Ética da Seleção de Pessoas: Validade de
Ferramentas de Seleção Flavio Farah*
2
Sumário
Introdução 3
Ética do Processo Seletivo 3
O Processo Seletivo Justo 4
Validade de Métodos de Seleção de Pessoas 4
Conceito e Importância 4
Tipos de Validade 5
Coeficiente de Correlação 6
Coeficiente de Validade 8
Índice Ético de Métodos de Seleção de Pessoas 9
Validade de Algumas Ferramentas de Seleção de Pessoas 12
Teste de aptidão 12
Teste de personalidade 13
Entrevista 16
Teste com Amostra do Trabalho 17
Grafologia 17
Alinhamento Pessoa-Organização 19
Validade Incremental 21
Conclusão 22
Notas 23
3
Introdução
O processo de seleção de pessoas varia de empresa para empresa e pode envolver diversas etapas.
Cada etapa envolve a aplicação de uma ou mais ferramentas de seleção e é projetada para atuar co-
mo um filtro, reduzindo o número de candidatos que passam para a etapa seguinte. Existem muitos
métodos de seleção de pessoas e esses métodos procuram identificar características dos candidatos
tais como personalidade, competências ou interesses. A combinação de métodos para compor o pro-
cesso seletivo também varia de organização para organização. Em razão da importância desse pro-
cesso para as empresas, muitos métodos de seleção de pessoas têm sido elaborados e utilizados ao
longo do tempo, desde os mais simples até os mais sofisticados.
Como cada organização possui um particular processo seletivo, pode parecer que a escolha das fer-
ramentas de seleção é uma decisão baseada exclusivamente em avaliações técnico-econômicas de
cada método, na capacidade e infraestrutura técnico-administrativa disponível na empresa para apli-
car um certo método, ou em preferências de base cultural. Este trabalho procura mostrar que a esco-
lha de métodos de seleção de pessoas deve incluir, obrigatória e primordialmente, critérios éticos.
Ética do Processo Seletivo
A questão da Ética do processo seletivo tem sido razoavelmente discutida em relação a aspectos co-
mo discriminação em anúncios de emprego, em entrevistas e em formulários de inscrição. Também
têm sido discutidas questões como invasão de privacidade dos candidatos, ofensas e mentiras ditas
aos candidatos por parte de entrevistadores e colocação de candidatos em situações constrangedoras
ou vexatórias. Existem, porém, outros aspectos do processo de seleção de pessoas que são bem me-
nos visíveis mas que afetam decisivamente seu grau de conteúdo ético. Um destes aspectos refere-
se à escolha dos métodos de seleção. Para se entender como a escolha dos métodos afeta a Ética do
processo seletivo, é conveniente fazer um pequeno exame conceitual desse tema.
A Ética da seleção de pessoas insere-se no campo maior da Ética Empresarial. A Ética Empresarial
trata da conduta da empresa em relação a seu ambiente externo – constituído pelos clientes, concor-
rentes, fornecedores, governo, ambiente físico e comunidade – bem como em relação a seu público
interno – os empregados. Considerando que um dos valores morais é a Justiça, tem-se que uma das
obrigações morais da empresa em relação a seus funcionários é tratá-los de forma justa.
As organizações avaliam ou julgam seus empregados a todo momento, na tomada de quaisquer de-
cisões referentes à relação de emprego. Assim é que, com certeza, existe julgamento em decisões de
admissão, demissão, transferência, promoção, treinamento e remuneração. Uma das situações em
que a empresa efetua julgamentos é nas decisões de contratação de funcionários, situação em que,
via de regra, há vários candidatos competindo por um lugar na organização. A decisão de contrata-
ção envolve a formulação de um julgamento a respeito dos vários pretendentes, o que levanta de
imediato a questão da justiça desse julgamento. Dado que a Justiça é um valor moral, não será ético
o processo seletivo que não for justo. Mas o que seria um processo seletivo justo? É o que se procu-
ra esclarecer a seguir.
4
O Processo Seletivo Justo
De maneira geral, pode-se conceituar seleção de pessoas como o processo de escolha do melhor ou
dos melhores candidatos para preencher uma ou mais posições na empresa, escolha essa feita dentre
os integrantes de um grupo de pretendentes previamente recrutados.
Todo processo seletivo envolve uma previsão. As organizações, por meio da identificação das ca-
racterísticas dos candidatos, procuram prever como eles se comportarão no exercício da função que
está sendo considerada. Assim, quando falamos no “melhor candidato”, referimo-nos àquele que
provavelmente apresentará, caso contratado, o melhor desempenho dentre todos. Percebe-se, pois,
que o processo seletivo destina-se a fornecer elementos para antecipar o provável desempenho de
cada candidato caso venha a ocupar a posição em pauta.
A finalidade do processo seletivo, portanto, é prever o desempenho futuro dos candidatos no exer-
cício de uma posição da empresa que está em aberto. Em tais condições, se definirmos Justiça como
o ato de dar a cada um o que é seu, será justo o processo de seleção que, no final, apontar como
melhores os candidatos que, de fato, são melhores, apontando igualmente, como piores, os candida-
tos que, de fato, o são. Em contraste, será injusto e, portanto, antiético, o processo seletivo que indi-
car como melhores os que, na verdade, são piores, e vice-versa.
Qualquer processo de seleção de pessoas, em última análise, é composto de um ou mais métodos
seletivos. A escolha dos métodos afeta decisivamente o grau de Justiça e, em consequência, o grau
de conteúdo ético do processo. A característica que mais influencia o grau de justiça do processo é a
validade dos métodos escolhidos. Para que um processo de seleção seja justo, um requisito funda-
mental é que os métodos seletivos que o compõem sejam válidos. O item seguinte, portanto, trata da
validade dos métodos de seleção de pessoas.
Validade de Métodos de Seleção de Pessoas
Conceito e Importância
Em termos gerais, validade de um instrumento de medida é o grau em que o instrumento mede de
fato a grandeza que pretende medir. Em outras palavras, um instrumento é válido na medida em que
realmente mede aquilo que se propõe a mensurar. Quaisquer métodos de seleção de pessoas, tais
como testes psicológicos, entrevistas e testes de capacidade, devem ser válidos porque, se não o fo-
rem, em primeiro lugar não haverá razão para usá-los; em segundo lugar, se forem usados, poderão
indicar como sendo os melhores candidatos tanto os realmente melhores quanto os piores, com
igual probabilidade, o que tornará o processo seletivo injusto e, portanto, antiético.
Para entender o que é validade, vamos lançar mão de um exemplo bem simples. Se quisermos me-
dir a estatura de uma pessoa, não devemos usar uma balança, mas sim, um instrumento chamado
estadiômetro. O uso da balança produziria uma medida que não representa a estatura do indivíduo,
constituindo, portanto, uma medida de estatura não válida.
Como ninguém pensaria em usar uma balança para medir a estatura de uma pessoa, esse exemplo
tosco pode produzir a impressão de que a noção de validade é tão evidente que não faz sentido dis-
cuti-la. De fato, no exemplo da balança, a noção de validade torna-se patente, mas essa noção não
5
é, de forma alguma, evidente quando se pensa em métodos de seleção de pessoas. Pelo contrário, o
que parece existir é uma generalizada falta de consciência sobre o conceito e a importância da vali-
dade dos métodos seletivos.
Vejamos um exemplo. Um estudo feito com psicólogos da área de recrutamento e seleção de pes-
soas de 33 empresas do Estado de São Paulo sobre testes psicológicos e outros métodos utilizados
em processos seletivos revelou uma contradição no modo pelo qual os recrutadores entendem vali-
dade, pois muitos afirmam utilizar determinados testes em virtude de sua validade, mesmo quando
não existem estudos empíricos sobre a validade dos testes citados.1 Segundo os autores do estudo,
“(...) a análise geral dos resultados indicou que a maioria dos testes escolhidos pelos recrutadores,
apesar de não possuir estudos sobre validade no contexto brasileiro, muito menos parâmetros de va-
lidade preditiva, é largamente utilizada no contexto de seleção.” 2
(...) “Os resultados denotam uma
contradição entre a noção que os recrutadores têm de validade e o conceito técnico proposto pela
Psicologia (...)”3 Em outras palavras, embora validade seja um conceito técnico preciso, e um con-
ceito básico quando se trata de processos seletivos, existem indícios de que esse conceito é desco-
nhecido pelos psicólogos-selecionadores, que são profissionais-chave em matéria de recrutamento e
seleção de pessoas.
