FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA- FESP
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
JHÉFLEY STEFANI RODRIGUES ALVES
ABALOS PSICOLÓGICOS CAUSADOS PELO BULLYING : SEUS
DESDOBRAMENTOS E RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL
JOÃO PESSOA
2014
JHÉFLEY STEFANI RODRIGUES ALVES
ABALOS PSICOLÓGICOS CAUSADOS PELO BULLYING: SEUS
DESDOBRAMENTOS E RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL
Trabalho de Conclusão de Curso em forma de Artigo
Científico apresentado à Coordenação do Curso de Direito
da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba – FESP, como
exigência parcial para a obtenção do título de Bacharel em
Direito.
Área: Responsabilidade Civil
Orientadora: Luciana Borges
JOÃO PESSOA
2014
JHÉFLEY STEFANI RODRIGUES ALVES
ABALOS PSICOLÓGICOS CAUSADOS PELO BULLYING: SEUS
DESDOBRAMENTOS E RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL
Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de
Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da
Paraíba – FESP, como exigência parcial para a obtenção do
grau de Bacharel em Direito.
APROVADO EM _____/_______2014
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
ORIENTADOR- FESP
____________________________________________
Professor Examinador
MEMBRO- FESP
____________________________________________
Professor Examinador
MEMBRO- FESP
À minha família, minha base, pelo precioso incentivo.
Dedico.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por todas as bênçãos derramadas em minha vida.
Por estar sempre ao meu lado nesta longa caminhada.
Aos meus pais, Maurilio Pereira e Cleane Rodrigues, que foram fundamentais para a
formação dos meus princípios e valores. Me auxiliando a evoluir como ser humano.
À minha irmã Jéssica Rodrigues, pela torcida, suas palavras de apoio foram
fundamentais nesta jornada.
À minha futura esposa Eduarda Motta, minha companheira de todas as horas.
Obrigado por toda força, pela paciência, pelo incentivo e por seu amor. Valeu a pena passar
por tudo o que passamos, todo o sofrimento. Tenha certeza que essa vitória é sua também.
À minha orientadora, Prof. Luciana Borges, por toda sua gentileza, prestabilidade e
interesse no sucesso deste trabalho.
À Prof. Socorro Menezes, por sua dedicação quanto a questões relativas a correções e
formatação do texto desse trabalho científico dentro das normas da ABNT.
Aos professores do curso, que foram tão importantes em minha vida acadêmica. Aos
amigos e colegas, pela diversidade de momentos e sentimentos vivenciados.
Enfim, a todos que contribuíram e torceram para que esse sonho se tornasse realidade
com a construção desse TCC.
.
“Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a
fé”.
(2 TIMÓTEO 4:7)
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................8
2 CONCEITO, HISTÓRICO E ANTECEDENTES............................................10
2.1 CONCEITO............................................................................................................10
2.2 HISTÓRICO E ANTECEDENTES.......................................................................11
3 FORMAS E PARTICIPANTES DO BULLYING............................................12
3.1 FORMAS DO BULLYING...................................................................................12
3.2 PARTICIPANTES DO BULLYING.....................................................................13
4 CONSEQUÊNCIAS E ABALOS PSICOLÓGICOS CAUSADOS PELO
BULLYING.................................................................................................................14
4.1 CONSEQUÊNCIAS DO BULLYING...................................................................14
4.2 ABALOS PSICOLÓGICOS CAUSADOS PELO BULLYING............................15
5 A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NOS CASOS DE BULLYING.....................17
6 RESULTADOS DE ESTUDOS REALIZADOS NO BRASIL SOBRE O
BULLYING...........................................................................................................18
6.1 ANÁLISE DEMOGRÁFICA DA INCIDÊNCIA DO BULLYING NO BRASIL18
6.2 ESTATÍSTICAS GERAIS.....................................................................................18
7 BULLYING E O DIREITO.................................................................................19
7.1 O BULLYING COMO DANO MORAL E O DEVER DE INDENIZAR............20
7.2 A RESPONSABILIDADE LEGAL DA INSTITUIÇÃO DE ENSINO................21
7.3 A RESPONSABILIDADE DOS PAIS NOS CASOS DE BULLYING................22
8 CASOS INDICATIVOS DE SUPERAÇÃO......................................................22
8.1 MICHAEL PHELPS..............................................................................................22
8.2 TOM CRUISE........................................................................................................23
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................24
ABSTRACT................................................................................................................25
REFERÊNCIAS.........................................................................................................26
8
ABALOS PSICOLÓGICOS CAUSADOS PELO BULLYING: SEUS
DESDOBRAMENTOS E RESPONSABILIZAÇÃO CIVIL
JHÉFLEY STEFANI RODRIGUES ALVES
FRANCISCA LUCIANA BORGES DE A.
RESUMO
O presente trabalho aborda o fenômeno do bullying sob uma nova perspectiva, analisando todas
as suas vertentes, peculiaridades e os abalos psicológicos causados pela prática, com enfoque
especial para a sua responsabilização civil. Apesar de ser um tema recorrente nos últimos anos,
marcado por inúmeras tragédias no Brasil e principalmente no exterior, a sociedade tem uma
grande dificuldade de identificar, prevenir e combater este mal, tendo em vista que o mesmo
não foi tratado da maneira que deveria, pelos órgãos públicos e autoridades competentes. A
obra em questão trará informações relevantes sobre um assunto importante e pouco explorado.
Serão tratados seus diversos tipos, suas causas, efeitos, consequências. Destacando a influência
familiar neste processo. Fatos que certamente despertarão um novo olhar ao leitor,
conscientizando-o e auxiliando aquelas pessoas que sofrem deste mal a resgatarem suas vidas.
