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TAX & BUSINESS
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J U R I S P R U D Ê N C I A D O T R I B U N A L D E J U S T I Ç A D A U N I Ã O E U R O P E I A ( 3 º . T R I M E S T R E D E 2 0 1 5 )
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IBFD – Tax Correspondents Portugal, Angola and Mozambique
Pretende-se, com a presente Informação
Fiscal, apresentar uma síntese trimestral
dos principais Acórdãos proferidos pelo
Tribunal de Justiça da União Europeia
(doravante abreviadamente designado
por “TJUE”) – à semelhança do que
fazemos em relação às decisões do
Centro de Arbitragem Administrativa
(“CAAD”) e do Tribunal de Contas –,
relacionados com o domínio da
Fiscalidade, analisando, caso a caso, o
impacto e o contributo que tais decisões
poderão vir a ter, do ponto de vista
nacional.
A presente Informação Fiscal é relativa ao
3.º Trimestre de 2015.
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1. 1. 1. 1.
Número do processo:Número do processo:Número do processo:Número do processo: C-334/14
Nome:Nome:Nome:Nome: Estado Belga contra Nathalie De Fruytier
Data:Data:Data:Data: Acórdão de 2 de Julho de 2015
Assunto: Assunto: Assunto: Assunto: Isenção de IVA na actividade de transporte de órgãos e de produtos biológicos de
origem humana
FactosFactosFactosFactos
Nathalie De Fruytier (doravante abreviadamente designada por “N. De Fruytier”) exerce, a
título independente, uma actividade de transporte de produtos biológicos de origem
humana por conta de diversos hospitais e laboratórios, sob a autoridade e a
responsabilidade de um médico.
N. De Fruytier não liquida IVA aquando da facturação de tais serviços, decorrentes do
exercício da sua actividade.
No seguimento de uma acção de inspecção, a Administração Fiscal belga veio pronunciar-
se sobre o enquadramento de tal actividade, tendo entendido que deveria ter sido liquidado
IVA, com referência aos serviços decorrentes da actividade exercida por N. De Fruytier.
No âmbito do litígio decorrente da referida inspecção, foram submetidas, ao TJUE, as
seguintes questões prejudiciais:
1) Uma actividade de transporte de produtos e de órgãos, para efeitos de análises
médicas ou de assistência médica ou terapêutica, pode beneficiar da isenção de
imposto prevista na Sexta Directiva, aplicável a prestações de serviços de assistência
efectuadas no âmbito do exercício das actividades médicas?
2) Deve o conceito de “outros estabelecimentos da mesma natureza devidamente
reconhecidos” ser interpretado no sentido de que inclui as sociedades privadas cujas
prestações consistem no transporte de produtos humanos para efeitos de análise
indispensável para alcançar as finalidades terapêuticas prosseguidas pelos
estabelecimentos hospitalares e de assistência médica?
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Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal
Em linha com a jurisprudência já conhecida, o TJUE começou por considerar que as
normas de isenção constantes da Sexta Directiva, devem ser interpretadas
restritivamente, por constituírem excepções ao princípio geral segundo o qual, o IVA é
cobrado sobre cada prestação de serviços efectuada a título oneroso por um sujeito
passivo.
Neste sentido, entendeu o Tribunal que é necessário interpretar os conceitos ínsitos nas
normas de isenção, de acordo com os objectivos que se pretende que sejam prosseguidos,
respeitando as exigências do princípio da neutralidade fiscal, inerente ao sistema comum
do IVA.
Neste âmbito, o TJUE procede ao esclarecimento dos conceitos de “assistência médica” e
de “prestações de serviços de assistência”, recorrendo a jurisprudência já conhecida, da
qual resulta que tais conceitos visam abranger prestações que tenham por finalidade
diagnosticar, tratar, e na medida do possível, curar doenças e anomalias de saúde.
Por esta razão, o TJUE considerou que o transporte de órgãos e de produtos biológicos de
origem humana a favor de diversos hospitais e laboratórios não constitui, manifestamente,
serviços de “assistência médica” ou “prestações de serviços de assistência”, na acepção
da Sexta Directiva, dado que a actividade em apreço não integra o conceito de prestações
médicas efectuadas com a finalidade de diagnosticar, tratar ou curar doenças ou
anomalias de saúde, ou que têm por finalidade efectiva proteger, manter ou restabelecer a
saúde (cfr. Acórdão Future Health Technologies C-86/09, de 10 de Junho de 2010).
