CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
Wilson Aparecido da Silva
Gestão da Saúde no Ambiente de Trabalho:
A Experiência com um Programa de Promoção da Saúde numa
Empresa de Cosméticos
São Paulo2007
WILSON APARECIDO DA SILVA
Gestão da Saúde no Ambiente de Trabalho:
A Experiência com um Programa de Promoção da Saúde numa
Empresa de Cosméticos
Dissertação apresentada como
parte das exigências para
obtenção do grau de Mestre em
Gestão Integrada em Saúde do
Trabalho e Meio Ambiente
Orientadora Profª. Drª Alice Itani.
São Paulo2007
S586g Silva, Wilson Aparecido da Gestão da saúde no ambiente de trabalho: a experiência com um programa de promoção da saúde numa empresa de cosméticos / Silva, Wilson Aparecido da Silva – São Paulo, 2007. 98 f.
Orientadora: Prof. Dra. Alice Itani Dissertação (Mestre em Gestão Integrada e Saúde do Trabalho e Meio
Ambiente) – Centro Universitário Senac, Campus Santo Amaro, São Paulo, 2007. 1. Gestão da saúde 2. Ginástica laboral 3. Qualidade de vida 4. Cosméticos I. Alice Itani (orient.) III. Título
CDD 363.7
Aluno: Wilson Aparecido da Silva
Gestão da Saúde no Ambiente de Trabalho:
A Experiência com um Programa de Promoção da Saúde numa
Empresa de Cosméticos
Dissertação apresentada como
parte das exigências para
obtenção do grau de Mestre em
Gestão Integrada em Saúde do
Trabalho e Meio Ambiente
Orientadora Profª. Drª Alice Itani.
A banca examinadora de defesa de dissertação em sessão pública realizada em 24/08/2007, considerou o(a)candidato(a): Aprovado
1) Examinador Dr. Mario César Rodriguez Vidal
2) Examinadora Drª Emilia Satoshi Miyamaru Seo
3) Presidente Drª Alice Itani
RESUMO
Este estudo teve origem a partir de uma experiência profissional de 10 anos numa
indústria de cosméticos, caracterizou-se como um estudo descritivo e teve como
foco principal analisar a relação do programa de ginástica laboral com a melhoria
na qualidade de vida no trabalho. Para tanto, foram utilizados os dados dos anos
2000 a 2006 de questionários sobre a satisfação dos trabalhadores na prática dos
exercícios durante o trabalho. Os resultados foram analisados a partir de análise
estatística, utilizando Modelos de Regressão com apoio computacional e
seguindo orientação de estudos estatísticos de Paula (2004)¹. A fim de analisar
qualitativamente o programa de ginástica, aplicou-se uma entrevista em
trabalhadores da produção com mais de 10 anos de serviço. As análises dos
dados mostraram uma discreta melhoria na disposição para o trabalho, em três
dos seis anos analisados houve uma diminuição das dores e desconfortos físicos
após a prática dos exercícios e não houve diferença estatisticamente significativa
quanto à satisfação com o programa.
Palavras-chave: gestão da saúde, ginástica laboral, qualidade de vida,
cosméticos.
ABSTRACT
This report is based upon 10 years of professional experience in the cosmetic
industry. It is a descriptive study and its main focus is to analyze the correlation
between the labor gymnastic program and the improvement in the quality of life at
work. In this analysis workers´ level of satisfaction data was collected from the
company´s questionnaires between the years 2000 and 2006. The results were
analyzed statistically using Regression Models following Paula´s (2004) statistical
studies. Interviews were held in order to evaluate the program qualitatively. Only
those workers with more than 10 years of work experience participated. The data
analysis shows a discreet improvement in their disposition to work and in three of
the six years analyzed there was a reduction of physical discomfort and pain after
the exercises. There was no significant statistical difference as to the level of
satisfaction with the labor gymnastic program.
Key words: management of the health, labor gymnastic, quality of life, cosmetics.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 – Critérios de Walton................................................................... 35
Figura 1 – Aula de Ginástica Laboral no setor administrativo..................... 79
Figura 2 – Aula de Ginástica Laboral no setor de produção........................79
Figura 3 – Pratica ginástica laboral? ....................................................... ...87
Figura 4 – Pratica ginástica laboral desde sua implantação?......................88
Figura 5 – Acredita que a ginástica laboral interferiu no estilo de vida?......88
Figura 6 – Acredita nos resultados da ginástica laboral?............................ 89
Figura 7 – Nos últimos anos sua saúde melhorou?..................................... 89
Figura 8 – Com a ginástica laboral houve aumento na disposição?............ 90
Figura 9 – Possui queixa de dor ou desconforto físico?............................... 91
Figura 10 – Faz algum tipo de tratamento médico?..................................... 91
Figura 11– Já foi afastado do trabalho por doença ocupacional?............... .92
Figura 12 – Desde a contratação houve mudança de cargo?.......................92
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Evolução do número total de colaboradores........................... 80
Tabela 2 – Gosta de realizar ginástica laboral durante o trabalho............ 81
Tabela 3 – Melhora na disposição para o trabalho................................... 82
Tabela 4 – Realização de exercícios físicos fora do trabalho................... 82
Tabela 5 – Existência de queixas quanto à dor física localizada...............83
Tabela 6 – Comportamento da dor após a prática da ginástica laboral.....84
Tabela 7 – Avaliação geral do programa de ginástica laboral da Natura.. 85
LISTA DE SIGLAS
ABERGO = Associação Brasileira de Ergonomia
ABIHPEC = Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal,
Perfumaria e Cosméticos
ABIQUIM = Associação Brasileira de Indústria Química
ABVD = Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta
ANVISA = Agência Nacional de Vigilância Sanitária
AO = Atividades Ocupacionais
AVDs = Atividades de Vida Diária
CCQ = Círculo de Controle de Qualidade
CNAE = Classificação Nacional da Atividade Econômica
DORT = Distúrbios Ostemusculares Relacionados ao
Trabalho
FDA = Food and Drugs Administration
FEBRAFARMA = Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica
GEEIN = Grupo de Estudos em Economia Industrial
GM = General Motors
IBGE = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LER = Lesão por Esforços Repetitivos
MTE = Ministério do Trabalho e Emprego
OMS = Organização Mundial de Saúde
P&D = Pesquisa de Desenvolvimento
PEA = População Economicamente Ativa
PIA = Pesquisa Industrial Anual
PIB = Produto Interno Bruto
PQT = Programa de Qualidade Total
RAIS = Relatório Anual de Informações Gerais
SECEX = Secretaria de Comércio Exterior
SIPATESP = Sindicato da Indústria de Perfumaria e Artigos de
Toucador no Estado de São Paulo
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 11
2 ESTRATÉGIAS DE PESQUISA 14
3 O MUNDO DO TRABALHO E OS AMBIENTES 17
3.1 As lesões por esforços repetitivos (LER)
28
3.2 Qualidade de vida no trabalho 33
3.3 Ginástica laboral 37
4 A INDÚTRIA DE COSMÉTICOS 41
4.1 A indústria de cosméticos e os elementos institucionais
46
4.2 A competitividade no setor
53
4.3 O processo de trabalho na Natura
64
5 O PROGRAMA DE GESTÃO DA SAÚDE – A EXPERIÊNCIA COM
UM PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL 67
5.1 Gestão das Condições de Trabalho e Saúde 67
5.1.1 Contradições e resistências 71 5.2 O programa de ginástica laboral da Natura
74
CONSIDERAÇÕES FINAIS
94
REFERÊNCIAS
97
APÊNDICE A: QUESTIONÁRIO DE SATISFAÇÃO DA GINÁSTICA
LABORAL 102
APÊNDICE B: ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA 103
APÊNDICE C: CHECK LIST DE COUTO
104 APÊNDICE D: CENSO ERGONÔMICO
107
1 INTRODUÇÃO
É possível gerenciar a saúde nos ambientes de trabalho?
A experiência nos últimos anos com um programa de promoção da saúde numa
indústria de cosméticos em São Paulo vem mostrando seus desafios e
perspectivas diante da questão de prevenir danos à saúde ocupacional, que se
apresentava como problema para a gestão. A proposta de ginástica laboral
desenvolvida dentro deste programa, iniciado em 1996, é uma dimensão para
analisar esta intempérie.
Em verdade, tal preocupação nos acompanha há mais de duas décadas, a
primeira experiência nesse sentido iniciou há mais de 15 anos. Dentre as
possibilidades existentes naquele momento uma experiência com uma academia
de ginástica foi importante, uma vez que a experiência com atividades físicas era
limitada ao futebol. A academia revelou-se um sucesso, reuniu muitos alunos
que, aos poucos, mostraram-nos que havia muito a compreender sobre saúde,
exercícios e aprendizado. A graduação em Educação Física foi decisiva nessa
etapa. Na prática de exercícios para grupos especiais, os adolescentes com
dificuldades físicas formavam o grupo que mais demandava reflexão e estudos e
que levou ao trabalho de conclusão "Musculação para portadores de Escoliose".
Nessa perspectiva, a pós-graduação em Ginástica Especial Corretiva levou à
Ginástica Laboral num momento em que pouco ou quase nada havia sido escrito
sobre o tema. O que existia era limitado a alguns poucos artigos em jornal e
revista. Uma pesquisa realizada a partir de entrevistas numa empresa onde se
praticava ginástica durante a jornada de trabalho. Essa experiência possibilitou
verificar algumas possibilidades de melhoria das condições de saúde nas
organizações. E possibilitou também e elaboração da monografia de conclusão
"Ginástica nas empresas: um caminho para a Educação Física". Em 1996, o
início de um processo baseado em condicionamento físico e musculação numa
clínica de reabilitação de pessoas com problemas na coluna vertebral, foi parte de
um novo patamar atuando junto a pacientes em situações de estresse, em
momentos pré e pós-cirúrgicos. Com isso, a consultoria em saúde no trabalho e
em programas de qualidade de vida nas empresas foi uma exigência que se
apresentou fundamental para avançar nesse esforço. A consultoria junto a
grandes empresas possibilitou um aprendizado efetivo bem como o
aperfeiçoamento contínuo na busca do entendimento sobre o processo de
produção da saúde nos ambientes de trabalho. E, também denominado como
programa de Qualidade de Vida no Trabalho.
Dentre essas empresas temos a Natura, que possuía uma considerável
população trabalhadora afastada do trabalho por motivos de doenças,
especificamente as lesões por esforços repetitivos e ou distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/DORT). O desafio foi o
desenvolvimento e implantação de um Programa de Readaptação desses
trabalhadores afastados por doenças ocupacionais. Foi montada em 1997 uma
equipe de Readaptação de Colaboradores, que evoluiu para o Projeto de
Implantação e coordenação do Programa de Ergonomia da Natura.
O Programa de reabilitação e reintegração e os conceitos ergonômicos de
correção e de concepção implantados dentro do Programa de Ergonomia da
Natura foram fundamentais para a construção de um processo de muito
aprendizado. Tal seqüência ocorreu de forma gradativa, sempre identificando os
riscos, as correções e adaptações do processo de trabalho tanto nas máquinas,
equipamentos e mobiliários quanto nas instalações em geral. Ao longo desse
processo, novas lições e a busca por aperfeiçoamentos, tal qual o título de
Consultor em Ergonomia pela Ergo Ltda., foram determinantes para a evolução
profissional. A primeira reflexão desse trabalho possibilitou apresentar o estudo
"Avaliação da Capacidade Laborativa entre Trabalhadores com quadros crônicos
de dor em membros superiores". Levou também ao curso de graduação em
Fisioterapia, concluído com o estudo "Averiguação da relação: nível de qualidade
de vida e condições ergonômicas em trabalhadores de linhas de produção na
região de Guarulhos".
Este estudo é uma sistematização desses dez anos de experiência, reflexão e
aprofundamento sobre as ações do Programa de Ergonomia da Natura. Foi
desenvolvido com outras ações buscando atuar na melhoria das condições de
trabalho. Foi perseguida a melhoria contínua deste programa com ênfase nas
atividades de coordenação da ginástica laboral e do programa de readaptação.
O objetivo deste estudo é apresentar essa experiência com o programa de
promoção de saúde, focado na Ginástica Laboral, que vem sendo desenvolvido
na Natura, bem como a análise de seus resultados e sua relevância para o
processo de Gestão da Saúde no Ambiente de Trabalho.
Um estudo sobre esse programa pode possibilitar a reflexão das potencialidades
ou restrições da prática desta modalidade na medida em que não há
documentação sobre esse tipo de abordagem na indústria de cosméticos. O
estudo visa também possibilitar a utilização de suas aplicações em outros
programas de gestão da saúde ocupacional. A hipótese do estudo é que é
possível gerenciar a saúde no ambiente de trabalho diante da existência de
desconforto físico e ou dores musculares nos espaços utilizando-se da prática de
exercícios.
A relevância deste estudo é decorrente de abordagens ainda insuficientes sobre
gestão da saúde nos ambiente de trabalho, com programas de promoção da
saúde e prevenção de danos. Para tanto, apresenta-se a dissertação organizada
em seis capítulos. No segundo capítulo, a estratégia de pesquisa desenvolvida
neste estudo. No terceiro capítulo, uma breve contextualização sobre o mundo do
trabalho, discutindo as transformações em seus ambientes de trabalho, o advento
das Ler Dort, bem como a ginástica laboral e o programa de qualidade de vida no
trabalho. No quarto capítulo, uma apresentação da indústria de cosméticos e o
processo de trabalho. O quinto capítulo apresenta o programa de gestão da
saúde com a utilização da ginástica laboral. Por último, as considerações finais.
2. ESTRATÉGIAS DE PESQUISA
Para a apresentação da experiência com o programa de promoção da saúde
baseada na utilização da ginástica laboral foi efetuada uma pesquisa em três
etapas. Na primeira etapa, foi efetuado o levantamento bibliográfico através de
livros, dissertações, artigos e sites institucionais na Internet sobre a LER/DORT
como doença ocupacional mais presente entre os trabalhadores da indústria de
cosméticos bem como a questão do trabalho e suas transformações para a
compreensão do universo de estudo. A pesquisa abrangeu ainda a ginástica
laboral e a indústria de cosméticos. Numa segunda etapa, o trabalho foi de
sistematização da experiência profissional com programas de promoção de
saúde, focou na reabilitação e gestão da saúde nos ambientes de produção. Uma
terceira etapa, de análise do programa de promoção da saúde. Essa etapa foi
efetuada utilizando a experiência com a ginástica laboral na empresa em estudo.
A experiência observada ocorreu no período entre 2000 e 2006. Para tanto,
contou-se com dados documentados desse ínterim bem como com os compilados
a partir do questionário aplicado e entrevistas realizadas em 2006.
Para avaliação da eficácia do programa de ginástica laboral e análise de sua
viabilidade, foi aplicado um questionário fechado (apêndice A). Tal seqüência de
perguntas foi respondida anualmente entre os funcionários e prestadores de
serviço da empresa. A análise estatística foi feita utilizando Modelos de
Regressão com apoio computacional. Seguindo orientação de estudos
estatísticos como de Paula (2004)¹, avaliaram-se também os resultados pelo que
foi observado bem como pelas respostas. Foi avaliada também a existência de
diferenças significativas ao longo dos seis anos em que os questionários foram
aplicados.
_____________
¹ Gilberto A. Paula é docente do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, publicou o artigo: “Modelos de Regressão com apoio computacional”, utilizado no curso de modelagem estatística de regressão com um enfoque interferencial básico e várias aplicações. Este artigo é encontrado no endereço: http://www.ime.usp.br/_giapaula/mlgs.html. Nesta dissertação utilizaram-se os modelos lineares generalizados da família Binomial devido a característica das variáveis nas respostas estudadas serem dicotômicas, ou seja, duas respostas: sim ou não e para tentar explicar sua proporção utilizando as informações relativas aos anos em que os questionários foram aplicados.
Para efeito desse estudo, foi realizada uma entrevista semi-estruturada (apêndice
B) para trabalhadores de produção com mais de 10 anos de tempo de empresa.
Ao todo, foram identificados 328 trabalhadores da linha de produção nesta
condição. Foram identificados os trabalhadores de quatro áreas diferentes:
maquiagem, perfumes, cremes e shampoos. Essa identificação se justifica na
medida em que são de áreas distintas do processo de produção e separadas de
acordo com os diferentes tipos de produtos produzidos. Dessas entrevistas foi
efetuada uma analise qualitativa de significância, avaliando as respostas que mais
se destacaram dentre as que foram obtidas.
A seleção das pessoas entrevistadas dessas áreas foi realizada por meio da
técnica de amostragem simples. Compreende-se por amostragem simples, o tipo
de amostragem para a formação da qual existiu um procedimento de selecção
dos elementos ou grupo de elementos de um modo tal que dá a cada elemento da
população uma probabilidade de inclusão na amostra calculável e diferente de
zero. Neste tipo de amostra, cada elemento da população tem uma probabilidade
conhecida de ser escolhido.A área entrevistada foi a de maquiagem, onde havia
76 trabalhadores que poderiam ser interpelados; Destes, foram sorteados 20, dos
quais somente 19 concordaram em participar da entrevista. A entrevista foi
composta por 10 questões, cujas respostas a nosso critério foram escalonadas
entre 0 (zero) e 10 (dez), sendo 0 (zero) parâmetro para pouco ou nunca e 10
(dez), muito ou sempre. Com o objetivo de garantir a mesma informação para
todos os entrevistados, as questões foram aplicadas pelo mesmo entrevistador.
As questões da entrevista buscaram identificar:
1. O comprometimento com a prática da ginástica laboral;
2. A influência que esta prática teve no estilo de vida desses trabalhadores
durante os 10 anos de sua aplicação;
3. A identificação dos envolvidos no programa entre os que tiveram
afastamento do trabalho e os que não tiveram.
Foram seguidos os procedimentos estabelecidos pelo Código de Ética com
autorização dos participantes, de livre consentimento, assegurando-lhes o
anonimato, bem como solicitada autorização para participação à empresa. O
estudo busca melhoria das condições de trabalho e de bem-estar físico, mental e
social do trabalhador, com beneficência para a saúde coletiva da comunidade
produtiva. Uma cópia do estudo será encaminhada para a empresa e a devolutiva
aos envolvidos será efetuada por meio de uma reprodução a ser encaminhada ao
órgão representante.
3 O MUNDO DO TRABALHO E SEUS AMBIENTES
Neste capítulo buscou-se uma sucinta análise das mudanças no mundo do
trabalho, com referência especial àquelas ocorridas na década de 90, com ênfase
às tecnologias e modelos organizacionais implementados no período e suas
conseqüências para os trabalhadores.
A história da existência humana está associada à sucessão de diferentes modos
de produção, como os modos asiático, feudal e antigo, que foram se
transformando, ao longo da história da humanidade, de forma gradativa, até
chegar ao capitalismo. As mudanças na sociedade desenvolvem-se por forças
internas que a transformam, trazendo sempre algo de novo. Com as mudanças,
as novas sociedades nascem a partir de velhas formas de convivência e produção
e podem carregar alguns vícios (MARX E ENGELS, 1991).
No modo de produção capitalista, os homens são livres para tornarem-se
proprietários ou propriedade. Alguns podem ser proprietários dos meios de
produção e comprar força de trabalho necessária para produção. A maioria dos
trabalhadores é vista como proprietária, porém o que eles detêm é a força de
trabalho, que precisa ser vendida em troca de salário para garantir sua
sobrevivência. Dessa maneira, mesmo produzindo intencionalmente, o homem
não-proprietário dos meios pode não controlar as condições em que produz nem
os produtos de seu trabalho.
A finalidade inicial do trabalho era a produção de bens para consumo próprio.
Com o surgimento da propriedade privada, os não-proprietários são obrigados a
trabalhar para sobreviver, ou seja, são obrigados a vender sua força de trabalho
para outros. Assim, o produto não mais pertence ao produtor e o trabalho passa a
ter caráter de troca, uma vez que ao trabalhador se paga um salário para cumprir
tal atividade, manter-se vivo e manter-se produzindo. O próprio homem converte-
se em mercadoria. Também ele passa a ter seu valor, dependendo de sua
capacidade, rendimento e valor no mercado de trabalho (BASBAUM, 1981).
Não resta alternativa senão fazer o contrato de trabalho para garantir sua
sobrevivência. Por outro lado, o empregador como possuidor de uma unidade de
capital quer ampliar seus ganhos cada vez mais. Dessa maneira, desenvolve-se o
processo, o qual tornou-se agora especificamente um patamar para expansão do
capital, para a criação de lucro (BRAVERMAN, 1987).
Na expansão do capital, o capitalista detém o controle sobre o processo de
trabalho. Esse controle passa a ser parte de todos os sistemas gerenciais. A
origem da gerência decorre das novas relações sociais que estruturam o
processo produtivo e o antagonismo entre aqueles que executam o processo e os
que se beneficiam dele, os que administram e os que executam; os que trazem às
fábricas sua força de trabalho e os que empreendem extrair dessa força de
trabalho a vantagem máxima para o capitalismo (BRAVERMAN, 1987).
Os modos de produção não são invariáveis, estáticos, no curso da história, mas
estão em constante processo de transformação. Mesmo em determinado modo
de produção, no caso o modo de produção capitalista, podem-se observar
constantes rearranjos como repostas a suas crises (MARX e ENGELS, 1991).
Com a organização capitalista do trabalho é introduzida uma característica
inédita, até então, no modo de produzir e na divisão capitalista do trabalho entre
os homens. que é a divisão de uma especialidade produtiva em múltiplas
operações. O que revoluciona o processo de trabalho são as profundas
modificações na utilização da força de trabalho e na indústria moderna; é o
instrumental de trabalho. Mas, seja na manufatura ou na grande indústria, a
divisão do trabalho, em última instância, visa garantir a acumulação. Várias
alternativas tecnológicas e organizacionais têm sido empreendidas pelo capital,
desde a emergência do seu modo de produzir, para controlar o trabalho, para
aumentar o lucro e responder às crises (MARX, 1998).
Segundo Antunes (2000), vivem-se atualmente mudanças que se processam
muito rápidas e intensas. Nos países centrais, constituindo o chamado padrão de
acumulação flexível, que tem como marca a introdução de novas tecnologias e
novas formas de gestão na organização do trabalho no setor produtivo. As
inovações tecnológicas e organizacionais que envolvem o uso, a aplicação e
transformação do conhecimento técnico e científico em problemas relacionados
com a produção e com a comercialização, tendo o lucro como perspectiva. Para
Castilho (1997), a inovação tecnológica e organizacional trata das alterações nas
formas de gestão e de organização da produção.
