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  • GRAVIDEZ NA ADOLESCNCIA: UMA ANLISE DO CORPO E SUAS MUDANAS

    BIOPSIQUICOSSOCIAIS- ESTUDO DE CASO DO JARDIM GUANABARA II

    Jean Carlos Silva Matos

    Rangel Gomes Godinho

    Zacarias Martins S. Filho

    Orientador: Eguimar Felcio Chaveiro

    O artigo apresenta a caracterizao do corpo adolescente e sua problemtica com a insero do fator

    gravidez nesta fase. Como metodologia foi utilizada uma reviso bibliogrfica e referncias em artigos de

    jornais e/ou revistas para fundamentao terica, no plano prtico foi elaborado entrevistas informais,

    direcionando algumas questes sobre o comportamento biopsiquicossocial das jovens.

    O corpo alvo de estudo de diversas reas do conhecimento como a medicina, psicologia, antropologia,

    sociologia. Na demografia o estudo do corpo ganha importncia por ele ser um elemento emprico,

    estabelecendo relao com as demais categorias demogrficas. Neste trabalho pode-se perceber uma

    relao intrnseca com o fenmeno da migrao. Durante as conversas descobrimos que os pais das

    jovens eram migrantes advindos da Bahia - Feira da Mata, com exceo de uma que apresentava origem

    no Par-Marab, apresentando assim, relao de parentesco entre si.

    As instituies disputam a todo o momento o controle do corpo adolescente, sendo evidente atravs do

    mercado que o faz produto ou religio que o santifica.

    O corpo como entidade biopsiquicossocial se manifesta na sociedade adquirindo diferentes corporeidades.

    A adolescente grvida por est inserida neste contexto tomada por conflitos que influenciam na imagem

    pessoal com as mudanas fsicas que ocorrem em seu corpo. As transformaes corporais so

    apresentadas par e passo com as questes emocionais, e sua anlise separada fica comprometida j que as

    mudanas fsicas fica no imaginrio do ser, atuando como signo na afirmao pessoal em seu espao de

    convvio

    O lado emocional nessa fase caracterizado por conflitos que aparecem, quando da descoberta do mundo

    pelo adolescente. Esses conflitos iniciam-se a partir das instituies que pregam certas normas como

    verdades a serem seguidas. Neste ponto, o adolescente se v no meio de um dilema; afloram sua rebeldia

    contra as estruturas sociais dominantes, que limitam sua liberdade, anulando suas possibilidades.

    A gravidez adolescente, caracteriza-se por modificaes psicolgicas, o corpo da gestante tem que se

    adaptar s alteraes naturais da adolescncia e aos elementos caractersticos da gestao. Durante esse

    perodo a jovem passa por conflitos que afetam sua imagem pessoal, que tem um valor psquico e

  • emocional, sobretudo nesta fase, quando a aparncia fsica um fator importante para a afirmao social.

    Essas transformaes levam gestante adolescente insegurana, que podem apresentar sentimentos de

    medo, rejeio, preocupao.

    Por outro lado quando a adolescente possui uma base familiar e apoio do parceiro, mesmo que a gravidez

    no tenha sido planejada, a gestante tomada por sentimento de alegria.

    Mesmo com as transformaes sociais que ocorreram no final do sculo passado e inicio deste sculo

    XXI, as questes que se referem gravidez adolescente apontam para as camadas mais desfavorecidas da

    sociedade.

    As evidncias para a iniciao sexual precoce apontam para o baixo nvel scio econmico e baixa

    instruo. As fontes de informaes referentes sexualidade podem apresentar distores quanto ao seu

    real significado, favorecendo para uma futura gravidez indesejada. As mudanas nos valores morais da

    sociedade moderna contribuem para o aumento do nmero de gestantes adolescentes. Os estmulos

    sexuais dos meios de comunicao alcanam com maior intensidade as parcelas que possuem menos

    informao ou educao sexual. Evidentemente, as classes sociais com menor poder aquisitivo so as que

    apresentam mais adolescentes em gestao.

    Quando se tem dilogo na famlia, as informaes referentes ao sexo so melhores compreendidas pelo

    jovem, despertando uma conscincia de preveno contra a gravidez ou doenas sexualmente

    transmissveis, com isso favorecem o uso de mtodos contraceptivos.

    Diante disso, buscamos entender o fenmeno gravidez na adolescncia observando as particularidades do

    bairro Jardim Guanabara II, em Goinia-GO.

    O bairro Jardim Guanabara II situado na regio norte de Goinia um tpico bairro de periferia,

    apresentando problemticas sociais como qualquer outro bairro na mesma situao. A populao

    representativa desse bairro predominantemente de migrantes oriundos das regies Norte e Nordeste do

    Brasil, que procuram oportunidades para melhorar sua qualidade de vida, assim quando chegam a Goinia

    so obrigados a procurar abrigos em reas normalmente de invases.

    O fenmeno gravidez na adolescncia no bairro estudado est ligado diretamente a fatores sociais, como

    pobreza e falta de assistncia governamental. Quando voltamos nosso olhar em relao corporeidade,

    vemos que ali ocorre uma reproduo das relaes sociais presentes naquele espao, pois as aes das

    jovens revelam sua conformidade diante da precria condio de vida, no revelam preocupao com a

    situao financeira. Percebemos que a vida caminha buscando a sobrevivncia, que no existem degraus

    para chegar aos sonhos, que dois reais fazem alegria quando se d para comprar duas garrafas de pinga.

    A conformidade em relao a condio atual, em geral, da sociedade demonstra o nvel de necessidade de

    apoio das partes que detm o poder para com as esferas sociais mais deficitrias. Nesse ponto, as

    condies que os governantes do, a essas pessoas, no seria a poltica mais adequada. O governo

  • patrocina assistencialismos, ao invs de construir possibilidades de o cidado exercer sua humanidade

    atravs da sua fora de trabalho, demonstrando dignidade em sua vida, atravs da produo. Essa forma de

    incluso poderia mudar a conscincia do indivduo, no que se refere a sua posio psiquicossocial.

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    O NOVO SENTIDO DA OBRA DE ARTE NA ESCALA DA PAISAGEM URBANA

    CONTEMPORNEA DE BARCELONA (1980-2000).

    Aletia Tolentino de Vasconcelos

    Universidade Catlica de Gois - Iniciao Cientfica

    Orientadora: Dra. Eline Maria Moura Pereira Caixeta

    Resumo

    O texto tem por objetivo mostrar o novo sentido que a obra de arte tem adquirido na paisagem

    urbana contempornea a partir da cidade de Barcelona, atravs dos espaos levantados pelo

    grupo de pesquisa, pretende-se analisar o papel da obra de arte nesses espaos pblicos que

    compreendem praas, parques e espaos intersticiais. O espao pblico um lugar expressivo,

    dinmico e que, em Barcelona desde a dcada de 1980, vem sofrendo revitalizaes tornando-

    o representativo e, devido tendncia contempornea, mais ldico que funcionalista, onde h

    um trabalho de profissionais da arquitetura compartilhado com artistas plsticos, paisagistas e

    usurios, concebendo experincias estticas e criando novas paisagens.

    Palavras-chaves: paisagem urbana; arte; espao pblico, cidade contempornea.

    Trabalho

    Toda e qualquer cultura possui uma razo, ou seja, uma lgica intrnseca que a define e que

    possibilita o surgimento de novos domnios, ligando os homens a sua temporalidade. Essa

    lgica definida por Ana Cristina Gomes dos Santos e Vicente Del Rio (1998) como lgica de

    poca ou lgica cultural, faz com que a sociedade se estruture e aja dentro das condies do

    seu tempo, aquilo que produz interesses, idias e tendncias, estabelecendo condutas capazes

    de apontar os perodos de interveno de grupos sociais motivados por processos culturais

    que os impulsionam. Essa condio o que fundamenta o presente estudo, observar a obra de

    arte em relao paisagem urbana como fenmeno representativo e esttico dos movimentos

    scio-culturais contemporneos.

    Segundo Jorge Bassani (2003) a cidade, tal qual a arte, inteligvel na medida em que

    estabelece relaes com a histria da sociedade e sua cultura material, sendo sempre

    processos de representaes, processos lingsticos. Tendo em vista o acima exposto,

    considera-se o objeto artstico como um dos elementos que revelam a historicidade da

    paisagem na qual est inserido.

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    As obras de arte locadas em espaos abertos uma tendncia contempornea que fora dos

    espaos convencionais das galerias e dos museus, podem ganhar dupla interpretao, ora de

    objeto concebido enquanto arte, freqentando o espao urbano, ora como objeto que compe

    a paisagem, sendo parte integrante dela.

    Isso esta presente em vrios espaos pblicos contemporneos e, em especial, nos novos

    espaos urbanos que surgiram com a revitalizao de Barcelona nas ltimas dcadas, uma

    cidade que se renova ao londo da histria, desde o plano de Idelfons Cerd no sculo XIX at

    os dias atuais, a cidade est sempre repensando em seus espaos sem comprometer a essncia

    de sua estrutura histrica e mantendo seu carter renovador. Segundo Jan Gehl e Lars Gemzoe

    (2002), a arquitetura unida escultura tiveram um papel essencial no desenho e na imagem

    dos novos espaos pblicos desta cidade.

    Novos parques e praas foram criados sobre o tema: levar os museus s ruas. Cada novo

    espao pblico passou a ostentar uma obra de arte de um artista de prestgio internacional. As

    caractersticas exclusivas de cada praa eram, deste modo, enfatizadas pelo seu prprio

    desenho, assim como pelas nicas obras de arte, dando a cada bairro uma plataforma pblica

    para qualquer ocasio.

    Quase todos novos projetos envolveram a cooperao entre artistas e arquitetos. Um exemplo

    de escultura como parte integrante do projeto d-se na Plaa de la Palmera, onde os muros

    curvos de Richard Serra dividem duas naturezas da praa. Outro exemplo est em Vila Jlia,

    onde o grande farol o foco da praa. (GEHL;GEMZOE, 2002, p.29)

    Sob a tica de Josep Maria Montaner, a relao de arte e arquitetura evidenciada na dcada

    de quarenta no manifesto Nove pontos sobre monumentalidade de Sigfried Giedion, Josep

    Llus Sert e Fernad Lger em 1943 e mais tarde sendo tema central do VI CIAM em 1947. A

    busca da nova monumentalidade e da expresso da arte moderna na cidade contempornea

    eclode a partir dos anos sessenta ocorrendo uma mudana qualitativa drstica, e como

    exemplo mais recente desta mudana tem-se a cidade de Barcelona.

    Durante o sculo XIX e princpio do XX predominava uma idia tradicional e comemorativa

    da arte pblica na cidade: figuras e esttuas eqestres que possuam valor simblico e poltico.

