressão decresce e a quantidade

necessária de gás de base é baseada na pressão mínima exigida para evitar que o sal se deforme e

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comprometa a integridade da caverna. Quando a pressão é constante, não é necessário o uso de

gás de base, sendo que a água salgada saturada é utilizada durante a retirada do gás útil para

manter a pressão dentro da estocagem (Foh, 1979).

4.2.2 Reservatórios depletados de gás natural e de petróleo

Os reservatórios depletados de gás e de óleo têm sido os mais empregados para as

estocagens geológicas de gás natural. Estes reservatórios se caracterizam por ter armazenado

gás/óleo com eficiência durante milhões de anos, mas que agora se encontram parcialmente ou

completamente exauridos, onde a maior parte do volume recuperável tem sido extraída.

Geologicamente, estes reservatórios são capazes de manter o gás natural confinado, pois

estas estruturas já aprisionaram os hidrocarbonetos que migraram a partir da rocha-mãe e se

infiltraram nestas armadilhas. Porém, algumas precauções devem ser consideradas. Em alguns

casos, reservatórios, que uma vez armazenaram gás de fato, perderam gás ao longo do tempo

geológico até o tempo da produção. Em outros, a perda de gás ocorreu até que a pressão caísse

abaixo da pressão limite da rocha selante. No caso do armazenamento de gás natural, a perda

ocorreria uma vez que a pressão de operação fosse aumentada (Foh, 1979).

Nem todo reservatório depletado pode, no entanto, vir a ser utilizado para estocagem de gás.

Para que este seja ideal para o armazenamento de gás, ele deve possuir boa permeabilidade e boa

porosidade, além de armadilhas efetivas para conter o gás. Quanto maior for a permeabilidade e a

porosidade, maior será o volume armazenável de gás e maiores serão as taxas de injeção e de

retirada de gás útil.

Para manter a pressão do reservatório e adequar as taxas de retirada, no mínimo 50% do

volume do reservatório deve conter o gás de base. Entretanto, uma vez que estes reservatórios

foram abandonados, eles ainda podem conter algumas quantidades de gás, de óleo e de água. O

gás natural abandonado pode ser utilizado para os requerimentos do gás de base.

Reservatórios depletados são, geralmente, os mais baratos e mais fáceis de desenvolver, de

operar e de manter, pois suas características geológicas são bem conhecidas, assim como é

possível aproveitar equipamentos e instalações utilizados na fase de exploração, e ainda eles

conseguem atender tanto a demanda sazonal como aos picos diários (Maculan e Confort, 2007).

4.2.3 Aquíferos

Quando se pretende construir uma estocagem geológica de gás natural e não há

reservatórios depletados na região, os aquíferos podem ser uma opção para tal. Este tipo de

estocagem requer investimentos altos, resultado da fase de pesquisa das estruturas e da fase inicial

da operação, pois, segundo Confort (2006), avaliações sísmicas devem ser feitas para conhecer a

geologia do aquífero, além de necessitar criar uma infraestrutura (poços, dutos, plantas de

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desidratação, compressores, etc.), uma vez que não existiu fase prévia de produção e, soma-se a

estes, o custo de aquisição do gás de base, que gira em torno de 30% do custo total da instalação.

A necessidade de gás de base para os aquíferos é maior do que a exigida para os

reservatórios depletados, podendo ser superior a 80% do volume total da capacidade do aquífero.

Além disso, a maior parte, senão a totalidade, de todo esse gás injetado é irrecuperável, mesmo

após o abandono do sítio. Sendo um dos fatores que podem inviabilizar o desenvolvimento deste tipo

de estocagem nos dias atuais.

O aquífero deve possuir alta porosidade e alta permeabilidade, com a existência de pressão

de formação e grande capacidade de armazenagem. O gás armazenado dentro de aqüíferos é

normalmente retirado uma vez durante o inverno, principalmente nos países do hemisfério norte

(onde há invernos mais rigorosos). No entanto, os aquíferos podem ser utilizados para atender os

picos de demanda que ocorrem esporadicamente. Taxas de entrega de gás podem ser reforçadas

pela camada ativa de água (natural water drive), que desloca o gás dentro e providencia a energia

necessária para retirada deste.

4.2.4 Minas desativadas

Minas desativadas podem ser utilizadas para o armazenamento subterrâneo se as

características da formação geológica, assim como a existência de poros e espaços, forem

consideradas seguras e viáveis para uma armazenagem econômica (Maculan e Confort, 2007).

Segundo Confort (2006), esta é uma modalidade considerada não convencional para a estocagem

de gás natural. A indústria não teve como tendência a utilização de minas abandonadas,

principalmente, devido à sua capacidade de contenção inferior, baixas profundidades, pressões e

volumes reduzidos, se comparados às de estocagens convencionais. A grande vantagem na

utilização das minas abandonadas tem relação com a flexibilidade em relação à capacidade de ciclos

de injeção e de retirada de gás natural, podendo realizar vários ciclos ao longo do ano para atender

os picos de demanda do energético.

A adequação de uma mina desativada para a estocagem de gás natural é determinada pelo

estudo de sua história ao longo do período de atividades e através do estudo da geologia

circundante. Entretanto, a mina necessita ser envolvida por camadas impermeáveis para assegurar a

retenção do gás, sendo que é a própria geologia e a pressão hidrostática que determinará em que

pressão a mina poderá ser operada (MJMEnergy, 2007). Outro aspecto interessante, que caracteriza

as minas, é que o volume de gás natural, que pode ser potencialmente armazenado, é baseado não

apenas no volume da mina, mas também pela taxa de adsorção do gás ao mineral presente na mina.

Apenas três unidades de ESGN foram desenvolvidas em minas desativadas, duas eram

localizadas na Bélgica e outra nos Estados Unidos, mas atualmente todas as três estão

descomissionadas. Mesmo não havendo nenhuma instalação em atividade nos dias atuais, as minas

desativadas continuam a ser uma alternativa para a estocagem subterrânea de gás natural

(MJMEnergy, 2007).

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4.2.5 Cavernas de rochas alinhadas

O conceito de cavernas de rochas alinhadas (Lined Rock Cavern – LRC) consiste numa nova

tecnologia empregada para o armazenamento subterrâneo de gás natural. O princípio se baseia em

armazenar o gás com altas pressões e em profundidades rasas dentro dessas cavernas escavadas

em rochas ígneas ou metamórficas, onde a rocha absorve a carga de pressão e o alinhamento

assegura o estancamento do gás. Incluso neste conceito está um sistema para o aquecimento e

resfriamento do gás, visando melhorar a quantidade do gás útil e reduzir o custo de armazenamento

específico (Mansson, 2006). Desde que estas são estruturalmente estáveis, a necessidade de gás de

base é mínima.

A construção da planta de demonstração começou em 1999 e terminou em 2002, quando

começaram os testes para verificar sua operacionalidade. Este foi um projeto desenvolvido em

parceria entre as empresas de gás da França (Gaz de France) e pela empresa de gás da Suécia

(E.ON Gas Sweden).

O LRC demonstrou ser tecnologicamente viável, sendo uma alternativa viável para concorrer

com os outros tipos de estocagem geológica. As principais vantagens desta nova tecnologia são:

grande liberdade de localização com relação à geologia; alta taxa de retirada de gás; alta taxa de

rotatividade, o que possibilita maiores ciclos; não requer tratamento de gás; pouco impacto ambiental

e, ainda, possibilita a expansão da estrutura em etapas pela adição de módulos de cavernas.

Em 2004, a primeira caverna de rocha alinhada tornou-se operacionalmente ativa em

Skallen, na Suécia. Esta consiste em uma caverna escavada e cilíndrica de 40.000 m3, alinhada com

aço. Um túnel conecta a caverna à superfície. A caverna foi escavada dentro de uma rocha gneisse

de boa qualidade, apresentando poucas fraturas, em uma profundidade de cerca 115 metros, com

aproximadamente 50 metros de altura e 36,5 metros de diâmetro (Sofregaz and LRC, 1999).

4.3 Custos

Existem custos específicos e diferentes para cada tipo de armazenamento subterrâneo.

Estes custos são inerentes tanto à fase de desenvolvimento quanto à fase de operação da

instalação, envolvendo, em um contexto geral: custo de aquisição do gás de base; construção da

infraestrutura da superfície; construção da infraestrutura da subsuperfície; prospecção sísmica;

manutenção; etc.

Os aquíferos são os que necessitam de maior volume de gás de base, o que encarece muito

a estrutura, além de requererem o maior tempo de desenvolvimento (tipicamente, cinco anos), devido

ao tempo de caracterização do reservatório e à construção da infraestrutura na superfície e, ainda,

possuem um elevado custo de operação. Quando comparado aos aquíferos, os campos depletados

de gás/óleo são bem mais baratos de se desenvolverem e de se operarem, pois já há uma

infraestrutura existente no lugar e já está provado que estas estruturas podem aprisionar e conter o

gás natural. Além disso, pode ainda existir gás natural residual que nunca vai poder ser recuperado,

podendo ser usado para atender as necessidades do gás de base, reduzindo ainda mais os custos.

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A caverna de sal é a opção mais econômica para o armazenamento subterrâneo de gás

natural. Entretanto, o desenvolvimento delas e de sua infraestrutura envolve muito capital. O grande

ganho na redução dos custos, quando esta é comparada aos outros tipos de armazenamento

subterrâneo, é a necessidade mínima de gás de base e o baixo custo operacional, pois elas recebem

vários ciclos de injetadas e retiradas de gás natural ao longo do ano, resultando numa alta

rotatividade, o que reduz drasticamente o custo operacional. Já a caverna de rocha alinhada pode

ser não viável economicamente, dependendo do volume necessário para ser aberto na rocha.

Embora tenha o maior custo de desenvolvimento, em termos de custo total (desenvolvimento e

operação), os aquíferos, ainda, possuem custo superior.

Figura 9 – Custos das ESGN. (Fonte: Foh et al., 1979 (adaptado)).

4.4 A ESGN no mundo

Segundo dados divulgados pela Cedigaz – Underground Gas Storage in the World – 2013,

as tendências de armazenamento globais apresentam um crescimento sustentado até 2030

impulsionado pela Ásia e pelo Oriente Médio. É esperado que a capacidade global de

armazenamento de gás cresça de 377 bilhões de m3, do início de 2013, até 557-631 bilhões de m

3

em 2030. Este crescimento esperado, entre 180 a 254 bilhões de m3 em 2030, requer um

investimento sustentado ao longo do período: será necessário investir em torno de €120 bilhões até

2030. Neste ano, as estocagens subterrâneas representarão entre 11,6% a 13,1% da demanda

global de gás, comparada com 11,3% em 2013.

Em mercados maduros, como os Estados Unidos e Europa, o crescimento na capacidade de

gás de trabalho é mais limitado, cujo foco é no crescimento da capacidade de entrega de pico de

demanda em vez do volume estocado. Nos mercados emergentes de gás natural (a China, em

particular), um forte crescimento nas estocagens é esperado. Nestes mercados, o investimento foca-

se na criação de grandes volumes de capacidade de armazenamento, bem como na capacidade de

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entrega de pico de demanda para lidar com o aumento das importações e com o crescimento das

cidades e da demanda de energia.

Hoje, o armazenamento subterrâneo é um componente vital da cadeia de gás natural. Ele foi

inicialmente desenvolvido para equilibrar a oferta e a demanda de gás, para aperfeiçoar o tamanho

da rede de transmissão, bem como o seu gerenciamento, e garantir a segurança do suprimento em

caso de interrupção no fornecimento de gás. Como os mercados se desenvolveram e se tornaram

mais liberalizados, mercados centralizados emergiram e começaram a participar ativamente no

mercado de gás natural. Logo, o armazenamento adquire um papel comercial adicional, apenas

como ferramenta de apoio à negociação. Com o desenvolvimento de fontes de energias renováveis

no setor energético, o armazenamento começa a desempenhar uma função complementar para

cobrir a inconstância na demanda de gás, quando este é utilizado como um substituto ao

fornecimento de energia.

A indústria do gás está disposta a continuar a investir em estocagem geológica para apoiar a

expansão dos mercados de gás e acompanhar a tendência do crescimento das fontes de energias

renováveis. Segundo a Cedigaz (2013), em todo o mundo, há 95 projetos em construção que

acrescentarão 68 bilhões de m3 de capacidade de gás de trabalho. Além disso, há 141 projetos

identificados em diferentes estágios de planejamento. Estes projetos planejados, se concluídos,

podem acrescentar cerca de 85 bilhões de m3 da capacidade de gás de trabalho. A Europa tem

liderado todas as categorias: em número de projetos, na adição da capacidade de gás de trabalho,

em projetos em construção e em projetos planejados.

No início de 2013, existiam 688 instalações de armazenamento subterrâneo de gás natural

em operação no mundo, o que representa uma capacidade de gás de trabalho de 377 bilhões de m3

ou 10,3% do consumo de gás de 2012. A capacidade de gás de trabalho tem crescido

significantemente desde 2010 (mais de 35 bilhões de m3), principalmente, devido à Europa que

adicionou quase 14 bilhões de m3 de capacidade nos últimos três anos (Cedigaz, 2013).

A estocagem geológica de gás natural tem se desenvolvido, principalmente, em quatro

regiões: América do Norte, Europa, Comunidade dos Estados Independentes (CEI2) e na Ásia-

Oceania. A América do Norte concentra mais do que dois terços de todas as instalações do mundo,

com 414 nos Estados Unidos e 59 no Canadá, com uma capacidade de gás de trabalho de 152

bilhões de m3 (40% do volume total). A Europa fica em segundo no ranking em termos de número de

instalações com 144 (99 bilhões de m3), seguida pelos países que compõem a CEI que possuem 51

instalações, mas que ficam na segunda posição quando se trata de capacidade de gás de trabalho

(115,5 bilhões de m3). A Ásia-Oceania tem apenas 18 instalações com 9,3 bilhões de m

3 de

capacidade de gás de trabalho. No restante do mundo, há apenas duas outras instalações, uma na

Argentina e outra no Irã.

Segundo a Cedigaz (2013), há uma predominância de instalações em campos depletados,

pois estas permitem um grande volume estocado e são principalmente usadas para balancear as

2 Organização formada por 11 repúblicas que pertenciam à antiga União Soviética: Armênia, Azerbaijão,

Bielorrússia, Cazaquistão, Quirguízia, Moldávia, Rússia, Tadjiquistão, Turcomenistão, Ucrânia e Uzbequistão.

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ofertas e demandas por gás natural, além de constituírem reservas estratégicas. Com 509

instalações no mundo, campos depletados representam 74% do total de sítios.

Entretanto, a liberalização do mercado trouxe algumas importantes mudanças no mercado

de armazenagem de gás. Hoje, a armazenagem é também utilizada como ferramenta financeira para

aperfeiçoar o portfólio de gás no curto prazo. Esta tendência pode ser vista no crescimento da

importância das cavernas de sal na América do Norte e na Europa. Desta maneira, em janeiro de

2013, 94 instalações, em cavernas de sal, estavam em operação no mundo (contra 76 no fim de

2010), representando 14% do total de sítios. Embora as cavernas de sal contabilizem apenas 7% do

total de gás de trabalho, elas entregam até 22% da capacidade total de entrega do mundo.

Se os reservatórios porosos (campos depletados e aquíferos) dominam o número de

instalações de armazenamento na América do Norte (≅90%) e na CEI (≅96%), sua participação cai

para 71% na Europa, onde as cavernas de sal representam uma proporção maior do que em outras

regiões. Inversamente, a CEI tem apenas duas instalações de caverna de sal.

Os Estados Unidos é de longe o país mais importante em termos de capacidade de gás de

trabalho instalada, com quase 130 bilhões de m3 de um volume total de 377 bilhões de m

3. A Rússia

e a Ucrânia possuem cerca de 69 bilhões de m3 e de 32 bilhões de m

3, respectivamente, e em

seguida estão o Canadá e a Alemanha, ambos com 22 bilhões de m3. Estes cinco países concentram

73% de toda a capacidade de gás de trabalho instalada no mundo. A Itália aparece na sexta posição

com 16 bilhões de m3 e em seguida aparece a França com 13 bilhões de m

3 (Cedigaz, 2013).

4.4.1 Estados Unidos da América

A revolução do shale gas e a grande expansão da malha de gasodutos induziram ao

desenvolvimento de instalações de armazenamento de alta capacidade de entrega nos Estados

Unidos. Durante alguns anos, especificamente entre 2000 e 2007, o número de instalações e a

capacidade de armazenamento se mantiveram praticamente estáveis, mas devido ao crescimento do

comércio do gás natural e ao aumento de sua demanda pelo setor energético, foi desencadeado um

rápido desenvolvimento das instalações subterrâneas em cavernas de sal. Embora este tipo de

estocagem represente uma parte modesta da capacidade de armazenamento de gás natural dos

Estados Unidos, a maior parte do aumento da capacidade de gás de trabalho observada, desde

2007, advém das estocagens em cavernas de sal. Embora estas tenham uma participação de

apenas 9,66% do total da capacidade de gás de trabalho, elas conseguem entregar até 25% do total

da taxa de retirada diária dos Estados Unidos.

As cavernas de sal oferecem várias vantagens competitivas quando comparadas aos

campos depletados e aos aquíferos: o gás estocado pode ser entregue mais rapidamente; elas

oferecem altas taxas de injeção e de retirada e o gás de trabalho pode ter vários ciclos ao longo do

ano. Dos 17 novos projetos em construção e em planejamento, entre 2013 e 2015, 12 são novas

instalações em caverna de sal. Atualmente, existem 414 instalações de estocagem subterrânea nos

Estados Unidos, onde 330 são em campos exauridos, 44 em aquíferos e 40 em cavernas de sal.

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26

Essas instalações encerravam mais de 254,6 bilhões de m³ de gás total e mais de 129,59 bilhões de

m³ de gás de trabalho ao final de 2012.

Figura 10 – Tipos de ESGN nos EUA e o volume de gás de trabalho por tipo de instalação. (Fonte:

IEA, 2013 (adaptado)).

Figura 11 – Localização das estocagens subterrâneas. (Fonte: IEA, 2013 (adaptado)).

Segundo Confort (2006), a estocagem norte-americana tem objetivos que podem ser

considerados tradicionais: balancear a oferta e a demanda do mercado americano; estocar para o

aumento da eficiência da indústria como um todo; atender aos picos diários de demanda e utilizar o

inventário armazenado para emergências. Enquanto os objetivos menos convencionais são:

9.66%

10.63%

79.71%

ESGN

Cavernas de sal Aquíferos Campos depletados

10.67%

8.02%

81.31%

Volume de gás de trabalho

Cavernas de sal

Aquíferos

Campos depletados

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assegurar a liquidez dos mercados e evitar a flutuabilidade de preços (price hedging) e para auferir

vantagens comerciais com a venda de gás estocado em períodos de preços mais elevados.

Os principais agentes (proprietários/operadores) das instalações de estocagens subterrâneas

nos Estados Unidos são: companhias de dutos interestaduais; companhias de dutos intraestaduais;

companhias de distribuição local e fornecedores independentes. Existem aproximadamente 136

agentes que operam as 414 instalações em 48 estados americanos. Quando uma ESGN fornece ao

comércio interestadual, passa a ser escopo da jurisdição da Federal Energy Regulatory Commission

(FERC), do contrário, é regulado pelo próprio estado.

4.4.2 Canadá

No Canadá, a principal utilidade das ESGN é atender ao pico de demanda nas estações

mais frias do ano, cujo ápice se dá no inverno. O país possui uma capacidade armazenada de gás

de trabalho de aproximadamente 19,7 bilhões de m3, o equivalente a 20% de sua demanda anual.

