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A Ortografia Padronizada
do TétumOs Seus 115 anos de Construção
Edição da Direcção do Instituto Nacional de Linguística,República Democrática de Timor-Leste, Agosto de 2004
Determinar a ortografia padronizada de qualquer língua é uma operação difícil
e delicada, que requer uma enorme bagagem em termos de sabedoria científica:
nenhum sistema ortográfico padrão foi jamais definido por um conjunto de
falantes nativos sem qualquer conhecimento profissional de linguística, mesmo
sendo este constituído por pessoas de formação aprofundada em outras áreas. O planeamento linguístico é um exercício tanto de engenharia como de arquitectura,
algo próximo da construção de uma ponte ou de um arranha-céus. Assim como
ninguém gostaria de atravessar uma ponte ou viver num bloco de apartamentos
desenhados por, respectivamente, uma comissão de utilizadores da futura ponte ou
de residentes do edifício completamente desconhecedores de engenharia ou de
arquitectura, nenhum governo responsável entregaria a tarefa de padronizar a sualíngua oficial a alguém que não fosse linguista profissional, com uma sabedoria
específica, neste caso, na área das línguas timorenses.
Se observarmos o resto do mundo, verificaremos que os sistemas ortográficos
padronizados das línguas oficiais tomaram forma em uma de duas maneiras possíveis. As mais antigas entre as língua estabelecidas (como o latim, o inglês, o
árabe, o sânscrito e o chinês) têm ortografias herdadas de uma longa tradição
literária estabelecida em permanência por escritores e/ou investigadores. As
línguas que foram promovidas ao uso oficial num momento particular, emsituações coloniais ou pós-coloniais (ex: o malaio-indonésio, o tagalo, o
vietnamita, o fijiano, o samoano, o maori, etc.), foram codificadas por eruditos,
tanto lexicógrafos como linguistas a título individual ou, ainda, comissões de
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linguistas profissionais nomeados por uma instituição nacional ou pelo próprio
governo. Quando a sua soberania foi restabelecida, em 2002, a República
Democrática de Timor-Leste não demonstrou intenções de se tornar uma excepção
a esta regra geral.O “Instituto Nacional de Linguística” (INL) foi estabelecido em 2001,
recebendo a determinação da sua missão a partir do Conselho Nacional da
Resistência Timorense (CNRT) em ordem a planificar uma ortografia timorenseunitária, de modo a que todas as línguas nacionais pudessem ser escritas de acordocom as mesmas convenções. Esta comissão, confirmada pelo governo restaurado
de Timor-Leste no ano seguinte, não implicava que o tétum não tivesse já uma
ortografia; antes reconhecia o facto de que os sistemas existentes eram imperfeitos
ou incoerentes, devido ao facto de terem sido divisados por escritores que, na suamaioria, não tinham fundamentos ou formação científica em linguística.
As razões para tais defeitos nas ortografias populares não são difíceis de
encontrar. As pessoas qualificadas para lidar competentemente com as questõesortográficas do tétum e de Timor-Leste precisam de um vasto âmbito de
qualificações, em relação às quais não são de excluir:
• Formação universitária ou experiência profissional nas disciplinas de:fonologia, linguística histórica, linguística austronésica, linguística papuásica
e linguística românica.
• Um sólido conhecimento de tétum, português e malaio.
• Um bom conhecimento, a nível laboral, das outras 15 línguas nacionais de
Timor-Leste.
• Familiaridade com todos os trabalhos publicados sobre as questões
lexicográficas do tétum.
• Familiaridade com a literatura científica sobre tétum publicada em
português, inglês, indonésio e outras línguas.
• Um claro entendimento da diferença entre sistemas fonéticos e fonémicos
de ortografia, essencial para qualquer processo de padronização.
• Um claro entendimento das diferenças entre variedades acrolectais,
mesolectais e basilectais do tétum e a sua relevância para a ortografia
fonémica.
A tarefa do INL encontra-se, no entanto, não na abolição ou substituição das
actuais ortografias, mas sim na sua correcção, refinamento e unificação, no
sentido de um padrão único e coerente, construído com base em princípios
científicos rigorosos, apesar de manter uma flexibilidade suficiente de modo a
poder, quando isso for apropriado, harmonizar a ortografia racional com
convenções tradicionais que sejam compatíveis. Uma vez que a base ortográfica
do tétum não é revolucionária mas, sim, evolucionista, o propósito do presente
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estudo reside na tentativa de traçar um panorama histórico sobre os graduais
desenvolvimentos na escrita da língua que acabaram por culminar na reforma
actual.
