Estudo da Sade Oral e Necessidades de
Tratamento em Idosos Institucionalizados
Maria do Pranto Valente Braz
Porto, 2011
II
III
Estudo da Sade Oral e Necessidades de
Tratamento em Idosos Institucionalizados
Maria do Pranto Valente Braz
Dissertao de candidatura ao grau de doutor apresentada
Faculdade de Medicina Dentria da Universidade do Porto
Porto, 2011
IV
V
Orientador
Prof. Doutor Accio Couto Jorge
Professor Auxiliar da Faculdade de Medicina Dentria
da Universidade Porto
Co-Orientador
Prof. Doutora Cristina Maria L. M. Coelho
Professora Coordenadora sem Agregao do
Instituto Politcnico da Sade - Norte
VI
VII
CONSELHO CIENTFICO DA FMDUP
Prof. Doutor Accio Eduardo Soares Couto Jorge
Prof. Doutor Afonso Manuel Pinho Ferreira
Prof. Doutor Amrico dos Santos Afonso
Prof. Doutor Antnio Cabral Campos Felino
Prof. Doutor Antnio Manuel Guerra Capelas
Prof. Doutor Antnio Marcelo Azevedo Miranda
Prof. Doutor Csar Fernando Coelho Leal Silva
Prof. Doutor David Jos Casimiro Andrade
Prof. Doutor Fernando Jorge Morais Branco
Prof. Doutor Fernando Jos Brando Martins Peres
Prof. Doutor Filipe Poas Almeida Coimbra
Prof. Doutor Germano Neves Pinto Rocha
Prof. Doutora Irene Graa Azevedo Pina Vaz
Prof. Doutora Ins Alexandra Costa Morais Caldas
Prof. Doutor Joo Carlos Antunes Sampaio Fernandes
Prof. Doutor Joo Carlos Gonalves Ferreira de Pinho
Prof. Doutor Joo Fernando Costa Carvalho
Prof. Doutor Jorge Manuel Carvalho Dias Lopes
Prof. Doutor Jos Albertino Cruz Lordelo
Prof. Doutor Jos Albino Teixeira Koch
Prof. Doutor Jos Antnio Ferreira Lobo Pereira
Prof. Doutor Jos Antnio Macedo Carvalho Capelas
Prof. Doutor Jos Carlos Pina Almeida Rebelo
Prof. Doutor Jos Carlos Reis Campos
Prof. Doutor Jos Mrio Castro Rocha
Prof. Doutor Manuel Jos Fontes de Carvalho
Prof. Doutor Manuel Pedro Fonseca Paulo
Prof. Doutora Maria Cristina P. C. M. Figueiredo Pollmann
Prof. Doutora Maria Helena Guimares Figueiral da Silva
Prof. Doutora Maria Helena Raposo Fernandes
Prof. Doutora Maria Purificao Valenzuela Sampaio Tavares
VIII
Prof. Doutora Maria Teresa Pinheiro Oliveira
Prof. Doutor Mrio Jorge Rebolho Fernandes Silva
Prof. Doutor Mrio Ramalho Vasconcelos
Prof. Doutor Miguel Fernando Silva Gonalves Pinto
Prof. Doutor Paulo Rui Galro Ribeiro Melo
Prof. Doutor Tiago Lus Costa Morais Caldas
PROFESSORES JUBILADOS OU APOSENTADOS
Prof. Doutor Ado Fernando Pereira
Prof. Doutor Amlcar Almeida Oliveira
Prof. Doutor Durval Manuel Belo Moreira
Prof. Doutor Fernando Jos Brando Martins Peres
Prof. Doutor Francisco Antnio Rebelo Morais Caldas
Prof. Doutor Jos Carlos Pina Almeida Rebelo
Prof. Doutor Jos Serra Silva Campos Neves
Prof. Doutor Manuel Guedes de Figueiredo
Prof. Doutora Maria Adelaide Macedo Carvalho Capelas
Prof. Doutor Rogrio Serapio Martins Aguiar Branco
IX
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Doutor Accio Couto Jorge, pela orientao desta tese, pela mestria,
acessibilidade e incentivo que sempre me soube transmitir ao longo destes anos.
Prof. Doutora Cristina Coelho, pela orientao deste trabalho, estimulo e amizada
que sempre me tem dispensado.
Prof. Doutora Filomena Salazar pela colaborao, confiana e amizade.
Prof. Doutora Isabel Pires, pela colaborao no trabalho de recolha de dados,
pela ajuda imprescindvel na elaborao de todo este estudo.
Dra. Orqudea Ribeiro pela disponibilidade e apoio na anlise estatstica dos
dados.
A todos os idosos observados quero expressar a minha gratido por terem
contribudo para a realizao deste trabalho.
Aos Directores dos Lares e Centros-de-dia de idosos e a todo o pessoal auxiliar,
quero agradecer a colaborao que tornou possvel a execuo deste trabalho.
X
XI
DEDICATRIAS
Ao Manel, meu marido
Aos meus filhos, Ana, Man e Miguel
minha famlia
XII
XIII
ABREVIATURAS USADAS
ONU Organizao das Naes Unidas
OMS Organizao Mundial da Sade
WHO World Health Organisation
INE Instituto Nacional de Estatstica
OHIP Oral Health Impact Profile
OIDP Oral Impact Daily Performance
MG1 Mucina de elevado peso molecular
MG2 Mucina de baixo peso molecular
Ig A Imunoglobulina A
Ig G Imunoglobulina G
ICD International Classification of Diseases
ATM Articulao temporomandibular
AIQ Amplitude inter-quartil
TER Tratamento endodntico radical
% Percentagem
ICR ndice de cries radiculares
CPO Cariados perdidos e obturados
CPOD ndice mdio de CPO
NT Necessidade de tratamento
SPSS Statistic Package for Social Sciences
CPI ndice periodontal comunitrio
p Prevalncia
rs Correlao
n Nmero
mm milmetros
EUA Estados Unidos da Amrica
FDI Federation Dentaire Internationale
IADR International Association for Dental Research
XIV
XV
NDICE
I INTRODUO 1
1. Dados demogrficos 3
2. Aspectos scio-econmicos 5
3. Consideraes sobre o envelhecimento humano 8
4. Principais alteraes orgnicas no idoso 9
4.1. Sistema cardiovascular 9
4.2. Sistema respiratrio 10
4.3. Sistema gastrointestinal 10
4.4. Sistema msculo-esqueltico 11
4.5. Sistema neurolgico 11
4.6. Fgado 12
4.7. Rim 13
5. O envelhecimento e a sade oral 13
6. Alteraes fisiolgicas da cavidade oral relacionadas com o
envelhecimento 15
6.1. Esmalte 15
6.2. rgo pulpo-dentinrio 16
6.3. Cimento 16
6.4. Periodonto 17
6.5. Glndulas salivares 17
6.6. Lbios, Lngua e Mucosas 18
7. Patologia oral no idoso 19
7.1. Mortalidade dentria 19
7.1.1. O edentulismo e o uso de prtese 20
7.2. Crie dentria 22
7.2.1. Cries radiculares 23
7.3. Doena periodontal 25
7.4. Leses da mucosa oral e cancro oral 26
7.5. Xerostomia 28
8. Reviso de estudos relacionados 29
9. Avaliao das necessidades de tratamento e utilizao dos servios
de sade dentrios em idosos 34
XVI
9.1. Determinantes da utilizao dos servios de sade mdico-dentrios 37
10. Qualidade de vida relacionada com a sade oral 40
11. Objectivos 42
II MATERIAL E MTODOS 43
1. Caractersticas gerais do estudo 45
2. Amostragem 45
2.1. Tamanho da amostra e mtodo de amostragem 45
3. Equipa de exame 47
4. Calibragem 48
5. Condies de Inspeco Clnica 48
6. Instrumentos e material utilizado 49
7. Recolha de dados 49
7.1 Variveis relacionadas com condies demogrficas 50
7.2 Variveis relacionadas com auto-percepo e auto-avaliao
da sade oral 50
7.3 Variveis relacionadas com os cuidados de sade oral 50
7.4 Critrios de diagnstico 51
7.4.1. Crie dentria 51
7.4.2. Critrios de avaliao das necessidades de tratamento
dentrio 53
7.4.3. Avaliao periodontal 55
7.4.3.1 Avaliao das necessidades de tratamento periodontal 56
7.4.4. Presena ou ausncia de prtese na cavidade oral 57
7.4.5. Necessidade de prtese dentria 57
7.4.6. Avaliao das leses da mucosa oral 57
7.5 Processamento de dados e anlise estatstica 59
III RESULTADOS 61
1. Caractersticas scio-demogrficas da amostra 63
2. Anlise das variveis relacionadas com os cuidados de sade oral 64
3. Anlise das variveis relacionadas com a auto-percepo
e auto-avaliao da sade oral 65
4. Dados recolhidos pelo exame clnico 70
4.1 Edentulismo e uso de prtese 70
XVII
4.2 Necessidades de reabilitao prottica 74
4.3 Crie dentria 79
4.3.1 Associao entre o CPO e a autoavaliao da sade oral 82
4.3.2 Associao entre o CPO e a necessidade de ir ao Dentista 83
4.3.3 Necessidade de tratamento dentrio 84
4.4 Estado periodontal 86
4.4.1 Associao entre a situao periodontal e a autoavaliao da
sade oral 91
4.4.2 Associao entre a situao periodontal e
a necessidade de ir ao Dentista 92
4.4.3 Necessidade de tratamento periodontal 93
4.5 Leses da mucosa oral 94
IV DISCUSSO 99
1. Populao pesquisada 101
2. Caractersticas scio-demogrficas da amostra 102
2.1 Sexo e idade 102
2.2 Nvel scio-econmico 103
3. Avaliao dos cuidados de sade oral, visitas ao mdico dentista 104
4. Autoavaliao e auto-percepo de sade oral 106
5. Anlise dos indicadores clnicos 108
5.1 ndice CPO 108
5.2 Necessidade de tratamento dentrio 110
5.3 ndice CPI 111
5.4 Necessidade de tratamento Periodontal 113
5.5 Edentulismo e uso de prtese 115
5.6 Necessidades protticas 119
5.7 Leses da mucosa oral 121
5.8 Diferenas geogrficas entre as populaes dos dois distritos 124
V CONCLUSO 129
VI RESUMO 133
VII RESUMEN 137
VIII ABSTRACT 141
IX BIBLIOGRAFIA 145
X - ANEXOS 169
XVIII
Introduo
1
I INTRODUO
___________________________________________________________________
Introduo
2
Introduo
3
I INTRODUO
1 Dados demogrficos
A intensidade do envelhecimento, os aspectos que envolve, assim como os novos
desafios e oportunidades que se deparam a uma sociedade constituda por
pessoas com idade cada vez mais avanada, tornam este tema sempre actual
exigindo uma anlise multidimensional.
