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MONTEPIO

Departamento de Estudos / / abril 2016

MOÇAMBIQUE

Previsões económicas e indicadores sociais e demográficos

Unidade: taxa de crescimento % 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

PIB 6,4 6,7 7,1 7,2 7,1 7,4 6,3 6,0 6,8 7,9 7,6 7,5 38,9

PIB Nominal 7,5 14,8 10,7 13,5 11,3 10,2 12,6 12,4 12,8 13,9 13,6 13,5 46,7

PIB Nominal (10^9) 300,3 344,8 381,7 433,1 482,2 531,3 598,3 672,3 758,2 863,9 981,6 1 114,3 1 634,6

PIB Nominal (10^9 $) 11,2 10,5 13,1 15,2 16,0 16,9 15,0 12,5 12,5 14,0 15,5 17,3 24,7

Deflator do PIB 1,1 7,6 3,3 5,9 3,9 2,6 5,9 6,0 5,6 5,6 5,6 5,6 5,6

Inflação (IPC) 3,3 12,7 10,4 2,1 4,2 2,3 2,4 6,0 5,6 5,6 5,6 5,6 5,6

Investimento (% PIB) 15,2 18,3 25,7 47,4 54,5 46,2 28,2 38,3 73,5 96,3 107,2 121,6 97,4

Poupança Nacional Bruta (% PIB) 4,4 7,6 0,3 2,6 15,4 11,8 -13,1 -4,2 1,0 2,5 3,2 6,0 6,4

Dívida Pública (% PIB) 41,8 43,2 37,9 39,9 50,9 57,0 74,8 87,4 82,0 80,0 78,8 77,8 60,1

Dívida Pública Líquida (% PIB) - - - - - - - - - - - - -

Receitas Públicas (%) 18,3 24,9 16,0 11,9 29,8 11,6 4,2 17,7 13,2 14,5 14,1 12,2 19,2

Despesas Públicas (%) 29,7 19,4 18,6 8,4 23,3 37,6 -6,2 10,7 14,1 14,2 13,6 12,6 22,5

Receitas Públicas (% PIB) 24,0 26,1 27,3 27,0 31,4 31,8 29,4 30,9 31,0 31,1 31,2 30,9 25,1

Despesas Públicas (% PIB) 28,9 30,0 32,2 30,7 34,0 42,5 35,4 34,9 35,3 35,4 35,4 35,1 29,3

Saldo Orçamental (% PIB) -4,9 -3,9 -4,8 -3,8 -2,6 -10,7 -6,0 -4,0 -4,3 -4,3 -4,2 -4,2 -4,2

Saldo Primário (% PIB) -4,4 -3,2 -3,9 -2,8 -1,8 -9,7 -4,6 -2,1 -2,4 -2,4 -2,3 -2,4 -3,3

Balança Corrente (10^9 $) -1,2 -1,7 -3,3 -6,8 -6,3 -5,8 -6,2 -5,4 -8,8 -12,8 -15,8 -19,6 -22,0

Balança Corrente (% PIB) -10,9 -16,1 -25,4 -44,7 -39,1 -34,4 -41,3 -43,0 -70,3 -91,5 -101,7 -113,3 -89,2

População (10^6) 23,6 24,3 25,0 25,7 26,5 27,2 28,0 28,8 29,5 30,3 31,2 32,0 32,8

População (%) 2,8 2,8 2,9 2,9 2,9 2,8 2,8 2,8 2,7 2,7 2,7 2,7 2,7

População 15-64 anos (% total) 51,5 51,4 51,4 51,4 51,3 - - - - - - - -

Taxa de Desemprego - - - - - - - - - - - - -

PIB PPP (10^9 $) 20,2 21,8 23,8 26,0 28,3 30,9 33,2 35,5 38,5 42,3 46,5 51,1 72,4

PIB per capita PPP $ 853 896 952 1 010 1 069 1 136 1 186 1 236 1 302 1 396 1 494 1 596 2 204

PIB per capita $ 475 430 525 590 605 619 535 435 423 460 499 540 752

Exportações (%) -1,7 -24,3 20,2 45,9 4,9 1,9 1,5 10,2 9,5 13,7 12,2 10,8 48,3

Bens (%) -7,5 -12,0 18,9 35,2 9,4 -0,5 -0,9 7,1 9,8 15,5 13,7 11,4 56,0

Importações (%) 10,6 -4,3 44,0 65,5 1,5 -3,2 7,6 -0,3 31,8 30,6 18,1 16,0 10,5

Bens (%) 7,2 -7,2 36,5 49,7 9,1 -3,2 9,0 17,4 28,4 29,1 17,8 16,0 10,0

Agricultura (% PIB) 30,4 29,7 30,0 28,9 29,0 - - - - - - - -

Indústria (% PIB) 20,3 20,5 20,3 20,8 20,8 - - - - - - - -

Serviços (% PIB) 49,3 49,8 49,7 50,4 50,2 - - - - - - - -

Esperança Vida à nascença (anos) 48,8 49,1 49,5 49,8 50,2 - - - - - - - -

F o nte : FMI (Wo rld Eco no mic Outlo o k - abril de 2016); Banco Mundia l (res tantes dado s his tó rico s s em previs õ es ).

Superfície

799 380 Km2

Densidade Populacional

35 Hab/Km2

Reserv as Ex ternas

2,216 10^9 $

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

Código Descrição Valor (mM$) Peso (%)

76 Artigos em alumínio 1,074 33,6

27 Combustíveis minerais, óleos e produtos de destilação 0,971 30,4

24 Tabaco e produtos derivados do tabaco 0,293 9,2

26 Minérios, escórias e cinzas 0,147 4,6

17 Açúcares e doces de confeitaria 0,123 3,9

Outros produtos 0,587 18,4Fo nte : Inte rna tio nal Trade Centre (ITC) - Naçõ es Unidas

Principais EXPORTAÇÕES (2015)

Código Descrição Valor (mM$) Peso (%)

27 Combustíveis minerais, óleos e produtos de destilação 1,027 13,0

84 Máquinas, reatores nucleares e caldeiras 0,950 12,0

87 Comboios e veículos elétricos 0,725 9,2

85 Equipamento elétrico e eletrónico 0,611 7,7

89 Embarcações e outras estruturas flutuantes 0,535 6,8

Outros produtos 4,059 51,3

Fo nte : Inte rna tio nal Trade Centre (ITC) - Naçõ es Unidas

Principais IMPORTAÇÕES (2015)

País Valor (mM$) Peso (%) País Valor (mM$) Peso (%)

Holanda 0,952 29,8 África do Sul 2,380 30,1África do Sul 0,585 18,3 China 0,987 12,5

Singapura 0,145 4,6 Holanda 0,575 7,3Itália 0,100 3,1 Portugal 0,457 5,8Bélgica 0,089 2,8 Bahrein 0,411 5,2Outros países 1,324 41,4 Outros países 3,098 39,2

Fo nte : Inte rna tio nal Trade Centre (ITC) - Naçõ es Unidas Fo nte : Inte rna tio nal Trade Centre (ITC) - Naçõ es Unidas

Principais Parceiros Comerciais de IMPORTAÇÕES (2015)Principais Parceiros Comerciais de EXPORTAÇÕES (2015)

Tipo de Produto Valor (€)Share

(%)

TCMA10-15

(%)Tipo de Produto Valor (€)

Share

(%)

TCMA10-15

(%)

Produtos alimentares 23 229 527 61,5 -2,5 Equipamento eléctrico 68 630 644 19,3 25,4

Produtos da agricultura, da produção animal,

da caça e dos serviços relacionados 11 897 961 31,5 116,1 Máquinas e equipamentos, n.e. 44 181 070 12,4 17,7

Produtos têxteis 2 024 945 5,4 64,8Produtos metálicos transformados, excepto

máquinas e equipamento 33 095 155 9,3 18,3

Produtos da industria do tabaco 191 598 0,5 - Produtos informáticos, electrónicos e ópticos 25 127 136 7,1 14,1

Outro equipamento de transporte 78 377 0,2 249,6 Produtos alimentares 24 412 833 6,9 13,7

Equipamento eléctrico 72 183 0,2 73,4 Coque e produtos petrolíferos refinados 18 680 704 5,3 55,1

Produtos informáticos, electrónicos e ópticos 68 023 0,2 0,4 Produtos químicos 15 734 128 4,4 10,4

Produtos metálicos transformados, excepto

máquinas e equipamento 24 646 0,1 43,7 Outros produtos minerais não metálicos 15 338 874 4,3 19,5

Artigos de borracha e de matérias plásticas 23 508 0,1 89,3 Metais de base 15 251 138 4,3 32,4

Máquinas e equipamentos, n.e. 22 884 0,1 -38,8 Artigos de borracha e de matérias plásticas 13 886 084 3,9 15,6

Fonte: INE. Fonte: INE.

TOP 10 DAS IMPORTAÇÕES DE PORTUGAL de MOÇAMBIQUE (2015) TOP 10 DAS EXPORTAÇÕES DE PORTUGAL PARA MOÇAMBIQUE (2015)

2013 2014 2015 2013 2014 2015

Importações de Portugal deste país (milhares €) 62 721,1 34 910,5 37 778,5 Exportações de Portugal deste país (milhares €) 327 778,4 318 020,2 355 571,1

Importações totais de Portugal (milhares €) 57 012 825 58 976 409 60 117 914 Exportações totais de Portugal (milhares €) 47 302 913 48 104 633 49 815 871

Peso das importações do país (%) 0,11 0,06 0,06 Peso das exportações do país (%) 0,69 0,66 0,71

Fonte: INE. Fonte: INE.

PESO de MOÇAMBIQUE NAS IMPORTAÇÕES DE PORTUGAL (2013/15) PESO de MOÇAMBIQUE NAS EXPORTAÇÕES DE PORTUGAL (2013/15)

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CONJUNTURA

Economia deverá voltar a desacelerar este ano,

mas devendo continuar a crescer mais do que

a média de África

ATIVIDADE

Economia desacelerou em 2015,

de um crescimento de 7,4%, em

2014, para 6,3%, um mínimo

desde 2000…

O PIB a preços de mercado registou um crescimento

homólogo de 5,9% no 4.º trimestre de 2015, em

desaceleração face aos 6,3% do 3.º trimestre, que foi

revisto em alta em 0,4 p.p., com esta desaceleração a

mais do que reverter a aceleração observada no trimestre

anterior (+6,0% no 2.º trimestre) e representando o

menor ritmo de crescimento desde os 4,5% observados

no 4.º trimestre de 2014. Com esta desaceleração, o

crescimento do PIB afastou-se um pouco mais do registo

do 2.º trimestre de 2013 (+10,3%), quando se observou

o maior ritmo da atual série histórica do PIB (iniciada em

2007) – segundo a série longa anual do FMI,

representando o maior ritmo de crescimento desde 2001

(+12,7%). De acordo com os dados ajustados de

sazonalidade pelo INE, o PIB contraiu 2,1% face ao

trimestre anterior, regressando às quedas após três

acréscimos consecutivos (+1,2% no 3.º trimestre).