História Ortográfica do Tétum
A ortografia padronizada do tétum, à qual foi dado carácter oficial legislativo por Decreto governamental (1/2004 de 14 de Abril de 2004), não foi o trabalho de
um só linguista, mas o culminar de um processo experimental que durou 115 anos
desde a publicação do primeiro dicionário de tétum, em 1889. Houve oito
contribuições seminais para esta evolução ortográfica, as primeiras quatroindividuais (todas elas de portugueses) e as últimas quatro de comissões (duas
timorenses e duas timorenses e internacionais):
a) Sebastião Maria Aparício da Silva (1889) Diccionario de Portuguêz-Tétum
b) Raphael das Dores (1907) Diccionario Teto-Português
c) Manuel Patrício Mendes e Manuel Mendes Laranjeira (1935) Dicionário Tétum-Português
d) Artur Basílio de Sá (1952) Notas sobre linguística timorense: Sistema de representação fonética
e) Comité da FRETILIN para a Literacia (1975)Como vamos alfabetizar o nosso povo Mau Bere de Timor Leste
f) Comissão Litúrgica da Diocese de Díli (1980)1
Ordinário da Missa: Texto Oficial Tétum; leccionários
g) Comissão Internacional para o Desenvolvimento de Timor-Leste; Línguas
(IACDETL) (1996) Princípios de Ortografia Tétum: Sistema Fonémico; Standard Tetum-
English Dictionary
h) Instituto Nacional de Linguística (INL) (2002)
Matadalan Ortográfiku ba Tetun Nasionál; Hakerek Tetun Tuir Banati
Todos os escritores de tétum, durante este período, usaram a língua de acordo
com as convenções ortográficas de uma ou mais destas contribuições e não
1
Os membros eram os seguintes: Monsenhor Martinho da Costa Lopes (Administrador
Apostólico) e os Padres António Maia, Agostinho da Costa, Francisco Tavares dos Reis, Mariano
Soares, Alberto Ricardo da Silva (actual Bispo de Díli), Domingos Morato da Cunha, Luís
Sarmento da Costa e Leão da Costa.
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introduziram nenhuma inovação que fosse depois encontrar um lugar permanente
na ortografia oficial de 20042.
A divisão entre os dois tipos de contribuições antes mencionadas é
historicamente significativa, uma vez que as quatro contribuições individuais pertencem à época do colonialismo português, na qual o único meio de instrução
que era autorizado nas escolas timorenses era o português e o objectivo dos
ortografistas residia em divisar um sistema ortográfico fonético, de modo a ajudar
os estrangeiros a aprender tétum, e não residia em tentar munir os timorenses deum meio literário indígena. Nesse sentido, o colonialismo português (que era de
tipo assimilacionista) era radicalmente diverso do colonialismo holandês, que era
integracionista e encorajava a estandardização do malaio como língua veicular de
toda a Indonésia.Consequentemente, tentativas de superação em relação às ortografias
existentes, dentro de uma base inclusivista e fonémica e para tornar o tétum numa
língua oficial e nacional, apenas chegaram com a época da descolonização,começando com a campanha de alfabetização, que foi desenvolvida pelo curto
governo da Fretilin em 1975; continuaram depois, corajosamente, com a Igreja
Católica, resistiram através de um grupo de linguistas internacionais e timorenses
baseados na Austrália durante a Ocupação indonésia (1975-1999) e foram
completadas entre 2001 e 2002 pela autoridade linguística nacional do recém-
libertado país.
Os Fonemas do Tétum
Uma vez que uma ortografia cientificamente válida, em relação a qualquer
língua, requer símbolos adequados para os fonemas dessa mesma língua, a
apresentação do inventário dos fonemas do tétum é um pré-requisito em relação a
qualquer discussão sobre a sua representação escrita. Os símbolos fonémicos
dados abaixo entre barras estão em conformidade (exceptuando as vogais nasais)
com os grafemas agora adoptados na ortografia oficial.
Mesmo após a descoberta do fonema pelo linguista inglês Daniel Jones no
princípio do século vinte, não se fez nenhuma tentativa em Timor no sentido de 2
Nesse sentido, Lencastre (1929) e Martinho (1942) seguiram, em geral, a ortografia de Silva(1887); Fernandes (1962) aderiu à ortografia de Mendes e Laranjeira (1936); a maioria dos
escritores que emigraram para Portugal durante a ocupação indonésia (1975-1999) conformou-se
à ortografia da Fretilin; por outro lado, o Tetun English Dictionary, publicado por Cliff Morris na
Austrália em 1983 (uma tradução inglesa do dicionário de Mendes e Laranjeira, de 1936, cuja
edição não reconhece o original), difere do trabalho original através da omissão de acentos e pela
introdução de grafemas fonémicos <k> e <s>. Os escritores católicos de Timor, durante a
Ocupação, seguiram, muitas vezes com pouca consistência, o modelo que a Comissão Litúrgica
da Diocese de Díli lançou em 1980. O Dicionário de Tétum-Português de Luís Costa (2000), uma
revisão e amplificação do dicionário de Mendes de Laranjeira de 1936, que devidamente
reconhece o original, favoreceu as normas ortográficas da Fretilin.
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divisar uma ortografia fonémica para o tétum. A ênfase sempre esteve mais
centrada na representação coerente e precisa dos sons da língua, sem ter havido
nenhuma tentativa para analisar as suas relações mútuas.
O tétum tem cinco vogais orais:
/i/ /e/ /a/ /o/ /u/
Tem cinco contrapartidas nasais:
/ Ê / /e)/ /ã/ /õ/ /u) /
Ambas as séries de vogais podem ser longas ou curtas quando tónicas, ou ocorrer
em sequências (sendo que a primeira vogal em cada sequência é acentuada):
/aa/ /ae/ /ai/ /au/ /ea/ /ee/ /ei/ /eo/ /eu/ /ia/ /ie/ /ii/ /io/ /iu/ /oa/ /oe/ /oi/ /oo/ /ou//ua/ /ue/ /ui/ /uo/ /uu/
Existem 21 consoantes:
/p/ /b/ /v/ /m/ /w/ /t/ /d/ /s/ /z/ /n/ /r/ /rr/ /l/ /ll/ /ñ/ /x/ /j/ /k/ /g/ /’/ /h/.
