CAPÍTULO I
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
IANNA SILVEIRA RAPOSO
AS DUAS PRIMEIRAS PRAÇAS DE TERESINA/PI:
ANÁLISE DE SUAS TRANSFORMAÇÕES NO TEMPO E DIAGNÓSTICO.
SÃO PAULO | 2011
R219d Raposo, Ianna Silveira.
As duas primeiras praças de Teresina/PI: análise de
suas transformações no tempo e diagnóstico. / Ianna
Silveira Raposo – 2012.
186 f.: il.; 30 cm.
Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) -
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012.
Bibliografia: f. 178-186.
1. Espaço público. 2. Praça. 3. Morfologia urbana. 4.
Qualidade urbana. 5. Teresina-PI. I. Título.
CDD 712.5
IANNA SILVEIRA RAPOSO
AS DUAS PRIMEIRAS PRAÇAS DE TERESINA/PI:
ANÁLISE DE SUAS TRANSFORMAÇÕES NO TEMPO E DIAGNÓSTICO.
.
Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de
Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Isabel Villac.
SÃO PAULO | 2011
IANNA SILVEIRA RAPOSO
AS DUAS PRIMEIRAS PRAÇAS DE TERESINA/PI:
ANÁLISE DE SUAS TRANSFORMAÇÕES NO TEMPO E DIAGNÓSTICO.
Dissertação apresentada à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do título de
Mestre em Arquitetura e Urbanismo.
Aprovado em
Profª. Dra. Maria Isabel Villac (orientador)
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Rafael Perrone
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Vladimir Bartalini Universidade de São Paulo
Dedico este trabalho a meus pais,João e Maria Iêda Raposo, pelo
apoio incondicional que sempre me deram, e ao meu sobrinho, João
Vitor, cuja existência tanta alegria e amor trouxe às nossas vidas.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus que se faz presente em todos os momentos da minha vida.
A minha família, em especial, minha irmã Amanda, pelo amor e compreensão, pois
sem eles, tudo seria mais difícil.
Os amigos, André, Carla, Marisa, Raphaela e Valdulce; pela amizade, ajuda e
incentivo durante essa difícil jornada.
A secretária da pós – graduação de Arquitetura e Urbanismo,Fernanda Freire, pela
sua disponibilidade em cooperar para resolução de problemas inerentes a este processo.
Ao Instituto Mackenzie de Pesquisa – Mackpesquisa pelo apoio financeiro recebido
através da bolsa de estudo recebida pelo grupo de pesquisa “Notas para projeto e crítica: arte,
textos e arquitetura cidade de São Paulo 1985 – 2008”.
Aos órgãos públicos de Teresina: Prefeitura Municipal, Arquivo Público, Casa da
Cultura, IPHAN, pelas informações necessárias para a realização dessa pesquisa.
Agradeço em especial à minha orientadora, Prof. Dra. Maria Isabel Villac, por todos os
ensinamentos e dedicação, por sua serenidade, e, principalmente, pelo apoio que me deu, sem
hesitar, no momento mais difícil dessa longa caminhada.
Aos professores Dr. Rafael Perrone e Dr. Wladimir Bartalini, pela disponibilidade na
participação das bancas de avaliação.
Aos meus amigos, e a todas as pessoas que direta e indiretamente me ajudaram e
colaboraram na realização deste trabalho.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................................................................009
LISTA DE SIGLAS................................................................................................................................................................023
RESUMO...............................................................................................................................................................................024
ABSTRACT...........................................................................................................................................................................025
INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................................026
CAPÍTULO I | PRAÇAS
1.1 A Praça na paisagem urbana..........................................................................................................................................031
1.2 Praça: Conceitos, funções e evolução histórica..............................................................................................................034
1.3 Configuração espacial das Praças Brasileiras................................................................................................................048
CAPÍTULO II | ANÁLISE DA PRAÇA MARECHAL DEODORO E PRAÇA SARAIVA
2.1. Morfologia Urbana..........................................................................................................................................................063
2.1.1 As praças dentro do contexto histórico da cidade de Teresina....................................................................................071
2.1.2 Estudo morfológico das estruturas das praças.............................................................................................................087
2.1.2.1 Praça Marechal Deodoro...........................................................................................................................................087
- Estrutura Espacial...............................................................................................................................................................087
- Vegetação...........................................................................................................................................................................095
- Mobiliário Urbano................................................................................................................................................................098
- O Entorno............................................................................................................................................................................106
2.1. 2.2 Praça Saraiva...........................................................................................................................................................116
- Estrutura Espacial...............................................................................................................................................................116
- Vegetação...........................................................................................................................................................................122
- Mobiliário Urbano................................................................................................................................................................124
- O Entorno............................................................................................................................................................................127
2.2 As praças como elementos do desenho da paisagem e como espaços de percepção e apropriação...........................134
2.2.1 Percepção, apropriação e acessibilidade dos espaços livres públicos por meio de uma leitura projetual..................138
2.2.1.1 Praça Marechal Deodoro...........................................................................................................................................138
- Recintos e Ponto Focal.......................................................................................................................................................145
- Ligação: pavimentação, caminhos e barreiras....................................................................................................................147
2.2.1.2 Praça Saraiva............................................................................................................................................................151
- Recintos e Ponto Focal.......................................................................................................................................................154
- Ligação: pavimentação, caminhos e barreiras...................................................................................................................156
CAPÍTULO III | DIAGNÓSTICO..........................................................................................................................................160
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................................................................175
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS | BIBLIOGRAFIA......................................................................................................178
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO I
FIGURA 01: A ÁGORA, PLANO E RECONSTRUÇÃO. FONTE: ZUCKER (1959, P.32). FIGURA 02: DISCURSO NA ÁGORA GREGA. FONTE: PORTALDOPROFESSOR.MEC.GOV.BR.ACESSADO EM 28/10/2010. FIGURA 03: ÁGORA E CONSTRUÇÕES REPRESENTATIVAS DO PODER PÚBLICO. FONTE: WWW.EDUC.FC.UL.PT.ACESSADO EM 28/10/2010. FIGURA 04: FÓRUM ROMANO. FONTE: ROMA ÂNTICA (GABUCCI APUD CALDEIRA, 2007). FIGURA 05: PLANTA DOS FÓRUNS ROMANO. FONTE: HTTP://HELENADEGREAS.FILES.WORDPRESS.COM.ACESSO: 20/08/2010. FIGURA 06: PRAÇA MEDIEVAL (PRAÇA DE MERCADO) FONTE: CIDADEMEDIEVAL.BLOGSPOT.COM/ ACESSO: 02/11/2010. FIGURA 07: PIAZZA DEL CAMPO E PIAZZA DEL CATEDRAL – SIENA. (O CONTRASTE ENTRE OS GRANDES ESPAÇOS DAS PRAÇAS COM AS ESTREITAS RUAS MEDIEVAIS). FONTE: PLAZAS OF SOUTHERN EUROPE (KATO, 1990 APUD CALDEIRA, 2007: 24). FIGURA 08: – A PRAÇA IDEAL NA CIDADE RENASCENTISTA, SÉCULO XV FONTE: LA CITÉ IDÉALE EN OCCIDENT. (VERCELLONI, 1996 APUD CALDEIRA, 2007). FIGURA 09: PLACE DE VOGUES, PARIS. FONTE: PHOTOGRAPHY. NATIONALGEOGRAPHIC.COM. ACESSO EM 18/11/2010.
FIGURAS 10: BOIS DE BOULOGNE FONTE: HTTP://WWW.PANORAMIO.COM/PHOTO. ACESSO EM 18/11/2010 FIGURAS 11: BOIS DE VINCENNES FONTE: HTTP://WWW.PANORAMIO.COM/PHOTO. ACESSO EM 18/11/2010 FIGURAS 12 E 13 – LE BOULEVARD HAUSSMANN O MODELO DO BOULEVARD TORNA-SE SÍMBOLO DA METRÓPOLE MODERNA. A INTERVENÇÃO DE HAUSSMANN RASGA O TECIDO DA PARIS MEDIEVAL PROPONDO UMA NOVA EXPERIÊNCIA DO ESPAÇO URBANO. FONTE: EXPOSITIONS. BNF. FR – DEX/2005 E PARIS-HAUSSMANN (CARS E PINON, 1991 APUD CALDEIRA, 2007). FIGURA 14 – PLACE DE L’ETOILE, PARIS. ADEQUANDO-SE À NOVA ESCALA URBANA, A PRAÇA PERDE A FORÇA DE SOCIABILIDADE. FONTE: PLAZAS OF SOUTHERN EUROPE (KATO, 1990APUD CALDEIRA, 2007). FIGURA 15: PRAÇA DA SÉ COM A NOVA CAETDRAL EM CONTRUÇÃO AO FUNDO-1937 FONTE: WWW.APRENDA450ANOS.COM.BR.ACESSO 02/12/2010. FIGURA 16: PRAÇA DA SÉ NOS DIAS ATUAIS. ÁREA MODIFICADA PARA SE EFETIVAR A ADEQUAÇÃO DO TRÁFEGO À ESCALA DO CRESCIMENTO URBANO. FONTE: HTTP://WWW.PROJETOSURBANOS.COM.BR/2008. ACESSO 02/12/2010. FIGURA 17: FREEDOM PLAZA, WASHINGTON. FONTE: LA PLAZA EM LA ARQUITECTURA CONTEMPORÂNEA (FAVOLE, 1995). FIGURA 18: IMAGEM DA PRAÇA VICTOR CIVITA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL: FOTO TIRADA PELA AUTORA EM 20/11/2010. FIGURAS 19 E 20: IMAGENS DAS INTERVENÇÕES DA PRAÇA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL: FOTOS TIRADAS PELA AUTORA EM 20/11/2010.
FIGURA 21: PLANTA CIDADE DE SALVADOR: TRAÇADO REGULAR ADAPTADO À TOPOGRAFIA – CIDADE BAIXA E CIDADE ALTA. FONTE: IMAGENS DE VILLAS E CIDADES DO BRASIL COLONIAL (REIS 2001, P.18). «COPIA MANUSCRITA, INCLUÍDA NO CÓDICE QUE DÁ RAZÃO (...)», DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO, RJ. FIGURA 22: PRAÇAS DO BRASIL COLONIAL. “A IRREGULARIDADE DOS TRAÇADOS, DISPOSTA COM GRAÇA E SENSIBILIDADE, É UMA DAS RAZÕES DE SEDUÇÃO QUE ELES EXERCEM.” (SANTOS, 2001, P.73). FIGURA 23: SÃO JOÃO DA PARNAÍBA, PI. FONTE: IMAGENS DE VILLAS E CIDADES DO BRASIL COLONIAL (REIS, 2001). FIGURA 24: A) A PRAÇA PRINCIPAL DE VILA BOA DE GOIÁS; B) IDEM, DE CUIABÁ; C) IDEM, DE VILA BELA; E) IDEM, DE MAZAGÃO. (SANTOS, 2001, P.75). FIGURA 25: PRAÇA DO PELOURINHO, ATUAL PRAÇA DA REPÚBLICA. CIDADE DE CHAVES – PORTUGAL. FONTE: HTTP://SERRA.BLOGS.SAPO.PT/ ARQUIVO/2005_01. HTML – ACESSO 02/10/2010. FIGURA 26: PRAÇA DE TIRADENTES. OURO PRETO - MINAS GERAIS - BRASIL. FONTE: HTTP: WWW.FOLHA.UOL.COM.BR. ACESSO 02/11/2010. FIGURA 27: PARCMONTSOURIS, PARIS. FONTE: MACEDO (1999:29). NO DESENHO VERIFICA-SE A INFLUÊNCIA DOS PARQUES EUROPEUS NA FORMAÇÃO DO 1° JARDIM PÚBLICO DO RIO DE JANEIRO. FIGURAS 28 E 29: PASSEIO PÚBLICO DO RIO DE JANEIRO EM 1817 E DEPOIS DA REFORMA DE GLAZIOU EM 1861. FONTE: WWW.PASSEIOPUBLICO.COM/. ACESSO: 27/11/2010. FIGURA 30: RESIDÊNCIAS DA FAMÍLIA JAFET NO IPIRANGA, SÃO PAULO. FONTE: QUADRO DO PAISAGISMO NO BRASIL.(1999:36).
FIGURA 31: AV. HIGIENÓPOLIS, SÃO PAULO. FONTE: QUADRO DO PAISAGISMO NO BRASIL.(1999:34). FIGURA 32: PRAÇA DA REPÚBLICA. BELÉM-PARÁ. FONTE: PRAÇAS BRASILEIRAS. ROBBA E MACEDO (2002:87). FIGURAS 33 E 34: PRAÇA SALGADO FILHO-RJ FONTE: PRAÇAS BRASILEIRAS (ROBBA E MACEDO, 2002). FIGURA 35: VISTA PARCIAL PARQUE DO IBIRAPUERA - SP. FONTE: PARQUES URBANOS NO BRASIL (MACEDO, 2003). FIGURA 36: PARQUE DO FLAMENGO - RJ. FONTE: QUADRO DO PAISAGISMO NO BRASIL (MACEDO, 1999). FIGURA 37: PROJETO FAVELA-BAIRRO, RIO DE JANEIRO: PRAÇA CARLOS SEIDL. FONTE: DOURADO (1997, P.36). CAPÍTULO II FIGURA 38: DIFERENTES FORMAS DE PRAÇAS APRESENTADAS EM LÉSPACE DE LA VILLE POR ROBERT KRIER (1980 APUD LAMAS 2000, P.101). FIGURA 39: PIAZZA DI SANTÍSSIMA ANNUNZIATA, EM FLORENÇA, ITÁLIA. FONTE: PLAZAS OF SOUTHERN EUROPE (KATO, 1990 APUD CALDEIRA, 2007). FIGURA 40: PRAÇA DO COMÉRCIO – LISBOA- PORTUGAL FONTE: HTTP://ARQUIVO.FORUM.AUTOHOJE.COM. ACESSO EM 01/11/2010. FIGURA 41: PRAÇA DOS TRÊS PODERES- BRASÍLIA – BRASIL. FONTE: HTTP://I.PBASE.COM/U39/ALEXUCHOA. ACESSO EM 01/11/2010.
FIGURA 42: PRAÇA DE SÃO PEDRO, VATICANO. FONTE: HTTP://WWW.FREEWALLPAPERS.COM.BR. ACESSO: 01/11/2010. FIGURA 43: LA PLACE STANISLAS, LA PLACE DE LA CARRIÈRE E LA PLACE D ALLIANCE. FONTE: HTTP://WWW.REPUBLICAIN-LORRAIN.FR. ACESSO: 01/11/2010. FIGURA 44: PRAÇA PANAMERICANA, SÃO PAULO. FONTE: WWW.SKYSCRAPERCITY.COM. ACESSO: 01/11/2010. FIGURA 45 (BRASIL – REGIÃO NORDESTE) FONTE: HTTP://GEO.TERESINA.PI.GOV.BR. ACESSO 12/02/2010. FIGURA 46 (MAPA DO PIAUÌ). FONTE: HTTP://GEO.TERESINA.PI.GOV.BR. ACESSO 12/02/2010. FIGURA 47 (MAPA DE TERESINA): LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TERESINA. FONTE: HTTP://GEO.TERESINA.PI.GOV.BR. ACESSO 12/02/2010. FIGURA 48: VISTA PARCIAL DA CIDADE DE TERESINA ENTRE OS RIOS PARNAÍBA E POTI. FONTE: GOOGLE EARTH. ACESSO: 12/06/2010. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA. FIGURA 49: PLANTA DA CIDADE DE OEIRAS – PRIMEIRA CAPITAL DO PIAUÍ – 1809. FONTE: IMAGENS DE VILAS E CIDADES DO BRASIL COLONIAL (REIS FILHO, 2000). FIGURA 50: CONFIGURAÇÃO DA MALHA URBANA DE TERESINA - MAPA DATADO DE 1855. FONTE: PMT (1997) APUD FAÇANHA (1998, P.53). FIGURA 51: CONFIGURAÇÃO DA MALHA URBANA DE TERESINA COM OS ESPAÇOS PARA A CONSTRUÇÃO DE PRAÇAS- MAPA DATADO DE 1852. FONTE: NASCIMENTO (2002) APUD BUENO (2008, P.61). IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA.
FIGURA 52: IMAGEM ATUAL DAS PRAÇAS E DA AV. FREI SERAFIM EM ESTUDO NA MALHA URBANA DA CIDADE. FONTE: GOOGLE EARTH. ADAPTADO PELA AUTORA EM 18/04/2010. FIGURA 53: SOBREPOSIÇÃO DA MALHA URBANA ORIGINAL DO CENTRO ANTIGO DE TERESINA SOBRE A ATUAL. FONTE: IPHAN, 2008. FIGURA 54: VISTA AÉREA DA DÉCADA DE 50 (AEROFOTOGRAMETRIA). FONTE: ACERVO- ARQUIVO PÚBLICO-ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 55: FOTO DE SATÉLITE DE 2007. O QUADRADO BRANCO REPRESENTA A ÁREA DA CIDADE, (PERÍMETRO) QUE EXISTIA NOS ANOS 50. FONTE: ACERVO- ARQUIVO PÚBLICO-ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 56: MAPA COM A LOCALIZAÇÃO DAS PRAÇAS DO CENTRO HISTÓRICO INSERIDAS NA TRAMA URBANA DE TERESINA. FONTE: GOOGLE EARTH. ACESSO: 12/06/2010. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA. FIGURA 57: PARTE DO MAPA DE ZONEAMENTO DA CIDADE DE TERESINA (2010). FONTE: PMT. ACESSO: 10/02/2011. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA. FIGURAS 58 E 59: IMAGENS ATUAIS DA PRAÇA RIO BRANCO COM VISTA DO SEU RELÓGIO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 60: IMAGEM ATUAL DA PRAÇA JOÃO LUIS FERREIRA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 61 E 62: IMAGENS ATUAIS DA PRAÇA LANDRI SALES E DO COLÉGIO LICEU PIAUIENSE. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 63 E 64: IMAGENS ATUAIS DA PRAÇA PEDRO II COM VISTA DO TEATRO QUATRO DE SETEMBRO E CINEMA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL.
FIGURA 65: IMAGEM ATUAL DA PRAÇA DA LIBERDADE COM DA IGREJA SÃO BENEDITO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 66 E 67: IMAGENS ATUAIS DA PRAÇA DA COSTA E SILVA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 68: MARCO ZERO DA CIDADE. IMAGEM TIRADA PELA AUTORA EM 18/07/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 69: PRAÇA MAL. DEODORO NO INÍCIO DO SEC. XIX. NA ÉPOCA, REUNINDO AS SEDES DOS PODERES, REPARTIÇÕES PÚBLICAS, IGREJA E O MERCADO. FONTE: ACERVO – ARQUIVO PÚBLICO DE TERESINA: ACESSO- 18/05/2010. FIGURA 70: VISTA AÉREA DA PRAÇA MARECHAL DEODORO NA DÉCADA DE 1980, COM PROJETO PAISAGÍSTICO DESENVOLVIDO POR BURLE MARX. FONTE: ACERVO – ARQUIVO PÚBLICO DE TERESINA: ACESSO- 18/05/2010. FIGURA 71: PROJETO DA PRAÇA ORIGINAL SIMULADO PELA AUTORA ATRAVÉS DO LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA – ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 72: DESTAQUE ELEMENTOS DOMINANTES. FONTE: IMAGEM GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA. ACESSO11/12/2010. FIGURA 73: NÚCLEO DA PRAÇA. FONTE: IMAGEM GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA. ACESSO11/12/2010. FIGURA 74: EDIFÍCIO DOMINANTE (IGREJA). FONTE: IMAGEM GOOGLE EARTH MODIFICADA PELA AUTORA. ACESSO11/12/2010.
FIGURA 75: LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA. ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 76: CORTE ESQUEMÁTICO DA SITUAÇÃO ATUAL DA PRAÇA MARECHAL DEODORO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 77: ESQUEMA DA PRAÇA MARECHAL DEODORO CONFORMADA POR QUATRO VIAS (ADAPTADO PELA AUTORA). FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA. 78: IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA EM 18/10/2010. FONTE: FAU-USP. PAISAGISMO – 1983. SÍNTESE DAS ATIVIDADES. FIGURA 79: MASSA DENSA DE ARBORIZAÇÃO. FONTE: GOOGLE EARTH. ACESSO EM 20/10/2010. FIGURA 80: VISTA DAS ÁRVORES - COPA HORIZONTAL. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 81: BLOQUEIO VISUAL CAUSADO PELA COPA DAS ÁRVORES. FOTO: IANNA RAPOSO, 2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 82: VISTA DAS ÁRVORES - COPA VERTICAL E AO FUNDO O MONUMENTO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 83: VISTA CANTEIROS DESCUIDADOS. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 84, 85 E 86: OS TRÊS TIPOS DE BANCOS EXISTENTES. FONTE: ARQUIVO PESSOAL.
FIGURA 87: TIPO DE LIXEIRA EXISTENTE. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 88 E 89: TIPO DE POSTE EXISTENTE; POSTE COBERTO PELAS COPAS DAS ÁRVORES. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 90: FALTA DE ILUMINAÇÃO DURANTE A NOITE, GERANDO INSEGURANÇA PÚBLICA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 91: GRÁFICO ELABORADO PELA AUTORA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURAS 92, 93 E 94: TIPO DE PISO EXISTENTE EM SEQUÊNCIA - PEDRA PORTUGUESA; CIMENTO; BLOQUETE DE CONCRETO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 95: PRAÇA SARAIVA: IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES - SEGUNDO TEMPLO RELIGIOSO DE TERESINA E COLÉGIO DIOCESANO AO FUNDO. FONTE: ACERVO – ARQUIVO PÚBLICO DE TERESINA: ACESSO- 18/05/2010. FIGURA 96: PRAÇA SARAIVA: IGREJA NOSSA SENHORA DAS DORES NOS DIAS ATUAIS. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 97: PROJETO DA PRAÇA ORIGINAL SIMULADO PELA AUTORA ATRAVÉS DO LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA – ACESSO: 11/11/2010. FIGURA 98: DESTAQUE PARA O ELEMENTO DOMINANTE. FONTE: IMAGEM GOOGLE EARTH, MODIFICADA PELA AUTORA. ACESSO11/12/2010.
FIGURA 99: PROJETO DA PRAÇA COM INTERVENÇÃO VIÁRIA SIMULADO PELA AUTORA ATRAVÉS DO LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA – ACESSO: 11/11/2010. FIGURA 100: CORTE ESQUEMÁTICO DA SITUAÇÃO ATUAL DA PRAÇA SARAIVA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 101: ESQUEMA DA SARAIVA CONFORMADA POR QUATRO VIAS (ADAPTADO PELA AUTORA). FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 102: GRANDE MASSA DE ARBORIZAÇÃO PROVOCANDO GRANDES ÁREAS DE SOMBREAMENTO. FONTE: GOOGLE EARTH. ACESSO EM 20/11/2010. FIGURA 103: VISTA DAS ÁRVORES - COPA HORIZONTAL. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 104: VISTA CANTEIROS DESCUIDADOS. FOTO: IANNA RAPOSO, 2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 105: BLOQUEIO VISUAL CAUSADO PELA COPA DAS ÁRVORES. FOTO: IANNA RAPOSO, 2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 106: TIPO DE BANCO EXISTENTE. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 107: TIPO DE LIXEIRA EXISTENTE. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 108: TIPO DE POSTE EXISTENTE. LOCAÇÃO MAL PLANEJADA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL.
FIGURA 109: DEFICIÊNCIA NA ILUMINAÇÃO DURANTE A NOITE, PROVOCANDO O ABANDONO DA PRAÇA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 110: GRÁFICO ELABORADO PELA AUTORA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 111: PEDRA PORTUGUESA: DESENHO DO PISO DO CAMINHO PRINCIPAL. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 112: BLOQUETE DE CONCRETO E CIMENTO CORRIDO: VISTA DA FALTA DE UNIFORMIDADE DA PAVIMENTAÇÃO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 113: ESQUEMA DE APROPRIAÇÃO DA PRAÇA MAL. DEODORO. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA EM 04/10/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 114: RECINTO - PRAÇA MAL. DEODORO. IMAGEM TIRADA PELA AUTORA EM 18/07/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 115: VISTA PONTOS FOCAIS DA PRAÇA MAL. DEODORO. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA EM 06/10/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 116: VISTA PONTOS FOCAIS DA PRAÇA MAL. DEODORO. PROJETO ORIGINAL DA PRAÇA SIMULADO PELA AUTORA ATRAVÉS DO LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA – ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 117: LIGAÇÃO E CONEXÃO DA PRAÇA ATRAVÉS DA PAVIMENTAÇÃO.FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA118: SENTIDO QUE OCORRE O PRINCIPAL FLUXO DA PRAÇA.
FONTE IMAGEM: GOOGLE EARTH. ACESSO EM 20/11/2010. FIGURAS 119 E 120: ESTACIONAMENTO PRAÇA MAL. DEODORO E SHOPPING DA CIDADE. FOTOS TIRADAS PELA AUTORA EM 18/07/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 121: GRÁFICOS ELABORADOS PELA AUTORA: IMAGENS TIRADAS PELA AUTORA EM 18/07/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 122: ESQUEMA DE APROPRIAÇÃO DA PRAÇA SARAIVA. IMAGEM MODIFICADA PELA AUTORA EM 04/10/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA123: RECINTO - PRAÇA SARAIVA. IMAGEM TIRADA PELA AUTORA EM 18/07/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 124: VISTA PONTOS FOCAIS DA SARAIVA. PROJETO ORIGINAL DA PRAÇA SIMULADO PELA AUTORA ATRAVÉS DO LEVANTAMENTO DA PRAÇA NOS DIAS ATUAIS. FONTE: PREFEITURA MUNICIPAL DE TERESINA – ACESSO: 18/05/2010. FIGURA 125: LIGAÇÃO E CONEXÃO DA PRAÇA ATRAVÉS DA PAVIMENTAÇÃO. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 126: SENTIDO QUE OCORRE O PRINCIPAL FLUXO DA PRAÇA. FONTE IMAGEM: GOOGLE EARTH. ACESSO EM 20/11/2010. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 127: IMAGENS DAS MODIFICAÇÕES QUE OCORRERAM NA ESTRUTURA FÍSICA DA PRAÇA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL. FIGURA 128: GRADEAMENTO DA PRAÇA SARAIVA: BARREIRA FÍSICA. FONTE: ARQUIVO PESSOAL.
