Transcript
Page 1: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian
Page 2: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Começar de novo é uma porcaria.

Quando nos mudamos para West Virginia antes do último ano

da escola, eu já estava prevendoo sotaque engraçado, a péssima

conexão de internet e da vida monótona na nova cidade... Isso até eu

ver meu vizinho sexy, alto e com impressionantes olhos verdes. As

coisas finalmente pareciam estar melhorando. E então ele abriu a

boca. Daemon é insuportável e arrogante. Nós não nos damos bem.

Nada, nada bem mesmo. Mas quando um estranho me atacou e

Daemon congelou o tempo, literalmente, com um movimento de sua

mão ... Bem, algo aconteceu ... inesperado. O sexy alienígena que vive

do outro lado da rua. Sim, você leu direito. Alien. Acontece que

Daemon e sua irmã têm uma galáxia cheia de inimigos que querem

roubar suas habilidades, e ao me salvar, Daemon fez com que eu

parecesse um daqueles sinais luminosos em Las Vegas. A única

maneira de sair dessa viva é ficar colada a Daemon até que minha

"luz" extraterrestre se apague. Isso se eu não matar ele antes, claro.

Page 3: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 01

Eu olhei para a pilha de caixas no meu quarto novo, desejando

que a Internet estivesse ligada. Não ser capaz de fazer qualquer coisa

com o meu blog desde que me mudei para cá era como perder um

braço ou uma perna. De acordo com a minha mãe ―A louca obsessão

da Katy", era a minha vida inteira. Não totalmente, mas era

importante para mim. Ela não ligava para os livros da maneira que eu

fazia.

Eu suspirei. Fazia dois dias que estávamos aqui, e ainda havia

tanta coisa para desempacotar. Eu odiava a ideia de caixas ao redor.

Até mais do que eu odiava estar aqui.

Pelo menos eu finalmente parei de pular com cada rangido

desde que eu me mudei para Virginia "por Deus" do Oeste e esta casa

que parecia algo saído de um filme de terror. Ela ainda tinha uma

torre – uma maldita torre. O que eu deveria fazer com isso?

Ketterman era sem personalidade jurídica, ou seja, não era

uma cidade real. O lugar mais próximo era Petersburgo - uma cidade

de dois ou três semáforos, próxima a algumas outras cidades que

provavelmente não tinham um Starbucks. Nós não recebíamos

Page 4: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

correios em nossa casa. Tínhamos que dirigir até Petersburgo para

receber nossa correspondência.

Bárbaro.

Como um chute na cara, isso me bateu. Flórida se foi – comida

pelas milhas que tínhamos viajado em uma corrida louca para minha

mãe começar de novo. Não é que eu sentia falta de Gainesville, do

clima, da minha antiga escola, ou até mesmo do nosso apartamento.

Encostada na parede, eu esfregava a palma da minha mão sobre a

testa.

Eu sentia falta do meu pai.

E Flórida era o meu pai. Foi onde ele nasceu, onde conheceu

minha mãe, e onde tudo tinha sido perfeito... Até que tudo se desfez.

Meus olhos ardiam, mas eu me recusei a chorar. Chorar não mudaria

o passado, e meu pai teria odiado saber que eu ainda estava

chorando, três anos depois.

Mas eu sentia falta da minha mãe, também. A mãe de antes de

meu pai morrer, a que costumava enrolar-se no sofá ao meu lado e ler

um de seus romances inúteis. Parecia uma vida atrás. Certamente

era metade de um país atrás.

Desde que meu pai morreu, mamãe tinha começado a trabalhar

mais e mais. Antes ela costumava querer estar em casa. Então

pareceu que ela queria estar o mais longe possível. Ela finalmente

tinha desistido dessa opção e decidimos que precisávamos dirigir para

longe. Pelo menos desde que tínhamos chegado aqui, mesmo que ela

ainda estivesse trabalhando como um demônio, ela estava

determinada a estar mais na minha vida.

Eu tinha decidido ignorar a minha linha interna compulsiva e

deixar as malditas caixas hoje, quando o cheiro de algo familiar fez

Page 5: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

cócegas no meu nariz. Mamãe estava cozinhando. Isso não era nada

bom.

Corri lá embaixo.

Ela estava no fogão, vestida com uma roupa velha de bolinhas.

Só ela podia usar um chapéu horroroso de bolinhas e ainda conseguir

uma boa aparência. Mamãe tinha um cabelo loiro glorioso de corte

reto e olhos castanhos brilhantes. Mesmo com bolinhas ela fazia com

que eu parecesse tediosa com os meus olhos castanhos e cabelo

castanho claro.

E de alguma forma acabei mais... Torneada do que ela. Quadris

curvilíneos, lábios inchados, e enormes olhos que a mamãe amava,

mas que me faziam parecer uma boneca kewpie demente.

Ela virou-se e acenou com uma espátula de madeira para mim,

os ovos meio cozidos respingando sobre o fogão.

— Bom dia, querida.

Olhei para a bagunça e me perguntei qual a melhor forma de

resolver esse fiasco que ela fez, sem ferir seus sentimentos. Ela estava

tentando fazer a mãe faz tudo. Este era um enorme progresso.

— Você está em casa mais cedo.

— Eu trabalhei quase um turno duplo entre ontem e hoje.

Estou trabalhando de quarta-feira a sábado, das onze até as nove

horas, isso me deixa com três dias de folga. Estou pensando em um

ou outro trabalho por meio período em uma das clínicas por aqui ou,

eventualmente, em Winchester. — Ela colocou os ovos em dois pratos

e deixou a parte meio queimada na minha frente.

Delicia. Acho que já era tarde demais para uma intervenção,

então eu vi uma caixa apoiada no balcão agora marcada com

―Pratarias & Coisas‖.

Page 6: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você sabe como eu não gosto de não ter nada para fazer,

então eu vou dar uma olhada nelas em breve.

Sim, eu sei.

E a maioria dos pais provavelmente tiraria seu braço esquerdo

fora antes de pensar em deixar uma adolescente sozinha em casa o

tempo todo, mas não a minha. Ela confiava em mim, porque eu

nunca lhe dei razão para não confiar. Não foi por falta de tentativa.

Bem, ok, talvez fosse.

Eu era meio chata.

No meu antigo grupo de amigos na Flórida, eu não era a

silenciosa, mas eu nunca ignorei a aula, mantinha um 4.0, e era

muito bonita, uma boa menina. Não porque eu estava com medo de

fazer algo imprudente ou selvagem, eu não queria acrescentar mais

aos problemas da mamãe. Não na época...

Agarrando dois copos, os enchi com o suco de laranja que

mamãe deve ter pegado a caminho de casa.

— Você quer que eu faça as compras hoje? Nós não temos

nada.

Ela balançou a cabeça e falou com a boca cheia de ovos.

— Você pensa em tudo. Uma ida ao supermercado seria

perfeito. — Ela pegou sua bolsa em cima da mesa, tirando dinheiro.

— Isso deve ser o suficiente.

Eu guardei o dinheiro em minha calça jeans, sem olhar para a

quantidade, ela sempre me deu muito em primeiro lugar.

— Obrigada — Eu murmurei.

Ela se inclinou para frente, com um brilho nos olhos.

— Então... Hoje de manhã eu vi uma coisa interessante.

Só Deus sabe como ela é. Eu sorri.

Page 7: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— O quê?

— Você já reparou que existem dois jovens da sua idade na

porta ao lado?

Meu interior se revirou e os meus ouvidos se animaram.

— Sério?

— Você não esteve do lado de fora, não é? — Ela sorriu. — Eu

tinha certeza de que você estaria sobre todo esse canteiro de flores

nojento até agora.

— Estou pensando sobre isso, mas as caixas não irão se

desempacotar sozinhas. — Eu dei-lhe um olhar aguçado. Eu amava

essa mulher, mas ela às vezes de alguma forma, me fazia esquecer

essa parte. — Enfim, de volta para os vizinhos.

— Bem, uma é uma garota que se parece com a sua idade, e

tem um menino. — Ela sorriu enquanto se levantava. — Ele é um

gato.

Um pequeno pedaço de ovo ficou preso na minha garganta. Era

seriamente grosseiro ouvir a mamãe conversar sobre os meninos da

minha idade.

— Gato? Mãe, isso é tão estranho.

Mamãe se empurrou para fora do balcão, pegou o prato da

mesa, e dirigiu-se para a pia.

— Querida, eu posso ser velha, mas meus olhos ainda estão

funcionando bem. E eles realmente estavam funcionando mais cedo.

Eu me encolhi. Dupla grosseria.

— Você está se transformando em algum tipo de puma1? Isso é

algum tipo de crise de meia idade que eu precise ficar preocupada?

Enxaguando o prato, ela olhou por cima do ombro.

1 Do original cougar: mulher mais velha que gosta de homens mais jovens.

Page 8: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Katy, eu espero que você faça algum esforço para conhecê-

los. Eu acho que seria bom para você fazer amigos antes da escola

começar. — Fazendo uma pausa, ela bocejou. — Eles podem lhe

mostrar os arredores, não é?

Recusei-me a pensar sobre o primeiro dia de escola, garota

nova e tudo mais. Joguei meus ovos não consumidos no lixo.

— Sim, seria bom. Mas eu não quero ir batendo em sua porta,

implorando para serem meus amigos.

— Não estaria implorando. Se você se colocar em um desses

vestidos bonitos que você usava na Flórida, em vez disso. — Ela

puxou a barra da minha camisa. — Estaria paquerando.

Olhei para baixo. Isso dizia MEU BLOG É MELHOR DO QUE

SEU VLOG. Não havia nada de errado com isso.

— E se eu aparecer na minha calcinha?

Ela bateu o queixo, pensativa.

— Isso com certeza causaria uma impressão.

— Mamãe! — Eu ri. — Você deveria gritar comigo e me dizer

que não é uma boa ideia!

— Baby, eu não me preocupo com você fazendo nada de

estúpido. Mas, falando sério, faça um esforço.

Eu não tinha certeza de como "fazer um esforço".

Ela bocejou novamente.

— Bem, querida, eu vou pegar no sono.

— Tudo bem, eu vou pegar algumas coisas boas no

supermercado. — E talvez palha e plantas. O canteiro de flores do

lado de fora estava horrível.

— Katy? — Mamãe tinha parado na porta, franzindo a testa.

— Sim?

Page 9: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Uma sombra cintilou em seu rosto, escurecendo os seus olhos.

— Eu sei que esta mudança é difícil para você, especialmente

antes de seu último ano, mas foi a melhor coisa que nós fizemos.

Ficar ali, naquele apartamento, sem ele... É hora de começarmos a

viver novamente. Seu pai teria desejado isso. — O nó na minha

garganta que eu pensei que tivesse deixado na Flórida estava de volta.

— Eu sei, mãe. Eu estou bem.

— Você está? — Seus dedos se enrolaram em um punho. A luz

do sol que entrava pela janela refletia a banda de ouro em seu dedo

anelar.

Eu balancei a cabeça rapidamente, necessitando tranquilizá-la.

— Eu estou bem. E eu vou na porta ao lado. Talvez eles possam

me dizer onde é o supermercado. Você sabe, fazer um esforço.

— Excelente! Se precisar de algo, me ligue. Ok? — Os olhos da

mamãe lacrimejaram em outro longo bocejo. — Eu te amo, querida.

Eu comecei a dizer a ela que eu a amava muito, mas ela

desapareceu no andar de cima antes que as palavras saíssem da

minha boca.

Pelo menos ela estava tentando mudar, e eu estava

determinada a pelo menos tentar me encaixar aqui. Não me esconder

no meu quarto, no meu laptop durante todo o dia como mamãe tinha

medo que eu fizesse. Mas, misturar-me com adolescentes que eu não

conhecia não era a minha praia. Eu prefiro ler um livro e perseguir

meus comentários do blog.

Mordi o lábio. Eu podia ouvir a voz do meu pai, a sua frase

favorita me incentivando: "Vamos lá, Kittycat, não seja uma

espectadora". Eu inclinei meus ombros. Meu pai nunca deixou a vida

passar por ele...

Page 10: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

E perguntar sobre o supermercado mais próximo era uma razão

inocente o suficiente para me apresentar. Se a mamãe estivesse certa

e eles tivessem a minha idade, talvez isso não fosse um fracasso épico

de movimento. Isso era estúpido, mas eu estava fazendo isso. Eu corri

pelo gramado e em frente à entrada me acovardei.

Esperando na ampla varanda, abri a porta de tela e bati, em

seguida, dei um passo para trás e alisei as rugas da minha camisa.

Eu sou legal. Eu consigo fazer isso. Não há nada de estranho em pedir

direções.

Passos pesados vieram do outro lado e, em seguida, a porta

estava se abrindo e eu estava olhando para um peito muito largo,

bronzeado e musculoso. Um peito nu. Meu olhar caiu e minha

respiração tipo... Parou. Jeans pendurado baixo em seus quadris,

revelando uma linha fina de cabelo escuro que se formava abaixo do

seu umbigo e desaparecia sob a banda dos jeans.

Seu estômago era rasgado. Perfeito. Totalmente palpável. Não é

o tipo de estômago que eu esperava em um rapaz de dezessete anos

de idade, que é quantos anos eu suspeitava que ele tivesse, mas sim,

eu não estava reclamando. Eu também não estava falando. E eu

estava olhando.

Meu olhar, finalmente, viajou para o norte novamente, notei

grossos cílios abanando as pontas de suas bochechas altas e

escondendo a cor de seus olhos quando ele olhou para mim. Eu

precisava saber qual era a cor de seus olhos.

— Posso ajudar? — Lábios cheios, beijáveis, expressavam

aborrecimento.

Sua voz era profunda e firme. O tipo de voz acostumada a ouvir

as pessoas e a ser obedecida sem questionar. Seus cílios levantaram,

Page 11: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

revelando olhos tão verdes e brilhantes que não poderiam ser reais.

Eles eram de uma cor esmeralda intensa que se destacava no

contraste vibrante contra sua pele bronzeada.

— Olá? — Ele disse de novo, colocando uma mão no batente da

porta quando ele se inclinou para frente. — É capaz de falar?

Eu respirei fundo e dei um passo para trás. Uma onda de

vergonha aqueceu meu rosto.

O menino ergueu um braço, afastando uma mecha de cabelo

ondulado em sua testa. Ele olhou por cima do ombro, depois de volta

para mim.

— Dou-lhe um...

Até o momento que eu encontrei a minha voz, eu queria morrer.

— Eu... Eu queria saber se você sabe onde é o supermercado

mais próximo. Meu nome é Katy. Me mudei para a casa ao lado. — Fiz

um gesto para minha casa, falando como uma idiota. — A dois dias

atrás-

— Eu sei.

Ooooo-kay.

— Bem, eu estava esperando que alguém soubesse o caminho

mais rápido para o supermercado e, talvez, um lugar que venda

plantas.

— Plantas?

Por alguma razão, ele não soava como se ele estivesse me

fazendo uma pergunta, mas eu corri para responder de qualquer

maneira.

— Sim, veja, há este canteiro em frente-

Ele não disse nada, apenas levantou uma sobrancelha com

desdém.

Page 12: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Ok.

O constrangimento foi desaparecendo, sendo substituído por

uma onda crescente de raiva.

— Bem, veja, eu preciso ir comprar plantas-

— Para o canteiro de flores. Eu entendi isso. — Ele inclinou seu

quadril contra o batente da porta e cruzou os braços. Algo brilhou em

seus olhos verdes. Não raiva, mas outra coisa.

Eu tomei uma respiração profunda. Esse cara me cortou mais

uma vez... Minha voz assumiu o tom que minha mãe costumava usar

quando eu era mais jovem e estava brincando com objetos cortantes.

— Eu gostaria de encontrar uma loja onde eu possa comprar

mantimentos e plantas.

— Você está ciente que esta cidade tem apenas um semáforo,

certo? — Ambas as sobrancelhas foram levantadas para o seu couro

cabeludo agora, como se estivesse questionando como eu podia ser

tão idiota, e foi aí que eu percebi o que eu vi brilhando em seus olhos.

Ele estava rindo de mim com uma saudável dose de condescendência.

Por um momento, tudo o que eu podia fazer era olhar para ele.

Ele era, provavelmente, o cara mais gostoso que eu já vi na vida real,

e ele era um total idiota. Vai entender.

— Você sabe, tudo o que eu queria eram direções. Esse é

obviamente um momento ruim. — Um lado de seus lábios se enrolou.

— Sempre é um momento ruim para você vir bater na minha

porta, criança.

— Criança? — Eu repeti, com os olhos arregalados.

Uma sobrancelha escura, zombeteira arqueou novamente. Eu

estava começando a odiar aquela sobrancelha.

— Eu não sou uma criança. Tenho dezessete anos.

Page 13: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— É isso mesmo? — Ele piscou. — Parece que você tem doze

anos. Não. Talvez treze anos, mas minha irmã tem essa boneca que

meio que me lembra você. Toda de olhos grandes e vazios.

Eu o lembrava uma boneca? Uma boneca vazia? O calor ardia

em meu peito, espalhando-se em minha garganta.

— Sim, uau. Desculpe por incomodá-lo. Eu não baterei na sua

porta novamente. Confie em mim. — Eu comecei a virar, antes que eu

cedesse ao desejo desenfreado de bater os punhos em seu rosto. Ou

chorar.

— Ei! — Ele gritou.

Parei no último degrau, mas recusei-me a virar e deixá-lo ver

como eu estava chateada.

— O quê?

— Você pega a Rota 2 e vira na U.S. 220 Norte, não Sul. Leva

você para Petersburgo. — Ele soltou um suspiro irritado, como se

estivesse me fazendo um grande favor. — O Foodland é à direita na

cidade. Não tem como se perder. Bem, talvez você consiga. Há uma

loja de ferragens ao lado, eu acho. Eles devem ter coisas que servem

para o solo.

— Obrigada. — Eu murmurei e acrescentei baixinho — Babaca.

Ele riu, profundo e gutural.

— Agora, isso não é muito elegante, Kittycat.

Eu me virei.

— Nunca mais me chame assim! — Eu atirei.

— É melhor do que chamar alguém de babaca, não é? — Ele se

empurrou para fora da porta. — Esta foi uma visita estimulante. Eu

vou amar isso por um longo tempo.

Ok. Era isso.

Page 14: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Sabe, você está certo. Foi errado da minha parte chamá-lo de

babaca. Porque a palavra babaca é muito agradável para você. — eu

disse, sorrindo docemente. — Você é um idiota.

— Um idiota? — Ele repetiu. — Que encantador.

Eu me virei para ele.

Ele riu de novo e abaixou a cabeça. A confusão de ondas caiu

para frente, quase obscurecendo seus intensos olhos verdes.

— Muito civilizada, Gatinha. Tenho certeza de que você tem

uma variedade selvagem de nomes interessantes e gestos para mim,

mas não estou interessado. — Eu tinha muito mais que eu poderia

dizer e fazer, mas eu juntei a minha dignidade, girei, e pisei de volta

para a minha casa, não lhe dando o prazer de ver como eu estava

realmente chateada. Eu sempre evitei o confronto no passado, mas

esse cara estava ligando meu interruptor de cadela como nada mais.

Quando cheguei ao meu carro, eu puxei para abrir a porta.

— Vejo você mais tarde, Gatinha! — Ele gritou, rindo enquanto

batia a porta da frente.

Lágrimas de raiva e embaraço queimaram meus olhos. Enfiei as

chaves na ignição e coloquei o carro em marcha ré. ‗Faça um esforço‘,

mamãe tinha dito. Isso é o que acontece quando você faz um esforço.

Page 15: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 02

Levou toda a viagem até Petersburgo para me acalmar. Mesmo

assim, ainda havia uma mistura quente de raiva e humilhação

turbilhando dentro de mim. Que diabos havia de errado com ele?

Pensei que as pessoas em cidades pequenas fossem agradáveis, e não

agissem como o filho de Satanás.

Eu encontrei o Main Street sem nenhum problema, que

literalmente parecia ser a rua principal. Havia o Grant County Library

em Mount View, e eu me lembrei que eu precisava obter um cartão de

biblioteca. Opções de supermercado eram limitadas. Foodland, que

realmente se lia FOO LAND, mostrado a você pela letra D faltando,

era onde o Babaca havia dito que seria.

As janelas da frente estavam repletas de uma imagem de uma

pessoa desaparecida, uma menina da minha idade com longos

cabelos escuros e olhos risonhos. Os dados abaixo diziam que ela

tinha sido vista a mais de um ano atrás. Havia uma recompensa, mas

depois de ter desaparecido há tanto tempo, eu duvidava que a

Page 16: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

recompensa jamais fosse reclamada. Entristecida por esse

pensamento, eu fui para dentro.

Eu era uma cliente rápida, sem perder tempo passeando pelos

corredores. Jogando itens no carrinho, eu percebi que eu precisaria

de mais do que eu pensava, uma vez que só tinha as necessidades

básicas em casa. Logo, meu carrinho estava cheio até a borda.

— Katy?

Perdida em pensamentos, eu pulei com a voz feminina suave e

deixei cair uma caixa de ovos no chão.

— Merda.

— Oh! Sinto muito! Eu a assustei. Eu faço muito isso. —

Braços bronzeados dispararam e ela pegou a caixa e colocou-a de

volta na prateleira. Ela pegou outra e segurou em suas mãos esguias.

— Estes não estão quebrados. — Eu levantei o meu olhar da

carnificina, as gemas dos ovos escorrendo lentamente pelo brilhante

piso de linóleo e fiquei momentaneamente atordoada. Minha primeira

impressão da moça era de que ela era muito bonita para estar de pé

em um supermercado com uma caixa de ovos na mão.

Ela se destacava como um girassol em um campo de trigo.

Todo o resto era uma comparação pálida. Seu cabelo escuro era

crespo e maior do que o meu, atingindo a cintura. Ela era alta, magra,

e seus traços quase perfeitos traziam certa inocência. Ela me fez

lembrar de alguém, especialmente aqueles olhos verdes

surpreendentes. Eu cerrei os dentes. Quais são as chances?

Ela sorriu.

— Eu sou a irmã de Daemon. Meu nome é Dee. — Ela colocou a

embalagem intacta de ovos no meu carrinho. — Novos ovos! — Ela

sorriu.

Page 17: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Daemon?

Dee fez um gesto para uma bolsa rosa choque na frente de seu

carrinho. Um telefone celular estava deitado em cima dela.

— Você falou com ele a cerca de trinta minutos atrás. Você

parou para... Pedir direções?

Então, o idiota tinha um nome. Daemon, parecia adequado. E,

claro, sua irmã seria tão atraente quanto ele. Por que não? Bem-vindo

a Virginia do Oeste, a terra de modelos perdidos. Eu estava

começando a duvidar de que eu conseguiria me adequar aqui.

— Sinto muito. Eu não estava esperando que alguém chamasse

o meu nome. — Fiz uma pausa. — Ele te ligou?

— Sim. — Ela habilmente puxou o carrinho para fora do

caminho de uma criança que corria através do corredor estreito. — De

qualquer forma, eu vi vocês se mudando, e eu imaginei passar por lá,

e quando ele disse que você estava aqui, bem, eu estava tão animada

para conhecê-la que eu corri. Ele me disse como você era. — Eu só

podia imaginar esta descrição.

Curiosidade encheu seu rosto enquanto ela me olhava com

seus intensos olhos verdes.

— Embora, você não se pareça em nada com o que ele disse,

mas de qualquer maneira, eu sabia quem você era. É difícil não

conhecer a cara de todos por aqui. — Eu vi um garotinho sujo subir

na prateleira do pão.

— Eu não penso que o seu irmão goste de mim.

Suas sobrancelhas franziram.

— O quê?

Page 18: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Seu irmão, eu não acho que ele goste de mim. — Voltei para

o carrinho, brincando com um pacote de carne. — Ele não foi de

muita... Ajuda.

— Oh, não! — ela disse, e então riu. Eu olhei para ela

bruscamente. — Sinto muito. Meu irmão é mal-humorado.

Não brinca.

— Eu tenho certeza que foi mais do que ser mal-humorado.

Ela balançou a cabeça.

— Ele estava tendo um dia ruim. Ele é pior do que uma

menina, confie em mim. Ele não te odeia. Nós somos gêmeos. Até eu

penso em matá-lo todos os dias. De qualquer forma, Daemon é do

tipo áspero em torno das bordas. Ele não se dá bem com... Pessoas.

Eu ri.

— Você acha?

— Bem, eu estou feliz que eu encontrei você aqui! — ela

exclamou, mudando de assunto mais uma vez. — Eu não tinha

certeza se eu estaria incomodando você, em aparecer assim, com você

se organizando e tudo.

— Não, isso não teria sido um incômodo. — Eu tentei manter a

conversa. Ela passou de um tema para o próximo como alguém com

grande necessidade de Ritalina.

— Você deveria ter me visto quando Daemon disse que você era

da nossa idade. Eu quase corri para casa para abraçá-lo. — Ela se

moveu animadamente. — Se eu soubesse que ele seria tão rude com

você, eu teria provavelmente o socado em seu lugar.

— Eu posso imaginar. — Eu sorri. — Eu queria dar um soco

nele, também.

Page 19: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Imagine ser a única garota no bairro e presa com seu irmão

chato na maioria das vezes. — Ela olhou por cima do ombro, as

sobrancelhas delicadas se enrugando.

Eu segui seu olhar. O menino tinha agora uma caixa de leite

em cada mão, o que me lembrou que eu precisava de leite.

— Volto já. — Eu fui até a seção de refrigeração.

Finalmente, a mãe da criança tinha dobrado a esquina,

gritando:

— Timothy Roberts, você coloque isso de volta agora! O que

você está-?

O garoto mostrou a língua. Às vezes, estar perto de crianças era

o programa de abstinência perfeito. Então, novamente, não como se

eu precisava do programa. Eu carreguei o meu leite de volta para

onde Dee esperava, olhando para o chão. Seus dedos torcidos sobre a

alça de seu carrinho, apertando até que os nós dos dedos ficassem

brancos.

— Timothy, volte aqui neste instante! — A mãe agarrou seu

braço gordinho. Mechas de cabelo haviam escapado de seu coque

severo. — O que foi que eu disse? — ela sussurrou. — Você não vai

pra perto deles. — Deles? Eu esperava ver alguém. Só que era Dee e...

Eu. Confusa, olhei para a mulher. Fiquei chocada ao ver seus olhos

escuros cheios de desgosto. Repulsa pura, e por trás disso, na forma

de seus lábios pressionados em uma linha dura e trêmula, havia

também o medo.

E ela estava olhando para Dee.

Em seguida, ela reuniu o menino se contorcendo em seus

braços e saiu correndo, deixando o carrinho no meio do corredor.

Virei-me para Dee.

Page 20: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Que diabos foi isso?

Dee sorriu, mas era frágil.

— Cidade pequena. Os habitantes são estranhos por aqui. Não

preste atenção a eles. De qualquer forma, você deve estar tão

entediada de tanto desembalar e fazer compras de supermercado. É

como as duas das piores coisas de sempre. Quero dizer, o inferno

pode ser concebido dessas duas coisas. Pense em uma eternidade de

desembalar as caixas e fazer compras de supermercado? — Eu não

podia deixar de sorrir enquanto eu lutava para manter a conversa

sem parar de Dee enquanto terminava de carregar os nossos

carrinhos. Normalmente, alguém assim me desgastava em cinco

segundos, mas a emoção em seus olhos e a forma como ela

continuava balançando-se sobre os calcanhares era uma espécie de

contagio.

— Você tem mais coisas para pegar? — ela perguntou. — Eu

praticamente acabei. Eu realmente vim te pegar e fui sugada pelo

corredor de sorvete. Ele me chama.

Eu ri e olhei para o meu carrinho cheio.

— Sim, espero que eu tenha acabado.

— Vamos lá então. Podemos verificar juntas.

Enquanto esperávamos no corredor do check-out, Dee não

parou de falar, e eu esqueci o incidente estranho no corredor do leite.

Dee acreditava que Petersburgo precisava de outra loja de

supermercado – porque esta não tinha alimentos orgânicos – e ela

queria frango orgânico para o que ela estava fazendo para Daemon no

jantar. Depois de alguns minutos, eu tinha superado a dificuldade de

manter-me com ela e realmente comecei a relaxar. Ela não era

Page 21: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

borbulhante, apenas era... Viva. Eu esperava que ela passasse isso

para mim.

A fila do caixa andava mais rápido do que em cidades maiores.

Uma vez fora, ela parou ao lado de um novo Volkswagen e abriu o

porta-malas.

— Carro bonito. — eu comentei. Eles tinham dinheiro,

obviamente, ou Dee tinha um trabalho.

— Eu amo isso. — Ela deu um tapinha no para-choque

traseiro. — É o meu bebê.

Enfiei os mantimentos na parte de trás do meu sedan.

— Katy?

— Sim? — Eu rodopiava as chaves ao redor do meu dedo,

deixando o pé na bunda de seu irmão de lado, ela queria sair mais

tarde. Não havia como dizer quão tarde mamãe ia dormir.

— Eu deveria pedir desculpas pelo meu irmão. Conhecendo-o,

tenho certeza que ele não foi muito bom.

Eu meio que senti pena dela, por ela estar relacionada com tal

ferramenta.

— Não é culpa sua.

Seus dedos se torceram em torno do anel da chave, e seus

olhos encararam os meus.

— Ele é muito superprotetor, por isso ele não se dá bem com

estranhos.

Como um cão? Eu quase sorri, mas seus olhos estavam

arregalados e ela parecia realmente com medo de que eu não fosse

perdoá-la. Ter um irmão como ele deve ser um saco.

— Não é grande coisa. Talvez ele estivesse apenas tendo um dia

ruim.

Page 22: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Talvez. — Ela sorriu, mas pareceu forçado.

— Sério, não se preocupe. Estamos bem. — eu disse.

— Obrigada! Não sou totalmente uma perseguidora. Eu juro. —

Ela piscou. — Mas eu adoraria sair esta tarde. Tem algum plano?

— Na verdade, eu estava pensando em trabalhar no canteiro de

flores na frente. Quer ajudar? — Ter companhia pode ser divertido.

— Oh, isso parece ótimo. Deixe-me levar estes mantimentos em

casa, e eu vou dirigir em linha reta de novo. — disse ela. — Eu estou

realmente animada pelo jardim! Eu nunca fiz isso.

Antes que eu pudesse perguntar que tipo de infância não

incluía pelo menos o tomateiro obrigatório, ela disparou para o carro

dela e voou para fora do estacionamento. Eu empurrei meu para-

choques e me dirigi para o lado do motorista. Eu abri a porta do carro

e estava prestes a subir, quando a sensação de ser observada se

arrastou por cima de mim.

Meus olhos corriam ao redor do parque de estacionamento,

mas só havia um homem em um terno preto e óculos escuros olhando

para a foto de uma pessoa desaparecida em um quadro de cortiça da

comunidade. Tudo o que eu conseguia pensar era em Homens de

Preto.

A única coisa que ele precisava era aquele pequeno dispositivo

de memória e um cão falante. Eu teria rido, exceto que nada sobre o

homem era engraçado... Especialmente desde que ele agora estava

olhando de volta para mim.

***

Page 23: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Um pouco mais tarde, Dee bateu na porta da frente. Quando

saí, encontrei-a em pé a alguns passos, rolando para trás nos saltos

de suas sandálias. Não é o que eu considero como traje de

"jardinagem". O sol lançou um halo em torno de sua cabeça escura e

ela tinha um sorriso maroto no rosto. Nesse momento, ela me

lembrou de uma princesa dos contos de fadas. Ou talvez uma Tinker

Bell, considerando como hiperativa ela era.

— Hey! — Saí para a varanda, fechando a porta

silenciosamente atrás de mim. — Minha mãe está dormindo.

— Eu espero que eu não tenha acordado sua mãe. — ela

sussurrou me imitando.

Eu balancei minha cabeça. — Nah, ela dormiria durante um

furacão. Já aconteceu, na verdade.

Dee sorriu quando ela se sentou no balanço. Ela parecia tímida,

abraçando os cotovelos.

— Assim que eu cheguei em casa com os mantimentos,

Daemon comeu metade de um saco de batata fritas, dois dos meus

sacos de pipoca, em seguida, metade do pote de manteiga de

amendoim.

Eu comecei a rir. — Uau. Como ele consegue ficar tão... —

Quente. — Magro?

— Isso é incrível. — Ela puxou as pernas para cima e colocou

os braços ao redor delas. — Ele come tanto que geralmente temos que

fazer 2, ou 3 viagens em uma semana para o mercado. — Ela olhou

para mim com um brilho malicioso nos olhos. — Claro, podemos

comer lá em casa ou se preferir podemos sair para comer. Eu acho

que já falei demais.

Page 24: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Minha inveja era quase dolorosa. Eu não fui abençoada com

um metabolismo rápido. Meus quadris e bumbum podiam atestar

isso. Eu não estava acima do peso, mas eu realmente odiava quando

a mamãe se referia a mim como "cheia de curvas".

— Isso é tão injusto. Eu como um saco de batatas fritas e

ganho cinco quilos.

— Nós temos sorte. — Seu sorriso fácil parecia apertado. — De

qualquer forma, você precisa me contar tudo sobre a Flórida. Nunca

estive lá.

Apoiei-me no parapeito da varanda.

— Pense em shoppings que não fecham e estacionamentos

lotados. Oh, fora as praias. Sim, vale a pena ir para as praias. — Eu

amava o calor do sol em minha pele, meus dedos se espremendo na

areia molhada.

— Uau! — disse Dee, seu olhar correndo ao redor, como se

estivesse esperando por alguém. — Vai demorar muito para você se

acostumar a viver aqui. A adaptação pode ser... Difícil quando você

está fora do seu elemento.

Eu dei de ombros.

— Eu não sei. Não parece tão ruim assim. É claro que quando

eu me vi aqui pela primeira vez, eu era como, ‗você tem que estar

brincando comigo‘. Eu nem sabia que esse lugar existia.

Dee riu.

— Sim, um monte de gente não conhece. Ficamos chocados

quando chegamos aqui.

— Ah, então vocês não são daqui também?

A risada dela morreu quando seu olhar desviou para longe dos

meus.

Page 25: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não, nós não somos daqui.

— Seus pais se mudarem para cá para trabalhar? — Embora

eu não tivesse ideia de que tipo de empregos havia em torno deste

lugar.

— Sim, eles trabalham na cidade. Nós não os vemos muito.

Tive a nítida impressão de que havia mais do que isso.

— Isso deve ser difícil. Mas... Muita liberdade, eu acho. Minha

mãe está raramente aqui também.

— Eu acho que você entende, então. — Um estranho, olhar

triste encheu os seus olhos. — Nós meio que decidimos nossas

próprias vidas.

— E você achava que as suas vidas seriam mais emocionantes

do que são, certo?

Ela olhou pensativa.

— Alguma vez você já ouviu falar em, ter cuidado com o que

deseja? Eu costumava pensar assim. — Ela mexeu o balanço para

trás e para frente, nenhuma de nós se apressou para preencher o

silêncio que se seguiu. Eu sabia exatamente o que ela queria dizer.

Não me lembro quantas vezes eu tinha ficado acordada durante a

noite e esperava que mamãe iria sair dessa e seguir em frente – e

bem-vindos a Virginia do Oeste.

Nuvens escuras pareciam rolar para fora do nada, lançando

uma sombra em todo o quintal. Dee franziu a testa.

— Oh, não! Parece que teremos uma das nossas famosas

chuvas da tarde. Elas costumam durar um par de horas.

— Isso é muito ruim. Eu acho que é melhor deixarmos para

mexer no jardim amanhã. Você está disponível?

— Claro que sim. — Dee estremeceu no ar de repente com frio.

Page 26: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Gostaria de saber de onde esta tempestade veio. Parece vir

do nada, não é? — Perguntei.

Dee pulou do balanço, enxugando as mãos em suas calças.

— Parece que sim. Bem, eu acho que sua mãe está acordada, e

eu preciso acordar Daemon.

— Dormindo? Está um pouco tarde.

— Ele é estranho. — disse Dee. — Eu vou estar de volta

amanhã, e podemos ir para a loja de jardinagem.

Rindo, eu deslizei para fora do corrimão.

— Parece bom.

— Ótimo! — Ela pulou para baixo e girou ao redor. — Eu vou

dizer a Daemon que você disse oi!

Eu senti minhas bochechas virarem um vermelho ardente.

— Uh, isso não será necessário.

— Confie em mim, isso será! — Ela riu e, em seguida, correu

para a casa ao lado. Alegre.

Mamãe estava na cozinha, café na mão. Quando ela me

enfrentou, fumegante líquido marrom espirrando sob o balcão. O

olhar inocente no rosto tinha ido embora.

Agarrando uma toalha, fui até o balcão.

— Ela mora ao lado, seu nome é Dee, e eu a encontrei,

enquanto estava no supermercado. — Eu passei a toalha sobre as

manchas de café. — Ela tem um irmão. Seu nome é Daemon. Eles são

gêmeos.

— Gêmeos? Interessante. — Ela sorriu. — Dee é legal, querida?

Eu suspirei.

— Sim, mamãe, ela é muito legal.

— Estou muito feliz. É hora de você sair da sua concha.

Page 27: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu não sabia que eu estava em uma concha.

Mamãe se acalmou e, em seguida, tomou um gole, olhando-me

por cima da borda.

— Vocês fizeram planos para sair amanhã?

— Você sabe. Você estava ouvindo.

— É claro. — Ela piscou. — Eu sou sua mãe. Isso é o que nós

fazemos.

— Escutar as conversas através das portas?

— Sim. De que outra forma eu deveria saber o que está

acontecendo? — ela perguntou inocentemente.

Revirei os olhos e me virei para voltar para a sala de estar.

— Privacidade, mãe.

— Querida, — ela chamou da cozinha. — privacidade não

existe.

Page 28: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 03

O dia em que minha internet foi ligada foi melhor do que ter um

cara quente conferindo minha bunda e pedindo o número do meu

telefone. Como era quarta-feira, eu tinha digitado um rápido post

"Esperando pela quarta-feira" para o meu blog com este livro YA sobre

um menino quente com um toque assassino – ali não tinha erro –

pedi desculpas por minha ausência prolongada, respondi aos

comentários, e segui alguns outros blogs que eu amava. Era como

voltar para casa.

— Katy? — Mamãe gritou subindo as escadas. — Sua amiga

Dee está aqui.

— Estou indo — eu gritei de volta e fechei a tampa do meu

laptop.

Eu pulei descendo as escadas, e Dee e eu fomos para a loja de

ferragens, que não era em qualquer lugar próximo ao FOO LAND

como Daemon tinha dito. Eles tinham tudo o necessário para corrigir

esse canteiro grotesco de flores lá na frente.

Page 29: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

De volta para casa, cada uma de nós pegou um lado de um

saco e puxou-o para fora do meu porta mala. Os sacos eram

ridiculamente pesados e pelo tempo que tínhamos levado para tirar

eles para fora do carro, o suor já havia derramado para fora de nós.

— Quer beber alguma coisa antes de arrastar os sacos até os

canteiros das flores? — Eu ofereci, os braços doendo.

Ela limpou as mãos umas contra as outras e assentiu.

— Eu preciso levantar pesos. Carregar coisas é uma merda.

Fomos para dentro e peguei chá gelado.

— Lembre-me de me juntar à academia local, — Eu brinquei,

esfregando meus braços insignificantes.

Dee riu e torceu o cabelo dela encharcado de suor do seu

pescoço. Ela ainda parecia linda, mesmo com o rosto vermelho e

cansada. Tenho certeza de que eu parecia uma assassina em série.

Pelo menos agora sabia que eu estava fraca demais para fazer

qualquer dano real.

— Hum. Ketterman2. Nossa ideia de academia é arrastar sua

lata de lixo até o fim de uma estrada de terra ou carregar feno. — Eu

desenterrei um laço de cabelo dela, brincando sobre as coisas não

legais da minha nova vida de cidade pequena. Só tínhamos estado lá

dentro cerca de dez minutos, no máximo, mas quando voltei, todos os

sacos de terra e adubo estavam empilhados ao lado da varanda.

Olhei para ela, surpresa.

— Como eles chegaram até aqui?

Caindo de joelhos, ela começou a puxar as ervas daninhas.

— Provavelmente o meu irmão.

— Daemon?

2 Comunidade no remoto Smoke Hole Canyon, em Pendleton, West Virginia, EUA.

Page 30: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ela assentiu com a cabeça.

— Ele é sempre o herói ingrato.

— Herói ingrato. — eu murmurei. Não é provável. Prefiro

acreditar que os sacos levitaram para cá por conta própria.

Dee e eu atacamos os matos com mais energia do que eu

pensava que tínhamos. Eu sempre senti que arrancar ervas daninhas

era uma ótima maneira de desabafar, e se os movimentos bruscos de

Dee eram alguma indicação disso, ela tinha muito sobre o que estar

frustrada. Com um irmão como o dela, eu não estava surpresa.

Mais tarde, Dee olhou para as unhas lascadas.

— Bem, lá se foi a minha manicure.

Eu sorri.

— Eu disse a você, você deveria ter usado luvas.

— Mas você não está usando. — ressaltou.

Levantando minhas mãos manchadas de sujeira, eu estremeci.

Minhas unhas eram geralmente lascadas.

— Sim, mas eu estou acostumada com isso.

Dee deu de ombros e foi até lá e pegou um ancinho. Ela parecia

engraçada em sua saia e sandálias, que ela insistiu que estavam a

altura do trabalho de jardinagem, e arrastou o ancinho para mim.

— Isso é divertido, apesar de tudo.

— Melhor do que fazer compras? — Eu brinquei.

Ela parecia considerar seriamente, franzindo o nariz.

— Sim, é mais... Relaxante.

— É. Eu não penso quando eu estou fazendo coisas como isto.

— Isso é o que há de bom nisso. — Ela começou a espalhar o

estrume que desaparecia na terra. — Você faz isso para evitar

pensar?

Page 31: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Sentando, eu rasguei outro saco de adubo. Eu não tinha

certeza de como responder a essa pergunta.

— Meu pai... Ele adorava fazer coisas como esta. Ele tinha um

polegar verde. No nosso antigo apartamento, que não tinha um

quintal ou qualquer coisa, mas tínhamos uma varanda. Fizemos um

jardim ali, juntos.

— O que aconteceu com seu pai? Seus pais se divorciaram?

Eu pressionei meus lábios. Falar sobre ele não era algo que eu

fazia. Como sempre. Ele tinha sido um bom homem, um grande pai.

Ele não merecia o que aconteceu com ele.

Dee fez uma pausa.

— Sinto muito. Não é da minha conta.

— Não. Está tudo bem. — Eu estava de pé, escovando a sujeira

da minha camisa. Quando olhei para cima, ela estava inclinando o

ancinho contra a varanda. Todo o seu braço esquerdo turvou. Eu

podia ver o corrimão branco através dele. Eu pisquei. Seu braço

estava sólido novamente.

— Katy? Você está bem?

Coração batendo forte, eu arrastei meus olhos para o seu rosto

e, em seguida, de volta para o braço dela. Estava todo perfeito. Eu

balancei minha cabeça.

— Sim, eu estou bem. Hum... O meu pai, ele ficou doente.

Câncer. Era terminal e no cérebro. Ele foi ficando com dores de

cabeça, vendo coisas. — Engoli em seco, desviando o olhar. Vendo

coisas como eu vi? — Mas apesar disso, ele tinha estado bom até o

diagnóstico. Eles começaram a quimio e radioterapia com ele, mas

tudo... Ficou uma merda tão rapidamente. Ele morreu cerca de dois

meses mais tarde.

Page 32: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Oh, meu Deus, Katy, eu sinto muito. — Seu rosto estava

pálido, sua voz suave. — Isso é terrível.

— Está tudo bem. — Forcei um sorriso que eu não sentia. —

Foi a cerca de três anos atrás. É por isso que a minha mãe queria se

mudar. Um novo começo e todo esse barulho.

Na luz do sol, os olhos dela brilhavam.

— Eu posso entender isso. Perder alguém não fica mais fácil

com tempo, não é?

— Não. — Até o som disso, ela sabia o que sentia, mas antes

que eu pudesse perguntar, a porta de sua casa se abriu. Nós se

formaram no meu estômago. — Oh, não... — Eu sussurrei.

Dee virou-se, deixando escapar um suspiro.

— Olha quem está de volta.

Já passava da uma da tarde, e Daemon parecia como se tivesse

acabado de sair da cama. Seus jeans estavam amarrotados, cabelos

despenteados e em todo o lugar. Ele estava ao telefone, falando com

alguém quando ele esfregou uma mão ao longo de sua mandíbula.

E ele estava sem camisa.

— Será que ele não possui uma camisa? — Eu perguntei,

pegando uma pá.

— Infelizmente, eu acho que não. Nem mesmo no inverno. Ele

está sempre correndo seminu. — Ela gemeu. — É perturbador que eu

tenha que ver tanto de sua... Pele. Eca.

Eca para ela. E maldição quente para mim. Comecei a cavar

vários buracos em lugares estratégicos. Minha garganta estava seca.

Belo rosto. Corpo bonito. Atitude horrível. Era a santa trindade dos

meninos quentes.

Page 33: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon ficou no telefone por cerca de 30 minutos, e sua

presença tinha um efeito inundador. Não havia como ignorá-lo, nem

mesmo quando tinha vontade de dar as costas para ele, eu podia

senti-lo observando. Meu ombro vibrou sob o seu olhar pesado. Uma

vez que eu olhei, ele tinha ido embora, só para voltar segundos depois

com uma camisa. Droga. Eu meio que perdi a vista.

Eu estava batendo a nova terra para baixo quando o arrogante

Daemon apareceu, deixando cair um braço pesado sobre o ombro de

sua irmã. Ela tentou se libertar, mas ele a abraçou.

— Hey, Irmãzinha.

Ela revirou os olhos, mas ela estava sorrindo. Um olhar de

adoração ao herói encheu seus olhos quando ela olhou para ele.

— Obrigada por trazer os sacos para nós.

— Não fui eu.

Dee revirou os olhos.

— Seja como for, Babaca.

— Isso não foi legal. — Ele andou para mais perto, sorrindo,

sorrindo muito, e era uma boa visão dele. Ele deve experimentar isso

com mais frequência. Então ele olhou para mim e seus olhos se

estreitaram, como se ele só percebeu agora que eu estivesse lá, no

meu quintal. O sorriso desapareceu completamente.

— O que você está fazendo? — Olhei para mim mesma. Parecia

bastante óbvio, considerando que eu estava coberta de sujeira e havia

várias plantas espalhadas em volta de mim.

— Eu estou preparando-

— Eu não estava perguntando a você. — Ele se virou para sua

irmã com o rosto vermelho. — O que você está fazendo?

Page 34: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu não ia deixá-lo fazer isso comigo novamente. Dei de ombros

e peguei um vaso de planta. Arrancando a planta fora de seu

recipiente, eu arranquei as raízes junto com ele.

— Eu vou ajudá-la com o canteiro de flores. É legal. — Dee deu

um soco no estômago dele antes de se soltar. — Olhe o que fizemos.

Acho que tenho um talento escondido.

Daemon virou os olhos em minha obra-prima de paisagismo. Se

eu tivesse que escolher um emprego dos sonhos agora, estaria

trabalhando com paisagismo e ao ar livre. Sim, eu chupava bunda no

deserto, mas eu estava no meu melhor com as minhas mãos

mergulhadas na sujeira. Eu amava tudo sobre isso. O entorpecente

exercício, a forma como tudo cheirava a terra e riqueza, e como um

pouco de água e solo fresco podem trazer a vida de volta a algo que

estava desbotado e morto.

E eu era boa nisso. Eu assisti a todos os shows no TLC. Eu

sabia onde colocar as plantas que necessitavam de mais sol e aquelas

que prosperavam nas sombras. Havia um efeito de camadas, mais

altas e com folhas, plantas mais resistente atrás e flores na frente.

Tudo o que eu tinha que fazer era colocar para baixo do solo e voila!

Daemon arqueou uma sobrancelha.

Minhas entranhas se apertaram.

— O quê?

Ele deu de ombros.

— Está bonito. Eu acho.

— Bonito? — Dee soava tão ofendida quanto eu me sentia. —

Está melhor do que bonito. Nós arrasamos neste projeto. Bem, Katy

arrasou. Eu meio que lhe entreguei o material.

Page 35: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— É isso que você faz com seu tempo livre? — Ele me

perguntou, ignorando sua irmã.

— O que? Você decidiu falar comigo agora? — Sorrindo com

força, peguei um punhado de adubo e despejei. Enxágue e repita. —

Sim, é uma espécie de hobby. Qual é o seu? Chutar cachorros?

— Eu não tenho certeza se eu deveria dizer na frente da minha

irmã. — Respondeu ele, sua expressão se transformando em lobo.

— Ew. — Dee fez uma careta.

As imagens que eu tinha dele eram totalmente impróprias para

menores, e eu poderia dizer pela sua expressão presunçosa que ele

sabia disso. Eu peguei mais adubo.

— Mas não é tão tedioso quanto isto. — Ele acrescentou.

Eu congelei. Pedaços de cedro vermelhos flutuavam dos meus

dedos.

— Por que isto é tedioso?

Seu olhar dizia eu realmente preciso explicar? E sim, jardinagem

não era o melhor das coisas legais. Eu sabia disso. Mas não era

tedioso. Porque eu gostava de Dee, eu apertei minha boca e comecei a

espalhar o adubo.

Dee empurrou seu irmão, mas ele não se mexeu.

— Não seja um idiota. Por favor?

— Eu não estou sendo um idiota. — Ele negou.

Eu levantei minhas sobrancelhas.

— O que é isso? — Disse Daemon. — Você tem algo a dizer,

Gatinha?

— Que eu gostaria que você nunca mais me chamasse de

gatinha? Não. — Eu espalhei o adubo, então, me levantei, admirando

Page 36: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

nosso trabalho. Jogando a Dee uma olhada, eu sorri. — Acho que

fizemos um bom trabalho.

— Sim. — Ela empurrou o irmão novamente, na direção de sua

casa. Ele ainda não se mexeu. — Fizemos bem, com tédio e tudo

mais. E você sabe o quê? Eu meio que gosto de ser tediosa.

Daemon olhou para as flores recém plantadas, quase como se

estivesse dissecando-as para um experimento científico.

— E eu acho que nós precisamos espalhar a nossa tediosidade

ao canteiro de flores na frente da nossa casa. — Continuou ela, os

olhos cheios de emoção. — Podemos ir até a loja, pegar algumas

outras coisas e você pode-

— Ela não é bem-vinda em nossa casa. — Daemon retrucou,

virando-se para a irmã. — Sério.

Surpresa com o veneno em suas palavras, eu dei um passo

para trás.

Dee, no entanto, não o fez. Suas mãos delicadas se fecharam

em punhos.

— Eu estava pensando que poderíamos trabalhar no canteiro

de flores, que está do lado de fora – não do lado de dentro – da última

vez que verifiquei.

— Eu não me importo. Eu não a quero lá.

— Daemon, não faça isso. — Dee murmurou, com os olhos

cheios de lágrimas. — Por favor. Eu gosto dela.

O notável aconteceu. Seu rosto se suavizou.

— Dee...

— Por favor? — Ela perguntou novamente, saltando como uma

garotinha pedindo seu brinquedo favorito, o que era estranho de se

Page 37: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

ver dado o quão alta ela era. Eu queria chutar Daemon por

transformar sua irmã em alguém claramente faminta por amizades.

Ele amaldiçoou sob sua respiração, cruzando os braços.

— Dee, você tem amigos.

— Não é o mesmo, e você sabe disso. — Seus movimentos

imitaram o seu. — É diferente.

Daemon olhou para mim, seus lábios se curvaram. Se eu ainda

tivesse a pá, eu poderia ter a atirado em sua cabeça.

— Eles são seus amigos, Dee. Eles são como você. Você não

precisa ser amiga de alguém... Alguém como ela. — Eu tinha ficado

calada até aquele ponto, porque eu não tinha ideia do que estava

acontecendo e eu não queria dizer nada que pudesse perturbar Dee.

O idiota era o irmão dela, afinal de contas, mas isso, isso tinha ido

muito além.

— O que você quer dizer com, alguém como eu? — Ele inclinou

a cabeça para o lado e soltou um longo suspiro.

Os olhos de sua irmã correram de mim para ele nervosamente.

— Ele não quis dizer nada com isso.

— Besteira. — Ele murmurou.

Agora minhas mãos estavam apertadas em punhos.

— Que diabos é o seu problema?

Daemon me enfrentou. Havia uma expressão estranha no rosto.

— Você.

— Eu sou o seu problema? — Eu dei um passo para frente. —

Eu não te conheço. E você não me conhece.

— Vocês são tudo a mesma coisa. — Um músculo bateu em sua

mandíbula — Eu não preciso conhecê-la. Ou querer conhecê-la.

Eu joguei minhas mãos para cima, frustrada.

Page 38: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Isso funciona perfeitamente para mim, amigo, porque eu não

quero chegar a te conhecer também.

— Daemon, — Dee disse, agarrando seu braço. — Pare com

isso.

Ele sorriu quando me olhou.

— Eu não gosto que você seja amiga da minha irmã.

Eu disse a primeira coisa que me veio à mente. Provavelmente

não era a mais inteligente e, normalmente, eu não era o tipo de

pessoa que respondia de volta, mas esse cara ficava sob a minha pele

e me fazia ver tudo vermelho.

— E eu não dou duas merdas para o que você gosta. — Um

segundo ele estava em pé ao lado de Dee e no próximo ele estava bem

na minha frente. E eu quero dizer, bem na minha frente. Ele não

poderia ter se mexido tão rápido. Era impossível. Mas lá estava ele,

elevando-se sobre mim e olhando para baixo.

— Como... Como você se moveu...? — Eu dei um passo para

trás, as palavras falhando. A intensidade em seus olhos enviava

arrepios aos meus braços. Caramba...

— Ouça com atenção. — Disse ele, dando um passo à frente.

Dei um passo atrás, e ele acompanhou os meus passos até que as

minhas costas batessem em uma das árvores altas. Daemon inclinou

a cabeça para baixo, seus olhos verdes não naturais ocupando meu

mundo inteiro. Calor rolava de seu corpo. — Eu só vou dizer isto uma

vez. Se acontecer alguma coisa à minha irmã, então me ajude-

Ele parou, respirando fundo enquanto seu olhar caiu para

meus lábios entreabertos. Minha respiração ficou presa. Algo brilhou

em seus olhos, mas se estreitaram novamente, escondendo o que

tinha estado ali.

Page 39: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

As imagens estavam de volta. Dois de nós. Quente e suado.

Mordi o lábio e tentei fazer a minha expressão ficar em branco, mas

mais uma vez eu sabia que ele poderia dizer o que eu estava

pensando quando sua expressão tornou-se irritantemente

presunçosa. Além de irritante.

— Você é meio suja, Gatinha.

Eu pisquei. Negue. Negue. Negue.

— O que você disse?

— Suja. — Ele repetiu, a voz tão baixa que eu sabia que Dee

não podia ouvi-lo. — Você está coberta de sujeira. O que você achou

que eu quis dizer?

— Nada. — Eu disse, desejando que o inferno se abrisse atrás

dele. Estar tão perto de Daemon não era exatamente reconfortante. —

Estou jardinando. Você fica sujo quando você faz isso.

Seus lábios tremeram.

— Há um monte de formas mais divertidas para conseguir se...

Sujar. Não que eu algum dia vá te mostrar.

Eu tinha a sensação de que ele conhecia cada forma minha

intimamente. Um rubor subiu sobre meu rosto e desceu pela minha

garganta.

— Eu prefiro rolar no estrume a dormir com você.

Daemon arqueou uma sobrancelha e, em seguida, virou-se.

— Você precisa ligar para Matthew. — Ele disse para sua irmã.

— Agora e não daqui a cinco minutos.

Eu fiquei contra a árvore, olhos arregalados e imóvel, até que

ele desapareceu de volta para sua casa, a porta se fechando atrás

dele. Engoli em seco, olhando para uma Dee perturbada.

— Ok. — Eu disse. — Isso foi intenso.

Page 40: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Dee caiu nos degraus, com as mãos no rosto dela.

— Eu realmente amo ele, eu amo. Ele é meu irmão, o único... —

Ela parou, erguendo a cabeça. — Mas ele é um idiota. Eu sei que ele

é. Ele não foi sempre assim. — Sem fala, eu olhei para ela. Meu

coração ainda estava disparado, bombeando sangue de maneira

muito rápida. Eu não tinha certeza se era medo ou adrenalina que

estava me deixando tonta quando finalmente me afastei da árvore e

me aproximei dela. E se eu não tinha medo, eu meio que me

perguntava se eu deveria ter.

— É difícil ter amigos com ele por perto. — Ela murmurou,

olhando para as mãos. — Ele coloca todos pra correr.

— Puxa, eu me pergunto o por quê. — Na verdade, eu me

pergunto o por quê. Sua possessividade parecia um pouco fora de

lógica. Minhas mãos ainda estavam tremendo, e mesmo ele tendo ido

embora, eu ainda podia senti-lo, o calor que ele jogou para fora. Isso

tinha sido... Emocionante. Infelizmente.

— Eu sinto muito, muito mesmo. — Ela levantou-se dos

degraus, abrindo e fechando as mãos. — É que ele é superprotetor.

— Eu peguei isso, mas não é como se eu fosse um cara

tentando te molestar ou qualquer coisa.

Um sorriso apareceu.

— Eu sei, mas ele se preocupa muito. Eu sei que ele vai... Se

acalmar, uma vez que ele comece a conhecer você.

Eu duvidava disso.

— Por favor, diga-me que ele não te colocou para correr

também. — Ela deu um passo a minha frente, as sobrancelhas

franzidas. — Eu sei que você provavelmente acha que sair comigo não

vale a pena-

Page 41: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não. Está tudo bem. — Eu passei a mão sobre a minha

testa. — Ele não me botou pra correr, ele não vai.

Ela parecia tão aliviada que eu pensei que ela iria entrar em

colapso.

— Bem. Eu tenho que ir, mas vou corrigir isso. Eu prometo.

Eu dei de ombros.

— Não há nada para se corrigir. Ele não é problema seu.

Um olhar estranho cruzou seu rosto.

— Mas ele meio que é. Eu vou falar com você mais tarde, ok?

Assentindo, voltei meu olhar de volta para a casa dela. Eu

agarrei os sacos vazios. Que diabos foi tudo isso? Nunca na minha

vida tinha conhecido alguém que não gostava de mim tão fortemente.

Balançando a cabeça, eu larguei os sacos no lixo.

Daemon era quente, mas ele era um idiota. Um valentão. E eu

quis dizer o que eu disse a Dee. Ele não ia me assustar e evitar que

eu fosse amiga de sua irmã. Ele só tem que lidar com isso. Eu estava

aqui para ficar.

Page 42: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 04

Eu pulei a postagem no meu blog na segunda-feira,

principalmente porque era geralmente o tipo de coisa "O que você está

lendo" e eu não estava lendo nada de novo no momento. Eu decidi

que meu pobre carro precisava de um banho em seu lugar. Mamãe

ficaria orgulhosa se ela tivesse estado lá, vendo que eu estava do lado

de fora durante o verão e não acorrentada ao meu laptop.

Diferentemente do cargo ocasional de jardinagem, eu estava

tipicamente me fechando.

O céu estava claro e o ar carregava um cheiro almiscarado de

luz misturado com pinho. Logo depois que comecei a limpeza do

interior do meu carro, eu fiquei surpresa com quantas canetas e laços

de cabelo que eu achei. Ver minha mochila no banco de trás me fez

estremecer. Em um par de semanas eu estaria começando uma nova

escola, e eu sabia que Dee estaria cercada por amigos – amigos que

Daemon provavelmente aprovava, que não eram eu, porque ele

obviamente pensava que eu era uma traficante de crack.

Page 43: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Em seguida, peguei um balde e uma mangueira e ensaboei

mais o carro, mas quando cheguei no teto, tudo o que eu fazia era

molhar e derrubar a esponja uma dúzia de vezes. Não importa de que

lado eu tentasse atacar o teto, não estava funcionando, xingando

comecei a tirar os pedaços de saibro e grama da esponja. Eu queria

lançá-la na próxima floresta. Frustrada, acabei jogando a esponja no

balde.

— Você parece que precisa de alguma ajuda.

Eu pulei. Daemon estava a poucos metros de mim, com as

mãos nos bolsos da frente da calça jeans desbotada. Seus olhos

brilhantes, brilhavam sob a luz do sol.

Sua súbita aparição tinha me assustado. Eu não tinha sequer o

ouvido. Como alguém poderia se mover tão malditamente em silêncio,

especialmente tão alto como ele era? E ei, ele tinha uma camisa. Eu

não tinha certeza se eu deveria estar grata ou decepcionada. Bocas a

parte, ele era digno de se babar. Eu estalei para fora do transe, me

preparando para o inevitável tapa na cara verbal.

Ele não estava sorrindo, mas pelo menos ele não parecia que

queria me matar dessa vez. Se alguma coisa, sua expressão assumiu

uma máscara de aceitação relutante, provavelmente como eu parecia,

quando tinha que dar a um livro que eu estava empolgada um

comentário menos que estelar.

— Você parecia que ia jogar isso de novo. — Ele apontou para o

balde com seu cotovelo, a esponja flutuava acima da espuma. — Eu

imaginei que deveria fazer minha boa ação do dia e intervir antes de

qualquer esponja inocente perder a sua vida. — Eu tirei alguns fios de

cabelo úmido dos meus olhos, sem saber o que dizer.

Page 44: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon se inclinou rapidamente e pegou a esponja,

espremendo para fora o excesso de água.

— Parece que você tomou mais banho do que o carro. Eu nunca

pensei que lavar um carro fosse tão difícil, mas depois de ver você nos

últimos quinze minutos, eu estou convencido de que deveria ser um

esporte olímpico.

— Você estava me olhando? — Tipo assustador. Tipo quente.

Não! Não quente.

Ele deu de ombros.

— Você sempre pode levar o carro para o lava jato. Seria muito

mais fácil.

— Lava jatos são um desperdício de dinheiro.

— É verdade. — disse ele lentamente. Ajoelhou-se e começou a

limpar a mancha que eu tinha perdido no para-choque ao redor do

pneu antes de abordar o teto do carro. — Você precisa de pneus

novos. Estes estão carecas e o inverno é louco por aqui. — Eu não me

importava com os meus pneus. Eu não conseguia entender por que

ele estava aqui, falando comigo, quando a última vez que tinha falado,

ele agiu como se eu fosse o anticristo e praticamente me tinha presa a

uma árvore, falando sobre maneiras de ficar suja. E por que eu não

tinha escovado meu cabelo hoje de manhã?

— De qualquer forma, estou feliz que você estivesse por aqui. —

Ele terminou com o teto em tempo recorde e pegou a mangueira. Ele

deu um meio sorriso para mim e começou a pulverizar o carro com a

água, a espuma escorrendo os lados, como um copo transbordando.

— Eu acho que eu tenho que me desculpar.

— Você acha que você deveria?

Page 45: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon me encarou, os olhos apertados contra o sol brilhante,

e eu quase não desviei do spray de água que ele jogou do lado oposto

do carro.

— Sim, de acordo com Dee eu precisava trazer a minha bunda

aqui e fazer bonito. Algo sobre eu matar suas chances de ter uma

amiga 'normal'.

— Uma amiga normal? Que tipo de amigos ela tem?

— Anormais. — respondeu ele.

Ele prefere amigos "anormais" para a sua irmã?

— Bem, desculpar-se não significa que entendeu o objetivo de

se pedir desculpas.

Ele fez um barulho afirmativo.

— É verdade.

Olhei para ele.

— Você está falando sério?

— Sim. — Ele arrastou a palavra, trabalhando o seu caminho

ao redor do carro enquanto ele continuava a enxaguar a espuma do

sabão. — Na verdade, eu não tenho escolha. Eu tenho que fazer

bonito.

— Você não parece ser uma pessoa que faz qualquer coisa que

não queira fazer.

— Normalmente eu não sou. — Ele se moveu ao redor da parte

de trás do carro. — Mas a minha irmã tomou as chaves do meu carro

e até eu fazer bonito, eu não as terei de volta. É também

extremamente irritante obter substitutos.

Eu tentei segurar, mas eu ri.

— Ela pegou suas chaves?

Ele fez uma careta, retornando para meu lado.

Page 46: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não é engraçado.

— Você está certo. — Eu ri. — É enlouquecidamente hilário.

Daemon me lançou um olhar sujo.

Eu cruzei os braços.

— Eu sinto muito, no entanto. Eu não vou aceitar o seu não tão

sincero pedido de desculpas.

— Nem mesmo quando eu estou limpando seu carro?

— Não. — Sorri para a maneira como seus olhos se estreitaram.

— Você nunca poderá ter as chaves de novo.

— Oh, droga, lá se foi o meu plano. — Um sorriso relutante

brincou com os cantos de sua boca. — Eu imaginei que se eu

realmente não me sentisse mal, então pelo menos eu poderia fazer

isso.

Parte de mim estava irritada, mas havia outra parte de mim

que estava se divertindo – relutantemente se divertindo.

— Você normalmente é quente e brilhante?

Ele passou por mim e jogou a água fora.

— Sempre. Você costuma encarar os caras quando você para

para pedir por direções?

— Você sempre atende a porta seminu?

— Sempre. E você não respondeu minha pergunta. Você

sempre encara?

Calor infundiu minhas bochechas.

— Eu não estava encarando.

— Sério? — Perguntou ele. Esse meio sorriso estava lá

novamente, insinuando covinhas. — De qualquer forma, você me

acordou. Eu não sou uma pessoa da manhã.

— Não era tão cedo. — Eu apontei.

Page 47: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu durmo muito. E é verão, você sabe. Você não dorme?

Eu empurrei para trás uma mecha de cabelo que tinha

escapado do meu rabo de cavalo.

— Não. Eu sempre me levanto cedo.

Ele gemeu.

— Você soa exatamente como minha irmã. Não é à toa que ela

te ame tanto já.

— Dee tem bom gosto... Ao contrário de alguns... — Eu disse.

Seus lábios tremeram. — E ela é ótima. Eu realmente gosto dela,

então se você está aqui para jogar bonito, irmão mau, simplesmente

esqueça isso.

— Não é por isso que estou aqui. — Ele recolheu o balde e

vários sprays e produtos de limpeza. Eu provavelmente deveria tê-lo

ajudado a recolher as coisas, mas era fascinante vê-lo assumir o

comando do meu pequeno projeto de limpeza. Embora ele mantivesse

o meio sorriso estranho, eu poderia dizer que esta pequena troca era

estranha para ele. Bom.

— Então por que você está aqui, se não é para fazer uma

porcaria de pedido de desculpas? — Eu não conseguia parar de olhar

para sua boca quando ele falou. Eu aposto que ele sabia como beijar.

Beijos perfeitos também, aqueles que não eram molhados e brutais,

mas o tipo que enrolava os dedos.

Eu precisava parar de olhar para ele de um modo geral.

Daemon colocou todos os utensílios nos degraus da varanda e

se endireitou. Esticando os braços sobre a cabeça, sua camisa subiu,

revelando uma pequena amostra dos músculos. Seu olhar

permanecia em meu rosto, e calor floresceu na minha barriga.

Page 48: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Talvez eu esteja apenas curioso em saber o por que dela

estar tão apaixonada. Dee se dá bem com estranhos. Nenhum de nós

se dá.

— Eu tive um cachorro uma vez que não se dava bem com

estranhos.

Daemon olhou para mim por um momento, depois riu. Era um

retumbante som profundo. Bonito. Sexy. Oh Deus, eu desviei o olhar.

Ele era o tipo de garoto que quebrava corações e deixava uma longa

lista deles quebrados atrás dele. Ele era um problema. Talvez um tipo

divertido de problemas, mas ele também era um idiota. E eu não faria

movimentos bruscos. Não que eu tivesse feito.

Limpei a garganta.

— Bem, obrigada pela coisa com o carro. — De repente, ele

estava bem na minha frente novamente. Tão perto que seus dedos dos

pés quase tocaram os meus. Puxei uma respiração afiada, querendo

fazer backup. Ele precisava parar de fazer isso. — Como é que você se

move tão rápido?

Ele ignorou a pergunta.

— Minha irmãzinha parece gostar de você. — disse ele, como se

ele não conseguisse descobrir o por quê.

Eu me irritei e inclinei a cabeça para trás, mas focando meu

olhar por cima do ombro.

— Irmãzinha? Vocês são gêmeos.

— Eu nasci quatro minutos e trinta segundos antes dela. —

Vangloriou-se, seus olhos encontrando os meus. — Tecnicamente, ela

é minha irmãzinha.

Minha garganta estava seca. — Ela é o bebê na família?

— É, portanto, eu sou o único carente de atenção.

Page 49: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Acho que isso explica sua má atitude, então. — Retruquei.

— Talvez, mas a maioria das pessoas me acha charmoso.

Comecei a responder, mas cometi o erro de olhar em seus

olhos. Eu estava imediatamente enlaçada pela cor natural, lembrava

das mais puras, as partes mais profundas dos Everglades3.

— Eu tenho... Grande dificuldade em acreditar nisso. — Seus

lábios se curvaram ligeiramente.

— Você não deve, Kat. — Ele pegou uma seção de cabelos

soltos que haviam escapado do meu clipe, girando o cabelo em torno

de seu dedo. — Que tipo de cor é essa? Não é castanho ou loiro. —

Meu rosto ardia com o calor.

Puxei meu cabelo para trás.

— É chamado de castanho claro.

— Hmm... — Disse ele, balançando a cabeça. — Você e eu

temos planos a fazer.

— O quê? — Eu evitei seu grande corpo, arrastando uma

respiração profunda quando eu ganhei alguma distância. Meu

coração estava batendo. — Nós não temos planos para fazer.

Daemon sentou-se nos degraus, esticando suas longas pernas e

inclinando-se para trás em seus cotovelos.

— Confortável? — Eu rebati.

— Muito. — Ele piscou para mim. — Sobre esses planos...

Eu estava a poucos metros dele.

— O que você está falando?

— Você se lembra de toda a coisa sobre 'trazer a minha bunda

aqui e jogar bonito‘, certo? Isto também envolve ter as chaves do meu

carro? — Ele cruzou os tornozelos enquanto seu olhar deslizou sobre

3 Região pantanosa no sul da Flórida (E.U.A.)

Page 50: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

as árvores. — Esses planos envolvem eu recebendo as chaves do carro

de volta.

— Você precisa me dar um pouco mais de uma explicação do

que isso.

— É claro. — Ele suspirou. — Dee escondeu as chaves. Ela é

boa em esconder as coisas, também. Eu já revirei a casa toda, e eu

não consigo encontrá-las.

— Então, faça-a dizer onde elas estão. — Graças a Deus que eu

não tenho quaisquer irmãos.

— Oh, eu o faria, se ela estivesse aqui. Mas ela deixou a cidade

e não vai estar de volta até o domingo.

— O quê? — Ela nunca mencionou sair da cidade. Ou parentes

próximos. — Eu não sabia disso.

— Foi uma coisa de última hora. — Ele descruzou os tornozelos

e um pé começou a tocar em um ritmo desconhecido. — E a única

maneira dela me dizer onde as chaves estão escondidas é se eu

ganhar pontos extras. Veja, minha irmã tem essa coisa de pontos

extras, desde a escola primária.

Eu comecei a sorrir.

— Tudo bem...?

— Eu tenho que ganhar pontos extras para pegar minhas

chaves de volta. — Ele explicou. — A única maneira que eu posso

ganhar os pontos é fazendo algo de bom para você.

Eu comecei a rir de novo. O olhar em seu rosto era incrível.

— Me desculpe, mas isso é engraçado.

Daemon soltou um profundo suspiro de desgosto.

— Sim, é muito engraçado.

Minha risada desapareceu.

Page 51: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— O que você tem que fazer?

— Eu tenho que levá-la para nadar amanhã. Se eu fizer isso,

então ela vai me dizer onde estão escondidas as minhas chaves. E eu

tenho que ser bonzinho.

Ele tinha que estar brincando, mas quanto mais eu olhava para

ele, mais percebia que ele estava falando sério. Minha boca caiu

aberta.

— Portanto, a única maneira de você obter as chaves de volta é

se me levar para nadar e ser agradável comigo?

— Uau. Você é rápida.

Eu comecei a rir novamente.

— Sim, bem, você pode dar o beijo de adeus as suas chaves.

Surpresa brilhou em seu rosto.

— Por quê?

— Porque eu não vou a lugar nenhum com você. — Eu disse a

ele.

— Nós não temos uma escolha.

— Não. Você não tem escolha, mas eu tenho. — Olhei para a

porta fechada atrás dele, me perguntando se mamãe estava em algum

lugar tentando ouvir lá dentro. — Não sou eu que estou com as

chaves desaparecidas.

Daemon me observou por um momento, e então ele sorriu.

— Você não quer sair comigo?

— Uh, não.

— Por que não?

Revirei os olhos.

— Para começar, você é um idiota.

Ele acenou com a cabeça.

Page 52: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu posso ser.

— E eu não vou passar meu tempo com um cara que está

sendo forçado a fazê-lo por sua irmã. Eu não estou desesperada.

— Você não está?

Raiva bateu em mim, e eu dei um passo para frente.

— Saia da minha varanda.

Ele parecia considerá-lo.

— Não.

— O quê? — Eu gaguejei. — O que quer dizer com não?

— Eu não vou sair até que concorde em ir nadar comigo.

Vapor deve estar saindo dos meus ouvidos.

— Tudo bem. Você pode sentar aí, porque eu prefiro comer

vidro a passar algum tempo com você.

Ele riu.

— Isso soa tão drástico.

— Nem de longe! — eu respondi, subindo as escadas.

Daemon virou, pegando meu tornozelo. Seu aperto era frouxo,

sua mão incrivelmente quente. Olhei para ele, e ele sorriu para mim,

tão inocente quanto um anjo.

— Eu vou ficar aqui todo o dia e noite. Eu vou acampar em sua

varanda. E eu não vou ir embora. Temos toda a semana, Gatinha.

Quer acabar com isso e amanhã sair comigo, ou eu vou ficar aqui até

você concordar. Você não será capaz de sair de casa.

Eu fiquei boquiaberta.

— Você não pode estar falando sério.

— Oh, eu posso.

Page 53: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Apenas diga a ela que fomos e que eu tive um grande

momento. — Eu tentei puxar meu pé livre, mas ele o segurou. —

Minta.

— Ela vai saber se eu estiver mentindo. Nós somos gêmeos.

Sabemos estas coisas. — Ele fez uma pausa. — Ou você está muito

tímida para ir nadar comigo? A ideia de ficar quase nua em torno de

mim te incomoda?

Eu agarrei o corrimão e puxei meu pé. O babaca apenas o

segurava levemente, mas meu pé não se mexia.

— Eu sou da Flórida, idiota. Passei metade da minha vida em

um maiô.

— Qual é o problema?

— Eu não gosto de você. — Eu parei de puxar e fiquei lá. Sua

mão parecia cantarolar ao redor da minha pele. Era a sensação mais

estranha que nunca. — Solte o meu tornozelo.

Muito lentamente, ele ergueu cada dedo, segurando meu olhar.

— Eu não vou ir embora, Gatinha. Você está pedindo por isso.

Minha boca se abriu quando a porta atrás de nós se abriu. Meu

estômago caindo, eu me virei para ver a mamãe ali com toda a sua

glória em seu pijama de coelho-velho. Oh, pelo amor de Deus.

Seus olhos foram de mim para Daemon, interpretando tudo

completamente errado. A alegria em seus olhos me fazia querer

vomitar na cabeça de Daemon.

— Você vive na casa ao lado?

Daemon virou e sorriu. Ele tinha dentes retos, brancos e

perfeitos.

— Meu nome é Daemon Black.

A mamãe sorriu.

Page 54: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Kellie Swartz. Prazer em conhecê-lo. — Ela olhou para mim.

— Vocês dois podem entrar se quiserem. Você não tem que sentar aí

com o calor.

— Isso é muito legal da sua parte. — Ele se levantou e me deu

uma cotovelada, e não muito gentilmente. — Talvez devêssemos

entrar e terminar de falar sobre nossos planos.

— Não. — Eu disse, olhando para ele. — Isso não será

necessário.

— Quais planos? — Perguntou mamãe, sorrindo. — Eu apoio

planos.

— Eu estou tentando levar a sua linda filha para ir nadar

comigo amanhã, mas acho que ela está preocupada que você não

goste da ideia. — Ele bateu ligeiramente no meu braço e eu quase caí

na grade. — E eu acho que ela é tímida.

