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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL
PRESIDENTE DA EGRÉGIA TURMA RECURSAL DO JUIZADO
ESPECIAL FEDERAL DA ___ª REGIÃO - SEÇÃO JUDICIÁRIA DE
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Fator Previdenciário x Aposentadoria concedida com fundamento no art. 9º, da
EC 20/98 (RE 639.856 – Tema 616, com repercussão geral reconhecida pelo E. STF)
RECORRENTE, já devidamente qualificado nos autos da ação em
epígrafe, vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por
seus advogados constituídos, apresentar, tempestivamente,
RECURSO EXTRAORDINÁRIO
na forma do art. 102, inciso III, alínea a, da CF e dos arts. 1.029 e ss.,
do novo CPC, requerendo que esta E. Turma Recursal se digne a
receber a medida e, após o cumprimento das formalidades legais, a
remeter o presente recurso para análise pelo E. STF, com as razões
em anexo.
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O Recorrente é beneficiário da justiça gratuita, isentando-se, pois,
do pagamento do preparo recursal.
Termos em que,
Pede deferimento.
Local e data.
____________________________________________
Nome do Advogado
Número da OAB
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EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Fator Previdenciário x Aposentadoria concedida com fundamento no art. 9º, da
EC 20/98 (RE 639.856 – Tema 616, com repercussão geral reconhecida pelo E. STF)
RAZÕES DE RECURSO EXTRAORDINÁRIO
EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL,
COLENDA TURMA,
EMÉRITOS MINISTROS JULGADORES!
PRELIMINARMENTE
DA JUSTIÇA GRATUITA
O Recorrente é beneficiário da justiça gratuita isentando-se, pois, do
pagamento do preparo recursal.
DA REPERCUSSÃO GERAL
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O recurso versa sobre questões constitucionais de relevância econômica,
política, social e jurídica que ultrapassam os limites da lide, repercutindo, pois,
sobre os interesses de toda a sociedade.
Isso porque, inúmeros são os casos de concessão de aposentadorias com
fundamento no art. 9º, da EC 20/98, em que houve a aplicação do fator
previdenciário quando da apuração dos cálculos da rendas mensais iniciais
dos benefícios.
Desta forma, sob o ângulo da repercussão geral, o tema ultrapassa o interesse
subjetivo do Recorrente, mostrando-se relevante do ponto de vista econômico,
político, social e jurídico, ante a possibilidade de impacto sobre milhares de
segurados do Regime Geral de Previdência Social e, consequentemente, sobre
os cofres públicos.
Destaque-se, inclusive, que toda essa argumentação é objeto de discussão no
âmbito desta E. Corte, nos termos do Recurso Extraordinário 639.856, com
repercussão geral reconhecida (Tema 616).
Por fim, o presente Recurso Extraordinário ainda versa sobre a condenação do
Recorrente, beneficiário da justiça gratuita, ao pagamento de honorários de
sucumbência (decisão condicionada), matéria que também possui repercussão
geral, tendo em vista os inúmeros processos em que a parte é condenada nestes
termos.
Portanto, o conhecimento do presente recurso robustece a característica
extraordinária do pleito, na medida em que preservará a função desta E. Corte
em estabelecer decisões paradigmáticas sobre a interpretação e alcance da
Constituição.
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DO CABIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO
O presente Recurso Extraordinário é interposto com fundamento no art. 102,
inciso III, alínea a, da CF, tendo em vista a afronta do acórdão recorrido ao
disposto no art. 9º, da EC 20/98, bem como ao art. 5º, LXXIV, da CF.
Destaca-se que houve a oposição de Embargos de Declaração ao v. acórdão,
estando, cumprido, portanto, o requisito do prequestionamento da matéria (art.
1.025, do novo CPC).
Quanto ao mérito, ressalta-se que o legislador ordinário (art. 29, da Lei
8.213/91, com redação dada pelo art. 2º, da Lei 9.876/99) não poderia dar novos
contornos ao ajuste da relação prestação/tempo de pagamento, pois a permuta
de métodos de aplicação de restrições atuariais, de coeficiente de cálculo (EC
20/98) para o fator previdenciário, não poderia ocorrer através de norma
infraconstitucional.