Estes volumes de armazenamento podem ser retirados em prazos muito curtos para ajudar a

satisfazer a demanda ou para ajudar a resolver um déficit de abastecimento.

Segundo os dados divulgados pela International Energy Agency (IEA) – IEA Statistics 2012,

o Canadá possui 50 ESGNs espalhadas pelo seu território. Destas, sete são em cavernas de sal,

enquanto que as outras 43 instalações estão alocadas em campos depletados. Como já foi dito

antes, a capacidade armazenada de gás de trabalho é cerca de 19,7 bilhões de m3, sendo que

destes 0,55 bilhões de m3 estão em cavernas salinas, enquanto que a grande parte, 19,15 bilhões de

m3, está em campos depletados.

No Canadá, as instalações subterrâneas de gás são possuídas e operadas por companhias

privadas, exceto as instalações em Saskatchewan, a qual é operada pela TransGas Limited, uma

subsidiária integral da SaskEnergy, a qual pertence à corporação da Coroa de Saskatchewan (IEA,

2012).

A produção de gás é bastante concentrada no oeste do país e abastece consumidores no

leste de seu território e nos Estados Unidos. Logo, o Canadá além de ser um dos maiores

consumidores deste energético do mundo, também se caracteriza por ser um grande exportador. O

desenvolvimento das estocagens subterrâneas se deu para suprir os grandes picos de demanda no

inverno, para garantir o fornecimento do sistema de transporte e distribuição em caso de falhas

técnicas ou mesmo desastres naturais, além de servir como segurança para o suprimento de suas

exportações. As estocagens subterrâneas também são utilizadas pelos agentes de mercado para

ajudar a gerenciar o preço do gás natural, pois eles compram o gás natural quando o preço está

baixo e o injetam nas instalações, só retirando-o quando o preço volta a subir e fica mais

interessante para vendê-lo.

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Figura 12 – Tipos de ESGN no Canadá e o volume de gás de trabalho por tipo de instalação. (Fonte:

IEA, 2012 (adaptado)).

As instalações de armazenamento de gás natural estão localizadas em muitas regiões da

América do Norte. No Canadá, a maioria dos armazenamentos está localizada no oeste do país,

cerca de 12,75 bilhões de m3 de gás natural, com Alberta tendo o maior volume de armazenamento,

enquanto que Colúmbia Britânica e Saskatchewan possuem menor capacidade de armazenamento.

Este armazenamento tem como principalmente finalidade a gestão de produção e o abastecimento

dos dutos.

Já o armazenamento no leste do Canadá possui uma capacidade de armazenamento de

6,95 bilhões de m3 e está localizado principalmente no sudoeste de Ontário, um dos mais

significativos centros da América do Norte, sendo utilizado quase que exclusivamente para atender a

demanda de inverno nas províncias de Ontário e Quebec.

Figura 13 – Gás natural armazenado no Canadá. (Fonte: Canadian Gas Association, 2013).

14.00%

86.00%

ESGN

Cavernas de sal

Campos depletados

2.72%

97.28%

Volume de gás de trabalho

Cavernas de sal

Campos depletados

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4.4.3 Alemanha

A Alemanha tem 46 estocagens subterrâneas de gás natural com uma capacidade total de

gás de trabalho da ordem de 20,69 bilhões de m3. Todo o gás é estocado em cavernas salinas (24),

em aquíferos (7) e em campos depletados (15) e há potencial para mais expansão devido às

condições geológicas favoráveis. Estas instalações são operadas e de propriedade de várias

empresas privadas (a E.ON Gas Storage é a maior) e são bem distribuídas geograficamente.

Segundo a IEA (Oil Gas Security Emergency Response of IEA Countries – Germany, 2012), além

desta capacidade de armazenamento, as empresas alemãs também têm acesso ao armazenamento

de gás natural em Haidach (Áustria), cuja capacidade de gás de trabalho é 2,6 bilhões de m3.

Alguns projetos de cavernas de sal estão em fase de planejamento ou em construção e,

quando concluídos, o total do volume de gás de trabalho, que será incrementado, estará por volta de

13,9 bilhões de m3. Outra instalação em rochas porosas, para a cidade de Behringen, está sendo

planejada pela Storengy (subsidiária da GDF Suez Energy), cujo volume total estocado será de 2,3

bilhões de m3, com capacidade de gás de trabalho de 1 bilhão de m

3. Não há requisitos obrigatórios

de armazenamento de gás natural na Alemanha, além de nenhuma instalação ser de propriedade do

governo. Os agentes, das instalações de armazenamentos de gás, devem conceder acesso às

outras empresas para suas instalações a um preço justo de mercado.

Figura 14 – Tipos de ESGN na Alemanha e o volume de gás de trabalho por tipo de instalação.

(Fonte: IEA, 2012 (adaptado)).

Nota-se que, apesar do grande número de cavernas salinas (24) em relação ao número de

campos depletados (15), há uma quantidade bem mais elevada em gás de trabalho armazenado

neste último tipo de instalação. Os campos depletados possuem uma capacidade de armazenamento

bem superior às cavernas salinas, mas em contrapartida apresentam menor potencial de taxa de

entrega.

52.17%

15.22%

32.61%

ESGN

Cavernas de sal

Aquíferos

Campos depletados

41.63%

3.80%

54.56%

Volume de gás de trabalho

Cavernas de sal

Aquíferos

Campos depletados

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4.4.4 França

Segundo a IEA, a França apresenta uma baixa produção de gás natural e o governo francês

ainda tem tomado medidas como a proibição do uso de fraturamento hidráulico para explorar

recursos não convencionais, como o gás de xisto. Além disso, as autoridades francesas projetam

que a demanda de gás natural manter-se-á estável até 2020 ou sofrerá um pequeno declínio.

A França importa gás natural da Holanda, da Noruega e da Rússia através de várias linhas

de gasodutos, mas também necessita importar, pelos seus portos, GNL de vários países do mundo,

principalmente, da Argélia e do Catar. O setor de energia e a indústria têm demanda de gás

crescente, enquanto a demanda do setor residencial está começando a diminuir por causa de

ganhos de eficiência, de acordo com os dados divulgados pela IEA em 2013. Neste contexto, as

estocagens subterrâneas constituem um elo estratégico na cadeia de gás natural, pois permitem

balancear a oferta e a demanda ao longo do ano devido ao consumo irregular durante as diferentes

estações, além de assegurar o suprimento de energia no país, caso ocorra falha na importação de

gás natural de seus diversos exportadores.

Segundo a Energy Delta, em agosto de 2011, apenas três agentes operavam as estocagens

subterrâneas de gás natural na França: a Storengy (subsidiária da GDF Suez Energy) que possuía e

operava 13 unidades, sendo 10 aquíferos, 2 cavernas de sal e 1 campo depletado; a Total

Infrastructures Gaz France (TIGF) que possuía e operava 2 aquíferos e a Géométhane que operava

apenas uma instalação em caverna de sal.

Como foi dito acima, ao fim de 2011, existiam 16 unidades de armazenamento subterrâneo

de gás natural em operação na França: 12 aquíferos; 3 cavernas de sal e 1 campo depletado de gás.

Estes acumulavam uma capacidade de gás de trabalho da ordem de 12,595 bilhões de m3, sendo

distribuídos da seguinte forma: aquíferos com 11,454 bilhões de m3; cavernas de sal com 1,016

bilhões de m3 e campos depletados com 0,125 bilhões de m

3. A figura seguinte mostra esta

distribuição, por tipo de estocagem das instalações e pelo volume de gás de trabalho estocado.

Figura 15 – Tipos de ESGN na França e o volume de gás de trabalho por tipo de instalação. (Fonte:

IEA, 2012 (adaptado)).

18.75%

75.00%

6.25%

ESGN

Cavernas de sal Aquíferos Campos depletados

8.07%

90.94%

0.99%

Volume de gás de trabalho

Cavernas de sal

Aquíferos

Campos depletados

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4.4.5 Itália

Como um grande importador de óleo e gás natural, a Itália depende fortemente de

importações para satisfazer suas necessidades energéticas. Assim, quando se trata apenas da

importação de gás natural, esta tem participação acima de 90% do consumo deste energético.

Estudos da IEA (2010) indicam um aumento desta dependência de até 95% em 2030. As

importações de gás natural alçaram valores em torno de 67,96 bilhões de m3 em 2012, enquanto que

a produção de gás natural no mesmo período totalizou cerca de 8,06 bilhões de m3, incluindo a

queima e o reciclo do gás. Entretanto a maior parte das importações vem da Rússia e da Algéria,

contabilizando cerca de dois terços do total importado.

A infraestrutura de armazenamento subterrâneo de gás natural desempenha um papel

importante no mercado de gás italiano. Durante os meses de verão, onde se dá o menor consumo, o

gás é injetado, preenchendo quase toda a capacidade destas instalações, enquanto que no inverno,

quando se dá o pico de demanda, o gás é retirado tanto para atender a demanda industrial, como a

demanda residencial.

Em 2012, existiam 10 unidades de ESGN em operação na Itália, sendo que todas em

campos depletados de gás. Estes acumulavam uma capacidade de gás de trabalho da ordem de

15,15 bilhões de m3. Segundo a Energy Delta em agosto de 2011, apenas dois agentes operavam as

estocagens subterrâneas de gás natural na Itália: a Stoccaggio Gas Italia SpA (STOGIT) com oito

instalações e a Edison SpA com apenas duas.

Com relação à localização e a distribuição das ESGNs nos estados italianos, existe a

concentração na região norte, área mais desenvolvida e industrializada do país, no estado da

Lombardia, no estado da Emilia Romagna e no estado de Veneto. No sul existem dois

armazenamentos no estado de Abruzzi. Além da capacidade de armazenamento existente, há 19

instalações em fase de projeto, totalizando uma capacidade de armazenamento de gás de trabalho

estimada em 12,262 bilhões de m3, sendo que 18 são planejadas em campos de gás depletados e

apenas uma em aquífero. Uma das grandes dificuldades na ampliação da capacidade de

armazenamento na Itália é o processo de autorização destas novas unidades, que inclui rigorosos

requisitos de avaliação de impacto ambiental.

4.4.6 Rússia

Segundo dados divulgados pela British Petroleum – BP Statistical Review of World Energy,

June 2013, com 592,27 bilhões de m3 em 2012, a Rússia foi o segundo maior produtor de gás natural

do mundo, ficando atrás dos Estados Unidos que produziu cerca de 681,39 bilhões de m3 (estes

valores não incluem a queima de gás e o reciclo). Quando se trata de consumo, a Rússia (416,2

bilhões de m3) continua em segundo lugar, ficando, ainda, atrás dos Estados Unidos (722,1 bilhões

de m3). Ela ainda detém as maiores reservas provadas de gás natural do mundo, com 32,9 trilhões

de m3. Em 2012, tendo a Europa como o seu principal mercado, a Rússia exportou 200,7 bilhões de

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m3 de gás natural, sendo que 14,8 bilhões de m

3 foi de GNL. A Rússia possui a maior malha de

gasodutos do mundo, com cerca de 168.300 km de extensão (Gazprom, 2014).

As ESGNs fazem parte de um sistema integrado de fornecimento de gás, designado por

UGSS (Unified Gas Supply System), cuja operação se dá pela OOO Gazprom-UGS, uma subsidiária

que pertence 100% à OAO Gazprom, e controlada pelas autoridades do governo. As unidades de

armazenamento subterrâneo de gás natural têm uma interação muito grande com a rede de

transmissão de gás, o que ajuda a amortecer a flutuação sazonal no fornecimento de gás, tanto para

o mercado doméstico, como para o mercado de exportação, durante os períodos mais frios do ano

(outono e inverno), quando a demanda do gás é maior em comparação com a primavera e o verão.

Desta forma, estas unidades aumentam a flexibilidade e a taxa de entrega do suprimento de gás,

tanto para o mercado russo como para o mercado externo. A rede de armazenamento de gás é

capaz de suprir até 20% do consumo de gás natural do mercado doméstico durante as estações

quentes e até 30% durante as estações frias (Energy Charter Secretariat, 2010).

As principais estratégias dessas unidades de estocagem na Rússia são: equilíbrio sazonal do

consumo interno; balancear o consumo de pico de gás natural nas épocas frias; segurança no

abastecimento através do Sistema Unificado de Fornecimento de Gás (UGSS); reduzir os picos de

pressão nas linhas de transmissão de gás; segurança das exportações de gás natural através dos

gasodutos principais em caso de interrupções não previstas; equilíbrio sazonal das exportações;

suprimento adicional de gás natural em situações de emergência e para invernos rigorosos e, ainda,

servir como reservas estratégicas. Segundo a Gazprom (2014), existem 26 instalações de

armazenamento subterrâneo de gás natural na Rússia: 17 em campos de gás depletados; 8 em

aquíferos e 1 em caverna de sal. A capacidade de armazenamento de gás de trabalho destas

unidades é, aproximadamente, 68,16 bilhões de m3.

Figura 16 – Tipos de ESGN na Rússia. (Fonte: Gazprom, 2014 (adaptado)).

A Gazprom pretende renovar suas instalações existentes, bem como construir outras

unidades para o armazenamento de gás natural. Até 2016, estas mudanças visam um aumento da

taxa de entrega diária em torno de 819,6 milhões de m3. Para 2020, os planos são mais ousados,

buscando atingir uma taxa de 1 bilhão de m3. Atualmente, duas cavernas de sal estão sendo

3.85%

30.77%

65.38%

ESGN

Cavernas de sal

Aquíferos

Campos depletados

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construídas, sendo uma em Kaliningradskoe e outra em Volgogradskoe. Um aquífero está sendo

construído em Bednodemyanovskoye. Quando todos estes projetos de construção forem concluídos,

espera-se um aumento de 5,61 bilhões de m3 na capacidade de gás de trabalho e de 107 milhões de

m3 na taxa de entrega diária, sendo perspectivas divulgadas pela página online da Gazprom.

A Gazprom embarcou em um desenvolvimento muito ambicioso no setor de armazenagem

subterrânea de gás natural na Europa, tendo o intuito de se aproximar de seus mercados e de suas

principais rotas. A companhia projeta expandir na Europa a sua capacidade de gás de trabalho de 3

bilhões de m3 em 2011 para 5 bilhões de m

3 em 2015. No início de 2013, já detinha 4,5 bilhões de

m3. O objetivo, no longo prazo, é garantir no mínimo 5% de suas vendas anuais para Europa em sua

propriedade direta de ativos.

O principal objetivo declarado da Gazprom é aumentar a segurança de suas exportações de

gás, tanto através dos corredores de transmissão existentes (Nord Stream) ou através de novos

gasodutos, como o South Stream. Sua expansão de armazenamento na Europa trará benefícios

adicionais e de receitas para a empresa: confiabilidade de suprimentos e notoriedade da empresa;

melhoramento de sua operação do sistema de transporte; menor custo de entrega; entrega mais

eficiente; vendas extras de gás; ter acesso aos centros de mercado e ter maior poder de barganha

no mercado de gás natural. A figura seguinte mostra as localizações das estocagens subterrâneas

de gás natural em território russo, sendo apresentadas as localizações das unidades existentes, as

que estão sendo construídas e projetadas, além das principais linhas de gasodutos dentro da Rússia.

Figura 17 – Localização das ESGNs na Rússia. (Fonte: http://www.gazprom.com/, 2014

(adaptado)).

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5 A Estocagem Subterrânea de Gás Natural no Brasil

Com 17,4 bilhões de m3 em 2012, o Brasil foi o 32º maior produtor de gás natural do mundo,

representando apenas 0,5% da produção mundial (estes valores não incluem a queima de gás e o

reciclo). Quando se trata de consumo, o Brasil está em 31º (29,2 bilhões de m3), que representa

0,9% do consumo total do mundo. Na América do Sul, o Brasil é o segundo em termos de consumo,

ficando atrás apenas da Argentina (47,3 bilhões de m3 ou 1,4% do consumo total) e, ainda, detém 0,5

trilhões de m3 ou 0,2% do total de reservas provadas de gás natural do mundo, ficando apenas atrás

da Venezuela que possui 5,6 trilhões de m3 (3% das reservas provadas do planeta), segundo dados

divulgados pela British Petroleum – BP Statistical Review of World Energy, June 2013.

Em 2012, o Brasil importou 10,1 bilhões de m3 de gás natural da Bolívia através do gasoduto

Brasil-Bolívia (GASBOL), além de receber uma parcela de 3,2 bilhões de m3 de Gás Natural

Liquefeito (GNL) dos Estados Unidos (0,2), Trinidad & Tobago (0,8), Noruega (0,2), Catar (1,1),

Nigéria (0,5) e de outros países da Europa (0,4) através de seus portos (Pecém (CE) e Baía de

Guanabara (RJ)). Ou seja, o Brasil importou aproximadamente 45,55% do seu consumo total, o que

demonstra a vulnerabilidade e a grande dependência quanto ao fornecimento externo para satisfazer

suas necessidades energéticas.

Segundo estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) junto à Associação Brasileira

das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (ABEGÁS) e aos consumidores industriais de gás

natural, projeta-se que aos cerca de 79,69 milhões de m3/dia do consumo de gás natural em 2012,

sejam adicionados cerca de 59,31 milhões de m3/dia até 2022, dos quais 32% serão utilizados como

consumo não energético em refinarias e unidades de fertilizantes. Desses 139 milhões de m3/dia em

2022, atinge-se em torno de 21 milhões de m3/dia requeridos na produção termelétrica esperada.

A pesquisa ainda considera outro cenário, utilizando o nível máximo de despacho

termelétrico, cujo conteúdo possui relevância para o dimensionamento da infraestrutura futura. Neste

cenário, a demanda total de gás natural em 2022 poderia atingir, aproximadamente, 185 milhões de

m3/dia (máxima diária). Cabe ressaltar que este total não inclui o consumo das atividades de

exploração e produção.

Nota-se que o gás natural tem aumentado significativamente o seu consumo (energético e

não energético), e, principalmente, sua participação na matriz energética brasileira, participando com

11,5% em 2012 e com perspectivas de incrementos a cada ano. Todavia, este crescimento requer o

desenvolvimento da infraestrutura de tratamento, de movimentação e de distribuição, exigindo maior

eficiência e dinâmica do mercado de gás natural, reforçando o papel importante que a estocagem

subterrânea possa vir a desempenhar no cenário brasileiro, reforçando a confiabilidade e a

credibilidade da rede como um todo e aumentando a segurança do suprimento do energético.

Confort (2006) destaca que o incremento na oferta de gás natural e o aumento da sua

participação na matriz energética foram, também, resultados do início das operações do gasoduto

Brasil-Bolívia (GASBOL) em 1999, que pôde somar até 30 milhões de m³ a mais do energético por

dia. Atualmente, com a entrada de novas áreas produtoras de gás natural e de mais um terminal de

regaseificação de GNL, na Bahia, junto com a necessidade de atender ao aumento das demandas

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(tanto as termelétricas quanto as não termelétricas) resultarão em maiores volumes de gás natural

produzidos, importados, transportados e comercializados.

Torna-se evidente que este cenário, de crescimento da participação do gás natural na matriz

energética brasileira, precisará de fatores externos que o propiciem. Dentre os mais importantes,

podem ser citados: as descobertas de novas jazidas; as políticas voltadas para substituição de

combustíveis e de incentivos ao uso de gás natural; o aumento da geração termelétrica e o

crescimento econômico acompanhado do incremento da infraestrutura brasileira, tanto de

armazenamento subterrâneo como de ampliação da malha de gasodutos.