O sculo XX foi caracterizado por uma verdadeira revoluo politica e social
acompanhada de enormes progressos cientficos que vieram alterar a nossa
percepo do homem e do mundo.
Estes progressos cientficos fizeram-se sentir em diversas reas, proporcionando
uma melhoria das condies de vida da populao, dando mais anos vida e em
melhores condies. Os programas de vacinao, a pasteurizao de alguns
alimentos, consumo de gua potvel, o uso de antibiticos, e o controlo da
natalidade foram algumas das medidas que revolucionaram a sade. Estas e
outras medidas proporcionaram a nvel global, no s um aumento da esperana
de vida nascena, e diminuio da taxa de mortalidade infantil mas tambm uma
diminuio da taxa de natalidade, sobretudo nos pases desenvolvidos,
modificando assim, os dados demogrficos e as principais causas de morte e
morbilidade da populao (1).
O envelhecimento demogrfico define-se pelo aumento da proporo das pessoas
idosas na populao total. Esse aumento consegue-se em detrimento da populao
jovem, e/ou em detrimento da populao em idade activa (1).
O fenmeno do envelhecimento resulta da transio demogrfica, normalmente
definida de um modelo demogrfico de fecundidade e mortalidade elevados para
um modelo em que ambos os fenmenos atingem nveis baixos, originando o
estreitamento da base da pirmide de idades, com reduo de efectivos
populacionais jovens e o alargamento do topo, com acrscimo de efectivos
populacionais idosos (2).
Introduo
4
Qualquer limite cronolgico para definir as pessoas idosas sempre arbitrrio e
dificilmente traduz a dimenso biolgica, fsica e psicolgica da evoluo do ser
humano. A autonomia e o estado de sade devem ser factores a ter em conta, pois
afectam os indivduos com a mesma idade de maneira diferente. Contudo, a
demarcao necessria para a descrio comparativa e internacional do
envelhecimento.
Igualmente no consensual a designao a atribuir s pessoas idosas.
Considera-se habitualmente pessoas idosas os homens e mulheres com idade
igual ou superior a 65 anos, idade que em Portugal est associada idade de
reforma. Quanto s designaes, so utilizadas indiferentemente, pessoas idosas
ou populao snior, dado no existir nenhuma norma especfica a nvel nacional.
Dados do Instituto Nacional de Estatstica (INE) indicam que entre 1960 e 2000 a
proporo de jovens (0-14 anos) diminuiu de cerca de 37% para 30%. Segundo
uma projeco das Naes Unidas, a proporo de jovens na populao mundial
continuar a diminuir, para atingir em mdia 21% do total da populao em 2050
(1).
Ao contrrio, a proporo da populao mundial com mais de 65 anos registou uma
tendncia crescente, aumentando de 5,3% para 6,9% do total da populao, entre
1960 e 2000, e aumentar para 15,6% em 2050, segundo as mesmas hipteses de
projeco. Sendo de referir que o ritmo de crescimento da populao idosa
quatro vezes superior ao da populao jovem (1).
At 2025 esperado um crescimento de 300 % da populao idosa em muitos
pases especialmente na Amrica Latina e na sia.
Globalmente, a taxa de crescimento anual das crianas com menos de 5 anos ser
de apenas 0,25%, enquanto que a taxa de crescimento anual da populao com
mais de 65 anos ser de 2,6% (3).
Em Portugal entre 1960 e 2001 o fenmeno do envelhecimento demogrfico
traduziu-se por um decrscimo de cerca de 36% na populao jovem e um
incremento de 140% da populao idosa. Segundo os dados da World Population
Ageing 2009 Relatrio anual da Organizao das Naes Unidas (ONU) sobre
populao, somos o oitavo pas mais velho do mundo. A populao portuguesa tem
uma mdia de 40,6 anos (1).
Introduo
5
A proporo da populao idosa, que representava 8,0% do total da populao em
1960, mais que duplicou, passando para 16,4% em 2001, data do ltimo
recenseamento da populao. Em valores absolutos a populao idosa aumentou
quase um bilio de indivduos, 708 570, em 1960, para 1.702.120, em 2001, dos
quais 715.073 so homens e 987.047 mulheres.
Assiste-se tambm a um envelhecimento da prpria populao idosa. Assim, na
ltima dcada, a proporo de indivduos com 60 e mais anos aumentou de 19,2%
em 1991 para 21,8% em 2001, enquanto que o grupo dos 80 e mais anos
aumentou de 2,6% da populao total para 3,5% no mesmo perodo.
As diferenas entre os sexos so bem evidentes sendo o envelhecimento mais
notrio nas mulheres, em consequncia do fenmeno da sobremortalidade
masculina (1).
Este fenmeno social um dos desafios mais importantes do sculo XXI obrigando
reflexo sobre questes com relevncia crescente como a idade da reforma, os
meios de subsistncia, a qualidade de vida dos idosos, o estatuto dos idosos na
sociedade, a solidariedade intergeracional, a sustentabilidade dos sistemas de
segurana social e de sade e sobre o prprio modelo social vigente.
2 Aspectos scio-econmicos
Provavelmente as doenas tm a sua origem numa cadeia complexa de eventos
ambientais e comportamentais moldados por muitos determinantes scio-
econmicos. Nos futuros programas de Sade Publica, a avaliao dos factores de
risco sistmicos devem ser instrumentos no planeamento e vigilncia da promoo
de sade oral e dos programas de interveno de doenas orais (4).
Os idosos so um dos grupos populacionais mais vulnerveis pobreza e
excluso social, quer por serem um grupo socialmente marginalizado, quer por, na
sua maioria, usufrurem de rendimentos que se situam abaixo do limiar de pobreza.
A populao idosa acumula, baixos nveis de instruo, baixos rendimentos,
isolamento fsico e social, baixa participao social e cvica, a que se juntam
condies de sade, de habitao e conforto desfavorveis.
Introduo
6
Tal como nos outros pases desenvolvidos, em Portugal, os idosos so foco de
grandes atenes poltico-sociais e dos mdia. Apesar de os resultados do
Inqurito ao Emprego de 2001 revelarem que a maioria da populao idosa
inactiva (81%) cada vez existem mais incentivos a Actividade de Lazer para a
populao idosa, Universidade Snior, Turismo Snior, bem como campanhas de
preveno de doenas cardiovasculares, do cancro, da osteoporose, etc., o que
no mais que o reflexo Politico, Econmico e Social que este estrato populacional
vem adquirindo na nossa sociedade (1).
De um modo geral as pessoas idosas estereotipam-se, bem como aos da sua
idade, de uma maneira negativa. Vem a doena como uma consequncia
inevitvel da idade. O idoso aceita ser menos saudvel e activo sem procurar ajuda
mdica. Sendo que, quanto mais pobre e disfuncional a condio e quanto menor o
grau de educao independentemente da idade, maior a incidncia de doenas
crnicas e agudas. Aproximadamente 80% dos idosos sofrem de pelo menos uma
doena crnica (5).
Relativamente incidncia de determinadas doenas crnicas, o Inqurito Nacional
de Sade de 1998/1999 (Continente) permite observar que a hipertenso e as
lombalgias so as mais frequentes entre a populao idosa inquirida. Estas
doenas juntamente com a diabetes registam uma maior prevalncia nas mulheres.
Por outro lado, alguns indicadores da Organizao Mundial da Sade (OMS)
alertam para o facto de a depresso constituir a doena mais frequente entre as
mulheres com propores bastante significativas em idades avanadas. O rcio
mdio de 1,5 mulheres por cada homem, embora em determinados pases esta
proporo seja de 3:1 (1).
O isolamento fsico e psicolgico a que grande parte dos idosos esto votados,
juntamente com acontecimentos fulcrais que afectam o modo de vida, tais como, a
sada do mercado de trabalho sem ter sido planeada uma actividade alternativa, a
discriminao de que frequentemente so alvo no final da vida activa, a perda de
relaes sociais concentradas ao ambiente do emprego, podem proporcionar
sentimentos de solido, baixa auto-estima, dificuldades em enfrentar a situao e
encontrar formas alternativas de ultrapassar positivamente o problema.
Introduo
7
Estudos longitudinais nos Estados Unidos da Amrica (EUA) sugerem que
pessoas com mais de 65 anos tm 40% de probabilidade de passar algum tempo
numa instituio antes de morrer. Daqueles que entram nas instituies, 55% ficam
pelo menos um ano e 20% ficam 5 anos (5).
Quanto mais velho o indivduo, maior o risco de ser institucionalizado. Tendo
em conta o aumento da populao de mais de 85 anos, parece inevitvel, no futuro,
o aumento da populao institucionalizada.
Este grupo de pacientes institucionalizados, tende a ser, frgil, funcionalmente
dependente, sem qualquer interesse pela sua sade oral, com declnio cognitivo,
falta de motivao, limitao fsica e pelo menos uma doena crnica. Tudo isto
contribui para uma diminuio da capacidade dos cuidados pessoais e aumento do
risco de doenas orais, constituindo este grupo de indivduos o maior desafio em
Gerontologia.
O impacto negativo das fracas condies orais na qualidade de vida dos idosos
um importante problema de sade pblica que deve ser tratado a vrios nveis e
valorizado pelo poder poltico.
Globalmente esta fraca sade oral tem sido particularmente evidente atravs de
elevados nveis de perdas dentrias, cries, taxas elevadas de doena periodontal,
xerostomia e cancro oral (6).
Por este motivo, os pases devem adoptar estratgias para melhorar a sade oral
dos idosos, e segundo recomendao da OMS as autoridades nacionais para a
sade devem desenvolver politicas, definindo metas e objectivos mensurveis para
a sade oral em que os programas nacionais de sade pblica devero incorporar
a promoo da Sade Oral e a preveno de doenas baseadas nos factores
comuns de risco (6).
Introduo
8
3 Consideraes sobre o envelhecimento humano
O declnio das aptides fsicas com a maturidade inevitvel e faz parte integrante
da natureza de todas as formas de vida. Os processos metablicos dos tecidos
alteram-se ao longo do tempo no se compreendendo ainda na totalidade a
natureza destas modificaes (7).
