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Governador do AmazonasOmar José Abidel Aziz

Secretário de Estado da CulturaRobério dos Santos Pereira Braga

Secretária de Estado da Ciência e TecnologiaMarcílio de Freitas

Reitor da Universidade do Estado do AmazonasCarlos Eduardo de Souza Gonçalves

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ANO-5,Nº 9MANAUS, JULHO-DEZEMBRO,2007

UNIVERSIDADEDO ESTADO DOA M A Z O N A S

Edições

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Copyright © 2007Governo do Estado do AmazonasSecretaria de Estado da Cultura

Universidade do Estado do Amazonas – UEA

Universidade do Estado do AmazonasReitora Marilene Corrêa da Silva Freitas

Vice-Reitor Carlos Eduardo GonçalvesPró-reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Pró-Reitor José Luiz de Souza Pio

Escola Superior de Ciências SociaisDiretor Randolpho de Souza Bittencourt

Programa de Pós-Graduação em Direito AmbientalCoordenador Sandro Nahmias Melo (2009); Serguei Aily

Franco de Camargo (2009-atual).

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS – UEAPrograma de Pós-Graduação em Direito Ambiental

Rua Leonardo Malcher, n.º 1728, 5.º andar,Centro, CEP: 69010-170

Manaus – Amazonas – BrasilTel./Fax. 55 92 3627-2725

E-mail: [email protected]: www.pos.uea.edu.br/direitoambiental/

Coordenadores(as)Prof. Dr. Serguei Aily Franco de Camargo Profa. Dra. Cristiane Derani

Coordenação EditorialProf. Dr. Serguei Aily Franco de CamargoProf. Dr. Walmir de Albuquerque BarbosaProf. Dr. Ozório José de Menezes Fonseca

Conselho EditorialProfa. Dra. Cristiane DeraniProf. Dr. David Sánchez RubioProf. Dr. Fernando Antonio de Carvalho DantasProf. Dr. Joaquim Shiraishi NetoProf. Dr. Luiz Edson FachinProf. Dr. Ozorio José de Menezes FonsecaProf. Dr. Raymundo Juliano FeitosaProf. Dr. Sandro Nahmias MeloProf. Dr. Serguei Aily Franco de CamargoProfa. Dra. Solange Teles da SilvaProf. Dr. Walmir Albuquerque Barbosa

Revisão Técnica e NormativaDenison Melo de Aguiar

Diagramação e Projeto GráficoFrancisco Ricardo Lopes de Araújo

Revisão OrtográficaProfa. Rosa Suzana Batista Farias

Ficha catalográficaYcaro Verçosa dos Santos– CRB-11 287

Hiléia: Revista de Direito Ambiental daAmazônia. ano 5, n.º 9. UEA - EdiçõesGoverno do Estado do Amazonas / Secretariade Estado da Cultura / Universidade do Estadodo Amazonas, 2007.

p. 208 ISSN: 1679-9321 (Semestral)

1. Direito Ambiental – Amazônia I.Universidade do Estado do Amazonas

CDD: 344.046811CDU 344 (811)

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.....................................................................................................9

PARTE I

CONSTITUIÇÃO INTERNACIONAL OU CONSTITUIÇÃO SUPRANACIONAL? O QUE REPRE-SENTAM O TRATADO DE LISBOA E O ATUAL MOMENTO DO CONSTITUCIONALISMO (OU INTERNACIONALISMO, OU SUPRANACIONALISMO) EUROPEU?Alexandre Coutinho Pagliarini ............................................................................13

PARTE II

AFINAL O QUE É FLORESTA?Ozorio Jose de Menezes Fonseca........................................................................35

A VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS BENS AMBIENTAISDaniel Antonio de Aquino Neto Cristiane Derani .....................................................................................................49

RELATÓRIO AMBIENTAL PRELIMINAR (RAP): ESTUDO DE CASO DO LOTEAMENTO GREEN VILLESerguei Aily Franco de Camargo Paulo Roberto Moreira Denison Melo de Aguiar .....................................................................................70

O DIREITO AO LAZER E OS TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO - UMA PERSPECTIVA AMBIENTALThaísa Rodrigues Lustosa Sandro Nahmias Melo .....................................................................................117

A ÁGUA DE CHUVA NO ORDENAMENTO JURÍDICO: A MUDANÇA DE PARADIGMA E AS PREVISÕES DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRADaniela Helena Brandão Caldeira......................................................................134

PARTE III

A LOGÍSTICA REVERSA COMO INSTRUMENTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELGérson Corrêa de Oliveira ................................................................................154

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A EFICÁCIA DA LEI ROUANET NO ESTADO DO AMAZONAS Ian dos Anjos Hermes da Fonseca ....................................................................170

Part IV - RESUMOS

OMISSÃO DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL E RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL: UM ESTUDO SOBRE AS OCUPAÇÕES URBANAS IRREGULARES EM MANAUS E SEUS IMPAC-TOS AMBIENTAIS Hediane Naiade Silva Monteiro ........................................................................193

O LICENCIAMENTO AMBIENTAL DA INDÚSTRIA MADEIREIRA NO ESTADO DO AMAZONAS.Ana Paula Mendes Simões Pereira....................................................................195

O DIÁLOGO ENTRE O DIREITO AGRÁRIO E O DIREITO AMBIENTAL NA REFORMA AGRÁRIA NO ESTADO DO AMAZONAS. Bianor Saraiva Nogueira Júnior........................................................................196

OCUPAÇÃO URBANA DESORDENADA E (IN) JUSTIÇA AMBIENTAL: O CASO DA “INVASÃO” NOVA VITÓRIATâmera Maciel Assad .......................................................................................197

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NA CIDADE DE MANAUS E REGIÃO DO ENTORNONaira Neila Batista de Oliveira Norte ..............................................................198

O CAMINHO DAS ÁGUAS NA AMAZÔNIA: ITINERÁRIO DA TECNOLOGIA NAVAL AMAZÔNICA E SUA PROTEÇÃO JURÍDICA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIALMarco Aurélio de Carvalho Martins .................................................................199

A GARANTIA DO CONTEÚDO ESSENCIAL DO DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO EQUILIBRADOAdelson Silva dos Santos..................................................................................201

ANÁLISE JURÍDICA DA GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE MANAUSKaryn Ferreira Souza Aguinaga.........................................................................202

O DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO UM DIREITO FUNDA-MENTAL DE NATUREZA SOCIAL E SEU EXERCÍCIO HARMÔNICO COM OS DIREITOS CULTURAIS

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Luciana Toledo Martinho...................................................................................203

CONSIDERAÇÕES FACTUAIS E JURÍDICAS SOBRE O PROSAMIM – PROGRAMA SOCIAL E AMBIENTAL DOS IGARAPÉS DE MANAUSMárcia Cristina Henriques Levi.........................................................................204

COMPENSAÇÃO DA ÁREA DE RESERVA LEGAL: ANÁLISE JURÍDICA DAS POSSIBILIDADES E LIMITES DE SUA IMPLEMENTAÇÃOTatiana Monteiro Costa e Silva.........................................................................206

CONTENTS

PRESENTATION......................................................................................................9

PART I

INTERNATIONAL CONSTITUTION OU SUPRANATIONAL CONSTITUTION? WHAT DO REPRE-SENT THE TREATY OF LISBON AND THE ACTUAL MOMENT OF THE EUROPEAN CONSTITU-TIONALISM (OR INTERNATIONALISM, OR SUPRANATIONALISM)?Alexandre Coutinho Pagliarini.............................................................................13

PART II

AFTER ALL WHAT IS FOREST? Jose Ozorio de Menezes Fonseca........................................................................35

The ECONOMIC VALUATION OF ENVIRONMENTAL GOODSDaniel Antonio de Aquino Neto Cristiane Derani ................................................................................................49

PRELIMINARY ENVIRONMENTAL REPORT (RAP): A CASE STUDY OF THE DIVISION GREEN VILLE Serguei Aily Franco de Camargo Paulo Roberto MoreiraDenison Melo de Aguiar .....................................................................................70

THE RIGHT OF LAZIER AND THE CONTINUOUS LABOR SCALE - AN ENVIRONMENTAL VIEWThaísa Rodrigues Lustosa Sandro Nahmias Melo .....................................................................................117

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A RAIN’S WATER IN THE LEGAL SYSTEM: A PARADIGM CHANGE AND THE ESTIMATED OF BRAZILIAN LEGISLATION Daniela Brandão Helena Caldeira......................................................................134

PART III

A REVERSE LOGISTICS AS A TOOL OF SUSTAINABLE DEVELOPMENT Gérson Corrêa de Oliveira.................................................................................154

THE EFFECTIVENESS OF THE ROUANET LAW IN THE STATE OF AMAZONAS Ian dos Anjos Hermes da Fonseca.....................................................................170

PART IV - MASTERS DEGREE DISSERTATIONS

OMISSION OF MUNICIPAL PUBLIC AUTHORITIES AND CIVIL ENVIRONMENTAL RESPONSI-BILITY: A STUDY ABOUT THE URBAN OCCUPATIONS IN THE MANAUS AND ITS ENVIRON-MENTAL IMPACTS Hediane Naiade Silva Monteiro ........................................................................193

THE ENVIRONMENTAL LICENSING OF THE WOOD INDUSTRY IN THE STATE OF THE AMAZONASAna Paula Simões Pereira Mendes ...................................................................195

THE DIALOGUE BETWEEN LAND LAW AND ENVIRONMENTAL LAW IN THE LAND REFORM IN THE STATE OF THE AMAZONAS Bianor Saraiva Nogueira Júnior........................................................................196

DISORDERLY SETTLEMENT AND (IN) ENVIRONMENTAL JUSTICE: THE CASE OF THE “INVA-SION” NOVA VITÓRIATâmera Maciel Assad........................................................................................197

MANAGEMENT SOLID WASTE IN THE CITY OF MANAUS AND THE AREA SURROUNDING Naira Neila Batista de Oliveira Norte...............................................................198

THE WAY OF WATER IN THE AMAZON: PATH OF TECHNOLOGY NAVAL AMAZON AND ITS LEGAL PROTECTION AS CULTURAL HERITAGE Marco Aurélio de Carvalho Martins..................................................................199

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APRESENTAÇÃO

A Hiléia, Revista de Direito Ambiental da Amazônia, objetiva sempre condensar conhecimentos científicos, que permeiam o Direito Ambiental e áreas afins, na qual a finalidade desta revista está, em divulgar esses conhecimentos para contribuir tanto os cientistas como todos envolvidos nas questões amazônicas

O número nove que ora é publicado para a comunidade científica simboliza um trabalho continuo de fraternidade entre diversas áreas da ciência. Nesta encontra-se conteúdo científico que tratam diversas áreas da ciência do direito.

Relevante mais uma vez, agradecermos aos nossos colaboradores, à Magnífica Reitora da Universidade do Estado do Amazonas, Professora Doutora Marilene Corrêa da Silva Freitas, que sempre apoia o PPGDA, ao Professor Doutor Walmir de Albuquerque Barbosa e ao Professor Doutor Ozorio Jose de Menezes Fonseca, que com muito dis-cernimento se esforçaram para esta publicação, e também, aos mestrandos do PPGDA, dos quais contribuíram sobre maneira com seus estudos nos artigos que compõem esta revista.

Agradecemos também, em especial, a Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas – FAPEAM, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES e ao Conselho Nacional Científico e Tecnológico - CNPQ pelo apoio financeiro ao Programa de Pós-graduação em Direito Ambiental.

Prof. Dr. Serguei Aily Franco de CamargoPrograma de pós-graduação em Direito Ambiental –

Universidade do estado do Amazonas

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PARTE I

CONSTITUIÇÃO INTERNACIONAL OU CONSTITUIÇÃO SUPRANACIONAL? O QUE REPRE-SENTAM O TRATADO DE LISBOA E O ATUAL MOMENTO DO CONSTITUCIONALISMO (OU INTERNACIONALISMO, OU SUPRANACIONALISMO) EUROPEU?Alexandre Coutinho Pagliarini.............................................................................13

1. Poder Constituinte no Estado: significação tradicional e casos de ocorrência..........142.Poder Constituinte na União Européia: uma significação pós-moderna.....................233. O tratado internacional como veículo introdutor de norma constitucional...............264. Estado Global ou mundo sem Estado...................................................................28

Referências........................................................................................................30

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CONSTITUIÇÃO INTERNACIONAL OU CONSTITUIÇÃO SUPRANACIONAL? O QUE REPRESENTAM O TRATADO DE LISBOA E O ATUAL MOMENTO DO CONSTITUCIONALISMO (OU INTERNACIONALISMO,

OU SUPRANACIONALISMO) EUROPEU?

Alexandre Coutinho Pagliarini*

Sumário: 1. Poder Constituinte no Estado: significação tradicional e casos de ocorrência; 2.Poder Constituinte na União Européia: uma significação pós-moderna; 3. O tratado in-ternacional como veículo introdutor de norma constitucional; 4. Estado Global ou mundo sem Estado; referências

Resumo: Tradicionalmente, a idéia de poder constituinte remete o constitucionalista clás-sico (aquele dos tempos de Sieyès, Rousseau e Montesquieu) a uma incondicionalidade e à conseqüente conclusão de que o poder constituinte originário tudo pode. Esta é a primeira exposição feita no presente texto científico, a qual é esvaziada adiante, quando é exposto o caso do poder constituinte que vem ocorrendo fora dos moldes tradicionais no contexto da União Europeia e do próprio Direito Internacional no mundo globalizado, razão pela qual o Tratado Internacional é aqui introduzido como um instrumento produtor de normas que obrigam a Comunidade Internacional na mesma medida que as leis obri-gam as instituições e o povo dentro dos parâmetros soberanos de um Estado-nação. Na conclusão do que aqui se escreve, fica a pergunta: estaríamos caminhando rumo a uma realidade de um mundo sem Estados ou de um Estado global?

Palavras Chave: Poder constituinte tradicional. Poder constituinte supranacional eu-ropeu. Tratados internacionais como normas. Mundo sem Estados? Estado mundial?

Abstract: Traditionally, the idea of constitution making power is unlimited: there would not exist, according to this theory from the times of Sieyès, Rousseau and Montesquieu, any limits to the political manifestation of constitution making power. This idea does not keep itself alive beyond the reality of International Public Law, above all beyond the reality of the new supranational constitutionalism found at the European Union. At the end of the present cientific research, there are the conclusions the International Treaties and the new constitutionalism have created on our minds the following question: will there be o world without states or will there be a global state?

Key Words: Traditional constitution making power. Supranational constitution mak-ing power at European Union. International treaties as norms. World without states? Global state? * Pós-Doutor pela Universidade de Lisboa. Doutor e Mestre pela PUC/SP. Professor da Facinter, da OPET, da Dom Bosco e da UniBrasil

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1. PODER CONSTITUINTE NO ESTADO: SIGNIFICAÇÃO TRADICIONAL E CASOS DE OCORRÊNCIA

Passaremos a tecer, doravante, algumas considerações sobre o exercício do poder constituinte originário.

Para os positivistas, o poder constituinte é pré-jurídico, quer dizer, é uma manifes-tação de força ou uma energia social não encontrada no mundo das normas positivadas.

Diferentemente, os adeptos da doutrina jusnaturalista – inaugurada constitucio-nalmente, quanto ao poder constituinte, pelo abade Sieyès – ensinam que há um direito superior decorrente da própria natureza humana, além do Direito positivo, que precede o próprio Estado, sendo assim o poder constituinte um poder eminentemente jurídico.

O entendimento positivista encontra melhor acolhida na doutrina. Isto porque a norma hipotética fundamental, apesar de propiciar fechamento ao sistema jurídico, ela mesma não é posta, é pressuposta, ou, como Kelsen desejou em sua derradeira obra – Teoria Geral das Normas –, uma norma fictícia1.

O tema poder constituinte foge do alcance da Ciência do Direito porque não podem os cientistas do Direito descrever uma latência social e política (o poder constituinte) com as fórmulas axiológicas usadas na interpretação das normas jurídicas. O que se faz ao estudar ou a descrever o tema é mais ligado às práticas da Filosofia, da Política ou da Sociologia, mas não da Ciência do Direito, já que esta tem por padrão referencial o Direito positivo que, por sua vez, surge com a instituição da Constituição.

Classificamos o poder constituinte como uma latência social e política que se encontra em “stand by” (em espera) para, quando acionada, inserir no ordenamento, pelo lado de fora deste, elementos constitucionais-estruturantes de uma ordem política qualquer.

Celso Ribeiro Bastos2 doutrina que “(...) descabe qualquer indagação a respeito de um poder constituinte, nos lindes da Ciência Positiva do Direito, pois se trata, como vimos, de um conceito metajurídico”. E conclui Bastos: “(...) em vista do que ficou acima exposto, parece certo concluir que o poder constituinte não é um poder jurídico (...)”.

Raul Machado Horta faz interessante análise, colocando face a face os dois tipos de poder constituinte, o originário e o derivado3. Parte Macha-do Horta do princípio de que o poder constituinte originário não tem que seguir nenhuma regra de Direito que seja anterior à sua manifestação, neste pris-ma devendo ser considerado como uma questão de fato, e não de Direito. 1 KELSEN. Teoria geral das normas, p. VIII.2 BASTOS. Curso de Direito Constitucional, p. 28.3 Firme-se aqui o entendimento de que poder constituinte derivado é, na realidade, poder constituído, estando, portanto, no ordenamento posto.4 Sobre o Congresso Nacional brasileiro no exercício da função de reformar a Carta: TAVARES. O Congresso Nacional como poder constitu-inte, pp. 329/359. In: FERREIRA, Josué dos Santos (org.). Os meandros do

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Por outro lado, o poder constituinte derivado4, criado e delimitado pelo próprio poder constituinte originário, deve seguir as regras positivas de Direito inseridas no documento normativo superior, que é a Constituição. Com base nessas premissas, Machado Horta extrai duas conclusões essenciais do pensamento de Carré de Malberg5.

O poder constituinte se manifesta de várias formas, mas tem sido sempre in-serido numa das duas categorias classicamente aceitas pela doutrina: na categoria do poder constituinte originário ou na do poder constituinte derivado6. Contudo, apesar de a doutrina ser rica na descrição das várias formas de manifestação constituinte, enten-demo-la, data venia, acanhada na denominação dos poderes constituintes caso a caso. Por isso, passamos a classificar as manifestações constituintes com os nossos próprios7 neologismos, que se seguem:

1- poder constituinte originário de ruptura internacional: é aquele que se dá na oportunidade da independência de uma nação anteriormente vinculada a um Estado que a englobava em termos de soberania. Como exemplo de tal espécie, podemos citar o primeiro constituinte histórico brasileiro, após a Independência;

2- poder constituinte originário de gênese: é aquele que cria um Estado do nada. Acontecerá, na vida política contemporânea, quando, por exemplo, a nação palestina constituir-se no Estado da Palestina;

3- poder constituinte originário de ruptura interna: ocorre nas ocasiões de toma-da revolucionária do poder, com desprezo ao ordenamento jurídico-constitucional posto, impondo-se outro que não se limite pelos ditames daquele que está sendo superado. Exemplo dessa manifestação constituinte foi a Constituição de 1891;

4- poder constituinte originário de nova ordem – previsto pela velha ordem: é aquele que ocorre pacificamente quando uma Assembléia Nacional Constituinte é prevista por um ordenamento jurídico, que se vai fazer ultrapassar pela manifestação constitu-inte dessa Assembléia Constituinte instituída pela própria velha ordem. Neste caso, a

Congresso Nacional: como interagir e participar das atividades legislativas brasileiras. Rio de Janeiro: Forense. Brasília: Senado Federal – Câmara dos Deputados, 2001. 5 HORTA. Direito Constitucional, p. 29: “Primeira: a Constituição nova não será confeccionada segundo o processo, o modo constituinte e as formas que foram prescritas na Constituição anterior. Entre a Constituição antiga, da qual se fez tábua rasa, e a Constituição nova, que está sendo criada, não há relação jurídica. O que passa a existir entre ambas é o interregno constitucional, uma solução de continuidade, durante a qual o poder constituinte da nação se exprimirá através das pessoas ou corporações que empolgaram o poder. A questão do poder constituinte se coloca nos termos da formação originária do Estado: é uma questão de fato e não de direito. Por isso, o poder constituinte não é tema jurídico. E sendo fato puro e revolucionário, o positivismo jurídico rejeita o seu exame, pois não há espaço na ciência do direito público para um capítulo consagrado à teoria dos golpes de Estado ou das revoluções e de seus efeitos.Segunda: o jurista deve concentrar-se no estudo de outra forma de poder constituinte, que é a da reforma pacífica, regular, jurídica, da Constituição em vigor. A reforma pode ser mais ou menos extensa, tendo por objetivo a revisão da Constituição, em determinados pontos, ou a ab-rogação e a substituição de uma Constituição por outra. A mudança constitucional, seja ela total ou parcial, se fará de acordo com as regras fixadas pela Constituição, de tal modo que a Constituição nova, quando for o caso da revisão total, nascerá da antiga, sem solução de continuidade. A nação, uma vez exercido o poder constituinte revolucionário e extrajurídico, poderá mudar de Constituição, observando as regras jurídicas da Constituição anterior.”6 Linhas adiante, faremos severas críticas contra a expressão poder constituinte derivado, que dá uma noção errada de tal força, que classificamos simplesmente como poder reformador.7 PAGLIARINI. Constituição e Direito Internacional: cedências possíveis no Brasil e no mundo globalizado, p. 53.

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Assembléia criada – dentro do ordenamento jurídico da própria velha ordem – terá am-plos poderes para se manifestar de maneira soberana e criar originariamente o novo Estado ou a nova ordem que melhor lhe convier, respeitadas as delimitações procedi-mentais impostas pela emenda constitucional da velha ordem que a propiciou. Prova da existência histórica desse tipo de manifestação constituinte é a Carta de 1988, cujo poder constituinte foi convocado e regulado pela Emenda Constitucional nº 26, de 17 de novembro de 1985;

5- poder constituinte derivado com data marcada: é o qüinqüenal, previsto na vigente Constituição portuguesa. Foi o previsto no art. 3º, do Ato das Disposições Consti-tucionais Transitórias – ADCT – da Constituição de 1988. Como visto, é sempre limitado, implícita e explicitamente, pelas disposições postas pelo poder constituinte originário na Carta Magna. Equivale a um poder reformador (ou força reformadora);

6- poder constituinte derivado sem data marcada: é a manifestação constituinte instituída, derivada, que tem como exemplo máximo o art. 60 da Carta brasileira em vigor, que trata das emendas constitucionais que venham tramitar perante o Congresso Nacional. Equivale a um poder reformador (ou força reformadora).

Com a classificação supra, encerramos a exposição concentrada acerca da natur-eza do poder constituinte. Passamos a dissertar sobre os modos pelos quais os países, internamente falando, vêm exercendo os seus poderes constituintes.

A idéia inicial de poder constituinte é revolucionária, traz consigo a expectativa de uma ruptura. Efetivamente, rompe-se com a ordem anterior e insere-se uma outra.

No final do parágrafo passado, falamos no rompimento de uma ordem e na in-serção de outra. A ordem rompida não é necessariamente uma ordem constitucional formalizada. Foi isto o que ocorreu na França de 1789. A monarquia não era detentora de uma Carta Política solenemente aprovada e que regia o seu governo e servia como fundamento de validade das demais normas infraconstitucionais. Não havia, na época, Constituição formal. Esta é produto do constitucionalismo moderno que passou a positi-var Cartas formalizadas, solenemente, a partir das Constituições dos Estados Unidos da América e da França. De qualquer modo, a primeira Constituição formal francesa, elabo-rada pelo poder constituinte revolucionário, desestabilizou o antigo regime. Com isso, queremos dizer que esta Constituição francesa promoveu uma superação de sistema: quebrou a ordem absoluta monarquista que a antecedeu.

Poder constituinte, portanto, significa sempre o exercício de uma latência socio-política que culminará na quebra da ordem político-jurídica que a nova ou primeira Magna Carta formalizará. Neste sentido, a primeira Constituição histórica francesa, a despeito de não ter revogado nenhuma Carta Política formal antecedente, induziu ao sepultamento do governo dos reis absolutos.

Há poder constituinte em exercício, contudo, fora do contexto revolucionário, continuando tal poder, mesmo assim, com a marca “constituinte”. Isto se dá quando,

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num Estado já dotado de Constituição e em que não se verifica rebelião ou revolução con-tra as instituições postas, passa a se manifestar o poder constituinte pela convocação popular instigada, por exemplo, pelas autoridades previstas no sistema para cumprir tal desiderato (por exemplo, no caso de uma emenda constitucional apresentada pelo presi-dente da República e aprovada e promulgada pelo Congresso Nacional). Foi exatamente isso o que ocorreu no caso do poder constituinte da Carta de 1988, quando o Congresso Nacional aprovou a Emenda Constitucional n° 26, tendo esta convocado o eleitorado brasileiro para, nas eleições vincendas para a nova composição do Parlamento bicameral, eleger os novos constituintes, tendo os senadores e deputados eleitos acumulado a fun-ção constituinte8.

Não há poder constituinte, propriamente dito, naquilo que a doutrina costuma chamar de poder constituinte derivado. Neste, não há a marca inicial indispensável para que o exercício do poder possa ser considerado como primário e livre. Na realidade, o poder constituinte derivado não pode fazer, do zero, uma Constituição. Trata-se ele, pois, não de poder constituinte, mas de poder constituído, respeitante dos limites postos pelo poder constituinte – propriamente dito, o originário – na Carta. Logo, melhor seria de-nominar o poder constituinte derivado de poder reformador¸ simplesmente. Reformador, e só, porque não pode instituir uma nova ordem estatal estruturante de um novo cosmos a partir de uma nova Carta Política; reformador, e só, porque se encontra enquadrado num espectro de limitações criadas e instituídas por aquele que, verdadeiramente na Car-ta, fixou os espaços em que o poder reformador poderia atuar; reformador, mas às vezes nem isso, porque, dependendo da rigidez escolhida pelo poder constituinte originário na Carta Magna, o “poder constituinte derivado” (poder reformador) nem pode atuar9.

De qualquer modo, se considerarmos poder constituinte como a “força capaz de inserir no ordenamento norma constitucional”, então poderemos aceitar o poder refor-mador como poder constituinte. Mas não o fazemos por causa do problema semântico: constituir é sinônimo de instituir.

Constituir10, instituir: expressões que dão uma idéia de originalidade ou capaci-dade de instituir. Tal característica não reside na representação daquilo que pode fazer o poder reformador. O poder constituinte originário, ele sim, não só pode mudar as atuais cláusulas pétreas da Constituição Brasileira, como também pode rasgar o atual ordenamento constitucional, inserindo no sistema um outro completamente diferente – desde que respeitados os compromissos internacionais do país e os “jus cogens”.

9 A atual Constituição brasileira é exemplo disso quando, no parágrafo 4° do artigo 60, fixa um núcleo imutável, que se refere à forma federativa, ao voto, aos direitos fundamentais e à separação dos poderes. 10 Kant empregou o termo constitutivo para designar o que condiciona a realidade dos objetos fenomênicos. In: AB-BAGNANO. Dicionário de Filosofia, p. 197.

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Por esta razão, fica aqui expressa a rejeição ao acerto da expressão poder constituinte derivado. Melhor chamá-lo de poder reformador, unicamente. Todavia, considerando que mesmo a melhor doutrina, talvez por motivos didáticos, utilize-se da expressão poder constituinte derivado, não há óbice em sua utilização, uma vez que a mesma já se tornou de conhecimento público nas faculdades e nos livros de Direito.

Tema instigante, que decorre da idéia de capacidade reformadora da Carta, é o da rigidez constitucional.

Primeiro, fixe-se que o poder reformador se encontra limitado pelas disposições escolhidas pelo verdadeiro poder constituinte (o originário) e constantes na Carta. As-sim, só poderá atuar o poder reformador dentro dos quadros de limitação escolhidos pelo constituinte originário. Acontece que, geralmente, o exercício do poder reformador tramita de um modo mais difícil que aquele referente à reforma das normas infraconsti-tucionais. Constituição que assim disponha é Carta rígida.

Correlaciona-se também o tema rigidez constitucional com o prévio exercício do poder constituinte originário que, prevendo o processo pelo qual se modificará o Texto Magno posto, estabelece um critério diferenciado para que se possa efetivar tal reforma. Esclarecemos que o critério diferenciado de modificação é, no caso das Constituições rígi-das, mais dificultoso do que aquele utilizado pelo poder reformador – geralmente o Parla-mento – para a modificação da legislação ordinária. Assim, a doutrina francesa insiste que a previsão de um procedimento especial para a modificação da Carta é o que caracteriza uma Constituição como rígida, anotando Bernard Chantebout11 que “Lorsqu’une telle procédure spéciale est prévue, on dit que la Constitution est rigide”.

Konrad Hesse12, com muita propriedade, correlaciona rigidez com mobilidade da Constituição, uma vez que esta une abertura e amplitude da normalização jurídica com determinação obrigatória. Com isso, Konrad Hesse considera imprescindível que haja uma polaridade entre o caráter determinativo-obrigatório da Carta e a indispensável abertura da mesma, sendo imprescindível uma coordenação entre os elementos rigidez e mobilidade. Partindo da tarefa de interpretar a Constituição, Hesse entende necessário verificar a coexistência de rigidez e mobilidade, ou seja, da abertura e da amplitude em face da rigidez, uma vez que as determinações obrigatórias, vistas isoladamente, pode-riam levar à estagnação da vida em coletividade, pois o persistente não deve converter-se em impedimento onde movimento e progresso estão dados, senão o desenvolvimento passa por cima da normalização jurídica. O movente não deve abolir o efeito estabilizador das fixações obrigatórias, senão a tarefa da ordem fundamental jurídica da coletividade permanecerá invencível.

11 CHANTEBOUT. Droit Constitutionnel et Science Politique, p. 41.12 HESSE. Elementos de Direito Constitucional da República Federal da Alemanha, pp. 45 e 47.

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Konrad Hesse conseguiu, com rara exatidão, juntar conceitos contrários, como rigi-dez e mobilidade, estabelecendo assim a possibilidade de se manter a Carta no topo de um ordenamento jurídico nacional, sem todavia estancar-lhe a possibilidade de modificação que propiciará à mesma o acompanhamento das mudanças sociais e a constante respeitabili-dade de sua força normativa, pois, temperando-se rigidez e mobilidade, a Constituição, sem sair de seu posto mais alto, torna-se capaz de acompanhar as contingências históricas do Estado e do povo que ela quer regrar. Pela temperança da rigidez com a mobilidade foi pos-sível que as Constituições passassem a ser modificáveis, superando-se, destarte, o dogma da absoluta imutabilidade constitucional. Por isso, consideramos lapidar o entendimento de Hesse quando, ao colocar de mãos dadas rigidez e mobilidade, afirma que a Constituição deve se caracterizar, quanto à sua modificabilidade, por “(...) aquela elasticidade relativa e aquela estabilidade relativa (...)”. Completamos, nós, que esta conclusão pode ser aplicada ao constitucionalismo pós-nacional, que temperando elasticidade com estabilidade não mais cabe nos quadrantes do Estado nacional moderno.

Devemos ressaltar o seguinte: só podemos falar em rigidez constitucional quando se trata de Constituição formal, não cabendo comentários neste sentido ao dissertar-mos acerca de Constituição material (ou costumeira), sendo o que depreendemos do ensinamento de Georges Burdeau quando leciona que “Cette qualité de la constitution formelle est appelée ‘rigidité’”. E continuando com Burdeau13, o fundamento da rigidez é a separação do poder constituinte e dos poderes constituídos, ganhando expressão tal rigidez quando é determinada a distinção entre poder constituinte originário e poder re-formador. Com aguda perceptividade, Burdeau diz, inclusive, que não é só pelo processo de revisão que se pode transformar a Constituição formal, mas também pelo processo de interpretação que se dá em sua aplicação.

Historicamente, o termo rigidez levava à compreensão de que a Constituição era imutável. Isto é doutrina ultrapassada, data venia, e prova disto é que a Itália já foi regrada pelo chamado Estatuto Albertino, que era a Constituição do Reino da Itália, cujas disposições eram modificáveis por intermédio de leis ordinárias posteriores (lex posterior derogat priori). Portanto, o entendimento que devemos ter do termo rigidez mereceu reparação de todas as ordens constitucionais ocidentais e da doutrina, e deve-mos entender por Constituição rígida simplesmente que a Carta, apesar de ocupar o mais alto posto do ordenamento local, não é documento inteiramente imodificável, mas que simplesmente impõe, para que se efetive a mudança, um processo especial cujo trâmite legislativo é mais árduo do que aquele da modificação da legislação ordinária.

Interessante notar que a Constituição do Império do Brasil, de 1824, constituiu-se em documento “sui generis” em nossa história constitucional, isto porque parte de seu texto podia ser modificada pelo exercício do processo legislativo comum, ou ordinário,

13 BURDEAU. Droit Constitutionnel, pp. 48/49 e 51. (tradução nossa).

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o que autoriza a doutrina a classificar tal parte de flexível, coexistindo tal bloco flexível com outro que, por sua vez, só podia ter suas disposições modificadas mediante o exercí-cio do processo especial mais dificultoso, sendo este bloco o que podemos entender por rígido. Isso levou a Constituição de 1824 a ser chamada, quanto à sua estabilidade, de Constituição semi-rígida, ou semiflexível.

Decorre da rigidez constitucional a necessidade de evitar que normas do orde-namento infraconstitucional disponham contrariamente ao que prevêem as normas da Carta Magna, dando-se assim azo para que exista, no território regido por esta Consti-tuição, o controle da constitucionalidade.

Sendo a rigidez uma característica que só pode existir numa Constituição escrita, formalizada, e considerando que não podemos confundir o poder constituinte originário, que é inicial e não jurídico, com o poder reformador, que é constituído e pertence ao mundo do Direito posto, mister é que seja controlada, por intermédio de órgãos próprios e também constituídos, a pertinência de todo o ordenamento com os dizeres da Carta Magna. Se, por um acaso, uma dada Constituição for flexível – como o Estatuto Albertino e parte da Carta brasileira de 1824 –, isso implica aceitar que o procedimento ordinário de modificação pode alterar a Constituição; logo, em casos assim, não é detectada a rigidez do Texto Magno e, outrossim, torna-se supérflua a existência de órgão instituído cuja função seja o controle da constitucionalidade, nem se podendo, destarte, falar em normas infraconstitucionais, pois todas no ordenamento teriam a mesma estatura que a norma posta por lei ordinária. Disso é possível lançar uma dúvida: se é verdade que uma Constituição formal, cujo processo modificatório é mais dificultoso que o da legislação or-dinária, deve, por isso, ser considerada como ocupante do topo do sistema (supremacia), é também verdadeiro que uma Constituição Européia (ou Tratado Constitucional Europeu) se postaria no topo do ordenamento comunitário e se sobreporia às Constituições locais, sendo, outrossim, verdadeiro, que será necessário um controle de constitucionalidade para proteger as disposições da Carta comunitária? A resposta é: sim!

Nos termos da atual Carta Magna brasileira (art. 60) exerce-se o poder reforma-dor somente por emendas constitucionais, com um grau de tramitação mais dificultoso do que aquele referente à tramitação das leis ordinárias e complementares. Por isso, a atual Magna Carta brasileira é rígida. Já não se encontra mais disponível no arcabouço constitucional do Brasil o processo de revisão constitucional do artigo 3° do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que assim prescrevia: “A revisão con-stitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.”

O poder constituinte (originário), já dissemos, insere no ordenamento uma Carta, do zero. Ele próprio, entretanto, reside fora do ordenamento; daí a sua natureza não positiva. As disposições constitucionais acerca do processo de revisão das Cartas são constantes nelas próprias, o que quer dizer que são produtos da atuação do poder con-

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stituinte originário. No caso de este haver determinado que o processo de modificação da Lei Maior é mais intricado do que o de modificação das leis ordinárias e complementares, teremos rigidez constitucional. Em conseqüência disso, estará a Constituição situada num degrau acima no desenho da pirâmide normativa: isto se chama supremacia e ela só se detecta no caso de o poder constituinte originário haver previsto que é mais difícil modificar a Constituição do que aprovar uma lei ordinária ou complementar ou modificar tais espécies (infra)constitucionais. Só se justifica o uso da expressão Lei Maior neste caso, ao dizer que a expressão Lei Maior é sinônimo de Constituição rígida e marcada pela supremacia. Conseqüentemente, uma Constituição não escrita, posta por um poder constituinte em constante latência, mas que não se decidiu pela formalização de uma Carta, não pode ser, pelo menos formalmente, considerada como detentora da qualidade da supremacia. É o caso da famosa Constituição britânica14 que, não por isso, deixa de ser um monumento cultural15 daquele povo16 e um exemplo para os mundos da “common law” e também da “civil law”.

Falar de supremacia da Constituição é o mesmo que dizer que as normas da Carta são hierarquicamente superiores a todas as outras dentro do mesmo ordenamento ju-rídico apresentado, tratando-se, destarte, a supremacia – ou a hierarquia superior da Constituição – de assunto inserível num texto que tem a pretensão de falar também sobre rigidez constitucional, uma vez que a referida supremacia só se identifica em Con-stituições que, quanto à estabilidade, mostrem-se rígidas. Tal entendimento é inerente à própria tradição ocidental advinda do constitucionalismo, razão pela qual as doutrinas dos importantes sistemas jurídicos ocidentais se mostram uníssonas na consideração de que só se garantirá supremacia à Carta se a mesma dispuser em seu texto acerca da maior dificuldade de se mudar disposições constitucionais. Vejamos a opinião de Jacques Baguenard17: “La suprématie constitutionnelle n’existe que dans les systèmes de consti-tution rigides (...)”.

14 CARVALHO, O. M. O mecanismo do governo britânico, pp. 27/28: “O critério para classificar uma constituição de rígida ou de flexível gira em torno do processo adotado para emendá-la. São rígidas aquelas que cercam de dificuldades a emenda ou revisão do texto. Em regra, rigidez está ligada à idéia de que existe um texto constitucional pensado como uma unidade. São chamadas de flexíveis aquelas constituições em que o processo de elaboração da lei constitucional é semelhante ao processo de elaboração das outras leis, não havendo, portanto, distinção entre lei constitucional e lei ordinária. É o caso da Grã-Bretanha, que tem a única constituição flexível em funcionamento no mundo civilizado atualmente.” Ver também: JENNINGS. A Constituição Britânica, 152 pp. 15 CARVALHO. O. M. O mecanismo do governo britânico, p. 17: “Os britânicos começaram a elaborar a sua constituição há centenas de anos e deixaram cada texto componente dela separado dos outros por séculos de distância. Além disso, construíram uma obra fragmentária, esparsa em numerosos documentos de valor e origem desiguais, que ninguém pensou em codificar.”16 Ao comentar a respeito da perenidade constitucional existente no Reino Unido, exaltando sua grandeza, afirma Orlando Magalhães Carvalho que “(...) a constituição não controla os britânicos, mas os britânicos é que controlam a constitu-ição.” In: CARVALHO. O. M. O mecanismo do governo britânico, p. 17.17 BAGUENARD. La Constitution, p. 42.

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Para Canotilho18, três fatores justificam a supremacia da Carta em relação às outras unidades normativas do sistema: (i) autoprimazia normativa; (ii) as normas da Constituição são normas de normas; (iii) os poderes públicos a elas estão submetidos.

Destarte, a supremacia da Carta Magna induz à seguinte verdade: por serem rígi-das, as normas constitucionais ocupam posição hierárquica superior quando comparadas às demais partículas deônticas do ordenamento jurídico posto. Com as palavras de José Alfredo de Oliveira Baracho19, constantes na nota infra, voltamos a falar sobre o que já deve ter-se firmado como dogma da modernidade constitucional: a verdade de que não há disposição linear, horizontal, entre as normas, pois elas se escalonam em pirâmides de importância; e, nesta pirâmide, ocupa a Carta Política o ápice do ordenamento posto de um Estado soberano.

Poder constituinte, Constituição, rigidez e supremacia: temas que se correlacio-nam, do primeiro em diante, cujas significações modernas são as que se referem a um-só povo, a uma-só força sociopolítica incidente sobre um-só território, para positivar um-só ordenamento de um-só país.

18 CANOTILHO. Direito Constitucional e teoria da Constituição, p. 1112: “A constituição é uma lei dotada de características especiais. Tem um brilho autónomo expresso através da forma, do procedimento de criação e da posição hierárquica das suas normas. Estes elementos permitem distingui-la de outros actos com valor legislativo presentes na ordem jurídica. Em primeiro lugar, caracteriza-se pela sua posição hierárquico-normativa superior relativamente às outras normas do ordenamento jurídico. Ressalvando algumas particularidades do direito comunitário, a superioridade hierárquico-normativa apresenta três expressões: (1) as normas constitucionais constituem uma lex superior que recolhe o fundamento de vali-dade em si própria (autoprimazia normativa); (2) as normas da constituição são normas de normas (normae normarum) afirmando-se como uma fonte de produção jurídica de outras normas (leis, regulamentos, estatutos); (3) a superioridade normativa das normas constitucionais implica o princípio da conformidade de todos os actos dos poderes públicos com a Constituição.” (grifos do autor)19 BARACHO. O princípio da subsidiariedade: conceito e evolução, p. 80: “A primazia da Constituição nos ordenamentos jurídicos, aliada à ordenação do sistema de fontes e ao princípio da hierarquia normativa, dá ao texto fundamental, como normae normarum, grande projeção na instrumentalização jurídica da sociedade. Como norma jurídica básica, a aplicação imediata e direta dos princípios constitucionais constitui não apenas um mandato genérico ao legislador ordinário, que deverá incorporar os princípios constitucionais ao direito positivo ordinário. Está o legislador obrigado a adequar-se ao ordenamento e aos princípios da Constituição. A Constituição é norma suprema e não apenas declaração programática, que pode ser incorretamente interpretada.”

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2. PODER CONSTITUINTE NA UNIÃO EUROPÉIA: UMA SIGNIFICAÇÃO PÓS-MODERNA

No contexto da União Européia (UE) não é novo o tema “Constituição Comuni-tária”. Entretanto, nunca se chegou tão perto de aprovar, via tratado internacional, uma Carta para a Europa. Após os nãos da França e da Holanda à Constituição Européia, adveio o Tratado de Lisboa que, assinado na capital lusitana, já encontrou o não do Eire – este não irlandês pode reverter-se, uma vez que o governo do Eire está na iminência de convocar o povo deste país para novo referendo, apesar das resistências dos populares e das exigências impostas por este governo no contexto da União Europeia, as quais não são facilmente aceitas pelas instituições supranacionais e nem pelos outros países que aderiram in totum aos termos do Tratado de Lisboa, documento jurídico este que repre-senta a dação de maior poder aos órgãos supranacionais da EU e que substitui a Consti-tuição Europeia rejeitada pelos povos da França e da Holanda em referendos anteriores. Apesar dos nãos aqui relatados, o constitucionalismo supranacional europeu continua em voga como prova máxima de um neoconstitucionalismo evidente.

Há obras20 extremamente críticas quanto ao momento europeu, opinando no sen-tido de não ser possível o exercício de um poder constituinte supranacional21. As opiniões nelas constantes, bastante contundentes e bem feitas, marcam-se, contudo, pelo que pedimos vênia para chamar de “equívoco óptico”: lêem um novo momento constitucional com os olhos de um antigo momento constitucional.

Por outro lado, há vasta doutrina estrangeira22 contrária à do parágrafo anterior, que propugna pela possibilidade de um poder constituinte supranacional no caso europeu, de um poder constituinte referente aos povos da comunidade.

Sobre o novo poder constituinte, Maurício Andreiuolo Rodrigues publicou23 notáveis idéias. Já a respeito da Constituição Européia, como Projeto Valéry Giscard d’Estaing, só existem, pelo que sabemos, duas obras específicas publicadas no Brasil: uma, de nossa autoria; a outra, organizada por José Ribas Vieira24, ambas defensoras da constitucionalização supranacional na Europa e, portanto, leitoras da pós-modernidade com os olhos da pós-modernidade.

20CARRASCO. Constitución Europea: un concepto prematuro. Análisis de la jurisprudencia del Tribunal de Justicia de las Comunidades Europeas sobre el concepto de Carta Constitucional básica, 269 pp. CUNHA, Paulo de Pitta e. A Constituição Europeia. Um olhar crítico sobre o projecto, 83 pp.21 CANOTILHO, aceitando a estruturação de uma comunidade política fora dos moldes clássicos – uma vez que é a favor da Constituição Européia –, pugna pela existência de uma “‘international community’ como rede constituinte”. Palestra proferida no Teatro Guaíra, em Curitiba, no dia 4.10.2004, sobre a temática “Constitucionalismos e Globalização”, no VI Simpósio Nacional de Direito Constitucional, organizado pela Academia Brasileira de Direito Constitucional. 22 Em notas passadas e no decorrer deste texto científico, já elencamos (e continuaremos a fazê-lo) dezenas de livros, arti-gos e ensaios a favor de um Direito Constitucional europeu e, conseqüentemente, de um poder constituinte supranacional e de uma Constituição para a Europa. 23 RODRIGUES. Poder constituinte supranacional. Esse novo personagem, 183 pp.24 PAGLIARINI. A Constituição européia como signo: da superação dos dogmas do Estado nacional. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004. VIEIRA (org.). A Constituição Européia. O projeto de uma nova teoria constitucional, 267 pp.

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Nos moldes tradicionais, um poder constituinte é tido como uma latência respon-sável pela feitura de uma Constituição, incidente sobre um povo, um território e uma soberania. Estas são as conclusões do constitucionalismo clássico. E não podiam ser diferentes tais conclusões, uma vez que o constitucionalismo moderno é o movimento representativo do Estado-nação que teve o delineamento de seus contornos impulsiona-dos pela Revolução Francesa. Nesta esteira, tecem-se críticas segundo as quais:

(i) o poder constituinte não poderia ser exercido por meio de tratado internacional;(ii) 27 povos não poderiam produzir um poder em latência, um poder constituinte supranacional, pois o poder constituinte só pode ser alavan-cado por um povo para estruturar um-só Estado e nele positivar uma-só Constituição.

Ao contrário das coisas físicas e visíveis, o poder constituinte não é físico nem visível. É uma abstração desenvolvida por Sieyès e outros depois dele. Também são abst-rações a soberania e o próprio Estado moderno; trata-se de objetos culturais.

Uma coisa se liga à outra. O poder constituinte implica a feitura de uma Consti-tuição; uma Constituição implica a estruturação de uma comunidade política e a procla-mação de Direitos Fundamentais; a soberania implica a crença do Estado delimitado ter-ritorialmente, com um governo superior e ordens respeitadas e/ou a serem respeitadas, o que, por sua vez, implica o Estado-nação da modernidade.

As implicações acima, todas elas, decorrem de abstrações, pois fisicamente não são tácteis, nem o poder constituinte, nem o Estado e muito menos a soberania. Trata-se de criações da inteligência humana que deram vazão à instituição e à manutenção do Estado moderno. Entretanto, mesmo nas coisas referentes às verdades modernas tem havido distorções, e ainda assim a doutrina constitucionalista clássica aceita inovações que, na realidade, não decorrem do criativo processo de interpretação, mas de “favores axiológicos” para justificar atitudes inconstitucionais dos donos do poder, verificando-se, então, aquilo que Andreiuolo Rodrigues chama de “jeitinho constitucional”. Já que é assim, “jeitinho por jeitinho”, nada impediria que se desse um “jeitinho”, para aceitar o poder constituinte europeu como verdadeiro poder constituinte, e a Constituição Européia (ou tratado constitucional) como verdadeira Constituição. Todavia, com o perdão pelo tom jocoso, a Carta Magna para a Europa não se trata, em hipótese alguma, de “jeitinho”.

É a futura Constituição Européia um ícone representativo da nova verdade históri-ca: a supranacional. Neste prisma, a Carta Magna européia é uma necessidade intran-sponível que os tempos impuseram às comunidades de países que se juntaram naquele continente, na formação desta diferente espécie constitucional chamada União Européia. Ademais, sem favores e sem “jeitinhos”: se é indiscutível a existência de um substrato

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constitucional na Europa, então é possível uma Carta para o Velho Continente. E se é verdade que a UE pode se dotar de Constituição, então é também verdadeiro que nada impede o exercício de um poder constituinte supranacional.

A Constituição Européia e o seu poder constituinte não são “jeitinhos”. Baseiam-se em princípios, valores e verdades já retratados no presente texto.

Devido às necessidades dos tempos modernos para que se desse impulso à der-rubada do Absolutismo, as verdades do poder constituinte originário, da soberania e do Estado moderno foram pensadas: “eureka !” Agora, para as verdades deste novo tempo pós-moderno, não são mais suficientes aquelas “velhas verdades” do constitucionalismo moderno. É como desejar inserir um motor de Ferrari, último tipo, numa carcaça de Fusca-68, ou seja: “missão impossível” !

Ciência se faz com a descrição de elementos existentes, todos eles girando em torno de um fator aglutinante que verdadeiramente justifique uma tese a ser defendida. Deste modo, ciência se fez, e muito bem, quando se identificaram os elementos que seriam os responsáveis pela construção do Estado moderno. Considerando este como uma parede, foram seus tijolos aqueles “ismos”: racionalismo, liberalismo, individualismo e constitucionalismo. Hoje, para a UE, os “ismos” são outros: constitucionalismo no pós-modernismo, supranacionalismo, cosmopolitanismo, solidarismo25 e multilateralismo. Portanto, para sustentar todos estes “ismos” pós-modernos, o poder constituinte clás-sico de Sieyès não pode dar conta, razão por que também fazem ciência aqueles que descrevem um novo sistema, conforme os seus novos elementos constituintes, todos girando em torno de uma debutante justificativa final e aglutinadora, a Constituição su-pranacional que, no caso europeu, será a Constituição Européia ou um tratado constitu-cional que a ela minimamente equivalha.

25 Solidarismo que inclui defesa dos direitos humanos, em geral, e tolerância religiosa, em particular, razão pela qual é de se afirmar que, apesar das profundas e positivas raízes judaico-cristãs da Europa, a Turquia não deve ter seu ingresso à UE rejeitado por conta do islamismo, mesmo porque não se há de esquecer que a Turquia abriga a cidade de Istambul, antiga capital do Império Romano, chamada, à época, Constantinopla. Pelo que consta nos noticiários e nos comentários, o que mais tem importado aos turcos é a defesa das instituições democráticas em seu território e o resguardo dos direitos humanos, uma vez que eles já se inseriram, economicamente falando, no modelo de Estado liberal e de tolerância religiosa. Não é paradoxal o fato de aceitarmos a Turquia numa UE de raízes judaico-cristãs pois tal diferença é posta de lado por um outro valor eminentemente europeu: o do Estado laico. Sim, dentre os valores mais caros que os europeus conseguiram preservar e que, de certa forma, faz parte do cenário comunitário e dos próprios tratados constitucionais ultimamente comentados, está o do Estado laico, característica esta que na Europa ocidental, desde a superação das chagas do Holo-causto, propiciou um espectro mínimo de tolerância e respeito às minorias. Outra correlação importante é a de que, na Europa, o campo foi propício para que a crença do Estado laico e liberal se fundissem graças ao legado judaico-cristão que no Velho Mundo deixou marcas mais profundas do que em qualquer outro lugar; para Habermas, todas as religiões, em todos os lugares, deveriam se apropriar das bases normativas do Estado liberal, como foi feito na Europa, a fim de que se crie espaço para tolerância e se dê início à consagração de um contexto histórico de aceitação e convivência pacífica em vista das diferenças religiosas. Maiores detalhes das palavras do filósofo alemão In: HABERMAS. Religious tolerance – The pacemaker for cultural rights. Cambridge: Royal Institute of Philosophy Annual Lecture, p. 12.

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O poder constituinte da modernidade foi o responsável pela positivação da Con-stituição moderna. Suas bases se assentam nas verdades do modernismo constitucio-nal. Perguntamos: qual é a verdade para o poder constituinte europeu? Em qual poder constituinte se assentaria a Constituição Européia? Em resposta, tenha-se que a Carta para a Europa será induzida por um inédito poder constituinte que, por incidir sobre 27 Constituições e 27 Estados, trata-se de uma inovadora forma anômala de introdução de Constituição. Mas que tal forma, apesar de anômala, pode introduzir uma nova Con-stituição incidente sobre 27 ordenamentos tradicionais, como os europeus, disso não temos dúvida, uma vez que, se é verdade que uma Constituição serve para estruturar uma comunidade política e proclamar os Direitos Fundamentais, então nada impede que uma Constituição incida sobre uma comunidade política constituída por 27 territórios e estruture a UE proclamando conjuntamente os Direitos Fundamentais da União Européia. É justamente esta a pretensão do Tratado Constitucional para a UE: a de estruturá-la e de nela garantir os Direitos Fundamentais, razão por que a própria Carta de Direitos Fundamentais da União Européia esta sendo acoplada ao Tratado Constitucional.

Façamos o papel de “advogado do diabo” e desenvolvamos a autocrítica através de questionamentos que podem vir a ser objeto de dúvida. Nesta proposta, crítica 1: “O poder constituinte não pode ser exercido por meio de tratado internacional”; crítica 2: “27 povos não poderiam produzir um poder em latência, um poder constituinte suprana-cional, pois o poder constituinte só pode ser alavancado por um povo para estruturar um-só Estado e nele positivar uma-só Constituição”.

Acima, vemos autocríticas contra o poder constituinte para a feitura da Constitu-ição Européia. Para rebatê-las, a história, o DIP e o Direito Comunitário serão panos de fundo nos próximos parágrafos.