    A partir desses anos foram instaladas obras de arte de vanguarda que, de uma modo geral,

    foram bem assimiladas pela comunidade. Primeiro, foram peas de Picasso, Calder, Henry

    Moore, Jean Dubuffet e, mais tarde, de Tony Smith, Richard Serra, Claes Oldenburg, Isamu

    Noguchi e outros. Desta maneira, a caixa fechada do museu tradicional se dissolve. Este

    processo ocorre nas ltimas dcadas, em conseqncia do suporte das administraes e da

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    instalao de obras de arte no espao pblico, comeando por capitais norte-americanas como

    Filadlfia e mais tarde Chicago e Nova Iorque, ou citando exemplos mais recentes, como de

    Kassel Groingen, Barcelona ou San Sebastian-Espanha (MONTANER, 1998, p.154)

    A Barcelona da nova urbanidade de Oriol Bohigas do inicio da dcada de 1980, tem a

    inteno de entender a forma da cidade desde os elementos urbanos, como uma verdadeira

    arquitetura e no a partir do funcionalismo das atribuies de uso.

    Segundo Eline Caixeta a modificao da paisagem urbana de Barcelona dar-se-ia atravs do

    abandono de um modelo de planejamento quantitativo que tinha por base a subordinao dos

    aspectos morfolgicos de desenho, aos instrumentos e tcnicas de controle urbanstico da

    forma urbana. Assim, o modelo de planejamento global deu lugar escolha de um repertrio

    de aes pontuais, em diferentes escalas, que obedeceu a uma anlise criteriosa e bem

    definida da estrutura da cidade. As intervenes ocorridas na rea central e na periferia

    visavam o coletivo fazendo parte de uma estratgia de valorizao e recuperao da

    identidade catal, atravs de um projeto cultural que integrou folclore, literatura, artes

    plsticas e cenografia revitalizao do lugar urbano.

    Nota-se que a exemplo de Barcelona, os espaos funcionalistas passaram a incorporar

    significados e leituras associadas a vises mais ldicas da cidade, uma atitude que segundo

    Eline Caixeta, resgata de certo modo o carter de animao tpico da cidade tradicional.

    Dentro do universo artstico, o presente estudo enfoca os elementos escultricos no espao

    aberto. A escultura representa muito bem e assume a dinmica da cidade contempornea

    quando locada em lugares estratgicos. Na cidade de Barcelona encontra-se a obra artstica

    em trs situaes distintas: como elemento estruturador da paisagem, exemplos da Plaa de la

    Palmera e do Parc de IEstaci del Nord; como elemento que apenas participa de determinado

    espao, como o caso do Parc de la Creueta del Cloll e Parc Diagonal Mar e como obras que

    locadas em espaos intersticiais se transformam em pontos focais, como as esculturas Mistos

    e Dime, Dime, Querido.

    No parque da IEstaci del Nord (1988), evidencia-se o surgimento da obra de arte como

    elemento de mxima expresso, onde a escultura de Barvely Papper no est simplesmente

    locada no parque, mas sim definido sua forma e sua topografia. O usurio, ao experimentar a

    variedade de imagens da paisagem ao observ-la em ngulos diferentes, se relaciona com o

    contexto induzido pelo conjunto das peas escultricas, transformando constantemente o

    lugar, configurando novas e inesperadas composies daquela realidade. Pode-se dizer que a

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    reabilitao desta rea a caracterizou como espao ldico, onde o parque a escultura e a

    escultura o parque.

    No parque Diagonal Mar (2002), as esculturas so de grande importncia artstica para o

    entorno e para o projeto do parque, mas diferentemente do parque da IEstaci del Nord, as

    obras de arte apenas definem o lugar assim como outros elementos do parque. O conjunto

    escultrico, a prpria gua e os equipamentos do parque compem um modo ldico-

    construtivo que recria e d sentido ao lugar inserido. Esso tipologia no desvaloriza a obra e

    nem mesmo o projeto so apenas concepes diferentes tendo cada uma sua importncia.

    Mistos (1992), de Claes Oldenburg e Claes Van Bruggen uma escultura que por estar em

    um espao intersticial ganha um expressivo poder de representatividade urbana. A

    implantao, as cores, a prpria forma e a escala monumental so caractersticas muito

    marcantes e muito bem articuladas, percebe-se que seria impossvel passar pela a avenida

    onde a escultura se encontra e no perceb-la, assumindo definitivamente uma funo de

    ponto focal artstico. O objeto artstico nesse contexto autnomo e se implanta pontuando o

    lugar inserido.

    A arte na cidade contempornea tem uma funo fundamental, que segundo Josep Maria

    Montaner, de colaborar para que esses smbolos, vestgios e lembranas sejam revelados e

    enfatizados.

    Desta maneira, a partir dos espaos at ento levantados juntamente com o grupo de pesquisa,

    busca-se entender os vrios tipos de espaos pblicos existentes, como cada um se comporta

    no contexto e no desenho da cidade, como eles esto inseridos e como foram trabalhados. A

    metodologia da pesquisa se pautou em levantamentos de espaos pblicos (praas, parques,

    vias e orla martima) da cidade de Barcelona, que esto inseridos dentro do contexto da

    contemporaneidade, atravs de materiais, imagens, dados tcnicos e textos crticos coletados

    chegando a mais de 82 espaos levantados e mapeados, alm de uma reviso bibliogrfica que

    contribuir para compreenso das intervenes ocorridas em Barcelona com esse carter

    tendo em vista a criao de novos espao urbanos e uma renovao da paisagem da cidade.

    Referencias bibliogrficas

    BASSANI, Jorge. As linguagens artsticas e a cidade: cultura urbana do sculo XX. So

    Paulo: Form Arte, 2003.

    CAIXETA, E.M.M.P.; FROTA, Jos Arthur Dal. Art&cidades: novas paisagens urbanas

    no sculo XXI. In: 14 Encontro Nacional da ANPAP, 2005, Goinia. Cultura visual e

    desafios da pesquisa em artes. Goinia: ANPAP, 2005. v.1 p.180-198.

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    GEHL, Jan; GEMZOE, Lars. Novos espaos urbanos. Barcelona: GG, 2002

    GRATH, Dorothy Mc. El Arte del Paisaje. Mxico: Atrium International, 2002

    MONTANER, Josep Maria. Depois do movimento moderno: arquitetura da segunda

    metade do sculo XX. Barcelona: GG, 1997

    SANTOS, Ana Cristina Gomes dos; DEL RIO, Vicente. A outra urbanidade - a construo

    da cidade ps- moderna e o caso da Barra da Tijuca. In: Seminrio de Histria da Cidade e

    do Urbanismo, V, 1998, So Paulo. Anais do V Seminrio - Cidades: temporalidades em

    confronto: uma perspectiva comparada da histria da cidade, do projeto urbanstico e da

    forma urbana. So Paulo, EESC-USP, 1998

  • O PLANEJAMENTO URBANO E A CONSTRUO DO HIPER OBJETO

    Wilton Medeiros - UFG*

    Resumo

    O presente texto atribui ao planejamento urbano um papel de crtica que o coloca como lugar de

    atores e autorias enquanto construtores da forma metrpole. Desse modo, o planejamento urbano

    estaria mais aliado a um plus de teorizao do que a formas de gesto do espao urbano. As

    referncias em que embasam as reflexes aqui contidas so Flvio Villaa, com o texto Uma

    contribuio para a histria do planejamento urbano no Brasil, e Boaventura de Sousa Santos,

    com o livro Pela mo de Alice: o social e o poltico na ps modernidade. Tais referncias

    nortearo a reflexo sobre as formas de interveno no espao urbano como mero exerccio de

    escrita, dando forma da metrpole a caracterstica de um hiper objeto, o objeto que no se deixa

    apreender apenas na sua forma material, mas se vale da construo de sentidos para ressignificar,

    e, ao mesmo tempo indagar o espao como ontolgico.

    Palavras-chave: Metrpole, planejamento urbano, morfologia urbana.

    O planejamento como escrita

    A metropolizao no Brasil registra uma rejeio concomitante aos paradigmas tericos

    tradicionais do planejamento urbano, tomados como referncia de interveno urbana, ou seja,

    construo de infra-estruturas urbanas, moradias e outros equipamentos. Os novos padres

    tericos aprofundam grandemente a distncia entre teorias e aes do Estado, fundindo-se ao e

    teoria, eliminando a ao do mediador. A construo da metrpole ento tomar a forma de um

    hiper objeto urbano.

    Nesse contexto, a figura do narrador parte essencial na forma final da cidade. Quanto

    a sua forma metrpole, portanto, hiper objetificada, no importa apenas as suas formas materiais,

    mas tambm o que sobre elas se diz. Em suas narrativas sobre o urbano, atores e autores

    constituir-se-o parte essencial de uma metamorfologia.

    * Arquiteto (UCG); mestre em Gesto do Patrimnio Cultural (UCG); doutorando em Histria (UFG)

  • Por exemplo, ao criticar, a concepo corbuseana do espao, Lefevbre acaba

    construindo uma reificao do prprio texto, corporificando neste, uma rejeio da ao sobre o

    espao fsico. Dessa forma, Lefvbre toma a teoria como narrativa, ao aproximar o que

    considerado subsdio de planejamento urbano como nico sentido puramente pelo exerccio da

    escrita.

    Dessa forma, abordagens lefevbrianas e similares, realizam um planejamento urbano

    crtico, contribuindo em grande medida para a auto-realizao da teoria, realizando um caminho

    letrado como que pela mo de Alice (SOUSA SANTOS 2005:18-19). Imiscuindo texto e

    matria, palavra e espao, os crticos do planejamento urbano contribuem de modo incisivo para

    que a histria da metropolizao seja tambm a histria da construo de uma hiper-realidade, em

    que a prpria teoria tomada como ao. A teoria, por fim, torna-se uma ao em si mesma.

    Trata-se de esforo de superao da dependncia da fora fsica e maquinal. J no

    importa mais a casa como unidade mnima de habitao, a mquina de morar, ou acidade

    distribuda em zonas funcionais. A construo do hiper objeto urbano associa estratgias de

    agentes produtores do espao (metropolitano) por meio da escrita de sentidos, que marca o ritmo

    da mudana e da durao das formas da cidade (sua morfologia).

    Tal o contexto em que a realidade tambm produzida pelo plus de teorizao . E

    esse plus de escritas surge como uma das estratgias de produo do espao metropolitano na

    medida em que distanciam at exausto da nulidade, teoria e ao. nesse sentido, que os

    estudos crticos urbanos vo deixar um rastro de escrita que pode ser medido da menor maior

    complexidade, em trechos de tempo em que a medida do tempo (histria) poder aferir, da hiper-

    realidade ao hipertexto, a morfologia metropolitana que transmuta-se de minimamente complexa

    mxima perplexidade (SOUSA SANTOS 2005).

