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Page 1: Filogenia e Sistemática

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Filogenia e Sistemática

Resolução de incertezas taxonômicas

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Professor Fabrício R Santos [email protected]

Departamento de Biologia Geral, UFMG 2014

Conectando filogenia, taxonomia, sistemática e conservação

Taxonomia

• Estudo dos relacionamentos entre grupos de organismos – é um antigo ramo da biologia clássica.

Estabelecida por Carolus Linnaeus (1707-1778)

A sistemática conecta a biodiversidade à filogenia

Filogenia = História evolutiva de uma espécie ou grupo de espécies

relacionadas.

Filogenia é geralmente representada como árvores filogenéticas

que traçam relacionamentos evolutivos inferidos.

Sistemática = O estudo da diversidade biológica em um contexto

evolutivo.

A diversidade biológica reflete episódios passados de especiação

e macroevolução. Compreende a taxonomia na sua procura por

relacionamentos evolutivos.

Taxonomia = Identificação e classificação de espécies; é um

componente da sistemática.

Filogenia Filogeografia

Em estudos da biodiversidade, ambas as abordagens tentam reconstruir o passado evolutivo das

espécies e de suas populações.

m = 10-9 10-3

filogenia – filogeografia – genealogia familiar

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Variações nas sequências de DNA

Hap. M ...AAGCGTTATAGCAGAGTTAT...

Hap. N ...AAGTGTTATAGCAGAGTTAT...

Hap. O ...AAGTGTTAGAGCAGAGTTAT...

Hap. P ...AAGTGTTAGAGCAGAATTAT...

Hap. M ...AAGCGTTATAGCAGAGTTAT...

Hap. N ...AAGTGTTATAGCAGAGTTAT...

Hap. O ...AAGTGTTAGAGCAGAGTTAT...

Hap. P ...AAGTGTTAGAGCAGAATTAT...

Rastreando a genealogia das sequências

M

Q

N

O

P

R

Árvore filogenética

As sequências podem ser conectadas em uma árvore genealógica que apresenta a história de ancestralidade comum das linhagens e o tempo de divergência destas.

OTU 1

OTU 2

OTU 3

OTU 4

OTU 5

OTU 6

Árvore Filogenética

1 5 4 3 2 6 7 8

No de diferenças

n1

n2

n3

n4

n5

n

OTU unidade taxonômica operacional - espécies ou outros táxons (famílias, ordens etc)

nó interno - ~ ancestral comum inferido que existiu no passado

tempo antiga recente

raiz

Análise de vários caracteres

(fenótipos, sítios polimórficos de DNA, freq. alélicas, etc.)

Matriz de dissimilaridade em base ao número de diferenças

Construção

de árvore

filogenética

Fenograma A B C

A

B

C

3

7 6

0

0

0

A B C A B

A

B

C

Relações de similaridade

MÉTODOS FENÉTICOS

Baseia-se na mera similaridade: não é considerado um método de “sistemática filogenética”

Análise de vários caracteres com estados ancestrais (0) e derivados (1)

Construção de árvore filogenética

Cladograma

A B C

A

B

C

Relações de ancestralidade comum

MÉTODOS CLADÍSTICOS

D E

1

2

3

4

5

6

7

8

E

D

1

2 3

4

5 6

7 8

Baseia-se na evolução biológica, isto é, na ancestralidade comum e descendência com modificação: esta é a metodologia da “sistemática filogenética”

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Jacaré Ave Lagarto

Fenética Cladística

Jacaré Ave Lagarto

Inferências filogenéticas

Análise Filogenética

Dado um conjunto de dados (caracteres morfológicos, alinhamento de múltiplas sequências de DNA e proteína, etc), pode-se inferir o relacionamento ancestral dentre as espécies.

Esp.1 Esp.2 Esp.3 Esp.4

Temp

o

Não-resolvida ou filogenia tipo “estrela”

Filogenia parcialmente resolvida

Completamente resolvida, filogenia bifurcada

A A A

B

B B

C

C

C

E

E

E

D

D D

Politomia ou multifurcação uma bifurcação

O objetivo da inferência filogenética é resolver a ordem de ramificação das linhagens nas árvores evolutivas:

Há 3 possíveis árvores sem raiz para 4 táxons (A, B, C, D)

A C

B D

árvore 1

A B

C D

árvore 2

A B

D C

árvore 3

Métodos de reconstrução (ou inferência) filogenética objetivam descobrir qual das árvores é a

“mais provável".

