OS MAIORAIS DA PRINCESA DO SUL
Os maiorais da “Princesa do Sul”: 1870-1931
Cleonice Gonçalves de Moraes Jefrey Vacheliski Reckziegel
Karen Radunz PotterLucas Pessoa Pereira
Paulo Vieira da Silva MagalhãesCarlos Alberto Ávila Santos
Resumo: Este artigo apresenta os resultados parciais da pesquisa Os maiorais da Princesa do Sul: 1870-1931, cujo objetivo é comentar sobre os proprietários dos prédios ecléticos edificados em Pelotas no período compreendido entre as datas citadas, inventariados em investigações anteriores. Aborda o histórico de alguns vultos pelotenses, relacionando-os com as residências em que habitaram e com as ideologias culturais e políticas materializadas nas fachadas dos prédios.
Palavras-chave: Arquitetura; Ecletismo; Proprietários.
Introdução
A investigação de iniciação científica intitulada Os maiorais da Princesa
do Sul teve início em novembro de 2010, através de pesquisa bibliográfica
realizada na seção de livros raros e jornais antigos da Biblioteca Pública
Pelotense, como também na internet. Em pesquisa de campo foram realizadas
entrevistas com os descendentes dos vultos encontrados e, foram efetuadas
visitas aos acervos da Santa Casa de Misericórdia, da Beneficência
Portuguesa, do antigo Asilo de Órfãs Nossa Senhora da Conceição e do Asilo
de Mendigos, para registro fotográfico de retratos e de pinturas dos
beneméritos selecionados.
O trabalho objetivou organizar os dados encontrados sobre a história
dos proprietários dos prédios ecléticos de Pelotas, erguidos no período de 1870
a 1931, relacionando-os com as moradias em que habitaram esses vultos
históricos da cidade. Entre os dados coletados estão os cargos ocupados e os
feitos realizados por esses senhores, bem como suas ideologias políticas,
culturais e estéticas.
Barão de Butuí, José Antônio Moreira
José Antônio Moreira, o Barão de Butuí,
nasceu na cidade do Porto em 19 de abril
de 1806, filho de Antônio José Moreira e
de Maria da Apresentação, ambos
portugueses. Veio para o Brasil em 1817
e naturalizou-se brasileiro. O Barão de
Butuí faleceu em 20 de outubro de 1876,
com 70 anos (CARVALHO,1937).
O Barão teve dez filhos, cinco homens e
cinco mulheres, sendo que quatro do
primeiro matrimônio com Maria Josefa de
Castro (um deles falecido ainda menor), e seis do segundo casamento com
Leonidia Gonçalves.
Dentre os filhos destacam-se: Candida Moreira de Castro, que casou com
Leopoldo Antunes Maciel, o Barão de São Luís; Maria Moreira, que esposou o
Tenente-Coronel Domingos Soares de Paiva, neto do Visconde de Jaraguarí;
Leonidia Moreira, que casou com Manoel Luís Osorio, filho do General Manoel
Luís Osório, o Marquês de Herval.
Dentre os seus netos, destaca-se Celina Moreira, filha de Francisco de Paula
Moreira, que foi intendente1 de Pelotas. Celina esposou Oscar Conceição de
Oliveira, filho dos Barões d’Alves da Conceição.
O Barão de Butuí fez constantes contribuições para obras de benemerência, o
que lhe conferiu o status de homem caridoso, deixando inclusive em seu
testamento, a liberdade para muitos de seus escravos. Além de fazer fortuna
1 Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/>. Acesso em: 26 de maio de 2011. O antigo termo remete para aquele que intende ou superintende, que tem a direção superior em obras ou em trabalhos. Nos dias de hoje, o arcaico verbete é equivalente ao cargo de Prefeito.
produzindo charque, foi Comendador2 da Imperial Ordem da Rosa3 e recebeu o
título de Barão, por sua benemerência social, através de Decreto Imperial de
10 de junho de 1873, quando tinha 67 anos.