    A metrpole no se deixa congelar

    Usar a escrita para demonstrar sistemas que se encontram em constante mutao,

    significa congel-los na forma terica, instaurar a perplexidade na metropolizao, que no se

    deixa representar, seno, pela metfora da metamorfose. A metrpole no se deixa congelar

    sequer por idias corporificadas em idias-ao.

    A forma terica congelada, no contexto da metropolizao, sugere uma

    metamorfologia, sugere que em busca do domnio das novas interfaces tecnolgicas, o homem

  • metropolitano deve ter habilidades que o permitam constantemente atualizar-se, para que descarte

    o obsoleto e no tenha receio de se apropriar das interfaces que ampliam sua inteligncia

    (FRANCO 1997:14).

    Ao registrar as no-permanncias de sucessivas teorias pensadas, Mark Gottdiener

    (1993) em A produo do espao urbano, de certa forma j adianta o que ser mais bem dito por

    Deleuze e Guattari, Pierre Levy, Paul Virilio et al, que chamam a ateno para as mudanas

    estruturantes de um mundo em que o domnio das novas interfaces tecnolgicas torna-se a cada

    dia essencial.

    A esse respeito, Clovis Ultramari fala em seu livro O fim das utopias urbanas, acerca da

    impossibilidade de se impor idias desejosas de universalidade e de hegemonia, mas cujo teor

    no consegue permanecer imutvel no tempo e no espao (ULTRAMARI 2005:13).

    A apropriao do que Pierre Levy chama de Tecnologias da inteligncia, o que ocorre

    durante o processo de metropolizao, parece aprofundar ainda mais, tanto em carne quanto em

    pedra1, o distanciamento entre teoria e ao. Tal distanciamento configuraria uma nova escalada

    de rejeio que havia sido iniciado com a negao aos paradigmas tradicionais de planejamento

    urbano. Com isso o fosso entre planejamento e projeto se configura de forma crescente e

    permanente.

    Ao falar sobre o fracasso do planejamento convencional, Marcelo Lopes de Sousa faz

    coro com Henry Lefevbre ao atacarem ao quase achincalhamento, as noes modernistas de Le

    Corbusier sobre as possibilidades ento modernas de se intervir no espao urbano. claro que

    ambos constituem uma preciosa participao na seara dos estudos metropolitanos, verticalizam

    para uma compreenso complexa do objeto, mas nem de longe conseguem evitar a perplexidade

    conseqente do ritmo, velocidade e movimento to facilmente visveis nas metrpoles

    metamorfoseantes.

    A metropolizao, portanto, traz tona a evidencia de um objeto mutante. Esse objeto no

    se deixa congelar. Como um espelho do que em realidade, o volume do que se escreve e pensa

    sobre o urbano constituem mosaicos e rizomas, inapreensveis sequer pelas mais hbeis pesquisas

    cientficas, pois nos fragmentos, as peas se articulam como em caleidoscpio, formando um

    quadro sempre cambiante, que ganha sentido exatamente pelo movimento (CARLOS 2001: 50).

    1 Referncia ao livro de Richard Sennet Carne e Pedra, em que o autor reconstitui historicamente a indiferena, a ausncia de contato e a perda de sentido desde

    aGrcia antiga at a Nova York multicultural contempornea.

  • Assim, o presente texto um admitir que o mximo que podemos fazer hoje, para o

    entendimento da metrpole e metropolizao apenas uma contribuio para esse trabalho

    coletivo como o fez Flvio Villaa ao publicar Uma contribuio para a histria do

    planejamento urbano no Brasil, in O processo de urbanizao no Brasil (DEK & SCHIFFER

    Orgs. 1999). Cientes de que o mximo que anlises de processos histricos podero subsumir

    seja uma vez mais teorizar sobre que se torna complexo.

    E uma vez mais teorizar, endossaria talvez, que um mnimo de perplexidade presente no

    objeto urbano enquanto forma histrica, ainda seja um mximo de complexidade desse objeto

    urbano na sua forma terica. Objetivando contribuir, portanto, com um mximo do mnimo,

    buscamos a menor distncia entre a histria e a teoria das/nas formas do espao.

    Espaos hbridos, hiper espaos

    Num mundo profundamente transformado por avanos tecnolgicos, urbanizado, a

    preocupao em relacionar a reflexo sobre a natureza textual do planejamento urbano e seu

    lugar de fala de atores e atores que constituem e instituem a metrpole, pode ser melhor

    ilustrada em determinadas realidades hbridas que do forma ao entendimento do hiper objeto

    urbano.

    Em tais realidades hibridas, os textos ou narrativas surgem como possibilidades

    concomitantes de processos identitrios em tempo real, hora historicizantes, hora ahistricos,

    porm, sempre socializantes. Nesse sentido, o paradoxo entre complexidade a complexidade do

    hiper objeto e a perplexidade que o plus de teorizao acerca da cidade, parece caracterizar o

    viver citadino, espacial e metropolitano em uma era do texto.

    Por outro lado, a construo dessa hiper-realidade nos obriga a pensarmos espao e

    espacialidade conjuntamente, encarando as prprias relaes sociais em sua complexidade

    econmica, poltica, sua dimenso cultural e (inter) subjetiva enquanto lugar e, tambm, a sua

    vinculao com o espao fsico originrio e pr-social, como diz Marcelo Souza , um

    lefevbriano. Sousa acredita que no mundo globalizado e prevalentemente urbanizado, j no

    possvel pensar somente o espao de forma isolada, mas as questes urbanas2 (SOUSA 2000:

    28).

    2 A expresso questo urbana tornou-se internacionalmente popular a partir da publicao da obra homnima de Manuel Castells, em 1972 ( SOUZA

    2000:41).

  • Buscando identificar lugares para que possamos visualizar melhor essa reflexo sobre a

    natureza textual do hiper objeto, podemos considerar trs tipos meta-urbanos: 1) Lugares

    relacionados a planejamentos e projetos; 2) lugares considerados histricos ou a ele relacionados;

    3) lugares de fronteira, ou espaos de conurbao, alm dos j apontados por diversos autores3.

    So a partir de tais lugares, que os crticos do planejamento urbano ou outros textos constituem

    lugares de fala que constituem e instituem a metrpole. Imiscuindo texto e matria tais lugares

    compem realidades hbridas que do forma ao entendimento do hiper objeto urbano.

    Constituindo uma cidade-texto, que pura teoria, pela via da crtica ao planejamento

    urbano, por um lado, aprofundam a distncia entre teoria e ao, por outro, instituem a hiper-

    realidade na forma-metrpole. Para Georges Balandier, h uma coisa viva recombinada,

    Em uma civilizao onde as fronteiras entre o natural e o artificial se tornam confusas,

    onde as proibiescategricas desaparecidas no asseguram mais sua defesa, o mundo do ser vivo

    abre-se todo explorao cientfica e expanso tcnica que empreende sua conquista, traando

    caminhos para sadas ainda pouco conhecidas (BALANDIER 1999:92).

    Conforme observa Joan Fujimura, o afrontamento entre diferenas textuais, finda por

    amalgamar posies muito distintas e argumentos associados a posies muito diferentes

    (FUJIMURA 2004). a esse amlgama textual que Otlia Arantes denomina animao sem

    frase: Assistimos hoje em dia a uma verdadeira avalanche discursiva e projetual que tomou de

    assalto no apenas a imaginao dos tericos, mas o que ainda teimamos em chamar de

    interveno urbana (ARANTES 2001: 135).

    Uma descendncia prolfica de Ddalo, diria ainda Balandier (idem, pg. 82).

    Imiscuindo texto e matria, palavra e espao os crticos do planejamento urbano contribuem de

    modo incisivo para que a histria da metropolizao seja tambm a histria da construo da

    hiper-realidade. E podemos registrar que as narrativas de atores e autores desenham semelhanas

    e diferenas entre campos que se defrontam, e desse embate que podemos registrar imagens

    dessa espcie de metamorfologia contida na hiper-realidade da metrpole em sua forma texto.

    3 Espaos liminares (ZUKIN 1996: 205-206); no-lugares (AUG 1994); entre-lugares (BHABHA 2003); espaos genricos (KOOLHAAS 2006); super

    espaos (JAMESON 2002); arquitetura da persuaso (VENTURI,;BROWN e IZENOUR), et all.

  • Referncias bibliogrficas

    ARANTES, O. Cultura da cidade: animao sem frase. Revista do Patrimnio, n 24. Braslia,

    IPHAN / Ministrio da Cultura, 1996, p. 229-240.

    BALANDIER, G. O ddalo: para finalizar o sculo XX. Bertrand Brasil: Rio de Janeiro. 1999.

    FUJIMURA, J. Como conferir autoridade ao conhecimento na cincia e na antropologia. In

    Conhecimento prudente para uma vida decente. SOUSA SANTOS (Org.). So: Paulo:Cortez.

    2004.

    JAMESON, F. Ps-modernismo: a lgica cultural do capitalismo tardio. So Paulo:

    tica:2002.

    SOUSA, M. O desafio metropolitano: um estudo sobre a problemtica scio-espacial nas

    metrpoles brasileiras.Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2000.

    ULTRAMARI, C. O fim das utopias urbanas. So Paulo: Studio Nobel. 2005.

    VENTURI, R. Complexidade e contradio em arquitetura. So Paulo: Martins Fontes. 1995.

    VILLAA, F. Uma contribuio para a histria do planejamento urbano no Brasil. In O

    processo de urbanizao no Brasil. (DAK e SCHIFFER Orgs.). So Paulo: Edusp. 1999.

    DAK, C. e SCHIFER, S. O processo de urbanizao no Brasil. So Paulo: Edusp. 1999.

  • PAISAGEM E TERRITRIO EM HEITORA-GO: CONSIDERAES

    PRELIMINARES

    Denis Castilho1

    Eguimar Felcio Chaveiro2

    Resumo

    Estudar os fenmenos a partir da Paisagem um passo importante nos estudos

    geogrficos. Elementos como forma, tamanho, cores, variaes, movimento aparente,

    etc., constituem o primeiro impacto da investigao. A aparncia do real est

    diretamente vinculada subjetividade, ao ngulo do olhar, s maneiras de perceber. O

    significado da paisagem, portanto, est intimamente vinculado dimenso senso-

    perceptvel de quem observa. Assim, ler a paisagem diferente de simplesmente v-la

    ou perceb-la. Nesse sentido, podemos considerar a Paisagem enquanto importante

    momento de anlise (plano conceitual); enquanto dimenso de um espao (plano real) e

    enquanto dimenso perceptvel ligada subjetividade (plano abstrato). Ento, elencar

    aspectos da Paisagem em Heitora constitui o primeiro passo de nossa anlise. Esta

    cidade nos apresentar enquanto pequena: a paisagem de Heitora. J, analisar as

    atividades desenvolvidas, entender a funo exercida pela cidade num sistema urbano

    (posio), compreender sua dinmica socioespacial, etc., constituem aspectos do

    territrio em Heitora, agora uma cidade local. Essa e a proposta de discusso.