No que respeita à possibilidade de a actividade ora em apreço beneficiar de isenção, por
configurar uma prestação de serviços estreitamente conexa com uma hospitalização ou
assistência médica, o TJUE afastou tal entendimento, dado que (i) não se verifica tal é
qualificação, (ii) o serviço não é assegurado por um organismo de direito público, (iii) nem
é exercido em condições análogas às que vigoram para estabelecimentos hospitalares,
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centros de assistência médica e de diagnóstico ou outros estabelecimentos da mesma
natureza devidamente reconhecidos.
DecisãoDecisãoDecisãoDecisão
O TJUE conclui que as isenções previstas na Sexta Directiva não se aplicam a uma
actividade de transporte de órgãos ou de produtos biológicos de origem humana, para
efeitos de análises clínicas ou de assistência médica ou terapêutica exercida por um
profissional independente, tendo em conta que este não pode ser qualificado de organismo
de direito público nem de estabelecimento hospitalar, centro de assistência médica, centro
de diagnóstico, ou qualquer outro estabelecimento da mesma natureza devidamente
reconhecido, que opere em condições sociais análogas às que vigoram para os organismos
de direito público.
Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português
A presente decisão contribui para a interpretação das normas do Código do IVA que
consagram isenções e, em concreto, do artigo 9.º, número 2 do Código do IVA, que prevê a
isenção deste imposto para as prestações de serviços médicos e sanitários e as operações
com elas estreitamente conexas efectuadas por estabelecimentos hospitalares, clínicas,
dispensários e similares.
2.2.2.2.
Número dos processos:Número dos processos:Número dos processos:Número dos processos: C-331/14
Nome:Nome:Nome:Nome: Petar Kezić e Trgovina Prizma contra República da Eslovénia
Data:Data:Data:Data: Acórdão de 9 de Julho de 2015
Assunto: Assunto: Assunto: Assunto: Sujeitos passivos de IVA: afectação do património pessoal de uma pessoa
singular que exerce a profissão de empresário em nome individual
FactosFactosFactosFactos
Petar Kezić (doravante abreviadamente designado por “P. Kezić”) actua como empresário
em nome individual, desde 1995, sob a firma “Trgovina Prizma”, tendo adquirido sete
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parcelas de terreno, a título pessoal (e não na qualidade de empresário em nome
individual). Duas das parcelas foram adquiridas a uma pessoa singular (em 1998 e 2000), e
as outras cinco, a uma sociedade comercial (em 2001 e 2003).
Não foi liquidado IVA aquando das referidas aquisições.
Posteriormente, P. Kezić obteve as licenças necessárias para construir um centro
comercial, nas sete referidas parcelas, tendo iniciado as obras de construção, de seguida,
na qualidade de empresário em nome individual.
Em 2003, P. Kezić afectou ao património da sua empresa as cinco parcelas adquiridas em
último lugar, por um valor decorrente da avaliação realizada por um perito judicial. Os
outros dois terrenos mantiveram-se na esfera do seu património pessoal (doravante
designados por “terrenos em causa”).
Mais tarde, em 2004, P. Kezić vendeu o mencionado centro comercial e, bem assim, as
sete parcelas de terreno subjacentes à sua construção.
Assim, (i) na qualidade de empresário em nome individual, P. Kezić procedeu à venda das
cinco parcelas e da parte correspondente do centro comercial, tendo liquidado IVA
aquando desta transmissão e, (ii) como pessoa singular, procedeu à venda das restantes
parcelas e da parte correspondente do centro comercial, neste caso, sem liquidar IVA.
A Autoridade fiscal eslovena, por considerar que a venda dos terrenos em apreço se
enquadrava na actividade económica exercida por P. Kezić na qualidade de empresário em
nome individual, exigiu-lhe o pagamento do IVA referente a essa venda.
No âmbito do litígio que opôs a Autoridade fiscal eslovena a P. Kezić, foi submetida, ao
TJUE, uma questão prejudicial, tendo em vista clarificar se as disposições da Sexta
Directiva devem ser interpretadas no sentido de que se deve considerar que uma pessoa,
pelo facto de não ter contabilizado os terrenos nos bens imobilizados da sua empresa e por
não ter liquidado IVA aquando da sua aquisição, pode ser dispensado da liquidação de IVA,
aquando da correspondente venda, por ausência de incidência subjectiva.
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Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal
O TJUE começa por esclarecer que, de acordo com as normas da Sexta Directiva, só
haverá sujeição a IVA nos casos em que se verifiquem entregas de bens e prestações de
serviço, realizadas onerosamente, por um sujeito passivo agindo nessa qualidade.