Frisa-se que o argumento jurídico trazido a exame jurisdicional neste Recurso
Extraordinário não afirma que a introdução do fator previdenciário no cálculo
do salário-de-benefício é inconstitucional, mas sim que a aplicação da fórmula,
constitucional mesmo, não deve ocorrer em relação aos benefícios concedidos
com base na “regra de transição” estabelecida no art. 9º, da EC 20/98.
Nota-se que a EC 20/98 disciplinou a aposentadoria proporcional ao tempo de
contribuição, criou a regra de transição (art. 9º, EC 20/98) e, ainda, remeteu à
legislação a regulamentação da matéria.
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Desse modo, o advento da Lei 9.876/99 veio cumprir exigência constitucional
consistente na determinação de que a forma de cálculo do salário-de-benefício
passasse a ser definida em norma de hierarquia inferior.
Por essa razão, foi editada a Lei 9.876/99, que entre outras coisas, trouxe
regras que alteraram o período básico de cálculo a ser tomado em conta para
efeito de concessão do benefício e criaram o fator previdenciário, que leva em
consideração a expectativa de sobrevida do segurado, seu tempo de
contribuição e sua idade, sempre no momento da aposentadoria, bem como
fixou nova alíquota de contribuição.
Este E. Supremo Tribunal Federal, no julgamento das medidas cautelares nas
ADI’s 2.110 e 2.111, indeferiu os pedidos ao assentar, ainda que
provisoriamente, a constitucionalidade das modificações introduzidas pelo
art. 2º, da Lei 9.876/99.
Ocorre que, como já dito, o Recorrente não está discutindo a
constitucionalidade, em si, das alterações trazidas pelo art. 2º da Lei 9.876/99,
o qual foi objeto do citado acórdão desta Corte, mas apenas a interpretação
das regras de transição trazidas pela EC 20/98 (art. 9º), a fim de se perquirir a
viabilidade constitucional da incidência do fator previdenciário (art. 29, da Lei
8.213/91, com redação da pelo art. 2º, da Lei 9.876/99), em substituição às
referidas normas de transição.
Em outras palavras, a questão constitucional debatida cinge-se a saber se a
forma de cálculo do salário-de-benefício deve observar as regras editadas pela
Lei 9.876/99, quando referente a segurados filiados ao Regime Geral de
Previdência Social até 16.12.1998, data de promulgação da EC 20/98, ou se a
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concessão do benefício deve obedecer apenas às regras da referida emenda
constitucional.
E o acórdão recorrido, ao interpretar a EC 20/98, concluiu não haver óbice à
incidência da nova legislação e, portanto, do fator previdenciário, aos
benefícios concedidos com cômputo de tempo posterior à vigência da Lei
9.876/99.
Nesse sentido, cumpre a esta Corte decidir sobre a questão constitucional
suscitada, bem como se deve incidir o fator previdenciário (Lei 9.876/99) ou as
regras de transição trazidas pela EC 20/98 aos benefícios concedidos a
segurados filiados ao RGPS até 16.12.1998, manifestando-se, assim, sobre a
possibilidade de a nova legislação regular de modo distinto a concessão de
benefícios aos segurados na referida situação.
Do mesmo modo, o presente Recurso Extraordinário é cabível com
fundamento na afronta ao art. 5º, inciso LXXIX, da CF, tendo em vista a
condenação do Recorrente, beneficiário da justiça gratuita, ao pagamento de
honorários de sucumbência (decisão condicionada), mesmo sendo beneficiário
da justiça gratuita.
MERITORIAMENTE
DA INAPLICABILILIDADE DO FATOR PREVIDENCIÁRIO
NO CÁLCULO DAS APOSENTADORIAS CONCEDIDAS
COM FUNDAMENTO NO ART. 9º, DA EC 20/98
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O art. 9º, da EC 20/98 expressa que, ressalvado o direito de opção à
aposentadoria pelas normas por ela estabelecidas para o RGPS, é assegurado o
direito à aposentadoria ao segurado que tenha se filiado ao citado regime até a
data da publicação da emenda, quando, cumulativamente, atender aos
seguintes requisitos:
I- Contar com cinquenta e três anos de idade, se homem, e
quarenta e oito anos de idade se mulher; e
II- Contar tempo de contribuição igual, no mínimo, à soma
de:
a) Trinta e cinco anos, se homem, e trinta anos se mulher; e
b) Um período adicional de contribuição equivalente a vinte
por cento do tempo que, na data da publicação desta
Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo constante
da alínea anterior.
