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Vidmar Garrido
Projeto gráfico Celeiro de Escritores
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Vidmar Garrido
Capa Claus Ritter
A658f ARAÚJO, Varenka de Fátima Fatos e Retratos / Varenka de Fátima Araújo. São Paulo, SP: Ed. Sucesso, 2011. 89 p. ; 21 cm. ISBN 978- 85- 89091- 65- 7 1. Literatura brasileira. 2. Crônicas. 3. Contos. I. Araújo, Varenka de Fátima. II. Título. 8 2 - 3
© 2011 Varenka de Fátima Araújo Brasil
Sumário
Prefácio .........................................................................................09
Maria Albaniza Araújo ...................................................................11
Meu pai, meu ídolo ........................................................................14
Meu vício .......................................................................................16
Eles amam... ..................................................................................17
A cigana e a mijona .......................................................................18
A medida certa ..............................................................................21
O nu na praça ................................................................................25
Dança na praça .............................................................................26
João Lucas ....................................................................................27
A mulher de roxo ...........................................................................28
As maravilhas de Salvador ............................................................31
A puta que venceu .........................................................................33
O belo Poeta ..................................................................................35
Aurora ............................................................................................37
Dulce Shwabacher ........................................................................40
Pra ter tudo ...................................................................................43
Vamos em frente... ........................................................................45
A criança que queria ......................................................................46
A mulher pintada ...........................................................................48
Os repentistas ...............................................................................50
De olho na literatura ......................................................................51
Jorge Amado .................................................................................52
A ruiva bem-vinda ..........................................................................53
Hora de verão ................................................................................55
Padre Cícero e Juazeiro ................................................................57
A história marcou ...........................................................................59
O ceguinho vendedor ....................................................................60
Branca ...........................................................................................62
Nina ...............................................................................................64
Morro de São Paulo .......................................................................65
Com a palavra ...............................................................................67
Praça .............................................................................................69
Fala escritor ...................................................................................71
Maria Arlinda Moscoso ..................................................................72
Presépio ........................................................................................73
Elen Sahno ....................................................................................75
O voo .............................................................................................77
Uma flor... ......................................................................................79
Um descobridor de talentos ...........................................................81
Monime ..........................................................................................83
Yan ................................................................................................84
Você é pra mim .............................................................................85
Sobre a autora ...............................................................................86
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Prefácio
Falar de um livro sem falar de seu autor ou autora é o mesmo
que tentar separar as duas faces de uma moeda. "Fatos e
Retratos", de Varenka de Fátima Araújo, é um mosaico, uma
miscelânea de pensamentos, ideais, projetos e sonhos da
poetisa, escritora, dançarina, mãe, amiga, baiana emprestada e
mais um pouco... Emprestada, pois Varenka veio das terras do
“Padim Ciço”, Ceará, terra de João Scortecci, Chico Anysio,
Rachel de Queiroz, Rubens de Azevedo e tantos outros
privilegiados...
O Ceará é terra de humoristas e de praias belíssimas, cenário
propício à criação, à inspiração. Varenka veio pequena para a
Bahia mas trouxe a herança genética do talento cearense nas
veias. Artista múltipla, agora lança o segundo livro, recheado
de contos, crônicas e poesia entremeada de alegria, energia
positiva, vontade de viver e de se perpetuar no universo
literário brasileiro. O primeiro livro, “Ela em versos”, em que
a autora se derrama em poemas, do qual falei em outro
momento, traz o saudosismo e o sentimento de pertencimento
a uma família com a qual a poetisa tem uma ligação muito forte.
Se a ligação familiar é forte, os laços que Varenka tem com a
arte vêm desse cordão umbilical que lhe mantém viva, acesa,
produtiva e inspiradora. Musa de si mesma, musa para tantos
outros menestréis, Varenka traz agora uma nova publicação
com contos, causos, crônicas e pensamentos. Fala dos
repentistas, em homenagem a tantos cantadores populares,
muito comuns no estado natal da autora; fala dos horários de
verões, que tumultuam e ao mesmo tempo acomodam e
remodelam a vida das pessoas (e olhe que o sol brilha pra todos,
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de verdade, no Ceará e na Bahia); faz uma ode ao nu artístico,
ao belo natural; homenageia Jorge Amado e faz referências a
tantos outros cantos e encantos deste Brasil plural e singular...
Esta é a leitura que Varenka faz da vida, das vivências, das
experiências e desejos. No mais, é se jogar numa rede, folhear
o livro em qualquer página e começar, sem ter hora nem lugar
para acabar a leitura e releitura, pois o deleite está aí, a te
chamar: Varenka de Fátima Araújo, em carne e osso, em letras
e páginas!
Valdeck Almeida de Jesus*
*Valdeck Almeida de Jesus é escritor, poeta e jornalista. Já lançou
quinze livros, dentre eles “Memorial do Inferno”, “30 anos de poesia
e mais um pouco”, “Feitiço contra o feiticeiro” e “Heartache Poems”.
Site pessoal www.galinhapulando.com
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Maria Albaniza Araújo
Na mesma casinha branca com um enorme jardim ao redor
estava ela, na varanda, descansando em sua cadeira.
Setenta e sete anos de idade, elegante, usava suas joias
favoritas, tinha acabado de chegar de viagem. Fora ao Recife
visitar sua irmã mais velha.
Maria Albaniza estava feliz. Lembrou do seu tempo de
criança... Residia com a família em Souza na Paraíba, cidade
em que nasceu.
