Transcript
Page 1: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência

A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais.

Paulo Castro Seixas

Page 2: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Índice

Introdução Teoria da Tragédia Pessoal Vs

Teoria da produção Cultural Teorias Acerca da Deficiência Representações Culturais,

Processos Socio-Económicos e Deficiência

Page 3: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Estima-se em cerca de 500 milhões as pessoas gravemente incapacitadas no planeta.

Aproximadamente um décimo da população mundial.

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

1. Introdução

Page 4: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

1. Introdução

Estas incapacidades não estão distribuídas aleatoriamente, sendo, pelo contrário, produzidasculturalmente.

As sociedades em que as pessoas vivem determinam as suas possibilidades face à saúde, doença e morte.

A capacidade de gerir o seu meio-ambiente indica-nos os meios de determinar as hipótese de vida.

Page 5: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

1. Introdução

Em alguns países, as incapacidades surgem de forma provável de doenças infecciosas, da pobreza, da ignorância e a falha em fazer chegar os tratamentos médicos existentes á população em risco.

Noutros países, as incapacidades surgem de forma provável do envelhecimento da população, dos acidentes no trabalho, na estrada e em casa e do próprio sucesso médico em possibilitar a sobrevivência de crianças e adultos, ainda que com incapacidades.

EXEMPLO:A cegueira e a surdez são mais prováveis de encontrar no Terceiro Mundo, enquanto incapacidades cardíacas, espinha bífida e problemas de coluna são mais prováveis nas sociedades industriais.

Page 6: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

1. Introdução

As forças económicas e sociais causam adesordem de forma directa:

1. Explicam a re-distribuição da proporção de pessoas em alto e baixo risco de serem afectadas;

2. Criando novos caminhos para a transmissão das desordens: através de viagens, migrações, transmissão de informação, atitudes e comportamentos pelos Media;

3. Afectando a conceptualização, reconhecimento e visibilidade das desordens.

Page 7: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

1. Introdução

Aspectos culturais da incapacidade e deficiência:

1. Distribuição das pessoas incapazes/deficientes por país, localidade, classe e grupo social;

2. Crenças acerca da incapacidade/deficiência

3. Comportamentos de resposta às pessoas com incapacidades/deficiências por parte das suas famílias e dos terapeutas

…/…

Page 8: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

2. Tragédia Pessoal Vs Produção Cultural

Teoria da Tragédia Pessoal(Modelo Bio-Médico)

Versus

Teoria da Produção Cultural(Modelo Psico-Socio-Cultural)

Page 9: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

2. Tragédia Pessoal Vs Produção Cultural

Tem-se compreendido a incapacidade e a deficiência no contexto

da saúde e da doença e, por isso, sob o domínio do Modelo Médico. A incapacidade e a deficiência têm, assim, sido

entendidas como limitações pessoais e nunca como imposições sociais.

No entanto, a questão mais importante não é o que causa a deficiência física mas o porquê de algumas culturas a verem

como um problema grave e outras não. Sobre esta questão permanecemos praticamente ignorantes.

Page 10: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

2. Tragédia Pessoal Vs Produção Cultural

Pesquisas centradas na Teoria da Produção Cultural:

Gwaltney's (1970) para a cegueira(estudo de uma aldeia mexicana) Farb (1975) e Groce (1985) para a surdez(estudo de uma tribo da amazónia e de Uma ilha da costa da Nova Inglaterra) Murphy (1987)(uma viagem pessoal na deficiência)

Page 11: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

2. Tragédia Pessoal Vs Produção Cultural

Teoria da Tragédia PessoalTeoria da Tragédia PessoalA deficiência/incapacidade como: Problema físico Problema individual Causa Bio-médica Impõe restrições

individuais (Des)Adaptação do

indivíduo

Teoria da Produção CulturalTeoria da Produção CulturalA deficiência/incapacidade

como:o Problema socialo Problema colectivoo Causa Socio-culturalo Impõe restrições sociaiso (Des)Adaptação da

sociedade

Page 12: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

2. Tragédia Pessoal Vs Produção Cultural

Problemas centrais no sentido de providenciar uma perspectiva empírica e teórica adequada:

1. Identificação do material existente2. Inscrição do material na teoria da tragédia

pessoal e a da produção cultural3. Re-interpretação do material associado à

teoria da tragédia e ao modelo médico

Page 13: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

3. Teorias antropológicas acerca da deficiência

Principais teorias acerca da deficiência

Teorias racionalistas Explicação mágico-religiosa Explicação de classificação liminar Explicação pela rotulação

