GRAVIDEZ NA ADOLESCNCIA: UMA ANLISE DO CORPO E SUAS MUDANAS
BIOPSIQUICOSSOCIAIS- ESTUDO DE CASO DO JARDIM GUANABARA II
Jean Carlos Silva Matos
Rangel Gomes Godinho
Zacarias Martins S. Filho
Orientador: Eguimar Felcio Chaveiro
O artigo apresenta a caracterizao do corpo adolescente e sua problemtica com a insero do fator
gravidez nesta fase. Como metodologia foi utilizada uma reviso bibliogrfica e referncias em artigos de
jornais e/ou revistas para fundamentao terica, no plano prtico foi elaborado entrevistas informais,
direcionando algumas questes sobre o comportamento biopsiquicossocial das jovens.
O corpo alvo de estudo de diversas reas do conhecimento como a medicina, psicologia, antropologia,
sociologia. Na demografia o estudo do corpo ganha importncia por ele ser um elemento emprico,
estabelecendo relao com as demais categorias demogrficas. Neste trabalho pode-se perceber uma
relao intrnseca com o fenmeno da migrao. Durante as conversas descobrimos que os pais das
jovens eram migrantes advindos da Bahia - Feira da Mata, com exceo de uma que apresentava origem
no Par-Marab, apresentando assim, relao de parentesco entre si.
As instituies disputam a todo o momento o controle do corpo adolescente, sendo evidente atravs do
mercado que o faz produto ou religio que o santifica.
O corpo como entidade biopsiquicossocial se manifesta na sociedade adquirindo diferentes corporeidades.
A adolescente grvida por est inserida neste contexto tomada por conflitos que influenciam na imagem
pessoal com as mudanas fsicas que ocorrem em seu corpo. As transformaes corporais so
apresentadas par e passo com as questes emocionais, e sua anlise separada fica comprometida j que as
mudanas fsicas fica no imaginrio do ser, atuando como signo na afirmao pessoal em seu espao de
convvio
O lado emocional nessa fase caracterizado por conflitos que aparecem, quando da descoberta do mundo
pelo adolescente. Esses conflitos iniciam-se a partir das instituies que pregam certas normas como
verdades a serem seguidas. Neste ponto, o adolescente se v no meio de um dilema; afloram sua rebeldia
contra as estruturas sociais dominantes, que limitam sua liberdade, anulando suas possibilidades.
A gravidez adolescente, caracteriza-se por modificaes psicolgicas, o corpo da gestante tem que se
adaptar s alteraes naturais da adolescncia e aos elementos caractersticos da gestao. Durante esse
perodo a jovem passa por conflitos que afetam sua imagem pessoal, que tem um valor psquico e
emocional, sobretudo nesta fase, quando a aparncia fsica um fator importante para a afirmao social.
Essas transformaes levam gestante adolescente insegurana, que podem apresentar sentimentos de
medo, rejeio, preocupao.
Por outro lado quando a adolescente possui uma base familiar e apoio do parceiro, mesmo que a gravidez
no tenha sido planejada, a gestante tomada por sentimento de alegria.
Mesmo com as transformaes sociais que ocorreram no final do sculo passado e inicio deste sculo
XXI, as questes que se referem gravidez adolescente apontam para as camadas mais desfavorecidas da
sociedade.
As evidncias para a iniciao sexual precoce apontam para o baixo nvel scio econmico e baixa
instruo. As fontes de informaes referentes sexualidade podem apresentar distores quanto ao seu
real significado, favorecendo para uma futura gravidez indesejada. As mudanas nos valores morais da
sociedade moderna contribuem para o aumento do nmero de gestantes adolescentes. Os estmulos
sexuais dos meios de comunicao alcanam com maior intensidade as parcelas que possuem menos
informao ou educao sexual. Evidentemente, as classes sociais com menor poder aquisitivo so as que
apresentam mais adolescentes em gestao.
Quando se tem dilogo na famlia, as informaes referentes ao sexo so melhores compreendidas pelo
jovem, despertando uma conscincia de preveno contra a gravidez ou doenas sexualmente
transmissveis, com isso favorecem o uso de mtodos contraceptivos.
Diante disso, buscamos entender o fenmeno gravidez na adolescncia observando as particularidades do
bairro Jardim Guanabara II, em Goinia-GO.
O bairro Jardim Guanabara II situado na regio norte de Goinia um tpico bairro de periferia,
apresentando problemticas sociais como qualquer outro bairro na mesma situao. A populao
representativa desse bairro predominantemente de migrantes oriundos das regies Norte e Nordeste do
Brasil, que procuram oportunidades para melhorar sua qualidade de vida, assim quando chegam a Goinia
so obrigados a procurar abrigos em reas normalmente de invases.
O fenmeno gravidez na adolescncia no bairro estudado est ligado diretamente a fatores sociais, como
pobreza e falta de assistncia governamental. Quando voltamos nosso olhar em relao corporeidade,
vemos que ali ocorre uma reproduo das relaes sociais presentes naquele espao, pois as aes das
jovens revelam sua conformidade diante da precria condio de vida, no revelam preocupao com a
situao financeira. Percebemos que a vida caminha buscando a sobrevivncia, que no existem degraus
para chegar aos sonhos, que dois reais fazem alegria quando se d para comprar duas garrafas de pinga.
A conformidade em relao a condio atual, em geral, da sociedade demonstra o nvel de necessidade de
apoio das partes que detm o poder para com as esferas sociais mais deficitrias. Nesse ponto, as
condies que os governantes do, a essas pessoas, no seria a poltica mais adequada. O governo
patrocina assistencialismos, ao invs de construir possibilidades de o cidado exercer sua humanidade
atravs da sua fora de trabalho, demonstrando dignidade em sua vida, atravs da produo. Essa forma de
incluso poderia mudar a conscincia do indivduo, no que se refere a sua posio psiquicossocial.
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O NOVO SENTIDO DA OBRA DE ARTE NA ESCALA DA PAISAGEM URBANA
CONTEMPORNEA DE BARCELONA (1980-2000).
Aletia Tolentino de Vasconcelos
Universidade Catlica de Gois - Iniciao Cientfica
Orientadora: Dra. Eline Maria Moura Pereira Caixeta
Resumo
O texto tem por objetivo mostrar o novo sentido que a obra de arte tem adquirido na paisagem
urbana contempornea a partir da cidade de Barcelona, atravs dos espaos levantados pelo
grupo de pesquisa, pretende-se analisar o papel da obra de arte nesses espaos pblicos que
compreendem praas, parques e espaos intersticiais. O espao pblico um lugar expressivo,
dinmico e que, em Barcelona desde a dcada de 1980, vem sofrendo revitalizaes tornando-
o representativo e, devido tendncia contempornea, mais ldico que funcionalista, onde h
um trabalho de profissionais da arquitetura compartilhado com artistas plsticos, paisagistas e
usurios, concebendo experincias estticas e criando novas paisagens.
Palavras-chaves: paisagem urbana; arte; espao pblico, cidade contempornea.
Trabalho
Toda e qualquer cultura possui uma razo, ou seja, uma lgica intrnseca que a define e que
possibilita o surgimento de novos domnios, ligando os homens a sua temporalidade. Essa
lgica definida por Ana Cristina Gomes dos Santos e Vicente Del Rio (1998) como lgica de
poca ou lgica cultural, faz com que a sociedade se estruture e aja dentro das condies do
seu tempo, aquilo que produz interesses, idias e tendncias, estabelecendo condutas capazes
de apontar os perodos de interveno de grupos sociais motivados por processos culturais
que os impulsionam. Essa condio o que fundamenta o presente estudo, observar a obra de
arte em relao paisagem urbana como fenmeno representativo e esttico dos movimentos
scio-culturais contemporneos.
Segundo Jorge Bassani (2003) a cidade, tal qual a arte, inteligvel na medida em que
estabelece relaes com a histria da sociedade e sua cultura material, sendo sempre
processos de representaes, processos lingsticos. Tendo em vista o acima exposto,
considera-se o objeto artstico como um dos elementos que revelam a historicidade da
paisagem na qual est inserido.
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As obras de arte locadas em espaos abertos uma tendncia contempornea que fora dos
espaos convencionais das galerias e dos museus, podem ganhar dupla interpretao, ora de
objeto concebido enquanto arte, freqentando o espao urbano, ora como objeto que compe
a paisagem, sendo parte integrante dela.
Isso esta presente em vrios espaos pblicos contemporneos e, em especial, nos novos
espaos urbanos que surgiram com a revitalizao de Barcelona nas ltimas dcadas, uma
cidade que se renova ao londo da histria, desde o plano de Idelfons Cerd no sculo XIX at
os dias atuais, a cidade est sempre repensando em seus espaos sem comprometer a essncia
de sua estrutura histrica e mantendo seu carter renovador. Segundo Jan Gehl e Lars Gemzoe
(2002), a arquitetura unida escultura tiveram um papel essencial no desenho e na imagem
dos novos espaos pblicos desta cidade.
Novos parques e praas foram criados sobre o tema: levar os museus s ruas. Cada novo
espao pblico passou a ostentar uma obra de arte de um artista de prestgio internacional. As
caractersticas exclusivas de cada praa eram, deste modo, enfatizadas pelo seu prprio
desenho, assim como pelas nicas obras de arte, dando a cada bairro uma plataforma pblica
para qualquer ocasio.
Quase todos novos projetos envolveram a cooperao entre artistas e arquitetos. Um exemplo
de escultura como parte integrante do projeto d-se na Plaa de la Palmera, onde os muros
curvos de Richard Serra dividem duas naturezas da praa. Outro exemplo est em Vila Jlia,
onde o grande farol o foco da praa. (GEHL;GEMZOE, 2002, p.29)
Sob a tica de Josep Maria Montaner, a relao de arte e arquitetura evidenciada na dcada
de quarenta no manifesto Nove pontos sobre monumentalidade de Sigfried Giedion, Josep
Llus Sert e Fernad Lger em 1943 e mais tarde sendo tema central do VI CIAM em 1947. A
busca da nova monumentalidade e da expresso da arte moderna na cidade contempornea
eclode a partir dos anos sessenta ocorrendo uma mudana qualitativa drstica, e como
exemplo mais recente desta mudana tem-se a cidade de Barcelona.
Durante o sculo XIX e princpio do XX predominava uma idia tradicional e comemorativa
da arte pblica na cidade: figuras e esttuas eqestres que possuam valor simblico e poltico.