CAPÍTULO III FIGURA 129: IMAGEM DO CENTRO DA CIDADE ENTRE OS RIOS RHÔNE E SAÔNE. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.34). FIGURA 130: MAPA DAS RUAS COM PRIORIDADE AO PEDESTRE E COM AS PRAÇAS ASSINALADAS. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.34). FIGURA 131: PLACE DE LA BOURSE. MOBILIÁRIO RENOVADO ENCONTRADOS TANTO NO CENTRO DA CIDADE COMO NOS SUBÚRBIOS. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.38). FIGURA 132: PLACE ANTONIN PONCET, COM SUAS FONTES QUE CONECTAM CIDADE E ÁGUA AO LONGO DE UMA AVENIDA DE TRÁFEGO PESADO NA MARGEM DO RIO. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.39). FIGURA 133: A DIVERSIDADE DOS EQUIPAMENTOS URBANOS DA PRAÇA KLÉBER. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001,PG.51) FIGURA 134: ANTES DA RENOVAÇÃO OS CARROS CIRCULAVAM NOS QUATRO LADOS DA PLACE KLÉBER. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.149).
FIGURA 135: APÓS A RENOVAÇÃO, 1993, COM EXCEÇÃO DAS BICICLETAS E DAS NOVAS LINHAS DE BONDE, A PRAÇA INTEIRA ESTÁ LIBERADA DO TRÁFEGO. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.149). FIGURA 136: SANKT HANS TORV É UMA PRAÇA REPLETA DE CAFÉS, UM PONTO DE ENCONTRO PARA A POPULAÇÃO DA CIDADE. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.99). FIGURA 137: COMO TANTAS OUTRAS PRAÇAS NA EUROPA, ANTES DA RENOVAÇÃO A PRAÇA ERA USADA COMO ESTACIONAMENTO DE VEÍCULOS. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.135).
FIGURA 138: OS VEÍCULOS AGORA ESTÃO FORA DA PAISAGEM DA PRAÇA, DISPOSTOS EM ESTACIONAMENTOS SUBTERRÂNEOS. FONTE: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.135).
LISTA DE SIGLAS
PMT
Prefeitura municipal de Teresina
SEMPLAN
Secretaria Municipal de Planejamento
IPHAN
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
RESUMO
O presente trabalho busca analisar conceitos e reflexões de projeto das Praças Marechal Deodoro e Saraiva,
localizadas em Teresina-PI, partindo da recomposição e entendimento do processo de evolução urbana das áreas no
contexto da cidade desde suas fundações aos dias de hoje. Com isso pretende-se ao final contribuir com um diagnóstico
para a requalificação das praças e seu entorno, colaborando, assim, na qualidade espacial da cidade e numa melhor
apropriação desse território pela população. Para tal, a pesquisa baseia-se, principalmente, no conceito de Morfologia da
Paisagem Urbana, e na dialética entre projeto, apropriação e acessibilidade dos espaços livres públicos.
Palavras Chave:
Espaço Público, Praça, Morfologia Urbana, Qualidade Urbana, Teresina.
ABSTRACT
This study aims to examine concepts and ideas of design and the Place MarechalDeodoro Scott, located in Teresina,
Piauí, starting with the restoration and understanding of the evolutionary process of urban areas in the context of the city
from its foundation to today.With this we intend to contribute to the final guidelines for the reclassification of projective
squares and its surroundings, thus contributing, in the spatial quality of the city and a better ownership by the population of
that territory. To this end, the research is based mainly on the concept of Urban Landscape Morphology, and the dialectic
between design, ownership and accessibility of public open spaces.
Key Words:
Public Space, Place, Urban Morphology, Urban Quality, Teresina.
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INTRODUÇÃO
A praça como espaço público constitui, desde os seus primórdios, um referencial urbano marcado pela convivência
humana. É, portanto, um importante equipamento histórico e cultural urbano que expressa o surgimento e o
desenvolvimento de inúmeras cidades, especialmente, no Brasil (Gomes, 2005).
Zucker (1959) levanta a importância fundamental da praça como o elemento central de formação na vida da
cidade. Para ele, não importa o tamanho ou a escala desses espaços públicos, a praça central de um bairro residencial,
dentro de uma grande cidade, e a praça monumental de uma metrópole, servem para o mesmo propósito: elas criam um
ponto de encontro para as pessoas, humanizando-as por contato mútuo, proporcionando um abrigo contra o tráfego
acelerado das ruas.
Em diversas épocas as praças foram palco dos diferentes costumes da sociedade, portanto, sofreram mudanças
em sua estrutura projetual, linhas estruturais, passando sempre por intervenções que refletiram diferentes, hábitos,
culturas, e assim criando paisagem e ambiências urbanas. Ao produzir e utilizar o espaço urbano o homem o transforma
alterando seu aspecto através da tecnologia e modifica a paisagem que espelha, em um dado momento, a história de sua
relação com a natureza, modificando-a conforme os usos que a sociedade faz desses espaços.
Não foi diferente com a cidade de Teresina que, desde seu traçado original, em 1852, já apresentava algumas
áreas destinadas para a construção de praças. O centro histórico de Teresina tem um total de sete praças, que são: Praça
Marechal Deodoro, Praça Saraiva, Rio Branco, João Luis Ferreira, Landri Sales, Praça Pedro II e Praça da liberdade.
Possuem uma representação significativa nas áreas verdes centrais da cidade, criando áreas sombreadas com suas
coberturas vegetais.
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Estas praças têm, portanto, grande importância no espaço urbano de Teresina, pois fazem parte da morfologia
urbana da cidade formando a paisagem urbana desse território. Além disso, esses espaços públicos congregam história,
memória, cargas de afetividade e suas paisagens são hoje o resultado da sobreposição das expressões culturais desde a
origem da cidade aos dias de hoje. As praças centrais acumulam importantes características, configurando-se como um
referencial da modificação da paisagem com o passar dos anos.
De acordo com Lima (2001), por ser uma cidade sem litoral e por possuir um clima quente, estes espaços livres se
tornam centro de lazer e reunião, obrigatórios para aqueles que queriam inteirar-se dos acontecimentos das cidades ou
passear. Elas tiveram, também, uma enorme influência na vida dos cidadãos, pois eram palco de importantes fatos
históricos e culturais da sociedade.
Contudo, como na maioria das cidades brasileiras, nas últimas décadas, os espaços públicos de Teresina,
principalmente das áreas centrais, têm passado por uma mudança de uso além do afastamento da população. Isso se dá
principalmente devido as transformações ocorridas nessas áreas, modificando a relação da praça com o seu entorno. Por
serem os locais iniciais de ocupação da cidade, essas áreas centrais têm parâmetros sócio-culturais diferenciados
daqueles aplicados ao resto da cidade e se transformam em referenciais urbanos e memória da cidade. Porém, ao longo
do tempo, eles vão sendo alterados tanto na forma como na função pela dinâmica de ocupação da cidade. (Cardoso e
Melo, 2006).
E estas alterações que acontecem nas praças, surgem para adaptar-se à nova dinâmica da cidade, pela presença
de novas centralidades que desarticulam a importância das praças como espaço de lazer urbano e, também, pela
proliferação de atividades comerciais que ocupam esses espaços, passando de área de convívio da população para mera
passagem.
27
Este trabalho se atém ao estudo da Praça Marechal Deodoro e Praça Saraiva, as duas primeiras praças de
Teresina.A escolha da Praça Marechal Deodoro e Praça Saraiva se deu pelo fato de esses espaços livres públicos
fazerem parte da configuração do desenho urbano da cidade, desde a sua fundação até os dias atuais.
A presente pesquisa tem como objetivo a proposta de requalificação das praças já referidas e seu entorno por meio
de diagnósticos propostos. Objetiva-se, assim, contribuir para o melhor conhecimento dos espaços livres públicos de
Teresina a partir do estudo das duas primeiras praças da cidade. Com isto ressaltar a importância desses espaços na
identidade cultural, social e urbanística da cidade e estabelecer diagnósticos que possibilitem futuras intervenções que
ofereçam melhor qualidade de uso destas praças para a população local.
Para o estudo das praças, baseado em outros estudos semelhantes já realizados, será analisado: o processo de
suas constituições a partir das intervenções urbanas desde suas fundações aos dias de hoje;as características
arquitetônicas dos territórios das mesmas junto ao seu entorno; as atuais relações físicas e funcionais entre o espaço
público e os edifícios circundantes; as possibilidades de fruição e apropriações de seus espaços por parte da população e
o grau de importância desses espaços como elementos articuladores ou determinantes no desenho do tecido urbano.
Visando atingir os objetivos propostos a pesquisa foi desenvolvida com base em:
_ Pesquisa Documental que envolveu levantamentos bibliográficos de livros, dissertações, artigos, publicações,
páginas de web sites, revistas, dentre outros; levantamentos cartográficos e iconográficos; coleta de documentos
oficiais.
_ Pesquisa de Campo desenvolvida a partir de observações e levantamento fotográfico in loco.
28
_ Montagem de referencial teórico, para amparar a análise, a partir de Garcia Lamas (2000) e PaulZucker, (1959), no
que respeita à morfologia; Kevin Lynch (1999), de Gordon Cullen (2009) e Cerasi (1977), no que se refere às
questões de percepção e paisagem urbana.
_ Complementou-se, então, o presente estudo, cruzando os dados extraídos da pesquisa documental disponível
sobre o tema, aos dados coletados na pesquisa de campo e às análises das praças.
O trabalho apresenta a seguinte estrutura, sintetizada nos capítulos a seguir:
O capítulo1 - PRAÇAS - estuda o conceito, origem e transformações do espaço público “praça”, bem como seu
valor no limiar deste novo século na paisagem urbana, a fim de instaurar subsídios teóricos para esta pesquisa. Desta
forma, além das definições aprofundam-se, também, os aspectos relacionados à evolução histórica, funções e
configuração espacial dentro do espaço urbano, especialmente, no Brasil.
O capítulo 2- ANÁLISE DA PRAÇA MARECHAL DEODORO E PRAÇA SARAIVA- realiza a análise projetual das
duas primeiras praças de Teresina, Marechal Deodoro e Saraiva, para a realização de uma leitura crítica, cujo objetivo é
um melhor entendimento de elementos constituintes do ambiente. Para nortear este estudo, tal análise foi estruturada em
duas etapas: a primeira relacionada à conformação física da praça, estrutura espacial dos ambientes que tem como pano
de fundo o estudo sobre a morfologia urbana defendido por Lamas (2000)em A Morfologia Urbana e o Desenho da Cidade,
e um estudo mais detalhado da morfologia das praças em sua totalidade tridimensional orientado por Zucker (1959) em
Town and Square. A segunda etapa da análise realiza a leitura e percepção das possibilidades de interferência do espaço
na sua utilização, tomando por base, principalmente, A imagem da cidade (1999) de Kevin Lynch, Paisagem urbana (2009)
de Gordon Cullen e La Lecturadel Ambiente(1977) de Cerasi. Estes são considerados pioneiros em estudos relacionados à
leitura do ambiente construído e subsídios para a elaboração de novos projetos.
29
O capítulo 3 - DIAGNÓSTICO- apresenta diagnóstico que visa possibilitar futuras intervenções urbanas na Praça
Marechal Deodoro e Praça Saraiva, contribuindo na melhoria da qualidade desses espaços e,conseqüentemente,em uma
melhor forma de apropriação dos mesmos pela população.
O capítulo 4 - compreende as CONSIDERAÇÕES FINAIS, no qual são apresentadas e discutidas as conclusões
sobre os resultados obtidos através da leitura e diagnóstico propostos paras as praças em estudo, bem como as sugestões
para futuros trabalhos.
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CAPÍTULO I
CAPÍTULO I | PRAÇAS
O capítulo Praças apresenta o conceito, a origem e as transformações do espaço público “praça”, além de seu
valor no início deste novo século na paisagem urbana. Com isso, além das definições aprofundam-se, também, os
aspectos relacionados à evolução histórica, funções e configuração espacial dentro do espaço urbano, principalmente, no
Brasil.
1.1 A PRAÇA NA PAISAGEM URBANA
O conceito de paisagem é muito amplo e, dependendo da disciplina, ganha novos significados. Para muitos autores,
mesmo hoje, seu conceito está associado apenas a um espaço territorial perceptível pela visão formada por elementos e
formas naturais e outros produzidos pelo o homem. Estes autores, entre eles Milton Santos (1999, p.27) para quem a
paisagem “[...] é apenas a porção da configuração territorial que é possível abarcar com a visão [...]”, definem paisagem
como aquilo que é imediatamente visível, que pode ser captado com os olhos. Porém, o conceito de paisagem envolve,
além do que é perceptível ao olho humano, o produto da relação entre natureza e cultura, além de muitos outros aspectos
e sentidos. Para Magnoli (2006) é importante que se entenda as diferentes matrizes, situações e níveis da ação humana
que podem ser observadas simultaneamente no conceito de paisagem, que é variável em escala, em percepção e em
dimensão temporal. Isto reforça a noção de que não há paisagem sem transformação e que não há natureza sem a
presença da ação humana. Em suma: a paisagem resulta de processos contínuos de alteração que são ditados por fatos
biofísicos, sociais e econômicos.
31
CAPÍTULO I
De acordo com Macedo (1999, p.11) paisagem “é a expressão morfológica das diferentes formas de ocupação
e, portanto, de transformação do ambiente em um determinado tempo”. Para ele, a paisagem é tanto um produto como um
sistema: como produto ela é resultado de um processo social de ocupação e gestão de um determinado território; como
sistema ela sofre uma alteração morfológica parcial ou total. Ainda para Macedo estas duas posturas são indissolúveis e
estão ligadas a uma ótica de percepção humana, a um ponto de vista social.
Dependendo do campo de estudo, as dimensões de paisagem podem ser subdivididas, de acordo com Leite (1992,
p.45), em duas vertentes: uma que relaciona paisagem a sua essência física e outra que remete a sua essência simbólica.
Na primeira vertente, entra a dimensão morfológica, funcional e espacial. Na segunda, a dimensão simbólica e histórica. E
Leite as descreve como: (a) dimensão morfológica, onde a paisagem é traduzida como um conjunto de configurações
formais, derivadas da natureza e da ação humana; (b) dimensão funcional, relativa à organização, pois que suas partes
guardam relações entre si; (c) dimensão histórica, na medida em que é produto das transformações que ocorrem ao longo
do tempo; (d) dimensão simbólica, uma vez que a paisagem carrega significados que expressam valores, crenças, mitos e
utopias, e (e) dimensão dinâmica, que relaciona os padrões espaciais aos processos que lhes deram origem.
Essas duas dimensões, por sua vez se auto completam. Na primeira vertente encontram-se autores como Kevin
Lynch e Gordon Cullen que consideram apenas o efeito visual e emocional da paisagem sobre o observador. Dentro da
vertente simbólica, a paisagem se inicia a partir de uma identificação do conjunto de elementos que justificam a atribuição
de valor ao local (Ribeiro, 2007). Estas paisagens são singulares na medida em que fazem parte do cotidiano de pessoas
que percebem e valorizam o conjunto de elementos que as compõem. Nesse caso, a preservação da paisagem natural e
urbana é defendida como um meio de enfatizar a importância na construção da identidade cultural dos habitantes do lugar
(Leão, 2011).
32
CAPÍTULO I
A idéia de paisagem como uma invenção cultural, como um artefato construído e elaborado pelo homem é
enfatizado por alguns autores que chamam a atenção para as relações estabelecidas entre homem e seu ambiente, como
destaca o seguinte autor:
“Deveríamos tentar entender porque uma dada sociedade interpreta o seu ambiente de uma forma específica, que leva a criação de formas específicas de assentamentos. Isso exige mais do que levantar as formas da paisagem, e mais ainda do que uma análise funcional. Isso exige que se estude o significado que cada sociedade humana oferece ao seu ambiente.” (BERQUE, 2000 apud LEÃO,2011 p.17).
E é por entender que todas as paisagens expressam a cultura de um determinado local e de uma época específica,
através de representações individuais, que Meinig(1979) indica que as paisagens acumulam essas representações e se
tornam extremamente complexas para serem entendidas em sua totalidade. O autor considera todas as paisagens
simbólicas, como expressão dos valores culturais, do comportamento social e de ações individuais trabalhadas em
localidades especifica por um período de tempo (MEINIG, 1979:6). Para este autor, a paisagem é uma acumulação de
tempos e seu estudo pode ser entendido como história. (TANGARI, et al. 2009).
Logo, os espaços livres públicos, na paisagem urbana, representam mais que espaços geográficos, são vestígios
da história e cultura de uma comunidade _ “ao caminhar pelas calçadas, ao brincar nos parques e praças, ao interagir com
as informações visuais presentes em signos que habitam as cidades, nos envolvemos com o espaço público na intensa
relação entre o ser e o objeto, entre o habitante, o transeunte e a cidade.” (SCHMIDLIN 2006, p.6). Entre eles, a praça se
destaca como o espaço público que detém grande representatividade local, tanto em seus aspectos morfológicos como
históricos e funcionais. Desde suas origens na Grécia antiga até aos dias de hoje, a praça sempre esteve presente na
malha urbana, como também serviu de palco para as manifestações culturais, políticas e religiosas dos países do
33
CAPÍTULO I
Ocidente. A praça está tão integrada ao conceito de cidade que é praticamente impensável um espaço urbano no qual ela
não esteja inserida.
1.2. PRAÇA: CONCEITOS, FUNÇÕES E EVOLUÇÃO HISTÓRICA
Praça – [do grego-plateia, ‘rua larga’, pelo latim-platea], lugar público cercado de edifícios; largo; Mercado; feira.1
Existem diversos conceitos referentes ao termo “praça”, porém, todos os autores concordam em conceituá-la como
um espaço público e urbano, onde sempre foi celebrada como um espaço de convivência para habitantes urbanos.
Robba e Macedo (2003, p.11) afirmam que: “praças são espaços livres de edificação, públicos e urbanos,
destinados ao lazer e ao convívio da população, acessíveis aos cidadãos e livres de veículos.” Para eles, é isso que difere
as praças dos chamados “jardins urbanos”, a existência de atividades de lazer e recreação e acessibilidade aos pedestres.
Para Bartalini (2007), as praças surgiram devido às necessidades de espaços para a realização de qualquer
atividade de troca e para tomada de decisões coletivas. É um lugar para encontros e festividades, um símbolo para a
comunidade, e, contudo, um “centro” facilmente acessível onde se realizam as mais variadas funções. Ainda segundo o
autor, a importância simbólica e referencial que se dá a uma praça, resulta quando o espaço se torna marco referencial
local ou é tomado de um significado especial apropriado pelo usuário ou habitante da cidade; ou, ainda, quando carrega
algum sentido histórico e característica que, caso fosse extinta, descaracterizaria o ambiente.
A praça, ao mesmo tempo em que é um vazio é uma construção. A praça não é apenas um espaço físico aberto,
mas também um centro social integrado ao tecido urbano, e sua importância refere-se tanto ao seu valor histórico, como a
1 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da Língua Portuguesa. Ed. Nova Fronteira, 1986
34
CAPÍTULO I
sua participação contínua na vida da cidade. (ALEX, 2008). Quanto a isso, Sun Alex (2008) cita Kevin Lynch (1981)
afirmando claramente que a praça é um lugar de convívio social inserido na cidade e que está relacionada com as ruas,
arquitetura e pessoas.
Segundo Saldanha (1993) «a praça integra organicamente o conjunto formado pela cidade, mas ao mesmo tempo
está nele como um espaço - quase como uma clareira - surgido pelo distanciamento entre determinadas porções
construídas». Porém, a praça não é apenas uma extensão espacial, ela corresponde a um significado social, correlato do
próprio espírito da cidade onde se insere.
Para Lamas (2010, p.100):
“A praça é um elemento morfológico das cidades ocidentais e distingui-se de outros espaços, que são resultado acidental de alargamento ou confluência de traçados - pela organização espacial e intencionalidade de desenho. Esta intencionalidade repousa na situação da praça na estrutura urbana, no seu desenho e nos elementos morfológicos (edifícios) que a caracterizam. A praça pressupõe a vontade e o desenho de uma forma e de um programa. Se a rua, o traçado, são os lugares de circulação, a praça é o lugar intencional do encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestações de vida urbana e comunitária e de prestígio e, conseqüentemente, de funções estruturantes e arquiteturas significativas.”
Lamas (2010) afirma que a praça é um elemento urbano ocidental, já que nas cidades islâmicas, a praça não existe.
Quanto a isto, Segawa (1996, p.31) ressalta que “a praça é um espaço ancestral que se confunde com a própria origem de
conceito ocidental de urbano.”
De acordo com De Angelis (2000, p.1):
“A palavra praça vêm do latim platea, e esta do grego platys, que resume desde muito, o destino da ágora grega e do fórum romano ao uso público para reuniões e convívio social. Era local de encontros, de tomadas de decisões de interesse da comunidade, de espetáculos, execuções, ofício religioso, comércio, festas, enfim, a vida da cidade tinha, necessariamente, que passar por ela.”
35
CAPÍTULO I
Ao longo da história, a praça teve diferentes formas e funções,
mas, como já dito, sempre esteve presente na morfologia das cidades
ocidentais.
Como espaço coletivo, segundo Caldeira (2007), a praça envolve
questões socioculturais, já que é o lugar de encontro onde se desenvolve
a vida social. O uso do termo “espaço público” é recente, parece derivar
do conceito de “espaço urbano”e estar vinculado ao conceito de “esfera
pública” e “esfera privada”, conceitos estes, que remetem ao direito
Romano e que permanecem presentes na organização das cidades
medievais.
Para Habermas (1984), a relação entre o termo “espaço público” e
um espaço geográfico aparece na formação da cidade-estado grega, a
polis. Era ali na Ágora onde acontecia a manifestação da esfera da vida
pública. Essa praça era formada por um pátio aberto, circundado por
edifícios públicos administrativos e o mercado.
Na Ágora, os cidadãos livres exerciam a política por meio de ação e
do discurso e ela podia ser visualizada por toda a comunidade, era o lugar
do domínio público. Seguindo esse contexto, Saldanha (1993) afirma que
a ágora, mais do que praça de mercado, era o centro dinâmico da cidade grega, tornando-se historicamente o símbolo da
presença do povo na atividade política.
Figura 01: A Ágora, plano e reconstrução. Fonte: ZUCKER (1959, p.32).
36
CAPÍTULO I
Zucker (1959) afirma que a Ágora, tanto do ponto de
vista sociológico, como do ponto de vista arquitetônico,
baseou-se nas potencialidades do crescimento gradual da
democracia. Como ponto focal das cidades, era localizada
no centro, quando a topografia permitia. No início a Ágora
era primariamente o lugar para encontros políticos e
assembleias legislativas. Foi mudando gradualmente em
um centro de comercialização e finalmente se tornou o
único, considerando que a função política da Ágora foi
assumida pelo representante em reuniões da área sagrada
da Acrópole o que restava das atividades governamentais,
administrativos e judiciais no âmbito da Ágora agora foi
atendida em edifícios fechados especiais.
Portanto, pode-se dizer que a Ágora é antecessora
remota de nossas praças e, assim como a Ágora, na
antigüidade greco-romana, também, existia o Fórum, sendo
ambosos espaços públicos de maior importância da cidade e
funcionavam como seu centro vital. Materializada na figura da
Ágora ou do Fórum, a praça, com seu conjunto arquitetônico,
desempenhava um papel crucial na vida citadina.
Figura 02: Discurso na ágora grega. Fonte:http://portaldoprofessor.mec.gov.br/storage/discovirtual/aulas/6802/imagens/pericles1.jpg. Acesso: 20/08/2010.
Figura 03: Ágora e construções representativas do poder público. Fonte:www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/escola/socrates/images/mapaathens.gif. Acessado em 28/10/2010.
37
CAPÍTULO I
Conforme Zucker (1959), o Fórum era o espaço urbano principal, cercado por edifícios administrativos, religiosos e
comerciais. Decorado com esculturas, arcos e colunas, escadarias, representava um contraste com o denso tecido urbano.
Tais elementos, também, criavam a integração da arquitetura com o espaço urbano. Semelhante a polis grega, a cidade
romana caracterizava-se pelo contraste entre o vazio do Fórum e o denso tecido urbano composto de edificações
homogêneas e edifícios de caráter monumental. Porém, diferentemente da Ágora grega, no Fórum, as discussões políticas
aconteciam no interior dos edifícios, e não nas praças abertas.
Figura 04: Fórum Romano: fonte: Roma Ântica (GABUCCI apud CALDEIRA, 2007).
Figura 05: planta dos Fóruns Romano. Fonte: http://helenadegreas.files.wordpress.com/2010/03/forum-romano.jpg. Acesso: 20/08/2010.
38
CAPÍTULO I
Portanto, tanto a Ágora como Fórum eram espaços coletivos por excelência, o lugar de “vida cívica”, verdadeiro
centro vital da cidade e como tal permaneceram presentes na estrutura das cidades ocidentais, sendo o centro da vida
social.
No entanto, Segundo Lamas (2000), só na Idade Média se começa a esboçar o conceito de praça europeia, que
atingirá o apogeu a partir do renascimento. Daí a importância de um breve estudo desses espaços na idade média. Pois,
nesta época praça tem um papel fundamental na cidade, pois, era nela que desenvolvia os principais acontecimentos
coletivos da vida cotidiana. Conforme Sitte(1889,p.32):
“Na Idade Média [...], essas praças eram o orgulho e a alegria detoda cidade independente; aqui, concentrava-se o movimento, tinham lugar as festas públicas, organizavam-se as exibições, empreendiam-se as cerimônias oficiais, anunciavam-se as leis, e se realizava todo tipo de eventos semelhantes. De acordo com o tamanho de cada comunidade ou o tipo de sua administração, serviam a essas necessidades práticas duas ou três das praças principais, raramente uma só, pois as praças também eram manifestação da diferença entre autoridade secular e eclesiástica, distinção que a Antigüidade não fazia da mesma maneira.”
