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Aquisição pela usucapião (prescrição aquisitiva)

Leonardo Gomes de Aquino

Informações Sobre o Autor

Leonardo Gomes de Aquino

Advogado. Mestre em Ciências Jurídico-Empresariais, pós-graduado em

Ciências Jurídico-Processuais e em Ciências Jurídico-Empresariais pela

Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (Portugal), e Pós

Graduado em Direito Empresarial pela Fadom. Especialista em Docência do

Ensino Superior pelo Centro Universitári Unieuro. Professor Universitário no

IESB, no UniEuro.

Resumo: O texto vislumbra a análise do instituto da usucapião como forma de

aquisição da propriedade imóvel no direito brasileiro, tendo em vista as características e

requisitos necessários para a sua aplicação jurídica.

Sumário: Introdução. 1. Requisitos essenciais a todos os tipos de usucapião. 2.

Requisitos especiais a todos os tipos de usucapião. 3. Espécie de usucapião. 4. Da ação

de usucapião de terras particulares. 5. Direito intertemporal

Para instigar e fomentar a reflexão gostaria de iniciar este paper com a seguinte citação:

"A propriedade da terra, monopolizada pelos ricos, fora por muito tempo um símbolo de

status social na América Latina. Resulta daí ser esta uma área de terras sem homens e de

homens sem terra." (Donald Marquand Dozer )

INTRODUÇÃO

Alguns autores modernos entendem que a usucapião é ao mesmo tempo uma prescrição

aquisitiva e extintiva. Ela extintiva por que alguém perda a propriedade enquanto outro

adquire a propriedade. [1]

É modo originário ou derivado de aquisição da propriedade[2], através da posse com a

intenção de dono de forma mansa, pacífica e contínua, seu principal elemento, por um

determinado lapso temporal[3].

A usucapião[4], conforme posição majoritária constitui direito à parte e independente de

qualquer relação jurídica com o anterior proprietário.

O STF em Julgamento do Recurso Extraordinário nº 9.056, posição que, antes da CF

alcançara ratificação em outro Recurso Extraordinário de nº 94.580, Relator o Ministro

Djaci Falcão:

“Imposto de transmissão de imóveis. Alcance das regras dos arts. 23, inc. I, da

Constituição Federal e 35 do código tributário nacional. Usucapião. A ocupação

qualificada e continuada que gera a usucapião não importa em transmissão da

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propriedade do bem. A legislação tributária é vedada “alterar a definição, o conteúdo e o

alcance dos institutos, conceitos e formas de direito privado” (art. 110 do CTN).

Registro da sentença de usucapião sem pagamento do imposto de transmissão. Recurso

provido, declarando-se inconstitucional a letra 'h', do inc. I, do art. 1º, da Lei n. 5.384,

de 27.12.66, do estado de Rio Grande do Sul.”

Fundamenta-se no propósito de consolidação[5] da propriedade, estimulando a paz

social e diminui para o proprietário o ônus da prova de domínio. É modo de premiar a

quem produz a terra, na opinião de Sílvio Rodrigues[6], ou seja, ocupando-a e pondo-a

a produzir. Na opinião de Maria Helena Diniz “tem por fundamento a consolidação da

propriedade, dando juridicidade a uma situação de fato: a posse unida ao tempo. A

posse fato objetivo, e o tempo, a força que opera a transformação do fato em direito”[7].

Não apenas a propriedade e o domínio útil[8], mas também o usufruto, o uso, a

habilitação e as servidões aparentes[9] são passíveis de aquisição pela usucapião[10].

A usucapião aplica-se também aos semoventes, admite-se para tanto a sucessão de

posse (art. 1.238 CC). [11]

Afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald[12] que para adquirir a

propriedade por usucapião se faz necessário preencherem os seguintes aspectos: o

pessoal, o real e o formal. Assim, classificam-se: Requisitos Pessoais: são aqueles

referentes ao possuidor que pretende adquirir o bem e ao proprietário que irá sofrer

desfalque em seu patrimônio. Há necessidade de averiguar a capacidade e a qualidade

do adquirente (p.ex: se o agente é capaz); Requisitos Reais: são aqueles referentes aos

bens e direitos suscetíveis de serem usucapiados, uma vez que nem todos os direitos e

todas as coisas são passíveis de usucapião (p.ex: se o bem é público ou particular);

Requisitos Formais: são aqueles que compreendem os elementos necessários e comuns

do instituto: “animus domini” (intenção de dono); a posse prolongada (lapso temporal

que está exercendo a posse); a posse contínua (posse sem intervalo que deve ser

exercida pelo possuidor) e a posse justa (posse sem vícios). Já como pressupostos

especiais, têm o justo título e a boa-fé.

A aquisição da propriedade por usucapião só ocorrerá se preenchido os requisitos

determinados que possam ser divididos em: a) requisitos essenciais 1) a posse

qualificada, com privilégio ou sem privilégio; 2) objeto hábil; 3) o lapso temporal; 4) a

sentença judicial e o Registro; b) requisitos especiais 1) o justo título e; 2) a boa-fé.

[13]

1) REQUISITOS ESSENCIAIS A TODOS OS TIPOS DE USUCAPIÃO

1.1) A POSSE QUALIFICADA

Miguel Reale[14] disciplina que a partir da diretriz da socialização fez surgir “dois

modos de possuir capazes de alcançar a usucapião: a posse simples e qualificada”.

Sendo a posse é a exteriorização do domínio, ou seja, a relação exterior e intencional,

existente, normalmente, entre o proprietário e sua coisa. Faz-se necessário para adquirir

a propriedade pela usucapião que o possuidor tenha a posse com intenção de dono

(posse animus domini ou posse qualificada) de forma mansa, pacífica e contínua[15].

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Logo os detentores que possuem posse degradada e os possuidores diretos possuem

posse simples, mas não de forma qualificada, ou seja, sem animus domini. Não podem

adquirir imóveis. Assim, todo possuidor que tem a posse com a intenção de dono tem a

posse de forma qualificada e não de maneira simplificada, como relata o Miguel Reale,

visto que quando ocorre à bipartição da posse, o proprietário fica com a posse indireta e

o possuidor fica com posse direta, ou seja, fica com a posse simplificada, pois se assim,

fosse este poderia adquirir a propriedade pela usucapião, coisa que não ocorre. É

exemplo de possuidor direto, o usufrutuário, locatário, etc., que, embora tendo o direito

à posse, que os possibilita de invocar os interditos para defendê-la contra terceiros ou

contra o proprietário do bem, não podem usucapir, visto que a sua posse advém de título

ou de contrato que os obriga a restituir o bem, não podendo, desta feita, adquirir a coisa,

não dando azo à aquisição da posse por usucapião. Logo, todos os possuidores com

posse direta, a possui forma simplificada e os detentores há possui de forma degradada.

[16]

No entanto, nada impede que a posse do possuidor direto venha a possuir a posse

qualificada. Este é o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça segundo qual nada

impede que o caráter originário da posse se modifique, motivo pelo qual o fato de ter

havido no início da posse da autora um vínculo locatício, não é embaraço ao

reconhecimento de que, a partir de um determinado momento, essa mesma mudou de

natureza e assumiu a feição de posse em nome próprio, sem subordinação ao antigo

dono e, por isso mesmo, com força ad usucapionem. [17]

Jurisprudência

“Processo civil e civil. Recurso Especial. Promessa de compra e venda de imóvel.

Usucapião extraordinário. Transformação do caráter originário da posse. Dissídio.

Caracterização. O fato de ser possuidor direto na condição de promitente-comprador de

imóvel, a princípio, não impede que este adquira a propriedade do bem por usucapião,

uma vez que é possível a transformação do caráter originário daquela posse, de não

própria, para própria. A caracterização do dissídio jurisprudencial ensejador de Recurso

Especial exige que o acórdão recorrido tenha divergido de afirmação assentada no

paradigma e que os julgados comparados tenham analisado questão delineada

faticamente de modo semelhante. Recurso Especial não conhecido.”[18]

A qualificação da posse se dá em relação à necessidade do possuidor demonstrar que

está exercendo-a com a intenção de dono por um lapso temporal.

Assim, é necessária a intenção de ser dono[19], isto é para diferenciar o possuidor direto

como no caso do locatário, usufrutuário, do promitente-comprador[20], dos detentores

como os permissionários (comandatário[21]), os possuidores injustos e os fâmulos da

posse[22]. Isto decorre, pois, nestes casos o possuidor tem o dever de restituir o bem,

não podendo, portanto adquiri-lo por usucapião[23], o que não impede que este

possuidor invoque os interditos para defendê-la contra o proprietário ou terceiros. [24]

Jurisprudência:

“1) Possuidor direito. Não pode pleitear usucapião quem possui o imóvel como

promitente-comprador (possuidor direto), em detrimento do possuidor indireto,

proprietário, este, sim, que continua a possuir a coisa como sua. [25]

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2) Promitente-comprador. Pode preencher os requisitos do CC art. 550 (art. 1.238, do

atual CC) para que se consume a usucapião.” [26]

Em todas as espécies de usucapião (ordinário, extraordinário e especial) é necessária a

posse qualificada, diversificando somente a sua intensidade, ou seja, a posse qualificada

com privilégio ou sem privilégio da função social.