3. O TRATADO INTERNACIONAL COMO VEÍCULO INTRODUTOR DE NORMA CONSTITUCIONAL

As comunidades que foram se formando até chegarem à UE só se tornaram pos-síveis pelas disposições que os países inseriram nos tratados internacionais. E deles os povos tiveram ciência. Neles se espelham os consentimentos26 dos Estados para a formação do bloco. Os tratados internacionais foram as únicas vias para a comuni-tarização, uma vez que têm sido eles os instrumentos por meio dos quais os Estados manifestam os seus consentimentos. O DIP não tem oferecido nenhuma outra forma de negociação e de criação de norma internacional; muito menos o Direito Constitu-cional quando visto através de lentes clássicas que provocam “equívocos ópticos”.

26 O consentimento dos Estados é a base para que se considerem obrigados no DIP.

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Se uma norma é internacional é porque ela decorre de tratado, do costume, de princípios gerais e de decisões, mas principalmente do pacto internacional – nos dias atuais, ver-dade esta ainda mais relevante no caso da UE. Como superariam os Estados europeus as suas diferenças para criar as Comunidades? Só pelo tratado. Como se daria a instituição de um Direito supranacional, válido para todos os países europeus que foram se juntando e formando o bloco? Só pelo tratado. Como poderiam os Estados-membros da UE aceitar a jurisdição da CJCE (ou Tribunal de Justiça Europeu) e submeter os seus próprios or-denamentos aos regulamentos e diretivas? Só pelo tratado. Mesmo assim, em muitas ocasiões e em vários países, os tratados foram submetidos a parlamentos e referendos, fora o fato de terem sido postos em prática no cotidiano da vida de cada um dos cidadãos dos países do bloco. Três conclusões: (i) o tratado internacional foi o instrumento que deu impulso à construção da UE e do Direito Comunitário; (ii) nos Estados-membros da UE, em momentos distintos, mas por diversas vezes, houve consulta popular direta ou indireta; (iii) os europeus são minimamente cultos e bem informados, disto se podendo inferir que a comunitarização faz o gosto dos povos daquele espaço geográfico, uma vez que não se opuseram fortemente a nenhuma medida, decisão ou norma comunitária de impacto. Dessas três conclusões, só podemos abstrair que é desprovida de fundamento a crítica de que o povo pouco participou das decisões na UE. Tal crítica é verdadeira se considerarmos que não existe uma política européia representativa, na qual estejam presentes partidos políticos europeus. Mas a mesma crítica não terá fundamento e não poderá ser confirmada como verdadeira se considerarmos que, para um projeto comuni-tário, o instrumento deve ser necessariamente o DIP, sabendo que do DIP cuidam os gov-ernos. Mas ainda assim, mesmo sendo o DIP um instrumento normativo dos governos, na UE foi diferente, pois foi criado um verdadeiro Direito Comunitário que propiciou uma espécie de representação indireta dos povos dos Estados-membros na figura institucional do Parlamento Europeu, não se devendo esquecer, tampouco, que o Conselho Europeu, órgão de cúpula política da UE, é formado também por chefes de governo eleitos pelos povos europeus.

Um tratado internacional pode inserir num sistema nacional norma de estatura constitucional, e para uma realidade supranacional, até mesmo uma Constituição inteira. No caso de Estados vistos isoladamente, um pacto pode inserir norma constitucional quando dispuser sobre Direitos Humanos. Na Holanda, nem mesmo é necessário que o pacto seja de Direitos Humanos para que este mude a Carta. Os tratados internacionais de direitos humanos inauguraram um novo paradigma para a pós-modernidade: o da su-pranacionalidade, o que tem afetado fortemente as ordens constitucionais nacionais.

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4. ESTADO GLOBAL OU MUNDO SEM ESTADO

Mais uma concepção que poderíamos desenvolver acerca de um poder constitu-inte europeu (ou mundial) seria a seguinte: a Constituição moderna é fruto produzido pelo poder constituinte originário, que é um dogma da modernidade. Tudo isto leva ao Estado moderno, que talvez seja necessariamente um Estado nacional. Não sendo a UE um Estado nacional (raciocínio este que vale para a Comunidade Internacional, como um todo), e sem parecer que tem a pretensão de sê-lo, tratam-se então, na realidade, a EU e a própria Comunidade Mundial, de comunidades políticas em que se percebe o domínio das instituições comunitárias, das Organizações Internacionais, dos governos, das so-ciedades civis, de ONGs, da imprensa, dos sindicatos, dos poderes estatais clássicos, da comunidade que acessa a rede mundial de computadores, etc. Não seria, então, a comunidade européia um Estado, muito menos a Comunidade Internacional; logo, não necessitariam de um poder constituinte originário, pois esta foi uma abstração criada exclusivamente para dar conta da chegada da burguesia ao poder, com a Constituição e o Estado modernos. Portanto, no caso a União Européia, ainda seria ela uma entidade marcada pela supranacionalidade e em que não se encontram os mesmos pressupostos integrantes e justificadores do Estado nacional. Por isso, a UE seria uma espécie de projeto de Estado global, partido de uma realidade regional e a ela aplicável. Esta tese é absolutamente aceitável à medida que defende que a UE tem pressupostos próprios que não se enquadram na discussão sobre modelos de federação, de confederação27.

27 CANOTILHO. Direito Constitucional e teoria da Constituição, pp. 1.324/1.325: “Isto implica a análise do que chamamos reducionismo teórico. Não existe na Comunidade Europeia qualquer poder para legitimar a sua existência como ordem jurídica e para alterar ou alargar o seu âmbito de competências. É nisto que consiste a competência da competência. Compreende-se, por isso, que a ‘comunidade jurídica dos povos dos estados integrados na União Europeia’ não possa dispor quer da estatalidade quer da ordem constitucional dos estados-membros. Se é admissível um direito constitucional europeu já não o é um direito do estado europeu. Um poder de estado europeu neutralizaria o carácter supranacional da comunidade a favor de uma construção federal substancialmente revisora da ‘forma estadual’. Mas, por outro lado, o estado constitucional nacional tornou-se, no contexto da União Europeia, um estado constitucional cooperativo que, sem deixar de observar os padrões básicos do estado constitucional (soberania popular, divisão de poderes, garantia de direitos, primazia da constituição, superioridade da lei do parlamento), passou a incorporar competências normativas europeias. Embora a Comunidade não disponha da competência das competências, ela possui, por força dos actos conven-cionais e do acto global de supranacionalidade, do poder normativo de editar actos jurídicos dotados de eficácia imediata e vinculatividade igual à unitária nos países membros da Comunidade. (...) A complexidade política e jurídica criada pela comunidade jurídica dos povos dos estados integrados na União Europeia lança novos desafios à teoria da constituição. Esta terá agora de teorizar a ‘arte da forma supranacional’ e de fornecer suportes dogmáticos para a compreensão de uma nova ordem jurídica: (1) que cria direitos de aplicação preferente relativamente ao direito dos estados-membros e cujos destinatários (sujeitos de direito) são não apenas os estados mas também os cidadãos europeus; (2) que possui órgãos e poderes de decisão supranacionais (‘supranacionalismo decisório’); (3) que densifica o princípio constitucional comu-nitário da integração supranacional sem deixar de observar os princípios de estatalidade ou existência dos membros, da autonomia constitucional nacional e da identidade nacional dos membros europeus; (4) que articula a supranacionalidade normativa e decisória com a observância do princípio de atribuição específica de competências (e não de uma transferência global de competências dos estados para a ‘União’); (5) que está vinculada a princípios jurídico-materiais e a princípios de competência como os princípios jurídicos gerais incorporados em direitos fundamentais comuns aos estados membros, o princípio da subsidiariedade e o princípio da coesão social.”

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Talvez a expressão Estado global implique noutra mais radical: a de mundo sem Estado ou, ainda, a de um mundo em que o Direito das Relações Internacionais seria o elemento de validade de todas as outras ordens normativas28.

Aqui damos fim ao presente trabalho, opinando no sentido de ser possível a posi-tivação de uma Constituição para a União Européia e de uma Constituição para o Mundo, afirmação esta que traz consigo a conseqüência de aceitarmos que se exerça um poder constituinte europeu e de um poder constituinte supranacional mundial – neste caso a partir dos jus cogens representados pelos Direitos Humanos Fundamentais.

28 KELSEN. La naissance de l´État et la formation de sa nationalité: les principes; leur application au cas de la Tchécoslova-quie. In: LEBEN. Hans Kelsen: ecrits français de Droit International, p. 27: “(...) l’État doit être considéré comme une communauté juridique comprise avec d’autres États dans une communauté juridique supreme. Et l’ordre juridique capable de constater cette communauté juridique suprême ne peut être que le droit international.” E Hans Kelsen também em: ______. Teoria Geral do Direito e do Estado, pp. 547/548: “Uma vez que as ordens jurídicas nacionais derivam a sua vali-dade do Direito Internacional, elas devem ser consideradas inferiores à ordem jurídica do Estado que é pressuposto como soberano em primeiro lugar e que, portanto, é o único que pode ser pressuposto como tal. Essa ordem jurídica, através da mediação do Direito Internacional, que faz parte dela, abrange todas as outras ordens jurídicas nacionais ‘delegadas’ pela ordem jurídica internacional. Essas outras ordens jurídicas nacionais são, segundo o Direito Internacional, válidas ex-clusivamente para as suas esferas territoriais e pessoais específicas, e podem ser criadas e modificadas em conformidade com as suas próprias constituições. Mas o Direito Internacional, que garante aos outros Estados essa soberania relativa, tem – do ponto de vista dessa interpretação – o seu fundamento de validade na ordem jurídica nacional da qual procede a interpretação. Apenas essa ordem jurídica nacional que, no que diz respeito ao fundamento de validade, e não ao conteúdo de outras ordens jurídicas nacionais, se apresenta como a ordem jurídica universal, é soberania absoluta, ou seja, apenas esse Estado é soberano no sentido original do termo. A soberania de um Estado exclui a soberania de todos os outros Estados. Essa é uma conseqüência inevitável da teoria do reconhecimento baseada na hipótese da primazia do Direito nacional. A maioria dos expoentes desses pareceres, porém, não os desenvolve até as suas últimas conseqüências. Eles concebem o mundo do Direito como uma quantidade de ordens jurídicas nacionais isoladas, cada uma delas soberana e cada uma delas contendo o Direito Internacional como parte. Por motivos já explicados, esse pluralismo jurídico é logicamente impossível.” (grifos nossos)

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PARTE II

AFINAL O QUE É FLORESTA?Ozorio Jose de Menezes Fonseca........................................................................35

Introdução................................................................................................351.A Floresta como tema-problema..............................................................36Referências ............................................................................................47

A VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS BENS AMB IENTAISDaniel Antonio de Aquino Neto Cristiane Derani.................................................................................................49

Introdução................................................................................................501. Os clássicos econômicos e a economia ambiental......................................502. Thorstein Veblen e a economia institucional..............................................533.Valor e externalidades.............................................................................564. A classificação dos recursos...................................................................585. Pigou e a correção do mercado.............................................................. 596. A reação neoclássica: Coase...................................................................607. O problema dos bens comuns..................................................................628. A precificação dos bens ambientais..........................................................639. Valor e Direito.......................................................................................66Conclusão.................................................................................................67Referências...............................................................................................68

RELATÓRIO AMBIENTAL PRELIMINAR (RAP): ESTUDO DE CASO DO LOTEAMENTO GREEN VILLESerguei Aily Franco de Camargo / Paulo Roberto Moreira / Denison Melo de Aguiar

Introdução................................................................................................711. Objeto de licenciamento.........................................................................312. Justificativa do empreendimento.............................................................313. Caracterização do sítio do empreendimento.............................................314. Diagnóstico ambiental preliminar da área de influência...............................915. Identificação dos impactos ambientais...................................................1056. Medidas Mitigadoras...........................................................................110Referências.............................................................................................114

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O DIREITO AO LAZER E OS TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO - UMA PERSPECTIVA AMBIENTALThaísa Rodrigues Lustosa Sandro Nahmias Melo .....................................................................................117

Introdução .............................................................................................1181. Perspectiva Ambiental Trabalhista ........................................................1182. Antinomia jurídica pela teoria de Norberto Bobbio .............................. . . ..1213. Direito Fundamental ao Lazer ............................................................. . .1214. Turnos ininterruptos de revezamento ................................................ . . .1255. Direito ao lazer versus turnos ininterruptos de revezamento ............ . . . ...131Considerações Finais ...............................................................................131Referências ............................................................................................132

A ÁGUA DE CHUVA NO ORDENAMENTO JURÍDICO: A MUDANÇA DE PARADIGMA E AS PREVISÕES DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRADaniela Helena Brandão Caldeira

Introdução ..............................................................................................1351. A evolução das ciências, a mudança de paradigma e o direito ...................1362. A água e os seres vivos: a importância das chuvas no Brasil ....................1373 A gestão das águas no Brasil: enfoque jurídico ........................................1384. A Constituição Federal de 1988 e a nova ordem constitucional ................1425. O Direito das Águas e o tratamento legal das águas de chuva sob o prisma da unidade e completude do ordenamento jurídico ......................................... .145

Conclusões ............................................................................................148

Referências ...........................................................................................149

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AFINAL O QUE É FLORESTA?

Ozorio Jose de Menezes Fonseca*

Sumário: Introdução; 1. A Floresta como tema-problema; Referências

Resumo: A partir do conceito ambíguo e inconsistente do vocábulo floresta, este tex-to reflete sobre a necessidade de se reunir em um único código léxico-semântico as definições de palavras e expressões usadas nas questões ambientais. Considera, ainda, que a indispensável interdisciplinaridade inerente às questões ligadas ao meio ambiente, torna imprescindível a busca por essa convergência terminológica, como via e método de minimização das divergências, por vezes conflituosas, entre as ciências da natureza e as ciências humanas.

Abstract: From the inconsistent and ambiguous concept of the term forest, this text reflects about the importance to gather in a single code, lexical-semantic definitions of words and expressions used in environmental issues. It also considers that the necessary interdisciplinary issues inherent to the environment, necessitates the search for this convergence of terminology, as a way and method to minimize the differences, sometimes conflicting, between the natural and the humanities sciences.Thus, por from

INTRODUÇÃO

Muitas palavras e expressões usadas na terminologia ambiental têm significados sem exatidão científica, sem precisão lingüística, e muitas vezes totalmente equivocados, apesar do conceito (léxico, científico ou legal) ser o fundamento mais apropriado para identificar tanto o objeto e os processos naturais e antropogênicos como a natureza do ilícito contra a natureza.

Essa falta de precisão semântica gera controvérsias com vários graus de intensi-dade, razão pela qual se torna obrigatório para a ciência ambiental, que é essencialmente interdisciplinar, o uso de vocábulos e expressões que não permitam ambigüidades e que aproximem, ao máximo, a verdade real da verdade verbal. Isto significa que um conceito

* Professor Doutor do Programa de Mestrado em Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas.

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não pode ter e não ter certa característica (Brida, 2009), o que torna indispensável a formulação de enunciados que permaneçam verdadeiros em qualquer área do conheci-mento ligada ao meio ambiente.

O cenário de indefinições no corpus lingüístico das questões ambientais infere a necessidade de se configurar um glossário oficial de termos, um verdadeiro explicatio terminorum, como via e meio de evitar que conflitos (de idéias e interesses) e proces-sos (administrativos e judiciais) se alonguem, indefinidamente, por causa de divergências semânticas.

Nesse contexto, um dos conceitos mais ambíguos e inconsistentes é o de floresta, que tem recebido definições inúteis, superficiais e até mesmo prejudiciais à problemática ambiental, tanto no âmbito das ciências da vida como no espaço das ciências ligadas à vida.

1. A FLORESTA COMO TEMA-PROBLEMA.

Floresta é um sistema difícil de ser definido tendo, muitas vezes, sido confundido com o conceito de flora - conjunto de espécies vegetais de uma determinada região ou período geológico - um enunciado que aproxima, equivocadamente, floresta e flora que devem ser diferenciadas, pois flora é um sistema vegetal com várias fisionomias, uma das quais é a floresta.

Entre as definições incluídas na literatura jurídica, algumas merecem ser desta-cadas para evidenciar os equívocos e ambigüidades conceituais. Sodero (1979), por ex-emplo, define floresta como “uma vegetação cerrada, constituída de árvores de grande porte cobrindo grande extensão de terras” um caso típico de conceito circular, pois requer uma definição do que se entende por “vegetação cerrada”, “árvore de grande porte” e por “grande extensão de terras”.

Nessa mesma linha Hely Lopes Meireles, diz que floresta “é uma forma de vegeta-ção natural ou plantada constituída por um grande número de árvores, com mínimo de espaçamento entre si” (Meireles, 1995) uma formulação que além da circularidade ainda parece ter sido dirigida apenas para florestas plantadas onde as mudas ou sementes são inseridas no solo obedecendo a um determinado espaçamento.

Magalhães (2001) sugere que “talvez fique mais compreensível considerar as florestas como uma população de árvores de grande porte, naturais ou plantadas, local-izadas em determinado espaço territorial”, mas essa proposta não traz qualquer ajuda significativa, pois o termo população indica, em Ecologia, um conjunto de indivíduos da mesma espécie, o que remete o conceito deste autor para ser usado exclusivamente em florestas homogêneas.

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A Portaria nº 486 de 28/10/1986, do antigo Instituto Brasileiro de Desenvolvi-mento Florestal (IBDF) diz que “floresta é uma formação arbórea densa, de alto porte, que recobre área de terra mais ou menos extensa”, sendo esse outro exemplo de circu-laridade conceitual, pois necessita de definição dos termos e expressões que compõem a frase, como “densa”, “alto porte” “e mais ou menos extensa”.

A Lei 9.985 (18/07/2000) que regulamentou o artigo 225 da Constituição Federal e instituiu as Unidades de Conservação não formulou um conceito genérico de floresta, mas criou uma tipologia adjetivada - floresta nacional – definida como “uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas” (artigo 17º ).

Além de ser difícil entender o conceito redundante de floresta nacional já que a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, o Pantanal Matogrossense e a Zona Costeira, fazem parte do patrimônio nacional (§ 4º, artigo 225 da CF) a lei ainda dire-cionou os objetivos desse complexo ecossistema para a exploração dos recursos, deix-ando de reconhecer seu valor intrínseco que é muito diferente e mais importante do que valor de uso.

Com o passar do tempo acabou ficando evidente que essa tipologia redundante, serviu apenas como suporte legal para, seis anos depois, ser aprovada a Lei 11.284 (02/03/2006), que dispõe sobre gestão de florestas públicas e permite a exploração florestal por empresas privadas que só tem interesse no valor de uso das matas, não se importando, e talvez até negando seu valor de existência.1

Atualmente, as profundas divergências, no Senado Federal, sobre a MP 2166-67/2001, que reformula o Código Florestal (Lei 4771/1965 que inseriu a disciplina jurídi-ca das florestas do Brasil e foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988) mostram a falta de consenso sobre o conceito de floresta, um problema que, para Felipe (2003), poderia ser resolvido buscando uma definição fundamentada na linguagem técnico-cientí-fica ou, pelo menos, no entendimento gramatical da palavra.

Da linguagem científica emerge a definição dada por Odum (1988) que tipifica a floresta pluvial como um ecossistema altamente estratificado, com as árvores formando três estratos:

(1) árvores emergentes, muito altas e espalhadas que se projetam acima do nível geral do (2) estrato do dossel, que forma um tapete, contínuo sempre verde a uma altura de 25 a 30 metros, e (3) um estrato de sub-bosque, que se torna denso apenas onde há uma interrupção no dossel.

1 O sistema de manejo florestal por concessão à empresas privadas, muito similar ao instituído no Brasil pela Lei nº 11.284/2006 começou a sem implantado na metade do século 20 na Nigéria, Libéria, Costa do Marfim, Camarões, Gabão, República Centro Africana, República do Congo, Malásia, Indonésia, Filipinas, Camboja, Tailândia, Índia, Sri Lanka, Papua Nova Guine, Fiji, Nicarágua, Trinidad Tobago e Honduras. Em 2002 o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano calculado para 175 países mostrou que, entre as Nações que manejaram suas florestas, a melhor colocação cabia à Malásia, que ocupava o 55º lugar. (Higuchi, 2007).

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Do ponto de vista léxico-gramatical, os dois dicionários mais importantes do Bra-sil (Antonio Houaiss e Aurélio Buarque de Holanda Ferreira) definem floresta de formas diferentes. Para Houaiss (2009) floresta é um “denso conjunto de árvores que cobrem vasta extensão de terra”, um conceito vago e circular por ser difícil conceituar o que é “denso conjunto” e “vasta extensão”. Paralelamente, Ferreira (2004), registra floresta como um “ecossistema terrestre organizado em estratos superpostos (o musgoso, o herbáceo, o arbustivo e o arborescente) o que permite a utilização máxima da energia solar e a maior diversificação dos nichos ecológicos”, sendo esse um enunciado mais consistente que parece ter sido adaptado do conceito de Odum (op.cit).

A prodigalidade de conceitos do vocábulo floresta pode ser comprovada pela con-sulta aos dicionários técnicos e glossários ambientais, entre os quais: 1) o Dicionário Brasileiro de Ciências Ambientais (Lima e Silva et al., 1999) que define floresta de forma genérica como “região dominada por grande quantidade de árvores e sub-bosque” e qualifica alguns tipos adjetivando-os como “artificial”, “de encosta”, “ciliar”, “de inter-flúvio”, “estadual”, “nacional”, um conceito que estende a circularidade substantiva para as adjetivações; 2) o Dicionário Sócioambiental Brasileiro (Pizzatto e Pizzatto, 2009) onde o termo recebe 7 (sete) definições compiladas de legislações estaduais, federais, normas, portarias, glossários, livros, etc. 3) o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) que define a floresta amazônica como

um conjunto de tipologias florestais úmidas que revestem as terras baixas e encostas serranas da Bacia do Rio Amazonas e afluentes, compondo a maior parte da Região Norte do Brasil e países tropicais a leste das Cordilheira dos Andes (Pnuma, 1992).

Para fins práticos, florestas tropicais úmidas podem ser definidas como habitats relativamente fechados com a maioria das árvores sempre verdes, dotadas de folhas lar-gas (latifólios), que ocorrem em uma faixa do globo limitada pelos paralelos 30º ao norte e ao sul da linha do Equador, em todos os continentes, sustentadas por uma pluviosidade média anual superior a 1.500 mm/ano, com uma estação seca menor que seis meses, com esses dados objetivos podendo substituir alguns conceitos circulares como, p. ex., “pluviosidade média bastante elevada”.

Para a Amazônia que possui a maior floresta tropical úmida do planeta a necessi-dade de definir genericamente o substantivo floresta, parece imprescindível já que é a partir da contribuição das várias áreas do conhecimento que se pode equacionar e re-solver os graves problemas socioambientais ligados à questão florestal apontando formas de uso sustentáveis.

Evidentemente a formulação de um conceito genérico unificado não invalida as adjetivações necessárias que servem para tipificar esses biomas de acordo com suas car-acterísticas geográficas, ecológicas, florísticas, de relevo, etc., sendo um bom exemplo

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a identificação dos tipos florestais amazônicos identificados por Higuchi (1997) que são mostrados na Tabela 1.

Tabela 1. Área ocupada pelos principais tipos florestais e não florestais na Amazônia brasileira.

Fonte: Higuchi, 1997.

É nesses espaços amazônicos que ocorre a maior diversidade biológica – vegetal, animal e microrgânica – do planeta, com a flora representada por mais de 300 espécies de árvores por hectare com diâmetro a altura do peito (DAP) maior que 10 centímetros. (Ribeiro et al., 1999).

É por isso que, ao contrário do que diz o artigo 17 da Lei 9.985, uma floresta (incluída ou não na categoria de Flona), não pode ter como “objetivo básico” apenas “o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais” porque ela também executa serviços ambientais que podem ser reduzidos ou eliminados com a exploração, seja ela susten-

Tipos florestais e não florestais Área(km2)

A. Florestas de terra-firme 3.543.000 1- Florestas densas 3.303.000 2- Florestas densas com lianas 100.000 3- Florestas abertas com bambu 85.000 4- Florestas de encosta 10.000 5- Campina alta ou campinarana 30.000 6- Florestas secas 15.000B. Outros tipos de floresta 105.000 7. Florestas de várzea 55.000 8. Florestas de igapó 15.000 9. Florestas de mangue 1.000 10. Campinas 34.000Subtotal de áreas florestais 3.648.000 11. Campos de várzea 5.000 12 Campos de terra-firme 150.000 13. Vegetação serrana 26.000 14. Vegetação de restinga 1.000 15. Vegetação hidróbia 100.000Subtotal de áreas não florestais 292.000Total da bacia amazônica 3.940.000

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tável ou não paralelamente, não se pode deixar de refletir e normatizar as florestas secundárias (capoeiras) porque elas, em seus vários estágios de regeneração natural abrigam vários processos de enorme relevância científica e mesológica entre os quais: 1) a biologia e fisiologia das plantas invasoras e precursoras; 2) o pouco estudado processo de sucessão e co-evolução espacial e temporal das espécies biológicas; 3) a intensa atividade fotossintética que promove um seqüestro de carbono bastante significativo, como mostra a Tabela 2.

Tabela 2. Abundância, riqueza, área basal e biomassa, por hectare, dos indivíduos, com DAP >5 centímetros, em floresta primária densa, e capoeira de 5, 10 e 20 anos. Município de Peixe-Boi, Pará.

Fonte: Salomão, Nepstad e Vieira, 1998.

Apesar da importância desses biomas para a regeneração florestal, a norma brasileira melhor estruturada para esses ecossistemas é a Resolução Conama nº 33 (07/12/1994) que, mesmo sendo direcionada para a Mata Atlântica do Rio Grande do Sul, contem definições perfeitamente aplicáveis ao sistema amazônico.

As capoeiras amazônicas, em sua quase totalidade, são fruto do desflorestamento cujo acirramento começou no início nos anos de 1970, como decorrência dos grandes projetos de governo, destacando-se as aberturas de fazendas, projetos de mineração e a construção de grandes rodovias2 como Transamazônica, Belém-Brasília, Cuiabá-Porto Velho e Cuiabá-Santarém que se transformaram em vias de penetração humana e ocu-pação desordenada do território, causando, até 2008, uma perda de 732.053 km2 de cobertura florestal equivalentes a 14,38% da Amazônia Legal.

Parâmetro Floresta primária Densa

Capoeira 5 anos 10 anos 20 anos

Abundância (nº ind./ha.) 1.155 1.096 1.880 1.612 Riqueza (nº esp. /ha) 316 39 61 82 DAP médio (cm) 21,7 6,5 8,0 10,3 Altura média (m) 14,9 7,3 9,5 10,8 Área basal (m3/ha.) 26,0 4,0 10,9 17,5

Biomassa - aérea (t/ha.) 265,7 13,1 43,9 8 0,5 - média por árvore (t/ha.) 0,570 0,012 0,023 0,050 - maior estimativa individual (t/ha.)

24,8 0,071 0 ,279 0,657

2 As estradas, na Amazônia substituíram o modelo de ocupação rio-várzea-floresta pelo sistema estrada/terra-firme/recursos minerais (Gonçalves, 2005).

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Para fins comparativos pode-se dizer que essa área desmatada é maior que a soma das áreas territoriais de sete dos nove Estados do Nordeste (PI, CE, RN, PB, PE, AL, e SE), e é maior do que o somatório dos territórios da Áustria (83.870 km2), Bél-gica (30.528 km2), Dinamarca (43.094 km2), Grécia (131.940 km2), Holanda (41.526 km2), Luxemburgo (2.586 km2), Montenegro (13.812 km2), Portugal (92.391 km2), Reino Unido (244.820 km2) e Suíça (41.290 km2).

Esse processo de destruição da cobertura vegetal atingiu os seguintes percen-tuais nos nove Estados da Amazônia Legal: Acre (12,77%), Amapá (2,18%), Amazonas (2,24%), Maranhão (33,22%), Mato Grosso (22,13%), Pará (19,90%), Rondônia (33,42%), Roraima (3,66%) e Tocantins (10,10%).

Os dados algarismados, embora sejam alarmantes e inaceitáveis, não chegam a refletir toda a magnitude dos prejuízos (não contabilizados) de natureza ambiental, ecológica, social, política, cultural, biológica e genética decorrentes dessa ação devas-tadora que além dos problemas de fundo associados à pobreza e à exclusão social de um lado e à usura e a insensibilidade dos agentes econômicos de outro, ainda provocam lesões definitivas no capital natural do Planeta.

Outro tema associado é o que se refere aos Fragmentos Florestais. Do ponto de vista léxico fragmento é “resto de uma coisa que se perdeu ou foi destruída” (Houaiss, 2009), ou é “a parte que resta de qualquer preciosidade” (Ferreira, 1992). Cientifica-mente eles podem ser definidos como áreas isoladas de vegetação nativa contínua, cuja fragmentação tem origem antrópica (desflorestamento, abertura de estradas, agronegó-cio, etc.) ou natural (topografia, tipo e umidade do solo, etc.). Seja qual for a causa é evidente que a fragmentação reduz e isola manchas de áreas naturais causando perda de biodiversidade, de integridade e sustentabilidade ecológica e de potencial biotecnológico (Pizzato e Pizzato, 20009).

Um conceito bem estruturado de fragmento florestal urbano foi inserido no Código Municipal Ambiental do Município de Niteroi (RJ) – Lei nº 2.602 de 14/10/2008 – que o define como “áreas remanescentes de vegetação nativa e/ou exótica, situadas dentro do perímetro urbano do município, em propriedade pública ou privada, que desempenham um papel na manutenção da qualidade do meio ambiente urbano”.

Na Amazônia, a quantidade de porções isoladas de mata nativa, com tamanho e geometria variada, tem crescido bastante e seu incremento é decorrente de ações antrópicas que derrubam florestas deixando fragmentos de difícil preservação.

A fragmentação florestal de origem antrópica é um problema decorrente não apenas da ação ilegal dos proprietários rurais, mas também das normas da antiga SPVEA e de sua sucessora, a SUDAM (depois ADA, depois SUDAM, de novo) que obrigavam os proprietários rurais que tinham projetos financiados pela Agência, a manterem intactos, 50% da cobertura vegetal nativa de suas propriedades. O grande problema é que a norma não proibia a venda da parte preservada que era vendida a outro proprietário

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legalmente autorizado a derrubar 50% e vender a outra metade e assim sucessivamente. Esse procedimento originou fragmentos cada vez menores onde a dinâmica florestal foi sendo profundamente alterada, especialmente naqueles de menor tamanho onde o efeito de borda incrementa as taxas de morte e dano, na faixa de 100 metros a partir do limite externo.

Os primeiros estudos sobre fragmentos florestais na Amazônia foram realizados sob o foco da Teoria da Biogeografia de Ilhas3 dentro de um projeto implantado no INPA em 1979, através de convênio com a Smithsonian Institution e que buscava definir o tamanho mínimo de fragmentos florestais. Anos mais tarde o projeto recebeu nova de-nominação - Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais (PDBFF) - voltando-se para avaliação dos impactos humanos na Amazônia sendo, graças à importância e densidade dos resultados, alçado à condição de referência internacional, fato que levou o governo brasileiro a editar o Decreto nº 91.884 de 05 de outubro de 1985, reconhecendo como “área de relevante interesse ecológico” (ARIE) as porções de terras de vários ecossiste-mas localizados no Estado do Amazonas que integram o Projeto.

Ramos (2005), com base nos levantamentos feitos na literatura jurídica e ecológi-ca, dividiu os fragmentos em dois tipos: os pequenos com área inferior a 100 hectares e os grandes com área superior a 1.000 hectares, embora registre a informação de que, para o PDBFF, o tamanho mínimo aceitável seja de 1 hectare.

Além dessas questões de fundo teórico ainda resta o problema da localiza-ção do fragmento que pode ser rural ou urbano. Tanto o Código Florestal (Lei 4.771 de 15/09/1965) em seu artigo 2º § Único, como o Código Tributário (Lei 5.172 de 25/10/1966) remetem essa definição para Leis Municipais, com esse último ato indican-do que a opção rural deve se enquadrar em certos critérios objetivos (artigo 32º § 1º,) e subjetivos (art. 32º § 2º )4. É importante observar, contudo, que para as Prefeituras é mais vantajoso incluir os espaços municipais na categoria de urbano porque o Imposto Predial e Territorial Urbano permite uma arrecadação maior do que a advinda do Imposto Territorial Rural.

3 A teoria de biogeografia de ilhas - proposta por Macarthur e Wilson (1967) - descreve as relações entre as taxas de imigração e extinção de espécies nas ilhas. Em termos práticos essa teoria pode conter propostas relacionadas ao tamanho crítico bem como à forma das áreas de conservação. Essa é uma abordagem altamente relevante para a conser-vação de comunidades bióticas, pois fragmentação e isolamento têm implicações ecológicas e genéticas, entre as quais a extinção de espécies, a perda de heterogeneidade de habitats, o incremento de espécies invasoras, o risco de cruzamento consangüíneo que provoca uma exacerbação dos genes recessivos, e uma menor variabilidade genética nas populações isoladas (Gascon, Lawrence e Lovejoy, 2001).4 O parágrafo 2º do artigo 32 da Lei 5.172/66 estabelece os seguintes critérios objetivos: I. Meio fio ou calçamento com canalização de águas pluviais; II. Sistema de abastecimento de água; III. Sistema de esgotos sanitários; IV. Rede de ilumi-nação pública com ou sem posteamento para distribuição domiciliar; V. escola primária ou posto de saúde a uma distância média de três quilômetros do imóvel considerado. Já o § 2º do mesmo artigo inclui critérios de grande subjetividade como: “a Lei municipal pode considerar área urbana as áreas urbanizáveis ou de expansão urbana”, abrindo a possibilidade, em Manaus, de se eliminar parte da Reserva Ducke incluída em zona de expansão urbana de acordo com o Plano Diretor da Cidade de Manaus (Lei Municipal 671/2002).

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No Município de Manaus podem ser identificados os seguintes fragmentos flo-restais urbanos: 1) Centro de Instruções de Guerra na Selva (CIGS) com 3 hectares; 2) Bosque da Ciência (INPA) com 13 hectares; 3) Aeroporto da Base Aérea de Manaus (Ponta Pelada) com 194 hectares; 4). Aeroporto Internacional Eduardo Gomes com 326 hectares; 5). Campus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) com 316 hectares; 6). Reserva Florestal Adolpho Ducke com 10.000 hectares.

Sobre esse último fragmento, é preciso ressaltar que a Lei Municipal nº 671 de 04/11/2002 que regulamentou o Plano Diretor de Manaus, insere a Reserva Ducke em uma Unidade Espacial de Transição (art. 59, § 1º, II) e em uma Macrounidade Urbana (art. 60 § 2º, VI) estando previsto, para esses espaços, a implantação de projetos habi-tacionais para estabelecer uma “integração à área urbana”. Esses direcionamentos do Plano Diretor que foram redigidos apenas com objetivos político-eleitorais, associados aos critérios subjetivos inseridos no artigo 32 § 2º da Lei 5.172/66, permitem vaticinar que, nos próximos anos, haverá uma expressiva diminuição da maior área preservada de mata primária (sub)urbana da Amazônia.

Um importante avanço legal em benefício da preservação do ecossistema florestal foi a edição da Lei Federal nº 9.985 (18/07/2000), que regulamentou os incisos I, II, III e IV do § 1º, do artigo 225 da Constituição Federal, instituindo os Corredores Ecológicos5, que foram assim definidos:

Art. 2º Para efeito desta Lei entende-se por:[...] XIX – Corredores Ecológicos: porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação que possibilitem entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão das espé-cies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam, para sua sobrevivência, de áreas com exten-são maior do que aquela das unidades individuais.

É evidente que se essa determinação for obedecida os remanescentes florestais terão sua integridade biótica bastante protegida, embora se deva reconhecer a dificuldade ou mesmo a impossibilidade de estabelecer corredores florestais nas áreas urbanas.

Outro preceito legal de proteção florestal da Amazônia foi inserido no artigo 16º, I, da Medida Provisória 2.166-67 (24/08/2001) que altera, entre outros, o artigo 16º do Código Florestal Brasileiro (Lei 4.771 – 15/09/1965) estabelecendo a manutenção de, no “mínimo, 80% de floresta ou outras formas de vegetação nativa em propriedades rurais situadas em área de floresta localizada na Amazônia Legal (artigo 16, I), e 35% no cerrado da mesma região” (artigo 16, II).

5 Esse assunto foi exaustivamente debatido por vários especialistas no livro “Os corredores ecológicos das florestas tropicais do Brasil” (Ayres, et al., 2005) que constitui uma obra de leitura obrigatória sobre esse tema.

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Essa MP recebe forte oposição dos proprietários rurais que, através de seus órgãos de classe e de seus representantes no Congresso Nacional tentam, não apenas reduzir esses percentuais, como também retirar da Amazônia Legal os Estados de Tocan-tins (que foi parte de Goiás), Mato Grosso e Maranhão. O bizarro desse posicionamento é que foram exatamente os representantes desses Estados, não amazônicos, que de-ram apoio à aprovação da Lei 1.806 de 06/01/1953 que regulamentou o artigo 199 da Constituição Federal de 1946 e instituiu a Amazônia Legal, condicionando esse apoio à inclusão de seus Estados nessa região destinada a receber 3% da renda tributária do Brasil, dos Estados, dos Territórios e dos Municípios nela inseridos.

É evidente que a preservação de 80% da área com cobertura florestal, constitui um passo importante para a preservação do ecossistema florestal, desde que os proprie-tários sejam obrigados a unir suas áreas preservadas formando corredores ecológicos.

Um breve resgate histórico sobre as causas do desflorestamento mostra que, além da motivação econômica, a derrubada de florestas recebeu um lamentável incentivo da Federal Agriculture Organization (FAO) que, em uma Resolução de 1960, definiu flo-restas como “fontes de madeira industrial”. Só nos anos de 1990 é que esse organismo internacional, pressionado pelos movimentos ambientalistas, passou a reconhecer outras finalidades para as florestas, incluindo não apenas o fornecimento de produtos, mas in-corporando a idéia dos serviços decorrentes da sua manutenção, os quais hoje, no Brasil, são entendidos como bens públicos.

Para modificar os velhos e encontrar novos conceitos a FAO realizou eventos internacionais destacando-se, pelos resultados objetivos, o 3nd Meeting on Harmoniz-ing Forest-related definitions for use by various stakeholders6 (Roma, 17-19/01/2005) que contou com a participação da própria FAO e de organismos internacionais ligados ao setor madeireiro (CIFOR, IPECC, ITTO, IUFRO e UNEP)7 onde foram estabelecidas algumas definições que são a seguir transcritas, na versão original, para evitar distorções de tradução.

FOREST - Land spanning more than 0.5 hectares with trees higher than 5 meters and a canopy cover of more than 10 percent or trees able to reach thresholds in situ. It does not include land that is predominantly under agriculture or urban land use. NATURAL FOREST – Forest stand composed predominantly of native tree species established naturally. This can include assisted natural regenera-tion, excluding stands that are visibly offspring/descendants of planted trees.

6 Stakeholders foi um termo criado para designar todas as pessoas que podem ser influenciadas pela ação de uma organiza-ção (Goldshmidt, s.d.). Podem também ser definidos como todas as partes relevantes, interessadas em situações onde há conflitos inerentes. No caso dos recursos hídricos, p.ex., as prioridades de uma bacia hidrográfica são determinadas por um Conselho de Recursos Hídricos do qual participam todos os stakeholders relevantes.7 FAO = Food and Agriculture Organization; CIFOR = Center for International Forest Research; IPCC = Intergovernamen-tal Panel on Climate Change; ITTO = International Tropical Timber Organization; IUFRO = International Union of Forest Research Organization; UNEP = United Nations Environment Programme.

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PLANTED FOREST – Forest stand in which trees have predominantly been established by planting, deliberate seeding or coppicing, where the coppic-ing is of previous planted trees.FOREST PLANTATION – Forest stand in which trees have been established by planting and/or deliberate seeding or coppicing (of previous planted trees) with either native species or non-native species that meet all the following criteria: * one or two or a few species; * Even-aged; * Regular spacing.TREES OUTSIDE FOREST – Trees on land not defined as forest or other wooded land. Notes: * Isolated and grouped trees; * Rural or urban ar-eas;FOREST MANAGEMENT – The formal or informal process of planning and implementing practices aimed at fulfilling relevant environmental, eco-nomic, social and/or cultural functions of the forest and meeting defined objectives.BIOMASS - organic material both above-ground and below-ground, and both living and dead, e.g. trees, crops, grasses, tree liter, roots etc. Bio-mass includes the pool definition for above - and below - ground biomass.ABOVE-GROUND BIOMASS. – All living biomass above the soil including stem, stump, branches, seeds, and foliage.BELOW-GROUND BIOMASS. – All living biomass of live roots. Fine roots of less than (suggested) 2 mm diameter are sometimes excluded because these often cannot be distinguished empirically from soil organic matter or litter.DEAD WOOD BIOMASS – All non-living woody biomass not contained in the litter, either standing, lying on the ground, or in the soil. Dead wood includes wood lying on the surface, dead roots, and stumps larger than or equal to 10 cm in diameter or any other diameter used by the country.CARBON STOCK – The quantity of carbon in a “pool”, meaning a reservoir or system which has the capacity to accumulate or release carbon. (Fao, 2005).

Parece claro que a falta de uma unificação dos conceitos relacionados à questão florestal (e ambiental) no Brasil sinaliza a urgente configuração de um Pacto Léxico-Semântico (Glossário de termos ou ExplicatioTerminorum), no qual o significado das pa-lavras e expressões que dão nome aos fatos e fenômenos ecológicos e ambientais seja aceito pelas ciências naturais e humanas para que as pendengas administrativas e judici-ais não se alonguem ou se percam na contradição conceitual.

Essa tarefa pode ter sido facilitada, nacionalmente, pela edição das obras publi-cadas por Krieger et al (1998), Lima e Silva et al., (1999) e Pizzato e Pizzato (2009) que reúnem conceitos científicos, léxicos e legais que podem servir como embriões desse acordo necessário. No plano internacional aparecem, com grande embasamento social, econômico, cultural, ambiental e científico, os conceitos configurados com a intervenção da FAO (op.cit.) e que foram acima transcritos.

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Por tudo isso, parece necessário e urgente refletir sobre a incorporação desses enunciados em um Dicionário Terminológico Ambiental Brasileiro, tanto pela conveniência de convergir conceitos para a essencial interdisciplinaridade, como pela necessidade legal de subtrair os equívocos conceituais, pois disse Alexandre Kiss no se puede proteger um concepto abstracto y mal definido. (Kiss, 1966 , apud Márquez, 2003).

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A VALORAÇÃO ECONÔMICA DOS BENS AMBIENTAIS

Daniel Antonio de Aquino Neto*Cristiane Derani **

Sumário: Introdução1. Os clássicos econômicos e a economia ambiental; 2. Thorstein Veblen e a economia institucional; 3.Valor e externalidades; 4. A classificação dos recur-sos; 5. Pigou e a correção do mercado; 6. A reação neoclássica: Coase; 7. O problema dos bens comuns; 8. A precificação dos bens ambientais; 9. Valor e Direito; Conclusão; Referências.

Resumo: O artigo trata da questão da valoração dos bens ambientais. Sua abordagem inicia-se pelos textos clássicos em Economia, daí seguindo para a teoria econômica in-stitucional e o problema das externalidades e dos bens comuns, encerrando-se com a exposição de métodos contábeis de precificação ambiental.Palavras-chave: Bens Ambientais; Valor; Preço, Externalidades; Bens Comuns.

Abstract: The article concerns about the matter of valuing environmental goods. Its approach begins by the classic texts in Economics, from there towards to institutional economics theory and the matter of externalities and common goods, finishing with the exposition of accountabilities methods for environmental pricing.

Keywords: Environmental Goods; Value; Price; Externalities; Common Goods.

* Mestrando em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas. Professor de Teoria Geral do Direito, Direito Empresarial e Direito do Consumidor na mesma instituição.** Livre-docente em Direito Econômico pela Universidade de São Paulo. Professora Doutora do Programa de Pós-Gradua-ção em Direito Ambiental da Universidade do Amazonas.

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INTRODUÇÃO

A discussão sobre a idéia de valor é antiquíssima. Encontramo-la na Idade Antiga, nos textos sacros e nos textos clássicos. Aristóteles fez – ainda no século IV a.C. - a distinção entre valor de uso e valor de troca, mas não conseguiu ir muito além disto. Na Idade Média temos o pensamento de São Tomás de Aquino, que insistia na idéia de um preço justo, porém admitia ser incapaz de precisá-lo. Em plena Idade Moderna tivemos a Escola de Salamanca na Espanha do século XVI e XVII, que anteciparia com séculos de antecedência a teoria marginalista1.

O presente artigo pretende discutir a idéia de valor na teoria econômica de ma-neira a expor satisfatoriamente o problema da valoração dos bens ambientais, firmando ao final a relação de tal problema com o Direito.

1. OS CLÁSSICOS ECONÔMICOS E A ECONOMIA AMBIENTAL

Em Economia, os principais textos clássicos são os de Adam Smith2, David Ri-cardo3, Karl Marx4 e Alfred Marsahll5, principalmente. O que deles podemos extrair para a valoração de bens ambientais?

A diferenciação entre valor de uso e valor de troca é absolutamente fundamental na valoração de bens ambientais. Uma vez que tais bens necessitam de valoração cuja dinâmica transcenda a valoração de mercado, a determinação da utilidade intrínseca terá que ser posta na mesa para contrabalançar a valoração de mercado. O grande problema é que os elementos para aferição do valor de uso não foram mostrados em abundância. Smith aponta o trabalho como medidor essencial. Marx levará isto a cabo. Será isto válido em se tratando de bens ambientais?

Em primeiro lugar, as teorias de valor que vão de Smith a Marx contêm um prob-lema na análise de recursos naturais. Ao considerarem o trabalho como fator funda-mental de produção, elas excluem os bens in natura ainda não extraídos do mercado. O próprio MARX diz explicitamente que:

1 A Escola de Salamanca é um fenômeno dos estudos econômicos que – pelo menos no Brasil – não parece ter sido abor-dada com suficiente afinco. Durante El Siglo d’Oro espanhol, que vai da metade do século XVI à metade do século XVII, sacerdotes jesuítas montaram o arcabouço teórico do que viria a ser a Escola Liberal Austríaca (ainda mais liberal do que a Escola de Chicago) da Era Contemporânea. Karl Menger, em seu Princípios da Economia Política (1871), cita os escolás-ticos de Salamanca. Por que esta corrente de pensamento permaneceu oculta? Uma explicação seria o decreto de Filpe II impedindo espanhóis de estudarem ou lecionarem em universidades estrangeiras (Cf. Filipe da Espanha de Henry Kamen).2 A Riqueza das Nações.3 Princípios da Economia Política e da Tributação.4 O Capital.5 Princípios de Economia.

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A thing can be a use-value, without having value. This is the case whenever its utility to man is not due to labour. Such are air, virgin soil, natural meadows, &c. A thing can be useful, and the product of human labour, without being a commodity. Whoever directly satisfies his wants with the produce of his own labour, creates, indeed, use-values, but not commodities. In order to produce the latter, he must not only produce use-values, but use-values for others, social use-values. Lastly, nothing can have value, without being an object of utility. If the thing is useless, so is the labour contained in it; the labour does not count as labour, and therefore creates no value 6.

Isto gera uma séria dificuldade para se analisar a valoração dos bens ambientais. Aqueles que ainda estão no “estado bruto da natureza”, ou seja, ainda não foram tocados pelo trabalho humano, ficam fora de uma análise que apenas considera a riqueza como fruto do trabalho.

A teoria marxista da alienação deixa claro que a mercadoria é vista separada das relações sociais que lhe deram origem, todavia a própria teoria marxista incorre numa falha ao tratar do trabalho como o ponto de partida da riqueza, alienando por sua vez os recursos in natura. MARX reclama do fato de que as relações sociais que deram origem à mercadoria são ignoradas pelo comprador. Também se pode reclamar que o papel dos recursos naturais é alienado na teoria do valor trabalho.

Ironicamente, a teoria marxista, a despeito de criticar a alienação pelo fetichismo da mercadoria, também incorre numa falha semelhante. Se Marx aponta a alienação das relações de mercado em relação ao trabalho, a insistência da origem da riqueza no tra-balho aliena a perspectiva da “produção natural”, ou seja, dos derivados da terra ainda não extraídos. Justifique-se em favor de Marx que: a) a idéia do fundamento da riqueza repousar no trabalho não é dele; b) seria pedir demais de Marx uma análise levando em conta preocupações do século XX, vez que ele era um homem do século XIX e deve ser entendido dentro das limitações de seu tempo, com uma visão mecanicista da natureza, enxergando a tecnologia aplicada como um deus ex machina.

Ricardo relativiza do valor do trabalho na criação de riqueza, lembrando que há outros fatores de produção, mas quais exatamente seriam? Ricardo não é claro sobre isto. Estes demais fatores de produção (capital e trabalho) só seriam explicitados por Jean-Baptiste Say décadas depois.

6 Capital, Parte I, Capítulo I. Fonte: econlib.org. (não é possível a citação de página, pois a reprodução on line é em texto corrido, como sói ocorrer com todas as reproduções do site econlib.org). Consultado em 04/07/2009, às 23:19 h.

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Com Marshall, a teoria da utilidade nos dá uma pista mais consistente. Ela é bastante válida para estudar o problema dos bens ambientais que, embora dotados de imenso valor de uso, ainda têm baixo valor de troca, como ar e água limpa. Por que isso? Por que tais bens sempre foram historicamente abundantes. Por que isto está mudando agora? Por que há inúmeras projeções de que água e ar limpos são hoje em dia menos abundantes do que eram (principalmente se levarmos em conta a relação per capita, em função do aumento populacional). Os teoremas do valor, por sua vez, nos remetem ao fator custo/benefício, também sempre presente na análise ambiental.

O teorema da utilidade também nos aponta um caminho interessante para difer-enciar valor de uso de valor de troca. Alfred MARSHALL diz que:

Again, just as the demand of the rich for peas is considerable even at a very high price, but loses all elasticity at a price that is still high relatively to the consumption of the poor; so the demand of the individual for water to drink is considerable even at a very high price, but loses all elasticity at a price that is still high relatively to his demand for it for the purpose of cleaning up the house. And as the aggregate of a number of demands on the part of different classes of people for peas retains elasticity over a larger range of price than will that of any one individual, so the demand of an individual for drink for many uses retains elasticity over a larger range of prices than his demand for it for any one use 7

César das NEVES assim explica a idéia:

Se uma pessoa só tem um copo de água vai naturalmente fazer com ele o que mais precisa: beber. Assim, a necessidade a satis-fazer primeiro é mais premente elevada. Deste modo, se essa pes-soa vier a obter um segundo copo de água a necessidade que será satisfeita a seguir será menos importante do que a anterior 8

O primeiro copo d’água bebido terá então valor de uso. Assim como o segundo ou terceiro, dependendo da sede. Todavia, na medida em que mais água for disponibilizada com o tempo, chegará um ponto em que a sede estará saciada, bem com as reservas para consumo próprio futuro, chegando o momento em que o bem quase que fatalmente cairá no mercado, assumindo valor de troca.

7 Principles of Economics, Livro III, Capítulo IV. Fonte: econlib.org. Consultado em 05/07/2009, às 00:20 h.8 O que é Economia, apud LOURENÇO, Rui Pedro et. al. In A Base Teórica da Economia. Instituto Politécnico de Coimbra – Instituto Superior de Engenharia – Departamento de Engenharia Civil. Fonte: prof.santana-e-silva.pt/economia_e_gestao/trabalhos_06_07/word/A%20base%20te%C3%B3rica%.20da%20 economia.pdf. Consultado em 05/07/2009, às 00:33 h.

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Daí seguimos para a lei da oferta e da procura. Bens ambientais – que estejam no mercado – sujeitam-se a tal norma, tão forte que chega a mutilar o valor de uso do bem. Isto explica diversas incongruências. A abundância histórica na oferta de água fez dela – como regra – um bem de baixo ou mesmo nulo valor de troca. Na verdade a teoria da utilidade marginal é o terceiro termo que permite conjugar o valor de uso com a lei da oferta e da procura.

Por fim, Marshall não ignora os custos de produção como elementos formadores dos preços, porém deixa claro que ele necessariamente irá interagir com os outros dois. Eis então a fórmula para valoração dos bens: utilidade marginal+lei da oferta e da procura+custos de produção (terra, capital e trabalho).

O que temos parece pouco? Ledo engano. A lei de rendimentos decrescentes e a Escola Marginalista forneceram as bases para a Economia do Bem-Estar e os teoremas sobre externalidades que estudaremos a seguir, bem como a contestação à utilidade marginal que pariu a Economia Institucional.