5.1 Objetivos estratégicos da ESGN no Brasil

As nações, que foram avaliadas no capítulo anterior, tinham em comum o alto nível de

desenvolvimento de seus mercados de gás, que se caracterizam por serem maduros com

posicionamentos bem definidos no mercado internacional, sejam como grandes produtores (Estados

Unidos, Canadá e Rússia), importadores (Estados Unidos, Alemanha, França e Itália), consumidores

(Estados Unidos, Canadá, Rússia, Alemanha, França e Itália) ou exportadores (Rússia e Canadá). A

abordagem tinha como intuito conhecer a dinâmica de mercados maduros de gás natural, cujo

objetivo principal era fazer o aporte das características que mais se assemelhavam e adaptavam ao

mercado incipiente de gás natural do Brasil.

Existem dois pontos importantes que precisam ser, ao menos, elucidados. O primeiro, diz

respeito ao sistema de transporte e de distribuição de gás natural no Brasil em relação aos países

estudados. Apesar das dimensões continentais, não há uma infraestrutura bem desenvolvida para o

comércio do gás, onde existem apenas 10.315 km de malha de gasodutos, concentrando-se no

nordeste e no sudeste do país, além de não dispor da presença de nenhum tipo de ESGN.

Outro ponto importante é a questão da sazonalidade da demanda de gás natural, sendo esta

relacionada às típicas variações climáticas em todos os países analisados. Nestes países, o pico de

demanda de gás natural se dá no inverno, quando o consumo residencial aumenta devido à

necessidade de aquecimento, cujo fornecimento excedente de gás é feito pelas ESGNs. No Brasil,

isto não se aplicaria e nunca justificaria a construção de uma ESGN. Todavia, outro tipo de

sazonalidade se aplicaria, pois segundo Almeida (2010), o Brasil apresenta no segmento de mercado

termelétrico a grande sazonalidade em face da característica complementar desse segmento com o

parque hidrelétrico brasileiro, uma vez que a capacidade de geração hidrelétrica está sujeita ao

regime hidrológico para o abastecimento dos reservatórios das usinas hidrelétricas.

Ao contrário do que acontece no resto do mundo, o Brasil possui alto conteúdo de energias

renováveis tanto em sua matriz energética como em sua matriz de energia elétrica. Logo, a energia

hidráulica desempenha papel fundamental na geração de energia elétrica, sendo a grande

responsável pelo fornecimento elétrico com 70,1% de participação. Todavia, poder-se-ia utilizar os

estoques subterrâneos de gás natural para otimizar a oferta para as termelétricas durante o período

em que o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas é mais crítico (setembro e janeiro), o que

possibilitaria a adição de uma parcela representativa de energia no sistema elétrico brasileiro, dando

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um ótimo rendimento ao potencial hidráulico instalado e diminuindo os riscos de racionamento

elétrico nas regiões do Brasil. Em regiões mais secas, cuja taxa pluviométrica é baixa, poderia ser

uma saída para amenizar as crises energéticas, como na região nordeste, que precisa importar

energia elétrica da região norte e da região sudeste.

Entretanto, a concepção de uma instalação de armazenamento subterrâneo traria vários

outros ganhos para o mercado brasileiro de gás natural, pois aumentaria a segurança no suprimento,

permitindo menos vulnerabilidade quanto às interrupções de abastecimento a partir das importações.

A ESGN, também, melhoraria a parte operacional do sistema de transporte, pois poderia ser utilizada

para desafogar os gasodutos durante os picos de pressão, retirando o gás das linhas e injetando

nelas e só seriam retirados de lá, quando a pressão voltasse ao patamar normal. A estocagem

também aumentaria a capacidade de entrega de gás no mercado durante os picos de demanda,

além de dar maior eficiência, pois teria mais acesso aos centros de mercado, não só das centrais

termelétricas, mas das refinarias e do mercado residencial. Ela, ainda, proporcionaria maior poder

para negociar os contratos de transporte no mercado de gás natural.

No mercado de gás natural, os contratos de transportes possuem cláusulas do tipo take or

pay. Neste tipo de contrato, o contratante do serviço é obrigado a pagar pelo transporte ou

armazenamento de gás natural mesmo que o serviço contratado não seja executado (Mathias, 2006).

Desta forma, a instalação de armazenamento subterrâneo de gás natural propiciaria condições mais

favoráveis para o desenvolvimento do mercado de gás natural no Brasil, além de dar mais

flexibilidade nos contratos com cláusulas deste tipo.

A ESGN beneficiaria as operações comerciais, possibilitando arranjos contratatuais

alternativos e dando maior flexibilidade e confiabilidade à oferta de gás natural, pois segundo o

Instituto Nacional de Tecnologia (2003), em um mercado predominantemente hidrelétrico como o

brasileiro, onde usinas termelétricas operam somente na ponta da curva de carga do sistema elétrico

ou durante o período de estiagem, a utilização da infraestrutura de armazenagem pode representar

uma saída da inflexibilidade dos contratos take or pay. Com um sistema de ESGN, o parque de

geração a gás natural poderia adquirir um mix de contratos de transporte com diferentes níveis de

flexibilidades, relacionados com a probabilidade de despacho das usinas. Nesse contexto, a ESGN

poderia suprir as lacunas da oferta de gás quando os contratos não pudessem ser efetivados.

Ao se considerar a recente descoberta de 400 bilhões de m3 de gás natural na Bacia de

Santos, a ESGN junto aos centros consumidores torna-se fundamental para garantir o fornecimento

contínuo às futuras usinas geradoras, otimizar a rede de gasodutos existentes, possibilitar a

modulação da produção, do transporte, do processamento e da demanda (Iyomasa et al., 2005).

5.2 A infraestrutura de transporte de gás natural

Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), a malha da rede nacional de gasodutos

conta, em dezembro de 2013, com um total de 10.315 km distribuídos por todas as regiões, existindo

três operadores atuando em toda a rede: a Transportadora Sulbrasileira de Gás S.A. (TSB); a

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Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. (TBG) e a Petrobras Transporte S.A.

(Transpetro).

A TSB possui operações no estado do Rio Grande do Sul, operando o gasoduto Uruguaiana-

Porto Alegre, onde existem apenas dois trechos em operação: o trecho 1 que vai de Porto Alegre ao

pólo petroquímico de Triunfo e o trecho 3 que vai da divisa oeste com a Argentina até a cidade de

Uruguaiana. Deverá ser construído o trecho 2, que deverá acrescentar mais 565 km de extensão ao

gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre, interligando os trechos 1 e 3. A TSB pretende fazer algumas

ampliações e modificações nas atuais instalações (TSB, 2014).

O Gasoduto Uruguaiana-Porto Alegre possui capacidade de transportar cerca de 15 milhões

de m3 de gás natural por dia, onde os seus 615 km, interligando a fronteira oeste com a grande Porto

Alegre, através da região central do estado, propiciam a distribuição de gás natural para todo o Rio

Grande do Sul (TSB, 2014).

A Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) opera o GASBOL, cuja extensão

é de 3.150 km, sendo 557 km na Bolívia e 2.593 km no Brasil. O GASBOL está dividido em três

trechos: trecho norte, que liga a cidade de Rio Grande (Bolívia) à cidade de Paulínia-SP (Brasil);

trecho Paulínia-Guararema, que liga estas duas cidades no estado de São Paulo e trecho sul, que

liga a cidade de Campinas-SP à cidade de Porto Alegre-RS. A capacidade total de fornecimento do

GASBOL é de 30,08 milhões de m3 de gás natural por dia. O gasoduto começa na localidade

boliviana de Rio Grande e se estende por 557 km até Porto Suarez, na fronteira com o Brasil. No

Brasil, o Gasbol atravessa cinco estados brasileiros, num total de 136 municípios, trabalhando a uma

pressão máxima de 100 kgf/cm² entre Corumbá e Curitiba. Essa pressão cai para 75 kgf/cm² nos

trechos que ligam Curitiba a Porto Alegre e Campinas a Guararema-SP (TBG, 2014).

O restante da malha brasileira integrada (parte da malha Sudeste, o GASENE3 e a malha do

Nordeste) é operado pela Transpetro, sendo responsável pela operação e manutenção de uma rede

de mais de 7.100 km de gasodutos (7.107 km aproximadamente), além do pólo de processamento de

gás de Cabiúnas, o maior do Brasil. Esta rede se estende desde a região Sul, passando pela região

Sudeste até a região Nordeste, fazendo a integração destas regiões. A Transpetro ainda controla a

operação do transporte de gás natural de Urucu à Manaus, na região Norte, sendo que esta não está

integrada às outras linhas (Transpetro, 2014).

Segundo a Transpetro (2014), 75% de todo o gás natural consumido no Brasil escoam por

esta malha, que compreende 66 linhas (entre gasodutos e ramais), 20 estações de compressão, 28

pontos de recebimento (entre os quais dois terminais de GNL), 133 pontos de entrega e atravessa

306 municípios. Atualmente, a capacidade de transporte é de 19.700 milhões de m³/dia, com

crescimento previsto a partir da entrada de novas estações de compressão até 2020.

A malha de transporte administrada pela Transpetro engloba seis malhas: Malha Norte com

extensão de 801,1 km e possui 12 pontos de entrega e duas estações de compressão; Malha

Nordeste Setentrional, cuja extensão é de 1.420,2 km e tem 31 pontos de entrega; Malha Nordeste

Meridional, cuja extensão possui 1.483 km, com 26 pontos de entrega e uma estação de

compressão; Malha Espírito Santo, que possui 1.351,9 km de extensão e 14 pontos de entrega e três

3 Trecho de gasoduto que une as malhas do Sudeste e do Nordeste do Brasil.

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estações de compressão; Malha Rio de Janeiro e Minas Gerais, totalizando 1.356,5 km de extensão,

com 24 pontos de entrega e duas estações de compressão e a Malha São Paulo, que totaliza 910 km

de extensão, com 13 pontos de entrega e duas estações de compressão.

A próxima figura é bastante interessante, pois resume tudo o que foi dito anteriormente, além

de falar dos planos futuros de expansão da malha de gasodutos. Ela apresenta todas as linhas de

gasodutos que estão em operação e deixa explícito o trecho GASENE que interligou a região

Sudeste e a região Nordeste, obra que foi responsável pela integração de três das cinco regiões do

Brasil: Sul, Sudeste e Nordeste. A figura também mostra as linhas de gasodutos que estão em fase

de pesquisa e planejamento e podem vir a se tornar uma realidade, além de apresentar os trechos

que já estão em fase de implantação e as áreas de reservas de gás natural do Brasil.

Figura 18 – Gasodutos de transporte. (Fonte: ABEGÁS, 2014).

5.3 Prospecção de estruturas geológicas com potencial para ESGN

O propósito deste item é apresentar um estudo sobre estocagem subterrânea de gás natural

realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) em parceria com o Programa de Tecnologia

em Fronteiras Exploratórias (PROFEX) da Petrobras e com o recurso financeiro da Financiadora de

Estudos e Projetos (FINEP). Este foi um estudo geológico e de pré-viabilidade econômica com o

objetivo de identificar áreas potenciais para estocagem do gás natural em sedimentos da Bacia do

Paraná, no estado de São Paulo (Iyomasa et al., 2005).

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Outro ponto interessante, que será tratado neste item, será uma introdução à área de

interesse deste estudo: o Recôncavo Baiano. Será uma abordagem mais rica em detalhes, cujo

objetivo é mostrar o início e o desenvolvimento das atividades de exploração e de produção,

retratando o atual estágio de evolução das atividades petrolíferas nesta região.

5.3.1 Bacia do Paraná

A Bacia do Paraná é uma ampla região sedimentar do continente sul-americano que inclui

porções territoriais do Brasil meridional, Paraguai oriental, nordeste da Argentina e norte do Uruguai,

totalizando uma área que se aproxima de 1,5 milhão de quilômetros quadrados (Milani et al., 2007).

O estudo, desenvolvido em parceria pelo IPT, PROFEX e FINEP, se concentrou em terrenos

sedimentares da Bacia do Paraná, na área de influência do Gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL) no

estado de São Paulo, e teve como área alvo o bloco Bauru. É nesta área que o estudo tinha como

intenção a identificação de estruturas porosas capazes de armazenar gás natural (aquíferos).

A prospecção destas estruturas é similar à prospecção de reservatórios petrolíferos,

inclusive usa-se até sísmica de reflexão, mas o que muda é a ênfase do estudo, pois na prospecção

dos aquíferos o foco é dado na capacidade de retenção do fluido, ou seja, procuram-se reservatórios

cujas rochas selantes apresentem baixíssimas permeabilidades, desconsiderando os fatores

relacionados com a migração e a geração de hidrocarbonetos.

Segundo Iyomasa et al. (2005), foi possível estabelecer uma metodologia tecnológica

adequada na identificação, inicialmente, de dez alvos potenciais para ESGN. O prosseguimento do

estudo com uso das técnicas geofísicas, levantamento de campo e análise de perfis de poços

(petróleo, água e carvão), excetuando-se as informações do sistema Petrobras, permitiu eleger três

alvos prioritários localizados a menos de 100 km de distância do GASBOL e entre 500 e 2.000 m de

profundidade.

Neste estudo, tentou-se estimar a capacidade de armazenamento de um desses três alvos

prioritário. Logo, este alvo prioritário escolhido possuía as seguintes características principais:

volume de rocha-reservatório trapeda – 170 milhões de m3; saturação em água de 25%; fator

volumétrico de 10.000; porosidade de 8%; capacidade em armazenar 1,6 bilhões de m3, sendo que

500 milhões de m3 correspondem ao volume de gás de trabalho (working gas). Vale salientar que

nem a verdadeira condição geométrica da estrutura nem os valores de porosidade, dentre outros

dados físico-químicos, são verdadeiramente conhecidos. O volume de gás de trabalho estimado (500

milhões de m3) é um bom volume quando se leva em conta a oferta diária do GASBOL (30,8 milhões

de m3/dia), pois este alvo poderia garantir o abastecimento ininterrupto por até 16 dias.

5.3.1.1 Enquadramento geológico

A Bacia do Paraná é uma bacia sedimentar que está localizada no continente sul-americano,

cuja extensão inclui porções territoriais do Brasil meridional, Paraguai oriental, nordeste da Argentina

e norte do Uruguai, totalizando uma área que se aproxima de 1,5 milhão de km2. A bacia possui uma

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forma ovalada com eixo maior N-S, sendo que seu contorno atual está definido por limites erosivos

relacionados em grande parte à história da geotectônica meso-cenozóica do continente, conforme a

descrição de Milani et al. (2007).

Segundo Milani et al. (2007), o registro estratigráfico da Bacia do Paraná compreende um

pacote sedimentar-magmático com uma espessura total máxima em torno dos 7 mil metros,

coincidindo, geograficamente, com o depocentro estrutural da sinéclise com a região da calha do rio

Paraná. A seguir, são apresentados o mapa da localização geográfica da bacia e a seção geológica.

Figura 19 – Mapa de localização da Bacia do Paraná. (Fonte: Milani, 1997).

Figura 20 – Seção geológica da Bacia do Paraná. Sentido da esquerda para direita: NW-SE. (Fonte:

Milani e Zalán, 1998 (Modificado de Raffaelli et al., 1996)).

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5.3.2 Bacia do Recôncavo

O início da indústria petrolífera no Brasil tem sua origem no estado da Bahia, mais

precisamente na Bacia do Recôncavo. O ano era 1939, quando se descobriu a primeira acumulação

de petróleo em Lobato, mesmo que esta se provasse economicamente inviável, representou o

estopim para que se aumentassem a exploração e o desenvolvimento de pesquisas na área. Só em

1942, com a descoberta do campo de Candeias, é que veio a primeira acumulação que atingiria

níveis comerciais. Outras grandes descobertas foram realizadas nos anos posteriores como os

campos Água Grande (1947), Dom João Mar (1954), Taquipe (1959), Buracica (1959), Miranga

(1965) e Araçás (1965). Segundo Milani et al. (2003), durante mais de 60 anos, depois da primeira

descoberta, foram perfurados mais de mil poços na região, entre tantos outros poços de

desenvolvimento, fato que fez dessa bacia a maior produtora brasileira até a descoberta das

reservas da Bacia de Campos no fim da década de 1970.

Figura 21 – Localização dos Poços Pioneiros na Bacia do Recôncavo. (Fonte: ANP, 2006).

Desde o início das suas operações em 1954, um ano após a sua criação, a Petrobras atua

intensamente na Bacia do Recôncavo, tendo efetuado diversas campanhas sísmicas terrestres e

marinhas. Esses levantamentos indicaram que se trata de uma bacia tipo rifte, ou seja, esta bacia

passou por períodos de distensão, o que acarretou o surgimento de diversas falhas normais,

surgindo inclusive dobras nas camadas sedimentares, o que favoreceu a ocorrência de armadilhas

capazes de formarem acumulações de hidrocarbonetos, porém tais reservatórios não são de grandes

dimensões. A Bacia do Recôncavo possui quatro grandes reservatórios que se encontram nas

formações Sergi, Água Grande, Marfim e Pojuca, e a principal área de formação de hidrocarbonetos

são as rochas geradoras (folhelhos) da formação Candeias e Membro Tauá.

Em 2012, o estado da Bahia foi o quarto maior produtor de gás e de óleo do Brasil, tendo

uma produção de 3,22 bilhões de m3 e de 2,7 milhões de m

3, respectivamente. Além da Bacia do

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Recôncavo, existe outra bacia sedimentar produtora na Bahia, que é a Bacia de Tucano, cuja

produção é bastante inferior à outra.

Figura 22 – Poços exploratórios perfurados por ano. (Fonte: ANP, 2013).

Na figura anterior, observa-se que houve um decréscimo na perfuração de poços pioneiros

ao longo da década de 1990, no mesmo período que também houve um declínio de produção de

óleo. Pode-se relacionar, então, o declínio da produção da Bacia do Recôncavo com a diminuição

das atividades exploratórias em termos de poços pioneiros, mas difícil é relacionar o quê ocasionou o

quê: se foi o declínio da produção que provocou o desinteresse nas atividades exploratórias ou foi a

diminuição nas atividades exploratórias que provocou o declínio da produção. A próxima figura

apresenta a evolução da produção de óleo e de gás de 1997 até 2012.

Figura 23 – Evolução da produção de petróleo e gás. (Fonte: ANP, 2013).

Nota-se que a produção de óleo esteve em declínio acentuado durante o fim dos anos 90,

mas a partir de 2004, quando houve um leve aumento na produção em relação a 2003, a produção

teve um declínio menos acentuado até 2009. Isto se deu devido à utilização de técnicas secundárias

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de recuperação de campos maduros, que conseguiu diminuir a taxa de declínio desta produção.

Quando as duas figuras anteriores são comparadas, nota-se que a partir de 2008/2009 houve uma

retomada na exploração de poços pioneiros e a descoberta de novos reservatórios, contudo a

produção de óleo deu um crescimento nos anos seguintes, enquanto que a produção de gás, que

estava em declínio acelerado, teve uma melhora no decaimento da curva de produção, logo,

melhorou-se a taxa de declínio. Durante o mesmo período, a produção de gás cresceu ligeiramente

até 2004, quando entrou em declínio até 2012.