O usucapiente poderá requerer a aquisição do imóvel demonstrando que a sua posse é

qualificada com privilégio da função social, demonstrada pelo exercício da efetiva

moradia do possuidor no local ou a realização de obras e serviços de caráter produtivo

no prazo de 5 ou 10 anos conforme a existência ou não do título aquisitivo (parágrafo

único do art. 1.238 e parágrafo único do art. 1.242, do CC).

O CC prestigia a finalidade social da posse trazendo como exemplos para aplicação o

princípio da sociabilidade, a norma do parágrafo 4º do art. 1.228 (posse trabalho) e a

redução dos prazos para usucapião previstos nos arts. 1.238 e 1.242, do CC.

Miguel Reale[27] dispõe que “no caso da posse, superando as disposições até agora

universalmente seguidas, que distinguem apenas entre posse de boa-fé e a de má-fé, o

Código leva em conta a natureza social da posse da coisa para reduzir o prazo de

usucapião, o que constitui novidade na tela do Direito Civil”. Está claro que nestas

situações se acaba prestigiando, dentro da relação jurídica privada, o possuidor

qualificado com privilégio, visto que este tem a prerrogativa da qualificação por agregar

valor social ao bem, que se processa conforme hipótese legal, pelo trabalho o

investimento do possuidor.

A posse qualificada com privilégio é “marcada pelo elemento fático caracterizador da

função social: é a posse exercida a título de moradia e enriquecida pelo trabalho ou

investimento”[28]. Assim, se por falta de cuidado de uma coisa os poderes inerentes à

propriedade for exercido por um terceiro, que tem a posse qualificada com privilégio,

tornado-a útil no crivo da sociedade, permitir-se-á não só a inversão na proteção, mas,

também, a consolidação da propriedade em favor deste terceiro, através da usucapião. A

posse qualificada com privilégio tem íntima ligação com o princípio da sociabilidade,

onde este princípio se encontra fixado no âmbito do Direito das Coisas[29], e consiste

no prestígio da posse socialmente levada e encaixada no contexto econômico como

mecanismo para facilitação da aquisição da propriedade. Esta qualificação permite ao

possuidor percorrer um caminho facilitado e mais rápido na aquisição da propriedade,

consubstanciando em bônus. Destarte, a posse qualificada com privilégio, em razão do

espírito de sua destinação social e econômica, representa um interesse que atingi a toda

a comunidade, pois é certo que se dêem as coisas uma utilidade que as façam cumprir,

da melhor maneira, sua função social. Mas, este privilégio de redução do prazo para

aquisição do imóvel só poderá ocorrer na Usucapião Extraordinário ou Ordinário.

A posse além de ser qualificada, deve ser mansa, pacífica (sem oposição) e contínua

(ininterrupta), ou seja, deve ser exercida sem contestação de quem tenha legítimo

interesse e sem interrupção, não podendo ocorrer à sucessão da posse (art. 1.243, do

CC), conforme entendimento do Conselho Federal de Justiça quando editou o

Enunciado nº 317, da 4ª Jornada de Direito Civil prescrevendo que:

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“A accessio possessionis, de que trata o art. 1.243, primeira parte, do CC, não encontra

aplicabilidade relativamente aos arts. 1.239 e 1.240 do mesmo diploma legal, em face

da normatividade da usucapião constitucional urbano e rural, arts. 183 e 191,

respectivamente.”

A posse será mansa e pacífica quando não é perturbada pelo proprietário, ou seja, o

proprietário, que “se mantém solerte na defesa de seu domínio, falta requisito para a

usucapião, pois a lei exige que a posse do usucapiente se exerça sem oposição, vale

dizer, se exerça de maneira continua e incontestada”[30]. De acordo com Caio Mário da

Silva Pereira[31] “o possuidor não pode possuir a coisa em intervalos, intermitente, nem

tela maculada de vícios ou defeitos”. Entretanto a posse de alguém que se habilite à

usucapião pode vir a ser turbada ou esbulhada (terceiro ou proprietário), mas, não será

considerado o possuidor tirado da posse se vir a ser mantido ou restituído para fins de

contagem do lapso temporal necessário para a caracterização da usucapião[32].

Segundo Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald[33] a

“pacificação da posse cessa apenas no instante em que há oposição judicial por parte de

quem pretende retomá-la, condicionada a interrupção da usucapião ao reconhecimento

da procedência da sentença em transito em julgado na ação possessória ou petitória na

qual o usucapiente figura como réu.”

A questão do impedimento, da suspensão e da interrupção da prescrição, pode ser

observada o art. 1.244, CC que “as causas que obstam, suspendem, ou interrompem a

prescrição, também se aplicam à usucapião”.

Assim, ocorrendo uma das causas que suspendem a prescrição (art.s 197 a 201, do CC),

faz cessar temporariamente o curso da prescrição; superada, porém a causa suspensiva,

a prescrição retoma seu curso natural, computando o tempo anteriormente transcorrido.

Já interrupção é o ato pelo qual se inutiliza prescrição em curso se verificada uma das

causas que interrompem a prescrição (arts. 202 a 204, do CC), perde-se por completo o

tempo transcorrido precedentemente. Esse tempo ficou inutilizado para o prescribente,

por inteiro, não sendo considerado na contagem o primeiro lapso de tempo, que ficou

perdido, sacrificado[34]. As causas que suspendem a prescrição obstam igualmente seu

início (art.s 197 a 201, do CC). Neste caso, não se deve falar em suspensão, mas em

impedimento.

A citação feita ao proprietário na ação de usucapião não se insere dentre as causa

interruptivas da usucapião. Ora, o art. 202, inciso I, do CC, foi instruído em proveito

daquele quem o prazo da usucapião prejudicaria apenas nas ações por ele ajuizadas, mas

não naquela contra ele promovidas.

1.2) O OBJETO HÁBIL

Há bens que o possuidor tem a intenção de dono, mas não podem ser adquiridos por

usucapião, estes bens são os que estão fora do comércio (p.ex. ar atmosférico, o mar

alto, etc.), os bens públicos (art. 191, Constituição Federal de 1988), direitos pessoais,

bens inalienáveis ou legalmente indisponíveis (art. 1.911, CC) e bens que possuem uma

condição interruptivas e suspensivas de usucapir (p.ex. entre os cônjuges na constância

do casamento, ascendentes e descendentes durante o poder paternal, etc.). [35]

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Os bens públicos são aqueles pertencentes à União, aos Estados, ao Distrito Federal e os

Municípios (art. 98, do CC)[36]. Esta classe, objeto de domínio público, em função da

sua grande importância, subdivide-se em:

a) Bens de uso Comum do Povo: são os bens cuja utilização não se submete a qualquer

tipo de discriminação ou ordem especial e fruição. É caso das praias, estradas, ruas e

praças, sendo estes, inalienáveis (art. 99, I, do CC). Não perdem esta característica se o

poder Público regulamentar seu uso, ou torná-lo oneroso, instituindo cobrança de

pedágio, como nas rodovias (art. 93, do CC). A administração pode também restringir

ou vedar o seu uso em razão da segurança nacional ou de interesse público, interditando

uma estrada, por exemplo, ou proibindo o transito por determinado local. O povo

somente tem direito de usar esses bens, mas não tem o seu domínio.

b) Bens de uso Especial: São os que se destinam especialmente à execução dos serviços

públicos. São os edifícios onde estão instalados os serviços públicos, inclusive os das

autarquias e os órgãos da administração (repartições públicas, secretarias, escolas,

ministérios, etc.).

c) Bens dominicais: são os que constituem patrimônio das pessoas jurídicas de direito

público (art. 99, III, do CC), como objeto de direito pessoal ou real, de cada uma dessas

entidades. Sobre eles o poder Público exerce poderes de proprietário. Incluem-se nessa

categoria as terras devolutas, as estradas de ferro, oficinas e fazendas pertencentes ao

Estado. São inalienáveis, observadas as exigências da lei.[37]

Não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens pertencentes às

pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado estrutura de direito privado.

Jurisprudência:

“Administrativo. Embargos de divergência. Imóveis pertencentes à TERRACAP. Bens

públicos. Usucapião.

1. Tratam os autos de embargos de divergência apresentados por Maria Lúcia Pereira

dos Santos em face de acórdão proferido em sede de recurso especial que exarou

entendimento no sentido de que, embora a TERRACAP possua natureza jurídica

privada, gere bens públicos pertencentes ao Distrito Federal, impassíveis de usucapião.

Colaciona a embargante julgados oriundos desta Casa em sentido oposto, onde se

externa o posicionamento de que os imóveis da TERRACAP integram-se na categoria

de bens particulares.

2. Os imóveis administrados pela Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) são

públicos, sendo insuscetíveis de usucapião.

3. Embargos de divergência não-providos.”[38]

Deve-se valer aqui de uma ressalva em relação aos bens públicos, visto que o art. 68 das

Disposições Transitórias da Constituição Federal permite que em favor dos

remanescentes das comunidades de quilombos, descendentes de escravos fugidos ao

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tempo da escravidão que estejam ocupando terras é reconhecida a propriedade

definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.

Assim, beneficiam-se os descendentes e moradores que começaram a possuir tais terras,

se a posse continua e pacífica com animus domini transmitiu-se por gerações até a

edição da Constituição Federal.

A melhor forma de estes conseguirem o reconhecimento da propriedade é através da

figura da usucapião. Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald[39] afirmam que

“aqui, a usucapião pode mesmo recair sobre bens públicos, não se aplicando a ressalva

dos arts. 183 e 191 da Constituição Federal”.