O envelhecimento biolgico define-se como a alterao progressiva das
capacidades de adaptao do organismo ao meio ambiente verificando-se,
consequentemente, um aumento gradual das probabilidades de morrer devido a
determinadas doenas.
Burger, citado por Kunzel (8), define o envelhecimento como toda a modificao
irreversvel num ser vivo, que seja funo do tempo.
Se para uns o envelhecimento visto como um processo biolgico, para outros
trata-se de um processo patolgico ou ainda de um processo scio-econmico ou
psicossocial. Assim, pode dizer-se que ainda no existe um consenso na forma de
definir o envelhecimento (9).
Existe grande variao em termos de consequncias cronolgicas ou psicolgicas
do envelhecimento entre os indivduos dependendo do nvel econmico, estado de
sade, nvel cultural e expectativas, o que dificulta uma definio nica (10).
Embora o idoso seja definido pela idade cronolgica, atendendo s grandes
variaes no estado fsico, mental e scio-econmico neste grupo de indivduos
mais adequada a utilizao de critrios funcionais (11).
A Fdration Dentaire Internationale (FDI) considera como pessoas idosas
aquelas com mais de sessenta anos classificando-as em trs grupos, de acordo
com o grau de dependncia: independentes, parcialmente dependentes e
totalmente dependentes (12) (13).
O envelhecimento um processo contnuo no se iniciando em nenhuma idade ou
momento particular, por isso, estabelecer uma idade para considerar algum como
Introduo
9
idoso um limite arbitrrio, tornando-se no entanto essencial para a realizao de
trabalhos cientficos quando a definio de conceitos fundamental (14).
4 Principais alteraes orgnicas no idoso
4.1 Sistema cardiovascular
Devido elevada prevalncia de patologia coronria e cardiopatia hipertensiva
nesta populao, torna-se difcil diferenciar as alteraes do sistema cardiovascular
relacionadas com a idade, daquelas que esto associadas doena. No entanto,
uma das modificaes mais frequentes o aumento do dimetro das grandes
artrias e espessura das suas paredes, associado a um aumento da presso
arterial sistmica com o avano da idade (15). Tambm se verifica um aumento da
hipertenso sistlica no idoso, enquanto que a presso diastlica se estabiliza ou
diminui, tornando-se um dos factores de risco de acidente vascular e falncia
cardaca (16).
Depois dos 60 anos, a calcificao da vlvula mitral comum aumentando o risco
de endocardite infecciosa, mesmo no havendo antecedentes de cardiopatia (7).
Sendo comum o paciente idoso sofrer de algum tipo de doena vascular,
hipertenso, doena coronria, arritmias, doenas vasculares perifricas, e
doenas vasculares cerebrais, ser de ter em conta a posio da cadeira, a
durao e hora da marcao da consulta, uso de anestsico com vasoconstritor, o
estado da coagulao e interaco medicamentosa aquando das consultas
dentrias.
No entanto, a variabilidade da presso sangunea e a prevalncia da hipertenso
associada ao tratamento dentrio nas pessoas idosas tem uma importncia clnica
controversa (17).
Introduo
10
4.2 Sistema respiratrio
A reserva pulmonar diminui com a idade diminuindo o volume expiratrio e a
capacidade vital forada (18). A tosse menos vigorosa, as defesas mucociliares
tm um papel diminudo e menos eficaz, aumentando o risco de infeco pulmonar,
(19), facto que o clnico da rea da medicina dentria deve avaliar devido
implicao directa que este sistema apresenta nos procedimentos da cavidade oral.
4.3 Sistema gastrointestinal
A mastigao o resultado da aco sinergtica de diferentes elementos da regio
orofacial que so os msculos mastigatrios, a lngua, os dentes, o periodonto, a
saliva, as mucosas orais e uma coordenao neuro-muscular (20).
A conjugao entre a diminuio de velocidade e amplitude dos movimentos
mandibulares conduz a uma alterao da durao dos ciclos mastigatrios nos
indivduos idosos, (21) levando a uma perda significativa da eficcia mastigatria.
Por outro lado, parece haver tambm uma forte correlao entre a perda de
destreza lingual e a diminuio da eficcia mastigatria, pelo facto da importncia
da mesma no controlo da passagem dos alimentos dum sector ao outro das
arcadas dentrias e na formao do bolo alimentar (22).
Alguns estudos tm demonstrado que a deglutio nas pessoas idosas mais
lenta, (23) (24) sendo isto o reflexo da deteriorao do sistema nervoso central e da
adaptao estratgica necessria ao desenvolvimento de presso necessria
ejeco do bolo alimentar (25).
A diminuio do tnus muscular pode tambm atrasar a passagem do bolo
alimentar atravs do trato digestivo superior at ao estmago (19).
Uma diminuio da capacidade mastigatria dever ser avaliada pois pode
complicar as alteraes associadas idade, relacionadas com qualquer fase da
deglutio (26).
Introduo
11
A disfagia outro factor a ter em conta na abordagem destes pacientes, sendo
muito frequente nomeadamente nas situaes de osteoartrite avanada, doena de
Parkinson, demncia, acidente vascular e tumores (27) (28).
O conhecimento destas modificaes fisiolgicas do aparelho mastigatrio
extremamente importante para o Mdico Dentista, j que devero ser tidas em
conta no estabelecimento duma reabilitao prottica (29).
4.4 Sistema msculo-esqueltico
Em geral, os msculos do esqueleto conservam a sua integridade morfolgica
praticamente durante toda a vida observando-se modificaes histolgicas apenas
em idades avanadas (7).
Sendo difcil de separar completamente as modificaes normais do
envelhecimento com a atrofia provocada pelo desuso, existem no entanto
alteraes que aparecem com a idade devido a uma diminuio do contedo de
gua nos tendes e ligamentos levando a um aumento da rigidez. A taxa de
modificao do colagneo corporal est diminuda e, como tal, o processo de
remodelao de tendes e ligamentos (19).
Com a idade existem perdas sseas que podem ter vrios factores etiolgicos, tais
como, inactividade, deficincia de estrogneos, deficincias nutricionais e
modificaes relacionadas com a prpria idade. Nas situaes de osteoporose
avanada, os idosos podem apresentar dor por tenso mecnica ou fracturas
vertebrais por compresso, sendo factores a ter em conta na consulta
odontogeritrica aquando do posicionamento dos pacientes para o tratamento (19).
4.5 Sistema neurolgico
Como noutros sistemas torna-se difcil distinguir as leses orgnicas do
envelhecimento natural. Observa-se no entanto uma diminuio da densidade das
Introduo
12
grandes fibras nervosas e uma irregularidade crescente das distncias internodais,
que sero a causa do abrandamento da conduo nervosa nas pessoas idosas (7).
As alteraes ocorridas com a idade no sistema nervoso central so por outro lado
muito difceis de diferenciar de leses de doenas ou de anomalias vasculares (7).
No entanto, o fluxo sanguneo do crebro diminui com o envelhecimento,
considerando-se tambm que existe uma perda de neurnios, o que pode afectar
determinadas reas do mesmo (30).
Verifica-se tambm que a densidade de conexes dendtricas diminui assim como
numerosos neurotransmissores. Assim, a funo cognitiva nos idosos pode estar
influenciada pela elevada prevalncia de doenas demenciais. No entanto, apesar
destas modificaes, quando no existe demncia a funo cognitiva pode estar
bem conservada na maioria dos idosos (31).
Deste modo, na abordagem destes pacientes implica que o clnico tenha em
ateno estes factos, proporcionando instrues por escrito aos mesmos e
colocando questes para assegurar a compreenso e memria da informao
transmitida (19).
4.6 Fgado
Com a idade existe uma diminuio do tamanho do fgado e do fluxo sanguneo,
diminuindo tambm a sua capacidade metablica.
De qualquer modo, as modificaes neste rgo parecem estar mais associadas a
factores como o tabaco, lcool, cafena, medicamentos e determinadas doenas,
do que propriamente idade (19). Existem no entanto frmacos que no idoso se
devem usar com precauo, para evitar risco de efeitos secundrios, devido ao seu
metabolismo heptico (32).
Introduo
13
4.7 Rim
Existem mudanas estruturais e funcionais que ocorrem no rim com a idade. Estas
mudanas tm um impacto sobre a gesto do paciente, especialmente em relao
terapia medicamentosa (33).
A doena renal crnica um problema importante nos idosos e est associada a
um risco elevado de insuficincia renal, doena cardiovascular e morte (34). Estes
pacientes apresentam uma reserva de gua menor do que as pessoas jovens em
que, a diminuio da concentrao da urina e a diminuio na conservao renal
do sdio podem levar estes pacientes facilmente situao de desidratao (35).
Existem determinados frmacos que devem ser prescritos com precauo a este
grupo de pacientes como o caso dos anti-inflamatrios no esterides, que na
rea da Medicina Dentria so utilizados em inmeras situaes, e em que a
inibio das prostanglandinas renais induzidas por estes frmacos pode produzir
efeitos secundrios no paciente que apresente insuficincia renal, tais como:
edema, hiponatremia e agravamento da hipertenso (36) (37).
5 O envelhecimento e a sade oral
O envelhecimento do organismo humano tem uma expresso concreta no
envelhecimento dos seus sistemas, rgos, tecidos e clulas (40).
Na maioria dos rgos e tecidos estudados tm-se encontrado alteraes
relacionadas com a idade, alteraes estas bem documentadas na pele, e por este
motivo, alteraes similares seriam de esperar nas mucosas e tecidos conjuntivos
orais (38).
Dados epidemiolgicos apontam para uma deteriorao progressiva das condies
dos tecidos orais com o envelhecimento, porm, as alteraes clnicas no aspecto
das mucosas nem sempre so claramente detectadas. Assim, alguns estudos
apontam para que a idade e o envelhecimento s por si no supem alteraes no
estado das mucosas existindo uma notvel resistncia da cavidade oral no
processo de envelhecimento (39).
Introduo
14
Tradicionalmente identificava-se sade oral com dentes livres de cries e doena
periodontal. No entanto, tem sido demonstrado que alm do elevado nvel de
perdas dentrias e doena periodontal os idosos apresentam cries, abraso,
xerostomia cancro oral e leses da mucosa oral (6).
No passado, a mortalidade dentria era considerada inevitvel fazendo parte do
processo normal do envelhecimento. Na actualidade temos conhecimento que a
fisiologia oral se mantm relativamente estvel em indivduos saudveis, podendo
no entanto sofrer deteriorao na presena de determinadas doenas (40).
