4
FORMAR PARA A EXCELÊNCIA EM FUTEBOL. ESTUDO
COMPARATIVO ENTRE A PERCEPÇÃO DE JOGADORES E
TREINADORES, SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS FACTORES DO
TREINO, DURANTE O PROCESSO DE FORMAÇÃO.
JOÃO CARLOS CORTESÃO CUNHA
PORTO, 2007
Formar para a Excelência em Futebol. Estudo Comparativo entre a percepção de Jogadores e Treinadores, sobre a importância dos factores do treino, durante o processo de formação.
Monografia realizada no âmbito da disciplina de
Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e
Educação Física, na área de Alto Rendimento
opção de Futebol, da Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto.
Orientador: Prof. Doutor Júlio Garganta
João Carlos Cortesão Cunha
Porto, 2007
CUNHA, J. (2007). Formar para a Excelência em Futebol. Estudo Comparativo entre a percepção de Jogadores e Treinadores, sobre a importância dos factores do treino, durante o processo de formação. Monografia de Licenciatura. Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. PALAVRAS-CHAVE: FORMAÇÃO DESPORTIVA, FORMAÇÃO EM FUTEBOL, EXPERTISE, EXCELÊNCIA, FACTORES DO TREINO.
AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS
Agora que estou preste a fechar esta porta, muitas outras se abrem…
Não pretendo, no entanto, deixar de expressar a minha gratidão para com
aqueles que partilharam de uma forma ou de outra este caminho, que foi como
um jogo de Futebol, feito de avanços e recuos até à grande vitória final.
À minha Mãe, por ser a mãe e o pai durante toda a minha vida e pelo
amor que sempre me fez sentir.
Ao meu irmão, pela amizade e pelos conselhos (gratuitos) que sempre
me ajudaram a decidir de forma mais sensata.
À Pipinha, por me apoiar, de forma incondicional, nos momentos de crise
e pelos momentos mágicos que passamos juntos. Continua assim…!!!
Ao Professor Júlio Garganta, pela forma e ginástica temporal que
arquitectou para orientar este trabalho. O meu muito obrigado.
Ao Professor André Seabra, pela forma como me recebeu e se
disponibilizou para me esclarecer.
Ao Professor Vítor Frade, por me ter ajudado a dar o “clique” para a
compreensão da grandeza do jogo de Futebol.
Ao Hélder e ao Tó, pela ajuda na distribuição dos questionários dentro
dos respectivos clubes.
A todos os que contribuíram para a recolha dos dados (treinadores,
directores e jogadores), assumindo extrema importância na realização deste
trabalho.
Ao Pedro, ao Xico e ao Queirós por serem a causa de muita coisa…
Aos “Zés” pela amizade que construímos nestes anos de faculdade e
que será eterna.
Ao Neri, pelas conversas de mister para mister!
Ao Filipe Peixoto, pela amizade e pelo exemplo de vida que tem sido.
À Grandiosa, Tuna Musicatta Contractile, pelos amigos que criei, pelos
ensinamentos transmitidos e pelas experiências de vida.
E por fim, a todos os que me ajudaram a ser o que sou…
João Cunha III
ÍÍNNDDIICCEE GGEERRAALL
Índice de Figuras .....................................................................................V
Índice de Quadros .................................................................................VII
Índice de Anexos .................................................................................... IX
Resumo ..................................................................................................XI
Abstract.................................................................................................XIII
Lista de Abreviaturas ............................................................................ XV
1. Introdução .......................................................................................... 1
2. Revisão da Literatura ........................................................................ 3
2.1 Formação Desportiva: que caminho para o rendimento?............... 3
2.2 Formação em Futebol: o Caminho… ............................................. 6
2.2.1 O Ensino do Jogo: Que referências?....................................... 9
2.3 Expertise: Ser Excelente! ............................................................. 11
2.3.1 Os Domínios da Expertise ..................................................... 14
2.3.2 Prática Deliberada ................................................................. 17
2.3.3 De Principiante a Perito: “a regra dos 10 anos” ..................... 19
2.4 O Desenvolvimento do Jogador de Futebol ................................. 21
3. Objectivos e Hipóteses ................................................................... 31
3.1 Objectivo Geral ............................................................................ 31
3.2 Objectivos Específicos ................................................................. 31
3.3 Hipóteses ..................................................................................... 32
4. Material e Métodos........................................................................... 35
4.1 Descrição e Caracterização da Amostra ...................................... 35
4.2 Instrumentos ................................................................................ 37
4.3 Procedimentos Estatísticos .......................................................... 37
5. Apresentação e Discussão dos Resultados.................................. 39
Objectivo 1: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores,
sobre a importância dos domínios da expertise na formação de um
jogador de excelência em Futebol; ........................................................ 39
Objectivo 1.1: Comparar a percepção, entre jogadores e
treinadores, sobre a importância das categorias (princípios ofensivos,
IV João Cunha
princípios defensivos, habilidades técnicas, conhecimento táctico,
tomada de decisão, motivação do jogador, comportamento do jogador
no grupo, objectivos a alcançar, agilidade e condição física), na
respectiva faixa etária, para a formação de jogadores de futebol de
excelência;............................................................................................. 40
Objectivo 2: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores,
sobre a importância da forma de desenvolvimento das categorias do
objectivo 1.1 para a formação de jogadores de futebol de excelência; . 52
Objectivo 3: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores,
sobre a importância dos factores (habilidade natural, prática, ambição,
cultura da jogo, capacidade psicológica, equipamentos, consistência,
sorte, condição física, entrar em competições e qualidade do treinador)
para a formação de jogadores de futebol de excelência; ...................... 53
Objectivo 4: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores,
sobre a importância do número médio de horas de prática diária
necessárias para a formação de jogadores de futebol de excelência; .. 56
Objectivo 5: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores,
sobre a importância do número médio de treinos semanais necessários
para a formação de jogadores de futebol de excelência; ...................... 57
Objectivo 6: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores,
sobre a idade com que um indivíduo deve iniciar sua prática do Futebol
para poder alcançar a excelência; ......................................................... 58
Objectivo 7: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores,
sobre número de anos necessários para poder alcançar a excelência em
Futebol;.................................................................................................. 59
6. Conclusões ...................................................................................... 61
7. Sugestões para Futuros Estudos................................................... 65
8. Bibliografia ....................................................................................... 67
Anexos................................................................................................... 75
Questionário Jogador ..................................................................... LXXVII
Questionário Treinador .................................................................... LXXXI
João Cunha V
ÍÍNNDDIICCEE DDEE FFIIGGUURRAASS
Figura 1 – Domínios da Expertise no Desporto................................................ 16
Figura 2 – Factores que influenciam o indivíduo no caminho para a Excelência
..........................................................................................................................26
Figura 3 – Distribuição da Amostra .................................................................. 35
Figura 4 – Nível de Importância atribuída aos Domínio das Expertise............. 39
Figura 5 – Nível de importância atribuída aos Princípios Ofensivos. ............... 41
Figura 6 – Nível de importância atribuída aos Princípios Defensivos............... 42
Figura 7 – Nível de importância atribuída às Habilidades Técnicas. ................ 44
Figura 8 – Nível de importância atribuída ao Conhecimento Táctico. .............. 45
Figura 9 – Nível de importância atribuída à Tomada de Decisão..................... 46
Figura 10 – Nível de importância atribuída à Motivação do Jogador................ 47
Figura 11 – Nível de importância atribuída ao Comportamento do Jogador no
Grupo. .............................................................................................................. 48
Figura 12 – Nível de importância atribuída aos Objectivos a Alcançar. ........... 49
Figura 13 – Nível de importância atribuída à Agilidade. ................................... 50
Figura 14 – Nível de importância atribuída à Agilidade. ................................... 51
Figura 15 – Nível de importância atribuída às diferentes formas de
desenvolvimento das categorias do objectivo 1.1. ........................................... 53
Figura 16 – Nível de importância atribuída aos diferentes factores relacionados
com o alcançar da excelência. ......................................................................... 55
Figura 17 – Nível de importância atribuída aos diferentes factores relacionados
com o alcançar da excelência. ......................................................................... 56
VI João Cunha
João Cunha VII
ÍÍNNDDIICCEE DDEE QQUUAADDRROOSS
Quadro 1 – Fases da Formação segundo Segui (1981) .................................... 4
Quadro 2 – Complexidade dos princípios de jogo durante o processo formação
......................................................................................................................... 23
Quadro 3 – As funções do treinador. (Mesquita, 2000).................................... 29
Quadro 4 – Relação dos Factores do Ataque e da Defesa (Queiroz, 1983) .... 30
Quadro 5 – Caracterização do grupo amostral “jogadores”. ............................ 36
Quadro 6 – Caracterização do grupo amostral “treinadores”. .......................... 36
Quadro 7 – Nível de importância atribuída aos Princípios Ofensivos............... 41
Quadro 8 – Nível de importância atribuída aos Princípios Defensivos............. 42
Quadro 9 – Nível de importância atribuída às Habilidades Técnicas. .............. 43
Quadro 10 – Nível de importância atribuída ao Conhecimento Táctico. .......... 44
Quadro 11 – Nível de importância atribuída à Tomada de Decisão ................. 46
Quadro 12 – Nível de importância atribuída à Motivação do Jogador.............. 47
Quadro 13 – Nível de importância atribuída ao Comportamento do Jogador no
Grupo. .............................................................................................................. 48
Quadro 14 – Nível de importância atribuída aos Objectivos a Alcançar........... 49
Quadro 15 – Nível de importância atribuída à Agilidade. ................................. 50
Quadro 16 – Nível de importância atribuída à Condição Física. ...................... 51
Quadro 17 – Nível de importância atribuída às diferentes formas de
desenvolvimento das categorias do objectivo 1.1. ........................................... 52
Quadro 18 – Nível de importância atribuída aos diferentes factores
relacionados com o alcançar da excelência. .................................................... 53
Quadro 19 – Número de horas de prática diária para alcançar a excelência. .. 57
Quadro 20 – Número de treinos semanais para alcançar a excelência. .......... 57
Quadro 21 – Local e Idade com que o indivíduo deve iniciar a sua prática. .... 58
Quadro 22 – Número de anos para alcançar a excelência. ............................. 59
VIII João Cunha
João Cunha IX
ÍÍNNDDIICCEE DDEE AANNEEXXOOSS
ANEXO 1 – Questionário para Jogadores…………………………. …………...LXX
ANEXO 2 – Questionário para Treinadores……………………………………LXXIV
X João Cunha
João Cunha XI
RREESSUUMMOO
A formação desportiva, mais concretamente na área do Futebol, tem
sido motivo de um interesse crescente por parte dos agentes que o
representam.