Jurisprudência:

“1) Usucapião – bens desapropriados já incorporados ao domínio público –

Inadmissibilidade da pretensão, ainda que fundada e nulidade do processo

expropriatório – Indenização assegurada aos possuidores por força da sub-rogação

prevista no Decreto-Lei 3.365/41. [40]

2) Imóvel gravado com cláusula de inalienabilidade, de que cogita o art. 1.676 do CC

de 1916 (atual 1.911, CC). A proibição abrange os atos voluntários. O proprietário só

perde o bem inalienável por causa da desapropriação ou execução fiscal. Não o perde,

porém, por usucapião”[41].

1.3) O LAPSO TEMPORAL

O lapso temporal é variado, depende exclusivamente do que determina as espécies de

usucapião na legislação permite. O tempo de posse deve ser considerado no instante do

julgamento[42], mas só pode ser somada a posse de antecessor se houver cessão

convencionada. [43]

A sucessão da posse poderá ocorrer de dois modos a singular (acessão de posse) e a

título universal (sucessão de posse). Assim, o sucessor universal continua de direito a

posse do seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do

antecessor, para os efeitos legais (art. 1.207, do CC).

Na primeira ocorre quando a posse é transmitida a título singular, por ato inter vivos,

como na doação, a compra e venda, a dação em pagamento, a troca, ou mesmo por ato

causa mortis, como no caso do legado. Aquele que recebe a posse transmitida a título

singular substitui seu antecessor em direitos ou coisas individualizadas e determinadas.

[44]

Na segunda, a sucessão de posse, tem-se uma sucessão a título universal, causa mortis,

recebendo-se a posse com os mesmo caracteres vigentes à época do antecessor, vale

dizer, com os vícios e as suas virtudes. É o caso da herança, em que os herdeiros

sucedem de forma global a posse do patrimônio do de cujus. Não afasta a

universalidade da sucessão, por outro lado, a existência de vários herdeiros com cotas

sobre o conjunto de bens e direitos.

A diferença apontada por José Carlos de Moreira Salles é que

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“o sucessor universal não pode desligar seu direito de seu antecessor, de modo que

recebe e continua a posse com vícios e virtudes que a caracterizam antes da sucessão. O

sucessor singular, entretanto, ex vi do disposto no art. 1.207 do Código (art. 496 do

anterior), não esta obrigado a continuar a posse do antecessor. Assim, unirá ou não sua

posse à do predecessor, lançando mão da faculdade que lhe outorga a lei como lhe

convier. Unindo-a, assumirá a posse anterior com os vícios que a maculam; se não o

fizer, a posse nova, iniciada com a sucessão, estará pugnada dos vícios que eivavam a

anterior possibilitando ao sucessor singular a aquisição por usucapião por lapso

menor.”[45]

Para todos os casos acima, para o fim de contar o tempo exigido para a usucapião, pode

o possuidor acrescentar à sua posse a dos seus antecessores contanto que todas sejam

contínuas e pacíficas (art. 1.243 CC). Lembrando que os vícios da posse também se

transmitem, portanto a posse anterior se for violenta, clandestina ou precária, tais vícios,

entre outros se transmitem para o possuidor derivado.

Jurisprudência

“Usucapião. Posse Adquirida através da Acessio Possessionis A Título Singular.

Compromisso de Compra e Venda. Inocorrência de Desdobramento da posse direta e

indireta. O promitente-comprador que recebeu a posse por ocasião do negócio jurídico

entabulado, passa a exercê-la com 'animus domini', inocorrendo o desdobramento de

posse direta e indireta pretendida pelos contestantes, herdeiros do promitente vendedor.

Tendo a prova dos autos demonstrado a continuidade, sem qualquer oposição, de forma

mansa e pacífica, da posse entre os diversos e respectivos sucessores, pelo lapso

temporal vintenário, em cuja cadeia se enquadra o promitente-comprador de parte da

área usucapiente, é de ser acolhida a pretensão de domínio, irrelevante eventual questão

remanescente quanto ao pagamento do preço da área prometida vender. Apelação

desprovida.”[46]

Conforme entendimento do Conselho Federal de Justiça quando editou o Enunciado nº

317, da 4ª Jornada de Direito Civil prescrevendo que a “accessio possessionis, de que

trata o art. 1.243, primeira parte, do CC, não encontra aplicabilidade relativamente aos

arts. 1.239 e 1.240 do mesmo diploma legal, em face da normatividade da usucapião

constitucional urbano e rural, arts. 183 e 191, respectivamente”.

1.4) SENTENÇA E O REGISTRO

A sentença é meramente declaratória[47], porque declara o direito preexistente,

constituindo no momento em que o prescribente reuniu todos os requisitos legais para a

usucapião.

Embora o usucapiente já tenha o seu direito assentado em título preexistente, nada lhe

impede de mover ação de usucapião para apagar dúvidas e tornar limpo o seu direito,

caso em que a sentença terá que ser transcrita no Registro de imóveis. A sentença

judicial declara à propriedade, devendo a mesma ser averbada no cartório de registro de

imóveis da comarca competente para se adquirir a propriedade. [48]

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A jurisprudência tem seguido a posição de que a sentença e o registro não são requisitos

da usucapião, uma vez que a propriedade do usucapiente sobre o bem resulta da

integração dos requisitos da usucapião e não da sentença que o declare ou o reconheça.

Daí, poder a defesa, na ação reivindicatória, fundar-se na prescrição aquisitiva[49].

A sentença e o registro na opinião de José Carlos de Moreira Salles[50] não são

requisitos para a aquisição por usucapião. Explicando que a sentença é meramente

declaratória e que o registro só é uma forma de dar publicidade à aquisição originária

operada pela usucapião.

2) REQUISITOS ESPECIAIS A TODOS OS TIPOS DE USUCAPIÃO

2.1) JUSTO TÍTULO

Não é necessário que o justo título seja um documento perfeito mas sim hábil para

transcrição, vale dizer: titulus ou justa causa que denote a razão pela qual alguém

recebeu a coisa do precedente possuidor, ou ainda: é o fato gerador da posse, que será

examinado como a justa causa da posse do usucapiente. Em regra, é justo título todo ato

ou negócio jurídico que em tese passa transferir a propriedade, tanto assim, à aparência

de propriedade na transmissão pode constituir justo título, que está intimamente ligado à

boa-fé. O art. 1.201, parágrafo único do CC dispõe: o possuidor com justo título tem

presunção de boa-fé. [51]

O art. 1.242, do CC exige que o possuidor tenha um justo título, ou seja, documento

capaz de transferir o domínio, não podendo este título ser absolutamente nulo. [52]

O justo título, “segundo o espírito da norma contida no art. 1.242 do CC de 2002, vem a

ser o ato ou fato translativo que não produziu efeito, por padecer de defeito ou por lhe

faltar qualidade específica para tanto” [53], ou seja, configura o estado de aparência que

permite concluir que o possuidor se encontra gozando de boa posse. É o título

normalmente hábil para adquirir o domínio, e que se apresenta formalmente perfeito,

provoca no adquirente a crença de que se tornou dono.

O fato gerador da posse definirá em cada caso o justo título (contrato de compra e

venda, de doação).

Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald[54] aponta como documentos tidos

como justo título:

“- Título com vício que gera invalidade, ou seja, é quando “o transmitente é o

verdadeiro proprietário do bem, mas o ato jurídico é eivado de vício passível de

invalidação por nulidade ou anulabilidade”. Ex. se Maria adquire o imóvel de Geraldo,

mediante instrumento particular quando o ato demanda a elaboração do documento

por escritura pública.

- Título que não atende ao plano de eficácia. É o caso do promitente comprador tiver

pagado todas as prestações do seu imóvel e não consegue transferir o imóvel para o

seu nome, neste caso pode o promitente intentar a ação de usucapião no prazo de 5

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anos ou, se tiver registrado o contrato no cartório de imóveis poderá intentar a ação

adjudicação compulsória.

- Venda non domino. Quando o transmitente não é dono, mas o adquirente está

convicto de que trata com o proprietário, pois o título é instrumentalmente perfeito e

seria capaz de iludir qualquer pessoa naquela situação. Ex: José adquire um imóvel de

Beto, em uma venda a non domino, pois o verdadeiro proprietário é Carlos, pessoa que

não prestou o seu consentimento à suposta aquisição. Carlos poderá ajuizar ação

declaratória para obter o cancelamento de um eventual registro. Mas se não o fizer

poderá vir a perder o imóvel transcorrer o prazo de 5 ou 10 anos da aquisição.”

O justo título é que qualquer ato jurídico que, em tese, seria hábil a conferir direito de

propriedade, se não contivesse, porém, um determinado defeito. O defeito pode ser

alguma nulidade relativa, ou a outorga por quem não era dono da coisa. Nulidades

absolutas, como o desatendimento à forma prescrita em Lei, impedem que se atribua ao

ato o valor de justo título, salvo quando “o negócio jurídico nulo contiver os requisitos

de outro subsistira este quanto o fim a que visavam as partes permitir supor que o teriam

querido, se soubessem previsto a nulidade” (art. 170, CC).

É justo título o documento formalmente perfeito, hábil, em tese, para transferir o

domínio, devidamente transcrito, ou mesmo não transcrito; até mesmo um compromisso

de compra e venda.

Desta forma, os Enunciados nº 302 e 303, da 4ª Jornada de Direito Civil, promovida

pelo Conselho Federal de Justiça prevê que:

“302 – Art.1.200 e 1.214. Pode ser considerado justo título para a posse de boa-fé o ato

jurídico capaz de transmitir a posse ad usucapionem, observado o disposto no art. 113

do CC.