Em termos de subsetores, os maiores crescimentos

homólogos da atividade no 4.º trimestre foram

apresentados pela administração pública (+19,5%),

seguida da indústria transformadora (+11,2%), das

pescas (+11,1%) e do comércio e serviços de reparação

(+10,8%). Já pela negativa destacam-se os outros

serviços (0,0%), o aluguer de imóveis e serviços

prestados às empresas (0,0%), os hotéis e restaurantes

(+0,3%) e os serviços financeiros (+3,0%), que foram os

subsetores que observaram os menores acréscimos da

atividade, pese embora tratando-se, no caso hotéis e

restaurantes, de uma melhoria face à situação observada

no trimestre anterior (-7,5%).

O abrandamento económico dos últimos trimestres

reflete a desaceleração do IDE, uma política orçamental

mais restritiva, a queda das receitas externas, bem como

a consequente desvalorização do metical.

Em termos anuais, em 2015, o PIB registou um

crescimento de 6,3%, valor em linha com que que

tínhamos vindo a estimar, registando, assim, um

crescimento ainda ligeiramente abaixo dos 6,4% de

2009 e representando um mínimo desde 2000 (+1,7%).

Trata-se de uma desaceleração face aos 7,4% em 2014,

neste último caso acelerando face aos 7,1% observados

em 2013 e que tinha representado o maior crescimento

desde 2007 (+7,5%).

O desempenho da atividade económica em 2015 é

atribuído, em primeiro lugar, ao setor secundário que

cresceu 8,5%, com maior destaque para o ramo da

eletricidade e água, com 13,9%, seguida da construção,

com 7,4%. O setor primário ocupou a segunda

posição, com um crescimento de 6,6%, induzido pelo

ramo da indústria de extração mineira, com um

crescimento de cerca de 8,8%. O setor terciário

também registou um crescimento positivo, na ordem de

5,9%, impulsionado pelos ramos financeiro e do

comércio e serviços de reparação, ambos com 7,1%, e

pela administração pública, com 12,4%. Em termos de

importância no PIB, por subsetores, a agricultura,

pecuária, caça, silvicultura, atividades relacionadas e

pesca, teve a maior participação na economia em 2015,

com um peso no PIB de 23,2%, seguido dos ramos dos

transportes, armazenagem e atividades auxiliares dos

transportes e Informação e comunicações, com uma

Moçambique/ PREVISÕES ECONÓMICAS DO DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DO MONTEPIO2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

PIB 6,9 6,4 6,7 7,1 7,2 7,1 7,4 6,3 6,0 6,8 7,9 7,6 7,5

Inflação 10,3 3,3 12,7 10,4 2,1 4,2 2,3 2,4 12,8 8,3 7,3 5,5 5,5

Balança Corrente (% PIB) -11,6 -10,9 -16,1 -23,3 -44,7 -39,1 -34,4 -40,2 -41,0 -70,3 -91,5 -101,7 -113,3

Saldo Orçamental (% PIB) -2,2 -4,9 -3,8 -4,7 -3,8 -2,6 -10,7 -6,0 -4,0 -4,3 -4,3 -4,2 -4,2

No ta s : Os da dos his tóric os da Ba la nç a Corre nte e do S a ldo Orç a me nta l se gue m a me todologia do FMI; P re visõe s a tua liza da s a 21/04/2016.

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

contribuição conjunta de 12,1%. Ocupa o 3.º lugar o

ramo do comércio e serviços de reparação (11,0%),

seguido do ramo da indústria transformadora (8,9%), do

aluguer de imóveis e serviços prestados às empresas e

educação, ambos com 6,8%. Os restantes ramos de

atividade, em conjunto, tiveram um peso de 24,6%.

… devendo voltar a desacelerar

em 2016, mas de uma forma

mais moderada, para um

crescimento de cerca de 6,0%, e

devendo regressar às

acelerações no próximo ano

Em termos prospetivos, depois de o PIB ter

desacelerado 0,9 p.p. em 2015, a economia deverá

voltar a desacelerar em 2016, mas de forma mais

moderada, para um crescimento de 6,0%, um valor em

linha com o previsto pelo FMI (12 de abril) e que é 1,0

p.p. inferior ao que foi admitido pelo Governo de

Moçambique no Orçamento do Estado para 2016 (OE

2016), divulgado em meados de dezembro (para 2015, o

Governo estimava um crescimento de +7,5%, bem

acima dos +6,3% estimados recentemente pelo INE).

Ainda assim, ao crescer 6,0% este ano, o crescimento

deverá manter-se robusto, com as perspetivas no médio

prazo a permanecerem positivas, mas, no curto prazo,

com a economia a enfrentar desafios externos associados

à queda dos preços das commodities e ao menor ritmo

de crescimento dos parceiros comerciais e a debater-se

com atrasos nos investimentos associados aos projetos

de gás natural liquefeito (GNL).

Após 2016, perspetiva-se uma aceleração do

crescimento até 2018, quando o PIB deverá crescer na

ordem dos 7,9% - refletindo as perspetivas de

investimento nos projetos de gás natural na bacia do

Rovuma e de aumento da produção de carvão –,

prevendo-se posteriormente uma ligeira desaceleração

até ao final do período de previsão, devendo chegar a

2020 com um crescimento de 7,5%. Assim, depois do

crescimento de 6,0% previsto para 2016, o PIB deverá

acelerar para um crescimento médio anual de cerca de

7,5% no período de 2017/20.

Últimos desenvolvimentos ao

nível dos projetos relacionados

com o GNL sustentam

perspetivas positivas para o

médio-prazo

Os últimos desenvolvimentos nos megaprojetos relativos

ao GNL sustentam as perspetivas positivas para

Moçambique a médio-prazo. Em particular, tem havido

alguns avanços no que respeita aos investimentos na

bacia de Rovuma. O consórcio operado pela italiana ENI

e, no qual a Galp tem participação, viu aprovado o seu

projeto de construção de uma plataforma flutuante de

GNL, faltando apenas uma decisão final por parte do

grupo, que será tomada ainda neste ano de 2016. O

processo que envolve a aprovação do projeto da

americana Anadarko, também na bacia de Rovuma,

também está em curso, embora um pouco menos

avançado, devido, em parte, à necessidade de

realojamento de cerca de 500 pessoas que residem no

local de instalação do projeto.

DESAFIOS AO DESENVOLVIMENTO

Economia enfrenta atualmente

algumas restrições que a

impedem de crescer aos ritmos

registados no passado recente

Uma dessas restrições e limitações prende-se com a

forte depreciação do metical face ao dólar e a outras

moedas. Efetivamente, tendo em conta que a maior

parte da dívida pública do país é denominada em moeda

estrangeira (em 2015, de acordo com estimativas do

FMI, cerca de 86% do total da dívida pública de

Moçambique estava expressa em moeda estrangeira), a

depreciação da moeda doméstica agrava naturalmente o

montante de dívida pública de Moçambique. Embora a

depreciação da moeda nacional pudesse funcionar como

um estímulo para as exportações moçambicanas, ao

torná-las mais competitivas, a excessiva concentração em

commodities e a queda dos preços das commodities nos

mercados internacionais não permitem à economia

moçambicana retirar as vantagens decorrentes da

desvalorização da sua moeda. Outra das atuais limitações

ao crescimento moçambicano prende-se com a

desaceleração do IDE, que, nos últimos anos, suportou

substancialmente o ritmo de crescimento económico de

Moçambique e a estabilidade cambial. Adicionalmente,

outros fatores externos, como a desaceleração

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económica na China ou a queda dos preços das

commodities nos mercados internacionais

(designadamente do alumínio e do carvão), com a

consequente redução do montante de reservas

estrangeiras a entrar no país, também têm vindo a

influenciar negativamente a situação económica do país.

Desempenho de Moçambique na

implementação do programa PSI

do FMI tem sido misto, tendo

sido acordadas medidas

corretivas para realinhar o

programa

No âmbito de um comunicado do FMI, publicado em

finais de 2015, referente à Consulta do Artigo 4.º ao

país e aos trabalhos da 5.ª avaliação do Policy

Support Instrument (PSI) em curso, o FMI veio realçar

que, apesar de as perspetivas de médio prazo

permanecerem positivas, os desafios a curto prazo

tornaram-se mais complexos. Tal como outros países da

região, Moçambique está atualmente a enfrentar um

choque externo associado à queda nos preços das

matérias-primas, ao menor crescimento dos parceiros

comerciais e aos atrasos no investimento associado aos

grandes projetos de recursos naturais. As políticas

expansionistas excessivas em 2014 (especialmente no

lado orçamental) também contribuíram para as

dificuldades que o país enfrenta atualmente. As

importações continuavam a crescer a um ritmo acelerado

de 17% em termos homólogos [entretanto, em

novembro de 2015, as importações estavam a crescer

34,1% face ao período homólogo, quando expressa em

meticais, mas a cair 13,8%, quando expressas em

dólares], enquanto as exportações estagnaram [já em

novembro de 2015, estavam a crescer 55,4% quando

expressas em meticais e estando sensivelmente

estagnadas (-0,1%) quando expressas em dólares]. Os

influxos de capital também diminuíram substancialmente

em comparação com o ano anterior. Tal tem criado

pressões no mercado cambial e causou um acentuado

declínio nas reservas internacionais e a depreciação do

metical. Neste contexto, o FMI considera que o

desempenho na implementação do programa PSI

tem sido misto. Apesar de algumas das metas

quantitativas do programa de finais de junho de 2015

terem sido cumpridas, três critérios de avaliação e uma

meta quantitativa indicativa não foram cumpridos. Os

mesmos critérios e metas não foram igualmente

cumpridos no final de setembro de 2015. Ocorreram

também atrasos na implementação de uma série de

reformas estruturais apoiadas no âmbito do PSI.