— O quê? — Mamãe balançou a cabeça. — Não tenho nenhum

problema com ela indo nadar com você. Eu acho que é uma ótima

ideia. Eu tenho dito que ela precisa sair. Sair com sua irmã é ótimo,

mas-

— Mãe. — Apertei os olhos para ela. — Isso realmente não é-

— Eu estava apenas aqui dizendo a Katy a mesma coisa. —

Daemon deixou cair o braço sobre meus ombros. — Minha irmã está

fora da cidade pela próxima semana. Eu pensei em sair com a Katy.

Minha mãe sorriu, satisfeita.

— Isso é tão doce de você.

Envolvi meu braço em torno de sua cintura estreita, cavando

meus dedos em seu lado.

— Sim, isso é doce de você, Daemon.

Ele chupou em uma respiração afiada e a soltou lentamente.

Page 55: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você sabe o que dizem sobre os meninos ao lado...

— Bem, eu sei que Katy não tem planos para amanhã. — Ela

olhou para mim, e eu praticamente podia vê-la prevendo Daemon e

meus futuros filhos. Minha mãe não era normal. — Ela está livre para

nadar.

Eu deixei cair meu braço e balancei para fora debaixo de

Daemon.

— Mamãe...

— Está tudo bem, querida. — Ela começou a voltar para dentro,

dando a Daemon uma piscadela. — Foi bom finalmente conhecê-lo.

Daemon sorriu.

— Você também.

No momento em que minha mãe fechou a porta atrás dela, eu

girei e empurrei Daemon, mas ele era como uma parede de tijolos.

— Seu idiota.

Sorrindo, ele recuou os passos.

— Te vejo ao meio-dia, Gatinha.

— Eu te odeio, — eu assobiei.

— O sentimento é mútuo. — Ele olhou por cima de seu ombro.

— Vinte dólares que você usa um maiô de peça única.

Ele era insuportável.

Page 56: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 05

Quando os primeiros raios de luz apareceram através das

janelas, eu rolei para o meu lado, ainda meio dormindo.

Eu gemia.

Eu teria que sair hoje com o Daemon. E eu tinha me jogado e

virado a noite toda, sonhando com um menino com chocantes olhos

verdes e um biquíni que continuava se desfazendo. Agarrando o mais

recente romance que eu estava relendo da minha mesa de cabeceira,

passei a manhã descansando na cama e lendo, desesperadamente

tentando pensar em tudo menos na nossa próxima aventura.

Quando o sol estava quase no alto do céu, coloquei o livro de

lado, joguei fora as cobertas, e me dirigi ao chuveiro.

Poucos minutos depois, eu estava em uma toalha e olhando

para minhas opções de maiô. Horror me preencheu. Daemon tinha

razão. A ideia de estar seminua em volta dele quase me faz querer

vomitar minhas batatas. Mesmo que eu não pudesse suportá-lo, e eu

realmente acho que ele pode ser a primeira pessoa que eu odeio, ele

Page 57: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

era... Ele era um deus. Quem diria que tipo de garotas ele estava

acostumado a ver em trajes de banho.

Mesmo que eu não fosse tocá-lo por todo o dinheiro do mundo,

eu era madura o suficiente para admitir que havia uma parte de mim

que queria que ele me quisesse.

Eu só tinha três trajes de banho que poderiam ser considerados

aceitáveis: um Razorback peça-única. Simples e chato. Um duas-

peças que era um top de biquíni e shorts, e um terceiro que era um

biquíni vermelho de duas-peças.

Eu poderia ter escolhido uma barraca e eu ainda me sentiria

desconfortável.

Jogando a peça única de volta para o armário, eu levantei os

outros dois. Meu reflexo olhou para mim, um conjunto de cada lado, e

eu lancei um duro olhar para mim mesma. O cabelo castanho claro

caía no meio das minhas costas, e eu estava mais nervosa do que

nunca em cortá-lo. Meus olhos eram de um tom cinza claro – não

magnéticos ou convincentes como os de Dee são. Meus lábios

estavam cheios, mas não eram tão expressivos como os da minha

mãe.

Joguei um olhar para o conjunto vermelho. Eu era sempre

reservada, mais cautelosa do que minha mãe jamais seria. O maiô

vermelho era qualquer coisa, menos cauteloso. Isso era flertar, sexy

mesmo. Algo que eu claramente não era e, bem, isso me incomodou.

Reservada, a prática Katy era segura e chata. Isso era quem eu era.

Porquê minha mãe se sentia bem para me deixar em paz o tempo

todo, porque eu nunca faria nada que pudesse fazê-la piscar duas

vezes.

Page 58: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

O tipo de garota que Daemon esperava era a que ele pudesse

facilmente mandar ao redor e intimidar. Ele provavelmente esperava

que eu usasse um maiô de peça única e mantivesse meus shorts e top

desde que ele me provocou. O que ele disse quando ele me conheceu?

Que eu parecia uma garota de treze anos?

A sensação de calor acendeu dentro de mim.

Dane-se ele.

Eu queria estar emocionante e ousada. Talvez eu até quisesse

chocar Daemon, provar que ele estava errado. Sem pensar duas

vezes, eu joguei o conjunto claro para o canto e coloquei o vermelho

na minha pequena mesa.

Minha decisão foi tomada.

Eu coloquei as pequenas partes em tempo recorde, e um par de

shorts jeans e uma regata que tinha bastante flores por cima para

esconder a minha audácia. Uma vez que eu encontrei meu tênis,

peguei uma toalha e desci as escadas.

Minha mãe estava demorando na cozinha, a xícara de café

padrão na mão.

— Você dormiu até tarde. Dormiu bem ontem à noite? — ela

perguntou com expectativa.

Às vezes eu me perguntava se minha mãe era médium.

Encolhendo os ombros, eu passei por ela e peguei o suco de laranja.

Eu me concentrei muito para poder tomar um gole, enquanto ela

continuava a olhar para as minhas costas.

— Eu estava lendo.

— Katy? — Ela disse, depois do que pareceu uma eternidade.

Minha mão tremeu um pouco quando passei manteiga em

minha torrada.

Page 59: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Sim?

— É... Está tudo funcionando para você aqui? Você gostou?

Eu balancei a cabeça.

— Sim, é bom.

— Bom. — Ela tomou uma respiração profunda. — Você está

animada sobre hoje?

Meu estômago caiu quando eu a encarei. Parte de mim queria

estrangulá-la por ajudar na armadilha que Daemon planejou, mas ela

não sabia de nada. Eu sabia que ela estava preocupada, eu estava

odiando que ela tinha me tirado de tudo o que eu amava e insistido

para nós nos mudarmos para cá.

— Sim, acho que sim. — Eu menti.

— Eu acho que você vai ter um bom tempo — Disse ela. —

Basta ter cuidado.

Eu atirei-lhe um olhar de cumplicidade.

— Eu duvido que eu tenha qualquer dificuldade com natação.

— Onde vocês estão indo?

— Eu não sei. Ele não disse. Em algum lugar próximo, tenho

certeza.

Minha mãe fez o seu caminho até a porta.

— Você sabe o que quero dizer. Ele é um rapaz de boa

aparência. — Então ela me deu o olhar Eu já tive sua idade, então não

tente nada, antes de sair.

Respirando um suspiro de alívio, lavei a xícara de café. Eu não

acho que eu poderia aguentar outra conversa sobre pássaros e

abelhas, especialmente não agora. A primeira tinha sido bastante

traumática.

Estremeci com a memória.

Page 60: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu estava tão envolvida revivendo aquele horrível momento de

ligação entre mãe e filha, que pulei quando alguém bateu contra a

porta da frente. Meu coração capotou enquanto eu olhei para o

relógio.

11:46 am.

Depois de tomar uma calma respiração, eu tropecei nos meus

próprios pés para chegar até a porta. Daemon estava com uma toalha

jogada casualmente sobre o ombro.

— Eu estou um pouco adiantado.

— Eu posso ver. — Eu disse, a voz plana. — Mudou de ideia?

Você pode sempre tentar mentir.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Eu não sou um mentiroso.

Olhei para ele.

— Só me dê um segundo para pegar minhas coisas. — Eu não

esperei por sua resposta. Eu balancei a porta aberta e a fechei na sua

cara. Era infantil, mas eu senti como se tivesse marcado uma

pequena vitória. Eu fui para a cozinha e peguei meu tênis e outras

coisas antes de voltar e abrir a porta novamente. Daemon estava

exatamente onde eu tinha o deixado.

Excitação nervosa vibrou na minha barriga enquanto eu

trancava a porta da frente e segui Daemon até a garagem.

— Ok, então onde você está me levando?

— Que graça teria se você soubesse? — Ele perguntou. — Você

não vai se surpreender, então.

— Eu sou nova na cidade, lembra? Todos os lugares vão ser

uma surpresa para mim.

Page 61: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Então por que pergunta? — Ele levantou uma sobrancelha,

presunçoso.

Revirei os olhos.

— Nós não estamos dirigindo?

Daemon riu.

— Não. Onde estamos indo você não pode dirigir. Não é um

local bem conhecido. A maioria dos moradores nem sequer sabem

sobre isso.

— Oh, eu sou especial, então.

— Você sabe o que eu acho, Kat?

Olhei para ele e o peguei me olhando com tanta intensidade que

eu corei.

— Eu tenho certeza que eu não quero saber.

— Eu acho que a minha irmã acha você muito especial. Estou

começando a me perguntar se ela está no caminho certo.

Eu sorri.

— Mas então há todos os tipos de especial agora, não é,

Daemon.

Ele pareceu surpreso ao ouvir o seu nome. Depois de uma

batida a intensidade foi embora, e ele me levou para baixo na estrada

e do outro lado da estrada principal. Ele tinha me deixado curiosa

quando entramos na linha das árvores densas do outro lado da

estrada.

— Você está me levando para a floresta como um truque? — Eu

perguntei, meio séria.

Ele olhou por cima do ombro, os cílios escondendo seus olhos.

— E o que eu faço aqui com você, gatinha?

Eu tremi.

Page 62: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— As possibilidades são infinitas.

— Não são? — Ele fez o seu caminho facilmente por toda a

moita densa e cipós entrelaçados no chão da floresta.

Eu estava tendo um inferno de um tempo para não quebrar o

pescoço nas muitas raízes expostas e rochas cobertas de musgo.

— Nós não podemos fingir que fizemos isso?

— Confie em mim, eu não quero fazer isso também. — Ele

pulou de uma árvore caída. — Mas reclamar sobre isso não vai torná-

lo mais fácil. — Virando-se, ele me ofereceu sua mão.

— É um prazer conversar com você. — Eu considerei

brevemente ignorá-lo, mas eu coloquei minha mão na sua. Estática

passou de sua pele para minha. Mordi meu lábio quando ele me

ajudou a passar sobre a árvore caída antes de soltar a minha mão. —

Obrigada.

Daemon olhou para longe e continuou andando.

— Você está animada sobre a escola?

O quê? Como se ele se importasse?

— Não é emocionante ser a novata. Você sabe, aparecendo

como um polegar dolorido. Não é divertido.

— Eu posso ver isso.

— Você pode?

— Sim, eu posso. Nós só temos que andar mais um pouco.

Eu queria interrogá-lo ainda mais, mas por que colocar esforço

nisso? Ele me daria outra resposta vaga ou uma insinuação.

— Um pouco? Quanto tempo temos andado?

— Cerca de vinte minutos, talvez um pouco mais. Eu lhe disse

que era bastante escondido.

Page 63: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Seguindo-o sobre outra árvore arrancada, eu vi uma clareira à

frente para além das árvores.

— Bem-vinda ao nosso pequeno pedaço do paraíso. — Havia

um toque irônico nos lábios.

Ignorando-o, entrei na clareira. Fiquei espantada.

— Uau. Este lugar é lindo.

— É. — Ele ficou ao meu lado, com uma mão protegendo os

olhos contra o brilho do sol saltando para fora da superfície lisa da

água.

Eu poderia dizer que a partir do conjunto rígido de seus

ombros, este lugar era especial para ele. Apenas saber esse tipo de

coisa fez o meu estômago vibrar. Eu subi e coloquei minha mão em

seu braço, e ele se virou para mim.

— Obrigada por me trazer. — Antes que Daemon pudesse abrir

a boca e estragar o momento, eu deixei cair a minha mão e

deliberadamente olhei para longe.

Um riacho dividia a clareira, expandindo em um pequeno lago

natural. Ele ondulava na brisa suave. Rochas irrompiam a partir do

meio, planas e lisas à frente. De alguma forma, a terra tinha sido

limpa em um perfeito círculo em torno da água. Grandes manchas

horizontais, terreno gramado e flores silvestres floresciam em pleno

sol. Era tranquilo.

Eu fui até a beira da água.

— Quão profunda é?

— Cerca de 3 metros na maior parte, 6 metros do outro lado

das rochas. — Ele estava bem atrás de mim, fazendo a coisa

assustadora, andando quieto. — Dee amava aqui. Antes de você

chegar, ela passava a maior parte de seus dias aqui.

Page 64: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Para Daemon, minha chegada foi o começo do fim. O

apocalipse. Kat-mageddon.

— Você sabe, eu não vou colocar a sua irmã em apuros.

— Nós vamos ver.

— Eu não sou uma má influência. — Eu tentei novamente. As

coisas seriam muito mais fáceis se pudéssemos conviver. — Eu não

estou, nem nunca me meti em problemas antes.

Ele deslizou em torno de mim, os olhos nas águas tranquilas.

— Ela não precisa de uma amiga como você.

— Não há nada de errado comigo. — Eu respondi. — Você sabe

o quê? Esqueça isso.

Ele suspirou.

— Por que você jardina?

Parei, com as mãos apertando.

— O quê?

— Por que você jardina? — Ele perguntou de novo, ainda

olhando para o lago. — Dee disse que você o faz para não pensar.

Sobre o que você quer evitar pensar?

Este era aquele momento cuidar e compartilhar?

— Não é da sua conta.

Daemon encolheu os ombros.

— Então vamos nadar.

Nadar era a última coisa que eu queria fazer. Afogá-lo? Talvez.

Mas então ele começou a tirar seu tênis e tirou os jeans fora. Por

baixo, ele tinha um calção de banho. Em seguida, ele puxou a camisa

em um movimento rápido. Maldição Eu já tinha visto homens sem

suas camisas antes. Eu vivia na Flórida, onde cada homem sentia a

Page 65: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

necessidade de andar seminu. Inferno, eu já tinha visto esse cara

seminu antes. Isto não deveria ser um grande negócio.

Mas garota, eu estava tão errada.

Ele tinha uma grande obra, não muito grande, mas mais

músculos do que qualquer menino de sua idade deveria ter. Daemon

se movia com uma graça fluida na água, flexionando seus músculos e

se alongando a cada passo.

Eu não tinha certeza de quanto tempo fiquei olhando para ele

antes que ele finalmente mergulhasse na água. Minhas bochechas

estavam quentes. Eu exalei, percebendo que eu estava segurando a

minha respiração. Eu precisava ir com calma. Ou ter uma câmera

para imortalizar este momento, porque eu aposto que eu poderia

ganhar dinheiro com um vídeo dele. Eu poderia fazer uma fortuna...

Contanto que ele nunca abrisse a boca.

Daemon quebrou a superfície vários metros de distância de

onde ele tinha mergulhado, água brilhando em seus cabelos e nas

pontas dos seus cílios. Seu cabelo escuro estava penteado para trás,

dando mais foco aos seus estranhos olhos verdes.

— Você vem?

Recordando o biquíni vermelho que eu decidi usar, eu gostaria

de correr para longe. Minha confiança de antes tinha evaporado. Eu

tirei os meus sapatos devagar, com movimentos lentos e deliberados,

fingindo apreciar a paisagem, enquanto o meu próprio coração se

jogava contra minhas costelas.

Ele me observou por alguns instantes, curioso.

— Tem certeza que você não é tímida, gatinha?

Eu parei.

— Por que você me chama assim?

Page 66: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Porque isso faz o seu cabelo ficar em pé, como uma gatinha.

— Daemon estava rindo de mim. Ele nadou mais um pouco, a água

batendo em seu peito. — Então? Você está entrando?

Meu Deus, ele não ia se virar, nem nada. E havia um desafio

em seu olhar, como se ele esperasse eu me acovardar. Talvez fosse

que ele quisesse ou esperasse. Não havia nenhuma dúvida em minha

mente de que ele sabia que tinha um efeito sobre as garotas.

A prática, chata Katy teria ido para o lago completamente

vestida.

Eu não queria ser ela. Esse era o objetivo do biquíni vermelho.

Eu queria provar para ele que eu não era facilmente intimidada. Eu

estava determinada a vencer nesta rodada.

Daemon olhou entediado.

— Eu vou te dar um minuto para chegar aqui.

Eu resisti à vontade de virar-me novamente e respirei fundo.

Não era como se eu fosse ficar nua, não realmente.

— Ou o quê?

Ele aproximou-se da margem do lago.

— Ou eu vou te buscar.

Fiz uma careta para ele.

— Eu gostaria de ver você tentando isso.

— Quarenta segundos. — Ele me olhou com um intenso e

penetrante olhar enquanto ele se aproximava.

Esfregando a mão no meu rosto, eu suspirei.

— Trinta segundos. — Ele zombou de uma distância ainda

menor.

Page 67: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Jesus. — Eu murmurei, puxando a minha camisa. Pensei

duas vezes antes de jogá-la em sua cabeça. Corri para tirar meu

shorts quando ele chamou a última provocação.

Dei um passo em direção à borda com as minhas mãos em

meus quadris.

— Feliz?

Daemon perdeu o sorriso e arregalou os olhos.

— Eu nunca estou feliz ao seu redor.

— O que você disse? — Meus olhos se estreitaram na sua

expressão em branco. Ele não disse o que eu acho que ele disse.

— Nada. É melhor entrar antes que seu rubor atinja os dedos

dos pés.

Corando ainda mais sob seu olhar examinador, virei-me e

caminhei em direção à margem do lago, onde a caída não era tão

íngreme. A água me fazia sentir muito bem, aliviando o calor

desconfortável do formigamento em minha pele.

Eu falhei por não saber o que dizer.

— É lindo aqui fora.

Ele me olhou por um momento e, em seguida, felizmente,

desapareceu sob a água. A água escorria de seu rosto quando ele

apareceu de volta. Precisando esfriar meu rosto, eu fui para baixo. A

corrida fria era revigorante, limpando meus pensamentos.

Ressurgindo na superfície, eu empurrei os longos tufos de cabelo do

meu rosto.

Daemon olhou-me de alguns metros de distância, suas faces

acima da linha d'água e sua respiração soprando bolhas

ocasionalmente para quebrar a tensão superficial. Algo em seu olhar

me chamou para mais perto.

Page 68: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— O quê? — Eu perguntei depois de um trecho de silêncio.

— Por que você não vem aqui?

Não havia nenhuma maneira de que eu fosse para perto dele.

Nem mesmo se ele segurasse um biscoito em sua mão. Confiança e

seu nome não andavam juntos. Eu me virei, mergulhando sob a água,

indo para as pedras que eu tinha visto no meio do lago.

Eu as alcancei com algumas braçadas fortes e me puxei para

fora da água, para a quente e dura superfície. Eu comecei a espremer

a água para fora do meu cabelo. Ele jogou água no meio do lago.

— Você parece desapontado. — Daemon não respondeu. Um

curioso, olhar quase confuso atravessou seu rosto.

— Bem... O que temos aqui?

Eu balançava os pés na água e fiz uma careta para ele.

— O que você está falando agora?

— Nada. — Ele nadou para perto de mim.

— Você disse alguma coisa.

—Eu disse, não disse?

— Você é estranho.

— Você não é o que eu esperava. — Disse ele em voz baixa.

— O que isso significa? — Eu perguntei quando ele tentou

agarrar meu pé, e tirei a minha perna para fora de seu alcance. — Eu

não sou boa o suficiente para ser amiga de sua irmã?

— Você não tem nada em comum com ela.

— Como você sabe? — Mudei de novo quando ele estendeu a

mão para a outra perna.

— Eu sei.

— Nós temos muito em comum. E eu gosto dela. Ela é legal e

ela é divertida. — Eu fugi de novo, completamente fora de seu

Page 69: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

alcance. — E você deve deixar de ser um babaca e parar de espantar

os amigos dela.

Daemon estava quieto, e então ele riu.

— Você não é como eles.

— Como quem?

Outro momento longo passou. A água batia nos seus ombros,

pequenas ondulações ecoando a partir de seu peito enquanto ele

empurrou.

Balançando a cabeça, eu o assisti desaparecer sob a água

novamente. Eu me inclinei para trás e fechei os olhos. A forma como o

calor do sol caía contra meu rosto virado para cima, e a forma como o

calor da rocha atravessava a minha pele, me fazia lembrar dos

cochilos na praia. Água fria fazia cócegas em meus pés. Eu poderia

ficar aqui o dia todo, aquecendo-me ao sol. Tirando Daemon, seria

perfeito.

Eu não tinha ideia do que ele quis dizer com toda coisa de não

ser como eles ou que não precisa de uma amiga como eu. Tinha que

haver mais do que ele sendo um irmão superprotetor psicopata. Me

empurrando para cima, eu esperava vê-lo flutuando em suas costas,

mas ele tinha desaparecido. Eu não o via em qualquer lugar.

Levantei-me, com cuidado na rocha inclinada, e esquadrinhei o lago,

estudando a superfície cintilante por uma massa de cabelos negros e

ondulados.

Eu fiz outra volta sobre a rocha, com um mal-estar no meu

estômago. Será que ele me deixou aqui como uma piada? Mas eu não

deveria tê-lo ouvido?

Eu esperei, pensando que a qualquer momento ele iria sair da

água, os pulmões ofegantes por ar, mas segundos se transformaram

Page 70: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

em um minuto, e depois outro. Eu continuei procurando a superfície

calma por qualquer sinal de Daemon, cada vez mais frenética a cada

varredura de meus olhos.

Eu arrastei o meu cabelo atrás das orelhas, colocando minha

mão contra o sol forte. Não havia nenhuma maneira que ele poderia

ter prendido a respiração por tanto tempo. De jeito nenhum.

Minha respiração engatou, em seguida, se transformou em gelo

no meu peito apertado. Isso estava errado. Subi na rocha e olhei para

baixo ainda na água.

E se ele se machucou de alguma forma?

— Daemon! — Eu gritei.

Não houve resposta.

Page 71: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 06

— Daemon!

Uma centena de pensamentos corriam pela minha cabeça.

Quanto tempo ele tem ficado embaixo d'água? Onde eu tinha visto ele

pela última vez? Quanto tempo seria necessário para pedir ajuda? Eu

não gostava de Daemon, e sim, eu poderia ter brevemente

considerado a ideia de afogar ele, mas eu realmente não queria o cara

morto.

— Oh meu Deus, — eu sussurrei. — Isso não pode estar

acontecendo.

Eu não podia dar ao luxo de pensar. Eu tinha que fazer alguma

coisa. Assim quando eu dei um pequeno passo para mergulhar na

água, a superfície se elevou e Daemon apareceu na água. Surpresa e

alívio correram através de mim, seguido pelo desejo intenso de

vomitar. E, em seguida, bater nele.

Ele próprio subiu na rocha, os músculos de seus braços

surgindo a partir da pressão.

— Você está bem? Você parece um pouco assustada.

Page 72: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Repentinamente, agarrei seus ombros escorregadios, em um

esforço para garantir ao meu estômago enjoado que ele estava vivo e

que o cérebro não estava danificado por falta de oxigênio.

— Você está bem? O que aconteceu? — Então eu bati em seu

braço. Forte. — Você não faça isso de novo!

Daemon jogou as mãos para cima.

— Calma aí, qual o seu problema?

— Você estava sob a água por muito tempo. Eu pensei que você

tivesse se afogado! Por que você fez isso? Por que você me assustou

desse jeito? — Eu pulei para os meus pés, arrastando uma respiração

profunda. — Você estava sob a água como se para sempre.

Ele franziu a testa.

— Eu não fiquei lá por muito tempo. Eu estava nadando.

— Não, Daemon, você ficou lá por muito tempo. Por pelo menos

dez minutos! Procurei por você, chamei por você. Eu... Eu pensei que

você estivesse morto.

Ele subiu para seus pés.

— Não posso ter ficado dez minutos. Isso não é possível.

Ninguém pode manter sua respiração por muito tempo.

Engoli em seco.

— Você, aparentemente, pode.

Os olhos de Daemon procuraram os meus.

— Você estava realmente preocupada, não é?

— Não brinca! Que parte de 'Eu pensei que você se afogou' você

não compreendeu? — Eu estava tremendo.

— Kat, eu voltei. Você não deve ter me visto. Eu vim e fui de

volta para baixo.

Page 73: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ele estava mentindo. Eu conhecia isso com cada osso do meu

corpo. Ele era apenas capaz de prender a respiração por um tempo

extremamente longo? Mas se fosse esse o caso, por que ele não disse

isso?

— Isso acontece muitas vezes? — Ele perguntou.

Meu olhar estalou de volta ao seu.

— O quê?

— Imaginando coisas. — Ele acenou com a mão. — Ou você

tem um problema horrível com contar o tempo.

— Eu não estava imaginando nada! E eu sei como contar o

tempo, seu idiota.

— Então eu não sei o que te dizer. — Ele deu um passo para

frente, o que não foi muito longe da rocha. — Não sou eu que estava

imaginando que eu estava debaixo d'água por dez minutos quando na

verdade eram dois minutos. Você sabe, talvez eu te compre um relógio

na próxima vez que eu estiver na cidade, quando eu tiver as minhas

chaves de volta.

Por algum motivo estúpido, que eu provavelmente nunca

saberei, eu tinha esquecido o motivo pelo qual estávamos aqui. Em

algum lugar entre vê-lo seminu e, em seguida, pensando que ele

estivesse morto, eu tinha perdido minha cabeça.

— Bem, certifique-se de dizer a Dee que tivemos um momento

maravilhoso para que você possa obter as estúpidas chaves de volta.

— eu disse, encontrando seus olhos. — Então, não vamos precisar de

uma repetição de hoje.

O sorriso de satisfação estava estampado em seu rosto.

— Isso é com você, Gatinha. Tenho certeza que ela vai te ligar

mais tarde e perguntar.

Page 74: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você vai ter suas chaves. Eu estou pronta- — Meu pé

escorregou sobre a rocha molhada. Me deixando sem equilíbrio, o

meus braços se agitaram no ar.

Movendo muito rápido, sua mão disparou e agarrou a minha,

me puxando para frente. A próxima coisa que eu sabia era que eu

estava contra o seu calor, seu peito molhado e seu braço estava em

volta da minha cintura.

— Cuidado aí, Gatinha. Dee ficaria chateada comigo se você

acabar quebrando a cabeça e se afogando.

Compreensível. Ela provavelmente acha que ele faria isso de

propósito. Comecei a responder, mas não conseguia. Não havia muito

separando nossa pele em termos de vestuário. Meu sangue estava

bombeando muito rápido. Devia ser por todo o incidente quase-

afogamento.

Um nervosismo estranho me inundou enquanto olhávamos um

para o outro, o ligeiro vento escovou junto à pele molhada que não

estava pressionada contra o outro, fazendo com que as peças do

conjunto parecessem ainda mais quentes.

Nenhum de nós falou.

Seu peito subia e descia, o fundo verde-garrafa dos seus olhos

mudando aos poucos. Foi uma poderosa, quase sensação elétrica que

me percorria – respondendo alguma coisa para ele?

Bem, isso era estranho, tolo, e ilógico. Ele me odiava.

Então Daemon soltou minha cintura e deu um passo para trás.

Ele limpou a garganta, sua voz grossa.

— Eu acho que é hora de voltarmos.

Eu balancei a cabeça, decepcionada e nem sei por que eu

estava desapontada. Suas mudanças de humor me faziam sentir

Page 75: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

como se eu estivesse em uma daquelas rodas que giram malucas que

nunca acabam, mas ali... Ali havia algo sobre ele.

Nós não nos falamos enquanto nos secamos e nos vestimos.

Começamos a voltar para casa em silêncio. Parecia que nenhum de

nós tinha algo a dizer, o que era realmente bom. Eu gostava mais dele

quando ele perdia a capacidade de falar.

Mas quando chegamos à calçada, ele amaldiçoou sob sua

respiração. Parecia que uma explosão de ar ártico tinha passado entre

nós. Eu segui seu olhar perturbado. Havia um carro estranho em sua

garagem, um desses Audis caros que custam o salário da minha mãe.

Eu me perguntava se eram seus pais, e se isso ia se transformar em

Kat-mageddon segundo round.

A mandíbula de Daemon flexionou.

— Kat, eu-

A porta se abriu e se fechou, batendo do lado de fora da casa.

Um homem na casa dos trinta e poucos anos saiu para a varanda.

Seu cabelo castanho claro não correspondia aos de Daemon e as

ondas escuras de Dee. Quem quer que fosse, era bonito e bem

vestido.

E ele também parecia chateado.

O homem desceu os degraus de dois em dois. Ele nem sequer

olhou para mim. Nem uma vez.

— O que está acontecendo aqui?

— Absolutamente nada. — Daemon cruzou os braços. — Desde

que minha irmã não está em casa, estou curioso para saber por que

você está na minha casa?

Okay. Definitivamente não é da família.

Page 76: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu me deixei entrar. — Ele respondeu. — Eu não sabia que

seria um problema.

— Isso é agora, Matthew.

Matthew. Eu reconheci o nome do telefonema que Dee deveria

fazer. Finalmente, o olhar de aço do homem se concentrou em mim.

Seus olhos se arregalaram um pouco. Eles eram de um azul

surpreendentemente brilhante. Seus lábios se curvaram quando ele

me olhou de cima a baixo. Não verificando meu tipo físico, de

qualquer maneira, mas ele estava me avaliando.

— De todas as pessoas, eu achei que você era o que melhor

entenderia, Daemon.

Oh inferno, aqui vamos nós de novo. Eu estava começando a

me perguntar se eu estava balançando a bandeira da aberração. O ar

estava cheio de tensão, e tudo por minha causa. Isso não fazia

qualquer sentido. Eu nem sabia quem era esse cara.

Os olhos de Daemon se estreitaram.

— Matthew, se você valoriza a capacidade de andar, eu não

chegaria tão longe.

Bizarrice ao máximo, dei um passo para o lado.

— Eu acho que eu deveria ir.

— Eu estou pensando que Matthew deveria ir. — Daemon

disse, dando um passo à minha frente. — A menos que ele tenha

outra finalidade que não seja meter o nariz onde não é chamado.

Mesmo Daemon não poderia bloquear a repulsa no olhar do

homem.

— Sinto muito. — Eu disse, voz vacilando. — Mas eu não sei o

que está acontecendo aqui. Nós estávamos nadando.

Page 77: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

O olhar de Matthew girou para Daemon, que enquadrou os

ombros.

— Não é o que você está pensando. Dê-me algum crédito. Dee

escondeu minhas chaves, forçou-me a sair com ela para tê-las de

volta.

Uma onda de calor varreu em mim. Será que ele realmente

precisa dizer a um cara que eu era um encontro de pena?

E então o homem riu.

— Portanto, esta é a pequena amiga de Dee.

— Esta seria eu. — Eu disse, cruzando os braços.

— Eu pensei que você tivesse tudo sob controle. — Ele fez um

gesto em direção a mim, soando como se eu fosse uma homicida

palhaça em pé ao lado de Daemon. — Que você faria sua irmã

entender.

— Sim, bem, por que você não tenta fazê-la entender? —

Daemon replicou. — Até agora, eu não estou tendo muita sorte.

Os lábios de Mateus se diluíram.

— Ambos deviam entender melhor.

Um trovão me assustou quando ele caiu um atrás do outro. Um

relâmpago riscado acima, momentaneamente cegando. Uma vez que a

luz diminuiu, nuvens escuras se tumultuaram. Energia crepitava em

torno de mim, picando na minha pele.

Então, Matthew se virou, lançando outro olhar sombrio em

minha direção antes de ir para dentro da casa de Daemon. No

momento em que a porta se fechou atrás dele, as nuvens se abriram.

Eu encarei Daemon, a boca entreaberta.

— O que... O que aconteceu? — Perguntei.

Page 78: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ele já estava entrando na casa, a porta batendo fora do portal,

uma vez mais como um tiro em um canhão. Eu estava lá, e não sei o

que aconteceu. Eu olhei para o céu claro. Nenhum vestígio da violenta

tempestade. Eu vi isso acontecer uma centena de vezes, na Flórida,

mas o que ocorreu parecia demasiadamente bizarro. E pensando de

volta no lago, eu não tinha certeza do que tinha acontecido, mas eu

sabia que Daemon tinha ficado debaixo d'água por muito tempo. Eu

também sabia que havia algo que não era normal nele.

Sobre todos eles.

Page 79: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 07

Dee ligou naquela noite, e embora eu quisesse dizer a ela que o

tempo que eu passei com Damon não foi rosas e arco-íris, eu menti.

Eu disse que ele foi muito bacana. Ele conseguiu suas chaves de

volta, caso contrário ela poderia fazê-lo me levar a outro encontro.

Eu quase me senti mal por ter mentido pra ela, quando ela

parecia estar tão feliz.

A semana seguinte demorou a passar. Eu tive uma infinidade

de tempo para pensar que falta apenas uma semana e meia para o

início das aulas. Dee ainda não voltou das ''férias'' que tirou pra

visitar a família, ou o que quer que estivesse fazendo. Sozinha e

completamente entediada, eu voltei a me readaptar intimamente com

a internet.

Era início de sábado à noite quando Daemon inesperadamente

apareceu na porta da minha casa, com as mãos enfiadas nos bolsos

da calça jeans. Estava de costas pra mim e com a cabeça inclinada

pra trás, enquanto olhava para o céu azul sem nuvens. Algumas

Page 80: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

estrelas estavam começando a aparecer, mas o sol só iria

verdadeiramente se por em algumas horas.

Surpresa em vê-lo, eu saí. Sua cabeça virou tão rápido que eu

pensei que ele tinha estourado um músculo.

— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei. Suas

sobrancelhas se inclinaram para baixo, alguns segundos se passaram

e em seguida seus lábios se inclinaram no canto da boca.

Ele limpou a garganta.

— Eu gosto de olhar para o céu. Tem algo nele. — Seu olhar se

voltou para o céu. — É infinito, sabe.

Daemon quase soava profundo.

— Algum cara maluco vai sair da sua casa e gritar com você por

estar conversando comigo?

— Agora não, mas há sempre o mais tarde. — Eu não tinha

certeza se ele estava falando sério ou não.

— Eu prefiro passar o ‗mais tarde‘.

— Sim. Ocupada?

— Além de mexer no meu blog, não.

— Você tem um blog? — Ele me encarou, encostando-se contra

o poste, escárnio beliscando suas feições. Ele disse 'um blog' como se

fosse um vício em crack.

— Sim, eu tenho um blog.

— Qual é o nome do seu blog?

— Não é da sua conta. — Eu respondi, sorrindo docemente.

— Nome interessante. — Ele devolveu meu sorriso com um

meio sorriso. — Então, sobre o que você escreve? Tricô? Quebra-

cabeças? Ser solitária?

Page 81: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Ha. Ha. Espertinho. — Eu suspirei — Eu faço resenhas de

livros.

— Você é paga pra fazer isso? — Eu ri alto depois dessa.

— Não, não mesmo.

Daemon parecia estar confuso.

— Então você faz resenhas dos livros e não é paga quando

alguém compra um livro baseado na sua opinião?

— Eu não faço resenha com a intenção de receber pagamentos

ou qualquer coisa assim. — Embora seria incrível, o que me lembra

que eu preciso conseguir um cartão da livraria. — Eu faço porque eu

gosto. Eu amo ler, e eu gosto de falar sobre livros que leio.

— Que tipo de livro você lê?

— Todos os tipos. — Eu encostei no poste oposto ao dele,

esticando o pescoço para trás para encontrar seu olhar firme.

— Eu prefiro principalmente os paranormais.

— Vampiros e lobisomens?

Cara, quantas perguntas mais ele poderia fazer?

— Sim.

— Fantasmas e alienígenas?

— Histórias de fantasmas são legais, mas eu não sei sobre

aliens. E.T não faz o meu tipo e o de muitos leitores.

Ele levantou apenas uma sobrancelha.

— O que isso quer dizer?

— Nada de criaturas do espaço verdes e viscosas. — Eu

respondi. — De qualquer forma, eu também aprecio romances

gráficos, e coisas históricas-

— Você lê romances gráficos? — Descrença colorindo seu tom

— Sério?

Page 82: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu confirmei com a cabeça.

— Sim, e daí? Garotas não deveriam gostar de romances

gráficos e quadrinhos?

Ele me encarou por um longo momento, e então apontou o

queixo em direção a floresta.

— Quer ir dar uma caminhada?

— Você sabe que eu não sou muito boa com esse lance de

caminhada. — Eu o relembrei. Um sorriso apareceu, havia um ponto

sobre isto. Áspero, sexy.

— Eu não vou levá-la até as rochas. Apenas uma pequena e

inofensiva trilha. Tenho certeza que você aguenta.

— A Dee não te disse onde estão suas chaves? — Eu perguntei

desconfiada.

— Sim, ela me disse.

— Então por que você está aqui?

Daemon suspirou.

— Eu não tenho um motivo. Eu pensei em apenas passar por

aqui, mas se você for questionar tudo, então esquece. — Eu o olhei

descer os degraus enquanto mordia o meu lábio. Isso é maluco. Eu já

estava morrendo de tédio há dias. Revirando meus olhos eu gritei.

— Tudo bem, vamos lá.

— Tem certeza? — Eu concordei com uma boa quantidade de

trepidação.

— Por que estamos indo por trás da minha casa? — eu

perguntei quando era evidente pra onde ele estava me levando. — As

Rochas do Seneca são pra lá. Eu pensei que a maioria das trilhas

começasse por ali. — eu apontei para a frente da minha casa, onde as

pontas das monstruosas estruturas de arenito pairavam sobre tudo.

Page 83: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Sim, mas há trilhas por aqui que vão te levar pra lá, e é mais

rápido. — Ele explicou — A maioria das pessoas daqui sabem que

todas as trilhas principais são lotadas. Nos dias entediantes por aqui,

eu encontrei um par delas, fora da pista principal.

Eu fiz uma careta.

— Quão longe desta trilha estamos falando?

Ele riu.

— Não muito longe.

— Então é uma trilha pequena? Aposto que isso vai ser

entediante pra você.

— Toda vez que eu saio para caminhar é bom. Além disso, não

é como se estivéssemos indo caminhar até o Smoke Hole Canyon. É

uma longa caminhada daqui, então não se preocupe, Ok?

— Tudo bem, me mostre o caminho.

Nós paramos na casa do Daemon para pegar duas garrafas

d'água, e em seguida fomos. Nós caminhamos em silêncio por alguns

minutos e então ele disse:

— Você é muito confiante Gatinha.

— Pare de me chamar assim. — Era um pouco difícil de

acompanhar o ritmo das longas pernas dele, então eu fiquei alguns

passos atrás. Ele olhou por cima do ombro, sem um deslize.

— Ninguém nunca te chamou assim antes? — Eu passei em

torno de um grande arbusto espinhoso.

— Sim, as pessoas me chamam de Gatinha o tempo todo. Mas

você faz isso parecer tão... — Suas sobrancelhas se ergueram.

— Parecer tão o que?

— Eu não sei, como se fosse um insulto. — Ele diminuiu a

velocidade, e agora eu estava caminhando ao lado dele. — Ou algo

Page 84: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

sexualmente depravado. — Ele virou a cabeça rindo. O som tensiona

meus músculos — Por que você está sempre rindo de mim?

Balançando a cabeça ele sorri pra mim.

— Eu não sei, você meio que me faz rir. — eu chutei uma

pequena pedra.

— Que seja. Qual é a desse tal de Matthew? Ele agiu como se

me odiasse ou algo assim.

— Ele não te odeia, ele não confia em você. — Ele murmurou as

últimas palavras. Eu balancei minha cabeça desconcertada.

— Confiar em mim com o que? Sua virtude? — Ele soltou uma

gargalhada e demorou alguns segundos para responder.

— Sim. Ele não é fã de lindas meninas que tem tesão por mim.

— O que? — Eu tropecei em uma raiz exposta. Daemon me

pegou com facilidade, me colocando de pé no minuto em que eu

estava firme. O breve contato fez com que minha pele formigasse

através das minhas roupas. Suas mãos permaneceram por apenas

alguns segundos na minha cintura antes de ele deixá-las cair. — Você

está brincando, certo?

— Sobre qual parte?

— Tudo!

— Qual é. Por favor, não me diga que você não se acha bonita.

— ele considerou meu silêncio. — Nenhum cara te disse que você é

bonita?

Ele não era a primeira pessoa a dizer isso sobre mim, mas eu

acho que nunca me importei antes.

Meus namorados anteriores diziam que eu era bonita, mas eu

nunca considerei isso ser a razão para alguém não gostar de mim.

Desviando o olhar eu dou de ombros.

Page 85: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— É claro.

— Ou... Talvez você não esteja ciente disso?

Dou de ombro novamente, enquanto me foco no tronco das

árvores velhas, prestes a mudar de assunto e negar a outra parte de

sua declaração. Eu definitivamente não tenho tesão por esse cara

arrogante.

— Sabe no que eu sempre acreditei? — Ele disse suavemente.

Nós ainda estávamos em pé no caminho, apenas o som de alguns

pássaros ecoavam em torno de nós. Minha voz carregada em uma

brisa leve.

— Não.

— Eu sempre achei que as pessoas mais bonitas,

verdadeiramente bonitas por dentro e por fora, são as únicas que

silenciosamente desconhecem seu efeito. — Seus olhos procuram os

meus atentamente, e por um momento ficamos ali, de igual para igual

— Aqueles que vangloriam-se de sua beleza, não valorizam o que

tem? Sua beleza está apenas de passagem. É apenas uma concha

escondendo nada além de sombras e um vazio.

Eu faço a coisa mais inapropriada possível. Eu rio.

— Desculpa, mas essa foi a coisa mais profunda que eu já ouvi

você dizer. Que nave alienígena levou o Daemon que eu conheço pra

longe daqui, e eu posso pedir para eles ficarem com ele?

Ele fez uma careta.

— Eu estava sendo honesto.

— Eu sei, mas é que foi realmente... Uau. — E aqui estou,

arruinando provavelmente a coisa mais legal que ele já disse pra mim.

Ele dá de ombros, me levando para trilha novamente.

Page 86: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Nós não vamos muito longe. — Ele diz depois de alguns

minutos. — Então você gosta de história?

— Sim, eu sei que isso faz de mim uma nerd. — Eu também

estava grata pela mudança de assunto. Seus lábios tremem depois da

minha resposta.

— Você sabia que essa trilha já foi percorrida pelos índios

Seneca?

Eu estremeço.

— Por favor, não me diga que estamos andando em um

cemitério?

— Bem... Eu tenho certeza que existem cemitérios aqui em

algum lugar. Embora eles tenham apenas viajado por esta área, não

quer dizer que alguns não tenham morrido neste exato lugar e-

— Daemon, eu não preciso saber dessa parte. — eu lhe dei um

leve empurrão no braço. Com aquele olhar estranho novamente, ele

balançou a cabeça.

— Ok, eu vou te contar uma história e vou deixar alguns dos

fatos mais assustadores, porém verdadeiros, de fora. — Um longo

galho estendia-se pelo caminho e Daemon ergue-o para eu passar por

baixo, meu ombro roçando em seu peito quando eu passei, até ele

deixá-lo cair e assumir a liderança do nosso caminho novamente.

— Que historia?

— Você vai ver. Agora preste atenção... Há muito tempo esta

terra era só florestas e montanhas, o que não é muito diferente dos

tempos de hoje, com a exceção de algumas cidades pequenas. — Seus

dedos flutuaram sobre os galhos pendurados enquanto passávamos,

puxando-os para o lado para eu passar. — Mas imagine este lugar tão

Page 87: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

pouco povoado, que poderia levar dias, até mesmo semanas até

conseguir chegar ao seu vizinho mais próximo.

Eu tremi.

— Isso parece ser solitário.

— Mas você tem que entender que esse era o modo de vida,

centenas de anos atrás. Agricultores e homens das montanhas viviam

alguns quilômetros de distância uns dos outros. Mas a distância era

percorrida toda a pé ou a cavalo, não era geralmente a forma mais

segura de se viajar.

— Eu posso imaginar. — Eu respondi baixinho.

— A tribo indígena Seneca viajou parte do leste dos Estados

Unidos, e em algum ponto eles caminharam neste exato caminho em

direção as rochas do Seneca. — Seu olhar encontrou o meu. — Você

sabia que esse pequeno caminho atrás da sua casa leva direto para a

base delas?

— Não. Parece tão distante que eu nunca pensei que estivessem

tão próximas.

— Se você for por este exato caminho e andar mais alguns

quilômetros você irá encontrar a base delas. É um caminho muito

rochoso e até mesmo os escaladores mais experientes evitam. Veja, as

Rochas do Seneca vão do Grant até o Pendleton County, com o ponto

maior sendo o Spruce Knob e um afloramento perto de Seneca

chamado Champe Rockes. Agora, eles são um pouco mais difíceis de

chegar, uma vez que geralmente envolve invadir a propriedade de

alguém. Mas pode valer a pena se você conseguir escalar quase

trezentos metros de altura. — Ele terminou melancolicamente.

— Isso parece divertido. — Não. Eu não consegui manter o

sarcasmo da minha voz, então eu ofereci um sorriso triste. Eu não

Page 88: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

queria estragar o clima. Acho que essa foi a conversa mais longa que

eu já tive com Daemon da qual nenhuma de suas declarações

mereceu meu dedo do meio.

— E é, se você não tiver medo de escorregar. — Ele riu da

minha expressão — De qualquer forma, as rochas do Seneca são

feitas de quartzito, do qual parte é arenito. Por isso ás vezes elas têm

uma tonalidade rosada. Quartzito é considerado um quartzo beta.

Pessoas que acreditam em... Poderes anormais, ou poderes... Da

natureza, como muitas das tribos indígenas acreditavam naquela

época, acreditavam que qualquer forma de quartzo beta permite que a

energia seja armazenada e transformada, até mesmo manipulada.

Pode queimar objetos eletrônicos ou outras coisas – até mesmo

escondê-los.

— Ooookay. — Ele me lançou um olhar severo, então eu decidi

não interrompê-lo mais.

— Possivelmente foi o quartzo beta que trouxe a tribo Seneca

para esta área. Ninguém sabe como, já que eles não eram nativos de

Virginia do Oeste. Ninguém sabe quanto tempo eles ficaram

acampados por aqui, negociando ou guerreando. — Ele pausou por

algum momento, examinando o terreno, como se pudesse vê-los lá,

sombras do passado. — Mas eles têm uma lenda muito romântica.

— Romântica? — Eu perguntei, enquanto ele me levou em

torno de um pequeno riacho. Eu não conseguia imaginar nada

romântico a 300 metros de altura.

— Veja, havia uma linda princesa indígena chamada Snowbird.

Ela pediu sete dos mais fortes guerreiros da tribo para provar seu

amor, fazendo algo que somente ela tinha sido capaz de fazer. Muitos

homens a queriam por sua beleza e sua posição na tribo. Mas ela

Page 89: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

queria um igual. Quando chegou o dia para ela escolher seu marido,

ela estabeleceu um desafio do qual somente o guerreiro mais valente e

mais dedicado ganharia sua mão. Ela pediu aos seus pretendentes

que escalassem a rocha mais alta com ela. — ele continuou

suavemente, diminuindo a velocidade, assim estávamos caminhando

lado a lado nesse agora estreito caminho. — Todos começaram, mas

conforme foi ficando difícil, três voltaram. O quarto ficou cansado e o

quinto quase morreu de exaustão. Apenas dois permaneceram, e a

linda Snowbird continuava na liderança do caminho. Finalmente ela

alcançou o ponto mais alto e se virou para ver quem foi o mais valente

e forte de todos os guerreiros. Apenas um permaneceu a alguns

metros atrás dela e enquanto ela assistia, ele começou a escorregar...

— Eu estava rapidamente entretida na lenda. A ideia de fazer sete

homens lutar e provavelmente enfrentar a morte para ganhar a mão

de alguém era inimaginável pra mim.

— Snowbird parou por apenas alguns segundos pensando que

esse bravo guerreiro era obviamente o mais forte, mas ele não era

igual a ela. Ela poderia salvá-lo ou deixá-lo cair. Ele era corajoso, mas

ele ainda tinha que chegar ao ponto mais alto, assim como ela tinha.

— Mas ele estava bem atrás dela? Como ela poderia deixá-lo

cair? — Eu decidi que essa história seria uma merda se a Snowbird

deixasse o cara cair.

— O que você faria? — Ele me perguntou curiosamente

— Eu nunca iria pedir a um grupo de homens para provarem

seu amor fazendo algo extremamente perigoso e estúpido como isso,

mas se eu me encontrasse em uma situação como essa, o que é muito

improvável-

— Kat? — Ele repreendeu.

Page 90: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu iria alcançá-lo e salvá-lo, é claro. Eu não poderia deixá-lo

morrer.

— Mas ele não conseguiu se provar.

— Isso não importa. — Eu argumentei — Ele estava bem atrás

dela, e quão bonita você realmente poderia ser se você deixasse um

homem cair para a morte apenas porque ele escorregou? Como você

pode até mesmo ser capaz de amar, ou ser digno dele, por assim

dizer, se você deixar isso acontecer? — Ele acenou com a cabeça.

— Bem, Snowbird pensou como você. — aliviada eu sorri. Se

ela não tivesse essa teria sido uma péssima história romântica.

— Bom.

— Snowbird decidiu que o guerreiro era igual a ela e com isso

sua decisão havia sido tomada. Ela agarrou o homem antes que ele

pudesse cair. O chefe encontrou com eles e ficou muito satisfeito com

a escolha de sua filha. Ele concedeu o casamento e fez do guerreiro

seu sucessor.

— Então é por isso que as rochas são chamadas de Rochas

Seneca? Depois dos indígenas e Snowbird?

Ele concorda com a cabeça.

— Isso é o que diz a lenda.

— É uma linda história, mas eu acho que todo esse lance de

escalar centenas de metros para provar seu amor é um pouco

excessivo.

Ele riu.

— Eu tenho que concordar com você.

— Eu esperava que sim, ou então hoje em dia você teria que

brincar com carros em uma interestadual para provar seu amor. —

eu queria morder minha língua no minuto que as palavras saíram da

Page 91: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

minha boca. Eu esperava que ele não achasse que eu quis dizer isso

em relação a mim.

Ele me deu um olhar duro.

— Eu não prevejo isso acontecendo.

— Você consegue chegar aonde os índios chegaram daqui? —

eu perguntei curiosamente.

Ele balançou a cabeça.

— Você pode chegar ao desfiladeiro, mas essa é uma séria

caminhada. Não é algo que eu sugiro que você faça sozinha.

Eu ri.

— Eu não acho que você precisa se preocupar com isso. Eu me

pergunto por que os índios vieram pra cá. Eles estavam procurando

alguma coisa? — eu pisei em torno de uma grande pedra. — É difícil

de acreditar que um monte de pedra os trouxe aqui.

— Nunca se sabe... — Seus lábios franziram e ele ficou quieto

por um momento antes de falar novamente. — As pessoas tendem a

olhar para as crenças do passado como sendo primitivo e pouco

inteligente, mas ainda assim estamos vendo mais verdade no passado

todos os dias.

Eu olhei para ele, tentando avaliar se ele estava falando sério.

Ele parecia mais maduro do que qualquer garoto da nossa idade.

— O que é mesmo que fez dessas rochas tão importantes?

Ele olha pra mim.

— É o tipo de rocha... — Seus olhos se arregalam de repente —

Gatinha?

— Você poderia parar de me chamar de-

Page 92: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Fica quieta. — Ele sussurrou, olhar fixo sobre o meu ombro.

Ele colocou a mão no meu braço. — Me promete que você não vai

surtar?

— Por que eu iria surtar? — Eu sussurrei. Me puxando em

direção à ele, ele me pegou desprevenida. Eu coloquei minhas mãos

em seu peito para parar de cair sobre ele. Seu peito parecia... Bater

sob minhas mãos.

— Você já viu um urso? — Temor atravessou minha calma e

floresceu.

— O que? Tem um urso-? — Me libertei de seu aperto e virei.

Oh sim, havia um urso. Não mais do que quinze metros de

distância de nós. Um grande urso preto e peludo, farejando o ar com

seu longo focinho bigodudo. Suas orelhas se contraíram ao som de

nossa respiração. Por um momento eu fiquei meio atordoada. Eu

nunca tinha visto um urso, não na vida real.

Havia algo de majestoso sobre essa criatura. A maneira como

seus músculos se moviam sob o pesado casaco de pele, como seus

olhos escuros nos observavam atentamente, enquanto nós o

observávamos. O animal se aproximou, pisando sob os raios de luz

que atravessavam a sobrecarga de ramos. A pele tinha virado um

preto brilhante à luz do sol.

— Não corra. — Ele sussurrou. Como se eu pudesse me mover,

mesmo se eu quisesse.

O urso fez um meio latido meio grunhido, enquanto se

levantava sobre as patas traseiras, de pé ele tinha pelo menos um

metro e meio de altura. O próximo rugido, honestamente, por Deus,

enviou arrepios pelo meu corpo.

Isso não é nada bom.

Page 93: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon começou a gritar e balançar os braços, mas não

intimidou o urso. O animal caiu sobre suas quatro patas, seus

enormes ombros balançando. O urso correu em nossa direção.

Incapaz de respirar por conta da bola de medo me sufocando,

eu fechei meus olhos. Ser comida viva por um urso parecia tão

errado. Eu ouvi Daemon xingar e mesmo meus olhos estando

fechado, um clarão de luz perfurou minhas finas pálpebras.

Então uma explosão de calor acompanhada de luz soprou meu

cabelo pra trás. E então o clarão veio novamente, mas acompanhado

de uma escuridão, que me engoliu por completo.

Page 94: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 08

Quando abri os olhos novamente, havia um gosto metálico

estranho na minha boca. Chuva batia lá fora no telhado e trovões

rolavam ao longe. Um raio caiu em algum lugar próximo, enchendo o

ar com uma corrente fina de eletricidade.

Quando começou a chover? O céu estava claro, azul, e perfeito

da última vez que me lembrava.

Eu puxei uma respiração baixa, confusa.

Meu ombro estava pressionado contra algo quente e duro.

Virando a cabeça, eu senti o objeto subir bruscamente e depois

lentamente, facilmente de volta para baixo. Levei um segundo para

perceber que era um peito em que meu rosto estava pressionado.

Estávamos no balanço, o braço em volta da minha cintura me

mantendo firmemente presa ao seu lado.

Eu não ousei me mover.

Cada centímetro do meu corpo tornou-se consciente dele. Como

sua coxa estava moldada na minha. As profundas, respirações planas

movendo seu estômago sob a minha mão. Com a mão curvada em

Page 95: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

torno da minha cintura, seu polegar movendo preguiçosos círculos

suaves na barra da minha camisa. Cada círculo o material avançava

um pouco, expondo minha pele até que seu polegar estava contra a

curva da minha cintura. Carne contra carne. Eu estava com calor e

calafrios. Uma sensação que eu tinha pouca experiência.

Sua mão parou.

Levantando, olhei em um par de olhos verdes surpreendentes.

— O que... O que aconteceu?

— Você desmaiou. — ele disse, retirando o braço da minha

cintura.

— Eu fiz? — Eu deslizei de volta, colocando distância entre nós,

eu escovei meus cabelos emaranhados da minha cara. O gosto

metálico ainda estava no céu da minha boca.

Ele concordou.

— Eu acho que o urso assustou você. Eu tive que trazê-la de

volta.

— Todo o caminho? — Droga. Eu perdi isso? — O que... O que

aconteceu com o urso?

— A tempestade o assustou. Raios, eu acho. — Ele franziu a

testa enquanto me observava. — Você está se sentindo bem?

De repente, um raio de luz brilhante nos cegou por um

momento. Momentos depois, o barulho do trovão encobriu o barulho

da chuva. A expressão de Daemon estava fundida nas sombras.

Eu balancei minha cabeça.

— O urso estava com medo de uma tempestade?

— Eu acho que sim.

— Nós tivemos sorte então. — Eu sussurrei, olhando para

baixo. Eu estava encharcada assim como Daemon. A chuva caía

Page 96: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

ainda mais, tornando difícil de ver mais do que um par de metros fora

da varanda, dando a sensação que estávamos em nosso próprio

mundo privado. — Chove aqui como na Flórida. — Eu não sabia mais

o que dizer. Meu cérebro parecia frito.

Daemon cutucou meu joelho com o seu.

— Eu acho que talvez você vá ficar presa comigo por mais

alguns minutos.

— Tenho certeza que eu pareço um gato afogado.

— Você parece bem. O aspecto molhado funciona para você.

Eu fiz uma carranca.

— Agora eu sei que você está mentindo.

Ele se mexeu ao meu lado, e sem dizer uma palavra, eu senti

seus dedos levantar meu queixo em direção a ele. Um sorriso torto

levantou seus lábios cheios.

— Eu não iria mentir sobre o que eu penso.

Eu gostaria de ter algo inteligente para dizer, talvez até um

pouco de flerte, mas seu olhar intenso enviou qualquer dispersão de

pensamento coerente.

Confusão brilhou em seus olhos quando ele se inclinou para

frente, seus lábios se separaram um pouco.

— Eu acho que eu entendo agora.

— Entende o quê? — Eu sussurrei.

— Eu gostaria de ver você corar. — Sua voz quase um

murmúrio, com o polegar traçou círculos na minha bochecha.

Ele baixou a cabeça, apoiando a testa contra a minha.

Sentamos assim, nós dois, presos em algo que não estava lá antes.

Acho que parei de respirar. Meu coração parecia dar vários passos e

Page 97: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

gaguejar e depois congelar, a antecipação brotando dentro de mim,

ameaçando transbordar em qualquer segundo.

E eu nem sequer gostava dele. Ele não gostava de mim.

Isto era insano, mas era o que estava acontecendo.

Um raio caiu novamente, desta vez muito mais perto. O

seguinte estalo do trovão nem sequer nos assustou. Estávamos em

nosso próprio mundo. E em seguida, seu sorriso torto escorregou de

seu rosto. Seus olhos estavam confusos e desesperados, e

continuavam procurando os meus.

O tempo parecia lento, cada segundo alongava diante de mim,

atormentando e torturando cada respiração que eu tomava.

Esperando, querendo mostrar a ele o que ele estava procurando, seus

olhos escureceram para um verde profundo. Seu rosto tenso, como se

estivesse travando uma batalha interna.

Algo em seus olhos me fez sentir muito insegura.

Eu sabia no segundo em que ele tomou uma decisão. Ele

respirou fundo e seus belos olhos fecharam. Eu senti sua respiração

no meu rosto, movendo-se lentamente para os meus lábios. Eu sabia

que devia me empurrar para trás. Ele era ruim, uma má notícia. Mas

minha respiração ficou presa na minha garganta. Seus lábios

estavam tão perto dos meus, eu desesperadamente queria encontra-lo

pela metade, para correr para frente e testar se seus lábios eram

como travesseiro macio tanto quanto parecia.

— Hey Pessoal! — Dee chamou.

Daemon recuou, deslizando em um movimento fluido e

colocando uma distância saudável entre nós no balanço.

Eu suguei uma respiração afiada, surpresa e decepção

agitaram no meu estômago. Meu corpo ainda estava formigando como

Page 98: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

se tivesse sido privado de oxigênio. Nós tínhamos estado tão

absorvidos um no outro, que nenhum de nós tinha notado que a

chuva tinha parado.

Dee subiu os degraus, seu sorriso desaparecendo, seu olhar

passou de seu irmão para mim. Ela piscou os olhos. Eu tinha certeza

de que meu rosto estava vermelho sangue, tornando-se óbvio que ela

tinha interrompido alguma coisa. Mas ela só olhou para o irmão dela,

os lábios formando um perfeito, O.

Ele sorriu para ela. O mesmo sorriso torto que dava a

impressão de que ele estava secretamente rindo.

— Ei, Aqui, mana. O que está acontecendo?

— Nada. — Ela disse, estreitando os olhos. — O que você está

fazendo?

— Nada. — Ele respondeu, saltando do balanço. Ele olhou para

mim sobre o ombro largo. — Só ganhando bônus.

Suas palavras chicotearam através da neblina agradável

quando ele pulou fora para a varanda e andou relaxadamente em

direção a sua própria casa. Olhei para Dee, querendo correr atrás de

Daemon e lhe dar um dropkick4.

— Esse quase beijo era uma parte do acordo para obter as suas

chaves de volta ou para manter você feliz? — Minha voz era firme.

Minha pele ferida.

Dee sentou ao meu lado no balanço.

— Não. Isso nunca foi uma parte do acordo. — Ela piscou

lentamente. — Ele estava prestes a beijá-la?

Eu senti minhas bochechas queimarem ainda mais forte.

4 Golpe de luta-livre em que o lutador aplica um chute aéreo ("voadora") no adversário,

utilizando os dois pés ao mesmo tempo.

Page 99: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu não sei.

— Uau. — Ela murmurou, com os olhos arregalados. — Isso foi

inesperado.

E isso foi estranho. Eu não queria nem pensar no que teria

acontecido se ela não tivesse aparecido, e definitivamente não

enquanto ela estava sentada aqui.

— Uh, você foi visitar a família?

— Sim, eu fui antes do início das aulas. Desculpe, eu não tive a

chance de te dizer. É que tipo aconteceu de repente. — Dee pausou.

— O que você e Daemon estavam fazendo mais cedo... Antes da parte

quase-beijo?

— Fomos a uma caminhada. Isso é tudo.

— Isso é estranho... — Ela continuou, me observando de perto.

— Eu tive que roubar suas chaves, mas já devolvi.

Meu rosto franziu.

— Sim, obrigado por isso, de qualquer maneira. Não há nada

como um menino que está sendo chantageado para sair com você

para aumentar a sua autoestima.

— Oh, não! Não foi assim em tudo! Eu pensei que ele

precisava... De motivação para ser mais agradável.

— Ele deve realmente valorizar o seu carro. — Eu murmurei.

— É... Ele faz. Será que ele passou muito tempo com você

enquanto eu estava fora?

— Nós não passamos muito tempo juntos. Fomos para o lago

um dia e depois hoje. Isso é tudo.

Um olhar curioso cruzou no seu rosto, e então ela sorriu.

— Vocês tiveram um bom tempo juntos?

Sem saber como responder, eu dei de ombros.

Page 100: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Sim, ele foi realmente muito decente. Quero dizer, ele tem

seus momentos, mas não foi de todo ruim. — Se eu não contava o

fato de que ele estava sendo forçado a passar o tempo comigo, que

quase me beijou para obter bônus.

— Daemon pode ser bom quando ele quer. — Dee se empurrou

para trás no balanço, com um pé no chão para mantê-lo em

movimento. — Onde é que vocês foram caminhar?

— Seguimos uma das trilhas e conversamos, mas depois vimos

um urso.

— Um urso? — Seus olhos se arregalaram. — Santa merda, o

que aconteceu?

— Uh, eu meio que desmaiei ou algo assim.

Dee olhou para mim.

— Você desmaiou?

Eu corei.

— Sim, Daemon me trouxe de volta para a varanda e sim, bem,

o resto o que seja.

Ela estava me observando de perto mais uma vez, curiosa.

Depois ela balançou sua cabeça. Mudando de assunto, ela perguntou

se tinha perdido qualquer outra coisa enquanto ela estava fora. Eu a

preenchi com os assuntos enquanto minha mente estava

completamente em outro lugar. Dee mencionou algo sobre assistir um

filme mais tarde antes de sair. Eu acho que eu concordei.

Muito tempo depois que eu tinha ido para dentro e colocado um

par de moletons antigos, eu ainda estava confusa sobre Daemon. Ele

parecia quase simpático durante a nossa caminhada antes de piscar

de volta ao Super Idiota. Corando e frustrada, eu caí na cama e olhei

para o teto.

Page 101: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Havia uma rede de pequenas rachaduras no reboco. Meu olhar

viajou por elas enquanto minha mente repassava os acontecimentos

que levaram ao "quase beijo". Meu estômago revirou ao pensar o quão

perto os seus lábios tinha estado perto dos meus. Pior ainda foi o

conhecimento que eu queria que ele me beijasse. Gostar e desejo não

devem ter nada em comum.

***

— Deixe-me ver se entendi. — Dee franziu a testa de onde ela

tinha se empoleirado na antiga cadeira em necessidade desesperada

de ser estofada. — Você não tem ideia de onde você quer ir para a

faculdade?

Eu gemi.

— Você parece a minha mãe.

— Sim, bem, você está entrando em seu último ano. — Dee

parou por um segundo. — Vocês não começam a se inscrever assim

que as aulas começam?

Dee e eu estávamos sentadas na minha sala de estar folheando

revistas quando minha mãe tinha oh-tão-casualmente entrado e

deixado cair uma pilha de folhetos universitários na mesa de café.

Obrigada, mãe.

— Você não deveria estar se inscrevendo? Você é uma de 'nós',

também.

O interesse que tinha estado brilhando em seus olhos

desapareceu.

— Sim, mas estamos falando de você.

Revirei os olhos e ri.

Page 102: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Ainda não decidi o que eu quero fazer. Então, eu não vejo a

necessidade de escolher uma escola.

— Mas cada escola oferece a mesma coisa. Você poderia

escolher um lugar, qualquer lugar que você queira ir. Califórnia, Nova

York, Colorado... Oh, você pode até mesmo ir para o exterior! Isso

seria fantástico. Isso é o que eu faria. Eu iria para algum lugar na

Inglaterra.

— Você pode. — Lembrei ela.

Dee baixou os olhos. Ela encolheu os ombros.

— Não, eu não posso.

— Por que não? — Eu puxei minhas pernas para cima e cruzei-

as. Não parecia como se o dinheiro fosse um problema para eles, não

quando você olhava para os carros que dirigiam ou as roupas que

usavam. Eu perguntei se ela tinha um emprego, e ela disse que tinha

uma mesada que a mantinha confortável. Os seus pais tinham

remorso em sempre ficar na cidade para o trabalho e tudo mais. Um

bom arranjo, se você pode entender.

Mamãe era excelente em me dar dinheiro se eu precisasse, mas

eu sinceramente duvidava que ela desembolsasse trezentos dólares

por mês para divertimento, e carro novo para mim. Não. Eu tenho que

continuar amando meu pequeno sedan, com ferrugem e tudo. Do

ponto A ao ponto B, eu sempre me lembrava.

— Você pode ir onde quiser Dee. — O sorriso de Dee era tingido

com tristeza.

— Eu provavelmente vou ficar aqui quando eu me formar.

Talvez me inscreva em uma dessas universidades on-line.

No começo eu pensei que ela estava brincando.

— Você está falando sério?

Page 103: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Sim, eu estou tipo presa aqui.

Fiquei intrigada com a ideia de alguém estar preso em qualquer

lugar.

— O que está prendendo você?

— Minha família está aqui. — Ela disse baixinho, olhando para

cima. — De qualquer forma, esse filme que nós assistimos ontem à

noite me deu pesadelos. Eu odeio a ideia de uma casa assombrada

com fantasmas nela, vendo você dormir.

Sua rápida mudança de assunto não passou por mim.

— Sim, esse filme era muito assustador.

Dee fez uma careta.

— Isso me lembra de Daemon. Ele costumava ficar em cima de

mim quando eu estava dormindo, porque ele pensava que era

engraçado. — Seus ombros delicados estremeceram. — Eu ficava tão

brava com ele! Não importava o quão profundo de um sono que eu

estava, eu ainda podia senti-lo olhando para mim e acordava. Ele

zombava e ria de mim.

Eu sorri com a imagem de Daemon como um menino brincando

com sua irmã gêmea. Essa imagem foi completamente substituída

pelo Daemon adulto. Eu suspirei além de frustrada, e fechei a revista.

Eu não o tinha visto desde a noite na minha varanda, que tinha

sido na segunda-feira. Dois dias sem vê-lo parecia banal. E não era

como se eu quisesse vê-lo.

Olhando para cima, assisti Dee virar para a parte de trás de

sua revista. Ela sempre faz isso, indo para os horóscopos na parte de

trás. Ela segurou sua mão direita contra o queixo, tocando seus

lábios com uma unha roxa pintada.

Page 104: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

O dedo embaçando, quase desaparecendo. Ar ao seu redor

parecia cantarolar.

Pisquei várias vezes. O dedo ainda estava lá. Ótimo. Eu estava

tendo alucinações novamente. Eu joguei a revista de lado.

— Eu preciso ir à biblioteca. Preciso de novos livros para ler.

— Podemos planejar uma viagem e ir comprar livros. — Ela

pulou em sua cadeira, se animando novamente. — Eu quero dar uma

olhada no livro que você comentou em seu blog na semana antes de

se mudar para cá. Aquele com as crianças com superpoderes.

Meu coração fez uma dança feliz. Ela tinha lido o meu blog. Eu

nem sequer me lembro de lhe dizer o nome.

— Isso seria divertido, mas eu estava pensando em ir para a

biblioteca esta noite. Eu não posso resistir quando é grátis. Você quer

vir comigo?

— Hoje a noite? — ela perguntou, com os olhos arregalados. —

Eu não posso esta noite, mas posso ir amanhã à noite.

— Não é grande coisa, se você não pode ir. Eu estive pensando

em ir por um par de dias, mas eu continuo adiando, e eu preciso de

doces para o cérebro antes de ter que ler alguma coisa da escola.

O seu cabelo escuro virou no seu rosto travesso quando ela

balançou a cabeça.

— Oh, isso não é grande coisa. Eu não me importo de ir com

você. Eu não posso ir esta noite. Tenho planos. Se eu não tivesse, eu

iria.

— Está tudo bem, Dee. Eu posso ir para a biblioteca sozinha, e

então nós podemos ir às compras depois. Eu sei muito bem o meu

caminho em torno da cidade agora. Não é como se eu fosse me perder,

nem nada. É só apenas... Cinco quarteirões.

Page 105: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Fiz uma pausa, e então rapidamente questionando sobre seus

planos para a noite, tentando mudar de assunto.

Os lábios de Dee eram firmes.

— Nada, apenas amigos que estão de volta na cidade.

Minha pergunta inocente, obviamente a colocou no lugar, e ela

pareceu relutante em dizer o que estaria realmente fazendo. Ela se

mexeu na cadeira, com foco em suas unhas. Eu senti como se tivesse

bisbilhotando, mas eu não entendia como essa pergunta poderia ter

feito ela se sentir desconfortável. Houve também uma parte de mim

magoada e desapontada que eu não estava incluída.

— Eu espero que vocês se divirtam hoje à noite. — Eu menti.

Bem, não é uma mentira real. Mas pelo menos metade de uma

mentira. Eu não tenho orgulho disso, mas aí está. Certo ou errado, eu

me senti deixada de fora.

Dee se contorceu em seu assento enquanto ela me observava.

Seus olhos envesgaram, assim como eles fizeram no dia na varanda.

— Eu acho que você deve esperar até que eu possa ir com você.

Houve um par de meninas que já desapareceram recentemente.

Estava indo para a biblioteca não estava indo para uma casa

que cozinha metanfetamina, mas lembrei-me do cartaz de

desaparecidos que eu tinha visto no outro dia e dei de ombros.

— Ok, eu vou pensar.

Dee permaneceu até que estava quase na hora da minha mãe ir

ao trabalho. Na saída, ela parou na beira da varanda.

— Realmente, se você puder esperar até amanhã à noite, eu

vou para a biblioteca com você.

Page 106: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Concordei mais uma vez e lhe dei um abraço rápido. Eu senti

saudade dela no momento em que ela saiu. A casa era muito quieta

sem ela.

Page 107: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 09

Depois de jantar com a minha mãe, eu decidi sair. Não

demorou muito tempo para ir até a vila e encontrar a biblioteca

novamente. As ruas, que durante as poucas vezes em que estive na

cidade estavam sempre povoadas, agora estavam quase desertas.

Enquanto eu dirigia, o céu começou a ficar nublado, dando a toda

cidade um aspecto de uma misteriosa cidade fantasma.

Apesar das coisas estranhas na minha vida e agora o

sentimento persistente de que Dee tinha vergonha de mim para não

me convidar para sair com seus amigos, eu sorri enquanto caminhava

até a biblioteca. Os pensamentos dos gêmeos e tudo o mais

desapareceu enquanto eu dobrava a esquina da tranquila biblioteca e

via as prateleiras de livros enchendo as paredes. Tal como acontece

com jardinagem, na calma da biblioteca, me senti em paz.

Parando em uma das mesas vazias, deixei escapar um pequeno

suspiro de felicidade. Eu sempre era capaz de me perder na leitura.

Page 108: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Os livros eram uma fuga necessária sempre que eu queria

parar de pensar.

O tempo passou mais rápido do que eu pensava, e a biblioteca

adquiriu uma aura sombria. Bibliotecas eram sempre escuras quando

a luz acabava, mas o natural escurecimento do céu acrescentava uma

sensação horripilante. Eu não sabia que era tão tarde até que a

bibliotecária apagasse a maioria das luzes, eu estava tendo problemas

para fazer o caminho de volta para a recepção. Agora, eu mal podia

esperar para estar fora desse lugar solitário e assustador.

Um relâmpago iluminou as estantes e os trovões eram visíveis

através das janelas. Eu tinha a esperança de entrar no meu carro

antes de começar a chover. Pressionando os livros contra meu peito,

me apressei para a recepção. Cheguei em tempo recorde, justamente

antes que a bibliotecária desse a volta para fechar a biblioteca.

— Bem a tempo — Eu murmurei baixinho.

A iminente tempestade tinha transformado o entardecer em

noite, fazendo parecer muito mais tarde do que era. Lá fora, as ruas

ainda estavam desertas. Olhei para trás, pensando em ficar até que a

chuva passasse, mas a luz da biblioteca estava apagada.

Eu cerrei os dentes e guardei meus livros na minha mochila

antes de sair.

Assim que pisei na calçada, o céu se abriu em uma chuva

torrencial, me molhando toda em segundos. Eu fiz o meu melhor para

manter minha mochila seca enquanto procurava as chaves enquanto

cambaleava para frente e para trás. A chuva estava me congelando!

— Desculpe-me, senhorita? — A voz rouca interrompeu minha

procura. — Você poderia me ajudar?

Page 109: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Na tentativa de abrir a porta para que os livros não se

molhassem, não ouvi ninguém se aproximar. Eu coloquei minha

mochila no carro e apertei a alça da minha bolsa quando me virei em

direção à voz. Um homem saiu das sombras e ficou parado embaixo

do farol. A chuva escorria do seu cabelo claro esmagando os fios de

sua cabeça. Seus óculos deslizaram para a ponta do seu nariz torto,

enquanto abraçava a si mesmo, seu corpo magro tremia ligeiramente.

— Meu carro está lá — apontou para trás dele, gritando um

pouco para ser ouvido acima do barulho da chuva. — Tem um pneu

furado. Esperava que você tivesse uma chave de roda.

Eu tenho uma, mas cada fibra do meu corpo me dizia para

dizer não. Embora o homem parecesse ser um covarde.

— Eu não tenho certeza. — Minha voz saiu mais baixa do que

eu pretendia.

Eu empurrei o meu cabelo molhado e limpei a garganta. Eu

gritei de volta:

— Eu não sei se eu tenho ou não.

O homem me deu um sorriso cansado.

— Eu não poderia escolher um melhor momento, hein?

— Não. — Eu mudei de um pé para o outro.

Uma parte de mim queria deixá-lo ali com um pedido de

desculpas, mas havia outra parte de mim – uma grande parte de

mim, que nunca foi boa em dizer não para as pessoas. Mordi o lábio

enquanto dava a volta para a porta.

Eu não podia deixá-lo na chuva. O pobre homem parecia

prestes a ruir. A pena por ele pareceu expulsar o sentimento de medo

que sempre vem quando você enfrenta o desconhecido.

Page 110: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu não podia deixá-lo na chuva, não quando eu poderia ajudar.

Pelo menos a chuva começava a diminuir.

Eu tomei uma decisão, forcei um sorriso fraco. — Eu posso

verificar. Provavelmente tenha uma.

O homem sorriu.

— Seria minha salvadora se encontrasse.

Ele ficou onde estava, não se aproximando, provavelmente

sentindo a minha desconfiança inicial.

A chuva começou a ceder, mas aquelas nuvens tão escuras me

faziam pensar que talvez nós estivéssemos no meio de um furacão.

Fechei a porta do lado do motorista e fui para a parte traseira do

carro. Abri a parte traseira e passei a mão sobre o tapete, olhando

para a chave de roda perto do pneu sobressalente.

