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ETNOGRAFIA E OBSERVAÇÃO

Seminário de Pesquisa em Linguística AplicadaPrograma de Pós-graduação em Linguística Aplicada

Universidade do Vale do Rio dos Sinos

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Objetivos:

Entender os significados e os objetivos da etnografia, da observação e do trabalho de campo;

reconhecer as escolhas metodológicas que o etnógrafo enfrenta;

localizar diferentes posições teóricas que sustentam o trabalho etnográfico;

entender os fundamentos da análise de dados de campo;

conhecer as diferentes versões da observação que podem ser usadas;

compreender os problemas específicos da observação participante.

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SILVERMAN, David. Etnografia e observação. In: Interpretação de dados qualitativos: métodos para análise de entrevistas, textos e interações. Porto Alegre: Artmed, 2009.

FLICK, Uwe. Observação e etnografia. In: Introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.

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Visão tradicional de ciência (AGAR, 1986)

Aborda qualquer projeto de pesquisa com base nas seguintes perguntas:

Qual a hipótese?

Como você vai medir isso?

Qual o tamanho da amostra?

Você pré-testou o instrumento?

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Contudo, nem sempre faz sentido formular essas perguntas sobre qualquer trabalho de pesquisa de ciências sociais:

Para alguns estilos de pesquisa [...] que enfatizam o papel do teste científico, estas perguntas fazem sentido. Mas [...]quando o pesquisador social assume um papel de aprendizagem as perguntas não funcionam. Quando você está na orla de uma aldeia e observa o barulho e o movimento, você pensa: “quem são as pessoas e o que estão fazendo?”. [...] Hipóteses, medição, amostras e instrumentos são as diretrizes erradas. Em vez disso, você precisa aprender sobre um mundo em que você entende encontrando-o em primeira mão e extraindo algum sentido dele.

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ESTUDO DE CASO

Trabalho em restaurante (William Foote Whyte)

O estudo mostra a importância do contexto e do processo no entendimento do comportamento. O pesquisador deixa claro que não pode usa os métodos do “teste científico” em seu estudo, mas demonstra também fazer uso de importantes medidas quantitativas (a quantidade de vezes em que diferentes tipos de pessoas iniciam ações em determinado contexto). Seria, então, uma observação, uma pesquisa etnográfica?

O que é etnografia?

Como ela difere da observação?

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Observação

A observação é quase autoexplicativa. O observador baseia seu método em três componentes:

observar escutar registrar

Mas a observação não é apenas feita por cientistas sociais: físicos, engenheiros e policiais também fazem suas “observações”. Em nossas vidas cotidianas, dependemos de “observações” para entender o outro, suas ações e suas identidades. A forma como usamos a observação é que cria a diferença entre observação e etnografia.

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Etnografia

Os cientistas sociais fazem algo diferente com suas observações: eles escrevem etnografias.

A etnografia refere-se, portanto, aos escritos científicos sociais sobre determinadas pessoas, numa definição mais simples.

etnografia

etno“pessoas”

grafia“escrever

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Ampliando a definição

Etnografia é o estudo das pessoas em locais ou “campo” que ocorrem naturalmente, através de métodos de coleta de dados que captam seus significados sociais e suas atividades comuns, envolvendo a participação direta do pesquisador no local, se não também nas atividades, para coletar dados de uma maneira sistemática (Brewer, 2000, p.6)

A observação do participante, a etnografia e o trabalho de campo são todos usados intercambiavelmente (...) eles podem todos significar despender longos períodos observando pessoas, além de conversar com elas sobre o que estão fazendo, pensando e dizendo, com o objetivo de ver como eles entendem seu mundo (Delamont, 2004, p.218)

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Etnografia: passado e presente

surgimento

• obras dos antropólogos do século XIX que viajavam a fim de observar diferentes culturas pré-industriais.

presente

• abrange uma série muito mais ampla de trabalho de estudos de grupos na própria cultura para uma escrita experimental visando intervenções políticas. Os etnógrafos de hoje nem sempre “observam”: podem trabalhar com artefatos culturais, como textos escritos ou registros de estudos de interações que não observam em primeira mão.

desdobramentos

• Alguns pesquisadores compartilham a visão primeiros antropólogos de que para entender o mundo em “primeira mão” você mesmo precisa participar dele em vez de apenas observar as pessoas a distância. Isso tem dado origem ao que se denomina método de observação participante.