2. THORSTEIN VEBLEN E A ECONOMIA INSTITUCIONAL

Tão importante quanto pouco conhecido fora de seu país, o norte-americano de origem dinamarquesa Thorstein Veblen (1857-1929) foi um produto de seu ambiente e seu tempo. Criado numa austera família nórdica dentro de um rigoroso luteranismo, a típica ética do imigrante (trabalho duro e estudo), bem como uma aversão notada-mente calvinista aos aspectos mundanos da vida. Ao mesmo tempo foi contemporâneo do período de crescimento econômico que tornou os Estados Unidos o país mais pujante do planeta, bem como um crescimento da oferta de bens de consumo sem precedentes. Veblen criou expressões como “consumo conspícuo”, ou seja, uma orgia de consumo for-mada por uma prosperidade de bases reais, porém que aos poucos se descolava dessas mesmas bases para assumir um caráter de insustentabilidade a longo prazo, que poderia degenerar em crise. Outras expressões suas também entraram no linguajar social, tais como “emulação pecuniária” e “ócio conspícuo”. Embora ele tratasse de uma insustent-abilidade econômica, os fundamentos de seu pensamento também podem ser aplicados no plano ambiental, antecipando em décadas a idéia de desenvolvimento sustentável.

De onde ele derivou tais idéias? O núcleo está nas objeções que Veblen fazia à teo-ria marginalista. Nossa fonte de pesquisa aqui será o artigo The Limitations of Marginal Utility9. Como já dito, o Marginalismo estipulava que a valoração de uma mercadoria varia de acordo com a unidade excedente a ser consumida. O primeiro pedaço de pão para o faminto teria um valor imenso. O segundo um pouco menos. O terceiro menos ainda...

9 VEBLEN in Journal of Political Economy, vol. 17, 1909. Fonte: Website da Universidade McMaster (http:// socserv2.socsci.mcmaster.ca/~econ/ugcm/3ll3/veblen/margutil.txt). Consultado em 08/07/2009, às 22:42 h.

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até chegar a um ponto em que a pessoa estaria tão saciada e abastecida que mais pão lhe teria pouco valor. Veblen diz que a teoria do valor com base em unidade excedente é uma descrição e não uma explicação, além de se ocupar apenas do ajuste valorativo numa situação x, sem ser capaz de elaborar uma teoria causal, mas apenas finalística:

Within this limited range marginal utility theory is of a wholly statical character. It offers no theory of a movement of any kind, being occupied with the adjustment of values to a given situation. Of this, again, no more convincing illustration need be had than is afforded by the work of Mr. Clark, which is not excelled in point of earnestness, perseverance, or in-sight. For all their use of the term “dynamic”, neither Mr. Clark nor any of his associates in this line of research have yet contributed anything at all appreciable to a theory of genesis, growth,sequence, change, process, or the like, in economic life. They have had something to say as to the bear-ing which given economic changes, accepted as premises, may have on economic valuation, and so on distribution; but as to the causes of change or the unfolding sequence of the phenomena of economic life they have had nothing to say hitherto; nor can they, since their theory is not drawn in causal terms but in terms of teleology10.

A segunda crítica é que o Marginalismo trabalharia com postulados de racionali-dade na valoração dos bens:

Such a theory can take account of conduct only in so far as it is rational conduct, guided by deliberate and exhaustively intelligent choice – wise adaption to the demands of the main chance11.

Isto para Veblen era absolutamente incorreto. A irracionalidade também é um elemento na valoração subjetiva que não pode ser desconsiderado12, bem como fatores culturais influenciam na valoração de coisas:

The cultural elements involved in the theoretical scheme, elements that are of the nature of institutions, human relations governed by use and wont in whatever kind and connection, are not subject to inquiry but are taken from granted as preexisting in a finished, typical form and as making up a normal and definite economic situation, under which and in terms of which human intercourse is necessarily carried on13.

10 VEBLEN, op. cit.11 VEBLEN, op. cit.12 Aqui Veblen acerta pela metade. Como dito, houve uma clivagem de idéias entre o Marginalismo estadunidense e austría-co. Veblen trata-os como se fossem farinha do mesmo saco, mas na verdade o Marginalismo austríaco também advogava a idéia de que a irracionalidade era fator importante na valoração.13 VEBLEN, op. cit.

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Sem o saber, Veblen lançava os fundamentos da Economia Institucional, que gan-hou esse nome porque Veblen entendia que uma análise econômica de peso não deveria se separar da análise das instituições sociais, tais como a qualidade das leis, dos serviços públicos, do acesso à justiça, segurança, etc, aí incluso o ambiente cultural. Veblen foi na contramão de um movimento mundial de “pureza” nas Ciências Humanas.

Outra obra importante para compreensão do pensamento de Veblen foi The Theory of the Leisure Class – A Teoria da Classe Ociosa (1899)14. Como dito, Veblen foi con-temporâneo do período de crescimento que fez dos Estados Unidos o país mais rico do mundo. Isto também formou a “classe ociosa” de que ele falava e que marcaria época na literatura norte-americana até a Grande Depressão. “Emulação pecuniária”, “ócio con-spícuo” e “consumo conspícuo” nada mais são que os títulos dos capítulos 2º, 3º e 4º da obra citada. Nesta obra, Veblen discorre sobre os padrões de consumo absolutamente irreais gerados pelo crescimento econômico de então, sendo que tais padrões continham um forte componente “hedonístico” (palavra que Veblen gostava muito de usar). A longo prazo, dizia ele, o consumo hedonístico levaria a uma valoração irreal de inúmeros bens, gerando um descolamento entre mundo físico e real: “Não há razão para supor que cada vez que aumentam os fundos de capital haja um aumento correspondente dos ‘bens fisicamente úteis... que se encontram atrás destas poupanças de fundos15”. O resultado final seria uma crise.

Alguma semelhança com Marx? Só na superfície. Embora a premonição de crise e as invectivas se pareçam, Veblen percebeu que, ao contrário da tese da miserabilização do proletariado, o que estava em curso nas economias industrializadas era o “aburgue-samento” do proletariado. Ele presenciou em seu próprio país operários da Ford Mo-tors comprar e dirigir os veículos que fabricavam. Não poderia – por razões puramente empíricas – concordar com a idéia de um capitalismo que empobreceria ainda mais os tra-balhadores quando ele via exatamente o oposto. Sua crítica não é apenas aos ricos (que ele satirizou impiedosamente no The Theory of the Leisure Class). Saudou a melhora de vida nas classes operárias, mas sempre desconfiou de padrões de consumo hedonísticos irreais (ou como diríamos no linguajar ambiental, “não sustentáveis”). Daí seria apenas um passo para VEBLEN defender a intervenção corretora estatal, como está explícito The Theory of Business Enterprise, capítulo 8º (Business Principles in Law and Politics).

O que podemos concluir de Veblen? Embora ele não mencione expressamente o problema ambiental, nele encontramos instrumentos bastante úteis na análise do bem ambiental. Veblen presenciou o capitalismo da Segunda Revolução Industrial, ge-rando pela primeira vez uma sociedade de consumo de massas, na qual o “consumo conspícuo” gerava uma distorção valorativa dos bens disponíveis. A condenação ao “consumo

14 Versão online disponível no website http://xroads.virginia.edu/~HYPER/VEBLEN/veb_toc.html. Acessado em 22/10/2008 às 18:29 h.15 The Theory of Business Enterprise (1905) apud ROLL, Eric. História das Doutrinas Econômicas, p. 449.

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conspícuo” assemelha-se à condenação do consumo não sustentável, ou seja, uma situa-ção de consumo de massa descolada das bases físicas de suporte, ou pelo menos de crescimento insustentável a longo prazo. Veblen apontava uma crise de cunho financeiro, todavia seu raciocínio pode ser empregado para se teorizar sobre uma crise de suporte, ou seja, de escassez de meios necessários à manutenção do padrão de uma sociedade de consumo de massa (atualmente a energia é o mais citados dos artigos em risco de escassez, assim com a água, fortemente usada por uma agricultura intensiva que se expande cada vez mais em função do consumo de massa). Embora longínquo, o que temos aqui é uma derivação da lei dos rendimentos decrescentes de Ricardo, ou seja, o emprego de fatores de produção pode ser maximizado até um certo ponto, porém a partir dele a tendência será de queda de produtividade e cada unidade adicional a ser produzida gerará um benefício menor do que o custo nela empregado.

Acresça a isso que Veblen aponta elementos valorativos que simplesmente estão fora do mercado, algo que também é marcadamente importante quando se trata de valorar a natureza. Ademais, sua teoria institucional dá à Economia um elemento holístico muito mais apropriado à análise dos problemas ambientais. Por fim, Veblen não apenas aponta os problemas, mas também aponta o Estado como mecanismo de correção das distorções valorativas. Isto nos leva a Pigou.

3. VALOR E EXTERNALIDADES

Recapitulemos: Dentro da teoria neoclássica, os valores de troca (preços) de bens são determinados pela confluência de três fatores: Lei da oferta e da procura, utili-dade marginal e custos de produção. A Escola Austríaca16 nos dá um quarto elemento: O subjetivismo valorativo.

A lei da oferta e da procura resulta da escassez (seja como fato, seja como idéia). Uma vez que os desejos humanos são ilimitados e a oferta de bens e serviços é limitada, o nível maior ou menor de abundância cruzado com a maior ou menor disposição do con-sumidor em adquirir o que deseja resultará num ponto de confluência determinante do valor. Isto gera o sistema de preços que funciona (em regra) como um corretor natural de desvios de mercado. Quando uma mercadoria é escassa e a demanda é grande, seu preço sobe, sendo isto uma maneira de sinalizar ao fornecedor que é vantajoso produzi-la (para ganhar no preço alto) e ao consumidor que deve poupá-la (pela mesma razão). Com o aumento do oferta e a redução da demanda, reequilibra-se a disponibilidade do bem no mercado. Isto é um desenvolvimento da metáfora smithiana da “mão invisível”.

16 Linha de economistas originada no Império Austro-Húngaro na segunda metade do século XIX, notabilizando-se com nomes tais como Karl Menger, Eugen Böhn-Bawerk, Ludwig Von Mises e Friedrich Hayek.

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Os custos de produção abrangem os fatores de produção, que são terra, capital e trabalho. Eles são conhecidos. São, portanto, informação, a qual é inserida no preço. Mas o que acontece com os custos que não são levados em conta? Acontece que eles não são inseridos na informação, não recaindo sobre os preços. Tais custos passam a circular externamente ao mercado, ou para ser mais exato, externamente aos agentes envolvidos na transação. Chamamos isso de externalidades.

O que são externalidades? Podemos conceituá-las como falhas de mercado nas quais efeitos de determinada atividade atingem terceiros (externos) nela não envolvidos. Tais efeitos podem ser positivos (a fábrica instala-se numa cidade pequena e gera maior movimentação econômica no local) ou negativos (a mesma fábrica polui o rio que margeia o município, tendo em vista não haver legislação de proteção ambiental que a impeça de fazer isso). O grande problema das externalidades é que elas não se incorporam ao preço, uma vez que não geram custos aos agentes envolvidos na atividade em questão. Uma vez que não estão no custo, não podem fazer parte do preço, pois vimos em Marshall que os custos de produção são elementos componentes dos preços. Temos então uma falha ou distorção de mercado. Para ser mais exato, uma falha no sistema de valoração do mercado.

Ocorre que se o sistema de valoração do mercado está distorcido, também es-tarão fatalmente comprometidos o sistema de aferição de custos e o sistema de preços. Como já vimos, os preços contêm informação veiculada no mercado. Em última instância, uma distorção valorativa implica numa distorção informativa, ou seja, determinado bem ou serviço é gerado, distribuído e consumido sem que os agentes levem em conta a ex-ternalidade negativa.

A teoria das externalidades constitui um dos elementos mais importantes para a discussão do Direito Ambiental Econômico. O problema da poluição em particular e do uso dos recursos em geral só pode ser compreendido sob a ótica (não exclusiva, lógico) da doutrina das externalidades.

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4. A CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS

Onde tal problema normalmente ocorre? Sob o prisma econômico, podemos dividir os bens em quatro categorias, expostas abaixo17:

• Bem18 privado: É um bem exclusivo e rival. A exclusividade significa que ele é passível de exclusão do usuário que não possa pagar o preço pelo qual o bem está em oferta. A rivalidade significa que o consumo do bem impede que outra pessoa utilize o mesmo bem (rivalrous). Grande parte dos bens de consumo está nessa lista, tais como alimento, por exemplo;

• Bem de “clube”: É um bem exclusivo e não rival. A exclusividade já foi explicada. Já a não rivalidade significa que o consumo do bem não impede (pelo menos a curto ou médio prazo) o mesmo de ser utilizado por outro usuário. Um sinal de TV a cabo é o ex-emplo clássico. Mesmo o nome do bem remete literalmente a clubes sociais (de golfe, por exemplo) que podem ser utilizados por diversos sócios ao mesmo tempo;

• Bem Comum: É um bem rival e não exclusivo. Historicamente ele tem origem nas “terras comuns” que os servos tinham o direito de utilizar livremente na Inglaterra até a época dos cercamentos (enclosures) no século XVIII. Como qualquer servo podia utilizá-las gratuitamente, eram um bem não exclusivo, porém rival, vez que onde um servo plantava, outro evidentemente não poderia plantar19. De qualquer maneira, define os bens da natureza que não estão no mercado;

• Bens públicos: Não se confunde com a acepção empregada em nosso Direito Ad-ministrativo. É um bem não rival e não exclusivo, estando a disposição de todos, pagantes ou não, sendo que sua utilização por um usuário não exclui que outro também o utilize. Os serviços estatais de defesa nacional e segurança pública são bons exemplos.

Como se dá a apropriação de cada tipo de recurso? O bem privado é o bem civil por excelência, exclusivo, alienável. O bem “de clube” tecnicamente é serviço, podendo ser consumido gratuita ou onerosamente, não se cabendo falar – tecnicamente – em apropriação do mesmo.

O bem comum, historicamente passou por três fases: Uso livre de todos; vincu-lado à terra adjacente e de propriedade do estado, podendo ser explorado por concessão, permissão ou autorização. É justamente aqui que entram os principais bens ambientais.

Já o bem público surge com o desenvolvimento da sociedade e também tem na-tureza jurídica de serviço, porém serviço prestado pelo Estado.

17 Tal classificação remonta às pesquisas de Paul Samuelson (nascido em 1915 e Nobel de Economia em 1970) na década de 50. Nossa fonte direta é o website econport.org/econport/request?page=man_pg_table. Acessado em 24/10/2008 às 23:31 h.18 Note-se que em teoria econômica, a palavra “bens” também abrange serviços.19 O exemplo hoje em dia não teria valor, pois já existe a agricultura sobreposta.

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A externalidade vai recair justamente sobre os bens não exclusivos, ou seja, aque-les que estão fora do mercado, não tendo preço. Seu uso é livre, gerando a figura do free rider (“caroneiro”). Tendo em vista a gratuidade do usufruto, a tendência é não haver cuidado com o bem, gerando uma situação em que as pessoas facilmente arrogam-se dos direitos sobre determinada coisa ao mesmo tempo em que refutam qualquer obrigação para com a mesma. O bem é de todos, mas é cuidado como se fosse de ninguém. Como tal problema pode ser enfrentado? Estudaremos agora as duas correntes sobre o assunto.

5. PIGOU E A CORREÇÃO DO MERCADO

Artur Cecil Pigou (1877-1959) foi aluno de Alfred Marshall na cadeira de Eco-nomia Política em Cambridge. Com a aposentadoria deste (1908), assumiu a cátedra. Publicou The Economics of Welfare 20 em 1920. Indiscutivelmente ele é filho intelectual mais de Veblen do que de Marshall. Ambos compartilharam idéias semelhantes sobre o problema do uso dos bens fora do mercado, criticaram os mecanismos puramente de mercado na valoração e defenderam a intervenção estatal para solução do problema.

A solução pigouviana pode ser resumida em duas palavras: Tributação e regulação.

Lembremos que os tributos podem ter função fiscal ou extrafiscal. No primeiro caso se trata apenas de gerar recursos para o Estado. Já no segundo caso o objetivo não é a pecúnia, mas sim a regulação da atividade econômica. É nesta segunda situação que os tributos pigouvianos se colocam. Trata-se de internalizar as externalidades me-diante tributação mais intensa de atividades que utilizem em demasia ou degradem os bens comuns. A contrapartida seriam o subsídios (tributos negativos) para encorajar as atividades que preservassem e utilizassem de maneira mais módica os mesmos recursos. Trata-se de inserir o elemento custo na equação econômica.

Já a regulação estaria em emitir licenças para utilização dos bens comuns. Tais licenças poderiam ser utilizadas das mais diversas maneiras: Licenças de caça, de pesca, de autorização de atividade poluente, etc. Sendo instrumentos de Direito Administra-tivo, estariam sujeitas a revogação mediante interesse público ou descumprimento das regras.

Todas as receitas advindas seriam, evidentemente, aplicadas na mitigação da ativi-dade degradante, bem como na reparação dos danos causados à comunidade. Pelo menos isto seria o ideal, mas até que ponto pode-se garantir que vá ocorrer? Isto é assunto para a Teoria da Escolha Pública, que não é objeto deste artigo.

20 Fonte: www.econlib.org/cgi-bin/searchbooks.pl?searchtype=BookSearch&pgct=1&sortby=R&query=pigou. Aces-sado em 24/10/2008 às 14:36 h.

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Ambas as soluções implicam em majoração do valor de bem para o usuário. É justo? Sim. O preço mais baixo pelo qual ele pagava era um preço que desconsiderava a externalidade negativa gerada. Temos que lembrar que tudo tem um custo (o quanto de custo é outra coisa) e se alguém tem que arcar com ele, nada mais justo que sejam os que se beneficiam com a atividade que o gerou. Temos assim mais um elemento para adi-cionar na equação marshalliana de valor: Lei da oferta e da procura + utilidade marginal + custos de produção + custos de externalidades (por regulação ou tributação positiva ou negativa).

6. A REAÇÃO NEOCLÁSSICA: COASE

Ronald Coase (1910-), britânico ganhador do Nobel de Economia em 1991, es-creveu dois artigos seminais sobre o problema das externalidades e seu impacto na valo-ração dos bens. O primeiro data de 1937: The Nature of the Firm. O segundo é o clássico The Problem of Social Cost (1960).

No primeiro artigo, Coase cria o conceito de custos de transação, muitíssimo mais amplo que o conceito de custos de produção:

os custos de transação nada mais são que o dispêndio de re-cursos econômicos para planejar, adaptar e monitorar as inte-rações entre os agentes, garantindo que o cumprimento dos ter-mos contratuais se faça de maneira satisfatória para as partes envolvidas e compatível com a sua funcionalidade econômica21.

No segundo artigo, publicado no Journal of Law and Economics em 1960, COASE entra no problema das externalidades de maneira direta. Trata-se de uma tentativa de refutar os princípios de correção do mercado estipulados por PIGOU em 1920.

Note-se que Coase já escrevia numa época em que a teoria da classificação dos bens (privados, “de clube”, comuns e públicos) já estava bem definida, vez que fora objeto de intensas pesquisas de Paul Samuelson em Harvard na década de 50.

Primeiramente, “custo social” para Coase é a soma dos custos internos e ex-ternos numa transação: Traduzindo, temos aqui tanto os custos de produção quanto os custos de externalidade.

21 PONDÉ. 1996, apud Jorge Fernandes in Economia Institucional: Custos de Transação e Impactos sobre Política de Defesa da Concorrência. Publicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fonte: Webiste http://www.ie.ufrj.br/grc/pdfs/cus-tos_de_transacao_e_impactos_sobre_politica_de_defesa_da_concorrencia.pdf. Acessado em 26/10/2009 às 7:27 h.

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Coase argumenta que os problemas referentes a estes custos de transação de-vem ser solucionados por alternativas de mercado. Para ser mais exato, pela atribuição de direitos de propriedade. Como vimos, a problema dos bens fora do mercado é que as pessoas arrogam-se no seu uso, mas negligenciam os cuidados com os mesmos (pelo me-nos está é a tendência). A razão para isto é puramente psicológica. O ser humano tende a cuidar melhor daquilo que é seu e a cuidar menos daquilo que não lhe pertence. Só que em ambos os casos ele usufrui. Na verdade chega a usufruir de maneira mais ostensiva e agressiva o que não lhe pertence do que aquilo que lhe pertence.

Em primeiro lugar, Coase explica que a maior parte das possíveis externalidades são solucionadas no âmbito privado mediante negociação entre os diretamente interes-sados (ou prejudicados).

Em segundo lugar, Coase também aponta o papel do Poder Judiciário na solução de externalidades, lembrando que a doutrina da reparação de danos fornece diversos subsídios para o prejudicado buscar seus direitos nos tribunais.

O grande problema está nas externalidades não solucionadas pelos mercados e nem pelos tribunais. Para este caso, Coase não acha que se deva seguir a solução de Pigou, qual seja intervenção do Poder Executivo. A solução seria outra.

Coase sugere que se maximize direitos de propriedade até onde for possível. Uma praia é utilizada por um público que a degrada? Privatize-se a praia. Sendo vendida a al-gum grupo de entretenimento que cobrará ingressos na entrada. Este mesmo grupo, por motivos absolutamente empresariais, manterá a praia limpa e conservada, pois sabe que caso ela se degrade, perderá clientela. Mais importante: Elimina-se a figurado free-rider (carona). Dessa maneira, os custos da externalidades são internalizados, integrando os custos de transação.

Deixando de lado a controvérsia teórica. É claro que isto nos remete a um prob-lema de natureza eminentemente prática. Toda a nossa noção de propriedade remete a fatores físico-químicos que se incorporaram ao padrão de pensamento da humanidade. Historicamente, coisas sólidas sempre foram plenamente passíveis de ser apropriados. Coisas líquidas, parcialmente possíveis de apropriação (na verdade, estipula-se proprie-dade sobre o curso do bem líquido, vez que o líquido em si sempre de transfere, seja por evaporação, seja por absorção do solo, seja por continuidade do curso). Coisas gasosas simplesmente nunca foram consideradas propriedade antes do século XX.

Isto nos leva à seguinte dificuldade:

[...] na verdade, a maior parte dos recursos ambientais integrant-es da categoria dos bens livres, como o ar respirável, as águas em geral (dos rios, lagos, oceanos e mares), os animais silvestres ou os peixes em seus habitats naturais, não são, a priori, passíveis de sujeição à exclusividade inerente ao regime de propriedade, seja

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em razão da natureza fluida, dispersa ou difusa (costs os estab-lishing and enforcing ownership claims), que seriam seguramente maiores que os benefícios auferidos22.

De qualquer maneira, COASE estipula que a apropriação dos meios de produção levaria à apropriação dos custos de transação, que devidamente internalizados pas-sariam a compor os preços, estipulando valor aos bens ambientais envolvidos nos custos sociais.

7. O PROBLEMA DOS BENS COMUNS

Em 1968 foi escrito um artigo na revista Science que marcou época: The Tragedy of the Commons (A Tragédia dos Bens Comuns). O autor foi Garrett Hardin. O título aludia explicitamente aos bens rivais e não excludentes, ou seja, aqueles como água, dos quais as pessoas não podem ser excluídas pelo mercado, porém cada usuário a mais impede ou prejudica a utilização por outrem.

Em primeiro lugar, esclareça-se a natureza do artigo. Embora comumente citado em escritos econômicos e jurídicos, o artigo é de natureza distinta. Seu autor é bioge-neticista. Ele se defronta com o dilema do crescimento populacional, cuja preocupação data da década de 60 e seria uma das bases do movimento ambientalista que floresceria na década seguinte. O artigo trás as marcas de sua época. Desde 1945 a humanidade ingressara naquilo que os demógrafos chamam de baby boom, ou seja, uma explosão pop-ulacional sem precedentes que dobraria a população terrestres em três décadas. Esse período foi também marcado por um crescimento econômico global sem precedentes, que só seria interrompido com o advento da crise do petróleo em 1973. Todavia, mais gente com mais renda significa necessidade de mais insumos e bens. O planeta poderia susten-tar isso? O problema alimentar era o mais premente e o consenso dos historiadores é que a humanidade foi salva de uma catástrofe alimentícia em função da Revolução Verde dos anos sessenta, capitaneada pelas técnicas do agrônomo Norman Borlaug (Nobel da Paz em 1970), que utilizando herbicidas e outros métodos, ampliou formidavelmente a oferta de comida no planeta. De qualquer maneira, a idéia de exaustão de recursos era recorrente. Um dos romances mais vendidos dos anos setenta foi Colapso de Arthur Hailey, no qual o autor narra uma hipotética crise generalizada de energia no mundo.

O artigo de Hardin expõe o problema de uma superpopulação – inspiração mal-thusiana é clara – usufruindo de bens historicamente comuns. Tal situação foi possível durante muito tempo pelo baixo crescimento populacional. A melhora de vida trazida pelos

22 CARNEIRO, Ricardo. Direito Ambiental: Uma Abordagem Econômica: Forense, 2003, 2ª tiragem, p. 71.

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séculos XIX e XX fizeram esta população crescer formidavelmente, gerando uma pressão sobre recursos naturais que a longo prazo pode revelar-se fatal. Isto também alude à tese de que seria impossível a longo prazo elevar toda a população do globo ao padrão de consumo dos países mais ricos.

A tragédia dos comuns também pode atingir modos de vida comunitários secu-lares, vez que tais modus vivendi foram forjados sobre bases populacionais limitadas. O aumento de tais populações acaba destruindo o equilíbrio de uso de uma maneira que o antigo sistema comunitário não é capaz de evitar. O artigo é influenciado pela Teoria dos Jogos e do Comportamento Humano23, que estuda os mecanismos que predispõem ou não os agentes à cooperação em situações de incerteza.

O artigo é apontado por muitos como uma defesa do liberalismo. Nem de longe isso é verdade. Ele advoga métodos coercitivos para a proteção dos bens comuns. Na verdade chega a flertar com o totalitarismo ao abordar o delicado tema da liberdade de planejamento familiar em confronto com a necessidade do desenvolvimento sustentável.

8. A PRECIFICAÇÃO DOS BENS AMBIENTAIS

As idéias que vimos acima envolvem elementos formadores do sistema de preços: Oferta, procura, custos, regulação. Todavia como valorar o que não está no mercado? Von Mises dizia ser isto impossível, pois sem mercado não há preços. Ocorre que muitos bens ambientais não estão no mercado e ainda assim precisam ser precificados. Ainda que seu valor de troca não seja possível de aferir, pelo menos o valor de uso é necessário determinar. Como fazê-lo? As Ciências Contábeis fornecem o caminho24.

O método de precificação é uma equação formada pelas seguintes variáveis (algu-mas delas já explicadas)25:

VERA – Valor Econômico do Recurso Ambiental: é o somatório dos valores de uso e não uso (também chamado de valor de existência) do bem ambiental, bem como o valor de opção. O valor de uso é a junção do valor de uso direto com o valor de uso indireto.

VUD – Valor de Uso Direto: é calculado com base no lucro econômico direto que se obtém com a exploração do bem ambiental.

VUI – O Valor de Uso Indireto é aferido pelo bem-estar que o recurso proporciona quando preservado (por exemplo, a floresta em pé que ventila o ar e impede a erosão do solo).

23 Analisa o comportamento de agentes em situações de interação.24 A rigor, em Contabilidade não existe valor de troca. O bem é registrado em balanço pelo seu custo de aquisição ou por método de avaliação. O valor de troca só surge nas demonstrações contábeis no momento da venda do bem, ou seja, justamente quando ele deixa de existir nos balanços.25 Trata-se de um método geral de análise que pode se encontrado em vários livros. A fonte utilizada foi o artigo Valoração Econômica Ambiental de OGASSAVARA, Renata Cristine, disponível no website do Banco Central do Brasil: bcb.gov.br/pre/boletimrsa/BOLRSA200805.pdf. Acessado em 29/11/2009 às 20:55 h.

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VO – Valor de Opção refere-se aos utensílios ainda desconhecidos do recurso natural a ser preservado.

VE – Valor de Existência (ou de não uso): Trata-se de uma posição moral de defesa da preservação do recurso natural per si, sem quaisquer elucubrações a respeito de motivações econômicas ou materiais em geral.Temos então a seguinte equação: VERA = (VUD + VUI + VO) + VESegundo OGASSAWARA:

Com fundamento no VERA, a valoração econômica dos bens ambientais pode ser realizada por: (a) métodos da função de produção – método da produtividade marginal e método de mercados de bens substitutos; e (b) métodos da função de demanda – método de mercado de bens comple-mentares (preços hedônicos e do custo de viagem) e método da valoração contingente.Os métodos da função de produção estimam indiretamente o valor econômico de determinado bem ambiental, levando em conta a existência de preços de mercado de um bem privado para o qual sirva de substituto, ou cuja produção o demande como insumo.Os métodos da função de demanda, por sua vez, usam formas diretas de estimação do valor econômico dos bens ambientais, com base na disposição dos agentes econômicos em pagar ou aceitar pelos bens ou serviços a ele complementares ou por meio da criação de mercados hipotéticos específicos. O Método da Valoração Contingente (MVC) é o único, entre os apresentados, adequado para estimar o valor existencial dos bens ambientais. Em síntese, o MVC consiste na elaboração de pes-quisa de campo abrangente sobre a disposição do consumidor em pagar ou aceitar a variabilidade de determinado bem ambiental e em calcular a função demanda desse mercado hipotético26.

CUNHA e GUERRA27 apontam também os seguintes mecanismos de valoração e precificação:

Modelo da Disposição – a – Pagar: É um dos chamados métodos de con-tingência e estima o preço implícito das coisas através dos conceitos de substituição e complementaridade. É levado a efeito através de consulta popular e tratamento estatístico dos resultados desta consulta. Primei-ra confronta a pessoa com uma situação de ameaça de perda do bem, forçando-a a decidir-se por uma determinada alternativa (uma opção de

26 OGASSAWARA, Renata Cristine, Valoração Econômica Ambiental, Boletim Responsabilidade Social e Ambiental no Sistema Financeiro, ano 03, nº 30, maio de 2008, Banco Central do Brasil. Fonte: http://www.bcb.gov.br/pre/boletimrsa/BOLRSA200805.pdf, acessado em 30/10/2008.27 CUNHA, Sandra Baptista; GUERRA, Antonio José Teixeira. Avaliação e Perícia Ambiental: Rio de Janeiro. 2ª ed. Ed. Bertrand Brasil, 2000, p. 254 a 256.

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contingência); segundo, a questão é tratada como uma possibilidade (o que está sendo proposto jamais pode tornar-se realidade); terceiro, de-pende de cada pessoa consultada e do número de pessoas consultadas. Pode ser usado para fornecer a valoração de um bem natural, tal como um bosque onde as pessoas estariam dispostas a pagar para não deixar de poder usufruir daquele recurso. O somatório do valor indicado por todas as pessoas consultadas (interessadas na área) fornece um valor mon-etário para o recurso sendo analisado, ou em outras palavras, é possível assim definir a função de demanda do recurso em questão;Modelo da Disposição – a – Receber. Busca descobrir quanto as pessoas exigiram receber em troca da perda de um determinado recurso natural. Em outras palavras, por quanto uma população “venderia” aquele recurso natural. Por exemplo, poderia ter sido aplicado ao caso do afogamento do Salto de Sete Quedas pela represa de Itaipu;Modelo de Custo-de-Viagem. Desenvolvido por Clawson e Knetsch, entre 1964 e 1966, relaciona o custo para se alcançar um sítio com a disposição das pessoas de pagarem pela conservação do mesmo. Assim, quanto mais longa for a viagem supõe-se que maior seria a disposição-a-pagar. Se-gundo essa idéia, existe uma relação direta entre o prazer oferecido pelo sítio e o valor que a população atribui ao local, o que o faz apropriado, particularmente, para a valoração de sítios com fins recreacionais;Modelo de Valoração Mercantil. Ao invés de valorar um sítio pelo todo, este modelo procura conhecer o valor econômico dele, através de aval-iação dos preços de mercado de cada uma de suas partes constituintes. Por exemplo, no caso de uma reserva florestal, seleciona todos, ou a maioria relevante dos bens existentes numa floresta e que possuem valor de mercado, quantificando-os e, em seguida, buscando seus preços de mercado;Modelo de Preço Hedônico. É um método indireto, estatístico, que busca valorar um recurso através do relacionamento de alguns de seus atributos (bela paisagem, alto risco) com o preço da terra ou do trabalho. A partir de um atributo presente num deles e ausente no outro. Por exemplo, a diferença entre o preço de uma casa com um bosque ao lado de uma casa semelhante, com um terreno degradado ao lado, pode conduzir a um valor para o bosque;Modelo de Avaliação Direta. É um modelo de difícil experimentação, porque precisa de que uma situação real seja criada para que a resposta do público possa ser então avaliada e transformada em valor. É possível, por exemplo, estabelecer uma taxa para visitar um sítio natural. Outra aplicação seria, por exemplo, estabelecer em duas cidades próximas uma diferenciação de custos e qualidade da água; numa cidade poder-se-ia cobrar uma taxa mais alta para fornecer uma água de qualidade bem superior, e em outra, uma água de qualidade inferior por uma taxa mais baixa. A preferência das

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pessoas por uma ou outra cidade indicaria o quanto elas estariam dispos-tas a pagar por uma melhor saúde ambiental;Títulos de Poluição Ambiental. O órgão regulador do ambiente estabelece um limite para determinados poluentes numa região. Emite títulos que correspondem, no seu conjunto, a toda poluição que seria admissível na região, derivada de estudos de avaliação da capacidade de suporte para aqueles poluentes. Estas “ações” de poluição são negociadas em bolsa. À medida que uma empresa, a qual adquiriu alguns desses títulos para poder poluir, muda sua tecnologia para uma menos poluente, ela pode re3vender esses títulos para uma outra indústria que esteja se estabelecendo na região. Este procedimento tem duas grandes vantagens: primeira, tra-balha com a capacidade de suporte da área, o que guarda uma forte rela-ção com a realidade local, e ainda permite ajustes futuros; segunda, que abre espaço para que entidades de defesa ambiental adquiram parte dos títulos, efetivamente retirando poluição do mercado. Na prática os títulos vão se valorizando com o tempo, porque a tendência é que mais empresas entrem na área aumentando a disputa pêlos títulos, e o conseqüente au-mento do preço dos títulos tende a inibir a geração de mais poluentes. Já está em uso em algumas áreas dos Estados Unidos.

9. VALOR E DIREITO

Qual a importância do valor para algo ser tornado objeto de Direito? Duas cor-rentes se confrontam aqui. A primeira parte do princípio de que apenas a coisa de valor econômico pode ser bem jurídico. PONTES DE MIRANDA repudia esta idéia ao lembrar que “Há propriedade de coisas sem valor e, até, de valor negativo, pelo custo de as guardar (e.g. coleção de jornais velhos...)28.

Para PONTES DE MIRANDA, “O valor pode ser legal, ou por determinação das circunstâncias”29. Mais adiante ele levanta também a questão dos bens que não têm valor de troca (como um ingresso pessoal para um concerto musical), explicando que o valor de uso se mantém e é passível de aferição e monetarização, caso, por exemplo, alguém destrua o bem30.

Temos definido então que um bem pode ter seu valor determinado pela sociedade e seus meios de produção, bem como pelo Estado. O dinheiro é o exemplo clássico para a segunda situação, vez que a rigor trata-se de papel com tinta, mas o poder estatal estipula que ele tem um determinado valor. Em linguagem técnica, podemos dizer que no Direito o valor resulta de fato ou de lei.28 PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado, Parte Geral, Tomo II – Bens, Fatos Jurídicos. Rio de Janeiro, Editor Bortoi, 1970, 3ª Ed., p. 23.29 Idem.30 Ibidem, p. 24.

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CONCLUSÃO

Os mecanismos de valoração ambiental sem dúvida são imperfeitos, detendo im-precisões que não podem ser ignoradas, entretanto qualquer idéia de desenvolvimento sustentável não pode deles prescindir. Desenvolvimento necessita de planejamento e – como entendia Von Mises – não é possível planejar sem calcular e não é possível calcular sem preços.

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REFERÊNCIAS

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LOURENÇO, Rui Pedro et. al., A Base Teórica da Economia. Instituto Politécnico de Coimbra – Instituto Superior de Engenharia – Departamento de Engenharia Civil <prof.santana-e-silva.pt/economia_e_gestao/trabalhos_06_07/word/A%20base%20te%C3% B3rica%>.

MARSHALL, Alfred, Principles of Economy, 1881 < http://www.econlib.org>.MARX, Karl, Capital, 1867 < http://www.econlib.org>.

OGASSAVARA, Renata Cristine, Valoração Econômica Ambiental, <http://www.bcb.gov.br/pre/boletimrsa/BOLRSA200805.pdf>.

PIGOU, Artur, Economics of Welfare, 1920 < http://www.econlib.org>.

FERNANDES, Jorge. Economia Institucional: Custos de Transação e Impactos sobre Política de Defesa da Concorrência. Universidade Federal do Rio de Janeiro.

PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti. Tratado de Direito Privado, Parte Geral, Tomo II – Bens, Fatos Jurídicos. Rio de Janeiro, Editor Bortoi.

RICARDO, David, Princípios da Economia Política e da Tributação, 1816 <http://www.econlib.org>.

ROLL, Eric, História das Doutrinas Econômicas. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 1962.

SMITH, Adam, A Riqueza das Nações, 1776 < http://www.econlib.org>.

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<http://www.econport.org/econport/request?page=man_pg_table> Universidade do Estado da Georgia.

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RELATÓRIO AMBIENTAL PRELIMINAR (RAP): ESTUDO DE CASO DO LOTEAMENTO GREEN VILLE

Serguei Aily Franco de Camargo *Paulo Roberto Moreira **

Denison Melo de Aguiar ***

Sumário: Introdução; 1. Objeto de licenciamento; 2. Justificativa do empreendimento; 3. Caracterização do sítio do empreendimento; 4. Diagnóstico ambiental preliminar da área de influência; 5. Identificação dos impactos ambientais; 6. Medidas Mitigadoras; Referências.

Resumo: Trata-se de um Relatório Ambiental Preliminar (RAP), que objetiva avaliar quais são os possíveis impactos no meio ambiente em decorrência da futura implantação do loteamento Green Ville, localizado no Distrito de Jacaré, Município de Cabreúva (SP), na Zona de Conservação Hídrica da APA de Cabreúva e Jundiaí. A problemática central está no fato de que as APA’s em questão, estão localizadas em duas aéreas de intensidade industrial (São Paulo e Campinas), por isso, ser um estudo de caso que evidencia os possíveis impactos ambientais de tal empreendimento, de maneira que contribua para a conservação dos recursos ambientais (água e solo), juntamente com a execução o loteamento Green Ville.

Palavras – chaves: Relatório Ambiental Preliminar, loteamento, licenciamento ambiental.

Abstract: This is a Preliminary Environmental Report (RAP), designed to assess what the possible impacts on the environment due to the future implementation of the settle-ment Green Ville, located in the district of Jacaré, the city of Cadreúva (SP) in a Water Conservation Area located in a Protection Area in Jundiaí and Cabreúva. The central is-sue is the fact that the APA’s in question are located in two industrial areas (São Paulo and Campinas). This case study highlights the potential environmental impacts of such development, which contributes to the conservation of resources (water and soil), along with running the allotment Green Ville.

KeyWords: Preliminary Environmental Report, blending, environmental licensing.

* Professor, Pesquisador e Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Direto Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas - UEA e Professor Adjunto I junto ao Departamento de Direito da Uninilton Lins.** Engenheiro Florestal, Consultor, Mestre em Conservação e Manejo de Recursos Naturais pelo Centro de Estudos Ambi-entais e Doutor em Biologia Vegetal, ambos pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho*** Mestrando em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas; Advogado; Bolsista da CAPES. Contato: [email protected].

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INTRODUÇÃO

O Decreto Estadual 43.284, assinado em julho de 1.998 pelo Governo do Estado de São Paulo, regulamentou as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) de Cabreúva e Jundiaí – catorze anos depois de terem sido criadas pelas Leis 4.095 e 4.023, ambas de 1984.

As APAs de Cabreúva e Jundiaí possuem dois objetivos fundamentais: a proteção da Serra do Japí (remanescente de Mata Atlântica) e a proteção dos mananciais de abastecimento público de água para as regiões de Cabreúva, Jundiaí e outros Municípios localizados à jusante das APAs. A área em questão está localizada entre dois importantes pólos (densamente industrializados): São Paulo e Campinas e nos últimos anos vem sof-rendo acentuado processo de transformação do uso do solo, devido ao aumento das atividades urbano-industriais.

Nos Distritos de Jacaré e Pinhal (ambos em Cabreúva) esse fenômeno é mais intenso, onde vem aumentando, inclusive, o número de loteamentos irregulares. A mu-dança de uso do solo vem acarretando também transformações na qualidade da água do rio Piraí. No Município de Jundiaí, os problemas são similares, principalmente na bacia do rio Jundiaí-Mirim. Na região sul do Município ocorrem ainda monoculturas de pinus e eucaliptos.

Deste modo foram estabelecidas quatro zonas ambientais nas APAs da seguinte maneira: Zona de Conservação de Vida Silvestre (ZCVS), com o objetivo de proteger a Mata Atlântica e sua fauna; Zona de Vida Silvestre (ZVS), Zona de Conservação Hídrica (ZCH), para a proteção dos mananciais superficiais utilizados para abastecimento público; e Zona de Restrição Moderada (ZRM), que estabelece critérios para expansão urbana.

Neste contexto, faz-se necessária a apresentação deste Relatório Ambiental Pre-liminar1 (RAP), que tem por objetivo avaliar os possíveis impactos ambientais decorrentes da futura implantação do loteamento Green Ville, localizado no Distrito de Jacaré, Municí-pio de Cabreúva (SP), na Zona de Conservação Hídrica da APA de Cabreúva e Jundiaí.

A necessidade de apresentação deste estudo pauta-se na interpretação do art. 2o da Resolução CONAMA 1/86, complementado pela Resolução SMA 42/94, que o exi-gem para a obtenção de licenciamento para a execução de projeto urbanístico.

No presente relatório são apresentadas informações sobre o empreendimento, os resultados dos levantamentos bibliográficos e de campo, realizados na propriedade e seu entorno, a avaliação dos impactos ambientais, a proposição de medidas mitigadoras e seu esquema de monitoramento.

1 Instituído pela Resolução SMA 42/94, como instrumento de avaliação de impacto ambiental.

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1. OBJETO DE LICENCIAMENTO

De acordo com a Lei 6.766/79, art. 2o, § 1o, o empreendimento é um loteamento urbano, cuja finalidade é a subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, com aber-tura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação das vias existentes. Sua área total é 364.241,84 m2, divididos em 981 lotes destinados à ocupação residencial.

2. JUSTIFICATIVA DO EMPREENDIMENTO

A implantação do loteamento Green Ville no Distrito de Jacaré, Município de Ca-breúva, justifica-se pela sua inserção na zona de expansão urbana da cidade. O local situa-se entre a zona urbana e aglomerados industriais, fato que possibilitou sua invasão no passado, caracterizando o risco eminente de que isto ocorra novamente, havendo também, grande disposição de lixo doméstico e resíduos de construção civil no local. Neste aspecto, a urbanização planejada da área estaria de acordo com os objetivos da APA de Cabreúva, possibilitando a melhoria da qualidade de vida da população residente e a manutenção da qualidade dos mananciais de abastecimento público.

O atual quadro de degradação da flora e fauna locais, descrito nos itens Vegetação e Fauna, permitirá a implantação do projeto urbanístico sem que ocorra a supressão de quantidade significativa de exemplares da biota local.

Com o desenvolvimento do Distrito de Jacaré, a instalação de novas indústrias e empreendimentos comerciais, que já é um fato local, existe uma carência habitacional para a população de trabalhadores correlacionados à esses serviços, a maioria de baixa renda, à qual este empreendimento é destinado.

3. CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO DO EMPREENDIMENTO

3.1 LOCALIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA ÁREA

O empreendimento localiza-se no Distrito de Jacaré, Município de Cabreúva (SP), em área correspondente ao Complexo Granitóide Itu (bloco tectônico Jundiaí), situado na região sudeste do Estado de São Paulo, junto à borda leste da Bacia do Paraná e médio curso do rio Tietê (IBGE, 1997).

O empreendimento dista, aproximadamente, 78 km de São Paulo e pode ser facil-mente atingido através da rodovia Castelo Branco (SP-280) tomando-se em seguida a antiga Rod. Marechal Cândido Rondon, atual Rod. Dom Gabriel Paulino Bueno Couto

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(SP-300), até o Distrito de Jacaré. As coordenadas do loteamento são 7.428.000 e 290.000 - em U.T.M., de acordo com a carta do I.G.C. (1:10.000). O empreendimento possui divisa limítrofe com a Rod. Dom Gabriel Paulino Bueno Couto (SP-300).

As principais cidades localizadas nas imediações são: São Paulo, Jundiaí, Salto, Itu, Indaiatuba, Sorocaba, Campinas e Itupeva. O principal curso d’água é o rio Tietê, que corre no sentido SE para NW, conforme disposto na Figura 1.

Figura 1. Macro-localização de Cabreúva, SP.

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3.1.1 GEOLOGIA

Consoante Baker (1923) após o vulcanismo basáltico na bacia do Paraná, os der-rames foram deformados na geossinclinal do Paraná, com a conseqüente deposição da formação Bauru. Com o mergulho da geossinclinal para sudoeste, os principais rios, como o Paraná (e seus tributários) e o Paranaíba, ocuparam a calha estrutural na lava por mais de 1.000 milhas. No ponto de cruzamento do rio Paraná com a margem esquerda da lava, cachoeiras e rápidos formaram-se. Neste momento a superfície de lava constitui um nível de base para toda a drenagem da bacia do Paraná acima deste ponto. Os principais cursos d’água do Estado de São Paulo, como o Sapucaí, o Grande, o Dourados, o Tietê, o Aguapeí, o Peixe e o Paranapanema são correntes conseqüentes que seguem a inclinação oeste – noroeste para o rio Paraná, sendo que o Pardo é uma exceção, seguindo direção norte – noroeste, para o rio Grande, acompanhando a falha das formações rochosas (Washburne, 1930).

A zona do Médio Tietê, segundo Almeida (1964) compreende a área da depressão periférica drenada para o rio Tietê, segundo os divisores d’água desta Bacia com as dos rios Moji-Guaçu e Paranapanema. Esta zona é constituída principalmente por sedimentos com áreas expressivas de intrusões de rochas básicas com reflexos na sua topografia. Identicamente importantes são os falhamentos, que perturbam as camadas, e a presença da intrusão alcalina de Ipanema, que elevou porção do embasamento cristalino.

A inclinação das camadas sedimentares fez com que se destacassem, sob a forma de relevos cuestiformes, rochas mais resistentes como os tilitos, as rochas da Formação Irati e estruturas silicificadas da Formação Corumbataí (Ponçano et al., 1981).

Elevações sustentadas por intrusivas básicas também se destacam no relevo desta zona, que de outra forma é bastante suave, com desníveis locais que só raramente ultrapassam 200 metros, predominando “colinas baixas de formas suavizadas, separadas por vales jovens, sem planícies aluviais importantes, determinadas pela interseção dos perfis convexos das encostas” (Almeida, 1964).

Toda a zona é coberta por uma rede de drenagem bastante organizada, em que se destacam o Tietê e seus dois afluentes, o Piracicaba e o Sorocaba. O padrão geral da drenagem é dendrítico, notando-se porém, algum controle estrutural a partir de diá-clases e da presença de corpos litológicos mais resistentes, especialmente diabásios (Almeida, 1964).

3.1.2 SOLOS

De acordo com Espíndola (1979) há uma variação nas classes de relevo pre-dominantes na Bacia do Paraná, associadas aos solos de alterações basálticas: plano a suavemente ondulado (Iguaçu e Campanha), suavemente ondulado (Campos de Altitude);

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suavemente ondulado a ondulado (Alto Paraná); ondulado a suavemente ondulado (Plan-alto das Araucárias); fortemente ondulado a montanhoso (Alto Uruguai).

No Estado de São Paulo, Moniz & Jackson (1967) comentam que a Terra Roxa Estruturada está associada a vales encaixados, mostrando topos a diferentes altitudes, sob relevo ondulado a fortemente ondulado, enquanto que o Latossolo Roxo está relacio-nado a um relevo suave, com quase todos os topos a mesmas altitudes e vales de rios abertos, como planícies de inundação. Locais de relevo abrupto mostram exposições de rochas e Litossolos.

Esta estreita relação entre solos com B latossólico e vales abertos (solos Hi-dromórficos e Aluviais associados), e solos com B textural versus vales em “V” foi tam-bém objeto de observações de Espíndola & Garcia (1978), ao analisarem determinadas relações entre o padrão de distribuição de solos e suas redes de drenagem.

Segundo Espíndola (1979) os solos derivados de eruptivas do sul do Brasil, ocu-pam aproximadamente 350.000 km2, apresentando diferenças em características físicas, morfológicas, químicas e mineralógicas, conforme as peculiaridades da região fisiográfica de ocorrência; o maior estágio de evolução é revelado pelos solos do Alto Paraná, com dessilicação intensa (laterização), a julgar pelos altos teores de gibsita, caolinita e óxidos hidratados de alumínio, ferro, titânio e mangânez.

Espíndola (1979) revela, para a região de Barra Bonita (trecho inicial de jusante da Bacia do Médio Alto Tietê), a ocorrência generalizada de solos TE, atestando a natur-eza alóctone dos mesmos. Nesta mesma região as maiores altitudes estão relacionadas com formações superficiais mais ou menos grosseiras em textura (latossolos de textura média), que, por vezes, se misturam com materiais de alteração de basaltos, revelando perfis de natureza transicional.

A contribuição de material arenoso em terras roxas foi relatada por Oliveira (1935), observando que o fato da superfície do solo estar coberta de areia, sem que o mesmo ocorra no subsolo, pode indicar a ação de agentes aquosos na modelação da zona (erosão).

Este contexto confirma a classificação de solos da área do empreendimento, como sendo predominantemente latossolos, apresentando acentuada variação de cor, conforme sua distribuição em relação ao relevo do terreno.

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3.1.3 MEIO BIÓTICO

3.1.3.1 VEGETAÇÃO

3.1.3.1.1 FLORA

A vegetação predominante, no passado, no município de Cabreúva, SP e particu-larmente, na área onde o empreendimento será instalado, era a formação de floresta estacional semidecidual e campo cerrado (IBGE, 1997). De acordo com o Decreto Lei 750/93 art. 3o, esta fisionomia é considerada como Mata Atlântica.

A vegetação natural, conforme levantamento florístico realizado no local e com os remanescentes de vegetação notados, foi a de floresta estacional semidecidual e pequeno trecho de campo cerrado. Grande parte da área foi usada com reflorestamento de Eucalyptus sp., o que pode ser observado in loco através da rebrota dos cepos rema-nescentes da espécie citada. O restante da área foi de uso agrícola, conforme observado em vestígios de marcas de arado na superfície do solo.

O histórico de perturbação fornece dados que nos permitem identificar quando a heterogeneidade florística e estrutural é resultante da atuação de fatores naturais de perturbação, como a queda de árvores por ventos, morte etc., e artificiais como fogo, extrativismo seletivo, agricultura e outras ações antrópicas. A ação diferenciada desses fatores nas várias áreas de uma formação florestal contínua, tem como conseqüência a produção de um mosaico de manchas de vegetação pertencentes a estádios sucessionais distintos (Rodrigues & Shepherd, 1992). A comparação dessas manchas resulta na het-erogeneidade florística observada no local do empreendimento.

Segundo levantamento florístico, encontramos os seguintes estádios de regen-eração nos remanescentes da vegetação:

I. estádio pioneiro (pasto sujo) de regeneração com predominância de rebrota de Eucalyptus ssp.; II. estádio pioneiro apresentando uma fisionomia tipicamente campestre com predominância de alecrim; III. estádio inicial de regeneração apresenta estrato herbáceo e pequenas árvores; IV. árvores isoladas de pequeno e médio porte e vegetação em estádio pioneiro de regeneração; V. estádio inicial de regeneração com árvores isoladas.

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3.1.3.1.1.1.1 DESCRIÇÃO DOS ESTÁDIOS DE REGENERAÇÃO DA VEGETAÇÃO NO LOCAL DO EMPREENDIMENTO

3.1.3.1.1.1.1 ESTÁDIO PIONEIRO DE REGENERAÇÃO (PASTO SUJO) COM PREDOM-INÂNCIA DE REBROTA DE EUCALYPTUS SSP.2

Obs. Livre para corte, desde que fora de APP (Área de Preservação Permanente). Caracterizado como vegetação herbácea e arbustiva (Pasto Sujo), o corte não gera ma-terial lenhoso, a não ser a rebrota dos cepos de Eucalyptus ssp conforme mostra a Figura 2 abaixo.

Foto: Paulo Roberto Moreira. Figura 2. Rebrota de Eucalyptus ssp. e vegetação em estádio pioneiro de regeneração no local do empreendimento

2 Conforme representação em planta anexa

Foto: Paulo Roberto Moreira.

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Tabela 1. Relação das espécies vegetais encontradas no estádio pioneiro de regeneração com predominância de rebrota de Eucalyptus ssp., com seus respectivos nomes comuns, científico e família.