Entre estas consoantes, /w/ ocorre nos dialectos rurais mas é substituído por /b/ na
lingua franca (tétum-praça). Alguns falantes de tétum-praça apagam a oclusiva
glotal /’/.
Alguns dos símbolos fonémicos mencionados acima diferem das suas
contrapartidas no Alfabeto Fonético Internacional, nomeadamente as seguintes:
/r/ [|] /x/ [ S]
/rr [r] /j/ [ Z]
/ll/ [ ¥] /’/ [/]
/ñ/ [ ≠]
Os Princípios Evolutivos da Ortografia Tétum
A ortografia do tétum reflecte o seu contexto histórico e cultural: a tradição
literária portuguesa do século XIX. Portugal transmitiu ao tétum o alfabeto
romano das actuais 26 letras e uma série de diacríticos próprios da língua
portuguesa: a cedilha, (“pequeno z”, originalmente um z subscrito), o til
(originalmente um n sobrescrito) e, também, os acentos agudo, grave e
circunflexo.
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Na seguinte exposição a palavra em itálico (becic)
representa a ortografia de apenas um escritor; o
equivalente em negrito (besik ) representa a moderna
grafia padrão e o exemplo em itálico e negrito (besik )
representa uma grafia particular que coincide com o padrão moderno.
A Fundação Portuguesa
O primeiro português a elaborar convenções ortográficas para o tétum foi o
Padre Sebastião Aparício da Silva, um missionário católico cujo dicionário de
tétum-português foi publicado em Macau, em 1889. Ao reduzir o tétum a letras
latinas, o Pe. Silva estabeleceu um padrão para o uso das sete consoantes b, d, f, l,m, r, t , que permaneceria imutável até ao presente. Consequentemente, durante o
resto deste estudo não apresentaremos nenhuma discussão da representação
ortográfica dos fonemas correspondentes /b/ /d/ /f/ /l/ /m/ /r/ /t/3.
Em outros aspectos, a ortografia de Silva (que não era completamente
coerente) aderiu de modo próximo às convenções portuguesas. Em geral (mas com
importantes excepções) as palavras de proveniência portuguesa eram escritas
exactamente como na língua de origem, sem qualquer adaptação à fonética do
tétum. Vejamos alguns exemplos:
lenço lensu licença lisensa machado maxadu gentio jentiu general jenerál marinheiro mariñeiru junho Juñu julho Jullucoelho koellu chá xá chouriço xourisu martello martelu
Por outro lado, em palavras nativas, o fonema consonântico /k/ (excepto antes de e
e de i) e /s/ intervocálico) era escrito de acordo com regras portuguesas:
camútis kamutis crécas krekas cúac kuak hameríc hamriik
húcic husik fácè fase táci tasi bóçòc bosok haçára hasara
3
Tomando como modelo o dialecto tétum do reino de Samoro, ao sul, tanto Silva como Dores
registaram numerosas formas com –l final, que tem sido geralmente substituído por –r no dialecto
tétum de Díli. Os exemplos seguintes têm, portanto, um aspecto distintamente arcaico nos dias de
hoje: (Silva) mâmal mamar, cabúal kabuar, hadél hadeer, nacfácal nakfakar, bocal bokar,
fítel fitar, dúcul dukur, dícul dikur; (Dores) mámal mamar, midal midar, dádul dadur, kabuál
kabuar, dácal dakar.
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A Evolução de Convenções com Base Tétum
A ortografia de Sebastião Aparício da Silva era incoerente por ser ao mesmo
tempo conservadora (imitando convenções portuguesas) e inovadora: o
missionário improvisou novas convenções, sugeridas pela estrutura intrínseca dotétum, sempre que as convenções portuguesas pareceram inapropriadas ou
incómodas. O Pe. Silva e os seus sucessores contribuíram para o gradual
desenvolvimento e tetumização da ortografia de base portuguesa, ao introduzirem
21 inovações individuais que acabaram por ganhar raiz nos hábitos locais deescrita e foram posteriormente integradas na ortografia oficial. Estes pilares do
padrão ortográfico moderno podem ser alistados de modo cronológico, começando
com as inovações de Sebastião da Silva.