303 – Art.1.201. Considera-se justo título para presunção relativa da boa-fé do

possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição derivada da posse, esteja ou não

materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiva da

função social da posse.”

Jurisprudência:

“1) Compromisso de compra e venda. Considera-se justo título o compromisso de

compra e venda por instrumento particular assinado a rogo do promitente-comprador,

se o promitente vendedor confessa o recebimento do preço e não nega ao cumprimento

do contrato. [55]

2) Justo título. Não é o contrato particular de venda de cessão parcial de compromisso

de compra e venda. [56]

3) Usucapião ordinário – Escritura de compra e venda nãos transcrita –

inadmissibilidade – Necessidade de Transcrição. [57]

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4) Usucapião ordinário – Justo título – Conceito – Desnecessidade de requisitos hábeis

à transcrição e transferência do domínio – Ação procedente – Recurso não provido.”

[58]

2.2) BOA-FÉ

E por último o possuidor deve estar de boa-fé, ou seja, ele deve ter a convicção de não

estar ofendendo um direito alheio[59], ou em outras palavras, a boa-fé é a integração

ética do justo título e reside na convicção de que o fenômeno jurídico gerou a

transferência da propriedade.

Caio Mário da Silva. Pereira[60] conceitua boa-fé como a “integração ética do justo

título”, pois reside na convicção do possuidor de que o fenômeno jurídico gerou a

transmissão da propriedade. Contudo, o STJ aplicou a boa-fé objetiva, particularmente a

supressio, que é a perda de um direito ou de uma posição jurídica, pelo seu não

exercício no tempo, o julgado possibilitou, de forma indireta, a usucapião de um a área

comum em um condomínio edilício.

Jurisprudência:

“CONDOMÍNIO. Área comum. Prescrição. Boa-fé.

Área destinada a corredor, que perdeu sua finalidade com a alteração do projeto e veio

a ser ocupada com exclusividade por alguns condôminos, com a concordância dos

demais. Consolidada a situação há mais de vinte anos sobre área não indispensável à

existência do condomínio, é de ser mantido o statu quo. Aplicação do princípio da boa-

fé (suppressio).

Recurso conhecido e provido”.[61]

A usucapião pode ser alegada em como matéria de defesa (Súmula do STF 237). Este,

também, é o entendimento do Conselho Federal de Justiça quando editou o Enunciado

nº 315, da 4ª Jornada de Direito Civil prescrevendo que: “O art. 1.241 do CC permite

que o possuidor que figurar como réu em ação reivindicatória ou possessória formule

pedido contraposto e postule ao juiz seja declarada adquirida, mediante usucapião, a

propriedade imóvel, valendo a sentença como instrumento para registro imobiliário,

ressalvados eventuais interesses de confinantes e terceiros.”

Jurisprudência:

“1) Civil e Processo Civil. Ação de reintegração de posse. Usucapião alegado em

defesa. Intervenção do Ministério Público. Desnecessidade. Rito processual.

Manifestação de vontade do usucapiente anuindo com a desocupação do imóvel.

Inexistência dos requisitos do art. 183 da constituição federal. 1 – Não se mostra

imprescindível a intervenção do Ministério Público quando a usucapião é alegada em

defesa. 2 – Em se tratando de reivindicatória, o rito a ser seguido é o ordinário, e não o

sumário, que deve prevalecer quando a ação for de usucapião. 3 – Ante a manifestação

de vontade do usucapiente em desocupar o imóvel, resta prejudicado o animus domini,

elemento essencial para a configuração da usucapião. Além disso, tem ele o ônus de

comprovar a existência de todos os requisitos exigidos pelo art. 183 da Constituição

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Federal. 4 – Recurso improvido.” Decisão: rejeitar preliminares e negar provimento ao

recurso, unânime. TJDF. 4ª Turma Cível APC-43689/97, APC-596234807 APC-

35134/95, Rel. Cruz Macedo, 03/08/2004.

3) ESPÉCIE DE USUCAPIÃO

A nossa legislação reconhece três espécies de usucapião: o extraordinário, o ordinário e

o especial. [62]

3.1) USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA

É aquele que se adquire em 15 (quinze) anos, salvo se o possuidor houver estabelecido

no imóvel sua moradia habitual ou nele tiver realizado obras ou serviços de caráter

produtivo, quando o lapso de tempo reduz para 10 (dez) anos, mediante prova de posse

mansa e pacífica e ininterrupta, independente de justo título e boa-fé, art. 1.238 CC.

Caio Mário da Silva. Pereira[63] afirma não ser necessário que o usucapiente exerça ele

mesmo o tempo todos os atos possessórios, assim consideradas úteis os atos praticados

por prepostos, agregados ou empregados.

São requisitos da usucapião extraordinária:

a) A posse mansa e pacifica, continua e com intenção de dono (posse qualificada);

b) O decurso temporal de 15 (quinze) anos e de 10 (dez) anos no caso do usucapiente ter

estabelecido a sua moradia no imóvel ou se tiver realizado obras ou serviços de caráter

produtivo, neste último caso a posse será qualificada com privilégio[64];

Interessante é a indagação do decurso temporal necessário para que se estabeleça a

moradia, a realização das obras ou serviços de caráter produtivo. Será que se deve

estabelecer no mínimo há 10 anos ou será que a posse deve ser inferior, podendo a

construção, realização ou serviços podem ter o lapso temporal menor? Apesar da

maioria da doutrina não levantar tal problema entendo que o prazo deve ser de 10

anos.[65]

c) A sentença judicial declaratória de aquisição do domínio[66];

d) A sentença deverá ser levada ao cartório de registro de imóveis competente para que

o tabelião proceda à alteração do registro que é a prova da propriedade.

3.2) USUCAPIÃO ORDINÁRIA

É aquela que se confere em 10 (dez) anos, a moradores presentes ou ausentes nos

Municípios, mediante prova de posse mansa e pacífica acompanhada de justo título e

boa-fé, art. 1.242, caput, CC. No entanto, caso seja adquirido de forma onerosa com

base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente e desde que

o possuidor tenha estabelecido a sua moradia ou tenha realizado investimento de

interesse social e econômico o prazo será reduzido para 5 (cinco) anos.

São requisitos da usucapião ordinária:

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a) A posse mansa e pacifica e com intenção de dono (posse qualificada);

b) justo título; [67]

c) boa-fé[68].

d) o decurso temporal de 10 (dez) anos entre presente ou não no Município e 5 (cinco)

no caso do usucapiente ter estabelecido a sua moradia no imóvel ou se tiver realizado

obras ou serviços de caráter produtivo neste último caso a posse será qualificada com

privilégio;

Interessante é a indagação do decurso temporal necessário para que se estabeleça a

moradia, a realização das obras ou serviços de caráter produtivo. Será que se deve

estabelecer no mínimo há 5 anos ou será que a posse deve ser inferior, podendo a

construção, realização ou serviços podem ter o lapso temporal menor? Apesar da

maioria da doutrina não levantar tal problema entendo que o prazo deve ser de 5

anos.[69]

e) sentença judicial declaratória de aquisição do domínio;

f) A sentença deverá ser levada ao cartório de registro de imóveis competente para que o

tabelião proceda à alteração do registro que é a prova da propriedade. [70]

Jurisprudência:

“Usucapião ordinário. Art. 1.242 do CC/2002. Interpretação. Justo título. Compromisso

de compra e venda. Comentando o dispositivo, Benedito Silvério Ribeiro, destaca:

Partindo da definição legal, encontramos o possuidor, também chamado prescribente,

usucapiente, que, para adquirir a propriedade do imóvel, deverá observar os requisitos

inafastáveis e caracterizadores da forma aquisitiva denominada usucapião ordinária,

conhecida também como usucapião abreviada ou prescrição de breve ou curto prazo.

Tocante aos requisitos formais da usucapião, distinguem-se os essenciais dos

suplementares. Os primeiros são comuns a qualquer tipo de usucapião (posse e lapso de

tempo) e os segundos dizem respeito ao justo título e boa-fé. Enquanto na usucapião

extraordinária se exigem se exigem apenas os requisitos formais essenciais, na

ordinária, tanto estes como os suplementares, são inarredáveis à sua configuração.

Assim, a usucapião de menor prazo reclama posse, tempo, justo título e boa-fé, sem

afastar que a coisa imóvel usucapienda precisa ser hábil, isto é, possível de ser adquirida

(Tratado de usucapião: volume 1, 4. ed., São Paulo, Saraiva, 2006, p. 234). De acordo

com Sílvio de Salvo Venosa, "em regra, é justo título todo ato ou negócio jurídico quem

em tese possa transferir a propriedade. [...] A noção de justo título está intimamente

ligada à boa-fé. O justo título exterioriza-se e ganha solidez na boa-fé (Direito civil:

direitos reais, v. 5, 6. ed., São Paulo, Atlas, 2006, p. 202). Nesse diapasão, o contrato de

compromisso de compra e venda pode ser considerado como justo título para efeito de

usucapião, desde que quitado integralmente o preço ajustado. Nesse sentido, Benedito

Silvério Ribeiro destaca que "o pagamento integral do valor contratado e o atendimento

de condições estabelecidas, com a transmissão da posse e sem o desdobramento em

direta e indireta, conduzem, uma vez que nenhum outro ponto seja estipulado em

contrário, ao reconhecimento da justeza do título para espeque de usucapião de menor

tempo" (Tratado de usucapião: volume 2, 4. ed., São Paulo, Saraiva, 2006 , p. 864) [71]

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3.3) USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA OU RURAL

Requer sentença de reconhecimento, que levada ao Registro de Imóveis, é título de

reconhecimento para tal[72], art.s 183 e 191 da Constituição Federal de 1988.