É, portanto, crucial abordar-se a questão da validade dos métodos seletivos.
Tipos de Validade
Existem diversos tipos de validade mas, para os fins do presente estudo, as modalidades que interes-
sam são duas: validade em relação ao critério e validade incremental.
Validade em Relação ao Critério
Em termos gerais, a validade em relação ao critério entra em cena quando desejamos prever como
será o comportamento de um indivíduo ou os resultados por ele alcançados segundo um certo crité-
rio. Desejamos prever o critério por meio de um determinado instrumento de medida. Em tais con-
dições, definimos validade do instrumento de medida em relação ao critério como o grau em que os
resultados fornecidos pelo instrumento são coerentes com medidas do critério feitas de forma direta
e independente.
Por exemplo, pode-se prever o desempenho escolar de um aluno por meio de um teste de inteligên-
cia? No caso, o desempenho escolar é o critério em relação ao qual se pretende avaliar a eficácia do
teste de QI. Se as notas obtidas por um grupo de alunos estiverem fortemente relacionadas aos re-
sultados obtidos no teste de inteligência, poder-se-á afirmar que o teste possui alta validade em rela-
ção ao critério.
Quanto mais os resultados fornecidos pelo instrumento de medida se correlacionarem com as medi-
ções diretas do critério, maior será a validade do instrumento em relação ao critério. O objetivo é
saber em que grau o critério pode ser previsto com base nos resultados fornecidos pelo instrumento.
Outro exemplo. Os testes de direção são usados para prever o desempenho do candidato a motorista
em situações reais de trânsito. Nesse caso, o desempenho em uma situação real de trânsito é o crité-
rio em relação ao qual o teste de direção será avaliado. Se os resultados do teste apresentarem alta
correlação com o desempenho dos candidatos em situações reais, será possível afirmar que o teste
possui alta validade em relação ao critério e é capaz de prever o desempenho futuro do candidato.
6
Em se tratando especificamente de seleção de pessoas, critério é o desempenho futuro do candidato
caso este venha a ocupar o posto que se pretende preencher. Deseja-se, pois, prever o desempenho
futuro do candidato por meio da aplicação de um instrumento de seleção. O desempenho do preten-
dente torna-se, assim, o critério em relação ao qual o instrumento é avaliado.
Quanto mais os resultados fornecidos pelo instrumento se correlacionarem com medidas de desem-
penho no trabalho feitas de forma direta e independente, maior será a validade do instrumento em
relação ao critério. Em outras palavras, a validade em relação ao critério mede a capacidade que
uma ferramenta de seleção de pessoas tem para prever o desempenho futuro de um candidato caso
ele seja contratado.
Afirmar, por exemplo, que um certo teste de seleção possui validade em relação ao critério significa
dizer que os candidatos que se sairem bem no teste apresentarão um bom desempenho no trabalho e
que aqueles que se sairem mal exibirão um desempenho ruim.
Validade Incremental
A validade incremental determina se um determinado instrumento de medida, quando usado em
conjunto com outro, aumenta significativamente a validade deste último. Por exemplo, um conjunto
constituído por um teste de inteligência e uma entrevista apresenta uma validade significativamente
maior do que a entrevista isolada? Um instrumento de seleção possui validade incremental se ele
aumenta significativamente a validade de outro. Isto significa que é útil o uso combinado de ambos
os instrumentos.
No campo da seleção de pessoas, validade incremental é o ganho de validade obtido com a adição
de um segundo método seletivo ao método original. A validade incremental é importante porque é
comum os processos seletivos serem constituídos de duas ou mais ferramentas de seleção.
Coeficiente de Correlação
Acima foi dito que, quanto mais os resultados fornecidos pelo instrumento de medida se correlacio-
narem com as medições diretas do critério, maior será a validade do instrumento em relação ao cri-
tério. Na área de seleção de pessoas, quanto mais os resultados fornecidos por uma ferramenta de
seleção se correlacionarem com medidas de desempenho no trabalho feitas de forma direta e inde-
pendente, maior será a validade da ferramenta em relação ao critério. A validade de um método de
seleção em relação ao critério é medida por um número denominado coeficiente de correlação. Ve-
jamos do que se trata.
Coeficiente de correlação é um número que exprime: (a) o grau em que duas variáveis estão relacio-
nadas; e (b) o sentido dessa relação. O coeficiente de correlação pode assumir valores situados entre
–1,00 e +1,00. Um coeficiente de correlação positivo indica que as duas variáveis caminham no
mesmo sentido: o aumento do valor de uma delas está associado ao aumento de valor da outra. Já
um coeficiente negativo indica que as variáveis caminham em sentidos opostos: o incremento do
valor de uma delas relaciona-se a uma redução do valor da outra, e vice-versa. Se o coeficiente for
igual a zero, isto significará que não existe qualquer relação entre as variáveis consideradas. Por
exemplo, se verificarmos, em um grupo de alunos, que aqueles que estudam maior número de horas
por semana obtêm as melhores notas, poderemos dizer que há uma correlação positiva entre ambas
as variáveis: número de horas semanais de estudo e notas obtidas.
7
As figuras seguintes ilustram graficamente cinco exemplos de coeficientes de correlação.
0
2
4
6
8
10
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10Fig. 1
Na figura 1, as variáveis não estão correlacionadas. O coeficiente de correlação é igual a zero, isto
é, as variáveis são totalmente independentes uma da outra.
0
2
4
6
8
10
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10Fig. 2
Na figura 2, o coeficiente de correlação entre as variáveis é igual a +0,25.
0
2
4
6
8
10
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Fig. 3
Na figura 3, o coeficiente de correlação entre as variáveis é igual a +0,50.
8
0
2
4
6
8
10
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Fig. 4
Na figura 4, o coeficiente de correlação entre as variáveis é igual a +0,75.
0
2
4
6
8
10
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Fig. 5
Na figura 5, o coeficiente de correlação entre as variáveis é igual a +1,00. A correlação é perfeita.
De modo geral, podemos conceituar a força da correlação entre duas variáveis como na tabela 1:
Coeficiente de correlação (r) Força da correlação
0,00 a 0,10 Nula (0,00) ou muito fraca
0,11 a 0,39 Fraca
0,40 a 0,60 Moderada
0,61 a 0,89 Forte
0,90 a 1,00 Muito forte ou total (1,00)
Tab. 1
Coeficiente de Validade
No caso de um processo seletivo, o coeficiente de correlação mede a força da relação entre duas va-
riáveis: uma é o resultado obtido pelo candidato em um procedimento de seleção – por exemplo,
um teste de conhecimentos – e outra, o desempenho do candidato na função, caso seja contratado.
Podemos chamar esse coeficiente de coeficiente de validade em relação ao critério. No caso, um
9
coeficiente de validade positivo indica que, quanto maior for o índice alcançado pelo candidato no
teste de conhecimentos, melhor será seu desempenho no trabalho. Quanto mais próximo de +1,00
for o coeficiente de validade de um dispositivo de seleção, melhor, isto é, mais seguro, será esse
dispositivo como previsor do desempenho dos candidatos no exercício da função.
Índice Ético de Métodos de Seleção de Pessoas
Vamos explicar o significado ético da validade dos métodos seletivos por meio de um exemplo.4
Suponhamos que uma certa empresa tenha ministrado a 100 candidatos um certo teste de seleção e
que tenha feito uma experiência de trabalho com todos os 100 candidatos por um período de tempo
suficiente para avaliar seu desempenho. A figura 6 mostra, para os 100 candidatos, as notas obtidas
no teste e aquelas obtidas na avaliação de desempenho numa escala de zero a dez.