Neste sentido, e face à importância que se atribui ao treino, na
consecução da tarefa: formar para a excelência em Futebol, procuramos saber
junto dos jogadores aquilo que eles consideram ter tido maior importância, no
processo de treino a que foram sujeitos, para terem alcançado o nível de
excelência. Dos treinadores pretendemos aferir aquilo a que atribuem maior
importância, no processo de formação de um jogador, para que este se torne
de excelência.
A metodologia adoptada teve como base a utilização de questionários,
que foram distribuídos a jogadores da 1ª Liga Portuguesa (Bwin Liga), e a
treinadores dos diferentes escalões (escolas, infantis, iniciados, juvenis,
juniores e seniores) dos clubes com maior representatividade na região norte.
Com o cruzamento dos dados recolhidos concluiu-se que os jogadores
(51,6 %) atribuem maior importância aos factores relacionados com o domínio
psicológico, enquanto que os treinadores (87,1 %) atribuem maior importância
às questões de ordem táctica-cognitiva, na formação de um jogador de
excelência.
Ambos estão de acordo quanto à utilização de jogos reduzidos para
desenvolver os aspectos do jogo, bem como da utilização do terreno de jogo
como palco principal dos treinos.
A “ambição” foi considerado o factor mais importante, pelos jogadores,
no caminho até à excelência, enquanto que os treinadores colocaram a prática
(qualidade e quantidade) como o factor de maior importância para tal feito.
Por fim, com o cruzamento dos dados de ambos os grupos, concluiu-se
ser necessário uma média de 4 a 6 horas de prática diária, 5 a 6 vezes por
semana, distribuídas entre o clube e a “rua”, durante cerca de 10 anos, para
que um indivíduo ser torne num jogador de Excelência em Futebol.
PALAVRAS-CHAVE: FORMAÇÃO DESPORTIVA, FORMAÇÃO EM FUTEBOL, EXPERTISE,
EXCELÊNCIA, FACTORES DO TREINO.
XII João Cunha
João Cunha XIII
AABBSSTTRRAACCTT
Sport formation, more concretely in Soccer, has become the object of an
increasing interest by the agents that represent it.
In this sense, and due to the importance that is given to training in the
accomplishment of the task: to form for excellence in soccer, we tried to find out
among the players what they consider to have been the most important factor in
the training process that they were subject to, in order to have reached the level
of excellence. From coaches, we tried to discover which aspects they gave
more importance to in the process of formation of a player so that he achieves
excellence.
The methodology adopted was based on the use of questionnaires that
were handed out to players of the Portuguese First League (Bwin League) and
to coaches from different rankings (schools, infants, initiate, juvenile, juniors and
senior), training some of the most representative clubs of the north of Portugal.
With the crossing of the collected data, it can be concluded that players
(51,6%) give more importance to factors related with the psychological domain,
while coaches (87,1%) attribute more value to tactical-cognitive aspects in the
formation of a player of excellence.
However, both agree with the use of small games to develop the aspects
of the game, as well as with the use of the pitch as the main training stage.
“Ambition” was considered by the players the most important feature in
the road to excellence; while the coaches defend that the practice (quality and
quantity) is the most significant factor to achieve it.
Finally, with the crossing of the data from both groups, it can be
concluded that it’s necessary an average of 4 to 6 hours of daily practice, 5 to 6
times a week, distributed between the club and the "street", for about 10 years,
so that an individual becomes a player of excellence in football.
KEY WORDS: SPORT FORMATION, FORMATION IN SOCCER, EXPERTISE, EXCELLENCE,
TRAINING FACTORS
XIV João Cunha
João Cunha XV
LLIISSTTAA DDEE AABBRREEVVIIAATTUURRAASS
JDC Jogos Desportivos Colectivos.
Med. Medianamente.
XVI João Cunha
João Cunha 1
11.. IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
“Dos primeiros momentos nas ruas do bairro dos Pobres,
em Leça da Palmeira, até às vitórias em grandes palcos internacionais,
como Sevilha ou Gelsenkirchen, passando por horas de euforia e tristeza…”
Vítor Baía
Autobiografia, 2005
Ser jogador de futebol é, ainda hoje, o sonho de muitas crianças. Talvez
pelo reconhecimento social, pelos ordenados que se praticam, ou pela simples
paixão pelo jogo, mas o caminho que a guia à ribalta está muito perto daquele
que a pode condenar ao insucesso.
Neste sentido, a prática desportiva assume um papel de relevo na
formação do indivíduo. Como tal, a sua preparação desportiva deve respeitar
os diferentes níveis de prática, associados ao processo de formação (Mesquita,
2000). Também Wrisberg (2001) concorda no que diz respeito à existência de
diferentes níveis de evolução na prática do indivíduo. Numa primeira fase
(principiantes) ocorre a aquisição de uma ideia geral da tarefa, durante a qual
muitas estratégias são adoptadas, retidas, rejeitadas, modificadas ou
descartadas; os erros são frequentes e a consistência das respostas é baixa.
Posteriormente encontramos a fase de refinamento das habilidades
(intermédia). Aqui os movimentos são efectuados com maior consistência e
precisão, ocorrendo um aproveitamento mais eficaz e efectivo das informações
provenientes do meio ambiente. Num último patamar encontra-se o indivíduo
(experto) que executa os movimentos correctamente, sem um grande esforço
aparente e como que automaticamente.
Então, para que o último nível de desempenho seja alcançado é
necessário que o processo de formação do indivíduo possibilite a evolução do
mesmo dentro de cada um dos níveis de prática. Qual então o caminho para a
Excelência?
Sabendo, à partida, que o treino é o principal espaço de
desenvolvimento das capacidades e habilidades dos atletas, e onde os
treinadores desempenham um papel fulcral, carece perceber se as tarefas às
quais os indivíduos são sujeitos estão de acordo com os princípios que
induzem a excelência.
2 João Cunha
Com a revisão da literatura existente, procurar-se-á perceber quais as
premissas para a formação dos jovens futebolistas, dando especial atenção
aos domínios da expertise e aos factores de treino a esta associados (prática
deliberada e a “regra dos 10 anos”).
No sentido de identificar que factores assumem maior relevo, na
formação de um jogador de Excelência em Futebol, iremos proceder à
realização de questionários, direccionados para jogadores da super liga e para
treinadores, dos diferentes escalões, dos principais clubes da região norte do
país.
A apresentação e discussão dos resultados irão apresentar e comparar
as respostas dadas por jogadores e treinadores, cruzando esses dados com os
de outros estudos já realizados, e por fim, as conclusões onde iremos reflectir
sobre os objectivos colocados e as respectivas hipóteses a estes associadas,
tendo como base as opiniões recolhidas nos questionários.
Muitos estudos têm sido realizados a cerca da formação em futebol,
tendo quase sempre sido abordados temas como a modelação, a importância
da componente táctica do jogo, a importância da competição e dos agentes
desportivos ma formação dos jovens, o que são sem dúvida questões mais que
pertinentes. Agora que temas como a expertise começam, não a ser estudados,
mas a surgir como matérias de debate e de interesse para os discentes desta
faculdade, pensamos ser importante perceber, aos olhos deste conceito, se o
caminho que é traçado em Portugal para a formação em futebol, contempla as
preocupações que percebemos serem comuns a muitos dos expertos que têm
partilhado as suas experiências nos diversos estudos realizados até à data.
