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  • ANTONIO VITORIO CECERE

    ESTUDO DE MEDIDAS PARA A MELHORIA DA IDENTIFICAO VEICULAR NO BRASIL

    So Paulo 2010

  • ANTONIO VITORIO CECERE

    ESTUDO DE MEDIDAS PARA A MELHORIA DA IDENTIFICAO VEICULAR NO BRASIL

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado Escola Politcnica da Universidade de So Paulo para obteno do Ttulo de Mestre Profissional em Engenharia Automotiva.

    rea de Concentrao: Engenharia Automotiva

    Orientador: Prof. Dr. Marcelo Massarani

    So Paulo 2010

  • FICHA CATALOGRFICA

    Cecere, Antonio Vitorio Estudo de medidas para a melhoria da identificao veicular

    no Brasil / A.V. Cecere. -- So Paulo, 2010. p. 98

    Trabalho de concluso de curso (Mestrado Profissional em Engenharia Automotiva) - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo.

    1. Veculos (Identificao) 2. Furto Brasil I. Universidade de So Paulo. Escola Politcnica II. t.

  • Dedico este trabalho s pessoas que compartilharam e ajudaram

    com auxlio e estmulo.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao professor doutor Marcelo Massarani, pela orientao, dedicao, estmulo e pacincia durante todo o trabalho. A famlia, amigos e colegas pelo auxlio e estmulo transmitido e a todos que colaboraram direta ou indiretamente na execuo deste trabalho.

  • O aprendizado sempre ser uma espcie de arte, mas at os melhores artistas

    podem melhorar sua tcnica. (DAVID GARVIN)

  • RESUMO

    Este trabalho dedica-se pesquisa do tema de identificao veicular, mostrando a legislao que estabelece os critrios de identificao dos veculos no Brasil e os ndices estatsticos que evidenciam a realidade nacional envolvendo furto e roubo de veculos. A pesquisa de campo mostrou que os profissionais especializados que desempenham atividades correlatas ao tema apresentam de mdio a elevado grau de conhecimento e, de forma unnime, afirmam que existe a necessidade de medidas no intento de melhorar a realidade nacional envolvendo os mencionados delitos. A experincia destes profissionais foi coletada por meio de entrevistas e questionrios e a anlise destes dados foi utilizada como parmetro nas pesquisas realizadas. A pesquisa buscou a verificao da existncia de novas tecnologias para identificar os veculos, mais seguras e eficientes que as hoje utilizadas no Brasil, e de estratgias adotadas em outros pases com o objetivo de diminuir a ocorrncia de furto e roubo de veculos, bem como, os resultados alcanados por estas medidas. Como concluso, prope-se a aplicao de novas medidas e novas tecnologias, visando a melhoria dos critrios de identificao de veculos no Brasil e, conseqentemente, da eficincia do trabalho de fiscalizao destes veculos e da diminuio dos ndices envolvendo furto e roubo de veculos.

    Palavras-chave: Engenharia Automobilstica. Identificao Veicular. Adulterao de veculos. Novas tecnologias de identificao de veculos.

  • ABSTRACT

    This study reports a Brazilian terrestrial vehicle identification research where legislation identification criteria and statistical data can be compared demonstrating evidence on this country reality regarding regional car thief and stealing occurrences. Field research has reported that specialized professionals, from apprentices to seniors, tied to activities related to the subject of this study are unanimous to affirm that an improvement on this field of car identification is required and would bring this region reality to a step up as it also could improve other regions reality, as well. These professionals experience was collected via questionnaires and interviews, and collected data used as comparison study parameters for the research. Research was also done on actual worldwide car identification technologies and other adopted strategies for reducing car thieves and stealing, as their validation and result after implementation. As a conclusion this study proposes new technologies and legislation enlightening the Brazilian car identification upgrade and also improves the governmental monitoring and sanctioning, leading the author to believe that this may contribute to the reduction of the car thief and stealing occurrences.

    Key word: Vehicle identification. New Car identification technologies. Automotive engineering.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 1 - Custos da violncia e Criminalidade em relao ao Valor do PIB municipal.

    17

    Figura 2 - Custo econmico de furto e roubo de veculos. 18

    Figura 3 - Motor de Celta 2006/2007. Superfcie usinada com rugosidade praticamente longitudinal e processo de gravao denominado ponto sobre ponto.

    45

    Figura 4 - Motor de Celta 2003/2003. Superfcie usinada com rugosidade circular e processo de gravao denominado ponto a ponto.

    45

    Figura 5 - Exemplo da aplicao da tecnologia denominada POLIRAIDER. 48

    Figura 6 - Exemplo da aplicao da tecnologia denominada MAGRAIDER. 49

    Figura 7 - DataDotDNA ampliado. 50

    Figura 8 - AutoDot ampliado. 50

    Figura 9 - anlise comparativa indicando ndices de recuperao de veculos.

    52

    Figura 10 - anlise comparativa indicando ndices de recuperao de veculos das marcas BMW, HSV e Subaru.

    53

    Figura 11 - Identificao produzida nos vidros dos veculos pelo processo qumico de gravao.

    55

    Figura 12 - Identificao produzida nos vidros dos veculos modelo Celta at o ano de 2005 pela General Motors do Brasil pelo processo de gravao a laser.

    56

    Figura 13 - operao de remoo da gravao original de identificao e polimento do vidro com o uso de materiais especficos.

    57

    Figura 14 - Kit para gravao nos vidros por processo qumico. 57

  • Figura 15 - Utilizao do kit para gravao nos vidros por processo qumico. 58

    Figura 16 - Utilizao do kit para gravao dos vidros por processo qumico. 58

    Figura 17 - Gravao efetuada nos vidros por processo qumico. 59

    Figura 18 - quantidade de furto e roubo de veculos ocorridos na Argentina de 2001 a 2009.

    65

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Critrios de identificao dos veculos em circulao no Brasil. 22

    Tabela 2 - avaliao do desempenho das tecnologias pesquisadas. 76

    Tabela 3 - parmetros para a utilizao da tcnica F.I.R.E. 76

    Tabela 4 - utilizao da tcnica F.I.R.E. para a funo individualizar veculo.

    77

    Tabela 5 - utilizao da tcnica F.I.R.E. para a funo diversificar pontos de identificao.

    77

    Tabela 6 - utilizao da tcnica F.I.R.E. para a funo facilitar localizao dos pontos de identificao.

    78

    Tabela 7 - utilizao da tcnica F.I.R.E. para a funo dificultar adulterao dos pontos de identificao.

    78

    Tabela 8 - utilizao da tcnica F.I.R.E. para a funo permitir revelao dos pontos de identificao.

    79

    Tabela 9 - utilizao da tcnica F.I.R.E. para a funo facilitar acesso a informao.

    79

    Tabela 10 - utilizao da tcnica F.I.R.E. para a funo padronizar identificao.

    80

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas AM Amplitude Modulation ANATEL Agncia Nacional de Telecomunicaes BIN Base de ndice Nacional CESVI Centro de Experimentao de Segurana Viria CONTRAN Conselho Nacional de Trnsito CRV Certificado de Registro de Veculo CRLV Certificado de Registro e Licenciamento de Veculo CTA Centro Tcnico Aeroespacial CTB Cdigo de Trnsito Brasileiro DENATRAN Departamento Nacional de Trnsito DETRAN Departamento Estadual de Trnsito DIVECAR Diviso de Investigao sobre Furto e Roubo de Veculos e Cargas DEIC Departamento de Investigao sobre o Crime Organizado ECM Eletronic Control Unit ECV Empresa Credenciada em Vistoria FAPESP Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo FCC Federation Communications Comission FM Frequency Modulation GB Gigabytes GPS Global Positioning Systems IEAv Instituto de Estudos Avanados IPVA Imposto sobre a Propriedade de Veculo Automotor ISO International Organization for Standardization LASER Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation LBS Location Based Services PIB Produto Interno Brasileiro RENAMO Registro Nacional de Motores RENAVAM Registro Nacional de Veculos Automotores RFID Radio-Frequency IDentification RV Sistema de Rastreamento de Veculos

  • SINIAV Sistema Nacional de Identificao Automtica de Veculos SSP/SP Secretaria de Segurana Pblica do Estado de So Paulo SENASP Secretaria Nacional de Segurana Pblica TRU Taxa Rodoviria nica UHF Ultra High Frequency UNESP Universidade Estadual Paulista Jlio Mesquita Filho VHF Very High Frequency VFU Veculo no Final de sua vida til VIN Vehicle Identification Number VDS Vehicle Descriptor Section VIS Vehicle Indicator Section WMI World Manufacturer Identifier

  • SUMRIO

    1 INTRODUO .................................................................................. 14 1.1 OBJETIVO...........................................................................................................15 1.2 HIPTESES DE TRABALHO ..............................................................................16 1.3 JUSTIFICATIVA ..................................................................................................16

    2 A IDENTIFICAO VEICULAR NO BRASIL..................................... 19 2.1 HISTRIA RECENTE..........................................................................................19 2.2 CRITRIOS ATUAIS DE IDENTIFICAO VEICULAR NO BRASIL...................21 2.2.1 PONTOS DE IDENTIFICAO CONTIDOS NO PRPRIO VEICULO ...................................... 21 2.2.2 DOCUMENTAO DO VEICULO ............................................................................................... 23

    3 LEVANTAMENTOS DE CAMPO....................................................... 25

    3.1 UNIDADES DE ESTUDO.....................................................................................25 3.2 MODI OPERANDI SOBRE FURTO E ROUBO DE VECULOS .........................25 3.3 PROCESSOS DE ADULTERAES NOS VECULOS.......................................27 3.3.1 ADULTERAO DA DOCUMENTAO DO VECULO............................................................. 27 3.3.2 TIPOS DE ADULTERAES DOS PONTOS DE IDENTIFICAO DOS VECULOS.............. 28 3.3.2.1 REGRAVAO ......................................................................................................................... 30 3.3.2.2 IMPLANTE OU TRANSPLANTE............................................................................................... 34 3.3.2.3 AUSNCIA DA NUMERAO DO CHASSI............................................................................. 36 3.4 ATIVIDADE POLICIAL DE FISCALIZAO DE VECULO ..................................36 3.4.1 PESQUISA FEITA JUNTO A POLICIAIS CIVIS .......................................................................... 36 3.4.2 PESQUISA FEITA JUNTO A PERITOS CRIMINAIS................................................................... 38 3.5 DETERMINAES DAS FUNES VOLTADAS A IDENTIFICAO VEICULAR NO BRASIL ...............................................................................................................39

    4 NOVAS TECNOLOGIAS QUE PODEM SER EMPREGADAS NA IDENTIFICAO VEICULAR NO BRASIL ........................................... 43 4.1 MELHORIAS NOS CRITRIOS DE IDENTIFICAO DO MOTOR DO VECULO...................................................................................................................43 4.2 GRAVAES DO VIN EM DOIS PONTOS DA ESTRUTURA DO VECULO ....46 4.3 TECNOLOGIA DE IDENTIFICAO BASEADA EM MICROPONTOS ...............50