10 C A 1
9 1 2
8 5 1 2 1
7 2 5 2 4 1
6 2 6 3 3 2
5 1 4 5 2 4 1
4 1 4 6 9 2 1
3 5 2 2 3
2 1 1 2 1
1
0 B D
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Fig. 6
A escala vertical em azul é a escala de notas da avaliação de desempenho. A nota mínima aceitável
na avaliação é 5 e está indicada, na figura 6, pela linha horizontal mais grossa. A escala horizontal
em azul representa a escala de notas do teste. A nota mínima aceitável no teste também é 5 e está
indicada, na figura 6, pela linha vertical mais grossa.
Cada célula da figura representa o número de candidatos que obtiveram uma particular combinação
de notas no teste e na avaliação de desempenho. Por exemplo, a célula colorida em vermelho indica
que 2 candidatos obtiveram nota 4 no teste e nota 3 na avaliação de desempenho.
Os 40 candidatos situados abaixo da linha horizontal grossa representam fracassos no trabalho, en-
quanto os outros 60 situados acima representam êxitos. Por outro lado, os 34 candidatos situados à
esquerda da linha vertical grossa representam fracassos no teste, enquanto os 66 situados à direita
representam êxitos.
Com base nos dados da figura 6, o coeficiente de validade calculado para o teste é 0,70.
10
Se a empresa admitisse os 100 candidatos sem nenhum teste, 60% deles (60/100 × 100%) obteriam
êxito no trabalho. Esse seria o índice de sucesso da empresa na contratação. O índice de sucesso ob-
tido indica que, no grupo de candidatos recrutados, a maioria é qualificada para a função em pauta.
A conclusão é que, quanto melhor for o grupo de candidatos recrutados, maior será o índice de su-
cesso da empresa na contratação independentemente do uso de qualquer ferramenta de seleção.
Suponhamos agora que a empresa aplicasse o teste e contratasse apenas os 66 candidatos aprova-
dos, isto é, somente os candidatos situados à direita da linha vertical grossa. Nesse caso, dentre os
66 admitidos, 48 obteriam êxito no trabalho. Esses 48 são os candidatos situados simultaneamente à
direita da linha vertical grossa e acima da linha horizontal grossa. Nesse caso, o índice de sucesso
da empresa subiria para 73% (48/66 × 100%). Esse aumento no índice de sucesso da contratação
deve-se ao uso de uma ferramenta de seleção que possui um alto coeficiente de validade.
Vamos continuar supondo que a empresa contratasse apenas os 66 candidatos bem sucedidos no tes-
te. Em tais condições, podemos dizer que a região A da figura, que contém 48 candidatos, é a região
que contém os pretendentes corretamente aceitos, isto é, a região que contém os candidatos que ob-
tiveram êxito no teste e que obterão êxito no trabalho.
A área D da figura, com 18 candidatos, é a região dos candidatos erroneamente aceitos, ou seja, é a
região que contém os candidatos que obtiveram êxito no teste mas que fracassarão no trabalho. Po-
demos chamá-los de falsos positivos.
A região B da figura, com 22 candidatos, é a região que contém os pretendentes corretamente rejei-
tados, isto é, a região que contém os candidatos que fracassaram no teste e que também fracassarão
no trabalho.
Por fim, a área C da figura, com 12 candidatos, é a área dos candidatos erroneamente rejeitados, ou
seja, é a região que contém os candidatos que fracassaram no teste mas que obteriam êxito no traba-
lho, caso contratados. Podemos chamá-los de falsos negativos.
Em tais condições, definimos Ia = índice de acerto do teste como:
Ia = (Nca + Ncr) / N × 100%
Onde:
Nca = número de candidatos corretamente aceitos
Ncr = número de candidatos corretamente rejeitados
N = número total de candidatos
No nosso exemplo, temos:
Ia = (48 + 22) / 100 × 100% = 70%
Definimos também Ie = índice de erro do teste como:
Ie = (Nea + Ner) / N × 100%
11
Onde:
Nea = número de candidatos erroneamente aceitos
Ner = número de candidatos erroneamente rejeitados
N = número total de candidatos
No nosso exemplo, temos:
Ie = (18 + 12) / 100 × 100% = 30%
Por fim, definimos Iet = índice ético do teste como:
Iet = Ia – Ie
No nosso exemplo, temos:
Iet = 70% – 30% = 40%
Suponhamos agora que o coeficiente de validade do teste fosse igual a 1,00. Nesse caso, as regiões
C e D do diagrama não conteriam nenhum candidato (V. figura 5), ou seja, não haveria candidatos
erroneamente aceitos tampouco erroneamente rejeitados. Em tais condições, o índice de acerto do
teste (Ia) seria 100%, o índice de erro (Ie) seria zero e o índice ético (Iet = Ia – Ie) seria 100%,
indicando um teste absolutamente justo.
Para concluir o presente item, suponhamos a situação em que uma determinada empresa ministre a
100 candidatos outro teste de seleção. Suponhamos também que a empresa faça uma experiência de
trabalho com todos os 100 candidatos por um período de tempo suficiente para avaliar seu desem-
penho. A figura 7 mostra, para os 100 candidatos, as notas obtidas no teste e aquelas obtidas na ava-
liação de desempenho, ambas numa escala de zero a dez.
10 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
9 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
8 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
7 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
6 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
5 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
4 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Fig. 7
12
Com base nos dados da figura 7, o coeficiente de validade calculado para o teste é zero.
Os 60 candidatos situados acima da linha horizontal grossa representam êxitos no trabalho. Por ou-
tro lado, os 60 candidatos situados à direita da linha vertical grossa representam êxitos no teste. Se a
empresa contratasse os 100 candidatos sem lhes aplicar nenhum teste, 60% deles (60/100 × 100%)
obteriam êxito no trabalho. Esse seria o índice de sucesso da empresa na contratação.
Suponhamos agora que a empresa aplicasse o teste e contratasse apenas os 60 candidatos aprova-
dos, isto é, somente os candidatos situados à direita da linha vertical grossa. Nesse caso, dentre os
60 admitidos, 36 obteriam êxito no trabalho. Esses 36 são os candidatos situados simultaneamente à
direita da linha vertical grossa e acima da linha horizontal grossa. Nesse caso, o índice de sucesso
da empresa seria de 36/60 × 100% = 60%, ou seja, o índice de sucesso não se alteraria. Conclusão:
se for usada uma ferramenta de seleção cujo coeficiente de validade é zero, o índice de sucesso da
contratação será idêntico ao que seria obtido sem o uso da ferramenta, isto é, o índice seria o mesmo
da contratação ao acaso.
No caso da figura 7, o teste apresentará os seguintes índices:
Índice de acerto: Ia = (36 + 16) / 100 × 100% = 52%
Índice de erro: Ie = (24 + 24) / 100 × 100% = 48%
Índice ético: Iet = 52% – 48% = 4%
Validade de Algumas Ferramentas de Seleção de Pessoas
Uma ferramenta de seleção que apresentasse um coeficiente de validade igual a +1,00 constituiria
uma previsão perfeitamente fiel do desempenho futuro do candidato no trabalho, ou seja, o resulta-
do alcançado na aplicação da ferramenta representaria perfeitamente o grau de sucesso do candidato
no exercício da função. Infelizmente, porém, a maioria dos instrumentos de seleção de pessoas pos-
suem coeficientes de validade que estão longe desse valor. É o que veremos a seguir pelo relato de
alguns estudos de validação conduzidos por pesquisadores norte-americanos em relação a alguns
instrumentos de seleção bastante conhecidos.
Teste de aptidão
Testes de aptidão medem capacidades inatas, determinando o grau em que tais capacidades estão
presentes em determinado indivíduo. Aptidão ou talento é a capacidade natural ou pré-disposição
para adquirir um certo conjunto de conhecimentos ou habilidades, representando o potencial de uma
pessoa em termos do que esta é capaz de aprender ou de fazer se receber treinamento apropriado.
Uma das mais recentes descobertas das pesquisas em psicologia é que os testes que medem a inteli-
gência geral – também conhecidos como testes de aptidão cognitiva geral (em inglês GMA – Gene-
ral Mental Ability Tests) e identificados pelo símbolo g – parecem ser previsores válidos para o de-
sempenho em um grande número de funções. As pessoas que alcançam boa pontuação em testes de
aptidão cognitiva geral tendem a apresentar melhor desempenho no trabalho.