A partir desses anos foram instaladas obras de arte de vanguarda que, de uma modo geral,
foram bem assimiladas pela comunidade. Primeiro, foram peas de Picasso, Calder, Henry
Moore, Jean Dubuffet e, mais tarde, de Tony Smith, Richard Serra, Claes Oldenburg, Isamu
Noguchi e outros. Desta maneira, a caixa fechada do museu tradicional se dissolve. Este
processo ocorre nas ltimas dcadas, em conseqncia do suporte das administraes e da
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instalao de obras de arte no espao pblico, comeando por capitais norte-americanas como
Filadlfia e mais tarde Chicago e Nova Iorque, ou citando exemplos mais recentes, como de
Kassel Groingen, Barcelona ou San Sebastian-Espanha (MONTANER, 1998, p.154)
A Barcelona da nova urbanidade de Oriol Bohigas do inicio da dcada de 1980, tem a
inteno de entender a forma da cidade desde os elementos urbanos, como uma verdadeira
arquitetura e no a partir do funcionalismo das atribuies de uso.
Segundo Eline Caixeta a modificao da paisagem urbana de Barcelona dar-se-ia atravs do
abandono de um modelo de planejamento quantitativo que tinha por base a subordinao dos
aspectos morfolgicos de desenho, aos instrumentos e tcnicas de controle urbanstico da
forma urbana. Assim, o modelo de planejamento global deu lugar escolha de um repertrio
de aes pontuais, em diferentes escalas, que obedeceu a uma anlise criteriosa e bem
definida da estrutura da cidade. As intervenes ocorridas na rea central e na periferia
visavam o coletivo fazendo parte de uma estratgia de valorizao e recuperao da
identidade catal, atravs de um projeto cultural que integrou folclore, literatura, artes
plsticas e cenografia revitalizao do lugar urbano.
Nota-se que a exemplo de Barcelona, os espaos funcionalistas passaram a incorporar
significados e leituras associadas a vises mais ldicas da cidade, uma atitude que segundo
Eline Caixeta, resgata de certo modo o carter de animao tpico da cidade tradicional.
Dentro do universo artstico, o presente estudo enfoca os elementos escultricos no espao
aberto. A escultura representa muito bem e assume a dinmica da cidade contempornea
quando locada em lugares estratgicos. Na cidade de Barcelona encontra-se a obra artstica
em trs situaes distintas: como elemento estruturador da paisagem, exemplos da Plaa de la
Palmera e do Parc de IEstaci del Nord; como elemento que apenas participa de determinado
espao, como o caso do Parc de la Creueta del Cloll e Parc Diagonal Mar e como obras que
locadas em espaos intersticiais se transformam em pontos focais, como as esculturas Mistos
e Dime, Dime, Querido.
No parque da IEstaci del Nord (1988), evidencia-se o surgimento da obra de arte como
elemento de mxima expresso, onde a escultura de Barvely Papper no est simplesmente
locada no parque, mas sim definido sua forma e sua topografia. O usurio, ao experimentar a
variedade de imagens da paisagem ao observ-la em ngulos diferentes, se relaciona com o
contexto induzido pelo conjunto das peas escultricas, transformando constantemente o
lugar, configurando novas e inesperadas composies daquela realidade. Pode-se dizer que a
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reabilitao desta rea a caracterizou como espao ldico, onde o parque a escultura e a
escultura o parque.
No parque Diagonal Mar (2002), as esculturas so de grande importncia artstica para o
entorno e para o projeto do parque, mas diferentemente do parque da IEstaci del Nord, as
obras de arte apenas definem o lugar assim como outros elementos do parque. O conjunto
escultrico, a prpria gua e os equipamentos do parque compem um modo ldico-
construtivo que recria e d sentido ao lugar inserido. Esso tipologia no desvaloriza a obra e
nem mesmo o projeto so apenas concepes diferentes tendo cada uma sua importncia.
Mistos (1992), de Claes Oldenburg e Claes Van Bruggen uma escultura que por estar em
um espao intersticial ganha um expressivo poder de representatividade urbana. A
implantao, as cores, a prpria forma e a escala monumental so caractersticas muito
marcantes e muito bem articuladas, percebe-se que seria impossvel passar pela a avenida
onde a escultura se encontra e no perceb-la, assumindo definitivamente uma funo de
ponto focal artstico. O objeto artstico nesse contexto autnomo e se implanta pontuando o
lugar inserido.
A arte na cidade contempornea tem uma funo fundamental, que segundo Josep Maria
Montaner, de colaborar para que esses smbolos, vestgios e lembranas sejam revelados e
enfatizados.
Desta maneira, a partir dos espaos at ento levantados juntamente com o grupo de pesquisa,
busca-se entender os vrios tipos de espaos pblicos existentes, como cada um se comporta
no contexto e no desenho da cidade, como eles esto inseridos e como foram trabalhados. A
metodologia da pesquisa se pautou em levantamentos de espaos pblicos (praas, parques,
vias e orla martima) da cidade de Barcelona, que esto inseridos dentro do contexto da
contemporaneidade, atravs de materiais, imagens, dados tcnicos e textos crticos coletados
chegando a mais de 82 espaos levantados e mapeados, alm de uma reviso bibliogrfica que
contribuir para compreenso das intervenes ocorridas em Barcelona com esse carter
tendo em vista a criao de novos espao urbanos e uma renovao da paisagem da cidade.
Referencias bibliogrficas
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Paulo: Form Arte, 2003.
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no sculo XXI. In: 14 Encontro Nacional da ANPAP, 2005, Goinia. Cultura visual e
desafios da pesquisa em artes. Goinia: ANPAP, 2005. v.1 p.180-198.
5
GEHL, Jan; GEMZOE, Lars. Novos espaos urbanos. Barcelona: GG, 2002
GRATH, Dorothy Mc. El Arte del Paisaje. Mxico: Atrium International, 2002
MONTANER, Josep Maria. Depois do movimento moderno: arquitetura da segunda
metade do sculo XX. Barcelona: GG, 1997
SANTOS, Ana Cristina Gomes dos; DEL RIO, Vicente. A outra urbanidade - a construo
da cidade ps- moderna e o caso da Barra da Tijuca. In: Seminrio de Histria da Cidade e
do Urbanismo, V, 1998, So Paulo. Anais do V Seminrio - Cidades: temporalidades em
confronto: uma perspectiva comparada da histria da cidade, do projeto urbanstico e da
forma urbana. So Paulo, EESC-USP, 1998
O PLANEJAMENTO URBANO E A CONSTRUO DO HIPER OBJETO
Wilton Medeiros - UFG*
Resumo
O presente texto atribui ao planejamento urbano um papel de crtica que o coloca como lugar de
atores e autorias enquanto construtores da forma metrpole. Desse modo, o planejamento urbano
estaria mais aliado a um plus de teorizao do que a formas de gesto do espao urbano. As
referncias em que embasam as reflexes aqui contidas so Flvio Villaa, com o texto Uma
contribuio para a histria do planejamento urbano no Brasil, e Boaventura de Sousa Santos,
com o livro Pela mo de Alice: o social e o poltico na ps modernidade. Tais referncias
nortearo a reflexo sobre as formas de interveno no espao urbano como mero exerccio de
escrita, dando forma da metrpole a caracterstica de um hiper objeto, o objeto que no se deixa
apreender apenas na sua forma material, mas se vale da construo de sentidos para ressignificar,
e, ao mesmo tempo indagar o espao como ontolgico.
Palavras-chave: Metrpole, planejamento urbano, morfologia urbana.
O planejamento como escrita
A metropolizao no Brasil registra uma rejeio concomitante aos paradigmas tericos
tradicionais do planejamento urbano, tomados como referncia de interveno urbana, ou seja,
construo de infra-estruturas urbanas, moradias e outros equipamentos. Os novos padres
tericos aprofundam grandemente a distncia entre teorias e aes do Estado, fundindo-se ao e
teoria, eliminando a ao do mediador. A construo da metrpole ento tomar a forma de um
hiper objeto urbano.
Nesse contexto, a figura do narrador parte essencial na forma final da cidade. Quanto
a sua forma metrpole, portanto, hiper objetificada, no importa apenas as suas formas materiais,
mas tambm o que sobre elas se diz. Em suas narrativas sobre o urbano, atores e autores
constituir-se-o parte essencial de uma metamorfologia.
* Arquiteto (UCG); mestre em Gesto do Patrimnio Cultural (UCG); doutorando em Histria (UFG)
Por exemplo, ao criticar, a concepo corbuseana do espao, Lefevbre acaba
construindo uma reificao do prprio texto, corporificando neste, uma rejeio da ao sobre o
espao fsico. Dessa forma, Lefvbre toma a teoria como narrativa, ao aproximar o que
considerado subsdio de planejamento urbano como nico sentido puramente pelo exerccio da
escrita.
Dessa forma, abordagens lefevbrianas e similares, realizam um planejamento urbano
crtico, contribuindo em grande medida para a auto-realizao da teoria, realizando um caminho
letrado como que pela mo de Alice (SOUSA SANTOS 2005:18-19). Imiscuindo texto e
matria, palavra e espao, os crticos do planejamento urbano contribuem de modo incisivo para
que a histria da metropolizao seja tambm a histria da construo de uma hiper-realidade, em
que a prpria teoria tomada como ao. A teoria, por fim, torna-se uma ao em si mesma.
Trata-se de esforo de superao da dependncia da fora fsica e maquinal. J no
importa mais a casa como unidade mnima de habitao, a mquina de morar, ou acidade
distribuda em zonas funcionais. A construo do hiper objeto urbano associa estratgias de
agentes produtores do espao (metropolitano) por meio da escrita de sentidos, que marca o ritmo
da mudana e da durao das formas da cidade (sua morfologia).
Tal o contexto em que a realidade tambm produzida pelo plus de teorizao . E
esse plus de escritas surge como uma das estratgias de produo do espao metropolitano na
medida em que distanciam at exausto da nulidade, teoria e ao. nesse sentido, que os
estudos crticos urbanos vo deixar um rastro de escrita que pode ser medido da menor maior
complexidade, em trechos de tempo em que a medida do tempo (histria) poder aferir, da hiper-
realidade ao hipertexto, a morfologia metropolitana que transmuta-se de minimamente complexa
mxima perplexidade (SOUSA SANTOS 2005).