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Observação participante

Na verdade, a observação participante é mais que um método. É um recurso básico de toda pesquisa social:

Em certo sentido, toda pesquisa social é uma forma de observação participante, porque não é possível estudar o mundo social sem ser parte dele. Sob tal ponto de vista, observação participante não é uma técnica de pesquisa específica, mas um modo de estar-no-mundo característico dos pesquisadores. (Atkinson e Hammersley, 1994, p.249).

Como este modo de ser causa impacto nas especificidades da pequisa etnográfica?

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Objetivos/características da pesquisa de observação (Bryman, 1988)

Ver através de...

Descrever...

Contextualizar...

Investigar o processo...

Flexibilizar os projetos de pesquisa...

Evitar o uso inicial de teorias e conceitos...

QUADRO 3.1, p. 72

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Principal característica da pesquisa etnográfica

DESCREVER OS DETALHES TRIVIAIS:

Preocupar-se não com a ação, mas com os detalhes cotidianos que permitiram que a ação ocorresse, estando atento aos mínimos detalhes que, sendo banais, passam a ter foco pela descrição do etnógrafo.

O etnógrafo não dá foco para o que as pessoas “pensam” ou “sentem”, mas para o que elas de fato fazem e descrever como fazem.

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Três aspectos cruciais do trabalho etnográfico e observacional:

O foco do estudo• incluindo “tribos, “subculturas”, “reino público”, e organizações

As escolhas metodológicas• incluindo o acesso, a identidade, a definição de um problema de pesquisa, os

métodos de registro de dados, a observação, assim como a escuta, o desenvolvimento da análise dos dados etnográficos e o feedback aos participantes

As questões teóricas• a natureza teoricamente derivada da análise etnográfica e as principais

abordagens teóricas contemporâneas, incluindo “teoria fundamentada”, “naturalismo” e “etnometodologia”.

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O foco etnográfico

São quatro os diferentes focos em que os estudos etnográficos têm se concentrado:

tribos subculturas esfera pública organizações

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Estudo das tribos

O impulso inicial em favor do trabalho de observação foi antropológico.

Antropólogos defendem que quem quer realmente entender um grupo de pessoas precisa se engajar em um período extenso de observação, imergindo em uma cultura diferente da sua, participando em seus eventos sociais.

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Estudo das subculturas

Todavia, não é preciso inserir-se em uma cultura desconhecida para fazer pesquisa etnográfica: dentro de uma única cultura, é possível usar os métodos de observação da etnografia para descrever subculturas, modos diferentes de agir na mesmo círculo social.

Escola de Chicago: alunos orientados a largarem os materiais teóricos e a saírem pelas ruas para observar o comportamento social das pessoas dos subgrupos que os cercavam.

Estudos de subcultura são a base da etnografia contemporânea, mas recaem sobre eles preceitos éticos e morais que permeiam a observação e a descrição de grupos socialmente vulneráveis.

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Estudos da esfera pública

Muitos estudos de subculturas têm lugar em áreas públicas como ruas, shopping centers e parques. No entanto, os etnógrafos que observam o domínio público, às vezes, têm um interesse mais amplo do que a subcultura de grupos específicos. Em vez disso, é objetivo observar como as pessoas em geral se comportam em alguns contextos públicos, como os ônibus, por exemplo.

Três sociólogos deram impulso a essa vertente etnográfica: Georg Simmel, Erving Goffman e Harvey Sacks.

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Georg Simmel

Desenvolveu proposições sobre as formas básicas de interação humana segundo o número em um grupo (por exemplo, o que acontece em díades [grupos de dois] em comparação com tríades [grupos de três], que possibilitaram relatos convincentes sobre o “estranho” e a vida urbana.

