ISEPE
JOSEFA SHIRLEY LEAL SANTOS
UMA EXPERINCIA ESPECIAL COM ARTETERAPIA:
DA SOLIDO INTERLOCUO.
Rio de Janeiro
2010
JOSEFA SHIRLEY LEAL SANTOS
UMA EXPERINCIA ESPECIAL COM ARTETERAPIA:
DA SOLIDO INTERLOCUO.
Monografia de concluso de curso a ser
apresentada ao ISEPE como requisito parcial
obteno do ttulo de Especialista em
Arteterapia.
Orientadora: Prof Ms. Angela Philippini
Rio de Janeiro
2010
i
DEDICATRIAS
Ao meu amado pai, Manoel Emidio dos Santos (in memoriam),
por me ensinar o valor da coragem de lutar pelas coisas
importantes para nosso prprio corao.
Ao meu amado marido Marcelo Armony, grande companheiro
amoroso e respeitoso, sempre me apoiando na construo dessa
trajetria na arte de amar o SER. A vida maravilhosa com voc
no meu mundo.
ii
AGRADECIMENTOS
Vida, escola que mais me ensina.
Ana Tereza Camasmie, que guiou-me nos primeiros passos da caminhada para o grande
encontro.Um caminho para alm daquela que eu achava que deveria ser. Mestra da minha
iniciao na sabedoria de ouvir o outro e primeira pessoa a falar-me sobre Jung e
Arteterapia.
Maria do Socorro Barroso do Amaral, que com sua pacincia, arte e amor ajudou-me a
encarar minhas sombras, acalmar meu animus e desvelar a pessoa que eu sou. Obrigada por
cada momento que esteve comigo!
Marly Tocantins, supervisora no meu estgio em psicologia para pessoas portadoras de
necessidades especiais. Com alegria e confiana me ensinou a ver a verdadeira diferena
dessas pessoas, aquela que possvel ser vista quando permitimos que se mostrem.
ngela Philippini, mestra que com estilo seguro e atento me acolheu e me orientou nos
momentos de ansiedade, de dvidas e de medo. Agradeo principalmente pela confiana em
mim durante o percurso da prtica do estgio em Arteterapia, seu apoio s minhas criaes
significou a construo da minha prpria segurana pessoal e profissional.
Mrcia Vasconcellos pela valorosa orientao e contribuio na construo da minha
escrita criativa.
mame Nailda e s minhas irms Nana e Sandra, por me aceitarem como sou e pelo amor
que nos une em qualquer circunstncia da vida.
Aos queridos Beto e Nana, pela confortvel acolhida em sua casa no 3 final de semana do
ms, podendo ainda desfrutar da divertidssima companhia do meu amado sobrinho Leandro.
Valdelice, parceira de curso, pela acolhida em sua casa na 3 sexta-feira do ms, com
direito a sopa quentinha, acompanhada de conversas animadas sobre Arteterapia.
turma PG7, pelo encontro rico em alegria, seriedade, criatividade e compromisso com a
liberdade de existncia da cada pessoa.
A todos os familiares e amigos que torcem pela minha realizao pessoal.
iii
Estou aqui para o encontro. Tudo o mais
s desculpa para eu vir te encontrar, para
eu te ouvir e tambm poder falar.
Josefa Shirley Leal Santos
iv
RESUMO
Este trabalho aborda a utilizao da Arteterapia junto a portadores de necessidades
especiais inseridos numa Instituio especializada em educao especial. A experincia com a
prtica da arteterapia para esse pblico viabilizou principalmente o desenvolvimento da
comunicao e da expresso da subjetividade de cada jovem.
Palavras-chave: Arteterapia Portadores de Necessidades Especiais Comunicao
Subjetividade Solido Interlocuo.
v
ABSTRACT
This article approaches the utilization of Art-Therapy for people with special necessities
within a specialized education institution . The practice of Art-Therapy for this population has
main increased the development of the ability of communication and the expression of the
subjectivety.
Key words: art-therapy people with special necessities communication subjectivety
looneless - interlocution.
vi
LISTA DE IMAGENS
Imagem 01: Um sonho de mudana imagem da autora ___________________________ 01
Imagem 02: O Poder da Convivncia oficina de teatro __________________________ 05
Imagem 03: Cidadania e Deficincia (http://4.bp.blogspot.com) _____________________________ 09
Imagem 04: Traduzindo-se imagem da autora _________________________________ 13
Imagem 05: Ouroboros http: //teek.artspots.com/files/image/file/10664/resized/19_aris-ouroboros.jpg 26
Imagem 06: A Grande Me www.jonathanart.com_______________________________ 27
Imagem 07: O Grande Pai www.jonathanart.com________________________________ 28
Imagem 08: Eu tenho meu estilo imagem da autora ______________________________ 29
Imagem 09: Desenhando com os ps Oficina de desenho _________________________ 34
Imagem 10: Quero comida, amor e famlia oficina de colagem ____________________ 37
Imagem 11: Mostre a Fantasia oficina de fantasias ______________________________ 39
Imagem 12: Alegre como a cigarra (desenho)____________________________________ 43
Imagem 13: Viajante como O Equilibrista (desenhando com fios)__________________ 43
Imagem 14: O Espelho (conscincia corporal)___________________________________ 43
Imagem 15: O corpo se percebe - oficina de modelagem ___________________________ 44
Imagem 16: O corpo inteiro - oficina de desenho do corpo ________________________ 45
Imagem 17: Formas e Estilos aparecem oficina decorar o desenho do corpo __________ 45
Imagem 18: Eu vejo voc oficina de teatro e fotografia __________________________ 45
Imagem 19: Somos iguais em nossas diferenas__________________________________ 47
Imagem 20: Juventude em Noticia oficina Jornal Mural __________________________ 47
Imagem 21: Eu sou uma pessoa ... e gosto de ... - oficina produzindo uma identidade ____ 48
Imagem 22: Desejos e Sonhos oficina produzindo uma identidade __________________ 49
Imagem 23: O Jornal Mural oficina produo do jornal mural______________________ 51
Imagem 24: Os Bonecos Falantes - oficina dramatizao com bonecos _______________ 52
Imagem 25: Palavreando sonhos coloridos (desenho)______________________________ 55
Imagem 26: Simbolizando um lugar no mundo (desenho)___________________________ 56
Imagem 27: Experimentando missanga, cor e calmaria ____________________________ 56
vii
http://4.bp.blogspot.com/http://www.jonathanart.com/http://www.jonathanart.com/
SUMRIO
RESUMO _______________________________________________________________ v
ABSTRACT _____________________________________________________________ vi
LISTA DE IMAGENS _____________________________________________________ vii
APRESENTAO _________________________________________________________01
INTRODUO ___________________________________________________________ 03
1. CAPTULO I - PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS _________________ 05
1.1 Portadores de Necessidades Especiais e Suas Principais Questes _________________ 05
1.2. Panorama Nacional Para Proteo de Portadores de Necessidades Especiais_________ 09
2 CAPTULO II - O QUE ARTETERAPIA? ________________________________ 12
2.1 Terapias Expressivas ____________________________________________________ 12
2.2 Arteterapia ____________________________________________________________ 13
2.3 Breve Histrico ________________________________________________________ 16
2.4 O Arteterapeuta ________________________________________________________ 16
2.5 Arteterapia com abordagem Junguiana __________________________________________17
3. CAPTULO III UMA EXPERNCIA ESPECIAL COM ARTETERAPIA: DA
SOLIDO A INTERLOCUO ____________________________________________ 24
3.1 Desenvolvimento psquico na abordagem junguiana ______________________________ 24
3.1.1 As Fases do Desenvolvimento na Abordagem Junguiana ______________________ 26
3.1.2 Estgio Ourobrico ___________________________________________________ 26
3.1.3 Dinmica Matriarcal ____________________________________________________ 27
3.1.4 Dinmica Patriarcal ___________________________________________________ 28
3.1.5 Dinmica do Heri e a Busca da Alteridade ___________________________________ 29
3.2 O Estgio Arteteraputico X O Programa Especial _______________________________ 30
3.3 O Grupo de Jovens e Adultos Especiais _____________________________________ 31
3.4 Espao e Cronograma.___________________________________________________ 32
3.5 O Grupo e a necessria identidade _________________________________________ 33
3.6 E o que mesmo autonomia______________________________________________ 33
3.7 Perfil Inicial do Grupo __________________________________________________ 37
3.8 Vestindo a Fantasia ____________________________________________________ 39
3.9 Estmulos Geradores de Autopercepo e Comunicao ________________________39
viii
3.10. Razo e Sensibilidade: til e intil? _____________________________________________ 40
3.11 Na arte do conto ___________________________________________________________ 42
3.12 Espelho, espelho meu mostre quem sou eu. ____________________________________ 43
3.13 A interlocuo atravs do Teatro e Fotografias. _________________________________ 45
3.14 Um Novo Perfil do Grupo. _______________________________________________46
3.15 Juventude em Notcia: construindo uma identidade. _____________________________ 47
3.16 Recriando e comunicando com bonecos de pano ________________________________ 51
3.17 Respeitando e harmonizando as diferenas __________________________________ 53
3.18 A Ultima pergunta _____________________________________________________ 56
CONCLUSES E RECOMENDAES ___________________________________________58
REFERNCIAS ___________________________________________________________ 62
vix
APRESENTAO
Imagem 01- Um Sonho de Mudana
A meio-caminho na jornada da vida encontrei-me numa
floresta escura tendo perdido o caminho.
Dante, O Inferno apud Hollis, 1995.
Para responder o porqu desse tema, tenho que contar o caminho que me fez chegar aqui.
No sei se eu escolhi o tema ou tema me escolheu, a histria de muitas mudanas e escolhas
em busca de uma certa liberdade.
- Liberdade para qu?
- Liberdade para SER.
- Mas ser o que?
- Talvez eu mesma?!
