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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SOCIEDADE

PROGRAMA DE ANTROPOLOGIA E ARQUEOLOGIA

ANDERSON LUCAS DA COSTA PEREIRA

MANOEL FABIANO SANTOS

ALINE SUELEM MAIA SANTOS

SUELLEM MORAES ESQUERDO

POR TRÁS DA FANTASIA BRILHA A REALIDADE:

EXERCÍCIO DE ANÁLISE DO LIVRO “CARNAVAL

CARIOCA: DOS BASTIDORES AO DESFILE”

Santarém

2012

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ANDERSON LUCAS DA COSTA PEREIRA

MANOEL FABIANO SANTOS

ALINE SUELEM MAIA SANTOS

SUELLEM MORAES ESQUERDO

POR TRÁS DA FANTASIA BRILHA A REALIDADE: EXERCÍCIO DE ANÁLISE

DO LIVRO “CARNAVAL CARIOCA: DOS BASTIDORES AO DESFILE”

Trabalho apresentado a disciplina Introdução à

Etnografia, ministrada pela Prof. Luciana

Carvalho, do Instituto de Ciências da Sociedade,

da Universidade Federal do Oeste do Pará, como

requisito para obtenção de nota.

Santarém

2012

1. Apresentação

POR TRÁS DA FANTASIA BRILHA A REALIDADE: EXERCÍCIO DE ANÁLISE

DO LIVRO “CARNAVAL CARIOCA: DOS BASTIDORES AO DESFILE”

Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti é professora do Departamento de

Antropologia Cultural e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia

(PPGSA) do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS) da Universidade Federal do Rio

de Janeiro (UFRJ). É Autora de Carnaval Carioca: dos bastidores ao desfile (2006); O rito e o

tempo: ensaios sobre o carnaval (1999); e O mundo Invisível: cosmologia, sistema ritual e

noção da pessoa no espiritismo (1983). Participa da coordenação do Laboratório de Análise

Simbólica e coordena o Núcleo de Estudos Ritual, etnografia e sociabilidades urbanas. Suas

atuais pesquisas são “Simbolismo e análise cultural: um estudo comparativo de rituais

populares” e “Fundo Oracy Nogueira: um capítulo das ciências sociais no Brasil (1940-

1960)”.1

Para este estudo será analisado a obra Carnaval Carioca: dos bastidores ao desfile. O

livro tem como tema o processo de confecção do carnaval carioca dos bastidores ao desfile na

marques de Sapucaí por uma escola de samba. O livro é uma versão revista da tese da autora,

defendida em abril de 1993, no programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do

Museu Nacional/UFRJ. O trabalho é baseado na experiência de campo do ciclo anual da

confecção do desfile carnavalesco de 1992, junto à escola de samba Mocidade Independente

de Padre Miguel, sediada na zona oeste do Rio de Janeiro.

1 Disponível em: <http://www.lauracavalcanti.com.br/curriculo.asp>. Acesso em: 17 jun. 2012.

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Para a autora “o desfile das escolas de samba é uma forma de ritual e estética

elaborada que expressa um processo vital em fluxo constante. Sua vitalidade, que renova e se

releva anualmente, resulta de sua capacidade de absorção e expressão dos conflitos da

cidade”.

Nesse contexto estudar o carnaval no âmbito da Antropologia, em seu processo de

construção, vai além de entender a elaboração de fantasias e alegorias, mas sim perpassa por

uma análise mais profunda dos reflexos culturais, sociais e políticos que o carnaval tem sobre

a comunidade.

2. Objetivos da Obra

Entender o processo ritual de um desfile, que abarca a festa e toda a sua preparação,

fala da diferença social e a da interação cultural entre segmentos sociais diversos na

cidade do Rio de Janeiro.

Compreender as tensões que se constituem e se desenvolvem no carnaval.

Examinar os desenvolvimentos históricos característicos que configuram o desfile em

seus diferentes aspectos festivos, comunitários, sociológicos e mercadológicos.

Especificar formas expressivas e redes de relações no carnaval.

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3. Questões norteadoras:

Problemáticas da pesquisa

O desfile carnavalesco das grandes escolas no Rio de Janeiro segundo a autora é um

“imenso dispositivo ritual de articulação das mais diversas ordens de diferenças”. Que pode

ser entendida pela antropologia a partir da análise do comportamento humano em sua

dimensão comunicativa.

Nesse contexto a autora problematiza o estudo procurando desvendar de forma

concreta que diferenças estão em jogo e quais os planos de confrontos e articulações

envolvem o carnaval, que fica claro na fala da autora: “procuro uma visão certamente não

neutra, mas livre, do desfile das escolas de samba no carnaval carioca”.

O carnaval nesse sentido expressa para autora, não só formas distintas de arte como

grupos sociais diferenciados entre si que compõem o que ela chama de grandioso ritual. Nesse

contexto a autora mostra o interesse analítico da constituição de fronteiras entre grupos e

culturas que interagem no contexto do carnaval, onde a noção de mediação emerge como

central, ampliando o âmbito da pesquisa e evitando exclusões e valorações previamente

definidas.

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4. Referencial teórico da obra

A matriz conceitual que embasa o trabalho da autora perpassa pela noção da cultura

popular, pesquisa histórica documental e fontes coletadas através de informantes no decorrer

da construção do estudo. A autora não desenvolve uma reflexão específica sobre as condições

do trabalho de campo devido a complexidade do tema e as questões éticas implícitas

principalmente quando se revela o papel do jogo do bicho no carnaval, que levaram a autora

optar por estudos separados.