    Palavras-chave: Paisagem, territrio, cidade pequena, cidade local e Heitorai-GO.

    Introduo

    A importncia de considerar as singularidades em contextos conjunturais est no fato do

    espao geogrfico ser indivisvel. Somente as teorias ultrapassadas consideram o

    espao fragmentado, dividido. Nesse sentido, para compreendermos o espao em

    Heitora a partir das categorias Paisagem e Territrio, preciso considerar as atuais

    formas de organizao do territrio goiano. E, para interpretar essa organizao se faz

    necessrio considerar o processo de modernizao que ocorreu neste Estado. Nesse

    sentido, no primeiro momento deste artigo levantamos uma discusso sobre o processo

    1 Graduando em Geografia pelo IESA / UFG.

    2 Pofessor Doutor do IESA/UFG

  • de modernizao do territrio goiano. No segundo momento, abordamos a paisagem e o

    territrio de Heitora, e no terceiro, as consideraes finais.

    Por vias de determinaes de publicao, no apresentaremos neste artigo, imagens,

    figuras e tabelas. Isso prejudica a didtica das discusses, j que restringimos ao

    formato textual. As imagens e tabelas esto no painel, apresentado neste evento

    Cidade e Educao. Por isso, pedimos a compreenso do leitor. Vamos ento, ao que

    interessa.

    O processo de modernizao do territrio goiano

    Esta tarefa no fcil: dizer em poucas linhas o processo de modernizao do territrio

    goiano. Mas, j que nossa proposta diz respeito uma anlise de Heitora a partir de sua

    expresso na paisagem e de sua dimenso territorial, h que, no mnimo tecermos

    consideraes sobre o territrio de sua insero, que o goiano.

    A industrializao que ocorreu em Gois, mesmo que concentrada no campo, acabou

    por caracterizar a modernizao deste territrio. Ou seja, a matriz espacial em Gois a

    modernizao (Mendona, 2001).

    Em relao s transformaes, a dcada marco em Gois 1970. Segundo Arrais (2004)

    nessa dcada que a populao das cidades comeou a superar a populao residente

    no campo (p. 18). A mudana na base econmica primria, incentivos estatais para a

    modernizao da agricultura, a fim de promover o aproveitamento racional do cerrado

    associado aos investimentos estatais em infra-estrutura, proporcionaram grande

    crescimento econmico nos anos 70 e 80. Com uma tecnologia baseada, principalmente

    na mecanizao da produo agrcola, inicia-se o processo de modernizao e Gois se

    insere na economia nacional e internacional. Deus (2002) afirma que a partir desses

    processos Gois Consolida-se como moderna rea de produo agroindustrial (p.

    177).

    Porm, configurou-se um territrio diferenciado. A modernizao se deu principalmente

    na parte central e sul de Gois, onde a populao maior. As demais regies, como

    norte e noroeste, permaneceram com um desenvolvimento econmico abaixo da mdia

    goiana e com uma populao menor.

    Pelo fato das indstrias transformadoras continuarem, principalmente, na regio sudeste

    do Brasil, a modernizao goiana considerada como conservadora. Ademais, mesmo

    adaptando seu territrio frente aos fluxos da globalizao, Gois continua com traos

    primitivos, mas isso no impediu que a hegemonia fosse da modernizao, pois

  • ocorreu de fato a transformao do territrio pela globalizao ou, nos termos de

    Chaveiro (2004), a urbanizao do serto. A partir dessas consideraes, possvel

    entender o porqu da grande relao que grande parte das cidades goianas mantm com

    o campo.

    Com uma expressiva urbanizao, este territrio revela muitas cidades, dentre elas as

    cidades que numa primeira impresso nos aparece como pequenas. Arrais (2004)

    classifica cidades com menos de 10 mil habitantes como sendo pequenos municpios.

    Segundo o autor dos 246 municpios goianos, 65,71% tm populao menor ou igual a

    10.000 habitantes, concentrando 14,66% da populao total de Gois. So 158 pequenos

    municpios. Heitora est includa nesta classificao quantitativa. Ela tem em sua

    paisagem uma expresso de cidade pequena. Mas, como sua dinmica socioespacial?

    Ela, como a grande maioria das cidades goianas, tem forte relao com seu espao

    rural? Afinal de contas, o que a leitura territorial, alm da paisagstica, podem nos

    revelar de Heitora? Vejamos os dois passos.

    Paisagem em Heitora

    A Paisagem um momento importante no processo de investigao dos fenmenos. Ela

    a expresso aparente do espao. Como mtodo, o primeiro passo, o primeiro impacto

    nos sentidos do pesquisador/investigador. Segundo Alves et al (2004), um dos pontos de

    partida da anlise geogrfica pode ser a Paisagem. Santos (1988) argumenta que:

    Tudo aquilo que ns vemos, o que nossa viso alcana, a paisagem. Esta

    pode ser definida como o domnio do visvel, aquilo que a vista abarca. No

    formada apenas de volumes, mas tambm de cores, movimentos, odores,

    sons, etc. (p. 61).

    Ento, h a Paisagem como materialidade concreta, ou seja, a expresso aparente do

    espao. Mas ela tambm uma manifestao da dimenso perceptvel da dinmica

    socioespacial, onde h uma relao dialtica entre sujeito e objeto (ALVES et. Al.,

    2004). Nesse sentido, podemos considerar a Paisagem enquanto importante momento

    de anlise geogrfica (plano conceitual); enquanto dimenso de um espao (plano real)

    e enquanto dimenso perceptvel ligada subjetividade (plano abstrato) (Castilho,

    2005).

  • O que dizer de uma cidade (Heitora) com 3.711 habitantes? (Seplan, 2006). bvio que

    os nmeros, sozinhos, no dizem muito de uma dada realidade. Mas, o que a paisagem

    de Heitora apresenta, ou melhor, o que dela temos dizer? Essa cidade, que dista 123

    km de Goinia, num primeiro momento da investigao nos apresenta como pequena:

    a paisagem de Heitora. Esta afirmao possvel a partir das unidades forma, tamanho,

    cores, etc. Neste artigo no mostraremos fotos ou tabelas, at mesmo pelas

    determinaes de publicao. Mas, atravs do painel (forma de apresentao deste

    artigo no evento Cidade e Educao), algumas figuras, imagens e tabelas auxiliaro o

    nosso discurso. Mas continuando...

    Alm do tamanho, elementos como a carroa, o p de manga em grandes quintais

    indicam a forte relao com o campo e a presena de elementos da tradio. Aqui

    podemos citar a tranqilidade, o sossego, o habito de sentar em frente casa nos finais

    da tarde... So elementos e condies das tradies goianas. O pouco movimento,

    explicado pela pouca circulao de capital; a inexistncia de grandes edificaes; a

    praa e o pit-dog e logo adiante a Igreja catlica (antiga capela); mercados com

    produtos bsicos aougue, frutaria, padaria, etc.; so fceis de serem encontrados.

    Esses so alguns elementos fceis de serem notados na paisagem de Heitora e em

    muitas cidades goianas. As configuraes territoriais dessa cidade, como por exemplo, a

    centralidade econmica que ela ocupa em relao ao seu espao imediato, caracteriza a

    paisagem. Ou seja, nossa anlise sobre a paisagem de Heitora nada mais que, uma

    anlise da manifestao aparente resultante da dinmica territrio em Heitora. Por isso,

    vejamos essa dinmica.

    Elementos territoriais em heitora

    A dinmica socioespacial de Heitora, tanto em nvel municipal, regional, estadual, e

    assim por diante, territorial. Nesse sentido, partiremos do pressuposto que o territrio

    uma categoria para se pensar o espao; atravs dele que buscamos concretizar o estudo

    socioespacial. De acordo com Machado (1997), a questo fundamental na Geografia,

    [...] a de saber como se organiza uma sociedade na relao com o espao, o

    que pressupe examinar minuciosamente fatores materiais e no materiais.

    Nesses termos, analisar concretamente o territrio significa entende-lo como

    um produto da histria da sociedade, e que, portanto, est em constante

    modificao. Ele o resultado de um processo de apropriao de um grupo

    social e do quadro de funcionamento da sociedade, comportando, assim, ao

  • mesmo tempo, uma dimenso material e cultural dadas historicamente (p.

    27, grifo nosso).

    A autora chama a ateno para a importncia do estudo territorial na Geografia. E

    acrescenta que, para o aprimoramento da anlise contempornea, necessrio

    considerar no apenas as grandes transformaes em termos mundiais dadas pelo

    desenvolvimento das redes tcnicas, mas tambm o novo funcionamento do territrio

    que ocorre em nveis locais (MACHADO, 1997,p. 27). Ou seja, como afirmou Santos

    (1996), so nos lugares que a globalizao se concretiza. Sem acontecer de fato no

    espao, a globalizao no tem sentido, se torna uma coisa abstrata.

    Melo (2005), comenta que o mundo globalizado d outro sentido ao territrio,

    modifica o seu contedo, estabelece nele diferentes formas (2005, p. 144). Por

    conseguinte, as novas tcnicas possibilitam maior rapidez, o tempo se torna mais rpido.

    O resultado do processo de (re)significao do territrio pela globalizao que tudo

    que existe entra em contado com o mundo, os pontos isolados se ligam ao planeta

    (CARLOS, 1996).

    Para ir alm da paisagem de Heitora, preciso analisar sua dinmica socioespacial, o

    territrio. Interessante que tal dinmica, que o territrio, tambm material; se

    expressa em formas, em aparncias. Neste caso a paisagem do territrio. Estamos nos

    referindo uma imbricao real territrio-paisagem , ou seja, o espao tem

    dinmicas/relaes (o territrio), que se expressa em formas, cores/aparncias (a

    paisagem). Nesse sentido, por isso que, em termos territoriais, afirmamos que Heitora

    uma Cidade Local. Aqui estamos partindo do critrio funo. E se tal cidade exerce

    uma funo econmica somente em seu entorno imediato (o prprio municpio),

    consideramo-la como cidade local.

    Esse termo foi proposto por Santos (1979). Segundo este autor cidade local corresponde

    a aglomerao capaz de responder s necessidades vitais mnimas, reais ou criadas de

    toda uma populao, funo esta que implica uma vida de relaes (p. 71). No

    contexto atual de globalizao, algumas perguntas so levantadas na proposta do estudo

    territorial em Heitora: qual a lgica territorial imposta? Como Heitora se coloca

    nessa lgica e de que forma os cdigos, os smbolos, as mercadorias existem nessa

    cidade? Como os sujeitos se constroem no espao da cidade local em Gois?

    Heitora tem uma organizao espacial que nos faz entend-la como cidade local no

  • territrio goiano. Mas, o que est por traz dessa organizao? Noutros termos: de que

    forma o espao produzido, o qual resulta numa dada organizao?

