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  • ESTUDO DA

    DOUTRINA

    ESPRITA

  • I N D C E

    AULA 01 BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC PG. 1

    AULA 02 INTRODUO AO LIVRO DOS ESPRITOS PG. 7

    AULA 03 A IDIA DE DEUS - VISO HISTRICA COMPARADA PG. 13

    AULA 04 DEUS PG. 17

    AULA 05 ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO PG. 23

    AULA 06 ESPRITO PG. 33

    AULA 07 PERISPRITO PG. 42

    AULA 08 CENTROS DE FORA PG. 55

    AULA 09 REENCARNAO PG. 60

    AULA 10 DESENCARNAO - RETORNO DA VIDA CORPORAL PARA VIDA ESPIRITUAL PG. 76

    AULA 11 INTERVENO DOS ESPRITOS NO MUNDO CORPORAL PG. 87

    AULA 12 LEI DIVINA OU NATURAL PG. 95

    AULA 13 LEI DE ADORAO PG. 100

    AULA 14 LEI DE TRABALHO PG. 107

    AULA 15 LEI DE REPRODUO PG. 111

    AULA 16 LEI DE CONSERVAO PG. 118

    AULA 17 LEI DE SOCIEDADE PG. 125

    AULA 18 LEI DE PROGRESSO PG. 131

    AULA 19 PERFEIO MORAL PG. 140

    AULA 20 OBSESSO PG. 148

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    ESTUDO DA DOUTRINA ESPRITA

    Aula 01

    Biografia de Allan Kardec

    Allan Kardec, cujo verdadeiro nome Hippolyte Leon Denizard Rivail, nasceu na cidade de Lion, Frana, a 03 de outubro de 1804 no seio de antiga famlia lionesa, de nobres e dignas tradies.

    Foram seus pais Jean-Baptiste Antoine Rivail, magistrado ntegro e Jeanne Louise Duhamel.

    Realizou seus primeiros estudos em Lion, sua cidade natal, completando-os em Yverdon, Sua, no famoso Instituto de Educao Pestalozzi. O Instituto de Yverdon, fundado em 1805, era visitado todos os anos por grande nmero de estrangeiros, citado, descrito, imitado, era, numa palavra, a escola modelo da Europa.

    O menino Denizard Rivail, ao qual os destinos reservariam sublime misso, logo se revelou um dos discpulos mais fervorosos do insigne pedagogista suo, j dobrado sob setenta anos de lutas, realizaes e decepes. Possuidor de inteligncia penetrante e alto esprito de observao, e, ainda mais, inclinado naturalmente para a soluo dos importantes problemas do ensino e para o estudo das cincias e da filosofia, Rivail cativou a simpatia e a admirao do velho professor, deste se tornando, pouco depois, eficiente colaborador. Os exemplos de amor ao prximo fornecidos por Pestalozzi norteariam para sempre a vida do futuro Codificador do Espiritismo.

    Com catorze anos, Rivail j legava Humanidade bela contribuio: para os seus condiscpulos menos adiantados abriu cursos, nos quais ensinava o que ia aprendendo, nos momentos que lhe eram reservados ao descanso.

    Procurando seguir as pegadas do mestre, cujo mtodo permitia ao povo e s crianas em geral uma educao mais adequada, mais racional e mais prtica, Rivail meteu mos obra e, em 1824 saa a lume o primeiro livro dele, a saber: Cours Pratique Et Thorique DArithmtique DApres La Mthode de Pestalozzi, Avec Des Modifications.

    O eminente Codificador do Espiritismo, em 1824, com apenas dezenove anos j tirava luz, para o bem de seus irmos em Humanidade, importante e utilssimo livro, fruto do seu prprio engenho. Foi esta a primeira obra de cunho pedaggico e a primeira entre todas as demais por ele publicadas.

    Obtendo iseno do servio militar, Rivail deixou a Sua e rumou para a cosmopolita capital francesa, onde, a princpio, por saber falar e escrever o alemo to bem quanto o francs, vertia para a Alemanha livros que mais lhe tocavam o corao, dando preferncia s obras de Fnelon. Alm de continuar seus estudos, dedicou-se educao, e suas obras alcanaram tal xito, que logo se tornou uma figura popular, querida e elogiada. Fundou tambm um Instituto Tcnico que obedecia aos moldes do extinto Instituto de Yverdon. At 1834, essa obra do esforado e laborioso discpulo de Pestalozzi, agora amparado por sua dedicada esposa Professora Amlia Boudet, abriu novos horizontes inteligncia de um punhado de alunos que ali iam em busca da gua lustral. Ao mesmo tempo em que lecionava, prosseguia escrevendo, nas poucas horas que lhe sobravam, pginas e mais pginas relacionadas com as questes educacionais.

    Em 1835, o Instituto que ele dirigia com proficincia e alto esprito missionrio teve que cerrar suas portas. A quantia que lhe coube da liquidao do referido

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    estabelecimento foi confiada a um amigo negociante, que, realizando maus negcios, entrou em falncia, deixando o pobre professor sem um nquel.

    Rivail, entretanto, demonstrando firme vontade e inquebrantvel energia, empregou-se como contabilista de casas comerciais, dedicando as noites organizao de novos trabalhos pedaggicos, traduo de obras do ingls e do alemo e preparao de todos os cursos de Levi-Alvars. Em sua prpria residncia, ministrou cursos gratuitos de Qumica, Fsica, Astronomia, Fisiologia e Anatomia Comparada.

    Rivail fora um destes homens, que, como Pestalozzi, regeu sua vida pelo lema: tudo para os outros, nada para si mesmo. Durante toda sua existncia procurou educar, educar sempre, intelectual e moralmente, objetivando a construo de um mundo melhor.

    Tudo fazia o jovem professor-filantropo para facilitar aos alunos o aprendizado das matrias que geralmente trazem queles certo cansao cerebral. Com engenho e arte, arquitetava, ento, mtodos e processos especiais, tendo em vista obter maior aproveitamento do aluno, com o menor dispndio de energias intelectuais por este ltimo.

    Atravs de sua carreira pedaggica, exercitou a pacincia, a abnegao, o trabalho, a observao, a fora de vontade e o amor s boas causas, a fim de melhor poder desempenhar a gloriosa misso que lhe estava reservada.

    Hyppolyte Leon Denizard Rivail, antes que o Espiritismo lhe popularizasse e imortalizasse o pseudnimo de Allan Kardec, j se havia, pois, firmado bem alto no conceito do povo francs, como distinguido mestre da Pedagogia moderna.

    Durante a vida inteira regeu suas aes por trs virtudes: Trabalho, Solidariedade, Tolerncia.

    Entre outras matrias, lecionou, como pedagogo de incontestvel autoridade: Qumica, Matemtica, Astronomia, Fsica, Fisiologia, Retrica, Anatomia Comparada e Francs. Era dado a estudos filolgicos e de gramtica da lngua francesa. Conhecia profundamente o alemo, o ingls, o holands, assim como eram slidos seus conhecimentos do latim e do grego, do gauls e de algumas lnguas novilatinas.

    O Consolador, consubstanciado no Espiritismo, vinha de alvorecer, e um homem extraordinrio fora destinado a preparar-lhe o advento e a consolidao. Denizard Rivail foi este homem. Os fatos observados por Rivail em 1855, com diferentes mdiuns, foram de tal ordem que o perspicaz e clarividente professor sentiu que algo de momentoso se estaria passando. Observando, comparando e julgando os fatos, sempre com cuidado e perseverana, concluiu que realmente eram os Espritos daqueles que morreram a causa inteligente dos efeitos inteligentes e deduziu as leis que regem esses fenmenos, extraindo admirveis conseqncias filosficas e toda uma doutrina de esperana e consolaes.

    Freqentando reunies inmeras onde, por meio da cesta, muitas vezes se obtinham comunicaes que deixavam fora de toda a dvida a interveno de entidades estranhas aos presentes, Rivail comeou a levar para as sesses uma srie de perguntas sobre problemas diversos, s quais os Espritos comunicantes respondiam com preciso, profundeza e lgica.

    Em 1856, a 30 de abril, em casa do Sr. Roustan, a mdium Japhet, utilizando-se da cesta, transmitiu a Rivail a primeira revelao positiva da misso que teria de desempenhar, fato que mais adiante, em circunstncias diferentes, seria confirmado, e com mais clareza, por outros mdiuns.

    uma pgina emocionante da histria da vida de Rivail. Humilde, sem compreender a razo de sua escolha para missionrio-chefe de uma doutrina que revolucionaria o pensamento cientfico, filosfico e religioso, pareceu duvidar. Mas o Esprito de Verdade lhe respondeu: Confirmo o que foi dito, mas recomendo-te discrio, se quiseres sair-te bem. Tomars mais tarde conhecimento de coisas que te explicaro o que ora te surpreende. No esqueas que podes triunfar, como podes falir. Neste ltimo caso, outro te substituiria, porquanto os desgnios de Deus no assentam na cabea de um homem.

    Rivail prosseguiu com devotamento exemplar seus estudos acerca da comunho entre o mundo dos encarnados e o dos desencarnados. Inicialmente, o professor Rivail esteve a ponto de abandonar as investigaes, porquanto no era positivamente um entusiasta das manifestaes espritas. Premido tambm por preocupaes de outra

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    ordem, quase deixou de freqentar as sesses, somente no o fazendo em ateno a pedidos reiterados dos Srs. Carlotti, Ren Taillandier e Didier.

    Pouco a pouco erigia-se a base de um monumento filosfico-religioso. Com o concurso de mais de uma dezena de mdiuns, auxiliado direta e indiretamente por uma pliade de Espritos Superiores superintendidos pelo Esprito de Verdade, ele desenvolvia, completava e remodelava aqui e ali o seu trabalho. Em 11 de setembro de 1856 recebia na casa do Sr. Baudin a seguinte comunicao medinica assinada por Muitos Espritos: Compreendeste bem o objetivo do teu trabalho. O plano est bem concebido. Estamos satisfeitos contigo. Continua; mas lembra-te, sobretudo quando a obra se achar concluda, de que te recomendamos que a mandes imprimir e propagar. de utilidade geral. Estamos satisfeitos e nunca te abandonaremos. Cr em Deus e avante.

    Corre o tempo e, em princpios de 1857, entrava para o prelo da Livraria E. Dentu a obra que seria o clarim do Consolador prometido por Jesus.

    A 18 de abril de 1857, finalmente era dado luz O Livro dos Espritos. No momento de public-lo, o autor ficou muito embaraado em resolver como o assinaria, se com o seu nome ou com um pseudnimo. Sendo o seu nome muito conhecido do mundo cientfico, em virtude dos seus trabalhos anteriores, e podendo originar confuso, talvez mesmo prejudicar o xito do empreendimento, ele adotou o alvitre de o assinar com o nome de Allan Kardec, nome que, segundo lhe revelara o guia, ele tivera ao tempo dos Druidas.

    A 1o de abril de 1858, Kardec fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espritas, a primeira regularmente constituda na Frana.