Aqueles que não se enquadrarem ao padrão estabelecido pela sociedade podem ser as próximas
vítimas. Os agressores estão a postos. Prontos para humilhar, intimidar e torturar o próximo,
causando dores emocionais que podem permanecer por toda uma vida. Ele também é conhecido
por ser uma prática cruel, desumana e totalmente inadequada. Ele corresponde a um conjunto
de atitudes de violência física e/ou psicológica, sem motivo justificável, realizadas
principalmente nas instituições de ensino. Criando bloqueios mentais, doenças psicossomáticas
e isolamento da vítima, em casos mais graves, pode ocasionar suicídios. Pesquisas recentes
comprovam que a prática vem crescendo nos últimos anos no Brasil, o crescimento é gradual. É
um tema de difícil visualização. Os envolvidos permanecem calados. O silêncio prepondera,
pois eles têm medo do que possa acontecer com suas vidas no futuro. A capacitação de
profissionais é fundamental para que se possa identificar os casos concretos, minimizando os
seus efeitos, ou até mesmo evitá-los. Dezenas de famosos experimentaram o pior lado do
bullying durante boa parte de suas vidas e conseguiram dar a volta por cima, resgatando e
aprimorando suas potencialidades. Por uma sociedade justa e igualitária, esta realidade deve ser
combatida e a mobilização tende a começar.
Palavras Chave: Bullying. Responsabilização Civil. Influência Familiar. Sociedade Justa.
Mobilização.
1 INTRODUÇÃO
Dor, tristeza e temor, esses são apenas alguns adjetivos que remetem a realidade oculta
de um dos problemas mais marcantes da atualidade. O bullying permaneceu durante anos à
margem da atenção de pais, educadores, juristas e psicólogos. Porém, uma série de fatos
Aluno concluinte do Curso de Bacharel em Direito da Fesp Faculdades, semestre 2014.2. e-mail:
Advogada. Consultora Jurídica. Professora das Faculdades: Fesp, Iesp, Esa e Fesmip. Atuou como orientadora
desse TCC. e-mail: [email protected].
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ocorridos nos últimos anos, no exterior e em nosso país, tendo como destaque o massacre de
realengo-RJ, trouxeram o tema à tona.
Vive-se em uma sociedade onde se destaca uma forte inversão de valores. O
individualismo prepondera. O capitalismo acelerou o ritmo de vida da população, os resultados
devem ser alcançados a todo custo, o tempo é escasso e a cobrança aumentou. O diálogo entre
os membros das famílias é quase nulo, é justamente nesta lacuna que os princípios éticos e
morais quando não estabelecidos, são pouco fortalecidos.
A indiferença cresce, as buscas pelos interesses individuais se sobressaem em relação
aos interesses coletivos. A procura pela obtenção dos objetivos passou-se ao primeiro plano, e
muitos fazem o que for necessário para alcançá-los. A própria mídia estimula tais atos, através
de propagandas, novelas e demais meios de forte apelo social.
A realidade é que a maioria da população não discute o bullying com o devido destaque
que o tema merece, muitos tratam essa questão como sendo uma grande brincadeira, ignorando
os problemas causados as vítimas. Já as pessoas que foram vítimas do bullying e levam rastros
por toda vida se queixam que não tem a quem recorrer, que o assunto ainda é pouco difundido e
veem no processo terapêutico uma forma de amenizar a situação e tentarem superar os traumas,
objetivando o reestabelecimento de uma vida saudável.
Silenciosamente, pessoas continuam a ser perseguidas no ambiente escolar, na internet,
e em muitos casos no trabalho (o chamado Mobbing), sem motivo real aparente e de forma
sistemática. Causando mudanças radicais em vidas que poderiam ser tranquilas e estabilizadas.
Vítimas se transferem de escolas, cidades, empregos almejando paz. Outras não aguentam a
pressão e chegam em ao ponto de se suicidarem.
Esse fenômeno quando não é devidamente identificado e combatido, certamente trará
consequências irreparáveis nas vidas de inúmeras famílias. Não se enquadrar no padrão estético
que a sociedade estabeleceu como aceitável se transformou em um verdadeiro desafio. Os
agressores estão prontos a intimidar, humilhar e torturar aqueles que destoem do que seja
“ideal” para eles.
Tratar deste problema e todas as suas vertentes tornou-se fundamental, antes mesmo de
solucionar a fato em sim, prevenir é necessário, através da divulgação de informações
adequadas aos diversos meios que se enquadrem a essa realidade. Buscando assim, proteger
aqueles que podem tornar-se potenciais alvos desta prática. É imprescindível o suporte
necessário para aqueles que sofreram e ainda sofrem abalos relativos a este ato, dando o
10
conforto adequado e adotando medidas enérgicas que venham a punir os culpados e causar o
temor aos iguais.
Os cidadãos devem desejar a todo custo uma sociedade próspera e feliz, que se levanta
em prol do bem estar social. A busca por um ideal modifica o andamento de uma população. O
Brasil é reconhecido mundialmente por sua diversidade cultural. Logo, as diferenças devem ser
respeitadas, principalmente devido ao princípio da dignidade da pessoa humana, que é
considerado o princípio norteador em que todos os demais princípios se baseiam (BRASIL,
1988).
2 CONCEITO, HISTÓRICO E ANTECEDENTES
2.1 CONCEITO
Antes mesmo de adentrar no conceito em si, é imprescindível que se entenda o
significado da palavra bullying. Esta é de origem inglesa e inexiste uma tradução exata no
Brasil. Segundo o dicionário, bullying advém da palavra bully, que significa: Tirano, Mandão,
Valentão. Desta forma, o bullying é realizado justamente pela figura de um bully (agressor)
contra uma ou mais vítimas que possuem uma clara dificuldade de se defender
circunstancialmente ou por inferioridade de poder.
O bullying é uma forma de assédio moral, já que os atos utilizados são cruéis e
duradouros, e abalam diretamente a integridade psicológica da vítima. Ele pode ser conhecido
por outros nomes, dependendo do país e idioma em questão, são eles: ocoso (espanha),
mobbing (Noruega e Dinamarca), harassment (Eua), mobbning (Filândia e Suécia).
