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Revista de Educação PUC-Campinas, Campinas, n.28, p.131-133, jan./jun., 2010

Resenhas

AVALIAÇÃO EDUCACIONAL:CAMINHANDO PELA CONTRAMÃO

FREITAS, L.C.; SORDI, M.R.L.; MALAVASI, M.M.S.; FREITAS,H.C.L. Avaliação educacional: caminhando pela contramão.Petrópolis: Vozes, 2009. 88p.

Regilson MACIEL BORGES1

O livro Avaliação Educacional: caminhando pela contramãofaz parte da Coleção Fronteiras Educacionais, coordenada peloprofessor Ulisses Ferreira de Araújo e editado pela Editora Vozes.

A intenção dos autores, apresentada já no subtítulo da obra- caminhando pela contramão -, é apresentar uma forma deavaliação educacional para além da predominante, que, marcadapela classificação e por reprovações, faz com que muitos alunospercam o interesse pela escola e, consequentemente, a abandonem.

No livro, ao postularem três níveis de avaliação integradosentre si (da aprendizagem, institucional e de redes de ensino), osautores buscam mostrar que vem sendo construída uma posiçãomenos dicotômica e mais construtiva que pretende apropriar-sedas ferramentas avaliativas sob outro conceito do que seja avaliar.Esse esforço é relatado ao longo da obra, conforme se observa nostrês primeiros capítulos, onde é apresentado cada um dos níveisacima mencionados. No quarto capítulo, encontram-se reunidas asconsiderações finais.

Os autores Luiz Carlos de Freitas, Mara Regina Lemes deSordi, Maria Márcia Sigrist Malavasi e Helena Costa Lopes deFreitas são docentes da Faculdade de Educação da UniversidadeEstadual de Campinas e integram o Laboratório de Observação eEstudos Descritivos (LOED) da referida universidade; encontram--se ativamente engajados em discussões acerca da avaliaçãoeducacional no país, num período em que a avaliação vem sendo

1 Mestrando, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Programa de Pós-Graduação em Educação. Rod. Dom Pedro I, km 136, Parque das Universidades,13086-900, Campinas, SP, Brasil. E-mail: <[email protected]>.

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considerada o centro de discussões e debatesna busca de resultados que orientem políticaspúblicas em educação, sobretudo a partir dosanos 1990, quando verificamos o aparecimentodo Programa de Avaliação Institucional dasUniversidades Brasileiras (1993), o Sistema deAvaliação da Educação Básica (1993), o ExameNacional do Ensino Médio (1998) e o ExameNacional dos Cursos (1995). Algumas dessasavaliações se consolidaram na década seguinte(SAEB, ENEM), outras deixaram de existir(PAIUB, ENC) e deram lugar a novas modalidadesde avaliação (Enade, Prova Brasil).

Diante desse cenário, o livro apresentadobusca oferecer elementos que possibilitempensar, simultaneamente, a avaliação da apren-dizagem, institucional e de sistemas de modointegrado, com esses três níveis de avaliaçãointeragindo entre si.

O primeiro capítulo, Avaliação daAprendizagem: relações professor-aluno na salade aula, trata a avaliação do ensino-aprendizagema partir da definição de alguns conceitos. Oprimeiro conceito refere-se às categorias doprocesso pedagógico, dentre as quais se en-contra a avaliação; nesse processo, os autoressalientam o equívoco dos manuais didáticos quesituam a avaliação como uma atividade formalque ocorre no final do processo de ensino--aprendizagem; como alternativa para essa visãolinear, apresentam-se dois grandes núcleos oueixos interligados de natureza dinâmica econtraditória: objetivos/avaliação e conteúdos/métodos. O segundo conceito diz respeito àorganização do trabalho pedagógico, que seencontra superposto em dois níveis: sala de aulae escola, duplicidade que permite aos autoresargumentarem acerca da avaliação da aprendi-zagem e da avaliação institucional, cujos focossão, respectivamente, a relação professor-alunoe o projeto político pedagógico da escola.

Ressalta-se também a dualidade doprocesso educativo no fornecimento de instruçãoe formação. Os autores atentam para o fato deque a escola tem se limitado a prover a apro-priação da instrução; o conhecimento é vistocomo uma vantagem diante da sociedade

competitiva que aí está. Mas esse não deve sero único objetivo, pois seja tácita, seja plena-mente, a escola é formativa; formação que se dánas situações cotidianas do ambiente escolar.Isso permite confirmar que a avaliação não ésomente uma questão técnica, mas envolvetambém juízos de valor por parte do professor.