Bem, sempre estive interiormente inquieta tentando achar o paraso. Como estratgia para
chegar ao paraso, eu seguia o caminho padro mapeado por nossa sociedade para uma pessoa
normal chegar ao seu sucesso: estude muito, trabalhe, ganhe dinheiro, case-se, tenha filhos,
viaje, coma bem, compre roupas da moda, compre um carro novo etc... At que um dia dos
meus trinta e poucos anos, tendo atingido algumas destas metas e falido em outras, meus
motivos perderam a graa, eu tambm perdi a graa e fiquei muito, muito incomodada com a
vida profissional que eu tinha e comigo mesma. Fazendo psicoterapia, comecei a entender a
minha inquietao interior. Redescobri desejos esquecidos e recursos pessoais que me
possibilitavam mudar a rota para realiz-los. Eu sempre dizia que seria psicloga. Nessa
experincia de redescoberta de sentidos, decidi voltar faculdade, reaquecendo o que estava
congelado no meu corao: o desejo de estudar Psicologia. Por causa do meu interesse na
2
Filosofia oriental, Camasmie (minha 1 psicoterapeuta) me dizia: acho que voc vai gostar
da abordagem junguiana. De outra vez, indicou-me fazer Arteterapia como atividade
teraputica para reduzir meu estresse. Estava feliz no 1 perodo da faculdade cursando
psicologia; trabalhava dez horas por dia como compradora numa empresa de moda e no fazia
a menor idia de quem era Jung ou do que era Arteterapia. Um dia, na faculdade, vi o anuncio
de Maria do Socorro B. Amaral chamando para o Curso Bsico de Arteterapia Para
Estudante de Psicologia. Fui l e fiz o curso. O curso terminou e continuei com Amaral
trabalhando no meu processo de autoconhecimento atravs da Arteterapia de abordagem
junguiana; essa experincia foi aumentando o sentido da Psicologia e da Arteterapia na minha
vida. O curso de psicologia estava chegando ao fim, eu precisava de um estgio prtico onde
pudesse cumprir 600 (seiscentas) horas em 9 (nove) meses. O estgio no SPA da faculdade,
sendo uma vez por semana, duraria 3(trs) semestres ou 18 meses e atrasaria minha formao
em mais um ano. Eu me demiti do emprego de compradora de moda, fiz inscrio na Ps-
graduao em Arteterapia e fiquei pesquisando o estgio em psicologia que atendesse as horas
necessrias em nove meses. Uma colega de faculdade me pediu que a indicasse para a
empresa em que trabalhei, pois ela estava abandonando o curso de psicologia e o estgio
numa Escola Especial. Ento fizemos a troca: eu a indiquei para algumas empresas e ela me
indicou para a escola especial. E l estagiei por nove meses, somando 620 horas no ncleo de
Arteterapia para crianas, jovens e adultos portadores de necessidades especiais, sendo
orientada por Tocantins, Psicloga Junguiana com formao em Arteterapia.
Terminei o estgio, me formei como Psicloga e j estava a meio caminho andado da
Ps-graduao precisando de um novo estgio e fazendo uma mudana de cidade. Sem
conhecer ningum na nova cidade, fiz o primeiro contato com os vizinhos do lado. A vizinha
era diretora de uma Escola Especializada Para Portadores de Necessidades especiais.
Entreguei-lhe meu projeto de estagio e foi aceito. Assim, envolvi-me em uma nova
experincia com portadores de necessidades especiais.
O ganho relevante dessas experincias para mim foi ter aprendido a ver o humano no
corpo ou na mente deficiente; e atravs da Arteterapia aprendi a proporcionar a essa
populao de crianas, jovens e adultos escondidos e excludos, um caminho possvel para a
expresso do humano especial, favorecendo um espao de criao da prpria existncia para
reconhecerem-se no mais como uma engrenagem defeituosa da mquina social, mas se
perceberem como pessoas que sonham, desejam, sentem e pensam como todos os Seres
Humanos.
3
INTRODUO
A sociedade brasileira vem debatendo a questo da incluso de pessoas portadoras de
necessidades especiais nas escolas, no mercado de trabalho e nas atividades sociais em geral.
A questo que as instituies de ensino, o mercado de trabalho e at mesmo os espaos
pblicos carecem de um ambiente que favorea a adequao e adaptao deste grupo
populacional na vida coletiva em geral. Penso que necessrio, principalmente, que haja uma
mudana de atitude para um interesse em conhec-los como pessoas que so, no apenas suas
necessidades fsicas, mas que possam ouvi-los sobre o que desejam, o que querem e o que
necessitam. Convivendo com essa populao, percebe-se que poderiam ser qualitativamente
atendidos em suas reais necessidades, se suas vozes (falada, escrita, desenhada, gestual ou
danada) fossem ouvidas e sua humanidade pudesse ser reconhecida. A pessoa portadora de
necessidades especiais geralmente tem sua existncia limitada em guetos como: grupo
familiar, as instituies especializadas, os vrios profissionais que os atendem e as igrejas que
freqentam acompanhando a famlia. Cada lugar desse conhece uma frmula para atender
suas necessidades que, sejam bsicas ou especiais, focam a deficincia do sujeito sem
considerar suas possibilidades singulares.
Esta pesquisa aborda a pratica da arteterapia em grupo como processo teraputico de
jovens adultos com limitaes de aprendizado, deficincia fsica e conflitos emocionais
expandindo a autopercepo e facilitando a expresso e a comunicao de suas subjetividades
para seu meio familiar e social em geral. Favorecendo sua incluso e participao em
atividades de grupo e propiciando a reduo do seu isolamento.
Como o processo arteteraputico pode contribuir no desenvolvimento cognitivo e
psicolgico de jovens adultos com limitaes de aprendizado e conflitos emocionais?
A prtica da arteterapia pode contribuir para reduzir a solido de pessoas com limitaes
cognitivas e fsicas?
Como as estratgias arteteraputicas auxiliam o desenvolvimento da autonomia criativa
de pessoas com limitaes de aprendizado, deficincia fsica e conflitos emocionais?
Estas so as perguntas que busco responder no decorrer da apresentao deste trabalho.
A pesquisa sobre os benefcios da Arteterapia como abordagem teraputica para pessoas
com deficincias pretende verificar a contribuio da ativao do processo criativo como
meio possvel a ser utilizado pela Instituio de Educao. Investigar como a Arteterapia
facilita o desenvolvimento desse pblico quanto autonomia criativa, a comunicao e
4
interao social, facilitando o seu processo de incluso e participao em atividades
cotidianas, tornando-os mais integrados na vida coletiva.
Investigar como construir um ambiente seguro no grupo, onde atravs do fazer artstico
cada participante possa expressar contedos internos, desejos e medos, possibilitando o
autoconhecimento; a percepo sobre a existncia do outro; a resoluo de conflitos pessoais
e de relacionamento; o desenvolvimento geral da personalidade e a capacidade para fazer suas
prprias escolhas.
Verificar os benefcios teraputicos da pratica da arteterapia, para pessoas portadoras de
necessidades especais.
Analisar a contribuio do processo arteteraputico para o autoconhecimento e da
percepo de si e do outro, e da possibilidade de propiciar o aumento da capacidade destes
jovens para a comunicao e a ao em grupo.
A pesquisa em questo foi pautada no modelo bibliogrfico de pesquisa e ilustrada por
estgio em Arteterapia.
5
CAPTULO I
PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS
Neste captulo apresentarei algumas das questes que so relevantes para pessoas
portadoras de necessidades especiais.
Assim, primeiramente sero definidos alguns conceitos sobre o que pode caracterizar
uma pessoa com necessidades especiais. Apresentarei algumas idias sobre incluso social e
sobre a importncia de defender direitos e facilitar condies de vida dos portadores de
necessidades especiais.
1.1 Pessoas Portadoras de Necessidades Especiais E Suas Principais Questes.
Imagem 02 - O Poder da Convivncia
A convivncia entre os homens o fator
principal para gerao de poder.
Hannah Arendt
A falta de entendimento das diferenas entre os seres humanos no decorrer da existncia
das civilizaes fez com que os diferentes sempre fossem tratados de forma relativamente
agressiva e confusa, sendo usados, rotulados, segregados, discriminados, excludos e em
alguns casos exterminados. Outras vezes pela mesma falta desse entendimento a prpria
pessoa diferente assume atitudes muito particulares como autopunio, o isolamento e a
agressividade.
6
A sociedade, representada pelas Instituies em geral e pelas pessoas, de maneira
voluntria ou involuntria, age de forma preconceituosa frente questo da incluso de
pessoas portadoras de necessidades especiais nas instituies de ensino, no mercado de
trabalho e em muitos espaos sociais. A incluso da pessoa portadora de deficincia na
sociedade no deveria mais ser encarada como um problema individual do portador e de sua
famlia. Buscar maneiras de atender as necessidades especiais dessa populao proporciona
uma razo para lutar e amenizar os problemas enfrentados com a deficincia uma maneira
de reconhec-los lhes dando oportunidades iguais na vida comum e principalmente a chance
para ao menos tentarem entrar no mercado de trabalho.(1)
Portadores de Necessidades Especiais ou Pessoas com Necessidades Especiais so
formas politicamente corretas criadas na atualidade para identificar o que antes chamvamos
de deficientes, anormais, loucos etc. Estas denominaes tratam em carter temporrio ou
permanente, significativas diferenas fsicas, sensoriais ou intelectuais, decorrentes de fatores
inatos ou adquiridos, que acarretam dificuldades em sua interao com o meio social,
necessitando, por isso, de recursos especializados para desenvolver seu potencial e superar ou
minimizar suas dificuldades. (2)
No exagero afirmar que uma pessoa que apresenta uma diferena seja fsica,
cognitiva ou psquica, foi e continua sendo excluda da convivncia social ou, no mnimo,
encontra muita dificuldade para se integrar como cidad com direitos e deveres na sociedade.
Com a falta de estmulo, os prprios deficientes sentem-se excludos. Basta ver as barreiras
para locomoo, a falta de lugares adaptados para diverso, estudo, trabalho e etc. Atualmente
est ocorrendo uma grande discusso sobre a incluso de pessoas com necessidades especiais
no meio social e aos poucos algumas mudanas polticas apontam um sentido de
reconhecimento social do portador de deficincia.
Para Carneiro (3), as pessoas com necessidades especiais classificam-se em:
Portadores de Deficincia Auditivos, Visuais (sensorial), Mental,
Fsica, Mltipla;
Portadores de Condutas Tpicas (comportamentos tpicos de portadores
de sndromes e quadros psicolgicos, neurolgicos ou psiquitricos com
repercusso sobre o desenvolvimento e comprometimento no
relacionamento social).