Categoria

Nome Científico/Nome Comum

Família

Gramíneas Andropogon bicornis L. (capim-rabo-de-burro) Gramineae Brachiaria decumbens Stapf. (capim braquiária) Gramineae Imperata brasiliensis Trin. (sapé) Gramineae Melinis minutiflora Beauv. (capim-gordura) Gramineae Panicum maximum Jacq. (capim-colonião) Gramineae Paspalum paniculatum L. (capim-milhã) Gramineae Pennisetum purpureum Schum. (capim-napier) Gramineae Rhynchelitrum roseum (Ness) Stapf. Hubb. (capim-

favorito) Gramineae

Herbáceas Achyrocline satureoides DC (macela do campo) Compositae Borreria alata DC. (poaia-do-campo) Rubiaceae Borreria verbenoides Cham. & Schlecht. (poaia) Rubiaceae Cróton glandulosus (L.) Muell. (gervão-branco) Euphorbiaceae Diodia teres Walt. (mata-pasto) Rubiaceae Gamochaeta americana (Mill.) Wedd. (macela-da-

folha-fina) Compositae

Lantana camara L. (cambará-de-cheiro) Verbenaceae Melochia pyramidata L. (guanxuma-roxa) Sterculiaceae Pterocaulon alopecuroides (Lam.) DC. (verbasco) Compositae Pterocaulon lanatum O. Kuntze (branqueja) Compositae Richardia scabra L. (poaia-do-cerrado) Rubiaceae Sida carpinifolia L. F. (malva-baixa) Malvaceae Sida linifolia Cav. (guanxuma-fina) Malvaceae Sida santaremnensis H. Mont. (guanxuma) Malvaceae Sida urens L. (guanxuma) Malvaceae Stylosanthes guyanensis (Aubl.) Sw. (Alfafa-do-

campo) Leguminosae

Arbustos Baccharis dracunculifolia DC. (alecrim) Compositae Byrsonima verbascifolia Rich. Ex Juss. (muricizinho) Malpighiaceae Campomanesia pubescens (DC.) O Berg. Myrtaceae Eupatorium laevigatum Lam. (mata-pasto) Compositae Eupatorium maximilianii Schrad. (mata-pasto) Compositae Peritassa campestris (Cambess.) Smith (saputá-

rasteiro) Hippocrateaceae

Psidium firmum Berg. (goiabinha) Myrtaceae Ricinus communis L. (mamona) Euphorbiacea Solanum lycocarpum St. Hill. (fruta-de-lobo) Solanaceae Solanum paniculatum L. (jurubeba) Solanaceae Vernonia ferruginea Less. (assapeixe) Compositae Vernonia glabrata Less. (assapeixe-roxo) Compositae Zeyheria digitalis (Vell.) Hoehne (bolsa-de-pastor) Bignoniaceae Montanoa bipinnatifida C.Koch (margaridão Compositae

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3.1.3.1.1.1.2 ESTÁDIO PIONEIRO DE REGENERAÇÃO APRESENTANDO UMA FISIONO-MIA TIPICAMENTE CAMPESTRE COM PREDOMINÂNCIA DE ALECRIM 3

Obs. Livre para corte desde que fora de APP. Caracterizado como vegetação herbá-cea e arbustiva, o corte não gera material lenhoso conforme mostra a Figura 3 abaixo.

Arbóreas Acosmium subelegans (Mohl.) Yakol. (chapadinha) Fabaceae Anadenanthera falcata (Benth.) Speg. Mimosaceae Artocarpus heterophyllus (jaca) Moraceae Bauhinia longifolia (Bong.) Steud. (pata-de-vaca-do-

campo) Caesalpinoideae

Casearia sylvestris Sw. (pau-de-lagarto) Flacourtiaceae Copaifera langsdorffii Desf. (pau-de-óleo) Caesalpinoideae Curatella americana Linn. (lixeira) Dilleniaceae Dalbergia miscolobium Benth. (caviúna-do-cerrado) Fabaceae Eriobotrya japonica (nêspera) Rosaceae Eucalyptus spp Myrtaceae Gochnatia polymorpha (Less). (candeia) Compositae Kielmeyera coriacea (Spr.) Mart. (pau-santo) Guttiferae Lithraea molleoides (Vell) Engl. (aroeira-brava) Anacardiaceae Mangifera indica (mangueira) Anacardiaceae Mellia azedarach (cinamomo) Meliaceae Musa sp. (banana) Musaceae Myrcia tomentosa (Aubl.) DC (goiaba-brava) Myrtaceae Ouratea spectabilis (Mart) Engl. Ochnaceae Pera glabrata (Schott) Baill. (tamamqueira) Euphorbiaceae Persea americana (abacateiro) Lauraceae Persea pyrifolia Nees et Mart. Ex Nees (abacateiro-do-

mato) Lauraceae

Stryphnodendron barbadetimam (Vell.) Forrero (barbatimão)

Fabaceae

Tabebuia ochraceae (Cham.) Standl. (ipê-am.-do-campo)

Bignoniaceae

Palmácea Syagrus flexuosa (Mart.) Becc. (coco-do-campo) Palmae

3 Conforme representação em planta anexa.

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Foto: Paulo Roberto Moreira. Figura 3. Vegetação em estádio pioneiro de regeneração com predom-inância de alecrim do campo.

Nas espécies encontradas que caracterizam este estádio de regeneração pre-dominam estratos arbustivos, embora observado também o estrato herbáceo, vide rela-ção de espécies vegetais encontradas na Tabela 2.

Tabela 2. Listagem das espécies vegetais observadas no estádio pioneiro de regeneração, apresentando fisionomia tipicamente campestre com predominância de alecrim.

Foto: Paulo Roberto Moreira.

Categoria

Nome Científico/Nome Comum

Família

Gramíneas Andropogon bicornis L. (capim-rabo-de-burro) Gramineae Brachiaria decumbens Stapf. (capim braquiária) Gramineae Imperata brasiliensis Trin. (sapé) Gramineae Melinis minutiflora Beauv. (capim-gordura) Gramineae Panicum maximum Jacq. (capim-colonião) Gramineae Paspalum paniculatum L. (capim-milhã) Gramineae Pennisetum purpureum Schum. (capim-napier) Gramineae Rhynchelitrum roseum (Ness) Stapf. Hubb. (capim-

favorito) Gramineae

Herbáceas Achyrocline satureoides DC (macela do campo) Compositae Bidens pilosa L. (picão-preto) Compositae Borreria alata DC. (poaia-do-campo) Rubiaceae Borreria verbenoides Cham. & Schlecht. (poaia) Rubiaceae Croton glandulosus (L.) Muell. (gervão-branco) Euphorbiaceae

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3.1.3.1.1.1.3 ESTÁDIO INICIAL DE REGENERAÇÃO APRESENTANDO ESTRATO HERBÁCEO E PEQUENAS ÁRVORES 4

Obs. O corte da vegetação neste estádio sucessional depende de licença do orgão ambiental competente, segundo consta no art. 4o, do Decreto 750/935.

Diodia teres Walt. (mata-pasto) Rubiaceae Emilia sonchifolia DC (falsa-serralha) Compositae Gamochaeta americana (Mill.) Wedd. (macela-da-

folha-fina) Compositae

Lantana camara L. (cambará-de-cheiro) Verbenaceae Melochia pyramidata L. (guanxuma-roxa) Sterculiacea Pterocaulon alopecuroides (Lam.) DC. (verbasco) Compositae Pterocaulon lanatum O. Kuntze (branqueja) Compositae Richardia scabra L. (poaia-do-cerrado) Rubiaceae Sida carpinifolia L. F. (malva-baixa) Malvaceae Sida linifolia Cav. (guanxuma-fina) Malvaceae Sida santaremnensis H. Mont. (guanxuma) Malvaceae Sida urens L. (guanxuma) Malvaceae Stylosanthes guyanensis (Aubl.) Sw. (Alfafa-do-campo) Leguminosae Arbustos Baccharis dracunculifolia DC. (alecrim) Compositae Eupatorium laevigatum Lam. (mata-pasto) Compositae Eupatorium maximilianii Schrad. (mata-pasto) Compositae Ricinus communis L. (mamona) Euphorbiaceae Vernonia ferruginea Less. (assapeixe) Compositae Vernonia glabrata Less. (assapeixe-roxo) Compositae Arbóreas Anadenanthera falcata (Benth.) Speg. Mimosaceae Eucaliptus saligna Myrtaceae Gochnatia polymorpha (Less). (candeia) Compositae

4 Conforme representação em planta anexa.5 Art. 4o - Decreto 750/93. A supressão e a exploração da vegetação secundária, em estádio inicial de regeneração da Mata Atlântica, serão regulamentadas por ato do IBAMA, ouvidos o orgão estadual competente e o Conselho Estadual do Meio Ambiente, respectivo, informando-se ao CONAMA.

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Algumas características da vegetação neste estádio de regeneração, de acordo com a resolução CONAMA no 01/94, e que foram encontradas em campo são: fisionomia florestal baixa; com extrato herbáceos e pequenas árvores; plantas de alturas variáveis; inferiores a 8 metros; distribuição diamétrica das formas lenhosas apresenta pequena amplitude; baixa diversidade biológica; entre outras de acordo com a Figura 4 a seguir.

Foto: Paulo Roberto Moreira Figura 4. Vegetação em estádio inicial de regeneração

Tabela 3. Listagem das espécies vegetais em estádio inicial de regeneração.

Foto: Paulo Roberto Moreira

Categoria

Nome Científico/Nome Comum

Família

Gramíneas Andropogon bicornis L. (capim-rabo-de-burro) Gramineae Brachiaria decumbens Stapf. (capim braquiária) G ramineae Imperata brasiliensis Trin. (sapé) G ramineae Melinis minutiflora Beauv. (capim-gordura) G ramineae Paspalum paniculatum L. (capim-milhã) G ramineae Rhynchelitrum roseum ( Ness) Stapf. H ubb. (capim-

favorito) Gramineae

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Herbáceas Gamochaeta americana (Mill.) Wedd. (macela-da-folha-

fina) Compositae

Pterocaulon alopecuroides (Lam.) DC. (verbasco) Compositae Pterocaulon lanatum O. Kuntze (branqueja) Compositae Croton glandulosus (L.) Muell. (gervão-branco) Euphorbiaceae Achyrocline satureoides DC (macela do campo) Compositae Borreria verbenoides Cham. & Schlecht. (poaia) Rubiaceae Stylosanthes guyanensis (Aubl.) Sw. (Alfafa-do-campo) Leguminosae Sida carpinifolia L. F. (malva-baixa) Malvaceae Sida linifolia Cav. (guanxuma-fina) Malvaceae Sida santaremnensis H. Mont. (guanxuma) Malvaceae Sida urens L. (guanxuma) Malvaceae Borreria alata DC. (poaia-do-campo) Rubiaceae Diodia teres Walt. (mata-pasto) Rubiaceae Richardia scabra L. (poaia-do-cerrado) Rubiaceae Melochia pyramidata L. (guanxuma-roxa) Sterculiaceae Lantana camara L. (cambará-de-cheiro) Verbenaceae Arbustos Baccharis dracunculifolia DC. (alecrim) Compositae Byrsonima verbascifolia Rich. Ex Juss. (muricizinho) Malvaceae Campomanesia pubescens (DC.) O Berg. Myrtaceae Eupatorium laevigatum Lam. (mata-pasto) Compositae Eupatorium maximilianii Schrad. (mata-pasto) Compositae Peritassa campestris (Cambess.) Smith (saputá-rasteiro) Psidium firmum Berg. (goiabinha) Myrtaceae Solanum lycocarpum St. Hill. (fruta-de-lobo) Solanaceae Solanum paniculatum L. (jurubeba) Solanaceae Vernonia ferruginea Less. (assapeixe) Compositae Vernonia glabrata Less. (assapeixe-roxo) Compositae Zeyheria digitalis (Vell.) Hoehne (bolsa-de-pastor) Bignoniaceae Arbóreas Acosmium subelegans (Mohl.) Yakol. (chapadinha) Fabaceae Aegiphilla klotschiana Cham. (tamanqueiro-do-cerrado) Verbenaceae Anadenanthera falcata (Benth.) Speg. Mimosaceae Bauhinia longifolia (Bong.) Steud. (pata-de-vaca-do-

campo) Caesalpinoideae

Stryphnodendron barbadetimam (Vell.) Forrero (barbatimão)

Fabaceae

Tabebuia ochraceae (Cham.) Standl. (ipê-am.-do-campo) Bignoniaceae

Palmácea S yagrus flexuosa (Mart.) Becc. (coco-do-campo)

Palmae

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3.1.3.1.1.1.4 ÁRVORES ISOLADAS DE PEQUENO E MÉDIO PORTE E VEGETAÇÃO EM ESTÁDIO PIONEIRO DE REGENERAÇÃO 6

Obs. além do Decreto 750/93, mencionado anteriormente, a autorização para su-pressão ou corte de indivíduos arbóreos nativos isolados, vivos ou mortos, situados fora de áreas de preservação permanente, inclusive na zona urbana, deverá seguir as definições e procedimentos determinados na portaria DEPRN no 44/95, que prevê reposição das árvores cortadas nas seguintes proporções, conforme disposto na Tabela 4.

Tabela 4. Proporções para reposição de árvores cortadas.

As características da vegetação neste estádio de regeneração apresenta árvores e arbustos isolados e não apresenta predominância de alecrim do campo, segundo a Figura 5.

Foto: Paulo Roberto Moreira Figura 5. Árvores e arbustos isolados e vegetação em estádio pioneiro de regeneração.

Quantidades de árvores solicitadas para corte

Quantidade de á rvores d e reposição para cada á rvore solicitada

V ERDE M ORTA Até 20 1 0:1 5:1 De 21 à 50 1 5:1 8:1 De 51 à 100 2 0:1 15:1

Acima de 100 2 5:1 20:1

Foto: Paulo Roberto Moreira 5 Á b i l d ã ádi i i d ã

6 Conforme representação em planta anexa.

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Tabela 5. Árvores isoladas de pequeno e médio porte e vegetação em estádio pioneiro de regeneração com seus respectivos nomes comuns, científicos, famílias e categorias.

Categoria

Nome Científico/Nome Comum

Família

Gramíneas Brachiaria decumbens Stapf. (capim braquiária) Gramineae Imperata brasiliensis Trin. (sapé) Gramineae Melinis minutiflora Beauv. (capim-gordura) Gramineae Panicum maximum Jacq. (capim-colonião) Gramineae Paspalum paniculatum L. (capim-milhã) Gramineae Pennisetum purpureum Schum. (capim-napier) Gramineae Rhynchelitrum roseum (Ness) Stapf. Hubb. (capim-

favorito) Gramineae

Herbáceas Stylosanthes guyanensis (Aubl.) Sw. (Alfafa-do-

campo) Leguminosae

Sida carpinifolia L. F. (malva-baixa) Malvaceae Sida santaremnensis H. Mont. (guanxuma) Malvaceae Borreria alata DC. (poaia-do-campo) Rubiaceae Diodia teres Walt. (mata-pasto) Rubiaceae Richardia scabra L. (poaia-do-cerrado) Rubiaceae Arbustos Solanum paniculatum L. (jurubeba) Solanaceae Zeyheria digitalis (Vell.) Hoehne (bolsa-de-pastor) Bignoniaceae Arbóreas Acosmium subelegans (Mohl.) Yakol. (chapadinha) Fabaceae Aegiphilla klotschiana Cham. (tamanqueiro-do-

cerrado) Verbenaceae

Anadenanthera falcata (Benth.) Speg. Mimosaceae Casearia sylvestris Sw. (pau-de-lagarto) Flacourtiaceae Cecropia pachystachya Trec. (embaúva) Cecropiaceae Chorisia speciosa St. Hil. (paineira-rosa) Bombacaceae Copaifera langsdorffii Desf. (pau-de-óleo) Caesalpinoideae Dalbergia miscolobium Benth. (caviúna-do-cerrado) Fabaceae Dendropanax cuneatum (DC) Dcne. Et Planch. (maria-

mole) Araliaceae

Gochnatia polymorpha (Less). (candeia) Compositae Kielmeyera coriacea (Spr.) Mart. (pau-santo) Guttiferae Lithraea molleoides (Vell) Engl. (aroeira-brava) Anacardiaceae Matayba elaeagnoides Radlk. (camboatã-vermelho) Sapindaceae Myrcia selloi (Spreng) N. Silveira (cambuizinho) Myrtaceae Myrcia tomentosa (Aubl.) DC (goiaba-brava) Myrtaceae Pera glabrata (Schott) Baill. (tamamqueira) Euphorbiaceae Persea pyrifolia Nees et Mart. Ex Nees (abacateiro-do-

mato) Lauraceae

Peschiera fuchsiaefolia Miers. (leiteiro) Apocynaceae Tabebuia ochraceae (Cham.) Standl. (ipê-am.-do-

campo) Bignoniaceae

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3.1.3.1.1.1.5 ESTÁDIO INICIAL DE REGENERAÇÃO COM ÁRVORES ISOLADAS 7

Obs. Para supressão da vegetação neste estádio de regeneração, o procedimento será igual ao estádio inicial de regeneração com estrato herbáceo e pequenas árvores.

Foto: Paulo Roberto Moreira Figura 6. Vegetação no estádio “v” de regeneração.

Neste estádio de regeneração a vegetação apresenta 10 árvores e 2 arbustos dominantes, além de gramíneas e arbustos secundários.

Tabela 6. Listagem das espécies arbóreas, arbustivas e gramíneas observadas neste estádio de regeneração, com seus respectivos nomes comuns, científicos e cat-egoria.

Foto: Paulo Roberto Moreira

Categoria

Nome Científico/Nome Comum

Família

Gramíneas Brachiaria decumbens Stapf. (capim braquiária) Gramineae Imperata brasiliensis Trin. (sapé) Gramineae Melinis minutiflora Beauv. (capim-gordura) Gramineae Panicum maximum Jacq. (capim-colonião) Gramineae Paspalum paniculatum L. (capim-milhã) Gramineae Rhynchelitrum roseum (Ness) Stapf. Hubb. (capim-

favorito) Gramineae

7 Conforme representação em planta anexa.

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3.1.4 FAUNA

3.1.4.1 AVIFAUNA

A EMBRAPA (1999 a) realizou um abrangente trabalho de classificação da avifauna da região de Campinas, SP e de acordo com ele foi possível a classificação das seguintes espécies, observadas em campo, na área do empreendimento.

Tabela 7. Classificação da avifauna observada na área do empreendimento, conforme EMBRAPA (1999 a).

Arbustos Solanum paniculatum L. (jurubeba) Solanaceae Zeyheria digitalis (Vell.) Hoehne (bolsa-de-pastor) Bignoniaceae Árboreas Anadenanthera falcata (Benth.) Speg. Mimosoideae Casearia sylvestris Sw. (pau-de-lagarto) Flacourtiaceae Copaifera langsdorffii Desf. (pau-de-óleo) Caesalpinoideae Dalbergia miscolobium Benth. (caviúna-do-cerrado) Fabaceae Gochnatia polymorpha (Less). (candeia) Compositae Lithraea molleoides (Vell) Engl. (aroeira-brava) Anacardiaceae Myrcia sellowi (Spreng) N. Silveira (cambuizinho) Myrtaceae Pera glabrata (Schott) Baill. (tamamqueira) Euphorbiaceae Persea pyrifolia (Nees et Mart.) Ex Nees (abacateiro-

do-mato) Lauraceae

Tabebuia ochaceae (Cham.) Standl. (ipê-amarelo-do-campo)

Bignoniaceae

8 Exemplar da família Picidae, não foi possível a identificação do gênero e da espécie.

Denominação vulgar N ome científico Pardal Passer domesticus Pomba amargosa Columba plumbea Rolinha Columbina minuta Anu branco Guira guira Bem te vi Pitangus sulphuratus Sem fim Tapera naevia Curruíra Troglodytes aedon Urubu comum Coragyps atratus Pica pau Picidae Papa capim Sporophila caerulencens Anu preto Chrotophaga ani Andorinha doméstica pequena Progne subis Tesourinha Muscivora tyranus João de barro Furnarius rufus

8

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3.1.4.2 ICTIOFAUNA

Segundo Barrella (1997) as espécies mais comuns na Bacia da região do empreendimento são: o lambari de rabo vermelho Astyanax fasciatus, o sagüiru branco Steindachnerina insculpta e o sagüiru curto Cyphocharax modesta.

3.1.5 CLIMA

Segundo Espíndola (1979) e Lemos (1976) as características climáticas gener-alizadas das diversas regiões fisiográficas do sul brasileiro estão associadas às proprie-dades dos solos basálticos correspondentes, conforme disposto na Tabela 8.

Tabela 8. Tipo Climático (Köppen)

Para a região de Barra Bonita (último ponto à jusante da Bacia do Médio Curso do rio Tietê), Setzer (1976) classifica o clima como “úmido sub-tropical com estação seca”, com temperatura média anual de 21,7oC e precipitação média anual de 1.240 mm. Segundo Oliveira et al. (1976) apresenta um regime hídrico do solo caracterizado como “údico”, significando menos de 90 dias consecutivos de deficiência hídrica, e um regime térmico “hipertérmico”, onde a temperatura média anual do solo a 50 cm de profundidade é superior a 22oC, enquanto a “amplitude térmica” do solo (diferença entre verão e inverno) a 50 cm de profundidade é superior a 5oC.

Região Fisiográfica Precipitação mm/ano

Tipo Climático Köppen

Alto Paraná 1100 – 1400 C wa Iguaçu 1600 – 1700 C fa Planalto d as Araucárias

1500 – 2000 C fa, Cfb

Alto Uruguai 1800 – 2000 C fa Campos de Altitude 1500 – 2000 C fb Campanha ˜ 1400 C fa

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3.1.6 CARACTERIZAÇÃO DA BACIA DO RIO JUNDIAÍ (CETESB, 1998)

A Bacia do rio Jundiaí possui uma área de drenagem de 1.150 km2. O rio Jundiaí nasce na Serra de Pedra Vermelha (município de Mairiporã) e deságua na margem direita do rio Tietê, no reservatório da Usina de Porto Góes (Município de Salto); rios Jundiaí Mirim e Piraí. A Bacia possui 38,5% da área ocupada com pastagens naturais e culti-vadas, 10% com áreas de reflorestamento e 9% com matas e capoeiras. As principais atividades agrícolas praticadas na bacia são: fruticultura, citricultura, hortaliças, tomate, batata, etc.; atividade granjeira, uso urbano e acentuado desenvolvimento industrial.

Os principais usos da água da Bacia são:

i. abastecimento público de seis Municípios, cinco através de águas superficiais e um (Itupeva) através de manancial subterrâneo;

ii. recepção de efluentes domésticos gerados por seis Municípios, sendo que so-mente um possui sistema de tratamento de esgoto;

iii. abastecimento industrial;iv. recepção de efluentes líquidos industriais.

As principais atividades industriais são: indústrias alimentícias, metalúrgicas, químicas, têxteis, chapas duras e papelão.

A Tabela 9 traz os valores da carga poluidora orgânica na Bacia.

Tabela 9. Carga Poluidora Orgânica

O IQA indicou a qualidade no trecho inicial variando entre Aceitável a Boa. Os valores da média móvel não indicaram tendência significativa de evolução da qualidade de água. A partir de Jundiaí os valores do IQA mantiveram-se na faixa de qualidade Ruim.

Fonte Carga Potencial (t DBO5.20/dia)

Carga Remanescente (t DBO5.20/dia)

Doméstica 27,4 26,3 Industrial 86,7 57,0 Total 114,1 83,3

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3.1.7 CARACTERIZAÇÃO DA BACIA DO RIO TIETÊ MÉDIO-SUPERIOR (CETESB, 1998)

Esta Bacia possui uma área de drenagem de 7.079 km2, é constituída pelo rio Tietê no trecho compreendido entre a saída do reservatório de Pirapora até a barragem de Barra Bonita, numa extensão de 367 km.

Os usos do solo podem ser discriminados da seguinte maneira:

i. Áreas urbanas, com concentração humana de mais de 400.000 habitantes;

ii. Da área rural da Bacia, aproximadamente 22% encontra-se com plantações de cana de açúcar, café, citrus, hortaliças e frutas; 31% está ocupada por pastagens culti-vadas e 22% por pastagens naturais; o restante da área compreende matas, capoeiras e reflorestamento, além de atividades granjeiras;

iii. APAs Jundiaí e Cabreúva, (também Corumbataí e Tietê).

Os principais usos da água são:

i. Abastecimento público;ii. Recepção de efluentes domésticos;iii. Abastecimento industrial;iv. Recepção de efluentes industriais (onde 15 indústrias respondem por 80% da

carga orgânica remanescente lançada na Bacia).

Nesta Bacia existem, aproximadamente, 1.020 indústrias, onde 10% do total são significativas em termos de poluição das águas, destacando-se as têxteis, alimentícias, de papel e celulose, abatedouros, engenhos e uma usina de açúcar e álcool.

A Tabela 10 relaciona os valores da carga poluidora orgânica concentradas na Bacia, com dados da CETESB (Sorocaba) 1996.

Tabela 10. Carga Poluidora Orgânica

Fonte Carga Potencial (t DBO5.20/dia)

Carga Remanescente (t DBO5.20/dia)

Doméstica 28,3 26,4

Industrial (com

lançamento) 18,0 4,9

Industrial (sem

lançamento)

115,4 0,0

Total 161,7 31,3

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O IQA qualificou as águas variando entre Aceitável a Péssima no primeiro ponto à montante do trecho médio do rio Tietê, e praticamente todo o tempo na categoria Ruim. Não houve indicação de tendência definida de variação da qualidade da água entre os anos de 1992 e 1996, mas observa-se em alguns pontos uma tendência de piora.

4. DIAGNÓSTICO AMBIENTAL PRELIMINAR DA ÁREA DE INFLUÊNCIA

4.1 LEGISLAÇÕES INCIDENTES NA ÁREA DO EMPREENDIMENTO

4.1.1 CONSIDERAÇÕES SOBRE A ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE CABREÚVA E JUNDIAÍ

A Área de Proteção Ambiental (APA) é uma categoria de Unidade de Conservação, voltada para a proteção de riquezas naturais que estejam inseridas dentro de um con-texto de ocupação humana. O principal objetivo é a conservação de sítios de beleza cênica e a utilização racional dos recursos naturais, colocando em segundo plano, a manutenção da diversidade biológica e a preservação dos ecossistemas em seu estado original. Esta categoria de área protegida, estabelecida pela Lei no 6.902, de 27 de abril de 19819, foi inspirada originalmente nos Parque Naturais de Portugal, tendo concepções semel-hantes às dos Parque Nacionais da Inglaterra e Landschaftsschutzgebiet da Alemanha (EMBRAPA, 1999 b). Segundo Machado (1998), o regime jurídico das APAs possibilita a exploração dos recursos naturais existentes, desde que sejam observados todos os requisitos da legislação Federal, Estadual e Municipal pertinentes. APA é uma modalidade

9 Artigo 9° - Em cada Área de Proteção Ambiental, dentro dos princípios constitucionais que regem o exercício do direito de propriedade, o Poder Executivo estabelecerá normas, limitando ou proibindo:a) - a implantação e o funcionamento de indústrias potencialmente poluidoras, capazes de afetar mananciais de água;b) - a realização de obras de terraplenagem e a abertura de canais, quando essas iniciativas importarem em sensível alteração das condições ecológicas locais;c) - o exercício de atividades capazes de provocar uma acelerada erosão das terras e/ou um acentuado assoreamento das coleções hídricas;d) - o exercício de atividades que ameacem extinguir na área protegida as espécies raras da biota regional.§ 1° - O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, ou órgão equivalente no âmbito estadual, em conjunto ou isoladamente, ou mediante convênio com outras entidades, fiscalizará e supervisionará as Áreas de Proteção Ambiental.§ 2° - Nas Áreas de Proteção Ambiental, o não-cumprimento das normas disciplinadoras previstas neste artigo sujeitará os infratores ao embargo das iniciativas irregulares, à medida cautelar de apreensão do material e das máquinas usadas nessas atividades, à obrigação de reposição e reconstituição, tanto quanto possível, da situação anterior e à imposição de multas graduadas de Cr$ 200,00 (duzentos cruzeiros) a Cr$ 2.000,00 (dois mil cruzeiros), aplicáveis, diariamente, em caso de infração continuada, e reajustáveis de acordo com os índices das ORTNs - Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional.§ 3° - As penalidades previstas no parágrafo anterior serão aplicadas por iniciativa do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis ou do órgão quando se tratar de multas.§ 4° - Aplicam-se às multas previstas nesta Lei as normas da legislação tributária e do processo administrativo fiscal que disciplinam a imposição e a cobrança das penalidades fiscais.

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de unidade de conservação que pode ser instituída em terras particulares para proteger ecossistemas, tentando conciliar o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida das populações residentes.

De acordo com a EMBRAPA (1999 b), a característica marcante das APAs é a possibilidade de manutenção da propriedade privada e do estilo de vida tradicional da região, onde programas de proteção à vida silvestre podem ser implantados sem haver necessidade de desapropriação de terras. Esta estratégia é compatível com a realidade brasileira, uma vez que a falta de recursos financeiros para a desapropriação de terras limita a implantação e consolidação de outros programas de conservação.

No Estado de São Paulo já foram criadas 16 APAs estaduais, 3 federais e várias municipais, atingindo mais de 100 municípios e protegendo uma grande variedade de paisagens e ecossistemas, numa extensão de cerca de 2,5 milhões de hectares, con-forme a listagem da Tabela 11.

Tabela 11. Localização das APAs Federais e Estaduais no Estado de São Paulo1. A PA C ampos d oJordão Área: 26.900,00 ha

2. A PA S ilveirasÁrea: 42.700,00 ha

3. APA Tietê Área: 45.100,00 ha

4. A PA C orumbataí,Botucatu e Tejupá

4a. PerímetroCorumbataí Á rea:272.692,09 ha

4b. Perímetro BotucatuÁrea: 218.306,00 ha

4c. Perímetro TejupáÁrea: 158.258,70 ha

5. A PA C abreúvaÁrea: 26.100,00 ha

6. APA Cajamar Área: 13.400,00 ha

7. A PA J undiaí Área:43.200,00 ha

8. A PA S erra doMar Área:488.864,86 ha

9. A PA R epresa B airro da U sina Á rea: 1.018,37 há

10. APA Ibitinga Área:64.900,00 há

11. A PA V árzea doAlto T ietê Á rea:7.400 ha

12. A PA I lha Comprida Á rea: 17.527,00

13. A PA P iracicaba eJuqueri-Mirim 13a. Á rea I - Área:107.596,15 h a 13b.Área I I - Área:280.330,90 há

14. A PA H aras deSão Bernardo Á rea:35,30 ha

15. A PA M orro d e São Bento Área: aproximadamente 1,93 há

16. A PA M ananciaisdo V ale do P araíba doSul Área: 367.000 ha

17. A PA C ananéia,Iguape e P eruíbe *Área: 209.345,00 há

18. A PA S erra d a Mantiqueira * Área: 93.678.75 há

19. A PA P arque eFazenda do C armoÁrea: 867,60 ha

ota: * APA'sFederais

Fonte: P ropostas d e ZoneamentoAmbiental Série Documentos G overnodo E stado de S ão P aulo S ecretaria d o Meio Ambiente

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A APA de Cabreúva e Jundiaí está dividida em onde a área de vida silvestre não possui limites fixos e inclui qualquer remanescente natural (e não apenas a Serra do Japi, onde está sua principal concentração). Nela as obras são proibidas, exceto para melhorar condições de saúde pública. As zonas definidas são a área de conservação da vida silvestre, destinada para a mata atlântica e sua reprodução de espécies animais e vegetais; a área de conservação hídrica, que tem prioridade na qualidade das águas dos rios Jundiaí Mirim, Caxambu, Capivari e Piraí. Finalmente a área de restrição moderada, com os setores urbanizados, que não tem as limitações dadas para o restante da APA.

4.1.2 LEGISLAÇÃO INCIDENTE SOBRE O EMPREENDIMENTO

i. Lei 4771/65 (e suas alterações): estabelece Áreas de Preservação Permanente e áreas restritivas para interferências.

ii. Lei no. 6.766/79 (e suas alterações): dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, estabelecendo os requisitos mínimos para o loteamento e desmembramento, permitindo aos Estados e Municípios estabelecer outras exigências para melhor adapta-ção às peculiaridades regionais e locais.

iii. Lei 6902/81: introduz as APAs no Direito Brasileiro, de acordo com o art. 8o.iv. Lei no. 6.938/81: dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus

fins e mecanismos de formulação e aplicação, estabelecendo as APAs como um de seus instrumentos, no art. 9o.

v. Resolução CONAMA no. 4/85: dispõe sobre Reservas Ecológicas.vi. Resolução CONAMA no. 1/86: estabelece as definições, as responsabilidades,

os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Im-pacto Ambiental como um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente.

vii. Decreto Federal no. 750/93: dispõe sobre o corte, a exploração e a supressão de vegetação primária ou nos estágios avançado e médio de regeneração da Mata Atlân-tica.

viii. Resolução CONAMA no. 1/94: dispõe sobre as diretrizes e orientações sobre o procedimento de licenciamento de exploração da vegetação no Estado de São Paulo.

ix. Resolução Conjunta SMA/IBAMA no. 1/94: estabelece os procedimentos para obtenção de licenciamento de exploração da vegetação nativa do Estado de São Paulo.

x. Resolução Conjunta SMA/IBAMA no. 2/94: regulamenta e estabelece definições das responsabilidades, dos critérios básicos e das diretrizes gerais para a aplicação do disposto no art. 40 do Decreto Federal no. 750/93.

xi. Portaria DEPRN no. 44/95: prevê a reposição de árvores isoladas cortadas.xii. Lei no. 9433/97: institui a Política Nacional de Recursos Hídricos.xiii. Lei no. 9605/98: que trata dos crimes ambientais. As obras em desacordo

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com as exigências legais, podem sofrer três tipos de pena: suspensão total ou parcial das atividades; interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade e proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doa-ções.

A legislação citada acima constitui o corpo legal básico ao qual o empreendimen-to deve se submeter, com especial atenção à necessidade da manutenção de 50% de área permeável na superfície do solo, 35% de áreas públicas e exigências específicas à preservação dos mananciais de abastecimento urbano. Esta última exigência é agravada pela localização do empreendimento que situa-se na zona de proteção hídrica da APA de Cabreúva.

A necessidade da apresentação de um Relatório Ambiental preliminar ou qualquer outra avaliação ambiental prévia, é controvertida. A dualidade de regulamentação necessária à implantação de uma APA deve obedecer ao princípio da identidade de inten-ções. Apesar da Lei 6902/81, que regulamentou a criação deste instituto jurídico exigir o detalhamento caso ao caso, em atendimento a características regionais antrópicas e físicas, muitas vezes, na prática, é difícil constatar a adequação da legislação regional face à federal.

Esta situação enseja diferentes posições sobre os estudos ambientais necessári-os à obtenção de licenciamento para a exploração de recursos naturais dentro dessas áreas. Machado (1998), menciona que a lei não diz textualmente como será feita essa análise preliminar, sua profundidade e seu conteúdo. Essa análise equivale a um estudo de impacto, uma avaliação prévia, evitando-se a constatação dos prejuízos depois que o projeto está em marcha ou até executado.

Por outro lado, Antunes (1998), considerando o status jurídico especial das APAs, coloca que as atividades a serem desenvolvidas dentro destes locais devem, necessari-amente, ser precedidas de estudo de impacto ambiental (EIA). Comenta ainda, que as APAs são espaços protegidos que, não obstante a ampla proteção legal de que são mere-cedoras, não se constituem em áreas intocáveis, onde não há proibição de habitação, residência e atividades produtivas, contudo, estas devem ser orientadas e supervisiona-das pela entidade ambiental encarregada de assegurar o atendimento das finalidades da legislação instituidora.

4.2 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA ÁREA DO EMPREENDIMENTO

A maior parte dos solos no entorno do empreendimento estão urbanizados. O empreendimento localiza-se entre o Distrito de Jacaré, algumas indústrias e fazendas. A área residencial do mencionado Distrito é bastante ampla e densamente ocupada.

O terreno do empreendimento, especificamente, não está ocupado com residências,

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no momento, mas já foi diversas vezes invadido. A vegetação é escassa, restando pequenas porções isoladas. Boa parte da área sofreu a ação de queimadas anteriores ao empreendi-mento, o que colaborou com a diminuição da densidade da vegetação local, ora composta por alguns remanescentes de essências nativas e por diversas espécies exóticas e frutíferas, além da vegetação herbácea, composta em maior parte por gramíneas.

O espaço a ser loteado vem sendo sofrendo o depósito esparso de lixo doméstico, por moradores vizinhos e transeuntes, bem como de restos (inclusive entulho de demolições) da construção civil.

4.3 CARACTERIZAÇÃO SOCIOECONÔMICAS DE CABREÚVA (IBGE, 1998)

O município de Cabreúva possui 5.789 domicílios particulares (incluindo as zonas urbana e rural), a média global de moradores por domicílio, nestas circunstâncias, é 4,05 pessoas; especificamente: 4,24 pessoas na zona urbana e 3,98 pessoas na zona rural (IBGE, 1998). Na zona urbana de Cabreúva o IBGE (1998) contou 4.316 domicílios par-ticulares permanentes, o que corresponde a 70,79% do total de domicílios do município (urbanos e rurais).

As principais características de Cabreúva, de acordo com o IBGE (1998), estão apresentadas nas Tabelas 12, 13, 14 e 15, abaixo.

Tabela 12. Síntese Estatística de Cabreúva (IBGE, 1998)

Síntese Estatística São Paulo -> Cabreúva VARIÁVEIS VALO

R UNIDADE DE

MEDIDA

Pessoas residentes 23 572 P essoas

Homens residentes 12 003 P essoas

Mulheres residentes 11 569 P essoas

Pessoas residentes - área urbana / pessoas residentes ( % ) 73,85 P essoas

Pessoas residentes - 15 a 64 anos de idade / pessoas residentes ( % ) 62,52 P essoas

ascidos vivos - ocorridos e registrados no ano - lugar de residência da mãe 555 P essoas

Óbitos - ocorridos e registrados no ano - lugar de residência do falecido 144 P essoas

Óbitos - ocorridos e registrados no ano - menores de 1 ano - lugar de residência do falecido 1 4 Pessoas

Óbitos violentos - ocorridos e registrados no ano - lugar de registro 12 P essoas

Óbitos violentos - ocorridos e registrados no ano - homens - lugar de registro 10 P essoas

Óbitos violentos - ocorridos e registrados no ano - mulheres - lugar de registro 2 P essoas

Casamentos - registros no ano - lugar de registro 160 P essoas

Separações judiciais - registros no ano - lugar da ação do processo 0 P essoas

Divórcios - registros no ano - lugar da ação do processo 0 P essoas

Pessoas residentes - 4 anos ou mais de idade que freqüentam escola / pessoas residentes - 4 anos ou mais de

idade ( % ) 27,39 P essoas

Homens residentes - 4 anos ou mais de idade que freqüentam escola / pessoas residentes - 4 anos ou mais de

idade que freqüentam escola ( % ) 50,67 P essoas

Mulheres residentes - 4 anos ou mais de idade que freqüentam escola / pessoas residentes - 4 anos ou mais de

idade que freqüentam escola ( % ) 49,33 P essoas

Pessoas residentes - 4 a 6 anos de idade que freqüentam escola / pessoas - 4 a 6 anos de idade ( % ) 44,35 P essoasPessoas residentes - 7 a 9 anos de idade que freqüentam escola / pessoas - 7 a 9 anos de idade ( % ) 92,77 P essoasPessoas residentes - 10 a 14 anos de idade que freqüentam escola / pessoas - 10 a 14 anos de idade ( % ) 87,69 P essoasPessoas residentes - 15 a 19 anos de idade que freqüentam escola / pessoas - 15 a 19 anos de idade ( % ) 43,98 PessoasPessoas residentes - 20 a 24 anos de idade que freqüentam escola / pessoas - 20 a 24 anos de idade ( % ) 10,28 P essoasAnos de estudo - pessoas residentes - 4 anos ou mais de idade - média 5,15 A nos de estudoAnos de estudo - homens residentes - 4 anos ou mais de idade - média 5,01 Anos de estudoAnos de estudo - mulheres residentes - 4 anos ou mais de idade - média 5 ,29 Anos de estudo

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Pessoas residentes - 4 anos ou mais de idade sem instrução ou menos de 1 ano de estudo / pessoas residentes - 4 anos ou mais de idade ( % )

18,85 P essoas

Homens residentes - 4 anos ou mais de idade sem instrução ou menos de 1 ano de estudo / homens residentes – 4 anos ou mais de idade ( % )

17,94 P essoas

Mulheres residentes - 4 anos ou mais de idade sem instrução ou menos de 1 ano de estudo / mulheres residentes - 4 anos de idade ( % )

19,8 Pessoas

Matrículas - educação pré-escolar 699 M atriculas Matrículas - ensino fundamental 5 309 M atriculas Matrículas - ensino médio 795 M atriculas Docentes - educação pré-escolar 28 D ocentes Docentes - ensino fundamental 186 D ocentes Docentes - ensino médio 45 D ocentes Estabelecimentos de ensino pré-escolar 10 E stabelecimentos de

ensino Estabelecimentos de ensino fundamental 17 E stabelecimentos de

ensino Estabelecimentos de ensino médio 2 Estabelecimentos de Hospitais 1 Hospitais Leitos hospitalares 31 L eitos Unidades ambulatoriais 6 AmbulatóriosInternações hospitalares 155 I nternaçõesÓbitos 103 P essoasÓbitos – homens 68 P essoasÓbitos – mulheres 35 P essoasDomicílios particulares permanentes 5 770 D omicíliosDomicílios particulares permanentes - chefes homens 5 067 D omicílios Domicílios particulares permanentes - chefes mulheres 703 D omicílios Pessoas residentes - domicílio particular permanente - média 4,07 P essoas Pessoas migrantes - 4 anos ou mais de idade / pessoas residentes - 4 anos ou mais de idade( % ) 16,78 P essoas Pessoas migrantes - mesma Unidade da Federação - 4 anos ou mais de idade / pessoas migrantes - 4 anos ou mais de idade ( % )

70,39 P essoas

Seções eleitorais 27 S eções Eleitores - unidades territoriais 13 731 Eleitores Sedes de empresas com CGC 523 E mpresas Empresas com CGC atuantes – unidade territorial 549 E mpresas Unidades locais - empresas com CGC 561 U nidades locais Unidades locais - 1 a 4 pessoas ocupadas 412 U nidades locais Unidades locais - 5 a 9 pessoas ocupadas 59 U nidades locais Unidades locais - 10 a 19 pessoas ocupadas 31 U nidades locais Unidades locais - 20 a 29 pessoas ocupadas 12 U nidades locais Unidades locais - 30 a 49 pessoas ocupadas 8 Unidades locais Unidades locais - 50 a 99 pessoas ocupadas 7 Unidades locais Unidades locais - 100 a 249 pessoas ocupadas 2 Unidades locais Unidades locais - 250 a 499 pessoas ocupadas 3 Unidades locais Unidades locais - 500 a 999 pessoas ocupadas 2 Unidades locais Unidades locais - 1000 ou mais pessoas ocupadas 0 Unidades locais Pessoal ocupado - unidades locais 5 192 P essoas ocupadas Pessoal ocupado - unidades locais - 1 a 4 pessoas ocupadas 698 P essoas ocupadas Pessoal ocupado - unidades locais - 5 a 9 pessoas ocupadas 382 P essoas ocupadas Pessoal ocupado - unidades locais – 10 a 19 pessoas ocupadas 421 P essoas ocupadas Pessoal ocupado - unidades locais – 20 a 29 pessoas ocupadas 307 P essoas ocupadas Pessoal ocupado - unidades locais – 30 a 49 pessoas ocupadas 333 P essoas ocupadas Pessoal ocupado - unidades locais – 50 a 99 pessoas ocupadas 502 P essoas ocupadas Pessoal ocupado - unidades locais - 100 a 249 pessoas ocupadas 231 P essoas ocupadas Pessoal ocupado - unidades locais - 250 a 499 pessoas ocupadas 1 096 P essoas ocupadas

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Pessoal ocupado - unidades locais - 500 a 999 pessoas ocupadas 1 222 P essoas ocupadas Pessoal ocupado - unidades locais - 1000 ou mais pessoas ocupadas 0 Pessoas ocupadas Estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 204 E stabelecimentos Área - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 14 283 H ectares Pessoal ocupado - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 1 111 P essoas Pessoal ocupado - estabelecimentos agropecuários - menores 14 anos de idade - 31.12.1995 142 P essoas Máquinas para plantio existentes - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 2 4 Unidades Máquinas para colheita existentes - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 8 U nidades Tratores existentes – estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 105 U nidades Caminhões existentes - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 4 9 Unidades Utilitários existentes - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 4 5 Unidades Valor da produção animal e vegetal - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 14 291 M il reais Agências bancárias 4 Agências Valor dos depósitos 12 193 M il reais Valor das aplicações 3 174 M il reais Receitas orçamentárias realizadas 7 252 M il reais Despesas orçamentárias realizadas 7 782 M il reais Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias 1 932 M il reais Receitas orçamentárias realizadas correntes - transferências 4 865 M il reais Despesas orçamentárias realizadas correntes - custeio 6 223 M il reais Valor do Fundo de Participação dos Municípios - FPM 1 955 M il reais Valor do Imposto Territorial Rural – ITR 31 486 R eais

Observações

Fonte: IBGE, Contagem da População 1996; IBGE, Estatísticas do Registro Civil 1995.

Nota: os totais de Brasil e Unidades da Federação são a soma dos valores dos mu-nicípios, não incluindo as ocorrências em UF ou Município ignorados e país estrangeiro.

Fonte: Ministério da Educação e do Desporto, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas, Censo Educacional 1996.

Nota: o mesmo estabelecimento pode oferecer mais de um nível/modalidade de ensino. O mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e mais de um estabelecimento.

Fonte: Ministério da Saúde, Departamento de Informática do SUS - DATASUS – 1996; Tribunal Superior Eleitoral, Registros Administrativos 1996.

Nota: os totais de Brasil e Unidades da Federação NÃO são a soma dos valores dos municípios, pois consideram os valores dos municípios já criados porém ainda não instalados à época das eleições. O total Brasil inclui, ainda, as seções eleitorais e os eleitores em país estrangeiro.

Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 1996; IBGE, Censo Agropecuário 1995-1996.

Nota: os totais de Brasil e Unidades da Federação são a soma dos valores dos municípios já arredondados, e não a agregação de microdados.

Fonte: Ministério da Fazenda, Banco Central do Brasil, Registros Administrativos 1996.

Nota: os totais de Brasil e Unidades da Federação são a soma dos valores dos municípios. Atribuiu-se a expressão "Sigilo estatístico" aos Depósitos e Aplicações quando existem somente 1 ou 2 agências no Município. 29 agências bancárias localizadas em

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municípios já criados mas ainda não instalados em 31.12.96 não foram alocadas em seus Municípios de origem, sendo excluídas dos totais de Brasil e Unidades da Federação.

Fonte: Ministério da Fazenda, Secretaria do Tesouro Nacional, Registros Admin-istrativos 1996.

Nota: os totais de Brasil e Unidades da Federação são a soma dos valores dos municípios. Atribuiu-se a expressão "Dado não disponível" às Receitas e Despesas Orça-mentárias faltantes. As lacunas implicam em divergência entre os totais Despesas por Categoria Econômica e por Função.

Fonte: IBGE, Cadastro de Cidades e Vilas do Brasil 1996.

Tabela 13. Estrutura Empresarial de Cabreúva (IBGE, 1998).