A metrpole no se deixa congelar
Usar a escrita para demonstrar sistemas que se encontram em constante mutao,
significa congel-los na forma terica, instaurar a perplexidade na metropolizao, que no se
deixa representar, seno, pela metfora da metamorfose. A metrpole no se deixa congelar
sequer por idias corporificadas em idias-ao.
A forma terica congelada, no contexto da metropolizao, sugere uma
metamorfologia, sugere que em busca do domnio das novas interfaces tecnolgicas, o homem
metropolitano deve ter habilidades que o permitam constantemente atualizar-se, para que descarte
o obsoleto e no tenha receio de se apropriar das interfaces que ampliam sua inteligncia
(FRANCO 1997:14).
Ao registrar as no-permanncias de sucessivas teorias pensadas, Mark Gottdiener
(1993) em A produo do espao urbano, de certa forma j adianta o que ser mais bem dito por
Deleuze e Guattari, Pierre Levy, Paul Virilio et al, que chamam a ateno para as mudanas
estruturantes de um mundo em que o domnio das novas interfaces tecnolgicas torna-se a cada
dia essencial.
A esse respeito, Clovis Ultramari fala em seu livro O fim das utopias urbanas, acerca da
impossibilidade de se impor idias desejosas de universalidade e de hegemonia, mas cujo teor
no consegue permanecer imutvel no tempo e no espao (ULTRAMARI 2005:13).
A apropriao do que Pierre Levy chama de Tecnologias da inteligncia, o que ocorre
durante o processo de metropolizao, parece aprofundar ainda mais, tanto em carne quanto em
pedra1, o distanciamento entre teoria e ao. Tal distanciamento configuraria uma nova escalada
de rejeio que havia sido iniciado com a negao aos paradigmas tradicionais de planejamento
urbano. Com isso o fosso entre planejamento e projeto se configura de forma crescente e
permanente.
Ao falar sobre o fracasso do planejamento convencional, Marcelo Lopes de Sousa faz
coro com Henry Lefevbre ao atacarem ao quase achincalhamento, as noes modernistas de Le
Corbusier sobre as possibilidades ento modernas de se intervir no espao urbano. claro que
ambos constituem uma preciosa participao na seara dos estudos metropolitanos, verticalizam
para uma compreenso complexa do objeto, mas nem de longe conseguem evitar a perplexidade
conseqente do ritmo, velocidade e movimento to facilmente visveis nas metrpoles
metamorfoseantes.
A metropolizao, portanto, traz tona a evidencia de um objeto mutante. Esse objeto no
se deixa congelar. Como um espelho do que em realidade, o volume do que se escreve e pensa
sobre o urbano constituem mosaicos e rizomas, inapreensveis sequer pelas mais hbeis pesquisas
cientficas, pois nos fragmentos, as peas se articulam como em caleidoscpio, formando um
quadro sempre cambiante, que ganha sentido exatamente pelo movimento (CARLOS 2001: 50).
1 Referncia ao livro de Richard Sennet Carne e Pedra, em que o autor reconstitui historicamente a indiferena, a ausncia de contato e a perda de sentido desde
aGrcia antiga at a Nova York multicultural contempornea.
Assim, o presente texto um admitir que o mximo que podemos fazer hoje, para o
entendimento da metrpole e metropolizao apenas uma contribuio para esse trabalho
coletivo como o fez Flvio Villaa ao publicar Uma contribuio para a histria do
planejamento urbano no Brasil, in O processo de urbanizao no Brasil (DEK & SCHIFFER
Orgs. 1999). Cientes de que o mximo que anlises de processos histricos podero subsumir
seja uma vez mais teorizar sobre que se torna complexo.
E uma vez mais teorizar, endossaria talvez, que um mnimo de perplexidade presente no
objeto urbano enquanto forma histrica, ainda seja um mximo de complexidade desse objeto
urbano na sua forma terica. Objetivando contribuir, portanto, com um mximo do mnimo,
buscamos a menor distncia entre a histria e a teoria das/nas formas do espao.
Espaos hbridos, hiper espaos
Num mundo profundamente transformado por avanos tecnolgicos, urbanizado, a
preocupao em relacionar a reflexo sobre a natureza textual do planejamento urbano e seu
lugar de fala de atores e atores que constituem e instituem a metrpole, pode ser melhor
ilustrada em determinadas realidades hbridas que do forma ao entendimento do hiper objeto
urbano.
Em tais realidades hibridas, os textos ou narrativas surgem como possibilidades
concomitantes de processos identitrios em tempo real, hora historicizantes, hora ahistricos,
porm, sempre socializantes. Nesse sentido, o paradoxo entre complexidade a complexidade do
hiper objeto e a perplexidade que o plus de teorizao acerca da cidade, parece caracterizar o
viver citadino, espacial e metropolitano em uma era do texto.
Por outro lado, a construo dessa hiper-realidade nos obriga a pensarmos espao e
espacialidade conjuntamente, encarando as prprias relaes sociais em sua complexidade
econmica, poltica, sua dimenso cultural e (inter) subjetiva enquanto lugar e, tambm, a sua
vinculao com o espao fsico originrio e pr-social, como diz Marcelo Souza , um
lefevbriano. Sousa acredita que no mundo globalizado e prevalentemente urbanizado, j no
possvel pensar somente o espao de forma isolada, mas as questes urbanas2 (SOUSA 2000:
28).
2 A expresso questo urbana tornou-se internacionalmente popular a partir da publicao da obra homnima de Manuel Castells, em 1972 ( SOUZA
2000:41).
Buscando identificar lugares para que possamos visualizar melhor essa reflexo sobre a
natureza textual do hiper objeto, podemos considerar trs tipos meta-urbanos: 1) Lugares
relacionados a planejamentos e projetos; 2) lugares considerados histricos ou a ele relacionados;
3) lugares de fronteira, ou espaos de conurbao, alm dos j apontados por diversos autores3.
So a partir de tais lugares, que os crticos do planejamento urbano ou outros textos constituem
lugares de fala que constituem e instituem a metrpole. Imiscuindo texto e matria tais lugares
compem realidades hbridas que do forma ao entendimento do hiper objeto urbano.
Constituindo uma cidade-texto, que pura teoria, pela via da crtica ao planejamento
urbano, por um lado, aprofundam a distncia entre teoria e ao, por outro, instituem a hiper-
realidade na forma-metrpole. Para Georges Balandier, h uma coisa viva recombinada,
Em uma civilizao onde as fronteiras entre o natural e o artificial se tornam confusas,
onde as proibiescategricas desaparecidas no asseguram mais sua defesa, o mundo do ser vivo
abre-se todo explorao cientfica e expanso tcnica que empreende sua conquista, traando
caminhos para sadas ainda pouco conhecidas (BALANDIER 1999:92).
Conforme observa Joan Fujimura, o afrontamento entre diferenas textuais, finda por
amalgamar posies muito distintas e argumentos associados a posies muito diferentes
(FUJIMURA 2004). a esse amlgama textual que Otlia Arantes denomina animao sem
frase: Assistimos hoje em dia a uma verdadeira avalanche discursiva e projetual que tomou de
assalto no apenas a imaginao dos tericos, mas o que ainda teimamos em chamar de
interveno urbana (ARANTES 2001: 135).
Uma descendncia prolfica de Ddalo, diria ainda Balandier (idem, pg. 82).
Imiscuindo texto e matria, palavra e espao os crticos do planejamento urbano contribuem de
modo incisivo para que a histria da metropolizao seja tambm a histria da construo da
hiper-realidade. E podemos registrar que as narrativas de atores e autores desenham semelhanas
e diferenas entre campos que se defrontam, e desse embate que podemos registrar imagens
dessa espcie de metamorfologia contida na hiper-realidade da metrpole em sua forma texto.
3 Espaos liminares (ZUKIN 1996: 205-206); no-lugares (AUG 1994); entre-lugares (BHABHA 2003); espaos genricos (KOOLHAAS 2006); super
espaos (JAMESON 2002); arquitetura da persuaso (VENTURI,;BROWN e IZENOUR), et all.
Referncias bibliogrficas
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IPHAN / Ministrio da Cultura, 1996, p. 229-240.
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Conhecimento prudente para uma vida decente. SOUSA SANTOS (Org.). So: Paulo:Cortez.
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JAMESON, F. Ps-modernismo: a lgica cultural do capitalismo tardio. So Paulo:
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SOUSA, M. O desafio metropolitano: um estudo sobre a problemtica scio-espacial nas
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ULTRAMARI, C. O fim das utopias urbanas. So Paulo: Studio Nobel. 2005.
VENTURI, R. Complexidade e contradio em arquitetura. So Paulo: Martins Fontes. 1995.
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DAK, C. e SCHIFER, S. O processo de urbanizao no Brasil. So Paulo: Edusp. 1999.
PAISAGEM E TERRITRIO EM HEITORA-GO: CONSIDERAES
PRELIMINARES
Denis Castilho1
Eguimar Felcio Chaveiro2
Resumo
Estudar os fenmenos a partir da Paisagem um passo importante nos estudos
geogrficos. Elementos como forma, tamanho, cores, variaes, movimento aparente,
etc., constituem o primeiro impacto da investigao. A aparncia do real est
diretamente vinculada subjetividade, ao ngulo do olhar, s maneiras de perceber. O
significado da paisagem, portanto, est intimamente vinculado dimenso senso-
perceptvel de quem observa. Assim, ler a paisagem diferente de simplesmente v-la
ou perceb-la. Nesse sentido, podemos considerar a Paisagem enquanto importante
momento de anlise (plano conceitual); enquanto dimenso de um espao (plano real) e
enquanto dimenso perceptvel ligada subjetividade (plano abstrato). Ento, elencar
aspectos da Paisagem em Heitora constitui o primeiro passo de nossa anlise. Esta
cidade nos apresentar enquanto pequena: a paisagem de Heitora. J, analisar as
atividades desenvolvidas, entender a funo exercida pela cidade num sistema urbano
(posio), compreender sua dinmica socioespacial, etc., constituem aspectos do
territrio em Heitora, agora uma cidade local. Essa e a proposta de discusso.
Palavras-chave: Paisagem, territrio, cidade pequena, cidade local e Heitorai-GO.