— Acredito que tenho uma, para ser honesta. — Eu

simplesmente me distraí por alguns segundos quando senti uma

corrente de ar frio mover o cabelo da minha nuca. A adrenalina

correu pelas minhas veias, meu coração batia forte contra as minhas

costelas e meu estômago se revirou.

— Os seres humanos são tão estúpido, tão crédulos. — Sua voz

era tão fria como o vento no meu pescoço.

Antes que meu cérebro pudesse registrar suas palavras, uma

mão gelada e úmida se fechou sobre a minha em um aperto doloroso.

Sua respiração era pegajosa contra a minha nuca. Nem sequer tive a

chance de responder.

Usando minha mão, ele me obrigou a me virar. Um grito

escapou da minha garganta quando a dor se espalhou pelo meu

braço. Eu estava cara a cara com ele agora, e ele não parecia tão fraco

como antes. Na verdade, ele parecia ser mais alto.

Page 111: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Se... Se você quer dinheiro você pode levar tudo que eu

tenho. — Eu queria jogar minha bolsa para que ele fosse embora.

O estranho sorriu e me empurrou. Forte. O forte impacto do

asfalto retirou o ar do meu corpo e eu segurei meu pulso pela

queimação da dor.

Com a mão boa, peguei minha bolsa e ofereci.

— Por favor — Eu implorei. — Basta levá-la. Eu não vou dizer

nada. Basta levá-la. Eu prometo.

Meu atacante se agachou na minha frente, seus lábios se

curvaram em um sorriso quando ele pegou minha bolsa.

— Seu dinheiro? Eu não preciso do seu dinheiro. — Ele jogou a

bolsa de lado.

Olhei para ele enquanto pequenos ofegos entravam e saíam de

meus pulmões. Eu não conseguia entender o que estava acontecendo.

Se ele não ia me roubar, então o que queria? Minha mente reduzia as

possibilidades, e tornou-se instantaneamente um eco de terror: Não,

não, não.

Eu não conseguia pensar direito com o fluxo de pensamentos e

imagens que me assolavam. Mas meu corpo estava se movendo, e eu

queria ficar longe dele, rastejando na calçada. O medo tomou conta

de mim. Eu sabia que precisava gritar. Senti as palavras na minha

garganta. Eu abri minha boca.

— Não grite! — Advertiu, sua voz era um comando.

Senti os músculos de minhas pernas apertarem. Movi-me,

levantando meus joelhos ficando pronta para correr. Eu poderia fazer

isso. Ele não esperava. Eu poderia fazer.

Agora!

Page 112: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Seus braços se moveram em um borrão, agarrando minhas

duas pernas e puxando-as. Meu braço esquerdo e o lado do meu rosto

bateram no chão, minha pele arranhando contra concreto áspero me

fez ficar cega de dor. Meus olhos começaram a inchar em segundos e

o sangue escorria pelo meu braço. Meu estômago se revirou. Tentei

liberar as pernas de suas garras, chutei. Ele gemeu, mas manteve o

aperto.

— Por favor! Deixe-me ir. — Eu tentei novamente chutá-lo com

a minha perna livre. O cimento raspando meus braços, só fiquei com

mais dores.

A raiva me atravessou, afastando meu medo, tentei lutar. A

combinação me colocou em ação. Eu chutei e empurrei de novo e de

novo, mas nada parecia movê-lo. Nem um centímetro.

— Me solte! — Gritei desta vez, o som dilacerador de minha

garganta foi cru.

Ele moveu-se rapidamente, com o rosto sumindo e voltando ao

normal como eu tinha visto a mão de Dee fazer. E então ele estava em

cima de mim, com a mão cobrindo minha boca. Seu peso era

insuportável, embora ele parecesse pequeno antes, tão fraco. Eu não

conseguia respirar, não conseguia me mover. Foi esmagador, mas o

pensamento do que vinha a seguir quase me destruiu.

Alguém tinha que me ajudar. Essa era a minha única

esperança.

Ele abaixou a cabeça, cheirando meu cabelo. Um tremor de

repulsa passou por mim.

Ele sussurrou:

— Eu estava certo. Tem seu rastro. — Ele moveu a mão da

minha boca e agarrou meus ombros — Onde estão eles?

Page 113: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu... Eu não entendo — Disse, gaguejando.

— Claro que não. — Seu rosto se contorceu com nojo. — Você é

apenas uma tola mamífera. Não vale a pena.

Eu fechei meus olhos. Não queria olhá-lo. Não queria ver seu

rosto.

Queria ir para casa. Por favor…

— Olhe para mim! — Quando não obedeci, minha cabeça bateu

contra o chão.

Uma nova dor fresca me sobressaltou e meu único olho bom se

abriu contra a minha vontade. Ele pegou meu queixo com sua mão

gelada. Meu olhar se refletiu em seu rosto e finalmente se deteve em

seus olhos. Eram enormes e vazios. Nunca tinha visto nada igual.

E naqueles olhos, vi algo pior. Pior do que ser assaltada, pior

que ser humilhada e abusada. Eu vi a morte – a minha morte, sem

um pingo de remorso.

— Diga-me onde eles estão. — Cada palavra foi cuspida.

Sua voz soava abafada, como se ele estivesse falando sob a

água, ou talvez fosse a minha imaginação. Talvez eu estivesse me

afogando.

— Bem — Retrucou. — Você pode precisar de um pouco de

ajuda.

Em um segundo, suas mãos estavam em volta do meu pescoço

e apertaram. Antes que eu tivesse a chance, minha respiração foi

interrompida. Pânico arranhou meu peito enquanto eu tentava tirar

seus dedos, minhas pernas chutavam em uma vã tentativa de me

libertar. Seu aperto aumentou na minha frágil traqueia.

— Você está pronta para falar? — Desafiou. — Ou não?

Page 114: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu não sabia do que ele estava falando. Meu pulso parecia não

doer mais, os arranhões nos meus braços e no rosto não pareciam

arder como antes, porque uma nova dor substituiu à velha. Eu não

tinha ar, nada de ar. Meu coração batia forte em meu peito, exigindo

oxigênio. A pressão na minha cabeça estava insuportável. Minhas

pernas estavam dormentes. Pequenas luzes atravessavam minha

visão.

Eu ia morrer.

Eu nunca iria ver minha mãe novamente. Oh Deus, ela ficaria

arrasada. Eu não podia morrer assim, por qualquer motivo. Roguei

em silêncio, rezei para que alguém me encontrasse antes que fosse

muito tarde, mas tudo estava desaparecendo. Eu deslizei em um

abismo escuro. A pressão não era tão ruim agora. A dor na minha

garganta parecia mais fraca. A dor estava indo embora. Eu estava

indo embora, desaparecendo na escuridão.

Repentinamente, suas mãos se foram, e houve um som de um

corpo batendo contra o chão. Sentia-me como se estivesse no fundo

de um poço profundo e o ruído viesse de muito longe.

Mas eu podia respirar de novo. Avidamente comia cada

respiração, aproveitando o belo ar, a dor na minha garganta,

alimentando meu corpo faminto. Comecei a tossir enquanto respirava.

Alguém gritou em uma linguagem suave e musical que eu

nunca ouvi falar antes, e, em seguida, houve outra maldição e um

golpe sendo lançado. Um corpo caiu ao meu lado, e rolou um pouco.

A dor me fez estremecer, mas era bem-vinda. Isso significava que eu

estava viva.

Page 115: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eles estavam lutando nas sombras. Um deles – um homem

pegou o outro, segurando-o alguns centímetros no ar. Sua força era

impressionante, brutal. Desumano. Impossível.

Rolando, fui atingida por uma nova rodada de tosse. Eu me

inclinei para frente, colocando o peso no meu pulso, e gritei.

— Droga! — Gritou uma voz profunda.

Houve um flash intenso de luz amarela. Os postes de luzes na

rua explodiram, deixando a quadra na escuridão total. Ajoelhei-me. O

cascalho rangia e passos de botas se aproximaram. Acariciei meu

braço machucado.

— Fique calma. Ele se foi. Você está bem? — Uma mão delicada

estava no meu ombro me firmando. Uma parte distante do meu

cérebro pensou que sua voz soava familiar. — Basta ficar parada. —

Eu tentei levantar minha cabeça, mas a tontura quase me levou a

parar de respirar. Minha visão estava turva, clareando lentamente.

Meu olho esquerdo estava inchado e pulsando com cada aceleração

do meu pulso. — Tudo vai ficar bem.

Um calor começou no meu ombro, passou pelo meu braço e

parou em meu pulso, aliviando a dor muscular e me relaxando.

Lembrei-me daqueles dias, eu caída nas praias de areia branca,

aproveitando o sol.

— Obrigada... — Minhas palavras sumiram quando eu

reconheci a face de meu salvador. Maçãs do rosto altas, nariz reto e

lábios carnudos que eu conhecia bem. Um rosto que era

surpreendente e tão frio que não podia lhe pertencer ou mesmo o

calor que lentamente entrava por todo meu corpo.

Os vibrantes olhos verdes encontraram os meus.

Page 116: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Kat. — disse Daemon. A preocupação estava estampada na

sua face. — Você ainda está comigo?

— Você... — Eu sussurrei enquanto minha cabeça se inclinava.

Vagamente eu notei que não estava mais chovendo.

Ele arqueou uma sobrancelha negra como carvão.

— Sim, sou eu.

Atordoada, olhei para onde ele segurava meu pulso. Não estava

mais doendo, mas seu toque estava fazendo outra coisa. Eu puxei

meu braço para trás, confusa.

— Eu posso ajudar. — Ele insistiu, estendendo o braço para

mim.

— Não! — Gritei. — Isso dói.

Ele pensou por um momento, depois abaixou a mão, seus olhos

olhavam para o meu pulso.

— Como queira. Vou chamar a polícia.

Eu tentei não ouvir, enquanto ele falava com a polícia no

telefone.

Eventualmente, fui capaz de recuperar o fôlego.

— Obrigada. — Minha voz estava rouca, e doía falar.

— Não me agradeça. — Ele passou os dedos pelo seu cabelo. —

Caramba, isso é culpa minha.

Como isso poderia ser por causa dele? Meu cérebro não estava

funcionando corretamente, porque não tinha muito sentido.

Eu me inclinei para trás com cuidado, olhei para cima e

imediatamente desejei que eu não tivesse feito. Ele parecia feroz. E

protetor.

— Vê algo que você gosta, Gatinha?

Page 117: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Baixei os olhos... Suas mãos em punhos. Seus dedos não

tinham um arranhão.

— Luz... Eu vi a luz.

— Bem, eles dizem que há uma luz no fim do túnel.

Afastei o aviso de que quase tinha morrido esta noite.

Daemon se abaixou.

— Caramba, desculpe. Isso foi imprudente. Suas feridas são

graves?

— ... Minha garganta dói. — Ele me tocou gentilmente e

estremeci. — O mesmo vale para o meu pulso. Não tenho... Certeza se

está quebrado.

Ele levantou meu braço gentilmente. Estava inchado e também

já estava roxo e azul.

— Mas houve um flash... De luz.

Ele estudou meu braço.

— Pode estar quebrado ou torcido. Isso é tudo?

— Tudo? O homem... Ele tentou me matar.

Seus olhos se estreitaram.

— Eu entendo isso. Eu estava esperando que ele não tivesse

quebrado nada importante. — Parou por um segundo, pensando. — E

sua cabeça?

— Não... Eu estou bem.

Ele suspirou.

— Bem, bem. — Levantou-se e olhou em volta. — Por que você

estava aqui, afinal?

— Eu... Eu saía da biblioteca. — Eu tive que parar porque

minha garganta ainda doía. Não era tão… Tarde. — Não estamos...

Page 118: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Em uma cidade com alto índice de criminalidade. Ele disse que

precisava de ajuda... Um pneu furado.

Seus olhos se arregalaram em descrença.

— Um estranho vem pedir ajuda em um estacionamento escuro

e você o ajuda? É uma das coisas mais descuidadas que já ouvi na

minha vida. — Ele cruzou os braços e olhou para mim.

— Eu aposto que você acha que eu sempre faço coisas como

essa, certo? Que aceito doces de estranhos e entro em caminhonetes

que têm um letreiro que diz ―gatinhos grátis‖?

Comecei a me levantar.

— Desculpe, não fui de muita ajuda, não é?

Eu ignorei a última declaração.

— Então por que você está aqui? — Minha garganta estava

finalmente um pouco melhor. Ainda dói como o inferno, mas pelo

menos não doía com cada palavra.

Daemon fez uma pausa e passou a mão sobre o peito, sobre seu

coração.

— Só de passagem.

— Puxa, eu pensei que os homens deveriam ser agradáveis e

encantadores.

Ele franziu a testa.

— Que homens?

— Você sabe, os cavalheiros de armadura brilhante que salvam

as donzelas em perigo. — Eu parei naquele ponto. Devo ter batido

com a cabeça.

— Eu não sou o seu cavalheiro.

— Tudo bem... — Eu sussurrei. Lentamente, eu levantei meus

joelhos e descansei a cabeça sobre eles. Tudo doía, mas não tanto

Page 119: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

como quando o homem estava com as mãos em volta do meu pescoço.

Estremeci com o pensamento. — Onde ele está agora?

— Ele se foi. Por agora — Disse Daemon. — Kat...?

Eu levantei minha cabeça. Seu corpo pairava sobre mim

quando ele me viu. Seu olhar era enervante, penetrante. Não sabia o

que dizer. Eu não gostava do corpo que Daemon projetava com o luar.

Eu fiz um movimento para tentar me levantar.

— Não acho que você deveria se levantar. — Ele se ajoelhou

novamente. — A ambulância e a polícia deverão estar aqui a qualquer

minuto. Eu não quero que você se machuque.

— Nada vai acontecer... — Neguei, finalmente ouvindo as

sirenes.

— Não quero ter que carregá-la se você desmaiar. — Examinou

seus dedos por alguns instantes. — Ele disse alguma coisa?

Eu não queria engolir saliva, machucava demais.

— Ele disse… Que havia um rastro em mim. E não deixava de

perguntar… ‗Onde eles estão‘? Não sei por quê.

Ele desviou os olhos, respirando com dificuldade.

— Soa como um lunático.

— Sim, mas o que ele queria?

Daemon virou-se para mim, franzindo a testa.

— Uma menina estúpida para ajudar um maníaco homicida

com seu pneu, talvez?

Meus lábios se apertaram em uma linha dura.

— Você é um idiota. Alguém... Nunca te disseram isso?

Ele deu uma verdadeira risada engraçada.

— Oh, Gatinha, todos os abençoados dias da minha vida.

Olhei-o com incredulidade novamente.

Page 120: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu nem sei o que dizer.

— Como já me agradeceu, eu acho que nada é a melhor

maneira de proceder neste momento. — Levantou-se com uma graça

fluida. — Só não se mova. Isso é tudo que eu peço. Fique quieta e

tente não causar mais problemas.

Eu fiz uma careta para ele e isso doeu.

Meu não tão encantador cavalheiro ficou sobre mim, as pernas

abertas e os braços ao lado do corpo como se estivesse pronto para

me proteger novamente. E se o homem voltasse? Isso deve ter deixado

Daemon preocupado.

Meus ombros começaram a tremer, meus dentes rapidamente o

seguiram. Daemon tirou sua camisa e passou o algodão quente sobre

minha cabeça, com cuidado para que o tecido não tocasse as áreas

machucadas do meu rosto. Seu aroma me envolveu, e pela primeira

vez depois do ataque, senti-me segura. Com o Daemon. Quem

imaginaria?

Como se meu corpo reconhecesse que não tinha que lutar mais,

comecei a cair para um lado, e sabia que ia ter meu outro olho negro

quando minha cabeça bateu no chão, estava certamente prestes a

desmaiar pela segunda vez em apenas alguns dias. Por um breve

momento eu me perguntava se eu estava condenada a parecer sempre

fraca em frente à Daemon, e então eu me dobrei no chão como um

saco de papel.

Page 121: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 10

Eu não tinha o costume de frequentar hospitais. Eu odiava

tanto quanto eu odiava música country. Em minha opinião, cheirava

a morte e desinfetante. Lembrava-me do meu pai, e do tempo em que

ele passou enquanto o câncer escurecia seus olhos e a quimioterapia

acabava com seu corpo.

Este hospital não era nada diferente, mas a visita era um pouco

mais complexa.

Ela envolvia a polícia, a mãe desesperada, e meu salvador

sombrio e escuro, que se mantinha perto do quarto onde eu estava.

Fiz o meu melhor para ignorá-lo, tão rude e ingrato como parecia.

Minha mãe, que tinha voltado ao hospital no momento em que

a ambulância tinha me levado com a polícia de escolta, seguia

estirando a mão e acariciando meu braço ou meu rosto – a parte boa,

pelo menos. Como se esse movimento a lembrasse que eu ainda

estava respirando, e que só tinha hematomas. Começava a me

incomodar, e me odiava por isso.

Estava experimentando o mais alto nível de irritação.

Page 122: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Minha cabeça e costas doíam muito, mas a dor no meu pulso e

braço eram os piores. Depois de muitos toques, punções, e meia dúzia

de raios-X, chegaram à conclusão de que nada estava quebrado. Eu

tinha um pulso torcido, um tendão rasgado no meu braço e

numerosas contusões e cortes. A braçadeira já estava envolvendo

minha mão esquerda e antebraço.

Houve também uma promessa ilusória de medicação para a dor

que nunca chegava.

Os oficiais de polícia eram amáveis, mas um pouco bruscos, e

perguntaram todo tipo de perguntas que pudessem imaginar. Eu

sabia que era importante dizer-lhes tudo o que eu lembrava, mas o

choque começou a desvanecer-se e a adrenalina há muito já tinha me

abandonado. Tudo que eu queria era ir para casa.

Eles pensaram que era uma tentativa de assalto que deu

errada, até que eu disse a eles que ele não pediu nenhum dinheiro.

Então eu disse a eles o que ele tinha dito, acreditaram que talvez ele

estivesse doente ou possivelmente era um viciado em drogas e que

estava terminando o efeito.

Quando a polícia terminou de me fazer perguntas, voltou-se

para o Daemon. Pareciam estarem agradecidos com ele. Inclusive,

alguém lhe deu até tapinha nas costas e sorriu. Eles eram amigos.

Que doce. Eu não tive a oportunidade de ouvir o que ele disse, porque

a minha mãe assumiu o interrogatório.

Eu queria que todo mundo fosse embora e me deixassem em

paz.

— Senhorita Swartz?

Surpresa ao ouvir meu nome, fui tirada dos meus

pensamentos. Um dos oficiais mais jovens estava ao lado de minha

Page 123: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

cama novamente. Eu não conseguia lembrar o nome dele, e estava

muito cansada para olhar sua identificação.

— Sim?

— Acredito que já terminamos por esta noite. Se você se

lembrar de algo mais, ligue-nos imediatamente, por favor.

Eu balancei a cabeça e desejei não ter feito. Fiz uma careta

quando a dor atravessou minha cabeça.

— Querida, você está bem? — Mamãe perguntou, preocupada.

— Minha cabeça dói.

Ela se levantou.

— Vou chamar o médico para te medicar. — Sorriu gentilmente.

— Então você não vai sentir nada.

Isso era o que eu precisava, o que eu adoraria.

O oficial se virou para sair, mas parou novamente.

— Não acredito que tenha nada do que se preocupar. Eu…

O chamado do seu rádio interrompeu o que ele ia dizer. A voz

do locutor se ouviu sobre a estática:

— Todas as unidades disponíveis, temos código 18 em Well

Springs Rode. A vítima é uma mulher de cerca de dezesseis ou

dezessete anos. Possível DOA5. Paramédicos no local.

Uau. Quais eram as chances de que eu tivesse sido atacada na

mesma noite em que uma adolescente morre em uma cidade tão

pequena?

Devia ser uma coincidência. Olhei para Daemon, seus olhos se

encontravam semicerrados, ele também tinha ouvido.

5 Termo médico usado quando o paciente morre antes ter os serviços médicos.

Page 124: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Jesus — disse o oficial, em seguida apertou o botão do rádio.

— Unidade 414 saindo do hospital e a caminho. — Ele virou-se, ainda

falando no rádio e se foi.

A sala estava vazia, exceto por Daemon encostado na parede ao

lado da cortina. Ele levantou uma sobrancelha para mim. Mordi o

lábio e virei à cabeça, fazendo com que outra explosão de dor me

atravessasse de um lado para o outro. Eu fiquei lá até minha mãe

correr de volta para a minha cama com o médico.

— Querida, Dr. Michaels tem uma boa notícia. Como você sabe,

você não tem ossos quebrados e também parece que não tem

concussão. Ele vai lhe dar alta e você pode ir para casa e descansar.

— Ela disse, acariciando a área onde manchas de cor cinza apareciam

em seu cabelo. Daemon olhou antes de se concentrar em mim,

novamente. — Agora, se você começar a sentir problemas de visão,

náusea ou vertigem, ou perda de memória, nós vamos te trazer

novamente imediatamente.

— Concordo. — Eu disse, olhando para os comprimidos. Neste

ponto, aceitaria qualquer coisa.

Depois que o médico saiu, a minha mãe ficou chocada quando

eu lhe tirei o pequeno copo de plástico e os comprimidos e os engoli

rapidamente. Nem me importava com o que fossem.

À beira das lágrimas novamente, estirei e procurei a mão de

mamãe, mas fui interrompida por uma exaltada voz no corredor.

Dee entrou no quarto, com o rosto pálido e preocupado.

— Oh, não, Katy. Você está bem?

— Sim. Só um pouco machucada. — Estiquei o meu braço e

dei-lhe um sorriso fraco.

Page 125: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu não posso acreditar que isso aconteceu. — Ela se virou

para o irmão. — Como isso pôde acontecer? Eu pensei que você...

— Dee... — Daemon avisou.

Ela se afastou de seu irmão e inclinou-se para o lado da minha

cama.

— Eu sinto muito por isso.

— Não é culpa sua.

Ela acenou com a cabeça, mas eu poderia dizer que ela estava

se afogando em culpa.

O nome da minha mãe foi chamado pelos alto-falantes. Ela

pediu desculpas e prometeu voltar em poucos segundos.

— Você pode ir logo? — Dee perguntou.

Eu arrastei minha atenção de volta para ela.

— Eu acho. — Eu parei. — Assim que a minha mãe voltar.

Ela acenou com a cabeça.

— Você viu... O cara que te atacou?

— Sim. — Disse — Foi uma coisa muito louca. — Fechei os

olhos, e parecia que me custaria muito deixá-los abertos novamente.

— Disse algo sobre ‗encontrá-los‘. Eu não sei. — Eu me mexi na cama

dura, as contusões doeram. — Foi estranho.

Dee empalideceu.

— Eu espero que você possa ir em breve. Eu odeio hospitais.

— Eu também.

Ela torceu o nariz.

— Eles têm... Um cheiro tão estranho.

— Isso é o que eu sempre digo a minha mãe, mas ela acha que

invento.

Dee balançou a cabeça.

Page 126: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não, não é só você. Eles têm esse cheiro... Mofado.

Minhas pálpebras se abriram novamente e se concentraram em

Daemon.

Seus olhos estavam fechados, sua cabeça inclinada contra a

parede, mas eu sabia que estava ouvindo tudo. Dee falou sobre me

levar para casa se minha mãe não pudesse sair. Fiquei impressionada

novamente com os gêmeos. Daemon e Dee não pertenciam a este

lugar, mas eu sim. Eles poderiam facilmente se perder entre as

paredes brancas e cortinas verdes pálidas. Eu era como linóleo, mas

estes dois pareciam iluminar a sala com sua beleza impecável e

presença impotente.

Ah, o remédio começou a fazer efeito. Agora estava poética. E

drogada. Em êxtase.

Dee se moveu, bloqueando minha visão de Daemon.

Imediatamente senti o pânico chegar, e me movi desconfortável

até que pude vê-lo de novo. Meu pulso se acalmou no momento em

que meus olhos encontraram os dele. Ele não me enganava. Tentava

agir como se estivesse relaxado, encostado na parede e com os olhos

fechados e tudo mais, mas sua mandíbula estava tensa e sabia que se

encontrava como no início da primavera, vibrante de energia.

— Você está se comportando bem. Eu estaria completamente

aterrorizada, me balançando em uma esquina por aí. — Dee sorriu.

— Eu ficarei. — Sussurrei. — Dê-me tempo.

Eu não tinha certeza de quanto tempo se passou antes que

minha mãe voltasse com uma expressão irritada no rosto bonito.

— Querida, me perdoe por ter deixado você. — Disse

rapidamente. — Houve um acidente muito grave, e estão trazendo

muitas vítimas. Você vai ter que ficar aqui por um tempo. Eu tenho

Page 127: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

que ficar, pelo menos até que determinemos se terão que movê-los

para um hospital maior. Muitos enfermeiros não estão aqui, e o

hospital não é treinado para este tipo de crise.

Eu olhei para ela, incrédula. Eu senti o desconforto me invadir

novamente. Foda-se todos os outros. Eu quase morri hoje, e queria a

minha mãe.

— Sra. Swartz, podemos levá-la para casa. — disse Dee. —

Tenho certeza que ela quer ir embora. Eu sei que eu iria querer, e não

será problema para nós levá-la.

Eu implorei com os olhos a minha mãe para que ela mesma me

levasse para casa.

— Eu me sentiria melhor se ela estivesse aqui, caso tenha uma

concussão e, bem, não quero que nada mais aconteça.

— Nunca deixaria que nada acontecesse. — O olhar de Dee era

constante. — Nós a levaremos direto para casa e ficaremos com ela.

Eu prometo.

Pude notar como mamãe lutava com a necessidade de me

manter perto e se responsabilizar por aqueles machucados no

acidente. Eu me senti mal por colocá-la nesta posição, de escolher.

Além disso, eu aqui no hospital devia ser uma lembrança dolorosa do

papai. Meus olhos voaram para Daemon, e aborrecimento evaporou

dos meus ombros. Ofereci um sorriso fraco para a mãe.

— Está tudo bem, mãe. Estou me sentindo muito melhor, e eu

tenho certeza que nada está errado. Não quero ficar aqui.

Mamãe suspirou, levantando as mãos.

— Eu não posso acreditar que isso aconteceu hoje à noite,

precisamente. — Seu nome foi chamado pelos alto-falantes

novamente. Ela fez algo que não é muito característico, amaldiçoou.

Page 128: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Demônios!

Dee pulou imediatamente.

— Podemos levá-la, Sra. Swartz.

Mamãe olhou para mim e depois para a porta.

— Ok, mas se ocorrer algo incomum — virou-se para mim. —

Ou se sua cabeça começar a doer demais, me ligue imediatamente.

Não! Ligue para o 192.

— Eu vou. — Garanti a ela.

Ela se inclinou e me beijou suavemente no rosto.

— Descanse um pouco. Eu te amo. — Então, ela estava

correndo pelo corredor.

Dee sorriu largamente.

— Obrigada — Eu disse. — Mas não tem que ficar comigo.

Ela franziu a testa.

— Sim, eu vou. Não há argumentos. — Ela saiu do meu lado.

— Vou ver o que posso fazer para tirar você desse lugar.

Eu pisquei e ela se foi, Daemon se moveu para mais perto. Sua

expressão era estoica e parou ao pé da minha cama. Fechei os olhos.

— Você vai me insultar de novo? Porque eu não estou disposta

a... Tolerar isso.

— Eu acho que você se refere a suportar.

— Tolerar, suportar. Como seja. — Eu abri meus olhos e

encontrei-o me olhando.

— Você está realmente bem?

— Eu estou muito bem. — Bocejei de forma audível. — Sua

irmã está agindo como se a culpa fosse dela.

— Ela não gosta quando as pessoas se machucam. — Disse

suavemente. — E as pessoas tendem a se machucar ao nosso redor.

Page 129: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Um frio passou pelo meu interior. Mesmo que sua expressão

fosse séria, suas palavras estavam impregnadas de dor.

— O que significa isso?

Nenhuma resposta.

Dee depois voltou com um grande sorriso no rosto.

— Estamos prontas para ir, com as ordens do médico e tudo.

— Venha, vamos te levar para casa. — Daemon se moveu ao

lado de minha cama e, surpreendentemente, me ajudou a me sentar

e, em seguida, a me levantar.

Eu tropecei dando alguns passos, tendo que parar.

— Uau, me sinto pronta para dormir.

O rosto de Dee tornou-se simpático.

— Eu acho que as pílulas já estão fazendo efeito.

— Já estou... Falando besteira? — Perguntei.

— Nem um pouco. — Ela riu.

Eu suspirei, exausta, a ponto de quase cair. Meu corpo estava

no ar inclinando-se no peito de Daemon antes de ser depositado

delicadamente em uma cadeira de rodas.

— Regras do hospital. — Explicou Daemon e depois empurrou a

cadeira, parando apenas para me permitir assinar um formulário

antes de me levar para o estacionamento.

Ajudou-me a entrar no carro de Dee. Cuidando do meu braço,

me puxou e me colocou no banco.

— Eu posso caminhar, sabe.

— Eu sei. — Ele contornou o carro e sentou-se ao meu lado.

Tentei ficar do meu lado do assento com a cabeça erguida,

porque duvidava que ele apreciasse que eu me atirasse em cima dele,

mas uma vez que Daemon se sentou junto a mim, minha cabeça

Page 130: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

simplesmente caiu em seu peito. Ele ficou tenso por um momento,

mas depois colocou um braço em volta dos meus ombros. O calor

rapidamente penetrou em meus os ossos. Senti-me bem nesta hora,

encostada contra ele. Eu me senti segura, e me lembrei como eram

quentes suas mãos.

Afundei a parte sã do meu rosto contra o suave tecido de sua

camisa e acreditei sentir seu braço apertando-se ao meu redor, mas

isso pode ter sido o efeito das pílulas. No momento em que o carro

começou a andar eu estava dormindo, pensando em uma coisa e

outra, sem muito sentido.

Eu não tinha certeza se eu sonhei ou não, quando Dee começou

a falar, sua voz baixa e distante.

— Eu disse para ela não ir.

— Eu sei. — Houve uma pausa. — Não se preocupe. Eu não

vou deixar nada acontecer desta vez. Eu juro.

O silêncio foi seguido por sussurros mais silenciosos.

— Você fez alguma coisa, certo? — Ela perguntou. — Está mais

forte agora.

— Não foi... Minha intenção. — Daemon moveu-se ligeiramente,

empurrando meu cabelo do meu rosto. — Simplesmente aconteceu.

Merda.

Longos minutos se passaram, e eu me esforcei para ficar

acordada.

Mas os acontecimentos da noite faziam um monte de peso

sobre mim, e eu finalmente sucumbi ao calor de Daemon e à sorte da

noite.

Quando abri os olhos novamente, luz do dia abria seu caminho

através da espessa cortina do quarto, captando pequenas partículas

Page 131: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

de pó que faziam desenhos disformes sobre a pacífica cabeça de Dee.

Ela estava a poucos passos de distância, curvada em um sono

profundo. Suas mãos pequenas foram acomodadas sob seu queixo, e

sua boca estava ligeiramente aberta. Parecia mais uma boneca de

porcelana do que uma pessoa real.

Eu sorri e imediatamente fiz uma careta.

Uma faísca de dor tomou conta da minha cabeça, e o medo da

noite anterior encheu minhas veias de água gelada. Eu fiquei ali por

um momento, respirando profundamente para me acalmar e assim

ganhar o controle das minhas loucas emoções. Eu estava viva –

graças a Daemon, que aparentemente também estava sendo meu

travesseiro.

Minha cabeça estava em suas pernas, e uma de suas mãos

descansando na curva do meu quadril. Meu coração disparou. Ele

não poderia estar confortável, sentado a noite toda.

Daemon se esticou.

— Está tudo bem, Gatinha?

— Daemon? — Eu murmurei, tentando controlar minhas

emoções. — Eu... Sinto muito. Não queria dormir em cima de você.

— Tudo bem. — Ajudou-me a sentar. O quarto girou um pouco.

— Você se sente bem? — Perguntou novamente.

— Sim. Você ficou aqui a noite toda?

— Sim. — foi tudo que ele disse.

Lembrei-me de Dee se oferecendo, mas ele não. Acordar com a

minha cabeça entre as suas pernas era a última coisa que eu

esperava.

— Você se lembra de alguma coisa? — Perguntou em voz baixa.

Page 132: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Meu peito se apertou. Eu balancei a cabeça, esperando que

doesse.

— Eu fui atacada ontem à noite.

— Alguém tentou te roubar. — Disse.

— Não, não foi assim. Lembro-me de um homem pegando

minha bolsa, depois jogando fora, mas ele não queria o meu dinheiro.

Não estava tentando me assaltar.

— Kat...

— Não. — Eu tentei levantar, mas seu braço estava ao meu

redor, formando uma corrente de ferro que não podia quebrar. — Ele

não queria o meu dinheiro, Daemon. Queria eles.

Daemon se esticou.

— Isso não faz qualquer sentido.

— Sério? — Eu fiz uma careta ao mover meu braço e perceber

que a tala pesava. — Mas ficava perguntando onde eles estavam e sob

um rastro.

— Aquele cara era louco. — Ele disse calmamente. — Você

percebe isto, certo? Que não era bom da cabeça. Que nada do que ele

disse significa alguma coisa.

— Não sei. Ele não parecia louco.

— Não é louco o suficiente para tentar acertar uma garota até a

morte? — Sua sobrancelha se levantou. — Eu tenho curiosidade de

saber o que é louco para você.

— Não é o que quero dizer.

— Então, o que você quer dizer? — Ele se moveu, com cuidado

para não me machucar, o que me surpreendeu. — Era um lunático

qualquer, mas você está indo para torná-lo maior do que realmente é,

né?

Page 133: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu não estou fazendo nada. — Eu inalei para me acalmar. —

Daemon, ele não era um lunático normal.

— Oh, você é expert em loucos agora?

— Um mês com você e eu sinto que sou uma mestra no

assunto. — Falei. Olhei para ele com raiva e me virei. Minha cabeça

doía.

— Você está bem? — Ele perguntou colocando a mão no meu

braço bom.

— Kat?

Eu apertei sua mão.

— Sim, eu estou bem.

Seus ombros se esticaram, e olhou para frente.

— Eu sei que você provavelmente está afetada pelo que

aconteceu ontem à noite, mas não vamos transformar isso em algo

que não é.

— Daemon...

— Eu não quero que Dee fique preocupada porque tem um

idiota lá fora atacando garotas. — Seu olhar era tenso. Frio. — Você

entendeu?

Meu lábio tremeu. Parte de mim queria chorar. Outra parte

queria bater nele. Então, toda essa preocupação era com a sua irmã?

Como sou boba.

Nossos olhos se encontraram. Havia tanta intensidade em seus

olhos, como se ele estivesse tentando me fazer entender.

Dee bocejou de forma audível.

Eu me afastei, quebrando o primeiro contato. Naturalmente, o

primeiro ponto era de Daemon.

Page 134: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Bom dia! — Dee falou enquanto jogava suas pernas no chão,

parecendo surpreendentemente forte para alguém tão magra quanto

ela. — Estão acordados há muito tempo?

Outro suspiro veio dos lábios de Daemon, mais audível e

irritante do que o primeiro.

— Não, Dee, acabamos de acordar e estávamos apenas

conversando. Roncava tão alto que não conseguíamos mais dormir.

Dee bufou.

— Duvido. Katy, você se sente... Bem esta manhã?

— Sim, eu estou um pouco dolorida e tensa, mas no geral estou

bem.

Ela sorriu, mas seus olhos ainda estavam cobertos com culpa.

O que não fazia sentido. Ela tentou alisar seus cachos, mas eles

saltaram em desordem assim que ela tirou as mãos.

— Acho que vou fazer um café da manhã. — Antes que eu

pudesse responder, ela correu para a cozinha e eu podia ouvir muitas

portas sendo abertas e fechadas, bem como utensílios de cozinha e

panelas batendo.

— Certo.

Daemon levantou-se e espreguiçou-se, os músculos das costas

sob a camisa me tentando. Eu desviei o olhar.

— Minha irmã é mais importante para mim do que qualquer

outra coisa no universo. — Ele disse suavemente. Cada palavra dita

com determinação. — Eu faço qualquer coisa por ela, sempre me

certifico de que ela esteja feliz e segura. Por favor, não a preocupe

com histórias loucas.

Eu me senti infinitamente pequena.

Page 135: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você é um idiota, mas eu não vou dizer nada. — Quando

olhei para cima, demorei a me concentrar, seus olhos brilhavam

muito. — Certo? Está contente?

Algo surgiu em seu rosto, e foi tão rápido quanto veio. Raiva?

Remorso?

— Na verdade não. Nem um pouco.

De novo nos olhamos fixamente. O ar era tenso, palpável.

— Daemon! — Dee chamou da cozinha. — Preciso de sua

ajuda!

— Devemos ir ver o que ela está fazendo antes que ela destrua

sua cozinha. — Ele esfregou o rosto com as mãos. — O que é bem

possível.

Mantendo-me em silêncio, eu o segui pelo corredor onde a luz

entrava pela porta aberta. Estremeci com a claridade e de repente me

lembrei que eu não tinha penteado os cabelos e nem escovado os

dentes ainda. Eu pulei para longe de Daemon.

— Eu acho que eu tenho que... Ir.

Ele levantou uma sobrancelha.

— Ir... Onde?

Senti meu rosto esquentando.

— Preciso de um banho.

Surpreendentemente, a porta foi deixada aberta e não foi

fechada. Ele acenou com a cabeça e desapareceu na cozinha. Na beira

da escada, meus dedos foram inconscientemente aos meus lábios e

um arrepio percorreu meu corpo. Quão perto estive de morrer ontem

à noite?

— Ela realmente vai ficar bem? — Ouvi Dee perguntar.

Page 136: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Sim, ela vai ficar bem. — Daemon respondeu,

pacientemente. — Você não tem nada para se preocupar. Nada vai

acontecer. Tudo estava arrumado quando voltei.

Eu estava perto das escadas.

— Não ponha essa cara. Nada vai acontecer com você. —

Daemon exalou com evidente frustração. — Ou a ela, ok? — Eles

ficaram em silêncio por um tempo mais longo. — Nós deveríamos ter

esperado por isso.

— Você acha? — Dee perguntou irritada. — Porque eu tentei

não pensar sobre isso, eu estava esperando que talvez a gente

pudesse ter um amigo, um de verdade, sem que eles...

Seu tom de voz diminuiu, tornando-se ininteligível. Falavam de

mim? Eles tinham que estar falando sobre mim, mas isso não fazia

sentido. Eu fiquei ali totalmente confusa, tentando descobrir o que

poderiam estar falando.

A voz de Daemon aumentou de volume.

— Quem sabe, Dee? Vamos ver como as coisas vão ficar. — Ele

fez uma pausa e depois riu. — Eu acho que você está queimando os

ovos. Venha, dê-me.

Antes de me mover de lugar, ouvi um pouco mais. Sem aviso,

outra conversa me veio à mente. Ontem à noite, no carro, enquanto

estava entrando e saindo do meu estado inconsciente, ouvi

murmúrios de preocupações que eu não consegui entender.

Eu queria afastar a sensação constante de que eles estavam

escondendo algo. Não tinha esquecido a aversão de Dee para mim,

quando falei que fui à biblioteca. Ou a estranha luz que tinha visto na

biblioteca que me lembrou tanto a luz na floresta quando eu vi o urso

Page 137: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

e desmaiei, algo que nunca tinha feito em toda a minha vida. E então

houve o dia no lago, onde Daemon se tornou Aquaman.

Caminhei intumescida até meu banheiro e acendi a luz, para

ver meu rosto arruinado. Eu balancei a cabeça de um lado para

outro, e um suspiro escapou da minha garganta. Eu sabia que meu

rosto tinha sido rasgado na noite passada. Lembro-me da dor e dos

meus olhos inchados que não conseguia abrir. Mas agora, meu olho

estava apenas um pouco roxo, e minha pele do rosto estava apenas

vermelha, como se ela já tivesse começado a cicatrizar. Meu olhar

viajou para o meu pescoço. As contusões estavam quase invisíveis,

como se o acidente tivesse acontecido dias atrás, e não na noite

passada.

— Mas que diabos? — Eu murmurei.

Minhas feridas estavam quase curadas, com exceção do meu

braço...

Mas isso também estava quase bom. Outra lembrança passou

pela minha mente, Daemon inclinando-se sobre mim com as mãos

quentes. Suas mãos tinham…? Não podia ser. Eu balancei minha

cabeça.

Mas enquanto examinava a mim mesma eu não conseguia

afastar a sensação de que me dizia que algo estava acontecendo aqui,

e os gêmeos sabiam.

Nada fazia sentido.

Page 138: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 11

No domingo, antes da escola começar, Dee me levou à cidade

para comprar meus livros, enquanto substituía quase todos os seus

itens escolares. Nós só teríamos três dias de aula e, em seguida seria

o Dia do Trabalho. Eu estava ansiando por ele. Antes de voltar para

casa, Dee estava faminta como sempre, e paramos em um de seus

lugares favoritos.

— É um restaurante pitoresco... — Eu disse.

Dee sorriu, o salto de sua sandália constantemente batendo no

chão.

— Pitoresco? É singular para uma garota da cidade como você,

mas aqui é o mais popular.

Dei outra olhada rápida ao redor. The Hole Smoke não era tão

ruim, na verdade de fato era um lugar com cores de terra e eu gostei

dos grupos de rochas e pedras que se sobressaíam das beiradas das

mesas.

— É muito mais cheio na parte da tarde e depois da escola. —

Ela falou. — Tornando-se quase impossível conseguir um lugar.

Page 139: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você vem sempre aqui? — Eu achei um pouco difícil

imaginar a bela Dee aqui, comendo um sanduíche de peru e shakes.

Mas ela estava aqui com seu segundo sanduíche de peru e seu

terceiro shake. Desde que eu conheci Dee, ficava constantemente

surpresa com a quantidade de alimentos consumidos de uma só vez.

Na verdade, era um pouco preocupante.

— Daemon e eu viemos aqui pelo menos uma vez por semana

pela lasanha. É de morrer! — Seus olhos brilharam com uma mistura

de emoção e nostalgia.

Eu ri.

— Você gosta de qualquer refeição, mas obrigada por me

convidar para sair hoje. Estou feliz em sair de casa sem mamãe. Ela

passa cada segundo sobre mim.

— Ela está preocupada.

Eu balancei a cabeça, brincando com a colher.

— Especialmente depois de ouvir sobre a garota que morreu na

mesma noite. — Será que você a conhecia?

Dee olhou para o seu prato, sacudindo a cabeça.

— Não muito. Ela estava em grau menor do que nós, mas

muitas pessoas a conheciam. Cidade pequena e tudo isso. Acho que

eu li que eles não têm certeza de que ela foi assassinada, parece ter

sido um ataque cardíaco. — Ela parou, seus lábios franzidos

enquanto olhava por cima do meu ombro. — Que estranho.

— O quê? — Eu perguntei, virando-me para ver o que ela

estava olhando e virando meu rosto assim que pude. Era Daemon.

Dee inclinou a cabeça, seu cabelo escuro caiu descuidadamente

ao redor. — Eu não sabia que ele viria aqui.

— Oh, parece que ele apenas quer ser identificado.

Page 140: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Dee deu uma risada, amando a atenção de todos na sala.

— Ah, isso foi divertido.

Eu afundei no meu assento. Depois da manhã quando ele e sua

irmã me prepararam o café da manhã, ele me evitou e isso estava

bem para mim.

No entanto, eu queria agradecê-lo por salvar minha vida. Uma

apreciação adequada não termina em insultos, mas as poucas vezes

que eu fui capaz de vê-lo, ele parava tempo suficiente para me avisar

com seus olhos de que não queria que eu me aproximasse.

Daemon era o homem mais fisicamente perfeito que eu já tinha

visto – seu rosto era algo que um artista morreria por uma chance de

desenhar, nada parecia estar errado. Mas também era o maior idiota

do planeta.

— Ele não vai se sentar aqui, certo? — Sussurrei para Dee que

parecia estar se divertindo muito.

— Olá, Dee.

— Não faça isso. — Fez uma pausa, passando a mão pelos seus

cabelos negros. — Seu rosto parece muito melhor.

Inconscientemente coloquei uma mão em minha bochecha.

— Bem... Obrigada, eu acho... — Olhei para Dee com

incredulidade e murmurei para ela as palavras meu rosto?

Ela lançou um olhar divertido para mim, antes de voltar à

atenção para o irmão.

— Você vai se juntar a nós? Estávamos terminando.

Era a vez de Daemon bufar.

— Não, obrigado.

Eu brincava com a comida no meu prato. Como se a ideia de

comer com a gente fosse à coisa mais absurda.

Page 141: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Bem, isso é tão triste. — Dee não se ofendeu absolutamente.

— Daemon, que bom que você já está aqui!

Eu olhei para quem falou e vi uma menina muito animada. A

loira bonitinha acenou da porta.

Daemon devolveu a saudação, não muito feliz, e vi como ela

praticamente saltou para cima de nossa mesa. Quando ela estava

diante de Daemon, beijou rapidamente ele no rosto antes de abraçá-lo

possessivamente.

A desagradável sensação de queimação no meu estômago se

propagou. Será que ele tem uma namorada?

Olhei para Dee. Sua irmã não parecia feliz.

A menina finalmente prestou atenção à nossa mesa.

— Olá, Dee, como tem passado?

Dee sorriu de volta em um tom muito contido.

— Ótima, Ash, e você?

— Excelente. — Ela cutucou Daemon como se estivesse falando

de uma piada entre eles.

Eu não conseguia respirar.

— Você não tinha ido embora? — Dee perguntou, seus olhos

geralmente quentes se tornaram frios. — Os seus irmãos decidiram

retornar antes do início das aulas?

— Mudaram de opinião. — Levantou o olhar para o Daemon

novamente, que estava começando a ficar desconfortável.

— Hmm, interessante. — Respondeu Dee, sua expressão

assumiu uma máscara felina. — Oh, que grosseira minha. Ash, essa é

Katy. — Apontou para mim. — É nova em nosso excitante povoado.

Forcei um sorriso para a garota. Não há razão para ter ciúmes

ou ficar chateada, mas caramba, essa menina é muito bonita.

Page 142: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

O sorriso de Ash desapareceu. Ela deu um passo para trás.

— Esta é ela?

Meus olhos foram para Dee.

— Eu não posso fazer isso, Daemon. Talvez vocês concordem,

mas eu não. — Ash balançou seu cabelo loiro com uma mão. — Isso é

um erro.

Daemon suspirou.

— Ash...

Seus lábios se franziram.

— Não.

— Ash, você nem sequer a conhece. — Dee ficou de pé. — Não

seja ridícula.

As pessoas que jantavam literalmente pararam. Todos olhavam

para nós.

Senti um calor, uma mistura de vergonha e raiva, passando

pelo meu rosto enquanto olhava para Ash.

— Desculpe, eu fiz alguma coisa pra você?

Os extraordinariamente olhos azuis brilharam fixos em mim.

— Sim, o que você acha de respirar para começar?

— Desculpa? — Eu disse.

— Você me ouviu. — Ash respondeu. Então ela se virou para

Daemon. — É por isso que tudo o que conseguimos irá para o

inferno? É por isso que meus irmãos tinham de se mover por todo o

país...?

— Chega. — Daemon agarrou o braço de Ash. — Há um

McDonald na rua de baixo. Vamos pegar o seu McLanche Feliz. Talvez

faça você se acalmar.

Page 143: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— O que é isso tudo? — Exigi. O impulso de me levantar e

arrastá-la pelo cabelo era difícil de ignorar.

O olhar quente de Ash era como dois feixes de laser.

— Que tudo vá à merda.

— Bem, isso foi divertido. — Daemon levantou uma

sobrancelha para sua irmã. — Te vejo em casa.

Eu assisti eles irem embora, fervendo de raiva. No entanto, me

senti magoada.

Dee caiu em sua cadeira.

— Oh, meu Deus, eu sinto muito. É uma completa cadela.

Eu vi como minhas mãos tremiam.

— Por que ela disse aquelas coisas sobre mim?

— Não sei. Ela parecia estar com ciúmes. — Dee brincava com

o seu garfo, mas evitou meus olhos. — Ash tem algo com Daemon,

sempre teve. Eles costumavam sair antes.

Meu cérebro estava preso nas palavras "Eles costumavam sair"

por um segundo.

— De qualquer forma, ela soube que ele te salvou na outra

noite. Claro que ela ia te odiar.

— Sério? — Não acreditava. — Tudo isso porque Daemon me

salvou de ser morta? — Frustrada, eu bati minha raiva em cima da

mesa e fiz uma careta. — Mas Daemon me trata como uma terrorista.

É ridículo.

— Ele não odeia você. — respondeu calmamente. — Eu acho

que ele quer, para ser honesta. Mas não pode. Por isso age assim.

Isso não fazia sentido para mim.

— Por que ele quer me odiar? — Não quero odiá-lo, mas isso

não torna mais fácil para mim.

Page 144: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Dee olhou para cima, seus olhos cheios de lágrimas.

— Kat, sinto muito. Minha família é estranha. Assim é esta

cidade. Assim é Ash. Sua família é... É amiga da nossa. E todos nós

temos muito em comum.

Olhei para ela esperando que explicasse o que em comum ela

poderia ter com essa cadela da Ash.

— Eles são trigêmeos, sabe? — Dee encostou as costas,

olhando com indiferença seu prato. — Ela tem dois irmãos, Adam e

Andrew.

— Espere. — eu olhei boquiaberta. — Você está dizendo que há

trigêmeos aqui e vocês são gêmeos?

Ela franziu a testa enquanto assentia.

— Em uma cidade com quinhentas pessoas?

— Eu sei que é estranho. — Disse ela, olhando para mim. —

Mas temos coisas em comum e somos todos muito próximos. E

cidades pequenas não gostam de estranhos. E eu estou namorando

seu irmão Adam.

Eu abri minha boca.

— Você tem namorado? — Quando ela acenou com a cabeça,

eu balancei minha cabeça. — Você nunca mencionou antes.

Ela deu de ombros, olhando para longe.

— Não é algo que eu goste de contar. Não nos vemos muito

Fechei minha boca de repente. Que garota não fala sobre o

namorado dela? Se eu tivesse um, falaria sobre isso, pelo menos

mencioná-lo uma vez. Talvez duas.

Olhei para Dee com novos olhos, me perguntando quanto mais

ela não estava me dizendo. Jogando-me para trás, o meu olhar se

desviou de Dee, e foi como se um interruptor se acendesse.

Page 145: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu comecei a perceber coisas, pequenas coisas.

Por exemplo, como a garçonete ruiva com um lápis preso em

seu penteado não deixava de me olhar e tocava uma brilhante pedra

negra de seu colar. Depois, havia o velho sentado no bar, a comida

intocada, e como ele murmurava baixinho e nos olhava. Ele parecia

um pouco louco. Meus olhos percorreram a sala. Uma mulher em

trajes de negócios chamou minha atenção. Ela disse alguma coisa e

voltou sua atenção para o seu companheiro. Ele olhou por cima do

ombro, e seu rosto empalideceu.

Rapidamente, eu me virei para Dee. Que parecia alheia a tudo

isso, ou talvez ela estivesse tentando fortemente ignorá-los. A tensão

cortava o ar. Era como se uma linha invisível se desenhasse e

deveríamos saltar sobre ela. Eu podia sentir todos eles, dezenas de

olhos olhando para mim. Todos os olhos cheios de suspeita e uma

emoção muito pior.

Medo.

***

A última coisa que eu queria usar no meu primeiro dia em uma

nova escola era um gesso, mas dado que a minha mãe insistiu que

esperasse até amanhã para tirar, eu o estou usando no meu primeiro

dia e fiquei presa entre sussurros, “Olhe, uma garota nova!” quando

entrei nos corredores escolares. E adicione isso também, ―Olhe, a

garota nova que foi assaltada!”

Todos olharam para mim como se eu fosse uma alienígena com

duas cabeças andando pela escola. Eu não tinha certeza se deveria

Page 146: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

me sentir como uma celebridade ou um paciente que escapou de um

asilo.

Ninguém falou comigo.

Felizmente, a escola era pequena e foi fácil encontrar as salas.

Eu estava acostumada a escolas com pelo menos quatro

andares, com várias salas, e campos abertos. A escola tinha somente

um andar.

Eu encontrei a minha sala de aula facilmente e sentei-me

ignorando os olhares curiosos e um par de sorrisos gentis. Não vi

meus vizinhos até o segundo período, vi Daemon andando nos

corredores antes que tocassem o sino, com um sorriso nos lábios. As

conversas tinham praticamente parado. Várias garotas ao meu redor

deixaram inclusive de rabiscar em seus cadernos.

Daemon era uma espécie de estrela do rock, entrava com uma

arrogância mortal. Tinha a atenção de todo mundo, especialmente

quando trocou seu livro de trigonometria de uma mão para outra, e

passou seus dedos entre seu alvoroçado cabelo, deixando-o cair de

volta na sua testa.

Seus jeans se penduravam em seus quadris, quando ele

levantou o braço, uma linha de pele dourada tornou a matemática

muito mais interessante.

Uma menina de cabelo avermelhado suspirou para mim e disse

baixinho:

— Deus, o que eu não daria por um pedaço disso. Um

sanduíche de Daemon deveria estar no menu.

Outra menina riu.

— Isso seria incrível.

Page 147: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Junto com os gêmeos Thompson como prato principal. — A

ruiva respondeu, corando quando ele se aproximou.

— Lesa, você é uma idiota. — Disse rindo a morena.

Apressei-me a ignorá-lo observando meu caderno, mas eu sabia

que ele estava sentado atrás de mim. Minha costa inteira formigava.

Um segundo depois, senti uma coceira nas minhas costas. Mordendo

meu lábio, eu olhei por cima do meu ombro.

Seu sorriso era torto.

— Como está o seu braço, Kittykat?

A excitação e medo lutaram dentro de mim. Será que ele

escreveu nas minhas costas? Não me surpreenderia se o fizesse. Senti

meu rosto corar, uma reação devido ao brilho dos seus olhos.

— Bem. — Eu disse, jogando o meu cabelo para trás. — Tirarei

o gesso amanhã, eu acho.

Daemon colocou sua caneta sobre a borda da mesa.

— Isso ajuda.

— Ajuda com o quê?

Ele brincava com a caneta, aparentemente ignorando a minha

confusão.

— Com isso que você tem aí.

Meus olhos se estreitaram. Eu não sabia ao que ele estava se

referindo. Não havia nada de errado com meus jeans ou minha blusa.

Parecia igual a que todo mundo usava na sala de aula, exceto os

rapazes que tinham suas camisas por dentro das calças. Eu não

tinha visto um chapéu de cowboy ou sotaques estranhos. Esses

rapazes pareciam os rapazes da Flórida, só que com menor potencial

de câncer de pele.

Page 148: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Lesa e sua amiga pararam de falar, olhando de Daemon para

mim com a boca aberta. Pedi a Deus para que Daemon não falasse

nada estúpido, porque eu iria bater nele. Meu gesso era pesado o

suficiente para machucar.

Inclinando-se para frente, seu hálito quente dançou ao longo do

meu rosto quando ele falou:

— Menos pessoas olhariam, se você não tivesse o gesso, é tudo

que eu estou dizendo.

Eu não acreditei por um segundo que isso é tudo o que ele

estava falando. Além disso, com ele estando tão perto do meu rosto,

todo mundo estava nos observando. E nós não estávamos desviando o

olhar um do outro. Fomos pegos em uma luta épica de olhares que eu

me recusava a perder. Alguma coisa aconteceu entre nós, me

lembrando a estranha corrente que tinha sentido com ele.

O cara do outro lado de Daemon assobiou.

— Ash vai chutar o seu traseiro, Daemon.

Daemon sorriu com superioridade.

— Não, ela gosta muito da minha bunda para machucá-la.

O rapaz riu.

Com os olhos fixos nos meus, ele se aproximou.

— Adivinha o quê?

— O quê?

— Eu verifiquei o seu blog.

OH. Querido. Jesus. Como o encontrou? Espera. Mais importante

que o fato de que o tinha encontrado. Ele procurou meu blog no

Google? Era como jogar mais sal na ferida.

— Me assediando novamente, eu vejo. Eu preciso conseguir

uma ordem de restrição?

Page 149: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Em seus sonhos, Gatinha. — Ele sorriu. — Oh, espera, já

sou o protagonista deles, certo?

Revirei os olhos.

— Pesadelos, Daemon. Pesadelos.

Ele sorriu, seus olhos brilhando, e quase sorri de volta, mas,

felizmente, o professor começou a chamar nossa atenção, forçando

terminar a nossa conversa, bem, o que seja que estivesse acontecendo

entre nós. Virei-me para o meu lugar, deixando escapar uma

respiração lenta.

Daemon riu suavemente.

Quando a campainha tocou, sinalizando o final da aula, eu saí

o mais rápido que pude. Eu não olhei para trás para ver o que

Daemon estava fazendo. Matemática seria muito mais difícil do que o

normal, se ele iria se sentar atrás de mim em todas as aulas, todos os

dias.

No corredor, Lesa e sua amiga me alcançaram.

— Você é nova aqui. — Disse a morena. Que observadora.

Lesa revirou os olhos escuros.

— Isso é óbvio, Carissa.

Carissa ignorou sua amiga, empurrando os óculos sobre o

nariz, enquanto abria caminho pelo corredor lotado.

— Como conhece o Daemon Black tão bem?

Dado que essas meninas só falaram comigo porque eu estava

conversando com Daemon, eu não estava emocionada.

— Mudei-me para a casa ao lado, em meados de junho.

— Oh, eu estou com ciúmes. — Lesa franziu os lábios. —

Metade da população da escola gostaria de trocar de lugar com você.

Eu trocaria de lugar com eles.

Page 150: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu me chamo Carissa e ela é Lesa, se por acaso não sabia

ainda. Moramos aqui toda nossa vida. — Carissa esperou.

— Meu nome é Katy Swartz, Flórida. — Curiosamente, elas não

tinham o forte sotaque que eu esperava.

— Você veio para Virginia do Oeste, da Florida? — Os olhos de

Lesa se arregalaram. — Você está louca?

Eu sorri.

— Minha mãe está.

— O que aconteceu com seu braço? — perguntou Carissa

enquanto me seguiam pelas escadas.

Havia tantas pessoas nas escadas que eu não poderia falar

sobre o que aconteceu, mas aparentemente Lesa sabia.

— Ela que foi agredida na cidade, lembra? — Ela deu uma

batidinha em Carissa com um quadril. — Na mesma noite que Sarah

Butler morreu.

— Oh, sim. — disse Carissa, franzindo a testa. — Farão

amanhã uma homenagem durante o evento de boas-vindas. É tão

triste.

Não muito segura do que responder, assenti.

Lesa sorriu quando chegamos ao segundo andar. Eu tinha

Inglês agora e minha sala ficava no final do corredor e eu tinha

certeza que iria dividir a classe com Dee.

— Bem, foi um prazer conhecê-la. Não vemos muitas pessoas

novas aqui.

— Não. — Carissa concordou. — Não há novas caras desde que

os trigêmeos chegaram aqui no primeiro ano.

— Você quer dizer Ash e seus irmãos? — Eu perguntei,

confusa.

Page 151: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— E os Black. — respondeu Lesa. — Os seis chegaram aqui

com alguns dias de intervalo. A escola inteira foi à loucura.

— Espere. — Eu parei no meio do corredor ganhando alguns

olhares desagradáveis de algumas pessoas que se chocaram comigo.

— O que quer dizer com os seis? E todos chegaram aqui ao mesmo

tempo?

— Bem, foi isso — disse Carissa, levantando seus óculos. — E

Lesa não está brincando. Foi uma loucura nos meses seguintes. Dá

para acreditar?

Lesa parou na porta de uma sala de aula, com a testa

enrugada.

— Oh! Você não sabia que eram três Blacks?

Sentindo-me ainda mais confusa, eu balancei minha cabeça.

— Não. São apenas Daemon e Dee, certo?

O sino soou, e Lesa e Carissa olharam para a sala que começou

a encher. Foi Lesa quem me explicou:

— Eram trigêmeos, também. Dee e seus dois irmãos, Daemon e

Dawson. Eram completamente idênticos, como os meninos

Thompson. Não poderia distingui-los nem que sua vida dependesse

disso.

Eu olhei para elas, parecia que meus pés tinham plantado

raízes no solo.

Carissa sorriu tristemente.

— É muito triste. Um deles, Dawson, desapareceu um ano

atrás. Quase todo mundo acredita que ele está morto.

Page 152: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 12

Eu estava atrasada para a aula, então não tive tempo de

perguntar a Dee sobre seu outro irmão na aula de Inglês Avançado. E

eu ainda estava muito ferida para tocar nesse assunto com ela. Eu

não podia acreditar que ela tinha outro irmão e não tinha mencionado

uma vez sequer. Nem tinha mencionado os seus pais, seu namorado,

ou o que estavam fazendo quando eles se foram por um ou dois dias.

Ele tinha desaparecido? Estava Morto? Meu coração se afundou

por eles, embora, obviamente, não tinham me contado tudo. Eu sabia

o que era perder alguém. E ainda por cima, havia algo muito estranho

no fato de que duas famílias diferentes, com trigêmeos, haviam se

mudado para a mesma cidade em questão de dias, mas Dee havia

dito que a família Thompson eram amigos. Talvez tenha sido

planejado.

Depois da aula, Dee foi detida por Ash e um rapaz de cabelos

dourados com cara de modelo. Não era necessário nem um pouco de

esforço e imaginação para me dar conta de que era um de seus

irmãos. E quando eles saíram, antes de irmos correndo para a nossa

Page 153: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

próxima aula, tudo o que Dee pôde dizer foi que nos encontraríamos

na hora do almoço.

Minha próxima aula era Biologia, e Lesa estava lá. Ela sentou-

se à mesa na minha frente, sorrindo.

— Como vão as coisas em seu primeiro dia?

— Bem. Normal. — Exceto o que eu ouvi. — E a sua?

— Aborrecido e solitário. — Respondeu. — Eu mal posso

esperar para que este ano letivo termine. Estou pronta para sair

daqui e ser uma pessoa normal.

— Como assim uma pessoa normal? — Eu sorri.

Lesa se inclinou para trás, apoiando os braços sobre a mesa.

— Esta cidade é o epicentro da raridade. Algumas pessoas aqui,

bem... Simplesmente não funcionam corretamente.

Veio à minha mente um camponês de três dedos, mas de

alguma forma eu duvidava de que era isso que ela estava se referindo.

— Dee disse que algumas pessoas aqui não são simpáticas.

Ela riu.

— Ela disse.

Eu fiz uma careta.

— O que é que isso quer dizer?

Seus olhos se arregalaram e ela sacudiu a cabeça.

— Eu não quero dizer que são de uma forma ruim, mas alguns

dos rapazes daqui e as famílias das pessoas não são amigáveis com os

outros como ela.

— Os outros como ela… — Disse lentamente. — Eu não tenho

certeza se eu sei o que isso significa.

— Nem eu. — Ela deu de ombros. — Como eu disse, as pessoas

são estranhas por aqui. A cidade é estranha. As pessoas estão sempre

Page 154: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

dizendo que vêm homens em ternos pretos correndo, e não são atores.

Eu acho que eles são do governo. Na verdade, eu mesma os vi. Há

também outras coisas que as pessoas afirmam ter visto.

Lembrei-me do cara no supermercado.

— O quê?

Sorrindo, Lesa olhou para frente da sala. O professor ainda não

tinha chegado. Ela se aconchegou mais perto e abaixou a voz para um

sussurro.

— Ok, isso vai soar louco, e vou esclarecer uma coisa. Eu não

acredito em nada dessa merda, ok?

Parecia suculento.

— De acordo.

Seus olhos se estreitaram.

— As pessoas por aqui afirmam terem visto algumas luzes lá

em cima, nas montanhas perto do Seneca. Como uma luz... em forma

de pessoas. Alguns acreditam que eles são fantasmas, ou alienígenas.

— Extraterrestres? — Eu comecei a rir, atraindo alguns

olhares. — Desculpe, mas você está falando sério?

— Muito sério. — Repetiu, sorrindo. — Eu não penso assim,

mas na verdade, tivemos por aqui pessoas procurando provas. Sem

brincadeira. Somos como em Point Pleasant6 por aqui.

— Oh, você vai ter que me contar isso.

— Você nunca ouviu falar do Homem Traça? — Ela riu ao ver

minha cara. — É outra coisa estranha sobre uma criatura gigante que

voa e avisa as pessoas antes que algo ruim aconteça. Lá em Point

Pleasant, algumas pessoas relataram terem visto antes da ponte ter

6 Série de TV adolescente, com tema paranormal.

Page 155: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

desabado e matado um monte de gente. E dias antes disso relataram

terem visto homens de terno andando por ali.

Abri a boca para responder, mas o nosso professor entrou. No

começo eu não o reconheci. Seu cabelo castanho claro estava

amarrado para trás, e a camisa polo se apegava a seu corpo, nada da

camisa gasta e os jeans desbotados em que o tinha visto na última

vez.

Matthew era o Sr. Garrison, meu professor de biologia. O

mesmo cara que tinha estado na casa de Daemon quando retornamos

do lago.

Ele recolheu os papéis sobre a mesa e olhou para cima,

olhando a classe. Seus olhos caíram sobre mim, e eu senti o sangue

abandonar o meu rosto.

— Você está bem? — Lesa sussurrou.

O Sr. Garrison segurou meu olhar por um segundo e depois

abandonou. Eu deixei o ar que estava segurando sair.

— Sim, — eu sussurrei, engolindo seco. — Eu estou bem.

Sentei-me em minha cadeira, olhando para frente

distraidamente enquanto o Sr. Garrison começava sua aula falando

sobre a matéria que cursaríamos e os laboratórios que iríamos

participar. A autópsia de animais obrigatória já tinha data, para

minha má sorte. A ideia de cortar animais, vivos ou mortos, dava-me

calafrio.

Mas não era tão ruim como o calafrio que o Sr. Garrison me

provocava. Durante a aula eu podia sentir seu olhar fixo em mim, e

era como se viesse diretamente de dentro de mim. Que diabos estava

acontecendo aqui?

Page 156: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

***

O refeitório da escola ficava perto do ginásio, uma sala

comprida e retangular que cheirava a comida e desinfetante.

Mesas brancas ocupavam o lugar, e a maioria dos lugares já

estavam ocupados no momento em que eu entrei. Reconheci a

Carissa na fila.

Primeiro, ela virou-se, me viu e sorriu.

— Há espaguete no menu, ou ao menos o que eles consideram

espaguete.

Fazendo uma careta, eu coloquei um pouco na minha bandeja.

— Não parece tão ruim.

— Não depois que você já tenha visto o bolo de carne. — Ela

disse acrescentando macarrão no prato, junto com um pouco de

salada. Em seguida, escolheu sua bebida. — Eu sei disso. Leite com

chocolate e macarrão não andam juntos.

— Não, não andam. — Sorri, pegando uma garrafa de água. —

Eles permitem que comamos fora do campus?

— Não, mas não nos param quando o fazemos. — Carissa

entregou alguns dólares para pagar o almoço, em seguida, virou-se

para mim. — Você tem alguém com quem se sentar?

Tirando meu dinheiro, assenti.

— Sim, estou com Dee. E você?

— O quê? — Ela disse.

Eu olhei para cima. Carissa estava me olhando com a boca

aberta.

— Vou sentar com Dee. Tenho certeza que você também pode.

Page 157: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não, eu não posso. — Carissa pegou meu braço e me puxou

para fora da fila.

Eu arqueei uma sobrancelha.

— Sério? Por quê? São leprosos sociais ou algo assim?

Ela ajeitou os óculos no nariz e revirou os olhos.

— Não. Eles são muito legais e tudo, mas a última garota que

almoçou com eles, simplesmente... Desapareceu.

Um nó se formou no meu estômago, e eu deixei escapar uma

risada nervosa.

— Você está brincando, certo?

— Não. — Disse solenemente. — Ela desapareceu na mesma

época que o irmão deles.

Eu não podia acreditar. O que mais eu iria ficar sabendo?

Extraterrestres? Homens de preto? Homem traça? Será que a fada dos

dentes seria real também?

Carissa olhou para uma mesa cheia de amigos. Alguns lugares

estavam livres.

— O nome dela era Bethany Williams. Foi transferida para esta

escola no meio do seu segundo ano, pouco depois que eu cheguei

aqui. — Ela inclinou a cabeça para a parte de trás do refeitório. —

Envolveu-se em uma relação com Dawson, e ambos desapareceram

no início do terceiro ano.

Por que esse nome me soava familiar? Será que isso importava?

Havia muitas coisas que ela não sabia sobre Dee.

— Em todo o caso, você quer se juntar a nós? — Perguntou

Carissa.

Eu balancei minha cabeça, me sentindo mal por rejeitar sua

oferta.

Page 158: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu prometi a Dee que me sentaria com ela.

Carissa sorriu fracamente.

— Bem, então, talvez amanhã?

— Sim. — Eu sorri. — Amanhã com certeza.

Ajeitando minha bolsa, peguei o meu prato de comida e fui para

a parte de trás da cafeteria. Imediatamente eu vi Dee. Ela estava

conversando com um dos irmãos Thompson, enquanto enrolava seu

cabelo escuro em torno de seu dedo. De frente para o rapaz de

cabelos dourados estava outro, meio em cima da mesa, de costas para

mim. Perguntava-me qual era o ‗mais ou menos‘ noivo de Dee. A mesa

tinha apenas duas vagas.

Então eu vi o cabelo loiro ultra brilhante de Ash em frente ao

cara na mesa. Estranhamente, ela estava mais alta do que todos os

outros. Um momento depois, eu percebi o por quê.

Ela estava sentada no colo de Daemon. Seus braços em volta

dela e eu vi o seu peito pressionando contra ele, rindo do que ele

disse.

Ele não tinha tentado me beijar na varanda? Eu tinha certeza

que eu não tinha imaginado isso. Daemon era um idiota dos grandes.

— Katy! — Dee disse.

Todos na mesa me olharam. Até mesmo um dos gêmeos se

virou em sua cadeira. Seus olhos azul-celeste se abriram para mim. O

outro gêmeo se inclinou para trás, cruzando os braços. Sua carranca

era uma obra de arte.

— Sente-se. — disse Dee, apontando o lado da mesa em frente

a ela. — Nós estávamos falando sobre...

Page 159: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Espere. — disse Ash. Seus lábios vermelhos se contorceram

em uma careta. — Você a convidou para sentar com a gente? Você

está falando sério?

Os nós retornaram a toda velocidade, me deixando sem fala.

— Cale a boca, Ash. — Murmurou o gêmeo que tinha se virado.

— Você está prestes a fazer uma cena.

— Eu não estou fazendo nada. — Seu braço se apertou ao redor

de Daemon. — Não há necessidade dela se sentar com a gente.

Dee suspirou.

— Ash, deixa de ser uma cadela. Ela não está tentando roubar

Daemon.

Minhas bochechas estavam vermelhas enquanto eu estava lá

em pé, desconfortável. A ira de Ash viajou em ondas ao redor da mesa

se chocando contra mim.

— Não é com isso que eu me preocupo. — Ash resmungou,

olhou para mim e franziu os lábios. — De verdade.

Quanto mais tempo eu ficava lá, mais eu me sentia estúpida.

Meus olhos saltaram de Dee para Daemon, mas seu olhar estava fixo

no ombro de Ash.

— Sente-se. — Disse Dee, me indicando que me aproximasse.

— Isso vai passar.

Eu comecei a colocar meu prato sobre a mesa.

Daemon murmurou algo e Ash lhe deu um soco no braço.

Bastante forte, de fato. Ele enterrou o rosto em seu cabelo, e aquele

escuro e indesejado sentimento abriu seu caminho dentro de mim.

Tirei o olhar deles, e me concentrei em Dee.

— Não sei se eu deveria.

— Você não deveria. — Falou Ash.

Page 160: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Cale a boca. — Dee disse, em seguida, virou-se para mim

com uma voz suave. — Desculpe-me por conhecer essa cadela tão

insuportável.

Eu quase sorri, mas havia um calor em meu corpo que subia

até minha garganta, descendo por minhas costas.

— Você tem certeza? — Eu me ouvi dizer.

Daemon olhou para o pescoço de Ash e me deu um olhar

confuso.

— Eu acho que é óbvio, seja você bem-vinda aqui ou não.

— Daemon! — Dee sussurrou, o rosto corando. Ela se virou

para mim com lágrimas nos olhos. — Ele não está falando sério.

— Você está falando sério, Daemon? — Ash virou-se em suas

pernas, a cabeça inclinada para um lado.

Meu coração pulou no meu peito e no momento em que seus

olhos encontraram os meus. Seu olhar era escuro.

— Na verdade, sim, eu estava falando sério. — Ele se inclinou

sobre a mesa, olhando para mim através de seus espessos cílios. —

Você não é bem vinda aqui.

Dee falou de novo, mas eu não conseguia ouvir mais nada.

Senti meu rosto como se estivesse em chamas. As pessoas ao nosso

redor estavam começando a olharem, um dos rapazes Thompson

sorria, enquanto o outro parecia como se quisesse arrastar-se debaixo

da mesa por mim. O resto dos rapazes na mesa olhavam para seus

pratos. Um deles riu.

Nunca na minha vida tinha me sentido tão humilhada.

Daemon virou-se e concentrou-se no ombro de Ash novamente.

— Você pode ir. — Falou Ash, agitando os dedos esqueléticos e

longos para mim.

Page 161: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Todos aqueles rostos me olhando com olhares de piedade e

tristeza misturados entre outros, tudo aquilo me levaram de volta a

três anos atrás.

Ao primeiro dia de volta à escola depois da morte de meu pai.

Eu me quebrei na aula de Inglês quando eu descobri que íamos

ler Um Conto de Duas Cidades, o livro favorito de papai. Todos

olharam para mim.

Alguns olhares eram ruins. Outros envergonhados.

Fez-me lembrar daqueles olhares que os policiais e os

enfermeiros me deram no hospital na noite em que me atacaram me

lembrando de como eu era impotente.

Eu odiei aqueles olhares naquele momento.

E odiava agora. Não há desculpa para o que fiz a seguir, exceto

que era o que eu queria, o que eu precisava fazer...

Minhas mãos se apertaram em torno da bandeja de plástico,

inclinei-me sobre a mesa e derramei meu prato sobre as cabeças de

Daemon e Ash.

Pedaços de macarrão e molho de macarrão caíram. A maior

parte do molho vermelho caiu em Ash, enquanto macarrão adornava

os ombros largos de Daemon. Um longo e pastoso macarrão caiu

sobre sua orelha, ficando pendurado e se balançando lá.

Houve um suspiro alto das mesas próximas.

A mão de Dee voou para sua boca, seus enormes olhos cheios

de uma risada mal contida.

Ash saltou das pernas de Daemon, e levou suas mãos para

cima, com as palmas abertas. Qualquer um pensaria que tinha jogado

sangue em cima dela pela expressão de horror em seu rosto.

Page 162: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você... Você... — Cuspiu, enxugando as costas de sua mão

em uma de suas bochechas cheias de molho.

Daemon pegou alguns macarrões de sua orelha e os

inspecionou antes de atirá-los ao chão. Então fez a coisa mais

estranha que ele poderia ter feito.

Ele riu.

Uma verdadeira risada. Um riso profundo vindo de seu

estômago, que atingiu até os olhos e os relaxou, fazendo com que

brilhassem como os de sua irmã.

Ash abaixou as mãos, fechando-as em punhos.

— Eu vou matar você.

Daemon saltou, passando o braço em volta da cintura fina da

garota. Qualquer traço de diversão no rosto desapareceu

completamente.

— Acalme-se. — Ordenou em voz baixa. — Estou falando sério.

Acalme-se.

Ash foi pressionada contra Daemon, mas não muito forte.

— Juro por todas as estrelas e sóis que eu vou te matar.

— O que significa isso? Você está vendo muitos desenhos

animados de novo? — Eu já estava tão cansada dessa vadia. Eu

inspecionei o peso do meu braço e eu considerava seriamente bater

em alguém pela primeira vez na minha vida.

Por um segundo, eu poderia jurar que seus olhos mudaram

para um brilho âmbar ao redor da íris. E então, do nada o Sr.

Garrison, estava de pé ao lado da mesa. — Acho que isso é o

suficiente.

Page 163: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Como se estivesse na tomada, Ash se sentou em sua cadeira. A

sua raiva se dissipou, enquanto olhava para mim e pegou um

punhado de guardanapos da mesa.

Daemon lentamente pegou um pouco de macarrão de seus

ombros e jogou no prato, sem dizer uma palavra. Fiquei esperando

que fosse explodir em mim, mas como sua irmã, parecia estar

tentando não rir de novo.