O Barão de Butuí adquiriu do charqueador José Vieira Viana o antigo sobrado
fronteiro à Praça Coronel Pedro Osório, na esquina das ruas Félix da Cunha e
Lobo da Costa. (SANTOS, 2007) Construído por volta de 1830, o edifício de
características originais da estética arquitetônica luso-brasileira, foi reformado
no ano de 1880 pelo construtor italiano José Isella, quando ganhou elementos
funcionais e ornamentais peculiares ao estilo arquitetônico historicista eclético:
a camarinha, a platibanda com balaústres e o frontão, as pilastras com capitéis
das ordens da arquitetura clássica greco-romana, as portas-sacada e os
guarda-corpos dos balcões, os elementos decorativos de estuque. Com a
reforma, a edificação teve sua fachada harmonizada com aquelas das casas
assobradadas vizinhas, seguindo o modismo arquitetônico da época, o
ecletismo historicista. O antigo sobrado serviu de residência para a família de
um dos filhos do Barão, Ângelo Gonçalves Moreira.
O prédio foi tombado pelo
Governo Federal na data de 15
de dezembro de 1977.
(SECULT, 2008) Foi restaurado
pelo Projeto Monumenta no ano
de 2005, tendo sua entrega
realizada no mês de novembro.4
Atualmente, o edifício sedia a
Secretaria de Cultura de
Pelotas e abriga salas administrativas e ambientes para exposições de arte.
2 De acordo com o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/>. Acesso em: 26 de maio de 2011. É o título dado a eclesiásticos ou a cavaleiros de ordens honoríficas.3 Segundo ISING, Andreas M. Schulze. Brazil – The Imperial Order of the Rose. Disponível em: <http://www.medalnet.net/brazil_rose.htm>. Acesso em: 26 de maio de 2011. É condecoração honorífica brasileira, criada pelo Imperador D. Pedro I em 17 de outubro de 1829, na ocasião de seu segundo casamento com D. Amélia de Leuchtenberg e Eischstädt. Tradução do pesquisador.4 Informações obtidas através de entrevista realizada no dia 06 de junho de 2011, com funcionária da Secretaria da Cultura de Pelotas.
Barão e Visconde da GRAÇA, João Simões Lopes Filho
De acordo com Carvalho (1937) o pelotense João Simões Lopes Filho, ou
Barão e Visconde da Graça, filho do
Comendador João Simões Lopes, nascido em
Portugal, e de D. Izabel Dorothea Carneiro da
Fontoura, nascida em Viamão, nasceu em 1º
de agosto de 1817 e faleceu em 25 de
outubro de 1893, também em Pelotas.
Teve doze filhos (sete homens e cinco
mulheres) de seu primeiro matrimônio, com D.
Eufrasia Gonçalves Victorino, e dez (sete
homens e três mulheres) do segundo, com D.
Zeferina Antonia da Luz. Ambas eram
gaúchas, a primeira de Piratini e a segunda de Encruzilhada do Sul.
Sua fortuna inicial veio basicamente do
comércio e principalmente da Charqueada da
Graça, a qual sua mãe havia herdado,
anteriormente, grande parte da propriedade.
Ao longo de sua vida, adquiriu duas fazendas,
um iate, vários terrenos e mais de 20 casas.
Outra importante aquisição foi a dos direitos
de implantação do sistema de água potável
encanada em Pelotas, no dia 18 de novembro
de 1871. Assim feito, fundou a Companhia
Hidráulica Pelotense, junto a Antônio José de
Azevedo Machado Filho e Adriano José de
Mello.
Recebeu os títulos de Barão e Visconde, respectivamente, através de Decretos
Imperiais, por ter sempre se mostrado defensor ferrenho do Império.
D. Zeferina Antonia da Luz
Residiu no prédio onde hoje
funciona a Casa da Criança São
Francisco de Paula, localizado
na esquina das ruas XV de
Novembro e Uruguai. Era avô
paterno do ilustre João Simões
Lopes Neto.
Barão D’Alves da Conceição, Manoel Alves da Conceição
Manoel Alves da Conceição, o Barão d’Alves da Conceição, recebeu o
título já adulto e não por herança. Nasceu no ano de 1830 na cidade de
Silgueiros5, e imigrou para o Brasil ainda jovem, com 14 anos de idade, e
instalou-se na cidade do Rio de Janeiro. Era filho de José Alves da Conceição
e D. Ana Cardoso (CARVALHO, 1937).
Sua primeira fonte de renda na então capital brasileira foi a ocupação do
cargo de caixeiro em uma casa comercial que pertencia ao Comendador José
Borges da Costa, figura que viria a ser futuramente o seu sogro. Já neste
primeiro momento de sua carreira nos negócios, o futuro Barão se preocupou
em salvar economias, o que lhe conferiu desde cedo quantia razoável de
fortuna.