13
As pesquisas indicam que quanto maiores as exigências mentais da função, maior a correlação entre
aptidão cognitiva e desempenho. Isto quer dizer que aptidões cognitivas são mais importantes para
funções mentalmente mais complexas. Vejamos os dados de dois estudos.
Foi realizado um estudo de validação com uma amostra de 4.039 soldados alistados em 9 diferentes
funções do exército norte-americano. Os dados de aptidão cognitiva foram coletados por meio da
aplicação do ASVAB – Armed Services Vocational Aptitude Battery. Os coeficientes de validade
encontrados pelos pesquisadores, relativos ao desempenho, foram, respectivamente, de 0,63 para
proficiência técnica e de 0,65 para proficiência profissional geral.5
Um outro estudo foi conduzido com 1.036 soldados alistados na Força Aérea dos Estados Unidos.
O dispositivo de seleção utilizado para medir a aptidão cognitiva também foi o ASVAB e foram co-
letados dados de desempenho em 7 funções diferentes. Os coeficientes de validade encontradas en-
tre g e o desempenho geral dos recrutas variaram de 0,255 a 0,713. Os maiores coeficientes foram
obtidos para as funções mais complexas: especialista de pessoal, 0,529; especialista de laboratório,
0,713; e especialista em aviônica, 0,713.6
Um terceiro estudo foi conduzido pelo Departamento do Trabalho norte-americano. A base de
dados desse estudo incluiu cerca de 32 mil empregados em 515 funções altamente diversificadas.
O estudo indicou que a validade do GMA como previsor do desempenho no trabalho é de 0,58 para
funções gerenciais, 0,56 para funções de nível superior, 0,51 para funções de nível médio, 0,40 para
funções semi-qualificadas e 0,23 para funções não qualificadas.7
Os dados indicam, portanto, que os testes de inteligência demonstram ser bons previsores de desem-
penho para as funções que apresentam maior complexidade cognitiva.
Teste de personalidade
Os testes de personalidade procuram detectar características individuais consistentes e duradouras
que representam a predisposição ou tendência de uma pessoa para se comportar de certa maneira.
Os testes de personalidade foram largamente usados para selecionar empregados nas décadas de
1940 e 1950, mas, posteriormente, seu uso declinou. Esse declínio se deve a vários problemas: pri-
meiro, tais testes não são capazes de predizer o desempenho no trabalho de modo válido e confiá-
vel; segundo, a aplicação desse tipo de instrumento pressupõe que o candidato seja capaz de descre-
ver a si mesmo de modo preciso, o que nem sempre é verdade; terceiro, muitos candidatos dão res-
postas falsas numa tentativa de adivinhar a resposta “certa” e se sair bem no teste, embora não haja
respostas certas nem erradas num teste de personalidade.
Em 1965, foi publicado um estudo no qual se relatava, de forma resumida, a natureza e os resulta-
dos de estudos de validação de medidas de personalidade publicados no período de 1952 a 1963 nos
periódicos Journal of Applied Psychology e Personnel Psychology. Segundo os autores, o resultado
foi decepcionante. Sua constatação foi que nenhuma das medidas convencionais de personalidade
demonstrou utilidade como ferramenta de seleção de pessoal. Como exemplo, citavam que somente
10% dos inventários de personalidade exibiram coeficientes de validade significativamente diferen-
tes de zero.8 Concluiram afirmando ser difícil defender o uso de testes de personalidade como base
para a tomada de decisões de pessoal.9
14
Posteriormente, foi publicado um resumo de estudos de validação de testes psicológicos realizados
no período de 1920 a 1971, abrangendo 21 tipos de funções, agrupadas em oito grandes categorias
profissionais: gerencial; burocrática; vendas; segurança; serviços; operação de veículos (motoris-
tas); manutenção e operação de máquinas; e ocupações industriais. No tocante aos testes de perso-
nalidade, os coeficientes de validade encontrados variaram de 0,16 a 0,32.10
Sobre esses resultados, um autor brasileiro assim se expressava: “De modo geral, os mais considera-
dos estudos feitos com testes de personalidade criticam de forma eloqüente, no mínimo, as fracas
qualidades psicométricas desses testes, particularmente daqueles classificados como projetivos ou
expressivos, contra-indicando-os para uso em seleção de pessoal (...)”.11
O principal motivo do declínio na utilização dos testes de personalidade em seleção de pessoal tal-
vez seja o fato de não haver consenso em relação a um único e específico conjunto de traços passí-
veis de mensuração. Pesquisas recentes, entretanto, têm demonstrado que a personalidade pode ser
representada e medida por meio de cinco grandes fatores ou dimensões (em inglês FFM – Five Fac-
tor Model). Esses “Cinco Grandes” fatores, agora largamente aceitos pelos psicólogos, são: extro-
versão, amabilidade, conscienciosidade, neuroticismo e abertura à experiência.
Extroversão. Corresponde ao nível de sociabilidade de um indivíduo. Indivíduos extrovertidos ten-
dem a ser ativos, entusiasmados, dominantes, sociáveis, eloquentes ou falantes e a ter alto nível de
energia, disposição, otimismo e afetuosidade. Por outro lado, os introvertidos tendem a ser sérios,
retraídos e quietos, evitando a companhia de outras pessoas. Não são necessariamente tímidos, já
que podem possuir um bom nível de habilidades sociais. Os extrovertidos tendem a buscar agitação
e têm características alegres. Os introvertidos, por sua vez, são sérios e demonstram certa necessida-
de de solidão. Muitas vezes, os introvertidos simplesmente preferem evitar a companhia de outras
pessoas.
Amabilidade. Indivíduos com alta pontuação nesse fator tendem a ser amáveis, agradáveis, caloro-
sos, dóceis, generosos, cooperativos e afetuosos. Trata-se de uma característica que descreve os as-
pectos mais humanos da pessoa como altruismo, cuidado, amor, apoio emocional e confiança nos
outros. A amabilidade refere-se a traços que levam a atitudes e a comportamentos pró-sociais. Em
contraste, aqueles que apresentam baixa pontuação nesse fator tendem a ser mais preocupados com
seus próprios interesses e a desconfiar das outras pessoas. Indivíduos com classificação baixa nesta
dimensão podem ser frios, indelicados, hostis, indiferentes aos outros, egoístas e invejosos.
Conscienciosidade. Indivíduos com alta conscienciosidade tendem a ser responsáveis, honestos,
zelosos e disciplinados, apresentando características como cautela, organização e persistência. Tam-
bém tendem a apresentar comportamentos direcionados a objetivos específicos, que podem facilitar
a execução de deveres e obrigações. Indivíduos conscienciosos são geralmente dignos de confiança.
Por outro lado, indivíduos com baixa pontuação nessa dimensão tendem a ser descuidados, desorga-
nizados, pouco confiáveis, negligentes, irresponsáveis, desleixados e sem ambição.
Neuroticismo. Também chamado de instabilidade emocional. Esse fator refere-se à presença de
emoções negativas, como ansiedade, desamparo, irritabilidade e pessimismo. Indivíduos com alta
pontuação nesse fator tendem a ser ansiosos, nervosos, altamente sensíveis, preocupados, melancó-
licos e irritados. Geralmente são ansiosos e apresentam mudanças freqüentes de humor e depressão.
Tendem a sofrer de transtornos psicossomáticos e apresentam reações muito intensas a todo tipo de
estímulos, isto é, possuem baixo controle de seus impulsos. Contrariamente, o sujeito emocional-
15
mente estável tende a responder a estímulos emocionais de maneira controlada e proporcionada.
Retorna rapidamente a seu estado normal após uma elevação emocional. Normalmente é equilibra-
do, calmo, controlado e despreocupado.
Abertura à experiência. Este fator engloba características como flexibilidade de pensamento, fan-
tasia e imaginação, abertura para novas experiências e interesses culturais. Indivíduos com alta pon-
tuação nesse fator caracterizam-se por um interesse intrínseco por novas experiências em uma am-
pla variedade de áreas. Tendem a apresentar traços como flexibilidade de pensamento, interesses
culturais, versatilidade, curiosidade, originalidade, profundidade de pensamento, tolerância à ambi-
guidade e sutileza. Por outro lado, indivíduos com baixa pontuação nesta dimensão tendem a ser
convencionais, tradicionais, superficiais e comuns e a preferir as coisas conhecidas, claras, simples,
rotineiras, objetivas, evidentes e definidas.