João Cunha 3
22.. RREEVVIISSÃÃOO DDAA LLIITTEERRAATTUURRAA
22..11 FFOORRMMAAÇÇÃÃOO DDEESSPPOORRTTIIVVAA:: QQUUEE CCAAMMIINNHHOO PPAARRAA OO RREENNDDIIMMEENNTTOO??
“Não esqueçamos a qualidade… Como fazer melhor, no mesmo tempo.
Sem aumentar o tempo de formação, sem roubar tempo à criança.
… treinando com melhores exercícios, treinando com melhor método.
Estimulando a criança a “treinar” por sua própria iniciativa. Sem tutelas.
Dando-lhe tempo para isso. Devolvendo-a “à rua” …”
(António Marques, 2000)
Ao pensarmos em formação desportiva e em integração no fenómeno
desportivo somos levados a pensar em desempenho e rendimento, pois ao
nível da alta competição, ou seja no mais alto patamar do desporto, é o
sucesso que encontramos como meta a alcançar. Fernandes (2004) afirma que,
actualmente a formação de jogadores no futebol, como em qualquer outra
modalidade, se tornou um aspecto indispensável para que no futuro possam
surgir atletas de rendimento superior. Segundo Pacheco (2001) a “escola” de
futebol pretende dar a formação adequada aos jovens futebolistas, para que
mais tarde possam vir a integrar as suas equipas seniores. No entanto, não
basta praticar desporto para se ter a garantia de que o processo de formação
desportiva promova o desenvolvimento das capacidades do indivíduo. É,
impreterivelmente, necessário que se conheça, de forma profunda, o processo
de formação desportiva, de modo a que se respeitem os diferentes níveis de
prática, cada qual com as suas características próprias (Mesquita, 2000).
A integração de um jovem na prática desportiva, desperta um conjunto
alargado de preocupações, não só porque o processo de desenvolvimento e
crescimento dos jovens assume especificidades metodológicas, mas também
porque à volta do jovem emergem factores de sociabilização de grande
importância para a sua integração no fenómeno desportivo (Marques et al.
2004).
Recorrendo ao dicionário da língua portuguesa (Porto Editora)
encontramos o conceito de formação descrito como sendo o acto ou efeito de
formar (dar forma a), sendo que forma significa figura, feitio, modelo.
4 João Cunha
Tal como defende Pereira (1996), a formação é a base do alto
rendimento e a este nível o treino surge como o epicentro de todo o processo.
É aqui que encontramos a verdadeira essência do processo de ensino-
aprendizagem, personificado na relação treinador/atleta e onde a partilha de
conhecimentos e informação é constante. Mesquita (2000) salienta a
necessidade de a formação preceder a especialização, para que a última
aconteça como consequência da existência de bases sólidas e consistentes,
adquiridas no período de formação. Este processo deve, para tal, possuir
objectivos clara e precisamente definidos, para cada uma das suas etapas, “as
quais se podem confinar a quatro momentos distintos de desenvolvimento do
desportista: preparação desportiva prévia, especialização inicial,
aperfeiçoamento profundo e longevidade desportiva (Matveiev, 1981 citado por
Mesquita, 2000). Garganta (1988) atenta para a necessidade de uma
fundamentação mais rigorosa, na hora de determinar tais períodos ou zonas de
idade, afirmando que “provavelmente, as taxionomias do faseamento serão
tantas quantos os seus autores; e as diferenças terminológicas, tantas quantos
os seus países de origem” (ver Quadro 1). Quadro 1 – Fases da Formação segundo Segui (1981)
22
21
20
2ª FASE
19
CULMINAÇÃO
18
QUALIDADE ELABORADA
1ª FASE
CONFIRMAÇÃO DE VALORES
17
16 2ª
FASE
15 EVOLUÇÃO
14
QUALIDADE NATURAL 1ª
FASE
FORMAÇÃO DE VALORES
13
12 2ª
FASE
11 INICIAÇÃO
10
QUANTIDADE 1ª
Fase
CAPTAÇÃO DE
VALORES
Lima (1988) diz-nos que a formação desportiva das crianças e jovens
tem a responsabilidade de se opor à simples reprodução do desporto adulto,
devendo caracterizar-se por um processo que contribua para a formação global
João Cunha 5
dos mesmos, através das actividades físicas e desportivas, que sejam
favoráveis ao desenvolvimento das capacidades e qualidades físicas, como
factor necessário à realização individual do ser humano. Também Pacheco
(2001) defende a mesma finalidade para a formação desportiva, reportando-se
à “criação de hábitos desportivos, à melhoria da saúde e à aquisição de um
conjunto de valores, como a responsabilidade, a solidariedade e a cooperação”,
para além de referir o desenvolvimento das capacidades específicas do futebol.
Uma outra referência pertencente a Bayer (1987) define-a como possuidora
dos meios, momentos e possibilidades que posteriormente irão permitir à
criança evoluir no âmbito desportivo. Segundo o mesmo autor, é crucial que o
educador proporcione aos praticantes os meios para que estejam motivados,
ao mesmo tempo que adquirem e desenvolvem qualidades.
No entanto este processo formativo de qualidade é também
gradualmente selectivo, e onde apenas os melhores conseguirão alcançar a
ribalta. Tal ideia tem suporte no facto de o desporto ser hoje uma sucessão de
momentos selectivos, desde o primeiro contacto da criança com a modalidade.
Estes são depois sujeitos à pressão selectiva, que se faz sentir retendo os
indivíduos que apresentam comportamentos satisfatórios, distinguindo-se dos
demais Sobral (1994).
Neste sentido, no processo inicial de formação desportiva, a
preocupação passa por proporcionar aos jovens o acesso a uma prática
desportiva regular, possibilitando uma selecção progressiva dos que revelam
talento, que perspective atingir o alto rendimento, sem que para isso esta seja
renunciada aos demais (Mesquita, 2000). Este processo pressupõe a
cooperação entre Família, Escola, Clube, Centro de Alto Rendimento, etc. É,
no entanto, necessário que os agentes envolvidos reconheçam a importância
de se transmitir um sentido correcto de carreira, a todos os jovens que se
envolvam a este nível de prática.
Em suma, a formação desportiva deve proporcionar um desenvolvimento
global e harmonioso do jovem praticante, tendo ao mesmo tempo a
preocupação de o dotar de habilidades facilitadoras do alcance do alto
rendimento desportivo.
6 João Cunha
22..22 FFOORRMMAAÇÇÃÃOO EEMM FFUUTTEEBBOOLL:: OO CCAAMMIINNHHOO……
“Não se trata apenas de treinar. É mais que isso:
é educar, é acompanhar o crescimento e maturação,
é sentir os problemas dos atletas, é participar, é viver
e acompanhar a escola, o namoro ou a discoteca.”
Leal & Quinta (2001)
“Divertirmo-nos é melhor que ganhar.”
Valdano (1997)
O Futebol é uma modalidade pertencente aos jogos desportivos
colectivos (JDC). Estes possuem uma elevada aleatoriedade, e no qual as
equipas em confronto disputam objectivos idênticos num mesmo espaço e
tempo, efectuando acções reversíveis de sinal contrário alicerçadas em
relações de oposição/cooperação (Garganta, 1997). Compreender esta
natureza aberta do jogo, regulada pelos constrangimentos de factores
exteriores como a posição dos colegas e adversários (Graça, 1995), é
fundamental para definir prioridades no ensino do futebol. É igualmente
importante perceber quais as exigências que o jogo coloca aos seus
praticantes, sendo o primeiro de natureza táctica, o que fazer, para que à
posteriori o problema seja solucionado, como fazer, seleccionando a resposta
motora mais adequada (Garganta & Pinto, 1998). Tem-se, portanto, que a
qualidade de jogo de uma equipa é resultado de uma “fenomenotécnica” (Frade,
2004), pois cada momento é diferente do outro, requerendo uma técnica
específica e singular que gere uma determinada fenomenologia, em que as
coisas se ajustam continuamente.
Deste modo, o treino e a formação de jovens jogadores, como processo
a longo prazo, devem visar a construção de uma memória dinâmica, onde
memória e affordance se relacionam. Os objectivos do treino passarão, então,
por fazer do atleta um ser pensante, que entenda o que tem de fazer nos
diferentes momentos de jogo. Popper (1991), citado por Garganta (2001),
afirma que, para que os nossos sentidos nos digam alguma coisa, temos que
João Cunha 7
possuir conhecimento prévio: para podermos ver uma "coisa", temos de saber
o que são "coisas". O treinador deve, assim, questionar os seus jogadores, ou
fazer os jogadores questionarem-se eles próprios, acerca dos porquês dos
seus comportamentos. Reparamos que, muitas vezes, mesmo já na alta
competição, os jogadores realizam bem as acções de jogo, mas não têm
consciência da importância desse comportamento ou da razão da necessidade
dessa acção. Se o jogador souber encontrar a verdadeira razão dos problemas
do jogo e se os souber analisar, poderá optar e adoptar, mais vezes, as
soluções mais acertadas.