— Acho que você deveria procurar outro lugar para comer. —

Disse o Sr. Garrison em uma voz tão baixa que apenas as pessoas na

nossa mesa podiam ouvir. — Vá agora.

Surpresa, eu peguei minha bolsa e esperei que me mandasse ao

escritório do diretor ou a sala de professores para falar com ele, mas

isso nunca veio. O Sr. Garrison estava olhando para mim. Esperando.

E então eu entendi. Ele me esperava sair. Assim como os outros.

Balançando a cabeça em silêncio, eu me virei e saí do refeitório.

Todos os olhos me seguiram, mas eu mantive a calma. Eu não me

quebrei quando ouvi Dee me chamar. E não me quebrei quando

passei ao lado de umas muitas surpreendidas Lesa e Carissa.

Eu não ia me quebrar. Não mais. Eu estava cansada dessa

merda e... Bem, o que quer que eu tivesse com Daemon estava

acabado. Eu não tinha feito nada de errado para ele me tratar dessa

forma.

A ingênua Katy havia acabado.

Page 164: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 13

Eu tinha feito um nome para mim até o final do dia. Me tornei a

'Garota que largou comida sobre eles." Eu esperava uma reação em

cada corredor e classe, especialmente quando vi um dos garotos

Thompson na minha aula de história ou uma recém vestida Ash de

mau humor pelo seu armário.

Nunca veio.

Dee se desculpou um monte antes da aula de educação física

começar, e em seguida me abraçou pelo que fiz. Ela tentou falar

comigo enquanto estávamos alinhadas para voleibol, mas eu estava...

Dormente. Não havia como negar o fato de que Ash me odiava. Por

quê? Não podia ser por causa de Daemon. Era mais do que isso. Eu

não sabia o que.

Depois da escola dirigi para casa, tentando descobrir tudo o

que tinha acontecido desde que me mudei para cá. O primeiro dia eu

senti algo na varanda e na casa. O dia no lago, em que Daemon havia

brotado guelras. O flash de luz com o urso e na biblioteca tinha que

ser o mesmo. E todo esse lixo que Lesa tinha dito.

Page 165: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Uma vez que cheguei em casa, no entanto, e vi vários pacotes

na minha varanda, toda a merda do dia desapareceu. Alguns tinham

carinhas sorridentes neles. Chiando, peguei as caixas. Livros estavam

dentro, novos lançamentos de livros que eu tinha encomendado a

semanas.

Corri para cima e liguei meu laptop. Eu chequei sobre a critica

que eu tinha postado ontem à noite. Sem comentários. Pessoas são

uma droga. Mas eu ganhei cinco novos seguidores. Pessoas abalam.

Eu fechei a página antes de começar a reformular tudo. Então eu

pesquisei "Pessoas da luz" e depois de resultados iniciais me deu um

monte de grupos de estudos Bíblicos, eu digitei "Homem Traça". Oh.

Querido. Senhor.

Os moradores de Virgínia do Oeste eram loucos. Na Flórida, de

vez em quando alguém dizia ver o pé grande no Glades ou o

chupacabra, mas não um gigante voador seja o que for. Parecia uma

enorme borboleta satânica.

Por que diabos eu estava olhando para isso?

Isto era insano. Eu parei antes de começar a procurar

alienígenas em Virginia do Oeste. Logo que desci, houve uma batida

na minha porta. Era Dee.

— Hey. — Ela disse. — Podemos conversar?

— Certo? — Eu fechei a porta atrás de mim e saí. — Minha mãe

ainda está dormindo.

Ela acenou com a cabeça quando me sentei no balanço.

— Katy, eu estou tão, tão triste por causa de hoje. Ash é uma

completa vadia às vezes.

— Não é sua culpa que ela agiu assim. — Eu disse, significava

isso. — Mas o que eu não entendo é por que ela e Daemon agem

Page 166: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

assim. — Eu parei, sentindo uma estupida queima na minha

garganta. — Eu não deveria ter jogado a minha comida sobre eles,

mas eu nunca estive mais envergonhada na minha vida.

Dee sentou ao meu lado, cruzando os tornozelos.

— Eu acho que na verdade foi engraçado, o que você fez e não o

que eles fizeram. Se eu soubesse que eles iriam ser tão terríveis sobre

tudo, eu teria feito certeza que eles não seriam. — Já tinha acontecido

e nada mais poderia ser feito sobre isso, eu pensei.

Ela tomou uma respiração profunda.

— Ash não é a namorada de Daemon. Ela quer ser, mas ela não

é.

— Essa não é a forma que se parece para mim.

— Bem, eles saem... Juntos.

— Ele está usando ela? — Desgostosa, eu balancei minha

cabeça. — Que idiota.

— Penso que é recíproco de ambos os lados. Honestamente,

eles quase namoraram no ano passado por um tempo, mas depois

esfriou. Hoje foi o máximo que eu tinha o visto prestar atenção a ela

nos últimos meses.

— Ela me odeia. — Eu disse depois de alguns minutos,

suspirando. — Eu não me importo com isso agora. Eu queria te

perguntar uma coisa.

— Ok.

Mordi o lábio.

— Nós somos amigas, certo?

— É claro! — Ela olhou para mim com os olhos arregalados. —

Honestamente, Daemon assusta todo mundo e você durou mais

tempo, e, bem, eu acho que você é como minha melhor amiga.

Page 167: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Fiquei aliviada ao ouvir isso. Não sobre a parte que eu durei

mais tempo, porque isso soou estranho. Como se eles quebrassem os

seus amigos ou algo assim.

— O mesmo aqui.

Ela sorriu abertamente.

— Bom, porque eu me sentiria estúpida por falar se você

decidisse que não queria ser mais minha amiga.

A sinceridade em sua voz atingiu um acorde em mim. De

repente, eu não tinha certeza se queria questionar ela. Talvez fosse

algo que ela não queria falar porque era muito doloroso. No curto

tempo que nos conhecíamos, eu já não queria magoá-la.

— Por que você não pergunta? — Ela estimulou.

Coloquei meu cabelo para trás, olhando para o chão.

— Por que você nunca me contou sobre Dawson?

Dee congelou. Eu acho que ela nem respirava, para ser

honesta. Depois ela passou a mão para cima e para baixo no braço,

engoliu.

— Eu acho que alguém lhe disse sobre ele na escola?

— Sim, eles me disseram que ele desapareceu com uma garota.

Pressionando os lábios juntos, ela assentiu.

— Eu sei que você provavelmente acha que é estranho que eu

nunca tenha mencionado ele, mas eu não gosto de falar sobre ele. Eu

tento não pensar sobre ele. — Ela olhou para mim, os olhos brilhando

com lágrimas. — Isso faz de mim uma pessoa má?

— Não. — Eu disse ferozmente. — Eu tento não pensar sobre o

meu pai, porque dói demais às vezes.

— Nós éramos muito unidos, eu e Dawson. — Ela passou a

mão em seu rosto. — Daemon era sempre o tranquilo, fazia as coisas

Page 168: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

por conta própria, mas Dawson e eu éramos muito próximos.

Fazíamos tudo juntos. Ele era mais que um irmão. Ele era meu

melhor amigo.

Eu não sabia o que dizer. Mas certamente explicava a quase

desesperada condição de amizade de Dee, e esse comum sentimento

que nós reconhecíamos uma na outra. Solidão.

— Sinto muito. Eu não devia ter falado nisso. Eu não entendia

e... — E eu era uma vadia intrometida.

— Não. Está tudo bem. — Ela girou em direção a mim. — Eu

ficaria curiosa, também. Eu totalmente entendo. E eu deveria ter te

contado. Eu sou uma porcaria de amiga, já que você descobriu sobre

o meu outro irmão a partir de colegas da escola.

— Eu estava confusa. Tem havido muito... — Eu parei,

balançando minha cabeça. — Nada. Quando você estiver pronta para

falar sobre ele, eu estou aqui. Ok?

Dee balançou a cabeça.

— Tem havido muito o quê?

Falar com ela sobre toda a merda estranha não seria bom. E eu

tinha prometido a Daemon não falar sobre o ataque. Eu forcei um

sorriso.

— Não é nada. Então você acha que eu tenho que ter cuidado

com a minha volta agora? Ir para o Programa de Proteção à

Testemunha? — Ela soltou uma risada trêmula.

— Bem, eu não iria tentar falar com Ash em breve.

Deduzi bastante.

— E sobre Daemon?

— Boa pergunta. — Disse ela, olhando para longe. — Eu não

tenho ideia do que ele vai fazer.

Page 169: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

***

No dia seguinte, eu estava temendo o segundo período. Meu

estômago se contorceu, e eu tinha sido incapaz de tomar o café da

manhã sem querer vomitar. Não havia nenhuma dúvida em minha

mente que Daemon acreditava que vingança é um prato que se serve

na minha cara.

Assim que Lesa e Carissa chegaram à aula, elas exigiram saber

o que me possuiu para despejar meu prato de espaguete na cabeça de

Daemon e de Ash.

Eu dei de ombros.

— Ash estava sendo uma vadia. — Tinha certeza de que parecia

muito mais confiante do que eu me sentia. Na verdade eu queria

voltar atrás no que eu tinha feito. Claro, Ash estava sendo rude e me

envergonhando, mas eu não tinha feito o mesmo com ela? Se eu fui a

garota que jogou espaguete sobre eles, então ela foi o deposito o que é

muito mais embaraçoso.

Fiquei envergonhada. Eu nunca tinha feito nada para fazer

alguém se sentir mal antes. Era como se a personalidade

desagradável de Daemon estivesse passando para mim, e eu não

gostava nada disso. Eu decidi que seria melhor para todos se eu

ficasse bem longe dele a partir de agora.

Com os olhos arregalados, Lesa inclinou-se sobre o assento.

— E Daemon?

— Ele sempre é um burro. — Eu disse a elas.

Carissa tirou os óculos e deu uma risadinha.

Page 170: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu honestamente desejava saber que você iria fazer isso. Eu

teria filmado.

Pensando sobre isso estar no YouTube, eu me encolhi enquanto

eu observava a porta.

— O boato em torno da escola é que você e Daemon ficaram

durante o verão. — Lesa parecia estar esperando por mim para

confirmar o boato. Não nesta vida.

— As pessoas são ridículas.

Eu segurei seus olhares até Carissa que tossiu e perguntou:

— Você vai se sentar com a gente hoje? — Ela colocou seus

óculos de volta com um empurrão na ponta.

Surpresa, eu pisquei para ela.

— Você ainda quer que eu me sente com você depois de ontem?

— Eu estava imaginando que eu estaria comendo meu almoço no

banheiro para o resto do ano.

Lesa assentiu.

— Você está brincando? Nós achamos você incrível. Nós não

temos nenhum problema com eles, mas eu tenho certeza que havia

alguns alunos que queriam fazer isso.

— E foi muito foda. — Carissa acrescentou, sorrindo. — Você

foi como um ninja da comida.

Eu ri, aliviada.

— Eu adoraria, mas eu só estou aqui até o quarto período. Eu

vou tirar o gesso hoje.

— Oh, você vai perder o Rally pep7. — Disse Lesa. —

Pobrezinha. Você vai para o jogo de hoje à noite?

— Não. O futebol não é coisa minha.

7 http://en.wikipedia.org/wiki/Pep_rally

Page 171: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Também não é nossa, mas você ainda deveria ir. — Lesa

estourou em sua cadeira, seus cachos saltando ao redor do rosto em

forma de coração. — Carissa e eu costumamos ir apenas para sair e

fazer alguma coisa. Não há muito que se fazer por aqui.

— Bem, há festas após os jogos. — Carissa empurrou a franja

de seus óculos. — Lesa sempre me arrasta para elas.

Lesa revirou os olhos.

— Carissa não bebe.

— E daí? — Carissa disse.

— E ela não fuma, não tem relações sexuais, ou faz qualquer

coisa interessante. — Lesa desviou do caminho da mão balançando

de Carissa. — Entediante.

— Me desculpe se tenho padrões. — Seus olhos se estreitaram

em Lesa. — Ao contrário de alguns.

— Eu tenho padrões. — Lesa me encarou, com um leve sorriso

no rosto. — Mas por aqui, você meio que tem que reduzi-los.

Eu comecei a rir.

E então Daemon entrou na classe. Eu afundei em minha

cadeira, mordendo meu lábio.

— Oh Deus.

Sabiamente, as meninas pararam de falar. Peguei minha

caneta, fingindo estar entretida nas notas que eu tinha tomado

ontem. Acabei que, eu não tinha tomado muitas notas, então eu

escrevi a data no meu caderno muito lentamente.

Daemon assumiu a cadeira atrás de mim, e meu estômago

saltou com vida em minha garganta. Eu ia vomitar. Aqui mesmo, na

sala de aula, na frente-

Ele cutucou minhas costas com a caneta.

Page 172: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu congelei. Ele e a maldita caneta. Cutucou novamente, desta

vez com um pouco mais de força. Eu me virei, os olhos apertados.

— O quê?

Daemon sorriu.

Todo mundo ao redor de nós estava olhando. Era como uma

repetição do almoço. Aposto que eles estavam se perguntando se eu

iria despejar minha mochila na cabeça dele. Dependendo do que ele ia

dizer, havia uma boa chance de que poderia acontecer. Eu duvidava

que eu escaparia disso desta vez, no entanto.

Derrubando o queixo para baixo, ele olhou para mim através de

seus longos cílios maliciosamente.

— Você me deve uma camisa nova. — Meu queixo caiu no

fundo da minha cadeira. — Vamos ver... — Continuou ele

suavemente. — Molho de espaguete nem sempre vem em roupas.

De algum modo eu encontrei a minha habilidade de falar.

— Tenho certeza de que você tem muitas camisas.

— Eu tenho, mas aquela era a minha favorita.

— Você tem uma camisa favorita? — Eu arquei uma

sobrancelha.

— E eu acho que você arruinou a blusa favorita de Ash

também. — Ele começou a sorrir novamente, mostrando uma covinha

no fundo de uma bochecha.

— Bem, eu tenho certeza que você estava lá para confortá-la

durante essa situação tão traumática.

— Eu não tenho certeza se ela vai se recuperar. — Ele

respondeu.

Page 173: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Revirei os olhos, sabendo que eu deveria pedir desculpas pelo o

que eu tinha feito, mas eu não poderia encontrar isso em mim. Sim,

eu estava me tornando uma pessoa terrível. Eu comecei a me virar.

— Você me deve. Mais uma vez.

Olhei para ele por um longo momento. O sinal soou, mas

parecia longe. Meu peito balançou.

— Eu não devo nada a você. — Eu disse baixo o suficiente para

apenas nós escutarmos.

— Eu tenho que discordar. — Inclinando para mais perto, ele

inclinou a borda da mesa para baixo. Havia apenas alguns

centímetros entre nossas bocas. Totalmente inadequado a quantidade

de espaço, realmente, uma vez que estávamos em aula e ele tinha

uma menina em seu colo ontem. — Você não é nada como eu

esperava.

— O que você esperava? — Eu estava um pouco impressionada

com o fato de que tinha surpreendido ele. Estranho. Meus olhos

caíram para lábios poéticos. Tal desperdício de boca.

— Você e eu temos que conversar.

— Não temos nada para falar.

Seu olhar caiu, e o ar de repente parecia cheio de vapor.

Insuportável.

— Sim. — Disse ele, a voz baixa. — Nós vamos. Hoje à noite.

Parte de mim queria dizer a ele para esquecer toda essa coisa

de conversar, mas eu cerrei os dentes e assenti. Nós precisávamos

conversar, pelo menos para ele dizer que nós nunca deveríamos

conversar novamente. Eu queria encontrar a bela Katy que ele tinha

amordaçado e colocado no canto.

Page 174: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

O professor pigarreou. Piscando com força, vi que tínhamos

toda a classe paralisada. Corando até as raízes do meu cabelo, eu me

virei e agarrei as bordas da minha mesa.

A aula começou, mas o calor no ar ainda estava lá, minha pele

revestida em antecipação. Eu podia sentir Daemon atrás de mim, com

os olhos em mim. Eu não ousava me mover. Não até que Lesa se

esticou ao meu lado e deixou cair uma nota dobrada na minha mesa.

Antes que o professor pegasse, eu abri o bilhete e o coloquei sob

o meu livro. Quando ele se virou para o quadro-negro, eu levantei a

ponta do meu livro.

Quente. Santa química, Batman!

Olhei para ela, balançando a cabeça. Mas havia uma vibração

no fundo do meu peito, uma falta de ar que não deveria estar lá. Eu

não gostava dele. Ele era um idiota. Ranzinza. Mas houve breves

momentos que eu passei com ele – como um nano segundo – que

pensei que poderia ter visto o verdadeiro Daemon. Pelo menos um

Daemon melhor. E essa parte me deixava curiosa. E o outro lado, o

idiota, sim, essa parte não me deixava curiosa.

Meio que me excitava.

Page 175: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 14

Eu tentei prestar atenção nas minhas aulas, mas minha mente

estava em Daemon e no que ele queria falar comigo esta noite.

Felizmente, eu tinha apenas que me esforçar pela metade de um dia

antes que fosse a hora de ter minha tala removida.

Como esperado, o meu braço estava completamente bom.

No caminho para casa, parei na estação de correios. Havia uma

tonelada de lixo em nossa caixa, mas também alguns envelopes

amarelos, o que trouxe um sorriso grande na minha cara. Media Mail8

estava estampada em todos eles. Reunindo meus presentes, eu fui

para casa ficar de bobeira.

Energia ansiosa se sacudiu pelo meu sistema como se eu

tivesse bebido uma dessas bebidas energéticas baratas.

Eu me troquei várias vezes, escolhendo por fim um pequeno

vestido de verão, depois de passar pelo meu armário e não encontrar

nada que eu queria vestir. Trocar de roupa não me livrou da sensação

de ansiedade.

O que Daemon queria falar?

8É uma forma mais barata de envio de livros, CDs, DVDs ou música impressa.

Page 176: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu terminei reorganizando todo o design do meu blog tentando

passar o tempo. E apenas me deixou mais ansiosa ainda, porque eu

tinha certeza que estraguei meu cabeçalho e o banner na parte

inferior. Somente quando o dispositivo da contagem regressiva de um

lançamento de livro tinha desaparecido completamente, perdido para

o reino da Internet, eu me forcei para longe do computador.

Acabou que eu tive um tempo agradável para esperar e ver. Era

depois das oito horas quando Daemon apareceu na minha porta,

poucos minutos depois que minha mãe saiu para Winchester. Ele

estava encostado no corrimão, olhando para o céu como de costume.

Com o luar cortando mais da metade de seu rosto e lançando o resto

nas mais profundas sombras, ele não parecia real.

Quando Daemon se concentrou em mim, seu olhar deslizou

sobre o meu vestido e então de volta para cima. Parecia que ele estava

prestes a falar mais pensou duas vezes.

Reunindo toda a minha coragem, eu andei e parei ao lado dele.

— Dee está em casa?

— Não. — Ele voltou a olhar para o céu noturno. Havia

milhares de estrelas cintilantes. — Ela foi para o jogo com Ash, mas

eu duvido que ela vá ficar por muito tempo. — Daemon pausou,

olhando para mim. — Eu disse a ela que ia sair com você esta noite.

Eu acho que ela vai voltar para casa em breve para ter certeza de que

um não matou o outro.

Desviando o olhar, eu escondi o meu sorriso.

— Bem, se você não me matar, eu tenho certeza que Ash estará

mais do que feliz em fazê-lo.

— Por causa do espaguete ou algo mais? — Ele perguntou.

Atirei nele um olhar de lado.

Page 177: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você parecia muito confortável com ela em seu colo ontem.

— Ah, Eu entendi... — Ele se empurrou para fora do corrimão,

vindo para ficar ao meu lado. — Faz sentido agora.

— Faz? — Eu me segurei no meu lugar.

Seus olhos brilhavam no escuro.

— Você está com ciúmes.

— Vai nessa! — Eu forcei uma risada. — Por que eu iria ter

ciúmes?

Daemon seguiu meus passos até que estávamos na minha

garagem.

— Porque nós passamos um tempo juntos.

— Passar um tempo juntos não é razão para se ter ciúmes,

especialmente quando você foi forçado a sair comigo. — Eu percebi

que eu estava numa espécie de ciúmes. Ugh. — É sobre isso que nós

precisamos conversar?

Ele encolheu os ombros.

— Vamos lá. Vamos dar um passeio.

Assistindo ele, eu alisei minhas mãos sobre meu vestido.

— É um pouco tarde, não acha?

— Eu acho que eu falo melhor quando eu ando. — Ele estendeu

a mão para mim. — Se não, eu ligo o Daemon idiota que você não é

muito afeiçoada.

— Ha. Ha. — Eu olhei para a mão dele. Houve uma vibração no

meu estômago. — Sim, eu não vou segurar sua mão.

— Porque não?

— Porque eu não vou ficar de mãos dadas com você quando eu

nem mesmo gosto de você.

Page 178: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Ouch. — Daemon pôs a mão sobre o peito, estremecendo. —

Isso foi duro.

Sim, ele precisava melhorar suas aulas de atuação.

— Você não vai me levar no bosque e me deixar lá, não é?

— Soa como um caso de ataque vingativo, mas eu não faria

isso. Eu duvido que você fosse durar muito tempo sem alguém para

salva-la.

— Obrigada pelo voto de confiança.

Ele me lançou um breve sorriso, e nós caminhamos em silêncio

por alguns minutos, cruzando a estrada de acesso principal. O ar da

noite estava definitivamente frio em comparação com quando eu

coloquei o vestido, e estava começando a desejar que eu tivesse

colocado mais roupas, também. Outono estava bem a caminho.

Logo entramos mais fundo no bosque, onde o luar se esforçava

através das grossas árvores. Daemon enfiou a mão no bolso de trás e

puxou uma lanterna elétrica fina que emitia uma quantidade

surpreendentemente grande de luz. Cada célula do meu corpo parecia

estar ciente de quão perto ele estava quando entramos num casulo de

trevas, a luz saltava à nossa frente a cada passo. Eu odiava

intensamente cada uma das minhas células traidoras.

— Ash não é minha namorada. — Ele disse finalmente. — Nós

costumávamos namorar, mas agora somos amigos. E antes que você

pergunte, nós não somos esse tipo de amigos, mesmo que ela

estivesse sentada no meu colo. Eu nem sei explicar por que ela estava

fazendo isso.

— Por que você deixou? — Eu perguntei, querendo me bater

depois. Não era o meu negócio e eu não me importava.

Page 179: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu não sei, honestamente. Ser um cara não é razão boa-

suficiente?

— Não realmente. — Eu disse, olhando para o chão. Eu mal

conseguia ver meus pés.

— Não penso assim. — Ele respondeu. Eu não podia ver a

expressão dele e eu precisava, porque eu nunca poderia dizer no que

ele estava pensando e algumas vezes, bem, seus olhos estava em

guerra com suas palavras. — De qualquer maneira, Eu estou... Eu

sinto muito sobre toda essa coisa no almoço.

Surpresa que ele pediu desculpas, eu tropecei em uma pedra.

Ele me pegou facilmente, seu hálito quente em meu rosto antes dele

recuar. Minha pele se arrepiou, mas eu me arrastei de volta. Daemon

se desculpando pelo fracasso do almoço era como ser encharcada com

água fria. Eu não sabia o que era pior: ele não saber que ele estava

sedo um idiota ou totalmente consciente do que ele estava fazendo

para mim.

— Kat? — Ele disse suavemente.

Olhei para ele. — Você me envergonhou.

— Eu sei-

— Não, eu não acho que você sabe. — Eu comecei a andar,

abraçando meus cotovelos.

— E você me deixou puta da vida. Eu não consigo entender

você. Um minuto você não é mal e depois, você é o maior burro do

planeta.

— Mas eu tenho bônus. — Ele me acompanhou, a luz sempre

brilhando muito à frente de mim para que eu pudesse facilmente

distinguir as raízes expostas e pedras. — Eu ganhei, certo? Os bônus

Page 180: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

do lago e nossa caminhada? Será que eu não recebo nenhum por

salvar você naquela noite?

— Você tem um monte de bônus para sua irmã. — Eu balancei

minha cabeça. — Não comigo. E se eles eram os meus bônus, você

perdeu a maioria deles por agora.

Ele ficou em silêncio por alguns instantes.

— Que golpe. Realmente.

Eu parei.

— Por que estamos conversando?

— Olha, eu sinto muito sobre isso. Eu estou... — Ele soltou um

longo suspiro. — Você não mereceu a forma como agimos.

Eu não sabia o que dizer sobre isso. Ele parecia genuíno e

quase triste, mas não era como se ele não tivesse uma escolha na

forma como agiu. Procurando algo a dizer, eu estabeleci no que

provavelmente não ia levar a nada também.

— Eu sinto muito pelo seu irmão, Daemon. — Ele chegou a dar

uma parada completa, quase escondido nas sombras. Houve um

longo intervalo em silêncio que eu não tinha certeza de que ele já

respondeu.

— Você não tem ideia do que aconteceu com o meu irmão.

Minhas entranhas estavam apertando.

— Tudo o que sei é que ele desapareceu-

A mão de Daemon abriu e fechou a seu lado, a outra

balançando a lanterna para baixo.

— Isso foi algum tempo atrás.

— Foi no ano passado. — Eu apontei gentilmente. — Certo?

Page 181: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Oh, sim, você está certa. Apenas parece mais tempo do que

isso. — Ele desviou o olhar, metade de seu rosto saindo das sombras.

— Então como você ficou sabendo sobre ele?

Tremi no ar gelado.

— As meninas estavam falando sobre ele na escola. Eu estava

curiosa por que ninguém nunca mencionou sobre ele ou aquela

garota.

— Nós deveríamos? — Perguntou ele.

Olhando para ele, eu tentei avaliar sua expressão, mas estava

muito escuro.

— Eu não sei. Parece ser um negócio muito grande para as

pessoas falarem sobre.

Daemon começou a andar novamente.

— Não é algo que gostamos de falar, Kat.

Isso era compreensível, eu suponho. Eu lutava para me manter

com ele.

— Eu não queria me intrometer-

— Você não? — Sua voz era apertada, movimentos duros. —

Meu irmão está desaparecido. A família de uma pobre garota

provavelmente nunca vai ver sua filha novamente e você quer saber

por que ninguém te contou? — Mordi o lábio, me sentindo como uma

idiota.

— Sinto muito. É só que todo mundo é tão... Misterioso. Tipo,

eu não sei nada sobre sua família. Eu nunca vi seus pais, Daemon. E

Ash me odeia sem razão. É esquisito que existem dois grupos de

trigêmeos que se mudam ao mesmo tempo. Joguei comida na sua

cabeça ontem, e eu não quero ficar com problemas. Isso é muito

estranho. Dee tinha um namorado que ela nunca mencionou. A

Page 182: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

cidade é bizarra. As pessoas olham para Dee como se ela fosse uma

princesa ou como se estivessem com medo dela. As pessoas olham

fixamente para mim. E-

— Você fala como se essas coisas estivessem relacionadas.

Eu mal podia acompanhar ele. Estávamos nos movendo mais

adentro no bosque, quase perto do lago até agora.

— Será que não estão?

— Por que estariam? — Sua voz era baixa e tensa com

frustração. — Talvez você esteja se sentindo um pouco paranoica. Se

eu tivesse sido atacado eu estaria me mudando para uma nova

cidade.

— Vê, você está fazendo isso agora! — Eu apontei. — Ficando

todo nervoso porque eu estou fazendo uma pergunta, e Dee faz a

mesma coisa.

— Você não acha que talvez seja porque nós sabemos que você

já passou por muita coisa e nós não queremos adicionar mais?

— Mas como você pode adicionar mais?

Ele diminuiu a velocidade no seu passo.

— Eu não sei. Nós não podemos.

Eu balancei minha cabeça quando ele parou perto da borda do

lago e apagou a lanterna. Durante a noite, a água brilhava como um

ônix. Umas centenas de estrelas refletiam na superfície como o céu da

noite, mas menos infinito. Era como se eu pudesse estender a mão e

tocá-los.

— O dia no lago. — Daemon disse após alguns momentos. —

Houve alguns minutos que eu estava me divertindo.

Minha respiração ficou presa ouvindo isso. Houve alguns

minutos que eu gostei, também. Coloquei meu cabelo para trás.

Page 183: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Antes de você se transformar no Aquaman?

Daemon estava quieto, com os ombros estranhamente tensos.

— O estresse fez isso, fez você pensar em coisas que estão

acontecendo, mas que realmente não estão.

Olhando para ele, suas características marcantes iluminadas

pelo luar, ele não parecia real. Os olhos exóticos, a curva de sua

mandíbula, tudo isso parecia mais definido aqui. Daemon olhou para

o céu escuro, um olhar melancólico e pensativo em seu rosto.

— Não, não... — Eu disse finalmente. — Há algo... Estranho

aqui.

— Além de você? — Ele disse.

Várias respostas arranjadas, mas eu deixei pra lá. Discutir com

ele no meio do mato durante a noite não estava no topo da minha

lista de coisas para fazer.

— Por que você quer conversar, Daemon?

Ele apertou a mão sobre a parte de trás do seu pescoço.

— O que aconteceu ontem na hora do almoço só vai piorar.

Você não pode ser amiga de Dee, não o tipo de amiga que você quer

ser.

Uma onda de calor rastejou pelas minhas bochechas,

espalhando por cima do meu pescoço.

— Você está falando sério?

Daemon baixou a mão.

— Eu não estou dizendo que você tem que parar de falar com

ela, mas afaste-se. Você ainda pode continuar sendo legal para ela,

falar com ela na escola, mas não ficar no seu caminho. Você só vai

tornar mais difícil para ela e para si mesma.

Cada fio de cabelo no meu corpo subiu de uma vez.

Page 184: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você está me ameaçando, Daemon?

Nossos olhos se encontraram. Os seus estavam cheios de... O

quê? De arrependimento?

— Não. Estou dizendo como é que vai ser. Devemos voltar.

— Não. — Eu parei, olhando para ele. — Por quê? Por que é tão

errado eu ser amiga de sua irmã?

Um segundo se passou, e sua mandíbula ficou tensa.

— Você não deveria estar aqui comigo. — Ele respirou fundo, os

olhos arregalados. Ele deu um passo para frente. Uma brisa quente

passou, espalhando as folhas caídas e jogando meu cabelo para trás.

A rajada parecia vir de trás de Daemon, quase como se fosse

alimentada pela sua raiva. — Você não é como nós. Você não é nada

como nós. Dee merece coisa melhor do que você, pessoas que são

como ela. Então me deixe em paz. Deixei minha família em paz.

Foi como um tapa na cara, só que pior. De tudo o que eu estava

esperando que ele dissesse, ele partiu para o bizarro. Eu puxei uma

respiração profunda, mas ficou presa na minha garganta. Eu dei um

passo para trás, piscando para longe a corrida de lágrimas de raiva.

Daemon não tirava os olhos de mim.

— Você queria saber o motivo. É por isso.

Eu engoli em seco.

— Por que... Por que você me odeia tanto?

Por um breve segundo, a máscara quebrou e dor contorceu

suas feições. Foi tão rápido, eu não podia ter certeza se eu realmente

vi. Ele não respondeu.

As lágrimas que se construíram nos meus olhos estavam

prestes a derramar pelo meu rosto. Me recusava a chorar na frente

dele, para dar a ele esse tipo de poder.

Page 185: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você sabe o quê? Vá se ferrar, Daemon.

Ele desviou o olhar.

— Kat, você não pode-

— Cale a boca! — Eu sibilei. — Apenas cale a boca. — Desviei

de Daemon e comecei a andar. Minha pele estava quente e fria,

minhas entranhas ardiam com fogo e gelo. Eu ia chorar. Eu sabia.

Era o sentimento de asfixia que estava na parte de trás da minha

garganta.

— Kat. — Daemon chamou. — Por favor, espere.

Aumentei meu ritmo até que estava quase correndo.

— Vamos lá, Kat, não ande tão longe. Você vai se perder. Pelo

menos leve a lanterna!

Como se ele se importasse. Eu queria me livrar dele antes de

me perder. Havia uma boa chance de eu bater nele. Ou chorar,

porque se eu gostava dele ou não, o que ele tinha dito machucou.

Como se houvesse algo de errado comigo.

Eu tropecei em alguns galhos e pedras no chão que eu não

podia ver, mas eu sabia que eu poderia encontrar meu caminho de

volta para a estrada. Eu podia ouvir ele atrás de mim, seus pés

estalando nos galhos enquanto ele se mantinha comigo.

Dor crua abriu no meu peito. Eu pisoteei na frente, precisando

chegar em casa, para ligar para mamãe e de alguma maneira

convencê-la de que precisávamos nos mudar, tipo, amanhã.

Fugir.

Minhas mãos se fecharam em punhos. Por que eu deveria

fugir? Eu não tinha feito nada de errado! Zangada e revoltada comigo

mesmo, eu tropecei em uma raiz saindo do chão. Eu quase caí de

cara no chão. Eu resmunguei.

Page 186: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Kat! — Daemon amaldiçoou por trás de mim.

Eu retomei meu equilíbrio e corri para frente, aliviada ao ver a

estrada à frente. Eu quase quebrei em uma corrida mortal. Eu podia

ouvir seus passos agora, ecoando à distância. Alcançando à estrada

escura, limpando a parte de trás das minhas mãos sobre meu rosto.

Merda. Eu estava chorando.

Daemon gritou, mas sua voz foi abafada por dois faróis de um

caminhão vindo em minha direção, não mais do que 15 metros de

distância. Eu estava chocada demais para me mover.

Ele ia bater em mim.

Page 187: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 15

Um alto estrondo de trovão – só que mais forte – reverberou

pelo vale. Foi como uma explosão sonora que me sacudiu até o

âmago. Não havia tempo para o motorista me ver ou parar. Eu joguei

meus braços, como se pudesse de alguma forma me proteger. O

rugido alto do caminhão encheu meus ouvidos. Eu me preparei para

o impacto de estilhaçar meus ossos, meu último pensamento foi da

minha mãe e o que o meu corpo mutilado ia fazer com ela, mas o

impacto não veio.

Eu poderia ter beijado o para-choque; de tão perto que estava.

Minhas mãos a meros centímetros da grade quente. Lentamente, eu

levantei minha cabeça. O motorista ficou imóvel atrás do volante, os

olhos arregalados e vazios. Ele não se moveu, nem piscou. Eu nem

tinha certeza se ele estava respirando.

Uma xícara de café estava em sua mão direita, congelada a

meio caminho de sua boca. Congelado – tudo estava congelado.

Um sabor metálico encheu os cantos da minha boca. Minha

mente empacou.

O motor ainda estava correndo, rugindo na minha cara.

Page 188: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu me virei a partir do motorista congelado para ver Daemon.

Ele parecia estar se concentrando, sua respiração pesada e suas

mãos estavam cerradas ao lado do seu corpo.

E seus belos olhos estavam diferentes. Errado. Eu dei outro

passo para trás, agora fora do caminho do caminhão, minhas mãos

na minha frente, como se para afastar ele de chegar perto de mim.

— Oh meu Deus... — Sussurrei, meu coração já batendo

hesitante por uma mera batida.

Os olhos de Daemon brilhavam iridescente no escuro,

iluminados por dentro. A luz parecia estar cada vez mais intensa, e os

seus punhos começaram a tremer, o tremor movendo os braços até

que todo o seu corpo parecia estar reverberando em pequenas, ondas

minúsculas.

E então Daemon começou a desaparecer, o seu corpo, junto

com suas roupas, desaparecendo e sendo substituído por uma

intensa luz amarela avermelhada que o engoliu todo.

Pessoas feitas de luz.

Caramba...

O tempo pareceu parar. Não, o tempo já tinha parado.

De algum modo, ele evitou o caminhão de me atropelar. Parou

um caminhão de sete toneladas, que certamente quebraria todos os

ossos do meu corpo com o quê? Uma palavra? O pensamento?

Tanto Poder.

Ele fez com que o ar não natural vibrasse em torno de nós. O

chão tremeu sob sua completa força. Eu sabia que se tentasse

bastante eu poderia estender a mão e senti-la tremer.

Na distância eu escutei Dee, confusão derramava em sua voz,

chamando para nós. Como ela tinha nos encontrado?

Page 189: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Certo. Daemon estava iluminando toda a rua – ele era tão

brilhante.

Eu olhei de volta para o caminhão e vi que não só ele estava

tremendo, mas o motorista estava, também. Ele estava tentando

quebrar a barreira invisível que parecia mantê-lo congelado no tempo.

A besta de metal estremeceu e o motor gritou, o pé do motorista ainda

no pedal do acelerador.

Eu corri, não para fora da estrada, mas para além dela. Eu

vagamente ouvi o uivo do caminhão passando por mim. Corri até a

estrada sinuosa que levava a nossas casas, aninhada na boca do

nada. Eu vi rapidamente Dee correndo até mim antes que me

esquivasse dela. Eu apenas sabia que ela é como ele.

O que eles eram? Eles não podiam ser humanos. O que eu vi

não era possível. Nenhum ser humano poderia fazer isso.

Nenhum ser humano poderia parar um caminhão com uma

ordem, ficar submerso por vários minutos, ou surgir e sair. Todas as

coisas estranhas que eu estava percebendo pareciam fazer sentido

agora.

Eu continuei a correr, passando pela minha garagem, sem ter

ideia para onde eu estava correndo ou por quê. Meu cérebro não

estava funcionando. Instinto tinha assumido. Galhos enroscaram no

meu cabelo e no lindo vestido que eu estava usando. Eu tropecei em

uma grande pedra, mas me empurrei de joelhos para manter em

movimento.

De repente, ouvi passos correndo atrás de mim. Alguém me

chamou, mas eu não parei, empurrando mais rápido na floresta

escura à minha frente. Eu não estava pensando neste momento. Eu

só queria fugir.

Page 190: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Uma maldição soou logo atrás, e então um corpo duro colidiu

em mim. Eu desci, cercada de calor. De alguma maneira, ele

conseguiu amortecer o impacto da queda com o seu próprio corpo

girando no ar. Então ele me rolou para debaixo dele, me prendendo.

Eu empurrei o seu peito e tentei chutá-lo.

Nada disso funcionou. Fechei os olhos, com muito medo de ver

se seus olhos ainda tinham aquele brilho estranho.

— Sai fora!

Daemon agarrou meus ombros, me balançando gentilmente.

— Pare com isso!

— Fique longe de mim! — Eu gritei para ele, tentando manter

distância, mas ele me segurou.

— Kat, pare com isso! — Ele gritou de novo. — Eu não vou te

machucar!

Como eu poderia acreditar nele? Uma pequena parte do meu

cérebro que ainda estava pensando me lembrou que ele tinha salvado

a minha vida. Parei de me debater.

Daemon parou em cima de mim.

— Eu não vou te machucar, Kat. — Seu tom de voz era suave,

mas ainda atado com fúria enquanto ele tentava me controlar, sem

fazer qualquer dano real. — Eu nunca poderia machucar você.

Suas palavras fizeram meu estômago tremer.

Algo dentro de mim respondeu, acreditando nele mesmo

quando minha mente se rebelava contra a ideia. Eu não sabia que

uma parte de mim era tão tola, mas parecia ser a parte vencedora.

Com minha respiração ainda difícil, eu tentei me acalmar. Ele

afrouxou o controle sobre mim, mas ele ainda pairava acima. Sua

respiração era irregular contra a minha bochecha.

Page 191: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Afastando, Daemon colocou um dedo embaixo do meu queixo

para virar a cabeça para encará-lo.

— Olhe para mim, Kat. Você precisa olhar para mim agora. —

Eu mantive meus olhos fechados. Eu não queria saber se os seus

olhos ainda estavam estranhos. Daemon se deslocou, movendo as

mãos dos meus ombros para as minhas bochechas. Eu deveria ter

feito a minha fuga em seguida, mas o momento em que suas mãos

quentes tocaram meu rosto, eu não podia me mover.

Cuidadosamente, seus dedos acariciaram meu rosto.

— Por favor. — Sua voz perdeu o tom furioso.

Soltando um suspiro, eu abri meus olhos. Seu olhar procurou o

meu. Seus olhos ainda eram estranhos, um verde intenso, mas eram

dele. Não os que eu tinha visto minutos antes. A pálida luz da lua

rompeu as árvores acima, lentamente deslizando sobre suas maçãs

do rosto altas, saltando fora de seus lábios entreabertos.

— Eu não vou te machucar. — Ele repetiu suavemente. — Eu

quero falar com você. Eu preciso falar com você, você entendeu?

Eu concordei, incapaz de fazer a minha garganta trabalhar.

Ele fechou os olhos por um instante, um suspiro de cortar a

alma escapou de seus lábios.

— Ok. Eu vou soltar você, mas, por favor, me prometa que não

vai correr. Eu não me sinto bem em persegui-la agora. Esse último

pequeno truque quase me exterminou. — Ele pausou, esperando pela

minha resposta. O rosto dele parecia apertado com fadiga. — Diga.

Kat. Me prometa que não vai correr. Eu não posso deixá-la correr

aqui fora sozinha. Você entendeu?

— Sim. — Ele lentamente me soltou e se inclinou para trás,

com a mão esquerda descendo na minha bochecha em um pequeno

Page 192: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

gesto que parecia inconsciente. Eu fiquei congelada no chão até que

ele se agachou em seus calcanhares.

Sob o seu olhar cansado, eu me afastei até que minhas costas

estavam contra uma árvore. Uma vez que ele parecia satisfeito que eu

não iria fugir, ele se sentou na minha frente.

— Por que você entrou na frente do caminhão? — Ele

perguntou, mas não esperou por uma resposta. — Eu estava

tentando de tudo para mantê-la longe disso tudo, mas você tinha que

ir e arruinar todo o meu trabalho duro.

— Eu não fiz isso de propósito. — Eu levantei a mão tremendo

na minha testa.

— Mas você fez. — Ele balançou a cabeça. — Por que você veio

aqui, Kat? Por quê? Eu, nós estávamos indo bem e então você aparece

e tudo é jogado para o inferno. Você não tem ideia. Merda. Eu pensei

que nós teríamos sorte e que você iria embora.

— Me desculpe, eu ainda estou aqui. — Puxando minhas

pernas para longe dele, eu as coloquei contra o meu peito.

— Eu estou sempre deixando isso pior. — Ele balançou a

cabeça, olhando como se ele quisesse amaldiçoar novamente. — Nós

somos diferentes. Eu acho que você já percebe isso agora.

Eu descansei minha testa contra os meus joelhos. Eu levei um

momento para reunir o que restava dos meus pensamentos e levantei

minha cabeça.

— Daemon, o que você é?

Ele sorriu com tristeza e esfregou sua cabeça com a palma da

mão.

— Isto é difícil de explicar.

Page 193: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Por favor, me conte. Você precisa me contar, porque eu estou

prestes a perder o controle de novo. — Eu avisei. Eu não estava

mentindo. O controle que eu tinha obtido começou a deslizar no

momento em que ele ficou em silêncio.

O olhar de Daemon era intenso enquanto falava.

— Eu não acho que você queira saber, Kat.

Sua expressão, sua voz era tão sincera que me encheu de uma

profunda sensação de pavor. Eu sabia que o que quer ele fosse me

dizer ia mudar a minha vida para sempre. Uma vez que eu soubesse o

que ele e sua família eram, não teria volta, nunca mais. Eu seria

inexplicavelmente mudada. Mesmo sabendo de tudo isso, eu já tinha

passado do ponto de não retornar. A velha Katy estaria correndo

novamente. Eu tinha certeza disso. Ela preferiria fingir que nada

disso aconteceu. Mas eu era diferente agora, e eu tinha que saber.

— Você é... Humano? — A risada curta de Daemon estava sem

humor.

— Nós não somos daqui.

— Você acha?

Suas sobrancelhas subiram.

— Sim, eu suponho que você provavelmente já descobriu que

não somos humanos.

Eu tomei uma respiração trêmula.

— Eu estava esperando que eu estivesse errada.

Ele riu de novo, mas havia muito pouco humor em sua voz.

— Não. Somos de longe, muito longe.

Meu estômago caiu aos meus pés, e os meus braços apertaram

em volta das minhas pernas.

Page 194: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— O que você quer dizer com ‗muito, muito longe‘? Porque eu

estou de repente tendo visões do começo de Star Wars.

Daemon me olhou intensamente.

— Nós não somos deste planeta.

Ok. Além. Ele disse o que eu tinha praticamente percebido que

era a verdade, mas isso não me disse nada.

— O que você é? Um vampiro?

Ele rolou os olhos.

— Você está falando sério?

— O que? — Frustração chicoteou por mim. — Você diz que

não é humano, o que limita o número do que você pode ser! Você

parou um caminhão sem tocá-lo.

— Você lê muito. — Daemon exalou lentamente. — Nós não

somos lobisomens ou bruxas. Zumbis ou o que quer que seja.

— Bem, eu estou contente com a coisa zumbi. Gosto de pensar

que o que sobrou do meu cérebro está seguro. — Eu murmurei. — E

eu não leio muito. Essas coisas não existem. Mas Aliens também não

existem.

Daemon se inclinou rapidamente, colocando as mãos sobre os

meus joelhos dobrados. Eu gelei ao seu toque, os meus sentidos

correram quente e frio ao mesmo tempo. Seu olhar me penetrou, me

prendeu em cima dele.

— Neste vasto universo sem fim, você acha que a Terra, esse

lugar, é o único planeta com vida?

— N-não, — Eu gaguejei. — Então, esse tipo de coisa... É

normal para o seu... Inferno, do que chamam a si mesmos?

Ele inclinou a cabeça para trás enquanto os segundos pulavam,

e meu coração dobrou suas batidas à espera de sua resposta. Ele

Page 195: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

parecia estar lutando com o quanto podia me dizer, e eu tinha certeza

de que o quer que fosse, eu não ia gostar...

Page 196: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 16

Este foi um daqueles momentos na minha vida que eu não

sabia se devia rir, chorar ou fugir o mais rápido possível.

Daemon sorriu firmemente.

— Eu posso dizer o que você está pensando. Não que eu possa

ler sua mente, mas está escrito em todo o seu rosto. Você acha que eu

sou perigoso.

E um idiota... E sexy, mas eu não iria admitir isso. E uma

forma de vida alienígena? Eu balancei minha cabeça.

— Isso é loucura, mas eu não tenho medo de você.

— Você não tem?

— Não. — Eu ri, mas parecia um pouco louco, totalmente

convincente. — Você não parece um alien! — Parecia importante

ressaltar isso. Ele arqueou uma sobrancelha.

— E como os aliens se parecem?

— Não... Não como você. — Balbuciei. — Eles não são lindos de

morrer.

— Você me acha lindo? — Ele sorriu.

Eu atirei um olhar sombrio.

Page 197: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Cale a boca. Como se você não soubesse que todos no

planeta acham que você é bonito. — Eu fiz uma careta, chocada de

até mesmo estar tendo essa conversa. — Se aliens existissem, seriam

homenzinhos verdes com olhos grandes e braços magros ou... Ou

insetos gigantes ou algo parecido com uma criatura pequena e

estranha.

Daemon soltou uma gargalhada.

— ET?

— Sim! Como o ET, idiota. Estou tão feliz que você ache isto

engraçado. Que você quer ferrar com minha cabeça mais do que você

já fez. Talvez eu bati com a cabeça ou algo assim. — Eu comecei a me

levantar.

— Sente-se, Kat

— Não me diga o que fazer!

Ele ficou ereto, braços para os lados. Esse brilho assustador

encheu seus olhos, como duas órbitas de pura luz.

— Sente.

Me sentei. Com um aceno de um dedo, é claro. Ele pode estar

compartilhando sua estranheza comigo agora, Sr. Alien, mas eu

instintivamente sabia que ele não iria me machucar.

— Você vai me mostrar como você realmente se parece? Você

brilha, não é? E, por favor, não me diga que eu quase beijei um inseto

gigante comedor de cérebros, porque sério, eu vou-

— Kat!

— Desculpe. — Eu murmurei.

Daemon fechou os olhos e respirou. Uma luz apareceu no

centro de seu peito, e como no meio da estrada, ele começou a vibrar

e, em seguida, desaparecer até que nada além dessa luz brilhante

Page 198: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

amarela avermelhada o rodeava. Em seguida, a luz tomou forma.

Duas pernas, um tronco, braços e uma cabeça feita de nada além de

luz. Uma luz tão intensa que iluminou tudo ao nosso redor,

transformando a noite em dia.

Eu protegi meus olhos com as mãos trêmulas.

— Puta merda.

E quando ele falou, não foi em voz alta. Ele estava na minha

cabeça. Isso é como parecia. Nós somos seres de luz. Mesmo em forma

humana, podemos dobrar a luz à nossa vontade. Houve uma pausa.

Como você pode ver, não me pareço um inseto gigante. Eu... Brilho.

Mesmo na minha cabeça, eu podia ouvir o desgosto nessa última

frase.

— Não. — Eu sussurrei. Nos livros paranormais que eu tinha

lido e comentado, ninguém brilhava assim. Alguns brilhavam na luz.

Outros tinham asas. Ninguém era um maldito sol gigante.

Ou uma pequena criatura estranha, o que eu acho desagradável,

alias. Um braço feito de luz se estendeu para mim. A mão e os dedos

formados, abrindo a palma para cima. Você pode me tocar. Não vai

doer. Eu imagino que seja agradável para os seres humanos.

Para os seres humanos? Oh. Meu. Deus. Engolindo

nervosamente, eu levantei uma mão. Parte de mim não queria tocá-lo,

mas ver isso, estar ao lado de algo tão... Tão, bem, fora deste mundo,

eu tinha que fazer. Meus dedos roçaram os dele, e um choque de

eletricidade dançou sobre minha mão, meu braço. A luz cantarolava

ao longo da minha pele.

Eu respirei fundo. Daemon tinha razão. Não doeu. Seu toque

era quente, inebriante. Era como tocar a superfície do sol sem ser

queimada. Eu enrolei meus dedos em torno dele, observando como a

Page 199: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

luz crescia até que eu já não podia ver minha mão. Pequenas faixas

de luz acenderam de sua mão, lambendo meu pulso e antebraço.

Achei que você ia gostar. Ele puxou sua mão livre e recuou. Sua

luz desvaneceu-se lentamente e, em seguida, Daemon estava em pé

na minha frente – Daemon humano. Eu senti a perda de seu calor

imediatamente.

— Kat. — Disse ele, desta vez em voz alta.

Tudo o que eu podia fazer era olhar para ele. Eu queria a

verdade, mas ouvir – e ver de verdade – era totalmente diferente.

Daemon parecia ler minha expressão, porque ele lentamente se

sentou. Ele parecia relaxado, mas eu sabia que ele era mais como um

animal selvagem, enrolado e pronto para saltar no caso de eu fazer o

movimento errado.

— Kat?

— Você é um alienígena. — Minha voz estava fraca.

— Sim, isso é o que eu venho tentando lhe dizer.

— Oh... Oh, uau. — Eu enrolei minha mão de volta para o meu

peito, olhando-o cegamente.

— Então, de onde você é? Marte?

Ele riu.

— Nem de perto. — Ele fechou os olhos por alguns instantes. —

Eu vou contar uma história. Ok?

— Você vai me contar uma história?

Balançando a cabeça, ele passou os dedos pelo cabelo

despenteado.

— Tudo isso vai parecer loucura para você, mas tente lembrar

do que viu. O que você sabe. Você me viu fazer coisas que são

Page 200: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

impossíveis. Agora, para você, nada é impossível. — Ele fez uma

pausa, parecia se recompor. — Nós viemos de um lugar além de Abell.

— Abell?

— É a galáxia mais distante da sua, cerca de treze bilhões de

anos luz daqui. E nós ficamos a mais outros dez bilhões ou mais. Não

há telescópio ou ônibus espacial poderoso o suficiente para viajar

para a nossa casa. Nunca haverá.

Ele olhou para as mãos abertas, com a testa abaixada.

— Não que isso importe se o fizessem. Nosso planeta não existe

mais. Foi destruído quando éramos crianças. É por isso que tivemos

que sair, encontrar um lugar que era compatível ao nosso planeta em

termos de comida e atmosfera. Não que precisemos respirar oxigênio,

mas não faz mal. Respiramos por força do hábito, mais do que

qualquer coisa.

Outra lembrança pareceu deixá-lo perdido.

— Então, você não precisa respirar?

— Não, não realmente. — Ele parecia um pouco tímido. — Nós

fazemos por força do hábito, mas tem vezes que nos esquecemos.

Como quando estamos nadando.

Bem, isso explicava como Daemon tinha ficado debaixo d'água

por tanto tempo.

— Continue.

Ele ficou me olhando por alguns momentos, depois assentiu.

— Nós éramos muito jovens para saber qual o nome da nossa

galáxia. Ou mesmo se a nossa espécie sentia a necessidade de citar

essas coisas, mas eu lembro o nome do nosso planeta. Era chamado

Lux. E nós somos chamados Luxen.

Page 201: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Lux... — Eu sussurrei, lembrando de uma das minhas aulas

de caloura. — Isso é Latim para Luz.

Ele deu de ombros.

— Chegamos aqui em uma chuva de meteoritos, há quinze

anos, com outros como nós. Mas muitos vieram antes de nós,

provavelmente pelos últimos mil anos. Nem todos da nossa espécie

vieram para este planeta. Alguns foram mais longe na galáxia. Outros

devem ter ido para planetas que não poderiam sobreviver, mas

quando perceberam que a Terra era perfeita para nós, mais vieram

para cá. Está acompanhando? — Olhei fixamente.

— Acho que sim. Você está dizendo que há mais como você. Os

Thompsons são como você?

Daemon assentiu.

— Nós todos estamos juntos desde então.

Isso explicava a natureza territorial de Ash, eu imaginei.

— Quantos de vocês estão aqui?

— Aqui? Pelo menos algumas centenas.

— Centenas... — Eu repeti. Então me lembrei dos olhares

estranhos na cidade, as pessoas no almoço e da maneira que eles

olharam para mim... Porque eu estava com Dee, uma alienígena. —

Por que aqui?

— Nós... Ficamos em grupos grandes. Não é... Bem, isso não

importa agora.

— Você disse que veio durante uma chuva de meteoritos? Onde

está a sua nave espacial? — Eu me sentia estúpida só por dizer isso.

Ele levantou uma sobrancelha para mim, parecendo o Daemon

que eu conhecia.

Page 202: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Nós não precisamos de coisas como navios para viajar.

Somos luz, podemos viajar com a luz, como pegar uma carona.

— Mas se você é de um planeta de milhões de anos-luz de

distância e viajou na velocidade da luz... Você levou milhões de anos

para chegar até aqui? — Meu velho professor de física ficaria

orgulhoso.

— Não. Da mesma forma que eu te salvei do caminhão, nós

somos capazes de dobrar o espaço e tempo. Eu não sou um cientista,

então eu não sei como funciona, só que podemos. Alguns melhor do

que outros.

O que ele disse não parecia sensato de jeito nenhum, mas eu

não o impedi. Como ele argumentou, o que eu vi antes não fazia

nenhum sentido, então talvez eu não pudesse mais julgar o que fazia

sentido.

— Podemos envelhecer como um ser humano, o que nos

permite nos misturar normalmente. Quando cheguei aqui, nós

escolhemos a nossa... Pele. — Ele percebeu meu estremecimento com

outro encolher de ombros. — Eu não sei de que outra forma explicar

sem assustar você, mas nem todos nós podemos mudar nossa

aparência. A que nós escolhemos quando chegamos aqui é a que

permanecemos presos a ela.

— Bem, você escolheu bem, então.

Os cantos de seus lábios se contraíram enquanto corria os

dedos sobre a grama na frente dele.

— Nós copiamos o que vimos. Isso só parece funcionar uma vez

para a maioria de nós. E como nós crescemos para ficar parecidos,

bem, o nosso DNA deve ter tomado conta do resto. Há sempre três de

nós nascidos ao mesmo tempo, caso você esteja se perguntando.

Page 203: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Sempre foi assim. — Ele fez uma pausa, levantando seu olhar. —

Para a maioria, nós somos como seres humanos.

— Com a exceção de ser uma bola de luz que eu posso tocar? —

Deixei escapar um baixo fôlego, encantada.

Seus lábios tremeram novamente.

— Sim, isso, e nós somos muito mais avançados do que seres

humanos.

— Quanto avançados é ‗muito‘? — Eu perguntei em voz baixa.

Ele sorriu um pouco, em seguida, passando as mãos sobre a

grama novamente.

— Vamos dizer que se entrássemos em guerra com os

humanos, vocês não iriam ganhar. Nem em um bilhão de anos.

Meu coração bateu mais forte e eu dei um passo para frente,

nem mesmo percebendo que eu estava me inclinando para frente, em

direção a ele.

— O que você pode fazer?

Os olhos de Daemon travaram nos meus brevemente.

— Quanto menos você souber, provavelmente, é melhor.

Eu balancei minha cabeça.

— Não. Você não pode me dizer algo assim e não me contar

tudo. Você... Você deve isso a mim.

— Da forma como eu vejo, você que me deve. Três vezes. — Ele

respondeu.

— Como três vezes?

— A noite em que foi atacada, agora, e quando você decidiu que

Ash precisava vestir espaguete. — Ele contou em seus dedos. —

Melhor não ter uma quarta vez.

— Você salvou a minha vida com Ash?

Page 204: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Ah, sim, quando ela disse que poderia acabar com você, ela

disse a verdade. — Ele suspirou, inclinando a cabeça para trás e

fechando os olhos. — Droga. Por que não? Não é como se você ainda

não soubesse. Todos nós podemos controlar a luz. Nós podemos

manipulá-la de modo que não somos vistos, se não quisermos. Nós

podemos dissipar as sombras, o que quisermos. Não só isso, mas

podemos aproveitar a luz e usá-la. E confie em mim quando digo que

você não quer nunca ser atingida com algo parecido. Eu duvido que

um humano poderia sobreviver.

— Tudo bem... — Eu quase não respirava. — Espere. Quando

vimos o urso, eu vi um clarão de Luz.

— Isso fui eu. Antes que você pergunte, eu não matei o urso.

Eu o assustei. Eu só não sei por que você desmaiou. Você estava

perto da minha luz. Eu acho que teve um efeito em você. Enfim, todos

nós temos algum tipo de propriedades curativas, mas nem todos são

bons nisso. — Continuou ele, abaixando o queixo. — Eu sou bom

nisso, mas Adam, um dos meninos Thompson, consegue curar

praticamente qualquer coisa desde que ainda esteja um pouco vivo. E

nós somos praticamente indestrutíveis. Nossa única fraqueza é se

você nos pegar na nossa verdadeira forma. Ou talvez cortar nossas

cabeças fora em forma humana. Eu acho que isso funcionaria.

— Sim, cortar cabeças normalmente resolve. — Minha mente

estava ficando completamente em branco, só era capaz de processar o

que ele estava me dizendo e cerca de uma linha de pensamento

coerente a cada minuto ou algo assim. Minhas mãos deslizaram na

minha cara e eu fiquei ali, segurando minha cabeça.

— Você é um alienígena.

Ele ergueu as sobrancelhas para mim.

Page 205: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Há muita coisa que podemos fazer, mas não até que

atingimos a puberdade, e mesmo assim temos dificuldade em

controlá-las. Às vezes, as coisas que podemos fazer podem causar

alguns problemas.

— Isso deve ser... Difícil.

— Sim, é.

Baixei as mãos, enrolando-as acima do meu peito.

— O que mais você pode fazer?

Ele me observava atentamente enquanto falava.

— Prometa que não vai sair correndo de novo.

— Sim. — eu concordei, imaginando o que seria. Não que eu

pudesse ficar mais assustada.

— Nós podemos manipular objetos. Qualquer objeto pode ser

movido, animado ou não. Mas podemos fazer mais do que isso. — Ele

pegou uma folha caída e segurou-a entre nós. — Observe.

Fumaça imediatamente começou a flutuar dela... Chamas

alaranjadas brilhantes irromperam das pontas dos dedos, enrolados

sobre a folha. Em poucos segundos, tinha sumido, mas suas chamas

ainda crepitavam sobre seus dedos.

Eu avancei para frente, colocando os dedos perto do fogo. Calor

explodiu de seus dedos. Eu puxei minha mão para trás, olhando para

ele.

— O fogo não te machuca?

— Como algo que é uma parte de mim pode me machucar? —

Ele trouxe seus dedos flamejantes sobre a terra. Cinzas voaram de

sua mão, mas o chão permaneceu intocado pelo fogo. Ele apertou sua

mão. — Veja. Sumiu. — Com olhos enormes, eu me aproximei mais.

— O que mais você pode fazer?

Page 206: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon sorriu e então ele se foi. Me virando, olhei em volta. Ele

estava encostado na árvore a vários metros de distância.

— Como... No mundo... Espera! Você já fez isso antes. A

assustadora, silenciosa, coisa de se deslocar. Mas não é que você seja

silencioso. — Me sentei contra a árvore, atordoada. — Você se move

assim tão rápido.

— Rápido como a velocidade da luz, Gatinha. — Ele reapareceu

na minha frente e lentamente se sentou. — Alguns de nós podem

manipular nossos corpos além da forma que escolhemos

originalmente. Como a mudança em qualquer coisa viva, pessoa ou

criatura.

Olhei para ele.

— É por isso que Dee desaparece, às vezes?

Ele piscou.

— Você viu isso?

— Sim, mas eu achei que estava vendo coisas. — Estiquei

minhas pernas um pouco. — Ela costuma fazer isso quando está se

sentindo confortável, eu acho. Apenas a mão ou o contorno de seu

corpo começa a desaparecer.

Daemon assentiu.

— Nem todos de nós temos controle sobre o que podemos fazer.

Alguns lutam contra suas habilidades.

— Mas você controla?

— Eu sou apenas incrível assim.

Revirei os olhos, mas depois me endireitei.

— E quanto a seus pais? Vocês disseram que eles trabalham na

cidade, mas eu nunca os vi.

Seu olhar caiu no chão novamente.

Page 207: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Nossos pais nunca chegaram até aqui.

Uma dor por ele e Dee encheu meu peito.

— Eu... Eu sinto muito.

— Não se preocupe. Foi há muito tempo. Nem sequer me

lembro deles.

Isso parecia triste. Mesmo que minhas memórias de meu pai

parecessem desgastadas ao longo dos anos, eu ainda as tinha. E eu

tinha muitas perguntas sobre como eles sobreviveram sem seus pais,

alguém cuidando deles quando eles eram pequenos.

— Deus, eu me sinto tão estúpida. Você sabe, eu pensei que

eles trabalhavam fora da cidade.

— Você não é estúpida, Kat. Você viu o que eu queria que você

visse. Somos muito bons nisso. — Ele suspirou. — Bem,

aparentemente não bons o suficiente.

Aliens... Uau, essas pessoas loucas que Lesa estava falando

estavam certas.

Eles provavelmente tinham visto um deles. Talvez o Homem

Traça fosse real. E o chupacabra realmente estava sugando o sangue

de cabras.

Os olhos estranhos de Daemon brilharam por um momento, e

então eles se estabeleceram no meu rosto.

— Você está lidando com isso melhor do que eu esperava.

— Bem, eu tenho certeza que vou ter tempo de sobra para

entrar em pânico e ter um mini colapso mais tarde. Eu provavelmente

vou pensar que perdi a cabeça. — Depois que eu falei, algo me

ocorreu. — Vocês... Todos podem controlar o que os outros pensam?

Ler mentes?

Ele balançou a cabeça.

Page 208: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não. Nossos poderes estão enraizados no que somos. Talvez

se o nosso poder, a luz, for manipulado através de algo, quem sabe.

Qualquer coisa poderia ser possível.

Enquanto eu olhava para ele, raiva e descrença guerrearam

dentro de mim.

— Esse tempo todo eu pensava que estava enlouquecendo. Por

isso, você me dizia que eu estava vendo coisas ou fazendo merda. É

como se você tivesse me dado uma lobotomia alienígena. Muito

agradável.

Seus olhos se abriram, um brilho de raiva provocada por eles

junto com alguma outra coisa que eu não conseguia decifrar.

— Eu tive que fazer. — Ele insistiu. — Nós não podemos deixar

ninguém saber sobre nós. Deus sabe o que iria acontecer com a

gente, então.

Deixando-me levar pelo momento, eu perguntei:

— Quantos seres humanos... Sabem sobre vocês?

— Há alguns moradores que pensam que somos só Deus sabe o

que. — Disse ele. — Há um ramo do governo que sabe sobre nós,

dentro do Departamento de Defesa, mas isso é tudo. Eles não sabem

sobre os nossos poderes. Eles não podem... — Ele quase rosnou,

encontrando meus olhos. — O DOD pensa que nós somos malucos

inofensivos. Contanto que nós sigamos suas regras, eles nos dão

dinheiro, os nossos lares, e nos deixam em paz. Assim, quando

qualquer um de nós fica louco com seus poderes é uma má notícia

por várias razões. Tentamos não usar nossos poderes, especialmente

em torno dos seres humanos.

— Porque iria expor o que você é.

Page 209: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Isso e... — Ele esfregou o queixo. — Toda vez que usamos a

nossa energia em torno de um humano, bem, deixa um rastro sobre

essa pessoa, nos permite ver que eles têm estado perto de outro como

nós. Então, nós tentamos não usar sempre as nossas capacidades em

torno de seres humanos, mas... Bem, as coisas nunca ocorrem

conforme o planejado, com você.

— Quando você parou o caminhão, deixou um... Rastro em

mim?

Ele piscou e olhou para longe.

— E quando você assustou o urso? Isso pode ser rastreado por

outros como você? — Eu engoli o caroço frio do medo. — Assim, os

Thompsons e qualquer outro alienígena por aqui, sabem que eu tenho

sido exposta ao seu... Feitiço alienígena?

— Sim. — Disse ele. — E eles não estão exatamente felizes com

isso.

— Então por que você parou o caminhão? Eu sou, obviamente,

uma enorme responsabilidade para você.

Daemon lentamente se virou para mim. Seus olhos estavam

fechados. Novamente, ele não respondeu. Eu tomei uma respiração

profunda, pronta para correr, lutar.

— O que você vai fazer comigo?

Quando ele falou, sua voz vacilou.

— O que eu vou fazer com você?

— Já que eu sei o que você é, isso faz de mim um risco para

todos. Você... Pode me atear fogo ou só Deus sabe o que mais.

— Por que eu te diria tudo, se eu fosse fazer alguma coisa para

você?

Bom argumento.

Page 210: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu não sei.

Ele se moveu para frente, e quando eu recuei longe dele, ele

parou de me tocar.

— Eu não vou fazer nada para você. Ok?

Mordi o lábio.

— Como você pode confiar em mim?

Ele parou novamente e, finalmente, estendeu a mão para pegar

meu queixo na mão.

— Eu não sei. Eu só confio. E, honestamente, ninguém iria

acreditar em você. E se você fizer alguma confusão, se você trazer o

DOD, e você não quer isso, eles vão fazer de tudo para garantir que a

população humana não tenha conhecimento de nós.

Fiquei quieta e silenciosa enquanto Daemon ainda me segurava

em sua mão macia. Várias emoções passaram por mim. Olhando para

ele agora, com sua presença me cercando, era muito fácil cair em algo

que eu sabia que eu provavelmente nunca iria sair. Eu me afastei.

— Então é por isso que você disse todas essas coisas mais

cedo? Você não me odeia?

Daemon olhou para a mão ainda estendida. Ele a abaixou.

— Eu não odeio você, Kat.

— E é por isso que você não quer que eu seja amiga de Dee,

porque você tinha medo de que eu descobrisse a verdade?

— Isso, e o fato de você ser um ser humano. Os seres humanos

são fracos. Eles não nos trazem nada além de problemas.

Meus olhos se estreitaram.

— Nós não somos fracos. E você está no nosso planeta. Que tal

um pouco de respeito, amigo.

Diversão brilhou em seus olhos cor de esmeralda.

Page 211: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Provou seu argumento. — Ele fez uma pausa, os seus olhos

vagando sobre o meu rosto. — Como você está lidando com tudo isso?

— Eu estou processando tudo. Eu não sei. Eu não acho que

vou pirar mais.

Daemon se levantou.

— Bem, então, vamos levá-la de volta antes que Dee ache que

eu matei você.

— Será que ela realmente acha isso?

Um olhar sombrio se apoderou de seu rosto.

— Eu sou capaz de qualquer coisa, Gatinha. Matar para

proteger a minha família não é algo com que eu hesitaria, mas isso

não é o que você tem que se preocupar.

— Bem, isso é bom saber.

Ele inclinou a cabeça para o lado.

— Há outras pessoas lá fora que irão fazer qualquer coisa para

ter os poderes que os Luxen têm, especialmente o meu. E eles farão

qualquer coisa para chegar a mim e à minha espécie.

Ansiedade arranhou seu caminho de volta para o meu peito.

— E o que isso tem a ver comigo?

Daemon se agachou diante de mim, seu olhar vagando pela

floresta densa que nos rodeava.

— O rastro que eu deixei em você por parar o caminhão pode

ser rastreado. E você está iluminada como o quatro de julho agora. —

Minha respiração ficou presa. — Eles vão usá-la para chegar até mim.

— Daemon estendeu a mão, puxando uma folha do meu cabelo. Sua

mão demorou perto do meu rosto por um segundo antes de cair para

o joelho. — E, se conseguirem chegar até você... A morte seria um

alívio.

Page 212: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 17

A luz brilhante entrava através das janelas, perfurando a

escuridão em que eu estava tão confortável. Eu gemi e empurrei

minha cabeça no travesseiro macio. Minha boca estava seca e minha

cabeça latejava violentamente. Eu não quero acordar ainda. Eu não

conseguia lembrar exatamente, por isso pensei que era melhor ficar

dormindo pelo maior tempo possível, mas eu sabia que devia haver

uma boa razão.

Meus músculos doíam quando eu rolei e abri meus olhos. Dois

vibrantes olhos verdes olharam fixamente para os meus. Engasguei

com um grito e pulei de surpresa. No meu choque, minhas pernas

enroscaram no cobertor e eu tropecei para fora da cama.

— Santo Cristo... — Eu resmunguei.

Dee me pegou, me segurando em pé enquanto eu

desembaraçava minhas pernas.

— Desculpe, eu não queria assustá-la.

Eu empurrei o cobertor até que pararam em uma poça confusa

aos meus pés. Minhas pernas estavam nuas. E a camisa de grandes

dimensões não era minha. Minhas bochechas coraram quando me

Page 213: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

lembrei de Daemon jogando a camisa para dentro do quarto. Ela

tinha seu cheiro, uma mistura exuberante de especiarias e ar livre.

— O que você está fazendo aqui, Dee?

As pontas de suas faces coraram enquanto ela se sentou na

espreguiçadeira em frente à cama.

— Eu estava observando você dormir.

Eu fiz uma careta.

— Ok, isso é assustador.

Ela parecia ainda mais envergonhada.

— Não era como se eu estivesse vendo você, observando você.

Era mais como estar esperando você acordar. — Ela empurrou seu

cabelo despenteado. — Eu queria falar com você. Eu precisava falar

com você.

Me sentei na cama. Dee parecia cansada, quase como se não

tivesse dormido a noite toda. Havia manchas escuras sob os olhos e

os braços pendiam sem vida em seus lados.

— Ainda assim, foi um pouco inesperado. — Fiz uma pausa. —

E ainda assim assustador.

Dee esfregou seus olhos.

— Eu queria falar com você... — Ela parou.

— Ok, eu... Preciso de um momento.

Ela assentiu e recostou a cabeça contra as almofadas pálidas,

fechando seus olhos. Depois de uma rápida olhada no quarto de

visitas deles, eu fui para o banheiro. Eu encontrei minha escova de

dentes, além de outras coisas pessoais na pia que eu tinha pego da

minha casa quando Daemon tinha me trazido de volta.

Liguei a água, até que foi abafando todo o som ao meu redor.

Eu terminei de escovar os dentes e comecei a lavar meu rosto. Um

Page 214: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

olhar no espelho me disse que eu não parecia mais descansada do

que Dee parecia. Eu parecia o inferno.

Meu cabelo estava uma bagunça. Havia uma linha vermelha

gravada em toda a minha bochecha, como uma pequena cicatriz. Eu

coloquei minhas mãos sob a água quente, espirrando em meu rosto.

O arranhão queimou.

Engraçado como uma pequena faísca de dor desencadeou algo

mais poderoso do que a dor passageira que causou. Memórias da

noite passada caíram por mim. Eu me lembrava de tudo.

E me senti tonta.

— Oh meu Deus. — Segurei o mármore frio da pia até que

meus dedos latejavam. — Minha melhor amiga é um extraterrestre. —

Girando, eu me joguei para abrir a porta. Dee estava do outro lado,

suas mãos cruzadas atrás das costas. — Você é um alienígena.

Ela assentiu com a cabeça lentamente.

Olhei para ela. Talvez eu devesse sentir medo ou mais

confusão, mas não foi o que queimou dentro de mim. Curiosidade.

Intriga. Dei um passo para frente.

— Faça.

— Fazer o quê?

— A coisa estranha da luz. — Eu disse.

Os lábios de Dee se abriram em um largo sorriso.

— Você não tem medo de mim?

Eu balancei minha cabeça. Como eu poderia ter medo de Dee?

— Não. Quer dizer, eu estou um pouco encantada com tudo,

mas você é uma alienígena. Isso é legal. Esquisito, mas

definitivamente no lado legal das coisas.

Page 215: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Seu lábio tremeu. Lágrimas transformaram seus olhos em joias

brilhantes.

— Você não me odeia? Eu gosto de você, e eu não quero que

você me odeie ou tenha medo de mim.

— Eu não te odeio.

Dee se moveu para frente, se mexendo mais rápido do que os

olhos humanos podiam registrar. Ela me deu um abraço

surpreendentemente forte e me puxou para trás, fungando.

— Eu estava tão preocupada durante toda a noite,

especialmente por Daemon se recusar a me deixar falar com você.

Tudo em que eu conseguia pensar era que eu tinha perdido minha

melhor amiga. — Ela ainda era a mesma Dee, alienígena ou não.

— Você não me perdeu. Eu não vou a lugar nenhum.

Um segundo depois, ela me apertou forte.

— Okay. Eu estou morrendo de fome. Se troque e eu vou fazer

café da manhã para nós.

Ela desapareceu do quarto em um piscar de olhos. Isso levaria

algum tempo para eu me acostumar. Eu agarrei a muda de roupa que

trouxe ontem à noite depois de dizer a minha mãe que iria dormir na

casa de Dee. Troquei-me rapidamente e em seguida, desci as escadas.

Dee já estava fazendo café da manhã e conversando em seu

telefone celular. O tinido das panelas e a atração suave de água

corrente abafava a maior parte do que ela estava dizendo. Fechando o

telefone, ela se virou. Então, ela estava em frente a mim, me puxando

para a mesa da cozinha.

— Quando tudo aconteceu ontem à noite, tudo que eu

conseguia pensar é que você devia achar que somos um bando de

malucos.

Page 216: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Bem... — Eu comecei. — Você com certeza não é normal.

Ela deu uma risadinha.

— Sim, mas normal é tão chato às vezes.

Eu me encolhi com sua escolha de palavras e fui puxar a

cadeira. Esta se moveu antes que eu pudesse tocá-la, deslizando para

trás alguns centímetros. Assustada, olhei para cima.

— Você?

Dee sorriu.

— Bem, isso foi muito útil. — Me sentei devagar, esperando que

ela não se movesse novamente. — Então você é tão rápida quanto a

luz?

— Acho que nós podemos ser um pouco mais rápidos. — Ela

apareceu no fogão, colocou a mão sobre a frigideira que

imediatamente começou a crepitar sob a palma da sua mão. Por cima

do ombro, ela sorriu.

O fogão não estava ligado, mas o cheiro de bacon cozido encheu

o ar.

Eu me inclinei para frente.

— Como você está fazendo isso?

— Calor. — Disse ela. — É mais rápido dessa forma. Leva

segundos para que eu frite o bacon.

E realmente foram apenas alguns minutos até ela me entregar

um prato de ovos e bacon. Entre a movimentação super-rápida e a

ajuda do micro-ondas, eu estava começando a ter um caso sério de

inveja alienígena.

— Então o que Daemon contou ontem à noite? — Ela se sentou,

uma montanha de ovos em seu prato.

Page 217: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Ele me mostrou alguns dos seus truques legais de

alienígenas. — A comida cheirava deliciosa e eu estava morrendo de

fome. — Obrigada pelo café da manhã, alias.