  • 4.4 GRAVAO DO VIS NOS VIDROS DOS VECULOS.......................................54 4.4.1 SITUAO ATUAL NO BRASIL .................................................................................................. 54 4.4.2 NOVOS PROCESSOS DE GRAVAO DOS VIDROS ............................................................. 59 4.5 RECICLAGEM DE VECULOS ............................................................................61 4.5.1 A RECICLAGEM DE VECULOS NO MUNDO............................................................................ 61 4.5.2 RECICLAGEM DE VECULOS E SUA LIGAO COM NDICES DE FURTO E ROUBO......... 64 4.6 RASTREAMENTOS DE VECULO ......................................................................67 4.7 IDENTIFICAO ELETRNICA DE VECULO ...................................................73 5 PROPOSTA ...................................................................................... 75

    5.1 ESTUDO PARA AVALIAO DAS TECNOLOGIAS PESQUISADAS ................75 5.2 APRESENTAES DAS PROPOSTAS..............................................................80 5.2.1 NORMATIZAO DA IDENTIFICAO DO MOTOR DO VECULO ......................................... 81 5.2.2 GRAVAO DO VIN EM DOIS PONTOS DA ESTRUTURA DO VECULO ............................ 83 5.2.3 TECNOLOGIA DE IDENTIFICAO BASEADA EM MICROPONTOS...................................... 85 5.2.4 UTILIZAO DE NOVA TECNOLOGIA PARA GRAVAO NOS VIDROS DOS VECULOS.. 86 5.2.5 RECICLAGEM DE VECULOS .................................................................................................... 87 5.2.6 RASTREAMENTO DE VECULOS .............................................................................................. 88

    6 CONCLUSO.................................................................................... 90

    REFERNCIAS.................................................................................... 91

    APNDICE A Questionrio apresentado aos Policiais Civis especializados no combate ao crime de furto e roubo de veculos da DIVECAR. ............................................................................................ 96

    APNCICE B Distribuio estatstica. ............................................... 97

    APNDICE C Distribuio estatstica. ............................................... 98

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    1 INTRODUO

    Analisando-se ndices estatsticos de ocorrncias criminais publicados em stios eletrnicos de rgos Oficiais, percebe-se que no Brasil existe um elevado nmero de ocorrncias envolvendo furtos e roubos de veculos. Um exemplo que demonstra precisamente esta realidade pode ser verificado no endereo eletrnico da Segurana Pblica do Estado de So Paulo. Nos anos de 2006 e 2007, neste Estado, foi registrado um total aproximado de 348.000 veculos envolvidos nestas ocorrncias, sendo que praticamente 136.000 foram recuperados pela Polcia e, somente, cerca de 90.000 devolvidos aos verdadeiros proprietrios1. Verificando-se esta realidade, pode-se apontar para diversas causas que justifiquem tal circunstncia, como, por exemplo, a evoluo do crime organizado e a falta de eficincia dos rgos oficiais. Contudo, muito embora no se tenha um levantamento estatstico que relacione os critrios atuais de identificao dos veculos nacionais com estes ndices de criminalidade, pela funo destes critrios dentro do contexto e pela tabulao de respostas fornecidas pelos profissionais envolvidos na rea (apresentadas neste trabalho), pode-se afirmar que existe uma correspondncia direta entre as caractersticas dos mencionados critrios de identificao e os ndices estatsticos apresentados. Os critrios atuais de identificao de veculos esto vigentes, sem alteraes significativas, desde abril de 1988, conforme estabelecem as Resolues 691/88 e 024/98 do Conselho Nacional de Trnsito (CONTRAN). Resumidamente, os principais pontos de identificao nelas previstos so:

    - a gravao do nmero VIN (nmero de identificao do veculo conforme norma ABNT 6066/80) em baixo relevo na estrutura do veculo;

    - a gravao do nmero VIS (setor de identificao do veculo conforme norma ABNT 6066/80) em 06 (seis) vidros do veculo, quando existentes;

    - a gravao do nmero VIS em duas etiquetas de identificao destrutveis; - identificao do respectivo motor; - placa de identificao.

    1 Disponvel em . Acesso em 19/05/2008.

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  • 15

    Aps 20 anos em uso, os critrios de identificao de veculos utilizados no Brasil passaram a ser bastante conhecidos, tornando a prtica de adulterao de veculo um delito comum e bastante lucrativo. O elevado estgio tecnolgico em que se encontram as montadoras nacionais de veculos permite a introduo de critrios de identificao de veculos que apresentem maior dificuldade de adulterao. Alm disso, pode viabilizar a obteno das identificaes originais destes veculos pelos rgos oficiais, quando necessrio. Este estudo orientado pelo seguinte problema de pesquisa: como determinar a utilizao de critrios de identificao de veculos que apresentem elevado grau de segurana e permitam aos rgos oficiais a obteno das identificaes originais quando da ocorrncia de adulteraes e a tomada de medidas que auxiliem a reduzir a ocorrncia de furto e roubo de veculos no Brasil?

    1.1 OBJETIVO

    O objetivo geral deste trabalho propor a tomada de medidas e o estabelecimento de critrios de identificao dos veculos, no intento de reduzir os ndices estatsticos de furto e roubo de veculos no Brasil. A par deste fato, estes critrios de identificao devem facilitar aos agentes do Estado e populao a verificao da autenticidade destes critrios e a obteno, quando necessrio, das identificaes originais dos veculos. Para viabilizar e adequar este estudo, so estabelecidos como objetivos especficos as seguintes pesquisas:

    - as incidncias criminais de furto e roubo de veculos e a destinao que tais veculos recebem;

    - os modi operandi mais utilizados pelos criminosos para adulterao de veculos;

    - quais as maiores dificuldades encontradas para pesquisa dos dados cadastrados dos veculos na Base de ndice Nacional (BIN);

    - a existncia de medidas que estejam relacionadas com a diminuio de furto e roubo de veculos;

    - pesquisar a existncia de critrios de identificao que estejam relacionados com a diminuio de furto e roubo de veculos.

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    1.2 HIPTESES DE TRABALHO

    Em virtude da realidade brasileira envolvendo furto e roubo de veculos, tem-se como hiptese geral de trabalho o seguinte: no Brasil, a tomada de medidas destinadas a coibir o comrcio ilcito de peas de automveis e a implantao de critrios mais eficientes que os atuais para a identificao de veculos, iro diminuir o custo econmico da violncia envolvendo aqueles crimes.

    1.3 JUSTIFICATIVA

    Em So Paulo, segundo estatstica oficial da Secretaria de Segurana Pblica, no ano de 2008 houve uma ocorrncia mdia de 500 veculos furtados ou roubados por dia. Este fato, alm do custo direto da perda do bem pela vtima, gera um custo indireto pela utilizao da mquina administrativa pblica. Isso j seria motivo suficiente para o desenvolvimento de critrios identificao de veculos mais eficientes que diminussem esta estatstica.

    Alm disso, existem outros custos envolvidos com tais delitos, iniciando-se pelo valor mais elevado das aplices de seguro, pelo comrcio das peas retiradas e pelo crescimento do crime organizado, gerando recursos e o relacionamento com outros delitos, inclusive o narcotrfico. De acordo com a Secretaria Nacional de Segurana Pblica (SENASP)2, somente no municpio de So Paulo, a criminalidade gerou um custo econmico de R$ 9,37 bilhes em 1999 e 35% deste valor est diretamente relacionado com a ocorrncia de furto e roubo de veculos, ou seja, um custo para a sociedade de R$ 3,28 bilhes. Ainda segundo a SENASP, os custos econmicos envolvendo a violncia podem ser classificados em diretos e indiretos:

    - Custos Diretos: bens e servios pblicos e privados gastos no tratamento dos efeitos da violncia e na preveno da criminalidade no sistema de justia

    2 Disponvel em . Acesso em 5/05/2008.

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    criminal, no encarceramento, nos servios mdicos e sociais e com a proteo das residncias.

    - Custos Indiretos: perda de investimentos, bens e servios que deixam de ser captados e produzidos em funo da existncia da criminalidade e do envolvimento das pessoas (agressores e vtimas) nessas atividades.

    Na figura 1 tem-se o valor do custo da violncia em relao ao PIB municipal.

    Segundo o Ministrio da Justia, os custos econmicos da violncia em So Paulo em 1999, foram:

    Gasto do Poder Pblico no combate criminalidade: 4,2 bilhes.

    Bens e Servios que deixaram de ser produzidos: 470 milhes.

    Gastos da sociedade civil na compra do bem segurana e perdas geradas diretamente pelos incidentes: 4,7 bilhes.

    Na figura 2 tem-se o valor do custo econmico envolvendo furto e roubo de veculos em relao ao custo econmico da violncia.

    Figura 1 - Custos da violncia e Criminalidade em relao ao Valor do PIB municipal. Fonte: . Acesso em 25/05/2008

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    Figura 2 - Custo econmico de furto e roubo de veculos. Fonte: . Acesso em 25/05/2008.

    Desta forma, alcanamos um custo econmico de R$ 3,28 bilhes em 1999 envolvendo furto e roubo de veculos. Segundo a SSP/SP3, em 1999 foram registradas 221.774 ocorrncias de furto e roubo de veculos e em 2007 foram registradas 163.537 ocorrncias, verificando-se uma diminuio de 26%. Procedendo de uma forma bem simplificada e considerando-se esta diminuio nas estatsticas, pode-se estimar um custo econmico de R$ 2,43 bilhes de reais para o ano de 2007.

    Esses valores de custo econmico envolvendo furto e roubo de veculos na faixa de bilhes, requerem, para sua diminuio, diversas atitudes do Estado, dentro delas o estabelecimento de critrios de identificao de veculos mais adequados e a tomada de medidas diretamente voltadas diminuio dos ndices de furto e roubo de veculos.

    3 Disponvel em . Acesso em 19/05/2008.

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    2 A IDENTIFICAO VEICULAR NO BRASIL

    2.1 HISTRIA RECENTE

    No Brasil, a primeira iniciativa que partiu do Governo com o objetivo de se criar um conjunto de medidas voltadas diretamente identificao veicular foi editada na Resoluo 659/85 do Conselho Nacional de Trnsito (CONTRAN), publicada em 30 de outubro de 1985. Esta resoluo produziu profundas alteraes nos critrios de identificao utilizados pelas montadoras nacionais, introduzindo aspectos tcnicos que, at ento, no haviam sido utilizados, destacando-se:

    Art. 2 - A gravao do nmero de identificao veicular no chassi ou monobloco, dever acorrer em no mnimo, um ponto de localizao, de acordo com as vigentes especificaes e formatos estabelecidos pela NBR 3 n 6066 da ABNT, em profundidade mnima de 0,2mm. Art. 3 - Nos veculos automotores de duas ou trs rodas, excludos os ciclomotores, as gravaes sero feitas, no mnimo em dois pontos, na coluna de suporte da direo ou no chassi monobloco. Art. 4 - Nos veculos reboques e semi-reboques, as gravaes sero feitas no chassi, no mnimo em dois pontos.

