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INTERVENÇÃO DE TERCEIROSAthos Gusmão Carneiro

OUTRAS OBRAS DO AUTOR- O Novo Código de Processo Civil nos Tribunais do Rio Grande doSul e Santa Catarina. Porto Alegre, Ed. Ajuris, 1976. 3 v. (esgotado)- Audiência de instrução e julgamento e audiências preliminares.Forense, 1979; 9. ed., 1999.- Jurisdição e competência. Saraiva, 1982; 2. ed., 1983; 3. ed.,1989; 4. ed., 1991; 5. ed., 1993; 6. ed., 1994; 7. ed., 1996; 8. ed.,1997; 9. ed., 1999.- Do rito sumário na reforma do CPC. Saraiva, 1996; 2. ed.,1997.- O novo agravo e outros estudos. Forense, 1996; 2. ed., 1997;3. ed., 1997; 4. ed., 1998.- Temas atuais de direito e de processo. Brasília Jurídica,1997.- Da antecipação de tutela no processo civil. Forense, 1998; 2.ed., 1999.- Estudos sobre processo civil, publicados na Revista Forense;Revista de Processo; Revista dos Tribunais; Revista Brasileira deDireito Processual; Revista Ajuris (da Associação dos Juízes do RioGrande do Sul); Revista Jurídica; Revista Genesis; Revista EnsaiosJurídicos.- Colaborador da Enciclopédia Saraiva do Direito.- Colaborador do Digesto de Processo. Forense Revista Brasileirade Direito Processual.- Colaborador da Revista Brasileira de Direito Processual.- Do Conselho Editorial da Revista de Processo, da RevistaGenesis, da Revista dos Tribunais - Cadernos de Direito Tributário eFinanças Públicas - e da Revista Ajuris. (p. II)

ATHOS GUSMÃO CARNEIRO - Ministro aposentado do Superior Tribunal deJustiça, ex-desembargador do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul;professor jubilado de Direito Processual Civil na Faculdade de Direito daUFRS; membro titular do Instituto Ibero-Americano de DireitoProcessual., do Instituto Brasileiro de Direito Processual, da AcademiaBrasileira de Letras Jurídicas; membro da Comissão de Reforma do CPC;advogado em Porto Alegre e Brasília.

Intervenção de Terceiros

Anexo I - "Notas sobre a ação declaratória incidental"

Anexo II - Acórdãos do Superior Tribunal de Justiça sobre intervenção deterceiros

11ª edição, revista e atualizada - 2000 - Editora Saraiva

Título - Intervenção de terceiros

Ás minhas filhas, Dóris e Denise.

Aos meus netos, Carolina, Lourenço, Felipe e Gabriela.

PREFÁCIO DA 11ª EDIÇÃOA "Intervenção de Terceiros" mantém-se um dos assuntos maisárduos do processo civil brasileiro, persistindo, como apontourenomado processualista, talvez com demasiada ênfase, "total divergência" entre os autores na conceituação, na disciplina legal e na

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classificação dos casos de intervenção de um terceiro em processopendente.Nenhuma pretensão, portanto, de havermos chegado a soluçõesem vários temas altamente controvertidos. Buscamos apenas apresentar, em caráter predominantemente didático, as diversas formasde intervenção de terceiros previstas no vigente diploma processualcivil, expondo, a respeito, nossos pontos de vista, os quais submetemos à crítica e censura dos doutos.A partir da 7ª edição foi o texto reformulado, inclusive com osucessivo acréscimo de notas de rodapé e de um Anexo II, este comarestos do Superior Tribunal de Justiça fixando diretrizes em questões relevantes no que diz com a intervenção de terceiros.Muito agradecemos o acolhimento que este ensaio tem recebido, em suas sucessivas edições.Porto Alegre, outubro de 1999Athos Gusmão Carneiro (p. VII)

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SUMÁRIOPrefácio da 11ª edição - VIIPARTE I - DAS PARTESCapítulo I - Conceito de parte e noções gerais1 - Conceito de parte - 32 - Do autor e do réu - 6Capítulo II - Princípios referentes às partes3 - Princípio da dualidade de partes - 74 - Princípio da igualdade das partes - 85 - Princípio do contraditório - 9Capítulo III - Da capacidade para ser parte6 - Dos pressupostos processuais subjetivos - 117 - Das pessoas capazes para ser parte. Das pessoas "formais" - 117-A - Da capacidade para ser parte perante os Juizados Especiais - 14Capítulo IV - Da legitimação para o processo8 - Conceito - 179 - Da capacidade processual plena - 179.1 - Da mulher casada - 179.2 - Das pessoas jurídicas - 199.3 - Das pessoas jurídicas estrangeiras - 199.4 - Das sociedades e entidades sem personalidade jurídica - 19Capítulo V - Da capacidade processual suprida10 - Casos de incapacidade absoluta e relativa - 2111 - Do suprimento da incapacidade - 2312 - Do curador especial (CPC, art. 9º) - 25Capítulo VI - Da legitimação para a causa13 - Conceito de legitimação ad causam - 2713.1 - Legitimação como "coincidência em tese" - 27 (p. IX)13.2 - Legitimação predeterminada - 2813.3 - Legitimação como ponto de conexão entre o direito material e o direito processual - 2914 - Legitimação ad causam e ad processum - 30Capítulo VII - Da substituição processual15 - Noções gerais - 3316 - Casos de substituição processual - 3417 - Da ação civil pública - 3618 - Substituição processual, representação e presentação - 38Capítulo VIII - Da parte vencedora19 - Parte, parte legítima e parte vencedora - 39Capítulo IX - Da sucessão das partes20 - Da sucessão (ou substituição) das partes no curso do processo - 41

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21 - Da alienação do bem litigioso - 42Capítulo X - Da capacidade postulacional22 - Da representação por advogado - 45PARTE II - DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROSCapítulo XI - Conceito de terceiro23 - Terceiro e sua intervenção no processo pendente - 4924 - Proibição da intervenção de terceiro nas demandas sob rito comum sumário e no processo perante os Juizados Especiais.Limitações constantes do Código do Consumidor - 5124.1 - Da proibição nas demandas sob rito sumaríssimo e sobrito sumário - 5124.2 - Das limitações previstas no Código de Defesa do Consumidor - 53Capítulo XII - Noções gerais sobre os casos de intervenção25 - Assistência - 5526 - Oposição - 5627 - Nomeação à autoria - 5628 - Denunciação da lide - 5729 - Chamamento ao processo - 58Capítulo XIII - Classificação das formas de intervenção30 - Intervenção espontânea e intervenção provocada - 5931 - Intervenção por "inserção" e por ação - 6032 - Posições processuais do terceiro - 61 (p. x)Capítulo XIV - Oposição33 - Noções gerais - 6334 - Procedimento na ação de oposição - 6435 - Casos de oposição como processo autônomo - 6636 - Situações particulares na oposição - 6637 - Natureza da ação de oposição - 6737-A - Casos em que não cabe oposição - 68Capítulo XV - Nomeação à autoria38 - Noções gerais - 6939 - Rito e regra da dupla concordância - 7040 - Prazo para o nomeante contestar - 72Capítulo XVI - Denunciação da lide41 - Noções gerais - 7342 - Da relação de "prejudicialidade" - 7543 - Da "obrigatoriedade" da denunciação - 7644 - Denunciação da lide nos casos de evicção - 7744.1 - Conceito de evicção - 7744.2 - A evicção nem sempre pressupõe sentença - 7844.3 - Evicção do réu e evicção do autor - 8045 - Denunciação da lide pelo possuidor direto - 8245.1 - Evicção nos casos de transferência da "posse" ou "uso" - 8245.2 - Objetivos da denunciação a quem exerça a posse diretada coisa demandada - 8345.3 - Formação da coisa julgada contra o denunciante e também contra o denunciado - 8446 - Denunciação da lide pelo titular de pretensão regressiva - 8547 - Denunciação da lide pela pessoa jurídica de direito público - 8747.1 - Cabimento da denunciação ao servidor responsável pelodano - 8747.2 - Manifestações da jurisprudência - 8947.3 - O problema do art. 197, § 2º, da Lei n. 1.711/52 - 9047-A - Denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil IRB - 9048 - Da possibilidade de ação regressiva em processo autônomo - 9249 - Procedimento na denunciação da lide pelo autor - 9450 - Procedimento na denunciação da lide pelo réu - 9551 - Rejeição liminar da denunciação. Impossibilidade da denunciação no processo de execução eo processo cautelar - 9651.1 - A denunciação está sujeita ao liminar indeferimento - 96

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51.2 - A denunciação é instituto típico do processo de conhecimento - 9751-A - Denunciação da lide e prazo em dobro - 9852 - Prazos para a citação do denunciado - 9952.1 - Sanção para a não-observância dos prazos - 9952.2 - Subsistência da ação autônoma regressiva nos casos dedemora sem culpa do denunciante - 99 (p. XI)53 - Problemas das denunciações "sucessivas" - 10053.1 - Art. 73 do Código de Processo Civil - 10053.2 - Possibilidade do chamamento "coletivo" - 10153.3 - Possibilidade de o juiz indeferir sucessivas denunciações da lide - 10254 - Casos de "nomeações" ou de "denunciações" ineptas ou descabidas - 10354.1 - Do indeferimento, em princípio, de tais intervençõesanômalas - 10354.2 - Da consideração jurisprudencial a situações "peculiares" - 10455 - Conduta do denunciado, na denunciação pelo réu - 10556 - Procedimento no caso de "aceitação" da denúncia. Possibilidade de execução "direta" do autor contra o denunciado - 10556.1 - O denunciado como "litisconsorte" do denunciante,sujeito à coisa julgada da ação principal - 10556.2 - Ainda a coisa julgada em face do denunciado - 10656.3 - Da execução direta contra o denunciado, com "flexibilização" do sistema - 10656.4 - Da execução "imediata" contra o denunciado - 10857 - Procedimento no caso do art. 75, II, do Código de Processo Civil - 10858 - Procedimento nos casos de confissão, ou de reconhecimento dopedido pelo denunciado - 10958-A - Procedimento nos casos de reconhecimento do pedido, ou transação na ação principal - 10959 - Eficácia da sentença nos casos de denunciação da lide - 11060 - Em tema de recursos na denunciação da lide - 11161 - Honorários de advogado e despesas na denunciação da lide - 113Capítulo XVII - Chamamento ao processo62 - Noções gerais - 11762.1 - Distinção entre chamamento e denunciação - 11762.2 - Pressupostos para o exercício do chamamento - 11762.3 - Vantagens processuais do chamamento - 11962.4 - O chamamento como ampliação subjetiva do pólo passivo da relação processual - 11963 - Casos de chamamento ao processo - 12063.1 - Chamamento do devedor "principal" - 12063.2 - Chamamento do co-fiador - 12163.3 - Chamamento do devedor solidário - 12163.4 - Obrigação solidária não contratual - 12263.5 - Chamamento ao processo no Código de Defesa do Consumidor - 12363-A - Execução e cautelar. Chamamento ao processo. Impossibilidade - 12364 - Procedimento no chamamento ao processo - 12465 - Eficácia da sentença nos casos de chamamento ao processo - 125 (p. XII)Capítulo XVIII - Da assistência66 - Noções gerais - 12966.1 - Da assistência como forma de "inserção" do terceiro narelação processual - 12966.2 - Do interesse "jurídico" como requisito à admissão doassistente - 13067 - Pressupostos de admissibilidade da assistência - 13167.1 - Da causa pendente - 13167.2 - Do ingresso do assistente - 13267.3 - Do assistente como "coadjuvante" do assistido - 13268 - Procedimento na admissão como assistente - 13369 - Assistência adesiva e assistência litisconsorcial - 13469.1 - Assistência simples - 13469.2 - Assistência litisconsorcial - 13470 - Poderes processuais do assistente adesivo - 135

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71 - Poderes processuais do assistente litisconsorcial - 13771-A - Da intervenção da União Federal - 13872 - Assistência e disponibilidade sobre o objeto do litígio - 14072.1 - Assistência e autocomposição da lide - 14072.2 - Assistência litisconsorcial e "sucessão" na relação processual - 14173 - Assistência e efeitos da sentença - 14174 - Da coisa julgada e do assistente litisconsorcial - 14374.1 - Assistência litisconsorcial e extensão da coisa julgada - 14374.2 - Posições da doutrina - 14374.3 - Limitação da coisa julgada somente às partes - 144Anexo I - "NOTAS SOBRE A AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL" - 147Anexo II - ACÓRDÃOS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA SOBRE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS - 163Legislação - CPC, arts. 7º a 18 e 50 a 80 - 269Índice onomástico - 281Bibliografia - 283 (p. XIII)

PARTE I - DAS PARTES (p. 1)

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Capítulo I - CONCEITO DE PARTE E NOÇÕES GERAIS

1. Conceito de parteOs sujeitos principais do processo são o juiz e as partes. O juizé sujeito "desinteressado"{1}; as partes, por definição, são sujeitos "interessados", são parciais.A atividade dos sujeitos interessados, cada qual esgrimindo argumentos e apresentando provas em prol de seus interesses, proporciona ao magistrado uma visão global do litígio, e é elemento indispensável à almejada justa composição da lide.Busquemos o conceito de parte. Pontes afirmou (Comentáriosao Código de Processo Civil, Forense, 1974, t. 1, p. 237) serem aspartes "os pólos ativo e passivo da relação jurídica processual emângulo":Triângulo entre juiz (j), autor (a) e réu (b). O juiz fica acimado autor e do réu.Tal afirmativa necessita maior explicitação.Inicialmente, lembremos que o conceito de parte evoluiu na medida em que a teoria civilista sobre o conceito de ação foi substituídapelas teorias publicistas, com o reconhecimento da autonomia da relação jurídica processual, em face de invocada relação jurídica de1. Se o juiz for, por qualquer motivo, interessado no julgamento da causa,deverá declarar-se suspeito; assim não procedendo, poderá ser recusado pelaparte(v.CPC,arts. 135, IV e V; 137; 304a306e312a314). (p. 3)direito material. O processo deixou de ser visto apenas como umconjunto de regras procedimentais, estudadas subsidiariamente àsnormas materiais, para tornar-se, como já exposto, ciência jurídica,com seus próprios princípios, métodos e objeto.Os autores clássicos encaravam o conceito de parte tendo emvista a relação de direito material: autor seria designação atribuídaao credor quando postulava em juízo; réu, o nome pelo qual se designava o devedor. Esta vinculação do conceito de parte à relação dedireito material deduzida no processo não resiste à análise crítica: sea ação de cobrança é julgada "improcedente", v. g., porque a dívidajá fora anteriormente paga, então já não existia a relação de direitomaterial, nem credor nem devedor; e todavia o processo, com autor eréu, desenvolveu-se normal e validamente até a sentença de mérito.Já Chiovenda considerou parte "aquele que demanda em seupróprio nome a atuação de uma vontade da lei, e aquele em face dequem essa atuação é demandada" (Instituições de direito processualcivil, trad. port., Saraiva, v. 2, n. 214).

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A definição vincula-se evidentemente à teoria chiovendiana daação como direito potestativo, teoria que ainda mantém a ação comode caráter concreto, embora autônoma. A lei é vontade geral e abstrata; ocorridos os fatos por ela abstratamente previstos, a vontadeda lei toma-se, para aquele caso, concreta. Se não for obtida a realização espontânea desta vontade concreta da lei, tal atuação poderáser pleiteada em juízo. Quem demanda torna-se o autor; aquele "contra quem" (quando houver uma efetiva oposição de interesses) ou"perante quem" (quando tal oposição não existir) tal atuação é demandada será o réu. Chiovendaeve por inconcebível "um processocivil sem essas duas partes" (Instituições, cit., v. 2, n. 215), inclusiveno chamado processo civil inquisitório.As doutrinas atuais buscam o conceito de parte apenas no processo, não na relação substancial deduzida em juízo.Segundo Leo Rosenberg, "partes no processo civil são as pessoasque solicitam e contra as quais se solicita, em nome próprio, a tutelajurídica do Estado" (Tratado de derecho procesal civil, trad. esp.,EJEA, 1955, t. 1, n. 39, p. 211).Conforme Moacyr Amaral Santos, "partes, no sentido processual,são as pessoas que pedem, ou em face das quais se pede, em nome (p. 4)próprio, a tutela jurisdicional" (Primeiras linhas de direito processual civil, Saraiva, 1980, v. 1, n. 275).Araújo Cintra, Grinover e Dinamarco definem autor como"aquele que deduz em juízo uma pretensão ("qui res in iudiciumdeducit"); e réu, aquele em face de quem essa pretensão é deduzida("is contra quem res in iudicium deducitur")" (Teoria geral do processo, 6. ed., Revista dos Tribunais, n. 169).O conceito de parte, reafirma Arruda Alvim, é "eminentementeprocessual, resultando, como já se afirmou, da simples afirmação daação. Resulta do fato da propositura da ação" (Manual de direitoprocessual civil, 6. ed., Revista dos Tribunais, 1997, v. 2, n. 4).Finalmente, o magistério de Piero Calamandrei:"Las partes son el sujeto activo y el sujeto pasivo de la demanda judicial, con abstracción de toda referencia al derecho sustancial,parte de una premisa elementar: hecho de naturaleza exclusivamenteprocesal, de la proposición de una demanda ante el juez; la personaque propone la demanda, y la persona contra quien se la proponeadquieren sin más, por este solo hecho, la calidad de partes del procesoque con tal proposición se inicia; aunque la demanda sea infundada,improponible o inadmisible" (Instituciones de derecho procesal civil, Buenos Aires, 1962, p. 297).A doutrina prevalecente, portanto, liga o conceito de parte àatividade tutelar do Estado mediante a atividade dos órgãos do PoderJudiciário, proteção que a Constituição a todos promete e assegura(CF de 1988, art. 5º, XXXV).Cuida-se, esclareceu José Francisco Lopes de Miranda Leão,"de conceito pura e eminentemente processual. Não se trata de perquirir a relação de direito material, nem mesmo de analisar a legitimidade ou ilegitimidade do interessado em razão desta; o autor éparte, neste sentido, desde o momento em que ajuíza sua demanda, eparte será até o final, mesmo que a sentença venha a declará-lo "parteilegítima". Ilegítima, mas parte". E o réu, este adquire a qualidade departe pela citação, "e a adquire queira ou não queira" (Sentençadeclaratória, Malheiros Ed., 1999, p. 44).E vale desde logo referir que a circunstância de que uma pessoa"seja parte numa lide, ou seja terceiro, como observa Chiovenda (Instituições de direito processual civil, v. 2, p. 233), é da maior impor- (p. 5)tância, pois só as partes serão atingidas pela coisa julgada, nunca osterceiros que hajam participado da relação processual" (OvídioBaptista da Silva, Teoria geral do processo civil, Revista dos Tribunais, 1997,

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p. 135).

2. Do autor e do réuSuposto um conflito de interesses, nem sempre será autor, noprocesso judicial que visa eliminar tal conflito, quem se consideracredor (em sentido amplo) do outro interessado.A posição de autor ou de réu depende apenas da primazia nobuscar a tutela jurisdicional, da prioridade no afirmar a própria pretensão. O devedor (na alegada relação de direito material) é todaviaautor na ação de consignação em pagamento, e será também autorem ação declaratória negativa do invocado débito.Outrossim, mediante a ação reconvencional o réu converte-se,no mesmo processo, também em autor (reconvinte), e o autor tornase, também, réu (reconvindo): duas ações, duas relações jurídicasprocessuais, in simultaneus processus.A parte postula "em nome próprio". Quem postula em nome deoutrem não é parte; parte será a pessoa em cujo nome a postulação foifeita. A respeito, os equívocos, na prática forense, são comuns. Assim,na ação buscando alimentos que o pai alegadamente deve a filhos menores, autores na ação são os filhos, pois estes os titulares da pretensãoaos alimentos, e não a mãe, que na demanda apenas os representa{2}.2. É, portanto, errôneo propor uma ação em que figura como autora "DaFulana de Tal, representando seus filhos menores impúberes Sicrano e Beltrano";devem constar "Sicrano e Beltrano" como autores., "representados por suaprogenitora Da Fulana". Em ação de cobrança, autora será a firma alegadamentecredora, "Manoel da Silva e Cia. Ltda.", e não o sócio-gerente "Manoel daSilva", apenas presentante da pessoa jurídica (o órgão de uma pessoa jurídica- seu presidente, gerente etc. - não é representante, mas presentante, poissomente por meio de seus órgãos a pessoa jurídica se faz "presente" na vidasocial; representante da pessoa jurídica será, então, por exemplo, o advogado aquem o presentante passar procuração em nome da sociedade). (p. 6)

Capítulo II - PRINCÍPIOS REFERENTES ÀS PARTES

3. Princípio da dualidade de partesEm jurisdição contenciosa o processo supÕe necessariamente adualidade de partes, autor e réu (ou, em litisconsórcio ativo ou passivo, autores e réus), para perfeita integração da relação processualem ângulo:Triângulo entre juiz (j), autor ou autores (a) e réu ou réus(b). O juiz fica acima, na ponta do triângulo. Autor e réu ficam lado alado.Antes de citado o réu, já existe processo, mas a relação processual mantém-se incompleta (ainda não se completou a angularidade).Apenas na jurisdição voluntária (que, como vimos alhures{3}, nãoé, na opinião majoritária, uma verdadeira jurisdição) poder-se-á admitir uma relação processuategra, embora apenas linear: autor/juiz tão-somente (assim, v. g., quando alguém postula em juízo aretificação de seu nome, inexistindo qualquer outro interessado a sercitado). Na jurisdição contenciosa, a relação processual torna-se íntegra com a citação do demandado.Nos casos de inexistência de autor, ou quando citada (aparentemente) pessoa inexistente, o processo será nulo, sem aptidão paraproduzir seus normais efeitos jurídicos, e isso pela impossibilidadede formar-se a relação íntegra. Por exemplo, ação de despejo em que3. V. nosso Jurisdição e competência, capítulo VII. (p. 7)figura como demandante pessoa cujo falecimento o advogado ignorava; ou ação de despejo em que é "citado" por editais, ou com horacerta, o inquilino já falecido. No segundo caso, a citação, ainda quecumpridas as formalidades de lei, não será apenas nula (pois a nulidade pressupõe a ex

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istência), mas sim inexistente no plano do direito. Realmente, a citação é inconcebível sem alguém que comuniquee alguém a quem se comunique; o sujeito ativo dessa comunicação éo órgão judicial que a determinou, e o sujeito passivo é o citando(Barbosa Moreira, "Citação de pessoa falecida", Rf 321:55-9).Não se poderá afirmar, todavia, a inexistência da própria relaçãoprocessual (que se mantém linear, isto é, apenas entre autor e juiz nocaso de réu inexistente, ou entre juiz e réu no caso de autor inexistente);a relação linear existe embora nulamente, pois inadmissível a existência da sentença válida (que irá extinguir o processo sem julgamento demérito) em um processo por si mesmo inexistente no mundo do direito{4}.Por idêntico motivo deve ser extinto o processo, sem julgamentode mérito, quando em sua pendência ocorra a integração do autor e doréu numa só pessoa; por exemplo, se a empresa autora incorpora aempresa ré, ou se ambas se fundem. As partes devem ser distintas: filialde uma empresa não pode litigar com outra filial da mesma empresa.

4. Princípio da igualdade das partesO Código de Processo Civil é expresso no sentido de que o juizdirigirá o processo, competindo-lhe "assegurar às partes igualdadede tratamento" (art. 125, I).A lei processual garante aos litigantes, em princípio, iguais ousemelhantes oportunidades no exercício dos direitos, poderes, deveres e ônus processuais, assim lhes assegurando atividade eficaz nadefesa das respectivas pretensões.Cumpre, todavia, ter em mente que a verdadeira igualdade nãoconsiste em tratar a todos igualmente, mas em tratar igualmente osiguais, e desigualmente os desiguais na proporção das respectivasdesigualdades.A regra básica da igualdade das partes é, portanto, regulada mediante normas procedimentais adequadas à posição da parte e à nature 4. A respeito do tema, acórdão da 1ª Câm. Cív.TJRS, AI 587.027.368,de 18 de agosto de 1987, Rel. Des. Athos Gusmão Carneiro. (p. 8)za do processo. Ao autor, v. g., assiste a faculdade de propor a demanda no momento em que lhe parecer melhor; ao réu, via de regra, a vantagem de ver-se demandado no foro de seu domicílio ou residência.No processo de execução, a igualdade das partes é limitada pelas conseqüências de dispor o autor de título executivo, com a decorrente sujeição do executado.No processo cautelar, e em muitos processos de conhecimento, apossibilidade de concessão de medidas liminares, ou de antecipaçãoda tutela, antes da ouvida do réu, limita a regra da igualdade, mas ematenção às circunstâncias de cada caso concreto (CPC, arts. 273 e 804).A Fazenda Pública, v. g., e o Ministério Público dispõem deprazo em quádruplo para responder, e de prazo em dobro para recorrer (CPC, art. 188), a fim de prevenir as dificuldades decorrentes daburocracia administrativa{5}.

5. Princípio do contraditórioO processo é instrumento indispensável à paz social, pela composição justa das lides, ou seja, pela composição (ou melhor, pelaeliminação) das lides mediante a exata aplicação do direito material.Desenvolve-se o processo dialeticament{6}, expondo-se nele ocontraste entre os interesses dos litigantes, empenhado cada qual emconvencer o juiz da justiça das respectivas pretensões. A oposiçãode argumento a argumento, de prova contra prova, é de extrema utilidade para que o Tribunal, sujeito imparcial, chegue às conclusões omais próximas possível do ideal de legalidade, e sobretudo de justiça, no apaziguamento dos conflitos de interesses.Assim, à inicial do autor contrapõe o réu sua contestação; sempreque uma das partes requerer a juntada de documento aos autos, o juiz

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ouvirá, a respeito, a outra (art. 398); à apelação do vencido, o apeladoopõe sua resposta (art. 518); ambas as partes formulam perguntas àtestemunha (art. 416); em audiência a palavra é dada, para o debateoral, ao advogado do autor e ao do réu (art. 454), e assim por diante.5. De legeferenda, seria bastante um prazo em dobro para responder.De outra parte, não são convincentes os argumentos em favor da inconstitucionalidade da norma legal, sob pretendida ofensa ao princípio daisonomia.6. Dialética é a arte de raciocinar, argumentar e discutir, buscando a verdade pela oposição e conciliação de contradições. (p. 9)Ninguém, portanto, é condenado sem ser ouvido: nemo debetinauditu damnari. A outra parte sempre será ouvida: audiatur et altera pars.A convocação in jus vocatio - do demandado faz-se pormeio da citação, ato pelo qual se chama a juízo o réu (ou o interessado, em se tratando de causas sob jurisdição voluntária), "a fim de sedefender" (CPC, art. 213). Dispõe o art. 214 do CPC que "para avalidade do processo é indispensável a citação inicial do réu"{7}.Para a validade do processo, todavia, não se exige que as partesutilizem efetivamente as oportunidades processuais que lhes são concedidas. Suficiente é a oportunidade do contraditório, a disponibilidade dos prazos e dos recursos tendentes à garantia do contraditório.Contestar o pedido não constitui obrigação do réu; é um ônus,isto é, "um imperativo de seu próprio interesse". Validamente citado,o réu que se omite em contestar torna-se revel, e sofre os efeitos darevelia (CPC, arts. 319, 320 e 322).Se a citação for por editais ou com hora certa - casos, pois,de citação ficta - em homenagem ao princípio do contraditório alei processual, art. 9º, II, prevê a nomeação ao réu de "curador especial" (curador ad litem), com o dever precípuo de oferecer contestação (apagando, portanto, para o revel fictamente citado, osdanosos efeitos da revelia); neste caso é inclusive admitida, a títuloexcepcional, até a simples contestação por negação geral, isto é,sem o "ônus da impugnação especificada dos fatos" (CPC, art. 302e parágrafo único){8}.7. Ac. un. do eg. 1º Gr. Câm. Cív. do TJRS, proferido em embargos infringentes, ostenta a seguinte ementa: "A citação é o ato fundamental do processo eo pressuposto de sua validade e existência. A sentença proferida sem a citaçãodos interessados, embora se tenha tomado formalmente definitiva, é coisa vã,mera aparência, e carece de efeitos no mundo jurídico" (RJTJRS, 63:76). Tratase, aqui, todavia, não de "mera aparência", mas de sentença nula, pois seu comando não produz efeitos jurídicos relativamente a quem, não citado, permaneceu alheio à relação jurídica processual.8. A respeito da importância da citação e das cautelas a serem adotadasnos casos de citações fictas, reportamo-nos aos acórdãos proferidos pela 3ª Câm.Civ. do TJRS na AR 18.246 (RJTJRS, 47:111) e pela 1ª Câm. Cív. do mesmoTribunal na AR 30.510 (RJTJRS, 80:166). dos quais fomos relator. (p. 10)

Capítulo III - DA CAPACIDADE PARA SER PARTE

6. Dos pressupostos processuais subjetivosDurante todo o transcurso do processo - e máxime durante a fasede saneamento - deve o juiz manter-se atento quanto aos pressupostosprocessuais, que são os requisitos, as condições subjetivas e objetivasde validade do processo. A ausência insanável de pressuposto processual dará causa à extinção do processo sem julgamento de mérito.Os pressupostos processuais subjetivos dizem respeito ao juiz eàs partes. Quanto a estas, impende verificar se autor e réu têm:a) capacidade para ser parte;b) capacidade de exercício dos atos processuais, isto é, alegitimatio ad processum;

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c) legitimação para a causa, a legitimatio ad causam;d) capacidade postulacional, isto é, representação em juízo porintermédio de advogado legalmente habilitado.

7. Das pessoas capazes para ser parte. Das pessoas "formais"Capacidade, no plano do direito, é a aptidão para ser titular dedireitos e deveres na ordem jurídica.A capacidade para ser parte consiste, assim, na aptidão parapraticar atos jurídicos processuais.É reflexo, no plano do direito processual, da própriapersonalidade jurídica, tal como for reconhecida pelo direito material. Todosos que gozam de personalidade jurídica podem ser partes{8-A}.8-A. No magistério de Chiovenda: "La capacità d'essere soggetto d'unrapporto giuridico processuale non è altro che la capacità giuridica trasportatanel processo" (Istituzioni, v. 2, p. 235). (p. 11)Assim as pessoas naturais, sem exceção: "Todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil" (CC, art. 2º), não distinguindo a lei entre nacionais e estrangeiros quanto à aquisição e aogozo dos direitos civis (CC, art. 3º).Embora a personalidade civil do homem comece do nascimento com vida, pode também ser parte o nascituro, representado peloprogenitor ou pelo curador ao ventre, pois "a lei põe a salvo, desde aconcepção, os direitos do nascituro" (CC, art. 4º){9}.Às pessoas jurídicas igualmente assiste a capacidade para serparte, tanto às pessoas jurídicas de direito público, interno ou externo, como às de direito privado.Podem ser parte pessoas jurídicas de direito público externo,como os Estados estrangeiros e os organismos internacionais{10}, e aspessoas jurídicas de direito público interno: a União, presentada peloAdvogado-Geral da União, ou por seus Procuradores-Gerais, Regionais e Seccionais, consoante a Lei Complementar n. 73, de 10-21993, arts. 35 e 36, e a Lei n. 9.028/95, art. 2º; o Distrito Federal e osEstados, presentados por seus procuradores (CPC, art. 12, I); osMunicípios, presentados por seus Prefeitos ou procuradores; asautarquias (federais, estaduais ou municipais); os partidos políticos.São pessoas jurídicas de direito privado as sociedades civis, asfundações de direito privado, as sociedades mercantis ou comerciaisem geral; também o são as empresas públicas e as sociedades de economia mista, criadas por lei mas com personalidade de direito privado"{11}.Notemos que a capacidade para ser parte abrange também aschamadas "pessoas formais", isto é, patrimônios autônomos, ou comunidades de bens ou de pessoas, destituídos de personalidade jurídica mas aos quais a lei atribui a possibilidade de litigarem em juízo9. Por exemplo, falece um cidadão deixando grávida a esposa. Alguém,intitulando-se filho do extinto, promove ação investigatória de paternidade. Onascituro será réu, para resguardo de seus interesses, sendo citado na pessoa damãe, ou, se esta não gozar do pátrio poder ou for interdita, na pessoa do curador(CC, art. 462).10. Para o conhecimento de tais causas será competente o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça (CF de 1988, arts. 102, I, e, e105, II, c).11. V o Decreto-lei n. 200, de 25 de fevereiro de 1967, com a redaçãodada pelo Decreto-lei n. 900, de 29 de setembro de 1969. (p. 12)como autores e como réus{12}. Nestes termos, podem ser parte (e o sãocom grande freqüência) o espólio, presentado pelo inventariante; aherança jacente ou vacante, presentada pelo curador; o condomínio em edifícios, presentado pelo administrador ou síndico (Lein. 4.591, de 16-12-1964, art. 22, § 1º, a); a massa falida, pelosíndico ou liquidatário; as sociedades sem personalidade jurídica, presentadas pela pessoa a quem couber a administração de

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seus bens (CPC, art. 1º).Igualmente são admitidos a litigar, em certos casos, os própriosórgãos de pessoas jurídicas: a Câmara de Vereadores, v. g., ou o Tribunal de Justiça (embora a personalidade jurídica pertença ao Município, ou ao Estado), podem agir em juízo quando em defesa de interesses peculiares ao próprio órgão (não é incomum o uso de mandado de segurança por Câmaras de Vereadores){13 e 14}.12. Em voto na AC 31.130 (julgada em 3-4-1979 pela 1ª Câm. Cív. doTJRS e publicada na RJTJRS, 76:286), tivemos oportunidade de afirmar que "podem atuar em juízo inclusive comunidades de pessoas ou patrimônios desprovidos de personalidade jurídica, e inclusive assiste capacidade para ser parte até aórgãos internos de pessoas jurídicas quando na defesa de interesses peculiares aomesmo órgão. São as chamadas "pessoas formais", as quais inclusive compreendem, na boa lição de Tornaghi, as pessoas jurídicas em formação e as pessoasjurídicas em liquidação: "daí a antecipação e o prolongamento da personalidadejudiciária dos corpos ainda, ou já, sem personalidade jurídica" (Comentários aoCódigo de Processo Civil, Revista dos Tribunais, 1974, v. 1, p. 132-3)".13. Evidentemente não podem ser acionados, nem acionar, os simples"departamentos" da Administração Pública. A pessoa vítima de atropelamentopor viatura policial civil não poderá mover ação indenizatória contra a Secretaria da Segurança Pública, mas sim necessariamente contra o próprio Estado.Assim também em se tratando de "departamentos" de entidades de direitoprivado. Reporto-me, a respeito, a acórdão da 1ª Câm. Cív. do TJRS, de quefomos relator (AI 585.008.824, de 26-3-1985), sob a ementa seguinte:"CITAÇÃO. Validade. Capacidade para ser parte. Hospital ErnestoDorneles.O simples departamento de entidade de direito privado não tem capacidade para ser parte, por não dispor de personalidade jurídica, não podendo outrossim ser considerado como pessoa formal.Invalidade da citação de Diretor do Hospital, que não dispõe de poderesde presentação da pessoa realmente ré, ou seja, da entidade proprietária do Hospital, a Associação dos Funcionários Públicos do Estado do Rio Grande do Sul.Considera-se citada a ré, pois, quando de seu comparecimento espontâneo aoprocesso, apresentando contestação e arguindo prefaciais. (p. 13)Assim também os Tribunais de Contas, conforme aliásexplicitado em aresto do Superior Tribunal de Justiça: "Órgãos danatureza dos Tribunais de Contas só podem residir em juízo (e, conseqüentemente, recorrer) nas lides internas, em confronto com outros órgãos ou com Poderes do Estado, no momento em que algumdestes lhes retire prerrogativa ou lhes afronte direitos que lhes sãopróprios, porque indesjungíveis de seus fins constitucionais" (1ª Turma, REsp 121.053, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, ac. de 18-9-1997,RSTJ, 104:156). Fora destas hipóteses, a restrita personalidade judiciária de tais entidades não pode atuar, cabendo sua representaçãoem juízo à entidade de direito público interessada, o Município, oEstado, a União.

7-A. Da capacidade para ser parte perante os Juizados EspeciaisOs Juizados Especiais, como seus antecessores, os Juizados dePequenas Causas, foram criados com a finalidade precípua de atendimento à chamada, na expressão de Kazuo Watanabe, "litigiosidadecontida", abrindo o acesso das grandes massas populares ao Judiciário.Compreende-se, portanto, que somente as pessoas físicas capazes são admitidas a propor ação perante os Juizados Especiais, ouseja, a figurar no pólo ativo da relação processual. Para facilitar maistal acesso, os maiores de 18 anos já podem propor ação independentemente de assistência de seus genitores, e isso inclusive para fins deconciliação - Lei n. 9.099/95, art. 8º, §§ 1º e 2º - têm, pois, capacidade processual plena.No pólo passivo da relação processual podem figurar: 1) outrapessoa física capaz; 2) pessoa jurídica de direito privado; 3) certaspessoas formais, tais como o condomínio em edifícios ou o espólio.

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Não podem ser partes, perante os Juizados Especiais, a pessoaincapaz ou presa, as pessoas jurídicas de direito público, as empresasCassação da decisão saneadora que decretou a revelia "do Hospital" emandou desentranhar a resposta.Agravo provido".14. A respeito da capacidade processual das Câmaras de Vereadores lembramos aresto pioneiro do TJRS (MS 55, de 1948), superiormente comentadopor Vitor Nunes Leal, e transcrito na RDA, 15:46. (p. 14)públicas da União, a massa falida e o insolvente civil - art. 8º, caput,da Lei n. 9.099/95.Devem considerar-se revogados dispositivos de leis estaduaisque permitiam fosse autor o condomínio ou a microempresa. Nesteúltimo caso, vale ressalvar os casos de microempresa em firma individual. Também não pode ser autora a pessoa física, quandocessionária de direito de pessoa jurídica. (p. 15)

(p. 16, em branco)

Capítulo IV - DA LEGITIMAÇÃO PARA O PROCESSO

8. ConceitoA legitimatio ad processum, isto é, a capacidade de exercíciodos atos jurídicos processuais, corresponde, no campo processual, àcapacidade civil tal como regulada pelo direito material. As normasde direito material projetam-se, também aqui, no direito processual.Podemos, pois, distinguir:a) capacidade processual plena;b) capacidade processual limitada;c) ausência de capacidade processual.

9. Da capacidade processual plenaAs pessoas maiores e capazes (v. CC, art. 9º), bem como aspessoas jurídicas (CC, art. 18), dispõem em princípio de capacidadeprocessual plena, isto é, são aptas a exercer, por si mesmas, por obrade sua própria vontade e entendimento, os atos jurídicos processuais(naturalmente por meio de advogado constituído para tal fim).

9.1. Da mulher casadaA mulher casada deixou de ser considerada relativamente incapaz desde o advento da Lei n. 4.121, de 27 de agosto de 1962, quemodificou a redação do art. 6º do Código Civil.O casamento, todavia, implica restrições para ambos os cônjuges quanto ao ajuizamento de ações "que versem sobre direitos reaisimobiliários"; para propô-las, o marido necessitará da outorga damulher, ou a mulher do consentimento do marido (CPC, art. 10; CC, (p. 17)arts. 235, II, e 242, I). Segundo o art. 11 do Código de Processo Civil,a falta de autorização do marido ou de outorga da mulher "podemsuprir-se judicialmente, quando um cônjuge a recuse ao outro semjusto motivo, ou lhe seja impossível dá-la" (hipótese não incomumnos casos de cônjuges separados de fato), sob pena de extinção doprocesso sem julgamento de mérito.O Código de Processo Civil prevê, outrossim, o litisconsórciopassivo necessário de marido e mulher (ambos, portanto, devem sercitados) quando réus em ações "que versem sobre direitos reais imobiliários" (CPC, art. 10, na redação da Lei n. 8.952, de 13-12-1994);ou em ações resultantes de fatos que digam respeito a ambos os cônjuges ou de atos praticados por eles; ou em ações fundadas em dívidascontraídas pelo marido a bem da família, quando a execução recairsobre bens próprios da mulher; ou, finalmente, em ações que visem oreconhecimento, constituição ou extinção de ônus sobre bens imóveis de um ou de ambos os cônju

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ges (CPC, art. 10, § 1º). Nos casosde ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réusomente é indispensável nos casos de composse ou de ato por ambos praticado (CPC, art. 10, § 2º).Omitindo-se o autor no requerer ou promover a citação do outro cônjuge (inclusive pela inobservância de ordem do juiz - CPC,art. 47, parágrafo único), teremos então hipótese de carência de açãopor falta de legitimação ad causam do cônjuge isoladamente citado,com a conseqüente extinção do processo sem julgamento de mérito.Vale todavia lembrar que não mais vige a regra do art. 233, I, doCódigo Civil, pelo qual era o marido o "chefe da sociedade conjugal", competindo-lhe "a representação legal da família". A Constituição Federal de 1988 garante serem "homens e mulheres iguais emdireitos e obrigações" (art. 5º, I), explicitando o art. 226, § 5º, que"os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidosigualmente pelo homem e pela mulher". Portanto, nos casos em queo litisconsórcio não se impõe, caberá tanto ao marido como à mulhera defesa judicial, como autor ou como réu, dos interesses da famíliae da sociedade conjugal{15}.15. O outro cônjuge sempre poderá, em não havendo o litisconsórcio facultativo, e já em andamento a relação processual, ser admitido como assistentelitisconsorcial do cônjuge que em defesa da família ajuizou a demanda ou assumiu a posição de contestante. (p. 18)

9.2. Das pessoas jurídicasAs pessoas jurídicas comparecem a juízo por meio dos seusórgãos, que as presentam como dispuserem a lei, os estatutos ou ocontrato social.{16}O espólio (também denominado "herança" ou "sucessão") épresentado ativa e passivamente pelo inventariante, salvo quandodativo; neste último caso, "todos os herdeiros e sucessores do falecido serão autores ou réus nas ações em que o espólio for parte" (v.CPC, arts. 12, V e § 1º, 990, VI, e 991, I){17}.

9.3. Das pessoas jurídicas estrangeirasA pessoa jurídica estrangeira, domiciliada no Brasil mediantea instalação em nosso país de agência, filial ou sucursal (CPC, art.88, parágrafo único), é presentada em juízo pelo preposto sob cujadireção estiver a filial. A citação da pessoa jurídica estrangeira dispensará, pois, a expedição de carta rogatória, sendo feita na pessoado gerente da filial ou agência (CPC, art. 12, § 3º).

9.4. Das sociedades e entidades sem personalidade jurídicaDe acordo com o Código Civil (art. 20, § 2º), as sociedadescivis ou mercantis que, por falta de registro no Registro Civil dePessoas Jurídicas, ou na Junta Comercial (v. Lei n. 6.015, de 31-121973, arts. 114 e 119; Lei n. 8.934, de 18-11-1994), não houvessemadquirido personalidade jurídica, só dispunham de capacidade passiva para ser parte; não gozavam de capacidade ativa, não podendo"acionar a seus membros, nem terceiros".16. A lei processual não exige que a pessoa jurídica, para estar em juízo,"apresente, de logo, seus atos constitutivos, de molde a comprovar sua regularrepresentação" (REsp 9.651, STJ, Rel. Min. Cláudio Santos).17. A praxe, anotou Ernane Fidélis dos Santos, "tem-se orientado no sentido de se nomear sempre inventariante dativo pessoa que tenha capacidadepostulatória, para evitar contratação especial de advogado" (Comentários aoCódigo de Processo Civil - 2ª Col., Forense, t. 6, p. 281). A posição doinventariante dativo "é a mesma de um auxiliar da Justiça", respondendo o montepor sua remuneração (id.). (p. 19)O vigente Código de Processo Civil alterou tal situação, pois o

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art. 12, VII, é expresso em que serão presentadas em juízo, ativa epassivamente: "... VII - as sociedades sem personalidade jurídica,pela pessoa a quem couber a administração dos seus bens". Note-seque tais sociedades, quando rés, não podem opor aos autores "a irregularidade de sua constituição".O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078, de 11-9-1990)prevê a atuação em juízo, em defesa dos interesses e direitos dos consumidores, de entidades e órgãos da administração pública, direta ouindireta, "ainda que sem personalidade jurídica", quando instituídospara a defesa de tais interesses e direitos (Lei n. 8.078, art. 82, III). (p. 20)

Capítulo V - DA CAPACIDADE PROCESSUAL SUPRIDA

10. Casos de incapacidade absoluta e relativaOs relativamente incapazes, tal como dispõe o Código Civil,apresentam em juízo uma capacidade processual limitada; aos absolutamente incapazes não assiste capacidade processual.Tais pessoas adquirem a legitimatio ad processum por meio dosuprimento de sua incapacidade, absoluta ou relativa: "os incapazesserão representados ou assistidos por seus pais, tutores ou curadores,na forma da lei civil" (CPC, art. 8º).Em se tratando de pessoa absolutamente incapaz, sua vontade éjuridicamente irrelevante. Vale apenas e tão-somente a vontade dequem o representa (assim, se for parte um menor com 14 anos, aprocuração ao seu advogado será outorgada apenas pelo representante legal do menor).Em se tratando de pessoa relativamente incapaz, a legitimatioad processum é adquirida pela conjugação da manifestação de vontade do incapaz mais a concorrente manifestação de vontade de quemo assiste (se for parte um menor com 17 anos, a procuração seráoutorgada tanto pelo menor como por seu assistente){18}.18. A representação e a assistência aos incapazes diferem da autorização, ou outorga ou consentimento de outrem, que a lei exige a determinadaspessoas para a prática de determinados atos (v., v. g., os arts. 10, caput, e 11 doCPC e, ainda, CC, art. 427, VII).O representado ou assistido é um incapaz, e a representação e a assistência alongam-se no decorrer do processo; o recipiendário da autorização, outorga ou consentimento é, no plano do direito material, pessoa plenamente capaz,e, após receber o consentimento, irá agir processualmente com inteira autonomia de vontade. (p. 21)São absolutamente incapazes os menores que não hajam completado 16 anos de idade; os loucos de todo o gênero; os surdosmudos que não puderem exprimir a sua vontade; os ausentes, declarados tais por ato do juiz (CC, art. 5º).São relativamente incapazes os maiores de 16 e menores de 21anos; os pródigos; os silvícolas (CC, art. 6º).A plena capacidade é adquirida aos 21 anos completos, idadeem que o indivíduo fica "habilitado para todos os atos da vida civil"(CC, art. 9º, caput). Mas a incapacidade relativa cessará antecipadamente nos casos de emancipação, de casamento, de exercício deemprego público efetivo, de colação de grau em curso de ensino superior, de estabelecimento civil ou comercial com economia própria(CC, art. 9º, § 1º). A nova Constituição Federal (art. 14, II, c) faculta,aos maiores de dezesseis e menores de dezoito anos, o alistamentoeleitoral e o voto. Perante os Juizados Especiais, os maiores de 18anos têm capacidade plena para agir como autores e para a conciliação - Lei n. 9.099, de 26-9-1995, art. 8º, § 2º.Os menores de idade são representados pelo pai e, em sua falta,pela mãe, até os 16 anos; são assistidos, após essa idade, nos atos emque forem partes (CC, art. 384, V).

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A representação e a assistência passam ao tutor se falecidos ospais, ou privados do pátrio poder, ou julgados ausentes (CC, arts.406 e 426, I). Vale anotar que o tutor necessita de autorização do juizpara representar e para assistir o menor em juízo, como autor oucomo réu (CC, art. 427, VII).Os alienados mentais, mediante o procedimento de interdição(CPC, arts. 1.177 e s.), são postos sob curatela (CC, art. 446, I).Já os psicopatas (Dec. n. 24.559, de 3-7-1934, art. 26 e parágrafo único) serão declarados "absoluta ou relativamente incapazes paraexercer pessoalmente os atos da vida civil", nomeando-se-lhes, deinício, um administrador provisório de seus bens, seguindo-se o procedimento da interdição (Dec. citado, art. 27 e parágrafos). Condutasimilar é prescrita relativamente aos toxicômanos, também sujeitos àinterdição plena ou limitada (Dec. n. 891, de 25-11-1938, art. 30, §§3º e 5º).Sujeitos também à curatela estão os surdos-mudos "sem educação que os habilite a enunciar precisamente a sua vontade", isso apóso procedimento de interdição (CPC, art. 1.185; CC, art. 446, II). Aincapacidade poderá ser apenas limitada: "Pronunciada a interdição (p. 22)do surdo-mudo, o juiz assinará, segundo o desenvolvimento mentaldo interdito, os limites da curatela" (CC, art. 451). Os surdos-mudosaptos a enunciar cabalmente sua vontade são plenamente capazes.Pródigo é aquele que "desordenadamente gasta e destrói suafazenda" (Ordenações Filipinas, L. IV, Tít. 103, § 6º), isto é, quemdissipa seu patrimônio com despesas imoderadas, em prejuízo próprio e em detrimento dos eventuais direitos do cônjuge ou expectativas de herdeiros (CC, art. 460). A interdição do pródigo somente opriva da prática, não assistido pelo curador, de atos de disposição debens, nos termos do art. 459 do Código Civil.Ausência é o desaparecimento de uma pessoa de seu domicilio,sem dar mais notícias, não deixando quem lhe administre os bens(CC, art. 463; CPC, art. 1.159). Ao ausente, como tal declarado, ojuiz nomeará curador (CPC, art. 1.160){19}.O Estatuto do Índio - Lei n. 6.001, de 10-12-1973 - rege asituação dos silvícolas, sujeitos a um regime tutelar. Nos termos doart. 232 da Constituição, "os índios, suas comunidades e organizações são partes legítimas para ingressar em juízo em defesa de seusdireitos e interesses, intervindo o Ministério Público em todos osatos do processo.

11. Do suprimento da incapacidadeTem o juiz o dever de zelar permanentemente pela validade doprocesso, devendo extingui-lo, sem julgamento de mérito, "quandose verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido regular do processo" (CPC, art. 267, IV).Tal matéria o juiz "conhecerá de ofício, em qualquer tempo egrau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito".Assim, o pressuposto processual da legitimatio ad processum podeser objeto de indagação judicial mesmo se as partes nada houverem19. Uma coisa é a ausência, outra a simples circunstância de alguém seencontrar eventualmente em lugar incerto e não sabido. O ausente é citado napessoa do curador, que o representará, em juízo e fora dele, com intervenção doórgão do Ministério Público (CPC, art. 1.160 c/c o art. 1.144, I); aquele queapenas estiver em lugar incerto é citado por editais, sendo-lhe nomeado, serevel, um curador especial, como previsto no art. 9º, II. Este curador especialdefende os interesses do citado somente naquela causa; é curador ad litem. (p. 23)argüido sobre o tema, e em qualquer fase em que se encontre o processo. A respeito, para o juiz não opera a preclusão.Apresentada a petição inicial, ao juiz cumpre submetê-la a umprimeiro exame, podendo indeferi-la liminarmente pelos motivos enumerados no art

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. 295 do Código de Processo Civil, entre os quais... "II- quando a parte for manifestamente ilegítima".Esta ilegitimidade de parte abrange tanto os casos de ilegitimatioad causam como os de ilegitimatio adprocessum, mas o indeferimentoliminar somente será decretado se a ilegitimidade for manifesta, evidente. Caso contrário, reservar-se-á o juiz para examinar a matériana fase de saneamento, após a contestação e a réplica, quando, então,se verificar "a existência de irregularidades ou de nulidades sanáveis, o juiz mandará supri-las, fixando à parte prazo nunca superior atrinta dias" (CPC, art. 327, in fine).A tentativa de suprimento da mera irregularidade, ou da nulidade relativa, responde às exigências de economia processual, evitando-se as demoras e os prejuízos sempre decorrentes da anulação deum processo.Determina, outrossim, o Código de Processo - cuidando aquiexpressamente do tema ora em exame - que, ao constatar "a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das partes,o juiz, suspendendo o processo", marque prazo razoável para ser sanado o defeito (art. 13){19-A}.Diligenciando a parte interessada, de forma que a incapacidadeprocessual resulte suprida, ou o defeito de representação corrigido, oprocesso retomará seu normal andamento. Assim, o cônjuge providencia a apresentação de documento probatório do consentimentodo outro cônjuge, nas ações que o exijam; a pessoa jurídica comprovará que o outorgante da procuração é realmente o seu representantelegal, e assim por diante.19-A. Segundo aresto do STJ, 4ª Turma, "em face da sistemática vigente(CPC, art. 13), o juiz não deve extinguir o processo por defeito de representaçãoantes de ensejar à parte suprir a irregularidade. O atual Código de Processo Civilprestigia o sistema que se orienta no sentido de aproveitar ao máximo os atosprocessuais, regularizando sempre que possível as nulidades sanáveis" (REsp68.478, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJU, 1º-jul.-1996, p. 24057). (p. 24)Caso contrário, em se omitindo a parte interessada, ou agindo insatisfatoriamente, o juiz: a) decretará a nulidade do processo (rectius,a extinção do processo sem julgamento de mérito - CPC, art. 267,IV), se cabia ao autor diligenciar no afastamento da nulidade; ou b)decretará a revelia do réu se a este cabiam as diligências; c) ou, porfim, se a incapacidade processual ou defeito de representação disserem respeito a terceiro, interveniente na causa, o juiz excluirá o terceiro do processo (CPC, art. 13).

12. Do curador especial (CPC, art. 9º)Nas demandas em que, sendo parte um incapaz, estiver ele, porqualquer motivo privado, de quem o represente ou assista (v. g., órfão de pai e mãe, a quem ainda não foi nomeado tutor; ou o demente,ainda não interditado - v. art. 218 e § 2º), dar-lhe-á o juiz curadorespecial, que para aquela causa assumirá, após prestar compromisso, a representação ou a assistência do incapaz{20}. É o antigo "curadorà lide", previsto no Código de Processo Civil de 1939, art. 80, § 1º.Não é necessária a suspensão do processo, para que seja sanadoo defeito relativo à incapacidade do autor, portador de doença mental:"basta a nomeação de curador especial, o qual zelará pelos interessesdo amental, até a decretação da interdição e a nomeação do curador.Inteligência do art. 9º, I, e do art. 13, caput. Precedentes do extintoTFR" (REsp 11.893, STJ, 2ª Turma, Boletim do STJ, n. 11, 1997).Normalmente a nomeação recai sobre advogado, o qual entãoassume a dupla função de representar ou assistir o menor, e de exercer em seu nome o jus postulandi, assim assegurada ao incapaz aplena capacidade de agir em juízo. Se a nomeação, entretanto, recair

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em leigo, terá o nomeado de outorgar procuração com poderes adjudicia (art. 38) a advogado.20. O curador especial, ensinou Arruda Alvim (Código de Processo Civilcomentado, Revista dos Tribunais, 1975, v. 2, p. 44), substitui o representantelegal, "assim terá todos os poderes que incumbiriam àquele".Poderá, destarte, recorrer e ajuizar ações autônomas de impugnação, taiscomo o mandado de segurança contra ato judicial: "O curador "ad Litem", inclusive quando integrante do Ministério Público (CPC, art. 9º, par. único), representa com plenitude a parte (quer demandante, quer demandada) consideradamerecedora de especial tutela jurídica, cabendo-lhe impugnar as decisões judiciais tanto mediante recursos, como utilizando ações autônomas de impugnação,tais como o mandado de segurança contra ato judicial" (MS 1.768, STJ, 4ªTurma, Rel. Min. Athos Carneiro, ac. de 23-3-1993). (p. 25)Dar-se-á também a nomeação de curador especial se os interesses do incapaz, sustentados na demanda, forem colidentes com osinteresses, deduzidos na mesma demanda, de seu representante ouassistente legal.Na hipótese de a organização judiciária contar, na comarca, como cargo de "representante judicial de incapazes e de ausentes", talservidor da justiça será preferentemente designado para a missão decurador especial (art. 9º, parágrafo único){21}.A intervenção do Ministério Público é indispensável nas causasem que incapaz for interessado (CPC, art. 82, I), sob pena de nulidade do processo (arts. 84 e 246), se ocorrer prejuízo para o incapaz.A lei processual dispõe igualmente sobre a nomeação de curadorespecial ao réu que, citado por editais ou "com hora certa"{22}, tornarse revel (isto é, omitir-se em apresentar contestação). Tratando-se,nestes casos, de citação ficta, e não havendo, assim, certeza de que ocitado realmente tomou conhecimento da ação contra ele proposta, anomeação de curador especial (que irá contestar em nome do réu) éprovidência hábil a evitar a mutilação, como já exposto, do princípiodo contraditório. Para este efeito, a pessoa citada fictamente é equiparada ao incapaz.Também é nomeado curador especial à pessoa que, ré em processo civil, estiver (ou for) recolhida à prisão, e isto mesmo na hipótese de não ser revel, por haver constituído advogado e contestado ademanda. O legislador tomou em conta, neste ponto, as eventuaisdificuldades do preso em entrar em contato com seu procurador.Vale ressaltar, ao cabo, que o curador especial tem sua atuaçãolimitada ao plano processual e àquela causa, não lhe sendo facultado intervir, de forma alguma, nos demais atos da vida civil do curatelado.21. É mister não confundir tal cargo, quando criado na Lei de Organização Judiciária federal ou estadual, com o encargo, que toca ao Ministério Público, de servir como "curador" de menores e de incapazes nas causas em queestejam estes interessados.É inclusive possível que um agente do Ministério Público assuma o cargode "representante judicial de incapazes ou de ausentes", e outro funcione noprocesso como fiscal da lei (custos legis).22. O réu é citado por editais quando em lugar incerto (CPC, art. 231); écitado com hora certa quando busca ocultar-se para evitar a citação (CPC, arts.227 a 229). (p. 26)

Capítulo VI - DA LEGITIMAÇÃO PARA A CAUSA

13. Conceito de legitimação "ad causam"

13.1. Legitimação como "coincidência em tese"Consiste a legitimação para a causa na coincidência entre apessoa do autor e a pessoa a quem, em tese, a lei atribui a titularidadeda pretensão deduzida em juízo, e a coincidência entre a pessoa do

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réu e a pessoa contra quem, em tese, pode ser oposta tal pretensão.Assim, por exemplo, a ação de cobrança deve ser promovidapor quem se afirma credor, e citado como réu o apontado devedorSe da própria narrativa da petição inicial já o juiz constata que,se existente o crédito, credor não seria o autor mas sim um terceiro,temos caso de "indeferimento da inicial", por tratar-se de parte "manifestamente ilegítima" para a causa (CPC, art. 295, II).De qualquer forma, verificado posteriormente (na fase de saneamento, ou após a instrução) que na hipótese de existência do crédito não seria o autor o credor, irá o juiz declarlo "carecedor de ação"(art. 267, VI), por ausência de legitimação ad causam ativa. Da mesma forma se, v. g., a ação for promovida contra a sociedade, pordívida contraída em caráter pessoal pelo sócio: o réu, então, seráparte sem legitimidade passiva ad causam.Entretanto, se no processo resultar comprovado que o créditonão existe (porque nunca existiu, ou já foi pago etc.), a sentença seráde julgamento do mérito com improcedência do pedido. As partes,em tese, eram legítimas para a ação, porém ao autor não socorria apretensão material alegada; o autor foi parte legítima, mas não foiparte vencedora.Assim, no exame da legitimação para a causa, cumpre partir deuma hipótese: se verdadeiros os fatos jurígenos afirmados na inicial, (p. 27)é o autor o titular da pretensão? E figura como ré a pessoa sujeita àmesma pretensão? Se a resposta a ambas as indagações for positiva,a demanda corre entre partes legítimas para a causa.Na afirmação de Sergio Bermudes, "quando a lei não definir, suficientemente, o titular da situação legitimante, a legitimidade, então, seconfigura na simples coincidência entre a situação jurídica afirmada (apenas afirmada) pelo autor, ao propor a ação, e o esquema de proteçãotraçado pela lei" (Introdução ao processo civil, Forense, 1995, p. 49).

13.2. Legitimação predeterminadaAções existem, sublinha Arruda Alvim (Manual de direitoprocessual civil, Revista dos Tribunais, v. 1, n. 151), "para asquais é necessária certa e determinada qualificação jurídica". Somente o locador, assim, é parte legítima para a ação de despejocomo autor, e deverá promovê-la contra quem se apresenta comoseu inquilino{22-A}.Exemplo clássico o do art. 344 do Código Civil: "Cabe privativamente ao marido o direito de contestar a legitimidade dos filhosnascidos de sua mulher". Considerava a jurisprudência que até aoavô, por exemplo, sem embargo dos interesses de ordem moral e mesmo patrimonial vinculados à relação de parentesco, não assistia legitimidade ad causam para ajuizar a ação negatória de paternidade{23}.22-A. A posição aqui exposta é, em linhas gerais, a mesma defendida porSergio Bermudes, em recentíssimo estudo: a legitimidade para a causa resultada coincidência entre o esquema apresentado pelo autor na inicial e o esquemade proteção ao direito traçado na norma legal.Mas Bermudes salienta que, muitas vezes, já a lei, de modo explícito ouvirtual, identifica a pessoa que pode deduzir o pedido: só o cônjuge pode postular a separação; só o proprietário pode reivindicar. Então, deverá haver a coincidência entre a parte que pede, ou contra quem se pede, e o elemento subjetivoindicado no esquema legal de tutela (Direito processual civil - estudos e pareceres, Saraiva, 2ª série, 1994, p. 34-5).23. O TJRS, por seu 1º Gr. Câm. Cív. e por maioria de votos (RJTJRS,64:92), foi além e negou ao avô legitimidade inclusive para impugnar o próprioregistro de nascimento de seu indigitado neto, impugnação fundada na afirmativa de que a criança não era sequer nascida da esposa de seu filho (alegação departo suposto - suppositio partus). Esse tema é muito controvertido, inclusiveno Pretório Excelso, como se pode ver, v. g., no aresto da 2ª Turma (RTJ, 85:163),

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que também por maioria de votos prestigiou orientação oposta à seguida peloTribunal sul-rio-grandense. (p. 28)Essa orientação, todavia, vem sendo revista, em face das novas realidades jurídicas, sociais e científicas{24}.Pelo art. 1.132 do Código Civil, os ascendentes não podem vender aos descendentes sem que os outros descendentes expressamenteconsintam. A ação para anular a venda somente poderá ser propostapelo descendente que não consentiu; a outros, como, v. g., ao descendente que consentiu, não assiste legitimação ativa para tal causa.A ação de nunciação de obra nova, a teor do art. 934 do Códigode Processo Civil, cabe privativamente ao proprietário ou possuidordo prédio, ao condômino ou ao Município. A ação demarcatória cabeprivativamente ao proprietário de terra particular (CC, art. 559), esomente pode ser proposta contra o confinante; para a ação de divisão, apenas assiste legitimação ad causam, tanto ativa como passiva,aos condôminos (CC, art. 629; CPC, art. 946, I e II).

13.3. Legitimação como ponto de conexão entre o direito material eo direito processualEmbora afirmada e reafirmada a autonomia da relação jurídicade direito processual, não é possível relegar ao oblívio a naturezainstrumental do processo, voltado à composição (melhor dito, à eliminação) das lides mediante a aplicação de regras de direito material.Faz pleno sentido, destarte, somente reconhecer legitimação adcausam àqueles que em tese possam ser titulares da relação materialdeduzida. A legitimação para a causa é, pois, um dos pontos de conexão entre o direito material e o direito processual.Galeno Lacerda, evidenciando a autonomia da relação de direitoprocessual (inerente ao processo), em face da alegada relação de direito material (que pode, ou não, vincular os litigantes), salientou adiversidade de causa entre as duas relações. Causa da relação materialserá o fato jurídico, o contrato, o ato ilícito, o testamento etc.; causa darelação jurídica processual é o conflito de interesses, a lide, que faz24. O STJ, por sua 4ª Turma, no REsp 6.035 (ac. de 17-9-1991, Rel. Min.Sálvio de Figueiredo), considerou os avós, pais de filho solteiro falecido, comopartes legítimas ad causam para propor ação de anulação de registro de nascimento de indigitado neto, feito lançar pelo suposto pai. Está na ementa que, "em facedos interesses moral e econômico, é de reconhecer-se a legitimação ativa ad causam dos pais de pessoa morta em estado de solteiro para anular assento de nascimento". O Tribunal tem prestigiado a apuração da "verdade real", inclusive ponderando os modernos métodos científicos de aferição da paternidade (REsp 4.987).O REsp 6.035 está transcrito, na íntegra, no Anexo II. (p. 29)surgir o "direito subjetivo processual de ação para ambas as partes"("As defesas de direito material no novo Código de Processo Civil",RF 246:160). Sob esse ângulo, os sujeitos da lide - tal como projetada for no processo por meio da inicial e da contestação - serão aspartes legítimas para o processo que visa compor a mesma lide{25}.

14. Legitimação "ad causam" e "ad processum"Convém acentuar, aqui, que a legitimação ad processum diz respeito estritamente à pessoa da parte, à sua capacidade de agir "emtodo e qualquer processo"; ao passo que a legitimação ad causam decorre de uma vinculação entre a parte e o objeto da causa, isto é, entrea parte e a prestação jurisdicional pretendida "naquele processo".O menor impúbere, locador de imóvel, tem legitimatio ad causam para propor ação de despejo contra seu inquilino; mas, por si só,é inteiramente carente de legitimatio ad processum.O cidadão maior e capaz goza de plena legitimatio ad processummas não dispõe de legitimatio ad causam para, v. g., propor ação dereivindicação de imóvel do qual não é proprietário{26}.