Espera-se que esta seja a “verdadeira” árvore biológica — aquela que seguramente represente

a história evolutiva dos táxons analisados – mas esta é formalmente chamada de árvore

inferida a partir dos dados, cuja confiança pode ser testada por diferentes métodos.

Inferir relacionamentos evolutivos entre os táxons requer enraizar a árvore

Note que nesta árvore

enraizada, o táxon A não

está mais estreitamente

relacionado ao táxon B

em relação a C ou D

como sugerido acima.

A

B C

Raiz D

A B C D

Raiz

árvore enraizada

árvore sem raiz

O enraizamento em outra posição:

A

B C

raiz

D

árvore sem raiz

Note que nesta árvore enraizada, táxon A é mais estreitamente relacionado ao táxon B, enquanto o C é mais relacionado ao D.

C D

raiz

árvore enraizada

A

B

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Uma árvore sem raiz de 4 táxons pode ser enraizada em cinco lugares distintos para produzir cinco árvores enraizadas diferentes

árvore sem raiz:

A C

B D

árvore c/raiz 4 C

D

A

B

4

árvore c/raiz 3 A

B

C

D

3

árvore c/raiz 5 D

C

A

B

5

árvore c/raiz 2 A

B

C

D

2

árvore c/raiz 1 B

A

C

D

1

Estas árvores representam cinco histórias evolutivas diferentes entre os táxons, dependendo de onde se coloca a raiz !

# táxons

3 4 5 6 7 8 9 . . . .

30

# árvores sem raiz 1 3 15 105 945 1 0 .395

13 5 .135 . . . . ~3 , 58 x 10

3 6

# raízes

3 5 7 9 11 13 15 . . . .

57

# árvores com raiz

3 15 1 0 5 9 4 5 10.3 9 5 1 35.1 3 5 2. 0 27.0 2 5

.

.

.

. ~2 , 04 x 10

3 8

x =

C A

B D

A D

B E

C

A D

B E

C

F

Cada árvore sem raiz pode teoricamente ser enraizada em qualquer lugar ao longo de qualquer de seus ramos

• Cladogramas

• Árvores Aditivas (Filogramas)

• Árvores Ultramétricas (Dendrogramas)

A B C D

A B C D

A B C D

Tipos de árvores filogenéticas

tem

po

5

4

2

2 1

Desenha a árvore que melhor representa as distâncias observadas entre os pares.

Seleciona a árvore que tem a maior probabilidade de reproduzir os dados observados.

Seleciona a árvore que explica os dados com o menor número de substituições (eventos mutacionais fixados).

Distância

Verossimilhança

Parcimônia

Métodos gerais de reconstrução filogenética

Filogenias e Conservação

• A filogenética pode ser extremamente útil para estudos de biodiversidade (inventariamento e classificação) e estabelecimento de prioridades conservacionistas.

• Medidas de diversidade utilizando-se de sequências de DNA estão agora sendo usadas para implementar planos de conservação de recursos genéticos.

• Aplicações: junto com a filogeografia, ajuda determinar ESUs (unidades evolutivamente significantes), agrupamentos de espécies, espécies, subespécies, populações isoladas e diferenciadas, etc...

B0665

B0663

B0655

B0653

B0654

B0656

B0369 B0367

B0368

B0609

B0647

B0317

B0329

B0326

B0658

B0644

B0657

B0677

B0678

B0646

B0291

B0292

B0290

B0680

B0643

B0660

B0281

B0285

B1189

B1301

B1188

B1296

B1186

B1303

B0525

B0524

B0515

B0511

B0513

B0528

B0535

B0562

B1148

B1147 B1150

99

99

99

99

90

99

99

99

99

99

99

99

99

99

99

91

99

99

99

82

90

D. ochropyga

D. ferruginea

R. ardesiaca

D. squamata

B0335

P. leucoptera

M. loricata

T. major

D. plumbeus

F. serrana

D. mentalis

H. atricapillus

S. cristatus

T. doliatus

T. caerulescens

T. ambiguus

T. pelzelni

Árvore NJ COI em Thamnophilidae

Vilaça et al. 2006

Análises filogenéticas permitem o uso do DNA como identificador de espécies

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Exemplo de escalas temporais

em filogenias

Ohlson et al. 2008 Zool.Sc.