É também referido que a equipa de técnicos do FMI e as

autoridades alcançaram acordo sobre um forte pacote

de políticas corretivas para realinhar o PSI e gerir os

choques acima mencionados sobre a balança de

pagamentos. Este pacote de políticas implica uma maior

consolidação orçamental em 2016 para continuar a

preservar a sustentabilidade da dívida e contribuir

para o necessário ajustamento externo. É também

necessário implementar uma política monetária mais

restritiva e uma moderação substancial na expansão do

crédito. A equipa elogiou o Banco de Moçambique (BM)

nas suas decisões de restringir a política monetária e

recomendou a continuação do ciclo restritivo.

Adicionalmente, esforços para reduzir a atual

fragmentação do mercado cambial são necessários

para gerar maiores incentivos aos bancos para que

possam mobilizar moeda externa dos seus depositantes.

A equipa discutiu ainda uma série de reformas

estruturais para ajudar na gestão dos riscos

orçamentais, eliminar atrasos nos reembolsos do IVA,

tornar a despesa pública mais eficiente e transparente, e

apoiar mais o crescimento inclusivo, incluindo através de

uma maior integração financeira.

Dar continuidade à redução da

pobreza no país

O principal desafio ao desenvolvimento de

Moçambique consiste em dar continuidade à

redução da pobreza, num contexto de um robusto

crescimento económico. O desafio consiste em

diversificar as fontes de crescimento económico, integrar

os megaprojetos de capital intensivo na estratégia de

redução da pobreza do Governo e desenvolver o setor

agrícola, que emprega cerca de 80% da força laboral,

mas permanece, em grande medida, improdutivo e

baseado em agricultura de subsistência. De forma mais

ampla, Moçambique necessita de melhorar o

fornecimento de bens públicos, de forma a facilitar o

crescimento inclusivo (por exemplo, infraestruturas,

educação, saúde); estabelecer redes de segurança

adequadamente direcionadas para os mais vulneráveis;

promover uma maior participação e voz dos cidadãos,

desenvolvendo simultaneamente sistemas transparentes

e imputáveis; e, por último, mas não menos importante,

acelerar as reformas do ambiente de investimento. A

escala dos desafios de Moçambique é enorme.

Resolver o problema da falta de

infraestruturas adequadas para

dar resposta ao potencial de

crescimento resultante das

vastas reservas de recursos

naturais do país

Outro dos principais desafios para a economia do país

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continua também a estar relacionado com a

necessidade de resolver o problema da falta de

infraestruturas adequadas para dar resposta ao

potencial de crescimento que tem por base as vastas

reservas de recursos naturais do país.

Neste sentido, o atual Governo de Moçambique (em

funções desde janeiro de 2015) definiu como principal

objetivo da sua política promover o crescimento e a

redução da pobreza, à medida que a economia reduz a

dependência de ajuda externa e se foca na exploração

dos recursos naturais. Os desafios incluem a eliminação

das insuficiências ao nível das infraestruturas,

promovendo a ligação entre o setor dos recursos naturais

e os restantes setores da economia e melhorando a

qualidade da formação, condições necessárias para

garantir que os benefícios dos recursos naturais serão

amplamente difundidos pela população. O Governo

também irá esforçar-se para aumentar a produtividade

na agricultura, embora o progresso esteja bloqueado

pelo acesso limitado dos agricultores ao financiamento,

aos inputs, à tecnologia e aos mercados. Apesar da

resistência de alguns interesses instalados, o Governo

pretende melhorar a estrutura do país no que diz

respeito à participação do setor privado.

OPORTUNIDADES

A economia moçambicana tem vindo a apresentar

elevados ritmos de crescimento nos últimos anos,

impulsionada por fatores como o carvão, gás natural,

energia elétrica e infraestruturas básicas. Os principais

polos de desenvolvimento de Moçambique concentram-

se em quatro províncias; Nampula, Tete, Sofala e região

da Cidade de Maputo. Os vários projetos em curso no

país têm alavancado um conjunto de oportunidades em

áreas como a agricultura, energia, obras públicas e

construção civil, metalomecânica, logística, formação

profissional e educação, consultoria e novas tecnologias

de informação e comunicação, entre outras, áreas nas

quais as empresas portuguesas detêm uma mais-valia

significativa. As motivações para investir em

Moçambique são diversas, podendo, de uma forma

geral, serem destacados como principais pontos fortes

deste mercado: i) a localização estratégica na África

Austral; ii) a plataforma de acesso ao mercado da SADC

- Southern African Development Community (África do

Sul, Angola, Botswana, Lesoto, Madagáscar, Malawi,

Maurícias, Moçambique, Namíbia, R D Congo,

Seychelles, Suazilândia, Tanzânia, Zâmbia e Zimbabwe),

o qual representa cerca de 250 milhões de

consumidores; iii) crescimento de uma classe média com

poder de compra, percetível no recente aumento dos

padrões de consumo das famílias moçambicanas; iv)

mercado organizado, capaz de promover um ambiente

favorável à realização de negócios; v) prioridade política

na eliminação da pobreza, garantindo a estabilidade

macroeconómica e um crescimento sustentado; vi)

processo de criação de empresas com relativa facilidade,

rapidez e com custos razoáveis; vii) legislação em vigor

não exige a constituição de parcerias com empresas

locais para poder instalar-se no mercado, embora o

estabelecimento de parcerias possa ser um elemento

facilitador no acesso ao mercado; viii) facilidade na

movimentação de capitais; ix) simplicidade dos processos

de migração; x) solidez e estabilidade do sistema

financeiro e do Estado de Direito; xi) sistema jurídico e

regime fiscal semelhante ao português; xii) forte

presença da banca portuguesa no sistema financeiro

moçambicano; xiii) convenção entre Portugal e

Moçambique com vista a evitar a dupla tributação e o

fomento das relações económicas e culturais; xiv)

existência de acordos de liberalização das exportações

para os EUA (AGOA) e União Europeia (EPA), pese

embora a sentida dificuldade em exportar de

Moçambique. Em termos de oportunidades de setores de

atividade, podem-se sintetizar aqueles que têm sido os

três principais objetivos de médio prazo do Governo de

Moçambique: i) a implementação de novos projetos

estruturantes em diversos setores por forma a atingir o

nível de crescimento de 8%; ii) a promoção de projetos

de pequena e média dimensão que potenciarão a

economia moçambicana nos seus diversos setores; iii) a

criação de emprego e melhoria das prestações sociais do

estado que se consubstanciem na melhoria do IDH e,

consequentemente, para a melhoria das condições de

vida dos moçambicanos.

De forma mais detalhada, destacam-se os setores

abrangidos e respetivas potencialidades:

Agricultura: i) 36 milhões de hectares de terra arável,

dos quais somente 10% está cultivada; ii) o país dispõe

de grandes possibilidades em termos de irrigação; iii) as

bacias hidrográficas permanecem largamente

inexploradas; iv) no contexto dos países da SADC,

Moçambique é um dos países mais abundantes no fator

terra.

Pescas: i) localização costeira, com uma extensão de

litoral de 2 750 km e uma Zona Económica Exclusiva

(ZEE) de 586 mil km2 de superfície oceânica; ii) grande

diversidade de recursos de pesca; iii) na área da pesca de

crustáceos de profundidade (gambas, lagostim, lagosta e

caranguejo) existe margem para aumentar a produção.

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

Indústria extrativa: i) diversidade de recursos,

atualmente atestado pelas enormes reservas identificadas

de gás natural; ii) posição de relevo na arena

internacional como produtor e exportador de carvão.

Produção Industrial: i) forte investimento no setor do

cimento, que terá triplicado a capacidade de produção

em 2013; iii) entrada no mercado de empresas da China,

da Índia e da África do Sul com investimentos que

poderão triplicar a produção de cimento em

Moçambique, onde a Cimentos Moçambique (Cimpor)

tem tido uma posição dominante.

Construção: potencial de investimento na área da

habitação, estimando-se um défice de 2,5 milhões de

fogos e respetivas infraestruturas de água, saneamento,

energia e acessibilidade.

Energia: potencial energético de 12 500 MW. O

Governo moçambicano pretende o envolvimento de

investidores privados na área das energias renováveis.

Hotelaria e Turismo: i) caraterísticas naturais atrativas:

praias paradisíacas e florestas onde podem funcionar

reservas ecológicas; ii) país com os recursos costeiros

mais fortes da África Austral: o litoral permanece

inexplorado e é muito diversificado em paisagem, flora e

fauna; iii) a vida marinha está presente em grandes

quantidades e o mergulho e a pesca correspondem aos

padrões internacionais de alta qualidade.

INFLAÇÃO

A inflação, medida pelo crescimento homólogo do

índice de preços no consumidor (IPC) na cidade de

Maputo, foi de 12,31% em março, desacelerando face

aos 12,91% observados em fevereiro, que representou o

valor mais elevado desde abril de 2011 (+13,0%). Este

ligeiro alívio da inflação em março surgiu depois de ter

acelerado em fevereiro, de 11,55% para 12,91%, e

após, em dezembro (+11,10%), já ter acelerado

intensamente face ao mês precedente (+5,71%). Tratou-

se, de resto, da 1.ª desaceleração da inflação, após uma

série de nove agravamentos consecutivos e depois de,

pontualmente, ter estado em terreno negativo nos meses

de abril e maio do ano passado (-0,50% e -0,82%,

respetivamente).

Esta evolução da inflação homóloga no mês de março

esteve associada a uma variação mensal negativa do

IPC (-0,31%), depois ter subido 2,34% no mês de

fevereiro. De referir que o aumento da disponibilidade de

tomate ocorrido nas primeiras semanas do mês de março

foi determinante para a variação mensal negativa do IPC

no período. Note-se que o comportamento dos preços

na cidade de Maputo nos últimos meses tem estado a

refletir, grosso modo, a estiagem que se foi sentido na

região sul do país, com impacto na redução da oferta de

produtos agrícolas frescos, associado ao efeito da

depreciação do Metical face às principais moedas

transacionadas no mercado cambial, bem como, o

agravamento de preços na África do Sul.

Inflação acelerou ligeiramente

em 2015, de 2,3% para 2,4%...

Em termos médios anuais, a inflação cifrou-se nos

2,39% em 2015, representando uma ligeira aceleração

face aos 2,29% observados em 2014, mas mantendo-se

abaixo dos 4,21% apresentados em 2013, quando

acelerou face aos 2,10% de 2012. A classe da educação

foi a que, em termos médios, teve maior variação anual

de preços, com um acréscimo de 10,47%.