Depois de uma grave doença, tomou a decisão de se mudar para o Rio
Grande do Sul, com o objetivo de se recuperar da moléstia. Após breve
período na cidade de Rio Grande, instalou-se definitivamente em Pelotas, onde
rapidamente reiniciou suas atividades comerciais. Começou seu ofício
manufaturando barrigueiras6, produto muito procurado na época por
5 Província de Beira Alta, Portugal. Consideram-se aqui, em decorrência da revisão bibliográfica de obra antiga, as primeiras divisões de províncias portuguesas desde o período medieval, quando existia somente a província “Beira”, ainda não dividida entre “Beira Alta” e “Beira Baixa”, até a última divisão provincial do ano de 1936. Esta última durou 40 anos, já que em 1976 foi instituída a nova Constituição Portuguesa, que dividiu o país em distritos. Hoje, os distritos equivalentes à área da província de Beira Alta são: Guarda, Coimbra e Viseu. Fonte?
6 Segundo o Dicionário Priberam. <http://www.priberam.pt/>. Acesso em: 14 de abril de 2012. O Termo Barrigueira define: (s. f.) Peça dos arreios que passa pela barriga da besta.
fazendeiros e tropeiros. Devido à alta demanda, conseguiu juntar capital
suficiente para abrir sua própria firma comercial: Conceição & Cia. A empresa
teve grande sucesso e logo se tornou a maior exportadora e importadora da
cidade. A firma foi também a primeira casa bancária de Pelotas, o que conferiu
ao empreendimento grande importância histórica para o local. Esta conclusão é
corroborada pelos seguintes fatos: (1) era ela quem financiava os trabalhos da
maioria dos charqueadores pelotenses, como também das casas de comércio
da cidade; (2) durante a guerra do Paraguai, a empresa prestou serviços ao
império, atendendo aos saques de dinheiro e fornecendo mantimentos às
tropas. Por este motivo, Manoel Alves da Conceição foi honrado pelo
imperador Dom Pedro II com a Comenda da Imperial Ordem de Nosso Senhor
Jesus Cristo.
Por ter acumulado fortuna e muito provavelmente incentivado por motivos
autopromocionais, o então Comendador realizou doações para instituições
portuguesas de benemerência, sendo assim agraciado pelo Reinado de
Portugal com o título de Barão d’Alves da Conceição.
Casou-se no dia 8 de maio de 1897 com Angélica Borges da Costa,
nascida no Rio de Janeiro, filha do Comendador português José Borges da
Costa e de Feliciana Rosa da Costa Borges, que era carioca. Foi seu único
casamento, e dele houve uma descendência de 11 filhos. De todos os barões
pelotenses, foi o único nascido em Portugal. Faleceu em Pelotas no ano de
1922, com 92 anos de idade.
O Barão d’Alves da Conceição foi proprietário do sobrado de três andares
localizado na esquina das atuais ruas XV de Novembro e Voluntários da Pátria.
A construção de uso misto abrigava a empresa e financiadora no andar térreo e
a área residencial nos pavimentos superiores. No ano de 1906, o edifício
pertencia ao Coronel Alberto Rosa e foi alugado pelo empresário uruguaio
Ganzo Fernandes, radicado em Bagé. No local foi instalado o centro de
comunicação da Empreza União Telephonica, conectada através dos postes
telegráficos da via férrea com Rio Grande, Jaguarão, Bagé, Livramento e
outras localidades do Rio Grande do Sul (SANTOS, 2007). Atualmente, o
antigo sobrado foi restaurado e abriga a Loja Renzo.
Fernando Luis Osorio Filho
Filho de Ernestina Assumpção e Fernando Luis Osorio, que foi Ministro
plenipotenciário do Brasil em Buenos Aires e, 5 meses depois foi nomeado
Ministro do Supremo Tribunal Federal, na então Capital Federal, o Rio de
Janeiro. Fernando Luis Osorio Filho nasceu em Pelotas, no dia 3 de novembro
de 1886 e faleceu a 25 de fevereiro de 1939, na Vila Siqueira (Cassino), no
município do Rio Grande.