Essas inovações assumem papel central na teoria econômica, à medida que
ocorre aproximação sistemática entre ciência, técnica e produção, articulando um
conjunto de elementos de “continuidade” e “descontinuidade”. Esse processo
acaba por conformar algo relativamente distinto do padrão taylorista/fordista
(expressão dominante no sistema produtivo da grande indústria, com seu
respectivo processo de trabalho, ao longo do século XX), de acumulação e
causam importantes mudanças no mundo do trabalho, afetando tanto a produção
quanto a vida social (ANTUNES, 2000).
Tais mudanças se processam em linha com o avanço da globalização da
economia capitalista, entendida como a mundialização do capital nas formas
financeira e industrial, que geram mudanças substantivas na forma da produção e
de circulação da riqueza. Os espaços produtivos são transformados e novas
estratégias são implantadas pelas empresas visando ao aumento da
produtividade e qualidade dos produtos, na tentativa de manter-se num mercado
cada vez mais globalizado e competitivo (CHESNAIS, 1996).
Entretanto, o acesso pelos países ao capital não é igualitário, pelo contrário, a
autonomia sem precedentes conquistada pelo capital permite a eleição dentre as
diversas partes do mundo, de optar pelo que for mais conveniente aos interesses
envolvidos.
A aceleração da reestruturação produtiva teve como efeito a profunda
reorganização do trabalho, não só no interior das fábricas, mas também além de
seus muros, através da terceirização, tendo a automatização um peso
significativo. Como resultado desse processo ocorrem mudanças importantes e
significativas sobre a produtividade no trabalho e a redução do emprego, o que
não deve ser a única visão do tema, pois a questão também envolve o custo
benefício de empregar. Aliada a nova estrutura de controle da força de trabalho,
desenvolveu-se novo perfil de qualificação, através de uma estrutura que
assegura subordinação do trabalho ao capital no contexto da chamada produção
flexível, e por pretensão diferente daquela associada aos regimes fabris como os
já citados taylorista/fordista. A estratégia patronal de gestão e organização do
processo de trabalho, juntamente com o fordismo, integra a organização científica
do trabalho, baseada na separação das funções de concepção e planejamento
das funções de execução, na fragmentação e especialização das tarefas, controle
de tempos e métodos e premiação por produtividade (CATANI, 2000).
A crise do capital no início dos anos de 1970, denominada crise estrutural do
capital, evidenciou-se pela queda da taxa de lucros, retração do consumo,
aumento da esfera financeira, que ganhava relativa autonomia frente aos capitais
produtivos, maior concentração de capitais com a união de grandes empresas.
Configurando-se assim a crise do estado do bem-estar social e de seus
mecanismos de funcionamento, acarretando crise fiscal do estado capitalista e
necessidade de retração de gastos públicos e sua transferência para o capital
privado, aumento intenso das privatizações, com tendências a flexibilizações do
processo produtivo, dos mercados e da força de trabalho seguidos das quebras
de regulamentações (ANTUNES, 2000).
A reestruturação produtiva surgiu como tentativa de dar resposta à crise estrutural
do capital, tendo por objetivo reorganizar a produção capitalista, conservando sua
estruturação básica. As mudanças se direcionaram então para o padrão de
acumulação do capital, por mecanismos que possibilitassem maior dinamismo ao
processo produtivo. Embora não exista homogeneidade nas transformações
impostas ao mundo do trabalho nos diferentes países, observam-se algumas
tendências gerais como a mundialização do capital.
A adoção do modelo japonês, conhecido como toyotismo, foi considerada a
solução mágica para os problemas de competitividade enfrentados pelas
empresas que atualizam suas estratégias de gerenciamento adotando alguns
modelos como os programas de qualidade total (PQT), modelo californiano e
saturniano. Contudo, a reengenharia, a ênfase na inteligência emocional, a
questão da qualidade associada ao conceito de modernidade, tornam-se, no
mundo da produção, nova vantagem competitiva de empresas e de nações
inteiras (LIMA 1994).
Araujo e Redi (1997) descrevem programas de qualidade total, como um modelo
de gestão baseado no comprometimento de todos e na vivência da melhoria
contínua, elevando os patamares de qualidade e produtividade, visando à
contínua superação das expectativas de clientes internos e externos, bem como a
intercambialidade dos produtos. Já Lima (1994), descreve os modelos saturniano
e californiano, sendo esses formados pelos críticos do modelo japonês toyotismo.
O projeto Saturno baseia-se numa experiência realizada pela General Motors
(GM), para enfrentar a concorrência japonesa. Diferente da concorrente na
Califórnia, que pretendia realizar a síntese dos dois modelos, o que predominava
era a necessidade de inaugurar uma nova prática gerencial, diferente de tudo o
que havia sido feito até então. A novidade do projeto saturniano consistia na
tentativa de se criar um novo pacto social, através da negociação com os
sindicatos, em vez da hostilidade aberta contra a ação sindical, manifestadas nas
empresas californianas. Na empresa saturniana, as divergências e conflitos são
considerados inevitáveis, portanto devem ser abertamente tratadas e negociadas
com vistas a atingir o consenso.
Surgem então os novos jargões utilizados no mundo do trabalho que indicam
claramente sua origem: kanban, just-in-time, círculo de controle de qualidade
(CCQ), kaisen (mudança para melhor), entre outros. Kanban se refere ao sistema
visual de informação utilizado para administrar o just-in-time adotado no sistema
Toyota. E just-in-time é uma forma de administrar a produção industrial e de seus
materiais, segundo a qual a matéria prima e os estoques intermediários
necessários ao processo produtivo são suprimidos no tempo certo e na
quantidade exata, buscando-se o estoque zero (FRANZOL, 2000).
Descrita como técnica de organização do processo de trabalho desenvolvida no
Japão nos anos 60, para desenvolver os controles de qualidade CCQs, são
criados, no interior da empresa, grupos de seis a dez trabalhadores com o
objetivo de elaborar projetos para a melhoria dos métodos de produção, do
ambiente de trabalho e das máquinas. Podem se reunir dentro ou fora do
trabalho, mas as reuniões não implicam qualquer remuneração extra, são
elaboradas sugestões, elas devem ser encaminhadas para a hierarquia formal da
empresa, instância em que são avaliadas e decidida a conveniência de sua
implantação. Mas como a empresa define a formação dos grupos, sua estrutura e
organização, não só os CCQs deixam de ser espaço dos trabalhadores, como até
acabam, no mais das vezes, destruindo as relações formais entre eles e se
configurando num mecanismo que, para além do seu potencial de cooperação
dos próprios trabalhadores por parte da empresa, favorece o aumento da
produtividade (GOUNET, 1999).
Essas novas formas de gerenciamento, organização da produção e do trabalho
para o desenvolvimento de produtos são apontadas como solução para os
problemas de produção e concorrência capitalista e generalizou-se, em nível
mundial. A adoção de programas de qualidade total, em sua maioria, embasados
em modelos propostos pelas empresas mais lucrativas do primeiro mundo e tendo
como a fonte máxima de inspiração o modelo japonês, cuja origem remonta aos
anos sessenta quando surgiu, no Japão, novo modelo de organização do
trabalho, conhecido como toyotismo (GOUNET, 1999).
As bases desse modelo, apoiadas na reorganização do trabalho, na redução de
níveis hierárquicos e no controle da qualidade dos produtos, dentre outras
atividades, pressupõem a polivalência dos trabalhadores, produtos diferenciados,
responsabilidade com o mercado e estrutura organizacional que permita
constantes mudanças e inovações. Esse modelo deixa claro que inovar a
organização do trabalho significa entender o trabalhador como indivíduo
polivalente, qualificado e com capacidade de participação: para tanto, foi
necessária a adoção de formas flexibilizadas de produção, em oposição à rigidez
do modelo taylorista/fordista até então vigente.
Rompeu-se a relação homem máquina, na Toyota, desde 1955, um trabalhador
opera em média cinco máquinas. Enquanto quatro delas funcionam
automaticamente ele carrega, descarrega, prepara a quinta. Se há duas máquinas
para operar ao mesmo tempo, ele chama um colega. Isso tem consequências
imediatas: o trabalho não é mais individualizado e racionalizado conforme o
taylorismo é um trabalho de equipe, a relação homem-máquina torna-se a de uma
equipe de operários frente ao sistema automatizado, em segundo lugar, o
trabalhador deve tornar-se polivalente, operar várias máquinas diferentes em seu
trabalho cotidiano, para poder ajudar o colega quando preciso for (GOUNET,
1999).
O discurso aparentemente coerente e humano da adoção dos modelos japoneses
de gestão por empresas brasileiras é desmantelado, dentre outros que, ao
estudar as novas políticas de recursos humanos implementadas em duas
empresas brasileiras: uma cooperativa industrial e uma metalúrgica. Concluiu que
as frequentes contradições dessas políticas revelam as verdadeiras razões de
sua adoção pelo empresário local: a empresa puramente estratégica se diz
interessada nos homens. De fato, ela utiliza-os de uma maneira refinada, para
obter deles desempenhos econômicos cada vez maiores, contribuindo assim para
quebrar a solidariedade e impedir o reconhecimento mútuo de sujeitos
conscientes de seus direitos (LIMA, 1994).
Antecipando o surgimento dos conflitos e reivindicações, criaram-se os grupos
internos das empresas, as comissões das fábricas, com a finalidade de organizar
a força trabalhadora. Entretanto, o movimento patronal muitas vezes faz uso
destes grupos para evitar possíveis movimentos de greve. Assim a participação, a
democracia e a harmonização de interesses não passam de táticas para a mais
pura extração de mais-valia; é a forma específica da exploração sob o
capitalismo, à diferença específica no modo de produção capitalista, em que o
excedente toma forma de lucro e a exploração resulta de o fato de que a classe
trabalhadora deve produzir um produto líquido que pode ser vendido por mais de
o que ela recebe como salário. Lucro e salário são as formas específicas que o
trabalho excedente e o trabalho necessário assumem quando empregados pelo
capital (BOTTOMORE, 1993).
Analisando a indústria automobilística, no Brasil, seus trabalhadores são vítimas
da crise econômica estrutural e da passagem de um modelo de organização da
produção baseado no fordismo para o modelo fundado no toyotismo. Como
exemplo pode ser citado o que ocorreu em 1998, quando a produção
automobilística, no Brasil, apresentou queda de 21% em sua produção, o que
ocasionou a demissão maciça de trabalhadores como forma de reduzir os seus
custos. A substituição progressiva do sistema fordista pelo toyotismo permite
maior exploração dos trabalhadores, por três meios principais: Intensificação do
trabalho; Redução dos salários e Diminuição da capacidade de organização dos
trabalhadores (GOUNET, 1999).
Tais fenômenos que se iniciaram na indústria automobilística, na atualidade não
dizem respeito somente aos trabalhadores desse setor, pois o capitalismo, em
seu conjunto, se nutre fundamentalmente da exploração dos trabalhadores.
Quanto mais a crise agrava, mais os empresários tentam recuperar, à custa dos
trabalhadores, os lucros que perdem com a queda das vendas. Quanto mais o
capitalismo avança, mais os operários e seus servidores introduzem métodos
sofisticados para ao mesmo tempo, aumentar a contribuição de cada trabalhador
para a criação de riqueza, no sentido geral e reduzir a capacidade de resistência
coletiva dos operários. A passagem do fordismo ao tayotismo se insere nesse
esforço patronal (GOUNET, 1999).
O processo de industrialização no Brasil ocorreu a passos curtos e se intensificou
a partir da década de 1970 quando gerou transformações importantes na
organização do trabalho, o que afetou suas relações. A partir de 1980, a
economia brasileira entrou numa fase de instabilidade, quando alternou
momentos de recessão e expansão. O modelo econômico implantado permitiu
que, justamente com o crescimento econômico ocorresse significativo aumento do
déficit público e das desigualdades sociais. Dessa forma, o estado foi forçado a se
retirar da atuação no campo de educação, da saúde e dos serviços públicos. Ao
desemprego crescente somou-se o achatamento salarial que era corrompido pela
inflação; resistentes às mais diversas medidas concebidas pelos experts em
economia, nesse contexto, o empresário, movido pela pretensão da conquista de
novos mercados no exterior se viu obrigado a adotar novas tecnologias os
processos de trabalho (LIMA, 1994).
Ao estudar os impactos da reestruturação produtiva, em seis ramos industriais no
Brasil: automobilístico, eletrodoméstico de linha branca, complexo petroquímico,
de equipamentos para telecomunicações, têxtil e de calçados, Invernizzi (2000)
constatou que o processo ocorreu de forma desigual entre os setores estudados e
o aprofundamento da reestruturação, na década de 1990, com impactos
significativos sobre a produtividade do trabalho na redução do emprego.
A redução da atividade industrial no Brasil, a partir dos anos 80, ocorreu ao
mesmo tempo em que a ampliação do emprego significou a expansão do setor
público, como a administração, segurança pública, atividades sociais, educação e
saúde. Nos anos 90, o mesmo processo adquire novo significado, representando
o crescimento e a expansão de ocupações formalizadas, das formas
consideradas atípicas de relações de trabalho, como terceirização e trabalho
temporário (SEGNINI, 1998).
A década de 1990 traz como elemento novo, a política de informática adotada
pelo governo permitiu, aos bancos, incorporar as mais recentes inovações do
mercado internacional. A necessidade de racionalização do sistema financeiro e a
criação dos instrumentos legais para o desenvolvimento de estrutura financeira,
capaz de dar suporte ao novo padrão de acumulação projetada fizeram com que
se intensificasse a implementação das inovações tecnológicas e organizacionais.
Em decorrência, mudaram-se as formas de execução e organização do trabalho
bancário, acarretando a intensificação do mesmo (SEGNINI, 1998).
O aumento da produtividade e dos lucros bancários até os dias de hoje são
possíveis graças às inovações tecnológicas e a racionalização do trabalho, no
entanto, esse mesmo processo contribui para o desemprego de mais de 400 mil
bancários entre as décadas de 80 e 90. Juntamente com o aumento do
desemprego, difunde-se a idéia de que o trabalhador, vítima do sistema, é o
responsável por seu desemprego, por não estar preparado para a nova era
(JINKINGS, 2002).
A afirmação de uma nova era no mercado, como a única via possível da
sociabilidade humana, serve de falso argumento para afirmar teses
conservadoras que legitimam a exclusão. Justificam-se a exclusão e a
desigualdade como elementos necessários. Busca-se firmar uma consciência
alienada de que os vencedores ou os incluídos devem-no a seu esforço e
competência. Os excluídos, os derrotados ou os miseráveis do mundo pagam o
preço de sua incompetência ou de suas escolhas (FRIGOTTO, 1998).
É o espectro das novas formas de exclusão social que paira sobre o capitalismo e
a expansão da insegurança no trabalho passou a ocorrer em diversos níveis:
insegurança no mercado de trabalho, emprego, renda, contratação e
representação. Na verdade, o que ocorre é a explicitação histórica da própria
condição de classe do proletariado, a insegurança, situação de estar à mercê do
acaso, submetido ao poder das mercadorias e ao mercado (ALVES, 2000).
Para Forrester (1997), o exército de excluídos é composto por vidas encurraladas,
torturadas, que se desfazem, tangentes a uma sociedade que se retrai. Entre
esse exército e seus contemporâneos, ergue-se uma espécie de vidraça cada vez
menos transparente e como são menos vistosos e escamoteados dessa
sociedade, são chamados de excluídos. Mas, ao contrário do que parece, eles
são absorvidos, devorados, relegados para sempre, deportados, repudiados,
banidos e submissos, mas tão incômodos.
Com o processo de globalização ou da mobilização do capital, houve a
transferência de tecnologia através de diferentes formas como a passagem de
plantas completas das fábricas, financiamento da industrialização ou projetos de
infra-estrutura, especialistas e consultores para o treinamento de pessoal local e
serviços técnicos. Mas essa transferência de tecnologias dos países exportadores
para os países em desenvolvimento, não foi acompanhada de preocupação com
a segurança e saúde dos trabalhadores.
As empresas geralmente utilizam-se dos momentos de crise para dispensar,
demitir, prioritariamente os trabalhadores vitimados por doenças ocupacionais e
acidentes de trabalho, a exemplo disso, as demissões de bancários com LER.
Que serão os excluídos com menos probabilidade de encontrar novas
colocações, principalmente em razão de excesso de oferta de mão de obra, mais
saudável e mais integro disponível no mercado.
Isto revela a relação em que, de um lado, ocorrem ganhos crescentes nas
instituições financeiras e, de outro lado, a crise dos setores produtivos, geradores
de renda e de emprego. Sobre essa relação, Chomsky (2002) afirma que em
1971, noventa por cento das transações financeiras tinham alguma relação com a
economia real, comércio e investimento de longo prazo. E os outros dez por cento
eram especulativas, em 1990, essa proporção se inverteu e, por volta de 1995,
cerca de 95% de valor total imensamente maior era de natureza especulativa,
com fluxos diários que geralmente excediam as reservas em moeda estrangeira
das sete maiores potências industriais somadas, ou seja, mais de um trilhão de
dólares por dia, em curtíssimo prazo, cerca de oitenta por cento com prazo de
resgate de uma semana ou menos.
Com estas mudanças entre o capital e o trabalho, as constantes batalhas da
classe trabalhadora ocorridas na linha do tempo, verifica-se que as
transformações por que passa a economia na atualidade, por um lado, são
inquestionáveis sob o ponto de vista econômico das empresas, por outro lado,
trazem como consequência pesado ônus para a sociedade e, em especial, aos
trabalhadores, ônus esse que se manifesta na precariedade dos postos de
trabalho e exclusão social, fatores geradores de violência social (ANTUNES,
2002).
Pode ser que em decorrência disso, não se invista e com isso a manutenção das
condições ruins de trabalho sejam efeito, tornar o trabalho precário, não somente
para populações consideradas vulneráveis, é ação recorrente em todo o conjunto
da sociedade, muitas vezes disfarçada sob o manto de novas formas de trabalho.
Assim, os novos arranjos laborais como a oferta de emprego de tempo parcial ou
temporário, as limitações ao trabalho dos jovens, muitas vezes qualificado, o
subemprego, o desemprego recorrente para pessoas não qualificadas
formalmente e a diminuição gradativa dos salários pagos ao trabalhador
manifestam a realidade da reestruturação produtiva no cotidiano social
(ANTUNES, 2002).
3.1 AS LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER).
O complexo “mundo” do trabalho pode desenvolver também doenças
ocupacionais. É o caso da LER
A LER, por definição é considerada como as lesões nos músculos e/ou tendões
e/ou nervos causadas pela utilização biomecanicamente inadequada dos
membros superiores que resultam em dor, fadiga e queda da performance no
trabalho com incapacidade temporária e ou permanentes conforme o caso, nesta
fase agravada por fatores psíquicos que reduzem o limiar de sensibilidade e da
dor (COUTO, 1998).
Mas, como compreender a LER? Há várias interpretações que veremos neste
capítulo. É fato que a LER passa por varias interpretações por parte dos diversos
setores e que varia conforme os interesses e a posição de quem são indagados.
A experiência de dez anos na convivência com o tema LER/DORT, possibilitou-
nos observar as diversas versões apresentadas sobre o tema. Na visão
sindicalista condenam-se todas as formas de produção como causadoras da LER.
A visão médica voltada à saúde ocupacional condena, muitas vezes, o
trabalhador, após o diagnóstico de LER, levando-o à cirurgia e sessões
intermináveis de fisioterapia. A visão empresarial estigmatiza e coloca a culpa
sobre os trabalhadores, como simuladores da dor e fazendo “corpo mole”.
Outras interpretações foram também conhecidas. No curso de Ergonomia de
Couto, podem ser verificadas seis versões sobre a LER/DORT, tais como:
1. “As LER são lesões que ocorrem quando o organismo é submetido a
algum tipo de exigência física forçada de forma repetitiva ao longo da
jornada, sem o devido tempo para a recuperação das estruturas orgânicas”
2. “As LER (e especialmente seu aumento abrupto nos tempos atuais) são
a manifestação da procura desenfreada de ganhos do capital, ao adotar,
sem questionamento, novas tecnologias gerenciais e de produção”
3. “As LER são essencialmente decorrentes de formas inadequadas de
organização do trabalho, que resultam em sobrecarga para as estruturas
orgânicas”
4. “As LER são o resultado do sofrimento e exploração imposto à classe
trabalhadora que têm sido a tônica desde o final do século passando com a
OCT e que têm resultado na minimização da condição dos trabalhadores e
de sua alienação do trabalho”.
5. “A LER nunca existiu; há muitos anos trabalhamos desta forma e nunca
houve nada; o que há é um movimento dos sindicatos para desestabilizar
as empresas”
6. “As LER são o resultado da falência dos mecanismos psicológicos
individuais e coletivos de resistência dos trabalhadores diante de práticas
administrativas e gerenciais autoritárias, muito rígidas e opressivas
existentes nas organizações”
O fato é que A LER (lesão por esforços repetitivos) e os DORT distúrbios
osteomusculares relacionados ao trabalho - são as doenças de maior prevalência
entre as relacionadas ao trabalho em nosso país. De acordo com o INSS, é a
segunda causa de afastamento do trabalho no Brasil. Segundo a Organização
Mundial de Saúde, somente no Estado de São Paulo, a cada cem trabalhadores,
um apresenta algum sintoma de LER/DORT.
Existe uma forte relação entre as condições de trabalho e o aparecimento da
doença. Para Spink (1982), o que muitas empresas têm de desumano é seu
próprio modelo de trabalho, um modelo que, diariamente, sistematicamente,
violenta e restringe as reais capacidades de uma pessoa dentro de um escritório
ou fábrica. Muito provavelmente estas reais capacidades estão ligadas a
potencialidades intelectuais e emotivas, que sofrem constantes negações e
sanções a partir de interações pessoais que, embora em nome da produtividade,
pouco tem a ver com elas.
A nomenclatura LER foi substituída oficialmente por DORT, Distúrbios
Osteomusculares relacionados ao trabalho, por meio da Ordem de Serviço 606,
de agosto de 1998 do Ministério da Previdência e Assistência Social. Em
realidade, a mudança ocorreu por motivos previdenciários. O pagamento de
benefícios depende do reconhecimento da doença. Nisso, houve uma divisão
entre a Ler e a DORT. A LER pode ser diagnosticada em qualquer ambiente de
trabalho e independe do local onde ela foi desenvolvida. Ela pode ser
diagnosticada até mesmo quando o trabalhador estiver realizando atividades
domésticas. Entretanto, a DORT só pode ser diagnosticada quando a lesão for
adquirida no exercício de atividades relacionadas ao ambiente de trabalho
(OLIVEIRA E COLS, 1998).