Estrutura Empresarial São Paulo -> Cabreúva VARIÁVEIS VALOR UNIDADE DE

MEDIDA Unidades locais - empresas com CGC 561 unidades locais Unidades locais - ano de fundação até 1969 1 4 unidades locais Unidades locais - ano de fundação 1970 a 1974 20 unidades locais Unidades locais - ano de fundação 1975 a 1979 36 unidades locais Unidades locais - ano de fundação 1980 a 1984 52 unidades locais Unidades locais - ano de fundação 1985 a 1989 113 unidades locais Unidades locais - ano de fundação 1990 a 1994 170 unidades locais Unidades locais - ano de fundação 1995 em diante 156 unidades locais Unidades locais - sem pessoal ocupado 2 5 unidades locais Unidades locais - 1 pessoa ocupada 215 unidades locais Unidades locais - 2 pessoas ocupadas 131 unidades locais Unidades locais - 3 pessoas ocupadas 43 unidades locais Unidades locais - 4 pessoas ocupadas 23 unidades locais Unidades locais - 5 pessoas ocupadas 16 unidades locais Unidades locais - 6 pessoas ocupadas 18 unidades locais Unidades locais - 7 pessoas ocupadas 12 unidades locais Unidades locais - 8 pessoas ocupadas 7 unidades locais Unidades locais - 9 pessoas ocupadas 6 unidades locais Unidades locais - 1 a 4 pessoas ocupadas 412 unidades locais Unidades locais - 5 a 9 pessoas ocupadas 59 unidades locais Unidades locais - 10 a 19 pessoas ocupadas 31 unidades locais Unidades locais - 20 a 29 pessoas ocupadas 12 unidades locais

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Unidades locais - 30 a 49 pessoas ocupadas 8 unidades locais Unidades locais - 50 a 99 pessoas ocupadas 7 unidades locais Unidades locais - 100 a 249 pessoas ocupadas 2 unidades locais Unidades locais - 250 a 499 pessoas ocupadas 3 unidades locais Unidades locais - 500 a 999 pessoas ocupadas 2 unidades locais Unidades locais - agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal 8 unidades locais Unidades locais - agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal - 1 a 4 pessoas ocupadas 4 unidades locais Unidades locais - agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal - 5 a 9 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal - 10 a 19 pessoas ocupadas 2 unidades locais Unidades locais - agricultura, pecuária, silvicultura e exploração florestal - 20 a 29 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - indústrias extrativas 4 unidades locais Unidades locais - indústrias extrativas - 1 a 4 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - indústrias extrativas - 5 a 9 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - indústrias extrativas - 10 a 19 pessoas ocupadas 2 unidades locais Unidades locais - indústrias de transformação 136 unidades locais Unidades locais - indústrias de transformação - sem pessoal ocupado 4 unidades locais Unidades locais - indústrias de transformação - 1 a 4 pessoas ocupadas 75 unidades locais Unidades locais - indústrias de transformação - 5 a 9 pessoas ocupadas 27 unidades locais Unidades locais - indústrias de transformação - 10 a 19 pessoas ocupadas 10 unidades locais Unidades locais - indústrias de transformação - 20 a 29 pessoas ocupadas 8 unidades locais Unidades locais - indústrias de transformação - 30 a 49 pessoas ocupadas 4 unidades locais Unidades locais - indústrias de transformação - 50 a 99 pessoas ocupadas 4 unidades locais Unidades locais - indústrias de transformação - 100 ou mais pessoas ocupadas 4 unidades locais Unidades locais - produção e distribuição de eletricidade, gás e água 6 unidades locais Unidades locais - produção e distribuição de eletricidade, gás e água - sem pessoal ocupado 3 unidades locais Unidades locais - produção e distribuição de eletricidade, gás e água - 1 a 4 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - produção e distribuição de eletricidade, gás e água - 5 a 9 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - produção e distribuição de eletricidade, gás e água - 100 ou mais pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais – construção 19 unidades locais Unidades locais - construção - 1 a 4 pessoas ocupadas 17 unidades locais Unidades locais - construção - 10 a 19 pessoas ocupadas 2 unidades locais Unidades locais - comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos 255 unidades locais Unidades locais - comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos - sem pessoal ocupado

8 unidades locais

Unidades locais - comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos - 1 a 4 pessoas ocupadas

221 unidades locais

Unidades locais - comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos - 5 a 9 pessoas ocupadas

14 unidades locais

Unidades locais - comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos - 10 a 19pessoas ocupadas

7 unidades locais

Unidades locais - comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos - 30 a 49pessoas ocupadas

2 unidades locais

Unidades locais - comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos - 50 a 99pessoas ocupadas

2 unidades locais

Unidades locais - comércio; reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos - 100 ou mais pessoas ocupadas

1 unidades locais

Unidades locais - alojamento e alimentação 56 unidades locais Unidades locais - alojamento e alimentação - sem pessoal ocupado 1 unidades locais Unidades locais - alojamento e alimentação - 1 a 4 pessoas ocupadas 51 unidades locais Unidades locais - alojamento e alimentação - 5 a 9 pessoas ocupadas 2 unidades locais Unidades locais - alojamento e alimentação - 10 a 19 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - alojamento e alimentação - 50 a 99 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - transporte, armazenagem e comunicações 10 unidades locais Unidades locais - transporte, armazenagem e comunicações - 1 a 4 pessoas ocupadas 4 unidades locais Unidades locais - transporte, armazenagem e comunicações - 5 a 9 pessoas ocupadas 5 unidades locais Unidades locais - transporte, armazenagem e comunicações - 20 a 29 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - intermediação financeira 4 unidades locais Unidades locais - intermediação financeira - 1 a 4 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - intermediação financeira - 5 a 9 pessoas ocupadas 2 unidades locais

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Fonte: IBGE, Cadastro Central de Empresas 1996

Tabela 14. Agropecuária de Cabreúva (IBGE, 1998)

Unidades locais - intermediação financeira – 10 a 19 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas 30 unidades locais Unidades locais - imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas - 1 a 4 pessoas ocupadas 18 u nidades locais Unidades locais - imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas - 5 a 9 pessoas ocupadas 5 unidades locais Unidades locais - imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas - 10 a 19 pessoas ocupadas 4 unidades locais Unidades locais - imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas - 20 a 29 pessoas ocupadas 2 unidades locais Unidades locais - imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas - 30 a 49 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - administração pública, defesa e seguridade social 1 unidades locais Unidades locais - administração pública, defesa e seguridade social - 100 ou mais pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais – educação 3 u nidades locais Unidades locais - educação - sem pessoal ocupado 1 u nidades locais Unidades locais - educação - 1 a 4 pessoas ocupadas 2 unidades locais Unidades locais - saúde e serviços sociais 6 unidades locais Unidades locais - saúde e serviços sociais - 1 a 4 pessoas ocupadas 4 unidades locais Unidades locais - saúde e serviços sociais – 10 a 19 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - saúde e serviços sociais – 30 a 49 pessoas ocupadas 1 unidades locais Unidades locais - outros serviços coletivos, sociais e pessoais 23 u nidades locais Unidades locais - outros serviços coletivos, sociais e pessoais - sem pessoal ocupado 8 unidades locais Unidades locais - outros serviços coletivos, sociais e pessoais - 1 a 4 pessoas ocupadas 1 3 u nidades locais Unidades locais - outros serviços coletivos, sociais e pessoais - 5 a 9 pessoas ocupadas 1 u nidades locais Unidades locais - outros serviços coletivos, sociais e pessoais - 10 a 19 pessoas ocupadas 1 u nidades locais

Agropecuária São Paulo -> Cabreúva VARIÁVEIS VALOR UNIDADE DE

MEDIDA Estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 204 E stabelecimentos Área - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 14 283 H ectares Estabelecimentos agropecuários com produtor proprietário - 31.12.1995 165 E stabelecimentos Área - estabelecimentos agropecuários com produtor proprietário - 31.12.1995 14 122 H ectares Estabelecimentos agropecuários com produtor arrendatário – 31.12.1995 3 2 Estabelecimentos Área - estabelecimentos agropecuários com produtor arrendatário - 31.12.1995 111 H ectares Estabelecimentos agropecuários com produtor parceiro - 31.12.1995 4 E stabelecimentos Área - estabelecimentos agropecuários com produtor parceiro - 31.12.1995 6 H ectares Estabelecimentos agropecuários com produtor ocupante - 31.12.1995 3 E stabelecimentos Área - estabelecimentos agropecuários com produtor ocupante - 31.12.1995 4 4 Hectares Estabelecimentos agropecuários - uso - assistência técnica - 31.12.1995 5 8 Estabelecimentos Estabelecimentos agropecuários - uso - adubos e corretivos – 31.12.1995 112 E stabelecimentos Estabelecimentos agropecuários - uso - controle de pragas e doenças - 31.12.1995 156 E stabelecimentos

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Estabelecimentos agropecuários - uso - práticas de conservação do solo - 31.12.1995 25 Estabelecimentos Estabelecimentos agropecuários - uso - irrigação - 31.12.1995 53 Estabelecimentos Estabelecimentos agropecuários - uso - energia elétrica - 31.12.1995 169 Estabelecimentos Estabelecimentos agropecuários - menos de 10 hectares - 31.12.1995 122 Estabelecimentos Estabelecimentos agropecuários - 10 a menos de 100 hectares - 31.12.1995 54 Estabelecimentos Estabelecimentos agropecuários - 100 a menos de 200 hectares - 31.12.1995 11 Estabelecimentos Estabelecimentos agropecuários - 200 a menos de 500 hectares - 31.12.1995 10 Estabelecimentos Estabelecimentos agropecuários - 500 a menos de 2000 hectares - 31.12.1995 6 Estabelecimentos Estabelecimentos agropecuários - 2000 e mais hectares - 31.12.1995 1 Estabelecimentos Área - estabelecimentos agropecuários com lavouras permanentes e temporárias - 31.12.1995 1 156 Hectares Área - estabelecimentos agropecuários com pastagens naturais e plantadas - 31.12.1995 5 318 Hectares Área - estabelecimentos agropecuários com matas naturais e plantadas - 31.12.1995 5 848 Hectares Área - estabelecimentos agropecuários com lavouras em descanso e terras produtivas não utilizadas - 31.12.1995

374 Hectares

Pessoal ocupado - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 1 111 Pessoas Pessoal ocupado - estabelecimentos agropecuários - menores 14 anos de idade - 31.12.1995 142 Pessoas Pessoal ocupado - estabelecimentos agropecuários - responsável pela direção e membros não remunerados da família - 31.12.1995

460 Pessoas

Pessoal ocupado - estabelecimentos agropecuários - empregado permanente - 31.12.1995 625 Pessoas Pessoal ocupado - estabelecimentos agropecuários - empregado temporário - 31.12.1995 19 Pessoas Pessoal ocupado - estabelecimentos agropecuários - empregado parceiro - 31.12.1995 7 Pessoas Pessoal ocupado - estabelecimentos agropecuários - residente no estabelecimento - 31.12.1995 917 Pessoas Pessoal ocupado - estabelecimentos agropecuários - sem pessoal contratado - 31.12.1995 95 Pessoas Lavoura temporária - estabelecimentos agropecuários - atividade econômica - 31.12.1995 48 Estabelecimentos Horticultura e produtos de viveiro - estabelecimentos agropecuários - atividade econômica - 31.12.1995 32 Estabelecimentos Lavoura permanente - estabelecimentos agropecuários - atividade econômica - 31.12.1995 8 Estabelecimentos Pecuária - estabelecimentos agropecuários - atividade econômica - 31.12.1995 101 Estabelecimentos Produção mista (lavoura e pecuária) - estabelecimentos agropecuários - atividade econômica - 31.12.1995 5 Estabelecimentos Silvicultura e exploração florestal - estabelecimentos agropecuários - atividade econômica - 31.12.1995 9 Estabelecimentos Produção de carvão vegetal - estabelecimentos agropecuários - atividade econômica - 31.12.1995 1 Estabelecimentos Tratores existentes - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 105 Unidades Máquinas para plantio existentes - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 24 Unidades Máquinas para colheita existentes - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 8 Unidades Caminhões existentes - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 49 Unidades Utilitários existentes - estabelecimentos agropecuários - 31.12.1995 45 Unidades Bovinos - efetivo - estabelecimentos agropecuários - 31.07.1996 5 402 Cabeças Suínos - efetivo - estabelecimentos agropecuários - 31.07.1996 1 158 Cabeças Galinhas, galos, frangas, frangos e pintos - efetivo - estabelecimentos agropecuários - 31.07.1996 1 662 123 Cabeças Produção de leite de vaca - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 787 Mil litros Produção de ovos de galinha - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 539 Mil dúzias Valor da produção animal e vegetal - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 14 291 Mil Reais Valor da produção vegetal - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 1 983 Mil Reais Valor da produção vegetal - lavouras - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 639 Mil Reais Valor da produção animal - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 12 309 Mil Reais Valor da produção animal - animais de grande porte - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996

418 Mil Reais

Valor dos investimentos - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 630 Mil Reais

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Fonte: IBGE, Censo Agropecuário 1995-1996

Nota: os totais de Brasil e Unidades da Federação são a soma dos valores dos Municípios já arredondados, e não a agregação de microdados.

Valor dos financiamentos - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 3 Mil Reais Valor das despesas - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 15 652 Mil Reais Valor das receitas - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 14 551 Mil Reais Arroz em casca - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 2 Estabelecimentos Arroz em casca - quantidade colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 4 Toneladas Arroz em casca - quantidade vendida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 4 Toneladas Arroz em casca - área colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 2 Hectares Cana-de-açúcar - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 10 Estabelecimentos Cana-de-açúcar - quantidade colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 1 552 Toneladas Cana-de-açúcar - quantidade vendida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 301 Toneladas Cana-de-açúcar - área colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 21 Hectares Feijão em grão - 1a safra - estabelecimentos agropecuários – 01.08.1995 a 31.07.1996 4 Estabelecimentos Feijão em grão - 1a safra - quantidade colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 4 Toneladas Feijão em grão - 1a safra - área colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 5 Hectares Feijão em grão - 2a safra - estabelecimentos agropecuários – 01.08.1995 a 31.07.1996 4 Estabelecimentos Feijão em grão - 2a safra - quantidade colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 7 Toneladas Feijão em grão - 2a safra - área colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 6 Hectares Feijão em grão - 3a safra - estabelecimentos agropecuários – 01.08.1995 a 31.07.1996 4 Estabelecimentos Feijão em grão - 3a safra - quantidade colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 5 Toneladas Feijão em grão - 3a safra - área colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 9 Hectares Mandioca - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 3 Estabelecimentos Mandioca - quantidade colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 1 Toneladas Mandioca - quantidade vendida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 1 Toneladas Milho - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 35 Estabelecimentos Milho - quantidade colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 1 266 Toneladas Milho - quantidade vendida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 641 Toneladas Milho - área colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 425 Hectares Tomate - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 1 Estabelecimentos Tomate - quantidade colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 2 Toneladas Tomate - quantidade vendida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 2 Toneladas Banana - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 3 Estabelecimentos Café – estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 5 Estabelecimentos Café - quantidade colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 116 Toneladas Café - quantidade vendida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 110 Toneladas Café - área colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 99 Hectares Café - efetivo das plantações - estabelecimentos agropecuários - 31.07.1996 72 Mil pés Laranja - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 2 Estabelecimentos Laranja - quantidade colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 9 243 Mil frutos Laranja - quantidade vendida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 9 240 Mil frutos Laranja - área colhida - estabelecimentos agropecuários - 01.08.1995 a 31.07.1996 102 Hectares Laranja - efetivo das plantações - estabelecimentos agropecuários - 31.07.1996 60 Mil pés

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Tabela 15. Finanças Públicas de Cabreúva (IBGE, 1998)

Finanças Públicas São Paulo -> Cabreúva VARIÁVEIS VALOR UNIDADE DE

MEDIDA Receitas orçamentárias realizadas 7 252 Mil Reais Receitas orçamentárias realizadas correntes 7 099 Mil Reais Receitas orçamentárias realizadas correntes – tributárias 1 932 Mil Reais Receitas orçamentárias realizadas correntes – patrimoniais 7 Mil Reais Receitas orçamentárias realizadas correntes – transferências 4 865 Mil Reais Outras receitas orçamentárias realizadas correntes 294 Mil Reais Receitas orçamentárias realizadas de capital 152 Mil Reais Receitas orçamentárias realizadas de capital – transferências 59 Mil Reais Outras receitas orçamentárias realizadas de capital 93 Mil Reais Receitas orçamentárias realizadas correntes – tributárias 1 932 Mil Reais Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias –impostos

1 718 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias -impostos sobre o patrimônio e a renda

1 167 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias -impostos sobre o patrimônio e a renda – IPTU

952 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias -impostos sobre o patrimônio e a renda – ITBI

215 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias -impostos sobre a produção e circulação

551 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias -impostos sobre a produção e circulação – ISS

540 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias -impostos sobre a produção e circulação – IVVC

11 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias – taxas 189 Mil Reais Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias - taxasdo poder de polícia

67 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias - taxasde prestação de serviços

122 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - tributárias -contribuição de melhoria

26 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes – transferências 4 865 Mil Reais Receitas orçamentárias realizadas correntes - transferências -cota-parte FPM

1 779 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - transferências -cota-parte ITR

31 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - transferências -cota-parte ICMS

2 101 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - transferências -cota-parte IPVA

215 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas correntes - transferências -cota-parte FPEX

176 Mil Reais

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Fonte: Ministério da Fazenda, Secretaria do Tesouro Nacional, Registros Administrativos 1996.

Nota: os totais de Brasil e Unidades da Federação são a soma dos valores dos municípios. Atribuiu-se a expressão “Dado não disponível” às Receitas e Despesas Orçamentárias faltantes. As lacunas implicam em divergência entre os totais Despesas por Categoria Econômica e por Função.

Receitas o rçamentárias realizadas correntes - outras transferências

562 Mil Reais

Receitas orçamentárias realizadas de capital – transferências 59 Mil Reais Receitas orçamentárias realizadas de capital - transferências - da União

59 Mil Reais

Despesas orçamentárias realizadas 7 782 Mil Reais Despesas orçamentárias realizadas correntes 6 283 Mil Reais Despesas orçamentárias realizadas correntes – custeio 6 223 Mil Reais Despesas o rçamentárias realizadas correntes - c usteio c ompessoal

4 022 Mil Reais

Despesas o rçamentárias realizadas correntes - c usteio c omserviços de terceiros

1 189 Mil Reais

Despesas orçamentárias realizadas correntes – transferências 60 Mil Reais Despesas orçamentárias realizadas de capital 1 499 Mil Reais Despesas orçamentárias realizadas de capital – investimentos 1 499 Mil Reais Despesas orçamentárias realizadas por função 7 782 Mil Reais Despesas orçamentárias realizadas por função – legislativa 292 Mil Reais Despesas orçamentárias realizadas por função – judiciária 156 Mil Reais Despesas orçamentárias realizadas por função – planejamento 1 068 Mil Reais Despesas o rçamentárias realizadas p or f unção - educação ecultura

1 760 Mil Reais

Despesas o rçamentárias r ealizadas por função - h abitação eurbanismo

2 255 Mil Reais

Despesas o rçamentárias r ealizadas por função - s aúde esaneamento

1 193 Mil Reais

Despesas o rçamentárias realizadas por função - a ssistência eprevidência

798 Mil Reais

Despesas orçamentárias realizadas por função – transportes 260 Mil Reais Valor do Fundo de Participação dos Municípios – FPM 1 955 Mil Reais Valor do Imposto Territorial Rural – ITR 31 486 Reais

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5. IDENTIFICAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS

A construção civil sempre acarreta modificações ao meio ambiente, num raio de influência proporcional ao tamanho do empreendimento e sua finalidade ou uso. Por outro lado os impactos podem ser mais ou menos graves dependendo das características próprias do meio, na região afetada.

Os impactos ambientais podem ser de diversas ordens, atuando sobre os meios físico, ecológico e antrópico, cabendo medidas mitigadoras pertinentes a cada situação. Neste sentido, serão apresentadas na seqüência os principais impactos decorrentes da futura implantação do loteamento Green Ville.

5.1 IMPACTOS SOBRE O MEIO FÍSICO

Os principais efeitos, decorrentes das obras a serem realizadas na área do em-preendimento são:

• Emissão de material particulado;• Emissão de gases;• Produção de ruídos;• Geração de resíduos sólidos;• Alteração das características do solo;• Modificação das formas de uso do solo;• Alterações no relevo e na paisagem.• Todos os efeitos mencionados acima são causadores de impactos ao ar, à

água, ao solo e ao subsolo.

5.1.1 ATMOSFERA

A qualidade do ar será afetada pelas emissões de material particulado, gases. A queima de combustível pelas máquinas e demais veículos durante as obras, no local do empreendimento, a abertura e pavimentação do sistema viário e a construção do sistema de esgoto são as maiores fontes.

Os danos maiores, neste aspecto, serão sentidos principalmente pelos trabalha-dores das obras. A população residente no entorno mais próximo ao empreendimento, que fica a cerca de 140 metros, não será perturbada, pois localiza-se atrás da Área Verde/Sistema de Lazer – 01, a qual possui remanescente de mata nativa e será enrique-

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cida com o reflorestamento. Esta situação permite que haja um maior isolamento entre as obras e a população residente na área próxima. Convém ressaltar que a localização do empreendimento não permite que este afete negativamente a zona urbana mais próxima a ele. O restante do entorno é ocupado por industrias e fazendas.

Todos os impactos mencionados neste item são, em termos regionais, negativos, diretos, imediatos, temporários e reversíveis.

5.1.2 RUÍDOS

Os ruídos provenientes das obras de construção civil são locais (restritos aos canteiros de obra) e possuem efeitos negativos diretamente sobre os operários do em-preendimento. Secundariamente podem provocar algum desconforto à população próxima (amenizado pela distância mencionada no item Atmosfera) e afugentar a fauna local.

Estes impactos são negativos, diretos, imediatos, temporários e reversíveis.

5.1.3 ÁGUA

As obras a serem executadas para a implantação do loteamento não impactam diretamente as águas superficiais e subterrâneas. A preocupação maior em relação à qualidade dos mananciais começa com a ocupação humana da área. Convém lembrar que o loteamento possuirá sistema de coleta e tratamento de esgoto, contribuindo para a manutenção da qualidade dos mananciais, que poderiam ser extremamente prejudicados caso a área fosse invadida ou ocupada sem planejamento e urbanização adequados. Será implantada uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), a qual servirá também a outros loteamentos situados em áreas próximas. Esta ETE, está em fase de planejamento junto aos Órgãos competentes e será motivo de outro Relatório Ambiental, específico para sua implantação.

Conforme mencionado anteriormente a qualidade das águas superficiais, das Ba-cias locais é considerada ruim pela CETESB (1998). O único corpo d’água existente na área deste empreendimento é um córrego que corta a pequena parte da propriedade em sua porção mais a Oeste, por um trecho de aproximadamente 250 metros. Este trecho de córrego se encontra bastante assoreado e será realizado sua reescavação, conforme projeto a ser analisado pelos órgãos competentes. Esta reescavação foi uma solicitação do Departamento Estadual de Proteção aos Recursos Naturais (DEPRN), quando da aná-lise da área via GRAPROHAB.

A poluição tem provocado uma queda considerável na qualidade das águas dos grandes rios do Estado de São Paulo. Os rios tributários que recebem cargas menores

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de poluição, apresentam águas com melhores condições ambientais, e por este motivo funcionam como refúgios para grande parte da ictiofauna. Isto pode ser observado tam-bém nos lagos marginais do Parque Ecológico Tietê (PET) e nas lagoas marginais do rio Sorocaba (Smith & Barrella, 1994). A captura de peixes de médio e grande porte em riachos e rios menores, cujas águas apresentam boa qualidade , é bastante freqüente. Os ambientes classificados como “Refúgios do Médio Tietê” evidenciam tais situações neste rio (Barrella, 1997).

Neste contexto, conforme já salientado pela CETESB (1998), a qualidade da água na área do loteamento pode ser considerada Ruim ou Péssima, sem tendências à melhora significativa. Segundo Barrella (1997) a ictiofauna existente nestes locais sofre sérios prejuízos, onde muitas das espécies não conseguem sobreviver. Em casos extremos, como no rio Tietê, na entrada da cidade de São Paulo durante a estação de seca, nenhum peixe foi capturado devido à ausência quase absoluta de oxigênio dissolvido na água (0,1 mg/l). Esta condição se estende por um trecho de aproximadamente 100 km rio abaixo, até as imediações do Município de Salto, onde a qualidade da água começa a melhorar (Barrella, 1997).

O relevo da área do empreendimento é plano, desfavorecendo a atuação de pro-cessos erosivos superficiais, que possam contribuir significativamente ao assoreamento do corpo d’água na área do empreendimento. As obras de terraplanagem do empreen-dimento serão de movimentação de baixos volumes de solo e serão realizadas dentro de critérios técnicos visando o mínimo carreamento de solo para o trecho do córrego. Ressalta-se que o trecho do córrego que passa pela propriedade se encontra atualmente assoreado e será reescavado, conforme mencionado anteriormente.

5.1.4 SOLO

As obras de construção civil, a abertura de acessos, ruas e o tráfego de máqui-nas e caminhões são atividades potencialmente causadoras de impactos ao solo, tendo como conseqüência, a compactação do solo, aumento do escoamento superficial, a pos-sibilidade de assoreamento das áreas baixas pelo transporte e deposição de sedimentos carreados pelo escoamento superficial, além da alteração das características do solo, com conseqüentes modificações nas suas formas de uso.

Os principais impactos provocados pela construção civil, ao nível local, são a erosão acelerada e a restrição do uso do solo. Os principais fatores que influenciam a erosão são a chuva, a infiltração de água no solo (permeabilidade), a topografia do ter-reno, o tipo de solo e a cobertura vegetal.

Durante as obras, a remoção da cobertura vegetal é o fator mais importante na desestabilização do solo, expondo sua superfície e predispondo-a à erosão, devido ao de-sarranjo do escoamento superficial de água. Estes processos erosivos podem contribuir

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à desestabilização de taludes e assoreamento das partes baixas do terreno, onde os resíduos sólidos podem atingir os mananciais de água.

Todos estes impactos são negativos, diretos, imediatos, permanentes a curto e médio prazos, de difícil reversibilidade e necessários à ocupação humana.

5.1.5 RELEVO E PAISAGEM

A paisagem local está bastante alterada pela ação antrópica, devido a atividades exercidas anteriormente e sem nenhuma relação com o empreendimento. A partir do loteamento é possível observar a paisagem da Serra do Japí, esta vista não será perdida. A paisagem local resume-se a restos queimados de eucaliptos, gramíneas, montes de en-tulho provenientes de construção nas áreas próximas, concentrações de lixo doméstico e algumas árvores de maior porte (muitas delas frutíferas ou exóticas).

Os impactos provocados pela execução das obras do empreendimento sobre esta paisagem são praticamente inexistentes. Em alguns trechos isolados, devido à presença de árvores nativas isoladas e pequeno maciço de vegetação em estágio inicial de regen-eração, os quais, necessariamente serão suprimidos. Ressalta-se porém que será im-plantado o reflorestamento das “Áreas Verdes” do loteamento, bem como será realizado a arborização de vias públicas com espécies nativas da região, adaptadas à situação, conforme projetos anexos.

Estes impactos podem ser considerados diretos, imediatos, permanentes, irre-versíveis e necessários à ocupação humana.

5.2 IMPACTOS SOBRE O MEIO BIÓTICO

A execução das obras previstas, para a implantação do loteamento, afetarão o meio biótico de diversas maneiras, dependendo do elemento a ser considerado.

5.2.1 FLORA

A urbanização da área implicará na supressão de poucos exemplares de vegeta-ção de porte arbóreo. Todas as áreas de preservação permanente serão respeitadas. O impacto ambiental sobre a flora pode ser considerado negativo, direto, imediato, perma-nente, irreversíveis e necessários à ocupação humana.

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5.2.2 FAUNA

O maior impacto a ser provocado pelas obras poderá ser o afugentamento de algumas espécies da avifauna, menos adaptadas ao convívio urbano (v.g. João de Barro, Pica Pau e Tesourinha), entretanto, deve-se levar em consideração que toda a fauna local é composta por espécies relativamente resistentes à urbanização, dada a proximidade a centros industriais e urbanos. Os impactos provocados neste aspecto, podem ser con-siderados negativos, diretos, imediatos, temporários e permanentes, de moderado grau de reversibilidade e necessários à ocupação humana. Convém ressaltar que a urbanização pode propiciar a colonização do local por outras espécies, dentre as classificadas pela EMBRAPA (1999 a).

5.1.5 IMPACTOS SOBRE O MEIO ANTRÓPICO

Os impactos sobre o meio antrópico serão mais benéficos que adversos. A eco-nomia local pode ser beneficiada pela aquisição de materiais necessários às obras (e a respectiva arrecadação de tributos) e pela contratação de mão de obra.

Os efeitos da urbanização planejada e responsável ocasiona melhoria na qualidade de vida da população local estando de pleno acordo aos objetivos da APA de Cabreúva, servindo também à preservação dos mananciais de abastecimento locais, através da implantação de sistema de captação e tratamento de esgoto.

A manutenção e o incremento das áreas verdes, com o reflorestamento e a ar-borização urbana com espécies nativas da região (inclusive com o reflorestamento das áreas de proteção permanente) na área do loteamento contribuem ainda com a melhoria da paisagem local.

O empreendimento não irá proporcionar aumento significativo no tráfego local, por ser destinado à população de baixa renda, que se utiliza de sistemas de transportes coletivos, dos quais já são usuários locais. A infra-estrutura viária existente, tendo como principal a Rodovia Dom Gabriel Paulino Bueno Couto (SP-300), se encontra em vias de duplicação.

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6. MEDIDAS MITIGADORAS

6.1 ATMOSFERA

Visando a minimização e o controle das emissões de poluentes atmosféricos, gerados nas atividades de implantação do empreendimento, é sugerida a adoção das seguintes medidas mitigadoras:

• Pavimentação (ou colocação de brita) nas vias de acesso e de serviços;• Presença de áreas de mata nativa, nas áreas limítrofes do empreendimento

com área habitada, funcionando com uma barreira de isolamento para materiais em sus-pensão;

• Implantação de arborização das vias públicas, com espécies nativas da região, conforme projeto anexo;

• Implantação de reflorestamento e enriquecimento arbóreo das “Áreas Verdes” do loteamento, conforme projeto anexo;

• Regulagem periódica dos motores e utilização dos filtros nas descargas das máquinas e veículos.

O monitoramento destas medidas deve ser feito trimestralmente (no primeiro ano), através de avaliações da qualidade do ar e semestrais ou anuais após este período inicial (dependendo dos resultados do primeiro ano, ou da necessidade prática).

6.2 RUÍDOS

Para a redução dos ruídos, provenientes das máquinas e veículos que irão circular na área do empreendimento, deverão ser realizadas manutenções periódicas, conferindo sempre os níveis de ruído dos motores e sistemas de escape, que devem estar sempre em perfeito estado de conservação e funcionamento.

O monitoramento destas medidas deve ser feito com aferições periódicas dos níveis de ruído, mantendo-os sempre dentro dos parâmetros permitidos.

6.3 ÁGUAS

Para evitar o assoreamento dos leitos e a turbidez das águas superficiais, os resíduos aquosos com argila e areias, provenientes das obras, serão utilizados em práti-

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cas de conservação do solo, reduzindo o risco da atuação de processos erosivos. Neste aspecto, as áreas de preservação permanente (e/ou áreas verdes e lazer) no lotea-mento, somadas às práticas mitigadoras, ajudarão a minimizar a atuação dos processos erosivos.

As atividades exercidas durante as obras de implantação do loteamento não pro-duzem resíduos químicos que possam afetar os mananciais de abastecimento (superficiais e subterrâneos) na rede de drenagem local. Assim, restam os resíduos sólidos decor-rentes destas atividades, que podem ser considerados agentes de poluição física dos corpos d’água. Neste sentido, serão construídas bacias de decantação e tratamento das águas pluviais.

As áreas de disposição de estéril deverão ser previamente preparadas com obras de drenagem e proteção ao depósito (v.g. leira de proteção contra o fluxo de águas pluvi-ais). Estas medidas ajudarão a evitar a ação erosiva das águas pluviais sobre os depósitos e o carreamento de partículas sólidas para as cotas mais baixas do terreno.

Será realizado o reflorestamento das Áreas de Preservação Permanentes, local-izadas na propriedade, tendo como um dos objetivos aumentar a estabilidade do solo, evitando-se a erosão e o conseqüente assoreamento de cursos d’água.

O monitoramento destas práticas mitigadoras deve ser constante, principalmente em relação à eficiência das bacias de decantação e leiras de proteção. A estação chuvosa deve ser o período mais crítico, demandando cuidados especiais, principalmente devido à intensificação dos processos erosivos. Assim, todo o sistema adotado para mitigar a erosão e contaminação dos mananciais deve ser constantemente vistoriado e reparado, sempre que necessário.

Ressalta-se novamente que o trecho de córrego existente na propriedade, en-contra-se bastante assoreado e será realizado sua reescavação, conforme projeto a ser analisado pelos órgãos competentes. Esta reescavação foi uma solicitação do Departa-mento Estadual de Proteção aos Recursos Naturais (DEPRN), quando da análise da área via GRAPROHAB.

6.4 SOLO

Em relação aos impactos provocados sobre o solo da área do empreendimento, propõe-se a prática das seguintes medidas mitigadoras:

• Retirada de vegetação somente nas áreas estabelecidas, obedecendo ao crono-grama de execução das obras do empreendimento, buscando evitar a exposição prolon-gada e desnecessária do solo;

• Execução de taludes em solo e no depósito de estéril, conforme os padrões

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geotécnicos estabelecidos no plano de execução das obras do empreendimento;• Implantação das obras de drenagem ou de proteção da área, conforme o plano

de execução das obras do empreendimento;• Plantio de gramíneas nos locais de exposição do solo in situ ou movimentado,

que venham a ser abandonados após as obras, ou que venham a ser retomados a médio e longo prazos.

•Será realizado o reflorestamento das Áreas de Preservação Permanentes, as quais foram destinadas à “Área Verde” do loteamento, tendo como um dos objetivos aumentar a estabilidade do solo, evitando-se a erosão.

O monitoramento destas medidas mitigadoras deve ser feito mensalmente, com mais rigor na época chuvosa, quando os processos erosivos são potencializados.

6.5 RELEVO E PAISAGEM

Os impactos provocados sobre estes dois elementos são menores, dado o atual estado de degradação do meio, oriunda da ação do homem.

Todas as medidas mitigadoras mencionadas até este momento, beneficiam a constituição da nova paisagem local e compensariam a regularização imposta ao relevo (necessária à implantação do loteamento e ocupação humana).

Para o monitoramento do desenvolvimento da vegetação e conseqüente avaliação da eficácia da cobertura, inclusive adequação das espécies utilizadas, é recomendada o acompanhamento de profissional habilitado.

6.6 MEIO BIÓTICO

6.6.1 FLORA

A minimização dos impactos sobre a flora local será obtida com a retirada contro-lada da vegetação existente. A supressão da camada vegetal será realizada conforme o cronograma de execução do empreendimento (conforme proposto para a mitigação dos impactos provocados ao solo).

Como forma de proteção à vegetação existente no entorno não será utilizado fogo para limpeza da área.

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6.6.2 FAUNA

A mitigação dos impactos sobre a fauna será obtida com a minimização dos ruídos provocados pelos veículos (através de manutenções periódicas e utilização de abafadores adequados).

Deve ser levado em consideração a implantação de um corredor ecológico na área, visando criar um espaço de trânsito protegido para a fauna local, direcionando-a para a Serra do Japí. Neste sentido serão necessários estudos mais elaborados, objetivando planejamento de sua implantação. Deverá ser considerada a possibilidade do corredor se estender por um espaço comum a todos os loteamentos que venham a ser construídos na área, como forma de não se criar remanescentes ilhados de vegetação sem nenhum significado ecológico.

A proibição legal a caça nas APAs deve ser incentivada não apenas pela fiscal-ização, mas por meio de práticas de educação ambiental, orientada diretamente sobre a população local, através da colocação de placas explicativas nas áreas verdes, áreas de preservação permanente e locais onde deve ser mantida a permeabilidade natural do solo.

6.7 MEDIDAS MITIGADORAS REFERENTES AOS IMPACTOS SOBRE O MEIO ANTRÓPICO

Objetivando a mitigação dos impactos sobre o meio antrópico, serão elaborados sistemas de integração social incluídos no modelo de gestão participativa de recursos naturais. A gestão participativa, entendida como o contínuo administrativo entre as práticas de manejo comunitárias, exercidas ao nível local, e a administração pública, deve ser incentivada, através de palestras periódicas com pessoas especializadas. As áreas de lazer e áreas de preservação permanente, podem servir como espaço aglutinador da comunidade local sobre este tema de interesse comum, servindo até à sensibilização da população do entorno.

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CONCLUSÃO

Para que haja a implantação de um loteamento em áreas de proteção ambiental, considerando ser um local também para a sadia qualidade de vida dos trabalhadores das áreas industriais de São Paulo de Campinas, há se considerar, no processo de licencia-mento, o Relatório de Ambiental Preliminar. Estudo este que mostra a viabilidade de ser executar um empreendimento desta magnitude e ao mesmo tempo, ser uma forma de conservação dos recursos naturais daquela área. Importante salientar, que para que exista tal pretensão o estudo antecipado é um critério de relevância e imprescindível.

Neste sentido, o loteamento Green Ville, não é só uma possibilidade real, mas é um exemplo a ser seguido no âmbito da conservação dos recursos naturais, valendo-se também do desenvolvimento industrial de uma área. Para tanto, as medidas mitigadoras são indispensáveis, por exemplo, a criação de um corredor ecológico e a gestão partici-pativa dos trabalhadores e moradores do loteamento Green Ville, já que é através delas que a conciliação entre o desenvolvimento e a conservação dos recursos naturais pode ser uma realidade. Portanto, ser viável a execução de tal empreendimento conforme os ditames ambientais.

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O DIREITO AO LAZER E OS TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO - UMA PERSPECTIVA AMBIENTAL

Thaísa Rodrigues Lustosa *Sandro Nahmias Melo **

Sumário: Introdução;1. Perspectiva Ambiental Trabalhista; 2. Antinomia jurídica pela teoria de Norberto Bobbio; 3. Direito Fundamental ao Lazer; 4. Turnos ininterruptos de revezamento; 5. Direito ao lazer versus turnos ininterruptos de revezamento; Consid-erações Finais; Referências.

Resumo: O meio ambiente é um dos fatores que interfere na saúde e segurança do trabalhador, razão pela qual o Direito Ambiental do Trabalho surge como um ramo do Direito Ambiental. Analisando a realidade em que a forma laboral interfere diretamente na disposição do tempo livre do trabalhador, o presente trabalho tem o escopo de anal-isar, sob uma perspectiva ambiental, a possível antinomia entre o direito fundamental ao lazer (art. 6° da CF/88) e o art. 7°, XIV da Constituição Republicana, que prevê os turnos ininterruptos de revezamento. Como base teórica, utilizar-se-á a Teoria do Ordenamento Jurídico de Norberto Bobbio e a base constitucional sobre direitos fundamentais.

Palavras-chave: Direito ambiental do trabalho; Direito fundamental ao lazer; Turnos Ininterruptos de Revezamento; Antinomia Jurídica.

Abstract: The environment is one of the factors that influences in worker’s health and safety. This is the reason that justify how the classification of Environmental Labor Law may be understood as a sub-area of Environmental Law. Through the analysis of the way as the work influences the of amount of worker’s free time, this paper intends to explain how occurs, under an environmental point of view, the antinomy between the fundamen-tal right of lazier and the continuous labor scale in Brazilian Constitution. The theory of Juridical Ordainments of Norberto Bobbio and the constitutional base of fundamental right’s were used to embassy the discussion.

Key-worlds: Environmental Labor Law; Fundamental right of lazier; Continuous labor scala; Juridical Antinomy.

* Advogada, pesquisadora e mestranda em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas.** Professor e pesquisador do Programa de Mestrado em Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas, Juiz do Trabalho e Doutor em Direito das Relações social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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INTRODUÇÃO

A relação entre meio ambiente e saúde é estabelecida constitucionalmente através do caput do art. 225, ao descrever o meio ambiente equilibrado como essencial à sadia qualidade de vida. Dessa forma, têm-se dois sujeitos da tutela ambiental: o imediato e o mediato. O primeiro é a qualidade do meio ambiente em todos os seus aspectos, inclusive o do trabalho. O mediato é a saúde, além da segurança e do bem-estar da população.

O meio ambiente e o trabalho são alguns dos fatores determinantes da saúde (art. 3° da lei n° 8080/90), principalmente, por ser o habitat laboral o lugar onde se desenrola boa parte da vida do trabalhador. Assim, tudo que estiver ligado à sadia qualidade de vida insere-se no conceito de meio ambiente, sendo o meio ambiente do trabalho apenas uma concepção mais específica. Sobre o tema disserta o professor Sandro Nahmias Melo (2001, p.70):

O meio ambiente do trabalho está inserido no ambiente em geral (art. 200, inc. VIII, da Constituição Federal), de modo que não há como se falar em qualidade de vida se não houver qualidade de trabalho, nem se pode atingir o meio ambiente equilibrado e sus-tentável, ignorando-se o aspecto do meio ambiente do trabalho.

Nesse contexto, tem-se o direito fundamental ao lazer e os turnos ininterruptos de revezamento como fatores determinantes da saúde do trabalhador, razão pela qual se faz necessário verificar, sob uma perspectiva ambiental, a existência de possível antino-mia jurídica entre as normas constitucionais que prevêem tais direitos.

1. PERSPECTIVA AMBIENTAL TRABALHISTA

O art. 3° da Política Nacional de Meio Ambiente (Lei n° 6.938/81) define o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interação de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Este conceito foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988. No entanto, não é satis-fatório, sendo amplo e indeterminado, deixando ao interprete o preenchimento de seu conteúdo.

Para José Afonso da Silva, o meio ambiente é “[...] a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. A interação busca assumir uma concepção unitária do ambiente, compreensiva dos recursos naturais e culturais.”1

1 Direito Ambiental Constitucional. 7° ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2009, p. 20.

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José Afonso da Silva apresenta uma definição limitada, deixando oculto, inclusive, os elementos do meio ambiente do trabalho que estão subentendidos nos elementos culturais. Ampliando o conceito, Norma Sueli Padilha estabelece que:

[...] Meio ambiente é tudo aquilo que cerca um organismo (o homem é um organismo vivo), seja o físico (água, ar, terra, bens tangíveis pelo homem), seja o social (valores culturais, hábitos, costumes, crenças), seja o psíquico (sentimento do homem e suas expectativas, segurança, angústia, estabilidade), uma vez que os meios físico, social e psíquico são os que dão as condições interdependentes, necessárias e suficientes para que o organismo vivo (planta ou animal) se desenvolva na sua plenitude2.

O meio ambiente possui uma conotação multidisciplinar, sendo extremamente amplo, pois perpassa por todo o ordenamento jurídico, uma vez que se associa à sadia qualidade de vida. A melhoria da qualidade de vida, por sua vez, está diretamente atrelada à melhoria da qualidade ambiental.

Dessa forma, a proteção ambiental deve ser observada em cada um dos ramos do Direito. As normas que protegiam aspectos isolados da natureza e do meio ambiente inclusive o meio ambiente do trabalho, devem ser observadas e interpretadas sob a ótica do direito ambiental, ou seja, serem direcionadas pelos princípios ambientais, solucio-nando até possíveis conflitos de interesses de maneira a possibilitar a supremacia da proteção à sadia qualidade de vida do homem.

Paulo Bessa Antunes afirma que “[...] não é possível o enquadramento do direito ambiental dentro de um modelo ‘quadrado’, que reparte o direito em diferentes depar-tamentos estanques, e que, a partir de tal compartimentarização, define campos para a incidência desta ou daquela norma.”3

Paulo Affonso Leme Machado4, por seu turno, ensina que o direito ambiental é um direito sistematizador, pois articula a legislação, a doutrina e a jurisprudência concernen-tes aos elementos que integram o meio ambiente. Assim, procura-se evitar o isolamento dos temas ambientais e sua abordagem antagônica.

De acordo com Guilherme José Purvin de Figueiredo5, uma das características de qualquer disciplina voltada ao estudo de questões ambientais é a interdisciplinari-dade. A referência ao meio ambiente do trabalho está presente em todos os setores do Direito do Trabalho. No Direito do Trabalho Público, por exemplo, tem-se, ainda que de forma tímida, a questão dos acidentes e das doenças decorrentes do meio ambiente de

2 Do Meio Ambiente do Trabalho Equilibrado. São Paulo: LTr, 2002, p. 20.3 Apud Sandro Nahmias Melo, Meio ambiente do trabalho e greve ambiental, Revista Anamatra. Ano XVIII. n° 54. – Edição 1° semestre de 2008, p. 47.4 Direito Ambiental brasileiro. 17° ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Malheiros Editores, 2009, p. 54.5 Direito Ambiental e a saúde dos trabalhadores, 2° ed. São Paulo: LTr, 2007p. 55.

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laboral inadequado. No Direito Individual, a concessão de adicionais de remuneração para o exercício de atividades insalubres, penosas ou perigosas. No Direito Coletivo, a im-portância dos sindicatos na luta pela melhoria do ambiente de trabalho.

As tutelas pretendidas pelo Direito Ambiental do Trabalho e pelo Direito do Tra-balho não se confundem, como argumenta Celso Antonio Pacheco Fiorillo:

Importante verificar que a proteção do direito do trabalho é distinta da assegurada ao meio ambiente do trabalho, porquanto esta última busca salvaguardar a saúde e a segurança do trabalhador no ambiente onde desenvolve suas atividades. O direito do trabalho por sua vez, é o conjunto de normas jurídicas que disciplinam as relações jurídicas entre empregado e empregador.6

Assim, tem-se que o Direito Ambiental tutela a vida do ser humano, enquanto o Direito do Trabalho, a natureza jurídica das relações entre as partes envolvidas no pro-cesso econômico de produção de bens e serviços.

Dessa maneira, o Direito Ambiental acaba absorvendo temas que até então eram estudados com exclusividade pelo Direito do Trabalho e pelo Direito da Seguridade Social, como a questão da jornada laboral. Sob a óptica da Constituição Republicana de 1988, o meio ambiente do trabalho engloba os direitos fundamentais dos trabalhadores, como o direito à saúde, sendo a efetiva garantia desses direitos básicos.

José Afonso da Silva estabelece a relação entre o direito ao lazer e o direito am-biental, ao dispor que:

[...] O art. 6° menciona o lazer entre os direitos sociais. [...] Sua natur-eza social decorre do fato de que constituem prestações estatais que interferem com as condições de trabalho e com a qualidade de vida, donde sua relação com o direito ao meio ambiente sadio e equilibrado. “Lazer é entrega à ociosidade repousante. Recreação é entrega ao divertimento, ao esporte, ao brinquedo. Ambos se destinam a refazer as forças depois da labuta diária semanal. Ambos querem lugares apropriados, tranqüilos, repletos de folguedos e alegrias em outro”.7

“Trabalho, lazer, produção, consumo são atividades em sociedade do homem com a natureza, e é nesta relação que se localiza o campo de ação do direito ambiental.”8 As-sim, é sob este contexto que devem ser observados o direito ao lazer, enquanto direito fundamental instrumental à sadia qualidade de vida do trabalhador, e os turnos ininter-ruptos de revezamento, constitucional previsto.

6 Curso de Direito Ambiental Brasileiro, 10° ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 23. 7 Apud Otávio Amaral Calvet, op. cit., p. 66. 8 Cristiane Derani. Direito Ambiental Econômico. São Paulo: Max Limonad, 1997, p. 81.

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2. ANTINOMIA JURÍDICA PELA TEORIA DE NORBERTO BOBBIO

Norberto Bobbio considera como antinomia jurídica “[...] aquela situação que se verifica entre duas normas incompatíveis, pertencentes ao mesmo ordenamento e tendo o mesmo âmbito de validade [...]”9 quais sejam: temporal, espacial, pessoal e material (de conteúdo).

Para o autor, as antinomias se classificam em próprias e impróprias. As primeiras correspondem às antinomias entre normas e podem ser tidas como aparentes ou reais, de acordo, respectivamente, com a sua possibilidade ou não de solução. Em oposição, as impróprias não são antinomias propriamente ditas, mas podem dar lugar a normas incom-patíveis. Estas se subdividem em três tipos: de princípios, de avaliação (ideal de justiça) e teleológica (oposição entre meios e fins prescritos em normas distintas).

Em sua teoria, Bobbio estabelece ainda a solução das antinomias próprias apar-entes através dos critérios cronológico (Lex posterior derogat priori), hierárquico (Lex superior derogat inferiori) e de especialidade (Lex specialis derogat generali). Na hipótese de insuficiência destes critérios, ou seja, de normas contemporâneas, gerais e de mesmo nível hierárquico, o interprete (juiz ou jurista) pode recorrer à interpretação ab-rogante ou conciliatória. Aquela pressupõe a exclusão de uma (ab-rogante simples) ou de ambas (ab-rogante dupla) as normas ao analisar o caso concreto. Como a norma apenas deixa de ser aplicada, mas não é excluída do ordenamento jurídico, fala-se em ab-rogação em sentindo impróprio.

A interpretação conciliatória, por outro lado, é a ‘[...] forma de interpretação que pretende conciliar duas normas aparentemente incompatíveis para conservá-las ambas no sistema [...].”10

A “Teoria do Ordenamento Jurídico” será utilizada para se verificar a antinomia entre o direito ao lazer e a previsão constitucional dos turnos ininterruptos de reveza-mento.

3. DIREITO FUNDAMENTAL AO LAZER

3.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Segundo Canotilho, os direitos fundamentais cumprem a função de direitos de defesa dos cidadãos sob uma dupla perspectiva:

[...] (1) constituem, num plano jurídico-objectivo, normas de competên-cia negativa para os poderes públicos, proibindo fundamentalmente as

9 Norberto Bobbio, 10° ed. Brasília: Editora UNB, 1999, p. 88. 10 Ibidem., p. 103.

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ingerências destes na esfera jurídica individual; (2) implica, num plano ju-rídico-subjectivo, o poder de exercer positivamente direitos fundamentais (liberdade positiva) e de exigir omissões dos poderes públicos, de forma a evitar agressões lesivas por parte dos mesmos (liberdade negativa).11

No presente trabalho, adota-se o conceito de direito fundamental diferenciado do de direito natural e direito humano, expressões essas que alguns autores usam como sinônimas. Como ensina Ingo W. Sarlet12, os direitos fundamentais são direitos humanos reconhecidos e positivados na esfera do direito constitucional positivo de determinado Estado, enquanto os direitos humanos possuem validade internacional, sendo reconhe-cidos em documentos de direito internacional. Nesse diapasão, os direitos naturais são aqueles inerentes à natureza humana, mas que não se encontram dotados de exigibilidade no ordenamento positivo de um Estado.

Os direitos fundamentais não são direitos absolutos, razão pela qual surge a ne-cessidade de identificação do seu núcleo essencial. Se tais direitos não são absolutos, eles podem ser limitados (relativizados) desde que seu exercício não seja impossibilitado. Como dispõe Suzana Barros, “[...] o limite de restrição de qualquer coisa é tudo aquilo que conceitualmente a pode destruir.”13

As normas constitucionais se classificam em normas de eficácia plena (de apli-cabilidade imediata) e normas de eficácia limitada. Estas últimas são as normas que possuem eficácia negativa, à medida que obstam o legislador a dispor em contrário. As-sim, seja pelo conteúdo essencial ou pela eficácia negativa, tem-se a proteção do núcleo essencial dos direitos fundamentais.

O Enunciado n° 1 da 1° Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho, em 23.11.2007, discorre sobre a interpretação dos direitos fundamentais:

DIREITOS FUNDAMENTAIS, INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO. Os direitos fun-damentais devem ser interpretados e aplicados de maneira a preservar a integridade sistêmica da Constituição, a estabilizar as relações sociais e, acima de tudo, a oferecer a devida tutela ao titular do direito fundamental. No Direito do Trabalho, deve prevalecer o princípio da dignidade da pessoa humana.14

11 Apud Alexandre de Moraes, Direito Constitucional. 22° ed. São Paulo: Atlas, 2007, p. 25 12 Apud José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva, A saúde do trabalhador como um direito humano: conteúdo essencial da dignidade humana. São Paulo: LTr, 2008, p. 25. 13 Apud Sandro Nahmias Melo, A garantia do conteúdo essencial dos direitos fundamentais. In: Revista de Direito Consti-tucional e Internacional. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. Ano 11, n° 43, p. 92. 14 Brasil, Anamatra. Enunciado n° 1 da 1° Jornada de Direito Material e Processual na Justiça do Trabalho, 23.11.2007.

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É sob esta lógica que a antinomia entre o direito fundamental ao lazer e o art. 62 da CLT deve ser analisada. Em outros termos, para solucionar o conflito destas normas no ordenamento jurídico brasileiro, faz-se mister verificar se o texto celetista não fere o conteúdo essencial do direito fundamental ao lazer.

3.2. DIREITO FUNDAMENTAL AO LAZER

Na Antiguidade Clássica, o ócio era tido como fator de elevação psíquico e espiri-tual do ser humano, sendo uma das atividades essenciais para a celebração da vida. Com a Revolução Industrial, o ócio foi relegado à idéia de negação ou oposição ao trabalho, esquecendo-se, assim, seu conteúdo humano mais profundo.15

Atualmente, ainda se mantém essa visão, sendo o direito ao lazer visto, de modo geral, “[...] como o gozo de tempo livre após os afazeres da sobrevivência [...].”16 En-quanto prevalecer tal concepção, o trabalho permanecerá como núcleo norteador da vida do homem, ao redor do qual se desenvolvem todas suas atividades, estando em grau de importância superior ao direito ao lazer. Contudo, estudos sociológicos demonstram certa preocupação de revalorização do conceito original de ócio.17

O art. 7°, XIII da Carta Magna estabelece como um dos direitos dos trabalhadores uma jornada normal de trabalho não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro se-manais, facultando-se “[...] a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho”. No caso dos turnos ininterruptos de reveza-mento, esta jornada reduz para seis horas, salvo convenção coletiva (art. 7°, XIV).

A Constituição Federal prevê ainda o direito ao lazer em várias oportunidades, estabelecendo-o como um direito social, ao lado dos direitos à saúde e ao trabalho, entre outros (art. 6°); que deve ser garantido através de um salário mínimo capaz de atender as necessidades de lazer do homem (art. 7°, IV); incentivado pelo Estado através do fo-mento de práticas desportivas (art. 217, § 3º) e assegurado à criança e ao adolescente pela família, pela sociedade e pelo Estado (art. 227).

Além da Constituição Republicana, as previsões legislativas do direito ao lazer encontram-se também nos seguintes dispositivos: arts. 2° e 4° do Complemento da Declaração dos Direitos do Homem (I); Declaração referente aos fins e objetivos da Organização Internacional do Trabalho, aprovada em Filadélfia de 1994 e ratificada pelo Brasil (II): art. XXIV da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 (III); art. 7° do Pacto Internacional Relativo aos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966,

15 Otávio Amaral Calvet, Direito ao lazer nas relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2006, p. 54.16 Ibidem., p. 77. 17 Ibidem, p. 59.

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ratificado pelo Brasil (IV); arts. 4°, 59, 71, 94 e 124 do Estatuto da Criança e do Adoles-cente - Lei n° 8.069/90 (V); art. 3° da Lei de Desporto – Lei n° 9.615/98 (VI); art. 7°, b, g, h do Protocolo de San Salvador (VII); arts. 3°, 20, 23,50, IX do Estatuto do Idoso – Lei n° 10.741/03 (VIII).18

Dessa maneira, tem-se o direito ao lazer como um direito fundamental de segunda geração protegido constitucionalmente da mesma forma que o direito ao trabalho, não havendo hierarquia valorativa entre eles. Sobre a temática, discorre Otávio Amaral Cal-vet:

Vale ressaltar, nesse ponto de revalorização do lazer, que o fato do leg-islador constituinte incluí-lo como um dos direitos sociais, e portanto um dos direitos fundamentais de segunda geração, reforça, a nosso sentir, a idéia de seu conteúdo humano fundamental, permitindo-se uma visão mais ampla desse bem do que apenas a de ser o contraposto do trabalho. É paradigmático, inclusive, que no art. 6°, da CF, trabalho e lazer tenham sido postos lado a lado como categorias de igual importância de valor para nossa sociedade, o que permite uma nova ótica para o conceito de lazer, para além da questão do trabalho.19

Pode-se definir o direito ao lazer “[...] como o direito fundamental do homem de se desenvolver como ser humano dotado de razão e desejo na busca de sua elevação física, psíquica, social e espiritual, estimulando e aprimorando seus talentos e capacidades no interesse que bem lhe aprouver”20.

Nesse contexto, o direito ao lazer possui diversas facetas, que se complementam e se relacionam, tendo destaque suas dimensões humanas e econômicas, que apresen-tam suas perspectivas próprias.

A dimensão humana percebe o lazer como: I - necessidade biológica, para o resta-belecimento das energias do trabalhador; II - necessário para o convívio social (do ponto de vista social); III - necessidade psíquica, pois possibilita a dedicação a afazeres praz-erosos; IV – a dedicação do ser humano ao “ócio criativo” (sentido existencial).

A dimensão econômica, por outro lado, apresenta o lazer como: I – meio para busca do pleno emprego; II – a criação de outros setores da economia, principalmente o turismo; III – propiciador da restauração de energia do trabalhador de forma a manter o nível de produtividade.

Considerando o direito ao lazer sob a perspectiva existencial da dimensão humana, tem-se a aproximação dos conceitos de lazer e trabalho; de tempo livre e de tempo de trabalho. Apenas o “lazer existencial” é capaz de se inserir no cotidiano laboral, resga-tando, assim, o valor humano frente às exigências do mercado de trabalho.18 Ibidem, p. 62-65. 19 Ibidem., p. 59. 20 Otávio Amaral Calvet, op. cit., p. 76.

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Alguns entraves, no entanto, são encontrados no momento de realização efetiva da Constituição em matéria trabalhista. Neste caso, o reconhecimento do direito ao lazer como direito social, mas sem a devida regulamentação por lei infraconstitucional, deixa a cargo do operador do direito o estudo de seu alcance.

Em todas as vertentes, portanto, vislumbra-se necessário interesse públi-co de forma a enquadrar a doutrina, pacificamente, às normas que tratam do instituto [direito ao lazer] como sendo imperativas, cogentes, das quais empregados e empregadores não podem dispor, traduzindo um verdadeiro ‘patamar civilizatório mínino’ de indisponibilidade absoluta, salvo quando a própria norma heterônoma permitir algum tipo de flexibilização [...].”21

Dessa forma, verifica-se que o legislador já deu os primeiros passos para se obter uma maior concretude do direito ao lazer, mesmo tendo como grandes beneficiados das normas infraconstitucionais os idosos, as crianças e os adolescentes, em detrimento dos trabalhadores.

4. TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO

4.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Constituição Federal prevê como um direito dos trabalhadores, no inciso XIV do art. 7º, uma “jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva”.

Com base nos artigos 245 e 412 da CLT, “turno” é a divisão do horário de tra-balho, não se confundindo, assim, com as expressões “duração” e “jornada de trabalho”. Mauricio Godinho Delgado22 esclarece que “duração” corresponde ao “lapso temporal de labor ou disponibilidade do empregado perante seu empregador em virtude do contrato, considerados distintos parâmetros de mensuração.” A jornada de trabalho, por sua vez, seria o “tempo diário em que o empregado tem de se colocar em disposição perante seu empregador, em decorrência do contrato”. Por fim, nos termos de Sérgio Pinto Martins, turno seria o trabalho realizado por grupos de trabalhadores que “[...] se sucedem nas mesmas máquinas do empregador, cumprindo horários que permitam funcionamento in-interrupto da empresa”23.