Como consequência, a Bacia do Recôncavo encontra-se já bastante depletada, isto é, cujos

reservatórios maduros operam com pressão bem abaixo da pressão original e em constante declínio

de produção como se pode observar na figura anterior. Além disto, existem diversos outros campos,

totalmente inativos, com acumulações marginais que foram devolvidos à ANP e que esta quer

fomentar as pequenas e médias empresas, produtores independentes de petróleo, a investir na

produção de hidrocarbonetos em bacias terrestres depletadas, cujas infraestruturas de tratamento e

de transporte já estão instaladas. Entretanto, pretende-se mostrar o potencial destes campos

depletados para serem transformados em estocagens subterrâneas de gás natural, de modo que

garanta o fornecimento contínuo de gás natural às usinas termelétricas, melhore o rendimento da

rede de gasodutos, possibilite a modulação da produção, do processamento, da demanda, etc.

5.3.2.1 Enquadramento geológico

A Bacia do Recôncavo faz parte de um sistema de rifts neocomianos que se formou durante

o processo inicial da separação dos continentes africano e sul-americano, ao final do Cretáceo

Inferior. Ela é constituída por um meio-gráben, com mergulho para Sudeste, e acha-se seccionada

por feições transversais que a divide em três compartimentos: Sul, Central e Nordeste (Pereira, 95).

Figura 24 – Mapa de localização da Bacia do Recôncavo. (Fonte: Milani e Davison,1988).

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Segundo Silva et al. (2007), a Bacia do Recôncavo localiza-se no estado da Bahia, Nordeste

do Brasil, ocupando uma área de aproximadamente 11.500 km2. Seus limites são representados pelo

Alto de Aporá, a norte e noroeste; pelo sistema de falhas da Barra, a sul; pela Falha de Maragogipe,

a oeste e pelo sistema de falhas de Salvador, a leste.

Figura 25 – Seção geológica da Bacia do Recôncavo. (Fonte: ANP, 2013 (Retirado de Cupertino e

Bueno, 2005)).

5.4 A ESGN e a questão da flexibilidade na indústria do GN no Brasil

No início deste capítulo, mostrou-se a tendência de crescimento da produção e do consumo

de gás natural, explicitando a ampliação deste mercado no Brasil, o que trouxe inclusive a integração

da malha de gasodutos, bem como o planejamento de expansão e ramificação desta rede. Este

cenário de desenvolvimento do mercado de gás natural aumenta os desafios e as oportunidades

para o equilíbrio entre a oferta e a demanda.

Logo, devem-se entender as origens das variações de demanda de gás natural de modo que

se consiga criar mecanismos flexíveis na oferta de gás natural para que se atinja o equilíbrio entre a

demanda e a oferta. Essa flexibilidade de oferta de gás natural se reflete na criação de uma

infraestrutura que permita ajustar estas flutuações de mercado, seja por intermédio de uma ESGN,

ou por unidades de regaseificação de GNL ou até por ramificação da rede de transporte.

Nos países de clima temperado, a demanda de gás natural se caracteriza por apresentar

uma sazonalidade bem definida ao longo das estações frias do ano, concentrada nos setores

residencial e comercial, com uma grande previsibilidade quanto ao comportamento dessas

oscilações. É justamente esta capacidade de previsão que vai definir se um investimento tal como

uma ESGN é viável economicamente ou não, pois os agentes de mercado agem de acordo com as

flutuações de preço de gás natural, comprando quando o preço está baixo (meses quentes) e

vendendo quando o preço está alto (meses frios), sendo o fundamento de sua estratégia de

mercado. Ou seja, a remuneração das ESGNs acontece exatamente pelo sinal econômico do preço

do gás natural, assim, uma ESGN compra gás natural nos períodos de baixa demanda para estocar

gás e o vende no período de alta demanda, embolsando a diferença de preços.

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Como foi visto anteriormente, no Brasil, o consumo dos setores residencial e comercial não

apresentam oscilações de demanda ao longo do ano, além de apresentar um consumo muito

pequeno. Logo, a sazonalidade do mercado de gás natural brasileiro diz respeito ao setor

termelétrico que demanda grande volume, sendo acionado de modo complementar ao setor

hidrelétrico, pela indústria da energia elétrica brasileira, quando o nível dos reservatórios de água

está baixo. Como as variáveis que regem este cenário são menos previsíveis, o planejamento da

operação da indústria de energia elétrica gira em torno de incertezas que vem sendo resolvidas de

forma aleatória, sem levar em conta a complexidade da indústria do gás natural.

Segundo Almeida (2008), para que estes mecanismos de flexibilidade sejam viáveis

economicamente, faz-se necessário buscar ao máximo as condições de previsibilidade das

oscilações, ou seja, as sazonalidades do comportamento da demanda no mercado de gás natural e,

particularmente, para o caso brasileiro, as sazonalidades do comportamento da demanda no

mercado de energia elétrica, bem como do comportamento da disponibilidade de geração

hidrelétrica. Sendo que esta sustentabilidade econômica só será possível se forem criadas: as

condições mínimas para permitir alguma previsibilidade do comportamento da demanda e o sinal de

preço correto.

Logo, o governo brasileiro deve buscar uma visão integrada entre a indústria do gás natural e

da energia elétrica de modo que haja a convergência entre elas, onde se busca criar as melhores

condições de previsibilidade dos acionamentos das termelétricas e suas respectivas demandas por

gás natural e se houver, em conjunto, o sinal de preço de gás natural adequado, estarão geradas as

condições de sustentabilidade e competitividade na implantação destes mecanismos de flexibilidade,

tais como a ESGN.

Nota-se que há uma disparidade enorme entre o nível de desenvolvimento da indústria de

gás natural no Brasil e o nível da indústria de países como Estados Unidos, Canadá, Alemanha,

França, Itália, Rússia, entre outros mercados maduros. O Brasil encontra-se nos primórdios da

evolução da indústria do gás natural e ainda há várias etapas e caminhos necessários para serem

galgados até que se atinja a maturidade desses outros mercados, mas deve-se ter cuidado no

caminho escolhido, pois cada país estudado percorreu um caminho específico dentro da realidade

em que estava inserido, seja como o caso da Rússia que se preocupou e se preocupa com o

escoamento de sua produção para exportação, seja como a França que criou a infraestrutura

necessária para se precaver de interrupções de fornecimento de gás natural. O Brasil deve captar as

melhores práticas que existem nos mercados maduros, mas com foco em suas necessidades.

5.5 A regulação da indústria de GN e da ESGN no Brasil

A Lei Nº 11.909, de 4 de março de 2009, conhecida como “Lei do Gás”, trata especificamente

sobre as atividades de transporte, tratamento, processamento, estocagem, liquefação, regaseificação

e de comercialização de gás natural. A estocagem de gás natural é abordada, inicialmente, no artigo

37 do capítulo IV, seção VIII, quando está descriminado que esta será “exercida por empresa ou

consórcio de empresas, desde que constituídos sob as leis brasileiras, com sede e administração no

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País, por conta e risco do empreendedor, mediante concessão, precedida de licitação, ou

autorização”. Enquanto o artigo 38 trata de forma mais explícita referindo-se ao “exercício da

atividade de estocagem de gás natural em reservatórios de hidrocarbonetos devolvidos à União e em

outras formações geológicas não produtoras de hidrocarbonetos será objeto de concessão de uso,

precedida de licitação na modalidade de concorrência, nos termos do § 1o do art. 22 da Lei no

8.666,

de 21 de junho de 1993, devendo a exploração se dar por conta e risco do concessionário”.

A lei trouxe bastantes novidades quanto ao setor de estocagem subterrânea de gás natural,

pois ela deixa explícito que a atividade pode ser desenvolvida em reservatórios de hidrocarbonetos

devolvidos à União, tais como os reservatórios depletados na Bacia do Recôncavo, como também

em outras formações geológicas não produtoras, tais como os aquíferos da Bacia do Paraná. A

definição destas formações geológicas será da responsabilidade do Ministério de Minas e Energia

ou, mediante delegação, à ANP e estas áreas serão disponibilizadas em regime de concessão,

precedida de licitação, na modalidade de concorrência. A ANP também participará ativamente

regulando e fiscalizando todo o desenvolvimento da atividade, inclusive tendo acesso às instalações.

Segundo o artigo 39, a empresa que tiver interesse nas áreas selecionadas, com potencial

para estocagem de gás natural, poderá requerer junto à ANP os dados geológicos relativos às áreas,

mas deverá pagar para ter acesso a eles. Caso a empresa necessite realizar atividades

exploratórias, não exclusivas, para confirmação da adequação destas áreas para a ESGN,

dependerá de autorização da ANP, como está definido no § 1o. Se houver autorização por parte da

ANP, os dados obtidos nas atividades exploratórias deverão ser repassados sem custos à ANP,

como descrito no § 2o. O artigo 40 já faz alusão à estocagem de gás natural em instalação diferente

das previstas no artigo 38 e afirma que caso isto ocorra, implicará que seja autorizada pela ANP, nos

termos da legislação pertinente.

Outro ponto interessante é que a Lei, em nenhum momento, quantifica o período de

concessão de exclusividade que os agentes terão direito ao uso das ESGNs, apenas afirma que este

período será fixado pelo Ministério de Minas e Energia, ouvida a ANP, quando a contratação de

capacidade de estocagem tenha viabilizado ou contribuído para viabilizar a implementação de

instalação de estocagem. Além disso, a ANP será a grande responsável pelo processo de promover

a licitação para concessão da atividade, elaborando o edital e o contrato de concessão.

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6 Potencial dos campos depletados do Recôncavo Baiano para a ESGN

O propósito deste capítulo é estudar o potencial dos campos depletados da Bacia do

Recôncavo, na região do Recôncavo Baiano, para serem transformados em ESGN. O objetivo é

mostrar os aspectos geológicos e técnicos destes reservatórios e criar as bases teóricas para que se

consiga avaliá-los. O interesse é analisar preliminarmente se as características e propriedades

permitem que se conduzam estudos mais avançados sobre a armazenagem de gás natural nestas

estruturas. Como critérios utilizados, definiram-se como pré-requisitos para as estruturas: porosidade

a partir de 8% e permeabilidade acima de 10 mD. Entretanto, Almeida (2008) enumera alguns

aspectos relevantes que podem determinar se um reservatório é um bom candidato para armazenar

gás natural. Logo, os seguintes critérios, também, devem ser satisfeitos:

Volume de reservatório suficiente para permitir o armazenamento da quantidade de

gás, sem exceder a pressão de confinamento e sem requerer compressões não

econômicas para níveis de pressão muito altos;

Condição de selagem satisfatória pela competência das rochas capeadoras

(superiores e inferiores);

Permeabilidade suficiente para permitir injeção e produção em níveis de vazões

exigidos durante os períodos de oferta e picos de demanda;

Sensibilidade limitada para reduções de permeabilidade (injetividade/produtividade)

relacionadas à presença de água, à presença de hidrocarbonetos, às flutuações de

tensões das rochas-reservatório durante os ciclos de pressão, etc.;

Ausência de gás sulfídrico (natural ou gerado por ação bacteriana);

Possibilidade de perfurar e completar poços adicionais sem causar severo dano às

formações (devido às condições de pressão extremamente baixas que podem ser

encontradas nesses reservatórios).

Aspectos da infraestrutura regional, do Recôncavo Baiano, serão discutidos, mas de forma

geral sem tratar especificamente da infraestrutura instalada em cada campo depletado, apenas para

mostrar a relevância que este assunto possui e evidenciar que ele pode ser determinante para o

desenvolvimento de tal empreendimento.

A Bacia do Recôncavo será pormenorizada, neste capítulo, para o melhor entendimento da

geologia regional que está por trás destes campos depletados. Pretende-se abordar o arcabouço

estrutural, a evolução tecno-sedimentar, os sistemas petrolíferos da bacia e os plays exploratórios

que dão a base para a compreensão das estruturas de acumulação de hidrocarbonetos, que serão

tratadas especificamente para cada campo que será estudado.

O estudo dos campos depletados será realizado tendo como base documentos, informações

e dados sobre áreas inativas com acumulações marginais que foram devolvidas à ANP. Estes

arquivos foram disponibilizados pela ANP para que a iniciativa privada possa manifestar sua intenção

em adquirir tais áreas inativas. Foram disponibilizados, também, os perfis compostos do poço

descobrir de cada campo, caso sejam necessários perfis de outros poços, deve-se requerer à ANP,

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mas deverá pagar para ter acesso a eles, de acordo com o artigo 39 da Lei Nº 11.909, de 4 de março

de 2009. Este estudo só analisará o perfil do poço pioneiro.

Desta forma, todo estudo dos campos depletados terá como referência o relatório de

setembro de 2011 da ANP – Área contendo pequenas acumulações – Bacia do Recôncavo, assim,

todas as citações farão referência a tal documento. Uma análise destes documentos será realizada

de modo a extrair as principais informações para o estudo, sendo condensadas e explicadas de

forma mais clara e objetiva, embora os pareceres técnicos e geológicos sejam transcritos e citados,

por causa dos vários termos técnicos utilizados.

6.1 A Bacia do Recôncavo

A Bacia do Recôncavo é formada por um meio-gráben, de idade neocomiana, cuja extensão

se dá na direção nordeste-sudoeste devido ao processo de rifteamento, que se deu na direção

perpendicular noroeste-sudeste, que atuaram no supercontinente Gondwana durante o Mesozóico. A

sequência pré-rifte e a sequência rifte definem o seu sistema de sedimentação. A primeira sequência

deu origem às formações Aliança, Sergi, Itaparica e ao Membro Tauá da Formação Candeias, sendo

caracterizada por uma sedimentação subaérea que foi progressivamente afogada, culminando em

uma sedimentação lacustre. Enquanto que a sequência rifte, que iniciou na Formação Candeias, com

depósitos de folhelhos e de calcários intercalados associados com depósitos turbidíticos, que evoluiu

para uma sedimentação deltaica, originando as formações Marfim e Pojuca, que constituem o Grupo

Ilhas. Por fim, a bacia sedimentar é preenchida por um material fluvial que originou a Formação São

Sebastião.

6.1.1 Estratigrafia e Arcabouço Estrutural

A Bacia do Recôncavo está dividida em duas mega-sequências estratigráficas, que

englobam os sedimentos que compõem a sua coluna estratigráfica: a sequência do Continente e a

sequência do Lago. A primeira se refere aos sedimentos depositados durante a sequência pré-rifte,

enquanto que a segunda se refere aos sedimentos depositados na sequência rifte.

O meio-gráben, que dá forma ao arcabouço estrutural da bacia, se caracteriza por suas

camadas mergulharem na direção sudeste, em direção aos grandes depocentros, que se situam

próximos à borda oriental. Santos et al. (1990) relata que esforços distensivos, devido à fase de rifte,

ocasionaram falhas normais de altos ângulos de mergulhos, em torno de 70% e com direção

preferencial de N30ºE. Ele, ainda, relata que há o predomínio de falhas sintéticas que levaram a

divisão da bacia em áreas que foram mais estáveis, que definiram os patamares e a divisão em

áreas que sofreram maiores taxas de subsidência, que definiram os baixos regionais. Há, ainda,

outro sistema de falhas muito importante que se dá na direção N40ºW. As duas falhas principais

deste sistema são a Mata-Catu e a Itanagra-Araçás, interpretadas como falhas de transferência, que

dividem a bacia em três compartimentos: Nordeste; Central e Sul (figura 27).

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Figura 26 – Arcabouço estrutural da Bacia do Recôncavo. (Fonte: Santos e Braga, 1990).

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50

Figura 27 - Seções geológicas da Bacia do Recôncavo. (Fonte: Santos e Braga, 1990).

6.1.2 Evolução tecno-sedimentar

A Bacia do Recôncavo tem sua origem no processo de estiramento crustal que resultou no

fracionamento do supercontinente Gondwana, dando origem aos continentes sul-americano e

africano. Durante o Andar Dom João, numa fase anterior à ruptura (no pré-rifte), houve um período

prolongado de altas taxas de subsidência, que deu condições para o desenvolvimento de uma bacia

do tipo intracratônica, onde se depositaram as rochas sedimentares mais antigas desta bacia, os

sedimentos continentais (red-beds) do Grupo Brotas, das formações Aliança e Sergi, depositados por

sistemas fluviais e mostrando sinais de retrabalho eólico. Essas formações sobrepõem-se aos

sedimentos do Membro Afligidos, do período Permiano, que estão ligados aos ambientes marinho

restrito e lacustre, de acordo com os trabalhos de Santos e Braga (1990).

Um sistema lacustre, intercalado com periódicas e modestas progradações fluviais, se

instalou no início do Andar Rio da Serra e deu origem à Formação Itaparica. Ao fim da deposição

desta, um extenso sistema fluvial, com retrabalho eólico associado, se sobrepôs aos sedimentos e

originou a Formação Água Grande. Segundo Santos e Braga (1990), com o aumento da taxa de

subsidência e uma brusca mudança climática, novamente implantou-se na área um sistema lacustre,

desta vez raso e anóxico (sem oxigênio), que recobriu os arenitos fluviais anteriormente depositados

e deu origem aos folhelhos cinza escuro do Membro Tauá da Formação Candeias. Com o fim da

deposição do Membro Tauá, iniciaram-se o rompimento da crosta, que foi submetida a esforços na

direção N30º-40ºW, e o começo do intenso surgimento das falhas normais de alto ângulo, que

originou as fossas tectônicas, onde se implantaram os lagos profundos, cuja sedimentação argilosa

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intercalada com carbonatos originou o Membro Gomo da Formação Candeias. No compartimento

nordeste da Bacia do Recôncavo, a sedimentação do Membro Gomo se deu de forma relativamente

estável, cujas camadas sedimentares são paralelas às linhas do tempo, configurando marcos

rastreáveis, por quase todo o compartimento, através de perfis elétricos e radioativos.

Devido à ampliação das áreas mais profundas da bacia, depositaram-se os folhelhos da

Formação Maracangalha e os arenitos lacustres do Membro Pitanga. Segundo Caixeta et al. (2007),

durante o início do Andar Rio da Serra, a atenuação da atividade tectônica e o incremento no aporte

sedimentar resultaram na redução dos gradientes deposicionais, com o progressivo assoreamento

dos depocentros. Neste processo, paleobatimetrias relativamente elevadas mantiveram-se ao tempo

de deposição da Formação Maracangalha, acomodando um grande volume de depósitos

relacionados a fluxos gravitacionais (membros Caruaçu e Pitanga).

Nesta época, iniciou-se o processo de argilocinese4, que estava intimamente relacionado

com a sobrecarga exercida pela intensa sedimentação clástica grosseira nestas depressões, o que

resultou no desenvolvimento de falhas lístricas. Caixeta et al. (2007) considera que a estruturação e

distribuição de reservatórios da própria Formação Maracangalha, bem como das formações Marfim e

Pojuca, mais jovens, se relacionam intimamente ao desenvolvimento destas falhas lístricas.

No final do Andar Rio da Serra, a atividade tectônica já estava bastante atenuada e, com

isso, a subsidência menos acentuada. Por sobre a sedimentação lacustre começou a progradar um

sistema deltaico, depositando os sedimentos das Formações Marfim e Pojuca, caracterizada por uma

ciclicidade que permitiu o desenvolvimento de marcos litológicos e elétrico-radioativos rastreáveis por

toda a bacia (Santos, 1990). Sobrepondo-se à Formação Pojuca, na região sudoeste da bacia,

impõe-se o canyon de Taquipe, cuja sedimentação é dada por folhelhos, margas, calcários e arenitos

turbidíticos. A formação dos arenitos da Formação São Sebastião, de origem fluvial, tem início no

Andar Buracica e se estende até o final do Andar Jiquiá. A partir do Aptiano, mais precisamente no

Andar Alagoas, o registro sedimentar começa a diminuir na Bacia do Recôncavo, indicando a

interrupção do rifteamento. Apenas a Formação Marizal e as formações Sabiá e Barreiras completam

a carta estratigráfica.