    A obrigatoriedade do nmero de identificao veicular estar regrado pela Norma NBR 3 n 6066 da ABNT (Associao Brasileira de Normas Tcnicas), fez com que as montadoras nacionais fossem includas dentro de um contexto mundial de identificao veicular, uma vez que esta norma da ABNT foi baseada nas normas ISO 3779 e 3780, que so padres de referncia mundial para nmero de identificao veicular. Foi introduzida tambm, na mesma resoluo do CONTRAN, para alguns tipos de veculos, a obrigatoriedade da gravao de identificao ser efetuada em, no mnimo, dois pontos, o que, seguramente, tornou os critrios de identificao destes veculos mais seguros.

    Uma evoluo da Resoluo 659/85 ocorreu na Resoluo 691/88, publicada em 05 de abril de 1988, que instituiu novos pontos de identificao para os veculos nacionais.

    Esta resoluo manteve as alteraes nos critrios de identificao utilizados pelas montadoras nacionais introduzidas na resoluo anterior e criou novos pontos de identificao, destacando-se:

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    Art. 1 - Fica institudo novo critrio de identificao veicular obrigatrio para todos os veculos fabricados a partir de, no mximo, cento e oitenta dias contados da data de publicao da presente Resoluo. Pargrafo nico Excetuam-se do disposto neste artigo os tratores, os veculos utilizados exclusivamente para competies esportivas e os veculos militares de caractersticas especiais. Art. 2 - A gravao do nmero de identificao veicular no chassi ou monobloco, dever ocorrer em, no mnimo, um ponto de localizao, de acordo com as vigentes especificaes e formatos estabelecidos pela NBR - 3 n 6066 da ABNT, em profundidade mnima de 0,2mm. 1 - Alm da gravao no chassi ou monobloco, os veculos sero identificados com, no mnimo, os caracteres VIS previstos na NBR - 3 n 6066, podendo ser, a critrio do fabricante, por gravao, na profundidade mnima de 0,2mm, quando em chapas ou por plaqueta colada, soldada ou rebitada, destrutvel quando de sua remoo, ou ainda por etiqueta autocolante e tambm destrutvel no caso de tentativa de sua remoo, nos seguintes compartimentos e componentes: 1) no assoalho do veculo, sob um dos bancos dianteiros; 2) na coluna da porta dianteira lateral direita; 3) no compartimento do motor; 4) em um dos pra-brisas e em um dos vidros traseiros, quando existentes; e em pelo menos dois vidros de cada lado do veculo, quando existentes, excetuados os quebra-ventos.

    A criao de dois novos pontos de identificao: a gravao do nmero VIS nos mencionados vidros do veculo e a implantao de trs etiquetas, destrutveis quando da tentativa de remoo, contendo o mesmo nmero VIS e localizadas em partes diferentes do veculo, tornou mais seguro os critrios de identificao dos veculos produzidos no Brasil.

    Embora no esteja descrito nas Resolues 659/85 e 691/88 do CONTRAN, podemos considerar ainda como pontos de identificao dos veculos em circulao no Brasil, as respectivas placas de identificao (Resoluo 754/91 do CONTRAN publicado em 10 de junho de 1991) e o motor. Os veculos importados foram submetidos a trs critrios de identificao distintos, descritos a seguir:

    a) Para os veculos importados at 31 de dezembro de 1993, no se alteravam os pontos de identificao originais e no se estabelecia nenhuma outra identificao no Brasil;

    b) para os veculos importados de janeiro de 1994 at dezembro de 1998, passou a vigorar a portaria 01/94 do Departamento Nacional de Trnsito (DENATRAN), onde se exigia que o nmero de identificao do veculo (VIN)

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    estivesse de acordo com o previsto na Norma ABNT 6066/80. Caso esta circunstncia no ocorresse, seria efetuada gravao de outro nmero de identificao do veculo obedecendo a critrios estabelecidos;

    c) para os veculos importados a partir de janeiro de 1999, a Resoluo 024/98 estabeleceu que todos os critrios de identificao vlidos para os veculos nacionais tambm fossem atendidos pelos importados.

    2.2 CRITRIOS ATUAIS DE IDENTIFICAO VEICULAR NO BRASIL

    2.2.1 PONTOS DE IDENTIFICAO CONTIDOS NO PRPRIO VEICULO

    No Brasil, o critrio de identificao de veculos est estabelecido em diversas resolues do CONTRAN. Esto em vigor as Resolues 282/08 (voltada a verificao da identificao dos motores), 024/98 (estabelece critrios diversos de identificao), 641/07 e 288/08 (estabelece critrios para fabricao e lacrao das placas de identificao) do CONTRAN.

    A Resoluo 024/98, em vigor desde 1 de janeiro de 1999, revogou a de nmero 691/88 do CONTRAN. As principais alteraes nela contidas foram: a obrigatoriedade do cumprimento dos critrios de identificao estabelecidos tanto para os veculos nacionais quanto para os importados; a obrigatoriedade de duas etiquetas de identificao, e no mais trs, e a utilizao do ano modelo ao invs do ano de fabricao na dcima posio do nmero de identificao do veculo (VIN), tendo sido mantidos todos os demais critrios de identificao.

    A Resoluo 282/08 (revogou as Resolues 199/06 e 250/07), em vigor desde 26 de junho de 2008, estabeleceu critrios para verificao da identificao dos motores dos veculos nacionais e importados, quando da ocorrncia de transferncia ou aps receberem modificaes.

    As Resolues 641/07 e 288/08 estabelecem os critrios de fabricao e lacrao das placas de identificao dos veculos em circulao no Brasil.

    Desta forma, aps detida anlise das normas acima mencionadas, pode-se resumir como principais pontos de identificao dos veculos nacionais e importados em circulao no Brasil, os seguintes:

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    a) a gravao do nmero de identificao do veculo (VIN) na estrutura do veculo, na profundidade mnima de 0,2 mm, em um ou dois pontos, conforme o tipo de veculo, .

    b) a gravao do nmero seqencial de produo (setor VIS do nmero VIN, conforme norma ABNT 6066) em seis dos seus vidros (pra-brisa, vidro traseiro e dois laterais de cada lado), quando existentes, conforme o tipo de veculo.

    c) a gravao do nmero seqencial de produo (VIS) em duas etiquetas destrutveis quando da tentativa de remoo (localizadas no batente da porta dianteira direita e no compartimento do motor), quando existentes, conforme o tipo de veculo.

    d) o motor do veculo. e) as placas de identificao do veculo.

    Em virtude das resolues no poderem produzir efeito retroativo, cada resoluo estipula critrios de identificao que so vlidos somente no seu perodo de vigncia, acarretando, dessa maneira, veculos em circulao com critrios de identificao diferentes. Para melhor compreenso, na tabela 1 pode-se verificar o resumo desses critrios.

    Resolues Pontos de identificao

    659/85 (at 10/88) veculos nac.

    691/88 (de 10/88 at 12/98) veculos nac.

    024/99 (a partir de 01/99) vec. nac. e imp.

    199/06 (a partir de 11/06) vec. nac. e imp.

    gravao do nmero VIN em baixo relevo (chassi)

    obrigatrio obrigatrio obrigatrio no se refere

    gravao do nmero VIS nos vidros

    no se refere obrigatrio obrigatrio no se refere

    etiquetas de identificao contendo o nmero VIS

    no se refere obrigatrio trs etiquetas

    obrigatrio duas etiquetas

    no se refere

    verificao da gravao de identificao do motor

    no se refere no se refere no se refere obrigatrio

    placa de identificao do veculo

    obrigatrio obrigatrio obrigatrio no se refere

    plaqueta de identificao do veculo

    obrigatrio no se refere no se refere no se refere

    Tabela 1- Critrios de identificao dos veculos em circulao no Brasil. Fonte: o autor, 2009.

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    2.2.2 DOCUMENTAO DO VEICULO

    Outro aspecto a ser considerado, conforme previsto no CTB (Cdigo de Trnsito Brasileiro) a emisso da documentao do veculo para regularizao de sua condio de circulao. Inicialmente, deve-se descrever o funcionamento do RENAVAM (Registro Nacional de Veculos Automotores). Com a extino da TRU (taxa rodoviria nica) e a criao do IPVA (imposto sobre a propriedade de veculo automotor), as informaes sobre veculos e seus proprietrios passaram a ser administradas unicamente pelos DETRANs, no mbito de cada Estado. Com isso, os dados cadastrados atendiam apenas s necessidades locais, no possibilitando uma consolidao em nvel nacional. O Ministrio da Justia, sentindo essa carncia, regulamentou, em 06 de maro de 1986, o Registro Nacional de Veculos Automotores (RENAVAM), padronizando, nacionalmente, as informaes relativas a veculos automotores administradas pelos rgos Estaduais de Trnsito. Desta forma, pode-se definir o RENAVAM como um sistema informatizado destinado a integrar as informaes sobre todos os veculos produzidos ou em circulao no territrio nacional.

    No Sistema RENAVAM, os veculos so inseridos na Base de ndice Nacional (BIN) pelas informaes fornecidas pelas montadoras (pr-cadastramento) e so utilizados pelos DETRANs na emisso dos documentos dos respectivos veculos.

    O Sistema RENAVAM foi concebido em mdulos, com as seguintes finalidades:

    a) pr-cadastramento os dados de veculos nacionais so fornecidos pelas montadoras e os de veculos importados pelas unidades aduaneiras da Secretaria da Receita Federal e so inseridos na base de ndice Nacional (BIN);

    b) atualizao cadastral registro de todas as atualizaes ocorridas com os dados cadastrados do veculo, desde o primeiro registro at a sua baixa final, incluindo mudana de propriedade, mudana de caractersticas e transferncia para outra Unidade da Federao, com ou sem troca de proprietrio;

  • 24

    c) roubos/furtos registro atravs dos rgos de segurana estaduais, das informaes de ocorrncia de roubo/furto, recuperao ou devoluo de um veculo;

    d) multas permite aos rgos autuadores o controle e a cobrana efetiva das multas resultantes de infraes cometidas por um veculo em outra Unidade da Federao, que no a de seu licenciamento ou em Rodovias Federais;

    e) controle de fronteiras controla a permanncia, em territrio nacional, de veculos licenciados em outros pases, inclusive com a cobrana de multas de infraes de trnsito cometidas por seus condutores, e a sada de veculos licenciados no pas para o estrangeiro;

    f) estatsticas a partir das informaes disponveis, so geradas estatsticas, que ficam disponveis em terminais para consultas e em relatrios editados periodicamente;

    g) consultas permitem o acesso s informaes existentes por qualquer usurio devidamente credenciado pelo DENATRAN;

    h) controle gerencial fornece ao DENATRAN informaes atualizadas sobre o processamento do sistema, permitindo o controle sobre quem acessa ou fornece as informaes.