Por outro lado, este grupo de pacientes tende a estar mais bem informado, sendo
no entanto um grupo heterogneo, devido s diferentes experincias de vida
acumuladas por cada indivduo. Encontramos idosos que variam muito quanto ao
nvel econmico, estado de sade, nvel cultural e manuteno da sade oral.
Estas diferenas devem ser levadas em considerao pois podem afectar a
aceitao, o recebimento e o sucesso do tratamento.
Para a identificao de um idoso bem sucedido, um dos principais critrios a
manuteno, por toda a vida da sua dentio natural, saudvel e funcional,
incluindo todos os factos sociais e benefcios biolgicos tais como a esttica, o
conforto, capacidade para mastigar, sentir sabor e falar (41) (42).
As perspectivas de melhoria global de sade oral no sero muito favorveis, caso
as politicas actuais de sade continuem a ignorar a sade oral. Ser necessrio
que a Medicina Dentria organizada dedique o tempo e esforos necessrios para
impulsionar suficientemente a vontade politica dos governos para atender as
necessidades de sade oral dos idosos.
Introduo
15
6 Alteraes fisiolgicas da cavidade oral relacionadas com o
envelhecimento
O envelhecimento produz alteraes progressivas e irreversveis na morfologia e
funo de certos rgos. As estruturas orais sofrem um processo involutivo que
no ocorre em simultneo, o que dificulta a percepo de uma relao causa efeito.
O clnico da rea da Medicina Dentria ter um papel primordial na deteco
destas modificaes fisiolgicas integrando estas variaes no estabelecimento da
sua teraputica.
6.1 Esmalte
O esmalte dentrio um tecido acelular em que previamente ao incio da erupo
j atingiu a sua concentrao final de 95% de minerais e 5 % de gua e matriz
orgnica, baseado no seu peso. Os valores baseados no seu volume so 86% de
minerais, 2% de material orgnico e 12% de gua (43).
A maturao ps-eruptiva do esmalte, traduz-se pelo seu enriquecimento em
diferentes ies, designadamente de flor e de clcio e por calcificao progressiva
acentuada da trama orgnica interprismtica, que condiciona uma maior resistncia
dissoluo pelos cidos (43).
A perda de substncia dentria por atrio uma caracterstica normal do
envelhecimento sobretudo quando o nmero de dentes j reduzido implicando
uma sobrecarga nos remanescentes. Nas regies cervicais as leses por abraso
devido a escovagem tambm so importantes (7).
Com a idade, o esmalte torna-se menos permevel podendo haver acumulo de
pigmentao. Existe tambm uma tendncia para o aparecimento de fendas
longitudinais na coroa dos dentes, que so atribudas perda de gua e tambm a
uma sobrecarga mastigatria (7). Em contrapartida, existe um aumento do seu
contedo mineral e do tamanho dos cristais de superfcie, o que participa numa
melhor defesa contra os cidos cariognicos (29).
Introduo
16
6.2 rgo pulpo-dentinrio
A dentina composta por uma matriz orgnica (50%) e por tecido mineralizado
(70%) em relao ao seu peso, no entanto, em relao ao seu volume a dentina
50% mineral e 50% matriz orgnica. Tal como no esmalte o mineral a
hidroxiapatite, sendo no entanto cristais de muito menor dimenso enquanto que a
matriz orgnica composta por colagneo (43).
Os canalculos dentinrios apresentam um tamanho reduzido devido deposio
de dentina peritubular, dando-se uma hipercalcificao o que leva tal como a
hipermineralizao do esmalte a uma resistncia aos agentes cariognicos,
permitindo tambm a realizao de tratamentos conservadores (29). Por outro lado,
esta dentina hipermineralizada torna-se mecanicamente mais frgil aumentando o
risco de fracturas dentrias nomeadamente no decurso de exodontias (7).
No decorrer do envelhecimento, a densidade celular intrapulpar diminui devido a
fibrose, traduzindo-se num aumento dos feixes de colagneo e diminuio de
odontoblastos (29).
Devido deposio de dentina secundria existe uma retraco pulpar quer a nvel
dos canais quer da cmara levando a dificuldades no tratamento endodntico nas
pessoas idosas. Histologicamente, o contedo fibroso da polpa aumenta
diminuindo o nmero de clulas dos tecidos nervosos e vasculares, tornando o
dente menos sensvel aos estmulos e aos testes de vitalidade (7).
Estas modificaes levam a que muitas cries, nomeadamente as radiculares,
sejam assintomticas neste grupo de indivduos.
6.3 Cimento
A aposio do cimento um processo igualmente contnuo ao longo da vida,
principalmente nas zonas apicais e linguais dos dentes (44).
Introduo
17
Este fenmeno reaccional participa na manuteno da dimenso vertical,
compensando a abraso oclusal fisiolgica (7).
Comparativamente, o cimento cervical no renovvel, apresentando uma camada
acelular extremamente fina o que explica a sua rpida degradao quando exposto
aos factores cariognicos (45).
6.4 Periodonto
A espessura do ligamento periodontal diminui cerca de 25% na ausncia de
patologia, podendo ser explicada esta reduo pela diminuio de funo,
nomeadamente, menores foras mastigatrias relacionadas com o envelhecimento.
Como todo o tecido conjuntivo, o ligamento periodontal sofre alteraes
degenerativas como a hialinazao e calcificao de certas zonas (44).
O osso alveolar tambm sofre alteraes fisiolgicas, traduzindo-se numa atrofia
alveolar levando consequentemente a uma retraco gengival e exposio do
cimento radicular. No entanto, apesar desta reduo na altura do osso alveolar s
um nmero reduzido de indivduos desenvolve periodontite avanada (46).
De qualquer modo, estas alteraes fisiolgicas podem ser agravadas por factores
iatrognicos, trauma oclusal, doena periodontal e seu tratamento (47).
Todas estas alteraes, levam exposio do cimento radicular, sendo esta
condio imprescindvel para a ocorrncia de crie radicular, influenciando tambm
o tratamento dentrio.
6.5 Glndulas salivares
As glndulas salivares com o envelhecimento sofrem alteraes fundamentalmente
dinmicas e histomorfolgicas.
Introduo
18
No que se refere ao nvel histolgico existe uma acumulao de tecido linfide e
tecido adiposo no parnquima glandular o que vai provocar uma diminuio no
volume dos cinos (48).
A secreo de electrlitos encontra-se modificada, existindo um aumento de ureia
que vai diminuir a capacidade de tamponamento enzimtico e consequentemente
uma diminuio do pH.
Vrios estudos tm demonstrado que nos indivduos com mais de 65 anos em
repouso existe uma diminuio da secreo salivar das glndulas sub
mandibulares, sub linguais e das glndulas acessrias (49) (50) (51).
A sntese proteica encontra-se fortemente reduzida, estando nomeadamente
reduzida para dois teros a secreo de imunoglobulina A (Ig A) (51).
Verifica-se tambm que as glndulas sub-mandibulares, sub linguais e acessrias
reduzem a secreo de mucinas de elevado peso molecular (MG-1) em 75% e as
de baixo peso molecular (MG-2) em 25% (52).
Relativamente s glndulas partidas, como a secreo salivar principalmente
provocada por estmulos mecnicos, parecem estar aptas a manterem um fluxo
constante apesar do envelhecimento (53).
Determinados medicamentos com efeitos anti-sialogogos so a causa mais
frequente de diminuio do fluxo salivar, nomeadamente anti-histamnicos, anti-
hipertensores e antidepressivos, tratamentos radioteraputicos, quimioteraputicos
e imunosupressores bem como determinadas patologias (54).
6.6 Lbios, lngua e mucosas
A cavidade oral revestida por um epitlio escamoso estratificado cuja principal
funo formar uma barreira entre o meio interno e o meio externo,
proporcionando proteco contra a entrada de substncias nocivas e
microrganismos, sendo tambm uma barreira para o intercmbio de fluidos e contra
as agresses mecnicas (40).
Introduo
19
A mucosa da cavidade oral pode ser dividida histolgicamente em trs tipos: a
mucosa do palato duro e gengivas, a mucosa do revestimento do vestbulo, palato
mole, solo da boca e superfcie ventral da lngua e a mucosa especializada do
dorso da lngua e dos lbios (40).
Com a idade, a mucosa oral torna-se mais fina, lisa e seca apresentando um
aspecto edematoso com perda de elasticidade (55) (56).
Tem sido tambm descrita uma reduo na espessura da camada basal epitelial,
reduo do nmero das clulas de Langerhans, bem como, diminuio da
capacidade de sntese de colagneo pelos fibroblastos (57).
Os lbios tendem a sofrer queratinizao diminuindo de espessura o que associado
a uma perda da dimenso vertical no compensada pode levar ao aparecimento de
queilite angular (7).
A face dorsal da lngua tem tendncia para ficar mais lisa devido a atrofia das
papilas, desenvolvendo por vezes fissuras profundas e extensas (7).
7 - Patologia oral no idoso
7.1 Mortalidade dentria
A mortalidade dentria pode ser definida como o nmero mdio, por pessoa, de
dentes permanentes extrados ou com extraco indicada (58).
geralmente aceite que a crie dentria a principal razo de perda de dentes nos
indivduos jovens enquanto que a doena periodontal se torna predominante aps a
meia-idade (59). Contudo, estudos recentes indicam que mesmo em adultos a crie
dentria a razo predominante de mortalidade dentria (60) (61).
Entender as razes da perda dentria numa populao importante para o
planeamento dos servios de sade oral existentes, j que se trata de um indicador
importante quer das doenas dentrias de uma populao, quer ainda da
Introduo
20
quantidade e qualidade dos cuidados de sade desta especialidade,
disponibilizados a essa populao.
A distribuio das razes de extraco dentria pode depender dos critrios de
diagnstico, dos planos de tratamento efectuados pelos profissionais de sade oral,
vontade do paciente e motivos financeiros (59) (61), ou seja, resulta de uma
combinao complexa de atitudes tanto dos mdicos como dos pacientes (62),
sendo portanto factores condicionantes o nvel educacional, o baixo rendimento
implicando a no acessibilidade aos tratamentos e tambm factores sistmicos,
(39).
Com a idade aumenta a prevalncia de edentulismo sendo geralmente mais
elevada na mulher do que no homem. Outra caracterstica comum a vrios estudos
a maior prevalncia de desdentados totais em populaes institucionalizadas do
que em idosos independentes (9) (63) (64).