1. Citado em Webartigos.com, em 25/10/2009.
2. Citado em Webartigos.com, em 25/10/2009.
3. Citado em Webartigos.com, em 25/10/2009.
7
Crianas de Alto Risco (aqueles que tm o desenvolvimento fragilizado
em decorrncia de fatores como: gestao inadequada, alimentao
imprpria, nascimento prematuro, etc);
Portadores de Altas Habilidades (tambm chamados de superdotados,
so aquelas crianas que exibem elevada potencialidade em aspectos
como: capacidade intelectual geral; acadmica especfica; capacidade
criativa e produtiva; alto desempenho em liderana; elevada capacidade
psicomotora; talento especial para artes).
Bechtold & Weiss (4) dizem que necessrio refletir no que se refere incluso de
pessoas com necessidades educacionais especiais, como um todo, o que ainda esteja
impedindo ou dificultando a presena ou permanncia destes sujeitos no meio social.
imprescindvel lembrar aos profissionais da educao e aos pais, que percebam que as pessoas
com necessidades especiais possuam os mesmos direitos constitucionais, como qualquer outro
cidado. Devem, inclusive, lhes assegurar um ambiente sadio e adaptado suas necessidades
inclusivas.
Susan e William Stainback (1999) (5), falando de incluso, dizem que no uma ao ou
um conjunto de aes, afirmam que a incluso uma atitude, uma convico. Incluso um
modo de vida, um modo de viver juntos fundado na convico de que cada indivduo
estimado e pertence a um grupo. Incluso uma conscincia da comunidade, uma aceitao
das diferenas e uma co-responsabilizao para obviar s necessidades dos outros.
Labronici (2000) (6), refere que a participao em diferentes atividades tem recebido
ateno crescente por oferecer aos portadores de deficincias fsicas oportunidades para
experimentar sensaes e movimentos que frequentemente so impossibilitados pelas
barreiras fsicas, ambientais e sociais. Dentre as atividades, destaca-se o esporte, muitas vezes
j indicado desde a fase inicial do processo de reabilitao. O esprito esportivo existente
nesses portadores de limitao fsica geralmente alto, tanto pela prpria vontade de vencer,
quanto de mostrar-se capaz. Por esse motivo, alguns centros de reabilitao focam no esporte.
Entretanto, o acesso a esses centros nem sempre fcil, devido especialmente s comunidades
econmicas e sociais desfavorveis.
4. Citado em Webartigos.com, em 25/10/2009.
5. Citado em Webartigos.com, em 25/10/2009.
6. Citado em Webartigos.com, em 25/10/2009.
8
Quando trata-se de deficincia mental a excluso ainda maior devido ao esteretipo
freqentemente associado pessoa com deficincia mental quanto a sua aparente
incapacidade de analisar sua vida e expressar seus sentimentos, de dizer quem so e o que
desejam. As pessoas com deficincias fsicas ou sensoriais esto se integrando cada vez mais
na vida da comunidade, porm, aquelas que tm uma deficincia mental, continuam isoladas
em suas casas e instituies. Segundo Cruz & Barreto (2005) (7),
Trabalhar para pessoas com deficincia mental pode parecer deprimente para
alguns e despertar sentimentos de pena em outros. No entanto, quando se
sonha com um mundo melhor para estas pessoas, o que permite o trabalho no
so sentimentos de depresso ou pena, mas sim a certeza de que possvel
construir algo melhor e mais digno para ela. A pessoa portadora de deficincia
mental, alm de ser estigmatizada pelas prprias caractersticas de sua
deficincia, acaba sendo isolada no meio social em que vive por no ser
considerada como um adulto produtivo em potencial. Aos olhos
preconceituosos, esta pessoa nada ser quando crescer, portanto alm de ser
considerada criana intil, acaba sendo pr-julgada como adulto intil, que
no contribuir para o aumento de produo em nosso quadro social. Ao
mesmo tempo ela acaba sendo bombardeada de atividades e compromissos
que supostamente, d a famlia certa esperana de que possa vir a ser til um
dia. (CRUZ & BARRETO, 2005).
Pode-se observar que uma das maiores barreiras a ser transposta pelo aluno com
deficincia mental no processo de incluso escolar diz respeito organizao simblica da
prpria instituio escolar, que atrelada aos padres massificadores do desenvolvimento
humano, vem a se estruturar muito mais como uma prtica social e compensatria do que
formadora ao aluno, ao dimensionar sua diferenciao e no considerar adequadamente sua
singularidade. De acordo com Gonzalez Rey (2003) (8), a subjetividade pode ser definida
como:
A organizao dos processos de sentido e significao que aparecem e se
organizam de diferentes formas e em diferentes nveis do sujeito e na
personalidade, assim como nos diferentes espaos sociais em que o sujeito
atua. A compreenso da subjetividade de alunos com necessidades especiais
desafia o estudo do processo de incluso escolar, pois como se sabe so
sujeitos que h muito so refns de atribuies e configuraes sociais que os
desconsideram como sujeitos ativos e construtores. (GONZALEZ REY,
2003).
Pensar em incluso e em construir uma educao que abranja todos os segmentos da
populao e cada um dos cidados implica uma ao baseada no princpio da no segregao,
ou, em outras palavras, da incluso de todos, quaisquer que sejam suas limitaes e
possibilidades individuais e sociais (MAZZOTA) (9).
7. Citado em Webartigos.com, em 25/10/2009.
8. Citado em Webartigos.com, em 25/10/2009.
9. Citado em Webartigos.com, em 25/10/2009.
9
1.2. Panorama Nacional Para Proteo de Pessoas com Necessidades Especais
Imagem 03 - Cidadania e deficincia fsica(10)
A inteno de proteger pessoas portadoras de necessidades especiais passou a integrar
as normas constitucionais brasileiras apenas recentemente, na Constituio Federal de 1988.
A partir de ento, graas presso social, criaram-se dispositivos legais em reas como
educao, trabalho, assistncia social e acessibilidade fsica, para garantir a incluso social
das pessoas com necessidades especiais.
O artigo 208, III, da Constituio brasileira determina o atendimento
educacional especializado aos alunos com deficincia,
preferencialmente na rede regular de ensino. A Educao Especial que
tradicionalmente abriga as pessoas com necessidades fsicas especiais,
condutas tpicas (psicoses, hiperatividade, etc.) e superdotao, seguem
tambm os pressupostos formulados pela lei de Diretrizes e Bases da
Educao Nacional (lei n. o 9.394, de 20/12/1996) e acolhida pelo
Estatuto da Criana e do Adolescente. (11)
As novas diretrizes para a educao especial, no decorrer da dcada de 1990, deram um
novo sentido para a educao geral, buscando estratgias e mtodos que respondam s
crianas com necessidades especiais na rede regular de ensino. Esses instrumentos devem ser
utilizados tanto pela criana com necessidades educacionais especiais, como por todos os
outros alunos. Est, assim, prevista em lei a obrigao da escola receber esta clientela, com
penalidades para quem a descumprir.(12)
10. http://4.bp.blogspot.com, em 26/10/2009.
11. Citado em www.saci.org.br, em 26/10/2009.
12. Citado em www.saci.org.br, em 26/10/2009.
http://4.bp.blogspot.com/http://www.saci.org.br/http://www.saci.org.br/
10
No campo da educao, muitas so as barreiras a serem vencidas uma delas o
imaginrio social que ainda carregado de preconceitos, ainda enxergando a convivncia com
a deficincia como um tabu. Muitos professores tm a fantasia de que o trabalho com essa
populao impossvel. As escolas ainda alegam no estarem preparadas para receber esses
alunos, mesmo sabendo que a lei os obriga a faz-lo. As famlias, de certa forma, ficam
"refns" desta recusa, porque querem uma escola que acolha seus filhos de forma espontnea
e competente, e por outro lado, muitas vezes, desconhecem que podem acionar mecanismos
legais para que seus filhos tenham direito escola. Todavia, cada vez mais, as polticas
pblicas no Brasil esto fortalecidas pelo iderio da incluso. As leis federais obrigam os
municpios a atuarem numa linha de trabalho que advoga a incluso de segmentos
marginalizados, dentre estes, as pessoas com deficincia. Hoje, existem programas de
capacitao, material para formao docente e programas de gesto municipal que trabalham
com a tica da diversidade. O professor j tem mais acesso a informaes - existe produo
acadmica vasta, cursos de formao, publicaes, eventos, sites especializados, filmes que
abordam a questo, revistas e muitas fontes que podem sensibilizar e instrumentalizar o
professor para o trabalho da educao inclusiva. (13)
Na rea do trabalho, um dos marcos conceituais a Conveno 159 da Organizao
Internacional do Trabalho (OIT), que visa assegurar medidas adequadas de reabilitao
profissional a todas as categorias de pessoas com necessidades especiais, e promover
oportunidades de emprego para essas pessoas no mercado regular de trabalho.
As medidas para incluso social das pessoas com necessidades especiais no trabalho tm
como resoluo principal e mais efetiva contedo do artigo 93 da lei n. 8.213/91. Esse
dispositivo torna obrigatrio s empresas contratar um mnimo de pessoas com necessidades
especiais, proporcionalmente ao nmero total de seus trabalhadores. Com base no Censo de
2000, estima-se que mais de nove milhes de brasileiros em idade produtiva poderiam entrar
no mercado formal do trabalho, se lhes fossem proporcionadas condies adequadas de
acessibilidade.(14)
13. Citado em www.saci.org.br, em 26/10/2009.
14. Citado em www.saci.org.br, em 26/10/2009.
http://www.saci.org.br/http://www.saci.org.br/
11
Outra norma que merece destaque a lei federal n. o 8.112, de 1990. Ela dispe sobre o
Regime Jurdico dos Servidores Pblicos Civis da Unio, das autarquias e das fundaes
pblicas federais. De acordo com seu artigo 5 , pargrafo segundo:
s pessoas portadoras de deficincia assegurado o direito de se inscrever em
concurso pblico para provimento de cargo cujas atribuies sejam compatveis com a
deficincia de que so portadoras; para tais pessoas sero reservadas at 20% das
vagas oferecidas no concurso.(15)
Pode-se dizer que na rea do trabalho h respaldo das leis, todavia existe descompasso
para p-las em prtica. Existem muitas empresas que ainda descumprem a lei de cotas.