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A legitimação ad processum é um pressuposto processual, ouseja, um requisito de validade do processo; a legitimação ad causamé condição de exercício regular da ação{27}.Comumente, como vimos, a legitimação para a causa pertenceaos titulares, no pólo ativo e no pólo passivo, da pretensão de direitomaterial deduzida em juízo - são os casos de legitimação ad causam ordinária. Excepcionalmente, pela substituição processual, ad 25. Segundo Waldemar Mariz de Oliveira Júnior, "direito de agir só podeser exercido pelo titular do interesse subordinante e contra o titular do interessesubordinado" (Teoria geral do processo, Revista dos Tribunais, p. 75).No magistério de Moacyr Amaral Santos, "são legitimados para agirativa e passivamente os titulares dos interesses em conflito; legitimação ativaterá o titular do interesse afirmado na pretensão, passiva terá o titular do interesse que se opõe ao afirmado na pretensão" (Primeiras linhas, cit., 7. ed., v. 1.n. 129).26. A reivindicação é a ação real que compete ao senhor da coisa pararetomá-la do poder de terceiro que injustamente a detém (Lafayette, Direito dascousas, § 82).27. Cf. Donaldo Armelin, Legitimidade para agir no direito processualcivil brasileiro, Revista dos Tribunais, 1979, n. 99. (p. 30)mite-se a legitimação ad causam extraordinária quando alguém é porlei legitimado a agir em nome próprio, mas na defesa de direito alheio.Não esquecer, por fim, os casos em que a legitimidade ad causam pertence não a uma pessoa, mas necessariamente a duas ou maispessoas, quer como autores, quer como réus. São os casos delitisconsórcio necessário, ativo e passivo, casos em que o juiz nãopoderá decidir do mérito enquanto não integrado o litisconsórcio (JoséFrederico Marques, Manual de direito processual civil, Saraiva, v. 1,n. 138). (p. 31)

(p. 32, em branco)

Capítulo VII - DA SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL

15. Noções geraisA parte, como já exposto, postula "em nome próprio" e em defesa do "seu próprio direito".Na petição inicial, é deduzida (geralmente) uma relação de direito material, e formulada a correspondente pretensão contra o réu(ou perante o réu). A relação de direito material apresenta-se no processo como uma afirmativa do autor. Se existe, ou não, dirá a sentença. A esta relação - ainda hipotética - são atribuídos titulares.Somente estes titulares estão legitimados para sustentar em juízo aspretensões decorrentes da relação material "afirmada", somente elesgozam de legitimatio ad causam.A ajuíza ação contra B, afirmando a existência de um determinado mútuo, em que ele, A, é o mutuante, e B o mutuário, pretendendo o pagamento da quantia emprestada. Apenas A é legitimado parasustentar tal pretensão. O irmão deA, o amigo deA, o sócio deA nãopodem ser autores nessa demanda. Seriam "carecedores de ação", sepretendessem pleitear em nome próprio um direito alheio.Dispõe expressamente a lei processual: "Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado porlei" (CPC, art. 6º).Salvo quando autorizado por lei. Estes são os casos excepcionais de legitimação extraordinária, quando alguém pode sustentarem juízo, como parte, um direito cuja titularidade o autor afirmapertencer a outrem.Chiovenda denominou tal situação de substituição processual.

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Normalmente, escreveu o mestre italiano, as posições de parte são assumidas pela "própria pessoa que se afirma titular da relação deduzida (p. 33)em juízo. Mas excepcionalmente assume-as pessoa que não se afirma e apresenta como titular da relação substancial em litígio" (Instituições, cit., v. 2, n. 223).Somente pode ser substituto processual aquele a quem a lei expressamente atribuir tal legitimação extraordinária, geralmente decorrente de alguma vinculação entre o substituto e substituído.A sentença, proferida na demanda, faz coisa julgada tambémperante o substituído, pois, como dilucida mestre Chiovenda, seriaabsurdo que a lei conferisse a alguém autorização para defender emjuízo direitos alheios e, ao mesmo tempo, não conferisse a tal atividade uma plena eficácia relativamente aos direitos assim deduzidos(Instituições, cit., v. 2, n. 223).

16. Casos de substituição processualTem sido ampliado, recentemente, o elenco de casos de substituição processual.O Código de Processo Civil dispõe que a alienação da coisa oudo direito litigioso, a título particular e por ato entre vivos, não alteraa legitimidade das partes. Digamos que A e B disputam a propriedade de determinada coisa, e B, o réu, que está na respectiva posse,vende o bem litigioso para C, e lhe transfere o domínio{28}. O réu B,embora tendo alienado a coisa, mantém-se no processo como partelegítima, não obstante já agora defendendo, em nome próprio, umdireito que passou a ser alheio (CPC, art. 42, caput).Chiovenda, enumerando os casos de substituição processual,alinhou aquele em que, "no curso da lide, se verifique uma sucessãoa título singular sobre o objeto litigioso. Pode a lide prosseguir entreas partes originárias, posto que uma delas não seja mais o sujeito darelação substancial" (Instituições, cit., v. 2, n. 224).28. É válido, em tese, o contrato de alienação de bem litigioso, sujeitonaturalmente o adquirente aos riscos de o alienante perder a demanda e serreputado como não sendo o titular da coisa ou do direito transferidos. V, porexemplo, Sebastião de Souza, Da compra e venda. Konfino, 1946, n. 111-2;Carvalho de Mendonça, Tratado de direito comercial, v. 6, pt. 2, n. 615. Arespeito do tema, a modelar monografia de Carlos Alberto Alvaro de Oliveira,"Alienação da Coisa Litigiosa", Forense, 1984, p. 15 e passim. (p. 34)Os autores apontam o caso do marido, na defesa de direitos alusivos a bens dotais da mulher (CC, art. 289, III); do Ministério Público,para mover a ação de reparação do dano ex delicto, quando a vítima forpessoa pobre (CPP, art. 68); do cidadão, que propõe a ação popular,tutelando em nome próprio os interesses da coletividade (CF, art. 5º,LXXIII); da associação constituída para defesa de interesses comunitários, nos casos da ação civil pública (Lei n. 7.347, de 24-7-1985,art. 5º); do gestor de negócios, atuante em juízo na defesa dos interesses do gerido (CC, art. 1.331); do credor exeqüente que penhoracrédito de seu devedor contra terceiro e, sub-rogando-se assim nosdireitos e pretensões do seu devedor, vem a substituí-lo na cobrançaem andamento etc. (Frederico Marques, Lopes da Costa, MoacyrAmaral Santos, Amilcar de Castro, Humberto Theodoro Júnior).Era antigamente objeto de controvérsia a possibilidade de asassociações de classe (v. g., a Associação dos Magistrados Brasileiros, a Associação dos Cronistas Esportivos de Porto Alegre etc.), ouas autarquias de representação profissional (como a Ordem dos Advogados do Brasil, o Conselho Federal de Medicina, o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, o Conselho Federalde Corretores de Imóveis etc.), apresentarem-se em juízo como substitutos processuais, isto é, pleiteando em nome próprio não em defesa dos direitos da própria entidade de classe como tal, mas em defesade direitos pertinentes a alguns ou à coletividade de seus associados.Salvo expressa previsão legal, a opinião dominante manifestava-se

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pela negativa dessa possibilidade{29}.Na atualidade, a Constituição Federal de 1988 (art. 5º, XXI)dispõe que "as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou29. O anterior Estatuto da OAB - Lei n. 4.215, de 27 de abril de 1963,em seu art. 1º, parágrafo único,já atribuía à Ordem "representar, em juízo e foradele, os interesses gerais da classe dos advogados e os individuais, relacionadoscom o exercício da profissão". Ac. do STF, do MS 20.170, reconheceu à OABlegitimidade para requerer mandado de segurança contra ato administrativo queconsidere lesivo à coletividade dos advogados. O vigente Estatuto da Advocacia - Lei n. 8.906, de 4 de julho de 1994, prevê competência ao ConselhoFederal da OAB para "representar, em juízo ou fora dele, os interesses coletivosou individuais dos advogados" (art. 54, II).Os sindicatos, na Justiça do Trabalho, ajuízam os dissídios coletivos representando os interesses gerais da respectiva categoria profissional e podem, (p. 35)extrajudicialmente". Assim também quanto ao mandado de segurança coletivo (art. 5º, LXX, b).A Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, prevê a substituiçãoprocessual para a defesa dos interesses "dos consumidores e das vítimas" (arts. 81, parágrafo único, e 82), com legitimação ativa concorrente do Ministério Público, entidades de direito público, entidades eórgãos da administração pública e associações privadas.

17. Da ação civil públicaEm edições iniciais desta obra frisamos que seria altamente conveniente a utilização do instituto da substituição processual na defesa dos chamados "interesses difusos" tais como o interesse à defesa do meio ambiente, à defesa do consumidor, o interesse a umamelhor "qualidade de vida", a um adequado desenvolvimento urbanístico etc. -, que não encontravam, no então vigente sistema detutela jurisdicional, meios eficazes de defesa, já que esse sistemaestava voltado prevalentemente para a proteção dos direitos subjetivos, individuais{30}. A Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981, relativa àpolítica do meio ambiente, ressentia-se de meios idôneos de atuaçãona vida jurisdicional.ainda, "substituir" o empregado na "ação de cumprimento" da sentença proferida no dissídio coletivo (Coqueijo Costa, Direito judiciário do trabalho, Forense, ns. 69, 77, 89 e passim).30. A respeito indicamos, então, o estudo de Ada Pellegrini Grinover, Atutela jurisdicional dos interesses difusos, em que o assunto era apreciado sobdiversos aspectos, propondo-se, ao final e entre outras medidas, a instituição deórgãos públicos especializados com legitimidade processual para a defesa detais interesses, bem como a atribuição às associações de "legitimidade para agirem defesa dos interesses de seus associados e das classes, grupos e categoriasque representam, sejam os referidos interesses de natureza econômica ou não";propõe, mais, "a legitimação da pessoa física, independentemente do prejuízodiretamente sofrido, para agir em defesa de interesses difusos, desde que pertença ao grupo interessado e observada a instituição dos indispensáveis mecanismos de controle".Recomendou-se também a leitura do estudo de José Carlos BarbosaMoreira, sob o título "A ação popular do direito brasileiro como instrumento detutela jurisdicional dos chamados interesses difusos", estudo este constante deseu livro Temas de direito processual (Saraiva, 1977, p. 110 e s.), e de outrotrabalho do mesmo autor, "A proteção jurídica dos interesses coletivos", Revista Brasileira de Direito Processual, 24:13. (p. 36)A matéria recebeu solução excelente através da Lei n. 7.347, de24 de julho de 1985, que "disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, abens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e

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paisagístico, e dá outras providências" (DOU, 25 jul. 1985).Resultou a lei do persistente esforço de notáveis processualistasbrasileiros, tendo como ponto mais próximo de partida anteprojetoapresentado por grupo de estudos organizado pela Associação Paulistade Magistrados (Ada Pellegrini Grinover, Cândido Rangel Dinamarco,Kazuo Watanabe e Waldemar Mariz de Oliveira Júnior), e aprovadono Congresso Nacional de Direito Processual Civil realizado em PortoAlegre, em julho de 1983 (a respeito, cf. Ada Pellegrini Grinover,"Novas tendências na tutela jurisdicional dos interesses difusos",Ajuris, v. 31,jul. 1984).Essa lei, complementada pelos arts. 110 e s. da Lei n. 8.078 de11 de setembro de 1990 - Código de Defesa do Consumidor -,prevê não só a ação civil de natureza condenatória em dinheiro ou aocumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, como igualmente aação cautelar e a possibilidade de medidas liminares.Na defesa dos já referidos interesses coletivos, poderão agir,em substituição processual:1) o Ministério Público, com a possibilidade de prévia instauração, sob sua presidência, de inquérito civil, com poderes amplos e inquisitoriais na averiguação dos fatos que possam embasar a demanda;2) a União, os Estados e Municípios;3) as autarquias, empresas públicas, fundações e sociedadesde economia mista;4) as associações que reúnam as seguintes condições:a) estejam constituídas há pelo menos um ano, nos termos da lei civil; este requisito pode ser dispensado, nos casos do § 4º do art. 5º da Lei n. 7.347, parágrafo este acrescentado pela Lei n. 8.078, art. 113;b) incluam, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico ou a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.Não intervindo no processo como parte autora, o Ministério Público atuará obrigatoriamente como fiscal da lei. (p. 37)As associações legitimadas, bem como ao Poder Público, é dadohabilitar-se "como litisconsortes de qualquer das partes" (lei citada,art. 5º, § 2º). É previsto ainda que o Ministério Público, ou outro legitimado, assumirá a titularidade ativa da ação civil, em caso de desistência ou abandono da demanda por associação legitimada (art. 5º, § 3º).Cumpre acrescentar que, para a atuação em juízo, "aplicam-seà defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, noque for cabível, os dispositivos do Título III da Lei que instituiu oCódigo de Defesa do Consumidor" (Lei n. 7.347/85, art. 21, acrescentado pelo art. 117 da Lei n. 8.078/90).Finalmente, anota-se que pela Lei n. 7.853, de 24 de outubro de1989, foi criada ação civil pública destinada à proteção de interessescoletivos ou difusos das pessoas portadoras de deficiência, sob asnormas processuais dos arts. 3º a 7º e aplicação supletiva das regrasda Lei n. 7.347/85.

18. Substituição processual, representação e presentaçãoA substituição processual mostra-se inconfundível com a representação.O substituto processual é parte, age em juízo em nome próprio,defende em nome próprio o interesse do substituído.Já o representante defende "em nome alheio o interesse alheio".Nos casos de representação, parte em juízo é o representado, não orepresentante. Assim, o pai ou o tutor representa em juízo o filho ouo tutelado, mas parte na ação é o representado. Dirá a petição: "Fulano de Tal, menor impúbere, como autor, representado por seu progenitor Beltrano, propõe...".Também inconfundíveis substituição processual e presentação.O órgão mediante o qual a pessoa jurídica se faz presente e expressasua vontade não é substituto processual e nem representante legal:

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"A pessoa jurídica não é incapaz. O poder de presentação, que elatem, provém da capacidade mesma da pessoa jurídica; por isso mesmo, é "dentro" e "segundo" o que se determinou no ato constitutivo,ou nas deliberações posteriores (...). A presentação é extrajudicial ejudicial (art. 17); processualmente, a pessoa jurídica não é incapaz.Nem no é, materialmente... (...) ... O que a vida nos apresenta é exatamente a atividade das pessoas jurídicas através de seus órgãos: osatos são seus, praticados por pessoas físicas" (Pontes de Miranda,Tratado de direito privado, t. 1, § 97, n. 1). (p. 38)

Capítulo VIII - DA PARTE VENCEDORA

19. Parte, parte legítima e parte vencedoraParte, simplesmente, é quem figura no pólo ativo ou no pólopassivo da relação jurídica processual; parte legítima para o processo é quem figura no pólo ativo ou no pólo passivo com plena capacidade de agir, quer capacidade própria, quer capacidade suprida mediante a representação, a assistência ou a autorização de outrem;parte legítima para a causa é quem figura na relação processual comotitular, em tese, da relação de direito material nela deduzida, ou, vistas as coisas sob outro ângulo, como titular dos interesses em lide,ou, ainda, como substituto processual.Ausente a legitimação ad processum, o processo será nulo porfalta de um pressuposto processual, cabendo ao juiz decretar aextinção do processo sem julgamento de mérito (CPC, art. 267, IV).Ausente a legitimação ad causam, o processo será válido, poréma falta de uma "condição da ação" (rectius, "condição de viabilidadeda ação") irá impor ao juiz a declaração de "carência de ação", tambémcom extinção do processo sem julgamento de mérito (art. 267, VI).Mas quando integrados os pressupostos processuais, e correndo a demanda entre partes legítimas ad processum e ad causam,impende ao magistrado apreciar o conflito de interesses e julgarproceden te, no todo ou em parte, ou improcedente a ação, ou melhor,procedente ou improcedente o pedido formulado pelo demandante.Ocorre, então, a extinção do processo com julgamento de mérito, ouseja, mediante sentença que irá conceder ao autor, no todo ou emparte, ou denegar-lhe, o bem da vida objeto (mediato) do pedido.Deferido ao autor o bem da vida, o demandante terá sido partelegítima e, igualmente, parte vencedora; e o réu parte legítima masparte vencida. (p. 39)Denegado ao autor o bem da vida objeto (mediato) do pedido,foi ele parte legítima e vencida, e o réu terá sido parte legítima evencedora.Se o bem da vida resultou atribuído ao autor apenas parcialmente (pediu 100, e lhe foi reconhecido direito a apenas 60), o casoé de sucumbência recíproca, e ambos os litigantes são em parte vencedores e em parte sucumbentes{31}.O "julgamento de mérito", como será mais bem explicitado emoutra oportunidade, ocorre não apenas nos casos em que o Juiz acolhe ou rejeita o pedido do autor (art. 269, I e IV), como também noscasos de "autocomposição da lide", quer pela transação entre as partes (hipótese mais comum), quer nas hipóteses em que o autor renuncia à pretensão formulada na inicial, ou em que o réu reconhece aprocedência de tal pretensão (art. 269, II, III e V).31. A sucumbência recíproca implica a incidência da regra do art. 21 doCódigo de Processo Civil: "Se cada litigante for em parte vencedor e vencido,serão recíproca e proporcionalmente distribuídos e compensados entre eles oshonorários e despesas". (p. 40)

Capítulo IX - DA SUCESSÃO DAS PARTES

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20. Da sucessão (ou substituição) das partes no curso do processoDebaixo do nomen juris de "substituição das partes", o Códigode Processo Civil realmente tratou, nos arts. 41 a 43, do fenômeno dasucessão das partes: o litigante Tício retira-se do processo, e em seulugar ingressa Caio na relação jurídica processual, como autor ou comoréu. A expressão "substituição das partes" é imprópria, inclusive pordar azo a confusões com o instituto da "substituição processual".O Código é, em princípio, infenso à sucessão voluntária daspartes, somente permitida "nos casos expressos em lei" (art. 41).Arruda Alvim salienta que a proibição "tem por objetivo garantir a estabilidade do processo" (Código de Processo Civil comentado, cit., v. 2, p. 292), sendo um dos efeitos da litispendência{32}.A garantia da estabilidade do processo abrange, nos termos doart. 264 do Código de Processo Civil, também a proibição de mudança do pedido formulado pelo autor, ou de mudança da causa depedir{33 e 34}, "mantendo-se as mesmas partes, salvo as substituições32. Litispendência - fluência da causa em juízo, após integrada, com acitação válida, a relação jurídica processual. A citação "induz", ou melhor, "produz" a litispdência (CPC, art. 219).33. A modificação do pedido ou da causa de pedir é excepcionalmentepermitida se o réu o consentir, e se for postulada antes do saneamento do processo. Após o saneamento, petitum e causa petendi permanecem imutáveis (CPC,art. 264 e parágrafo único).34. Antes da citação, todavia, o autor poderá aditar o pedido - CPC, art.294, redação dada pela Lei n. 8.718, de 14-10-1993. (p. 41)permitidas por lei". Abrange também a perpetuatio fori, pela definitividade do juízo competente (art. 87).A citação válida torna litigioso o bem da vida objeto do pedido("faz litigiosa a coisa", ut art. 219). Mas a litigiosidade no campo dodireito processual não tem por conseqüência tornar-se, no campo dodireito material, indisponível o bem. Pode, assim, perfeitamente ocorrer a alienação da coisa litigiosa, ou a transferência de sua posse, oua cessão do direito litigioso, em contrato perfeitamente válido e perfeitamente eficaz entre os contratantes.

21. Da alienação do bem litigioso{35}A alienação ou cessão do bem litigioso, no entanto, não produzo efeito de alterar a legitimidade das partes. Assim, se o réu B, demandado em ação reivindicatória, ou reintegratória de posse, vendea coisa a C, ou a este transfere a respectiva posse, todavia B continuacom legitimidade passiva ad causam.Cumpre ressaltar, aqui, ocorrência interessante: até o momentoda alienação, o réu B detinha uma legitimação ordinária para a causa, pois defendia "em nome próprio" um "direito próprio"; após aalienação, sua legitimação tornou-se extraordinária, pois passou adefender em nome próprio um "direito alheio" - tomou-se, pois,substituto processual, tal como já exposto em capítulo anterior{36}.Se, no entanto, o adquirente (ou o cessionário) pretender substituir o alienante (ou o cedente), poderá fazê-lo desde que a parte contrária consinta na substituição. Na hipótese citada, C iria requererseu ingresso no processo, em lugar de B, apresentando o documentode aquisição do bem litigioso; com a anuência do autor A, o juiz irádeferir o requerimento. Mas preferindo o autor continuar a litigarcom B, o requerimento de sucessão será indeferido; nesta hipótese, oadquirente ou o cessionário têm resguardada apenas a possibilidade35. A respeito do tema, a completa monografia de Carlos Alberto Alvarode Oliveira, Alienação da coisa litigiosa, Forense, 1984.36. A alienação não prejudica a eficácia da sentença, que será cumpridacomo se o bem, ou o direito litigioso, continuasse a ser do alienante. Assim oart. 42, § 3º: "A sentença, proferida entre as partes originárias, estende os seus

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efeitos ao adquirente ou ao cessionario". (p. 42)de intervir como assistente (litisconsorcial) do alienante ou cedente(art. 42, § 2º){37}.Até agora tratamos da alienação da coisa, ou do direito litigioso, "por ato entre vivos, a título particular"{38}.No caso de falecimento da parte, dar-se-á a suspensão do processo (art. 265, I), processando-se a sucessão do falecido pelo seuespólio (representado pelo inventariante, salvo se dativo - art. 12,§ 1º), ou pelos seus sucessores, estes após a habilitação procedidanos termos dos arts. 1.055 e s. do diploma processual.37. Mas se falecer o alienante ou o cedente, ao cessionário ou ao adquirenteassiste o direito de "prosseguir na causa" (CPC, art. 1.061) como parte.38. Se a alienação for a título universal, como quando uma empresa comercial é incorporada, com seu ativo e passivo, por outra empresa, o adquirente- a empresa incorporadora - sucede naturalmente à incorporada, independente de anuência da parte contrária, nas demandas em que a incorporada eraparte. (p. 43)

(p. 44, em branco)

Capítulo X - DA CAPACIDADE POSTULACIONAL

22. Da representação por advogadoPara a atuação em juízo não são suficientes a plena legitimaçãopara o processo e a legitimação para a causa.Tendo em vista motivos que em tempo oportuno apreciaremos,a lei exige ainda a representação da parte, em juízo, por "advogadolegalmente habilitado" (CPC, art. 36), ou seja, regularmente inscritona Ordem dos Advogados do Brasil (v. Lei n. 8.906, de 4-7-1994,Estatuto da Advocacia). Consoante a Constituição Federal de 1988,art. 133, "o advogado é indispensável à administração da justiça".Excepcionalmente, a lei ordinária admite que a parte postule"em causa própria" em duas hipóteses: a) quando tiver habilitaçãolegal (isto é, quando a própria parte for advogado regularmente inscrito na OAB); e b) mesmo sem habilitação legal, a parte poderápostular "em causa própria" se na comarca não houver advogadopresente, ou quando os advogados existentes na comarca recusaremo patrocínio da causa, ou estiverem impedidos (CPC, art. 36).Nas demandas perante os Juizados Especiais, a representaçãopor advogado apresenta-se facultativa nas causas de valor até vintesalários mínimos, ressalvada a hipótese da interposição de recurso(Lei federal n. 9.099, de 26-9-1995, arts. 9º e 41, § 2º). Embora apolêmica surgida em decorrência dos termos da Lei n. 8.906/94, parece-nos que a "facultatividade" mantém-se, tendo em vista a necessidade de garantir plena e eficaz atuação dos Juizados Especiais, previstos no art. 98 da vigente Constituição Federal.No alusivo à apresentação de procuração, a orientação prevalecente é no sentido de que "não apntando procuração o subscritordos embargos, e não usando da faculdade prevista no art. 37 do CPC, (p. 45)deverá o juiz marcar prazo razoável para que seja a falta suprida"(STJ, REsp 5.392, rel. para o ac. o Min. Eduardo Ribeiro). No mesmo sentido o REsp 6.445, Rel. Min. Nilson Naves, RSTJ, 26:435.Todavia, a teor da Súmula 115/STJ, "na instância especial éinexistente recurso interposto por advogado sem procuração nos autos" (DJU, 7 nov. 1994). (p. 46)

PARTE II - DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS (p. 47)

(p. 48, em branco)

Capítulo XI - CONCEITO DE TERCEIRO

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23. Terceiro e sua intervenção no processo pendenteImpõe-se, de início, fixar o conceito de terceiro.No plano do direito material, se examinarmos, v. g., um contrato de compra e Venda, terceiro será todo aquele que não for nemo comprador, nem o vendedor, nem interveniente no mesmo negócio jurídico.No plano do direito processual, o conceito de terceiro terá igualmente de ser encontrado por negação. Suposta uma relação jurídicaprocessual pendente entre A, como autor, e B, como réu, apresentamse como terceiros C, D, E etc., ou seja, todos os que não forem partes(nem coadjuvantes de parte) no processo pendente{39}.Pela intervenção, o terceiro torna-se parte (ou coadjuvante daparte) no processo pendente.A intervenção, como ensinou Adolf Wach (1885), deve sua existência "à necessidade de diminuir o número de processos e evitarresultados contraditórios", embora com freqüência seja causa de incidentes processuais os mais diversos{39-A}.39. Giovanni Nencioni (L'intervento volontario litisconsorziale nel processo civile) refere que "unica è la definizione di terzo, ed è negativa: terzo diun giudizio é colui che non è parte". Assim também Sergio Costa: "Il concettodi terzo può esser determinato solo per escLusione: è terzo chi non è parte"(L'intervento in causa, Torino, 1953). V. Gomes da Cruz, Pluralidade de partese intervenção de terceiros, Revista dos Tribunais, 1991, p. 27.39-A. Como observa Sergio Bermudes, "os conflitos sociais não se exaurem na divergência entre os titulares da pretensão e da resistência, que se confrontam. Acabam, de algum modo, enredando terceiras pessoas que, não sendo (p. 49)Evidentemente, a intervenção de terceiros somente deve ser aceita sob determinados pressupostos; um deles, ocorrente em todos oscasos de intervenção, é o de que o terceiro deve ser juridicamenteinteressado no processo pendente{40}.Conforme Alvarado Velloso, "la intervención de terceros tienelugar cuando en forma voluntaria, provocada o necesaria un tercerointeresado se incorpora a un proceso pendiente con el objeto de hacervaler en éste un derecho o interés propio, por hallarse vinculado por lo menos con una de las partes originarias - mediante una relaciónde conexidad objetiva, de conexidad causal, de conexidad mixta objetivo-causal o de afinidad" (Introducción al estudio del derecho procesal,Santa Fé, Ed. Rubinzal-Culzoni, 1998, 2ª Parte, p. 135).Cumpre ainda salientar que nem sempre o ingresso de outraspessoas, diversas das partes originárias, ou seja, nem sempre as modificações subjetivas no processo constituem intervenção de terceiro (Albertodos Reis, Intervenção de terceiros, Coimbra Ed., 1948, p. 6-7).Assim, v. g., não implica intervenção de terceiro a determinação do juiz, pendente o processo, para que sejam citados litisconsortesnecessários (CPC, art. 47, parágrafo único), pois tais pessoas realmente são partes originárias, cuja citação o autor deveria ter requerido na petição inicial.os contendores, são atingidas pela lide. Por isso mesmo, a prestação jurisdicional,muitas vezes, extravasa do universo dos vínculos exclusivos entre o autor e oréu e apanha outras pessoas. O direito admite, em conseqüência, que essas pessoas ingressem, voluntariamente, na relação processual, ou sejam convocadas aintegrá-la, ou porque sofrerão, inevitavelmente, as conseqüências do que nelase decidir, ou porque a prevenção, ou a solução da lide só terá plena utilidade eeficácia, se se estender a elas a prestação jurisdicional" (introdução ao processo civil, Forense, 1995, p. 80-1).40. Mestre Moacyr Amaral Santos define como terceiros as "pessoas estranhas à relação de direito material deduzida em juízo, e estranhas à relaçãoprocessual já constituída, mas que, sujeitos de uma relação de direito materialque àquela se liga intimamente, intervêm no processo sobre a mesma relação, afim de defenderem interesse próprio" (Primeiras linhas, cit., v. 2, n. 313).A definição, todavia, afigura-se menos adequada aos casos de "nomeação à autoria", em que

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o terceiro é exatamente a pessoa legitimada passivamente, tendo em vista a relação de direito material deduzida em juízo; e aos casos de"chamamento ao processo", em que a relação de direito material põe chamantee chamado na relação de devedores solidários ou de co-fiadores. (p. 50)Também não é intervenção de terceiro a substituição" da parteno curso do processo (rectius, "sucessão da parte"), conforme os arts.41 a 43 do Código de Processo Civil. Falecido o réu B, seus herdeiros, C e D, não serão terceiros, mas sim "sucessores", ao ingressarem no processo substituindo o extinto. Se o autor de ação possessóriaceder a outrem seus alegados direitos sobre a coisa litigiosa, ocessionário poderá (com o consentimento do réu - CPC, art. 42, §1º) tornar-se o autor, em substituição ao cedente, sem que ocorra afigura jurídica da intervenção de terceiro.Hernando Echandia ensina que, a cada momento, são terceirosos que não detêm a posição de partes. E assim uma situação"cambiável": pela intervenção, o terceiro transforma-se em parte, principal ou secundária. O sentido de terceiro não é físico, mas jurídico:assim, não é terceiro o cessionário, o substituído (Compendio dederecho procesal, v. 1, n. 203).Também Alberto dos Reis declara que a intervenção é o institutoque propõe transformar o terceiro em parte (intervenção de terceiros,Coimbra Ed., 1948, p. 5-6), excluindo os casos de litisconsórcio necessário, de sucessão, de substituição processual em processo pendente etc.{41}.Também assim se a empresa A for incorporada pela empresa B,assumindo esta a posição de parte nos processos de que participava aempresa incorporada.Não são, outrossim, terceiros, à evidência, os que atuam no processo por dever funcional - servidores da justiça, peritos, depositáriosetc. - ou para fornecer meios de prova - testemunhas (Alberto dosReis, Intervenção, cit., p. 5-6).

24. Proibição da intervenção de terceiro nas demandas sob ritocomum sumário e no processo perante os Juizados Especiais.Limitações constantes do Código do Consumidor

24.1. Da proibição nas demandas sob rito sumaríssimo e sob rito sumárioOs antigos Juizados de Pequenas Causas, criados pela Lei n.7.244, de 7-11-1984, foram "incorporados" aos atuais Juizados Es 41. Ramiro Podetti, em posição minoritária, enquadra entre os terceirostodos aqueles que não sejam nem o autor originário nem o réu originário, englobando o litisconsorte que intervém posteriormente, o sucessor etc. (Tratadode la tercería, p. 35). (p. 51)peciais Cíveis, com embasamento no art. 98, I, da Constituição Federal, e regulados pela recente Lei n. 9.099, de 26-9-1995.Nos termos dessa lei, aos Juizados Especiais, aos quais o autortem opção para invocar (Lei n. 9.099, art. 3º, § 3º), compete processare julgar as causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:a) as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes osalário mínimo;b) as enumeradas no art. 275, II, do CPC;c) a ação de despejo para uso próprio;d) as ações possessórias sobre imóveis de valor não superior a quarenta vezes o salário mínimo;e) as ações de execução por título executivo extrajudicial,no limite de valor acima aludido.Apreciando esse elenco, vê-se que em todas as demandas proponíveis perante o Juizado Especial seria admissível, em princípio,o instituto da assistência, e que os demais institutos, a oposição,a nomeação à autoria, a denunciação da lide e o chamamento ao processo, poderiam ocorrer em uma ou outra das hipóteses mencionadas.

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Todavia, tendo em vista que o processo perante os Juizados Especiais orienta-se pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando, sempre que possivel, a conciliação ou transação, entendeu o legislador de preservar taiscritérios com a total vedação da intervenção de terceiros. E o art. 10:"Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á olitisconsórcio".Tendo em vista essa expressa proibição legal, torna-se evidenteque no processo perante os Juizados Especiais não incidem as sanções ou conseqüências que o Código de Processo Civil prevê para oscasos em que a parte se omita no dever ou na faculdade de provocara intervenção de terceiro no processo pendente. Assim, v. g., a nãodenunciação da lide deixa de acarretar a perda da pretensão regressiva contra o terceiro, como adiante teremos oportunidade de referir{42}.42. Para o estudo do processo e procedimento perante os antigos JEPCrecomenda-se, dentre outros, o Manual das pequenas causas, de CândidoDinamarco. (p. 52)

24.2. Das limitações previstas no Código de Defesa do ConsumidorEm se tratando de demanda proposta sob o procedimento comum sumário, nos termos da recente Lei n. 9.245, de 26-12-1995,que deu nova redação ao art. 280 do CPC, a intervenção de terceironão é admitida, "salvo assistência e recurso de terceiro prejudicado".A respeito, nosso Do rito sumário na reforma do CPC, 2. ed., Saraiva, 1997, item 38.2.Impende anotar que a Lei n. 8.078, de 11-11-1990 - Código deDefesa do Consumidor -, igualmente veda, na hipótese do art. 13,parágrafo único, a denunciação da lide, ressalvando expressamentea possibilidade de exercício da ação de regresso em processo autônomo, embora nos mesmos autos - art. 88.Já o chamamento ao processo é autorizado ao réu que houvercontratado seguro de responsabilidade, sendo vedada a denunciaçãoda lide ao Instituto de Resseguros do Brasil e dispensado o litisconsórcioobrigatório com este - art. 101, II. Esse sistema implica, no particular, "colocar o segurador como devedor solidário, em relação ao consumidor" (Arruda Alvim et al., Código do Consumidor comentado,2. ed., Revista dos Tribunais, p. 455-6). Amplia-se a legitimação passiva em favor do consumidor (Kazuo Watanabe, Código Brasileirode Defesa do Consumidor, 2. ed., Forense Universitária, p. 563-4). (p. 53)

(p. 54, em branco)

Capítulo XII - NOÇÕES GERAIS SOBRE OS CASOS DE INTERVENÇÃOConvém inicialmente apresentar, em resumo e sob esquemasgráficos, as figuras de intervenção de terceiro de que cuidam os arts.50 a 80 do Código de Processo Civil {43 e44}.

25. AssistênciaO assistente ingressa no processo não como parte, mas apenascomo coadjuvante da parte (é "parte secundária", segundo alguns),isto é, buscando auxiliar a defesa dos interesses do seu "assistido",que tanto pode ser o demandante como o demandado. Não sendoparte, o assistente nada pede para si, não formula pretensão; nem ésujeito passivo de pretensão alheia, pois contra ele nada é pedido.Esquema:Triângulo entre juiz (j), que está acima do triângulo; autor(A), na base do triângulo; assistente do autor A (a), abaixo do autor;na outra base o réu (b); abaixo, o assistente do réu B (b).43. Não cuidamos, no presente estudo, de outras formas de intervenção de

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terceiro, tais como, v. g., o recurso de terceiro prejudicado (CPC, art. 499 e § 1º),ou a propositura da ação de embargos de terceiro (CPC, arts. 1.046 e s.) (PedroSoares Muñoz, Da intervenção de terceiros no novo Código de Processo Civil, inEstudos sobre o novo Código de Processo Civil, Porto Alegre, Ed. Bels, 1974).44. Não é admitida qualquer forma de intervenção de terceiro, inclusive aassistência, no processo perante os Juizados Especiais (Lei n. 9.099, de 26-91995, art. 10). Cf. Cândido Rangel Dinamarco et al., Juizado Especial de Pequenas Causas, Revista dos Tribunais, 1985; Rogério Lauria Tucci, Manual doJuizado Especial de Pequenas Causas, Saraiva,1985. V. item 24. (p. 55)

26. OposiçãoO opoente ingressa no processo pendente, apresentando uma"pretensão própria" sobre a coisa ou o direito objeto da lide; buscafazer com que sua pretensão, dele opoente, prevaleça sobre as pretensões tanto do autor como do réu. A oposição é processualmenteuma nova ação, em que é autor o terceiro, como opoente, e são réuso autor e o réu da ação já existente, como opostos.Esquema:Triângulo entre juiz (j), autor (A) e réu (B); somado a outrotriângulo entre juiz (J), autor da oposição (C) e A (autor da açãoprincipal) mais B (réu da ação principal).

27. Nomeação à autoriaNa nomeação à autoria{45} o objetivo visado é substituir o réu peloterceiro, com o objetivo de afastar da relação processual um réu queseja parte ilegítima ad causam, nela fazendo ingressar um réu legitimado para a causa. O réu que se considera parte ilegítima "nomeia"o terceiro, para que o venha substituir no pólo passivo da relaçãoprocessual.Esquema:Triângulo entre juiz (J), autor (A) e réu (C); entre o juiz e onomeado, há o nomeante (B).45. A palavra "autoria" não é usada com referência ao autor, ao proponentede uma demanda, mas sim com o sentido de garantia, de responsabilidade. (p. 56)

28. Denunciação da lideMediante o instituto da "denunciação da lide", uma das partes(mais freqüentemente o réu), como "denunciante", promove no mesmoprocesso uma "ação regressiva" contra terceiro - o "denunciado".Citado, o terceiro torna-se réu na ação de denunciação.A denunciação pressupõe necessariamente que o denunciantetenha uma pretensão própria (um crédito de reembolso) contra odenunciado, pretensão que fará valer caso venha, ele denunciante, asucumbir na ação principal.Esquema:Triângulo entre juiz (J), autor (A) e réu (B), na ação principale autor-denunciante na ação regressiva; somado a outro triângulo entrejuiz (J), réu na ação principal e autor na ação regressiva (B) eterceiro, chamado ao processo como réu na ação regressiva (C).Aliás, como veremos em tempo oportuno, o denunciado, alémde réu na ação regressiva, torna-se litisconsorte do denunciante naação principal. Realmente, ao denunciado assiste interesse em que odenunciante saia vitorioso na causa principal, pois destarte resultaráimprocedente a ação regressiva. O completo esquema gráfico, nadenunciação pelo réu, será, então, o seguinte:Esquema:Triângulo entre juiz (J), autor (A) e réu e terceiro (B+C);somado a outro triângulo entre juiz (J), réu (B) e terceiro (C).

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29. Chamamento ao processoPelo instituto do "chamamento ao processo", o réu B tem a faculdade de fazer citar um terceiro, para que este ingresse no processocomo seu litisconsorte.Amplia-se, assim, pela vontade de B, o pólo passivo da relaçãoprocessual. O credor A pretendia acionar apenas o devedor B, maspassa a acionar não apenas B como também o "chamado" C. O chamamento pressupõe, naturalmente, que ao "chamado" seja atribuídaa condição de co-devedor ao autor. Assim, B e C são devedores solidários de A; este move ação de cobrança apenas contra B, e B chamaC ao processo.Esquema:Triângulo entr juiz (J), autor (A), réu e chamante (B), e umaflecha para o terceiro e chamado em litisconsórcio passivo (C); somado aoutro triângulo entre juiz (J), autor (A) e réu e chamante (B) junto como terceiro chamado em litisconsórcio passivo (C). (p. 58)

Capítulo XIII - CLASSIFICAÇÃO DAS FORMAS DE INTERVENÇÃO

30. Intervenção espontânea e intervenção provocadaTendo em vista a iniciativa na intervenção do terceiro, cabe classificar as formas de intervenção em espontâneas e provocadas{46}.Esquema:Casos em que o terceiro intervém espontaneamente:1. Assistência:1.1. Simples;1.2. Litisconsorcial;2. Oposição.Casos de intervenção provocada por uma das partes:1. Nomeação à autoria (provocação pelo réu);2. Denunciação da lide (provocação pelo réu ou pelo autor);3. Chamamento ao processo (provocação pelo réu).46. Afirmou Hélio Tornaghi que a intervenção de terceiro "é sempre voluntária. Não há lei que permita, a ninguém, obrigar o terceiro a ingressar noprocesso" (Comentários ao Código de Processo Civil, Revista dos Tribunais,1974, v. 1, p. 236).A afirmativa deve ser entendida em termos. É verdadeira na "nomeação àautoria", já que o nomeado pode escusar-se de ingressar na relação jurídica processual. Já o denunciado à lide, e o chamado ao processo, uma vez citados, estão (p. 59)

31. Intervenção por "inserção" e por açãoTendo em vista a forma processual de que se reveste a intervenção, cremos adequado distinguir:a) as intervenções mediante "inserção" na relação processualexistente;b) as intervenções mediante a formação de nova relação jurídica processual, no mesmo processo.Esquema:Casos de intervenção por "inserção" na relação processualexistente:1. Assistência - intervenção de terceiros ao lado de uma daspartes;2. Nomeação à autoria - intervenção de terceiros em substituiçãoà parte ré;3. Chamamento ao processo - intervenção de terceiros mediantelitisconsórcio com o réu.Casos de intervenção por meio de nova ação "in simultaneusprocessus":1. Oposição - intervenção do terceiro como autor de nova ação;2. Denunciação da lide - intervenção do terceiro como réu danova ação (com simultânea "inserção" na ação principal).

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na relação jurídica processual; podem, apenas, como qualquer réu, deixar decontestar, mantendo-se revéis.Tornaghi, de outra parte, aponta a "total divergência" entre os autores naconceituação, na disciplina legal e na classificação dos casos de intervenção deterceiro. (p. 60)

32. Posições processuais do terceiroVemos, assim, que o terceiro, ao ingressar no processo pendente, poderá:1) Constituir-se sujeito ativo de uma nova pretensão - caso doopoente procurando fazer prevalecer seus interesses contra os interesses do autor e do réu da ação principal.2) Constituir-se sujeito passivo de uma nova pretensão - casodo denunciado à lide, réu na ação regressiva proposta pelo denunciante.3) Constituir-se sujeito ativo da pretensão já exposta - casodo terceiro que, denunciado à lide "pelo autor", vem aditar a petiçãoinicial, tornando-se, destarte, na ação principal, litisconsorte do autor denunciante.4) Constituir-se sujeito passivo da pretensão já exposta - caso do nomeado à autoria que ingressa no processo como réu "emlugar" do nomeante, e também caso do chamado ao processo que setorna réu em litisconsórcio com o réu chamante.5) Constituir-se assistente, coadjuvante da parte ou parte secundária. Mediante a defesa do interesse do assistido, o assistentebusca realmente proteger o seu próprio interesse.Assim, na ação de despejo movida pelo locador contra o locatário, o sublocatário poderá ingressar como assistente do réu. Somentea relação de locação, não a de sublocação, é deduzida na aludidaação de despejo; mas, se julgada procedente, estará igualmente findaa relação de sublocação, a teor do art. 1.203 do Código Civil. (p. 61)

(p. 62, em branco)

Capítulo XIV - OPOSIÇÃO

33. Noções geraisVamos supor queA e B litigam em juízo, e o bem da vida objeto dopedido seja uma coisa (v. g., ação reivindicatória, ação de reintegraçãode posse) ou um direito obrigacional (v. g., um invocado crédito de Acontra B). Pode ocorrer que um terceiro, C, considere que o verdadeirotitular do domínio, da posse, do crédito etc. seja ele, C, e não A nem B.Sabemos que a sentença a ser proferida na ação entre A e Bsomente fará coisa julgada entre as partes (CPC, art. 472); portanto,não prejudicará os eventuais direitos de terceiro. Este pode, em princípio, aguardar a prolação da sentença, e resguardar-se para agir maistarde em defesa de seus interesses. Todavia, de fato (por um motivoeconômico, digamos), pode convir ao terceiro uma imediata afirmativa de suas pretensões sobre a coisa ou o direito controvertidos entre autor e réu; e também pode ser-lhe conveniente, de jure, agir semmais delongas, para interromper, por exemplo, o prazo de prescriçãode seu alegado direito (CPC, art. 219, caput).Ao terceiro, então, é facultada (intervenção espontânea) a propositura da ação de oposição (taenominada "intervenção principal"), que é, como já exposto, uma das formas de intervençãode terceiro no processo pendente.Segundo Alvarado Velloso, "este tipo de intervención (adexcludendum o ad infringendum iura utriusque competitoris), tambiéndenominada principal o agresiva, tiene lugar cuando un tercero seincorpora a un proceso pendiente a fim de interponer, frente a laspartes originarias, una pretensión incompatible con la ya litigiosa,reclamando para si total o parcialmente la cosa o el derecho sobre elcual se litiga" (Introducción, cit., p. 144).

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Como anotou Hermann Roenick, "a oposição é, iniludivelmente,uma ação. Atento ao princípio da economia processual é que se a (p. 63)embute em outra ação, caracterizando, assim, a forma intervencional.O opoente exercita ação sua, significando pretensão própria, e nodizer de Pontes de Miranda "pede o que está em contradição com oque o autor da ação ajuizada pede e o réu, nela, contesta, e com o queo réu, por sua vez, afirma, defendendo-se". Para o ilustre mestre, aoposição é "ação declarativa" contra o autor, e "de condenação" contra o réu do primeiro proceo" (Intervenção de terceiros - a oposição, Aide, 1995, p. 36).Trata-se de instituto de origem germânica, ligado ao princípioda universalidade do juízo (Arruda Alvim, Código de Processo Civilcomentado, cit., 1976, v. 3, p. 168; Cândido Dinamarco, Intervençãode terceiros, Malheiros Ed., 1997, n. 16), que se contrapõe ao princípio da singularidade, que caracterizou o direito romano.

34. Procedimento na ação de oposiçãoNa ação de oposição, o terceiro, já agora opoente, é autor, eapresentará a petição inicial sob os requisitos previstos no art. 282,instruída com os documentos em que fundamenta sua pretensão (art.283). A ação de oposição será distribuída, "por dependência" (CPC,art. 109), ao juízo da ação pendente, e apensada aos autos principais.Na ação de oposição são réus, em litisconsórcio necessário, oautor e o réu da ação "principal", como opostos. Não se cuida, todavia, de litisconsórcio unitário, pois o juiz não decide a lide de modonecessariamente idêntico em relação aos opostos.Note-se que o Código abre, aqui, uma exceção à regra de que acitação deve ser feita pessoalmente ao réu (ou a procurador do réucom poderes para receber citações - arts. 38 e 215), pois prevê acitação dos opostos "na pessoa de seus respectivos advogados" (art.57), sendo, assim, irrelevante que a estes não tenham sido outorgados poderes especiais para receberem citações iniciais{47}. Mas, se o47. O art. 57 do CPC manda citar os advogados dos opostos para apresentação de defesa, mas é perfeitamente válida a citação feita na pessoa dosreferidos interessados" (1ª Câm. do TJPA, ac. 3.598, de 7-6-1977, Rel. Des.Lidia Dias Fernandes, Rev. do TJPA, Belém, 15:137). A citação, "embora napessoa dos advogados, não pode ser feita mediante simples publicação na imprensa oficial, mas obedecerá ao disposto nos arts. 213 e 233" (RJTJSP, 107:247e 115:168). V. Agrícola Barbi, Comentários ao Código de Processo Civil, 5.ed., n. 363. (p. 64)réu for revel na ação principal, sua citação se processa pessoalmente(art. 57, parágrafo único).Os opostos têm o prazo comum de 15 dias para contestar a oposição (art. 57). E após a audiência preliminar e as atividades de saneamento, caso necessárias, o juiz determinará a instrução conjunta daação principal e da ação de oposição, nos autos da ação principal,"sendo ambas julgadas pela mesma sentença" (art. 59).Esquemas básicos:Primeiro triângulo: ação; J, A, B; + segundo triângulo:oposição; J, C, A e B.Ação - J (A-B) + J (C-A e B) - oposição.Ação (autos principais) sofre oposição através dos autos emapartado e recebe a junção dos autos, recebe instrução comum e recebesentença comum.O magistrado, julgando em primeiro lugar a oposição, dirá se sãoprocedentes, ou não, as pretensões do opoente sobre a coisa (ou o direito)objeto da demanda. Se procedente (totalmente) a oposição, se a coisaportanto cabe a C, e não a A nem a B, então necessariamente se apresenta improcedente a pretensão, exposta na ação principal de A contraB. Teremos, destarte, oposição procedente e ação improcedente.Mas, quando improcedente a oposição, o juiz dirá, na ação principal, se a coisa ou o direi

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to controvertido irá tocar ao autor ou aoréu, isto é, julgará procedente ou improcedente o pedido do autor. Épossível, outrossim, a procedênçia parcial da oposição e a procedência parcial da ação princip{47-A}.47-A. De outra parte, vale lembrar que o CPC de 1973 não impede, emprincípio, a pluralidade de oposições, sucessivamente apresentadas; a respeito,vide Hermann Roenick (Intervenção de terceiros, cit., item 5.2). (p. 65)Pode, outrossim, ocorrer tanto na ação principal quanto na oposição a antecipação dos efeitos da tutela (CPC, art. 273), se presentes os respectivos pressupostos (Cândido Dinamarco, Intervençãode terceiros, cit., n. 61).

35. Casos de oposição como processo autônomoA exposição até agora feita partiu do pressuposto de que a oposição foi apresentada antes de iniciada a audiência na ação principal.Se, no entanto, a oposição for oferecida após iniciada a audiência, a hipótese não mais se apresentará, a rigor, como de intervenção de terceiro. Em tal caso, a oposição, embora distribuída por dependência (conexão pelo objeto do pedido, art. 103), será processoautônomo, sob "procedimento ordinário", sendo processada, instruída e julgada "sem prejuízo da causa principal" (CPC, art. 60).O juiz poderá, no entanto, suspender até 90 dias o andamentodo processo principal, na expectativa de que o processo da oposiçãoalcance rapidamente uma fase procedimental que permita a reuniãodos processos e o julgamento conjunto de ambas as ações. É medidade economia e simplificação processual. Mas, se o processo de oposição tiver andamento retardado, o juiz deverá julgar a ação e, maistarde, julgará a oposição, separadamente, pois.A ação de oposição somente poderá ser oferecida (v. art. 56) atéser proferida a sentença (juízo de 1º grau) no processo pendente (v.art. 456).Se a sentença já foi proferida (e está, por exemplo, correndo oprazo para recurso, ou está pendente recurso em Superior Instância),não é mais cabível o ajuizamento da ação de oposição. A pessoainteressada no objeto da lide entre A e B deverá, simplesmente, ajuizar a demanda que entender adequada contra A, ou contra B, ou contra A e B. Mas já não será uma ação de oposição.

36. Situações particulares na oposiçãoVale ainda anotar que, pela regra do art. 58 do Código de Processo Civil, "se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido,contra o outro prosseguirá o opoente".Suponhamos ação reivindicatória de A contra B, em a qual C,afirmando-se legítimo titular do domínio, oferece oposição. A, o au- (p. 66)tor da reivindicatória, reconhece a procedência do pedido do opoenteC; reconhece, pois, não ser ele, A, o titular do domínio. Tal reconhecimento implica renúncia à pretensão exposta contra B. O juiz extinguirá a ação reivindicatória (art. 269, V), e prosseguirá apenas a açãode oposição, já agora autônoma, tendo C por autor e B por réu.Vejamos a segunda hipótese. B, réu na reivindicatória, reconhece a procedência do pedido do opoente. A ação de oposição prosseguirá apenas contra A, e a ação reivindicatória de A cona B prosseguirá normalmente{48}.Se ambos os opostos, A e B, reconhecerem a procedência dopedido do opoente, o juiz extinguirá a ação de oposição com julgamento de mérito a favor do opoente (art. 269, II), e extinguirá a açãoprincipal em face da renúncia, por ambas as partes, de suas pretensões sobre a coisa ou o direito controvertido{49}.

37. Natureza da ação de oposiçãoOutro aspecto interessante a considerar é o da natureza da açãode oposição, proposta ad excludendum iura utriusque competitoris.

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Na ação de oposição reúnem-se, substancialmente, duas açõesdo opoente C: uma ação contra A e outra ação contra B, visando, deregra, excluir as pretensões tanto de A como de B sobre o bem davida litigioso.Geralmente (embora nem sempre) a oposição apresenta-se comoação declaratória em face do autor, e como ação condenatória emface do réu. Vejamos o exemplo da ação reivindicatória. A, que nãoestá na posse da coisa e alega ser o verdadeiro dono, vem reivindicála de B, que está na posse. A oposição oferecida por C (o qual, porsua vez, quer a coisa para si) apresenta caráter declaratório contra A48. Cf., a respeito, Hélio Tornaghi, Comentários, Cit., v. 1, p. 245;Agrícola Barbi, Comentários ao Código de Processo Civil, Forense, v. 1, ns.368, 369 e 370.49. Vale referir aresto de que foi relator o eminente Desembargador eprocessualista Galeno Lacerda, no sentido de que "o acordo entre os opostosnão extingue a oposição. O opoente, endossatário de título, cujo valor foi consignado em pagamento pelo devedor ao endossante, pode impedir o levantamento do depósito por este, até o julgamento da oposição" (3ª Câm. Cív. doTJRS, AI 584.038.227, ac. de 4-10-1984, RJTJRS, 107:296). (p. 67)- visa obter a afirmativa de que A não é o proprietário; e pretende acondenação de B à entrega da coisa ao opoente.

37-A. Casos em que não cabe oposiçãoA oposição somente é possível em processo de conhecimento,pelo rito comum ordinário, bem como nos procedimentos especiaisque, contestados, adotam o rito ordinário.É incabível em processo de execução. Tratando-se de execuçãode sentença, cumpre notar ser inadmissível a intervenção do terceiroapós proferida a sentença. Se for execução por título extrajudicial, aoposição é afastada inclusive pela absoluta incompatibilidade de procedimentos (Arruda Alvim, Código de Processo Civil comentado,cit., v. 3, p. 110; Ernane Fidélis dos Santos, Manual, cit., n. 172;contra: Agrícola Barbi, Comentários, cit., v. 1, ns. 356 e 357).É incabível, outrossim, como já mencionado, no processo perante os Juizados Especiais, como dispõe o art. 10 da Lei n. 9.099, de26-9-1995 (v. verbete 24).Também inadmissível nas demandas sob procedimento sumário, a teor do art. 280, I, do CPC, com a redação dada pela Lei n.9.245, de 26-12-1995. (p. 68)

Capítulo XV - NOMEAÇÃO À AUTORIA

38. Noções geraisA nomeação à autoria (laudatio auctoris ou nominatio auctoris)objetiva a substituição do réu parte ilegítima para a causa por um réuparte legítima para a causa. Em última análise, visa corrigir a legitimação passiva.Normalmente, quando o réu se considera parte ilegítima ad causam (v. g., em ação de despejo o demandado entende não ser inquilino do autor; em ação de anulação de um contrato, nega ser um doscontratantes), argüirá a falta de legitimação como uma das prefaciaisda contestação; e o juiz, se comprovada tal assertiva, julgará o autor"carecedor de ação" contra o contestante (caso de extinção do processo sem julgamento de mérito, art. 267, VI). O autor ficará, então,na contingência de propor nova demanda contra quem juridicamentese encontre na posição de legitimado passivo.Pelo instituto da nomeação à autoria, em determinados casos oréu é obrigado ("deverá", diz o art. 62) a provocar, desde logo, sua"substituição", o que representa evidente vantagem prática quer parao demandante, que irá litigar com o "verdadeiro" réu, quer para odemandado, a quem se faculta afastar-se do processo e dos ônus e

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incômodos que aquele acarreta.Caso clássico de nomeação à autoria é aquele em que o réu,demandado em nome próprio, se afirma simples detentor da coisaobjeto do litígio (CPC, art. 62).O Código fala, com certa impropriedade de expressão, naquele"que detiver a coisa em nome alheio". Entretanto, a mera detenção ésempre em nome alheio; quem dispõe de uma coisa em nome próprioé possuidor, e não detentor. O detentor apresenta-se como mero ins- (p. 69)trumento de posse alheia, longa manus do vero possuidor; é o empregado, o preposto, "aquele que, estando em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas" - Código Civil, art. 487.Se alguém, apenas detentor de uma coisa (v. g., o assalariadoencarregado da guarda de uma gleba rural), for citado em açãoreivindicatória, ou de reintegração de posse, como se fora, ele réu, opossuidor do imóvel e não um simples detentor, "deverá" tal réu "nomear à autoria o proprietário ou o possuidor" (CPC, art. 62).A hipótese não é de ocorrência rara, pois para o autor vezesmuitas apresenta-se difícil averiguar a que título uma pessoa dispõeda coisa objeto do pedido.A nomeação à autoria também é prevista em ações de indenização por danos causados à coisa, seme o autor material dosprejuízos alegar que agiu por ordem ou em cumprimento de instruções de terceiro (art. 63). Assim, quem de boa-fé cortou árvores, ouabriu valo em terreno alheio, mas o fez como simples preposto ouempregado, nomeará à autoria seu mandante ou empregador{50}.

39. Rito e regra da dupla concordânciaA substituição do réu, como nomeante, pelo terceiro nomeado,pressupõe a dupla concordância, do autor e do nomeado.O réu, citado, fará a nomeação no prazo para a defesa (em procedimento sumário, até o momento da defesa em audiência; noprocedimento ordinário, nos 15 dias subseqüentes à citação).O juiz, em deferindo o pedido, mandará ouvir o autor no prazode cinco dias (art. 64). Se o autor não aceitar a nomeação (considerando, v. g., tratar-se de mero expediente protelatório), a nomeaçãofica sem efeito; aceitando-a, providenciará o autor na citação do nomeado (art. 65).Citado, o nomeado poderá negar a qualidade que lhe é atribuída, ou seja, recusará substituir o nomeante (alegando, v. g., que não é50. É inadmissível, todavia, a nomeação à autoria em se tratando de demanda indenizatória processada sob rito comum sumário, a teor do art. 280, I,do CPC, na redação da Lei n. 9.245, de 26-12-1995; e assim também nas demandas processadas perante os Juizados Especiais, ut art. 10 da Lei n. 9.099, de26-9-1995 (v. verbete 24). (p. 70)proprietário nem possuidor da coisa demandada); neste caso, o processo prosseguirá contra o nomeante.Mas se o nomeado reconhecer sua legitimação passiva para ademanda, então a nomeação produzirá seus efeitos: o nomeante retira-se da relação processual (figura da "extromissão") e o nomeado osubstitui no pólo passivo da relação processual.Esquema:Triângulo de vértices A (autor) e ligado ao outro vértice J(juiz) que, por sua vez, é ligado ao outro vértice, ao qual converge C(nomeado, passando a ser o réu) e deste vértice sai B (nomeante, queretira-se - "extromissão").É interessante observar que quando o autor recusar a nomeaçãoestará assumindo o risco de litigar contra um réu parte ilegítima, ede, portanto, ver proferida sentença de extinção do processo sem julgamento de mérito, por carência de ação.Se foi o terceiro, o nomeado, quem recusou a nomeação, aoautor, que a aceitara, fica a opção de:

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a) assumir o risco de continuar litigando com onomeante, que se afirmara parte ilegítima; oub) desistir da ação contra o nomeante (v. art. 267, § 4º), afim de propor nova demanda, já agora diretamente contraa pessoa indigitada pelo nomeante{51}.A nomeação presume-se aceita pelo autor (aceitação tácita) quando este nada objeta no qüinqüíd (art. 68, I); presume-se aceita pelonomeado quando este, citado, "não comparecer" (rectius, "não contestar", tornando-se assim revel), ou quando contestar sem negar aqualidade que lhe foi atribuída (art. 68, II).Como a nomeação à autoria não é apenas uma faculdade do réu,nos casos previstos em lei, mas um dever, responderá o réu por perdas e danos se deixar de efetuar a nomeação, ou se nomear pessoadiversa daquela em cujo nome detém a coisa demandada (art. 69).51. Cf. Agrícola Barbi, Comentários, cit., v. 1, n. 392, preconizando, parao caso de recusa por parte do nomeado, fique este sujeito à eficácia da coisajulgada e sujeito à execução; contra, isentando o nomeado recusante dos efeitos da coisa julgada material, Arruda Alvim, verbis: "Não sendo aceita a nomeação, o terceiro não será atingido pela eficácia da sentença e nem pela coisajulgada, podendo opor-se à decisão que venha a ser proferida no processo, secontra ele se pretender realizem-se tais efeitos" (Manual, cit., 6. ed., v. 2, n. 66). (p. 71)Tais perdas e danos serão postulados em ação indenizatória autônoma, promovida pelo prejudicado, geralmente o autor (em cujofavor foi instituída a nomeação à autoria), mas também quiçá a pessoa que deveria ter sido nomeada, pois esta pessoa de fato estarásujeita a sofrer prejuízos em decorrência da eventual procedência daação em que a nomeação foi omitida ou foi feita incorretamente.

40. Prazo para o nomeante contestarA teor do art. 67 do Código de Processo Civil, quando a intervenção do terceiro resulta frustrada, quer porque o autor recusa anomeação, quer porque o nomeado a recusa, então "assinar-se-á aonomeante novo prazo para contestar". Indaga-se se tal prazo irá fluirautomaticamente a partir da data em que o nomeante tomou ciênciada recusa, ou apenas a partir da data em que explicitamente o prazolhe for reaberto.A segunda solução afigura-se a correta, quer pela regra constitucional da ampla defesa, quer em decorrência da própria literalidadedo texto legal, que prevê seja assinado ao demandado um "novoprazo para contestar", prazo completo, integral.Nesse sentido, aresto da 4ª Turma do STJ, no REsp 17.955 (Rel.Min. Barros Monteiro), com o asserto de que se deverá conceder "novoprazo para contestar, não bastando, como estabeleceu o acórdão recorrido, a simples intimação acerca da recusa da nomeação à autoria. Aabertura do mencionado prazo há de ser explícita e, além do mais, nocaso em tela, ocorreu o indicativo de que se suprimira a exigência dalei, com a determinação às partes de especificação das provas. Forçosoé reconhecer, portanto, a afronta da norma inscrita no art. 67 do CPC".O prazo será restituído "íntegro e completo a partir do momento em que para isso for intimado" o nomeante.O réu não perde, outrossim, o direito ao "novo prazo" para contestar, mesmo nos casos de nomeação de má-fé, ou requerida de modotemerário porque alheia às hipóteses dos arts. 62 e 63 do CPC.A nomeação de má-fé acarreta, em tese, as conseqüências dosarts. 17 e 18 do CPC, "mas não subtrai à parte o direito ao contraditório pleno, sob o devido processo legal". Em sentido contrário, todavia, decidiu a 3ª Turma do STJ, no REsp 19.452, Rel. Min. Eduardo Ribeiro.A matéria vem exposta no REsp 32.605, ac. de 24-6-1993, deque fomos relator, e transcrito na íntegra no Anexo II. (p. 72)

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Capítulo XVI - DENUNCIAÇÃO DA LIDE

41. Noções geraisA denunciação da lide, como já exposto anteriormente, é prevista no vigente Código de Processo Civil como uma ação regressiva, "in simultaneus processus", proponível tanto pelo autor comopelo réu, sendo citada como denunciada aquela pessoa contra quemo denunciante terá uma pretensão indenizatória, pretensão "de reembolso", caso ele, denunciante, venha a sucumbir na ação principal{52}.Teremos, pois, "no mesmo processo", duas ações, duas relaçõesjurídicas processuais. Mas um só processo, uma só instrução, uma52. Milton Flaks, em premiada monografia, após salientar que a "unanimidade dos autores pátrios entende que, em nosso direito, a denúncia da lideimporta automática interseção de um novo litígio, entre denunciante e denunciado, proposto "secundum eventum litis"", passa todavia a sustentar que o Códigovigente não teria adotado de forma radical o sistema germânico, mas simconstruído um sistema híbrido, afastado das concepções tradicionais baseadasno direito europeu, facultando "que a denúncia seja cumulada com uma açãoin eventum, mas como demanda incidente e paralela; sua propositura fica aointeiro critério do titular do direito de regresso e não precisa ser decidida, necessariamente, na mesma sentença que resolver o litígio original".Assim, ao ver desse autor, o Código Processual vigente teria optado "porum sistema híbrido ou "sui generis": não é romano, na sua pureza, porque consente que os eventuais prejuízos do denunciante, conforme o caso, sejam declarados, apurados e compostos no mesmo processo, dispensando uma subseqüente demanda regressiva; não é germânico, na sua concepção tradicional, porquea denunciação da lide, propriamente dita, não importa na interseção de um litígio subsidiário entre o denunciante e denunciado" (Denunciação da lide, Forense, 1984, ns. 78, 87, 94 e passim). (p. 73)mesma sentença para ambas as ações, a ação principal e a ação dedenunciação da lide{53}. É fenômeno "típico do processo de conhecimento, ao qual se confina sua admissibilidade" (Cândido Dinamarco,Intervenção de terceiros, cit., n. 79).A orientação de Milton Flaks é prestigiada por Edson Ribas Malachini,para quem "a ação de regresso pode ser cumulada com a simples denunciaçãoda lide. Esta se filia ao direito romano ("litis denunciatio"), enquanto a cumulaçãodeita raízes no sistema germânico ("advocatio ad warrantum", chamamento àgarantia)". V. RP, 41:20.53. A respeito, o Prof. Hélio Tornaghi salientou que, em pureza de técnica, a "denunciação" da lide seria a simples comunicação feita por uma das partes a um terceiro, para que este, querendo, intervenha no processo, na qualidadede assistente. Aponta, com esse sentido, a denunciação prevista nas OrdenaçÕes processuais alemã e austríaca (Comentários, cit., v. 1, p. 257-8).Mas nos termos do Código de Processo Civil vigente a "denunciação"tornou-se realmente um chamamento em garantia, um verdadeiro "chamamento à autoria", denominação esta aliás usada no Código de Processo Civil de1939, muito embora nesse Código a convocação do terceiro não representasseuma ação regressiva no mesmo processo, mas sim uma autêntica "sucessão subjetiva no processo", pela qual o denunciado assumia a posição do denunciante;este podia, no sistema do Código de Processo Civil pretérito, permanecer noprocesso. mas então como assistente litisconsorcial do chamante, operando-sereal "substituição processual" (Araújo Cintra, Do chamamento à autoria, Revista dos Tribunais, 1973, p. 107).Assim também entende Sydney Sanches, aludindo a que a expressão"denunciação da lide" dá idéia de simples notícia de existência do litígio, mas,no Código de Processo Civil vigente, consubstancia uma ação incidental compretensão de garantia e/ou indenização, do denunciante em face do denunciado(Denunciação da lide, RP, 34:50).