— De nada. — Ela puxou o cabelo para cima em um coque

bagunçado. — Você não tem ideia de quão difícil tem sido fingir ser

algo que não somos. É uma das razões pelas quais não temos um

monte de amigos que são... Humanos. É por isso que Daemon é todo

‗humano é igual a nenhum amigo‘ ou qualquer outra coisa assim.

Eu brinquei com o garfo enquanto ela devorava metade do seu

prato em segundos.

— Bem, agora você não tem que fingir.

Os olhos dela se levantaram, brilhando.

— Quer saber de uma coisa legal?

Vindo dela, eu só podia imaginar o que seria.

— Sim.

— Nós podemos ver coisas que humanos não podem. Como a

energia de tudo o que você coloca ao seu redor. Acho que as pessoas

de idade chamam de auras ou qualquer outra coisa. Ela representa a

sua energia, ou alguns podem chamá-la de força vital. Isso muda

quando suas emoções mudam ou se estão se sentindo doentes.

Meu garfo parou a meio caminho da minha boca.

— Você pode ver a minha agora?

Ela balançou a cabeça.

— Você tem um rastro em torno de você agora. Eu não posso

ver sua energia, mas era um rosa pálido quando te conheci, o que

parece normal. Costumava ficar realmente vermelha quando você

falava com Daemon. — Vermelho provavelmente representava raiva.

Ou luxúria. — Mas eu não sou boa em lê-las. Alguns poderes vêm

Page 218: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

mais facilmente para outros, mas Matthew é o melhor em leitura de

energias.

— O quê? — Eu deixei cair o meu garfo. — Nosso professor de

biologia é um alienígena? Merda... Tudo em que eu posso pensar é no

filme Prova Final. — Mas fazia sentido, a forma que ele agiu quando

viu Daemon e eu juntos, os olhares estranhos em sala de aula.

Dee engasgou com o suco de laranja.

— Nós não dissecamos corpos.

Eu esperava que não.

— Uau. Então, vocês têm tarefas normais.

— Sim. — Saltando de sua cadeira, ela olhou para a porta. —

Quer ver no que eu sou boa?

Quando eu balancei a cabeça, ela se mudou de volta da mesa e

fechou os olhos. O ar ao seu redor parecia cantarolar baixinho. Um

segundo depois, ela passou de adolescente a uma forma feita de luz e,

em seguida, um lobo.

— Hum... — Eu limpei minha garganta. — Eu acho que eu

descobri como a lenda dos lobisomens começou.

Ela caminhou até mim e cutucou a minha mão com o nariz

quente. Insegura do que eu deveria fazer, eu afaguei o topo de sua

cabeça peluda. O lobo soltou um latido que parecia mais uma

risadinha e depois recuou. Alguns segundos depois era Dee

novamente.

— E isso não é tudo. Olhe. — Ela balançou seus braços. — Não

se desespere.

— Tudo bem. — Eu apertei o meu copo de suco.

Fechando os olhos, seu corpo desapareceu na luz e, em

seguida, ela se tornou alguém totalmente diferente. Cabelo castanho

Page 219: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

claro caiu dos ombros e seu rosto estava um pouco pálido.

Sobrancelhas arqueadas sobre grandes olhos de corça, e seu lábios

cor de rosa formaram um meio sorriso. Era mais baixa, com uma

aparência um pouco mais normal.

— Eu? — Eu rangia. Eu estava olhando para mim.

— Ei. — Dee-como-eu me disse. — Você pode nos diferenciar?

Coração batendo forte, eu comecei a me levantar, mas não fiz

isso. Minha boca se movia, mas as palavras não saíam.

— Isso é... Estranho. — Eu olhava. — O meu nariz realmente é

assim? Vire-se. — Ela fez. Eu dei de ombros. — Meu bumbum não

parece ruim.

A réplica exata de mim riu e, em seguida, desapareceu. Por um

momento eu pude ver o contorno de um corpo, mas eu podia ver a luz

do centro. Um segundo depois, ela era Dee. Ela sentou-se novamente.

— Eu posso parecer com qualquer um exceto o meu irmão.

Quero dizer, eu posso parecer como ele, mas isso seria nojento. — Ela

estremeceu. — Todos nós podemos mudar, mas eu posso manter a

forma por uma eternidade. A maioria de nós só pode imitar por

alguns minutos no máximo.

Seu peito se encheu de orgulho.

— Vocês já fizeram isso? Ser alguém diferente perto de mim?

Ela balançou a cabeça.

— Daemon teria um ataque se ele soubesse que eu fiz isso. Não

deixa um enorme rastro em você, mas você tem todos os tipos agora,

por isso não importa.

— Então Daemon pode fazer isso também? Se transformar em

um canguru se ele quisesse?

Dee riu.

Page 220: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Daemon pode fazer qualquer coisa. Ele é um dos mais

poderosos de nós. A maioria de nós pode fazer uma ou duas coisas

facilmente, o resto é uma luta. Tudo é fácil para ele.

— Ele é tão incrível. — Eu murmurei.

— Uma vez ele realmente mudou a casa um pouco. — Disse

Dee, torcendo o nariz. — Ele quebrou totalmente a fundação.

Oh Jesus...

Eu tomei um gole do meu suco.

— E o governo não sabe que você pode fazer qualquer uma

dessas coisas?

— Não. Pelo menos, não acho que eles saibam. — disse Dee. —

Nós sempre escondemos nossas habilidades. Sabemos que iria

assustar os humanos saber que podemos fazer essas coisas. E

também sabemos que as pessoas iriam tirar proveito disso. Portanto,

tente não se expor.

Eu estava absorta tomando outro gole. Meu cérebro parecia a

dois segundos de explodir.

— Então, por que vocês vieram aqui? Daemon disse que algo

aconteceu com seu planeta.

— Sim, algo aconteceu. — Dee pegou os pratos e os levou para

a pia. Ela estava de costas rígida enquanto ela limpava os pratos. —

Nosso planeta foi destruído pelos Arum.

— Os Arum? — Então, eu entendi. — Escuros? Certo? São

aquelas pessoas que saem por aí para roubar suas habilidades?

— Sim. — Ela olhou por cima do ombro, balançando a cabeça.

— Eles são nossos inimigos. Praticamente os únicos inimigos dos

Luxen além de seres humanos, se eles decidirem parar de ser

amigáveis com a gente por estarmos aqui, eu acho. Os Arum são

Page 221: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

como nós, só que o oposto, vindo de nosso planeta irmão. Eles

destruíram nossa casa. Minha mãe costumava me contar uma

história de ninar que, quando o universo foi formado foi preenchido

com a mais pura luz, brilhando tão brilhantemente que deixou as

sombras invejosas. Os Arum são os filhos das sombras, ciumentos e

determinados a sufocar toda a luz do universo, sem perceber que

para um existir o outro também deve existir. Muitos Luxen sentem

que cada vez que um Arum é morto, uma luz se apaga no universo. É

a única coisa que me lembro sobre minha mãe.

— E os seus pais morreram nesta guerra? — Eu perguntei,

então imediatamente me arrependi de perguntar. — Sinto muito. Eu

não deveria ter perguntado isso.

Dee parou de lavar os pratos.

— Não, está tudo bem. Você deve saber, mas eu não quero

assustar você.

Eu não sabia como a morte de seus pais poderia me assustar,

mas eu tinha começado a me sentir alarmada com o que eu poderia

descobrir.

— Existem Arum aqui. O governo acha que eles são Luxen.

Temos que deixar assim ou há uma chance de o DOD descobrir

nossos poderes através dos Arum. — Dee me enfrentou, colocando as

mãos na borda da pia. — E agora, você é como um farol para eles.

Sem apetite, eu empurrei o meu prato.

— Existe alguma maneira de tirar o rastro?

— Isso vai desaparecer ao longo do tempo. — Dee forçou um

sorriso. — Até então, seria bom ficar perto de nós, especialmente de

Daemon.

Não era a melhor das ideias. Mas poderia ser pior.

Page 222: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Ok, então desaparece... Eventualmente. Eu posso lidar com

isso, se esse é meu único problema.

— Não é. — Disse ela. — Precisamos ter certeza de que o

governo não saiba que você sabe a verdade. Seu trabalho é ter certeza

de que não está nos expondo. Você pode imaginar o que aconteceria

se a população humana souber que existimos?

Imagens de tumultos e saques brilharam na minha cabeça, que

era como nós reagíamos a tudo a que não entendemos.

— E eles vão fazer de tudo para ter certeza de que

permaneçamos em segredo. — Olhos de Dee bloquearam os meus. —

Você nunca pode contar a ninguém, Katy.

— Eu não faria isso. Eu nunca faria isso. — As palavras

correram de mim. — Eu nunca trairia qualquer um de vocês assim. —

E eu quis dizer isso. Dee era como uma irmã para mim. E Daemon

era... Bem, ele era o que era, mas eu nunca iria trai-los. Não depois

de confiarem em mim com algo tão incrível. — Eu não vou dizer a

ninguém.

Dee se ajoelhou ao meu lado e ela colocou a mão sobre a

minha.

— Confio em você, mas não podemos deixar o DOD descobrir

sobre você, porque se eles descobrirem, então você vai desaparecer.

Page 223: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 18

— Katy, você tem estado tão quieta hoje. No que está

pensando?

Eu estremeci, desejando que minha mãe não me conhecesse

tão bem.

— Eu só estou cansada. — Eu forcei um sorriso por ela.

— Você tem certeza que isso é tudo?

Culpa correu por mim. Eu raramente passo um tempo com a

minha mãe, e eu desejei que eu não estivesse distraída.

— Sinto muito, mamãe. Acho que estou um pouco fora do ar

hoje.

Ela começou a lavar os pratos do jantar.

— Como estão as coisas com o Daemon e Dee?

Nós passamos o dia todo sem falar sobre eles.

— Eles estão indo muito bem. Eu acho que vou assistir a um

filme com eles mais tarde.

Ela sorriu.

— Você vai sair com os dois?

Page 224: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu estreitei meus olhos.

— Mãe, por favor.

— Querida, eu sou sua mãe. Eu tenho o direito de perguntar.

— Eu não tenho certeza, realmente. Eu nem sei se iremos. Foi

só uma ideia. — Eu peguei uma maçã da fruteira e dei uma mordida.

— O que você irá fazer essa noite, mamãe?

Ela tentou parecer indiferente.

— Eu vou sair e tomar um café com o Sr. Michaels hoje à noite.

— Sr. Michaels? E quem é ele? — Eu perguntei entre mordidas.

— Espere. É aquele médico bonito do hospital?

— Sim, o primeiro e único.

— É um encontro? — Me encostei no balcão, sorrindo atrás da

maçã. — Vai Mãe.

Minha mãe corou e ruborizou.

— É apenas um café. Não é um encontro.

Isso explicava por que ela estava escolhendo vestidos hoje, indo

tão longe como me fazer escolher pelo menos duas das coisas bonitas

de seu armário.

— Bem, eu espero que você se divirta no seu não-encontro, mas

que soa como um encontro. — Sorrindo, ela continuou tagarelando

sobre seus planos para a noite e, em seguida, sobre um paciente que

teve ontem. Antes de sair para se arrumar, ela me trouxe um par de

vestidos que ela tinha encontrado na parte de trás de seu armário. —

Bem, se você sair hoje à noite, por que não usa um desses? Você vai

parecer muito bem neles. Eles sempre pareceram muito jovens para

que eu vestisse.

Meu nariz amassou.

— Mãe, não sou eu quem tem um encontro hoje à noite.

Page 225: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ela zombou.

— Eu também não.

— Que seja! — Eu gritei enquanto corria pelas escadas.

Não demorou muito tempo para ela se arrumar e sair. Como

não era tecnicamente um encontro, ela foi encontrá-lo em um

pequeno restaurante na cidade. Eu esperava que ela se divertisse, ela

merecia. Desde que meu pai tinha falecido, eu não acho que ela tinha

sequer olhado duas vezes para um cara. O que significava que o Sr.

Michaels devia ser especial.

Além de Dee mencionar que nós deveríamos ficar juntos, não

havia quaisquer planos para a noite. Eu sabia que Daemon estava de

olho em mim o dia todo, mas eu me recusei a deixá-lo passar na

minha casa. Eles haviam me contado que os Arum eram mais fortes

durante a noite e preferiam atacar em seguida. Eu me senti muito

segura durante o dia. Eu queria passar um dia normal de leitura e

blogando e ficar com a minha mãe.

Mas era estranho fazer coisas normais depois de saber um

grande segredo. Senti como se eles devessem estar lá fora parando

acidentes, curando a fome no mundo e salvando gatinhos presos em

árvores.

Jogando o resto da maçã no lixo, eu brincava com o anel no

meu dedo quando eu olhei os vestidos em cima da mesa. Eu não iria

usá-los em algum momento em breve.

Uma batida forte na porta dos fundos me tirou dos meus

pensamentos. Eu abri a porta e Daemon estava parado ali. Mesmo

vestido com jeans casual e uma camisa branca que estava apertada

contra seu corpo superior, ele parecia totalmente magnífico. Era

inquietante. E o que era ainda mais irritante era a maneira que ele

Page 226: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

estava lá e olhava para mim. Seu olhar de jade brilhante era intenso e

desejoso.

— Ei. — Eu disse.

Ele acenou com a cabeça, me dando nenhuma pista de seu tipo

de humor.

Oh cara.

— Hum, você quer entrar?

Ele balançou a cabeça.

— Não, eu pensei que talvez pudéssemos fazer algo.

— Fazer alguma coisa?

Diversão brilhou em seus olhos.

— Sim. A menos que você tenha uma resenha para publicar ou

um jardim que precise de cuidados.

— Ha. Ha. — Eu comecei a fechar a porta na cara dele.

Ele jogou a mão, facilmente interrompendo sem tocá-la.

— Certo. Me deixe tentar novamente. Gostaria de fazer alguma

coisa comigo?

Não de verdade, mas eu estava curiosa. E uma parte de mim

estava começando a compreender porque Daemon era tão distante.

Talvez, apenas talvez, nós poderíamos fazer isso sem querer matar

um ao outro.

— O que você tem em mente?

Daemon se afastou da casa e deu de ombros.

— Vamos para o lago.

— Vou olhar a estrada antes de atravessar desta vez. — Eu o

segui, evitando o seu olhar divertido. Enfiei as mãos nos bolsos da

minha bermuda e decidi não brigar. — Você não está me levando à

Page 227: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

floresta porque mudou de ideia e decidiu que seu segredo não está

seguro comigo, está?

Daemon explodiu em gargalhadas.

— Você é muito paranoica.

Eu bufei.

— Ok, isso vindo de um alienígena que aparentemente pode me

jogar ao céu sem me tocar

— Você não se trancou em algum quarto ou ficou balançando

em algum canto, né?

Revirei os olhos e comecei a andar novamente.

— Não Daemon, mas obrigada por ter certeza de que eu sou

mentalmente sã e tudo mais.

— Ei. — Ele ergueu as mãos. — Eu preciso ter certeza que você

não vai enlouquecer e potencialmente contar a toda a cidade o que

somos.

— Eu não acho que você precise se preocupar com isso por

várias razões. — Eu respondi secamente.

Daemon me deu um olhar aguçado.

— Você sabe quantas pessoas temos tido perto? Quero dizer,

realmente perto? — Eu fiz uma careta. Não era difícil imaginar o que

ele quis dizer. Estranhamente, eu achei que não gostaria dessas

imagens. Sua risada era profunda e gutural. — Então, uma menina

vai e nos expõe. Você pode ver como é difícil para mim... Confiar?

— Eu não sou uma menina, mas se eu pudesse voltar no tempo

e fazer tudo de novo eu não teria pisado na frente daquele caminhão.

— Bem, isso é bom saber. — Ele respondeu.

— Mas eu não me arrependo de descobrir a verdade. Isso

explica muito. Espere, você pode voltar no tempo? — Eu perguntei a

Page 228: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

sério. A possibilidade não passou pela minha cabeça antes, mas agora

eu sinceramente me perguntei.

Daemon suspirou e balançou a cabeça.

— Nós podemos manipular o tempo, sim. Mas não é algo que

nós fazemos, e só vai para frente. Pelo menos eu nunca ouvi falar de

alguém ser capaz de dobrar o tempo para o passado.

Meus olhos pareciam como se fossem sair da cabeça.

— Jesus, vocês fazem Superman parecer estúpido.

Ele sorriu quando baixou a cabeça para evitar um galho baixo.

— Bem, eu não vou contar qual a nossa criptonita.

— Posso te fazer uma pergunta? — Eu perguntei depois de

alguns minutos de caminhada ao longo da trilha coberta de folhas.

Quando ele acenou com a cabeça, respirei fundo. — A garota Bethany

que desapareceu, ela estava envolvida com Dawson, certo?

Ele me cortou com um forte olhar de soslaio.

— Sim.

— E ela descobriu sobre vocês?

Vários segundos se passaram antes que ele respondesse.

— Sim.

Olhei para ele novamente. Seu rosto estava impassível,

enquanto olhava para frente.

— E é por isso que ela desapareceu?

Novamente, se passou um intervalo de silêncio.

— Sim.

Ok. Ele só ia me dar respostas de uma só palavra. Ótimo.

— Ela contou a alguém? Quero dizer, por que ela... Teve que

desaparecer?

Daemon suspirou profundamente.

Page 229: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— É complicado, Kat.

Complicado significava um monte de coisas.

— Ela está... Morta?

Ele não respondeu.

Eu parei, tirando uma pedra de forma estranha da minha

sandália.

— Você simplesmente não vai me contar?

Ele sorriu para mim com irritante facilidade.

— Então, por que você quis vir aqui? — Eu balancei a rocha e

coloquei minha sandália de volta. — Porque é divertido para você ser

tão evasivo?

— Bem, é divertido ver seu rosto ficar todo rosa quando você

está frustrada.

Eu olhei para ele.

Daemon sorriu e começou a andar novamente. Nós não

conversamos mais até chegarmos ao lago. Ele foi até a borda e olhou

para trás, onde eu parei alguns metros atrás dele.

— Além do fato de que eu goste de observar você ficar irritada,

achei que teria mais perguntas. — Bem, era doente que ele gostasse

de me irritar. Ainda mais doente é que eu gostava de vê-lo irritado,

também.

— Eu tenho.

— Algumas eu não vou responder. Algumas eu vou. — Daemon

fez uma pausa, parecendo pensativo. — Podemos muito bem tirar

todas as suas dúvidas. Então, nós não teremos nenhum motivo para

falar sobre isso de novo, mas você vai ter que trabalhar nessas

perguntas.

Page 230: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Nunca falar sobre o fato de que eles eram alienígenas? Ha.

Certo.

— O que eu tenho que fazer?

— Me encontre sobre a rocha. — Ele voltou para o lago e tirou

seus sapatos.

— O quê? Eu não estou usando um maiô.

— Então? — Ele se virou, sorrindo. — Você quase podia se

despir-

— Não vai acontecer. — Eu cruzei os braços.

— Percebi. — Respondeu ele. — Você nunca nadou sem roupas

antes?

Sim. Quem não? Mas não estava tão quente.

— Por que temos que ir nadar para que eu faça as perguntas?

Daemon olhou para mim um momento, depois baixou os cílios,

abanando suas bochechas.

— Não é para você, mas para mim. Parece uma coisa normal a

fazer. — As pontas de suas maçãs do rosto ficaram rosa no sol. — O

dia em que fomos nadar?

— Sim. — Eu disse, dando um passo à frente.

Ele olhou para cima, seus olhos encontrando os meus. O verde

agitando lentamente, dando a ele uma aparência de vulnerabilidade.

— Você se divertiu?

— Quando você não estava sendo um idiota e se eu ignorar o

fato de que você foi obrigado, então sim.

Um sorriso puxou seus lábios enquanto ele desviou o olhar.

— Eu me diverti mais naquele dia do que eu posso me lembrar.

Eu sei que soa estúpido, mas-

Page 231: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não é estúpido. — Meu coração balançou. Ao mesmo tempo,

eu meio que entendia melhor. Debaixo de tudo, acho que ele queria

ser normal. — Ok. Vamos fazer isso. Só não mergulhe embaixo d'água

por cinco minutos.

Daemon riu.

— Feito.

Tirei minhas sandálias, enquanto ele tirava a camisa. Tentei

não olhar para ele, especialmente porque ele estava me observando

como se ele esperasse que eu mudasse de ideia. Lançando-lhe um

rápido sorriso, eu pisei até na beira da água e mergulhei meus dedos

dentro.

— Oh meu Deus, a água está fria!

Ele piscou para mim.

— Observe. — Seus olhos assumiram um brilho estranho, todo

o seu corpo vibrando e quebrando em uma bola de fogo de luz... Que

voou para o céu e mergulhou em linha reta, iluminando o lago como

uma piscina de luz. Ela voou pelas pedras até o centro, pelo menos

uma dúzia de vezes em alguns segundos. Exibido.

— Poderes alienígenas? — Eu perguntei, meus dentes batendo.

Água saiu de seu cabelo enquanto ele se inclinava sobre a

borda da rocha, estendendo a mão.

— Venha, está um pouco mais quente agora.

Rangendo os dentes, em preparação para entrar na água

gelada, fiquei chocada ao descobrir que sua temperatura não estava

tão ruim. Não estava quente, mas não estava mais gelada. Pisando em

todo o caminho, eu caminhei até as rochas.

— Qualquer outro poder legal?

Page 232: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu posso fazer isso de um jeito que você não possa nem

mesmo me ver fazendo.

Peguei a mão dele, e ele me puxou para dentro da água e na

rocha, roupas molhadas e tudo o mais. Ele soltou, realizando

manobras de volta. Tremendo, recebi o calor da rocha ensolarada.

— Como você pode fazer as coisas sem que eu veja?

Me recostando nos cotovelos, ele parecia afetado pelo mergulho

frio.

— Nós somos feitos de luz. Podemos manipular os diferentes

espectros em torno de nós e usá-los. É como se estivéssemos

quebrando a luz, se isso faz algum sentido.

— Na verdade não. — Eu precisava prestar mais atenção na

aula de ciências.

— Você já viu me transformar em meu estado natural, não é?

— Quando eu balancei a cabeça, ele foi adiante. — E eu meio que

vibro até que eu quebre em pequenas partículas de luz. Bem, eu

posso seletivamente eliminar a luz, o que nos permite ser

transparente.

Eu puxei meus joelhos para o meu peito.

— Esse é bem legal, Daemon.

Ele sorriu para mim, mostrando uma covinha na bochecha

antes que ele voltasse à rocha, cruzando as mãos atrás da cabeça.

— Eu sei que você tem perguntas. Pergunte.

Eu tinha tantas perguntas que eu não tinha certeza por qual

começar.

— Vocês acreditam em Deus?

— Ele parece ser um cara legal.

Eu pisquei, não tendo certeza se ria ou não.

Page 233: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Vocês têm um Deus?

— Lembro-me de que havia algo como uma igreja, mas isso é

tudo. Os mais velhos não falam sobre qualquer religião. — Disse ele.

— Então, de novo, não vemos mais os velhos.

— O que você quer dizer com "velhos"?

— A mesma coisa que você quer dizer. Uma pessoa idosa. — Eu

fiz uma careta para ele. Ele sorriu. — Próxima pergunta?

— Por que você é tão idiota? — As palavras saíram antes que eu

pudesse pensar duas vezes.

— Todo mundo tem que se destacar em alguma coisa, né?

— Bem, você está fazendo um ótimo trabalho.

Seus olhos se abriram, encontrando os meus por um segundo

antes de fechar.

— Você não gosta de mim, não é?

Eu hesitei.

— Não é que eu não goste de você, Daemon. Você é difícil... De

gostar. É difícil entender você.

— Você também, — Disse ele, com os olhos fechados, o rosto

relaxado. — Você aceitou o impossível. Você é gentil com a minha

irmã e para mim, apesar de eu admitir que tenho sido um idiota com

você. Você poderia ter corrido direto para sua casa ontem e contar ao

mundo sobre nós, mas você não fez. E você não aceita nenhuma das

minhas merdas. — Acrescentou com uma risada suave. — Eu gosto

disso em você.

Uau. Espere.

— Você gosta de mim?

— Próxima pergunta? — Disse.

— Vocês estão autorizados a namorar humanos?

Page 234: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ele deu de ombros.

— ‗Autorizados‘ é uma palavra estranha. Isso acontece? Sim. É

aconselhado? Não. Então, podemos, mas qual seria a vantagem? Não

é como se nós pudéssemos ter uma relação duradoura quando temos

que esconder o que somos.

— Então, vocês são como nós em outros, uh, departamentos?

Daemon se sentou, arqueando uma sobrancelha.

— O que?

Senti meu rosto corar.

— Você sabe, como sexo? Quero dizer, vocês são brilhantes e

outras coisas. Eu não vejo como certas coisas iriam funcionar.

Os lábios de Daemon se curvaram em um meio sorriso, o que

foi a única advertência que ele deu. Se movendo incrivelmente rápido,

eu estava deitada e ele estava acima de mim em um flash.

— Você está perguntando se eu fico atraído por garotas

humanas? — Ele perguntou. Ondas molhadas de cabelo escuro dele

caíram para frente. Gotículas de água caíram nos lados, espirrando

contra minha bochecha. — Ou você está perguntando se eu estou

atraído por você?

Usando as mãos, ele se abaixou lentamente. Não havia um

centímetro de espaço entre nossos corpos. Ar fugiu de meus pulmões

com o contato de seu corpo contra o meu. Ele era do sexo masculino e

mais forte em todos os lugares onde eu era suave. Estar tão perto dele

era surpreendente, causando uma série de sensações através de mim.

Eu estremeci. Não por causa do frio, mas de quão sexy e maravilhoso

ele parecia. Eu podia sentir cada respiração que ele tomou, e quando

ele mexeu seus quadris, meus olhos se alargaram e eu engasguei.

Ah, sim, certas coisas definitivamente funcionavam.

Page 235: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon rolou de cima de mim, de costas ao meu lado.

— Próxima pergunta? — Ele perguntou, a voz profunda e

grossa.

Eu não me mexi. Olhei com os olhos arregalados para o céu

azul.

— Você poderia ter apenas me dito, sabe? — Eu olhei para ele.

— Você não tem que me mostrar.

— E que graça haveria em dizer a você? — Ele virou a cabeça

para mim. — Próxima pergunta, Gatinha?

— Por que você me chama assim?

— Você me lembra um gatinho felpudo, cheio de garras, mas

não morde.

— Ok, isso não faz sentido.

Ele deu de ombros.

Eu juntei meus pensamentos dispersos para outra pergunta.

Eu tinha tantas, mas ele tinha totalmente queimado minha linha de

pensamento em pedacinhos.

— Você acha que existem mais Arum por aí?

Só uma simples sugestão de emoção cruzou seu rosto. Ele

inclinou a cabeça para trás, me estudando.

— Eles estão sempre por perto.

— E eles estão caçando vocês?

— É a única coisa que lhes interessa. — Ele voltou a olhar para

o céu. — Sem os nossos poderes, eles são como seres humanos... Mas

cruéis e imorais. Eles são a destruição final e tudo mais.

Engoli em seco.

— Você já lutou... Com um monte deles?

Page 236: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Sim. — Ele se virou para o lado, usando sua mão para

sustentar a cabeça. Uma mecha de cabelo caiu sobre o olho. — Eu já

perdi a conta de quantos eu enfrentei e matei. E com você iluminada

como está, mais virão.

Meus dedos coçaram para tirar a mecha de cabelo para trás.

— Então por que você parou o caminhão?

— Você teria preferido que eu te deixasse virar panqueca?

Eu não me incomodei nem mesmo a responder isso.

— Por que você fez?

Um músculo bateu em seu queixo enquanto seu olhar vagou

sobre o meu rosto virado para cima.

— Honestamente?

— Sim.

— Você vai me dar pontos de bônus? — Ele perguntou em voz

baixa.

Segurando minha respiração, eu subi e afastei a mecha de

cabelo. Meus dedos mal roçaram sua pele, mas ele deu uma

respiração afiada e fechou seus olhos. Eu puxei minha mão, não

sabendo por que eu tinha feito isso.

— Depende de como você responder a pergunta.

Daemon abriu os olhos. As pupilas estavam brancas,

estranhamente belas. Ele deitou de costas novamente, com o braço

contra o meu.

— Próxima pergunta?

Juntei minhas mãos, por cima do meu estômago.

— Por que usar os poderes deixa um rastro?

— Os seres humanos são como camisetas brilhantes no escuro

para nós. Quando usamos nossas habilidades em torno de vocês,

Page 237: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

vocês absorvem a nossa luz. Eventualmente, o brilho vai se

desvanecer, mas quanto mais fazemos, mais energia usamos, mais

brilhante fica o rastro. Dee sumindo não deixa muita coisa. O

incidente do caminhão e quando eu assustei o urso, isso deixa uma

marca visível. Algo mais poderoso, como alguém se curar, deixa um

longo rastro. Um fraco, não tão grande pelo que me disseram, mas

permanece por mais tempo por algum motivo. Eu deveria ter sido

mais cuidadoso em torno de você. — Ele continuou. — Quando eu

assustei o urso eu usei uma explosão de luz, que é como uma espécie

de laser. Ele deixou um rastro grande o suficiente em você para o

Arum vê-lo.

— Você quer dizer a noite em que fui atacada? — Eu sussurrei,

minha voz rouca.

— Sim. — Ele passou a mão pelo rosto. — Os Arum não

aparecem muito por aqui, porque não acham que qualquer Luxen

esteja aqui. O quartzo beta nas rochas joga fora a nossa assinatura

energética, nos esconde. Essa é uma das razões pelas quais há

muitos de nós aqui. Mas deve ter havido um enxergando através das

rochas. Ele viu o seu rastro e sabia que tinha que ser um de nós nas

proximidades. Foi minha culpa.

— Não foi culpa sua. Não foi você quem me atacou.

— Mas eu, basicamente, o levei até você. — Disse ele, a voz

firme.

No começo eu não conseguia falar. Havia essa horrível sensação

de soco-no-estômago que se espalhou para as pontas dos meus dedos

e nos dedos do pé. Eu senti o sangue escorrer do meu rosto tão

rápido que me deixou tonta.

Page 238: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

De repente, o que aquele homem dissera fazia sentido. Onde

eles estão? Ele tinha ido procurá-los.

— Onde ele está agora? Ele ainda está aí? Será que ele vai

voltar? O que-

A mão de Daemon encontrou a minha e apertou.

— Gatinha, se acalme. Você vai ter um ataque cardíaco.

Meus olhos caíram para nossas mãos. Ele não se afastou.

— Eu não vou ter um ataque cardíaco.

— Você tem certeza?

— Sim. — Eu revirei os olhos.

— Ele não é mais um problema. — Disse ele depois de alguns

segundos.

— Você... Você o matou?

— Bem, eu meio que fiz isso.

— Você meio que fez? Eu não sabia que existia matar alguém

‗mais ou menos‘.

— Ok, sim, eu o matei. — Não havia um único pingo de dúvida

ou remorso em sua voz, como matar alguém nem mesmo o

perturbasse. Eu deveria estar com medo, muito medo dele. Daemon

suspirou. — Nós somos inimigos, Gatinha. Ele teria matado eu e

minha família depois de absorver nossas habilidades se eu não o

parasse. Não só isso, ele teria trazido mais aqui. Outros como nós

teriam estado em perigo. Você já esteve em perigo.

— E o caminhão? Estou brilhando mais forte agora. — Eu

ignorei o aperto em meu estômago. — Haverá outro?

— Espero que não haja nenhum por perto. E logo o rastro em

você deve desaparecer. Você estará segura.

Page 239: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ele estava guiando o polegar na minha mão em um alfabeto

silencioso. Era uma espécie de calmante, reconfortante.

— E se não desaparecer?

— Então eu vou matá-los também. — Ele não hesitou. — Por

algum tempo, você vai precisar ficar perto de mim, até que

desapareça o rastro.

— Dee disse algo assim. — Mordi o lábio. — Então você não

quer que eu fique longe de vocês mais?

— Não importa o que eu quero. — Ele olhou para a mão dele. —

Mas se fosse do meu jeito, você não ficaria em qualquer lugar perto de

nós.

Eu respirei fundo, puxando a minha mão livre.

— Puxa, não seja honesto ou qualquer coisa.

— Você não entende. — Respondeu Daemon. — Neste

momento, você pode levar um Arum direto para minha irmã. E eu

tenho que protegê-la. Ela é tudo que me resta. E eu tenho que

proteger os outros aqui. Eu sou o mais forte. Isso é o que eu faço. E

enquanto você estiver carregando o rastro, eu não quero que você vá a

lugar nenhum com Dee se eu não estiver com vocês.

Sentando-me, olhei em direção à margem.

— Eu acho que é hora de voltar.

Seus dedos se apertaram em volta do meu braço. A pele se

arrepiou.

— Agora você não pode ficar sozinha. Eu preciso estar com você

até que o rastro desapareça.

— Eu não preciso de você para ser babá. — Meu queixo doía de

quão duro eu estava cerrando-o. A coisa toda de ficar longe de Dee me

Page 240: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

irritava, mas eu entendia. Não significa que as suas palavras não

doíam. — Eu vou ficar longe de Dee até que desapareça.

— Você ainda não está entendendo. — O aperto não doía, mas

eu tinha a sensação de que ele queria me machucar mesmo que eu

soubesse que ele nunca faria isso. — Se um Arum pegar você, eles

não vão te matar. Aquele na biblioteca, ele estava brincando com

você. Ele iria deixá-la de um jeito que você implorasse pela sua vida e,

em seguida, a forçaria a levá-lo até um de nós.

Eu engoli.

— Daemon-

— Você não tem escolha. Agora, você é um grande risco com o

rastro. Você é um perigo para a minha irmã. Eu não vou deixar nada

acontecer com ela.

Seu amor por sua irmã era admirável, mas não fez nada para

parar o fluxo de raiva correndo em minhas veias.

— E depois que o rastro desvaneça? Então o quê?

— Eu prefiro que você fique bem longe de todos nós, mas eu

duvido que isso vá acontecer. E minha irmã se importa com você. —

Ele soltou o meu braço e se recostou, se apoiando nos cotovelos. —

Contanto que você não acabe com outro rastro, então eu não tenho

nenhum problema em você ser amiga dela.

Minhas mãos se fecharam em punhos.

— Sou muito grata por ter a sua aprovação.

Seu meio sorriso não alcançou seus olhos. Seus sorrisos

raramente faziam.

— Eu já perdi um irmão por causa de como ele se sentia por

um ser humano. Eu não vou perder outro.

Page 241: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

A raiva ainda estava latente em mim, mas suas palavras me

chamaram a atenção.

— Você está falando sobre seu irmão e Bethany.

Houve uma pausa e, em seguida.

— Meu irmão se apaixonou por um ser humano... E agora os

dois estão mortos.

Page 242: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 19

Como se ele tivesse desligado o meu interruptor de cadela, tudo

o que eu podia fazer era olhar para ele. Lá estava aquela sensação no

meu estomago, que me dizia que eu já sabia essas coisas, mas não

queria reconhecer. Deus, ele era um idiota, mas minha raiva

acalmou, diminuindo e deixando a incerteza em seu lugar.

— O que aconteceu? — Perguntei.

Ele estava olhando por cima do ombro, com foco nas árvores

atrás de mim.

— Dawson conheceu Bethany, e eu te juro, foi como amor à

primeira vista. Tudo para ele era sobre ela. Matthew, o Sr. Garrison, o

alertou. Eu avisei a ele que não ia dar certo. Não tinha jeito de

podermos ter um relacionamento com um ser humano. — Apertando

os lábios, ele levou um momento. — Você não sabe o quão difícil é,

Kat. Nós temos que esconder o que somos o tempo todo, e mesmo

entre a nossa própria espécie, temos de ser cuidadosos. Existem

muitas regras. O DOD e os Luxen não gostam da ideia de nos

envolvermos com seres humanos. — Ele fez uma pausa, sacudindo a

Page 243: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

cabeça. — É como se eles pensassem que somos animais, abaixo

deles.

— Mas vocês não são animais. — Eu disse. Eles definitivamente

não eram como nós, mas eles não estavam abaixo de nós.

— Sabia que todos os cadastros que fazemos são controlados

pelo Departamento de Defesa? — Ele olhou para mim, os olhos

perturbados. Zangados. — Carteira de motorista, eles sabem. Se

mandarmos aplicação para a faculdade, eles veem. Licença de

casamento com um ser humano? Esqueça. Nós até temos um registro

que temos que fazer se quisermos nos mudar.

Eu pisquei.

— Eles podem fazer isso?

Ele riu sem graça.

— Este é o seu planeta, não nosso. Você mesma disse isso. E

eles nos mantém no local através do financiamento de nossas vidas.

Nós temos que nos apresentar a eles às vezes, por isso não podemos

nos esconder, nem nada. Já que eles sabem que estamos aqui, é isso.

Não tendo certeza do que dizer, preferi ficar quieta. Tudo sobre

a sua vida parecia controlado. Era assustador e triste.

— E isso não é tudo. Espera-se que encontremos outro Luxen,

e fiquemos com ele.

Alarme percorreu pelo meu sistema. Ele era obrigado a ficar

com Ash? Parecia a hora errada para perguntar. E parecia ainda mais

errado que eu quisesse perguntar.

— Isso não parece justo.

— Não é. — Daemon se sentou em um movimento fluido,

deixando cair os braços sobre os joelhos dobrados. — É fácil se sentir

humano. Eu sei que eu não sou, mas eu quero as mesmas coisas que

Page 244: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

todos os seres humanos querem. — Ele parou, sacudindo a cabeça. —

De qualquer forma, algo aconteceu entre Dawson e Bethany. Eu não

sei o quê. Ele nunca me disse. Eles saíram caminhando um sábado e

ele voltou tarde, suas roupas rasgadas e cobertas de sangue. Eles

estavam mais próximos do que nunca. Se Matt e os Thompsons não

suspeitavam antes, eles descobriram então. No fim de semana

seguinte, Dawson e Bethany saíram para o cinema. Eles nunca mais

voltaram.

Eu fechei meus olhos.

— O DOD os encontrou no dia seguinte em Moorefield, seus

corpos foram jogados em um campo como lixo. — Sua voz era baixa,

áspera. — Eu não consegui dizer adeus. Eles levaram seu corpo antes

que eu pudesse vê-lo, por causa do risco de exposição. Quando

morremos ou nos machucamos, voltamos à nossa verdadeira forma.

Eu sofria por isso – por ele e Dee.

— Você tem certeza de que ele está morto... Mesmo, já que você

nunca viu o seu corpo?

— Eu imagino que um Arum o pegou. Drenou suas habilidades

e matou-o. Se ele ainda estivesse vivo, teria encontrado uma maneira

de entrar em contato conosco. Ambos os corpos, dele e de Bethany,

foram retirados antes que alguém pudesse ver. Seus pais nunca vão

saber o que aconteceu com ela. E tudo o que sabemos é que ele deve

ter feito alguma coisa que deixou um rastro nela, permitindo que o

Arum o encontrasse. Essa é a única maneira. Eles não podem nos

sentir aqui. Ele tinha que ter feito algo maior.

Meu peito apertou. Eu não poderia imaginar o que ele e Dee

tinham sentido. A morte de meu pai tinha sido esperada. Doía saber

Page 245: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

como sua doença e morte estavam o matando, mas ele não tinha sido

assassinado.

— Sinto muito. — Eu sussurrei. — Eu sei que não há nada que

eu possa dizer. Estou tão triste.

Ele se mexeu um pouco, levantando a cabeça para o céu. Em

um segundo, a máscara que ele usava escorregou. E lá estava o

verdadeiro Daemon. Ainda arrogante, mas havia dor nele, uma

vulnerabilidade nas linhas de seu rosto que eu duvidava que alguém

já tivesse visto. E, de repente, eu senti como se estivesse invadindo

por testemunhar este momento. Ser eu, de todas as pessoas, a ver

por baixo das camadas de atitude não pareceu certo. Deveria ter sido

alguém que ele se preocupava, alguém importante para ele.

— Eu... Eu sinto falta do idiota. — Disse ele asperamente.

Meu coração se apertou. A dor em sua voz me desarmou. Sem

pensar, eu me virei e estendi a mão, passando os braços ao redor de

todo seu corpo muito rígido. Eu o abracei, apertando-o tão

firmemente quanto pude. E então eu o deixei ir antes que ele

exagerasse e me jogasse para fora da rocha.

Daemon ainda não se mexeu. Ele olhou para mim, os olhos

arregalados, como se nunca tivesse sido abraçado antes. Talvez os

Luxen não acreditassem em abraços. Baixei meu olhar.

— Eu sinto falta do meu pai, também. E não fica mais fácil.

Sua respiração saiu asperamente.

— Dee disse que ele estava doente, mas não o que estava

errado com ele. Eu sinto muito... Pela sua perda. A doença não é algo

com que estou acostumado. O que foi?

Eu contei a ele sobre o câncer do meu pai, o que foi

surpreendentemente fácil. E então eu contei sobre coisas melhores,

Page 246: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

coisas que meu pai e eu compartilhamos antes que ele ficasse doente.

Como eu costumava cuidar do jardim com ele e como passávamos as

manhãs de sábado procurando por novas plantas e flores na

primavera.

E ele compartilhou lembranças de Dawson. A primeira vez que

subiu as rochas do Seneca e a vez em que Dawson havia se

transformado em outra pessoa e não conseguia descobrir como

mudar de volta. Ficamos lá, de alguma forma encontrando uma paz

em falar sobre eles até que o sol começou a desvanecer e a pedra

perdeu seu calor. E era só eu e ele, na penumbra, olhando para as

estrelas enchendo o céu.

Eu estava relutante em sair, não porque a água estaria fria,

mas porque eu sabia, eu sabia, que este pequeno pedaço do mundo

que criamos, onde nós não estávamos discutindo ou odiando um ao

outro, não iria durar. Parecia que Daemon... Precisava de alguém

para conversar, e aconteceu de eu estar aqui. Fiz as perguntas certas.

E foi o mesmo para mim. Ele estava aqui. Pelo menos, isso é o que eu

estava dizendo a mim mesma, porque eu sabia que amanhã não seria

diferente da semana anterior.

Tínhamos que voltar para o mundo real. E Daemon desejando

que nunca tivesse me conhecido. Nenhum de nós falou até que já

estávamos na minha varanda. A luz estava acesa na sala de estar, por

isso, quando eu falei, mantive minha voz baixa.

— O que acontece agora?

As mãos de Daemon eram punhos ao seu lado enquanto ele

desviou o olhar, sem responder. Comecei a me virar, mas no tempo

que levou para eu piscar os olhos, Daemon já tinha ido embora.

Page 247: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

...

— Você não fez nada no Dia do Trabalho? — Lesa apontou para

Carissa atrás dela. — Você vive uma vida tão emocionante quanto

Carissa.

Carissa revirou os olhos quando ela endireitou os óculos.

— Nem todos nós temos pais que nos levam para um rápido fim

de semana na Carolina do Norte. Nós não somos tão legais quanto

você.

Não era como se eu pudesse contar que tive um fim de semana

emocionante, que envolvia quase ser atropelada por um caminhão e

provar a existência da vida extraterrestre, então eu dei de ombros e

rabisquei no meu caderno.

— Só fiquei em casa.

— Eu posso ver o porquê. — Lesa inclinou o queixo para a

frente da sala de aula. — Eu ficaria também se eu morasse ao lado

daquilo.

— Você deveria ter nascido homem. — Carissa observou, e eu

escondi um sorriso.

Aquelas duas eram um tumulto, uma tão reprimida quanto a

outra era corajosa. Eu sempre me sentia como se estivesse assistindo

a um jogo de tênis insano entre o anjo no meu ombro esquerdo e o

diabo no meu ombro direito.

Mas eu não precisava olhar para cima para ver que elas

estavam falando de Daemon. Eu mal consegui dormir na última noite.

A única coisa que eu tinha certeza de que aconteceria na terça de

manhã, é que eu não agiria diferente. Eu o ignorei, que era o que eu

fazia antes de descobrir que ele era de longe, muito longe.

Page 248: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

E funcionou direito até que ele se sentou atrás de mim e eu

senti sua caneta cutucando as minhas costas. Lentamente, eu soltei a

minha caneta e casualmente me virei.

— Sim?

Os cílios baixaram, mas não antes que eu visse o brilho nos

seus olhos.

— Minha casa. Depois da escola.

A ingestão audível da respiração de Lesa foi um pouco

embaraçosa.

Eu sabia que tinha que sair com Daemon até que esse maldito

rastro desaparecesse, mas eu não tinha que receber ordens.

— Eu tenho planos.

Sua cabeça se moveu um centímetro para o lado.

— Me desculpe?

Uma parte pequena, a parte malvada de mim se deleitava com a

sua surpresa.

— Eu disse que eu tenho planos.

Um segundo de silêncio se passou, e então ele sorriu. Não foi

tão devastador quanto eu esperava, mas bem perto.

— Você não tem planos.

— Como você sabe?

— Eu sei.

— Bem, você está errado. — Ele não estava. Eu não tenho

nenhum plano.

Seu olhar deslizou para as meninas.

— Ela vai sair com alguma de vocês depois da escola?

Carissa abriu a boca, mas Lesa cortou.

— Não.

Page 249: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Alguns amigos.

— Talvez eu não fosse sair com elas.

Daemon inclinou a mesa para frente, fechando o espaço entre

nós.

— Além delas e Dee, que outros amigos você tem?

Dei-lhe um olhar de morte.

— Tenho outros amigos.

— Sim, fale um.

Caramba. Ele percebeu minha mentira.

— Ok. Que seja.

Ele me deu um sorriso sexy e se recostou na cadeira, batendo

sua caneta na mesa. Dando-lhe mais um olhar de puro ódio, eu me

virei de volta.

Sim, nada havia mudado.

...

Daemon me seguiu até em casa depois da escola. Literalmente.

Ele me seguiu em sua nova SUV Infiniti. Meu velho Camry, com seu

escapamento furado e alto silenciador, não era páreo para as

velocidades que ele queria ir.

Eu o freei várias vezes.

Ele tinha explodido sua buzina.

Isso me fez sentir quente e furiosa por dentro.

Assim que saí do meu carro, ele estava bem na frente do lado

do motorista.

— Jesus! — Eu esfreguei meu peito. — Você poderia, por favor,

parar com isso?

Page 250: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Por quê? — Ele inclinou a cabeça para baixo. — Você sabe

sobre nós agora.

— Sim, mas isso não significa que você não pode andar como

um ser humano normal. E se a minha mãe te visse?

Ele sorriu.

— Eu iria fazê-la acreditar que estava vendo coisas.

Eu desviei dele.

— Vou jantar com a minha mãe.

Daemon apareceu na minha frente, me fazendo gritar. Eu

balancei até ele, mas ele se mudou para o lado.

— Deus! Eu acho que você gosta de fazer isso para me irritar.

— Quem? Eu? — Seus olhos estavam arregalados com

inocência. — Que horas é o jantar?

— Seis. — Eu subi os degraus. — E você não está convidado.

— Como se eu quisesse jantar com você... — Ele respondeu.

Eu virei sem olhar para trás.

— Você tem até 06:30 para estar na casa ao lado, ou eu vou vir

atrás de você.

— Sim. Sim. — Entrei sem olhar para trás.

Mamãe estava em pé ao lado da janela da sala, segurando um

retrato que ela estava espanando. Era a sua foto favorita de nós. Ela

parou um adolescente aleatório e pediu-lhe para tirar uma foto nossa

quando estávamos na praia. Um simples sorriso dela e o garoto não

pôde deixar de obedecer. Eu lembrei da vergonha por ela ter parado o

menino. Parecia mal-humorada ao lado dela, deslocada e frustrada.

Eu odiava essa foto.

— Há quanto tempo está aí?

Page 251: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Apenas o tempo suficiente para vê-la dar a Daemon o dedo

do meio.

— Ele mereceu. — Resmunguei, derrubando a minha mochila

no chão. — Eu vou lá depois do jantar.

Ela torceu o nariz.

— Algo que eu queira saber?

Eu suspirei.

— Nem em um milhão de anos.

...

Quando apareci na casa ao lado, às 06:34, parecia que a III

Guerra Mundial tinha irrompido na casa. Eu me convidei a entrar, já

que ninguém respondeu a maldita porta.

— Eu não consigo acreditar que você comeu todo o sorvete,

Daemon!

Eu me encolhi e parei dentro da sala de jantar. Não tinha jeito

de entrar naquela cozinha.

— Eu não comi tudo isso.

— Ah, então ele comeu a si mesmo? — Dee gritou tão alto que

eu pensei ter ouvido as vigas do teto tremendo. — Será que a colher

comeu? Oh, espere, eu sei. A embalagem comeu.

— Na verdade, eu acho que o congelador comeu. — Daemon

respondeu secamente.

Sorri quando ouvi o que parecia ser o recipiente vazio batendo

no que eu desconfiei que fosse Daemon.

Virando-me, voltei para a sala e olhei em volta até que ouvi

passos atrás de mim.

Page 252: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon descansava contra o marco da porta que levava da sala

de jantar até a sala. Eu o observei lentamente. Seu cabelo caia

descuidadamente e a fraca luz da lâmpada ressaltava as maçãs do

rosto. Seus lábios curvaram em um meio sorriso, e mesmo com a

camisa simples e calça jeans, ele parecia... bem, além das palavras.

Sua presença preenchia a sala toda, e ele não estava nem na

mesma.

Uma sobrancelha levantou enquanto ele esperava.

— Kat?

Mentalmente me chutando, eu desviei o olhar.

— Será que você foi atingido por uma caixa de sorvete?

— Sim.

— Droga. E eu perdi isso!

— Tenho certeza de que Dee adoraria fazer um replay para

você.

Eu sorri um pouco com isso.

— Oh, você acha que isso é engraçado. — Dee entrou na sala de

estar, as chaves do carro na mão. — Eu deveria estar fazendo você ir

até o mercado para me comprar Rocky Road, mas como eu gosto de

Katy e valorizo o bem-estar dela, vou buscar eu mesma.

Isso significaria que eu seria deixada sozinha... Oh inferno que

não.

— Daemon não pode ir?

Daemon sorriu para mim.

— Não. Se o Arum estiver por aí, ele só vai ver o seu rastro. —

Dee pegou sua bolsa. — Você precisa ficar com Daemon. Ele é mais

forte do que eu.

Meus ombros caíram.

Page 253: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não posso ficar na minha casa?

— Você percebe que o rastro pode ser visto do lado de fora? —

Daemon se empurrou para fora da porta. — É o seu funeral, apesar

de tudo.

— Daemon! — Dee estalou. — Isso é tudo culpa sua. Meu

sorvete não é seu sorvete.

— Sorvete deve ser muito importante. — Eu disse.

— É a minha vida. — Dee bateu a bolsa no Daemon, mas

perdeu. — E você pegou de mim.

Daemon revirou os olhos.

— Vá logo e volte direto para casa.

— Sim, senhor! — Ela saudou. — Vocês querem alguma coisa?

Eu balancei minha cabeça.

Daemon fez a coisa de piscar e reaparecer em seguida. Ele

estava agora ao lado de Dee e puxou-a para um abraço rápido.

— Tenha cuidado.

Não havia nenhuma dúvida em minha mente que Daemon

amava e adorava sua querida irmã. Ele ficaria feliz em dar a sua vida

por ela. A maneira como ele estava sempre cuidando dela era mais do

que admirável. Não havia uma palavra boa o suficiente para ele.

E isso me fez desejar que eu tivesse um irmão.

— Como sempre. — Ela sorriu, me deu um aceno rápido, e

correu para a porta.

— Uau. Lembre-me de nunca comer o sorvete dela.

— Se você fizer isso, nem mesmo eu seria capaz de salvá-la. —

Ele deu um sorriso irônico. — Então, Gatinha, se eu vou ser sua babá

durante a noite, o que eu ganho?

Meus olhos imediatamente se estreitaram.

Page 254: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Primeiro, eu não te pedi para ser minha babá. E você que me

fez vir aqui. E não me chame de Gatinha.

Daemon inclinou a cabeça para trás e riu. O som causou

arrepios através de mim, me lembrando de acordar com ele, minha

cabeça em seu colo.

— Você não está de bom humor hoje?

— Você não viu nada ainda.

Ainda rindo, ele se virou em direção à cozinha.

— Eu posso acreditar nisso. Nunca um momento chato com

você por perto. — Ele fez uma pausa. — Você vem ou não?

Eu respirei fundo e exalei lentamente.

— Ir para onde?

Ele abriu a porta da cozinha.

— Eu estou com fome.

— Você não acabou de comer todo o sorvete?

— Sim, mas ainda estou com fome.

— Meu Deus, aliens conseguem comer. — Eu fiquei parada.

Daemon olhou por sobre o ombro largo.

— Eu tenho essa forte sensação que eu preciso manter um olho

em você. Onde eu for você vai. — Ele esperou que eu me mexesse, e

quando eu não o fiz, seu sorriso virou diabólico. — Ou eu posso levar

você à força.

Eu tinha certeza de que não queria saber como ele planejava

fazer isso.

— Tudo bem, vamos. — Eu me arrastei por ele e sentei em uma

cadeira.

Daemon pegou um prato de restos de frango.

— Quer um pouco?

Page 255: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu balancei minha cabeça. Ao contrário deles, eu não comia

dez refeições por dia.

Ele ficou em silêncio enquanto se movia pela cozinha. Desde a

noite sobre a rocha, nós não tínhamos estado na garganta um do

outro. Não era como se estivéssemos nos dando bem, mas parecia que

uma trégua não declarada existia. Eu não tinha ideia do que fazer

com ele, já que não estávamos provocando um ao outro.

Descansando a minha bochecha na minha palma, eu tive

dificuldade em tirar os olhos dele.

Ele era largo e alto, mas se movia como um dançarino. Cada

passo era suave e flexível. Mesmo o movimento mais simples parecia

uma forma de arte.

Em seguida, tinha o rosto.

Naquele momento, ele olhou por cima de seu prato.

— Então, como você está?

Eu tirei meus olhos dele e me concentrei no prato de comida

que já estava metade comido. Quanto tempo eu tinha estado olhando

para ele? Isso estava ficando ridículo.

Será que o rastro me transformava em um hormônio

ambulante?

— Eu estou bem.

Ele mordeu um pedaço de frango e mastigou lentamente.

— Você está. Você aceitou tudo isso. Estou surpreso...

— O que você achava que eu faria?

Daemon encolheu os ombros.

— Com os seres humanos, as possibilidades são infinitas.

Mordi o lábio.

Page 256: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você acha que nós somos de alguma forma, mais fracos do

que vocês, por sermos humanos?

— Não é que eu acho que você é fraca, eu sei que você é. — Ele

me olhou por cima do copo de leite. — Eu não estou tentando ser

desagradável dizendo isso. Vocês são mais fracos do que nós.

— Talvez não fisicamente, mas mentalmente e moralmente... —

Retruquei.

— Moralmente? — Ele parecia confuso.

— Sim, tipo, eu não vou contar ao mundo sobre vocês para

conseguir dinheiro. E se eu fosse capturada por um Arum, eu não iria

trazê-los de volta para todos vocês.

— Você não iria?

Ofendida, eu me inclinei para trás e cruzei os braços.

— Não. Eu não faria isso.

— Mesmo que a sua vida estivesse ameaçada? — Descrença

coloriu seu tom.

Balançando a cabeça, eu ri.

— Só porque eu sou humana não significa que sou uma

covarde ou antiética. Eu nunca faria nada que pudesse colocar Dee

em perigo. Por que a minha vida iria ser mais valiosa do que a dela?

Agora a sua... É discutível. Mas não Dee. — Ele olhou para mim por

alguns segundos, em seguida, voltou para a sua comida. Se eu estava

esperando um pedido de desculpas eu não iria conseguir um. Grande

surpresa.

— Então, quanto tempo vai demorar para este rastro

desaparecer? — Meus olhos se voltaram para ele. Muito chato.

Page 257: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Os olhos de Daemon eram intensos e brilhantes, a tonalidade

verde parecendo queimar através de mim. Ele tomou um longo e

saudável gole.

Engoli em seco, minha garganta seca.

— Provavelmente uma ou duas semanas, talvez menos. — disse

ele, apertando os olhos. — Ele já está começando a desaparecer.

Era estranho ouvi-lo falar sobre esta luz em torno de mim que

eu não podia ver.

— Com o que eu pareço? Uma ampola gigante ou algo assim?

Ele riu, balançando a cabeça.

— É um brilho branco suave que está em torno de seu corpo,

como uma espécie de aura.

— Oh, bem, isso não é tão ruim. Você terminou? — Quando ele

acenou com a cabeça, peguei seu prato por hábito. Para não jogar em

cima dele, mas, principalmente, para ter algo para fazer. — Pelo

menos eu não pareço uma árvore de Natal.

— Você se parece com a estrela no topo da árvore. — Sua

respiração agitou o cabelo em volta da minha bochecha.

Ofegante, eu me virei.

Daemon estava diretamente atrás de mim. Nossos corpos

separados apenas por trinta ou sessenta centímetros. Colocando

minhas mãos na borda do balcão, eu respirei fundo.

— Eu odeio quando você faz essa coisa de super velocidade

alienígena.

Sorrindo, ele inclinou a cabeça para o lado.

— Gatinha, o que vamos fazer?

Milhares de imagens passaram pela minha cabeça. Graças a

Deus, ler pensamentos não era um de seus poderes estranhos. Esta

Page 258: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

densidade estranha invadiu o ar em torno de mim, e uma vontade

irresistível de dentro saltou para a vida.

— Por que não me entregou ao DOD? — Eu soltei.

Daemon deu um passo para trás, surpreso.

— O quê?

Eu desejei que eu não tivesse falado, mas eu fiz, e não havia

nenhum jeito de voltar atrás.

— Não teria sido mais fácil para você se você me entregasse ao

DOD? Então você não teria de se preocupar com Dee ou qualquer

coisa...

Daemon ficou em silêncio. A cor de seus olhos subiu um tom,

tornando-se mais brilhante. Eu queria dar um passo atrás, mas não

havia para onde ir.

Voz baixa, ele disse:

— Eu não sei, Gatinha.

— Você não sabe? Você arriscaria tudo e você não sabe por

quê?

— Isso é o que eu disse.

Olhei para ele, perplexa com o fato de que ele arriscou tudo e

parecia não ter ideia do por quê. Isso era uma loucura para mim.

Absurdo.

Na verdade, era irritante, porque isso podia significar muitas

coisas. Coisas que eu não ousava reconhecer. Seus braços se

mexeram rapidamente, caindo pesadamente contra o balcão. Quilos

de músculo criaram uma armadilha muito bem sucedida, me

prendendo no lugar, sem nem mesmo me tocar. Ele abaixou a cabeça

e ondas escuras de cabelo caíram sobre seus olhos.

Page 259: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Ok. Eu sei por quê. — No começo eu não tinha ideia do que

ele estava falando.

— Você sabe?

Daemon assentiu.

— Você não iria sobreviver um dia sem nós.

— Você não sabe disso.

— Oh, eu sei. — Ele inclinou a cabeça para o lado. — Você sabe

quantos Arum eu já enfrentei? Centenas. E houve momentos em que

eu mal escapei. Um humano não tem chance contra eles ou o DOD.

— Tudo bem. Que seja. Você pode se mover?

Continuando em sua posição, Daemon sorriu. Deus, ele era

irritante. Eu poderia ficar aqui, olhando para ele como uma idiota, ou

poderia passar por ele. Eu optei pela última. Meu plano era afastá-lo

para passar por ele o mais rápido possível.

Não que eu cheguei muito longe.

Ele era como uma parede de tijolos que apenas um trem de

carga poderia tirar do caminho. O sorriso dele ficou maior, entretido

com a minha falta de progresso.

— Idiota. — Eu murmurei.

Daemon riu.

— Você tem uma boca e tanto. Você beija meninos com essa

coisa?

Minhas bochechas aqueceram.

— Você beija Ash com a sua?

— Ash? — Seu sorriso desapareceu e seus olhos eram de

repente obscuros, menos limpos. — Você gostaria de provar, não é?

Uma faísca irracional de ciúmes queimou em mim, mas eu

empurrei-a de lado. Eu sorri.

Page 260: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não, obrigado.

Daemon inclinou-se ainda mais. Seu aroma picante e terroso

me rodeava.

— Você não é uma boa mentirosa, Gatinha. Suas bochechas

ficam vermelhas quando você mente.

Elas ficavam? Ah, inferno. Tentei empurrar ele novamente, mas

ele estendeu a mão, segurando meu braço. Não era um controle

apertado, mas eu ainda o sentia até meus ossos. Sua mão

cantarolava. O formigamento era forte e surpreendente, mas

agradável. Eu não queria olhar para ele, mas eu não era capaz de

parar de olhar.

Estávamos muito perto e havia muita tensão entre nós. Seu

olhar queimava no meu. Ele abaixou a cabeça, e eu esqueci como

respirar. Fascinada, eu observei seus lábios lentamente se curvarem

em um sorriso. Foi difícil prestar atenção às suas palavras, quando

ele falou, mas de alguma forma conseguiram passar através da névoa

estranha nublando meu cérebro.

— Eu tenho uma estranha ideia de que eu deveria testar isso.

— Testar o quê? — Meus olhos caíram para seus lábios. Senti-

me balançar.

— Eu acho que você gostaria de saber. — Ele se aproximou,

sua mão deslizando no meu braço e descansando cuidadosamente na

minha nuca. — Você tem o cabelo bonito.

— O quê?

— Nada. — Seus dedos se espalharam ao longo da parte de trás

do meu pescoço, tecendo lentamente através dos fios de cabelo solto.

Seus dedos ágeis se moveram contra a base do meu crânio.

Meus lábios se separaram, e eu esperei.

Page 261: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ele baixou a mão e a estendeu novamente enquanto eu estava

lá, ansiosa – talvez ansiosa demais – para descobrir se ele sentia a

mesma dor inesperada. Se ele estava ao menos um pouco afetado

como eu estava.

Em vez disso, Daemon tirou uma garrafa de água do balcão.

Eu caí contra o balcão. Que merda.

Seus olhos dançaram com risadas quando ele voltou para a

mesa.

— O que foi que você estava perguntando, Gatinha?

— Pare de me chamar assim.

Ele tomou um gole.

— Será que Dee pegou um filme ou algo assim?

Eu balancei a cabeça.

— Sim, ela mencionou antes em sala de aula.

— Bem, vamos lá. Vamos assistir a um filme.

Eu me afastei do balcão e segui atrás dele. Fiquei na porta

enquanto ele segurava o DVD e franzia a testa.

— De quem foi essa ideia?

Dei de ombros e, em seguida, vi suas sobrancelhas subir ao ler

a sinopse na parte de trás.

— Tanto faz. — Ele murmurou.

Limpando minha garganta, eu dei um passo e olhei a sala.

— Daemon, você não tem que se sentar e assistir a um filme

comigo. Se você tem outras coisas que queira fazer, eu tenho certeza

que vou ficar bem.

Ele olhou para cima do filme e depois deu de ombros.

— Não tenho nada para fazer.

Page 262: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Tudo bem. — Eu ainda não tinha certeza. Imaginá-lo

desfrutar de uma noite de cinema comigo era mais absurda do que a

ideia de alienígenas vivendo entre humanos.

Arrastei-me pela sala e sentei no sofá enquanto ele brincava

com o filme. Depois de colocar o disco, ele se aproximou do sofá e se

sentou no outro lado. Em seguida, ligou a televisão, e eu poderia jurar

que ele tinha deixado o controle remoto perto da TV. Era

provavelmente uma boa coisa que eu não tivesse esse poder. Eu

estaria além de ser preguiçosa.

Ele olhou para mim, e eu imediatamente enfrentei a televisão.

— Se você cair no sono durante o filme, você me paga.

Virei-me para ele com uma careta.

— Por quê?

Daemon me encarou com um sorriso de lobo.

— Basta ver o filme.

Eu fiz uma careta, mas fiquei em silêncio. Daemon mudou. O

sofá afundou e a distância entre nós ficou menor. Eu segurei minha

respiração até que eu precisei de ar. Ele não pareceu notar que os

créditos rolaram pela tela.

Olhei para o seu perfil e me perguntei pela centésima vez o que

ele estaria pensando e, como sempre, não percebi nada. Mais que

frustrada, me voltei para o filme e decidi que a estranha atração que

sentia por ele tinha que ser minha imaginação. Não podia ser nada

mais.

Tensa e incerta do que eu estava sentindo, eu contava os

minutos para que Dee chegasse.

Page 263: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 20

Daemon estava surpreendentemente controlado em matemática

na quarta-feira. A inevitável cutucada com a caneta só aconteceu

uma vez, e foi para me lembrar que os únicos planos que eu tinha

depois da escola eram com ele. Sim, que seja! Como se eu pudesse

esquecer.

Em biologia, como no dia anterior, o olhar aguçado do Sr.

Garrison continuou voltando-se para mim. Eu sabia que ele via o

rastro, e não tinha ideia do que ele estava pensando. Daemon não

mencionou se ele e Dee tinham contado alguma coisa para outros

Luxen. Durante toda a aula de ontem, vários professores tinham me

dado um olhar estranho. Hoje, um dos treinadores que passava no

caminho para o refeitório parou no meio do corredor e me olhou de

cima abaixo. Ou ele era um pervertido ou um alienígena. Ou as duas

coisas, o que seria uma combinação vencedora.

Enquanto estava na fila do almoço, eu fiz tudo ao meu alcance

para não olhar em direção à parte de trás da cafeteria. Olhando para

Page 264: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

a comida, eu dei um passo à frente e quase bati em uma montanha

viva.

Simon Cutters virou-se e, em seguida, olhou para baixo. Ele

sorriu quando ele me viu.

— Ei você aí, Katy.

Eu entreguei o meu dinheiro para a senhora da cantina, e me

virei para Simon.

— Desculpe por isso.

— Não tem problema. — Ele esperou por mim no final da fila, o

prato cheio de comida.

Ele comia quase tanto quanto Dee.

— Você tem alguma ideia do que Monroe estava falando em

trigonometria? Eu juro que foi uma língua diferente.

Considerando que eu tinha passado a maior parte da aula

ignorando o garoto atrás de mim...

— Eu não tenho ideia. Eu estou esperando que alguém tenha

feito anotações. — Mudei meu prato de mão. — Nós temos um teste

na próxima semana, certo?

Simon assentiu.

— Logo antes do jogo, também. Acho que Monroe faz isso-

Alguém chegou para pegar uma bebida, nos obrigando a dar

um passo para trás, o que não era necessário, pois qualquer um

poderia ter facilmente caminhado em volta de nós. Quando inalei o

aroma fresco, percebi quem era.

Daemon pegou uma caixa de leite fora do carrinho e a

arremessou. Me dando um olhar indecifrável, ele se virou para Simon.

Ambos eram da mesma altura, mas Simon era muito mais largo.

Ainda assim, Daemon exalava uma vibração mais arrogante.

Page 265: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Como está indo, Simon? — Ele perguntou, girando a caixa

novamente.

Piscando quando ele recuou, Simon limpou a garganta.

— Bem – fazendo o bem. Indo para minha-uh, minha mesa. —

Ele olhou para mim nervosamente. — Nos vemos em aula, Katy.

Franzindo a testa, eu observei Simon tropeçar nos próprios pés

para chegar à sua mesa. Me voltei para Daemon.

— Tudo bem?

— Você está pensando em sentar com Simon? — Ele

perguntou, cruzando um braço sobre seu peito.

— O quê? Não. — Eu ri. — Eu estava pensando em sentar com

Lesa e Carissa,

— Eu também. — Dee entrou na conversa, vindo do nada. Ela

equilibrava uma prato numa mão e duas bebidas na outra. — Isto é,

você acha que eu seria bem-vinda?

— Eu tenho certeza que você vai ser. — Olhei para Daemon,

mas ele já estava voltando para sua mesa. Eu fiquei lá por um

momento, confusa. O que tinha sido isso? Havia os gêmeos

Thompson e Ash, amontoados. Alguns dos outros garotos estavam

conversando. Eu não tinha ideia se eram alienígenas ou não. Daemon

sentou-se ao lado deles, pegou um livro, e começou a folheá-lo. Ash

olhou para cima e não pareceu muito emocionada.

— Você acha que alguém vai se importar? — Eu perguntei

finalmente.

— Não. Eu odiei que eu não sentei com você ontem. E eu acho

que é hora de uma mudança. — Dee parecia tão esperançosa que eu

não podia discordar. — Certo?

Page 266: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Lesa e Carissa ficaram chocadas em um silêncio atordoado por

cerca de cinco minutos após Dee se juntar a mim na mesa, mas ela as

conquistou e todo mundo relaxou muito rapidamente.

Todos, menos eu.

Metade da lanchonete me observava, provavelmente esperando

por mim para entrar em outra luta de comida épica com a loira. Tinha

passado uma semana, e ainda todos me consideravam a ninja da

comida. De vez em quando, Ash olhava para a nossa mesa, uma

profunda carranca em seu belo rosto. Ela estava com um top azul

choque que combinava com seus olhos. A camisa branca que ela

usava estava um pouco desabotoada, revelando que ela tinha um

corpo ótimo.

Deus, o que acontecia com o DNA alienígena? Eu sei que eles

eram de outro mundo, mas Jesus, isso incluía seios perfeitos,

também? Dee me cutucou com o cotovelo enquanto Carissa e Lesa

conversavam com um menino sardento no fim da mesa.

— O quê? — Perguntei. Ela se inclinou em meu ombro, falando

de um jeito que só eu pudesse ouvir.

— O que está acontecendo com você e meu irmão?

Eu dei uma mordida da minha pizza, ponderando sobre como

responder a isso.

— Nada, você sabe, o mesmo de sempre.

Dee arqueou uma sobrancelha perfeitamente delineada.

— Sim, ele ficou fora o domingo inteiro. E você também. E

enquanto ele estava fora, um certo alguém veio procurando por ele.

Minha fatia caiu da minha mão.

Ela pegou a bebida, sorrindo ligeiramente.

Page 267: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu não cheguei a contar para você ontem já que ele ficou

conosco, mas você não pode me dizer que você não tenha notado Ash

nos olhando.

— Eu notei. — Lesa cortou, estatelando os cotovelos sobre a

mesa. — Ela parece que está desejando que você morra.

Eu fiz uma careta.

— Caramba. Isso é bom.

— E você não tem ideia do por quê? — Perguntou Dee,

inclinando o corpo para que suas costas ficassem contra a mesa

deles. — Finja que você está olhando para mim. Agora.

— Eu estou olhando para você agora. — Eu indiquei, dando

outra mordida da minha pizza.

Lesa riu.

— Olhe por cima do ombro, gênio. Em direção à mesa deles.

Revirando os olhos, eu fiz como elas pediram. Em primeiro

lugar, eu notei que um dos meninos loiros tinha mudado de lugar,

conversando com um garoto da mesa da frente. Então eu mudei meu

olhar, e meus olhos se encontraram com os de Daemon.

Apesar de várias mesas nos separando, minha respiração ficou

presa. Havia algo... Intenso naqueles olhos cor de esmeralda.

Desejoso. Eu não pude desviar o olhar, e ele também não. A distância

entre nós parecia evaporar.

Um segundo depois, ele sorriu e se virou, concentrando-se

sobre o que Ash estava lhe contando. Tomando uma respiração

superficial, me concentrei em meus amigos.

— Sim. — Lesa murmurou sonhadora. — é por isso.

— Eu... Não há nenhuma razão. — Meu rosto estava pegando

fogo. — Você o viu? Ele está fazendo um beicinho para mim.

Page 268: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Essa coisa de beicinho é sexy. — Lesa olhou para Dee. —

Sinto muito. Eu sei que ele é seu irmão e tudo mais.

— Está tudo bem. Eu estou acostumada com isso. — Dee

apoiou o queixo na mão. — Lembra-se do dia na varanda?

Apertei os olhos para ela.

— O que aconteceu na varanda? — Lesa perguntou, tão curiosa

que seus olhos escuros brilharam.

— Nada. — Eu disse.

— Eles estavam perto assim. — Dee levantou seu dedo e seu

polegar para demonstrar que havia apenas um centímetro entre os

dois. — E eu tenho certeza que eles chegaram mais perto.

Minha boca caiu aberta.

— Nós não temos nada, Dee. Nós nem sequer gostamos um do

outro, como em um nível básico.

Carissa tirou os óculos e soprou sobre eles.

— O que está acontecendo?

Lesa contou para ela, muito para o meu horror.

— Oh, sim. — Carissa assentiu. — Eles estavam bem animados

na sala de aula na sexta-feira. Foi muito na cara, a coisa toda de ‗eu

não estou nem aí para você‘ com os olhos.

Eu engasguei com a minha bebida.

— Isso não era o que estávamos fazendo. Nós estávamos

conversando!

— Katy, você estava tão fazendo isso. — Lesa pegou um

guardanapo e começou a rolar.

— Não há nada para se envergonhar. Eu faria isso com ele

também.

Olhei para ela um segundo, então explodimos em gargalhadas.

Page 269: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Vocês são loucas. Não tem nada acontecendo. — Eu olhei

para Dee. — E você deveria saber disso.

— Eu sei de um monte de coisas. — disse ela inocentemente.

Minhas sobrancelhas franzidas.

— O que é que isso quer dizer?

Ela encolheu os ombros e apontou para minha segunda fatia.

— Você vai comer isso? — Eu peguei e entreguei a ela. Ela

ignorou meu olhar enquanto ela devorava feliz minha fatia extra de

pizza.

— Oh, vocês ouviram sobre Sarah? — Carissa fechou o celular

dela, olhando para cima. — Eu quase me esqueci.

— Não. — Lesa olhou para mim. — O irmão mais velho de

Carissa, Ben é amigo do irmão de Sarah. Eles vão para WVU juntos.

— Oh. — Eu virei a minha bebida e comecei a descascar o

rótulo. Quando eu pensava em Sarah, eu pensava no hospital e como

eu tinha ouvido falar da morte dela. E eu pensei no Arum, e como eles

estavam por perto.

— Robbie disse a Ben que a polícia não acha que foi um ataque

cardíaco ou uma causa natural. — Carissa olhou ao redor da mesa,

baixando a voz. — Ou pelo menos nenhuma causa natural que eles

conheçam.

Dee baixou a pizza de sua boca. Foi assim que eu soube que

isso era sério.

— O que você quer dizer?

— Aparentemente, houve tantos danos ao seu coração que não

havia nenhum jeito que isso pudesse acontecer, independentemente

dela ter algum problema cardíaco. — Carissa explicou.

Dee deu de ombros.

Page 270: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu sei, mas o que mais poderia ser?

Olhei para Dee, tendo uma ideia do que poderia ter sido. Depois

do almoço, arrastei-a para o lado.

— Foi um deles? — Eu perguntei. — Um dos Arum?

Dee mordeu o lábio e, em seguida, ela me puxou para longe das

portas da cafeteria e de seu irmão, que estava saindo da sala. No final

do corredor, ela parou.

— Foi, mas Daemon cuidou dele.

Eu hesitei.

— Foi o mesmo que me atacou?

— Foi. — Dee olhou para trás, os lábios finos. — Daemon acha

que foi puramente coincidência, que o Arum deparou com ela. Ela

não nos conhecia. Eu juro.

Isso não faz nenhum sentido para mim.

— Então, por quê?

Dee encontrou meu olhar.

— Eles não precisam de uma razão, Katy. Os Arum são maus.

Eles nos matam pelos nossos poderes. — Ela fez uma pausa,

empalidecendo. — E eles matam seres humanos para o divertimento

deles.

Page 271: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 21

Surpreendentemente, as coisas estavam mais ou menos...

normais agora. Meu rastro se apagou em uma semana e meia.

Daemon agiu como se tivesse sido liberado de uma pena de prisão de

vinte anos, e ele nunca mais estava por perto quando eu estava com

Dee. Setembro e outubro passaram sem nada acontecer. Mamãe

continuou a trabalhar em ambos os trabalhos, e ela teve mais um par

de encontros com o Sr. Michaels. Ela gostava dele, e eu estava feliz

por ela. Fazia tanto tempo desde que eu tinha visto o seu sorriso não

tingido com tristeza.

Carissa e Lesa tinham vindo a minha casa, e muitas vezes nós

íamos ao cinema ou ao shopping em Cumberland com Dee. Mesmo

que eu tivesse me aproximado das duas meninas humanas e tivesse

um pouco mais em comum com elas, eu me aproximei mais de Dee.

Fazíamos tudo juntas, tudo, exceto falar sobre Daemon. Ela tentou,

várias vezes.

Page 272: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu sei que ele gosta de você. — Ela disse uma vez, enquanto

estávamos supostamente estudando. — Eu vejo a maneira como ele

olha para você. Ele fica tenso, até mesmo se eu falo disso.

Eu suspirei e fechei meu caderno.