Micros e pequenas empresas, que so uma parcela significativa do mercado de trabalho no
Brasil, esto de fora da poltica de cotas. Mas possvel observar algumas iniciativas
interessantes, que conjugam poltica pblica e iniciativa privada. Algumas subprefeituras
fizeram levantamento da quantidade de pessoas com necessidades especiais de empresas,
passveis do cumprimento da Lei de cotas na sua localidade. E se propuseram a mediar esta
questo, facilitando, por um lado, a colocao profissional das pessoas com deficincia na
regio onde moram e, por outro, o apoio e exigncia s empresas pelo cumprimento da Lei de
cotas. (16)
Recentemente o presidente da Repblica regulamentou duas leis fundamentais. O
decreto 5296 regulamenta as Leis 10.048, de 8 de novembro de 2000 e 10.098, de 19 de
dezembro de 2000, que estabelecem normas gerais e critrios bsicos para a promoo da
acessibilidade. O decreto possui 72 artigos que primam por assegurar as condies de
acessibilidade arquitetnicas, urbansticas, de transportes, de comunicao e informao.
Alm de incorporar a importncia das ajudas tcnicas como rea de conhecimento. As ajudas
tcnicas so tema fundamental no campo do atendimento s pessoas portadoras de
necessidades especiais, propiciando informaes relevantes seja sobre um equipamento, ou
seja, outro recurso, que garantir mais adequao entre o indivduo e seu ambiente. Por
exemplo: um alfabeto composto de letras imantadas para pessoas com dificuldades motoras
uma ajuda tcnica aplicada ao ambiente escolar. (17)
No captulo seguinte, apresentarei conceitos bsicos da Arteterapia para
compreendermos alguns pressupostos de ativao e desbloqueio do processo criativo que
podem vir a facilitar a melhora na qualidade de vida das pessoas com necessidades especiais e
no seu processo de incluso na comunidade.
15. Citado em www.saci.org.br, em 26/10/2009.
16. Citado em www.saci.org.br, em 26/10/2009.
17. Citado em www.saci.org.br, em 26/10/2009.
http://www.saci.org.br/http://www.saci.org.br/http://www.saci.org.br/
12
CAPTULO II
O QUE ARTETERAPIA?
Neste captulo farei uma breve apresentao da Arteterapia. Abordarei seu histrico,
alguns de seus fundamentos tericos e algumas das principais modalidades expressivas
utilizadas. Buscarei tratar aqui dos benefcios da experincia arteteraputica, para poder
avaliar no prximo captulo da presente monografia como este processo teraputico pode
beneficiar pessoas com necessidades especiais.
2.1. Terapias Expressivas
No texto Terapias Expressivas, Andrade (2000) descreve que conhecido,
historicamente, o valor das mais variadas expresses artsticas nas culturas humanas. A arte
tem uma funo simblica, criando substitutos da vida sem nunca ser descrio do real.
Permite ao homem expressar e ao mesmo tempo perceber os significados atribudos sua
vida, na sua eterna busca de um tnue equilbrio com o meio circundante. Manifesta relao
profunda do homem com o mundo. No decorrer das pocas, serve a diferentes propsitos:
Como subjetividades exercendo uma funo mgica de aproximar-se do mistrio e
ser veiculo dele.
Como uma racionalidade com poder de crtica ou de aclarao de aspectos
variados da vida.
Por meio da arte o homem pode unir o seu eu limitado e individual existncia
coletiva, ao mesmo tempo, esta possibilita-lhe apoderar-se das experincias alheias. Com o
seu carter dionisaco ou apolneo, diverso ou conscientizao, a arte revela o homem no
mundo.
A arte pode ter uma funo social e tambm teraputica. Desde o teatro grego, por
intermdio de nveis diversos de identificaes, o pblico liberava sentimentos e emoes
catarticamente. Esta mesma possibilidade encontrada na msica e na pintura onde, como no
teatro, no apenas o artista estrutura seu mundo interior e o expressa por uma simbolizao
que a obra de arte produzida, mas tambm o pblico participante tem a possibilidade de
mobilizar a prpria emoo. Porm, ainda que um indivduo se beneficie terapeuticamente
13
participando de um espetculo em qualquer nvel, esse no o objetivo primeiro destes
eventos, seja uma obra, ou uma atividade artstica.
De acordo com o estgio de uma sociedade, a arte , em graus diferentes,
concebida a partir de uma objetividade e/ou do sonho, do desejo, da intuio.
Com a separao racionalista entre cincia, arte e religio, o artista, o louco, o
profeta, como todo homem, deve ser entendido e explicado por teorias
independentes dos desgnios do oculto. (ANDRADE, 2000, p. 39).
2.2 Arteterapia
Imagem 04 Traduzindo-se
Uma parte de mim multido outra parte estranheza e solido.
Trecho do poema Traduzir-se de Ferreira Gullar.
A Arteterapia um processo teraputico expressivo, um caminho de autoconhecimento
e individuao, mediado atravs de experincias artsticas que ampliam as potencialidades de
cada um e geram transformaes das relaes pessoais e com o mundo.
14
Pain & Jarreau (1996) explicam que o trabalho de arteterapia se orienta de acordo com
vrias tendncias que podem incluir qualquer tratamento psicoterpico que utiliza como
mediao a expresso artstica (dana, teatro, msica, etc), mas defende a definio atual de
arteterapia limitada ao que diz respeito representao plstica: pintura, desenho, gravura,
modelagem, mscaras, marionetes, porque estas atividades tm em comum a objetivao da
representao visual do domnio figurativo a partir da transformao da matria. Lembram
ainda que a palavra arte aplicada aqui no mais o ofcio da recriao da beleza ideal, como
tambm no est a servio da religio ou da exaltao da natureza. A ruptura brutal da arte
contempornea com aquelas que a precedem interrogou nossa poca sobre a prpria funo da
arte. Tais mudanas manifestam atravs da escolha da tcnica e atravs da ideologia
esttica. (Pain & Jarreu, 1996, p.9).
Pain & Jarreau (1996) descrevem as mudanas s tcnicas contemporneas citando a
grande utilizao de materiais de recuperao, a incorporao da fotografia e da fotocpia, as
impresses (alto relevo), etc. Quanto s ideologias estticas, citam a abstrao, o surrealismo,
o gestual, a cintica, o conceitual, o tachismo, entre outros. As autoras afirmam que essas
diversificaes da expresso artstica inspiraram e garantiram as diferentes abordagens artes-
teraputicas. Falando do sentido contemporneo da palavra terapia as autoras consideram
que a dimenso terapia subentende, neste caso, aquela da psique sem a qual nenhuma
modificao duradoura do comportamento considerada. O incluir implicitamente tambm
expandir o campo da prtica, at ento ocupado, quase que exclusivamente, pela ao
psiquitrica.
No projeto proposto pelas mesmas autoras o trabalho est centrado na pesquisa do
sujeito para encontrar e elaborar um universo de imagens significativas de seus conflitos
subjetivos. Esse procedimento obedece hiptese da importncia, para todo sujeito, de se dar
os meios de simbolizar os termos de um conflito. Os obstculos que impedem o aceso a esses
meios so inconscientemente ligados ao prprio conflito, super-los j avanar no caminho
da elaborao profunda.
Philippini (2004) apresenta, dentre as inmeras formas de descrever o que Arteterapia,
considerar como um processo teraputico que ocorre atravs da utilizao de modalidades
expressivas diversas. Segundo a autora, as atividades artsticas utilizadas configuraro uma
produo simblica concretizada, em inmeras possibilidades plsticas, diversas formas,
cores, volumes. Esta materialidade permite o confronto e gradualmente a atribuio de
significados s informaes provenientes de nveis muito
15
profundos da psique, que pouco a pouco sero apreendidos pela conscincia. A Arte
desbloqueadora, aproxima a pessoa da sensao e da emoo, dando acesso a contedos
internos no explicados pela linguagem verbal. Criar expressar a existncia humana
(Philippini, 2004).
Para Andrade (2000), condio sine qua non que a arte esteja no centro do trabalho
para este ser considerado como arteterapia. A arte , portanto, a coluna vertebral da
Arteterapia, a nica justificativa para a mesma se constituir como uma disciplina
diferenciada (p. 40).
O processo de Arteterapia d-se pela experimentao de diversas manifestaes
artsticas: artes plsticas, msica, dana, teatro, escrita entre outros. A modalidade expressiva
atua de maneira diferenciada num indivduo, despertando contedos a serem observados e
trabalhados, dentro dos limites individuais, colaborando para que sejam encontradas solues
criativas para problemas e para que esses sejam enfrentados com maior segurana,
melhorando a qualidade das relaes pessoais e a qualidade de vida do indivduo.
Rhyne (2000) defende que a autodescoberta pela arte pode e frequentemente leva no
apenas auto-realizao, mas tambm a um aumento da capacidade de comunicao,
compreenso, relacionamento e compromisso com os outros. Pensa-se que o trabalho
teraputico que utiliza-se de recursos da arte pode promover o desenvolvimento emocional
dos indivduos que com ele tm contato, dado o aumento da capacidade de comunicao, da
percepo e entendimento de si mesmo e, com isso, proporciona uma vida mais saudvel.
A Arteterapia no objetiva uma avaliao esttica das produes realizadas, mas a
recuperao da possibilidade de cada indivduo criar livremente e com isso ativar seus ncleos
sadios, encontrando formas de comunicar-se, relacionar-se e estar no mundo.
Por ser uma tcnica de atuao sutil e por combinar elementos expressivos e criativos, a
Arteterapia pode ser aplicada a pessoas de todas as idades, de crianas a idosos,
individualmente ou em grupos. Esta prtica muito eficaz em casos de dependncia qumica,
hiperatividade, deficincia auditiva e visual (dentre outros problemas fsicos), doenas
degenerativas como Mal de Alzheimer, doenas mentais e em casos de dificuldade de
comunicao verbal. A Arteterapia pode tambm ser usada profilaticamente, como
possibilidade de evitar doenas fsicas e/ou mentais, atravs da melhoria da qualidade de vida
do indivduo.
16
2.3. Breve Histrico
Segundo Philippini apud Terra (2007), o homem das cavernas acreditava que ao pintar
os animais que queria caar, ganhava poderes para realiz-lo. Os ndios usavam e usam - a
dana e o canto tanto para evocar a chuva para obter uma boa colheita, quanto para curar
doenas. Na Antiga Grcia, o teatro e a dana tambm tinham efeitos curativos, como contam
os relatos sobre Epidauro, centro de cura onde as pessoas participavam de manifestaes
artsticas e entravam em contato com as divindades para obter a cura para seus males.