Introduo
A importncia de considerar as singularidades em contextos conjunturais est no fato do
espao geogrfico ser indivisvel. Somente as teorias ultrapassadas consideram o
espao fragmentado, dividido. Nesse sentido, para compreendermos o espao em
Heitora a partir das categorias Paisagem e Territrio, preciso considerar as atuais
formas de organizao do territrio goiano. E, para interpretar essa organizao se faz
necessrio considerar o processo de modernizao que ocorreu neste Estado. Nesse
sentido, no primeiro momento deste artigo levantamos uma discusso sobre o processo
1 Graduando em Geografia pelo IESA / UFG.
2 Pofessor Doutor do IESA/UFG
de modernizao do territrio goiano. No segundo momento, abordamos a paisagem e o
territrio de Heitora, e no terceiro, as consideraes finais.
Por vias de determinaes de publicao, no apresentaremos neste artigo, imagens,
figuras e tabelas. Isso prejudica a didtica das discusses, j que restringimos ao
formato textual. As imagens e tabelas esto no painel, apresentado neste evento
Cidade e Educao. Por isso, pedimos a compreenso do leitor. Vamos ento, ao que
interessa.
O processo de modernizao do territrio goiano
Esta tarefa no fcil: dizer em poucas linhas o processo de modernizao do territrio
goiano. Mas, j que nossa proposta diz respeito uma anlise de Heitora a partir de sua
expresso na paisagem e de sua dimenso territorial, h que, no mnimo tecermos
consideraes sobre o territrio de sua insero, que o goiano.
A industrializao que ocorreu em Gois, mesmo que concentrada no campo, acabou
por caracterizar a modernizao deste territrio. Ou seja, a matriz espacial em Gois a
modernizao (Mendona, 2001).
Em relao s transformaes, a dcada marco em Gois 1970. Segundo Arrais (2004)
nessa dcada que a populao das cidades comeou a superar a populao residente
no campo (p. 18). A mudana na base econmica primria, incentivos estatais para a
modernizao da agricultura, a fim de promover o aproveitamento racional do cerrado
associado aos investimentos estatais em infra-estrutura, proporcionaram grande
crescimento econmico nos anos 70 e 80. Com uma tecnologia baseada, principalmente
na mecanizao da produo agrcola, inicia-se o processo de modernizao e Gois se
insere na economia nacional e internacional. Deus (2002) afirma que a partir desses
processos Gois Consolida-se como moderna rea de produo agroindustrial (p.
177).
Porm, configurou-se um territrio diferenciado. A modernizao se deu principalmente
na parte central e sul de Gois, onde a populao maior. As demais regies, como
norte e noroeste, permaneceram com um desenvolvimento econmico abaixo da mdia
goiana e com uma populao menor.
Pelo fato das indstrias transformadoras continuarem, principalmente, na regio sudeste
do Brasil, a modernizao goiana considerada como conservadora. Ademais, mesmo
adaptando seu territrio frente aos fluxos da globalizao, Gois continua com traos
primitivos, mas isso no impediu que a hegemonia fosse da modernizao, pois
ocorreu de fato a transformao do territrio pela globalizao ou, nos termos de
Chaveiro (2004), a urbanizao do serto. A partir dessas consideraes, possvel
entender o porqu da grande relao que grande parte das cidades goianas mantm com
o campo.
Com uma expressiva urbanizao, este territrio revela muitas cidades, dentre elas as
cidades que numa primeira impresso nos aparece como pequenas. Arrais (2004)
classifica cidades com menos de 10 mil habitantes como sendo pequenos municpios.
Segundo o autor dos 246 municpios goianos, 65,71% tm populao menor ou igual a
10.000 habitantes, concentrando 14,66% da populao total de Gois. So 158 pequenos
municpios. Heitora est includa nesta classificao quantitativa. Ela tem em sua
paisagem uma expresso de cidade pequena. Mas, como sua dinmica socioespacial?
Ela, como a grande maioria das cidades goianas, tem forte relao com seu espao
rural? Afinal de contas, o que a leitura territorial, alm da paisagstica, podem nos
revelar de Heitora? Vejamos os dois passos.
Paisagem em Heitora
A Paisagem um momento importante no processo de investigao dos fenmenos. Ela
a expresso aparente do espao. Como mtodo, o primeiro passo, o primeiro impacto
nos sentidos do pesquisador/investigador. Segundo Alves et al (2004), um dos pontos de
partida da anlise geogrfica pode ser a Paisagem. Santos (1988) argumenta que:
Tudo aquilo que ns vemos, o que nossa viso alcana, a paisagem. Esta
pode ser definida como o domnio do visvel, aquilo que a vista abarca. No
formada apenas de volumes, mas tambm de cores, movimentos, odores,
sons, etc. (p. 61).
Ento, h a Paisagem como materialidade concreta, ou seja, a expresso aparente do
espao. Mas ela tambm uma manifestao da dimenso perceptvel da dinmica
socioespacial, onde h uma relao dialtica entre sujeito e objeto (ALVES et. Al.,
2004). Nesse sentido, podemos considerar a Paisagem enquanto importante momento
de anlise geogrfica (plano conceitual); enquanto dimenso de um espao (plano real)
e enquanto dimenso perceptvel ligada subjetividade (plano abstrato) (Castilho,
2005).
O que dizer de uma cidade (Heitora) com 3.711 habitantes? (Seplan, 2006). bvio que
os nmeros, sozinhos, no dizem muito de uma dada realidade. Mas, o que a paisagem
de Heitora apresenta, ou melhor, o que dela temos dizer? Essa cidade, que dista 123
km de Goinia, num primeiro momento da investigao nos apresenta como pequena:
a paisagem de Heitora. Esta afirmao possvel a partir das unidades forma, tamanho,
cores, etc. Neste artigo no mostraremos fotos ou tabelas, at mesmo pelas
determinaes de publicao. Mas, atravs do painel (forma de apresentao deste
artigo no evento Cidade e Educao), algumas figuras, imagens e tabelas auxiliaro o
nosso discurso. Mas continuando...
Alm do tamanho, elementos como a carroa, o p de manga em grandes quintais
indicam a forte relao com o campo e a presena de elementos da tradio. Aqui
podemos citar a tranqilidade, o sossego, o habito de sentar em frente casa nos finais
da tarde... So elementos e condies das tradies goianas. O pouco movimento,
explicado pela pouca circulao de capital; a inexistncia de grandes edificaes; a
praa e o pit-dog e logo adiante a Igreja catlica (antiga capela); mercados com
produtos bsicos aougue, frutaria, padaria, etc.; so fceis de serem encontrados.
Esses so alguns elementos fceis de serem notados na paisagem de Heitora e em
muitas cidades goianas. As configuraes territoriais dessa cidade, como por exemplo, a
centralidade econmica que ela ocupa em relao ao seu espao imediato, caracteriza a
paisagem. Ou seja, nossa anlise sobre a paisagem de Heitora nada mais que, uma
anlise da manifestao aparente resultante da dinmica territrio em Heitora. Por isso,
vejamos essa dinmica.
Elementos territoriais em heitora
A dinmica socioespacial de Heitora, tanto em nvel municipal, regional, estadual, e
assim por diante, territorial. Nesse sentido, partiremos do pressuposto que o territrio
uma categoria para se pensar o espao; atravs dele que buscamos concretizar o estudo
socioespacial. De acordo com Machado (1997), a questo fundamental na Geografia,
[...] a de saber como se organiza uma sociedade na relao com o espao, o
que pressupe examinar minuciosamente fatores materiais e no materiais.
Nesses termos, analisar concretamente o territrio significa entende-lo como
um produto da histria da sociedade, e que, portanto, est em constante
modificao. Ele o resultado de um processo de apropriao de um grupo
social e do quadro de funcionamento da sociedade, comportando, assim, ao
mesmo tempo, uma dimenso material e cultural dadas historicamente (p.
27, grifo nosso).
A autora chama a ateno para a importncia do estudo territorial na Geografia. E
acrescenta que, para o aprimoramento da anlise contempornea, necessrio
considerar no apenas as grandes transformaes em termos mundiais dadas pelo
desenvolvimento das redes tcnicas, mas tambm o novo funcionamento do territrio
que ocorre em nveis locais (MACHADO, 1997,p. 27). Ou seja, como afirmou Santos
(1996), so nos lugares que a globalizao se concretiza. Sem acontecer de fato no
espao, a globalizao no tem sentido, se torna uma coisa abstrata.
Melo (2005), comenta que o mundo globalizado d outro sentido ao territrio,
modifica o seu contedo, estabelece nele diferentes formas (2005, p. 144). Por
conseguinte, as novas tcnicas possibilitam maior rapidez, o tempo se torna mais rpido.
O resultado do processo de (re)significao do territrio pela globalizao que tudo
que existe entra em contado com o mundo, os pontos isolados se ligam ao planeta
(CARLOS, 1996).
Para ir alm da paisagem de Heitora, preciso analisar sua dinmica socioespacial, o
territrio. Interessante que tal dinmica, que o territrio, tambm material; se
expressa em formas, em aparncias. Neste caso a paisagem do territrio. Estamos nos
referindo uma imbricao real territrio-paisagem , ou seja, o espao tem
dinmicas/relaes (o territrio), que se expressa em formas, cores/aparncias (a
paisagem). Nesse sentido, por isso que, em termos territoriais, afirmamos que Heitora
uma Cidade Local. Aqui estamos partindo do critrio funo. E se tal cidade exerce
uma funo econmica somente em seu entorno imediato (o prprio municpio),
consideramo-la como cidade local.
Esse termo foi proposto por Santos (1979). Segundo este autor cidade local corresponde
a aglomerao capaz de responder s necessidades vitais mnimas, reais ou criadas de
toda uma populao, funo esta que implica uma vida de relaes (p. 71). No
contexto atual de globalizao, algumas perguntas so levantadas na proposta do estudo
territorial em Heitora: qual a lgica territorial imposta? Como Heitora se coloca
nessa lgica e de que forma os cdigos, os smbolos, as mercadorias existem nessa
cidade? Como os sujeitos se constroem no espao da cidade local em Gois?
Heitora tem uma organizao espacial que nos faz entend-la como cidade local no
territrio goiano. Mas, o que est por traz dessa organizao? Noutros termos: de que
forma o espao produzido, o qual resulta numa dada organizao?
Responder essas perguntas no tarefa rpida, merece um debate detalhado. Mas, para
iniciarmos, vamos levantar algumas consideraes. Em conseqncia do fenmeno da
globalizao, uma lgica imposta, a do mercado. Desse modo, Heitora ocupa uma
posio inferior no sistema de consumo e de produo. Isto ocorre devido a pouca
quantidade de consumidores.