Este jogo desportivo exige a correlação de três domínios, ou seja, uma
adequada leitura do jogo, uma tomada de decisão assente na análise realizada
previamente e, por fim, a execução motora do “acto táctico” (Frederich Mahlo
1969). Araújo (2005: 24) apresenta um conceito mais abrangente, “acção
táctica”, que caracteriza como o “resultado da exploração das possibilidades da
acção, as quais são constrangidas pelo tempo disponível, perícia do
executante, estado emocional, fadiga, etc.”. Também Graça (1995) dá conta do
seu carácter imprevisível, em que oportunidade e modo de execução dessas
habilidades/ acções dependem do momento do jogo, que ditam o tempo e o
espaço para a sua realização. Com os anos de prática o desportista vai
filtrando/ seleccionando informação relevante, e sempre que esta o conduz ao
sucesso aumenta também a probabilidade de este a usar novamente (Araújo,
2005). Ainda o mesmo autor refere que na base da acção táctica se encontra a
afinação perceptiva, pois esta explica a intuição, que é considerada a
responsável pela tomada de decisão do executante.
Estando a técnica confinada a servir a decisão táctica do jogador, o
ensino e o treino do futebol não devem, portanto, restringir-se aos aspectos
biomecânicos, isto é, ao gesto, devendo atender sobretudo às imposições da
adequação às situações de jogo (Garganta & Pinto, 1998). A formação táctica
assume um papel central na formação dos jogadores, devido à sua capacidade
de aglutinar e coordenar os diferentes factores do rendimento (Pinto, 1996). “O
como e o quando de uma acção tem de ser sempre vista em relação ao jogo”
Verheijen (1998). Também Graça (1995), defende a abordagem das técnicas
de modo contextualizado, mas, citando um outro autor (Thorpe, 1990), alerta
para a necessidade do indivíduo possuir um conjunto de habilidades, ainda que
8 João Cunha
não especificamente direccionadas, que lhe permitiram encarar o jogo, de
forma rudimentar, e actualizar nele o seu reportório motor.
Queiroz (1986) aponta a equipa, e os seus valores, como o centro do
processo de formação, sendo a partir desta que se desenvolvem as acções
individuais, ao que Ramos (2003) acrescenta que o processo de treino deve
contemplar estímulos, em número e qualidade, que permitam aos jogadores
elevar as suas capacidades, numa realidade próxima da competição.
Ao falar em treino pensamos em ensino, e daí que para a abordagem
dos JDC se pense num modelo para o seu ensino. Mertens & Musch (1990),
citados por Graça (1995), desenvolveram um modelo com essa finalidade,
tendo como farol a ideia de jogo e onde as situações descontextualizadas,
visando a exercitação da técnica, surgem na dependência e posteriormente ao
enunciado dos problemas de jogo. O modelo assenta em três ideias chave:
simplificação do jogo formal em formas modificadas de jogo, a relação entre
formas de exercitação e formas de jogo e o modo de integrar formas de
exercitação e formas de jogo no decurso da instrução. Esta forma de jogo
deverá manter a identidade do jogo, contendo uma concepção idêntica à do
jogo formal. Nesse sentido, deverá conter os elementos estruturais essenciais
idênticos: finalização/ impedir finalização, criar situações de finalização/ impedir
a criação dessas situações e construir o ataque/ dificultar a construção do
mesmo; ter presente relações de cooperação/ oposição; estabelecer uma
dinâmica que permita a alternância natural entre as fases de ataque e defesa, e
não condicionar os alunos a situações de resposta fechada.
Nos primeiros tempos de prática, os indivíduos desenvolviam as suas
capacidades e habilidades fruto dos jogos que realizavam em condições
aleatórias. “A aprendizagem do futebol era feita de uma forma não organizada,
na rua ou em terrenos baldios, sem a presença de qualquer treinador, através
de pequenos jogos de 3X3, 4X4, etc., ou jogo formal (Método Global)
consoante o número de participantes existentes, em vários espaços com
dimensões reduzidas” (Pacheco, 2001). Na mesma linha de pensamento surge
o director técnico nacional da Federação Francesa de Futebol, afirmando ser
na rua e em terrenos abandonados que grandes jogadores adquiriram as bases
funcionais específicas do futebol (Dusseau, 2002).
Ainda segundo Pacheco (2001) numa segunda fase, os clubes
João Cunha 9
começaram a interessar-se pela formação dos jovens jogadores, levando a que
a aprendizagem do futebol passasse a ser efectuada nos campos de futebol,
sob a supervisão de um treinador, recorrendo ao método baseado na técnica
individual (Método Analítico).
Já Ramos (2003) refere que o que se pretende é que as metodologias
de treino se baseiem o mais possível nas necessidades do futebolista e
possam ter como referência aquilo que é mais específico na modalidade, o
JOGO. Queiroz (1983), Araújo (1995) e Garganta & Pinto (1998) concordam
dizendo que se aprende a jogar com o próprio jogo. Este deve ser entendido
como um todo, devendo ser treinado como tal. Neste sentido Garganta (1997)
refere que as técnicas devem ser ensinadas a partir do jogo, em oposição à
ideia de se ensinar e treinar o jogo a partir das mesmas. É neste contexto que
surge o conceito de “Periodização Táctica”, que “procura entender o futebol
como um “todo”” (Carvalhal, 2001: 32), e que entrega à componente táctica o
papel de coordenação dos processos de treino, operacionalizando os princípios
que compõem o Modelo de Jogo Adoptado. As restantes componentes surgem
em dependência da táctica, sem que seja necessário separá-las para as
exponenciar (Frade, 1985; Silva, 1989; Guilherme Oliveira, 1991; Vieira, 1993;
Faria, 1999; Carvalhal, 2001).
22..22..11 OO EENNSSIINNOO DDOO JJOOGGOO:: QQUUEE RREEFFEERRÊÊNNCCIIAASS??
No ensino do futebol há que ter em atenção certos referenciais.
Se por um lado existem características estruturais comuns aos
diferentes JDC, por outro, podemos encontrar diferenças funcionais, que nos
permitem retirar conclusões importantes para orientar o processo de
ensino/treino (Garganta & Pinto, 1995). Deve-se, portanto, atender à
especificidade do jogo (Garganta & Pinto, 1995). Neste sentido, estes autores
constatam que, no Futebol, existem diferenças significativas no plano funcional,
relativamente a outros jogos desportivos colectivos, que permitem retirar
ilações importantes para a orientação do processo de treino/ensino do jogo,
destacando:
• Dimensão do terreno de jogo e o número de jogadores;
• Duração do jogo;
10 João Cunha
• Controlo da bola;
• Frequência de concretizações;
• Colocação dos alvos;
• Terreno de jogo;
• Princípios de jogo.
Mas, acima de tudo, e sem chegarmos a focar as questões do
regulamento do jogo, convém falar do que realmente se apresenta como farol
de todo este processo: o JOGO. Que referência/ ideia está subjacente ao que
vamos transmitir?
As nossas concepções e princípios de jogo devem direccionar todos os
exercícios de treino, pelo que é importante a definição prévia de como
pretendemos jogar, procurarmos através da sua operacionalização nos treinos,
dar corpo àquilo que idealizamos.
Neste sentido, Guilherme Oliveira (2003), defende que para se chegar
ao jogar que se pretende, é necessário que se trabalhe nesse sentido. O autor
refere, ainda, a necessidade do Departamento de Formação do clube possuir
um modelo de jogo que considere adequado à evolução dos jogadores e de
forma a potenciar o seu desempenho.
Frade (1995, in Martinho, 2000) salienta que a “especificidade no
Futebol, está ligada ao Modelo de jogo preconizado, sendo este o referencial
que irá controlar todas as acções, daí que seja necessário instruir os jogadores
no sentido de os dotar de uma autonomia participativa no processo.
Para Paul (2003, in Lemos, 2005), o que se pretende é que sejamos
capazes de formar jogadores com uma cultura e capacidade para se
adaptarem a qualquer modelo ou sistema, ou seja, como defende Bayer (1994),
um jogador inteligente, com capacidade de decisão, recorrendo aos seus
conhecimentos e suas vivências.
Para tal, é necessário que, desde os primeiros passos, os jogadores
assimilem um conjunto de princípios. Estes estão intimamente ligados ao “farol”
de todo o jogo da equipa, ou seja, o modelo de jogo (Costa, 2001). Então, para
poder participar e integrar qualquer organização, o jogador deve possuir uma
cultura táctica sólida e alargada, independentemente da cultura organizacional,
que lhe permita ultrapassar, de modo eficaz, os problemas gerados pela
João Cunha 11
natureza aleatória do jogo (Pinto, 1996).
Se constatamos que no Futebol, os factores de fracasso estão mais
relacionados com a ineficiência das habilidades técnicas e com os problemas
relacionados com a leitura do jogo que com os factores físicos, logo, o
condicionamento físico não deve ter lugar de destaque na formação desportiva
de crianças e jovens praticantes de Futebol.