Philippini afirma que podemos pensar em Arteterapia como um processo teraputico que
resgata tcnicas milenares de promoo, preveno e expanso da sade.
Pain & Jarreau (1996) apresentam um breve histrico da arte com fins teraputicos
desde o final do sculo XIX, onde psiquiatras esto interessados nas produes plsticas dos
alienados; Mohr (1906), Simon (1876 e 1888), Prinzhorn (1922) facilitaram suas produes,
colecionaram-nas e estudaram-nas. No mesmo perodo pedagogos inovadores encorajaram a
expresso criadora na criana, praticando os mtodos de pedagogia ativa. Tais como Decroly,
Freinet, Montessori, Eudolf Steiner.
No Brasil, a doutora Nise da Silveira (1906 - 1999) foi uma das primeiras pessoas a
utilizar a arte com finalidade teraputica. Ela criou oficinas de arte dentro do Centro
Psiquitrico Pedro II, no Rio de Janeiro, onde buscava compreender o universo mental dos
internos a partir de suas criaes, tendo como base a teoria junguiana.
2.4 - O Arteterapeuta
Pain & Jarreau (1996) definem trs domnios necessrios para definir os
conhecimentos e a prxis necessria para se organizar um ateli com vocao teraputica:
domnio da tcnica das atividades plsticas;
domnio da psicologia da representao e da expresso;
domnio da arte, sua significao e sua histria.
Conhecer os trs domnios no significa a obrigao de ter uma especializao em cada
uma dessas trs disciplinas, o que no vivel, mas que elas exigem uma preparao contnua
de certas zonas que concernem o procedimento arteteraputico (ibidem, p.16).
17
Philippini (2004) defende que para a realizao do processo arteteraputico
fundamental que o profissional crie um setting acolhedor, que d segurana ao cliente, onde
este se sinta estimulado e livre para criar e, assim, acessar seus contedos internos. Para isso,
algumas condies so necessrias: importante que o arteterapeuta, alm de ter uma boa
formao terica, conhea bem as modalidades expressivas com as quais vai trabalhar, que
esteja ele mesmo experimentando-as em um ateli ou outro espao de trabalho. Assim como
interessante que apresente ao cliente a maior gama possvel de modalidades e materiais
expressivos, para que este descubra as suas vias de expresso. interessante ainda que o
arteterapeuta esteja vivenciando, ele mesmo, um processo teraputico, para estar em dia com
as suas prprias questes e, como afirma Philippini,
tarefa do arteterapeuta construir, manter, cuidar e ampliar espaos
acolhedores ao processo criativo para que as subjetividades imagticas tenham
vez e voz e, deste modo, cada um possa se reconhecer em sua prpria
produo expressiva e favorecer a expresso e expanso das atividades
criativas de cada cliente, atravs do convvio teraputico, o que ser facilitado
tambm pela construo e ampliao das prprias vivncias criativas do
arteterapeuta. (2004, p.29).
2.5 Arteterapia com abordagem junguiana
A prtica de Arteterapia pode ter referenciais tericos diversas, dos quais podemos
citar alguns: gestlticos, antropofsicos, comportamentais e junguianos. Neste estudo,
estaremos tratando principalmente dos conceitos da Psicologia Analtica de Carl Gustav Jung,
por ser a base de nossa formao e dos nossos estudos que tm como eixo conceitos
junguianos.
Jung foi mdico e psiquiatra; nasceu na cidade de Keswill, na Sua em 26/07/1875 e
viveu at 06/06/1961. Conviveu com Bleuler, Adler, Freud e outros grandes nomes da
psiquiatria da poca. Fora da rea mdica, Jung manteve contatos e trocou idias com grandes
gnios da fsica como Einstein, Pauli, e outros. Estudou profundamente os grandes filsofos
como Schopenhauer, Nitzsche e Kant. Foi buscar lastro para suas idias tambm na Alquimia,
na Mitologia, nos povos primitivos da sia, frica e ndios Pueblos da Amrica do Norte.
Visitou, entre tantos lugares, a ndia, em busca de respostas para suas dvidas mais ntimas.
(Silveira, 1997).
18
Jung foi sujeito de suas prprias experincias no que se refere investigao do
inconsciente. Tudo o que ocorria com ele, incluindo os sonhos, fantasias e intuies, que para
a maioria das pessoas passaria despercebido, era para Jung uma fonte de pesquisa e anlise.
Silveira (1997), afirma que se pode representar a psique, no conceito junguiano, como um
vasto oceano (inconsciente) no qual emerge pequena ilha (consciente). O ego definido por
Jung como um complexo de elementos numerosos, formando uma unidade coesa que
transmite impresso de continuidade e de identidade consigo mesma.
O psiquiatra Carl G. Jung foi um dos pioneiros na utilizao da arte como recurso
teraputico. Segundo Silveira (1992,p 40), a psicologia junguiana reconhece na imagem
grande importncia.
Jung v nos produtos da funo imaginativa do inconsciente auto-retratos do
que est acontecendo no espao interno da psique, pois peculiaridade
essencial da psique configurar imagens de suas atividades por um processo
inerente sua natureza. O psiquiatra suo acreditava que as imagens
produzidas dos pacientes eram carregadas de contedos simblicos, cuja
origem era o Self de cada um, e que lidar com esses smbolos, reconhec-los e
dar sentido a eles, uma forma de estar restaurando esta essncia (Self),
resgatando a totalidade, reintegrando, individuando. (1992, p. 40).
Divergindo do conceito freudiano de libido, Jung entendeu libido como energia
psquica de uma maneira global. A energia psquica (libido) a intensidade do processo
psquico, seu valor psicolgico Silveira (1997 p. 40). A autora explica que no se trata de
valor em acepo moral, esttica ou intelectual. Significado de valor aqui de intensidade,
que se manifesta por efeitos definidos ou rendimentos psquicos (ibidem, p. 40). Fome,
sexo, agressividade seriam expresses mltiplas da energia psquica, tal como calor, luz,
eletricidade so manifestaes diferentes da energia fsica.
Silveira (1997) diz que o conceito junguiano de psiquismo (consciente e inconsciente)
concebido como um sistema energtico, relativamente fechado, possuidor de um potencial
quantitativo que permanece o mesmo por intermdio de suas mltiplas manifestaes durante
toda a vida de cada individuo. No sistema psquico, a quantidade de energia constante, varia
a distribuio.
Se, um grande interesse por este ou aquele objeto deixa de encontrar nele
oportunidade para aplicar-se, a energia que alimentava o interesse tomar
outros caminhos: surgir talvez em manifestaes somticas, vir reativar
contedos adormecidos no inconsciente, construir enigmticos sintomas
neurticos. (SILVEIRA, 1997, p.40).
O inconsciente na psicologia junguiana encontra-se representado em duas dimenses:
inconsciente pessoal e inconsciente coletivo.
19
O inconsciente pessoal refere-se s camadas mais superficiais do inconsciente, cujas
fronteiras com o consciente so bastante imprecisas. Percepes e imprecises subliminares
dotadas de carga energtica insuficiente para atingir o consciente; idias indiferenciadas;
traos de acontecimentos ocorridos durante o curso da vida e perdidos pela memria
consciente; recordaes penosas de serem relembradas; grupos de representaes carregadas
de fortes potenciais afetivos, incompatveis com a atitude consciente (complexos) esto
includos no inconsciente pessoal e ai tambm est oculto nosso lado negativo. (Silveira,
1997).
O inconsciente coletivo corresponde s camadas mais profundas do inconsciente, aos
fundamentos estruturais da psique comum a todos os homens (Silveira, 1997, P. 64). Numa
interpretao psicolgica funciona como denominador comum que rene e explica numerosos
fatos impossveis de entender no momento atual da cincia, sem sua postulao. Os
contedos que constituem o inconsciente coletivo so impessoais, comuns a todos os homens
e transmitem-se por hereditariedade. (ibidem, p. 64).
Arqutipos so outro conceito essencial da psicologia analtica.
So considerados matrizes arcaicas onde configuraes anlogas ou
semelhantes tomam forma. Postulando a existncia de uma base psquica
comum a todos os seres humanos, a noo de arqutipo possibilita a
compreenso do porqu em lugares e pocas distintas aparecem temas
idnticos nos contos de fadas, nos mitos, nos dogmas e ritos religiosos, nas
artes, na filosofia, nas produes do inconsciente de um modo geral seja nos
sonhos de pessoas normais, seja em delrios de loucos (SILVEIRA, 1997,
p.68).
Nem toda imagem arquetpica um smbolo por si s, mas em todo smbolo est
sempre presente a imagem arquetpica como fator essencial, mas, para constru-lo, a essa
imagem devem ainda juntar-se outros elementos. O que ento um smbolo? Silveira
transcreve o que Jung explicou.
Um smbolo no traz explicaes; impulsiona para alm de si mesmo na
direo de um sentido ainda distante, inapreensvel, obscuramente pressentido
e que nenhuma palavra de lngua falada poderia exprimir de maneira
satisfatria. Smbolos so expresses de coisas significativas para as quais no
h, no momento, formulao mais perfeita. Exemplo: a imagem da caverna,
descrita por Plato, onde homens acorrentados vem apenas o movimento de
sombras sem se darem conta de que desconhecem a verdadeira realidade.
(JUNG apud SILVEIRA, 1997, p. 69).
O problema da comunicao entre as pessoas era de grande importncia para Jung.
Percebia em sua clnica que a presena do outro era um desafio constante. Pois, longe de nos
20
parecer semelhante ao outro como gostaramos, ele nos parece muito mais dessemelhante.
Quando Sartre diz que a existncia do outro o atinge em pleno corao, que
sua presena lhe traz uma sensao de mal-estar, que por causa do outro se
sente perpetuamente em perigo, defini uma atitude de introverso. J na
pintura de Matisse acontece o contrrio. O objeto glorificado. Ele retira da
atmosfera que o envolve para dar-lhe marcados contornos e colorido intenso.
Uma feliz relao estabelece-se entre o homem e o mundo. (SILVEIRA, 1997,
p.46).