    Vivia em Barcelona um cidado que comungava com as idias de Kardec; o livreiro Maurcio Lachtre, famoso redator e editor conhecido do Dicionrio Universal Ilustrado. Ele escrevera ao codificador pedindo-lhe livros espritas, porquanto desejava fazer propaganda do novo credo, da nova filosofia. Cerca de trezentos livros foram enviados por Kardec a Lachtre, que pagou os direitos alfandegrios comuns, ao governo espanhol. Contudo, graas a um procedimento irregular, que aberra dos princpios ticos, o destinatrio no recebeu os livros. que o bispo de Barcelona, Dr. Antnio Palau y Termens, no podendo levar Kardec fogueira, considerou as obras perniciosas f catlica. Fez confiscar os livros pelo Santo Ofcio. Kardec reclamou a devoluo dos mesmos, infrutiferamente, porque o bispo de Barcelona quem ditava ordens.

    Kardec perdeu os livros; os direitos aduaneiros no foram restitudos pelo fisco espanhol, mas tudo isso favoreceu o Espiritismo. Compreendeu o Codificador que, embora pudesse reaver o perdido, se agitasse por via diplomtica, era prefervel deixar as coisas como estavam, porquanto a ignomnia constituiria, como constituiu, excelente propaganda do Espiritismo. O bispo de Barcelona fez queimar em praa pblica as obras de Kardec.

    O episdio de Barcelona parece ter sido uma advertncia para a obra que Allan Kardec divulgaria em abril de 1864: O Evangelho Segundo o Espiritismo.

    Por sua doutrina filosfica, seu mtodo cientfico e sua moral universal, a obra esprita de Kardec penetrou rapidamente em vrias partes do Mundo, conquistando milhes de seguidores entre as mais diferentes classes sociais.

    Aos 64 anos de idade, Kardec preocupava-se com um projeto de organizao do Espiritismo, por meio do qual esperava imprimir maior vigor e mais ao filosofia de que se fez apstolo, objetivando desenvolver o lado prtico e social da Doutrina. Esse trabalho e muitas outras tarefas o haviam cansado bastante. Desde 1860 vinha realizando magistrais conferncias em mais de vinte cidades da Frana e da Blgica. Em 31 de maro de 1869, estava em preparativos de mudana de residncia, quando, repentinamente, tomba fulminado pela ruptura de um aneurisma, na idade de 65 anos incompletos.

    O enterro realizou-se, dois dias depois, no Cemitrio Montmartre, contando o cortejo mais de mil pessoas. Seus despojos mortais foram, depois, transferidos para o afamado Cemitrio do Pre-Lahaise, repousando at os dias de hoje.

    o tmulo de Allan Kardec, o nico que durante o ano inteiro recebe as flores e as preces do reconhecimento de criaturas vindas de todas as partes, fato este j destacado pela imprensa de vrias naes, recomendando-o mesmo como uma das principais atraes tursticas de Paris.

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    Nos ltimos quinze anos de vida, Kardec se transformou no homem universal. Seus livros doutrinrios foram publicados nas lnguas tcheca, russa, inglesa, italiana, alem, norueguesa, holandesa, polonesa, grega moderna, croata, castelhana, portuguesa, esperanto e japonesa e, ainda no alfabeto Braille.

    semelhana de todos os gloriosos reformadores, Allan Kardec brilhar, atravs dos tempos, como um fulgurante sol na aurora do espiritismo.

    Madame Allan Kardec recebeu da Frana e do estrangeiro numerosas e efusivas manifestaes de simpatia e encorajamento, o que lhe trouxe novas foras para o prosseguimento da obra de seu amado esposo.

    Amlie Boudet tinha nove anos mais que Kardec, mas tal era a sua jovialidade fsica e espiritual, que a olhos vistos aparentava a mesma idade do marido, jamais essa diferena constituiu entrave felicidade de ambos. Kardec foi alvo do dio, da injria, da calnia, da inveja, do cime e do despeito de inimigos gratuitos, que a todo custo queriam conservar a luz sob o alqueire. Intrigas, traies, insultos, ingratides, tudo de mal cercou o ilustre reformador, mas em todos os momentos de provas e dificuldades sempre encontrou, no terno afeto de sua nobre esposa, amparo e consolao. Ante a partida do querido companheiro para a espiritualidade, portou-se como verdadeira esprita, cheia de f e estoicismo, conquanto, como natural, abalada no profundo do ser.

    Esforando-se por concretizar os planos expostos por Kardec, ela conseguiu, depois de cuidadosos estudos feitos conjuntamente com alguns dos velhos discpulos de Kardec, fundar a Sociedade Annima do Espiritismo. Destinada divulgao do Espiritismo por todos os meios permitidos pelas leis, a referida sociedade tinha, como fito principal, a continuao da Revue Spirite, a publicao das obras de Kardec e bem assim de todos os livros que tratassem de Espiritismo.

    Graas, pois, viso, ao empenho, ao devotamento sem limites de Madame Allan Kardec, o Espiritismo cresceu a passos de gigante, no s na Frana, como tambm no Mundo todo.

    Muito ainda fez essa extraordinria mulher a prol do Espiritismo e de todos quantos lhe pediam um conselho ou uma palavra de consolo, at que em 21 de janeiro de 1883, s cinco horas da madrugada, docemente, com rara lucidez de esprito, desatou-se dos ltimos laos que a prendiam matria. A querida velhinha tinha ento 87 anos.

    De acordo com seus prprios desejos, o enterro de Madame Allan Kardec foi simples e seus despojos enterrados junto ao marido.

    A nota mais tocante no ato de seu sepultamento foi dada pelo Sr. Lecoq. Ele leu, para alegria de todos, bela comunicao medinica de Antnio de Pdua, recebida em 22 de janeiro, na qual esse iluminado Esprito descrevia a brilhante recepo com que elevados Amigos do Espao, juntamente com Allan Kardec, acolheram aquele ser bem-aventurado.

    No deixando herdeiros diretos, pois que no teve filhos, por testamento fez sua legatria universal a Sociedade para Continuao das Obras Espritas de Allan Kardec. Embora uma parente sua, j bem idosa, e os filhos desta intentassem anular essas disposies testamentrias, alegando que ela no estava em perfeito juzo, nada, entretanto, conseguiram, pois as provas em contrrio foram esmagadoras.

    Em 26 de janeiro de 1883, o conceituado mdium parisiense Sr. E. Corduri recebia espontaneamente uma mensagem assinada pelo Esprito de Madame Allan Kardec, logo seguida de outra, da autoria de seu esposo. Singelas na forma, belas nos conceitos, tinham ainda um sopro de imortalidade e comprovavam que a vida continua.

    MESAS GIRANTES

    O Fenmeno A Doutrina Esprita teve em seu nascimento uma srie progressiva de

    fenmenos, sendo o primeiro fato observado o de objetos diversos colocados em movimento, que designaram-se vulgarmente sob o nome de mesas girantes ou dana

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    das mesas. Esses fenmenos a princpio levantaram muita incredulidade, mas a multido das experincias logo no mais permitiu que se duvidasse da realidade.

    Veracidade do Fenmeno Se esse fenmeno tivesse sido limitado ao movimento dos objetos materiais,

    poderia se explicar por uma causa puramente fsica. No haveria, pois, nada de impossvel em que a eletricidade modificada por certas circunstncias, ou outro agente desconhecido, fosse a causa desse movimento.

    A reunio de vrias pessoas aumentando a fora de ao parecia apoiar essa teoria, porque se poderia considerar esse conjunto como uma pilha mltipla da qual a fora est na razo do nmero de elementos.

    O movimento circular no tinha nada de extraordinrio. Est na natureza, todos os astros se movem circularmente. Mas os movimentos no eram sempre circulares, freqentemente era brusco, desordenado, o objeto violentamente sacudido, tombado, levado numa direo qualquer e contrariamente lei da esttica, levantado do cho e mantido no ar.

    Nada ainda nesses fatos que no se possa explicar pela fora de um agente fsico invisvel. No vemos a eletricidade derrubar rvores, lanar longe corpos pesados, atra-los ou repeli-los?

    Os rudos, as pancadas, supondo que no fossem um dos efeitos ordinrios da dilatao da madeira, ou de outra causa acidental, poderiam, ainda, muito bem ser produzidos pela acumulao do fluido oculto. A eletricidade produz os mais violentos rudos.

    At a, como se v, tudo pode entrar no domnio dos fatos puramente fsicos e fisiolgicos. Mas no foi assim, acreditou-se descobrir, no sabemos por qual iniciativa que o impulso dado aos objetos no era somente o produto de uma fora mecnica cega, mas que havia nesse movimento a interveno de uma causa inteligente. Este caminho uma vez aberto era um campo todo novo de observaes, era o vu levantado sobre muitos mistrios.

    Comearam as indagaes se havia com efeito nesses fenmenos uma fora inteligente. Se essa fora existe, qual sua natureza, sua origem? Est acima da humanidade?

    Primeiras Manifestaes Inteligentes As primeiras manifestaes inteligentes ocorreram por meio de mesas se

    levantando e batendo com um p um nmero determinado de pancadas e respondendo desse modo por sim e por no, segundo a conveno, a uma questo posta.

    At aqui nada que convencesse seguramente os cticos, porque se poderia ver num efeito do acaso.

    Obtiveram-se depois respostas mais desenvolvidas por meio de letras do alfabeto: o objeto mvel batendo um nmero de pancadas correspondentes ao nmero de ordem de cada letra, chegara assim a formular palavras e frases que respondiam s questes propostas. A preciso das respostas e sua correlao com a pergunta aumentavam o espanto.

    O ser misterioso interrogado sobre sua natureza declarou que era um esprito, se deu um nome e forneceu diversas informaes a seu respeito.

    Nota: Ningum imaginou os espritos como um meio de explicar os fenmenos, foi o prprio fenmeno que revelou a palavra.

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    Espiritismo na Europa e no Brasil Na Europa a idia espiritualista era somente objeto de aberraes e pesquisas

    nos laboratrios ou de grandes discusses estreis no terreno da filosofia. A Europa recebeu a nova revelao sem conseguir aclim-la, no seu corao

    atormentado pelas necessidades mais duras. As prprias sesses medinicas so ali geralmente remuneradas, como se esses fenmenos se processassem to somente pelas disposies estipuladas num contrato de representaes.

    No Brasil, o espiritismo derramou seus frutos sazonados e doces no corao da coletividade brasileira, em seu seio, nas grandes sociedades e nos lugarejos obscuros, a doutrina consoladora apresentou sempre as mais belas expresses de caridade e de fraternidade.

    Jesus com as suas mos meigas e misericordiosas fez viver no pas abenoado os seus ensinamentos, as curas maravilhosas dos tempos apostlicos. Abnegados mdiuns curadores desde os primrdios nas terras do Brasil, espalharam, como instrumentos da verdade as mais fartas colheitas de bnos do cu. Curando enfermos os novos discpulos do Senhor restabeleciam o esprito geral para a grande tarefa.

    O espiritismo penetrou no Brasil com todas as suas caractersticas de Cristianismo Redivivo, levantando as almas para uma alvorada de f.

    Todas as suas instituies se aliceraram no amor e na caridade, as prprias agremiaes cientficas que, de vez em quando, aparecem para cultiv-lo na sua rotulagem de metapsquica, so absorvidas, no programa cristo, sob a orientao invisvel e indireta dos emissrios do Senhor.