Neste sentido, e enquanto realidade pedagógica, o treino de Futebol tem
que obedecer a três princípios fundamentais, que garantam a aprendizagem e
a progressão:
• Intensificação – o aumento da intensidade global conduz
necessariamente a treinos mais curtos, de forma que a concentração se
mantenha sempre em níveis elevados; de igual modo, o Futebol requer
constantes variações de ritmo de jogo, o que impõe a imperial condição que os
jogadores tenham essa capacidade de intencionalmente provocarem essas
mesmas variações de ritmo do jogo;
• Universalização – nenhuma equipa é igual à outra, logo não podemos
treinar da mesma forma com grupos diferentes;
• Compreensão – a relação entre aquilo que se faz (os exercícios de
treino) e aquilo que se adquire (aprendizagem).
22..33 EEXXPPEERRTTIISSEE:: SSEERR EEXXCCEELLEENNTTEE!!
“O que realmente nos faz melhorar, é o desejo
imperioso de ser excelentes no que fazemos”
Miriam Blasco
(campeã do mundo e olímpica de Judo, em 1991 e 1992)
Se trabalhares muito, alcançarás a excelência,
e por seres excelente realizarás grandes feitos
e conquistarás grandes troféus. A não ser que não aconteça!
Porque, por vezes, o adversário é melhor ou tem mais sorte.
Em qualquer dos casos, deves ficar satisfeito com a tua excelência
e a dignidade do teu esforço.
Boswell (1992, citado por Starkes et al. 1996)
A expertise tem sido alvo de estudo, e o interesse por esta área tem
12 João Cunha
vindo a crescer no seio do desporto (Housner & French, 1994; Starkes & Allard,
1993). Desde que Francis Galton escreveu a frase “nature & nurture”, em 1874,
vários cientistas têm utilizado esta expressão, procurando descrever os
factores que levam o Homem a alcançar elevados níveis de performance
(Baker et al., 2003). Outros têm centrado o seu trabalho ao nível da relação
cognitiva das habilidades no desporto com a tomada de decisão e formas de
conhecimento (Helsen & Pauwels, 1993; McPherson & Thomas, 1989; Allard &
Starkes, 1991). Hereditariedade e meio têm partilhado as “culpas” no alcance
da expertise, chegando esta relação a ser caracterizada pela metáfora do balde,
onde os genes são responsáveis pela dimensão deste, enquanto que o meio
fica encarregue do conteúdo (Lewontin, 2000). Como é óbvio, não é fácil aferir
a capacidade cognitiva de um perito durante a execução das diferentes
habilidades, daí que, para que se consiga estabelecer um padrão de
comportamento, se estabeleça um balanço entre o seu desempenho em
competição e modo como este se prepara para a mesma (Starkes et al., 1996).
Muitos autores procuraram delinear características que definam um
experto. Simon & Chase (1973) foram os primeiros a observar que seriam
necessários 10 anos de preparação e treino, para que fosse possível praticar
xadrez a um nível internacional. Também Bloom (1985), ao estudar expertos na
área da música, desporto e ciência confirmou ser necessária uma década de
prática, para atingir a excelência em qualquer um desses campos. O mesmo
autor e mais recentemente Ericsson & Crutcher (1990, citado por Starkes, 1993)
mostraram que um indivíduo que se encontre a competir a nível internacional,
iniciou a sua prática nessa modalidade ainda antes dos 6 anos, ocupando
grande parte da sua juventude a treinar.
Como já foi referido anteriormente, uma performance consistente é
fundamental para que um indivíduo seja considerado perito (Starkes, 1993).
Nem todos os que conseguem concluir um buraco, em apenas uma tacada,
são considerados expertos em golfe.
Quando observamos os indivíduos no campo, segundo Starkes (1993)
conseguimos retirar mais informação, pois estes são sujeitos a muito mais
situações de prática, que se comparado com a observação em laboratório. As
habilidades que são medidas pela observação do desempenho motor
abrangem todas as áreas, desde discursos, a tocar piano, ao ballet, desporto e
João Cunha 13
cirurgias. Para poder distinguir tais habilidades, Poulton (1957, citado por
Starkes, 1993) dividiu-as em duas categorias: abertas e fechadas. As
habilidades abertas (futebol, boxe) caracterizam-se pelas movimentações e
dinâmica, onde existe oposição à execução das habilidades, e em que o modo
como se executa é indicador do movimento padrão. Já as habilidades fechadas
(ginástica, xadrez), caracterizam-se pela sua consistência e por se
desenrolarem num espaço imutável, não existindo oposição directa e onde o
padrão motor é representativo da habilidade em questão.
As habilidades são vistas como características normalmente estáveis,
apresentando apenas ligeiras mudanças com o tempo e prática. Wrisberg
(2001) assume que os indivíduos que possuam um elevado nível de execução
nas habilidades que importam para o desempenho de uma dada tarefa, irão
apresentar um grau superior de performance, ou à luz da presente questão,
demonstrar um nível superior de destreza.
Mas afinal o que é um Perito?
Segundo Starkes (1993), um perito motor é alguém muito bom no
desempenho motor de uma “tarefa”. Para Ericsson & Smith (1991) a expertise
caracteriza-se por estabilidade e mensurabilidade da performance durante
longos períodos de tempo. O Dicionário de Webster define perito como alguém
que adquiriu uma habilidade especial ou conhecimento num domínio particular,
através do treino profissional e de experiência prática.
Mas quão bom terá que ser? E o que é ser bom? E como terá que ser
desempenhada a tarefa?... Estas são algumas das questões que se colocam,
na tentativa de definir e identificar um perito motor.
Alguns autores acreditam que cada um de nós possui algum nível de
expertise, num determinado domínio (Sloboda, 1991). Se seguirmos esta
noção de expertise teremos que considerar experto, alguém com um
desempenho acima da norma da sociedade. Por exemplo, hoje em dia não
pensamos num condutor como um perito, enquanto que o mesmo não se
verifica para alguém que apresenta uma grande habilidade equestre. Já à cem
anos atrás, montar a cavalo era considerado perfeitamente normal, não sendo
motivo para se pensar em excelência. Logo que uma habilidade passa a fazer
parte do repertório normal da sociedade deixa de ser vista como matéria de
estudo (Starkes, 1993).
14 João Cunha
De acordo com Starkes (1993) a exclusividade está associada à
expertise. A mesma autora, citando Salthouse (1991), refere que apenas
aqueles que se encontram nos percentis mais elevados, da distribuição normal,
poderão ser chamados de expertos. Uma vez mais, pensando na distribuição
normal para uma capacidade, estes seriam indivíduos com uma performance 2
a 3 desvios padrão acima da média. O seu desempenho é impressionante, pois
ultrapassaram o conhecimento normal numa determinada área, parecendo que
têm todo o tempo do mundo e pensando sempre duas jogadas à frente dos
adversários.
22..33..11 OOSS DDOOMMÍÍNNIIOOSS DDAA EEXXPPEERRTTIISSEE
Para alcançar o estatuto de perito, Janelle & Hillman (2003), definem
como necessário alcançar a excelência nos domínios fisiológico, técnico,
cognitivo e emocional (ver figura 1). Ainda segundo os mesmos autores, a
expertise ao nível fisiológico é exclusiva do desporto, não apresentando
superioridade, relativamente aos restantes domínios, em áreas como o xadrez,
a música, a electrónica, matemática e programação de computadores. O seu
cariz amplo e variável espelham o que no desporto podemos encontrar.
Podemos dar o exemplo da expertise em velocistas e em corredores de fundo,
que embora apresentem habilidades semelhantes requerem desempenhos
distintos, aos expertos dessas áreas. Pensando nas questões fisiológicas de
desenvolvimento e adaptação musculares, percebemos que embora as fibras
possam evoluir de acordo com o tipo de treino (e.g., Wilmore & Costill, 1999,
citados por Janelle & Hillman, 2003) também chegamos à conclusão que os
limites desta adaptação são impostos por factores genéticos (e.g., Bouchard et
al., 1992, 1997; Klissouras, 1997; Swallow et al., 1998, citados por Janelle &
Hillman, 2003).
Se nos reportarmos ao desenvolvimento da expertise técnica,
encontramos diversos registos referindo que o grau de coordenação sensorio-
motor está na base de movimentos padrão coordenados, refinados e eficientes,
que emergem no seguimento dos anos de treino extensivo e sistemático, ou
prática deliberada (Helsen, Starkes & Hodges, 1998; Starkes, 1993, 2000;
Starkes, Deakin, Allard, Hodges, &Hayes, 1996, Janelle & Hillman, 2003). Ao
João Cunha 15
analisarem o trabalho de outros autores Janelle & Hillman (2003) concluíram
que em desportos como o basebol, o voleibol, o futebol e o skate, ao contrário
dos indivíduos não expertos, os expertos demonstravam vantagens
“específicas significativas no reconhecimento, recordação e retenção de
modelos, sendo esta capacidade derivada da repetição sistemática de tarefas,
e não resultante apenas da aprendizagem pela observação de um
acontecimento específico.