    Com base nas informaes existentes no sistema RENAVAM, os diversos DETRANs dos Estados da Unio emitem os documentos dos respectivos veculos. Os dois documentos existentes so o CRV (certificado de registro de veculo) e o CRLV (certificado de registro e licenciamento de veculo), este ltimo, o de porte obrigatrio e renovado anualmente. Desta forma, a partir da implantao do sistema RENAVAM, os DETRANs dos Estados no podem mais inserir veculos na base nacional, sendo tal funo executada pelo mdulo pr-cadastramento. Considerando-se o aspecto prtico da funo fiscalizadora do Governo, foi uma evoluo muito significativa, uma vez que antes da implantao deste sistema no Brasil no se conseguia pesquisar nem ao menos sobre a existncia de um determinado veculo, o que permitia que este circulasse normalmente com documentos fraudulentos, uma vez que os rgos fiscalizadores de um Estado no conseguiam obter informaes referentes a veculos sob jurisdio de outro Estado. Aps sua implantao, basta uma pesquisa base de ndice nacional (BIN) e se obtm uma gama de informaes suficientes

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    para a comparao com o documento do veculo apresentado (CRLV) quando de uma atuao fiscalizadora.

    3 LEVANTAMENTOS DE CAMPO

    3.1 UNIDADES DE ESTUDO

    Para realizao deste trabalho, foram efetuadas pesquisas junto s seguintes instituies:

    a) DIVECAR - Diviso de investigao sobre furto e roubos de veculos e cargas do Departamento de Investigaes sobre o Crime organizado (DEIC) da Polcia Civil do Estado de So Paulo atua de forma especializada no combate ao crime organizado envolvendo furto e roubo de veculos e cargas no estado de So Paulo. a maior equipe especializada neste setor do Pas, possuindo, em 2009, cerca de 180 policiais;

    b) Setor de Identificao Veicular do Ncleo de Crimes contra o Patrimnio do Instituto de Criminalstica de So Paulo da Superintendncia de Polcia Tcnico-Cientfica do Estado de So Paulo atua de forma especializada no exame de veculos com o objetivo de determinar a existncia de adulteraes e identificao das gravaes originais. Em virtude quantidade de ocorrncias criminais, (conforme estatstica oficial, no ano de 2008 o Instituto de Criminalstica de So Paulo realizou 11980 exames de identificao veicular) o Setor mais atuante no Pas neste tipo de trabalho.

    c) REPLACE gerncia especializada na recuperao de veculos da Companhia de Seguro Porto Seguro.

    3.2 MODI OPERANDI SOBRE FURTO E ROUBO DE VECULOS

    Conforme pesquisa efetuada junto aos rgos oficiais especializados na rea, existe um equilbrio entre a ocorrncia de furtos e roubos de veculos. Pelas caractersticas tcnicas, os veculos mais antigos, ou seja, com mais de dez anos de existncia, so mais furtados, e, os veculos quanto mais novos, mais roubados.

  • 26

    Para um melhor esclarecimento, no furto o veculo subtrado sem o emprego de violncia ou grave ameaa contra a pessoa, e, no roubo, existe tal violncia ou ameaa. Outro aspecto importante envolvendo furto e roubo de veculos a finalidade da ocorrncia deste delito. De acordo com Caccavali (2006), temos trs finalidades distintas:

    a) ser utilizado para a realizao de outros delitos e abandonado posteriormente, sendo devolvido ao verdadeiro proprietrio aps sua localizao, sem alterao dos respectivos pontos de identificao;

    b) ser comercializado com outra identificao aps a adulterao dos respectivos pontos de identificao;

    c) ser desmontado para comercializao de suas peas com a destruio dos respectivos pontos de identificao.

    Em virtude das circunstncias que envolvem estes delitos, notadamente o fato de uma parcela significativa dos veculos furtados ou roubados no ser localizada, no se pode obter uma previso confivel que determine a quantidade de veculos produto de furto/roubo que so utilizados em cada uma das finalidades mencionadas, contudo, conforme pesquisa efetuada em diversos stios eletrnicos4 acredita-se que a maioria destes veculos so ilicitamente enviados a desmanches para sua desmontagem e comercializao de seus componentes. A finalidade descrita na alnea a, ou seja, o roubo ou furto do veculo para sua utilizao em outro delito e depois abandon-lo, depende, notadamente, da realizao de um policiamento preventivo mais efetivo, contudo, algumas das medidas que sero propostas para as finalidades b e c tambm surtiro efeito para esta circunstncia. A finalidade descrita na alnea b, ou seja, o roubo ou furto do veculo para sua comercializao aps a adulterao de seus pontos de identificao, em virtude da realidade brasileira, ser estudado baseando-se na legislao nacional vigente e na experincia dos profissionais das reas envolvidas no tema, notadamente, companhias de seguro e polcias estaduais.

    4 Dentre eles , , ,

    e . Acesso entre 10/12/2009 e 27/01/2010.

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  • 27

    A finalidade descrita na alnea c, ou seja, o roubo ou furto do veculo para posterior desmontagem com remoo dos seus pontos de identificao e comercializao de seus componentes, ser estudado com base na realidade nacional e pela experincia vivida por outros pases, notadamente, a Argentina e membros da Comunidade Europia, que adotaram uma srie de medidas que foram mensuradas, apresentando dados estatsticos que possibilitam avaliar a eficincia de sua aplicao.

    3.3 PROCESSOS DE ADULTERAES NOS VECULOS

    3.3.1 ADULTERAO DA DOCUMENTAO DO VECULO

    Para que um veculo objeto de furto ou roubo possa adquirir condies de ser comercializado novamente, alm das alteraes que devem ser efetuadas nos seus respectivos pontos de identificao, este veculo precisa apresentar documentao correspondente nova identificao que recebeu aps a adulterao. Dessa forma, o exame da documentao do veculo de extrema importncia e prtica rotineira dos agentes fiscalizadores.

    Quanto ao exame da autenticidade dos documentos do veculo (CRLV e CRV), podemos dividi-lo em trs etapas:

    A primeira constitui na verificao da originalidade do espelho. Denomina-se espelho o documento impresso com os campos estruturados a serem preenchidos com os dados do veculo e do proprietrio. O Ministrio das Cidades providencia a impresso desses espelhos e distribui para os diversos Estados da Unio conforme a necessidade. Cada Estado responsvel pela custdia e preenchimento destes espelhos. O espelho onde so impressos os dados relativos ao veculo apresenta diversos dispositivos de segurana, destacando-se a impresso por calcografia, imagem latente, fundo com impresso off-set, filigrana, fundo invisvel, microtexto, papel de segurana e nmero identificador. Trata-se de uma pea com elevado nvel tcnico de confeco e de segurana, necessitando do examinador um treinamento especfico e o uso de equipamentos adequados para verificao de sua autenticidade. Em operaes de fiscalizao de campo, dificilmente o agente ter condies e tempo de realizar o exame utilizando todos os recursos necessrios,

  • 28

    focando sua verificao em vestgios de adulterao mais evidentes, como rasuras na identificao do nmero do espelho e do Estado emissor e a ausncia de calcografia e imagem latente.

    A segunda verifica a autenticidade dos dados inseridos no documento. Com a implantao do sistema RENAVAM, pode-se verificar a autenticidade dos dados existentes no documento do veculo apresentado quando da atuao fiscalizadora. Dentre os diversos dados cadastrais existentes nesse documento, as principais informaes a serem confrontadas pelo agente fiscalizador, tendo como base de pesquisa a placa de identificao, so as caractersticas do veculo, seu nmero de identificao (VIN), a data de impresso do documento e o nmero de identificao do espelho. Em alguns Estados da Unio, o respectivo DETRAN insere no documento a respectiva identificao do motor do veculo.

    Finalmente, na terceira etapa temos a verificao da autenticidade da forma de preenchimento do documento. A maioria dos DETRANs do Brasil preenche os documentos dos veculos por meio de sistema automatizado, deixando nesta impresso caractersticas que permitem o seu rastreamento. Com treinamento especfico, o agente fiscalizador pode determinar se o documento examinado atende s caractersticas de impresso do respectivo DETRAN.

    Existem diversas maneiras de se adulterar um documento de veculo, contudo, em virtude da qualidade tcnica de sua impresso, a mais comum a obteno de um espelho original (furtado ou extraviado do DETRAN) e preenchimento com os dados do veculo ilcito. A realizao das etapas do exame acima descritas, quando efetuadas por um profissional qualificado, permite a apreenso de documentos de origem criminosa.

    3.3.2 TIPOS DE ADULTERAES DOS PONTOS DE IDENTIFICAO DOS VECULOS

    De acordo com Caccavali (2006), ao longo dos anos, diversos sistemas foram aplicados na adulterao dos caracteres identificadores de veculos automotores, tendo-se atribudo designao aos processos de adulterao, da forma como segue:

    a) AUSNCIA DA NUMERAO DE CHASSI neste processo a numerao do chassi removida por meio de uso de instrumento atuante a guisa de

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  • 29

    abrasivo, de percusso ou de corte, com o objetivo de dificultar a identificao do veculo.

    b) REGRAVAO consiste na remoo parcial ou total da numerao de identificao do veculo, normalmente por meio do uso de instrumento abrasivo, para posterior gravao de outra numerao.

    c) ADULTERAO SIMPLES aquela em que um ou mais caracteres sofre a alterao em sua configurao inicial por meio de rebatimento por sobreposio, dando origem a leitura de outro. o caso da alterao do caractere 3 para 8, 5 para 6, F para E, P para R e outros.

    d) RECOBRIMENTO DA PEA SUPORTE o recobrimento parcial ou total da numerao de identificao do chassi por meio do uso de massa plstica, estanho, etc., para posterior gravao de outra numerao.

    e) COLOCAO DE CHAPA METLICA SOBRE A SUPERFCIE DA GRAVAO ORIGINAL consiste no recobrimento parcial ou total da numerao de identificao do chassi por meio de chapa metlica (utilizando solda ou material adesivo) onde ser efetuada a nova gravao de identificao do veculo.

    f) SUBSTITUIO DA PEA SUPORTE neste processo ocorre a substituio parcial ou total da regio onde se encontra gravada a numerao de identificao do chassi. Tambm conhecida no meio policial como transplante ou implante.

    g) OCULTAO DA NUMERAO ORIGINAL E REGRAVAO PRXIMA AO LOCAL consiste na remoo da numerao original do chassi e regravao em local prximo. Este processo tambm utilizado nos casos em que o local da gravao da numerao de identificao do chassi sofreu alterao pela montadora.

    h) REMONTAGEM o aproveitamento de uma das partes do veculo, dianteira ou traseira, onde se encontra a gravao do chassi para ser remontada em veculo produto de furto ou roubo.