A possibilidade de usucapião especial rural esta descrita na Constituição Federal de

1988 e no art. 1.239, CC, enquanto o urbano se encontra, também, na Constituição e no

art. 1.240, CC.

3.3.1) Usucapião Especial Urbano [73]

Modalidade de usucapião prevista na Carta Magna e recepcionada pelo art. 1.240, CC.

Também conhecido como usucapião pro morada ou usucapião especial urbana.

Importante ressaltar que o STF já decidiu que, para fins previsto no art. 183, da CF, não

se considera o tempo de posse anterior à promulgação da Carta de 1988, não se

aplicando o entendimento da Súmula nº 445 do STF.[74]

“Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta metros

quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua

moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário

de outro imóvel urbano ou rural.

§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher,

ou a ambos, independentemente do estado civil.

§ 2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo

possuidor mais de uma vez.”

Assim, se faz necessário o preenchimento dos seguintes requisitos:

- Posse mansa, pacífica e contínua, exercida com animus domini (posse qualificada).

- Decurso de tempo de 5 anos.

- O objeto deverá ser área de terra em zona urbana não superior a 250m².

O Enunciado nº 313, da 4ª Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho Federal

de Justiça prevê que: “quando a posse ocorre sobre área superior aos limites legais, não

é possível a aquisição pela via da usucapião especial, ainda que o pedido restrinja a

dimensão do que se quer usucapir”. E complementa com o Enunciado nº 314, da mesma

Jornada que “para os efeitos do art. 1.240, não se deve computar, para fins de limite de

metragem máxima, a extensão compreendida pela fração ideal correspondente à área

comum”.

- Não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou rural, bem como não pode ser

imóvel público.

- Utilização para sua moradia e ou da sua família.

- Não poderá usar deste direito mais de uma vez.

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- O título de domínio será conferido ao homem ou à mulher, ou a ambos,

independentemente do estado civil.

- Sentença declaratória de aquisição do domínio que deverá ser levada ao Registro

imobiliário para transcrição (a sentença, neste caso, apenas confirma a situação fática

anterior, quando o usucapiente já era o proprietário). [75]

O sucessor da posse poderá acrescentar a sua se for sucessão singular. Em caso de

sucessão universal o herdeiro contínua, de pleno direito, a posse de seu antecessor.

3.3.2) Usucapião Especial Urbano Coletivo [76]

As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por

população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem

oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são

susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam

proprietários de outro imóvel urbano ou rural.

Requisitos: Os possuidores não serem proprietários de imóvel rural ou urbano e devem

ser comprovadamente de baixa renda, posse mansa e pacífica (sem oposição),

ininterrupta e exercida com animus domini (posse qualificada) pelo prazo de cinco anos,

utilização do imóvel para moradia (função social), área superior a duzentos e cinquenta

metros quadrados seja ela originariamente edificada ou não, porém deve ter algum tipo

de edificação feita pelos invasores para estabelecer sua morada, impossibilidade da

divisão dos terrenos ocupados por cada possuidor, presunção juris et de jure de boa-fé e

justo título, imóvel objeto da usucapião não pode ser pública e sentença judicial

declaratória da aquisição do domínio por usucapião que atribuirá igual fração ideal do

imóvel a cada possuidor.

O possuidor só terá legitimidade para propor a usucapião especial urbana a partir de 5

de outubro de 1.993, data em que completam 5 anos de vigência da Constituição

Federal.

O direito de usucapião, previsto nesta norma, não será reconhecido mais de uma vez ao

mesmo possuidor, pouco importando o estado civil dos possuidores, homem ou mulher.

O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção, salvo

deliberação por dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização

posterior à constituição do condomínio.

As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas por

maioria de votos, obrigando os demais, discordantes ou ausentes.

Em norma inspirada no art. 923 do CPC, que veda a propositura de ação de

reconhecimento do domínio na pendência do processo possessório, o art. 11 do Estatuto

da Cidade manda sobrestar quaisquer outras ações petitórias ou possessórias que

venham a ser propostas relativamente ao imóvel usucapiendo. Naturalmente até decisão

final do pedido de usucapião coletivo. O art. 12 indica os legitimados à propositura da

ação de usucapião especial, entre eles os possuidores em estado de composse e, como

substituto processual, a associação de moradores da comunidade, regularmente

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constituída, com personalidade jurídica, desde que explicitamente autorizada pelos

representados. Na ação é obrigatória a intervenção do Ministério Público, tendo o autor

os benefícios da justiça gratuita, inclusive perante o registro de imóveis. O rito é o

sumário (art.14). O art. 13 da lei em causa é expresso, ainda, que “a usucapião especial

de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a

reconhecer como titulo para registro no cartório de registro de imóveis”.

As normas constantes do Estatuto da Cidade, por si sós, comportariam uma palestra

específica pelas inovações que encerraram, sendo certo, contudo, que vêm ao encontro

de justas aspirações sociais de comunidades que passaram a ocupar com ânimo

definitivo áreas na zona urbana, com centenas de famílias e, decorrido algum tempo, são

ameaçadas de desocupação com todo o rol de problemas que isso pode acarretar.

O objetivo principal da usucapião urbana é a regularização dos imóveis com área de

mais 250m², ocupados sem título, nas favelas e conjuntos residenciais invadidos, com o

cunho de gerar moradia aos cidadãos. Assim, as áreas urbanas com mais de 250m²,

ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos,

ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos

ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente,

desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.

“Estatuto da Cidade – Lei 10.257.

Da Usucapião Especial de Imóvel Urbano

Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados,

ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos,

ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos

ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente,

desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.

§ 1º O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este art., acrescentar

sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.

§ 2º A usucapião especial coletiva de imóvel urbano será declarada pelo juiz, mediante

sentença, a qual servirá de título para registro no cartório de registro de imóveis.

§ 3º Na sentença, o juiz atribuirá igual fração ideal de terreno a cada possuidor,

independentemente da dimensão do terreno que cada um ocupe, salvo hipótese de

acordo escrito entre os condôminos, estabelecendo frações ideais diferenciadas.

§ 4º O condomínio especial constituído é indivisível, não sendo passível de extinção,

salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo, dois terços dos condôminos, no

caso de execução de urbanização posterior à constituição do condomínio.

§ 5º As deliberações relativas à administração do condomínio especial serão tomadas

por maioria de votos dos condôminos presentes, obrigando também os demais,

discordantes ou ausentes.

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Art. 11. Na pendência da ação de usucapião especial urbana, ficarão sobrestadas

quaisquer outras ações, petitórias ou possessórias, que venham a ser propostas

relativamente ao imóvel usucapiendo.

Art. 12. São partes legítimas para a propositura da ação de usucapião especial urbana:

I – o possuidor, isoladamente ou em litisconsórcio originário ou superveniente;

II – os possuidores, em estado de composse;

III – como substituto processual, a associação de moradores da comunidade,

regularmente constituída, com personalidade jurídica, desde que explicitamente

autorizada pelos representados.

§ 1º Na ação de usucapião especial urbana é obrigatória a intervenção do Ministério

Público.

§ 2º O autor terá os benefícios da justiça e da assistência judiciária gratuita, inclusive

perante o cartório de registro de imóveis.

Art. 13. A usucapião especial de imóvel urbano poderá ser invocada como matéria de

defesa, valendo a sentença que a reconhecer como título para registro no cartório de

registro de imóveis.

Art. 14. Na ação judicial de usucapião especial de imóvel urbano, o rito processual a

ser observado é o sumário.”

O Estatuto da Cidade ainda prevê a possibilidade de ocorrência da usucapião individual

quando o sujeito possuir como sua área ou edificação urbana de até duzentos e

cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,

utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que

não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. O título de domínio será

conferido ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. O

direito de que trata o artigo não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

Para os efeitos, o herdeiro legítimo continua, de pleno direito, a posse de seu antecessor,

desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão (art. 9º). Diante disto,

Carlos Roberto Gonçalves[77] esclarece que não há conflito entre o art. 1.240, do CC e

o do art. 9º, do Estatuto da Cidade, pois a diferença reside no fato que no Código Civil

só pode ocorrer a usucapião de área urbana, já o estatuto prevê a usucapião de área

edificada urbana, pois seria possível apenas a aquisição da área ou da edificação em

separado, como no caso do direito de superfície. Contudo, entendo que não qualquer

distinção de entre a norma do Código Civil e o Estatuto da Cidade, no que se refere a

usucapião especial urbana, pois o Enunciado nº 85, da 1ª Jornada de Direito Civil,

promovida pelo Conselho Federal de Justiça, prevê que “para efeitos do art. 1.240,

caput, do novo Código Civil, entende-se por "área urbana" o imóvel edificado ou não,

inclusive unidades autônomas vinculadas a condomínios edilícios”. [78]

3.3) Usucapião Especial Rural [79]

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Modalidade de usucapião prevista na Carta Magna e recepcionada pelo CC de 2002 em

seu art. 1.239. Também conhecido como usucapião pro labore e usucapião especial

rural.