6.1.3 Sistemas petrolíferos

De acordo com Santos e Braga (1990), as rochas geradoras da Bacia do Recôncavo são os

folhelhos da Formação Candeias, especialmente, os do Membro Tauá e do Membro Gomo. As

análises de carbono orgânico total (COT) indicam um teor médio de 1%, enquanto que o potencial

gerador residual gira em torno de 5 kg de hidrocarboneto por tonelada, mas pode chegar a possuir

valores próximos de 10 kg de hidrocarboneto por tonelada. Acredita-se que estes valores são baixos

devido à alta convertibilidade da matéria orgânica em hidrocarbonetos. Estudos indicam que a

geração de hidrocarbonetos se deu durante o Andar Jiquiá.

Na Formação Pojuca, existem folhelhos que apresentam grande potencial gerador de

hidrocarbonetos, mas ainda não atingiram as condições necessárias de pressão e temperatura para

4 Tectônica gravitacional acentuada.

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a produção de óleo e de gás natural, encontrando-se imaturos, exceto localmente nos depocentros

da bacia. Na Bacia do Recôncavo, existem três grandes sistemas de acumulação de

hidrocarbonetos, que dão origem a 15 diferentes plays: sistema Pré-rifte; Rifte-Candeias; e Rifte-

Ilhas. Segundo Santos e Braga (1990), o modelamento da bacia, em grábens e horstes, fez com que

os reservatórios do primeiro sistema, quando ficassem situados nos blocos altos, ficassem em

contato lateral com os folhelhos geradores, ocorrendo, então, a migração direta (figura 28A). No

sistema Rifte-Candeias, os reservatórios estão circundados pelos folhelhos do Membro Gomo

ocorrendo, também, migração direta das rochas geradoras para os reservatórios (figura 28B). Já no

sistema Rifte-Ilhas, as falhas e as discordâncias conduzem os hidrocarbonetos das rochas geradoras

para os reservatórios (figura 28C).

Figura 28 – Sistemas de acumulação de hidrocarbonetos. (A) Pré-rifte; (B) Rifte-Candeias; e (C)

Rifte-Ilhas. (Fonte: Santos e Braga, 1990).

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O sistema Pré-rifte engloba os reservatórios das formações Sergi e Água Grande, os quais

estão contidos em trapas estruturais (horstes e blocos falhados, basculados ou não), carregados

lateralmente a partir de folhelhos geradores, que estão localizados nos baixos de falhas normais. Ele

possui cerca de 60% do volume de óleo provado da Bacia do Recôncavo, sendo o mais importante.

O sistema Rifte-Candeias contém os reservatórios das formações Candeias e Marfim, cujas

condições de trapeamento são estratigráficas e os reservatórios situam-se em uma porção restrita da

bacia, a leste da charneira do Membro Gomo, sendo responsável por aproximadamente 10% do

volume de óleo provado da bacia.

O Rifte-Ilhas é o segundo em termos de importância da Bacia do Recôncavo e se caracteriza

pela presença de estruturas dômicas, as quais são originadas por falhas de crescimento e por

compactação diferencial. Estes são turbiditos da Formação Taquipe e arenitos flúvio-deltaicos das

formações Pojuca e Marfim, cuja migração se deu verticalmente ao longo de falhas regionais. Seus

reservatórios armazenam quase 30% do óleo provado da Bacia do Recôncavo. A figura 29 apresenta

a carta estratigráfica da Bacia do Recôncavo, mostrando os três sistemas discutidos.

Figura 29 – Carta estratigráfica da Bacia do Recôncavo. (a) Pré-rifte; (b) Rifte-Candeias; e (c) Rifte-

Ilhas. (Fonte: Santos e Braga, 1990 (adaptado de Netto, Oliveira, 1985)).

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6.2 Reservatórios depletados no Recôncavo Baiano

Como foi dito na introdução deste capítulo, o estudo dos campos depletados será realizado

tendo como base documentos, informações e dados sobre áreas inativas, com acumulações

marginais, que foram devolvidas à ANP. Estes arquivos foram disponibilizados pela ANP para que a

iniciativa privada possa manifestar sua intenção em adquirir tais áreas inativas.

É importante frisar, que todo este estudo dos campos depletados terá como referência o

relatório de setembro de 2011 da ANP – Área contendo pequenas acumulações – Bacia do

Recôncavo, assim, todas as citações farão referência a tal documento. Uma análise destes

documentos será realizada de modo a extrair as principais informações para o estudo, sendo

condensadas e explicadas de forma mais clara e objetiva, embora os pareceres técnicos e

geológicos sejam transcritos e citados, por causa dos vários termos técnicos utilizados.

Os seguintes campos serão discutidos e analisados: Dias D’Ávila; Fazenda Gameleira;

Lagoa Verde; Vale do Quiricó; Miranga Leste; Fazenda Azevedo Oeste; Beija-Flor e Caracatu.

6.2.1 Dias D’Ávila

O campo localiza-se no município de Dias D’Ávila, muito próximo ao Pólo Petroquímico de

Camaçari e a 40 km de Salvador, a capital do estado da Bahia. Ele está situado em uma área de

1,63 km2 e de prioridade extremamente alta para a conservação da biodiversidade.

Segundo a ANP (2011), o campo de Dias D’Ávila foi descoberto em 01/02/1967 através do

poço pioneiro 1-DA-1-BA, sendo avaliado apenas no ano seguinte em 1968, o qual teve um pequeno

volume de óleo e de gás recuperado nesta avaliação. Apenas na década de 1980, mais

precisamente, nos anos de 1980 e 1982, ocorreram novas reavaliações, mas as vazões de

hidrocarbonetos ainda foram consideradas subcomerciais e, mais uma vez, as atividades no campo

foram postergadas. Apenas em julho de 1987, iniciou-se a produção comercial neste poço,

perdurando até dezembro de 2004, quando o campo foi abandonado. A partir de então, o intervalo

produtor original nunca teve a produção recuperada nos níveis anteriores, sempre passando a

recuperar, no pistoneio5, fluido de amortecimento com pouco gás.

De acordo com a Petrobras, em seu Boletim Anual de Reservas de 2006, o volume in

place6 do campo de Dias D’Ávila é de aproximadamente 931,91 milhões de m

3 de gás e de 1,08

milhões de barris de condensado. No entanto, este valor é questionado pela ANP, já que estudo de

balanço de materiais, de acordo com a produção acumulada e as pressões medidas, indica um

volume bem menor. Um cálculo simplificado de acordo com os mapas de topo, seção geológica,

espessura porosa verdadeira e parâmetros de reservatório também indica um volume menor do que

o acima mencionado.

5 Método de recuperação de hidrocarbonetos.

6 Volume de fluido existente no reservatório na época de seu descobrimento.

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6.2.1.1 Aspectos geológicos e petrofísicos

O campo de Dias D’Ávila está situado no compartimento sul da Bacia do Recôncavo.

Segundo a ANP (2011), a acumulação de gás do campo de Dias D’Ávila foi descoberta numa feição

dômica, situada regionalmente no flanco sudeste do Baixo de Dias D’Ávila, mapeada ao nível do

embasamento, com reflexo na Formação Pojuca. A região é uma das partes mais profundas da

Bacia do Recôncavo, em um bloco basculado para leste-sudeste na direção da falha de Mata-Catu.

A zona produtora da Formação Pojuca consiste de arenitos quartzosos, muito finos, argilosos

e cimentados por calcita, com boa porosidade, posicionados logo acima do Marco 157, numa

profundidade média de 2.870 m. Estes arenitos siliciclásticos foram depositados em ambiente

deltaico, durante o Cretáceo, estando distribuídos ao longo da bacia e, em termos de produção de

hidrocarbonetos, constituem um dos mais importantes reservatórios da bacia.

Figura 30 – Perfil composto do poço 1-DA-1-BA, intervalo 2.680 a 2.975 metros, englobando a zona

de acumulação de hidrocarbonetos. (Fonte: ANP, 2011).

A estrutura da acumulação de gás, no nível do Marco 15 da Formação Pojuca, é interpretada

como uma feição dômica, alongada na direção SW-NE. Não há contato gás-água definido no campo

de Dias D’Ávila, mas para efeito de mapeamento, é definido um contato mínimo na base dos corpos

arenosos, conforme expresso no relatório da ANP (2011).

A análise petrofísica da rocha foi executada e algumas propriedades de rochas médias foram

inferidas para o reservatório: porosidade, 15%; permeabilidade, 10 mD; saturação água, 17%; e

espessura porosa verdadeira, 22 metros. Quanto ao fluido produzido, o gás apresentava uma

7 Marco litológico e elétrico-radioativo rastreável na Bacia do Recôncavo.

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densidade de 0,672, com um poder calorífico de 9.400 Kcal/m3 e fator volume de formação de gás de

0,0042. A pressão estática inicial do reservatório foi estimada em 308,6 kgf/cm2.

6.2.1.2 Histórico de produção

O campo de Dias D’Ávila foi descoberto em 01/02/1967, mas só teve produção efetiva

através do poço 1-DA-1-BA, durante o período de julho de 1987 a dezembro de 2004. A produção se

caracterizou por ter se dado de modo intermitente, cujo acumulado foi de 1,1 mil barris de

condensado e 19,83 milhões de m3 de gás não associado, sendo este o principal fluido do campo.

Figura 31 – Histórico de produção de gás natural. (Fonte: ANP, 2011).

A figura acima apresenta a produção média diária do poço 1-DA-1-BA ao longo da vida

produtiva do campo de Dias D’Ávila. O cálculo foi feito considerando apenas as horas em que o poço

estava efetivamente produzindo, sem levar em consideração o período em que ele estava parado,

mesmo que as paradas de produção tenham sido com o propósito de realimentação da pressão do

reservatório.

Segundo relatório técnico da ANP (2011), numa tentativa de recuperar os níveis de

produção, em julho de 2004, foi realizado um teste de formação a poço revestido, no intervalo de

2.905 a 2.937 metros, constituído de um fluxo de 1 hora e de uma estática de 8 horas. O teste

resultou em um sopro forte e imediato de ar, passando a ser fortíssimo com 1 minuto, sendo

constante até o final. Depois do teste, foram pistoneados os intervalos de 2.821,5 a 2.823 metros e

de 2.905 a 2.937 metros, porém o intervalo produtor original não teve a produção recuperada nos

níveis anteriores, passando sempre a recuperar fluido de amortecimento com pouco gás.

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6.2.1.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN

O potencial do campo de Dias D’Ávila para ser transformado em uma ESGN foi avaliado a

partir de suas propriedades petrofísicas e geológicas, tendo como base os critérios expostos na

introdução deste capítulo. Logo, a permeabilidade é suficiente para permitir a injeção e a produção

em níveis de vazões exigidos durante os períodos de oferta e picos de demanda, além do

reservatório apresentar boa porosidade e boa espessura porosa. Também, não há relatos da

presença de outros fluidos dentro do reservatório que poderiam interferir no fluxo de gás, interferindo

na permeabilidade do reservatório. As condições de selagem da estrutura também são satisfatórias

pelo fato do reservatório ter conseguido armazenar gás ao longo do período geológico.

Desta forma, pode-se afirmar que o campo apresenta grande potencial para abrigar uma

ESGN, mas precisa de melhor avaliação em relação à quantidade de gás natural remanescente no

reservatório. Este gás presente pode ser utilizado como gás de base, diminuindo os custos de

instalação da unidade.

Quando se considera o valor médio diário comercializado pela rede de gasodutos da Bahia

de 3,74 milhões de m3, este reservatório pode suprir a necessidade de todo o estado da Bahia por

até 5,3 dias. Este cálculo levou em conta o volume de gás que foi produzido nesta acumulação e o

valor médio diário de gás comercializado na Bahia.

6.2.2 Fazenda Gameleira

O campo de Fazenda Gameleira situa-se no município de Mata de São João, a leste do

conhecido campo de Miranga, e a 85 km da cidade de Salvador. Ele se localiza em área de 3,75 km2

e de prioridade extremamente alta para a conservação da biodiversidade. Este campo foi descoberto

através do poço pioneiro 1-FGA-1-BA em 1993 e, além deste poço descobridor, a área, ainda,

contém o poço 6-BRSA-286D-BA e o poço seco 1-PS-1-BA.

De acordo com o Boletim Anual de Reservas de 2006 da Petrobras, o volume in place do

campo de Fazenda Gameleira é de aproximadamente 197,24 milhões de m3 de gás, sendo que

62,39 milhões de m3 está no arenito Cambuqui, a cerca de 700 m de profundidade, e 134,85 milhões

de m3 está no arenito Imbé, a cerca de 600 m de profundidade. As zonas produtoras de gás não

associado estão localizadas na Formação Pojuca, nestes mesmos arenitos, Cambuqui e Imbé.

6.2.2.1 Aspectos geológicos e petrofísicos

A acumulação de gás, descoberta pelo poço 1-FGA-1-BA em arenitos da Formação Pojuca,

encontra-se em uma homoclinal com mergulho para leste, limitada a oeste pelo diápiro de Pedra do

Salgado. Os arenitos Imbé e Cambuqui exibem uma ampla distribuição ao longo da bacia, com

espessura variando de zero até 50 metros. Em termos da produção de hidrocarbonetos, estes

arenitos são importantes reservatórios na bacia. O contato gás-água encontra-se a uma cota de -680

m no arenito Cambuqui, enquanto que no arenito Imbé, a uma cota de -580 m.

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Figura 32 – Trecho do perfil composto do poço 1-FGA-1-BA, intervalo de 585 a 730 metros,

englobando as zonas de acumulação de hidrocarbonetos. (Fonte: ANP, 2011).

O poço 6-BRSA-286D-BA teve o objetivo de desenvolver as jazidas de gás descobertas pelo

poço 1-FGA-1-BA nos Arenitos Imbé e Cambuqui e investigar a presença de hidrocarbonetos em

horizontes mais profundos da Formação Marfim. Sua trajetória direcional visava tangenciar o flanco

do diápiro de Pedra do Salgado. Um aspecto interessante é que este poço realmente confirmou a

presença de gás no arenito Imbé, mas numa acumulação isolada da produtora, pois a pressão

medida nesta acumulação estava coerente com a pressão média para tal profundidade, ao invés de

se registrar a pressão de uma zona depletada. O poço seco 1-PS-1-BA procurava hidrocarbonetos

em zonas mais profundas, sendo esta uma missão mal sucedida (ANP, 2011).

A análise petrofísica do arenito Imbé foi executada e algumas propriedades de rochas

médias foram inferidas para este reservatório: porosidade, 15,7%; saturação água, 37,4%; e

espessura porosa verdadeira, 14 m. Já a análise petrofísica do arenito Cambuqui apresentou os

seguintes valores para as propriedades deste reservatório: porosidade, 14,8%; saturação água,

50,5%; e espessura porosa verdadeira, 6 m.

No poço 1-FGA-1-BA, foram realizados alguns testes de formação a poço revestido, em

diferentes intervalos de profundidade, que determinaram alguns valores de permeabilidade para

algumas destas zonas. Quando o teste foi realizado no intervalo de 707 a 715 metros, referente à

zona Cambuqui, a pressão estática inicial extrapolada foi de 76,4 kgf/cm2, medida a 718,3 m de

profundidade, cuja interpretação levou a uma permeabilidade de 5,4 mD. Quando ele foi realizado no

intervalo de 656 a 664 metros, na zona Imbé, a pressão estática inicial extrapolada foi de 75,2

kgf/cm2, medida a 667,6 m de profundidade, cuja interpretação levou a uma permeabilidade de 10,3

mD e quando o teste foi realizado no intervalo de 642 a 646 metros, ainda na zona Imbé, a pressão

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estática inicial extrapolada foi de 75,4 kgf/cm2, medida a 648,5 m, cuja permeabilidade interpretada

foi de 2,2 mD. Na época do descobrimento destes reservatórios, os dois arenitos apresentavam uma

pressão estática original em torno de 76 kgf/cm2, sendo que atualmente a pressão é de 16,7 kgf/cm

2.

Com relação ao fluido produzido nestes dois arenitos, o gás apresentava um fator volume de

formação de 0,03024.

6.2.2.2 Histórico de produção

A produção de gás natural da Fazenda Gameleira se deu através de dois poços, o 1-FGA-1-

BA e o 6-BRSA-286D-BA. As atividades de produção iniciaram-se com a produção através do poço

1-FGA-1-BA, em outubro de 1999, cujas zonas produtivas eram os arenitos Cambuqui e Imbé,

possuindo a vazão inicial de 67.000 m3/dia de gás natural.

Até agosto de 2003, a vazão média foi de 51.800 m3/dia e, entre setembro de 2003 e

setembro de 2004, a vazão média foi de 8.700 m3/dia de gás natural. A produção acumulada neste

poço, entre outubro de 1999 e dezembro de 2004, foi de 79,343 milhões de m3 de gás natural. Já a

produção através do poço 6-BRSA-286D-BA foi extremamente pequena, apenas 0,962 milhões de

m3 de gás, e se deu a partir do arenito Imbé, entre setembro a novembro de 2004. A figura abaixo

apresenta a produção média diária do poço 1-FGA-1-BA, ao longo da vida produtiva do campo. O

cálculo foi feito considerando apenas as horas em que o poço esteve efetivamente produzindo.

Figura 33 – Histórico de produção de gás natural. (Fonte: ANP, 2011).

Os dois poços foram fechados e o campo foi abandonado devido à elevada produção de

água, que provocou redução substancial na produção de gás. Cálculos de balanço de materiais

foram feitos para medir o volume in situ8 de gás natural, chegando ao valor de 105 milhões de m

3

para o poço 1-FGA-1-BA. A produção acumulada do campo foi de 80,304 milhões de m3 de gás

natural.

8 Volume de fluido existente no reservatório em uma determinada data.

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6.2.2.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN

Como as zonas de produção do campo de Fazendo Gameleira estão presentes em dois

arenitos distintos, o Imbé e o Cambuqui, realizou-se uma análise individual da potencialidade de

cada arenito para receber uma instalação de ESGN. Os critérios da análise são os mesmos que

foram apresentados na introdução deste capítulo.

A primeira análise foi feita nos arenitos Imbé, onde se concluiu que a permeabilidade é

suficiente para permitir a injeção e a retirada de gás nos níveis de vazões exigidos durante os

períodos de oferta e de picos de demanda, além do reservatório apresentar boa porosidade e boa

espessura porosa. O contato gás-água encontra-se a uma cota de -580 m no arenito Imbé e não há

relatos da presença de outros fluidos dentro deste reservatório que poderiam interferir no fluxo de

gás e alterar os valores da permeabilidade. As condições de selagem da estrutura também são

satisfatórias pelo fato do reservatório ter conseguido armazenar gás ao longo do período geológico.

Pode-se afirmar que os arenitos Imbé apresentam grande potencial para abrigar uma ESGN,

mas precisa de melhor avaliação em relação à quantidade de gás natural remanescente no

reservatório. Este gás presente pode ser utilizado como gás de base, diminuindo os custos de

instalação da unidade. Quando se considera o valor médio diário comercializado pela rede de

gasodutos da Bahia de 3,74 milhões de m3, este reservatório pode suprir a necessidade de todo o

estado da Bahia por até 14,4 dias. Este cálculo levou em conta o volume de gás que foi produzido

nesta acumulação e o valor médio diário de gás comercializado na Bahia.