Um estudo efectuado na China para avaliar o impacto da doena oral entre idosos
institucionalizados e no institucionalizados concluiu que a sade oral medida pelo
exame clnico foi diferente entre os dois grupos observados, 268 institucionalizados
e 318 no institucionalizados.
O edentulismo para o grupo de institucionalizados foi de 19% enquanto que para os
no institucionalizados foi de 10%.
No grupo dos idosos institucionalizados verificou-se um menor nmero de dentes
obturados e maior nmero de dentes cariados e perdidos do que nos idosos no
institucionalizados.
O valor mdio do CPO para os idosos institucionalizados foi de 21,35 e para os no
institucionalizados foi de 17,67, em que a componente dos dentes perdidos teve
grande peso no valor do ndice (65).
7.1.1 O edentulismo e o uso de prtese
Quando a mortalidade dentria elevada, tornam-se mais evidentes as
modificaes faciais nos idosos devido a reabsoro ssea e atrofia muscular,
levando geralmente a um padro de mastigao alterado tornando-se esta
Introduo
21
impossvel quando a perda dentria total e as prteses completas no esto
equilibradas e ajustadas. Estes problemas levam a alteraes importantes nos
hbitos alimentares produzindo ou agravando problemas nutricionais nos idosos
(66).
No mundo ocidental, mais de metade da populao idosa usa prtese removvel
verificando-se uma tendncia para o tratamento provisrio, parecendo este facto
estar relacionado com questes financeiras (67).
Apesar de muitos idosos estarem muito familiarizados com as prteses, muitas das
que usam falham nos requisitos mnimos. Alguns destes indivduos mostram-se
mesmo satisfeitos com as suas prteses apesar de vrias deficincias detectadas
quando observadas pelo mdico dentista (68). Estes defeitos so o motivo pelo
qual a maioria dos portadores de prtese frequentemente recorrem ao uso de
adesivos que podem ter consequncias nefastas para os dentes, uma vez que
estes promovem uma diminuio do pH da cavidade oral no sendo por isso
aconselhveis em pacientes com dentes remanescentes passveis de sofrerem
desmineralizao. Alm disso, existe tambm a possibilidade destes serem
deglutidos e provocarem nuseas, vmitos, dores epigstricas e reaces
alrgicas, sendo necessrias ainda medidas acrescidas de higiene (69). Alguns
estudos tm estabelecido uma relao positiva entre o uso de prtese parcial
removvel, o aumento de cries radiculares e a deteriorao da sade periodontal
(67).
Num estudo da populao Portuguesa institucionalizada realizado por Fernandes
em 1995, 30,13% dos indivduos eram desdentados totais em que 17,27% dos
edntulos no estavam reabilitados com prtese (70).
Num outro estudo realizado por Magalhes em 2000 numa populao com as
mesmas caractersticas, encontrou 38,4% de edntulos em ambos os maxilares
(71).
Numa populao institucionalizada do concelho do Porto em 2005, Braz encontrou
32,4% de desdentados totais (72).
Introduo
22
Rodriguez Baciero em 1998 num estudo da populao espanhola institucionalizada
encontrou uma taxa de edentulismo superior a 50% (73).
A perda dos dentes no deve ser considerada como um evento natural, mas sim, o
resultado de doenas, traumas e composio gentica. Quando bem tratados, os
dentes naturais podem permanecer funcionais para toda a vida, devendo
desaparecer o mito de que o edentulismo uma consequncia natural do
envelhecimento.
7.2 Crie Dentria
A crie dentria pode ser definida como um infeco bacteriana influenciada pela
combinao da virulncia das bactrias acidognicas da boca, o potencial
acidognico do padro dos alimentos ingeridos, a capacidade do indivduo de
manter uma correcta higiene e a resistncia inerente dos dentes
desmineralizao (74).
A sade oral, nomeadamente o tratamento e preveno da crie dentria tem sido
relegada, quando se discutem as condies de sade da populao idosa. A perda
total de dentes, ainda aceite pela sociedade como algo normal e natural com o
avano da idade e no como um reflexo de falta de politicas preventivas de sade,
destinadas principalmente populao adulta para que mantenha a sua dentio
at idades mais avanadas.
Numa importante reviso internacional, Ettinger afirmou que a crie pode ser
considerada o principal problema de sade oral das pessoas com mais de 60 anos
(75).
Segundo Reich, o acentuado declnio da crie em crianas e adolescentes no tem
sido observado em adultos e idosos europeus. A percentagem de idosos edntulos
vem sofrendo uma considervel reduo, porm, os dentes remanescentes
acabam por aumentar o risco do desenvolvimento de novas leses de crie,
principalmente na superfcie radicular (76).
Introduo
23
Nos estudos epidemiolgicos efectuados em Portugal por Magalhes e Braz que
avaliaram a crie coronria em idosos institucionalizados foram encontrados
elevados ndices de crie dentria tendo sido encontrado um ndice CPO de 26,01
(C=2,86; P=22,67; O=0,48) em 2000 e um ndice CPO de 22,9 (C=2,8; P=19,8;
O=0,3) em 2005 respectivamente (71) (72).
Estudos longitudinais realizados em idosos suecos concluram que os indivduos
com 60 e mais anos de idade desenvolvem leses de crie sendo que os nveis
salivares de Lactobacillus spp. e Streptococcus mutans, o nmero de dentes,
determinadas medicaes e higiene oral foram os melhores preditores de
incidncia de crie (77) (78).
7.2.1 Cries radiculares
As leses de cries radiculares podem apresentar-se, clinicamente, com aspectos
morfolgicos distintos e com um envolvimento maior ou menor da estrutura
dentria, pelo que a unanimidade quanto ao seu diagnstico pode tornar-se
particularmente difcil, sendo as variaes entre os examinadores uma das causas
de subjectividade que eventualmente tornam os resultados epidemiolgicos no
comparveis.
Segundo Hix & O`Leary, citado por Silva, as cries radiculares so definidas como
aquelas que, localizando-se nas superfcies radiculares se apresentam como
leses amolecidas, com ou sem formao de cavidade, em geral bem delimitadas,
de fcil penetrao por sonda, com alteraes da colorao, e envolvendo o
esmalte justaposto raiz dentria ou a restauraes (45).
Os factores etiolgicos deste tipo de leses so os mesmos que os observados
para as cries coronrias, no entanto, as cries radiculares s aparecem devido
exposio das superfcies radiculares ao meio bucal, sendo precedidas de uma
recesso gengival ou perda de aderncia. Apesar deste factor no ser suficiente
para que se desenvolva crie radicular, existe uma correlao positiva entre a
recesso gengival e o aparecimento deste tipo de crie (79).
Introduo
24
Vrios estudos apontam para um aumento destas leses de crie com a idade (80)
(45) (78). Alguns estudos tm demonstrado tambm uma correlao positiva entre
as cries coronrias e radiculares (81).
So associados a estas leses de crie os Streptococcus mutans e Lactobacillus
spp (82). Nas leses avanadas, a formao de cavidades favorece o
aparecimento de uma sucesso de espcies bacterianas (83), levando a uma flora
complexa, envolvendo outros microrganismos, tais como Actinomyces e
Enterococcus (82) (83).
No estudo efectuado por Silva em 1995 em indivduos institucionalizados no Porto
foi encontrada uma prevalncia de 63% para as cries radiculares (45).
Tambm em Portugal num estudo sobre cries radiculares efectuado por Sousa em
2005 numa populao com as mesmas caractersticas foi encontrada uma
prevalncia de 59,4% de crie radicular (84).
Hand, tendo em vista estudar as taxas de incidncia de cries coronrias e
radiculares em idosos institucionalizados realizou um estudo em 451 indivduos
institucionalizados no estado de Iowa nos Estados Unidos.
Foi seleccionada uma amostra representativa e efectuado exame clnico no incio
do estudo e nova observao aps 18 meses.
Na coorte dentada, foi observada uma mdia de 0,87 novas superfcies cariadas
por ano e por pessoa para a coroa e 0,57 superfcies cariadas por ano e por
pessoa para a raiz.
A crie coronria ocorreu a uma taxa anual de 1,4% e as superfcies sensveis
crie radicular a uma taxa anual de 2,6% de superfcies radiculares susceptveis.
Este estudo mostra que tanto a crie coronria como a crie radicular esto activas
nesta populao idosa, indicando a necessidade de nfase na preveno e
tratamento de crie em adultos mais velhos (85).
Introduo
25
7.3 Doena periodontal
A populao idosa afectada de uma maneira geral pelas formas leves de
gengivite e periodontite, estando um nmero mais reduzido sujeito s formas mais
graves da doena (86). Assim, vrios estudos apontam para uma elevada
percentagem de pessoas com necessidade de algum tipo de tratamento periodontal
(4).
A doena periodontal depois da doena crie aparece como responsvel pela
elevada taxa de mortalidade dentria nos adultos idosos (61) (87) (59).
Os idosos funcionalmente dependentes tm maior risco de desenvolver doena
periodontal devido sua fragilidade fsica, confuso mental ou demncia
relacionada com a sua incapacidade para manter uma higiene oral de forma
independente.
O factor idade mostrou correlao positiva com a presena de placa bacteriana
num estudo efectuado a 51 indivduos aos quais foi efectuada anamnese, recolha
de dados clnicos dentrios e efectuado Raio X e fotografias intra-orais, tendo estes
dados sido fornecidos a 23 examinadores especialistas em Periodontologia (88).
Alm da deficiente higiene oral, outros factores de risco podem agravar o estado
periodontal dos indivduos tais, como os hbitos tabgicos e determinadas doenas
sistmicas, entre elas a diabetes (89) (88).
Aps reviso bibliogrfica, Kamen concluiu que os levantamentos nacionais
realizados nos Estados Unidos da Amrica so concordantes quanto forte
associao entre a perda de insero e recesso e o aumento da idade, alta
prevalncia de sangramento sondagem e que a perda severa de ligamento
periodontal restrita a uma pequena percentagem da populao (90).
Em Espanha Rodrigues Baciero num estudo numa populao institucionalizada
conclui que todos os idosos tinham necessidade de algum tipo de tratamento
Introduo
26
periodontal, embora a prevalncia de sextantes com bolsas profundas tenha sido
baixa (40).
Tambm em Espanha num estudo realizado por Mallo-Prez, numa amostra de
3282 indivduos, concluiu que todos os idosos necessitavam de algum tipo de
tratamento periodontal, no entanto, a prevalncia de sextantes com bolsas
periodontais profundas foi muito baixa (91).