Para Silva (2010, p.22), Bullying seria utilizada para:
Qualificar comportamentos violentos no âmbito escolar, tanto de meninos
quanto de meninas. Dentre esses comportamentos podemos destacar as
agressões, os assédios e as ações de desrespeito, todos realizados de maneira
recorrente e intencional por parte dos agressores.
Já Calhau (2010, p.6), conceitua o bullying desta maneira: São atos de desprezar,
denegrir, violentar, agredir, destruir a estrutura psíquica de outra pessoa, sem motivação
alguma e de forma repetitiva.
Como foi visto nas citações acima, o bullying é praticado independentemente do sexo
do agressor, o que muda é a forma da abordagem e das torturas sequenciais. Estudos recentes
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mostram que o bullying praticado por indivíduos do sexo masculino é mais agressivo no ponto
de vista físico. Já os atos praticados por indivíduos do sexo feminino são mais elaborados e
traiçoeiros e também mais difíceis de identificar, devido a inteligência e paciência das
agressoras.
Ressalta-se que o bullying é realizado sem motivo justo aparente. Sem que haja uma
motivação real e justificável. Assim, o simples fato das vítimas não se enquadrarem em padrões
estabelecidos pela sociedade, sejam eles: estéticos, comportamentais, raciais ou até mesmo
aqueles relativos a opção sexual, as tornam potenciais alvos para a realização da prática.
No caso de bullying escolar a ocorrência extrapola os limites da sala de aula, podendo
chegar a pátios, corredores, locais de prática de atividades esportivas, como também os
arredores do local. Outro ponto de destaque é que o bullying deve ser diferenciado com muito
cuidado das brincadeiras corriqueiras que ocorrem durante a infância, o bullying pode parecer
camuflado, mas ali estará presente um fator preponderante para a sua identificação, o
sofrimento. Onde há sofrimento inexiste a brincadeira. Este seria o ponto chave para
localização e combate.
2.2 HISTÓRICO E ANTECEDENTES
Até o ano de 1973 o conhecimento existente sobre o fenômeno era superficial. Visto
que, o bullying sempre foi presente na história mundial, mas sequer era estudado. As vítimas
eram as maiores prejudicadas, pois, sofriam em silêncio e não sabiam a quem recorrer. Assim,
tomavam medidas extremas para tentar solucionar a questão, chegando a abandonar a escola e
até mesmo a cidade. Outras não viam outra saída a não ser o suicídio (Calhau, 2010); (Silva,
2010); (Soares, 2012).
O precursor dos estudos referentes ao bullying, chamava-se Dan Olweus, nascido em 18
de Abril de 1931, em Kalmar, cidade localizada no sul da Suécia, Olweus era um professor de
psicologia da renomada universidade de bergen (Noruega). Ele ganhou considerável destaque
através dos primeiros estudos acerca da violência nas escolas. O desejo pela reflexão do
assunto surgiu devido a um fato alarmante que ocorrera naquela época: O número de suicídios
entre crianças e jovens adolescentes na Noruega só crescia (Calhau, 2010).
Olweus passou a formular pesquisas e levantamentos que pudessem direcioná-lo a uma
realidade incontestável e segura para o combate deste mal. Sua pesquisa inicial envolveu os
seguintes números: 84 mil estudantes, cerca de 400 professores e aproximadamente 1.000 pais.
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Com variantes de faixa etária e localização. O resultado foi assustador, ao concluir seus
estudos, ele constatou que a cada sete alunos, um estava envolvido com o bullying (Calhau,
2010); (Soares, 2012).
Prontamente, os órgãos responsáveis ligados ao governo norueguês criaram campanhas
efetivas e meses depois 50% dos casos de bullying haviam sido reduzidos. Outros países se
inspiraram na eficiente atitude da Noruega e movimentaram-se nesse aspecto, foram eles:
Portugal, Canadá e Reino Unido. Mais tardar, no ano de 1993, Dan Olweus lançou suas
pesquisas de forma oficial, publicando em um livro seu chamado: “Bullying at the school”. Ele
decidiu inovar e ao invés de publicar apenas resultados de suas pesquisas, estipulou uma série
de medidas visualizando o combate efetivo dessa realidade. Era tido como fundamental a
presença e a participação assídua de pais e professores, pois, eles eram considerados como
peças chaves para a obtenção dos resultados esperados. O trabalho em conjunto foi realizado e
o combate desta prática foi ganhando força com o passar dos anos (Calhau, 2010); (Soares,
2012);
3 FORMAS, PARTICIPANTES DO BULLYING
3.1 FORMAS DO BULLYING
O bullying pode ser praticado através das formas direta e indireta. Vale ressaltar que a
vítima raramente é afetada por apenas um tipo de bullying, os agressores costumam variar suas
ações, aumentando ainda mais o tormento da pessoa prejudicada.
Segundo Silva (2010, p.23): Essa variedade de atitudes maliciosas contribui para a
exclusão da vítima no ambiente em que se encontra, aumentando a probabilidade de evasão
escolar. Quanto maior a diversidade de ações, maior o tormento do indivíduo.
Essas atitudes podem ser: verbais; físicas e materiais; psicológicas e morais; sexuais e
até mesmo virtuais. Logo abaixo haverão exemplos de cada caso. Extraídos de Silva (2010).
Verbais: ofensas, gozações, insultos.
Físicas e Materiais: agredir, espancar, empurrar e até mesmo ocorrência de
furtos de objetos pessoais.
Psicológicas e Morais: ameaças, isolamento, desprezo, ridicularizações.
Sexual: assediar, violentar, abusar.
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Virtual: Com o alcance global dos meios de comunicação, os crimes virtuais se
tornaram recorrentes. O ciberbullying (bullying praticado através de meios de comunicação) já
é uma realidade, a velocidade com que as informações circulam na internet propiciam a o
surgimento de eventuais calúnias, potencializando o sofrimento dos envolvidos.