De acordo com Caldeira (2007), ao analisar as práticas e o comportamento social da cultura medieval, em seu
trabalho sobre a obra de Rabelais, Bakhtin(1987, p. 132) assim se manifesta sobre a importância da praça:
“Apraça pública no fim da Idade Média e no Renascimento formava um mundo único e coeso onde
todas as “tomadas de palavra” (desde as interpretações em altos brados até os espetáculos organizados) possuíam alguma coisa em comum, pois estavam impregnadas do mesmo ambiente de liberdade, franqueza e familiaridade. [...] A praça pública era o ponto de convergência de tudo que não era oficial, de certa forma gozava de um direito de “exterritorialidade” no mundo da ordem e da ideologia oficiais, e o povo aí tinha sempre a última palavra.”
Articulada à escala urbana, a configuração da praça medieval definiu-se pelo contraste do vazio com a densa
paisagem, compondo uma diversidade de espaços. De acordo com Zucker( 1959) ela se estruturava em vários espaços:
39
CAPÍTULO I
praças de mercado, onde acontecia toda a atividade
comercial da cidade, geralmente instalada em lugar de
maior movimento; praças no portal da cidade,
normalmente praças triangulares, de onde partiam duas
ou três ruas para o centro. Eram áreas de passagens e
distribuição de tráfego; praças centrais, praças fundadas
no centro do povoado, em comunidades novas; praças
de igrejas, espaços em frente às igrejas, onde os fiéis se
reuniam paras as atividades religiosas, procissões,
missas ao ar livre, e onde ficavam os cristãos-novos, que
não podiam entrar na igreja; praças agrupadas,
pequenos espaços que ligavam praças de mercado e
praças de igrejas (adros).
Como se pode ver na imagem 07 (ao lado), o
contraste espacial, juntamente com o papel desenvolvido
pela praça, determinariam a noção de marco urbano e
visual adquirida por esse espaço nas cidades
medievais.
Durante o Renascimento, a praça adquire nova
função estética e social. O crescimento urbano, o
desenvolvimento do mercantilismo e das pequenas
Figura 06: Praça Medieval (Praça de Mercado) Fonte:cidademedieval.blogspot.com/ Acesso: 02/11/2010.
Figura 07: Piazza Del Campo e Piazza Del Catedral – Siena. (o contraste entre os grandes espaços das praças com as estreitas ruas medievais). Fonte: Plazas of Southern Europe (KATO, 1990 apud CALDEIRA, 2007: 24).
40
CAPÍTULO I
indústrias, e a reestruturação da sociedade com o
surgimento da burguesia acarretaram novas atitudes em
relação ao espaço citadino (CALDEIRA, 2007).
A praça passa a ser elemento estruturante do
desenho urbano, definido por uma rígida geometria.
Como afirma ZUCKER (1959:99), “design arquitetônico,
teoria estética e princípios de urbanização voltam-se
para ideias idênticas”: a busca pela ordem e disciplina,
em contraste com a espontaneidade do espaço
medieval. Praças, ruas e avenidas transformam-se nos
principais elementos de reformas e intervenções
urbanas.
Na palavra de Segawa (1996, p.48): «o
emaranhado tecido de estreitas e abafadas vielas e
ruas do passado vai, gradativamente, sendo substituído
por largas, luminosas e arejadas vias de comunicação –
o espaço urbano ganha novas referências com as
perspectivas inéditas de avenidas retas e praças
formais.» A geometria e a perspectiva tornam-se a base
da ordenação espacial, conforme se pode observar nas
figuras 08 e 09:
Figura 08: – A Praça Ideal na Cidade Renascentista, Século XV Fonte:La cité idéale en Occident. (VERCELLONI, 1996 apud CALDEIRA, 2007).
Figura 09: Place de Vogues, Paris. Fonte: photography.nationalgeographic.com. Acesso em 18/11/2010.
41
CAPÍTULO I
Nos séculos XVI e XVII, segundo Segawa (1996), com o fortalecimento da burguesia mercantil surge um novo
espaço diferenciado das praças vistas até agora: os jardins públicos, que diferenciam das praças tradicionais pela inserção
da vegetação no ambiente urbano com elemento constituinte da paisagem. Apesar de “público”, ainda conforme Segawa,
esses jardins no momento de seu surgimento, eram espaços segregados na cidade, construídos por e para uma elite
econômica e social. Esses locais nasceram como lugares que evitavam a alegre desordem das praças e estabeleceram
elegantes e comportados cenários para um grupo social diferenciado, como é o caso da Place de Vogues em Paris (ver
imagem 09).
Segundo a análise de Sennet(1988,p.32 apud CALDEIRA 2007, p.196) :
“Observa-se que o papel da praça entra em processo de declínio, em relação à sua dimensão social, sobretudo com o desenvolvimento dos parques públicos. Esses espaços ajardinados, geralmente protegidos das áreas de intensa circulação, juntamente com os jardins, representaram para a classe burguesa o ambiente ideal para o estabelecimento de novas condutas e hábitos sociais, como, por exemplo, o footing. Outros estabelecimentos como cafés, grandes magazines, mercados e teatros também se estabeleceram como alternativas de práticas sociais burguesas em substituição a antigas práticas urbanas, acolhendo os novos hábitos citadinos.”
A partir do séc. XIX, a paisagem urbana das cidades europeias passou por reformas urbanas significativas depois
do impacto causado pela Revolução Industrial. O crescimento acelerado da cidade exige intervenções gerais e não
pontuais na morfologia urbana (CALDEIRA, 2007). A cidade moderna deveria refletir o avanço tecnológico, resultado do
desenvolvimento social, com riqueza de informações, e os parques franceses absorveram este novo modelo de
incorporação da natureza ao tecido urbano, com destaque para os grandes parques que se constituíram em elementos
chave da reforma urbana de Paris: Bois de Boulogne e Bois de Vincennes (ver imagens 10 e 11).
42
CAPÍTULO I
No tempo pós-renascentista, a praça é utilizada como um elemento urbanístico de grande importância. Surgem,
então, as praças de confluência de vias como no plano de intervenção de Paris executado pelo Barão de Haussmann na
segunda metade do século XIX. O modelo da rua tradicional é substituído por um sistema de circulação de fluxo contínuo e
a praça assume o papel de elemento de composição do sistema viário: lugar de passagem e entroncamento. A praça
perde suas características tradicionais e se esvazia (FAVOLE, 1995). Os boulevards parisienses, com sua arborização
ordenada, a concepção de cidades e bairros-jardim, os hortos botânicos, os parques públicos, as vias-parque, as praças
ajardinadas, a residência isolada no lote e cercada de jardins são figuras urbano-paisagísticas que se consolidam durante
o século XIX e início do século XX, caracterizando uma forma nova de projetar o espaço e a paisagem urbana. (MACEDO,
1999).
Figuras 10 e 11: Bois de Boulogne e Bois de Vincennes Fonte: imagens:http://www.panoramio.com/photo. Acesso em 18/11/2010
43
CAPÍTULO I
Portanto, os crescimentos acelerados das cidades exigem soluções adequadas aos problemas urbanos,
modificando a estrutura formal da cidade e fazendo com que os espaços simbólicos e tradicionais percam o signifcado. É o
caso da praça que entra em declínio como local de sociabilidade e se tornam vazios urbanos ligados ao sistema viário e ao
abrigo de monumentos(CALDEIRA, 2007). Exemplo disso tem-se, no Brasil a Praça da Sé em São Paulo. A implantação
do Plano de Avenidas, proposta de uma nova estruturação viária, afetou o entorno da Praça da Sé. Esta iria transformar-se
no maior terminal paulistano de bondes e ônibus. O novo perfil da praça demonstraria o processo de submissão imposto
aos espaços públicos centrais em favor da remodelação do sistema viário.(BARTALINI, 1988). Edifícios, quadras, praças
seriam destruídos, demolidos e reorganizados para se efetivar a adequação do tráfego à escala do crescimento urbano.
Figuras 12 e 13 – Le Boulevard Haussmann O modelo do boulevard torna-se símbolo da metrópole moderna. A intervenção de Haussmann rasga o tecido da Paris medieval propondo uma nova experiência do espaço urbano. Fonte: expositions.bnf.fr – dex/2005 e Paris-Haussmann (CARS e PINON, 1991 apud CALDEIRA, 2007).
Figura 14 – PLACE De L’ETOILE, PARIS. Adequando-se à nova escala urbana, a praça perde a força de sociabilidade. Fonte: Plazas of Southern Europe (KATO, 1990apud CALDEIRA, 2007).
44
CAPÍTULO I
De acordo com Ferrara (2007), a Sé sofreu um processo de descaracterização, não de degradação: de adro da
igreja de São Pedro da pedra (1860), largo da Sé, onde estacionavam os fiacres (1910), largo da Sé e passagem
obrigatória de bondes (1915), Praça da Sé e a nova catedral em construção (1933), a Praça da Sé se amplia(1952) e
em(1975) com um projeto da superpraça da sé, o edifício Mendes Caldeira é demolido, e a implantação da nova praça
segmentada se adequa à Companhia do Metropolitano de São Paulo.
A praça moderna transforma-se num vazio perdido no meio da cidade, cercada pelo ruído dos automóveis e
intensos tráfegos de pedestres e veículos, enquanto os cidadãos se recolhem cada vez mais aos lugares fechados em
busca de um ambiente mais seguro e tranquilo. Segundo Sitte (1889:23): “A praça moderna, recortada no movimento
Figura 15: Praça da Sé com a nova caetdral em contrução ao fundo-1937 Fonte: www.aprenda450anos.com.br.Acesso 02/12/2010.
Figura 16: Praça da Sé nos dias atuais. Área modificada para se efetivar a adequação do tráfego à escala do crescimento urbano. Fonte:http://www.projetosurbanos.com.br/2008. Acesso 02/12/2010
45
CAPÍTULO I
protocolar de uma régua, não tem o menor conteúdo espiritual, somente
uma superfície vazia, de tantos por tantos metros quadrados.”.
O papel da praça, atendendo às obras de infraestrutura urbana, está
condenado à escala monumental, desempenhando somente a função de
grande vazio. Contudo, uma mudança nas políticas de intervenção urbana
recolocou em foco a questão da retomada do espaço público. Nesse
contexto, a praça contemporânea parece estar ressurgindo como o
protagonista dos espaços coletivos, principalmente nas ações de resgate de
qualidade urbana concretizadas em intervenções de áreas centrais, de
locais históricos, e mesmo de espaços reabilitados de pequenas praças.
Essa tendência de intervenção pontual parece alinhar algumas das
propostas urbanas contemporâneas. Como exemplo, no Brasil, podemos
citar o projeto da Praça Victor Civitta em São Paulo, cujo projeto foi
determinado e realizado em função da recuperação de uma área publica
degradada, que serviu como depósito de lixo.
Favole (1995,p.10) define a praça contemporanea:
“A praça contemporânea é um espaço que quase nunca tem uma função específica, nem depende, estritamente,de um edifício ou de um monumento. Sua finalidade é a de constituir-se em um lugar atrativo de encontro e reunião; Assim, agora o objetivo do projeto é a praça em si. O lugar onde a comunidade se reunia para realizar uma atividade coletiva(religiosa, comercial, política), é substiuido por um espaço que reune individuos isolados.um espaço, no entanto, unificado e definido por meio de desenho.”
Figura 17: FREEDOM PLAZA, WASHINGTON. Fonte: La Plaza em la Arquitectura Contemporânea (FAVOLE, 1995).
46
CAPÍTULO I
De certa forma, a praça na sua origem caracterizou-se como um espaço multifuncional, sujeito ao desenvolvimento
de todo e qualquer tipo de atividade. Na sua trajetória até a concepção contemporânea, a praça foi sofrendo alterações
morfológicas e funcionais, acarretando a formação de um espaço setorizado.
Renegando a possibilidade de sobreposição de funções, esses espaços se
tornaram empobrecidos se comparados à riqueza de uso estabelecida
anteriormente.
Por outro lado, a busca pela qualidade de vida urbana tem originado
projetos de intervenção cujo objetivo principal é a retomada da convivência
citadina nos espaços coletivos. Nesse contexto, verifica-se uma releitura do
modelo da praça tradicional como foco central das políticas urbanas
contemporâneas. Contudo, como já visto, a cidade carrega o potencial de ser
o lugar que pode oferecer mudança e
variedade para as pessoas. Daí, a
importância dos espaços urbanos que
congregam e dão valores a essas
mesmas cidades. (GOMES, 1997). É
desse modo que: “Não se pode
chamar de cidade um lugar onde não
existam praças e edifícios públicos.”
(PAUSÂNIAS apud SITTE, 1992:32).
Figura 18: Imagem da Praça Victor Civita. Fonte: Arquivo pessoal.
Foto tirada pela autora em 20/11/2010.
Figuras 19 e 20: Imagens das intervenções da Praça. Fotos tiradas pela autora em 20/11/2010.
47
CAPÍTULO I
1.3. CONFIGURAÇÃO ESPACIAL DAS PRAÇAS BRASILEIRAS
O processo de formação das primeiras praças brasileiras está diretamente ligado ao processo de colonização do
país. De acordo com Reis (2000), o urbanismo no Brasil respondeu, desde o início da colonização, a políticas bem
definidas, isto é, critérios claramente estabelecidos pelos agentes centrais do processo de colonização. Portanto, é notória
a influência dos princípios urbanísticos da tradição Portuguesa nas cidades coloniais Brasileiras. Conforme Teixeira
(2000:1 apud, CALDEIRA, 2007:39):
“Na história do urbanismo Português, a formação das cidades, tem origem em duas vertentes: uma vernácula, tradicional, apoiada nos processos de formação característicos das cidades medievais, e outra erudita, cujas bases fundamentaram-se na concepção de sistemas ortogonais. A tradição vernacular predominou a partir do séc. XIII, quando as principais cidades portuguesas passaram por um processo de rápido desenvolvimento. Ao longo do séc. XV, passa a predominar a vertente erudita, cuja principal característica corresponde à racionalização e à regularização dos traçados urbanos. Essa vertente manifesta-se na transformação da composição morfológica das cidades e tem influência direta na formação das cidades de origem portuguesa.”
A necessidade de formar vilas e núcleos urbanos para o povoamento das colônias portuguesas serviu como
laboratório para executar novas diretrizes urbanas que logo depois estabeleceram novos padrões morfológicos e
urbanísticos português, onde passa a predominar a vertente erudita, cuja principal característica corresponde à
racionalização e à regularização dos traçados urbanos (CALDEIRA, 2007). Segundo Reis (2000), ao tempo do
descobrimento do Brasil, esses padrões de racionalidade e regularidade que dizem respeito à prática da organização
urbana, referiam-se a prática da arquitetura e urbanismo já existentes nas cidades européias.
48
CAPÍTULO I
Nesse sentido, ainda conforme Reis, uma
discussão levantada na formação das cidades
brasileiras, foi a adaptação desse traçado urbano
às características naturais dos terrenos
acidentados do Brasil: «o descompasso entre o uso
do traçado racional sob uma topografia irregular no
final do século XVII começavam a surgir
dificuldades para o crescimento dos núcleos
maiores.» Como um dos exemplos, o autor cita a
cidade de Salvador, que embora tenha o traçado
quadriculado, a topografia do sítio, onde se
sobressaem ladeiras e morros, dificulta a execução
do traçado da vertente racional.
Em relação à estruturação da Praça nas cidades brasileiras, Reis (2000:131 e 132), afirma que: “uma constante na
forma de organização desses centros era a valorização, por meio de praças, dos pontos de maior interesse para as
comunidades. (...) Essas eram referências básicas do traçado, os espaços mais visíveis de uso comum”. No entanto, a
formação da Praça no Brasil também esteve sujeita aos mesmos processos ocorridos no contexto urbano português e
resultou na criação de espaços bastante diversificados, originados a partir de dois princípios: a praça espontânea, presente
no universo medieval, e a praça formal, gerada a partir da aplicação de princípios racionais. (TEIXEIRA apud CALDEIRA,
2007). Quanto à formação espacial das praças portuguesas, Teixeira (apud CALDEIRA 2007,p.44) discorre sobre a
existência de dois momentos:
Figura 21: Planta Cidade de Salvador: Traçado regular adaptado à topografia – cidade baixa e cidade alta Fonte: Imagens de Villas e Cidades do Brasil Colonial (REIS 2001, P.18). «Copia manuscrita, incluída no códice que dá razão (...)», do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, RJ.
49
CAPÍTULO I
“O primeiro teve origem a partir do séc. XVI, com a introdução da estética renascentista. Esse processo resultou na implantação de uma política de regularização formal dos espaços públicos e caracterizou-se pelo contraste dos espaços formais sobre o tecido medieval. O segundo desenvolveu-se nas cidades setecentistas, caracterizadas pela estrutura urbana regular, de base geométrica. A morfologia da praça decorre do traçado racional e planejado.”
Portanto,dois princípios podem ser apontados como determinantes na composição formal da praça colonial do
Brasil: o formato orgânico (nas cidades de formação espontânea) e a formal, nas cidades planejadas.
A praça de formato orgânico surge na primeira fase da formação das cidades ao longo de cruzamentos e caminhos
dos principais acessos ao núcleo urbano, ou como vazio ou terreiro da igreja matriz, do convento ou do mosteiro,
ocorrendo aí a supremacia da praça religiosa. Exemplo disso é: a Praça Municipal, em Salvador; Praça de Tiradentes, em
Ouro Preto; Largo do Carmo, Rio de Janeiro; conforme Teixeira (apud CALDEIRA 2007). Como diz Marx (1980, p.50):
“Logradouro público por excelência, a praça deve sua existência, sobretudo, aos adros das nossas igrejas. Se tradicionalmente essa dívida é válida, mais recentemente a praça tem sido confundida com jardim. A praça como tal, para reunião de gente e para exercício e um sem-número de atividades diferentes, surgiu entre nós, de maneira marcante e típica, diante de capelas ou igrejas, de conventos ou irmandades religiosas.”
Nas cidades brasileiras do período colonial, seguindo a vertente racional, as praças apresentam uma morfologia
que expressa um padrão regular e geométrico: praças de igreja, praças cívicas e praças centrais. Segundo REIS FILHO
(1995), nesse período, as estratégias de ocupação, transferência e fundação de novas cidades estavam diretamente
associadas à política de controle territorial, sendo Salvador a primeira cidade a adquirir importância territorial
50
CAPÍTULO I
representando a sede do Governo-Geral na colônia. As iniciativas
posteriores de criação de cidades-capitais ocorreram já no período
Republicano, em meados do séc. XIX, sob orientação e designação
do Estado brasileiro. Observa-se a transferência das capitais
regionais do estado do Piauí para a cidade de Teresina, em 1852, e
de Sergipe para a cidade de Aracaju, em 1855, Belo Horizonte,
capital do Estado de Minas Gerais, em 1894, e Goiânia, capital do
Estado de Goiás, em 1933. Em relação à configuração urbana, essas
cidades possuem certas características semelhantes, materializadas
na aplicação de um traçado racional, com a utilização de grandes
eixos de perspectivas e estruturação de centros irradiadores.
Nessas cidades planejadas a praça funciona como seu marco
zero, centro cívico em torno da qual as cidades se desenvolvem e
onde se localizam os edifícios institucionais que abrigam os poderes
públicos e administrativos do município. Logo se tornaram pontos de referência da paisagem,desempenhando um papel
fundamental na leitura do espaço urbano, conforme Teixeira (apud CALDEIRA 2007, p.86):
“Estamos perante uma concepção radicalmente diferente, e moderna, de espaço urbano e de estruturação urbana. Este novo conceito de estruturação urbana, em que o elemento dominante e gerador da malha urbana é a praça (e já não como anteriormente os edifícios singulares e as ruas que os articulavam entre si) irá influenciar não apenas as fundações jesuítas mas toda a teoria e a prática urbanística portuguesa, civil e militar. Desenvolvidos em múltiplas situações ao longo do século XVII, estes novos conceitos de estrutura e de desenvolvimento urbano irão expressar-se, plenamente desenvolvidos, nos traçados urbanos setecentistas – Joaninos e Pombalinos – construídos quer no Brasil quer em Portugal.”
Figura 22: Praças do Brasil Colonial. “A irregularidade dos traçados, disposta com graça e sensibilidade, é uma das razões de sedução que eles exercem.” (SANTOS, 2001, p.73).
51
CAPÍTULO I
Exemplo disso, além da cidade de Teresina, Caldeira (2007) cita
como exemplo outro município do Piauí no período pombalino: a planta da
Vila de São João da Parnaíba, onde a cidade assume um traçado
quadriculado que se desenvolve ao redor da praça (ver figura 23).
Santos (2001), na sua obra Formação de cidades no Brasil Colonial,
compara as praças informais das cidades espontanea com as regulares das
cidades planejadas através do desenho do traçado (ver figuras 22 e 24).
Assim, o urbanismo português se fez notar logo no surgimento dos
primeiros núcleos urbanos brasileiros, onde as vilas e as cidades foram
fundadas seguindo o modelo português de uso e ocupação do território. No
entanto, como foi dito, a formação das primeiras praças brasileiras também
sofreram influências dos seus colonizadores (ver figuras 25 e 26).
Durante os três primeiros séculos que se seguiram ao início da
colonização portuguesa, o processo de formação do espaço livre público não
foi decorrência de uma necessidade social urgente. De acordo com Reis
Filho (1995), durante o séc. XIX com a vinda da Corte Portuguesa ao Rio de
Janeiro, o Brasil passa por várias transformações, e é nesse momento que o
país se propõe a reproduzir novos hábitos e a paisagem de países europeus.
Assim, a forma de concepção da arquitetura e do espaço urbano também
sofreu influência dessa mudança.
Figura 23: São João da Parnaíba, PI. Fonte:Imagens de Villas e Cidades do Brasil Colonial (REIS, 2001).
Figura 24: A) A praça principal de Vila Boa de Goiás; B) Idem, de Cuiabá; C) Idem, de Vila Bela; E) Idem, de Mazagão. (SANTOS, 2001, p.75).
52
CAPÍTULO I
No final do séc. XVIII e começo do séc. XIX aparecem na
Europa os primeiros espaços ajardinados para uso coletivo,
influenciados pela burguesia mercantil que desejava um espaço para
exibir poder e riqueza. Surgem os primeiros passeios públicos em Paris
devido à grande reforma urbana executa da por Hausmman, marcada
por grandes boulervade parques públicos, como já visto, e é nesse
processo que tem origem os primeiros jardins no Brasil, inclusive a
construção do primeiro jardim público do Rio de Janeiro. (REIS FLHO,
1995). Quanto a isso, Segawa (1996, p.108) afirma:
“O passeio público do Rio de Janeiro foi contemporâneo ao surgimento dos primeiros jardins públicos europeus na segunda metade do séc. 18, símbolos do pensamento iluminista a invocar formas de sociabilidade nas quais a aristocracia e a burguesia encontravam um lugar comum.”
Nessa época começam a proliferar os jardins em residências bem
como a arborização de vias e ruas, criando o hábito para jardinagem. A
vegetação passa a ser utilizada para embelezar ruas e quintais, agora
chamados de jardins.
Com a riqueza advinda do café, no final do séc. XIX, as
residências da elite passam a ser ornadas por imensos jardins, unindo a
Figura 25: Praça do Pelourinho, atual Praça da República. Cidade de Chaves – Portugal. Fonte: http://serra.blogs.sapo.pt/ arquivo/2005_01. html – Acesso 02/10/2010.
Figura 26: Praça de Tiradentes. Ouro Preto - Minas Gerais - Brasil. Fonte: http: www.folha.uol.com.br. Acesso 02/11/2010.
53
CAPÍTULO I
tradição rural de casas isoladas em grandes campos vegetais à tradição
de moradia urbana. O jardim assume o papel de elemento valorizador
da edificação. (REIS FILHO, 1995).
Nesse mesmo período, segundo Marx (1980), as principais ruas
e praças recebem canteiros de árvores e flores ornamentais, sendo
tratadas como jardins. O sucesso é enorme e logo as praças tradicionais
recebem árvores e perdem sua antiga função de pátio e terreiro.
Portanto, no séc. XIX, os logradouros públicos difundem-se pela
cidade brasileira e os projetos de embelezamento urbano consolidaram
cada vez mais a praça como modelo formal e regular, acrescentando
aos poucos a valorização do verde na
paisagem. De acordo com Segawa (1996)
esse novo modelo de praças com jardins,
além dos valores estéticos, traz novas
funções de lazer e contemplação. No entanto,
como ainda não estavam alinhados com a
tradição de uso e manutenção do espaço
público ajardinado, muitos têm duração
efêmera e o próprio Passeio Público do Rio
de Janeiro passa por extenso período de
abandono e degradação.
Figura 27: ParcMontsouris, Paris. Fonte: Macedo (1999:29) No desenho verifica-se a influência dos parques europeus na formação do 1° jardim público do Rio de Janeiro.
Figuras 28 e 29: Passeio público do Rio de Janeiro em 1817 e depois da reforma de Glaziou em 1861. Fonte:www.passeiopublico.com/. Acesso: 27/11/2010.
54
CAPÍTULO I
Na primeira metade do séc. XX o urbanismo no
Brasil passa por um período de muitas mudanças, marcado
pela consolidação do modo de produção industrial, que
gerou profundas transformações no meio de vida urbana.
Tais mudanças acarretaram a renovação dos equipamentos
e espaços públicos seguindo a pauta do movimento
moderno, atendendo ás demandas da capital e da cidade do
interior.
No Brasil, segundo Dourado (2009), definir lugares
como meio de valorização e afirmação de uma cultura de
matriz nacional, capaz de traduzir a diversidade social,
histórica e territorial do país, não era apenas uma questão
que norteava a aproximação entre a arquitetura e o
paisagismo modernos, mas imantava também um
segmento, em especial a partir da década de 1930: a
produção dos espaços públicos.
Segundo Robba e Macedo (2002), a partir da
década de 1940, sob a influência de arquitetos paisagistas
modernos, como Roberto Burle Marx, Thomas Church e
Garret Eckbo, as praças e parques passam a englobar o
lazer ativo (atividades esportivas e recreação infantil) e
Figura 30: Residências da família Jafet no Ipiranga, São Paulo. Fonte: Quadro do Paisagismo no Brasil.(1999:36).
Figura 31: Av. Higienópolis, São Paulo. Fonte: Quadro do Paisagismo no Brasil.(1999:34).
55
CAPÍTULO I
recebe equipamentos como quadras para práticas
esportivas, brinquedos para crianças e churrasqueiras.