No Brasil os trabalhadores que mais apresentam o diagnostico de DORT, são os
digitadores. A realização de atividades, sempre na mesma função e com
movimentos rápidos e repetitivos tem sido mais marcante para o desenvolvimento
da doença. Nota-se também prevalência entre as mulheres. A incidência da
doença entre o sexo feminino é atribuída à dupla jornada de trabalho, falta de
preparo muscular para algumas tarefas e a maior quantidade de mulheres no
mercado de trabalho (PRZYSIEZNY, 2000).
O DORT pode ser classificado em quatro estágios, de acordo com a localização
da dor e fatores de agravo, conforme Oliveira e Cols (1998), a saber:
- 1ª Fase: Sensação de peso e desconforto no membro afetado. Dor localizada
nos membros superiores ou espádua que aparece ocasionalmente durante a
jornada de trabalho (pontadas). Não interfere na produtividade do trabalhador,
Não há irradiação nítida, Melhora com o repouso, Geralmente é uma dor leve e
fugaz, Ausência de sinais clínicos, Pode haver manifestações de dor ao exame
clínico, quando a massa muscular envolvida é comprometida. Tem bom
prognóstico.
- 2ª Fase: Dor mais persistente e intensa, que aparece durante a jornada de
trabalho de forma não-contínua, A dor é tolerável e permite a execução da
atividade profissional, mas uma notável redução da produtividade nos períodos de
exacerbação. Pode estar acompanhada de sensação de formigamento e calor,
além de leves distúrbios de sensibilidade, Pode haver irradiação definida, Demora
mais a melhorar com o repouso, Pode aparecer ocasionalmente fora do trabalho
em atividades domésticas e práticas esportivas. De um modo geral, os sinais
físicos continuam ausentes. Pode-se observar, algumas vezes, nodulações
acompanhando a bainha da musculação envolvida, Massa muscular com
hipertonia e dor à palpação. Prognostico favorável.
- 3ª Fase: Dor persistente e forte, com irradiação mais definida, Nem sempre a
dor desaparece com o repouso, podendo ser apenas atenuada, paroxismos
noturnos, Freqüentes perdas da força muscular e parestesias, Há queda
acentuada de produtividade, Sinais clínicos presentes: edema recorrente;
hipertonia muscular; alteração da sensibilidade; palidez; sudoreses, A mobilização
ou palpação do membro provoca dor forte, eletromiografia alterada. Prognostico
reservado.
- 4ª Fase: Dor forte e contínua por vezes insuportável, paroxismo de dor ocorrem
mesmo com o membro imobilizado, perda da força e do controle dos movimentos,
sinais clínicos (hipotrofias por desuso); edema; nódulos e crepitações. A
capacidade de trabalho é anulada, Atos da vida diária prejudicadas, Alterações
psicológicas, como depressão, angústia e ansiedade. Prognostico sombrio.
O que está evidenciado é que o DORT não se desenvolve por decorrência de
uma única causa. O aparecimento ou desenvolvimento do DORT é multicasual,
para tanto, é importante analisar os fatores de risco que possibilitaram o
desenvolvimento da doença. Os fatores de riscos podem ser classificados em três
categorias, segundo Barreira (1994):
1. Fatores biomecânicos - Nos fatores biomecânicos destacam-se os
movimentos repetitivos, os movimentos manuais com emprego de força, as
posturas inadequadas dos membros superiores, a pressão mecânica por
contato com os tecidos moles principalmente dos membros superiores, e
as sobrecargas estáticas;
2. Fatores psicossociais - Já nos fatores psicossociais destaca-se o
trabalho monótono, a grande pressão no trabalho, falta de interação com
os colegas, pouco controle sobre o trabalho, e o trabalho pesado;
3. Fatores administrativos - Por fim nos fatores administrativos inclui a
jornada de trabalho excessiva, a falta de intervalo para pausa, não
observância ao uso inadequado de equipamentos, não observância ao
ambiente físico do trabalho, como calor, frio e vibração, bem como a falta
de programas de prevenção.
A cura da DORT depois de ter iniciado a II fase é complicada. Portanto se faz
necessário que os empresários tomem medidas preventivas para impedir a
evolução do quadro clinico dos trabalhadores, que já manifestaram os sintomas e
prevenir os que ainda não manifestaram. A primeira coisa que deve ser feito num
programa de prevenção é a análise dos fatores de risco, para que estes sejam
controlados (BARREIRA, 1994).
Segundo Lenhart (2005), as estatísticas atuais são indicativas de que a LER
predomina entre das doenças ocupacionais e é a que mais provoca afastamentos
no trabalho. Somente entre os servidores públicos federais os dados confirmam
que para cada mil trabalhadores 35% dos afastados são por problemas de LER.
Essa é uma doença que provoca lesões decorrentes de esforços repetitivos ou de
posturas inadequadas e que no entendimento do médico Sérgio Nicoletti
atualmente, é "a que mais atenção vem recebendo por parte de médicos,
agências governamentais de saúde, sindicatos de categorias profissionais e do
público em geral".
Uma das principais consequências às aposentadorias prematuras, algumas
decorrem de incapacidade total para o trabalho, desde 2005 estão sendo
propostos programas de governo e modificações no sistema que buscam a
readaptação e realocação funcional do trabalhador para impedir que novas
aposentadorias ocorram. Para realizar modificações no Sistema Integral de Saúde
do Trabalhador deverá ser amparado pela legislação existente ou por uma nova
legislação. Assim, caberá a opção pela realização de convênios, criação de
portarias ou elaboração de projetos de lei (LENHART, 2005).
Há necessidade de uma reflexão sobre a LER na atual configuração do trabalho,
cujas implicações estão na intensificação no ritmo de trabalho e na característica
do trabalho repetitivo. Aliam-se a estas as condições psicológica dos ambientes
de trabalho que concorrem para o estresse e que acabam interferindo na saúde
tanto física como psicológica dos trabalhadores.
3.2 QUALIDADE DE VIDA NO TRABALHO
Um programa denominado por qualidade de vida deve ser contextualizado dentro
da esfera das transformações no mundo do trabalho.
Alguns especialistas do tema assim como França (1996 e 2003) e Rodrigues
(1994), dentre outros, em seus trabalhos fazem referência à qualidade de vida no
trabalho como sendo resultado das condições ambientais, das relações e da
organização do mesmo. Para a OMS, saúde é um estado de completo bem-estar
físico, mental e social, e não apenas a ausência de doença.
Para França (2003), qualidade de vida no trabalho é um processo pelo qual uma
organização tenta revelar o potencial criativo do seu pessoal, envolvendo-os em
decisões que afetam suas vidas no ambiente de produção. Uma característica
marcante do processo é que seus objetivos não são simplesmente intrínsecos no
que diz respeito ao que o trabalhador vê como fim de auto-realização e
engrandecimento.
Observa-se que, com o desenvolvimento tecnológico, instalações de mudanças
organizacionais, novos sistemas e equipamentos, o processo de trabalho funciona
com maior velocidade. Além disso, esse universo vem se tornando cada vez mais
estressante e agressivo. Não podemos deixar de destacar que a cultura ocidental
quase sempre trabalha de modo corretivo, esta talvez seja a principal diferença
entre nós e os orientais, que trabalham de maneira preventiva. A própria medicina
oriental é preventiva, cuida da pessoa e a pessoa se cuida para não adoecer.
Tem também a visão do todo; a visão holística e a global. Quando o indivíduo
adoece, acredita-se que todo o seu ser é atingido (corpo, mente e espírito). Este
pensamento envolve a relação consigo mesmo, com sua família e seu trabalho,
tendo reflexo na vida, alterando sua harmonia, seu humor, sua motivação e
vontade. A doença tem reflexo na vida do doente e na vida de quem está ligado a
ele.
A cultura ocidental em que vivemos nos permite uma visão do momento. Leva-
nos a agir de acordo com as circunstâncias e, o que é pior, permite-nos ser
envolvidos por elas e afetados profundamente. Um grande exemplo disso são os
hospitais lotados. A falta de capacitação humana e profissional causa a morte de
inúmeras pessoas diariamente e, infelizmente, isso independe da categorização
social. Tudo isso causa um desequilíbrio que nos leva a condições de saúde
inadequadas, conduzindo-nos muitas vezes à morte prematura ou suspensão das
atividades de vida diárias (AVDs) e atividades ocupacionais.
Estes desequilíbrios cada vez mais são noticiados na mídia, com casos de
executivos afastados do mercado de trabalho devido aos acidentes vasculares, às
gastrites ou úlceras, bem como problemas de coluna, entre outros. Na busca pelo
equilíbrio (antítese), as empresas tem oferecido aos seus empregados uma
infinidade de opções de atividades (modistas), como aulas de yoga, tai-chi-chuan,
ginásticas, meditação, massagens e salas de descanso, entre outras. São
atividades leves com o objetivo de retirar a fadiga, o estresse, buscando uma
reestruturação do indivíduo físico/emocional, preparando os trabalhadores para
jornadas de trabalho geralmente mais intensas.
O que observamos nas empresas ao longo destes dez anos é que estas
atividades costumam ser acompanhadas por pessoas capacitadas como médicos,
psicólogos, educadores físicos e fisioterapeutas, que vão orientando o trabalhador
para que tenha saúde plena e igual condição para exercer suas funções junto às
empresas, bem como junto à família, à sociedade e ao mundo.
Em 1996, Cañete em seu livro Humanização descreveu que no Brasil essas
intervenções já começavam a ser percebidas e sugeriu que devemos olhar para
frente e percebermos a importância de estarmos bem para cumprirmos
corretamente nosso dever. Como empresário, executivo, gerente ou mesmo
operário, só alcançaremos qualidade total quando ela fizer parte de nós mesmos,
quando vivermos com qualidade em pensamentos, sentimentos e expressões, ou
seja, quando tivermos qualidade de vida.
Neste contexto podemos dar mais um sentido à qualidade de vida no trabalho
como uma maneira mais adequada de viver, mais sadia, desde a relação consigo
mesmo, passando pela inter-relação e a relação com o todo.
De acordo com Hartmann (2000), precisamos olhar o termo qualidade de forma
mais ampla. É ilusão querer oferecer qualidade se quem produz está infeliz.
Quando há infelicidade por alguma razão, seja salário baixo, má condição de
trabalho, entre outras, faltará qualidade total. Completa dizendo que, para haver
qualidade total de produto ou serviço, toda a rede que envolve a confecção ou
realização do mesmo precisa ter qualidade de vida, que necessita estar além do
produto e do serviço. Urge a importância de quebrar as barreiras do egoísmo e do
individualismo, marcar presença na vida pessoal de cada elemento e ser
extensivo às suas famílias e à comunidade em que vive.
Assim, apresenta-se no Quadro 1, oito critérios de Walton (1973) adaptado por
França (1996), para qualidade de vida no trabalho, também citado por Rodrigues
(1994), no qual para cada critério existe um ou mais indicadores.
Quadro1 - Critérios de WaltonCRITÉRIOS INDICADORES1- Compensação justa e adequada Salário e Jornada de Trabalho2- Condições de Trabalho Ambiente físico seguro e saudável, Salubridade3- Uso e desenvolvimento de capacidades Autonomia, estima, capacitação múltipla e
informações sobre o trabalho4- Oportunidade de crescimento e segurança Carreira, desenvolvimento pessoal, estabilidade
de emprego5- Integração social na organização Ausência de preconceitos, habilidade social,
valores comunitários6- Cidadania Direitos garantidos, privacidade, imparcialidade7- Trabalho e espaço total de vida Liberdade de expressão, vida pessoal
preservada, horários previsíveis8- Relevância social do trabalho Imagem da empresa, responsabilidade social da
empresa.Fonte: França, 1996, p.32
Com base nos fatores conceituais de Walton, pode-se destacar a relevância de
um programa de ginástica laboral ou exercícios compensatórios nas empresas.
Os conceitos de qualidade de vida no trabalho podem ser produzidos, assim, pelo
desenvolvimento de programas de promoção da saúde, pelo desenvolvimento de
programas de ginástica, bem como na realização de exercícios físicos durante a
jornada de trabalho.
De acordo com França (2003), é fundamental que as organizações desenvolvam
ações direcionadas à qualidade de vida buscando a cada dia a satisfação do
trabalhador que ela denomina “cliente interno”, pois a motivação do mesmo
repercutirá diretamente na melhoria de seu desempenho, contribuindo para um
atendimento de melhor qualidade. Sendo assim, torna-se necessária a
compreensão dos conceitos que envolvem a qualidade de vida no meio de
produção, esta diz respeito a aspectos físicos, ambientais e psicológicos
perceptíveis no meio, sendo utilizada como indicador das experiências humanas e
do grau de recompensa das pessoas que executam suas respectivas atividades.
França (2003) também mostra em seu estudo que apenas 4% das maiores
empresas brasileiras mantêm programas de qualidade de vida para seus
funcionários. Em razão dos baixos investimentos no bem-estar dos trabalhadores,
cerca de 75% da mão-de-obra nacional tem sua capacidade produtiva reduzida
em razão do estresse. Para chegar a tal conclusão, entrevistou os executivos de
234 grandes empresas brasileiras. Constatou que a falta de qualidade de vida
está aumentando os níveis de estresse dentro das corporações, que acabam
perdendo competitividade. De fato, alguns executivos mostram-se sensíveis a
isso: "Companhias gastam milhões de dólares por ano na manutenção preventiva
das suas máquinas. Não vemos razão para não fazermos o mesmo com nossos
funcionários" (Peter Thigpen, Presidente da Levi Strauss, USA, In da Silva e
Machi, 1997).
Desta forma, segundo da Silva e Machi (1997), os Programas de Qualidade de
Vida e Promoção da Saúde estão se tornando parte integrante da vida das
organizações. Nos últimos anos, o tema tem sido fortemente discutido tanto do
ponto de vista empresarial quanto nos níveis individual e comunitário. A melhoria
das relações de trabalho é uma busca constante que mantém sensível
alinhamento com a produtividade e satisfação do trabalhador no seu ambiente de
produção, sempre visando bem estar, saúde e segurança (RODRIGUES, 1994;
FRANÇA; CANETE 1996).
3.3 GINÁSTICA LABORAL
Dentro do programa de qualidade de vida no trabalho vale analisar o que se
denomina por Ginástica Laboral. Buscou-se uma discutir o tema Ginástica
Laboral, que recentemente tem sido objeto de estudos. Até o ano 2000, pouco foi
publicado sobre o tema. Mais recentemente, um levantamento pode mostrar
alguns estudos, relatos ou trabalhos realizados.
A ginástica laboral pode ser compreendida simplesmente como a prática de
exercícios físicos durante a jornada de trabalho, com o objetivo de compensar os
movimentos realizados durante as atividades laborais.
Alguns autores como Guerra (1995) e Dias (1994), compreendem a Ginástica
Laboral como um programa de prevenção e compensação aos movimentos
repetitivos. E que um dos seus objetivos a promoção da saúde, sempre atuando
de forma preventiva e terapêutica. Incluem ainda a Ginástica como uma
ferramenta para as empresas na redução de acidentes de trabalho, prevenção de
doenças por traumas cumulativos, correção de vícios posturais e aumento na
disposição para produzir.
Para Canete (1996), a Ginástica Laboral ou do trabalho é considerada uma
adaptação da “Rádio Taissô”, um tipo de ginástica realizada no Japão desde
1962, feita de forma rítmica, que inclui séries de exercícios específicos. Já Leite
(1995), define Ginástica Laboral como atividade física praticada no local de
trabalho de forma voluntária e coletiva pelos funcionários na hora do expediente.
Essa pode ser preparatória quando realizada no início da jornada ou
compensatória quando realizada no meio ou final do expediente.
Alguns estudiosos do tema Qualidade de Vida, assim como França (2003),
descrevem a atividade física na empresa, ou corporate fitness, como sendo mais
uma ferramenta para a promoção da saúde, buscando assim uma racionalização
do sistema homem-trabalho. Desta forma, outra definição da ginástica na
empresa é a de atividade de prevenção e compensação, que visa qualidade de
vida, melhora as condições de trabalho, contribui para a melhoria do
relacionamento interpessoal, redução de acidentes, diminuição do absenteísmo e
um consequente aumento da produtividade e qualidade.
Ainda sobre a definição do tema, a Ginástica Laboral é composta por exercícios
físicos realizados durante o expediente de trabalho, que agem de forma
terapêutica, para relaxar os músculos que trabalham em excesso por horas
seguidas, através da contração dos seus antagonistas (músculos que fazem
oposição aos movimentos realizados). Esses exercícios também permitem a
quebra da rotina, despertando os trabalhadores e prevenindo, desta maneira,
acidentes de trabalho (PIGOZZI, 2000).
O primeiro registro desta atividade data de 1925, na Polônia, onde foi chamada de
ginástica de pausa, destinada a operários. Na Holanda, Veldkamp fez
experiências com a ginástica de pausa alguns anos após 1925. No entanto, na
Rússia, aproximadamente cinco milhões de operários em cento e cinqüenta mil
empresas praticam ginásticas compensatórias adaptadas a cada ocupação
(CANETE, 1996).
A Bélgica teve a ginástica de pausa iniciada em março de 1961, com os
funcionários do Serviço Social Postal de Bruxelas. Na União Soviética, Sanoiam
fez um estudo com os operários de uma indústria, testando três tipos de
exercícios de pausa: dinâmico; estático e de relaxamento. Chegou à conclusão
que os exercícios estáticos, após a pausa, reduzem o tempo de reação e
aumentam o rendimento no trabalho. Os exercícios dinâmicos apresentam os
mesmos efeitos. Porém, os de relaxamento, ao contrário dos outros dois,
aumentam o tempo de reação e reduzem o rendimento no trabalho (KOLLING,
1982).
Existem algumas denominações ou classificações para a Ginástica Laboral, ela
pode ser nomeada como ginástica preparatória, ginástica de pausa e ginástica
compensatória. O que vai definir cada uma delas é o momento da jornada de
trabalho que os exercícios acontecem. Kolling (1990) descreve que, no Brasil, a
primeira tentativa de implantação da ginástica laboral compensatória foi em Nova
Hamburgo, no Rio Grande do Sul, em 1973.
Em 1990, Faria Junior apresentou um estudo para efeitos didáticos analisando a
influência da ginástica de pausa para o estado físico e psicológico do trabalhador.
Neste estudo, as pesquisas foram realizadas através de experimento. Constatou
então que na Bélgica, Bulgária e URSS estudos mostraram que o tempo de
reação visuo-motora nos praticantes de ginástica laboral de pausa melhorou de
42% a 65%.
No Brasil, Kolling (1990), realizou um estudo com operários de duas fábricas de
acessórios para calçados da cidade de Nova Hamburgo. Os resultados
mostraram que a aplicação da Ginástica Laboral diminuiu significativamente o
índice de fadiga periférica do grupo experimental em comparação com o grupo de
controle. Padrão e Monteiro (1992), analisando a ginástica preparatória,
concluíram que esse tipo de ginástica é muito benéfica, pois prepara o
trabalhador para as atividades laborais diárias, ativando a circulação geral e o
aparelho respiratório, além de preparar as estruturas músculo-ligamentares, de
forma que os funcionários fiquem menos propensos a problema de saúde.
A ginástica laboral têm sido inserida como parte do desenvolvimento de
atividades em ergonomia nas empresas. Mas o que isso quer dizer?
Ergonomia é uma palavra de origem grega onde ergo significa trabalho e nomos,
estudo das leis. Definida por estudiosos como Jastrzebowki, Murrel, Wisner e,
mais recentemente, pela Associação Brasileira de Ergonomia (ABERGO), sua
essência está baseada na necessidade e na busca da adaptação do trabalho ao
homem, com vistas ao conforto e produtividade.
Sem dúvida a ergonomia é uma ciência multidisciplinar, que procura fornecer
meios para a melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores, adaptando o
trabalho às características antropométricas, fisiológicas e cognitivas dos
trabalhadores. Neste contexto, a ginástica pode contribuir com a ergonomia,
principalmente na redução de fadiga física, a monotonia das atividades
repetitivas, os elevados níveis de estresse e falta de relacionamento interpessoal,
muitas vezes imposto por condições que segregam as pessoas em seus
ambientes de produção. Para os ergonomistas, a Ginástica Laboral é considerada
ação paliativa complementar que, apesar de não se opor à necessidade real de
modificar as deformidades existentes nas atividades, age sobre o trabalhador e
não sobre a situação de trabalho.
Vale ressaltar que as “ginásticas laborais” ou de distencionamento por si só não
produzem grandes efeitos na saúde dos trabalhadores, elas são eficazes
especialmente nas pausas e indicadas quando o trabalhador apresenta posturas
forçadas bastante significativas durante a jornada. A incidência de doenças
ocupacionais, queixa de dor ou afastamentos prolongados, tratadas neste
trabalho no capítulo sobre LER, não podem ser consideradas normais e deve-se
levar em consideração um ou mais dos seguintes fatores descritos por Couto
(2007):
1- Existência de fatores biomecânicos bem evidentes – caso não hajam, não
há que considerar uma queixa de dor em membros superiores como
proveniente do trabalho;
2- Existência de sobrecarga ao trabalhador decorrente de fatores ligados a
gestão do processo de produção;
3- Existência de sobrecarga decorrente de realidade psicossocial
problemática, especialmente o alto nível de pressão;
4- Anulação de mecanismos de regulação;
5- Trabalhadores mais vulneráveis exercendo atividades de alta exigência
ergonômica.
4 A INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS
Como se caracteriza a indústria de cosméticos?
A indústria de cosméticos vem passando por grandes mudanças. No entanto, são
escassos os estudos ou análises, no Brasil e mesmo no mundo, sobre este
segmento da indústria química. Recentemente, o setor passou a contar com
atenção de pesquisadores em razão da competitividade que vem representando
no país. É o caso das apurações do Grupo de Estudos em Economia Industrial
(GEEIN), sobretudo no que se refere à competitividade da indústria brasileira e
das formas de internacionalização comercial e produtiva das grandes empresas
globais do setor (VIEIRA, 2002; FURTADO, 2001; GARCIA, 2000). Outros
trabalhos podem ser encontrados, como o de Dweck (1999), que não trata
especificamente da indústria de cosméticos, mas de alguns aspectos ligados à
indústria da beleza.