Com efeito, nos casos em que um sujeito passivo realiza uma operação a título pessoal e
não age como sujeito passivo de IVA, o TJUE tem entendimento que tal operação não fica
abrangida pelo âmbito de incidência do imposto (cfr. Acórdão Armbrecht, C-291/92, de 4
de Outubro de 1995 e o Acórdão Bakcsi, C-415/98, de 8 de Março de 2002).
A este respeito, o TJUE tem entendido que o conceito de sujeito passivo deve ser definido
por relação ao conceito de actividade económica, englobando todas as actividades de
produtor, de comerciante ou de prestador de serviços e, em particular, as operações que
implicam a fruição de um bem corpóreo ou incorpóreo com vista a obter dele receitas com
carácter de permanência (cfr. Acórdão Slaby C-181/10, de 15 de Setembro de 2011).
Entende também o TJUE que, em caso de utilização de um bem de investimento quer para
fins profissionais quer privados, o interessado pode optar, para efeitos de IVA, por afectar
totalmente esse bem ao património da sua empresa ou por conservá-lo totalmente no seu
património pessoal (excluindo-o do âmbito de incidência do IVA), ou ainda por integrá-lo na
sua empresa apenas na parte correspondente à utilização profissional efectiva.
Contudo, entende o TJUE que não se pode concluir que a venda de um terreno afecto ao
património pessoal de um sujeito passivo não está, por si só, sujeita a IVA.
De facto, as operações realizadas a título oneroso por um sujeito passivo estão sujeitas a
IVA desde que o sujeito passivo esteja a agir enquanto tal, pelo que se revela necessário
que, para além da afectação ao seu património pessoal, a transmissão seja efectuada pelo
sujeito passivo, não no quadro da sua actividade económica, mas no quadro da gestão e
administração do seu património pessoal.
Resulta ainda da jurisprudência que o simples exercício do direito de propriedade pelo seu
titular não pode, em si mesmo, ser considerada uma actividade económica.
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Por outro lado, o TJUE, a respeito da venda de um terreno para construção, já determinou
em decisão anterior, que o facto de o interessado ter motivações subjacentes de
comercialização imobiliária, implementando meios semelhantes aos utilizados por um
produtor, comerciante ou prestador de serviços, configura um critério de apreciação
relevante no âmbito da incidência deste imposto,
Considerando o exposto, no caso concreto, o TJUE entende que os terrenos em apreço
adquiridos por P. Kezić, no seu conjunto, configuram o exercício da actividade económica
enquanto empresário, atendendo a que a sua aquisição foi condição necessária para a
construção do centro comercial mencionado e, bem assim, que a realização de obras de
preparação dos terrenos constituem iniciativas relevadoras de que a venda dos terrenos
não se enquadra no simples exercício do direito de propriedade.
DecisãoDecisãoDecisãoDecisão
O TJUE entendeu que P. Kezić agiu como sujeito passivo de IVA, aquando da venda dos
terrenos em causa, pelo que a referida operação devia ter sido sujeita a imposto.
Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português
O presente Acórdão contribuiu para a interpretação das normas de incidência subjectiva
do IVA, aprofundando o conceito de exercício de uma actividade económica, nos casos de
transmissão de imoveis.
3333....
Número dos processos:Número dos processos:Número dos processos:Número dos processos: C-255/14
Nome:Nome:Nome:Nome: Robert Michal Chmielewski contra Nemzeti Adó- és Vámhivatal Dél-alföldi
Regionális Vám- és Pénzügyőri Főigazgatósága.
Data:Data:Data:Data: Acórdão de 16 de Julho de 2015
Assunto: Assunto: Assunto: Assunto: Controlo das somas em dinheiro líquido que entram ou saem da União Europeia
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FactosFactosFactosFactos
Robert Michal Chmielewski (doravante abreviadamente designado “R. M. Chmielewski”),
proveniente da Sérvia, entrou em território húngaro, sem declarar a soma de dinheiro
líquido que levava consigo.
No seguimento do transporte da quantia em apreço, a Administração tributária Húngara
aplicou uma coima a R. M. Chmielewski com o fundamento de que este não tinha cumprido
o dever que lhe incumbia por força do Regulamento n.º 1889/2005 e da Lei XLVIII, ao não
ter declarado o referido montante no momento que entrou no território da UE.
O referido Regulamento prevê que qualquer pessoa singular que entre ou saia da
Comunidade Europeia, com um montante líquido igual ou superior a €10.000 deve
declarar a soma que transporta às autoridades competentes.
O mesmo regulamento determina que cada Estado-membro pode determinar e aplicar as
sanções a aplicar nas situações de incumprimento da obrigatoriedade declarativa em
apreço.