§ 1º O segurado de que trata este artigo, desde que atendido
o disposto no inc. I do caput, e observado o disposto no
artigo 4º desta Emenda, pode aposentar-se com valores
proporcionais ao tempo de contribuição, quando
atendidas as seguintes condições:
I- Contar tempo de contribuição igual, no mínimo, soma de:
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a) Trinta anos, se homem, e vinte e cinco anos, se mulher; e
b) Um período adicional de contribuição equivalente a
quarenta por cento do tempo que, na data da publicação
desta Emenda, faltaria para atingir o limite de tempo
constante da alínea anterior;
II- O valor da aposentadoria proporcional será equivalente a
setenta por cento do valor da aposentadoria a que se
refere o caput, acrescido de cinco por cento por ano de
contribuição que se refere o inciso anterior, até o limite de
cem por cento.
Em outros termos, a questão constitucional debatida cinge-se a saber se a
forma de cálculo do benefício deve observar as regras estabelecidas pelo art.
2º, da Lei 9.876/99, que alterou a redação do art. 29, inciso I e §§ 7º a 9º, da Lei
8.213/91, quando referente a segurados filiados ao Regime Geral de
Previdência Social até 16.12.1998, data de promulgação da EC 20/98, ou se a
concessão do benefício deve obedecer apenas às regras da referida emenda
constitucional (art. 9º).
Como mencionado na peça prefacial e no recurso contra sentença, nota-se que,
em que pese o legislador constitucional não ter estabelecido como seria o
cálculo da média da renda a ser substituída, sujeitou-a apenas à incidência de
um determinado sistema de restrição atuarial, o coeficiente de cálculo, de
natureza impessoal, que a todos atinge por igual, eis que relaciona um tempo
de custeio específico (no intervalo entre 25 e 35 anos); uma alíquota de
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contribuição média; uma expectativa de sobrevida correspondente à idade
média com a qual os segurados costumam exercer o direito, para, a partir da
proporção de cada qual, graduar a restrição de direito atuarialmente
necessária (variável apenas no intervalo fixo entre 0% e 30% = 70% a 100% de
coeficiente de cálculo).
A própria exposição de motivos do projeto da Lei 9.876/99 já demonstrava a
criação de um novo sistema de adequação das necessidades atuariais
apuradas quando da concessão da aposentadoria, o do fator previdenciário,
tratado como um mecanismo de ajuste automático do sistema a
transformações demográficas futuras.
Vê-se, assim, que após a instituição do fator previdenciário, a restrição atuarial
passou a ter natureza pessoal, atingindo a cada segurado de modo desigual,
de acordo com o seu tempo de contribuição, a sua idade e a sua expectativa de
sobrevida.
No entanto, não tinha o legislador infraconstitucional o poder para regular as
aposentadorias referidas no art. 9°, da EC 20/98, que, como visto, assegura um
sistema de adequação atuarial específico, que conjuga idade mínima;
acréscimo no tempo de custeio (contribuição/pedágio) e um coeficiente de
cálculo.
Diante disso, a conclusão que se chega é que a existência de uma norma
constitucional dispondo sobre o sistema de adequação atuarial a ser adotado
(coeficiente de cálculo) impede a eficácia da lei ordinária (Lei 9.876/99) que
estabelece outro sistema (fator previdenciário).
Nesta linha de raciocínio, vale lembrar que a retirada da garantia
constitucional do modelo de cálculo dos benefícios previdenciários, só teve
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possibilidade política de ocorrer, pois veio acompanhada de norma
asseguradora das expectativas de direito dos segurados já inscritos no RGPS
(regra de transição da EC 20/98).
E sempre foi assim. Toda vez que se agravam as condições para que o cidadão
consiga se aposentar, imperioso se torna a adoção de “regras de transição”,
com o objetivo de amenizar a mudança, mantendo inclusive com tal proceder,
um pouco de confiabilidade do segurado no que tange as “regras do jogo”,
pois ninguém gosta de mudanças no meio dele, isso passa desconfiança
completa no sistema de seguridade social.
Neste sentido, a regra de transição tem papel de suma importância, pois é ela
que assegura (ou tenta assegurar) a proteção contra a norma superveniente,
estabelecendo assim, as condições em que os direitos, ainda em formação,
poderão ser exercidos no futuro.