Com o falecimento de seus pais, no Rio de Janeiro, Fernando Luis e
seus quatro irmãos vieram morar com seus tios em Pelotas, Joaquim Augusto
de Assumpção e Maria Francisca Mendonça de Assumpção. Como o tio já
tinha várias filhas, a casa ao lado, ocupada por um escritório passou a abrigar
os quartos dos diferentes meninos. As moças dormiam no palacete
assobradado eclético edificado entre os anos de 1884 e 1889, que ocupou o
lote de esquina de quarteirão fronteiro à Praça Coronel Pedro Osório, formado
pelas ruas Félix da Cunha e Lobo da Costa. Atualmente, o antigo palacete
residencial da família pertence à Universidade Federal de Pelotas, foi
restaurado no ano de 2005 e, atualmente abriga a Faculdade de Turismo.
Fernando Luis Osorio Filho casou-se com a prima, Francisca de
Assumpção Osorio, para a qual mandou construir um palacete eclético de
veraneio na praia do Cassino, chamado Villa Francisca. O casal residia em
Pelotas, no casarão geminado de nº 3 da Praça Coronel Pedro Osório.
Segundo entrevista realizada com Maria Leocádia de Assumpção Gertun, os
sobrados geminados com porão alto foram edificados entre os anos de 1911 e
1912, os prédios obedeceram à planta procedente da Inglaterra, erguidos sob
responsabilidade do construtor Caetano Casaretto. Os sobrados geminados
foram encomendados pelo Senador Joaquim Augusto de Assumpção, tio de
Fernando e pai de Francisca, foram dados como presentes de casamento às
filhas, Francisca e Judith de Assumpção (SANTOS, 2007). Hoje, as
construções geminadas foram adquiridas por um advogado pelotense e se
encontram em processo de restauração.
Fernando Luis Osorio e Francisca tiveram quatro filhos: Noemi,
Fernando, Maria Francisca, Elizabeth e Joaquim José. O nome do filho caçula
homenageava seu avô, o Barão de Jarau. Formou-se em 1910, na Faculdade
Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro, quando foi escolhido
orador da turma. Foi diretor da antiga Escola de Artes e Ofícios de Pelotas,
professor de Filosofia do Ginásio Pelotense, presidente da Biblioteca Pública e
um dos fundadores da Faculdade de Direito, também fez parte do corpo
docente desta Escola (OSORIO, 1997). Fernando Luis Osorio Filho era
também artista nas horas vagas. Compunha músicas e pintava quadros em
aquarela e tinta óleo.
Foi acionista do Diário Popular, fundado em 1890 e, por meio das
oficinas do mesmo jornal publicou no ano de 1922 a obra “A Cidade de
Pelotas”, promovida pela Intendência Municipal e comemorativa ao centenário
da Independência do Brasil (Osorio,1997), que hoje é um clássico da literatura
sobre a cidade. Em Pelotas foi homenageado postumamente com a
inauguração de uma herma na Praça Conselheiro Maciel, largo da Faculdade
de Direito, e com a designação do seu nome para identificar a principal avenida
do bairro Três Vendas.
Dr. Pedro Luis Osorio
Pedro Luis Osorio foi o terceiro filho do casal Ernestina do Carmo
Assumpção e Fernando Luis Osorio. Nascido em Pelotas em 29 de junho de
1883, faleceu na mesma cidade em 2 de outubro de 1948. Casou-se com sua
prima-irmã, Noêmia Augusta de Assumpção, nascida em 21 de outubro de
1887, também em Pelotas, e falecida em 1964. Noêmia era filha do Senador
Joaquim Augusto de Assumpção e Maria Francisca Mendonça de Assumpção.