    Responder essas perguntas no tarefa rpida, merece um debate detalhado. Mas, para

    iniciarmos, vamos levantar algumas consideraes. Em conseqncia do fenmeno da

    globalizao, uma lgica imposta, a do mercado. Desse modo, Heitora ocupa uma

    posio inferior no sistema de consumo e de produo. Isto ocorre devido a pouca

    quantidade de consumidores.

    Pelo fato de Heitora situar entre duas cidades maiores Itabera e Itapuranga -, as

    necessidades de bens e servios no satisfeitas localmente sero buscadas nessas

    cidades. Este fato explica o carter local de Heitora. Aqui estamos falando de Posio,

    j que o acesso as duas cidades fcil. Conseqncia disso - como j afirmamos ao

    tratar da paisagem -, a pouca dinmica de capital, que articula um ritmo lento.

    O emprego limitado. Alm do trabalho rural e das funes da Unio (educao,

    sade, administrao, aposentadorias, bolsas, etc), que aplica renda no municpio

    atravs dos salrios, h um comercio relativamente pequeno, que, consequentemente

    absorve um nmero pequeno de empregados. Por isso, muitos jovens migram para

    Goinia, outras cidades e at mesmo para o exterior. Isso concorre para uma

    estabilizao do nmero de habitantes e at mesmo uma diminuio.

    A relao histrica com o campo explica, em Heitora, uma estrutura de poder

    representada no fazendeiro. Com costumes centrados na tradio, essa estrutura ,

    portanto, machista e patrimonialista. Ento, no sistema eleitoreiro, mantm de certa

    forma, o voto de cabresto. So caractersticas parecidas com o coronelismo, porm (re)

    significado (Campos, 1994). Alguns elementos da tradio goiana, como o que

    mostramos, ainda existe facilmente em Heitora. Ela possui esses traos, que lembram a

    antiga vida no campo, mas inserida num tempo diferente, que o da lgica moderna.

    Por isso, smbolos como celular, internet, tv cabo, a lgica do mercado, a forte relao

    econmica com cidades vizinhas e Goinia, etc., se imbricam alguns elementos j

    deteriorados na metrpole ou mesmo nas cidades regionais. Assim, configura-se em

    Heitora um espao peculiar.

    Consideraes finais

    As consideraes aqui levantadas so preliminares. Por isso, e at mesmo pelas poucas

    linhas, no esgotamos o assunto, pelo contrrio.

  • A nossa proposta de leitura de Heitora, diz respeito, primordialmente, s atividades

    desenvolvidas, a imbricao modernizao / tradio, a funo exercida por essa cidade

    em seu entorno (posio). Diz respeito sua organizao socioespacial que o resultado

    de uma dinmica. Portanto, ficam aqui as propostas e inicio do debate. O fizemos de

    forma simples atravs da paisagem e do territrio, o que no impede outros vieses para

    leitura de outras cidades.

    Referncias bibliogrficas

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    geogrficos. n.11, v.1. p.151/173. Presidente Prudente: Unesp, 2004.

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    CHAVEIRO, E. F. A urbanizao do serto goiano e a criao de Goinia. In: GOMES,

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    SANTOS, Milton. Espao e sociedade: ensaios. Petrpolis: Vozes, 1979

    _________. Metamorfose do espao habitado. So Paulo; HUCITEC, 1988.

    ________. A Urbanizao Brasileira. So Paulo: Hucitec, 1993.

    ________. A natureza do espao: tcnica e tempo, razo e emoo. So Paulo-SP:

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    Secretaria do Planejamento e Desenvolvimento. Anurio Estatstico do Estado de Gois

    2005. Goinia: SEPLAN, 2006.

  • TERRITORIALIZAO DO CAPITAL: A PRODUO ESPACIAL

    SOB O FORDISMO

    Lucas maia dos Santos

    Professor do IESA/UFG

    Mestrando do Programa de Pesquisa

    e Ps-graduao em Geografia IESA/UFG

    O que no est em algum lugar no existe, j asseverava Aristteles. Entretanto, mais do que

    meramente ser o locus, ou seja, localizao das coisas, aes, instituies, pessoas, objetos

    etc. o espao ele prprio um elemento inextrincvel da sociedade. Milton Santos ao iniciar

    as formulaes do que ficou conhecido no pensamento geogrfico como paradigma scio-

    espacial, introduz a idia de Formao Scio Espacial, ou seja, no h sociedade a-

    espacial, fora do espao.

    nesta perspectiva que ele cunha em Por Uma Geografia Nova a idia de espao como

    instncia da sociedade (Santos, 1978). Tal como a economia, poltica, cultura, axiologia

    etc., tambm o espao uma estrutura social, imanente e ontolgica sociedade. Esta

    perspectiva tem o mrito de reconhecer a materialidade do espao, de iniciar as reflexes

    sobre sua historicidade, sobre o contedo histrico do espao social. Representou um avano

    na compreenso da sociedade, pois trouxe baila uma discusso que era mais ou menos

    negligenciada. Contribuiu tambm para uma nova leitura do espao.

    claro que ele no retirou esta perspectiva do nada, somente de sua mente inventiva, mas

    insere-se numa tradio de pensadores que j vinham incluindo na crtica social a anlise do

    espao. Cito, no mbito da cincia geogrfica, a emergncia do pensamento de Pierre George

    e Bernard Kayser, nos anos de 1950, com a idia de Geografia Ativa. A crtica produzida no

    final da dcada de 1960 e na de 1970 nos Estados Unidos, onde o pensamento de Wilian

    Bunge, Richard Peet e David Harvey se destacam; na Frana, o pensamento de Yves Lacoste

    etc. Em outras reas, a crtica ao urbanismo produzida pela Internacional Situacionista, a idia

    de espao socialmente construdo presente em Henri Lefebvre, a anlise do espao urbano

  • feita por Manuel Castells etc. So provas de que seu pensamento segue uma trajetria que a

    histria lhe coloca.

    Em todo caso importa-nos a idia de espao como sendo uma produo social, uma

    condicionante da produo e reproduo social, como imanente sociedade e tambm como

    tendo uma ontologia prpria. Estas caractersticas nos permitem indicar elementos para a

    compreenso da sociedade vista sob a tica geogrfica, ou seja, da sua territorializao ou

    materializao espacial. Nesta perspectiva, indagamos: como se materializou territorialmente

    o fordismo? Quais os princpios e as implicaes de sua espacializao?

    Utilizaremos aqui a terminologia empregada por Viana (2003) em sua anlise dos estgios ou

    das fases pelas quais passou o modo de produo capitalista. Ele denomina regime de

    acumulao cada uma destas fases. Um regime de acumulao uma forma assumida pelo

    estado, pelo processo de valorizao e pelas relaes internacionais. A combinao destes

    elementos caracteriza distintas fases do modo de produo. O fordismo uma delas.

    Entretanto, para ele, a expresso fordismo no reflete de maneira adequada a realidade que

    busca explicar, pois refere-se somente ao processo de valorizao, ficando os dois outros

    elementos componentes do regime de acumulao negligenciados. Para resolver este

    problema, o autor prope o termo regime de acumulao intensivo-extensivo, superando as

    deficincias da expresso fordismo.

    O regime de acumulao intensivo-extensivo , desta maneira, baseado, fundamentalmente,

    mas no unicamente, na extrao de mais valia relativa nos pases de capitalismo avanado e

    mais valia absoluta nos pases de capitalismo subordinado. A forma assumida pelo estado

    conhecida na literatura como keinesiana, de bem-estar-social ou integracionista,

    fundamentada na idia de seguridade social dos trabalhadores, regulao intensiva dos

    mecanismos econmicos, formando o corporativismo caracterstico deste perodo, ou seja, a

    trade: ESTADO SINDICATO CORPORAO. As relaes internacionais so

    denominadas pelo autor de oligopolismo internacional. o perodo da instalao das relaes

    de produo capitalistas em quase todos os territrios do mundo.

    Aqui j comearam a se apresentar facetas da dimenso espacial do regime de acumulao

    intensivo-extensivo. Representa j uma diferenciao, do ponto de vista das relaes

  • internacionais ou da diviso internacional do trabalho (DIT). No perodo colonial e tambm

    no neo-colonialismo a DIT caracterizava-se por um rgido controle por parte das metrpoles

    do tipo de produo e desenvolvimento tecnolgico das colnias. Era terminantemente

    proibido s colnias qualquer desenvolvimento de manufaturas em seus territrios. A

    colonizao inglesa na ndia exemplifica bem este processo. Quando os ingleses aportaram

    em territrio indiano, j havia um certo desenvolvimento nas cidades de uma manufatura

    nativa. A coroa inglesa tratou imediatamente de destru-las, subordinando sua colnia, em

    termos de abastecimento de produtos manufaturados, s manufaturas vindas da Inglaterra

    (Bernardo, 2000). Com a crise dos sistemas neo-coloniais e o estabelecimento das relaes

    oligopolistas internacionais, os territrios subordinados comearam a receber dos pases

    imperialistas alm de grandes investimentos em seus territrios, tambm a instalao de

    empresas multinacionais. Deste modo, as ex-colnias e ex-neo-colnias comearam a

    produzir produtos industrializados no interior de seus territrios.

    Devido ao corporativismo fundamentado na trade SINDICATO ESTADO

    CORPORAO e para ampliar mercados, bem como encontrar mecanismo para fugir

    tendncia declinante da taxa de lucro, os capitais privados dos pases de capitalismo avanado

    exportaram parte de seu capital produtivo para os pases de capitalismo subordinado,

    estabelecendo uma diviso territorial do trabalho, na qual a forma de predominncia de

    extrao de mais-valor determina lugares prioritrios da produo. Esta DIT ou diviso

    territorial do trabalho configurou relaes no mbito internacional mais ou menos novas ou

    pelo menos diferentes. Entretanto, at aqui demonstramos como o regime de acumulao

    intensivo-extensivo procurou se distribuir espacialmente. Resta demonstrar como produziu

    espaos diferenciados, sendo estes espaos condicionantes desta distribuio.

    (Lipietz, 1996) demonstra como neste regime de acumulao a formatao espacial se d. Nos

    pases de capitalismo avanado (fordismo central) ocorreu um intenso processo de xodo

    rural. Entretanto, isto no representou um maior crescimento das metrpoles em detrimento

    das cidades mdias e pequenas. Ao contrrio, em pases como Estados Unidos e Frana, por

    exemplo, a organizao fordista da rede urbana implicou na criao de ramos industriais inter-

    regionais cuja materializao no espao foi o reforo da criao de reas de concepo e

  • gesto da produo. Nesta concepo, as cidades mdias assumem papel importante como

    locus de territorializao do aparato produtivo e as metrpoles assumem a responsabilidade da

    gesto e concepo da produo. Deste modo, o produto foi a industrializao e conseqente

    urbanizao das cidades mdias.

    J nos pases de capitalismo subordinado (fordismo perifrico) fenmeno diferente se passa.