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No magistério de Barbosa Moreira, a denunciação "se converte na verdadeira propositura de uma ação de regresso antecipada, para a eventualidade dasucumbência do denunciante" (Estudos sobre o novo Código de Processo Civil.Rio de Janeiro, Ed. Liber Juris, 1974, p. 87-8). Igualmente Aroldo Plínio Gonçalves, para quem "sempre, no Direito Brasileiro, a denunciação da lide, emprincípio, traz em si provimento de natureza condenatória", adotada a linha depensamento de Chiovenda, fazendo mais relevante, na denunciação, sua natureza indenizatória, "deixando a aspecto secundário o aspecto da obrigação oudo ônus da defesa em juízo" (Da denunciação da lide, Forense, 1983, p. 165-70e passim).Conforme Cândido Dinamarco, "a litisdenunciação do direito brasileiroinclui, também e sempre, uma demanda em que o terceiro figura como réu"(Intervenção de terceiros, cit., n. 110). (p. 74)Como expõe Humberto Theodoro Júnior, a denunciação visa"enxertar" no processo uma nova lide, que irá envolver o denunciante e o denunciado em torno do direito de garantia ou de regresso queo primeiro pretende (eventualmente) exercer contra o segundo: "Asentença, de tal sorte, decidirá não apenas a lide entre autor e réu,mas também a que se criou entre a parte denunciante e o terceirodenunciado" (Processo de conhecimento, Forense, t. 1, n. 117).Na lição de Arruda Alvim: "Sendo feita a denunciação, teremosduas ações tramitando simultaneamente. Uma, a principal, movidapelo autor contra o réu; outra, eventual, movida pelo litisdenunciantecontra o litisdenunciado. Diz-se que a segunda ação é eventual, porque somente terá resultado prático, se e quando do julgamento desfavorável ao denunciante na primeira ação. Aí, então, é que se apreciará a sua procedência ou improcedência (art. 76) em si mesma:existe, ou não, o pretendido direito de regresso" (Manual, cit., 6. ed.,v. 2, n. 68, p. 169).Salientou Agrícola Barbi que o Código de 1973, embora inspirado na construção germânica, introduziu fundamentais inovações, eisso principalmente porque, "com o julgamento da relação entre denunciante e denunciado, há verdadeira inserção de nova demanda noprocesso; além da demanda do denunciante com seu adversário, há ademanda entre o denunciante e o denunciado, relativa à indenização" (Comentários, cit., v. 1, n. 401).

42. Da relação de "prejudicialidade"De início, cumpre ressaltar o caráter de prejudicialidade do resultado da primeira demanda, da "ação principal", sobre a ação dedenunciação da lide.Realmente, se o denunciante for vitorioso na ação principal, aação regressiva será necessariamente julgada prejudicada; se, no entanto, o denunciante sucumbir (no todo ou em parte) na ação principal, a ação de denunciação da lide tanto poderá serjulgada procedente(se realmente existir o direito de regresso) como improcedente.No magistério de Cândido Dinamarco, "a pretensão do litisdenunciante perante o litisdenunciado é trazida em via eventual, paraque este seja condenado a ressarcir somente no caso de aquele sairvencido perante o adversário inicial. Em caso de vitória do denun- (p. 75)ciante sobre este, a denunciação ficará prejudicada e não se julgarápelo mérito" (Intervenção de terceiros, cit., n. 9).

43. Da "obrigatoriedade" da denunciaçãoEm segundo lugar, a obrigatoriedade da denunciação da lide (v.art. 70) deve ser entendida nos devidos termos.Aroldo Plínio Gonçalves, em tese de livre-docência à Faculdade de Direito da UFMG, aprecia o tema da "obrigatoriedade" dadenunciação da lide a partir da distinção entre garantia própria (formal), derivada da "transmissão de direitos", e garantia imprópria,vinculada apenas à "responsabilidade civil", sustentando que a nãodenunciação acarreta a

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perda do direito de regresso nos casos de garantia própria (o adquirente de direitos perderá a garantia prometidapelo transmitente); nos casos de garantia imprópria, restaria assegurado, embora a não-denunciação, o direito de regresso contra o responsável civil, em processo autônomo.O ilustre professor e magistrado liga a garantia própria às hipóteses do art. 70, I e II, e algumas hipóteses do item III; a garantiaimprópria aos casos de responsabilidade civil do art. 70, III (Dadenunciação, cit., p. 223, 324 e passim).Nem sempre, pois, a omissão da parte no provocar a intervenção do terceiro acarretará a perda do direito (rectius, da pretensão)regressivo contra este (v. nota de rodapé 57).Em Ciclo de Estudos de Processo Civil (realizado em Curitiba,em agosto de 1983, pela OAB e pela Associação dos Magistrados doParaná) resultou aprovada por unanimidade tese por nós apresentada, com a seguinte conclusão:"A não-denunciação da lide somente acarreta a perdada pretensão regressiva nos casos de garantia formal, ouseja, de evicção e de transmissão de direitos".{54 e 55}54. José Ignacio Botelho de Mesquita lembra não ser uniforme, no direitocomparado, o tratamento dispensado à obrigatoriedade da denunciação da lide:"É facultativa a denunciação da lide no Código Civil da França (art. 1.640), daItália (art. 1.485), da Argentina (art. 2.111), e no Código de Processo Civil dePortugal (art. 325). O evicto que não denunciar a lide ao transmitente fica sujeito ao risco de perder a ação de evicção se o transmitente provar que tinha meiospara fazer rejeitar a ação do terceiro contra o adquirente, ou que este, consoantedispõe o Código de Processo Civil português, não usou de todos os meios para (p. 76)

44. Denunciação da lide nos casos de evicção

44.1. Conceito de evicçãoO primeiro caso, previsto no art. 70, I, do Código de ProcessoCivil, é o de denunciação da lide como providência obrigatória paraque o denunciante possa "exercer o direito que da evicção lhe resulta" (vide, todavia, verbete 52.2).Evicção é a perda da coisa, sofrida pelo adquirente, em conseqüência de um anterior direito de outrem, declarado por sentença.Na definição romana: "evincere est vincendo in iudicio aliquidauferre".O Código Civil, art. 1.107, dispõe que "nos contratos onerosos,pelos quais se transfere o domínio, posse ou uso, será obrigado oalienante a resguardar o adquirente dos riscos da evicção, toda vezque se não tenha excluído expressamente esta responsabilidade".Como ensinou Serpa Lopes, "a evicção constitui uma obrigação resultante de um elemento natural de tais contratos, o que importa dizer que o seu afastamento só se dá, em havendo cláusula contratualexpressa determinando-o" (Curso de direito civil, 2. ed., Freitas Bastos, 1957, v. 3, n. 123, p. 179).A evicção, segundo ensina Clóvis Beviláqua, "é a perda totalou parcial de uma coisa, em virtude de sentença, que a atribui a outrem, por direito anterior ao contrato, de onde nascera a pretensão doevicto" (Código Civil comentado, 6. ed., v. 4, anot. ao art. 1.107).Ocorrendo esta perda, surge a pretensão ao ressarcimento. Aação de evicção é, pois, "a ação do proprietário ou possuidor da coisa evencida para haver, deuem lh´a transmitiu, a reparação dosprejuízos causados pela evicção" (Botelho de Mesquita, Da ação deevicção, cit.).evitar a evicção. É facultativa também no Código de Processo Civil alemão (§72), que não dispõe expressamente sobre a mencionada sanção, muito emboraesta decorra das regras sobre a coisa julgada".55. É obrigatória a denunciação da lide no Código Civil da União Soviética (art. 250), da Espa

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nha (art. 1.482), do México (art. 2.124), da Colômbia(art. 1.899), do Peru (art. 1.375), do Chile (art. 1.843), do Uruguai (art. 1.705) eda Bolívia (art. 1.056), sempre sob pena de perder o adquirente o direito que daevicção lhe resulta" (Da ação de evicção, conferência proferida na OAB/DF,em 12-8-1980, e publicada em Ajuris, v. 22). (p. 77)

44.2. A evicção nem sempre pressupõe sentençaNem sempre, todavia, a ocorrência da evicção radica em sentença. Reporto-me, aqui, a voto que proferi no TJRS (RJTJRS,36:237), citando a ementa:"EVICÇÃO. Indenização.Veículo entrado ilegalmente no País, e apreendido pelaautoridade alfandegária.A evicção não pode ficar adstrita à existência de umasentença judicial decretando o desapossamento da coisa. Basta que o adquirente fique dela privado por ato legítimo deautoridade, tal como no caso de apreensão por se tratar de resfurtiva ou de contrabando. Desde que o alienante reconheça,ou que a prova dos autos torne inequívoco, que a coisa pertence realmente a um terceiro ou à União - ante a ocorrência, v.g., de furto, contrabando ou descaminho - seria uma superfetação exigir-se uma sentença declarativa de situação jáacreditada pelo comprador e pelo devedor O objetivo da leicivil, ao mencionar a exigência de sentença, é exatamente ode evitar possível conluio entre o comprador e um terceiro,em prejuízo do vendedor. Desde que afastada a eventualidadede conluio, indenizável será o dano sofrido pelo comprador".O STF já entendeu admissível demanda indenizatória contra ovendedor de coisa furtada, independente de prévia sentença sobresua responsabilidade por evicção (RTJ, 43:389).Assim igualmente o TJSP e o 1º TACSP, no sentido de que odesapossamento da coisa através das autoridades administrativas equivale ao desapossamento por sentença judicial (RT, 466:126,603:135,660:133, 605:81, 600:83, 407:165).E assim também o Superior Tribunal de Justiça, como, v. g., noREsp 19.391, Rel. Min. Barros Monteiro, 4ª Turma, que está na íntegra no Anexo II desta obra.O Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, da mesma 4ª Turma, comorelator no REsp 51.875, fez constar da ementa que:"A caracterização da evicção se dá pela perda definitiva da propriedade ou da posse do bem, estando a entenderdoutrina e jurisprudência, inclusive da 4ª Turma, que essaperda se pode dar também em decorrência de apreensão porautoridade policial, e não apenas por sentença judicial" (DJu,23-jun.-1997, p. 29134). (p. 78)No mesmo sentido o REsp 58.232 (Rel. Min. Sálvio deFigueiredo, 4ª Turma, ac. de 11-11-1997, DJU, 2-fev.-1998, p. 108).Com idêntica orientação, a 3ª Turma do STJ, como se vê daementa no REsp 100.928, Relator o Min. Waldemar Zveiter:"A regra contida no art. 1.117 do Código Civil não éabsoluta.Consoante o entendimento pacificado na jurisprudência do STJ, para o exercício do direito que da evicção resulta ao adquirente, não é de exigir-se sentença judicial, bastando que fique ele privado, por ato de autoridade administrativa, do bem se ou quando de procedência criminosa"(DJU, 9-jun.-1997, p. 25536).Ocorrente a evicção, a garantia compreenderá não só a restituição integral ao evicto do preço e este pagou, como ainda cumpriráao alienante indenizá-lo pelos demais prejuízos, nos exatos termos

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do art. 1.109 do Código Civil.Entretanto - art. 1.116 -, o mesmo Código impõe aoadquirente, "para poder exercitar o direito, que da evicção lhe resulta", o ônus de "notificar do litígio ao alienante, quando e como lhodeterminarem as leis do processo".Tem-se admitido, entre os civilistas, que a conseqüência da inação do evicto, deixando de dar ciência ao alienante do litígio, seria aperda do direito de regresso{56}. Perderia o evicto, portanto, a própria"pretensão de direito material" contra quem lhe transmitiu o domínio, a posse ou o uso da coisa.{57 e 58}56. Assim Pontes de Miranda (Tratado, cit., v. 38, 1962, p. 252), Caio Mário(Instituições de direito civil, 1984, v. 3, p. 94), Maria Helena Diniz (Curso de direitocivil, 1988, v. 3, p. 103), Washington de Barros Monteiro (Curso de direito civil;direito das obrigações, 2ª Parte, 1988, p. 67), conforme remissões no voto do Min.Eduardo Ribeiro no REsp 9.552, 3ª Turma do STJ, ac. de 25-5-1952.57. Tema altamente interessante é o relativo à possibilidade de os contratantes, no contrato oneroso de transferência do domínio, posse ou uso, convencionarem eficazmente em favor do adquirente a dispensa da denunciação da lidecomo pressuposto da ação regressiva. Em tais casos - tratando-se de formalidade instituída em prol do alienante e, pela natureza patrimonial, certamente disponível - considero fica resguardado ao adquirente, vencido na ação principal,buscar a garantia da evicção mediante posterior "ação direta" (ação de evicçãoem processo autônomo). Era, aliás, o disposto na Consolidação Ribas, de 1879,art. 278: "Não se fazendo a denunciação, ou fazendo-se depois de dadas asprovas, não terá o réu regresso contra aquele de quem houve a coisa demandada, na forma dos arts. 275 e 276; salvo se este foi causa de que não se fizesse adenunciação, ou se remitiu àquele a obrigação de fazê-lo" (o grifo é nosso). (p. 79)A jurisprudência mais moderna, no entanto, com arrimo no art.1.108 do Código Civil, tem afirmado que a pretensão à restituição dopreço mantém-se mesmo se não efetivada a denunciação da lide{59}.

44.3. Evicção do réu e evicção do autorNotemos, de início, que a redação do art. 70, I, oferece reparos,pelo linguajar "desatento à técnica processual", como disse ArrudaAlvim (Manual, cit., 6. ed., p. 170).Lê-se que a denunciação da lide é obrigatória "ao alienante,na ação em que terceiro reivindica a coisa". A palavra "terceiro",todavia, foi aqui empregada impropriamente. Quem reivindica acoisa não é terceiro, mas sim parte, é o autor na ação reivindicatória. Processualmente, terceiro é o alienante, que virá a ser odenunciado.Além disso, não só a ação reivindicatória, mas também outras,podem provocar a perda do domínio pelo adquirente, com a conseqüente evicção{60}.58. O Prof. Aroldo Plínio Gonçalves sustenta que o Código de ProcessoCivil de 1973 revogou o art. 1.116 do Código Civil ("é atualmente letra morta"),isso por haver o novo diploma processual abandonado o sistema romano, adotando o sistema do antigo direito germânico, pelo qual "denunciar a lide querdizer propor demanda, antecipada e condicionada" (v. item 43).59. Com invocação ao art. 1.108 do Código Civil, no aresto no REsp9.552 (Rel. Min. Nilson Naves), a 3ª Turma do STJ considerou que o direito doevicto a recobrar apenas o preço pago pela coisa independe da notificação aoalienante. E acrescenta em seu voto o relator: "Sobre ser obrigatória adenunciação da lide, é tema que não pode ser levado a ferro e fogo, pelo que severifica, p. ex., da ementa que o Min. Sálvio de Figueiredo escreveu para oREsp 2.545: "Doutrina e jurisprudência, em exegese ao art. 70 do CPC, já firmaram entendimento mitigando a obrigatoriedade nele prevista"" (Acórdão naíntegra no Anexo II).60. Por exemplo, ação de usucapião promovida contra o adquirente,

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alegando o autor a aquisição de domínio consumada anteriormente ao contrato de compra e venda. O Ministro Sydney Sanches, do STF, afirmou que "cabedenunciação da lide, com base no inciso I do artigo 70 do CPC, também nasações possessórias, anulatórias de título aquisitivo, demarcatórias, confessóriasde servidão, meramente declaratórias de domínio (positivas e negativas), sendo nesse sentido a tendência atual da jurisprudência" ("Denunciação da lide",RP, 34:51). (p. 80)Esquema gráfico, com denunciação pelo réu:Ação principal convergindo para um lado do triângulo, onde está,num vértice, A (reivindicante), ligado ao outro vértice, onde está J(juiz), que por sua vez está ligado ao outro vértice B (adquirente).Este triângulo está somando a outro, onde estão, num vértice B(denunciante), que está ligado a outro vértice J (juiz), que por sua vezestá ligado ao vértice C (alienante da coisa - denunciado); a açãoregressiva entra neste lado entre J e C.Na hipótese acima esquematizada, se julgada improcedente aação reivindicatória, B permanecerá com a posse e domínio da coisa;não terá ocorrido evicção e, destarte, será improcedente também aação regressiva de denunciação da lide.Se, no entanto, resultar procedente a reivindicatória, B será evicto.Em conseqüência, será julgada procedente a demanda regressiva, salvose o adquirente sabia dos riscos da evicção e os assumiu (CC, art. 1.108),pois nesta última hipótese a lei exonera o vendedor de prestar garantia.A denunciação da lide também pode ser feita pelo autor. Suponhamos que o adquirente, A, de uma área rural é impedido de imitirse na respectiva posse, pois outrem, B, a ocupa, alegando, por exemplo, ser dela legítimo proprietário. Ao promover a ação reivindicatóriacontra o ocupante, ao adquirente cumpre denunciar a lide ao seualienante, C, a fim de garantir-se dos riscos da evicção, que ocorreráse a ação reivindicatória for julgada improcedente e, pois, reconhecido o réu, B, como o legítimo titular do domínio.Esquema gráfico, em denunciação pelo autor:A ação regressiva converge para um lado do triângulo, onde está,num vértice, C (alienante da área ao autor), que está ligado a J (juiz),que por sua vez está ligado ao outro vértice, onde está A (denunciante autor); este triângulo se soma a outro, onde está, num vértice, A (autor- adquirente da área), que está ligado ao vértice J (juiz), que, por suavez, está ligado ao vértice B (réu na reivindicatória). A ação principalentra no lado entre J e B. (p. 81)

45. Denunciação da lide pelo possuidor direto

45.1. Evicção nos casos de transferência da "posse" ou "uso"O instituto da evicção socorre não apenas ao adquirente do domínio, mas também abrange os casos de transferência da "posse ouuso".Para estes, bem como para outros casos alheios ao instituto daevicção e em que alguém exerça a posse direta da coisa demandada,dispõe o art. 70, II, do Código de Processo Civil, verbis:"Art. 70. A denunciação da lide é obrigatória:II- ao proprietário ou ao possuidor indireto quando,por força de obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça a posse direta da coisa demandada".O dispositivo está, como vemos, vinculado ao art. 486 do Código Civil:"Art. 486. Quando, por força de obrigação, ou direito,em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício,do locatário, se exerce temporariamente a posse direta, nãoanula esta às pessoas, de quem eles a houveram, a posseindireta".

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Vamos supor a hipótese de ação de reintegração de posse, queApromove contra B sob o argumento de estar B lavrando terras depropriedade do demandante, e, pois, usurpando-lhe a posse. O réu B,embora arrendatário da gleba, e, portanto, seu possuidor direto, écitado "em nome próprio" (art. 70, II), isto é, como se fora possuidorpleno. Em tais circunstâncias, B deverá denunciar a lide ao seuarrendante C, possuidor indireto{61}.61. A respeito do tema, interessante aresto do STJ, 4ª Turma, REsp 20.121,v. u., 30-8-1994, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, em ação de imissão de possecontra ocupante de imóvel na condição de locatário - acórdão na íntegra noAnexo II. (p. 82)

45.2. Objetivos da denunciação a quem exerça a posse direta dacoisa demandadaPela denunciação da lide, dois objetivos são, neste caso, alcançados:1º) dar-se-á ao arrendante a oportunidade de defendersua posse indireta, em litisconsórcio com B (como adianteveremos);2º) o possuidor direto B demandará, mediante a açãoregressiva contra o arrendante C, a indenização que lhe serádevida na hipótese de, se julgada procedente a ação principal, tornar-se impossível prosseguir cumprindo o contratode arrendamento (CC, arts. 1.189, II, 1.191 e 1.192, III).A denunciação da lide, neste caso, como observam vários autores, reveste-se até certo ponto de alguns aspectos da "nomeação àautoria". Embora o arrendatário seja parte legítima como réu na açãoreintegratória de posse (pois não é ele um simples detentor da coisa),não menos certo que ao arrendante assiste idêntico ou maior interesse jurídico em contestar a demanda reintegratória, sendo, pois, igualmente parte legítima passiva na ação principal.Não se opera, assim, a substituição do réu parte ilegítima porum réu parte legítima, como na nomeação à autoria, mas sim formase, no pólo passivo da ação prcipal, um litisconsórcio entre possuidor direto e possuidor indireto{62}.Nos casos em que incidem as normas sobre evicção (quando aposse direta provém de contrato oneroso - CC, art. 1.107), a nãodenunciação da lide pelo possuidor direto ao possuidor indireto implicará, v. g., a perda do direito (CC, art. 1.189, II) do arrendatário ao62. O Prof. Milton Flaks, corroborando sua tese no sentido de que peladenunciação da lide nem sempre se instaura, automaticamente, um segundo litígio entre denunciante e denunciado, lembra as hipóteses em que ao possuidordireto "inexista interesse ou mesmo o direito de reclamar do possuidor indiretoeventuais prejuízos, principalmente se a posse lhe foi transferida a título de liberalidade (usufruto, uso, habitação, comodato, etc.)" (Denunciação, cit., n. 80).Este é, realmente, um dos aspectos em que têm sido apresentadas críticasao art. 70, II, do Código de Processo Civil; todavia, no sistema do Código, ainexistência de direito regressivo leva à impossibilidade da denunciação da lide.Então, no sentir de Celso Agrícola Barbi, "não tem razão de ser a denunciaçãoda lide, porque fora da finalidade de garantia" (Comentários, cit., v. 1, p. 404). (p. 83)ressarcimento, pelo arrendador, dos prejuízos decorrentes da frustração do pacto de arrendamento.Nos casos em que não incidam as regras sobre evicção, consideramos como possível a ação regressiva em posterior processo autônomo.Esquematizando a hipótese supra, teremos:Ação reintegratória de posse, convergindo para um lado dotriângulo, onde está, num vértice, A (autor), ligado ao vértice J(juiz), ligado ao vértice B (arrendatário) (+C). Este triângulo se somaa outro que tem no vértice B (denunciante), ligado ao vértice J (juiz),e este ligado ao vértice C (arrendador denunciado). No lado entre J e C,entra ação indenizatória regressiva.

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45.3. Formação da coisa julgada contra o denunciante e tambémcontra o denunciadoCom a denunciação, serão duas as ações: na ação principal apresentam-se, no pólo passivo, em lisconsórcio, o denunciante e o denunciado(o possuidor direto e o possuidor indireto); na ação indenizatória regressiva,o arrendatário denunciante será autor, e o arrendador denunciado será réu.A improcedência da ação principal conduz necessariamente àimprocedência da ação de regresso. A procedência da ação principal"poderá" conduzir à procedência da ação indenizatória.Procedente a ação principal, outrossim, a coisa julgada materialformar-se-á, nessa ação, contra denunciante e denunciado, e ambosficam sujeitos à execução forçada (arts. 621 e s.), caso não entreguem a coisa ao autor{62-A}.62-A. Arruda Alvim anota que a denunciação da lide, no caso do art. 70,II, possui características que a aproximam da nomeação à autoria. E igualmente considera cabível a execução nos termos preconizados no texto: "... denunciadaa lide, tal implique que a ação proposta, isto é, a lide entre autor e réu, pelasentença que a julgue, tenha, ela mesma, eficácia em relação ao litisdenunciado,ao lado e convivendo com a ação/lide/sentença que venha a ser proferida emsede de denunciação". Sustenta, todavia, que tal fenômeno é peculiar ao inc. iido art. 70 (Manual, cit., 6. ed., n. 70, p. 173).A respeito, vide verbete 56, especialmente 56.2 e 56.3, nesta obra. (p. 84)

46. Denunciação da lide pelo titular de pretensão regressivaFinalmente, o vigente Código de Processo Civil incluiu - art.70,III - a denunciação da lide "àquele que estiver obrigado, pela lei oupelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda".A doutrina bastante diverge quanto à abrangência dessa previsão legal:a) sustentaram alguns que na expressão "ação regressiva" somente estariam compreendidos os casos em que o direito houvesse sido transferido ao denunciante pela pessoaa ser chamada ao processo através da denunciação;b) para outros, a denunciação, com arrimo ao art. 70,III, do CPC, supõe que a ação de regresso, contra o terceiro,decorra de texto expresso de lei ou de expressa previsão emcontrato firmado entre o denunciante e o denunciado;c) uma terceira corrente, invocando vantagem de ordemprática em diminuir o número de demandas regressivas emprocessos posteriores, advoga o cabimento da denunciaçãoem todos os casos em que um terceiro esteja adstrito a reembolsar os prejuízos sofridos por aquele que denuncia.A jurisprudência parece inclinar-se pela solução b{63}, à qual vimos aderir (assim reconsiderando, em parte, posição exposta até aedição desta obra).O Superior Tribunal de Justiça, por sua 4ª Turma, adotou exegesenão permissiva da denunciação prevista no art. 70, III, naqueles casos dedireito regressivo cujo exame implique a análise de fundamento novo,não constante da lide originária. Assim o REsp 2.967, DJU, 18-fev.1991, Rel. Min. Barros Monteiro; igualmente os REsps 28.937, ac. de29-11-1993, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, e 49.418, ac. de 14-6-1994,mesmo relator (na íntegra no Anexo II desta obra). Também decisão doMin. Ruy Rosado no Ag. 88.357, DJU, 1º-fev.-1996, p. 754.{63-A}63. Vide, aqui, as observações de Agrícola Barbi, Comentários, cit., 5.ed., v. 1, n. 408. Idem, de Humberto Theodoro Júnior, Curso de direito processual civil, 5. ed., v. 1, n. 115. Contra, Vicente Greco Filho, Direito processualcivil brasileiro, Saraiva, v. 1, n. 22, p. 141 e s.63-A. Mais recentemente, ainda da 4ª Turma do STJ, aresto sob a ementaa seguir: (p. 85)Impende ponderar, todavia, que o "fundamento" da denunciaçãonunca será o mesmo "fundamento" da ação; destarte, melhor quiçá

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seria referência à matéria nova, não vinculada diretamente ao themadecidendum objeto da cognição.Como exemplo com freqüência invocado ao cuidarmos dadenunciação da lide ao obrigado a reembolsar o prejuízo, vínhamoscitando, nas anteriores edições desta obra, o caso da pessoa que contrata seguro (facultativo) de responsabilidade civil, para garantir-seante a hipótese de, se responsável por acidente de trânsito, ver-seobrigada a indenizar a vítima. Ocorre o acidente. Digamos que a seguradora, sob alegações várias, recusa o pagamento amigável. O prejudicado A promove, então, ação de indenizaçontra o causadordo dano, o segurado B. Este, fundado no contrato de seguro, denunciaria a lide à seguradora C, a fim de, se sucumbente na demandaprincipal, obter reembolso pela denunciada.A seguradora citada iria defender-se na ação regressiva, alegando, v. g., que o segurado não pagou os prêmios do contrato (CC, art.1.449), ou que o acidente ocorreu em circunstâncias previstas comoexcludentes da garantia (CC, art. 1.460); e poderia, outrossim, emlitisconsórcio passivo com o denunciante, alegar na ação principal,v. g., que o acidente resultou de exclusiva culpa do próprio autor."Em relação à exegese do art. 70, III, CPC, melhor se recomenda a corrente que não permite a denunciação nos casos de alegado direito de regressocujo reconhecimento demandaria análise de fundamento novo não constante dalide originária.A denunciação da lide, como modalidade de intervenção de terceiros,busca atender aos princípios da economia e da presteza na entrega da prestaçãojurisdicional, não devendo ser prestigiada quando suscetível de pôr em riscotais princípios.Segundo entendimento doutrinário predominante, somente nos casos deevicção e transmissão de direitos (garantia própria) é que a denunciação da lidese faz obrigatória" (REsp 43.367, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, ac. de 13-51996, DJU, 24-jun.-1996, p. 22761) (acórdão na íntegra no Anexo II).Mas, de outra parte, a mesma 4ª Turma, conhecendo do REsp 4.785 e aeste dando provimento, decidiu que "pelo menos em tese pode o proprietário doveículo causador de acidente denunciar a lide à companhia seguradora emissora da apólice de que resultaria a cobertura do dano cogitado" (Rel. Min. CesarA. Rocha,j. 2-4-1996, DJU, 6-maio-1996, p. 14417). (p. 86)Graficamente:Ação indenizatória converge para o lado do triângulo onde está,num vértice, A (vítima), ligado a J (juiz), este ligado a B (réusegurado) (+C). Este triângulo soma-se ao outro, que tem num vértice, B(segurado - denunciante), ligado ao vértice J (juiz), este ligado aovértice C (seguradora denunciada). A ação regressiva entra no lado entreJ e C.O exemplo acima enunciado tornou-se, no entanto, menos adequado após a edição da Lei n. 9.245, de 26-12-1995, que mantém noelenco dos processos sob rito comum sumário as ações de ressarcimento por danos causados em acidente de veículo de via terrestre(art. 275, II, d) e proíbe que nos processos sob procedimento sumáriohaja a intervenção de terceiro, salvo assistência e recurso de terceiroprejudicado (art. 280, I).O exemplo todavia permanece válido se as partes, adotando afungibilidade de rito{63-B}, concordarem com a demanda indenizatóriasob o rito comum ordinário.Quando improcedente a ação principal, nada haverá que reembolsar ao réu, e, pois, será também improcedente a ação dedenunciação da lide.Se procedente, no todo ou em parte, a ação indenizatória, omagistrado irá então apreciar as alegações de defesa do denunciadono alusivo à ação regressiva, e poderá julgá-la procedente, no todoou em parte, ou improcedente.

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Reporto-me, aqui, ao verbete n. 56 e à nota de rodapé n. 79.

47. Denunciação da lide pela pessoa jurídica de direito público

47.1. Cabimento da denunciação ao servidor responsável pelo danoAutores de nomeada incluem, entre os casos do art. 70, III, doCódigo de Processo Civil, os decorrentes da responsabilidade civil do63-B. Defendemos a fungibilidade de rito, em sede doutrinária, em Audiênciade instrução e julgamento e audiências preliminares, 7. ed., Forense, nota de rodapén. 67, e igualmente em Do rito sumário na reforma do CPC, cit., verbete 6.1. (p. 87)Estado, nos termos do art. 37, § 6º, da vigente Constituição Federal,verbis:"As pessoas jurídicas de direito público e as de direitoprivado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem aterceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa{64}".Assim à União, ré na ação indenizatória, será possível, mediante a denunciação da lide, exerceogo a ação regressiva contra ofuncionário cuja ação ou omissão tenha dado causa ao dano{65}.O funcionário, citado, será réu na ação regressiva, e litisconsorteda União na ação principal; na denunciação poderá defender-se negando, v. g., dolo ou culpa de sua parte; na ação principal, v. g., invocará a inexistência de dano, ou discutirá seu valor.Nesse sentido a jurisprudência do TJRS: "Cabível a denunciaçãoda lide ao funcionário acusado de responsabilidade, por prejuízos ocasionados a terceiros, por cujo ressarcimento se aciona o Estado. Compatibilidade entre o art. 107 da Constituição Federal e o inciso III do artigo70 do Código de Processo Civil. Sendo necessário ou conveniente paramelhor esclarecimento dos fatos, razoável que o Juiz defira pedido derequisição de documentos e informações" (AI 584.034.094, 2ª Câm. Cív.do TJRS, ac. de 31-10-1984, Rel. Des. Silvino J. Lopes Neto).64. Na lição de Barbosa Moreira (como relator da AC 8.995, do TJRJ, ac.de 17-10-1979, RP, 34:230), "não colhe o argumento em contrário, às vezessuscitado, de que a denunciação da lide ao funcionário introduz no processonovo "thema decidendum", por depender da ocorrência de culpa ou dolo daquele o reconhecimento do direito regressivo da pessoa jurídica de direito público.Tal argumento prova demais, porque com a denunciação, em qualquer caso, seintroduz novo "thema decidendum"; questioná-lo equivaleria a pensar que algum denunciado fique impedido de defender-se negando a obrigação de reembolsar o denunciante, isto é, contestando o direito regressivo deste. Na verdade,a nenhum denunciado se recusa a possibilidade de contestá-lo. Pouco importaque ela se relacione com a exigência de dolo ou culpa ou com qualquer outracircunstância: a situação é sempre, substancialmente, a mesma".A respeito, também, as lições de Aroldo Plínio Gonçalves, em suamonografia já vezes várias citada (p. 254 e nota de rodapé n. 327), de ArrudaAlvim (Manual, cit., v. 2, p. 106-7) e de Pontes de Miranda (Comentários aoCódigo de Processo Civil, Forense, 1974, v. 2, p. 115).65. A demanda regressiva do Poder Público contra o funcionário seráimprocedente se o dano resultou não de culpa ou dolo do servidor, mas de maufuncionamento do próprio serviço. (p. 88)

47.2. Manifestações da jurisprudênciaO STF, todavia, inclinava-se em sentido oposto, sob o argumento de que "diversos os fundamentos da responsabilidade, numcaso, do Estado, em relação ao particular, a simples causação do dano;no outro caso, do funcionário em relação ao Estado, a culpa subjetiva. Trata-se de duas atuações processuais distintas, que se atropelamreciprocamente, não devendo conviver no mesmo processo, sob pena

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de contrariar-se a finalidade específica da denunciação da lide, que éa de encurtar caminho à solução global das relações litigiosasinterdependentes" (RE 93.880, 2ª Turma, ac. de 1º-12-1982, RTJ,100:1352; idem, RTJ, 106:1054).Assim, se acolhida em termos amplos a orientação do STF, adenunciação da lide somente seria possível nos casos de garantiaformal.O Superior Tribunal de Justiça, todavia, por sua 1ª Turma, julgou que o Estado, réu em indenizatória por acidente de trânsito, temdireito de denunciar a lide ao motorista do veículo oficial, sendodefeso ao juiz condicionar a denunciação à confissão de culpa peloEstado - REsp 13.621, v. u., Rel. Min. Gomes de Barros, ac. de 264-1993 (na íntegra no Anexo II). Idem, a 2ª Turma, no REsp 15.614,RSTJ, 58:260, Rel. Min. José de Jesus.E ainda a 1ª Turma no REsp 156.289, Rel. Min. Demócrito Reinaldo:"O Estado responde pelos danos que seus agentes causarem aterceiros. Sua responsabilidade é objetiva, independe de dolo ou culpa. O agente público causador do dano, por sua vez, indeniza regressivamente a Administração Pública.Em virtude do direito de regresso existente entre o Estado e ofuncionário de seus quadros, é admissível a denunciação da lide, comarrimo no art. 70, III, do CPC, para que o servidor causador do danointegre a relação processual na condição de litisdenunciado" (ac. de29-4-1999, DJU, 2-ago.-1999, p. 143).A 1ª Turma do STJ entendeu cabível, outrossim, o ajuizamentoda demanda tanto contra o Estado como contra o motorista do veículo oficial (REsp 34.930, v. u., Rel. Min. Milton Luiz Pereira, ac.de 15-3-1995, RSTJ, 77:100). Essa orientação continua sendo mantida,como se verifica do aresto cuja ementa é a seguir transcrita:"A denunciação da lide contra servidor público autor do ato ilícito discutido em ação de responsabilidade civil proposta contra o PoderPúblico, se por este requerida, não pode ser indeferida pelo juízo. (p. 89)A adoção desse sistema de fixação de tal relacionamento processual visa se homenagear o princípio da economia processual, evitando-se uma nova demanda. Efeitos da ação regressiva" (REsp95.368, STJ, 1ª Turma, Rel. Min. José Delgado, ac. de 10-10-1996,DJU, 18-nov.-1996, p. 44849).

47.3. O problema do art. 197, § 2º, da Lei n. 1.711/52O Prof. Edson Ribas Malachini apresentou argumento novo,com base no art. 197, § 2º, da Lei n. 1.711/52 - Estatuto dos Funcionários Públicos Civis da União - pelo qual somente após o trânsito em julgado da sentença condenatória da Fazenda seria possível,a esta, ajuizar ação regressiva contra o servidor autor do dano.Mas o argumento perde validade se ponderarmos que a citadanorma estatutária foi editada ao tempo do CPC de 1939, que limitavaa denunciação da lide à hipótese de evicção, com a intervenção doterceiro (então "chamamento à autoria") como substituto processualdo denunciante. A pretensão regressiva somente podia ser exercidaem ação "direta", ajuizada posteriormente (CPC/39, art. 101). Assim, a regra estatutária refletia uma ordem no sentido de que a Fazenda promovesse a ação de reembolso contra o funcionário responsável pelo dano sofrido pelo autor da indenizatória.A respeito dessa obrigação, a cargo da Procuradoria da União,foi expressa a Lei n. 4.619/65, fixando o prazo de 60 dias para apropositura da ação regressiva.Com o advento do vigente CPC resultou profundamente alterada a estrutura e sistemática da denunciação; à regra estatutária,destarte, não mais poderá ser conferido o alcance propugnado peloilustre processualista (RP, 41:20).

47-A. Denunciação da lide ao Instituto de Resseguros do Brasil - IRB

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É bastante peculiar a situação processual do Instituto de Resseguros do Brasil - IRB, nas ações promovidas por beneficiários contra seguradoras. Questiona-se se ingressará no processo como assistente da seguradora, ou na posição de litisconsorte passivo.O Decreto-lei n. 73/66, portanto anterior ao vigente CPC, dispõe expressamente: (p. 90)"Art. 68. O IRB será considerado litisconsorte necessário nas ações de seguro, sempre que tiver responsabilidade no pedido.§ 1º A Sociedade Seguradora deverá declarar na contestação, se o IRB participar na soma reclamada. Sendo ocaso, o juiz mandará citar o Instituto e manterá sobrestadoo andamento do feito até a efetivação da medida processual.§ 6º As sentenças proferidas com inobservância do disposto no presente artigo serão nulas".Como está no REsp 70.596-MG (STJ, 3ª Turma, ac. de 31-101995, Rel. Min. Waldemar Zveiter), com remissão ao art. 47 do CPC,o entendimento consolidado na jurisprudência da 3ª Turma do STJ éno sentido de que "a posição do IRB, em ações de seguro, com oadvento do CPC de 1973, criando o instituto da denunciação da lide,continua sendo a de litisconsórcio necessário, respondendo diretamente ao segurado. A falta de sua citação constitui nulidade, implicando, conseqüentemente, na extinção do processo" (da ementa).Cumpre ponderar tratar-se de litisconsórcio necessário por força de lei, nem sempre por força da natureza da relação jurídica questionada.Note-se que o IRB, no regime securitário brasileiro, e tendo emvista o direito material, pode apresentar-se em posições diversas. Porvezes, está na relação material como verdadeiro segurador, como nagarantia contra riscos políticos nas operações de exportação. Em outras circunstâncias, figura como ressegurador e também como segurador complementar a partir de determinado limite.Com freqüência, é apenas ressegurador, caso em que sua situação no processo melhor se enquadra como de assistente litisconsorcial,e não como mero litisconsorte; e isso além de figurar como denunciadopela ré seguradora.No exame doutrinário da posição processual do IRB é mister,portanto, inquirir da relação de direito material. Todavia, por forçade lei, cumpre seja citado como litisconsorte, ainda que nada devaem pecúnia, diretamente, ao beneficiário do seguro.Como tivemos oportunidade de afirmar, em sede jurisprudencial,"nos casos de sinistro indenizável, deve a seguradora a quantia representativa do justo adimplemento do contrato, e deve o Instituto de Resseguros do Brasil a declaração de vontade autorizadora do pagamento"(TJRGS, 1ª Câm. Cív., Ap. 15.896, ac. de 3-8-1971, RJTJRGS, 28:267). (p. 91)

48. Da possibilidade de ação regressiva em processo autônomoCumpre salientar que, nos casos do art. 70, III, a obrigatoriedadeda denunciação da lide merece interpretação restritiva; não exercitada a denunciação, a parte perderá apenas as vantagens processuaisdela decorrentes, mas não perde a pretensão de direito material; portanto, a ação regressiva poderá ser ajuizada posteriormente, em processo autônomo{66}.José Ignacio Botelho de Mesquita sustenta inclusive ser "... possível afirmar que a ação autônoma de evicção sobrevive ainda nosseguintes casos:a) quando a citação de quem foi tempestivamente denunciado pelo réu ou pelo autor não se realiza nos prazos do art. 72;b) quando, em relação ao réu, o risco de evicção emerjade ações diferentes das referidas nos incs. I e II do art. 70 doCódigo de Processo Civil, e a denunciação não tenha sidorequerida no prazo da contestação, tendo, porém, sido posteriormente requerida a notificação do litígio ao alienante;c) quando o autor, não tendo sido denunciado à lide na

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petição inicial, requeira posteriormente a notificação do litígio ao alienante" (conferência proferida na OAB/DF, em 128-1980, e publicada pela Revista Ajuris, v. 22).Anoto ainda que novos casos de ação regressiva autônoma resultam de leis recentes. Por exemplo:66. Na opinião de Aroldo Plínio Gonçalves, todavia, a obrigatoriedade dadenunciação da lide, sob pena de perda da própria pretensão regressiva de direito material, permanece naqueles casos do item III em que tenha ocorrido"transmissão de direitos", isto é, nos casos de garantia própria ou formal (v.item 43). Nos demais, os mais numerosos (casos de garantia imprópria, por responsabilidade civil), tem por resguardada a faculdade de propositura da ação regressiva em posterior processo autônomo (Da denunciação, cit., § 324 e passim).Refere Sydney Sanches que, nas hipóteses tanto do inciso II como do incisoIII, o descumprimento do ônus de requerer a denunciação da lide "não implicana perda do direito à ação autônoma e menos ainda do direito material de indenização ou de regresso; a omissão apenas impede a formação, desde logo, nosmesmos autos, de título executivo contra o terceiro (art. 76) e sujeita o omissoaos riscos integrais de uma ação autônoma, em que amplamente se poderá discutir toda a matéria de fato ou de direito relacionada (inclusive) ao mérito, ventilada, ou não, bem ou mal explorada na ação originária" ("Denunciação dalide", RP, 34:50). (p. 92)d) nos casos de ação sob o rito sumário, em que é defesa a intervenção de terceiro, salvo assistência e recurso deterceiro prejudicado - CPC, art. 280, I, com a redação daLei n. 9.245, de 26-12-1995;e) nos casos de demanda perante os Juizados EspeciaisCíveis - Lei n. 9.099/95, em que não é admitida qualquerforma de intervenção de terceiro (art. 10);f) o Código de Defesa do Consumidor - Lei n. 8.078,de 11-9-1990 - proíbe a denunciação da lide, para o exercício do direito de regresso pela pessoa que indenizar o prejudicado contra os demais responsáveis, devendo a demanda regressiva ser ajuizada "em processo autônomo", processo autônomo este que, por economia procedimental, "poderá" ser promovido "nos mesmos autos" da ação originária- Lei n. 8.078, arts. 88 e 13, parágrafo único.Igualmente a ação "autônoma" deve ser preservada naquelescasos em que a denunciação poderia ser feita, nos termos do art. 70,III, mas foi indeferida pelo juiz.Assim decidiu a 4ª Turma do STJ no REsp 8.698 (ac. de 25-61991, Rel. Min. Athos Carneiro, v. u.) sob a ementa seguinte:"... Denunciação da lide ao motorista culpado pelo acidente. Em princípio, pode ser feita - CPC, art. 70, III; mas,se indeferida, ficará resguardado o direito de regresso emação autônoma. A anulação de todo o processado, desde aaudiência, iria contra o princípio da economia processual,que a denunciação da lide, máxime nos casos de "garantiaimprópria", busca resguardar".E também no REsp 11.599 (Rel. Min. Sálvio de Figueiredo,DJU, 28-mar.- 1994, p. 6324), de cuja ementa consta:"... Os princípios da economia e da celeridade podemjustificar a não anulação parcial do processo onde indevidamente não se admitiu a denunciação da lide (CPC, art. 70,III), ressalvado ao denunciante postular seus eventuais interesses na via autônoma".Conforme decidiu a 2ª Turma do STJ, no REsp 94.274 (Rel.Min. Hélio Mosimann,j. 23-2-1999, DJU, 17-maio-1999, p. 152):"Indeferida a denunciação da lide, e julgada a causa,com ressalva do direito de regresso contra o autor do ato (p. 93)danoso, não houve prejuízo ao denunciante que deva ser reparado, não se justificando a anulação do processo".No mesmo sentido o REsp 126.484, 4ª Turma, Rel. Min. BarrosMonteiro: "... se já julgada a causa, não se anula o processo por ausência de prejuízo a

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o denunciante, a que é facultado através de açãoautônoma exercer o seu direito de regresso contra o denunciado"(DJU, 30-ago.-1999, p. 72, ac. de 4-5-1999).

49. Procedimento na denunciação da lide pelo autorQuando o titular da (eventual) pretensão regressiva for o autor,deve a denunciação ser requerida na própria petição inicial (CPC,art. 71). O autor pedirá a citação do denunciado e a citação do réu.Será feita, em primeiro lugar, a citação do denunciado, o qual poderádefender-se quanto à ação regressiva e poderá, também, assumindo aposição de litisconsorte do autor (pois seu interesse é na procedênciada ação principal), aditar a petição inicial (CPC, art. 74).Embora as reservas de alguns autores quanto à possibilidade de odenunciado pelo autor exercer a faculdade de aditar a petição inicial, arespeito é a lei expressa; em verdade, pode assistir interesse ao denunciado em reforçar a posição do demandante, de molde a tomar maisviável a procedência da ação principal, assim resguardando, ele, denunciado, seu próprio interesse em que não surja a pretensão regressiva.Em que consiste o aditamento?Pode consistir, por exemplo, em acrescentar o denunciado, jáagora como "litisconsorte" do autor, uma nova causa petendi, ou emtrazer mais elementos e argumentos de fato ou de direito à petiçãoinicial, ou quiçá em expungi-la de irregularidades que poderiam torná-lainepta. Mas não pode o denunciado, porque não é o dominus litis, alterar substancialmente o próprio pedido formulado pelo denunciante, oucumular pedidos outros; nem teria interesse algum nisso, uma vez queo eventual direito regressivo do autor contra o denunciado exercerse-á nos limites da sucumbência, que não pode ultrapassar o pedido.Somente depois de citado o denunciado, e de transcorrido oprazo para contestar a demanda regressiva e aditar a inicial da açãoprincipal, proceder-se-á à citação do réu{67}.67. Agrícola Barbi considera uma incorreção possa o denunciado peloautor modificar a petição inicial, pois é o autor o dominus litis ("Denunciaçãoda lide", Digesto de Processo, Forense, v. 2). Milton Flaks sustenta que por (p. 94)

50. Procedimento na denunciação da lide pelo réuQuando o titular da (eventual) pretensão regressiva for o réu (como mais comumente ocorre), deverá ele oferecer a denunciação e requerer a citação do denunciado no mesmo prazo de que dispõe paracontestar a ação principal (CPC, art. 71), isso sem prejuízo de oferecer,desde logo, sua resposta (CPC, art. 297) ao pedido do demandante.O réu, pois, contesta a ação principal e apresenta a denunciaçãoda lide, invocando a pretensão de reembolso{68}.A denunciação da lide é, de regra, promovida por uma das partes do processo contra um terceiro. Mas nada impede seja apresentada por uma parte contra quem esteja como seu litisconsorte no processo "principal", uma vez integrados os pressupostos do art. 70 doCódigo de Processo Civil.Um réu, v. g., denuncia a lide ao seu litisconsorte, caso entendaassistir-lhe direito de reembolso, contra o denunciado, pelo que tiverde pagar ao autor. Figuremos, como exemplo, a hipótese de o proprietário do automóvel mover ação indenizadora contra a pessoa a quememprestara o veículo e contra o dono da garagem onde o comodatárioo guardara, sendo nesse local danificado o carro. Embora também réuaditar deve-se entender a formulação de novos argumentos que justifiquem opedido do autor, parecendo-lhe entretanto defeso ao denunciado "formular pedido diverso ou inovar a causa petendi" (Denunciação, cit., n. 115).68. Interessante situação surge quando o réu, citado, requer tão-somente adenunciação da lide, abstendo-se de, na mesma oportunidade, apresentar contestação. Se o

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juiz ordena a citação do denunciado antes de findo o prazocontestacional (ficando, em conseqüência, "suspenso o processo" - art. 72,caput), poderá posteriormente o réu e denunciante apresentar contestação, ainda em tempo hábil, quando reiniciado o andamento da ação principal?Parece-nos que não. O denunciado, para habilitar-se à sua própria defesa,necessita conhecer a posição de denunciante relativamente aos fatos e pretensões apresentados na petição inicial. Ao Limitar-se ao pedido de intervenção doterceiro, o réu implicitamente aceitou os fatos postos na inicial e permitiu apreclusão de seu direito de contestar.Todavia, se o denunciado vier a contestar não só a ação regressiva, comotambém o pedido formulado na ação principal (pois nesta se torna litisconsortepassivo), então não se produzirá o efeito da revelia, ante o disposto no art. 320,I, do Código de Processo Civil: "A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigo antecedente: I - se, havendo pluralidade de réus, algum delescontestar a ação". (p. 95)na ação "principal", o dono da garagem é "terceiro" relativamente àeventual pretensão regressiva do réu comodatário, e nessa qualidadepode ser denunciado.Outro exemplo: ação de reintegração de posse promovida contra arrendatário e arrendante, como litisconsortes passivos; poderá oarrendatário exercer, de logo, através da denunciação, a pretensão deindenização que tiver contra o arrendador se a demanda possessóriafor procedente.Nos casos de ação sob procedimento sumário, é vedada adenunciação da lide (art. 280, I, com redação dada pela Lei n. 9.245,de 26-12-1995).

51. Rejeição liminar da denunciação. Impossibilidade dadenunciação no processo de execução e no processo cautelar

51.1. A denunciação está sujeita ao liminar indeferimentoO juiz pode, entretanto, entender que, em face dos próprios termos da demanda, não é, em tese, caso de denunciação da lide (assimnos casos de ações sob procedimento sumário); pode, outrossim, considerar ocorrente qualquer dos casos previstos no art. 295 do Códigode Processo Civil como de indeferimento da petição inicial. Rejeitará então, liminarmente, a petição de denunciação da lide.Tal decisão é interlocutória (CPC, art. 162, § 2º), cabendo aodenunciante impugná-la mediante agravo de instrumento{69}.Formalmente, a denunciação da lide deve ser oferecida em petição própria, com os requisitos do art. 282 do Código de ProcessoCivil (1ª Câm. Cív. do TJRS, AI 31.405, j. 19-12-1978, Rel. Des.Athos G. Carneiro, RJTJRS, 74:368).Não haverá maior inconveniente, todavia, em que seja redigidana mesma peça da petição inicial (na denunciação pelo autor) ou dacontestação (na denunciação pelo réu), dês que obedecidos os requisitos mencionados, e formalmente destacada a denunciação.69. Conforme já referido (verbete 24), a denunciação da lide é inadmissível no processo perante o Juizado Especial, bem como nas causas sob procedimento sumário, sempre ressalvada a possibilidade de a pretensão regressiva serexercitada em processo autônomo. V. verbete 48. (p. 96)

51.2. A denunciação é instituto típico do processo de conhecimentoDe outra parte, a denunciação da lide é incabível e, pois, deveser liminarmente rejeitada, em não se cuidando de processo de conhecimento, a culminar com a sentença a que alude o art. 76 do CPC.No magistério de Aroldo Plínio Gonçalves, a denunciação "éinstituto típico do processo de conhecimento, e só dele, não sendocabível, de modo algum, em razão exclusivamente de sua naturezajurídica, por absoluta incompatibilidade, no processo de execução

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que visa atuar praticamente a norma jurídica concreta através de atosmateriais, nem no processo cautelar, cuja finalidade é resguardar oresultado útil de outro processo" (Da denunciação da lide, Forense,1983, p. 312-3){70}.O Prof. Arruda Alvim sustenta a "visceral incompatibilidadeentre o instituto e a execução, no sentido de ser inviável, em sede deexecução, denunciar a lide, nos termos dos arts. 70/76" (Manual dedireito processual civil, 6. ed., Revista dos Tribunais, v. 2, p. 198){71}.Em última análise, no processo de execução não surge ocasião"para que o juízo profira sentença equiparável àquela por que normalmente se encerra o processo de conhecimento. Daí não ser possível qualquer exame de direito regressivo, nem, por conseguinte, adenunciação da lide, que sem ele não tem utilidade alguma" (Barbosa Moreira, em sede jurisprudencial, apud Milton Flaks, Denunciaçãoda lide, Forense, 1984, n. 167).70. Conforme ensinou o saudoso Agrícola Barbi: "Examinando as características do procedimento de execução dessa natureza" (fundado em títuloextrajudicial) "verifica-se que nele não há lugar para a denunciação da lide.Esta pressupõe prazo de contestação, que não existe no processo de execução,onde a defesa é eventual e por embargos. Além disso, os embargos são umaação incidente entre o executado embargante e o exeqüente, para discussão apenas das matérias da execução. Não comportam ingresso de uma ação indenizatóriado embargante com um terceiro. A sentença que decide os embargos apenasdeve admiti-los, ou rejeitá-los, não sendo lugar para decidir questões estranhasà execução" (Comentários, cit., v. 1, n. 425).71. Com ainda maiores razões, é inadmissível a denunciação no processode execução por título judicial, pois a oportunidade da denúncia terá sido noprocesso de conhecimento que precedeu à formação do título (Milton Flaks,Denunciação, cit., ns. 166 e 167). Consigno que Milton Flaks admite a denúnciada lide, porém sem o caráter de ação regressiva, em demandas cautelares, inclusive nas destinadas à prévia constituição de prova (Denunciação, cit., n. 169). (p. 97)Afirmam alguns doutrinadores, com limitada repercussão najurisprudência, a possibilidade, na ação cautelar, de a lide ser denunciada àquele que, no processo "principal", poderá vir a ser denunciado.Essa intervenção (v. g., da seguradora em vistoria requerida contraseu segurado pela vítima de dano), todavia, apresentar-se-á comoatípica: não será uma denunciação da lide, pelo simples motivo deque não contém, "ainda", a futura e eventual pretensão regressiva.Em última análise, uma espécie de "assistência provocada",como a denominou Cândido Dinamarco (Fundamentos do direito processual civil moderno, 2. ed., Revista dos Tribunais, 1987, p. 340-2).

51-A. Denunciação da lide e prazo em dobroNos termos do art. 191 do CPC, "quando os litisconsortes tiverem diferentes procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os prazospara contestar, para recorrer e, de modo geral, para falar nos autos".De outra parte, e nos termos dos arts. 74 e 75, II, se o denunciadopelo autor comparece, assumirá a posição de litisconsorte do denunciante; se o denunciado pelo réu aceita a qualificação que lhe foi atribuída e contesta o pedido, o processo prossegue entre o autor, de umlado, e de outro, como litisconsortes, o denunciante e o denunciado.A jurisprudência dominante no STJ é no sentido de que os prazos são contados nos termos do aludido art. 191 quando o litisdenunciado contesta o pedido formulado na ação principal e possuiprocurador outro que não o do denunciante, e isso mesmo se apenasum deles houver apelado da sentença (AI 133.348, Min. Sálvio deFigueiredo, Dec. de 22-4-1997, DJU, 5-maio-1997, p. 17301).Assim igualmente a 3ª Turma: "Aceita a denunciação, opondose o denunciado ao que foi pleiteado na demanda principal e tendoprocurador distinto do denunciante, incide o disposto no art. 191 do

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CPC" (REsp 162.170, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, 4-3-1999, DJU,26-abr.-1999, p. 94).A regra da contagem majorada dos prazos, no entanto, não incidese o denunciado se limita a negar a existência do vínculo do qualdecorreria o invocado direito de regresso (REsp 68.314, Rel. Min.Eduardo Ribeiro, DJU, 11-dez.- 1995; REsp 123.562, ac. de 5-8-1997,mesmo Relator; 3ª Turma, AgRg em AI 166.206, ac. de 24-3-1998,mesmo Relator, DJU, 15-jun.-1998, p. 132). (p. 98)

52. Prazos para a citação do denunciado

52.1. Sanção para a não-observância dos prazosAceitando o juiz a denunciação, e ordenada a citação, "ficarásuspenso o processo" (CPC, art. 72, caput). Na verdade, suspendem-se apenas os atos relacionados com a ação principal, enquantose procede à citação do denunciado. Tal citação cumpre seja feitaem 10 dias, quando residente na mesma comarca onde foi ajuizadaa demanda, ou em 30 dias, quando residente em outra comarca ouem lugar incerto (art. 72, § 1º).Se tais prazos não forem observados por culpa ou desídia dodenunciante, o pedido de denunciação perde sua eficácia, e o denunciante irá arcar com as conseqüências decorrentes da não-denunciação(perda do próprio direito regressivo, nos casos de evicção; ou perdadas vantagens processuais da denunciação, nos demais casos).Pode entretanto ocorrer, e freqüentemente ocorre, que a demorana citação resulte não da conduta do denunciante, mas sim de deficiência dos próprios serviços judiciários (oficial de justiça, v. g., omissono cumprimento do mandado, ou com acúmulo de serviço), ou decorra de força maior (greve dos transportes, inundações etc.), ou seja,conseqüência das próprias circunstâncias da causa, que impossibilitem ou dificultem extremamente a observância dos limitados prazosde lei (v. g., casos de denunciado residente no estrangeiro, ou emviagem, ou paciente de doença grave ou morador em local distantecom problemas no cumprimento da precatória citatória).De acordo com a lei (CPC, art. 72, § 2º), "não se procedendo àcitação no prazo marcado, a ação prosseguirá unicamente em relaçãoao denunciante".

52.2. Subsistência da ação autônoma regressiva nos casos dedemora sem culpa do denuncianteTal solução é adequada na hipótese de culpa do denunciante,com as conseqüências já acima referidas. Mas, se ausente culpa, etendo em vista fundamentalmente a função instrumental do processo, certas ponderações merecem ser feitas, para harmonizar, de umaparte, o interesse do autor em que o processo não sofra delongasexcessivas; de outra parte, o interesse do denunciante em obter, nomesmo processo, a tutela de sua pretensão de reembolso{72}.72. O denunciante, ensina Sydney Sanches, sofre as conseqüências dafalta de citação do denunciado no prazo legal, inclusive as de direito material,se para a demora concorreu com dolo ou culpa (RP, 34:53). (p. 99)Parece-nos caberá então ao magistrado, em sua alta missão de"velar pela rápida solução do litígio" (CPC, art. 125, II), das duas uma:a) autorizar a citação do denunciado mesmo após esgotado oprazo, caso a demora não seja de molde a prejudicar notavelmente oautor da demanda. Assim nos casos de citação por edital, que dificilmente poderá completar-se no prazo de 30 dias previsto no art. 72, §1º, b; ou se o denunciado está prestes a retornar de viagem, ou arestabelecer-se de doença grave;b) poderá determinar o prosseguimento da ação "unicamenteem relação ao denunciante", mas resguardando a este o ajuizamento

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futuro, se for caso, da ação de evicção em processo autônomo (solução preconizada por Botelho de Mesquita - v. verbete 48).Em Ciclo de Estudos de Processo Civil (realizado em Curitiba,em agosto de 1983), resultou aprovada por unanimidade tese queapresentamos, com a seguinte conclusão:"A ação autônoma regressiva subsiste quer nos casosem que é "relativa" a obrigatoriedade de denunciação da lide(casos de responsabilidade civil), como ainda em hipótesesoutras, inclusive nos casos em que a citação do denunciadonão se efetivou nos prazos legais (art. 72, § 2º do CPC) semque para tanto tenha concorrido culpa do denunciante".A 4ª Turma do STJ, no REsp 71.572 (1. 10-11-1997, Rel. Min.Cesar Rocha), decidiu que "se a demora da citação do denunciadodecorre de deficiências do próprio serviço judiciário, sem que tenhahavido culpa ou dolo do denunciante, não se pode apontar nenhumacontrariedade do art. 72, § 2º, do CPC" (Boletim STJ, 4:33, mar. 1998).

53. Problemas das denunciações "sucessivas"

53.1. Art. 73 do Código de Processo CivilO Código de Processo Civil, no art. 73, prevê sucessivasdenunciações da lide. Assim, "o denunciado, por sua vez, intimarádo litígio" ao seu alienante, ou às pessoas indicadas no art. 70, II eIII, "para os fins do disposto no art. 70".Por exemplo, em caso do art. 70, I (garantia contra a evicção), oadquirente B, réu na reivindicatória, denuncia a lide ao seu alienanteC; por sua vez, C "intimará do litígio" a pessoa de quem houve obem, D; este fará intimar E, e assim sucessivamente. (p. 100)Há, sem dúvida, um risco de eternização do processo, com aconvocação de sucessores de alienantes já falecidos etc. Por isso,Arruda Alvim sustentou que o Código teria usado propositadamentedo verbo "intimar" e não do verbo "citar"; a intimação não tornaria osintimados réus de sucessivas demandas regressivas, mas apenas serviria para cientificá-los do processo, a fim de que nesse pudessem intervir, como assistentes{73}. Posteriormente, o Prof. Arruda Alvim modificou seu ponto de vista, passando a admitir a denunciação sucessiva dalide, que, todavia, não deverá ser aceita no caso de "delonga a dano doautor, principalmente" (Manual, cit., 6. ed., v. 2, n. 68, p. 168).