Assentada a nova teoria, em 1991 foi conduzido um estudo para examinar a relação entre os cinco
fatores de personalidade e o desempenho no trabalho, relativamente a cinco grupos ocupacionais:
profissionais de nível superior, policiais, gerentes, profissionais de vendas e trabalhadores qualifica-
dos e semi-qualificados. Foram encontrados os coeficientes de validade constantes da tabela 2:12
Fator Validade
Extroversão +0,10
Estabilidade emocional* +0,07
Amabilidade +0,06
Conscienciosidade +0,23
Abertura à experiência –0,03
*Estabilidade emocional é o oposto de neuroticismo
Tab. 2
Na mesma época, foi publicado outro estudo sobre a relação entre personalidade e desempenho no
trabalho, na qual se encontrou, para todas as amostras consolidadas, um coeficiente de validade
médio de 0,24. Mesmo quando se consideraram somente os estudos em que havia emprego explícito
da análise de cargo na seleção de traços de personalidade, a validade média não passou de 0,38.13
Em um trabalho de 2001, depois de examinar os resultados de 15 estudos meta-analíticos realizados
nos dez anos anteriores, os quais investigaram a relação entre o Modelo de Cinco Fatores de Perso-
nalidade (FFM) e o desempenho no trabalho, os autores do primeiro estudo de 1991, citado acima,
reconheceram que “...apesar da adoção do FFM na década passada por muitos pesquisadores e pra-
ticantes, a magnitude dos coeficientes de validade das dimensões individuais do FFM é modesta (ou
seja, geralmente inferior a 0,30) na melhor das hipóteses”.14
O que todos esses estudos demonstram, em resumo, é que os testes de personalidade, quando utili-
zados de forma isolada, foram e continuam a ser inadequados como ferramentas de seleção de pes-
soas, por sua insuficiente capacidade de previsão de desempenho no trabalho.
16
Entrevista
As pesquisas têm demonstrado que a entrevista de seleção apresenta baixa confiabilidade e pouca
validade. A principal razão é que, ao contrário dos testes, a entrevista é uma técnica de seleção sub-
jetiva, fortemente afetada pelos valores, interesses e atitudes do entrevistador. Por essa razão, o re-
sultado da entrevista é grandemente influenciado pelas preferências e preconceitos de quem a con-
duz. Sexo, idade, raça e aparência do entrevistado podem alterar o julgamento do entrevistador, ain-
da que este seja treinado e possua experiência. Apesar de todas essas deficiências, entretanto, a en-
trevista continua a ser um dos métodos de seleção mais amplamente usado e um dos que mais in-
fluencia a decisão final a respeito da aprovação de um candidato a emprego.
Quase ninguém é contratado por uma empresa sem passar por uma entrevista. Porém, em muitas
organizações, a atividade de entrevistar candidatos é realizada de forma não estruturada, na qual o
entrevistador pergunta ao candidato o que lhe parecer melhor, sem nenhum roteiro pré-estabelecido,
avaliando as respostas com total liberdade. Em uma entrevista desse tipo, o julgamento que o entre-
vistador faz sobre o entrevistado e a conseqüente decisão de contratá-lo serão totalmente determina-
dos pela percepção que o primeiro tiver do segundo. Mas os dados indicam que os entrevistadores
julgam os candidatos com base em percepções imprecisas. E se o candidato for entrevistado por di-
versas pessoas, é pouco provável que haja acordo entre os entrevistadores a respeito do pretendente.
Os dados obtidos nas entrevistas não estruturadas são, via de regra, distorcidos e não apresentam
relação com o futuro desempenho do candidato no trabalho. Nesse tipo de entrevista, os entrevista-
dores deixam de coletar informações relevantes sobre a função que se deseja preencher; tendem a
favorecer os pretendentes que demontram atitudes idênticas às suas; atribuem peso excessivo a in-
formações negativas; têm seu julgamento influenciado pela ordem em que os candidatos são entre-
vistados; tendem a fazer perguntas que possam confirmar suas primeiras impressões; julgam com
base em estereótipos; aplicam pesos inadequados às características do candidato; fazem mau uso de
impressões não verbais; perdem tempo discutindo temas não relacionados com o trabalho; fazem
julgamentos precipitados logo no início da entrevista.
Os pesquisadores têm publicado, repetidamente, estudos que mostram que a entrevista não estrutu-
rada é uma técnica pouco válida.15,16
Em uma revisão de 12 estudos onde foi examinada a validez
da entrevista encontrou-se um coeficiente médio de validade de 0,19. Com base nessa constatação,
os autores dessa revisão questionaram seriamente a utilidade da entrevista como ferramenta de
seleção e afirmaram que as evidências disponíveis até aquele momento não sustentavam a validade
das entrevistas como alternativa viável em face dos testes psicológicos. Frente a tais evidências,
concluiram que não se podia recomendar a entrevista para fins de seleção de pessoal.17
A insatisfação com a entrevista tradicional levou à concepção de uma abordagem alternativa deno-
minada entrevista estruturada. A entrevista estruturada é baseada em uma cuidadosa análise de car-
go e apresenta as seguintes características: o entrevistador faz somente perguntas pré-preparadas e
relacionadas às tarefas e requisitos críticos do cargo; o entrevistador prepara antecipadamente, res-
postas típicas para cada pergunta, enquadradas em uma escala de 5 pontos, associados, por exem-
plo, aos seguintes conceitos: 1 – pobre; 2 – insuficiente; 3 – razoável; 4 – bom; 5 – ótimo; a todos
os candidatos são feitas as mesmas perguntas e as respostas são avaliadas segundo a mesma escala
de pontuação; as respostas são discutidas e pontuadas por uma comissão composta por 3 a 6 avalia-
dores, para minimizar os vieses das avaliações individuais, sendo que as mesmas pessoas discutem
e pontuam as mesmas entrevistas. Na entrevista estruturada, o uso de um conjunto padronizado de
17
questões, e de uma mesma escala de pontuação das respostas, permite a comparação entre os candi-
datos e a classificação destes.
Diversos estudos apontam a maior validade da entrevista estruturada como previsor do desempenho
dos candidatos na função. A estruturação da entrevista aumenta dramaticamente sua eficácia como
ferramenta de seleção de pessoal. Em um dos estudos, por exemplo, encontrou-se um coeficiente de
validade de 0,56 para entrevistas estruturadas;18
outros autores constataram que a validade média
das estruturadas era o dobro das não estruturadas, com valores de 0,62 contra 0,31, respectivamen-
te.19
Outros, ainda, concluíram que os coeficientes médios de validade de entrevistas estruturadas
eram de 0,57 contra uma validade de 0,20 para as não estruturadas.20
Teste com Amostra do Trabalho
Testes com amostra do trabalho ou testes práticos ou provas de capacidade, são reproduções de par-
te ou de toda a função que deverá ser exercida pelo candidato, caso seja contratado. Os testes com
amostra do trabalho requerem a execução de tarefas idênticas ou similares àquelas executadas na
função, com a finalidade de avaliar o nível de habilidade ou competência do candidato. Esses testes
podem ser usados para prever o desempenho do candidato em situações de trabalho similares.
Os testes com amostra do trabalho podem consistir de tarefas que testem a velocidade, habilidade,
precisão e destreza de um candidato na execução de tarefas manuais. Por exemplo, um dos mais
conhecidos testes práticos é o teste de direção para candidatos a motorista. Outro exemplo seria a
solicitação a um candidato ao posto de técnico de manutenção de motores para que conserte um mo-
tor elétrico. Outros exemplos de teste com amostra do trabalho incluem a instalação de uma linha
telefônica, a utilização de um software, o ajuste de uma máquina e o projeto de uma peça.