O art. 9°, da EC 20/98, cumpre exatamente este papel, protegendo os
segurados já inscritos no RGPS, antes da edição da emenda, contra a
incidência da norma futura, mitigadora de direitos.
A referida norma constitucional foi explícita ao ressalvar o direito de opção
desses segurados à aposentadoria pelas regras nela estabelecidas para o RGPS,
quando, cumulativamente, atenderem os requisitos da idade mínima de 53
anos para os homens, e de 48 anos de idade para as mulheres, e do
cumprimento cumulativo com o requisito etário, do pedágio de 40% (quarenta
por cento) para as aposentadorias proporcionais, e de 20% (vinte por cento)
para as aposentadorias integrais!
Assim, restou possível o direito de 03 (três) opções:
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a. Pelo direito adquirido ao valor devido em
15.12.1998 (art. 4°, da EC 20/98);
b. Pelas regras permanentes do RGPS (§ 7°, do art. 201, da
CF);
c. Ou ainda, para o segurado filiado até 15.12.1998, a
“regra de transição” (art. 9°, da EC 20/98).
Resta evidente que tanto a proteção do direito adquirido, quanto à da “regra
de transição” visavam unicamente deixar seus destinatários em situação
jurídica melhor que a dos destinatários da regra permanente posta no § 7°, do
art. 201, da CF.
Aliás, ao encaminhar ao Congresso Nacional o projeto que resultou na Lei
9.876/99, o governo deixava claro que a adoção do “mecanismo de ajuste
automático do sistema a transformações demográficas futuras” (fator
previdenciário) resultaria na estabilização do suposto déficit previdenciário,
uma vez que, com as variáveis atuariais presentes no próprio cálculo do
benefício, o sistema se manteria em equilíbrio
Conclui-se, assim, que o equilíbrio do sistema não necessita de restrição de
direito à repercussão dos salários em benefícios maior que a representada pelo
fator previdenciário.
Em razão disso, sempre que uma média contributiva sofrer a incidência do
fator previdenciário e, também, a incidência de coeficiente de cálculo inferior à
unidade, estar-se-á diante de restrição de direito superior à suposta
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necessidade atuarial do sistema previdenciário. (A Associação Nacional dos
Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP), em reunião no dia 5
do corrente mês na Câmara dos Deputados, deixou claro que a Previdência
Social é superavitária nos últimos quatro anos. Em 2010 teve um superávit de
R$ 55 bilhões, em 2011 teve R$ 76 bilhões, em 2012 teve R$ 83,3 bilhões e em
2013 teve R$ 78,1 bilhões, totalizando em quatro anos R$ 292,6 bilhões. É
inaceitável a insistência do governo em dizer que a Previdência é deficitária.
Analisando a planilha, chegamos à conclusão que há sobra de dinheiro,
portanto, não se justifica o massacre em cima dos idosos, ex-trabalhadores
que, apesar de estarem protegidos pelo Estatuto do Idoso (Lei 10.741 de 3 de
outubro de 2003), continuam sendo extorquidos. O governo tenta esconder a
realidade matemática dos números da Previdência. Isso é menosprezar a
inteligência dos brasileiros, mentindo enganando e confiscando os direitos dos
idosos que tanto contribuíram ao longo de 30/35 anos para a Previdência
Social. As perdas dos aposentados já chegam a 81,10% a contar desde 1994.
Diante dos fatos é impossível mascarar uma realidade contábil. (Fonte:
http://www.anfip.org.br/informacoes/noticias/ANFIP-na-Midia-
Previdencia-Jornal-de-Brasilia-DF_22-09-2014)).
Neste sentido, vale a menção ao art. 201, § 11º, da CF, regra que é clara em só
admitir restrição à repercussão dos salários em benefícios, se isto for
necessário para manutenção do equilíbrio atuarial do RGPS, sendo tal
necessidade, quantificada pelo fator previdenciário desde novembro de 1999,
quando do advento da Lei 9.876/99.
Como acima já mencionado, a discussão realizada traz uma solução de
questão exclusivamente de direito, consistente em saber se o legislador
ordinário (Lei 9.876/99) poderia alterar o critério de imposição de restrições
atuariais estabelecido pelo legislador constitucional (EC 20/98).