A autora ressalta que não se trata de descartar diferenças, ou de privilegiar a harmonia

em detrimento do conflito ou da fragmentação na compreensão da vida social. Mas sim de

perceber que certos processos culturais cruzam fronteiras, incorporando tensões e conflitos.

Ressalta que “há sim conjuntos de questões intelectuais e históricas que expressam, de

modo sintético, nas categorias tipificadoras da cultura que contrastam entre si, folclore e

cultura popular, cultura clássica, cultura de massa e de indústria cultural”.

A autora tem como referência estudiosos como José Jorge Carvalho, Renato Ortiz,

Gilberto Velho, Bronislaw Malinowski, Marcel Mauss, Radcliffe Brown, Tuner, Da Matta, e

vários outros autores que abordaram a evolução histórica do carnaval.

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5. Resultados

Para a autora, pesquisar o carnaval, escrever sobre o desfile resultou no entendimento

do complexo sistema ritualístico e dramático que o carnaval expressa. São valores que a

autora ressalta que dão sentindo cosmológico e movimentam a sociedade.

De modo circular, dinâmico, tenso, tal como a festa estudada, o trabalho de pesquisa

realizado por Cavalcanti chama a atenção para o ciclo ritual, conquistado e renovado a cada

desfile, e para o caráter histórico da "conversa" estabelecida entre a festa e a cidade do Rio de

Janeiro ao longo das últimas décadas. Os bastidores ou o processo de confecção dessa festa

deixam entrever uma rede de reciprocidade que é sempre atualizada e ganha expressão

máxima no momento único e espetacular do desfile, quando se comunica com a "cidade

inteira", exprimindo sua eterna capacidade de repetir-se e de permanecer atual.

Consciente de que as transformações são próprias das formas culturais, que se

expandem e também decaem, a autora sugere que só o tempo e a realização de novas

pesquisas podem indicar outras tendências e configurações para o desfile das escolas de

samba. O sucesso dessa forma carnavalesca, cujo processo ritual foi clarificado pela autora, é

confirmado ainda hoje e vem servindo de referência e estímulo para novas pesquisas.

As pesquisas que se seguem evidenciam seu rendimento analítico não só no âmbito

dos estudos sobre o carnaval carioca, mas também nas abordagens das relações entre formas

rituais e seus aspectos sociológicos em contextos urbanos diversos, comprovando sua

contribuição mais ampla à sociologia, à antropologia urbana e à análise ritual.

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6. Método etnográfico

A autora revela que seu contato com o tema em estudo se deu em fevereiro de 1984, a

quinze dias do carnaval, foi quando visitou a escola de samba União da Ilha do Governador,

período esse em que a outrora trabalhava no Instituto Nacional do Folclore/Fundação

Nacional de Arte (INF/FUNARTE) e foi solicitada a fazer uma breve pesquisa sobre o

barracão. A partir desse contanto a autora se encantou e se deslumbrou pelo campo, dando

início em uma extensa jornada pelo mundo do carnaval.

No decorrer dos anos participou de vários eventos ligados ao carnaval carioca que

possibilitaram o contato mais próximo com a escola de samba Mocidade Independente de

Padre Miguel através dos carnavalescos Braga e Paulino (já falecidos) o que resultou em um

seminário organizado pelo Instituto de Filosofia e Ciências da Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

Tal fato levou a autora em 1990 elaborar um projeto de pesquisa sobre o desfile na

Coordenação de Cultura Popular do Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, levando-a decidir

pela elaboração da tese de doutorado sobre o assunto.

Para a sua etnografia, a autora buscou na observação participativa os elementos chaves

para a elaboração de seus estudos, fez uso de entrevistas com informantes ligados diretamente

ao carnaval, visitas ao barracão, participação em eventos importantes, presenciou e

testemunhou alegrias, tristezas e conflitos que se desencadearam no campo em estudo.

A autora considera e explicita suas tensões, evitando oposições como:

Aspectos internos — como o descompasso entre samba-enredo, enredo e

quesitos de julgamento;

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Aspectos externos — como o jogo do bicho e os processos de comercialização

e expansão da base social das escolas.

Esses são importantes elementos que compõem a etnografia e a análise da autora, pois

remetem a negociações sociais contínuas e a diferentes planos de estudo.

7. Ponto de vista dos alunos

No decorres dos estudos teóricos em sala de aula buscamos sempre compreender os

mais diversos campos de atuação da Antropologia levados a interpretar e analisar a

cosmologia cultural que cada fato social tenta nos mostrar.

Tal exercício é bastante complexo e desafiador que nos deixa de frente aos problemas

que nos cercam diariamente em nossos convívios sociais (família, amizades, namoros,

casamentos, escola, empresas, festas...) e por em prática tal exercício da análise tornasse

muito difícil principalmente quando se faz parte do processo da formação social.

Assim a obra de Cavalcanti onde analisa a confecção de um desfile carnavalesco rumo

ao desfecho espetacular e festivo na passarela, nos revela amplas dimensões estéticas e

relações cooperativas e conflitivas entre seus atores.

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O que parecia apenas festa, alegria, luxo e beleza na verdade agrega aspectos

mercadológicos e dimensões comunitárias além das fantasias e alegorias. Fica assim a lição,

que o desfile das escolas de samba emerge como um ritual urbano e contemporâneo, revelador

de tensões e articulações sociais, que merecem cuidadosamente serem estudados e

compreendidos na tentativa de desmistificar a ideia de apenas luxo, beleza e festa.

Referência

CAVALCANTI, Maria Laura Viveiro de Castro. Carnaval carioca: dos bastidores ao desfile.

Rio de Janeiro: FUNARTE; UFRJ, 1994.

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