    Todas as possibilidades e energias so aproveitadas para o bem comum e para a tarefa de todos os trabalhadores, e por isso que todos os grupos sinceros do Espiritismo, no pas, tm as suas guas fluidificadas, a teraputica do magnetismo espiritual, os elementos da homeopatia, a cura das obsesses, os auxlios gratuitos no servio de assistncia aos necessitados, dentro do mais alto esprito evanglico, dando-se de graa aquilo que se recebeu como esmola do cu.

    No raro vermos caboclos que engrolam a gramtica nas suas confortadoras doutrinaes, mas que conhecem o segredo mstico de consolar as almas, aliviando os aflitos e os infelizes, ou, ento, mdiuns da mais obscura condio social e nas mais humildes profisses a se constiturem em instrumentos admirveis nas mos piedosas dos mensageiros do Senhor.

    Dentro do Brasil, a grande obra tem a sua funo relevante no organismo social da Ptria do Cruzeiro, vivificando a seara da educao espiritual. E no tenhamos dvida, superior s funes dos transitrios organismos polticos, essa obra abenoada, de educao genuinamente crist, o ascendente da nao do Evangelho e o elemento que preparar o seu povo para os tempos do porvir.

    Bibliografia: O Livro dos Espritos Allan Kardec Brasil, Corao do Mundo, Ptria do Evangelho Chico Xavier.

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    ESTUDO DA DOUTRINA ESPRITA

    Aula 02

    Introduo ao Estudo do Livro dos Espritos

    O Livro dos Espritos na Codificao

    Prolegmenos Fenmenos que escapam das leis da Cincia vulgar se manifestam em toda a

    parte e revelam, em sua causa, a ao de uma vontade firme e inteligente. A razo diz que um efeito inteligente deve ter por causa uma fora inteligente, e

    os fatos provaram que essa fora pode entrar em comunicao com os homens por meio de sinais materiais.

    Essa fora, interrogada sobre a sua natureza, declarou pertencer ao mundo dos seres espirituais que se despojaram do envoltrio corporal do homem. assim que foi revelada a Doutrina dos Espritos.

    As comunicaes entre o mundo esprita e o mundo corporal esto na natureza das coisas e no constituem nenhum fato sobrenatural. Por isso, delas se encontram vestgios entre todos os povos e em todas as pocas. Hoje, elas so gerais e patentes para todo o mundo.

    Os espritos anunciam que os tempos marcados pela Providncia, para uma manifestao universal, so chegados, e que, sendo os ministros de Deus e os agentes de sua vontade, sua misso instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regenerao da Humanidade.

    Este livro a compilao dos seus ensinamentos. Foi escrito por ordem e sob o ditado dos Espritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos preconceitos do esprito de sistema. Nada contm que no seja a expresso do seu pensamento e que no tenha se submetido ao seu controle. Somente a ordem e a distribuio metdica das matrias, assim como as notas e a forma de algumas partes da redao so obras daquele que recebeu a misso de o publicar.

    Entre os Espritos que concorreram para a realizao desta obra, vrios viveram em diversas pocas sobre a Terra, onde pregaram e praticaram a virtude e a sabedoria. Outros no pertencem, pelo seu nome, a nenhum personagem do qual a Histria tenha guardado a lembrana, mas sua elevao atestada pela pureza de sua doutrina e sua unio com aqueles que trazem um nome venerado.

    Eis os termos pelos quais deram por escrito, e por intermdio de vrios mdiuns, a misso de escrever este livro:

    Ocupa-te com zelo e perseverana do trabalho que empreendeste com o nosso concurso, porque esse trabalho nosso. Nele pusemos a base do novo edifcio que se eleva e deve um dia reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e de caridade; mas antes de o propagar, ns o reveremos em conjunto, a fim de controlar todos os detalhes.

    Estaremos contigo todas as vezes que o pedires e para te ajudar em teus outros trabalhos, porque este no seno uma parte da misso que te est confiada, e que te j foi revelada por um dos nossos.

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    Entre os ensinamentos que te so dados, h os que deves guardar s para ti, at nova ordem. Ns te indicaremos quando o momento de os publicar tenha chegado. At l, medite-os, a fim de estar preparado quando o dissermos.

    Coloca na cabea do livro a cepa de vinha que te desenhamos, porque ela o emblema do trabalho do Criador, todos os princpios materiais que podem melhor representar o corpo e o esprito nela se encontram reunidos: o corpo a cepa; o esprito o licor; a alma ou o esprito unido matria o gro. O homem quintessencia o esprito pelo trabalho e tu sabes que no seno pelo trabalho do corpo que o esprito adquire conhecimentos.

    No te deixes desencorajar pela crtica. Encontrars contraditores obstinados, sobretudo entre as pessoas interessadas nos abusos. Encontr-los-s mesmo entre os Espritos, porque os que no esto completamente desmaterializados procuram, freqentemente, semear a dvida por malcia ou por ignorncia. Mas prossegue sempre.

    Cr em Deus e caminha com confiana. Aqui estaremos para te sustentar, e est prximo o tempo em que a verdade brilhar por toda parte.

    A vaidade de certos homens que crem tudo saber e querem tudo explicar sua maneira, far nascer opinies dissidentes. Mas todos aqueles que tiverem em vista o grande princpio de Jesus, se confundiro no mesmo sentimento de amor ao bem, e se uniro por um lao fraternal que abranger o mundo inteiro. Eles deixaro de lado as miserveis disputas de palavras para no se ocupar seno das coisas essenciais e a doutrina ser sempre a mesma, quanto ao fundo, para todos aqueles que recebero as comunicaes dos Espritos superiores.

    com a perseverana que chegars a recolher o fruto do teu trabalho. O prazer que experimentars vendo a doutrina se propagar e ser compreendida te ser uma recompensa da qual conhecers todo o valor, talvez mais no futuro que no presente. No te inquietes, pois, com as saras e as pedras que os incrdulos ou os maus semearo sobre teu caminho. Conserva a confiana: com a confiana tu chegars ao fim, e merecers ser sempre ajudado.

    Lembra-te de que os bons Espritos no assistem seno queles que servem a Deus com humildade e desinteresse, e repudiam a qualquer que procure, no caminho do cu, um degrau para as coisas da Terra. Eles se distanciam do orgulhoso e do ambicioso. O orgulho e a ambio sero sempre uma barreira entre o homem e Deus; um vu atirado sobre as claridades celestes, e Deus no pode se servir do cego para fazer compreender a luz.

    So Joo Evangelista, Santo Agostinho, So Vicente de Paulo, So Lus, O Esprito de Verdade, Scrates, Plato, Fenlon, Franklin Swendenborg, etc.

    A Metodologia de Kardec Kardec aplicou a esta cincia o mtodo experimental, no aceitando teorias

    preconcebidas, observava, comparava e deduzia as conseqncias, dos efeitos procurava elevar-se s causas, pela deduo e encadeamento dos fatos, no admitindo por valiosa uma explicao, seno quando ela podia resolver todas as dificuldades da questo.

    Compreendeu logo a gravidade da tarefa que ia empreender, e entreveu naqueles fenmenos a chave do problema, to obscuro e to controvertido, do passado e do futuro da humanidade, cuja soluo viveu sempre a procurar, era enfim uma revoluo completa nas idias e nas crenas do mundo.

    Cumpria-lhe, pois, proceder com circunspeco e no levianamente, ser positivo e no idealista para no se deixar levar por iluses.

    Um dos primeiros resultados de suas observaes foi saber que, sendo os Espritos as almas dos homens, no possuam a soberana sabedoria, nem a soberana cincia, e que o seu saber era limitado ao grau de adiantamento, assim como a sua opinio s tinha o valor de opinio pessoal. Esta verdade, reconhecida desde o princpio, preservou-lhe do perigo de acreditar na infalibilidade deles e livrou-lhe de formular teorias prematuras sobre os ditados de um ou de alguns.

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    O fato apenas de comunicao com os Espritos, independente do que eles pudessem dizer, provava a existncia do mundo invisvel: ponto capital, campo imenso aberto s suas exploraes, chave de uma multido de fenmenos inexplicados.

    O segundo ponto no menos importante era conhecer o estado desse mundo e seus costumes. Viu logo que cada esprito, segundo a sua posio e conhecimentos, lhe patenteava uma fase daquele mundo, do mesmo modo como se chega a conhecer o estado de um pas, interrogando habitantes de todas as classes e condies, podendo cada um ensinar-nos alguma coisa e nenhum, individualmente, ensinar tudo.

    Incumbe ao observador formar o conjunto, coordenando, colecionando e conferindo, uns com os outros, documentos que tenha recolhido. Procedeu com os espritos como teria feita com os homens, considerou-os, desde o menor at o maior, como elementos de instruo e no como reveladores predestinados.

    Tais foram as disposies com que empreendeu e com que sempre seguiu os estudos espritas: observar, comparar e julgar, essa foi a regra invarivel que se imps.

    As sesses na casa do Sr. Baudin nunca tinham tido um fim determinado, procurou, nelas resolver problemas que lhe interessavam: sobre filosofia, psicologia e a natureza do mundo invisvel.

    Em cada sesso apresentou uma srie de perguntas preparadas e metodicamente arranjadas, obtinha sempre respostas precisas, profundas e lgicas. As reunies ento tomaram outro carter, entre os assistentes achavam-se pessoas srias que tomaram vivo interesse pelo seu estudo e se lhe acontecia faltar um dia, nenhum trabalho se fazia.

    As questes fteis tinham perdido todo o atrativo, para a maior parte. A princpio no teve em vista seno sua prpria instruo, mais tarde, porm, quando viu que formava um ncleo em torno do qual os trabalhos tomavam as propores de uma doutrina, pensou em torn-los pblicos para a instruo de todos. Foram aquelas questes desenvolvidas e completadas, que constituram a base de O Livro dos Espritos.

    Em 1856, acompanhou tambm as reunies espritas na casa do Sr. Roustan e Srta. Japhet, sonmbula. Essas reunies eram srias e ordeiras. Seu trabalho estava quase acabado e dava para um livro, mas quis rev-lo com outros espritos, mediante outros mdiuns.

    Teve o pensamento de fazer dele objeto de estudo para as sesses do Sr. Roustan, mas no fim de algumas sesses os Espritos disseram que preferiam rev-lo na intimidade e marcaram para este feito certos dias, em que trabalhariam com a Srta. Japhet, a fim de o fazerem com mais calma, e mesmo pra evitar indiscries e comentrios prematuros do pblico.

    No se contentou com essa verificao que os prprios espritos lhe recomendaram.

    Tendo-se relacionado com outros mdiuns, sempre surgiam ocasies que aproveitava para propor algumas das perguntas, que lhe pareciam mais espinhosas.

    Foi assim que mais de dez mdiuns prestaram a sua assistncia ao trabalho e foi da comparao e da fuso de todas essas respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes remodas no silncio da meditao, que formou a primeira edio de O Livro dos Espritos, em 18 de abril de 1857.

    Caractersticas da Doutrina Esprita O Espiritismo uma filosofia espiritualista. Quando Allan Kardec codificou a Doutrina Esprita, houve por bem criar o

    vocbulo Espiritismo, para designar a doutrina propriamente dita, e esprita ou espiritista, pra identificar os adeptos do Espiritismo.