53.2. Possibilidade do chamamento "coletivo"De outra parte, com excelentes fundamentos, o eminente Prof.Moniz de Aragão, sob diferentes premissas, admite o chamamento"coletivo" à autoria, isto é, a denunciação da lide não somente aoalienante como igualmente, na mesma ocasião, a "todos osantecessores na cadeia dominial".Seria facultado, assim, o chamamento conjunto de todos os anteriores proprietários, e não apenas o chamamento gradual previsto nalei. Isso "sem prejuízo do direito que assiste a cada um dos litisdenunciados de, em defesa oposta ao chamamento, procurar eximir-seda responsabilidade pela garantia e pela evicção" ("Sobre o chamamento à autoria", artigo de doutrina publicado na Revista do Instituto dos Advogados do Paraná, 1979, n. 1; Ajuris, 25:22).No Ciclo de Estudos de Processo Civil,já referido neste Capítulo, teve aprovação unânime tese por nós apresentada com a seguinte conclusão:"As denunciações sucessivas, previstas no artigo 73 doCPC, poderão ser feitas "coletivamente", ou seja, requeridas"em conjunto" pelo denunciante, assim abreviando o processo e melhor se assegurando o êxito da demandaindenizatória de regresso, no caso de insolvência ou ausência de algum dos anteriores proprietários na cadeia"{74}

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73. Cf. Arruda Alvim, Código de Processo Civil comentado, cit., v. 3,coment. ao art. 73.74. Essa tese resultou aceita pela 4ª Turma do STJ, no REsp 4.589, de quefomos relator, e em cuja ementa é afirmada a "admissibilidade da "denunciaçãocoletiva", com chamamento conjunto, e não "sucessivo", dos vários antecessoresna cadeia de proprietários ou possuidores" (ac. de 19-6-1991, v. u., RSTJ, 27:303). (p. 101)

53.3. Possibilidade de o juiz indeferir sucessivas denunciações da lideParece imperativo, neste passo, reafirmar, com Sydney Sanches,que a denunciação da lide, em nosso direito, é instituto que guardaoriginal feição e, "se atende ao princípio da economia processual,não deve ser interpretado de tal modo que venha a pôr em risco essemesmo princípio, em detrimento da presteza da prestaçãojurisdicional" (RP, 34:59).Daí a necessidade de resguardar ao magistrado a possibilidadede indeferir sucessivas denunciações da lide (com evidente ressalvade posterior ação "direta"), naqueles casos em que venha a ocorrerdemasiada demora no andamento do feito, com evidente prejuízo àparte adversa ao denunciante originário.{75 e 76}75. Assim, tive por correta a decisão pela qual o juiz, em determinada demanda processada no Estado do Rio Grande do Sul, por ocasião do saneamento,indeferiu sucessivas denunciações da lide, mandando prosseguisse apenas a demanda inicial. Era ação indenizatória, que proprietário rural intentou contra olindeiro, por prejuízos causados na propriedade do demandante em decorrênciade pulverização de "defensivos" na gleba vizinha; o réu denunciou a lide à empresa de aviação agrícola, com quem contratara a empreitada; esta, por sua vez,denunciou a lide ao piloto da aeronave, a quem atribuiu eventual negligência, eainda à empresa fabricante do produto, por excessivamente tóxico. A averiguaçãodos fatos, alguns provavelmente exigentes de perícia, argüidos nas sucessivasdenunciações, certamente conduziria o andamento do feito a imensa demora, commanifesto agravo ao demandante inicial, notando-se, mais, que, se julgada improcedente a demanda originária, todo o esforço processual das demandas sucessivasiria cair no vazio. Bem se conduziu, destarte, no caso concreto, o magistrado, emsua missão precípua de conduzir o processo com vistas à sua função instrumental,velando "pela rápida solução do litígio" (CPC, art. 125, II).76. No STJ, fui relator do REsp 9.876 (4ªTurma, ac. de 25-6-1991,RSTJ,24:466), sob a ementa seguinte:"Denunciação da lide. Artigo 70, III, do CPC. Denunciações sucessivas. Possibilidade de indeferi-las.Ação indenizatória, promovida por paciente contra estabelecimento hospitalar, com posterior intervenção do Banco de Sangue, que denunciou a lideaos laboratórios encarregados da análise do sangue utilizado em transfusões.Embora admitida exegese ampla ao disposto no art. 70, III, do CPC,não está o magistrado obrigado a aceitar sucessivas denunciações da lide,devendo indeferi-las (certamente que com resguardo de posterior "açãodireta"), naqueles casos em que possa ocorrer demasiada demora no andamento do feito, com manifesto prejuízo à parte autora.Recurso especial não conhecido". (p. 102)

54. Casos de "nomeações" ou de "denunciações" ineptas ou descabidas

54.1. Do indeferimento, em princípio, de tais intervenções anómalasNa prática forense ocorrem com freqüência, por incompreensãodas finalidades e da natureza do instituto da denunciação da lide,casos de absoluto descabimento do pedido de intervenção de terceiros.Não olvidar que o instituto da denunciação da lide pressupõe alegitimidade, na causa principal, daquele que pretende a intervençãodo terceiro; se o denunciante "foi declarado ilegitimado ad causam,

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fica prejudicada a denunciação da lide" (REsp 72.604, Rel. Min. AriPargendler, DJU, 15-set.-1997, p. 44337){76}-A.Vezes muitas o réu, em lugar de simplesmente argüir, em contestando, sua ilegitimidade para acausa (ou, v. g., negar a autoria dosfatos que lhe são imputados), resolve pedir sua exclusão do processoe requer a "citação" da pessoa que considera ser a parte legítima ouque aponta como sendo o real autor dos fatos.Ora, a substituição do réu parte ilegítima pelo réu parte legítimaopera-se mediante a nomeação à autoria, somente cabível, todavia,nos casos expressamente previstos nos arts. 62 e 63 do Código deProcesso Civil. E a denunciação da lide, esta pressupõe a mantençado denunciante na relação processual e a sua pretensão regressivacontra o denunciado.Em tais casos, ainda que acobertados pela equivocada menção auma "denunciação da lide", deverá o juiz rejeitar liminarmente o pedido de intervenção de terceiro. Ao autor, e não ao réu, assiste o direito e o ônus de indicar qual a pessoa contra quem pretende a prestaçãojurisdicional, não sendo lícito a essa pessoa, salvante os casos expressamente previstos em lei, querer corrigir a conduta do demandante, querpostulando sua exclusão do processo com a inclusão de outrem,quer pretendendo que terceiros venham acompanhá-la em litisconsórcio.76-A. O STJ, por sua 3ª Turma, explicitou que a denunciação da lide não éadmissível "quando o reconhecimento da responsabilidade do denunciado suponha seja negada a que é atribuída ao denunciante. Em tal caso, se acolhidas asalegações do denunciante, a ação haverá de ser julgada improcedente e não haverá lugar para regresso" (REsp 58.080, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, ac. de 18-31996, DJU, 29-abr.-1996, p. 13413) (acórdão transcrito na íntegra no Anexo II).No mesmo sentido o REsp 97.675 (4ª Turma, ac. de 19-2-1998, Rel. Min.Barros Monteiro, RSTJ, 111:239). (p. 103)Quando o réu se considera parte ilegítima ad causam, cumprelhe suscitar a carência de ação, para que o juiz a declare por sentença, ficando então evidentemente salva ao autor a possibilidade defutura demanda contra os "verdadeiros" réus.E também não pode o demandado pretender a formação delitisconsórcio passivo não necessário, a não ser nas hipóteses expressamente referidas (CPC, art. 77) como de "chamamento ao processo". Menos ainda poderá o juiz, em casos tais ou análogos, determinar de ofício a "denunciação da lide" a terceiros.

54.2. Da consideração jurisprudencial a situações "peculiares"Não obstante essas considerações, situações peculiares têm levado a jurisprudência, por economia processual e na ausência dequalquer prejuízo às partes, a admitir tais formas anômalas de "substituição" da pessoa do réu.Assim, em ação de indenização por acidente de trânsito, promovida contra quem já não era o proprietário do veículo apontadocomo causador do sinistro, a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça decidiu sob a ementa seguinte:"Em linha de princípio, a denunciação da lide não se presta àsubstituição da parte passiva. Contudo, se o réu alega ser parte ilegítima e ao mesmo tempo denuncia a lide ao verdadeiro responsável, eeste, aceitando a litisdenunciação, contesta o pedido formulado peloautor, passando à condição de litisconsorte passivo, não há prejuízoem que a sentença dê pela carência da ação em relação ao denunciante, e pela procedência ou imocedência da pretensão quanto ao denunciado" (REsp 23.039, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo, RSTJ,47:263, ac. de 25-11-1992, na íntegra no Anexo II){77}.77. No mesmo sentido o REsp 1.959 (4ª Turma, Rel. Min. Bueno de Souza, ac. de 9-2-1993), no qual em hipótese semelhante foi considerado comoexcesso de formalismo dar pela nulidade do processo ou, mesmo, da sentença", pois a realidade dos autos superara o modelo processual: "Empregou-se na

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prática, basicamente, o modelo da nomeação-autoria e obteve-se um resultadoque, embora não se recomende nem corresponda ao exato manuseio dos institutos processuais, contudo, ajusta-se com a instrumentalidade que deve presidir aatividade de prestação jurisdicional". (p. 104)

55. Conduta do denunciado, na denunciação pelo réuO Código de Processo Civil, em seu art. 75, dispõe sobre asconseqüências das diversas atitudes que pode adotar o denunciado,quando feita pelo réu a denunciação.O texto da lei propicia dúvidas, pois parece redigido sob certainfluência da sistemática do Código de Processo Civil de 1939{78}.Cumpre ao intérprete apreciar os itens do aludido artigo comvistas ao sistema instituído pelo vigente Código de Processo Civil: adenunciação da lide é uma ação, e, pois, após citado, o denunciadotorna-se inafastavelmente réu na ação de denunciação, e sujeito, noslimites do pedido regressivo, às conseqüências da coisa julgada naação principal.

56. Procedimento no caso de "aceitação" da denúncia. Possibilidade de execução "direta" do autor contra o denunciado

56.1. O denunciado como "litisconsorte" do denunciante, sujeito àcoisa julgada da ação principalO art. 75, I, dispõe que, se o denunciado "aceitar" a denunciaçãoe contestar o pedido, o processo prosseguirá entre o autor, de umlado, e de outro, como litisconsortes, o denunciante e o denunciado.A uma primeira leitura, poderia parecer ressalvado ao denunciado o direito de "não aceitar" a denunciação. Entretanto, das duas uma:a) o denunciado, citado, comparece aos autos, podendo inclusiveargüir, na contestação, a preliminar de não ser caso de denunciaçãoda lide; oub) o denunciado não comparece, e então será revel, arcandocom os efeitos da revelia (CPC, arts. 319 e 322), tanto na ação regressiva como na ação principal.Pelo sistema do Código de 1973- embora sublinhando as controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais a respeito - entendemosque tanto o denunciado pelo autor (art. 74) como o denunciado pelo78. Pelo Código de Processo Civil de 1939, o denunciado, comparecendo,assumia a posição de "substituto processual" do denunciante, ficando "defesoao autor litigar com o denunciante" (CPC de 1939, art. 97). E a pretensão regressiva do denunciante, se vencido, era exercida posteriormente, em ação "direta". (p. 105)réu (art. 75, I), em aceitando "a qualidade que lhe é atribuída", tornam-se litisconsortes do denunciante, sujeito portanto o denunciadoà eficácia da coisa julgada na ação principal, além de naturalmentetambém sujeito à eficácia da coisa julgada na ação regressiva.Em Ciclo de Estudos de Processo Civil (realizado em Curitiba,em agosto de 1983, pela OAB e pela Associação dos Magistrados doParaná), resultou aprovada por unanimidade tese por nós apresentada, com a seguinte conclusão:"A posição do denunciado pelo réu é, na ação principal, a de litisconsorte do denunciante, nos exatos termos doartigo 75, I, do CPC, em conseqüência, o autor "procedentea demanda principal, poderá executá-la também contra odenunciado, embora com atenção aos limites em que foiprocedente a ação de direito regressivo e à natureza da relação de direito material".

56.2. Ainda a coisa julgada em face do denunciadoA coisajulgada na ação principal assumirá freqüentemente, anteo litisconsorte denunciado, eficácia apenas declaratória.

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Assim, em ação reivindicatória, com denunciação da lide peloréu, a sentença que julgar procedente a reivindicatória terá eficáciacondenatória em face do réu denunciante, e eficácia meramentedeclaratória (de que o vero proprietário é o autor) ante o denunciado;este, portanto, não poderá, de futuro, reivindicar a coisa contra oautor.Já, v. g., no caso de reintegratória de posse contra o arrendatário, com denunciação da lide ao arrendante, a sentença de procedênciada ação principal terá eficácia condenatória contra ambos, arrendantee arrendatário, e contra ambos poderá ser promovida a execução.O problema da eficácia da coisa julgada na ação principal, emface do denunciado, está estreitamente vinculado à natureza das relações de direito material suscitadas na demanda.

56.3. Da execução direta contra o denunciado, com"flexibilização" do sistemaNos casos de ação regressiva por responsabilidade civil (inclusive nas demandas contra o Estado), igualmente consideramos possívelao autor executar a sentença condenatória não só contra o réu denunciante como contra o denunciado, seu litisconsorte por força da (p. 106)lei processual, isso naturalmente dentro dos limites da condenaçãona demanda regressiva.{79}O Min. Ruy Rosado de Aguiar, em recente pronunciamento noSTJ, vem de endossar essa orientação, referindo que sempre lhe parecera que "o instituto da denunciação da lide, para servir de instrumento eficaz à melhor prestação jurisdicional, deveria permitir aojuiz proferir sentença favorável ao autor, quando fosse o caso, também e diretamente contra o denunciado, pois afinal ele ocupa a posição de litisconsorte do denunciante"; e alude à "flexibilização" dosistema, instituída pelo art. 101 do Código de Defesa do Consumidor, que permite, em seu inciso II, o ajuizamento de demanda "diretamente contra o segurador", no caso de falência do réu.Sustentou o eminente magistrado que "o lesado se sub-roga nodireito que o segurado teria contra a sua seguradora, e por isso podedesta cobrar o valor reconhecido na sentença, no limite do contratado".{79-A e 79-B}79. A respeito, o REsp 26.734 (STJ, 3ª Turma, Rel. Min. Dias Trindade,ac. de 6-10-1992), no sentido de que deve prevalecer a regra legal que atribui aqualidade de litisconsorte ao denunciado que contesta o pedido do autor, "o queem última análise, permite que a ele se atribua diretamente o ônus da responsabilidade, com exclusão do denunciante, que, na hipótese, assim o foi porquenão verificada a tradição do bem adquirido... (omissis) ... Embora o inusitado,tenho que, dando inteligência ao art. 75, I do CPC, no que diz respeito à relaçãolitisconsorcial, o acórdão não contrariou tal dispositivo legal...Vide igualmente, com ampla análise doutrinária, o REsp 25.519 - STJ,3ª Turma, ac. de 14-12-1992, v. u., Rel. Min. Nilson Naves, RSTJ, 48:292.79-A. Vale trazer a ementa desse expressivo aresto do STJ, 4ª Turma, sobrea possibilidade da execução direta pela vítima do sinistro contra a seguradora:"Denunciação da lide. Seguradora. Execução da sentença.A impossibilidade de ser executada a sentença de procedência daação de indenização contra a devedora, porque extinta a empresa,permitea execução diretamente contra a seguradora, que figurara no feito comodenunciada à lide, onde assumira a posição de litisconsorte. Não causaofensa ao art. 75, I, do CPC o acórdão que assim decide" (REsp 97.590,Rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, ac. de 15-10-1996, DJU, 18-nov.- 1996,p. 44901, RSTJ, 93:320) (acórdão transcrito na íntegra no Anexo II).79-B. Na Argentina, a Lei n. 17.418 dispõe, em favor do prejudicado econtra o segurador, de uma especial "citación en garantia", pela qual "la sentenciaque se dicte hará cosa juzgada respecto del asegurador y será ejecutable contra

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él en la medida del seguro" (art. 118). Alvarado Velloso entende, a respeito, quese cuida de um caso de legitimação extraordinária "que el legislador ha (p. 107)

56.4. Da execução "imediata" contra o denunciadoCuidando-se a denunciação da lide de uma ação regressiva, emprincípio, para haver a indenização da parte denunciada, deverá odenunciante comprovar o pagamento já feito ao primitivo credor,autor da demanda.Pode, no entanto, ocorrer que o réu não possa pagar ao autor,por encontrar-se ele - réu - insolvente. Estará impedido, então, deexecutar a sentença que julgou procedente a demanda regressiva?Como vimos no item anterior, tem sido admitida a execução"direta" do autor contra o denunciado, principalmente nos casos emque este é uma empresa seguradora. A 4ª Turma do STJ, no REsp115.046 (íntegra no Anexo II) (Rel. Min. Barros Monteiro, RSTJ,116:270), aceitou a possibilidade de o denunciante agir diretamente contra o denunciado, mesmo sem haver feito o pagamento aoautor, constando da ementa: "Possibilidade de que o denunciantevenha aparelhar a execução contra a denunciada. Caso não comprovado o desembolso a que está obrigado o denunciante, cabe aodenunciado, na execução, colocar o numerário à disposição do juízo,a fim de que este oportunamente proceda ao ressarcimento a quefaz jus a vítima".Como se percebe, pela exigência de que o numerário seja postopelo denunciado à disposição do juízo, e não do denunciado, o arestoharmoniza-se com o preceituado no anterior subitem 56.3.

57. Procedimento no caso do art. 75, II, do Código de Processo CivilPelo art. 75, II, no caso de revelia do denunciado, ou de limitarse, em sua contestação, a negar a qualidade que lhe foi atribuída (istoé, o denunciado apenas alega não ser caso de denunciação), o réudenunciante deverá contestar a ação principal e "prosseguir na defesa até final"; se assim não proceder, e perder a demanda principal,não lhe será assegurado o direito regressivo, isto é, sucumbirá também na ação de denunciação ide.puesto en la cabeza de la víctima y del asegurador de su victimario para queaquélla pueda demandar a éste sin pasar previamente por una demanda contra elcausante del daño (asegurado)" (Introducción, cit., p. 174). (p. 108)A revelia do denunciado, portanto, não desobriga, mas sim obriga o réu ao uso de todos os meios conducentes à sua defesa{81}, sobpena de perda do direito de regresso.Em aresto de relatoria do Min. Sálvio de Figueiredo, julgou oSTJ, por sua 4ª Turma, que "não se opera a formação de litisconsórcioquando o denunciado, comparecendo aos autos, nega a qualidadeque lhe é atribuída, não mais se manifestando no processo. Sem formação de litisconsórcio, em tais circunstâncias, não há que se falarem prazo em dobro para recorrer, desmerecendo aplicação a regra doart. 191 do CPC" (AgRg no REsp 67.684, j. 27-6-1996, DJU, 14out.-1996, p. 39011) (acórdão na íntegra no Anexo II).

58. Procedimento nos casos de confissão, ou de reconhecimentodo pedido pelo denunciadoEm decorrência do item III do art. 75, se o denunciado "confessar os fatos alegados pelo autor", e, com mais motivos, quando reconhecer a procedência do pedido formulado na ação principal, ao réudenunciante fica a opção:a) poderá prosseguir em sua defesa, caso entenda que a condutado denunciado não lhe impedirá de vitoriar-se na demanda;b) poderá aderir à confissão ou ao reconhecimento do pedidofeitos pelo denunciado, postulando apenas, em conseqüência, seja

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julgada procedente a ação regressiva.

58-A. Procedimento nos casos de reconhecimento do pedido,ou transação na ação principalVamos supor que, na ação "principal" entre autor e réu-denunciante, venha este a reconhecer a procedência do pedido formuladopelo demandante, ou resolvam o autor e o réu-denunciante transacionar a respeito do pedido. Quais seriam as conseqüências de talreconhecimento, ou de tal acordo relativamente à lide "secundária",à demanda regressiva entre réu denunciante e denunciado?Em nosso entendimento, a homologação judicial do reconhecimentodo pedido formulado na demanda originária, ou do acordo nesta avençado,80. Inclusive recorrendo ordinariamente (apelação, embargos infringentes)da sentença que lhe for desfavorável. Não nos parece, contudo, esteja obrigadoao uso do recurso especial ou do recurso extraordinário, para cuja interposiçãosão exigíveis os pressupostos constitucionais, e não apenas a sucumbência. (p. 109)irá extinguir essa demanda (CPC, art. 269, II e III), mas em princípio nãoprejudicará a demanda regressiva, já agora tomada "autônoma".Assim, o proprietário do veículo, citado em ação indenizatóriapor acidente de trânsito, aceita o pedido do prejudicado ou com estetransaciona, até por considerar legítima a pretensão formulada nainicial. Tal conduta não o inibe de prosseguir na demanda de reembolso movida contra a seguradora denunciada, embora, naturalmente, esta denunciada possa continuar invocando a ausência de responsabilidade por parte de seu segurado; com efeito, os motivos do reconhecimento do pedido, ou os fundamentos da transação, não vinculam o terceiro a quem a lide originária foi denunciada.

59. Eficácia da sentença nos casos de denunciação da lideO art. 76 do Código de Processo Civil dispõe, textualmente,que "a sentença, que julgar procedente a ação, declarará, conformeo caso, o direito do evicto, ou a responsabilidade por perdas e danos,valendo como título executivo".Fundamentalmente, a lei determina o julgamento de ambas asações, a principal e a regressiva, na mesma sentença. Vencedor naação principal o denunciante, será necessariamente improcedente ademanda regressiva. Vencido, no todo ou em parte, o denunciante, ojuiz apreciará a ação de regresso.{80-A}Se a ação de regresso for julgada procedente, será o denunciadocondenado a indenizar o denunciante, nos termos da lei material,valendo a sentença como título executivo contra o denunciado (CPC,art. 584, I).80-A. Quid iuris, se o juiz julga improcedente a ação principal e, pois,prejudicada a denunciação, e o demandante apela? Poderá o Tribunal, provendo a apelação do autor, deixar de manifestar-se a respeito da lide secundária?Note-se que a lide secundária é uma demanda condicional, com um pedidoeventual, ou seja, dependente de o réu denunciante ser sucumbente na açãoprincipal. Apelando, deverá o autor pedir a procedência da ação principal; e oréu, como apelado, pedirá que o Tribunal, caso provido o recurso, passe a apreciar também a ação de regresso. Não afasto a hipótese de o litisdenuncianteapelar condicionalmente, ou seja, para a hipótese de provimento da apelação"principal" (contra, em termos, REsp 38.370, RSTJ, 71:260). De qualquer forma, o Tribunal deverá necessariamente pronunciar-se sobre a denunciação, ateor do art. 76 do CPC, declarando-a procedente ou improcedente. Não lhe cabesecionar o julgamento, apreciando a demanda principal e devolvendo a secundária ao juízo de primeira instância. (p. 110)A redação do artigo enseja críticas. Assim, nos casos dedenunciação da lide pelo autor da demanda, será a improcedência daação principal que poderá levar, na ação regressiva, à condenação dodenunciado (RTJ, 95:1369).De outra parte, a sentença não apenas "declara" o direito do

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evicto, ou a responsabilidade por perdas e danos; não é sentençadeclaratória, mas condenatória{81}.Como consta de aresto do STJ, por sua 3ª Turma, relator o Min.Eduardo Ribeiro, a denunciação da lide importa na inserção de demanda secundária, tendente a obter a condenação do denunciado aoressarcimento do que for pago pelo denunciante. Assim, "o artigo 76do CPC, embora consigne que a sentença declarará o direito do evicto,ou a responsabilidade por perdas e danos, acrescenta que valerá comotítulo executivo evidenciando seu conteúdo condenatório" (REsp45.194, DJU, 6-maio-1996, p. 14441).Impende, outrossim, sublinhar que nem sempre a circunstânciade o denunciante haver sucumbido na ação principal leva à procedência da denunciação da lide, pois muitas vezes inexiste, ou existeapenas em parte, a pretensão do denunciante ao reembolso ou aoressarcimento.

60. Em tema de recursos na denunciação da lideA atual estrutura da denunciação da lide, como ação regressiva"no mesmo processo", e pela qual o denunciante manifesta contra terceira pessoa uma pretensão "condicional" (pois subordinada àsucumbência do denunciante na demanda principal), gera situações decerta complexidade, inclusive em tema de amplitude dos recursos.A) Suponhamos, v. g., que em primeira instância seja julgadaimprocedente a ação principal e, conseqüentemente, também improcedente a denunciação da lide.O autor, destarte, sucumbiu na ação principal, na qual foramréus, em litisconsórcio, o denunciante e o denunciado; já o réu foi81. Nesse sentido, reiterou o 1º Gr. de Câms. Cívs. do TJRS: "ao julgarprocedente a denunciação da lide, o juiz não só declara a responsabilidade porperdas e danos, mas condena o denunciado naquelas perdas e danos a que odenunciante foi condenado. A decisão tem carga condenatória e não sódeclaratória. Doutrina a respeito. Embargos rejeitados" (EI 585.035.298, v. un.5-6-1987, Rel. Des. Tulio M. Martins). (p. 111)vencedor na ação principal e, em conseqüência, sucumbiu na demanda regressiva.Ao autor, como evidente, assiste interesse em recorrer da sentença no capítulo que lhe foi desfavorável. Mas se indaga se tambémao réu será dado recorrer, quanto ao resultado da denunciação dalide, pois é possível alegar que o pedido de procedência da ação dereembolso equivalerá à previsão da eventual condenação dele, réu edenunciante, na ação principal (v. item 41).Em princípio (e afastadas certas ressalvas doutrinárias), cremosserá possível ao réu e denunciante:a) manifestar desde logo apelação "condicional", paraque seja recebida apenas na hipótese de o autor igualmenteapelar em tempo hábil;b) aguardar a apelação do autor e utilizar-se, se necessário, do recurso adesivo, a fim de fazer chegar ao Tribunala pretensão de reembolso para o caso de procedência daapelação do autor.É outrossim sustentável a tese de que, mesmo em não apelandoo réu, o provimento da apelação do autor implicará, por via de conseqüência lógica, a cassaçãocapítulo da sentença relativo à improcedência da denunciação, pois tal improcedência pode ter sido resultante apenas e tão-somente da improcedência da ação principal.O Tribunal, assim, ressalvaria ao titular da pretensão de reembolso a propositura de "ação direta".B) Vejamos, já agora, a hipótese de o magistrado haver julgadoprocedente a ação principal e também procedente a demanda regressiva.O interesse em recorrer assiste, então, tanto ao réu denunciante,para rogar a improcedência da ação principal, como ao denunciado, para postular a improcedência da denunciação. Apela o réu denunciante, v. g., reiterando não lhe coube culpa n

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o acidente de trânsito; apelaa seguradora, à qual foi a lide denunciada, invocando o inadimplemento, pelo seu segurado, o réu, do contrato de seguro de responsabilidade civil. Se o Tribunal der provimento ao apelo do denunciante, ejulgar, assim, improcedente a demanda principal, necessariamenteextinguiu-se a pretensão regressiva e, pois, tornou-se inexigível otítulo condenatório na denunciação, independentemente de haver ounão o denunciado igualmente apelado. (p. 112)Se o Tribunal negar provimento à apelação do denunciante,mantida assim a procedência da ação principal, cumprir-lhe-á, a seguir, apreciar o mérito da apelação, se interposta, do denunciado{81-A}.C) Terceira hipótese possível será a de procedência, em primeirainstância, da ação principal, e improcedência da ação de regresso.É dado, então, ao réu e denunciante apelar contra sua condenação na demanda principal, igualmente rogando, em caráter "condicionado", a procedência da ação de reembolso se o Tribunal houverpor bem confirmar a procedência da ação principal.Formulamos as hipóteses acima tendo em vista a denunciaçãoda lide, como bem mais comum, pelo réu; raciocínios semelhantes,mutatis mutandis, aplicar-se-ão aos casos de denunciação pelo autor.

61. Honorários de advogado e despesas na denunciação da lideAs muitas dificuldades encontradas na distribuição dos ônus dasucumbência (e que resultam em variado casuísmo jurisprudencial)radicam, em última análise, na circunstância de que a demanda "secundária", a resultante da denunciação da lide, assume a singularidade de apresentar um pedido condicional: realmente, o denunciantepede a condenação do denunciado para a hipótese em que ele, denunciante, venha a sucumbir na demanda "principal". Surge, assim,uma relação de prejudicialidade, como já afirmamos (item 42), doresultado da demanda "principal" sobre o resultado da demanda resultante da denunciação da lide.Três serão as hipóteses possíveis, e que buscaremos esquematizarpara o caso, mais freqüente, de denunciação pela parte ré (nadenunciação pelo autor, há que introduzir as devidas modificações).Assim:Primeira hipótese.Suponhamos a procedência da demanda principal, e que a demanda regressiva haja igualmente sido julgada procedente.81-A. O STJ apreciou interessante caso, dando pela legitimidade do denunciado para recorrer relativamente à procedência da demanda principal. Eis aementa do REsp 99.453 (4ª Turma, Rel. Min. Cesar Rocha, j. 4-8-1998, RSTJ,115:333 - na íntegra no Anexo II), verbis: "A denunciada recorrente que aceita parcialmente a denunciação e contesta a inicial da ação instaurada entre oautor-recorrido e a ré-denunciante, torna-se litisconsorte desta e, como conseqüência, legitimada para recorrer da sentença que julgou a lide primária de quelhe resultou uma condenação. Recurso conhecido e provido". (p. 113)Nesse caso, o réu, sucumbente na ação principal, pagará relativamente a esta os honorários e despesas. Mas, como resultou vitorioso na demanda secundária, receberá o denunciante do denunciado,além do reembolso (nos limites da obrigação de garantia) do quepagar ao autor, inclusive custas e honorários, também a indenizaçãopelas custas despendidas em decorrência da ação de regresso e oshonorários correspondentes à condenação do denunciado.Segunda hipótese.É possível que, embora procedente a demanda principal,ao réu sucumbente não assista direito regressivo relativamente ao denunciado. Temos, então, o denunciante vencido em ambas as demandas.Arcará ele, pois, em favor do autor com as despesas e honoráriosrelativos à demanda "principal", e igualmente reembolsará ao denunciado as despesas

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relativas à demanda regressiva e pagar-lhe-á oscorrespondentes honorários.Terceira hipótese.A demanda principal é julgada improcedente. O réu, pois, receberá do autor despesas e honorários pertinentes a essa ação.A improcedência da demanda principal deixa "sem objeto" o pedido regressivo, motivo pelo qual a denunciação da lide é de ser igualmente declarada improcedente. O denunciado, pois, resultou "vencedor" na demanda regressiva. Em conseqüência, segundo opina Agrícola Barbi, não seria justo lhe fossem imputados os ônus da demandaregressiva: "restaria, então, a alternativa de imputá-los ao denunciante ouao adversário deste. Mas imputá-los ao adversário do denuncianteparece não ser a solução mais correta, porque ele não moveu nenhumaação contra o denunciado, nem tinha qualquer relação jurídica com ele.O que parece mais justo é imputar esses gastos ao denunciante, porqueele é o verdadeiro autor na ação de garantia, ou de regresso, que estáimplícita na denunciação da lide. E, nessa ação, é fora de dúvida que ele,denunciante, foi vencido" (Comentários, cit., v. 1, n. 428).Adita o renomado processualista que a parte, antes de fazer adenunciação, deverá com cautela avaliar as probabilidades de êxitona ação principal, arcando com os riscos inerentes à propositura dademanda regressiva.Parece-nos, todavia, mais adequada a solução a que chegou AroldoPlínio Gonçalves, fundada na distinção entre os casos de denunciaçãodecorrente de garantia própria ou formal e os casos de demanda regressiva nas hipóteses de garantia imprópria, isto é, de (p. 114)responsabilidade civil ou contratual estranha a qualquer transmissão de direitos.Nos casos de garantia própria ou formal, o denunciado, na qualidade de transmitente do direito posto em juízo, torna-se, ele, denunciado, com litisconsorte do denunciante, legítimo contraditor doautor. Vencido o autor, sua derrota não se restringe apenas à açãoprincipal, mas também "dirá respeito à relação de garantia que diretamente impugnara". Em conseqüência, o autor é de ser tido por vencido em ambas as demandas, cabendo-lhe "arcar com as despesasjudiciais e honorários de advogado, tanto em uma causa como naoutra". Cuida-se de hipótese em que a denunciação torna-se realmente obrigatória para o adquirente do direito: "o vencido molestantepagará, pois, por inteiro" (Da denunciação, cit., p. 308 e s.).Nos casos, no entanto, de mera garantia imprópria, ao denunciante assistiria a opção entre:a) de imediato agir regressivamente, propondo a denunciaçãoda lide na busca de breve obtenção de título executivo contra oterceiro; oub) aguardar o resultado da ação para, oportunamente e se fossecaso, agir regressivamente, em processo autônomo.Em tais casos, aplicar-se-á a regra geral da sucumbência: o autor, vencido na ação principal, pagará honorários ao réu denunciante.E o réu denunciante, perdido o objeto da denunciação, indenizará odenunciado pela verba honorária.Assim, aliás, nos pronunciamos na Apelação n. 583.004.395(1ª Câm. Cív. do TJRS): "Se improcedente a pretensão principal,desaparece também a pretensão condicionada, pela inocorrência dacondição. E os ônus e despesas processuais desta ação regressivanão podem ser imputados ao denunciado, porque este não sucumbiu,e não podem ser imputados ao autor da ação porque ele, a rigor, nãodeu causa direta à própria denunciação, que, ao final, foi feita a riscodo denunciante" (RJTJRS, 97:409-13){82}.82. Como relator na AC 584.036.164, da 1ª Câm. Cív. do TJRS, ac. de 46-1985, votamos, a respeito do tema, no seguinte sentido:"A bem-lançada sentença merece, pois, confirmação, salvante no aspectoalusivo à atribuição dos ônus da sucumbência, na denunciação da lide em que

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foi denunciante o réu L. e denunciado o tabelião C.L.P. (p. 115)No mesmo sentido ac. da 3ª Turma do Superior Tribunal deJustiça, no REsp 39.570, 30-11-1993, Rel. Min. Eduardo Ribeiro (naíntegra no Anexo II).Ainda no mesmo sentido o REsp 81.793, também de relatoriado Min. Eduardo Ribeiro:"Denunciação da lide requerida pelo réu. Improcedência da ação. Honorários de advogado do denunciado.Tratando-se de garantia simples ou imprópria, em que afalta da denunciação da lide não envolve perda do direito deregresso, sendo a ação julgada improcedente e prejudicada adenunciação, deverá o denunciante arcar com os honoráriosdo advogado do denunciado. Inexistência de vínculo entreeste último e o autor que, em relação a ele, não formulouqualquer pedido" (DJU, 4-ago.- 1997, p. 34743){82-A}.Ao tabelião, o denunciante imputou haver reconhecido a assinatura, quenão seria legítima, de J.J.L., em recibo relacionado com a venda feita por J.Essa denunciação da lide, pois, não se fundamentou na garantia inerente a transmissões de direitos, à "garantia própria", casos em que ao adquirente da coisaou do direito é obrigatória a denunciação, sob pena de perda do próprio direitode regresso.Cuidou-se, isto sim, de denunciação fundada em alegada "garantia imprópria", em que se torna facultativa a denunciação, no sentido de que ao denuncianteestaria, não houvesse a denunciação, preservada a ação "direta" de reembolso.Adoto, no controvertido tema, a orientação de Aroldo Plínio Gonçalves("Denunciação da Lide", Forense, 1983, págs. 308/310). Assim, o réu denunciante, embora vencedor na demanda principal, pagará os honorários do advogadodo denunciado, deles ficando isento o autor apelante. Note-se, aliás, que o autorinclusive se opôs à denunciação, ficando vencido nesse posicionamento poracórdão desta Câmara (autos apensos, fls. 40 e seguintes)".82-A. Mas não será assim, entretanto, "na hipótese prevista no art. 70, I,do CPC, quando os honorários serão suportados pelo vencido na demanda principal" (REsp 131.927, Rel. Min. Eduardo Ribeiro, DJU, 29-set.-1997). (p. 116)

Capítulo XVII - CHAMAMENTO AO PROCESSO

62. Noções gerais

62.1. Distinção entre chamamento e denunciaçãoPelo chamamento ao processo, ao réu assiste a faculdade (não aobrigação) de, acionado pelo credor em ação de conhecimento sobrito ordinário, fazer citar os coobrigados a fim de que estes ingressem na relação jurídica processual como seus litisconsortes,flcandodestarte abrangidos pela eficácia da coisa julgada material resultante da sentença{82-B}.Não se trata, aqui, do exercício de um direito regressivo, comono caso da denunciação da lide; com efeito, os "chamados" devemao credor comum, não ao "chamante".Na denunciação da lide, como vimos no capítulo anterior, fundamentalmente o terceiro é trazido ao processo para se ver condenado na ação regressiva como devedor da parte que denunciou. Adenunciação provoca, pois, a criação de uma "segunda" relação jurídica processual, correspondente à ação de regresso; já o chamamento provoca apenas a inserção dos chamados no pólo passivo(litisconsórcio passivo) da relação processual existente.

62.2. Pressupostos para o exercício do chamamentoO chamamento ao processo foi pelo CPC de 1973 transplantado do direito processual português, onde tem a denominação de "chamamento à demanda" (arts. 330 a 333 do CPC português de 1967). Como82-B. Como já exposto, descabe o chamamento ao processo nas demandas perante os Ju

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izados Especiais, bem como nas demandas pelo rito comumsumário (v. verbete 24). (p. 117)assinala Flávio Cheim Jorge, "nos principais ordenamentos jurídicos,com exclusão do direito português, não existe instituto com as mesmascaracterísticas, funções e peculiaridades do nosso chamamento ao "processo" (Chamamento ao processo, Revista dos Tribunais, 1997, p. 16).O grande processualista lusitano José Alberto dos Reis afirmouas vantagens decorrentes dessa peculiar forma de intervenção de terceiro: "Em primeiro lugar, o demandado consegue trazer para o processo novos réus, que podem ajudá-lo na defesa; em segundo lugar,condenados todos os réus, pode dar-se o caso de o credor mover aexecução contra todos, e não unicamente contra o réu primitivo; finalmente, se o demandado houver de pagar a totalidade, fica emmelhor posição de exercer o direito de regresso contra os co-devedores; pode exercê-lo com base na sentença de condenação, sem necessidade de propor contra eles ação declarativa" (Código de ProcessoCivil anotado, Coimbra Ed., v. 1, 1948).Já o saudoso Celso Agrícola Barbi referia, dentre as desvantagens, a de que "a inovação constitui uma exceção ao princípio tradicional, que nos vem desde o direito romano, de que ninguém deve sercoagido a pleitear direito em juízo"; ora, pelo chamamento, o credorfica obrigado a "demandar contra devedores com os quais ele podeter variados motivos para não litigar, quais sejam outras relações denegócios, de parentesco, de amizade etc.", ou contra devedores quesabe insolventes, ou dos quais duvida tenham realmente firmado odocumento de dívida, e assim por diante (Comentários ao CPC, 5.ed., Forense, v. 1, 1983, n. 434).Dois os pressupostos para o exercício do chamamento ao processo:Em primeiro lugar, a relação de direito "material" deve pôr ochamado também como devedor (em caráter principal, ou em carátersubsidiário) ao mesmo credor.Em segundo lugar, é necessário que, em face da relação de direito "material" deduzida em juízo, o pagamento da dívida pelo"chamante" dê a este o direito de reembolso, total ou parcialmente,contra o chamado{83}.83. Como está em Vicente Greco Filho: "... ao réu não assiste interesseprocessual em chamar o terceiro como seu litisconsorte se não puder, pelo menos em tese, exercer posteriormente direito de regresso contra ele. O chamamento existe por causa da economia processual, como vimos, para atender ointeresse do réu coobrigado, não para facilitar o atendimento da pretensão material do autor que escolheu, entre os co-devedores, contra quem demandar"(Da intervenção de terceiros, 2. ed., Saraiva, 1986, p. 96). (p. 118)Sem o segundo pressuposto, ao réu não assistirá "interesse jurídico" em chamar terceiro ao processo, como seu litisconsorte. Assim, se o credor promove a ação de cobrança contra o fiador, poderáeste chamar ao processo o devedor afiançado; na hipótese de, amboscondenados, o fiador pagar a dívida, poderá ele reaver a quantia pagaexecutando o "chamado", nos mesmos autos (CPC, arts. 80, 585,parágrafo único), com a vantagem ainda de o afiançado não poderopor, ao fiador exeqüente, eventuais defesas de direito materialoponíveis contra o devedor.Mas, se a ação de cobrança foi ajuizada contra o "devedor principal", não poderá este chamar ao processo seu fiador (mesmo nahipótese em que o fiador seja também "principal pagador", como prevê o art. 1.492, II, do CC), pois a relação de direito material evidentemente não lhe autoriza qualquer pretensão de regresso contra o fiador.

62.3. Vantagens processuais do chamamentoO chamamento ao processo é apenas uma faculdade; portanto,o devedor que se omite em chamar ao processo o coobrigado, ou os

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coobrigados, não perde a possibilidade de, posteriormente, em outroprocesso, exercer eventual direito regressivo contra o devedor principal ou contra co-devedores.Perde, todavia, o devedor omisso a vantagem processual decorrente do art. 80 do Código de Processo Civil, que logo examinaremos, bem como fica sujeito, na ação regressiva posteriormente ajuizada, a que lhe sejam opostas objeções que, no plano do direito material, poderia o coobrigado apresentar contra o credor (v. g., pagamento, novação, distrato).

62.4. O chamamento como ampliação subjetiva do pólo passivo darelação processualApenas de passagem, uma alusão a interessante debate doutrinário: o chamamento ao processo consiste basicamente numa ampliação subjetiva do pólo passivo da relação processual, ou implica igualmente uma ação condenatória incidental, do chamante contra o chamado (com similitude à denunciação da lide, que é ação incidentaldo denunciante contra o denunciado)?A doutrina dominante, a que nos filiamos, é no primeiro sentido. Arruda Alvim, com razão, disse que o réu que chama terceiro aoprocesso não está, diretamente, exercendo pretensão em face ao chamado: "apenas entende que este tem, tanto quanto ele, ou mais, obriga- (p. 119)ção de responder face ao autor" (Código de Processo Civil comentado, Revista dos Tribunais, 1976, v. 3, p. 345). E Cibele Cruz e Tuccilembra a possibilidade de o chamado efetuar o pagamento ao credor,caso em que a sentença condenatória "pode ser executada em face dopróprio chamante" (Chamamento ao processo, dissertação de mestrado,Universidade de São Paulo, 1989) (vide nossa nota de rodapé n. 92).

63. Casos de chamamento ao processoÉ admissível o chamamento ao processo, segundo dispõe o art.77 do Código de Processo Civil, em três casos:

63.1. Chamamento do devedor "principal"Na ação promovida pelo credor apenas contra o fiador, este poderá chamar ao processo, formando litisconsórcio passivo, o seu afiançado, "devedor principal". Assim procedendo, o fiador não apenasgarante a vantagem processual prevista no art. 80, como também poderá em tempo oportuno exercitar o chamado "beneficio de ordem"(CC, art. 1.491).Realmente, pela lei civil, ao fiador (salvo quando se obrigoucomo "principal pagador", isto é, solidariamente) assiste em princípio o direito de exigir sejam preferentemente executados bens dodevedor, já que ele, fiador, constituiu-se responsável pela dívida apenas em caráter subsidiário.O chamamento é, portanto, para o fiador o instrumento processual que lhe permitirá, quando da execução, nomear à penhora "benslivres e desembargados do devedor" (CPC, art. 595){83-A e 84}.83-A. Essa orientação recebeu o apoio de Flávio Cheim Jorge, para quem,se o fiador (devedor subsidiário) não fizer o chamamento ao processo de seuafiançado e devedor principal, não poderá ele, fiador, no processo subseqüentede execução, usar do benefício previsto no art. 595 do CPC, porquanto o afiançado não constará do título executivo judicial (sentença).Assim, o fiador deverá pagar a dívida, "e somente após esse pagamento, éque poderá ajuizar uma ação regressiva contra o afiançado, para pleitear o quepagou em seu lugar, em razão, justamente, de o desembolso ser a causa primordial da ação regressiva. O chamamento ao processo visa exatamente isso, aeconomia processual, com a conseqüente desnecessidade de uma ação posterior,para o fiador reaver o que foi pago" (Chamamento ao processo, cit., p. 65).84. Nos casos em que o credor dispõe de título executivo extrajudicialcontra o fiador, evidente que o benefício de ordem independe do prévio chamamento do afiançado, já que não terá havido anterior processo de conhecimento; (p. 120)

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Esquema gráfico:O triângulo que tem o vértice A (credor), que é ligado aovértice J (juiz), e este ligado ao vértice B (fiador). O vértice B éligado a um ponto C (devedor principal). Entre o lado B-C, é feito ochamamento de C ao processo. Do devedor principal vai para um novotriângulo, que tem, num vértice, A (autor), que é ligado ao vértice J(juiz), e este é ligado ao outro vértice, B+C (em litisconsórciopassivo).

63.2. Chamamento do co-fiadorAlgumas vezes duas ou mais pessoas prestam fiança relativamente a um mesmo débito, em regime de solidariedade entre elas(CC, art. 1.493). O credor resolve cobrar a dívida apenas de um dosfiadores; o réu, nos termos do art. 77, II, do Código de ProcessoCivil, poderá chamar ao processo, em litisconsórcio passivo, o outroou os outros co-fiadores.Caso a sentença julgue procedente a ação e condene os demandados (o diamante e os chamados), aquele dos co-fiadores que venha a pagar a dívida poderá, nos mesmos autos, executar os outros,para haver destes as respectivas quotas (na proporção estipulada nocontrato em que foi firmada a fiança - v. CC, art. 1.495).Essa possibilidade, de o fiador chamar ao processo os co-fiadores, não prejudica a faculdade de, igualmente, chamar ao processo,conforme já exposto, o devedor principal.

63.3. Chamamento do devedor solidárioÉ igualmente admissível o chamamento ao processo de todosos devedores solidários, "quando o credor exigir de um ou de algunsdeles, parcial ou totalmente, a dívida comum" (art. 77, III).Vamos supor A como credor, figurando no contrato B, C e Dcomo devedores solidários. De acordo com a lei civil, o credor podenestes casos (CPC, art. 595), o exercício do benefício de ordem, a nosso ver,obrigará o exeqüente a aditar a execução, promovendo-a também contra o afiançado. Assim, v. g., na execução por aluguel de imóvel, proposta contra fiadornão responsável solidariamente (art. 585, IV). (p. 121)exigir apenas de um, ou apenas de alguns dentre os devedores, a totalidade da dívida comum (CC, art. 904). A solidariedade passiva foiinstituída em favor do credor, ensejando-lhe escolher, dentre os devedores, aquele contra quem exercerá a pretensão creditória, sem que comisso fique inibido de, posteriormente, acionar os outros (CC, art. 910).A lei processual, nesse ponto, alterou a doutrina da solidariedade passiva{84-A}. O credor ajuíza a ação de cobrança apenas contrao devedor B, e este tem a faculdade de, pelo chamamento doscoobrigados, impor ao autor o litisconsórcio passivo; assim, podeobrigar o credor a exercer a pretensão creditória não só contra ele,chamante, mas também contra os chamados.A sentença (se procedente a ação, é claro) condenará os devedores solidários que figurem no litisconsórcio passivo; e aquéleque vier a satisfazer a dívida poderá, nos mesmos autos, executaros demais, pelas respectivas quotas (CC, art. 913, e CPC, art. 80).

63.4. Obrigação solidária não contratualA obrigação solidária pode apresentar origem não contratual.Dispõe, v. g., o Código Civil - art. 1.518- que os bens do responsável pela violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparaçãodo dano, sendo solidariamente responsáveis com os autores "as pessoas designadas no art. 1.521".A responsabilidade pela reparação civil abrange solidariamenteos patrões e comitentes, pelos atos praticados por seus empregados ouprepostos, no exercício do trabalho; destarte, em ação reparatória de

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danos por acidente de trânsito, a empresa de ônibus ré pode chamarao processo seu empregado, motorista do veículo causador do dano;condenados chamante e chamado, a empresa, indenizando a vítima,poderá voltar-se executivamente contra o motorista (v. CC, art. 1.524).Mas, se o prejudicado promoveu a demanda contra o motorista, estenão poderá, em princípio, chamar ao processo a empresa, pois nãolhe assiste, se condenado, direito algum de reembolso{85}.84-A. Como disse o Min. Pedro Soares Muñoz, a introdução em nossoprocesso do chamamento ao processo ocasionou "sensível alteração na doutrina atinente à solidariedade passiva, segundo a qual o devedor, demandado individualmente, não pode exigir a presença dos demais no processo... (omissis)...A partir da vigência do novo Código, essa doutrina não mais poderá ser sustentada" (Da intervenção de terceiros, in Estudos sobre o novo CPC, Porto Alegre,Ed. Bels, 1974, p. 29).85. Nem mesmo a circunstância de haver o acidente sido motivado apenas pela má conservação do veículo, portanto culpa exclusiva da empresa, auto- (p. 122)Os acidentes de trânsito com múltiplos e incertos responsáveismelhor configuram, quiçá, hipóteses de chamamento ao processo doque de denunciação da lide{86 e 87}.

63.5. Chamamento ao processo no Código de Defesa do ConsumidorO Código de Defesa do Consumidor - Lei n. 8.078, de 11-91990 - prevê, na ação de responsabilidade civil do fornecedor deprodutos e serviços, a possibilidade de o réu chamar ao processo oseu segurador; todavia, para garantir a rapidez procedimental, proíbea integração do contraditório pelo Instituto de Resseguros do Brasil. Aliás, nos casos de falência do réu, a ação indenizatória poderávoltar-se diretamente contra o segurador - art. 101, II.

63-A. Execução e cautelar. Chamamento ao processo. ImpossibilidadeApós um período inicial de certa perplexidade na doutrina e divergência de julgados, prevaleceu o entendimento de que o chamamento ao processo (como, diga-se, as demais formas de intervenção deterceiros, exceto a assistência) é possível tão-só e unicamente no processo de conhecimento que culmine com uma sentença condenatória,não no processo de execução, máxime em se tratando de execução detítulo cambial{88}. Assim, v. g., o avalista, citado em execução para pagar débito cambiário, não pode pretender o chamamento ao processode seu avalizado{89}.riza o chamamento. Tal circunstância deverá resultar, isto sim, na improcedência da ação contra o motorista, e na necessidade de a vítima promover, em novademanda, a responsabilidade da empresa.O chamamento, convém não esquecer, foi instituído em favor do réu, nãodo autor. Assim, só é admissível quando possa beneficiar ao réu.86. Quando menos em tese, poderemos ter nesses casos uma responsabilidade solidária dos motoristas de todos os veículos; se posto como réu apenasum deles, o chamamento dos outros ao processo coloca-os em litisconsórciopassivo, propiciando sentença com exata definição das responsabilidades paracom o autor, e, por via de conseqüência, entre os litisconsortes.87. Já a hipótese será de denunciação da lide nos casos do art. 1.520 do CódigoCivil: dano provocado para evitar perigo criado por terceiro. O causador material dodano indeniza o prejudicado, e exerce a ação regressiva contra o criador do perigo.88. V., v. g., Agrícola Barbi (Comentários, cit., v. 1, ns. 439 e 440); ArrudaAlvim (Código de Processo Civil comentado, cit., v. 3, p. 333).89. Com longa fundamentação, o STF (Pleno, RTJ, 90:1028) excluiu ochamamento nas execuções por título cambiário, ressalvando sua possibilidadenas demais execuções. V., também, RTJ, 91:283; 91:752; 91:1168; 93:923. (p. 123)Como bem expõe Araken de Assis, excluem-se do processo deexecução as formas de intervenção típicas do processo de conhecimento, uma vez que a execução

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não comporta "a par dos atos executivos, operando no mundo fisico, a simultânea resolução de lide trazidapor uma das partes" (Manual do processo de execução, 2. ed., Revista dos Tribunais, n. 51, p. 208).Para Cândido Dinamarco, "chamar o terceiro ao processo cautelaré inadmissível, porque isso implica pedido de sua condenação solidária, que em processo dessa natureza não tem lugar" (RT, 597:12).O chamamento ao processo visa a criação de título executivojudicial (art. 80) contra o chamante e contra os chamados; ora, noprocesso de execução não se forma título, apenas "se realiza praticamente o título executivo que instrui o pedido". Nele, "inexiste sentença sobre a pretensão executiva" (Arruda Alvim, Manual de direito processual civil, cit., 5. ed., 1996, v. 2, n. 84).Em argumentação concisa, refere Theodoro Júnior que no processo de execução não haveria "onde proferir a sentença, a que alude o art.78, e que viria servir de título executivo ao vencido contra os co-devedores. Mesmo quando opostos embargos, estes têm objetivo exclusivo deelidir a execução, não havendo lugar para o embargante (que é autor enão réu) introduzir uma outra demanda contra quem não é parte na execução" (Curso de direito processual civil, 5. ed., Forense, 1989, n. 123).Quanto ao processo cautelar, nos casos de antecipação deprovas, Arruda Alvim sustenta que naqueles casos em que se possa presumir que na ação "principal" haverá denunciação da lide, deverse-á dar ciência ao "futuro" denunciado, "quando fique claro que aeficácia da medida cautelar poderá vir atingi-lo", isso muito embora"não se possa ainda dizer que se trata da denunciação da lide propriamente dita" (Manual, cit., 6. ed., v. 2, p. 199). Na expressão de FlávioCheim Jorge, "ainda que não se possa, propriamente, dizer que dechamamento ao processo se trata, é configuração parecida" (art. dout.RePro, 93:113).

64. Procedimento no chamamento ao processoSegundo o art. 78 do Código de Processo Civil, "para que o juizdeclare, na mesma sentença, as responsabilidades dos obrigados, aque se refere o artigo antecedente, o réu requererá, no prazo paracontestar, a citação do chamado". (p. 124)Como o chamamento importa na convocação de terceiro, outerceiros, para que os chamados assumam, também eles, e ao lado dochamante, a posição de réus perante o credor, evidente que na mesma sentença cabe ao juiz definir as responsabilidades de cada umdos litisconsortes. O juiz inclusive pode condenar um réu ao pagamento, e julgar improcedente a demanda perante outro, já que asdefesas oponíveis ao pedido nem sempre serão as mesmas para todosos litisconsortes (v. g., pode o fiador réu chamar ao processo o afiançado, e, em contestando, alegar e provar a nulidade da fiança).Poderá o magistrado indeferir liminarmente o chamamento, casoconsidere, à evidência, incabível, no caso, tal forma de intervençãode terceiro{90}.Deferindo-o, providenciará o réu na citação do chamado, observado, como dispõe o art. 79, "quanto à citação e aos prazos, odisposto no art. 72", isto é, de conformidade com o previsto para adenunciação da lide{91}.

65. Eficácia da sentença nos casos de chamamento ao processoFormado, pelo chamamento, o litisconsórcio passivo entrechamante e chamado(s), a sentença, conforme já exposto, irá definira procedência ou não da demanda perante cada um dos demandados.Condenados os devedores, a sentença "valerá como título executivo, em favor do que satisfizer a dívida, para exigi-la, por inteiro,do devedor principal, ou de cada um dos co-devedores a sua quota,na proporção que lhes tocar" (art. 80).Nesse ponto, o da formação de título executivo, a sentença apresenta similitude com a pr

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oferida nos casos de denunciação da lide.Mas, com uma fundamental diferença. Na denunciação, a sentençade procedência é título executivo, no que tange à ação regressiva, emfavor do denunciante e contra o denunciado. No chamamento, nemsempre o título executivo será formado em favor do chamante e contra o chamado; poderá sê-lo, até, em favor do chamado e contra o90. A decisão é impugnável por agravo de instrumento.91. Deve ser considerada não escrita, no art. 79, a referência ao art. 74.Trata-se de erro de redação, derivado de alterações no Anteprojeto do Código. (p. 125)chamante, tudo dependendo de quem vier, ao final, a satisfazer adívida{92 e 92-A}.Importa não esquecer, aqui, que o chamamento não representaexercício de ação regressiva do chamante contra o chamado, masapenas convocação para a formação de litisconsórcio passivo.Por isso, a rigor, a sentença de procedência é "por si" títuloexecutivo apenas em favor do autor, como qualquer outra sentençacondenatória; mas, somada ao comprovante do pagamento (feito aoautor), também será título executivo em favor daquele réu que efetuou tal pagamento, se e na medida em que esse réu tiver direito dereembolso em face dos demais litisconsortes.Assim, o fiador que pagar poderá exigir executivamente a totalidade da dívida ao devedor principal; o fiador que pagar exigirá umaquota da dívida ao co-fiador, na proporção fixada no pacto de fiança;o devedor solidário que pagar exigirá a quota do co-devedor, na proporção fixada em lei ou no contrato. Mas, se o pagamento foi realizado pelo "devedor principal", este nada poderá exigir dos demais.Anotou Ovídio Baptista da Silva que o chamamento ao processo acarreta um litisconsórcio sucessivo facultativo: "se a relação dedireito processual for unitária, daquelas que imponham a presençasimultânea de todos os seus integrantes na causa, a figura que secompõe com o chamamento do litisconsorte não citado será apenas a92. Suponhamos três devedores solidários, B, C e D. Citado como réuapenas o devedor B, este chama ao processo os co-devedores. No caso de os trêsresultarem condenados (talvez possa algum deles socorrer-se de defesa pessoal,que aos outros não assista), pode acontecer de a dívida ser paga não pelo chamanteB, mas pelo chamado C; este disporá, então, pela sentença e com o comprovante do pagamento, de título executivo (na proporção que lhe tocar) contra ochamante B, e também contra o outro chamado D.92-A. Segundo Ovídio Baptista da Silva, "o traço distintivo essencial entre o chamamento ao processo e a denunciação da lide está em que, naquele,todos os réus são obrigados perante o credor comum, enquanto nas hipóteses dedenunciação da lide há vínculo apenas entre o denunciante e o denunciado; enenhuma relação jurídica entre este e o adversário do denunciante". Parece-nos,no entanto, sem razão a afirmativa do ilustre mestre no sentido de que "tem decomum, no entanto, com a denunciação da lide a propositura de uma ação regressiva eventual do réu contra o chamado ao processo"; vide, a respeito, o que constado texto e ainda da nota de rodapé 92 (Curso de processo civil, cit., v. 1, p. 246). (p. 126)de integração do contraditório para a formação de um litisconsórcionecessário, e não a do chamamento ao processo" (Curso de processo civil, Sérgio A. Fabris, Editor, 1987, v. 1, p. 245).E se cuida, em princípio, de litisconsórcio simples, mesmo porque as lides podem ser decididas de forma diversa relativamente acada um dos litisconsortes. (p. 127)

(p. 128, em branco)

Capítulo XVIII - DA ASSISTÊNCIA

66. Noções gerais

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66.1. Da assistência como forma de "inserção" do terceiro na relação processualA intervenção por assistência é uma forma de intervenção espontânea, e que ocorre não por via "ação" mas sim por inserçãodo terceiro na relação processual pendente.Dispõe o art. 50 do Código de Processo Civil:"Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, o terceiro, que tiver interesse jurídico em que a sentença seja favorável a uma delas, poderá intervir no processo para assisti-la.Parágrafo único. A assistência tem lugar em qualquer dostipos de procedimento e em todos os graus da jurisdição; mas oassistente recebe o processo no estado em que se encontra".O terceiro, ao intervir no processo na qualidade de assistente,não formula pedido algum em prol de direito seu. Torna-se sujeito doprocesso, mas não se torna parte. O assistente insere-se na relaçãoprocessual com a finalidade ostensiva de coadjuvar a uma das partes,de ajudar ao assistido, pois o assistente tem interesse em que a sentença venha a ser favorável ao litigante a quem assiste{93 e 94}.93. Segundo Liebman (em nota às Instituições de Chiovenda, trad. port.,v. 2, p. 328), o terceiro "não se torna parte; não se converte em litisconsorte; suarelação jurídica não é deduzida em juízo e a sentença não pode decidi-la nemconter disposições que lhe sejam diretamente pertinentes (exceto quanto às custas da intervenção); ele pode, contudo, como terceiro, e permanecendo nessecaráter, defender a posição da parte assistida, mesmo em contradição, se necessário, com a conduta que esta assume no processo". Diga-se que a última observação somente se aplica ao assistente litisconsorcial.94. "O interesse em intervir é o que resulta do nexo de interdependênciaentre a relação jurídica de que seja titular o terceiro, e a relação jurídica deduzida (p. 129)

66.2. Do interesse "jurídico" como requisito à admissão do assistenteNão é qualquer interesse que autoriza um terceiro a intervir noprocesso em favor de uma das partes, mas sim apenas o interessejurídico. O interesse, v. g., meramente afetivo, ou meramente econômico, não faculta a assistência.Em face do inter-relacionamento, da maior ou menorinterdependência das relações jurídicas, freqüentemente a sentençaproferida na causa entre A e B poderá refletir-se em relação jurídicaentre A e o terceiro C, ou entre B e o terceiro C, quer favorecendo aposição jurídica do terceiro, quer prejudicando-o juridicamente.Assim, procedente a ação de despejo e operada a resolução dopacto de locação entre A e B, a sentença importa também na resolução das sublocações, nos term do art. 1.203 do Código Civil{95}. Aosublocatário assiste, pois, a faculdade de intervir no processo assistindo ao locatário réu, já que a própria vigência do contrato de sublocação poderá ser afetada pelo teor daentença.Vamos supor, outrossim, o caso de proprietário de moradia urbana. O dono do terreno vizinho pretende neste construir alto edifício, que poderá prejudicar a vista, a insolação, a privacidade do morador da casa. A Prefeitura nega a permissão de construção, invocando infringência a posturas, e surge o conflito judicial. O proprietárioda casa tem manifesto interesse, até econômico, na não-construçãodo edifício, e a doutrina e jurisprudência têm entendido que tal interesse é também jurídico, autorizando assim seu ingresso no processo como assistente do Município{96}.É jurídico o interesse no clássico exemplo do tabelião que requer ser admitido como assistente do réu em ação proposta para anular, por defeito formal, a escritura pública que redigiu. Se procedenteno processo, por força da qual, precisamente, a decisão se torna capaz de causarprejuízo àquele" (1ª Câm. Cív. do TJRS, AI 27.064, de 23-11-1976, Rel. Des.Tulio M. Martins, RJTJRS, 61:163).95. "Código Civil, art. 1.203. Rescindida, ou finda, a locação, resolvem-se as sublocações

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, salvo o direito de indenização que possa competir aosublocatário contra o sublocador."96. A respeito, Hely Lopes Meirelles, Direito de construir, 3. ed., p. 79 es.; José Carlos Barbosa Moreira, Direito aplicado, 1987, p. 121 e s. Retificamos, neste ponto, opinião manifestada em anteriores edições. (p. 130)a demanda, surgirá, em tese, em favor do interessado na validade daescritura, pretensão indenizatória contra o notário{97}.Mas é meramente económico, e assim não autoriza a intervenção, o interesse do credor A em que seja julgada improcedente a açãode cobrança, ou indenizatória, promovida por outro credor, B, contrao devedor comum. É certo que a vitória de B e a conseqüente execução sobre bens do patrimônio do devedor, diminuindo esse patrimônio,ou até mesmo exaurindo-o, irá privar o crédito de A da garantia representada pelos bens do devedor (CPC, art. 591). Mas A não poderáintervir na causa como assistente do devedor comum, pois os direitos creditórios de A subsistirão íntegros no caso de vitória de B. Ointeresse de um credor na solidez econômica de seu devedor é, emprincípio, apenas de fato{98}.

67. Pressupostos de admissibilidade da assistência

67.1. Da causa pendenteSão, assim, pressupostos de admissibilidade da assistência:Que esteja pendente uma causa, "em qualquer dos tipos de procedimento e em todos os graus de jurisdição"{99}.Cabe a assistência no processo de conhecimento, sob rito comum ordinário ou sumário, ou sob procedimentos especiais; e assimtambém no processo cautelar, que igualmente finda por sentença favorável a uma das partes.No processo de execução propriamente dito descabe a assistência, salvante no processo incidental (que é de cognição) dos embar 97. Chiovenda, todavia, dá essa hipótese como de interesse apenas defato (Instituições de direito processual civil, trad. port., v. 2, n. 217); osautores nacionais, no entanto, apontam o caso como exemplo de interesse jurídico (v. g., Arruda Alvim, Código de Processo Civil comentado, cit., v. 3, p. 31;Sérgio Ferraz, Assistência litisconsorcial no direito processual civil, Revistados Tribunais, 1979, p. 54).98. Mas se na execução promovida por B for penhorado um bem já hipotecado a A, a este é facultado opor-se sob a forma de "embargos de terceiro"(CPC, art. 1.047, II), podendo o embargado contestar nos termos do art. 1.054.99. Descabe a assistência no processo perante os Juizados de PequenasCausas (v. verbete 24). É permitida no processo sob rito comum sumário CPC, art. 280, I. (p. 131)gos do devedor, e no processo de liquidação de sentença (REsp 586,ac. de 20-11-1990, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo).Como bem sintetizou Alcides de Mendonça Lima, no processode execução a assistência:"a) deve ser permitida, se for baseada em título extrajudicial,desde que haja embargos do devedor, pois, em caso contrário, nãohaverá o que ajudar, auxiliar, cooperar;b) deve ser vedada, se for baseada em título judicial, porque aajuda, o auxílio e a cooperação já se exauriram com a sentençaexeqüenda, nada mais restando a fazer em benefício do credor ou dodevedor e, conseqüentemente, do próprio pretendido assistente..."(Comentários ao CPC, 6. ed., Forense, n. 219){100}.

67.2. Do ingresso do assistenteO terceiro poderá formular o pedido de admissão como assistente em qualquer momento da tramitação processual, dês que citado o réu (art. 219) e até o trânsito em julgado da sentença"{101}. Cabe a

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assistência, pois, estando o processo em segundo grau de jurisdição,ou em recurso especial perante o Superior Tribunal de Justiça ouextraordinário perante o Supremo Tribunal Federal{101-A}.O terceiro recebe o processo "no estado em que se encontra".Se, v. g., quando admitido ao processo o tempo para requerer provasjá findara, ao assistente tornou-se defeso o requerê-las; mas poderáacompanhar a produção das provas requeridas pelas partes.

67.3. Do assistente como "coadjuvante" do assistidoA existência do "jurídico interesse" na intervenção: o terceiro,a rigor, não se torna parte no processo, pois não formula pedidoalgum, nem pedido algum é formulado contra ele. E um coadjuvante100. A respeito da assistência nos embargos do devedor, vide outrossimHumberto Theodoro Júnior (Processo de execução, 7. ed., LEUD, 1983, p. 38).101. A intervenção após aprolação da sentença poderá fazer-se por meiodo "recurso de terceiro prejudicado" (CPC, art. 499 e § 1º).101-A. O Supremo Tribunal Federal tem decidido que o pedido de intervenção assistencial não tem cabimento em ação direta de inconstitucionalidade,tendo em vista o caráter objetivo de que esta se reveste: "não se discutem situações individuais no âmbito do controle abstrato de normas" (ADIn 459, Rel.Min. Celso de Mello, 9-8-1999, DJU, 17-ago.-1999, p. 20). V. RTJ, 113:22,131:1001, 136:467, 164:506. idem RDA, 155:155, 157:266. (p. 132)do litigante a quem assiste. Todavia, o Código de Processo Civil considera-o "auxiliar da parte principal", e por isso vários autoresimpropriamente o designam de parte acessória ou parte secundária,o que destoa do conceito de parte referido anteriormente (Capítulo I).Não é menos verdade, no entanto, que, em defendendo o interesse alheio, isto é, o interesse do assistido, o assistente indireta emediatamente age com vistas a defender um seu (invocado) direito.É exatamente essa defesa mediata de um seu direito que lhe confereo interesse jurídico na intervenção.Defendendo o interesse alheio, o assistente também defende oseu próprio interesse, pois sua situação jurídica é suscetível de serinfluenciada, para melhor ou para pior, pela decisão.