    No obstante a detalhada diviso acima descrita e tomando-se por base as respostas obtidas pelos Peritos Criminais do Instituto de Criminalstica de So Paulo, que no ano de 2008 realizaram aproximadamente 12.000 exames percias de Identificao Veicular, na essncia, notadamente aps a criao do sistema

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  • 30

    RENAVAM, podem-se dividir os tipos de adulteraes ocorridas nos veculos em trs grandes ramos, ou seja, a regravao, na qual o adulterador modifica todos os pontos de identificao de um veculo produto de furto/roubo, transformando-o em um dubl de um veculo existente e em condies normais de circulao, o transplante ou implante, ou seja, o adulterador possui um veculo legalizado que, por algum motivo apresenta baixo valor comercial (acidente de trnsito, por exemplo), e retira deste veculo todos seus pontos de identificao, implantando em outro veculo produto de furto/roubo e a ausncia da numerao do chassi, onde no se deseja modificar as identificaes do veculo para futura comercializao, promovendo, apenas, a destruio dos seus pontos de identificao com o objetivo de dificultar a obteno de sua identificao original.

    Seguramente, a qualidade tcnica da adulterao efetuada pelo processo de transplante ou implante melhor, e, a par do fato da documentao ser original, uma vez que o veculo que serviu para remoo dos pontos de identificao existe legalmente, alguns dos pontos de identificao existentes no veculo adulterado realmente so originais, pois, tiveram origem do veculo com baixo valor comercial. Ainda de acordo com as informaes obtidas junto aos Peritos Criminais do mencionado Instituto de Criminalstica, foi efetuado um detalhamento dos procedimentos para cada um dos tipos de adulteraes.

    3.3.2.1 REGRAVAO

    Podem ser considerados como regravao os tipos de adulterao descritos como REGRAVAO, ADULTERAO SIMPLES, RECOBRIMENTO DA PEA SUPORTE, COLOCAO DE CHAPA METLICA SOBRE A SUPERFCIE DA GRAVAO ORIGINAL e OCULTAO DA NUMERAO ORIGINAL E REGRAVAO PRXIMA AO LOCAL. Como foi mencionado anteriormente, o adulterador possui um veculo produto de furto/roubo e deseja obter vantagem econmica com a comercializao deste veculo. Obviamente, no ir comercializ-lo com suas identificaes originais, pois seria facilmente encontrado pelos rgos fiscalizadores do Governo. Dessa forma, ele tomar providncias com o objetivo de modificar os pontos de identificao desse veculo, transformando-o em outro que no apresenta queixa de furto/roubo. Em virtude do Sistema RENAVAM, o

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  • 31

    adulterador no consegue criar um novo nmero de identificao para este veculo que possui, sendo obrigado a utilizar um nmero j existente no sistema, originando o que popularmente se denomina de veculo dubl. Dependendo do conhecimento especfico na rea, do acesso s informaes do veculo original e dos recursos tcnicos disponveis, o adulterador ir modificar uma determinada quantidade de pontos de identificao do veculo produto de furto/roubo. Destarte, teremos veculos adulterados com diversos nveis de qualidade tcnica, desde os mais simples, sendo facilmente apreendidos em vistorias, at os mais bem elaborados, necessitando de exame especfico elaborado por profissionais experientes para serem apreendidos. A seguir est descrito os procedimentos mais comuns de adulteraes efetuados nos pontos de identificao dos veculos previstos na legislao brasileira considerando-se o tipo de adulterao da regravao:

    a) placas de identificao no raro encontrar em um veculo ilcito (adulterado ou produto de furto/roubo) um par de placas de identificao original, ou seja, a identificao da placa corresponde ao veculo original e foi produzido dentro dos critrios previstos na legislao de sua poca de fabricao, inclusive sua lacrao, acarretando a existncia de dois pares de placa de identificao originais com a mesma srie alfanumrica, um instalado no veculo original e o outro no veculo ilcito. Esta circunstncia esta diretamente relacionada com o fato de que, na maioria dos Estados da Unio, o servio de confeco das placas e de lacrao terceirizado, sendo apenas fiscalizado pelo Governo. No caso do adulterador no conseguir um par de placas com as caractersticas originais de fabricao e de lacrao, ele ser obrigado a modificar os dispositivos de segurana deste ponto de identificao, ou seja, o lacre e o respectivo arame e as caractersticas de fabricao da placa previstas na legislao. Estas alteraes normalmente so perceptveis na realizao de um exame mais detalhado, contudo, com o veculo em movimento no so facilmente notadas. Em virtude da existncia de diversos padres de lacrao nos Estados da Unio, da falta de disponibilizao destes padres em sistema e do fcil acesso dos adulteradores aos critrios originais de emplacamento, este ponto de identificao dos veculos no apresenta um bom nvel de segurana.

    b) nmero de identificao veicular (VIN) conforme previsto na Resoluo 024/98 do CONTRAN:

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    a gravao do nmero de identificao veicular (VIN) no chassi ou monobloco, dever ser feita, no mnimo, em um ponto de localizao, de acordo com as especificaes vigentes e formatos estabelecidos pela NBR 3 n 6066 da Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT, em profundidade mnima de 0,2 mm.

    Na regravao, o adulterador desbasta a gravao do nmero de identificao veicular original ou utiliza algum dos outros processos mencionados e efetua gravao de outro nmero de identificao veicular. Esta circunstncia pode ser verificada pelo exame do revestimento de pintura que recobre a regio da gravao do nmero de identificao do veculo utilizando-se solvente adequado, uma vez que a pintura original do fabricante no sofre a ao deste solvente, pela verificao do verso da chapa onde se encontra a gravao, buscando vestgios de rebatimento, pela anlise do processo de confeco da gravao (cunhagem, ponto a ponto, ponto sobre ponto e a laser) e pela configurao dos respectivos caracteres e ainda corroborada pelo ataque qumico (exame metalogrfico) na respectiva superfcie de gravao, objetivando a revelao de caracteres latentes.

    c) nmero seqencial de produo (VIS) gravado nos vidros do veculo conforme previsto na Resoluo 024/98 do CONTRAN:

    alm da gravao no chassi ou monobloco, os veculos sero identificados, no mnimo, com os caracteres VIS (nmero seqencial de produo) previsto na NBR 3 n 6066, podendo ser, a critrio do fabricante, por gravao, na profundidade mnina de 0,2 mm, quando em chapas ou plaqueta colada, soldada ou rebitada, destrutvel quando de sua remoo, ou ainda por etiqueta autocolante e tambm destrutvel no caso de tentativa de sua remoo, nos seguintes compartimentos e componentes: I na coluna da porta dianteira lateral direita. II no compartimento do motor. III em um dos pra-brisas e em um dos vidros traseiros, quando existentes. IV em pelo menos dois vidros de cada lado do veculo, quando existentes, excetuados os quebra-ventos.

    Para atender o previsto quanto existncia do nmero seqencial de produo nos vidros do veculo, as montadoras optaram por gravao efetuada por meio de processo qumico (cido fluordrico) na parte externa dos vidros. Este processo permite aos adulteradores a remoo do respectivo nmero por meio da ao de instrumento atuante a guisa de abrasivo e a regravao de outro nmero seqencial. Se o mencionado processo de

  • 33

    desbaste e regravao for efetuado com equipamento especfico, o agente fiscalizador ou perito no possui condies tcnicas de verificar a ocorrncia desta circunstncia.

    d) nmero seqencial de produo (VIS) gravado nas etiquetas de identificao as etiquetas de identificao utilizadas pelas montadoras nacionais e tambm pelas empresas importadoras de veculos aqui no Brasil, so produzidas pela 3M do Brasil e recebem a gravao do nmero VIS quando da produo do veculo na montadora ou importadora. Estas etiquetas medem 5,5 x 1,5 cm e apresentam um elevado nvel de segurana, sendo tal circunstncia motivada pelo fato de exibirem elementos de identificao latentes, visveis somente com a utilizao de equipamento especfico denominado CONFIRM (verificador de laminado de segurana), e pelo fato de serem destrutveis quando da tentativa de remoo. As alteraes produzidas nessas etiquetas, quando da adulterao de um veculo por regravao, so passveis de verificao no exame realizado com a utilizao do mencionado equipamento, contudo, pelas informaes coletadas no Setor de Identificao Veicular do Instituto de Criminalstica de So Paulo, evidenciou-se o fato de existir um elevado nmero de veculos adulterados contendo as respectivas etiquetas de identificao originais (apresentando o nmero VIS do veculo adulterado). Pela legislao vigente, estas etiquetas de identificao podem ser reemitidas pelas montadoras. Essa possibilidade de nova emisso sem a criao de dispositivo de controle pelo Governo facilita o fato de veculos adulterados possurem etiquetas originais.

    e) nmero de identificao do motor as Resolues 199/2006, 250/2007 e 282/2008 do CONTRAN tratam especificamente da gravao de identificao dos motores que equipam os veculos aqui no Brasil. No obstante o fato de ter ocorrido uma evoluo no combate a ocorrncia de delitos envolvendo este conjunto com a edio dessas resolues, ainda assim estamos distantes de uma circunstncia segura aos consumidores. As montadoras nacionais no realizam esforo algum para tornar a identificao dos motores dos veculos mais segura, nem ao menos a criao de um padro de identificao e cadastramento na BIN (Base de ndice Nacional) normatizado. Esta a nica base de dados disponvel para pesquisa dos rgos fiscalizadores. Em um veculo adulterado por regravao, ou o motor ser

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    original, sendo verificada pela pesquisa a BIN em uma operao de fiscalizao, ou ser regravado, sendo necessria a realizao de exames especficos nos Institutos de Criminalstica para verificao desta circunstncia.

    3.3.2.2 IMPLANTE OU TRANSPLANTE

    Podem ser considerados como implante ou transplante os tipos de adulterao descritos como SUBSTITUIO DA PEA SUPORTE e REMONTAGEM. Como foi mencionado anteriormente, o adulterador possui um veculo lcito que perdeu o valor comercial (comprado de leilo ou sinistrado e sem seguro) e deseja recuperar o valor de comercializao desse veculo. Obviamente, no ir consertar ou reformar esse veculo, pois esta opo no apresenta vantagem econmica alguma. Dessa forma, ele tomar providncias com o objetivo conseguir um veculo semelhante, proveniente de furto/roubo e ir modificar os pontos de identificao desse veculo, transformando-o no veculo lcito que possui. O veculo lcito que perdeu o valor comercial encontra-se inserido no Sistema RENAVAM e possui a respectiva documentao original e emitida pelo DETRAN. Dependendo do conhecimento especfico na rea e dos recursos tcnicos disponveis, o adulterador ir modificar uma determinada quantidade de pontos de identificao do veculo produto de furto/roubo para transform-lo no veculo lcito, contudo, sua atividade fica mais facilitada, uma vez que ele possui as informaes originais e alguns dos pontos de identificao do veculo lcito. Mesmo assim, teremos veculos adulterados com diversos nveis de qualidade tcnica, desde os mais simples, sendo facilmente apreendidos em vistorias, at os mais bem elaborados, necessitando de exame especfico elaborado por profissionais experientes para serem apreendidos. Os procedimentos mais comuns de adulteraes efetuados nos pontos de identificao dos veculos previstos na legislao brasileira considerando-se o tipo de adulterao do implante:

    a) placas de identificao conforme descrito na adulterao por regravao, no raro encontrar em um veculo ilcito (adulterado ou produto de furto/roubo) um par de placas de identificao original, ou seja, a identificao da placa corresponde ao veculo original e foi produzida dentro dos critrios

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    previstos na legislao de sua poca de fabricao, inclusive sua lacrao. Na adulterao por implante esta circunstncia ainda mais comum, uma vez que o adulterador possui o veculo lcito e sua documentao, possibilitando, desta forma, a utilizao de placas de identificao e lacrao dentro dos padres utilizados pelo DETRAN no veculo proveniente de furto/roubo j com seus pontos de identificao originais adulterados.

    b) nmero de identificao veicular (VIN) conforme previsto na Resoluo 024/98 do CONTRAN:

    a gravao do nmero de identificao veicular (VIN) no chassi ou monobloco, dever ser feita, no mnimo, em um ponto de localizao, de acordo com as especificaes vigentes e formatos estabelecidos pela NBR 3 n 6066 da Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT, em profundidade mnima de 0,2 mm.