Lazer foi um dos itens que o urbanismo moderno
estabeleceu como suma importância para o habitante
urbano do séc. XX, rejeitando o antigo modelo eclético de
praça como lugar apenas de atividade contemplativa.
Essas transformações, porém, segundo os autores já
citados, não se deram bruscamente, pois por muitos anos
houve uma superposição de linguagens, convivendo o
moderno com o eclético no mesmo período.
De acordo com Dourado
(2009), Burle Marx rompeu com as
escolas tradicionais e propôs uma
nova forma de construção do
espaço público, sem a rigidez dos
projetos ecléticos e grande
responsável pela criação de uma
linguagem estética paisagística
aplicada aos espaços de praças,
bem como à decoração de
espaços urbanos em geral. Com
Figura 32: Praça da República. Belém-Pará. Fonte: Praças Brasileiras. Robba e Macedo (2002:87)
Figuras 33 e 34: Praça Salgado Filho –RJ Fonte: Praças Brasileiras (ROBBA E MACEDO, 2002).
56
CAPÍTULO I
sua formação de artista plástico, Burle Marx introduziu uma vertente paisagística baseada na composição orgânica do
desenho espacial, na valorização do verde e da flora brasileira, adotou um desenho modernista, elaborando os espaços
exteriores como verdadeiras obras de arte, como demonstram as figuras abaixo.
Conforme Robba e Macedo (2002), os primeiros sinais de mudança no uso do espaço urbano foram os projetos de
parques públicos considerados modernos são o Parque Ibirapuera (1953), em São Paulo, e o Parque do Flamengo (1961),
no Rio de Janeiro, ambos formalmente modernos com a inclusão de atividades voltadas para a recreação. No entanto, o
lazer contemplativo não foi abandonado e o lazer cultural foi acrescentado como inovação com a implantação de museus e
pavilhões de exposição. Ainda segundo os autores acima:
“Parques e praças passaram a englobar, em seus programas, o lazer ativo – principalmente as atividades esportivas e a recreação infantil [...]. Surgem, então, nos jardins particulares e posteriormente nas áreas públicas, equipamentos como: quadras para a prática esportiva, brinquedos para recreação das crianças e churrasqueiras.” (ROBBA e MACEDO, 2002:35).
De certa forma, a criação dos grandes parques urbanos
introduz um leque de novas possibilidades de lazer e de encontro
social, concorrendo diretamente com o papel da praça tradicional
(ROBBA E MACEDO, 2002).
Na construção da cidade moderna, idealizada sob o ideário
da setorização e do zoneamento, o papel da praça também passa
Figura 35: vista parcial Parque do Ibirapuera - SP. Fonte: Parques Urbanos no Brasil (MACEDO, 2003).
57
CAPÍTULO I
por uma revisão estética e funcional: nas áreas residenciais, o
modelo da praça tradicional do bairro é substituído pelo conceito
de espaço livre, com as edificações localizadas em grandes
superfícies ajardinadas, pontuadas por ilhas de equipamentos
esportivos e recreação; nas áreas comerciais, a praça reveste-se
de espaço vazio, cuja prioridade enfoca a circulação de pedestres
e o lazer passivo, são espaços cuja frequência e utilização vincula-
se à rotina diária do trabalho e de serviços. Essa característica
acarreta o isolamento da área nos fins de semana e em períodos
noturnos (o fenômeno ocorre na maioria das praças situadas em
centros urbanos,onde não existem atividades mistas).
Essa diversidade funcional das praças não é uma
característica apenas da cidade modernista; em cidades
tradicionais os espaços públicos tendem a desenvolver certa especificidade em função, sobretudo, do conjunto
arquitetônico que compõe o entorno e a região onde se situam. A diferença reside na mobilidade dos centros de poder e
nos processos de valorização imobiliária que impõem certa dinâmica espacial, alterando constantemente o papel dos
espaços públicos (CALDEIRA, 2007).
Apesar de terem passado períodos de abandono, hoje os parques e praças são reconhecidos como polos de lazer
para as cidades e elementos necessários à vida urbana, tornando-se objetos de interesse político.
Sendo assim, de acordo com Dourado (1997), novas perspectivas sobre esses espaços públicos podem ser
constatadas em uma série de caminhos que vêm emergindo em tempos recentes. Um deles é a preservação do patrimônio
Figura 36: Parque do Flamengo - RJ. Fonte: Quadro do Paisagismo no Brasil (MACEDO, 1999).
58
CAPÍTULO I
ambiental histórico nos centros urbanos, abarcando de antigos jardins públicos e praças a conjuntos arquitetônicos
inteiros. Logo, na década de 80, a consciência ecológica foi despertada pela necessidade de se preservar os patrimônios
ambientais e pelos problemas decorrentes da acelerada urbanização.
Conforme Dourado (1997:29) «há apenas cinco décadas, o Brasil agrícola se transformou no Brasil urbano». O
crescimento da população total que vive em zonas urbanas tem aumentado intensamente com o passar dos anos. Em
meados do século XIX a população mundial superou o primeiro bilhão de pessoas. Entretanto, menos de 2% da população
habitavam as áreas urbanas. Na Europa e os Estados Unidos esse percentual já ultrapassava os 50% (Lombardo, 1985).
De acordo com os dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – em 1970 aproximadamente 56% da
população brasileira viviam em área urbana; em 1991 esse percentual aumentou para aproximadamente 76%. Segundo
informações coletadas no censo de 2000, aproximadamente 79% da população brasileira residiam em áreas urbanas.
Verifica-se, diante dos fatos, que o panorama brasileiro segue a tendência mundial – caminhar em direção a um mundo
cada vez mais urbano.
Hoje, segundo Dourado (1997), um dos principais desafios é interromper o processo de degradação ambiental nas
cidades brasileiras – sobretudo nas metrópoles, mediante a criação, a recuperação e a qualificação dos espaços públicos
e de encontro, considerando o papel fundamental de dois agentes: o poder público e a iniciativa privada. Programas bem
sucedido de políticas de renovação urbana no país tiveram também impacto sobre a criação de praças, não diretamente
sobre os projetos, mas sobre a necessidade de sua existência. Logo, a sociedade passou a valorizar os espaços verdes
das cidades, exigindo das autoridades a construção e a manutenção desses espaços. Exemplo disso é Curitiba, onde as
autoridades fizeram dos espaços públicos uma forma de promoção da administração, criando muitas praças e instituíram
órgãos públicos para a manutenção desses espaços verdes. Outro exemplo a ser citado é o programa Favela Bairro no
Rio de Janeiro que se destina a integrar comunidade de baixa renda à cidade através da reurbanização e da consolidação
59
CAPÍTULO I
do espaço público, onde as autoridades fizeram dos espaços públicos uma forma de promoção da administração, criando
muitas praças e instituíram órgãos públicos para a manutenção desses espaços verdes. Com isso, caminha-se na direção
de uma urbanização em que o redesenho dessa paisagem é instrumental para a integração social e a conquista da
cidadania. Portanto, os projetos de concepção dos espaços livres públicos receberam maior liberdade de criação, seguindo
uma nova corrente projetual, a linha contemporânea, como bem definiram Robba e Macedo (2002, p.42):
“O desenho de projetos denominados contemporâneos transita livremente entre os traçados geométricos, gráficos, rígidos e as mais irreverentes formas pós-modernas, passando também por propostas que valorizam cenicamente o projeto. Liberdade e irreverência são as palavras mais adequadas para definir essa linha de projeto em formação. Desenhos arrojados, geométricos, cênicos, coloridos, gráficos, orgânicos, evocativos e celebrando formas do passado ou antigos ícones são aceitos e propostos, além de serem implantados elementos e equipamentos dos mais diversos tipos e formas, como pórticos coloridos, colunas, ruínas, esculturas.”
Assim, no que diz respeito ao Brasil, na produção
contemporânea, o maior desafio desses novos projetos de espaços
públicos, se constitui na pesquisa exploratória de novas formas que
atendam as novas complexidades sócio-culturais, ecológicas e
novas funções de qualificação do ambiente urbano.
Quanto a isso, Dourado (1997, p.20) afirma que:
Figura 37: Projeto Favela-Bairro, Rio de Janeiro: Praça Carlos Seidl (parque São Sebastião). Fonte: Dourado (1997, p.36).
60
CAPÍTULO I
“O que está em causa é o projeto da paisagem. A tradição do projeto paisagístico, que atualmente ganha novo interesse, nova força, pode ser um modo rico de discutir culturalmente as qualidades propostas ao ambiente. A mudança nos referenciais que motivam a revisão do projeto moderno em todos os níveis e campos de atuação e a mudança no entendimento da cidade, que passa a ser vista como história, como ambiente e como espaço público objeto de desenho, demandam que a arquitetura dos arquitetos veja e interprete a paisagem.”
Do tempo da Ágora à urbanização de favelas, a importância do espaço público praça no meio urbano social é um
fato. Há milênios a praça desempenhava o centro vital da cidade e hoje, nas favelas, lugar exíguo de espaços públicos,
esse espaço, também, tem um papel fundamental na comunidade, pois, é nela que desenvolvem os principais
acontecimentos coletivos da vida dos cidadãos. A praça é, por excelência, espaço qualitativo da vida urbana.
Contudo, segundo Jacob (2007, p.97), “os parques de bairros ou espaços similares são locais efêmeros.
Costumam experimentar extremos de popularidade e impopularidade. Seu desempenho nada tem de simples.” Ainda
segundo a mesma autora, esses espaços normalmente são recebidos como uma dádiva para a população carente da
cidade. Todavia o inverso é verdadeiro: esses espaços igualmente são carentes de vida e de aprovação a eles
concedidos. O sucesso ou fracasso desses locais, pois, dependem da utilidade que as pessoas lhes conferem, pois eles
não são abstrações que nada significam se não estiverem inseridos nos usos concretos – bons ou ruins – dos bairros onde
se localizam.
Observa-se, porém que, com todas as mudanças sociais e culturais ocorridas nos últimos anos, principalmente com
surgimento da televisão e, mais recentemente, da internet e dos shoppings centers,as praças sofreram um gradual estado
de esvaziamento e perda de identidade.Mesmo nos shoppings as chamadas praças de alimentação não passam de
espaços coletivos para refeições rápidas, sem nenhuma relação com a vida política e social da cidade onde estão
inseridas.Cada vez mais os espaços de encontro se concentram em áreas virtuais tais como chats e sites de
61
CAPÍTULO I
relacionamentos. Aos poucos, as praças vão se deslocando de um espaço material para um espaço virtual e se
transformando em apenas um ponto de referência na paisagem urbana.
CAPÍTULO II
63
CAPÍTULO II | ANÁLISE DA PRAÇA MARECHAL DEODORO E PRAÇA SARAIVA
Neste capítulo, realiza-se uma análise projetual das duas primeiras praças de Teresina, Marechal Deodoro e
Saraiva. Para nortear este estudo, esta análise foi estruturada em duas etapas: a primeira relacionada à conformação
física da praça_ estrutura espacial dos ambientes que tem como pano de fundo o estudo sobre a morfologia urbana,
defendido por Lamas (2000) em A Morfologia Urbana e o Desenho da Cidade_ e um estudo da morfologia das praças em
sua totalidade tridimensional orientado por Zucker (1959) em Town and Square. A segunda etapa da análise realiza a
leitura e percepção das possibilidades de interferência do espaço na sua utilização, tomando por base, principalmente, A
imagem da cidade (1999) de Kevin Lynch, Paisagem urbana (2009) de Gordon Cullen e La Lectura del Ambiente (1977) de
Cerasi. Estes são considerados pioneiros em estudos relacionados à leitura do ambiente construído e subsídios para a
elaboração de novos projetos.
2.1. MORFOLOGIA URBANA
Segundo Ferreira (1986) o termo Morfologia designa o tratado das formas que a matéria pode tomar. Portanto, a
forma representa o aspecto exterior de um objeto, que reconhecemos geralmente através da percepção visual. De acordo
com Lamas (2000, p.38):
CAPÍTULO II
64
“Morfologia Urbana é o estudo da forma do meio urbano nas suas partes físicas exteriores, ou elementos morfológicos, e na sua produção e transformação no tempo. Todavia, é necessário sublinhar que um estudo morfológico não se ocupa do processo de urbanização, quer dizer, do conjunto de fenômenos sociais, econômicos e outros, motores da urbanização. Estes convergem na morfologia como explicação da produção da forma, mas não como objeto de estudo.”
É preciso compreender a morfologia urbana e buscar na história a compreensão da forma urbana e dos processos
que a geraram, para que o projeto urbano não se torne superficial e carente de fundamentos, conforme Lamas (2000).
Conhecendo o passado tem-se uma compreensão melhor do presente para auxiliar a evolução da cidade.
De acordo com Januzzi (2000, p.22):
“A morfologia urbana estuda os componentes estruturadores do espaço urbano e suas inter-relações, incluindo os fatores culturais, econômicos e sociais que influenciaram naquela estruturação. O espaço construído e habitado pelo homem não deve ser visto apenas como um produto da arquitetura, mas da somatória dos fatores relatados anteriormente que se materializam na cidade. O espaço urbano não deve ser resolvido unicamente por planos municipais e estaduais. A realização de uma leitura detalhada dos elementos que o compõe, em várias escalas, possibilita mais oportunidades de solução para as necessidades da sociedade.”
Para Lamas (2000), a primeira percepção de leitura da cidade é eminentemente físico-espacial e morfológica, logo
própria da arquitetura, e a única que permite evidenciar a diferença entre os diversos espaços que existem, entre esta e
aquela forma, e explicar as características de cada parte da cidade. A esta se agrega outros níveis de leitura que denotam
diferentes conteúdos (históricos, econômicos, sociais e outros). Na perspectiva de Rossi (1995) a forma urbana é concebida
como uma estrutura física e funcional determinada por fatores socioeconômicos, políticos, culturais, além de concepções
estéticas, ideológicas, culturais ou arquitetônicas, e ainda, pelo comportamento, forma de utilização do espaço e a pela vida
comunitária dos cidadãos. Mas esse conjunto de leituras só acontece porque a cidade existe como um fato físico e material.
Todos os instrumentos de leitura leem o mesmo objeto – o espaço físico, a Forma Urbana. “A cidade não é um simples
CAPÍTULO II
65
produto determinista dos contextos econômicos, políticos e sociais: é também o resultado de teorias e posições culturais e
estéticas dos arquitetos urbanistas.” (LAMAS 2000, p.31)
Ao longo da história do urbanismo, a variação dos contextos originou diversas propostas de desenho urbano.
Lamas (2000) menciona como exemplo as formas urbanas renascentistas e barrocas que, mesmo formadas por elementos
morfológicos semelhantes – rua e praça, edifícios, fachadas, e planos marginais, monumentos isolados –, possuem
diferenças fundamentais. Tais diferenças provêm da maneira como esses elementos se posicionam, se organizam e se
articulam entre si para construir o espaço urbano. “A mudança do contexto vai mudando as formas pela necessidade de
resposta a situações diferentes.” (LAMAS 2000, p.48).
De acordo com Lamas (2000) a noção de Forma aplica-se a conjuntos urbanos de diversas grandezas e
complexidade. Fala-se de forma física para uma praça, uma rua, um bairro, uma cidade e até para uma área
metropolitana. Não existe um limite específico, mas sem dúvida a dimensão e a escala estão sempre implícitas nas formas
urbanas. Contudo ele estabelece uma classificação das escalas ou dimensões da forma urbana em:
- Dimensão Setorial – A escala da Rua: é a menor unidade, ou porção de espaço urbano, com forma própria. É
bem representada por uma rua ou uma praça. Para a sua compreensão quase não é necessário o movimento. Num ponto,
o observador consegue alcançar a unidade espacial do seu conjunto. O estudo de Gordon Cullen (2009) em paisagem
urbana permite perceber uma idéia sistemática dos elementos morfológicos e das características dessa dimensão:
fachadas e os seus pormenores construtivos, mobiliário urbano, pavimentos, cores, texturas, letreiros, árvores,
monumentos isolados – uma infinidade de elementos que, organizados entre si, definem a forma urbana.
- Dimensão Urbana – A escala do Bairro: é a partir desta dimensão ou escala que existe a área urbana, a cidade
ou parte dela. Presume-se uma estrutura de ruas, praças ou formas de escalas inferiores. Corresponde numa cidade aos
bairros, ás partes homogêneas identificáveis, e pode englobar a totalidade da vila, aldeia, ou da própria cidade. Nesta
CAPÍTULO II
66
dimensão, os elementos morfológicos terão de ser identificados com as formas e a escala inferior, com a análise da forma
necessitando do movimento e de vários percursos.
- Dimensão Territorial – A escala da Cidade: nesta dimensão, a forma estrutura-se através da articulação de
diferentes formas à dimensão urbana, diferentes bairros ligados entre si. A forma das cidades define-se pela distribuição
dos seus elementos primários ou estruturantes: o macro sistema de arruamentos e os bairros, as zonas habitacionais,
centrais ou produtivas, que se articulam entre si e com suporte geográfico.
Portanto, toda leitura, seja ela do espaço urbano, de uma edificação, ou até mesmo de uma obra literária precisa
estabelecer uma escala de leitura, ou seja, quais os elementos mínimos que constitui aquela forma, e o modo como esses
elementos se modificam e se organizam entre si vão variar a linguagem de época em época.
Para o reconhecimento das partes da forma do espaço urbano, Lamas (2000) hierarquiza e identifica os elementos
morfológicos em diversas escalas: solo (pavimento); os edifícios (o elemento mínimo); o lote (a parcela fundiária); o
quarteirão; a fachada (o plano marginal); o logradouro; o traçado (a rua); a praça; o monumento; a árvore e a vegetação; o
mobiliário urbano.
Assim, a praça é a menor unidade, ou porção de espaço urbano, com forma própria e pressupõe a vontade e o
desenho de uma forma e de um programa. Se as ruas, o traçado, são os lugares de circulação, a praça é o lugar intencional de
encontro, da permanência, dos acontecimentos, de práticas sociais, de manifestação de vida urbana e comunitária e de
prestígio, e, conseqüentemente, de funções estruturantes e arquitetura significativa (Lamas, 2000, p.102).
Todavia, uma cidade tem por espinha dorsal de sua estrutura as vias públicas, sendo que, de toda infra-estrutura
urbana, é essa a primeira a se fazer presente (Zmitrowicz e Angelis Neto, 1997). Seus cruzamentos e interseções
determinam não somente o fluxo de automóveis pela urbe, mas também o surgimento de logradouros públicos, no caso
presente, as praças. Enquanto aquelas formam como que uma teia a unir pontos distantes, as praças formam um conjunto
CAPÍTULO II
67
espaçado como que a quebrar a monotonia das vias. A importância das vias públicas para as praças reside no fato de sua
forma poder vir a ser definida por aquelas, determinando os diferentes tipos de configuração. É importante salientar que a
importância do estudo da inserção da praça na trama urbana reside no fato de que seus contornos, definidos pelas vias
públicas, acabam por definir não somente sua forma, mas também sua função (Castro e De Angelis, 2004). Sitte (1992),
ao abordar a influência das vias públicas na conformação das praças, diagnosticou três sistemas principais - o sistema
retangular, o sistema radial e o sistema triangular -, e alguns secundários.
Rigotti (1956 apud Castro e De Angelis, 2004) apresentou os primeiros estudos mais acurados sobre a inserção das
praças na trama urbana, levando em consideração a presença e números de vias enquanto elemento estruturador desses
espaços. É nesse contexto que o referido autor classifica as praças em quatro grupos: praças radiais (quando diversas
vias confluem simetricamente ou não a um único foco no centro de um amplo espaço); em leque ( são consideradas uma
parte menor da anterior, onde a confluência em um ponto é limitada a poucas vias que partem em raios de um único setor);
de junção tangencial (são as que permitem uma circulação giratória, a partir de uma única via que faz a circulação da
mesma); e, de junção axial ou de atravessamento direto (a interseção ortogonal de duas vias propicia o aparecimento
desse arquétipo).
Logo, a geometria de uma praça pode assumir várias formas: quadrangular, retangular, triangular, círculos,
semicírculos, elipses, paralelogramos regulares, irregulares, etc. Robert Krier (1980 apud LAMAS, 2000) sistematiza uma
coleção exaustiva de formas geométricas das praças (ver imagem 38).
CAPÍTULO II
68
Zucker (1959) em sua obra Town and Square, realizou uma pesquisa
mais detalhada sobre a morfologia das praças e as diferentes estruturas
formais que esses espaços podem adquirir no decorrer da história. Para isso,
Paul Zucker sistematizou a análise na definição de arquétipos tridimensionais:
forma, delimitação e organização espacial.
Logo, segundo Bartalini (1988), Zucker vai além da descrição dos tipos
de praças ao longo do tempo:
“O maior interesse do trabalho de Zucker não está na classificação em si, mas em permitir a conclusão de que existem arquétipos de praças, ou seja, unidades morfológicas autônomas, superando com esta constatação tanto as diferenças entre os modelos culturalista e progressista, como liberando o que se poderia chamar de arcabouço, ou estrutura espacial da praça, de variáveis estilísticas.” (BARTALINI, 1988, p.42).
Assim sendo, mesmo considerando as variáveis socioeconômicas e
estilísticas que levam as praças a constantes modificações, Zucker afasta os
modelos tridimensionais de praças das motivações originais de sua criação, de
estilos ou de diferentes linhas urbanísticas. Para Zucker (1959, p.8) são cinco
os arquétipos considerados: praça fechada, dominada, nuclear, agrupadas e
amorfas.
Figura 38: Diferentes formas de praças apresentadas em LÉspace de La Ville por Robert Krier (1980 apud LAMAS 2000, p.101).
CAPÍTULO II
69
- Praça fechada - é um espaço livre completamente cercado por
edificações que definem suas plantas em formas regulares geométricas,
contrastando o plano horizontal da praça com a verticalidade dos edifícios
que a circundam. Exemplo disso é a Piazza di Santíssima Annunziata, em
Florença, Itália (ver imagem 39).
- Praça dominada - está praça é organizada em função de um elemento
que determina as principais relações espaciais. Tal elemento pode ser
uma igreja, uma fonte, uma ponte ou uma paisagem. Bartalini (1988:41)
cita como exemplos de praças dominadas pela paisagem com um dos
lados abertos para o horizonte a Praça do Comércio, em Lisboa, e a
Praça dos Três Poderes, em Brasília
(ver imagens 40 e 41).
- Praça nuclear–organizada a partir da
presença de um núcleo (fonte, marco,
escultura) que lhe definem a unidade
espacial e se sobrepõem aos edifícios
vizinhos e mesmo à forma da praça.
Exemplo: Praça de São Pedro,
Vaticano (imagem 42).
- Praças agrupadas– seqüência de
praças que, apesar de cada uma ter
Figura 39: Piazza di Santíssima Annunziata, em Florença, Itália. Fonte: Plazas of Southern Europe (KATO, 1990 apud CALDEIRA, 2007).
Figura 40 e 41: Praça do Comércio – Lisboa- Portugal e Praça dos Três Poderes- Brasília – Brasil. Fonte: http://arquivo.forum.autohoje.come http://i.pbase.com/u39/alexuchoa. Acesso em 01/11/2010.
CAPÍTULO II
70
características próprias, conserva a idéia de
conjunto. Elas se associam por meio de um
eixo comum, de eixos ortogonais ou gravitam
em torno de um edifico dominante. (ver
exemplo na imagem 43)
- Praças amorfas – espaços livres sem
unidade de desenho, com planta de forma
indefinida e desproporções de escala. Cecco
(2005) cita como exemplo desse arquétipo, a
Praça Panamericana em São Paulo, Brasil
(ver imagem 44).
Segundo Cecco (2005), este estudo
morfológico se baseia em um raciocínio que
presume a estrutura do arcabouço da praça e
a definição de seus limites, a partir de seus
edifícios envoltórios, massa arbórea e
possíveis equipamentos existentes. Assim a
sistematização dos arquétipos de espaços
livres está associada à mensuração de suas
formas, às relações existentes entre as
dimensões horizontais e verticais de seus
Figura 42: Praça de São Pedro, Vaticano. http://www.freewallpapers.com.br. Acesso: 01/11/2010.
Figura 43 : la place Stanislas, la place de la Carrière e la place d’Alliance. Fonte :http://www.republicain-lorrain.fr/fr/permalien/article/254438/Nancy-trois-places-a-l-Unesco.html.Acesso : 01/11/2010.
Figura 44: Praça Panamericana, São Paulo. Fonte: www.skyscrapercity.com. Acesso: 01/11/2010.
CAPÍTULO II
71
espaços, associando planta, gabarito, massas e volumetrias, aproximando a análise de um estudo morfométrico. Cecco
define o termo Morfometria através do Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, 2001: Morfometria – medição das formas
externas dos seres e das coisas.
Bartalini (1988) cita Ashihara (1982), também base de estudo desta pesquisa, no qual apresenta um trabalho mais
voltado para morfometria onde exibe conceitos que traduzem sistematicamente as sensações espaciais em relações às
mensuráveis. Conforme Cecco (2005) é através dessa análise morfológica e morfométrica que se pode adquirir percepção
espacial, diagnóstico e, quando da possibilidade de intervenções, formular diretrizes.
Com base nestas definições, primeiramente, nessa pesquisa, se procurou associar as características físicas atuais
das praças com sua formação histórica, e em seguida levantar os aspectos morfológicos e analisar por meio do desenho
das praças como se dá a apropriação das mesmas pelo usuário, para em seguida propor um diagnostico que contribua
para intervenções futuras.
2.1.1. AS PRAÇAS DENTRO DO CONTEXTO HISTÓRICO DA CIDADE DE TERESINA
A cidade de Teresina, capital do Piauí, faz parte da área semi- árida do Nordeste do Brasil. Ela possui relevo plano
e está localizada entre a latitude de 05º05’20” Sul e longitude 42°48’07” Oeste, com altitude média de 72m (SILVEIRA,
2007). O município apresenta uma população total de 802.537 mil habitantes (IBGE, 2009). É a única capital do Nordeste
que não se localiza no litoral. No entanto, sua paisagem é marcada por dois rios que banham a cidade, Rio Poti e Rio
Parnaíba, que compõem forte cenário natural no meio urbano de Teresina.