No casamento, Pedro Luis e Noêmia Augusta tiveram seis filhos: Paulo,
Fernando, Maria, Luis, Joaquim e Marina. O casal habitou o sobrado de porão
alto localizado na esquina da Rua Anchieta com a Praça Coronel Pedro Osório
(demolido). O “elegante prédio com 16 aberturas no térreo e 10 no andar
superior”, segundo o Diário Popular de 12 de setembro de 1906, foi inaugurado
nesta data, provavelmente erguido pelo construtor Caetano Casaretto. Foi
encomendado pelo Senador Joaquim Augusto de Assumpção e presenteado
aos noivos Pedro e Noêmia, a primeira filha do Senador a casar. (SANTOS,
2007)
Formado em medicina no Rio de Janeiro, o Dr. Pedro Luis Osorio foi
também pecuarista e escritor. Noticiou o Diário Popular no dia 30 de dezembro
de 1905, o retorno da capital da República à cidade de Pelotas de Pedro Luis
Osorio, recém formado em medicina. No mesmo vapor em que viajou, o jovem
doutor trouxe um “moderno e excellente automovel”. Para conduzir o carro
trouxe também um “chauffeur”. O veículo foi um dos primeiros a trafegar nas
ruas da cidade. A partir desta data, diferentes marcas de automóveis –
européias e norte-americanas – foram ofertadas pelas casas importadoras
através dos jornais, como a firma Vva. Berhensdorf & Cia. e a casa Bromberg &
Cia. (SANTOS, 2007). Uma outra notícia divulgada no mesmo jornal registrou o
espírito inovador do Dr. Pedro Luis Osorio: às sete horas da noite de 21 de
outubro de 1911, o médico Pedro Luis Osorio abriu seu consultório à
eletricidade, com gerador próprio, localizado na Rua Anchieta. O
empreendimento foi efetuado quatro anos antes de a eletricidade ser
implantada na cidade.
Vinculado ao Partido Republicano Rio-Grandense, Pedro Luis Osorio foi
Intendente de Pelotas no período de 1920 a 1924. Foi também grande
benemérito e patrono do Esporte Clube Pelotas, fundado em 1908, presidente
da seção pelotense da Cruz Vermelha e presidente do Asilo de Mendigos.
Além disso, foi diretor da atual Faculdade de Farmácia e Odontologia, curso
fundado em 1911, que funcionou no antigo Ginásio Pelotense e, diretor do
Banco Pelotense. Um de seus mais marcantes feitos foi a iniciativa para a
construção do Grande Hotel, iniciada em 1922. O Intendente Pedro Luis Osorio
lançou a ideia de construir um hotel modelo, em um terreno onde funcionava o
Cinema Politeama. Com esta finalidade, foi organizada a Companhia Grande
Hotel, formada por 21 empreendedores, entre eles o Coronel Pedro Osório e
Augusto Simões Lopes.
Carlos Ritter
Filho de imigrantes alemães, Carlos Ritter nasceu em São Leopoldo no
dia 21 de janeiro de 1851. Seu pai, Georg Heinrich Ritter, chegou ao sul do
Brasil aos 24 anos, com os pais e seis irmãos. Durante a viagem de navio, ele
conheceu sua primeira esposa, Elisabeth Fuchs. Inicialmente, Georg Heinrich
Ritter dedicou-se à agricultura, depois de algum tempo abriu a primeira casa de
comércio na Linha Nova, na época Colônia Picada Nova, pertencente a São
Leopoldo. Em 1864, construiu uma das primeiras casas da localidade. No
porão dessa residência, por volta de 1868, iniciou a primeira fábrica de cerveja
do Rio Grande do Sul.
Carlos Ritter transferiu-se para Pelotas e, na década de 1870 fundou a
Cervejaria Ritter na Rua Tiradentes, às margens do Canal Santa Bárbara. Mais
tarde, a cervejaria foi deslocada para a esquina das atuais ruas Santa Tecla e
Mal. Floriano. A qualidade da produção era garantida pela importação de
equipamentos e de técnicos alemães, a Cervejaria Ritter obteve prêmios
estaduais, nacionais e internacionais. Em 1884, seu irmão Frederico Jacob
Ritter, se associou à empresa depois de voltar da Alemanha, onde aprendeu o
fabrico teórico e prático da cerveja. Dessa união, surgiu a firma Carlos Ritter &
Irmão, que também investiu no lucrativo negócio de colonização da Serra dos
Tapes, fundando as colônias Santa Rita, Visconde da Graça e Ritter, todas
formadas por imigrantes alemães.
Em 1898, com a intenção de aperfeiçoar a produção e o beneficiamento
da cerveja, a empresa Carlos Ritter & Irmão começou a produzir gelo. A fábrica
produziu as cervejas: Pelotense (branca, preta ou escura), Pilsen, Ritter Brau
Preta e Maerzen (ANJOS, 2000). Os irmãos Ritter se associaram a Leopoldo
Haertel, descendente de alemães nascido em Porto Alegre, fundador da
Cervejaria Rio-grandense. Com a associação, formou-se a Cervejaria
Continental, mais tarde vendida para a Brahma.