Já a expertise cognitiva pode subdividir-se em conhecimento táctico/
estratégico e percepção/ tomada de decisão. A primeira apresenta-se como um
requisito para a performance do perito, em qualquer domínio (Janelle & Hillman,
2003). Envolve não apenas decidir sobre qual a estratégia mais adequada,
numa determinada situação, como também qual a estratégia capaz de ser
executada, tendo em conta os constrangimentos dos movimentos requeridos
(e.g., McPherson, 1994; Starkes, 1993). Janelle & Hillman (2003) concluíram
que a existência de uma extensa base de conhecimento declarativo e
processual, possibilita aos jogadores a selecção de respostas mais apropriadas
constituindo um repertório de factos e procedimentos, de onde são
extrapoladas estratégias tácticas, que potenciam a eficácia da tomada de
decisão (Janelle & Hillman, 2003).
Para Guilherme Oliveira (2004) são as equipas e os jogadores, através
das suas ideias colectivas e individuais, do entendimento que fazem do jogo, a
influenciar a melhoria qualitativa da equipa e dos jogadores.
Quanto à tomada de decisão, independentemente de se tratar de um
desporto individual ou colectivo, pensa-se que o experto é capaz de retirar do
meio ambiente as informações relevantes, deixando de lado o que é acessório.
A velocidade e precisão das decisões tomadas assentam na forma como a
informação é percebida e tratada, resultando daí uma resposta efectiva ao
estímulo (Janelle & Hiiman, 2003). Vários autores (Rippol, 1987; Temprado,
1989; Tavares, 1993; Alves & Araújo, 1996 citados por Vieira, 2003)
consideram a tomada de decisão como uma das mais importantes capacidades
dos jogadores e, em muitos casos, a responsável pelas diferenças de
rendimento entre estes. Recorrendo novamente ao “acto táctico” (Frederich
Mahlo, 1969) que relaciona leitura, decisão e execução motora, vem que a
parte executora está sempre relacionada/dependente do respectivo raciocínio,
16 João Cunha
que em modalidades abertas, como o futebol, é determinante para o sucesso
da intervenção e a optimização do rendimento do jogador.
Por sua vez, o domínio da expertise emocional é dividido em regulação
emocional e capacidade psicológica. Regulação emocional refere-se à
capacidade que o indivíduo possui para controlar e dominar as suas emoções,
o que contribui em muito para a variação na performance do atleta.
A capacidade psicológica é um domínio de extrema importância na
performance de um perito. Nesta área encontramos temas como a motivação,
a definição de objectivos a alcançar, a construção da confiança, a adopção de
uma atitude positiva, visualização e treino mental, “treinabilidade” e relações
interpessoais (Janelle & Hillman, 2003).
Os mesmos autores referem que um nível de expertise inferior, num
destes domínios, impedirá o indivíduo de se apresentar ao mais alto nível. Por
outro lado, a expertise num dos domínios pode igualmente ser um meio
facilitador ou impeditivo do alcance da expertise noutros. Por exemplo, a
motivação pode levar a que o indivíduo se supere em termos fisiológicos. A
Figura 1 representa a natureza das interacções nos domínios da expertise.
As habilidades psicológicas influenciam a performance do atleta nos
diferentes componentes de cada domínio, onde a competência na interacção
desses domínios irá ditar o nível de expertise desportiva. O nível relativo de
expertise dos atletas sugere futuras alterações nas habilidades psicológicas e
na preparação para a participação desportiva, bem como a melhoria em cada
Emocional Cognitivo/
Perceptual
Performance do Perito
Habilidades Psicológicas
Físico Técnico Cognitivo/ Táctico
Figura 1 – Os domínios da expertise no desporto. (Janelle & Hillman, 2003)
João Cunha 17
um dos domínios da expertise. Embora estas considerações possam parecer
obvias aos olhos dos desportistas, a verdade é que a investigações levadas a
cabo têm negligenciado a relação entre os diferentes domínios, favorecendo a
investigação independente das componentes determinantes da expertise. Não
podendo afirmar que exista uma teoria viável e inclusiva, para avançar com a
investigação da expertise, os cientistas têm levado a cabo um tremendo
esforço, no sentido de providenciar uma concepção para o seu estudo,
procurando o desenvolvimento desta teoria e o avanço da ciência nesta área
tão intrigante (Janelle & Hillman, 2003).
22..33..22 PPRRÁÁTTIICCAA DDEELLIIBBEERRAADDAA
“…a prática perfeita traz a perfeição…”
Janelle & Hillman (2003)
Derivada do ponto de vista da expertise, a fim de determinar o que
diferencia a performance de expertos e não expertos, nos seus respectivos
domínios de excelência, surge a noção que talento inato, predisposições
hereditárias e limitações genéticas e níveis elevados de habilidades, não
podem ser alcançados sem largos anos dedicados à prática.
Para Starkes (1993) um indivíduo com largos anos de experiência, com
muitas horas de prática, e com resultados consistentes e ao mais alto nível,
pode ser considerado um perito, enquanto que uma criança, que só agora se
iniciou numa determinada prática, embora possa pertencer à selecção nacional,
será considerada um jovem talento. Uma outra controvérsia, relacionada com o
estudo da expertise, centra-se no facto de sabermos quanto do desempenho é
explicado pelos anos de treino, comparativamente com a habilidade natural. É
verdade que com a prática o indivíduo melhora o seu desempenho, mas como
explicar o facto de alguns que acabados de chegar conseguem obter
prestações fabulosas. De um modo geral, e segundo Ericsson et al. (1993),
prática deliberada pode caracterizar-se por uma actividade com grande
relevância para a performance, que exige esforço, e que não se apresenta
como divertida, pressupondo que o alcance da expertise é orientado pela
participação na prática deliberada. Ainda segundo a teoria de Ericsson et al.
18 João Cunha
(1993), essa prática leva o indivíduo a refinar continuamente o seu
desempenho, servindo-se dos resultados obtidos e dos feedbacks que recebe.
Segundo os mesmos autores, esta prática exige mais esforço e concentração,
se comparada com a prática causal, daí que o planeamento do treino deva
contemplar os devidos tempos de recuperação, favorecendo a aquisição de
índices de desempenho superiores. No entanto, os estudos realizados por
Starkes et al. (1996) não produziram resultados condizentes com essa
definição, uma vez que, quer para lutadores e patinadores, são encontrados os
valores mais elevados de entusiasmo, em actividades também elas com os
valores mais altos de relevância e esforço/ concentração. Já anteriormente, em
estudos realizados nas áreas da luta (Hodges & Starkes, 1996), Hóquei e
Futebol (Helsen, Starkes & Hodges, 1998) essa teoria havia sido posta em
causa, ao serem alcançados resultados onde actividades consideradas
importantes, para o treino do indivíduo, eram consideradas, igualmente,
agradáveis. Esta descoberta foi contraposta por Ericsson, Krampe & Tesch-
Romer (1993), dizendo que seria a vertente social do desporto a trazer
entusiasmo à sua prática.
A questão que se levanta é a de definir quais as actividades que
representam prática deliberada. Enquanto que alguns autores se centraram no
número de horas de prática individual (Ericsson, Krampe & Tesch-Romer,
1993), outros (Starkes et al. 1996) optaram pelo número de horas de prática
com outros indivíduos, para aferir qual o tipo de trabalho que leva o indivíduo a
alcançar a expertise, em diferentes modalidades desportivas. No entanto, se
ignorarmos este problema, percebemos que o número de horas de prática
semanal, em prática deliberada, correspondeu a valores entre 20 e 30 horas,
para violinistas, pianistas, lutadores e patinadores, valores estes para
indivíduos com 10 a 15 anos de carreira.
De acordo com Ericsson, Krampe & Tesch-Romer (1993), a prática deliberada pressupõe 1) a prática de uma tarefa bem definida e que seja
desafiante para o indivíduo; 2) a presença de um feedback relevante; 3) a
oportunidade para repetir e posterior correcção do erro.
Outros autores acrescentam, que “independentemente das habilidades
individuais, são necessários pelo menos 10 anos de prática intensiva para
adquirir as habilidades e a experiência exigidas para se começar a ser um
João Cunha 19
experto dentro de qualquer contexto” (Ericsson, Krampe & Tesch-Romer, 1996;
Hodges & Starkes, 1996; Charness, Krampe & Mayr, 1996; Helsen & Starkes,
1999, citados por Costa, 2005).
Embora a relevância, atribuída às diferentes actividades envolvidas no
processo de treino do indivíduo, seja variável, não podemos centrar-nos
apenas nas referentes à prática deliberada (Starkes et al, 1996). No estudo
realizado por Ericsson et al. (1993), os estudantes de violino com menores
capacidades dedicaram mais horas em actividades relacionadas com musica
em geral, do que propriamente a tocar violino. De igual modo, Starkes et al.