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Tal assertiva se embasa nas seguintes proposições: 1) a norma constitucional
fixou o critério de imposição de restrições atuariais a ser aplicado às
aposentadorias garantidas aos segurados já filiados ao RGPS em 15.12.1998
(art. 9°, da EC 20/98), o externalizando através do coeficiente de cálculo; 2) a
norma constitucional não pode ser ab-rogada pela atividade do legislador
ordinário (princípio constitucional da hierarquia das normas jurídicas); 3) o
legislador ordinário alterou os parâmetros para assegurar a repercussão dos
salários em benefícios (aumento do período de cálculo do salário-de-
benefício); 4) o legislador ordinário alterou o critério de imposição de
restrições atuariais a ser aplicado às aposentadorias por tempo de
contribuição, o externalizando através do fator previdenciário.
Combinadas de acordo com a ordem constitucional, tais
proposições resultam no seguinte enunciado: o
legislador ordinário (Lei 9.876/99) não poderia alterar o
critério de imposição de restrições atuariais aplicável às
aposentadorias asseguradas em norma constitucional
(art. 9°, da EC 20/98), nem para substituí-lo, nem para
agravar-lhe.
Afinal, o Recorrente sofreu bis in idem com relação à exigência do critério idade
no cálculo do seu benefício, quando da aplicação do fator previdenciário
(_____) e quando da aplicação do coeficiente de cálculo (_____). Ou seja, o
Recorrente sofreu dois prejuízos quando do cálculo do seu benefício: a
aplicação do fator previdenciário e o coeficiente de cálculo previsto pelo art.
9º, da EC 20/98.
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Vejamos os precedentes jurisprudenciais do TRF da 4ª Região e da Turma
Recursal de Santa Catarina sobre o tema:
PREVIDENCIÁRIO. EMENDA CONSTITUCIONAL
20/98. INAPLICABILIDADE DA SISTEMÁTICA DE
CÁLCULO INTRODUZIDA PELA LEI 9.876/99 A
BENEFÍCIOS CONCEDIDOS COM BASE NAS REGRAS
DE TRANSIÇÃO. 1. De acordo com a redação dada pela
Emenda Constitucional 20/98, a Constituição Federal, em
seu art. 201, § 7º, estabelece que fica assegurada
aposentadoria no regime geral de previdência social, nos
termos da lei, obedecidas as seguintes condições: trinta e
cinco anos de contribuição, se homem, e trinta anos de
contribuição, se mulher. 2. O art. 9º, caput, da EC 20/98
oferece duas opções ao segurado que já era filiado à
Previdência Social quando do seu advento: aposentar-se
com a regra de transição ou pela nova sistemática
inaugurada, o que lhe for mais favorável (e esta é,
essencialmente, a razão de ser de tal tipo de regra). 3. Em
matéria previdenciária as regras de transição sempre
encontram justificativa no princípio da confiança.
Preservam a estabilidade da relação de confiança mútua
que deve existir entre segurados e Previdência Social.
Exemplo disso é a regra do art. 142 da Lei nº 8.213/91, que
veio para compatibilizar a exigência de carência de 60
meses para 180 meses nos casos das aposentadorias por
idade e tempo de serviço, não se tratando de respeito a
direito adquirido ou a expectativas de direito, mas de
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respeito ao princípio da confiança. 4. A opção pela
utilização da regra de transição não se restringe apenas à
mera garantia aos filiados ao Regime Geral de Previdência
Social antes da reforma à percepção da aposentadoria por
tempo de contribuição proporcional e a não submissão aos
novos requisitos postos, mas, de forma mais ampla, de
garantir ao segurado nesta condição o direito de ter o
benefício, todo ele, calculado sem a aplicação de qualquer
uma das mudanças introduzidas pela reforma
constitucional. 5. Assim, se o segurado opta pela regra de
transição, atendendo a todos os requisitos exigidos pelo
art. 9º (idade mínima, pedágio, tempo de serviço e
carência), o faz também para que seja calculado o valor
inicial do benefício consoante as regras anteriores. Afasta-
se, portanto, a aplicação de quaisquer critérios atuariais do
cálculo do benefício, porquanto estes fazem parte das
novas normas estabelecidas pela EC n.° 20/98 para o
RGPS. Possibilita-se a utilização de um período básico de
cálculo (PBC) de somente 36 salários de contribuição e,
principalmente, exclui-se a aplicação do fator
previdenciário. A utilização deste em benefício concedido
com fulcro na regra de transição implica verdadeiro bis in
idem quanto à valoração da idade do segurado, seja como
condição para a inserção no regime transicional, seja como
variável que influirá no cálculo do salário de benefício. 6.