68. Procedimento na admissão como assistenteAo terceiro que pretende intervir em processo pendente cumprepeticionar nesse sentido ao juiz da causa, expondo os fatos e as razões de direito pelas quais considera ter jurídico interesse em assistiruma das partes.O magistrado determinará a juntada da petição, e documentosque a instruam, aos autos do processo, e determinará a intimação doslitigantes, com o prazo de cinco dias. Não havendo impugnação, opedido será deferido e o peticionário assume a posição de assistente,salvante se o magistrado, de ofício, entender não configurados ospressupostos de admissibilidade da assistência{102}.Se, eventualmente (CPC, art. 51), qualquer das partes alegar"que falece ao assistente" (rectius, ao terceiro que pretende ser assistente) interesse jurídico para intervir "a bem do assistido" (rectius, abem da parte indicada para ser assistida), então o juiz mandará, semsuspensão do processo, desentranhar a petição e documentos que ainstruíram, bem como a impugnação, a fim de serem autuadas emapenso. No procedimento em apenso autorizará, se conveniente, a102. "A circunstância de não haver a parte impugnado o pedido de assistência não obriga o juiz a deferi-lo. O art. 51 do CPC só aparentemente induz talinterpretação, já que não se pode retirar do juiz a apreciabilidade. de ofício, dospressupostos e dos requisitos necessários para a admissão do assistente, aindaque omissos os litigantes, ou, até mesmo, concordes" (1ª Câm. Civ. do TACSP,AI 269.430, ac. de 27-11-1979, Rel. Juiz Carlos Alberto Ortiz). (p. 133)produção de provas, no prazo que fixar; após, decidirá em cinco dias

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o incidente, autorizando a admissão do terceiro como assistente, adesivo ou litisconsorcial, ou indeferindo o pedido de assistência.Em qualquer caso, o recurso cabível será o de agravo, por tratar-se de decisão interlocutória (CPC, arts. 162, § 2º, e 522){103}.

69. Assistência adesiva e assistência litisconsorcial

69.1. Assistência simplesA "intensidade" do interesse do assistente no resultado da demanda conduz à distinção entre a assistência simples (ad adjuvandumtantum) ou adesiva e a assistência litisconsorcial.Em princípio, é lícito afirmar que na assistência simples nãoestá em causa a relação jurídica, ou o direito de que o assistente setem como titular. Assim, v. g., na ação de despejo, locador e locatárioquestionam sobre a resolução do contrato de locação, não sendo objeto da lide a existência, validade, eficácia ou vigência do contratode sublocação firmado entre o locatário (réu na ação) e o sublocatário (admitido como assistente do réu).

69.2. Assistência litisconsorcialJá nos casos de assistência litisconsorcial, o assistente é diretae imediatamente vinculado à relação jurídica (rectius, ao conflito deinteresse) objeto do processo; como disse Atilio González, "escotitular de la misma relación sustancial invocada en juicio por laspartes originarias" (La intervención voluntaria de terceros en elproceso, B. Aires, Ed. Abaco, 1994).A teor do art. 54 do Código de Processo Civil, considera-selitisconsorte da parte principal o assistente, "toda vez que a sentençahouver de influir na relação jurídica entre o assistente e o adversáriodo assistido" (rectius, houver de influir no "conflito de interesses"entre o assistente e o adversário do assistido).Todavia, vale ressaltar que o assistente litisconsorcial não é parte: "nada pede e em face dele nada se pede: não é autor nem réu e,conseqüentemente, litisconsorte não é. Na locução assistentelitisconsorcial prevalece o substantivo (assistente) sobre o adjetivo103. Indeferida a assistência, o peticionário deverá usar do agravo porinstrumento; deferida, o impugnante usará do agravo por instrumento ou doagravo retido. (p. 134)que o qualifica (litisconsorcial)" (Cândido Dinamarco, Intervençãode terceiros, cit., n. 13).Vejamos alguns exemplos:Primeiro: qualquer condômino pode reivindicar de ilegítimo possuidor a coisa em condomínio, sem necessidade da intervenção, comoco-autores, dos demais titulares do domínio. O litisconsórcio ativona demanda reivindicatória é, pois, facultativo. Ajuizada açãoreivindicatória apenas pelo condômino A, assiste ao condômino B(que poderia ter sido litisconsorte ativo, mas não o foi) a faculdadede intervir como assistente, sendo evidente seu jurídico interesse navitória do condômino autor.O assistente é, aqui, "co-titular" do direito material afirmado napetição inicial; aqui, o conflito de interesses do assistente em face doréu (afirmado possuidor injusto) pode chegar à mesma intensidadedo conflito de interesses do assistido (do autor) contra o réu.Segundo: ação reivindicatória promovida por A contra B. O réu,estando o imóvel objeto da lide registrado em seu nome, concedeuusufruto (ou outro direito real sobre coisa alheia) em favor de C. Sea sentença for favorável a A, será cancelado do registro o direito realoutorgado por B a C. Pode C intervir, destarte, como assistentelitisconsorcial do réu B, em face do conflito entre seu interesse navalidade do usufruto e o interesse do reivindicante em assegurar-se o

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domínio pleno do imóvel.Neste caso o direito material invocado pelo assistente é "contido" no direito material invocado pelo assistido.Terceiro: ação promovida contra Condomínio residencial. A assistência de condômino, para ajudar na defesa do Condomínio, élitisconsorcial, pois a condenação do Condomínio repercutirá imediatamente na esfera jurídica de cada um dos condôminos.Como está em Ovídio Baptista da Silva, "segundo a doutrina seguida pelo Código, inspirada no direito alemão, o interveniente adesivo litisconsorcial assume, na causa, uma posição dupla, de vez quedesfruta da posição de um litisconsorte no plano do direito processual,embora não seja um verdadeiro litisconsorte, mas um simples terceiroauxiliar da parte principal a que adere (cf. Rosenberg, Tratado, § 46,2, b)" (Teoria geral do processo, Revista dos Tribunais, 1997, p. 185).

70. Poderes processuais do assistente adesivoA distinção entre a assistência meramente adesiva e alitisconsorcial reflete-se no âmbito dos poderes processuais concedidos ao assistente. (p. 135)Segundo dispõe o art. 52 do Código de Processo Civil, o assistente "atuará como auxiliar da parte principal, exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido".Impende, no entanto, distinguir.O assistente adesivo atua sempre "complementando" a atividade processual do assistido e de conformidade com a orientação traçadapelo assistido, ou, pelo menos, nunca em antagonismo com oposicionamento do assistido. Assim, poderá apresentar rol de testemunhas, mas não se o assistido requereu o julgamento antecipado dalide; poderá requerer perícia, mas não se o assistido expressamenteafirmou desnecessária a prova pericial; poderá recorrer mesmo que oassistido não o faça, mas não se este expressamente renunciou aodireito de recorrer (CPC, arts. 502 e 503){104}.Esta vinculação da atividade do assistente à atividade do assistido não terá lugar, evidentemente, se revel o assistido. Neste caso oassistente simples será considerado seu "gestor de negócios" (CPC,art. 52, parágrafo único), cumprindo-lhe orientar a defesa "segundoo interesse e a vontade presumível" do assistido, e ficando responsável perante este pela eventual má gestão processual, por culpa oudolo (v. CC, arts. 1.331 e s.).Se o assistente ingressar no processo ainda em tempo hábil,poderá "contestar", impedindo a revelia e seus efeitos. Não poderá,todavia - e nisso não se distingue dos demais assistentes -, praticar atos de disposição do direito material de seu assistido.Os prazos, que "para o revel correriam independentemente deintimação, passarão a depender, então, da ciência a ser dada ao assistente, como gestor de negócios do assistido" (Humberto TheodoroJúnior, Processo, cit., v. 1, n. 130){105}.104. Segundo Maria Berenice Dias, dispõe o legitimado a intervir comoassistente simples, da faculdade de recorrer como terceiro prejudicado, art. 499,§ 1º, do CPC, mesmo que não tenha até então comparecido ao processo (Oterceiro no processo, Aide, 1993, p. 100).105. Embora a presença do assistente, o juiz nomeará curador à lide, se oréu for citado por edital ou com hora certa, e pessoalmente não contestou (CPC,art. 9º, II). A respeito, cf. Arruda Alvim, Código de Processo Civil comentado,cit., v. 3, p. 63 e s.; Rita Gianesini, Da revelia no processo civil brasileiro,Revista dos Tribunais, 1977, p. 93, 94 e 100. (p. 136)

71. Poderes processuais do assistente litisconsorcialNos casos de assistência litisconsorcial, o assistente atua processualmente "como

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se" fosse um litisconsorte do assistido, aplicando-seLhe de regra o disposto no art. 48 do Código de Processo Civil: "salvodisposição em contrário, os litisconsortes serão considerados, em suasrelações com a parte adversa, como litigantes distintos; os atos e as omissões de um não prejudicarão nem beneficiarão os outros".Digamos o caso do herdeiro legítimo, admitido como assistentelitisconsorcial na ação de anulação de testamento promovida por outro herdeiro legítimo; ou o caso do herdeiro admitido como assistente litisconsorcial do espólio na ação de cobrança em que o espólio,como réu, é presentado pelo inventariante{106}.Nestes casos - embora o assistente do herdeiro autor não formule pedido contra o réu, e embóra pedido algum seja formuladodiretamente contra o herdeiro assistente do espólio réu - é certoque a anulação do testamento favorecerá direta e imediatamente osdireitos sucessórios, tanto do herdeiro autor como do herdeiro seuassistente; e a procedência da ação de cobrança contra o espólio irárefletir-se diretamente no quinhão hereditário do herdeiro assistente.Assim, o assistente não é parte, mas o direito do assistentelitisconsorcial está em causa. Por tal motivo, pode o assistentelitisconsorcial agir no processo, e conduzir sua atividade, sem subordinar-se à orientação tomada pelo assistido: pode contraditar a testemunha que o assistido teve por idônea; pode requerer o julgamentoantecipado da lide, embora o assistido pretenda a produção de provas em audiência; pode impugnar a sentença, não obstante o assistido haja renunciado à faculdade de recorrer.Poderá o assistente executar a sentença condenatória, favorável ao seu assistido, se este permanecer omisso?O assistente simples certamente que não, pois não pode agir emantagonismo com o assistido, nem promover as ações de que o assistidoseja o titular. Já o assistente litisconsorcial, parece-nos, possui legitimaçãopara executar a sentença, em substituição processual ao assistido.106. "O herdeiro tem legitimidade para intervir na qualidade de assistentelitisconsorcial na causa em que o espólio, representado pelo inventariante, éparte" (1ª Câm. do TJMT, Ap. 8.489, 1975, Rel. Des. Jesus de Oliveira Sobrinho, RT, 493:178). (p. 137)

71-A. Da intervenção da União FederalA União pode intervir em processo pendente nos mesmos termos em que pode fazê-lo qualquer pessoa jurídica de direito públicoou de direito privado. Exigível, destarte, o interesse jurídico a possibilitar a intervenção do terceiro (v. 66.2).No entanto, a Lei n. 5.010/66, que organizou a Justiça Federal,em seu art. 70 dispôs sobre a intervenção obrigatória da União nascausas em que figurassem, como autores ou réus, os partidos políticos, bem como "as sociedades de economia mista ou empresas públicas com participação majoritária federal, bem assim os órgãos autônomos especiais e fundações criados por lei federal".Esta disposição veio a ser modificada pela Lei n. 6.825/80, art.7º, a cujo respeito considerou o STJ, por sua 2ª Seção, cuidar-se de"modalidade especialíssima de assistência", "adjuvandum tantum",que não exigia tivesse a União interesse estritamente jurídico na causa; em conseqüência, em tais hipóteses não se daria o deslocamentode competência para a Justiça Federal (CC 1.755, ac. de 8-5-1991,Rel. Min. Eduardo Ribeiro, RSTJ, 22:58).A seguir, a Lei n. 8.197, de 27-6-1991, por seu art. 2º, assimtratou a matéria:"Art. 2º A União poderá intervir nas causas em quefigurarem, como autoras ou rés as autarquias, as fundações,as sociedades de economia mista e as empresas públicasfederais".Segundo propôs Theotonio Negrão, neste caso, se a Justiça Federal não era, antes dessa i

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ntervenção, competente para o julgamento da causa, "a intervenção da União não desloca para essa Justiça acompetência" (CPC anotado, 28. ed., Saraiva, glosa 1a ao art. 50).A Lei n. 8.197 foi revogada pela Medida Provisória n. 1.561,finalmente convertida na Lei n. 9.469, de 10-7-1997, cujo art. 5º assim passou a dispor:"Art. 5º A União poderá intervir nas causas em quefigurarem, como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicasfederais.Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexos, ainda que indiretos, de natureza econômica, intervir, indepen- (p. 138)dentemente da demonstração de interesse jurídico, para esclarecer questões de fato e de direito, podendo juntar documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e,se for o caso, recorrer, hipótese em que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes".Como se verifica, de conformidade com o caput, resultoumantida a possibilidade (não a obrigatoriedade) de a União intervirnas causas em que seja parte entidade da Administração indireta,sem necessidade de demonstrar interesse estritamente jurídico emque a sentença venha a ser favorável à entidade assistida. Com efeito, se existente o interesse jurídico, o caso estaria já subsumido nasprevisões do Código processual.Novidade maior está no parágrafo, segundo o qual a pessoa jurídica de direito público (portanto., a Administração centralizada, asautarquias, as fundações de direito público) poderá intervir em qualquer demanda se a sentença, a ser proferida na causa, puder influir,ainda que de forma indireta e reflexa, no âmbito patrimonial da aludida pessoa jurídica. Mais ainda: nos casos em que ocorra estaintervenção atípica, a competência não se desloca para o foro privativo, salvo se a entidade de direito público interpuser recurso; apenasnesta hipótese, segundo está na lei, será considerada como "assistente" e, pois, haverá o "deslocamento de competência".Outro ponto interessante será o relativo à desistência da Uniãoem participar como assistente e seu reflexo sobre a competência absoluta em razão da pessoa.A esse respeito manifestou-se o Superior Tribunal de Justiça,por sua 2ª Turma, nos seguintes termos:"Assistência da União. Desistência. Perpetuatio jurisdictionis.Sendo a assistência uma modalidade de intervenção voluntária, a incidência da Súm. 218 do STF depende de a União reivindicar essa posição no processo. Mas deferido o pedido de assistência, a União já nãopode dela desistir, sob pena de tumulto, o mais radical, na medida emque acarretaria o deslocamento da causa para outra jurisdição, a daJustiça do Estado. Não se trata de transformar em obrigatória umaintervenção voluntária, mas sim de providência que visa a dar seriedade à manifestação de interesse da União na causa, impedindo-a deretratar-se ao sabor do que pensam os procuradores que, eventualmente, se sucedem na sua representação. Recurso especial não conhecido"(REsp 164.635, ac. de 7-5-1998, Rel. Min. Ari Pargendler). (p. 139)

72. Assistência e disponibilidade sobre o objeto do litígio

72.1. Assistência e autocomposição da lideAspecto dos mais interessantes a ponderar é o alusivo à disponibilidade (via de regra) das partes sobre o objeto do litígio.A qualquer assistente, simples ou litisconsorcial, é defeso dispor do objeto do processo, nem mesmo para ampliá-lo por

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reconvenção, ação declaratória incidental ou denunciação da lide{107}.As partes, entretanto, podem chegar, e freqüentemente chegam,à autocomposição da lide (ou espontaneamente, ou estimuladas pelojuiz na fase preliminar ou no limiar da audiência - CPC, arts. 331,447 e 448); nesses casos, quer quando o réu reconhece a procedênciado pedido (art. 269, II), quer quando o autor renuncia ao direito(rectius, à pretensão) sobre o qual fundou a ação (art. 269, V), querquando as partes transigem (art. 269, III), ocorrerá a extinção do processo "com julgamento de mérito" (rectius, com eliminação da lide).De conformidade com o art. 53 do diploma processual, a autocomposição da lide não é obstada pela existência de assistente, verbis:"A assistência não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação ou transijasobre direitos controvertidos; casos em que, terminando oprocesso, cessa a intervenção do assistente"{108}.Assim, declarado extinto o processo, "cessa a intervenção doassistente", restando a este, como evidente, a possibilidade de, emação própria, buscar a tutela de seus interesses{109 e 109-A}.107. No alusivo à assistência simples, José Raimundo da Cruz é expressoquanto à impossibilidade de o assistente exercer denunciação da lide (artigo dedoutrina, na RT, 616:34).108. Note-se que o Código de Processo Civil alude inclusive ao caso de"desistência da ação", que é caso de extinção do processo sem julgamento domérito. E não menciona expressamente a hipótese de renúncia, pelo autor, aodireito afirmado na inicial, hipótese esta, entretanto, incluída, por força de compreensão, na regra do art. 53.109. "O assistente não pode obstar a extinção do processo em decorrência de transação dos litigantes. Mas a lei lhe assegura o direito de, em processoposterior, discutir a justiça da decisão extintiva, se atender o que exigem osincisos I e II do art. 55 do CPC" (8ª Câm. do 1º TACSP, AI 281.984, ac. de 2511-1980, Rel. Juiz Pereira da Silva).109-A. "Na assistência simples, como na hipótese, o assistente não poderá, sozinho, prosseguir na ação principal em substituição ao assistido que dela (p. 140)

72.2. Assistência litisconsorcial e "sucessão" na relação processualA regra do art. 53, segundo doutrina prevalecente, incide apenasnos casos de assistência adesiva, mas não nos casos de assistêncialitisconsorcial. É o magistério, v. g., de Arruda Alvim (Código de Processo Civil comentado, cit., v. 3, p. 72 e passim; Manual, cit., v. 2, n.234) e de Humberto Theodoro Júnior (Processo, cit., v. 1, n. 130).Parece-nos, contudo, que tal proposição deva ser entendida nosdevidos termos. Não se pode supor que a parte principal, em havendo um assistente litisconsorcial, não mais possa renunciar a seus direitos, reconhecer o direito do autor, ou chegar a uma transação.Nada impede que o herdeiro legítimo, nos exemplos retromencionados, renuncie, de sua parte, à pretensão anulatória do testamento; ou que o condômino autor da reivindicatória negocie seus direitos com o possuidor do bem reivindicado.Tais atos de disposição, todavia, salvo se a eles anuir o herdeiroassistente, ou o condômino assistente, não produzirão o efeito de terminar o processo e de cessar a intervenção do assistente litisconsorcial.Ao contrário, a relação processual não se extingue: o assistido,tendo desistido da ação, ou composto a lide com seu adversário, retira-se do processo, e o assistente litisconsorcial irá sucedê-lo, na posição, já agora, de "parte principal", quer assumindo a titularidadeda pretensão posta em juízo - se era assistente do autor -, quer seopondo à pretensão do autor - se era assistente do réu.

73. Assistência e efeitos da sentençaO assistente simples, a rigor, não é afetado pela imutabilidadedos efeitos da sentença. A "coisa julgada" não o atinge, pela mera

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razão de que não está em julgamento o direito do assistente, mas simo direito do assistido. Será, todavia, afetado pelos efeitos reflexos dadesistiu, por isso mesmo é que, como disposto na parte final do art. 53 do CPC,terminando o processo, cessa a intervenção do assistente".Assim sendo, uma vez tendo sido extinto o processo, por sentençahomologatória do pedido de desistência da autora, com a concordância dos réus,resta prejudicado, por perda do objetivo, o recurso interposto por quem pretende ingressar, como assistente simples, no feito já findo" (REsp 37.306, STJ, 4ªTurma, Rel. Min. Cesar Asfor Rocha, ac. de 22-10-1996). (p. 141)sentença, já que a assistência se funda exatamente no interesse jurídico do assistente na vitória da parte a quem assiste.Mas estes efeitos reflexos se produziriam houvesse ou não ingressado como assistente{110}.O ingresso na relação processual, todavia, impede ao assistente, em processo posterior, discutir "a justiça da decisão" (CPC, art.55), isto é, discutir os fatos e os motivos que serviram de fundamentoà anterior sentença, na causa em que ocorreu a assistência"{111}. É situação, como diz Cândido Dinamarco, "que tangencia a coisa julgada eseus limites subjetivos, mas que com ela não se confunde" (Intervenção de terceiros, cit., n. 13).Assim, se o tabelião vem assistir ao demandado, na ação em que sediscute a validade formal da escritura pública, e a escritura é anulada,não poderá posteriormente o mesmo notário, na ação de indenizaçãoque lhe for movida sob alegação de conduta funcional culposa, discutir osfatos tomados como certos pelo juiz para invalidar a escritura pública.Entretanto, os fatos e fundamentos da sentença anterior poderão ser novamente discutidos em duas hipóteses, expressamente previstas no art. 55 do Código de Processo Civil:a) se o assistente ingressou no processo tardiamente; ouse tendo ingressado ainda em tempo de requerer provas, oassistido todavia veio a impedi-lo, por declarações ou atos,"de produzir provas suscetíveis de influir na sentença";b) se "desconhecida a existência de alegações ou de provas, de que o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu".110. Conforme ensina Ovídio Baptista da Silva,"A peculiaridade essencial dessa repercussão da sentença na esfera jurídica de terceiros decorre, não de uma previsão legal, mas de circunstânciasacidentais que colocam determinados sujeitos, chamados, pela doutrina, terceiros juridicamente interessados, numa relação de dependência jurídica relativamente à relação que fora objeto da sentença inter alios" (Sentença e coisa julgada, Porto Alegre, Fabris Ed., 1979, p. 110).111. No magistério de Arruda Alvim: "A relevância da figura da justiçada decisão, pois, é a de que, tendo havido processo anterior, tanto a prova,como os respectivos fatos, tais como provados e tidos por verídicos, no processo em que houve a assistência, haverão de ser respeitados pelo juiz deste segundo processo, salvo os casos dos incs. I e II do art. 55" (Manual, cit., 6. ed.,v. 2, n. 47, p. 130). (p. 142)

74. Da coisa julgada e do assistente litisconsorcial

74.1. Assistência litisconsorcial e extensão da coisa julgadaTema doutrinário de altíssima indagação é o alusivo à extensão,ou não, da coisa julgada (= definitividade dos efeitos da sentença)ao terceiro que "poderia" ter sido litisconsorte unitário, e não o foi(casos de litisconsórcio facultativo unitário), e que portanto tambémestaria em condições de ser assistente litisconsorcial.Arruda Alvim refere que o assistente litisconsorcial, ou melhor, aquele que está em situação de ser assistente litisconsorcial,"será atingido pelos efeitos da sentença, tenha ingressado ou não noprocesso" (Código de Processo Civil comentado, cit., v. 3, p. 7).

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Pondo exemplos:a) Se o condômino A propôs a ação reivindicatória comêxito, tal resultado da demanda certamente impedirá ocondômino B, embora alheio a esta causa, de propor segunda e idêntica ação contra o mesmo réu, mas isso simplesmente porque a consecução do objetivo comum a ambos oscondôminos lhe retira interesse de agir.Porém se a ação proposta por A foi improcedente, estará o condômino B atingido pelos efeitos de tal sentença aponto de não lhe ser mais possível reivindicar o bem emcondomínio (suposta a identidade de réu e de causa petendi)?b) No exemplo cediço do sócio que propõe sem êxitoação anulatória de decisão da assembléia geral, estará outrosócio impedido de utilizar da mesma faculdade de agir?

74.2. Posições da doutrinaAmbas as possíveis soluções propiciam as mais sérias objeçõesdoutrinárias e apresentam inconvenientes de ordem prática.Liebman, em sua clássica obra Eficácia e autoridade da sentença (ed. bras., Forense, 1981,p. 236), aponta, de uma parte, o perigo inclusive do conluio da sociedade com um sócio condescendente(ou a hipótese de sócio mal assessorado em juízo, acrescentamosnós), garantindo, com a improcedência da ação anulatória mal proposta ou mal instruída, a "preclusão" das ações dos demais sócios;todavia, sob a outra solução a sociedade ficará exposta a uma sériede sucessivas impugnações à validade da deliberação social. (p. 143)Ada Pellegrini Grinover, em anotação ao trabalho de Liebman(p. 238 e s.), ressaltou o dissenso na doutrina brasileira. Cita BarbosaMoreira, o qual sustenta que os co-interessados alheios ao processoficam, todavia, jungidos à sentença, pela unitariedade do possívellitisconsórcio (Litisconsórcio unitário, Forense, 1972, p. 142-4, n.83 e nota 49). Inclinou-se, todavia, a ilustre processualista paulistapela posição de Liebman favorável à limitação da coisa julgada apenas às partes, resguardada ao terceiro a possibilidade de opor-se aosefeitos da sentença, para ele não imutáveis: "mas o que não se pode éimpedir - a pretexto de uma coisa julgada que opere ultra partes o exercício do direito de ação aos demais sócios, sem preceito expresso que excepcione ao art. 472 do Código de Processo Civil vigente" (Eficácia e autoridade da sentença, cit., p. 242).Do mesmo sentir, pela "irrestrita e absoluta limitação da coisajulgada somente às partes", é Ovídio Baptista da Silva, em notávelestudo publicado na coletânea Sentença e coisa julgada (Porto Alegre, Sérgio A. Fabris, Editor, 1979).O Superior Tribunal de Justiça, por sua 4ª Turma, REsp 44.925,v. u., ac. de 21-6-1994, sendo relator o eminente processualista Min.Sálvio de Figueiredo, adotou a tese de que o co-herdeiro que demanda em prol da herança a nulidade de venda feita pelo de cujus comporta-se como mandatário tácito dos demais co-herdeiros, como substituto processual destes, disso decorrendo a sujeição dos substituídos à auctoritas rei iudicatae da decisão que venha a ser proferida.Em suma, adere ao magistério de Barbosa Moreira (acórdão na íntegra no Anexo II).

74.3. Limitação da coisa julgada somente às partesCom vênia, ficamos entretanto com a orientação preconizadapor Liebman, de limitação da coisa julgada somente às partes, comas oportunas observações de Ovídio Baptista, o qual refere que:"Um dos problemas mais intrigantes, realmente, paraos que tentam conceituar a coisa julgada material e delimitar-lhe os contornos subjetivos, é a questão das ações compluralidade de legitimados. A dificuldade, posta de longadata pela doutrina, consistia substancialmente em explicarcomo, por exemplo, numa ação de anulação de um ato praticado por uma sociedade, proposta por um sócio, a sentença

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que acolhesse a demanda, anulando o ato, vinculava os de- (p. 144)mais sócios que não tivessem participado da ação, ao passoque a sentença que a rejeitasse não vincularia os demais sócios que poderiam propor novas demandas anulatórias. Essadiversidade de eficácias das respectivas sentenças prolatadasna mesma ação, para o caso de ela ser procedente ou improcedente, feria a sensibilidade dos juristas e lhes parecia impossível subordinar a abrangência dos efeitos da sentençaconforme o resultado favorável ou desfavorável à ação proposta pelo demandante (eficácia que, segundo a doutrina,seria secundum eventum litis).Sem dúvida, o equívoco é transparente e surge assimque se preste atenção ao fato de que a sentença de acolhimento é constitutiva, ao passo que a sentença que rejeite ademanda é simplesmente declaratória e, portanto, jamaispoderia alcançar os terceiros com o selo da indiscutibilidade,precisamente porque a coisa julgada fica sempre limitada àspartes. Já a sentença que acolha a demanda, anulando o atoimpugnado, por ser constitutiva, naturalmente atingirá a todos, não somente os outros sócios, mas todos os terceiros, queterão de aceitar e submeter-se ao fato do desaparecimento domundo jurídico do ato anulado; o que, por sua vez, não impedirá que outro sócio, ou até mesmo um terceiro, estranho àsociedade, se legitime para impugnar a sentença anulatória,visando a restaurar o ato anulado" (Sentença e coisa julgada,cit., p. 117-8). (p. 145)

(p. 146, em branco)

ANEXO I - NOTAS SOBRE A AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL (p. 147)

(p. 148, em branco)

"NOTAS SOBRE A AÇÃODECLARATÓRIA INCIDENTAL"{*}

SUMÁRIO: I - Questão prejudicial e coisa julgada material. II- Interesse de agir específico. III - Propositura da açãodeclaratória incidental. IV - Procedimento. V - A declaratóriaincidental no processo com revelia. VI - Competência. VII Jurisprudência.

I - Questão prejudicial e coisa julgada materialDentre as modificações introduzidas pelo vigente Código de Processo Civil aos lineamentos fundamentais de nosso direito processualcivil, aparece como das mais relevantes, do ponto de vista teórico, a"declaração incidente" referida nos arts. 52, 325, 470, 321 e 109. Oinstituto é realmente complexo, suscitando fundadas dúvidas e divergências doutrinárias e jurisprudenciais mesmo naqueles países, comoa Alemanha, Austria e Itália, que o consagram de muito tempo.Alguns pontos básicos não será, entretanto, demasia explicitar.A ação declaratória incidental é uma outra ação, proponível,no mesmo processo, por qualquer das partes de uma ação já em andamento. Assim, esta ação declaratória implica uma cumulação dedemandas quando promovida pelo autor, ou é um tipo de demandareconvencional quando promovida pelo réu{1}.* O presente estudo reproduz, com numerosas modificações e acréscimos, trabalho publicado em 1974 sob o título Ação declaratória incidental, nonovo Código de Processo Civil.1. Quando a declaratória parte do réu - é a antiga lição de Chiovenda:"Pode dizer-se uma espécie de reconvenção: mas costuma reservar-se o nome

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de reconvenção para o caso em que o réu propõe uma ação condenatória ou (p. 149)Sendo uma ação declaratória, o "bem da vida" que constitui seuobjeto é a "certeza jurídica" quanto à existência, inexistência, oumodo de existir de uma relação jurídica.Pergunta-se:Quais relações jurídicas podem ser objeto da ação declaratóriaincidental?Quando existe o "interesse de agir", que possibilita ao autor ouao réu postular contra a parte adversa a declaração incidente?Em que momento processual cabe o ajuizamento da açãodeclaratória incidente?Qual o rito a ser observado?A resposta à primeira indagação poderá ser quiçá obscurecidapelos termos do art. 325 do Código de Processo Civil, verbis:"Contestando o réu o direito que constitui fundamentodo pedido, o autor poderá requerer, no prazo de dez dias,que sobre ele o juiz profira declaração incidente, se da declaração da existência ou da inexistência do direito depender, no todo ou em parte, o julgamento da lide (art. 5º)".Ora, a rigor, o "direito que constitui fundamento do pedido", odireito invocado como razão jurídica da pretensão do autor, é necessariamente objeto da declaração ínsita em toda sentença que julga alide, dando pela procedência ou pela improcedência do pedido{2}.A ação declaratória incidental deve, pois, recair sobre outro direito subjetivo, outra relação jurídica, nos termos do art. 5º:constitutiva; ao passo que, na hipótese em apreço, o réu se limita a requerer umadeclaração positiva ou negativa" (Instituições, v. 1, n. 125, in fine).De acordo com o Prof. Galeno Lacerda (O novo direito processual civil eos feitos pendentes, Forense, n. 6), a declaratória incidental quando formuladapelo réu é uma demanda reconvencional, com pedido sempre declaratório negativo "do fato prejudicial em que se apóia a ação principal, como pressuposto"(salvante - aduzimos - se a ação principal for declaratória negativa, caso emque a declaração incidente do réu terá caráter declaratório positivo); se apresentada pelo autor, é sempre uma declaratória positiva (salvo se a ação principal fordeclaratória positiva, caso em que a declaratória incidente do autor terá caráterdeclaratório negativo).2. A sentença de improcedência é, de regra, declaratória negativa. A sentença de procedência ou apenas declara, ou declara e condena, ou declara econstitui (ou declara e manda, para os que admitem a categoria das ações esentenças mandamentais). (p. 150)"Se, no curso do processo, se tornar litigiosa relaçãojurídica de cuja existência ou inexistência depender o julgamento da lide, qualquer das partes poderá requerer que ojuiz a declare por sentença".Em outros termos: a declaração incidental deve recair sobre umaquestão prejudicial, isto é, sobre relação jurídica que, sem fundamentar diretamente o pedido, todavia condiciona o direito invocadopelo autor, predeterminando o conteúdo de mérito da sentença{3}.Não obstante a grande dificuldade em precisar o conceito de"prejudicialidade", mesmo porque variável em função da legislaçãoreferida pelos autores que dele tratam, parece razoável definir como"prejudicial" toda questão que constitua, em primeiro lugar, um antecedente lógico da sentença (prejudicialidade em sentido lato), eque, outrossim, se baseie "en una relación sustancial independientede la que motiva la litis" (Hugo Alsina, Las cuestiones prejudicialesen el proceso civil, EJEA, 1959, p. 63 e s.); nota-se, pois, a autonomia da relação jurídica prejudicial, que poderá, em tese, ser objeto,facultativamente, de uma ação declaratória{4 e 5}".3. No magistério de Buzaid: "A sua função precípua é, pois, a de atenderaos princípios da brevidade e economia, resolvendo num mesmo processo, com

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autoridade de coisa julgada, duas lides em vez de uma apenas, a saber, a lideprejudicial e a lide principal, de sorte que ambas passam a ser, por força dopedido das partes, duas lides principais. O merecimento da ação declaratóriaincidental consiste em reunir, num mesmo processo, o julgamento de duas lides, uma das quais poderia ser decidida apenas "incidenter tantum" e, portanto,ser objeto de ação autônoma, mas que, julgadas em conjunto, são ambas lidesprincipais do mesmo processo" (Ação declaratória incidental, Digesto de Processo, Forense, v. 1).4. Ada Pellegrini Grinover, processualista emérita, refere que a doutrinaprocessual moderna reservou a denominação "questão prejudicial", em sentidoestrito, para "as questões relativas a outros estados ou relações jurídicas, quenão dizem respeito à relação jurídica controvertida, mas que, podendo emboraser por si só objeto de um processo independente, apresentam-se naquele determinado processo apenas como ponto duvidoso na discussão da questão principal" (Ação declaratória incidental, Revista dos Tribunais, 1972, p. 10).5. Humberto Theodoro Júnior sintetiza: "Mas para justificar a declaraçãoincidental, é preciso que a questão seja tal, que pudesse justificar hipoteticamente um outro processo, pois, só assim, se concebe o exercício do direito deação que se contém no pedido de declaração incidente" (Processo de conhecimento, Forense. v. 2, n. 404). (p. 151)Pondo exemplo: ação indenizatória por danos causados em determinado bem, que o demandante afirma de sua propriedade. O réu,na contestação, poderá argüir preliminares processuais; pode negar,de mérito, a existência dos danos ou a autoria; e pode, inclusive,afirmar que o bem danificado é de propriedade não do autor, mas simdele contestante.Teremos, destarte, duas relações jurídicas controvertidas: a relação de crédito, fundamento do pedido indenizatório, e a relaçãodominial, condicionante da anterior.Outro exemplo: ação de cobrança contra fiador. Este, em contestando, suscita a nulidade do contrato entre o credor e o afiançado.A validade da relação contratual básica condiciona a validade eexigibilidade do pacto de fiança.Sabemos que a relação subordinante deve inarredavelmente serapreciada pelo juiz, ao sentenciar na ação de indenização ou na açãode cobrança. Se, a respeito dessa relação subordinante, não ocorrecontrovérsia, teremos, na lição de Menestrina (Prejudicial no processo civil, Viena, 1904), um simples ponto prejudicial. Se este ponto foi controvertido, surgiu uma questão prejudicial, questão estaque o magistrado necessariamente irá apreciar em simples juízo decognição, ou seja, sem o efeito da coisa julgada material (Chiovenda,Instituições, cit., t. 1, n. 124). Tratar-se-á, portanto, de uma decisãoincidenter tantum; é a norma expressa do art. 469 do Código:"Não fazem coisa julgada:III - a apreciação da questão prejudicial, decididaincidentemente no processo".Todavia, se a questão prejudicial{6} for destacada por qualquerdas partes, como objeto de uma ação de declaração incidental, estare 6. Cuidamos aqui apenas da prejudicialidade homogênea, isto é, ocorrentedentro do âmbito do processo civil; não da prejudicialidade heterogênea, aenvolver relações interjurisdicionais, ou seja, a decisão do juízo civil a influirna decisão do juízo criminal, e vice-versa, hipóteses em que a possibilidade dedeclaratória incidente é afastada pela radical incompetência ratione materiaedo juiz da causa prejudicada. A respeito, o parágrafo único do art. 64(prejudicialidade eventual facultativa) e os arts. 92/93 do Código de ProcessoPenal (v. Arruda Alvim, Direito processual civil, t. 2, p. 286 e s.; Euclides C. da (p. 152)mos, então, frente a uma causa prejudicial, cuja solução será dadaprincipaliter e fazendo coisa julgada material, isto é, produzindoimutável certeza jurídica naquele e em quaisquer outros pleitos entre

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aquelas partes (CPC, art. 470).Na lição de Ada Pellegrini Grinover:"Mediante ação declaratória incidental, operar-se-á aampliação do objeto do pedido; e a questão prejudicial, quepoderia constituir objeto de processo autônomo, terá sidodeclarada dentro de ação que verse sobre outro estado ourelação jurídica, de forma que a ela também se estenda aautoridade da coisa julgada" (Ação, cit., p. 58).Portanto, se as relações subordinantes, nos exemplos dados, forem decididas como simples pressuposto lógico do julgamento dasações, e tidas por existentes, tal não impede que, futuramente, a matéria venha a receber diversa apreciação em outras lides entre as partes. Mas se as mencionadas relações jurídicas forem objeto de açãodeclaratória incidental, a coisa julgada irá obstar, para sempre, queentre as partes o domínio do bem, ou a validade do contrato básico(nos exemplos já dados), sejam reapreciados de maneira diversa{7}.

II - Interesse de agir específicoNão basta, no entanto, a superveniência de uma questão prejudicial, para que o autor ou o réu possam provocar a causa prejudicial. Énecessário haver um "interesse de agir" específico, diverso do interesse de agir na causa principal. Realmente, se existir (ou se for previsíSilveira, Da prejudicialidade jurídica heterogênea no processo penal, in Estudos de direito processual civil em memória do Min. Costa Manso, Revista dosTribunais, 1965, p. 168).7. "É no princípio da economia do processo que se localiza a finalidadeprincipal da declaração incidente. Com ela se evita, pela formação da coisajulgada sobre a questão prejudicial, que esta venha a ser objeto de nova discussão, provas e decisão, em demandas futuras entre as mesmas partes, e que tenham como objeto, ou como prejudicial, a mesma questão" (Agrícola Barbi,Comentários ao Código de Processo Civil, 2. ed., Forense, v. 1, n. 71). (p. 153)vel) somente aquela lide entre as partes, por hipótese a lide que originou a ação de indenização ou a de cobrança, a solução da questãoprejudicial apenas incidenter tantum permitirá a adequada composição daquele conflito de interesses e satisfará plena e integralmenteaos litigantes.Pode, entretanto, ocorrer que a questão prejudicial tenha, oupossa ter, alcance mais amplo, interessando a outras controvérsiasatuais (ou previsíveis) entre as partes.Para Carnelutti (Sistema, ed. esp., n. 374),"nos otros llamamos prejudiciales, en sentido técnico, sólo alas cuestiones cuya solución constituye premisa de la decisióntambién en otros litigios... Por ejemplo, deducida en procesola pretensión de la mujer a los alimentos, como ésta implicael conocimiento en torno a la validez del matrimonio, puedeser conveniente que este conocimiento se lleve a cabo deuna vez para todas, esto es, con eficacia respecto a todas lasconsecuencias del matrimonio. En este caso se inserta en elproceso el llamado acertamiento incidental".Nota-se, pois, que não é suficiente "a contestação relativa auma relação prejudicial, mas é preciso que esta relação consistaem uma questão comum a outra lide" (Ada Pellegrini Grinover,Ação, cit., p. 77).Temos, destarte, que a ação declaratória incidental pressupõeuma lide específica, atual ou virtual, outra que não a lide causadorado processo principal.Grandemente esclarecedor o artigo do Prof. Luigi Montesano,da Universidade de Roma (Rivista di Diritto Processuale, 6:329, parteI, ano 51), sob o título "In tema di accertamento incidentale e dilimite del giudicato". A certo ponto, tratando do interesse de agir na

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ação declaratória incidental, propõe o articulista:"Realmente, segundo tais noções, para que se possa provocar uma declaratória incidental, não é suficiente a contestação relativamente a uma relação prejudicial, mas é necessário questa prejudicial consista em uma questão comum aoutra lide atual, a qual também venha deduzida como objetodo julgamento. Portanto, não apenas a mera certeza sobre arelação, isto é, como foi visto, a mera solução de uma questão, mas a concreta atribuição de ubem, será o resultado (p. 154)do juízo de declaração incidental, como de qualquer outrojuízo contencioso de cognição".A característica da ação declaratória incidental consiste em queo interesse de agir surge com a impugnação (embora não suficiente"apenas" a impugnação), relativa a um ponto prejudicial, impugnaçãoesta formalizada na contestação apresentada na "causa principal" (quetambém pode ser chamada de "causa prejudicada" ou "condicionada", em contraposição à "causa prejudicial" ou "condicionante").Cumpre ainda salientar que a ação declaratória, como reiterado, pode ser promovida por qualquer das partes, mas réu desta açãodeverá ser apenas e tão-somente a parte adversa na ação principal.Isto porque é imprescindível que a parte na ação declaratória incidentaltambém o seja, "e no mesmo sentido de direito processual, na açãosubordinada: terceiro não pode propô-la nos autos desta, nem contraterceiro pode propô-la qualquer das partes" (Adroaldo Furtado Fabrício, A ação declaratória incidental, Forense, n. 44).Pode inclusive acontecer - segundo o ilustre magistrado sulrio-grandense - que a relação jurídica condicionante tenha comointeressados (no sentido do direito "material") uma das partes e umterceiro, pois a ação declaratória incidental tem por objetivo alargar"os limites objetivos do julgado, não os subjetivos donde o coroláriode serem as partes necessariamente as mesmas da causa inicialmenteproposta, embora não necessariamente as legitimadas diretas à açãodeclaratória autônoma que se pudesse ajuizar" (A ação, cit., n. 44).

III - Propositura da ação declaratória incidentalEm que momento processual poderá o réu, ou o autor, propor aação declaratória incidental, postulando a extensão da coisa julgadamaterial também à decisão da questão subordinante?Pelo ZPO alemão (§ 256, 2, antigo § 280), até o encerramento dodebate oral anterior à sentença; assim também (§ 259, 2) o Códigoaustríaco (Chiovenda, Instituições, cit., t. 1, n. 125). Pelo Código português (texto alterado pelo Dec.-lei n. 47.690, de 11-5-1967), o pedidodo autor, independentemente de acordo das partes, pode ser ampliado"até ao encerramento da discussão em primeira instância, se a ampliação for o desenvolvimento ou a conseqüência do pedido primitivo". (p. 155)Esta orientação diverge, todavia, da sistemática adotada em nosso direito processual, que era, ao tempo do Código de Processo Civilde 1939, e continua a ser, um processo dominantemente escrito, noqual a fase postulatória se distingue com nitidez das subseqüentesfases de saneamento, instrução e decisão.Aliás, o art. 325 é expresso, concedendo o prazo de dez dias,após tomar ciência da contestação, para o autor demandar a declaração incidental, seguindo-se nova citação do réu e reabertura do prazode quinze dias para a resposta (art. 321, in fine).O Código é omisso quanto ao momento do ajuizamento da açãode declaração incidental partida do demandado, mas, diante do seucaráter reconvencional, deve ser proposta simultaneamente com acontestação, em peça autônoma (art. 299), intimando-se o autor, napessoa de seu procurador (intimação com eficácia de citação), paracontestar no prazo de quinze dias (art. 316). O ajuizamento da açãodeclaratória incidental deve, portanto, necessariamente preceder a

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fase do saneamento.Não ajuizada no momento processual adequado, preclui a possibilidade de resolver principaliter e no mesmo processo a questãoprejudicial, ressalvada, por certo, a possibilidade de propositura, arespeito da relação jurídica condicionante, de ação declaratória nãoincidental, isto é, em processo autônomo (e tal processo autônomo,pela conexão de causas, poderá acarretar a suspensão do processoprincipal - art. 265, IV, a, do CPC).A petição de ajuizamento da ação incidental obedecerá aos requisitos normais da petição inicial (incidental ajuizada pelo autor)ou da reconvenção (incidental proposta pelo demandado).O juiz pode (e deve) rejeitar liminarmente o pedido de declaração incidental:a) nos casos previstos em lei (art. 295);b) quando a questão suscitada evidentemente não constituir"questão prejudicial", no exato sentido jurídico do termo, por tratarse, isto sim, de questão vinculada à própria relação jurídica que constitui fundamento direto do pedido da ação principal;c) nos casos de intempestividade da postulação, ou de incompetência absoluta do juiz para conhecer da questão prejudicial invocada;d) quando não ocorrente o interesse específico à obtenção dacoisa julgada material na solução da questão prejudicial; (p. 156)e) nos processos de execução (inclusive nos embargos do devedor) e nos processos cautelares.A ação declaratória incidental, acrescentamos, é incabível nascausas sob rito sumário, antes denominado "sumaríssimo" (AdroaldoFurtado Fabrício, A ação, cit., n. 63), as quais, aliás, não admitemreconvenção (CPC, art. 315, § 2º). Também inadmissível nas açõessob rito especial, mas somente "enquanto se mantenha especial oprocedimento, cessando sempre que este se converta em ordinário atempo de ser oferecido o pedido incidente" (Fabrício, A ação, cit., n.64); no mesmo sentido, Arruda Alvim (Código de Processo Civilcomentado, Revista dos Tribunais, 1975, v. 1, p. 379).Nos casos de rejeição liminar do pedido declaratório incidental,o juiz não põe termo ao processo, caracterizando-se sua decisão, pois,como interlocutória (art. 162, §§ 1º e 2º), impugnável por agravo deinstrumento (art. 522).

Iv - ProcedimentoApós transcorrido o prazo para "responder" ao pedido declaratório incidental, prossegue normalmente a demanda em procedimento ordinário, com audiência preliminar e de saneamento, audiência einstrução comuns (simultaneus processus), e a mesma sentença julgará o pedido principal e o de declaração incidente. Assim, temos duasações, duas relações jurídicas processuais, um só processo{8}.No magistério de Agrícola Barbi:"Tudo isto leva a concluir que o julgamento da açãoprincipal e da declaração incidente deve ser feito sempre simul 8. Explicita José Carlos Barbosa Moreira que, com a propositura da açãodeclaratória incidental, o órgão judicial "defronta-se com duas ações, a cadauma das quais corresponde um pedido perfeitamente individualizado. A sentença que se pronunciar sobre ambas será objetivamente complexa: conterá, naverdade, dois julgamentos, o do pedido primitivo e o do pedido superveniente(formulado pela mesma ou pela outra parte) de declaração da existência ouinexistência da relação jurídica subordinante" (Temas de direito processual,Saraiva, 1977, p. 94). (p. 157)taneamente pelo juiz da instância inferior" (Comentários,cit., 2. ed., Forense, v. 1, n. 79).Isto, de regra. Sérios problemas processuais surgem, entretanto, quando a sentença de mérito "tiver por pressuposto o julgamentode questão de estado, requerido como declaração incidente", pois

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pelo Código será o processo, nesse caso, suspenso por prazo nãoexcedente a um ano (art. 265, IV, c, e § 5º). Findo o prazo, "o juizmandará prosseguir no processo", ou seja, na hipótese de declaratóriaincidental relativa a questão de estado, o juiz determinará seja retomada a apreciação da lide "principal" (note-se que, excepcionalmente, a ação declaratória incidental tramitará então em autos apartados,pois neste caso, e apenas neste, haverá não só uma ação incidentalcomo também um processo incidental).Poderá ocorrer, quiçá com freqüência, que a questão prejudicialde estado não se encontre definitivamente julgada dentro do prazoanual. Mas como o processo da lide "principal" deve, então, retomarandamento, a solução mais viável (embora passível de objeções) seráa de suspender a apreciação da causa prejudicial até que a questãoprincipal venha a atingir o mesmo estágio procedimental, para quedaí em diante passem ambas as causas a um processamento, e posterior julgamento, em conjunto (com reunião, pois, dos procedimentos, formando-se daí em diante um único processo).Também é possível que o prazo de um ano termine encontrando-se o julgamento da causa principal de estado pendente no Tribunal, por via de recurso. Nesta hipótese, evitando-se possíveis decisões contraditórias, a sentença na causa principal somente poderá serprolatada após a manifestação da instância superior sobre o méritoda questão prejudicial.

v - A declaratória incidental no processo com reveliaQuer dos termos do art. 325 do Código de Processo Civil "contestando o réu o direito que constitui fundamento do pedido, oautor..." - quer do disposto no art. 52 - "se, no curso do processo,se tornar litigiosa relação jurídica..." - depreendo ser em princípioincabível a declaratória incidente nos casos de revelia do réu. E ainda Chiovenda: "Na ausência de qualquer contestação, é vedado à parte (p. 158)aproveitar-se da prejudicialidade para requerer uma declaração" (instituições, cit., t. 1, n. 126).É possível objetar que a esta conclusão opõe-se o art. 321: "Aindaque ocorra revelia, o autor não poderá alterar o pedido, ou a causa depedir, nem demandar declaração incidente, salvo promovendo novacitação do réu, a quem será assegurado o direito de responder noprazo de quinze dias".Esta norma, entretanto, merece ser relacionada com a do art.264, que impede ao autor modificar o pedido ou a causa de pedir semo consentimento do réu; assim, mesmo se revel o réu, a nova citaçãoresguardará em sua inteireza os princípios do contraditório e da "estabilidade da instância".A expressão "ainda que ocorra revelia" diz respeito, portanto,apenas à hipótese de alteração da demanda inicial, não à declaraçãoincidente: se o réu tornou-se revel, o ponto prejudicial não foi impugnado, e não se transformou, pois, em questão prejudicial; não se"tornou litigiosa" a relação jurídica condicionante.O processo em revelia conduz, aliás, ao julgamento antecipadoda lide - art. 330, II - salvante as hipóteses previstas no Código arts. 324 e 320.Adroaldo Furtado Fabrício, citando Barbosa Moreira e Calmonde Passos, lembra todavia casos possíveis, embora raros, em que arevelia não seria fator impeditivo ao ajuizamento da declaratóriaincidental: assim o caso do revel, cujo curador especial houvesse, aocontestar, suscitado a questão prejudicial; também o do litisconsórciopassivo, em que na contestação de um dos réus seja controvertidarelação jurídica condicionante, que também diga respeito ao outroréu, este revel (A ação, cit., n. 60).

VI - CompetênciaNos termos do art. 109 do Código de Processo Civil, "o juiz da

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causa principal é também competente para a reconvenção, a açãodeclaratória incidente, as ações de garantia e outras que respeitam aoterceiro interveniente". (p. 159)É mister confrontar esta norma com o disposto no art. 470, peloqual a resolução da questão prejudicial fará coisa julgada "se a parteo requerer, o juiz for competente em razão da matéria e...".E se o juiz não for competente? A declaratória incidente tornase inadmissível, ou o processo deve ser remetido ao juízo competente para conhecê-la?Esta última solução é a do Código italiano, art. 34:"Il giudice, se per legge o per esplicita domanda di unadelle parti è necessario decidire con efficacia di giudicatouna questione pregiudiziale che appartiene per materia ovalore alla competenza di un giudice superiore, rimette tuttala causa a quest'ultimo, assegnando alle parti un termineperentorio per la riassunzione della causa davanti a lui".No direito brasileiro, o aludido art. 470 (cuja redação é criticável)em realidade dispõe sobre um requisito de admissibilidade da açãodeclaratória incidental, ou seja, a ação incidental somente pode serproposta se, para ela, for competente (competência ratione materiae,ou melhor, competência absoluta) o juiz da causa em andamento.Se não o for, a declaratória somente poderá ser ajuizada emoutro processo, perante o juiz para ela competente, sendo, pois, emtal caso, defeso o simultaneus processus{9}.Cumpre, outrossim, assinalar a regra do direito brasileiro deque a reconvenção não será admitida se o juiz for absolutamenteincompetente para conhecê-la (Moacyr Amaral Santos, Dareconvenção, n. 75; Pontes de Miranda, Comentários ao CPC de1939, t. 2, p. 297; Frederico Marques, Instituições de direito processual civil, 1966, p. 150-5). E a declaratória incidental, partida do réu,é um tipo de ação reconvencional.Conclui-se, destarte, que o art. 109 do Código de Processo Civil alude apenas à prorrogação da competência relativa, harmonizando-se assim com o art. 470 (José Carlos Barbosa Moreira, Questões prejudiciais e coisa julgada, n. 81).9. Exemplifica mestre Buzaid: "Ajuizada uma ação de natureza obrigacional ou relativa a direito real, perante vara cível, nela não pode ser proposta aação declaratória incidental que verse sobre causa de estado, porque esta é dacompetência privativa do juiz da família e sucessões" (Ação declaratóriaincidental, Digesto de Processo, Forense, v. 1). (p. 160)

VII - Jurisprudência1. AÇÃO DECLARATÓRIA INCIDENTAL. Pressupõe lide sobre relação substancial que, sem fundamentar diretamente o pedido,todavia o condiciona, isto é, lide sobre questão prejudicial. As partes, na declaratória incidental, devem necessariamente ser as mesmas da ação principal; a declaratória incidental visa distender oslimites objetivos do julgado, não os limites subjetivos (Ac. un. da 1ªCâm. Cív. do TJRS de 9-6-1981, Ap. 36.253, Rel. Des. Athos GusmãoCarneiro; RJTJRJ, 89:319).2. Descabe a ação declaratória incidental, se a matéria desta éobjeto da contestação oferecida, na ação principal e, além do mais,não é subordinante da lide já em curso. A ação incidental declaratóriapressupõe relação jurídica de cuja existência ou inexistência depende o julgamento da lide. A simples contestação ou negação do vínculo jurídico argüido na ação não é suficiente a justifrovocaçãodo incidente (Ac. un. da 5ª Câm. do 1º TARJ, de 17-11-1975, Ap.47.025, Rel. Juiz Carlos Gualda).3. A ação declaratória incidental, como o próprio nome sugere,é ação proposta durante o processo de conhecimento, quando se questionar ponto de cuja solução dependa o julgamento da questão principal. Em outras palavras, sua finalidade é a de resolver, no curso do

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processo de cognição, questão prejudicial vinculada à relação jurídica de cuja existência vai pender o julgamento da lide. Na fase deexecução, descabida será a pretensão à declaratividade incidente, jáque a ação respectiva não é substitutiva da ação rescisória (Ac. un.da 2ª Câm. do TJRS, de 31-3-1976, Ap. 25.337, Rel. Des. LadislauFernando Rohnelt; RJTJRS, 59:302).4. Não se admite ação declaratória incidental em causa de procedimento sumaríssimo, porque o rito não comporta seu processamento. Se admitido tal pedido, sem impugnação de qualquer das partes,ao juiz não é lícito julgá-lo desde logo e separadamente: origina-sedele cumulação de ações, de caráter sucessivo, que devem ser julgadastodas na mesma sentença, segundo os princípios que regem a cumulaçãocomum. A única exceção é a da hipótese prevista no art. 265, IV, c, doCPC. Em qualquer outro caso, o julgamento da ação declaratória incidental só pode ser antecipado, na permissiva do art. 330 do mesmo (p. 161)Estatuto, se também a decisão da causa subordinada, dita "principal", comportar essa antecipação: a sentença tem de ser uma só, sendo comuns, de resto, a discussão e a prova. A decisão proferida cominfração a esses princípios, apreciando apenas e separadamente opedido de declaração incidente, não é sentença, eis que não põe termo ao procedimento de primeiro grau. É decisão stricto sensu e, portanto, desafia recurso de agravo (Ac. un. da Câm. Esp. do TARS, de12-5-1975, Ag. 9.930, Rel. Juiz Adroaldo Furtado Fabrício; JTACRS,16:171).5. A ação declaratória incidental, quando formulada pelo réu, édemanda reconvencional com pedido declaratório negativo, pelo quedeve o autor da ação original ser citado para contestá-la, no prazo dalei, por aplicação dos arts. 5º, 325 e 470 do CPC (Ac. un. da 1ª Câm.do TJRS, de 6-4-1976, Ap. 25.444, Rel. Des. Cristiano Graeff Júnior;RJTJRS, 57:369).6. "... O Código é omisso quanto à declaração incidental partidado réu, mas, diante de seu caráter reconvencional, é de aceitar devaser proposta simultaneamente com a contestação, em peça autônoma- art. 299 - intimando-se o autor para contestar no prazo de 15dias" (Ac. un. da 1ª Câm. do TARS de 25-9-1975, Ag. 10.712, Rel.Juiz Nélson Luiz Púperi; JTACRS, 18:128).7. Se a relação jurídica de cuja existência ou inexistência depender o julgamento da lide se tornou litigiosa com a defesa opostapela contestação, somente no prazo desta pode o réu requerer a declaração incidente, porque ação declaratória incidental tem caráterreconvencional e também porque o princípio da igualdade de tratamento a ser dispensado às partes é incompatível com a limitaçãotemporal do pedido de declaração incidente apenas para o autor, comoprevista no art. 325 do CPC. Conseqüentemente, é intempestiva aação declaratória incidente apresentada após o decurso do prazopara a contestação (Ac. un. da Câm. Esp. do TARS de 28-6-1976,Ap. 11.461, Rel. Juiz Pio Fiori de Azevedo; JTACRS, 21:177).8. O pedido declaratório incidente constitui-se em um incidentedentro do procedimento em curso e, como tal, da decisão que o indefere liminarmente não cabe apelação. Essa decisão é agravável deinstrumento (Ac. un. da 4ª Câm. do 2º TACSP de 31-5-1978, Ap.71.260, Rel. Juiz Müller Valente; RT, 515:176). (p. 162)

ANEXO II - ACÓRDÃOS DO SUPERiOR TRiBUNAL DE JUSTIÇA SOBRE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS (p. 163)

(p. 164, em branco)

ACÓRDÃOS DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA SOBRE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS(com remissão aos respectivos verbetes) Pág.

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- REsp 6.035 - Legitimação "ad causam" dos avós, para anular registro de nascimento de suposto neto. V. 13.2 - 167- REsp 32.605 - Nomeação à autoria. Recusa. Prazo paracontestar. V. 40 - 173- REsp 9.552 - Denunciação da lide. Evicção. Restituiçãodo preço, mesmo sem a denunciação. V. 44 - 178- REsp 19.391 - Denunciação da lide. Evicção. Para o exercício da evicção não é indispensável entença judicial, bastando fique o adquirente privado do bem por atode autoridade administrativa. V. 44 - 185- REsp 20.121 - Denunciação da lide. Art. 70, II, doCPC. Imissão de posse ajuizada contra locatário, com denunciação ao locador. V. 45 - 192- REsp 28.937 - Denunciação da lide. Art. 70, III, do CPC.Não admissível, em caso de introdução de "fundamento novo".V. 46 - 202- REsp 49.418 - Denunciação da lide. Art. 70, III, do CPC."Fundamento novo". Exegese restritiva. V. 46 - 212- REsp 13.621 - Denunciação da lide, pelo Estado réu, aomotorista oficial, em ação de indenização por acidente detrânsito. Possibilidade. V. 47 - 219- REsp 23.039 - Denunciação da lide, usada à guisa de"nomeação à autoria". Denunciado que aceita e passa a litisconsorte passivo. Aproveitamento do processo de que resultou condenação direta do "denunciado". V. 54 - 223 (p. 165)- REsp 39.570 - Denunciação da lide. Honorários do advogado do denunciado. Caso de garantia simples. V. 61 - 232- REsp 44.925 - Extensão subjetiva da "res judicata". Situação de sujeição dos que "poderiam" ter sido litisconsortes. V. 74 - 236- REsp 43.367 - Denunciação da lide. "Fundamento novo".Inadmissibilidade. V. 46 - 246- REsp 58.080-3 - Denunciação da lide. Não é admissível quando a responsabilidade do denunciado supõe seja negada a do denunciante. V. 54 - 251- REsp 67.684 (AgRg) - Denunciação da lide. Não se opera o litisconsórcio quando o denunciado nega a "qualidadeque lhe é atribuída". V. 57 - 254- REsp 97.590 - Denunciação da lide. Execução da sentença "diretamente" contra a seguradora denunciada, pois impossível a execução contra a denunciante. V. 56 - 257- REsp 99.453 - Denunciação da lide. Legitimação do denunciado para recorrer da sentença no alusivo ao julgamento da ação "principal". V. 60 - 262- REsp 115.046 - Denunciação da lide. Possibilidade deo denunciante executar o denunciado antes mesmo de pagar ao autor da demanda "principal". V. 56.4 - 265 (p. 166)

RECURSO ESPECIAL N. 6.035-SP.Relator: O Exmo. Senhor Ministro Sálvio de Figueiredo.Recorrente: Maira Antas.Recorridos: Noraldino Alves do Nascimento e cônjuge.Advogados: (omissis).EMENTA.Direito de Família. Processo Civil. Ação anulatória deassento de nascimento. Legitimidade ativa dos avós. Interesses moral e econômico. Recurso não conhecido.Em face dos interesses moral e econômico, é de reconhecer-se a legitimação ativa ad causam dos pais de pessoamorta em estado de solteiro para anular assento de nascimento.ACÓRDÃOVistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas.Decide a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do recurso, nos termos do relatório e notastaquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrantedo presente julgado.Custas, como de lei.

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Brasília-DF, 17 de setembro de 1991 (data do julgamento).Ministro Athos Carneiro - Presidente.Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira - Relator.EXPOSIÇÃOMinistro Sálvio de Figueiredo: Em "ação anulatória de assentode nascimento" da recorrente, proposta pelos recorridos, por vício de (p. 167)consentimento, o MM. Juiz, ao sanear o feito, afastou a alegação deilegitimidade ad causam dos autores, ao fundamento de que estes,pais de filho solteiro, já falecido, têm legitimidade para propor açãode anulação do registro de nascimento efetuado pelo falecido, doqual decorreu a relação de parentesco entre os autores (avós) e a ré(neta), configurando uma "descendência incorreta", além deenvolvimento de bens imóveis e ativos mobiliários de significativaexpressão econômica que pertenceriam ao de cujus.Contra a decisão saneadora, a ré, menor representada pela mãe,manifestou agravo de instrumento, ao qual aderiu o Curador Judicialde Ausentes e Incapazes.A eg. 7ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo negou provimento ao recurso, ensejando a interposição de embargosdeclaratórios, rejeitados.Inconformada, a ré interpôs recurso extraordinário com argüição de relevância. Inadmitido aquele e processada a relevância, estafoi acolhida no Supremo Tribunal Federal.Com a instalação desta Corte, foi o extraordinário convertidoem especial, por versar matéria exclusivamente infraconstitucional(negativa de vigência ao art. 267, VI, CPC e dissídio jurisprudencial).A douta Subprocuradoria Geral da República, após subscreverparecer da ilustre representante do Parquet federal, opina no sentidodo conhecimento do recurso pela divergência jurisprudencial, masconclui pelo desprovimento do apelo.É o relatório.VOTOMinistro Sálvio de Figueiredo (Relator): Colhe-se do douto votocondutor do v. acórdão recorrido o seguinte trecho, que sintetiza acontrovérsia:"A pretensão expressa na petição inicial é de direitomaterial. Pais de pessoa morta em estado de solteiro objetivamanular ato praticado por ela, sob coação física e moral. O atoinquinado de nulo, se subsistente, subtrai-lhes o direito a haver a herança como herdeiros necessários que são (art. 1.603,inciso II, do Código Civil). Se nulo ou anulado, confere-lheso direito, na qualidade de ascendentes, com exclusão do (p. 168)suposto descendente. Presentes o direito subjetivo à herança ea pretensão de anular surge o direito de agir, todos preexistentesao exercício da actio propriamente dita, ou ainda, ao uso doremédio processual. Os pais do falecido podem acionar não sóvisando o aspecto econômico ou patrimonial; defere-lhes a leio direito de ação pelo interesse moral subjacente, pois toca "diretamente ao autor, ou à sua família" (parágrafo único do art. 76do Código Civil). Logo, o interesse na entrega da prestaçãojurisdicional, no caso concreto, constitui requisito necessário àpropositura da ação. Interpenetram-se, portanto, a pretensão e odireito, de que sobreviria a legitimidade.Em resumo: no caso em tela têm interesse na prestaçãojurisdicional ou interesse na tutela jurídica os autores. Nãose trata de investigar paternidade, mas de intentar provasque a declaração feita no assento de nascimento decorreu decoação, que minaria a presunção dela advinda. Esta, por seuturno, não induz se tenha instituído adoção plena, porque sediz de conteúdo eivado de vício.

