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Paróquias & CASAS RELIGIOSAS 22 www.revistaparoquias.com.br | maio-junho 2011

gestãoreligiosa

No que se refere à propriedade intelectual a Gestão Religio-sa precisa atentar para vários aspectos que irão garantir a possibilidade de usufruir de

uma obra criada. O direito autoral é o direito do criador de uma obra intelec-tual (pessoa física) tem de gozar dos benefícios morais e econômicos (patri-moniais) resultantes da reprodução de sua criação. Os direitos morais garan-tem ao criador reivindicar a autoridade sobre a obra, bem como a revelar seu nome na divulgação da mesma e asse-gurar a integridade da obra, em sua re-putação ou honra, além dos direitos de modifi cá-la ou retirá-la de circulação. Esses direitos são inalienáveis e irre-nunciáveis, por isso o gestor necessita atentar para a necessidade de valorizar seu direito e o de terceiros.

A mídia vem buscando conscienti-zar o público, principalmente acadêmi-co, a respeito da gravidade das violações de direitos autorais, em especial o plágio, pelo fato de que esse ilícito sujeita os in-fratores a sanções administrativas, civis e até mesmo criminais. Sabe-se que essa prática está cada vez mais difundida pela

facilitada que os meios eletrônicos trou-xeram, com o advento da internet, e pelo uso de ferramentas chamadas popular-mente de “copiar e colar”. A facilidade pode levar a uma atitude criminosa e, por isso, o máximo de atenção e respon-sabilidade nesse aspecto poderá evitar grandes problemas futuros com a justi-ça. Seja nas entidades educacionais ou assistências não se pode cair no erro de caminhar orientado pelo princípio de que os fi ns justifi cam os meios.

OS DIREITOS LEGAISA Lei de Direitos Autorais (LDA), Lei

n. 9.610/98, no 5º artigo, inciso VII, afi r-ma que contrafação é “a reprodução não autorizada” de obra intelectual alheia. Já o plágio, é considerada uma modalidade da contrafação, em que a pessoa utiliza indevidamente uma obra alheia e apre-senta como sendo dela, apenas com mo-difi cações chamadas “cosméticas”, com troca de sinônimos, alternância das fra-ses, inversão das palavras, etc.

Em Direitos Autorais, os ilícitos co-metidos ferem os autores no plano moral e material e, no caso da responsabilização civil dos infratores, a conduta pode con-

duzir o fraudador a responder por uma ação de reparação por danos materiais e morais. Vale destacar que o processo civil de responsabilização não exclui um pos-sível processo criminal, previsto no Có-digo Penal, em seu artigo 184, que tipifi ca a violação de direito autoral com pena de detenção que pode ir de três meses a um ano, ou ainda uma multa. Essa situação é uma via de duas mãos, pois o gestor ne-cessita estar atento para as questões auto-rais de terceiros, mas também deve focar seus direitos de autoria. Em muitos casos projetos são copiados de maneira a não valorizar o autor que é devidamente me-recedor do reconhecimento.

Vale destacar que os direitos autorais não são perpétuos no Brasil. Pelas regras que regem o assunto, o autor tem seus direitos autorais garantidos pelo período da sua existência e mais 70 anos após, que podem ser recebidos pelos seus her-deiros. Quando esse prazo acaba, os di-reitos dessas obras caem naquilo de cha-ma de “domínio público”, onde também estão incluídas as obras de autores que não tenham deixado herdeiros ou obras de autores desconhecidos. Isso está ex-presso no artigo 41 da Lei 9.610/98.

OBRA DO CRIADOROBRA DO CRIADORRespeite os direitos legais de quem produz conhecimento científico, artístico ou literárioPOR PROF. MARCOS CUBA

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Quantos símbolos da Igreja são utilizados de maneira indiscriminada e com falta de autorização da mesma e, com isso, distorce-se seu significado para que possam atender a interesses que não condizem com a identidade do símbolo criado. De acordo com Woodmansee (citado por SALOMON, 2007), o plágio é geralmente definido como a apropriação e o uso das pala-vras ou ideias de outra pessoa, sem dar crédito à fonte. No entanto, Salomon considera que essa definição é insufi-ciente. Segundo a autora, o plagiador toma o texto de alguém e assina o seu nome, “supostamente roubando o tra-balho de outros”, ficando, assim, com os ganhos morais e/ou econômicos que este trabalho poderia render.

Diante da realidade que aqui estuda-mos, pode-se concluir que para inibir essas ações é de fundamental pensar em projetos que possam estimular a cons-ciência da sociedade, principalmente no meio acadêmico, sobre a importância de estimular a criatividade e inovação. Nes-se sentido, deixamos aqui a reflexão de Salomon, que afirma que: “muitos alunos são frequentemente acusados de plágio quando tentam produzir algo de seu e de-monstram não possuir grandes habilida-

des de escrita. A crença de que temos que produzir textos originais faz com que muitos alunos tenham dificuldade, sintam-se in-capazes e desistam”. Sendo assim, é necessário que se respeite os conteúdos en-contrados na internet, e deixar esse espaço para troca de informações, busca por fontes, mas voltados para a criação autêntica de material literário, artístico ou científico.

AÇÃO E TESTEMUNHOA honestidade intelectual é funda-

mental para que uma ideia possa ser melhorada, pois a mediada que cada parte consegue valorizar o processo a tendência é que o resultado supere as ex-pectativas. Desse modo, o gestor religio-so, quando assume o valor de respeitar e defender os direitos autorais está favore-cendo o desenvolvimento de uma socie-dade mais honesta. Claro que muito ten-tador caminhar direcionado para a busca de vantagens, mas as consequências cada vez mais se mostram danosas para a mensagem, pois a contradição acaba tor-nando estéril o terreno aonde a honesti-

dade desenvolve em uma sociedade. O testemunho do evangelho requer ati-tudes responsáveis, pois o descaso com a autoria alheia produz na comuni-dade cristã a sensação de que o indivíduo em sua subjetividade não foi res-peitado ou valorizado.

O gestor religioso, no trato com os bens sabe da importância de valorizar a autoria de uma obra ou ação e, por isso, o seu testemunho de uma sociedade mais justa fomenta a identidade cristã no mundo. Esse cami-nho é muito árduo, pois em vários mo-mentos o gestor religioso se vê remando sozinho contra uma grande tormenta. O diferencial está no fato de que sempre o justo se sobrepõe ao ímpio e as tormen-tas com a graça de Deus se tornam uma fonte fecunda de aprendizado humano.

Marcos Cuba é Bacharel em Comunicação So-cial com Habilitação em Publicidade e Propa-ganda, Mestre em Ciências Ambientais, Espe-cialista em Gestão de Pessoas pela FGV de São Paulo, em Língua Inglesa no Canadá e EUA, Do-cente no Curso de Gestão Religiosa na Faculda-de Dehoniana, Taubaté/SP.Contato: [email protected]

“O gestor religioso,

quando assume o valor

de respeitar e defender

os direitos autorais está

favorecendo o desenvolvi-

mento de uma sociedade

mais honesta”