21 Otávio Amaral Calvet, op. cit., p. 87.22 Apud Otávio Amaral Calvet, op. cit., p. 87.23 Direito do Trabalho, 2008, p. 509.

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Dando continuidade a análise do inciso, ininterrupto é algo contínuo, seguido, que diz respeito à operacionalidade da empresa. Dessa forma, turnos ininterruptos são aqueles que se sucedem no tempo, obedecendo à jornada constitucional de 6 horas, como nos horários de 6h-12h; 12h-18h; 18h-24h e 24h-6h. O revezamento se dá justamente na alternância do horário de trabalho por escalas (forma de rodízio), quando os trabalha-dores ficam trocando de posição periodicamente (toda semana, quinzena ou mês). O revezamento pode ser feito por turmas ou por equipes, mas nada impede que seja feito apenas por alguns trabalhadores, como os vigias.

Caso o obreiro não labore em um dos turnos, descaracteriza-se a ininterrupção do trabalho. Contudo, “a interrupção do trabalho destinada a repouso e alimentação, dentro de cada turno, ou o intervalo de repouso semanal, não descaracteriza o turno de revezamento”, como estabelece a Súmula n° 360 do TST e n° 675 do STF.

4.2. EXCEÇÕES PREVISTAS EM ACORDOS E CONVENÇÕES COLETIVAS

O artigo constitucional prevê ainda a exceção do cumprimento da jornada laboral de 6 horas, na hipótese de negociação coletiva dispor em contrário. Nos termos de Sérgio Pinto Martins, “a negociação coletiva é uma forma de ajuste de interesses entre as partes, que acertam os diferentes entendimentos existentes, visando encontrar uma solução capaz de compor suas posições.”24

A negociação pode resultar em acordo ou convenção coletivos. Estes se con-stituem em importantes fontes imperativas de produção coletiva autônoma, sendo in-strumentos do pluralismo jurídico. O acordo coletivo, segundo a Recomendação n° 91 da OIT, é entendido como:

todo acordo escrito relativo às condições de trabalho ou emprego, celeb-rado entre um empregador, um grupo de empregadores ou uma ou várias organizações de empregadores, por um lado, uma ou várias organizações representativas de trabalhadores ou, na falta delas, por representante dos trabalhadores interessados, devidamente eleitos e autorizados por eles, de acordo com a legislação do respectivo país.25

A convenção coletiva de trabalho, por sua vez, é definida pelo art. 611 da CLT,

como o acordo de caráter normativo, pelo qual dois ou mais Sindicatos representativos de categorias econômicas e profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas representações, às relações individuais de trabalho.

24 Direito do Trabalho, 2008, p. 773. 25 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho, 2008, p. 798.

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Todas as convenções coletivas possuem três tipos de estipulações, independente da matéria sobre que dispõem: I - obrigacionais (obrigam os sujeitos pactuantes); II - normativas (fixam condições de celebração de contratos individuais de trabalho); III - de garantia (asseguram o cumprimento e eficácia das obrigacionais e normativas).

Quanto à delimitação de seu conteúdo, os acordos e as convenções podem prever alteração das condições in mellius (para melhor) e in pejus (em prejuízo de). A primeira é sempre permitida no ordenamento jurídico brasileiro, em face do princípio da proteção e o da aplicação da norma mais benéfica, pois privilegia o trabalhador enquanto parte hipos-suficiente. A in pejus, por outro lado, só é admitida nos casos expressamente previstos na Constituição Federal (art. 468 da CLT).

Nesse sentido, se posiciona Pedro Paulo Teixeira:

A lei não pode dispor de forma menos benéfica do que determina a norma constitucional, do mesmo modo que a sentença normativa e a convenção coletiva não podem dispor de forma menos favorável do que dispõe a lei. O regulamento da empresa não pode dispor de norma menos benéfica do que estabelece o acordo coletivo de trabalho. Por fim, o contrato in-dividual de trabalho igualmente não pode ser menos favorável do que o mínimo estabelecido na norma coletiva. [...] O legislador constituinte não deu carta branca aos sindicatos. Ao contrário, estabeleceu limites claros à autonomia privada coletiva.26

Pedro Teixeira Manus27 apresenta dois casos concretos de acordos coletivos. O primeiro foi o celebrado nas Indústrias da Cerveja, Vinhos, Águas Minerais e Bebidas em Geral da Grande São Paulo, cuja cláusula primeira estabelecia jornada diária de 7h20 para todos os empregados, independentemente de trabalharem ou não em turnos de revezamento.

O segundo, foi o acordo firmado entre a Autolatina – Comércio, Negócios e Par-ticipações Ltda., representando a Volkswagen do Brasil S/A e a Ford Brasil S/A, e o Sindi-cato dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de São Bernardo do Campo e Diadema, com vigência a partir de junho 1989. A jornada dos trabalhadores, que cumpriam o regime de seis dias de trabalho por dois de repouso (6 x 2), foi substituída, nos termos da cláusula segunda, por uma jornada de oito horas diárias de serviço efetivo, mas com a escala de revezamento de seis dias de trabalho por três de repouso (6 x 3) na primeira e segunda semanas e de seis por quatro (6 x 4) na terceira, retornando depois o empregado ao início da escala, que se repetiria.

26 Apud OLIVA, João Roberto Dantas. Convenções e acordos coletivos: conteúdo, alteração in mellius e in pejus e teorias do conglobamento e da acumulação. A proposta de prevalência do negociado sobre o legislado, 2009, p. 22. 27 Apud OLIVA, João Roberto Dantas. Convenções e acordos coletivos: conteúdo, alteração in mellius e in pejus e teorias do conglobamento e da acumulação. A proposta de prevalência do negociado sobre o legislado, 2009, p. 25.

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Referido autor considerou que o primeiro exemplo citado nega o direito consti-tucionalmente do trabalhador à jornada reduzida, uma vez que aumenta a jornada sem que haja outra concessão em troca. Para Manus, a compensação é um requisito que deve sempre ser observado. José Roberto Dantas Oliva, no entanto, entende de forma diversa, dispondo sobre a não necessidade de se justificar a modificação estabelecida, nem de haver um benefício em troca do aumento da jornada, conforme se percebe da seguinte transcrição:

Assim, havendo expressa autorização constitucional para alteração da jornada reduzida nos casos de turnos ininterruptos de revezamento, por negociação coletiva, sem que qualquer outro requisito tenha sido imposto pela Lei Maior, observada aquela (negociação), não se cogita de averiguar as causas que a motivaram nem se algo foi oferecido em torça, porquanto estará respeitado o preceito constitucional. É de se supor que, se os tra-balhadores autorizaram o sindicato a celebrar o instrumento normativo, é porque havia motivos para tal.28

Nesse diapasão, tem-se que a Constituição Republica, ao prever exceções à jorna-

da de 6 horas por meio de negociações coletivas, visou possíveis melhorias nas condições sociais dos trabalhadores na realização de uma atividade penosa, como é o caso do tra-balho em turnos ininterruptos de revezamento, conforme será demonstrado no próximo tópico do trabalho. 4.3. MALEFÍCIOS DO TRABALHO EM TURNOS DE REVEZAMENTO

O trabalho em turnos acarreta inúmeros malefícios à saúde do trabalhador, pois interfere diretamente em seu ritmo biológico. “Suas conseqüências incluem insônia, ir-ritabilidade, sonolência de dia, sensação de “ressaca” e mau funcionamento do aparelho digestivo, que levam a longo prazo a doenças relacionadas ao sistema gastro-intestinal e nervoso.”29 Outro fator é o comprometimento dos hábitos alimentares, uma vez que o trabalhador passa a ter suas refeições em horários não coincidentes.

Paulo Hideo Muraoka destaca os prejuízos do trabalho em turnos, através dos dados de uma pesquisa sobre as condições de trabalho dos operadores de trem do metrô realizada pelo Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambi-entes de Trabalho (DIESAT) em 1985. Na oportunidade, verificou-se que os trabalhadores passavam por muitas angústias e sofrimentos, apresentando, inclusive, problemas para dormir:

28 Convenções e acordos coletivos: conteúdo, alteração in mellius e in pejus e teorias do conglobamento e da acumulação. A proposta de prevalência do negociado sobre o legislado, 2009, p. 26.29 ROTENBERG, Lúcia; PORTELA, Luciana Fernandes; MARCONDES, Willer Baumgartem; MORENO, Cláudia; NASCIMENTO, Cristiano de Paula; Gênero e trabalho noturno: sono, cotidiano e vivências de quem troca a noite pelo dia, 2009, p. 02.

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Até 85 [1985], os operadores trabalhavam três manhãs (ou tardes) e tin-ham uma folga, em seguida três noites e duas folgas. Na verdade, quando saia de folga após trabalhar três noites, na primeira folga dormia durante o dia, mas não conseguia dormir no dia seguinte. O ser humano tem um relógio biológico que controla o sono e o revezamento estava perturbando o ritmo deste relógio.30

Os prejuízos causados ao trabalhador não se “limitam” à saúde, destacando-se

também os que interferem diretamente no seu direito ao lazer, como a privação do con-tato familiar e social. Enquanto o trabalhador tem sua rotina constantemente alterada, sua família e seus amigos permanecem com seus horários costumeiros, criando períodos em que os horários de sono, por exemplo, estarão em turnos opostos, como nos dias de trabalho noturno. Tal fato é demonstrado por Amauri Mascaro Nascimento31:

A ocupação do empregado nas condições resultantes do trabalho por tur-nos o impede, primeiramente, de participar normalmente das suas ativi-dades recreativas, educativas, culturais e mesmo sindicais, uma vez que não poderá sempre manter os mesmos horários livres e terá de condicio-nar as suas disponibilidades às viradas semanais da jornada diária de tra-balho, em prejuízo de seu desenvolvimento integral, como chefe de família, como membro de uma comunidade esportiva, como participante de uma coletividade religiosa etc.

De acordo com uma pesquisa realizada pelas psicólogas Fabiana Cia e Elizabeth Joan Barham, com 58 pais de alunos da 5ª e 6 ª séries de uma escola pública do interior de São Paulo, as crianças cujos pais trabalham em horário noturno apresentam menor autoconceito32 em leitura, matemática e autoconceito acadêmico, quando comparadas com as crianças cujos pais trabalham no turno diurno. A pesquisa, publicada em 2005, aborda os malefícios do trabalho noturno para o convívio em família:

O trabalho noturno traz maior isolamento social, repercutindo negativa-mente para a vida do trabalhador e para sua família. No que diz respeito à vida familiar, o trabalho noturno pode acarretar problemas para o fun-cionário participar das atividades familiares de rotina (realizar refeições junto com a família, dividir tarefas domésticas, acompanhar o progresso acadêmico dos filhos e participar de reuniões escolares). Além disso, quando alguém trabalha no período noturno, é preciso alterar a rotina da casa [...]33.

30 MURAOKA, Paulo Hideo, Doenças Nervosas e a intervenção do psicólogo, In: Psicologia: ciência e profissão, 2009, p.02. 31 Iniciação ao direito do trabalho. 30 ed. São Paulo: LTr, 2004, p. 353. 32 Autoconceito corresponde ao conhecimento que a pessoa tem de si mesma, às características ou aos atributos que utilizam para si descreverem.33 CIA, Fabiana; BARHAM, Elizabeth Joan. A relação entre o turno de trabalho do pai e o autoconceito do filho. 2009, p. 29-30.

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Dessa forma, tem-se que o trabalho em turnos ininterruptos de revezamento traz grandes prejuízos à vida e à saúde do trabalhador, caracterizando-se como um tra-balho penoso, o que justifica sua jornada reduzida. Nesse sentido, dispõe Sérgio Pinto Martins:

Sabe-se que este trabalho é muito desgastante para o empregado, pois o ritmo ciscardiano, correspondente ao relógio biológico do ser humano, que controla variações de temperatura, segregação de hormônios, digestão, sono, é alterado constantemente, tratando-se, por tanto, de um trabalho penoso. Assim, o intuito foi o de diminuir a jornada para o trabalho realizado nos referidos turnos, pelo maior desgaste que causa ao empregado, e não o de favorecer a atividade produtiva do empregador. (grifo nosso)

Conforme ensina o professor Raimundo Simão, penoso é o

[...] trabalho desgastante para a pessoa humana; é o tipo de tra-balho que, por si ou pelas condições em que exercido, expõe o tra-balhador a um esforço além do normal para as demais atividades e provoca desgaste acentuado no organismo humano. É o trabalho que, pela natureza das funções ou em razão de fatores ambientais, provoca uma sobrecarga física e/ou psíquica para o trabalhador.

Esta também é compreensão extraída do Direito Previdenciário, através do art. 57 da Lei n° 8.213/91: “A aposentadoria especial será devida, uma vez cumprida a carên-cia exigida nesta Lei, ao segurado que tiver trabalhado sujeito a condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física [...].”

Frente aos malefícios do trabalho em turnos, o art. 7°, XIV da Carta Republicada teve o objetivo de acabar com esta forma de trabalho, tais como os previstos na Lei n° 5.811/72, quais sejam: os empregados que prestam serviços em atividades de explo-ração, perfuração, produção e refinação de petróleo, bem como na industrialização do xisto, na indústria petroquímica e no transporte de petróleo e seus derivados por meio de dutos.

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5. DIREITO AO LAZER E OS TURNOS ININTERRUPTOS DE REVEZAMENTO

Frente ao exposto, tem-se que o trabalho em turnos ininterruptos de reveza-mento traz danos à saúde e a vida social do trabalhador, constituindo-se, assim, num trabalho penoso. Por prejudicar o convívio familiar e em sociedade do trabalhador fere o seu direito fundamental ao lazer.

Conforme já explicitado, o direito ao lazer na dimensão humana pode ser percebido de três formas e o trabalho em turnos de revezamento atinge a todas elas. Primeiro, é percebido como uma necessidade biológica, sendo o momento para o trabalhador repor suas energias. Em razão das mudanças de horários, altera-se frequentemente o relógio biológico do individuo, causando dificuldade para dormir e não permitindo o total descanso do organismo.

Segundo, como necessário para o convívio social. Nos períodos de trabalho no-turno, principalmente, o trabalhador vê-se privado do convívio familiar e social, uma vez que seu período de descanso fica em horário oposto ao de todos os demais.

Terceiro, a necessidade psíquica. O trabalhador, conforme já demonstrado através de pesquisas, sofre com irritações e angustias, além de não ter os mesmo horários di-sponíveis que os demais membros de seu convívio, dificultando a sua dedicação a afazeres prazerosos.

Por fim, a dedicação do ser humano ao “ócio criativo”. Um trabalhador com prob-lemas de sonolência diurna, dificuldades para dormir e irritação muito provavelmente não terá como voltar-se ao ócio criativo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As normas ambientes possuem o intuito de proteger a saúde e a segurança do trabalhador, sendo o lazer um dos elementos que interferem diretamente na saúde física e psíquica do ser humano.

O trabalho em turnos ininterruptos de revezamento fere o direito fundamental do trabalhador ao lazer, ultrapassando o limite de restrição do seu núcleo essencial. Dessa forma, verifica-se uma antinomia própria aparente, de acordo com a classificação de Norberto Bobbio.

Como forma de solução desta antinomia e frente à impossibilidade de ser utilizar os critérios cronológicos, hierárquicos e de especialidade, propõe-se a interpretação con-ciliatória, ou seja, a conciliação interpretativa das duas normas no ordenamento jurídico. Por esta óptica, a utilização dos turnos ininterruptos de revezamento ficaria restrita a atividades em que outra forma de trabalho mostra-se impossível.

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Quer-se aqui permitir que o trabalhador tenha uma rotina e, consequentemente, usufrua do seu direito ao lazer, mesmo que para isso desempenhe suas atividades labo-rais exclusivamente no período noturno. Dessa forma, os valores sociais e humanos do trabalho devidamente prevaleceriam sobre os aspectos econômicos.

REFERÊNCIAS

BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 10° ed. Brasília: Editora UNB, 1999.

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A ÁGUA DE CHUVA NO ORDENAMENTO JURÍDICO: A MUDANÇA DE PARADIGMA E AS PREVISÕES DA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Daniela Helena Brandão Caldeira*

Sumário: Introdução; 1. A evolução das ciências, a mudança de paradigma e o direito; 2. A água e os seres vivos: a importância das chuvas no Brasil; 3 A gestão das águas no Brasil: enfoque jurídico; 4. A Constituição Federal de 1988 e a nova ordem constitucional; 5. O Direito das Águas e o tratamento legal das águas de chuva sob o prisma da unidade e completude do ordenamento jurídico; Conclusões; Referências.

Resumo: As águas de chuva são importantes na formação das águas superficiais, recarga das reservas subterrâneas, bem como na determinação do clima. O tratamento jurídico das águas tem sofrido mudanças e o reconhecimento como bem público é um reflexo do aumento da preocupação com sua escassez. A integração da gestão das águas de chuva à gestão das águas superficiais e subterrâneas se faz necessária, tornando urgente a harmonização do ordenamento jurídico brasileiro, no que tange a esta questão.

Palavras-chave: águas; bem público; chuvas.

Abstract: Rainwater is important in determining river flow conditions and groundwater reservoir formation, as well as climate conditions. The recognition of public value of water and the society concern on this issue comes as a result of water shortage concern. The management of rainwater together with surface and groundwater is so necessary as a harmonic treatment about this issue to Brazilian’s law.

Key words: waters; public property; rainwater.

* Mestranda em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas-UEA. Analista ambiental do Instituto Mineiro de Gestão das Águas – IGAM.

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INTRODUÇÃO

Assegurar oferta de água de qualidade às gerações atuais e futuras é algo que aflige quase todas as nações do mundo. Reflexo disso é a previsão do Capítulo 18 da Agenda 21 que estabelece a preservação das funções hidrológicas, biológicas e químicas dos ecossistemas e adaptação das atividades humanas aos limites da capacidade da natureza. Em razão disso também sugere utilizar tecnologias inovadoras, com aperfeiçoa-mento de tecnologias nativas, para aproveitar plenamente os recursos hídricos limitados e protegê-los da poluição. (ANA, 2007).

Nesse cenário, o Brasil é privilegiado por ter cerca de 13,7% da água doce di-sponível no mundo em seu território. Contudo, a política ambiental e de recursos hídri-cos do país têm seguido a tendência mundial – já que essa abundancia é relativa, se analisarmos as diferentes regiões brasileiras – e, nossos legisladores têm se atentado a necessidade de preservação desse recurso natural. Isso porque os seres humanos dependem da água para atender às suas necessidades individuais fundamentais e para o desenvolvimento das sociedades.

Em nosso ordenamento existem previsões sobre a água inseridas no âmbito do direito ambiental, do direito administrativo e até mesmo do direito civil. Entre as princi-pais regulamentações merece destaque a previsão constitucional que considera a água como bem, coisa. Este tratamento, assim como as demais previsões, tem como pano de fundo a necessária proteção desse bem cada vez mais escasso.

Nesse sentido criou-se a Agência Nacional de Águas, órgão da administração pub-lica brasileira, com o intuito de gerenciar recursos hídricos no país. Várias são as ações e medidas adotadas pela agência que refletem essa preocupação, como por exemplo, a implementação de instrumentos de gestão e desenvolvimento de projetos visando à preservação dos recursos hídricos.

Este trabalho objetiva entender a evolução do pensamento do ser humano no que tange à proteção das águas; estudar o ciclo hidrológico, a importância das chuvas e seu tratamento pelo ordenamento jurídico brasileiro. Também serão identificadas as regras gerais sobre gestão das águas doces, examinando o conjunto de leis que regulamenta o uso dos recursos hídricos no Brasil e sua evolução histórica, com ênfase nas águas de chuva. E, ainda, realizada uma discussão sobre as competências dos entes federativos na edição de normas e gestão dos recursos hídricos.

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1. A EVOLUÇÃO DAS CIÊNCIAS, A MUDANÇA DE PARADIGMA E O DIREITO

A busca do homem em compreender sua existência despontou ao longo da tra-jetória do pensamento ocidental. As ciências humanas se formaram a partir de difer-entes configurações do homem na história da civilização e da cultura. Na Antiguidade Clássica a obra de Hesídio demonstra as preocupações com o corpo humano e a alma. Superando a visão filosófica da Idade Média, na Modernidade, com a revolução científica, surge um novo padrão de reflexão baseado na observação empírica e na análise lógica. (DOMINGUES, 1991).

Segundo Domingues, mencionando as idéias de Descartes (1991, p.33), “Deus criou a natureza e suas leis, mas agora seus desígnos não nos dizem respeito e nos esca-pam absolutamente.” E o que se observa é que a ciência passa a ser baseada em modelos matemáticos, profundamente associada com a técnica passando a ser universal. Assim, arremata o mesmo autor (1991, p.33): “O objetivo das ciências torna-se a partir de agora oferecer os meios teóricos para que o homem se converta finalmente em senhor e possuidor da natureza.”

A partir dessa reflexão, podemos observar que, apesar da valoração da água desde as mais remotas civilizações, foi após descobertas científicas, como, por exemplo, a constatação de que o corpo humano é composto de cerca de 70 a 75% de água, é que se passou a refletir melhor sobre a proteção desse recurso natural.

Todo o arcabouço legal de tratamento dos recursos hídricos tem relação com essa mudança de paradigma. Manifestações como do antigo filósofo grego Empédocles que defendia que a água era um dos quatro elementos da natureza básicos, em conjunto com o fogo, terra e ar, sendo respeitada como a substância básica do Universo, denomi-nada ylem e demais tradições religiosas que envolviam a água como relação com cura, por exemplo, passaram a ser melhor aceitas, corroborando os resultados dos estudos científicos. (PUC-SP, 2009).

A análise da evolução do conhecimento científico não pode ser dissociada da mu-dança de paradigma ocorrida na legislação pátria em relação às águas, especialmente às águas de chuva.

Para compreender como a água é realmente percebida pela população brasileira, é preciso ir longe e analisar o imaginário popular. Visões indígenas impregnaram a cultura brasileira como lendas como a iara, da mãe d’água e do boto encantado. Também banhos de cheiro, oferendas em cachoeiras, procissões marítimas demonstram a contribuição da cultura africana. (MIRANDA, 2009).

A água está presente em vários rituais e, como bem enfatiza Evaristo Miranda: “ Essa visão do mundo hídrico perde-se no tempo. Foi iluminada pelo cristianismo e semeada por aventuras gregas, romanas, árabes e judaicas.” Assim, necessário compreender essa relação do homem com a água e a partir disso vislumbrar soluções para as questões atuais.

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2. A ÁGUA E OS SERES VIVOS: A IMPORTÂNCIA DAS CHUVAS NO BRASIL

A água passa por processos físicos e por isso pode ser encontrada nas formas sólida, líquida e gasosa, sendo assim um recurso renovável. Chamamos de ciclo hidrológi-co todo esse processo de evaporação, precipitação e transformação em líquido, neve e gelo.

Quando se chega à fase do ciclo em que caem as chuvas, observamos que a água pode variar o local e a forma de ser armazenada para, posteriormente, ser utilizada nas mais diversas atividades.

Por causa da radiação solar, a água do mar evapora e as nuvens de água movem-se sobre as áreas terrestres. A precipitação ocorre sobre a terra como neve, granizo e chuva, e então, a água inicia a trajetória de volta ao mar. Parte dessa água infiltra-se no solo e por percolação atinge a zona saturada do solo abaixo do nível do lençol freático, ou superfície freática. A água nessa zona flui vagarosamente através de aqüíferos para os canais dos rios ou, algumas vezes, diretamente para o mar. A água infiltrada também alimenta a vida das plantas superficiais; parte dela é absorvida pelas raízes dessas plantas e depois de assimilada é transpirada a partir da superfície das folhas. A água remanescente na superfície do solo se evapora parcialmente, transformando-se em vapor d’água, mas a maior parte aglutina-se em arroios, riachos ou regatos e corre como escoa-mento superficial para os canais dos rios. (BASSOI, 2004. p. 47)

No que tange ao ciclo hidrológico e formação das chuvas na região amazônica, há uma peculiaridade que não pode ser esquecida, a sua intensidade em razão da floresta e a influência das chuvas no resto do país e em outros países latinos. Desse modo, necessário lembrar os “rios voadores”, nome dado às correntes de vapor que são consti-tuídas por vapores de água que partem do Oceano Atlântico e vão até à Amazônia, onde são “reciclados” e fazem trajetos que chegam ao restante do território brasileiro e vão até a América Latina, tendo como limite da cordilheira dos Andes. (PRADO, 2009).

O processo de formação dos rios voadores ocorre da seguinte forma:

Os ventos alísios empurram a umidade vinda do Atlântico para a Amazônia e provocam chuvas na região. Do total de chuvas, 25% alimentam os igarapés, 25% são retidos pelas folhas e 50% são absorvidos pelas ár-vores – esses últimos 75% voltam para a atmosfera em forma de vapor d’água, por meio da evaporação e da transpiração. Esses vapores são transportados pelos ventos até a cordilheira andina, que funciona como uma barreira natural e redireciona o percurso da umidade para o Norte da Argentina, o Uruguai, o Sul e o Sudeste do Brasil. O volume de vapor

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d’água produzido pela floresta é imenso – cada árvore de grande porte “evapotranspira” até 300 litros de água por dia! No total, são cerca de 20 bilhões de litros de água lançados na atmosfera todos os dias pela Amazônia, mais do que a vazão do Rio Amazonas – o maior rio do planeta! (PRADO, 2009) (grifo nosso).

Também não podemos esquecer que parte das chuvas infiltra no solo e forma fluxos subterrâneos que contribuem para a descarga dos rios.

A partir dessa análise, o que se observa é a necessidade de as normas protetoras tratarem a água de forma única, não fazendo distinção quanto à fase em que se encontra, já que os estados da água são complementares e guardam, cada um, sua importância. Nesse sentido observa Tomanik Pompeu:

A unidade do ciclo hidrológico deverá ser sempre levada em consideração pelo legislador, quando houver que tratar das águas em qualquer de suas fases ou estado. A falta de preocupação, nesse sentido, geralmente leva à edição de normas estanques, dispondo sobre as águas superficiais e sub-terrâneas, com graves inconvenientes para a gestão de ambas. (POMPEU, 2006. p.25)

3. A GESTÃO DAS ÁGUAS NO BRASIL: ENFOQUE JURÍDICO

Falar da evolução do tratamento jurídico das águas é relacionar a questão à mu-dança de paradigma e ao retorno ao conhecimento comum. Isso porque o direito é uma ciência social e, segundo Boaventura de Souza Santos (2009, p.38): “a ciência social será sempre uma ciência subjectiva e não objectiva como as ciências naturais; tem de compreender os fenómenos sociais a partir das atitudes mentais e do sentido que os agentes conferem às suas acções [...]”

E também CASANOVA:

A grande transformação do paradigma científico alterou o conjunto das ciências naturais e humanas, das engenharias e das artes ao mesmo tempo que conservava cuidadosamente muitos de seus antigos descobrimentos. Mas abordou temas até então não tratados ou desconhecidos, desenhou novos métodos, gerou novas especialidades e articulações do saber. [...] Na construção do novo paradigma, intervieram os mais distintos tipos de especialistas, entre outros, matemáticos, biológicos, químicos, físicos, engenheiros, alguns epistemológicos e numerosos especialistas em ciên-cias da comunicação, da informação e da organização. (CASANOVA, 2006, p.68).

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Os estudos científicos revelaram a intensidade da poluição das águas e as dificul-dades em recuperá-la, além das repercussões negativas no meio ambiente, as interven-ções humanas.

Descobertas científicas fizeram crescer a preocupação com esses recursos, fa-zendo com que a água, elemento natural, assim como os demais elementos (solo, ar atmosférico, flora e fauna) dos quais não pode ser indissociada, fossem protegidos por normas legais. A Lei nº 6.938/81 trouxe previsões mais contundentes, como a previsão de bem de uso comum do povo por serem considerados bem ambientais.

A presença da água garante a continuidade da vida, e a nossa Carta Magna pas-sou a tratar como princípio fundamental a dignidade da pessoa humana. De certo, toda e qualquer norma que trate do meio ambiente e da água tem por objetivo cuidar da manutenção da vida.

Existe hoje no Brasil todo um arcabouço legal para proteção das águas a partir do que preceitua nossa Constituição. Já há alguns anos passamos por um processo evolu-tivo em que saímos de uma visão privatista da água, presente nas regras do Código Civil de 1916 e do Código das Águas de 1934, para uma visão mais publicista da Constituição Federal de 1988, vigente nos dias atuais.

Como bem observa FREITAS (2008, p.19) “é possível dizer que durante décadas e mesmo sob a vigência do Código de Águas de 1934, o enfoque dado ao tema era sempre mais sob a ótica do direito privado do que do direito público.”

Já com a implementação da nova ordem constitucional veio a Lei 9.433 de 08 de janeiro de 1997 que, em seu primeiro artigo declarou expressamente ser a água um bem de domínio público.

O que se percebe é que o tratamento da água como bem supera as noções pas-sadas e superadas de res nullius, e demonstra a necessidade de assegurar e proteger juridicamente esse bem, no legítimo interesse da vida presente e futura. (CUSTÓDIO, 2005).

A escassez e a poluição das águas geradas, especialmente, pela urbanização do país e pelas atividades produtivas desenvolvidas ao longo dos tempos despertaram a população para a mudança de tratamento desse bem.

3.1 A MUDANÇA DE PARADIGMA: A EVOLUÇÃO DO TRATAMENTO DAS ÁGUAS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Tendo em vista o necessário tratamento protetivo das águas, a Constituição Fed-eral inovou ao trazer previsão de criação de um sistema de gerenciamento das águas específico, além de expressar a dominialidade desses recursos:

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Art.21. Compete à União:[...]XIX: instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direito de uso. (BRASIL, 1988)

No que tange ao poder de legislar, atribui-se competência privativa à União:

Art.22. Compete privativamente à União legislar sobre:[...]IV: águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão. (BRASIL, 1988)

E, ainda, o texto constitucional reparte a água em bens da União e dos Estados, fazendo distinções que levam em consideração o estado em que se apresentam:

Art.20. São bens da União:[...]III: os lagos, rios e quaisquer correntes de água em terrenos de seu domínio, ou que banhem mais de um Estado, sirvam de limites com outros países, ou se esten-dam a território estrangeiro ou dele provenham, bem como os terrenos marginais e as praias fluviais;[...]Art.26. Incluem-se entre os bens dos Estados:I: as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes e em depósito, res-salvadas, neste caso, na forma da lei, as decorrentes de obras da União.(BRASIL, 1988)

Cumpre-nos salientar a ausência de previsão de competência aos Municípios, cabendo-lhes apenas, implicitamente, prestar serviços de água onde prevaleça o inter-esse local, além da competência administrativa para proteger o meio ambiente que é atribuída aos três entes federativos (previsão do art. 225, §1º).

Paulo Affonso Leme Machado (MACHADO, 2002) tem posição ímpar sobre a questão já que considera possível a existência de águas municipais, na hipótese de a cor-rente de água nascer e desaguar no território daquele município. O doutrinador leva em consideração o objetivo de gerir o bem que é considerado bem de uso comum do povo.

Esse entendimento não pode ser desprezado especialmente porque a divisão do domínio das águas entre União e Estados é objeto de críticas. Isso porque a falta de ar-ticulação entre os detentores do domínio numa mesma bacia hidrográfica, por exemplo, tem inviabilizado a gestão. Quanto a essa articulação, a crítica de GRANZIERA (2006, p.18) é no sentido de que “o objetivo, nos termos da lei em vigor, é justamente propiciar o acordo entre todos os envolvidos, e não apenas os entes políticos, no que se refere ao uso da água.”

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Outrossim, o que se observa é que, especificamente quanto a águas de chuva (também chamadas de águas meteóricas ou pluviais), não há menção expressa na Con-stituição Federal quanto à dominialidade, não sendo inserida no rol de bens da União ou Estados, assim como não se fala, expressamente, sobre sua gestão ou regulamentação.

3.2 CÓDIGO DAS ÁGUAS A LUZ DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O Código das Águas (Decreto n° 24.643, de 10 de julho de 1934), inserido no ordenamento jurídico ainda na vigência da Constituição Federal de 1934, foi considerado um importante diploma legal no gerenciamento do recurso água da época. Seu objetivo foi orientar o aproveitamento industrial das águas, bem como o aproveitamento e explo-ração da energia hidráulica do país. As previsões refletem a necessidade de progresso industrial que o país buscava naquela década.

Em relação ao domínio dos recursos hídricos estabeleceu a divisão em três class-es: águas públicas, águas comuns e águas particulares. E, quanto águas pluviais, classif-icou-as como privadas, se utilizadas pelo dono do terreno em que caíssem, e públicas se caíssem em prédios públicos ou fossem desprezadas pelo proprietário (arts.102, 103 e 107).

No entanto, com a entrada em vigor da Constituição Federal em 05 de outubro de 1988, uma nova ordem jurídica se instalou e o Direito das Águas passou a ter como principal regra o domínio público das águas.

O Código de Águas não foi revogado, entretanto algumas de suas regras já não mais se aplicam. Quanto à dominialidade das águas ser da União e Estados, entende GRANZIERA (2005, p.75) que “decorre do próprio Texto Constitucional, significando a responsabilidade pela guarda e administração dos mesmos e pela edição das regras a eles aplicáveis.”

Também sobre o domínio público das águas SCHEIBE (2002, p.211) chega a mani-festar que “o poder de polícia alcança o uso de qualquer corpo hídrico, sob qualquer domínio ou em terras de qualquer domínio, na forma de limitação administrativa, em prol do meio ambiente sadio e equilibrado.” (grifo nosso)

E, arremata afirmando que “em face da previsão de propriedade somente da União e dos Estados, sobre todos os corpos d’água, derrogando, pois o Código Civil e o Código das Águas”. (SCHEIBE, 2002. p.211) (grifo nosso).

Em suma, uma vez que não há revogação expressa do Código das Águas, esta-mos com a autora, e entendemos que, com o advento da Constituição de 1988, são inaplicáveis as previsões do referido diploma que se referem à propriedade privada das águas, abrangendo, inclusive, as previsões quanto às águas pluviais.

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Para Passos, diante do domínio público das águas o uso dos recursos hídricos sujeita-se à outorga, ou seja, a uma licença concedida pelo órgão administrativo compe-tente.

Diferente é o entendimento de Paulo Affonso Leme Machado (2002, p.31) quanto à dominialidade das águas de chuva: “A Lei 9433/97 não modificou as sábias regras de 1934. Essas regras estimulam os proprietários privados a captar as águas das chuvas para suas necessidades básicas.”

Mas o próprio autor admite que, com a entrada em vigor da Lei 9.433/1997 pode-se entender que essa disposição do decreto de 1934 contraria a nova lei, sendo revogada (ao se referir ao art 8° do Código das Águas que trata da dominialidade das águas). (MACHADO, 2002).

Já GRANZIERA entende que:

A água pluvial não se encontra em um corpo de água, não cabendo a outorga do direito de seu uso, podendo o proprietário do prédio em que caíram tais águas delas apropriar-se para as finalidades que desejar, desde que não cause dano a terceiros. GRANZIERA (2006, p.92)

4. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A NOVA ORDEM CONSTITUCONAL

4.1 POLÍTICA AMBIENTAL, POLÍTICA DE RECURSOS HÍDRICOS, E LEI DE DIRETRIZES PARA O SANEAMENTO BÁSICO E AS ÁGUAS DE CHUVA

A Lei de Política Ambiental (Lei n. 6.938 de 31 de agosto de 1981) inovou ao tra-tar do meio ambiente. A Constituição Federal vigente à época não abordava essa matéria.Na lei de Política Ambiental as águas são tratadas como bem ambiental pela Lei de Política Ambiental (art.3º, V da Lei 6.938/81). No entanto, a partir da Constituição Federal e de suas previsões específicas sobre esse bem, surgiu a necessidade de se estabelecer um sistema próprio de gerenciamento dos recursos hídricos e o estabelecimento de regras específicas e medidas apropriadas ao seu tratamento.

Dessa forma, em data posterior (1997) à entrada em vigor da Constituição e para regulamentar as regras trazidas por esta, foi sancionada a Lei n° 9.433, específica sobre gestão desse bem considerando ambiental, que tem como uma de suas diretrizes a integração de sua política à política ambiental.

A Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela mencionada norma, é reflexo do novo ordenamento jurídico e institucional formulado no contexto do processo

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de redemocratização do Brasil, que tem a Constituição Federal de 1988 como um marco referencial. (ANA, 2007).

CANALI (2005, 124) entende que a Lei de Política de Recursos Hídricos inova ao privilegiar o uso de mecanismos econômicos de incentivo ao uso racional e solução de conflitos já que a Política Nacional de Meio ambiente se restringiu a trazer os chamados mecanismos de comando controle.

Uma de suas inovações é o tratamento da água como bem ambiental, que demon-stra apenas uma forma de dar a água a sua real importância, e o domínio público é uma forma de enfatizar isso.

Analisando os dois diplomas legais mencionados, observamos que em ambos nas regras gerais não há tratamento diferenciado para a água a partir do estado em que se encontra ou sua localização, ou seja, a gestão se refere ao recurso em si.

Reforçam, então, o entendimento de que as águas pluviais devem ter o mesmo tratamento dispensado às águas nos demais estados em que são encontradas. No mes-mo sentido destaca SILVA:

A necessidade de uma gestão integrada das águas superficiais e subter-rânea é afirmada pela Resolução CNRH 15, de 11.01.2001 ao estabelecer que deverá ser considerada a interdependência das águas superficiais, subterrâneas e meteóricas na formulação de diretrizes para a implemen-tação da Política Nacional de Recursos Hídricos (art.2º). (SILVA, 2003,p. 161)

Apesar de não haver previsão expressa sobre a gestão das águas meteóricas (pluviais ou de chuva) na Lei n° 9.433/97, há uma preocupação do legislador com as con-seqüências de eventos hidrológicos críticos onde se incluem as enchentes, por exemplo, ocasionadas pelas águas de chuva:

Art. 2º São objetivos da Política Nacional de Recursos Hídricos:[...]III - a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais. (BRASIL, 1997)

Em razão de haver segmentação nas previsões, surgem dificuldades em efetivar a gestão pelos entes públicos, o que fez surgir críticas à lei das águas. Christian Caubet, por exemplo, entende que essa lei tem visão economicista e restringe a gestão à apropri-ação das funções da água, controlando o acesso aos recursos. (Caubet, 2006, p.209).

Assim, diante da experiência dos mais de dez anos da vigência da Lei das Águas, a ANA, em publicação oficial, reconhece a necessidade de aprimoramento da legislação ao

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incluir como desafio à implementação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recur-sos Hídricos a busca de aperfeiçoamento da legislação:

Apesar dos avanços que contempla, a legislação brasileira de recursos hídricos demanda aprimoramentos [...] aspectos relacionados ao ar-cabouço legal da administração pública brasileira tendem a limitar a aplica-ção da Lei das Águas. (ANA, 2007. p. 24).

E, igualmente, admite as dificuldades em integrar a Política de Gestão de Recursos Hídricos às políticas setoriais, especialmente à Política Ambiental de forma que as dis-cussões e definições atinjam uma convergência focada no desenvolvimento sustentável. (ANA, 2007).

Também, no que tange aos recursos hídricos e às águas de chuva, cabe-nos anal-isar, ainda, o disposto na Lei n° 11.445, de 5 de janeiro de 2007 que estabelece dire-trizes sobre o saneamento básico. Em seu art.3º, I, “d” considera saneamento básico a drenagem e manejo das águas pluviais urbanas, sem tratar da competência para executar essa atividade. E, posteriormente, no art. 4º traz expressa previsão de que:

Art. 4º Os recursos hídricos não integram os serviços públicos de sanea-mento básico.Parágrafo único. A utilização de recursos hídricos na prestação de serviços públicos de saneamento básico, inclusive para disposição ou diluição de es-gotos e outros resíduos líquidos, é sujeita a outorga de direito de uso, nos termos da Lei no 9.433, de 8 de janeiro de 1997, de seus regulamentos e das legislações estaduais. (grifos nossos)

Em síntese, o que se percebe é que, em razão dos efeitos que as águas pluviais podem causar ao meio urbano, devem ser drenadas, sem tratar da forma de captação ou trazer restrições ou concessões a este ato.

Dessa maneira, podemos pensar em considerá-las como de domínio dos Estados, já que, sob a ótica do federalismo clássico, são atribuições da União apenas aqueles as-suntos considerados de interesse nacional em face de outras nações. E, nesse sentido, os Estados poderiam desenvolver a política de gestão de recursos hídricos já implementada hoje às águas superficiais e subterrâneas.

Ademais, essa medida ensejaria maior simplicidade e eficiência na gestão, fazendo valer o princípio da eficiência da Administração Pública. Para CANALI (2005, p.130) es-taríamos abolindo o “anacronismo de políticas que tendem à centralização no âmbito federal e à redução da autonomia dos demais entes federados, e que ainda apresentam certo grau de ameaça à introdução do novo paradigma.”

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4.2 CÓDIGO CIVIL E AS ÁGUAS DE CHUVA

No que tange aos recursos hídricos o Código Civil apenas repete o conceito de bem público em seu art. 99, I, porém quanto às águas doces, restringe aos rios (águas superficiais). Também reserva seção específica sobre águas dentro do Capítulo sobre Direitos de Vizinhança, arts. 1.288 a 1296.

Nessa Seção há um artigo sobre águas de chuva (art. 1290) cuja previsão remete ao entendimento do Código de Águas, permitindo a apropriação das águas pluviais pelo proprietário do terreno onde caírem.

Mesmo tendo entrado em vigor 6 (seis) anos após a vigência da Lei das Águas (Lei n° 9.433 de 08 de janeiro de 1997) e na vigência da Constituição de 1988, o Código Civil não observou as previsões sobre o domínio público das águas, que abrange as águas pluviais.

5. O DIREITO DAS ÁGUAS E O TRATAMENTO LEGAL DAS ÁGUAS DE CHUVA SOB O PRISMA DA UNIDADE E COMPLETUDE DO ORDENAMENTO JURÍDICO

5.1 ÁGUAS DE CHUVA E AS POSSÍVEIS LACUNAS NO ORDENAMENTO JURÍDICO

Em razão da importância das águas e de sua gestão, podemos entender o Direito das Águas como um ordenamento. E, pelos ensinamentos de BOBBIO (1999, p.48), mesmo complexo, esse ordenamento possui algo de unitário, ou seja, trazer regras para o uso da água.

Para entendermos o Direito das Águas, observemos a definição de GRANZIERA:

O conjunto de princípios e normas jurídicas que disciplinam o domínio, as competências e o gerenciamento das águas, visando ao planejamento dos usos e à preservação, assim, como a defesa de seus efeitos danosos, provocados ou não pela ação humana. (GRANZIERA, 2006, p.24)

A partir da análise da Teoria da Construção Escalonada do Ordenamento Jurídico de Kelsen podemos perceber que um ordenamento jurídico complexo não possui apenas normas de um mesmo plano ou mesma hierarquia. Existem normas superiores, inferiores e a norma suprema na qual repousa a unidade do sistema. Essa norma suprema ou fun-damental é a base da estrutura hierárquica do ordenamento.(BOBBIO, 1999)

Podemos então entender ser a previsão da água como bem público pela Constitu-ição Federal (Poder Originário) a norma fundamental do Direito das Águas. Isso porque a

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Constituição foi legitimamente estabelecida, por meio de assembléia constituinte, fazendo com que houvesse a entre o velho (águas públicas e particulares) e novo ordenamento (somente águas de domínio público).

Com a entrada em vigor da Constituição toda e qualquer regra sobre recursos hídricos editada nesse sistema deve obedecer a previsão da Carta Constitucional, entre elas a da dominialidade pública das águas. Assim, “uma norma existe como norma jurídi-ca, ou é juridicamente válida, enquanto pertence a um ordenamento jurídico.”(BOBBIO, 1999, p. 60).

Dessa forma, para que haja unidade no ordenamento, além de obediência da hi-erarquia, as leis que cuidam dos recursos hídricos (seja qual for o estado em que se encontrem) devem guardar coerência com a norma suprema para fundamentar a vali-dade do ordenamento. Daí “reconhece-se que o ordenamento jurídico, além de regular o comportamento das pessoas, regula também o modo pelo qual se devem produzir as regras.”(BOBBIO, 1999, p.45)

Portanto, a norma fundamental, além de fundamentar a validade das normas infra-constitucionais, apresenta-se como princípio unificador das normas de um ordenamento jurídico.

Nesse sentido que a menção às águas de chuva pela lei n° 11.445/2007 não são como contraditórias ao ordenamento, já que não tratam da captação em si. Apesar de o art.4º deixar claro que os recursos hídricos não integram os serviços públicos de sanea-mento básico, não há contradição com a previsão do artigo anterior sobre águas de chuva porque este se refere a drenagem e manejo e não à captação.

Além da unidade, um sistema também precisa ser completo, ou seja, deve conter normas que regulem todo e qualquer caso fático. Se num sistema faltarem normas para regular certos casos, entende-se que há lacunas nesse sistema e por isso não há com-pletude.

A análise do Direito das Águas como sistema jurídico, à luz da Constituição Feder-al, nos faz observar que não há previsão expressa sobre captação e gestão das águas de chuva, o que poderia ser entendido como uma lacuna. Contudo, sendo a Lei n° 9.433/97 uma norma que traz regras gerais, podemos submeter as águas de chuva ao tratamento dispensado aos recursos hídricos, estes considerados em sua generalidade. Ou seja, se água de chuva é água, e por isso devem ser aplicados instrumentos de gestão como outorga e cobrança, por exemplo.

Como vimos, as águas de chuva abastecem rios e lençóis freáticos e se é exigida outorga para captação de águas subterrâneas e superficiais, também cabível quando captadas as águas meteóricas.

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5.2 LEIS MUNICIPAIS QUE CUIDAM DAS ÁGUAS DE CHUVA

Por todo o exposto, a gestão de recursos hídricos deve seguir as normas con-stitucionais, além dos princípios e fundamentos da Lei n° 9.433/97 que são baseados na Constituição Federal.

Uma vez que a Constituição traz como norma fundamental a previsão da água como bem público, a base de toda a gestão deve acontecer obedecendo a essa regra. Outra previsão constitucional que deve ser seguida é a que restringe à União e aos Esta-dos a gestão desse bem, apesar das críticas quanto a ferir o federalismo.

Estados e União, portanto, devem executar a gestão de forma a não se transfor-marem em proprietários do recurso hídrico, e sim gestores desse bem, visando sempre o interesse de todos. Isso porque o objetivo da presença do Poder Público no setor hídrico é traduzir um eficiente resultado na política de conservar e recuperar as águas. (MACHADO, 2002).

No que tange à atuação dos Municípios, não foi estabelecida competência ou fun-ção expressa, restringindo sua atuação à ações que comportem relação entre a gestão de recursos hídricos aos interesses ambientais de abrangência local, justificando pos-síveis intervenções deste ente federativo.

No entanto, municípios editaram leis sobre gestão das águas, inclusive águas de chuva, como foi o caso de Manaus, Curitiba, Porto Alegre, entre outros municípios. A Lei Municipal n°1.192, de 31 de dezembro de 2007 de Manaus, por exemplo, que cria o Programa de Tratamento e Uso Racional das Águas nas Edificações – Pró-Águas e tem como objetivo instituir medidas que induzam à preservação, tratamento e uso racional dos recursos hídricos nas edificações, inclusive com a utilização de fontes alternativas para captação de águas.

A validade dessa norma é questionável, uma vez que não compete ao Município legislar, pois o já citado art.22, IV da CR/88 traz previsão expressa de se tratar de com-petência privativa da União.

Ademais, também a Carta Constitucional não inclui os Municípios na divisão da água em “bens”, como já mencionado (art.20 e 26).

Ao levarmos em consideração, também as previsões da Lei Federal de Diretrizes para o Saneamento Básico, observamos que o texto da lei municipal não guarda coerência já que ao disciplinar o uso das águas de chuva, o Município de Manaus inclui regras que extrapolam a orientação da lei federal, incluindo obrigações quanto à captação das águas, como a previsão do art.17.

É louvável a iniciativa do Município que busca cuidar desse bem e visa o reuso da água para fins não-potáveis, o que tem sido impulsionado em todo o mundo em razão da crescente dificuldade de atendimento à demanda crescente de água para abastecimento público doméstico, além da dificuldade de ter mananciais próximos ou de qualidade ade-

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quada para abastecimento (BASSOI, 2004). Todavia, pecou por não vir alinhada às regras e princípios das Leis federais de Política Ambiental, Recursos Hídricos e de Saneamento Básico.

Do ponto de vista da execução da política de recursos hídricos, tendo em vista a necessidade de aplicação do princípio federativo e da eficiência da Administração Pública, não haveria qualquer óbice na atuação do município na gestão de recursos hídricos. Além disso, um dos fundamentos da Lei das Águas (art.1º, VI) é a gestão descentralizada, que pode fundamentar questionamento sobre a exclusão do município quando estabelecida a dominialidade das águas e, indiretamente, da sua gestão.

No entanto, levando-se se em conta toda a estrutura instituída e o sistema de gerenciamento já em funcionamento, seria inviável promover tantas modificações, sendo necessário pensar em solução intermediária, que promova uma gestão eficiente dos re-cursos hídricos. A gestão das águas de chuva pelos Estados pode ser uma alternativa viável.

CONCLUSÕES

É inegável a importância da água para os seres vivos, o que já foi reconhecido pelas mais antigas civilizações. A ciência tem desenvolvido técnicas para encontrar alter-nativas que evitem a diminuição quantitativa e qualitativa desse recurso. A manutenção de fontes que abasteçam as grandes cidades e a necessidade de preservar as águas para as futuras gerações constituem uma das principais preocupações. Tais necessidades nos obriga a refletir sobre a captação e utilização das águas de chuva. Enfrentar a questão de sua dominialidade é medida urgente para melhor orientar as regras e ações a serem desenvolvidas visando seu aproveitamento. Pensar em considerá-las de domínio dos Esta-dos é entender o gerenciamento de recursos hídricos sob a ótica do federalismo clássico, ou seja, manter como atribuição da União apenas aquilo que seja considerado interesse nacional em face de outras nações. E, nesse sentido, desenvolver a política aplicando os instrumentos de gestão já implementados pelos Estados.

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PARTE III

A LOGÍSTICA REVERSA COMO INSTRUMENTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELGérson Corrêa de Oliveira.................................................................................154

Introdução........................................................................................................154

1. A Evolução do conceito de Desenvolvimento............................................1552. Responsabilidade Ambiental pela poluição por resíduos sólidos..................1583. Resoluções do CONAMA.......................................................................1614.Logística Reversa..................................................................................1635. Benefícios econômicos da Logística Reversa............................................165

Considerações Finais........................................................................................167

Referências......................................................................................................168

A EFICÁCIA DA LEI ROUANET NO ESTADO DO AMAZONAS Ian dos Anjos Hermes da Fonseca.....................................................................170

Introdução........................................................................................................1711. Proposição, finalidade e formas de utilização...........................................1722. Os problemas da Lei Rouanet: analisando a lei para entender as consequências locais......................................................................................................1763. A aplicação da Lei Rouanet no estado do Amazonas................................1794. Paralelo: objetivos versus resultados – análise da eficácia da Lei Rouanet no Amazonas...............................................................................................182

Considerações Finais........................................................................................184

Referências......................................................................................................187

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A LOGÍSTICA REVERSA COMO INSTRUMENTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Gérson Corrêa de Oliveira*

Sumário: Introdução; 1. A Evolução do conceito de Desenvolvimento; 2. Responsabili-dade Ambiental pela poluição por resíduos sólidos; 3. Resoluções do CONAMA; 4.Logística Reversa; 5. Benefícios econômicos da Logística Reversa; Considerações Finais; Referên-cias.

Resumo: O objetivo deste estudo é mostrar que a relação com a logística reversa torna o desenvolvimento sustentável mais eficaz. Partindo do entendimento de que o conceito de desenvolvimento evoluiu ao ponto de abarcar as dimensões sociais, econômicas e ambientais, entende-se que a logística reversa pode ser desejável, atendendo a legislação presente e futura e produzindo benefícios em todas estas dimensões.

Abstract: This study aims to show that the association with reverse logistics improves the effectiveness of the sustainable development. Considering that the concept of de-velopment evolved to include the social, economical and environmental dimensions, it is understood that reverse logistics can be desirable, keeping the present and future legislation and producing benefits in all these dimensions.

INTRODUÇÃO

A logística tradicional é entendida de maneira unidimensional, como um fluxo que segue do ponto de origem ao ponto de consumo. A esse conceito, a logística adicionou a logística reversa, classicamente entendida como estando relacionada aos processos de recuperação de produtos indesejados ou defeituosos por motivos legais ou contratuais. Entretanto a preocupação com o meio ambiente advinda da discussão em torno da sus-tentabilidade dos processos requer uma visão ampliada desse papel para que passe a ser considerada um processo desejável e que agrega valor aos produtos.

Essa visão torna-se primordial em face do constante aumento do chamado consu-mo consciente e da legislação cada vez mais rígida e intolerante à degradação ambiental. Apesar de se tratar de questão incipiente na legislação brasileira, esta tende à adoção do pensamento e dos princípios adotados nos ordenamentos estrangeiros, de tal modo que uma atitude proativa e a prudência requerem planejamento para lidar com este problema emergente.