A. INOVAÇÕES DE S.A. da SILVA1 – O uso do <h> para representar a consoante aspirada [h] (fricativa glotal),contradizendo a convenção portuguesa do <h> mudo como em haver, houve,
homólogo, hesitar :
hêmo hemu hamútuco hamutuk hétan hetan cakéhè kakehe
hahí hahii óhim ohin haníhã hanihan (hanehan) hadômi hadomi húrum hurun róhan rohan déhan dehan haháloc hahalok
2 – Uso do apóstrofo para representar a oclusiva glotal [/], o que não se encontraem português:4
ná’an na’an dí’ac di’ak sadí’a sadi’a fó’er fo’er tó’o to’oné’e bé ne’ebé lá’en la’en há’u ha’u uá’in wa’in
3 – Notação das duplas vogais nativas (isto é, dissilábicas) etimologicamente
determinadas.5
Isto tornou-se consistente nos casos de:
4
O apóstrofo manteve-se em todos os futuros escritores excepto Dores, que o substituiu (embora
não de modo coerente) por um acento agudo na vogal seguinte (ex: toó to’o, nuú nu’u ‘modo’,laú la’o, lalian lali’an, hakruúko hakru’uk ), e os tradutores católicos de textos bíblicos durante
os anos de 1990 (em contradição com a convenção estabelecida pela Comissão Litúrgica de Díli
de 1980 que marcou regularmente a oclusiva glotal com um apóstrofo).5
Como exemplos de etimologias, vejamos cf. boot < *boat < timorense antigo (TA) *beRat, foos
< * foas < TA beRas, bee < wee < TA *wahir, teen < *ta’in < TA *taqi-ne. As vogais duplas
ainda são pronunciadas como tal nas variedades orientais do tétum-térique, assim como no tétum-
praça. Os estudiosos holandeses do tétum ocidental anotaram vogais simples nestes casos (ex: as,
hat, let, tos, haré, hamrók ) uma vez que as longas vogais duplas originais tinham sofrido uma
simplificação nos dialectos beluneses (incluindo os de Timor-Leste). O facto de os falantes
nativos de tétum intuírem a natureza dissilábica destas vogais duplas, torna-se claro a partir dos
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kée kee faac faak bóoc book bóote boot clóote kloot
íis iis fúuc fuuk míi mii môon moon húur huurbíite biit cúus kuus tíi tii síin siin léete leet
clóoc klook hakée hakee
As duplas vogais eram escritas como vogais simples nos casos de6:
ás aas hás haas fós foos háte haat bé bee fén feen
cmán kmaan tém teen tur tuur dadél dadeer haré haree
Existiam hesitações nos casos de:
dóoc ~ dóc dook rii ~ rím riin
4 – Utilização de <n> posposto no sentido de indicar nasalidade em palavrasindígenas. Isto era coerente nos casos de:
áten aten láran laran déhan dehan ícin isin lólon lolon fúrin furin lúbun lubun balíun baliun máun maun
Em outros casos, o til de origem portuguesa ou o -m final eram utilizados paramarcar a nasalidade da palavra:
haníhã hanehan saiã saián aihã ai-han
calém kaleen tém teen óhim ohin lílim lilin kídum kidun
úcum ukun íbum ibun dadáum daudaun7
erros hiper-correctivos cometidos por pessoas cujo idiolecto não inclui a oclusiva glotal, por
exemplo: bo’ot boot, a’as aas, le’et leet, hare’e haree, hamro’ok hamrook .6
A notação incoerente das vogais duplas seria uma falha constante das ortografias construídas
por pessoas sem formação rigorosa em linguística: Exemplos de tais incoerências nos trabalhos
de escritores de tétum subsequentes, incluem, por exemplo: Dores (1907): aáte aat, biite biit,
huúr huur, huú huu, iis, leéte leet, loók look, luúto luut, mii , úuto uut ~ hás haas, hate haat,
bote boot, bé bee, den deen, dil diir, fen feen, lan laan, lir liir, lós loos, tós toos, nu nuu, tóstoos; Mendes e Laranjeira (1935): áas, áat, háas, háat, cmâan, cnaar, féen, béen, têen, néen, léet,
síin, líin, bóoc, dóoc, bóot, clóot, núu, túu, úut, natóon, hamróoc, nonóoc, tatíis ~ bé bee, lés lees,
fós foos, tós toos, bí bii, clór kloor, lós loos, túr tuur, dadér dadeer; ainda, hesitações nos casos
de: táa ~ tá taa, íis ~ ís iis, kée ~ ké kee, lóoc ~ lóc look , moo ~ mós moo-s, ríin ~ rin riin, sóor
~ sór soor; Martinho (1943) haat, têen, neen, boot, dóoc, fúuc, nuu ~ lés lees, dadél dadeer, bé
bee, hatós hatoos, tur tuur; Sá (1952): têen teen, luun luun ~ namrés namrees, haré haree;
Commissão Litútgica da Diocese de Díli (1980): leet, boot, aat, knaar, kbiit ~ los loos , ás aas ,
lolós loloos , hamós hamoos , hahí hahii , haré haree; Costa (2000) deer, deet, dook, faak, faat,
fuuk, haat, neen, saar, taan ~ bé bee, bar baar, fen feen, has haas, haré haree, harís hariis, kes
kees, let leet, los loos, nu nuu, ran raan, rin riin, sin siin, ten teen, tos toos.