Pelo fato de Heitora situar entre duas cidades maiores Itabera e Itapuranga -, as
necessidades de bens e servios no satisfeitas localmente sero buscadas nessas
cidades. Este fato explica o carter local de Heitora. Aqui estamos falando de Posio,
j que o acesso as duas cidades fcil. Conseqncia disso - como j afirmamos ao
tratar da paisagem -, a pouca dinmica de capital, que articula um ritmo lento.
O emprego limitado. Alm do trabalho rural e das funes da Unio (educao,
sade, administrao, aposentadorias, bolsas, etc), que aplica renda no municpio
atravs dos salrios, h um comercio relativamente pequeno, que, consequentemente
absorve um nmero pequeno de empregados. Por isso, muitos jovens migram para
Goinia, outras cidades e at mesmo para o exterior. Isso concorre para uma
estabilizao do nmero de habitantes e at mesmo uma diminuio.
A relao histrica com o campo explica, em Heitora, uma estrutura de poder
representada no fazendeiro. Com costumes centrados na tradio, essa estrutura ,
portanto, machista e patrimonialista. Ento, no sistema eleitoreiro, mantm de certa
forma, o voto de cabresto. So caractersticas parecidas com o coronelismo, porm (re)
significado (Campos, 1994). Alguns elementos da tradio goiana, como o que
mostramos, ainda existe facilmente em Heitora. Ela possui esses traos, que lembram a
antiga vida no campo, mas inserida num tempo diferente, que o da lgica moderna.
Por isso, smbolos como celular, internet, tv cabo, a lgica do mercado, a forte relao
econmica com cidades vizinhas e Goinia, etc., se imbricam alguns elementos j
deteriorados na metrpole ou mesmo nas cidades regionais. Assim, configura-se em
Heitora um espao peculiar.
Consideraes finais
As consideraes aqui levantadas so preliminares. Por isso, e at mesmo pelas poucas
linhas, no esgotamos o assunto, pelo contrrio.
A nossa proposta de leitura de Heitora, diz respeito, primordialmente, s atividades
desenvolvidas, a imbricao modernizao / tradio, a funo exercida por essa cidade
em seu entorno (posio). Diz respeito sua organizao socioespacial que o resultado
de uma dinmica. Portanto, ficam aqui as propostas e inicio do debate. O fizemos de
forma simples atravs da paisagem e do territrio, o que no impede outros vieses para
leitura de outras cidades.
Referncias bibliogrficas
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ARRAIS, T. P. A. Geografia Contempornea de Gois. Goinia: Vieira, 2004.
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v.14, n.1, p. 61-75. 1994.
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_________. Metamorfose do espao habitado. So Paulo; HUCITEC, 1988.
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2005. Goinia: SEPLAN, 2006.
TERRITORIALIZAO DO CAPITAL: A PRODUO ESPACIAL
SOB O FORDISMO
Lucas maia dos Santos
Professor do IESA/UFG
Mestrando do Programa de Pesquisa
e Ps-graduao em Geografia IESA/UFG
O que no est em algum lugar no existe, j asseverava Aristteles. Entretanto, mais do que
meramente ser o locus, ou seja, localizao das coisas, aes, instituies, pessoas, objetos
etc. o espao ele prprio um elemento inextrincvel da sociedade. Milton Santos ao iniciar
as formulaes do que ficou conhecido no pensamento geogrfico como paradigma scio-
espacial, introduz a idia de Formao Scio Espacial, ou seja, no h sociedade a-
espacial, fora do espao.
nesta perspectiva que ele cunha em Por Uma Geografia Nova a idia de espao como
instncia da sociedade (Santos, 1978). Tal como a economia, poltica, cultura, axiologia
etc., tambm o espao uma estrutura social, imanente e ontolgica sociedade. Esta
perspectiva tem o mrito de reconhecer a materialidade do espao, de iniciar as reflexes
sobre sua historicidade, sobre o contedo histrico do espao social. Representou um avano
na compreenso da sociedade, pois trouxe baila uma discusso que era mais ou menos
negligenciada. Contribuiu tambm para uma nova leitura do espao.
claro que ele no retirou esta perspectiva do nada, somente de sua mente inventiva, mas
insere-se numa tradio de pensadores que j vinham incluindo na crtica social a anlise do
espao. Cito, no mbito da cincia geogrfica, a emergncia do pensamento de Pierre George
e Bernard Kayser, nos anos de 1950, com a idia de Geografia Ativa. A crtica produzida no
final da dcada de 1960 e na de 1970 nos Estados Unidos, onde o pensamento de Wilian
Bunge, Richard Peet e David Harvey se destacam; na Frana, o pensamento de Yves Lacoste
etc. Em outras reas, a crtica ao urbanismo produzida pela Internacional Situacionista, a idia
de espao socialmente construdo presente em Henri Lefebvre, a anlise do espao urbano
feita por Manuel Castells etc. So provas de que seu pensamento segue uma trajetria que a
histria lhe coloca.
Em todo caso importa-nos a idia de espao como sendo uma produo social, uma
condicionante da produo e reproduo social, como imanente sociedade e tambm como
tendo uma ontologia prpria. Estas caractersticas nos permitem indicar elementos para a
compreenso da sociedade vista sob a tica geogrfica, ou seja, da sua territorializao ou
materializao espacial. Nesta perspectiva, indagamos: como se materializou territorialmente
o fordismo? Quais os princpios e as implicaes de sua espacializao?
Utilizaremos aqui a terminologia empregada por Viana (2003) em sua anlise dos estgios ou
das fases pelas quais passou o modo de produo capitalista. Ele denomina regime de
acumulao cada uma destas fases. Um regime de acumulao uma forma assumida pelo
estado, pelo processo de valorizao e pelas relaes internacionais. A combinao destes
elementos caracteriza distintas fases do modo de produo. O fordismo uma delas.
Entretanto, para ele, a expresso fordismo no reflete de maneira adequada a realidade que
busca explicar, pois refere-se somente ao processo de valorizao, ficando os dois outros
elementos componentes do regime de acumulao negligenciados. Para resolver este
problema, o autor prope o termo regime de acumulao intensivo-extensivo, superando as
deficincias da expresso fordismo.
O regime de acumulao intensivo-extensivo , desta maneira, baseado, fundamentalmente,
mas no unicamente, na extrao de mais valia relativa nos pases de capitalismo avanado e
mais valia absoluta nos pases de capitalismo subordinado. A forma assumida pelo estado
conhecida na literatura como keinesiana, de bem-estar-social ou integracionista,
fundamentada na idia de seguridade social dos trabalhadores, regulao intensiva dos
mecanismos econmicos, formando o corporativismo caracterstico deste perodo, ou seja, a
trade: ESTADO SINDICATO CORPORAO. As relaes internacionais so
denominadas pelo autor de oligopolismo internacional. o perodo da instalao das relaes
de produo capitalistas em quase todos os territrios do mundo.
Aqui j comearam a se apresentar facetas da dimenso espacial do regime de acumulao
intensivo-extensivo. Representa j uma diferenciao, do ponto de vista das relaes
internacionais ou da diviso internacional do trabalho (DIT). No perodo colonial e tambm
no neo-colonialismo a DIT caracterizava-se por um rgido controle por parte das metrpoles
do tipo de produo e desenvolvimento tecnolgico das colnias. Era terminantemente
proibido s colnias qualquer desenvolvimento de manufaturas em seus territrios. A
colonizao inglesa na ndia exemplifica bem este processo. Quando os ingleses aportaram
em territrio indiano, j havia um certo desenvolvimento nas cidades de uma manufatura
nativa. A coroa inglesa tratou imediatamente de destru-las, subordinando sua colnia, em
termos de abastecimento de produtos manufaturados, s manufaturas vindas da Inglaterra
(Bernardo, 2000). Com a crise dos sistemas neo-coloniais e o estabelecimento das relaes
oligopolistas internacionais, os territrios subordinados comearam a receber dos pases
imperialistas alm de grandes investimentos em seus territrios, tambm a instalao de
empresas multinacionais. Deste modo, as ex-colnias e ex-neo-colnias comearam a
produzir produtos industrializados no interior de seus territrios.
Devido ao corporativismo fundamentado na trade SINDICATO ESTADO
CORPORAO e para ampliar mercados, bem como encontrar mecanismo para fugir
tendncia declinante da taxa de lucro, os capitais privados dos pases de capitalismo avanado
exportaram parte de seu capital produtivo para os pases de capitalismo subordinado,
estabelecendo uma diviso territorial do trabalho, na qual a forma de predominncia de
extrao de mais-valor determina lugares prioritrios da produo. Esta DIT ou diviso
territorial do trabalho configurou relaes no mbito internacional mais ou menos novas ou
pelo menos diferentes. Entretanto, at aqui demonstramos como o regime de acumulao
intensivo-extensivo procurou se distribuir espacialmente. Resta demonstrar como produziu
espaos diferenciados, sendo estes espaos condicionantes desta distribuio.
(Lipietz, 1996) demonstra como neste regime de acumulao a formatao espacial se d. Nos
pases de capitalismo avanado (fordismo central) ocorreu um intenso processo de xodo
rural. Entretanto, isto no representou um maior crescimento das metrpoles em detrimento
das cidades mdias e pequenas. Ao contrrio, em pases como Estados Unidos e Frana, por
exemplo, a organizao fordista da rede urbana implicou na criao de ramos industriais inter-
regionais cuja materializao no espao foi o reforo da criao de reas de concepo e
gesto da produo. Nesta concepo, as cidades mdias assumem papel importante como
locus de territorializao do aparato produtivo e as metrpoles assumem a responsabilidade da
gesto e concepo da produo. Deste modo, o produto foi a industrializao e conseqente
urbanizao das cidades mdias.
J nos pases de capitalismo subordinado (fordismo perifrico) fenmeno diferente se passa.
Tambm o xodo rural uma caracterstica marcante. Porm, o destino dos migrantes no so
as cidades mdias, mas sim as metrpoles. A penetrao de capital produtivo dos pases de
capitalismo avanado nos de capitalismo subordinado a maneira encontrada de valorizar o
capital, buscando contornar a tendncia declinante da taxa de lucro. Este processo implicou na
criao das famosas empresas multinacionais. Estas corporaes se instalaram
predominantemente em reas cujas condies necessrias produo j estavam instaladas.