— Dee, eu acho que a razão pela qual ele olha para mim é

porque ele está pensando em maneiras de me matar e esconder o meu

corpo.

— Esse não é o olhar que ele lhe dá.

— Então qual é o olhar, Dee?

Ela bateu seu livro para fora da cama e subiu até os joelhos,

colocando as mãos sobre o peito.

— É o olhar 'eu te odeio, mas eu quero você‘.

Eu ri.

— Isso foi terrível.

— É verdade. — Ela baixou as mãos. — Podemos namorar seres

humanos, se quisermos, você sabe. É meio inútil, mas nós podemos.

E ele nunca prestou atenção em qualquer outro ser humano.

— Ele foi forçado a prestar atenção em mim, Dee. — Eu caí de

costas na minha cama. Meu estômago se apertou com o pensamento

de Daemon secretamente querendo ficar comigo. Eu sabia que ele

estava atraído por mim. Eu sentia, mas a luxúria não tem nada a ver

com isso. — E quanto a você? O que aconteceu com Adam?

— Absolutamente nada. Eu não sei como Ash fica atraída por

Daemon. Nós crescemos com eles, e Andrew é como um irmão para

mim. Eu não acho que ele se sinta de forma diferente, também. — Ela

fez uma pausa, o lábio inferior tremendo. — Eu não gosto de ninguém

da minha espécie.

— Existe um... Garoto humano que você gosta?

Page 273: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ela balançou a cabeça.

— Não. Mas se houvesse, eu não teria medo de gostar dele. Eu

tenho o direito de ser feliz. Não devia importar se é um de sua espécie

ou da nossa.

— Eu concordo plenamente.

Dee tinha deitado ao meu lado, se aconchegando.

— Daemon iria pirar se eu me apaixonasse por um ser

humano.

Eu quase sorri, mas depois me lembrei de seu irmão. Com

certeza, Daemon iria enlouquecer. Talvez justamente por isso, porque

se seu irmão não tivesse se apaixonado por um ser humano, ele ainda

estaria vivo.

Eu esperava que pelo bem de Dee que ela nunca se apaixonasse

por um. Daemon definitivamente ficaria maluco.

Quando se aproximava o fim de outubro, parecia que tínhamos

retrocedido no tempo. Eu queria encontrar a caneta dele e destruí-la.

Eu perdi a conta de quantas muitas vezes fui cutucada nas costas por

muito tempo após o rastro ter desaparecido de mim. Parecia que ele

vivia para me irritar.

E havia uma parte de mim que ansiava por isso, só porque era

divertido... Até que um de nós seriamente se irritou, especialmente

quando ele estava sendo totalmente antissocial.

Como na aula de sexta-feira, Simon perguntou se eu queria

estudar para a nossa prova de trigonometria. Antes que eu pudesse

responder, a mochila de Simon tinha voado para fora de sua mesa,

espalhando seu conteúdo pelo chão como se alguém tivesse varrido o

braço por sobre a mesa. Com o rosto vermelho e confuso, Simon tinha

Page 274: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

sido distraído com sucesso pela classe rindo enquanto ele recolhia

seus cadernos e lápis dispersos.

Eu olhei para trás por cima do meu ombro para Daemon,

suspeitando que ele estava por trás da mochila voando, mas tudo que

ele fez foi sorrir preguiçosamente para mim.

— Qual é o seu problema? — Eu perguntei no corredor depois

da aula. — Eu sei que você fez isso.

Ele deu de ombros.

— E daí?

Então? Eu parei no meu armário, surpresa ao descobrir que

Daemon tinha me seguido até lá.

— Isso foi rude, Daemon. Você o envergonhou. — Então eu

abaixei minha voz para um sussurro: — E eu pensei que usar seus...

Suas coisas os atrairiam aqui.

— Isso foi apenas um pontinho no mapa. Isso não deixou um

rastro em ninguém. — Ele abaixou a cabeça até que as bordas de

seus cachos escuros caíram em minha bochecha. Eu fui pega entre a

vontade de rastejar em meu armário e rastejar para ele. — Além

disso, eu estava fazendo um favor.

Eu ri.

— E como que isso foi um favor?

Daemon sorriu para mim e, em seguida, baixou o olhar para

que seus grossos cílios escuros protegessem seus olhos.

— Estudar matemática não era o que ele tinha em mente.

Isso parecia discutível, mas eu decidi jogar também. Eu não iria

recuar com ele, nem mesmo que ele pudesse me jogar na parede com

um único pensamento.

— E se esse for o caso?

Page 275: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você gosta do Simon? — Seu queixo se ergueu, raiva

piscando em seus olhos cor de esmeralda. — Você não pode gostar

dele.

Eu hesitei.

— Você está com ciúmes?

Daemon olhou para longe.

E aproveitei a oportunidade para, finalmente, ter uma coisa

para esfregar na cara dele e dei um passo à frente. Ele não se moveu

ou respirou.

— Você está com ciúmes do Simon? — Eu abaixei minha voz. —

De um ser humano? Que vergonha, Daemon.

Ele puxou uma respiração afiada.

— Eu não estou com ciúmes. Tudo o que eu estou tentando

fazer é ajudá-la. Caras como Simon querem ficar entre suas pernas.

Corei enquanto olhava para ele.

— Por quê? Você acha que essa é a única razão pela qual um

homem pode gostar de mim?

Daemon sorriu conscientemente enquanto ele lentamente se

virava.

— Só estou dizendo.

Ele saiu depois disso, desaparecendo no corredor lotado. O que

era bom, porque se ele tivesse ficado mais um pouco eu teria batido

nele. Quando eu me virei, vi Ash de pé do lado de sua sala. Seu olhar

podia muito bem ter me fritado na hora.

Ninguém estava falando sobre Sarah. Não que a escola tinha

esquecido ela. Eles apenas seguiram em frente, como a maioria fazia.

Saber como e por que ela morreu era algo que eu tentei não pensar.

Quando eu pensava, meu estômago azedava como leite coalhado. Ela

Page 276: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

morreu porque Daemon me salvou e o Arum precisava de alguém em

quem descontar sua raiva.

E à noite, eu sonhava com o estacionamento atrás da

biblioteca. Via o rosto dele, a frieza e raiva em seus olhos quando ele

tentava tirar a minha vida. Naquelas noites, eu acordava com um

grito preso na minha garganta, coberta de suor.

Além dos pesadelos e a opressão ocasional da parte de Daemon,

não havia mais nada fora do normal. Era como viver junto a

adolescentes normais. Adolescentes que não precisavam se levantar

para mudar o canal de televisão e que ficavam tensos após uma

chuva de meteoritos.

Dee tinha explicado que o Arum usava esses acontecimentos

atmosféricos como um jeito de descer para a Terra sem ser detectado

pelo governo. Eu não entendia como, e ela não explicou, mas por

alguns dias após a chuva ou até mesmo uma estrela cadente, os

irmãos ficavam no limite. Eles também poderiam desaparecer, às

vezes levando um fim de semana de três dias, ou faltar uma quarta-

feira, sem qualquer aviso. Dee, eventualmente, explicava que eles

tinham ido à inspeção do DOD. Eles continuaram a me dizer que os

Arum não eram um problema, mas eu não acreditava neles. Não

quando eles evitavam tanto discutir o assunto.

Mas Dee estava em vantagem por um motivo totalmente

diferente em sala de aula na quinta-feira. O baile era no próximo fim

de semana e ela não tinha encontrado um vestido. Ela tinha um

encontro com Andrew. Ou era Adam? Eu não podia distinguir a dupla

incrível de loiros.

Todo mundo estava animado com o baile, ao que parecia.

Flâmulas penduradas dos corredores. Banners anunciavam o jogo

Page 277: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

contra outra escola e o evento. Os ingressos eram vendidos aqui e ali.

Lesa e Carissa também tinham pares. Nenhuma das duas tinham

vestidos, pelo que eu ouvi na conversa do almoço.

Eu, por outro lado, não tinha um par.

Elas tentaram me convencer ontem que ir sozinha não era um

desastre social, e eu sabia disso, mas ficar de pé junto à parede a

noite toda ou sendo vela de algum casal não era legal. Todos se

conheciam em uma escola tão pequena quanto PHS. Casais ficavam

juntos por toda a sua passagem pelo ensino médio. Amigos estavam

marcando para se encontrarem no baile. E eu, não tendo nenhuma

conexão real com qualquer pessoa, parecia sem jeito. Matando

totalmente minha autoestima.

Depois de passar a aula de matemática ignorando as tentativas

de Daemon de me irritar, Simon apareceu no meu armário enquanto

eu trocava um livro pesado e inútil por outro livro inútil e pesado.

— Ei. — Eu disse, sorrindo. Eu esperava que Daemon não

estivesse por perto, porque só Deus sabe o que ele faria. — Você

parecia que estava dormindo na sala de aula hoje.

Ele riu.

— Eu meio que estava. E eu estava sonhando com equações.

Era tudo muito assustador.

Eu ri, empurrando o livro em minha mochila enquanto eu

fechava a porta do meu armário com o quadril.

— Eu posso imaginar.

Simon não era feio. Não se você gostasse de atletas musculosos

e grandes que pareciam arremessar fardos de feno durante o verão.

Ele tinha os braços do tamanho de troncos de árvores e um sorriso

encantador o suficiente. Lindos olhos azuis, também, e quando ele

Page 278: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

sorria, a pele ao redor desses olhos de bebê enrugava. Mas os olhos

dele não eram verdes, seus lábios não eram poéticos.

— Eu nunca vi você em qualquer um dos nossos jogos. — Disse

ele, sua pele fazendo a coisa de enrugar de novo. — Não é uma fã de

futebol?

Simon era o zagueiro ou Lineback. Honestamente, eu não tinha

ideia do que isso significava.

— Eu fui a um jogo. — Eu disse a ele. E eu tinha saído no

intervalo com Dee. Nós duas tínhamos ficado mais do que entediadas.

— O futebol não é coisa minha.

Eu esperava que ele saísse depois disso, porque o futebol é

como uma religião por aqui, mas ele se inclinou contra o armário ao

meu lado, cruzando os braços sobre o peito.

— Então, eu estava me perguntando se você tinha planos no

próximo sábado.

Meus olhos foram até a faixa vermelha e preta acima de sua

cabeça. No próximo sábado era baile. Minha garganta secou como um

animal encurralado, e meus olhos ficaram enormes.

— Não. Sem planos.

— Você não vai para o baile? — Ele perguntou.

Digo que eu não tenho um par ou iria soar muito estupido? Eu

resolvi balançando a cabeça. Simon pareceu aliviado.

— Você gostaria de ir? Juntos?

Meu primeiro pensamento foi em dizer não. Eu mal conhecia o

cara, e eu pensava que ele estivesse namorando uma das líderes de

torcida ágeis, e eu não estava interessada nele. Mas ir com Simon não

quer dizer que eu ia me casar com ele. Ou até mesmo namorá-lo. Eu

estaria indo a um baile com ele. E um pensamento horrível apareceu

Page 279: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

na minha cabeça. Eu mal podia esperar para ver a cara de Daemon

quando ele souber que eu tinha um par.

Eu disse que sim, e nós trocamos números e foi isso. Eu iria

para o baile, e agora eu também precisava de um vestido. Minha mãe

ficaria emocionada com isso. Na hora do almoço, eu contei a notícia

para Dee, pensando que ela ficaria animada.

— Simon, convidou você para o baile? — A boca de Dee caiu

aberta. Ela até mesmo parou de comer por cinco segundos inteiros. —

Você disse sim?

Eu balancei a cabeça.

— Sim, e daí?

— Simon tem uma reputação. — Carissa disse, me olhando por

cima da borda de seu prato. — Como ele quer ser a bicicleta do PHS.

— Ele quer dar um passeio em todas. — Lesa esclareceu com

um encolher de ombros. — Mas ele é bonito. Eu gosto de seus braços.

— Só porque ele tem uma reputação, isso não significa que eu

irei me adicionar à lista. — Eu coloquei a salada no meu prato. Bolo

de carne era o menu de hoje. Portanto, não estava enfrentando isso.

— E foi fofo quando ele perguntou.

— Ele e Kimmy terminaram há uma semana ou mais atrás. —

Disse Carissa. — Supostamente, ele a estava traindo com Tammy.

Ah, Kimmy. Esse era o nome da líder de torcida.

— Será que ele tem uma coisa por garotas com nomes que

terminam em Y?

Lesa bufou.

— Ah, como você. É uma combinação perfeita.

Revirei os olhos.

Page 280: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Bem, que seja. Você tem um par. Agora todas nós podemos

comprar vestidos este fim de semana. — Carissa bateu palmas. — Oh!

E talvez possamos ir juntas. Parece divertido, certo? O que você acha,

Dee?

— Huh? — Dee piscou. Carissa repetiu a pergunta, e Dee

concordou com um olhar distante em seus olhos. — Tenho certeza de

que Adam estaria bem com isso.

Fizemos planos para ir para Cumberland, no sábado, e Lesa e

Carissa estavam praticamente pulando de animação. Dee não parecia

animada. Ela nem parecia feliz. E mais estranho de tudo, ela não

terminou o seu almoço ou comeu metade do meu.

...

Quando eu saí da escola naquele dia, tive que andar todo o

caminho até a parte de trás do estacionamento já que tinha me

atrasado naquela manhã. O terreno alinhado com a pista e o campo

de futebol estava vazio. Eu era uma cadela total por estacionar lá. Um

vento soprava das montanhas, explodindo em toda essa área de

cascalho.

— Katy!

Eu me virei, reconhecendo a voz profunda. Meu coração pulou

na minha garganta. Eu não senti o vento mais. Espremendo a alça da

minha bolsa, eu esperei por ele me alcançar.

Daemon parou na minha frente e estendeu a mão, arrumando a

alça torcida de minha bolsa.

— Você sabe como escolher um lugar para estacionar.

Page 281: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Pega de surpresa com o gesto, eu levei um momento para

responder.

— Eu sei.

Andamos para o meu carro, e enquanto eu jogava minha bolsa

no banco de trás, Daemon esperou do meu lado, as mãos enfiadas

nos bolsos. Havia uma escuridão em seu olhar, um aperto em seus

lábios.

Meu estômago caiu um pouco.

— Está tudo bem? Não está...?

— Não. — Daemon passou a mão pelo cabelo. — Nada... Uh,

relacionado aos cosmos.

— Ótimo. — Eu dei um suspiro de alívio, encostando no carro

ao lado dele. — Você me assustou por um segundo.

Ele virou para mim, e assim, havia apenas alguns centímetros

entre nós.

— Ouvi dizer que você vai com Simon Cutters para o baile.

Eu empurrei para trás uma mecha de cabelo que bateu no meu

rosto. O vento a trouxe de volta.

— As notícias correm rápido.

— Sim, acontece por aqui. — Ele estendeu a mão novamente,

mas desta vez ele pegou o pedaço de cabelo e colocou-o de volta atrás

da minha orelha. Seus dedos roçaram contra minha bochecha. O leve

toque trouxe aquele formigamento estranho, juntamente com um

arrepio que não tinha nada a ver com o frio. — Eu pensei que você

não gostava dele.

— Ele não é ruim. — Eu disse. Os alunos estavam entrando na

pista, se alongando e se preparando para correr. — Ele é bem legal, e

ele me convidou.

Page 282: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você vai com ele porque ele te convidou?

Não é assim que as coisas funcionavam? Eu acenei com a

cabeça. Ele não respondeu imediatamente enquanto eu brincava com

as minhas chaves do carro. — Você vai para o baile?

Daemon se aproximou, seu joelho encostando em minha coxa.

— Será que isso importa?

Eu mordi de volta uma série de maldições.

— Não é verdade.

Seu corpo inclinado em direção a mim.

— Você não deveria ir com alguém só porque ele te convidou.

Olhei para as chaves, me perguntando se eu poderia esfaquear

alguém no globo ocular com elas.

— Eu não vejo por que isso tem algo a ver com você.

— Você é amiga da minha irmã, e, portanto, tem algo a ver

comigo.

Eu fiquei boquiaberta.

— Essa é a pior lógica que eu já ouvi. — Eu comecei a dar a

volta no carro, mas parei no capô. — Você não deveria estar mais

preocupado com o que Ash está fazendo?

— Ash e eu não estamos juntos.

Uma parte estúpida de mim gostou da ideia de eles não estarem

juntos. Balançando a cabeça, eu fui para a porta do motorista.

— Poupe-se, Daemon. Eu não vou voltar atrás porque você tem

um problema com ele.

Xingando baixinho, ele me seguiu.

— Eu não quero ver você entrar em qualquer tipo de problema.

— Que tipo de problema? — Eu escancarei a porta do carro.

Ele pegou a porta. Uma sobrancelha escura se arqueou.

Page 283: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Conhecendo você, eu não posso nem mesmo começar a

imaginar em quantos problemas você pode entrar

— Ah, sim, porque Simon vai deixar um rastro em mim que vai

atrair vacas assassinas ao invés de aliens assassinos. Deixe-me sair

com o carro.

— Você é tão frustrante! — Ele retrucou, os olhos queimando

com irritação. — Ele tem uma reputação, Kat. Eu quero que você seja

cuidadosa.

Olhei para ele por um momento. Será que Daemon estava

genuinamente preocupado com o meu bem-estar? Assim que esse

pensamento surgiu na minha cabeça eu empurrei-o para longe.

— Nada vai acontecer, Daemon. Eu posso cuidar de mim

mesma.

— Tudo bem. — Ele soltou a porta tão rápido que eu puxei de

volta. — Kat-

Muito tarde. A porta pegou meus dedos. Eu gritei com a dor na

minha mão e meu braço.

— Ouch! — Eu balancei minha mão, tentando aliviar a dor nos

meus dedos. O dedo indicador estava sangrando. O resto estaria

definitivamente machucado e se parecendo com salsichas até

amanhã. As lágrimas já escorriam pelo meu rosto. — Cristo! Isso dói.

Sem aviso ou dizer uma palavra, sua mão disparou, envolvendo

em torno de minha palma. Um flash de calor passou pela minha mão,

formigamento se espalhando para as pontas dos meus dedos

palpitantes e até o meu cotovelo. Em um instante, a dor foi embora.

Minha boca caiu aberta.

— Daemon?

Page 284: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Nossos olhos se encontraram. Ele largou a minha mão como se

eu o tivesse queimado.

— Merda...

— Será que você... Deixou outro rastro em mim? — Eu limpei o

sangue do meu dedo. A pele estava cor de rosa, mas já estava curada.

— Putz.

Ele engoliu em seco.

— É fraco. Eu não acho que vai ser um problema. Eu mal posso

vê-lo, mas você pode-

— Não! É fraco. Ninguém vai vê-lo. Eu estou bem. Sem mais

babá. — Eu puxei uma respiração superficial. Nós se formaram na

minha barriga. — Eu posso cuidar de mim mesma.

Daemon me observou por um momento.

— Você está certa. Obviamente, você pode contanto que não

envolva portas de automóveis. Você já durou mais do que qualquer

ser humano que sabia sobre nós.

...

As palavras de despedida de Daemon pairavam sobre mim

como uma densa nuvem de presságio o resto da noite e no sábado.

Eu durei mais do que qualquer outra pessoa que sabia a verdade

sobre eles. Eu não podia evitar, mas me perguntei quanto tempo mais

eu duraria.

Saí com Dee, e peguei as meninas depois do almoço. Não

demorou muito para chegarmos a Cumberland e encontrar a loja de

roupas que queríamos ir. Eu esperava que não houvesse mais nada

Page 285: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

para escolher quando entramos no Vestido Barn, mas suas

prateleiras estavam cheias.

Carissa e Lesa já tinham uma ideia do que elas queriam: algo

apertado. Dee parecia navegar em direção ao rosa e babados. Eu

queria um vestido que não parecesse que tivesse sido feito por uma

avó ou engolido por uma fábrica de laços.

Dee acabou escolhendo para mim um vestido estilo grego

vermelho que caia sob a cintura e ficava solto em volta de meus

quadris e pernas. Ele tinha um decote um pouco ousado, mas nada

como os que Lesa e Carissa escolheram.

— O que eu não faria por um peito assim... — Lesa murmurou,

olhando enojada enquanto olhava para o peito de Carissa saltando de

seu vestido. — Não é justo. Eu tenho bunda e não peitos.

Carissa se olhou no espelho de parede, enquanto Dee tentava

entrar em um vestido rosa que tinha encontrado. Torcendo o cabelo

para cima de seus ombros, Carissa sorriu para seu reflexo.

— O que vocês acham?

— Você está sexy. — Disse a ela. E ela estava. Ela tinha a forma

perfeita de uma ampulheta.

Dee saiu, parecendo absolutamente deslumbrante na cor rosa.

O vestido tinha alças pequenas e abraçava sua estrutura esbelta. Ela

deu uma olhada em si mesma, assentindo com a cabeça e voltou para

se trocar.

Troquei um sorriso com Lesa.

— Nossa opinião não era necessária.

— Sim, porque não há nada neste mundo que não fique bom

em Dee. — Ela revirou os olhos, agarrando o vestido para

experimentar.

Page 286: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Quando chegou a minha vez de tentar o meu vestido, eu tive

que ceder a Dee. Ela tinha um olho notável para estilos. O vestido

coube em meu corpo como se tivesse sido feito para mim.

Com seu sutiã embutido, também me fazia sentir como se eu

pudesse ficar ao lado de Carissa e não me sentir como uma garotinha.

Virei-me na frente do espelho, verificando a parte de trás. Nada mal.

— Você deve puxar seu cabelo para cima. — Disse Dee,

aparecendo ao meu lado. Ela estendeu a mão, artisticamente

torcendo meu cabelo comprido em cima de minha cabeça. — Você

tem um pescoço longo. Mostre-o. Eu posso fazer isso para você, se

você quiser e sua maquiagem também.

Eu assenti com a cabeça, pensando que seria divertido.

— Obrigada. Eu nunca pensei que eu ficaria bonita neste

vestido.

— Você ficaria bem em qualquer um desses vestidos. — Dee

soltou meu cabelo. — Agora você precisa de sapatos. — Ela assentiu

com a cabeça sobre as sapateiras. — Qualquer coisa vermelha ou

clara irá funcionar. Quanto mais tiras, melhor.

Eu olhei os sapatos, pensando em um par de saltos com tiras

que eu tinha em casa. Deus sabe que o vestido ia custar até o último

centavo que a minha mãe alegremente me entregou esta manhã.

Peguei um par de saltos vermelhos, no entanto.

Eram divinos.

Um sentimento pervertido correu sobre mim enquanto eu

estava lá. Olhei em volta. As meninas estavam na parte de trás,

olhando para as unhas, e o funcionário estava atrás do balcão. A

porta se abriu, fazendo um carrilhão de vento de som. Não havia

ninguém lá.

Page 287: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

O funcionário olhou para cima, franzindo a testa. Balançando a

cabeça, ela voltou para a leitura de sua revista. Eu tremia quando o

meu olhar se arrastou pela porta até as janelas na parte da frente da

loja. Além dos manequins vestidos, um homem estava na calçada,

olhando para dentro. Seu cabelo escuro estava penteado para trás de

seu rosto pálido. A maior parte do seu rosto estava coberto com um

par de óculos de sol grandes, que pareciam fora do lugar em um dia

nublado como hoje. Ele estava vestindo calça jeans escura e uma

jaqueta de couro.

E ele me deu arrepios.

Fui até a parte de trás dos bastidores e fingi estar verificando

outro vestido.

Causalmente, eu levantei minha cabeça e olhei por cima da

prateleira.

Ele ainda estava lá.

— Que diabos? — Eu murmurei. Ou ele estava esperando por

alguém aqui ou ele era totalmente esquisito. Ou um Arum. Recusei-

me a considerar a última. Olhando ao redor da loja quase vazia, eu

decidi que era um estranho.

— O que você está fazendo? — Lesa saiu, puxando o zíper de

um vestido rosa que deu curvas à sua forma de menina. — Se

escondendo atrás prateleiras?

Eu comecei a apontar o perseguidor, mas quando olhei para a

janela, ele tinha sumido.

— Nada. — Eu limpei minha garganta. — Vocês estão prontas?

Ela assentiu com a cabeça, e eu corri de volta para o vestiário e

me troquei rapidamente.

Page 288: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Todo o tempo em que embalamos as compras, eu fiquei olhando

para a janela. Aquele estranho sentimento ainda estava lá, me

seguindo até onde Dee tinha estacionado. Eu esperei que o cara

saltasse de algum lugar e me assustasse do nada, a qualquer

momento.

Nós dobramos nossos vestidos com cuidado e os colocamos no

porta-malas enquanto Carissa e Lesa subiam no banco traseiro.

Fechando a porta, Dee voltou para mim. Um pequeno sorriso estava

em seu rosto.

— Eu não disse antes, porque eu tenho certeza que você teria

mudado de ideia sobre o vestido.

— O quê? — Eu fiz uma careta. — Faz minha bunda parecer

grande?

Ela riu.

— Não. Você estava deslumbrante nele.

— Então qual é o problema?

Seu sorriso se tornou francamente maliciosa.

— Oh, nada de mais, só que vermelho é a cor favorita de

Daemon.

Page 289: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 22

Na noite do baile eu estava nervosa. Uma grande parte de mim

queria chamar Simon e implorar para desistirmos, especialmente

porque ele vetou a ideia de irmos todos juntos, mas minha mãe tinha

comprado o vestido e Dee tinha feito um excelente trabalho me

fazendo ficar bonita.

Meu cabelo estava enrolado e torcido para cima, expondo meu

pescoço. Alguns cachos estrategicamente arrumados pairavam sobre

minhas têmporas e descansavam em meu ombro nu. Ela ainda tinha

pulverizado um material brilhante com aroma de baunilha no meu

cabelo, então quando me virei, meu cabelo brilhava. Meus olhos eram

de um marrom quente, devido à sombra que ela colocou. Eu também

tinha certeza que ela tinha colocado cílios postiços, porque meus

cílios nunca tinham estado tão longos. Seu último toque antes dela

correr para se encontrar com Lesa foi o gloss que ela passou em meus

lábios, deixando-os com um tom perfeito de rubi.

Page 290: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu me olhei no espelho antes de descer lá embaixo. Era como

olhar para uma estranha. Eu fiz uma nota mental para usar

maquiagem com mais frequência. Mamãe começou a chorar no

momento em que me viu.

— Oh meu Deus, querida, você está tão bonita. — Ela foi me

abraçar, mas parou. — Eu não quero estragar nada. Vou pegar minha

câmera.

Mesmo eu não a invejava neste momento. Eu esperei até que

ela voltasse e tirasse uma dúzia de fotos. Vestida com seu uniforme

de enfermeira, ela parecia um pouco engraçada tirando fotos.

— Agora esse cara, o Simon... — Ela começou, franzindo a

testa. — Você nunca falou sobre ele.

Oh Senhor.

— Somos amigos. Nada mais, então você não tem nada para se

preocupar.

Ela me deu um olhar maternal.

— O que aconteceu com o menino da casa ao lado, o Daemon?

Você saiu com ele um par de vezes, certo?

Eu dei de ombros. Essa era uma conversa que eu não podia

sequer começar a abordar com a minha mãe.

— Uh, somos inimigos.

— O quê? — Suas sobrancelhas enrugaram.

— Nada. — Eu suspirei, olhando para a minha mão. Não havia

uma única marca nos meus dedos. Ele disse que deixou um rastro

fraco, porém, duradouro. — Somos amigos.

— Bem, isso é uma vergonha. — Ela estendeu a mão, alisando

uma onda errante. — Ele parecia um menino tão bom.

Page 291: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon? Bom menino? Hum, não. Um motor alto roncou lá

fora e terminou nossa conversa. Fui até a janela, olhando para fora.

Bom Deus. A caminhonete de Simon era do tamanho de um

submarino.

— Por que vocês dois não foram jantar como Dee estava

falando? — Minha mãe perguntou, preparando a câmera para mais

uma rodada de fotos.

Já que Simon havia vetado a ideia de nos encontrarmos lá, eu

vetei o jantar. Simon me encontrou aqui, com o que eu não estava

muito entusiasmada, mas nos encontrar no baile parecia estúpido.

Sem mencionar que ele estava com os ingressos.

Eu não respondi quando eu fui até a porta e a abri. Simon ficou

ali, vestido com um smoking. Eu fiquei um pouco surpresa que ele

achou um que coubesse nele. Seus olhos, que pareciam um pouco

turvos, me olharam de uma forma que deixou minha pela da cor do

meu vestido.

— Você está sexy! — Disse ele, empurrando um corsage que foi

em volta do meu pulso.

Eu estremeci, ouvindo minha mãe limpar a garganta. Pegando o

corsage, eu pisei de lado e deixei Simon entrar.

— Mãe, este é Simon.

Simon deu um passo adiante, apertando a mão estendida da

minha mãe.

— Agora eu vejo de onde Katy herdou a beleza.

Minha mãe arqueou uma sobrancelha, tornando-se a Rainha

do Gelo. Simon não tinha feito uma fã.

— Você é tão gentil.

Page 292: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu furtivamente saí de lado, enquanto colocava o corsage, grata

que não era um que tinha que ser fixado. Simon levou o fato de ter

que tirar várias fotos com bom humor, envolvendo seu braço em volta

da minha cintura e sorrindo para a câmara.

— Oh. Eu quase me esqueci. — Minha mãe desapareceu na

sala de estar, retornando com um xale preto rendado. Ela colocou

sobre meus ombros. — Isso vai mantê-la aquecida.

— Obrigada. — Eu disse, abraçando-o mais perto, mais grata

pela cobertura do que ela jamais poderia imaginar. O vestido parecia

bom mais cedo, mas agora com Simon praticamente babando no meu

decote eu me senti desconfortável expondo muita pele.

Mamãe me puxou de lado enquanto Simon esperou do lado de

fora.

— Lembre-se de me ligar quando chegar em casa. Se acontecer

alguma coisa, me ligue. Ok? Vou trabalhar em Winchester esta noite.

— Ela olhou para a porta, franzindo a testa. — Mas eu posso sair se

precisar.

— Mãe, eu vou ficar bem. — Me inclinei, beijando a bochecha

dela. — Eu te amo.

— Eu também te amo. — Ela me levou até a porta. — Você está

linda.

Antes que as lágrimas pudessem encher meus olhos de novo,

eu fugi de casa. Entrar na caminhonete exigiu uma escalada

estratégica. Fiquei surpresa que eu não precisei de escada.

— Cara, você está gostosa. — Simon jogou uma bala de menta

em sua boca antes que saísse para o longo caminho. Eu esperava que

ele não estivesse planejando usar as balas de menta mais tarde.

— Obrigada. Você está bonito, também.

Page 293: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Essa foi a nossa conversa. Acontece que Simon não era um

conversador espirituoso. Chocante. A viagem para a escola foi longa e

difícil, e eu estava segurando as bordas do meu xale como se não

houvesse amanhã.

Várias vezes ele olhou, sorriu e colocou outra bala na boca. Eu

mal podia esperar para chegar ao baile. Quando chegamos ao

estacionamento, eu descobri por que ele estava chupando tantas

balas de menta. Simon puxou um frasco de prata do interior do seu

smoking e tomou um longo gole. Ele me ofereceu de lado. Ele estava

bebendo. Isso já estava começando muito bem. Recusei a oferta, já

fazendo planos para encontrar outra carona para casa. Beber não me

incomodava. Terminar com um motorista bêbado sim.

Parecendo não se importar, ele empurrou de volta em sua

jaqueta.

— Espere um pouco. Eu vou te ajudar a descer.

Bem, isso foi legal da parte dele, porque eu estava querendo

saber como no mundo que eu era iria descer. Ele abriu a porta e eu

sorri.

— Obrigada.

— Você quer deixar sua bolsa aqui? — Ele perguntou.

Oh, o inferno não. Eu balancei minha cabeça e deixei a

pequena bolsa balançando no meu pulso. Simon pegou minha mão e

me ajudou a descer da caminhonete. Ele me apertou um pouco

demais, e eu tropecei em seu peito.

— Você está bem? — Ele perguntou, sorrindo.

Eu balancei a cabeça, tentando ignorar a sensação de nojo

crescendo no meu estômago.

Page 294: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Lá fora, eu podia ouvir o barulho constante de música no

ginásio. Nós paramos diante das portas enevoadas, e Simon me

puxou em direção a ele em um abraço desajeitado.

— Estou feliz que você veio ao baile comigo. — Ele disse, sua

respiração mentolada e tingida com o cheiro áspero de licor.

— O mesmo para mim. — Eu disse, tentando sentir isso. Eu

coloquei minhas mãos em seu peito musculoso e o empurrei para

trás. — Devemos entrar.

Sorrindo, ele deslizou seus braços para longe. Uma de suas

mãos deslizou pelas minhas costas, sobre a curva do meu quadril. Eu

endureci e eu disse a mim mesma que foi um acidente. Tinha que ser.

Ele certamente não queria algo assim. Nós nem dançamos ainda.

O ginásio tinha sido convertido em um salão de baile com o

tema outono. Laços caíam pendurados do teto e cobriam as portas.

Haviam abóboras e vasos em forma de chifres cheios de folhas,

amontoados nos cantos e na pista.

Logo que entramos, fomos cercados pelos amigos de Simon.

Alguns deles me olharam e deram um comprimento para Simon nada

discreto ou batendo palmas nas costas dele. Era como se agora que

eles perceberam que eu tinha seios, eu era legal de repente. Os

meninos poderiam ser tão infantis. Enquanto eles passavam adiante o

frasco que Simon havia trazido, eu troquei saudações tensas com os

pares dos caras. Elas eram todas líderes de torcida. Entediante.

Olhei para a multidão, procurando por Lesa e seu par.

— Eu já volto. — Antes que Simon pudesse me parar, eu corri

em direção a ela. Ela se virou quando o seu par balançou a cabeça em

minha direção. Eu sorri.

Page 295: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você está linda. — Eu tive que gritar para ser ouvida sobre a

música.

— Assim como você. — Ela me deu um abraço rápido e, em

seguida, me puxou de volta. — Ele está se comportando?

— Até agora. Você se importa? — Eu coloquei meu xale e bolsa

em sua mesa quando ela balançou a cabeça. — Eles fizeram um bom

trabalho na decoração.

Lesa assentiu.

— Ainda é um ginásio, apesar de tudo. — Ela riu. — Ele tem

esse cheiro...

Isso era verdade. Carissa se juntou a nós rapidamente,

puxando ambas para a pista de dança sem os caras. Eu não me

importava. Dançamos umas com as outras, rindo e sendo simples

bobas. Lesa dançava como uma dupla articulação como uma

prostituta, e eu acho que Carissa fez o homem correndo em um

ponto.

Eu peguei um vislumbre de Dee conversando com Adam perto

do palco. Dando as meninas uma olhada rápida, eu fui até eles.

— Dee! — Ela se virou para mim, com os olhos brilhando sob

as luzes ofuscantes. — Ei. — Parei, meus olhos saltando entre eles.

Adam me deu um sorriso apertado antes de se juntar a multidão de

dançarinos. — Está tudo bem? — Eu peguei a mão dela, apertando-a.

— Você está chorando?

— Não. Não! — Ela enxugou seus olhos com a mão livre,

usando seu dedo mindinho. — É só que... Eu não acho que Adam

queria vir comigo, e eu não tenho certeza se quero estar aqui. E é... —

Ela balançou a cabeça e puxou sua mão livre. — De qualquer forma,

você está ótima! Esse vestido é de morrer!

Page 296: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Meu coração caiu por ela. Não parecia justo que ela fosse

limitada com quem ela pudesse sair. Especialmente considerando que

cada Luxen homem que eu conheci era um idiota. Já que eles todos

cresceram juntos, devia ser como ir ao baile com seu irmão.

— Ei. — Eu disse, tendo uma ideia. — Podemos sair daqui, se

você quiser. Vamos buscar filmes e comer sorvete em nossos vestidos

bonitos. Parece divertido, certo? Nós podemos alugar Coração valente.

Você ama esse filme.

Dee riu, olhos lacrimejando quando ela me puxou para um

abraço apertado.

— Não. Nós vamos desfrutar isso aqui. Como está o seu

encontro?

Olhei em volta, não o encontrando.

— Provavelmente bêbado em algum lugar.

— Oh, não. — Ela tirou uma mecha de cabelo para trás. Ela

usava o cabelo solto e o arrumou para que ele caísse sobre os ombros

como uma onda de água escura. — Ruim?

— Ainda não, mas eu queria saber se poderia pegar uma

carona com vocês?

— É claro. — Ela começou a me puxar para a pista de dança. —

Nós provavelmente vamos para a fogueira depois. Você pode vir

conosco ou podemos deixá-la em casa.

Simon não tinha mencionado uma festa. Talvez eu tenha sorte

e ele esqueça de mim. Dee e eu contornamos a beira da pista, de

mãos dadas. Eu quase tinha encontrado Lesa na bagunça, mas

depois acabei completamente paralisada.

Tinha uma pequena vela coberta de vidro sobre uma mesa

branca. Ela enviava um brilho suave bruxuleante nas maçãs altas do

Page 297: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

rosto de Daemon e lábios carnudos. Ash não estava à vista, e

honestamente eu não me importava onde ela estava.

O olhar de Daemon estava tão concentrado que dei um passo

involuntário para trás, mas nós não quebramos o contato visual. A

ânsia chegou ao fundo do meu estômago passando por mim como um

raio quente, e era o tipo de sensação que eu não podia forçar, não

podia nem imitar se você quisesse.

E, em seguida, Simon estava em frente de mim, pegando a

minha mão e me puxando para longe de Dee e para a pista de dança.

Não era uma dança lenta, mas ele colocou seu braço musculoso ao

redor da minha cintura e me puxou contra seu peito de qualquer

maneira. A borda dura de seu aperto cortava em minhas costelas.

— Você fugiu de mim. — Ele disse, seus lábios roçando meu

ouvido, encharcando meu pescoço com bafos de álcool. — Eu pensei

que você tinha me deixado.

— Não, eu vi amigos. — Eu tentei puxar de volta, mas eu estava

preso a ele. — Onde estão seus amigos?

— Huh? — Ele gritou, incapaz de me ouvir quando a música

aumentou. — Há uma festa hoje à noite no Campo. Todo mundo está

indo. — Uma de suas mãos foi para baixo nas minhas costas, o dedo

descansando sobre o alargamento do meu bumbum. — Nós

deveríamos ir.

Caramba.

— Eu não sei. Toque de recolher. — Eu gritei de volta, tentando

manobrar sua mão do meu traseiro.

— Então? É o baile. É hora de festa.

Eu não me incomodei em responder. Eu estava muito ocupada

evitando suas mãos, que estavam em todos os lugares. Dançamos

Page 298: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

uma música antes que eu pudesse tirar as mãos dele com sucesso, e

a única razão pela qual eu consegui é que Carissa me salvou.

Casais estavam espalhados por todo o lugar. Então avistei Ash

sentada à mesa, parecendo chateada enquanto Daemon olhava para o

chão. Várias pausas para o banheiro e danças mais tarde, acabei

voltando para Simon.

Para um ser humano, ele com certeza sabia como ir para cima

de alguém. Ele não tinha cheiro de álcool, desta vez, mas caramba,

suas mãos estavam muito maldosas quando fomos até um círculo

apertado. Eu podia sentir cada centímetro dele, e ele não parecia se

importar. Eu estava começando a suar quando uma de suas mãos

caíram do meu ombro, evitando por pouco o meu peito.

Eu empurrei para trás, olhando para ele.

— Simon!

— O quê? — Ele parecia inocente. — Sinto muito. Minha mão

escorregou.

Sua mão deslizou pelo meu bumbum avermelhado. Eu desviei o

olhar, debatendo o que fazer. Eu precisava desaparecer. Rápido.

— Se importa se eu interromper? — Uma voz profunda

perguntou atrás de mim. Os olhos azuis de Simon se arregalaram

quando eu virei. Daemon estava ali, um olhar duro em seu rosto. Ele

não estava olhando para mim. Seus olhos estavam focados em Simon

em desafio. Como se desafiasse o menino a dizer não.

Depois de um segundo, Simon me liberou.

— Timing perfeito. Eu precisava de uma bebida de qualquer

maneira.

Ele levantou uma sobrancelha para Simon e, em seguida, olhou

para mim.

Page 299: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Dança comigo?

Não tendo nenhuma ideia do que ele estava fazendo, eu

cautelosamente coloquei minhas mãos em seus ombros.

— Isso é uma surpresa.

Ele não disse nada quando ele passou um braço em volta da

minha cintura e estendeu a mão, tomando conta de uma das minhas

mãos. A música desacelerou até que parecia se arrastar em uma

melodia assombrosa sobre amor perdido e encontrado novamente. Eu

olhei para aqueles olhos extraordinários, atordoada que ele pudesse

me segurar com tanta... Ternura. Meu coração bateu conforme o

sangue corria para cada ponto do meu corpo.

Tinha que ser a dança, a maneira como ele preenchia seu

smoking.

Ele me puxou para mais perto.

Excitação e medo guerreavam dentro de mim. As luzes refletiam

em seu cabelo meia-noite deslumbrante.

— Você está se divertindo com... Ash?

— Você está se divertindo com o Mãos Felizes?

Mordi o lábio.

— Tão espertinho.

Ele riu no meu ouvido, provocando arrepios através de mim.

— Nós três viemos juntos, Ash, Andrew e eu. — Sua mão

repousava em cima do meu quadril, tendo um impacto totalmente

diferente em mim. Minha pele se arrepiou debaixo do vestido.

Daemon limpou a garganta quando ele desviou o olhar.

— Você... Você está linda, alias. Realmente muito boa para

estar com aquele idiota. — Um rubor roubou a cor da minha pele, e

eu abaixei meu olhar.

Page 300: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você está bêbado?

— Infelizmente, não, não estou. No entanto, estou curioso por

que você iria perguntar.

— Você nunca diz nada de bom para mim.

— Bom ponto. — Ele suspirou. Daemon se moveu um pouco

mais e virou a cabeça ligeiramente. Sua mandíbula roçou minha

bochecha e eu pulei. — Eu não vou morder você. Ou te apalpar. Você

pode relaxar.

Minha réplica espirituosa morreu em meus lábios quando ele

moveu a mão do meu quadril e guiou minha cabeça até seu ombro.

No momento em que meu rosto tocou o ombro coberto pelo smoking,

houve uma corrida vertiginosa de sensações. Sua mão terminou em

minhas costas novamente e se moviam lentamente com a música.

Depois de algum tempo, ele começou a cantarolar baixinho, e eu

fechei os olhos. Isso... Não era bom. Era emocionante.

— Sério, como é que o seu encontro está indo? — Perguntou

ele.

Eu sorri.

— Ele é meio safado.

— Isso é o que eu pensava. — Ele virou a cabeça, e por um

momento o queixo descansou contra o meu cabelo, então ele levantou

a cabeça. — Eu avisei sobre ele.

— Daemon. — Eu disse baixinho, querendo que ele não

estragasse o clima. Havia algo tranquilo sobre isso, embalando. —

Tenho tudo sob controle.

Ele bufou.

Page 301: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Claro que tem, Gatinha. Suas mãos estavam se movendo tão

rápido que eu estava começando a questionar se ele era humano ou

não.

Eu endureci, meus olhos abrindo. Contei até dez. Eu fiz isso até

três antes de ele falar novamente. — Você devia fugir daqui e ir para

casa, enquanto ele estiver distraído. — Sua mão apertou a minha. —

Eu posso até fazer com que Dee se transforme em você, se precisar.

Chocada que ele iria a esse extremo, eu me afastei e olhei para

ele.

— Está tudo bem se ele ficar pegando na sua irmã?

— Eu sei que ela pode cuidar de si mesma. Você está fora de

seu alcance com esse cara.

Nós paramos de dançar, ignorando os outros casais. Descrença

passou através de mim.

— Desculpe-me? Eu estou fora do meu alcance?

— Olha, eu dirigi aqui. Eu posso deixar que Dee pegue uma

carona com Andrew e levá-la para casa. — Parecia que ele tinha tudo

planejado. Então seus olhos estreitaram. — Você está realmente

pensando em ir à festa com aquele idiota?

— Você vai? — Eu perguntei, puxando minha mão da dele.

Minha outra mão estava ainda em seu peito e seu braço ainda

circulava minha cintura.

— Não importa o que estou fazendo. — Frustração pontuava

cada uma de suas palavras. — Você não vai a essa festa.

— Você não pode me dizer o que fazer, Daemon.

Seus olhos se estreitaram, mas eu podia ver o estranho brilho

começando a se formar em seus olhos, escurecendo suas pupilas.

Page 302: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Dee vai levar você para casa. E eu juro, se eu tiver que jogá-

la por cima do meu ombro e levá-la para fora daqui, eu vou.

Minha mão enrolou em um punho inútil contra seu peito.

— Eu gostaria de ver você tentar.

Ele sorriu, os olhos começando a brilhar na escuridão.

— Eu aposto que você gostaria.

— Que seja. — Eu disse, ignorando os olhares que estavam

começando a vir de todos. Por cima do ombro, vi o Sr. Garrison nos

observando, o que trabalhava para meu benefício. — Você é o único

que vai causar uma cena se me levar para fora daqui. — Daemon fez

um barulho que realmente soou como um grunhido. Qualquer pessoa

em sã consciência teria ficado apavorada, e eu deveria ter ficado,

considerando que sabia do que ele era capaz. Eu não estava. —

Porque nosso professor alienígena está nos observando enquanto

falamos. O que você acha que ele vai fazer quando você me atirar

sobre o seu ombro, amigo? — Cada centímetro dele enrijeceu. Eu

sorri como o gato que comeu um aquário todo cheio de peixes. —

Pensei que fosse isso.

Surpreendentemente, ele devolveu o sorriso.

— Eu continuo subestimando você, Gatinha.

Simon apareceu antes que eu tivesse a chance de tripudiar

sobre essa grande vitória.

— Você está pronta? — Perguntou Simon, olhando entre

Daemon e eu. — Todo mundo está indo para a festa.

O olhar de Damon me desafiou a não ouvi-lo, e isso foi muito

bom porque eu aceitei o desafio. Ele não controlava a minha vida. Eu

controlava.

Page 303: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 23

O campo ficava a cerca de dois quilômetros fora de Petersburgo,

indo na direção oposta da minha casa. Era literalmente um

gigantesco milharal. Enormes fardos de feno cobriam a paisagem, até

onde eu podia ver, iluminando tudo em laranja e vermelho. Eu não

pude evitar, mas acho que a combinação de feno seco e fogo não iria

acabar bem.

Alguém trouxe um barril.

Correção: a combinação de feno, fogo e cerveja barata não

poderia acabar bem.

Simon manteve suas mãos para si mesmo todo no caminho até

aqui, então eu estava me sentindo muito bem sobre a minha decisão

com exceção do previsível problema acima. Ele me guiou através dos

pés de milho pisoteados em direção ao fogo.

— As meninas estão lá. — Ele apontou para o outro lado do

fogo onde várias meninas estavam agrupadas juntas, compartilhando

copos plásticos vermelhos. — Você deve ir dizer oi. Se misturar um

pouco.

Eu balancei a cabeça, não tendo nenhuma intenção de ir lá.

Page 304: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Vou pegar uma bebida. — Ele se inclinou, apertando meus

ombros antes de sair. No momento em que chegou o barril, ele deu

um comprimento a outro cara corpulento e soltou um sonoro:

— Woo-hoo!

Uma multidão se reunia ao redor do fogo, empurrando nele

pedaços de madeira que tinha em volta. Alguém tinha trazido uma

caminhonete, ligado o rádio, e deixado as portas abertas, o que

tornava quase impossível ouvir qualquer coisa.

Segurando o xale em volta dos meus ombros, eu fui até à

borda, procurando um rosto familiar. Aliviada, vi Dee de pé com os

trigêmeos Thompson. Ao lado deles, Carissa e Lesa compartilhavam

um cobertor.

Daemon estava longe de ser visto.

— Dee! — Eu chamei, fazendo meu caminho ao lado uma

menina balançando em saltos altos. — Dee!

Ela se virou e, segundos depois, ela acenou com a mão

loucamente. Dei um passo na direção dela, e Simon apareceu do

nada, com dois copos na mão.

— Oh meu Deus! — Eu disse, dando um passo para trás. —

Você me assustou.

Simon riu, me entregando um copo.

— Eu não vejo como. Eu estava chamando o seu nome.

— Sinto muito. — Eu tomei a bebida, franzindo o nariz com o

cheiro distinto. Tomando um gole, eu aprendi que o gosto era tão

ruim quanto cheirava. — É meio difícil ouvir com todo o barulho.

— Eu sei. E nós não tivemos a oportunidade de falar com todos.

— Simon passou o braço sobre o meu ombro, tropeçando um pouco.

Page 305: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— E isso é uma merda. Eu queria falar com você a noite toda. Você

gostou do corsage?

— É lindo. Obrigada mais uma vez. — Era bonito, uma

combinação de rosa cor de rosa e rosas vermelhas. — Você conseguiu

isso na cidade?

Ele acenou com a cabeça e, em seguida, bebeu o conteúdo do

seu copo quando se afastou da caminhonete.

— Minha mãe trabalha em uma floricultura local. Ela fez isso.

— Uau. Isso é muito legal. — Eu mexi nele, com cuidado para

não derramar cerveja.

— O seu pai trabalha na cidade?

— Não, ele vai todos os dias para Virginia. — Ele jogou o copo

para o lado e tirou o frasco. — Ele é advogado. — Vangloriou-se,

desapertando a tampa com uma mão. — Trata danos pessoais. Mas

seu irmão é médico na cidade.

— Minha mãe, ela é enfermeira e trabalha em Virginia,

também. — Todos os movimentos dele estavam puxando o xale. Ele

estava no meio dos meus ombros. — Você já sabe onde irá fazer

faculdade? — Eu perguntei, lutando para ter algo para dizer. Tirando

a mão boba, ele era legal.

— Vou para a WVU com os caras. — Ele franziu a testa para a

minha própria bebida intocada.

— Você não bebe?

— Oh, não, eu bebo. — Eu tomei um gole para provar isso. Ele

sorriu e olhou para fora, falando sobre qual dos seus amigos estavam

pensando em ir para Marshall, em vez de WVU. Quando ele não

estava olhando, eu joguei a metade do conteúdo do copo fora.

Page 306: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Simon continuou a fazer perguntas, sendo interrompido a cada

poucos minutos quando um de seus amigos passavam por ele. Joguei

a maioria da minha bebida fora, e ganhei várias recargas. Simon me

disse para ficar onde estávamos quando ele ia e voltava do barril. Pelo

meu terceiro copo, Simon provavelmente estava pensando que eu já

estava alta, mas pelo menos ele estava fazendo um ótimo exercício.

Antes que eu percebesse, estávamos a uma boa distância da

fogueira, entre os primeiros grupos de árvores. Cada passo ficava

mais difícil. Em parte devido ao terreno irregular e meus calcanhares,

e até mesmo um pouquinho do peso de Simon era difícil de suportar.

Simon se endireitou e puxou o braço dos meus ombros, levando

o xale junto com ele. Ele voou em algum lugar atrás de mim,

misturando rapidamente com o chão sombrio e a vegetação densa.

— Merda. — Eu disse, virando-me, apertando os olhos.

— O quê? — Ele balbuciou um pouco.

— Eu deixei cair meu xale. — Eu tomei alguns passos para trás

em direção à fogueira

— Mmm, você está melhor sem ele. — Disse ele. — Que

vestido... Porra!

Eu atirei um olhar irritado por cima do ombro antes de voltar a

olhar... Tudo parecia preto.

— Sim, bem, ele pertence à minha mãe, e ela vai me matar se

eu perdê-lo.

— Nós vamos encontrá-lo. Não se preocupe com isso agora.

De repente, o braço dele estava em volta da minha cintura, me

puxando para trás. Assustada, eu derramei o copo de cerveja e deixei

sair um riso nervoso quando me torci para fora de seu toque.

— Eu acho que preciso encontrá-lo agora.

Page 307: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não pode esperar? — Simon deu um passo mais perto de

mim, e eu dei uma volta. Ele estava em pé na minha frente, e eu

percebi que estava presa entre ele e uma árvore. — Nós estávamos

conversando, e há essa coisa que eu queria fazer.

Olhei para a fogueira. Parecia muito longe agora.

— O quê?

Ele colocou a mão enorme no meu ombro, e seu aperto era

firme. A sensação que se apoderou de mim era mais do que apenas o

fator nojo. Foi outra coisa. Era mais poderoso, deixando um gosto

estranho no céu da minha boca, como quando o Arum tinha falado

comigo do lado de fora da biblioteca. Ele se inclinou, me levando com

ele e ao mesmo tempo, mergulhando sua cabeça.

Eu congelei por um segundo, e isso era tudo o que tinha. Sua

boca estava na minha, provando o gosto de cerveja e menta. Ele fez

um som e empurrou para frente. Minhas costas foram contra uma

árvore antes que eu pudesse empurrá-lo de volta, e ele ainda

continuou empurrando para frente, beijando meus lábios firmemente

fechados. Eu não conseguia respirar. Colocando minhas mãos em seu

peito, eu empurrei até que eu fui capaz de arrancar minha boca livre.

— Calma lá, Simon, isso é demais. — Eu disse, ansiosa no ar.

Tentei me mexer livre, mas ele era inabalável.

— Ah vamos lá, não é muito. — Sua mão trabalhou seu

caminho entre mim e a árvore, até que estavam contra as minhas

costas, me segurando no lugar. Eu empurrei novamente contra seu

peito, com raiva.

— Eu não vim aqui para isso!

Simon riu.

Page 308: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Todo mundo vem aqui para isso. Olha, nós dois estamos

bebendo, ambos nos divertindo. Não há nada de errado com isso. Eu

não vou nem contar a ninguém se você não quiser. Todo mundo sabe

que você fez isso com Daemon no verão.

— O quê? — Eu gritei. — Simon, me deixa!

Seus lábios escorregadios e molhados cortaram minhas

palavras. Sua língua entrou em minha boca, e eu queria vomitar.

Minha frequência cardíaca triplicou e, em um instante, eu gostaria de

ter escutado Daemon, que eu tivesse aceitado sua oferta de ir para

casa, porque isto estava fora do meu alcance.

Eu consegui minha cabeça livre.

— Simon, pare!

E, em seguida, Simon parou. Eu caí contra a árvore, atordoada

e sem fôlego.

Houve o som de alguém batendo no chão e depois um choro

ferido. Alguém estava debruçado sobre um Simon estatelado,

descendo e o levantando pelo cangote.

— Você tem um problema com a compreensão de inglês

simples?

Eu reconheci aquele tom masculino, profundo. Era a mesma

voz que Daemon tinha usado no dia em que eu estava arrumando o

jardim. Calma mortal, perigosamente baixa. Ele estava respirando

pesadamente enquanto olhava para o menino encolhido.

— Cara, eu sinto muito. — Simon arrastou, agarrando o pulso

de Daemon. — Eu pensei que ela-

— Você pensou o quê? — Daemon levantou-o em seus pés. —

Isso não significa sim?

— Não! Sim! Eu pensei que-

Page 309: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon levantou a mão, e Simon só... Simplesmente parou.

Braços levantados, mãos espalmadas para fora no ar na frente de seu

rosto. O sangue que tinha estado escorrendo do nariz, parou em sua

boca aberta. Olhos arregalados e sem pestanejar. Um olhar de medo e

confusão bêbado estava congelado em seu rosto.

Daemon tinha congelado Simon. Literalmente.

Dei um passo para frente.

— Daemon, o que... O que você fez?

Ele não olhou para mim, seus olhos focados em Simon.

— Era isso ou eu matava ele.

Não havia nenhuma dúvida pra mim que ele era capaz de matá-

lo. Eu cutuquei o braço de Simon. Era real, mas duro. Como um

cadáver. Engoli em seco.

— Ele está vivo?

— Ele deveria estar? — Ele perguntou. Um olhar passou entre

nós, pesado com a compreensão e arrependimento. A mandíbula de

Daemon ficou tensa. — Ele está bem. Agora, é como se ele estivesse

dormindo.

Simon parecia uma estátua, uma estátua bêbada e pervertida.

— Deus, isso é uma bagunça. — Eu voltei, passando os braços

em volta de mim. — Quanto tempo ele vai ficar assim?

— Tanto quanto eu quiser. — Respondeu ele. — Eu poderia

deixá-lo aqui. Deixar o cervo mijar em cima dele e os corvos cagarem

em cima dele.

— Você não pode... Fazer isso, você sabe disso? Certo? —

Daemon encolheu os ombros. — É preciso transformá-lo de volta,

mas em primeiro lugar, eu gostaria de fazer uma coisa.

Page 310: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon arqueou uma sobrancelha com curiosidade. Dando

uma respiração profunda, que ainda tinha gosto de cerveja barata,

balas e a língua de Simon, eu o chutei direto entre as pernas dele.

Simon não reagiu, mas ele sentiria mais tarde.

— Uau. — Daemon soltou uma risada estrangulada. — Talvez

eu devesse ter matado ele. — Ele franziu a testa quando viu a

expressão no meu rosto. Ele se virou para trás para Simon e acenou

com a mão.

O menino dobrou, colocando as mãos entre as pernas.

— Merda!

Daemon empurrou Simon para trás.

— Sai da minha frente, e eu juro que se eu ver você olhando

para ela novamente, vai ser a última coisa que você vai fazer.

Simon estava com três tons brancos quando ele passou a mão

sobre seu nariz sangrando. Seus olhos corriam de mim para Daemon.

— Katy, eu sinto muito.

— Sai. Fora. Daqui. — Daemon rosnou, dando um passo

ameaçador para frente.

Simon se virou e saiu, tropeçando e mancando sobre arbustos.

Um silêncio morto caiu entre nós. Até mesmo a música parecia ter

ficado muda. Daemon virou-se lentamente e saiu. Eu fiquei lá,

tremendo. Daemon ia me deixar aqui. Eu não o culpo. Ele me avisou

várias vezes, e eu não tinha escutado. Lágrimas de raiva e frustração

queimaram em meus olhos.

Mas depois ele voltou, segurando meu xale nas mãos. Ele me

entregou, xingando baixinho. Agitando as mãos, peguei o xale dele e

vi que seus olhos estavam brilhando. Quanto tempo eles estavam

assim? Eu poderia sentir seus olhos em mim, pesados e intensos.

Page 311: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu sei. — Eu sussurrei, apertando o xale para frente do meu

vestido rasgado. — Por favor, não diga.

— Dizer o quê? Que eu te avisei? — Ele parecia revoltado. —

Mesmo eu não sou tão idiota. Você está bem?

Eu balancei a cabeça e respirei fundo.

— Obrigada.

Daemon amaldiçoou novamente e, em seguida, ele foi se

aproximando, jogando algo quente que cheirava a ele sobre meus

ombros.

— Aqui. — Ele disse rispidamente. — Coloque isso. Ele vai...

Cobrir tudo.

Olhei para baixo. O xale rendado não fez nada para esconder o

sutiã rasgado do meu vestido. Ruborizando, eu coloquei meus braços

em sua jaqueta smoking. Lágrimas estavam obstruindo minha

garganta agora. Eu estava com raiva de Simon – de mim – e estava

envergonhada. Já que eu tinha o casaco, eu abracei o xale perto.

Daemon nunca iria me deixar esquecer dessa. Agora ele pode não

estar jogando no meu rosto, mas haveria sempre um amanhã.

Os dedos de Daemon roçaram minha bochecha, colocando uma

mecha de cabelo que tinha caído solto atrás da minha orelha.

— Vamos lá. — Ele sussurrou. Eu levantei a minha cabeça.

Havia uma suavidade inesperada em seus olhos. Eu engoli o nó na

minha garganta. Agora, ele é gentil? — Eu vou te levar para casa.

Desta vez não era um comando arrogante ou suposição. Eram

apenas simples palavras. Eu balancei a cabeça. Após o desastre que

aconteceu e o fato de que eu percebi que tinha outro rastro em mim,

eu não ia discutir. Então ele me surpreendeu.

— Espere.

Page 312: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Parecia que ele estava pronto para vir através de sua ameaça

anterior e me jogar sobre os ombros.

— Kat.

— Simon não terá um rastro nele, como eu?

Se o pensamento passou por sua mente, não pareceu

incomodá-lo.

— Ele tem.

— Mas...

Daemon estava em meu rosto em um piscar de olhos.

— Agora não é exatamente o meu problema. — Então ele pegou

meu braço. Seu aperto não era apertado, mas foi firme. Nós não

falamos quando ele me levou pelo ar da noite para seu SUV

estacionado perto da estrada principal. Vários dos carros que

passávamos estavam embaçados. Alguns estavam se movendo. Toda

vez que eu olhava para ele, seus olhos estavam estreitos e a

mandíbula cerrada.

Culpa mastigou minhas entranhas como o ácido. E se o Arum

ainda estava por perto, e eles virem o rastro em Simon? Sim, ele

quase era um estuprador, mas o que o Arum faria com ele? Não podia

deixá-lo por aí, perambulando com um rastro em cima dele.

Ele soltou o meu braço e abriu a porta do passageiro de seu

SUV. Eu entrei, tirando a alça da bolsa de meu pulso e a colocando

ao lado. Eu o observei dando a volta no carro, mandando mensagens

em seu telefone.

Daemon subiu no banco do motorista, me dando um olhar

abrigado.

— Eu avisei Dee que estava levando você para casa. Quando

cheguei aqui, ela disse que te viu, mas não conseguia encontrá-la.

Page 313: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Acenando com a cabeça, comecei a puxar cinto de segurança,

mas não me mexi. Toda a minha frustração apareceu, e eu puxei com

força.

— Droga!

Daemon se inclinou sobre mim e arrancou de meus dedos. Em

um espaço tão pequeno, não havia muito espaço para se movimentar

e antes que eu pudesse protestar, ele já estava puxando o cinto de

segurança. Sua mandíbula roçou minha bochecha e, em seguida, os

lábios. Havia toques rápidos, todos acidentais, mas eu achei difícil

respirar, no entanto.

Daemon conseguiu tirar o cinto de segurança e quando ele

passou pela minha barriga, a parte de trás de seus dedos roçou sobre

a frente do meu vestido. Eu me empurrei no assento.

Ele levantou a cabeça, assustado. E eu estava tão surpresa.

Nossas bocas estavam quase se tocando. Sua respiração era quente e

doce. Inebriante. Seu olhar caiu para os meus lábios, e meu coração

começou a fazer todos os tipos de coisas loucas no meu peito.

Nenhum de nós se moveu pelo o que pareceu uma eternidade.

E então ele clicou o cinto e voltou ao seu lugar, respirando com

dificuldade. Ele agarrou o volante por alguns minutos tensos

enquanto eu tentava me lembrar como respirar normalmente e não

dando goles de ar.

Sem dizer uma palavra, ele saiu para a estrada. Houve um

silêncio tenso no carro. A volta para casa foi quase uma tortura. Eu

queria agradecê-lo novamente e perguntar sobre o que ele planejava

fazer com Simon, mas eu tinha a sensação de que não iria mais além.

Eu acabei descansando minha cabeça contra o assento,

fingindo dormir.

Page 314: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Kat? — Disse ele, a meio caminho de casa.

Fingi que não o ouvi. Infantil, eu sei, mas eu não sabia o que

dizer. Ele era um completo mistério para mim. Tudo que ele fazia

entrava em contradição com outra coisa que eu fazia. Eu podia sentir

seus olhos em mim, e era difícil ignorar isso.

Tão difícil quanto era a ignorar tudo o que havia entre nós.

— Merda! — Daemon explodiu, batendo nos freios.

Meus olhos se abriram, chocados ao encontrar um homem no

meio da estrada.

A SUV derrapou até parar, me jogando para frente e, em

seguida, o cinto de segurança dolorosamente mordeu meu ombro e

me puxou para trás. Em seguida, o carro simplesmente desligou,

motor, luzes, tudo.

Daemon falou em uma língua que era suave e musical. Eu

tinha ouvido antes, quando o Arum atacou na biblioteca. Eu

reconheci o homem na frente do nosso carro. Ele usava as mesmas

calças jeans escuras, óculos de sol, e uma jaqueta de couro que eu

tinha visto no dia do lado de fora da loja de roupas.

E, em seguida, outro homem apareceu, quase idêntico a ele. Eu

não poderia nem mesmo ver de onde ele veio. Ele era como uma

sombra, deslizando para fora das árvores. Em seguida, um terceiro

apareceu, juntando-se a outro para ficar atrás do primeiro cara.

Eles não se mexeram.

— Daemon... — Eu sussurrei, meu coração pulando em minha

garganta. — Quem são eles?

Uma luz forte, cegando branco, iluminou em seus olhos.

— Arum.

Page 315: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 24

O medo aumentou tão rapidamente que me deixou tonta, quase

entorpecida. E como eu poderia estar tão entorpecida quando

certamente eu deveria estar sentindo uma dúzia de emoções?

Daemon se abaixou e puxou a perna da calça. Houve um som

de algo rasgando, como um velcro. Ele segurava algo longo, escuro e

brilhante. Só quando empurrou para as minhas mãos trêmulas que

eu percebi que era algum tipo de vidro preto moldado em uma adaga

afiada com uma ponta fina em uma extremidade e um revestimento

de couro no outro.

— Isto é vidro de obsidiana vulcânica. A borda é muito afiada e

vai cortar através de qualquer coisa. — Explicou rapidamente. — É a

única coisa neste planeta, além de nós, que pode matar os Arum.

Esta é a criptonita deles.

Eu olhei para ele enquanto meus dedos se fechavam em volta

da bainha de couro.

— Vamos lá, garoto bonito! — Gritou o Arum na frente, sua voz

afiada como navalhas e gutural. Ele tinha um forte sotaque de

estrangeiro. — Vem aqui fora brincar!

Page 316: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon ignorou e agarrou meu rosto, suas mãos firmes e

fortes.

— Ouça, Kat. Quando eu disser para você correr, você corre e

não olha para trás, não importa o quê. Se algum deles, qualquer um,

persegui-la, tudo que você tem a fazer é apunhalá-los em qualquer

lugar com a obsidiana.

— Daemon-

— Não. Você corre quando eu disser para correr, Kat. Diga que

você entende.

Havia três deles e apenas um Daemon. As chances não eram

boas.

— Por favor, não faça isso! Corra comigo!

— Eu não posso. Dee está na festa. — Seus olhos encontraram

os meus por um segundo. — Corra quando eu te disser.

E então ele se virou, deixando escapar um suspiro de

resignação, e abrindo a porta do carro. Os ombros de Daemon se

endireitaram, e sua arrogância era cheia de confiança. Aquele sorriso

arrogante, o que eu queria bater fora de seu rosto, muitas vezes,

apareceu em seus lábios.

— Uau! — Disse Daemon. — Vocês são mais feios como seres

humanos do que em sua verdadeira forma. Não achei que isso fosse

possível. Parece que vocês estiveram vivendo sob uma rocha. Vendo

muito o sol?

Aquele na frente, provavelmente seu líder, rosnou.

— Você é arrogante agora, como todos os Luxen. Mas para onde

vai a sua arrogância quando absorvermos seus poderes?

— No mesmo lugar em que o meu pé irá. — Respondeu

Daemon, formando punhos com as mãos. O líder parecia confuso. —

Page 317: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Você sabe, na sua bunda. — Daemon sorriu e os dois Arum

assobiaram.

— Espere. Vocês me parecem familiar. Sim, eu sei. Eu matei

um de seus irmãos. Desculpe por isso. Qual era o nome dele? Vocês

todos parecem iguais para mim. — As formas começaram a vacilar

dentro e para fora, se transformando de humano para sombra e

humano novamente. Estendi a mão para a maçaneta da porta,

apertando o punhal na mão.

Sangue bombeando pelo meu corpo tão rápido, tudo abrandou.

— Eu vou rasgar a sua essência de seu corpo. — O Arum

rosnou. — E você vai implorar por misericórdia.

— Como seu irmão fez? — Respondeu Daemon, voz baixa e fria.

— Porque ele pediu, ele chorou como uma menina antes de eu acabar

com sua existência.

E foi isso. O Arum gritou em uníssono, o som dos ventos

uivantes e morte. Minha respiração ficou presa na minha garganta.

Daemon levantou as mãos e um grande rugido começou debaixo do

carro, sacudindo a estrada, e as árvores para fora. Um estalo alto

soou, como uma explosão de um trovão, seguido rapidamente por

vários outros em sucessão. A terra parecia tremer e rugir.

Virei-me para a janela e suspirei. As árvores estavam sendo

arrancadas do chão, suas raízes grossas e retorcidas pingando

pedaços de terra úmida. Um cheiro de terra enchia o ar.

Oh meu Deus, Daemon estava arrancando árvores.

Um tapa acertou nas costas de um Arum, levando-o a vários

metros abaixo da estrada. Árvores tombaram. Algumas caíram na

estrada, cortando o potencial de qualquer motorista inocente entrar

em cena. Galhos apareceram, voando pelo ar como adagas. Os outros

Page 318: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

dois Arum desviaram, piscando e saindo à medida que avançavam em

Daemon, os ramos atirando através da sua forma de sombra, sem

resistência.

O chão tremeu sob a SUV. Ao longo de todo o lado da estrada,

pedaços das árvores caiam na estrada. Enormes partes de asfalto

giravam no ar, ficando de um laranja brilhante, como se aquecidas a

partir de dentro, e voaram diretamente para o Arum.

Meu Deus, eu com certeza pensaria duas vezes antes irritar

Daemon da próxima vez.

O Arum se esquivou do asfalto e das árvores, jogando para trás

o que pareciam pingos de óleo. Onde o material sombrio pousou, a

estrada queimou. Cheiro de asfalto queimado encheu o ar.

Então Daemon era nada além de uma luz branca ofuscante, um

ser que não era humano, mas de outro mundo, belo e assustador ao

mesmo tempo. O brilho aumentando em volta de suas pernas

estendidas, formando uma bola de energia que estalou. Luz pingou

sobre a estrada. Linhas de energia estalaram e depois explodiram. O

Arum piscou, mas suas sombras não conseguiam se esconder da luz

do Daemon. Eu podia vê-los se movendo em direção a ele ainda. Um

correu para o lado, correndo dele.

Daemon juntou as mãos e o que se seguiu à explosão sacudiu o

carro. Luz irrompeu dele, indo direto para o mais próximo, o que

enviou o Arum girando no ar, onde por um momento ele estava em

forma humana. Óculos escuros quebrados. Pedaços flutuavam no ar,

suspensos.

Outro estrondo seguiu e o Arum explodiu em uma série de

luzes ofuscantes que caiu como milhares de estrelas cintilantes.

Page 319: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon jogou seu braço, e o outro Arum voou vários metros, girando

e caindo pelo ar, mas ele caiu de joelhos.

Corra. A voz veio na minha cabeça. Corra agora, Kat. Não olhe

para trás. Corra!

Eu joguei a porta do carro aberta e saí cambaleando. Caindo de

joelhos, eu desci a vala, estremecendo ao som dos uivos dos Arum.

Eu cheguei até a primeira árvore que ainda estava de pé e parei. O

instinto me disse para continuar correndo, como Daemon tinha

instruído, mas eu não podia deixá-lo lá.

Eu não podia fugir.

Com o meu coração pulando em minha garganta, eu me virei.

Os dois Arum restantes estavam rodeando ele, desaparecendo em

sombras e, em seguida, voltando em formas mais altas e imponentes.

Pingos grossos de óleo da meia-noite passaram por Daemon,

quase tocando a aura de luz em torno dele. Uma das correntes

escuras se chocou contra uma árvore no outro lado da estrada,

dividindo-a em duas.

Daemon retaliou lançando bolas de luz para eles, mais rápidas

e mortais. Elas passaram zunindo pelo ar, formando paredes de

chamas que fracassavam quando elas não atingiram nenhum dos

Arum. Os Arum não eram tão rápidos quanto Daemon, mas

conseguiam desviam de cada um de seus mísseis. Depois de cerca de

trinta bolas arremessadas, eu conseguia ver que a forma de Daemon

estava abrandando, o tempo entre as bombas ficando maior. Me

lembrei do que ele tinha dito quando ele parou o caminhão. Usar seus

poderes o esgotava. Ele não podia continuar assim.

Terror escorria através de mim quando eu os vi fechar sobre

Daemon, sua escuridão quase envolvendo sua luz. Uma bola de

Page 320: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

chamas vermelhas brilhantes formou e disparou em direção ao Arum,

mas Daemon errou. A bola de fogo derrapou do outro lado da estrada,

efervescendo sem causar danos.

Um dos Arum apagou completamente, enquanto o outro

continuou jogando bombas oleosas em Daemon mais e mais, nunca

diminuindo. Daemon piscou, reaparecendo a poucos metros de

distância de um dos projéteis. Ele estava se movendo rápido, toda a

cena começou a parecer como se eu estivesse assistindo a um show

de luzes.

Daemon focou em um dos Arum arremessando bombas de óleo

e ele não viu o outro reaparecendo atrás dele. Os braços de sombra

pegaram o que parecia ser a cabeça de Daemon, deixando-o de

joelhos ao lado da estrada. Eu gritei, mas o som estava perdido na

risada do Arum.

— Pronto para implorar? — O Arum na frente dele provocava,

assumindo forma humana. — Por favor, faça isso. Significaria muito

ouvir a palavra 'por favor' sair de seus lábios enquanto eu tiro tudo de

você.

Daemon não respondeu, mas sua luz era quente e intensa.

— Silencioso até o fim, hein? Assim seja. — O Arum adiantou,

levantando a cabeça. — Baruck, esta na hora.

Baruck forçou Daemon a ficar de pé.

— Faça isso agora, Sarefeth!

Uma parte do meu cérebro desligou. Eu estava me movendo

sem pensar, correndo em direção a mesma coisa que Daemon tinha

me obrigado a fugir. A obsidiana ficou quente na minha mão

enquanto eu corria para cima do barranco, queimando como brasa.

Page 321: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Um salto no meu sapato quebrou quando ficou enroscado nos galhos

caídos, mas eu continuei.

Eu não era corajosa. Eu estava desesperada.

Sarefeth se transformou em uma sombra, empurrando o braço

para frente, para o centro do peito de Daemon. O grito de Daemon

rasgou através de mim, aumentando o meu medo, me lançando em

raiva e desespero. A luz de Daemon queimou, cegando e se

concentrando. O chão tremeu com um tremor gigante.

Apenas alguns metros atrás de Sarefeth agora, eu joguei meu

braço para trás, a obsidiana de lado, e saltei para frente e o trouxe

para baixo com toda a força que eu tinha. Eu esperava encontrar

resistência, de carne e osso, mas a obsidiana cortou através da

sombra, como se Sarefeth fosse feito de nada mais do que fumaça e

de ar, e eu tropecei de joelhos.

Sarefeth empurrou de volta, puxando o braço livre da luz de

Daemon. Ele girou, seus braços sombrios chegando para mim. Eu me

desequilibrei para trás, caindo para baixo. A obsidiana brilhou na

minha mão, vibrando com energia.

E então Sarefeth parou. Pedaços dele se libertaram de sua

forma, se juntaram à escuridão à deriva no céu, obscurecendo as

estrelas até que tudo dele que estava lá a um minuto atrás estivesse

flutuando para longe.

Baruck soltou Daemon, dando um passo para trás. Por um

momento ele estava em sua forma humana, jeans escuros e uma

jaqueta, sua expressão horrorizada, olhar fixo na obsidiana brilhante

em meu aperto. Seus olhos encontraram os meus por apenas um

segundo.

Page 322: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

A vingança havia sido prometida naquele olhar. E então ele era

uma Sombra, puxando a escuridão dentro dele, fugindo em direção ao

outro lado da estrada como uma serpente enrolada e desaparecendo

na noite.

Eu afundei sobre ramos e na estrada rachada em uma louca

corrida para alcançar Daemon. Ele ainda não era nada mais do que

luz, e eu não tinha ideia de onde tocá-lo ou o quanto ele estava

machucado.

— Daemon... — Eu sussurrei, caindo, com meus joelhos

sangrando, na frente dele. Meus lábios e mãos tremiam. — Daemon,

por favor, diga alguma coisa.

Sua luz brilhou, jogando fora uma onda de calor, mas ele não

fez nenhum som ou movimento, nem mesmo um sussurro de

palavras em meus pensamentos. E se alguém viesse? Como eu

poderia explicar tudo isso? E se ele estivesse ferido, morrendo? Um

soluço subiu na minha garganta.

Meu celular! Eu poderia ligar para Dee. Ela saberia o que fazer.

Ela tinha que saber. Eu comecei a me levantar quando eu senti uma

mão no meu braço. Eu me virei e lá estava Daemon, em forma

humana, ajoelhando-se no chão, com a cabeça baixa, mas com o

aperto forte.