Há também estudos de casos específicos de gestão de empresas, com
referências importantes às que possuem atuação diversificada na indústria de
alimentos, higiene pessoal, perfumaria e cosméticos. Na área de bioquímica e
química orgânica, são ainda encontrados trabalhos sobre produtos do setor e
formas de aplicação, como no Instituto de Química da Unicamp.
Entre as principais fontes setoriais que possuem dados sobre a indústria de
cosméticos estão as associações representativas, tanto da própria em si como de
setores ligados a ela, em especial nas de natureza química e farmacêutica. Os
principais agrupamentos que divulgam dados e informações do setor estão
relacionados a seguir:
• Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria
e Cosméticos), em www.abihpec.org.br ;
• Abiquim (Associação Brasileira da Indústria Química), em
www.abiquim.org.br ;
• Febrafarma (Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica), em
www.abifarma.org.br .
Essas três organizações concentram as principais estatísticas empresariais do
setor, conforme será detalhado adiante. É importante observar a metodologia de
coleta dos dados e de elaboração dos indicadores pela Abihpec. A entidade faz
um acompanhamento do setor por meio da coleta periódica de informações junto
a 47 empresas, numa amostra que engloba todas as corporações de grande porte
e que representam 87% do faturamento de todo o setor no país.
Tanto a Abiquim como a Febrafarma apresentam dados relativos a outras
indústrias, mas possuem ligações fortes com a química e farmacêutica. Porém,
como será discutido adiante, são muito tênues as fronteiras entre esses setores e
a indústria de cosméticos.
As publicações jornalísticas mais importantes para a indústria de cosméticos
apresentam informações qualitativas sobre as estratégias empresariais. Em
primeiro lugar, estão os jornais. Entre eles, os de economia e negócios Valor
Econômico e Gazeta Mercantil, além de outros diários menos especializados que
apresentam informações importantes em seus respectivos cadernos direcionados
ao assunto. Além dos jornais, diversas revistas especializadas no setor, entre
outras, são: Cosmetics & Toileteries (edição em português); Atualidade
Cosmética; Happi Latin America; Global Cosmetics Industry e Household &
Cosmetics. Essas revistas apresentam informações sobre o mercado de produtos
cosméticos, além de informações sobre as estratégias das empresas que atuam
no setor.
Uma das fontes estatísticas de maior relevância, inclusive devido à sua
disponibilidade e fácil utilização, é o Relatório Anual de Informações Sociais -
RAIS, coletada e tabulada pelo Ministério do Trabalho e do Emprego (RAIS/MTE).
Os dados utilizados dizem respeito ao número formal de empregos e
estabelecimentos, uma base de dados que apresenta os perfis de ocupações de
acordo com a empresa e seu respectivo tamanho, sendo catergorizados pela
Classificação Nacional da Atividade Econômica (CNAE), microrregiões
homogêneas e municípios. Alguns problemas metodológicos relacionados à
utilização dos dados da RAIS para a indústria de cosméticos serão apresentados
adiante neste capítulo.
Outras fontes de informações são os dados da Pesquisa Industrial Anual/Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (PIA/IBGE), que representam a fonte oficial
de informações sobre a indústria e sua atividade. Em relação ao comércio
exterior, exportação e importação, os dados mais utilizados são os da Secretaria
de Comércio Exterior (SECEX). Além dessas, outros números importantes são os
produzidos pelas associações de classe, notadamente a Abihpec. Nesse caso, as
informações coletadas e divulgadas pela instituição carecem de maior rigor
metodológico, o que prejudica a sua utilização. Alguns dados divulgados pela
instituição, especialmente sobre o mercado internacional, no entanto, são
comprados junto a instituições estrangeiras de sistematização de coleta de dados
quantitativos do setor. Outra associação de classe importante é a Abiquim, que
compila, sistematiza e divulga dados sobre a indústria química, que inclui alguns
números do setor de cosméticos. Nesse caso, as informações são produzidas
com grande rigor metodológico, embora, no entanto, apresentem menor grau de
profundidade.
Uma das dificuldades mais importantes que cercam o estudo da indústria de
cosméticos é a delimitação das fronteiras do setor, já que são muito próximas
suas interações com núcleos de produção similares ou mesmo complementares.
Isso se verifica claramente nas estratégias empresariais utilizadas no ramo,
geralmente, para fabricantes de produtos de perfumaria e higiene pessoal.
Existem, inclusive, casos de empresas farmacêuticas possuidoras de unidades
internas voltadas exclusivamente para o mercado de cosméticos.
O segmento cosmético da indústria química tem suas atividades vinculadas à
manipulação de fórmulas destinadas à elaboração de produtos de aplicação no
corpo humano para limpeza, embelezamento ou mesmo para alterar sua
aparência sem afetar estruturas ou funções. Nesse sentido, a concepção vincula-
se com produtos destinados, essencialmente, à melhoria da aparência do
consumidor. De modo geral, o setor deve ser definido segundo o objetivo da
utilização de seus principais produtos.
Em conformidade com esse critério, a ANVISA publicou a Resolução 79, em 28
de agosto do ano 2000, com o intuito de “atualizar as normas e procedimentos
referentes ao registro de produtos de higiene pessoal, cosmético e perfumes”.
Nesse sentido, de acordo com o resultado da pesquisa realizada para este
estudo, pode-se inferir que a indústria de cosméticos, produtos de higiene e
perfumes utiliza preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas,
de uso externo nas diversas partes do corpo humano: pele, sistema capilar,
unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e membranas mucosas da
cavidade oral, com o objetivo exclusivo e principal de limpar, perfumar, alterar a
aparência, corrigir odores corporais e proteger ou manter as citadas partes em
bom estado.
A definição inclui entre os produtos cosméticos de perfumaria e higiene pessoal:
cremes para pele; loções; talcos e sprays; perfumes; batons; esmaltes de unha;
maquiagem facial e para os olhos; tinturas para cabelos; líquidos para
permanente; desodorantes; produtos infantis; óleos e espumas de banho;
soluções para higiene bucal e qualquer material usado como componente
indicativo dessa natureza. Essa definição passou a ser utilizada pelos diversos
agentes envolvidos com o setor em território nacional. Outro mérito foi que tal
conceituação busca a convergência com as definições adotadas em todo o
mundo, resultando em implicações importantes para a dinâmica do setor (por
exemplo, na classificação dos produtos comercializáveis internacionalmente).
A dificuldade de delimitação dessa vocação industrial reflete-se na fragilidade das
classificações do setor. Dentro da CNAE, utilizada tanto pelo IBGE, na elaboração
da PIA, como pelo MTE, para os dados da RAIS, existe um código específico para
a atividade de fabricação de produtos cosméticos, que é a Classe 2473-2,
fabricação de artigos de perfumaria e cosméticos.
Porém, os dados apresentados neste trabalho precisam ser utilizados com certo
cuidado. Isso decorre especialmente da existência de empresas que produzem e
comercializam produtos de segmentos diferentes, fazendo as informações
declaradas serem inseridas somente na atividade principal, nem sempre a
fabricação de cosméticos. Outro problema ocorre com as empresas com mais de
uma planta, situação bastante comum no setor, pois elas tendem a concentrar as
informações na matriz, prejudicando a análise de localização industrial no setor ou
tendências de deslocamento da produção. Essas deficiências são particularmente
importantes para os dados da RAIS, já que a metodologia de coleta dos dados se
dá por auto-classificação.
Em termos de classificação de produto, a mais utilizada no Brasil é a
Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM). Segundo a classificação, constam
produtos de cosméticos, perfumaria e higiene pessoal, óleos essenciais e
resinóides; produtos de perfumaria ou de toucador preparados e preparações
cosméticas. Nesse caso, também se verifica a dificuldade de delimitação do setor,
já que alguns produtos que compõem o rol das empresas de cosméticos, como
sabonetes, não estão inseridos nesta classificação, o que traz prejuízos à análise
do montante exportado. Fontes ligadas ao setor são unânimes em apontar que os
dados de importação estão certamente subestimados por causa da dificuldade de
incorporação desses itens.
A indústria de cosméticos é classificada, usualmente, como um segmento da
química, juntamente com perfumaria, higiene pessoal e limpeza. Juntos, esses
segmentos respondem por algo em torno de 1/8 da produção da indústria química
mundial. Vale lembrar a já apontada dificuldade de delimitação do ramo.
Destaca-se que o peso da produção de cosméticos e dos outros segmentos afins
na indústria química apresenta algumas variações de acordo com a região
analisada. No caso da Europa Ocidental e do Japão, regiões com níveis médios
de renda pessoal mais elevado e com hábitos de consumo bastante sofisticados
no que se refere ao trato da aparência, o peso desse segmento alcança 14% e
12%, respectivamente.
Segundo Dweck (1999), nas últimas décadas, o crescimento do que denomina
indústria da beleza (que envolve o segmento industrial bem como serviços
relativos ao setor, tal qual salões de beleza, clínicas de estética e academias de
esportes) está associado à sofisticação dos hábitos de consumo da população. Já
no caso da China, o peso desse segmento é relativamente mais reduzido, em
torno de 8% da produção total da indústria química. Além de padrão de consumo
diferenciado, os dados mostram também a distinta especialização produtiva dos
países.
Em termos da evolução do faturamento mundial da indústria de cosméticos,
observou-se que, em 1998, atingiu o valor de US$ 167 bilhões, um crescimento
total de 14% sobre o valor de 1990. Analisando os valores por região, observa-se
que na Europa Ocidental o valor do faturamento total do setor em 1998 foi de US$
64 bilhões, com um crescimento de 15% em relação a 1990; na região abarcada
pelo Nafta, o crescimento foi de 30%, atingindo US$ 42 bilhões em 1998 e, no
Japão, o faturamento total foi de US$ 21 bilhões. Essas três regiões somadas
foram responsáveis por 75% do volume de vendas do setor em 1998, com o
restante do montante distribuído por áreas menos desenvolvidas.
Em termos dos principais mercados mundiais de produtos de higiene pessoal,
perfumaria e cosméticos, os Estados Unidos respondem por uma elevada parcela
do consumo. Vale notar o elevado volume comercial desse segmento nos países
desenvolvidos, já que os cinco principais mercados mundiais, respectivamente
Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Inglaterra, respondem por pouco
mais da metade do consumo planetário desses produtos.
O mercado brasileiro é bastante expressivo, estimado como da ordem de US$ 8,5
bilhões, o que representa pouco mais de 4% do mercado mundial, participação
muito superior à que caracteriza mercados de tantos outros produtos (entre 1 e
2%). Essa importância é atestada pela presença das grandes empresas
internacionais do setor, que possuem atividades produtivas e comerciais bastante
relevantes no Brasil.
4.1 A INDÚSTRIA DE COSMÉTICOS E OS ASPECTOS INSTITUCIONAIS
Há aspectos institucionais relevantes para a compreensão da dinâmica da
indústria de cosméticos. Por se tratar de produtos que são aplicados diretamente
na pele, o mercado de cosméticos é regulamentado por órgãos responsáveis pela
saúde pública, como o Food and Drugs Administration (FDA), estadunidense e a
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) no Brasil.
No que se refere à atuação dos organismos reguladores, houve no Brasil, em
convergência às experiências internacionais dos países desenvolvidos (EUA,
Europa e Japão), liberalização do setor, já que as empresas deixaram de ser
obrigadas a declarar as características dos produtos se eles forem considerados
de baixa periculosidade à saúde humana. Isso teve o efeito principal de baixar o
custo dos lançamentos de novos produtos, já que as empresas precisam provar
as características dos cosméticos somente no caso de alguma denúncia.
A regulamentação concentrou-se nos produtos cosméticos que incorporam
princípios ativos, os chamados cosmecêuticos, cuja participação no mercado tem
aumentado significativamente. Nesses casos, os produtos ganham maior
periculosidade à saúde humana, por isso, sujeitos à regulamentação antes de seu
lançamento no mercado. Na classificação da ANVISA, esses produtos são os
chamados de grau dois. Os anteriores são os de grau um.
Essa regulamentação, todavia, não exerce efeitos muito significativos no padrão
de comércio da indústria brasileira, já que não se verificam nos grandes mercados
consumidores internacionais restrições comerciais mais importantes nessa área.
Isso se apresenta mais comumente nos países em desenvolvimento, o que acaba
prejudicando a atuação das empresas brasileiras nos mercados de países da
América do Sul.
Então, como compreender as características da indústria de cosméticos?
Como principal característica da indústria mundial de cosméticos, pode-se citar
especialmente as que se referem à participação dos diferentes países e regiões
no mercado mundial, sem deixar de tratar da indústria de cosméticos brasileira.
A indústria de cosméticos é um ramo industrial surgido a partir do
desenvolvimento dos conhecimentos na área da bioquímica. Trata-se de um setor
que gasta anualmente grandes somas de recursos em lançamentos e promoções
de novos produtos, assim como na manutenção e na renovação dos atributos
mais destacados de suas fórmulas.
Os principais atores internacionais do setor são as grandes empresas
transnacionais, atuando, geralmente, em diversos segmentos da indústria de
cosméticos, perfumaria e higiene pessoal. Possuem ligações importantes com
atividades químicas, farmacêuticas e, em alguns casos, de alimentos,
aproveitando-se das economias de escala e de escopo decorrentes da
proximidade da base técnico-produtiva e, sobretudo, comercial dessas atividades.
No caso da indústria de cosméticos, destaca-se a importância dos países
desenvolvidos, cujo vigor competitivo de suas empresas determina a dinâmica do
mercado mundial. Nesse sentido, as empresas de países em desenvolvimento
assumem papel claramente secundário nesse processo, muitas vezes restritas ao
mercado local. A internacionalização da indústria de cosméticos não difere muito
do padrão de expansão mundial de empresas de outros ramos da indústria
química, mesmo que a intensidade de capital na produção de cosméticos seja
menos expressiva. Destaca-se no processo de internacionalização das empresas
de cosméticos a importância dos ativos comerciais como marca e canais de
distribuição. Antes de empreender esforços mais expressivos de
internacionalização, as empresas procuram estabelecer nos mercados-destino
suas marcas próprias e canais de comercialização e distribuição dos produtos.
Dois fenômenos principais marcam a dinâmica do comércio internacional do
ramo. Primeiro, deve-se destacar a importância dos ativos para a expansão da
indústria. Nota-se que o comércio é a forma inicial de internacionalização das
empresas, que utilizam estratégias internacionais para lançamento de novos
produtos, que eventualmente serão produzidos no mercado-destino em um
segundo momento.
Em segundo lugar, as empresas procuram concentrar a fabricação de produtos
diferenciados em seus respectivos países de origem; ou nos países
desenvolvidos, onde se aproveitam das economias de escala na produção e
abastecem o mercado internacional ou regional. Isso resulta em um padrão de
comércio cujos principais atores são os países desenvolvidos. Destaca-se a
posição da França que, a despeito do elevado volume de compras externas,
apresentou, em 2000, um saldo positivo bastante expressivo, da ordem de US$
4,6 bilhões. Em seguida, é possível identificar nos próximos quatro países
(respectivamente, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Itália) um
comportamento semelhante: são ao mesmo tempo grandes exportadores e
importadores, mas apresentam saldos comerciais positivos relativamente
expressivos.
A internacionalização das capacidades produtivas está associada
substancialmente ao padrão de comércio do setor. A expansão produtiva das
grandes empresas internacionais vincula-se à identificação de mercados locais ou
regionais; em que possam ser auferidas economias de escala mais substantivas
no processo de fabricação.
Nesse sentido, há uma clara tendência, convergente com a internacionalização
das empresas da indústria química, de que os produtos de maior valor agregado e
de menor escala de produção, sejam produzidos nos países de origem. Isso se
verifica, especialmente, no segmento de perfumes e colônias mais sofisticados,
cujas escalas de produção são significativamente mais reduzidas (GARCIA,
2001).
Por outro lado, produtos de uso mais generalizado tendem a ter sua produção
internacionalizada, já que em geral as empresas estabelecem os processos de
fabricação junto aos mercados consumidores. Esse fenômeno é verificado
especialmente no segmento de higiene pessoal, cujos produtos tendem a ser de
uso mais difundido.
Uma tendência crescentemente verificada na indústria de cosméticos é a
estratégia de subcontratação das atividades produtivas junto a empresas
especializadas na manufatura. Esse processo é convergente ao verificado em
outros setores industriais, como o vestuário ou na eletrônica. Muitas empresas
têm se utilizado dessas estratégias para o processo de internacionalização de sua
atuação. Dessa forma, conseguem atuar de modo mais próximo ao seu mercado-
destino sem, no entanto, imobilizar volume mais expressivo de recursos.
No mercado brasileiro, um exemplo importante dessa estratégia é o da empresa
Clairol, braço mundial da Procter & Gamble na indústria de cosméticos, que atua
no mercado brasileiro por meio de importações correspondentes a 2/3 do
faturamento e, por meio de unidades produtivas subcontratadas, são
responsáveis pela terça parte restante das vendas (Valor Econômico, maio1).
Outro caso que pode ser citado é o da New Dana Corporation, empresa de
dimensões bem mais modestas, que pretende ampliar sua atuação no mercado
brasileiro por meio da subcontratação de empresas responsáveis pela produção
de suas linhas de produtos Herbíssimo e Tabu (Valor Econômico, jul. 2).
Além disso, por meio da subcontratação das atividades de fabricação, as
empresas têm procurado reduzir os custos e elevar sua flexibilidade produtiva,
aumentando assim a competitividade. Um exemplo claro desse fenômeno é a
empresa estadunidense Mary Kay, que tem buscado substituir sua produção
vertical por meio de terceirização de algumas linhas de produtos junto a empresas
manufatureiras especializadas (www.globalcosmeticindustry.com). Na outra face
desse processo, nota-se o crescimento das empresas especializadas em
manufatura, que se aproveitam das economias de escala na fabricação de
produtos cosméticos para diversas empresas subcontratantes.
Na indústria de cosméticos, os principais atores mundiais do setor são as grandes
empresas mundiais fabricantes de produtos cosméticos e detentoras de
capacidades tecnológicas, sobretudo as comerciais, que lhes permitem comandar
a cadeia de produção, distribuição e comercialização de mercadorias. Nesse
sentido, vale observar as distintas formas que as grandes empresas
internacionais de cosméticos utilizam a fim de organizar suas respectivas cadeias
de valor (GARCIA 2000; FURTADO, 2001).
A primeira forma de composição realizada por grandes empresas diversificadas
que atuam na indústria de cosméticos bem como em atividades correlatas, tal
qual higiene pessoal, perfumaria, farmacêutica e alimentos, verifica-se conforme
visto em www.abiquim.org.br:
Unilever, empresa anglo-holandesa com faturamento de US$ 51,1 bilhões
em 2001. Atua nos setores de higiene pessoal e cosmético (24%),
alimentos (23%), higiene e limpeza (20%), óleos e margarinas (17%),
sorvetes e bebidas (15%) e outros (1%).
Procter & Gamble, empresa norte-americana com faturamento de US$ 39
bilhões em 2001. Atua nos setores de produtos de higiene pessoal, limpeza
e cosméticos. Neste último, atua com as marcas Max Factor, Olay e
Covergirl e Clairol, última incorporada ao grupo.
Johnson & Johnson, empresa norte-americana com faturamento de US$ 33
bilhões no ano de 2001. Atua nos setores de higiene pessoal e limpeza.
Marca de cosmético: Neutrogema.
Colgate – Palmolive, empresa norte-americana com faturamento de US$
9,5 bilhões no ano de 2001. Atua nos segmentos de produtos para higiene
bucal e pessoal.
Por sua diversificação, essas empresas são capazes de se beneficiar das
economias de escala e de escopo, não apenas na manufatura, mas também na
comercialização verificada entre os diversos segmentos em que atuam. A
segunda forma de organização é composta pelas empresas com atuação
concentrada, que caracterizam suas estratégias pela participação expressiva dos
produtos cosméticos e perfumaria, muitas vezes complementada pela atuação em
segmentos em que são verificadas sinergias relevantes com sua atividade
principal. Conforme visto em www.abiquim.org.br, entre as principais empresas
dessa categoria, encontram-se:
L’Oreal, empresa francesa com faturamento mundial de US$ 13,6 bilhões
no ano de 2001. Entre suas marcas estão L´Oreal, Lancome, Laboratories
Garnier, Maybelline, Helena Rubinstein, Ralph Lauren, Giorgio Armani.
Shiseido, empresa japonesa com faturamento de US$ 5 bilhões no ano de
2001. Tem operações concentradas em cosméticos, produtos para banho e
outros ligados ao setor (produtos para salões de beleza, alimentos para
saúde e beleza, entre outros).
Estee Lauder, empresa norte-americana que faturou em 2001 US$ 4,6
bilhões. Possui entre suas principais marcas Estee Lauder, Clinique,
Aramis, Origins, Bobbi Brown, Aveda, Bumble and Bumble, entre outras,
além de ser licenciada das fragrâncias Tommy Hilfiger, Dona Karan e Kate
Spad.
Revlon, empresa norte-americana com faturamento de US$ 1,3 bilhão no
ano de 2001. Atua exclusivamente na indústria de cosméticos.
Essas empresas concentram suas atividades produtivas e tecnológicas na
indústria de cosméticos. Geralmente os produtos são mais sofisticados e a escala
de produção é menos importante do que os atributos relacionados à
diferenciação. Nesse caso, a capacidade de inovação, incorporação de novas
essências e fragrâncias, além da criação de novas embalagens, entre outros, são
muito importantes.
Dependendo de suas configurações, as empresas possuem estratégias
diferentes. Uma diferença estratégica interessante entre esses dois grandes
grupos de empresas é em relação à forma de comercialização e distribuição. As
empresas com atuação concentrada na indústria de perfumaria e cosméticos
adotam canais específicos, como lojas especializadas para comercializar e
distribuir os seus produtos; enquanto as empresas diversificadas utilizam canais
tradicionais como farmácias, supermercados e hipermercados para escoar sua
produção. Uma variação dessa estratégia concentrada é comercializar seus
produtos por meio das vendas diretas (porta em porta). Dentre os casos mais
importantes dessa variante estão:
Avon, empresa norte-americana que obteve um faturamento em 2001 de
US$ 5,9 bilhões;
Mary Kay, também dos Estados Unidos, que teve receitas totais de US$
1,3 bilhão em 2001;
Natura, empresa brasileira que obteve um faturamento de US$ 1,6 bilhão
em 2001;
Nu Skin, mais uma vez estadunidense, que faturou US$ 880 milhões em
2001.