As metrpoles foram seu palco. Assim,
(...) nos pases do Sul, onde desenvolveu um fordismo perifrico fundado sobre
salrios muito baixos, a megapolizao (isto , o crescimento explosivo de uma ou
duas metrpoles por pas) tornou-se regra geral. Os camponeses, os mestios ou
indgenas, fugindo do campo, precipitaram-se em direo s capitais regionais e de l
em direo ao grande centro urbano do pas, aquele onde o mercado de trabalho era
mais ativo. Por outro lado, as empresas nacionais ou estrangeiras, em busca de mo
de obra abundante e barata, foram instalar-se nas megalpoles, convalidando assim a
estratgia dos migrantes. Da a exploso urbana da Cidade do Mxico, de So Paulo,
de Bombaim, do Cairo, de Jacarta ou de Bangcoc. (Lipietz, 1996, p. 4)
As categorias lefebvreanas de indutor e induzido (Lefebvre, 2001) so-nos bastante teis para
compreender tal processo. O indutor a industrializao, o induzido a urbanizao. Ou seja,
medida que a lgica da indstria vai se impondo, comea a gerar modificaes espaciais, que
na leitura de Lefebvre a urbanizao. A constituio de realidades urbanas marca a
paisagem e os modos de vida da sociedade industrial. A cidade industrial seu produto.
Entretanto, esta cidade industrial no se estabelece somente em reas onde haja a
predominncia da produo industrial em termos de ocupao de mo de obra, mas sim
criao da lgica industrial ou capitalista de organizar e produzir o espao urbano.
Assim, para concluirmos, a forma assumida pelas cidades inserem-se numa dada estrutura e
desempenham uma determinada funo. Forma, estrutura e funo (Lefebvre, 2001) so
tambm categorias que nos auxiliam a olhar o mundo e compreend-lo a partir de sua
dimenso espacial. Comparativamente, os fordismo perifrico e central assumiram
formas e funes espaciais diferenciadas dentro da estrutura capitalista.
Referncias consultadas e recomendadas
BERNARDO, Joo. Transnacionalizao do capital e fragmentao dos trabalhadores:
ainda h lugar para os sindicatos?. So Paulo: Boitempo Editorial, 2000.
HARVEY, David. Condio ps-moderna. 10 ed. So Paulo: Loyola, 2001.
LEFEBVRE, Henry. O direito cidade. So Paulo: Centauro, 2001.
LIPIETZ, Alain. Globalizao, reestruturao produtiva e impacto intra-urbano. In:
SEMINRIO POLTICAS PBLICAS PARA O MANEJO DO SOLO URBANO:
experincias e possibilidades. So Jos dos Campos, agosto, 1996. Anais ... So Paulo: Polis,
1996.
SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. So Paulo: HUCITEC, 1978.
VIANA, Nildo. Estado Democracia e Cidadania: a dinmica da poltica institucional no
capitalismo. Rio de Janeiro: Achiam, 2003.
A CARTOGRAFIA E A ANLISE DE REAS DE RISCO DE GOINIA NO
PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA MEDIANTE O USO
DE MAQUETE
Gisleide da Silva Couto-Bolsista Prolicen - IESA-UFG
Carla Rodrigues da Silva Voluntria-IESA-UFG
Eliana Marta Barbosa de Morais-Professora- IESA-UFG
Resumo
A pesquisa prope o uso de maquetes no processo de ensino-aprendizagem de Geografia
como um importante recurso de apoio didtico-pedaggico, na medida em que a maquete
facilita a percepo do espao atravs da viso em trs dimenses. O principal objetivo
conscientizar os professores sobre a importncia deste recurso metodolgico no ensino de
cartografia, que por sua vez auxilia na compreenso do espao geogrfico pelo aluno; alm de
dar suporte terico metodolgico e tcnico para a utilizao de maquetes em sala de aula.
Entende-se que so muitas as situaes scio-espaciais que podem ser abordadas mediante a
elaborao de maquetes. Considera-se relevante a temtica reas de risco especificamente do
municpio de Goinia por ser a cidade sede dos sujeitos da pesquisa. A metodologia
referendada pela pesquisa qualitativa, na medida em que pesquisador e situao/sujeito tm
contato direto; em que a descrio e a subjetividade dos dados percebidos pelos sujeitos so
relevantes; h a valorizao do processo e no somente do produto. J foi realizada a reviso
bibliogrfica mediante a elaborao de texto base sobre ensino de Geografia, reas de risco,
cartografia, maquetes, levantamento da carta de risco de Goinia e visitas tcnicas nos rgos
de planejamento. Posteriormente ocorrer regncia de aulas experimentais em uma escola
utilizando a elaborao e interpretao de maquetes com a finalidade de legitimar na prtica
as reflexes feitas. As atividades resultaro em relatrio final e subsdio para realizao de
cursos de extenso para professores com vistas elaborao e anlise de maquetes.
Palavras-chave: ensino de geografia, cartografia, maquetes, reas de risco.
O ensino de Geografia comumente no desperta o interesse do aluno. Esse
problema se agrava quando focaliza-se alguns contedos, em especfico a cartografia, onde
existe uma grande dificuldade entre os professores em abord-la em sala de aula. Para o
aluno conhecer o espao geogrfico e seus efeitos nas prticas sociais so necessrios mais
que uma observao e descrio dos diferentes lugares, preciso exercitar os processos
mentais de anlises e de snteses da totalidade do espao geogrfico conduzindo
compreenso dos seus significados sociais.
Existem vrias maneiras de se ler e analisar o espao, assim prope-se ao ensino de
cartografia a utilizao de maquetes como recurso didtico.
Entende-se que so muitas as situaes scio-espaciais que podem ser abordadas,
neste trabalho, as reas de risco de Goinia configuram-se enquanto temtica principal. Este
tema faz parte da realidade de muitos alunos e infelizmente so restritos os apoios didtico-
pedaggicos disponibilizados.
Uma pesquisa feita pelo Ncleo de Estudos e Apoio ao Professor de Geografia
IESA/UFG sobre a anlise que os professores realizavam do espao urbano goiano
demonstrou a preocupao dos docentes quanto ao espao urbano direcionando a
compreenso dos motivos pelos quais h a ocupao de reas de risco. Portanto, existe a
necessidade de contribuir com os saberes docentes para anlise e compreenso da temtica
rea de risco. Este tema auxilia a refletir sobre os principais problemas urbanos como
moradia, crescimento desordenado, polticas pblicas, planejamento, desigualdade social,
excluso, etc.
Neste contexto algumas reflexes tornam-se relevantes: Como despertar o aluno
para a compreenso do espao geogrfico e os seus significados sociais? Porque importante
o uso dos recursos de apoio didtico-pedaggico no processo de ensino-aprendizagem?Quais
as principais dificuldades encontradas pelos professores para o uso de maquetes?Como
auxiliar esses profissionais para que atravs da interao professor/aluno/cotidiano se
obtenha maior xito no processo de ensino-aprendizagem?
O objetivo desta pesquisa contribuir com o processo de ensino-aprendizagem em
Geografia no ensino fundamental do municpio de Goinia atravs da anlise de reas de
risco de Goinia mediante o uso de maquetes. J os objetivos especficos so: identificar as
reas de risco de Goinia; identificar os principais problemas fsico-sociais das reas de risco
de Goinia; identificar as tcnicas cartogrficas e materiais de elaborao necessrios para a
construo da maquete; eleger uma das reas de risco de Goinia, identificar uma escola
localizada prxima a esta rea e apresentar aos professores o projeto, a proposta
metodolgica e convid-los juntamente aos alunos a participarem de sua elaborao e
anlise.
A metodologia referendada pela pesquisa qualitativa, na medida em que pesquisador e
situao/sujeito tm contato direto. O processo entendido aqui resulta numa interao entre
investigadores e sujeitos que se influenciam, embora, ambos tenham uma viso de mundo
particular.
Os procedimentos metodolgicos da pesquisa so: reviso bibliogrfica com os
principais temas do projeto , a saber: cartografia, rea de risco, metodologia de ensino e
recursos didticos pedaggicos; visita aos rgos de planejamento para realizar levantamento
dos materiais cartogrficos referentes s reas de risco de Goinia; construo de texto-base
com as principais noes cartogrficas necessrias para confeco de uma maquete (escalas
vertical e horizontal, curva de nvel, exagero, etc) e sobre rea de risco de Goinia; relacionar
os materiais necessrios para a confeco da maquete; escolha e visita da rea a ser
trabalhada e da escola; a construo da maquete: com nfase nas noes cartogrficas e as
caractersticas que identificam uma rea de risco; realizar relatrio final; apresentar o
resultado do presente trabalho em eventos relativos rea da educao e da Geografia.
Esta pesquisa encontra-se em andamento. Realizaram-se as seguintes etapas: reviso
bibliogrfica referente aos temas abordados na pesquisa com o objetivo de dar suporte
terico e metodolgico para o desenvolvimento do projeto; visita tcnica ao rgo de
planejamento de Goinia (SEPLAN) com o intuito de buscar informaes sobre reas de
risco do municpio. Foi feita a opo pelas reas inseridas nos fundos de vales,
especificamente no trecho do Crrego Cascavel situado na Regio de Campinas, por serem
lugares imprprios para ocupao, suscetveis a inundaes devido impermeabilizao das
vertentes, ravinamentos, boorocas, etc. Escolheu-se a carta com a escala mais adequada
para representao em maquetes. Posteriormente ser realizada uma oficina para as alunas
que esto desenvolvendo o projeto e alunos do curso de graduao para confeco da
mesma. Esta oficina ser ministrada pela orientadora da presente pesquisa e contar com uma
carga horria de 4horas/aula. Aps estas etapas ocorrer uma visita de campo na escola
eleita, explanao do projeto aos sujeitos da pesquisa, regncia de aula experimental com
elaborao e interpretao de maquete para legitimar na prtica as reflexes feitas. E por
ltimo, descrio, reflexo e avaliao das aulas e de todo o processo de trabalho, resultando
em relatrio final que ir contribuir com a prtica docente e o ensino de Geografia.
Referncias Bibliogrficas
NASCIMENTO; Maria Amlia L. S. & FILHO, Antonio de Posdest. Boletim Goiano de
Geografia. Departamento de Geografia- Instituto de Qumica e Geocincias. Universidade
Federal de Gois. Vol. 13. Ano 1993.