7.4 Leses da mucosa oral e cancro oral
Existem diversas patologias que podem afectar a mucosa oral em que os sinais e
sintomas associados podem ser muito semelhantes, o que contribui para uma
maior dificuldade no diagnstico diferencial destas doenas.
Segundo vrios autores o envelhecimento supe um aumento do risco de leses da
cavidade oral (92).
A presena de leses proliferativas ou ulceradas, estomatite prottica e queilite
angular esto geralmente relacionadas com o uso de prteses dentrias, com o
estado da prtese e com o uso dirio e/ou nocturno, sendo prevalentes neste grupo
de indivduos.
Num estudo efectuado na Dinamarca, Vigild observou que cerca de 50% dos
indivduos apresentavam uma ou mais condies patolgicas da cavidade oral. O
achado mais prevalente foi a estomatite prottica que se manifestou em um tero
dos idosos. A prevalncia foi fortemente influenciada pela higiene deficiente da
prtese, pelo uso da prtese durante a noite e com o nmero de anos da prtese
(93).
Num outro estudo realizado no Brasil numa populao institucionalizada, 58,9%
dos examinados apresentavam uma ou mais leses na mucosa oral sendo tambm
a estomatite induzida por prtese a patologia mais frequente (20,0%). O sexo e a
higiene das prteses foram factores estatisticamente significativos para a
prevalncia da estomatite prottica (94).
Introduo
27
Em Espanha, num estudo realizado em 3460 indivduos com idade superior ou
igual a 65 anos foi encontrada uma prevalncia de 16,7% para uma ou mais leses
da cavidade oral tendo sido identificados 3 casos de cancro oral. A probabilidade
de apresentarem mais do que uma leso estava determinada pelo tabagismo, ter
poucos dentes, ser desdentado total, usar prtese removvel e ter hbitos de
higiene deficientes. A idade, a medicao e o estar institucionalizado no mostrou
ter correlao. A presena de leucoplasia foi associada ao tabagismo e a
Candidase e as lceras orais a ser portador de prtese removvel (95).
Em Portugal num estudo realizado por Silva em 2000 em portadores de prteses
removveis para avaliar a prevalncia de leses orais, constatou que 92,4% das
leses associadas ao uso de prtese apresentavam-se assintomticas. Encontrou
uma prevalncia de estomatite prottica de 45,3%, a presena de outras leses
tambm foi significativa sendo 12,1% para a queilite angular, 7,9% para ulcera
traumtica, 5,7% para a hiperplasia fibroepitelial, 2,8% para leses pigmentadas na
mucosa, 2,1% para fibroma, 1,4% para a glossite rombide mediana e 1,4% para
lquen plano oral (96).
O cancro oral referido como um subgrupo de cancros da cabea e pescoo que
se desenvolvem na lngua, nas glndulas salivares, nas gengivas, no assoalho da
boca, na orofaringe, nas superfcies orais e noutros locais intra-orais de acordo com
a classificao internacional das doenas International Classification of Diseases
(ICD) (97). O cancro oral um problema srio e crescente em muitas partes do
globo, sendo o cancro oral e farngeo em conjunto o sexto tipo de neoplasia mais
comum a nvel mundial (98).
Cerca de 90% dos cancros da cavidade oral so carcinomas espino-celulares e
esto associados ao consumo de tabaco e lcool, aumentando o risco com o abuso
associado destas duas substncias (99). Apesar dos avanos no tratamento desta
patologia, a taxa de mortalidade aos 5 anos mantm-se nos 50-60%, variando com
os estudos (100).
O risco de desenvolver cancro oral aumenta com a idade, ocorrendo a maioria dos
casos em indivduos a partir dos 50 anos (98) (101).
Introduo
28
A expresso clnica do cancro oral muito varivel e, por isso, leses suspeitas na
mucosa oral devem ser cuidadosamente investigadas, especialmente na ausncia
de etiologia local associada.
7.5 Xerostomia
A saliva desempenha um papel importante na manuteno da sade oral j que
uma das suas principais funes proteger a cavidade oral das diversas agresses
atravs de diferentes mecanismos (aco antibacteriana, antifngica e antivrica,
capacidade tampo, remineralizao, hidratao, manuteno do pH, digesto,
etc.) (102) (103).
Por definio, xerostomia a sensao de boca seca devido a uma diminuio
quantitativa apenas do fluxo salivar em repouso, quando este baixa para menos de
50% ou quando existe uma alterao da composio da saliva com perda de
mucina e consequente diminuio da capacidade de lubrificao, sem diminuio
do fluxo (104).
Existe no entanto alguma controvrsia sobre a influncia da idade na taxa de fluxo
salivar, acredita-se que a xerostomia est implcita no paciente geritrico, no
entanto, a hiposalivao nestes pacientes parece ser o resultado de determinadas
doenas crnicas e medicao associada (105) (106).
A medicao que pode contribuir para a hiposalivao inclui anticolinrgicos, anti-
histamnicos, opiceos, tranquilizantes, antidepressivos, antiparkinsonianos,
ansiolticos antihipertensivos e diurticos (107).
Outras causas de diminuio do fluxo salivar so as doenas auto imunes, radiao
da cabea e pescoo, Sndrome de Sjgren, tumores, infeco e aplasia das
glndulas salivares (107).
Segundo um estudo realizado por Lpez em idosos institucionalizados espanhis,
existe uma perceptvel diminuio salivar com a idade dos indivduos e
relativamente ao consumo de frmacos verificou-se uma correlao positiva entre o
nmero de frmacos consumidos e as taxas de fluxo salivar, tanto para a saliva de
Introduo
29
repouso como para a estimulada. Para a saliva de repouso os valores mdios para
os idosos que tomavam um frmaco eram de 42,2 mm, enquanto que para os que
tomavam 3 frmacos existe uma reduo considervel para valores mdios de 19,2
mm humedecidos em 5 minutos (102).
8 Reviso de estudos relacionados
O estudo das condies de sade oral em populaes idosas e as respectivas
necessidades de tratamento tem sido objecto de vrios trabalhos cientficos:
Grabowski estudou a sade oral e necessidades de tratamento odontolgico em
560 idosos com 65 e mais anos, do municpio de Vestsjaelland (West Zelndia) na
Dinamarca.
Seleccionou uma amostra representativa de toda a populao dinamarquesa em
relao ao sexo e condio scio-econmica para esta faixa etria especfica.
Concluiu que esta populao apresentava fracas condies de sade oral em que
68,2% da populao eram desdentados totais (sendo 64,7% para o sexo masculino
e 70,7% para o sexo feminino). Os idosos dentados tinham em mdia 12 dentes.
Dos desdentados totais, 3,6% no estavam reabilitados em ambos os maxilares e
5,5% carecia de reabilitao num dos maxilares em que 83,4% estavam
reabilitados com prteses removveis (108).
Apenas 3,4% dos dentados e 28,2% dos desdentados totais no necessitavam de
qualquer tratamento odontolgico, 80% dos indivduos necessitavam de tratamento,
sendo o tratamento prottico o principal requisito.
Em contraste com estes dados, apenas 25% dos entrevistados tinham uma
necessidade subjectiva de tratamento.
O autor concluiu que a populao idosa dinamarquesa necessita de informao e
ajuda econmica para tratamento odontolgico (108).
Um estudo comparativo entre duas coortes foi efectuado em noruegueses
institucionalizados comparando os anos de 1988 e 2004 tendo em vista avaliar o
estado de sade oral e verificar se houve ou no e quais as alteraes entre estes
dois anos.
Introduo
30
Verificaram-se vrias alteraes demogrficas entre as duas coortes, um aumento
da idade mdia e uma tendncia de aumento da proporo de mulheres. Os
resultados obtidos indicaram uma melhoria no status dentrio 1988-2004. Este foi
caracterizado por uma diminuio do edentulismo e um aumento de indivduos com
dentes remanescentes, a percentagem de idosos que tinham 20 a 28 dentes
aumentou de 3% para 23%.
Foi no entanto observado um aumento substancial na prevalncia de crie, a
proporo de indivduos com dentes cariados aumentou de 55% em 1988 para
72% em 2004, verificou-se um aumento do CPOD de 19,4 para 23,2.
Relativamente ao estado periodontal, verificou-se um aumento significativo da
prevalncia de bolsas periodontais de 4 mm ou mais de 1988 para 2004.
Coroas, pontes e implantes foram mais prevalentes em 2004 (74%) do que em
1988 (60%), tendo sido menos prevalentes as prteses parciais.
Quanto mucosa oral, a estomatite prottica foi encontrada em 36% dos
portadores de prtese em 2004, em comparao com 20% em 1988 (109).
Um estudo em idosos institucionalizados efectuado em Melbourne, em que a idade
mdia encontrada foi de 83,7 anos, sendo 80% dos indivduos pertenciam ao sexo
feminino, concluiu que, globalmente, 35,4% dos pacientes eram dentados e todos
apresentavam experincia de crie tendo sido encontrado um CPOD de 24,3 para
o sexo masculino e 25,1 para o feminino. Relativamente condio periodontal,
devido perda de dentes, mais de metade dos sextantes foram excludos da
anlise. A condio mais severa observada foi a presena de bolsas de 4-5 mm de
profundidade em que o indicador mais grave foi a presena de depsitos de trtaro.
Nenhum indivduo necessitava de tratamento periodontal complexo. Cerca de 50%
dos indivduos no apresentavam necessidade de qualquer tratamento dentrio
(110).
Warren, numa amostra de 449 indivduos do Estado de Iwoa nos Estados Unidos
da Amrica, em que 107 (23,8%) eram desdentados totais, sendo 68 % do sexo
feminino, com uma idade mdia de 85,1 (intervalo 79-101 anos), observou que a
mdia de dentes remanescentes entre estes sujeitos era de 19,4, com um intervalo
de 1 a 31 dentes e 37,1% dos indivduos tinham pelo menos 24 dentes. De um
modo geral, quase todos os indivduos (96%) tinham experincia de crie
Introduo
31
coronria, 23% apresentavam crie coronria no tratada. Relativamente crie
radicular, 64% da amostra teve experincia deste tipo de crie, em que 23% dos
indivduos apresentavam cries de raiz no tratadas.
Entre os indivduos dentados, 73,4% relataram terem visitado o dentista no ltimo
ano, enquanto apenas 9,8% informou ter visitado o dentista h quatro ou mais
anos. Aqueles com um maior nmero de dentes eram mais propensos a ter visitado
o dentista nos ltimos anos e a faze-lo de uma forma regular (111).