    Afirmou, ento, o Codificador que, para designar coisas novas, imprescindvel criar termos novos, pois, assim exige a clareza da linguagem, para evitar a confuso inerente variedade de sentidos de uma mesma palavra.

    Numerosas religies tradicionais so aliceradas no espiritualismo, porm, o Espiritismo difere da grande maioria delas porque consagra princpios que elas repelem,

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    por conflitarem com os seus dogmas, principalmente a reencarnao e a pluralidade dos mundos habitados.

    Quem quer que acredite haver em si algo mais que a matria, espiritualista, uma vez que o espiritualismo o oposto do materialismo.

    O Espiritismo a Cincia, Filosofia e Religio e, como tal, no veio para destruir ou combater as demais religies, mas sim para ajud-las na compreenso da imortalidade da alma.

    Os princpios bsicos da Doutrina Esprita so:

    a existncia de Deus; a pluralidade das existncias; a preexistncia e persistncia eterna do esprito; a intercomunicao entre encarnados e desencarnados; recompensas e penas, como conseqncia natural dos atos praticados; progresso infinito, comunicao universal entre os seres. Os nomes Espiritismo e esprita tm sido indevidamente usados por outros

    agrupamentos espiritualistas, autnticos movimentos paralelos. A Doutrina Esprita fundamentalmente diferente de qualquer outra ramificao

    religiosa, pois, uma doutrina religiosa sem dogmas propriamente ditos, sem liturgia, sem smbolos, sem sacerdcio organizado.

    O Espiritismo evanglico o Consolador prometido por Jesus, que pela voz dos seres redimidos, espalham as luzes divinas por toda a Terra, restabelecendo a verdade e levantando o vu que cobre os ensinamentos na sua feio de Cristianismo redivivo, a fim de que os homens despertem para a era grandiosa da compreenso espiritual com o Cristo.

    A Doutrina Esprita no veio para exterminar outras crenas, parcelas da verdade que a sua doutrina representa, mas sim, trabalhar por transform-los, elevando-lhes as concepes antigas para o claro da verdade imortalista, sua misso tem que se verificar junto s almas e no ao lado das glrias efmeras dos triunfos materiais. Esclarecendo o erro religioso, onde quer que se encontre e revelando a verdadeira luz, pelos atos da f, representa o operrio da regenerao do Templo do Senhor, onde os homens se agrupam em vrios departamentos, ante altares diversos, mas onde existe um s mestre que Jesus Cristo.

    O Espiritismo no tem o carter isolado de uma filosofia, de uma cincia ou de uma religio, porque , ao mesmo tempo, religio, filosofia e cincia. simultaneamente revelao divina e obra de cooperao dos espritos humanos desencarnados e encarnados. Tem a caracterstica singular de ser impessoal, complementar e progressivo; primeiro, por no ser fruto da revelao de um s Esprito, nem o trabalho de um s homem; segundo, por ser a complementao natural, expressa e lgica das duas primeiras grandes revelaes divinas (a de Moiss e a do Cristo); terceiro, porque, como bem disse Kardec, ele jamais dir a ltima palavra. cincia, porque investiga, experimenta, comprova, sistematiza e conceitua leis, fatos, foras e fenmenos da vida, da natureza, dos pensamentos e dos sentimentos humanos. filosofia, porque cogita, induz e deduz idias e fatos lgicos sobre as causas primeiras e seus efeitos naturais; generaliza e sintetiza, reflete, aprofunda e explica; estuda, discerne e define motivos e conseqncias, comos e porqus de fenmenos relativos vida e morte. religio, porque de suas constataes cientficas e de suas concluses filosficas resulta o reconhecimento humano da paternidade Divina e da irmandade universal de todos os seres da criao, estabelecendo, desse modo, o culto natural do amor a Deus e ao prximo.

    Somente sendo assim como , poderia o Espiritismo realizar a sua grande misso de transformar a Terra, de mundo de sofrimento, de provas e expiaes, em orbe regenerado e pacfico, a caminho de mais altas expresses de glria csmica. Essa misso de transformar o mundo, o Espiritismo cumprir; no com palavrrio inconseqente, nem com tricas polticas ou com aes de foras blicas, mas fazendo a humanidade enxergar e entender a evidncia das grandes leis e dos grandes fatos da vida, a imortalidade do esprito, a justia indefectvel, o imperativo do amor.

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    Infinitamente superior a todas as cincias limitadas, dispensa laboratrio sofisticado, aparelhagens caras e rgidos mtodos empricos. Imensamente mais eficaz do que todas as demais filosofias conhecidas, no se perde em devaneios da inteligncia, nem se limita exclusivamente a fenmenos materialmente verificveis ou deduzveis por meio de insuficientes raciocnios de lgica matemtica. Incomparavelmente mais racional e eficiente do que qualquer outra religio dispensa sacerdcio, altares, rituais e dogmatismo, porque atua diretamente sobre o entendimento e o corao de cada pessoa, fala alma de cada indivduo e assenta o seu imprio na mente de cada ser.

    Por isso, o Espiritismo no necessita de exterioridades para empreender a reforma do mundo, porque isso ele realizar atravs de cada pessoa, de cada grupo de pessoas, de cada sociedade, de cada comunidade humana. Como a Doutrina Esprita tem a natureza de uma revelao progressiva e incessante, sua influncia ser cada vez mais especfica e mais ampla, em todos os setores da atividade humana, inspirando novos rumos e novas motivaes suscitando novos pensamentos criativos e promovendo o progresso.

    Atravs da literatura, da msica, das artes plsticas, do cinema, do rdio, do teatro, da televiso, as idias espritas realizaro um trabalho educacional de altssimo rendimento, semeando os pensamentos mais altos e enobrecendo sentimentos.

    No campo da medicina o Espiritismo est destinado a ajudar a cincia a descobrir e entender que o ser humano um complexo mento-fsico-perispirtico.

    Na medicina Psiquitrica, o Espiritismo est fadado a introduzir profunda inovao de conceitos e de mtodos, a partir da aceitao cientfica, da ascendncia do esprito sobre os crebros perispirituais e fsico e sobre todo o cosmo orgnico de cada ser humano. Isso, e mais o conhecimento objetivo dos processos obsessrios e dos desequilbrios de natureza medinica, daro novas dimenses de entendimento e grandeza psiquiatria, induzindo-a estudar as repercusses mtuas das leses fsicas, espirituais e perispirituais, para reformular todas as suas tcnicas de diagnstico e de tratamento e assim alcanar resultados mais positivos e mais consentneos com o progresso.

    Nas reas da psicologia e da psicanlise, o Espiritismo introduzir modificaes fundamentais de conceituao e tratamento dos problemas clnicos, comeando pela considerao dos ascendentes espirituais e crmicos determinantes de cada situao individual e grupal. Com efeito, como entender-se e tratar-se convenientemente inibies graves sem causa aparente e fobias inatas, inexplicveis mesmo luz da hereditariedade, seno atravs de vivncias pretritas, em passadas encarnaes? Por falar nisso, at onde essas transatas vivncias so responsveis por difceis quadros clnicos no campo da pediatria? E ainda a, quem seria capaz de medir, por agora, o valor da contribuio esprita para numerosas solues, tericas e prticas, ainda no encontradas para dirimir srios desafios no mbito da pedagogia. Doenas de natureza crmica, afeces provenientes de choques reencarnatrios e diferenas fsico-intelecto-morais de ordem evolutiva so coisas que a cincia oficial por enquanto desconhece, mas que, em porvir no mais remoto, h de incorporar ao rol dos seus saberes.

    No terror da filosofia religiosa, a obra libertadora do espiritismo j mais do que evidente. Reconceituou as antigas noes de cu, inferno, purgatrio e limbo, de anjos e de demnios; de bem e de mal; de ressurreio e de penitncia; de amor e de trabalho; de riqueza e de cultura; de beleza e de progresso; de liberdade e de justia. Aos desvalidos e doentes, aos solitrios e aos tristes, aos pobres e aos perseguidos, aos injustiados e aos aflitos, a todos renovou as esperanas num Pai Justo e Bom, num futuro sem fim, numa bem-aventurana eterna e sem limites, mas merecida e conquistada no dever bem cumprido, no trabalho bem feito, na paz da conscincia limpa e na fraternidade operosa e desprendida.

    Esta , por sinal, a face mais bela da misso do Espiritismo: - consolar, enxugar lgrimas, semear as flores divinas da esperana. Por isso, o

    prprio Cristo, que o prometeu e o enviou, chamou-o Consolador. Ele realmente anima e conforma, ajuda e retempera. Traz-nos de volta redivivos, os nossos mortos queridos; mantm acesos nossos ideais, mesmo quando as nossas condies atuais de existncia no nos permitem realiz-los de pronto. Foi por essa razo que o Espiritismo nasceu visceralmente ligado ao Evangelho de Jesus, do qual no se pode nunca

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    separar. Se no fosse apostolicamente crist, a Doutrina Esprita careceria de sentido. Seus fundamentos so o amor e a justia; sua finalidade o bem fonte nica de verdadeira felicidade.

    Com muito empenho, muita humildade e muita nfase, advertimos a todos os irmos em humanidade que jamais se utilizem do Espiritismo para qualquer fim menos nobre; que no se valham dele para a maldade ou para o crime, e nem mesmo para simples satisfao estril de tolas vaidades pessoais. Saibam todos que imensamente perigoso abusar dele, porque usar a mediunidade para o mal abrir sobre a prpria cabea as portas do inferno.

    O Espiritismo a mais poderosa das cincias, porque lida com foras vivas e integradas de dois planos da existncia; DIRIGIR INCONSCIENTEMENTE ESSAS FORAS PODER SER GENOCDIO, MAS SER NECESSARIAMENTE SUICDIO DAS MAIS DESOLADORAS CONSEQNCIAS.

    Bibliografia: O Livro dos Espritos Allan Kardec Obras Pstumas Allan Kardec O Consolador Chico Xavier Universo e Vida Hernani T. SantAnna

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    ESTUDO DA DOUTRINA ESPRITA

    Aula 03

    A Idia de Deus Viso Histrica Comparada

    Concepo de Deus ao Longo da Histria

    As primeiras organizaes religiosas da Terra tiveram, sua origem entre os povos primitivos do Oriente, aos quais enviava Jesus, periodicamente, os seus mensageiros e missionrios.

    Dada a ausncia da escrita, naquelas pocas longnquas, todas as tradies se transmitiam de gerao a gerao atravs do mecanismo das palavras. Cada raa recebeu os seus instrutores das verdades espirituais e a verdade que todos os livros e tradies religiosas da antiguidade guardam entre si a mais estreita unidade substancial. As revelaes evolucionam numa esfera gradativa de conhecimento.

    Todos se referem ao Deus impersonificvel, que a essncia da vida de todo o Universo.

    Enquanto a civilizao egpcia e os iniciados hindus criavam o politesmo para a satisfao dos imperativos da poca, j o povo de Israel acreditava somente na existncia do Deus Todo-Poderoso, por amor do qual aprendia a sofrer todas as injrias e a tolerar todos os martrios. Quarenta anos no deserto representaram para aquele povo como que um curso de consolidao de sua f, contagiosa e ardente.

    Todas as raas da Terra devem aos Judeus esse benefcio sagrado que consiste na revelao do Deus nico, Pai de todas as criaturas e Providncia de todos os seres.