SILVA, Jos Augusto. Recursos de Apoio Didtico-Pedaggica na Educao Ambiental.
UNESP,Presidente Prudente, SP -2001. Dissertao (Mestrado).
RIBEIRO, Iraciara Aparecida Roque de Arajo. A escola e o ensino de Geografia como
parceiros na gesto urbana _ Universidade Federal de Gois _ Monografia 2005.
A ESCOLA E O ENSINO DE GEOGRAFIA COMO PARCEIROS NA GESTO
URBANA
Iraciara Aparecida Roque de Arajo Ribeiro Mestranda UFG
Msc. Eliana Marta Barbosa de Morais Professora IESA/UFG
O processo de formao das cidades independentemente de serem planejadas ou no, tiveram
como elemento indispensvel os recursos hdricos. No importa se na Antiguidade ou nos
dias atuais, o tempo e o espao geogrfico, a gua sempre ter sua relevncia. A cidade de
Goinia, da mesma forma, para ser a nova capital do Estado de Gois, teve como requisito
essencial, ao seu planejamento, rica rede hidrogrfica. Medidas governamentais adotadas
para solucionar impactos negativos no meio, no levam em conta a importncia de um
planejamento e a necessidade de evidenciar a educao voltada para a prtica social. Com
intuito de compreender o cotidiano urbano, mediante as contribuies da Geografia escolar e
da Geografia cientfica, tendo como subsdios essas categorias de anlise geogrfica. nesta
perspectiva que este trabalho faz um estudo do meio, a sub-bacia do crrego Cascavel,
mediante parcerias realizadas entre o ensino de Geografia e os rgos gestores da cidade.
Esta experincia prtica possibilitou um trabalho de Geo-educao, envolvendo a SEMMA,
os alunos da 5 srie da Escola Municipal Jarbas Jayme e o ensino de Geografia, com o
objetivo de discutir a problemtica ambiental da cidade de Goinia tendo como foco
principal questo da gua.
Palavras-Chave: Cidade, Gesto Urbana, Geografia Escolar.
A gua sempre esteve presente no incio de formao das cidades, mesmo quando no
planejadas, o que evidencia que ela um fator indispensvel a todo tipo de vida. A gua teve
sua importncia desde os primrdios. Na Antiguidade, por exemplo, os primeiros
agrupamentos ocorrem s margens dos cursos dgua. A gua sempre foi considerada um
recurso primordial vida das cidades, por ser fundamental a sobrevivncia do ser humano.
Embora no houvesse discusso, isto , planejamento tcnico da forma como existe hoje para
a construo de uma determinada cidade os primeiros agrupamentos humanos surgiram s
margens dos rios.
Portanto, tanto o arranjo espacial do incio desses povoados, como os meios urbanos da
atualidade revelam que a gua o fator principal para o incio das cidades, por ser
indispensvel sobrevivncia humana.
Ainda na histria antiga viu-se a relevncia das guas do Rio Nilo para o povo egpcio.
GARCIA (1998, p.36) argumenta, a esse respeito, que:
Se as guas falassem a lngua dos homens, as guas do Rio Nilo seguramente
contariam a histria do Egito. Solitrio e, quase sempre, sereno, o Rio Nilo tem sido,
ao longo dos tempos, uma presena marcante e indispensvel na vida dos homens
que, desde a Antiguidade, vivem no Egito.
O Rio Nilo cortando o Egito no sentido sul-norte, com suas cheias transbordavam e traziam
sedimentos frteis, que deixados ao longo de sua plancie fertilizava o solo proporcionando
uma agricultura farta, constituindo-se numa ddiva dos deuses, pois evidenciava a
possibilidade de vida daquele povo.
Ainda na Antiguidade, na regio hoje conhecida como Oriente Mdio, povoaes davam
incio a agrupamentos as margens dos rios Tigres e Eufrates.
Apresenta-se ento, alguns elementos histricos que auxiliam a entender quais os aspectos do
espao geogrfico foram utilizados como referncia para realizar a transferncia da capital do
Estado de Gois para Goinia.
Um dos discursos daqueles que eram favorveis construo de uma nova capital, apoiava-se
na localizao geogrfica da antiga capital, ao evidenciar que esta se constitua em um
problema para servir de centro administrativo para o Estado. Soma-se a este aspecto, a
insalubridade de seu clima, alm de fatores ideolgicos e polticos materializados nas disputas
oligrquicas locais. Esses fatores ideolgicos e polticos, no sero foco desse trabalho, a
nfase ser dada questo da importncia dgua para a construo da cidade de Goinia.
Pedro Ludovico justificou, ainda, necessidade de uma nova capital, que estivesse localizada
em uma bacia hidrogrfica com abundncia de gua, alm de outros elementos. PALACIN
(1976, p.30), destaca uma das perspectivas em que a gua aparece no discurso:
O requisitrio contra Gois j nos bem conhecido: o clima e as pssimas condies
higinicas sem gua, sem esgotos, sem espao vital luz e fora carssimas, as
mais caras de toda a nao, pssimas comunicaes. Uma cidade sem vida prpria,
parasita vivendo s custas do Estado. O problema da falta de gua e a escassez de
esgotos eram de difcil soluo, pois o que o municpio conseguia arrecadar era
insuficiente para realizar obras de captao da gua bacia do Rio Ur e canalizar os
esgotos. Assim Pedro Ludovico argumentava que a cidade de Gois era sem vida
prpria, parasita vivendo custa do Estado.
Nesta mesma linha de pensamento, contra a cidade de Gois como capital, evidenciam-se
argumentos, quanto ao clima, proliferao de doenas, ao relevo acidentado, a falta de gua
entre outros, como explicitado por MAGALHES (1995 apud PALACIN, 2001, p.32).
Quanto insalubridade, no conheo, entre todos os lugares por onde tenho
viajado (e no so poucos), um onde se renam tantas molstias graves. Quase
se pode assegurar que no existe aqui um homem so. Quanto s condies
comerciais. os meios de transportes so imperfeitos, a situao da cidade,
encravada entre serras, faz com que sejam pssimas e de difcil trnsito as
estradas que aqui chegam. Em uma palavra Gois no s rene as condies
necessrias para uma capital, como ainda muitas para ser abandonada.
Ao buscar elementos para compreender o planejamento da nova capital de Gois, tanto
documentos histricos antigos como os atuais, colocam a abundncia de gua como ponto
central das discusses.
O Plano de Desenvolvimento de Goinia (PDG, 1991), explicita que o progresso de Gois s
viria com a construo de uma nova capital, cujo lugar deveria ter como requisito
proximidade da estrada de ferro, a abundncia de gua e a topografia adequada. Elementos
estes que comungam a favor de Goinia como a nova capital de Gois.
Ao longo dos anos houve um crescimento populacional acelerado, e com isso ocupaes em
locais inadequados como as reas de risco, devido falta de polticas pblicas que
financiassem habitaes para a populao de baixo poder aquisitivo. Esta situao gerou os
impactos ambientais para a cidade de Goinia, que passaram a existir em funo do prprio
crescimento desordenado, pois no estavam previstos no planejamento inicial da cidade.
Assim o professor de Geografia pode partir do emprico, considerando o conhecimento do
aluno, a respeito desses impactos ambientais. Como foi dito anteriormente as categorias de
anlise geogrficas existem independente da escola, porm na escola o lugar privilegiado,
para os avanos, o que significa que deve haver uma ampliao do conhecimento. Segundo
Cavalcanti (2003) pertinente que se reflita sobre os modos de propiciar no ensino um
encontro efetivo entre o conhecimento cientifico e o conhecimento escolar para que o
processo de conhecimento tenha avanos.
Nos dizeres de Cavalcanti (2003, p.129), A escola tem a funo de trazer o cotidiano para
seu interior com o intuito de fazer uma reflexo sobre ele a partir de uma confrontao com o
conhecimento cientifico.
No processo de construo do conhecimento geogrfico, a observao, a descrio, a
comparao, a investigao, a interpretao, a anlise so instrumentos que facilitam a
compreenso da relao sociedade-meio.
Constata-se que h uma infinidade de problemas fsico-ambientais na cidade, se essa situao
faz parte do cotidiano do aluno por que no aprender em sala de aula a lidar com eles,
procurando a compreenso da relao sociedade-natureza de maneira a fornecer subsdios para
a prtica.
O estudo do meio foi realizado no dia 26 de outubro 2005, com uma turma de 5 srie do
ensino fundamental, sob orientao das professoras de Geografia e Cincias Naturais, a
estagiria do curso de Geografia e a equipe da SEMMA. Esta atividade ser relatada e
discutida de forma breve.
Na nascente houve uma abordagem mais direcionada para a questo da gua e sua importncia
para as cidades. Fato que merece ser destacado que a professora realizou a
interdisciplinaridade entre a Geografia e a Histria, mesmo sem ter conhecimento a respeito os
objetivos propostos pr este trabalho, levou os alunos reflexo sobre a importncia das guas
para as cidades, como fonte indispensvel vida.
E ainda com o mesmo foco de discusso, indagou a turma a respeito das origens das cidades.
Perguntou: onde surgiram as primeiras cidades? Uma aluna (Louise), respondeu prximo
aos rios.
Conclui-se que esse estudo do meio possibilitou o rompimento da muralha de isolamento que
normalmente vivem as escolas distanciadas da realidade da cidade, isso foi percebido atravs
do comportamento dos estudantes, que se mostraram entusiasmados e com muito interesse
pelos assuntos discutidos durante todo o percurso.
Nas aulas, aps a atividade prtica, a professora de Geografia retomou as discusses sobre a
gua e a importncia para as cidades. O tema motivou a realizao de atividades
complementares para fixao do contedo debatido s margens do crrego Cascavel.
Este trabalho discutiu alguns problemas ambientais da cidade de Goinia, decorrentes
principalmente de aes antrpicas inadequadas referentes rede hidrogrfica, que levam a
desastres no meio urbano, em que, na maioria das vezes, a prpria populao a vtima.
A falta de polticas pblicas voltadas para a educao ambiental e o planejamento urbano
participativo dos rgos, que visem aes conjuntas entre as escolas, e o ensino de Geografia,
com o intuito de minorar esses problemas, resultou nesta pesquisa, A escola e o ensino de
Geografia como parceiros na gesto urbana.