    No implante, o adulterador, normalmente, recorta a regio da gravao do nmero de identificao veicular original, existente no veculo lcito, e implanta, por meio de cordes de soldadura e acabamento de funilaria, no veculo produto de furto/roubo, que, previamente, teve a mesma regio removida. Para constatao da ocorrncia desta circunstncia, o agente fiscalizador deve ter experincia na rea e equipamentos especficos para realizao do exame.

    c) nmero seqencial de produo (VIS) gravado nos vidros do veculo o adulterador ir utilizar os mesmos processos de modificao mencionados na adulterao por regravao.

    d) nmero seqencial de produo (VIS) gravado nas etiquetas de identificao como mencionado no item anterior, o adulterador ir utilizar os mesmos processos de modificao mencionados na adulterao por regravao.

    e) nmero de identificao do motor prevalece o descrito na adulterao por regravao, contudo, em virtude do adulterador possuir o veculo lcito, existe a possibilidade da remoo do motor deste veculo lcito e a instalao deste conjunto no veculo produto de furto/roubo, quando da sua adulterao. Destarte, em um veculo adulterado por implante, ou o motor ser original, no apresentando incoerncia alguma com os dados existentes no Sistema RENAVAM, ou ser regravado, sendo necessria a realizao de exames

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    especficos nos Institutos de Criminalstica para verificao desta circunstncia.

    3.3.2.3 AUSNCIA DA NUMERAO DO CHASSI

    Neste tipo de adulterao, no se deseja a obteno de vantagem econmica com a comercializao do veculo adulterado, sendo que o principal objetivo a utilizao do veculo, produto de furto ou roubo, como meio de transporte. Dessa maneira, para no deixar vestgios que permitam a identificao do veculo e, conseqentemente, a caracterizao da ocorrncia do crime de furto ou roubo, o adulterador preocupa-se, to-somente, em destruir os pontos de identificao do veculo. D acordo com a jurisprudncia, o crime de destruio de sinal identificador do veculo (artigo 311 do Cdigo Penal) apresenta caracterizao mais complexa, enquanto o de receptao (artigo 180 do mesmo cdigo) mais fcil de ser caracterizado. A destruio dos sinais identificadores do veculo por ser efetuada por meio de instrumento atuante a guisa de abrasivo (desbaste da superfcie), de percusso (obliterao dos caracteres de identificao) ou de corte (remoo da identificao), sendo esse tipo de adulterao extremamente comum de ocorrer com motocicletas.

    3.4 ATIVIDADE POLICIAL DE FISCALIZAO DE VECULO

    3.4.1 PESQUISA FEITA JUNTO A POLICIAIS CIVIS

    Na Polcia Civil do Estado de So Paulo, a atividade envolvendo o combate ao crime de furto e roubo de veculos possui uma Diviso Especializada no Departamento de Investigaes sobre o Crime Organizado (DEIC) denominada DIVECAR. Esta Diviso composta por 04 (quatro) Delegacias Especializadas, apresentando um efetivo de aproximadamente 180 policiais (efetivo em novembro de 2009).

    No intento de se determinar os principais aspectos operacionais da atividade voltada a fiscalizar a existncia de adulteraes em veculos, foi solicitado a 92

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    policiais em servio nestas delegacias especializadas da DIVECAR, que respondessem ao questionrio constante no APNDICE A deste trabalho, com as seguintes indagaes:

    a) Do sistema atual de identificao de veculos, no seu entender, quais so os pontos positivos?

    b) Do sistema atual de identificao de veculos, no seu entender, quais so os pontos negativos?

    c) Para facilitar e melhorar seu desempenho como policial da DIVECAR, o que voc modificaria no atual sistema de identificao de veculos?

    Aps detida anlise das respostas elaboradas pelos policiais acima mencionados, constatou-se que:

    a) Referente indagao descrita no item a, os pontos positivos do sistema de identificao atual de veculos que facilitam a atividade profissional de fiscalizao so: - a utilizao da identificao do veculo baseada na norma ABNT NBR3 6066 (VIN);

    - a quantidade de pontos de identificao existentes nos veculos; - a facilidade de pesquisa na BIN (Base de Identidade Nacional).

    b) Referente indagao descrita no item b, os pontos negativos do sistema de identificao atual de veculos que prejudicam a atividade profissional de fiscalizao so: - a dificuldade de localizao de alguns pontos de identificao dos veculos, notadamente, a gravao de identificao do motor; - a facilidade que os adulteradores encontram para modificar alguns dos pontos de identificao dos veculos; - a inexistncia de padronizao das montadoras para gravao e cadastramento da identificao do motor dos veculos.

    c) Referente indagao descrita no item c, as principais modificaes que os policiais efetuariam no atual sistema de identificao de veculos so: - criao de novos pontos de identificao nos veculos, ou seja, aumentar a quantidade de pontos de identificao, notadamente, na respectiva parte estrutural do veculo;

  • 38

    - criao de identificaes eletrnicas que permitam leitura por meio de equipamento de fcil utilizao;

    - maior facilidade de obter informaes das montadoras.

    3.4.2 PESQUISA FEITA JUNTO A PERITOS CRIMINAIS

    Conforme estatstica oficial do Instituto de Criminalstica do Estado de So Paulo, no ano de 2008, foram realizados 11980 exames de Identificao Veicular. Tais exames tm como principal objetivo inferir sobre a autenticidade dos pontos de identificao dos veculos e, no caso de adulterao, determinar suas identificaes originais. Nos setores com maior demanda, o exame realizado por equipe especializada, sendo o Perito Criminal responsvel pela atividade. No intento de se determinar os principais aspectos operacionais envolvendo a atividade pericial voltada a determinar a existncia de adulteraes em veculos, foi efetuada consulta a diversos peritos especializados na atividade de identificao veicular, concluindo-se que as principais dificuldades so:

    a) Pouca quantidade de pontos de identificao que permitam a revelao da gravao original de identificao dos veculos;

    b) dificuldade de localizao de alguns pontos de identificao dos veculos, notadamente, o motor;

    c) possibilidade de modificao de alguns pontos de identificao dos veculos com qualidade tcnica satisfatria, dificultando a verificao;

    d) falta de equipamentos especficos que permitam, com maior facilidade, a revelao das gravaes originais de identificao dos veculos no caso de adulterao;

    e) dificuldade no acesso de informaes junto s montadoras.

    No contexto policial, o Perito Criminal atua somente mediante requisio, ou seja, ele no participa da atividade de fiscalizao, atuando aps a suspeita e apreenso de um veculo. A importncia da determinao das principais dificuldades encontradas por este profissional se deve ao fato de que a verificao da autenticidade dos pontos de identificao de um veculo, bem como, no caso de veculo adulterado, a obteno das identificaes originais, so exclusivas de sua

  • 39

    atividade. Desta maneira, sua atuao visa, de maneira mais geral, a recuperao de um veculo produto de furto/roubo e a devoluo desse veculo ao seu proprietrio original.

    3.5 DETERMINAES DAS FUNES VOLTADAS A IDENTIFICAO VEICULAR NO BRASIL

    Considerando-se como principal objetivo dos critrios de identificao de um veculo o atendimento das necessidades do consumidor, pode-se afirmar que a segurana que estes critrios transmitem ao veculo fator muito importante, ou seja, a dificuldade que este sistema consegue produzir para se furtar/roubar e adulterar um veculo medir a sua eficincia. Adotando-se esta linha de raciocnio e considerando-se que a violncia varia conforme a regio em que se est, razovel admitir-se critrios de identificao de veculos diferentes para as diversas regies. Sabemos que no mundo, no ano de 2008, o leste europeu viveu uma realidade semelhante do Brasil e muito diferente a de pases como Japo e Estados Unidos, isto se levando em considerao o delito de furto e roubo de veculos. Destarte, o fato de se considerar o ponto de vista da segurana para determinao das funes desejadas para os critrios de identificao dos veculos adequado para um pas com uma realidade como a do Brasil. Para a determinao das funes desejadas, efetuou-se o estudo separado de cada grupo de profissionais indagados.

    Da anlise das entrevistas efetuadas com os Peritos Criminais, destaca-se: a) Do item a, Pouca quantidade de pontos de identificao que permitam a

    revelao da gravao original de identificao dos veculos, obtm-se a funo DIVERSIFICAR PONTOS DE IDENTIFICAO.

    b) Do item b, Dificuldade de localizao de alguns pontos de identificao dos veculos, notadamente, o motor, obtm-se a funo FACILITAR LOCALIZAO PONTOS DE IDENTIFICAO.

    c) Do item c, Possibilidade de modificao de alguns pontos de identificao dos veculos com qualidade tcnica satisfatria, dificultando a verificao, obtm-se a funo DIFICULTAR ADULTERAO PONTOS DE IDENTIFICAO.

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    d) O item d, Falta de equipamentos especficos que permitam, com maior facilidade, a revelao das gravaes originais de identificao dos veculos no caso de adulterao, no est diretamente relacionado com o sistema de identificao atual de veculos e sim com a estrutura do Instituto de Criminalstica, contudo, mesmo assim, pode-se obter uma funo deste item, ou seja, PERMITIR REVELAO PONTOS DE IDENTIFICAO.

    e) O item e, Dificuldade no acesso de informaes junto s montadoras, igualmente, no est diretamente relacionado com o sistema de identificao atual de veculos e sim com a legislao e estrutura das montadoras, contudo, da mesma forma, pode-se obter uma funo deste item, ou seja, FACILITAR ACESSO A INFORMAO.