Jung desenvolveu a teoria dos tipos psicolgicos a fim de nos orientar melhor dentro dos
quadros de referencia do outro. Mas afirmou que s uma maneira de classificao de tipos
psicolgicos e no a verdadeira ou nica possvel. De forma bem resumida apresentaremos a
teoria dos Tipos Psicolgicos de Jung que poder ser vivida de duas formas opostas
complementares, em termos de movimento da energia psquica:
Extroverso e Introverso Atitude diante do objeto/ mundo. Diferencia os
que partem rpidos e confiantes ao encontro do objeto (Extrovertidos),
daqueles que hesitam, recuam, como se o contato com o objeto lhes infundisse
receio ou fosse uma tarefa demasiada pesada (Introvertidos). Estes termos
baseiam-se na maneira como se processa o movimento da libido (energia
psquica) em relao ao objeto. Na personalidade consciente extrovertida
verifica-se na circulao da libido uma energia inconsciente de introverso e
do mesmo modo na personalidade consciente introvertida verifica-se uma
energia inconsciente de extroverso. Tanto a introverso, quanto a extroverso
em graus exagerados podem gerar patologias ou estados mrbidos.
Sensao ou Intuio + Pensamento ou Sentimento funes psquicas,
formas de percepo e julgamento do objeto/ mundo. Jung percebeu que um
introvertido poderia diferir enormemente de outro, embora reagissem de modo
anlogo frente aos objetos. O mesmo acontecia no grupo dos extrovertidos.
Aps muita observao e pesquisa Jung concluiu que as diferenas dependiam
da funo psquica que o indivduo usava preferencialmente para adaptar-se
ao mundo exterior. So quatro funes de adaptao que a conscincia usa para
fazer o reconhecimento do mundo exterior e orientar-se. Todas as pessoas
possuem as quatro funes, entretanto sempre uma dentre elas se apresenta
mais desenvolvida e mais consciente que outras trs. Da ser chamada funo
principal. Melhor seria que as quatro funes se equilibrassem
conscientemente.
21
A sensao constata a presena das coisas que nos cercam e responsvel
pela adaptao do indivduo realidade objetiva. O pensamento esclarece o
que significam os objetos. Julga, classifica, discrimina uma coisa da outra. O
sentimento faz a estimativa dos objetos. Decide o valor que tem para ns.
Estabelece julgamentos como o pensamento, mas a sua lgica toda diferente.
a lgica do corao. A intuio uma percepo via inconsciente.
apreenso da atmosfera onde se movem os objetos, de onde vem e qual o
possvel curso de seu desenvolvimento. (SILVEIRA, 1997, p.48).
Um outro importante conceito da psicologia analtica o conceito de complexo. Sua
importncia deve-se a sua influncia no mal estar ou o bem estar da vida do indivduo. Trazer
os complexos inconscientes conscincia tarefa importante para o conhecimento do si
mesmo, assim como para o tratamento das neuroses. Uma das descries de complexos feitas
por Jung
A imagem de situaes psquicas fortemente carregados de emoo e
incompatveis com a atitude e a atmosfera consciente habituais. Essa imagem
dotada de forte coeso interna, de uma espcie de totalidade prpria e de um
grau relativamente elevado de autonomia. (JUNG apud SILVEIRA, 1997,
p.32).
Para tornar um complexo consciente preciso que ele seja percebido intelectualmente,
mas, principalmente, precisa ser percebido afetivamente. Esses afetos devem ser
exteriorizados por meio de descargas emocionais. Silveira cita as prticas primitivas para
curas de choques e traumas. Os primitivos davam expresso a choques e traumas emocionais
por meio de danas e cantos repetidos inmeras vezes, at que se sentissem purgados desses
afetos (Silveira, 1997, p.32).
Se no nos afetamos sentimentalmente e sensorialmente na conscientizao de um
complexo, ele se manter imerso no inconsciente-corpo, produzindo sintomas somticos e
psquicos irracionais.
Arrisco dizer que felicidade e realizao na psicologia analtica tem conexo com o
Self. Pois, esta felicidade a realizao do si mesmo e para conquist-la necessrio um
intenso e duro trabalho emocional o que Jung nomeou de Processo de Individuao. Este
processo uma jornada de confronto do inconsciente com o consciente, de conflito e tambm
de colaborao entre ambos, onde diversos componentes da personalidade amadurecem e
unem-se numa sntese, na realizao de um individuo singular e inteiro. Esse movimento que
de circunvolues conduzir a conexo fluente um novo centro psquico, o qual Jung
denominou de Self (Si Mesmo). (Silveira, 1997).
22
O desvestimento das falsas roupagens da persona o incio do trabalho no processo
de individuao. Para adaptar-se s exigncias do meio externo, o homem assume uma
aparncia que geralmente no expe o seu verdadeiro modo de ser. mais como uma
representao do que os outros esperam dele, ou um modo como desejaria ser. Este modo de
ser superficial Jung chamou de persona. Os modelos da persona so geralmente recortes
tirados da psique coletiva. O perigo acontece quando o individuo funde-se com suas personas
(cargos, ttulos, papeis sociais diversos), o que pode reduzi-lo a uma impermevel casca de
revestimento. Quanto mais aderida for a persona pele do ator, tanto mais dolorosa ser a
operao psicolgica para despi-la. Quando essa mscara retirada aparece-lhe uma face
desconhecida e por vezes desagradvel, a qual Jung chamou de sombra. (Silveira, 1997).
A sombra o lado desconhecido e escuro, onde moram todas as coisas que nos
desagradam, ou mesmo que nos assustam. Coisas que no aceitamos em ns, aquilo que nos
repugna e por isso reprimimos, ns a projetamos no outro, no nosso vizinho, no nosso inimigo
poltico ou numa figura smbolo como o demnio. Assim caminhamos inconscientes de que
as abrigamos dentro de ns. Se a sombra for demasiadamente reprimida se tornar mais
espessa e obscura. Iluminar esses recantos escuros do nosso inconsciente tem como resultado
o alargamento da conscincia e assim, j no ser o outro quem est sempre errado. Mas a
sombra tambm pode esconder aspectos positivos: qualidades valiosas que no se
desenvolvem, devido uma condio externa desfavorvel ou porque o indivduo no dispe de
energia suficiente para lev-las adiante, principalmente se isso exige ultrapassar convenes
vulgares (ibidem, p. 81).
Aps conhecer a prpria sombra a prxima etapa difcil a se apresentar a confrontao
com a anima ou Animus.
Anima a feminilidade inconsciente no homem. Uma feminilidade indiferenciada,
inferior, manifesta-se, na rotina de um homem, por despropositadas mudanas de humor e
caprichos. Agregam-se tambm as experincias fundamentais que o homem teve com a
mulher atravs de milnios. A anima o arqutipo do feminino. uma funo psicolgica da
mais alta importncia. Tem como trabalho mediar o relacionamento entre o consciente e
inconsciente, e a relao com o mundo externo, na qualidade de sentimento conscientemente
aceito.
Animus o arqutipo do masculino que tem a funo mediadora entre inconsciente e
consciente na mulher, bem como com o mundo externo. O Animus a minoria do que
masculino existente no psiquismo da mulher. Essa masculinidade inconsciente e manifesta-
23
se geralmente como a intelectualidade mal diferenciada e simplista. O Animus se ope a
prpria essncia da natureza feminina, que busca relacionamento afetivo. A hipertrofia do
Animus resultar em humor queixoso, em quebra de laos de amor. O Animus condensa as
experincias que a mulher vivenciou nos seus encontros com o homem no curso dos milnios.
O self enfim prevalece aps as lutas que desfazem as personificaes da anima ou do
animus, o inconsciente muda de aspecto aparecendo sob uma forma simblica nova
representando o ncleo mais interior da psique. (Silveira, 1997, p.87).
Jung explica que
A energia do ponto central manifesta-se na compulso quase irresistvel para
levar o indivduo a tornar-se aquilo que ele , do mesmo modo que todo
organismo impulsionado a assumir a forma caracterstica de sua natureza,
sejam quais forem as circunstncias. (JUNG apud SILVEIRA, 1997, p.89).
Hollis (1995, p. 131) explicando sobre individuao, diz que o que devemos saber vir
de dentro de ns. Se pudermos alinhar a nossa vida com essa verdade, no importa quo
difceis os desgastes do mundo, sentiremos efeito benfico, esperana e vida nova. O autor
afirma que s podemos retomar nosso curso restabelecendo a ligao com a nossa verdade
interior.
Sobre a pratica da Arteteratapia com abordagem junguiana Philippini diz:
Tornar-se um arteterapeuta, que trabalha com as referncias tericas da
abordagem junguiana (PSICOLOGIA ANALTICA), requer disposio
interna para um rduo trabalho de conhecimento e reconhecimento de
linguagens expressivas diversas, acompanhado de treinamento terico
especfico que abranja a compreenso dos dinamismos psquicos envolvidos
na relao teraputica, buscando entendimento do simbolismo universal
contido na escolha dos materiais, e no incansvel estudo das mltiplas formas
de representao das transformaes da psique, armazenadas desde sempre, na
historia da humanidade e no Inconsciente Coletivo. (PHILIPPINI, 1995).
No prximo captulo verificaremos como a Arteterapia com base no referencial terico
da Psicologia Analtica, apresentada aqui em linhas gerais, pode beneficiar pessoas portadoras
de necessidades especiais no seu processo de desenvolvimento psquico contribuindo na
melhora da qualidade de vida deste pblico.
24
CAPTULO III
UMA EXPERINCIA ESPECIAL COM ARTETERAPIA:
DA SOLIDO INTERLOCUO.
Poder a condio da existncia do homem falante e atuante;
dominao e violncia so o espao dos mudos e imobilizados.
Hannah Arendt
Esse captulo apresentar alguns relatos referentes a experincias prticas do
Processo Arteteraputico, com base na abordagem terica junguiana, realizado em estgio
aplicado a grupo de jovens portadores de necessidades especiais atendidos por uma Escola
Especial para portadores de necessidades especiais numa cidade da regio Centro Sul do
Estado do Rio de Janeiro.
3.1. Desenvolvimento psquico na abordagem Junguiana
Voltarei a abordar conceitos Junguianos para apresentar sua viso acerca da psique, das
etapas da vida humana, o que justifica-se neste trabalho por ajudar a pensar o
desenvolvimento psquico e a subjetividade do grupo e seu processo de conscientizao.