Conclui-se que de maneira geral os rgos, as escolas, e o ensino de Geografia, mencionados
neste trabalho, esto distanciados, no convergem para um mesmo fim, trabalhando de forma
isolada. Assim, percebeu-se que h uma diviso de atribuies, uma separao entre os que
planejam a cidade, aqueles que estudam a cidade e os que vivem a cidade com os seus
problemas.
O que ocorre em nossa sociedade a falta do hbito de participao da populao, e um nvel
de gesto que no se preocupa em realizar trabalhos em conjunto. No h interesses em
construir pactos sociais, atravs de trocas de experincias, colaborao mtua, o que
certamente poderia mudar a realidade do meio.
Entretanto, sobre a possibilidade de parcerias, trocas de experincias, trabalho em conjunto,
enfim, uma gesto democrtica da cidade a legislao prev a participao social de forma
legal nos assuntos da cidade.
Embora, existam instrumentos legais que prev a participao da populao nos assuntos da
cidade, ainda assim os gestores continuam trabalhando de forma isolada. O papel do ensino,
de forma geral criar mecanismos didticos para que o estudante lute pela abertura dos
espaos, atravs da prtica da cidadania.
Educar para a vida social e participativa nos assuntos da cidade foi um dos focos deste
trabalho, assim discutiu-se, ainda que de forma breve, o papel do ensino de Geografia no
processo de transformao do espao natural em espao geogrfico, a cidade. Com nfase no
ensino de Geografia como ferramenta importantssima e indispensvel, no processo de
reconhecimento dos problemas urbanos, no apenas enumerando como tambm apontando
solues para evit-los.
Diante desta realidade, a Geografia uma cincia que se ocupa da interao entre as cincias
naturais e humanas, capaz de fornecer subsdios para o entendimento da problemtica urbana,
e levando a uma reflexo a respeito da prtica da cidadania.
Isso significa que cabe ao professor de Geografia, selecionar, definir e organizar os contedos
considerando a realidade do aluno, neste caso o cotidiano da cidade, de modo a buscar
utilidade prtica do que ensinado em sala. Conclui-se que o professor deve formar atitudes
crticas em relao aos assuntos estudados, estabelecendo objetivos, para que alcance uma
efetiva utilizao prtica da teoria estudada em sala.
Apesar de esta investigao ter sido restrita, e o tempo no ser suficiente para um estudo mais
amplo tanto quantitativamente como qualitativamente, a reflexo que fica a necessidade de
continuidade dessa pesquisa, e que o resultado chegue at a escola e os gestores, no para
mostrar a deficincia dos mesmos, mas, principalmente com intuito de visar uma mudana de
comportamento, que repercuta na vida da cidade de Goinia.
Por outro lado, ao analisar o estudo de caso no qual envolveu a Escola Municipal Jarbas
Jaime, o ensino de Geografia e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, numa prtica de
parceria que teve como ponto central o estudo dos assuntos da cidade relacionados gua foi
positiva, embora tenha ocorrido de forma restrita na sub-bacia do crrego Cascavel, foi tida
como proveitosa por todos os participantes.
importante ressaltar a avaliao da aprendizagem dos alunos em relao a este trabalho, que
foi feita mediante a participao no campo, em virtude de discusses, os questionamentos,
exposio de opinio e o comportamento dos alunos.
Ficou perceptvel que o estudo do meio foi um momento proveitoso para os alunos, que
tiveram principalmente a oportunidade de conhecer uma nascente, o que se notou atravs da
fisionomia deles, mediante expresses de admirao em relao paisagem que at ento era
conhecida apenas atravs dos livros, revistas, jornais, imagens de televiso e outros. Num
dado momento um aluno expressou da seguinte maneira em relao paisagem que embora
degradada, tinha alguns aspectos de beleza: Que show!.
Assim a professora da sala concluiu que aquele momento ficaria na memria deles para
sempre, o que certamente produzir bons frutos.
importante ressaltar que esta monografia foi realizada apoiando-se em alguns autores que
escreveram a respeito desta temtica, e que muito contriburam para realizao deste trabalho,
servindo como subsdio para a reflexo a respeito dos assuntos da cidade de Goinia,
principalmente relacionados questo da gua, por ser indispensvel sobrevivncia humana.
REFERNCIAS
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, escola a construo de conhecimento.
Campinas-SP: Papirus, 2003.
CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e prtica de ensino. Goinia: Alternativa, 2002.
GARCIA, Lenidas F. Estudos de histria. Goinia: Ed. UFG, 1998.
GOINIA. Plano de Desenvolvimento Integrado de Goinia PDIG 2000.
PALACN, Luiz. Fundao de Goinia e desenvolvimento de Gois. Goinia: Oriente,
1976.
PALACN, Luiz. Histria de Gois (1722-1972). Goinia: Ed UCG, 2001.
1
GUA E REDE HIDROGRFICA URBANA EM ESTUDOS ACADMICOS E
DOCUMENTOS OFICIAIS DE GOINIA.
CAVALCANTI, Lana de Souza 1
RABELO, Kamila Santos de Paula 2.
Podemos notar a importncia do tema ao ter acesso ao projeto do plano direto da cidade de
Goinia que demonstra preocupao com o tema gua e rede hidrogrfica da rea urbana da
cidade. Segundo o mesmo num cenrio desejado para o municpio de Goinia deve haver
disponibilidade de gua com boa qualidade para o abastecimento pblico, com diminuio de
ndices de poluio; melhoria das condies ambientais das drenagens que cortam a malha
urbana, tornando-as menos poludas e degradadas; incentivo ao aumento dos ndices de
cobertura de vegetao nativa favorecendo a recarga do lenol fretico e eliminando e/ou
minimizando os pontos crticos de alagamentos; implementao de uma gesto dos resduos
slidos (domsticos, hospitalares, industrial e entulhos da construo civil), ampliao do
sistema de esgotamento sanitrio, fiscalizao dos pontos nas galerias pluviais e nos crregos
que drenam a malha urbana; incentivo e articulao do controle das atividades de explorao
mineral para construo civil, das atividades agroindustriais, desenvolvidas no municpio,
objetivando amenizar os ndices de poluio e degradao ambiental no municpio;
A compreenso do ambiente urbano envolve as relaes dinmicas entre os elementos
naturais e sociais, que implicam na produo cultural, tecnolgica, processos histricos e a
transformao do meio natural. Essa dinmica entre os elementos naturais e sociais, quando
intensificadas acarretam alteraes no ambiente (Cavalcanti, 2002). Essas alteraes no
ambiente urbano da cidade de Goinia e em sua regio metropolitana so explicitadas no
Documento final da I Conferncia Estadual de Gois do Meio Ambiente (2005). Dentre as
alteraes destaca-se o manejo inadequado da drenagem urbana, com ocupaes nas margens
dos cursos dgua, e a impermeabilizao do solo que leva a ocorrncia de enchentes.
Outro problema relacionado a drenagem urbana de Goinia evidente nos lagos da cidade,
que na verdade so represas em alguns cursos dgua que so cartes postais da cidade como:
o Vaca Brava, o Bosque dos Buritis e o Lago das rosas, que esto sofrendo srios problemas
ambientais.
O documento final da I Conferncia Estadual de Gois do Meio Ambiente (2005) adepto da
concepo de que para solucionar os problemas ambientais urbanos necessrio investir em
educao por meio do ensino formal e informal, alfabetizao de adultos, programas de gesto
e capacitao em meio ambiente.
http://www.ufgvirtual.ufg.br/conpeex/conpeex2005/PROLICEN_modelo.htm#_edn1#_edn1http://www.ufgvirtual.ufg.br/conpeex/conpeex2005/PROLICEN_modelo.htm#_edn1#_edn12
Sobre esse assunto, Cavalcanti (2002) destaca que a superao de determinados problemas do
cidado com seu ambiente urbano depende de uma alterao do processo de estruturao
interna na cidade, de mudana de comportamentos sociais e culturais, mas tambm de
mudanas nas percepes ambientais desse cidado; sendo assim, necessrio salientar a
importncia dos materiais informativos e de pesquisa para a prtica escolar e preparo de aulas
no Ensino Fundamental. Portanto, importante desenvolver estudos que possam contribuir
para o desenvolvimento de atividades de ensino de Geografia na escola, especificamente
sobre a temtica gua e Rede Hidrogrfica.
Objetivos
Objetivo Geral
Levantar e analisar o material sobre a temtica gua e Rede Hidrogrfica urbana de Goinia.
Objetivos especficos
Levantar o material sobre a temtica gua e Rede Hidrogrfica urbana de Goinia nos
seguintes rgos: IESA (Instituto de Estudos Scio-Ambientais) da UFG, SEMMA
(Secretaria Municipal do Meio Ambiente), SME (Secretaria Municipal de Educao).
Analisar o material coletado, de modo a viabilizar projetos especficos com o tema gua e
Rede Hidrogrfica urbana de Goinia no ensino da Geografia.
Metodologia
A metodologia utilizada para desenvolver a pesquisa do tipo qualitativa, que se caracteriza
pelo entre pesquisador e a situao e/ou sujeitos envolvidos na pesquisa; pela valorizao da
descrio dos dados coletados e do significado que os sujeitos envolvidos na pesquisa
atribuem a determinados objetivos e/ou fenmenos; pelo fato de o pesquisador valorizar o
processo e no somente o produto (LUDKE e ANDR, 1968).
O trabalho segue as seguintes etapas:
Reviso e estudo bibliogrfico em obras que tratam da temtica ensino de Geografia,
aspectos fsicos.
Levantamento de material sobre gua e Rede Hidrogrfica urbana, junto ao IESA, SEMMA
e SME.
Analise dos materiais levantados.
3
Disponibilizar o material para professores de Geografia da Rede Municipal de Goinia de
modo a auxiliar o ensino da temtica gua e Rede Hidrogrfica urbana de Goinia.
Resultados preliminares
Seguindo a proposta foi coletado material junto aos seguintes rgos: IESA, SEMMA SME.
No IESA houve o levantamento na secretaria do curso, de dissertaes defendidas no
mestrado em Geografia IESA-UFG de 1997 2005. Esta relao mostrou que durante este
perodo foram defendidas 96 dissertaes. A anlise dessas dissertaes se deu atravs do
titulo e de resumos disponibilizados junto ao sit do observatrio geo Gois. Dentre essas
dissertaes foram encontradas trs que de acordo com o titulo poderia se relacionar com o