    Da anlise das respostas descritas pelos policias da DIVECAR ao item a do questionrio, ou seja, Do sistema atual de identificao de veculos, no seu entender, quais so os pontos positivos, destaca-se:

    a) Do primeiro ponto positivo, a utilizao da identificao do veculo baseada na norma ABNT NBR3 6066 (VIN), obtm-se a funo PADRONIZAR IDENTIFICAO.

    b) Do segundo ponto positivo, a quantidade de pontos de identificao existentes nos veculos, obtm-se a funo DIVERSIFICAR PONTOS DE IDENTIFICAO.

    c) Do terceiro ponto positivo, a facilidade de pesquisa na BIN (Base de Identidade Nacional), obtm-se a funo FACILITAR ACESSO A INFORMAO.

    Da anlise das respostas descritas pelos policias da DIVECAR ao item b do questionrio, ou seja, Do sistema atual de identificao de veculos, no seu entender, quais so os pontos negativos, destaca-se:

    a) Do primeiro ponto negativo, a dificuldade de localizao de alguns pontos de identificao dos veculos, notadamente, a gravao de identificao do motor, obtm-se a funo FACILITAR LOCALIZAO PONTOS DE IDENTIFICAO.

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    b) Do segundo ponto negativo, a facilidade que os adulteradores encontram para modificar alguns dos pontos de identificao dos veculos, obtm-se a funo DIFICULTAR ADULTERAO PONTOS DE IDENTIFICAO.

    c) Do terceiro ponto negativo, a inexistncia de padronizao das montadoras para gravao e cadastramento da identificao do motor dos veculos, obtm-se a funo PADRONIZAR IDENTIFICAO.

    Da anlise das respostas descritas pelos policias da DIVECAR ao item c do questionrio, ou seja, Para facilitar e melhorar seu desempenho como policial da DIVECAR, o que voc modificaria no atual sistema de identificao de veculos, destaca-se:

    a) Da primeira modificao, Criao de novos pontos de identificao nos veculos, ou seja, aumentar a quantidade de pontos de identificao, notadamente, na respectiva parte estrutural do veculo, obtm-se a funo DIVERSIFICAR PONTOS DE IDENTIFICAO.

    b) Da segunda modificao, Criao de identificaes eletrnicas que permitam leitura por meio de equipamento de fcil utilizao, obtm-se a funo DIFICULTAR ADULTERAO PONTOS DE IDENTIFICAO.

    c) Da terceira modificao, maior facilidade de obter informaes das montadoras, obtm-se a funo FACILITAR ACESSO A INFORMAO.

    Confrontando-se as funes obtidas das fontes pesquisadas, obtm-se que os critrios de identificao dos veculos adequados para a realidade brasileira devem apresentar, alm de individualizar o veculo, as seguintes funes:

    1) DIVERSIFICAR PONTOS DE IDENTIFICAO; 2) FACILITAR LOCALIZAO PONTOS DE IDENTIFICAO; 3) DIFICULTAR ADULTERAO PONTOS DE IDENTIFICAO; 4) PERMITIR REVELAO PONTOS DE IDENTIFICAO; 5) FACILITAR ACESSO A INFORMAO; 6) PADRONIZAR IDENTIFICAO.

    Da leitura das funes obtidas para os critrios de identificao dos veculos adequados para a realidade brasileira, percebe-se que as necessidades dos profissionais envolvidos na rea da segurana, tecnicamente, podem ser atendidas

  • 42

    pelas montadoras nacionais e importadoras. De acordo com a legislao brasileira, o sistema de identificao atual, vigente desde janeiro de 1999, atende parcialmente ou no atende a maioria das funes descritas.

  • 43

    4 NOVAS TECNOLOGIAS QUE PODEM SER EMPREGADAS NA IDENTIFICAO VEICULAR NO BRASIL

    Tendo-se como base as funes voltadas identificao veicular aqui no Brasil, descritas no captulo anterior e provenientes de pesquisa efetuada junto a diversos tipos de profissionais especializados na rea, efetuou-se exaustiva busca em diversas bases de pesquisa cientfica. Verificou-se que a aplicao de novas medidas e a implantao de novas tecnologias eficiente e diminui os ndices de furto e roubo de veculos. A seguir, o resultado da pesquisa que melhor se adapta realidade brasileira.

    4.1 MELHORIAS NOS CRITRIOS DE IDENTIFICAO DO MOTOR DO VECULO

    Pelas pesquisas efetuadas junto legislao referente ao tema, conclui-se que o motor o principal agregado identificado em um veculo. No sistema RENAVAM, os veculos produzidos a partir de 1991 apresentam nos seus dados cadastrais a identificao do respectivo motor, podendo-se, inclusive, efetuar a pesquisa pela identificao deste agregado. Esta circunstncia facilita as atividades dos profissionais envolvidos na fiscalizao de veculos, uma vez que possibilita a verificao, por meio da pesquisa, da substituio e legitimidade deste agregado. A partir da Resoluo 199/06 do CONTRAN, os rgos oficiais so obrigados a examinar e pesquisar no sistema RENAVAN a gravao de identificao do motor quando da transferncia de veculos. Esta medida foi ratificada nas Resolues 250/07 e 282/08 do CONTRAN, e, por meio da Portaria 131/08 do DENATRAN, e alterada pela Portaria 660/09 em 21 de dezembro de 2009, este exame tambm pode ser efetuado por empresas privadas credenciadas pelo prprio DENATRAN, denominadas ECVs (Empresa Credenciada em Vistoria). Tomando como base pesquisa efetuada junto aos funcionrios operacionais dos ptios de vistoria do DETRAN/SP existentes na cidade de So Paulo (Ptio Villa Lobos, Ptio Aricanduva e Ptio Armnia) e em duas grandes ECVs que atuam em diversos estados da Unio (Superviso Percias Automotivas e Evydhence Pericia

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    Automotiva), constatou-se que esta atividade envolvendo o exame e pesquisa dos motores dos veculos apresenta duas grandes dificuldades, ou seja:

    a) A pesquisa efetuada junto Base de ndice Nacional (BIN) pelo nmero de identificao do motor no confivel - as montadoras nacionais no apresentam padro algum para criao da identificao dos motores dos veculos e realizam o cadastramento dessa identificao sem nenhuma consistncia ou verificao pelo Governo. Muitas vezes, cadastram no Sistema RENAVAM srie de identificao parcialmente divergente da produzida no bloco do motor do respectivo veculo. Esta circunstncia bastante comum dentro as montadoras, conforme se pode verificar nos exemplos descritos a seguir, extrados de nossa prtica profissional. - na Fiat, motor no veculo com srie de identificao 8D0004929 e no cadastro do Sistema RENAVAM com identificao 8D*0004929*; - na Renault, motor no veculo com srie de identificao K4MK740Q009394 e no cadastro do Sistema RENAVAM com identificao Q009394; - na Peugeot, motor no veculo com srie de identificao KFW10DBS7PSA0056908 e no cadastro do Sistema RENAVAM com identificao 10DBS7PSA0056908. O confronto das identificaes existentes no veculo com os respectivos dados cadastrais procedimento comum nas operaes de fiscalizao dos agentes do Estado, sendo que a pesquisa pode ser realizada de diversas maneiras, inclusive pelo nmero do motor. A divergncia existente, em diversos veculos, entre a identificao cadastrada para o motor do veculo e a identificao realmente existente nesse componente, dificulta e torna menos eficiente a atividade de fiscalizao dos rgos oficiais.

    b) o exame destinado a determinar a originalidade da gravao de identificao do motor contido no veculo se baseia na anlise da superfcie onde se encontra a gravao (se porosa ou usinada e, caso usinada, nas marcas da rugosidade superficial desta usinagem) e no processo de gravao e configurao dos caracteres da srie de identificao. A dificuldade existe em virtude da grande variedade de padres utilizados pelas montadoras, muitas vezes para o mesmo modelo de veculo. Seguem ilustraes demonstrando esta circunstncia.

  • 45

    Fi

    A criao do RENAMO (Registro Nacional de Motores - Resoluo 282/08 do CONTRAN) pelo governo no contribui para soluo deste problema, uma vez que no aborda sobre estes dois aspectos apresentados. Desta forma, so sugeridas duas medidas a serem tomadas pelos rgos oficias que visam a solucionar o problema.

    a) a gravao de identificao do motor dos veculos nacionais deve se localizar em superfcie porosa, ou seja, que no sofreu processo algum de usinagem e

    Figura 3 - Motor de Celta 2006/2007. Superfcie usinada com rugosidade praticamente longitudinal e processo de gravao denominado ponto sobre ponto. Fonte: arquivo pessoal do autor.

    Figura 4 - Motor de Celta 2003/2003. Superfcie usinada com rugosidade circular e processo de gravao denominado ponto a ponto. Fonte: arquivo pessoal do autor.

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    visvel ao examinador sem a necessidade de desmontagem de componentes deste motor. Esta medida impossibilita a ocorrncia de usinagem visando adulterao da srie de identificao do motor sem deixar vestgios aparentes dessa operao.

    b) a criao de uma norma que estabelea um critrio nico de formao da srie de identificao do motor do veculo, obrigando que a gravao efetuada no bloco do motor pela montadora seja igual a do sistema RENAVAM, sem diferena de caractere algum, permitindo, desta forma, a pesquisa direta e confivel pela identificao verificada neste bloco do motor.

    4.2 GRAVAES DO VIN EM DOIS PONTOS DA ESTRUTURA DO VECULO

    Pela pesquisa efetuada junto aos profissionais especializados na rea, foi quase uma unanimidade a afirmao que a existncia de uma segunda gravao de identificao do chassi facilitaria e propiciaria a realizao de uma fiscalizao mais eficiente. No Brasil, a montadora denominada General Motors do Brasil, at o ano de 1991, efetuava em todos os seus modelos produzidos aqui no Brasil uma segunda gravao de identificao do chassi, localizada na parte interna da estrutura do veculo, denominada segredo, cuja anlise, segundo os policiais entrevistados, era decisiva em casos de dvida a respeito da originalidade do caso em tela. Muito embora, em virtude do tempo decorrido, no se tenha mais disposio os dados estatsticos sobre furto e roubo de veculos por modelos e marcas, que permitam a realizao de uma anlise mais qualitativa, ainda assim, no se pode desprezar a experincia de anos trabalhados na atividade de centenas de profissionais envolvidos na rea. Em nossa legislao, mais precisamente, na Resoluo 024/98 do CONTRAN, que ainda est em vigor e determina os principais critrios de identificao para veculos produzidos aqui no Brasil e para os importados, conforme o descrito no artigo 4, Nos veculos reboques e semi-reboques, as gravaes sero feitas, no mnimo, em dois pontos do chassi. Pode-se concluir que, por meio da anlise desta resoluo, o CONTRAN e o DENATRAN entendem que a segunda gravao de identificao do chassi torna o critrio de identificao de um veculo mais seguro, uma vez que os tipos de veculos mencionados apresentam poucos