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5 – Uso do <k> para representar a oclusiva velar não vozeada [k], antes de e e i,
em vez do português qu:
kiláte kilat hakérèc hakerek kíkite kikit kélen kelencakéhè kakehe múkite mukit lókè loke makíli makili
B. INOVAÇÕES DE R. das DORES
6 – Uso geral do <k> para representar a oclusiva velar não vozeada [k],
substituindo o c português:8
kánek kanek kakórok kakorok késsar kesar kbíite kbiit
kiak kiak klétak kletak klóssan klosan knóruko knoruk
kontra kontra kótuko kotuk kúkun kukun kúlite kulit9
7 – Introdução do hífen para indicar palavras compostas mas semanticamente
unitárias:
ita-nia ‘o nosso’ ida-neé ida-ne’e ‘este’ máno-ôan manu-oan ‘pintainho’
mátan-délek matan-delek ‘cego’ mássin-midal masin-midar ‘açúcar’
máun-álin maun-alin ‘irmãos’ tauko-laék ta’uk-laek ‘intrépido’
sala-máluko sala-maluk ‘cúmplice’ hanôin-hikas hanoin-hikas ‘desgosto’
C. INOVAÇÃO DE M.P. MENDES E M. LARANJEIRA
8 – Uso geral do <u> para representar o –u final, em substituição do <o>
português:10
7
A partir de Dores (1907) o -n foi usado por todos os escritores excepto Lencastre o qual,
seguindo o Pe. Silva, vacilou entre -n e -m : néen, tahan, tulun, léten, daun, tinan ~ cabum,
mutim, lorum, tanam, ulum, balum, naram, muçam.8O uso geral do k foi mantido por Sá, pelo Comité de Alfabetização da Fretilin, pela Comissão
Litúrgica de Díli e pela IACDETL; por outro lado, Mendes e Laranjeira, Martinho e Fernandes
voltaram ao uso, de base portuguesa, do c (usando, no entanto, k em vez de qu + e, i).9
As estranhas grafias kúlite, kbíite, kótuko, knóruko, com vogais finais mudas, foram herdadas de
Silva e reflectem as dificuldades lusófonas em lidar com palavras cuja letra final é -t e -k (só -r,
-s, -l e –z podendo normalmente ocorrer em posição final no português). Esta idiossincrasia
desapareceu depois de Dores.10
Embora o Pe. Silva tivesse usado sobretudo o –o em 1889, substituiu-o de vez em quando por
<u>, como por exemplo lakéru, táhu, hafúhu, hócu, tétu, nacônu, málu ~ môno monu , bôço
bosu , hêmo hemu , mâno manu , hôto hotu , sélo selu , canuro kanuru , rua nulo ruanulu.
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10
fáru faru hôtu hotu látu latu malu fútu futu natútu natutu táru taru têcu teku útu utu hôpu hopu
D. INOVAÇÃO DE A.B. de SÁ
9 – Uso do <s> para representar o /s/ intervocálico indígena, substituindo os <ss>,
<c> (antes de e, i) e <ç> (antes de a,o,u) portugueses:
tesi besi mesak bosok fisur tasak kadesi
E. INOVAÇÕES DO COMITÉ DE ALFABETIZAÇÃO DA FRETILIN
10 – Abolição dos acentos agudo e circunflexo colocados sobre as vogais e, o, a
(é, ê; ó, ô, á, â) que indicavam a qualidade alofónica aberta ou fechada. Esta
reforma privilegiou grafias fonémicas não alofónicas:11
leten hesuk tesi kota kotu tasi manu12
11 – Abolição do ditongo ou que indicava o alofone fechado [o] do fonema /o/.
Esta reforma privilegiou grafias fonémicas não alofónicas:
moris hahoris horisehik lori foti sorin sorun hotu13
12 – Substituição do português –ão por –aun:14
nasaun (< nação), sabaun (< sabão), patraun (< patrão), misaun (< missão),
kapitaun (< capitão), edukasaun (< educação), investigasaun (< investigação)
11
Os escritores anteriores empregaram os acentos — agudo e circunflexo — sobre as vogaistónicas numa tentativa de indicar a qualidade vocálica. O Comité de Alfabetização da Fretilin
utilizou, nesse sentido, um critério fonémico coerente para substituir o critério fonético dos seus
antecessores.12
Em vez das grafias fonéticas lusóides léten, hêsuk, têsi, kóta, kôtu, tási, mânu.13
Em vez das grafias alofónicas (e fonéticas) mouris, hahouris, hourisehik, louri, fouti, sourin,
hasouru, houtu.14
Isto era uma marca do tétum acrolectal. A tradição mais antiga (basilectal) assimilava –ão à
sequência nativa –án, como em Silva: obrigaçã, adoraçã, oraçã ; ou Mendes/Laranjeira: sabân,
perdân, galân, coraçân.
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11
13 – Notação de /j/, do português g (+ e, i) como <j>:
jestaun (< gestão), jeometria (< geometria), jigante (< gigante), jinástika (< ginástica), ajente (< agente), imajen (< imagem)
14 – Introdução de sete grafemas distintos para representar as sete fonemas
consonantais polivalentes (de origem portuguesa ou malaia): /g/, /j/, /p/, /rr/, /v/,/x/, /z/
15
gaveta gargón Bagia janela Jaku tijolu papa pombu borraxaterrenu vidru Vikeke livru xinelu xikra lixu zona kazakuezami ezame
16
F. INOVAÇÕES DA COMISSÃO LITÚRGICA DA DIOCESE DE DÍLI
15 – Uso do acento agudo para indicar apenas casos de acentuação irregular (isto
é, não paroxítona):
15
Os escritores mais antigos não conseguiram reconhecer estes fonemas, sobretudo porque, até ao
período entre as guerras, a grande maioria dos falantes de tétum assimilou consoantes estrangeiras
às nativas. Daí que Raphael das Dores tenha reflectido na sua ortografia a (na altura dominante)assimilação das consoantes portuguesas (ou malaias) às nativas, como por exemplo:
/g/ > /k/ ou /d/: koiaba goiabas, doka, duka joga, fokado fogadu, dulka julga,
dunilha gonilla, dardón gargón
/j/ > /d/ or /i/: dulka julga, dindún jejún, duis juis, dura jura, duramento
juramentu, aiduda ajuda, iara jarra
/p/ > /b/: barassa prasa, bateka pateka, sebila sepilla, saba xapa, kombare
kompadre
/rr/ > /r/: iara jarra, bura borra, kataro katarru, fora forra, sikôro sokorru
/v/ > /b/, /w/: biba viva, baretan vareta, uale (= wale) vale
/x/ > /s/: saba xapa, saruto xarutu, sinela xinela, sita xita, surisso xourisu,
mansila maxila
/z/ > /s/: dussi dúzia, fussil fusil/ll/ > /l/: sebila sepilla, (Silva) consêlo konsellu
/ñ/ > /n/: lina liña, korlina korliña
O aparecimento de uma classe burguesa lusófona timorense deu origem a uma variedade
‘acrolectal’ de tétum na qual as consoantes portuguesas nos empréstimos continuaram a ser
pronunciadas como em português. Tais fonemas eram ‘polivalentes’ no sentido em que possuíam
alofones populares (assimilados) e doutos (isto é, não assimilados).16
Já em 1889, o Pe. Silva tinha por vezes reconhecido a índole fonémica do /z/ em tétum, como
em dezejo dezeju, roza, meza, ezemplo ezemplu, ezame, diviza, cazo kazu.