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Dessa maneira, definiu-se como objetivo deste estudo demonstrar que a relação entre a logística reversa e o desenvolvimento sustentável é de tal forma que aquela auxilia na efetivação deste. Pretende-se mostrar que a logística reversa pode trazer ganhos ambi-entais, econômicos e sociais a toda a cadeia produtiva, merecendo atenção estratégica.

1. A EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO

Segundo Jalcione Almeida apud Vargas (2002), a ideologia desenvolvimentista, a partir da década de 1950, torna-se um componente fundamental da civilização ocidental e da ciência social mundial e confunde-se com a idéia de progresso que vigorou até a década de 1930, estando ambas associadas à idéia de crescimento econômico. Firma-se então o seguinte pensamento: dirigir-se na direção do mais e do melhor. Para esta concepção, o crescimento econômico traz como efeito natural o desenvolvimento e o qual deveria ser adotado como um modelo universal de maturidade de uma sociedade.

Tal entendimento da ideia de desenvolvimento é claramente derivado de uma visão mecanicista do mundo, a qual era fundada nas matemáticas e para a qual o objetivo das ciências, segundo os pensamentos de Descartes e Bacon, era, primordialmente, oferecer ao homem meios de dominação da natureza e, noutro momento, de dominação do homem pelo homem (DOMINGUES, 1991).

Nesta visão mecanicista, o nível de desenvolvimento de uma nação poderia ser me-dido em termos do Produto Interno Bruto (PIB), única e tão somente, sendo, portanto uma verdade matemática que considerava uma visão estática do homem e da sociedade. Fora as informações provenientes do PIB todas as demais eram irrelevantes consecutivas.

Os primeiros questionamentos quanto ao modelo hegemônico de desenvolvimento (industrial, progressista) ocorreram nas décadas de 1960 e 1970, em meio a discussões sociais e ambientais. No ano de 1972, Dennis L. Meadows e um grupo de pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT) publicaram um estudo intitulado “The Limits of Growth” (Os Limites do Crescimento), como resultado de debates estabelecidos acerca dos riscos da degradação do meio ambiente que começaram nos anos 60 e gan-haram corpo no início dos anos 70. O Estudo do Clube de Roma reafirma a necessidade de que se olhe para o mundo a partir de uma perspectiva global e de longo prazo. Suas principais conclusões foram (Vargas, 2002, p.222):

a) Se as atuais tendências de crescimento da população mundial – in-dustrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais – continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste plan-eta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos.(...)b) É possível modificar estas tendências de crescimento e formar uma condição de estabilidade ecológica e econômica que se possa manter até

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um futuro remoto. O estado de equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo que as necessidades básicas de cada pessoa na Terra sejam satisfeitas, e que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual.

Nesse estudo sobre o desenvolvimento transparece um ataque à filosofia do crescimento contínuo da sociedade industrial e às teorias de desenvolvimento baseadas nela. Isso possibilitou a primeira grande discussão em nível mundial, na Conferência de Estocolmo, em 1972, convocada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em face da importância assumida pela questão. Os principais resultados dessa Conferência foram a criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o estabeleci-mento de um Plano de Ação para Política Ambiental, a criação de um Fundo Ambiental e a Declaração de Estocolmo.

Em 1973, o canadense Maurice Strong cria, então, o conceito de ecodesenvolvi-mento para caracterizar uma concepção alternativa de desenvolvimento. O economista Ignacy Sachs procurou traçar alguns princípios básicos dessa nova visão a partir da integração de seis aspectos: a) a satisfação das necessidades básicas; b) a solidariedade com as gerações futuras; c) a participação da população envolvida; d) a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral; e) a elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas e f) programas de educação.

Em 1983, a Assembléia Geral da ONU estabeleceu a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, constituída de peritos escolhidos a título pessoal e chefiada pela Primeira-Ministra da Noruega Gro Brundtland, com três objetivos: a) re-examinar questões críticas de meio ambiente e desenvolvimento, formulando propostas para tratá-las; b) propor novas formas de cooperação internacional para essas mesmas questões, que influenciassem as políticas e acontecimentos em direção às mudanças desejadas; e c) elevar os níveis de compreensão e engajamento de indivíduos, organizações voluntárias, empresas, institutos e governos.

Essa Comissão foi posteriormente incumbida de também auxiliar o PNUMA na tarefa por este recebida em 1985 – delinear estratégias para o Século XXI. Terminou seu trabalho com o conhecido Relatório Brundtland, publicado em 1987 com o título “Nosso Futuro Comum”.

O relatório partia da constatação de que o planeta é finito e de recurso igualmente finitos, por isso a humanidade precisaria adotar padrões de produção e consumo susten-táveis, ou seja, que não consumam mais recursos do que a biosfera é capaz de repor, não comprometam o meio ambiente, os muitos biomas do planeta, os seres que neles vivem, as cadeias alimentares e reprodutivas, não degradem os seres humanos e que não se sacrificassem os recursos de forma a comprometer os direitos das futuras gerações. Nele surge o conceito de desenvolvimento sustentável como sendo aquele que “pretende

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satisfazer as necessidades do presente sem comprometer os recursos equivalentes de que farão uso no futuro outras gerações” (Derani, 2008, p. 111).

Esta permanece sendo a definição padrão de desenvolvimento sustentável e, se-gundo Derani (2008), é um princípio válido tão somente para os recursos renováveis e que ordena modificar a natureza pela sua apropriação ou por meio de emissões, somente quando for para a manutenção da vida humana ou para proteção de outro valor básico, ou quando for justificada a capacidade de se apropriar dos meios sem danificar sua re-produção. Implica o ideal de um desenvolvimento harmônico da economia e ecologia que deve ser ajustado numa correlação de valores em que o máximo econômico reflita igual-mente um máximo ecológico.

Philippi Jr., Malheiros e Aguiar (2005) expõem mais explicitamente que em rela-ção aos recursos naturais renováveis, as taxas de consumo devem ser menores que as taxas de regeneração. Já em relação aos recursos não-renováveis, acrescentam que as taxas de consumo devem apresentar um valor para que haja tempo suficiente para desenvolvimento de recursos renováveis substitutos. Além disso, as taxas de emissão de poluentes e geração de resíduos devem ser adequadas à capacidade de suporte dos sistemas naturais.

A principal diferença entre a noção de ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável é que enquanto aquele trazia a idéia de que não era possível a compatibilidade entre o crescimento econômico e a proteção ambiental, este prezava pela compatibili-dade, defendendo ser possível a associação.

Em razão das discussões geradas a partir de então, as Nações Unidas prepararam a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que aconteceu no Rio de Janeiro, em junho de 1992, e que aprovou três importantes documentos, os quais se acreditava serem o caminho para a prática do desenvolvimento sustentável: a Convenção sobre Mudanças Climáticas, a Convenção sobre Diversidade Biológica e a Agenda 21. Este último pode ser definido como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2009). Dez anos depois, com o mesmo foco travou-se a discussão na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Rio+10), realizada em Johannesburgo.

Após a primeira reconceitualização do conceito de desenvolvimento para abarcar a sustentabilidade, Ignacy Sachs (2008) fala de uma segunda, a qual foi influenciada pelos trabalhos de A. K. Sen, que define o desenvolvimento em termos da universalização e do exercício efetivo de todos os direitos humanos: políticos, civis e cívicos (primeira dimen-são); econômicos, sociais e culturais (segunda dimensão); bem como direitos coletivos ao desenvolvimento, ao ambiente etc. (terceira dimensão). Para Sachs, no último meio século houve, na verdade, a complexificação do conceito de desenvolvimento, represen-tado pela adição de sucessivos adjetivos (econômico, sócia, político, cultura, susten-tável). A partir daí, Sachs acresce mais uma dimensão, a qual chama de desenvolvimento

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includente, o qual abarca principalmente o que chama de trabalho decente.Para Sachs, a sustentabilidade do desenvolvimento é baseada no duplo imperativo

ético de solidariedade sincrônica com a geração atual e de solidariedade diacrônica com as gerações futuras. E nos impele a “buscar soluções triplamente vencedoras, eliminando o crescimento selvagem obtido ao custo de elevadas externalidades negativas, tanto so-ciais quanto ambientais” (2008, p. 15). Segundo ele, os cinco pilares do desenvolvimento sustentável são: social, ambiental, territorial, econômico e político.

O desenvolvimento sustentável insere-se na construção de uma nova concepção e de um novo tipo de capitalismo enquanto modelo de desenvolvimento, em bases que esti-mam pelas dimensões social, econômica, política, cultural e ambiental, as quais são vistas não mais em termos de PIB, mas em termos de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Este modelo se insere dentro de um contexto em que a própria ciência busca um novo paradigma de visão mais holística (SANTOS, 2002). Em verdade, a própria adjetivação do termo desenvolvimento é pleonástica, porquanto somente explicita essas dimensões, não se podendo falar em desenvolvimento senão quando as abarca. Dessa maneira, todo desenvolvimento é sustentável, sob pena de ser mero simulacro.

2. RESPONSABILIDADE AMBIENTAL PELA POLUIÇÃO POR RESÍDUOS SÓLIDOS

O desenvolvimento sustentável encontra guarida na legislação brasileira como

princípio informador da produção legislativa e de sua interpretação, podendo ser divisado na redação do artigo 225 da Constituição, inclusive no que tange à solidariedade dia-crônica, quando diz que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Ao mesmo tempo se abstrai do artigo outro importante princípio, o da coop-eração, o qual informa que Estado e sociedade devem agir conjuntamente no processo de decisão da política ambiental, bem como são também ambos responsáveis pela preser-vação do meio ambiente.

Assim todos estão envolvidos na questão ambiental, governos, cidadãos, organiza-ções ambientalistas, sindicatos, empresários, indústrias, cooperativas e agricultores. De modo que as questões ambientais são também gerenciais e econômicas, uma vez que não se pode ver uma empresa como uma atividade isolada da sociedade, mas a ela integrada e que interage com o mercado, com as instituições que desenvolvem tecnologia, com os órgãos de controle ambiental e com a sociedade como um todo (LORA, 2002). Assim, as empresas são influenciadas e influenciadoras de uma política ambiental, atuando con-juntamente com a sociedade e o Estado para pensar e perpetuar a reprodução dos bens advindos da transformação da natureza.

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Os estímulos que incutem a necessidade de cooperação no pensamento gerencial podem ser tanto jurídicos quanto mercadológicos. No primeiro caso, o Estado impõe o cumprimento de um comportamento ambientalmente apropriado através de leis e nor-mas, e fiscaliza o seu cumprimento. No segundo caso, a sociedade, em especial os con-sumidores, se mobiliza determinando o comportamento esperado dos fornecedores, para tanto mobilizam os meios de comunicação e as organizações não-governamentais (ONGs) para influenciarem a movimentação do mercado, criando selos verdes, “listas negras”, boicotes, protestando etc.

Entretanto, o que se observa é que, justamente pela dificuldade de se esta-belecer parâmetros a fim de que a receita nacional incorpore o valor do meio ambiente, cria-se a ilusão de que o esgotamento dos recursos naturais leva à riqueza nacional. E esse pensamento esbarra primeiramente nos diversos interesses envolvido, como expõe Rattner (apud CALDERONI, 2003, p. 56):

As propostas visando a valorização do meio ambiente, calculando e cob-rando preços (de acordo com os custos) pelo consumo do capital natural, encontram resistências de poderosos interesses grupais. O resultado desse confronto entre a racionalidade econômica e o jogo de poder político tem sido a transferência dos custos ambientais para a coletividade, en-quanto os benefícios continuam a ser apropriados por poucos.

Nesse contexto, surge outro princípio relevante para a questão dos resíduos

sólidos, o princípio do poluidor-pagador, o qual responsabiliza pela poluição que pode ser causada (aspecto preventivo) ou que já foi causada (aspecto repressivo). Este princípio visa à internalização dos custos relativos externos de deterioração ambiental, impondo ao “sujeito econômico” (produtor, consumidor, transportador), que nesta relação pode causar um problema ambiental, arcar com os custos da diminuição ou afastamento do dano (DERANI, 2008). Tenta-se, assim, balancear o fato de que, enquanto a empresa busca o lucro para internalizá-lo preferencialmente (“privatização dos lucros”), pode causar uma degradação ambiental a qual, embora decorrente da produção é percebida pela sociedade (“socialização das perdas”). Assim, tendo em vista que a empresa se insere nesta comunidade, o princípio informa que deve ser responsável por todas as consequências da atividade, positivas ou negativas.

Celso Antonio Pacheco Fiorillo (2004) aponta que, num primeiro momento, impõe-se ao poluidor o dever de arcar com as despesas de prevenção dos danos ao meio am-biente que a sua atividade possa ocasionar. Cabe a ele o ônus de utilizar instrumentos necessários à prevenção dos danos. Outro alcance que este princípio esclarece é que, ocorrendo danos ao meio ambiente em razão da atividade desenvolvida, o poluidor será responsável pela sua reparação.

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Para Derani (2008), os poluidores são todas aquelas pessoas, integrantes de uma corrente consecutiva de poluidores, que contribuem com a poluição ambiental, pela utilização de materiais danosos ao ambiente, como também pela sua produção ou que utilizam processos poluidores, entretanto a definição de quem seja o poluidor-pagador depende da política ambiental. Maria Alexandra de Souza Aragão apud Machado (2006) afirma que o “poluidor-que-deve-pagar” é aquele que tem o poder de controle sobre as condições que levam à ocorrência da poluição, podendo, portanto, preveni-las ou tomar precauções para evitar que ocorram.

Há de se observar, finalmente, que o Estado brasileiro, embora tenha adotado um modo de produção capitalista, prezando pela livre iniciativa e pela propriedade privada, poderá dirigir e organizar a atividade por meio de uma política econômica. Esta política, que também vem esboçada na Constituição, a partir do seu artigo 170, preza pela justiça social e tem como um dos seus princípios a defesa do meio ambiente, do que se abstrai que o próprio legislador constituinte pensou em desenvolvimento não somente em termos econômicos, ou mesmo econômico-sociais, mas também em sua sustentabilidade ambi-ental. Portanto, toda a produção legislativa que preza pela proteção do meio ambiente, quando observa estes princípios, será plenamente legítima, ainda que haja resistência dos atores econômicos.

Além de serem ambos princípios do Direito Ambiental, observa-se que o princípio do poluidor-pagador é também propício ao desenvolvimento sustentável, visto que, ao estabelecer a responsabilidade do produtor pela poluição criada, incute a necessidade de aperfeiçoar processos e produtos tornando-os mais sustentáveis. Parafraseando a colocação do Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), o poluidor-que-não-quer-pagar não passa a produzir menos, e sim a produzir de outra maneira (CALDERONI, 2003).

Dois aspectos dos princípios tornam o princípio do poluidor-pagador importante para o gestor. O primeiro é a sua natureza normogenética, de maneira que as regras postas na legislação presente são informadas por este princípio e dele se originam. Dessa forma, as normas não surgem ao acaso, mas surgem buscando estruturar e concretizar as ideias emanadas do princípio, o qual se reveste de maior grau de abstração.

Outro aspecto diz respeito à própria natureza dos princípios, os quais são “nor-mas impositivas de uma optimização, compatíveis com vários graus de concretização, consoante condicionalismos fácticos e jurídicos” (CANOTILHO, 2000). Dessa forma, as normas existentes na legislação conhecida não são definitivas e imutáveis, mas, a medida que as condições permitem, as regras que nasceram a partir dos princípios vão dando lugar a outras que estariam mais próximas da própria ideia de justiça, a qual está rela-cionada ao princípio. Assim sendo o princípio aperfeiçoa o ordenamento ao aproximar as regras legais e infralegais do seu conteúdo. Assim, a própria legislação está sujeita à melhoria contínua, por meio dos princípios.

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O princípio do poluidor-pagador leva à maior responsabilização dos participantes da cadeia produtiva pelas externalidades ambientais indesejadas, em razão da otimização imposta por ele, obrigando-os ao aperfeiçoamento da técnica para que tomem atitudes preventivas desde a primeira atividade do primeiro elo da cadeia. Assim é de se esperar que a legislação brasileira, acompanhando as pressões sociais do consumo consciente, torne-se mais densa e mais rígida.

No que tange os resíduos sólidos, são regulados principalmente por normas de âmbito estadual, no exercício da competência legislativa plena por inexistência de lei fed-eral (§ 3º do artigo 24 da Constituição), todavia perceptivelmente urge a necessidade de criação de uma política nacional. Na Câmara dos Deputados, há quase 10 anos, tramita o Projeto de Lei 203/91, o qual propõe a criação de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos. Por enquanto, o relatório do projeto de lei identifica quatro produtos para os quais as empresas produtoras serão obrigadas a estruturar e implementar sistemas de retorno de produtos (logística reversa), os quais seriam os agrotóxicos, pneus, óleos lubrificantes e pilhas e baterias. Para estabelecer critérios para a coleta, reciclagem e descarte de equipamentos elétricos, já tramita na Câmara o Projeto de Lei 2.061/07, de autoria do deputado Carlos Bezerra do PMDB-MT.

3. RESOLUÇÕES DO CONAMA

Não há abstratamente lei que estabeleça a responsabilidade do produtor pelos seus resíduos, entretanto, em nível administrativo, o Conselho Nacional do Meio Am-biente tem estabelecido, por meio de resoluções, o proceder em diversas atividades e produtos. A Resolução 401/2008, que revogou a Resolução 257/1999, por exemplo, estabelece os limites máximos de chumbo, cádmio e mercúrio para pilhas e baterias comercializadas no território nacional e os critérios e padrões para o seu gerenciamento ambientalmente adequado.

Na União Europeia, por meio de Diretivas aos Países-Membros instituiu políti-cas sobre os resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (Waste Electrical Elec-tronic Equipment, WEEE) e sobre a Restrição de Substâncias Perigosas (Restriction of Hazardous Substances, RoHS), as quais visavam a melhorias ambientais nos produtos eletrônicos. As diretrizes deram origem a leis nos respectivos países, de maneira que, para atender os seus requisitos, as empresas europeias tiveram que operar inovações significativas para alcançar as estratégias de resíduo zero no ciclo de vida dos produtos (NNOROM; OSIBAJO, 2008).

A legislação no âmbito da União Europeia preza pela responsabilização individual pela produção de e-lixo, adotando o princípio da responsabilidade estendida do produtor (EPR, do inglês extended producer responsibility). Apesar de incipiente a legislação no

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Brasil, para dar efetividade ao princípio do poluidor-pagador, deve seguir a mesma linha. O modelo de responsabilização, baseada na EPR, busca afastar o gerenciamento dos re-síduos sólidos dessa natureza da municipalidade e aproximá-lo dos agentes econômicos. Cresce, assim, sobremaneira a importância da logística, mais especificamente da logística reversa para gerenciar o fluxo de materiais de maneira eficiente a fim de não gerarem prejuízos econômicos economicamente insustentáveis.

O Brasil, muito embora não adote tal modelo, não demorará muito a incorporá-lo em sua ordem jurídica para aproximá-la da otimização pedida pelo princípio do poluidor-pagador. Isso posto, em atitude proativa, os gestores prudentemente se anteciparão à regulamentação a fim de não serem pegos de surpresa. É o que se abstrai dos artigos que criam obrigações aos fabricantes e importadores de pilhas e baterias na Resolução 401/2008 do CONAMA:

Art. 4º Os estabelecimentos que comercializam os produtos mencionados no art. 1º, bem como a rede de assistência técnica autorizada pelos fab-ricantes e importadores desses produtos, deverão receber dos usuários as pilhas e baterias usadas, respeitando o mesmo princípio ativo, sendo facultativa a recepção de outras marcas, para repasse aos respectivos fabricantes ou importadores.

No artigo 5º, a Resolução obriga os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de pilhas e baterias não contempladas que implementem programas de coleta seletiva, de forma compartilhada, juntamente com o Poder Público. Em seguida, no artigo 6º cria a responsabilidade de ambos os grupos pela destinação ambientalmente adequada da totalidade dos produtos. Nos artigos 10 e 11, cria a proibição de disposição em aterro sanitário e de incineração de baterias de chumbo-ácido, de níquel-cádmio e de óxido de mercúrio.

Os dispositivos da Resolução 401/2008 do CONAMA demonstram uma adoção da responsabilidade estendida do produtor, seguindo o modelo europeu das Diretivas 95/2002/CE (WEEE) e 96/2002/CE (RoHS). Apesar da fragilidade de se estabelecer es-tas obrigações por meio de atos administrativos, e não por lei, não é motivo para menor preocupação, uma vez que os projetos de lei que tramitam na Câmara dos Deputados anteriormente comentados buscam justamente firmar o que já está regulado pelas Res-oluções de maneira precária. Tanto é que o objeto destas leis são produtos já regulamen-tados por resoluções do CONAMA: pneus (Resolução n. 258/1999), óleos lubrificantes (Resolução n. 362/2005) e pilhas e baterias (Resolução 401/2008).

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4. LOGÍSTICA REVERSA

Na definição de Rogers e Tibben-Lembke (1998), a logística reversa é o processo de planejamento, implementação e controle de eficiência, o fluxo do custo efetivo das matérias primas, do inventário em processo, dos produtos finais e da informação rela-cionada do ponto de consumo ao ponto de origem com o propósito de recuperar valor ou para disposição apropriada. Segundo eles, inclui atividades de remanufatura e renovação de produtos e o processamento dos retornos das mercadorias por danos, sazonalidade, reestocagem, salvamento, recall e excesso de estoque. Inclui ainda programas de reci-clagem e de materiais perigosos, disposição de equipamentos obsoletos e recuperação de ativos.

Segundo Bowersox e Closs (2001), a logística insere-se na empresa como uma das competências que contribuem para o processo de criação de valor para o cliente. Dentre os objetivos operacionais de um sistema logístico encontra-se o apoio ao ciclo de vida, dando suporte à garantia de desempenho do produto. Por isso, eventualmente pode ocorrer a necessidade da inversão do fluxo normal que segue em direção ao cliente em razão de consequências negativas do produto, como a má qualidade, a possibilidade de perigo ou dano à saúde ou, ainda, dos riscos do descarte inapropriado.

Contudo, é inquestionável que, via de regra, todo produto chega ao fim da sua vida, de modo que, ao contrário de problemas relacionados à qualidade, segurança e saúde diretamente decorrentes do produto, os quais são eventuais, visto que evitáveis, podendo ser minimizados por meio do controle da qualidade, os problemas relativos à disposição de resíduos e de sua destinação final são certos. Isso se deve à tendência – e incentiva-se que assim seja – de que, numa sociedade de consumo, os produtos sejam um dia descartados para darem lugar a outros que satisfarão melhor ou surgidos de no-vas necessidades, obedecendo ao ciclo introdução-crescimento-maturidade-declínio. Um ciclo com tendência geral de ser encurtado em todos os produtos, em especial naqueles decorrentes das tecnologias de informação e comunicação, sujeitos a constantes mudan-ças tecnológicas.

Segundo Ballou (1993), a preocupação com o fim do produto depois de chegar ao consumidor final é, na verdade, discussão de nível de serviço logístico uma vez que este conceito hoje ultrapassa a ideia de suprir clientes para abarcar o fornecimento de serviço a clientes, satisfazendo suas necessidades tanto anteriores quanto posteriores à venda. Tais necessidades são advindas tanto dos direitos de defesa do consumidor quanto da sua preocupação ecológica.

Por esse motivo, Ballou já colocava a ecologia, mais especificamente os processos e serviços de reciclagem de resíduos sólidos, entre as novas áreas de oportunidade para a Logística. Segundo ele (1993, p. 384),

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O mundo industrializado criou sofisticados canais de distribuição para ma-térias-primas e produtos acabados, porém deu-se pouca atenção para a reutilização desses materiais de produção. (...) É geralmente mais barato usar matéria prima virgem do que material reciclado, em parte pelo pouco desenvolvimento de canais de retorno, que ainda são menos eficientes do que os canais de distribuição de produtos.

Entretanto, Ballou apresenta um horizonte de mudanças neste cenário, que se deverá (1) ao consumo consciente, (2) ao aumento da quantidade de resíduos sólidos e (3) ao encarecimento e escassez da matéria-prima original. Isso, o mercado, dimensiona parcialmente o que deve impulsionar a melhoria e concentrar maior atenção ao ciclo de vida dos produtos. Outro fator relevante são as legislações que cobram maior respons-abilidade dos fornecedores pelas consequências ambientais negativas de seus produtos.

Nesse contexto, a logística reversa está inserida no que se convencionou chamar de Logística Verde, que se refere a uma visão dos impactos da logística pró e contra o meio ambiente e à busca de minimização dos aspectos negativos e maximização dos benefícios. Segundo Rogers e Tibben-Lembke (1998), a logística verde inclui a medição dos impactos ambientais dos modais de transporte, certificação ISO 14000, redução do consumo de energia e de matérias.

A logística verde possibilita a operacionalização dos métodos de prevenção da poluição ao logo de todo o ciclo de vida do produto, abaixo representado, na Figura 1.

Figura 1 – Balanço de massa do ciclo de vida de um produto. Fonte: LORA, 2002

Nessa representação, pode-se observar a necessidade do estabelecimento de canais de retorno para fins de reutilização e reciclagem. Além dessas funções que en-volvem a questão ambiental, a logística reversa pode ainda atender a cadeia para fins de melhoria do produto, para reempacotamento, reparo, remontagem ou remanufatura do produto (LEHTINEN; POIKELA, 2006), a fim de atender às demandas dos direitos de

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proteção ao consumidor, e mesmo para recuperação de materiais, não somente para fins de reciclagem, mas para “canibalização” do produto, ou seja, sua substituição em razão de finalidades econômicas.

5. BENEFÍCIOS ECONÔMICOS DA LOGÍSTICA REVERSA

No horizonte próximo, a saturação dos aterros sanitários se delineia como pos-sível ameaça externa, a qual tornará mais cara a disposição dos resíduos. A Reciclagem e, principalmente, a facilitação da reciclagem de produtos desde sua concepção (design for environment) proporciona às indústrias preparo para lidar com este futuro próximo em que o Estado tornará substancialmente custoso dispor dos resíduos nos aterros sanitários, a exemplo do que já acontece em alguns países da Europa. As ações de design for environment, dentro da prevenção da poluição, são aliadas importantes da logística reversa, visto que buscam conceber o produto, sua produção, distribuição, utilização e descarte de modo a facilitar o aproveitamento ambientalmente correto, a que ele con-suma menos energia e que seja reciclável de maneira menos dispendiosa, tanto do ponto de vista do custo-benefício, quanto do custo-efetividade.

Em verdade, a inviabilidade do aproveitamento dos resíduos sólidos como fontes de matérias-primas nem tanto é intrínseca aos produtos, mas o que o torna dispendioso, levando-o à sua baixa utilização, segundo Ballou (1993), decorre das seguintes razões:

1. Falta de atenção aos canais de distribuição;2. Estrutura de intermediários no canal reverso pouco desenvolvida e pouco efi-ciente;3. Necessidade de expansão dos canais de retromovimentação (centros de reci-clagem, depósitos etc.) e maior eficiência deles; e4. Melhores condições de frete, o que deve ser alcançado com a melhor utilização dos canais.

Daí se ressalta o papel essencial de que a logística reversa se firme como instru-mento da sustentabilidade a fim de baratear os custos dos processos que em breve se tornarão obrigatórios em nível mundial em razão da adoção da responsabilidade estendida do produtor. A atitude proativa beneficiará os custos logísticos na proporção da sua futuridade, quanto mais cedo forem tomadas as medidas condizentes com os princípios que informam a legislação ambiental tanto menores serão os custos quando as normas entrarem em vigor. Evita-se, assim, que uma legislação mais rígida tome os gestores de surpresa e tenham que arcar, então, com altos custos de um processo totalmente desconhecido, mas que precisa ser urgentemente implantado, sob pena de pesadas mul-tas e consequente prejuízos a imagem.

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Por sinal, outro benefício econômico decorrente do desenvolvimento dos canais logísticos reversos reside no próprio atendimento à legislação ambiental. Como visto, a legislação internacional e brasileira tendem a abarcar conceitos e princípios que deix-am de ignorar a questão ambiental e passam efetivamente a responsabilizar os atores econômicos pelos prejuízos ambientais, antes suportados por toda a coletividade indis-criminadamente.

Como consequência do princípio do poluidor-pagador, pode surgir a responsabili-dade pelo dano ambiental, a qual, para ser exigível, não necessita da prova de culpa pelo dano causado (Lei 6.938/81, artigo 14), mas tão somente do nexo de causalidade entre a atividade promovida e o prejuízo ambiental (responsabilidade objetiva). Dessa feita, os prejuízos pelo descuido com os canais reversos podem chegar a cifras milionárias, em razão da contaminação dos rios, solos, fauna, flora e do próprio ser humano.

Além disso, ainda que não se chegue às perdas em processos milionários, a falta de atenção ao ciclo de vida dos produtos faz com que, segundo Sabetai Calderoni (2003) bilhões sejam jogados no lixo, principalmente em decorrência da ignorância quanto ao desperdício de energia e material dispostos e inutilizados em “lixões” e aterros sanitários e quanto às possibilidades econômicas perdidas.

De acordo com Calderoni, a indústria é o seguimento que maiores ganhos aufere com o processo de reciclagem – 66% do total dos ganhos proporcionados –, o que deveria fazê-la, portanto, envidar maiores esforços para o crescimento da reciclagem no país a fim de preservar e mesmo ampliar suas vantagens.

As atividades de reciclagem podem gerar bilhões de dólares e promover cresci-mento socioeconômico ao criar oportunidades de trabalho nas diversas fases do processo de reciclagem, envolvendo ganhos econômicos para a sociedade como um todo, sendo assim promotora do desenvolvimento sustentado, sustentável e includente.

Além disso, outra espécie de benefício pode surgir de uma ameaça que pode se tornar em oportunidade: os consumidores conscientes. Cada vez mais cresce o mercado por produtos ambientalmente corretos e as agressões ou descaso ao meio ambiente têm impacto também mais relevante na mente dos consumidores no momento de escolherem por determinado produto ou marca.

Num estudo denominado “Global Warming’s 6 Americas 2009” (As 6 Américas do Aquecimento Global 2009) os pesquisadores do Yale Project on Climate Change e do George Mason University Center for Climate Change Communication mostram que a aceitação das pessoas ao aquecimento global varia em grupos que podem agrupar as pessoas em “Seis Américas” (MAIBACH, 2009). O relatório é um trabalho de segmen-tação em Marketing o qual identifica seis grupos de consumidores: Alarmados (18%), Conscientes (33%), Cautelosos (19%), Descompromissados (12%), Duvidosos (11%) e Opositores (7%).

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Os “Alarmados”, os mais preocupados, seriam as mais propensas a adquirir produtos que tenham um impacto menos negativo ou mais positivo no Meio Ambiente e reduzam as Emissões de Gases do Efeito Estufa (GEEs). Esse grupo, segundo o estudo, também é mais inclinado a engajar-se em ativismos de consumo para encorajar as em-presas a aumentar ações em Mudanças Climáticas.

O ativismo de consumo é o que resulta em listas como o “Guia dos Eletrônicos Verdes” (Guide to Greener Eletronics) do Greenpeace (2009), que em março de 2009, teve divulgada sua 11ª edição. Nela aparece em primeiro lugar a Nokia, com 7,5 pontos, numa escala de zero a dez. Os motivos que alçaram a Nokia ao topo da lista e que a tem mantido desde a 9ª edição são seu programa voluntário de retorno, que tem quase 5.000 pontos de coleta em 84 países para celulares que chegaram ao fim da vida. O que a impede de obter maiores notas, segundo o Greenpeace, são os índices de reciclagem, entre 3 e 5%, a carência de informação para que se conheça o programa e a necessidade de que seja usado plástico reciclado além de somente as embalagens, como tem sido adotado.

Como se verifica, tanto o que classifica a companhia como sendo a mais verde, quanto o que a impede de alcançar notas maiores está intrínsecamente relacionado a logística reversa dos seus produtos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A logística reversa, como se observou, traz benefícios tanto econômicos quanto ambientais, e ainda sociais, sendo consideráveis as contribuições nos três aspectos. Cabe, portanto, aos gestores adotarem uma visão holística tanto do processo quanto do produto, e, deste, em todo o seu ciclo de vida, a fim de obterem os maiores ganhos ecológicos e ambientais, promovendo o verdadeiro desenvolvimento em todos os seus aspectos, visto que a logística reversa possibilita a obtenção de externalidades e inter-nalidades positivas, sem que uma necessite diminuir a outra.

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A EFICÁCIA DA LEI ROUANET NO ESTADO DO AMAZONAS

Ian dos Anjos Hermes da Fonseca*

Sumário: Introdução; 1. Proposição, finalidade e formas de utilização; 2. Os problemas da Lei Rouanet: analisando a lei para entender as consequências locais; 3. A aplicação da Lei Rouanet no estado do Amazonas; 4. Paralelo: objetivos versus resultados – análise da eficácia da Lei Rouanet no Amazonas; Considerações Finais; Referências.

Resumo: O Brasil, país dotado de uma das maiores variedades étnico-culturais do mundo, possui desde 1991 uma lei que fomenta o incentivo cultural por meio de renúncia fiscal dos indivíduos ou empresas incentivadoras. Desde então a lei vem incentivando a cultura mediante apoio a artistas que anteriormente viam nas suas expectativas de patrocínio uma grande frustração. No entanto, a lei gerou diversas polêmicas e foi, ao longo do tempo, sutilmente alterada. Este artigo, através de pesquisa bibliográfica, pesquisa de campo e do estudo dos dados e informações coletadas através destas duas modalidades, analisa a eficácia da lei Rouanet no Amazonas, tratando das mudanças recentes que trouxeram relevantes conseqüências para sua operacionalização e relacionando os resul-tados obtidos com os objetivos elencados em sua proposição.

Palavras chave: Lei nº 8.313/91: Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), Minis-tério da Cultura, Renúncia Fiscal, Patrocínio Privado, Política Pública, Administração Pública

Abstract: Brazil, a country with one of the largest ethnic-cultural varieties in the world, has, since 1991, a law that foments the cultural investiments by tax incentive to the interested people or companies. Since then, the law incentivates the country’s culture supporting artists that, before the law’s existence, saw in their expectation for spon-sorship a big frustration. However, this law created several discussions and was softly changed over the years. This academic work, through bibliographic research, field re-search and the study of the collected information, examines the effectiveness of the Rouanet law, discussing about the recent changes, relevant to its operation, and linking the obtained results with the objectives listed in its postulation.

Keywords: Law Number 8.313/91: Federal Law to Encourage Culture (Rouanet Law), Ministry of Culture, Tax Incentive, Private Sponsorship, Public Politics, Public Administra-tion

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INTRODUÇÃO

O Brasil é mundialmente reconhecido e aceito pela sua diversidade cultural e por suas conseqüentes manifestações artísticas. Muito embora não seja um país suficiente-mente desenvolvido, consegue, pela força da expressão popular, organizar acontecimen-tos culturais que fortalecem o conteúdo de nossa nação. O estado do Amazonas, dentro da federação, destaca-se por sua peculiaridade cultural, configurando um dos princi-pais focos de exposição do nosso país para o mundo, considerando a riqueza natural da Amazônia e sua conseqüente importância planetária.

Foi para institucionalizar a canalização de recursos para o desenvolvimento do setor cultural que criou-se a lei nº 8.313/91, Lei Federal de Incentivo à Cultura (mais conhecida como Lei Rouanet ), com as finalidades de estimular a produção, a distribuição e o acesso aos produtos culturais, proteger e conservar o patrimônio histórico e artís-tico e estimular a difusão da cultura brasileira e a diversidade regional e étnico-cultural, entre outros propósitos. Tal lei não se restringe à atuação estatal, aliás, muito pelo contrário, abre total espaço para fomento da atividade cultural pela iniciativa privada, propondo incentivos fiscais às mesmas, além do retorno simbólico da relativa satisfação pela contribuição positiva ao nosso povo. As recentes mudanças sofridas pela lei altera-ram sensivelmente suas formas de operacionalização, e por isso também são analisadas neste artigo.

Considerando de fundamental importância para a sociedade e estudo acadêmico, este trabalho propõe uma visão a respeito desta lei, de sua composição textual às formas vigentes de execução que a ela estão sendo atreladas, tratando de seus níveis de aces-sibilidade popular, sua eficácia e, por conseqüência, sua legitimação perante seus propósi-tos iniciais, ou seja, a resposta aos interesses dos postulantes conforme a proposta oficial. Esta visão será feita através de um panorama cronológico que analisa os principais aspectos da lei em níveis práticos e operacionais a fim de que conheçamos quais foram e são os pontos fortes e fracos deste mecanismo legal.

É importante esclarecer que os âmbitos jurídicos e administrativos divergem, na prática, a respeito do uso do termo “eficácia”. Este artigo, originalmente, é fruto de análise concebida dentro de preceitos administrativos. Por isso, portanto, vale para o supracitado termo a definição que posiciona a eficácia como um instrumento conceitual que mede a relação entre os resultados obtidos e os objetivos pretendidos, ou seja: ser eficaz é conseguir atingir um dado objetivo.

Para o estudo procurou-se fontes diversas de coleta de informações. Variam de liv-ros que tratam da forma da lei Rouanet até websites (blogs) de opiniões pessoais, porém fundamentadas em argumentação consistente. Além deste nível de pesquisa, foram feitas entrevistas que enriqueceram o trabalho de opiniões de pessoas que já ingressaram com

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projetos pela lei, entre eles um empresário amazonense bastante experiente na sua uti-lização, visto que tem um vasto número de projetos viabilizados e muita intimidade com os trâmites relacionados à mesma, dando, dessa forma, uma opinião imparcial a respeito dos pontos positivos e negativos inerente a essas ações.

Através destas três modalidades de pesquisa, o presente artigo científico propõe uma leitura objetiva da lei em foco, uma pesquisa baseda em dados fornecidos e entrevistas executadas a respeito da real aplicação da lei no Amazonas e uma subsequente verifica-ção: no Amazonas, a Lei Rouanet alcançou os objetivos elencados em sua proposição?

1. PROPOSIÇÃO, FINALIDADE E FORMAS DE UTILIZAÇÃO

Falaremos a respeito das formas legais da lei em foco. Derivada de uma política pública, como algumas outras leis, este mecanismo pretende atingir um bem social. Sara-via (p. 28, 2006) comenta que política pública é “um fluxo de decisões públicas, orientado a manter o equilíbrio social ou a introduzir desequilíbrios destinados a modificar essa realidade”.

1.1 A LEI ROUANET

O objeto de estudo deste trabalho configura-se na lei federal nº 8313 de 23 de dezembro de 1991, constituída de 5 capítulos nos quais se distribuem 43 artigos. Ela re-estabeleceu os princípios da lei nº 7.505, de 2 de julho de 1986 , mais conhecida como Lei Sarney, além de tomar outras providências.

A Lei Rouanet elenca, no Art. 1º, ao instituir o PRONAC , seus objetivos gerais, que são:

I - contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fon-tes da cultura e o pleno exercício dos direitos culturais; II - promover e estimular a regionalização da produção cultural e artística brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais; III - apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus respectivos cria-dores; IV - proteger as expressões culturais dos grupos formadores da sociedade brasileira e responsáveis pelo pluralismo da cultura nacional; V - salvaguardar a sobrevivência e o florescimento dos modos de criar, fazer e viver da sociedade brasileira; VI - preservar os bens materiais e imateriais do patrimônio cultural e histórico brasileiro; VII - desenvolver a consciência internacional e o respeito aos valores culturais de outros povos ou nações; VIII - estimular a produção e difusão de bens culturais de valor universal formadores e informadores de conhecimento, cultura e memória; IX - priorizar o produto cultural originário do País.

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O Art. 2º discorre a respeito dos mecanismos através dos quais será implemen-tado o PRONAC, cuja finalidade é captar e canalizar recursos para o setor cultural, sendo esses mecanismos o FNC , o FICART e o incentivo a projetos culturais.

Segundo Bessa Alves ,

O sistema jurídico do Mecenato (homenagem aos antigos mecenas, patro-nos e protetores das artes), tem como dispositivo básico a possibilidade de aplicação em projetos culturais, de recursos que inicialmente seriam destinados ao recolhimento de Imposto de Renda. Por esse sistema, a empresa calcula o montante a ser recolhido aos cofres públicos a título de Imposto de Renda, e reverte parte deste crédito tributário para o incen-tivo de projetos. Os valores aplicados pela empresa entram na declaração e recolhimento do Imposto de Renda sob a forma de doações e patrocínio, e devem ser comunicados à Receita Federal.

Embasados o texto art. 23, II, da lei em foco podemos concluir podem enquadrar-se dentro do conceito de patrocínio, a fim de que haja dedução fiscal de Imposto de Renda, a cobertura de gastos, o arrendamento de bens ou a transferência de valor, quando com a finalidade de incentivar manifestações culturais aprovadas pelo PRONAC, sendo que es-ses valores não se encontram sujeitos à incidência do Imposto de Renda na Fonte.

É proibido à empresa, em decorrência do projeto da qual a mesma está sendo in-centivadora, a obtenção de lucro ou vantagem material, ficando ela sujeita, entre outras penalidades, à pena de pagamento do valor atualizado do Imposto de Renda que a princípio devia.

Esta lei de incentivo fiscal tem basicamente duas modalidades de benefício fiscal: a primeira se encontra em seu art. 18 e a segunda nos arts. 25 e 26.

Com base no art. 18, podem ser financiados, na área audiovisual, os projetos relacionados a: I - obras audiovisuais brasileiras de produção independentes de curta e média-metragem (ficando sob a competência da ANCINE se o projeto de curta e média-metragem usar pelo menos algum outro mecanismo de fomento audiovisual, como a Lei do Audiovisual, por exemplo, que comentaremos em seguida, ou sob competência exclu-siva do Ministério da Cultura, através da Secretaria do Audiovisual, em caso contrário); II – festivais nacionais ou internacionais; III – doações de acervos a bibliotecas públi-cas, museus, arquivos públicos e cinematecas, assim como o treinamento de pessoal e aquisição de equipamentos para manutenção desses acervos; IV – preservação e difusão do acervo audiovisual.

Os artigos 25 e 26 explanam a respeito da possibilidade da Lei Rouanet ser uti-lizada também para modalidades de projeto de obras audiovisuais brasileiras de produção independente nos seguintes formatos: I – longa-metragem; II – telefilme; III – minissérie; IV – obra seriada; V – programa para televisão de caráter educativo e cultural.

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Não existe limite legal para o uso destes benefícios em projetos culturais incenti-vados, podendo os projetos que exclusivamente concorrem a eles pleitearem até 100% dos recursos incentivados, tendo como exceção aqueles que estiverem também solic-itando recursos da Lei do Audiovisual, podendo, neste caso, observar um mínimo de 5% e um máximo de 95% do total do orçamento global aprovado pela ANCINE, dependendo da forma do projeto. Todos os projetos relacionados a esses artigos da Lei Rouanet devem passar pelo procedimento de apresentação de projeto expresso na Instrução normativa ANCINE n. 22, de 30 de dezembro de 2003.

1.2 PROCEDIMENTOS PARA UTILIZAÇÃO DA LEI ROUANET

Para os interessados em obter auxílio ou benefícios da lei, existem formas padrões de se proceder.

Da parte do patrocinador, segundo NATALE (2007, p. 91) para que o mesmo possa abater de seu imposto de Renda a verba encaminhada a um projeto cultural, este projeto deverá ter sido previamente aprovado junto ao Ministério da Cultura.” Através da obtenção dos formulários junto com Ministério, ou simplesmente através do site, e do conhecimento da legislação específica será possível tomar as devidas providências.

Para produtor é imprescindível que já se tenha definido o que pretende, quando e como fazer. Deve estar de posse dos formulários e de todas as informações necessárias para melhor enquadrar sua proposta nos conformes viáveis da lei. Os formulários que deve preencher são divididos por assunto, por isso a organização é imprescindível. Deve, sobretudo, deixar claro o que pretende realizar e os detalhes inerentes a esse objetivo. Outro ponto essencial neste ingresso do projeto é um orçamento detalhado para a ex-ecução de todas as fases do projeto, que deve estar dividido por assuntos, afinal essa informação remete diretamente à viabilidade lógica da proposta, e tem grande peso na análise e no julgamento adequado dos projetos a serem aceitos e executados.

Outros itens importantes do projeto são a justificativa, que deve demonstrar por que o projeto tem relevância para a comunidade à qual se destina e os conseqüentes impactos para a região, para os beneficiados e para o público em geral.

Preenchidos o formulário, com os devidos anexos de documentos da empresa in-teressada, a proposta é encaminhada à representação do Ministério da Cultura em nível municipal, para análise e possível aprovação.

Tabela 1 - Resumo da tramitação dos projetos

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Fonte: Guia brasileiro de produção cultural 2007

1.3 A LEI DO AUDIOVISUAL

A supracitada Lei do Audiovisual trata-se de uma lei federal brasileira de fomento à cultura. Através dela reduz-se o valor do imposto de renda devido pela empresa mediante desconto total do montante investido em projeto audiovisual previamente aprovado pela ANCINE. Vale ressaltar que nesta lei a empresa interessada é tratada pelo termo inves-

Fases Etapas

Análise

Apresentação do projeto

Distribuição – Recebe número de processo

Secretaria

Pré-análise documental – Recebe número de

PRONAC

Enviado a Parecerista da Área

Retorna ao MinC1 – Brasília

Participa de reunião da CNIC2

Aprovação

Pré-aprovação

Preponente recebe carta para Juntada de Certidões

Negativas e Termo de Compromisso assinado

Publicação no Diário Oficial da União com

enquadramento, valor e prazo de captação

Execução

Captação de Patrocínio

Abertura de Conta Bancária Especial para o

Projeto

Depósito do Patrocinador

Solicitar autorização para movimentação da conta

– depósito de pelo menos 20% do total do projeto

Início do projeto e pagamentos

Realização do Projeto

Prestação de contas

Continuação da realização do projeto

Prestação de Contas Orçamento e Objetivos

Formulário do MinC

Carta de aprovação da Prestação de Contas

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tidora, diferentemente do que acontece na Lei Rouanet e nas demais leis de incentivos à cultura, pois neste caso ela poderá participar dos eventuais lucros do projeto. É por essa sutil diferença que podemos considerar importante o comentário a respeito desta lei, que atua de forma significativamente complementar à lei objeto deste estudo.

Os projetos que podem ser incentivados por esta legislação são produções de obras cinematográficas brasileiras (curta, média e longa) de produção independente e distribuição, exibição e infra-estrutura técnica. Assim, a empresa investidora pode abater 100% do valor aplicado no projeto a nível de investimento, para dedução de no máximo 3% do importo de renda devido, podendo ela ainda lançar o valor total do investimento como despesa operacional.

2. OS PROBLEMAS DA LEI ROUANET: ANALISANDO A LEI PARA ENTENDER AS CONSEQUÊNCIAS LOCAIS

Como é natural entre as leis, da sua formulação à sua eventual alteração numa abrangência crônica, a Lei Rouanet passou por algumas alterações: algumas positivas e outras negativas para o fomento cultural nacional. Isto, por se tratar de uma lei federal, influi diretamente nos níveis de sucesso da aplicação da lei nos estados em particular, e não foi diferente no caso do Amazonas.

2.1 AS MUDANÇAS NA LEI: COMENTÁRIOS A RESPEITO DO QUE MELHOROU, DO QUE PIOROU E DO QUE CONTINUA SEM SOLUÇÃO

Ao ser oficializada, a lei delimitou os percentuais de abatimentos a serem uti-lizados pelas pessoas físicas ou jurídicas interessadas em beneficiar-se de incentivos fiscais por conseqüência de fomento ligado à cultura. Para pessoas físicas, do Imposto de Renda poder-se-ia abater 80% dos valores ligados a doações e 60% dos valores de patrocínio. Já para as pessoas jurídicas, cujo Imposto de Renda é tributado com base no lucro real, os valores mudariam respectivamente para 40% e 30%, podendo a em-presa, ainda, abatê-los como despesa operacional. No entanto, Governo Federal editou o Decreto nº 1.494, de 17/05/1995, que teve o objetivo de regulamentar aspectos da Lei nº 8.313/91, modificando sua forma de aplicação, bem como a o sistema de dedução de incentivos fiscais.

Bessa Alvez, em seu artigo, comenta:

Ficou determinado pelo Decreto, que os percentuais acima mencionados (que se mantiverem os mesmos), não poderiam ultrapassar o percentual de 10% do total a ser recolhido a título de Imposto de Renda. Para exem-

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plificar, se tivéssemos uma pessoa jurídica que decidiu investir em projetos culturais através de patrocínio, 30% do valor transferido ao beneficiário poderia ser abatido do Imposto de Renda, desde que esse valor não ultra-passasse 10% do tributo devido. Hoje esta limitação está reduzida pela Lei nº 9.532/97, a 4% do tributo devido, o que é um percentual extrema-mente baixo para deduções. Cria-se a situação de que somente empresas com alto recolhimento de Imposto de Renda podem investir, pois como o limite de renúncia fiscal é baixo, para que 4% seja um valor razoável, a empresa incentivadora deve recolher grandes valores do imposto.

Imediatamente notou-se, portanto, a necessidade de união de entidades e pes-soas ligadas ou beneficiadas pela área do marketing cultural para reivindicar ao Governo Federal a urgência do aumento do limite de renúncia fiscal para o benefício do próprio fomento da cultura brasileira, alvo principal da Lei Rouanet. Esta reivindicação veio justas em épocas em que a Receita Federal comemorava recordes de arrecadação a cada se-mestre e a cada ano, conforme comenta o autor.

Finalmente em 1999 promulgou-se a lei 9.874, que regulava e alterava dispositi-vos da Lei Rouanet e também, por conseqüência, do supracitado Decreto nº 1.494/95. Esta nova lei chamou atenção para três pontos principais: o primeiro diz respeito ao limite de dedução fiscal do patrocínio/doação, que segundo Bessa Alves,

é um avanço e uma boa oportunidade de marketing cultural. ... passa a ser permitido o abatimento de 100% no Imposto de Renda, dos valores repassados como doação ou patrocínio, desde que o projeto incentivado verse sobre artes cênicas; livros de valor artístico, literário ou humanís-tico; música erudita ou instrumental; circulação de exposições de artes plásticas; ou doações de acervos para bibliotecas públicas e para museus. Esta medida demonstra o interesse do Governo em fomentar mais essas áreas da cultura, e abre uma espetacular oportunidade para artistas e produtores culturais dessas áreas, bem como para as empresas em geral, que passam a poder trabalhar com marketing cultural com incentivo fiscal total, uma vez que o abatimento no imposto é integral.

O segundo ponto configura-se na incongruência criada pelo parágrafo 2º do im-portante art. 18 desta lei, que versa determinando que “as pessoas jurídicas tributadas com base no lucro real não poderão deduzir o valor da doação ou do patrocínio referido no parágrafo anterior como despesa operacional”. No entanto o parágrafo 1º do art. 26 da mesma lei afirma que “a pessoa jurídica tributada com base no lucro real poderá abater as doações e patrocínios como despesa operacional ”. Há um evidente paradoxo entre o texto dos dois parágrafos, considerando que um diz exatamente o contrário do outro. O empresário, desnorteado no meio da discussão, não pode acabar sendo prejudicado por

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um erro de redação ou de elaboração legislativa. Ficou, portanto, a sugestão de que sim, seja possível a dedução dos valores de incentivo como despesa operacional.

O terceiro ponto trata da questão da legalidade da contratação de pessoas para o serviços de intermediação captação de recurso e negócio. O art. 28, que a princípio proi-bia qualquer aplicação de recursos feita através de qualquer tipo de intermediação, foi rebatido por um parágrafo único na lei 9.874/99 que regulava e legalizava a pessoa que é contratada ou presta serviços para a elaboração de projetos e captação de recursos dentro dos projetos culturais englobados pela lei Rouanet.

Partindo para outro ponto polêmico, um interessante estudo de caso em nível nacional, que ganhou certa repercussão na classe dos artistas, foi o benefício cedido ao Cirque du Soleil , através da Lei Rouanet. Enquanto artistas brasileiros enfrentam a burocracia, a intolerância e até a ignorância dos empresários para conseguir o subsídio, a companhia canadense recebeu mais de 9 milhões de reais para suas apresentações, cujos ingressos custam ao espectador de 50 a 400 reais.

É difícil, no entanto, imputar a culpa ao Ministério da Cultura. Se pararmos para pensar logicamente, este órgão apenas aprova a renúncia fiscal de uma empresa que contribui com o artista. Também não é tarefa fácil sustentar uma argumentação que descubra culpa na atitude do empresário brasileiro, que naturalmente e compreensivel-mente cresce os olhos para a visibilidade que sua empresa certamente ganhará através da propagação de sua marca mediante um gigantesco espetáculo como o supracitado, atitude aceitável dentro dos padrões comerciais e competitivos que a atual economia impõe.

O Ministério da Cultura acabou negando a segunda parte do pedido de incentivo por parte do Cirque du Soleil, pois o rebuliço que a classe artística brasileira causou estava tomando proporções alarmantes.

Aqui abrimos parênteses para comentar a respeito das últimas mudança na Lei Rouanet. Em abril de 2006 houve, com inserção de alguns critérios a mais para que um projeto seja aprovado. Um deles, o que seria um reflexo da repercussão deste estudo de caso que acabamos de expor, foi o de que seria necessário o benefício do público, afinal o dinheiro é público. É claro e admitido que o Cirque du Soleil não promove qualquer benefi-ciamento público, ainda mais se considerarmos os caríssimos ingressos.