CAPÍTULO II
72
Estes dois rios perenes atravessam a cidade e assumem um papel fundamental no cotidiano citadino. Tal
característica geográfica influenciou indubitavelmente o processo de ocupação urbana estimulando a ocupação às
margens dos rios, sendo eles, portanto, elementos de fundamental importância para a identidade da mesma (ver imagem
48).
Seu processo de urbanização ganhou maior destaque a partir da metade do século XIX, devido à transferência da
sede da província do Estado - que antes se encontrava na cidade de Oeiras, PI - para uma nova capital, a ser planejada, e
que assumisse, de fato, a nova cidade- sede da província do Piauí (FAÇANHA, 1998).
Figuras 45 (BRASIL – Região Nordeste), 46 (MAPA DO PIAUÌ) e 47 (MAPA DE TERESINA): Localização do município de Teresina. Fonte: http://geo.teresina.pi.gov.br. Acesso 12/02/2010.
CAPÍTULO II
73
Em 1852, o Conselheiro José Antonio Saraiva foi o autor do primeiro Plano Urbanístico de Teresina, que foi
minuciosamente planejado, já que a cidade seria construída para ser a nova capital do Piauí. A geopolítica determinou
Teresina como a área escolhida para a instalação da nova capital, às margens do Rio Parnaíba e isto se deu,
principalmente, pela sua navegabilidade, favorecendo, assim, uma maior articulação entre os principais núcleos urbanos
da região e ampliando as condições de desenvolvimento da então Província do Piauí (IPHAN, 2008).
Figura 48: Vista parcial da cidade de Teresina entre os rios Parnaíba e Poti. Fonte: Google earth. Acesso: 12/06/2010. Imagem modificada pela autora.
Figura 49: Planta da cidade de Oeiras – primeira capital do Piauí – 1809. Fonte: Imagens de vilas e cidades do Brasil Colonial (REIS FILHO, 2000)
CAPÍTULO II
74
Pela correspondência do Conselheiro Saraiva, sabe-se
que a escolha de Teresina não se deu apenas por motivos sócios
econômicos, mas também por questões paisagísticas. De acordo
com o próprio Saraiva, de toda a vasta extensão do Parnaíba que
ele percorreu ‘esta foi a mais bela que ele encontrou’ (IPHAN,
2008).
Ao contrário das cidades que nasciam espontaneamente e
tinha um traçado irregular, a nova capital dispõe de um desenho
regular tendo uma igreja como referência para a disposição das
quadras. Observa-se, no entanto que no plano inicial da cidade,
metade das casas está voltada ou para o Norte ou para o Sul, o
que não respeita o clima quente (ver imagem 50).
Seu plano ortogonal, como um tabuleiro de xadrez,
oferecia praticidade de implantação política, além de facilitar a locação do arruamento, do aproveitamento racional do
terreno e melhor facilidade e disciplina da construção de casas em ângulo reto.
Segundo Façanha (1998), esse plano revelou a tentativa de implantação de um modelo de padrão colonial,
seguindo a vertente racional, já existente em várias cidades brasileiras, que previa a fixação de um ponto central, a Igreja
Matriz, do qual irradiava a malha da cidade, formando quadras como um tabuleiro de xadrez.
De acordo Benévolo (2003, p.487) as novas cidades seguiam no seu traçado, um modelo uniforme, como:
Figura 50: configuração da malha urbana de Teresina - mapa datado de 1855. Fonte: pmt (1997) apud façanha (1998, p.53).
CAPÍTULO II
75
“um tabuleiro de ruas retilíneas, que definem uma série de quarteirões iguais, quase sempre quadrados; no centro da cidade, suprimindo ou reduzindo alguns quarteirões, consegue-se uma praça, sobre a qual se debruçam os edifícios mais importantes: a igreja, o paço municipal, as casas dos mercados e dos colonos mais ricos.”
Com ruas paralelas partindo do rio Parnaíba, a
leste em direção ao rio Poti, contendo um espaço
urbano inicialmente delimitado por 18 quadras no
sentido Norte-Sul e 12 no sentido Leste-Oeste. As
ruas, todas perpendiculares e paralelas entre si,
formavam quarteirões regulares. O plano previa,
ainda, espaços para a construção de praças, onde,
no seu entorno, se implantariam as principais
edificações, o que de fato aconteceu até a
construção da Avenida Frei Serafim, na década de
1940. Logo, esta Avenida passou a receber
edificações marcantes da época, e representa, hoje, o vetor de crescimento da cidade, que acontece no sentido Centro-
Leste e, também, o eixo de divisão entre norte e sul na estrutura da cidade (SILVA, 2009).
Figura 51: configuração da malha urbana de Teresina: com os espaços para construção de praças - mapa datado de 1852. Fonte: Nascimento (2002) apud Bueno (2008, p.61). Imagem modificada pela autora.
CAPÍTULO II
76
Desde 1852, com a implantação do seu primeiro plano,
como visto acima, Teresina já designava várias áreas para a
construção de praças, mesmo que, segundo Lima (2001), em
sua grande maioria, em terrenos baldios, com poucas
benfeitorias, como também era a própria cidade naquela
época. Iglésias (1958) apud Silva (2009) afirma que:
“As ruas eram bem traçadas, sem sentido retangular; infelizmente, quase sem arborização; as praças eram grandes, com algumas árvores de sombra, porém sem ajardinamento; a única exceção era o jardim onde ficava atrás da igreja do Carmo. As principais ruas eram: Rua Belém, Rua Grande e Rua Paissandu; as praças mais importantes pela sua área de localização tinham os nomes de: ‘Saraiva’ e ‘Marechal Deodoro’. Nesta última estava o Palácio do Governo, Assembléia e Escola Normal. Ia até a beira do rio, o porto dos naviozinhos.”
As praças em estudo, como já dito anteriormente,
localizam-se na área central de Teresina e estão presentes na
malha urbana desde a fundação da cidade. Até a década de
1940, do século XX, Teresina era conhecida como ‘entre rios’,
pois seu perímetro urbano era praticamente limitado pelos rios
Figura 52: Imagem atual das Praças e da Av. Frei Serafim em estudo na malha urbana da cidade. Fonte: Google Earth. Adaptado pela autora em 18/04/2010.
CAPÍTULO II
77
Parnaíba e Poti. Somente a partir da segunda metade do século XX,
decorrente de um intenso processo imigratório, a cidade modifica a
configuração de sua paisagem (Figura 52). Nesta fase o perímetro urbano
de Teresina se expande e novas relações são estabelecidas na cidade que
resultam em um maior dinamismo nas mudanças de usos e funções dos
elementos morfológicos existentes no centro (CARDOSO; MELO, 2006)
(Figuras 53, 54 e 55).
A cidade de Teresina foi se expandindo e o centro se transformando
cada vez mais em área comercial, administrativa e financeira. Logo, foi
ocorrendo o abandono de áreas residenciais centrais, a marginalização de
Figura 53: Sobreposição da Malha urbana original do centro antigo de Teresina sobre a atual. Fonte: IPHAN, 2008.
.
Figuras 54 e 55: Vista aérea da década de 50 (aerofotogrametria) e foto de satélite de 2007. O quadrado branco representa a área da cidade, (perímetro) que existia nos anos 50. Fonte: Acervo- Arquivo Público-Acesso: 18/05/2010.
CAPÍTULO II
78
áreas nobres, subutilização de espaços públicos e a ocupação de áreas por usos inadequados.
Nos últimos anos, o Centro histórico de Teresina, assim como o de outras cidades brasileiras, encontra-se em um
caos ambiental, devido a várias questões, tal como a mudança de uso imposta, descaracterizações de sua paisagem
urbana natural e construída, abandono da área central, dentre outras – Isto se compreende, segundo Cardoso e Melo
(2006), devido, principalmente, a dinâmica de ocupação das cidades que modifica as paisagens das suas áreas centrais
tanto na sua forma, quanto nas atividades que abrigam em conseqüência do atendimento às necessidades dos grupos
culturais existentes nas mesmas ao longo do tempo.
Na década de 1950, após a construção da ponte sobre o Rio Poti, tem-se o processo de ocupação da zona Leste da
cidade, criando uma zona de alto poder aquisitivo. Esta população antes residia no centro da cidade e suas casas foram
adaptadas para a instalação de comércios e serviços ou foram demolidas. Outro processo que resultou em mudanças na
paisagem do centro foi a construção de conjuntos habitacionais na periferia da cidade, a partir da década de 1970,
resultado de investimentos federais em habitação popular. Este processo favoreceu a criação de novos centros de
comércio e serviços em conjuntos construídos à longa distância da área central. E, também, devido à grande demanda de
população na zona Leste da cidade, na década de 1990, foram implantados nesta área os dois maiores shoppings da
cidade (CARDOSO; MELO 2006, p.202).
Por tudo isso, ao longo do tempo foram sendo implantadas legislações que visam à preservação e adotam um
código rígido de posturas nessa área.
Em 1977 foi elaborado o primeiro plano estrutural de Teresina (I PET) que apresentou em 1979 o Primeiro Código
de Zoneamento e Edificações de Teresina, que regulamentava o uso do solo urbano, estabelecendo recomendações para
a construção de edificações e propondo normas exclusivas para as intervenções na área central (TERESINA, 2002). O I
PET continuou a propor a estrutura na qual as atividades concentravam-se no centro da cidade – o modelo radiocêntrico.
CAPÍTULO II
79
Por esse modelo, a ocupação de Teresina é caracterizada pela concentração de atividades no centro urbano com intenso
fluxo de interesses e conseqüente congestionamento em um único pólo (TELES, 2004).
De acordo com Teles (2004), o segundo plano estrutural de Teresina (II PET), realizado em 1988, definiu novos
pólos de interesses ou atividades, buscando tornar a área central da cidade mais habitável. Ele indica a necessidade de
uma estrutura ocupacional que atenue a demanda ao centro, inibindo os processos de saturação e reduzindo a
necessidade de acesso a este pólo, o qual não está estruturado para suportar mais acréscimos de interesses, que
implicariam obras muito caras.
Entretanto, foi a partir de 1989, que a área central ganhou uma maior atenção no planejamento municipal. Nesse
ano ocorreu um Fórum sobre o centro da cidade de Teresina, no qual houve discussões sobre o transporte urbano,
limpeza urbana, segurança das edificações, arborização, equipamentos e mobiliário urbano, atividades informais do centro,
proteção ao meio ambiente e ao patrimônio histórico, obras públicas e deveres de ordem pública (TERESINA, 2002).
Em 1997, ocorre outro encontro de discussão sobre o Centro, o Fórum de Revitalização do Centro de Teresina,
organizado pela Prefeitura Municipal por intermédio das Secretarias Municipais de Indústria e Comércio/SEMIC e de
Planejamento/SEMPLAN (Ibid., 2002).
No ano 2000, a Prefeitura Municipal de Teresina por intermédio da SEMPLAN reúne arquitetos da Cidade para
elaborar um Plano de Ações para o Centro. Este documento tinha como proposta um Programa de Revitalização da Área
Central contemplando alguns investimentos públicos e privados, assim como medidas de racionalização do uso e melhoria
da infra-estrutura urbana existente, tendo sido produzido como o ponto de partida para uma nova forma de conduzir o
desenvolvimento do Centro de Teresina.
CAPÍTULO II
80
Neste documento, a equipe apresentou um rápido diagnóstico, destacando os vendedores ambulantes, o tráfego, os
elementos de urbanização (passeios, sarjetas, mobiliário urbano, praças), a legislação urbana e os investimentos, como
aspectos analisados.
Em novembro de 2001, deu-se início às reuniões para constituir um grupo de trabalho de revitalização do centro, a
fim de elaborar diagnóstico, propostas e apresentar estudos e projetos para o Planejamento Estratégico de Teresina,
Agenda 2015, cujo Plano de Desenvolvimento Sustentável para a cidade de Teresina nasceu de uma iniciativa da
Prefeitura de Teresina que, preocupada com o planejamento, o meio ambiente e o processo de desenvolvimento urbano,
econômico e social, mobilizou a sociedade para discutir e traçar um rumo para o futuro, elaborando, dessa forma, sua
Agenda 21. A intenção desse grupo é considerar e analisar todas as propostas formuladas anteriormente, a fim de
reaproveitar suas idéias, que certamente contribuirão bastante para a melhoria da Área Central de Teresina.
Apesar das mudanças nas relações sócio-espaciais existentes no centro, a área ainda concentra uma intensa rede
de atividades de comércios e serviços e, mesmo com o deslocamento de muitos moradores para outros bairros, o centro
ainda é bastante freqüentado por uma população de menor poder aquisitivo. Neste aspecto, não se considera que ocorreu
um esvaziamento do bairro, mas novos usos de seus espaços e, conseqüentemente, novas adaptações a estes usos que
configuram uma nova paisagem para este local (CARDOSO; MELO, 2006).
CAPÍTULO II
81
Hoje, Teresina conta em seu centro histórico com o
total de oito praças com história e características
peculiares. Estas praças, por sua vez, mantêm a
configuração espacial de origem, embora já tenham
passado por muitas alterações em seus projetos originais
devido a algumas reformas já realizadas, ainda preservam
a maior parte de sua arborização. Vale ressaltar que a
capital possui zonas de preservação ambiental (ZP)
criadas por lei, dentre as quais se pode citar a ZP1, que
inclui a Praça Marechal Deodoro e seu entorno, e a ZP4
que engloba as áreas verdes (praças e parques), a
arborização de ruas, avenidas, calçadas e canteiros
centrais da cidade (TERESINA, 1988). Quanto aos seus
entornos, estes se encontram completamente
descaracterizados.
Estas praças são indispensáveis para a leitura do
centro antigo, são elas: Praça Marechal Deodoro da
Fonseca (antiga Praça da Constituição), Praça Rio Branco,
Praça João Luis Ferreira, Praça Landri Sales, Praça Pedro
II, Praça da Liberdade, Praça Saraiva e Praça Da Costa e
Silva que hoje fazem parte do patrimônio cultural da
Figura 56: Mapa com a localização das praças do centro histórico inseridas na trama urbana de Teresina. Fonte: Google Earth. Acesso: 12/06/2010. Imagem modificada pela autora.
CAPÍTULO II
82
cidade, sendo que Teresina possui um total de 368 praças
(SILVA, 2009). A maioria das praças já era prevista no
primeiro plano de urbanização de Teresina, inseridas na
trama urbana pelos cruzamentos e interseções das vias
públicas que influenciaram na conformação das mesmas
seguindo a maioria, o sistema retangular, e uma mesma
linha de projeto, linha clássica _ com exceção da Praça Da
Costa e Silva que teve como projeto original o modernismo
(IPHAN, 2008) _, linha esta definida por Macedo (1999)
como “um espaço retratado a partir de um parcelamento
geométrico do solo, favorecendo-se a criação de pisos e
caminhos estruturados por eixos que convergem para um
ponto principal, conectando-se a diversos acessos”.
Faz-se aqui uma breve contextualização das praças
do centro histórico de Teresina:
Praça Rio Branco: De certa forma, é uma extensão da
Praça Marechal Deodoro. Foi a primeira praça a ser
urbanizada, tornando-se um jardim público de uso diurno (DOBAL apud SILVA, 2009). No final do século XIX, torna-se o
símbolo da atividade comercial e social da capital. Recentemente sofreu uma intensa reforma na sua morfologia, mas foi
preservada sua antiga vegetação, além da torre do relógio que a caracteriza.
Figura 57: Parte do mapa de zoneamento da cidade de Teresina (2010). Fonte: PMT. Acesso: 10/02/2011. Imagem modificada pela autora.
CAPÍTULO II
83
Praça João Luis Ferreira: é a menor das
praças em estudo e é bem arborizada.
Esta não fazia parte do traçado do
conselheiro Saraiva, tendo surgido a partir
de uma desapropriação de terrenos dos
quais foi doada à Prefeitura a área de um
quarteirão para a sua construção. Em seu
entorno agrupava residências de famílias
muito tradicionais, sendo, portanto, um
foco de convivência e diversão social.
Figura 60: Imagem atual da Praça João Luis Ferreira. Arquivo pessoal.
Figuras 58 e 59: Imagens atuais da Praça Rio Branco com vista do seu relógio. Arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
84
Praça Landri Sales: conhecida também como Praça do Liceu teve sua origem com a delimitação de seu espaço físico
pelo fundador de Teresina, Conselheiro Saraiva, na planta datada de 1855. É a que tem menor área verde, sua
pavimentação é recente e se caracteriza pelo desnível existente entre dois platôs, um mais elevado e outro mais baixo,
ligados por escadaria em semicírculos. Na parte mais alta da praça foi construído o Colégio Estadual Liceu piauiense, em
1936. Este se tornou o principal elemento articulador da praça, pois o colégio alterou o uso e apropriação da praça pela
população.
Praça Pedro II: Esta praça foi construída em um terreno remanescente destinado para a construção do quartel da Polícia
Militar do Piauí e aos poucos se consolidou como centro social e de lazer da sociedade local, sendo praça de movimento
noturno. Ao seu redor estão edificações importantes para a capital, tais como: Teatro Quatro de Setembro (construído em
1894), o Clube dos Diários (de 1927), o Cine Rex (também de 1927), o primeiro cinema da cidade, e o antigo quartel de
polícia hoje transformado em centro de artesanato. Esta praça foi a que mais sofreu reformas, sendo, de acordo com
Santos (2001), as mais importantes as reformas de 1936, 1950, 1970.
Figura 61 e 62: Imagens atuais da Praça Landri Sales e do Colégio Liceu Piauiense. Arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
85
Praça da liberdade: Esta praça está localizada ao redor da igreja de
São Benedito construída em 1886. Ela é caracterizada como jardim
público, de pequeno porte e trânsito de grande fluxo de veículos
(imagem 65).
Praça da Costa e Silva: é a mais recente de todas já citadas e é a
mais afastada do centro de Teresina, então em área de expansão
urbana. Seu projeto paisagístico foi assinado por Roberto Burle Marx
e executado em 1962. Bem arborizada, a proposta de paisagismo
valoriza espécies nativas como o angico, a carnaúba, etc. Encontra-
se praticamente abandonada (imagens 66 e 67).
Figuras 63 e 64: Imagens atuais da Praça Pedro II com vista do Teatro 4 de setembro e cinema. Arquivo pessoal.
Figura 65: Imagem atual da Praça da liberdade com da igreja São Benedito. Arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
86
Estas praças apresentam uma considerável cobertura vegetal, com áreas sombreadas que minimizam o desconforto
provocado pelo calor intenso, proporcionando, ao mesmo tempo, o espaço recreativo e de circulação à população. Pela
sua história, elas são consideradas como monumentos para a cidade de Teresina. Porém, hoje, algumas estão
descaracterizadas por diversas reformas que passaram sem um estudo adequado de intervenção, e, também,
subutilizadas, tornando-se áreas marginalizadas devido à falta de infra-estrutura, segurança, limpeza e educação
ambiental.
O que se observa é que, apesar de reconhecido o valor das praças como importante acervo construído do centro
histórico, ainda se verificam falhas nas ações reais preocupadas com a preservação desse conjunto urbano e paisagístico.
As falhas dessas ações se expressam nas intervenções já realizadas que acabaram modificando alguns aspectos e
elementos da paisagem que outorgam força de identidade e harmonia a esse conjunto urbano. Para que essas praças
Figuras 66 e 67: Imagens atuais da Praça Da Costa e Silva. Arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
87
tenham seus valores preservados e protegidos, é fundamental analisar quais são esses valores da paisagem da praça.
Com isso, conforme Ribeiro (2007 apud Leão 2011): “é necessário que se identifique o conjunto de elementos que
justificam a atribuição de valor ao local, tanto do ponto de vista de uma leitura técnica quanto do cidadão comum, pois o
processo de valorização da paisagem se inicia pela identificação desse conjunto”; logo, é esta identificação que será
realizada na continuação desta pesquisa.
2.1.2. ESTUDO MORFOLÓGICO DAS ESTRUTURAS DAS PRAÇAS.
2.1.2.1. PRAÇA MARECHAL DEODORO
ESTRUTURA ESPACIAL
A Praça Marechal Deodoro, também conhecida como Praça da Bandeira, caracteriza-se por ser uma área de maior
atividade comercial que residencial e um intenso tráfego de veículos e pessoas. É o principal núcleo histórico de Teresina
e em sua volta, a partir de 1850, surgiram às primeiras edificações da cidade como a igreja Nossa Senhora do Amparo,
que foi a primeira edificação pública importante de Teresina a ser demarcada e construída. Inaugurada em 25 de
dezembro de 1852, a igreja é considerada, portanto, o marco Zero de Teresina (GOMES, 1992) (ver imagem 68).
CAPÍTULO II
88
Desde sua fundação, esta praça teve
vários nomes, como: Largo do Amparo, Praça da
Constituição, Parque da Bandeira e Praça
Marechal Deodoro. No início do Século XIX, sem
calçamento, sem rede de esgoto, iluminada por
lampiões e querosene, Teresina tinha na Praça
Mal. Deodoro o centro da sua vida cultural,
política, social e econômica.
Ali foram construídos os principais prédios
públicos, que se destacam pelo aspecto
monumental, como a primeira igreja da cidade e a
de mais forte presença – Igreja Nossa Senhora
do Amparo, importante marco espacial pelas suas
proporções históricas e arquitetônicas – o prédio
da Justiça federal, antiga Intendência, o Palácio
Municipal, prédio da antiga Companhia de
Navegação, o Mercado Público e Museu do Piauí.
Estas Edificações são marcadas por uma arquitetura eclética, de inspiração predominantemente neoclássica. Elas
dominam não apenas o entorno imediato da praça, mas constituem grande força na fisionomia do conjunto urbano.
(ARQUIVO PÚBLICO DE TERESINA, 2010).
Figura 68: Marco Zero da cidade. Imagem tirada pela autora em 18/07/2010.
CAPÍTULO II
89
Baseado em Cecco (2005), pode-se afirmar que a Praça marechal Deodoro tem um papel determinante ou
organizador do desenho urbano. Ainda conserva seu caráter de centro cívico, pois, ainda reúne à sua volta significativas
edificações públicas. Segundo Zucker (1959) a Praça Marechal Deodoro pode assumir alguns conceitos de praças
medievais, principalmente na conformação inicial, por ter sido um espaço com funções importantes de comércio e reunião
social. Era uma praça de mercado e de igreja, por possuir no seu entorno o mercado da cidade e o único templo religioso
da época.
Seu espaço é resultado não somente de um projeto específico, mas da intenção de vários desenhos. É um local
destinado a práticas sociais, circulação, encontros, permanência e manifestações da vida urbana e comunitária. É
Figura 69: Praça Mal. Deodoro no início do sec. XIX. Na época, reunindo as sedes dos poderes, repartições públicas, igreja e o mercado. Fonte: Acervo – Arquivo Público de Teresina: Acesso- 18/05/2010
Figura 70: Vista aérea da Praça Marechal Deodoro na Década de 1980, com projeto paisagístico desenvolvido por Burle Marx. Fonte: Acervo – Arquivo Público de Teresina: Acesso- 18/05/2010
CAPÍTULO II
90
vinculada a instalações de interesse da
coletividade, como a igreja matriz, e de fácil
identificação por parte da população. É um
elemento de destaque na composição
urbanística e de embelezamento urbano.
De acordo com Robba e Macedo (2003)
a morfologia urbana esboçada no projeto
original da Praça Marechal Deodoro conserva
o tradicional traçado da linha clássica, com a
simetria estruturando seu traçado; eixo
ortogonal bem marcado cruzado por caminhos
transversais secundários, ligando o
monumento, ponto focal da praça, aos edifícios
mais significativos à sua volta. Eles afirmam
que a expressão desse desenho da Praça
Marechal Deodoro foi muito intensa e esse
modo de projetar difundiu-se rapidamente pelo
país, transformando-se em padrão de desenho
para as praças. Até o final do século XX ainda
são projetadas praças baseadas nessa
estrutura.
Figura 71: Projeto da praça original simulado pela autora através do levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina – Acesso: 18/05/2010.
CAPÍTULO II
91
Já na concepção de Zucker (1959), seu traçado pode ser classificado em três tipos:
Praça dominada - a existência de um elemento dominante no espaço livre passa a ser o principal determinante das
relações espaciais da praça. Ou seja, a igreja e o monumento de fundação da cidade geram uma organização espacial
dinâmica dada pela percepção e movimento do usuário em torno desses elementos dominantes (imagem 72).
Praça nuclear - organizada a partir da presença de um núcleo (fonte, marco, monumento, escultura, coreto, etc.),
no caso da Praça Marechal Deodoro, o monumento da fundação da cidade, que foi erguido antes mesmo da estrutura da
praça. A unidade espacial é garantida por esse elemento, que se sobrepõe aos edifícios adjacentes à forma da praça,
carregando com certa tensão a percepção do espaço (imagem 73).
Figura 72: Destaque elementos dominantes. Imagem Google earth modificada pela autora. Acesso11/12/2010.
Figura 73: Núcleo da praça. Imagem Google earth modificada pela autora. Acesso11/12/2010.
CAPÍTULO II
92
Praça agrupada - pois se associa por meio de
um edifício dominante com outra praça, ou seja, a Igreja
Nossa Senhora do Amparo agrupa a Praça Marechal
Deodoro com a Praça Rio Branco. Esta última era um
pequeno espaço atrás da igreja onde os fieis, também,
se reuniam, posteriormente se transformando em um
jardim público, hoje praça.
Na década de 80 o projeto original da praça
sofreu alterações com um projeto de Roberto Burle
Marx, onde rompeu com as linhas ecléticas de desenho
da mesma.
Portanto, a Praça Marechal Deodoro libertou-se
da rigidez formal dos projetos clássicos, ganhando
características dos princípios dos projetos da linha
moderna. Nessa praça foram implantados alguns deles: a utilização de formas orgânicas e geométricas para os novos
caminhos, canteiros e espelhos d água; vegetação utilizada como elemento tridimensional de configuração de espaços;
equipamentos voltados para o lazer ativo.
Figura 74: Imagem Google earth modificada pela autora. Acesso11/12/2010
CAPÍTULO II
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Figura 75: Levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina. Acesso: 18/05/2010.