4.2 A COMPETITIVIDADE NO SETOR
Dentre os fatores relevantes para a competitividade das empresas do setor,
destaca-se a importância dos ativos comerciais. Independentemente da forma de
comercialização utilizada pelas empresas, todas adotam estratégias de
fortalecimento de seus ativos comerciais em suas marcas, embalagens e canais
de comercialização e distribuição do produto. Os ativos comerciais são
importantes fatores inibidores do desenvolvimento das pequenas e médias
empresas do setor.
Estas, geralmente detêm os conhecimentos e as capacitações técnicas de
manipulação de fórmulas que lhes permitam estabelecer unidades. No entanto, a
falta de acesso aos principais canais de comercialização e distribuição do
produto, associado à ausência de investimento em divulgação da marca, torna
essas empresas não competitivas no setor, fazendo dos ativos comerciais um
fator impeditivo ao desenvolvimento do negócio.
Outro fator importante para o crescimento desse setor é o desenvolvimento de
novos insumos, principalmente essências, princípios ativos e novas substâncias
incorporadas aos produtos cosméticos. Para isso, as grandes empresas
internacionais mantêm relações estreitas com seus fornecedores de produtos
químicos, especialmente no que se refere à elaboração de produtos e aplicações
que são incorporadas aos mesmos. Essa capacidade de desenvolvimento de
tecnologias e novas aplicações também é peça fundamental no estabelecimento
de concorrência do ramo, uma vez que os avanços tecnológicos são rapidamente
difundidos por meio tanto das estratégias imitadoras, como pelos fornecedores de
essências e fragrâncias.
De todo modo, a capacidade tecnológica configura-se como um fator competitivo
importante para a indústria cosmética. Em virtude do investimento em laboratórios
de bioquímica, nas interações com a indústria química e farmacêutica, as
empresas são capazes de incorporar aos seus produtos novos princípios ativos,
que representam diferenciais de mercado.
Tal importância pode ser claramente verificada pelo crescimento da participação
dos chamados cosmecêuticos: produtos cosméticos que incorporam princípios
ativos da indústria farmacêutica, como cremes para a pele que possuem fator de
proteção solar. Isso tem exigido das empresas a manutenção de esforços
expressivos de desenvolvimento de novos produtos, como se verifica pelos
elevados gastos em Pesquisas e Desenvolvimentos (P&D).
Há um terceiro fator preocupante, a redução dos custos de produção. As
empresas de cosméticos, independentemente de sua forma de atuação no
mercado, estão buscando reduções de custos através de subcontratação de
processos produtivos junto a empresas especializadas. Portanto, a partir das
estratégias das grandes empresas internacionais de cosméticos, nota-se que os
principais fatores de competitividade são os ativos intangíveis como marca,
capacidade de desenvolvimento e inovação, além de canais de comercialização e
distribuição.
Uma das características mais importantes da indústria de cosméticos no Brasil no
período recente é seu elevado dinamismo, já que a produção brasileira de
cosméticos vem crescendo de forma acelerada. Tomando o período de 1996 a
2002, o setor apresentou um crescimento médio real (deflacionado) da ordem de
cerca de 9% ao ano, o que supera as taxas de crescimento do mercado mundial.
A estrutura produtiva do setor de cosméticos nacional em convergência à
experiência internacional indica multiplicidade de estratégias e de formas de
atuação distintas, dadas a elevadas possibilidades de segmentação do setor.
Tomando os três principais segmentos que compõem esse mercado, de acordo
com dados da Abihpec, o de higiene pessoal foi responsável, em 2001, por 64%
do faturamento, seguido pelo de cosméticos, 24%, e de perfumaria, 12%.
Analisando a participação da indústria brasileira de cosméticos no total da
indústria química, vê-se que ela respondia, em 2001, por cerca de 8% do
faturamento total da química.
O faturamento do setor de cosméticos cresceu a um ritmo superior ao do total da
indústria química até meados da década de noventa, o que resultou em aumento
expressivo de sua participação no total (de 5% em 1990 para 9,7% em 1998).
Após 1998, o setor apresentou ligeira queda em sua participação, alcançando o
patamar de cerca de 8% em 2001. O Brasil é um dos maiores mercados
consumidores mundiais, ocupando posições elevadas no ranking internacional de
diversos produtos: o sexto maior mercado consumidor de produtos de higiene
pessoal, perfumaria e cosméticos, com um mercado total avaliado em US$ 8,5
bilhões, dados referentes ao ano 2000.
Em virtude desse extenso mercado consumidor, as principais empresas
internacionais, tenham atuação diversificada ou concentrada no setor, mantém
atividades produtivas e comerciais importantes na economia brasileira, a fim de
atender o mercado doméstico e, em certos casos, regional. Especialmente em
mercadorias de elevada escala de produção como, dentre outros, xampus e
condicionares (inseridos na rubrica produtos para cabelos); cremes dentais e
escovas (inseridos em higiene oral) e fraldas e absorventes.
Outra característica marcante da indústria de cosméticos é sua elevada
capacidade de criação de empregos, especialmente nas etapas relacionadas com
a comercialização do produto. Todavia, grande parte dos empregos gerados, em
especial aqueles vinculados às etapas de comercialização, é composta por
ocupações não qualificadas e sem horário fixo de trabalho. São, em sua maioria,
mulheres que complementam a renda familiar com a venda de cosméticos, sem
comprometerem-se com um horário fixo de trabalho, embora também contem com
a ausência de qualquer tipo de formalização da relação de trabalho ou de formas
de proteção social.
Um indicador da importância da força de vendas diretas (porta em porta) das
empresas é um fenômeno recente, que envolve Avon e Natura, na economia
brasileira. Os números do primeiro semestre de 2002 mostram que a empresa
Avon obteve incremento de 20% do faturamento no Brasil, acompanhado de
aumento de 25% no seu resultado operacional (não foram disponibilizados dados
absolutos). Já a Natura, obteve incremento de 14% em seu faturamento no Brasil.
Segundo executivos da empresa, isso se deve ao fato de que o aumento do
desemprego faz com que aumente o número de revendedoras, em virtude das
possibilidades de compensação de renda. Vale notar que a Avon possui no Brasil
a sua maior força de vendas diretas em relação aos outros países, contabilizada
em cerca de 550 mil revendedoras (HOUSEHOLD & COSMETICS, 2002).
Outro dado importante está no fato de que mais da metade do emprego no setor
(e nos seus canais de comercialização) está vinculada aos esquemas de venda
direta de produtos de cosméticos e também perfumaria: 53% da mão-de-obra
envolvida com o setor. Entre este grupo de trabalhadores, vale ressaltar também
os chamados profissionais de beleza (como cabeleireiros, manicuras e
podólogos), que se inserem nas atividades de serviços pessoais, mas estão
indiretamente vinculados à indústria de cosméticos: 44% do emprego no setor.
Dados da RAIS/MTE de 1999 indicam que o volume de emprego na Classe
2473-2, Fabricação de Artigos de Perfumaria e Cosméticos, é de 21.876
trabalhadores. Todavia, deve-se lembrar que a totalização de dados setoriais da
RAIS pode ser prejudicada quando da existência de empresas multiprodutivas,
como é comum no ramo de cosméticos.
De todo modo, pode-se inferir que esse elevado volume de trabalhadores está
vinculado, fundamentalmente, às atividades de comercialização dos produtos.
Além das pessoas envolvidas com o sistema de vendas diretas, as lojas
franqueadas também empregam um volume significativo de trabalhadores, desta
feita por meio de relações mais formalizadas de trabalho.
Essa multiplicidade das formas de comercialização é outra característica peculiar
da indústria de cosméticos; o único setor industrial em que pode ser realizado um
paralelo com a indústria de cosméticos é a de jóias e bijuterias, segundo a
Associação Brasileira de Empresas de Venda Direta (ABEVD). A seguir,
mostramos a importância de cada uma das formas básicas de comercialização de
produtos cosméticos, perfumaria e higiene pessoal:
A comercialização de produtos de higiene pessoal se dá, principalmente,
por meio do sistema tradicional de varejo (supermercados, lojas
especializadas ou drogarias).
Já para produtos cosméticos, a importância do varejo tradicional cai para
pouco mais de 60% e mais de um 1/3 das vendas é realizado pelo sistema
porta-a-porta.
E, para produtos de perfumaria, a comercialização direta é responsável por
quase 60% das vendas e o sistema de franquia por cerca de 1/5.
Percebe-se, portanto, a importância dos sistemas não-convencionais de
comercialização dos produtos. Isso é corroborado pelas estratégias das
empresas, como no caso já apontado, da estadunidense Avon, que comercializa
seus produtos por meio de vendas diretas. Mesmo no caso de outras empresas
brasileiras, diversas utilizam-se de sistemas não-convencionais de
comercialização. Esse é o caso, inclusive, da Natura, que se configura em uma
das experiências mais bem sucedidas na indústria de cosméticos no Brasil.
Como apontado anteriormente, a indústria brasileira de cosméticos caracteriza-se
pelo amplo e dinâmico mercado doméstico. Essa característica do mercado impõe
alguns condicionantes importantes para sua estrutura produtiva. Pode-se verificar
no Brasil a presença das grandes empresas internacionais do setor, seja por meio
da fabricação de produtos voltados aos mercados doméstico e regional, seja por
meio da comercialização de produtos fabricados no exterior.
As empresas que atuam em ramos da indústria de mercadorias de uso mais
difundido, principalmente produtos de higiene pessoal, geralmente possuem
unidades produtoras relevantes no Brasil, onde se aproveitam das economias de
escala e de escopo na manufatura e nas suas respectivas estruturas de
comercialização, distribuição e logística. Esse é o caso de grandes empresas
como Unilver, Procter & Gamble, Johnson & Johnson, Avon, entre outras. As
empresas que atuam em segmentos de consumo mais sofisticados abastecem o
mercado doméstico por meio de vultosas importações, como nos casos de
L’Oreal e Shiseido, entre outras.
Além das empresas internacionais, atua no mercado brasileiro grande número de
empresas de capital nacional. Entre os exemplos mais importantes estão os da
Natura e O Boticário, com posições destacadas nos diversos ramos da indústria
de cosméticos. Essas empresas possuem unidades produtivas de cosméticos
importantes e, além disso, realizam alguns esforços de desenvolvimento de
produto no Brasil. A Natura, por exemplo, possui um expressivo laboratório de
desenvolvimento de novos produtos anexo à sua unidade produtiva na cidade de
Cajamar, na Grande São Paulo, envolvendo 30 biólogos, responsável por
lançamentos anuais da ordem de 200 novos produtos.
É verdade que o esforço para inovação é bastante tímido quando comparado ao
das grandes empresas internacionais do setor. Os esforços da empresa francesa
L´Oreal, por exemplo, alcançam gastos anuais em P&D da ordem de 3% de seu
faturamento, alocados em três laboratórios de desenvolvimento de produto
(França, Estados Unidos e Japão), que empregam, conjuntamente, 2.700
cientistas, resultando no registro, em 2001, de 493 patentes.
Como suporte à capacidade técnica e produtiva, pode-se verificar a presença de
investimentos em ativos comerciais, principalmente, na marca e nos canais de
comercialização. As duas empresas notórias, Natura e O Boticário, curiosamente,
adotaram diferentes formas de comercialização. A Natura comercializa seu
produto por meio da venda direta. De acordo com informações corporativas são
quase 500.000 vendedoras que são chamadas de consultoras de beleza. Já O
Boticário comercializa seus produtos por meio de lojas próprias franqueadas e
possui no Brasil um total aproximado de 3.000 lojas.
Além das duas experiências mais importantes, destacam-se empresas nacionais
como, entre outras, Ox Marrow, Valmari, Payot, L´aqua di Fiori, Pierre Alexander,
Niasi, Nazca, Água de Cheiro e Contém 1g. Um ponto comum entre essas
empresas é que quase todas começaram suas atividades de forma muito
modesta, em geral como farmácias de manipulação, e aproveitaram-se do
dinamismo do consumo brasileiro nos últimos anos, estabelecendo posições
importantes no mercado doméstico de produtos cosméticos.
Importante característica da estrutura da indústria brasileira de cosméticos é a
vasta presença de empresas de pequeno e médio porte, decorrente,
fundamentalmente, da simplicidade da base técnico-produtiva que envolve a
fabricação de produtos cosméticos. A sobrevivência dessas empresas, muitas
vezes, está associada às práticas predatórias de concorrência, especialmente
associadas à evasão de impostos e encargos sociais e, portanto, pouco
associadas às boas práticas de fabricação. Porém, em muitos casos, essas
empresas possuem capacidades técnicas produtivas e seu crescimento está
relacionado à construção e consolidação de ativos comerciais, como marca e
canais de comercialização, capazes de dar suporte às capacitações na área
produtiva.
De todo modo, vale destacar a importância dessas empresas na estrutura
produtiva brasileira. Ao contrário do que aconteceu em muitos setores, em que
houve um vultoso processo de desnacionalização da indústria, no setor de
cosméticos os atores nacionais ocupam um papel destacado. Isso tem
implicações importantes para a dinâmica do setor, sendo uma clara tendência
entre as grandes empresas internacionais de concentrar suas atividades
tecnológicas e produtivas nos seus respectivos países de origem.
A experiência dessas empresas nacionais mostra uma característica muito
importante da indústria brasileira de cosméticos, que são as baixas barreiras à
entrada nas atividades de manufatura. Nesse sentido, o que distingue uma
pequena farmácia de manipulação de uma empresa de cosméticos, em geral, é a
sua capacidade de estabelecer ativos comerciais, como marcas próprias e canais
de comercialização e distribuição dos produtos.
Fica claro, portanto, que, a exemplo do que ocorre em outros setores, a
competição na indústria de cosméticos tem ganhado um caráter crescentemente
global no sentido em que os seus principais atores têm procurado estabelecer
atividades nos diversos mercados internacionais.
No caso brasileiro, convergente com essa tendência, as duas empresas mais
importantes de capital nacional, Natura e O Boticário, têm adotado estratégias,
ainda que bastante tímidas, no sentido de incrementar sua atuação internacional.
A Natura, por exemplo, vem investindo no estabelecimento de canais de
comercialização próprios, por meio da venda direta, em diversos países da
América do Sul. O Boticário, por seu turno, já possui uma presença não
desprezível nos mercados de Portugal, reproduzindo sua estratégia de vendas
por meio de lojas franqueadas, e do Japão; mas que respondem por apenas
cerca de 2% do faturamento total. Porém, ao menos duas questões apresentam-
se como condicionantes muito importantes para os esforços de
internacionalização das empresas brasileiras:
O primeiro condicionante diz respeito ao tamanho econômico das firmas
domésticas, sendo as maiores empresas brasileiras muito pequenas em
comparação às internacionais. O faturamento da Natura em 2001 foi de cerca de
R$ 800 milhões e, o do Boticário, de R$ 380 milhões, bastante inferiores aos
verificados nas grandes empresas internacionais;
O segundo condicionante dessa estratégia de internacionalização é que as
empresas brasileiras são monomarca, em contraste com as principais
experiências internacionais em que as empresas gerem, simultaneamente,
diversas marcas (próprias e licenciadas). Isso dificulta a atuação das empresas
brasileiras, que ficam limitadas a faixas muito estreitas de mercado.
Por fim, vale observar um ponto bastante propalado na indústria brasileira de
cosméticos, a possibilidade de aproveitamento da rica flora brasileira,
especialmente amazônica, para a produção de essências a serem utilizadas em
produtos cosméticos. Algumas das empresas brasileiras têm dedicado esforços
para a aplicação de produtos derivados desse recurso natural nos cosméticos.
Trata-se, na verdade, de iniciativa importante, mas decisivamente não deve ser
esse o ponto que vai provocar inserção mais ativa das empresas brasileiras no
mercado mundial. Essa atuação deve ser marcada, como apontado, no
desenvolvimento das capacidades técnico-produtivas e na promoção comercial
dos produtos nos diversos mercados internacionais.
Os principais atores do comércio internacional da indústria de cosméticos são os
países desenvolvidos, particularmente, França, EUA, Reino Unido e Alemanha. A
elevada participação é um indicador do vigor competitivo das empresas desses
países, aliado à estratégia das grandes empresas internacionais de localizar seus
ativos produtivos e tecnológicos nos países centrais. Nesse contexto, a
participação dos países em desenvolvimento no comércio internacional, incluído o
Brasil, é bastante reduzida, como atestam os dados acima apresentados. Isso é
decorrência de dois fenômenos que se reforçam:
As grandes empresas internacionais abastecem os mercados de países em
desenvolvimento por meio de vultosas importações, a exceção do caso de alguns
produtos, como higiene pessoal, em países de grande mercado doméstico, como
o Brasil, onde as empresas acabaram por estabelecer unidades produtivas locais.
Os investimentos realizados nesses países têm o intuito de atender ao mercado
doméstico e regional com efeitos pouco significativos sobre as exportações. Vale
observar que alguns países em desenvolvimento, embora não seja o caso do
Brasil, protegem seus mercados domésticos por meio de barreiras não-tarifárias
relacionadas com os procedimentos para o registro dos produtos.
Essas características da configuração da cadeia produtiva internacional do setor,
bem como a inserção do Brasil nesse contexto, são os principais condicionantes
do padrão de comércio da indústria brasileira de cosméticos. O principal destino
das vendas externas brasileiras é a Argentina, que responde por quase 20% das
exportações totais. À exceção dos Estados Unidos, responsável pela compra de
pouco mais de 13% das exportações brasileiras totais, todos os países com
participação relevante como destino das vendas externas da indústria brasileira
são da América do Sul, como Paraguai (7,2%), Chile (6,8%), Bolívia, Colômbia e
Uruguai (pouco mais de 3% cada). No ranking dos 10 maiores destinos das
exportações, apenas três países não se localizam na América Latina.
Já a análise da origem das importações mostra um quadro absolutamente
distinto. A principal origem das importações brasileiras são os países
desenvolvidos, ao contrário do destino das exportações. Dos cinco principais
vendedores de produtos cosméticos para o Brasil (que representa quase ¾ das
importações totais de cosméticos), quatro são países desenvolvidos, como
Estados Unidos (21,6%), França (19,2%), Alemanha (12,7%) e Suíça (5%).
Apenas a Argentina aparece com algum destaque, já que é origem de 15,5% das
importações brasileiras.
Esse padrão de comércio da indústria brasileira de cosméticos, como se vê, é
absolutamente convergente com a configuração mundial da cadeia. Também se
pode observar a importância da origem do capital das empresas, já que a
concentração das unidades produtivas nos países de origem mostra que a
existência de empresas de capital nacional tem efeitos muito significativos sobre a
capacidade de geração de emprego e renda.
A análise da estrutura da indústria brasileira de cosméticos mostra a presença
das grandes empresas internacionais que atuam no setor. Entre essas empresas,
encontram-se aquelas com atuação concentrada na indústria de cosméticos,
como Avon, Natura, Revlon e L´Oreal, e outras que são mais diversificadas, como
Unilever, Procter & Gamble e Colgate-Palmolive.
A investigação das estratégias dessas empresas mostra alguns elementos
comuns: elas possuem unidades produtivas importantes no Brasil, que atuam no
atendimento de amplo mercado doméstico com fortes complementaridades em
relação ao mercado regional. Tais plantas são voltadas, basicamente, à
fabricação de produtos de elevado volume de produção e concentram-se nos
segmentos finais da demanda, em que são aproveitadas ainda as economias de
escala e escopo nas atividades de comercialização e distribuição dos produtos.
Trata-se, em muitos dos casos, de produtos de higiene pessoal, como xampus,
condicionadores, cremes dentais, sabonetes e desodorantes, cujas economias de
escala na produção e comercialização são atributos fundamentais no processo de
concorrência do setor. A esse esforço produtivo soma-se a posse de marcas
próprias e expressivas estruturas de comercialização e logística.
Por outro lado, em linhas mais sofisticadas com escalas mais reduzidas no
processo produtivo, essas mesmas empresas optam, geralmente, por concentrar
a produção nos seus respectivos países de origem, mantendo no Brasil apenas
funções ligadas à comercialização do produto, cujos custos são compartilhados
com as mercadorias fabricadas nas plantas locais. Assim, esses produtos mais
sofisticados são importados via comércio intrafirma e utilizados para
complementar as linhas de produtos de elevado volume fabricado no país.
Isso também se verifica nas empresas menores ou especializadas nos segmentos
mais sofisticados do mercado, como a Mary Kay e a Shiseido, que não possuem
no Brasil unidades produtivas, mas apenas escritórios de promoção e
representação comercial. O caso da empresa Mary Kay é bastante interessante,
já que a empresa iniciou suas atividades comerciais no Brasil, em junho de 1998,
atendendo ao mercado doméstico exclusivamente por meio das importações e
vendendo seus produtos no Brasil por meio do sistema de vendas diretas com
cerca de 5.500 vendedoras atuando de forma semelhante ao do mercado
estadunidense.
Chama a atenção o fato de que as empresas internacionais instaladas no Brasil
não realizam gastos significativos nas atividades de desenvolvimento de novos
produtos. Praticamente inexistem nessas empresas laboratórios corporativos
voltados às atividades de desenvolvimento tecnológico. Especificidades
brasileiras como a exposição solar e as características locais da pele poderiam
ser fatores motivadores, ao menos, de esforços de adaptação de produtos globais
ao mercado local, o que de fato não se verifica.
Competindo ao lado das grandes firmas internacionais, podem ser encontradas
empresas brasileiras importantes, já que algumas delas possuem parcelas
significativas de mercado de alguns produtos, casos da Natura e Boticário. Essas
empresas têm sua competitividade baseada na combinação entre as capacidades
técnicas e produtivas expressivas e a posse de ativos comerciais intangíveis
singulares, notadamente marca e canais próprios de comercialização.
O último ponto a ser ressaltado é a importância dos chamados cosmecêuticos,
produtos cosméticos que possuem princípios ativos. A participação crescente
desses produtos no mercado foi resultado dos esforços tecnológicos das grandes
empresas que os incorporaram ao seu rol de produção. A amostra do estudo do
setor de cosméticos ficou então definida: Natura; Boticário; Sebeco Indústria
Comércio Exportação Importação Ltda (Pierre Alexander); Ox Marrow; Avon;
Procter & Gamble; Fanape (Fábrica Nacional de Perfumes S.A); Mary Kay;
Henkel; Johnson & Johnson; Laqua di Fiori; Unilever; Niasi; L’Oreal; IFF; Colgate
Palmolive; Shiseido; Gillette; Lipson Cosméticos Ltda; Greenwood Indústria
Comércio Ltda; Valmari Laborátorios Dermocosméticos Ltda; Contém 1g S.A e
Nazca Cosméticos Indústria Comércio Ltda.