Os testes com amostra do trabalho também podem constituir-se de exercícios cognitivos que testem
a capacidade do candidato para analisar e sintetizar dados, para comparar objetos e para tirar con-
clusões. Exemplos desse tipo de teste são a elaboração de documentos, a preparação e execução de
apresentações e os exercícios do tipo “caixa de entrada”.
Teoricamente, amostras do trabalho devem possuir alta validade porque o teste é uma amostra do
trabalho a ser executado no exercício da função e porque o melhor previsor do desempenho futuro é
o desempenho passado em situações semelhantes. Os pesquisadores indicam que o poder preditivo
de uma ferramenta de seleção é aumentado quando existe uma correspondência ponto-a-ponto entre
a ferramenta seletiva e aquela usada para avaliar o desempenho no trabalho.
No tocante aos valores de validade, historicamente, os testes com amostras do trabalho têm sido vis-
tos pelos pesquisadores como uma das mais válidas ferramentas de seleção de pessoas. Todavia, um
estudo realizado em 1984 indicou uma validade média de 0,32.21
Anos depois, outro estudo apontou
como validade de tais testes o valor de 0,33.22
Grafologia
Grafologia é a análise da escrita manual. Os grafólogos afirmam que as pessoas expressam sua per-
sonalidade por meio da escrita e que, portanto, a escrita de um indivíduo revela suas tendências de
comportamento, que podem ser usadas para prever seu desempenho no trabalho.
18
Vários estudos têm examinado a capacidade dos grafólogos de prever o desempenho no trabalho e
indicar a personalidade, por meio da análise de textos escritos manualmente. Vejamos os resultados
de alguns deles. Dois pesquisadores visitaram firmas imobiliárias e coletaram amostras da escrita
manual dos corretores. Enquanto isto era feito, os respectivos supervisores avaliavam o desempenho
de cada corretor. A validade mediana das previsões feitas pelos 20 grafólogos que participaram do
estudo foi de 0,06.23
Outro pesquisador consolidou todos os estudos que encontrou, conduzidos em
organizações israelenses. Ele calculou a validade média consolidada da grafologia em 0,14.24
Na tabela 3 é mostrado o resultado consolidado de 16 estudos sobre a validade da grafologia como
previsor de desempenho no trabalho:25
Texto neutro? Avaliador
Grafólogo Psicólogo Leigo Todos
Não 0,16 0,18 0,17 0,17
Sim 0,09 0,11 0,02 0,07
Tab. 3
Na tabela 3, texto neutro é aquele copiado de um livro. É, portanto, um texto não autobiográfico,
isto é, de conteúdo neutro. Trata-se de uma situação em que os examinandos devem produzir uma
amostra de sua escrita copiando o mesmo trecho de um mesmo livro. Em contraste, texto não neutro
é aquele autobiográfico. Trata-se de uma situação em que os examinandos produzem livremente a
amostra. Em tais condições, o conteúdo do texto analisado varia de indivíduo para indivíduo.
Os dados da tabela 3 evidenciam que:
a) A validade da grafologia é baixa demais para ter qualquer utilidade;
b) Os não grafólogos se saem tão bem quanto os grafólogos;
c) A validade se reduz a menos da metade quando se utilizam textos neutros.
A informação da letra c sugere que grande parte da já reduzida validade da grafologia se deve à in-
formação contida nos textos analisados pelos grafólogos e não à grafologia propriamente dita.
Na tabela 4 é mostrado o resultado consolidado de 41 estudos sobre a validade da grafologia como
indicador da personalidade:26
Texto neutro? Avaliador
Grafólogo Psicólogo Leigo Todos
Não 0,14 0,27 0,06 0,14
Sim 0,07 –0,05 0,11 0,07
Tab. 4
Os dados da tabela 4 mostram as mesmas informações que os da tabela 3.
19
Para muitas pessoas, esses resultados contrariam a expectativa. Para essas pessoas, parece evidente
que as grandes variações observadas na escrita dos indivíduos decorrem de diferenças de persona-
lidade. Na verdade, a maior parte dessa variação se deve a diferenças na coordenação motora dos
músculos dos dedos. E essas diferenças fisiológicas provavelmente são devidas principalmente a
variações genéticas aleatórias entre os indivíduos. Essas variações genéticas não parecem estar vin-
culadas a diferenças de personalidade; de fato, não existe nenhum motivo para crer que estejam.27
Alinhamento Pessoa-Organização
O alinhamento pessoa-organização ou alinhamento P-O (em inglês, P-O fit) costuma ser definido
como a compatibilidade entre o indivíduo e a organização. Mais especificamente, pode-se defini-lo
como a coincidência entre os valores da organização e os do indivíduo.
Quando usado no processo de seleção de pessoas, o alinhamento P-O funciona como um teste. Em
tais condições, ele fica sujeito às mesmas condicionantes impostas às outras ferramentas de seleção,
entre as quais aquelas relativas à respectiva validade. A esse respeito, um estudo realizado por qua-
tro pesquisadores revelou que a validez do alinhamento P-O como previsor de desempenho é de
apenas 0,15, ao passo que sua validade como previsor de atitudes no trabalho é de 0,31, consideran-
do-se como atitudes a satisfação no trabalho, o comprometimento com a organização e a intenção
de desligamento.28
Conclui-se, pois, que o alinhamento P-O apresenta alguma utilidade prática na
previsão de permanência do candidato na empresa, caso contratado, mas escassa validez como pre-
visor de desempenho no trabalho, na hipótese de o indivíduo permanecer na organização. A previ-
são de desempenho, portanto, deve ser obtida por meio do uso de outras ferramentas de seleção.
O alinhamento P-O como ferramenta de seleção é medido como o grau de coincidência entre o con-
junto de valores de um candidato e os de uma organização. Para que ambos os conjuntos possam ser
comparados, porém, é preciso que eles sejam constituídos pelas mesmas dimensões. Para se medir o
alinhamento P-O, pode-se realizar um teste baseado em um instrumento denominado Perfil da Cul-
tura Organizacional (em inglês, OCP – Organizational Culture Profile).29
O OCP contém uma rela-
ção de 54 declarações de valores que podem ser utilizadas para identificar os valores que caracteri-
zam uma dada organização bem como os valores preferidos por um determinado indivíduo. Cada
declaração é escrita em um cartão. A comparação entre os perfis do candidato e da empresa torna-
se possível pelo uso do mesmo conjunto de declarações de valores para ambos.
O processo se desenvolve da seguinte maneira: Para identificar os valores organizacionais, convo-
ca-se um grupo de membros da organização familiarizados com os valores desta. Cada um é solici-
tado a colocar cada cartão em uma dentre 9 categorias disponíveis. As 9 categorias são dispostas em
uma escala que vai do valor mais característico ao valor menos característico da organização, sendo
que a categoria central é neutra. O critério a ser usado pelos membros da organização para classifi-
car cada cartão é: se aquele valor é característico ou não da organização. Neste caso, a pergunta é:
“O quanto este valor caracteriza a sua empresa?”. Cada avaliador é obrigado a colocar um número
pré-determinado de cartões em cada categoria. Em seguida, calcula-se a média das notas que cada
declaração recebeu dos avaliadores para formar o perfil cultural médio da organização. Esse perfil
cultural médio da organização deve ter sua confiabilidade calculada, utilizando-se para esse fim o
Coeficiente Alfa de Cronbach.
20
O valor do Coeficiente Alfa indicará o grau de cristalização* dos valores organizacionais. Um coe-
ficiente alto (acima de 0,70) indicará um forte sistema de valores, o que demonstrará que os avalia-
dores percebem os valores organizacionais de forma similar.**
A seguir, para se identificar os valores do candidato, este recebe as mesmas 54 declarações de valo-
res, sendo solicitado a colocar cada declaração em uma categoria dentre as 9 disponíveis e obrigado
a colocar um número determinado de cartões em cada categoria. Para colocar cada cartão em uma
certa categoria, o candidato deve basear-se na desejabilidade do valor. A pergunta que ele deve ter
em mente é: “Quão importante eu considero que uma organização tenha este valor?”. As 9 catego-
rias são dispostas em uma escala que vai do valor mais desejável ao mais indesejável, sendo que a
categoria central é neutra. O resultado dessa classificação é o perfil de valores do candidato.