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(acentuação paroxítona sem acento)
laran klamar Ita-Boot rohan liafuan fiar dame hamutuk lalehannafatin agradece agradese nu’udar Maromak
(acentuação oxítona ou proparoxítona marcada com acento agudo)Páskua manán glória nebé ne’ebé hahí hahii maibé katólikaapóstolu família Espíritu mistériu hahú
16 – Notação do <e> final fonémico, em palavras herdadas do português, em vez
da grafia fonética <i> baseada em alofones mesolectais e basilectais:
agradece agradese pontífise karidade padre17
Pelo contrário, algumas incoerências como eskolanti eskolante
17 – Uso do <w> para representar o /w/ indígena em empréstimos do tétum-
térique (tendo este fonema sido assimilado a /b/ no tétum-praça)18
:
we wee wainhira wa’in hewai hawelok hawain hawa’in
Persistiu, no entanto, a incoerência da alternação destas formas com as formas
populares em /b/, por exemplo labarik lawarik, aban bainrua awan wainrua. O
uso incorrecto da forma térique wainhira em tétum-praça, em vez da forma padrão
bainhira, deriva desta incoerência que caracteriza sobretudo os escritores
eclesiáticos.
G. INOVAÇÕES DA COMISSÃO ACADÉMICA INTERNACIONAL PARA O DESENVOLVIMENTO DAS LÍNGUAS DE TIMOR-LESTE (IACDETL)
18 – Introdução dos grafemas <ll> e <ñ> (substitutos para <L |> e <n|> compatíveis
com os teclados informáticos modernos) para substituir <lh> e <nh> querepresentam fonemas palatais derivados do português:
17
Estes substituíram as grafias fonéticas baseadas em alofones como: agradesi, pontífisi,
karidadi, padri.18
O Pe. Silva e os seus sucessores tinham todos usado u- (e raramente -o), como por exemplo
(Silva) ué wee, heuuái hewai, ua’in wa’in, uéc week, haouén haween, oáni wani.
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faL |a> falla konseL |u > konsellu JuL |u > Jullu toaL |a > toallakartiL |a > kartilla sepiL |a > sepilla erviL |a > ervilla
man|a > maña Jun|u > Juñu dezen|u > dezeñu pen|ór > peñór akompan|a > akompaña kon|ese > koñese lin|a > liña19
19
Os dígrafos portugueses <lh> e <nh> (convenções medievais de origem occitânica, isto é,
provençal) representam as consoantes palatais [ ¥] e [ ≠] respectivamente. Uma das maiores
fraquezas dos sistemas ortográficos do tétum, antes da IACDETL iniciar o seu trabalho nos anos
90, era o uso destes dígrafos em tétum. Eles não servem para escrever em tétum devido ao facto
de o tétum, ao contrário do português, ter um h aspirado (a fricativa glotal [h]); também porque o
grafema <h> tinha já sido atribuído a este som por Sebastião da Silva em 1887, uma convenção
observada por todos os seus sucessores. Consequentemente, as grafias tradicionais hahú,
bainhira, manha, nas quais <h> representava [h] nas primeiras duas palavras mas [j] na terceira,
deram sinais contraditórios. Este problema agravava-se com o facto de muitas línguas de Timor-
Leste terem as autênticas sequências consonantais /lh/ e /nh/, em muitos casos como fonemasvulgares, por exemplo em uaimoa lhire ‘leve’, lheo ‘chegar’, lha’a ‘alma’, nhasu ‘ferver’, nhese
‘igual’, nhii ‘erguer’; em baiqueno anha ‘criança’; em galóli sinherin ‘aqueles’ etc.
Dado o desiderato de uma ortografia pan-timorense (já planeada pelo Pe. Artur Basílio de Sá
em 1954 e confirmada em comissão ao INL pelo CNRT em 2001), era imperativo encontrar
novos símbolos para substituir lh e nh de origem portuguesa. Alguns timorenses influenciados
pela cultura indonésia sugeriram a introdução de ly e ny; esqueceram-se porém do facto de que a
maioria dos tetumófonos (falantes das variedades mesolectais e basilectais) não pronuncia estas
consoantes como em português (casos nos quais a ortografia <ly> e <ny> se tornaria aceitável)
despalatalizando-as em [l] e [n] depois do i e em [il] [in] depois de outras vogais. Assim, a
maioria dos timorenses pronuncia as palavras portuguesas falha, cartilha, manha e linha, não
como /falya/ /kartilya/ /manya/ /linya/ mas, isso sim, como /fayla/ /kartila/ /mayna/ /lina/.