3.2 PARTICIPANTES DO BULLYING
Os participantes do bullying podem ser divididos em quatro pequenos grupos. São eles:
Agressores, vítimas, espectadores-passivos e vítimas-agressores (Silva, 2010). Os quais são
sumariamente conceituadas, conforme segue:
Agressor: Seria o agente ativo da situação, é quem vitimiza o mais frágil.
Utilizando de todos os meios possíveis para desestabilizar a vítima e colocá-la em uma situação
de pânico. Psicólogos especialistas nesta questão, afirmam que o agressor geralmente é
proveniente de uma família com um certo distanciamento entre seus membros. Os pais ou
responsáveis pecam no quesito da educação e podem agir de maneira agressiva para a resolução
dos problemas. Causando assim, a ideia ao agressor que os problemas devem ser resolvidos de
forma enérgica e hostil. Os traços característicos do agressor são: mau-caratismo,
impulsividade e propensão para irritar-se sem motivo adequado. Ele não suporta ser contrariado
e não gosta de seguir ordens (Silva, 2010); (Calhau, 2010).
Vítimas: São escolhidas aleatoriamente, elas não precisam provocar nenhuma
situação desconfortável para que o agressor a escolha. Geralmente são pessoas tímidas,
passivas, submissas e ansiosas. Tem dificuldade de comunicação e não se entrosam facilmente
a grupos. Pessoas que divergem do padrão estabelecido pela sociedade no que se refere ao tipo
físico, comportamento, etnia ou até mesmo a sua opção sexual. Outro dado interessante é que
crianças que vem de outras escolas (os novatos) são alvos sistematicamente escolhidos, como
os grupos na escola atual já estão formados, estes que vêm de fora tem uma grande rejeição e
sofrem bullying em maior intensidade (Silva, 2010); (Calhau, 2010).
Espectadores Passivos: Também podem ser chamados de testemunhas
silenciosas. Pois, eles acompanham tudo o que acontece, toda a prática e não se manifestam.
Muitas vezes, preferem permanecer em silêncio com medo de represálias ou até mesmo temem
ser os próximos escolhidos. Fato é que a maioria não concorda com as agressões praticadas,
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porém, não comunicam aos pais e muito menos a diretoria das escolas (Silva, 2010); (Calhau,
2010).
Vítimas Agressoras: Essas vítimas estão sendo constantemente estudadas. São
aquelas que já sofreram o bullying, não conseguiram superar totalmente o sentimento de tristeza
e com o passar do tempo, foram alimentando o ódio e passaram a praticar os atos que um dia já
sofreram. São esses agressores que provocam atos como os que estamos vendo nos últimos anos,
principalmente nos EUA, onde ex alunos voltam ao colégio e fazem diversas vítimas, entre
alunos, professores e seguranças, para finalizar, geralmente se suicidam (Silva, 2010); (Calhau,
2010).
4. CONSEQUÊNCIAS E ABALOS PSICOLÓGICOS CAUSADOS PELO BULLYING
4.1 CONSEQUÊNCIAS DO BULLYING
As consequências do Bullying podem ser visualizadas em relação a todos os envolvidos,
como escolas, estado e famílias, mas as consequências mais destacadas são aquelas
relacionadas as vítimas em si. Segundo, Calhau (2010, pag.13), o que ocorre é o seguinte:
Entre as diferentes e variadas consequências encontradas em estudos de casos e
atendimentos clínicos, podemos mencionar que o estresse é responsável por
cerca de 80% das doenças da atualidade, pelo rebaixamento da resistência
imunológica e sintomas psicossomáticos diversificados, principalmente
próximos ao horário de ir à escola.
Conforme dito no item anterior, alguns detalhes não são notados pelos pais. Uma
criança que está sofrendo bullying passa a desenvolver claros abalos psicológicos e a mudança
de comportamento é natural. Cabe aos familiares notarem algum tipo de alteração
comportamental quando o horário de ir à escola se aproximar. Alguns sintomas podem ser
facilmente identificados, com por exemplo: ânsia de vômito, dores musculares, febre,
taquicardia, diarreia e etc.
15
4.2 ABALOS PSICOLÓGICOS CAUSADOS PELO BULLYING
Esse é um dos temas mais relevantes, pois, os abalos psicológicos são capazes de
modificar o andamento de uma vida. Todos os interessados no combate do bullying e que
almejam uma solidariedade justa e pacífica devem dar a devida importância a este assunto,
tendo em vista que o bullying é capaz de potencializar problemas que já possam existir e ainda
podem gerar novas situações na vida de milhares de pessoas e dependendo da gravidade, há
casos que não tem solução. Abaixo serão citados alguns problemas extraídos de Silva (2010),
que podem se desenvolver no âmbito psicológico das vítimas dessa agressão, são eles:
Transtorno do Pânico: Este transtorno se caracteriza pelo surgimento de um
medo profundo e sem motivo justificável. A vítima do bullying desenvolve uma ansiedade
acentuada acompanhada por determinados sintomas físicos como: taquicardia, calafrios,
dilatação de pupila e etc. Assim, as vítimas passam a entrar em desespero só em imaginar o
futuro. Muitos relatam uma série de sensações angustiantes vividas no momento da crise, como
por exemplo: a sensação de estar sofrendo um ataque cardíaco, que estão a enlouquecer.
Antigamente, estudiosos acreditavam que o transtorno do pânico só poderia ser visualizado em
adultos, hoje vários psicólogos se deparam com situações que crianças estão a desenvolver
esses sintomas e um ambiente escolar inadequado pode criar ou até mesmo acelerar esses
efeitos.
Fobia Social: Os resquícios psicológicos do bullying podem fazer com que a
vítima tema uma eventual situação que ela passe a ser o foco da circunstância ou de ser julgada
ou avaliada em ocasiões diversas. Assim, o indivíduo passa a se isolar, evitando futuras
exposições. Pessoas com fobia social tem uma grande dificuldade de se socializarem, podem
perder oportunidades de emprego, já que em uma simples entrevista não conseguem
desenvolver uma linha de raciocínio coerente e exibir suas ideias devido ao inerente
desconforto generalizado. Seus relacionamentos amorosos tendem a ser frustrados, logo, o
processo terapêutico é extremamente indicado para que haja o reestabelecimento de uma vida
saudável.