Aquele que não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possuir como sua,

ininterruptamente e sem oposição, por cinco anos, área de terra em zona rural não

superior a cinquenta hectares e torná-la produtiva por seu trabalho ou de sua família,

tendo nela sua moradia, adquirir-lhe a propriedade.

- Posse mansa, pacífica e contínua, exercida com animus domini (posse qualificada);

- Decurso de tempo de 5 anos.

- O objeto deverá ser área de terra em zona rural não superior a 50 hectares (o da Lei nº

6.969/81 prevê 25 hectares);

Para dirimir a dúvida no que se refere ao tamanho da área que pode ser usucapida o

Conselho Federal de Justiça na 4ª Jornada de Direito Civil editou o Enunciado nº 308,

prevendo que “observado o teto constitucional, a fixação da área máxima para fins de

usucapião especial rural levará em consideração o módulo rural e a atividade agrária

regionalizada”. [80]

- Não poderá ser proprietário de imóvel rural ou urbano;

- Ter na gleba a sua moradia;

- Terá de haver tornado a terra produtiva por seu trabalho ou de sua família.

- Sentença declaratória de aquisição do domínio que deverá ser levada ao registro

imobiliário para transcrição (a sentença, neste caso, apenas confirma a situação fática

anterior, quando o usucapiente já era o proprietário). A usucapião agrária tem sentido de

aquisição de propriedade rural através da dinâmica inserida no trato da terra, cuja noção

está próxima dos princípios e normas propulsoras que alimentam o direito agrário.

4) DA AÇÃO DE USUCAPIÃO DE TERRAS PARTICULARES

O CPC prevê a ação de usucapião de bens imóveis nos art.s 941 a 945, do Livro IV

(procedimentos especiais). O procedimento da usucapião pro labore tem tratamento

especializado previsto na Lei 6.969/81, o mesmo ocorrendo com a usucapião especial de

imóveis urbanos, regulamentada pela Lei 10.257 de julho de 2001. [81]

A simples leitura do art. 941 já se verifica que a natureza jurídica da tutela jurisdicional

pleiteada na ação de usucapião é declaratória.

“Art. 941 – Compete a ação de usucapião ao possuidor para que se lhe declare, nos

termos da lei, o domínio do imóvel ou a servidão predial.

Art. 942 – O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e juntando

planta do imóvel, requererá a citação daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel

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usucapiendo, bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos

eventuais interessados, observando quanto ao prazo o disposto no inciso IV do art. 232.

Art. 943 – Serão intimados por via postal, para manifestarem interesse na causa, os

representantes da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos

Territórios e dos Municípios.

Art. 944 – Intervirá obrigatoriamente em todos os atos do processo o Ministério

Público.

Art. 945 – A sentença que julgar procedente a ação, será transcrita, mediante

mandado, no registro de imóveis, satisfeitas as obrigações fiscais.”

A ação de usucapião não tem como finalidade constituir um direito para o autor. Na

verdade, adquire-se o domínio do bem pela usucapião, uma vez preenchidos os

requisitos legais ligados à posse “ad usucapionem” e transcorrido o lapso temporal

exigido pela lei.

A sentença proferida na ação de usucapião apenas reconhece, com força de coisa

julgada, o domínio preexistente do autor sobre o bem objeto da prescrição aquisitiva. A

transcrição da sentença de usucapião no registro de imóveis, portanto, não transfere a

propriedade ao usucapiente, como ocorre na transcrição de título decorrente de negócio

jurídico inter vivos; ela apenas dá publicidade ao ato judicial declaratório. [82]

4.1) SUJEITO ATIVO

O possuidor com posse “ad usucapionem” pode ajuizar ação declaratória, regulada pelos

arts. 941 a 945 do CPC, sob o título de ação de usucapião de terras particulares. Podem

adquirir a usucapião às pessoas de direito público e as de direito privado, desde que

observadas as particularidades de cada modalidade de usucapião.

A posse atual não é requisito para a usucapião. Se o autor da ação de usucapião possui o

imóvel como seu pelo tempo legal, pode adquirir a propriedade pela usucapião, ainda

que não tenha posse atual, não sendo carecedor da ação. Passando o prazo da prescrição

aquisitiva o possuidor já é dono. Tanto é verdade que pode alegar usucapião em defesa,

quando é demandado em ação de reivindicatória[83] e, caso ajuíze ação de usucapião, a

sentença terá eficácia jurídica preexistente. [84]

O art. 10 do CPC dispõe que: “o cônjuge somente necessitará do consentimento do

outro para propor ações que versem somente sobre direitos imobiliários”.

“§ 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para as ações:

I- Que versem sobre direitos reais imobiliários; (…)

§ 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é

indispensável nos caos de composse ou de ato por ambos praticados.”

Algumas pessoas não podem adquirir a posse ad usucapionem:

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a) o Condômino, na opinião de Caio Mário da Silva Pereira [85] não pode adquirir esta

posse ad usucapionem “por lhe parecer que não é lícito a um condômino excluir a posse

dos demais, mostrando-se incompatível com esta modalidade aquisitiva a condição

condominial”. Entretanto, a jurisprudência e demais doutrina tem o entendimento

diferenciado, “é possível o reconhecimento de usucapião em favor de um condômino

contra outro quando o condomínio deixa de existir pela posse exclusiva, exteriorizada

por um dos possuidores sobre o imóvel, animo domini, e, pois, a impedir a composse

dos demais. Em tal hipótese, a comunhão de direito cede passo à comunhão de fato e

com isto passa a ter livre curso a prescrição ad usucapionem”[86].

b) O incapaz: se for o relativamente ele poderá usucapir, pois tem capacidade para

praticar certos atos da vida civil. No entanto, o absolutamente incapaz não tem nenhuma

vontade, desta maneira lhe falta o animus domini, ou seja, a intenção de ser dono de

algo.

Jurisprudência:

“1) Composse. A composse não gera a aquisição do domínio pelo usucapião. Havendo

consciência do possuidor quando ao estado da comunhão da gleba por ele possuída,

não corre usucapião ordinário contra os demais condôminos, enquanto indivisa a

coisa. [87]

2) Composse. A usucapião na composse é possível desde que o co-proprietário da coisa

em comum exercite a posse pro suo, e com exclusividade. A usucapião extraordinária

em favor condômino contra outro é possível, sempre que tenha exclusividade de uma

posse localizada. [88]

3) Civil. Usucapião declarada em favor de condômino. Reflexos na ação ordinária

proposta por outro condômino contra terceiro em razão da mesma área. O usucapião

de parte certa e determinada de condomínio tem o efeito de, nesta medida, individuar a

área desapossada como propriedade exclusiva; já não subsistindo o condomínio, cessa

a incidência do artigo 623 do Código Civil. Recurso especial não conhecido.”[89]

4.2) O FORO

O foro competente para processar e julgar ação de usucapião é o local do imóvel. Trata-

se de competência funcional, absoluta, que não pode ser derrogada nem modificada, por

convenção das partes. “A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de

usucapião especial, não afasta a competência do foro da situação do imóvel”. [90]

A petição deverá ser clara e precisar o imóvel na ação, devendo incluir a planta do

imóvel e fundamentar o pedido, deverá haver a intervenção do Ministério Público, pois

a falta de participação efetiva acarreta nulidade do processo[91], a citação de todos os

vizinhos confrontantes e do proprietário, bem como os terceiros interessados na ação

para manifestarem.

Uma vez não contestada a ação o juiz deverá julgar de plano, se for contestada a ação o

juiz não se convencendo, haverá instrução do feito. A prova é basicamente testemunhal,

mesmo quando haja justo título.

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A ação de usucapião é de eficácia declaratória, não se constituindo a propriedade pela

sentença, podendo ser usado como matéria de defesa.

Sendo a natureza da sentença de usucapião meramente declaratória, onde o domínio é

adquirido independente de provimento jurisdicional, desde que preenchidos os

requisitos legais concernentes à posse ad usucapionem. Por essa razão, a usucapião

pode ser alegada como matéria de defesa, independentemente de prévio reconhecimento

judicial.

Nélson Luiz Pinto[92] entende não ser possível o registro da sentença que reconhece a

usucapião arguida em defesa.

No entanto as Leis 6.969/81 e 10.257/2001, que regulamentam a usucapião especial

rural e urbana, respectivamente, prevêem o registro da sentença que reconhece a

usucapião especial arguida em defesa, todavia, deverão ser observadas as providências

procedimentais do art. 5º e parágrafos da Lei 6.969/81.

5) DIREITO INTERTEMPORAL

A fim de solucionar a problemática advinda da contagem do lapso temporal, vez que os

prazos iniciaram sua contagem sob a égide da lei Civil revogada, mas haverá incidência

do novo Código, houve dogmática disposição a respeito, evitando-se maiores

transtornos em torno de fórmulas e cálculos matemáticos mais complexos para se

atingir a justa proporcionalidade.

Neste sentido, dispõe o art. 2.028 do CC que os prazos serão os da lei anterior se, sendo

reduzidos pelo novo código – primeira condição – tiverem transcorrido mais da metade

dos prazos exigidos pelo CC de 1916 na data da entrada em vigor do novo Código.

Assim, regra geral, o posseiro deverá percorrer o mesmo lapso temporal exigido quando

do início da prescrição aquisitiva, caso o prazo tiver sido reduzido pelo novo CC e se

ultrapassado cinquenta por cento do prazo exigido pela lei revogada (o CC de 1.916) na

data da entrada em vigor do CC de 2002.