    O grande legislador dos hebreus trouxera a determinao de Jesus, com respeito simplificao das frmulas iniciticas, para compreenso geral do povo.

    A misso de Moiss foi tornar acessveis ao sentimento popular as grandes lies que os demais iniciados eram compelidos a ocultar. E de fato, no seio de todas as grandes figuras da antiguidade, destaca-se o seu vulto como o primeiro a rasgar a cortina que pesa sobre os mais elevados conhecimentos, filtrando a luz da verdade religiosa para a alma simples e generosa do povo.

    No reino de Israel sucederam-se as tribos e os enviados do Senhor. Todos os seus caminhos no mundo esto cheios de vozes profticas e consoladoras, acerca dAquele que ao mundo viria para ser glorificado como o Cordeiro de Deus.

    Definio de Deus

    Deus a inteligncia suprema, causa primeira de todas as coisas.

    OBS: No nos possvel uma definio completa de Deus, pois nossa linguagem insuficiente para definir o que est acima da nossa inteligncia e capacidade de compreenso.

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    Provas da Existncia de Deus

    Se no sabemos definir Deus, como podemos ter certeza da sua existncia? No h efeito sem causa, negando a existncia de Deus estaremos negando a

    Lei da Causa e Efeito, estaramos aceitando que o nada pode fazer alguma coisa.

    Exemplo: Se um pssaro que est voando, atingido por chumbo mortal, julga-se que um hbil atirador o feriu, embora no se veja o atirador.

    No , pois, sempre necessrio ter visto algo para saber que ele existe. Em tudo

    observando-se os efeitos que se chega ao conhecimento das causas. Outro princpio tambm elementar que todo efeito, inteligente deve ter uma

    causa inteligente. Muitas vezes pensamos que o sentimento ntimo que temos da existncia de

    Deus est ligado educao e ao produto das idias adquiridas. Mas porque os selvagens tm esse mesmo sentimento, se eles no foram educados, chegamos concluso que eles no poderiam ter essa certeza.

    Julga-se o poder de uma inteligncia pela suas obras, se nenhum ser humano pode criar o que produz a natureza, ento a causa primeira, pois, uma inteligncia superior a humanidade.

    Por isso no temos condies de compreender a natureza de Deus. Teremos condies um dia, quando nosso esprito no estiver mais obscurecido pela matria e alcanado a perfeio para nos aproximarmos Dele e ao v-lo, compreende-lo.

    Alguns adotam o seguinte raciocnio: As obras ditas da natureza so o produto das foras naturais que agem

    mecanicamente, em conseqncia das leis de atrao e repulso; as molculas dos corpos inertes se agregam e se desagregam sob o imprio dessas leis. As plantas nascem, brotam, crescem e se multiplicam sempre do mesmo modo, cada uma em sua espcie, em virtude dessas mesmas leis; cada indivduo semelhante quele do qual saiu; o crescimento, a florao, a frutificao, a colorao, esto subordinadas a causas materiais, tais como o calor, a eletricidade, a luz, a umidade, etc. Ocorre o mesmo com os animais. Os astros se formam pela atrao molecular, e se movem perpetuamente, em suas rbitas, pelo efeito da gravitao. Essa regularidade mecnica, no emprego das coisas naturais, no acusam uma inteligncia livre. O homem movimenta seu brao quando quer, e como quer, mas, aquele que movimentasse no mesmo sentido desde o nascimento at a morte, seria um autmato; ora, as foras orgnicas da natureza so puramente automticas.

    Tudo isso verdade, mas essas foras so efeitos que devem ter uma causa, e ningum pretende que elas constituam a divindade. So materiais e mecnicas, no so inteligentes por si mesmas, e isso , ainda, verdade; mas so postas em ao, distribudas, apropriadas para as necessidades de cada coisa por uma inteligncia que no a dos homens.

    A apropriao til dessas foras um efeito inteligente que denota uma causa inteligente.

    Um pndulo se move com regularidade automtica, e essa regularidade que lhe d o seu mrito. A fora que o faz assim agir toda material e nada inteligente; mas o que seria desse relgio se uma inteligncia no houvesse combinado, calculado, distribudo o emprego dessa fora para faz-la caminhar com preciso? Do fato de que a inteligncia no est no mecanismo do relgio, e de que ela no vista, seria racional concluir que no existe? Ela julgada pelos seus efeitos.

    A existncia do relgio atesta a existncia do relojoeiro, a engenhosidade do mecanismo atesta a inteligncia e o saber do relojoeiro. Quando o relgio vos d no momento prprio, a informao de que tendes necessidade, jamais veio ao pensamento de algum dizer: eis um relgio bem inteligente.

    Ocorre o mesmo com o mecanismo do Universo; Deus no se mostra, mas se afirma pelas suas obras.

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    A existncia de Deus , pois, um fato adquirido, no somente pela revelao, mas pela evidncia material dos fatos. Os povos selvagens no tiveram revelao e, no obstante, crem, instintivamente, na existncia de um poder sobre-humano; vm coisas que esto acima do poder humano, e delas concluem que provm de um ser superior humanidade. No so mais lgicos do que aqueles que pretendem que elas se fizeram sozinhas?

    Atributos do Criador

    Sem o conhecimento dos atributos de Deus seria impossvel compreender a obra da criao, o ponto de partida de todas as crenas religiosas, e foi pela falta de a elas se referirem, como farol que poderia dirigi-las, que a maioria das religies errou em seus dogmas. As que no atriburam a Deus a onipotncia imaginaram vrios deuses. As que no lhe atriburam a soberana bondade Dele fizeram um deus ciumento, colrico, parcial e vingativo.

    Atribumos a Deus vrias qualidades: suprema e soberana inteligncia, eterno, imutvel, imaterial, nico, todo poderoso e soberanamente justo e bom, com isso pensamos ter uma idia completa dos seus atributos porque cremos tudo abraar, mas h coisas acima da nossa inteligncia e para as quais nossa linguagem limitada s nossas idias e sensaes, o que nos impossibilita ter a expresso adequada.

    A razo nos diz que Deus deve ter essas perfeies no supremo grau porque se o tivesse um s de menos ou no fosse de um grau infinito, Ele no seria superior a tudo, e por conseqncia no seria Deus.

    Por estar acima de todas as coisas, Deus no deve suportar nenhuma vicissitude e no ter nenhuma das imperfeies que a imaginao pode conceder.

    DEUS :

    Suprema e Soberana Inteligncia: a inteligncia do homem limitada, uma vez que no pode fazer e nem compreender tudo que existe, a de Deus abarcando o infinito, deve ser infinita. Se a supusssemos limitada em um ponto qualquer poder-se-ia conceder um ser ainda mais inteligente, capaz de compreender e de fazer o que um outro no faria; assim, sucessivamente at o infinito.

    Eterno: se Ele tivesse tido um comeo, teria sado do nada, ou teria sido criado,

    Ele mesmo por um ser anterior. Imutvel: se estivesse sujeito s mudanas, as leis que regem o Universo no

    teriam estabilidade. Imaterial: quer dizer, sua natureza difere de tudo o que chamamos matria, de

    outro modo Ele no seria imutvel, porque estaria sujeito s transformaes da matria. nico: se houvesse vrios deuses, no haveria unidade de vistas, nem de poder

    no ordenamento do Universo. Todo Poderoso: porque nico. Se no tivesse o soberano poder, haveria

    alguma coisa mais poderosa ou to poderosa quanto Ele; no teria feito todas as coisas, e as que no tivesse feito seriam obras de um outro deus.

    Soberanamente Justo e Bom: a sabedoria providencial das Leis Divinas se

    revela nas menores coisas, como nas maiores, e essa sabedoria no permite dvidas da sua justia, nem da sua bondade.

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    Concluso Deus existe, no podemos duvidar, o essencial. No devemos ir alm para no nos perdermos num labirinto do qual no

    poderemos sair. Isso no nos tornaria melhores, mas talvez um pouco mais orgulhosos, porque

    acreditaramos saber o que na realidade nada sabemos. Deixemos, pois, de lado, todos esses sistemas. Temos muitas coisas que nos

    tocam mais diretamente, a comear por ns mesmos. Estudemos as nossas imperfeies, a fim de nos desembaraarmos delas, isso

    nos ser mais til do que querer penetrar o que impenetrvel. Trabalhemos nossa perfeio, em todos os sentidos, que um dia chegaremos a

    ela e a sim teremos adquirido as condies intelectuais e morais para chegarmos at Ele.

    Bibliografia: A Gnese Allan Kardec O Livro dos Espritos Allan Kardec A Caminho da Luz Francisco Cndido Xavier

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    ESTUDO DA DOUTRINA ESPRITA

    Aula 04

    Deus

    Deus e o Infinito

    Deus a inteligncia suprema, causa primria de todas as coisas. Infinito aquilo que no tem comeo nem fim; o desconhecido; todo desconhecido

    infinito. Poderamos dizer que Deus infinito? Definio incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, insuficiente para

    definir as coisas que esto alm da sua inteligncia. Deus infinito nas suas perfeies, mas o infinito uma abstrao, dizer que

    Deus o infinito tomar o atributo de uma coisa por ela mesma, definir uma coisa, ainda no conhecida, porque tambm no o .

    A necessidade da idia de Deus

    O primeiro interesse de Kardec foi saber dos Espritos que era Deus e eles responderam dentro da maior simplicidade, mas com absoluta segurana: Deus a inteligncia suprema, causa primria de todas as coisas.

    No poderemos nos sentir seguros onde quer que estejamos, sem pelo menos alimentar a idia de uma fonte criadora imortal. O estudo sobre o Senhor nos d um ambiente de f que corresponde na sua feio mais pura, vontade de viver. Sentimos alegria ao entrarmos em contato com a natureza, pois ela fala de uma inteligncia acima de todas as inteligncias humanas, de um amor diferente daquele que sentimos, de uma paz operante nos seus mnimos registros da vida. O Deus que procuramos fora de ns est igualmente no centro da nossa existncia, porque Ele est em tudo, nada vive sem a sua benfeitora presena.

    O Criador estabeleceu leis na sua casa maior, que cuidam da harmonia na manso divina, sem jamais esquecer do grande e do pequeno, do meio e dos extremos, para que seja dado, a cada um, segundo as suas necessidades. No existe injustia em campo algum da vida, pois cada esprito ou coisa se move no ambiente que a sua evoluo comporta; da resulta o porqu de devermos dar graas por tudo o que nos colocado no caminho.

    justo, entretanto, que nos lembremos do esforo individual, e mesmo coletivo, de sempre melhorar, como sendo a nossa parte, para alcanarmos o melhor. Aquele que acha que tem f em Deus, mas que vive envolvido em lugares de dvida, com companheiros que no corresponde s suas aspiraes de esperana, ainda carece da

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    verdadeira f, iluminada pela temperatura do amor. a confiana que requer reparo. Assim sucede com todas as virtudes conhecidas e, por vezes, vividas por ns.

    Estudemos a harmonia do Universo, meditemos sobre ela, pedindo ao Mestre que nos ajude a compreender esse equilbrio divino, porque se entrarmos em plena ressonncia com a Criao, sanar-se-o todos os problemas, sero desfeitas as dificuldades e todos os infortnios cessaro. Somente depois disso, pelas vias da sensibilidade e pelo porte espiritual que escolhermos para viver, que teremos a resposta mais exata sobre que Deus.