Adicionalmente de acordo com o disposto na legislação aplicável, qualquer pessoa singular
que entre ou saia da Comunidade, e que não cumpra (ou cumpra de maneira incompleta) o
dever de declaração em apreço, deve pagar no local, uma coima fixada em (forints
húngaros – “HUF”) de montante equivalente a:
(i) 10% da soma de dinheiro líquido em sua posse, quando estar for igual ou superior a
10.000 euros e não exceda os 20.000 euros;
(ii) 40% da soma de dinheiro líquido em sua posse, quando esta for superior a 20.000
euros e não exceda os 50.000 euros;
(iii) a 60% da soma de dinheiro líquido em sua posse, quando esta for superior a 50.000
euros.
No âmbito do litígio que opôs R. M. Chmielewski à Administração tributária Húngara, foi
submetida ao TJUE a seguinte questão prejudicial: a coima efectivamente aplicada é
contrária à legislação aplicável da qual decorre que as sanções estabelecidas no direito
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nacional devem ser efectivas, dissuasivas e, simultaneamente, proporcionadas à infracção
jurídica?
Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal
O TJUE começa por esclarecer que o Regulamento aplicável visa, através do princípio de
declaração obrigatória de dinheiro líquido, prevenir, dissuadir e evitar a introdução do
produto de actividades ilícitas no sistema financeiro, bem como recolher informações
sobre esses movimentos.
De acordo com a jurisprudência constante do TJUE, nestes casos, os Estados-membros
são competentes para escolher as correspondentes sanções que se lhes afigurem
adequadas.
Todavia, os Estados-membros estão também obrigados a exercer essa competência de
acordo com o disposto no direito da UE e, por conseguinte, em conformidade com os
princípios gerais (nomeadamente, o princípio da proporcionalidade).
Considerando o desígnio do princípio da proporcionalidade, as medidas administrativas ou
repressivas de uma legislação nacional, não podem exceder os limites do estritamente
necessário na prossecução dos seus objectivos, pelo que as sanções aplicáveis devem ser
adequadas à gravidade da acção subjacente, designadamente assegurando uma conexão
entre os meios e fins que visa atingir, neste caso, um efeito verdadeiramente dissuasivo.
Neste contexto, os Estados-membros dispõem de uma margem de apreciação
discricionária relativamente à legislação interna das sanções adoptadas no intuito de
assegurar o cumprimento do dever de declaração acima mencionado, pressupondo que
uma violação deste dever possa ser sancionada de maneira simples, efectiva e eficaz.
Neste âmbito, o Tribunal entende que, tendo em conta a natureza da infracção em causa,
uma coima cujo montante corresponde a 60% da soma de dinheiro líquido não declarada,
quando esta coima for superior a 50.000 euros, não se afigura proporcionada, por
ultrapassar os limites do que é necessário para garantir o respeito deste dever e assegurar
a realização dos objectivos prosseguidos pelo Regulamento aplicável.
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DecisãoDecisãoDecisãoDecisão
O TJUE entendeu que o Regulamento que dispõe sobre o controlo dos montantes líquidos
que entram ou saem da UE deve ser interpretado no sentido de que se opõe a uma
regulamentação nacional, como a que está em causa no processo em apreço, que
determina a aplicação de uma coima correspondente a 60% da soma de dinheiro líquido
não declarada, quando esta soma for superior a 50 000 euros, se afigura desproporcional
à norma violada.
Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português
A presente decisão contribuiu para a clarificar o alcance do princípio da proporcionalidade,
em concreto, no que respeita à determinação de coimas aplicáveis.
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Número Número Número Número do processo:do processo:do processo:do processo: C-463/14
Nome:Nome:Nome:Nome: Asparuhovo Lake Investment Company OOD contra Direktor na Direktsia
Data:Data:Data:Data: Acórdão de 3 de Setembro de 2015
AssuntoAssuntoAssuntoAssunto: : : : Dedução do IVA incidente na aquisição de serviços de consultoria por avença
FactosFactosFactosFactos
A sociedade Asparuhovo Lake Investment Company (doravante abreviadamente
designada por “ALIC”), cuja actividade tem como objecto principal a agricultura, pecuária e
actividades auxiliares, celebrou contratos de avença de serviços de consultoria com quatro
sociedades.
Tais contratos de prestação de serviços caracterizam-se pela obrigação de os prestadores
estarem disponíveis fora do horário de expediente, de obterem e trocarem documentação
e informação necessária entre as partes, de assegurarem a protecção dos interesses da
ALIC e, bem assim, como estarem obrigados a não celebrar qualquer contrato semelhante
com terceiros contendo interesses opostos aos da ALIC, ou que estejam em posições de
concorrência directa com esta sociedade.