    Tambm o xodo rural uma caracterstica marcante. Porm, o destino dos migrantes no so

    as cidades mdias, mas sim as metrpoles. A penetrao de capital produtivo dos pases de

    capitalismo avanado nos de capitalismo subordinado a maneira encontrada de valorizar o

    capital, buscando contornar a tendncia declinante da taxa de lucro. Este processo implicou na

    criao das famosas empresas multinacionais. Estas corporaes se instalaram

    predominantemente em reas cujas condies necessrias produo j estavam instaladas.

    As metrpoles foram seu palco. Assim,

    (...) nos pases do Sul, onde desenvolveu um fordismo perifrico fundado sobre

    salrios muito baixos, a megapolizao (isto , o crescimento explosivo de uma ou

    duas metrpoles por pas) tornou-se regra geral. Os camponeses, os mestios ou

    indgenas, fugindo do campo, precipitaram-se em direo s capitais regionais e de l

    em direo ao grande centro urbano do pas, aquele onde o mercado de trabalho era

    mais ativo. Por outro lado, as empresas nacionais ou estrangeiras, em busca de mo

    de obra abundante e barata, foram instalar-se nas megalpoles, convalidando assim a

    estratgia dos migrantes. Da a exploso urbana da Cidade do Mxico, de So Paulo,

    de Bombaim, do Cairo, de Jacarta ou de Bangcoc. (Lipietz, 1996, p. 4)

    As categorias lefebvreanas de indutor e induzido (Lefebvre, 2001) so-nos bastante teis para

    compreender tal processo. O indutor a industrializao, o induzido a urbanizao. Ou seja,

    medida que a lgica da indstria vai se impondo, comea a gerar modificaes espaciais, que

    na leitura de Lefebvre a urbanizao. A constituio de realidades urbanas marca a

    paisagem e os modos de vida da sociedade industrial. A cidade industrial seu produto.

    Entretanto, esta cidade industrial no se estabelece somente em reas onde haja a

    predominncia da produo industrial em termos de ocupao de mo de obra, mas sim

    criao da lgica industrial ou capitalista de organizar e produzir o espao urbano.

  • Assim, para concluirmos, a forma assumida pelas cidades inserem-se numa dada estrutura e

    desempenham uma determinada funo. Forma, estrutura e funo (Lefebvre, 2001) so

    tambm categorias que nos auxiliam a olhar o mundo e compreend-lo a partir de sua

    dimenso espacial. Comparativamente, os fordismo perifrico e central assumiram

    formas e funes espaciais diferenciadas dentro da estrutura capitalista.

    Referncias consultadas e recomendadas

    BERNARDO, Joo. Transnacionalizao do capital e fragmentao dos trabalhadores:

    ainda h lugar para os sindicatos?. So Paulo: Boitempo Editorial, 2000.

    HARVEY, David. Condio ps-moderna. 10 ed. So Paulo: Loyola, 2001.

    LEFEBVRE, Henry. O direito cidade. So Paulo: Centauro, 2001.

    LIPIETZ, Alain. Globalizao, reestruturao produtiva e impacto intra-urbano. In:

    SEMINRIO POLTICAS PBLICAS PARA O MANEJO DO SOLO URBANO:

    experincias e possibilidades. So Jos dos Campos, agosto, 1996. Anais ... So Paulo: Polis,

    1996.

    SANTOS, Milton. Por uma geografia nova. So Paulo: HUCITEC, 1978.

    VIANA, Nildo. Estado Democracia e Cidadania: a dinmica da poltica institucional no

    capitalismo. Rio de Janeiro: Achiam, 2003.

  • A CARTOGRAFIA E A ANLISE DE REAS DE RISCO DE GOINIA NO

    PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA MEDIANTE O USO

    DE MAQUETE

    Gisleide da Silva Couto-Bolsista Prolicen - IESA-UFG

    Carla Rodrigues da Silva Voluntria-IESA-UFG

    Eliana Marta Barbosa de Morais-Professora- IESA-UFG

    Resumo

    A pesquisa prope o uso de maquetes no processo de ensino-aprendizagem de Geografia

    como um importante recurso de apoio didtico-pedaggico, na medida em que a maquete

    facilita a percepo do espao atravs da viso em trs dimenses. O principal objetivo

    conscientizar os professores sobre a importncia deste recurso metodolgico no ensino de

    cartografia, que por sua vez auxilia na compreenso do espao geogrfico pelo aluno; alm de

    dar suporte terico metodolgico e tcnico para a utilizao de maquetes em sala de aula.

    Entende-se que so muitas as situaes scio-espaciais que podem ser abordadas mediante a

    elaborao de maquetes. Considera-se relevante a temtica reas de risco especificamente do

    municpio de Goinia por ser a cidade sede dos sujeitos da pesquisa. A metodologia

    referendada pela pesquisa qualitativa, na medida em que pesquisador e situao/sujeito tm

    contato direto; em que a descrio e a subjetividade dos dados percebidos pelos sujeitos so

    relevantes; h a valorizao do processo e no somente do produto. J foi realizada a reviso

    bibliogrfica mediante a elaborao de texto base sobre ensino de Geografia, reas de risco,

    cartografia, maquetes, levantamento da carta de risco de Goinia e visitas tcnicas nos rgos

    de planejamento. Posteriormente ocorrer regncia de aulas experimentais em uma escola

    utilizando a elaborao e interpretao de maquetes com a finalidade de legitimar na prtica

    as reflexes feitas. As atividades resultaro em relatrio final e subsdio para realizao de

    cursos de extenso para professores com vistas elaborao e anlise de maquetes.

    Palavras-chave: ensino de geografia, cartografia, maquetes, reas de risco.

    O ensino de Geografia comumente no desperta o interesse do aluno. Esse

    problema se agrava quando focaliza-se alguns contedos, em especfico a cartografia, onde

    existe uma grande dificuldade entre os professores em abord-la em sala de aula. Para o

    aluno conhecer o espao geogrfico e seus efeitos nas prticas sociais so necessrios mais

    que uma observao e descrio dos diferentes lugares, preciso exercitar os processos

    mentais de anlises e de snteses da totalidade do espao geogrfico conduzindo

    compreenso dos seus significados sociais.

    Existem vrias maneiras de se ler e analisar o espao, assim prope-se ao ensino de

    cartografia a utilizao de maquetes como recurso didtico.

  • Entende-se que so muitas as situaes scio-espaciais que podem ser abordadas,

    neste trabalho, as reas de risco de Goinia configuram-se enquanto temtica principal. Este

    tema faz parte da realidade de muitos alunos e infelizmente so restritos os apoios didtico-

    pedaggicos disponibilizados.

    Uma pesquisa feita pelo Ncleo de Estudos e Apoio ao Professor de Geografia

    IESA/UFG sobre a anlise que os professores realizavam do espao urbano goiano

    demonstrou a preocupao dos docentes quanto ao espao urbano direcionando a

    compreenso dos motivos pelos quais h a ocupao de reas de risco. Portanto, existe a

    necessidade de contribuir com os saberes docentes para anlise e compreenso da temtica

    rea de risco. Este tema auxilia a refletir sobre os principais problemas urbanos como

    moradia, crescimento desordenado, polticas pblicas, planejamento, desigualdade social,

    excluso, etc.

    Neste contexto algumas reflexes tornam-se relevantes: Como despertar o aluno

    para a compreenso do espao geogrfico e os seus significados sociais? Porque importante

    o uso dos recursos de apoio didtico-pedaggico no processo de ensino-aprendizagem?Quais

    as principais dificuldades encontradas pelos professores para o uso de maquetes?Como

    auxiliar esses profissionais para que atravs da interao professor/aluno/cotidiano se

    obtenha maior xito no processo de ensino-aprendizagem?

    O objetivo desta pesquisa contribuir com o processo de ensino-aprendizagem em

    Geografia no ensino fundamental do municpio de Goinia atravs da anlise de reas de

    risco de Goinia mediante o uso de maquetes. J os objetivos especficos so: identificar as

    reas de risco de Goinia; identificar os principais problemas fsico-sociais das reas de risco

    de Goinia; identificar as tcnicas cartogrficas e materiais de elaborao necessrios para a

    construo da maquete; eleger uma das reas de risco de Goinia, identificar uma escola

    localizada prxima a esta rea e apresentar aos professores o projeto, a proposta

    metodolgica e convid-los juntamente aos alunos a participarem de sua elaborao e

    anlise.

    A metodologia referendada pela pesquisa qualitativa, na medida em que pesquisador e

    situao/sujeito tm contato direto. O processo entendido aqui resulta numa interao entre

    investigadores e sujeitos que se influenciam, embora, ambos tenham uma viso de mundo

    particular.

    Os procedimentos metodolgicos da pesquisa so: reviso bibliogrfica com os

    principais temas do projeto , a saber: cartografia, rea de risco, metodologia de ensino e

    recursos didticos pedaggicos; visita aos rgos de planejamento para realizar levantamento

  • dos materiais cartogrficos referentes s reas de risco de Goinia; construo de texto-base

    com as principais noes cartogrficas necessrias para confeco de uma maquete (escalas

    vertical e horizontal, curva de nvel, exagero, etc) e sobre rea de risco de Goinia; relacionar

    os materiais necessrios para a confeco da maquete; escolha e visita da rea a ser

    trabalhada e da escola; a construo da maquete: com nfase nas noes cartogrficas e as

    caractersticas que identificam uma rea de risco; realizar relatrio final; apresentar o

    resultado do presente trabalho em eventos relativos rea da educao e da Geografia.

    Esta pesquisa encontra-se em andamento. Realizaram-se as seguintes etapas: reviso

    bibliogrfica referente aos temas abordados na pesquisa com o objetivo de dar suporte

    terico e metodolgico para o desenvolvimento do projeto; visita tcnica ao rgo de

    planejamento de Goinia (SEPLAN) com o intuito de buscar informaes sobre reas de

    risco do municpio. Foi feita a opo pelas reas inseridas nos fundos de vales,

    especificamente no trecho do Crrego Cascavel situado na Regio de Campinas, por serem

    lugares imprprios para ocupao, suscetveis a inundaes devido impermeabilizao das

    vertentes, ravinamentos, boorocas, etc. Escolheu-se a carta com a escala mais adequada

    para representao em maquetes. Posteriormente ser realizada uma oficina para as alunas

    que esto desenvolvendo o projeto e alunos do curso de graduao para confeco da

    mesma. Esta oficina ser ministrada pela orientadora da presente pesquisa e contar com uma

    carga horria de 4horas/aula. Aps estas etapas ocorrer uma visita de campo na escola

    eleita, explanao do projeto aos sujeitos da pesquisa, regncia de aula experimental com

    elaborao e interpretao de maquete para legitimar na prtica as reflexes feitas. E por

    ltimo, descrio, reflexo e avaliao das aulas e de todo o processo de trabalho, resultando

    em relatrio final que ir contribuir com a prtica docente e o ensino de Geografia.