Outra mudança, de 5 de setembro de 2008 elimina algumas exigências como, por exemplo, a apresentação de documentos de cessão de direitos autorais no ato de in-scrição dos projetos. A partir de agora, será necessária apenas a apresentação de carta de anuência (consentimento) do proprietário ou detentor de direitos. Além disso não serão mais exigidos os termos de anuência dos artistas ou grupos culturais envolvidos com a proposta. Também não será mais necessário, por exemplo, o termo de compro-misso ou confirmação da pauta dos teatros ou espaços que abrigarão os espetáculos e eventos. Juca Ferreira , atual Ministro da Cultura, acredita que essas medidas serão im-

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portantes para a realização de projetos via lei. Comenta que esta medida se trata de uma “racionalização, simplificação e atendimento à demanda dos produtores. É uma medida preliminar que não nega os passos seguintes que a gente vai dar no sentido de obter mais agilidade, eficiência e qualidade no funcionamento da Lei Rouanet”.

3. A APLICAÇÃO DA LEI ROUANET NO ESTADO DO AMAZONAS

O estado do Amazonas, como a maioria dos demais estados do Brasil, possui grande contingente de indivíduos manifestadores de produção artística variada que dese-jam patrocínio para poderem, assim, seguirem com a sua atividade. Estabelecida em 1991, deste então a Lei Rouanet vem sendo aplicada de forma dirigida a esta realidade local.

Para termos uma perspectiva de execução antes de aprofundarmo-nos na situ-ação amazonense, em níveis federais, segundo o Sumário Executivo ANCINE 2005, o volume anual captado com os dois mecanismos da Lei que estudamos (art. 18 e arts. 25 e 26) somados vem crescendo vertiginosamente. Passaram de 5.765 para 36.169 milhões de reais no intervalo de 1995 a 2005, totalizando nestes 10 anos de intermédio um montante coletado de 278.176 milhões de reais. Entre os maiores incentivadores, segundo a mesma fonte, estavam Petrobrás, Eletrobrás, CSN (Centrais Elétricas Brasile-iras), Embraer, Champion Papel e Celulose Ltda., Furnas Centrais Elétricas e Cia. Vale do Rio Doce.

Um dado bastante curioso é que em 2007 foram captados de empresas ama-zonenses para incentivo à cultura pela Lei Rouanet, 1,6911 milhão de reais. O número parece positivo até constatarmos a seguinte informação: 0% dessa verba foi destinado a projetos amazonenses. Os maiores beneficiados dessa renda foram a Oktoberfest (350 mil, RS), o projeto Música para Todos (290 mil, SP), e o Carnaval Multicultural do Recife 2007 (280 mil, PE). Fechando a imagem do disparate, o único projeto amazonense ben-eficiado pela Lei Rouanet com verba de um ente da região norte do Brasil, presente nos indicadores fornecidos pelo MinC, foi a Escola de Artes do Instituto Dirson Costa, com auxílio de 80 mil reais vindos do Banco da Amazônia S.A., organização paraense.

O que chama atenção é que, apesar do número alarmante de apenas um projeto aprovado durante um ano inteiro, podemos afirmar que uma percentuagem razoável dos projetos enviados por artistas ou produtores amazonenses ao MinC para ingressar pela Lei Rouanet foram aprovados. Isso porque enquanto a média paulista de projetos enviados mensalmente chega é de 145, a média amazonense é de 3. Este dado é paradoxal com a realidade amazonense, considerando a existência de uma Zona Franca e de um comércio regional consideravelmente desenvolvido. A pergunta ao questionamento de qual é o fator que entrava o investimento das empresas em projetos de cultura através da Lei Rouanet

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pode ser respondido com duas afirmações: a maioria da classe artística não conhece este mecanismo; as empresas amazonenses que se utilizam do mecanismo preferem procurar projetos que as dêem maior visibilidade do que investir na cena local.

Cabe-nos neste momento observar o papel do estado, ou seja, do Amazonas, dentro do ambiente funcional desta legislação federal. O estado, até pouco tempo atrás, nada tinha a ver com os trâmites da lei Rouanet, deixando exclusivamente ao Ministério da Cultura tudo relacionado à mesma. Desta forma o artista inevitavelmente não teria onde se apoiar, a não ser no nível federal, de difícil acesso ou conhecimento pela parte de muitos. Os artistas conscientes e postulantes da lei reivindicam que o estado deveria desempenhar pelo menos o papel de conscientização regional perante a iniciativa pri-vada.

Hoje sabemos que já houve tentativas relapsas de descer a responsabilidade perante a Lei Rouanet para níveis estaduais e municipais, respectivamente no Amazonas e em Manaus. No entanto essas medidas não viram na prática qualquer resultado, apesar da instituição de algumas comissões destinadas a aprovar pela forma legal da Lei Rouanet projetos da cidade ou do estado.

O empresário Marcellus Campelo , em relação a este assunto, quando questiona-do a respeito do Governo do Estado do Amazonas e mais especificamente da Secretaria de Estado de Cultura nos processos desta lei de incentivo à cultura, comenta que papel deste é nulo. O comentário não se restringe somente ao estado em foco, mas a quase todos os participantes da federação brasileira.

Devido à lei ser federal, acaba que o estado tem papel nulo no ingresso, na aprovação e na execução de projetos ingressantes pela Lei Rouanet à Administração Pública. O Ministério da Cultura é quem recebe direta-mente as entradas e resolve por lá mesmo tudo o que for relativo a elas. Isso dificulta as coisas para o artista ou para os produtores interessados porque tendo o Brasil inteiro um único ente ao qual recorrer, através do PRONAC, para ter seus projetos aprovados por uma única comissão fed-eral (CNIC), ficamos limitado a um número restrito de projetos a serem aprovados por ano. Não estou falando que a lei Rouanet não é positiva, pois ela é: o que quero dizer é que o Ministério da Cultura agindo sozinho não resolve tudo aquilo que pode e acaba por não cumprir os objetivos finais da lei, que é tratar a classe dos artistas de forma igualitária, afinal nem todos tem condição ou sequer conhecimento suficiente para recorrer a estes recursos que existem lá para seu próprio auxílio.

Segundo Campelo, o formato da lei Rouanet, depois das reformas e correções fei-tas, é muito benéfico para o universo nacional da cultura, no entanto precisa de entidades que ajam através dela lei em níveis mais próximos do público em geral. Dessa forma, a ad-ministração pública trabalharia nas três esferas de forma semelhante, com seus mecan-

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ismos de incentivo e suas comissões de aprovação, trabalhando e processando a parte financeira em cima dos impostos relacionados, novamente, a cada esfera. Comenta:

O Governo Federal faz, digamos, a primeira parte, através do Ministério da Cultura. O que não só eu mas todos os que convivem com esta reali-dade da lei não entendemos é como ainda não foi implantada esta idéia de cada município ou estado criar o seu próprio órgão gestor. O pouco que se andou nesse sentido acabou nunca funcionando. Precisamos dos três mecanismos disponíveis para que encaminhemos de forma mais eficiente nossos processos dentro de uma legislação que já existe, mas que tem sua acessibilidade e abrangência debilitadas por oferecer nacionalmente apenas uma entidade encarregada de sua execução. A muito tempo esta sugestão está lançada, e esperamos uma solução por parte dos municí-pios e estados, que poderiam oferecer este serviço de apoio propondo o incentivo através da renúncia fiscal respectivamente para o IPTU ou ISS e para o ICMS .

Concluindo seu raciocínio a respeito do papel do estado nestes processos, Campe-lo comenta que mesmo em casos de necessidade de uma ação do Governo do Estado no sentido de viabilizar uma decisão tomada em esfera federal, como, por exemplo, a cessão de um espaço público para realização de um evento ou qualquer outra medida que de-penda da liberação ou do apoio do mesmo para ser realizada, quem deve se encarregar desses requerimentos todos é o próprio postulante. Diferente do que se imagina, o proje-to quando enviado ao Ministério da Cultura já deve contar com todas essas aprovações e resoluções práticas, não cabendo ao MinC resolver este tipo de empecilho ou encaminhar requerimentos à esfera estadual. Este processo configura mais uma dificuldade, desta vez no sentido do formato da própria lei, mas culminando num entrave de logística, para o artista que procura a ajuda da mesma.

O projeto de Eusélio Pereira não teve destino semelhante aos do último entre-vistado. Depois de ingressar com um projeto junto com MinC e, em seguida dos devidos trâmites e demoras, ser aprovado, acabou por ter impedida a execução do seu evento cultural por falta de comunicação entre a esfera federal e a estadual. Para realizá-lo, Eusélio necessitava de um recurso que inevitavelmente precisava ser cedido pelo estado, e por causa da falta desse recurso para a data em que pretendia, viu impossibilitado de realização um projeto que estava plenamente dentro dos conformes da lei Rouanet, aprovado e com recursos já captados.

Meu projeto tinha tudo para dar certo e estava totalmente dentro dos que a lei pedia, inclusive já tinha sido aprovado pelo Ministério da Cultura e eu já tinha captado os recursos com as empresas que se interessaram. No entanto, eu precisava para o evento de guardas que só o Governo do Estado, naquele caso, poderia viabilizar, e a ausência dos guardas tornava

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o meu evento totalmente ilegal, impossível de realizar, e realmente peri-goso. Simplesmente o governo não poderia ceder os guardas para aquela data em que o evento seria realizado, e como isso já havia passado pelas mãos do MinC e já tinha sido aprovado, eu não tinha mais como alterá-la. É injusto com os produtores culturais o fato de que a esfera federal não ten-ha esse diálogo com a estadual antes de aprovar um projeto, apontando para o produtor as coisas que são inviáveis na proposta por uma questão de ocupação e de indisponibilidade temporária, algo tão simples de se re-solver (uma alteração de data para o dia seguinte resolveria o problema), para que junto ao mesmo esse pequeno entrave fosse solucionado. Essa distância é prejudicial, e se o MinC não pode ter esse contato tão direto como estado por questões naturais de logística, precisamos então de um ente estadual que possa resolver o processo do início ao fim, afinal é difícil vermos um projeto que não precise, em algum nível para fins lógicos de realização dentro de um espaço ou de qualquer outro sistema, de uma contribuição do estado para ser viabilizado.

Outra crítica freqüentemente feita pelos amazonenses à lei, e mais especifica-mente à sua viabilização é, o fato de que quem já está mais habituado às operações acaba se saindo melhor, mesmo que tenha um projeto tão bem intencionado quanto o de um artista menos confortável com os detalhes burocráticos dos trâmites. A afirma-ção se confirma na publicação do MinC que aponta que cerca de 3% dos preponentes dos projetos culturais captam metade dos recursos que são disponibilizados, tanto na proporção amazonense quanto na brasileira. Sobre isso, Juca Ferreira criticou: “Quem tem o caminho das pedras tem demonstrado uma capacidade infinitamente maior que os demais de ter seus projetos aprovados. É justo um mecanismo que produz um resultado desses? ”

4. PARALELO: OBJETIVOS VERSUS RESULTADOS – ANÁLISE DA EFICÁCIA DA LEI ROUANET NO AMAZONAS

Espelhando-nos na texto puro da lei, vejamos, voltados especificamente ao estado do Amazonas como alguns objetivos elencados em sua proposição estão sendo cumpri-dos. Foram escolhidos para análise da eficácia os objetivos que encontram na existência da figura do estado algo relevante relacionado ao seu cumprimento.

Enquanto no texto da lei elenca-se “contribuir para facilitar, a todos, os meios para o livre acesso às fontes da cultura e pleno exercício dos direitos autorais”, não encontramos na realidade amazonense um similar. A facilitação (ou o incentivo, propria-mente dito) não chega a todos no amazonas não por culpa direta da lei: em abrangência generalizada, o que falta é uma criação de órgãos gestores localizados nos estados e

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mesmo nos municípios a fim de que haja competência para entrada e aprovação de proje-tos, mas se considerarmos a realidade atual dentro de uma lei que, afinal, não pode ser classificada como mal-formulada, e embasando-nos nas possibilidades dentro dos siste-mas existentes (que podem, sem dúvida, propiciar a feitura de grandes projetos, vide resultados da Lei Rouanet no Sudeste), a culpa pode ser imputada aos seus utilizadores e postulantes no Amazonas. A empresa não procura investir nas manifestações culturais locais e a maioria dos artistas e uma parte dos produtores culturais desconhecem este mecanismo legal que lhes pode ser tão vantajoso. O que deve ser resolvido são estes empecilhos para que de fato a lei atinja a todos. Os meios ficam a cargo de planejamento federal e estadual.

“Promover e estimular a regionalização da produção cultural e artística brasileira, com valorização de recursos humanos e conteúdos locais” e “proteger as expressões cul-turais dos grupos formadores da sociedade brasileira e responsáveis pelo pluralismo da cultura nacional” não é exatamente aquilo que podemos dizer que a lei está fazendo pelo Amazonas. A leitura do segundo e do quarto objetivo elencado entre os dez fundamentais da lei pode ser feita de duas formas: com enfoque nacional e com enfoque regional. Sob a óptica regional, é difícil afirmarmos que a lei Rouanet tem promovido e estimulado a regionalização da produção cultural ou sequer tenha valorizado o conteúdo local do es-tado. Proteger expressões culturais dos grupos formadores da sociedade, então, nem pensar, se considerarmos que o Amazonas tem em sua raiz genética e ainda bastante presente na cultura local traços de um dos principais formadores: o índio. Novamente, não se trata necessariamente de culpa da lei mas das formas de aplicação que têm sido tomadas desde a sua oficialização. Como o explicado no parágrafo anterior, os problemas inerentes à falta de um real fluxo intenso de incentivos e pretendentes a serem benefi-ciados culmina no fato de que não há, por essa escassez de ação de ambas as partes, o cumprimento deste objetivo.

Por fim, a lei fala em “apoiar, valorizar e difundir o conjunto das manifestações culturais e seus respectivos criadores”, o que podemos considerar que acontece, de fato, mas não no nosso estado, de forma significativa. Os poucos projetos aprovados (pelo baixíssimo número de ingressos junto do MinC e pela escolha das empresas locais de apoiarem projetos externos) até concretizam o objetivo elencado, mas não o fazem de uma forma massiva, que realmente contribua na alteração e no melhoramento da situação cultural do estado.

Várias questões inerentes às formas de aplicação da lei no Amazonas devem ser revistas. Com um mínimo de razoabilidade percebemos, por exemplo, que o repasse in-tegral do dinheiro renunciado de empresas locais num ano inteiro é um acontecimento inadmissível do ponto de vista moral, embora esteja plenamente amparado pela lei.

Ao fazermos um paralelo entre os objetivos e os resultados locais, não esperamos encontrar realidades de perfeição, ou de altíssimo índice de operosidade, porque sabemos

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que esta expectativa onírica, no Brasil, ainda precisa de trabalho para ser satisfeita. O interessante de fazermos isto é indagarmo-nos a respeito de por que, dentro de uma federação com diversos estados, as realidades da aplicação da lei são diferentes, assim como quais são os fatores que levam a estas diferenças. Diagnosticar com relativo fun-damento um ou alguns destes problemas configura, já, uma grande contribuição rumo à sua solução.

Esta breve análise serve para serem elucidados pontos polêmicos a respeito desta legislação, e para comprovar que não é a legislação sozinha que muda uma realidade local. Se não for posta em prática de forma eficiente, provida dos devidos mecanismos de ex-ecução que permitam o seu pleno funcionamento, uma lei pode ser praticamente omissa para determinada parte da população brasileira, como é o caso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Visto o texto da lei, podemos concluir que, de forma geral, a mesma propõe in-centivos fiscais às empresas que decidirem patrocinar as atividades culturais que se enquadrem nos critérios relacionados na sua elaboração. Tem como finalidade, portanto, fomentar, mediante este incentivo, a cultura nacional através de manifestações regionais agora devidamente patrocinadas e viabilizadas de forma sustentável, considerando que a lei deve acelerar o processo de repasse de recursos, transformando um valor monetário que seria endereçado ao governo, para que então este o processa-se e dele separasse uma parte a ser destinado ao incentivo cultural, num auxílio direto àquele objeto que deseja o empresário patrocinar.

Podemos considerar, fundamentado nas informações proferidas no texto, que a Lei de Incentivo à Cultura é um potente instrumento legislativo que regulamenta o marketing cultural. Esta ferramenta única acaba por virar fator de movimento social e econômico gerando incontáveis empregos diretos e indiretos. Está determinantemente associada à publicidade e ao próprio turismo, gerando riqueza cultural e mesmo financeira, de certa forma, fortalecendo a identidade do país e instigando o sentimento de cidadania através das manifestações artísticas.

Apesar dos aspectos positivos que uma lei de incentivo a uma das maiores riquezas que temos pode ter, precisamos dar um enfoque prático: o empresariado brasileiro, e muito mais especificamente o amazonense, precisa conhecer e refletir de forma profunda a respeito desta lei. A potencialidade deste mecanismo, tanto na questão da renúncia fiscal quanto no sentido do marketing relacionado ao incentivo, ainda não foi de fato enxergada. Os benefícios são incalculáveis tanto para o cidadão postulante quanto para o empresário engajado, e deixam de acontecer por simples desconhecimento ou descaso, menosprezo.

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Outra consideração a ser feita diz respeito ao método da lei. Ele apresenta indí-cios de estar, em certos pontos, equivocado. Embora contribua com o projeto de muitos artistas que merecem o incentivo, a lei ainda não alcançou de fato o artista regional, diminuído pelos recursos, que não possui visibilidade alguma e tem praticamente anuladas pela sua situação social as chances de ter seu trabalho acreditado por um empresário. O fato de a lei, portanto, não estar investida e amparada por um sistema adequado a todos que dela procuram beneficiar-se de forma legal é um problema latente e relevante para o nosso estudo. Isso significa que a política pública que culminou na lei acabou por não atingir aquele objetivo maior de todas as legislações, que é atingir e agir sobre e em favor da população de forma igualitária.

O problema do método da lei está no fato de que o empresariado tem livre es-colha de quais projetos deseja participar, afinal é uma iniciativa da própria organização incentivar determinada manifestação cultural que o procure para patrocínio ou doação. Dessa forma, por questões comerciais e de culpa quase inimputável, frente à atualidade do mercado e do mundo econômico, o empresário procura aquele projeto que deve dar-lhe maior visibilidade como patrocinador, por razões óbvias de publicidade e divulgação da marca, como foi exemplificado quando tratamos do caso do Cirque du Soleil.

Juca Ferreira aponta como o maior entrave hoje enfrentado por essa lei “a con-centração de investimentos da iniciativa privada especialmente em produções culturais que dêem retorno, em termos de imagem, e que se localizem sobretudo no Rio de Janeiro e em São Paulo” . Conforme explicou o ministro, isso é prejudicial ao país, porque os re-cursos dessa lei de incentivo à cultura são públicos, já que são produto de renúncia fiscal pelo Estado, e por isso deveriam contemplar toda a nação.

Por lógica entendemos que um sistema que possua pouco controle a respeito da iniciativa particular do patrocinador, ainda mais sendo esse sistema de abrangên-cia federal, deve ter em seu pleno funcionamento problemas operacionais de controle e fiscalização a respeito de todas as suas variáveis. Para remediar este caso, então, parece-nos coeso a sugestão de leis estaduais ou mesmo municipais que subsidiem os projetos dos artistas interessados, de forma que rearranjassem a lei a fim de restringir essa livre escolha para uma forma mais igualitária de incentivo geral à manifestação cul-tural. Com critérios mais rígidos e delegando certa competência à administração pública de usar a ferramenta da renúncia fiscal para direcionar os recursos de maneira racional, poderíamos atingir um nível de plenitude e justiça neste sentido, afinal, da maneira que se encontra a lei não oferece nenhuma solução palpável para atingir de forma eficiente o supracitado artista regional.

Interessante seria que a administração pública criasse fundos de cultura e órgãos gestores em níveis regionais que alcancem esses artistas ou colaboradores. Dessa forma haveria um mecanismo mais justo e prático, descentralizando o incentivo do empresari-ado e distribuindo funções para cada órgão competente em nível estadual e municipal, por

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exemplo. O intuito é que os processos relativos à tramitação de um projeto por uma lei de incentivo à cultura baseada em renúncia fiscal não necessitasse terminantemente de passar pela mão da esfera federal, tendo competência, em casos específicos, o estado ou o município de tratar e viabilizar de forma integral a ação a ser executada.

Órgãos gestores locais poderiam, inclusive, criar legislações específicas que pre-vissem um limite de destinação de incentivo a projetos externos ao estado. Se aprovada popularmente, esta medida evitaria dados como aquele apresentado no capítulo 4 deste artigo, que atesta que empresas amazonenses preferem investir em projetos de fora do estado ao invés de investir nos locais. Além de legislações poderiam promover campanhas de conscientização bastante voltadas à realidade empresarial do estado.

A criação de agentes localizados poderia até elevar o nível de possibilidade de cor-rupção, mas, controlada esta mazela em níveis ideais, o artista teria maior possibilidade e vislumbre perante os incentivos que sonha receber. Custa ao cidadão entender por que, por exemplo, o Governo do Estado, através da Secretaria de Cultura, nada pode fazer em relação à aprovação, a seleção ou a qualquer outro aspecto de sua necessidade artística, mesmo existindo uma lei que o ampare. Para isso a necessidade de agentes competentes localizados, leis locais padronizadas que pudessem servir o postulante de forma direta, através de um órgão consideravelmente mais próximo, como a secretaria estadual ou uma secretaria municipal de cultura. É dessa estrutura mais elaborada e eficiente que diagnosticamos precisar o Amazonas e, sem dúvida, outros estados da federação.

A conclusão à qual se pode chegar é de que a lei Rouanet atinge apenas parcial-mente os seus objetivos devido às diferentes realidades locais. Afinal, portanto, o que deve ser criado é um mecanismo que atenue os resultados finais em detrimento dessas diferentes realidades. Se formos considerar todos estes casos onde a Lei de Incentivo à Cultura não atinge seu objetivo perante o cidadão, podemos concluir que, atualmente, ela não beneficia àqueles que mais dela precisam.

Para um próximo trabalho recomenda-se um estudo científico mais aprofunda-do a respeito da lei Rouanet no que diz respeito à sua relação com o desenvolvimento econômico do país. Considerando o crescimento comercial e econômico do Brasil, deduzi-mos por lógica que os lucros e a arrecadação de imposto de renda acompanham esta alavancagem, uma vez que um país maior gera números maiores, não necessariamente proporcionais, porém ascendentes. Interessante seria, por exemplo, uma comparação quantitativa entre a arrecadação do Imposto de Renda e o montante endereçado a apli-cações em cultura através desta lei de incentivo, em um período médio, a fim de que estabelecêssemos se existe ou não uma relação entre ambas as variáveis.

E para fechar o ciclo de sugestões a respeito do tema, fica exposta um comentário bastante pertinente do atual ministro da cultura que expõe a dificuldade de contar com tão poucos mecanismos de suporte à cultura, um dos maiores patrimônios de nosso país:

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A gente não pode ter a renúncia fiscal como critério principal para fi-nanciar a cultura brasileira. É um mecanismo que serve para algumas ações. Tem de ter o Orçamento, os mecanismos de mercado. Queremos introduzir o vale-cultura, semelhante ao vale-refeição, e reestruturar os mecanismos de uso da renúncia. O ministério está preparado para botar na rua a discussão .

REFERÊNCIAS

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PARTE IV – RESUMOS

OMISSÃO DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL E RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL: UM ESTUDO SOBRE AS OCUPAÇÕES URBANAS IRREGULARES EM MANAUS E SEUS IMPAC-TOS AMBIENTAISHediane Naiade Silva Monteiro.........................................................................193

O LICENCIAMENTO AMBIENTAL DA INDÚSTRIA MADEIREIRA NO ESTADO DO AMAZONASAna Paula Mendes Simões Pereira ...................................................................195

O DIÁLOGO ENTRE O DIREITO AGRÁRIO E O DIREITO AMBIENTAL NA REFORMA AGRÁRIA NO ESTADO DO AMAZONASBianor Saraiva Nogueira Júnior........................................................................196

OCUPAÇÃO URBANA DESORDENADA E (IN) JUSTIÇA AMBIENTAL: O CASO DA “INVASÃO” NOVA VITÓRIATâmera Maciel Assad........................................................................................197

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NA CIDADE DE MANAUS E REGIÃO DO ENTORNONaira Neila Batista de Oliveira Norte............................................................... 198

O CAMINHO DAS ÁGUAS NA AMAZÔNIA: ITINERÁRIO DA TECNOLOGIA NAVAL AMAZÔNICA E SUA PROTEÇÃO JURÍDICA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIALMarco Aurélio de Carvalho Martins..................................................................199

A GARANTIA DO CONTEÚDO ESSENCIAL DO DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO EQUILIBRADOAdelson Silva dos Santos..................................................................................201

ANÁLISE JURÍDICA DA GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE MANAUSKaryn Ferreira Souza Aguinaga.........................................................................202

O DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO UM DIREITO FUNDA-MENTAL DE NATUREZA SOCIAL E SEU EXERCÍCIO HARMÔNICO COM OS DIREITOS CULTURAISLuciana Toledo Martinho...................................................................................203

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CONSIDERAÇÕES FACTUAIS E JURÍDICAS SOBRE O PROSAMIM – PROGRAMA SOCIAL E AMBIENTAL DOS IGARAPÉS DE MANAUSMárcia Cristina Henriques Levi.........................................................................204

COMPENSAÇÃO DA ÁREA DE RESERVA LEGAL: ANÁLISE JURÍDICA DAS POSSIBILIDADES E LIMITES DE SUA IMPLEMENTAÇÃOTatiana Monteiro Costa e Silva........................................................................ .206

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OMISSÃO DO PODER PÚBLICO MUNICIPAL E RESPONSABILIDADE CIVIL AMBIENTAL: UM ESTUDO SOBRE AS OCUPAÇÕES URBANAS IRREGULARES EM MANAUS E SEUS

IMPACTOS AMBIENTAIS

Mestranda: Hediane Naiade Silva Monteiro

Banca Examinadora: Prof. Dr. Edson Ricardo Saleme (Orientador) Prof. Dr. Vladimir Garcia Magalhães (UNISANTOS) Prof. Dr. Ozorio Jose de Menezes Fonseca (UEA)

Resumo: O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado abrange os am-bientes urbano e natural. Entretanto, a relação entre o direito à moradia, inerente à constituição das cidades e a proteção do meio ambiente natural, apresenta-se em de-sarmonia. Pela ausência de implementação de políticas públicas habitacionais, entre out-ros aspectos, Manaus cresceu sem o devido planejamento urbano. Contribuindo nesse crescimento desordenado, encontram-se as ocupações urbanas irregulares. Desse modo, o presente estudo tem o escopo de demonstrar a responsabilidade civil ambiental do Poder Público Municipal de Manaus por sua omissão em promover o adequado or-denamento urbano de seu território, dando azo, assim, aos danos aos meios ambientes urbano e natural nessa cidade pela proliferação das ocupações urbanas irregulares. Para isso, pretende-se situar a competência ambiental municipal de promover o adequado ordenamento urbano, em seus aspectos constitucional e legal. Também será analisado o exercício dessa competência pelas funções ou poderes do Estado nos âmbitos municipal e estadual. Situado esse dever, estudar-se-á o não cumprimento do mesmo através da análise do desenvolvimento urbano desordenado e excludente de Manaus como cidade e os danos ambientais ocasionados pelas invasões em seu território. Tendo em vista que o dano ao meio ambiente representa um dos requisitos objetivos da responsabili-dade ambiental, resta a constatação sobre a presença dos outros requisitos: omissão e nexo de causalidade entre esta e o dano ambiental. Também estes pressupostos estão presentes, quando se conclui, por exemplo, que a sustentabilidade urbana encontra-se ameaçada pela “indústria da invasão”. Do mesmo modo, para a consolidação dessas ocupações, grandes áreas são desmatadas, comprometendo-se gravemente os recursos naturais, como as florestas urbanas. Ressalta-se que esta análise será eminentemente bibliográfica e baseada em pesquisas em órgãos públicos, cuja atuação se relaciona com a problemática das ocupações desordenadas em Manaus. Assim como os particulares, no Estado de Direito, o Poder Público deve se submeter às previsões legais e assumir as

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conseqüências de sua inação. O cuidado com o espaço urbano, tão importante quanto a tutela do meio natural, deve deixar de ser visto como mera política urbana, passando a ser encarado como o que de fato é: um dever constitucional.

Palavras-chave: Competência ambiental; ocupações urbanas irregulares; responsabili-dade ambiental

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O LICENCIAMENTO AMBIENTAL DA INDÚSTRIA MADEIREIRA NO ESTADO DO AMAZONAS

Mestranda: Ana Paula Mendes Simões Pereira

Banca Examinadora: Prof. Dr. Serguei Aily Franco de Camargo (Orientador) Prof. Dr. Elisabete Brocki (EST) Prof. Dr. Joaquim Shiraishi Neto (UEA)

Resumo: A análise do Licenciamento Ambiental da indústria madeireira no Estado do Amazonas é realizada no presente trabalho, a partir do levantamento de dados nos órgãos ambientais legitimados. Neste sentido, este estudo destaca particularmente a importância da aplicabilidade do Princípio da Precaução, enfatizando-se a necessidade do licenciamento, bem como o monitoramento das atividades madeireiras, com vistas a assegurar o direito coletivo ao meio ambiente sadio. O método adotado foi o indu-tivo, pois o estudo iniciou com casos particulares e apresenta conclusões a respeito da temática, uma vez que a amostra escolhida abrange uma representação do universo, podendo generalizar para o setor como um todo. A técnica de pesquisa adotada foi a bibliográfica e documental. Entre os principais resultados obteve-se a confirmação de que é escassa a observância do Princípio da Precaução na gestão ambiental da indústria madeireira no Estado do Amazonas, tendo em vista a demanda de processos relacionada ao número reduzido de pessoal, comprometendo o bom desempenho da prestação dos serviços públicos ambientais e o desenvolvimento em bases sustentável. A conveniência e utilização do monitoramento foram apontadas como atividades de rotina a serem presta-das e desenvolvidas para subsidiar o processo do licenciamento. Constatou-se também o necessário fortalecimento e aprimoramento dos órgãos ambientais, por meio do perfeito aparelhamento em termos de pessoal, de modo a restabelecer o equilíbrio ambiental necessário à sadia qualidade de vida.

Palavras-chave: Licenciamento ambiental; Princípio da Precaução; Indústria madeireira; Estudos ambientais.

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O DIÁLOGO ENTRE O DIREITO AGRÁRIO E O DIREITO AMBIENTAL NA REFORMA AGRÁRIA NO ESTADO DO AMAZONAS

Mestrando: Bianor Saraiva Nogueira Júnior Banca Examinadora:

Prof. Dr. Joaquim Shiraishi Neto (Orientador)Prof. Dr. Serguei Aily Franco de Camargo (UEA)Prof. Dr. Giroalmo Domenico Trecani (UFPA)

Resumo: Torna-se profícua a investigação sobre como reforma agrária vem sendo

pensada ao longo dos tempos no Estado do Amazonas, partindo de um olhar voltado tanto para os estudos do pensamento clássico como dos pensadores mais modernos. A demonstração da importância do diálogo entre o Direito Agrário e o Direito Ambiental da reforma agrária neste Estado, aponta para uma direção, pois é certo que a relatividade é inerente a todas as ciências, mas a busca pelo seu aprimoramento também sob o prisma epistemológico deve ser absoluta. Como conseqüência, o Direito Ambiental e o Direito Agrário devem manifestar-se de modo convergente, para alcançar o desiderato de favorecer, concomitantemente, tanto o beneficiário da reforma agrária quanto o meio ambiente ecologicamente equilibrado, numa convivência reconhecida efetivamente por Políticas Públicas eficazes, traduzidas em projetos viáveis e especiais, como especial e peculiar é a Região Amazônica. E o reconhecimento dos direitos dos beneficiários da reforma agrária materializar-se-á somente através da implantação de uma atividade agrária economicamente sustentável para essas pessoas, pois a premissa preconizada pela legislação agrária impõe a exploração agrícola que, por vezes, colide com o meio ambiente e com a inclinação extrativista da Amazônia. Isto vem ao encontro da efetivação do cumprimento do princípio da justiça social insculpido no art. 1°, parágrafo 1º do Estatuto da Terra, que faz parte da definição de reforma agrária. Assim, o verdadeiro diálogo entre o Direito Agrário e o Direito Ambiental na reforma agrária no Estado do Amazonas forja alterna-tivas baseadas em três eixos fundamentais, quais sejam, o reconhecimento dos direitos dos beneficiários, a concepção de uma atividade agrária economicamente sustentável, propiciando a criação de projetos especiais, de sorte a conferir os direitos legítimos dos beneficiários da reforma agrária, ou seja, das populações que ocupam as áreas de domínio público neste Es-tado, de sorte que podemos classificar como o começo de uma verdadeira revolução quanto à temática aqui abordada, passando, obrigatoriamente, pela implantação de uma efetiva política de reconhecimento, da atividade agrária economicamente sustentável e a criação de projetos especiais. Por último, há que se ter em mente a obrigatoriedade da função transformadora e recriadora do Direito com o desiderato de obter soluções cada vez mais justas.

Palavras-chave: direito ambiental; direito agrário; reforma agrária; meio ambiente; diálogo; beneficiários; atividade agrária; projetos especiais.

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OCUPAÇÃO URBANA DESORDENADA E (IN) JUSTIÇA AMBIENTAL: O CASO DA “INVASÃO” NOVA VITÓRIA

Mestranda: Tâmera Maciel Assad

Banca Examinadora: Prof.(a) Dr(a) Clarice Seixas Duarte (Orientadora) Prof. Dr. Fernando Mussa Abujamra Aith (FGU-SP) Prof. Dr. Joaquim Shiraishi Neto (UEA)

Resumo: O presente trabalho analisa a problemática das ocupações desordena-das na cidade de Manaus, como conseqüência da violação dos direito à moradia e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. No Brasil, a população pobre, marginalizada e vulnerável não tem acesso aos direitos fundamentais sociais básicos, estando à margem da cidade e da cidadania. Tal população encontra-se exposta a condições precárias de habitação, como a falta de saneamento básico, água, ar puro, além de estarem sujeitas aos riscos decorrentes da contaminação por substâncias perigosas. A não efetivação das políticas públicas sociais traz como conseqüência as ocupações ilegais, pois, sem alternativa habitacional, a população pobre passa a ocupar os espaços de forma desor-denada. Sendo assim, as pessoas que vivem em ocupações ilegais, além de serem vítimas da exclusão social e ambiental, de não terem acesso aos direitos sociais que lhes são garantidos constitucionalmente e por organismos internacionais, são também vítimas da injustiça ambiental, tendo em vista que arcam com o maior custo do ônus do desenvolvi-mento. No presente trabalho, o caso da “invasão” Nova Vitória, localizada na zona leste da cidade de Manaus, em área de propriedade da Superintendência da Zona Franca de Manaus, é observado como exemplo de ocupação desordenada, onde as cinco mil famí-lias ali residentes suportam uma parcela desproporcional das conseqüências ambientais negativas resultantes do processo de desenvolvimento predatório e excludente, bem como as conseqüências resultantes da ausência ou omissão do Estado na implementação de políticas públicas voltadas à garantia dos direitos sociais à moradia e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. A falta de alternativa habitacional leva os excluídos social-mente à “invasão” de terras, o que vem causando profundos danos ao meio ambiente e a sadia qualidade de vida.

Palavras-chave: ocupações desordenadas; injustiça ambiental; violação aos direitos so-ciais.

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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NA CIDADE DE MANAUS E REGIÃO DO ENTORNO

Mestranda: Naira Neila Batista de Oliveira NorteBanca Examinadora: Profa Dra Solange Teles da Silva (Orientadora) Prof. Dr. José dos Santos Pereira Braga (UFAM) Prof. Dr. Ozorio Jose de Menezes Fonseca (UEA)

Resumo: Há uma estreita ligação entre o desenvolvimento da sociedade e sua interação com a natureza. Assim, verifica-se que a ação do homem sobre os recursos disponíveis na natureza é tão maior quanto mais desenvolvida for a sociedade. A migração do homem para as regiões centrais, da qual a Revolução Industrial foi a mola propul-sora, gerou o fenômeno da urbanização, o qual intensificou-se de forma desordenada na segunda metade do século XX. A urbanização desenfreada está diretamente ligada ao aumento do consumo, principalmente pelo notável avanço das tecnologias de produção, o que, por sua vez, permitiu maior produção de resíduos descartáveis, ocasionando prob-lemas decorrentes da disposição inadequada destes materiais no meio ambiente, tais como a poluição do solo, da água e do ar. A crescente geração e o tratamento inad-equado ou mesmo nenhum tratamento dos resíduos sólidos no Brasil, notadamente os resíduos sólidos domiciliares constituem uma situação alarmante. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, através dos resultados da Pes-quisa Nacional de Saneamento Básico 2000, estima-se que no ano 2000 tenham sido produzidos cerca de 157 mil toneladas de resíduos domiciliares e comerciais por dia no Brasil, sendo que 47,1% desses resíduos sólidos dispostos em aterros sanitários, 22% em aterros controlados e 30,5% em lixões. Diante desse quadro, há a necessidade de compreender como a evolução da sociedade trouxe reflexos na produção de resíduos, para analisar como os padrões de produção e consumo podem ser modificados para a busca de soluções para essa questão, de forma a evitar danos ambientais irreversíveis. O objetivo dessa dissertação é fazer uma análise técnica e jurídica acerca da gestão de re-síduos sólidos domiciliares, verificando o que são resíduos sólidos domiciliares e quais as políticas públicas aplicáveis a esse tema, considerando-se a transversalidade necessária para o enfrentamento da questão, além de verificar qual ente federativo tem competência para instituir as políticas públicas, para legislar e administrar em matéria de resíduos domiciliares, com ênfase na responsabilidade direta para a implementação e execução dos serviços, tendo em vista a repartição de competências constitucionais para a gestão de resíduos sólidos domiciliares.

Palavras-Chave: Resíduos sólidos domiciliares; Gestão de resíduos; Aterro sanitário; Coleta seletiva; Competência; Princípios; Políticas públicas; Competências constitucio-nais; Serviços públicos; Resíduos sólidos e densidade demográfica.

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O CAMINHO DAS ÁGUAS NA AMAZÔNIA: ITINERÁRIO DA TECNOLOGIA NAVAL AMAZÔNICA E SUA PROTEÇÃO JURÍDICA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL

Mestrando: Marco Aurélio de Carvalho Martins

Banca Examinadora: Prof. Dr. Fernando Antonio de Carvalho Dantas (UEA) Prof. Dr. Carlos Frederico Marés de Souza Filho (UFPR) Prof. Dr. Alcindo José de Sá (UFPE)

Resumo: Esta pesquisa se insere no âmbito da proteção jurídica do patrimônio cultural e objetiva identificar a tecnologia naval amazônica como patrimônio cultural ima-terial brasileiro. O trabalho teve como motivadora uma norma editada pela SNPH – Su-perintendência de Navegação, Portos e Hidrovias do Amazonas, entidade que regulamen-ta o transporte naval de pessoas no estado. Analisa-se que o conhecimento tradicional associado à tecnologia naval amazônica deve ser considerado como patrimônio cultural, mesmo que possa não ser considerado como conhecimento científico. As embarcações de madeira da Amazônia fazem parte de um desenvolvimento social ligado às águas da região. Possuindo a maior bacia hidrográfica do mundo, os rios e cursos d’água fazem parte do cotidiano dos amazônidas, relacionando-se ao seu desenvolvimento cultural, o que permite que essa tecnologia de construção de embarcações de madeira seja con-siderada como patrimônio cultural da sociedade brasileira. Verifica-se como é feita a proteção jurídica do patrimônio cultural de modo a protegerem-se a tecnologia de con-strução e os barcos de madeira. Enfoca-se a preocupação com a defesa desse patrimônio cultural em razão da influência que tem sofrido ao longo dos tempos, principalmente em razão da tentativa de sua modificação forçada. Modificar a matéria-prima de con-strução das embarcações esbarra no significado que possuem esses instrumentos de transporte para a sociedade amazônica. Mesmo que se possa aceitar uma combinação de matérias-primas, metal e madeira, ressalte-se que se faz uma ameaça de modificação de um patrimônio cultural essencial à região, os barcos. O instrumento jurídico de pro-teção desse patrimônio cultural é o registro, instituído pelo Decreto 3.551/2000, que regulamenta o art. 216 da Constituição da República Federativa do Brasil. Analisam-se os procedimentos e a sistemática do registro de modo a compreendê-los melhor, bem como se frisam suas principais características já que são aplicadas no entendimento de que a proteção que se procura não é a defesa de modo a não permitir a sua transformação, mas sim para catalogar a sua situação atual e acompanhar o seu desenvolvimento no tempo. Concluiu-se que a tecnologia naval amazônica nasce e floresce juntamente com a cultura regional, fazendo parte de seu cotidiano e sendo essencial ao desenvolvimento da região. Observando-se essas características, confirma-se a idéia de que essa tecnologia

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é Patrimônio Cultural brasileiro e deve ser protegida por meio do registro, segundo o que dispõe o Decreto 3.551/2000.

Palavras-Chave: Proteção Jurídica do Patrimônio Cultural, Barcos de madeira; Patrimônio cultural; Constituição da República Federativa do Brasil; Registro.

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A GARANTIA DO CONTEÚDO ESSENCIAL DO DIREITO FUNDAMENTAL AO MEIO AMBI-ENTE DO TRABALHO EQUILIBRADO

Mestrando: Adelson Silva dos Santos

Banca Examinadora: Prof. Dr. Sandro Nahmias Melo (Orientador)Prof. Dr. Walmir de Albuquerque Barbosa (UEA)Prof. Dr. Aldemiro Rezende Dantas Júnior (CIESA)

Resumo: O presente estudo aborda o reconhecimento da garantia do conteúdo essencial do direito fundamental ao meio ambiente do trabalho equilibrado no ordenamen-to constitucional brasileiro. Isso se faz necessário porque tal garantia não consta expres-samente na Constituição Federal. Por outro lado, reconhecido o núcleo essencial desse direito fundamental, criadas estão as bases para a emergência do paradigma ambiental do trabalho na tutela à saúde do trabalhador. Com isso, a proteção jurídica à saúde e segurança do trabalhador adquire maior consistência, pela aplicação da responsabilidade objetiva do empregador, utilização de instrumentos processuais coletivos, transversali-dade do direito ambiental, responsabilização penal da pessoa jurídica, entre outros. Esse núcleo essencial, “coração” do direito fundamental ao meio ambiente do trabalho hígido por outro lado, pode ser proposto como não-lesividade irreversível à saúde e segurança do trabalhador, centro de um eixo formado pelo respeito à sua dignidade humana, ao trabalho decente, à adaptabilidade do meio ambiente do trabalho e à tutela de sua saúde e segurança com repercussão transversal em vários institutos jurídicos, como o acidente do trabalho e a flexibilização das leis trabalhistas. Desse acordo, a proteção ao meio ambiente do trabalho significará a efetiva tutela, preventiva e sancionadora, à saúde e segurança do trabalhador.

Palavras-chave: Meio ambiente do trabalho. Conteúdo essencial do direito. Saúde e segurança do trabalhador.

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ANÁLISE JURÍDICA DA GESTÃO DAS ÁGUAS SUBTERRÂNEAS NO MUNICÍPIO DE MANAUS

Mestranda: Karyn Ferreira Souza Aguinaga

Banca Examinadora: Profª. Drª. Solange Teles da Silva (Orientadora) Prof. Dr. José Heder Benatti (UFPA) Prof. Dr. Ozorio Jose de Menezes Fonseca (UEA)

Resumo: A Política Nacional de Recursos Hídricos – Lei 9.433/97, trouxe impor-tantes inovações para a gestão dos recursos hídricos no Brasil. Os Estados, enquanto detentores do domínio das águas subterrâneas, são responsáveis por sua gestão que, entretanto, deve estar em consonância com as disposições da Política Nacional. O Estado do Amazonas por meio da Lei 2.712/01 estabeleceu a Política Estadual para os Recursos Hídricos e instituiu o Sistema Estadual de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Entre as diretrizes para implementação da Política Estadual encontra-se a articulação da gestão dos recursos hídricos com a do solo. O presente estudo tem por finalidade analisar juridicamente a gestão das águas subterrâneas no Município de Manaus abordando a questão da articulação da gestão desse recurso com a gestão do solo, para a preser-vação da qualidade e disponibilidade dos recursos subterrâneos. Inicialmente realiza-se a análise do contexto ambiental, social e econômico do espaço urbano objeto do estudo e posteriormente efetua-se o levantamento e análise da legislação pertinente ao tema. Constata-se que as normas de gestão das águas subterrâneas e do solo apresentam várias possibilidades e mecanismos para a sua articulação e que a implementação dessa articulação se encontra prejudicada por uma percepção ainda limitada e fragmentaria dominante da gestão pública.

Palavras chave: Recursos hídricos. Águas. Gestão. Manaus. Ordenamento territorial.

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O DIREITO AO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO COMO UM DIREITO FUNDAMENTAL DE NATUREZA SOCIAL E SEU EXERCÍCIO HARMÔNICO COM OS DIREITOS

CULTURAIS

Mestranda: Luciana Toledo Martinho

Banca Examinadora: Profª. Drª. Clarice Seixas Duarte (Orientadora)Prof. Dr. Fernando Mussa Abumjara Aith (FGV-SP)Prof. Dra. Andrea Borghi Moreira Jacinto (UEA)

Resumo: O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, previsto na Con-stituição Federal de 1988, no artigo 225, é considerado um direito fundamental, face à sua relação para com a dignidade humana e com a sadia qualidade de vida, para a qual é considerado essencial. Este direito é de titularidade tanto individual, quanto coletiva e difusa, o que influencia na forma pela qual ele será exigido judicialmente. Na mesma me-dida, a Carta Política Brasileira prevê os direitos culturais, também considerados funda-mentais, posto que da mesma forma relacionados com a dignidade humana. Do exercício conjunto dos dois direitos, é possível decorram conflitos, cuja solução há de levar em contar a estrutura normativa de ambos. Quando expressos sob a forma de princípios, e não como regras, os direitos culturais e o direito ao meio ambiente ecologicamente equili-brado deverão ser exercidos na maior medida do possível, o que exige, para a solução de conflitos em casos concretos, a aplicação de uma solução baseada na ponderação, que deverá buscar garantir o núcleo essencial de tais direitos. Há de se pensar, portanto, em limites que pautem a relativização os direitos colidentes, e, sobretudo, em caminhos que levem ao exercício harmônico de tais direitos.

Palavras-chave: Meio ambiente. Cultura. Relativização de direitos fundamentais.

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CONSIDERAÇÕES FACTUAIS E JURÍDICAS SOBRE O PROSAMIM – PROGRAMA SO-CIAL E AMBIENTAL DOS IGARAPÉS DE MANAUS

Mestranda: Márcia Cristina Henriques Levi

Banca Examinadora:Prof. Dr. Edson Ricardo Saleme (Orientador)Prof. Dr. Fernando Fernades (UEA)Prof. Dr. Walmir de Albuquerque Barbosa (UEA)

Resumo: A presente dissertação faz uma abordagem analítica, sob o enfoque so-cial e jurídico, acerca do crescimento urbano perpetrado sobre as bacias dos igarapés de Manaus e a tentativa de intervenção racional e planejada do poder público como ação de absoluta prioridade em razão dos agravos sociais e ambientais nelas identificados, o PRO-SAMIM. Diversos estudos divulgados, comprovam estar a bacia hídrica do Município de Manaus, em seu perímetro urbano, severamente afetada por intenso processo de ocu-pação desordenada, caracterizada, também, pela existência de sub-moradias (palafitas) em condições insatisfatórias de habitabilidade e saneamento básico. Verifica-se que tal ocupação deriva, essencialmente, de processos migratórios ocorridos desde o primeiro grande ciclo econômico, vivenciado pelo Estado do Amazonas – período da borracha, perpassando pelo adensamento populacional ocorrido na implantação da Zona Franca de Manaus, até os últimos dias. Como conseqüência, os igarapés e cursos d’água são, diu-turnamente, poluídos, assoreados e obstruídos, pela presença de detritos de toda es-pécie, oriundos da própria presença humana nas margens desses igarapés. Nesta seara, observa-se, igualmente, que os direitos fundamentais tão bradados no ordenamento ju-rídico pátrio, outrora relegados e omitidos por toda a sociedade e pelo Poder Público, são aclamados na luta por justiça, dignidade e melhores condições de vida. Entre os direitos fundamentais, o direito de viver de forma digna e ao meio ambiente ecologicamente equili-brado são evidenciados na medida em que se ignora o volume de demandas por um mínimo espaço para habitação nas margens e leitos dos igarapés de Manaus. Neste contexto, a partir de 2003, o Governo do Estado iniciou as atividades do Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus – PROSAMIM, como opção de cunho urbanístico que prevê a remoção dessa população para outros locais próximos dos igarapés ou para conjuntos habitacionais, estes sim, distantes do centro urbano, com o intuito de melhorar as suas condições de vida. Além desta proposta, o PROSAMIM, publicamente afirma trazer em seu bojo soluções de infra-estrutura e urbanização através da promoção do saneamento, desassoreamento e utilização racional do uso do solo às margens dos igarapés, associada tanto a fomento e preservação do meio ambiente – artificial – sustentável. Este trabalho

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pretende observar as ações desenvolvidas, até então, pelo PROSAMIM, principalmente no que tange ao reconhecimento dos direitos fundamentais da população atingida pelo programa. Para tanto, analisa brevemente o processo histórico das ocupações desor-denadas às margens e leitos dos Igarapés, enfocando a problemática sócio-ambiental desses moradores e pondera sobre as contribuições propostas pelo referido Programa, com base nas orientações do arcabouço jurídico pátrio e, principalmente, do Estatuto das Cidades, no que concerne aos direitos fundamentais e observação de institutos jurídicos aplicáveis em tal processo. O trabalho resulta do estudo de documentos oficiais, matérias jornalísticas e da doutrina jurídica, procedendo-se uma análise do discurso apreendido nas informações coletadas, apontando possíveis avanços e dificuldades do programa.

Palavras-Chave: Direito Urbanístico. Ocupação dos Igarapés. Direitos Humanos. Poder Público. PROSAMIM.

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COMPENSAÇÃO DA ÁREA DE RESERVA LEGAL: ANÁLISE JURÍDICA DAS POSSIBILI-DADES E LIMITES DE SUA IMPLEMENTAÇÃO

Mestranda: Tatiana Monteiro Costa e Silva

Banca Examinadora: Profª. Drª. Solange Teles da Silva (Orientadora)Prof. Dr. José Heder Benatti (UFPA)Prof. Dr. Serguei Aily Franco de Camargo (UEA)

Resumo: A área de reserva legal figura como uma das categorias de espaços territoriais protegidos (art. 225, III da Constituição Federal de 1988), cuja finalidade é o uso sustentável dos recursos naturais, a conservação e reabilitação dos proces-sos ecológicos, a conservação da biodiversidade e a proteção da flora e fauna nativas, principalmente na Amazônia Legal. O Código Florestal além de instituir a área de reserva legal, estabeleceu formas de recomposição ou recuperação da área de reserva legal degradada, que em algum momento foi explorada de maneira clandestina ou ilegal, de-vendo o proprietário ou possuidor de imóvel rural se enquadrar nos parâmetros definidos no artigo 16 desse código, quais sejam, manter em sua respectiva propriedade ou posse rural: 80% da área de reserva legal nos imóveis localizados em área de floresta na Amazônia Legal, 35% da área de reserva legal nos imóveis localizadas em área de cer-rado na Amazônia Legal, 20% nos imóveis rurais localizados nas demais regiões do país ou em campos gerais. Além da compensação da área de reserva legal, as outras formas de recomposição estão contempladas nos incisos I e II do artigo 44 da Lei n.º 4.771 de 1965 (Código Florestal). A primeira forma é a recomposição da área de reserva legal, a se-gunda opção é a regeneração ou condução natural. Por sua vez, a compensação da área de reserva legal surgiu como uma alternativa legal dada ao proprietário que desflorestou mais do que poderia, cabendo-lhe agora compensar a sua área de reserva legal degradada em outro local, desde que respeitados os critérios legais definidos no inciso III, do artigo 44 do diploma florestal: importância ecológica e extensão, mesmo ecossistema, mesma microbacia, limite temporal, entre outros. O objetivo deste trabalho é realizar uma aná-lise do instrumento da compensação de área da reserva legal destacando seus funda-mentos, os limites jurídicos de sua aplicabilidade e as potencialidades desse instrumento. Para tanto, fora estudada inicialmente a gênese da área de reserva legal, destacando-se suas características e formas de recomposição da área de reserva legal degradada. Em seguida foi realizada uma análise dos vários instrumentos compensatórios de tutela am-biental instituídos no ordenamento jurídico brasileiro, como forma de compensar ou pelo menos minimizar a degradação ambiental resultante de atividades ou empreendimentos

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que utilizam recursos naturais, distinguindo-os da compensação de área de reserva legal. Os contornos desse instrumento foram estudados detalhadamente, destacando-se as posições divergentes da implementação desse instrumento legal. Para complementar esse estudo foi observada a experiência do Estado de Mato Grosso, pioneiro a legislar, implementar e operacionalizar esse mecanismo compensatório em seu território.

Palavras-chaves: Código Florestal. Área de reserva legal. Recomposição da área de reserva legal. Compensação da área de reserva legal.

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Esta obra foi composta em Manaus pela UEA Edições.

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