Fobia Escolar: Neste caso, devido as lembranças das torturas recorrentes ainda
permanecerem em sua memória, a vítima do bullying passa a criar uma barreira psicológica que
dificulta a sua assiduidade escolar. Assim, são propensas a faltar aulas, reduzir seu desempenho
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e em casos extremos ocorrem reprovações, o que reduz drasticamente a sua autoestima. Com o
passar do tempo muitas vítimas passam a ter repulsa do ambiente escolar, desistindo assim de
continuar uma vida acadêmica. Vale ressaltar que uma criança com inúmeras potencialidades
que abdica dos estudos prejudica não só a ela mesma, como também a família e a sociedade em
geral.
Depressão: A depressão é uma doença muito comentada, porém, pouco
explorada intimamente. Ela afeta o humor, comportamento, saúde e pensamentos da vítima.
Aqueles que sofrem deste mal veem o isolamento como uma saída, o que os faziam felizes hoje
não faz mais. Alguns sintomas: insônia, irritabilidade, desinteresse por atividades que
costumava realizar, fadiga, ansiedade, sentimento de vazio, perda ou aumento do apetite e etc.
Antigamente os profissionais da área não identificam com facilidade a presença de depressão
em crianças e jovens adolescentes, porém, atualmente já é uma realidade inquestionável. A
depressão recorrente a uma vida escolar estressante faz parte do cotidiano da população
brasileira e também mundial.
Anorexia e Bulimia: As agressões constantes no ambiente escolar podem fazer
com que o indivíduo desenvolva transtornos alimentares. A anorexia nervosa, se dá pelo fato de
que a vítima passa a ter um medo significante de engordar. Apesar de estar magra, a visão que
ela tem do espelho é totalmente distorcida da realidade, então essa pessoa passa a restringir sua
alimentação em busca de um “corpo perfeito”, que nunca é alcançado. Quando o processo
encontra-se em estado avançado, a vítima certamente se encontrará em um estado físico
deplorável e a um passo da morte. Já a Bulimia nervosa é caracterizada pela a ingestão
exagerada de alimentos que geralmente são excessivamente calóricos e após esse processo ela
passa a ter um enorme peso na consciência e utiliza-se de determinados meios para extrair
aquele alimento consumido em excesso do seu organismo. É muito comum constantes de
vômitos, utilização de laxantes e até a pratica de exercícios físicos em excesso.
Transtorno Obsessivo- Compulsivo (TOC): São mais conhecidas como
“manias”, nesse caso as vítimas de bullying passam a conviver com pensamentos
autodestrutivos e pessimistas, e para eliminarem esses pensamentos elas começam a adotar
atitudes repetitivas (as chamadas compulsões). As pessoas que sofrem deste distúrbio tornam-
se com o passar do tempo detalhistas e perfeccionistas. Um exemplo prático seria o de uma
eventual vítima guardar determinados objetivos da mesma maneira e no mesmo horário. Outro
exemplo seria quando a vítima cria uma fantasia em sua mente que seus entes queridos podem
17
falecer a qualquer momento caso ela não realize determinada ação. A vítima do TOC é
considerada uma prisioneira de suas fantasias e manias, tonando até a convivência com outras
pessoas insuportável.
Os distúrbios explanados anteriormente remetem a gravidade da prática do bullying,
demonstrando que essa prática é totalmente destruidora, já que vai matando a vítima aos
poucos de formas variadas. A saúde mental é tão importante quanto a saúde física, pessoas que
tiveram rastros em suas vidas relativos ao bullying tendem a viver de maneira receosa e o
isolamento é apenas uma consequência. Há uma grande probabilidade de suas vidas mudarem
aos poucos, se tornando outra pessoa com o passar do tempo. O tratamento terapêutico, aliado a
implementação de técnicas especializadas resgatam a vida do paciente, enfrentando de frente o
problema e buscando a tão desejada libertação.
5 A INFLUÊNCIA DA FAMÍLIA NOS CASOS DE BULLYING
Em tempos de tanta competitividade e cobrança o maior desafio das famílias tornou-se
dar uma criação equilibradas a seus filhos, estabelecendo valores e princípios que lhe deem
estabilidade para superar os percalços da vida. A família tem uma ligação relevante com a
prática de bullying, já que os menores agressores tendem a copiar o comportamento de seus
pais e responsáveis. A família é o primeiro círculo social em que uma criança é inserida, assim,
até os 08 (oito) anos de idade a criança absorve as influências positivas e negativas,
externando-as a partir dos 09 (nove) anos de idade, principalmente na escola.
Abaixo estarão elencados alguns comportamentos que as crianças e jovens adolescentes
desenvolvem e que podem ser motivados diretamente por influência dos pais, os quais foram
enunciados por Silva (2010).
Isolamento- Lares em que há frieza por parte dos pais ou responsáveis, não
havendo tratamento e comunicação adequados com seus filhos, os tornarão naturalmente
cidadão isolados e com dificuldade de estabelecimento e manutenção de vínculos sociais de
qualidade.
Agressividade- Ter uma criação agressiva, gera alguns bloqueios psicológicos
que agem diretamente no subconsciente da criança. Fazendo com que ela se defenda de
situações de pressão ou dificuldade no futuro rispidamente. Pais que expõem seus pontos de
vista de maneira destrutiva ou que resolvem pequenos problemas através da agressão física,
18
estão gerando traumas ocultos na mente de seus filhos e que podem se voltar contra os mesmos
futuramente.
Rejeição a contrariedades- Pais ausentes ou aqueles que não impõem limites a
seus filhos deixando fazer o que bem entenderem, por mais que evitem conflitos nesta etapa da
vida, futuramente verão filhos mal acostumados e que não suportarão serem contrariados.