Em termos prospetivos, prevemos que a inflação

apresente uma forte aceleração em 2016, para cerca de

12,8%, tratando-se de um nível máximo desde 2006

(+13,2%) e com esta aceleração prevista para este ano a

refletir os efeitos da forte depreciação da moeda

observada ao longo de 2015 (em especial no mês de

novembro) e o esperado gradual aumento dos preços do

petróleo e dos bens alimentares na 2.ª metade do ano. O

aumento dos preços de alguns bens e serviços fixados

administrativamente – como os combustíveis, os serviços

públicos (como a eletricidade, água, gás) e os transportes

públicos – irão agravar ainda mais as pressões

inflacionistas ao longo deste ano. No entanto, a inflação

importada deverá ser contida pela relativa estabilidade

da moeda moçambicana (metical) face ao rand sul-

africano, atendendo a que a maioria das importações

não petrolíferas de Moçambique tem origem na África

do Sul.

… devendo acelerar bastante

mais em 2016, para cerca de

12,8%, refletindo

designadamente a forte

depreciação observada ao longo

do último ano

Esperamos que a inflação desacelere em 2017, para

8,3%, beneficiando designadamente da esperada

gradual redução do défice orçamental do país e do

aperto da política monetária no país, devendo voltar a

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

desacelerar nos anos seguintes, atingindo os 5,5% em

2019 e mantendo-se sensivelmente neste nível em 2020,

o final do período de previsão (trata-se do centro do

intervalo do objetivo de médio prazo da inflação para o

país, que estipula um crescimento médio do IPC de

Maputo entre 5% e 6%). No período 2017/20 a inflação

deverá, nessa conformidade, observar um valor médio de

6,6%, mantendo-se moderada pelos padrões do país.

POLÍTICA MONETÁRIA

Na reunião de 20 de abril, o Comité de Política

Monetária do Banco de Moçambique (CPMO)

analisou os desenvolvimentos recentes da conjuntura

económica internacional, tendo realçado a prevalência

de incertezas quanto à recuperação da economia global,

conjugadas com o ambiente de contínua deterioração

dos preços das commodities. Quanto à conjuntura

económica doméstica, o órgão constatou que a mesma

continua a ser caracterizada pelos acentuados riscos de

pressões inflacionistas, refletindo os efeitos da

depreciação do metical, da estiagem nas regiões sul e

centro do país, bem como do excesso de chuvas na

região norte, agravados pela tensão político-militar que

condiciona, entre outros, a livre circulação de pessoas e

bens em algumas das principais estradas do país. O

CPMO tomou ainda nota dos impactos esperados nos

indicadores do setor externo resultantes da eventual

execução das garantias emitidas pelo Estado decorrentes

de responsabilidades externas contraídas por entidades

nacionais, o que pode provocar a necessidade de

medidas adicionais de ajustamento tendo em vista

assegurar a sustentabilidade da dívida externa e a

estabilidade macroeconómica do país. Num contexto de

prevalência de pressões inflacionistas e cambiais e

considerando os objetivos macroeconómicos

estabelecidos para 2016, o CPMO reiterou a

importância de reforçar a coordenação das políticas

orçamental, monetária e setoriais.

Perante este quadro, o CPMO decidiu reforçar o

carácter restritivo da política monetária, tendo para

o efeito deliberado: i) intervir nos mercados

interbancários visando garantir o cumprimento da meta

da base monetária de abril de 2016, fixada em 71 083

milhões de meticais; ii) aumentar a taxa de juro da

facilidade permanente de cedência de liquidez em

200 p.b., para 12,75% (máximo desde maio de 2012:

13,50%); iii) aumentar a taxa de juro da facilidade

permanente de depósitos em 150 p.b., para 5,75%

(máximo desde junho de 2009: 7,00%); e iv) alterar o

regime das reservas obrigatórias, segregando a base

de incidência em moeda nacional e moeda estrangeira e

diferenciando os respetivos coeficientes, com efeitos a

partir do período de constituição que se inicia a 7 de

junho de 2016, mantendo o coeficiente de reservas

obrigatórias em moeda nacional em 10,50% (depois

de o ter aumentado pela última vez em novembro de

2015, em 150 p.b.), e fixando um coeficiente de

reservas obrigatórias em moeda estrangeira em

15,00%, cuja constituição passa a ser feita em dólares

norte-americanos.

Banco de Moçambique inverteu

o ciclo da política monetária,

tendo iniciado um rápido aperto

da sua política a partir de

outubro, tentando conter os

efeitos da forte depreciação do

metical sobre a inflação

Esta decisão de um novo aumento de taxas surge depois

de, na reunião anterior (14 de março), o CPMO ter

julgado oportuno manter a sua política monetária e

de, na reunião imediatamente precedente (15 de

fevereiro), já ter decidido reforçar o carácter

restritivo da política monetária, tendo, então,

decidido aumentar a taxa de juro da facilidade

permanente de cedência de liquidez, em 100 p.b. e a

taxa de juro da facilidade permanente de

depósitos, em 50 p.b..

Recorde-se que, ao longo de 2015, a política monetária

do Banco de Moçambique (BM) foi orientada para

salvaguardar o ambiente de inflação baixa e a redução

dos custos de obtenção de empréstimos do setor

privado. Entretanto, a desvalorização do metical

observada ao longo de 2015 (mais intensa no mês de

novembro), traduziu-se numa aceleração da taxa de

inflação e levou o BM a reverter o ciclo da política

monetária, tendo iniciado um rápido aperto da sua

política a partir de outubro de 2015, tentando conter

os efeitos da forte depreciação do metical sobre a

inflação, tendo com as decisões adotadas nas anteriores

reuniões de 15 de fevereiro e 20 de abril de 2016 dado

sequência a esse ciclo de aperto da política

monetária.

Através desta postura de rápido aperto da política

monetária a partir de outubro de 2015, o BM pretende

atingir o objetivo de médio prazo da inflação em

2016, que estipula um crescimento médio do IPC de

Maputo entre 5% e 6%, pese embora possa revelar-se

necessária a adoção de mais medidas ao longo do ano.

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

Refira-se também que, segundo dados provisórios

publicados pelo BM, a Base Monetária – variável

operacional de política monetária – fixou-se, no final de

março, nos 70 297 milhões de meticais, aumentando em

343 milhões de meticais no mês, o que, em termos de

saldo médio, corresponde a um desvio de 3 746 milhões

de meticais (+3,1%) em relação às estimativas feitas para

o período. A base monetária apresentou, em março, um

acréscimo homólogo de 29,2%, em aceleração (+28,1%

em fevereiro).

Note-se que, no âmbito dos trabalhos de avaliação do já

referido PSI, o FMI tem realçado que, após diversos

anos de rápida expansão, o crédito ao setor

privado, em percentagem do PIB, situa-se entre os

mais elevados da África Subsariana. O Fundo

observou também que o acesso limitado das pequenas e

médias empresas (PME) ao crédito e os elevados custos

de captação de empréstimos decorriam, sobretudo, de

fatores de rigidez estrutural e que as reformas para

promover a concorrência, a transparência e a literacia

financeira - como por exemplo a criação das centrais

privadas de registo de crédito - devem, com o tempo,

ajudar a baixar o risco de crédito para os bancos e o

custo de captação para os mutuários. Por seu lado, o BM

tem reiterado a sua prioridade de fomentar o acesso das

PME ao crédito, mas concordou em manter-se vigilante e

pronto para conter a expansão monetária caso fatores

exógenos venham a pressionar a inflação para acima da

meta de 5% a 6% no médio prazo, postura que o BM

está atualmente a provar saber colocar em prática.

POLÍTICA CAMBIAL

A estabilização do metical foi ao longo dos últimos anos

um fator determinante para a manutenção de

crescimentos moderados dos preços, mas a situação

agravou-se drasticamente em 2015, quando se assistiu a

uma forte desvalorização da moeda.

O metical foi desvalorizando gradualmente ao

longo de 2015, mas registou um movimento bastante

mais intenso em novembro passado, o que resultou

numa desvalorização de cerca de 41,2% entre o final de

2014 e final de 2015 e uma desvalorização de 26,3% em

termos de valor médio, apesar das intervenções do BM a

partir de outubro, para tentar aliviar a pressão sobre a

moeda moçambicana, especialmente face ao dólar

norte-americano.

O metical apresentava em abril (dados até 15 de abril)

um valor médio de 51,30 MZN/USD (50,92 MZN/USD em

março, 48,35 MZN/USD em fevereiro, 46,45 MZN/USD

em janeiro e 50,18 MZN/USD em dezembro de 2015),

evidenciando, em abril, uma depreciação média face ao

dólar de 0,7%, depois de já ter depreciado 5,3% em

março e 4,1% em fevereiro, e após a pontual forte

apreciação de 7,4% observada em janeiro.

A pressão sobre o metical é um reflexo dos elevados

défices da balança corrente do país, mas também das

baixas reservas cambiais – o stock de reservas

internacionais sofreu em 2015 um desgaste significativo,

de 2,86 mil milhões de dólares (mM$) no final de 2014,

para 2,30 mM$ no final de 2015 (entretanto em janeiro

de 2016 desceu para 2,22 mM$) – e dos reduzidos

fluxos de IDE no país. O antecipado aperto da política

monetária dos EUA aumentaram a pressão sobre o

metical.

Como resultado, a taxa de câmbio média do metical

ascendeu a 39,6 MZN/USD em 2015, representando uma

depreciação de 26,3% face ao valor médio de 31,4

MZN/USD em 2014, prevendo-se uma nova depreciação

do metical em 2016, de 27,5%, para um valor médio de

50,5 MZN/USD. Para os próximos anos, prevemos uma

continuação da gradual depreciação do metical,

perspetivando-se que o mesmo se encontre num valor

médio de cerca de 60,0 MZN/USD em 2020.

Metical deverá manter tendência

de depreciação ao longo dos

próximos anos, mas com as

intervenções cambiais por parte

da autoridade monetária a

deverem continuar a impedir

quedas mais expressivas

No entanto, a intervenção cambial por parte das

autoridades monetárias – como de resto sucedeu a

partir de outubro, com o BM a proceder ao início de um

ciclo de aperto da política monetária –, refletindo os

receios sobre o risco para a estabilidade social resultante

da inflação importada, mas também o objetivo de médio

prazo da autoridade de uma inflação entre 5% e 6%,

deverá impedir uma queda mais expressiva do

metical.

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

POLÍTICA ORÇAMENTAL

Segundo estimativas do FMI (12 de abril), o défice

orçamental cifrou-se nos 2,6% do PIB em 2013,

desagravando face aos 3,8% de 2012, com a entidade a

estimar uma forte subida para 10,7% em 2014, um

défice ademais superior aos 8,8% que foram reportados

pelo Governo moçambicano.