    Conhecer e amar so duas metas que no poderemos esquecer em todos os nossos caminhos. Estes dois estados dalma abrir-nos-o as portas da felicidade, pelas quais poderemos viver em pleno cu, mesmo estando andando e morando na Terra. A Suprema Inteligncia est andando conosco e falando constantemente aos nossos ouvidos, em todas as dimenses do entendimento, porm, ns ainda estamos surdos aos seus apelos e passamos a sofrer as conseqncias da nossa ignorncia. Todavia, o intercmbio entre os dois mundos acelera uma dinmica sobremodo elevada a respeito das coisas divinas, para melhor compreenso daqueles que dormem; o Cristo, como guia visvel atravs das mensagens, toca os clarins da eternidade anunciando novo dia de libertao das criaturas, mostrando onde est Deus e que Ele nos espera, filhos do seu corao, de braos abertos como Pai de amor.

    A Providncia

    A providncia a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Deus est por toda parte e tudo v, tudo preside, mesmo as menores coisas, nisso que consiste a ao providencial.

    Como que Deus, to grande, to poderoso, to superior a tudo, pode se imiscuir em detalhes nfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivduo? Tal a questo que o incrdulo se coloca, donde conclui que, em admitindo a existncia de Deus, sua ao no deve se estender seno sobre as leis gerais do Universo; que o Universo funciona de toda a eternidade em virtude dessas leis, s quais cada criatura est submetida em sua esfera de atividade, sem que seja necessrio o concurso incessante da Providncia.

    Em seu estado atual de inferioridade, os homens no podem, seno dificilmente, compreender Deus infinito, porque o figuram restrito e limitado, igual a eles; representando como um ser circunscrito, e dele fazem uma imagem sua imagem. Nossos quadros que o pintam sobre traos humanos no contribuem pouco para manter esse erro no esprito das massas, que adoram nele, mais a forma do que o pensamento. Para a maioria um soberano poderoso, num trono inacessvel, perdido na imensido dos cus; e, porque suas faculdades e suas percepes so limitadas, no compreendem que Deus possa ou se digne intervir, diretamente, nas pequenas coisas.

    Na impossibilidade que est o homem de compreender a prpria essncia da Divindade, no pode dela fazer seno uma idia aproximada, com a ajuda de comparaes, necessariamente, muito imperfeitas, mas, que podem, pelo menos, mostrar-lhe a possibilidade daquilo que, primeira vista, parece-lhe impossvel.

    Suponhamos um fluido bastante sutil para penetrar todos os corpos; esse fluido, sendo ininteligente, age mecanicamente, to s pelas foras materiais; mas, se supusermos esse fluido dotado de inteligncia, de faculdades perceptivas e sensitivas, ele agir, no mais cegamente, mas, com discernimento, com vontade e liberdade; ver, entender e sentir.

    As propriedades do fluido perispiritual podem nos dar uma idia disso. Ele no inteligente, por si mesmo, uma vez que matria, mas o veculo do pensamento, das sensaes e das percepes do Esprito.

    O fluido perispiritual, no o pensamento do esprito, mas o agente e intermedirio desse pensamento; como ele que o transmite, dele est, de certa forma, impregnado, e, na impossibilidade, que estamos, de isol-lo, parece no formar seno um com o fluido, do mesmo modo que o som parece no formar seno um com o ar, de sorte que podemos, por assim dizer, materializ-lo. Do mesmo modo que dizemos que o

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    ar se torna sonoro, poderamos, tomando o efeito pela causa, dizer que o fluido se torna inteligente.

    Que ocorra assim, ou no, com o pensamento de Deus, quer dizer, que ele atue diretamente ou por intermdio de um fluido, para facilidade de nossa inteligncia, representemo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente, preenchendo o Universo infinito, penetrando todas as partes da criao: a natureza inteira est mergulhada no fluido divino; ora, em virtude do princpio de que as partes de um todo so da mesma natureza, e tem as mesmas propriedades do todo, cada tomo desse fluido, se pode exprimir-se assim, possuindo o pensamento, quer dizer, os atributos essenciais da Divindade, e esse fluido estando por toda parte, tudo est submetido sua ao inteligente, sua previdncia, sua solicitude; no h um ser, por nfimo que se o suponha, que, dele no esteja de algum modo saturado. Estamos, assim, constantemente em presena da Divindade; no h uma nica das nossas aes, que possamos subtrair ao Seu olhar; o nosso pensamento est em contato com o Seu pensamento, e com razo que se diz que Deus l nas mais profundas dobras do nosso corao. Estamos Nele, como Ele est em ns, segundo a palavra do Cristo.

    Para estender sua solicitude sobre todas as criaturas, Deus no tem, pois, necessidade de mergulhar seu olhar do alto da imensidade; as nossas preces, para serem ouvidas por Ele, no tm necessidade de cortarem o espao, nem de serem ditas, com voz retumbante, porque, incessantemente ao nosso lado, os nossos pensamentos repercutem Nele. Os nossos pensamentos so iguais aos sons de um sino, que fazem vibrar todas as molculas do ar ambiente. Longe de ns o pensamento de materializar a Divindade; a imagem de um fluido inteligente universal no , evidentemente, seno uma comparao, mais prpria para dar uma idia mais justa de Deus, do que os quadros que o representam sob figura humana; ela tem por objeto fazer compreender a possibilidade, para Deus, de estar por toda parte e de se ocupar de tudo.

    Compreendemos o efeito, j muito; do efeito remontamos causa, e julgamos da sua grandeza pela grandeza do efeito; mas a sua essncia ntima nos escapa, igual a da causa de uma multido de fenmenos. Conhecemos os efeitos da eletricidade, do calor, da luz, da gravidade; calculamo-los e, no entanto, ignoramos a natureza ntima do princpio que os produziu. , pois, mais racional, negar o princpio divino, porque no o compreendemos?

    Nada impede admitir, para o princpio de soberana inteligncia, um centro de ao, um foco principal irradiando, sem cessar, inundando o Universo com seus fluidos, do mesmo modo que o Sol com a sua luz. Mas onde est esse foco? o que ningum pode dizer. provvel que esteja mais fixado em um ponto determinado do que no esteja a sua ao, e que percorra, incessantemente, as regies do espao sem limites. Se simples espritos tm o dom de ubiqidade, essa faculdade, em Deus, deve ser sem limites. Deus, preenchendo o Universo, poder-se-ia, ainda admitir, a ttulo de hiptese, que esse foco no tem necessidade de se transportar, e que se forma sobre todos os pontos, onde a soberana vontade julgue a propsito produzir-se, de onde se poderia dizer que ele est por toda parte e em parte alguma.

    Diante desses problemas insondveis, a nossa razo deve se humilhar. Deus existe; disso no poderemos duvidar; infinitamente justo e bom; a sua essncia; a sua solicitude se estende a todos; compreendemo-lo; no pode, pois, querer seno o nosso bem, e por isso que devemos ter confiana Nele: eis o essencial; quanto ao mais, esperemos que sejamos dignos de compreende-lo.

    A Grandeza do Infinito

    O infinito, como que desconhecido para todos ns, a causa de Deus, cujas divises escapam aos nossos sentidos, mesmo os mais apurados. O Pai Celestial est, por assim dizer, no centro de todas as coisas que existem e, ainda mais, se encontra onde achamos a permanncia do nada.

    Se acreditamos somente naquilo que vemos e que tocamos, somos os mais infortunados dos seres, pois, desta forma agem tambm os animais. A razo nos diz, e a cincia confirma pelas inmeras experincias dos prprios homens, que o desconhecido

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    tem maior realidade. O que as almas encarnadas no vem e no podem tocar definem a existncia de fora energtica, seno inteligncia exuberante, capaz de nos mostrar a verdadeira grandeza do infinito em todas as direes do macro e do microcosmo.

    Se sentimos dificuldade para definir o que a vida, certamente no sabemos explicar o que o infinito, que est configurado na ordem dos mistrios de Deus. Compete a ns outros darmos as mos em todas as faixas da existncia a alistarmo-nos na escola do Senhor sem perda de tempo, sem desprezar o espao a ns oferecido, por misericrdia do Criador.

    Estamos situados em baixa escala, no pentagrama evolutivo. Falta-nos a capacidade de discernir certas leis que regem o Universo, como as leis menores que nos sustentam todos em plena harmonia, como microvidas nos cus da Divindade. Devemos estudar constantemente, cada vez mais, no grande livro da natureza, cujas pginas somente encontraremos abertas, pela viso do amor. Nada errado existe na lavoura universal, o erro est em quem o encontra. Basta pensarmos que o perfeito nada faz sem o timbre da sua perfeio, para crermos que tudo se encontra onde deve estar e onde a vontade do Senhor desejar.

    Vivemos em um mundo de duras provas, de reajustes em busca da harmonia. O Cristo a porta dessa felicidade, nos ensinando a conquistar este estado dalma com as nossas prprias foras, porque Deus sempre faz primeiro a sua parte em nosso favor, em favor de todos os seus filhos. Ningum rfo da Bondade Suprema.

    O infinito infinito para ns; para Deus o seu Lar, onde vibra o amor e onde o perfume exalante a alegria na sua pureza singular. de ordem comum nos planos superiores que devemos comear pelas lies mais elementares, que nos despertam o corao, primeiramente, para a luz do entendimento.

    Querer buscar entender o profundamente desconhecido, sem se iniciar nos rudimentos da educao espiritual, perder tempo e andar nas perigosas e escuras estradas da ignorncia. Se queremos conhecer alguma coisa, no que se refere ao infinito, principiemos na auto-educao dos costumes, observando quem j fez este trabalho, e copiemos suas lutas, que os cus da nossa mente abrir-se-o e as claridades da sabedoria universal nos banharo com o esplendor da conscientizao da verdade.

    Quem deixa para depois o conhecimento de si mesmo e tenta a sabedoria exterior, desconhece a verdadeira porta da felicidade. Cada Esprito um mundo, um universo em miniatura, onde mora Deus e vibram todas as suas leis, em ao compatvel com o tamanho da individualidade. Assim, para entender o infinito da Criao, necessrio se faz comear a entender o infinito da alma.

    Materialismo

    Bem poucos so aqueles que no cuidam do dia de amanh. Se inquieta com o que possa vir depois de um dia de vinte e quatro horas, com sobrada razo deve preocupar-se com o que ser depois do grande dia da vida, porque no se trata de alguns instantes, mas da eternidade.

    Viveremos ou no depois daquele dia? No h que fugir, questo de vida ou de morte, a suprema alternativa!

    Se se interroga o senso ntimo da quase universalidade dos homens, todos respondero: viveremos.

    Esta esperana para eles uma consolao. Entretanto, esfora-se uma pequena parte, sobretudo depois de algum tempo, por provar que no viveremos. Esta escola faz proslitos, fora a confess-lo e principalmente no seio daqueles que, temendo a responsabilidade do futuro, acham mais cmodo gozar do presente, sem constrangimento, sem se perturbar com a perspectiva das conseqncias. No passa, porm isto, de opinio de um pequeno nmero.

    Se vivermos, como havemos de viver? Em que condies viveremos? Aqui os sistemas variam, segundo as crenas religiosas e filosficas.