Timidez e fragilidade- Aqueles pais que criam seus filhos sob uma rígida
vigilância tendem a inibir a manifestação destes. Caso essa criação perdure por muito tempo,
certamente se tornarão adultos tímidos e reprimidos, demonstrando um alto grau de fragilidade
e acima de tudo terão complicações para se relacionarem com outras pessoas.
Ante o exposto, fica claro que os pais são os espelhos para seus filhos. Uma criação
desequilibrada trará prejuízos para a vida dos mesmos no futuro. A responsabilidade dos
genitores é tamanha que o próprio código civil estabelece que estes respondem por aqueles que
são menores de idade e estão sob sua vigilância.
6 RESULTADOS DE ESTUDOS REALIZADOS NO BRASIL SOBRE O BULLYING
O fato do bullying ter se tornado uma triste realidade pode ser comprovado nos
números, estatísticas recentes demonstram a verdadeira dimensão do problema. Abaixo serão
citados alguns levantamentos realizados no Brasil a respeito do tema.
6.1 ANÁLISE DEMOGRÁFICA DA INCIDÊNCIA DO BULLYING NO BRASIL
Um levantamento interessante foi realizado no ano de 2010 em escolas de todo o Brasil
para que fosse verificado qual o estado brasileiro com maior incidência dessa prática. Abaixo,
estarão presentes os resultados (Top 10) que estão baseados no percentual de estudantes que
sofreram bullying, em ordem decrescente: 1º Distrito Federal (Brasília); 2º Minas Gerais (Belo
Horizonte); 3º Paraná (Curitiba); 4º Espirito Santo (Vitória); 5º Rio Grande do Sul (Porto
Alegre); 6° Paraíba (João Pessoa); 7º São Paulo (São Paulo); 8º Mato Grosso do Sul (Campo
Grande) 9º Goiás (Goiânia) e 10º Piauí (Teresina).
Vale destacar que aproximadamente 69% dos estudantes afirmaram que não sofreram
bullying escolar. Cerca de 25% alegaram que sofrem raramente ou às vezes e 5,4% sofrem
frequentemente. Tendo em vista tamanha repercussão desse estudo, o governo do Distrito
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Federal inovou ao criar os Conselhos de Segurança das Escolas, que visavam a solução dos
conflitos através de “mediadores”, que seriam os colegas, pais e professores (atitude parecida
com a adotada por Dan Olweus). A união dos envolvidos pode minimizar ou até solucionar o
problema (IBGE, 2013).
6.2 ESTATÍSTICAS GERAIS
No ano de 2013, o IBGE realizou nova uma pesquisa, mais aprofundada e abrangente.
Nesta, é possível verificar variantes ainda não observadas, como: sexo do agressor mais
atuante, em quais tipos de estabelecimento de ensino há maior incidência, questões relativas a
saúde e segurança.
O estudo verificou que o bullying já tem 30% de alcance em todo o brasil, sendo que
20,8% é formado pelos agressores. Assim, a proporção é de cinco pra um. Outro ponto
importante está ligado a figura do agressor, os meninos representam a maioria, chegando a
26,1%, já as meninas figuram com 16%. Quanto a instituição de ensino que há maior
incidência, o número é parecido, porém, as escolas privadas estão na frente com 23,6%, já as
escolas públicas representam 20,3% dos casos (IBGE, 2013)
Esses dados são fundamentais para que haja o combate efetivo a esta prática. Os órgãos
de segurança pública, representados pelo governo federal em conjunto com as autoridades
estaduais devem focar no problema, criando novas alternativas de conscientização popular.
Uma sociedade conscientizada tem o poder de amenizar o sofrimento das vítimas e realmente
pode salvar vidas.
7 BULLYING E O DIREITO
A responsabilidade remete a ideia de encargo, contraprestação. Já a responsabilidade
civil é um instrumento importantíssimo em nossa sociedade, pois, garante a aplicação de
medidas que obriguem a pessoa a reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiros,
devido ao fato por ela mesma praticado.
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7.1 O BULLYING COMO DANO MORAL E O DEVER DE INDENIZÁ-LO
Para que seja entendido o dever de compensação relativo à prática de bullying, é
necessário que sejam citados os conceitos básicos da responsabilidade civil. São eles: Dano e
Ato ilícito. O Art.186 do Código Civil trata de uma regra absoluta na responsabilidade civil,
que todo aquele que causa dano a outrem é obrigado a repará-lo. Vejamos: Aquele que, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito (BRASIL, 2002).
Destaca-se que os quatro elementos essenciais da responsabilidade civil são: Ação ou
Omissão; Culpa ou dolo do agente; relação de causalidade, e o dano experimentado pela vítima.
Desta forma, o dano seria mal que se faz a alguém, prejuízo ou deterioração de coisa alheia.
(BRASIL, 2002).
Por outro lado, Venosa (2005, p.270) afirma que: Reparar o dano qualquer que seja sua
natureza, significa indenizar, tornar indene o prejuízo.
Já o Código Civil de 2002, em seu artigo 927, diz o seguinte: Aquele que, por ato ilícito,
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo (BRASIL, 2002).
Visto a necessidade de reparar os danos causados, para a responsabilidade civil, o dano
é dividido em duas espécies: Dano moral e Dano material. Porém, em nosso estudo, apenas o
dano moral é relevante.
Para Reis (2010, p.8) o dano moral seria: A lesão ao patrimônio psíquico ou ideal da
pessoa, a sua dignidade em fim que se traduz nos modernos direitos da personalidade.
Já Carvalho (2009, p.59) que o conceitua o que seria o assédio moral: É Qualquer
atitude abusiva na forma de palavras, gestos, escritos que resultam em dano à propriedade, à
dignidade, à integridade física ou psíquica de uma pessoa.
Neste ponto, a cautela é imprescindível, pois, o dano moral e o assédio moral tem uma
grande divergência. O dano moral é aquele que basta um simples descumprimento da norma
constitucional para configurar dano efetivo. Já no assédio moral, apensar do dano ser
indispensável, é necessário que haja a comprovação de culpa do agente.