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Erving Goffman

Mais conhecido pela “teoria das faces”, Goffman foi pioneiro no estabelecimento de questões essenciais para estudos contemporâneos em sociologia e linguística, através das regras usadas para organizar a interação social:

Regras de cortesia, educação e etiqueta (quem é capaz de fazer e dizer o que a quem e de que maneira)

Regras do que é relevante ou irrelevante em um determinado lugar, dependendo da definição da situação

Goffman estudou as maneiras como um indivíduo “preserva sua face” em uma interação social, evitando problemas morais e éticos.

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Harvey Sacks

Foi responsável pelos desdobramentos dos estudos de Goffman, analisando situações rotineiras e suas sequencialidades. Demonstrou como, por exemplo, as revistas da mesa de café de uma pessoa são rotineiramente vistas como destinadas a sugerir que ela é intelectual ou algo que o valha.

Responde, ainda, como o maior nome teórico na Análise da Conversa, visto que seus estudos possibilitaram o estabelecimento de conceitos essenciais para esta perspectiva de estudo da linguagem, como a sequencialidade da fala, seus turnos e os desdobramentos que essa sequencialidade projeta nos indivíduos interagentes.

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Estudos de organizações

É possível realizar pesquisa etnográfica em esferas organizacionais, como universidades, escolas, quartéis, internatos, empresas, etc.

Possibilita entender, por exemplo, como hospitais mentais, assim como quartéis, internatos ou prisões, rompem os limites entre o trabalho, o lazer e o repouso através de estratégias para despojar as pessoas de suas identidades não-institucionais – vestindo uniformes, chamando-os por um número ou apelido institucional, etc.

Os dados contribuem para entender como as organizações funcionam, como as pessoas reagem a determinados ambientes, mas não consegue responder como as pessoas constituem esses ambientes através de sua conversa (trabalho que foi, em seguida, assumido pela Etnometodologia e pela Análise da Conversa).

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Três aspectos cruciais do trabalho etnográfico e observacional:

O foco do estudo• incluindo “tribos, “subculturas”, “reino público”, e organizações

As escolhas metodológicas• incluindo o acesso, a identidade, a definição de um problema de pesquisa, os

métodos de registro de dados, a observação, assim como a escuta, o desenvolvimento da análise dos dados etnográficos e o feedback aos participantes

As questões teóricas• a natureza teoricamente derivada da análise etnográfica e as principais

abordagens teóricas contemporâneas, incluindo “teoria fundamentada”, “naturalismo” e “etnometodologia”.

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As questões e escolhas metodológicas

Ao fazer pesquisa etnográfica, enfrentamos escolhas no planejamento e na execução do estudo. Estas escolhas podem referir-se a:

Definição de um problema de pesquisa

Escolha de um local de pesquisa

Obtenção de acesso

Descoberta de uma identidade

Ver e escutar

Registro das observações

Desenvolvimento da análise dos dados de campo

Uso da teoria fundamentada

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Definição de um problema de pesquisa

É esperado que, em uma pesquisa etnográfica, não se especifique inicialmente as definições e as hipóteses que se pretende estudar, mas isso não significa deixar os primeiros estágios da observação totalmente desprovidos de orientação. O pesquisador deve elaborar alguma perspectiva ou, no mínimo, um conjunto de questões vitalizantes, evitando assim que a pesquisa seja fadada ao fracasso, visto que os fatos nunca falam por si mesmos.

Assumir que a etnografia é apenas o ato de sair a campo e induzir observações é equivocado. É uma desculpa para a pesquisa negligente, não-focalizada. É necessário que o pesquisador desapegue-se do mundo fascinante do estudo do “todo” e focalize em um único aspecto, que deve ser detalhado minuciosamente. Reduzir o escopo da pesquisa é a tarefa mais crucial, deve-se “fazer menos, com mais profundidade”.

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Escolha de um local de pesquisa

Elaborado um tema de pesquisa, é preciso decidir o melhor lugar para realizar o trabalho de campo. Por exemplo: você quer estudar os padrões de compras das pessoas que moram em subúrbios. Você vai estudar uma loja de departamento, um supermercado ou um shopping center inteiro? Está mais interessado nos compradores, nos vendedores ou em ambos?