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Concorre, portanto, o interesse econômico e moral, namedida em que se projeta a legitimidade dos autores nosaspectos econômico e moral.A decisão agravada primou pelo equilíbrio ao situar ointeresse de agir no aspecto patrimonial e no moral, por serdireito dos autores impedir figurar em linha reta de parentesco pessoa de que se entendem desvinculados.E não discrepou das provas admitidas em Direito ao deferir a perícia pelo I.M.E.S.C. a fim de apurar se, pela tomada das características pessoais da menor, como tipo, cor dapele, olhos, cabelos e outros elementos de convicção seriainequivocamente, ou não, descendente da estirpe japonesa. Aprova pretendida não é absurda e terá o valor que merecer noelenco das que forem produzidas. A propósito, é prova admitida na ciência médico-legal como genética pré-mendeliana,prevalecendo a verificação por peritos "pois só estes poderãoefetuar um confronto minucioso das feições, pondo em realcecoincidências ou divergências" (cf. Almeida Júnior, Liçõesde Medicina Legal, Editora Nacional, 2ª edição, p. 384 e s.).Embora sofra críticas frente às provas mendelianas, sendoacusada de faltar-lhe a necessária base científica, aprova da (p. 169)semelhança fisionômica, no caso dos autos, poderá erigir-seem poderoso auxiliar do convencimento do juiz, uma vezque não se pretende comparar os caracteres hereditários dofilho e do suposto genitor, mas demonstrar que, não sendoos pais descendentes da estirpe japonesa, a menor teria características próprias da raça. A perícia certamente, com acautela dos peritos, esclarecerá a questão, conferindo o juizàs conclusões respectivas a importância que efetivamentemerecerem no exame do contingente probatório".Deflui do contexto do decisum que as instâncias ordinárias reconheceram presentes o interesse moral (afastar a descendência incorreta - neta com possíveis características nipônicas) e o econômico (eliminar a classe dos descendentes para trazer à sucessão aclasse dos ascendentes a qual pertencem), idôneos a legitimarem osautores a postular a anulação do registro através da comprovação dasfortes alegações com o elenco de provas a serem produzidas na dilaçãoprobatória.Laborou, a meu ver, com acerto o MM. Juiz ao, saneando omeu feito, impulsioná-lo à fase seguinte, onde as postulações serão ounão corroboradas no sentido da formação de seu convencimento, sendo de aduzir-se que esta Turma, no REsp n. 4. 987-RJ, chegou, inovadoramente, a admitir a produção de prova em ação negatória de paternidade de homem casado, em prestígio da verdade real e dos novos métodos científicos de aferição da paternidade, ementando:"I - Na fase atual da evolução do Direito de Família, éinjustificável o fetichismo de normas ultrapassadas em detrimento da verdade real, sobretudo quando em prejuízo delegítimos interesses de menor.II - Deve-se ensejar a produção de provas sempre queela se apresentar imprescindível à boa realização da justiça.III - O Superior Tribunal de Justiça, pela relevânciada sua missão constitucional, não pode deter-se em sutilezasde ordem formal que impeçam a apreciação das grandes teses jurídicas que estão a reclamar pronunciamento e orientação pretoriana".Vale aqui transcrever parte do parecer de fls. 184/186 do Parquetfederal: (p. 170)"A ilustre Subprocuradora da República, Yeda deLourdes Pereira, no parecer de fls. 174/176, traz a lume decisões da Excelsa Corte, reconhecendo aos avós, legitimidade para agir em casos como da hipótese sub judice. Transcreve-se de sua promoção o seguinte trecho in verbis:"Como acentuou o relator do recurso citado como

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paradigma:"Não basta transcrever as ementas que geralmente, como aconteceu naqueles três padrões,estabelecem abstratamente uma tese de direito. Éindispensável que se demonstre que tal tese foienunciada em igualdade ou equivalência de casosou de circunstâncias" (RTJ, 53/153).Neste extraordinário ocorre justamente isso, o quelevaria à rejeição in limine.Caso assim não entenda o Excelso Pretório, deveser considerado que, embora tenha entendido essa Corte no paradigma que"interessados na herança não podem impugnar o registro civil de nascimento de filho do decujus, declarado e assinado livremente por este..."(RTJ, 53/133).salvo quando tenha ocorrido contestação indireta por partedo pai presumido, no RE n. 91.471-RS (RTJ, 95/1304), relatado pelo Ministro Xavier de Albuquerque, a Primeira Turma reconheceu o direito de avós paternos promoverem açãodeclaratória de inexistência de parentesco cumulada comação de nulidade de registro de nascimento do suposto neto.No mesmo sentido a Segunda Turma no RE n. 81.633(RTJ, 85/163), relatado pelo Ministro Leitão de Abreu.Tratando-se de falsidade de assento, a intervenção dossupostos avós paternos se legitima para propor a ação emface do aspecto patrimonial, porque o filho dos recorridosfaleceu antes destes, abrindo a sucessão.Se o interesse é discutível sob o aspecto moral, não o éno patrimonial, como acentuou o Ministro Xavier em seu votono recurso supracitado". (p. 171)Ante o exposto não vislumbro ofensa ao dispositivo legal tidocomo violado (art. 267, VI, CPC), reconhecendo a legitimatio adcausam dos autores.Em suma, não conheço do recurso.EXTRATO DA MINUTAREsp n. 6.035-SP - (90.0011432-2) - Rel.: Min. Sálvio deFigueiredo. Recte: Maira Antas. Recdo: Noraldino Alves do Nascimento e cônjuge. Advs.: Drs. Marnio Fortes de Barros e AntôniaGabriela Alves Nascimento e outro.Decisão: Prosseguindo no julgamento, a Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso (4ª Turma - 17.9.91).Votaram com o Relator os Srs. Ministros Barros Monteiro, AthosCarneiro e Fontes de Alencar.Ausente, por motivo justificado, o Sr. Ministro Bueno de Souza.Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Athos Carneiro. (p. 172)

RECURSO ESPECIAL N. 32.605-RS.Relator: O Exmo. Senhor Ministro Athos Carneiro.Recorrente: Elecir Zandonotto.Recorrido: Brasil Companhia de Seguros Gerais.Advogados: (omissis).EMENTA.Nomeação à autoria. Recusa pelo autor. Aplicação doartigo 67 do CPC.Recusada pelo autor a nomeação à autoria, deve ser assinado ao réu novo prazo para contestar. A incidência doartigo 67 do CPC não pode ser afastada, mesmo nos casosde nomeação requerida de modo temerário, porque alheia àshipóteses dos artigos 62 e 63 do mesmo Código. A nomeação de má-fé acarreta, em tese, as conseqüências dos artigos

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17 e 18 do CPC, mas não subtrai à parte o direito ao contraditório pleno, sob o devido processo legal.Recurso especial conhecido e provido.ACÓRDÃOVistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas.Decide a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presente julgado. Participaram do julgamento, além do signatário, os Srs. Ministros Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo e Barros Monteiro.Custas, como de lei.Brasília-DF, 24 de junho de 1993 (data do julgamento).Ministro Athos Carneiro - Presidente e Relator. (p. 173)RELATÓRIOO Exmo. Senhor Ministro Athos Carneiro: Cuida-se de ação dereparação de danos decorrente de acidente de trânsito, ajuizada porBrasil Companhia de Seguros Gerais contra Elecir Zandonotto. Citado, o réu limitou-se a nomear à autoria a Locadora Zandonotto Ltda.,alegando ser "mero motorista, a serviço da empresa proprietária"(fls. 25). A autora, todavia, não aceitou a nomeação (fls. 29), e deimediato o MM. Juiz de Direito sentenciou, declarando o réu revel ejulgando procedente o pedido (fls. 31/32).Apreciando apelação do demandado, a eg. 5ª Câmara Cível doTribunal de Alçada do Rio Grande do Sul, à unanimidade, negou-lheprovimento, constando da ementa:"Acidente de trânsito. Nomeação à autoria. Descabimento. Incidência do art. 302 do CPC". (fls. 55)Inconformado, após embargos declaratórios rejeitados, o apelante interpôs recurso especial pelas alíneas a e c do permissor constitucional, argüindo contrariedade ao art. 67 do CPC, bem como aocorrência de dissídio jurisprudencial. Alega cerceamento de defesa, pois tendo a autora recusado a nomeação à autoria, o juiz singularnão lhe assinou novo prazo para contestar.Negado seguimento ao apelo especial no Tribunal de origem,com arrimo à Súmula 400 - STF (fls. 84/85), manejou o recorrenteagravo de instrumento, ao qual dei provimento para melhor exame(fls. 66 do apenso).É o relatório.VOTOO Exmo. Sr Ministro Athos Carneiro (Relator):O v. aresto entendeu de recusar a reabertura do prazocontestacional porque a lide manifestamente não se enquadrava nospermissivos dos artigos 62 e 63 do CPC:"No caso concreto, não se trata de detentor de coisa alheia, quese vê acionado. Cuida-se de responsabilidade civil. Havendo relaçãode emprego, ou de locação, entre o motorista e o proprietário doveículo, o que se estabelece é uma situação de responsabilidade solidária, perante a vítima do dano, que é estranha à relação. Ora é ínsitoàs obrigações solidárias que o credor tem a faculdade de acionar um, (p. 174)alguns ou todos os devedores. A autora, como era de seu direito,buscou responsabilizar apenas o réu apelante. O magistrado sequerdevia ter ouvido, data venia, a autora. Cabia-lhe desde logo indeferiro pedido, por impossibilidade material. Limitando-se a contestaçãoa essa descabida nomeação à autoria, houve, não revelia, como aponta a sentença, porque houve manifestação do réu, mas sim incidênciado disposto no art. 302 do CPC - não-impugnação dos fatos - cujoresultado prático é o mesmo da revelia, qual seja, a presunção deveracidade da matéria de fato articulada pelo demandante. Permitir areabertura do prazo, seria gerar a possibilidade do uso desse expediente, para ampliação indevida do prazo para resposta, com o que nãocompactua o espírito da lei processual" (do acórdão, fls. 58/59).

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Esta posição, marcadamente pragmática, encontra arrimo, digase, em v. acórdão da eg. 3ª Turma deste STJ, no REsp n. 19.452,relator o em. Min. Eduardo Ribeiro, sob a ementa a seguir:"Nomeação à autoria.Não se há de proceder à assinação de novo prazo paracontestar senão quando cabível, em tese, a nomeação. Não,quando ausentes os pressupostos capazes de justificar a incidência do disposto nos artigos 62 e 63 do CPC. A ser demodo diverso, poder-se-ia sempre dilargar o prazo para contestação, com inadmissíveis nomeações.Hipótese em que, de qualquer sorte, ficou claro que oréu, ao fazer a nomeação, esgotou a matéria de defesa".Impende sublinhar que esse v. aresto apresenta dupla fundamentação, pois ao asserto de que não cabe a assinação de novo prazocontestacional quando não cabível, em tese, a nomeação, soma-se oargumento de que o réu, ao fazer a nomeação, igualmente esgotara amatéria de defesa.Embora mui ponderáveis tais argumentos, sua adoção introduzum marcante elemento de incerteza em desfavor do nomeante, postona necessidade de avaliar da razoabilidade da pretendida intervenção de terceiro e da conveniência de apresentar de imediato sua defesa de mérito, sem a aguarda da oportunidade concedida no art. 67.Se o réu procede de modo temerário, capaz de caracterizar máfé processual, a solução será aplicar os artigos 17 e 18 do CPC, semtodavia recusar-lhe prazo expressamente deferido em lei, com ofensa ao princípio maior do contraditório e da ampla defesa. (p. 175)Melhor se afigura, pois, o cumprimento estrito da norma processual pela qual, se o autor recusa o nomeado, "assinar-se-á aonomeante novo prazo para contestar" (v. g., Agrícola Barbi, "Coment. aoCPC", Forense, v. 1, 5ª ed., n. 393). E tal prazo deve ser o integral,como refere Jônatas Milhomens:"O justo receio de possível abuso no exercício do direito processual é motivo insuficiente para tomar-se posiçãoextrema, limitativa do prazo para defesa - o que redundaria em remédio por vezes fatal. O art. 69, II, aí está parafrenar os chicanistas, além do mais.Alguns autores, em sentido contrário ao da limitação,oferecem valiosos argumentos. Para Pontes de Miranda, porexemplo, o prazo é integral. "O prazo para a contestação estava aberto quando houve a nomeação à autoria, de modoque deixou de ser feita a contestação. Não tendo ocorrido aentrada no processo do chamado à autoria, ficando na relação jurídica o demandado, tem o juiz de assinar ao nomeantenovo prazo para contestar. Tal prazo tem de ser dado mesmose o demandado, no requerimento de nomeação à autoria, jáfizera as suas declarações contestativas, porque aindispensabilidade do novo prazo se reforça com os elementos a mais que advierem da atitude do nomeado e do próprioautor. Se o chamado nega a sua qualidade, o demandado temo novo prazo para a contestação e o chamado nada podeobviar às conseqüências da vitória do demandado, ou daperda. Nem cabe ação regressiva" (Coments., II, p. 109, 2).A matéria, aliás, era pacífica face ao disposto no art. 99,parágrafo único, do Código de 1939" ("Da Intervenção deTerceiros", Forense, 1985, n. 114).Esta 4ª Turma, no REsp 17.955, relator o em. Min. BarrosMonteiro, em caso similar assim se pronunciou:"Em verdade, o MM. Juiz de Direito deixou de observar o aludido preceito legal. Ao invés de assinar novo prazode defesa ao nomeante, o MM. Juiz de Direito ordenou a

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especificação de provas, ocasionando aí ao menos tumultoao processo.Pontes de Miranda deixara, a propósito, assinalado:"O prazo para a contestação estava aberto quandohouve a nomeação à autoria, de modo que deixou de ser (p. 176)feita a contestação. Não tendo ocorrido a entrada no processo do chamado à autoria ficando na relação jurídicaprocessual o demandado, tem o juiz de assinalar aonomeante novo prazo para contestar" (Comentários aoCódigo de Processo Civil, Tomo II, pág. 109, ed. 1973).Do mesmo teor o ensinamento do Prof. José FredericoMarques, para quem:"Desde que o processo deva continuar contra onomeante, ou porque o autor recusou o nomeado, ouporque este negou a qualidade que lhe foi atribuída, assinar-se-á ao nomeante novo prazo para contestar (Código de Processo Civil, art. 67), prazo esse que será restituído, íntegro e completo, a partir do momento em quepara isso for intimado" (Manual de Direito ProcessualCivil, vol. 1, pag. 296, 12ª ed.Há que se conceder, pois, novo prazo para contestar,não bastando, como estabeleceu o Acórdão recorrido, a simples intimação acerca da recusa da nomeação à autoria. Aabertura do mencionado prazo há de ser explícita e, além domais, no caso em tela, ocorreu o indicativo de que se suprimira a exigência da lei, com a determinação às partes deespecificação das provas.Forçoso é reconhecer, portanto, a afronta da norma inscrita no art. 67 do CPC".Além da contrariedade ao art. 67 do CPC, o v. aresto igualmente entra em chaça com os arestos trazidos pela recorrente comoparadigmas (fls. 72/78).Pelo exposto, conheço do recurso especial por ambas as alíneas,a e c, do permissivo constitucional, e ao mesmo dou provimentopara cassar o v. aresto e a sentença, mandando seja assinado aoréu novo prazo para resposta.É o voto. (p. 177)

RECURSO ESPECIAL N. 9.552-SP.Relator: O Exmo. Sr. Ministro Nilson Naves.Recorrentes: Jorge Gasbarro Junior e cônjuge.Recorrido: Juventino Quintino de Faria.Advogados: (omissis).EMENTA.Evicção. Direito de recobrar o preço. Denunciação dalide. Desnecessidade. Prescrição.1. O direito que o evicto tem de recobrar o preço, quepagou pela coisa evicta, independe, para ser exercitado, deter ele denunciado a lide ao alienante, na ação em que terceiro reivindicara a coisa. Cód. Civil, art. 1.108.2. Conta-se o prazo de prescrição da data em que a açãopoderia ter sido proposta. Hipótese em que não ocorreu aprescrição.3. Recurso especial não conhecido.ACÓRDÃOVistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministrosda 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dosvotos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial. Participaram do julgamento os Srs. MinistrosWaldemar Zveiter, Cláudio Santos, Nilson Naves e Eduardo Ribeiro.Brasília-DF, em 25-5-92 (data do julgamento).Ministro Nilson Naves - Presidente e Relator.

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RELATÓRIOO Exmo. Sr Ministro Nilson Naves: Trata-se de ação ordináriade indenização c. c. perdas e danos por ato ilícito, onde o autor alegou (p. 178)que adquirira dos réus um terreno mas veio a perdê-lo em açãoreivindicatória que lhe movera a Prefeitura Municipal de Jales. Asentença extinguiu o processo, com fundamento no art. 267, VI, doCód. de Pr. Civil, mas o acórdão, entendendo inicialmente que houvejulgamento de mérito, proveu a apelação para julgar a ação procedente em parte, verbis:(omissis)Inconformados, os réus interpuseram recurso especial: pela alínea a, alegaram ofendidos os arts. 177 e 1.116 do Cód. Civil, e art.70, incisos I e III do Cód. de Pr. Civil; pela alínea c, apontaram dissídio,quanto ao tema da denunciação da lide.Foi o recurso admitido por este despacho do DesembargadorRuy Junqueira de Freitas Camargo:"3. Nota-se que a decisão recorrida abordou os temasora enfocados, satisfeito assim o requisito do prequestionamento.A alegada violação ao art. 177 da lei civil, no entanto, não pode ensejar o recurso, pois como consta doacórdão o recorrido "somente poderia propor esta açãocondenatória a partir do momento em que teve ciência doseu prejuízo. Por incidência da própria regra jurídica doart. 177, parte final, do Código Civil, não houve portantoa prescrição desta ação".Quanto aos demais dispositivos invocados, a situação édiferente, vez que a posição dos recorrentes apóia-se em fortecorrente doutrinária e jurisprudencial que, em casos como odos autos, retira ao adquirente o direito de utilizar da ação deevicção, em virtude da interpretação conjugada dos arts. 70,I do C.P.C. e 1.116 do Código Civil. Anoto ainda que o art.1.108 invocado pelo aresto refere-se à hipótese de exclusão dagarantia no próprio contrato oneroso translativo do domínio.(omissis)5. Em tais condições, e dentro dos limites colocados,dou seguimento ao recurso pela alínea "a" do permissivo constitucional".É o relatório. (p. 179)VOTOO Exmo. Sr Ministro Nilson Naves (Relator): A questão inicialdiz respeito à denunciação da lide, que não ocorrera, em relação aosalienantes, na ação reivindicatória, intentada pela Prefeitura Municipal de Jales. Têm eles, portanto, na petição do presente recurso especial, por ofendidos os arts. 70, incisos I e III do Cód. de Pr. Civil e1.116 do Cód. Civil. Alegam que, porque não oportunamente denunciados à anterior lide, o evicto, ora recorrido, deixara de ter o seudireito assegurado. Querem, por isso, a reforma do acórdão, para orestabelecimento da sentença.Não têm razão, nem nesta nem na outra questão. Quanto àevicção, o que o acórdão aplicou foi o disposto no art. 1.108, normade alto significado, asseguradora do direito do evicto a recobrar opreço, que pagou pela coisa evicta. De alto significado, porquantoimpede o enriquecimento ilícito. Penso eu que o direito, nela assegurado, independe, para ser exercitado, que o adquirente tenha notificado do litígio o alienante. A propósito, acha-se citada, pelo acórdão,a lição de Pontes de Miranda. Eis o que escreveu Carvalho Santos,reportando-se a Carvalho de Mendonça:"Já ficou bem esclarecido que a garantia pela evicçãocessa no caso de não ter o adquirente chamado à autoria oalienante.Carvalho de Mendonça, porém, demanda que se compreenda em seus devidos termos. Se o adquirente não denuncia o feito ao alienante - sentença contra ele proferida não

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pode ser oposta ao alienante, não é contra ele exeqüível. Oadquirente, porém, não pode, jamais, ficar privado da ação deindenização, que é a conseqüência necessária e imediata dainexecução dos contratos. É princípio geral (Obr. e loc. cits.).A garantia da evicção cabe tanto ao comprador, comoaos seus representantes ou herdeiros..." (in Código Civil Brasileiro Interpretado, Freitas Bastos, 10a ed., vol. XV, pág. 407).Sobre ser obrigatória a denunciação da lide, é tema que não podeser levado a ferro e fogo, pelo que se verifica, por exemplo, da ementaque o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo escreveu para o REsp 2.545:"Doutrina e jurisprudência, em exegese ao art. 70 do Código de Processo Civil, já firmaram entendimento mitigando a obrigatoriedadenela mencionada". (p. 180)Relativamente à prescrição ordinária, de todo improcedente oapelo, pois o acórdão nada fez senão aplicar o que se encontraestatuído no próprio art. 177, parte final. Aliás, procedeu, tanto aquiquanto em relação à outra questão, examinando prova, cujo reexamenão cabe nesta instância.Sobre o alegado dissídio, adoto a observação do despacho deorigem, conforme transcrição no relatório.Do exposto, não conheço do recurso especial.VOTO (VISTA)O Sr Ministro Eduardo Ribeiro: Trata-se de feito em que sedemanda indenização com base em evicção. O recorrido adquiriraimóvel, que veio a perder, em virtude de ação reivindicatória. Absteve-se, entretanto, de denunciar a lide ao alienante. Daí o recurso especial em que se alega, além de dissídio, vulneração do contido nosartigos 1.116 do Código Civil e 70,I e III do Código de Processo Civil.O acórdão entendeu que houve renúncia à responsabilidade decorrente da evicção, por não efetuada a denunciação aos ora recorrentes. Considerou, entretanto, que a renúncia não abrangeria a devoluçãodo preço, em vista do disposto no artigo 1.108 do Código Civil. Tal sóocorreria caso o evicto soubesse do risco da evicção e o assumisse.O eminente Relator teve como boa a doutrina, acrescentandoopinião de Carvalho de Mendonça, citado por Carvalho Santos, nosentido de que, não se fazendo o chamamento à autoria, a sentençaapenas não ensejaria execução contra o alienante, não ficando excluído o direito à indenizaçãoconseqüência da inexecução do contrato.O artigo 1.116 do Código Civil, com a devida vênia, não estabelece regra de direito processual, relativa à eficácia subjetiva da sentença, mas de direito material. Dispõe sobre a perda do direito de regressoe não sobre a possibilidade de a sentença servir de título executivo, emrelação a terceiro. O Código de 39, aliás, embora com criticável redação, dispunha, em seu artigo 101, quanto à necessidade de ação diretapara que o evicto pudesse haver a indenização que lhe cabia.Também não resulta daquele dispositivo que simplesmente vedado ao alienante discutir o acerto da sentença de que resultou aevicção. O que ali se diz é que a notificação faz-se necessária para quepossa o adquirente "exercitar o direito que da evicção lhe resulta". (p. 181)Note-se que, em alguns sistemas legislativos, acolheu-se aquelaorientação, admitindo-se a "exceptio male gesti processus" à semelhança do que entre nós ocorre na assistência (itens I e II do artigo55 do C.P.C.). É o que se verifica do disposto no artigo 1.640 doCódigo Napoleão. Na elaboração do Código Civil brasileiro intentou-se fosse assim regulada a matéria. O Projeto de Beviláqua dispunha desse modo (cf. Clóvis Beviláqua, Código Civil Comentado- Francisco Alves - 1958 - vol. IV - p. 226). Não frutificou,entretanto, a proposta.Considero que não pode ser aceita a opinião citada de M. I.Carvalho de Mendonça, nos termos amplos em que colocada. Notese que escreveu antes

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da edição do Código Civil - o prefácio queelaborou para segunda edição de sua Doutrina e Prática das Obrigações é de 1911 - e o ensinamento ali enunciado não encontrou maiorrepercussão. Nas pesquisas que pude fazer, detectei apenas a adesãode Antônio Chaves (Tratado de Direito Civil - Rev. Trib. - 1984- vol. II - tomo I - p. 469) e uma afirmação de Orlando Gomes,desacompanhada de fundamentação, que permite a mesma conclusão (Contratos - Forense - 1959 - p. 113). O próprio CarvalhoSantos não o endossa. Cita aquele eminente civilista mas após afirmar que a notificação do alienante constitui "condição indispensávelpara poder o adquirente exercer o seu direito contra o alienante". Eacentua, com base em Clóvis e Vampré, nada importar deixe oalienante de provar que tinha meios para repelir a reivindicatória ouque a defesa seria inútil diante da clareza do direito do vencedor(Comentários - Freitas Bastos - 1954 - 6ª ed. - p. 405 e 406).No mais, tem-se admitido, entre os civilistas, que a conseqüência da inação do evicto, deixando de dar ciência ao alienante do litígio, será a perda do direito de regresso. Assim, Clóvis (ob. loc. cit.),Pontes de Miranda (Tratado de Direito Privado - Borsoi - 1962- vol. 38 - p. 252), Caio Mário (Instituições de Direito Civil Forense - 1984- vol. III - p. 94), Silvio Rodrigues (Direito Civil- Saraiva - 1988 - vol. III - p. 123/124, especialmente nota126), Arnoldo Wald (Obrigações e Contratos - Rev. Trib. - 9ª ed.- p. 229), Washington de Barros Monteiro (Curso de Direito Civil- Direito das Obrigações - 2ª parte - Saraiva - 1988 - p. 67),Maria Helena Diniz (Curso de Direito Civil Brasileiro - Saraiva 1988 - 3º vol. - p. 103) e Arnaldo Rizzardo (Contratos - Aideeditora - 1988 - vol. I - p. 289). (p. 182)A consulta dos estudos a respeito do chamamento à autoria ouda atual denunciação da lide não conduz a resultado diverso, generalizado o mesmo entendimento.O julgado mencionado no voto do ilustre Relator, da lavra doMinistro Sálvio de Figueiredo, em verdade não discrepa dessa doutrina. A hipótese não era a do item I do artigo 70 do CPC. Não diziacom evicção.O acórdão, entretanto, procedeu a distinção, a que saiba, inovadora. Admitiu que a falta da denunciação equiparava-se à renúnciatácita, regulando-se pela norma contida no artigo 1.108 do CódigoCivil. Deste modo, não haveria perda do direito de recobrar o preço,salvo se realizadas as hipóteses ali previstas.O direito brasileiro, como salientou Caio Mário (ob. loc. cit.),alinhou-se entre os sistemas mais severos. Razoável que o intérpreteintroduza atenuação, enquanto nova lei não o faça.A perda da importância paga é conseqüência que se pode qualificar de drástica. Importa reter o alienante o que recebeu, pela vendado que não lhe pertencia. Seu patrimônio é indevidamente acrescido,em detrimento do adquirente. Coloca-se de acordo com os princípiosa interpretação que afasta esse resultado.Claro está que a sentença, na reivindicatória, não fará coisajulgada em relação ao alienante, a quem não denunciada a lide. Issoresulta do disposto no artigo 472 do Código de Processo Civil, primeira parte, onde se consagra entendimento tradicional relativo aoslimites subjetivos da coisa julgada. Poderia ele demonstrar que, emverdade, não deveria a reivindicatória ter sido julgada procedente.Não o seria, caso se tivesse feito defesa adequada, o que não lhe foiensejado, por falta imputável ao adquirente, abstendo-se dalitisdenunciação.Nos termos expostos, tenho que a construção do acórdão põeem harmonia os textos e os princípios, merecendo ser aceita.Acompanho o Relator.

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VOTO (VISTA)O Exmo. Sr Ministro Dias Trindade (Relator):Summum ius, summa injuria...É certo que a lei brasileira, com assento em vetusta lei afonsina,ainda estabelece como condição para o regresso do evicto, a neces- (p. 183)sidade de que tenha denunciado da lide o alienante, a reclamar, desdeantes do Código Civil, temperamentos que assegurem, de um lado, odireito do que perde a coisa adquirida e, de outro, a que não enriqueça sem causa aquele que não podia dispor do bem.Aqui, não se pode dizer que tenha o acórdão contrariado a regrado art. 1.116 do Código Civil, ao situar na aplicação do art. 1.108, apossibilidade de pleitear o evicto a devolução do preço que pagou aquem não era dono.Diz-se, e o faz o despacho de admissão do recurso, que esse art.1.108 refere-se a hipótese em que há cláusula de exclusão da garantiaestabelecida no art. 1.107, o que, não obstante, impede de construir-seentendimento que seja mais adequado aos princípios, para alcançarcasos em que essa exclusão se daria pela falta de denunciação da lide.É de dizer que a ação foi posta, não em termos de evicção, mas denulidade do ato de alienação, por vício de direito, com base na culpado alienante, com causa de pedir e pedido de amplitude mais abrangentesdo que a da evicção, o que não se apresenta desarrazoado, até porque,embora não se cuide aqui de examinar provas, os fatos, como definidos, informariam culpa e, mesmo, dolo, do loteador que vende áreareservada para a Comuna, como se fora integrante da parte disponível,até com a indicação de número de quadra inexistente no loteamentoaprovado. Com essa observação não pretendo desconsiderar a construção do venerando acórdão recorrido, aceitando a configuração fáticaestabelecida na sentença, informadora de evicção, mas aventando apossibilidade que se teria tratamento jurídico diverso.É que ressalva Pontes de Miranda, ainda que exercitável açãode evicção, em que a prestação independe da indagação de culpa doalienante, a possibilidade de anulação por vício e com base na culpaalém da ação por enriquecimento injustificado (Tratado - Vol. 38- pág. 208 e 217).No que diz respeito à alegada prescrição, além de que, segundoPontes de Miranda, "A pretensão à responsabilidade pela evicçãonão prescreve" (Op. cit. pág. 250), é de dizer que, pelo princípio daactio nata, somente se apresentaria o direito à ação após o trânsitoem julgado da sentença na ação, mediante a qual, perdeu o evicto acoisa, quando muito, da data da citação nessa ação, como o entendeuo acórdão recorrido, porque daí a ciência do prejuízo.O dissídio não restou comprovado, segundo as normas regimentais.Isto posto, acompanho o voto do Sr. Ministro Relator. (p. 184)

RECURSO ESPECIAL N. 19.391-SPRelator: O Sr. Ministro Barros Monteiro.Recorrente: João Augusto de Siqueira Ferreira Júnior.Recorridos: Luiz Reynaldo Pastore e outro.Advogados: (omissis).EMENTA.Evicção. Apreensão de veículo por ato de autoridadeadministrativa. Desnecessidade de sentença judicial.Para o exercício do direito que da evicção resulta aoadquirente, não é exigível prévia sentença judicial, bastandoque fique ele privado do bem por ato de autoridade administrativa.Recurso especial conhecido e provido.ACÓRDÃO.Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acimaindicadas:

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Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, porunanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento na forma dorelatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presentejulgado. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado deAguiar, Antônio Torreão Braz e Fontes de Alencar.Brasília, 29 de novembro de 1994 (data de julgamento).Ministro Fontes de Alencar - Presidente.Ministro Barros Monteiro - Relator.RELATÓRIO.O Sr. Ministro Barros Monteiro: João Augusto Siqueira FerreiraJúnior ajuizou contra Clóvis Sérgio Villas Boas Torres ação de inde- (p. 185)nização por responsabilidade decorrente de evicção, havendo paratanto alegado, em resumo, o seguinte:Em agosto de 1978, adquiriu do réu uma motocicleta marca"Honda".Algum tempo depois - outubro de 1979- ao pretender transferir o veículo a terceiro, veio a saber que se houvera operado ainternação da moto no País (saída de Manaus) de modo irregular,mediante a falsificação de documentos. Tal fato deu margem à apreensão da motocicleta pela autoridade administrativa em conjunto coma autoridade policial. Por decisão do Ministro da Fazenda, sofreu elea pena de perdimento do bem, contra a qual se insurgiu, impetrandomandado de segurança perante o Tribunal Federal de Recursos, oqual, por fim, acabou denegado. Caracterizada a perda da propriedade do bem em questão por força de decisão judicial irrecorrível, sólhe resta a alternativa de pleitear o ressarcimento pelo prejuízopatrimonial suportado.O réu contestou o pedido e denunciou da lide a empresa "Top 7Ltda. - Automóveis Nacionais e Importados" e Luiz ReynaldoPastore, que também ofereceram contrariedade, tendo este últimodenunciado da lide, por sua vez, Wilson Roberto Cursio.A r. sentença excluiu da lide a empresa "Top 7 Ltda. - Automóveis Nacionais e Importados", por haver participado de negociaçãona qualidade de mera intermediária e, no mais, julgou procedente aação para condenar o réu ao pagamento da quantia de Cr$ 330.000,00,preço pago pela motocicleta, corrigido desde agosto de 1978, alémda diferença entre o valor a ser restituído e o valor atual de mercadodo veículo. Carreou-lhe ainda as despesas havidas com os procedimentos judiciais e administrativos instaurados com o objetivo de reaver a coisa, custas e honorários advocatícios, assegurando-se-lhe,porém, e aos demais denunciantes, sucessivamente, o direito de regresso contra os denunciados até Wilson Roberto Cursio.Apelaram o réu e o litisdenunciado Luiz Reynaldo Pastore. Pormaioria de votos, o Primeiro Tribunal de Alçada Civil de São Paulodeu provimento parcial às apelações apenas para alterar o termo inicialda correção monetária (a contar da propositura da demanda) e paraestabelecer que, na parte relativa aos lucros cessantes, o valor atualde mercado deve corresponder ao dia em que o bem foi apreendido.Para o V. Acórdão, bastava a apreensão do veículo para ensejar que asituação se incluísse no âmbito da evicção. Votou vencido o Juiz Rodri- (p. 186)gues de Carvalho, que dava provimento integral aos recursos, parajulgar extinto o processo sem conhecimento do mérito por falta deinteresse processual. Para V. Exa., havia o adquirente de promoveruma ação, a fim de que o alienante, tomando ciência do litígio, tivesse oportunidade de ali defender o direito do comprador. Salientou, ainda, que a apreensão feita pela polícia e o processo administrativo não são atos judiciais.Com base no pronunciamento minoritário, o réu e o referidodenunciado apre sentaram embargos infringentes, que foram acolhidos, sob os seguintes fundamentos:"A tese da carência é correta (ação de evicção proposta

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sem que ocorra a evicção), devendo-se restabelecer o votodo Juiz Rodrigues de Carvalho.Na tradição do direito português, evicção é garantia dadapelo alienante ao adquirente contra a privação da coisa porterceiro a quem ela pertencesse, no todo ou em parte, aplicando-se como naturalia contractus (independentemente deestipulação) na transferência de domínio, procedendo-se ochamamento à autoria do alienante da coisa evicienda para,não comparecendo ou vencido, indenizar o adquirente (cf.John Gilissen, "Introdução Histórica ao Direito", Lisboa,1979, nota na pág. 741).Em outras palavras, é a perda do direito sobre a coisa, porfato de terceiro a quem se reconhece sobre a mesma coisa umdireito que aniquila o primeiro (Capitant, "Vocabulário Jurídico", 1972/226). Quem reconhece é o Juiz, na sentença.Equipara-se à evicção, lembra Clóvis, a sucumbênciana ação proposta contra o detentor da coisa adquirida ("Comentários", 1924, vol. 4/277). Carvalho Santos acrescentaser necessário uma sentença privando o adquirente do domínio, posse ou uso da coisa que adquirira ("Código Civil Brasileiro Interpretado", 1936, vol. XV/380).No caso dos autos, o veículo foi apreendido pela autoridade administrativa. Não se perdeu a coisa por força de sentença judiciária. Ensina o Professor Washington de BarrosMonteiro que não cabe evicção "se o adquirente se vê privado da coisa, não pelos meios judiciais, mas por esbulho ouapreensão pela autoridade administrativa" ("Obrigações", 2ªparte, 1969/73). (p. 187)A orientação decorre de julgado precedente, unânime,também da Segunda Câmara (Apelação nº 343.969, cf. RT,615/97)" (fls. 282-283).Recebidos os declaratórios opostos pelo litisdenunciado (matéria alusiva à repartição da verba advocatícia), o autor manifestourecurso especial com fulcro na alínea c do permissor constitucional,apontando como discrepantes dois arestos, um oriundo do Tribunalde Justiça de Minas Gerais, outro do Tribunal de Justiça de MatoGrosso do Sul. Sustentou o recorrente, em síntese, que é cabível aação de evicção sem necessidade de prévia decisão judicial.Inadmitido o apelo extremo na origem após o oferecimento dascontra-razões, os autos subiram a esta Corte em razão de provimentoa agravo para melhor exame da controvérsia.É o relatório.VOTO.O Sr. Ministro Barros Monteiro (Relator): Debate-se na espécieacerca da admissibilidade da ação de evicção quando o adquirentefique privado do bem em virtude de ato emanado de autoridade administrativa, não se subordinando, assim, à prévia existência de umasentença judicial, que decrete o desapossamento da coisa. Trata-sede tema versado em sede de apelação, objeto de específico enfoquedo r. voto vencido, que acabou prevalecendo em grau de embargosinfringentes. Daí ter-se preenchido no caso às inteiras o requisito doprequestionamento, afigurando-se perfeitamente prescindível a exigência formulada pelo réu-recorrido em suas contra-razões: a de quea dissidência interpretativa fosse indicada desde logo através de embargos de declaração.O apelo excepcional vem a lume tão-só pela letra c doautorizativo constitucional, ou seja, pelo dissenso de julgados, quena hipótese em apreciação se encontra demonstrado quantum satispelo recorrente.É que, de um lado, o decisum recorrido assentou ser necessárioao adquirente, para demandar pela evicção, a existência de uma sentença, que o prive do

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domínio, posse ou uso da coisa adquirida. Emsuma, inviável, segundo o V. Acórdão, a ação de evicção por ter ocorrido o perdimento da coisa em razão de uma decisão puramente administrativa. (p. 188)De outro, o Tribunal de Justiça de Minas Gerais consideroucabível a ação de evicção contra o vendedor em hipótese de veículofurtado apreendido pela autoridade policial e entregue ao primitivodono, tudo independentemente de prévia ação judicial. Já o Tribunalde Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul entendera que a apreensão de veículo por ordem da autoridade policial e a sua entrega aoprimitivo proprietário consubstanciam situação que se inclui no âmbito da evicção.O dissídio jurisprudencial, no que concerne à tese de direitoprimordial discutida na lide, mostra-se patente, irrecusável, pois, enquanto a decisão recorrida impõe que a perda do bem se dê apenaspor força de sentença judiciária, os paradigmas colacionados reputam franqueada a via eleita quando a privação da coisa ocorra pormero ato promanado da autoridade administrativa. Não é a presençade circunstâncias acidentais (ocorrência de furto e a restituição doveículo ao seu primitivo dono) que haverá de afastar a dissonânciainterpretativa sobre o ponto crucial do litígio.Nesses termos, conheço do recurso especial interposto. Fazendo-o, inclino-me pela orientação sufragada pelos arestos-modelos trazidos a confronto pelo recorrente. Tal é, por sinal, a diretriz imprimida pela C. Terceira Turma desta Casa. No REsp nº 45.972-9/SP, deque foi relator o eminente Ministro Costa Leite, decidiu-se sob aementa seguinte:"Evicção. Alienação de veículo furtado.Não é exigir-se sentença judicial para o exercício dodireito que da evicção resulta ao adquirente, bastando queeste fique privado, por ato de autoridade, do bem de procedência criminosa. Precedentes. Recurso parcialmente conhecido e não provido".Anteriormente, aquele mesmo órgão fracionário do Tribunalhouvera apreciado espécie similar, tendo o ilustre Relator, MinistroCláudio Santos, lançado em seu voto observações, que são de toda apertinência também no caso aqui sob julgamento, in verbis:"Data venia, meu entendimento é na linha dos julgadosdivergidos. Basta que o adquirente fique privado por ato inequívoco de qualquer autoridade. Parece-me que, no caso,não há dúvida quanto à legalidade da apreensão do veículo, bemassim à sua procedência criminosa. Exigir-se que o recorrentese lance numa aventura judiciária a fim de obter uma sen- (p. 189)tença declaratória da perda do bem, para pleitear a indenização, aparenta-se-me um requisito descabido" (REsp nº12.663-SP).Tal entendimento é dominante najurisprudência brasileira, consoante extenso rol de arestos filiados à corrente citada, que vêm referidos em Acórdão originário do Primeiro Tribunal de Alçada Civilde São Paulo e que se acha inserto na publicação "Julgados dos Tribunais de Alçada Civil de São Paulo", vol. 95, págs. 171-174, ed.RT, de relatoria do preclaro Juiz Alexandre Germano. Nesse precedente, invoca-se o magistério do Prof. Arnold Wald, que tambémestá adequado à hipótese vertente nestes autos:"Alguns autores afirmam que não cabe a responsabilidade pela evicção no caso de desapropriação ou de apreensão dobem pela autoridade administrativa. Tais interpretações devem ser aceitas com restrições. Evidentemente que se, pormotivos supervenientes à alienação, ocorre a desapropriaçãoou a apreensão administrativa, nenhuma responsabilidade cabeao alienante. É a aplicação do princípio res perit domino. Setodavia o bem foi vendido como sendo livre e desembaraçado, embora já houvesse decreto determinando a sua desapropriação, entendemos que se trata de um vício de direito p

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eloqual deve responder o alienante, mesmo se a desapropriaçãosó se efetivou posteriormente à alienação. O mesmo princípiopodemos aplicar à apreensão administrativa que importará emresponsabilidade do alienante se o vício de direito for anteriorà alienação, como tem acontecido com as apreensões pelasautoridades alfandegárias de automóveis que entrarem ilegalmente no país, havendo no caso responsabilidade dos vendedores pela evicção, salvo cláusula explícita em sentido contrário" (Obrigações e Contratos, págs. 236-237, 11ª ed.).Conclui-se, por conseguinte, ser desnecessária, para o exercicio do direito que da evicção resulta, a exigência de prévia decisãojudicial decretando o desapossamento da coisa, bastando que oadquirente dela fique privado por ato de autoridade administrativa.Do quanto foi exposto, conheço do recurso e dou-lhe provimento, para restabelecer o Acórdão proferido em sede de apelação(fls. 245-246).É como voto. (p. 190)EXTRATO DA MINUTA.REsp nº 19.391-0 - SP - (92.0004796-3) - Relator: O Sr.Ministro Barros Monteiro.Decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso edeu-lhe provimento (em 29.11.94 - 4ª Turma).Votaram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar,Antônio Torreão Braz e Fontes de Alencar.Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo.Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Fontes de Alencar. (p. 191)

RECURSO ESPECIAL N. 20.121-PRRelator: Ministro Sálvio de Figueiredo.Recorrente: Sul Brasileiro Crédito Imobiliário S/A - em liquidação extrajudicial.Recorridos: Petrônio Benedito Leite e cônjuge.Interes.: Cia. de Automóveis Mayrink Goes.Advogados: (omissis).EMENTA.Ação de imissão na posse proposta por quem se afirmatitular da propriedade e posse indireta do imóvel.Denunciação da lide feita pelos réus a terceiro que, na qualidade de locador, lhes transmitiu a posse direta demandada. Admissibilidade. Caso em que obrigatória. Evicção. Arts.70, II, e 75, I, CPC. Recurso desprovido.I - Aqueles que, ocupando o imóvel na condição delocatários, são demandados, para entrega da posse direta queexercem a título oneroso, por pessoa distinta daquela comquem celebraram o contrato de locação, não só podem, comolhes é por lei imposto, denunciar da lide o locador, sob penade perderem o direito de deste exigirem indenização pelosprejuízos decorrentes de eventual frustração do pacto locativo.II - Em se tratando de garantia própria (formal), assimentendida a inerente à transmissão de direitos, é obrigatória,notadamente nos casos de evicção (transferência onerosa dedomínio, posse ou uso - art. 1.107, CC), a denunciação dalide ao alienante.III - As expressões "proprietário" e "possuidor indireto" constantes do art. 70, II, CPC, analisado o contexto emque inseridas, são indicativas daquela pessoa que, à época da (p. 192)transferência da posse direta, era ou aparentava ser titular da"propriedade" e/ou "posse indireta". Não necessariamente,portanto, daquela pessoa que, no momento da propositurada ação, ostenta essa titularidade, até porque a definição aesse respeito somente será objeto de pronunciamento final,

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após oportunizado aos interessados o ensejo de integrarem arelação processual, com direito a regular contraditório.ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministrosda Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negarprovimento ao recurso. Votaram com o Relator os Ministros BarrosMonteiro, Ruy Rosado de Aguiar, Antônio Torreão Braz e Fontes deAlencar.Brasília, 30 de agosto de 1994 (data do julgamento).Ministro Fontes de Alencar - Presidente.Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira - Relator.EXPOSIÇÃO.Ministro Sálvio de Figueiredo:Proposta por Sul Brasileiro Crédito Imobiliário S.A., em liquidação extrajudicial, ação de imissão na posse contra Petrônio Benedito Leite e s/m, estes, afirmando-se locatários do imóvel objeto dademanda, denunciaram da lide a locadora, Companhia de Automóveis Mayrink Goes.Em ataque à decisão que admitiu a intervenção postulada, afinanceira autora interpôs agravo de instrumento, oportunidade emque esclareceu haver adquirido a propriedade do apartamento emcausa por via de arrematação judicial levada a efeito nos autos deexecução hipotecária que promovera contra a construtora financiada, Piauí Construções Civis Ltda.Apreciando a irresignação recursal, a Terceira Câmara do Tribunal de Justiça do Paraná negou-lhe provimento, lançando acórdãode cuja motivação se colhe:"O fundamento legal se ateve ao teor do artigo 70 incisoII do Código de Processo Civil, porque os agravados, pos- (p. 193)suidores diretos, foram demandados em seus próprios nomes e fizeram a denunciação do possuidor indireto.A firma denunciada à lide contestou ação (fls. 71/80TJ) e expressamente aceitou a litisdenunciação, tornando-seo que na verdade o era desde o início, litisconsorte passivonecessário (artigo 47 do Código de Processo Civil).Tendo a denunciada à lide um compromisso de comprae venda quitado, sendo o apartamento n. 1.102 e garagem n.32 do Edifício Inajá prometido à venda por Piauí Construções Civis Ltda. e registrado na matrícula n. 5.524 (fls. 64) asua posse tem assento em justo título. A agravante tambéminvoca a posse indireta do imóvel, por força da carta dearrematação, mas a firma denunciada à lide, como se viu,igualmente reclama a posse indireta e não poderia mesmoprosseguir a ação de imissão na posse sem que ela viesse aosautos, porque a sentença a ser proferida deverá resolver amatéria de maneira uniforme para todas as partes.A alegação da agravante de que é proprietária exclusivado imóvel e que seu título é incontestável, esbarra na alegação e comprovação da denunciada à que de igual sortetem título incontestável, pois registrado perante o registrode imóveis".Oferecidos embargos declaratórios, em que a agravante acenoucom o fato de haver sido cancelado o registro do compromisso decompra e venda celebrado entre a denunciada e a construtoraincorporadora, restaram rejeitados, em face, no que interessa, dosseguintes fundamentos:"O cavalo de batalha porque do acórdão embargadoconstou que a Cia. de Automóveis Mayrink Goes tinha umcompromisso de compra e venda quitado e registrado na matrícula n. 5.524 (fls. 64), quando às fls. 27 (TJ) consta que

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foi averbado seu cancelamento, em nada favorece aembargante. Na inicial deste agravo de instrumento não seescorou o pedido no malsinado documento que cancelou registro de compromisso de compra e venda, sem que dos autos se tenha notícia, tivesse o promitente comprador tido avisodo ato judicial, donde, fazer ou não referência ao mesmo, eradesinfluente, porque não interessa aqui saber porque e comofoi dito compromisso cancelado. O certo é que aquele ato (p. 194)judicial, compromisso de compra e venda quitado, gerou direitos, pois na ocasião a Piauí Construções Civis Ltda. transmitiu a posse diretamente para Mayrink Goes e tinha condições para tanto.O certo é que o dador da garantia não cumpriu o contrato e foi executado, sendo que pela arrematação o bem hipotecado foi transferido do devedor para o patrimônio do credor hipotecário. Apenas um requisito complementar da propriedade plena faltou, a posse e justamente por não tê-la éque a ora embargante, invocando o artigo 524 do CódigoCivil busca alcançá-la. Desnecessário dizer que não cabediscutir agora a diferença entre domínio e posse, mas bomasseverar que quando alguém detém aquele, mas não esta, opossuidor pode reivindicar possíveis direitos, não sendo raroo argumento de defesa, da prescrição ocupacional".Ainda inconformada, a autora agravante manifestou recursosextraordinário e especial, alegando neste último ofensa aos arts. 75,I, CPC, 493, I e II, 530, I, 621, parágrafo único e 755, CC, além dedivergência jurisprudencial com julgado do Tribunal de Alçada domesmo Estado. Sustenta:a) que, com o cancelamento do registro do compromisso decompra e venda ajustado entre a denunciada e a construtorainadimplente, procedido por determinação judicial ao ensejo do registro da carta de arrematação, ela, recorrente, passou a serinquestionavelmente a única proprietária do imóvel;b) que, nessa condição, é titular exclusiva da posse indireta respectiva, faltando-lhe, apenas, para consolidação da propriedade plena, a posse direta que busca obter por via da ação de imissão de quese cuida;c) que, assim, não se há que cogitar de posse indireta da locadora-denunciada, do que decorre a inviabilidade da denunciaçãorequerida;d) que a relação existente entre denunciante e denunciada, bemassim entre esta e a construtora, é res inter alios acta;e) que os institutos da denunciação da lide e do litisconsórciosão inconfundíveis, afigurando-se descabido atribuir-se à Cia. de Automóveis Mayrink Goes o "status de litisconsorte passiva;f) que a Câmara julgadora, ao atribuir validade ao compromissocancelado, desconsiderou o direito de seqüela que a ela, recorrente, (p. 195)assistia na qualidade de credora hipotecária, e continua a assistir, jáagora como atual proprietária do bem.Sem contra-razões, apenas o apelo dirigido a esta Corte restouadmitido na origem.É o relatório.VOTO.Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator):O invocado dissídio pretoriano, logrou o recorrente demonstrálo nos moldes regimentalmente exigidos, fazendo juntar cópia devidamente autenticada de acórdão assim ementado:"Se a posse indireta é do proprietário, autor da ação deimissão, descabe a denunciação do pretenso locador do imóvel com base no art. 70 da lei adjetiva civil".A similitude das bases fáticas versadas nos arestos em cotejo,bem como a diversidade das soluções jurídicas neles consignadas,

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resulta constatada, de modo ainda mais evidente, pela simples leiturados seguintes excertos do paradigma reproduzidos no arrazoadorecursal:"Vê-se dos autos que agravante é proprietária do apartamento n. 302, do Edifício Inajá, com a respectiva garagem.Adquiriu-o por meio de arrematação em juízo em execução contra a anterior proprietária - Piauí ConstruçõesCivis Ltda."."Sucede, entanto, que a agravante tem título de propriedade regularmente constituído. Mais, sua validade é incontestável.Pelo menos até que seja anulado.E junto com o título de aquisição obteve ela a posseindireta sobre o imóvel, nos termos do artigo 493, I e II e621, parágrafo único do CCivil"."Assim, se a posse indireta, por força de lei é da agravante-arrematante, não caberia a denunciação de SebastiãoPereira de Oliveira.Pelo menos com base no art. 70, II da lei adjetiva". (p. 196)Merece, portanto, ser conhecido o apelo extremo pela alínea "c"do autorizativo constitucional.Seu desprovimento, contudo, é de rigor.Isso em razão de que a justificativa da denunciação em causarepousa em exigência legal, imposta aos réus, para que vejam assegurado o direito de garantia que lhes cabe em face da locadora-denunciada.Com efeito, nas hipóteses de transferência onerosa de domínio,posse ou uso, ao alienante impõe-se, como regra, "resguardar oadquirente dos riscos da evicção" (art. 1.107, CC), sendo certo, poroutro lado, a teor do disposto no art. 1.116 do mesmo diploma, que,"para poder exercitar o direito, que da evicção lhe resulta, oadquirente notificará do litígio o alienante, quando e comolho determinarem as leis do processo".Dispõe, por sua vez, o art. 70, I e II, CPC:"A denunciação da lide é obrigatória:I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica acoisa, cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que estapossa exercer o direito que da evicção lhe resulta;II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando,por força de obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credor pignoratício, do locatário, o réu, citado emnome próprio, exerça a posse direta da coisa demandada".Disso resulta que, em casos tais, que envolvam possibilidade deevicção, a denunciação da lide, mais do que admitida, se torna obrigatória ao possível evicto, sob pena de perder o direito de garantia deque é titular.Quanto ao particular, pontifica, com a sua habitual percuciência,Athos Gusmão Carneiro:"Nos casos em que incidem as normas sobre evicção(quando a posse direta provém de contrato oneroso - CC,art. 1.107), a não denunciação da lide pelo possuidor diretoao possuidor indireto implicará, v. g., a perda do direito (CC,art. 1.189, II) do arrendatário ao ressarcimento, pelo arrendador, dos prejuízos decorrentes da frustração do pacto dearrendamento" ("Intervenção de Terceiros", Saraiva, 6ª ed.,1994, n. 16.3, p. 78). (p. 197)Aroldo Plinio, a respeito do tema, embora fundamentadamentepreconize que a obrigatoriedade da denunciação não decorre, nos casos de evicção, da norma do art. 1.116, CC, considera-a, por motivosoutros, imprescindível em todos os casos em que envolvam pretensãode regresso decorrente de transmissão de direitos (ou "quando o direito provenha de outra pessoa"). Assim sintetiza seu entendimento:

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"Resumindo tudo quanto acima ficou exposto: adenunciação da lide é obrigatória (necessária), sob pena dedecair-se da pretensão ao regresso, nas hipóteses de garantiaprópria (formal) - transmissão de direitos - itens I e II eem certos casos do item III, do art. 70, do Cód. de Proc.Civil. E facultativa, por outro lado - a maioria dos casos nas situações de garantia imprópria (responsabilidade civil),item III (que merece interpretação ampla), do art. 70, do Cód.de Proc. Civil, de 1973" ("Da denunciação da lide", Forense, 2ª ed., 1987, n. 11.7, p. 252/254).Na espécie de que se cuida, portanto, tendo havido induvidosatransferência onerosa da posse e uso do imóvel aos locatários, a estes, uma vez demandados por terceiro, cuja pretensão é exatamentehaver para si referidos uso e posse, outra alternativa não lhes restasenão promoverem a denunciação da locatária. Do contrário, perderão o direito de reclamarem, desta, indenização por perdas e danosdecorrentes de eventual sucumbência.A propósito, o pedido formulado pelos denunciantes restou vazado nos seguintes termos:"Nessas condições, por ocasião da eventual sentença quejulgue procedente a presente ação, requerem os contestantesseja a denunciada declarada responsável perante os denunciantes pelas perdas e danos que vierem a ser apuradas emliquidação de sentença".De assinalar-se, por outro lado, que a questão sobre quem efetivamente detém a propriedade e a conseqüente posse indireta do apartamento objeto do litígio é tema que diz com o mérito da ação deimissão, afigurando-se prematuro e despiciendo qualquer pronunciamento a esse respeito para fins de definir-se a admissibilidade ou nãoda intervenção requerida.O certo é que, tal como assinalado no acórdão recorrido, naocasião em que "a Piauí Construções Civis Ltda. transmitiu a posse diretamente para Mayrink Goes (...) tinha condições para tanto". Da mes- (p. 198)ma forma, quando esta transferiu a posse direta aos réus-denunciantes, em razão do contrato de locação, estava legitimada a fazê-lo,promissária compradora que era, com título registrado. Exercia, portanto, à época, a posse indireta do bem.A referência a "proprietário" e "possuidor indireto", tal comoconsta da norma legal (art. 70, II, CPC), é indicativa daquela pessoaque, à época da transferência da posse, estava qualificada, ou convincentemente se haja apresentado, como legitimada a tanto. Não,por óbvio, daquela pessoa que, no momento da propositura da ação,ostenta ser titular da propriedade e/ou posse indireta, até porque abusca de certeza jurídica a esse respeito é que constitui causa maiorda obrigatoriedade da denunciação da lide, visando a oportunizar atodos os interessados ensejo de apresentarem argumentos e provasque possibilitem precisar a quem efetivamente toca referidatitularidade. Tal definição, portanto, somente poder-se-á alcançá-laapós integrados à relação processual todos aqueles que possam dealgum modo opor-se ao reconhecimento da condição de "proprietário" e/ou "possuidor indireto" em que se arvora o autor.Athos Gusmão Carneiro, para exemplificar a "denunciação dalide pelo possuidor direto", formula a seguinte situação hipotética:"Vamos supor a hipótese de ação de reintegração de posse, que A promove contra B, sob o argumento de estar Blavrando terras de propriedade do demandante, e, pois, usurpando-lhe a posse. O réu B, embora arrendatário da gleba, e,portanto, seu possuidor direto, é citado "em nome próprio"(art. 70, II), isto é, como se fora possuidor pleno. Em taiscircunstâncias, B deverá denunciar a lide ao seu arrendante

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C, possuidor indireto" (op. cit., n. 16.3, p. 76/77).Tomando como base esse exemplo, resulta claro que se A lograr êxito, sendo-lhe reconhecida a final a "propriedade" e a conseqüente "posse indireta" da gleba em disputa, forçoso será admitirque C, ao transmitir a "posse direta" a B, fá-lo sem sequer ser, àépoca, titular das referidas "propriedade" ou "posse indireta". É aele, no entanto, que a lei atribui a condição de "proprietário" e "possuidor indireto" para efeito do disposto no art. 70, II, CPC, impondoseja denunciado da lide.O que, em última análise, se visa com isso é assegurar a um sótempo: a) ao possuidor direto de boa-fé, demandado, o direito dever-se indenizado caso resulte julgada procedente a pretensão do (p. 199)demandante; b) ao transmitente da posse direta a possibilidade decontestar tal pretensão e demonstrar caber-lhe a qualificação (de "proprietário" e/ou "possuidor indireto") com que se apresentou ao referido demandado.Disso decorre que, no mais das vezes, em casos tais, se estabelece um litisconsórcio passivo entre denunciante e denunciado relativamente à ação principal. Nesse sentido, ainda o superior magistério do eminente Ministro e processualista:"Pela denunciação da lide, dois objetivos são, neste caso,alcançados:1º) dar-se-á ao arrendante a oportunidade de defendersua posse indireta, em litisconsórcio com B (como adianteveremos);2º) o possuidor direto B demandará, mediante a açãoregressiva contra o arrendante C, a indenização que lhe serádevida na hipótese de, se julgada procedente a ação principal, tornar-se impossível prosseguir cumprindo o contratode arrendamento.A denunciação da lide, neste caso, como observam vários autores, reveste-se até certo ponto de alguns aspectos danomeação à autoria. Embora o arrendatário seja parte legítima como réu na ação reintegratória osse (pois não éele um simples detentor da coisa), não menos certo que aoarrendante assiste idêntico ou maior interesse jurídico emcontestar a demanda reintegratória, sendo, pois, igualmenteparte legítima passiva na ação principal. Não se opera, assim, a substituição do réu parte ilegítima por um réu partelegítima, como na nomeação à autoria, mas sim forma-se, nopólo passivo da ação principal, um litisconsórcio entre possuidor direto e possuidor indireto" (op. cit., n. 16.3, p. 77).Aliás, esse litisconsórcio decorre de expressa determinaçãoda lei processual (art. 75, I), sendo incontroverso seu estabelecimento nos casos de garantia própria (Aroldo Plinio, op. cit., n. 10.5, p.168/172).Por fim, no que toca ao direito de seqüela da recorrente, nãodiviso tenha sido de qualquer modo arranhado pelo acórdão recorrido. Neste nada se contém no sentido de obstar o deferimento da tutelajudicial (de imissão na posse) requerida. Uma vez demonstrada e re- (p. 200)conhecida a propriedade dela, recorrente, ser-lhe-á entregue a possedireta do imóvel. Para tanto, contudo, impunha-se ser denunciada dalide a transmitente de tal posse, cuja relação com os réus, embora resinter alios acta relativamente à autora, determina a lei seja equacionadaconjuntamente, nos mesmos autos e na mesma oportunidade em quedecidida a procedência ou improcedência do pedido inicial.Em face do exposto, conhecendo do recurso apenas pela alínea "c" do permissivo constitucional, nego-lhe provimento. (p. 201)

RECURSO ESPECIAL N. 28.937-SPRelator: Ministro Sálvio de Figueiredo.Recorrente: Construtora Comercial e Industrial S/A - COMASA.

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Recorridos: Fenan Engenharia S/A e outro.Advogados: (omissis).EMENTA.Ação indenizatória proposta por condomínio econdôminos contra incorporadora. Entrega do prédio, comvagas de garagem em número menor que o contratualmenteprometido. Denunciação da lide à incorporadora anterior eao engenheiro que elaborou o "Quadro de Especificação deÁreas do Edifício". Inadmissibilidade. Introdução de fundamento jurídico novo. Necessidade de complexa dilaçãoprobatória para demonstração de culpa. CPC, art. 70 III. Doutrina e jurisprudência. Precedente. Recurso desprovido.I - Inexistindo estipulação contratual carreando a terceiros obrigação de garantir ao réu o resultado da demanda,inadmissível a este, alegando eventual direito de regressocontra aqueles, dependente, contudo, de efetiva demonstração de culpa, pretender denunciá-los da lide, máxime quando referida demonstração esteja a demandar instruçãoprobatória mais ampla e complexa do que a necessária parajulgamento da causa principal.II - Em relação à exegese do art. 70 - III, CPC, melhor se recomenda a corrente que não permite a denunciaçãonos simples casos de alegado direito de regresso cujo reconhecimento requeira análise de fundamento novo não constante da lide originária. (p. 202)III - A denunciação da lide, como modalidade de intervenção de terceiros, busca atender os princípios da economia e da presteza na entrega da prestação jurisdicional,não devendo ser prestigiada quando susceptível de pôr emrisco tais princípios.ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministrosda Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso, mas negar-lhe provimento. Votaram com o Relator osMinistros Barros Monteiro, Torreão Braz, Dias Trindade, convocadonos termos do art. 1º da Emenda Regimental 3/93, e Fontes de Alencar.Brasília, 29 de novembro de 1993 (data do julgamento).Ministro Fontes de Alencar - Presidente.Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira - Relator.EXPOSIÇÃO.O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo:Condomínio Edifício Maison Versailles e alguns condôminospropuseram ação de indenização contra Construtora Comercial e Industrial S/A - COMASA (hoje EDEL - Engenharia e Incorporações S/A), erigindo como uma das causas de pedir a constatação,quando da entrega do prédio, de diferenças a menor no número eárea das vagas de garagem contratualmente prometidas.A ré, em relação a tanto, denunciou à lide FENAN - Engenharia S/A, da qual houvera adquirido o terreno em que edificado o prédio, já com a construção iniciada, denunciando também AntônioEvaristo Francesconi, um dos diretores desta. Alegou que "coube àFENAN - Engenharia S/A não só a aprovação do projeto, memoriais,elaboração do quadro de áreas de acordo com a NB 140, como aindao registro da própria incorporação e a execução das obras até a conclusão da sua estrutura". Jquanto à denunciação de Antônio EvaristoFrancesconi, fundamentou-a em: a) "que o quadro de áreas do edifício, levado a arquivamento no Registro de Imóveis pela FENAN, foiassinado pelo referido profissional, sendo, portanto, presumivelmentede sua autoria e responsabilidade"; b) que "as divergencias que os (p. 203)autores agora apontam entre as metragens das promessas de compra evenda e as metragens do projeto do edifício e sua execução física têmcomo causa primeira os erros de Antônio Evaristo Francesconi - por

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negligência, imprudência e imperícia técnica (art. 159 do CCB) - naelaboração do aludido documento-base da incorporação imobiliária".O MM. Juiz ao sanear o feito, admitiu ambas as denunciações,refutando todas as preliminares argüidas pelos denunciados e pedidopor eles formulado de produção de nova prova pericial, contra o queinterpuseram o agravo de que se cuida.A Décima Câmara Civil do Tribunal de Justiça de São Paulo,apreciando o inconformismo recursal, deu-lhe provimento, adotandocomo motivação:"Colocando em ordem lógica as alegações, interessa,primeiramente, a "da impossibilidade jurídica dadenunciação" (fl. 149), repetida sucintamente na minuta deste agravo (fl. 3).Para justificar a responsabilidade dos denunciados, invoca a denunciante o documento datado de 11/1/79 (fl. 1909).Essa peça se acha às fls. 241/272 (a de fls. 66/67 estáilegível).Esse documento, que é um "contrato particular de compra e venda de imóvel, assunção de dívida, abertura de crédito, suplementação e consolidação de empréstimos, compacto adjeto de hipoteca" (fl. 241), dispõe, efetivamente, noparágrafo único, da cláusula 4ª: "Faz parte integrante da presente compra e venda os direitos que a vendedora devedorapossui em relação aos Alvarás de Construção ns. 27785 e27786 expedidos, respectivamente, em 31/1/74 e 31/11/74 pelaPrefeitura Municipal desta Capital, nos quais fica a devedorasubstituta sub-rogada, não se responsabilizando a vendedoradevedora pela boa ou má liquidação dos mesmos" (fl. 244).Vendedora devedora é a Agravante FENAN, enquantoa devedora substituta é a COMASA ou EDEL (denunciante)(fl. 241).Procurando contornar a interpretação direta dessa cláusula contratual, diz a Agravada (denunciante): "Se fossem doseu conhecimento anterior os problemas já teria, de plano,exigido que a FENAN (e Francesconi) respondesse pelas (p. 204)conseqüências, como, aliás, objetivamente se comprometeuno documento de 11 de janeiro de 1979!!" (fl. 1917).A interpretação da discutida cláusula contratual, como sevê, não é tão clara, diversamente do que pensa a Agravada.Discorrendo a respeito da denunciação da lide, aduzVicente Greco Filho, conclusivamente: "Parece-nos que asolução se encontra em admitir, apenas, a denunciação dalide nos casos de ação de garantia, não admitindo para oscasos de simples ação de regresso, i. e., a figura só seráadmissível quando, por força da lei ou do contrato, o denunciado for obrigado a garantir o resultado da demanda, ouseja, a perda da primeira ação, automaticamente, gera a responsabilidade do garante. Em outras palavras, não é permitida, na denunciação, a intromissão de fundamento jurídiconovo, ausente na demanda originária, que não seja responsabilidade direta decorrente da lei e do contrato" (Direitoprocessual civil brasileiro, 5ª ed., 1988, vol. 1/143, n. 22.5).Na hipótese, a denunciação impugnada exige ampla verificação de questões de fato e de direito, não defluindo agarantia, naturalmente, da procedência da ação principal, jáque a cláusula contratual cogitada não permite a interpretação pretendida, sem maiores indagações, o que implica navedada intromissão de fundamento jurídico novo.Inadmissível a denunciação da lide, as demais alegações resultam prejudicadas".A ré-denunciante, após a rejeição dos seus declaratórios, manifestou recurso especial, argumentando com ofensa aos artigos 31, §3º, 32, e, p, 66 da Lei 4.591/64, 159, CC, 17 a 22 da Lei 5.194/66,70, III, e 71 a 76, CPC, além de dissenso interpretativo com julgado

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publicado na Revista de Jurisprudência do Tribunal de Justiça do RioGrande do Sul n. 86/331. Após enfatizar que a controvérsia gravitaem torno do direito do incorporador denunciar da lide o incorporadorque lhe precedeu no empreendimento, bem como o respectivo engenheiro responsável, que conceberam, elaboraram e promoveram osprojetos, memoriais, registros de incorporação e quadro de áreas doedifício (NB 140), onde estaria a causa das alegadas diferenças dasmetragens nas vagas de garagem", sustenta que o entendimento estampado no acórdão recorrido, no sentido de que "neste debate estariahavendo intromissão de fundamento jurídico novo, está em completa (p. 205)dessintonia com a realidade dos autos". E aduz que "a denunciaçãoda lide teve duplo fundamento: no contrato e na lei" e a Câmarajulgadora "examinou a questão apenas sob o primeiro prisma (o contrato)" que, em síntese, "concluiu a construção com base na incorporação registrada pela FENAN e no quadro de áreas de autoria deAntônio Evaristo Francesconi", os quais "não podem ser liberadosse o projeto que conceberam e incorporaram e o quadro de áreas queelaboraram ensejam depois desavenças entre o sucessor da incorporação e os condôminos, exatamente sobre um dos pontos essenciais:a metragem das vagas da garagem".Contra-arrazoado, foi o apelo inadmitido na origem, subindo osautos por força de agravo a que dei provimento.É o relatório.VOTO.O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator):Perceptível, in casu, a existência de duas relações jurídicas inteiramente distintas. A primeira, entre os autores e a ora recorrente,que lhes vendeu as unidades autônomas, entregues, a final, emdescompasso com o contratado; a segunda, entre a ora recorrente e aincorporadora que lhe antecedeu, relação decorrente de contrato decompra e venda do terreno, benfeitorias e direitos sobre alvarás deconstrução e projetos, dentre os quais o quadro de especificação deáreas do edifício, assinado pelo engenheiro Antônio EvaristoFrancesconi.Inexistente, pois, vínculo de qualquer ordem entre os denunciados (incorporadora sucedida e seu referido engenheiro-diretor)e os autores, que pleiteiam a indenização unicamente com base nodescumprimento do ajuste celebrado com a ré, não lhes sendo sequer exigível tivessem conhecimento da prévia negociação realizada por esta para aquisição do terreno e dos documentos relativos àconstrução.Esse contrato entre as incorporadoras, embora dissociado doobjeto da causa principal, poderia encerrar relação de garantia, razãopela qual não reputo possa sua invocação pelo denunciante ser considerada a priori como consubstanciadora de introdução de "fundamento jurídico novo" inviabilizador da denunciação da lide a que alude o inciso III do art. 70, CPC, que, diga-se, se baseia exatamente em (p. 206)responsabilidade legal ou contratual do denunciado perante o denunciante.Assim, para apuração de tal responsabilidade, quando decorrente de ajuste contratual, necessária se mostra a apresentação dorespectivo instrumento, ainda que nele não haja de qualquer modotido intervenção a parte autora, mas apenas denunciante e denunciado, a exemplo do que ocorre nos casos de denunciação de empresaseguradora por segurado.O que se afigura imprescindível, entretanto, é que dos termosde mencionado ajuste decorra, sem necessidade de posterior produção de outras provas, a convicção acerca da obrigação do denunciado de garantir o resultado da demanda, de ressarcir o denunciante emcaso de sucumbência; que tal convicção resulte, portanto, automática, como conseqüência expressa e explícita do conteúdo das previsões contratuais.