Portanto resulta que as grafias indonésias, para além de politicamente contenciosas, sãoinadequadas, uma vez que o elemento /y/ é, ou absorvido pela vogal precedente, ou transposto
para a frente do l ou do n.
A única solução para este problema foi a introdução de um diacrítico para distinguir l e n como
fonemas independentes e polivalentes. A proposta inicial da IACDETL (um mácron sobre o l e o
n indicando serem consoantes longas) era lógica e tornou-se um bom símbolo de trabalho. Nas
grafias faL|a, kartiL|a, man|a, lin|a o referido mácron deixava as seguintes mensagens: (1) “depois
de a, e, o, u, leiam-me como /y/ antes ou depois da consoante, de acordo com a vossa pronúncia
normal; (2) “depois de i ignorem-me ou leiam-me como /y/ depois da consoante, de acordo com a
vossa pronúncia normal”. No entanto, tais símbolos não facilitavam o uso informático, uma vez
que os teclados dos computadores modernos apenas autorizam a alteração do n através do til
sobrescrito, enquanto o l não poderia sequer ser modificado.A solução adoptada pela IACDETL, e aprovada pelo INL em 2002, residiu em converter o
mácron num til no caso < n| >, e num <l> suplementar no caso de < L|>. Os substitutos resultantes,
<ñ> e <ll>, tinham o mérito de se associarem com a mais vasta tradição linguística portuguesa e
românica. O til é empregue em português (colocado, no entanto, sobre vogais e não sobre o n) e a
grafia <ñ> é a contrapartida de <nh> no galego, um dos dialectos da língua galaico-portuguesa
original a partir da qual o português moderno evoluiu. Por seu lado, o <ll> era empregue no
português medieval para representar o palatal moderno antes da introdução de <lh> (estando este
dígrafo posteriormente restringido a representar /l/ em palavras que tinham LL em latim: esta
convenção, abolida com a reforma ortográfica de 1911 – por exemplo cavallo > cavalo, janella >
janela, collegio > colégio – sobrevive em alguns apelidos portugueses – por exemplo Mello,
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19 – Eliminação das consoantes mudas em palavras herdadas do português:
istória (< história), eransa (< herança), otél (< hotel ), ospitál (< hospital ),batizmu (< baptismo), asaun (< acção), exesaun (< excepção), elétriku (<eléctrico), projetu (< projecto)
20 – Colocação do acento agudo sobre as vogais orais tónicas e alongadas, no casode oxítonos de origem portuguesa, mas não sobre as vogais nasais não alongadas,
também de origem portuguesa:
xá (< chá) pás (< paz ) jís (< giz ) krús (< cruz ) pár (< par ) súl (< sul )
20
lan (<
lã ) sin (<
sim) son
(<
som) bon
(<
bom)
21
21 – Diferenciação ortográfica, de base tradicional, em relação aos homónimos
tendo em conta interesses relacionados com a alfabetização. Onde tais palavras
apresentassem uma dupla vogal, ou uma vogal longa, etimologicamente
determinadas, um dos homónimos seria reescrito com uma vogal simples coberta
Perestrello, Chrystello). O símbolo <ll> também é usado em espanhol, catalão e francês e o <ñ>
é partilhado pelo espanhol (parceiro do português na iberofonia actual) e utilizado no alfabeto
fonético americano, sendo também um dos símbolos do alfabeto reconstruído para as línguas
proto-austronésicas e proto-malaio-polinésias, das quais o tétum é descendente.
Em 1996, Armindo Tilman (anteriormente associado ao movimento da Fretilin para a
alfabetização) sugeriu a convenção nn (em vez de ñ) para completar ll (por exemplo padrinnu
padriñu, madrinna madriña, Espanna España, kompannia kompañia). A proposta tinha lógica,
mas não foi imitada muito provavelmente porque <nn> (ao contrário de <ñ>) não tinha
precedentes na escrita das línguas românicas ou em qualquer dos conhecidos sistemas de notação
fonética.20
Estas vogais eram longas e não duplas ( pár ‘paz’ [do português] ~ kabaas “ombro” [palavranativa, do timorense antigo *qabaRa], kór ‘cor’ [do português] ~ door “sujo” [vocábulo
indígena]. Excepções aparentes a esta regra de diferenciação entre lusismos e formas nativas são
as grafias lee (igual ao português lê), revee (= revê), prevee (= prevê). Estes vocábulos são
escritos com vogais duplas porque as grafias do português moderno representam reduções
recentes das antigas formas dissilábicas (isto é, anteriores a 1911) como lêe (do latim LE-GIT),
revêe (do latim RE-VI-DET), prevêe ( PRÆ-VI-DET), assim como têm < têem (grafia antiga) <
TE-NENT. Em contrapartida, nas outras formas houve uma vogal tónica na formação da palavra,
por exemplo par < PAR-E, cruz < CRUC-E.21
As vogais nasais oxítonas não foram alongadas no tétum como as vogais orais oxítonas; daí que
grafias como *lán, * sín, *bón sejam desnecessárias e, portanto, incorrectas.