Apesar dessa derrapagem, as autoridades parecem estar

comprometidas em assegurar o ajustamento das

finanças públicas. Com efeito, para 2015, o FMI e as

autoridades moçambicanas tinham concordado que o

orçamento teria de inverter a expansão de 2014 e

retornar a uma orientação mais prudente das políticas. O

Orçamento do Estado para 2015 (OE 2015) tinha

implícito um corte dos gastos correntes e uma redução

do nível (ainda elevado) de investimentos com o

financiamento interno. Estes cortes deverão ser feitos de

modo a proteger os gastos sociais, como a saúde e a

educação básica e os programas de assistência social.

Esta contenção das despesas, aliada aos esforços

contínuos de alargamento da base de tributação,

permitiria, segundo o OE 2015, reduzir o défice

orçamental global das administrações públicas após os

donativos para 7,6% do PIB.

Défice deverá ter diminuído em

2015 para 6,0% do PIB, depois do

forte agravamento de 2,6% para

10,7% observado em 2014…

Entretanto, os dados disponíveis apontam para que

a redução do défice em 2015 possa ter sido

superior à previsão do Governo. Com efeito, de

acordo com o relatório de execução orçamental para

o período entre janeiro a dezembro de 2015,

publicado pela Direcção Nacional do Orçamento (DNO),

as receitas orçamentais permitiram cobrir as despesas de

funcionamento neste período, mas as despesas de

investimento registaram um fraco grau de execução.

Segundo estes dados da DNO, o total de recursos

mobilizados atingiram em 2015 o montante de 212

200,1 milhões de meticais, correspondente a 93,7% do

valor orçamentado, tendo os recursos internos se

situado em 96,4% e os externos em 85,7% do

programado. As receitas do Estado tiveram uma

realização de 154 638,7 milhões de meticais, equivalente

a 96,2% da meta anual. Importa referir que, para o ano

2015, as receitas do Estado são líquidas do reembolso do

IVA. Os donativos externos atingiram o montante de

20 173,1 milhões de meticais, equivalentes a 98,6% da

previsão anual. Os créditos externos situaram-se em 28

256,1 milhões de meticais, correspondentes a 78,3% da

previsão anual - 22. As receitas do Estado constituíram a

principal fonte de recursos no período em análise, com

uma contribuição equivalente a 72,9% do total dos

recursos mobilizados, tendo os créditos externos, os

donativos externos e créditos externos contribuído com

o correspondente a 13,3%, 9,5% e 4,3%,

respetivamente.

As despesas totais atingiram o montante de 193 099,0

milhões de meticais, correspondente a 85,3% do

orçamento anual, tendo as despesas de

funcionamento atingido 117 502,0 milhões de

meticais, as despesas de investimento 58 651,4

milhões de meticais e as operações financeiras 16

946,6 milhões de meticais, correspondentes a 98,5%,

70,5% e 70,7%, respetivamente. As despesas de

funcionamento absorveram o equivalente a 60,9% das

despesas totais, as despesas de investimento 30,4% e as

operações financeiras 8,8%.

Face ao nível de mobilização de recursos, associado ao

nível de realização das despesas, as contas do Estado

registaram uma variação positiva de saldos no valor de

19 101,1 milhões de meticais, que compara com a

variação nula que estava implícita no orçamento anual.

Neste contexto, estima-se que a redução do défice

orçamental em 2015 tenha sido superior à admitida pelo

Governo, apontando para uma redução do défice dos

10,7% do PIB estimados para 2014 para cerca de 6,0%,

devendo voltar a diminuir em 2016, para 4,0% - um

valor inferior aos -6,6% admitidos pelo Governo no

âmbito do Orçamento de Estado para 2016 (OE 2016)

–, e manter-se sensivelmente neste nível até final do

período de previsão, encontrando-se num valor em torno

de 4,2% do PIB em 2020.

… devendo voltar a diminuir em

2016, para 4,0% do PIB

De acordo com o OE 2016, aprovado pela Assembleia da

República moçambicana no passado mês de dezembro, o

défice orçamental deverá atingir 10,2% do PIB antes

de donativos, e 6,6% do PIB incluindo os donativos,

valores, como referido, acima das nossas atuais

perspetivas (-4,0% na medida de referência, ou seja,

após/incluindo donativos). De notar que estes valores são

igualmente superiores aos previstos pelo FMI, que espera

que a tendência de melhoria do défice se mantenha em

2016, antecipando défices de 7,7% e 4,0% do PIB,

antes e depois de donativos, respetivamente. Note-se, no

entanto, que é frequente assistir-se a divergências

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

entre as estimativas de saldo orçamental do

Governo e as do FMI – por exemplo, para 2014 e

2015, o Governo estima défices orçamentais (após

donativos) de 7,6% e 8,8%, quando o FMI aponta para

10,7% e 6,0%, respetivamente –, sendo que,

designadamente para efeitos de dados históricos,

seguimos a metodologia utilizada pelo FMI.

O OE 2016 está avaliado em 246 mil milhões (mM) de

meticais, dos quais 184 mM de meticais,

correspondentes a 74,8%, serão resultantes da

mobilização de recursos domésticos. O OE 2016 prevê

ainda que 174,4 mM de meticais virão das receitas do

Estado e 7,6 mM de meticais resultarão do crédito

interno à economia. Os remanescentes 62 mM de

meticais, o equivalente a 25,2% dos recursos totais,

sairão da mobilização de recursos externos, sendo 40%

de donativos e 60% de créditos para projetos.

Em termos de principais componentes orçamentais, o

rácio das receitas totais em percentagem do PIB deverá

continuar a cair em 2016, de acordo com o projetado

pelas autoridades nacionais, atingindo, no próximo ano,

26% do PIB. Ainda assim, espera-se uma melhoria na

arrecadação de receitas em 10%, sendo que as receitas

fiscais continuarão a representar a maior fatia do total

arrecadado, destacando-se os impostos sobre bens e

serviços. Os donativos deverão aumentar no próximo ano

e atingir 3,6% do PIB, embora o rácio continue inferior a

anos anteriores (3,9% em 2014).

No que respeita às despesas, o OE autoriza um

aumento de quase 9% do total das despesas para 2016,

embora o rácio em percentagem do PIB diminua. As

despesas correntes deverão sofrer um aumento

significativo, em linha com o aumento de funcionários

públicos e de progressões em alguns setores estratégicos

(educação, saúde e defesa) e a expansão substancial dos

encargos de dívida (nomeadamente pagamento de juros

de instrumentos de dívida doméstica e pagamento de

juros de dívida externa relacionado com investimentos

em infraestruturas). Em termos setoriais, a educação,

saúde e infraestruturas, principalmente estradas,

continuam a ser os principais setores de destino das

despesas orçamentais, representando mais de metade

das despesas antecipadas para 2016.

Existência de dívida fora das

contas públicas

Após algum destaque na imprensa sobre o assunto, o

Governo moçambicano reconheceu, no passado dia

26 de abril de 2016, a existência de uma dívida fora

das contas públicas de 1,4 mil milhões de dólares

(mM$), ou 1,25 mil milhões de euros (mM€), justificando

razões de segurança de infraestruturas estratégicas do

país.

O porta-voz do Conselho de Ministros, Mouzinho Saíde,

confirmou à imprensa a existência de garantias prestadas

pelo Governo a empréstimos concedidos à Proindicus,

em 2013, no valor de 622 M$ (553 M€), e à

Mozambique Asset Management, em 2014, de 535 M$

(476 M€), a que se soma um terceiro crédito envolvendo

o Ministério do Interior. Trata-se de um crédito bilateral

de 221 M$ (196 M€), contraído a favor do Ministério do

Interior, entre 2009 e 2014, segundo referiu o porta-voz

do Conselho de Ministro, embora sem adiantar mais

detalhes.

Mouzinho Saíde justificou o empréstimo à Proindicus

com a necessidade de aquisição de meios militares para

garantir a segurança nas "zonas económicas exclusivas".

"No contexto em que a empresa foi criada, o país

enfrentava ameaças de segurança, tais como pirataria,

emigração ilegal, narcotráfico e pesca ilegal", afirmou

Mouzinho Saíde, acrescentando que era preciso garantir

segurança nos ativos das empresas de petróleo e gás que

operam em Moçambique. Segundo o porta-voz, a

empresa adquiriu aeronaves de patrulha marítima,

embarcações militares e radares espalhados ao longo da

costa do país.

No que respeita à dívida contraída a favor da

Mozambique Asset Management, Saíde disse que a

empresa foi criada para operar instalações navais, com a

finalidade de prestar serviços de assistência às

embarcações do Governo, bem como a navios comerciais

da indústria de petróleo. Segundo referiu o porta-voz do

Governo, "o escopo do contrato do projecto desta

empresa inclui a entrega de um estaleiro móvel,

especializado na manutenção de activos localizados em

diferentes pontos, além da formação contínua dos

moçambicanos".

De acordo com um prospeto confidencial preparado pelo

Ministério das Finanças de Moçambique e entregue em

março aos investidores em obrigações da Empresa

Moçambicana de Atum (EMATUM), o volume de dívida

pública de Moçambique aumentou de 42% do PIB em

2012 para 73,4% em 2015. A EMATUM foi o primeiro

caso conhecido de um empréstimo (850 M$) garantido

pelo Governo, em 2013, sem registo nas contas do

Estado, valor que entretanto foi inscrito na dívida pública

de Moçambique e os títulos da EMATUM transformados,

em março, em dívida soberana.

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

CONTAS EXTERNAS

A economia de Moçambique vai continuar a apresentar

elevados défices na balança corrente, refletindo as

necessidades de importação de bens de investimento

para o setor extrativo e de gás natural (GNL). As contas

externas do país degradaram-se em 2015, refletindo

essencialmente uma menor atividade dos megaprojetos

(relacionados com o setor extrativo e de GNL), uma

queda dos donativos e uma redução do IDE. Por seu

lado, a descida dos preços das commodities continuou a

afetar o crescimento das exportações, enquanto as

importações de bens, excluindo o setor dos

megaprojetos, mantiveram-se relativamente resilientes.

Já as importações dos megaprojetos e de serviços

reduziram-se, confirmando a desaceleração da atividade

neste setor. Assim, depois de o défice da balança

corrente ter-se desagravado de uma estimativa de

39,1% do PIB em 2013 para 34,1% do PIB em 2014,

estimamos um agravamento para 2015, para 40,2%,

devendo voltar a agravar-se este ano de 2016 para cerca

de 41,0% e manter uma tendência de agravamento até

final do período de previsão. O défice da balança

corrente deverá ascender a uma média anual de 83,6%

no horizonte 2016/20.