    Referncias Bibliogrficas

    NASCIMENTO; Maria Amlia L. S. & FILHO, Antonio de Posdest. Boletim Goiano de

    Geografia. Departamento de Geografia- Instituto de Qumica e Geocincias. Universidade

    Federal de Gois. Vol. 13. Ano 1993.

    SILVA, Jos Augusto. Recursos de Apoio Didtico-Pedaggica na Educao Ambiental.

    UNESP,Presidente Prudente, SP -2001. Dissertao (Mestrado).

    RIBEIRO, Iraciara Aparecida Roque de Arajo. A escola e o ensino de Geografia como

    parceiros na gesto urbana _ Universidade Federal de Gois _ Monografia 2005.

  • A ESCOLA E O ENSINO DE GEOGRAFIA COMO PARCEIROS NA GESTO

    URBANA

    Iraciara Aparecida Roque de Arajo Ribeiro Mestranda UFG

    Msc. Eliana Marta Barbosa de Morais Professora IESA/UFG

    O processo de formao das cidades independentemente de serem planejadas ou no, tiveram

    como elemento indispensvel os recursos hdricos. No importa se na Antiguidade ou nos

    dias atuais, o tempo e o espao geogrfico, a gua sempre ter sua relevncia. A cidade de

    Goinia, da mesma forma, para ser a nova capital do Estado de Gois, teve como requisito

    essencial, ao seu planejamento, rica rede hidrogrfica. Medidas governamentais adotadas

    para solucionar impactos negativos no meio, no levam em conta a importncia de um

    planejamento e a necessidade de evidenciar a educao voltada para a prtica social. Com

    intuito de compreender o cotidiano urbano, mediante as contribuies da Geografia escolar e

    da Geografia cientfica, tendo como subsdios essas categorias de anlise geogrfica. nesta

    perspectiva que este trabalho faz um estudo do meio, a sub-bacia do crrego Cascavel,

    mediante parcerias realizadas entre o ensino de Geografia e os rgos gestores da cidade.

    Esta experincia prtica possibilitou um trabalho de Geo-educao, envolvendo a SEMMA,

    os alunos da 5 srie da Escola Municipal Jarbas Jayme e o ensino de Geografia, com o

    objetivo de discutir a problemtica ambiental da cidade de Goinia tendo como foco

    principal questo da gua.

    Palavras-Chave: Cidade, Gesto Urbana, Geografia Escolar.

    A gua sempre esteve presente no incio de formao das cidades, mesmo quando no

    planejadas, o que evidencia que ela um fator indispensvel a todo tipo de vida. A gua teve

    sua importncia desde os primrdios. Na Antiguidade, por exemplo, os primeiros

    agrupamentos ocorrem s margens dos cursos dgua. A gua sempre foi considerada um

    recurso primordial vida das cidades, por ser fundamental a sobrevivncia do ser humano.

    Embora no houvesse discusso, isto , planejamento tcnico da forma como existe hoje para

    a construo de uma determinada cidade os primeiros agrupamentos humanos surgiram s

    margens dos rios.

  • Portanto, tanto o arranjo espacial do incio desses povoados, como os meios urbanos da

    atualidade revelam que a gua o fator principal para o incio das cidades, por ser

    indispensvel sobrevivncia humana.

    Ainda na histria antiga viu-se a relevncia das guas do Rio Nilo para o povo egpcio.

    GARCIA (1998, p.36) argumenta, a esse respeito, que:

    Se as guas falassem a lngua dos homens, as guas do Rio Nilo seguramente

    contariam a histria do Egito. Solitrio e, quase sempre, sereno, o Rio Nilo tem sido,

    ao longo dos tempos, uma presena marcante e indispensvel na vida dos homens

    que, desde a Antiguidade, vivem no Egito.

    O Rio Nilo cortando o Egito no sentido sul-norte, com suas cheias transbordavam e traziam

    sedimentos frteis, que deixados ao longo de sua plancie fertilizava o solo proporcionando

    uma agricultura farta, constituindo-se numa ddiva dos deuses, pois evidenciava a

    possibilidade de vida daquele povo.

    Ainda na Antiguidade, na regio hoje conhecida como Oriente Mdio, povoaes davam

    incio a agrupamentos as margens dos rios Tigres e Eufrates.

    Apresenta-se ento, alguns elementos histricos que auxiliam a entender quais os aspectos do

    espao geogrfico foram utilizados como referncia para realizar a transferncia da capital do

    Estado de Gois para Goinia.

    Um dos discursos daqueles que eram favorveis construo de uma nova capital, apoiava-se

    na localizao geogrfica da antiga capital, ao evidenciar que esta se constitua em um

    problema para servir de centro administrativo para o Estado. Soma-se a este aspecto, a

    insalubridade de seu clima, alm de fatores ideolgicos e polticos materializados nas disputas

    oligrquicas locais. Esses fatores ideolgicos e polticos, no sero foco desse trabalho, a

    nfase ser dada questo da importncia dgua para a construo da cidade de Goinia.

    Pedro Ludovico justificou, ainda, necessidade de uma nova capital, que estivesse localizada

    em uma bacia hidrogrfica com abundncia de gua, alm de outros elementos. PALACIN

    (1976, p.30), destaca uma das perspectivas em que a gua aparece no discurso:

    O requisitrio contra Gois j nos bem conhecido: o clima e as pssimas condies

    higinicas sem gua, sem esgotos, sem espao vital luz e fora carssimas, as

    mais caras de toda a nao, pssimas comunicaes. Uma cidade sem vida prpria,

    parasita vivendo s custas do Estado. O problema da falta de gua e a escassez de

    esgotos eram de difcil soluo, pois o que o municpio conseguia arrecadar era

    insuficiente para realizar obras de captao da gua bacia do Rio Ur e canalizar os

    esgotos. Assim Pedro Ludovico argumentava que a cidade de Gois era sem vida

    prpria, parasita vivendo custa do Estado.

  • Nesta mesma linha de pensamento, contra a cidade de Gois como capital, evidenciam-se

    argumentos, quanto ao clima, proliferao de doenas, ao relevo acidentado, a falta de gua

    entre outros, como explicitado por MAGALHES (1995 apud PALACIN, 2001, p.32).

    Quanto insalubridade, no conheo, entre todos os lugares por onde tenho

    viajado (e no so poucos), um onde se renam tantas molstias graves. Quase

    se pode assegurar que no existe aqui um homem so. Quanto s condies

    comerciais. os meios de transportes so imperfeitos, a situao da cidade,

    encravada entre serras, faz com que sejam pssimas e de difcil trnsito as

    estradas que aqui chegam. Em uma palavra Gois no s rene as condies

    necessrias para uma capital, como ainda muitas para ser abandonada.

    Ao buscar elementos para compreender o planejamento da nova capital de Gois, tanto

    documentos histricos antigos como os atuais, colocam a abundncia de gua como ponto

    central das discusses.

    O Plano de Desenvolvimento de Goinia (PDG, 1991), explicita que o progresso de Gois s

    viria com a construo de uma nova capital, cujo lugar deveria ter como requisito

    proximidade da estrada de ferro, a abundncia de gua e a topografia adequada. Elementos

    estes que comungam a favor de Goinia como a nova capital de Gois.

    Ao longo dos anos houve um crescimento populacional acelerado, e com isso ocupaes em

    locais inadequados como as reas de risco, devido falta de polticas pblicas que

    financiassem habitaes para a populao de baixo poder aquisitivo. Esta situao gerou os

    impactos ambientais para a cidade de Goinia, que passaram a existir em funo do prprio

    crescimento desordenado, pois no estavam previstos no planejamento inicial da cidade.

    Assim o professor de Geografia pode partir do emprico, considerando o conhecimento do

    aluno, a respeito desses impactos ambientais. Como foi dito anteriormente as categorias de

    anlise geogrficas existem independente da escola, porm na escola o lugar privilegiado,

    para os avanos, o que significa que deve haver uma ampliao do conhecimento. Segundo

    Cavalcanti (2003) pertinente que se reflita sobre os modos de propiciar no ensino um

    encontro efetivo entre o conhecimento cientifico e o conhecimento escolar para que o

    processo de conhecimento tenha avanos.

    Nos dizeres de Cavalcanti (2003, p.129), A escola tem a funo de trazer o cotidiano para

    seu interior com o intuito de fazer uma reflexo sobre ele a partir de uma confrontao com o

    conhecimento cientifico.

    No processo de construo do conhecimento geogrfico, a observao, a descrio, a

    comparao, a investigao, a interpretao, a anlise so instrumentos que facilitam a

    compreenso da relao sociedade-meio.

  • Constata-se que h uma infinidade de problemas fsico-ambientais na cidade, se essa situao

    faz parte do cotidiano do aluno por que no aprender em sala de aula a lidar com eles,

    procurando a compreenso da relao sociedade-natureza de maneira a fornecer subsdios para

    a prtica.

    O estudo do meio foi realizado no dia 26 de outubro 2005, com uma turma de 5 srie do

    ensino fundamental, sob orientao das professoras de Geografia e Cincias Naturais, a

    estagiria do curso de Geografia e a equipe da SEMMA. Esta atividade ser relatada e

    discutida de forma breve.

    Na nascente houve uma abordagem mais direcionada para a questo da gua e sua importncia

    para as cidades. Fato que merece ser destacado que a professora realizou a

    interdisciplinaridade entre a Geografia e a Histria, mesmo sem ter conhecimento a respeito os

    objetivos propostos pr este trabalho, levou os alunos reflexo sobre a importncia das guas

    para as cidades, como fonte indispensvel vida.

    E ainda com o mesmo foco de discusso, indagou a turma a respeito das origens das cidades.

    Perguntou: onde surgiram as primeiras cidades? Uma aluna (Louise), respondeu prximo

    aos rios.

    Conclui-se que esse estudo do meio possibilitou o rompimento da muralha de isolamento que

    normalmente vivem as escolas distanciadas da realidade da cidade, isso foi percebido atravs

    do comportamento dos estudantes, que se mostraram entusiasmados e com muito interesse

    pelos assuntos discutidos durante todo o percurso.

    Nas aulas, aps a atividade prtica, a professora de Geografia retomou as discusses sobre a

    gua e a importncia para as cidades. O tema motivou a realizao de atividades

    complementares para fixao do contedo debatido s margens do crrego Cascavel.

    Este trabalho discutiu alguns problemas ambientais da cidade de Goinia, decorrentes

    principalmente de aes antrpicas inadequadas referentes rede hidrogrfica, que levam a

    desastres no meio urbano, em que, na maioria das vezes, a prpria populao a vtima.

    A falta de polticas pblicas voltadas para a educao ambiental e o planejamento urbano

    participativo dos rgos, que visem aes conjuntas entre as escolas, e o ensino de Geografia,

    com o intuito de minorar esses problemas, resultou nesta pesquisa, A escola e o ensino de

    Geografia como parceiros na gesto urbana.