4.3 O PROCESSO DE TRABALHO NA NATURA
Considerada a necessidade de se conhecer o processo de trabalho de uma
indústria de cosméticos, para a compreensão da saúde deste trabalho, neste
capítulo são analisadas as características e etapas de fabricação de produtos,
bem como a identificação dos principais movimentos realizados, associados ao
desenvolvimento das atividades produtivas.
O processo de trabalho pode ser compreendido em oito etapas: recebimento de
matérias primas, armazenagem, pesagem e separação de matéria-prima para a
produção dos lotes, produção, análises, envase/embalagem, armazenamento de
produtos acabados, separação de produtos e expedição.
Recebimento de matéria-primaNa empresa em questão, existe um sistema gerenciador denominado SAP, que é
a base para o gerenciamento de todo processo produtivo da empresa. Nesse
sistema, todos os pedidos de matéria-prima são registrados, facilitando a
conferência durante o recebimento pelo sistema de scanner (leitor de código de
barras) de mão. Após conferência e registro, o material é encaminhado para o
setor de armazenagem. Vale destacar nesta descrição o fato de que todo pedido
é baseado na produção de maneira simultânea, ou seja, o sistema SAP identifica
a utilização da matéria-prima e, assim que percebe sua baixa no estoque, envia
uma mensagem para área de suprimentos responsável pela solicitação do
material.
Armazenagem Existem dois possíveis destinos para a matéria-prima no momento da
armazenagem: parte da carga destina-se aos almoxarifados próximos às fábricas,
onde são armazenados materiais com maior saída ou que necessitam de algum
tipo de controle, por exemplo, temperatura. O outro destino da carga é o
armazém vertical (AV). Trata-se de grande “caixote” com capacidade para 20.000
paletes. Ao todo são dois armazéns, também operados pelo sistema gerenciador
SAP e controlados apenas por um trabalhador. Sua movimentação diária é de
aproximadamente 4.800 paletes, incluindo produtos e matéria-prima.
FabricaçãoO processo de fabricação tem início quando o sistema (SAP) envia uma ordem de
fabricação (OF), recebida por um colaborador denominado manipulador. O
manipulador, diante da ordem de serviço, inicia o processo de fracionamento dos
“ingredientes” que vão compor o produto na quantidade determinada pela OF.
Após o fracionamento, a matéria-prima é transportada por carrinhos hidráulicos
(quando sólidos ou muito viscosos) ou por tubulação (quando líquidos) até os
tanques ou reatores onde tudo é misturado. Alguns lotes (bulks) necessitam de
tempo maior para finalização. Esse tempo varia de acordo com a maturação da
mistura. Após término do período necessário, o bulk é liberado para envase. A
liberação também é feita pelo SAP.
EnvaseTambém conhecido como setor de produção, é o local onde os bulks são
transferidos dos reatores para as máquinas de envase. Quando o bulk está
“liberado” na tubulação, o operador de máquinas organiza a linha de produção,
recrutando o número necessário de auxiliares para “formar a linha” (o número de
colaboradores na linha varia de acordo com o tipo de produto), solicitando os
materiais de embalagens e liberando a produção no sistema. A forma de
produção pode variar de produto para produto, porém alguns processos se
repetem. Existe sempre um abastecimento de máquina (um auxiliar retira os
frascos de uma caixa e posiciona-os para envase); um, de tampas (um auxiliar
posiciona as tampas na rosqueadeira ou batoqueira); a conferência de lotes;
colocação de cartuchos na máquina e colocação manual do produto no cartucho.
No final de todas as linhas existem pessoas que colocam os produtos acabados
em caixas, onde, posteriormente, formam os paletes com os produtos acabados
que vão para o armazém vertical. Para cada início e final de processo de
produção é criado um número de lote, que é a identidade do produto.
Análises dos Processos e ProdutosDurante a fabricação de um bulk (nome dado ao total fabricado de um
determinado produto), após sua finalização e durante o envase são retiradas
amostras dos produtos, nas quais são realizados os testes de qualidade da
embalagem (físico) e do produto (químico e microbiológico). A qualquer momento
pode ser detectada não-conformidade. Se isso ocorrer, a produção é suspensa e
ações corretivas são realizadas, podendo ocorrer reprocessamento ou inutilização
do produto.
Armazenamento de produtos acabadosOs lotes liberados no sistema para comercialização vão para o armazém vertical
através de eletromonovias. Esses lotes ficam no armazém até que sejam
solicitados pelo pessoal encarregado da separação dos produtos.
Separação de produtosApós a comercialização dos produtos, o setor de separação é envolvido (via
sistema) para fazer o fracionamento dos lotes e formar os pedidos. Esses pedidos
são compostos por caixas-padrão (sempre do mesmo tamanho e forma), sendo
que cada caixa vai para um destino e a entrega é feita por transportadoras. A
formação dos pedidos é efetuada por sistema automático de separação, porém
existem operações manuais realizadas por auxiliares. As operações consistem no
abastecimento das linhas de separação com produtos. Existe também um setor
de conferência e de formação de paletes. Após a formação do palete, os produtos
vão para expedição.
ExpediçãoCom os paletes formados e os setores de distribuição definidos, os produtos são
liberados e entregues ao pessoal das transportadoras, que carrega os caminhões
e segue para o destino, geralmente a casa de uma consultora ou promotora de
vendas. Essas são as pessoas responsáveis pela venda dos produtos.
5 O PROGRAMA DE GESTÃO DA SAÚDE – A EXPERIÊNCIA COM UM
PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL
Dentro do programa de gestão e promoção da saúde foi desenvolvido a Ginástica
Laboral. Compreende-se que é uma atividade física diária, realizada durante a
jornada de trabalho, com exercícios de compensação aos movimentos repetitivos,
à ausência de movimentos para alguns grupos musculares ou posturas
inadequadas durante o período de trabalho. Os principais objetivos deste
programa são: incentivar e promover a saúde, contribuir na melhoria da qualidade
de vida e possibilitar a integração entre os colaboradores. Como benefício
percebido ao longo de 10 anos deste programa, foi possível observar entre os
praticantes uma diminuição da fadiga muscular, bem como melhoria na integração
do ambiente social de trabalho e diminuição dos desconfortos físicos, como
demonstrados a seguir.
5.1 GESTÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE
Como pode ser realizada a gestão da saúde nas organizações? Um primeiro
ponto importante é cuidar da melhoria das condições de trabalho. O segundo, é o
desenvolvimento de atividades e promoção da saúde, também considerada como
qualidade de vida no trabalho.
Como isso foi feito na indústria de cosméticos estudada? Os casos de doenças
ocupacionais mais frequentes eram os de LER/DORT. De fato, de acordo com o
SIPATESP (www.sipatesp.com.br), as empresas do segmento de cosméticos
estão entre as que mais contribuem para o número de trabalhadores afastados na
previdência social por doenças relacionadas ao trabalho, perdendo somente para
o segmento dos bancários.
Na Natura, desde 1996 são realizados mapeamentos e acompanhamentos dos
casos de afastamento do trabalho. Os afastamentos de trabalhadores são
classificados em dois grupos: por doenças ocupacionais e outras doenças. O
mapeamento é realizado no sentido de identificar a maior incidência de
afastamentos. Através dele foi possível constatar que nos setores de produção a
incidência de afastamentos é 62% maior do que nos setores administrativos.
Considerados os dois grupos de afastamento (ocupacionais e não ocupacionais),
porém, se levarmos em conta somente os de doenças ocupacionais, a diferença
aumenta significativamente e os afastamentos nos setores de produção são 84%
maiores do que nos setores administrativos.
Vale ressaltar que o número de trabalhadores na produção corresponde a 42% do
total de empregados da empresa. Após a realização desse mapeamento, a área
de recursos humanos decidiu fazer o acompanhamento dos trabalhadores das
linhas de produção, que consistiu em fazer análise das atividades e aplicar
questionários de consulta sobre a condição física para todos os trabalhadores da
produção. Tal acompanhamento foi denominado “censo ergonômico”, realizado
pela aplicação de questionários com perguntas fechadas e abertas (apêndice C).
O censo foi realizado entre os trabalhadores da produção no primeiro semestre do
ano de 1998. Seu preenchimento era facultativo e o respondente podia, mas não
precisava identificar-se. No questionário havia perguntas sobre a existência de
dores ou desconfortos físicos e, na sua existência, em que partes do corpo se
localizavam. Outro ponto de destaque no questionário era o espaço para breve
descrição das tarefas. Ao final da aplicação do primeiro questionário, foi possível
contabilizar que 68% dos trabalhadores da produção haviam respondido. Destes,
79% eram mulheres, 76% dos respondentes sentiam algum tipo de dor ou
desconforto físico e a região corporal dos ombros foi a mais referida, com algo em
torno de 52% das queixas, seguida pela região corporal dos punhos, com 41%.
Outro resultado importante foi quanto ao tipo de atividade. Nesse caso, foi
possível identificar que apenas uma das linhas de produção era responsável por
18% das queixas e que uma das atividades comum a outras linhas era
responsável por 32% das queixas. Ao todo, cerca de 12% dos trabalhadores da
produção eram afastados por ano.
Diante destes resultados, os postos de trabalho das linhas de produção foram
fotografados² e analisados quanto aos tipos de movimentos exigidos para a
realização das tarefas/atividades. Baseados nesta análise, estes postos foram
classificados quanto ao grau de risco para membros superiores, seguindo
classificação proposta por Couto 1995 (apêndice D). Esta classificação de
ergonomia deu-se da seguinte forma: altíssimo risco, alto risco, moderado risco e
baixo risco para membros superiores.
De acordo com os critérios de Couto (1995), ao todo foram analisados 89 postos
de trabalho, sendo que, destes, 65% foram classificados alto risco, 28%,
moderado risco, 7%, baixo risco, e nenhum posto de trabalho foi classificado
como de altíssimo risco ergonômico.
Os resultados desses estudos, de censo ergonômico e análise ergonômica, foram
apresentados aos gerentes e departamento de engenharia das fábricas para
elaboração de um plano de ação visando diminuir riscos nos postos de trabalho,
priorizando as ações nos postos de trabalho classificados como alto risco. Ao
todo, este plano de ação teve um cronograma com duração máxima de dois anos,
pois parte das ações consistiam em automatização de algumas atividades, o que
levaria maior tempo. Duas ações tiveram início já no final das avaliações dos
postos de trabalho e tabulação dos questionários, elas consistiam em:
Manutenção e Atualização do Programa de Ginástica Laboral e implantação do
sistema de revezamento entre as atividades.
O programa de ginástica laboral foi implantado em 1996 e atualizado em 1998. O
revezamento entre as atividades teve sua implantação baseada nos riscos das
atividades em que um trabalhador deveria permanecer no máximo duas horas em
cada etapa do processo, tendo que, necessariamente, passar de uma atividade
de maior para uma de menor risco ergonômico. No início, os trabalhadores
resistiram em fazer o revezamento. Este fato durante o processo de
desenvolvimento do programa são objeto do sub-item 5.1.1: Contradições e
Resistências. Por conta dessa reação, se tornou obrigatório e houve
acompanhamento por parte dos líderes de produção. Após essas ações, o
revezamento passou a ser realizado com regularidade.
_________________
² ... os registros fotográficos e resultados das analises realizadas nos postos de em 1998, fazem parte de documentos internos da empresa e encontram-se arquivados, sob a guarda da área de recursos humanos.
No ano 2000, após os dois anos de realização das mudanças estruturais e
dimensionais nos postos de trabalho e da manutenção das outras ações
(revezamento e ginástica), foi realizado novo “censo ergonômico”, com aplicação
do questionário e análise das atividades. Ao final da aplicação do segundo
questionário, foi possível contabilizar que 78% dos trabalhadores da produção
haviam respondido. Desses, 68% eram mulheres, 55% dos respondentes sentiam
algum tipo de dor ou desconforto físico e a região corporal dos ombros,
juntamente com as costas, foram as mais afetadas, com cerca de 44% das
queixas, seguida pela região corporal dos punhos, cerca de 28%. Houve casos
onde o mesmo respondente referiu do em mais de um seguimento corporal, não
houve predomínio quanto ao tipo de atividade e queixas. Houve diminuição
significativa no número de afastamentos por doenças ocupacionais, que passou
de 12% dos trabalhadores da produção para 4,8% ao ano, uma queda de 7,2% no
número de afastamentos do trabalho por doenças ocupacionais.
O plano de ação foi mantido, atualizado e os postos de trabalho foram
melhorados. Entre as principais mudanças houve uma adequação antropométrica
para o mobiliário e equipamentos, principalmente entre as bancadas, cadeiras,
apoio para os pés e dimensões do aparato. Mesmo com a ampliação da fábrica,
ocorridos entre os anos de 1999 e 2000, e o aumento no volume de produção e
do número de trabalhadores, os números de afastados continuaram a diminuir.
Em 2005, o número de afastamentos por doenças ocupacionais foi de 0,6% do
total de trabalhadores (vale ressaltar que o número de trabalhadores aumentou
significativamente de 2.880 no ano 2.000 para 3.390 em 2.005), os postos de
trabalho passaram a ser classificados como verde (baixo risco), amarelo
(moderado risco) e vermelho (alto risco) e a classificação nesse ano foi: 2%
vermelhos, 68% amarelos e 30% verdes.
Foi possível observar evolução significativa na melhoria das condições de
trabalho, principalmente pela diminuição no número de postos vermelhos (alto
risco). Houve também uma diminuição no número de queixas físicas, diminuição
no número total de trabalhadores afastados do trabalho por doenças ocupacionais
e manutenção do processo de melhoria geral no estado de saúde dos
trabalhadores.
5.1.1 CONTRADIÇÕES E RESISTÊNCIAS
Um aspecto interessante no desenvolvimento do programa foi a reação dos
trabalhadores quanto ao revezamento às atividades consideradas repetitivas. E
que merece ser descrito para reflexão.
Durante o processo de gestão das condições de trabalho e saúde na empresa
envolvida neste estudo, muitos fatos chamaram nossa atenção, embora alguns
possam até ser comuns em outras empresas como, por exemplo, a cobrança por
produtividade, horas extras e aumento do volume de produção sem
reestruturação adequada. Porém, outros fatos podem não ser tão comuns assim,
sendo diretamente ligados à cultura organizacional, muitas vezes replicada e ou
continuada sem que os trabalhadores percebam ou entendam a razão.
Oficialmente, nossa primeira atividade na empresa, em 1997, foi realizar
entrevistas com todos os trabalhadores que se encontravam afastados do
trabalho por motivos de doença ocupacional. Para tanto, elaboramos um roteiro
para a entrevista onde constavam algumas questões básicas referentes a tempo
no trabalho, locais, atividades realizadas, realização de horas extras, turno de
trabalho e diagnóstico clínico.
Nosso objetivo era fazer um mapeamento quanto ao número de trabalhadores
afastados por área, saber em qual turno de trabalho havia maior incidência de
afastamentos, qual o tempo médio de trabalho dos afastados, quais as principais
regiões do corpo acometidas, qual a faixa etária e a opinião dos trabalhadores
quanto as piores e melhores atividades. Todas estas informações fazem parte dos
registros internos da empresa e encontram-se em poder da área de recursos
humanos. Os detalhes das informações são confidenciais, porém podemos contar
aqui parte dos resultados sem a identificação ou caracterização.
Quanto ao número de afastados, havia prevalência de uma área exclusiva da
produção, onde cerca de 40% dos afastados trabalhavam. A faixa etária dos
afastados era por volta dos 25 anos de idade, em torno de 95% deles era do sexo
feminino. Havia prevalência também quanto ao turno de trabalho, onde 70% dos
afastamentos eram referentes a trabalhadores do primeiro turno (06h às 14h) e,
quanto ao cargo, todos eram auxiliares de produção.
Todas as informações foram analisadas e apresentadas à alta direção da
empresa, além dos dados numéricos necessários para o mapeamento e
elaboração do plano de ação inicial. Algumas informações qualitativas chamaram
atenção. Dentre elas, a que mais teve destaque foi o fato de que a maioria das
trabalhadoras entrevistadas relatou fazer sempre mesma atividade. Uma das
entrevistadas, inclusive, afirmou que desde sua entrada na empresa, há quatro
anos, guardava os produtos acabados em caixas para transporte.
Durante a apresentação dos resultados para alta direção e gestores, dentre eles,
os Gerentes das Fábricas, responsáveis pela organização do trabalho nos setores
de produção, perguntamos aos presentes se havia algum motivo ou motivos que
impedissem o revezamento entre as atividades. Nossa surpresa foi que alguns
não souberam responder e outros, em resumo, disseram não haver
impedimentos. Sendo assim, entre as ações imediatas previstas para a
diminuição no número de afastamentos do trabalho por doenças ocupacionais, foi
recomendada a implantação do revezamento entre as atividades.
Após algumas reuniões com os líderes das fábricas, responsáveis por coordenar
as atividades dos auxiliares de produção, definiu-se a forma de revezamento. Foi
elaborada uma lista com a relação de postos de trabalho, as sequências para
troca dos postos e o tempo de trabalho em cada posto. Neste momento definiu-se
também a duração de duas horas de trabalho por atividade como tempo máximo.
Os líderes se encarregaram de comunicar aos auxiliares de produção sobre a
nova forma de organização do trabalho e implantar o revezamento. De imediato,
não houve nenhuma reação por parte dos trabalhadores. No entanto, com o
passar do tempo, ao realizar visitas aos postos de trabalho, pode ser notado que
o revezamento não estava acontecendo como combinado. Alguns trabalhadores
entrevistados relataram que nem todos concordaram com o revezamento.
Em se tratando de uma reação a uma proposta que poderia ser mais interessante
para a saúde do trabalhador, procurou-se identificar as razões e argumentos que
embasavam tal ação. Foram ouvidos os trabalhadores no próprio posto. De modo
informal, algumas entrevistas foram realizadas buscando entender os motivos da
não-aceitação ao revezamento.
Entre os relatos levantados pelos trabalhadores, podemos destacar alguns:
1- Com o revezamento os trabalhadores passavam a realizar atividades em todos
os postos, alguns mais confortáveis e outros, não;
2- Na maioria das vezes os trabalhadores mais “velhos de casa” escolhiam os
postos mais “fáceis” para trabalhar e não queriam abandoná-los;
3- Alguns trabalhadores apresentavam dificuldades em realizar atividades mais
complexas, como, por exemplo, encaixe em movimento, montagens e
acabamentos;
4- Os operadores das linhas temiam perda da produtividade, pois os
trabalhadores já sabiam fazer bem e rápido uma atividade e poderiam demorar
para aprender outras;
5- Havia certa competitividade entre os turnos quanto à produtividade;
6- Não havia acompanhamento por parte dos líderes e eles se sentiam à vontade
para decidir não fazer o revezamento;
7- Os trabalhadores com menos tempo na empresa tinham medo de reclamar.
Levando em consideração os relatos descritos, foi realizada uma reunião para
discussão com todos os trabalhadores da produção. Esta reunião foi efetuada
com a presença dos líderes e gerentes da fábrica, explicando-se os motivos da
necessidade dos revezamentos entre as atividades, como forma de prevenção a
danos ocupacionais. E frisando que não era a única ação para melhoria nas
condições de trabalho. E que, a partir da reunião, o revezamento era obrigatório e
seria monitorado. Houve uma série de reclamações por parte dos mais
resistentes, mas nenhuma delas de modo formal. Os líderes também resistiam. E,
por isso, não monitoravam anteriormente.
Após três meses, o revezamento passou a ser realizado sistematicamente. As
reclamações desapareceram e começaram a surgir sugestões quanto à
diminuição do tempo de exposição para atividades que demandavam maior
esforço. Assim, atualmente, dez anos após a implantação do revezamento, os
trabalhadores relembram sem nenhuma saudade do tempo ele não era realizado.
“A realidade agora é outra, se alguém não contribui com o revezamento, está fora
do time”, disse um deles. Muitas vezes, por iniciativa dos próprios funcionários,
ocorre a permanência de no máximo uma hora em cada atividade.
5.2 O PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL DA NATURA
Este apresenta uma explanação do programa, sua história e os resultados
apontados nos dois questionários. Desde a implantação, no ano de 1996, a
prática da Ginástica Laboral na indústria Natura passou por modificações e
reestruturações em seu modelo e forma de realização. Inicialmente, ela foi
implantada somente nos setores de produção, e era aplicada exclusivamente por
professores de educação física, realizada em pequenos grupos e numa única
sessão com duração entre sete e dez minutos. O professor ia até o local onde
ficavam as linhas de produção, avisava os operadores de uma ou duas linhas,
conforme combinado com o líder do setor, e, assim que todos os trabalhadores da
linha eram avisados e paravam o trabalho, dirigiam-se para a lateral da área de
produção e iniciavam a sessão de exercícios. O processo era repetido até que
todas as linhas fossem atendidas. Na época, havia cerca de 200 trabalhadores no
setor. Divididas em três turnos, as aulas eram ministradas por cinco professores,
dois para o primeiro turno, dois para o segundo e um para o terceiro. Alguns
meses após a implantação, já no ano seguinte, a ginástica passou a ser realizada
também nos setores administrativos no mesmo modelo que era realizado nas
fábricas e, para tanto, foram contratados mais dois professores.
O modelo inicial foi mantido até o ano de 1998, mas sua continuação não foi
possível. Houve diminuição na satisfação dos praticantes e uma sobrecarga para
os professores de educação física quanto ao elevado número de aulas no mesmo
dia, bem como relativa ao excesso de deslocamentos.
Pensando nisso, foi desenvolvido um modelo mais eficiente de ginástica e
conseguiu-se negociar com os gerentes das fábricas mais dez minutos de
exercícios por turno na produção. Foi definido também que haveria participação
dos trabalhadores na aplicação dos exercícios. O modelo aprovado, aliás, era
bem diferente do inicial. Em vez de uma pausa, que durava entre sete e dez
minutos, passou-se a realizar três pausas, sendo duas de sete minutos e uma de
seis. As aulas passaram a ser realizadas por voluntários treinados, trabalhadores
das próprias linhas de produção. E todos eles realizam exercícios ao mesmo
tempo, não mais de forma fracionada (por linha) como no modelo anterior.
Para implantar este modelo foram selecionados, entre os voluntários, 20
trabalhadores. O critério de seleção tinha como principal objetivo encontrar os que
tinham melhor relacionamento, motivação e influência entre os respectivos
grupos. Os líderes de produção e a área de recursos humanos foram os que mais
contribuíram com este processo. Após a seleção, foi realizado um treinamento
com oito horas de duração, onde estiveram presentes os monitores selecionados
entre os voluntários, os líderes de produção, um representante da área de
recursos humanos e a equipe de professores de educação física. Neste
treinamento foram abordados conceitos de qualidade de vida, postura,
biomecânica, fisiologia do exercício e a estruturação das seqüências dos
exercícios a serem praticados. Todos os voluntários treinados receberam
certificados e passaram a ser denominados Monitores de Ginástica Laboral.