Os arenitos Cambuqui, apesar de possuírem boa porosidade, apresentam baixa

permeabilidade, o que dificultaria a operação de injeção e retirada de gás de uma unidade de ESGN,

não permitindo atender aos picos de demanda. Outro ponto negativo é a elevada saturação de água

do reservatório que pode aumentar o atrito para o fluxo de gás, interferindo na permeabilidade e

dificultando a operação da estrutura. A espessura porosa é pequena e as dimensões do reservatório

também, o que restringem o volume armazenado da ESGN. Desta forma, nesta primeira avaliação,

estes arenitos possuem pouco potencial para ser uma ESGN.

6.2.3 Lago Verde

O campo de Lagoa Verde localiza-se no município de Itaganara, a leste do campo de

Miranga, a cerca de 90 km da cidade de Salvador, a capital do estado da Bahia. Este campo, que

está inserido numa área de 2,29 km2, foi descoberto em 1974, através do poço 1-LV-1-BA, mas a

produção só se deu 10 anos mais tarde em 1984, se estendendo até 2007. Além deste poço, outros

três foram perfurados, os poços 3-LV-2-BA, 3-LV-3-BA e 7-LV-4-BA, mas apenas este último chegou

a produzir, enquanto os demais foram considerados secos e abandonados após a perfuração. Todas

as zonas de interesse do campo de Lagoa Verde estão contidas na Formação Marfim, em uma

profundidade média de 1400 metros. O volume in place estimado é 169,93 milhões de m3 de gás

natural, de acordo com os dados divulgados pela Petrobras (2008).

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61

6.2.3.1 Aspectos geológicos e petrofísicos

A acumulação de gás, descoberta pelo poço 1-LV-1-BA em arenitos da Formação Marfim,

encontra-se em uma estrutura dômica. O poço também tinha o objetivo de testar arenitos da

Formação Pojuca, mas os reservatórios desta formação não estão desenvolvidos. Os outros poços

tiveram a finalidade de testar a extensão da jazida descoberta pelo poço 1-LV-1-BA, mas não

obtiveram sucesso, já que os arenitos da Formação Marfim se mostraram ausentes nestes poços.

Figura 34 – Trecho do perfil composto do poço 1-LV-1-BA, intervalo 1.330 a 1.520 metros,

englobando zonas de acumulação da Formação Marfim. (Fonte: ANP, 2011).

A análise petrofísica destes arenitos foi executada, a partir de perfis do poço 1-LV-1-BA, em

vários intervalos de profundidade e algumas propriedades de rochas médias foram inferidas para

este reservatório. Todas estas zonas de interesse continham gás natural em seu interior.

Intervalo (m) Porosidade (%) Saturação de água (%) Espessura (m)

1363 - 1375 19 31 8,7

1408 - 1414 19 31 4,6

1440 - 1443 20 33 3,4

1626 - 1630 18 42 2,0

1695 - 1707 15 52 1,2

1984,5 – 1996,5 13 47 4,0

2102 - 2113 10 37 Fechado

Tabela 3 – Propriedades petrofísicas. (Fonte: ANP, 2011).

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62

Segundo o relatório da ANP (2011), foram realizados três testes de formação a poço aberto e

dois a poço revestido, na ocasião da perfuração do poço 1-LV-1-BA. O primeiro teste de formação a

poço aberto foi realizado no intervalo de 1.362 a 1.372 metros, com pressão estática inicial e final de

143 kgf/cm2, medida a 1.359 m de profundidade, cuja interpretação levou a uma permeabilidade de

9,2 mD para esta zona. Já o segundo teste de formação a poço aberto foi falho, devido a problemas

técnicos nos obturadores. O terceiro teste a poço aberto foi realizado no intervalo entre 2.113 a 2.123

metros, mas este foi considerado extremamente fechado, sem desenvolvimento de pressão estática.

O primeiro teste de formação a poço revestido foi realizado no intervalo de 1.440 a 1.448

metros, com depleção de 0,74 kgf/cm2 e pressão estática final de 145,67 kgf/cm

2, cuja interpretação

levou a uma permeabilidade de 33 mD. Já o segundo teste foi realizado no intervalo 1.408 a 1.414

metros, com pressão estática final de 143,67 kgf/cm2, pouco superior à pressão estática inicial de

143,3 kgf/cm2. A permeabilidade interpretada, para esta zona, foi de 38 mD.

Quanto ao fluido produzido, as amostras de condensado do poço 1-LV-1-BA, do intervalo de

1.408 a 1.414 metros, indicaram densidades entre 0,7309 e 0,7438, enquanto no intervalo de 1.440,7

a 1.448 metros, indicaram densidades entre 0,7062 e 0,7197.

6.2.3.2 Histórico de produção

O campo de Lagoa Verde começou a produzir em fevereiro de 1984, através do poço 1-LV-1-

BA. Em setembro de 1985, entrou em produção o poço 7-LV-4-BA e produziram juntos até novembro

de 1986. Entre novembro de 1995 e junho de 2007, apenas o poço 7-LV-4-BA produziu. A produção

acumulada do campo foi de 59,78 milhões de m3 de gás natural, entre 1984 e 2007 (ANP, 2011).

Figura 35 – Histórico de produção de gás natural. (Fonte: ANP, 2011).

A figura anterior apresenta a produção média diária para os dois poços ao longo da vida

produtiva do campo de Lagoa Verde. O cálculo foi feito considerando apenas as horas em que os

poços estavam efetivamente produzindo, sem levar em consideração o período em que eles estavam

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63

parados, mesmo que as paradas tenham sido com o propósito de realimentação da pressão do

reservatório.

6.3.3.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN

O campo de Lagoa Verde foi analisado para ser transformado em uma ESGN a partir de

suas propriedades petrofísicas e geológicas, tendo como base os critérios expostos na introdução

deste capítulo. Desta forma, a permeabilidade do reservatório é suficiente para permitir a operação

de injeção e de produção de uma unidade de ESGN em níveis de vazões exigidos durante os

períodos de oferta e de picos de demanda, além das outras propriedades petrofísicas serem bem

satisfatórias para um empreendimento deste gênero, pois os arenitos da Formação Marfim

apresentam tanto uma boa porosidade quanto uma boa espessura porosa.

Não há relatos da presença de outros fluidos dentro do reservatório que poderia interferir no

fluxo de gás, interferindo desta forma na permeabilidade do reservatório. As condições de selagem

da estrutura também são satisfatórias pelo fato do reservatório ter conseguido armazenar gás ao

longo do período geológico.

Desta forma, pode-se afirmar que o campo apresenta grande potencial para abrigar uma

ESGN, mas precisa de melhor avaliação em relação à quantidade de gás natural remanescente no

reservatório. Este gás presente pode ser utilizado como gás de base, diminuindo os custos de

instalação da unidade.

Quando se considera o valor médio diário comercializado pela rede de gasodutos da Bahia

de 3,74 milhões de m3, este reservatório pode suprir a necessidade de todo o estado da Bahia por

até 16 dias. Este cálculo levou em conta o volume de gás que foi produzido nesta acumulação e o

valor médio diário de gás comercializado na Bahia.

6.2.4 Vale do Quiricó

O campo localiza-se no município de Mata de São João, a leste do campo de Miranga e a 90

km da cidade de Salvador. A área do campo de Vale do Quiricó situa-se em área de 2,94 km2 e de

prioridade extremamente alta para a conservação da biodiversidade. A descoberta deste campo se

deu em 1990 através do poço 1-VQ-1-BA. Mais tarde, em uma tentativa de explorar a jazida

descoberta por este poço, outro poço foi perfurado (5-VQ-02-BA), mas não resultou em grandes

avanços, pois este ficou seco e, posteriormente, foi abandonado.

O campo de Vale do Quiricó produziu tanto gás não associado quanto óleo, sendo que a

zona produtora de gás não associado encontra-se, na Formação Marfim, a uma profundidade média

de 1.625 m, enquanto a zona produtora de óleo, na mesma formação, encontra-se a uma

profundidade de 1.780 m. O volume in place, informado pela Petrobras em seu Boletim Anual de

Reservas de 2006, é de 51,49 milhões de m3 de gás natural e 629 mil barris de óleo.

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64

6.2.4.1 Aspectos geológicos e petrofísicos

O poço 1-VQ-1-BA tinha por finalidade testar os arenitos, das formações Pojuca e Marfim,

presentes em trapas associadas ao flanco do Diápiro de Pedra do Salgado, sendo que acabou

resultando em produtor de gás natural e de óleo dos arenitos do Membro Catu da Formação Marfim,

porém os reservatórios da Formação Pojuca foram omitidos pela ascensão do diápiro.

Os arenitos do Membro Catu são quartzosos, finos, argilosos, cimentados por calcita, de boa

porosidade, pertencentes à seção basal da Formação Marfim, lenticulares, de pequena extensão

lateral e associados a um forte mergulho provocado pelo Diápiro de Pedra do Salgado.

As propriedades petrofísicas foram calculadas a partir da interpretação dos perfis, sendo

obtidos os seguintes valores das propriedades para o reservatório de gás: porosidade, 19%;

saturação de água, 15%; e espessura porosa verdadeira, 20 m. Já para o reservatório de óleo, os

valores das propriedades foram: porosidade, 16%; saturação de água, 30%; e espessura porosa

verdadeira, 15 m. Ambos os reservatórios apresentavam a mesma pressão estática original de cerca

de 180 kgf/cm2, enquanto que a pressão no abandono para o reservatório de óleo era de 43,7

kgf/cm2, para o reservatório de gás era de 119 kgf/cm

2.

Como foi dito anteriormente, a zona produtora de gás não associado encontra-se, na

Formação Marfim, a uma profundidade média de 1.625 m, enquanto a zona produtora de óleo

encontra-se, também na mesma formação, a uma profundidade de 1.780 m. As próximas figuras

apresentam os trechos, do perfil composto do poço 1-QV-1-BA, que englobam as zonas de

acumulação de gás natural e de óleo na Formação Marfim.

Figura 36 – Trecho do perfil do poço 1-QV-1-BA, intervalo 1.580 a 1.725 metros, englobando a zona

de acumulação de gás da Formação Marfim. (Fonte: ANP, 2011).

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Figura 37 – Trecho do perfil do poço 1-QV-1-BA, intervalo 1.705 a 1.850 metros, englobando a zona

de acumulação de óleo da Formação Marfim. (Fonte: ANP, 2011).

Foram realizados, no poço pioneiro, cinco testes de formação a poço aberto, sendo que o

segundo deles, que foi executado numa zona de acumulação de gás natural na Formação Marfim

(intervalo entre 1.629 e 1.638 metros), determinou uma pressão estática extrapolada inicial de 175,05

kgf/cm2

e a final de 173,38 kgf/cm2, medidas a 1.621,5 m de profundidade. A interpretação deste

teste indicou uma boa permeabilidade de 184 mD.

Foram realizados, ainda, no poço pioneiro quatro testes de formação a poço revestido, sendo

que o quarto teste, que foi executado numa zona de acumulação de óleo na Formação Marfim

(intervalo entre 1.770 e 1.772 metros), determinou uma pressão estática inicial de 176,5 kgf/cm2

e a

final de 173,8 kgf/cm2, medidas a 1.621,5 m de profundidade, cuja interpretação indicou a

permeabilidade de 12 mD. O primeiro teste de formação a poço revestido, também realizado numa

zona de acumulação de óleo na Formação Marfim (intervalo 1.693 a 1.695 metros), determinou uma

pressão estática extrapolada inicial de 168,9 kgf/cm2

e a final de 112 kgf/cm2. A interpretação, deste

teste, indicou a permeabilidade de 9,9 mD.

Quanto às propriedades dos fluidos produzidos, o gás apresentava uma densidade média de

0,648 e poder calorífico de 10.120 kcal/m3, enquanto o óleo apresentava 39° API. A Análise PVT

realizada no óleo produzido, do intervalo entre 1.770 e 1.790 metros, indicou uma razão gás/óleo de

139 m3/m

3, um fator volume de formação de 1,263 m

3/m

3, uma razão de solubilidade de 75,6 m

3/m

3,

uma pressão de saturação de 121,1 kgf/cm2 e uma viscosidade de 0,89 cP à pressão de saturação.

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6.2.4.2 Histórico de produção

Segundo a ANP (2011), a produção de óleo através do poço 1-VQ-1-BA, iniciou-se em

janeiro de 1991, tendo uma vazão média de 27 m3/dia que correspondia a 170 barris de óleo por dia.

Em dezembro de 1997, após uma produção acumulada de 11.404 m3 de óleo (71.700 barris), o poço

foi recompletado para produção de gás não associado, cuja produção acumulada foi de 3,43 milhões

de m3 até junho de 1998, quando foi fechado. Já para o campo, a produção acumulada foi de 6,1

milhões de m3 de gás e 72.300 barris de óleo. As figuras seguintes apresentam a produção média

diária do poço 1-VQ-1-BA ao longo da vida produtiva do campo de Vale do Quiricó. O cálculo foi

efetuado considerando apenas as horas em que o poço estava efetivamente produzindo.

Figura 38 – Histórico de produção de óleo e água. (Fonte: ANP, 2011).

Figura 39 – Histórico de produção de gás natural. (Fonte: ANP, 2011).

6.2.4.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN

O potencial do campo de Vale do Quiricó foi analisado para ser transformado em uma ESGN

a partir de suas propriedades petrofísicas e geológicas, tendo como base os critérios expostos na

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introdução deste capítulo. A acumulação de gás possui grande potencial para ser uma ESGN, cuja

permeabilidade é suficiente para permitir a sua operacionalidade em níveis de vazões exigidos

durante os períodos de oferta e de picos de demanda, além de apresentar propriedades petrofísicas

bem satisfatórias para este tipo de empreendimento, pois os arenitos da Formação Marfim possuem

boa porosidade e boa espessura porosa. Porém, é aconselhável que se faça um estudo mais

detalhado quanto ao volume de gás remanescente, pois este reservatório pode voltar a ser produtivo.

Na acumulação de óleo, há uma grande quantidade de volume remanescente que pode

prejudicar a operacionalidade da instalação de ESGN, o que poderia reduzir a capacidade de fluidez

do gás natural. Este óleo é reflexo da pequena produção acumulada deste reservatório, onde houve

apenas 11,5% de depleção. Entretanto, pela elevada quantidade de óleo ainda armazenado, talvez

seja mais interessante aplicar métodos secundários de produção, numa tentativa de recuperar mais

óleo deste reservatório. Vale ressaltar que as propriedades petrofísicas deste reservatório não são

tão boas quanto às do reservatório de gás. Tendo estas considerações em mente, uma ESGN neste

reservatório não seria a melhor opção do ponto de vista técnico e econômico.

6.2.5 Miranga Leste

O campo de Miranga Leste localiza-se no município de Itanagara e está a 90 km da cidade

de Salvador. O campo de Miranga Leste situa-se em área de 0,90 km2 e de prioridade extremamente

alta para a conservação da biodiversidade. Este campo foi descoberto, em 1970, através do poço 4-

MGL-1-BA, sendo perfurado, posteriormente, o poço 3-MGL-2-BA.

Este campo, que se situa no Baixo de Miranga, possui três zonas de interesse, sendo que

todas estão na Formação Pojuca e possuem o óleo como seu fluido principal: o arenito Azevedo; o

arenito Cambuqui e o arenito Santiago. O arenito Azevedo (reservatório 1) está localizado numa

profundidade de 1.340 m e foi descoberto pelo poço 4-MGL-1-BA, enquanto que o arenito Cambuqui

(reservatório 2), que está a cerca de 1.490 m, e o arenito Santiago (reservatório 3), que está a cerca

de 1.750 m, foram descobertos pelo poço 3-MGL-2-BA. O volume in place é de aproximadamente

478 mil barris de óleo, sendo distribuídos: 201 mil barris de óleo no arenito Azevedo; 208 mil barris

de óleo no Arenito Cambuqui e 69 mil barris de óleo no Arenito Santiago.

6.2.5.1 Aspectos geológicos e petrofísicos

Segundo a ANP (2011), a estrutura do campo corresponde a um homoclinal com mergulho

de 18° na direção nordeste associado ao flanco do Diápiro de Apraius. Os reservatórios pertencem à

Formação Pojuca, sendo que a seção produtora corresponde a arenitos finos a muito finos, deltaicos

e posicionados estratigraficamente entre os marcos 6 e 14 daquela formação, ocorrendo três jazidas

neste intervalo, com pressões estáticas levemente acima do normal.

Os sedimentos são de origem deltaica e o caráter da sedimentação é cíclico, sendo esta

marcada pela presença de marcos elétricos (6 e 14) que são paralelos com as linhas de tempo,

representando períodos de nível máximo do lago. Os arenitos são depositados em época de nível de

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lago baixo, originados de lobos deltaicos e extravasamento (crevasse). A próxima figura apresenta o

perfil composto do poço 4-MGL-1-BA que atingiu os arenitos Azevedo da Formação Pojuca, sendo

esta a zona de acumulação. O perfil do poço 3-MGL-2-BA não foi disponibilizado pela ANP, sendo

assim, não serão mostradas as outras zonas de acumulação nos arenitos Cambuqui e Santiago.

Figura 40 – Trecho do perfil do poço 4-MGL-1-BA, intervalo 1.275 a 1.420 metros, englobando a

zona de acumulação de óleo da Formação Pojuca. (Fonte: ANP, 2011).

A interpretação de perfis levou aos seguintes valores para as propriedades físicas dos

reservatórios, todos eles com óleo: para o arenito Azevedo (intervalo 1.336 a 1.343 metros), 26% de

porosidade e 5 metros de espessura porosa; para o arenito Cambuqui (intervalo 1.489 a 1.493

metros), 17,5% de porosidade e 4,5 metros de espessura porosa; e para o arenito Santiago (intervalo

1.747 a 1.754 metros), 19% de porosidade e 3 metros de espessura porosa.

No poço 4-MGL-1-BA, foram realizados dois testes de formação a poço aberto e um a poço

revestido. O primeiro teste de formação a poço aberto (1.221,20 a 1.240,70 metros) recuperou 0,06

m3 de lama, enquanto que o segundo, que foi realizado no intervalo referente aos arenitos Azevedo

(1.338,92 a 1.349,50 metros), recuperou 33 barris de óleo em 90 minutos, com pressões estáticas

(inicial e final) de 141,86 kgf/cm2, cuja permeabilidade interpretada foi de 15 mD. O teste de formação

a poço revestido foi realizado no intervalo entre 1.336 e 1.343 metros, também nos arenitos Azevedo,

e conseguiu recuperar 10,5 barris de óleo em 2 horas. A pressão estática inicial foi de 143,15 kgf/cm2

e a final de 142,57 kgf/cm2, sendo medidas a 1.325,69 m de profundidade.

No poço 3-MGL-2-BA, foram realizados três testes de formação a poço revestido. O primeiro

deles foi realizado nos arenitos Santiago (intervalo de 1.751,50 a 1.753,50 metros) e recuperou 1.053

m de óleo e 162 m de água salgada na coluna de produção, além de 0,3 m3 na superfície, em 30

minutos. A pressão estática inicial foi de 198,27 kgf/cm2 e a final de 194,68 kgf/cm

2, cuja

permeabilidade interpretada foi de 259 mD. O segundo teste de formação a poço revestido foi

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realizado, também, em um intervalo referente aos arenitos Santiago (1.747 a 1.748 metros) e

recuperou 184 barris de óleo em 4 horas. A pressão estática inicial foi de 191,52 kgf/cm2 e a final de

180,88 kgf/cm2, com permeabilidade interpretada de 171 mD e vazão de teste de 175 m

3/d (1.100

barris de óleo por dia). O terceiro e último teste de formação a poço revestido, no poço 3-MGL-2-BA,

foi realizado no intervalo entre 1.489 e 1.493 metros, numa zona que se refere aos arenitos

Cambuqui, e conseguiu recuperar 27 barris de óleo mais água de completação. A pressão estática

final foi de 155,52 kgf/cm2, com permeabilidade interpretada de 103 mD e vazão de teste de 69 m

3/d

(434 barris de óleo por dia). Quanto aos óleos produzidos nos três arenitos, foram realizadas três

análises de PVT, duas no poço 3-MGL-2-BA e uma no poço descobridor 4-MGL-1-BA, cujos

resultados estão sumarizados na seguinte tabela.