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    Doutrina Materialista

    A inteligncia do homem uma propriedade da matria, nasce e morre com o organismo. O homem to nada antes, como nada depois da vida corporal.

    No sendo seno matria, o homem no tem de reais e de invejveis seno os gozos materiais; as aflies morais so efmeras, os laos morais, a morte os rompe para sempre; as misrias da vida no tm compensao; o suicdio deve ser o fim racional e lgico da existncia, quando no h esperana de melhoria para os sofrimentos. intil qualquer constrangimento para vencer ruins inclinaes; deve viver para si, o melhor possvel, enquanto dura a vida terrestre; estupidez contrariar-se e sacrificar comodidades e bem-estar por amor a algum, isto , por quem h de ser aniquilado tambm; os deveres sociais ficam sem fundamento, o bem e o mal so coisas inventadas e a conteno social fica reduzida ao material da lei civil.

    O materialismo firmando-se como nunca o fizera em poca alguma, dando-se como regulador supremo dos destinos morais da humanidade, assombrou as massas pelas conseqncias inevitveis das suas doutrinas com relao ordem social. Por essa razo, provocou, em favor das idias espiritualistas, uma enrgica reao, que deve dar-lhe a medida do quanto est longe de possuir simpatias to gerais como supe, e do quanto se ilude, esperando poder um dia dar leis ao mundo.

    incontestvel que as crenas espiritualistas do tempo passado so insuficientes para o atual, no se acham ao nvel intelectual da nossa gerao e so, em muitos pontos, contraditos pelos dados seguros da cincia, sustentam idias incompatveis com as necessidades positivas da sociedade moderna, incorrem, alm disso, na grande falta de impor-se pela f cega e proscrever o livre exame. Da, sem a menor dvida, o desenvolvimento da incredulidade na maior parte dos homens.

    Naturalmente que se eles fossem criados e educados com idias mais tarde, confirmadas pela razo, nunca seriam incrdulos. Quantos, aceitando o Espiritismo, nos tm dito: se nos tivesses sempre apresentado Deus, a alma e a vida futura de maneira racional, nunca teramos duvidado. Por se haver em princpio recebido m ou falsa aplicao, razo para que o rejeitem?

    As coisas espirituais so como a legislao e todas as instituies; precisam acomodar-se aos tempos, sob pena de sucumbirem.

    Em vez de apresentar algo melhor que o velho espiritualismo, preferiu o materialismo, tudo suprimir, dispensando-se de procurar a verdade, o que parecia mais cmodo queles a quem era importuna a idia de Deus e da vida futura.

    H na atualidade, um determinado partido contra as idias espiritualistas em geral, dos quais naturalmente participa o Espiritismo. O que procuram, no um Deus melhor e mais justo, o deus-matria, menos modesto, porque ningum lhe precisa prestar constas.

    Ningum nega a esse partido o direito de opinio e o de discutir as dos outros; mas no se lhe pode autorizar a pretenso, bem singular de homens, que se do por apstolos da liberdade, de impedir que os outros creiam a seu modo e discutam as doutrinas de que no compartilham. Intolerncia por intolerncia, tanto vale a das velhas crenas, como a do moderno materialismo.

    Pantesmo

    O princpio inteligente, independente da matria est espalhado por todo o Universo, mas individualiza-se em cada ser durante a vida, e volta, pela morte, massa comum, como voltam ao oceano as guas da chuva.

    Sem individualidade e sem conscincia de si mesmo, o ser como se no existisse. As conseqncias morais dessa doutrina so exatamente as mesmas do materialismo.

    OBS: Um determinado nmero de pantestas admite que a alma, aspirada, ao nascer, do todo universal, conserva a sua individualidade por tempo definido, no voltando massa geral seno depois de ter alcanado o ltimo grau de perfeio. As conseqncias desta

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    variedade de crenas so absolutamente as mesmas que as da doutrina pantesta, propriamente dita, porque completamente intil todo trabalho para adquirir conhecimentos, dos quais se perder a conscincia, aniquilando-se a alma depois de um tempo relativamente curto.

    H os que acham que todos os corpos da natureza, todos os seres, todos os globos do Universo seriam parte da Divindade e constituiriam, pelo seu conjunto, a prpria Divindade.

    No podendo ser Deus, o homem quer pelo menos ser uma parte de Deus. Essa doutrina faz de Deus um ser material, que embora dotado de inteligncia suprema, seria um ponto grande aquilo que somos em ponto pequeno. Ora, a matria se transformando sem cessar, Deus, nesse caso no teria nenhuma estabilidade e estaria sujeito a todas as vicissitudes e mesmo a todas necessidades da humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da Divindade: a imutabilidade. As propriedades da matria no podem ligar-se a idia de Deus, sem que o rebaixemos em nosso pensamento, e todas as sutilezas do sofisma no conseguiro resolver o problema da sua natureza ntima. No sabemos tudo o que Ele , mas sabemos aquilo que no pode ser, e este sistema est em contradio com as suas propriedades mais essenciais, pois confunde o Criador com a criatura, precisamente como se quisssemos que uma mquina engenhosa fosse parte do mecnico que a concebeu.

    A inteligncia de Deus se revela nas suas obras, como a de um pintor em seu quadro; mas as obras de Deus no so o prprio Deus, como o quadro no o pintor que o concebeu e executou.

    Bibliografia: Obras Pstumas Allan Kardec O Livro dos Espritos - Allan Kardec Filosofia Esprita Joo Nunes Maia/Miramez

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    ESTUDO DA DOUTRINA ESPRITA

    Aula 05

    Elementos Gerais do Universo

    Esprito o princpio inteligente do Universo. O Livro dos Espritos: 23. Qual a sua natureza ntima? - No fcil analisar o esprito na vossa linguagem. Para vs, ele no nada, porque no coisa palpvel; mas para ns, alguma coisa. Ficai sabendo: nenhuma coisa o nada e o nada no existe. 24. Esprito sinnimo de inteligncia? - A inteligncia um atributo essencial do esprito; mas um e outro se confundem num princpio comum, de maneira que, para ns, so uma e a mesma coisa. 25. O esprito independente da matria, ou no mais do que uma propriedade desta, como as cores so propriedades da luz e o som uma propriedade do ar? - So distintos, mas necessria a unio do esprito e da matria para dar inteligncia a esta.

    Para vs essa unio necessria para a manifestao do esprito, porque no

    estais organizados para perceber o esprito sem a matria, vossos sentidos no foram feitos para isso. O esprito pode ser conhecido sem a matria e esta sem o esprito, pelo pensamento.

    H no Universo dois elementos gerais: a matria e o esprito, e acima de ambos Deus, o criador, o pai de todas as coisas. Essas trs coisas so o princpio de tudo que existe, a trindade universal. Mas ao elemento material necessrio ajuntar o fluido universal, que exerce o papel do intermedirio entre o esprito e a matria propriamente dita, demasiado grosseira para que o esprito possa exercer alguma ao sobre ela.

    Matria A matria o liame que escraviza o esprito, o instrumento que ele usa, e

    sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce essa ao. Do vosso ponto de vista definida como aquilo que tem extenso, pode

    impressionar os sentidos e impenetrvel porque s falais daquilo que conheceis, mas a matria existe em estados que no percebeis. Ela pode ser, por exemplo, to etrea e

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    sutil que no produza nenhuma impresso nos vossos sentidos: entretanto, ser sempre matria, embora no o seja para vs.

    Propriedades da Matria

    A ponderabilidade um atributo essencial da matria como a entendeis, mas no da matria considerada como fluido universal. A matria etrea e sutil que forma esse fluido impondervel para vs, mas nem por isso deixa de ser o princpio da vossa matria pondervel. A ponderabilidade uma propriedade relativa. Fora das esferas de atrao dos mundos, no h peso, da mesma maneira que no h alto nem baixo.

    A matria formada de um s elemento primitivo. Os corpos que considerais como corpos simples no so verdadeiros elementos, mas transformaes da matria primitiva.

    As diferentes propriedades da matria provm das modificaes que as molculas elementares sofrem, ao se unirem, e em determinadas circunstncias.

    De acordo com isso o sabor, o odor, as cores, as qualidades venenosas ou salutares dos corpos no so mais do que modificaes de uma nica e mesma substncia primitiva e s existem pela disposio dos rgos destinados a perceb-los.

    OBS: Esse princpio demonstrado pelo fato de nem todos perceberem as qualidades dos corpos da mesma maneira: enquanto um acha uma coisa agradvel ao gosto, outro a acha m; o que para uns venenosa, para outros inofensivo ou salutar.

    A mesma matria elementar suscetvel de passar por todas as modificaes e adquirir todas as propriedades, por isso dizemos que tudo est em tudo.

    EXEMPLO: Este princpio explica o fenmeno conhecido de todos os magnetizadores, que consiste em dar, pela vontade, a uma substncia qualquer, a gua por exemplo, as mais diversas propriedades: um gosto determinado, e mesmo as qualidades ativas de outras substncias.

    Uma modificao anloga pode produzir-se pela ao magntica, dirigida pela vontade, assim a gua que formada de uma parte de oxignio e duas de hidrognio, torna-se corrosiva, se duplicarmos a proporo do oxignio.

    Fluido Universal

    O fluido csmico o princpio elementar de todas as coisas, da qual as modificaes e transformaes constituem a inumervel variedade de corpos da natureza.

    Quanto ao princpio elementar universal, ele oferece dois estados distintos: Eterizao ou Imponderabilidade, pode se considerar como o estado normal

    primitivo, no uniforme, sem deixar de ser etreo, ele sofre modificaes bastante variadas em seu gnero, mais numerosas talvez que no estado de matria tangvel. Essas modificaes constituem os fluidos diferentes, que esto dotados de propriedades especiais e do lugar aos fenmenos particulares do mundo invisvel.

    OBS: tudo sendo relativo, esses fluidos tm para os espritos, que so eles mesmos fludicos, uma aparncia to material quanto a dos objetos tangveis para os encarnados e so para eles o que so para ns as substncias do mundo terrestre. Eles os elaboram, os combinam para produzirem efeitos determinados, como fazem os encarnados com seus materiais, todavia, por procedimentos diferentes. Mas l como aqui, no dado seno aos espritos mais esclarecidos compreenderem o papel dos elementos constitudos de seu mundo. Os ignorantes do mundo invisvel so to capazes de explicar os fenmenos de que so testemunhas quanto os ignorantes da Terra o so para explicarem os efeitos da luz ou da eletricidade.

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    Materializao ou Ponderabilidade, no seno um estado transitrio do fluido universal que pode retornar ao seu estado primitivo quando as condies de coeso deixam de existir.

    O fluido universal o elemento de onde eles retiram os materiais sobre os quais operam, o meio onde se passam os fenmenos especiais, perceptveis viso e ao ouvido do esprito, e que escapam aos sentidos carnais, impressionveis unicamente pela matria tangvel.

    nessa atmosfera que se forma a luz particular ao mundo espiritual, diferente da luz ordinria por suas causas e efeitos, enfim o veculo do pensamento como o ar o veculo do som.