— Daemon, oh Deus, você está bem? — Ajoelhei-me, colocando

minha mão em seu rosto quente. — Por favor, me diga que você está

bem? Por favor!

Ele lentamente levantou a cabeça, colocando a outra mão sobre

a minha.

Page 323: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Me lembre... — Ele fez uma pausa, atraindo um suspiro

gaguejado. — De nunca te chatear novamente. Cristo, você é

secretamente uma ninja?

Eu ri e chorei ao mesmo tempo. Então eu joguei meus braços

em torno dele, quase derrubando-o de costas no chão. Eu enterrei

meu rosto em seu pescoço, inalando o cheiro de terra. Ele não tinha

escolha a não ser me abraçar de volta. Seus braços arrastaram em

minhas costas, aprofundando a mão no interior de meus cachos que

tinham caído soltos.

— Você não me ouviu. — Ele murmurou contra o meu ombro.

— Eu nunca ouço. — Eu o apertei com força. Engolindo em

seco, me afastei um pouco, procurando seu rosto cansado, mas

bonito. — Você se machucou? Existe alguma coisa que eu posso

fazer?

— Você já fez o suficiente, Gatinha. — Ele se levantou, me

levando junto com ele. Respirando, ele olhou em volta. — Nós

precisamos sair antes que alguém venha.

Eu não tinha certeza de como isso iria ajudar. Parecia que um

tornado havia passado por aqui, mas depois Daemon recuou e acenou

com a mão. Tudo abaixo da estrada, as árvores foram retiradas para

fora da estrada e rolaram para os lados, abrindo caminho. A ação

quase não o incomodou.

— Vamos lá. — Disse Daemon.

No caminho de volta para o carro, eu me lembrei que ainda

tinha a obsidiana na minha mão. O carro ligou logo que Daemon

virou a chave, para nosso alivio mútuo.

— Você está bem? Se machucou de alguma maneira? — Ele

perguntou.

Page 324: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu estou bem. — Eu estava tremendo. — É só que... Foi

muita coisa, sabe?

Ele deu uma risada curta, mas, em seguida, ele bateu no

volante com o punho.

— Eu deveria saber que haveria mais por perto. Eles viajam em

grupos de quatro. Maldição!

Eu segurei sua obsidiana mais perto, olhando para frente. A

adrenalina estava sumindo e eu estava tentando processar tudo o que

aconteceu esta noite.

— Havia apenas três deles.

— Sim, porque eu matei o primeiro. — Ele puxou o celular do

bolso. —E eu tenho certeza que eles estavam putos com isso.

Tínhamos matado mais dois, então eu percebi que isso

significava que o que restou estaria realmente chateado. Alien com

raiva. Uma pequena risada histérica borbulhava, e eu fechei minha

boca com pressa.

Ele ligou para a irmã, e então, mandou que Dee fosse embora

com os Thompsons e ficasse com o Sr. Garrison até que fosse luz do

dia. Considerando que os Arum eram mais fortes de noite, usando a

escuridão para passar despercebido e se alimentando nas sombras,

os Luxen eram o oposto, mais fortes durante o dia. Daemon contou

detalhes do que tinha acontecido, e eu o ouvi dizer a Dee que eu

estava bem.

— Kat, você está bem? Sério? — Perguntou ele depois que

desligou, preocupado.

Eu balancei a cabeça. Eu estava viva. Ele estava vivo.

Estávamos bem. Mas eu não conseguia parar de tremer, não

conseguindo esquecer o som do grito de Daemon.

Page 325: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

...

Daemon queria que eu passasse a noite na casa dele. Sua

maneira de pensar estava certa. Havia outro lá fora, e até que

soubéssemos onde o Arum estava, era mais seguro estar com ele. Pela

segunda vez naquela noite, eu não discuti. Eu não me enganei que o

convite era por preocupação comigo. Era mais por necessidade.

Depois liguei para minha mãe e contei que ia passar a noite

com Dee, ela protestou, mas acabou cedendo e Daemon me levou até

o quarto de hóspedes onde eu acordei na manhã depois de descobrir

sobre eles. Parecia uma vida atrás.

Daemon tinha estado tranquilo desde que chegou em sua casa,

seus pensamentos a um milhão de quilômetros de distância. Ele me

deixou no quarto de hóspedes com um par de calças de pijama gastas

de flanela e uma camisa que parecia que pertencia a Dee. No

banheiro, eu rapidamente tirei o vestido arruinado, enrolando-o e

jogando na lixeira. Eu nunca queria vê-lo novamente.

A água quente não conseguiu aliviar a dor em mim. Eu nunca

me senti do jeito que eu me sentia agora. Cada músculo gritou, e

minha mente estava esgotada. Eu saí do chuveiro, minhas pernas

tremendo, e até mesmo no calor do banheiro cheio de vapor eu sentia

frio.

Eu lentamente limpei o vapor do espelho, chocada com o reflexo

que olhou para mim. Meus olhos estavam arregalados. Minhas

bochechas estavam medonhamente pálidas e puxei um aperto em

minhas bochechas. Eu parecia mais alien do que os meus amigos.

Eu ri e logo em seguida me encolhi. Parecia sufocada e feia,

chocada no quarto silencioso. Baruck voltaria. Não foi por isso que

Page 326: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon estava tão tranquilo? Sabendo que o Arum iria buscar

vingança contra a sua família, não havia nada que ele pudesse fazer.

Ou eu poderia mesmo esperar fazer.

— Você está bem aí? — Daemon chamou atrás da porta

fechada.

— Sim. — Corri meus dedos pelo meu cabelo úmido,

empurrando grossas mechas do meu rosto. — Sim... — Eu sussurrei

de novo. Vesti a roupa que ele me trouxe, e estava quente, cheirando

levemente a detergente e a folhas crespas.

Ele estava sentado na beira da cama, quando voltei, parecendo

cansado e jovem. Ele já tinha se trocado em um par de calças de

moletom e uma camisa.

— Você está bem? — Perguntei.

Ele acenou com a cabeça.

— Sempre que nós usamos os nossos poderes, é como... Perder

uma parte de nós mesmos. Demora um pouco para recarregar. Logo

que o sol nascer, eu vou ficar bem. — Ele fez uma pausa,

encontrando meus olhos. — Eu sinto muito que você teve que passar

por tudo isso.

Eu parei na frente dele. Desculpa não era algo que estava em

seu vocabulário muitas vezes. Nem eram palavras dele, eu suspeitava.

— Eu não disse obrigado. — Disse ele, olhando para mim. —

Você deveria ter corrido, Kat. Eles teriam matado você... Sem pensar

duas vezes. Mas você salvou minha vida. Obrigado.

Palavras pararam em minha respiração. Olhei para ele.

— Você vai ficar comigo esta noite? — Esfreguei meus braços.

— Eu não estou dando em cima de você. Você não precisa, mas...

Page 327: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu sei. — Ele se levantou, a testa enrugada. — Me deixe

verificar a casa de novo, e eu volto.

Eu subi na cama, puxando as cobertas até o queixo enquanto

eu olhava para o teto. Fechando os olhos, contei silenciosamente até

que ouvi os passos de Daemon. Quando abri os olhos, ele estava de

pé na soleira da porta, me observando.

Eu me afastei para a borda mais distante da cama, deixando

muito espaço para ele. Um pensamento estranho passou pela minha

cabeça quando o vi me observando. Ele já esteve em uma cama com

uma garota humana? Parecia uma coisa tão estúpida até mesmo de

pensar. Relações com os seres humanos não eram proibidas. Eles só

faziam pouco sentido. E depois de tudo o que aconteceu, por que eu

estava pensando sobre isso?

Daemon trancou a porta, verificou as grandes janelas, e depois

sem palavras deitou na cama, com os braços cruzados sobre o peito,

assim como eu. Nós ficamos ali, olhando para o teto. E meu coração

estava acelerado. Poderia ser tudo o que aconteceu ou o fato de que

Daemon estava ali, tão perto e vivo, mas eu estava hiper-consciente

de tudo. De sua lenta e constante respiração. O calor que irradiava de

seu corpo. E a minha própria necessidade de ser envolvida nesse

calor.

Um silêncio tenso desceu enquanto eu corria meus dedos sobre

a borda do cobertor. Depois, contra a minha vontade, eu olhei para

ele. Daemon olhou de volta, um sorriso torto no rosto.

Uma risada borbulhou dentro de mim.

— Isso... Isso é tão estranho.

A pele ao redor dos olhos dele enrugaram quando seu sorriso se

espalhou.

Page 328: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Isso é, não é?

— Sim. — Eu ofegava, rindo. Parecia errado rir depois de tudo o

que tinha acontecido, mas eu não podia evitar. Depois que eu

comecei, não conseguia parar. Eu enfrentei um possível estuprador

como par e uma horda alienígena sugando a essência de Daemon.

Loucura.

Sua risada se juntou a minha até pequenas lágrimas rolarem

pelo meu rosto. O som de seu riso desapareceu quando ele estendeu a

mão, perseguindo as gotas com seu dedo. Eu parei, olhando para ele.

Seus dedos deixaram meu rosto, mas seu olhar permaneceu trancado

em mim.

— O que você fez lá? Foi incrível. — Ele murmurou. A emoção

doce me sacudiu.

— Tem certeza que você não está machucado?

O sorriso torto de Damon retornou.

— Não. Eu estou bem, graças a você. — Ele mudou de posição,

desligou o abajur do lado da cama antes de deitar novamente.

Procurei alguma coisa para dizer no escuro.

— Estou brilhando?

— Como uma árvore de Natal.

— Não apenas a estrela?

A cama se moveu um pouco, e eu senti a mão dele escovando

meu braço.

— Não. Você está super brilhante. É como olhar para o sol.

Isso que era estranho. Eu levantei minha mão, levemente capaz

de ver o meu contorno na escuridão.

— Vai ser difícil para você dormir, então.

Page 329: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Na verdade, é uma espécie de consolo. Me faz lembrar do

meu próprio povo.

Virei a cabeça, e ele estava deitado de lado, olhando para mim.

A vibração formando no meu peito.

— A coisa toda da obsidiana? Você nunca me contou sobre

isso.

— Eu não achei que seria necessário. Ou pelo menos eu

esperava que não fosse.

— Pode te machucar?

— Não. E antes que você pergunte o que pode, nós não temos o

hábito de contar a seres humanos o que pode nos matar. — Ele

respondeu calmamente. — Nem mesmo o DOD sabe o que é mortal

para nós. Mas a obsidiana anula os pontos fortes dos Arum. Assim

como o beta quartzo nas rochas joga fora uma grande quantidade de

energia que exalamos, mas com a obsidiana, tudo o que tem é um

pouco e... Bem, você sabe. É a coisa toda da luz, o jeito com que a

obsidiana os machuca.

— Todos os cristais são prejudiciais para os Arum?

— Não, apenas deste tipo. Eu acho que tem algo a ver com o

aquecimento e a refrigeração. Matthew me explicou uma vez.

Honestamente, eu não estava prestando atenção. Eu sei que isso pode

matá-los. Nós carregámos conosco, sempre que saímos, geralmente

escondido. Dee carrega uma em sua bolsa.

Eu estremeci.

— Eu não consigo acreditar que eu matei alguém.

— Você não matou alguém. Você matou um alien que teria

matado você, sem pensar duas vezes. Que ia me matar. —

Page 330: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Acrescentou como um adendo, distraidamente esfregando seu peito.

— Você salvou a minha vida, Gatinha.

Ainda assim, saber que o cara tinha sido mal não mudava a

forma como eu me sentia em meu estômago.

— Você foi como Snowbird. — Daemon disse finalmente.

Seus olhos estavam fechados, o rosto relaxado. Foi

possivelmente a primeira vez que eu tinha visto ele estar tão... Aberto.

— Por que você acha isso?

Um pequeno sorriso brincou em seus lábios.

— Você poderia ter me deixado lá e corrido, como eu disse.

Mas, em vez disso você voltou e me ajudou. Você não tinha que fazer

isso.

— Eu... Eu não podia deixá-lo lá. — Desviei o meu olhar. — Não

teria sido certo. E eu nunca teria sido capaz de me perdoar.

— Eu sei. Durma um pouco, Gatinha.

Eu estava cansada, exausta, mas parecia que o bicho-papão

estava esperando do lado de fora da porta.

— Mas e se o último voltar? — Fiz uma pausa, percebendo um

novo medo.

— Dee está com o Sr. Garrison. Ele sabe que eu estava com

você quando eles atacaram.

— E se ele me entregar? E se o DOD-

— Shh... — Daemon murmurou, sua mão encontrando a

minha. Seus dedos roçaram o topo da minha. Foi um toque simples,

mas eu senti por todo o caminho até os dedos dos pés. — Ele não vai

voltar, ainda não. E eu não vou deixar Matthew entregar você.

— Mas-

Page 331: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Kat, eu não vou deixar. Ok? Eu prometo a você. Eu não vou

deixar nada acontecer com você.

A vibração estava lá novamente, mas agora parecia que tinha

uma dúzia de borboletas levantando voo de uma só vez. Tentei pisar

sobre o sentimento. Negócios aliens de lado, Daemon e eu... Bem, nós

éramos como ímãs que repeliam um ao outro.

Sentir nada além de aborrecimento por ele não era possível,

mas que aquele maldito tremor estava lá.

Eu não vou deixar nada acontecer com você.

Meu peito inchou. Seu toque me queimou. Aquelas palavras me

encheram de uma saudade que era avassaladora, inesperada. E era

bom estar ao lado dele. Meu corpo relaxou. Segundos, talvez minutos

depois, adormeci ao lado de um garoto que eu não podia suportar.

Pouco antes do sono me levar, meu último pensamento era se

eu iria acordar na parte da manhã ao lado deste Daemon ou do

Daemon idiota.

Page 332: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 25

Quando acordei na manhã seguinte, o sol já alcançava o topo

das montanhas em volta do vale. Eu realmente não estava mais do

meu lado da cama. Inferno, eu não estava na cama. Metade do meu

corpo estava deitado sobre o peito de Daemon.

Nossas pernas estavam entrelaçadas sob o edredom. Um de

seus braços estava em volta da minha cintura como uma tira de aço.

Minha mão estava na barriga dele. Eu conseguia sentir seu coração

batendo em meu rosto, firme e forte.

Eu estava lá, minha respiração em minha garganta.

Havia algo de íntimo sobre estar enrolada em outra pessoa em

uma cama. Como amantes.

Um doce, quente fogo tomou conta de minha pele, e eu fechei

meus olhos. Cada centímetro de mim estava consciente dele. De como

meu corpo se encaixava contra o dele, a maneira como suas coxas

estavam pressionadas contra as minhas, a dureza de seu abdômen

sob minha mão.

Meus hormônios chutaram com a força de um chute no

estômago.

Page 333: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Choques passavam pelas minhas veias. Por um momento, eu

fingi. Não que nós não fossemos de duas espécies diferentes, porque

eu não via dessa forma, mas que realmente gostássemos um do outro.

E então ele se moveu e rolou. Eu fiquei de costas, e ele ainda

não se mexia. Seu rosto se enterrou no espaço entre o meu pescoço e

o meu ombro, se aninhando. Jesus... A respiração quente dançou

sobre a minha pele, enviando arrepios pelo meu corpo. Seu braço

estava pesado contra a minha barriga, a perna dele entre a minha,

empurrando para cima. Ar queimou pelos meus pulmões.

Daemon murmurou numa língua que eu não conseguia

entender. Fosse o que fosse, soava bonito e macio. Mágico. Celeste.

Eu poderia tê-lo acordado, mas por algum motivo não o fiz. A emoção

dele me tocando era muito mais forte do que qualquer outra coisa.

A mão dele estava na borda da camisa emprestada, seus longos

dedos na tira de carne exposta entre a bainha da camisa e da barra

do desgastado pijama. E sua mão subiu debaixo da camisa, em toda a

minha barriga, onde diminuiu ligeiramente. Meu pulso entrou em

território cardíaco. As pontas de seus dedos roçaram minhas costelas.

Seu corpo se movia, seu joelho pressionado contra mim.

Engoli em seco.

Daemon parou. Ninguém se mexeu. O relógio na parede bateu.

E eu me encolhi.

Ele levantou a cabeça. Olhos, como piscinas de grama líquido

olharam para mim em confusão. Eles rapidamente se apagaram,

porém, voltando a ficar nítidos e duros dentro de segundos.

— Bom dia? — Eu rangi.

Usando seus braços poderosos, ele se levantou. Seus olhos

nunca deixaram os meus.

Page 334: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Daemon parecia arrastar uma respiração profunda. Eu não

tinha certeza se ele respirou. Algo se passou entre nós, não dito e

pesado. Seus olhos se estreitaram. Eu tinha a sensação engraçada de

que ele estava avaliando a situação e de alguma forma eu era a

culpada por suas sonolentas embora muito, muito boas... Carícias.

Como se tivesse sido culpa minha.

Sem dizer uma palavra, ele desapareceu por cima de mim. A

porta se abriu e se fechou atrás dele, sem eu sequer ter um vislumbre

dele.

Eu fiquei ali, olhando para o teto, o coração batendo.

Bochechas coradas, meu corpo quente, muito quente. Não tinha

certeza de quanto tempo passou, mas a porta se abriu novamente,

com uma velocidade de humano normal.

A cabeça de Dee apareceu na porta, com os olhos arregalados.

— Vocês dois fizeram...?

Engraçado que de tudo o que tinha acontecido nas últimas

vinte e quatro horas, essa foi a primeira pergunta que ela fez.

— Não. — Eu disse, mal reconhecendo minha própria voz.

Limpei a garganta. — Quero dizer, dormimos juntos, mas não

dormimos juntos.

Eu rolei, enterrando meu rosto em um travesseiro. Cheirava a

ele – crespo e quente. Como folhas de outono. Eu gemi.

...

Eu tinha certeza de que, se alguém tivesse me dito que eu iria

me encontrar sentada em uma sala com meia dúzia de alienígenas em

uma tarde de sábado, eu diria a eles para largar as drogas. No

Page 335: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

entanto, ali estava eu, sentada em uma poltrona, pernas dobradas

debaixo de mim, mas pronta para correr para a porta, se necessário.

Daemon estava sentado no braço da poltrona, braços cruzados

sobre o peito. O mesmo peito em que eu acordei. Um rubor subiu

minha garganta. Nós não tínhamos nos falado. Nem uma única

palavra, o que estava tudo bem pra mim.

Mas sua posição atual foi devidamente observada por todos.

Dee parecia estranhamente presunçosa. Uma profunda, implacável

carranca tinha se estabelecido nos rostos de Ash e Andrew, mas o

fato de que eu estava aqui ofuscava qualquer motivo que Daemon

tivesse por bancar o cão de guarda.

Sr. Garrison começou a falar.

— O que ela está fazendo aqui?

— Ela está iluminada como uma maldita bola de discoteca. —

Ash disse acusadora. — Eu poderia provavelmente vê-la de Virginia.

De alguma forma, ela fez a coisa toda de brilhar parecer como

se eu estivesse coberta de tumores em vez de luz. Eu olhei para ela

abertamente.

— Ela estava comigo na noite passada, quando o Arum atacou.

— respondeu Daemon, calmo. — Você sabe disso. As coisas ficaram

um pouco... Explosivas. Não havia nenhum jeito que eu pudesse

encobrir o que aconteceu.

O Sr. Garrison passou a mão pelo cabelo castanho.

— Daemon, de todas as pessoas, eu esperava que você

soubesse melhor, ser mais cuidadoso.

— Que diabos eu deveria fazer exatamente? Atirá-la para fora

antes que o Arum atacasse?

Page 336: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ash arqueou uma sobrancelha. O olhar em seu rosto dizia que

não era uma má ideia.

— Katy sabe sobre nós desde o início da escola. — Disse

Daemon. — E acredite em mim quando eu digo que eu fiz tudo

possível para evitar que ela soubesse.

Um dos meninos Thompson respirou fundo.

— Ela sabe esse tempo todo? Como você pode permitir isso,

Daemon? Todas as nossas vidas têm estado nas mãos de um ser

humano?

Dee revirou os olhos.

— Obviamente, ela não disse uma palavra, Andrew. Se acalme.

— Me acalmar? — Andrew fez uma careta que combinava

perfeitamente com a de Ash. E agora eu sabia quem era Andrew, eu

conseguia distingui-los. Andrew tinha um brinco na orelha esquerda.

Adam, que estava quieto, não. — Ela é uma estúpida-

— Tenha cuidado com o que vai dizer em seguida. — A voz de

Daemon era baixa, mas pesada. — Porque o que você não sabe e o

que você não pode entender vai dar a você um raio de luz em seu

rosto.

Meus olhos se arregalaram, assim como praticamente todo

mundo na sala. Ash engoliu em seco e virou o rosto, deixando seu

cabelo loiro cobrir seu rosto.

— Daemon. — Disse Garrison, dando um passo à frente. —

Ameaçar um dos seus por ela? Eu não esperava isso de você.

Seus ombros se enrijeceram.

— Não é assim.

Eu tomei uma respiração profunda.

Page 337: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu não vou contar a ninguém sobre vocês. Eu conheço os

riscos para vocês e para mim, se eu fizer. Vocês todos não têm nada

com que se preocupar sobre isso.

— E quem é você para que possamos confiar? — Perguntou o

Sr. Garrison, seus olhos se estreitaram em mim. — Não me entenda

mal. Tenho certeza de que você é uma ótima garota. Você é inteligente

e parece ter a cabeça no lugar, mas isso é questão de vida ou morte

para nós. Nossa liberdade. Confiar em um ser humano não é algo que

podemos arriscar.

— Ela salvou minha vida na noite passada. — Disse Daemon.

Andrew riu.

— Oh, vamos lá, Daemon. O Arum deve ter te dado uma surra.

Não tem jeito de um ser humano salvar qualquer um de nós.

— O que há com você? — Eu rebati, incapaz de parar. — Você

age como se fossemos incapazes de fazer qualquer coisa. Claro, vocês

são o que são, mas isso não significa que somos organismos

unicelulares.

Um riso abafado veio de Adam.

— Ela salvou minha vida. — Daemon levantou, chamando a

atenção de todos. — Havia três Arum me atacando, os irmãos de um

que eu matei. Eu consegui destruir um, mas os dois me dominaram.

Eles tinham me pegado e já tinham começado a alcançar meus

poderes. Eu era um caso perdido.

— Daemon! — Disse Dee, empalidecendo. — Você não nos

contou nada disso.

Sr. Garrison ainda parecia duvidoso.

Page 338: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu não vejo como ela poderia ter ajudado. Ela é um ser

humano. O Arum são poderosos, imorais e viciosos. Como pode uma

garota ir contra eles?

— Eu tinha dado a ela a lâmina de obsidiana que eu carregava

e lhe disse para correr.

— Você deu a ela a lâmina quando você poderia ter usado isso?

— Ash parecia atordoada. — Por quê? — Seus olhos corriam para

mim. — Você não gosta dela.

— Esse pode ser o caso, mas eu não ia deixá-la morrer, porque

eu não gosto dela.

Eu vacilei. Maldição. Uma dor começou no meu peito, como

uma brasa viva, mesmo eu não me importando.

— Mas você poderia ter se machucado! — Ash protestou. Medo

engrossou a voz. — Você poderia ter sido morto porque você deu sua

melhor defesa para ela.

Daemon suspirou, se sentando no braço da cadeira.

— Ainda tenho outras maneiras de me defender. Ela não tinha.

Ela não correu como eu disse a ela. Em vez disso, ela voltou e matou

o Arum que estava prestes a acabar comigo.

Orgulho relutante brilhou nos olhos do meu professor de

biologia.

— Isso é... Admirável.

Revirei os olhos, começando a ter uma dor de cabeça.

— Foi muito mais do que admirável! — Dee interrompeu,

olhando para mim. — Ela não tinha que fazer isso. Isso tem que ser

mais do que admirável.

— É corajoso. — Adam disse baixinho, olhando para o tapete.

— É o que qualquer um de nós teria feito.

Page 339: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Mas isso não muda o fato de que ela sabe sobre nós. —

Andrew atirou de volta, lançando a seu irmão gêmeo um olhar de

desprezo. — E nós estamos proibidos de contar para qualquer ser

humano.

— Nós não contamos a ela. — Disse Dee, mexendo sem parar.

— Meio que aconteceu.

— Oh, como aconteceu da última vez. — Andrew revirou os

olhos quando ele se virou para o Sr. Garrison. — Isso é inacreditável.

Sr. Garrison balançou a cabeça.

— Depois do fim de semana do Dia do Trabalho, você me disse

que algo aconteceu, mas que você cuidou do assunto.

— O que aconteceu? — Ash perguntou, óbvio que esta foi a

primeira vez que ela tinha ouvido falar disso. — Você está falando

sobre a primeira vez que ela ficou brilhante?

Eu era como um pirilampo, aparentemente.

— O que aconteceu? — Perguntou Adam, parecendo curioso.

— Entrei na frente de um caminhão. — Esperei pelo inevitável

olhar "duh", que eu receberia.

Ash olhou para Daemon, seus olhos azuis crescendo de um

tamanho de pires.

— Você parou o caminhão?

Ele acenou com a cabeça.

Um olhar cabisbaixo apareceu em seu rosto quando ela olhou

para longe.

— Obviamente isso não poderia ser explicado. Ela sabe desde

então?

Eu percebi que não era o momento de falar que eu tinha

minhas suspeitas antes disso.

Page 340: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Ela não surtou. — Disse Dee. — Ela nos ouviu, compreendeu

por que é importante, e é isso. Até ontem à noite, o que somos nem

sequer era um problema.

— Mas você mentiu para mim, tanto quanto você. — Sr.

Garrison encostou-se à parede, em um espaço entre a TV e uma

estante abarrotada. — Como vou confiar em você agora?

Uma pontada de dor correu atrás dos meus olhos.

— Olha, eu entendo o risco. Mais do que qualquer um de vocês

na sala. — Daemon disse, esfregando seu peito, onde o Arum havia

enfiado a mão sombria. — Mas o que está feito, está feito. Precisamos

seguir em frente.

— Como entrar em contato com o Departamento de Defesa? —

perguntou Andrew. — Tenho certeza de que eles sabem o que fazer

com ela.

— Eu gostaria de ver você tentar isso, Andrew. Realmente eu

gostaria, porque mesmo depois da noite passada, e ainda não estando

totalmente recarregado, eu ainda posso acabar com você.

Sr. Garrison pigarreou.

— Daemon, as ameaças não são necessárias.

— Não são? — Perguntou Daemon.

Um pesado silêncio caiu na sala. Eu acho que Adam estava do

nosso lado, mas era claro que Andrew e Ash não estavam. Quando o

Sr. Garrison finalmente falou, eu tinha dificuldade em encontrar o

seu olhar.

— Eu não acho que isso seja sábio. — Disse ele. — Não com o

que... Com o que aconteceu antes, mas eu não vou te entregar. A não

ser que você me dê razão para isto. E talvez você não vá. Eu não sei.

Os seres humanos são... Criaturas inconstantes. O que somos, o que

Page 341: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

podemos fazer, tem que ser protegido a todo custo. Eu acho que você

entende isso. — Ele fez uma pausa, limpando a garganta. — Você está

segura, mas nós não.

Andrew e Ash pareciam menos que animados pela decisão do

Sr. Garrison, mas não responderam. Além de trocar olhares um com o

outro, eles mudaram de assunto para como lidar com o último Arum.

— Ele não vai esperar. Eles não são conhecidos por serem

pacientes. — Disse o Sr. Garrison, se sentando no sofá. — Eu poderia

entrar em contato com outros Luxen, mas não tenho certeza se isso

seria inteligente. Onde podemos estar mais confiantes nela, eles não

vão estar.

— E há o problema de que ela é uma lâmpada megawatt agora.

— Ash adicionou. — Não importa se não dissermos nada. No

momento em que ela for para qualquer lugar na cidade, eles vão saber

que algo grande aconteceu de novo.

Fiz uma careta para ela.

— Bem, não sei o que eu deveria fazer em relação a isso.

— Alguma sugestão? — Disse Daemon. — Porque quanto mais

cedo ela não estiver carregando um rastro, melhor será.

Sim, porque eu aposto que ele estava ansioso para ser babá

novamente.

— Quem se importa? — Andrew disse, revirando os olhos. —

Temos a questão do Arum para nos preocupar. Ele vai vê-la, não

importa onde a coloquemos. Todos nós, agora, estamos em perigo.

Qualquer um de nós perto dela está em perigo. Nós não podemos

esperar. Temos de encontrar o último Arum.

Dee balançou a cabeça.

Page 342: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Se conseguirmos tirar o rastro dela, então isso vai nos dar

tempo para encontrá-lo. Nos livrar do rastro deve ser a primeira

prioridade.

— Eu digo que devemos levá-la para o meio do nada e deixá-la

lá. — Andrew murmurou.

— Obrigada. — Eu disse, esfregando as têmporas. — Você é

muito prestativo com tudo isso.

Ele sorriu para mim.

— Ei, apenas oferecendo minhas sugestões.

— Cale a boca, Andrew! — Disse Daemon.

Andrew revirou os olhos.

— Logo que tirarmos o rastro dela, ela estará segura. — Dee

insistiu e colocou o cabelo para trás, o rosto comprimido. — Os Arum

mexem com os seres humanos, realmente. Sarah... Ela estava no

lugar errado na hora errada. — Eles se lançaram em outra discussão

sobre o que era mais importante: me levar para algum lugar, o que

não fazia sentido, porque a minha luz podia ser vista através de

qualquer coisa, ou tentar descobrir uma maneira de fazer o rastro

desaparecer além de ter que me matar. E eu pensava seriamente que

Andrew acreditava que essa era uma opção a ser considerada. Idiota.

— Eu tenho uma ideia. — Disse Adam. Todos olharam para ele.

— A luz ao seu redor é um subproduto de nós usando nosso poder,

certo? E o nosso poder é energia concentrada. E nós enfraquecemos

quando usamos os nossos poderes e gastamos mais energia.

Sr. Garrison piscou, seus olhos faiscando com interesse.

— Eu acho que estou entendendo.

— Eu não... — Eu murmurei.

Page 343: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Nossos poderes desaparecem quanto mais usamos, mais

energia exercemos. — Adam se virou para Daemon. — Deve funcionar

do mesmo jeito com os rastros, pois o rastro é apenas energia residual

que estamos deixando em alguém. Nós temos que fazê-la usar sua

própria energia, que deve desaparecer o que está ao seu redor. Talvez

não completamente, mas fazê-lo até níveis que não vá trazer cada

Arum na Terra para nós.

Isso dificilmente fazia sentido para mim, mas o Sr. Garrison

estava balançando a cabeça.

— Deve funcionar.

Daemon coçou o peito, sua expressão duvidosa.

— E como vamos fazer com que ela exerça a própria energia?

Andrew sorriu do outro lado da sala.

— Nós poderíamos levá-la a um campo e persegui-la com

nossos carros. Isso soa divertido.

— Oh, merd-

A risada de Daemon me cortou.

— Eu não acho que seja uma boa ideia. Engraçado, mas não

uma boa ideia. Os seres humanos são frágeis.

— Que tal eu enfiar meu pé frágil na sua bunda? — Eu disse,

irritada. Minha cabeça estava batendo, e eu não achava nenhum

deles engraçado. Eu empurrei Daemon para fora do braço da cadeira

e me levantei. — Eu vou pegar uma bebida. Me avisem quando vierem

com alguma coisa que não vai me matar no processo. — A conversa

continuou enquanto eu corria da sala. Eu não estava com sede. Eu só

tinha que sair de lá, longe deles. Meus nervos estavam horríveis.

Entrando na cozinha, eu corri minhas mãos pelo meu cabelo.

Um silencio abençoado acalmou a martelada na minha cabeça. Eu

Page 344: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

fechei meus olhos até que pequenas manchas dançaram atrás das

minhas pálpebras fechadas.

— Eu achei que você estaria se escondendo na cozinha.

Eu gritei com o som da voz calma de Ash.

— Desculpe. — Disse ela, inclinando-se contra o balcão. — Eu

não queria assustá-la.

Não tinha certeza se eu acreditava nisso.

— Tudo bem.

De perto, Ash era o tipo de beleza que me fazia desejar que eu

pudesse pegar vinte libras e correr para o departamento de

maquiagem mais próximo. Ela sabia disso, também. Havia confiança

na inclinação do queixo.

— Isto deve ser muita coisa para você lidar, saber de tudo e, em

seguida, enfrentar o que você enfrentou na noite passada. — Eu

olhei-a com cautela. Mesmo que ela não estivesse tentando tirar a

minha cabeça, eu não iria relaxar.

— Tem sido diferente. — Um leve sorriso cruzou os lábios

carnudos. — O que aquele programa de TV dizia? 'A verdade está lá

fora‘.

— Arquivo X. — Eu disse a ela. — Eu queria assistir Contatos

Imediatos do Terceiro Grau desde que eu descobri. Parece ser o mais

realista de todos os filmes de alienígenas.

Outro pequeno sorriso e então ela olhou para cima,

encontrando meus olhos. — Eu não vou fingir que seremos melhores

amigas ou que eu confio em você. Eu não confio. Você jogou

espaguete na minha cabeça. — Estremeci com isso, mas ela foi

adiante. — E sim, talvez eu estivesse sendo uma cadela, mas você não

Page 345: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

entende. Eles são tudo o que tenho. Eu vou fazer de tudo para mantê-

los seguros.

— Eu nunca faria nada para colocá-los em perigo.

Ela se aproximou, e eu lutei contra todos os meus instintos de

me afastar. Eu insisti na minha posição.

— Mas você já fez isso. Quantas vezes Daemon interveio em seu

nome, correndo o risco de expor o que somos e o que podemos fazer?

Você estar aqui é colocar cada um de nós em risco.

Raiva rasgou através de mim como um fogo.

— Eu não estou fazendo nada. E ontem à noite-

— Na noite passada, você salvou a vida de Daemon. Ótimo.

Bom para você. — Ela colocou o cabelo atrás da orelha. — Claro, a

vida de Daemon não teria sido necessária ser salva se você não

tivesse levado o Arum direto para ele. E o que você acha que você tem

com Daemon, você não tem.

Oh, pelo amor dos bebês em todos os lugares.

— Eu não tenho nada com Daemon.

— Você gosta de Daemon, não é?

Sorrindo, peguei uma garrafa de água do balcão.

— Não é verdade.

Ash inclinou a cabeça para o lado.

— Ele gosta de você.

Meu coração deu um salto estúpido no meu peito.

— Ele não gosta de mim. Você mesma disse isso.

— Eu estava errada. — Ela cruzou os braços finos enquanto me

estudava atentamente. — Ele está curioso sobre você. Você é

diferente. Nova. Brilhante. Garotos, até mesmo da nossa espécie,

adoram novos brinquedos brilhantes.

Page 346: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Tomei um gole da água.

— Bem, este é um brinquedo com quem ele não tem intenção

de brincar. — Quando ele estava acordado era assim. — E realmente,

o Arum...

— O Arum vai acabar matando-o. — Seu tom não mudou nem

um pouco. Ele se manteve estável, sem emoção. — Por causa de você,

humanazinha. Ele vai se matar para protegê-la.

Page 347: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 26

— Querida, você tem certeza que você está se sentindo bem? —

Minha mãe pairou sobre o sofá, franzindo a testa. Ela está assim o

dia todo desde que eu tinha acordado. — Você precisa de alguma

coisa? Uma canja de galinha. Abraços? Beijos?

Eu ri.

— Mãe, eu estou bem.

— Tem certeza? — Ela perguntou, puxando a manta sobre

meus ombros. — Algo aconteceu no baile?

— Não. Não aconteceu nada. — Nada se eu não contar o bilhão

de mensagens de texto que Simon me enviou, pedindo desculpas pela

forma como ele agiu, e o ataque dos aliens assassinos depois. Não...

Absolutamente nada. — Eu estou bem. — Eu estava cansada depois

de passar a maior parte do sábado em uma casa cheia de aliens

discutindo. Dois deles não confiavam em mim. Um deles achava que

eu ia ser a morte de Daemon. Adam não parecia me odiar, mas ele

não era excessivamente amigável. Eu tinha escapado pouco antes da

Page 348: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

pizza que eles pediram chegar. Ash tinha razão. Eles eram uma

família. Todos eles, e eu não cabia nela.

Quando a minha mãe saiu para o trabalho, eu me aconcheguei

no sofá e tentei assistir a um filme de Syfy9, mas acabou por ser sobre

uma invasão alienígena. Seus aliens não eram seres de luz, mas sim

insetos gigantes que comiam seres humanos.

Troquei de canal.

Chovia lá fora, tão forte que eu mal conseguia ouvir o filme. Eu

sabia que Daemon estaria nas proximidades, especialmente até que

eles descobrissem como fazer para que eu gastasse energia suficiente

para enfraquecer o rastro. Todas as sugestões envolviam ar livre e

esforço físico extremo, o que não iria acontecer hoje.

O som da chuva foi acalmando. Depois de algum tempo, meus

olhos ficaram muito pesadas para mantê-los abertos. Como eu estava

prestes a cochilar, uma batida na porta me acordou. Eu joguei a

manta no sofá e caminhei até a porta. Duvidando que um Arum fosse

bater, eu abri a porta. Daemon estava ali, pouco molhado mesmo que

a chuva estivesse caindo nas folhas atrás dele. Havia alguns pontos

mais escuros de cinza sobre os ombros da camisa de mangas

compridas dele. Aposto que ele usou velocidade super-alienígena.

Quem precisava de um guarda-chuva? E por que diabos ele estava

usando calças de corrida?

— Como vai?

— Você vai me convidar para entrar? — Ele perguntou.

Pressionando os lábios, eu pisei de lado e o deixei entrar. Ele

passou por mim, escaneando os cômodos.

— O que você está procurando?

9 Ficção científica.

Page 349: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Sua mãe não está em casa, certo?

Eu fechei a porta.

— O carro dela não está lá fora.

Seus olhos se estreitaram.

— Precisamos fazer com que seu rastro suma.

— Está chovendo lá fora. — Eu passei por ele, pegando o

controle remoto para desligar a TV. Daemon chegou antes de mim. A

coisa desligou antes que eu apertasse o botão. — Exibido... — Eu

murmurei.

— Já fui chamado de pior. — Ele franziu a testa e depois riu. —

O que você esta vestindo?

Olhei para baixo, o rosto em chamas. Uma coisa que eu não

estava usando era um sutiã.

Cristo, como eu pude esquecer?

— Cale a boca.

Ele riu de novo.

— O que são eles? Elfos Keebler10?

— Não! Eles são elfos do Papai Noel. Eu amo essas calças de

pijama. Meu pai as deu para mim.

Seu sorriso maroto diminuiu um pouco.

— Você as usa, porque elas te lembram ele?

Eu balancei a cabeça.

Ele não disse nada. Em vez disso, ele enfiou as mãos nos bolsos

da frente de seus jeans.

— Meu povo acredita que quando morremos, a nossa essência é

o que acende as estrelas no universo. Parece estúpido acreditar em

algo assim, mas quando eu olho para o céu à noite eu gosto de pensar

10 Uma pequena família de elfos que vivem em uma árvore e criam todos os tipos de engenhocas

complexas apenas para que possam obter os biscoitos perfeitos.

Page 350: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

que pelo menos duas das estrelas que estão lá fora, são meus pais. E

que uma é o Dawson.

— Isso não é estúpido. — Parei, surpresa por quão tocante essa

crença realmente era. Não era a mesma que a nossa, acreditar que

nossos entes queridos estavam no céu olhando por nós? — Talvez

uma delas seja o meu pai.

Seus olhos encontraram os meus, então voaram para longe.

— Bem, de qualquer maneira, os elfos são sexy.

E um momento profundo efetivamente deu em nada.

— Vocês acharam outra maneira de enfraquecer o rastro?

— Não de verdade.

— Você está pensando em me fazer malhar, não é?

— Sim, essa é uma das maneiras de fazê-lo.

Me sentei no sofá, ficando rapidamente irritada.

— Bem, não há muito que podemos fazer hoje.

— Você tem um problema de sair na chuva?

— Quando está quase no final de outubro e frio, sim, eu tenho.

— Eu peguei a manta e coloquei no meu colo. — Eu não vou lá fora

para correr hoje.

Daemon suspirou.

— Nós não podemos esperar, Kat. Baruck ainda está lá fora e

quanto mais esperarmos, mais perigoso ele é.

Eu sabia que ele tinha razão, mas ainda assim, correr na chuva

fria?

— E sobre Simon? Você contou aos outros sobre ele?

— Andrew está de olho nele. Já que ele teve um jogo ontem, a

maior parte de seu rastro se foi. Está muito fraco agora. O que prova

que é essa a ideia que temos que seguir.

Page 351: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu dei uma olhada para ele. Em vez de ver a expressão estoica,

eu vi aquela que vi ontem de manhã. O olhar em seus olhos antes que

ele percebesse que estava na cama comigo. Meu corpo quente.

Hormônios estúpidos.

Ele chegou por trás dele e tirou a lâmina de obsidiana.

— Esta é outra razão porque eu vim aqui. — A obsidiana era

brilhante, um brilho preto quando ele a pôs sobre a mesa do café. Ela

não estava brilhando um vermelho manchado como tinha sido

quando estava perto do Arum. — Eu quero que você fique com esta

com você, para garantir. Coloque-a em sua mochila, bolsa, ou

qualquer outra coisa que você carrega.

Olhei para ele por um momento.

— Sério?

Daemon evitou meus olhos.

— Sim, mesmo se conseguirmos diminuir o rastro, fique com

isso até que acabemos com Baruck.

— Mas você não precisa mais do que eu? Dee?

— Não se preocupe com a gente.

Mais fácil dizer do que fazer. Eu olhei para a obsidiana,

imaginando como no mundo eu iria esconder essa coisa na minha

bolsa.

— Você acha que Baruck ainda está aqui?

— Ele ainda está por perto sim. — Afirmou. — O quartzo beta

esconde nossa presença, mas ele sabe que estamos aqui. Ele sabe que

eu estou aqui.

— Você acha que ele vai vir atrás de você? — Por alguma razão,

o meu estômago ficou embriagado com esse pensamento.

Page 352: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu matei dois de seus irmãos e dei-lhe os meios de matar o

terceiro. — Ele estava totalmente à vontade discutindo o fato de que

havia um estranho demente querendo matá-lo. Ele tinha coragem. Eu

gostava disso nele. — Arum são criaturas vingativas, Gatinha. Ele não

vai parar até que ele me tiver. E ele vai usá-la para me encontrar,

especialmente desde que você voltou. Eles já estiveram na Terra

tempo suficiente para reconhecer o que isso pode significar. Que seria

uma fraqueza para mim.

— Eu não sou uma fraqueza. Eu posso cuidar de mim mesma.

Ele não respondeu, mas a intensidade em seu olhar me

queimava por dentro. Minha confiança desmoronou pedaço por

pedaço. Para ele eu era uma fraqueza, e talvez até mesmo Dee

acreditava nisso. O resto dos Luxen com certeza.

Mas eu matei um Arum... Enquanto estava de costas para mim.

Não é como se eu tivesse me encaixado na descrição de ninja.

— Chega de falar. Nós temos coisas para fazer agora. — Disse

ele, olhando ao redor. — Eu não sei o que podemos fazer aqui que vai

fazer uma diferença mínima. Talvez polichinelos?

Polichinelos sem sutiã não ia acontecer de jeito nenhum.

Ignorando ele, eu abri meu laptop na mesa de café e chequei meu

último post. Eu filmei um ‗Na minha caixa de correio‘ ontem quando

voltei, precisando do conforto de livros e do meu blog para me lembrar

o que é ser "normal" novamente. Foi curto já que eu só tinha dois

livros. E eu parecia uma porcaria. O que tinha me possuído para usar

tranças?

— O que você está olhando? — Ele perguntou.

— Nada. — Eu tentei fechar a tampa, mas ela não se moveu. —

Pare de usar o seu maldito poder no meu laptop. Você vai quebrá-lo.

Page 353: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ele levantou uma sobrancelha divertida e sentou-se ao meu

lado. Eu ainda não conseguia fechá-lo. E o mouse não se movia. Eu

não conseguia nem fechar o maldito site.

Inclinado para frente, Daemon inclinou a cabeça para o lado.

— É você?

— O que parece? — Eu assobiei.

Um lento sorriso surgiu em seu rosto.

— Você filma a si mesma?

Eu respirei fundo e lentamente.

— Você faz parecer que eu estou fazendo show ao vivo para um

pervertido ou algo assim.

Daemon fez um som na parte de trás de sua garganta.

— É isso que você está fazendo?

— Essa foi uma pergunta estúpida. Por favor, posso fechá-lo

agora?

— Eu quero ver.

— Não! — A ideia dele me observando como nerd, falando sobre

os livros que eu tinha comprado na última semana me horrorizava.

Sem chance nenhuma ele entenderia. Daemon me lançou um olhar

de soslaio. Meus olhos se estreitaram quando me virei de volta para

tela. A pequena seta se movia sobre a página e clicava no botão de

reproduzir.

— Eu odeio você e seus poderes alienígenas esquisitos. — Eu

murmurei.

Poucos segundos depois, o vídeo começou e lá estava eu, em

toda a minha glória nerd, mostrando meus livros de capa a capa na

frente da minha webcam de baixa qualidade. Alguns marca páginas

passaram. E eu ainda mostrei um produto totalmente legal para

Page 354: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

substituir a Diet Pepsi. Graças a Deus eu não estava cantando neste

vídeo.

Fiquei ali, de braços cruzados, e esperei os comentários

espertinhos. Nunca na minha vida eu odiei Daemon mais do que

naquele momento. Ninguém que eu conhecia na vida real prestava

atenção ao meu blog. Os livros eram uma paixão que eu

compartilhava com amigos virtuais. Não Daemon. Me irritava saber

que ele assistiu isso.

O vídeo terminou. Voz baixa, ele disse:

— Você está brilhando até no vídeo.

Boca fechada, eu assenti. E eu esperei.

— Você realmente tem uma queda por livros. — Quando eu não

respondi, ele fechou o laptop sem tocá-lo. — É bonito.

Minha cabeça virou para ele.

— Bonito?

— Sim, é bonito. Sua animação... — Disse ele, encolhendo os

ombros. — Foi bonito. — Acho que o meu queixo caiu no tapete. —

Mas, não importa o quão bonita você fica de tranças, isso não vai

fazer qualquer coisa para desaparecer o rastro em você. — Ele se

levantou e se espreguiçou. Claro que a camisa tinha que subir um

pouco, tirando minha atenção. — Precisamos tirar esse rastro de

você.

Eu ainda estava atordoada sobre o fato de que ele não tinha

rido de mim, sem fala, chocada até o fundo. Ele acabou de ganhar

alguns pontos de bônus.

— Quanto mais cedo o rastro estiver fora de você, menos tempo

temos que gastar juntos.

E lá se foram os pontos.

Page 355: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Sabe, se você odeia a ideia de ficar perto de mim, por que um

dos outros não vem aqui e faz isso? Na verdade, eu preferia qualquer

um deles a você, até mesmo Ash.

— Você não é problema deles. — Seus olhos se encontraram

com os meus. — Você é o meu problema.

Minha risada era dura.

— Eu não sou o seu problema.

— Mas você é. — Argumentou ele corajosamente. — Se eu

tivesse conseguido convencer Dee a não chegar tão perto de você,

nada disso teria acontecido.

Revirei os olhos.

— Bem, eu não sei o que te dizer. Não há muito que pode se

fazer aqui que vá fazer a diferença, por isso pode muito bem contar

hoje como uma perda e poupar nós dois a dor de respirar o mesmo ar.

Ele me lançou um olhar brando.

— Oh, sim, me lembrei. Você não precisa respirar oxigênio.

Erro meu. — Eu me levantei, ansiosa por ele estar fora da minha

casa. — Você não pode simplesmente voltar quando parar de chover?

— Não. — Daemon se encostou na parede, cruzando os braços.

— Eu quero acabar com isso logo. Me preocupar com você e os Arum

não é divertido, Gatinha. Precisamos fazer algo sobre isso agora. Há

coisas que podemos fazer.

Minhas mãos se enrolaram em punhos.

— Como o quê?

— Bem, os polichinelos por... Uma hora ou mais deve resolver.

— Seu olhar caiu. Algo brilhou em seus olhos. — Você pode querer se

trocar primeiro.

Page 356: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

A vontade de me cobrir era forte, mas eu resisti. Eu não ia me

acovardar diante dele.

— Eu não vou fazer polichinelos por uma hora.

— Então você pode correr ao redor da casa, subir e descer as

escadas. — Ele fez uma pausa, seu sorriso maroto transformando

ímpios e seus olhos encontraram os meus. — Nós poderíamos sempre

fazer sexo. Ouvi dizer que consome muita energia.

Minha boca caiu aberta. Parte de mim queria rir na cara dele.

Havia uma parte de mim ofendida que ele iria sugerir algo tão

ridículo, mas havia outra parte que gostou da ideia. O que era tão, tão

errado e nem um pouco engraçado. Daemon esperou.

— Isso não vai acontecer nem em um milhão de anos, amigo. —

Eu dei um passo para frente, levantando o dedo indicador para ele. —

Nem mesmo se você fosse o último, espere, eu nem posso dizer o

último homem na face da Terra.

— Gatinha... — Ele murmurou preguiçosamente. Um aviso

claro em seus olhos.

Eu ignorei.

— Nem mesmo se você fosse a última coisa que se parecesse

com um ser humano na face da Terra. Entendeu? Capiche?

Ele inclinou a cabeça para o lado, e várias mechas de cabelo

deslizaram sobre sua testa. Daemon sorriu, uma riqueza de perigo na

inclinação de sua boca, mas eu estava sem freio agora.

— Eu não nem estou atraída por você. — Mentira. Ding! Ding!

Mentira. — Nem um pouco. Você é-

Daemon estava na minha frente em um flash, nem um

centímetro do meu rosto.

— Eu sou o quê?

Page 357: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Ignorante. — Eu disse, dando um passo para trás.

Ele acompanhou o meu passo.

— Arrogante. Controlador. — Eu dei outro passo para trás, mas

ele ainda estava no meu espaço pessoal e, em seguida, mais alguns.

— E você é... Você é um idiota.

— Oh, eu tenho certeza que você pode fazer melhor do que isso,

Gatinha. — Sua voz era baixa enquanto ele avançava. Eu mal o ouvia

sobre a chuva que caía e o bater do meu coração. — Porque eu duvido

seriamente que você não esteja atraída por mim.

Eu forcei uma risada.

— Eu não estou nem um pouco atraída por você.

Outro passo de Daemon para frente, e minhas costas estavam

contra a parede.

— Você está mentindo.

— E você está muito confiante. — Eu inalei, mas tudo o que eu

cheirava era ele, o que fazia coisas engraçadas para o meu estômago.

— Você sabe, essa coisa toda de ser arrogante que eu mencionei. Não

é atraente.

Daemon colocou as mãos em cada lado da minha cabeça e se

inclinou. Uma lâmpada estava de um lado de mim e a TV no outro.

Eu estava presa. E quando ele falou, sua respiração dançou sobre os

meus lábios.

— Cada vez que você mente, seu rosto fica vermelho.

— Nuh-uh. — Não é a coisa mais eloquente que eu já disse,

mas foi o melhor que eu pude fazer. Suas mãos deslizaram para baixo

na parede, parando ao lado de meus quadris.

— Eu aposto que você pensa em mim o tempo todo. Sem parar.

— Você é louco. — Eu pressionei contra a parede, sem fôlego.

Page 358: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você provavelmente ainda sonha comigo. — Seu olhar

baixou à minha boca. Senti meus lábios se abrirem. — Eu aposto que

você até mesmo escreve meu nome em seus cadernos, várias vezes,

com um pouco de corações desenhados em volta.

Eu ri.

— Em seus sonhos, Daemon. Você é a última pessoa que eu

acho que-

Daemon me beijou.

Não houve um momento de hesitação. Sua boca estava na

minha, e eu parei de respirar. Ele tremeu e houve um som na parte

de trás de sua garganta, meio grunhido, meio gemido. Pequenos

arrepios de prazer e pânico passaram através de mim quando ele

aprofundou o beijo, abrindo meus lábios. Eu parei de pensar. Eu o

empurrei para fora da parede, selando o pequeno espaço entre nós,

me pressionando contra ele, cavando meus dedos em seu cabelo. Era

macio, sedoso. Nada mais sobre ele tinha sentido. Eu me senti viva,

meu coração se encheu ao ponto de quase estourar. A corrida de

sensações rastejando em meu corpo era de enlouquecer.

Assustador. Emocionante.

Suas mãos estavam em meus quadris, e ele me levantou como

se eu fosse feita de ar. Minhas pernas em volta de sua cintura, e nos

mudamos para a direita, batendo em um abajur. Ele tombou, mas eu

não poupei-lhe outro pensamento. Uma luz bateu em algum lugar da

casa. A TV ligou, desligou, e então ligou de novo. Nossos lábios

permaneceram selados. Era como se nós não conseguíssemos o

suficiente um do outro. Nós fomos devorando um ao outro, nos

afogando no outro.

Page 359: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Nós tínhamos guardado isso por meses, e oh meu Deus, valeu a

pena esperar. E eu queria mais. Baixando minhas mãos, eu puxava

sua camisa, mas estava presa sob minhas pernas. Eu me mexi para

baixo até que meus pés estavam no chão. Então eu consegui pegar

sua camisa e a puxei. Ele se afastou tempo suficiente para puxá-la

por cima da cabeça e lançá-la de lado.

Suas mãos deslizaram em torno de minha cabeça, puxando-me

de volta à boca. Houve barulho de rachaduras na casa. A fissura de

energia elétrica atravessou o quarto. Algo queimava. Mas eu não me

importei. Nós estávamos nos movendo para trás. Suas mãos estavam

se movendo para baixo, sob a minha camisa, seus dedos deslizando

sobre a minha pele, enviando uma onda de sangue para todas as

partes do meu corpo. E as minhas mãos foram para baixo. Seu

estômago estava duro, ondulado em todos os lugares certos.

E então minha camisa se juntou à dele no chão. Pele contra

pele. Seu gemido transbordava cheio de energia. Corri meus dedos

pelo seu peito, para o botão de suas calças de brim. A parte de trás

das minhas pernas bateu no sofá e fomos para baixo, um

emaranhado de pernas e mãos em movimento, explorando. Nossos

quadris foram moldados juntos e movidos um contra o outro. Acho

que sussurrei o nome dele, e, em seguida, seus braços se apertaram

em torno de mim, me esmagando contra seu peito e suas mãos

deslizaram entre as minhas pernas. E eu estava nadando em

sensações cruas.

— Tão linda... — ele murmurou contra meus lábios inchados. E

então ele estava me beijando novamente. O tipo profundo de beijos

que deixavam pouco espaço para o pensamento. Não só estava

sentindo e querendo. Isso era tudo. Eu envolvi minhas pernas em

Page 360: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

torno de seus quadris, puxando-o para mais perto, dizendo o que eu

queria com meus gemidos.

Nossos beijos diminuíram, tornando-se suaves e infinitamente

mais. Era como se nós estivéssemos começando a conhecer um ao

outro em um nível íntimo. Eu estava sem fôlego e atordoada,

despreparada para tudo isso, mas o meu corpo ansiava por mais do

que apenas beijos e por tocar mais a pele dele. E eu sabia que ele

queria, também. Seu poderoso corpo tremia como o meu. Era fácil se

perder nele, se perder neste contexto entre nós. O mundo, o universo

deixou de existir.

E então Daemon acalmou, sua respiração saindo em suspiros

ásperos quando ele puxou para trás, levantando a cabeça. Meus olhos

se abriram lentamente, aturdida. Suas pupilas eram brancas,

brilhando por dentro.

Daemon respirou fundo. Uma eternidade pareceu passar

enquanto ele olhava para mim, os olhos arregalados, e então ele se

recompôs novamente. A luz se apagou. Sua mandíbula se endureceu.

A máscara caiu sobre seu rosto. O arrogante meio sorriso que eu não

gostava apareceu em um canto de seus lábios inchados.

— Você quase não está brilhando agora.

Page 361: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 27

Eu odiava Daemon Black – se esse fosse mesmo o seu nome

verdadeiro – com um ódio que se igualava ao poder de mil sóis. Você

quase não está brilhando mais agora. Ele saiu depois disso, agarrando

sua camisa do chão e passeando para fora da minha casa.

O filho da puta explodiu meu laptop.

Isso era o que tinha sido queimado. Sua sensualidade

alienígena, aparentemente, tem um grande efeito sobre a maioria das

luzes e aparelhos eletrônicos. Agora eu tinha que confiar nos

computadores da escola para atualizar meu blog. Ugh. E eu passei

uma boa hora depois que me forcei a sair do sofá, substituindo as

lâmpadas na casa. Felizmente, a TV não tinha sido queimada.

Mas meu cérebro tinha. O que eu estava pensando? Fazendo?

Tinha que ter sido só discussões entre nós. Essa era a única

explicação para o motivo de ter havido uma explosão tão grande de

uma sessão de amassos pesado. E ele estava tão tranquilo como se

tivesse fingido. Ninguém podia fingir isso.

Page 362: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Meu brilho desvaneceu a um pequeno rastro, espantando

todos. Imagine tentar explicar como isso aconteceu. E eu tenho

certeza que ele mal podia esperar para compartilhar a informação.

Eu o odiava.

Não apenas pelo fato de que ele tinha provado ser um

mentiroso, ou que agora eu tinha que esperar até o meu aniversário

para um novo laptop, ou o fato de que Dee estava altamente

suspeitando de como o meu brilho desapareceu, mas por causa do

que ele me fez sentir, por me fazer admitir em voz alta, também.

E se ele me cutucar nas costas mais uma vez com aquela

maldita caneta, eu iria jogá-lo na frente de um Arum. Meu celular

tocou na minha mochila enquanto eu caminhava para o meu carro,

me fazendo agachar para baixo contra o vento implacável varrendo

para baixo das rochas. Sem olhar, eu sabia que era outra mensagem

de Simon. Durante a última semana, ele tinha mandado mensagens

de texto se desculpando repetidas vezes. Ele não se atreveu a falar

comigo em classe ou público, não com a ameaça de Daemon pairando

sobre sua cabeça. Eu não iria perdoá-lo tão cedo. Bêbado ou não, isso

não era uma desculpa para ser um idiota arrogante que não entendia

a palavra "não".

— Katy!

Eu pulei ao som da voz de Dee. Arrumando minha bolsa, me

virei e esperei.

Como sempre, Dee parecia incrivelmente bonita. Hoje, ela tinha

usado um jeans escuro e uma camiseta leve. Com seu cabelo preto

brilhante e olhos brilhantes, ela estava deslumbrante. Seu sorriso era

largo e simpático, mas se desvaneceu rapidamente enquanto ela se

aproximava.

Page 363: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Ei, eu não achei que você fosse parar. — Disse ela.

— Sinto muito. Eu estava perdida em meus pensamentos. —

Eu comecei a andar de novo, espiando o meu carro.

— O que está acontecendo? — Dee pigarreou. — Você está me

evitando, Katy?

Eu estava evitando todos eles, o que era difícil. Eles moravam

na casa ao lado. Eles estavam em minhas aulas. Eles se sentavam

comigo na hora do almoço. E eu sentia falta de Dee.

— Não.

— Realmente, porque você não está muito falante desde

sábado. — ela apontou. — Na segunda você nem sequer se sentou

com a gente na hora do almoço, alegando que tinha que estudar para

um teste. Ontem, eu não acho que você disse duas palavras para

mim.

Culpa torceu minhas entranhas.

— Eu estive... Ocupada.

— É muito, não é? O que nós somos? — Sua voz era pequena,

infantil. — Eu estava com medo de que isso fosse acontecer. Nós

somos grandes aberrações-

— Vocês não são aberrações. — Disse eu, falando a verdade. —

Vocês são... Mais humanos dos que vocês acham.

Dee parecia aliviada ao ouvir isso. Ela correu na minha frente.

— Os meninos, eles ainda estão procurando Baruck.

Eu me esquivei e abri a porta do carro. A lâmina de obsidiana

pulou dentro do compartimento do lado da porta. Carregá-la na

minha mochila me fazia sentir como se eu estivesse indo para

esfaquear um estudante ou algo assim. Então, ficava no meu carro.

— Isso é bom.

Page 364: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ela assentiu com a cabeça.

— Os meninos vão continuar a procurar e manter um olho nas

coisas, e você e Simon quase não têm qualquer vestígio agora. — Dee

parou. — Eu ainda gostaria de saber como isso aconteceu tão

rapidamente.

Meu estômago revirou.

— Uh, sim, foi muita... Atividade física.

Suas sobrancelhas se arquearam.

— Katy...

— De qualquer forma, isso é bom. — Eu disse rapidamente — O

rastro ter desvanecido de Simon, especialmente já que ele não tem

nenhuma pista sobre nada disso, por isso estou feliz, tirando o fator

assustador da história.

— Você está divagando. — Disse ela, sorrindo.

— Sim, um pouco.

— Então, o que você vai fazer amanhã? — Ela perguntou,

esperançosa. — É sábado e Halloween. Eu pensei que talvez

pudéssemos alugar um monte de filmes de terror.

Eu balancei minha cabeça.

— Eu prometi a Lesa que daria doces com ela. Ela mora em um

bairro distante, então... — Dor cintilou no rosto de Dee. O que eu

estava fazendo? Sacaneando uma amiga por causa de seu irmão

idiota? Essa não era eu. — Eu posso ir depois, e podemos assistir aos

filmes, se você quiser?

— Se você quiser. — Ela sussurrou.

Me inclinei, abracei seus ombros magros.

— É claro que eu quero. Só faça uma tonelada de pipoca e

doces. Essas são minhas exigências.

Page 365: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Dee devolveu o abraço.

— Isso eu posso fazer.

Me afastei, sorrindo.

— Ok. Vejo você amanhã à noite, então?

— Espere. — Ela agarrou meu braço, os dedos frios. — O que

aconteceu entre você e Daemon?

Meu rosto ficou branco.

— Nada aconteceu, Dee.

Seus olhos se estreitaram.

— Eu vejo, Katy. Você teria que fazer grandes corridas para

queimar o rastro em uma tarde.

— Dee-

— E Daemon está mais mal-humorado do que o normal. Algo

aconteceu entre vocês dois. — Ela escovou o cabelo de seu rosto, mas

os cachos surgiram de volta. — Eu sei que você disse que vocês não

fizeram nada aquela vez, mas...

— Sério, não aconteceu nada. Eu juro. — Eu subi no meu

carro, forçando um sorriso. — Vejo você amanhã à noite.

Ela não acreditou em mim. Eu não acreditei em mim mesma,

mas o que eu poderia dizer?

Admitir que aconteceu algo entre Daemon e eu não era algo que

eu queria compartilhar com sua irmã.

...

Todo Halloween eu sentia falta de ser uma criança, de me

fantasiar e de comer toneladas de doces. A única coisa que eu tinha

Page 366: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

para fazer agora era... Comer toneladas de doces. Nem tão ruim. Lesa

riu quando eu peguei outra caixa de Nerds.

— O quê? — Eu dei uma cotovelada nela. — Eu adoro essas

coisas.

— E mini-barras de chocolate, Kit Kats, chicletes, Starbursts-

— Olha quem está falando! — Fiz um gesto para a pilha de

doces nos degraus ao lado seus pés. — Você é um monstro dos doces.

Paramos enquanto uma criança pequena se arrastava, vestida

como um membro do Kiss. Escolha estranha de fantasia.

— Doçura ou travessura! — O menino chorou.

Lesa brincou com ele e deu-lhe várias peças de doces.

— Você com certeza não está aqui pelas crianças. — Disse ela,

observando o menino correr de volta para os seus pais.

Eu joguei um pedaço de caramelo na minha boca.

— O que lhe deu essa ideia?

— Você acha que aquele menino era bonito? — Ela moveu a

taça longe de mim. Eu dei de ombros.

— Acho que sim. Quero dizer, ele meio que cheirava... Eu não

sei. Criança.

Lesa e eu explodimos em gargalhadas.

— Você gosta de crianças?

— As crianças me assustam. — Uma múmia e um vampiro se

aproximaram de nós. Lesa balbuciou algo para eles até que saíram

correndo. — Especialmente os mais pequenos. — Eu continuei,

fazendo careta quando eu vi que não havia nenhum Nerds sobrando.

— Eles tagarelam e outras coisas, e eu não tenho ideia do que estão

dizendo, mas seu irmão é super fofo.

— Meu irmão mais novo faz coco em si mesmo.

Page 367: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu ri.

— Bem, talvez seja porque ele tem, tipo, um ano só?

— Seja como for, ainda é nojento. — Ela entregou alguns doces

para um cowboy com uma flecha na cabeça. Legal. — Então, qual é o

seu problema?

— Meu problema? — Como uma ninja, minha mão disparou e

agarrou um rolo de Smarties. — Não tenho um problema.

— Você é tão cheia de si. — Estava tão escuro, que eu não

conseguia ver seus olhos. O bairro dela não acreditava em lâmpadas

de rua. — Você tem sido uma adolescente angustiada, como nos

livros que lê toda a semana. — Revirei os olhos.

— Não tenho.

Ela me empurrou com o joelho.

— Você não está falando com ninguém, especialmente Dee. E

isso é estranho, porque vocês sempre foram próximas.

— Nós ainda somos próximas. — Eu suspirei, olhando para a

escuridão invasora. As silhuetas de pais e seus filhos caminhavam ao

lado das ruas. — Eu não estou brava com ela ou qualquer coisa. Eu

vou para a casa dela depois que eu sair daqui.

Lesa pegou a tigela de doces.

— Mas?

— Mas algo aconteceu com seu irmão. — Eu disse, cedendo à

necessidade de falar com alguém sobre o que aconteceu.

— Eu sabia! — Ela gritou. — Oh meu Deus, você tem que me

contar tudo! Vocês dois se beijaram? Espere. Vocês fizeram sexo?

Um pai de uma fada lançou lhe um olhar sujo quando ele

apressou sua filha para ir embora da varanda.

— Lesa, sério, se acalme.

Page 368: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Que seja. Você tem que me contar. Eu vou te odiar para

sempre se você fez e não me contou. Como ele cheira?

— Cheiro? — Eu amassei meu rosto.

— Você sabe, parece que ele tem um cheiro bom.

— Oh. — Fechei os olhos. — Sim, ele cheira bem.

Lesa suspirou sonhadora.

— Detalhes. Agora.

— Não é grande coisa. — Eu peguei uma folha caída, girando-a.

Meus lábios formigavam, pensando sobre seu beijo. — Ele veio no

último domingo e nos beijamos.

— Isso é tudo? — Ela parecia decepcionada.

— Eu não dormi com ele. Jesus! Mas... Foi muito pesado. —

Larguei a folha e passei a mão pelo meu cabelo, puxando-o de volta.

— Nós estávamos discutindo e a próxima coisa que eu sei, BAM.

Estávamos beijando.

— Nossa, isso é... Isso é quente.

Eu suspirei.

— Sim, foi. Mas, então, ele saiu abruptamente.

— Claro, porque vocês têm essa paixão ardente que explode, e

ele não conseguiu aguentar o calor.

Eu dei um olhar brando.

— Nós não temos nada.

Lesa me ignorou.

— Eu estava me perguntando quanto tempo duraria com vocês

dois, um provocando o outro.

— Eu não provoco ele! — Eu murmurei.

— Sobre o que vocês discutem?

Page 369: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Como eu poderia explicar? Que só tinha incitado o outro a fazer

alguma coisa, porque eu disse que eu não estava atraída por ele e ele

precisava desvanecer o meu brilho? Sim, não ia acontecer.

— Katy?

— Eu não acho que ele quis me beijar. — Eu disse finalmente.

— O quê? Será que ele escorregou e caiu em sua boca? Essas

coisas acontecem.

Eu ri.

— Não. É só que ele parecia chateado sobre isso depois. Não,

ele estava chateado.

— Você mordeu a língua dele ou algo assim? — Lesa colocou o

cabelo para trás, franzindo a testa. — Tem que haver uma razão pela

qual ele enlouqueceu depois.

Já que estava ficando tarde e os pequenos estavam vindo em

menor quantidade, eu peguei a tigela dela e dedilhei sobre o que

sobrou de doces.

— Eu não sei. Eu quero dizer, nós não conversamos sobre isso.

Ele literalmente saiu depois, e tudo o que ele tem feito desde então, é

me cutucar com a caneta.

— Provavelmente porque ele quer cutucar você com outra coisa.

— disse ela secamente.

Meus olhos saltaram.

— Eu não acredito que você disse isso.

— Que seja. — Ela acenou com a mão no ar. — Ele não voltou

com Ash, certo? Eu quero dizer, os dois são-

— Vai e volta, eu sei. Acho que não. Não importa. — Eu

coloquei um pedaço de doce na minha boca. A este ritmo, eu ia sair

rolando da casa de Lesa. — É só que...

Page 370: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você gosta dele. — Ela terminou para mim.

Dei de ombros, pegando uma barra de Snickers. Será que eu

gosto dele? Talvez. Eu estava atraída por ele? Obviamente. Eu estava

a segundos de distância de ficar nua com ele.

— É a maior bagunça possível. Ninguém neste planeta me irrita

mais do que ele, mas... Ah, eu não quero falar sobre isso. — Eu

arrebatei o saco de Skittles de volta. — De qualquer forma, como

estão as coisas com o Chad?

— Você está mudando de assunto. Eu não vou ser enganada.

Sem olhar para cima, eu me enraizei em volta da tigela.

— Vocês saíram ontem à noite, certo? Ele te beijou? Ele cheira

bem?

— Chad não cheira bem, na verdade. Eu acho que ele usa uma

versão mais recente do Old Spice. Não é o tipo que meu pai usa,

porque isso seria nojento.

Eu ri. Nós conversamos um pouco, então eu saí e fui para casa.

Dee tinha a casa toda enfeitada em abóboras esculpidas que não

estavam lá quando eu saí mais cedo. Ela me puxou para dentro, um

cheiro estranho no ar.

— O que é isso? — Eu torci o nariz.

— Eu estou torrando as sementes de abóbora. — exclamou ela.

— Você já experimentou?

Eu balancei minha cabeça.

— Não. Tem gosto de quê?

— De abóbora.

É claro que ela estava realmente as torrando. As sementes

pálidas estavam em uma fôrma, mas Dee estava fazendo o cozimento

Page 371: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

com as mãos e não com o fogão. Entranhas de abóbora estavam

espalhadas por toda a mesa coberta de jornal.

— Eu vou emprestar suas mãos durante o inverno, quando o

gelo estiver endurecido no meu para-brisa.

Dee riu.

— Não tenho nenhum problema com isso.

Sorrindo, eu me arrastei até a pilha de filmes sobre o balcão.

Examinei os títulos, rindo.

— Oh meu Deus, Dee, esses filmes são ótimos.

— Eu pensei que você gostaria da combinação da série Pânico e

Todo Mundo em Pânico. — Ela moveu as mãos sobre a assadeira. As

sementes apareceram e pularam. Canela encheu o ar. — Vamos

deixar os filmes do Dia das Bruxas para mais tarde.

Olhei para a porta.

— Hum, Daemon está aqui?

— Não. — Ela pegou a forma, jogando as sementes em uma

bola decorada de morcegos e caveiras. — Ele está com os caras, vendo

se conseguem fazer que Baruck se mostre.

Levando nossos lanches e filmes para a sala, eu pensei sobre o

que disse ela.

— Eles estão propositalmente tentando fazer que ele se mostre?

Como se eles quisessem lutar com ele?

Um DVD voou da pilha para sua mão. Ela assentiu com a

cabeça.

— Não se preocupe. Daemon e Adam estão verificando em volta

da cidade. Matthew e Andrew estão fora do estado. Eles vão ficar bem.

Desconforto virou meu estômago.

— Você tem certeza?

Page 372: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Dee sorriu.

— Esta não é a primeira vez que fazem algo assim. Eles sabem

o que estão fazendo. Vai ficar tudo bem.

Sentada contra o sofá, eu tentei não me preocupar. Foi difícil,

especialmente porque eu tinha visto o olhar nos olhos de Baruck. Dee

se sentou perto de mim, e eu experimentei algumas sementes de

abóbora. Nada mal. Nós tínhamos feito isso durante o primeiro filme

do Pânico quando o celular dela tocou.

Erguendo a mão, Dee fez um movimento e o celular voou para

fora da mesa e caiu em sua mão. Ela respondeu com um rolar de

seus olhos.

— É melhor que seja bom, Daemon, porquê... — Seus olhos se

arregalaram. Ela levantou em seus pés, seu aperto de mão livre. — O

que você quer dizer? — Meu estômago derreteu enquanto eu olhava

para borda ao redor da mesa do café.

— Katy está comigo, mas seu rastro é quase imperceptível! —

Outra pausa e em seguida, seu rosto empalideceu. — Ok. Tenha

cuidado. Eu te amo.

Assim que ela jogou o telefone para a cadeira, eu estava

pedindo.

— O que está acontecendo?

Dee me enfrentou.

— Eles avistaram Baruck. Ele está vindo para cá.

Page 373: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 28

É claro que isso não quer dizer que ele estava vindo aqui, mas

por acaso, havia uma grande chance, que ele estivesse. O suficiente

para que Dee andasse pela sala de estar como um tigre enjaulado. Ela

não tinha medo, estava pronta para a batalha.

— Se Baruck vier aqui, você pode lutar com ele? — Eu

perguntei.

Dee me deu um olhar de aço. Ela era uma pessoa totalmente

diferente, transformada em uma princesa guerreira. Como é que eu

nunca tinha visto esse lado dela?

— Eu não sou tão rápida ou tão poderosa quanto o Daemon,

mas eu vou ser capaz de segurar a luta até que Daemon chegue aqui.

O meu estômago caiu. Segurar a luta não era suficiente. E se

Daemon não chegasse a tempo? Dee parou em frente à janela, os

ombros magros quadrados. Eu percebi então tudo de uma vez. A

preocupação de Daemon estava se tornando realidade. Eu era uma

fraqueza, uma responsabilidade para Dee. Eu não podia – Eu não

deixaria isso acontecer.

Page 374: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— O meu rastro é forte o suficiente para que ele me veja dentro

de sua casa?

Ela fez uma pausa.

— Não muito.

— E da estrada principal? A floresta?

Houve uma pausa.

— Eu não sei, Katy, mas eu vou pará-lo antes que ele chegue

até você.

— Não. Eu tenho uma ideia. — Eu dei passo à frente, quase

derrubando a pilha de DVDs. — É uma espécie de loucura, mas pode

funcionar.

Seus olhos se estreitaram.

— O quê?

— Se você fizer o meu rastro ficar mais forte, eu posso

definitivamente levá-lo daqui. Então ele não vai vir aqui e Daemon-

— Absolutamente não! — Disse ela, girando ao redor. — Você

está louca?

— Talvez... — Eu disse, mordendo meu lábio. — Olha, é melhor

do que ficar aqui comigo quando eu poderia muito bem trazê-lo direto

para sua casa! E então ele vai saber onde vocês vivem! E depois? Você

nunca vai estar segura. Preciso atraí-lo para longe de sua casa.

— Não. — Dee balançou a cabeça. — Eu não posso fazer isso.

Eu posso lutar-

— Não há nada mais que eu possa fazer! Eu não posso lutar

contra ele. E se ele escapar? E se ele contar aos outros onde vocês

moram? — As palavras de Daemon voltaram para mim. Você seria

uma fraqueza para mim. Só que eu não seria fraqueza dele, eu seria a

de Dee. Eu não poderia viver com isso. — E eu vou ser uma

Page 375: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

desvantagem. Baruck saberá disso. Você tem que ficar aqui. Se

Baruck nos encontrar juntas, ele vai me usar para destruí-la. O

melhor plano é eu atrair o Arum para longe e deixar que os caras me

encontrem no campo para derrubá-lo juntos.

— Katy-

— Eu não vou aceitar um não como resposta! Nós não temos

muito tempo. — Caminhei até a porta, pegando minhas chaves e

celular. — Se acenda. Faça aquela coisa louca com as bolas de luz.

Isso parece que resolveu da última vez. Eu vou... Vou para onde a

festa no campo aconteceu! Diga a Daemon que é onde eu vou. —

Quando ela ficou parada ali, olhando para mim, eu gritei: — Faça

isso!

— Isso é loucura. — Dee balançou a cabeça, mas se afastou e

começou a se mexer. Um segundo depois, ela estava em sua

verdadeira forma, uma bela silhueta de luz. Isto é uma loucura, sua

voz sussurrou em meus pensamentos.

Eu tinha parado de pensar.

— Depressa.