Jung (1931) abordou os problemas das etapas da vida humana sinalizando que uma
tarefa muito complexa, pois para descrever fielmente a vida psquica de uma pessoa seria
necessrio traar um quadro desde o seu bero at sua sepultura. Assim, em seus estudos e
escritos essa tarefa s pode ser feita em linhas gerais, tratando apenas de questes centrais,
dos problemas que poderiam ser observados e pesquisados permitindo respostas que no so
suficientemente seguras se levamos em conta a subjetividade do ser humano. A vida psquica
do homem civilizado cheia de problemas e Jung afirmava que em termos de seus
problemas que deve ser explicada.
Segundo Jung (1931), os processos psquicos do homem civilizado so constitudos de
reflexes, dvidas, experimentos graas ao crescimento da conscincia ao qual devemos a
existncia dos problemas. Se a vida psquica fosse constituda de evidncias naturais, como no
estgio primitivo do homem, nos contentaramos apenas com um empirismo decidido.
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Seramos identificados natureza e a psique instintiva e inconsciente, desconheceria, por
exemplo: a dvida. O instinto natureza e deseja perpetuar-se com a natureza, ao passo que a
conscincia s pode querer a civilizao ou a sua negao. Quando o Homem se identifica
com a natureza, se torna inconsciente e vive na segurana dos instintos que desconhecem
problemas. Tudo aquilo no Homem que est ligado natureza tem pavor de qualquer
problema, porque a se enquadra a dvida, a incerteza e possibilidade de caminhos
divergentes. A possibilidade de caminhos diferentes d medo, porque a conscincia
chamada para fazer tudo aquilo que a natureza sempre fez em favor de seus filhos, como
exemplo: tomar decises seguras, inquestionveis e inequvocas. Da o medo humano de que
a conscincia, a conquista que nos d esperana, no fim no seja capaz de nos servir to bem
quanto a natureza. Assim nos encontramos conscientes e num estado de soledade e de
orfandade absoluta obrigados a tornar-nos conscientes.
Jung diz que cada problema pode possibilitar a ampliao da conscincia, mas tambm a
necessidade de desprendimento dos traos infantis e de confiana inconsciente na natureza.
Jung citou que esta necessidade um fato psquico to importante, que constitui um dos
ensinamentos simblicos mais essenciais da religio crist.
o sacrifcio do homem puramente natural, do ser inconsciente e natural, cuja
tragdia comeou com o ato de comer a ma no paraso. A queda do homem
segundo a Bblia, nos apresenta o despontar da conscincia como uma
maldio, E assim que vemos qualquer problema que nos obriga a uma
conscincia maior e nos afasta mais ainda do paraso de nossa infantilidade
inconsciente. Cada um de ns espontaneamente evita encarar seus problemas,
enquanto possvel; no se deve mencion-los, melhor ainda, nega-se sua
existncia. Queremos que nossa vida seja simples, segura e tranqila, e por
isto os problemas so tabu. Queremos certezas e no dvidas; queremos
resultados e no experimentos, sem nos darmos conta de que as certezas s
podem surgir atravs da dvida, e os resultados atravs do experimento.
Assim, a negao artificial dos problemas no gera a convico; pelo
contrrio, para obtermos certeza e claridade, precisamos de uma conscincia
mais ampla e superior. (1)
Para Jung (1931) quando temos que lidar com problemas; instintivamente nos
recusamos a percorrer um caminho que nos conduz atravs de obscuridades e
indeterminaes. Falamos de resultados inequvocos e esquecemos de que os resultados s
podem vir depois que atravessamos a obscuridade. Para penetrar a obscuridade, necessrio
lanar mo de todo o potencial de iluminao que a conscincia nos oferece.
1. Conferncia publicada parcialmente em Neue Zrcher Zeitung, 14/16 de maro de 1930; nova redao sob o
ttulo de Die Lebenswende aparecida em Seelenprobleme der Gegenwart, Psychologische Abhandlungen III
(1931).
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3.1.1. As Fases Do desenvolvimento na Abordagem Junguiana
Para Jung, o desenvolvimento da psique parte de um estado original de indiferenciao.
O inconsciente existe priori, contendo todas as possibilidades e potencialidades do sujeito.
Ao longo da infncia a conscincia vai se estruturando, diferenciando-se do inconsciente.
Para Newman apud Diniz (2004), as fases de desenvolvimento do indivduo repetem as
da humanidade, as quais so representadas pelos mitos.
Sua teoria uma releitura do desenvolvimento humano comparando-o ao
desenvolvimento da humanidade que se d atravs de Ciclos Arquetpicos de
Desenvolvimento, sendo estes considerados evolutivos-estruturantes,
referindo-se: ... a transformao progressiva da conscincia.(DINIZ, in
Revista Imagens da Transformao n. 11, Vol. 10, 2004).
Assim, na abordagem junguiana, os estgios do desenvolvimento da criana partem de
um estado de indiferenciao total, observado nos mitos de Origem; passam pelo Matriarcado,
onde prevalece o culto Deusa ou Grande Me e, posteriormente, chegam ao Patriarcado,
ao culto aos deuses, ao despertar da Conscincia. Seguindo essa seqncia, o sujeito chega
vida adulta, onde vivencia a Alteridade, caminhando rumo ao encontro com o outro at chegar
Dinmica Csmica, trazendo a conscincia e a re-significao da finitude da existncia
humana (ibidem, 2004).
3.1.2. Estgio Ourobrico
imagem 05: Ouroboros
A primeira fase do desenvolvimento infantil tem o ouroboros como a representao
mitolgica da imagem alqumica do drago que devora a si prprio; a serpente alada, que se
engendra e engole a prpria cauda.
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Trata-se do perodo inicial do desenvolvimento humano, abrangendo a fase intra-uterina
e os primeiros meses do beb (a que Neumann chama de Fase Embrionria Ps Uterina).
Neste perodo no h distino entre eu-outro, mundo interno-mundo externo, nem
diferenciao entre ego e Self. O mundo , portanto, dotado de duplo sentido: no existe a
noo de tempo. A criana vivencia a eternidade, estando num universo que a envolve e a
contm, circunda, protege e nutre. Vive num mundo de potencialidade e possibilidades, onde
tudo existe, mas nada tem forma, vivenciando o obscuro, o Caos, retratado nos Mitos de
Origem. Caracteriza-se tambm por um mnimo de desconforto e tenso e um mximo de
segurana, e tambm pela unidade entre o eu e o tu, entre o Self e o mundo, se o
referenciarmos ao mitolgico, pode ser considerada paradisaca.(Diniz, in Revista Imagens da
Transformao n. 11, Vol. 10, 2004).
3.1.3. Dinmica Matriarcal
imagem 06: A Grande Me
Sendo esta a segunda fase, onde a criana passa a reconhecer o TU representado pela
figura materna, que para ela fonte de prazer. Apresenta dificuldades em aceitar interdies e
seu comportamento visa o atendimento de suas necessidades bsicas.
Enquanto imagem arquetpica, a Grande Me traz em si a bipolaridade. Tem tanto o
poder de aquecer, sustentar, aconchegar, nutrir e proteger; como o de abandonar, possuir,
devorar. Aqui se inicia o desenvolvimento da relao Ego-Self e seus distrbios. A me, ou
sua substituta traz para a criana a possibilidade de transformar quando ao cuidar dela faz
magicamente o frio virar aquecimento, o desconforto, conforto, a dor, prazer e a fome,
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saciedade. A criana estar assim, susceptvel dor e ao desconforto primeiros
organizadores da conscincia necessitando que algum outro lhe d o que ela necessita para
sua sobrevivncia. O mundo nesse momento vivido a partir de opostos que se
complementam, pois a realidade externa se apresenta de forma binria e ela pode sentir ora
um estado e ora outro, mas ainda no capaz de estabelecer uma diferena entre eles. A
disponibilidade ou no disponibilidade da figura materna para relacionar-se com a unidade
biopsquica do filho imprescindvel para a formao inicial da criana, porque a formao
do Ego est diretamente conectada experincia corporal, sendo o Self, nesta fase, totalmente
corpreo. Aos poucos a criana vai criando a percepo de um envelope corporal, uma
separao entre dentro e fora, eu e no-eu, vivendo atravs de seu corpo os limites de sua
personalidade. Ocorre, ento, um distanciamento progressivo entre a Conscincia e o
Inconsciente, a criana entra na Fase Patriarcal. Um desequilbrio radical na relao primal
pode conduzir disfuno e doena mental (Diniz, in Revista Imagens da Transformao n. 11,
Vol. 10, 2004).
3.1.4. Dinmica Patriarcal
Imagem 07: Zeus, O Grande Pai.
Na Dinmica Patriarcal a criana comea a aprender a lidar com as normas, as regras,
as leis, os deveres, as interdies; torna-se capaz de integrar sensaes e observaes passadas
e presentes, adquirindo a capacidade de recordar-se e ligar-se ao meio em que vive. Adquire a
noo de continuidade e passa a ter a memria de sua prpria histria, tendo noes de ontem,
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hoje e amanh. Comea a fazer operaes abstratas simples e conquista estgios iniciais de
autonomia e independncia. (Diniz, in Revista Imagens da Transformao n. 11, Vol. 10, 2004).
A imagem arquetpica do Pai d criana um lado ativo, prtico e protetor; aquele que
estabelece metas e faz planos para o futuro. Promove o lado funcional no plano material da
realidade, no mundo real. A vida passa a ser regida pela tica, pelas normas, pelos valores,
pelas tradies, pela moral, pelos deveres, pela temporalidade. A criana comea ser inserida
no universo cultural e social que lhe exigem uma srie de atitudes e comportamentos,
condizentes com o meio externo. O perodo do Patriarcado constitui grande parte da infncia.
nele que a criana prepara-se para o ingresso na escolaridade formal propriamente, entrando
no mundo dos matemticos e da resoluo de problemas. (ibidem, 2004).