Por fim, o alinhamento P-O é medido calculando-se o coeficiente de correlação linear entre os per-
fis do candidato e da empresa. Um alto coeficiente de correlação indicará uma alta congruência en-
tre os valores da pessoa e da organização.
O problema do alinhamento P-O como critério de seleção não está no fato de ser utilizado, mas sim,
na maneira como é medido. O OCP é um instrumento de avaliação do alinhamento P-O construído
em cima de uma base teórica e projetado segundo uma abordagem quantitativa destinada a reduzir a
subjetividade da avaliação, empregando ferramentas estatísticas para chegar aos resultados preten-
didos. Dentre as vantagens do OCP está a identificação do perfil cultural da organização e dos can-
didatos de forma sistemática e padronizada, o que permite a comparação dos perfis de diversos pre-
tendentes e, principalmente, a comparação dos respectivos índices de alinhamento P-O. Em contras-
te, veja-se o que dizem as seguintes reportagens:
“Funcionários talentosos (...) sempre terão espaço nas empresas. Hoje, porém, grandes companhias,
como Natura, Promon e Odebrecht, levam em conta mais do que isso para contratar e promover.
Elas procuram profissionais cujos valores pessoais estejam alinhados aos da organização e estão
aprimorando suas ferramentas para identificar pessoas com o perfil que desejam.”30
“Se você tem considerado a hipótese de mudar de empresa ou está interessado em participar da se-
leção de uma grande companhia, prepare-se. A entrevista de emprego ficou mais complicada. (...)
As empresas, principalmente as grandes corporações, estão mais exigentes na hora de contratar. (...)
Em média, o candidato a um posto de nível médio deve estar preparado para enfrentar uma bateria
de seis entrevistas, feitas por gestores dos diversos departamentos que vão interagir com o novo
funcionário. (...) As competências pessoais e os valores das pessoas se tornaram determinantes para
a contratação. Informações sobre história de vida, visão de mundo, crenças e desejos passaram a
fazer parte das entrevistas. A ideia é saber o quanto o perfil do candidato está alinhado à cultura da
empresa. (...) Para conquistar a vaga de gerente financeiro do Shopping Curitiba, (...) o administra-
dor de empresas Daniel Momoli (...) precisou conquistar a aprovação de sete pessoas. (...) As per-
guntas feitas pelos entrevistadores também mudaram, com o objetivo de extrair respostas mais es-
pontâneas (...). Entram em cena questões como “Quanto você sente que controla o seu destino?” e
“Dê uma nota de 1 a 10 à sua felicidade”, por meio das quais os recrutadores avaliam quesitos como
autoconfiança, autonomia e atitude entusiasmada ou pessimista do candidato.”31
*O grau de cristalização mede a força dos valores organizacionais. Valores organizacionais fortes são fortemente internalizados nos membros
da organização e amplamente compartilhados no ambiente organizacional, característica que define uma organização com forte cultura.
**Se, no entanto, o coeficiente Alfa for baixo, será inútil aplicar o teste OCP porque não haverá concordância sobre quais são os valores da
organização.
21
Se essas notícias forem verdadeiras, estaremos presenciando a tendência de as empresas avaliarem o
alinhamento P-O dos candidatos por meio de entrevistas não estruturadas que, como visto, consti-
tuem uma ferramenta de seleção de baixa validade. O alinhamento P-O não será medido com base
nos valores reais do candidato e da organização, mas sim, pela percepção dos entrevistadores sobre
esses valores. Em tais condições, a metodologia utilizada apresentará baixa confiabilidade e, conse-
quentemente, baixa validade, razão pela qual as entrevistas terão grande probabilidade de produzir
uma decisão injusta e, portanto, antiética.
Validade Incremental
A tabela 5 mostra a validade de diversas ferramentas de seleção de pessoas. A primeira coluna de
números mostra a validade média estimada de 10 métodos de seleção como previsores de desempe-
nho no trabalho.32
Ferramenta de seleção Validade
média
Validade
combinada
Ganho de
validade
Ganho de
validade
Teste de inteligência 0,51
Teste com amostra do trabalho 0,54 0,63 0,12 24%
Teste de conscienciosidade 0,31 0,60 0,09 18%
Entrevista estruturada 0,51 0,63 0,12 24%
Entrevista não estruturada 0,38 0,55 0,04 8%
Teste de conhecimentos 0,48 0,58 0,07 14%
Tempo de experiência (anos) 0,18 0,54 0,03 6%
Instrução (anos de estudo) 0,10 0,52 0,01 2%
Grafologia 0,02 0,51 0,00 0%
Idade –0,01 0,51 0,00 0%
Tab. 5
Na galeria das ferramentas de seleção, o teste de inteligência (GMA) ocupa um lugar de honra, por
vários motivos. Primeiro, dentre todos os métodos de seleção que podem ser usados para todas as
posições de uma empresa, é o que apresenta a mais alta validade e menor custo de aplicação. Se-
gundo, o GMA é o melhor previsor da aprendizagem no trabalho, quer a aprendizagem seja formal,
quer seja informal. Em outras palavras, o GMA é o melhor previsor tanto da aprendizagem pela ex-
periência como da aprendizagem em programas de treinamento. Terceiro, a fundamentação teórica
do GMA é mais forte do que a de qualquer outra ferramenta de seleção, pois as teorias de inteligên-
cia vêm sendo desenvolvidas e testadas há mais de um século. Quarto, a validade média de 0,51 pa-
ra o GMA provêm de um grande estudo meta-analítico realizado pelo Departamento de Trabalho
dos Estados Unidos, que incluiu cerca de 32 mil empregados de 515 funções altamente diversifica-
das. Assim, em razão do status do GMA, as outras 9 ferramentas de seleção são consideradas como
seus complementos.33
22
No caso das outras ferramentas de seleção, pode-se fazer a seguinte pergunta: quando usadas em
conjunto com o GMA, quanto cada uma dessas ferramentas aumentará a validade do processo sele-
tivo em relação à validade do GMA se utilizado isoladamente? Em outras palavras, qual a validade
incremental das outras ferramentas em relação ao GMA?
O aumento de validade depende não apenas da validade da ferramenta acrescentada ao GMA mas
também da correlação entre as duas ferramentas. Quanto menor for essa correlação, maior será o
ganho de validade obtido. Os valores de validade combinada de cada uma das outras 9 ferramentas
com o GMA constam da segunda coluna de números da tabela 5. A validade incremental de cada
ferramenta está na terceira coluna em valores absolutos e na quarta coluna como porcentagem da
validade do GMA.
A tabela 5 indica que as melhores combinações de ferramentas de seleção são o teste de inteligência
(GMA) com um teste com amostra do trabalho (validade combinada de 0,63), o GMA com um teste
de conscienciosidade (validade combinada de 0,60) e o GMA com uma entrevista estruturada (vali-
dade combinada de 0,63).
Conclusão
A tabela 5 indica que, quando consideradas isoladamente, as melhores ferramentas de seleção, por
sua validade como previsores de desempenho no trabalho, são o teste de inteligência (GMA), o teste
com amostra do trabalho e a entrevista estruturada. Outras ferramentas, como o tempo de experiên-
cia e os anos de estudo, apresentam baixa validade. E outras ainda, como a grafologia, não têm ne-
nhuma validade, sendo seu uso equivalente à contratação aleatória. Dentre as combinações de ferra-
mentas, três se destacam: GMA + teste com amostra do trabalho, GMA + teste de conscienciosida-
de e GMA + entrevista estruturada.
As ferramentas de seleção de pessoas não podem ser escolhidas aleatoriamente. As organizações
estão moralmente obrigadas a escolher os métodos de seleção que apresentem os mais altos coefi-
cientes de validade. A justiça do processo seletivo o exige. De fato, seleção de pessoas justa é a que
resulta na escolha do candidato mais qualificado, entendendo-se este como o pretendente que tende
a apresentar o melhor desempenho futuro dentre todos. Na medida em que o desempenho futuro é
representado pelo resultado presente obtido em um processo seletivo, a justiça exige que o desem-
penho futuro seja estimado do modo mais fiel possível pelo processo de seleção. A fidelidade dessa
estimativa é representada pelo coeficiente de validade da(s) ferramenta(s) usada(s) para selecionar
os candidatos. Em conseqüência, não se pode admitir que ferramentas de seleção de maior validade
sejam preteridas em favor de instrumentos pouco válidos.