Uma temática muito difundida nos meioseducacionais - a do professor reflexivo - levou osautores à provocação do subtítulo do segundocapítulo: Avaliação Institucional: induzindoescolas reflexivas. Segundo eles, não é apenaso professor que precisa ser reflexivo, mas sim oconjunto da escola, que implica, além dos pró-prios professores, os funcionários, estudantes,gestores, pais etc. Por essa via, pensar a ava-liação institucional implica repensar o significadoda participação dos diferentes atores na vida eno destino das escolas. Nesse sentido, definemavaliação institucional como um processo queenvolve todos os seus atores, com vistas a nego-ciar patamares adequados de aprimoramento apartir dos problemas concretos vivenciados porela.

Alertam os autores que a questão danegociação que vise um pacto de qualidade é oponto central da proposta apresentada. O pactodeve ser da escola com seus estudantes; daescola consigo mesma; da escola com osgestores do sistema escolar; e dos gestores dosistema para com a escola.

A avaliação institucional deve, segundoos autores, ser um ponto de encontro entre osdados provenientes da avaliação dos alunosrealizada pelos professores e a realizada pelosistema, pois ambas têm como sujeito o aluno:figura central da escola.

No terceiro capítulo - Avaliação de redes deensino: a responsabilidade do poder público -, osautores advogam que essas avaliações seriammais eficazes se fossem planejadas e conduzi-das no nível dos municípios pelos conselhosmunicipais de educação, que atuariam comoreguladores dos processos de avaliação dasredes de educação básica.

Como primeiro passo para o processo daavaliação em redes, encontra-se a criação de

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um conselho gestor da avaliação da redecomposto por representantes da administraçãopública e profissionais da escola, incluindo ospais dos alunos. A esse conselho cabe a for-mulação dos conceitos que orientarão a avaliaçãoe a operacionalização do processo de avaliação.Sua primeira atividade é delegar a uma equipetécnica a elaboração de uma matriz de referênciapara a produção da avaliação a ser conduzida narede. Uma segunda etapa é o desenvolvimentodos testes a que os alunos irão responder.Paralelamente à elaboração dos instrumentosde avaliação, o Conselho Gestor deve liberar umprocesso de identificação de possíveis áreasque deverão ser objeto de acúmulo de dados.

A proposta mencionada nos ajuda a pen-sar em uma avaliação em que a unidade é omunicípio e não a federação ou o estado, práticaaté então predominante no Brasil quando setrata da avaliação em larga escala de redes deensino. Um exemplo de como criar um sistemade avaliação nessa configuração é apresentadonos Anexos do livro, onde se encontra uma cartade princípios organizados para nortear a avaliaçãopara a rede de uma prefeitura municipal.

A opinião dos autores é que a avaliaçãode sistemas (ou de redes) é um instrumentoimportante para a monitoração das políticaspúblicas e que seus resultados devem serencaminhados à escola, que deverá consumi-

los, validá-los e, assim, encontrar formas demelhorias.

Afinal, caminhar na contramão não éperigoso? Com essa indagação, os autoresnomeiam o quarto capítulo do livro, onde fazemsuas considerações finais e retomam a intençãoem propor para a avaliação educacional umaconcepção guiada pela educação emancipa-tória, ancorada no desenvolvimento dos quefazem a escola e na responsabilidade do poderpúblico.

O livro vem contribuir significativamentecom as discussões acerca da avaliação educa-cional através de suas discussões teóricas epráticas tratadas ao longo dos capítulos. Não setrata de eliminar a importância da avaliação, masrecolocar as relações com a escola dentro deuma perspectiva colaborativa e de responsa-bilização bilateral entre poder público (avaliaçãode sistemas), escolas (avaliação institucional) eseus profissionais (avaliação da aprendizagem).Ao encontrar-se inserido numa coleção, a obrapossui características dos chamados livros debolso, o que não diminui sua densidade e impor-tância para a área, dadas a relevância das dis-cussões e as propostas nele apresentadas.

Recebido em 4/5/2010 e aceito para publicaçãoem 2/7/2010.

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