CAPÍTULO II
94
Hoje, a Praça Marechal Deodoro é formada por equipamentos de lazer passivo e, também, de lazer ativo, pela
presença de um anfiteatro lá existente. É uma praça de grande porte e possui um trânsito intenso em suas imediações,
tanto de veículos, como de transeuntes. Nela ainda acontecem manifestações, encontros e discussões sobre os
acontecimentos cotidianos da cidade. No entanto, caracteriza-se mais como um espaço de passagem do que de estar,
devido, principalmente, a falta de segurança dos seus usuários.
Figura 76: Corte esquemático da situação atual da Praça Marechal Deodoro
CAPÍTULO II
95
De acordo com a PMT (Prefeitura Municipal de Teresina) a
praça possui uma área de 30.600 m² e sua topografia pode ser
considerada plana por possuir desníveis não perceptíveis. Quanto a
sua forma, seguindo a proposição dos estudos de Castro e De Angelis
(2004), observa-se que a Praça Marechal Deodoro é conformada por
quatro vias de acesso local – sendo estas delimitadas por construções
em todo seu perímetro – proporcionando o surgimento da praça em
forma retangular (ver figura 77).
VEGETAÇÃO
A vegetação também é um elemento que compõe o espaço
urbano, podendo organizar um espaço mais aprazível que as
edificações. Ela pode mudar totalmente o aspecto visual da paisagem
urbana, transformando algumas áreas em belos jardins,
proporcionando sombreamento e renovação do ar. Todavia, a
arborização excessiva pode, também, prejudicar, privando áreas da
insolação necessária à salubridade das edificações e à saúde da
população e, quando inserida de forma equivocada, pode destruir
calçadas, prejudicar visualmente as fachadas e propiciar a
proliferação de insetos (MASCARÓ, 2005).
Figura 77: Esquema da Praça Marechal Deodoro conformada por quatro vias (adaptado pela autora).
Figura. 78: Imagem modificada pela autora em 18/10/2010. Fonte: FAU-USP. PAISAGISMO – 1983. SÍNTESE DAS ATIVIDADES.
CAPÍTULO II
96
Segundo Abud (2007) existem várias maneiras de trabalhar com árvores no plano de massas vegetais. Quanto a
isso, é possível conseguir benefícios alternando dois dos maiores grupos de espécies de árvores, que são classificados
segundo seu tipo de copa: O primeiro grupo são as espécies com a copa horizontal, que possui o diâmetro da copa maior
que a altura; o segundo são os com copa vertical, que possui o diâmetro da copa menor que a altura. Ainda de acordo com
o autor, o maciço de árvores de copa vertical mostra-se mais eficiente como elemento de vedação, ou para destacar um
ponto focal. Já o renque de árvores horizontais libera, em geral, a parte superior da paisagem, tirando vantagem se essa
for interessante, além de formar lugares aconchegantes devido às sombras formadas por suas copas. As imagens abaixo
mostram que além das espécies citadas acima, ainda existem as ovóides, cônicas, piramidais, pendentes, tufos e
divergentes.
Na Praça Marechal Deodoro observa-se uma vegetação densa, onde o plano de massa das árvores existentes está
inserido dentro de dois grupos, horizontal e vertical, predominando as árvores de copa horizontais e de grande porte
(acima de 10 metros de altura).
Figura 79: Massa densa de arborização. Fonte: Google Earth. Acesso em 20/10/2010
Figura 80: vista das árvores - copa horizontal. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
97
Como já foi dito, as árvores de copa horizontal constituem uma
cobertura vegetal, de onde provém ao transeunte sombra que transforma
o espaço sob sua copa em um lugar aprazível. Esta função é muito bem
exercida na Praça Marechal Deodoro, no entanto esta mesma cobertura
causa certa barreira visual da praça dificultando sua visibilidade e
prejudicando a visualização de referências.
Quanto às copas verticais foram identificadas no local de seis a
oito espécies da carnaúba (árvore nativa da região nordeste), em lugares
esporádicos, algumas no monumento central e outras nos espelhos
d’água, podendo vir a exercer a função de ponto focal para ambos,
atraindo a visão dos transeuntes. Também chamam a atenção por serem
Figura 81: Bloqueio visual causado pela copa das árvores. Foto: Ianna Raposo, 2010
Figura 82: vista das árvores - copa vertical e ao fundo o monumento. Fonte: Arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
98
árvores em minoria, em um bosque formado, na maior parte,
por árvores horizontais. (ver imagem 81).
Outro item observado foi que os canteiros encontram-
se maltratados, seja por excesso de sombreamento causado
por uma falta de planejamento mais adequado para o plantio
das árvores, ou por descaso dos órgãos públicos
responsáveis pela manutenção da praça (ver imagem 83).
MOBILIÁRIO URBANO
Sobre mobiliário urbano Serra (1996, p.06) afirma:
“são elementos urbanos que se utilizam e se integram na paisagem urbana, e devem ser compreendidos pelos cidadãos. Uso, integração e compreensão são os conceitos básicos para a valorização de todo o conjunto de objetos que encontramos nos espaços públicos da cidade.”
Os elementos urbanos são aqueles que mobiliam as
cidades como os bancos, luminárias, lixeiras, telefones
públicos, caixas de correio, jardineiras, cabines de ônibus,
etc., ou seja, são acessórios que existem para contribuir com
Figuras 83: vista canteiros descuidados. Foto: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
99
o conforto dos cidadãos. Por esse motivo, são, também, chamados de mobiliário urbano.
Para Serra (1996), o desenho do mobiliário urbano, como qualquer outro método de desenho, cumpre três conceitos
interligados: funcionalidade, racionalidade e emotividade. Seguindo o autor, a funcionalidade é necessária porque os
elementos têm de cumprir os requisitos funcionais e de uso. O espaço urbano não deve admitir objetos de uso duvidoso ou
de uso de outras culturas e necessidades, pois os espaços públicos, como as praças e calçadas, estão expostos à
demanda excessiva de objetos que podem prejudicar o conforto e a paisagem urbana. Portanto, para a conservação da
paisagem se deve evitar a concentração de elementos urbanos e realizar uma política de seleção de funções nestes
espaços.
A racionalidade é necessária á medida em que a razão, a matemática, a tecnologia, os materiais, estão acima da
experiência emocional para compreender a realidade. O desenho dos elementos urbanos sob o ponto de vista do desenho
industrial ainda precisa dar o salto final para obter elementos industrializados que melhorem sem dúvida quanto seu
comportamento no espaço urbano. A resistência à agressividade do meio urbano, o envelhecimento durante o tempo que
tem de permanecer em uso e a facilidade de montagem e manutenção, são pontos essenciais no desenho dos elementos
urbano.
Já a emotividade é necessária á medida em que o objeto provoca reações psicológicas e transmite sensações ao
indivíduo. Dar satisfação de uso e controlar a fabricação deve estar unido à produção de sentimento, imaginação e paixões
ao desenhar o mobiliário urbano. Em particular, o desenho dos elementos urbanos deve conseguir a integração entre o
valor artístico e o valor de uso de todos os objetos que participam da vida cotidiana do ambiente da cidade.
Conforme Mascaro (2008), o mobiliário urbano contribui para a estética e para a funcionalidade dos espaços, da
mesma maneira que dar a segurança e o conforto para os usuários. Portanto, merece a atenção dos planejadores que são
CAPÍTULO II
100
responsáveis pela qualidade do ambiente público, dos recintos urbanos, das vias de circulação, das praças e parques
urbanos.
1. Bancos
De acordo com Mascaro (2008) os bancos devem ser implantados em locais de grande fluxo de pedestres, podendo
sempre que possível formar áreas de refúgio. Devem ser dispostos em linha constituindo uma espécie de marcação ou de
maneira agrupada, compondo um ambiente de estar, promovendo a convivência com o outro e a prática do lazer
associativo de diferentes grupos. Por comporem os ambientes urbanos devem ser ergonomicamente projetados,
permitindo ao usuário uma permanência confortável e duradoura. É propício utilizar materiais e um desenho que se
identifiquem com a cultura local e com o restante do mobiliário; também, é importante que os bancos sejam localizados em
pontos estratégicos, não atrapalhando a circulação.
Na Praça Marechal Deodoro foi identificado três tipos de bancos: o primeiro, alguns bancos de concreto, sem
encosto, pouco confortáveis, com adornos que, provavelmente, vêm desde o projeto original da praça; o segundo, mais
contemporâneos, colocados durante as reformas que a praça já sofreu, é de madeira com concreto, com encostos, mais
confortáveis, mais simples e limpos na sua forma. O terceiro, também contemporâneo, de concreto, sem encosto,
esteticamente não muito agradável e mal localizado, em áreas sem sombreamento e que podem atrapalhar a circulação,
pois estão no logradouro da praça. Nota-se, portanto uma falta de integração entre os três tipos de desenhos dos bancos,
fragmentando visualmente a paisagem da praça.
CAPÍTULO II
101
Quanto à sua disposição, nota-se certa coerência com o espaço público, estando a maioria dispostos abaixo das
copas de árvores, em áreas de sombreamento. Muitos estão dispostos em linhas, outros, de maneira agrupada, não se
notando, em nenhum deles, obstáculo para o fluxo, exceto os localizados no logradouro da praça.
Ainda sobre esse elemento urbano, alguns deles se encontram em estado deteriorado devido ao vandalismo dos
usuários e a falta de manutenção dos órgãos públicos.
2. Lixeiras
A existência de lixeiras em espaços públicos é indispensável. Auxilia na manutenção da limpeza dos ambientes e,
também, devem ser colocadas em pontos estratégicos, facilitando a visualização e o acesso. Segundo Mascaro (2008),
elas devem ser dispostas em locais de maior movimento e concentração de atividades, paralelamente ao deslocamento
dos pedestres, sem ser um empecilho ao fluxo.
Figuras 84, 85 e 86: os três tipos de bancos existentes. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
102
Serra (1996) afirma que a lixeira é um elemento que
proporciona uma grande diversidade de formas e materiais e,
portanto deve ser desenhada especialmente para ser compatível
e resistente ao seu uso, uma vez que é um elemento que reflete
a imagem de limpeza do espaço público.
Portanto, conforme Mascaro (2008, p.168):
“As lixeiras devem estar dispostas por todo meio urbano, como elemento de fundamental funcionalidade e composição plástica. Ao mesmo tempo, elas devem ser discretas o suficiente para não atrapalhar a paisagem urbana, assim como valorizadas na medida exata de serem notadas pelos indivíduos, como um convite e uma facilidade à limpeza dos espaços públicos.”
Na Praça Marechal Deodoro as lixeiras são de chapa de ferro perfurada e se encontram, também, sem nenhuma
manutenção. Seu desenho não possui uma harmonia com o restante dos elementos urbanos, o que torna o mobiliário da
praça ainda mais confuso. Além disso, hoje, só são encontradas duas lixeiras em toda a praça, quantidade insuficiente
para seu tamanho e para o intenso tráfego de pessoas que circulam nessa área todos os dias.
3. Luminárias
De acordo com Cullen (2009), de um modo geral existem três exigências que o urbanista estabelece ao engenheiro
eletrotécnico: unidade de escala, unidade cinética e rigor. A unidade de escala da rede deve seguir a escala da rede ou do
recinto; a unidade cinética é a unidade do movimento, ou seja, a maioria das redes encontra-se em vias que geralmente
Figura 87: Tipo de lixeira existente. Fonte: Ianna Raposo, 2010
CAPÍTULO II
103
transmitem um movimento linear. Porém existem outros tipos de recintos urbanos: praças, espaços delimitados, etc., que
representam espaços de algum modo estáticos. Nesses locais torna-se importante que as redes, sobretudo de dia, não
venham a interferir e destruir esta qualidade estática, envolvendo monumentos no seu próprio movimento; e, por último, a
unidade rigor, ou seja, quando há situações em que uma instalação tradicional não é de todo precisa, e em que, embora a
luz seja necessária, a rede de iluminação nunca contribuirá para a pureza da paisagem. Quanto a isso, Cullen (2009,
p.146): “pense-se numa ponte recente, uma peça esculpida em betão armado, e por muito que se tente, o sistema
tradicional de iluminação através de fonte de luz colocadas sobre postes, vem contrariar as qualidades próprias dessa
estrutura.”
Portanto, segundo Cullen (2009), deve-se integrar a iluminação pública no tecido e nas características próprias de
cada aglomerado e cidade, tanto de dia como de noite, adequando a luz e suas fontes para qualquer situação.
A iluminação da Praça Marechal Deodoro é formada somente por equipamentos altos, modelo poste tubular de
quatro pétalas, muito usados na iluminação pública das cidades. Não foi registrada nenhuma instalação específica para
iluminação dos pedestres, ou seja, equipamentos mais baixos de iluminação mais pontual. Com isso, o que se observa é a
falta do sentido de escala, com a instalação de postes excessivamente grandes para o recinto, deixando a praça sem uma
iluminação adequada. Nota-se, também, que a altura dos postes confunde-se no meio das copas das árvores,
prejudicando ainda mais a iluminação da praça. Além disso, a quantidade de postes registrados é insuficiente para atender
a demanda necessária da área total da praça.
CAPÍTULO II
104
4. Piso
Além de possibilitar a circulação, o piso, proporciona a valorização e ocupação do ambiente. O desenho e o tipo de
piso vão indicar ao usuário o seu caráter utilitário, e é através dele que pode se dá a conexão ou a ruptura entre as partes
da cidade.
Na Praça Marechal Deodoro foi observada uma descontinuidade visual e formal no piso, pois este é formado por
diferentes tipos de materiais. Foram encontrados três tipos de piso: pedra portuguesa, bloquetes de concreto, cimento
Figuras 88 e 89: Tipo de poste existente; poste coberto pelas copas das árvores. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 90: Falta de iluminação durante a noite, gerando insegurança pública. Fonte: Arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
105
corrido. Isso se deve a várias reformas
que a praça já passou ocorrendo uma
falta de normatização de tipos de
pavimentação.
O aspecto de um dos pisos da
praça, de cimento corrido, além de não
ter um visual muito agradável, está
danificado em diversas áreas. Diferente
do piso de pedras portuguesas,
recorrente do projeto de Burle Marx da
década de 80, onde existiu uma
preocupação com o desenho do piso.
Figura 91: Gráfico elaborado pela autora. Arquivo pessoal
Figuras 92, 93 e 94: Tipo de piso existente em sequência - Pedra portuguesa; cimento; bloquete de concreto. Fonte: Arquivo pessoal
O ENTORNO
O parcelamento é determinante na organização da cidade, pois delimita o perfil
da ocupação do espaço urbano. O parcelamento da área central de Teresina tem uma
forma originada da malha xadrez com predominância retangular, sendo esta forma, a
que deu origem a Praça Marechal Deodoro e a Praça Saraiva. A malha urbana do entor-
no da Praça Marechal Deodoro é formada por quatro áreas que apresentam edificações
mescladas de serviços e comércios, com confluências na Av. Maranhão, Coelho Rodri-
gues, Rui Barbosa e Aerolino de Abreu.
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CAPÍTULO II
107
Na face Norte da praça, a região da Av. Areolino de Abreu possui um trânsito intenso de veículos e pedestres, além
de possuir um terminal de ônibus de grande fluxo. Com edifícios destinados ao comércio, se sobressaem na paisagem a
construção do mercado central – mercado que existe desde a fundação da Praça e cuja estrutura física atual está abaixo
do grau de conservação das outras edificações da mesma época – e o edifício do Museu do Piauí, antiga Escola normal
do Estado, que hoje se encontra em um bom estado de conservação.
Vista observada pela posição 01 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
Vista observada pela posição 02 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
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Vista observada pela posição 03 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
Vista observada pela posição 04 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
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Na face Oeste, está situado o rio Parnaíba, ponto privilegiado, que desde a fundação da praça poderia ter sido
considerado um elemento dominante na sua organização. Porém, seu projeto não tira proveito de tal situação: ao contrário,
pode-se dizer que, recentemente, houve uma ruptura na paisagem com a construção do Shopping da Cidade – espaço
para abrigar os camelôs da cidade, e uma nova linha de metrô elevado. Essas construções possuem características físicas
que causam a sensação de descontinuidade espacial da praça com a avenida que ladeia o rio Parnaíba, a Av. Maranhão e
uma ruptura da paisagem da praça com relação ao rio.
Vista observada pela posição 05 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
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Vista observada pela posição 06 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
Vista observada pela posição 07 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
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Na face Sul, encontra-se a Av. Coelho Rodrigues, avenida com trânsito intenso, passeios e canteiros centrais
arborizados. Esta área se destaca por abrigar edifícios destinados a serviços públicos, onde funcionam a Prefeitura,
Fundação Cultural do Estado, Arquivo Público da cidade, IPHAN, etc. Todos estes edifícios são patrimônio histórico da
cidade e suas volumetrias são homogêneas quanto à arquitetura e alinhamento. O grau de conservação e de uso destes
edifícios estão acima da média da região central.
Vista observada pela posição 08 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
Vista observada pela posição 09 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
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Vista observada pela posição 10 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
Vista observada pela posição 11 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
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Vista observada pela posição 12 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
Vista observada pela posição 13 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
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Ao Leste da praça, na Av. Rui Barbosa, encontra-se a igreja matriz considerada um ponto nodal nessa região, por
ser um ponto de referência na cidade desde a sua fundação. A avenida possui canteiros centrais arborizados, e apresenta
construções mais modernas, como o Ministério da Fazenda e o Hotel Luxor, construídos na década de 70, um pouco antes
da primeira reforma significativa da praça, realizada por Burle Marx, na década de 80.
Vista observada pela posição 14 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
115
Considera-se, portanto, que a área envoltória da praça, por seus usos, colabora para a presença de numerosa
população usuária de seus edifícios, tanto comerciais quanto de serviços. Porém, essa grande densidade não se traduz na
utilização da praça em si, pois o que se observa é que a mesma não apresenta um pólo atrativo de uso para a população
de seu entorno, servindo mais como acesso dessas áreas envoltórias, embora durante o dia ainda seja ponto de encontro
para algumas pessoas que realizam diversas atividades em seu entorno.
Observa-se que a construção recente do Shopping da Cidade e da estação do metrô em sua face oeste desfez a
integração da paisagem entre a praça e o rio Parnaíba, bloqueando a visibilidade e o acesso livre da praça para o rio
Parnaíba e vice versa, além de descaracterizar o conjunto morfológico da mesma e diminuir espaço do seu passeio,
embora tenha provocado o aumento do fluxo de pessoas que por ali transitam.
CAPÍTULO II
116
2.1.2.2. PRAÇA SARAIVA
ESTRUTURA ESPACIAL
Antes de se tornar uma praça, era um local onde ficava a casa da fazenda Chapada do Corisco, em cujas terras
construíram parte da cidade de Teresina. Seu nome é uma homenagem ao fundador da cidade José Antonio Saraiva, que
teve lá erguida uma estátua durante a comemoração do primeiro centenário da fundação da cidade. Em 1932 são
plantadas 300 árvores na praça (GOMES, 1992).
Mais para largo do que praça, a Praça Saraiva é considerada marco divisório das Zonas Norte e Sul da cidade.
Porém, apesar de sua localização central, esta permanecia relegada e preterida pela administração pública; sem
calçamento, gramado, jardim, coreto, bancos, lago, ou qualquer outra característica de praça. Cercada, apenas, de
oitizeiros com os frutos espalhados pelo chão. Era o terminal rodoviário da cidade, ponto de encontro dos motoristas, lugar
dos fretes. De dia, assemelhava-se um pouco ao mercado velho – vendedores de cordel, ambulantes e vários quiosques.
À noite virava baixo meretrício. Havia também algumas pensões e dormitórios. Enfim, um colorido bem característico –
menos de praça, contudo (ARQUIVO PÚBLICO DE TERESINA, 2010).
Sobre a Praça Saraiva Dobal (1992) apud Silva (2009) fala que:
“é uma praça enorme, com tantas árvores que parece um bosque e no mês da floração dos paus-d’arco tem uma beleza indescritível. A catedral Nossa Senhora das Dores fica situada nesta praça que é ainda o ponto de partida de quase todos os ônibus e ‘horários’ que saem da cidade, fazendo a linha para estados ou cidades vizinhas.”
CAPÍTULO II
117
A igreja Nossa Senhora das Dores foi
erguida em 1865. Era grande a necessidade
de construção de mais um templo, visto que a
população crescente dos fiéis não mais se
acomodaria de forma confortável na matriz da
capital. Por volta de 1870 foi construída em
frente à praça a antiga casa do Barão de
Gurguéia, João do Rego Monteiro, onde a
partir de 1994 passa a funcionar a casa da
cultura de Teresina (GOMES, 1992). Outros
edifícios históricos são encontrados em seu
entorno, como o Colégio São Francisco de
Sales – Diocesano – construído em
1906(SILVA, 2009).
Figura 95: Praça Saraiva: Igreja Nossa Senhora das Dores - Segundo Templo religioso de Teresina e Colégio Diocesano ao fundo. Fonte: Acervo Arquivo Público. Acesso: 18/05/2010
Figura 96: Praça Saraiva: Igreja Nossa Senhora das Dores nos dias atuais. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
118
Assim como a Marechal Deodoro, a Praça Saraiva é
vinculada a instalações de interesse da coletividade, devido à
necessidade de construção de uma nova igreja para a capital, se
tornando, também, um elemento de destaque na composição
urbanística e de embelezamento urbano. Seu projeto inicial foi
também estruturado nas linhas clássicas, com canteiros em
formas geométricas e com um eixo longitudinal bem marcado,
cruzado por caminhos transversais secundários assimétricos.
Figura 97: Projeto da praça original simulado pela autora através do levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina – Acesso: 11/11/2010.
CAPÍTULO II
119
Conforme Zucker (1959), a Praça Saraiva pode ser
considerada uma praça dominada, pois foi organizada a partir de
um elemento que determina as principais relações espaciais, a
Igreja Nossa Senhora das Dores. Ainda baseado no autor, a Praça
Saraiva, também, pode ser considerada uma praça de igreja, já
que foi constituída graças à construção do templo religioso.
Figura 98: Destaque para o elemento dominante. Imagem Google Earth, modificada pela autora. Acesso11/12/2010.
Figura 99: Projeto da praça com intervenção viária simulado pela autora através do levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina – Acesso: 11/11/2010
CAPÍTULO II
120
Posteriormente, alterações foram feitas na estrutura espacial da praça, principalmente a abertura de uma avenida
dentro do seu perímetro, que funciona como corredor de ônibus. Porém, parte da praça, ainda se encontra com a mesma
estrutura do projeto inicial, com programa apenas contemplativo devido sua intensa arborização, sem nenhum
equipamento público. Mas, hoje, com o projeto de alteração viária, a praça é marcada pelo fluxo diário de pessoas atraído
Figura 100: Corte esquemático da situação atual da Praça Saraiva.
CAPÍTULO II
121
pelo centro irradiador de linha de ônibus. Mas exatamente por isso não permite criar raízes, sendo um ponto obrigatório,
porém somente de passagem.
Sua topografia também pode ser considerada plana por
possuir desníveis não perceptíveis. Observa-se que, assim como
a Marechal Deodoro a Praça Saraiva é conformada por quatro
vias de acesso local e são delimitadas por construções em todo
o seu perímetro, proporcionando o surgimento da praça em
forma retangular (ver figura 101).
Figura 101: Esquema da Saraiva conformada por quatro vias (adaptado pela autora).
CAPÍTULO II
122
VEGETAÇÃO
Na Praça Saraiva, observa-se, também, que
a massa de vegetais existentes está inserida
dentro desses dois grupos, horizontais e verticais,
predominando as primeiras. Estas constituem uma
cobertura que proveem ao transeunte sombra que
transforma os espaços sob suas copas em lugares
agradáveis. Não foi identificada, por sua vez,
nenhuma árvore de copa vertical com função
significativa na paisagem da praça.
A Praça Saraiva é composta, também, por
árvores de grande porte e de copas horizontais, as
quais proporcionam muita sombra, amenizando,
aos transeuntes do local, as altas temperaturas
constantes da cidade.
Figura 102: Grande massa de arborização provocando grandes áreas de sombreamento. Fonte: Google Earth. Acesso em 20/11/2010.
Figura 103: vista das árvores - copa horizontal. Fonte: Arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
123
Porém, verificam-se aqui os mesmo problemas
encontrados na Praça Mal. Deodoro: canteiros maltratados
e bloqueio visual causado pela copa das árvores (ver
imagens 104 e 105). Figura 104: vista canteiros descuidados. Foto: Ianna Raposo, 2010.
Figura 105: Bloqueio visual causado pela copa das árvores. Foto: Ianna Raposo, 2010.
CAPÍTULO II
124
MOBILIÁRIO URBANO
1. Bancos
Foi identificado um único tipo de banco na Praça Saraiva, ou
seja, bancos que seguem um único padrão de desenho. São
bancos de concreto, sem encosto, pouco confortáveis que,
provavelmente, vem desde o projeto original da praça. Hoje,
muitos se encontram em estado deteriorado.
Quanto a sua disposição, estão locados abaixo das copas de
árvores, em áreas de sombreamento, muitos dispostos em linhas,
outros de maneira agrupada, não se notando, em nenhum deles,
obstáculo para o fluxo de pedestres.
2. Lixeiras
Na Praça Saraiva as lixeiras são de concreto e se
encontram, também, sem nenhuma manutenção. Foi identificada
apenas uma lixeira para toda a praça e seu desenho, apesar da
forma ser harmônica com os bancos existentes, não facilita o seu
manuseio, não se adequando aos padrões ergométricos exigidos.
3. Luminárias
A iluminação da Praça Saraiva é formada por equipamentos
mais baixos que os da Praça Marechal Deodoro, sendo mais
adequados para a iluminação dos pedestres. Porém, a quantidade
Figura 106: Tipo de banco existente. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 107: Tipo de lixeira existente. Fonte: Arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
125
e a disposição dos postes no recinto foram mal planejadas. Assim como na Praça Marechal Deodoro, observa-se uma
quantidade insuficiente de equipamento para a área e uma boa parte localizada em lugares indevidos, deixando a praça
mal iluminada no período noturno. O modelo de poste tubular, padrão decorativo de áreas públicas, foi reformado há pouco
tempo e tenta remeter ao modelo original da praça, mas destoam na composição da paisagem urbana da mesma.