Correlação entre divergência, especiação, mudanças climáticas e especialização de hábitats em Tiranídeos.

Floresta húmida

F. húmida dossel

Semi-aberto

Hábitat aberto

Importância do conhecimento taxonômico

para a preservação de populações naturais

It is a remarkable testament to humanity's narcissism that we know the number of books in the US Library of Congress on 1 February 2011 was 22,194,656, but cannot tell you—to within an order-of-magnitude—how many distinct species of plants and animals we share our world with. Robert May Why Worry about How Many Species and Their Loss? Plos Biol. 2011 I. 15.000 espécies novas são descritas a cada ano, atualmente apenas

1,7 milhão destas estão cientificamente identificadas; II. A melhor estimativa do número de espécies (apenas eucariotos) é de

8,7 milhões (Mora et al. Plos Biol 2011) e calcula-se que levariam mais 500 anos para descrevê-las no ritmo atual;

III. A maior parte das espécies de eucariotos a serem descritas estão se extinguindo antes que possamos estudá-las!

Quantas espécies existem na Terra? Espécies: Como podem ser diferenciadas?

Beija-flores da Costa Rica

Espécies Conceitos de espécies atuais

Os conceitos pré-Darwinistas de espécies eram todos tipológicos e essencialistas (ex: Linnaeus, etc)

Número de conceitos atualmente em uso Mayden (1997) identificou mais de 24 conceitos de espécies diferentes.

Muitos destes conceitos compartilham várias ideias de classificação.

i. Conceito de Agamoespécies; ii. Conceito Biológico de espécies iii. Conceito Cladístico de espécies iv. Conceito de espécies coesas v. Conceito Composto de espécies vi. Conceito Ecológico de espécies vii. Unidade Evolutiva Significativa viii. Conceito Evolucionário de espécies ix. Conceito de Concordância Genealógica x. Conceito Genético de espécies xi. Conceito de Agrupamento Genotípico xii. Conceito Hennigiano de espécies xiii. Conceito Internodal de espécies xiv. Conceito Morfológico de espécies

xv. Conceito não dimensional de espécies xvi. Conceito Fenético de espécies xvii. Conceito Filogenético de espécies (versão diagnosticável) xv. Conceito Filogenético de espécies (versão monofilética) xv. Conceito Filogenético de espécies (versão diagnosticável e monofilética) xx. Conceito Politético de espécies xxi. Conceito de Reconhecimento de espécies xxii. Conceito de Competição Reprodutiva xxiii. Conceito Sucessional de espécies xxiv. Conceito Taxonômico de espécies

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Conceitos de espécies são importantes Exemplo 1: as listas de espécies ameaçadas

Agrupadores (lumpers) reconhecem espécies largamente distribuídas, as quais são improváveis de serem consideradas ameaçadas;

Divisores (splitters) reconhecem mais espécies de distribuição restrita, as quais são mais prováveis de serem consideradas ameaçadas.

Exemplo 2: estimando a biodiversidade

O uso de diferentes conceitos de espécies leva a comparações impróprias e equivocadas;

Táxons superiores (famílias, ordens etc) geralmente não são comparáveis, mas espécies deveriam ser, já que são consideradas as unidades de conservação, e atualmente também são utilizadas para ressaltar a riqueza em biodiversidade (valor) de cada bioma e país.

Resolvendo incertezas taxonômicas

O status taxonômico de muitos organismos ainda é desconhecido:

Uma tartaruga rara era confundida com uma tartaruga comum…

Lepidochelys kempii Lepidochelys olivacea

Habita águas do Golfo do México Habita vários oceanos no mundo todo

Atualmente há duas espécies do gênero Lepidochelys que são manejadas de forma completamente independente.

Únicos membros da ordem Rhynchocephalia • Sphenodon guentheri é muito similar morfologicamente à

tuatara comum, S. punctatus. • S. guentheri é uma espécie singular, mas não era protegida.

Tuataras

S. guentheri

S. punctatus

S. Caballero, F. Trujillo, J.A. Vianna, H. Barrios, S. Beltrán, M.G. Montiel, F. R. Santos, M. Marmontel, M. C. de Oliveira -Santos,

M. Rossi-Santos e C. S. Baker

Estudos taxonômicos do boto-cinza costeiro e amazônico Sotalia sp.