  • 47

    pontos de identificao. Pode-se concluir, tambm, que o CONTRAN e o DENATRAN no decidem a respeito de medidas que impactam os processos de fabricao das montadoras aleatoriamente, tomam estas decises baseados em dados estatsticos confiveis, o que deve ter ocorrido quando da publicao desta resoluo (dcada de 90 do sculo XX). Desta forma, malgrado o descrito sobre a ausncia de dados estatsticos a respeito de furto e roubo de veculos das dcadas de 80 e 90 do sculo XX, ainda assim, com base na experincia de profissionais da rea e pela anlise da legislao brasileira, pode-se afirmar que a realizao de uma segunda gravao de identificao, obrigatoriamente em baixo relevo, contendo, no mnimo, o setor VIS do nmero VIN, localizada na parte interna da estrutura do veculo e que permita sua visualizao sem a necessidade de desmontagem de componentes, tornaro os critrios de identificao de um veculo mais seguros e eficientes. A par deste fato, de acordo com Quintela e Lionello (2004) e corroborado pela pesquisa efetuada junto a Peritos Criminais do Instituto de Criminalstica de So Paulo, a principal maneira de se obter a gravao original de identificao de um veculo adulterado se d por meio de exame metalogrfico5 realizado por ataque qumico na superfcie desta gravao. Em virtude do encruamento ocorrido na superfcie metlica quando da realizao da gravao de identificao do veculo em baixo relevo, remanescem vestgios latentes que podem ser revelados por meio deste procedimento, mesmo aps a remoo por desbaste do nmero aparente original e a regravao de outra identificao. Com o desenvolvimento de novas tecnologias, o exame metalogrfico realizado por ataque qumico (exame considerado destrutvel) vem sendo substitudo pelos Institutos de Criminalstica do Brasil por exames no destrutveis que induzem um campo magntico na superfcie e, pela anlise da variao deste campo, se obtm, igualmente, a revelao da gravao original de identificao do veculo. A Gurteq Ensaios no Destrutveis trouxe esta tecnologia proveniente do leste europeu ao Brasil, denominando as tcnicas de POLIRAIDER e MAGRAIDER, resumidamente descritas a seguir:

    POLIRAIDER tecnologia de ensaio no destrutivo para a anlise da autenticidade de gravao, efetuada em superfcies metlicas e ligas, e recuperao dos dados das marcaes primrias adulteradas. Emprega mtodo eletroqumico e baseia-se

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    no efeito de variao das propriedades da estrutura cristalina das superfcies metlicas e de ligas sujeitas a ao mecnica, eletro-mecnica e trmica. Neste processo se faz necessria a remoo do revestimento de pintura da superfcie e os resultados do exame so visualizados em curto espao de tempo (3 a 10 minutos).

    As principais indicaes de uso deste processo so:

    a) Identificao das adulteraes em marcaes gravadas em superfcies metlicas (ligas);

    b) Recuperao dos dados da marcao primria adulterada;

    c) Confirmao da localizao dos cordes de solda.

    MAGRAIDER tecnologia de ensaio no destrutvel que utiliza o mtodo magntico para identificao da existncia e da localizao das juntas soldadas na carroceria do veculo, assim como, para recuperao dos dados das marcaes primrias adulteradas do chassi e do motor. Neste processo, o revestimento de pintura da superfcie analisada permanece intacto e os resultados do exame so visualizados em curto espao de tempo (1 a 3 minutos). Pode ser aplicada tambm para anlise

    5 No Instituto de Criminalstica de So Paulo utilizado o reagente qumico denominado Bessemans Haemers

    para a realizao do exame metalogrfico.

    Figura 5 - Exemplo da aplicao da tecnologia denominada POLIRAIDER. Fonte: . Acesso em 15/12/2009.

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    prvia de autenticidade, permitindo a localizao mais rpida dos vestgios latentes de adulterao (regravao ou transplante).

    As principais indicaes de uso deste processo so:

    a) Identificao da presena e localizao dos cordes de solda na carroceria (de material magntico) de veculos automotores

    b) Identificao dos indcios de adulteraes em marcaes gravadas nas superfcies de materiais magnticos

    c) Recuperao dos dados da marcao primria adulterada

    Figura 6 Exemplo da aplicao da tecnologia denominada MAGRAIDER. Fonte: . Acesso em 15/12/2009.

    Desta maneira, a existncia de duas gravaes de identificao realizadas em baixo relevo na estrutura do veculo, aumentaria de forma significativa a probabilidade de obter xito na revelao da gravao original de identificao do chassi de um veculo adulterado.

  • 50

    4.3 TECNOLOGIA DE IDENTIFICAO BASEADA EM MICROPONTOS

    De acordo com as empresas DATADOT e AUTODOT, os micropontos foram desenvolvidos, originalmente em 1940, pelo Exrcito dos EUA, para identificao de itens e espionagem (transporte de dados). Com o advento do laser, na dcada de 90, os micropontos foram viabilizados comercialmente, tendo como sua primeira aplicao o mercado de cassinos.

    Ainda de acordo com as mencionadas empresas, a tecnologia de micropontos, baseada na nanotecnologia, utiliza minsculos discos de material plstico, resistentes ao calor, gravados a laser com cdigos pessoais ou comerciais. No caso dos veculos, o nmero do chassi (VIN) misturado a um adesivo especial, visvel somente na presena de luz ultra-violeta e, em virtude de suas dimenses, podendo ser lido apenas com a utilizao de equipamento ptico especfico. .

    A gravao do nmero do chassi do veculo ou do nmero de srie para componentes j era utilizada com o objetivo de desencorajar roubos, temos exemplos no Brasil dessa aplicao conhecidos comercialmente como vacina anti-furto. Porm, ladres profissionais podem facilmente adulterar ou trocar estes cdigos. A tecnologia de micropontos um conceito mais avanado, a partir do qual os dados so gravados (criptografados) em minsculos pontos, do tamanho de um gro de areia, e pulverizados sobre a superfcie desejada, aderindo permanentemente e no perceptveis vista desarmada.

    .

    Figura 7 - DataDotDNA ampliado. Fonte: .

    Acesso em: 15/12/2009

    Figura 8 - AutoDot ampliado. Fonte: . Acesso em:15/12/2009

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    Em diversas partes do mundo j existem aplicaes efetivas deste tipo de tecnologia e as empresas DATADOT e AUTODOT apresentam confiveis dados estatsticos sobre sua utilizao.

    Conforme descrito pelas mencionadas empresas, o fato da tecnologia de micropontos no permitir a reproduo da informao e, praticamente, impossibilitar a remoo de todos os pontos, aumenta, de forma significativa, o risco de roubar um bem e repass-lo. Se apenas um microponto permanecer no objeto, o roubo poder ser comprovado. De uma forma geral, a tecnologia oferece os seguintes benefcios:

    a) Segurana para o proprietrio;

    b) Poder de investigao para a polcia;

    c) Possibilidade de rastreamento do bem. Ainda de acordo com a DATADOT, a metodologia de aplicao dos micropontos depende, normalmente, da geometria e tamanho da pea suporte. Para bens de grande dimenso, como um veculo, por exemplo, os micro-pontos podem ser aplicados por spray, a partir de dois processos patenteados:

    a) Automtico (robs): utilizado nas linhas de montagem de veculos, permite aplicar de 1.000 a 10.000 micropontos em menos de 1 minuto. O processo utiliza uma instalao pneumtica (ar comprimido).

    b) Manual: utilizado no mercado ps-venda, pode ser equipado tanto com uma instalao pneumtica, como um sistema aerosol, o qual permite ao mais leigo usurio aplicar o produto sem dificuldades.

    Efetuada pesquisa sobre a tecnologia de micropontos, constatou-se que dois centros voltados rea automobilstica testaram sua aplicao, destacando-se:

    a) o Thatcham, centro de pesquisa e segurana automotiva do Reino Unido, testou sob os critrios de condicionamento, aplicao, testes de Campo, verificao de Identidade, busca de identificao veicular, banco de dados, interatividade com a Polcia, recebendo aprovao na categoria Q (Identificao). O sistema demonstrou ser durvel e confivel em ambiente automotivo.

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    b) o Cesvi Brasil, centro de experimentao e segurana viria, testou e aprovou o sistema de micropontos, segundo os critrios de durabilidade, adeso ao substrato, resistncia a intempries e verificao de identidade.

    Nesta primeira dcada do sculo XXI, algumas montadoras passaram a utilizar como complemento ao sistema de identificao do veculo, a tecnologia de micro-pontos, destacando-se a BMW, a Subaru e a HSV.

    A eficincia da utilizao desta tecnologia foi mensurada pelas mencionadas montadoras e, pelos valores obtidos nos levantamentos estatsticos efetuados sobre a ocorrncia de roubo/furto e recuperao dos veculos, recomenda-se a continuidade de sua utilizao. Tm-se, a seguir, grficos com dados estatsticos elaborados pela empresa que desenvolveu a tecnologia denominada DATADOT. Estes dados so referentes ocorrncia de furtos e roubos de veculos ocorridos na Austrlia e leva em considerao duas marcas de veculos que utilizam a tecnologia naquele pas, ou seja, a BMW e a Subaru. Os dados indicam a quantidade de veculos com registro de furto ou roubo e que ainda no foram localizados pelos rgos oficiais.

    Figura 9 - anlise comparativa indicando ndices de recuperao de veculos. Fonte: Ilustrao retirada da apresentao fornecida pela empresa DATADOT.

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    Segue abaixo outra tabela, igualmente elaborada pela empresa que desenvolveu a tecnologia denominada DATADOT. Os dados so referentes a ocorrncias de furtos e roubos de veculos ocorridos na Austrlia e leva em considerao trs marcas de veculos que utilizam a tecnologia naquele pas, ou seja, BMW, HSV e Subaru. A quantidade de veculos que compem a base deste estudo bastante significativa e, da mesma maneira, separa os veculos em dois grupos, os marcados, ou seja, que receberam os micropontos de identificao e os no marcados. Para se entender melhor os dados abaixo descritos, ser efetuada a anlise dos veculos da marca Subaru. Desta marca tem-se que 170382 veculos foram marcados, sendo que dos que foram furtados ou roubados, 75 ainda no foram recuperados pelos rgos oficiais, indicando um ndice de 0,44 veculo por grupo de 1000. Em comparao, circulando na mesma poca, tem-se que 105780 veculos no foram marcados e dos que foram furtados ou roubados, 333 ainda no foram recuperados pelos rgos oficiais, indicando um ndice de 3,15 veculos por grupo de 1000.

    Figura 10 - anlise comparativa indicando ndices de recuperao de veculos das marcas BMW, HSV e Subaru. Fonte: Ilustrao retirada da apresentao fornecida pela empresa DATADOT.

    No Brasil, desde a publicao da Resoluo 691/88 do CONTRAN, em outubro de 1988, os veculos produzidos pelas montadoras nacionais devem conter a identificao de, no mnimo, o setor VIS do nmero VIN em trs pontos

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    estabelecidos. A partir de 1 de janeiro de 1999, com nova disciplina pela Resoluo 024/98, passou a ser dois pontos estabelecidos o que vlido tambm para os veculos importados. As montadoras optaram identificar esses mencionados pontos por meio de etiquetas autocolant


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