Duas bolas de luz crepitantes se formaram em seus braços

estendidos. Eles atiraram ao redor da sala, soprando as luzes e a TV,

mas acabaram quicando nas paredes sem causar danos. Os cabelos

no meu corpo se arrepiaram com a estática que encheu o ar.

— Estou brilhando? — Perguntei.

Como o sol.

Bem, isso funcionou. Respirando fundo, eu assenti.

— Ligue para Daemon e diga a ele para onde eu vou.

Tenha cuidado. Por favor. A luz dela começou a desaparecer.

— Você também.

Page 376: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu me virei e corri para fora da casa em direção ao meu carro

antes que eu pudesse pensar duas vezes sobre o que estava fazendo.

Porque isto era absolutamente insano – a coisa mais louca que eu já

tinha feito. Pior do que dar um comentário de uma estrela, mais

assustador do que pedir uma entrevista com um autor a quem eu

daria o meu primogênito por um almoço, mais estúpido do que beijar

Daemon.

Mas isso era tudo que eu podia fazer.

Minhas mãos tremiam quando coloquei a chave na ignição e

dirigi para fora da garagem, quase batendo no Volkswagen de Dee. Eu

bati no acelerador, guinchando para a estrada principal. Eu estava

apertando o volante como uma avó, mas dirigindo como se eu

estivesse tentando entrar para NASCAR.

Eu não parava de olhar no espelho retrovisor enquanto voava

pela estrada, esperando encontrar um Arum me perseguindo. Mas

toda vez que eu olhava, a estrada estava vazia. Talvez dessa vez não

tenha funcionado? Oh Deus, o que acontecerá se Baruck chegar até a

casa e encontrar Dee? Meu coração pulou na minha garganta. Essa

foi uma estúpida, estúpida ideia. Meu pé vacilou no pedal do

acelerador. Pelo menos ele não seria capaz de me usar para chegar

até Dee.

Meu celular tocou no assento do passageiro. Desconhecido?

Agora? Eu quase ignorei, mas eu o agarrei e respondi de qualquer

maneira.

— Alô?

— Você enlouqueceu? — Daemon gritou ao telefone. Eu

estremeci. — Isso tem que ser a coisa mais estúpida-

Page 377: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Cale a boca, Daemon! — Eu gritei. Os pneus desviaram um

pouco para a outra pista. — Está feito. Ok? Dee está bem?

— Sim, Dee está bem. Mas você não está! Perdemos ele, e desde

que Dee disse que você está brilhando como a maldita lua cheia

agora, eu estou apostando que ele está atrás você.

Medo cravou em meu ritmo cardíaco.

— Bem, esse era o plano.

— Eu juro por cada estrela no céu, eu vou te estrangular

quando conseguir por minhas mãos em você. — Daemon parou, sua

respiração pesada no telefone. — Onde você está?

Olhei para fora da janela.

— Estou quase chegando ao campo. Eu não o vejo.

— Claro que você não o vê. — Ele parecia revoltado. — Ele é

feito de sombras, Kat. Você não vai vê-lo até que ele queira.

Oh. Bem. Merda.

— Eu não consigo acreditar que você fez isso! — Disse ele.

Meu temperamento estalou sob o medo.

— Nem comece! Você disse que eu era uma fraqueza. E eu era

uma desvantagem estando com Dee. E se ele chegasse lá? Você

mesmo disse que ele ia me usar contra ela. Este foi o melhor que eu

pude fazer! Então pare de ser um maldito idiota!

Houve uma lacuna tão grande de silêncio, que pensei que ele

tinha desligado na minha cara, mas quando ele falou, sua voz era

tensa.

— Eu não quis dizer para você fazer isso, Kat. Nunca algo como

isso.

Page 378: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Sua voz causou arrepios em mim. Meus olhos dispararam sobre

as formas borradas de árvores. Eu tomei uma respiração profunda,

mas ela ficou presa.

— Você não me obrigou a fazer isto.

— Sim, eu obriguei.

— Daemon-

— Sinto muito. Eu não quero machucar você, Kat. Eu não

posso, eu não posso viver com isso. — Outro trecho de silêncio se

passou enquanto eu compreendia suas palavras e, em seguida: —

Fique no telefone. Eu vou encontrar um lugar para largar o carro e eu

vou encontrá-la lá. Não vai demorar mais do que alguns minutos para

chegar lá. Não saia do carro ou qualquer coisa.

Eu balancei a cabeça enquanto puxei o carro para uma parada

dentro do campo. A lua rolou por trás de uma nuvem, deixando tudo

escuro como breu. Eu não conseguia ver nada.

Uma sensação de mal estar terrível se estabeleceu em meu

estômago. Abaixando a mão, eu agarrei a lâmina de obsidiana e

segurei-a firmemente.

— Ok. Talvez esta não tenha sido uma boa ideia.

Daemon soltou uma risada curta e dura.

— Não me diga.

Meus lábios tremeram quando eu olhei no espelho retrovisor.

— Então, hum, o que não vive com o seu-

Havia uma sombra lá que parecia... Mais sólida do que o resto.

Movia-se através do ar, espesso como óleo, deslizando sobre as

árvores, espalhando-se ao longo do chão. Mechas atingiram a parte

traseira do carro, deslizando sobre o porta-malas. Minha garganta

ficou seca, os lábios entreabertos.

Page 379: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

A lâmina esquentou na minha mão.

— Daemon?

— O quê?

Meu coração bateu.

— Eu acho que-

Os bloqueios automáticos da porta se abriram e agora a porta

do motorista se abriu. Um grito saiu. Um segundo eu estava

segurando o telefone e o seguinte eu estava voando para o chão, meus

dedos quase perdendo o controle sobre a lâmina. Dor atravessou meu

braço e no lado que eu escondia a lâmina atrás de mim.

Eu levantei meus olhos. Meu olhar viajou para um par calças

pretas e as bordas de uma jaqueta de couro. A cara pálida. Mandíbula

forte e um par de óculos de sol cobriam os olhos embora fosse noite.

Baruck sorriu.

— Nós nos encontramos de novo.

— Merda! — Eu sussurrei.

— Me conte! — Disse ele, curvando-se e levantando uma mecha

do meu cabelo. Sua cabeça girou para o lado enquanto ele falava, se

movendo para trás e para frente como um pássaro. — Onde ele está?

Eu engoli em seco quando me mexi para o outro lado do

terreno.

— Quem?

— Você vai se fazer de desentendida comigo? — Ele deu um

passo para frente e removeu os óculos de sol, colocando-os dentro de

sua jaqueta. Seus olhos eram círculos negros. — Ou todos os seres

humanos são estúpidos assim?

Page 380: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Meu peito subia e descia rapidamente. A lâmina só era boa em

sua verdadeira forma. E ela estava queimando através do couro,

picando minha mão.

— Eu quero a pessoa que matou meus irmãos.

Daemon. Meu corpo inteiro estava tremendo. Abri a boca, mas

nada saiu.

— E você... você matou um deles, protegendo-o. — Ele piscou

para fora. Lá estava a minha chance, mas antes que pudesse se

mover, ele solidificou na minha frente. — Me leve até ele ou eu vou

fazer que você implore para morrer.

Eu balancei a cabeça, apertando a minha mão.

— Foda-se!

Ele desapareceu, tornando-se uma massa de sombras escuras

e torcidas. Me esforçando para ficar em pé, eu soltei um grito de

batalha e balancei meu braço, com o objetivo de acertar o centro da

viscosidade preta. A lâmina queimou brilhante, a cor quente de

carvão.

Meu golpe nunca acertou.

Uma mão esfumaçada pegou meu braço. O toque era

assustadoramente frio. Sua voz era um sussurro insidioso entre os

meus pensamentos, como uma cobra rastejando dentro da minha

cabeça. Você acha que eu ia cair nessa? Por favor...

Ele torceu. Eu ouvi o CRACK antes que eu sentisse a dor. Meus

dedos tremeram e a lâmina caiu no chão, quebrando-se em uma

dúzia de pedaços, como nada mais do que o vidro frágil. Eu gritei

como uma onda de dor me aleijava.

Isso foi pelo meu irmão.

Page 381: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Um mão sombria circulou meu pescoço e me levantou no ar. E

isso é por me irritar.

Baruck me jogou para trás. Eu caí duramente no chão e, em

seguida, deslizei vários metros pelo milho pisado. Atordoada, eu olhei

para o céu da noite totalmente escura.

Diga-me onde ele está.

Com falta de ar, eu virei e parti para o lado das árvores. Eu

corri. Segurando meu braço protetoramente contra o meu peito, eu

corri o mais rápido que pude, meu tênis batendo contra o chão duro,

cheio de grama esmagada e folhas caídas. Eu não olhei para trás.

Olhar para trás, seria um anúncio. Eu rasguei através da floresta,

batendo nos galhos baixos. Déjà vu passou através de mim, quando

eu tropecei em raízes expostas e no terreno irregular.

Baruck veio do nada, se movendo em um borrão de sombras.

Ele se solidificou em frente de mim, me jogando fora. Eu derrapei até

parar, rodando. Ele também estava lá, e me derrubou no chão.

— Você já entendeu? — Um sorriso cruel se formou em seus

lábios pálidos. — Ou você deseja correr mais?

Eu me arrastei pela terra enquanto tentava respirar o melhor

que podia. O horror tornava difícil ganhar algum senso de controle.

Meu tempo estava acabando. Baruck atacou. Seu braço não me

bateu, mas eu fui jogada para trás e aterrissei com um baque surdo

no chão. O ar fugiu de meus pulmões. Pequenas pedras escavaram

dolorosamente através do meu jeans.

Ele estendeu a mão, afundando a mão no meu cabelo e

enrolando-o em volta de seu punho. Eu mordi os lábios para parar de

gritar enquanto ele me arrastava atrás de si. O pano em volta dos

meus joelhos se rasgou. Dor irradiou através de mim, ameaçando me

Page 382: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

consumir. Eu tinha certeza que ele iria puxar cada fio de meu cabelo

ao rasgar a pele de meus joelhos.

Ele deu outro puxão doloroso, e eu gritei.

— Oops. — Ele parou. — Eu sempre esqueço o quão

dolorosamente frágil é o seu tipo. Eu não quero arrancar

acidentalmente a sua cabeça. — Ele então riu de sua própria

observação. — Ainda não, pelo menos.

Agarrei os braços com a minha mão boa, tentando diminuir a

força, mas não foi de muita ajuda. Ele me levou para o caminho de

galhos, raízes e pedras. Meus músculos gritavam em protesto, e eu

curvei, começando a me sentir tonta e momentos perto de sucumbir à

dor.

— Como você está indo aí? — Ele perguntou em tom de

conversa. Baruck abruptamente puxou minha cabeça para cima. Dor

aguda atirou em meu pescoço e costas. — Indo bem, pelo que eu vejo.

— Ele parou, e eu caí na pequena distância do chão. Estávamos perto

da borda da floresta novamente. Ele pairava sobre mim. — Me diga

onde ele está.

Eu coloquei minha mão esfolada no chão, ofegante.

— Não.

Sua bota se ergueu, batendo no meu lado. Eu sabia que algo se

quebrou. Algo muito, muito ruim, porque havia um calor úmido de

algo correndo pela minha camisa.

Me diga.

Estremecendo, eu me enrolei. A frieza de sua verdadeira forma

refrigerava minha alma. Ele chegou mais perto. Há coisas pioresss

que a dor físiiiica. Talveeeez isso vá motivar você.

Page 383: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Baruck me agarrou pela garganta mais uma vez, me levantando

para as pontas dos meus dedos. Ele se inclinou e aproximadamente

me puxou contra ele. Seu rosto estava a centímetros do meu,

consumindo o meu mundo.

Eu posso pegar a sua essência; drenar você até que seu coração

pareee. Não acontece nada comigo, mas imagine a dor interminável e

lentaaa. Me conte onde ele está.

Eu não era corajosa, mas eu não ia entregar Daemon para ele.

Se Baruck o derrotasse, ele iria atrás de Dee em seguida. Eu nunca

seria capaz de viver comigo mesma. Eu não era uma pessoa tão fraca.

Eu não era uma fraqueza aqui. Eu não disse nada.

Ele se afastou e enfiou a mão na minha barriga. Eu podia sentir

isso, seu lado sombrio dentro de mim, deixando cada célula fria. O

pequeno espaço de ar entre nós estava apertado e puxado. O ar em

meus pulmões saiu em uma corrida dolorosa.

Simples assim, eu não conseguia mais respirar.

Meus pulmões incharam quando não consegui mais puxar o ar.

A queimação na minha garganta e pulmões se transformara

rapidamente em um fogo abrasador com a forte dor que irradiava de

mim ao longo de cada membro. Cada célula do meu corpo gritou,

pediu socorro em protesto quando o meu coração gaguejou anormal.

Não era precioso o oxigênio que ele roubou de mim, mas sim a própria

energia que me mantinha viva. Eu estava perdendo a força

rapidamente, e o pânico que estava me consumindo não ajudava.

Minhas mãos estavam dormentes e meu braço bom pendurado inerte

ao meu lado. Tudo diminuiu e a dor entorpeceu um pouco. Eu

vagamente senti a mão dele sair da minha garganta, mas eu não

Page 384: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

podia me mover. Seus poderes tinham me ligado a ele enquanto ele se

alimentava.

Ele disse alguma coisa, mas eu não conseguia mais distinguir

as palavras. Eu estava tão cansada, e somente a dor ardente tão

pesada na boca do meu estômago me impedia de desmaiar. Meus

olhos se fecharam por sua própria vontade, e senti ele tomando outra

inspiração pesada e a dor explodindo novamente.

Algo se rompeu dentro de mim, como um cabo muito fino

esticado. Ele quebrou e recuou com velocidade implacável. Um flash

de luz brilhante azul pálido explodiu atrás das minhas pálpebras

fechadas, e fiquei momentaneamente cega. Um rugido invadiu meus

ouvidos. A morte havia chegado para mim.

A morte soou dolorosa, irritada, e desesperada. Não pacífica. Eu

pensei que isso foi injusto. Depois de tudo que tinha acontecido, não

poderia a morte me acolher com braços quentes e visões de meu pai

esperando por mim?

Sem aviso, uma figura se chocou contra nós, e me enviou em

uma espiral ao chão em uma queda confusa. Com um esforço

intenso, eu abri meus olhos e o vi agachado em frente a mim como

um animal.

Daemon rosnou em fúria quando se levantou, de pé em cima de

mim como um anjo vingador, envolto em luz.

Page 385: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 29

O riso louco de Baruck ecoou e saltou ao redor do meu crânio.

— Você veio para morrer com ela? Perfeito. Isso torna tudo

muito mais fácil, porque eu talvez tenha a quebrado.

Daemon fez sombra nos movimentos selvagens de Baruck,

desaparecendo e voltando em sua forma verdadeira, a forma em que

ele poderia ser morto.

— Ela tinha um gosto bom, também. Diferente de certa forma.

— ele zombou. — Não é como um Luxen, mas ainda assim valeu a

pena no final.

Lançando-se em Baruck, Daemon o jogou a vários metros de

distância com uma poderosa explosão de luz vinda de seu braço

estendido.

— Eu vou te matar. — Baruck rolou de costas, quase

engasgando com o riso.

— Você acha que pode comigo, Luxen? Eu devorava mais fortes

do que você.

Um uivo de raiva de Daemon abafou qualquer outra coisa que

Baruck possa ter dito, e mandou outra explosão de luz para ele. Eu

Page 386: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

senti o chão debaixo de mim tremer quando consegui me levantar

pelos meus cotovelos. Cada movimento, não importava quão pequeno,

enviava picadas afiadas através de mim. Eu podia sentir meus

batimentos cardíacos, a luta por trás dele. Raios da luz dançavam

dentro da escuridão do Arum. Eles trocaram golpes sem sequer tocar

um no outro.

Bolas alaranjadas brilhantes de fogo se formaram nas pontas

das mãos de Daemon. Eles dispararam em Baruck, que desviou antes

que elas batessem nas árvores. O mundo virou âmbar e ouro. Calor

soprou em mim. Cinzas estalavam no ar, desaparecendo antes de

bater no chão.

Cada golpe causava tremores no chão, me jogando de volta no

chão, de cara na grama úmida com um grunhido. Empurrando-me

para cima, vi uma faixa de luz se movendo sobre o campo, bem como

uma estrela cadente, mas que vinha do solo a uma velocidade

vertiginosa.

A luz dos golpes entre Daemon e Baruck, chiou quando me

alcançou. Mãos quentes agarraram meus ombros e me levantou. —

Katy, fale comigo! — Dee implorou. — Por favor, fale comigo!

Nada aconteceu quando eu tentei falar. As palavras não saíam.

— Oh meu Deus! — Dee estava chorando, lágrimas caindo de

seu rosto bonito e pousando no meu peito quase em silêncio. Ela me

puxou para seus braços finos quando ela gritou pelo seu irmão

gêmeo.

Daemon voltou do campo de batalha ao mesmo tempo que

Baruck voltou. Com um olhar, um raio de escuridão disparou em

linha reta para nós, batendo nas costas de Dee. Ela gritou de dor e

Page 387: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

rolou para seus joelhos. Ela olhou para cima, com os olhos brilhando

de um branco intenso.

Ela subiu para um agachamento, sua forma humana sumindo

em uma luz crepitante. Daemon contra-atacou com mais força, e o

chão tremeu. Baruck esquivou do ataque e Daemon foi atrás de Dee.

Gritando em fúria, ela correu para o Baruck.

Ele a pegou novamente. Por um segundo, a escuridão a engoliu,

e então ela desmoronou no chão em um monte contorcido. Daemon

acertou Baruck, lutando com ele no chão com uma raiva que era tão

potente que alimentou tudo em volta dele. Dos ramos que abalaram,

das folhas mortas que caíam como chuva macabra, para o chão

abaixo de mim. O ar estalava cheio com o poder.

Eu sentia em meus ossos. Gemendo, eu cambaleei para os

meus pés e chupei uma respiração. Eu não iria por este caminho.

Meus amigos não iriam ficar assim. Dee estava em seus pés,

piscando. O sangue escorria de seu nariz.

Ela balançou a cabeça e tropeçou para frente.

Eu vi o que ia acontecer a seguir através de uma lente muito

estreita. As coisas pareciam acontecer em câmera lenta. Corri para

frente quando Daemon olhou por cima do ombro para sua irmã.

Baruck puxou o braço para trás, preparando outro fluxo de matéria.

A imagem da árvore sendo cortada pela metade ao longo da estrada

passou diante de mim.

Me apressando para frente, eu colidi com a luz que era Dee no

momento em que Baruck lançou a explosão de energia. A escuridão

me cercou, e ouvi um grito, um grito lancinante que não era meu. E

então eu estava voando, realmente voando. O céu estava rolando, as

estrelas e as trevas, mais e mais. A totalidade do mundo brilhava.

Page 388: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu bati no chão, já sabendo que era tarde demais.

Um corpo caiu ao lado do meu. Um braço fino mole caiu contra

o meu. Dee. Eu não havia sido rápida o suficiente. O braço aquecido

contra o meu, ficando menos... Sólido. Sua luz estava se jogando em

cima de mim. Tristeza me cortou como mil lâminas de dois gumes.

Ela não estava se movendo, mas eu podia ver o peito se mexendo,

lenta e superficial.

Distraído, Daemon se virou e cometeu um erro fatal. Você vai

acabar fazendo com que ele morra, Ash tinha dito. Baruck empinou

seu braço para trás e sua explosão pegou Daemon nas costas. Ele

subiu, em espiral pelo ar, piscando em forma humana. Ele

desembarcou a apenas um metro longe de nós.

Baruck riu e mudou para sua forma sombria. Três por um.

Lágrimas queimaram meus olhos enquanto meu rosto se

aninhava contra a grama úmida. Daemon tentou se sentar, mas ele

caiu de costas, com o rosto se contorcendo de dor.

Acabouuu. Todos vocês vão morrer. Baruck avançou. Daemon

virou a cabeça para mim. Nossos olhos se encontraram. Havia tanta

dor em seu olhar. Seu rosto se desvaneceu, borrado e irreconhecível.

Ele não conseguia segurar sua forma humana. Segundos depois, e ele

estava em sua verdadeira forma.

A forma de um homem envolto em luz intensa e bela. Um braço

estendeu na minha direção, formando dedos. De cortar o coração,

estendi mão e meus dedos desapareceram em sua luz. O calor

envolveu meus dedos, a menor pressão da mão de Daemon apertando

em volta da minha.

Ele apertou, como se para me tranquilizar, e um soluço ficou

preso na minha garganta. A luz de Daemon piscou, mas continuou

Page 389: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

subindo no meu braço, me envolvendo em seu calor intenso. Como o

dia do primeiro ataque Arum, na esteira de seu calor, meu corpo

começou a se recompor.

Daemon estava usando a última de suas forças para me salvar.

— Não! — Eu gritei, mas saiu nada além de um sussurro rouco.

Tentei puxar minha mão, mas Daemon recusou-se a deixar ir. E ele

não sabia como eu estava... Eu estava muito ferida para ser salva. Ele

deveria ter tomado a última de sua força para se salvar. Ou salvar

Dee...

Implorei a ele com meus olhos, mas ele apertou minha mão

mais forte. Isso não era justo. Ele não estava certo. Eles não

mereciam isso. Eu não merecia isto. Dor e ódio brotaram em mim. Eu

iria morrer, meus amigos morreriam, minha mãe estaria perdida, e

Daemon... Eu não podia sequer entender o propósito por trás de tudo

isso. A ganância do Arum por poder? Valia a pena acabar com todas

essas vidas? A injustiça de tudo isso rasgou para mim e uma onda de

energia que veio de dentro de mim, sacudindo pelo meu corpo.

Eu não iria morrer assim. Nem iriam Daemon e Dee, não em

um campo qualquer em Virginia do Oeste. Usando a força que

Daemon tinha me dado, eu me empurrei e me sentei no braço quente

de Dee, ainda segurando Daemon, desejando que eles se levantassem,

desejando que eles lutassem.

Baruck moveu em direção à luz de Daemon. Claro que ele ia

acabar com ele antes – primeiro o mais poderoso. Ele teria terminado

comigo há horas. Eu não era nem um pontinho em seu radar neste

momento.

A mão de Daemon balançou e sua luz brilhou quando a sombra

de Baruck ondulava sobre ele. E alguma coisa, algo inesperado

Page 390: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

aconteceu. Um pulso de luz passou por ele, brilhando tão forte que eu

estremeci. Ele arqueou no ar, virou e cuspiu. Ele encontrou a sua

outra metade, reconhecendo a forma do meu lado. O mesmo

acontecia com a luz de Dee, embora ela estivesse inconsciente. Sua

luz brilhou, conectada com Daemon.

A sombra de Baruck interrompeu.

O arco de luz pulsou acima e atirou para baixo, para a direita

no centro do meu peito. O impacto me enviou profundamente no solo,

mas... Eu me levantei do chão, o cabelo voando ao meu redor. Poder

exalava entre nós três. Faiscava, e com o canto do meu olho eu vi os

dois voltando à forma humana. Dee caiu no chão, gemendo baixinho,

empurrando Daemon com os joelhos, se voltando para mim.

Mas eu... Eu estava pairando. Pelo menos, foi assim que me

senti. Eu não me concentrei nisso ou mesmo no que Daemon estava

fazendo. Era só Baruck e eu. Eu queria que ele fosse embora, que

desaparecesse. Eu queria a terra limpa da sua presença. Eu desejei

por isso mais do que qualquer coisa que eu já tinha desejado.

Cada fibra do meu ser estava centrada nele. Tirei tudo dentro

de mim: todos os medos, todas as lágrimas que eu derramei pelo meu

pai, e cada momento da minha vida onde eu estive alheia. Poder

enrolado dentro de mim, envolto pela minha essência. Com uma

batalha selvagem, eu deixei ir. O cabo quebrou, e recuou para fora de

mim. O céu acima de nós entrou em erupção em um raio branco. Eu

senti sair, e eu ouvi as velhas árvores que nos rodeavam ranger e

gemer quando ele correu sobre eles. Um forte carvalho, sem lugar

para se esconder, inclinou-se para o seu poder. O flash de luz seguiu

fiel à sua meta, passando através de Daemon e Dee, e bateu em

Baruck no peito.

Page 391: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Sua forma de sombra se dobrou. Houve um estalo alto, e a luz

explodiu mais uma vez, envolvendo-o completamente. Daemon

tropeçou para trás e se protegeu da explosão. A luz acendeu, depois

recuou rapidamente, e sem uma única palavra, Baruck tinha sumido.

Daemon lentamente baixou o braço e olhou fixamente para o vazio

que havia ficado. Ele se virou para mim. Sua voz era apenas um

sussurro.

— Kat? — Eu estava caída antes que percebesse. O céu escuro

acima começou a se confundir. Eu não sabia o que aconteceu ou o

que eu fiz, mas eu podia sentir o poder saindo de mim, e junto com

ele, algo mais importante.

Não senti nada, e soltei um suspiro cansado. Houve um som de

chocalho que eu sabia que deveria me preocupar, mas eu não pensei

em me importar. Havia esta escuridão novamente, um tipo diferente

do que a do Arum. Esta foi mais suave, um entorpecido Daemon caiu

de joelhos ao meu lado, me puxando para os seus braços fortes,

sólidos.

— Kat, diga algo insultante. Vamos. — Ao longe eu podia ouvir

Dee se agitando e se levantando, o pânico enchendo sua voz. Sem

olhar para trás, Daemon moveu gentilmente seus dedos sobre meu

rosto e falou. — Dee, volte para a casa agora. Traga Adam. Ele está lá

fora em algum lugar.

Os braços de Dee estavam envolvidos em torno de sua cintura,

e ela estava inclinada em um ângulo que parecia que ela tinha uma

costela quebrada ou duas.

— Eu não quero ir embora. Ela está sangrando! Nós temos que

levá-la a um hospital.

Page 392: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Eu estava sangrando? Huh. Eu não sabia. Eu senti a umidade

na minha cara: debaixo dos meus lábios, meu nariz, e havia uma

estranha umidade em torno de meus olhos, mas não doeu. Eu estava

chorando? Era sangue? Eu podia sentir Daemon em volta de mim,

mas tudo parecia muito distante.

— Volte para casa agora! — Daemon gritou e seu aperto em

torno de mim ficou mais forte, mas sua voz se suavizou. — Por favor.

Nos deixe aqui. Vá. Ela está bem. Ela... Ela só precisa de um minuto.

Tão mentiroso. Eu não estava bem. Daemon virou-se de costas

para ela, empurrando as ondas emaranhadas de cabelo fora do meu

rosto. Só depois que ela saiu, ele falou baixinho para mim.

— Kat, você não vai morrer. Não se mova ou faça qualquer

coisa. Basta relaxar e confiar em mim. Não lute com o que está

prestes a acontecer. — Eu vi como Daemon abaixou a cabeça. Ele

descansou sua testa contra a minha. Sua forma desapareceu e ele

entrou em seu verdadeiro corpo. Meus olhos se fecharam contra a

intensidade de sua luz. O calor era quase demais. Eu estava muito

próxima a ele.

Aguente um pouco. Não vá. Sua voz veio na minha cabeça.

Aguente um pouco. Me senti afundar, e sua mão segurou a minha

cabeça. Daemon exalou longo e constante contra meus lábios. O calor

espalhou-se dele para mim, lentamente descendo minha garganta e

em meus pulmões, enchendo-me com um calor glorioso que eu sabia

que não havia melhor maneira de morrer do que isso.

Como um balão que estava lentamente sendo inflado, comecei a

subir. Meus pulmões cheios com o seu calor, que se espalhou por

todas as veias e meus dedos começaram a formigar. A pressão na

minha cabeça diminuiu. Nadei na sensação inebriante que me

Page 393: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

inundou. Meus sentidos começaram a processar as coisas em torno

de mim mais uma vez, e eu não estava mais neste mundo insensível e

fraco.

Ele continuou até que eu fui capaz de me mover em seus

braços. Eu me levantei, segurando seus braços, seguindo-o para fora

do abismo escuro. Estendi a mão para ele cegamente. Meus lábios

roçaram os dele e meu mundo explodiu em sentimento. Eles moveram

até que eu era capaz de compreender e dar sentido a algumas

palavras. E elas não eram minhas, não inteiramente.

O que estou fazendo? Se eles descobrirem o que eu fiz... Mas eu

não posso perdê-la. Eu não posso.

Engoli em seco para o ar, pavimentado pelo conhecimento que

eu estava ouvindo os pensamentos de Daemon. Ele estava falando

para mim, não como antes, quando ele estava em sua verdadeira

forma. Isto foi diferente, como seus pensamentos e sentimentos

estavam dançando nos meus. O medo bateu em mim, assim como

algo mais suave, ainda mais poderoso do que o medo.

Por favor. Por favor. Eu não posso te perder. Por favor, abra seus

olhos. Por favor, não me deixe.

Eu estou aqui. Abri os olhos. Eu estou aqui.

Daemon recuou, a luz se desvanecendo lentamente,

escorregando para fora de mim, sobre a minha pele e de volta para

ele.

— Kat... — Ele sussurrou, enviando arrepios através de mim.

Ele sentou-se comigo ainda aninhada em seu peito. Eu senti seu

coração trovejar violentamente, batendo no mesmo ritmo que o meu,

em perfeita sincronia.

Tudo ao nosso redor parecia... Mais claro.

Page 394: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Daemon, o que você fez?

— Você precisa descansar. — Ele fez uma pausa, com a voz

rouca, cansada. — Você não está cem por cento. Vai levar um par de

minutos. Eu acho. Eu nunca curei nada a este nível antes.

— Você fez na biblioteca... — Eu murmurei. — E, no carro...

Ele abaixou sua cabeça contra a minha.

— Aquilo foi apenas para ajudar com uma torção e contusões.

Não era nada como hoje.

O braço que havia sido quebrado nem sequer doeu quando eu

levantei. Virei a cabeça na direção dele, minha bochecha tocando a

dele. Olhei com espanto para as árvores tortas que estavam dobradas

em volta de nós em um círculo perfeito. Meu olhar caiu no chão e

parou para o espaço onde o Baruck ficava. O único vestígio dele era a

terra arrasada que ele deixou para trás.

— Como é que eu fiz isso? — Eu sussurrei. — Eu não entendo.

Ele enterrou a cabeça na curva do meu pescoço, respirando

profundamente.

— Eu devo ter feito alguma coisa para você, quando eu te curei.

Eu não sei o quê. Não faz sentido, mas algo aconteceu quando as

nossas energias se juntaram. Não deveria ter afetado você. Você é

humana.

Eu estava começando a me perguntar sobre isso.

— Como você está se sentindo? — Perguntou ele.

— Bem. Sonolenta. E você?

— O mesmo.

Eu assisti em silêncio enquanto seus olhos curiosos seguiram o

seu polegar sobre meu queixo, e ele traçou ao longo do meu lábio

inferior.

Page 395: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Eu acho que, por enquanto, seria melhor se mantivéssemos

isto entre nós mesmos, a coisa toda da cura e o que você fez lá atrás.

Ok?

Eu acenei com a cabeça, mas parei com as suas mãos vagando

no meu rosto, removendo as manchas que nossa batalha tinha

deixado para trás. Ondas negras caíram sobre sua testa e um sorriso

se alargou em seu rosto, atingindo seus olhos, aprofundando-os a um

verde brilhante. Seus dedos espalhados por todo meu rosto, sua

cabeça inclinada, e eu não pude evitar em pensar no que tinha ouvido

enquanto sua boca roçava a minha. Havia uma característica

infinitamente mais macia de seu beijo suave. Bateu fundo em meu

coração Era inocente, íntimo. A minha alma queimando quando ele

inclinou a cabeça para trás e explorou meus lábios como se fosse a

primeira vez que tínhamos beijado. E talvez fosse, um beijo de

verdade.

Quando ele finalmente se afastou, ele riu vacilante.

— Eu estava preocupado que ele tivesse quebrado você.

— Não é bem assim. — Meu olhar se moveu sobre cada

centímetro de seu rosto cansado. — Você se quebrou?

Ele bufou.

— Quase.

Eu tomei uma respiração, ainda um pouco tonta.

— E agora?

Um sorriso lento e cansado se estendeu em seus lábios.

— Nós vamos para casa.

Page 396: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Capítulo 30

Literalmente me machucou profundamente não poder fazer

meu post ‗Esperando pela Quarta-feira‘, mas ainda faltavam várias

semanas para o meu aniversário. E mesmo que Dee fosse me

emprestar seu computador, eu não queria usá-lo para isso. Fazendo

beicinho, eu peguei a lata de refrigerante do freezer de Dee e voltei

para a sala de estar.

Aliens podiam com certeza comer um monte de comida.

— Você quer mais pizza? — Dee ofereceu, olhando para a

última fatia com tanta ansiedade que eu estava começando a pensar

que ela e Adam precisavam reavaliar seu relacionamento.

Eu balancei minha cabeça. Dee tinha comido o suficiente para

alimentar uma pequena vila faminta e, francamente, eu não estava

com fome. Comer enquanto Dee e Adam olhavam para mim estava

ficando tedioso e desconfortável. Dee não percebeu que eu notei, e

Adam estava se preparando para fazer outra pergunta sobre o que

aconteceu naquela noite com Baruck.

Page 397: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

O que todos eles sabiam, era que Daemon tinha matado Baruck

e eu não tinha sido ferida tão mal como Dee pensava. De alguma

forma Daemon tinha convencido a ela que eu só estava atordoada.

Olhei para eles. Mas tinha sido eu a matar alguém. Novamente.

Surpreendentemente, o pensamento não me encheu com a

mesma quantidade de medo e doença, como geralmente acontecia. Ao

longo dos últimos dois dias, eu tinha chegado a certa compreensão

com minhas ações. Foi um nível de aceitação instável que tornou

mais fácil de engolir, mesmo que eu nunca fosse esquecer.

Era ele ou eu e meus amigos.

O idiota alienígena tinha que ir.

Todo mundo ainda estava olhando. Adorável.

Dee se sentou ao meu lado e tomou um gole de refrigerante.

Convencida ou não, Dee sabia que algo havia acontecido quando

voltei com Daemon naquela manhã... E o que era. Ela cutucou minha

perna com a dela, ganhando minha atenção.

— Você está se sentindo bem?

Se eu ganhasse um dólar por cada vez que ela fizesse essa

pergunta, eu já teria um novo laptop. Não era como se eu não

soubesse que tinha sorte de estar viva, e que deveria estar sofrendo

de estresse pós-traumático, mas eu me sentia bem. Eu nunca me

senti fisicamente melhor, para ser honesta. Eu sentia como se

pudesse sair e correr uma maratona ou escalar uma montanha. Eu

não queria olhar para a razão para isso muito de perto. Muitas coisas

já tinham me assustado com sucesso.

Alguém pigarreou, me sacudindo para fora dos meus

pensamentos. Olhei para cima para ver Dee e Adam olhando para

mim com expectativa. Eu não conseguia lembrar o que eles queriam.

Page 398: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— O quê?

Dee sorriu um pouco animada.

— Nós estávamos nos perguntando em como você esta lidando

com as coisas? Se você está preocupada com a existência de mais

Arum.

— Oh, você acha que haverá mais? — Eu imediatamente

respondi.

— Não. — Adam me tranquilizou. Desde a batalha com Baruck,

ele começou a falar comigo. Foi uma boa mudança nas coisas. Ash e

Andrew eram uma história diferente. — Nós achamos que não.

Eu me mexi desconfortavelmente e minha pele coçava. Eu não

tinha certeza de quanto tempo mais eu poderia me sentar aqui com

eles me olhando como se eu fosse um experimento que deu errado.

— Eu pensei que você tinha dito que Daemon estaria de volta

em breve. — Adam se reclinou na cadeira. Os olhos de Dee passaram

de Adam para mim.

— Daemon deve chegar a qualquer minuto.

Eu não tinha visto Daemon desde aquela manhã. Eu perguntei

várias vezes para Dee aonde ele tinha ido, mas ela nunca me

respondeu. Eventualmente, eu desisti de incomodá-la. Os dois

começaram a conversar, a fazer planos para o feriado de Ação de

Graças que chegaria em algumas semanas. Minha mente foi para

outro lugar, como eu vinha fazendo nos três últimos dias. Era

estranho. Eu não conseguia me concentrar. Eu me sentia fora, como

se estivesse faltando uma parte de mim.

O calor passou sobre a minha pele, como uma brisa quente. Ele

veio do nada. Eu olhei para cima, vendo se alguém notou o que eu

Page 399: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

sentia. Eles ainda estavam conversando. Eu me mexi no sofá quando

o sentimento aumentou.

A porta da frente da casa de Dee se abriu, e minha respiração

ficou presa na minha garganta. Em poucos segundos, Daemon entrou

na sala. Seu cabelo estava despenteado e havia sombras sob seus

olhos. Sem dizer uma palavra, ele caiu sobre o sofá, seu pesado cílios

escondendo seus olhos, mas eu podia sentir seu olhar.

— Onde você estava? — Eu perguntei em uma voz que soava

estridente para os meus próprios ouvidos. Fez-se silêncio enquanto

mais dois pares de olhos bem estranhos me encaravam. Senti minhas

bochechas ficando quentes e eu me inclinei para trás, sentindo-me

como um idiota. Dobrei minhas mãos e mantive meus olhos presos a

eles. Que jeito de chamar a atenção para mim.

— Bem Olá, querida, eu estive fora bebendo e me prostituindo.

Eu sei, as minhas prioridades estão bastante fora de eixo.

Meus lábios se apertaram em sua resposta sarcástica.

— Idiota! — Eu murmurei.

Dee gemeu.

— Daemon, não seja um idiota.

— Sim, mamãe. Eu estive com outro grupo, procurando por

todo o maldito estado para me certificar de que não há qualquer

Arum que nós não estejamos cientes. — Daemon disse, a voz

profunda acalmando uma dor estranha dentro de mim ao mesmo

tempo em que queria batê-lo na cabeça.

Adam se inclinou para frente.

— Não há nenhum, certo? Porque nós dissemos a Katy que não

tinha nada para se preocupar.

Seus olhos me deixaram por alguns instantes.

Page 400: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Nós não vimos nenhum.

Dee piou alegremente e bateu palmas. Ela se virou para mim,

seu sorriso genuíno desta vez.

— Veja, não há nada para se preocupar. Tudo acabou.

Eu sorri de volta para ela.

— Isso é um alívio.

Ouvi Adam conversando com Daemon sobre sua viagem, mas

era difícil prestar atenção. Fechei os olhos. Cada célula do meu corpo

estava consciente dele, como naquele dia na minha sala, mas em um

nível diferente.

— Katy? Você está mesmo aqui, agora?

— Eu acho que sim. — Forcei um sorriso por causa de Dee.

— Vocês já tentaram deixá-la louca? — Perguntou Daemon,

suspirando. — Bombardeando-a com um milhão de perguntas?

— Nunca! — gritou Dee. Em seguida, ela riu. — Bem... Talvez.

— Imaginei que sim. — Daemon murmurou, estendendo as

longas pernas.

Incapaz de me parar, eu me virei para ele. Nossos olhos se

encontraram. O ar entre nós parecia se estender com calor e

eletricidade. A última vez que eu o vi, estávamos nos beijando. E eu

não tinha ideia de onde isso nos deixava.

Dee passou ao meu lado, limpando a garganta.

— Eu ainda estou com fome, Adam.

Ele riu.

— Você é pior do que eu.

— É verdade. — Dee pulou. — Vamos ao Smoke Hole. Eu acho

que hoje é dia de bolo de carne caseiro. — Ela passou por mim,

Page 401: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

inclinou-se, e deu a Daemon um beijo na bochecha. — Fico feliz que

você está de volta. Eu senti sua falta.

Daemon sorriu para a irmã.

— Senti sua falta também.

Quando a porta se fechou atrás de Dee e Adam, eu soltei a

respiração que eu tinha estado segurando.

— Está realmente tudo bem? — Eu perguntei.

— A maior parte sim. — Ele estendeu a mão para mim,

correndo os dedos sobre minha bochecha. Daemon deu uma

respiração afiada. — Inferno.

— O quê?

Ele se sentou e se aproximou, sua perna pressionando contra a

minha. — Eu tenho algo para você.

Não é o que eu estava esperando.

— É algo que vai explodir na minha cara?

Inclinando-se para trás, ele riu e enfiou a mão no bolso da

frente da calça jeans. Ele tirou uma pequena bolsa de couro e me

entregou.

Curiosa, eu puxei a pequena corda e cuidadosamente esvaziei a

bolsa na minha palma da mão. Olhei para cima, e quando ele sorriu,

eu senti meu coração vibrar. Era um pedaço de obsidiana com cerca

de três centímetros de comprimento, polida e moldada em um

pingente. O vidro era preto brilhante. Parecia cantarolar contra a

minha pele, fria ao toque. A corrente de prata que pendia era

delicada, espiralando sobre a parte superior do dente. A outra ponta

estava afiada em um ponto.

— Acredite ou não. — Disse Daemon. — Mesmo algo tão

pequeno como isso pode realmente perfurar a pele e matar um Arum.

Page 402: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Quando ficar muito quente você vai saber que um Arum está próximo,

mesmo se você não vê-lo. — Ele cuidadosamente pegou a corrente,

segurando os grampos. — Levei uma eternidade para encontrar uma

peça como esta já que a lâmina se quebrou inteira. Eu não quero que

você tire isso, ok? Pelo menos quando... Bem, a maior parte do tempo.

Chocada, eu puxei meu cabelo para fora do caminho e me virei,

deixando-o colocar o colar no meu pescoço. Uma vez que estava

colocado, eu o encarei.

— Obrigada. Quero dizer, por tudo.

— Não é grande coisa. Ninguém perguntou sobre o seu rastro?

Eu balancei minha cabeça.

— Eu acho que eles estavam esperando ver um por causa da

luta.

Daemon assentiu.

— Inferno, você está brilhante como um cometa agora. Isso terá

que desaparecer ou estaremos de volta à estaca zero.

Um calor lento construído dentro de mim. Não do tipo bom.

— E qual seria a estaca zero, exatamente?

— Você sabe, nós sendo presos juntos... Até que o maldito

rastro desapareça. — Seu olhar piscou a distância.

Presos juntos? Meus dedos cravaram em meus joelhos por

sobre o tecido.

— Depois de tudo que eu fiz, estaremos presos juntos de novo?

— Daemon encolheu os ombros. —Você sabe o quê? Foda-se, amigo.

Por causa de mim, Baruck não encontrou sua irmã. Por causa do que

eu fiz, eu quase morri. Você me curou. Isso é porque eu tenho um

rastro. Nada disso é culpa minha.

Page 403: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— E é minha? Eu deveria ter deixado você morrer? — Seus

olhos ardiam agora, como piscinas de esmeralda. — É isso que você

queria?

— Essa é uma pergunta estúpida! Eu não me arrependo de que

você me curou, mas eu não vou lidar mais com essas suas malditas

mudanças de humor.

— Eu não acredito que você proteste tanto com toda parte de

gostar de mim. — Um sorriso irônico torceu seus lábios. — Alguém

parece que está tentando convencer a si mesma.

Eu respirei fundo e soltei o ar lentamente. Por mais que me

incomode dizer isso, porque havia uma parte de mim que queria, eu

fiz.

— Eu acho que seria melhor se você ficar longe de mim.

— Não posso fazer isso.

— Qualquer um dos outros Luxen pode cuidar de mim ou que

seja. — Eu protestei. — Não tem que ser você.

Seus olhos encontraram os meus.

— Você é minha responsabilidade.

— Eu não sou nada para você.

— Você é definitivamente algo.

Minhas mãos coçavam para irem de encontro ao rosto dele em

um tapa.

— Eu não gosto de você.

— Não. Você não gosta.

— Certo. Precisamos tirar esse rastro de cima de mim. Agora.

Um sorriso perverso chegou em seus lábios.

— Talvez a gente pode tentar uns amassos de novo. Vejamos o

que vai fazer com este rastro. Pareceu funcionar da última vez.

Page 404: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Meu corpo gostou da ideia. Eu, no entanto, não gostei.

— Sim, isso não vai acontecer de novo.

— Foi apenas uma sugestão.

— Uma que nunca vai. Acontecer... — Eu mordi a cada palavra

deliberadamente. — De novo.

— Não aja como se você não tivesse gostado-

Eu bati no peito duro dele. Ele apenas riu, e eu comecei a

empurrar, mas... Espere. Eu apertei minha mão contra seu peito

enquanto olhava para ele.

Daemon arqueou uma sobrancelha.

— Você está me apalpando, Kat? Estou gostando de onde isto

está indo.

Eu estava – peito e tudo mais – mas esse não era o ponto. Seu

coração batia contra a palma da minha mão, um forte ritmo que

estava um pouco acelerado. Thump. Thump, Thump. Thump. Eu

coloquei minha mão contra o meu próprio peito. Thump. Thump,

thump. Thump.

Comecei a me sentir tonta.

— Nossos batimentos cardíacos... Eles são a mesma coisa. —

Ambos nossos corações estavam correndo agora, totalmente

sincronizados. — Oh meu Deus, como isso é possível?

Daemon começou a parecer pálido.

— Oh merda.

Meus cílios levantaram. Nossos olhos se encontraram. O ar

pareceu despertar em torno de nós, cheios de tensão. Oh merda,

realmente.

Ele colocou sua mão sobre a minha e apertou.

Page 405: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Mas não é tão ruim. Quero dizer, eu tenho certeza que você

se transformou em alguma coisa e essa coisa toda do coração prova

que nós devemos estar conectados. — Ele sorriu. — Poderia ser pior.

— O que poderia ser pior, exatamente? — Eu perguntei,

atordoada.

— Nós estamos juntos. — Ele encolheu os ombros. — Poderia

ser pior.

Parte de mim não tinha certeza se eu tinha ouvido direito.

— Espere um segundo. Você acha que devemos ficar juntos por

que alguma coisa alienígena nos conectou? Mas dois minutos atrás

você estava reclamando de estar preso comigo?

— Sim, bem, eu não estava reclamando. Eu estava lembrando

que estamos presos juntos. Isso é diferente... E você está atraída por

mim.

Meus olhos se estreitaram.

— Eu vou voltar para essa última afirmação em um segundo,

mas você quer estar comigo, porque agora você se sente... Forçado?

— Eu não diria exatamente forçado, mas... Mas eu gosto de

você.

Olhei para ele. Foi tudo muito fácil de lembrar o que eu tinha

ouvido quando ele tinha me curado. Parte de mim pensou que talvez o

que ele sentia era real, mas talvez tenha sido o produto de tudo o que

diabos ele tinha feito. Isso fazia sentido considerando o que ele estava

dizendo.

Daemon franziu a testa.

— Oh não, eu conheço esse olhar. O que você está pensando?

Page 406: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Essa é a declaração mais ridícula de atração que eu já ouvi.

— Eu disse, me levantando. — Isso é tão ridículo, Daemon. Você quer

estar comigo, porque uma coisa louca aconteceu?

Ele revirou os olhos enquanto se levantava.

— Nós gostamos um do outro. Nós gostamos. É estúpido tentar

negar

— Oh, isso vindo do cara que me deixou no sofá de topless? —

Eu balancei minha cabeça. — Nós não gostamos um do outro.

— Bem... Eu provavelmente deveria pedir desculpas por isso.

Sinto muito. — Daemon deu um passo para frente. — Nós estávamos

atraídos um pelo outro antes de eu te curar. Você não pode dizer que

não é verdade, porque eu sempre... Fui atraído por você.

Eu tomei um passo para trás.

— Estar atraído por mim é uma razão ridícula para ficar

comigo, como o fato de que estamos presos juntos agora.

— Oh, você sabe que é mais do que isso. — Ele fez uma pausa.

— Eu sabia que você ia ser um problema desde o início, a partir do

momento que você bateu na minha porta.

Eu ri secamente.

— Esse pensamento é definitivamente mútuo, mas isso não é

desculpa para a coisa da dupla personalidade que você tem.

— Bem, eu estava meio que esperando que fosse, mas,

obviamente, não. — Ele deu um rápido sorriso. — Kat, eu sei que você

está atraída por mim. Eu sei que você gosta-

— Estar atraída por você, não é suficiente. — disse eu.

— Nós nos damos bem. — Eu dei a ele um olhar brando. Tive

outra visão de seus dentes enquanto seus lábios se abriam. — Às

vezes nos damos bem.

Page 407: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não temos nada em comum. — Eu protestei.

— Temos mais em comum do que você imagina.

— Que seja.

Daemon pegou um pedaço do meu cabelo e envolveu-o em

torno de seu dedo.

— Você sabe que você quer.

A memória do doce beijo que tínhamos compartilhado no

campo retornou. Frustrada, puxei meu cabelo para trás e me foquei

no assunto.

— Você não sabe o que eu quero. Você não tem ideia. Eu quero

um cara que quer ficar comigo porque ele realmente quer estar. Não

que ele seja forçado a ficar comigo por algum tipo de senso de

responsabilidade.

— Kat-

— Não! — Eu o interrompi, deixando minhas mãos em punhos.

Vamos, Kittycat, não fique só olhando. Eu não ia mais ser uma

espectadora, o que significava não cair por Daemon. Não quando seus

motivos para me querer eram tão ridículos que eles faziam parte da

lista dos dez piores. — Não. Desculpe. Você passou meses sendo o

maior idiota para mim. Você não começa a decidir que gosta de mim

um dia e acha que vou esquecer tudo isso. Eu quero alguém para

cuidar de mim como o meu pai cuidou da minha mãe. E você não é

ele.

— Como você pode saber? — Seus olhos brilharam,

transformando-se em joias brilhantes. Balançando a cabeça, me virei

para a porta dos fundos. Daemon apareceu na frente dela,

bloqueando a minha saída. — Deus, eu odeio quando você faz isso!

Page 408: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ele não riu ou sorriu como geralmente fazia. Seus olhos

estavam arregalados e brilhantes, desejosos.

— Você não pode continuar fingindo que você não quer estar

comigo.

Eu podia, eu iria tentar, mesmo que lá no fundo, eu queria

estar com ele. Mas eu queria que ele me quisesse, não porque ficamos

presos juntos ou porque de alguma forma estávamos ligados. Eu

sempre gostei dos lampejos do verdadeiro Daemon. Um Daemon com

quem eu poderia estar, poderia amar. Mas esse Daemon nunca ficou

por muito tempo, empurrado pelo seu dever sem fim à sua família e

da sua fuga. Triste com isso, eu pressionei meus lábios.

— Eu não estou fingindo. — Disse eu.

Seus olhos procuraram os meus.

— Você está mentindo.

— Daemon.

Ele colocou as mãos em meus quadris e me puxou para frente

com cuidado. Sua respiração agitou o cabelo em volta do meu rosto.

— Se eu quisesse ficar com... — Ele começou, com as mãos

apertando. — Se eu quisesse ficar com você, você iria tornar mais

difícil não é?

Eu levantei minha cabeça.

— Você não quer estar comigo.

Seus lábios se contraíram em um sorriso.

— Eu acho que eu meio que quero.

Partes do meu corpo gostavam disso. Meu peito inchou.

— Querer e meio que querer não são a mesma coisa, se quer

saber.

Page 409: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Não, não é, mas é alguma coisa. — Seus cílios abaixaram,

protegendo os olhos. — Não é?

Eu pensei novamente no amor que a minha mãe e meu pai

tiveram. Eu me afastei, balançando a cabeça.

— Não é o suficiente.

Os olhos de Daemon encontraram os meus e ele suspirou.

— Você vai deixar isso mais difícil.

Eu não disse nada. Meu coração estava batendo quando eu me

esquivei dele e me dirigi para a porta da frente.

— Kat?

Respirando fundo, eu o enfrentei.

— O quê?

Um sorriso entreabriu os lábios.

— Você percebe que eu adoro um desafio?

Eu ri baixinho e voltei para a porta da frente, dando a ele a

saudação de um dedo.

— Assim como eu, Daemon. Assim como eu.

Fim

Page 410: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Extra

Cenas do ponto de vista da Daemon!

Uh-oh espaguete de Daemon

No momento em que entrei na sala de aula de trigonometria, eu

vi Kat. Meio difícil de perder com aquele brilho esbranquiçado em

torno dela. Vi um par de lugares vazios no outro lado da classe e

soube onde eu deveria ir.

Em vez disso, eu mudei meu caderno de lado e fui direto para o

corredor onde ela estava sentada. Ela manteve os olhos colados ao

seu caderno, mas eu sabia que ela estava ciente de mim... O leve

rubor ao longo das suas bochechas a denunciava.

Eu sorri.

Mas, então, o meu olhar deslizou para o gesso cobrindo seu

braço fino e meu sorriso desapareceu. Raiva potente varreu em mim

com a lembrança de quão perto ela ficou de se tornar um

brinquedinho de um Arum. Meus dentes rangeram juntos quando eu

passei por ela e caí no assento atrás dela.

Imagens me agrediram de como ela parecia depois do ataque do

Arum, abalada, aterrorizada, e tão pequena em minha camisa,

Page 411: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

enquanto esperávamos pela polícia inútil aparecer. Se alguma coisa,

isso deveria ter servido como um lembrete para tirar minha bunda

dali e me mudar para um lugar diferente.

Tirei uma caneta fora da espiral do meu caderno e cutuquei-a

nas costas.

Kat olhou por cima do ombro, mordendo o lábio.

— Como está o braço? — Perguntei.

Suas feições comprimiram, e em seguida, seus cílios varreram

para cima, seus olhos claros encontrando meu olhar.

— Bom. — disse ela, brincando com seu cabelo. — Eu tiro a

tala amanhã, eu acho.

Bati minha caneta para fora da borda da mesa.

— Isso deve ajudar.

— Ajudar com o quê? — Cautela coloria seu tom.

Usando a caneta, fiz um gesto para o rastro em torno dela.

— Com isso que você tem aí.

Seus olhos se estreitaram, e eu me lembrei que ela não podia

ver como ela estava iluminada como uma árvore de Natal. Eu deveria

ter esclarecido as coisas, mas era muito divertido provocá-la. Quando

parecia que ela estava a dois segundos de me bater na cabeça com a

tala, eu não pude evitar.

Eu me inclinei para frente, olhando-a olhos.

— Menos pessoas vão olhar sem a tala é tudo que eu estou

dizendo.

Seus lábios se apertaram em descrença, mas ela não desviou o

olhar. Kat encontrou meu olhar e segurou. Não recuou, nunca

recuava. Respeito relutante continuou a crescer dentro de mim, mas

por baixo disso, outra coisa estava em desenvolvimento. Eu estava a

Page 412: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

dois segundos de beijar aquele olhar irritado do rosto dela. Me

perguntei o que ela faria. Bater em mim? Me beijar de volta?

Eu estava apostando em bater.

Billy Crump soltou um assobio baixo de algum lugar longe para

o nosso lado.

— Ash vai chutar o seu traseiro, Daemon.

Os olhos de Kat se estreitaram com o que se parecia muito com

ciúme. Eu sorri. Eu poderia sempre mudar a minha aposta.

— Não, ela gosta da minha bunda demais para isso.

Billy riu.

Eu derrubei minha mesa para baixo, trazendo nossas bocas

para o mesmo espaço de respiração. Um flash de calor passou por

seus olhos, e eu então eu a tinha.

— Adivinha o quê?

— O quê? — Ela murmurou, seu olhar caiu para a minha boca.

— Eu verifiquei o seu blog.

Seus olhos se atiraram de volta ao meu. Por um segundo, eles

estavam arregalados com o choque, mas ela foi rápida para suavizar

sua expressão.

— Me perseguindo de novo, eu vejo. Eu vou precisar conseguir

uma ordem de restrição?

— Em seus sonhos, Gatinha. — Eu sorri. — Oh, espere, eu já

estou estrelando eles, não é?

Ela revirou os olhos.

— Pesadelos, Daemon. Pesadelos!

Eu sorri, e seus lábios tremeram. Droga, se eu não soubesse

melhor, eu acho que ela gostava de nossas pequenas brigas também.

Page 413: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

O professor começou a chamar atenção, e Kat voltou à sua mesa. Me

sentei, rindo baixinho.

Vários alunos ainda estavam nos observando, o que trouxe de

novo o sentido para mim. Não que eu estivesse fazendo algo de

errado. Provocá-la não iria trazer o Arum para nós ou colocá-la em

perigo, ou a minha irmã. Quando a campainha tocou, Kat fugiu da

classe. Balançando a cabeça, peguei meu caderno e me dirigi para a

multidão de estudantes.

Durante uma troca de aulas uma hora mais tarde, eu encontrei

com Adam, que começou a andar ao meu lado.

— Vamos ter uma conversa.

Eu arqueei uma sobrancelha.

— Conversar sobre o quê? Como todo mundo sempre dirige

uma caminhonete por aqui? Ou como derrubar vacas é realmente um

passatempo? Ou como a minha irmã nunca, nunca vai ficar séria com

você?

Adam suspirou.

— Estamos falando de Katy, espertinho.

Usando minhas habilidades aprendidas, eu olhava para frente

enquanto procurava pela sala lotada. Ambos éramos mais ou menos

uma cabeça mais altos do que a maioria. Nós éramos como gigantes

na terra dos humanos.

— Billy Crump está na sua-

— Aula de trigonometria? Sim, eu sei quem é.

— Ele estava falando em História sobre você flertando com a

garota nova. — disse Adam, deslizando por um grupo de meninas que

estavam abertamente olhando para nós. — Ash ouviu ele. — A cada

Page 414: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

segundo que passava, meu aborrecimento aumentava. — Eu sei que

você e Ash não estão mais juntos.

— Sim. — Eu cerrei os dentes.

— Mas você sabe como ela fica... — Adam continuou

rapidamente. — É melhor ser cuidadoso com a sua pequena humana.

Eu parei no meio do salão, a dois segundos de jogar Adam

através de uma parede. Os alunos passavam por nós quando eu

comecei a falar em um pouco mais que um sussurro.

— Ela não é minha pequena humana.

O olhar de Adam foi inflexível.

— Tudo bem. Que seja. Longe de todos, eu não me importo se

você levá-la para o vestiário e fazer com ela, mas ela está brilhando...

e também estão os seus olhos. E tudo isso é familiar.

Merda. Lutando com uma paciência pela qual eu não era

conhecido ter, eu comecei a andar, deixando Adam para trás. Eu

precisava ficar bem longe de Kat. E isso seria mantê-la longe do resto

dos Luxen, nomeadamente Ash.

Quando foi o momento que Katy se tornou diferente do resto

dos seres humanos? Alguém que eu quisesse conhecer? E Adam

estava certo. Tudo isso era familiar, exceto que tivemos essa conversa

com Dawson sobre Bethany.

Caramba. Isso não estava acontecendo.

Eu deslizei através do resto das minhas aulas, entediado até a

morte. Muitas vezes no ano passado, eu tentei convencer Matthew a

conseguir um diploma forjado para mim. Não tive essa sorte. O DOD

provavelmente pensava que a escola era um privilégio para nós, mas o

que eles ensinavam não poderia manter o meu interesse. Aprendemos

a uma taxa acelerada, deixando a maioria dos seres humanos no pó.

Page 415: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

E o DOD teria que aprovar o meu pedido para ir para a faculdade, se

isso for o que eu quiser.

Inferno, eu não tinha certeza que eu queria ir para a faculdade.

Eu prefiro encontrar um trabalho onde eu tivesse que trabalhar fora,

algo que não incluísse quatro pequenas paredes.

Quando a hora do almoço chegou, eu estava meio tentado a

terminar o dia. A escola não era a mesma sem Dawson. Sua

exuberância para tudo, até mesmo as coisas mundanas, era

contagiosa.

Sem fome, eu peguei uma garrafa de água e me dirigi para a

mesa. Sentei ao lado de Ash e me recostei, pegando no rótulo da

garrafa.

— Você sabe. — Ash disse, inclinando-se contra o meu braço.

— Eles dizem que o que você está fazendo é um sinal de frustração

sexual.

Eu pisquei para ela.

Ela sorriu e, em seguida, virou-se para seu irmão. Essa era a

coisa sobre Ash. Mesmo que tivéssemos namorado algumas vezes, ela

poderia ser legal... Quando ela queria ser. Nenhum de nós realmente

estava afim do outro, não da maneira que Dawson tinha sido com

Bethany ou como deveríamos ser.

Levantando os olhos, logo encontrei Kat na fila do almoço. Ela

estava conversando com Carissa – a mais quieta das duas meninas

em trigonometria. Meu olhar caiu nas sandálias dela e lentamente fiz

meu caminho de volta para cima.

Eu acho que eu adorava aqueles jeans. Apertado em todos os

lugares certos.

Page 416: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Era incrível realmente, quão longas as pernas de Kat pareciam

para alguém tão baixa. Eu não conseguia entender por que parecia

desse jeito.

A mão de Ash caiu na minha coxa, puxando a minha atenção.

Sinos de alerta dispararam. Ela estava tramando algo.

— O quê? — Perguntei.

Seus olhos brilhantes fixos nos meus.

— O que você está olhando?

— Nada. — Concentrei-me nela, qualquer coisa para manter o

seu interesse fora de Kat. Não importa o quão mal-humorada a

gatinha era, ela absolutamente não era párea para Ash. Coloquei a

garrafa de lado, balançando as pernas em direção a ela. — Você está

bonita hoje.

— Não é? — Ash sorriu. — Assim como você. Mas você é

sempre fantástico de se olhar.

Olhando por cima do seu ombro, ela então se virou e se sentou

no meu colo mais rapidamente do que ela devia em público.

Alguns dos meninos em uma mesa vizinha pareciam que teriam

negociado suas mães para estarem na minha posição.

— O que você está tentando fazer? — Eu mantive minha mãos

para mim.

— Por que você acha que eu estou tentando algo? — Ela

apertou o peito contra o meu, falando no meu ouvido. — Eu sinto sua

falta.

Eu sorri.

— Não, você não sente.

Fazendo beicinho, ela bateu no meu ombro, brincando.

— Bem... Há algumas coisas de que eu sinto falta.

Page 417: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Prestes a dizer a ela que eu tinha uma boa ideia do que essa

coisa era, o grito jubiloso de Dee me cortou.

— Katy! — Ela gritou.

Xingando baixinho, senti Ash endurecer contra mim.

— Sente-se. — Disse Dee, batendo na mesa. — Nós estávamos

falando sobre-

— Espere. — Ash virou. Eu podia imaginar a expressão no seu

rosto. Lábios para baixo, os olhos apertados. Tudo isso junto era

ruim, muito ruim. — Você convidou ela para se sentar com a gente?

Sério?

Eu me concentrei na pintura do mascote do PHS - um Viking

vermelho e preto, completo com os chifres. Por favor, não se sente.

— Cale a boca, Ash! — disse Adam. — Você vai fazer uma cena.

— Eu não 'vou fazer' qualquer coisa acontecer. — O braço de

Ash se apertou em torno do meu pescoço como uma jiboia. — Ela não

precisa se sentar com a gente.

Dee suspirou.

— Ash, deixe de ser uma cadela. Ela não está tentando roubar

Daemon de você.

Minhas sobrancelhas se ergueram, mas eu continuei a oração.

Por favor, não se sente. Minha mandíbula travou. Por favor, não se

sente aqui. Se ela se sentasse, Ash iria comê-la viva só pelo prazer

disso. Eu nunca iria entender as meninas. Ash não me queria mais,

não de verdade, mas coitado de alguém que me quisesse.

O corpo de Ash começou a vibrar suavemente.

— Isso não é com o que eu estou preocupada. De verdade.

— Sente-se. — Dee disse a Katy, sua voz apertada com

exasperação. — Ela vai superar.

Page 418: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Seja legal. — Eu sussurrei no ouvido de Ash, baixo o

suficiente para só ela ouvir. Ash bateu duro no meu braço. Isso iria

deixar um hematoma. Eu pressionei meu rosto em seu pescoço. — Eu

falei sério.

— Eu vou fazer o que eu quiser. — Ela sussurrou de volta. E

ela faria, mesmo. Pior do que o que ela estava fazendo agora.

— Eu não sei se eu deveria. — Kat disse, soando incrivelmente

pequena e insegura.

Cada estúpido, pensamento idiota na minha cabeça exigia que

eu despejasse Ash do meu colo e tirasse Kat daqui, longe do que

certamente ia acabar sendo horrível.

— Você não deve. — Ash agarrou.

— Cala a boca! — Disse Dee. — Me desculpe, eu sei como é

essa cadela.

— Você tem certeza? — Perguntou Kat.

O corpo de Ash tremeu e ficou quente. Sua pele estaria quente

demais para um humano tocar sem perceber que algo estava

diferente, errado mesmo. Eu podia sentir seu controle se esvaindo. Se

expor não era provável, mas ela parecia brava o suficiente para fazer

alguns danos.

Virei a cabeça para olhar para Kat, pela primeira vez desde que

eu a tinha visto na fila. E eu já sabia que ia me odiar pelo que eu

estava prestes a dizer, porque ela não merecia isso.

— Eu acho que é óbvio se você é querida aqui ou não.

— Daemon! — Os olhos da minha irmã se encheram de

lágrimas, e agora era oficial. Eu era irrevogavelmente um idiota. — Ele

não está falando sério.

Page 419: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você está falando sério, Daemon? — Ash virou na minha

direção.

Meu olhar segurou o de Kat, e eu reprimi tudo. Ela precisava

sair antes que algo ruim acontecesse.

— Na verdade, eu estava falando sério. Você não é bem vinda

aqui.

Kat abriu a boca, mas ela não disse nada. Suas bochechas

tinham estado rosa do jeito que eu gostava, mas a cor desbotava

rapidamente. Raiva e constrangimento encheram seus olhos

cinzentos. Eles brilhavam sob as luzes duras da cafeteria. Uma

pontada cortou em meu peito, e eu tive que olhar para longe, porque

eu tinha colocado aquele olhar em seus olhos. Apertando minha

mandíbula, me concentrei sobre o ombro de Ash, naquele mascote

estúpido novamente.

Naquele momento, eu queria me dar um soco no rosto.

— Saia daqui! — Disse Ash.

Algumas risadinhas soaram e raiva chicoteou por mim,

aquecendo a minha pele. Era ridículo que eu estava chateado que

outras pessoas estavam rindo quando eu a envergonhei, a machuquei

mais do que ninguém.

O silêncio caiu sobre a mesa, e o alívio era iminente. Ela tinha

que estar saindo agora. Não havia jeito – Um material frio, molhado, e

pegajoso pulou em cima da minha cabeça. Eu congelei, consciente o

suficiente para não abrir a boca a não ser que eu quisesse comer...

espaguete? Ela...? Molho de macarrão deslizou pelo meu rosto,

pousando no meu ombro. Um macarrão pendurado fora da minha

orelha, esmagado contra o meu pescoço.

Page 420: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Puta merda. Eu estava pasmo quando lentamente me virei para

olhar para ela. Uma parte de mim estava, na verdade... espantado.

Ash saltou do meu colo, gritando quando ela empurrou as

mãos para fora.

— Você... Você...

Eu arranquei um macarrão da minha orelha e joguei sobre a

mesa quando olhei para Kat debaixo de meus cílios. A risada veio

antes que eu pudesse segurar. Bom para ela.

Ash abaixou suas mãos.

— Eu vou acabar com você.

Meu humor desapareceu. Pulando para cima, eu joguei um

braço ao redor da cintura de Ash.

— Se acalme. Eu falo sério. Se acalme.

Ela puxou contra mim.

— Juro por todas as estrelas e sóis, eu vou destruí-la.

— O que significa isso? — Kat fechou as mãos, olhando para a

menina mais alta como se não tivesse nem um pouco de medo dela,

apesar de que ela deveria ter. A pele de Ash estava muito quente,

vibrando logo abaixo da superfície. Naquele momento, eu realmente

comecei a duvidar de que ela não faria algo estúpido e nos revelar em

público.

— Você está assistindo muitos desenhos animados de novo? —

Matthew caminhou até a nossa mesa, seus olhos se conectando com

os meus por um momento. Eu vou ouvir sobre isso mais tarde.

— Eu acredito que isso é o suficiente. — Disse ele.

Sabendo que não podia discutir com Matthew, Ash se sentou

em seu próprio assento e agarrou um punhado de guardanapos. Ela

Page 421: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

tentou limpar a bagunça, mas foi inútil. Eu quase ri novamente

quando ela começou a bater a sua camisa.

Me sentando, bati uma moita de macarrão do meu ombro.

— Eu acho que você deve encontrar outro lugar para comer. —

Matthew disse a Katy, a voz baixa o suficiente para que apenas as

pessoas na nossa mesa pudessem ouvir. — Agora.

Olhando para cima, vi Kat pegar sua mochila. Ela hesitou, e

então ela acenou com a cabeça como se estivesse em transe. Voltando

rigidamente, ela saiu do refeitório. Meu olhos a seguiram o caminho

todo, e ela manteve a cabeça erguida.

Matthew se afastou da mesa, provavelmente saiu para fazer

algum controle de danos. Eu limpei a palma da minha mão no meu

rosto pegajoso, incapaz de parar de rir baixinho.

Ash me bateu novamente.

— Isso não é engraçado! — Ela se levantou, as mãos tremendo.

— Eu não consigo acreditar que você acha que foi engraçado.

— Foi. — Eu dei de ombros, agarrando minha garrafa de água.

Não é como se nós não merecemos. Olhando para baixo na mesa, eu

encontrei a minha irmã me encarando. — Dee...

Lágrimas enchiam seus olhos quando ela se levantou.

— Eu não posso acreditar que você fez isso.

— O que você esperava? — Andrew exigiu.

Ela lançou lhe um olhar mortal e, em seguida, virou aqueles

olhos em mim.

— Você não presta. Você realmente é um idiota, Daemon.

Eu abri minha boca, mas o que eu poderia dizer? Eu era um

idiota. Eu agi como um idiota, e não era como se eu pudesse me

defender disso. Dee tinha que entender que era para o melhor, mas

Page 422: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

quando eu fechei meus olhos, vi a dor nos olhos de Kat e eu não tinha

tanta certeza de que tinha feito a coisa certa... Pelo menos a coisa

certa por ela.

Page 423: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

“A manhã seguinte”

Daemon

Eu não tinha certeza se estava sonhando, mas se eu estivesse,

eu não queria acordar. O aroma de pêssego e baunilha brincou

comigo, me invadiu.

Kat.

Só ela tinha um cheiro maravilhoso, de verão e todas as coisas

que eu poderia querer e nunca ter. O comprimento de seu corpo

estava pressionado contra o meu, com a sua mão sobre minha

barriga. O constante movimento de seu peito tornou-se todo o meu

mundo, e neste sonho, porque tinha que ser um sonho, eu senti meu

próprio peito combinando suas respirações.

Cada célula do meu corpo despertou e queimou. Se eu estivesse

acordado, eu certamente estaria na minha verdadeira forma. Meu

corpo estava em chamas. Apenas um sonho, mas era real.

Eu não pude resistir deslizar minha perna por cima dela,

enterrando a cabeça entre o pescoço e ombro dela, e inalar

profundamente. Divino. Perfeito. Humano. A respiração tornou-se

mais difícil do que eu imaginava. Luxuria rodou através de mim,

inebriante e desejosa. Eu provei sua pele num leve roçar de lábios,

um movimento da minha língua. Ela parecia perfeita debaixo de mim;

suave em todos os lugares em que eu era duro.

Movendo-se sobre ela, contra ela, eu adorava o som que ela fez

– um gemido macio, totalmente feminino, que queimou cada pedaço

de mim.

Page 424: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

— Você é perfeita para mim... — sussurrei em meu próprio

idioma.

Ela se mexeu, e eu sonhei que ela respondia, me querendo em

vez de me odiar. Eu pressionei para baixo, deslizando minha mão sob

sua camisa. Sua pele parecia de cetim sob meus dedos. Preciosa.

Valorizada. Se ela fosse minha, eu acalentaria cada centímetro dela. E

eu queria. Agora. Minha mão subiu, subiu, subiu.

Kat engasgou.

A nuvem de sonho dissipou com o som que eu senti por todo o

caminho através de mim.

Cada músculo travou. Muito lentamente, eu obriguei meus

olhos a se abrirem. Seu delgado, gracioso pescoço estava inclinado

diante de mim. A seção de pele era cor de rosa do aperto do meu

queixo...

O relógio na parede bateu.

Merda.

Eu a senti, no meu sono.

Ergui a cabeça e olhei para ela. Kat me observava, seus olhos

de um maravilhoso cinza com dúvidas. Duas vezes merda.

— Bom dia. — Disse ela, com a voz ainda áspera com o sono.

Usando o meu braço, me empurrei para cima e, mesmo assim,

sabendo que nada daquilo tinha sido um sonho, eu não conseguia

desviar o olhar dela, não queria. Uma necessidade infinita estava

nela, em mim. Exigindo que eu me ajoelhasse para ela, e eu queria

também. Merda, eu sempre quis.

A única coisa que me acordou, que limpou as camadas de

luxúria e a estupidez da minha cabeça, era o rastro brilhando ao

redor dela. Ela parecia como a estrela mais brilhante.

Page 425: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Ela estava em perigo. Ela era um perigo para nós.

Com um último olhar, eu saí do quarto com uma velocidade

desumana, batendo a porta atrás de mim. Cada passo longe desse

ambiente, daquela cama, era doloroso e duro. Dobrando a esquina, eu

quase corri para minha irmã.

Dee me estudou, os olhos apertados.

— Cala a boca! — Eu murmurei, indo além dela.

— Eu não disse nada, idiota. — Diversão traiu suas palavras.

Uma vez dentro do meu quarto, eu rapidamente me troquei

para um par de calças de corrida e escorreguei nos meu tênis.

Encontrar minha irmã tinha me acalmado um pouco, mas meus

nervos estavam me matando, eu precisava sair dessa casa, ficar longe

dela.

Nem sequer me preocupei em trocar a minha camisa, eu peguei

velocidade, disparando através da casa e saindo pela porta da frente.

No momento em que pisei na varanda, aumentei a velocidade e corri

para a floresta em uma explosão de velocidade. Em cima o céu estava

cinza e sombrio. Suor pingava pelo meu rosto como mil agulhas

minúsculas. Grato por isso, me forcei a ir mais fundo na floresta.

Então eu saí de minha pele humana, assumindo minha

verdadeira forma quando me atirei entre as árvores, me movendo até

que eu não era nada mais do que um raio de luz. Isso foi errado.

Pense em Dawson. Olhe o que aconteceu com ele. Será que eu queria

correr o mesmo risco? Deixar Dee sozinha? Mas eu ainda podia sentir

sua pele, seu gosto – doce e açucarado. Ouvir aquele som maravilhoso

que ela fazia vez ou outra, assombrando cada milha que eu coloquei

entre nós.

Page 426: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Uma ideia começou a se formar – uma que Dee iria odiar, mas

eu não vejo outra opção. Eu poderia ir para o DOD e solicitar uma

mudança para uma das outras comunidades. Iriamos deixar a nossa

casa, deixar os nossos amigos para trás e Matthew, mas seria o

melhor. Era a coisa certa a fazer. Dee estaria segura.

Manteria Kat segura.

Porque Dee não podia ficar longe dela e nem eu poderia. Mas

não importava onde eu fosse, o que eu estava fugindo ainda viria

comigo – Kat.

Ela não estava apenas na casa, na cama. Ela estava comigo

agora, dentro de mim. E não havia como fugir disso.

Page 427: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Continua em Lux 02 : Onyx

―Estar conectada a Daemon Black é um saco…

Graças ao talismã alienígena dele, Daemon está determinado a provar que o que sente por é algo além da nossa bizarra conexão. Então jurei me desligar dele,

mesmo que ele esteja ficando mais gostoso ultimamente. Mas nós temos problemas maiores.

Algo pior do que Arum chegou à cidade

O Departamento de Defesa está aqui. Se eles descobrirem o que Daemon pode

fazer e que nós estamos conectados, eu estou perdida. E ele também. E tem esse garoto novo na escola que tem um secreto. Ele sabe o que aconteceu comigo e ele pode ajudar, mas para isso, eu preciso mentir para Daemon e ficar longe dele.

Como se isso fosse possível. Contra todo o bom senso, eu estou me apaixonada por Daemon. Muito.

Mas então, tudo muda.

Eu vi alguém que não deveria estar vivo. E preciso contar a Daemon, embora eu

saiba que ele não vai parar de procurar até descobrir a verdade. O que aconteceu com o irmão dele? Quem o traiu? E o que o Departamento de Defesa quer com ele – e comigo?

Ninguém é quem parecer ser. E nem todos irão sobreviver às mentiras.‖

Page 428: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian

Tradução

Day, Giovanna, Polly, Bianca, Rai

Revisão

Glaucia, Marianne, Ju

Page 429: Jennifer l. armentrout   lux 01 - obsidian