Como forma de manutenção das informações, atualização das seqüências de
exercícios e capacitação de novos monitores, foi definido um treinamento a cada
três meses e acompanhamento quinzenal nas linhas de produção pelos
professores durante a realização das aulas.
A implantação do modelo, inicialmente, foi muito bem aceita pelos trabalhadores,
houve um discurso do diretor geral das fábricas, bem como sua participação em
algumas das aulas. Nos setores administrativos, as aulas continuaram no modelo
anterior. Os mesmos cinco professores que eram responsáveis por treinar os
monitores e acompanhá-los quinzenalmente na aplicação das aulas, as
realizavam nos setores administrativos. As sessões tinham duração média de 10
minutos, uma vez por dia. Em alguns setores as aulas eram realizadas antes das
refeições e em outros, após.
Juntamente com esta reimplantação ou remodelagem da Ginástica Laboral, foram
estabelecidos critérios de avaliação do desempenho do programa. Entre eles,
dois eram mais importantes, sendo que nos setores de produção a principal meta
era a satisfação quanto à realização dos exercícios, pois percebíamos que, pelo
fato da linha de produção deixar de produzir durante as aulas, a maioria dos
funcionários fazia exercícios. A satisfação passou a ser mensurada através da
aplicação de um questionário (apêndice A), onde a meta estabelecida desde o
princípio era atingir 85% das respostas assinaladas como “ótimo” ou “bom”.
Desde então, este questionário é distribuído para todos os trabalhadores uma vez
por ano, entre os meses de novembro e dezembro. Seu preenchimento é
facultativo. Nos dois primeiros anos a meta não foi atingida e, neste período,
foram repensadas as formas e metodologias do modelo.
Nos setores administrativos foi percebido que nem todos os trabalhadores
participavam das aulas, alguns alegavam falta de tempo, outros não gostavam de
realizar exercícios ou mesmo não queriam parar de trabalhar para fazer
exercícios na frente do chefe. Sendo assim, a meta para estes setores passou a
ser a adesão. O desafio era atingir participação de 70% de todos os trabalhadores
do setor nas aulas. Inicialmente, a contagem era realizada entre o número de
trabalhadores existentes no setor e a quantidade de pessoas na aula, sempre de
acordo com o departamento de recursos humanos. Para este levantamento, os
professores anotavam o número de participantes e seu respectivo setor em cada
uma das aulas. Nos dois primeiros anos, a meta não foi atingida em nenhum dos
setores e, neste período, foram repensadas algumas formas e metodologias para
o modelo.
Além dos motivos listados como relacionados ao distanciamento em relação às
metas estabelecidas, outro fator foi levado em consideração na reestruturação do
modelo da Ginástica Laboral realizado na Natura desde 1998: a empresa
aumentava seu volume de vendas e, consequentemente, o volume de produção e
o número de trabalhadores também subiram. O crescimento abrupto do total de
trabalhadores de 900 para 2880, foi observado entre 1998 e 2000.
As principais ações de restauração no modelo de ginástica foram estratégicas na
busca pelo alcance das metas, bem como na melhora da eficácia do programa.
Vale ressaltar que em nenhum momento a alta direção pensou em deixar de
investir no programa ou mesmo em extingui-lo.
Houve aumento significativo no número de monitores, cada área passou a ter no
mínimo dois por turno. As maiores áreas chegavam a ter até quatro monitores por
turno. Os treinamentos para atualização dos exercícios são realizados uma vez
ao mês, os acompanhamentos dos monitores por professores uma vez por
semana e a aplicação uma aula especial mensal. Esta aula era realizada por um
professor especialista em ginástica e os temas eram variados: boxe, tai chi,
massagem e yoga, entre outros, todos adaptados às condições ambientais e
psicofísicas dos trabalhadores. Outra mudança importante realizada ocorreu nos
horários das pausas, antes espalhados entre a jornada de trabalho, quando
muitas vezes atrapalhavam os trabalhadores e impediam o aproveitamento dos
exercícios. Alguns trabalhadores só conseguiam chegar aos exercícios no final
das sequências. As três seqüências diárias passaram a ser realizadas da
seguinte forma: sete minutos logo no início do turno, seis minutos antes das
refeições e sete minutos antes do final da jornada de trabalho. Neste modelo, a
maioria dos trabalhadores está concentrada e conseguem realizar os exercícios
ao mesmo tempo, com melhor aproveitamento das sequências.
Nos setores administrativos houve quatro grandes mudanças. Uma delas foi a
orientação aos gerentes das áreas por parte da alta direção quanto à necessidade
da participação nas aulas, como forma de influenciar a equipe. As outras três
mudanças, descritas a seguir, foram quanto à implantação de aulas temáticas
mensais, rotina de aulas três vezes por semana e alteração no controle de
participação.
Para as aulas temáticas, na maioria das vezes, buscam o aproveitamento datas
comemorativas existentes no país como, por exemplo, natal, carnaval e páscoa.
Nestes períodos, os professores se caracterizam e como resultado há um maior
envolvimento dos trabalhadores em todos os setores. A mudança na freqüência
da realização das aulas objetivou atingir os trabalhadores que alegavam não
poder fazer exercícios todos os dias por falta de tempo, bem como um maior
empenho dos que já praticavam os exercícios. Todos não querem perder aulas,
pois, se perdem, só conseguirão outra oportunidade dois dias depois. Por fim, o
controle de presença passou a ser feito comparando o número total de pessoas
presentes no momento da aula ao número total dos participantes na aula.
As metas foram mantidas tanto quanto à satisfação mensurada anualmente
através dos questionários, quanto ao percentual de adesão nas áreas
administrativas, com dados coletados em todas as aulas e tabulados
mensalmente.
Com relação à adesão, ou seja, número de participantes nas aulas realizadas nos
setores administrativos, logo na implantação das mudanças houve uma melhoria
significativa, mas apenas em alguns setores. Em geral, houve uma evolução
gradativa, até que em 2005 a meta coletiva de 70% foi atingida pela primeira vez.
Com relação à satisfação, os resultados podem ser encontrados mais adiante
neste capítulo entre as tabelas 2 e 7, encontradas neste capítulo.
Desde o princípio do programa toda parte técnica é responsabilidade dos
educadores físicos que, após as mudanças descritas, é realizado mensalmente
um treinamento com as novas sequências de exercícios e, semanalmente,
acompanhamento durante as aulas de todos os monitores. Conforme descrito, os
monitores são colaboradores voluntários e, durante os acompanhamentos, são
orientados e avaliados tecnicamente, recebem feedback. Nestes oito anos da
existência deste modelo de programa, não houve nenhum monitor que foi
desligado ou impedido de continuar por falta de adequação. Alguns pedem para
deixar a função já que o trabalho voluntário muitas vezes satura as atividades
laborais necessárias ao desempenho de suas funções. Outros, por motivos
pessoais, e alguns, para dar lugar para quem também deseja ser monitor e ainda
não foi. Há trabalhadores que são monitores por mais de cinco anos e dois deles
que desempenham este papel desde o início.
No início, o atual modelo contava com 20 monitores. Atualmente, participam do
programa cerca de 190 monitores. Inicialmente, em 1998, cerca de 450
colaboradores eram beneficiados pelo programa. Atualmente são 3.500
colaboradores que realizam exercícios todos os dias, uma vez que, além dos
empregados da empresa, os terceirizados também participam das aulas. Os
terceiros residentes (que convivem todos os dias com os empregados da
empresa) também possuem monitores próprios como, por exemplo, no caso dos
trabalhadores do restaurante e limpeza, entre outros.
As técnicas de exercícios empregadas na Natura são variadas, os colaboradores
realizam alongamentos (individuais ou em duplas), exercícios de mobilizações
articulares, distencionamento, relaxamento e lúdicos, conforme podemos ver nas
figuras 1 e 2. Figura 1, aula nos setores administrativos, e figura 2, aula no setor
de produção:
Figura 1: aula no setor administrativo Figura 2: aula no setor de produção
Antes da implantação da ginástica numa área ou setor, é realizado um
mapeamento, onde são analisadas as atividades, a jornada de trabalho, a gestão
e as condições ambientais. Baseados nos resultados do mapeamento são
definidos tipos de exercício para cada uma das três sequências, a duração dos
mesmos para cada tipo de exercício e os horários para os setores administrativos.
A equipe de trabalho também é definida de acordo com o resultado do
mapeamento.
Quais os resultados do programa de ginástica laboral da Natura?
Os resultados obtidos desse programa foram levantados pelos questionários de
satisfação distribuídos a todos os colaboradores da empresa entre os anos de
2000 e 2006 (apêndice A), bem como pelos resultados de entrevista semi-
estruturada (apêndice B) realizada com 19 trabalhadores da fábrica de
maquiagem entre os meses de setembro e outubro de 2006. Essa amostra foi
composta por trabalhadores da linha de produção com mais de 10 anos de tempo
de casa.
Os questionários (apêndice A) pretendem mensurar a satisfação dos praticantes
dos exercícios e seus resultados serão apresentados a seguir, através de análise
estatística. Ao todo, existem seis questões com respostas objetivas, sendo que
em uma delas há a possibilidade de o respondente descrever o local onde sente
dor ou desconforto físico, caso sua resposta seja sim.
O principal objetivo desta análise estatística é avaliar se os resultados observados
nas seis perguntas apresentam alguma diferença significativa ao longo dos anos
em que os questionários foram aplicados aos colaboradores da Natura.
Na tabela 1 apresenta-se à evolução no número total de colaboradores durante os
anos e sua relação com o número de questionários respondidos:
Tabela 1 - Evolução do número total de colaboradores
TotalColaboradores Participantes
Anos colaboradores (%)2000 2880 44,932001 2680 43,542002 2480 46,772003 2570 60,512004 2960 59,192005 3390 49,502006 3820 64,29
Fonte: Recursos Humanos – Natura 2006
Observando os resultados da Tabela 1, podemos verificar que parece existir um
aumento, com o passar dos anos, no número de colaboradores que responderam
os questionários sobre a avaliação da Ginástica Laboral.
Na tabela 2 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas da questão número
1 do questionário.
Tabela 2 - Gosta de realizar ginástica laboral durante o trabalhoAno 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Sim (%) 91.67 93.57 94.75 96.20 96,30 93,90 96,90
Não (%) 8.30 6.4 5.24 3.80 3,7 6,10 6,10
Para facilitar os cálculos no software estatístico, codificou-se os anos 2000 a 2005
como 1 a 6, respectivamente, pois 2006 foi considerado referência para realizar
as comparações. Utilizando um modelo linear generalizado para a família
Binomial, tem-se o seguinte modelo ajustado:
Coefficients: Estimate Std. Error z value Pr(>|z|)
(Intercept) 3.4441 0.1165 29.557 < 2e-16 ***
ano1 -1.0479 0.1539 -6.810 9.78e-12 ***
ano2 -0.7658 0.1668 -4.591 4.41e-06 ***
ano3 -0.5528 0.1757 -3.146 0.00166 **
ano4 -0.2111 0.1766 -1.195 0.23199
ano5 -0.1878 0.1719 -1.092 0.27466
ano6 -0.7064 0.1550 -4.559 5.15e-06 ***
Considerando o nível de significância (1 - ∞) igual a 5%, tem-se que os anos de
2000 (valor p<0,0001), 2001(valor p<0,0001), 2002 (valor p=0,00166) e
2005(valor p<0,0001) diferem estatisticamente quanto à proporção de respostas
observadas para a questão 1 em relação ao ano de 2006. Entretanto, os anos de
2003 (valor p=0,2319) e 2004 (valor p=0,27466) não apresentam diferença
significativa na proporção do ano de 2006.
Na tabela 3 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas à questão número
2 do questionário.
Tabela 3 - Melhora na disposição para o trabalho
Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Sim (%) 77.68 82 86.36 89.50 89,80 86,20 88,60
Não (%) 18.47 18 5.24 10.50 10,20 13,80 11,40
Uma vez mais, como meio facilitador aos cálculos no software estatístico, foram
codificados os anos 2000 a 2005 como 1 a 6, respectivamente, pois 2006 foi
considerado referência para realizar as comparações. Utilizando um modelo linear
generalizado para a família Binomial, tem-se o seguinte modelo ajustado:
Coefficients: Estimate Std. Error z value Pr(>|z|)
(Intercept) 2.05045 0.06349 32.296 < 2e-16 ***
ano1 -0.80414 0.09212 -8.729 < 2e-16 ***
ano2 -0.53376 0.09919 -5.381 7.39e-08 ***
ano3 -0.20330 0.10657 -1.908 0.0564 .
ano4 0.09429 0.10433 0.904 0.3661
ano5 0.12290 0.10126 1.214 0.2249
ano6 -0.22063 0.09504 -2.321 0.0203 *
Considerando o nível de significância (1 - ∞) igual a 5%, tem-se que os anos de
2000 (valor p<0,0001), 2001(valor p<0,0001) e 2005(valor p=0,0203) diferem
estatisticamente quanto à proporção de respostas observadas para esta questão
em relação ao ano de 2006. Entretanto, os anos de 2002 (valor p=0,0564), 2003
(valor p=0,3661) e 2004 (valor p=0,2249) não apresentam diferença significativa
na proporção do ano de 2006.
Na tabela 4 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas da questão número
3 do questionário.
Tabela 4 - Realização de exercícios físicos fora do trabalhoAno 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Sim (%) 42.40 48.80 49.15 51.30 49,60 47,10 51,60
Não (%) 55.24 51 50.85 48.70 50,40 52,90 48,40
Os cálculos no software estatístico, codificou os anos 2000 a 2005 como 1 a 6,
respectivamente, pois o ano de 2006 foi considerado como referência para
realizar as comparações. Utilizando um modelo linear generalizado para a família
Binomial, tem-se o seguinte modelo ajustado:
Coefficients: Estimate Std. Error z value Pr(>|z|)
(Intercept) 0.06354 0.04038 1.574 0.11557
ano1 -0.36883 0.06924 -5.327 1e-07 ***
ano2 -0.11325 0.07113 -1.592 0.11137
ano3 -0.09803 0.07127 -1.375 0.16901
ano4 -0.01079 0.06484 -0.166 0.86779
ano5 -0.07952 0.06256 -1.271 0.20367
ano6 -0.18048 0.06342 -2.846 0.00443 **
Considerando o nível de significância (1 - ∞) igual a 5%, tem-se que os anos de
2000 (valor p<0,0001) e 2005(valor p=0,00443) diferem estatisticamente quanto à
proporção de respostas observadas para esta questão em relação ao ano de
2006. Entretanto, os anos de 2001(valor p=0,11137), 2002 (valor p=0,16901),
2003 (valor p=0,86779) e 2004 (valor p=0,20367) não apresentam diferença
significativa do ano de 2006.
Na tabela 5 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas da questão número
4 do questionário.
TABELA 5 - EXISTÊNCIA DE QUEIXAS QUANTO À DOR FISICA LOCALIZADA
Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Sim (%) 36.96 44.90 46.95 43.90 40,50 42,90 44,80
Não (%) 62.01 55 53.05 56.10 59,50 57,105 55,20
Coefficients: Estimate Std. Error z value Pr(>|z|)
(Intercept) -0.209229 0.040578 -5.156 2.52e-07 ***
ano1 -0.325575 0.070456 -4.621 3.82e-06 ***
ano2 0.004576 0.071485 0.064 0.94896
ano3 0.088393 0.071466 1.237 0.21615
ano4 -0.035066 0.065249 -0.537 0.59099
ano5 -0.174403 0.063362 -2.753 0.00591 **
ano6 -0.076368 0.063869 -1.196 0.23182
Considerando o nível de significância (1 - ∞) igual a 5%, tem-se que os anos de
2000 (valor p<0,0001) e 2004(valor p=0,00591) diferem estatisticamente quanto à
proporção de respostas observadas para esta questão em relação ao ano de
2006. Entretanto, os anos de 2001(valor p=0,94896), 2002 (valor p=0,21615),
2003 (valor p=0,59099) e 2005 (valor p=0, 23182) não apresentam diferença
estatisticamente significativa ao ano de 2006.
Na tabela 6 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas da questão número
5 do questionário.
TABELA 6 - COMPORTAMENTO DA DOR APÓS A PRÁTICA DA GINÁSTICA
Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Diminui (%) 37 40.20 56 46.70 49,80 42,00 43,30
Desaparece (%) 2,70 2.50 4 7.10 2,80 3,70 5,00
Não Altera (%) 37 47.80 37.25 36.40 38,80 42,20 39,60
Pioram (%) 5 9.50 2.75 2.90 2,10 3,80 2,80
Coefficients: Estimate Std. Error z value Pr(>|z|)
(Intercept) 666.58 67.90 9.817 < 2e-16 ***
dimin 71.18 97.85 0.727 0.46694
desap -568.46 65.76 -8.644 < 2e-16 ***
piora -565.52 65.79 -8.596 < 2e-16 ***
ano1 -51.48 22.75 -2.263 0.02366 *
ano2 -32.91 24.58 -1.339 0.18054
ano3 -60.56 22.01 -2.752 0.00592 **
ano4 -21.50 25.87 -0.831 0.40592
ano5 -55.41 22.42 -2.472 0.01344 *
ano6 -36.08 24.24 -1.489 0.13662
Considerando o nível de significância (1 - ∞) igual a 5%, pode-se ver pelos
resultados acima que a proporção de entrevistados sem nenhuma alteração difere
do número de pacientes que, após a ginástica laboral, vêem desaparecer a dor ou
o desconforto (valor p <0,0001) ou mesmo observam piora (valor p <0,0001). No
entanto, não existe diferença significa na proporção no número dos que afirmam
dizer que a dor diminui em relação aos que dizem que não sentem nenhuma
alteração após a ginástica laboral. Agora, para a comparação ao longo dos anos,
tem-se que os anos 2000 (valor p=0.02366), 2002 (valor p=0.00592) e 2004(valor
p=0.01344) diferindo estatisticamente quanto à proporção de respostas
observadas para esta questão em relação ao ano de 2006. Entretanto, os anos de
2001(valor p=0.18054), 2003 (valor p=0.40592) e 2005 (valor p=0.13662) não
apresentam diferença estatisticamente significativa do ano de 2006.
Na tabela 7 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas da questão número
6 do questionário.
TABELA 7 – AVALIAÇÃO GERAL DO PROGRAMA DE GINÁSTICA LABORAL DA NATURA
Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Ótimo (%) 24.86 34.08 37.57 45.20 44,50 35,30 40,50
Bom (%) 54.11 51.25 50.35 45.20 45,60 48,30 49,80
Regular (%) 17.42 13.86 9.70 8.70 9,00 14,60 8,80
Ruim (%) 3.1 0.80 2.37 0.80 0,80 1,80 1,20
Coefficients: Estimate Std. Error z value Pr(>|z|)
(Intercept) 186.0843 19.8963 9.353 < 2e-16 ***
otimo 427.9088 61.8094 6.923 4.42e-12 ***
bom 595.2327 77.4719 7.683 1.55e-14 ***
ruim -153.1201 17.9457 -8.532 < 2e-16 ***
ano1 6.8239 15.3111 0.446 0.6558
ano2 -24.1360 10.6581 -2.265 0.0235 *
ano3 -8.5304 12.6887 -0.672 0.5014
ano4 -21.2169 10.9656 -1.935 0.0530 .
ano5 -18.8532 11.2424 -1.677 0.0935 .
ano6 -0.5091 14.0083 -0.036 0.9710
Considerando o nível de significância (1 - ∞) igual a 5%, pode-se ver pelos
resultados acima que a proporção de entrevistados que afirmaram achar regular o
programa de ginástica laboral difere do número que afirmou ótimo (valor p
<0,0001), bom (valor p <0,0001) ou ruim (valor p <0,0001). Agora, para a
comparação ao longo dos anos, tem-se que o ano 2001 (valor p=0.0235) difere
estatisticamente quanto à proporção de respostas observadas para esta questão
em relação ao ano de 2006. Entretanto, os anos de 2000(valor p=0.6558),
2002(valor p=0.5014), 2003 (valor p=0.0530), 2004 (valor p=0.0935) e 2005 (valor
p=0.9710) não apresentam diferença estatisticamente significativa ao ano de
2006.
As tabelas anteriores mostram os resultados dos questionários aplicados entre os
colaboradores da empresa Natura durante os anos 2000 e 2006. Observa-se que,
com o tempo, o número de questionários respondidos foi significativamente maior,
passando de 1.200 no ano 2000 para 2.456 em 2006. Isso pode ter ocorrido por,
ao menos, dois motivos: maior número de participantes entre as aulas e/ou
aumento no número de trabalhadores na empresa. Houve também mais unidades
atendidas e mais participantes nas aulas de Ginástica Laboral. A satisfação pela
prática da ginástica durante a jornada de trabalho também aumentou, passando
de 80% para 90% entre os praticantes. Com relação ao fator existência de dor ou
desconforto, foi percebida estabilidade no número de trabalhadores que sentem
dor, bem como em relação ao desaparecimento ou diminuição das mesmas.
Como forma de mensurar qualitativamente os resultados do programa de
ginástica laboral, sua eficiência como ferramenta de gestão da saúde e a
percepção dos trabalhadores da empresa, foi realizada uma entrevista semi-
estruturada (apêndice B) com trabalhadores de produção. As questões existentes
na entrevista identificavam entre os entrevistados qual o grau de
comprometimento com a prática da ginástica laboral, influência que a prática teve
no estilo de vida desses trabalhadores durante uma década de prática, bem como
a classificação dos praticantes entre os que tiveram afastamento do trabalho ou
não.
A seguir, os resultados das 19 entrevistas, sua apresentação e respectiva análise
qualitativa. As figuras representam o número de respondentes e a frequência das
respostas quanto à intensidade. O critério de preenchimento das perguntas
apresentadas nas entrevistas passou pelos seguintes passos: 1- Explicação sobre
o motivo da entrevista; 2- Solicitação da assinatura do consentimento livre e
esclarecido; 3- Realização da leitura e explicação do objetivo da pergunta ao
entrevistado e sua percepção quanto à intensidade percebida referente à
pergunta. A intensidade varia de 0 (zero) a 10 (dez), sendo que zero representa
nenhuma, nada ou nunca e dez, muito ou sempre.
Na figura 3 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas da pergunta número
1 da entrevista.