As exportações de Moçambique deverão continuar a ser

dominadas por produtos em bruto provenientes da

indústria extrativa e pelas commodities agrícolas, bem

como pelo alumínio, que é a segunda principal fonte de

receita de exportação do país. Em 2015, os artigos de

alumínio representaram cerca de 33,6% do total dos

produtos exportados pelo país (29,9% em 2014),

ultrapassando os combustíveis minerais, óleos e produtos

de destilação, que representaram 30,4% (30,0% em

2014). Contudo, em 2016, os combustíveis minerais

deverão voltar a ser o principal motor do crescimento das

exportações, altura em que uma nova linha ferroviária

para transporte de carvão estará operacional entre Tete e

o porto de Nacala, com uma capacidade de 11 mil

toneladas por ano. No entanto, o desempenho do setor

permanecerá muito abaixo do seu potencial e das

ambições do Governo, devido à diminuição dos preços e

às limitações das infraestruturas. O GNL deverá tornar-se

o bem mais exportado, mas apenas após o final do

período de previsão.

Moçambique vai continuar a

apresentar elevados défices na

balança corrente

No final de 2015, o FMI atualizou a análise sobre as

implicações macroeconómicas para Moçambique

dos projetos de GNL, um setor absolutamente crítico

para o futuro desempenho do país, designadamente para

a evolução das suas contas externas. Nesta análise, a

equipa do FMI concluiu que, se os projetos de GNL forem

implementados em linha com a atual programação, este

setor irá contribuir, significativamente, para o

crescimento económico do país durante os primeiros

anos da década de 2020 e a produção será, em meados

dessa década, responsável por mais de metade do PIB de

Moçambique. Como as receitas provenientes da

exploração desses projetos se irão tornar significativas

apenas em meados da década de 2020, o FMI prevê

que o saldo da balança corrente se torne

excedentário apenas em 2025, devido ao necessário

período de recuperação dos custos do investimento. O

FMI recomendou, em dezembro de 2015, que as

autoridades iniciem os trabalhos de modo a desenvolver

um quadro orçamental de médio prazo e uma regra

orçamental formal para: i) dar a conhecer as decisões de

poupanças e de investimentos futuros; ii) gerir a

volatilidade associada à exploração deste setor; e iii) gerir

as preocupações relativamente à possível exaustão deste

tipo de exploração. Neste sentido, o FMI considera que as

autoridades moçambicanas deverão ter em consideração

vários fatores de risco associados a este setor, incluindo a

possibilidade de preços do gás mais baixos do que o

inicialmente antecipado quando os planos de despesa e

de empréstimo forem implementados.

POPULAÇÃO

De acordo com os dados do último censo efetuado no

país, em 2007, a população ascendia a 20,6 milhões de

habitantes nesse ano, o que representa um aumento de

27,8% em relação aos 16,1 milhões identificados no

anterior censo, de 1997. Ainda segundo o censo de

2007, a população urbana totalizava 6,3 milhões,

correspondendo a 30% do total; e a taxa de

masculinidade era de 92,7%, como resultado de um

total de 9,9 milhões de homens e 10,7 milhões de

mulheres. Dada a inexistência de um censo mais recente

no país, referem-se de seguida as principais ideias dos

dados publicados pela Population Reference Bureau, que

resulta da compilação de dados facultados pelas

autoridades moçambicanas, designadamente pelo INE.

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

A população de Moçambique está a crescer rapidamente,

pois, em pouco menos de 60 anos aumentou de 6,5

milhões de pessoas, em 1950, para 20,6 milhões em

2007. Dado o número elevado de nascimentos por

mulher (5,9, em média), a população vai continuar a

aumentar de forma constante. Mesmo se a taxa global

de fecundidade diminuir do nível de 5,9 em 2011 para o

nível de 4,8 em 2020, a população ainda crescerá até 46

milhões em 2040.

População terá ascendido a 28,0

milhões de habitantes em 2015,

subindo 2,8% face a 2014 e

devendo crescer a uma média de

2,7% até 2020

A população de Moçambique é muito jovem: 45% da

população tem menos de 15 anos de idade e quase dois

em cada três moçambicanos (65%) tem menos de 25

anos de idade. Esta estrutura etária jovem permite

oportunidades de crescimento económico, mas também

coloca uma grande carga sobre os recursos do país,

incluindo nas áreas de saúde e educação. A taxa de

fecundidade na adolescência, isto é, o número de

nascimentos por 1 000 adolescentes entre os 15 e os 19

anos, atingiu o pico em 2003, a uma taxa de 179. Em

2011, este índice caiu para 167 nascimentos por 1 000

raparigas, menor do que a taxa observada em 1997. Os

nados mortos e as mortes de recém-nascidos são mais

comuns entre as crianças de mães adolescentes do que

entre as de mães mais velhas. Os bebés de mães

adolescentes também são mais propensos a terem baixo

peso ao nascer. Mais de uma em cada três raparigas dos

15 aos 19 anos começou a ter filhos, ou seja, já são mães

ou estão grávidas do primeiro filho. A gravidez precoce

varia muito por nível de escolaridade, a partir de uma em

cada duas adolescentes que não receberam educação

formal a uma em cada quatro entre as raparigas com

ensino secundário ou superior. As mães adolescentes são

mais propensas a sofrerem complicações durante o

parto, o que pode levar à incapacidade e até a morte.

Além disso, a gravidez na adolescência pode reduzir a

educação da mãe e oportunidades de emprego.

O FMI estima (abril de 2016) que a população tenha

ascendido a 28,0 milhões em 2015, representando um

crescimento de 2,8% face aos 27,2 milhões de

habitantes estimados para 2014. Para o período entre

2016 e 2020 o FMI prevê um crescimento médio anual

de 2,7%, refletindo uma ligeira desaceleração do ritmo

de crescimento da população até final do período de

previsão, devendo chegar a 2020 com cerca de 32,0

milhões de habitantes.

Desenvolvimento económico do

país com efeito moderado na

redução da pobreza, com o país

a precisar também de melhorar

os seus indicadores sociais

O rápido desenvolvimento económico de Moçambique,

ao longo das duas últimas décadas, tem, no entanto,

tido um efeito moderado sobre a redução da pobreza, e

a distribuição geográfica da pobreza mantém-se quase

igual. A taxa de pobreza continua a ser elevada,

situando-se em 55% (o limiar da pobreza nacional é

inferior à norma internacional de 0,6 dólares) com a

maioria dos pobres a viverem em áreas rurais. A pobreza

é, assim, agravada pela vulnerabilidade e pelo

crescimento económico que não está a gerar empregos

suficientes.

Moçambique precisa também de melhorar os seus

indicadores sociais. O país é colocado em 180.º lugar

entre 188 países, no mais recente Índice de

Desenvolvimento Humano (HDI, sigla em inglês),

publicado em 2015. A taxa de literacias adulta é agora

de 56% e a esperança média de vida à nascença é de

apenas 55,1 anos. Moçambique enfrenta ainda outros

desafios, como a crescente malnutrição. A malária

(paludismo) continua a ser a causa de morte mais

comum, responsável por 35% da mortalidade infantil e

de 29% da população em geral. A prevalência do VIH

entre adultos mostra uma tendência descendente, mas

estabilizou numa taxa relativamente elevada de 11,5%.

O índice de progresso social, de acesso a fontes de água

melhorada e saneamento, coloca Moçambique na 120.ª

posição, entre os 133 países analisados. Na realidade,

Moçambique tem uma das mais baixas taxas de

consumo de água no mundo. Em resposta a estes

desafios, as autoridades moçambicanas declararam os

setores sociais como tendo a máxima prioridade e o

financiamento tem vindo a ser aumentado, para a

generalidade destes setores.

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

EVOLUÇÃO DO RATING DO PAÍS

As preocupações quanto à sustentabilidade da dívida

pública e desaceleração do crescimento económico de

Moçambique refletiram-se, em 2015, em sucessivas

revisões em baixa das notações internacionais de rating

atribuídas ao país pelas principais agências de notação

financeira.

Rating do país cortado em 2015,

refletindo preocupações para

com a sustentabilidade da dívida

pública e abrandamento

económico…

A Standard & Poor’s (S&P) decidiu, em julho de 2015,

rever o rating do país de B para B-, com outlook

negativo, refletindo a possibilidade de reestruturação da

dívida da EMATUM – empresa pública de atum – e as

menores perspetivas quanto ao crescimento económico

do país. De acordo com o referido então pela agência, as

dificuldades financeiras da EMATUM aumentavam os

receios quanto ao modelo de governação do país e

colocavam questões quanto à gestão da dívida do setor

público. Durante os próximos dois anos, os investimentos

de grande dimensão relacionados com o setor do gás

deverão aumentar as responsabilidades externas. A S&P

estimava, então, que a dívida pública bruta do país

atingisse os 53,0% do PIB em 2015 (as últimas previsões

do FMI apontam para um rácio de 74,8%, em

agravamento face aos 57,0% estimados para 2014, com

esta forte deterioração a estar associado principalmente à

forte depreciação do metical face ao dólar – note-se que

cerca de 86% da dívida pública do país estava em 2015

expressa em moeda estrangeira –, mas também ao início

dos pagamentos relativos às obrigações da EMATUM), o

que, de acordo com a agência, era um montante elevado

para um país com um PIB per capita de apenas 600

dólares (535 dólares em 2015, de acordo com o FMI).

Em agosto de 2015, a Moody’s reviu em baixa o rating

de Moçambique, de B1 para B2 (ou de B+ para B, na

escala da S&P e da Fitch), com o outlook negativo,

justificando também este downgrade com a evolução dos

indicadores sobre a dívida pública e a fraca performance

fiscal e orçamental do país. Adicionalmente, a agência

referiu que o outlook negativo refletiu a incerteza quanto

à estratégia do Governo para satisfazer o serviço da

dívida externa em moeda estrangeira, que podem

colocar pressão na liquidez sobre o Tesouro

moçambicano no médio prazo. A agência esperava que a

dívida pública atingisse cerca de 58% do PIB em 2016 (o

FMI prevê uma subida de 74,8% para 87,4%),

comparativamente aos 52% em 2014 e 59% em 2015

então estimados pela entidade. Segundo a Moody’s,

estes montantes excedem os níveis geralmente

observados em países com este rating e ficam acima da

média para os países da África Subsariana (29% em

2014, segundo a Moody’s). O aumento da dívida pública

é explicado pela agência pelos défices orçamentais

registados nos últimos anos, impulsionados pelo grande

volume de despesas de investimento e queda dos

donativos, bem como pela depreciação do metical face o

dólar.