A par disso, o novo CC estabeleceu duas exceções a essa regra, quais sejam o disposto

no art. 2.029, que determina o acréscimo de 2 (dois) anos aos prazos reduzidos pelo

novo Código, até Janeiro de 2005, independentemente do prazo transcorrido na vigência

da lei anterior, se, na usucapião ordinária, o imóvel foi adquirido onerosamente, com o

registro cancelado, e o possuidor tenha realizado investimentos de interesse econômico

e social, ou tenha utilizado o imóvel como sua moradia.

Essa mesma regra será a aplicável para a usucapião extraordinária em que o posseiro

tenha destinado o imóvel para sua moradia. Destarte, num exemplo em que o possuidor

tenha 11 anos de posse em Janeiro de 2003, vigência do novo CC, deverá aguardar mais

dois anos, ou seja, até Janeiro de 2005, para preencher o requisito temporal necessário

para a constituição de seu direito, desde que tivesse destinado o imóvel para sua

moradia.

Até o ano de 2005 teríamos que usar, em regra, os prazos do CC anterior. Assim, a

partir de 2005 é que usaremos o novo CC, podendo ser utilizado o antigo caso for mais

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benéfico para a parte. Por último, para a usucapião constitucional urbana ou rural, usar-

se-á o fundamento Constitucional.

5.1) PRAZOS PARA A AQUISIÇÃO POR USUCAPIÃO:

Visualizem-se os prazos para a aquisição prescritiva da propriedade no quadro

explicativo:

Notas:

[1] SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de bens imóveis e móveis. 6ª ed. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 47-48; DINIZ, Maria Helena. Direito Civil

Brasileiro: Direito das coisas. v. 4, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 143.

[2] Não há consenso na doutrina se a usucapião é um modo originário ou derivado de

adquirir a propriedade. Para os defensores, entre eles Caio Mário da Silva Pereira.

Instituição de Direito civil. v. IV, 19ª ed. São Paulo: Saraiva. 2005, p. 138-139, o modo

de aquisição é derivada, pois no caso da usucapião do imóvel antes de adquirir a

propriedade ela pertencia a alguém, ou seja, os adeptos da idéia afirmam que não há

surgimento de um novo direito, mas a substituição dos direitos qe o titular anterior tinha

sobre a coisa. Já para os que definem, entre eles Maria Helena Diniz. (DINIZ, Maria

Helena. Direito Civil Brasileiro: Direito das coisas. v. 4, São Paulo: Saraiva, 2005, p.

145), que se tratra de um modo de aquisição é originária, pois quem transmite a

propriedade não é o antecessor (quem consta do registro como proprietário), mas a

autoridade judiciária que reconhece e declara a forma de aquisição. José Carlos de

Moreira Salles (SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de bens imóveis e móveis.

6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 50-52). Darcy Bessone (BESSONE,

Darcy. Direitos reais. 2ª. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 168. RIZZARDO, Arnaldo.

Direitos das coisas. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p. 243-246). Carlos Roberto

Gonçalves (GONÇALVES, Carlos Roberto. Curso de direito civil brasileiro. 3ª Ed. São

Paulo: Saraiva, 2008, p. 235).

[3] RT, 537:172 e RT, 591:81.

[4] Abstraindo a querela filológica, sindicável através do confronto das lições de

Aurélio Buarque De Holanda Ferreira (Dicionário Aurélio Eletrônico, versão 2.0,

Editora Nova Fronteira, 1996) e Caudas Aulete (Dicionário Contemporâneo da Língua

Portuguesa, v. 5, 3 ed., Editora Delta, 1980, pp. 3.732-3), utilizaremos, no curso desta

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abordagem, o vocábulo usucapião, derivado do latim usucapio, como substantivo

feminino, prestigiando assim a escolha do legislador quando da nomenclatura da Seção

IV, Capítulo II, da seção I, do CC, nada obstante a preferência pelo gênero masculino

haver sido sufragada pela Constituição Federal.

[5] STF. RE. Nº 94.580, Relator o Ministro Djaci Falcão. 30/08/1984. DJ 07-06-1985.

PP-08890. www.stf.jus.br. Acesso em 12/01/2009.

[6] RODRIGUES, Sílvio. Direito civil. v. 5, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 109.

[7] RT, 555:256; DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro: Direito das coisas. v.

4, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 146.

[8] De Plácido e Silva (SILVA, De Plácido, Vocabulário Jurídico, 26ª ed. Rio de

Janeiro: Forense, 2006, p. 342.) conceitua domínio direto ou limitado como sendo a

“situação juridica, relativa à propriedade, que se gera o desdobramento dos direitos

reais”. E conceitua o domínio útil como sendo “a soma de direitos que se outorga ao

foreiro ou enfiteuta em relação ao prédio aforado”.

[9] As servidões não-aparentes não são passíveis de usucapião (art.s 1.378 e 1.379, CC).

[10] RT, 538:278 e RT, 596:58.

[11] VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. v. V. São Paulo: Atlas, 2005, p. 171.

[12] FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos Reais. Rio de

Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2006, p. 263-274.

[13] RT, 550:174. DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro: Direito das coisas. v.

4, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 150. GONÇALVES, Carlos Roberto. Curso de direito

civil brasileiro. 3ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 253. MELO, Marco Aurélio Bezerra

de. Direito das coisas. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2008, p. 109-121.

[14] MIGUEL Reale, apud FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson.

Direitos Reais. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2006, p. 274.

[15] RT 539:205 e RT:520:97.

[16]Vide ponto referente a detenção e há posse injusta.

[17] RT, 790: 217.

[18] REsp 220200/SP. Recurso Especial 1999/0055648-8. Ministra Nancy Andrighi. T3

- Terceira Turma. 16/09/2003. DJ 20.10.2003 p. 269.

[19] De acordo com Maria Helena Diniz. (DINIZ, Maria Helena. Direito Civil

Brasileiro: Direito das coisas. v. 4, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 150), a jurisprudência

não é pacífica sobre a questão de saber quem é o verdadeiro possuidor ad usucapionem

e complementa que o simples pagamento do imposto territorial não demonstra o

exercício efetivo da posse.

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[20] RT 602:95.

[21] RT 102:271.

[22] RT 555:256.

[23] SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de bens imóveis e móveis. 6ª ed. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 76-77.

[24] Súmula do Supremo Tribunal Federal nº 237.

[25] RT, 565:225

[26] RT, 510:98.

[27] REALE, Miguel. “Prefácio”. In Gisllle de Melo Braga Tapai (Coord.), Novo CC

brasileiro: Lei 10.406, de 10 de Janeiro de 2002: estudo comparativo com o CC de

1916, Constituição Federal, legislação codificada e extravagante, 3ª ed. rev. e ampl.,

São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 14-15.

[28] ZAVASCKI, Teori Albino. “Tutela da posse na Constituição e no projeto do novo

CC”. in Judith Martins-Costa (org.), A reconstrução do direito privado: reflexos dos

princípios, diretrizes e direitos fundamentais do direito privado. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2002, p. 844.

[29] Temos que deixar claro que função social da propriedade não se confunde com a

chamada função social da posse, que da vez há que chamamos de posse qualificada com

privilégio. Sobre a tensão entre função social da posse e a propriedade.

ALBURQUERQUE, Ana Rita Vieira. Da função social da posse e a sua consequência

frente à situação proprietária. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002.

[30] RODRIGUES, Sílvio. Direito civil. v. 5, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 112.

[31] PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituição de Direito civil. v. IV, 19ª ed. São

Paulo: Saraiva. 2005, p. 120.

[32] SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de bens imóveis e móveis. 6ª ed. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 66-67.

[33] FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos Reais. Rio de

Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2006, p. 271.

[34] Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-

á: I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado

a promover no prazo e na forma da lei processual; II - por protesto, nas condições do

inciso antecedente; III - por protesto cambial; IV - pela apresentação do Título de

crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; V - por qualquer ato judicial

que constitua em mora o devedor; VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que

extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Parágrafo único. A

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prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do

último ato do processo para interrompê-la.

[35] PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituição de Direito civil. v. IV, 19ª ed. São

Paulo: Saraiva. 2005, p. 143. DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro: Direito das

coisas. v. 4, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 147.

[36] De acordo com Marco Aurélio Bezerra de Melo (MELO, Marco Aurélio Bezerra

de. Direito das coisas. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2008, p. 113) “não

constituem bens públicos aqueles pertencentes às sociedades de economia mista e

empresas públicas, pessoas juridicas de direito privado”.

[37] Código das Águas: Art. 11. São públicos dominicais, se não estiverem destinados

ao uso comum, ou por algum título legítimo não pertencerem ao domínio particular; 1º,

os terrenos de marinha; 2º, os terrenos reservados nas margens das correntes públicas de

uso comum, bem como dos canais, lagos e lagoas da mesma espécie. Salvo quanto as

correntes que, não sendo navegáveis nem flutuáveis, concorrem apenas para formar

outras simplesmente flutuáveis, e não navegáveis. § 1º Os terrenos que estão em causa

serão concedidos na forma da legislação especial sobre a matéria. § 2º Será tolerado o

uso desses terrenos pelos ribeirinhos, principalmente os pequenos proprietários, que os

cultivem, sempre que o mesmo não colidir por qualquer forma com o interesse público.

[38] STJ. CE - Corte Especial. EREsp 695928/DF. Embargos de divergência no

Recurso Especial 2005/0052227-8. Rel. Min. José Delgado, Data do Julgamento:

18/10/2006. DJ 18/12/2006 p. 278. RNDJ vol. 97 p. 77. www.stj.jus.br. Acesso em

12/02/2009.