FIGURA 3 – PRATICA GINÁSTCIA LABORAL?
Frequencia x Respondentes
01
23
45
67
89
10
0 0 0 0 0
5
3
1
4
1
5
FreqüênciaRespondentes
Observando a figura 3, pode-se constatar que as frequências 5 e 10 foram as que
tiveram maior incidência de respostas. As de 0 a 4 não tiveram nenhuma
resposta. Sobre a prática de ginástica laboral, atualmente pode-se observar que
26,3% dos entrevistados participam em 50% das aulas e outros 26,3% participam
em 100% das aulas. Em geral, o gráfico acima demonstra que todos os
entrevistados atualmente participam das aulas de ginástica laboral mesmo que,
em alguns casos, não muito frequentemente.
Na figura 4 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas à pergunta número
2 da entrevista.
FIGURA 4 – PRATICA GINÁSTICA LABORAL DESDE SUA IMPLANTAÇÃO?
Frequencia x Respondentes
01
23
45
67
89
10
2
0 0 01
0 0 0 0 0
16
FreqüênciaRespondentes
Observando a figura 4 percebeu-se que a frequência 10 foi a mais assinalada
pelos respondentes. Ao todo, foram 16 entre os 19. A freqüência 0 (zero), por sua
vez, obteve duas respostas, e a 4, apenas uma. As demais não tiveram
respostas. Quanto à prática de ginástica desde sua implantação, 10,5%
responderam que não participaram ou participaram pouco e 84,2% participaram
muito. Se comparado à pergunta anterior, podemos inferir que os entrevistados
participavam mais da ginástica laboral no início do que atualmente.
Na figura 5 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas à pergunta número
3 da entrevista.
FIGURA 5 – ACREDITA QUE A GINÁSTICA INTERFERIU NO SEU ESTILO DE VIDA/
Frequencia x Respondentes
0 01
23
45
67
89
01
01 1
5
0 0
2
8
0
FreqüênciaRespondentes
Observando a figura 5, vê-se que a frequência 8 foi a que mais obteve respostas.
Ao todo, foram oito. A 4 foi a segunda maior e obteve cinco respostas. No geral,
os entrevistados acreditam que o fato de praticar ginástica laboral na empresa
interferiu de alguma forma no estilo de vida. Alguns passaram a praticar
exercícios regularmente fora da empresa e outros relataram um aumento da
consciência corporal. Quase 50% dos entrevistados responderam que houve uma
forte interferência no estilo de vida ocasionada pela prática da ginástica laboral.
Na figura 6 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas à pergunta número
4 da entrevista.
FIGURA 6 – ACREDITA NOS RESULTADOS DA GINÁSTICA LABORAL?
Frequencia x Respondentes
01
23
45
67
89
10
0 0
3
0
5
10
2 2
5
1
FreqüênciaRespondentes
Observando a figura 6, percebe-se que as frequências 4 e 9 foram as que mais
obtiveram respostas. A freqüência 2 foi a terceira mais respondida.
Aparentemente, 42% dos entrevistados não acreditam muito que a ginástica
laboral traz resultados. A maior parte dos entrevistados, 52,5%, no entanto,
acredita muito em seus resultados.
Na figura 7 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas à pergunta número
5 da entrevista.
FIGURA 7 – NOS ÚLTIMOS ANOS SUA SAÚDE MELHOROU?
Frequencia x Respondentes
01
23
45
67
89
10
10 0
32
8
0
2 21
0
FreqüênciaRespondentes
Observando as respostas apresentadas na figura 7, pode-se observar que a
frequência 5 foi a que mais obteve respostas. Ao todo, foram oito. A segunda
freqüência mais respondida foi a 3, com três respostas. Já as freqüências 4, 7 e 8
obtiveram duas respostas cada uma. A relação com a melhoria no estado geral de
saúde foi percebida da seguinte forma: 5,2% acreditam que não melhorou nada,
68,3% acreditam que sua saúde melhorou um pouco e 26,2% acreditam que sua
saúde melhorou muito. No geral, percebe-se alguma melhora no estado geral da
saúde dos entrevistados nos últimos anos.
Na figura 8 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas à pergunta número
6 da entrevista.
FIGURA 8 - COM A GINÁSTICA LABORAL HOUVE AUMENTO NA DISPOSIÇÃO?
Frequencia x Respondentes
01
23
45
67
89
10
10 0
3 32
01 1
8
0
FreqüênciaRespondentes
Com relação à melhora na disposição para o trabalho, 5,2% acreditam não ter
melhorado nada, 41,9% perceberam alguma melhora e 52,5% perceberam
melhora significativa. Segundo a maioria dos entrevistados, a realização dos
exercícios de ginástica laboral aumenta a disposição para o trabalho.
Na figura 9 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas à pergunta número
7 da entrevista.
FIGURA 9 – POSSUI QUEIXA DE DOR OU DESCONFROTO FÍSICO?Possui dor ou desconforto?
12
7
simnão
Sobre a existência de dor e ou desconforto físico, observa-se na figura 9 que
63,2% dos entrevistados possuem queixas de dores e ou desconfortos físicos. As
citadas dores são persistentes e, mesmo com tratamento médico e fisioterapia,
não desaparecem.
Na figura 10 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas à pergunta número
8 da entrevista.
FIGURA 10 - FAZ ALGUM TIPO DE TRATAMENTO MÉDICO?Faz tratamento médico?
12
7
simnão
Observa-se na figura 10, sobre a realização de tratamento médico, que 62,2%, ou
seja, 12 dos 19 respondentes assinalaram sim para a pergunta, mesmo número
de respondentes na pergunta anterior quanto à existência de dor ou desconforto.
Isso nos faz crer que 100% dos entrevistados que sofrem com algum tipo de
desconforto físico, estão em tratamento.
Na figura 11 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas à pergunta número
9 da entrevista.
FIGURA 11 – JÁ FOI AFASTADO DO TRABALHO MOTIVO DE DOENÇA OCUPACIONAL?
Já foi afastado por doença ocupacional?
11
8simnão
Observa-se na figura 11 que 57,9% dos entrevistados já foram afastados do
trabalho por doença ocupacional. Porém, 42,1% dos trabalhadores em linha de
produção, efetivos por mais de 10 anos de trabalho na mesma função, nunca
tiveram afastamentos do trabalho por doença ocupacional. Na figura 12 apresenta-se os resultados obtidos nas respostas à pergunta número
10 da entrevista.
FIGURA 12 – DESDE SUA CONTRATAÇÃO HOUVE MUDANÇA DE CARGOMudou de cargo, desde sua contratação?
1
18
simnão
Observa-se que 94,8% dos entrevistados permanecem no mesmo cargo que
ocupavam desde sua contratação. Considerando a dinâmica da produção na
indústria de cosméticos e, principalmente, no case analisado neste trabalho,
mesmo sem que tenha havido mudança no cargo, podemos seguramente inferir
que nos últimos 10 anos houve mudança significativa no processo e na forma de
trabalho.
Em geral, os respondentes participam das aulas de ginástica que ocorrem todos
os dias nas linhas de produção da empresa. Existe, no entanto, um equilíbrio de
26,2% no percentual de quem participa sempre e dos que nunca participam.
Porém, quanto à prática desde sua implantação, a grande maioria, 84,2% dos
respondentes, informou que participaram muito. Esses resultados sugerem
controvérsia nas respostas dos entrevistados.
A crença nos resultados do programa de ginástica pode ser considerada forte.
Mais de metade, 52,5%, que informou acreditar nos resultados. Cabe aqui
comentar que os resultados esperados com a ginástica laboral estão relacionados
à melhora na condição física geral e na integração entre os trabalhadores.
Com relação à eficiência do programa de exercícios no trabalho, os entrevistados
classificam como muito bom e 68,3% crêem que sua saúde melhorou. Somente
um dos respondentes informou que sua saúde não melhorou nada após a
realização dos exercícios. Por outro lado, 41,9% apresentaram alguma melhora e
52,5%, 10 dos 19 entrevistados, perceberam melhora significativa na saúde, o
que nos faz pensar na eficiência da ginástica laboral como ferramenta na melhoria
da saúde dos trabalhadores na indústria de cosméticos.
Vale ressaltar que, no grupo de respondentes, 57,9% já tiveram algum tipo de
afastamento (por doença ocupacional) prolongado do trabalho e isso pode ter
interferido no resultado das entrevistas, principalmente no que diz respeito à
melhora da saúde nos últimos anos. Outro resultado que vale a pena analisar é o
de que somente um dos respondentes teve mudança de cargo ou função desde
sua contratação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Indústria de Cosméticos faz parte de uma parcela significativa de absorção da
massa trabalhadora do Brasil. A empresa Natura, por sua vez, destaca-se dentre
as grandes empresas deste segmento. Nos últimos 10 anos ocorreu um
crescimento bastante expressivo, de cerca de três vezes o volume de vendas, e,
conseqüentemente, um aumento importante no número de trabalhadores e no
volume de produção. Neste contexto, a prática da ginástica laboral pode ser
considerada como importante instrumento de gestão da saúde nos ambientes de
trabalho.
Conforme descrito no capitulo 4, existe alta competitividade no setor de
cosméticos tanto no Brasil quanto no mundo, a exemplo dos resultados de
crescimento obtidos por este setor no país, com expressivas médias de 12% ao
ano. No período analisado, pode-se observar um aumento significativo no número
de trabalhadores na empresa estudada, conforme se verifica na tabela 1. Porém,
como o próprio sistema capitalista, sucintamente descrito no capítulo 3, impõe,
poucos trabalhadores da linha de produção mudam de cargos ou funções; existe
uma estagnação sistêmica quando se trata da mudança de cargo. Os
trabalhadores são expostos ao trabalho com significativa sobrecarga física, onde
a ginástica laboral tem importante papel, principalmente na preparação muscular
e articular para o ofício e na integração e descontração que os exercícios
proporcionam.
De acordo com França (2003), nas grandes empresas parece existir uma
preocupação com o cliente interno, onde programas de promoção da saúde são
desenvolvidos com maior freqüência. Neste contexto, a realização de exercícios
físicos durante a jornada de trabalho é cada vez mais freqüente, porém a prática,
por si só, não produz grandes efeitos na saúde dos trabalhadores.
A indústria de cosméticos tem crescido sistematicamente no Brasil, por volta de
12% ao ano. O volume de produção e o aumento no número de empregos
acompanham este crescimento. A busca pelos princípios ativos existentes na flora
brasileira transforma o país num pólo atraente para novas empresas de
cosméticos e garante o fortalecimento das empresas já existentes. Dado o
contexto, vale ressaltar a importância das informações contidas neste trabalho
quanto ao elevado número de trabalhadores com doenças ocupacionais nas
indústrias de cosméticos no Brasil, colocando este segmento como o segundo
que mais encaminha trabalhadores à previdência social.
Existia um número significativo de mão-de-obra afastada do trabalho na Natura
em meados dos anos 90. Usando o exemplo dos respondentes às perguntas da
entrevista que norteia esse trabalho, focando em trabalhadores das linhas de
produção com no mínimo 10 anos na função, mais da metade já teve afastamento
por doença ocupacional. Vale ressaltar que as entrevistas foram realizadas numa
pequena amostra que trabalha numa das menores fábricas da empresa e que
estes dados podem mudar significativamente se aplicados em toda a sua
estrutura. Porém, mesmo com este grupo de trabalhadores que, em sua maioria,
já foram afastados do trabalho pelo menos uma vez, foi possível observar que a
ginástica laboral interferiu positivamente no estilo de vida da maioria dos
respondentes e que estes se sentem mais dispostos para o trabalho após a
realização dos exercícios.
Por fim, este estudo identifica que o programa de ginástica laboral pode ser um
instrumento de gestão da saúde nos ambientes de trabalho e que esse
gerenciamento é possível. E ainda, infere como sugestão, que o programa não
seja considerado a única ferramenta para a melhoria das condições de saúde dos
trabalhadores. Sem dúvida, muitos programas podem ser desenvolvidos na busca
da gestão e um deles é a ergonomia, que pode contribuir muito nesse processo.
O presente trabalho encerra suas conclusões com as respostas para algumas
perguntas que surgiram durante este estudo. Será que sem o programa de
ginástica laboral os resultados da produção e saúde seriam os mesmos?
Não, pois, como visto, apesar da implantação da ginástica laboral não ter sido a
única ação realizada para diminuição dos afastamentos por doenças ocupacionais
na empresa, ela teve ação importante conforme relato dos trabalhadores,
principalmente na diminuição das dores físicas e na mudança do estilo de vida
dos praticantes.
Sem o programa de ginástica laboral, os trabalhadores teriam percebido alguma
melhora na condição de saúde e disposição para o trabalho?
Provavelmente não, pois apesar de uma forte intenção quanto à gestão da saúde
por parte de diversas áreas internas ligadas aos recursos humanos da empresa, a
ginástica laboral foi o único instrumento presente todos os dias entre os
trabalhadores da produção, com uma maior possibilidade de informações e
oportunidades de melhoria no processo de produção ou dos programas de saúde
oferecidos. As respostas contidas nos questionários aplicados anualmente
evidenciam que os trabalhadores associam a realização da ginástica com o
aumento de disposição no ambiente de trabalho.
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APÊNDICE
APÊNDICE A Questionário de satisfação da ginástica laboral
APÊNDICE B Entrevista semi-estruturada
APÊNDICE C Check List de Couto: análise ergonômica simplificada para verificação da incidência de lesão nos membros superiores.
APÊNDICE D Censo de ergonômico
Apêndice A
Ginástica LaboralQuestionário para avaliação
Local de trabalho e Função: _____________________________
1 – Você faz Ginástica Laboral( ) sim ( ) não
2 – Você está gostando de realizar os exercícios da Ginástica Laboral durante o trabalho?( ) sim ( ) não
3 – Com os exercícios da Ginástica Laboral sua disposição para o trabalho melhorou?( ) sim ( ) não
4 – Você faz ginástica ou outros exercícios fora da empresa?( ) sim ( ) não
5 – Você possui queixas de dor em alguma parte do corpo durante sua jornada de trabalho?( ) sim ( ) não
Favor descrever o local ou locais:_____________________________________________________
Se você respondeu que sente dores responda a questão número 6.
6 – Como elas se apresentam após os exercícios de Ginástica Laboral?( ) desaparecem ( ) diminuem ( ) não alteram ( ) pioram ( ) não sabe informar
7 – O que você está achando do programa de Ginástica Laboral?( ) ótimo ( ) bom ( ) regular ( ) ruim
Comentários, sugestões e recomendações para melhorias:________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Apêndice B
Entrevista semi estruturada, sem identificação do entrevistado.Critério de inclusão: Estar trabalhando na produção (fábrica de maquiagem) antes do ano de 1997.
1- Você pratica ginástica laboral?
2- Pratica ginástica laboral desde sua implantação?
3- Acredita que a ginástica laboral interferiu no seu estilo de vida?
4- Acredita nos resultados da ginástica laboral?
5- Nos últimos anos sua saúde melhorou?
6- Após realizar os exercícios de ginástica laboral, sua disposição para o trabalho aumentou?
7- Você possui alguma dor ou desconforto físico?( ) sim ( ) não
Descrever locais:___________________________________________________
8- Faz algum tipo de tratamento ortopédico?( ) sim ( ) não
Descrever quais:___________________________________________________
9- Já teve afastamento do trabalho por doença ocupacional?( ) sim ( ) não
Quantas vezes? ___________
10- Desde sua contratação você mudou de cargo ou função na empresa?( ) sim ( ) não
Descrever quantas vezes e quais atividades: _____________________
Apêndice CCHECK LIST DE H. COUTO - 1995
Para Postos de Trabalho em Área de Produção
Fabrica:_________________ Linha: _______________ Produto:____________ Modelo:_________________ Operação:__________________________________
Analista:_________________ Data:________________ Tempo Oper.:_______
1. Sobrecarga Física1.1 - O trabalho pode ser feito sem que haja contato da mão ou do punho ou dos tecidos moles com alguma quina viva de objeto ou ferramenta?
Não (0) Sim (1)
1.2 - O trabalho exige o uso de ferramentas vibratórias?Sim (0) Não (1)
1.3 - O trabalho é feito em condições ambientais de frio excessivo?Sim (0) Não (1)
1.4 - A tarefa pode ser feita sem necessidade do uso de luvas?Não (0) Sim (1)
1.5 - Entre um ciclo e outro há possibilidade de um pequeno descanso? Ou há pausa bem definida de cerca de 5 a 10 minutos por hora?
Não (0) Sim (1)
2. Força com as Mãos2.1 - Aparentemente as mãos fazem pouca força?
Não (0) Sim (1)
2.2 - A posição de pinça (pulpar, lateral ou palmar ) é utilizada para fazer força?
Sim(0) Não (1)
2.3 - Quando usados para apertar botões, teclas ou componentes, para montar ou inserir, ou para exercer compressão digital, a força de compressão exercida pelos dedos ou pela mão é pequena?
Não (0) Sim ou não se aplica (1)
2.4 - O esforço manual detectado é feito mais que 10% do ciclo ou é repetido mais que 8 vezes por minuto?
Sim (0) Não (1)3. Postura no Trabalho
3.1 - Há algum esforço estático da mão ou do antebraço na realização do trabalho?Sim (0) Não (1)
3.2 - Há algum esforço estático do braço ou do pescoço na realização do trabalho?Sim (0) Não (1)
3.3 - O trabalho pode ser feito sem extensão ou flexão do punho?Não (0) Sim (1)
3.4 - O trabalho pode ser feiro sem desvio lateral forçado do punho?Não (0) Sim (1)
3.5 - Há abdução do braço acima de 45º ou elevação dos braços acima do nível dos ombros como rotina na execução da tarefa?
Sim (0) Não (1)
3.6 - Existem outras posturas forçadas dos membros superiores?Sim (0) Não (1)
3.7 - O trabalhador tem flexibilidade na sua postura durante a jornada?Não (0) Sim (1)
4. Posto de trabalho4.1 - O posto de trabalho permite flexibilidade no posicionamento das ferramentas, dispositivos e componentes, incluindo inclinação dos objetos quando isto for necessario?
Não (0) Sim (1) Desnecessária a flexibilidade de que se trata este ítem (1)
4.2 - A altura do posto é regulável?Não (0) Sim (1)
5. Repetitividade e Organização do Trabalho
5.1 - O ciclo de trabalho é maior que 30 segundos?
Não (0) Sim (1) Não há ciclos (1)
5.2 - No caso de ciclo maior que 30 segundos, há diferentes padrões de movimentos ( de forma que nenhum elemento ocupe mais que 50% do ciclo? )
Não (0) Sim (1) Ciclo<30 segundos (0) Não há ciclos (1)
5.3 - Há rodízio (revezamento) das tarefas ?Não (0) Sim (1)
Desnecessário o revezamento (1)
5.4 - Percebe-se sinais de estar o trabalhador com o tempo apertado para realizar sua tarefa?
Sim (0) Não (1)
5.5 - A mesma tarefa é feita por um mesmo operador durante mais que 4 horas por dia?
Sim (0) Não (1)
6. Ferramenta de Trabalho6.1 - Para esforços em prensão:
- O diâmetro da manopla da ferramenta tem entre 20 e 25 mm (mulhres) ou entre 25 e 35 mm (homens)?
Não (0) Sim (1) Não há ferramenta (1)
- Para esforços em pinça:- O cabo não é muito fino nem muito grosso e permite boa estabilidade da pega?
Não (0) Sim (1) Não há ferramenta (1)
6.2 - A ferramenta pesa menos de 1 Kg ou, no caso de pesar mais de 1Kg, encontra-se suspensa por dispositivo capaz de reduzir o esforço humano?
Não (0) Sim (1)
Critérios de Interpretação:
- Somar o total dos pontos- Acima de 22 pontos: Baixíssimo risco- Entre 19 e 22 pontos : Baixo risco- Entre 15 e 18 pontos : Risco moderado- Entre 11 e 14 pontos : Alto risco- Abaixo de 11 pontos : Altíssimo risco.
Total de Pontos: ___________________
Apêndice D
Censo de Ergonomia – Este questionário tem por finalidade levantar as condições individuais de cada empregado, o preenchimento do mesmo é muito importante.
NOME:__________________________________________________
SEXO: ( ) FEM. ( ) MASC. IDADE ______ ( ) CASADO(A) ( ) SOLT.
DATA/Hoje: _____/______/________
Atividade: (Faça uma breve descrição do seu trabalho)
VOCÊ SENTE DOR OU DESCONFORTO EM ALGUMA PARTE DO SEU CORPO DURANTE O TRABALHO?( ) SIM ( ) NÃO
SE SIM, MARQUE COM UM “X” NO DESENHO ABAIXO O LOCAL ONDE SENTE DOR E OU DESCONFORTO:
Ass. do Empregado(a): _____________________________
I. IDENTIFICAÇÃO
II. LEVANTAMENTO DE QUEIXAS
III. ESTADO PSICO-EMOCIONAL
COMO VOCÊ SE SENTE DURANTE O TRABALHO?
MOTIVADO(A) ( ) SIM ( ) NÃO(GOSTA DO QUE FAZ, É SATISFEITO, SENTE-SE BEM FAZENDO O QUE FAZ)
CANSADO(A) ( ) SIM ( ) NÃO(SEM ÂNIMO, SEM ENERGIA PARA REALIZAROUTRAS ATIVIDADES APÓS O TRABALHO)
TENSO(A) ( ) SIM ( ) NÃO(PERCEBE QUE PARTE OU PARTES DE SEU CORPOFICAM ENRIJECIDAS/DURA ex. REGIÃO DO PESCOÇO)
ANSIOSO(A) ( ) SIM ( ) NÃO(IMPACIENTE, IRRITADO COM COISAS APARENTEMENTEPOUCO IMPORTANTE PARA OS OUTROS)
MANTEM UM BOM RELACIONAMENTO ( ) SIM ( ) NÃO(COM OS COLEGAS , EQUIPE DE TRABALHO, CHEFIA)
COMO VOCÊ SE SENTE EM CASA?
MANTEM UM BOM RELACIONAMENTO ( ) SIM ( ) NÃO(COM TODOS QUE MORAM COM VOCÊ , SEM EXCEÇÃO)
É BEM HUMORADO(A) ( ) SIM ( ) NÃO(FALA, SORRI, BRINCA COM TODOS EM CASA)
GOSTA DE IR PARA CASA ( ) SIM ( ) NÃO(SENTE-SE BEM DENTRO DE CASA, SE PUDESSE ESCOLHERUM LUGAR PARA FICAR, DENTRE ELES INCLUIRIA SUA CASA)