3.1.5. Dinmica do Heri e a Busca da Alteridade.
Imagem 08: eu tenho meu estilo
No final da fase patriarcal, ocorre a sada da infncia para a adolescncia, caracterizada
por mudana de interesses e alteraes fsicas e emocionais. Simbolicamente, esse momento
marca o incio pela busca da Alteridade - caracterizada pela necessidade de reconhecer a si e
ao outro, determinando as necessidades, os limites e as possibilidades de troca. (ibidem, 2004)
A criana, agora pr-adolescente, constela a Dinmica do Heri, que constitui uma
tentativa do Inconsciente em criar um modelo de Complexo do Ego ideal, que permanece em
harmonia com as exigncias da Psique. Caminha rumo Alteridade, comeando a tornar-se
capaz de suportar a tenso de opostos, e considerar o lugar do outro, o que a levar
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construo de sua individualidade e ao relacionamento com um outro, outro, diferente dos
modelos parentais.
O desenvolvimento infantil centra-se nestas trs primeiras fases: Ourobrica, Dinmica
Matriarcal e Dinmica Patriarcal. Nelas o estado de dependncia ntido, tanto no que se
refere necessidade de proteo e cuidados, como necessidade de ser orientado e conduzido
no mundo. Vale ressaltar que essas fases so acumulativas, estando o sujeito predisposto a
contatar-se com sentimentos e sensaes de cada uma delas em processos regressivos que
levam a conexo com contedos primitivos que podem ser elaborados a partir de uma nova
progresso energtica. Diniz, citando Newman, explica que o regente do desenvolvimento do
sujeito nas diferentes etapas da vida, o Self Centro da Psique. Newman chama de
centroverso o movimento da psiqu rumo totalidade, atravs dos movimentos de
diferenciao e de integrao. Em cada integrao de um novo contedo, o Ego se diferencia
do Self, tornando-se mais amplo, trazendo para a conscincia um pouco da totalidade. (Diniz,
in Revista Imagens da Transformao n. 11, Vol. 10, 2004).
3.2. O Estgio Arteteraputico X O Programa Para Jovens e Adultos Especias
Uma pessoa que desenvolva caminhos prprios de expresso, a partir do
conhecimento de materiais, tcnicas, conceitos nas diversas produes
artsticas, capaz de participar de modo mais efetivo do seu contexto
sociocultural, contribuindo produtivamente e transformando o seu
desenvolvimento em processo contnuo de aprendizagens e de reconstruo de
seus modos de expresso. E isso exercer cidadania, por que a afirmada sua
marca pessoal, de indivduo presente na contextualizao da sociedade em que
vive. MARTINS
A proposta apresentada para a Escola Especial consistia em organizao de estgio, em
Arteterapia, oferecendo a pratica do Processo Arteteraputico para um grupo de no mnimo
trs e no mximo seis alunos. O objetivo especfico deste estgio era promover, atravs deste
processo, o desenvolvimento dos canais de comunicao e expresso dos participantes; sua
concentrao; motivao e percepo; liberando emoes e imagens perturbadoras;
canalizando a agressividade; promovendo a integrao sensorial; e ampla estimulao do
processo criativo; flexibilizando o comportamento atravs do trabalho com situaes novas;
incentivando a autonomia, a socializao e o prazer de produzir.
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A contraproposta apresentada pela Escola Especial para realizao do estgio tornou-se um
grande e desafiador trabalho. O grupo oferecido foi de 16 jovens e adultos com idades de 15 a
40 anos, com necessidades especiais diferenciadas, inseridos num programa especial da
escola, criado para atender os jovens portadores de necessidades especiais que no freqentam
a escola especial por estarem acima da idade de 15(quinze) anos, ou que esto inserido na
rede municipal de ensino, mas apresentam dficit de aprendizado por problemas cognitivos ou
emocionais.
Os objetivos da instituio com o programa para jovens e adultos eram:
Geral= promover nos jovens habilidades que abram caminho para transformao de sua
prpria vida, conscientes de seus deveres e direitos para tornarem-se cidados de fato.
Oferecer um espao onde pudessem expressar seus desejos e opinies, sabendo que seriam
ouvidos e respeitados num ambiente seguro.
Especfico = orientar aos jovens direitos e deveres em oficinas sobre cidadania e profisses;
favorecendo a expresso artstica e criativa dos participantes nas oficinas de arte; estimulando
atividades esportivas com Educao Fsica e Promovendo para os deficientes e suas famlias
conhecimentos de trabalho realizados em artesanato, como maneira de tornar a atividade
fonte de renda para a famlia.
A Arteterapia seria uma das atividades oferecidas dentro deste programa para atender
pessoas jovens e adultas portadoras de necessidades especiais. A estrutura oferecida para a
Arteterapia foi um espao adequado, material plstico e dois ajudantes; sendo uma
professora experiente e um rapaz com experincia em dar apoio aos fisioterapeutas da
instituio. Com esse apoio achei possvel aceitar o desafio. O estgio foi oficializado tendo
sido acordado com a instituio o objetivo de verificar os benefcios da aplicao do
Processo Arteteraputico para pessoas com necessidades especiais sem vinculao ao projeto
de produo de artesanato nem com expectativas de se obter produtos de arte para serem
vendidos.
3.3. O Grupo de Jovens e Adultos Especiais
O estgio foi ento realizado com grupo heterogneo quanto caractersticas de idade,
gnero, limitaes fsicas, limitaes cognitivas e diagnsticos; composto por seis moas e
dez rapazes. O ponto comum do grupo era o fato de serem pessoas inseridas em famlias de
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baixa renda (2) e viverem isolados dentro dos limites de uma famlia, ou da igreja e das
atividades de tratamento mdico.
No primeiro encontro percebi jovens interessados, mas sem iniciativa, apticos, alguns
com aparente sedao por medicamentos, outros confusos e desconfiados. Uma atitude
comum era o comportamento de obedincia. Pareciam sem desejos especficos, esperavam
que lhes fosse dado algo. As solicitaes precisavam ser individualizadas e acatavam com
certa timidez e retraimento. No havia um relacionamento entre eles. Pareciam solitrios,
carentes de um sentido de existncia.
3.4. Espao e Cronograma
O que caracteriza um ser humano? O que diferencia o homem de um animal?
Essas questes estiveram em meu pensamento como um mantra, e revelar a humanidade
das pessoas do grupo Juventude Especial foi o meu objetivo durante o percurso do estgio.
Entendi a necessidade de construir uma nova histria ou reconstruir a histria de cada
participante. O estgio seria para mim um grande desafio.
Isso uma necessidade absoluta para qualquer um. Voc precisa de um grupo,
uma determinada hora ou certo dia em que no leu as notcias de manh, no
sabe quem so seus amigos, no sabe o que deve a quem quer que seja, nem o
que lhe devem. um lugar onde voc simplesmente vivencia e traz tona o
que voc e o que pode ser. o lugar da criao incubativa. No inicio, voc
pode achar que nada acontece, mas, se voc tem um lugar sagrado e se serve
dele, alguma coisa eventualmente acontece. (CAMPBELL apud PHILIPPINI,
1999).
Em Philippini (1999), conheci o significado de Territrio Sagrado em Arteterapia e
percebi que a primeira providncia a fazer seria tornar nossos encontros um Territrio
Sagrado. A autora lembra que todas as culturas tm seus territrios sagrados, um espao de
proteo, calma e serenidade em que os indivduos podem realizar seus ritos de conexo com
aquele que concebem como divindade. Locais para renovar as foras, espao de reverenciar
ancestrais, pedir proteo, inspirao e harmonia. So espaos onde reunem-se smbolos que
facilitam um processo de resgate de um cho original, uma verdadeira casa no sentido
psquico.
2. A camada da sociedade onde as pessoas possuem um baixo poder aquisitivo e uma baixa qualidade de vida.
Suas necessidades bsicas, como moradia, sade e alimentao so supridas com muita dificuldade, e muitas
vezes so impossibilitados de ter lazer e entretenimento. http://www.infoescola.com/sociologia/classes-sociais/
26 NOVEMBRO 2009).
http://www.infoescola.com/sociologia/classes-sociais/
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Com esta idia de Territrio Sagrado negociei com a instituio, onde o estgio foi
oferecido, os detalhes para criao do espao atendendo a necessidade de construo do
setting da Arteterapia que, segundo a autora, deve recriar, nos tempos atuais, o territrio
sagrado. Este espao funciona como local de criao, de resgatar e expandir potencialidades
adormecidas, de desvelar sentimentos, de compreender contedos inconscientes.
3.5. O Grupo e a necessria identidade
O Estgio em Arteterapia, devido a sua carga horria segue uma abordagem de terapia breve,
subdividido em trs etapas de conduta focal: Diagnose (mdulo I); Definio de Hiptese
diagnstica referente tnica do funcionamento psicodinmico mais significativo do grupo
(mdulo II) e Processos auto gestivos (mdulo III). Cada etapa do processo arteteraputico se
realizou atravs de 10 (dez) sesses com trs horas de durao cada. A pratica do processo
arteteraputico foi iniciado em 05 de maro de 2009, e no decorrer deste captulo sero
apresentados alguns aspectos do desenvolvimento deste trabalho que foi finalizado em 15 de
outubro de 2009. Em maio, aps uma convivncia de 10 (dez) encontros, finalizando a etapa
diagnstica identificou-se uma tnica comum ao grupo: identidade, melhor dizendo: falta de
identidade. A hiptese diagnstica levantada foi a necessidade do desenvolvimento da
autonomia. A autonomia aqui conceituada como despertar e facilitar o desenvolvimento do
indivduo nos seguintes aspectos de sua vida: expressiva, criativa, existencial e afetiva;
profissional; locomoo e deslocamento; social; incluso na comunidade; auto-estima
(talentos e limitaes) e reconhecimento da auto-imagem.
3.6. E o que mesmo autonomia?
preciso aprofundar um pouco mais sobre as vrias formas de definir autonomia, pois
afinal estou falando da autonomia de pessoas com limitaes importantes em suas
possibilidades de existncia.
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Imagem 09 desenhando com os ps
A palavra autonomia vem do grego e significa autogoverno, governar-se a si prprio. O
conceito de autonomia tambm inspira-se nas cincias jurdicas: o conceito diz que
autnoma a pessoa maior de idade capaz de decidir livremente sobre questes de sua vida ou
dos seus dependentes e, conseqentemente, suportar as decorrncias de suas decises.
Filosoficamente, o conceito de autonomia confunde-se com o de liberdade, consistindo na
qualidade de um indivduo tomar suas prprias decises, com base em sua razo individual.
Em trabalho intitulado Princpio do R