Dona Mocinha era um rancho, uma hospedaria aos via- jantes
que passavam por lá. Certo dia, um senhor pediu pousada.
Albaniza estava com dez anos, criança atenciosa, logo se
ofereceu para levar o cavalo a beber água no rio. No caminho
de volta, chicoteou com força o traseiro do animal, que em
disparada saiu. Amenina caiu, ficou sem falar.
Em casa, Dona Mocinha tratou dela colocando gergelim pisado
em suas costas, sarou e não pegou mais em cavalos. Mas
Albaniza era valente e corajosa.
Jovenzinha foi para Campina Grande morar com sua irmã mais
velha, pois sua mãe era muito pobre. Uma vizinha sempre a
chamava para o almoço. Amenina se fartava comum caldo de
arroz com leite. Uma delícia!
No ano de 1952 com dezessete anos voltou a residir com sua
mãe, na cidade de Juazeiro do Norte. Inteligente, bonita e vivaz,
fez amizade com gente deposição social elevada. Certo dia na
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rua, viu um rapaz de chapéu e terno de linho branco, Albaniza
aproximou-se e perguntou.
— O senhor é filho de Aurora?
— Sim, sou Francisco Chagas Araújo.
Encontraram-se outras vezes e após um mês Chaguinha pediu-
a em namoro. O Bispo do Crato, cidade vizinha de Juazeiro fez
o casamento, quatro meses depois.
O jovem marido tinha saído do convento e perdeu-se nas farras,
o que lhe rendeu uma dívida de dez contos de reis. O casal
passou por dificuldades, mas com um ano conseguiram quitar
o débito, na época nasceu a primogênita Varenka. A segunda
filha, Hermengarda nasceu na Paraíba, pois a firma em que
Chaguinha trabalhava havia sido transferida para lá. Mas com
dez anos de trabalho foi despedido da firma; agiam assim para
não aposentar ou pagar os direitos ao funcionário. Mudaram-se
para o Piauí, Albaniza estava grávida da terceira filha, Paloma,
entretanto, tiveram de ir para Juazeiro do Norte por causa da
varíola, que diziam, matava mulher grávida. Depois,
Chaguinha arrumou novo emprego e foram morar em
Muxiopo, onde nasceu seu único filho homem, Segestes.
Afirma faliu e a família passava dificuldades; Albaniza tomou
a iniciativa de sair como vendedora de joias para as cidades
vizinhas. Nessa época já estavam em Juazeiro do Norte, onde
nasceu sua última filha, Fadila. Foram anos difíceis, mas o
casal os superou com perseverança e amor. Resolveram, então,
mudar-se para uma região onde as vendas eram muito mais
promissoras e lucrativas. Pensavam, também, na oportunidade
de estudo para os filhos. Salvador era a cidade prometida.
Compraram a casinha branca, depois outra na cidade baixa,
outra na Barra, cidade alta, outra na Carlos Gomes, centro,
enfim foram quatorze casas.
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O tempo passou tão rápido... Alguns imóveis foram vendidos.
O sonho de ter os filhos formados foi realizado: uma em
medicina, outra em arquitetura, a mais velha nas artes, a caçula
enfermeira, e o rapaz cantor e violonista.
Chaguinha e Albaniza viveram juntos 57 anos. Um amor que
só a morte separou. Ele faleceu aos 86 anos, vítima de um
AVC, em 2010. Chaguinha foi um homem sensível e bondoso,
faz muita falta para todos da família. Albaniza continua à frente
dos negócios, segue firme, mesmo saudosa de seu inesquecível
amor. Viver é superar cada dia na dor.
A família aumentou, e hoje, a segunda geração tem nove netos
e a terceira um bisneto, Yan.
Varenka de Fátima Araújo
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Meu pai, meu ídolo
A fotografia é arte através da luz. Lembranças boas trazem luz
ao nosso coração.
Dia 12 de agosto na ACB, recebi das mãos do Dr. Luiz Barreto
uma foto do meu pai, em sua formatura de economista.
Desgastada pelo tempo, mas ainda nítida. Na pose do retrato,
eu pude ver, em volta de sua cabeça um elmo de luz, e seu olhar
enigmático. Reconstruímos o retrato. Quando retocava o rosto
de meu pai senti sua vivacidade, dedicação e bondade para com
todos.
Na gaveta da memória, as páginas do nosso livro contêm suas
indeléveis e sábias palavras. Ah! Papai tinha a sensibilidade à
flor da pele, e foi um psicólogo nato. Recordo- me de sua voz
impostada cantando Malaguenha, o hino da França, Casinha
Branca e o nosso hino Nacional. Tocava piano e falava latim.
Dentre as tantas histórias que nos contou, lembro- me de Don
Quixote, Che Guevara, Varenka Olessova, Os Miseráveis e
Eduardo III. Sempre fui sua fã!
Papai, meu amigo, desde pequenina me colocava em cima da
mesa para que eu dançasse e me aplaudia. Venceu as batalhas
da vida com inteligência, e me ensinou a lutar e perseverar.
Assimilei todos os seus valorosos ensinamentos. Como as
pérolas nas conchas no fundo do mar.
Pai Chaginhas, meu irmão na nossa camaradagem, conversas
inesquecíveis. Esteve sempre do meu lado, nunca me
abandonou. Sou convicta de que ele foi o melhor pai, amigo e
irmão. Era fascinante em todos os momentos.