    Conclui-se que de maneira geral os rgos, as escolas, e o ensino de Geografia, mencionados

    neste trabalho, esto distanciados, no convergem para um mesmo fim, trabalhando de forma

    isolada. Assim, percebeu-se que h uma diviso de atribuies, uma separao entre os que

  • planejam a cidade, aqueles que estudam a cidade e os que vivem a cidade com os seus

    problemas.

    O que ocorre em nossa sociedade a falta do hbito de participao da populao, e um nvel

    de gesto que no se preocupa em realizar trabalhos em conjunto. No h interesses em

    construir pactos sociais, atravs de trocas de experincias, colaborao mtua, o que

    certamente poderia mudar a realidade do meio.

    Entretanto, sobre a possibilidade de parcerias, trocas de experincias, trabalho em conjunto,

    enfim, uma gesto democrtica da cidade a legislao prev a participao social de forma

    legal nos assuntos da cidade.

    Embora, existam instrumentos legais que prev a participao da populao nos assuntos da

    cidade, ainda assim os gestores continuam trabalhando de forma isolada. O papel do ensino,

    de forma geral criar mecanismos didticos para que o estudante lute pela abertura dos

    espaos, atravs da prtica da cidadania.

    Educar para a vida social e participativa nos assuntos da cidade foi um dos focos deste

    trabalho, assim discutiu-se, ainda que de forma breve, o papel do ensino de Geografia no

    processo de transformao do espao natural em espao geogrfico, a cidade. Com nfase no

    ensino de Geografia como ferramenta importantssima e indispensvel, no processo de

    reconhecimento dos problemas urbanos, no apenas enumerando como tambm apontando

    solues para evit-los.

    Diante desta realidade, a Geografia uma cincia que se ocupa da interao entre as cincias

    naturais e humanas, capaz de fornecer subsdios para o entendimento da problemtica urbana,

    e levando a uma reflexo a respeito da prtica da cidadania.

    Isso significa que cabe ao professor de Geografia, selecionar, definir e organizar os contedos

    considerando a realidade do aluno, neste caso o cotidiano da cidade, de modo a buscar

    utilidade prtica do que ensinado em sala. Conclui-se que o professor deve formar atitudes

    crticas em relao aos assuntos estudados, estabelecendo objetivos, para que alcance uma

    efetiva utilizao prtica da teoria estudada em sala.

    Apesar de esta investigao ter sido restrita, e o tempo no ser suficiente para um estudo mais

    amplo tanto quantitativamente como qualitativamente, a reflexo que fica a necessidade de

    continuidade dessa pesquisa, e que o resultado chegue at a escola e os gestores, no para

    mostrar a deficincia dos mesmos, mas, principalmente com intuito de visar uma mudana de

    comportamento, que repercuta na vida da cidade de Goinia.

    Por outro lado, ao analisar o estudo de caso no qual envolveu a Escola Municipal Jarbas

    Jaime, o ensino de Geografia e a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, numa prtica de

  • parceria que teve como ponto central o estudo dos assuntos da cidade relacionados gua foi

    positiva, embora tenha ocorrido de forma restrita na sub-bacia do crrego Cascavel, foi tida

    como proveitosa por todos os participantes.

    importante ressaltar a avaliao da aprendizagem dos alunos em relao a este trabalho, que

    foi feita mediante a participao no campo, em virtude de discusses, os questionamentos,

    exposio de opinio e o comportamento dos alunos.

    Ficou perceptvel que o estudo do meio foi um momento proveitoso para os alunos, que

    tiveram principalmente a oportunidade de conhecer uma nascente, o que se notou atravs da

    fisionomia deles, mediante expresses de admirao em relao paisagem que at ento era

    conhecida apenas atravs dos livros, revistas, jornais, imagens de televiso e outros. Num

    dado momento um aluno expressou da seguinte maneira em relao paisagem que embora

    degradada, tinha alguns aspectos de beleza: Que show!.

    Assim a professora da sala concluiu que aquele momento ficaria na memria deles para

    sempre, o que certamente produzir bons frutos.

    importante ressaltar que esta monografia foi realizada apoiando-se em alguns autores que

    escreveram a respeito desta temtica, e que muito contriburam para realizao deste trabalho,

    servindo como subsdio para a reflexo a respeito dos assuntos da cidade de Goinia,

    principalmente relacionados questo da gua, por ser indispensvel sobrevivncia humana.

    REFERNCIAS

    CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia, escola a construo de conhecimento.

    Campinas-SP: Papirus, 2003.

    CAVALCANTI, Lana de Souza. Geografia e prtica de ensino. Goinia: Alternativa, 2002.

    GARCIA, Lenidas F. Estudos de histria. Goinia: Ed. UFG, 1998.

    GOINIA. Plano de Desenvolvimento Integrado de Goinia PDIG 2000.

    PALACN, Luiz. Fundao de Goinia e desenvolvimento de Gois. Goinia: Oriente,

    1976.

    PALACN, Luiz. Histria de Gois (1722-1972). Goinia: Ed UCG, 2001.

  • 1

    GUA E REDE HIDROGRFICA URBANA EM ESTUDOS ACADMICOS E

    DOCUMENTOS OFICIAIS DE GOINIA.

    CAVALCANTI, Lana de Souza 1

    RABELO, Kamila Santos de Paula 2.

    Podemos notar a importncia do tema ao ter acesso ao projeto do plano direto da cidade de

    Goinia que demonstra preocupao com o tema gua e rede hidrogrfica da rea urbana da

    cidade. Segundo o mesmo num cenrio desejado para o municpio de Goinia deve haver

    disponibilidade de gua com boa qualidade para o abastecimento pblico, com diminuio de

    ndices de poluio; melhoria das condies ambientais das drenagens que cortam a malha

    urbana, tornando-as menos poludas e degradadas; incentivo ao aumento dos ndices de

    cobertura de vegetao nativa favorecendo a recarga do lenol fretico e eliminando e/ou

    minimizando os pontos crticos de alagamentos; implementao de uma gesto dos resduos

    slidos (domsticos, hospitalares, industrial e entulhos da construo civil), ampliao do

    sistema de esgotamento sanitrio, fiscalizao dos pontos nas galerias pluviais e nos crregos

    que drenam a malha urbana; incentivo e articulao do controle das atividades de explorao

    mineral para construo civil, das atividades agroindustriais, desenvolvidas no municpio,

    objetivando amenizar os ndices de poluio e degradao ambiental no municpio;

    A compreenso do ambiente urbano envolve as relaes dinmicas entre os elementos

    naturais e sociais, que implicam na produo cultural, tecnolgica, processos histricos e a

    transformao do meio natural. Essa dinmica entre os elementos naturais e sociais, quando

    intensificadas acarretam alteraes no ambiente (Cavalcanti, 2002). Essas alteraes no

    ambiente urbano da cidade de Goinia e em sua regio metropolitana so explicitadas no

    Documento final da I Conferncia Estadual de Gois do Meio Ambiente (2005). Dentre as

    alteraes destaca-se o manejo inadequado da drenagem urbana, com ocupaes nas margens

    dos cursos dgua, e a impermeabilizao do solo que leva a ocorrncia de enchentes.

    Outro problema relacionado a drenagem urbana de Goinia evidente nos lagos da cidade,

    que na verdade so represas em alguns cursos dgua que so cartes postais da cidade como:

    o Vaca Brava, o Bosque dos Buritis e o Lago das rosas, que esto sofrendo srios problemas

    ambientais.

    O documento final da I Conferncia Estadual de Gois do Meio Ambiente (2005) adepto da

    concepo de que para solucionar os problemas ambientais urbanos necessrio investir em

    educao por meio do ensino formal e informal, alfabetizao de adultos, programas de gesto

    e capacitao em meio ambiente.

    http://www.ufgvirtual.ufg.br/conpeex/conpeex2005/PROLICEN_modelo.htm#_edn1#_edn1http://www.ufgvirtual.ufg.br/conpeex/conpeex2005/PROLICEN_modelo.htm#_edn1#_edn1
  • 2

    Sobre esse assunto, Cavalcanti (2002) destaca que a superao de determinados problemas do

    cidado com seu ambiente urbano depende de uma alterao do processo de estruturao

    interna na cidade, de mudana de comportamentos sociais e culturais, mas tambm de

    mudanas nas percepes ambientais desse cidado; sendo assim, necessrio salientar a

    importncia dos materiais informativos e de pesquisa para a prtica escolar e preparo de aulas

    no Ensino Fundamental. Portanto, importante desenvolver estudos que possam contribuir

    para o desenvolvimento de atividades de ensino de Geografia na escola, especificamente

    sobre a temtica gua e Rede Hidrogrfica.

    Objetivos

    Objetivo Geral

    Levantar e analisar o material sobre a temtica gua e Rede Hidrogrfica urbana de Goinia.

    Objetivos especficos

    Levantar o material sobre a temtica gua e Rede Hidrogrfica urbana de Goinia nos

    seguintes rgos: IESA (Instituto de Estudos Scio-Ambientais) da UFG, SEMMA

    (Secretaria Municipal do Meio Ambiente), SME (Secretaria Municipal de Educao).

    Analisar o material coletado, de modo a viabilizar projetos especficos com o tema gua e

    Rede Hidrogrfica urbana de Goinia no ensino da Geografia.

    Metodologia

    A metodologia utilizada para desenvolver a pesquisa do tipo qualitativa, que se caracteriza

    pelo entre pesquisador e a situao e/ou sujeitos envolvidos na pesquisa; pela valorizao da

    descrio dos dados coletados e do significado que os sujeitos envolvidos na pesquisa

    atribuem a determinados objetivos e/ou fenmenos; pelo fato de o pesquisador valorizar o

    processo e no somente o produto (LUDKE e ANDR, 1968).

    O trabalho segue as seguintes etapas:

    Reviso e estudo bibliogrfico em obras que tratam da temtica ensino de Geografia,

    aspectos fsicos.

    Levantamento de material sobre gua e Rede Hidrogrfica urbana, junto ao IESA, SEMMA

    e SME.

    Analise dos materiais levantados.

  • 3

    Disponibilizar o material para professores de Geografia da Rede Municipal de Goinia de

    modo a auxiliar o ensino da temtica gua e Rede Hidrogrfica urbana de Goinia.

    Resultados preliminares

    Seguindo a proposta foi coletado material junto aos seguintes rgos: IESA, SEMMA SME.

    No IESA houve o levantamento na secretaria do curso, de dissertaes defendidas no

    mestrado em Geografia IESA-UFG de 1997 2005. Esta relao mostrou que durante este

    perodo foram defendidas 96 dissertaes. A anlise dessas dissertaes se deu atravs do

    titulo e de resumos disponibilizados junto ao sit do observatrio geo Gois. Dentre essas

    dissertaes foram encontradas trs que de acordo com o titulo poderia se relacionar com o


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