Teorias materialistas Explicação pela população excedentária Explicação pela competição incorporada Explicação pelo modo de produção

Para uma teoria de síntese

Page 14: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais”

3. Teorias antropológicas acerca da deficiência

3.1. Teorias racionalistasA explicação mágico-religiosa (culturas

tradicionais)

Em sociedades dominada pela religião e pensamento

mágico, a deficiência é percebida como castigo divino ou como resultado de feitiçaria Evans-Pritchard (1937)

Page 15: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais” 3. Teorias antropológicas acerca da deficiência

3.1. Teorias RacionalistasA explicação pela classificação liminar (culturas modernas)

A posição social da deficiência é explicada pela noção de “liminaridade” de Victor Turner (1967), colocando os indivíduos em perigo (Douglas,1966)

Os deficientes em todas as sociedades não se podem classificar como doentes nem como saudáveis, nem como mortos, nem em vivência plena. São seres humanos mas os seus corpos não funcionam completamente, deixando a sua humanidade em dúvida

A doença é um estado transicional para a morte ou a recuperação, implicando uma suspensão social. A deficiência configura um estado de suspensão social homólogo mas para a vida toda. Os deficientes são inclassificáveis face às dicotomias Vida/Morte; Saúde/Doença e, por Isso, vivem em isolamento parcial da sociedade como “pessoas ambíguas”.

Page 16: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais” 3. Teorias antropológicas acerca da deficiência

3.1. Teorias RacionalistasA explicação pela rotulação

A rotulação da deficiência e as suas classificações é resultado das

representações sociais vigentes numa sociedade. Esses mapas cognitivos identificam o “normal” e o “desacreditado”.

Page 17: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais” 3. Teorias antropológicas acerca da deficiência

3.2. Teorias MaterialistasA explicação pela população excedentária 'surplus population thesis' (Culturas tradicionais)

Em sociedades em que a sobrevivência é uma luta constante, quaisquer membros fracos e dependentes que possam ameaçar a sobrevivência do grupo, terão um tratamento específico. Crianças deficientes, incapazes ou mesmo apenas com certas desvantagens podem ser

mortas pouco após a nascença e adultos deficientes e idosos ou incapazes podem ser forçados a abandonar a comunidade ou simplesmente abandonados para morrer.

Page 18: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais” 3. Teorias antropológicas acerca da deficiência

3.2. Teorias MaterialistasA explicação pela competição incorporada (Culturas modernas)

Nas sociedades modernas capitalistas, há uma incorporação das relações capitalistas que leva à exclusão das pessoas deficientes, uma vez que o (des)controlo/(des)figuração do corpo e da sua imagem são associados à situação de

dependência e de dominação socio-económica, logo à situação de “classes inúteis” que leva à sua exclusão.

Page 19: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais” 3. Teorias antropológicas acerca da deficiência

3.2. Teorias MaterialistasA explicação pelo modo de produção

A rotulação da deficiência e as suas classificações é

resultado das práticas eco-económicas vigentes numa sociedade – O MODO DE PRODUÇÃO.

Assim, a capacidade de inserção ou não no modo de produção dominante é que identifica o individuo “normal” e o “desacreditado”.

Page 20: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais” 3. Teorias antropológicas acerca da deficiência

3.3. Para uma teoria de síntese

As diferenças entre culturas no tratamento social para com os deficientes

(entre a aniquilação, ostracismo, indiferença e endeusamento) não podem ser remetidos para as não-explicações do acaso ou do

relativismo cultural.

O lugar socio-cultural do deficiente nas diversas sociedades explica-se

pela RELAÇÃO ENTRE OS VALORES CENTRAIS - VEICULADOS NAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS - E AS PRÁTICAS ECO-ECONÓMICAS – ARTICULADAS NOS MODOS DE PRODUÇÃO – DE CADA SOCIEDADE.

Page 21: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais” 4. Representações Culturais, Processos Socio-económicos e Deficiência

4.1. Introdução às Representações sociais

Page 22: Incapacidade e Deficiência A construção das Incapacidades e Deficiências como restrições sociais. Paulo Castro Seixas

Incapacidade e Deficiência como “restrições sociais” 4. Representações Culturais, Processos Socio-económicos e

Deficiência

1.BARCELONA: Pousada de Juventude (INOUT HOTEL) em que todos os

trabalhadores são deficientes. O slogan é: “entre de coração aberto e saia

com um sorriso difícil de apagar” (www.inouthostel.com)