Tabela 4 – Análises PVT. (Fonte: ANP, 2011).

6.2.5.2 Histórico de produção

Segundo a ANP (2011), o campo produziu de maio de 1979 até agosto de 1985, no arenito

Azevedo, através do poço 4-MGL-1-BA. Já o poço 3-MGL-2-BA produziu no arenito Santiago de

agosto de 1979 a agosto de 1980 e de outubro de 1988 a novembro de 2006. Este mesmo poço

produziu no arenito Cambuqui entre setembro de 1980 e fevereiro de 1987. Entretanto, a produção

acumulada da área foi de 50 mil barris de óleo. As próximas figuras exibem a produção média diária

do campo, considerando para cada poço o número de horas em que ele esteve funcionando.

Figura 41 – Histórico de produção de óleo e água. (Fonte: ANP, 2011).

Poço MGL-1 MGL-2 MGL-3

Intervalo (m) 1336-1343 1747-1753 1489-1493 Profundidade de Amostragem (m) 1250 1710 1350

Temperatura (ºC) 60 79 71,1 Pressão de Saturação (kgf/cm

2) 85,8 101,95 104,9

Grau API 35,3 36,9 35,4 Densidade do gás em solução 0.925 0,870 0,815 Razão de solubilidade na Psat 45,25 60 49,92

Fator volume de formação de óleo na Psat 1,1826 1,243 1,186 Viscosidade na Psat (cP) 5,36 1,465 3,69

Peso específico na Psat (g/cm3) 0,752 0,727 0,756

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Figura 42 – Histórico de produção de gás natural. (Fonte: ANP, 2011).

6.2.5.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN

O potencial do campo de Miranga Leste foi analisado para ser transformado em uma ESGN

a partir de suas propriedades petrofísicas e geológicas, tendo como base os critérios expostos na

introdução deste capítulo. Todavia, os arenitos Azevedo, Cambuqui e Santiago possuem

propriedades petrofísicas capazes de comportar o armazenamento de gás natural, porém os limites

dos reservatórios não são fáceis de definir, por possuírem pequenas espessuras porosas e por

serem deltaicos.

Ainda há o problema de terem sido pouco depletados. Apesar de não ter sido divulgada a

produção de cada reservatório, foi divulgada a produção do campo, sendo pouco mais de 10%

depletado. Assim sendo, há uma grande quantidade de óleo remanescente nestes reservatórios que

pode prejudicar a operacionalidade da instalação de ESGN, aumentando o atrito entre os fluidos e

reduzindo a capacidade de fluidez do gás natural. Sendo assim, pela elevada quantidade de óleo

ainda armazenado, talvez seja mais interessante aplicar métodos secundários de produção, numa

tentativa de recuperar mais óleo destes reservatórios. Tendo estas considerações em mente, uma

ESGN neste campo não seria a melhor opção do ponto de vista técnico e econômico.

6.2.6 Fazenda Azevedo Oeste

O campo de Fazenda Azevedo Oeste, cuja área é de 2,70 km2 de extensão, está localizado

no município de Entre Rios, a 130 km de Salvador. O campo foi descoberto em abril de 1984, através

da perfuração do poço 1-FAO-1-BA, e produziu entre maio de 1984 e dezembro de 1993, quando foi

fechado e abandonado.

De acordo com o relatório da ANP (2011), os reservatórios são os arenitos da Formação

Candeias, cuja profundidade média é de 2.500 m, e os arenitos do Membro Catu da Formação

Marfim, tendo profundidade média de 1.060 m. O volume original in situ de óleo é da ordem de 590

mil m3 (3,7 milhões de barris), enquanto o volume original in situ de gás é da ordem de 66 milhões de

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m3, sendo valores estimados pelo antigo operador do campo. A área inclui dois poços do antigo

campo (1-FAO-1-BA, 1-FAO-2-BA), além do poço seco 7-FI-47-BA.

6.2.6.1 Aspectos geológicos e petrofísicos

O poço 1-FAO-1-BA visava testar uma feição dômica, alongada na direção NS, mapeada

pela sísmica em horizonte dentro do Membro Gomo da Formação Candeias. Os principais objetivos

eram os arenitos do Membro Gomo e, secundariamente, os arenitos das formações Pojuca, Marfim e

do Membro Água Grande, na Formação Itaparica.

A acumulação nos arenitos da Formação Candeias restringe-se à área do poço 1-FAO-1-BA,

cujo trapeamento é do tipo estratigráfico, além de ser restrita a corpos lenticulares de pequena

extensão. O reservatório é constituído por arenitos turbidíticos, depositados em ambiente lacustre, no

Andar Rio da Serra. A próxima figura apresenta o trecho do perfil composto, do poço 1-FAO-1-BA, na

profundidade que abrange a acumulação nos arenitos da Formação Candeias.

Figura 43 – Trecho do perfil do poço 1-FAO-1-BA, do intervalo de 2.420 a 2.565 metros, englobando

a zona de acumulação da Formação Candeias. (Fonte: ANP, 2011).

A presença em um único poço e a característica lenticular desses reservatórios não

asseguraram o bom controle dos limites e das espessuras da acumulação. Estas observações,

aliadas à baixa qualidade permo-porosa, resultante da grande profundidade em que se encontram

esses arenitos, conferem à acumulação alta incerteza e risco no que diz respeito aos volumes

originais in situ. Além disso, o dado mais importante, que fortalece a análise, reside na queda de

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pressão de 135 kgf/cm2 (54% da pressão estática original do reservatório), após a produção de

apenas 660 m3 de óleo.

O poço 1-FAO-2-BA, 130 m a nordeste do pioneiro, visava testar os arenitos da Formação

Candeias, no flanco oeste de uma estrutura em sela, mapeada pela sísmica ao nível do arenito

Candeias 3, em um depocentro ao norte do 1-FAO-1-BA. Os objetivos principais foram os arenitos

turbidíticos do Membro Gomo da Formação Candeias, portadores de óleo no 1-FAO-1-BA, e,

secundariamente, os arenitos da Formação Pojuca.

A acumulação de óleo, em arenitos do Membro Catu da Formação Marfim, está restrita à

área situada junto ao poço 1-FAO-2-BA. A partir da observação de seções sísmicas, a acumulação

está localizada em uma estrutura arqueada associada com falhas lístricas e normais que cortam a

seção rifte. O trapeamento deve ser do tipo estrutural com o fechamento proporcionado pelo

mergulho das camadas. O reservatório é constituído por arenitos depositados em ambiente deltaico,

no Andar Rio da Serra. A pequena extensão da ocorrência parece estar associada ao porte incipiente

da estrutura, resultando, desta forma, em pequeno volume poroso.

O reservatório Candeias apresenta pressão original estimada de 250 kgf/cm2 e pressão de

saturação estimada de 179 kgf/cm2, estando originalmente subsaturado. O mecanismo inicial de

produção é gás em solução. O fluido principal é o óleo leve de 38,6o

API. As características de

permeabilidade, viscosidade e espessura definem o reservatório como de baixa transmissibilidade de

60 mD.m/cP.

O reservatório Catu-3 apresenta uma pressão original estimada de 100 kgf/cm2

e pressão de

saturação estimada de 53 kgf/cm2, estando originalmente subsaturado. O mecanismo inicial de

produção é influxo de água. O fluido principal é o óleo leve de 39º API. As características de

permeabilidade, viscosidade e espessura definem o reservatório como de alta transmissibilidade de

cerca de 1.400 mD.m/cP.

A análise petrofísica do poço 1-FAO-1-BA, divulgada pela ANP (2011), mostra que o poço

apresentou indícios de hidrocarbonetos desde 926 até 2.990 metros. A análise quantitativa de perfis

indicou os seguintes intervalos de interesses, cujas propriedades estão sumarizadas na tabela

seguinte.

Formação Intervalo (m) H (m) Φ (%) Sw (%) Fluido

Candeias/IV 2387 – 2398 0,4 9,7 27,1 Óleo

Candeias/IV 2484 – 2509 6,2 10,1 11,3 Óleo

Itaparica/B 3020 – 3023 1,0 12,7 22,8 Óleo

Tabela 5 – Análises PVT do poço 1-FAO-1-BA. (Fonte: ANP, 2011).

Também foi realizada a análise petrofísica do poço 1-FAO-2-BA, divulgada pela ANP (2011),

e esta mostra que o poço apresentou indícios de hidrocarbonetos desde 897 até 2.445 metros. A

análise quantitativa de perfis indicou os seguintes intervalos de interesses, cujas propriedades estão

sumarizadas na tabela seguinte.

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73

Formação Intervalo (m) H (m) Φ (%) Sw (%) Fluido

Marfim 1059 – 1066 3,0 18 45 Óleo

Candeias 2422 – 2423 0,5 11 10 Óleo/Gás

Candeias 2603 – 2605 1,0 15 8 Óleo/Gás

Tabela 6 – Análises PVT do poço 1-FAO-2-BA. (Fonte: ANP, 2011).

No poço 1-FAO-1-BA, um dos testes de formação a poço aberto foi realizado no intervalo

entre 2.486 e 2.506 metros, referente aos arenitos da Formação Candeias. O teste recuperou 4,72

m3 de óleo verde emulsionado por gás durante a circulação reversa e este possuía 29° API a 60°F. A

interpretação levou à conclusão de um intervalo de baixa permeabilidade (3,4 mD), levemente

danificado (1,6), portador de óleo. A depleção verificada foi de 4,18 kgf/cm2. O óleo, do reservatório

da Formação Candeias, apresentou 33,9º API, razão de solubilidade igual a 100, fator volume de

formação igual a 1,39 e viscosidade de 0,51 cP, nas condições iniciais de reservatório (pressão de

100 kgf/cm2 e temperatura de 92,5°C). Já o gás apresentou densidade de 0,7 (ar = 1) e fator volume

de formação de 0,0046.

No poço 1-FAO-2-BA, foram realizados vários testes, tanto de formação a poço aberto, como

a poço revestido, mas, nos relatórios disponibilizados pela ANP (2011), só fazem referência à

permeabilidade em apenas um teste que foi feito a poço revestido, no interlavo de 1.059 a 1.063,5

metros, nos arenitos da Formação Marfim, cuja permeabilidade média interpretada foi de 83,4 mD.

Nestes reservatórios da Formação Marfim, o óleo apresentou uma razão de solubilidade igual a 28,

fator volume de formação igual a 1,12 e viscosidade de 1,4 cP, nas condições iniciais de reservatório

(pressão de 100 kgf/cm2 e temperatura de 59°C). O gás apresentou densidade de 0,78 (ar = 1) e

fator volume de formação de 0,009.

6.2.6.2 Histórico de produção

O campo, cujo fluido principal é o óleo, foi descoberto em 28/04/1984 e teve produção efetiva

no período entre 1984 e 1993. A produção acumulada, até dezembro de 1993, foi 13,36 mil m3 de

óleo (84 mil barris) e 476 mil m3 de gás.

Segundo a ANP (2011), o poço 1-FAO-1-BA iniciou sua produção em maio de 1984, e foi

fechado como subcomercial em dezembro de 1985, apresentando uma produção acumulada de 660

m3 de óleo (4.150 barris) nos arenitos turbidíticos do Membro Gomo da Formação Candeias. Este

intervalo, que apresentava uma pressão original de 250 kgf/cm2, atingiu uma pressão estática de 115

kgf/cm2, em fevereiro de 1985, representando uma depleção de 135 kgf/cm

2, o que demonstrou a

pequena dimensão do corpo arenítico com óleo. Enquanto que o poço 1-FAO-2-BA teve uma

produção acumulada de 12,7 mil m3 de óleo (79.800 barris), entre julho de 1989 e dezembro de

1993, a partir do Membro Catu da Formação Marfim.

As próximas figuras exibem a produção média diária durante a vida produtiva do campo,

considerando para cada poço o valor extrapolado a partir do número de horas em que ele esteve

funcionando.

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74

Figura 44 – Histórico de produção de óleo e água. (Fonte: ANP, 2011).

Figura 45 – Histórico de produção de gás natural. (Fonte: ANP, 2011).

6.2.6.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN

O potencial do campo de Fazenda Azevedo Oeste foi analisado para ser transformado em

uma ESGN a partir de suas propriedades petrofísicas e geológicas, tendo como base os critérios

expostos na introdução deste capítulo.

A presença em um único poço e a característica lenticular desses reservatórios não

assegurariam o bom controle dos limites e das espessuras da acumulação. Estas observações,

aliadas à baixa qualidade permo-porosa, resultante da grande profundidade em que se encontram

esses arenitos, conferem à acumulação alta incerteza e alto risco, o que não favoreceria a

concepção de uma ESGN nestes reservatórios.

Novamente, há a questão do óleo remanescente que prejudicaria a operacionalidade da

instalação de ESGN, aumentando o atrito entre os fluidos e reduzindo a capacidade de fluidez do gás

natural. Desta forma, não seria uma boa opção para ser uma ESGN. Pode-se pensar, então, em

alternativas de exploração para o campo, como aplicar métodos secundários ou até terciários de

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75

produção, numa tentativa de recuperar mais óleo deste campo. Tendo estas considerações em

mente, uma ESGN neste campo não seria a melhor opção do ponto de vista técnico e econômico.

6.2.7 Beija-Flor

O campo Beija-Flor, cuja área é de 0,98 km2, localiza-se no município de São Sebastião do

Passé, distante 45 km da cidade de Salvador. Este campo foi descoberto em 1969 através do poço

pioneiro 4-MP-12-BA. As duas principais zonas de interesse estão localizadas na Formação

Maracangalha, no Membro Caruaçu, e são: uma de óleo no intervalo entre 2.203 e 2.210 metros e

outra de gás não associado no intervalo entre 2.285 e 2.307 metros. O volume in place do campo,

estimado pela Petrobras (2006), é de 5 milhões de m3 de gás não associado e 629 mil barris de óleo.

A produção acumulada da área totaliza 3,1 mil barris de óleo e 3,04 milhões de m3 de gás.

6.2.7.1 Aspectos geológicos e petrofísicos

O poço 4-MP-12-BA foi perfurado com a finalidade de testar uma estrutura dômica mapeada

pela sísmica ao nível do topo do Grupo Ilhas inferior. Tinha como objetivo principal os arenitos do

Membro Santiago da Formação Pojuca e, como objetivos secundários, os arenitos das Formações

Marfim e Maracangalha. Naquela oportunidade, o poço foi considerado subcomercial de óleo, no

intervalo de 2.203 até 2.210 metros, e de gás não associado, no intervalo de 2.285 até 2.307 metros,

ambos no Membro Caruaçu da Formação Maracangalha.

Figura 46 – Trecho do perfil do poço 4-MP-12-BA, intervalo 2.190 a 2.330 metros, englobando as

zonas de acumulação da Formação Maracangalha. (Fonte: ANP, 2011).

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76

Os corpos arenosos com melhores propriedades permo-porosas da Formação Pojuca estão

saturados com água. Os reservatórios produtores de gás não associado são arenitos finos,

lenticulares, de idade Rio da Serra, no Membro Caruaçu da Formação Maracangalha.

A análise petrofísica, dos arenitos da Formação Maracangalha, foi executada e algumas

propriedades de rochas foram inferidas para o reservatório de óleo (de 2.203 a 2.210 metros):

porosidade, 16%; permeabilidade, 1,9 mD; saturação de água, 40%; e espessura porosa verdadeira,

7 metros. Para o reservatório de gás não associado (de 2.285 a 2.307 metros), as propriedades

estimadas foram: porosidade, 18%; permeabilidade, 2,0 mD; saturação de água, 25%; e espessura

porosa verdadeira, 10 metros. Os demais intervalos analisados do poço estão saturados com água.

Quanto ao fluido produzido, no documento analisado da ANP (2011) não constava nenhuma

referência quanto às propriedades do gás natural e do óleo produzido.

6.2.7.2 Histórico de produção

O campo começou a produzir efetivamente a partir da acumulação de gás não associado do

intervalo de 2.285 a 2.307 metros em julho de 2003. Em janeiro de 2005, o intervalo produtor de gás

não associado foi fechado e o poço foi completado no intervalo superior, entre 2.203 e 2.210 metros,

passando a produzir óleo, gás associado e água. A produção acumulada da área totalizou 3,1 mil

barris de óleo e 3,04 milhões de m3 de gás (ANP, 2011).

Figura 47 – Histórico de produção de gás natural. (Fonte: ANP, 2011).

Figura 48 – Histórico de produção de óleo e água. (Fonte: ANP, 2011).

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77

As figuras anteriores exibem a produção média diária durante a vida produtiva do campo,

considerando o valor extrapolado a partir do número de horas em que o poço esteve funcionando,

mesmo que o período parado tenha sido necessário para realimentação de pressão do reservatório.

6.2.7.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN

O potencial do campo de Beija-Flor foi analisado para ser transformado em uma ESGN a

partir de suas propriedades petrofísicas e geológicas, tendo como base os critérios expostos na

introdução deste capítulo. Assim como o campo de Fazenda Azevedo Oeste, o campo de Beija-Flor

possui algumas características que não lhe assegurariam ser uma ESGN eficiente. A presença em

um único poço e a característica lenticular desses reservatórios não assegurariam o bom controle

dos limites e das espessuras da acumulação. Estas observações, aliadas à baixa qualidade permo-

porosa, resultante da grande profundidade em que se encontram esses arenitos, conferem à

acumulação alta incerteza e risco. A permeabilidade não é suficiente para permitir injeção e produção

em níveis de vazões exigidos durante os períodos de oferta e picos de demanda de gás natural.

A acumulação de óleo não está tão depletada e o óleo remanescente aumentaria ainda mais

o atrito entre os fluidos, prejudicando a operacionalidade de uma futura ESGN. A acumulação de gás

está bem depletada, mas é muito pequena e, portanto, sem interesse comercial para abrigar uma

ESGN. Desta forma, nenhum destes reservatórios seria uma boa opção para ser uma ESGN.

6.2.8 Caracatu

O campo de Caracatu está localizado no município de Entre Rios, distante a 120 km da

cidade de Salvador. Foi descoberto pelo poço pioneiro 1-CTU-1-BA, em 29/11/1982, sendo colocado

em produção já no início do ano seguinte em 31/01/1983 e produzindo até ser fechado em

31/10/1984. O campo abrange uma área de 1,6 km2 e contém dois poços: o 1-CTU-1-BA e o 1-CTU-

2-BA. O poço 1-CTU-2-BA, apesar de passar por formações que contém hidrocarbonetos, foi

considerado subcomercial e acabou sendo abandonado logo em seguida a sua perfuração.

As acumulações de hidrocarbonetos ocorrem entre 2.350 e 2.900 metros de profundidade,

sendo que os reservatórios são os turbidíticos da Formação Candeias, os arenitos da Formação

Itaparica e os arenitos da Formação Sergi. Os volumes originais in situ são da ordem de 559 mil m³

de óleo (3,52 milhões de barris) e 48,57 milhões de m³ de gás natural.