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Indo além, esta Turma, quando do julgamento do REsp 2.967RJ, relatado pelo Sr. Ministro Barros Monteiro, ementou:"Denunciação da lide. Inadmissibilidade, no caso.A denunciação da lide só deve ser admitida quando odenunciado esteja obrigado, por força de lei ou do contrato,a garantir o resultado da demanda, caso o denunciante resulte vencido, vedada a intromissão de fundamento novo nãoconstante da ação originária.Recurso especial conhecido e provido" (DJ de 18-2-91).Naquele caso, inexistia estipulação contratual atribuindo à denunciada responsabilidade pela indenização pleiteada. Os denunciantes alegaram como fundamento da denunciação apenas a possívelexistência de culpa da denunciada, dependente, contudo, de demonstração. Daí haver o eminente Relator concluído, com propriedade:"... os réus pretendem eximir-se de responsabilidade pelaruína havida nas obras de contenção, atribuindo-a com exclusividade à empresa denunciada. Invocam culpa de terceiro. Quer dizer, introduzem no processo um fundamento novo;desdobram dos termos da lide; alargam o seu âmbito com amera alegação de culpa de outrem"."Essa intromissão de fundamento jurídico novo é que semostra inadmissível na denunciação da lide, consoante res- (p. 207)tou de sobejo remarcado pela doutrina e jurisprudência supracitadas."A hipótese de que se cuida é em essência semelhante.Do contrato celebrado entre as incorporadoras também não constava obrigação da denunciada em garantir à denunciante o ressarcimento de eventual indenização paga como conseqüência daconstatação de número de vagas menor que o projetado e prometidoaos compradores das unidades autônomas, causa de pedir da açãoprincipal. Ao contrário, havia cláusula estabelecendo a ausência deresponsabilidade da vendedora, ora recorrida, "pela boa ou má liquidação" dos alvarás de construção.Destarte, inexistindo estipulação contratual a respeito, o pretensodireito de regresso deduzido pela recorrente não há como reconhecêlo senão pela constatação da alegada culpa dos recorridos na elaboração do quadro de especificação de áreas do prédio.E essa culpa, que legitimaria a pretensão regressiva de reembolso da denunciante com base nos arts. 159, CC e 17 a 22 da Lei5.194/66 (reguladora do exercício da profissão de engenheiro), estáa requerer, para sua comprovação, ampla instrução probatória e discussão acerca de questões as mais variadas, como, por exemplo, asrelativas às alterações que a recorrente teria introduzido no projetooriginal e à necessidade efetiva de tais alterações para garantir a segurança da obra.Essa demonstração, da ocorrência de negligência ou imperíciatécnica dos recorridos, que só interessa a denunciante e denunciados, é que se afigura inadmissível pretendê-la realizar na via paralelada denunciação. Caracterizada, aí sim, a intenção de introduzir "fundamento jurídico novo", a que se opõe a maioria da doutrina (dentreoutros: Greco Filho, "Da intervenção de terceiros", Saraiva, 3ª ed.,1991, p. 90; Sydney Sanches, in "Denunciação da lide no direitoprocessual civil brasileiro", RT, 1984, cap. 7).Incensurável, pois, a conclusão constante do acórdão recorridono sentido de que a denunciação impugnada exige ampla verificação dequestões de fato e de direito, não defluindo a garantia, naturalmente, da procedência da ação principal, já que a cláusula contratual cogitada não permite a interpretação pretendida, sem maiores indagações, o que implica na vedada intromissão de "fundamento jurídico novo". (p. 208)Cumpre em reforço aduzir que, no caso, a dilação probatórianecessaria ao equacionamento da lide secundária seria de muito maiorvulto do que a necessária ao deslinde da demanda principal. Nesta, avexata quaestio restringe-se ao cotejo entre o número e área das vagas de garagem co

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ntratualmente prometidas e o número e área dasvagas efetivamente entregues; limita-se, pois, à constatação de referido descompasso, de fácil verificação. Já a relação entre denunciante e denunciados envolve aspectos bem mais complexos, dependentes, inclusive, de prova pericial expressamente solicitada. Os dezvolumes desses autos de agravo de instrumento, em que se discuteapenas a mera possibilidade da denunciação, são representativos damagnitude da controvérsia paralela."Não é possível", consoante salientado por Theotonio Negrão,com apoio em julgados que cita, "introduzir nos autos uma nova demanda, com produção de prova pericial e testemunhal, entre denunciante e denunciado" ("Código de Processo Civil", Malheiros Editores, 24ª ed., 1993, art. 70, nota 11a).E isso pela lógica razão de que, sendo finalidade do art. 70, III,CPC, propiciar maior celeridade, atender ao princípio da economiaprocessual, ele "não deve ser interpretado", no dizer de SydneySanches, "de tal modo que venha a pôr em risco esse mesmo princípio, em detrimento da presteza da prestação jurisdicional"("Denunciação da lide" - conclusões principais, Revista de Processo34/59). Em outras palavras, a denunciação da lide, como modalidadede intervenção de terceiros, busca atender os princípios da economia eda presteza na entrega da prestação jurisdicional, não devendo serprestigiada quando susceptível de pôr em risco tais princípios.Mesmo o eminente Athos Gusmão Carneiro, em sua valiosamonografia "Intervenção de Terceiros", Saraiva, 5ª ed., 1991, 16.5.5,embora partidário da corrente que propugna exegese extensiva à referida norma processual, admite a possibilidade de indeferimento dedenunciações "naqueles casos em que venha a ocorrer demasiadademora no andamento do feito, com evidente prejuízo à parte adversa ao denunciante originário".O caso de que se trata, pelo que venho de descrever, nesse contexto se enquadra. A solução da denunciação demandaria, em princípio, muito maior trabalho e tempo do que a da causa principal.Por qualquer prisma que se analise, portanto, inadmissível seafigura a pretendida denunciação. (p. 209)A Câmara julgadora não se houve, pois, com ofensa aos dispositivos processuais invocados no especial, tampouco aos arts. 159,CC, 17 a 22 da Lei 5.194/66, 31, § 3º, 32, e, p, e 66 da Lei 4.591/64,que contemplam direito de reparação cujo exercício não foi negado àrecorrente, possível que se lhe mostra deduzi-lo em ação direta, seara própria à demonstração de efetiva ocorrência ou não de culpa dosrecorridos.Aduza-se, ainda, que os mencionados preceitos da Lei 4.591/64, transcritos nas razões recursais, se referem à solidariedade entreincorporadoras imobiliárias, que, caso existente na espécie, ensejariao chamamento ao processo, não a denunciação da lide.Quanto ao alegado dissídio jurisprudencial, reputo-o devidamente configurado. O julgado gaúcho trazido à colação versou sobreação indenizatória proposta contra o proprietário da obra, que denunciou da lide o engenheiro-arquiteto que teria elaborado a plantade construção. Caso, portanto, similar ao de que se cuida. Adotou-se,contudo, no paradigma, orientação diversa da ora sustentada, consoante bem evidencia o seguinte excerto:"O art. 70, III, do CPC, prevê a denunciação à lide daquele que, por lei ou pelo contrato, possa vir a indenizar, emação regressiva, as perdas e danos advindos. Ora, no caso, éevidente - e o próprio MM. Juiz entendeu que em açãoregressiva possa o arquiteto ser responsabilizado - achoque, em face do citado dispositivo, deveria desde logo sercitado para acompanhar esta ação. Se ele pode ser responsabilizado em ação regressiva, melhor será que responda conjuntamente, na mesma ação intentada contra o proprietário,

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cuja responsabilidade, como já referi, permanece. Uma nãoexclui a outra. No decorrer da ação se apurará realmente aresponsabilidade do engenheiro e a do proprietário e poderáhaver a condenação de ambos ou a sua exclusão".Da ementa respectiva constou:"Denunciação à lide. Responsabilidade do engenheiroarquiteto que elaborou a planta ou projeto da construção queruiu, vitimando um menor, filho dos agravados. Deve ditoprofissional integrar a lide para responder por eventuais defeitos ou erros cometidos como profissional responsável".Tal entendimento, contudo, não se coaduna com a tese da interpretação restritiva a respeito da qual venho de discorrer, tese que se (p. 210)me afigura mais consentânea com a realidade do nosso sistema processual, consoante aliás, já proclamou esta Turma.Em face do exposto, embora conhecendo do recurso pela alínea c, nego-lhe provimento. (p. 211)

RECURSO ESPECIAL N. 49.418-SPRelator: Ministro Sálvio de Figueiredo.Recorrente: Construções e Comércio Camargo Corrêa S/A.Recorrida: Evany Ribeiro.Advogados: (omissis).EMENTA.Denunciação da lide. Direito de regresso. Introduçãode fundamento jurídico novo. Inadmissibilidade. Obrigatoriedade. Inocorrência. Precedentes. Recurso desacolhido.I - Em relação à exegese do art. 70, III, CPC, melhorse recomenda a corrente que não permite a denunciação noscasos de alegado direito de regresso cujo reconhecimentorequeira análise de fundamento novo não constante da lideoriginária.II - Hipótese que se verifica quando o direito de regresso de que se diz titular a denunciante não deriva direta eincondicionalmente da lei ou do contrato celebrado com adenunciada, sendo preciso recorrer a outros elementos paraevidenciá-lo.III - A denunciação da lide, como modalidade de intervenção de terceiros, busca atender os princípios da economia e da presteza na entrega da prestação jurisdicional,não devendo ser prestigiada quando susceptível de pôr emrisco tais princípios.IV - Segundo entendimento doutrinário predominante, somente nos casos de evicção e transmissão de direitos(garantia própria) é que a denunciação da lide se faz obrigatória. (p. 212)ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministrosda Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, nãoconhecer do recurso. Votaram com o Relator os Ministros BarrosMonteiro, Ruy Rosado, Antonio Torreão Braz e Fontes de Alencar.Brasília, 14 de junho de 1994 (data do julgamento).Ministro Fontes de Alencar - Presidente.Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira - Relator.EXPOSIÇÃO.O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo:Ajuizada ação de indenização buscando reparação de danos sofridos em virtude de enchente que teria sido provocada por obrasexecutadas, em regime de empreitada, pela ré Construções e Comércio Camargo Corrêa S/A, esta denunciou da lide a "dona da obra",Cia. do Metropolitano de São Paulo - Metrô.Em impugnação à decisão que não admitiu a denunciação, a

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construtora ré interpôs agravo, ao qual a Primeira Câmara Civil doTribunal de Justiça de São Paulo negou provimento, lançando acórdãoassim fundamentado:"A ação indenizatória, na espécie, prende-se à alegadafalha na execução da obra a cargo da ré (fls. 162). Era umaretificação de córrego. Por obstrução da rede coletora daságuas pluviais, sem abertura de vertedouro ou ladrão' à margem da área escavada, ocorreu inundação que atingiu imóvelde propriedade da autora, causando-lhe danos materiais.Como bem deduziu o MM. Juiz, não foi exercida açãoque pudesse a autora ter contra a dona da obra. Eventualação de regresso (do executor contra o dono) tem diversofundamento, não sendo por isso indispensável, no exercíciodesta ação, a denunciação da lide (fls. 129).De outra parte, verifica-se do contrato de empreitada,na cláusula 12 (fls. 78), que o construtor é responsável direto e exclusivo pela execução da obra, e por danos que, pordolo ou culpa sua, no exercício dessas atividades, provoqueou cause a terceiros. (p. 213)A subsistência de eventual responsabilidade do contratante perante a empreiteira, em vista do que dispõe cláusulaseguinte (13.3.1), e pela invocação feita ao artigo 1.528 doCódigo Civil, poderá ser objeto de ação própria, de cunhoregressivo, sem que necessária a intervenção reclamada porvia de denunciação, que só viria tumultuar o desenvolvimentodo processo, já em fase de perícia".Inconformada, a denunciante manifestou recurso especial, alegando infringência ao art. 70, CPC. Sustenta, em síntese:a) que "o contrato de empreitada, em exame, só atribui responsabilidade à recorrente por danos a terceiros no caso de sua condutacaracterizar dolo ou culpa";b) que agiu de acordo com todas as determinações contratuaisditadas pela dona da obra, sem culpa ou dolo;c) que não só o contrato, mas também a lei lhe conferem direitode regresso em face da dona da obra, sendo "obrigatória a denunciação";d) que a ação incidental, instaurada pela denunciação da lide,tem por óbvio, fundamento diverso da ação principal, na medida emque estabelecida entre sujeitos distintos com base em direito (de regresso) que, evidentemente, não se relaciona com aquele postuladopelo autor da primitiva demanda;e) que, em outras palavras, o fundamento distinto da demandaprincipal é a essência da denunciação da lide.Sem contra-razões, foi o apelo admitido na origem.É o relatório.VOTO.O Sr Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator):Pelo que se depreende dos termos do acórdão recorrido, o direito de regresso de que se diz titular a recorrente não dimana direta eincondicionalmente da lei ou do contrato que celebrou com a Cia. doMetropolitano de São Paulo - Metrô.Vale dizer, a constatação de eventual existência de responsabilidade desta, dona da obra, para com aquela, empreiteira, requer análisede aspectos outros, que desbordam do mero exame e aplicação de cláusulas contratuais ou de normas legais, como, por exemplo, averi- (p. 214)guar se a denunciada teria ou não realizado seguro a que estava contratualmente obrigada.A invocação de aspectos como esse, necessários à caracterização do vínculo obrigacional regressivo entre a empreiteira e a donada obra, é que foi havida pelo Colegiado de segundo grau como inadmissível, por consubstanciar intromissão de fundamento diverso.

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Fundamento diverso, portanto, não foi e, por óbvio, não poderia ser considerado o direito de regresso que a denunciante alega terem face da denunciada com base na relação jurídica entre elas existente, e isso porque tal direito constitui a própria razão de ser, o âmago do instituto da denunciação da lide.Verificado, porém, que esse direito não deriva de modoincontroverso - ou, pelo menos, sem necessidade de maiores indagações - do contrato ou da lei, sendo preciso recorrer a outros elementos para evidenciá-lo, cabível e apropriado falar-se em fundamento novo ou distinto, tal como fez a eg. Câmara julgadora.Erigido como suporte da pretensão regressiva pela ré um fundamento desse jaez, que só interessa a ela e à denunciada e cujacomprovação implica em delonga à satisfação do direito da parteautora da lide principal, não há como censurar a posição adotada pelasinstâncias ordinárias no sentido de ser inadmissível a instauração darelação processual denunciativa.Isso, aliás, o que restou decidido quando do julgamento do REsp28.937-7-SP, de que fui relator, assim ementado:"Processo civil. Ação indenizatória proposta por condomínio e condóminos contra incorporadora. Entrega doprédio, com vagas de garagem em número menor que o contratualmente prometido. Denunciação da lide àincorporadora anterior e ao engenheiro que elaborouo Quadro de Especificação de Áreas do Edifício.Inadmissibilidade. Introdução de fundamento jurídico novo.Necessidade de complexa dilação probatória para demonstração de culpa. CPC, art. 70 - III. Doutrina e jurisprudência. Precedente. Recurso desprovido.I - Inexistindo estipulação contratual carreando a terceiros obrigação de garantir ao réu o resultado da demanda,inadmissível a este, alegando eventual direito de regresso contra aqueles, dependente, contudo, de efetiva demonstração deculpa, pretender denunciá-los da lide, máxime quando referi- (p. 215)da demonstração esteja a demandar instrução probatória maisampla e complexa do que a necessária para o julgamento dacausa principal.II - Em relação à exegese do art. 70 - III, CPC, melhor se recomenda a corrente que não permite a denunciaçãonos simples casos de alegado direito de regresso cujo reconhecimento requeira análise de fundamento novo não constante da lide originária.III - A denunciação da lide, como modalidade de intervenção de terceiros, busca atender os princípios da economia e da presteza na entrega da prestação jurisdicional,não devendo ser prestigiada quando susceptível de pôr emrisco tais princípios" (DJ de 21-2-94).Do voto que na oportunidade proferi, extrai-se excerto que bemexprime o entendimento então adotado quanto ao que se compreende por fundamento novo:"Esse contrato entre as incorporadoras, embora dissociadodo objeto da causa principal, poderia encenar relação de garantia, razão pela qual não reputo possa sua invocação pelodenunciante ser considerada a priori como consubstanciadorade introdução de "fundamento jurídico novo" inviabilizadorda denunciação da lide a que alude o inciso III do art. 70,CPC, que, diga-se, se baseia exatamente em responsabilidadelegal ou contratual do denunciado perante o denunciante.Assim, para apuração de tal responsabilidade, quandodecorrente de ajuste contratual, necessária se mostra a apresentação do respectivo instrumento, ainda que nele não hajade qualquer modo tido intervenção a parte autora, mas apenas denunciante e denunciado, a exemplo do que ocorre noscasos de denunciação de empresa seguradora por segurado.

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O que se afigura imprescindível, entretanto, é que dostermos de mencionado ajuste decorra, sem necessidade deposterior produção de outras provas, a convicção acerca daobrigação do denunciado de garantir o resultado da demanda, de ressarcir o denunciante em caso de sucumbência; quetal convicção resulte, portanto, automática, como conseqüência expressa e explícita do conteúdo das previsões contratuais. (p. 216)Indo além, esta Turma, quando do julgamento do REsp2.967-RJ, relatado pelo Sr. Ministro Barros Monteiro,ementou:"Denunciação da lide. Inadmissibilidade, no caso.A denunciação da lide só deve ser admitida quandoo denunciado esteja obrigado, por força de lei ou docontrato, a garantir o resultado da demanda, caso o denunciante resulte vencido, vedada a intromissão de fundamento novo não constante da ação originária.Recurso especial conhecido e provido" (DJ de 182-91).Naquele caso, inexistia estipulação contratual atribuindo à denunciada responsabilidade pela indenização pleiteada. Os denunciantes alegaram como fundamento dadenunciação apenas a possível existência de culpa da denunciada, dependente, contudo, de demonstração. Daí havero eminente Relator concluído, com propriedade:"... os réus pretendem eximir-se de responsabilidadepela ruína havida nas obras de contenção, atribuindo-a comexclusividade à empresa denunciada. Invocam culpa deterceiro. Quer dizer, introduzem no processo um fundamento novo; desdobram dos termos da lide; alargam o seuâmbito com a mera alegação de culpa de outrem"."Essa intromissão de fundamento jurídico novo éque se mostra inadmissível na denunciação da lide, consoante restou de sobejo remarcado pela doutrina e jurisprudência supracitadas".A hipótese de que se cuida é em essência semelhante.Do contrato celebrado entre as incorporadoras tambémnão constava obrigação da denunciada em garantir à denunciante o ressarcimento de eventual indenização paga comoconseqüência da constatação de número de vagas menor queo projetado e prometido aos compradores das unidades autônomas, causa de pedir da ação principal. Ao contrário, haviacláusula estabelecendo a ausência de responsabilidade davendedora, ora recorrida, "pela boa ou má liquidação" dosalvarás de construção. (p. 217)Destarte, inexistindo estipulação contratual a respeito, opretenso direito de regresso deduzido pela recorrente não hácomo reconhecê-lo senão pela constatação da alegada culpados recorridos na elaboração do quadro de especificação deáreas do prédio.E essa culpa, que legitimaria a pretensão regressiva dereembolso da denunciante com base nos arts. 159, CC e 17 a22 da Lei 5.194/66 (reguladora do exercício da profissão deengenheiro), está a requerer, para sua comprovação, amplainstrução probatória e discussão acerca de questões as maisvariadas, como, por exemplo, as relativas às alterações que arecorrente teria introduzido no projeto original e à necessidade efetiva de tais alterações para garantir a segurança da obra.Essa demonstração, da ocorrência de negligência ou imperícia técnica dos recorridos, que só interessa a denunciante e denunciados, é que se afigura inadmissível pretendê-larealizar na via paralela da denunciação Caracterizada, aí sim,a intenção de introduzir "fundamento jurídico novo", a quese opõe a maioria da doutrina (dentre outros: Greco Filho,"Da intervenção de terceiros", Saraiva, 3ª ed., 1991, p. 90;Sydney Sanches, in "Denunciação da lide no direito processual civil brasileiro", RT,

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1984, cap. 7)".Por fim, cumpre assinalar, nas hipóteses de responsabilidadecivil stricto sensu, contempladas notadamente no inciso III do art.70, CPC, que não se mostra obrigatória a denunciação da lide paraassegurar o exercício da pretensão de regresso, providência que arigor só se imporia nos casos de evicção e transmissão de direitos,por imperativo de regra de direito material - art. 1.116, CC (a propósito, Athos Gusmão Carneiro, "Intervenção de terceiros", Saraiva,1994, 6ª ed., cap. XVI, n. 16.1.2, p. 71/72; Sydney Sanches,"Denunciação da lide no CPC brasileiro", RT, 1984, cap. 4, ns. 8 e 9).Pode, entretanto, a recorrente, se sucumbente nesta ação, demandar a Cia. do Metropolitano de São Paulo - Metrô por meio devia processual autônoma para fazer valer eventual direito que emface desta entenda lhe assistir.Em face do exposto, não conheço do recurso. (p. 218)

RECURSO ESPECIAL N. 13.621-SPRelator: O Exmo. Sr. Ministro Humberto Gomes de Barros.Recorrente: Municipalidade de São Paulo.Recorrido: Walmir Novac.Advogados: (omissis).EMENTA.Denunciação da lide - Ação de indenização contra oEstado - Acidente de trânsito - Denunciação ao motorista oficial - CPC - art. 70 e CF - art. 37, § 6º.O Estado - quando réu em processo de indenizaçãopor acidente de trânsito - tem direito de denunciar a lide aomotorista que conduzia o veículo oficial.Requerida a denunciação, em tal processo, é defeso aoJuiz condicioná-la à confissão de culpa, pelo Estado.Recurso especial provido para declarar a nulidade doprocesso.ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministrosda Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, darprovimento ao recurso com ressalva do ponto de vista do Sr. Ministro Milton Pereira. Votaram com o Sr. Ministro Relator os Srs. Ministros Milton Pereira e Demócrito Reinaldo. Ausentes,justificadamente, os Srs. Ministros César Rocha e Garcia Vieira.Brasília, 26 de abril de 1993 (data do julgamento).Ministro Demócrito Reinaldo - Presidente.Ministro Humberto Gomes de Barros - Relator. (p. 219)RELATÓRIO.O Exmo. Sr Ministro Humberto Gomes de Barros: O Município de São Paulo recorre contra acórdão que, em ação de reparaçãode danos por acidente de trânsito, indeferiu a denunciação da lide aomotorista do carro oficial.O recurso especial imputa ao acórdão, ofensa ao art. 70, III, doCódigo de Processo Civil e dissídio com a Jurisprudencia dominante.É o relatório.VOTO.O Exmo. Sr Ministro Humberto Gomes de Barros (Relator):Cuida-se de uma das mais renitentes discussões em torno do Códigode Processo Civil.Desde que entrou em vigoro Código de 1973, discute-se a possibilidade de o Estado - chamado a Juízo para responder por acidente de trânsito - denunciar a lide ao motorista do veículo oficial.Na hipótese, a denegação teve como fundamento a circunstânciade que o Município não reconheceu a priori a culpa de seu servidor.

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O Código de Processo Civil, ampliando e aprimorando o velhoinstituto do "chamamento à autoria", criou a "denunciação da lide",inscrita no art. 70, nestes termos:"A denunciação da lide é obrigatória:I - (omissis)II - (omissis)III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda".O instituto resulta de dois imperativos de política processual: aeconomia e a segurança.A economia é homenageada, porque a ação direta e a ação regressiva desenvolvem-se a um só tempo, de tal modo que através deuma só instrução e única sentença, o derrotado na demanda recebe,desde logo, um título executivo contra aquele que está obrigado aindenizá-lo pela derrota.A segurança funciona, tanto em favor do denunciante, quantode quem recebe a denúncia. Na hipótese destes autos, o motorista, se (p. 220)fosse chamado à autoria, teria oportunidade de oferecer defesa quebeneficiaria o Município.Sem a denunciação, o suposto causador do dano poderá, quando acionado regressivamente, escusar-se, mostrando prova de quenão agiu com culpa e - até - dizendo: "se me houvessem denunciado a lide, eu teria demonstrado que não dei causa aos prejuízos e queo Município não é responsável por indenização alguma".Então será tarde: o Município já terá contra si uma sentençacondenatória, com trânsito em julgado.Nem se diga que em acidente de trânsito, contra o Estado, háresponsabilidade objetiva.Não!Se o Estado conseguir demonstrar que o agente culposo do danofoi a outra parte, a responsabilidade se inverte.Tanto isto é verdade, que o processo não dispensa instrução,com oitiva de testemunhas e outras provas, no sentido de apurar, nãoapenas a autoria, mas a culpabilidade.Houvesse verdadeira responsabilidade objetiva, bastaria a apuração da autoria.O que ocorre nestas hipóteses é uma presunção juris tantum deculpa.Elidida a presunção, afasta-se a responsabilidade.Nesta conjuntura, não há como submeter a denunciação da lideà confissão de culpa, de parte do denunciado.O art. 70 do CPC exige, apenas, que o destinatário dadenunciação esteja, "pela lei ou pelo contrato" obrigado a indenizarem ação regressiva, o prejuízo que o denunciante possa, eventualmente sofrer com a derrota.Sobre o motorista pesa esta obrigação (Constituição Federal art. 37, § 6º).Não é lícito ao juiz condicionar a denunciação do motorista, aoprévio reconhecimento de culpa do Município.O E. Ministro Garcia Vieira, no voto em que conduziu esta Turma, no julgamento do REsp n. 594, registrou com propriedade:"É de todo recomendável que o agente público, responsável pelos danos causados a terceiros, integre, desde logo,a lide, apresente a sua resposta, produza prova e acompanhe (p. 221)toda a tramitação do processo e que se resolva desde logo,em uma única ação, se ele agiu ou não com culpa ou dolo ouse não teve nenhuma responsabilidade pelo evento danoso.Se, no caso, restou comprovada a culpa do denunciado àlide, até por economia processual, deve a questão ficar resolvida numa única ação, até por economia processual e asentença valer como título executivo contra o denunciado ea execução se fará nos mesmos autos. Assim têm admitido

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nossos Tribunais Superiores. Do extinto TFR podemos citaros seguintes precedentes: REO n. 63.010-MG, DJ, de 14-483, AC n. 59.376-RJ, DJ de 3-6-83, AG n. 41 .310-SC, DJ de19-3-81, AG n. 42.214-MG, DJ de 30-6-83, AG n. 52.086PR, DJ de 9-6-88, e de nossa Corte Maior RE n. 90.071-3SC, RTJ n. 96/237".Dou provimento ao recurso, para declarar nulo o processo, apartir da audiência.VOTO.O Sr. Ministro Milton Pereira: Sr. Presidente, acompanho o Sr.Ministro-Relator, mas continuando convencido de que, primeiro, nãohá que se estabelecer essa obrigatoriedade à vista de que o direitoregressivo sempre poderia ser exercido, ainda que não litis denunciado e não integrante da relação processual. Mas deixo ressalvado que,por reflexão mais detida, posso fazer sustentação diversa.Pediria a V. Exa. que apenas registre no meu voto as ressalvas deordem pessoal. (p. 222)

RECURSO ESPECIAL N. 23.039-GORelator: Ministro Sálvio de Figueiredo.Recorrentes: Neida Terezinha Ribeiro Rodrigues da Cunha e cônjuge.Advogados: (omissis).Recorrido: Custódio Luiz de Miranda.Advogados: (omissis).EMENTA.Indenização. Acidente de trânsito. Responsabilidadecivil. Propriedade do veículo causador do sinistro. Prova.Denunciação da lide. Registro. Recurso desprovido.I - O alienante de automóvel, ao realizar a efetiva tradição ao adquirente e emitir autorização para transferênciajunto ao Detran, exime-se de responsabilidade pelas conseqüências advindas da ulterior utilização do veículo pelo novoproprietário.II - Em linha de princípio, a denunciação da lide nãose presta à substituição da parte passiva. Contudo, se o réualega ser parte ilegítima e ao mesmo tempo denuncia a lideao verdadeiro responsável, e este, aceitando a litisdenunciação, contesta o pedido formulado pelo autor, passando àcondição de litisconsorte passivo, não há prejuízo em quea sentença dê pela carência da ação, em relação ao denunciante, e pela procedência ou improceda da pretensãoquanto ao denunciado.ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministrosda Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negar (p. 223)provimento ao recurso. Votaram com o Relator os Ministros BarrosMonteiro, Bueno de Souza e Fontes de Alencar. Ausente, por motivojustificado, o Ministro Athos Carneiro.Brasilia, 25 de novembro de 1992 (data do julgamento).Ministro Fontes de Alencar - Presidente.Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira - Relator.EXPOSIÇÃO.Ministro Sálvio de Figueiredo: Trata-se de ação de indenizaçãopromovida por Neida Terezinha Ribeiro Rodrigues da Cunha, por si,como curadora de seu marido, Valdir Sebastião Rodrigues da Cunha,e, ainda, na condição de representante legal de seus dois filhos menores, pleiteando a reparação dos danos advindos de acidente de trânsito que vitimou seu referido marido, tornando-o inválido.A ação foi dirigida contra Custódio Luiz de Miranda, que, vindoaos autos, ofereceu contestação, argüindo preliminar de ilegitimidade

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passiva, e denunciou da lide a Luiz do Carmo, responsável pela ocorrência do sinistro. Alegou o requerido que, à época do evento, já haviavendido o veículo envolvido no desastre ao mencionado Luiz do Carmoe que este, na condição de proprietário, é que, conduzindo o automóvel na contramão, agiu culposamente, dando causa ao acidente.O MM. Juiz entendeu que simples "autorização para transferência de veículo", documento em que se animou o réu para sustentar ter efetuado a alienação, não presta a caracterizar transmissão dapropriedade. Aduziu, ainda, que, mesmo se configurada estivesse acompra e venda, ainda assim não surtiria efeitos em relação a terceiros, na medida em que não transcrita no Registro de Títulos e Documentos, tampouco junto ao Detran.Interposta apelação, a eg. Terceira Turma Julgadora da Primeira Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Goiás deu-lhe provimento, em acórdão assim ementado:"Ação indenizatóriaI - Comprovada a propriedade do veículo, ainda quenão efetuada a transferência do certificado de propriedade,responde o novo proprietário pelos danos causados a terceiro.II - Se o réu alega ser parte ilegítima e ao mesmo tempo denuncia a lide ao verdadeiro responsável, e este, aceitan- (p. 224)do a litisdenunciação, contesta o pedido formulado pelo autor, passando à condição de litisconsorte passivo, não há prejuízo em que a sentença dê pela carência de ação, em relação ao dante, e pela procedência ou improcedência,quanto ao denunciado.III - O registro da ocorrência feito pela Polícia de Trânsito, não infirmado por outros elementos probatórios, sendo,inclusive, confirmado pela prova testemunhal, demonstra aculpa".Inconformados, os autores interpuseram recurso especial, alegando ofensa aos arts. 129, n. 7, da Lei 6.015/73, 35 e segs. da Lei5.108/66, 135, CC, 70, III, CPC, além de dissídio jurisprudencialcom o enunciado n. 489 da súmula/STF e com julgados também doExcelso Pretório e do Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul.Sustentam, em síntese, que se impunha tivesse sido o "recibo" ou"documento de transferência" levado a registro junto a cartório detítulos e documentos ou ao Detran para que a alegada venda do veículo pudesse ter validade em relação a eles, recorrentes, terceiros deboa-fé. Aduzem, ainda, que a denunciação da lide, com fulcro noinciso III do art. 70, CPC, constitui-se em ação paralela do denunciante contra o denunciado, visando o primeiro a assegurar seu direitode regresso em caso de eventual sucumbência na causa principal.Entendem, por isso, inadmissível decisão que disponha acerca de relação entre o denunciado e os adversários do denunciante, deixandode condenar este para condenar diretamente aquele.Admitido o apelo na origem, subiram os autos.A douta Subprocuradoria-Geral da República opina pelo parcialprovimento do recurso, em parecer que guarda a seguinte ementa:"Responsabilidade do anterior proprietário de veículopela indenização à vítima de acidente causado por aquele, sea alienação do veículo não estava, antes, registrada ou noDetran ou no Registro de Títulos e Documentos. Denunciaçãoà lide incabível, mas que se tornou matéria preclusa. Provimento parcial do REsp por ambas as alíneas".É o relatório.VOTO.Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator): Dois, portanto, são osfundamentos deste recurso especial: (p. 225)a) ser incabível a denunciação da lide quando o réu, afirmandose parte ilegítima para suportar a ação proposta por não mais ser proprietário do veículo que deu causa ao infortúnio, atribui tal condição aterceiro, imputando-lhe exclusiva responsabilidade pelo acidente;

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b) não surtir efeitos jurídicos perante terceiros a simples "autorização para transferência de veículo", se não registrada em cartóriode títulos e documentos ou junto ao Detran.Quanto ao primeiro inconformismo dos recorrentes, reputo-o,assim como entendeu o douto representante do Parquet federal,incabível.A rigor, a denunciação da lide, com arrimo no inciso III do art.70, CPC, somente se mostra admissível se houver entre o demandado e o terceiro relação que obrigue este último a indenizar aquele,regressivamente, em caso de sucumbência na ação principal.Assim se o réu, por se considerar não-proprietário, sustenta suailegitimidade passiva ad causam, não se lhe faculta denunciar da lideaquele para quem haja transferido o veículo. A denunciação da lide pressupõe que o denunciante continue a integrar o pólo passivo da relaçãobásica, assumindo, porém, a condição de autor na causa paralela em quefigura como réu o denunciado. Há, portanto, concomitância de ações,envolvendo, contudo, distintas relações processuais e materiais.Já na hipótese em que o requerido alega ser parte ilegítima porque não mais lhe pertencia o automóvel envolvido no desastre, impõe-se, se comprovada referida alegação, apenas excluí-lo da relação processual única.In casu, contudo, o denunciado, citado, veio aos autos e, semnegar a condição de proprietário que lhe foi atribuída pelo denunciante, contestou o feito, assumindo, destarte, a posição de litisconsorte.Entendo, pois, não ter havido prejuízo a nenhuma das partes.Aos autores, abriram-se os meios de prova necessários à comprovação da culpa pelo sinistro e da propriedade do veículo. Permitiu-se,por outro lado, tanto ao denunciante como ao denunciado, plena possibilidade de defesa, do que se dessume haver o processo seguidoseu regular caminho, atingindo, sem qualquer mácula, a finalidadeinstrumental a que se destina.Não merece censura, assim, a decisão recorrida que, entendendo "satisfatoriamente demonstrado que o veículo causador do eventodanoso não mais pertencia ao apelante (réu denunciante) por ocasião (p. 226)do sinistro", reconheceu sua ilegitimidade ad causam e deu pela carência da ação em relação ao mesmo, condenando, porém, o denunciadono pagamento de indenização pleiteada pelos autores.Reformar tal decisum, quanto ao aspecto concernente à impossibilidade da denunciação da lide, conduziria na prática ao simplesreconhecimento de ilegitimidade do réu, obrigando os autores a ajuizarem outra ação contra Luiz do Carmo, o que, além de contrariar oprincípio da economia processual, redundaria em prejuízo maior aosrecorrentes.Neste sentido, aliás, jurisprudência colacionada por TheotonioNegrão, que se ajusta como luva à espécie:"Se o réu alega ser parte ilegítima e ao mesmo tempodenuncia à lide o verdadeiro responsável, e este, aceitando alitisdenunciação, contesta o pedido formulado pelo autor,passando à condição de litisconsorte passivo (n. I), não háprejuízo em que a sentença dê pela carência de ação, emrelação ao denunciante, e pela procedência ou improcedência, quanto ao denunciado (RJTJESP 101/144)" ("Códigode Processo Civil", Malheiros Editores, 22ª ed., 1992, art.76, nota 6, pg. 106).No que diz com o segundo inconformismo dos recorrentes, relativo à ineficácia da transferência do veículo perante terceiros, merece ser conhecido o apelo por configurada divergência com arestopublicado em RT 439/222, que sufragou entendimento contrário aoadotado pelo acórdão recorrido no sentido de que:"O proprietário do veículo causador do acidente deveresponder pelos danos decorrentes do acidente, ainda quando, já tendo transferido

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o carro a terceiro, não tenha formalizado essa transferência com a transcrição do contrato particular de venda no registro competente".Conheço, assim, do recurso pela alínea c. Não o provejo, contudo.Entendo correta a posição sustentada pelo acórdão impugnado,sem descortinar tampouco dissonância com o verbete 489 da súmula/STF.Tal enunciado, com efeito, não se aplica à hipótese sub judice.Refere-se, como não poderia deixar de ser, às conseqüências a que sesujeita o adquirente, responsável por levar a registro a compra e venda. Não tem alcance, porém, sobre a situação do alienante, que, de- (p. 227)pois de emitir a autorização para transferência junto ao Detran e efetuar a tradição do automóvel, não mais se responsabiliza por qualquer ulterior providência.Assim, a partir do momento em que o vendedor autoriza a transferência e realiza a efetiva tradição do veículo ao comprador, tempor aperfeiçoada a transmissão do domínio, eximindo-se de qualquer responsabilidade pelos atos a partir de então levados a efeitopelo comprador na utilização do automóvel. Multas a que este tenhadado causa não podem ser exigidas do alienante, se originadas defatos posteriores à tradição. De igual forma, atribuir responsabilidade indenizatória ao vendedor por ilícito civil praticado pelo comprador na condução do veículo. Neste sentido decisão do Tribunal deJustiça de São Paulo, proferida na apelação cível n. 289.207,j. 31-382, relator o Desembargador Roque Komatsu, cujo voto restou parcialmente transcrito no acórdão impugnado.Em sede doutrinária, esclarecedor o magistério do saudoso Mestre Wilson Melo da Silva, in "Da Responsabilidade Civil Automobilística", Saraiva, 3ª ed., 1980, n. 146, p. 450/451:"Na sistemática, portanto, da vigente legislação nacional, onde o princípio maior, informativo da responsabilidade civil, é o da culpa subjetiva e não ainda o do risco que,apenas em casos excepcionais, tem tido acolhida, não se podeadmitir a presunção, com a intensidade que alguns lhe atribuem, de que, responsável pelo acidente automobilístico, nocível, seja a pessoa cujo nome apareça como sendo o doproprietário do veículo, causador do acidente, nos registrosdas repartições do trânsito.Responsabilizar-se alguém pelos danos ocasionados porintermédio de um veículo pelo só fato de se encontrar o mesmo registrado em seu nome nos assentos da Inspetoria doTrânsito, seria, por vezes, simplista ou, talvez, cômodo. Nãojusto, em tese.Culpa pressupõe, salvo as exceções legais mencionadas, fato próprio, vontade livre de querer, discernimento. Nãoseria a circunstância de um só registro, não traduzido de umaverdade em dado instante, em uma repartição pública, queiria fixar a responsabilidade por um fato alheio à vontade e àciência do ex-dono do veículo, apenas porque a pessoa que,dele, o adquiriu, não se deu pressa em fazer alterar, na repar- (p. 228)tição do trânsito, o nome do antigo proprietário, para o seupróprio.Acordou-se no Supremo Tribunal Federal (Diário daJustiça, de 18-6-1964), não se poder atribuir, ao vendedor,"a responsabilidade pelo acidente havido com o veículo vendido, apenas porque o comprador deixou de transcrever noregistro próprio, o documento por meio do qual se fez a operação de compra e venda", com a advertência de que "aovendedor não cabia a obrigação de fazer o comprador registrar o documento".Curioso em tudo isso é que, para a configuração dojusproprietatis quanto a um veículo, parece ser do entendimento de alguns que tal fato só ocorresse com o registro do títulode aquisição do domínio do mesmo no Cartório de Títulos eDocumentos.

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Há, aí, evidente e lastimável equívoco.A transcrição de um título de aquisição só vale comoconditio sine qua non da transferência da propriedade, entrenós, quando se trate da propriedade imobiliária.O veículo não é um bem imóvel. A transferência de seudomínio, pois, teria como pressuposto apenas o contrato válido, concertado entre vendedor e comprador, seguido da simples entrega da coisa do antigo ao novo dono.O registro que se faça no Cartório de Títulos e Documentos do instrumento da avença na espécie teria finalidadeoutra, qual apenas a de fazer valer erga omnes a verdade daalienação que o instrumento materializaria, facilitando a prova da propriedade na hipótese, por exemplo, de alguma penhora judicial ou de dúvidas quanto ao veículo subtraído aseu legítimo dono etc. Nunca, porém, como elementoconstitutivo, substancial, ontológico, de cristalização do jusproprietatis do adquirente, direito esse quejá se efetivara pelosó fato da avença, pura e simples, seguida da tradição da coisa".Retornando à jurisprudência, proclamou o eg. Tribunal de Alçada de Minas Gerais, em acórdão (apelação cível 16.246) relatadopor Humberto Theodoro Júnior (DJMG de 13-6-80)."Efetivada a alienação do veículo, a atual posse do mesmo pelo adquirente em nome próprio exclui a propriedade do (p. 229)réu e lhe retira todo e qualquer liame obrigacional em tornodos danos oriundos da utilização do automóvel pelo novo proprietário, uma vez que, efetivamente, a tradição da coisa móvel há de definir a responsabilidade civil dos atos ilícitos".Argüiu-se nos autos suspeita no sentido de que a transferênciateria sido fraudulenta, na medida em que realizada poucos dias antesdo acidente (autorização de transferência datada de 6-8-90, tendo oevento ocorrido no dia 27 daquele mesmo mês e ano). Procuraramdemonstrar os autores que Luiz do Carmo era motorista de CustódioLuiz de Miranda e que este, ao tomar conhecimento do ocorrido,tratou de providenciar a transferência da propriedade do veículo envolvido ao preposto, fazendo constar do documento respectivo dataretroativa.Segundo o acórdão recorrido, todavia, não há nos autos elementos suficientes que autorizem conclusão nesse sentido.Com efeito, da decisão impugnada consta:"No caso em tela, embora tenha a apelada argumentadoque o recibo de compra e venda do veículo tenha sido objetode manipulação do apelante para eximir-se da obrigação deindenizar, nada restou provado.Deveras.O simples fato das testemunhas afirmarem que o condutor do veículo, denunciado à lide, "parecia peão e nãoproprietário", e que "suas roupas estavam sujas de óleo",não tem o condão de invalidar a prova documental, considerando ainda que as fls. 181/183 dos autos, o Sr. Luiz doCarmo, o adquirente do veículo, "contestou" a ação, assumindo a condição de proprietário do veículo à data do sinistro.É de comum sabença que a ação indenizatória deve serproposta em desfavor do proprietário do veículo causadordo sinistro, à época do acidente, e não contra o antigo proprietário, que nada tem a ver com a pendenga. Seria de extrema injustiça penalizá-lo com o pagamento de uma indenização por dano causado em acidente de veículo, com o qualnão tem qualquer relação. O simples fato de o novoadquirente do automóvel não tê-lo transferido para seu nomenão altera a situação, visto que devidamente comprovada avenda e a tradição do bem. (p. 230)Ao teor do exposto, estando satisfatoriamente demonstrado que o veículo causador d

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o evento danoso não maispertencia ao apelante por ocasião do sinistro, não há comomantê-lo no pólo passivo do presente feito, em face de suailegitimidade "ad causam"".Rever tal ordem de considerações importaria em reexame damatéria de fato, o que se mostra defeso em sede de recurso especial.Em face do exposto, embora conhecendo parcialmente do recurso, nego-lhe provimento. (p. 231)

RECURSO ESPECIAL N. 39.570-SPRelator: Sr. Ministro Eduardo Ribeiro.Recorrente: Olga do Carmo Santos Babadopulus.Recorrida: Companhia Municipal de Transportes Coletivos - CMTC.Advogados: (omissis).EMENTA.Denunciação da lide requerida pelo réu - Improcedência da ação - Honorários do advogado do denunciado.Tratando-se de garantia simples ou imprópria, em que afalta da denunciação da lide não envolve perda do direito deregresso, sendo a ação julgada improcedente e prejudicada adenunciação, deverá o denunciante arcar com os honoráriosdo advogado do denunciado. Inexistência de vínculo entreeste último e o autor que, em relação a ele, não formulouqualquer pedido.ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministrosda Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso especial e lhe dar provimento.Participaram do julgamento os Srs. Ministros Waldemar Zveiter,Cláudio Santos, Costa Leite e Nilson Naves.Brasilia, 30 de novembro de 1993 (data do julgamento).Ministro Eduardo Ribeiro - Presidente e Relator.RELATÓRIO.O Sr Ministro Eduardo Ribeiro: Cuida-se de ação de indenização, decorrente de acidente de veículo, em que a ré - Companhia (p. 232)Municipal de Transportes Coletivos - CMTC - denunciou a lide àCia. de Seguros de São Paulo - COSESP.A ação foi julgada improcedente, tendo sido a autora condenada ao pagamento das custas e honorários do advogado da ré, bemcomo da litisdenunciada, arbitrados em dez por cento sobre o valorda causa, para cada uma.Mantida a sentença no julgamento da apelação, a autora interpôs recurso especial, apontando vulneração dos arts. 20 e 76 do Código de Processo Civil e dissídio de jurisprudência. Sustenta que,julgada improcedente a ação principal, não cabe à autora desta opagamento das custas e honorários advocatícios referentes à açãoincidental, devendo-se atribuir o encargo ao denunciante.Indeferido o processamento do recurso, provi o agravo, determinando a sua conversão em recurso especial.É o relatório.VOTO.O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: A recorrente ajuizou ação deindenização e a ré denunciou a lide à seguradora. A ação foi julgadaimprocedente, condenada a autora ao pagamento das custas e doshonorários dos advogados da ré e da litisdenunciada. Está a questãoem saber se haveria de arcar com esses últimos.O tema é bastante controvertido, oferecendo dificuldades, porinexistir norma expressa a respeito.Alguns autores fundam-se em que, requerida a denunciação pelo

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réu, não há pleito do autor relativamente ao litisdenunciado. Não osvinculava qualquer relação jurídica e o ingresso do último no processo deve-se a exclusiva iniciativa do denunciante. Para que se possa falar em vencido e vencedor, como o faz o artigo 20 do C.P.C., énecessário que haja demanda, de um, pretendendo prestação jurisdicional em relação ao outro. Vencedor será aquele a quem a sentençafavorecer. Não havendo isso, não se poderá invocar a norma citada.A denunciação da lide significa demanda, conexa com ajá existente,envolvendo denunciante e denunciado. O adversário do denunciantea ela é estranho. Desse modo, julgada improcedente a ação, não haverá direito de regresso e vencido será quem fez a denunciação. Nosentido do texto e citados, aliás, pela recorrente, Celso Barbi (Comentários ao C.P.C. - Forense - 1ª ed. - vol. 1- tomo II - p. 355/6) e (p. 233)Sydney Sanches (Denunciação da Lide no Direito Processual CivilBrasileiro - Rev. Trib. - 1984 - p. 235/6). Ambos os autoressalientam, entretanto, que, em casos especiais, a solução poderá nãoser a mais adequada.Calmon de Passos diverge. Colocando em relevo haver, na espécie, litisconsórcio entre denunciante e denunciado, afirma que, coma improcedência da ação, ambos são vencedores (Enciclopédia Saraiva do Direito - Verbete "Denunciação da Lide").Parece-me que as opiniões em primeiro lugar citadas se atêm àmelhor técnica. A circunstância de o artigo 75 do C.P.C. consignarque denunciante e denunciado serão litisconsortes não modifica oessencial. O autor não formulou pedido algum quanto ao denunciado. Não é sem alguma dificuldade mesmo que se pode aceitar a existência, no caso, de litisconsórcio. O denunciado é réu em ação movimentada pelo denunciante. Tem interesse na improcedência da açãoprincipal porque aquela em que é demandado funda-se no direito deregresso que só existirá se procedente a ação a que conexa. Denunciante e denunciado, porém, são adversários.O rigor da técnica, entretanto, pode não oferecer a solução maisadequada. Parece-me que melhor a acolhida por Athos Carneiro, deacordo com Aroldo Plinio Gonçalves (Intervenção de Terceiros Saraiva - 5ª ed. - p. 96/97). Distingue-se a chamada garantia formal ou própria, que envolve transmissão de direitos, daquela outra,qualificada como simples ou imprópria, em que o direito de regressodecorre de uma relação entre denunciante e denunciado.No primeiro caso, segundo o entendimento hoje mais aceito, senão se fizer a denunciação da lide perde-se o direito de regresso. É oque ocorre no caso do art. 70, I, do CPC. Assim sendo, é inexigívelque faça o interessado uma exata avaliação dos riscos da demanda,de maneira a diligenciar a denunciação apenas quando se convencerde que realmente será vencido na ação. Não se pode pretender que sesujeite aos riscos inerentes a toda ação judicial, assumindo os quepossam decorrer de uma derrota inesperada.O mesmo não sucede com a garantia simples, em que não envolvida a possibilidade de perda do direito de regresso. A denunciação,em tal caso, apenas priva o que a deixou de fazer da obtenção, desdelogo, da coisa julgada e do título executivo. Nada impede, entretanto, que aguarde o julgamento da ação e, sendo vencido, exerça direito de regresso. Preferindo cumular a demanda regressiva, não poderá (p. 234)impor a seu adversário inicial o ônus de arcar também com os honorários de um terceiro, com quem não tem vínculo algum.A hipótese em exame é essa última. A imposição do encargo dopagamento de honorários importou fazer incidir o artigo 20 do C.P.C.em situação por ele não abrangida, contrariando-o, em conseqüência.Conheço do recurso e dou-lhe provimento para isentar a recorrente do pagamento dos honorários do denunciado, impondo-o àrecorrida. (p. 235)

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RECURSO ESPECIAL N. 44.925-GORelator: Ministro Sálvio de Figueiredo.Recorrente: Quirino Antônio Teixeira Filho e outros.Recorridos: João Borges de Assis e outrosLuzia Rezende Teixeira e outros.Advogados: (omissis).EMENTA.Ação proposta por netos visando ao reconhecimento dainvalidade de venda realizada pelo avô (falecido) a tio, pormeio de interposta pessoa. Improcedência. Trânsito em julgado.Novas ações promovidas por outros descendentes doautor da herança, buscando, da mesma forma e com baseem idêntica "causa petendi", o retorno do bem ao acervohereditário. Extensão subjetiva da "res iudicata" estabelecida na primitiva causa. Substituição processual. Legitimaçãoconcorrente. Arts. 62 e 472, CPC.Arts. 1.132 e 1.580, parágrafo único, CC. Recursodesacolhido.I - Os descendentes co-herdeiros que, com base nodisposto no parágrafo único do art. 1.580, CC, demandamem prol da herança, como na ação em que postulam o reconhecimento da invalidade de venda realizada pelo seu autorcom afronta ao art. 1.132, CC, agem como mandatários tácitos dos demais co-herdeiros aos quais aproveita o eventualreingresso do bem na universitas rerum, em defesa tambémdos direitos destes.II - Atuam, destarte, na qualidade de substitutos processuais dos co-herdeiros prejudicados que, embora legiti- (p. 236)mados, não integrem a relação processual como litisconsortesou assistentes litisconsorciais, impondo-se a estes, substituídos, sujeição à autoritas rei iudicatae.ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministrosda Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, nãoconhecer do recurso. Votaram com o Relator os Ministros Ruy Rosado, Antônio Torreão Braz e Fontes de Alencar. Ausente,justificadamente, o Ministro Barros Monteiro.Brasilia, 21 de junho de 1994 (data do julgamento).Ministro Fontes de Alencar - Presidente.Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira - Relator.EXPOSIÇÃO.Ministro Sálvio de Figueiredo:Cuida-se de duas ações conexas: a primeira, proposta por QuirinoAntônio Teixeira Filho e s/m, intitulada de "ação de mandato,cumulada com anulação de nulidade de mandato e atos jurídicos decorrentes de seu exercício, nulidade de escritura pública de compra evenda e atos subseqüentes, cumulada com indenização e reivindicação de bem imóvel"; a segunda, ajuizada por Henedina TeixeiraBorges, Angélica Teixeira Diniz e respectivos consortes, rotulada de"anulação de transcrição de escritura de compra e venda e de doaçãodo imóvel Salto ou Salto Bebedouro". Ambas ajuizadas contra WanderRabelo, João Borges de Assis, Eliezer Antônio Teixeira, Ana MariaRezende Teixeira e outros.Segundo versão sustentada na inicial da primeira das referidas causas, Eliezer Antônio Teixeira, tio de Quirino e irmão de Henedina eAngélica, prevalecendo-se da estreita convivência com seu pai, AntônioBernardes Teixeira, debilitado ancião de 92 anos de idade, teria urdido,em 1961, plano para adquirir, com burla ao disposto no art. 1.132, CC, afazenda denominada Salto Bebedouro, de propriedade paterna.