Assim, torna-se inaceitável, por exemplo, usar ferramentas de seleção como a grafologia, cuja vali-
dade como previsor de desempenho é virtualmente zero. Por outro lado, com a profusão de estudos
que condenam o uso de entrevistas não estruturadas, seu emprego não se justifica do ponto de vista
ético, devendo-se optar pelas entrevistas estruturadas. Por fim, pelas mesmas razões, é questionável
o uso de ferramentas que não tenham sido objeto de estudos de validação.
No que se refere à validação, há muito as empresas deveriam ter tomado providências no sentido de
colocar a avaliação de desempenho em uma perspectiva que ultrapassa suas finalidades tradicionais,
utilizando-a para validar ferramentas de seleção de pessoas. De fato, um dos possíveis motivos pe-
23
los quais os empregados apresentam desempenho insatisfatório é sua falta de adaptação ou de quali-
ficação para a função na qual foram admitidos. Essa incompatibilidade entre o perfil do empregado
e os requisitos da função pode ser conseqüência de um processo seletivo deficiente. Assim, caso um
empregado contratado há pouco tempo apresentasse desempenho insatisfatório, o processo seletivo
deveria ser revisto para se tentar identificar eventuais erros cometidos tanto na condução do proces-
so quanto na própria escolha das ferramentas de seleção. Em particular, dever-se-ia procurar validar
a dinâmica de grupo como previsor do relacionamento interpessoal dos candidatos no ambiente de
trabalho.
Notas
1 PEREIRA, Fabiana Marques e outros. “Validade de testes utilizados em seleção de pessoal segundo recrutadores”,
Psicologia: Teoria e Prática, 2003, 5(2):83-98. p. 83. Disp. em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ptp/v5n2/v5n2a08.pdf
2 Idem. p. 95.
3 Idem, idem.
4 Adaptado de ANASTASI, Anne. Testes psicológicos. São Paulo: EPU, 1977. pp. 157-158.
5 McHENRY, Jeffrey J., HOUGH, Leaetta M., TOQUAM, Jody L., HANSON, Mary A. e ASHWORTH, Steven.
“Project A validity results: The relationship between predictor and criterion domains”, Personnel Psychology, 1990, 43:
335-354.
6 REE, Malcolm James, EARLES, James A. e TEACHOUT, Mark S. “Predicting Job Performance: Not Much More
Than g”, Journal of Applied Psychology, 1994, 79(4): 518-524.
7 SCHMIDT, F. L. e HUNTER, J. E. “The validity and utility of selection methods in personnel psychology:
Practical and theoretical implications of 85 years of research findings”, Psychological Bulletin, 1998, 124: 262-274.
p. 264.
8 GUION, Robert M. e GOTTIER, Richard F. “Validity of personality measures in personnel selection”, Personnel
Psychology, 1965, 18: 135-164. p. 140.
9 GUION e GOTTIER. Idem. p. 160.
10 GHISELLI, Edwin E. “The validity of aptitude tests in personnel selection”, Personnel Psychology, 1973, 26: 461-
477.
11 WANDERLEY, Wedher Modenezi. “Os testes psicológicos em seleção de pessoal: análise crítica dos conceitos e
procedimentos utilizados”, Arquivos Brasileiros de Psicologia, 1985, 37 (2): 16-31. p. 20.
12 BARRICK, Murray R. e MOUNT, Michael K. “The big five personality dimensions and job performance: a meta-
analysis”, Personnel Psychology, 1991, 44: 1-26.
13 TETT, Robert P., JACKSON, Douglas N. e ROTHSTEIN, Mitchell. “Personality measures as predictors of job
performance: a meta-analytic review”, Personnel Psychology, 1991, 44: 703-742.
14 BARRICK, Murray R., MOUNT, Michael K. e JUDGE, Timothy A. “Personality and Performance at the Beginning
of the New Millenium: What Do We Know and Where Do We Go Next?”, International Journal of Selection and
Assessment, Volume 9, Numbers 1/2, March/June 2001: 9-30. p. 23.
15 ARVEY, Richard D. e CAMPION, James E. “The employment interview: a summary and review of recent research”,
Personnel Psychology, 1982, 35: 281-322.
16 HARRIS, Michael M. “Reconsidering the employment interview: a review of recent literature and suggestions for
future research”, Personnel Psychology, 1989, 42: 691-726.
17 REILLY, Richard R. e CHAO, Georgia T. “Validity and fairness of some alternative employee selection
procedures”, Personnel Psychology, 1982, 35: 1-62. p. 19.
18 CAMPION, Michael A., PURSELL, Elliott D. e BROWN, Barbara K. “Structured Interviewing: raising the
psychometric properties of the employment interview”, Personnel Psychology, 1988, 41: 25-42.
24
19 WIESNER, W. H. e CRONSHAW, S. F. “A meta-analytic investigation of the impact of interview format and degree
of structure on the validity of the employment interview”, Journal of Occupational Psychology, 1988, 61: 275-290
(citado em HUFCUTT e ARTHUR).
20 HUFCUTT, Allen I. e ARTHUR JR., Winfred. “Hunter and Hunter (1984) Revisited: Interview Validity for Entry-
Level Jobs”, Journal of Applied Psychology, 1994, 79 (2): 184-190.
21 SCHMITT, N., GOODING, R. Z., NOE R. A. e KIRSCH, M. “Meta-analyses of validity studies published between
1964 and 1982 and the investigation of study characteristics”, Personnel Psychology, 1984, 37: 407–422.
22 ROTH, Philip L., BOBKO, Philip e McFARLAND, Lynn A. “A meta-analysis of work sample test validity: updating
and integrating some classic literature”, Personnel Psychology, 2005, 58: 1009–1037.
23 RAFAELI, Anat e KLIMOSKI, Richard J. “Predicting sales success through handwriting analysis: An evaluation of
the effects of training and handwriting sample content”, Journal of Applied Psychology, 68 (2), May 1983: 212-217.
Em BEYERSTEIN, Barry L. e BEYERSTEIN, Dale F. (eds.). The Write Stuff: Evaluations of Graphology. Buffalo,
NY: Prometheus, 1992. pp. 258-259.
24 NEVO, B. Scientific Aspects of Graphology: A Handbook. Springfield, IL: Thomas. Em BEYERSTEIN e
BEYERSTEIN. Idem. p. 259.
25 DEAN, Geoffrey A. “The Bottom Line: Effect Size”. Em BEYERSTEIN e BEYERSTEIN. Idem. p. 288.
26 DEAN, Geoffrey A. Idem. Em BEYERSTEIN e BEYERSTEIN. Idem. p. 289.
27 SCHMIDT, F. L. e HUNTER, J. E. Idem. p. 270.
28 ARTHUR Jr., Winfred, BELL, Suzanne T., VILLADO, Anton J. e DOVERSPIKE, Dennis. “The Use of Person–
Organization Fit in Employment Decision Making: An Assessment of Its Criterion-Related Validity”, Journal of
Applied Psychology, 2006, 91 (4): 786–801.
29 O'REILLY, Charles A., CHATMAN, Jennifer e CALDWELL, David F. “People and organizational culture: A profile
comparison approach to assessing person-organization fit”, Academy of Management Journal, 1991, 34 (3): 487-516.
30 PENNA, Gabriel. “Feitos um para o outro”, Revista Você S.A., 11/11/2009. Disp. em:
http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/materia/feitos-outro-511681.shtml#
31 VIEIRA, Vanessa. “A nova entrevista de trabalho”, Revista Você S.A., 04/08/2010. Disp. em:
http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/materia/nova-entrevista-trabalho-584561.shtml
32 SCHMIDT, F. L. e HUNTER, J. E. Idem. p. 265.
33 Idem. Idem. p. 264.
* Flavio Farah é Mestre em Administração de Empresas, Professor Universitário e autor do livro Ética na Gestão
de Pessoas. Contato: [email protected]