Também a Fitch reviu em baixa o rating de

Moçambique, em novembro de 2015, de B+ para B, com

um outlook estável, argumentando que a posição

orçamental do país se deteriorou nos últimos anos,

refletindo elevados défices, um rápido aumento da dívida

pública, receitas fiscais voláteis e o aumento dos salários

no setor público. A agência defendeu, então, que a

aceleração da dívida pública reflete as elevadas

necessidades de financiamento e a depreciação do

metical contra o dólar. Neste sentido, a Fitch esperava

que a dívida atingisse um máximo de 61,6% do PIB no

final de 2015 (74,8%, de acordo com as últimas

estimativas do FMI) e devesse cair ligeiramente em

2016/17. Ainda assim, a agência referia que o aumento

do financiamento das empresas públicas e a potencial

utilização de garantias do Estado representavam riscos

para a evolução da dívida pública nos próximos anos.

… tendo voltado a ser cortado

em 2016, refletindo

designadamente a proposta de

reestruturação da dívida da

EMATUM apresentada pelo

Governo e as atuais pressões

sobre a balança de pagamentos

do país

Já em 2016, duas destas três principais agências de

rating voltaram a cortar a notação financeira do país,

ambas no dia 16 de março, com este novo downgrade a

refletir, essencialmente, as atuais pressões sobre a

balança de pagamentos do país e as implicações da

proposta de troca de dívida da Empresa Moçambicana de

Atum (EMATUM), apresentada no passado dia 9 de

março pelo Governo, e que prevê, na prática, uma

redução de 20% nos pagamentos aos credores e uma

extensão das maturidades dos investimentos de 2020

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

para 2023 [refira-se, entretanto, que a maior parte dos

tomadores de obrigações da EMATUM aceitou, já em

abril, a proposta de reestruturação da emissão proposta

pelo Governo].

A Moody’s comunicou (16 de março) que reviu em

baixa o rating do país de B2 para B3 (ou de B para B-,

na escala da S&P e da Fitch), classificação que especifica

que as obrigações são consideradas especulativas e de

risco elevado, e atribuindo outlook negativo,

significando, assim, que esta nova notação se encontra

sob vigilância para uma possível nova revisão em baixa.

Segundo o comunicado da Moody’s, “o principal fator

para esta revisão em baixa do rating de Moçambique é a

posição da balança de pagamentos, que está a

deteriorar-se e a reduzida capacidade para o Governo

pagar a dívida, como é comprovada pela descida do nível

de reservas em moeda estrangeira do Banco de

Moçambique e pela decisão de propor uma

reestruturação da dívida” da EMATUM. No documento, a

Moody’s alerta ainda que o rating continua em avaliação

com uma perspetiva de evolução negativa enquanto os

analistas “avaliam as implicações da proposta de troca de

dívida da empresa Moçambicana de Atum”. A Moody’s

acredita que as reservas em moeda estrangeira, que

atingiram o pico de 3,2 mM$ em agosto de 2014 e

encolheram para 2,3 mM$ no final do ano passado, “vão

continuar a cair em 2016, mesmo com a disponibilização

de 165 M$” por parte do FMI, no âmbito de um

empréstimo de 285 M$ contraído no ano passado.

Dificultando ainda mais as finanças públicas

moçambicanas, a Moody’s lembra que o setor do Gás

Natural Liquefeito (GNL) está também a passar por

dificuldades, o que aliás levou a agência a descer o rating

da norte-americana Anadarko, uma das principais

investidoras no país, “o que deverá afetar os seus planos

de investimento em Moçambique, pelo menos a curto

prazo”. Mesmo reconhecendo os passos positivos no

capítulo da implementação de políticas económicas

corretas, ao abrigo do programa de ajuda do FMI, a

Moody’s diz, no entanto, que “apesar destas iniciativas

políticas apoiarem um ajustamento na balança de

pagamentos, na ausência de uma disponibilidade de

liquidez externa, as pressões sobre a balança de

pagamentos mantêm-se devido ao ambiente externo

particularmente adverso”.

Num comunicado separado, a Moody’s reviu também em

baixa a notação de risco da dívida da empresa EMATUM

(de B2 para Caa2), advertindo os tomadores que as

obrigações em questão são consideradas altamente

especulativas, estão em incumprimento ou próximo dessa

situação, não havendo grandes hipóteses de recuperar o

capital ou de receber os respetivos juros.

A agência de notação financeira S&P foi ainda mais

agressiva no downgrade ao rating de Moçambique,

tendo-o descido, também no passado dia 16 de março,

em quatro níveis, de B- para CC, e com a manutenção de

outlook negativo, com este corte a ser também motivado

pela já referida proposta de reestruturação da dívida da

EMATUM apresentada pelo Governo moçambicano.

Segundo o comunicado da S&P, "o Governo de

Moçambique anunciou a sua intenção de oferecer uma

troca de títulos de dívida da EMATUM", diz a S&P,

alertando para "que uma oferta como a que foi

anunciada seja o equivalente a um incumprimento". A

S&P explica que "a perspetiva de evolução negativa" do

rating se prende com a opinião de que "a troca de dívida

pode estar iminente". Em causa está a já referida

proposta de troca de títulos de dívida pública da

EMATUM, uma empresa estatal de pesca que fez uma

emissão de dívida de 850 M€ em 2013, dos quais 500

M€ entraram diretamente no Orçamento do Estado de

Moçambique, e os outros 350 M€ ficaram no balanço da

empresa. A proposta que os credores tinham em cima da

mesa aponta, como referido, para uma extensão da

maturidade da dívida, de 2020 para 2023, e um corte de

20% no valor a pagar caso aceitem o novo prazo e a

troca por títulos em dólares com uma taxa de juro fixa

anual.

De acordo com a S&P, "esta oferta será equivalente a um

incumprimento se o investidor receber menos valor do

que a promessa do título original e se a oferta for

motivada por problemas e não for apenas uma questão

de oportunidade". Considerando que os investidores que

não aceitem a oferta sairão provavelmente ainda mais

prejudicados, os analistas da S&P dizem ainda que o país

pode ser colocado em SD (Selective Default -

Incumprimento Seletivo) se estas condições se

cumprirem.

Note-se que, poucos dias antes destes cortes de rating

por parte de Moody’s e da S&P, também a Fitch tinha

colocado o rating de Moçambique com outlook

negativo, igualmente por causa da proposta de

reestruturação da dívida da EMATUM, que, para a

agência, também deverá ser interpretada com um

incumprimento. Na opinião da Fitch, a oferta pode

constituir uma Troca de Dívida Problemática (distressed

debt exchange – DDE), de acordo com os critérios da

agência, o que “nós consideraríamos um evento de

incumprimento”, lê-se na nota enviada pela Fitch aos

investidores. No entanto, poucos dias depois (22 de

março), a agência Fitch informou que decidiu manter o

rating de Moçambique de longo prazo em moeda local

em B e que removeu essas notações da lista de vigilância

negativa. A Fitch adiantou ter removido notações de

risco da lista de vigilância negativa na sequência do

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

anúncio, a 17 de março, da proposta de

reestruturação da dívida emitida pela EMATUM. A

agência informou, no entanto, que o outlook permanece

negativo. Segundo a Fitch, a manutenção do outlook

negativo ilustra a deterioração de alguns indicadores,

como é o caso dos preços das matérias-primas, cuja

queda afetou Moçambique, principalmente no que

respeita à entrada de capitais. Segundo a agência, o IDE,

que representa uma forma de o Governo financiar o

grande défice da balança de transações correntes,

registou uma queda de quase 10% em 2015, para

19,5% do PIB.

Já neste mês (18 de abril), foi a vez de a Moody's voltar

a pronunciar-se, depois de já o ter feito cerca de um mês

antes, sendo que voltou a descer o rating de

Moçambique, de B3 para Caa1 (ou de B- para CCC+, na

escala da S&P e da Fitch), colocando-o em território

ainda mais negativo, por causa da recompra de dívida da

EMATUM. Segundo refere a agência em comunicado, "a

principal razão para a descida do rating é a recente troca

de dívida da EMATUM, que a Moody's considera uma

'troca problemática' e, por isso, um incumprimento

(default), na dívida garantida pelo Governo". "A

Moody's encara este default como um sinal de pouca

vontade por parte do Governo para honrar futuras

obrigações com a dívida e isto suplanta o impacto

positivo que a troca de dívida tem na liquidez externa por

via da melhoria, a média termo, do perfil de amortização

de dívida externa pelo Governo", acrescenta a nota.

A posição da Moody's é mais uma má notícia para o

Governo de Moçambique, pressionado politicamente

pela divulgação, no final de março, de um empréstimo

de 622 M$ à empresa estatal Proindicus, que originou

um conjunto de dúvidas sobre a real situação financeira

do país.

O grupo de países doadores, que representam uma

importante fatia do Orçamento de Moçambique, alertou

que a situação é "séria" e anunciou que irão "tomar

posição em função do que for dito pelo Governo".

No entanto, no mesmo dia (18 de abril), a S&P subiu o

rating de Moçambique para B-, na sequência da

conclusão do processo de troca de dívida da EMATUM,

com perspetiva de evolução (outlook) estável.

Segundo refere a S&P na nota emitida, "o Governo de

Moçambique completou a troca de dívida da EMATUM

por títulos de dívida pública com maturidade em 2023,

por isso subimos o rating de Moçambique para depósitos

em moeda estrangeira a curto e longo prazo, de CC

(incumprimento seletivo) para B-, e afirmamos o rating

da moeda local em B-". "A perspetiva de evolução

estável reflete a nossa expectativa de que, apesar de o

investimento continuar a pesar nos desequilíbrios

orçamentais e externos, vai apoiar a recuperação

económica entre 2016 e 2018", acrescenta a nota.

Na opinião da S&P, "a troca de dívida ajudou o

Governo de Moçambique a melhorar o serviço da

dívida a curto prazo, ao reduzir o custo do montante e

dos juros de aproximadamente 200 M$ por ano para 70

M$ anuais, com a totalidade do empréstimo a ser

diferida para 2023". Recorde-se que em causa está a

troca de obrigações da EMATUM por títulos de dívida

soberanos de Moçambique, que, apesar de suportar uma

taxa de juro anual mais elevada (de 6,3% para 10,5%),

alarga a duração do empréstimo de 2020 para 2023.