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por um acento agudo (a não ser que se tratasse de uma vogal nasal ou
cronicamente átona).22
Grafia com vogais duplas Grafia com vogal simples
tuun ‘espeto’ tun ‘descer’aan ‘corpo’ an ‘… si próprio’
bee ‘água’ bé ‘letra B’
be ‘o qual’23
foo ‘feder’ fó ‘dar’
haan (= ahan) ‘feijão bravo’ han ‘comer’
haree ‘ver’ hare ‘planta do arroz’
huun ‘alento; espírito’ hun ‘base; árvore’
laan ‘vela’ lan ‘lã’
maas ‘bocejar’ mas ‘mas’
moos ‘limpo’ mós ‘também’roo ‘folha’ ró ‘barco’
saa ‘cobra’; ‘família’ sá ‘o quê’
see ‘virar; apresentar’ sé ‘quem’
siin ‘azedo’ sin ‘sim’
taan ‘camada; dobra’ tan ‘porque’
tee ‘defecar’ té ‘letra T’
Também se distinguiram ortograficamente:
bá ‘ir’ (verbo) ba ‘a’ ‘para’ (prep.)
‘daqui (advérbio)sé ‘quem’ se ‘se’ (conjunção)
H. REVISÕES CONCLUSIVAS APRESENTADAS PELO INSTITUTONACIONAL DE LINGUÍSTICA (INL)
Dado este processo cumulativo de evolução, em 2002, ano da restauração da
nossa independência, já todas as marcas essenciais inerentes à ortografia nacionalde Timor-Leste estavam no seu devido lugar. O grande desafio residia em
coordenar estas convenções e eliminar as incoerências que ainda permaneciam. As
principais falhas dos escritores populares eram as seguintes:
22
As escolhas seguem, em larga medida, as dos ortografistas anteriores como, por exemplo,
(Mendes e Laranjeira) môon ‘claro’ ~ mós ‘também’, sée ‘apresentar’ ~ sé ‘quem’, túun ‘espeto’
~ tun ‘descer’; an ‘si mesmo’, bá ‘ir’, fó ‘dar’, hân han ‘comida’, ró ‘barco’, tan ‘porque’.23
Não é escrito com acento porque é sempre átono.
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1 – Não se ter ainda feito a distinção entre vogais simples e vogais duplas.
2 – Não se ter ainda feito a distinção entre vogais duplas de origem indígena
(historicamente e na realidade dissilábicas) e vogais tónicas alongadas deorigem portuguesa (historicamente e na realidade monossilábicas), como, por
exemplo, kuus ~ krús, liis ~ jís, haree ~ kafé, maliboo ~ avó, hadoor ~
hemudór, harii ~ kolibrí ; ai-naa ~ papá.
3 – Não se ter ainda marcado com apóstrofo a oclusiva glotal (pronunciada emmuitas variedades de tétum-praça assim como nos dialectos do tétum-térique).
4 – Existir ainda uma confusão entre /w/ e /b/.
5 – Existir ainda confusão entre os grupos consonânticos nativos /lh/ /nh/ e os
derivados do português <lh> e <nh>.6 – Não se usar, ou usar-se incorrectamente, o acento agudo (como marcador de
acentuação não paroxítona ou irregular)24
.
7 – A tendência para escrever palavras de modo fonético e não fonémico.8 – A continuidade de ortografias macarrónicas, isto é, escrever palavras derivadas
do português à maneira portuguesa em vez de se adaptar essas mesmas
palavras às regras da ortografia do tétum (ou seja, a coexistência de dois
sistemas de ortografia dentro de uma mesma língua).
Todas estas questões foram resolvidas de modo satisfatório na ortografia
padronizada do tétum apresentada em duas publicações do INL em 2002, mais
concretamente Matadalan Ortográfiku ba Tetun Nasionál e Hakerek Tetun Tuir
Banati, que concluíram o processo evolutivo inerente à ortografia do tétum.
© Instituto Nacional de Linguística, 2004
Tradução, a partir do inglês, de Francisco Nazareth, do Instituto Camões.
Bibliografia
Costa, Luís (2000). Dicionário de Tétum-Português. Lisboa: Colibri.
Comissão Litúrgica da Diocese de Díli (1980). Ordinário da Missa: Texto
Oficial Tétum. Díli.
24
A aplicação lógica desta regra produziu algumas diferenças no uso do acento no tétum, em
relação a português, tais como nos seguintes lusismos: nasionál (< nacional), alugér (<
aluguer), altár (< altar), otél (< hotel), funíl (< funil), kapatás (< capataz) ~ konsul (< cônsul),
rekomendavel (< recomendável), posivel (< possível. Grafias indigenizadas deste tipo já tinham
sido empregues pelos ortografistas portugueses, p.ex. (Silva) kintál < quintal.
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Nacional.
Fernandes, Abílio (1937). Método Prático para Aprender o Tétum. Macau;
Díli: Comando Territorial Independente de Timor, 1964.
Comité de Alfabetização da Fretilin (1975). “Como vamos alfabetizar o nosso
povo Mau Bere de Timor Leste”. Timor Leste, No. 6, Suplementos 1,2,3.
Hull, Geoffrey (1999). Standard Tetum-English Dictionary. Sydney: Allen &
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Hull, Geoffrey and Eccles, Lance (2001). Tetum Reference Grammar.
Sydney: Projecto Sebastião Aparício da Silva e Instituto Nacional deLinguística.
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Instituto Nacional de Linguística (INL) (2002). Matadalan Ortográfiku ba
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Instituto Nacional de Linguística (INL) (2002). Hakerek Tetun Tuir Banati.
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Laranjeira, Manuel Mendes (1916). Cartilha Tétum. Díli: Imprensa
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tétum e vocabulário”. Boletim da Agência Geral das Colónias, 5/54
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Tilman, Armindo (1996). “Matadalan nosi tetun — Timór lian. Lisboa
(edição privada).