Só se consegue escolher um local de pesquisa quando o tema está bem restringido, preciso e focalizado. Se você não consegue decidir o local em que sua pesquisa deve ser conduzida, é um sinal de que seu tema não está bem delimitado.

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Obtenção de acesso

Existem dois tipos de locais de pesquisa:

locais fechados, privados, onde o acesso é controlado

locais abertos, públicos, onde o acesso é livre, mas nem sempre livre de dificuldades

Existem dois tipos de acesso:

acesso velado, sem o conhecimento dos indivíduos, que desencadeiam questões éticas

acesso explícito, no qual informamos os indivíduos e obtemos seu consentimento para a observação

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Descoberta de uma identidade

Em verdade, apenas com sua presença os observadores alteram a situação encontrada no ambiente. Existem características problemáticas da identidade no trabalho de campo:

Se todos aqueles que estão sendo estudados, ou alguns, ou nenhum deles, sabem que o pesquisador é um pesquisador

Quanto e o quê se sabe sobre o pesquisador, e quem sabe

Em que tipos de atividades no campo o pesquisador está ou não envolvido e como isso o coloca em relação às várias concepções das categorias e dos membros de grupo usadas pelos participantes

Qual é a orientação do pesquisador e até que ponto ele adota completa e conscientemente a orientação de pessoa de dentro ou de fora

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Ver e escutar

É necessário valorizar ambas as ações no processo de pesquisa etnográfica. Quando observamos, tendemos a valorizar mais a um ou a outro instrumento de observação: ou damos mais valor para o que vemos, e ignoramos o que ouvimos, ou vice-versa.

É preciso, no entanto, ter atenção. Ambas as ações podem ser complementares, mas não são as únicas: anotações de campo, gravações, memória auditiva ou fotográfica, entre outras formas de “ver e escutar”, são essenciais e complementam-se para a descrição do espaço e das pessoas que nele agem.

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Registro das observações

Mesmo que você esteja usando tanto os olhos quanto os ouvidos, ainda terá que decidir como irá registrar os dados. O maior perigo que se corre é querer registrar e analisar tudo o que se observa. Isso negligencia a natureza direcionada para a teoria da pesquisa de campo e impõe uma carga impossível quando você tentar desenvolver uma análise sistemática num estágio posterior da pesquisa.

É preciso focar as anotações naquilo que vai realmente ser útil para o estudo: o que as pessoas estão fazendo? Como estão fazendo? Como elas caracterizam e entendem o que está acontecendo? Que suposições fazem? O que eu vejo que está acontecendo ali? O que eu aprendi com estas anotações? Porque eu as concluí?

Além disso, se o gravador está fazendo seu trabalho com a fala, o pesquisador deve anotar outros aspectos relevantes para a análise que não ficarão registrados nas gravações.

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Desenvolvimento da análise dos dados de campo

Um dos pontos fortes da pesquisa de observação é sua capacidade para mudar o foco à medida que novos dados interessantes tornam-se disponíveis. Podemos não só encontrar o que procurávamos inicialmente demonstrar, como também descobrir novos caminhos que reorientam a pesquisa dentro de um escopo seguro de mudança de foco ou reorientação.

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Uso da teoria fundamentada

Existem, atualmente, alguns princípios metodológicos profundos que orientam a pesquisa etnográfica:

Em meio a um campo, como você decide codificar suas observações?

como você pode desenvolver hipóteses a partir de suas observações?

Como você pode chegar a construir uma teoria?

A teoria fundamentada buscou proporcionar respostas a essas perguntas e, por isso, tornou-se a mais influente abordagem metodológica no trabalho etnográfico. Ela estabelece que devemos gerar teoria através de dados, e não de hipóteses, gerar amostragens e não generalizações, entre outras (quadro 3.3, p. 96)

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Três aspectos cruciais do trabalho etnográfico e observacional:

O foco do estudo• incluindo “tribos, “subculturas”, “reino público”, e organizações

As escolhas metodológicas• incluindo o acesso, a identidade, a definição de um problema de pesquisa, os

métodos de registro de dados, a observação, assim como a escuta, o desenvolvimento da análise dos dados etnográficos e o feedback aos participantes

As questões teóricas• a natureza teoricamente derivada da análise etnográfica e as principais

abordagens teóricas contemporâneas, incluindo “teoria fundamentada”, “naturalismo” e “etnometodologia”.

