TÓPICOS ESPECIAIS DE TEOLOGIA E HISTÓRIA DA IGREJA I TEO - 2277
FICHAMENTO 03
SAND, Shlomo. A invenção da terra de Isarel. São Paulo: Benvirá, 2014, pp.89-137
Gladson Pereira da Cunha*
No capítulo 2, “Mito do Território: No princípio, Deus
prometeu a terra”, Shlomo Sand procura demonstrar como que a
noção de “Terra de Israel” surgiu dentro do ideário e do imaginário
judeu antigo, elementos esse que determinariam o atual pensamento
judaico-israelense atual. Basicamente sua proposta caminha pelo
desenvolvimento de argumentos histórico-teológicos que
determinavam a origem do processo de ocupação por elementos
externos – leia-se, os patriarcas hebreus – os quais era
obstinadamente contrários a população canaanita. Utilizando de
teorias próprias da Alta Crítica do Antigo Testamento, Sand
considera o texto do Tanach – Bíblia hebraica – uma construção
teológica para a justificação de certas práticas que vão desde o
estabelecimento do monoteísmo até, e esse parece ser o objetivo em
mente, a justificativa do ódio contra os habitantes da terra e o direito
divino do “povo judeu” à terra.
Com isso em mente, o que acontece paulatinamente, desde o
retorno dos judeus da Babilônia até implementação do reino
asmoneu na Judeia, é a construção e a cristalização do conceito de
“terra de Israel”, muito embora judeus como Filo de Alexandria e
Flavio Josefo não reconheçam a sacralidade da totalidade da terra –
talvez Jerusalém, mas num sentido mais dualista – nem mesmo a
* Aluno do Programa de Doutorado em Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Turma 2015/2.
toponímia “de Irsael”, mas Judeia. Não existia o conceito ou noção de
pátria. Talvez essa noção nostálgica recairia muito mais sobre
Jerusalém, pela sua santidade ideal, do que pelo todo da terra, como
disse Sand. A própria percepção talmúdica não reconhece a
necessidade da terra como elemento importante à fé. Assim, faz
sentido que não existisse nenhum esforço de retorno, ainda mais
quando o próprio conceito de diáspora se despe de sua carga
ideológica. Consequentemente a própria aliyah – o retorno – também
perde sua força.