O Dano material é aquele que afeta somente o patrimônio do ofendido, não o afeta
como ser humano e deve ser restituído integralmente. Já no caso do bullying, este, causa sérios
prejuízos ao desenvolvimento da vida da vítima, gerando marcas profundas em sua honra,
índole e afetando diretamente o seu ego.
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O Bullying tem uma ligação direta com o dano moral, devido a estes abalos citados
anteriormente e a justiça determina que este dano seja compensado. Porém, o dano moral pode
apenas ser compensado, mas nunca restituído na sua integralidade. Até porque a honra e
dignidade não podem ser reparadas fisicamente, apenas compensadas financeiramente.
7.2 A RESPONSABILIDADE LEGAL DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO
A Instituição de ensino tem um papel importantíssimo quanto a prevenção do bullying.
Já que ela responde objetivamente1 por agressões ocorridas dentro ou fora do estabelecimento.
Vale frisar que no caso de agressões realizadas fora do estabelecimento, é necessária a análise
de provas. Existem inúmeros casos em que os abalos psicológicos ocorrem sistematicamente
dentro da instituição de ensino e a consumação do fato só ocorre em seu exterior.
Quanto as provas a serem produzidas, A jurisprudência atual não é pacífica a respeito da
necessidade da demonstração de dano psíquico sofrido pela vítima. Desta forma, é interessante
que todas as provas sejam colhidas e anexadas a ação de indenização, sendo incluídos laudos
médicos que comprovem este abalo. Fortalecendo assim a alegação feita.
Para comprovar a responsabilidade da instituição de ensino, devem ser citados: o código
civil, como também o código de defesa do consumidor. O Art. 14 do Código de Defesa do
consumidor afirma o seguinte:
Art. 14- O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos (BRASIL, 1990).
Já o Art. 932, IV, 2ª alínea, também trata dessa questão. Vejamos:
Art. 932- São também responsáveis pela reparação civil:
IV- os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes,
moradores e educandos (BRASIL, 2002).
1 Chama-se atenção para o destaque, uma vez que a responsabilidade objetiva é aquela que independe de
aferição de culpa.
22
Assim, fica claro que a instituição de ensino tem o dever de preservar seus alunos de
maiores incidentes. Caso ocorra a prática de bullying no interior de seu estabelecimento, esta
responderá objetivamente e solidariamente.
7.3 A RESPONSABILIDADE DOS PAIS NOS CASOS DE BULLYING
A família tem um papel fundamental na educação dos seus filhos, tendo em vista que
ela é o primeiro círculo social na qual a criança estará inserida. Dos 02 (dois) aos 08 (oito) anos
de idade, a criança tende a absolver os comportamentos e influências familiares, para só a partir
dos 09 (nove) anos de idade passar a agir externamente da maneira que aprendeu.
O Art. 932 do Código Civil diz que: São também responsáveis pela reparação civil, os
pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua companhia (BRASIL,
2002).
Já o Art.933 do Código Civil complementa o anterior, afirmando: As pessoas foram
indicadas nos incisos I a V do artigo anterior, por mais que não haja culpa de sua parte,
responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos (BRASIL, 2002).
Desta forma, nos baseando no Código Civil, nota-se que os pais respondem de maneira
objetiva, independendo da presença de culpa. O simples fato de terem filhos menores em sua
autoridade ou companhia gera este tipo de responsabilização.
8 CASOS INDICATIVOS DE SUPERAÇÃO
Abaixo serão citados alguns casos motivadores de pessoas renomadas que passaram por
muitos traumas na fase infantil relativos ao Bullying. Eles são provas que o Bullying pode ser
superado desde sejam transformadas as frustrações e angústias em motivação e força para
seguir em frente. Extraídos de Silva (2010).
8.1 MICHAEL PHELPS
Records, fama, sucesso, essa é a rotina vivida pelo nadador americano, considerado
como um dos maiores atletas de todos os tempos. Ele, com apenas 23 anos de idade conseguiu
um feito improvável nos jogos olímpicos de Pequim em 2008, subiu ao lugar mais alto do
23
pódio oito vezes, sendo o maior medalhista olímpico de todos os tempos. Também foi capaz de
quebrar trinta e sete recordes mundiais.
Porém, por trás de todo esse glamour, Phelps já viveu dias árduos. Após a separação dos
pais ele foi criado junto das suas irmãs por sua mãe: Debbie. Ela teve um papel
importantíssimo no crescimento pessoal e profissional de Phelps. Porém, ainda na sétima série
ele foi diagnosticado com transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e
passou a utilizar constantemente medicamentos. Neste processo, os seus colegas de classe
notavam o seu comportamento estranho. Ele passou a sofrer bullying tanto por seu
comportamento quanto por sua aparência física.
Michael Phelps é um grande exemplo de superação, mesmo após uma vida conturbada e
de constante sofrimento. O importante é que a família dê o suporte necessário e a criança passe
a se fortalecer e batalhar ainda mais para mudar essa situação.
8.2 TOM CRUISE
O ator e produtor norte americano, é considerado atualmente como uma das
celebridades mais conhecidas mundialmente e de maior crescimento nas últimas décadas. Ele é
mais um caso de superação da prática de bullying, já que sua vida foi extremamente traumática.
Vale ressaltar a figura agressiva do seu pai, as condições financeiras também não eram as
ideais, tudo conspirava para uma vida de fracasso.
Devido a profissão do seu pai (engenheiro mecânico), Cruise se mudava de cidade
constantemente, havendo quebras significantes em sua vida pessoal e dificultando a obtenção e
estabilização de laços sociais. Então aos 11 anos de idade seus pais separaram. Posteriormente
seu pai faleceu, vítima de câncer.
Um fato interessante é que Cruise estudou em impressionantes, 15 escolas diferentes.