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O caráter teórico das observações etnográficas

Nas pesquisas etnográficas,

O bom senso (e o senso comum) é considerado complexo e sofisticado, em vez de ingênuo e mal orientado.

As práticas sociais, mais do que as percepções, são o local onde o bom senso opera: o foco é o que as pessoas estão fazendo, e não o que estão pensando.

Os fenômenos são considerados entre aspas. Isso significa que procuramos entender como qualquer “fenômeno” é localmente produzido por meio das atividades de determinadas pessoas em determinados lugares.

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SILVERMAN, David. Etnografia e observação. In: Interpretação de dados qualitativos: métodos para análise de entrevistas, textos e interações. Porto Alegre: Artmed, 2009.

FLICK, Uwe. Observação e etnografia. In: Introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.

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As práticas só podem ser acessadas por meio da observação, uma vez que as entrevistas e as narrativas somente tornam acessíveis os relatos das práticas e não as próprias práticas.

A observação permite ao pesquisador descobrir como algo efetivamente funciona ou ocorre. Em comparação com essa alegação, as apresentações em entrevistas compreendem uma mistura de como algo é e de como deveria ser, a qual ainda precisa ser desvendada.

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Observação não-participante

Além das competências da fala e da escuta, utilizadas nas entrevistas, a observação é outra habilidade cotidiana metodologicamente sistematizada e aplicada na pesquisa qualitativa. Envolvem:

audição, visão, percepção, olfato.

Os procedimentos observacionais podem ser classificados em cinco dimensões, que podem ser diferenciadas por meio das seguintes perguntas:

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Dimensões dos procedimentos observacionais

Observação secreta vs. Observação pública: até que ponto a observação é revelada àqueles que são observados?

Observação participante vs. Observação não-participante: até que ponto o observador precisa tornar-se um componente ativo do campo observado?

Observação sistemática vs. Observação não-sistemática: ocorre a aplicação de um esquema de observação mais ou menos padronizado ou a observação permanece flexível e responsiva aos próprios processos?

Observação em situações naturais vs. Observação em situações artificiais: as observações são feitas no campo de interesse, ou as interações são “deslocadas” para um local especial (por exemplo, um laboratório)?

Auto-observação vs. Observação do outro: na maioria das vezes, são as outras pessoas que são observadas e, dessa forma, quanta atenção é destinada à auto-observação reflexiva do pesquisador para embasar ainda mais a interpretação do que é observado?

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Observação participante

Observação não-

participante

Sofre interferência da presença do observador > pode se tornar artificial

Não sofre interferência da presença do observador > preserva sua naturalidade

O comportamento e a interação, na observação não-participante, prosseguem da mesma forma como prosseguiriam sem a presença de um pesquisador, sem a interrupção da intrusão.

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OBSERVAÇÃO NÃO-PARTICIPANTE

O observador completo mantém distância dos eventos observados a fim de evitar influenciá-los, e pode fazer isso através da observação por vídeo, por exemplo.

Nesse contexto aplica-se a observação secreta, na qual as pessoas não são informadas de que são observadas, um procedimento eticamente contestável. No entanto, isso é feito em locais públicos com muita frequência.

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Quais são as fases da observação?

Seleção de um ambiente (onde e quando os procedimentos e as pessoas podem ser observados)

Definição do que deve ser documentado na observação e em cada passo

Treinamento dos observadores a fim de padronizar esses focos

Observações descritivas que forneçam uma apresentação inicial e geral do campo observado

Observações focais que se concentrem nos aspectos relevantes à questão de pesquisa

Observações seletivas cuja finalidade seja a compreensão intencional dos aspectos centrais

O fim da observação – quando se atinge a saturação teórica, ou seja, quando outras observações já não trouxerem nenhum conhecimento adicional

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Quais os problemas na condução do método?