Figura 108: Tipo de poste existente. Locação mal planejada. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 109: Deficiência na iluminação durante a noite, provocando o abandono da praça. Fonte: Arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
126
4. Pisos
Na Praça Saraiva os tipos
de pisos encontrados foram a
pedra portuguesa, bloquetes de
cimento e o cimento corrido. Em
algumas áreas esses pisos se
encontram em estado de
degradação. Observa-se uma
preocupação na composição do
desenho no caminho principal da
praça, que liga seus dois
elementos principais, o
monumento e a igreja. Já nos
caminhos secundários, notas-se
um menor apreço, pois a falta de
uniformidade da pavimentação faz
com que a mistura de materiais
provoque uma ruptura entre as
partes causando poluição visual
na paisagem.
Figura 110: Gráfico elaborado pela autora. Arquivo pessoal
Figura 111: Pedra portuguesa: desenho do piso do caminho principal. Fonte: Arquivo pessoal.
Figura 112: bloquete de concreto e cimento corrido: vista da falta de uniformidade da pavimentação. Fonte: Arquivo pessoal.
O ENTORNO
A malha urbana da Praça Saraiva é formada por quatro áreas que apresentam
edificações mescladas de serviços e comércios, onde predomina o comércio, com con-
fluências na Av. Rui Brabosa, Félix Pacheco, Barroso e Olavo Bilac.
4 5 6 7 8
1 2 3
9 10 11
CAPÍTULO II
128
Na face Oeste, esta a Av. Rui Barbosa onde se localiza edifícios destinados ao comércio. Destaca-se ali uma das
edificações mais importantes em termos de referências arquitetônicas da cidade: a Casa da Cultura de Teresina, antiga
casa do Barão de Gurguéia – o responsável pela construção da igreja da praça. A casa possui uma arquitetura eclética e
foi construída na segunda metade do séc. XIX.
Vista observada pela posição 01 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
Vista observada pela posição 02 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
129
Na face Sul, encontra-se a Olavo Bilac, avenida que contorna a igreja, com trânsito moderado. Esta área abriga
edifícios destinados a serviços, e, hoje, possui algumas edificações em desuso.
Vista observada pela posição 03 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
Vista observada pela posição 04 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
130
Vista observada pela posição 05 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
Na face Leste, na Rua Barroso, está o Colégio Diocesano, edifício tombado, de arquitetura eclética, construído na
mesma época da Casa da Cultura. Ambos os edifícios são responsáveis por parte do fluxo da região.
Vista observada pela posição 06 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
131
Vista observada pela posição 07 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
Vista observada pela posição 08 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
132
Na face Norte da praça, a região da Av. Félix Pacheco, possui um trânsito intenso de veículos e pedestres, e nela se
localiza o corredor de ônibus, que passa por dentro da praça, e ladeia a avenida. Nessa face predominam os edifícios
Vista observada pela posição 09 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
Vista observada pela posição 10 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
133
destinados ao comércio.
Atualmente, verifica-se que a Praça Saraiva tornou-se apenas um ponto de passagem para pessoas que se
deslocam para o corredor de ônibus, o qual passa por dentro da praça e ladeia a avenida, perdendo sua real função de
praça. Apesar do intenso movimento ao seu redor devido à presença de lojas comerciais, escola e instituição pública, o
que se constata é que a praça permanece em desuso durante o dia e, mais intensamente, no período noturno.
Vista observada pela posição 11 de acordo com o gráfico ao lado. Fonte: Arquivo pessoal
CAPÍTULO II
134
2.2. AS PRAÇAS COMO ELEMENTOS DO DESENHO DA PAISAGEM E COMO ESPAÇOS DE PERCEPÇÃO E
APROPRIAÇÃO
Para além da morfologia, é preciso compreender as possibilidades de leitura, percepção e vivência dos espaços
livres, o que deve estar presente na mente do projetista no momento de sua criação, objetivando não apenas a leitura
visual, mas também seu significado humano.
Esse contato do indivíduo com o mundo exterior lhe permite compreender as figuras presentes no espaço urbano e
identificar as imagens por meio das formas. De acordo com Gomes (1997) no seu estudo “Percepção do Ambiente
Construído: A Praça”, a imagem mental é o produto final da percepção e da cognição. Para o autor, a percepção “(...)
concerne à apreensão imediata dos estímulos do ambiente por um ou mais sentidos. Ocorre por causa da presença de um
objeto. Está estritamente conectada com eventos nas proximidades e é, em geral, ligada a um comportamento imediato.”
(GOLLEDGE, 1987, apud GOMES, 1997, p.48). Por sua vez, “a cognição é um processo taxonômico e o mundo obtém
significado através do fato nomeado, classificado e ordenado, mediante determinados instrumentos conceituais.”
(RAPOPORT, 1978, apud GOMES, 1997, p.48).
Assim, as pessoas reagem aos ambientes de acordo com sua estrutura perceptora e cognitiva que, embora comum
a todas as pessoas, é determinada pelas suas experiências guardadas na memória. Através da percepção o indivíduo
pode produzir uma consciência espaço-temporal do ambiente que o cerca e o processo cognitivo o permite guardar e
organizar as informações percebidas do meio. A percepção é um estímulo imediato e dependente, enquanto a cognição
não depende da imediaticidade e nem da proximidade. Fazem parte da estrutura cognitiva os valores, as crenças, os
preceitos e as atitudes que as pessoas têm sobre o ambiente.
CAPÍTULO II
135
Para Januzzi (2000) a relação entre a arquitetura e o espaço desperta a emoção das pessoas, fazendo com
que um lugar tome forma e significado dentro do ambiente urbano. Hertzberger (1999, p.151) esclarece que:
“Como as palavras e as frases, as formas dependem do modo como são ‘lidas’ e das imagens que são capazes de suscitar para o «leitor». Uma forma pode evocar imagens diferentes em pessoas diferentes e em situações diferentes, e, deste modo, assumir um significado diferente, e esta experiência é a chave para uma consciência modificada da forma. Uma consciência que nos tornará capazes de fazer coisas que possam se adaptar melhor a mais situações.”
E ao fazer uma leitura dos aspectos visuais da paisagem, pode-se analisar e classificar as qualidades componentes
da paisagem urbana, procurando as qualidades emocionais e ambientais que possam gerar atributos que valorizem os
ambientes. Portanto, segundo Del Rio (1955, p.92):
“O estudo da percepção ambiental interessa-nos enquanto compreensão das unidades selecionadas para compor a experiência visual. Para o Desenho Urbano, os objetivos principais destes estudos se tornam claros: a identificação de imagens públicas e da memória coletiva. A partir do estudo do que os usuários percebem, como e com que intensidade pode-se montar diretrizes para a organização físico-ambiental.”
Nesta perspectiva, para fundamentar esta segunda parte da pesquisa, têm-se como base os trabalhos já realizados
por Gordon Cullen, Kevin Lynch, e Cesari, onde estes desenvolvem estudo sobre o conhecimento do meio ambiente
através de sua denominação, classificação e ordenação e organização mediante o uso de determinados instrumentos
conceituais. Neste aspecto, Gordon Cullen acredita que o meio ambiente suscita reações emocionais através dos aspectos
visuais, analisa as qualidades ambientais, estuda a paisagem urbana que possibilita a interferência local. Para isso, ele
leva em consideração três aspectos:
CAPÍTULO II
136
§ Óptica: a paisagem urbana da cidade surge como uma série de efeitos visuais, como uma sucessão de
surpresas ou revelações. De acordo com o autor isso é o que se entende por visão serial, ou seja, embora
considere a cidade como um todo, do ponto de vista visual tem-se dois pontos de vista a considerar: Imagem
existente e a imagem emergente.
§ Lugar: diz respeito à reação das pessoas perante a sua localização no espaço. Uma vez que o corpo humano
se relaciona instintivamente com o meio em que se encontra, sua reação perante a situação de um
determinado local provoca sensações que devem ser exploradas na planificação do ambiente, valorizando,
assim, o espaço urbano.
§ Conteúdo: este aspecto exalta a própria constituição da cidade, ou seja, a sua cor, textura, sua escala, estilo,
natureza, personalidade e tudo que identifica os elementos que formam o espaço urbano.
Já Kevin Lynch (1981) busca examinar estudos de percepção ambiental, nos quais a paisagem urbana deve ser
formada por elementos que devem ser vistos e lembrados com prazer. Portanto, ele adota idéias qualitativas, como:
legibilidade; identidade, estrutura e significado; imageabilidade. Legibilidade- facilidade com o qual as partes podem ser
reconhecidas e organizadas numa estrutura coerente. Identidade, estrutura e significado- tratam da identificação de um
objeto, de sua relação estrutural e espacial e do significado prático ou emocional que este lugar deve ter para o
observador, enquanto que Imageabilidade - é a qualidade de um objeto de proporcionar uma “forte imagem” para o
observador. Para ele, os elementos da imagem da cidade são classificados em percursos (vias, canais, ruas, passeios,
linhas de trânsito, caminhos, etc.); limites (demarcação de uma área); setores (áreas da cidade com própria identidade);
nós (locais estratégicos da cidade, que podem ser de concentração ou de convergência); marcos (referências que se
destacam na paisagem).
CAPÍTULO II
137
Dentro dessa ótica e conforme Bartallini (1980), Maurice Cerasi, em La Lectura del Ambiente (1977), considera
que o fator preponderante na leitura do meio ambiente é a maneira de desfrutá-lo. Logo, é importante para o arquiteto ou
projetista compreender como isto acontece. Para Cerasi, pela leitura visual do espaço busca-se captar seu significado
humano, não somente na morfologia, porém nas experiências de vida que ali ocorre. De acordo com Bartallini (1988)
Cerasi propõe a «leitura ativa do ambiente» baseado na constatação de que o ambiente é lido na medida em que é usado.
Cerasi dá como exemplo desta leitura, o palácio Ducal de Urbino, reconstituído no sec. XV, onde ele realiza três tipos de
leitura deste conjunto. Estas leituras foram baseadas no que chama de estrutura estilística, estrutura ambiental e
elementos de decoração. Na comparação entre esses três esquemas de leitura, ele enfatizou a importância dos elementos
de transição (no caso do palácio, portas, vestíbulos, passagens) na «leitura ativa», estes entendidos como elementos
agregadores dos espaços.
Segundo Bartallini (1988) o fato de esta leitura ter-se efetuado no espaço de um edifício não parece constituir
obstáculos a sua aplicação aos espaços livres urbanos. Pelo contrário, talvez até se enriqueça devido à maior diversidade
de situações espaciais e de atividades que os espaços públicos carregam em potencial.
Portanto, o objetivo maior desses estudos é organizar os espaços urbanos em benefício da comunidade. Por isso,
nesta parte da pesquisa, esses conceitos serão aplicados como base na análise das praças Marechal Deodoro e Saraiva,
avaliando-se as possibilidades de aproveitamento dos seus espaços e contribuindo para soluções de projetos, podendo
colaborar com os planejadores na elaboração de ambientes que proporcionem uma maior satisfação ao usuário.
CAPÍTULO II
138
2.2.1. PERCEPÇÃO, APROPRIAÇÃO E ACESSIBILIDADE DOS ESPAÇOS LIVRES PÚBLICOS POR MEIO DE
UMA LEITURA PROJETUAL.
2.2.1.1 Praça Marechal Deodoro
De acordo com Del Rio (1955, p.92), o estudo da percepção ambiental interessa-nos enquanto compreensão da
unidade selecionada para compor a experiência visual. Para o desenho urbano, os objetivos principais destes estudos se
tornam claros: a identificação de imagens públicas e da memória coletiva. Conforme Januzzi (2000), a partir da visão, o
indivíduo estabelece contato com as imagens existentes no espaço urbano, os quais produzem reações emocionais no ser
humano. Porém, na composição dos ambientes urbanos, os elementos existentes podem não corresponder ao
desempenho desejado, causando conflitos visuais e prejudicando a qualidade dos espaços. De acordo com a teoria de
Lynch - a respeito da legibilidade, que ele considera uma das mais importantes qualidades visuais - uma boa imagem
ambiental dá ao seu possuidor um importante senso de segurança emocional. Para estruturar essa teoria, consideraram-
se, principalmente, dois dos aspectos observados por Cullen (2009): óptica e local.
Óptica é o aspecto relacionado com o que se entende por visão serial propriamente dita. Esta visão, que segundo
Cullen(2009,p.11) descreve da seguinte forma:” Imagine-se o percurso de um transeunte a atravessar uma cidade a passo
uniforme , e, que apesar do passo uniforme, a paisagem urbana surge na maioria das vezes como uma sucessão de
surpresas e ou revelações súbitas”. Assim sendo, foi feito um percurso no eixo central da praça a passo uniforme, de um
extremo ao outro, onde revela uma sucessão de pontos de vistas conforme se procura exemplificar nas imagens abaixo.
Cada seta representa um ponto de vista e a partir dessas imagens pode-se perceber o local analisado e instrumentar a
definir o que, como e com que intensidade, o usuário pode perceber e se apropriar do espaço.
CAPÍTULO II
139
Planta Praça Mal. Deodoro com indicação dos pontos de vistas. Gráfico elaborado pela autora. Fonte: PMT- em 10/02/2010.
A B
C
D E
F G H I J K L
M N O
CAPÍTULO II
140
A B C
D E F
CAPÍTULO II
141
G H I
J
CAPÍTULO II
142
K L M
N O
K L M
CAPÍTULO II
143
A progressão uniforme dos passos do observador vai sendo pontuada sempre por contrastes de perspectivas que
tornam o percurso mais dinâmico. Segundo Cullen (2009, p.19): “os mínimos desvios ao alinhamento, as pequenas
variações nas saliências e reentrâncias, em planta, têm um efeito dramático não proporcional na terceira dimensão.” A
sequência de fotos acima causa a sensação de descoberta ao atravessar a praça. As imagens demonstram a sensação de
se estar a desvendar um caminho para um novo cenário, poder vir a descobrir sempre uma nova paisagem se continua a
andar. A igreja com o monumento da cruz é um elemento marcante de separação da paisagem antiga com a paisagem
que se está a explorar. Transita-se para uma nova ambiência onde surge um novo eixo de perspectiva convergindo a outro
elemento marcante e de separação de paisagens, o monumento de fundação da cidade, dando origem a mais uma
perspectiva que converge para o outro elemento, o rio. Porém, antes de chegar ao rio depara-se com uma contraposição
de volumes, o shopping da cidade e o metrô, construídos recentemente, que rompem a conexão praça e rio.
O segundo aspecto que diz respeito ao Local, relaciona-se às reações perante a posição do transeunte no espaço.
De acordo com Cullen (2009, p.23): “ a ocupação de determinados espaços ou linhas privilegiadas no exterior, os recintos,
pontos focais, paisagens interiores, etc., são outras tantas formas de apropriação do espaço.”Com isso, através dos itens a
seguir, apresentam-se alguns meios de apropriação observados na Praça Marechal Deodoro.
De acordo com Cullen (2009) “abrigo, sombra, conveniência e um ambiente aprazível” são as causas que levam à
apropriação de determinados espaços. Para ele, marcar esses locais com elementos de caráter permanente pode
colaborar para demonstrar os tipos de ocupação que existem nestes espaços e criar um ambiente que não seja “fluído e
monótono”, mas sim “estático e equipado”. Por exemplo, como mobiliário para esta apropriação, o autor cita os desenhos
no pavimento, postes de iluminação, abrigos, enclaves, pontos focais e recintos.
Cullen (2009, p.25) afirma que:
CAPÍTULO II
144
“ainda que o grau de ocupação do território seja relativamente fraco, o fato de haver no mobiliário sinal permanente dessa ocupação confere à cidade um caráter mais humano e diverso, da mesma maneira que as persianas nas janelas enriquecem os edifícios a nível de textura e proporção mesmo quando não recebem luz do sol.”
A imagem a seguir mostra a ocupação da praça
Marechal Deodoro pela população, através do recurso
do desenho do pavimento (ponto A), e por uma
espécie de abrigo que se forma pela sombra da copa
das árvores com o banco da praça (ponto B).
Figura 113: Esquema de apropriação da Praça Mal. Deodoro. Imagem modificada
pela autora em 04/10/2010. Fonte: Arquivo Pessoal.
CAPÍTULO II
145
RECINTOS E PONTO FOCAL
Segundo Cullen (2009), “recinto é síntese
da polaridade entre a circulação de pessoas e de
veículos. É a unidade base duma certa morfologia
urbana. O recinto é o objetivo da circulação, o
lugar para onde o tráfego nos conduz; no interior,
o sossego e a tranqüilidade de sentir que o largo,
a praceta, ou o pátio têm escala humana.”
Associado ao recinto e, com este,
determinando a ocupação de um determinado
espaço, para Cullen (2009, p.28) o ponto focal é:
“o símbolo vertical da convergência. Nos largos
de mercado de vilas e cidades, o ponto focal (seja
coluna ou cruz) define a situação, surge como
uma confirmação: é este o local que procuravam.
Pare!” Hoje, na maioria das cidades, estes pontos
focais ainda possuem uma nitidez suntuosa, em
outras, são retirados ou isolados, devido às
exigências dos fluxos de pedestres e veículos.
Figura 114: Recinto - Praça Mal. Deodoro. Imagem tirada pela autora em 18/07/2010.
CAPÍTULO II
146
Na Praça Marechal Deodoro os pontos focais são
marcados pela cruz (1) - em frente da primeira Catedral e que
demarca a construção da cidade - e pelo primeiro monumento (2)
da cidade de Teresina. Este foi inaugurado em 1958 como
demonstrações da cidade ao seu fundador. Portanto, pode-se
afirmar que, a partir desses dois pontos, estruturou-se
originalmente o projeto da praça.
Figura 116: Vista pontos focais da Praça Mal. Deodoro. Projeto original da praça simulado pela autora através do levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina – Acesso: 18/05/2010.
Figura 115: Vista pontos focais da Praça Mal. Deodoro. Imagem modificada pela autora em 06/10/2010. Fonte: Arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
147
LIGAÇÃO: PAVIMENTAÇÃO, CAMINHOS E BARREIRAS
Segundo Lynch (1981: 53) a circulação viária é um dos elementos mais poderosos para estruturação da imagem
urbana, portanto não pode ser tratado apenas como um sistema de movimento:
“Um dos fatores básicos na democratização da cidade uma vez definidora da acessibilidade, a circulação viária, o transporte público e o estacionamento devem ser entendidos como vitais para a animação e a sobrevivência social e econômica de uma área, em soluções conciliadoras”
De acordo com Cullen (2009), o ambiente construído encontra-se cada vez mais fragmentado em zonas
desconexas: casas de um lado, árvores para o outro. A partir desta constatação, o autor estuda diversos exemplos de
ligação e conexão do meio urbano, dando ênfase aos seus aspectos mais simples: “pavimentação, caminhos para peões e
barreiras.”
Para esse autor é a rede de caminhos para pedestre que transforma a cidade numa estrutura transitável, ligando os
vários locais por meio de degraus, pontes, pavimentos de diferentes padrões, ou por outros elementos de conexão que
permitam manter a continuidade e acessibilidade. “Enquanto as vias motorizadas são fluidas e impessoais, os caminhos
para peões, insinuantes e ágeis, conferem à cidade a sua dimensão humana.” (CULLEN, 2009, p.56).
Observando a conexão na Praça Marechal Deodoro, observa-se: a área pavimentada de lajes e cimento contínuo
são vias de rápida circulação para pedestres (A). Estas se diferenciam do outro tipo de pavimento - pedras portuguesas -,
no tipo de material, desenho e uso. Este último demarca o ponto focal da praça, criando um espaço de contemplação, pois
nele convergem os eixos principais da praça que ligam a mesma com a cidade(B).
CAPÍTULO II
148
Figura 117: ligação e conexão da praça através da pavimentação. Fonte: arquivo pessoal.
.
Figura118: sentido que ocorre o principal Fluxo da praça. Fonte imagem: Google Earth. Acesso em 20/11/2010.
CAPÍTULO II
149
Esta conexão foi parcialmente alterada pelas modificações que a praça sofreu para se adequar ao sistema viário:
parte dela foi tomada para abrigar estacionamentos e mais recentemente, foi construído o shopping da cidade, o qual
tomou parte do perímetro da praça.
Nesse processo, o fato de criar determinadas ligações do ponto de vista visual, poderia criar, também, o livre acesso
físico. Não é o caso na Praça Marechal Deodoro que foi gradeada. Conforme Cullen (2009), as grades são consideradas
barreiras físicas, elas permitem o acesso visual, mas pode ser considerada uma restrição física.
Figuras 119 e 120: estacionamento Praça Mal. Deodoro e Shopping da cidade. Fotos tiradas pela autora em 18/07/2010.
CAPÍTULO II
150
Figura 121: Gráficos elaborados pela autora: Imagens tiradas pela autora em 18/07/2010
CAPÍTULO II
151
2.2.1.2. Praça Saraiva
Planta Praça Saraiva com indicação dos pontos de vistas. Gráfico elaborado pela autora. Fonte: PMT- em 10/02/2010.
A B C
D
E
F
G
H
I
CAPÍTULO II
152
A B C
D E
CAPÍTULO II
153
F G H
I
CAPÍTULO II
154
Por esta sequência de imagens acima da Praça Saraiva, diferente da Marechal Deodoro, nota-se um caminho sem
muitas mudanças de perspectivas, como se fosse uma única fotografia reproduzida várias vezes, sendo, de cada vez,
ampliada a parte central para se obter um plano cada vez mais próximo do edifício terminal (A igreja). O monumento ao
Conselheiro Saraiva antes o ponto focal de convergência para a perspectiva do eixo central da praça, hoje é, também, o
elemento de separação dos ambientes, antes, um só ambiente – praça. Logo depois parte da praça foi tomada por um
corredor de ônibus que junto com ambulantes transformaram-na em um outro espaço independente.
Assim como na Praça Marechal Deodoro, a
ocupação da Praça Saraiva pela população se dá
através do recurso do desenho do pavimento (ponto
A), e por uma espécie de abrigo que se forma pela
sombra da copa das árvores com o banco da praça
(ponto B) (ver imagem 122).
RECINTOS E PONTO FOCAL
A Praça Saraiva é, também, considerada um recinto
pontuado por árvores e bancos que permitem
descanso e contato humano.
Figura 122: Esquema de apropriação da Praça Saraiva. Imagem modificada pela autora em 04/10/2010. Fonte: Arquivo Pessoal.
CAPÍTULO II
155
Na Praça Saraiva o ponto focal é a igreja
Nossa Senhora das Dores, cuja construção deu
origem à praça. O segundo ponto construído foi a
estátua do Conselheiro Saraiva (o responsável
pela mudança da capital do Piauí para Teresina).
O eixo principal da praça é ligado por esses dois
pontos e dele se estruturam os caminhos
secundários.
Figura123: Recinto - Praça Saraiva. Imagem tirada pela autora em 18/07/2010.
Figura 124: Vista pontos focais da Saraiva. Projeto original da praça simulado pela autora através do levantamento da praça nos dias atuais. Fonte: Prefeitura Municipal de Teresina – Acesso: 18/05/2010
CAPÍTULO II
156
LIGAÇÃO: PAVIMENTAÇÃO, CAMINHOS E BARREIRAS.
Na ligação da Praça Saraiva observa-se: a área pavimentada de bloquetes e cimento contínuo são as vias
secundárias(B); já a via principal – eixo central que liga a os caminhos secundários para a igreja e monumento - é
constituída por pedras portuguesas (A).
Figura 125: Ligação e conexão da praça através da pavimentação. Fonte: Arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
157
Esta conexão foi parcialmente alterada pelas
modificações que a praça sofreu para se adequar ao
sistema viário, pois, assim como aconteceu com a Praça
Marechal Deodoro a Praça Saraiva é um exemplo de como
o espaço público pode sofrer grandes modificações para
se adequar ao sistema viário. Boa parte da sua estrutura
sofreu modificações, primeiro com uma via que corta a
praça e é passagem obrigatória dos ônibus, o que torna a
praça um centro de irradiação física, e é nessa via que
ocorre o principal fluxo da mesma. Outra mudança foi à
criação de estacionamentos, que tomam as laterais da
praça.
Figura 126: sentido que ocorre o principal Fluxo da praça. Fonte imagem: Google Earth. Acesso em 20/11/2010
CAPÍTULO II
158
Figura 127: imagens das modificações que ocorreram na estrutura física da praça. Fonte: arquivo pessoal.
CAPÍTULO II
159
Quanto às barreiras físicas, nota-se que a
Praça Saraiva também foi gradeada. Estas, que são
consideradas barreiras físicas, permitem o acesso
visual, mas dificultam o acesso ao lugar.
Contudo, primeiramente se analisou a Praça
Marechal Deodoro, em seguida, a Praça Saraiva.
Com isso, levantou-se como se encontram
atualmente as praças quanto seu aspecto
morfológico em relação a elas mesmas, e em
relação à cidade; e como as análises da paisagem
urbana das praças mostram o modo de apropriação
e acessibilidade das mesmas pela população.
Assim a partir da análise pretende-se agora
identificar os pontos fortes e os pontos fracos de
ambas para diagnosticar as ameaças e
oportunidades que possam contribuir para possíveis
intervenções de requalificação dessas áreas.
Figura 128: Gradeamento da Praça saraiva: Barreira física. Fonte: Arquivo pessoal.
CAPÍTULO III
160
CAPÍTULO III | DIAGNÓSTICO
A realização desta pesquisa sobre as praças Marechal Deodoro e Saraiva permitiu um estudo mais detalhado sobre
suas morfologias, tanto dos seus elementos formadores como da sua totalidade tridimensional, e a análise relacionada à
percepção de seus ambientes e apropriação dos mesmos. Assim, obtiveram-se as informações necessárias que
permitiram a elaboração de um Diagnóstico, no qual serão feitas considerações acerca do estado de conservação das
praças, dos elementos constituintes desses espaços livres públicos, suas articulações e barreiras com o tecido urbano, as
transformações funcionais e os meios de fruição e apropriação desses espaços, a fim de orientar e fundamentar futuros
projetos de intervenções urbanas para este setor.
É importante ressaltar aqui que este diagnóstico recorta o problema, definindo o nível de prioridades e a natureza da
ação, identificando as particularidades locais e embasando as propostas de intervenção no sentido de preservar ou
reafirmar essas mesmas especificidades e garantir soluções heterogêneas para as intervenções futuras.