    Os espritos agem sobre os fluidos, no os manipulando como os homens manipulam os gases, mas com a ajuda do pensamento e da vontade. O pensamento e a vontade so para o esprito o que a mo para o homem, pelo pensamento eles imprimem a esses fluidos tal ou tal direo, aglomeram-nos, combinam ou dispersam. Formam conjuntos tendo uma aparncia, uma forma, uma cor determinada, mudam-lhes as propriedades como o qumico muda a dos gases, ou outros corpos, combinando-os segundo certas leis. a grande oficina ou o laboratrio da vida espiritual.

    OBS: algumas vezes estas transformaes so o resultado de uma inteno, freqentemente elas so o resultado de um pensamento inconsciente, basta ao esprito pensar em uma coisa para que essa coisa se produza, como basta modular o ar para que este repercuta na atmosfera.

    Assim que, por exemplo, um esprito se apresenta viso de um encarnado dotado de viso psquica, sob a aparncia que tinha como encarnado, poca que se conheceram, mesmo vrias encarnaes aps. Apresenta-se com a roupa, sinais exteriores, enfermidades, cicatrizes, membros amputados, etc. Um decapitado se apresentar com a cabea de menos, no para dizer que haja conservado essa aparncia, mas porque seu pensamento reportando poca em que era assim faz com que seu perisprito tome imediatamente as aparncias da poca, e deixa do mesmo modo, instantaneamente, desde que seu pensamento deixe de agir. Se foi uma vez negro e outra vez branco, apresentar-se- como negro ou como branco, segundo dessas duas encarnaes, sob a qual foi evocado e onde reportar seu pensamento.

    Sendo os fluidos o veculo do pensamento, este age sobre os fluidos como o som age sobre o ar, eles nos trazem o pensamento como o ar traz o som, h nesses fluidos ondas e raios de pensamentos que se cruzam sem se confundirem, como h no ar ondas e raios sonoros.

    Princpio Vital ou Fluido Vital

    Tem sua fonte no fluido universal, o que se chama de fluido magntico ou fluido eltrico animalizado.

    o intermedirio, o elo entre o esprito e a matria. O princpio vital o mesmo para todos os seres, modificado segundo as espcies.

    A unio do fluido vital com a matria que produz a vida. O conjunto dos rgos constitui uma espcie de mecanismos que recebe

    estmulo do princpio vital que existe neles. O princpio vital a fora motriz dos corpos orgnicos. OBS: ao mesmo tempo que o agente vital estimula os rgos, a ao dos rgos desenvolve a atividade do agente vital, aproximadamente como se d com o atrito que desenvolve o calor.

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    Vida e Morte

    A causa da morte nos seres orgnicos o esgotamento dos rgos. Com a morte a matria inerte se decompe e toma nova forma e o princpio vital retorna massa. Morrendo o ser orgnico, os elementos que o compem experimentam novas combinaes que formam novos seres, os quais tiram da fonte universal o princpio da vida e da atividade, o absorvem e assimilam para devolv-lo mesma fonte quando deixarem de existir.

    Quando os elementos essenciais ao funcionamento dos rgos esto destrudos ou muito profundamente alterados, o fluido vital impotente para lhes transmitir o movimento da vida e o ser morre.

    Os rgos reagem, mais ou menos necessariamente, uns sobre os outros, da harmonia do seu conjunto que resulta a ao recproca, quando uma causa qualquer destri essa harmonia, suas funes cessam, como o movimento de um mecanismo cujas peas principais esto estragadas. Exemplo: tal como um relgio que se desgasta com o tempo ou se desconjunta por acidente, no qual a fora motriz fica impotente para coloc-lo em movimento.

    Quantidade de Fluido Vital por Indivduo

    A quantidade de fluido vital no absoluta para todos os seres orgnicos, varia segundo as espcies e no fator constante, seja no mesmo indivduo, seja nos indivduos da mesma espcie. Existem alguns que so saturados, enquanto que outros dispem apenas de uma quantidade suficiente, por isso a vida para uns mais ativa, mais vibrante e de certo modo superabundante. O fluido vital se transmite de um indivduo para outro, aquele que tem o bastante pode do-lo a quem tem pouco e em certos casos restabelecer a vida prestes a se apagar.

    Princpio Espiritual ou Fluido Espiritual

    O princpio espiritual o corolrio da existncia de Deus, sem esse princpio Deus no teria razo de ser. No se poderia conceber um Deus soberanamente justo e bom, criando seres inteligentes e sensveis para destin-los ao nada, depois de alguns dias de sofrimentos sem compensaes, repassando sua viso dessa sucesso indefinida de seres que nascem sem ter o pedido, pensam um instante para no conhecerem seno a dor, e se extinguem para sempre depois de uma existncia efmera.

    Sem a sobrevivncia do ser pensante, os sofrimentos da vida seriam, da parte de Deus, uma crueldade sem objetivo. Eis porque o materialismo e o atesmo so os corolrios um do outro, negando a causa no podem admitir o efeito; negando o efeito no podem admitir a causa. O materialismo, portanto, conseqente consigo mesmo, se no o com a razo.

    A idia da perpetuidade do ser espiritual inata no homem, nele est no estado de intuio e de aspirao; compreende que s a est a compensao s misrias da vida. Por isso sempre houve e sempre haver mais espiritualistas que materialistas e mais destas do que ateus.

    idia intuitiva e ao poder do raciocnio, o Espiritismo vem acrescentar a sano dos fatos, a prova material da existncia do ser espiritual, de sua sobrevivncia, de sua imortalidade e de sua individualidade. Ele precisa e define o que este pensamento tinha de vago e de abstrato, motiva-nos o ser inteligente agindo fora da matria, seja depois, seja durante a vida do corpo.

    O princpio espiritual e o princpio vital so uma e a mesma coisa? (Gnese - cap. XI n 5).

    Partindo, como sempre, da observao dos fatos, diremos que, se o princpio vital fosse inseparvel do princpio inteligente, no haveria a qualquer razo para confundi-los, mas uma vez se vem seres que vivem e no pensam, como as plantas; corpos humanos serem ainda animados da vida orgnica quando neles no mais existe

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    nenhuma manifestao do pensamento; que se produzem no ser vivo movimentos vitais independentes de todo ato de vontade; que durante o sono a vida orgnica est em toda sua atividade, ao passo que a vida intelectual no se manifesta por nenhum sinal exterior; h lugar para se admitir que a vida orgnica reside num princpio inerente matria, independente da vida espiritual que inerente ao esprito. Desde ento, que a matria tem uma vitalidade independente do Esprito e que o Esprito tem uma vitalidade independente da matria, torna-se evidente que esta dupla vitalidade repousa sobre dois princpios diferentes.

    O princpio espiritual teria sua fonte no elemento csmico universal? No seria seno uma transformao, um modo de existncia desse elemento como a luz, a eletricidade, o calor, etc? (Gnese - Cap. XI nr. 6).

    Se assim fosse, o princpio espiritual sofreria as vicissitudes da matria, extinguir-se-ia pela desagregao como o princpio vital. O ser inteligente no teria seno uma existncia momentnea como o corpo e na morte reentraria no nada, ou, o que vem a ser o mesmo, no todo universal, isto seria, numa palavra, a sano das doutrinas materialistas.

    As propriedades sui generis que so reconhecidas no princpio espiritual provam que ele tem a sua existncia prpria, independente, uma vez que se tivesse a sua origem na matria, no teria essas propriedades.

    Uma vez que a inteligncia e o pensamento no podem ser atributos da matria, chega-se a esta concluso, remontando dos efeitos causa, que o elemento material e o elemento espiritual so os dois princpios constitutivos do Universo. O elemento espiritual individualizado constitui os seres chamados Espritos, como o elemento material individualizado constitui os diferentes corpos da natureza, orgnicos e inorgnicos.

    Sendo admitido o ser espiritual, e sua fonte no podendo estar na matria, qual a sua origem, o seu ponto de partida? (Gnese - Cap. XI nr. 7,8 e 9).

    O que Deus lhe faz dizer, pelos seus mensageiros, e o que, alis, o homem poderia deduzir, ele mesmo, do princpio da soberana justia, que um dos atributos essenciais da Divindade, que todos tm um mesmo ponto de partida, que todos so criados simples e ignorantes com uma igual aptido para progredir pela sua atividade individual, que todos atingiro o grau de perfeio compatvel com a criatura pelos seus esforos pessoais, que todos sendo filhos de um mesmo Pai, so objeto de uma igual solicitude, que no h nenhum mais favorecido ou melhor dotado que os outros e dispensado do trabalho que seria imposto aos outros para alcanar o objetivo. Ao mesmo tempo que Deus criou mundos materiais de toda a eternidade, igualmente criou seres espirituais de toda eternidade, sem isso os mundos materiais estariam sem objetivo. Conceber-se-ia, antes os seres espirituais.

    So os mundos materiais que devem fornecer aos seres espirituais os elementos da atividade para o desenvolvimento de sua inteligncia.

    O progresso condio normal dos seres espirituais e a perfeio relativa o objetivo que devem alcanar; ora, Deus tendo criado de toda a eternidade, e criando sem cessar, de toda eternidade tambm ter havido os que alcanaram o ponto culminante da escala.

    Antes que a Terra existisse, mundos haviam sucedido os mundos, e quando a Terra saiu do caos dos elementos, o espao estava povoado de seres espirituais, em todos os graus de adiantamento.

    Imagens Fludicas

    O pensamento, criando imagens fludicas, se reflete no envoltrio perispiritual como num vidro. Por exemplo, se um homem tem a idia de matar um outro, por impossvel que seja para o seu corpo material, seu corpo fludico colocado em ao pelo pensamento do qual reproduz todas as nuanas, ele executa fluidicamente o gesto que tem o desejo de cumprir, o pensamento cria a imagem da vtima e a cena inteira se desenha como num quadro, tal como est em seu esprito. assim que os movimentos mais secretos da alma repercutem no envoltrio fludico e que uma alma pode ler em outra alma como se l um livro, e ver o que no perceptvel aos olhos do corpo. Vendo

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    a inteno ela pode pressentir o cumprimento do ato que lhe ser a seqncia, mas no pode determinar o momento em que se cumprir, nem precisar-lhe os detalhes, nem mesmo afirmar que ocorrer, porque circunstncias ulteriores podem modificar os planos e mudar as disposies.

    No pode ser visto o que no est ainda no pensamento, o que visto a preocupao habitual do indivduo, seus desejos, seus projetos, seus propsitos bons ou maus.

    Qualidade dos Fluidos

    Os fluidos no tm qualidades prprias, mas as que adquirem no meio onde se elaboram, modificam-se pelos eflvios desse meio, como o ar pelas exalaes, e pelos sais das camadas que atravessa.

    Segundo as circunstncias, essas qualidades so como no ar e na gua, temporrios ou permanentes, o que os torna mais especialmente prprios produo de tais ou tais efeitos determinados. OBS: A sua diversidade to grande quanto a dos pensamentos.

    Os fluidos no tm denominaes especiais como os odores, so designados por

    suas propriedades, seus efeitos e seu tipo original. Sob o aspecto moral, carregam a marca dos sentimentos: do dio, da inveja, do

    cime, do orgulho, do egosmo, da violncia, da hipocrisia, da bondade, da benevolncia, do amor, da caridade, da doura, etc.

    Sob o aspecto fsico so: excitantes, calmantes, penetrantes, irritantes,

    dulcificantes,


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