A dificuldade está em definir um papel que seja desempenhado pelo observador (identidade):

Quanto mais público e desestruturado for o campo, mais fácil é assumir um papel que não seja percebido e que não influencie

Quanto maior a facilidade para se supervisionar um campo, maior será a dificuldade para se participar deste sem se tornar um membro

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Qual a contribuição para a discussão metodológica geral?

Triangular observações com outras fontes de dados e empregar diferentes observadores intensificam a expressividade dos dados reunidos.

As diferenças de gênero: as possibilidades de acesso a mulheres são mais restritas em comparação com os homens, devido a riscos específicos.

As percepções femininas sobre esses riscos são muito mais refinadas, fazendo com que elas observem de maneira diferente e notem coisas diferentes.

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Como o método se ajusta no processo de pesquisa?

O objetivo é (ao menos, de modo geral) testar conceitos teóricos para determinados fenômenos com base em sua ocorrência e distribuição. As questões de pesquisa visam as descrições da situação de determinadas esferas da vida cotidiana.

A situação de situações e de pessoas ocorre sistematicamente, de acordo com os critérios para a obtenção de amostra representativa e, então, com a aplicação da amostragem aleatória.

As análises de dados baseiam-se em contar a incidência de atividades específicas por meio da utilização de processos de categorização.

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Quais as limitações do método?

De modo geral, essa observação é externa. Por isso, deve ser aplicada principalmente na observação de espaços públicos, nos quais o número de membros não pode ser limitado ou definido.

É uma tentativa de observar eventos que ocorrem naturalmente. Por isso, resta a dúvida de até que ponto esse objetivo pode ser consumado, uma vez que, seja como for, o ato da observação influencia o observado.

É um método de pesquisa no qual os observados não são informados sobre a observação. Por isso, o procedimento é altamente carregado de complicações éticas que devem ser levadas em consideração.

A distância do observador para o observado compromete a análise dos dados e a avaliação das interpretações. Por isso, acredita-se que é uma estratégia mais associada a uma pesquisa quantitativa e padronizada.

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OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE

É a forma mais utilizada de pesquisa qualitativa.

Combina, simultaneamente, a observação de campo com a análise de documentos, com a entrevista e com a participação direta do observador.

O pesquisador mergulha “de cabeça” no campo, que observará de uma perspectiva de membro e, por isso mesmo, vai influenciar o que é observado.

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Quais são as fases da observação participante?

Observação descritiva: no início, serve para fornecer ao pesquisador uma orientação para o campo de estudo. Fornece observações não-específicas, usadas para apreender a complexidade do campo e para desenvolver questões de pesquisa

Observação focalizada: restringe a perspectiva do observador àqueles processos e problemas que forem mais essenciais para a questão de pesquisa

Observação seletiva: ocorre na fase final e concentra-se em encontrar mais indícios e exemplos para os tipos de práticas e processos descobertos na etapa anterior

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Quais são os problemas na condução do método?Como delimitar ou selecionar as situações observacionais nas quais o problema em estudo torne-se realmente “visível”? As situações sociais podem ser descritas ao longo de nove dimensões:

Espaço (local ou locais físicos)

Ator (pessoas envolvidas)

Atividade (atos realizados pelas pessoas)

Objeto (coisas físicas que estão presentes)

Ato (ações individuais realizadas pelas pessoas)

Evento (conjunto de atividades relacionadas e executadas por elas)

Tempo (sequenciamento que acontece)

Objetivo (coisas que as pessoas tentam alcançar)

Sentimento (emoções sentidas e manifestadas)

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“tornar-se um nativo”

Obter uma perspectiva interna sobre o campo estudado, ao mesmo tempo em que sistematiza o status de “estranho” no campo. Apenas com essa sistematização é possível perceber o particular naquilo que for cotidiano e rotineiro no campo.

O procedimento de tornar-se um nativo é discutido como uma falha do pesquisador: como tornar-se nativo e não deixar de ser científico?

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Quais as limitações do método?

Nem todos os fenômenos podem ser observados nas situações

Eventos e práticas que ocorrem raramente contam com a sorte para serem observados

Complicações relativas ao “nativo”: participar como membro e analisar como cientista, ao mesmo tempo

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