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Para tanto, teria se valido de interpostas pessoas - WanderRabelo (na posição de procurador do pai) e João Borges de Assis (nafunção de "presta nome" ou "homem de palha") - tendo este último (p. 237)figurado como proprietário da referida fazenda de 1961 a 1968, quando então, já falecido Antônio Bernardes - óbito ocorrido em 1964- Eliezer, levando a registro escritura celebrada com o referido JoãoBorges de Assis, obteve a propriedade exclusiva do imóvel, doando-o,em 1971, à sua filha Ana Maria Rezende Teixeira.Na peça vestibular da segunda demanda, deu-se destaque aoestado de debilidade mental de que estaria acometido AntônioBernardes Teixeira à época em que outorgou procuração a WanderRabelo, conferindo-lhe poderes para alienar a fazenda sem contudoerigir-se como causa petendi a ausência de consentimento dos outros descendentes.Os réus, em contestação, suscitaram, dentre outras preliminares, a de coisa julgada, isso porque dois outros netos do finado Antônio Bernardes Teixeira, irmãos de Quirino e sobrinhos de Henedinae Angélica, já haviam proposto ação de nulidade de venda de ascendente a descendente, idêntica em essência às de que se cuida,notadamente à primeira delas, havendo a pretensão então formuladasido julgada improcedente em primeiro e segundo graus, transitadaem julgado a decisão em 1973.O Juiz, ao sanear o feito, rejeitou a aludida prefacial, considerando "inexistente identidade das partes", em razão do que foraminterpostos agravos retidos.Ao sentenciar, deu o magistrado pela improcedência do pedidodeduzido na segunda ação (proposta por Henedina, Angélica e respectivos maridos), por entender não evidenciada a incapacidade civil dopai das mesmas e, por conseqüência, válido, sob esse prisma, "o mandato por ele outorgado a Wander Rabelo para a venda do imóvel litigioso", bem como "válidos os atos subseqüentes, ou seja, a segunda alienação, por venda, a Eliezer Antônio Teixeira e, finalmente, a doaçãofeita por este a sua filha Ana Maria R. Teixeira". Divisou, entretanto,satisfatoriamente provada a venda de ascendente a descendente, porinterposta pessoa, com infringência "ao dispositivo legal que proíbe talnegócio sem o consentimento expresso dos demais descendentes (art.1.132, CC)", em razão do que, acolhendo parcialmente o pedido formulado, na primeira das duas demandas, por Quirino e s/m, declarounulas as escrituras de compra e venda e de doação objeto das ações,determinando o cancelamento dos registros respectivos e o retorno doimóvel ao acervo do espólio de Antônio Bernardes Teixeira para ser oportunamente partilhado, condenando ainda "os réus relacionados no item 04da inicial (autos n. 710/81) ... ao pagamento de indenização". (p. 238)Interpostas apelações por vários dos réus, reiterados os agravosretidos, o Tribunal de Justiça de Goiás deu-lhes provimento para, acolhendo a preliminar de coisa julgada, "julgar os autores carecedores deambas as ações". A ementa do acórdão restou assim redigida:"Coisa julgada. Identidade de pessoas para fins de configuração que respeita não aos indivíduos porém ao fato e àrelação jurídica resolvida. Efeitos que podem ser opostos aterceiro não participante do processo para o qual idênticaessa mesma relação.A identidade de pessoas, para fins de configuração dacoisa julgada, não está na identidade de indivíduos, porémno fato e na relação jurídica resolvida, de tal modo que ojulgamento liga todas as pessoas para quem idêntica essamesma relação".Rejeitados os declaratórios, os autores manifestaram recursosextraordinário e especial, alegando neste último ofensa aos arts. 301,§ 2º e 472, CPC, 623, II e 1.580, parágrafo único, CC, além de divergência interpretativa com julgado do Supremo Tribunal Federal. Sustentam:

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a) que, embora sendo tias e irmão dos autores da primitiva ação,não figuraram como sucessores processuais destes, não lhes sendo possível atribuir, via de conseqüência, a condição de "titulares de relaçãosubordinada à relação jurídica decidida com trânsito em julgado";b) que eles, recorrentes, não integraram de qualquer modo aquelaanterior relação litigiosa, relação em face da qual são terceiros juridicamente interessados, na qualidade de co-herdeiros;c) que, nessa qualidade, não podem "sofrer prejuízo, prejuízojurídico, o que ocorreria se imutável a decisão anterior";d) que os seus irmãos e sobrinhos, autores daquela primeiraação, não agiram em nome de todos os herdeiros ou como substitutosprocessuais;e) que cada herdeiro pode "acionar terceiro, estranho à herança,pela totalidade, na sua qualidade de condômino - conseqüência doprincípio da indivisibilidade dos direitos hereditários, ... sem qualquer reflexo na esfera dos direitos de terceiros, assim entendidos aqueles que possam sofrer um prejuízo jurídico, tenham um interesse jurídico" em conflito com a decisão proferida na causa. (p. 239)Contra-arrazoados os apelos, apenas o especial restou admitidona origem.É o relatório.VOTO.O Sr Ministro Sálvio de Figueiredo (Relator):As bem lançadas razões dos recorrentes não podem prevalecerem função de uma única particularidade: a qualidade processual dosautores da primeira ação.Com efeito, os netos do de cujus, irmãos de Quirino e sobrinhosde Henedina e Angélica, ingressaram em juízo em defesa não só dedireito próprio, mas também dos ora recorrentes e demais co-herdeiros em idêntica situação, buscando obter o reconhecimento dainvalidade da venda efetuada pelo seu avô e, com isso, possibilitar,em última análise, o retorno do bem indevidamente alienado ao acervo do espólio para sujeição à partilha, em benefício, portanto, dossucessores causa mortis com direito a fração do referido imóvel econjuntamente legitimados a postular a anulação.É de salientar-se que o descendente destinatário da venda, nocaso Eliezer, foi demandado não como co-herdeiro, para o juízo doinventário, mas como injusto titular e possuidor de coisa da herança,ao qual se imputou a prática de ato ilegal lesivo ao direito comumsobre a universalidade dos bens que a compõem.Disso decorre ser de todo pertinente, nas hipóteses em que um oualguns dos co-herdeiros reclamem judicialmente o reconhecimento dainvalidade de venda realizada com inobservância do comando do art.1.132, invocar-se o disposto no parágrafo único do art. 1.580, CC,extraindo de sua disciplina o raciocínio e os efeitos de ordem processual que interessam ao deslinde da questão sobre que se controverte.Neste sentido, o magistério de Adahyl Lourenço Dias:"Embora divisível o objeto do litígio, indivisíveis sãoos efeitos da rescisão da escritura de compra e venda entrepai e filho, de sorte que o ato inquinado não pode subsistirparcialmente. Reconhecido por ação proposta por um ou maisdescendentes prejudicados, que o contrato fere a preceito delei, o mesmo vício de que se acusa, tanto há quando denunciado por um, como pelos outros. Pouco importa se apenas um ou (p. 240)alguns peçam a nulidade. Anulado o ato, a sua queda é total;certo é que a nulidade não o caruncha parcialmente, mas nasua essência e totalidade.Desde que a venda é anulada, a coisa volta, intacta, aopatrimônio do de cujus e esse retorno é feito em forma dereposição da coisa ao estado anterior. "É um todo hereditário

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que vem acrescer ao monte para ser depois partilhado entre osherdeiros" - afirma Brenno Fischer. Enquanto ele é pleiteado constitui ainda uma herança a ser dividida e, portanto, cominteira aplicação do preceito do art. 1.580 do Código Civil,que prescreve: "Sendo chamadas simultaneamente a uma herança, duas ou mais pessoas, será indivisível o seu direito,quanto à posse e ao domínio, até se ultimar a partilha. Parágrafo único. Qualquer dos co-herdeiros pode reclamar a universalidade da herança ao tetceiro que, indevidamente, a possua, não podendo este opor-lhe, em exceção, o caráter parcialdo seu direito nos bens da sucessão"" ("Venda a Descendente", Forense, 3ª ed., 1985, n. 140, p. 360/361).Aliás, os próprios recorrentes reconhecem aplicável o princípioda indivisibilidade dos direitos hereditários às ações de que se cuida,ajuizadas para anular venda realizada pelo autor da herança, bemcomo a posição do descendente beneficiário da alienação frente aointeresse hereditário comum dos demais. Tal o que resulta dos seguintes excertos das razões recursais:"O direito na hipótese pode ser exercido por cadacondômino (há uma ação reivindicatória cumulada) por qualquer dos co-herdeiros - a lei é cristalina! Esta a conseqüência da indivisibilidade do direito de que trata o art. 1.580...".E adiante:"... podendo cada herdeiro acionar o terceiro, estranho à herança, pela totalidade, "na sua qualidade de condômino" conseqüência do princípio da indivisibilidade dos direitoshereditários...Com efeito, o que se pretendeu com as ações, tanto a primitivacomo as de que cuidam estes autos, foi, como fim último, a reivindicação de coisa que se alega da herança.E a herança ou determinada coisa que a integre, até que se proceda à respectiva partilha, é havida em regime de condomínio pelosque a ela têm direito. Daí advém a legitimidade para que qualquer dos (p. 241)co-herdeiros a reclame em sua integralidade, a teor, inclusive, do quepreceitua o art. 623, II, CC.Carvalho Santos, com apoio em Hermenegildo de Barros,escoliando o referido art. 1.580, CC, assim se posiciona acerca daqualidade jurídica do co-herdeiro que diligencia para haver a herança ou coisa que repute dela fazer parte:"Compreende-se a razão pela qual dispõe o Código nãopoder o terceiro alegar, em defesa, o caráter parcial do direito do co-herdeiro nos bens da sucessão: é precisamente porque o co-herdeiro não procura haver a coisa da herança, ou aprópria herança, para si, mas para a comunhão, de cujosconsortes é ele um mandatário tácito, que defende a mesmaherança no interesse de todos (Cfr. Hermenegildo de Barros,obr. cit., n. 81).O mandato, acrescenta Hermenegildo de Barros, cessadepois da partilha, e é por isso que o co-herdeiro só intervém legitimamente, para haver a totalidade da herança, enquanto a partilha se não fizer. Depois da partilha, ele só poderá reivindicar a parte que lhe tiver sido dada em quinhão(Obr. e loc. cits.)" ("Código Civil Brasileiro Interpretado",vol. XXII, Freitas Bastos, 8ª ed., 1960, art. 1.580, n. 3, p.79).A situação do co-herdeiro, portanto, em tudo se identifica à docondômino que reivindica em juízo a totalidade da compropriedade,ao qual a própria lei confere a presunção de agir como "mandatáriocomum" (art. 640, CC). Postula direito próprio e dos outroscondôminos. Age, assim, em relação a estes, com legitimatio ad causam extraordinária, como substituto processual.Celso Agrícola Barbi qualifica a hipótese como de legitimação

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concorrente, tecendo as seguintes considerações a propósito:"Legitimação concorrente - Algumas vezes, o direitopertence a várias pessoas, mas a lei não exige a reunião detodas para reclamá-lo e permite que qualquer dessas pessoasinicie a demanda. Temos como exemplos o credor solidário,que pode exigir a totalidade da dívida, segundo o art. 898 doC. Civil; o condômino, que pode reivindicar todo o bem objeto do condomínio, nos termos do art. 623, item I, do C.Civil. Lopes da Costa dá a esses casos o nome de mistos,porque neles se reuniriam a legitimação normal, na parte em (p. 242)que o direito reclamado pertence ao autor, e anômala, naparte em que o direito reclamado pertence aos demais credores, ou condôminos" ("Comentários ao Código de Processo Civil", vol. 1, Forense, 7ª ed., 1992, n. 85, p. 66).Especificamente sobre a hipótese do art. 1.580, CC, doutrinaEphraim de Campos:"Na ação proposta por um dos co-herdeiros para reclamar a universalidade da herança ao terceiro queindevidamente a possui (CC, art. 1.580, parágrafo único), oautor da ação estará substituindo os demais co-herdeirosausentes à ação" ("Substituição Processual", RT, 1985, n.6.13, p. 48).Sendo certo, destarte, que os ora recorrentes figuraram comosubstituídos na anterior ação, dúvida não há de que foram alcançados pela autoridade da coisa julgada que lá se estabeleceu. Esse omagistério de José Carlos Barbosa Moreira:"No art. 472, 1ª parte, reza o Código que "a sentença fazcoisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros". Consagra-se aí princípio tradicional em matéria de limites subjetivos da res iudicata, que,porém, longe de ser absoluto, comporta mais de uma exceção.É fora de dúvida que os sucessores das partes na relação jurídica litigiosa de direito material ficam vinculados à autoridade da coisa julgada. Vinculado fica também o titular dessarelação, nos casos em que a lei confere a outrem legitimaçãoextraordinária para discuti-la em juízo, na posição de substituto processual (art. 6º)" ("Comentários ao Código de Processo Civil", vol. V, Forense, 6ª ed., 1993, n. 99, p. 152/153).No mesmo sentido, pontifica Arruda Alvim:"Releva observar, ainda, que o substituto processual, litigando em nome próprio, mas sobre direito de outrem, temum interesse na vitória do direito do substituído.A conseqüência de grande importância no problema dasubstituição processual é a de que a sentença que venha a serproferida na lide, em que o substituto é parte, atinge, totalmente, o substituído. Assim, depois da coisa julgada, na lideem que foi parte o substituto, não poderá o substituído, deforma alguma, pleitear em nome próprio direito já objeto dadecisão" ("Código de Processo Civil Comentado", vol. I, RT,1975, art. 6º, n. 4.3, p. 441). (p. 243)Outro não é o entendimento de Wellington Moreira Pimentel:"Aquelas regras deixam a calvo que a coisa julgada somente opera entre as partes.Pode ocorrer, entretanto, que a coisa julgada tambémseja oponível a quem não foi parte no processo em que aquelase verificou. Mas tal será exceção.A primeira hipótese, é a extensão da objeção da coisajulgada aos sucessores das partes, o que se explica pelospróprios efeitos da sucessão. A segunda ocorrerá nos casosde legitimação extraordinária, como se dá na substituiçãoprocessual, em que a coisa julgada será oponível ao substituído, mas isso, por definição,

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e por natureza, é uma exceção que deflui da excepcionalidade da legitimação para acausa" ("Comentários ao Código de Processo Civil", vol.III, RT, 1975, art. 472, p. 580).De concluir-se, pois, que o co-herdeiro que demanda em prol daherança, como na ação em que postula o reconhecimento da invalidadede venda realizada pelo seu autor com afronta ao art. 1.132, CC, agecomo mandatário tácito dos demais co-herdeiros prejudicados, em defesa também dos direitos desses, na qualidade, em relação aos mesmos, de substituto processual, disso decorrendo a sujeição dos substituídos à auctoritas rei iudicatae da decisão que venha a ser proferida.E essa, até do ponto de vista lógico, se apresenta como a solução mais acertada.Não fosse dessa forma, teríamos a seguinte situação: havendovários descendentes de pessoa falecida, um após o outro poderiampropor ações reclamando, sempre sob o mesmo fundamento, determinada coisa da herança. Sucumbentes num primeiro, segundo outerceiro litígio, poderiam, em virtude de fatores os mais diversos,obter êxito num quarto, quinto ou sexto. Nessa hipótese, aos sucessivos demandantes o demandado não poderia opor exceção de resiudicata, invocando em sua defesa a imutabilidade das decisões deimprocedência proferidas, com trânsito em julgado, nos anterioresfeitos. Já o demandado, se vencido em qualquer das ações contra sipropostas, outra alternativa não restaria senão conformar-se, de forma definitiva, com o desfecho que lhe haja sido desfavorável.Ademais, a procedência, reconhecida em ação proposta apósinúmeras decisões de improcedência lançadas em causas anteriores, teria (p. 244)o condão de beneficiar os sucumbentes dessas. Isso porque, concedida a providência requerida, redundando em acréscimo do "montemor", mesmo os co-herdeiros que tivessem postulado sem êxito idêntica providência em pleitos anteriores participariam da partilha doacréscimo a final obtido. Essa coisa julgada por último constituídafaria, portanto, tabula rasa das precedentes coisas julgadas, favorecendo terceiros sucumbentes em ações idênticas, quanto a causapetendi, ao objeto e ao pedido, à ação em que operada a derradeirares iudicata, em completo desapego à sistemática processual,notadamente ao disposto no art. 472, CPC.Mais razoável, portanto, que os co-herdeiros, cada qual comlegitimidade para reclamar per se a universitas rerum, não sejamconsiderados terceiros uns em relação aos outros quando agem emdefesa do interesse comum. Se somente um ou alguns ingressarememjuízo com esse intuito, os demaii, que não ocuparem a posição delitisconsortes ou assistentes litisconsorciais, serão considerados, comosubstituídos, sujeitos à coisa julgada que se estabelecer.Não diviso, pelo exposto, violados os artigos do Código Civil e doCódigo de Processo Civil cuja inftingência restou argüida no especial.Tampouco considero demonstrada a divergência jurisprudencialacenada pelos recorrentes, sendo certo que o julgado paradigma cuidou de definir se a coisa julgada operada em ação na qual sóciosfiguraram como parte alcançaria a sociedade. Caso, portanto, quenão guarda similitude com o vertente.Em face do exposto, não conheço do recurso. (p. 245)

RECURSO ESPECIAL N. 43.367-SPRelator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.Recorrente: Condomínio do Edifício Vista Verde.Recorridos: Renato Phillip e cônjuge.Advogados: (omissis).EMENTA.Denunciação da lide. Direito de regresso. Fundamentojurídico novo. Inadmissibilidade. Obrigatoriedade.Inocorrencia. Precedentes. Recurso não conhecido.

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I - Em relação à exegese do art. 70, III, CPC, melhorse recomenda a corrente que não permite a denunciação noscasos de alegado direito de regresso cujo reconhecimentodemandaria análise de fundamento novo não constante dalide originária.II - A denunciação da lide, como modalidade de intervenção de terceiros, busca atender aos princípios da economia e da presteza na entrega da prestação jurisdicional, nãodevendo ser prestigiada quando susceptível de pôr em riscotais princípios.III - Segundo entendimento doutrinário predominante,somente nos casos de evicção e transmissão de direitos (garantia própria) é que a denunciação da lide se faz obrigatória.ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministrosda Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, nãoconhecer do recurso. Votaram com o Relator os Ministros Barros (p. 246)Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Fontes deAlencar.Brasília, 13 de maio de 1996 (data do julgamento).Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira - Presidente e Relator.EXPOSIÇÃO.O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira:Moveram os recorridos ação de indenização contra o condomínio recorrente e a construtora encarregada da construção do edifícioVistaverde. Alegaram que, por culpa destes, sua filha de tenra idadese acidentou em uma festa promovida no salão de festas do condomínio, caindo da clarabóia lá existente, o que lhe causou diversas fraturas. Atribuiu a culpa à construtora pela má edificação do prédio e aocondomínio por ter este liberado o salão para uma festa de crianças,sem adotar as cautelas necessárias para evitar a aproximação dasmesmas do domo, que ruiu.A demanda foi originariamente também endereçada contra oorganizador da festa, tendo em relação ao mesmo desistido posteriormente os autores.Na contestação o condomínio-réu requereu denunciação da lideao organizador da festa, o que foi indeferido pelo juiz sob o argumento de ser inadmissível a introdução de fato jurídico novo nadenunciação.Insatisfeito, o condomínio-réu agravou de tal decisão, que, entretanto, foi "mantida" pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.Ainda irresignado, o agravante interpôs recurso especial, alegando, além de dissídio, violação do art. 70, III CPC - sustentandoque não houve introdução de fato jurídico novo e que os pressupostos para a denunciação estariam presentes -, e 128 e 460 CPC, porter o acórdão proferido decisão diferente do pedido recursal, revelando prejulgamento, ao afirmar que com a desistência da ação feitaao condômino que organizou a festa não lhe caberia responder regressivamente aos réus.Contra-arrazoado, foi o apelo admitido na origem.É o relatório. (p. 247)VOTO.O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator):1. Inconsistente a alegada nulidade do acórdão por ter julgadofora do pedido recursal.Nada decidiu o acórdão a respeito da negativa de possível exercício do direito de regresso do condomínio-recorrente contra oorganizador da festa; tão-só sustentou que, em face da desistência daação, neste processo, ele, como pretenso denunciado, não poderiaser condenado a responder por quaisquer danos.Além do mais, a referida assertiva se consubstanciou em simples motivação da decisão, que, desta forma, não faz coisa julgada,

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nos termos do art. 469, I do Código de Processo Civil.2. No que concerne à denunciação da lide, correta a posição doColegiado estadual.Desistindo os autores da ação quanto ao organizador da festa emque se acidentou sua filha, prosseguiu o processo, tendo como partespassivas o condomínio do edifício e a construtora do mesmo, apontando os autores a culpa destes pelo acidente: a da construtora, pela máedificação do prédio; a do condomínio, por ter este liberado o salãopara uma festa de crianças, sem adotar as cautelas necessárias paraevitar a aproximação das mesmas à clarabóia existente perto do salão.Por outro lado, a denunciação da lide feita pelo condomíniorecorrente, ancorada no art. 70, III CPC, teve por fundamento a suposta culpa do condômino-organizador da festa, que teria o condãode eximir o condomínio da responsabilidade civil.Perfeitamente perceptível, portanto, que o direito de regresso,de que se diz titular o recorrente, não dimana direta e incondicionalmente da lei (nem se cogita de direito decorrente de contrato). Seriaele fundado no art. 159 do Código Civil, que traz de forma ampla ofundamento da responsabilidade civil. Assim sendo, a constataçãode eventual existência de responsabilidade do organizador da festapara com o recorrente demandaria análise de aspectos outros quedesdobram do mero exame das normas legais.Verificado, destarte, que o direito de regresso não deriva de modoincontroverso, ou pelo menos sem necessidade de maiores indagações, da lei, sendo preciso recorrer a outros elementos para evidenciálo, cabível e apropriado falar-se em fundamento novo ou distinto. (p. 248)Erigido como suporte da pretensão regressiva deduzida pelo réuum fundamento desse jaez, que só interessa a ele e ao denunciado, ecuja comprovação implica delonga à satisfação do direito da parteautora da lide principal, correta a decisão hostilizada no sentido deser inadmissível a instauração da relação processual denunciativa.Isso, aliás, o que restou decidido quando do julgamento do REsp28.937-SP (DJ 21.2.94), desta Turma, de que fui relator, assimementado:"I - Inexistindo estipulação contratual carreando aterceiros obrigação de garantir ao réu o resultado da demanda, inadmissível a este, alegando eventual direito de regresso contra aqueles, dependente, contudo, de efetiva demonstração de culpa, pretender denunciá-los da lide, máxime quando referida demonstração esteja a demandar instruçãoprobatória mais ampla e complexa do que a necessária parao julgamento da causa principal.II - Em relação à exegese do art. 70, III, CPC, melhorse recomenda a corrente que não permite a denunciação nossimples casos de alegado direito de regresso cujo reconhecimento requeira análise de fundamento novo não constanteda lide originária.III - A denunciação da lide, como modalidade de intervenção de terceiros, busca atender os princípios da economia e da presteza na entrega da prestação jurisdicional,não devendo ser prestigiada quando susceptível de pôr emrisco tais princípios".Neste sentido, a lição de Greco Filho:"Parece-nos que a solução se encontra em admitir, apenas, a denunciação da lide nos casos de ação de garantia,não admitindo para os casos de simples ação de regresso, i.e., a figura só será admissível quando, por força da lei ou docontrato, o denunciado for obrigado a garantir o resultadoda demanda, ou seja, a perda da primeira ação, automaticamente, gera a responsabilidade do garante. Em outras palavras, não é permitida, na denunciação, a intromissão de fundamento jurídico novo, ausente na demanda originária, quenão seja responsabilidade direta decorrente da lei e do contrato" (Direito Process

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ual Civil Brasileiro, 5ª ed., Saraiva,1988, v. I, n. 22.5, p. 143). (p. 249)Por fim, cumpre assinalar que, nas hipóteses de responsabilidade civil stricto sensu, contempladas notadamente no inciso III do art.70, CPC, não se mostra obrigatória a denunciação da lide para assegurar o exercício da pretensão de regresso, providência que a rigorsó se imporia nos casos de evicção e transmissão de direitos, porimperativo de regra de direito material - art. 1.116, CC (a propósito, Athos Gusmão Carneiro, Intervenção de Terceiros, Saraiva, 1994,6ª ed., cap. XVI, n. 16.1.2, p. 71/72; Sydney Sanches, Denunciaçãoda Lide no CPC Brasileiro, RT, 1984, cap. 4, n. 8 e 9 e Max GuerraKopper, Da denunciação da lide, Del Rey, 1996, Cap. V).3. No tocante ao dissídio, não restou ele configurado, tendo emvista que ajurisprudência deste Tribunal já está sedimentada no mesmo sentido da decisão recorrida (enunciado n. 83 da súmula/STJ),ou seja, inadmitindo a introdução de fundamento jurídico novo nadenunciação da lide.4. Em face do exposto, não conheço do recurso. (p. 250)

RECURSO ESPECIAL N. 58.080-3/ESRelator: O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro.Recorrente: Telecomunicações do Espírito Santo S/A - Telest.Recorridos: Plastical Plástico Capixaba Ltda. Waldyr Schwab.Advogados: (omissis).EMENTA.Denunciação da lide.Não será admissível quando o reconhecimento daresponsabilidade do denunciado suponha seja negada aque é atribuída ao denunciante. Em tal caso, se acolhidas as alegações do denunciante, a ação haverá de serjulgada improcedente e não haverá lugar para regresso.Desacolhidas, estará afastada a responsabilidade dodenunciado.ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso especial.Participaram do julgamento os Srs. Ministros Waldemar Zveiter,Costa Leite e Nilson Naves.Brasília, 19 de março de 1996 (data do julgamento)Ministro Waldemar Zveiter - Presidente.Ministro Eduardo Ribeiro - Relator. (p. 251)RELATÓRIO.O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Telecomunicações do EspíritoSanto S/A - Telest - interpôs recurso especial, visando a reformardecisão proferida na indenizatória ajuizada por Waldyr Schwab, emque figura como litisdenunciada, havendo, por seu turno, denunciado a lide a Plastical Plásticos Capixaba Ltda.O acórdão impugnado está assim resumido:"Ementa - Apelação cível - Acidente de veículos A gravo retido - Denunciação à lide - Ausênciae garantia obrigatória - Caso de simples direito de regresso Inadmissibilidade.1. A denunciação à lide, na hipótese do inciso III, doart. 70, do Código de Processo Civil, só é admitida quando odenunciado está obrigado, por força de lei ou de contrato, agarantir os prejuízos do denunciante, no caso de ser este operdedor da demanda.2. Em se tratando de simples direito de regresso, emque a garantia não é automática, pois depende do exame deoutros fatos, como no caso de acidente de veículos envolvendo terceiros, em que há ainda a necessidade de apurar se

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o terceiro concorreu culposamente para o evento, inadmissível é a denunciação à lide.3. Agravo retido a que se dá provimento para anular oprocesso a partir da decisão que admitiu a intervenção deterceiros". (fls. 214).A recorrente sustentou que desatendido o disposto nos arts. 70,III, 73 e 75, I do CPC. Argumentou que o acórdão recorrido ter-se-iaequivocado ao inadmitir a denunciação da lide, não atentando paraos princípios da celeridade e economia processual, frustrado, ainda,o contraditório.É o relatório.VOTO.O Sr. Ministro Eduardo Ribeiro: Filiou-se o acórdão recorridoao entendimento restritivo quanto à interpretação do art. 70, III doCódigo de Processo Civil. A denunciação da lide não seria admissível (p. 252)quando envolvesse a inclusão de elemento novo, ausente da lide principal.Não se ignora que sobre a questão existe sério dissídio doutrinário, longe de pacificar-se a controvérsia. A jurisprudência tambémnão se tranqüilizou, embora se possa detectar certa predominânciada corrente a que aderiu o acórdão recorrido. Neste Tribunal, a egrégia Quarta Turma assim vem decidindo, podendo ser mencionados:REsp 49.418, rel. Sálvio de Figueiredo, DJ 08.08.94, REsp 49.969,rel. Barros Monteiro, DJ 20.11.95, REsp 65.007, rel. Ruy Rosado,DJ 27.11.95.No caso, entretanto, não é mister o exame do tema, pois adenunciação da lide era manifestamente inviável. Para que se viabilize,é necessário que do reconhecimento da responsabilidade do denunciante possa resultar direito de regresso em relação ao denunciado.Não haverá lugar para a denunciação quando a admissão da responsabilidade de um importe, necessariamente, a exclusão da do outro.Assim é que, em acidente de veículos, se o réu se defende, dizendo quede nenhum modo concorreu para o acidente, que se deveu tão-só aocomportamento de um terceiro, não se justificará a denunciação a esse.Com efeito, acolhido o que o réu afirma ter sucedido, o resultado haverá de ser a improcedência da ação e, por conseguinte, não haverá cogitar de regresso, que esse supõe a condenação do réu. Rejeitada suaversão, será condenado, mas não poderá haver regresso, pois para issoera mister fosse reconhecida a culpa do terceiro e não a dele.Existem opiniões doutrinárias em contrário a esse entendimento,valendo consultar, a propósito, Aroldo Plínio Gonçalves (DaDenunciação da Lide - Forense - 1983 - p. 248 e seguintes). Invoca-se o disposto no art. 1.520 do Código Civil. Sucede que, em determinada hipótese, a questão, no plano do direito material, deva resolver-se em vista do que ali se contém. Depende das circunstâncias concretas, não havendo como afirmar que, em caso de abalroamento, envolvendo diversos veículos, seja sempre possível ou não a denunciação.Essa é inadmissível, entretanto, quando o fundamento da denunciaçãoseja o de que o evento deveu-se tão-só ao comportamento do denunciado, negando-se a responsabilidade do denunciante. Em tal caso, já semostrou, ou se julga procedente a ação, e se reconhece que o denunciado não tem responsabilidade, ou se julga improcedente e não haverápretensão de regresso. É o que ocorre na espécie em julgamento, comose verifica do primeiro parágrafo de fl. 39.Em vista do exposto, não conheço do recurso. (p. 253)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL N. 67.684-SCRelator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira.Agravante: Banco do Estado de Santa Catarina S/A - BESC.Agravada: Decisão de fls. 361/362.Advogados: (omissis).EMENTA.Denunciação da lide. Denunciado que comparece aos autos negando a qualidade que lhe é

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atribuída (art. 75, II, CPC).Não-formação de litisconsórcio. Negativa de prazo duplicado. Inaplicabilidade do art. 191, CPC. Recurso desprovido.Não se opera a formação de litisconsórcio quando o denunciado, comparecendo aos autos, nega a qualidade quelhe é atribuída, não mais se manifestando no processo. Semformação de litisconsórcio, em tais circunstâncias, não háque se falar em prazo em dobro para recorrer, desmerecendoaplicação a regra do art. 191 do Código de Processo Civil.ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministrosda Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, negarprovimento ao agravo regimental. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha e Fontes de Alencar. Ausente, justificadamente, o Ministro Ruy Rosado de Aguiar.Brasília, 27 de junho de 1996 (data do julgamento).Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira - Presidente e Relator. (p. 254)EXPOSIÇÃO.O Sr Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira:Contra decisão que negou seguimento ao recurso especial, porser o mesmo intempestivo, manifesta agravo o recorrente.Sustenta este que o recurso não seria extemporâneo tendo emvista a existência de litisconsortes, fazendo-se duplicar o prazo, nãoimportando seja o litisconsórcio formado pela denunciação da lide.Diz também que se aplica a regra da duplicação mesmo quando odenunciado não apela da sentença.É o relatório.VOTO.O Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira (Relator):Cuida-se de ação de resolução de contrato de promessa de compra-e-venda cumulada com perdas e danos, aforada pela agravadacontra o agravante. Alegou aquela que adquiriu do último, em leilãopor ele promovido, 592 lotes em Praia Village Dunas III, no município de Sombrio-SC. Contudo, ao imitir-se na posse dos imóveis, descobriu que eles inexistiam. Pleiteou, então, o retorno ao estado anterior e o pagamento de indenização.O banco-agravante, na contestação, denunciou da lide a empresa Catarinense Urbanizadora Ltda. - Litoral Sul. Esta compareceuaos autos - fls. 117 - somente para negar a qualidade que lhe foiatribuída, invocando o art. 75, II, do Código de Processo Civil, nãomais se manifestando no processo.Comparecendo o denunciado aos autos tão-só para negar a qualidade que lhe fora atribuída pelo denunciante, cumpre a este prosseguir na defesa até o termo final do processo, implicando, destarte, anão-formação de litisconsórcio, diferentemente do que ocorre quando o denunciante aceita e contesta o pedido da denunciação, situaçãoessa que faz, ex vi legis, gerar o litisconsórcio (art. 74, CPC).Não tendo sido, portanto, formado o litisconsórcio no caso dosautos, descabe falar em prazo em dobro, não merecendo aplicação aregra insculpida no art. 191 do Código de Processo Civil.A propósito, dois já são os precedentes desta Corte neste sentido. O primeiro, no REsp 40.290-MG (DJ 28.3.94), relator o MinistroWaldemar Zveiter, e o segundo, no REsp 68.314-RS (DJ 11.12.95),relator o Ministro Eduardo Ribeiro, assim ementados: (p. 255)"Para a configuração do litisconsórcio, a merecer tal posição o denunciado da lide, mister se faz tenha este contestado o pedido na ação principal"."Denunciação da lide. Litisconsórcio. Prazo em dobro.Aplica-se a regra do artigo 191 do Código de Processo Civilse o denunciado se opõe ao pedido da ação principal (artigo75, I). Não assim, entretanto, se se limita a negar a existência do vínculo de que der

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ivaria o direito de regresso (artigo 75, II)."Em face do exposto, entendendo que não dispõe o agravante deprazo em dobro, o que faz intempestivo o seu recurso especial, negoprovimento ao agravo. (p. 256)

RECURSO ESPECIAL N. 97.590-RSRelator: O Sr. Ministro Ruy Rosado de Aguiar.Recorrente: Bradesco Seguros S/A.Recorridos: Ceuta Muller e outro.Interes.: Supermercado Oliveira Ltda.Advogados: (omissis).EMENTA.Denunciação da lide. Seguradora. Execução da sentença.1. A impossibilidade de ser executada a sentença de procedência da ação de indenização contra a devedora, porqueextinta a empresa, permite a execução diretamente contra aseguradora, que figurara no feito como denunciada à lide,onde assumira a posição de litisconsorte.2. Não causa ofensa ao art. 75,I, do CPC, o acórdão queassim decide. Recurso não conhecido.ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministrosda Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, nãoconhecer do recurso. Votaram com o Relator os Srs. Ministros Fontes de Alencar, Sálvio de Figueiredo Teixeira, Barros Monteiro eCesar Asfor Rocha.Brasília-DF, 15 de outubro de 1996 (data do julgamento).Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira - Presidente.Ministro Ruy Rosado de Aguiar - Relator. (p. 257)RELATÓRIO.O Sr Ministro Ruy Rosado de Aguiar:Nos autos de execução de sentença proferida em ação ordináriade indenização por acidente de trânsito, a exeqüente comunicou aoJuízo a extinção da empresa ré, condenada a reparar o dano, pelo querequereu a citação da companhia Bradesco Seguros, a quem fora denunciada a lide, para que pagasse os valores cobertos pela apólice deseguro. O magistrado deferiu tal pretensão, tendo a seguradora interposto agravo de instrumento, o qual foi improvido pela eg. 6ª Câmara do TARS, em acórdão assim ementado, de lavra do Dr. MarceloBandeira Pereira:"Reconhecida, posto que regressiva, a responsabilidade da seguradora, não há por que, impossibilitada a execução contra a ré-denunciante, impedir a execução direta contra a denunciada. Ausência de prejuízo desta que, de qualquer forma, não poderia encontrar, como causa de cessaçãode sua responsabilidade, a insolvência ou desativação irregular da segurada".Inconformada, a seguradora ingressou com recurso especial,fundado na alínea a do permissivo constitucional, alegando violaçãoao disposto no art. 75, I, do CPC. Afirma inexistir relação entre ela ea autora da ação de indenização, sendo que a sua obrigação somentesurgirá quando a segurada, depois de pagar o dano, promover açãoregressiva. Argumenta, ainda, com a necessidade da efetiva comprovação do desaparecimento da empresa ré, e com o desinteresse dacredora no processamento deste agravo.É o relatório.VOTO.O Sr Ministro Ruy Rosado de A guiar (Relator):Sempre me pareceu que o instituto da denunciação da lide, paraservir de instrumento eficaz à melhor prestação jurisdicional, deveriapermitir ao juiz proferir sentença favorável ao autor, quando fosse o

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caso, também e diretamente contra o denunciado, pois afinal ele ocupa a posição de litisconsorte do denunciante. Assim, nas ações em queo réu alega sua ilegitimidade passiva e denuncia a lide ao verdadeiroresponsável, como acontece na ação de indenização por acidente de (p. 258)trânsito, proposta contra o primitivo proprietário; igualmente, nasações ordinárias de indenização, com a condenação do réu à reparação dos danos, a procedência ação da lide à seguradoradeveria permitir ao credor a execução direta também contra a seguradora, no limite de sua responsabilidade reconhecida. Essa regra jáaparece no art. 101 do Código de Defesa do Consumidor, onde sepermite, na ação de responsabilidade civil do fornecedor, o chamamento do segurador ao processo e, em caso de falência, a propositurade ação diretamente contra o segurador. É a flexibilização do sistema, para permitir eficácia das medidas judiciais instauradas para areparação dos danos, que ainda nesse caso coube ao CODECON introduzir no sistema, idéia que deverá ser aproveitada para a interpretação do sistema codificado.Não desconheço o respeitável entendimento doutrinário ejurisprudencial, aliás, majoritário, que nega a existência de uma relação direta entre o autor e o denunciado pelo réu, nos casos do art. 70,III, do CPC (Arruda Alvim, Manual de Direito Processual Civil, 5ªed., II/172; REsp 6.793, 4ª Turma, rel. em. Min. Barros Monteiro).Porém, devo lembrar que, no âmbito restrito do recurso especial, fundado na alínea a, não se pode reconhecer ilegalidade no acórdão quedefiniu o denunciado como litisconsorte - pois isso está na lei - ereconheceu as conseqüências derivadas dessa definição. Assim jáfoi decidido na eg. 3ª Turma, no REsp 26.734/SP, por maioria, emacórdão de lavra do em. Min. Dias Trindade, quando se tratou dedenunciação da lide ao verdadeiro responsável pelo evento danoso:"Há de prevalecer, no entanto, a regra legal que atribui a qualidade delitisconsorte do denunciado, que, como no caso, contesta o pedido, oque, em última análise, permite que a ele se atribua diretamente oônusda responsabilidade"... "Embora inusitado, tenho que, dando inteligência ao art. 75,I, do CPC, no que diz respeito à relação litisconsorcial,o acórdão não contrariou tal dispositivo legal e nem os demais mencionados no recurso - arts. 70, III, e 267, III, todos do CPC".No caso dos autos, a fase do processo de conhecimento já estásuperada, tratando-se de executar a sentença de procedência da ação,cujo teor não veio aos autos, mas que teria reconhecido também aprocedência da denunciação da lide.A execução dessa sentença, diretamente contra a seguradora,estaria permitida pela extinção de fato da sociedade comercial quefigurou como ré na ação de indenização, contratante do seguro com a (p. 259)companhia ora recorrente. Esse fato superveniente põe em contrastedois interesses: o do lesado, de obter a reparação dos dano sofridos,se não do autor do dano, pelo menos daquele que assumira a obrigaçãocontratual de dar cobertura a tal situação; de outro, o da companhiaseguradora, de somente pagar depois de cumprida a sentença contra oseu segurado, uma vez que no processo apenas figurara como denunciada à lide. Pondero o interesse público que existe na integral reparação dos danos e na efetividade da garantia prestada pelo segurador,para dar prevalência ao primeiro dos interesses acima expostos. A impossibilidade de o credor obter o pagamento da indenização faz comque se transfira ao lesado o direito de cobrar a indenização diretamente da seguradora. O direito desta, de somente pagar ao seu seguradoaquilo que desembolsaria na reparação do dano, existe sob o pressuposto de que o segurado teria condições de efetivamente cumprir coma condenação que lhe fora imposta. Evidenciada (como dito nas instâncias ordinárias) a impossibilidade de acontecer esse pagamento, olesado se sub-roga no direito que o segurado teria contra a sua seguradora, e por isso pode desta cobrar o valor reconhecido na sentença,

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no limite do contratado. A companhia nada perde com isso, pois recebeuo prêmio e vai desembolsar o quantum previsto para o caso de sinistro,não parecendo justo que ela se desonere por um fato superveniente, alheioà vontade das partes, deixando de pagar a indenização, em prejuízo docredor, que não recebe a reparação por um dano que estava previsto nocontrato de seguro. O lesado tem o direito de ser ressarcido diretamentede quem se obrigara à cobertura, figurou no processo como litisconsortee exerceu amplamente a defesa dos seus interesses.Na espécie, porém, essas considerações perdem relevo quandose verifica a falta de atendimento dos requisitos de admissibilidadedo recurso especial.Ocorre que a recorrente apenas indicou, para fundamentar oseu pleito, a violação ao art. 75, I, do CPC, que dispõe: "Feita adenunciação pelo réu: I - se o denunciado a aceitar e contestar opedido, o processo prosseguirá entre o autor, de um lado, e de outro,como litisconsortes, o denunciante e o denunciado". O processo deconhecimento assim foi processado e julgado, inexistindo reclamocontra a sentença ali proferida. Se agora está sendo indevidamenteexecutado quem não foi condenado àquela prestação, a violação cometida no processo de execução causa ofensa ao art. 75, I doCPC, que serviu para regular o processo de conhecimento. (p. 260)Posto isso, não conheço do recurso.É o voto.VOTO.O Sr Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira:Coloco-me de acordo com o em. Relator, observando inclusiveque a própria doutrina, como se vê em obra do Ministro Athos GusmãoCarneiro, vai adiante, admitindo o litisconsórcio legal, em hipótesessimilares à versada nestes autos.Ademais, o próprio legislador brasileiro, em diploma posterior,no Código de Defesa do Consumidor, deu abertura ainda maior, através do chamamento ao processo, inserido no art. 101 daquele Código.VOTO.O Sr Ministro Barros Monteiro: Sr. Presidente, coloco-me deacordo com o Sr. Ministro-Relator na conformidade com a fundamentação da parte final de seu voto, ou seja, no sentido de que não sevulnerou, no caso, o disposto no art. 75, inciso I, do Código de Processo Civil. (p. 261)

RECURSO ESPECIAL n. 99.453/MGRelator: Ministro Cesar Asfor Rocha.Recorrente: Companhia Internacional de Seguros em liquidaçãoextrajudicial.Recorrido: Laerte Bignoto.Advogados: Cristiana Rodrigues Gontijo e outros, e Antônio AugustoGonçalves Tavares e outro.EMENTA.Denunciação da lide - Legitimidade da denunciadapara recorrer - Arts. 75, I, e 509, do CPC.A denunciada-recorrente que aceita parcialmente adenunciação e contesta a inicial da ação instaurada entre oautor-recorrido e a ré-denunciante, torna-se litisconsorte destae, como decorrência, legitimada para recorrer da sentença quejulgou a lide primária de que lhe resultou uma condenação.Recurso conhecido e provido.ACÓRDÃO.Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Srs. Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidadedos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecerdo recurso e lhe dar provimento, nos termos do voto do Sr. MinistroRelator. Vota

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ram com o Relator os Srs. Ministros Ruy Rosado de Aguiar,Bueno de Souza, Sálvio de Figueiredo Teixeira e Barros Monteiro.Brasília-DF, 4 de agosto de 1998 (data do julgamento).Ministro Barros Monteiro - Presidente.Ministro Cesar Asfor Rocha - Relator. (p. 262)RELATÓRIO.O Sr Ministro Cesar Asfor Rocha: Laerte Bignoto, ora recorrido, aforou ação de indenização pelo rito sumaríssimo contra CláudioSérgio Peixoto e Cia. de Força e Luz Cataguases-Leopoldina, tendo,esta, por sua vez, denunciado para integrar a lide a ora recorrenteCia. Internacional de Seguros.A recorrente contestou o feito postulando pela sua extinção emface da carência de ação do recorrido e, eventualmente, com a recusadessa preliminar, que a ação fosse julgada improcedente pelos motivos que alinhou. Ainda eventualmente, requereu que, se a ação fossejulgada procedente, a indenização a ser por ela suportada não poderia ultrapassar o valor correspondente ao capital máximo previsto naapólice.A ação foi julgada procedente com a condenação dos réus aindenizarem o autor-recorrido por todos os danos sofridos, de acordo com os valores indicados na inicial, bem como, no tocante àdenunciação à lide, a denunciada-recorrente foi condenada a responder apenas e tão-somente, junto à denunciante, pelos valores estabelecidos contratualmente.Inconformada, a denunciada apelou, renovando o seu pedido decarência de ação do autor-recorrido, investindo também quanto aomérito do pedido inicial.O recurso foi improvido à consideração de que a denunciadarecorrente não teria legitimidade para recorrer.Rejeitados os aclaratórios, foi interposto o recurso especial emexame com fincas nas letras a e c do permissor constitucional, porsugerida divergência com os julgados que indica e por alegada violação aos arts. 70, 75, 76, 131, 267-VI, 301-X, 327, 458, 499, 509, 513,515 e 535 do Código de Processo Civil, alegando, basicamente, queos aclaratórios não teriam sido apreciados integralmente, e ela denunciada-recorrente teria legitimidade para atacar a postulação formulada na inicial pelo autor-recorrido contra a denunciante.Devidamente respondido, o recurso foi inadmitido na origem,tendo o seu curso sido desembaraçado em face do provimento quedei ao agravo de instrumento, para melhor exame.Recebi os autos em 13 de setembro de 1996 e remeti o processopara a pauta no dia 16 de junho do corrente ano de 1998.É o relatório. (p. 263)VOTO.O Sr Ministro Cesar Asfor Rocha (Relator): como visto, a denunciada-recorrente contestou o feito postulando pela sua extinçãoem face da carência de ação do recorrido e, eventualmente, com arecusa dessa preliminar, que a ação fosse julgada improcedente pelos motivos que alinhou. Ainda eventualmente, requereu que, se aação fosse julgada procedente, a indenização a ser por ela suportadanão poderia ultrapassar o valor correspondente a capital máximoprevisto na apólice.A ação foi julgada procedente com a condenação dos réus aindenizarem o autor-recorrido por todos os danos sofridos, de acordo com os valores indicados na inicial, bem como, no tocante àdenunciação à lide, a denunciada-recorrente foi condenada a responder apenas e tão-somente, junto à denunciante, pelos valores estabelecidos contratualmente.Verifica-se, destarte, que a denunciada-recorrente aceitou parcialmente a denunciação e contestou a lide primária, na medida emque requereu que fosse reconhecida a carência da ação do autor-recorrido e, eventualmente, com a recusa dessa preliminar, que a ação

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fosse julgada improcedente pelos motivos que alinhou.Dessa sorte, por ter a denunciada-recorrente aceito parcialmente a denunciação e contestado a inicial da ação instaurada entre oautor-recorrido e a ré-denunciante, tornou-se, no caso, litisconsortedesta e, como decorrência, legitimada para recorrer da sentença quejulgou a lide primária de que lhe resultou uma condenação, tudo emrazão do disposto no art. 75, I, do Código de Processo Civil, pois que"feita a denunciação pelo réu (e) se o denunciado L aceitar e contestar, o pedido, o processo prosseguirá entre o autor (de um lado, e deoutro, como litisconsortes, o denunciante e o denucciado", certo que"o recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita"(art. 509/CPC), "salvo se oposto os seus interesses", o que inocorreno caso.Diante de tais pressupostos, conheço do recurso e lhe dou provimento para o fim de devolver o processo ao egrégio Tribunal deorigem para que, superada que ficou essa preliminar de ilegitimidadepara recorrer, prossiga no julgamento da apelação, como achar dedireito. (p. 264)

RECURSO ESPECIAL N. 115.046-RSRelator: Ministro Barros Monteiro.Recorrente: AGF brasil Seguros S.A.Recorrida: Transguaíra Ltda.Advogados: (omissis).EMENTA.Seguro. Denunciação da lide feita à seguradora acolhida Prévia comprovação do desembolso feito pela denunciada ao autor da ação.Em princípio, para haver a indenização da denunciada,deve o denunciante comprovar o pagamento feito ao primitivo credor, o autor da ação. Possibilidade de que o denunciante venha aparelhar a execução contra a denunciada. Casonão comprovado o desembolso a que está obrigado o denunciante, cabe ao denunciado, na execução, colocar o numerário à disposição do juízo, a fim de que este oportunamenteproceda ao ressarcimento a que faz jus a vítima.Recurso especial conhecido, em parte, e provido parcialmente.ACÓRDÃO.Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acimaindicadas:Decide a Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, porunanimidade, conhecer em parte do recurso e, nessa parte, dar-lheparcial provimento, na forma do relatório e notas taquigráficas precedentes que integram o presente julgado. Votaram com o Relator os (p. 265)Srs. Ministros Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar, Bueno deSouza e Sálvio de Figueiredo Teixeira.Brasília-DF, 25 de agosto de 1998 (data do julgamento).Ministro Barros Monteiro - Presidente e Relator.RELATÓRIO.O Sr. Ministro Barros Monteiro: "AGF Brasil Seguros S.A."opôs embargos à execução por título judicial contra "TransguaíraLtda.", argüindo, preliminarmente, a impossibilidade jurídica do pedido ante o não-cumprimento pela embargada de condição básica aoexercício de seu direito de regresso, na condição de ré-denuncianteda lide, eis que não fizera a prova do pagamento da condenação quelhe fora imposta no processo de conhecimento em favor do credorprimitivo, Luiz Carlos Coelho de Brito.Julgados improcedentes os embargos na parte em que ora interessa, o Tribunal de Alçada do Rio Grande do Sul negou provimentoao apelo da seguradora, em acórdão que porta a seguinte ementa:"Embargos do devedor. Execução contra seguradora.Direito regressivo.

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A sentença que declara o direito regressivo do seguradocontra a seguradora, em razão de ação indenizatória a quefoi condenado, pode ser executada independentemente deter ou não o denunciante/segurado adimplido sua obrigaçãoao autor da ação principal. Ação e denunciação constituemrelações jurídicas distintas, embora integralizadas no mesmo processo. A finalidade do seguro é, preponderantemente, a indenização do segurado, no evitar eventuais prejuízos.Apelo improvido" (fls. 59).Rejeitados ambos os declaratórios opostos, com a correção deerro material havido na parte dispositiva do acórdão embargado, aembargante manifestou o presente recurso especial com fulcro nasalíneas a e c do permissor constitucional, alegando afronta aos arts.70,467,468 e 584,I, do CPC, e 989 do Código Civil, além de dissensointerpretativo. Insistiu a recorrente na assertiva de que inadmissívela execução direta contra a litisdenunciada sem a prévia comprovaçãodo desembolso feito ao primitivo credor.Oferecidas as contra-razões, o apelo extremo foi admitido naorigem, subindo os autos em seguida a esta Corte. (p. 266)É o relatório.VOTO.O Sr Ministro Barros Monteiro (Relator): 1. Inadmissível apresenta-se o apelo especial tocante às alegações de contrariedade aosarts. 467 e 468 do CPC e 989 do Código Civil, uma vez que nãoventilados na decisão recorrida os temas que lhes dizem respeito.Ausente aí o requisito do prequestionamento, pouco importando quea parte tenha aventado as questões em sede de embargos aclaratórios."Não versada a matéria no julgamento recorrido, inadmissível pretender-se tenha havido violação da lei. Se, apreciando declaratórios,deixou-se de decidir questão que o deveria ter sido, poderá ter havido contrariedade da lei processual nesse ponto, mas não se há de tercomo suprida a exigência do prequestionamento" (REsp n. 23.6683/MG, Relator Ministro Eduardo Ribeiro).Quanto ao dissenso jurisprudencial, deixou-se inobservado odisposto na primeira parte do art. 541, parágrafo único, do CPC, c.c.o art. 255, § 1º, a e b, do RISTJ. Não se ministrou, com efeito, aprova da divergência mediante certidão, cópia autenticada do arestoparadigma ou, ainda, indicação de repositório oficial ou credenciado.Descabido o REsp também nesse ponto.2. Em princípio, para haver a indenização da denunciada, deveo denunciante comprovar o pagamento feito ao primitivo credor, oautor da ação. É isto, aliás, o que se infere do disposto no art. 70, inc.III, do Código de Processo Civil: o litisdenunciado vê-se compelido,uma vez julgada procedente a lide secundária, a indenizar, em açãoregressiva o prejuízo daquele que perder a demanda. Em sede doutrinária, o Ministro Athos Carneiro teve ocasião de enfatizar a naturezada denunciação da lide, in verbis:"A denunciação da lide, como já exposto anteriormente, é prevista no vigente Código de Processo Civil como umaação regressiva, in simultaneus processus, proponível tantopelo autor como pelo réu, sendo citada como denunciadaaquela pessoa contra quem o denunciante terá uma pretensão indenizatória, pretensão "de reembolso", caso ele, denunciante, vier a sucumbir na ação principal" (Intervençãode Terceiros, p. 69, 5ª ed.).Nesse passo, portanto, o acórdão recorrido atritou com a referida norma inscrita no art. 70, inc. iii, da lei processual civil. (p. 267)Não se acha inibido o segurado, porém, de aparelhar a execução contra a seguradora, tal como ocorreu no presente caso. Pode elepromover a execução, uma vez que possui um título executivo judicial de cunho condenatório, consoante, de resto, deixou sublinhado oMM. Juiz de Direito no dispositivo sentencial transcrito pela própria

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recursante às fls. 92. Além do mais, pode encontrar-se em estado deinsolvência ou, ao menos, em dificuldade para pagar o autor da demanda; se não lhe for facultado o exercício da execução contra aseguradora, esta simplesmente restará imune à condenação que lhefoi imposta.Entende este órgão fracionário que, instaurada a execução pelodenunciante contra a denunciada, sem que aquele comprove o desembolso feito ao autor da ação, por razões de ordem financeira,inclusive a sua eventual insolvência, caberá à litisdenunciada, emcaso de ver-se compelida a efetuar o pagamento, colocar o numerário correspondente à disposição do juízo, a fim de que este oportunamente proceda ao ressarcimento dos prejuízos suportados pela vítima, como for de direito.3. Ante o exposto, conheço, em parte, do recurso pela alínea ado permissor constitucional e, nessa parte, dou-lhe provimento parcial, a fim de estabelecer que, caso o denunciante não comprove opagamento feito ao autor da demanda, eventual pagamento a ser feito pela denunciada na execução, se faça à disposição do juízo, naforma supra-referida.É como voto. (p. 268)

LEGISLAÇÃO (p. 269)

(p. 270, em branco)

CÓDIGO DE PROCESSO CIVILCÓDIGO DE PROCESSO CIVIL(Lei n. 5.869, de 11-1-1973)Livro ITítulo IIDAS PARTES E DOS PROCURADORESCAPÍTULO IDA CAPACIDADE PROCESSUALArt. 7º Toda pessoa que se acha no exercício dos seus direitostem capacidade para estar em juízo.Art. 8º Os incapazes serão representados ou assistidos por seuspais, tutores ou curadores, na forma da lei civil.Art. 9º O juiz dará curador especial:I - ao incapaz, se não tiver representante legal, ou se os interesses deste colidirem com os daquele;II - ao réu preso, bem como ao revel citado por edital ou comhora certa.Parágrafo único. Nas comarcas onde houver representante judicial de incapazes ou de ausentes, a este competirá a função de curadorespecial.Art. 10. O cônjuge somente necessitará do consentimento dooutro para propor ações que versem sobre direitos reais imobiliários.Caput com redação dada pela Lei n. 8.952, de 13- 121994. (p. 271)§ 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para asações:Antigo parágrafo único transformado em § 1º pelaLei n. 8.952, de 13-12-1994.I - que versem sobre direitos reais imobiliários;Inciso I com redação dada pela Lei n. 8.952, de 13 12-1994.II - resultantes de fatos que digam respeito a ambos os cônjuges ou de atos praticados por eles;Inciso Ii com redação dada pela Lei n. 5.925, de 1210-1973.III - fundadas em dívidas contraídas pelo marido a bem dafamília, mas cuja execução tenha de recair sobre o produto do trabalho da mulher ou os seus bens reservados;Inciso III com redação dada pela Lei n. 5.925, de 1210-1973.

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IV - que tenham por objeto o reconhecimento, a constituiçãoou a extinção de ônus sobre imóveis de um ou de ambos os cônjuges.Inciso IV com redação dada pela Lei n. 5.925, de 1210-1973.§ 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autorou do réu somente é indispensável nos casos de composse ou de atopor ambos praticados.§ 2º acrescentado pela Lei n. 8.952, de 13-12-1994.Art. 11. A autorização do marido e a outorga da mulher podemsuprir-se judicialmente quando um cônjuge a recuse ao outro semjusto motivo, ou lhe seja impossível dá-la.Parágrafo único. A falta, não suprida pelo juiz, da autorizaçãoou da outorga, quando necessária, invalida o processo.Art. 12. Serão representados em juízo, ativa e passivamente:I - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, porseus procuradores;II - o Município, por seu Prefeito ou procurador;III - a massa falida, pelo síndico;IV - a herança jacente ou vacante, por seu curador;V - o espólio, pelo inventariante; (p. 272)VI - as pessoas jurídicas, por quem os respectivos estatutosdesignarem, ou, não os designando, por seus diretores;VII - as sociedades sem personalidade jurídica, pela pessoa aquem couber a administração dos seus bens;VIII - a pessoa jurídica estrangeira, pelo gerente, representante ou administrador de sua filial, agência ou sucursal aberta ou instalada no Brasil (art. 88, parágrafo único);IX - o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico.§ 1º Quando o inventariante for dativo, todos os herdeiros esucessores do falecido serão autores ou réus nas ações em que o espólio for parte.§ 2º As sociedades sem personalidade jurídica, quando demandadas, não poderão opor a irregularidade de sua constituição.§ 3º O gerente da filial ou agência presume-se autorizado, pelapessoa jurídica estrangeira, a receber citação inicial para o processode conhecimento, de execução, cautelar e especial.Art. 13. yerificando a incapacidade processual ou a irregularidade da representação das partes, o juiz, suspendendo o processo,marcará prazo razoável para ser sanado o defeito.Não sendo cumprido o despacho dentro do prazo, se a providência couber: /I - ao aütor, o juiz decretará a nulidade do processo;II - ao réu, reputar-se-á revel;III - ao terceiro, será excluído do processo.CAPÍTULO IIDOS DEVERES DAS PARTES E DOS SEUS PROCURADORESSeção IDos deveresArt. 14. Compete às partes e aos seus procuradores:I - expor os fatos em juízo conforme a verdade;II - proceder com lealdade e boa-fé; (p. 273)III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes deque são destituídas de fundamento;IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito.Art. 15. É defeso às partes e seus advogados empregar expressões injuriosas nos escritos apresentados no processo, cabendo aojuiz, de ofício ou a requerimento do ofendido, mandar riscá-las.Parágrafo único. Quando as expressões injuriosas forem proferidas em defesa oral, o juiz advertirá o advogado que não as use, sobpena de lhe ser cassada a palavra.Seção IIDa responsabilidade das partes por dano processual

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Art. 16. Responde por perdas e danos aquele que pleitear demá-fé como autor, réu ou interveniente.Art. 17. Reputa-se litigante de má-fé aquele que:I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei oufato incontroverso;II - alterar a verdade dos fatos;III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal;IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo;V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou atodo processo;VI - provocar incidentes manifestamente infundados;VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório.Inciso VII acrescentado pela Lei n. 9.668, de 23-6-1998.Art. 18. O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante de má-fé a pagar multa não excedente a 1% (um porcento) sobre o valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os honorários advocatícios e todas asdespesas que efetuou.Caput com redação dada pela Lei n. 9.668, de 23-61998.§ 1º Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juizcondenará cada um na proporção do seu respectivo interesse na cau- (p. 274)sa, ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a partecontrária.§ 2º O valor da indenização será desde logo fixado pelo juiz, emquantia não superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa,ou liquidado por arbitramento.§ 2º com a redação dada pela Lei n. 8.952, de 13-121994.CAPÍTULO VDO LITISCONSÓRCIO E DA ASSISTÊNCIASeção IIDa assistênciaArt. 50. Pendendo uma causa entre duas ou mais pessoas, oterceiro, que tiver interesse jurídico em que a sentença seja favorávela uma poderá intervir no processo para assisti-la.Parágrafo único. A assistência tem lugar em qualquer dos tiposde procedimento em todos os graus de jurisdição; mas o assistenterecebe o processo no estado em que se encontra.Art. 51. Não havendo impugnação dentro de cinco (5) dias, opedido do assistente será deferido. Se qualquer das partes alegar, noentanto, que falece ao assistente interesse jurídico para intervir a bemdo assistido, o juiz:I - determinará, sem suspensão do processo, o desentranhamento da petição e da impugnação, a fim de serem autuadasem apenso;II - autorizará a produção de provas;III - decidirá, dentro de cinco (5) dias, o incidente.Art. 52. O assistente atuará como auxiliar da parte principal,exercerá os mesmos poderes e sujeitar-se-á aos mesmos ônus processuais que o assistido.Parágrafo único. Sendo revel o assistido, o assistente será considerado seu gestor de negócios. (p. 275)Art. 53. A assistência não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação ou transija sobre direitoscontrovertidos; casos em que, terminando o processo, cessa a intervenção do assistente.Art. 54. Considera-se litisconsorte da parte principal o assistente, toda vez que a sentença houver de influir na relação jurídica entreele e o adversário do assistido.Parágrafo único. Aplica-se ao assistente litisconsorcial, quantoao pedido de intervenção, sua impugnação e julgamento do incidente, o disposto no art. 5

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1.Art. 55. Transitada em julgado a sentença, na causa em queinterveio o assistente, este não poderá, em processo posterior, discutir a justiça da decisão, salvo se alegar e provar que:I - pelo estado em que recebera o processo, ou pelas declarações e atos do assistido, fora impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença;II - desconhecia a existência de alegações ou de provas, deque o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu.CAPÍTULO VIDA INTERVENÇÃO DE TERCEIROSSeção IDa oposiçãoArt. 56. Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou odireito sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferidaa sentença, oferecer oposição contra ambos.Art. 57. O opoente deduzirá o seu pedido, observando os requisitos exigidos para a propositura da ação (arts. 282 e 283). Distribuída a oposição por dependência, serão os opostos citados, na pessoados seus respectivos advogados, para contestar o pedido no prazocomum de quinze (15) dias.Parágrafo único. Se o processo principal correr à revelia do réu,este será citado na forma estabelecida no Título V, Capítulo IV, Seção III, deste Livro. (p. 276)Art. 58. Se um dos opostos reconhecer a procedência do pedido, contra o outro prosseguirá o opoente.Art. 59. A oposição, oferecida antes da audiência, será apensadaaos autos principais e correrá simultaneamente com a ação, sendoambas julgadas pela mesma sentença.Art. 60. Oferecida depois de iniciada a audiência, seguirá a oposição o procedimento ordinário, sendo julgada sem prejuízo da causaprincipal. Poderá o juiz, todavia, sobrestar no andamento do processo, por prazo nunca superior a noventa (90) dias, a fim de julgá-laconjuntamente com a oposição.Art. 61. Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação e aoposição, desta conhecerá em primeiro lugar.Seção IIDa nomeação à autoriaArt. 62. Aquele que detiver a coisa em nome alheio, sendo-lhedemandado em nome próprio, deverá nomear à autoria o proprietárioou o possuidor.Art. 63. Aplica-se também o disposto no artigo antecedente àação de indenização, intentada pelo proprietário ou pelo titular deum direito sobre a coisa, toda vez que o responsável pelos prejuízosalegar que praticou o ato por ordem, ou em cumprimento de instruções de terceiro.Art. 64. Em ambos os casos, o réu requererá a nomeação noprazo para a defesa; o juiz, ao deferir o pedido, suspenderá o processo e mandará ouvir o autor no prazo de cinco (5) dias.Art. 65. Aceitando o nomeado, ao autor incumbirá promoverlhe a citação; recusando-o, ficará sem efeito a nomeação.Art. 66. Se o nomeado reconhecer a qualidade que lhe é atribuída, contra ele correrá o processo; se a negar, o processo continuarácontra o nomeante.Art. 67. Quando o autor recusar o nomeado, ou quando estenegar a qualidade que lhe é atribuída, assinar-se-á ao nomeante novoprazo para contestar.Art. 68. Presume-se aceita a nomeação se: (p. 277)I - o autor nada requereu, no prazo em que, a seu respeito, lhecompetia manifestar-se;II - o nomeado não comparecer, ou, comparecendo, nada alegar.Art. 69. Responderá por perdas e danos aquele a quem incumbia a nomeação:

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I - deixando de nomear à autoria, quando lhe competir;II - nomeando pessoa diversa daquela em cujo nome detém acoisa demandada.Seção IIIDa denunciação da lideArt. 70. A denunciação da lide é obrigatória:I - ao alienante, na ação em que terceiro reivindica a coisa,cujo domínio foi transferido à parte, a fim de que esta possa exercero direito que da evicção lhe resulta;II - ao proprietário ou ao possuidor indireto quando, por forçade obrigação ou direito, em casos como o do usufrutuário, do credorpignoratício, do locatário, o réu, citado em nome próprio, exerça aposse direta da coisa demandada;III - àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, aindenizar, em ação regressiva, o prejuízo do que perder a demanda.Art. 71. A citação do denunciado será requerida, juntamentecom a do réu, se o denunciante for o autor; e, no prazo para contestar,se o denunciante for o réu.Art. 72. Ordenada a citação, ficará suspenso o processo.§ 1º A citação do alienante, do proprietário, do possuidor indireto ou do responsável pela indenização far-se-á:a) quando residir na mesma comarca, dentro de dez (10) dias;b) quando residir em outra comarca, ou em lugar incerto, dentrode trinta (30) dias.§ 2º Não se procedendo à citação no prazo marcado, a açãoprosseguirá unicamente em relação ao denunciante.Art. 73. Para os fins do disposto no art. 70, o denunciado, porsua vez, intimará do litígio o alienante, o proprietário, o possuidorindireto ou o responsável pela indenização e, assim, sucessivamente,observando-se, quanto aos prazos, o disposto no artigo antecedente. (p. 278)Art. 74. Feita a denunciação pelo autor, o denunciado, comparecendo, assumirá a posição de litisconsorte do denunciante e poderáaditar a petição inicial, procedendo-se em seguida à citação do réu.Art. 75. Feita a denunciação pelo réu:I - se o denunciado a aceitar e contestar o pedido, o processoprosseguirá entre o autor, de um lado, e de outro, como litisconsortes,o denunciante e o denunciado;II - se o denunciado for revel, ou comparecer apenas para negar a qualidade que lhe foi atribuída, cumprirá ao denunciante prosseguir na defesa até o final;III - se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor,poderá o denunciante prosseguir na defesa.Art. 76. A sentença, que julgar procedente a ação, declarará,conforme o caso, o direito do evicto, ou a responsabilidade por perdas e danos, valendo como título executivo.Seção IVDo chamamento ao processoArt. 77. É admissível o chamamento ao processo:I - do devedor, na ação em que o fiador for réu;II - dos outros fiadores, quando para a ação for citado apenasum deles;III - de todos os devedores solidários, quando o credor exigirde um ou de alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida comum.Artigo e incisos com redação dada pela Lei n. 5.925,de 12-10-1973.Art. 78. Para que o juiz declare, na mesma sentença, as responsabilidades dos obrigados, a que se refere o artigo antecedente, o réurequererá, no prazo para contestar, a citação do chamado.Art. 79. O juiz suspenderá o processo, mandando observar, quanto à citação e aos prazos, o disposto nos arts. 72 e 74.Art. 80. A sentença, que julgar procedente a ação, condenando

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os devedores, valerá como título executivo, em favor do que satisfizer a dívida, para exigi-la, por inteiro, do devedor principal, ou decada um dos co-devedores a sua cota, na proporção que lhes tocar. (p. 279)

(p. 280, em branco)

ÍNDICE ONOMASTICOOs números referem-se aos verbetes do texto e incluem as respectivas notas de rodapéARMELIN, Donaldo - 14ARRUDA ALVIM, José Manoel de - 1, 12, 13, 20, 24, 33, 37, 39, 41, 44,45, 47, 51, 53, 62, 63, 63-A, 66, 70, 72ASSIS, Araken de - 63-ABARBI, Celso Agrícola - 34, 36, 37, 39, 41,45,46,49,62, 63BARBOSA MOREIRA, José Carlos - 17, 41,47, 51, 66,74BARROS MONTEIRO Fº, Raphael de - 40, 46, 48, 54, 56BARROS MONTEIRO, Washington de - 44BERMUDES, Sergio - 13, 23BEVILÁQUA, Clóvis - 44BUENO DE SOUZA, Romildo - 54CALAMANDREI, Piero - 1CASTRO, Amílcar de - 16CHIOVENDA, Giuseppe - 1,7, 15, 41, 66CINTRA, Antonio Carlos de Araújo - 1,41COSTA, Coqueijo - 16COSTA, Sergio - 23CRUZ, José Raimundo da - 72DELGADO, José - 47DIAS, Maria Berenice - 70DINAMARCO, Cândido Rangel - 1, 17, 24, 25, 33, 41,42, 51, 63, 69,73DINIZ, Maria Helena - 44ECHANDIA, Hernando Devis - 23FERNANDES, Lidia Dias - 34FERRAZ, Sérgio - 66FIGUEIREDO, Sálvio de - 13, 44,45, 46, 54, 57, 67, 74FLAKS, Milton - 41,45, 49, 51GIANESINI, Rita - 70GOMES DA CRUZ, José Raimundo - 23GOMES DE BARROS, Humberto - 47GONÇALVES, Aroldo Plínio - 41,43, 44,47,48,51,61GONZALEZ, Atilio Carlos - 69GRECO F, Vicente - 46, 62GRINOVER, Ada Pellegrini - 1, 17, 74JORGE, Flávio Cheim - 62, 63, 63-ALACERDA, Galeno - 13, 36LEAL, Vitor Nunes - 7LIEBMAN, Enrico Tullio - 66, 74LOPES DA COSTA, Alfredo de Araújo - 16LOPES NETO, Silvino - 47MALACHINI, Edson Ribas - 41, 47MARQUES, Frederico - 14, 16 (p. 281)MARTINS, Tulio Medina - 59, 66MEIRELLES, Hely Lopes - 66MELLO, Celso - 67MENDONÇA, José Xavier Carvalho de - 16MENDONÇA LIMA, Alcides de - 67MESQUITA, José Ignacio Botelho de - 43, 44, 48MIRANDA LEÃO, José Francisco - 1MONIZ DE ARAGÃO, Egas D. - 53MOSIMANN, Hélio - 48

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MUÑOZ, Pedro Soares - 25, 63NAVES, Nilson - 22, 44, 56NENCIONE, Giovanni - 23OLIVEIRA, Carlos Alberto Álvaro de - 16,21OLIVEIRA JR., Waldemar Mariz de - 13, 17OLIVEIRA SOBRINHO, Jesus de - 71ORTIZ, Carlos Alberto - 68PARGENDLER, Ari - 71-APEREIRA, Caio Mário da Silva - 44PEREIRA DA SILVA - 72PEREIRA, Milton Luiz - 47PODETTI, Ramiro - 23PONTES DE MIRANDA, Francisco Cavalcanti - 1, 18, 44,47REINALDO, Demócrito - 47REIS, José Alberto dos - 23, 62RIBEIRO, Eduardo - 22,40,44, 51-A, 54, 59ROCHA, Cesar - 46, 52, 60, 72ROENICK, Hermann Homem de Carvalho - 33, 34ROSADO DE AGUIAR, Ruy - 46,56ROSENBERG, Leo - 1SANCHES, Sydney - 41,44, 48, 52SANTOS, Cláudio - 9.2SANTOS, Ernane Fidélis dos - 9.2, 37SANTOS, Moacyr Amaral - 1, 13, 16, 23SERPA LOPES, Miguel Maria de - 44SILVA, Ovídio Baptista da - 1, 65, 69, 73, 74SOUZA, Sebastião de - 16THEODORO JR., Humberto - 16,41, 46, 63-A, 67, 70, 72TORNAGHI, Hélio - 30, 36,41TRINDADE, Francisco Dias - 56TUCCI, Cibele Cruz e - 62TUCCI, Rogério Lauria - 25VELLOSO, Adolfo Alvarado - 23, 33, 56WATANABE, Kazuo - 7-A, 17, 24ZVEITER, Waldemar - 47-A (p. 282)

BIBLIOGRAFIA

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