6000 Km

3000 Km

Previamente, era reconhecida apenas uma espécie (Sotalia fluviatilis) com dois ecótipos, um marinho e um fluvial

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Lac-1

GBA 193

GBA 800

UBEY

mtDNA

Sotalia guianensis

Sotalia fluviatilis

Sistemática em Quirópteros

• Ordem Chiroptera: ~1100 espécies

No Brasil: >160 espécies, 31% dos mamíferos continentais

Família Phyllostomidae Gênero Artibeus

Dados de 540 indivíduos sequenciados – Cyt-b+COI

A. planirostris

A. amplus

A. obscurus

A. lituratus

A. jamaicensis sp2 A. obscurus sp2

A. jamaicensis

A. fimbriatus

A. inopinatus A. fraterculus A. hirsutus A. concolor

A. watsoni A. aztecus

A. phaeotis A. toltecus

A. phaeotis A. cinereus sp2

A. gnomus A. glaucus

A. anderseni A. cinereus

Enchisthenes hartii

100

98

93

99

80

77

89

99

83

55

95

97

100

77

100

99 73

95

86

100

100

100

99

96 97

68

100

67

85

99

88

98

98

93

100

0.05

Filogenia do

gênero

Artibeus

Cyt-B + COI

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8

A. planirostris

A. amplus

A. obscurus

A. lituratus

A. jamaicensis sp2 A. obscurus sp2

A. jamaicensis

A. fimbriatus

A. inopinatus A. fraterculus A. hirsutus A. concolor

A. watsoni A. aztecus

A. phaeotis A. toltecus

A. phaeotis A. cinereus sp2

A. gnomus A. glaucus

A. anderseni A. cinereus

Enchisthenes hartii

100

98

93

99

80

77

89

99

83

55

95

97

100

77

100

99 73

95

86

100

100

100

99

96 97

68

100

67

85

99

88

98

98

93

100

0.05

Filogenia do

gênero

Artibeus

Cyt-B + COI

Artibeus obscurus

A. planirostris

A. amplus

A. obscurus

A. lituratus

A. jamaicensis sp2

A. obscurus sp2

A. jamaicensis

A. fimbriatus

A. inopinatus

A. fraterculus

A. hirsutus

A. concolor

A. watsoni

A. aztecus

A. phaeotis AY157584

A. toltecus

A. phaeotis APU66514

A. cinereus sp2

A. gnomus

A. glaucus

A. anderseni

A. cinereus

Enchisthenes hartii

100, 99

98, 99

93, 97

99, 99 80, 97

77, 93

89, 99

99, 99

83, 98

55, 71

95, 99

97, 99

100, 99

77, 86

100, 99

99, 99 73, 81

95, 99

86, 99

100, 99

100, 99

100, 99

99, 99

96, 99 97, 99

68, 42

100, 99

67, 99

85, 99

99, 99

88, 99

98, 99

98, 99

93, 99

18, 52

100, 99

**, 57

98, 73

92, 73

99, 100 73, 73

64, 55

60, 52

54, 64

46, 51

100,100

86, 88

96, 100

96, 71

85, 68

94, 73

43, 45

68, 73

71, 73

54, 92

60, 86

divergência

7,4%

Artibeus obscurus ? A. obscurus

A. amplus

A. planirostris

A. lituratus

A. jamaicensis sp2

A. obscurus sp2

A14163

A1422O

A14203

A14204

A.jamaicensis

Cyt-b Entre Brasil,Peru e Colômbia

Artibeus fuliginosus Gray (1838) ?

Alta diversidade de haplótipos (h = 0,981)

Alta diversidade nucleotídica (p = 0,046)

Artibeus gnomus

Amazonia Cerrado

Artibeus gnomus

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Diversidade filogenética e prioridades de conservação

• Vários métodos filogenéticos foram propostos como ferramentas de identificação de áreas prioritárias para conservação.

• Áreas com grande riqueza de grupos filogenéticos basais (Marsupiais, Xenarthra, Peripatus, Pteridófitas etc), poderiam ser priorizadas.

Diversidade filogenética

Faith (2006). b, f, h, j são linhagens que representam uma grande diversidade filogenética Exemplo: áreas com linhagens basais (Peripatus, tatu, anta e gambá) seriam mais ricas filogeneticamente do que áreas com espécies relacionadas (capivara, preá, paca, mocó e cutia)

Peripatus

Gambá Tatus Anta

Análises filogenéticas e filogeográficas

• Mega

• MrBayes

• RAxML

• Beast

• Network

• TCS


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