Seu desempenho abaixo da média passou a ser investigado por uma psiquiatra integrante do
quadro auxiliar da escola. O diagnóstico não foi nada animador, ele sofria de dislexia, que é
uma dificuldade na área da leitura, escrita e soletração. A partir daí, passou a ser alvo constante
da prática de Bullying. O trauma foi tamanho que posteriormente ele decidiu que seria padre,
esse desejo era visto como uma forma de libertação dos problemas sofridos em sua infância.
Futuramente ele descobriu seu talento ligado às artes dramáticas e se encontrou
definitivamente.
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Silva (2010, p.96) descreve um trecho de um desabafo feito por Tom Cruise, onde diz
que:
Pessoas podem criar sua própria vida. Eu vi como minha mãe lutou e
possibilitou a nossa sobrevivência. Decidi que iria criar a pessoa que eu seria,
não aquela que os outros gostariam que eu fosse.
Essa história é realmente motivadora, já que ele tinha todos os obstáculos possíveis
durante toda sua caminhada até a fase adulta, que poderiam levá-lo ao fracasso, porém, sua
recuperação foi fantástica e muito se deve a sua inteligência emocional que foi sendo
desenvolvida justamente após os sofrimentos relativos à fase infantil. A mudança de
pensamentos tem um papel importante nesse processo. O ser humano tem um potencial
psicológico gigantesco, que pouco é explorado, muito disso ocorre devido a maus hábitos de
toda uma vida. A partir do momento que ele aprende com os erros, modifica seus pensamentos
e seus hábitos, suas potencialidades são desenvolvidas e visualizadas efetivamente.
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o presente estudo, buscou-se demonstrar, além de todas as variantes ligadas ao
fenômeno, a responsabilização pelos danos causados por bullying. No decorrer dos anos pôde-
se notar uma considerável evolução no instituto de responsabilidade civil, no que se refere ao
dever de indenização. Tendo destaque a responsabilidade objetiva envolvendo esses casos.
Mesmo com todos os avanços tecnológicos e sociais, essa prática ainda permanece
presente na vida de milhões de cidadãos em todo o mundo, sendo expandida de maneira
progressiva e constante. Verifica-se que esse mal silencioso pode ser visualizado de maneira
recorrente, muitas vezes ocorrendo de forma natural e espontânea, através de brincadeiras
camufladas, gerando dor e sofrimento às vítimas.
Os pais têm um papel importantíssimo na prevenção do bullying, já que, eles
representam o primeiro círculo social em que a criança estará inserida. Assim, o
estabelecimento de princípios e valores adequados darão o direcionamento para a vida de seus
filhos. É preciso buscar um diagnóstico do bullying em todas as suas vertentes. A ampla
divulgação do tema e o devido debate se faz necessário para que haja um controle concreto por
parte das autoridades, com maior participação do poder judiciário.
No ambiente escolar, deve haver uma especialização dos profissionais da área,
possibilitando que estes tenham uma total familiaridade com estas situações, mantendo a
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supervisão constante das atividades dos alunos e realizando as devidas orientações em busca do
respeito e tolerância aos demais.
O profissional deve ter a flexibilidade necessária para a resolução cada situação distinta.
Sem a participação enérgica de todos os envolvidos, com toda certeza, a realidade não será
modificada em um curto prazo.
O desafio importante é lutar por um mundo melhor, com uma sociedade mais justa,
apesar capitalismo e individualismo preponderantes. Não se admite que as futuras gerações
tenham que viver com essa triste situação. Enquanto houver vítimas do bullying se escondendo
por detrás de suas lágrimas, sofrimento e silêncio, não haverá avanço. Somente o combate
árduo gerará um futuro diferente, com novas perspectivas e bastante promissor.
PSYCHOLOGICAL CONCUSSIONS CAUSED BY BULLYING, ITS OFFSHOOTS
AND CIVIL LIABILITY
ABSTRACT
This paper discusses the phenomenon of Bullying in a new perspective by analyzing all its
aspects, peculiarities and the psychological concussions caused by the practice, with special
focus to its civil liability. Is a recurring theme in recent years, marked by numerous tragedies in
Brazil and especially abroad, the society has a great difficulty to identify, prevent and combat
this evil, considering that the same was not handled the way it should, by public agencies and
competent authorities. The work in question will bring relevant information about an important
issue and little explored. Will be dealt with the different types of Bullying, its causes, effects,
consequences. Highlighting the family influence on this process. Facts, which certainly will
arouse a new, look to the reader, raising awareness and assisting those people who suffer from
this evil to rescue their lives. Those who do not conform to the standard established by the
society may be the next victims. The aggressors are standing by. Ready to humiliate, intimidate
and torture the next, causing emotional pain that may remain for a lifetime. Bullying is known
to be a cruel practice, inhuman and totally inadequate. It corresponds to a set of attitudes of
physical and/or psychological violence, without justifiable reason, performed mainly in the
educational institutions. Creating mental blocks, psychosomatic illnesses and isolation of the
victim, in more severe cases, may result in suicides. Recent surveys show that the practice has
been growing in recent years in Brazil, the growth is gradual. Is a difficult theme preview.
Those involved remain silent. Silence prevails, because they're afraid of what might happen to
their lives in the future. The training of professionals is essential in order to identify specific
cases, minimizing its effects, or even avoid them. Dozens of famous experienced the worst side
of Bullying during a good part of their lives and have managed to turn things around, rescuing
and their lives and have managed to turn things around rescuing and enhancing their potential.
Keywords: Bullying. Civil Liability. Family Influence. Just Society. Mobilization.
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A474a Alves, Jhefley Stefani Rodrigues.
Abalos psicológicos causados pelo bullying: seus desdobramentos e responsabilização civil. / Jhefley Stefani Rodrigues Alves. – Joao Pessoa, 2014.
26f
Orientadora: Profª Esp. Francisca Luciana de A. B. Rodrigues.
Artigo Científico (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino Superior da Paraiba.
1. Bullying. 2. Responsabilização Civil. 3. Influência Familiar.
4. Sociedade Justa. 5. Mobilização. I. Título.
BC/Fesp CDU:347(043)