Carlos Ritter foi um dos fundadores do Centro Agrícola-Industrial de
Pelotas, criado em 1887, cujo objetivo era consolidar o comércio, a agricultura
e a indústria da região. Foi tesoureiro da Comunidade Evangélica Alemã,
fundada em Pelotas em 20 de outubro de 1888, e seu presidente no período de
1895 a 1899. Foi um dos grandes benfeitores do Colégio Alemão de Pelotas,
que em sua homenagem recebeu o nome de Colégio Carlos Ritter.
Na Avenida Duque de Caxias, foi edificada entre os anos de 1908 e
1913 a vila residencial de Carlos Ritter, cuja caixa mural remete aos prédios
maneiristas italianos: a composição tripartida da fachada; as colunas
palladianas; o balcão com balaustres que dialoga com a platibanda adornada
com frontão; os corpos salientes que abrigam as janelas encimadas por
frontões triangulares (SANTOS, 2007). Apaixonado por botânica, o industrial
organizou um jardim fronteiro à edificação. Durante os verões, o amplo espaço
verde era aberto ao público, para as sociabilidades e prazer dos visitantes. Na
década de 1880, na área arborizada funcionou o Clube Germânia.
Carlos Ritter foi casado com Augusta Keffer Ritter e teve os seguintes
filhos: Bertha Ritter Matuscheck; Frederico Carlos Ritter; Othilia Ritter Ruge,
casada com Frederico Ruge; Christina Elisabeth Ritter Sander, casada com
Frederico Sander.7 Carlos Ritter foi um naturalista autodidata e contribuiu para
a arborização da Avenida 20 de Setembro (atual Duque de Caxias), com uma
plantação de eucaliptos. Grande colecionador elaborou curiosos mosaicos
feitos de insetos, os quais retratavam pontos turísticos da cidade de Pelotas.
Dedicou-se à História Natural de forma dinâmica para a época, conquistando
reconhecimento através de sua fabulosa coleção de aves, hoje preservada em
sua totalidade. Demonstrou ser um excelente taxidermista.
Carlos Ritter faleceu em 11 de outubro de 1926, aos 75 anos de idade,
na cidade de Pelotas. Após o seu falecimento, sua esposa doou à Escola de
Agronomia grande parte de seu acervo e de sua coleção particular de
espécimes zoológicos. Atualmente, esses objetos se incluem no acervo do
Museu de Ciências Naturais Carlos Ritter, da Universidade Federal de Pelotas.
A antiga vila residencial hoje abriga parte da Faculdade de Medicina da UFPel.
7 Informações retiradas do Jornal “A Opinião Pública”, de 13 de Outubro de 1926.
Bibliografia
A Opinião Pública. Nº 134. Pelotas, de 13 de outubro de 1926.ANJOS, Marcos Hallal dos. Estrangeiros e Modernização: a cidade de Pelotas no último quartel do Século XIX. Pelotas: UFPel, 2000.
DINIZ, Carlos Francisco Sica. João Simões Lopes Neto: uma biografia. Porto Alegre: AGE, 2003.
CARVALHO, Mário Teixeira de. Nobiliario Sul – Riograndense. Porto Alegre: Globo, 1937.
FONSECA, Maria Angela Peter da. Estratégias para a preservação do germanismo (Deutschtum): gênese e trajetória de um collegio teutobrasileiro urbano em Pelotas (1898-1942). Pelotas, 2007. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Educação da Universidade Federal de Pelotas.
OSORIO, Mario. (Org) A Cidade de Pelotas. Armazém Literário, 1997.
SANTOS, Carlos Alberto Ávila. Ecletismo na fronteira meridional do Brasil: 1870-1931. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo - Área de Conservação e Restauro) Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, 2007.
Fontes consultadas
Companhia Hydráulica Pelotense. Disponível em: <http://www.pelotas.rs.gov.br/sanep/museu/comp_hidraulica.html>. Acesso em: 19 jun. 2011.
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historia_em_revista_08_Instrumento_de_Trabalho.pdfhttp://www.ufpel.tche.br/ich/ndh/downloads/
Lorena_Almeida_Gill_Volume_05.pdf
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http://www.vivaocharque.com.br/personagens/pintomartins.htmhttp://www.vivaocharque.com.br/personagens/djdealmeida-
herma.htm
www.pucrs.br/edipucrs/fredericoritter
www.ufpel.tche.br/ib/mhncr/historico.htm
ib.ufpel.edu.br/museu/carlritter.html
pt.widipedia.org/wiki/carlos_ritter