[39] FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos Reais. Rio de

Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2006, p. 271.

[40] RT, 748:402.

[41] RTJ, 106:770

[42] RJTJSP, 96:250.

[43] RJTJSP, 95:230.

[44] MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil: Direito das Coisas. v.

III, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 36

[45] SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de bens imóveis e móveis. 6ª ed. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 94-95.

[46] Apelação Cível nº 598.564.508, relatora Desembargadora Elaine Harzheim

Macedo, julgada em 19 de outubro de 1999.

[47] Para Sílvio Rodrigues. Direito civil. v. 5, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 113-114 a

sentença tem caráter constitutivo.

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[48] RODRIGUES, Sílvio. Direito civil. v. 5, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 113-114.

[49] PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituição de Direito civil. v. IV, 19ª ed. São

Paulo: Saraiva. 2005, p. 127. RF, 112:443.

[50] SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de bens imóveis e móveis. 6ª ed. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 80-81.

[51] VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. v. V. São Paulo: Atlas, 2005, p. 174.

[52] RT 681:58.

[53] SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de bens imóveis e móveis. 6ª ed. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 127.

[54] FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Direitos Reais. Rio de

Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2006, p. 280-284.

[55] RT, 432:84.

[56] RJTJSP, 74:143.

[57] RT, 566:97.

[58] RJTJESP, 109:230.

[59] DELGADO, José Augusto. “A ética e a boa-fé no novo CC”. In: DELGADO,

Mário Luiz; ALVES, Jones Figueirêdo (Coord.). Questões controvertidas no novo CC.

São Paulo: Método, 2004. p. 169-204. http://bdjur.stj.gov.br/dspace/handle/2011/8592.

Aceso em 02/10/2007. DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro: Direito das

coisas. v. 4, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 153.

[60] PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituição de Direito civil. v. IV, 19ª ed. São

Paulo: Saraiva. 2005, p. 149.

[61] STJ. T4 - Quarta Turma. REsp 214680/SP. Recurso Especial 1999/0042832-3. Rel.

Min. Ruy Rosado de Aguiar. Data do Julgamento: 10/08/1999. DJ 16/11/1999, p. 214.

LEXSTJ vol. 128, p. 228. RSTJ vol. 130, p. 366. www.stj.jus.br. Acesso em

12/02/2009.

[62] O Prof. MALUF apud SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de bens

imóveis e móveis. 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 490 considera que o

art. 1.228, §§ 4 e 5 é uma nova forma de usucapião, bem como elabora um estudo sobre

o usucapião especial indígena, previsto no art. 33 da Lei 6.001/1973, mas apesar desta

posição considero que o dispositivo do artigo 33 não prevê tal modaldiade, pois , “o

índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trecho de

terra inferior a cinqüenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena”. O que não

siginifca que se tratae do instituto da usucapião. (TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José

Fernando. Direito civil. Série Concursos Públicos. São Paulo: Ed. Método. 2008. V. 4,

p. 178-183).

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[63] PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituição de Direito civil. v. IV, 19ª ed. São

Paulo: Saraiva. 2005, p. 145.

[64] VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil. v. V. São Paulo: Atlas, 2005, p. 204,

entende ser essencial a existência de edificação destinada à moradia do possuidor e de

sua família no imóvel usucapiendo. Em sentido contrário BASTOS, Celso Ribeiro;

Martins, Ives Gandra da Silva. Comentários à constituição do Brasil. São Paulo:

Saraiva, 2001, p. 344.

[65] José Carlos de Moreira Salles (SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de

bens imóveis e móveis. 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 123), levanta o

problema afirmando que o problema permite pelo menos duas interpretações, mas não

as coloca.

[66] RT 600:44.

[67] RT, 241:697.

[68] RT 526:55.

[69] José Carlos de Moreira Salles (SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de

bens imóveis e móveis. 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 123), levanta o

problema afirmando que o problema permite pelo menos duas interpretações, mas não

as coloca.

[70] RT 541:100.

[71] TJSC. Apelação Cível n. 2008.009367-6, de São João Batista. Rel.: Des. Fernando

Carioni. J 28.04.2008. Publicação: DJSC Eletrônico n. 453, edição de 30.05.2008, p. 94.

[72] RODRIGUES, Sílvio. Direito civil. v. 5, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 102.

[73] Art. 1.240, parágrafos 1º e 2º, do CC; art. 183, parágrafos 1º a 3º, da Constituição

Federal de 1988 e; art.s 9º a 14, do Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/2001.

[74] O prazo de usucapião estabelecido no art. 183 da CF ("Aquele que possuir como

sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros quadrados, por cinco anos,

ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família,

adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou

rural.") tem termo inicial na data da entrada em vigor da CF/88: 5 de outubro. Não se

considera, pois, o tempo de posse anterior à promulgação da Carta de 1988. Com esse

fundamento, a Turma não conheceu de recurso extraordinário interposto contra decisão

do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Precedente citado: RE 145.004-MT

(DJU de 12.12.96, v. Informativo 32). RE 206.659-SP, rel. Min. Ilmar Galvão,

14.10.97.

[75] RT, 727:169, RT, 690:73.

[76] Art.s 9º a 14, do Estatuto da Cidade, Lei nº 10.257/2001.

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[77] GONÇALVES, Carlos Roberto. Curso de direito civil brasileiro. 3ª Ed. São Paulo:

Saraiva, 2008, p. 246.

[78] Enunciado nº 313, da 4ª Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho

Federal de Justiça prevê que: “quando a posse ocorre sobre área superior aos limites

legais, não é possível a aquisição pela via da usucapião especial, ainda que o pedido

restrinja a dimensão do que se quer usucapir”.

[79] Art. 1.239, CC, art. 191, parágrafo único, da Constituição Federal de 1988 e a Lei

6.969/81. Para um estudo detalhado da usucapião prevista nesta lei veja SALLES, José

Carlos de Moreira. Usucapião de bens imóveis e móveis. 6ª ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2005, p. 367-488.

[80] Enunciado nº 313, da 4ª Jornada de Direito Civil, promovida pelo Conselho

Federal de Justiça prevê que: “quando a posse ocorre sobre área superior aos limites

legais, não é possível a aquisição pela via da usucapião especial, ainda que o pedido

restrinja a dimensão do que se quer usucapir”.

[81] Art.s 941 a 945, CPC. Para um estudo completo da ação de usucapião de terras

partículas prevista no CPC veja SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de bens

imóveis e móveis. 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 173-274. GRECO

FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v. III, 8ª ed. São Paulo: Saraiva,

1994. PINTO, Nelson Luiz. Ação de Usucapião. 2ª ed. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 1991. PINTO, Nelson Luiz; PINTO, Tereza Arruda Alvim. Repertório de

Jurisprudência e Doutrina sobre Usucapião. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1992.

RIBEIRO, Benedito Silvério. Tratado de Usucapião. São Paulo: Saraiva, 1992.

PILATI, José Isaac, Aspectos práticos do processo de usucapião na ilha de Santa

Catarina após a emenda constitucional 46/2005. http://www.oab-sc.com.br/oab-

sc/esa/Processousucapiao.doc.Acesso em 02/10/2007.

[82] PINTO, Nelson Luiz. Ação de Usucapião. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1991. p.144.

[83] Súmula do Superior Tribunal Federal nº. 237.

[84] NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. CC Comentado e

Legislação Extravagante, 3ª ed., São Paulo: Ed. RT. 2005, p. 1306.

[85] Caio Mário da Silva Pereira apud SALLES, José Carlos de Moreira. Usucapião de

bens imóveis e móveis. 6ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005, p. 108.

[86] RT, 525:77. RT, 530:17. DINIZ, Maria Helena. Direito Civil Brasileiro: Direito

das coisas. v. 4, São Paulo: Saraiva, 2005, p. 167. FRANÇA, Paulo de Freitas.

“Usucapião entre irmãos condôminos”. Revista da Faculdade de Direito do Oeste de

Minas – Fadom. Ano 30, nº 09, jan-fev 2000, p. 65-72, afirma que é possível ocorrer a

usucapião entre condôminos, mas apenas na modalidade extraordinária.

[87] RT, 433:256 e RT, 427:82.

[88] RT, 462:101 e RT, 524:79.

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[89] STJ. T2 - Segunda Turma. REsp 101009/SP. Recurso Especial 1996/0043878-1.

Rel. Min. Ari Pargendler. Data do Julgamento: 13/10/1998. DJ 16/11/1998 p. 40.

LEXSTJ vol. 117 p. 157. RDTJRJ vol. 39 p. 66. RT vol. 764 p. 175. www.stj.jus.br.

Acesso em 12/02/2009.

[90] Súmula do Superior do Tribunal de Justiça, nº. 11.

[91] Quando a usucapião é alegada em defesa, como exceção (Súmula do Supremo

Tribunal Federal, nº. 237), não é devida a intervenção do Ministério Público (RJTJSP,

110:366).

[92] PINTO, Nelson Luiz. Ação de Usucapião. 2ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,

1991. p.151.

Informações Bibliográficas

AQUINO, Leonardo Gomes de. Aquisição pela usucapião (prescrição aquisitiva). In:

Âmbito Jurídico, Rio Grande, 79, 01/08/2010 [Internet].

Disponível em http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8229. Acesso

em 03/10/2011.


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