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

ÍNDICE DE LIBERDADE ECONÓMICA

- The Heritage Foundation

Moçambique é a 139.ª economia

mais livre dos países que

compõem o índice em 2016

Síntese

Índice Sintético de Liberdade Económica: 53,2

pontos (piorou 1,6 pontos face a 2015 e 3,9 pontos

desde 2012);

Liberdade Económica: maioritariamente não livre;

Ranking mundial: 139.º;

Ranking Regional: 31.º na África Subsaariana;

Destaques: liberdade monetária e de comércio;

Preocupações: corrupção, direitos de propriedade e

liberdade laboral.

Moçambique apresentou um crescimento médio anual

do PIB de 7% ao longo dos últimos cinco anos,

impulsionado por projetos de investimento estrangeiros

em grande escala e por relativa estabilidade

macroeconómica. No entanto, a expansão económica

não se traduziu numa redução da pobreza. Apesar de

alguns progressos, deficiências estruturais e institucionais

travam o desenvolvimento do setor privado e inibem o

crescimento da produtividade.

Enquadramento

Os problemas estruturais, incluindo a frágil posição das

finanças públicas e o enquadramento regulatório,

influenciaram negativamente o crescimento do setor

privado, mantendo muitas pessoas e empresas no setor

informal. As políticas de investimento e eficiência

regulatória, de acordo com o The Heritage Foundation,

são reduzidas por interferência do Governo na economia,

mas também pela corrupção estabelecida.

Estado de Direito Eficácia da Regulação

A corrupção, incluindo o suborno, que levam a um

aumento dos custos e riscos para a concretização de

negócios, tem um efeito corrosivo sobre o clima

empresarial, além de desencorajar o investimento

internacional, sufocar o crescimento económico e o

desenvolvimento Para o The Heritage Foundation, pese

embora o Governo reconheça direitos de propriedade

privada, eles não são fortemente respeitados e a aplicação

da lei é ineficiente e desigual. A independência judicial é

ainda limitada.

O quadro regulamentar foi submetido a uma série de

reformas. O lançamento de um negócio leva menos de

30 dias. Completar os requisitos de licenciamento, no

entanto, leva mais de 100 dias. A legislação laboral,

recentemente implementada, aposta numa maior

flexibilização do mercado de trabalho, mas também

aumentou as restrições no acesso às horas

extraordinárias. O Estado alienou a propriedade de

dezenas de pequenas empresas, mas mantém

participações em grandes empresas, como o maior

banco do país.

Intervenção do Governo Abertura Económica

As taxas máximas de impostos sobre as sociedades (IRC) e

sobre os indivíduos (IRS) situam-se nos 32%. Outros

impostos incluem um imposto sobre o valor acrescentado

(IVA) e um imposto sobre heranças. A carga fiscal global é

igual a 22,9% do PIB. A expansão da base de receitas

continua a ser crucial. Os gastos públicos aumentaram

para 34,9% do PIB e os défices orçamentais prevalecem. A

dívida pública já supera os 50% do PIB.

Moçambique tem uma pauta aduaneira média de 7,1%.

A terra é propriedade do Estado. O Investimento Direto

Estrangeiro é selecionado, decidido e acompanhado

pelo Governo e os investimentos em setores como as

indústrias extrativas e o petróleo estão sujeitos a

controlos. O setor financeiro, ainda em fase de

desenvolvimento, continua pressionado pela regulação

estatal. A maioria dos cidadãos ainda não tem acesso

adequado a serviços bancários.

Page 18: Importações (%) MOÇAMBIQUE - montepio.pt · Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016 Comboios e veículos elétricos ... 17 Açúcares e doces de confeitaria 0,123

18

Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

INDICADORES DE RISCO

C O U N T R Y ’ S S C O RE O V E R T IM E C O U N T R Y C O M PA R I SO N S

RATING DAS AGÊNCIAS

SCORE % 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Overall Score 51,9 54,7 55,4 55,7 56,0 56,8 57,1 55,0 55,0 54,8 53,2

Property Rights 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0 30,0

Freedom from Corruption 28,0 28,0 28,0 28,0 26,0 25,0 27,0 27,0 26,2 30,0 31,0

Government spending 73,4 82,7 85,2 76,5 76,1 76,5 69,3 64,5 64,6 66,5 63,5

Fiscal Freedom 78,1 78,2 78,1 77,7 77,6 77,5 77,1 76,2 75,7 75,2 74,3

Business Freedom 44,1 48,2 53,8 54,2 58,7 63,1 66,8 63,9 65,2 60,9 55,9

Labor Freedom 33,1 32,9 32,9 41,1 42,0 39,2 39,7 37,9 36,7 37,9 41,9

Monetary Freedom 67,0 76,5 73,6 75,9 74,9 80,3 74,8 74,7 80,8 82,0 79,5

Trade Freedom 65,2 70,2 72,8 73,4 74,5 81,0 81,1 75,4 75,5 75,4 70,8

Investment Freedom 50,0 50,0 50,0 50,0 50,0 45,0 55,0 50,0 45,0 40,0 35,0

Financial Freedom 50,0 50,0 50,0 50,0 50,0 50,0 50,0 50,0 50,0 50,0 50,0

F o nte : The Heritage Fo undatio n.

Rating Heritage Foundation

SCORE % 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2015 2016

Country Risk 51,0 49,0 50,0 51,0 55,0 51,0 46,0 54,0 52,0 54,0 54,0 B B

Sovereign* 52,0 50,0 51,0 49,0 56,0 52,0 49,0 58,0 55,0 56,0 56,0 B B

Currency* 48,0 47,0 49,0 51,0 54,0 48,0 43,0 52,0 50,0 51,0 51,0 B B

Economic 63,0 65,0 65,0 60,0 70,0 68,0 65,0 68,0 65,0 68,0 68,0 CCC CCC

Political 56,0 56,0 49,0 46,0 49,0 49,0 49,0 54,0 56,0 51,0 51,0 B B

Banking* 52,0 51,0 50,0 52,0 56,0 54,0 47,0 53,0 51,0 54,0 54,0 B B

F o nte : EIU. No ta (*): Utilizado na co ntrução do "Co untry Ris k".

Rating EIU (The Economist Inteligence Unit)

Rating

S&P B B+ B+ B+ B+ B+ B+ B+ B B- B-

Moody's - - - - - - - B+ B+ B CCC+

Fitch - - - - - - - B+ B+ B B

Compósito B B+ B+ B+ B+ B+ B+ B+ B+ B B-

N o ta : O rating co mpó s ito res ulta da média das 3 agências .

20072006 2011201020092008 20162015201420132012

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Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

CHART BOOK

5

10

15

20

25

30

35

40

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

GDP Growth (%)

Mozambique - GDP Grow th%

Source: IMF (April 2016)

360

400

440

480

520

560

600

640

680

720

760

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

Per Capita GDP

Mozambique – Per Capita GDP$

Source: IMF (April 2016)

0

20

40

60

80

100

120

140

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

% GDP

Mozambique – Investment (% GDP)%

Source: IMF (April 2016)

-16

-12

-8

-4

0

4

8

12

16

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

% GDP

Mozambique – Gross National Saving (% GDP)%

Source: IMF (April 2016)

-120

-100

-80

-60

-40

-20

0

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

% GDP

Mozambique – Current Account (% GDP)%

Source: IMF (April 2016)

0

2

4

6

8

10

12

14

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

Inflation Rate

Mozambique – Inflation Rate%

Source: IMF (April 2016)

Mozambique – Unemployment Rate

No data available in the WEO Apr/2016

30

40

50

60

70

80

90

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

% GDP

Mozambique – Public Debt (% GDP)%

Source: IMF (April 2016)

-11

-10

-9

-8

-7

-6

-5

-4

-3

-2

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

% GDP

Mozambique – Budget Balance (% GDP)%

Source: IMF (April 2016)

18

20

22

24

26

28

30

32

34

36

2.6

2.7

2.8

2.9

3.0

3.1

3.2

3.3

3.4

3.5

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

Population Growth Rate (%)

Mozambique - Population10^6 %

Source: IMF (April 2016)

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

Exports Growth (%)

Mozambique - Exports Grow th%

Source: IMF (April 2016)

-10

0

10

20

30

40

50

60

70

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

2014

2015

2016

2017

2018

2019

2020

2021

Imports Growth (%)

Mozambique - Imports Grow th%

Source: IMF (April 2016)

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20

Departamento de Estudos // Canadá //maio 2015

Departamento de Estudos // Moçambique // abril 2016

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS Rui Bernardes Serra Chief Economist

[email protected]

José Miguel Moreira Senior Economist

[email protected]

Caetano Ferreira Economist

[email protected]

DEPARTAMENTO DE NEGÓCIO

INTERNACIONAL

Rita Marques Trade Finance

[email protected]

ADVERTÊNCIA Este documento foi elaborado pelo Departamento de Estudos da Caixa Económica Montepio Geral e é disponibilizado com intuito e

para fins exclusivamente informativos.

Todos os dados, análises e considerações nele contidas estão simplesmente baseadas no que estimamos ser as melhores

informações disponíveis, recolhidas a partir de fontes oficiais e outras consideradas credíveis, não assumindo, todavia, qualquer

responsabilidade por erros, omissões ou inexatidões das mesmas.

As opiniões e previsões expressas refletem somente a perspetiva e os pontos de vista dos autores na data da sua elaboração,

podendo ser livremente modificadas a todo o tempo e sem aviso prévio.

Neste contexto, o presente documento não pode, em circunstância alguma, ser entendido como convite ao investimento, seja de

que natureza for, nem como proposta ou oferta de negócio de qualquer tipo.

Qualquer decisão de investimento deve ser devidamente ponderada, fundamentada na análise crítica, pelo investidor, de toda a

informação publicamente disponível sobre os ativos a que respeita, suas características e adequação ao perfil de risco assumido, e

devem ter em conta todos os documentos emitidos ao abrigo da regulamentação das entidades de supervisão, nomeadamente da

Comissão do Mercado de Valores Mobiliários.

Nem o Montepio, na qualidade de emitente do documento, nem nenhuma entidade sua dominante ou dominada ou qualquer

outra integrante do Grupo Montepio em que se insere, pode, consequentemente, ser responsabilizada por eventuais perdas ou

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elementos constantes deste documento.

Por outro lado, uma vez que este documento não contempla qualquer tipo de informação privilegiada ou reservada, nem constitui

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