Assim, para compreender ainda melhor o desempenho das praças, e fundamentar este capítulo, é importante
lembrar o exemplo da Filadélfia, citado por Jacobs (2007). Quando foi projetada, a cidade possuía em seu centro uma
praça, hoje ocupada pela prefeitura e, eqüidistante do centro, quatro praças construídas na mesma época, com o mesmo
tamanho e a mesma dimensão. A autora verificou que o destino de cada uma delas foi muito diferente ao longo do tempo.
A primeira delas, Rittenhouse, localizada em um bairro elegante, é local adorado pela população e muito bem freqüentado.
Esta praça tem sempre um movimento contínuo pela diversidade física funcional de usos do seu entorno. Por isso, a
variedade de usuários dos edifícios ao redor da praça faz com que esta seja visitada freqüentemente em horários
diferentes. A segunda, Franklin Square, que inicialmente era um parque em área residencial que possuía uma boa relação
com sua vizinhança, hoje fica no meio de cortiços, pensões e lojas de roupas usadas e é muito freqüentada por sem-teto,
CAPÍTULO III
161
mendigos e desempregados. Não é um local violento, porém seus freqüentadores e seu entorno têm má-fama. Por isso,
planeja-se desocupar toda sua vizinhança.
A terceira delas, Washington Square, fica no meio de uma área de escritórios. Por não haver diversidade de uso em
seu entorno, transformou-se em um local tão violento que os funcionários dos escritórios evitam passar por ela no horário
do almoço. A última das quatro praças, Logan Circle, por ser localizada na confluência de rodovias, foi transformada em
uma ilha de tráfego, sendo um local mais contemplado por quem passa de carro do que visitado. De tudo isto, de acordo
com Jacobs (2007), conclui-se que a melhor maneira de revitalizar qualquer tipo de projeto isolado, antes de ele ser
efetivamente construído, é refletir melhor sobre ele.
Portanto, este trabalho considera que a primeira ação a fazer para a revitalização de uma área é diagnosticar as
condições em que ela se encontra para ajudar na realização de futuros projetos que representem o desenvolvimento da
arquitetura do espaço público, dando ênfase às praças. Para chegar a este diagnóstico, primeiramente, foi estudado o
espaço público praça e, depois, especificamente, analisadas as Praças Marechal Deodoro e Saraiva, quanto as suas
estruturas físicas em um estudo de sua morfologia, e quanto à percepção, apropriação e acessibilidade dos espaços livres
públicos por meio de uma leitura projetual. Considerando-se, segundo demonstrou a análise acima citada, que as praças
apresentaram grandes semelhanças, conforme ficou evidenciado ao longo deste trabalho, pode-se concluir que ambas se
assemelham também em seus pontos fortes, que devem ser potencializados, e os pontos fracos, que devem ser
melhorados, como será demonstrado a seguir.
Observou-se que, apesar das modificações sofridas, a Praça Marechal Deodoro ainda conserva a essência do seu
traçado original, nucleando importantes equipamentos, como o monumento principal e a igreja, os elementos mais
significativos que estão junto a praça desde a sua origem. A igreja não é apenas referência religiosa e simbólica(uma
marca de outra época), mas também um importante referencial paisagistico e artístico da cidade, sendo um ponto de
CAPÍTULO III
162
afluência de muitos transeuntes. Porém, devido às modificações ocorridas, muitos elementos da praça encontram-se
desconfigurados, sem seguir um padrão e em mau estado de conservação.E mesmo aos marcos e monumentos
conservados falta uma identificação e valorização dos mesmos, pois eles não possuem uma boa visibilidade na paisagem
urbana, comprometendo sua função de referência histórica e paisagística. A igreja , por exemplo, está comprometida pelas
construções e instalações próximas. Portanto, a praça e os elementos históricos ali situados (marcos e monumentos) não
possuem o destaque urbanístico adequado, não cumprindo plenamente sua função institucional de difusão da história e
formação da identidade local.
Quanto à massa de arborização na Praça Marechal Deodoro, formada essencialmente por árvores de copa
horizontal e de grande porte, como se viu no capitulo 2, é densa proporcionando um conforto térmico aos transeuentes que
ali circulam e aos edifícios próximos à praça. Nota-se, no entanto, uma ausência de projeto paisagístico mais eleborado,
que criasse novos recantos na praça, e uma falta de planejamento do plantio das árvores no decorrer das mudanças que a
praça sofreu, causando uma barreira visual que dificulta a visibildade da praça , dos marcos e referências. Não existe,pois,
uma vegetação planejada para integrar a praça ao seu entorno e nem as usam para servir de direção aos monumentos da
praça, enfatizando-os.Por sua vez, a falta de espaço para o crescimento de algumas espécies e o excesso para outras
provocam desarmonia no conjunto, segregando o espaço e dificultando a circulação.
Na Praça Marechal Deodoro foram analisados os bancos, as lixeiras, as luminárias e o piso. No que se refere aos
bancos, nota-se um aspecto positivo quanto à disposição da maioria deles em lugares aprazíveis, abaixo das sombras
feitas pelas copas das árvores. Todavia,foram registrados três modelos, sem a preocupação com a integração no desenho
dos mesmos, fragmentando a paisagem da praça e dificultando sua manutenção causando depredação. Alguns dele são
pouco confortáveis, sem um desenho adequado ergonomicamente.
CAPÍTULO III
163
Quanto às lixeiras não se registrou nenhum aspecto positivo, pois existem em pouca quantidade, não atendendo à
demanda da praça e, também, não houve uma preocupação com o desenho tanto no que favoreça a estética como a
praticidade do seu manuseio e manutenção.Já as luminárias estão alocadas em postes altos, usados na iluminação
pública das cidades, em boa quantidade na praça, mas faz falta uma iluminação mais aguda, direcionada para os
pedestres e para valorização dos pontos focais, sejam de vegetação, sejam de elementos arquitetônicos. Com isso, o que
se observa é a falta do sentido de escala, com a instalação somente de postes grandes para o recinto, deixando a praça
com uma iluminação inadequada. Nota-se, também, que a altura dos postes confunde-se no meio das copas das árvores,
prejudicando ainda mais a iluminação da praça. Constatou-se, então, que os mesmos estão subdimencionados e mal
localizados. Além disso, a quantidade de postes registrados é insuficiente para atender à demanda necessária da área
total da praça.
Em relação à pavimentação, foi registrada a disposição da pedra portuguesa e sua utilização de desenho no piso.
Esta, entretanto, é formada por diferentes tipos de materiais, não havendo a preocupação na conexão dos mesmos,
especialmente no seu desenho, proporcionando uma descontinuidade visual e formal no piso. Assim, outros tipos de piso
poderiam ser propostos para valorizar as diferenças no percurso, atraindo pedestres e enfatizando as direcionalidades da
praça.
Constatou-se, ainda, que o entorno da Praça Marechal Deodoro conserva seu caráter de centro cívico, pois reúne à
sua volta significativas edificações públicas. Estes edifícios são considerados patrimônio histórico da cidade devido à
importância da sua arquitetura (neoclássica e moderna) e os graus de conservação e de uso destes edifícios estão acima
da média da região central. No entanto, no entorno não há uma diversidade de uso, pois predomina o uso comercial,
provocando uma concentração insuficiente de pessoas, principalmente no período noturno, causando o esvaziamento da
CAPÍTULO III
164
praça e da área que a circunda. O programa que abriga esses edifícios, todavia, poderia ser repensado em função de
novos usuários.
Em relação à Praça Saraiva, observou-se que o monumento principal, junto com a igreja e seu bosque de árvores,
são os elementos mais significativos que estão junto à praça desde a sua origem, e assinalam que esta praça mantem seu
projeto original contemplativo, sofrendo poucas modificações em seus equipamentos. No entanto, na estrutura espacial da
praça foi feita uma intervenção marcante com a abertura de uma avenida dentro do seu perímetro, que funciona como
corredor de ônibus e toma parte da sua estrutura física, tendo sido cortadas algumas árvores centenárias da mesma.
Como acontece na Praça Mal. Deodoro, os marcos e monumentos desta praça também estão conservados, mas falta uma
identificação e valorização dos mesmos.
Assim como foi dito da Praça Mal. Deodoro, a massa de arborização da Praça Saraiva também é densa,
proporcionando um conforto térmico às pessoas que ali transintam e aos edificios próximos a ela. Observou-se que houve
aqui, como na Praça Marechal Deodoro, uma falta de planejamento do plantio das árvores no decorrer das mudanças que
a praça sofreu, causando uma barreira visual que dificulta a visibilidade da praça, dos marcos e referências. Também não
existe uma vegetação planejada para integrar a praça ao seu entorno e nem são usadas para servir de direção aos seus
monumentos, não enfatizando o efeito paisagístico.
Quantos aos bancos, com um único tipo de desenho, nota-se que estão alocados abaixo das copas de árvores, em
áreas de sombreamento, muitos dispostos em linhas, outros de maneira agrupada, não se notando, em nenhum deles,
obstáculo para o fluxo de pedestres. Porém, foram registrados bancos de concreto, sem encosto, pouco confortáveis que,
provavelmente, existam desde o projeto original da praça. Mas hoje, muitos se encontram deteriorados.
CAPÍTULO III
165
Quanto às lixeiras, tal como acontece na Praça Mal. Deodoro, não foi resgistrado nenhum aspecto positivo, pois são
em pouca quantidade, não atendendo à demanda da praça e também não houve preocupação com o desenho, tanto no
que favoreça a estética como na praticidade do seu manuseio e manutenção.
No que diz respeito às luminárias, foram encontrados postes de altura média, sendo estes os mais adequados para
os pedestres. Mas em relação à quantidade e à disposição dos postes no recinto, estas foram mal planejadas, pois como
na Praça Marechal Deodoro, observa-se uma quantidade insuficiente desse equipamento para a área e uma boa parte fica
localizada em lugares indevidos, como aqueles que ficam ocultos sob as copas das árvores, tornando a praça mal
iluminada no período noturno. O modelo de poste tubular da praça foi reformado há pouco tempo e tenta remeter ao
modelo original da mesma, mas o resultado destoa na composição da paisagem urbana da mesma.
Observa-se no piso uma preocupação na composição do desenho no caminho principal da praça (pedras
portuguesas), que liga seus dois principais elementos, o monumento e a igreja. Na pavimentação,assim como foi
constatado na Praça Marechal Deodoro, foi observada uma ruptura visual e formal do piso, pois este é formado por
materiais diversos, não havendo a preocupação na conexão entre eles, provocando um desconforto visual do mesmo.
No entorno da Praça Saraiva destacam-se algumas edificações importantes em termos de referências
arquitetônicas da cidade: a Casa da Cultura de Teresina, antiga casa do Barão de Gurguéia – o responsável pela
construção da igreja da praça- e o colégio Diocesano. Ambos possuem uma arquitetura eclética e foram construídos na
segunda metade do séc. XIX. Porém, como acontece no entorno da Praça Marechal Deodoro, observou-se a não
diversidade de usos dos edifícios e da vizinhança. Pelo predomínio de edifícios comerciais, há uma falta de variedade de
usuários na praça em horários diferentes, provocando uma concentração insuficiente e esvaziamento, principalmente no
período noturno.
CAPÍTULO III
166
Pode-se ressaltar ainda que em ambas as praças há uma grande presença humana durante o dia, o que faz com
que estes espaços preservem, embora por meios diversos,o que sempre caracterizou uma praça: um espaço para
convivência humana. Esta presença humana impede que elas se tornem grandes museus a céu aberto a testemunhar que
ali já funcionou uma praça. Outro fator importante é o abrigo natural formado pela sombra das árvores e os bancos das
praças, visto que Teresina apresenta elevadas temperaturas praticamente o ano inteiro. Estes abrigos oferecem aos
transeuntes um aprazível refúgio da elevada sensação térmica e um espaço para contemplação e descanso.
Outro item observado foram as barreiras criadas pelas grades que circundam os perímetros das duas praças
estudadas. Ao lado destas grades ficam os estacionamentos de carros que terminam reforçando esta barreira com uma
dupla camada, veículos e grades. Além disso, no caso da Praça Marechal Deodoro, o recém construído Shopping Cidadão
criou mais uma barreira no lado Oeste da praça, impedindo a integração desta com o rio Parnaíba - que é lindeiro à praça -
além de tomar parte de sua área. Já na Praça Saraiva, os estacionamentos que a circundam e o corredor de ônibus que
tomaram parcialmente seu perímetro, constituem uma barreiras físicas, que dificultam a mobilidade e o acesso de
pedestres entre a praça e as atividades em interface, como comércio e serviços.
Portanto, os próximos exemplos, baseados em estudos de casos retirados do livro Novos Espaços Urbanos, de Jan
Gehl e Lars Gemzoe (2001) demonstram possíveis propostas que viabilizam a melhoria das praças em estudo.
Primeiramente, o exemplo da cidade de Lyon, França, que, assim como Teresina, o centro da cidade fica entre dois rios,
Rhône e Saône, a terceira maior cidade da França com 1,3 milhões de habitantes. A política dos espaços públicos em
Lyon engloba renovações em toda a cidade, embora enfatize as áreas centrais, com o objetivo de formular uma cidade
melhor para todos.
CAPÍTULO III
167
Em Lyon, em menos de uma década, centenas de projetos de melhoria urbana foram conduzidos para renovar
áreas ao ar livre entre grandes blocos residenciais dos subúrbios, englobando também a renovação das principais ruas e
praças urbanas. Foram criados estacionamentos sob as praças renovadas, os carros foram retirados do centro urbano, os
bancos e postes de iluminação de materiais definidos e de alta qualidade foram dispostos em áreas residenciais, no centro
e nos subúrbios da cidade, simplificando a manutenção e atendendo igualmente as diversas partes da cidade.
Figuras 129 e 130: Imagens do centro da cidade entre os rios Rhône e Saône. No mapa as ruas de prioridade ao pedestre e as praças são assinaladas. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.34).
CAPÍTULO III
168
De forma semelhante, Estrasburgo conduziu um extenso projeto de renovação urbana, no qual, também, a mudança
no transporte público e tráfego de veículos inspiraram a requalificação de praças, ruas e caminhos ao longo da sua rota. A
Place Kléber localizada na área central da cidade, considerada a praça principal rica em tradição, foi renovada em1993.
Durante muito tempo a praça foi utilizada como campo de treinamento militar, mercado e espaço central da cidade. Em
Figura 131: Place de La Bourse. Mobiliário renovado encontrados tanto no centro da cidade como nos subúrbios. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.38).
Figura 132: Place Antonin Poncet, com suas fontes que conectam cidade e água ao longo de uma avenida de tráfego pesado na margem do rio. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.39).
CAPÍTULO III
169
conexão com o grande programa de renovação urbana,
dois temas principais foram contemplados: o mercado e
a área de sombra. O espaço de mercado é definido
pela pavimentação central em pedra, onde diversas
atividades acontecem. A área de sombra sofreu uma
intervenção, e nela passou a localizar-se a maioria dos
equipamentos da praça: quiosques, escadarias,
elevadores, bancos e postes de iluminação. A
variedade dos equipamentos urbanos proporciona o
ritmo dinâmico, que enfatiza a posição da praça como o
ativo centro da cidade.
Figura 133: A diversidade dos equipamentos urbanos da Praça Kléber. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001,pg.51)
CAPÍTULO III
170
Antes da requalificação, os carros circulavam nos quatro lados da Place Kléber. Em 1992, 50.000 carros
atravessavam a praça diariamente. Depois da renovação de 1993, exceto as bicicletas e as novas linhas de bonde, a
praça inteira foi liberada do tráfego.
Outro exemplo aconteceu em Copenhague, na Dinamarca, na conversão da Praça Sankt Hans Torv, que passa de
antiga função de cruzamento tumultuado à praça para atividades recreativas. A maioria do tráfego que a ocupava foi
desviada, criando um novo espaço urbano. O espaço ainda possui um tráfego intenso ao longo do seu lado sudeste, mas
uma vida urbana desenvolveu-se ao redor dos cafés e fontes no lado ensolarado da praça. Os limites da superfície ao
Figuras134 e 135: Antes da renovação os carros circulavam nos quatro lados da Place Kléber. Após a renovação, 1993, com exceção das bicicletas e das novas linhas de bonde, a praça inteira está liberada do tráfego. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.149).
CAPÍTULO III
171
longo das ruas foram também suavizados. Faixas de
pedra assentadas no piso, que interagem com a
escultura, adicionam um aspecto dinâmico à aparência
retraída da praça. A requalificação de Sankt Hans Torv
é um exemplo de como um espaço público bem
desenhado pode servir de catalisador para a
renovação de todo bairro. O desenho da praça marca
uma transformação no caráter do bairro e simboliza a
revitalização do quarteirão, através do seu uso intenso
como praça recreativa e lugar de encontro (ver figura
136).
Igualmente Rathausplatz St. Polten, Áustria, é
uma praça principal localizada no centro da cidade que
se destaca por ser espaçosa e retangular ao meio das
ruas sinuosas do tecido urbano do centro.
Funcionalmente a praça da prefeitura abriga mercado,
festivais, cerimônias e diversos eventos diários. Os
amplos lados leste e oeste são formados por casas do
séc. XIX com lojas e residências. Dois edifícios
monumentais compõem os dois lados menores: o
edifício da prefeitura, do séc. XVI, ao sul, e a igreja
Figura 136: Sankt Hans Torv é uma praça repleta de cafés, um ponto de encontro para a população mais da cidade. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.99).
CAPÍTULO III
172
barroca franciscana ao norte com um monumento de arenito situado no meio da praça. Até 1995 a praça servia como um
grande estacionamento, sendo com a requalificação um estacionamento subterrâneo foi construído. A iluminação da praça
é um elemento importante na composição arquitetônica do conjunto. O pavimento da praça e as fachadas são iluminados
para enfatizar as superfícies do espaço durante a noite.
Vale lembrar, ainda, a revitalização de Barcelona, grande cidade européia, que, nas últimas duas décadas, tem sido
a fonte de inspiração mais importante para os arquitetos, paisagistas, planejadores urbanos e políticos que trabalham com
os espaços públicos. (Gemzoe e Gehl, 2001).
Figuras 137 e 138: Como tantas outras praças na Europa, antes da renovação a praça era usada como estacionamento de veículos, os veículos agora estão fora da paisagem da praça, dispostos em estacionamentos subterrâneo. Fonte: (GEHL E GEMZOE, 2001, PG.135).
CAPÍTULO III
173
Segundo Gemzoe e Gehl (2001, p.26):
“Em nenhum outro lugar do mundo é possível ver, na mesma cidade, tantos exemplos diferentes de novas praças e parques, além de tanta exuberância e experimentação nos seus projetos. (...) Em apenas uma década, centenas de parques novos, praças e passeios públicos foram criados pela demolição de edifícios, armazéns e fábricas em ruínas, assim como pela renovação de praças existentes e regulamentação do tráfego para beneficiar os pedestres. (...) O desenho do espaço, desde o aspecto geral até o detalhe mais precioso que formavam a base das grandes idéias e soluções específicas, foi a contribuição especial de Barcelona ao planejamento do espaço público na década de 80. (...) ”
Logo, a elaboração do diagnóstico da Praça Marechal Deodoro e Praça Saraiva devem, além de apontar a situação
em que se encontram hoje esses espaços, apresentar subsídios, conforme exemplos citados anteriormente, de maneira
clara e objetiva, que possam ajudar a nortear possíveis propostas para projetos de intervenções da área, assim como:
revelar e valorizar os referenciais históricos existentes e criar novos elementos que fortaleçam os espaços das praças,
potencializando a paisagem e dando visibilidade aos elementos históricos e culturais como as igrejas, monumentos. No
caso da Praça Marechal Deodoro, o referencial histórico teria que necessariamente valorizar o Rio Parnaíba, que lindeia a
praça, não deveria estar camuflado no meio das construções de infra-estrutura urbana e passar a fazer parte de um
planejamento adequado quanto à paisagem urbana da cidade.
Além disso, um novo projeto deveria reorganizar a vegetação da praça, respeitando as circulações, recintos,
perspectivas visuais e monumentos, eixos viários de pedestres, potencializando a paisagem e minimizando as barreiras
visuais. Deveria propor, também, mobiliário urbano e pavimentação específicos que fortaleçam a identidade local. Ao
mesmo tempo: revisar e readequar as peças do mobiliário, bancos e lixeiras, segundo os materiais mais adequados a
perdurar e à facilidade da manutenção; melhorar a iluminação para o espaço dos pedestres; racionalizando este mobiliário,
pela utilização de postes múltiplos, sendo estes um único suporte para diversas funções; criar nova pavimentação que
CAPÍTULO III
174
reforce o desenho de piso já existente e que possa valorizar e facilitar uso da praça pelos transeuntes e conectá-las ao
fluxo de movimento da cidade.
Valorizar, ainda, o espaço destinado ao convívio das pessoas, o deslocamento dos pedestres, a mobilidade
turística, o transporte público coletivo e não motorizado, reorganizar o espaço público, ampliando a área de praça e
redefinindo a estrutura viária, mesmo que necessário o redesenho de trechos das vias. Ordenar os estacionamentos de
automóveis, com criações de áreas apropriadas para acabar com a invasão das praças pelos automóveis.
Por fim, Instituir gabarito de construção no entorno da praça, impedindo novos conflitos paisagísticos. Criar uma
unidade paisagística integrando o entorno das praças para potencializar a paisagem que estão inseridas e minimizar as
barreiras físicas e visuais. Mesclar a diversidade de uso e usuário do dia-a-dia do entorno das praças desfazendo a
sensação de vazio deste espaço pela interação com a vizinhança, tendo como objetivo dar valor a espaços públicos,
gerando atrativos à permanência e à volta da apropriação por parte da população destas praças.
175
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A importância de se resgatar um espaço público é que ele representa o patrimônio histórico e cultural que está
ligado à imagem e à apropriação da cidade. A escolha das duas praças em estudo, Praça Marechal Deodoro e Praça
Saraiva, se deu, principalmente, pela importância delas como referenciais que vivenciam a cidade de Teresina desde a sua
fundação até os dias atuais. Portanto, esta pesquisa procurou ressaltar a relevância desses espaços na identidade cultural,
social e urbanística da cidade e estabelecer diagnóstico que possibilite futuras intervenções que ofereça melhor qualidade
de uso destas praças para a população local.
Observou-se que, como ocorre na maioria das cidades brasileiras, os espaços públicos de Teresina, nas últimas
décadas, principalmente das áreas centrais, sofreram uma mudança de uso, além do afastamento da população. Isso se
deu principalmente devido às transformações ocorridas nessas áreas que modificaram a relação da praça com o seu
entorno. Ao longo do tempo, estas praças foram sendo alteradas tanto na forma como na função pela dinâmica de
ocupação da cidade. Por serem os locais iniciais da ocupação de Teresina, essas áreas centrais possuem parâmetros
sócio-culturais diferenciados daqueles aplicados ao resto da cidade e se transformam em referenciais urbanos e memória
da mesma. (Cardoso e Melo, 2006). Estas alterações que acontecem nas praças são motivadas pela necessidade de se
adaptar à nova dinâmica da cidade, pela presença de novas centralidades que desarticulam a importância das praças
como espaço de lazer urbano e, também, pelo predomínio de atividades comerciais que ocupam esses espaços, passando
de área de convívio da população para mera passagem e, ou, somente como um fragmento ou retalho do desenho urbano.
Desta forma esta pesquisa deseja colaborar para a conscientização da população e do poder público quanto à
importância dessas praças, que se apresentam como objetos da paisagem do município de Teresina, as quais detêm
176
grande representatividade seja do ponto de vista histórico local seja como espaços que favorecem a percepção e fruição
da paisagem urbana do centro histórico da cidade.
Além disso, esta pesquisa pretendeu fornecer subsídios que sirvam de base para futuros estudos sobre as praças, e
outros espaços semelhantes, pois o acervo da cidade no que diz respeito ao estudo de espaços públicos encontra-se
ainda um pouco deficiente para oferecer base aos pesquisadores e até mesmo técnicos profissionais que queiram realizar
novos projetos que levem a requalificação dessas áreas.
Evidencia-se, assim, por meio deste estudo que o homem, ao se apropriar de um espaço público, mais vida ele
confere a este espaço. Logo, a apropriação da população está diretamente ligada tanto a manutenção do espaço público
como de seus mobiliários. E os espaços que tendem a ser mantidos são aqueles que têm relevância para a população
pelo o seu uso. Exemplo disto é uma praça muito freqüentada. Por isso, os profissionais que atuam nesta área devem
buscar esta qualidade e propor soluções novas e criativas, porém que sejam permanentes. Mesmo a ação de
embelezamento deve estar norteada pelo o uso, com prioridade na qualidade do desenho e dos materiais e na facilidade
de manutenção, pois isto será a maior garantia de permanência da ação.
Os projetos de futuras intervenções a serem desenvolvidos para esses espaços,Praça Marechal Deodoro e Saraiva,
devem, portanto, levar em consideração essencialmente tanto seus aspectos morfológicos valorizados pela população
como as atividades tradicionais que nelas acontecem, pois Segundo Jacob (2007), as praças nada significam se estiverem
separadas de seus usos reais e de suas influências concretas dos bairros e dos usos que lhes são destinados.
Além do uso, é importante que essas novas intervenções levem em conta, também, tanto as relações entre espaço
livre e espaço construído como as relações entre eles e o conjunto paisagístico maior da cidade na qual estão inseridos.
Segundo Jacobs (2007:437): “uma das idéias inconvenientes por trás dos projetos é a própria noção de que eles são
conjuntos, abstraídos da cidade comum e separados. Pensar em recuperar ou melhorar os projetos como projetos é
177
persistir no mesmo erro”. Para ela o objetivo seria reintegrar esse retalho da cidade à malha urbana, dando-lhes vida e
fortalecendo, ao mesmo tempo, toda trama ao seu redor.
Portanto o diagnóstico realizado nesta pesquisa poderá servir como subsídio para a elaboração de diretrizes para a
realização de novos projetos de intervenção nas praças Marechal Deodoro e Saraiva, e, ou espaços semelhantes, afim
que se alcance uma melhoria desses espaços públicos proporcionando a população um maior interesse pela sua
utilização, valorizando a sua reestruturação espacial, visual e paisagística, mas sem divorciá-las de suas condições
originais em torno das quais a cidade nasceu e se expandiu.
.
178
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS | BIBLIOGRAFIA
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179
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