Entendimento este que traz, inclusive, outra consequência:
dá "vida" ao disposto na regra de transição no que se
refere ao pedágio para a inserção do segurado na regra de
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transição para fins de concessão de aposentadoria por
tempo de contribuição integral, fadada ao esvaziamento
pelo que dispõe a mais abalizada doutrina (ROCHA,
Daniel Machado da; BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo.
Comentários à Lei de Benefícios da Previdência Social, 2.
Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2002. pg. 187;
CUNHA, Lásaro Cândido da. Reforma da Previdência, 3.
Ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2000. pg. 83; e MARTINEZ,
Wladimir Novaes. Comentários à Lei Básica da
Previdência Social - Tomo II - Plano de Benefícios, 5. Ed.
São Paulo: LTr, 2001, p. 322), justamente pelo fato de que o
cumprimento de tal pedágio tem o condão de eximir o
segurado da submissão às novas regras de cálculo. 7.
Regras de transição inseridas na legislação previdenciária
que não podem ser mais prejudiciais aos segurados que as
novas regras permanentes, sendo exatamente isto que
ocorre quando se exige do segurado, na concessão das
aposentadorias proporcionais do § 1º do art. 9º da EC nº
20/98, o atendimento do requisito idade mínima e
pedágio, sem dispensá-lo da submissão às regras de
cálculo introduzidas pela Lei nº 9.876/99. (AC
00075640920094047100, ELIANA PAGGIARIN
MARINHO, TRF4 - SEXTA TURMA, D.E. 09/08/2012.)
PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR TEMPO DE
SERVIÇO OU TEMPO DE CONTRIBUIÇÃO
PROPORCIONAL. NÃO-INCIDÊNCIA DE FATOR
PREVIDENCIÁRIO. Para obter o benefício de
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aposentadoria por tempo de serviço até a data da EC
20/98 deve o segurado comprovar a carência mínima de
180 contribuições (art. 25, II, LBPS) ou a prevista na regra
de transição do art. 142 da LBPS, mais o tempo mínimo de
serviço de 25 anos para mulher ou 30 anos para homem,
no percentual de 70% do salário-de-benefício, com o
acréscimo de 6% por ano a mais de serviço, até 100% do
valor do salário-de-benefício (art. 53 da Lei nº 8.213/91).
Neste caso, o cálculo do salário-de-benefício deve
obedecer às regras contidas no art. 29 da LBPS, em sua
redação original e com as alterações estabelecidas pela Lei
nº 8.870/94. A Emenda Constitucional nº 20/98 extinguiu
a antiga aposentadoria por tempo de serviço e instituiu a
aposentadoria por tempo de contribuição, que passa a
levar em conta o tempo de contribuição efetiva do
segurado. Extinguiu, por outro lado, a aposentadoria
proporcional para aqueles que viessem a ingressar no
mercado de trabalho após o seu advento. Modificou tanto
os requisitos para a obtenção de aposentadoria como o
modo de cálculo do salário-de-benefício para a obtenção
da RMI. Aos que já eram filiados ao RGPS, por outro lado,
estabeleceram-se regras de transição para a aposentação,
contidas no art. 9º da Emenda Constitucional nº 20/98. As
regras relativas à aposentadoria integral para aqueles que
já eram filiados ao RGPS não possuem qualquer
aplicabilidade, pois se apresentam mais gravosas do que
aquelas estabelecidas aos que se filiaram ao RGPS após o
advento da Emenda Constitucional nº 20/98, onde não se
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exigiu pedágio ou idade mínima para a obtenção do
benefício, mas tão-somente o cumprimento de 35 anos de
contribuição para os homens e 30 anos de contribuição
para as mulheres. Essa foi a alteração efetuada pelo art. 1º
da EC 20/98 no art. 201, § 7º, I, da Constituição Federal.