Um estudo efectuado em Espanha incluiu 459 indivduos com uma idade mdia de
83,8 anos sendo 23% homens e 77% mulheres.
Foi encontrado um CPOD de 27,02 com 76,7% de dentes perdidos, 3,6% de dentes
obturados e 4,2% de dentes cariados.
No que respeita condio periodontal dos indivduos estudados 71% no
puderam ser avaliados devido aos sextantes excludos por perda de dentes, 1,8%
apresentavam um periodonto saudvel, 46,4% apresentavam doena periodontal
leve (presena de sangramento gengival e clculo dentrio), sendo a prevalncia
de doena periodontal moderada (bolsas de 4-5mm) de 8,9%.
No grupo estudado, 52,7% dos indivduos apresentavam edentulismo maxilar e
mandibular, estando 40,3% reabilitados com prtese total superior e inferior.
Ao avaliar a necessidade de prtese dentria, 17,9% dos indivduos necessitavam
ser reabilitados com prtese maxilar e mandibular (112).
Num estudo efectuado por Magalhes numa populao portuguesa
institucionalizada para avaliar as necessidades de tratamento, observou 245
indivduos com mais de 65 anos. Com este estudo concluiu que 38,4% do total da
amostra era desdentado total, em que a maioria tinha mais de 11 dentes perdidos
no apresentando uma dentio funcional. Em mdia existiam 2,2 (2,4) dentes por
pessoa para restaurar, 1,0 (1,8) dentes para tratamento endodntico radical por
pessoa e 2,0 (2,9) para extraco tambm por pessoa.
O ndice CPO encontrado foi de 26,01 sendo elevado devido ao peso dos dentes
perdidos (P=22,67), o peso dos dentes cariados foi de 2,86 e os obturados de 0,48.
Apesar do elevado nmero de edntulos e de dentes perdidos nesta populao o
estudo concluiu que a crie dentria constitui mesmo assim um problema de
grande prevalncia.
Introduo
32
Relativamente situao periodontal, a maioria dos sextantes foram excludos
devido perda de dentes. No entanto, o estudo concluiu que todos os pacientes
necessitavam de tratamento periodontal. S uma pequena percentagem, 5,9% dos
indivduos dentados necessitavam de tratamento periodontal complexo.
Apenas 17,1% do total da amostra no revelava necessidades protticas, enquanto
que 82,9% da amostra necessitava de alguma interveno na prtese (conserto,
revasamento ou substituio) e 36,1% necessitavam de reabilitao com prtese
total.
Este estudo concluiu que esta populao apresentava grande nvel de
necessidades, tanto a nvel de promoo, educao e formao em sade oral
como de tratamentos operatrios (71).
Isaksson, efectuou um estudo na populao Sueca tendo observado 866 indivduos
institucionalizados e inscritos em cuidados de longa durao com o objectivo de
avaliar as necessidades reais de tratamento oral levando em considerao a
inteno de tratamento de cada indivduo. O estudo concluiu que o edentulismo
aumentou com a idade enquanto que uma dentio funcional, mais de 20 dentes,
diminuiu com o aumento da idade dos indivduos. lceras orais foram encontradas
em 9% e hiperplasia em 10% da populao. Alteraes na mucosa do palato foram
registadas em 22% dos indivduos e alteraes graves, inflamaes em geral foram
encontradas em 9%. Na mucosa lingual foram observadas alteraes em 14% dos
casos em que 90% dessas alteraes foram do tipo atrfico. Foram encontradas
tambm duas manifestaes suspeitas de leses malignas.
O estado de higiene oral foi considerado bom/aceitvel em 62% dos indivduos.
Os resultados deste estudo indicam que as necessidades reais de tratamento oral,
guiadas por estimativa do examinador da inteno de tratamento adequado, so
modestas nesta populao. Dos indivduos avaliados, 31% necessita tratamento
profiltico enquanto que 30% necessita de tratamento reparador. Apenas 1% foram
estimados para necessidade de tratamento urgente (113).
Vigild, efectuou um estudo numa populao institucionalizada Dinamarquesa que
teve como objectivo determinar a ocorrncia de crie no tratada em idosos
institucionalizados, avaliar o pedido expresso para o tratamento operatrio da crie
entre os idosos e relacionar a ocorrncia de crie no tratada com o grau de
Introduo
33
dependncia, o uso do servio odontolgico, tipo de servio odontolgico e o tempo
de permanncia na instituio.
Este estudo constatou que o estado de sade oral dos idosos institucionalizados
muito pobre, 70% apresentavam crie no tratada. A maior parte desta degradao
foi traduzida por restos radiculares retidos. Os idosos dependentes apresentaram
mais cries no tratadas do que aqueles que eram capazes de se dirigirem
sozinhos consulta, sendo a sade oral melhor naqueles que foram vistos
regularmente por um dentista. O tempo de permanncia na instituio no
influenciou a prevalncia e o nmero mdio de superfcies com cries no tratadas.
O estudo concluiu que o factor preponderante que influenciou a ocorrncia de crie
no tratada entre os idosos institucionalizados foi o acesso ao servio odontolgico
(114).
No Japo, na cidade de Kitakynshu foram avaliados em termos de sade oral 1 908
idosos com idade igual ou superior a 65 anos a viverem em 29 instituies desta
cidade.
A percentagem de edntulos foi de 27% no grupo de 65 a 74 anos e 56% no grupo
dos 85 e mais anos.
Nos indivduos dentados o nmero mdio de dentes remanescentes e CP (cariados
e perdidos) foi de 13,4 e 8,6; 9,5 e 6,8; 8,4 e 6,5 nos grupos 65-74, 75-84 e com
mais de 85 anos respectivamente. Dos idosos observados, 81% no apresentaram
nenhum sintoma invulgar da articulao temporomandibular (ATM), sendo o rudo
articular o sintoma mais frequente, em 17% dos indivduos. A higiene dos dentes e
das prteses apresentou-se muito deficiente. Necessitavam de prteses totais
novas e/ou prtese parcial removvel 36% dos indivduos e 41% necessitava
apenas de conserto. Foi encontrada uma grande percentagem de dentes para
tratamento, necessidades de reabilitao oral e pobre higiene oral nos idosos com
pior estado de sade geral comparativamente com os que apresentavam melhores
condies de sade.
Segundo os autores deste estudo, estes resultados indicam que os sistemas de
cuidados de sade oral para idosos institucionalizados, principalmente em idosos
com deficincias devem ser planeados, e que a importncia dos programas de
sade oral entre as geraes mais jovens devem ser enfatizadas porque a
assistncia na rea da sade oral para idosos torna-se mais difcil com o aumento
Introduo
34
da idade e os cuidados de sade oral so fornecidos tarde demais para a maioria
das pessoas (115).
9 Avaliao das necessidades de tratamento e utilizao dos servios de
sade dentrios em idosos
O uso dos servios odontolgicos e a sade oral entre idosos melhoraram
consideravelmente na maioria dos pases industrializados durante as ltimas
dcadas, mas existem ainda grandes disparidades no estado e acesso aos
cuidados de sade oral.
Como j foi referido, o crescimento do nmero de pessoas idosas o resultado
duma melhoria nas condies de vida social e assistncia mdica e determinada
pelo tamanho das coortes de natalidade. Estes factos contribuem para um ganho
perceptvel na esperana de vida aps os 65 anos, no entanto, este ganho da
expectativa de vida inclui tanto indivduos activos como dependentes (116).
O conceito de compresso de morbilidade argumenta que um melhor acesso
sade e estilos de vida saudveis nos anos mais jovens, vai levar a um adiamento
do prazo de doenas crnicas e de dependncia na idade avanada. Por outro lado
o conceito de extenso da morbilidade afirma que a sobrevivncia aumentada ir
resultar num perodo mais longo com deficincia no fim da vida (116). Assiste-se a
uma polarizao em que uma parte da populao de idosos est mais saudvel
enquanto outra parte est cada vez mais dependente, acumulando doenas
crnicas e incapacitantes. Estes indivduos, frequentemente sofrendo de alguma
incapacidade fsica ou mental e outras formas de doenas crnicas, ficam limitados
para poderem interagir com os servios dentrios (117).
Tm sido sugeridos diferentes modelos para as necessidades de tratamento
dentrio (118) (119):
- necessidades definidas pelo profissional (necessidades normativas)
- necessidade percebida
- necessidade expressa
Introduo
35
- necessidade real
Existe uma enorme discrepncia nos resultados para avaliar as necessidades de
tratamento de um determinado individuo, essas diferenas podem ser ainda mais
significativamente demonstradas entre a frgil populao institucionalizada (120). A
avaliao pelo profissional, das necessidades de tratamento oral baseado
exclusivamente no diagnstico clnico, leva muitas vezes a uma sobrestimao da
real necessidade do tratamento especialmente entre os idosos frgeis e
funcionalmente dependentes, alguns dos quais no querem o tratamento porque
no existe nenhuma necessidade percebida ou no expressam a necessidade.
Estes indivduos muitas vezes no beneficiam do tratamento porque no
conseguem expressar o pedido, ou no sentem a necessidade do mesmo, sendo
necessrio uma avaliao profissional para determinar uma relao do beneficio
que pode advir do tratamento (119).
Uma das reas que deveria ser melhor explorada a de aces de educao em
sade com nfase na auto-percepo, conscencializando o indivduo para a
necessidade de cuidados com a sua sade oral.
Para isso essencial entender como o idoso percebe a sua condio oral, pois o
seu comportamento condicionado pela auto-percepo e pela importncia que lhe
dada. Mesmo nos pases que mantm programas dirigidos a idosos, a principal
razo para estes no procurarem os servios mdico-dentrios, a no percepo
da sua necessidade (121).
Estudos sobre a auto-percepo mostram que a mesma est relacionada a alguns
factores clnicos, como nmero de dentes cariados, perdidos ou restaurados, e com
factores subjectivos como, sintomas de doenas e capacidade de sorrir, falar ou
mastigar sem problemas (122), alm de ainda poder ser influenciada por factores
como classe social, idade e sexo (123).
De um modo geral, os idosos conseguem perceber a sua condio oral, usando
porm critrios diferentes do profissional, enquanto este avalia a condio clnica
pela presena ou ausncia de doena, para o paciente so importantes os
sintomas e os problemas funcionais e sociais decorrentes das doenas orais.