6.2.8.1 Aspectos geológicos e petrofísicos

O campo de Caracatu está localizado em um bloco alto, que está circundado por falhas

normais e basculado para sudeste. O campo é constituído por uma acumulação principal, localizada

nos reservatórios da Formação Sergi, e por outras secundárias nas Formações Candeias e Itaparica,

que também apresentaram a ocorrência de pouco óleo e não chegaram a entrar em produção.

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Figura 49 – Trecho do perfil do poço 1-CTU-1-BA, intervalo 2.760 a 3.050 metros, englobando a zona

de acumulação da Formação Sergi. (Fonte: ANP, 2011).

Entretanto, as formações produtoras do campo de Caracatu apresentaram-se muito

fechadas. Até mesmo no reservatório da Formação Sergi, que chegou a entrar em produção, os

testes de formação indicaram baixa permeabilidade média, aproximadamente 0,15 mD. O

trapeamento da acumulação na Formação Sergi é do tipo estrutural.

O reservatório da Formação Sergi é constituído por arenitos siliciclásticos, depositados em

ambiente fluvial, no Andar Dom João (Jurássico). Esse reservatório apresentou uma pressão original

estimada de 192 kgf/cm2

e pressão de saturação estimada de 45 kgf/cm2, estando originalmente

subsaturado. O óleo apresentou uma densidade de 40°API, enquanto o gás natural um poder

calorífico de 10.000 kcal/m³. O mecanismo primário de produção foi o de gás em solução. As

propriedades petrofísicas estimadas foram: porosidade, 8,6%; permeabilidade, 1,6 mD; saturação de

água, 37%; e espessura porosa verdadeira, 6 metros.

6.2.8.2 Histórico de produção

Segundo a ANP (2011), a produção do campo de Caracatu se deu a partir dos arenitos da

Formação Sergi, cuja produção se deu de modo intermitente entre 1983 e 1984, sendo abandonado

por apresentar baixa produtividade. Durante a fase de completação, tentou-se estimular a produção a

partir do fraturamento da zona produtora na Formação Sergi, mas não se obteve muito sucesso.

A produção acumulada, até dezembro de 1997, totalizou aproximadamente 535 m³ de óleo

(3,4 mil barris) e 22,6 mil m³ de gás. A figura seguinte apresenta o gráfico com os registros de

produção mensal no período em que o campo esteve em operação.

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79

Figura 50 – Produção acumulada de óleo e de gás natural. (Fonte: ANP, 2011).

6.2.8.3 Potencial para ser transformado em uma ESGN

O potencial do campo de Caracatu foi analisado para ser transformado em uma ESGN a

partir de suas propriedades petrofísicas e geológicas, tendo como base os critérios expostos na

introdução deste capítulo. A baixa qualidade permo-porosa, resultante da grande profundidade em

que se encontram esses arenitos, conferem à acumulação alta incerteza e alto risco. A

permeabilidade, principalmente, é muito baixa para permitir injeção e produção em níveis de vazões

exigidos durante os períodos de oferta e de picos de demanda.

Mais uma vez, há a questão do óleo remanescente que prejudicaria a operacionalidade da

instalação de ESGN, aumentando o atrito entre os fluidos e reduzindo a capacidade de fluidez do gás

natural. O campo talvez nem tenha interesse para extração de hidrocarbonetos devido às suas fracas

propriedades petrofísicas e características geológicas. Em relação à concepção de uma unidade de

ESGN neste campo, isto estaria fora de cogitação, devido às suas características permo-porosas.

Tendo estas considerações em mente, uma ESGN neste campo não seria, de forma alguma, uma

opção do ponto de vista técnico e econômico.

6.3 Localização e infraestrutura de transporte

A rede de gás natural da Bahia, mais especificamente a malha de distribuição existente no

Recôncavo Baiano, ainda está no seu estágio embrionário e precisa se desenvolver muito até que se

consiga interligar os vários trechos de gasodutos que existem espalhados na região. À medida que

se aproxima da capital Salvador, a malha de gasodutos fica mais ramificada e mais complexa. Nas

regiões distantes, quando há rede de gasodutos, estas apresentam trechos simples e quase sem

nenhuma ramificação.

A parte da rede de gasodutos da Bahia, que passa pelo Recôncavo Baiano, possui apenas

cinco citygates: Simões Filho; Estação Madeira; Candeias; Camaçari e Catu. Estes citygates são

pontos de entrega, onde o gás é transferido da rede de transmissão para a concessionária local de

gás natural. Por sua vez, existem as companhias de distribuição local, que transportam o gás natural

do ponto de entrega até às residências e às empresas industriais através da rede local de

distribuição. Na Bahia, o responsável é a Companhia de Gás da Bahia (Bahiagás), uma

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concessionária estadual dos serviços de distribuição de gás natural canalizado. A Bahiagás é uma

empresa de economia mista, controlada pelo Governo do Estado, sendo vinculada à Secretaria de

Infraestrutura.

Segundo o Relatório Administrativo e Social da Bahiagás (2012), a rede de gasodutos

possui uma extensão de 684 km, cujo volume médio comercializado é 3,74 milhões de m3/dia,

atendendo mais de 14.741 clientes em 20 municípios do estado da Bahia. O gás natural distribuído,

pela Bahiagás, tem como origens os campos do Recôncavo e de Manati, além de volumes recebidos

através do Gasoduto de Integração Sudeste/Nordeste – GASENE e da destacada participação da

companhia em leilões promovidos pela estatal nacional, além de outro contrato para aquisição de

gás natural dos campos maduros da Ilha de Itaparica.

O GASENE soma-se à malha de gasodutos em operação na Bahia, cuja entrada no mercado

nacional representou um aumento na geração de energia elétrica de até 900 MW na região Sudeste,

ao permitir a transferência de gás natural produzido nas bacias do Sudeste para os estados do

Nordeste e vice-versa. O GASENE permitiu o aumento da oferta de gás natural na região do

Recôncavo Baiano com sua interligação ao citygate de Catu.

O Gasoduto de Integração Sudeste/Nordeste (o GASENE) foi uma iniciativa que consistiu na

construção de três gasodutos de transporte de gás natural, com extensão total de aproximadamente

1.400 km e capacidade de transporte de 20 milhões de m³/dia, ligando o Pólo de Cabiúnas (Rio de

Janeiro) até o citygate de Catu, localizado na cidade de Pojuca (Bahia). O projeto foi composto dos

seguintes trechos: Gasoduto Vitória-Cacimbas (1º trecho); Gasoduto Cabiúnas-Vitória (2º trecho); e

Gasoduto Cacimbas-Catu (3º trecho).

A Bahiagás tem continuado a investir na ampliação da rede de gasodutos da Bahia e criado

as condições mais favoráveis para a utilização da malha de distribuição existente, a partir da

fomentação do atendimento ao mercado de gás natural em todo o estado. A companhia implantou a

infraestrutura para o recebimento do gás natural proveniente do Campo de Manati, maior campo de

gás natural não associado do Brasil, com potencial para a produção de 8 milhões de m³/dia, o que

possibilita um incremento no atendimento ao mercado industrial e permite consolidar o fornecimento

para os segmentos automotivo, residencial e comercial.

Na próxima figura, está representado o mapa da rede de distribuição de gás natural operada

pela Bahiagás, sem o trecho do GASENE, cujo operador é a Transpetro. A figura também apresenta

a localização dos campos depletados que foram estudados neste capítulo. Note que todos os

campos não estão interligados à malha de gasodutos existente.

Quanto à distância entre os campos e a malha de gasodutos, deve-se ter em conta que

nenhum está interligado à malha e obras de ampliação seriam necessárias de forma a conectar estas

futuras ESGNs à rede de gasodutos. Este fato impacta pontualmente nos custos de instalação

dessas unidades, elevando os mesmos e dificultando a sua construção, já que estes projetos

paralelos seriam necessários visando à ramificação da rede. Através da próxima figura, observa-se

que alguns desses campos estão muito próximos, a menos de 15 km de distância, é o caso dos

campos de Beija-Flor e Dias D’Ávila. Outros campos possuem uma distância média de

aproximadamente 30 km, é o caso dos campos de Fazenda Gameleira, Vale do Quiricó, Lagoa

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Verde e Miranga Leste, enquanto que os campos de Caracatu e Fazenda Azevedo Oeste estão a

mais de 30 km de distância da malha de gasodutos.

Figura 51 – Localização dos campos. (Fonte: http://www.bahiagas.com.br/, 2014 (adaptada)).

6.4 Potencial de armazenamento subterrâneo

A indústria petrolífera do Brasil teve seu início no final da década de 1930 na área do

Recôncavo Baiano e hoje, passados quase 80 anos, a indústria do gás natural continua nas

primeiras fases de seu desenvolvimento e, para agravar a situação, cresce com taxas que estão

aquém dos países, cujos mercados de gás natural estão bem consolidados e amadurecidos. Em

contraste, o Brasil possui perspectivas de ser autossuficiente em termos de gás natural, mas nem

sequer possui uma rede de gás natural bem ramificada, integrando todos os seus estados e regiões.

O Recôncavo Baiano insere-se neste contexto de anos e anos de desenvolvimento num ritmo lento e

desinteressado.

Como resultado, a malha de gasodutos, que passa pelo Recôncavo Baiano, é extremamente

ineficiente quando se trata da integração dos principais campos petrolíferos onshore da região, além

de ser pequena quando se compara com as dimensões do estado da Bahia, pois são apenas 684 km

de extensão dentro de uma área de 564.733,177 km2, justificando o baixo número de municípios

atendidos pela rede (20).

De uma forma geral, os campos depletados, que foram objetos de estudo neste capítulo,

ficam em áreas onde a vegetação é de capoeira rala e pastagem nativa, com resquícios de mata

nativa e, em alguns casos, com mata de eucaliptos no entorno. Alguns campos são de fácil acesso,

como Dias D’Ávila, Beija-Flor, Caracatu, Fazenda Gameleira, Miranga Leste e Vale do Quiricó,

possuindo boas rodovias, cuja distância rodovia-poço varia de 200 a 500 metros. Os outros dois

campos (Lagoa Verde e Fazenda Azevedo Oeste) possuem problemas de acesso devido à

irregularidade no relevo do terreno e por causa da mata de eucaliptos ao redor dos poços.

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82

Entretanto, os poços destes campos se encontram isolados, onde as ocupações humanas

ocorrem a partir de 400 metros em alguns campos (Dias D’Ávila, por exemplo), enquanto que em

outros podem chegar até 1.500 metros (Fazenda Azevedo Oeste, por exemplo). Quanto à

proximidade às áreas industriais, apenas o campo de Dias D’Ávila está muito próximo de uma área

importante, o Pólo Petroquímico de Camaçari. O campo de Beija-Flor não está tão perto do Pólo

Petroquímico de Camaçari, mas fica nas suas redondezas.

Quando se estuda o potencial destes campos para o armazenamento geológico de gás

natural, deve-se analisar cada critério que define as características de uma instalação deste tipo.

Primeiramente, analisou-se a capacidade destes reservatórios em acumular hidrocarbonetos. Esta

análise foi realizada de forma mais qualitativa do que quantitativa, pois era necessário o estudo de

seções sísmicas para definir o tipo de trapeamento, estrutural ou estratigráfico, e de análises

petrofísicas da rocha selante, mas o fato destes reservatórios terem confinado algum tipo de fluido no

passado, já é suficiente para garantir a primeira condição para que eles possam se tornar em uma

ESGN.

Quanto ao volume em cada instalação, pode-se calcular a partir de uma avaliação tendo

como base o volume de hidrocarboneto produzido em cada campo, a variação entre a pressão

estática inicial e final, o nível de depleção do reservatório, análise petrofísica da estrutura da rocha

reservatório, a avaliação das dimensões das armadilhas a partir da sísmica, o contato de fluidos

dentro do reservatório, além de aspectos econômicos e financeiros que devem ser levados em

consideração para a determinação do ponto ótimo de utilização destes armazéns. Estes são

aspectos que transcendem o escopo desta dissertação, devendo ser abordados em estudos futuros.

Uma vez analisada a estrutura de trapeamento de cada acumulação, deve-se constatar as

reais condições de selagem das rochas capeadoras. Esta análise pode ser feita através de

testemunhos do próprio poço ou, se não houver outro jeito, pode ser feita a partir da análise do perfil

do poço. Como foi visto anteriormente, existem campos com mais de um poço, então, pode-se

correlacionar as análises dos perfis dos poços e conseguir valores mais consistentes paras as

propriedades petrofísicas. Uma mais valia que há para os campos do Recôncavo Baiano é que a

Bacia do Recôncavo já foi muito estudada e explorada, então, há muita informação disponível, que

quando utilizadas corretamente aumentam a eficiência e a eficácia da pesquisa.

Analisar a permeabilidade é muito difícil e esta deverá ser estudada minuciosamente no

reservatório de interesse, devido às características intrínsecas desta propriedade, especialmente,

devido à sua anisotropia, pois a permeabilidade varia de acordo com uma direção específica.

Entretanto, apesar de ter se mostrado a preocupação em tratar da permeabilidade nos arenitos das

acumulações dos campos estudados, sugere-se que se façam análises mais detalhadas sobre a

permeabilidade, caso haja a intenção de estudar e prosseguir com a caracterização destes campos

para a concepção de uma ESGN, pois a partir desta propriedade é que se pode analisar a

capacidade de injeção e produção de gás natural nestas estruturas.

Deve-se analisar a interferência de outros fluidos contidos no reservatório na permeabilidade,

pois estes fluidos, devido ao atrito, tendem a diminuir a capacidade do gás natural de fluir dentro da

rocha durante as operações de injeção e produção, reduzindo a permeabilidade. Este é talvez o

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83

ponto mais importante a ser estudado nestes reservatórios, pois estes possuem acumulações

marginais de hidrocarbonetos e, desta forma, precisa-se de uma melhor avaliação a este respeito.

Quando o reservatório for de gás não associado, pode-se até aproveitar o volume in situ para ser

utilizado como gás de base nas instalações, mas quando for de óleo, deve-se fazer um estudo

aprofundado, pois como a maioria dos reservatórios possui valores médios de permeabilidade, a

presença de outros fluidos pode baixar estes valores ainda mais e inviabilizar fisicamente a ESGN.

Estas primeiras análises são cruciais para a definição do projeto, mas deve-se constatar a ausência

de gás sulfídrico nas formações. Por fim, deve-se pesquisar sobre possíveis poços adicionais aos

reservatórios e ver sua viabilidade.

Se todas estas condições geológicas, físicas, químicas, econômicas e financeiras forem

verificadas e aprovadas e se consiga definir os reservatórios que sejam capazes de receberem tal

empreendimento de uma ESGN, há outro fator extremamente importante e relevante para ser

tratado, pois se necessita da construção de um gasoduto secundário que conectaria os campos

aprovados na análise à malha de gasodutos existente no Recôncavo Baiano. Como foi visto na

seção anterior, a grande maioria dos campos analisados distam aproximadamente 30 km da rede

existente e, assim, além de encarecer o empreendimento, pode torná-lo sem interesse econômico e

financeiro, inviabilizando-o.

Nesta primeira análise, os campos com grande potencial para serem transformados em

ESGN seriam os campos de Dias D’Ávila, de Fazenda Gameleira e de Lagoa Verde, por

apresentarem as melhores propriedades petrofísicas de seus reservatórios, principalmente,

porosidade e permeabilidade, além das dimensões de suas acumulações. Os campos do Vale do

Quiricó, Miranga Leste e Fazenda Azevedo Oeste ainda possuem uma quantidade elevada de óleo

remanescente que prejudicaria a operacionalidade de uma instalação de ESGN, que aumentaria o

atrito entre os fluidos, óleo e gás natural, e reduziria a capacidade de fluidez do gás natural

armazenado, baixando a permeabilidade do reservatório. Por ser uma quantidade elevada de óleo,

talvez seja mais interessante economicamente aplicar métodos secundários de produção numa

tentativa de recuperá-lo. Os outros campos, o de Beija-Flor e o de Caracatu, apresentam valores

extremamente baixos para a propriedade da permeabilidade, postergando os estudos destes campos

e colocando-os em grau mais baixo em termos de importância e de interesse.

Desta forma, termina-se a análise do potencial dos campos depletados do Recôncavo

Baiano para receberem uma ESGN. Nota-se que a região comporta uma estocagem deste tipo e

possui boas estruturas geológicas. Entretanto, a Bacia do Recôncavo se encontra em um estágio de

depleção avançado e já faz algumas décadas que a produção de hidrocarbonetos entrou em

declínio, mas a região ainda carece de mais investimentos, principalmente, na infraestrutura de

transporte e distribuição de gás natural.

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7 Conclusões

A existência de uma unidade de armazenamento subterrâneo comporta-se como elemento

primordial para o desenvolvimento da cadeia de gás natural. Ela possui extrema importância para o

equilíbrio da oferta e da demanda de gás natural no mercado, além de ter outros objetivos

estratégicos tão relevantes quanto este, pois elas ajudam a aperfeiçoar o tamanho da rede de

transmissão, auxiliando o gerenciamento desta, e garantem a segurança do suprimento em caso de

interrupção no fornecimento de gás. Como os mercados se desenvolveram e tornaram-se mais

liberalizados, os mercados centralizados emergiram e começaram a participar ativamente no

mercado de gás natural. Logo, o armazenamento adquire um papel comercial adicional, apenas

como ferramenta de apoio à negociação. Com o desenvolvimento de fontes de energias renováveis

no setor energético, o armazenamento começa a desempenhar uma função complementar para

cobrir a inconstância na demanda de gás, quando este é utilizado como um substituto ao

fornecimento de energia.

No Brasil, observa-se que o consumo de gás natural tem aumentado significativamente nos

últimos anos (tanto o energético, como o não energético), apresentando um melhor destaque na

matriz energética brasileira. Todavia, este crescimento requer o desenvolvimento da infraestrutura de

tratamento, de movimentação e de distribuição, exigindo maior eficiência e dinâmica do mercado de

gás natural, o que reforça o papel importante que a estocagem subterrânea pode vir a desempenhar

no cenário brasileiro, otimizando a confiabilidade e a credibilidade da rede como um todo, além de

aumentar a segurança energética.

O principal objetivo deste estudo foi avaliar o potencial de alguns campos depletados de

óleo/gás, localizados na região do Recôncavo Baiano, para serem transformados em Estocagem

Subterrânea de Gás Natural (ESGN). A partir da análise preliminar dos aspectos geológicos e

técnicos destes reservatórios, criaram-se as bases teóricas para avaliar se o campo seria

aproveitado para ser uma ESGN ou necessitaria de um estudo mais aprofundado para uma

avaliação mais segura.

Nesta primeira análise, os campos com maior potencial para serem transformados em ESGN

seriam os campos de Dias D’Ávila, de Fazenda Gameleira e de Lagoa Verde por apresentarem as

melhores propriedades petrofísicas de seus reservatórios, principalmente, porosidade e

permeabilidade. Os campos do Vale do Quiricó, Miranga Leste e Fazenda Azevedo Oeste ainda

possuem uma quantidade elevada de óleo remanescente que prejudicaria a operacionalidade de

uma instalação de ESGN. Por ser uma quantidade elevada de óleo, talvez seja mais interessante

economicamente aplicar métodos secundários de produção numa tentativa de recuperá-lo. Os

campos de Beija-Flor e de Caracatu, apesar de possuírem bons valores de porosidade, apresentam

valores extremamente baixos para a permeabilidade, postergando os estudos destes campos e

colocando-os em grau mais baixo em termos de importância. Caso haja o interesse em prosseguir

com os estudos destes campos, pode-se requerer à ANP documentos complementares e

importantes para a análise mais detalhada, tais como os perfis dos poços secundários de cada

campo, dados de campanhas sísmicas, dados geológicos, etc.

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