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Em contrapartida, a ALIC obrigou-se ao pagamento de uma remuneração semanal aos
mencionados prestadores de serviços.
Neste âmbito, as referidas sociedades procederam à dedução do IVA, constante nas
facturas que lhes foram emitidas pelos prestadores de serviços.
Após a realização de uma inspecção fiscal, a Administração fiscal da Bulgária recusou a
dedução de tal IVA, por parte da ALIC, por entender que não foi feita prova do tipo,
quantidade e natureza dos serviços realmente prestados, designadamente pelo facto de
nenhum documento original fazer menção ao número de horas executadas, nem à forma
como os preços dos serviços tinham sido fixados.
No âmbito do litígio que opôs a Administração fiscal búlgara à ALIC, foram submetidas ao
TJUE as seguintes questões prejudiciais:
1) Devem os artigos da Directiva IVA, referentes ao conceito de prestação de serviços,
ser interpretados no sentido de abranger os contratos de avença para prestação de
serviços de consultoria como os do processo principal, nos quais o prestador de
serviços, que dispõe de pessoal qualificado para a prestação dos serviços, se colocou à
disposição do cliente durante o período de vigência do contrato e se obrigou a
abster-se de celebrar contratos com objecto equiparável com concorrentes do cliente?
2) Devem os artigos da Directiva IVA, referentes ao facto gerador do imposto, ser
interpretados no sentido de que este, no caso de prestações de serviços de consultoria
por avença, ocorre no termo do prazo acordado para o pagamento,
independentemente de o cliente ter ou não usufruído das prestações de serviços que o
consultor disponibilizou ao cliente e da respectiva frequência?
3) Deve o artigo da Directiva IVA, sobre a exigibilidade do imposto, ser interpretado no
sentido de que aquele que presta serviços no âmbito de um contrato de avença para
prestação de serviços de consultoria se encontra obrigado a liquidar o IVA relativo às
prestações de serviços no termo do prazo para o qual foi acordado o pagamento da
avença, ou essa obrigação só se constitui quando o cliente tiver usufruído, no
respectivo período de tributação, das prestações de serviços do consultor?
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Apreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do TribunalApreciação do Tribunal
Relativamente à primeira questão, referente à interpretação do conceito de prestação de
serviços, esclarece o TJUE que o facto de os serviços ora em apreço se assemelharem, em
certa medida, a uma cláusula de exclusividade, não é susceptível de alterar o carácter
tributável do referido contrato.
Com efeito, entende o TJUE que o conceito de «prestação de serviços» abrange os
contratos de avença para prestação de serviços de consultoria a uma empresa, no âmbito
dos quais o prestador de serviços se colocou à disposição do cliente durante o período de
vigência do contrato.
Relativamente à segunda e terceira questões prejudiciais, relativas ao facto gerador e
exigibilidade do imposto, o Tribunal pronunciou-se em conjunto, referindo que o serviço
ora em apreço consiste, essencialmente, em estar permanentemente à disposição do
cliente para lhe prestar serviços de consultoria e que é remunerado através de montantes
fixos, pagos periodicamente, devendo ser considerado como efectuado no período a que
se reporta o pagamento, tenha o prestador de serviços efectivamente prestado
aconselhamento ao seu cliente durante esse período ou não.
DecisãoDecisãoDecisãoDecisão
O TJUE declarou que o conceito de «prestação de serviços» abrange os contratos de
avença para prestação de serviços de consultoria a uma empresa, designadamente de
ordem jurídica, comercial e financeira, no âmbito dos quais o prestador se colocou à
disposição do cliente durante o período de vigência do contrato.
No que toca aos contratos de avença relativos à prestação de serviços de consultoria,
como o caso em apreço, o facto gerador do imposto e a exigibilidade do mesmo ocorrem
no termo do prazo acordado para o pagamento, independentemente da questão de saber
se o cliente usufruiu efectivamente dos serviços do prestador e do número de vezes que o
fez.
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Implicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito portuguêsImplicações no direito português
Esta decisão contribui para a interpretação do conceito de prestação de serviços, em
concreto, nos casos de serviços prestados em contrato de avença.
Lisboa, 30 de Novembro de 2015
Rogério M. Fernandes Ferreira
Marta Machado de Almeida
Rita Arcanjo Medalho
Pedro Miguel Callapez
Tiago Fonte Gonçalves