Introduo
36
Em idosos, a percepo tambm pode ser afectada por valores pessoais, como a
crena de que algumas dores e incapacidades so inevitveis nessa idade, o que
pode lev-los a subvalorizar a sua sade oral (121).
Assim, ser necessria uma combinao entre as necessidades avaliadas pelo
profissional, a auto-percepo das necessidades, a exigncia expressa e ter em
conta o estado fsico e mental do paciente, bem como consideraes ticas.
Mesmo assim, avaliaes com base nas necessidades reais de tratamento, podem
criar uma significativa base para a comunicao entre o poder poltico, a equipa
institucional, e os planificadores de sade.
Introduo
37
9.1 Determinantes de utilizao dos servios odontolgicos
Muitos factores tm sido identificados como possveis determinantes na mitigao
das taxas de utilizao dos servios dentrios entre idosos, podendo estes interagir
de uma forma complexa entre si e com outros factores, particularmente, os
comportamentais (120), como se pode observar na figura I.1.
- Acessibilidade ao consultrio odontolgico
- Disponibilidade de servios odontolgicos/nmero de dentistas e higienistas
- Status dentrio (nmero de dentes, edentulismo)
- Caractersticas pessoais do individuo
- Percepo de sade oral, sintomas (por exemplo, dor)
- Organizao do sistema de sade odontolgico (privado, publico, no local)
- Rendimento
- Custo dos cuidados
- Educao
- Factores sociais
- Factores geogrficos
- Factores culturais (etnia)
- Relaes sociais
- Estilo de vida
- Estado geral de sade, incapacidade funcional, declnio cognitivo, nmero de
medicamentos usados
- Limitaes dos profissionais
Figura I.1 Determinantes para a utilizao dos servios dentrios na populao
idosa
No entanto, nos diversos estudos, o uso dos servios dentrios tem sido definido
apenas pelos seguintes parmetros: 1) nmero de visitas anuais por pessoa, 2)
proporo de pessoas que visitam o dentista durante um ano, 3) reportam primeira
consulta de uma sria de visitas, 4) despesas agregadas para a consulta e 5)
consulta de rotina versus de emergncia (124).
Introduo
38
Um estudo retrospectivo recente efectuado na Sucia em adultos com oitenta anos,
constatou que 66% dos indivduos dentados tinha efectuado visitas regulares ao
dentista nos anos noventa. Em mdia foram feitas 3,3 visitas por perodo de
tratamento. Uma pequena fraco, 10%, registou grande nmero de consultas de
urgncia (125).
Num outro estudo foi comparada a utilizao da consulta dentria entre cidados
suecos e dinamarqueses com idade entre 60 e 69 anos, em que mais de 80%
tinham visitado o dentista no ltimo ano. Enquanto que 77% dos dinamarqueses
relataram visitas ao dentista duas vezes por ano s 28% dos suecos fizeram o
mesmo nmero de consultas. Porm, foi constatado que apesar dos
dinamarqueses usarem mais frequentemente os servios odontolgicos, tinham
piores condies de sade oral do que os suecos (124).
No Reino Unido um estudo relatou que quase 50% dos idosos visitaram o dentista
durante o ltimo ano enquanto que 10% referiu ter recorrido consulta no ltimo
ano por uma emergncia (126).
Smith avaliou clinicamente as necessidades de tratamento em 254 indivduos com
60 e mais anos comparando-as com as necessidades sentidas e expressas. Nesta
amostra, 78% dos indivduos apresentavam necessidades de tratamento
principalmente prottico. Verificou-se uma grande discrepncia entre os
tratamentos normativos e as necessidades sentidas pela populao idosa. Apenas
42% daqueles que foram avaliados clinicamente com necessidade de tratamento
dentrio sentiu que lhe era imposto, enquanto 19% tentou realmente obter o
tratamento. Muitos dos idosos referiram uma srie de obstculos obteno de
cuidados dentrios, que incluam o custo do tratamento, a dificuldade de locomoo
e a sensao de que no deveriam incomodar o dentista (127).
Em Portugal num estudo efectuado por Magalhes concluiu que 22% dos
indivduos tinham visitado o dentista h menos de um ano enquanto que 51% no o
fazia h mais de 5 anos, 19,6% recorreu consulta quando sentia dor, enquanto
que por rotina apenas 1,2% dos indivduos o fazia (71).
Introduo
39
Num outro estudo efectuado por Braz, tambm numa populao institucionalizada,
concluiu que 21,7% dos indivduos tinham visitado o dentista h menos de um ano
enquanto que 55,6% no o fazia h mais de trs anos. Relativamente ao motivo da
visita, 10,6% fazia-o por rotina enquanto que 40,6% s quando sentia dor (72).
No estudo efectuado por McMillan na China em idosos institucionalizados e no
institucionalizados a procura de tratamento pelos idosos foi similar em ambos os
grupos, com mais de metade a no ter visitado o dentista nos ltimos dois anos.
Segundo este autor este achado pode dever-se a dificuldades no acesso a
cuidados dentrios acessveis. Nesta populao prtica comum recorrer ao
dentista apenas em situao de emergncia (65).
Para um subgrupo da populao vivendo em situao de pobreza, isolamento
social, residentes em instituies de cuidados de longa durao, e com quadros
clnicos complexos, os cuidados de sade oral podem ser inacessveis. O
envelhecimento da populao refora a urgncia de dar resposta s necessidades
cada vez maiores dos idosos dentados que se encontram em risco de doenas
orais levando ao declnio da sade oral (128). Estratgias para envolver a
comunidade criando novos modelos educacionais, abordagens interdisciplinares,
concentrar o dilogo entre parcerias pblicas e privadas sero esforos
necessrios para melhorar as actuais disparidades de sade oral no idoso.
Embora a maioria dos idosos viva de forma independente na comunidade, existe
um nmero crescente de idosos com necessidades especiais, que necessitam de
cuidados de longa durao, quer em casa quer numa instituio. Esses idosos
frgeis e funcionalmente dependentes, possuem necessidades dentrias
significativas e experimentam maiores obstculos para receber atendimento em
comparao com os idosos dependentes (129). So necessrias pesquisas
adicionais para caracterizar com preciso o estado de sade oral e necessidades
de tratamento de um nmero crescente de idosos institucionalizados.
Introduo
40
10 Qualidade de vida relacionada com a Sade Oral
A medio do impacto das condies orais na qualidade de vida dos indivduos
deve ser parte da avaliao das necessidades de sade oral, pois os indicadores
clnicos sozinhos no podem descrever a satisfao ou sintomas dos pacientes ou
a sua capacidade para executar actividades dirias (130) (131).
Qualidade de vida um conceito de classificao amplo, abrangendo a percepo
pelo indivduo da sua posio na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores
nos quais se insere e em relao com os seus objectivos, expectativas, padres e
comportamentos. A qualidade de vida pode ser afectada de um modo complexo
pela sade fsica do indivduo, estado psicolgico, relaes sociais, nvel de
independncia e pelas suas relaes com as caractersticas do meio ambiente
(132).
O crescente reconhecimento de que a qualidade de vida uma importante
consequncia de cuidados de sade oral, levou necessidade de usar
instrumentos de medida de sade oral relacionados com a Qualidade de Vida
desenvolvidos para avaliar e medir o impacto social das desordens orais, sendo
instrumentos vlidos e fiveis, tendo benefcios potenciais para a tomada de
decises clnicas.
Nos ltimos anos, tm sido desenvolvidos e validados vrios ndices com a
finalidade de medir o impacto da sade oral na qualidade de vida dos indivduos. O
Oral Health Impact Profile (OHIP-49) composto por 49 questes valorizadas entre
0,747 e 2,555 e o (OHIP-14) com 14 questes valorizadas entre 0,34 e 0,66 tm
sido amplamente usados nos ltimos anos, sugerindo confiana, validade e
preciso (122) (133). A verso reduzida tem como base um modelo terico
desenvolvido pela Organizao Mundial de Sade tendo sido adaptado por Locker
para a sade oral (134).
Para ilustrar a importncia destes ndices na avaliao do impacto que a sade oral
tem na qualidade de vida foram seleccionados alguns estudos:
Introduo
41
Num estudo levado a cabo por Pires em Portugal numa populao
institucionalizada, em que foi usado o questionrio Oral Health Impact Profile 14
(OHIP-14) para avaliar o impacto da Sade Oral na Qualidade de Vida, os
participantes no estudo identificaram a existncia de problemas com a sua Sade
Oral e necessidade de tratamento dentrio, principalmente na presena de
situaes periodontais mais graves e dentes cariados.
Foram registados mais impactos na Qualidade de Vida nos indivduos:
- com pior auto-avaliao da sade oral;
- que relataram possuir problemas com os dentes e/ou gengivas;
- que indicaram necessidade de ir ao dentista para tratamento;
- nos portadores de prtese dentria;
- que apresentavam maior nmero de dentes perdidos;
- que apresentavam situaes periodontais mais graves.
O mesmo estudo registou menos impactos na Qualidade de Vida nos indivduos
com:
- mais dentes presentes, independentemente se eram ou no portadores de
prtese;
- mais dentes obturados.
Tambm verificou que a existncia de cuidados regulares de Medicina Dentria
contribuiu para uma melhor Qualidade de Vida dos intervenientes no estudo. (135)
Outros estudos tm demonstrado que a idade e a perda dos dentes tm uma
relao positiva com a qualidade de vida do indivduo e a sade oral. Verificaram-
se ndices de qualidade de vida significativamente melhores em indivduos com 25
ou mais dentes presentes, apresentando piores resultados o grupo de idosos, pelo
facto de apresentarem menos dentes presentes na arcada (136).
Os impactos negativos mais comuns referidos pelos indivduos com mais de 65
anos quando so avaliadas as desordens a nvel dentrio e oral na sua vida diria
esto relacionadas com a alimentao, com aspectos fonticos e discursivos,
afectando assim a sade oral a qualidade de vida dos indivduos nomeadamente a
facilidade de ingesto de alimentos que habitualmente consomem (66).
Introduo
42
11 OBJECTIVOS
Este estudo epidemiolgico transversal foi realizado com os seguintes objectivos:
1 Estudar a prevalncia das patologias orais numa populao snior
institucionalizada.
2 Avaliar as necessidades de tratamento na mesma populao.
3 Encontrar possveis diferenas na prevalncia das patologias estudadas nas
populaes dos dois distritos (Porto e Vila Real).
Material e Mtodos
43
II MATERIAL E MTODOS _____________________________________