Deste modo, só se aplicam as regras de transição às
aposentadorias proporcionais por tempo de contribuição
(pedágio de 40% do tempo que, em 16.12.98, faltava para
aposentar-se proporcionalmente e idade mínima de 53
anos para homem e 48 anos para mulher). Por via de
conseqüência, não se pode cogitar de exigência de idade
mínima quando tratar-se de aposentadoria por tempo de
contribuição integral, pouco importando se a filiação ao
RGPS se deu antes ou após o advento da Emenda
Constitucional nº 20/98. A Lei nº 9.876/99 veio a regular a
nova sistemática de benefícios. Tendo em vista que o
estabelecimento de idade mínima para a aposentação não
foi admitido no RGPS, instituiu-se o fator previdenciário,
que leva em consideração a idade, expectativa de vida e
tempo de contribuição do segurado. Tal fator incide no
cálculo do benefício podendo diminuir ou aumentar-lhe o
valor. Sendo a idade um dos itens integrantes do fator
previdenciário, não se pode fazê-la incidir duas vezes
quando da concessão do benefício: na exigência da idade
mínima e como integrante do fator previdenciário, sob
pena de causar limitação excessiva ao segurado. As regras
de transição, utilizadas para calcular o benefício de
aposentadoria proporcional por tempo de
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serviço/contribuição da parte autora não contemplam em
seu cálculo o referido fator previdenciário. Recurso da
parte autora ao qual se dá provimento. (RCI
2007.72.95.007023-4, Primeira Turma Recursal de SC,
Relator Andrei Pitten Velloso, julgado em 27/08/2008)
DA JUSTIÇA GRATUITA E DOS HONORÁRIOS DE
SUCUMBÊNCIA
Por fim, nota-se que o v. acórdão recorrido impôs ao Recorrente a condenação
ao pagamento de honorários advocatícios em favor do INSS, de 10% do valor
da causa, observada a suspensão prevista no art. 98, § 3º, novo CPC (o
Recorrente é beneficiário da justiça gratuita).
Ocorre que a condenação acima mencionada, com o sobrestamento da
cobrança dos honorários advocatícios de sucumbência, ignorou o disposto no
art. 5º, inciso LXXIV, da CF, que garante a assistência judiciária gratuita
integral aos hipossuficientes de acordo com a situação atual de pobreza!
Além disso, a condenação ao pagamento dos honorários, nos termos
propostos pelo acórdão recorrido, mostra-se inviável, posto que torna a
decisão um título condicional e, portanto, nulo.
Neste sentido, vale a citação do precedente deste C. STF sobre a matéria:
Ônus da sucumbência indevidos: beneficiário da Justiça gratuita: a
exclusão dos ônus da sucumbência se defere conforme a situação
atual de pobreza da parte vencida. (RE 313348 AgR, Relator: Min.
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SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em
15/04/2003, DJ 16-05-2003 PP-00104 EMENT VOL-02110-03 PP-
00616)
Assim sendo, o Recorrente requer seja reformado o v. acórdão recorrido
quanto à condenação ao pagamento em de honorários de sucumbência, tendo
em vista ser beneficiário da justiça gratuita.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do exposto, o Recorrente requer seja o presente Recurso Extraordinário
conhecido e julgado TOTALMENTE PROVIDO, reformando o v. acórdão
recorrido, para julgar a presente ação totalmente procedente, declarando-se
incidentalmente a inconstitucionalidade do art. 29, inciso I, da Lei 8.213/91,
com redação no art. 2º, da Lei 9.876/99, para atribuir-lhe interpretação
conforme a Constituição, com redução de texto, especificamente em face da
incompatibilidade da aplicação do fator previdenciário nas aposentadorias
por tempo de contribuição concedidas com fundamento no art. 9º, da EC
20/98 (regra de transição), bem como para que o INSS seja condenado a
recalcular a renda mensal inicial da aposentadoria concedida ao Recorrente
(aposentadoria por tempo de contribuição proporcional), sem aplicação do
fator previdenciário, com o pagamento das parcelas vencidas e vincendas,
devidamente corrigidas e com aplicação de juros legais, observada a
prescrição qüinqüenal, além de honorários advocatícios de sucumbência,
como medida de direito e da mais lídima justiça!
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Requer-se ainda, em face do princípio da eventualidade, caso seja mantida a
improcedência do pedido, que ao menos seja dado provimento ao presente
Recurso Extraordinário para que seja excluída a condenação do Recorrente ao
pagamento dos honorários de sucumbência.
Termos em que,
Pede deferimento.
Local e data.
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Nome do Advogado
Número da OAB