(1996), referem o facto de um lutador ou patinador, que claudique em termos
cardiovasculares, não ser “salvo” pela melhor técnica do mundo. Com tantas
similaridades e diferenças entre processos de treino, os autores levantam a
seguinte questão: Será a prática deliberada apenas uma peça do puzzle que
tentamos completar, no sentido de perceber a performance de um perito? O
aspecto fulcral a reter, baseia-se no facto de a prática deliberada não ser
condição suficiente para garantir o sucesso. Existem outros factores tais como
o carácter, a sorte, o envolvimento e as lesões, que influenciam
inevitavelmente os resultados competitivos (Starkes et al. 1996). Também
outros autores referem a necessidade de se avançar com a investigação,
passando da questão: quanta prática, para as questões o quê e como (Davids,
2000; Durand-Bush & Salmela, 2001; Singer & Janelle, 1999; Starkes, 1993;
2001, citados por Janelle & Hillman 2003).
22..33..33 DDEE PPRRIINNCCIIPPIIAANNTTEE AA PPEERRIITTOO:: ““AA RREEGGRRAA DDOOSS 1100 AANNOOSS””
Se pensarem nos génios motores como uma pirâmide,
tendo na sua base os mais simples componentes da coordenação,
e no topo a perfeição, no que respeita a esses movimentos,
então teríamos o que separa o génio dos meramente muito bons.
Malcom Gladwell (1999, citado por Wrisberg, 2001)
Todos os anos, milhões de crianças participam em programas
desportivos, em várias modalidades. Estes indivíduos, que integram o desporto
juvenil, são normalmente considerados novatos, uma vez que possuem
limitações ao nível dos conhecimentos e habilidades específicas de uma dada
20 João Cunha
modalidade. À medida que estes vão maturando e aprendendo as estratégias
cognitivas, habilidades e conhecimentos do desporto, a sua performance em
situação de jogo vai melhorando (French & Thomas, 1987; McPherson &
Thomas, 1989). Não é por isso de surpreender que sejam exigidos elevados
nívei de prática para que se alcance a Excelência (Baker et. al., 2003).
Os vários estudos já referidos apontam para uma relação entre
treino/prática e a aquisição de habilidades. Recuando no tempo, encontramos
determinadas teorias, que definem a progressão de principiante a Experto,
onde se inclui a “regra dos 10 anos” (Simon & Chase, 1973). Estes autores
estipularam que um compromisso de 10 anos, com elevados níveis de treino, é
o mínimo requerido para se alcançar o nível de Experto. Eles constataram que
a vantagem entre Experto e principiante, em xadrez, se encontrava não ao
nível da capacidade de memória, mas na capacidade para realizar jogadas
com maior significado. Também De Groot (1996, citado por Guilherme Oliveira,
2004) compara o desempenho entre Expertos e principiantes, verificando que
as diferenças entre ambos se encontravam na capacidade de escolher o
melhor caminho para a solução, sem considerar todos os outros caminhos
possíveis.
Chi, Feltovich & Glaser (1981, citados por Anzai, 1991) demonstraram
que expertos e principiantes diferem na categorização dos problemas de física.
Enquanto que os expertos são capazes de interpretar os diagramas
apresentados, associando-os aos princípios da física, os novatos limitam-se a
“ler” directamente de objectos concretos apresentados em diagramas.
No entanto existem também estudos que não revelam qualquer
diferença estatisticamente significativa entre expertos e não expertos. Starkes
(1987) estudou jogadores de Hóquei em Campo: de elite, intermédios e não
jogadores, para a categoria detecção da bola, não encontrando diferenças
entre grupos.
Helsen & Bard (1989, citados por Starkes et al., 1993) compararam a
selecção de resposta, por parte de jogadores de Futebol, principiantes e
Expertos, enquanto observavam algumas sequências de jogadas. Foi-lhes
solicitado que indicassem qual seria a decisão tomada pelos jogadores (chutar
para golo, fintar o adversário ou passar a um colega desmarcado), presentes
no filme. Verificou-se uma maior rapidez e concordância com as acções
João Cunha 21
observadas, nas respostas dos Jogadores expertos, bem como o facto de este
se focarem, principalmente, nos espaços vazios e no jogador desmarcar em
linha mais recuada.
Singer & Janelle (1999) enumeraram, posteriormente, as características
que distinguem os Expertos dos outros:
1. Possuem maior conhecimento específico da tarefa;
2. São capazes de interpretar informações, com maior significado;
3. Armazenam e utilizam a informação de modo mais efectivo;
4. Utilizam melhor as probabilidades;
5. Tomam decisões com maior rapidez e mais apropriadas.
Não basta ao indivíduo ter experiência, é necessário que os seus
resultados sejam consistentes para que seja considerado Experto. A falta de
habilidade ou uma má condução do processo de treino podem justificar o facto
de, embora sendo experiente, não se alcançar a expertise. Ainda no mesmo
âmbito, podemos dizer que conhecendo os desenvolvimentos que se
processam desde o novato ao Experto, nos iria ajudar a compreender
“plateaus” de aprendizagem, mudanças de motivação, o papel dos mentores, o
desempenho competitivo, etc.
22..44 OO DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO DDOO JJOOGGAADDOORR DDEE FFUUTTEEBBOOLL
Já vimos anteriormente que o treino tem como propósito a aquisição e
melhoria das capacidades e habilidades do indivíduo.
No caso do Futebol, como JDC que é, o treino visa optimizar as relações
entre estímulo e resposta, tendo presente a aleatoriedade característica do
jogo, preparando o atleta para analisar, decidir e executar, de forma adequada
e eficaz.
No entanto, não se pode esquecer que as decisões têm como base
princípios, princípios estes que advêm da “ideia de jogo” do treinador. Para
concretizar tal tarefa, o treino assume um papel crucial, sendo este processo
de ensino-aprendizagem (prática deliberada) que levará o indivíduo à
excelência (Ericsson et al., 1993).
Na literatura consultada, não foi possível encontrar referências aos
factores do treino, por nós designados como subcategorias dos domínios da
22 João Cunha
expertise. Os estudos na área do Futebol (Helsen, Hodges, Van Winckel &
Starkes, 2000; Williams, 2000; Reilly et al., 2004; Ward, Hodges, Williams &
Starkes, 2004; Williams and Hodges, 2005), têm recaído sobre as teorias da
prática deliberada (Ericsson et al., 1993) e “regra dos 10 anos” (Simon & Chase,
1973), fazendo alusão à prática associada à instrução, como sendo o caminho
que conduz à excelência. Também aqui se encontram vozes do lado da
hereditariedade ou meio envolvente, concluindo-se que o desenvolvimento da
excelência resulta da combinação dos factores hereditários com os factores do
meio envolvente, tais como a influência dos pais e treinadores, e o
comprometimento e motivação para a prática. No entanto, pudemos constatar
que existem diferenças no papel que as ciências desempenham no Futebol,
evidenciadas pela menor representatividade das ciências da psicologia e
sociologia, se comparadas com a fisiologia (Williams & Hodges, 2005). Os
mesmos autores, apresentam o facto de ser mais fácil e concreto identificar
alterações físicas do que comportamentais, como resultados do treino, para
justificar as diferenças encontradas.
Vários factores são enunciados na hora de definir o caminho para a
excelência em Futebol, tais como o número de horas de treino por semana, por
ano e no total da formação do indivíduo, até alcançar a Primeira Liga (Ward,
Hodges, Williams & Starkes, 2004). Mas, a nossa preocupação estende-se
além da quantidade de prática. Procuramos entender que qualidade deverá ter
a prática em Futebol, e não nos referimos apenas à instrução, que também se
enquadra no papel do treinador. Falamos de todos os “pormenores” adjacentes
ao “jogar” preconizado pelo treinador, e que resulta, não da junção, mas da
articulação dos diferentes domínios do jogo.
O jogo encerra uma grande variedade de acções, sensações e emoções,
todas elas com uma estreita relação entre si. Podemos constatar que muitas
das referências da literatura (Frade, 1985; Silva, 1989; Guilherme Oliveira,
1991; Vieira, 1993; Faria, 1999; Carvalhal, 2001), colocam as restantes
componentes em dependência da táctica, mas até que ponto vai essa
preponderância?
Se nos concentrarmos no domínio táctico, somos levados a pensar em
“ideia de jogo”, nos princípios que lhe estão inerentes, no entendimento e
manipulação desses princípios, e na sua materialização através das acções do
João Cunha 23
jogo. Daí que se tenha desaguado nos conceitos: Princípios Ofensivos e
Defensivos (ver questão n.º 9; anexos 1 e 2), para caracterizar os princípios
inerentes à ideia de jogo do treinador, que à medida que se avança no
processo de formação, serão cada vez mais específicos (ver Quadro 2). Já o
conceito de Conhecimento Táctico procura ilustrar a “base de dados”, relativos
ao jogo, que o jogador possui, ou seja, uma base de conhecimento declarativo
e processual, assente nos factos e procedimentos resultantes das experiências
de jogo, que lhe permite extrair a melhor estratégia táctica, potenciando a
tomada de decisão (Janelle & Hillman, 2003). Os princípios de jogo (ver
Quadro 2) são então um conjunto de normas que orientam o jogador na busca
das soluções mais eficazes, de acordo com o momento do jogo (Garganta &
Pinto, 1998). A Tomada de Decisão é um factor fundamental nas acções
tácticas do jogador, de onde resulta uma resposta a um estímulo provocado por
uma situação do jogo. Quadro 2 – Complexidade dos princípios de jogo durante o processo formação
CULMINAÇÃO
EVOLUÇÃO
INICIAÇÃO
PRINCÍPIOS GERAIS: • NÃO PERMITIR A
INFERIORIDADE NUMÉRICA;
• EVITAR A IGUALDADE NUMÉRICA;
• PROCURAR A SUPERIORIDADE NUMÉRICA.
PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS: ATAQUE
• PENETRAÇÃO; • COBERTURA OFENSIVA; • MOBILIDADE; • ESPAÇO.
DEFESA • PENETRAÇÃO; • COBERTURA OFENSIVA; • MOBILIDADE; • ESPAÇO.
(QUEIROZ, 1983)
AU
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TO D
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SPEC
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IDA
DE
>>>>
>>>>
>>>>
Como já foi referido anteriormente, a componente técnica é entendida
como veículo da táctica (Garganta & Pinto, 1998), ou seja, o modo de
expressão das ideias do jogo. Garganta (1997) atenta para a abrangência do
termo, dando o exemplo de uma corrida rápida, uma desmarcação, não sendo
24 João Cunha
obrigatória a presença ou proximidade da bola, para que se designem por
requisitos técnicos. Nesta linha de pensamento encontramos Konzag (1991),
que divide a técnica em: 1 – técnica sem bola (desmarcações, tackles,
marcações, saltos, mudanças de direcção) e 2 – técnica com bola (passe,
recepção, condução de bola, drible). Por sua vez, Castelo (1996) classifica a
técnica em acções táctico-técnicas, dividindo-as em: 1 – acções individuais
ofensivas (recepção, condução de bola, drible, finta, passe, simulação e remate)
e 2 – acções individuais defensivas (desarme, intercepção, técnica do GR e
carga). A verdadeira dimensão da técnica assenta na sua utilidade para servir a
inteligência e a capacidade de decisão táctica dos jogadores e das equipas no
jogo. Um bom executante é alguém capaz de seleccionar as técnicas mais
indicadas para responder aos sucessivos obstáculos colocados pelo jogo
(Garganta & Pinto, 1998). Por tais motivos, Mesquita (2000) considera a
aprendizagem das habilidades técnicas um aspecto fundamental na etapa
inicial da formação desportiva do praticante.
O domínio fisiológico é aquele que nos coloca maiores dificuldades
quando procuramos subcategorizá-lo. Não por nos ser desconhecido, mas pela
diversidade que este apresenta, o que poderia transmitir uma noção
desagregadora do jogo, que entendemos como um todo e não como a soma
das partes.
O Futebol caracteriza-se por ser um exercício intermitente de longa
duração, onde ocorre a alternância de esforços intensos e momentos de baixa
intensidade (Bangsbo, 2002). Os estudos mostram que o jogo de Futebol tem
exigências variadas do ponto de vista fisiológico, tais como a capacidade
aeróbia, a potência aeróbia, a força rápida e a velocidade (Garganta, 1997;
Reilly, 2005). No entanto, surge a necessidade de concentrar todas estas
capacidades num conceito mais abrangente, não apenas do ponto de vista
fisiológico mas de todos os domínios do jogo.
Vem daí a subdivisão em Agilidade e Condição Física. Ser mais ágil
permitirá ao indivíduo evitar o iminente impacto com o adversário (Natal, 2006),
embora não possamos reduzir a esse ponto o conceito de agilidade no Futebol.
Esta qualidade significa ligeireza, desembaraço, presteza e até vivacidade, ou
seja, muito do que gostamos de observar no desempenho de um jogador.
Assim sendo, colocamos a agilidade num conjunto de capacidades que
João Cunha 25
permitem ao indivíduo superar o adversário, numa determinada situação. A
Condição Física é um dos vários aspectos que compõem o Futebol, podendo
entendê-lo como mais um meio para alcançar os objectivos do jogo (Haan,
1998). O mesmo autor refere que, o aumento da condição física possui um
efeito positivo em todos os outros elementos que influenciam a performance no
jogo, dando o exemplo que, quanto menos desgastado estiver um jogador
maior será a capacidade de retirar informações do que se passa à sua volta, o
que terá efeitos na velocidade de reacção e na leitura do jogo. Uma vez mais
salientamos a necessidade de desenvolver este aspectos através de exercícios
relacionados com o jogo, de modo a melhorar a qualidade do mesmo.
No domínio psicológico foram encontradas dificuldades na sua
categorização. Um estudo realizado por Esteves (2001) pareceu mostrar que
as causas mais indicadas para alcançar o sucesso foram relacionadas com a
Motivação/Esforço.
Para Brito (1994), o motivo é um factor dinâmico (consciente ou
inconsciente, fisiológico, afectivo, intelectual, social, em interacção, por vezes)
que influencia a conduta do indivíduo no seu caminho para um objectivo,
consciente ou inconscientemente apreendido. Deste modo, podemos pensar
em motivação intrínseca e extrínseca.
Para Weiss & Chaumeton (1992) a motivação intrínseca pode ser
entendida como um incentivo despoletado pela curiosidade e desejo natural do
indivíduo realizar tarefas de grande capacidade e desafio técnico. Exemplos de
incentivos são o divertimento, o prazer, a diversão e o sentimento de mestria
em fazer algo bem feito. Ericsson, Krampe & Tesch-Romer (1993) vão de
encontro a esta ideia, ao defenderem que o desempenho será melhorado
através de actividades que não proporcionem prazer. Já os autores Scanlan,
Carpenter, Schmidt, Simons & Keeler (1993), com a sua teoria (Modelo do
Compromisso Desportivo), bem como Helsen, Starkes & Hodges (1998), num
estudo realizado com jogadores de hóquei em patins, vêm ao encontro do
defendido por Weiss & Chaumeton (1992), dizendo que o prazer na actividade
é fundamental para o compromisso com o desporto, e que são estas as que os
jogadores percepcionam como mais importantes.
A motivação extrínseca refere-se a incentivos de natureza externa ao
indivíduo, como sejam os adultos, a provação dos pares ou colegas, as
26 João Cunha
recompensas materiais e a ênfase na vitória (Weiss & Chaumeton, 1992).
Neste sentido, foram tidos em conta conceitos como, a motivação do jogador,
entenda-se motivação para o jogo, para treinar, para ser melhor; os objectivos
a alcançarem, ou seja, a definição de metas que funcionem como combustível
para a motivação do jogador, podendo ser orientados para a Tarefa (esforço)
ou para o Ego (habilidade) e, por fim, o comportamento do jogador no grupo,
versando o aspecto do relacionamento com os seus pares, e a direcção das
atitudes, se mais centradas no Eu ou no Nós.
O treino é planeado e programado pelos treinadores, e cabe a estes
decidir como desenvolver os diferentes domínios do jogo e suas respectivas
categorias. Enquanto que actividades fechadas são melhores para a
performance, a prática normal é mais efectiva na aprendizagem das
habilidades (Williams & Hodges, 2005). Foi com base neste pressuposto, que
procuramos enquadrar os diferentes modos de prática, para que fossem
facilmente identificáveis. Daí surgiram os conceitos de desenvolvimento da
táctica/técnica/físico/psicológico em separado (treino analítico), o recurso a
jogos reduzidos (1X1, 2X1, …, 7X7,etc.), a utilização do jogo formal (11X11),
bem como a localização das sessões treino (no terreno de jogo ou fora do
terreno de jogo; ver questão n.º10, anexos 1 e 2).
Embora a Figura 2 inclua a família nos factores presentes no caminho
até à excelência, não iremos aprofundar a sua importância, uma vez que o
nosso estudo versa os factores relacionados com a prática. No entanto,
gostaríamos de referir que os membros da família, principalmente os pais,
JOGADOR DE EXCELÊNCIA
Treino
Jogo
Treinador
Indivíduo
Família
Figura 2 – Factores que influenciam o indivíduo no caminho para a Excelência.
João Cunha 27
desempenham um papel crucial, na medida em que auxiliam na iniciação à
prática, emitem feedbacks e asseguram a presença do indivíduo no espaço de
treino (Bloom, 1985; Côté, 1999 & Côté et al. 2003).
Como se pôde verificar, o indivíduo é colocado no centro de todos os
factores. Em primeiro lugar porque é o jogador que dá “vida” ao jogo, é ele o
actor no palco do Futebol. Depois porque ao falar na formação de jogadores,
parte-se do pressuposto que tudo irá girar em torno destes.
Grande parte dos treinadores considera que as diferenças de talento
determinam quem irá ter sucesso (Helsen, Hodges, Van Winckel & Starkes,
2000). Com base num estudo sobre a performance musical (Howe et al. 1998),
foram definidas cinco propriedades para talento:
1. Tem origem em bases genéticas, por isso é em parte inato; 2. Os seus efeitos podem não ser observados nas fases iniciais,
mas apresentam características identificáveis por treinadores credenciados;
3. Estas indicações prematuras servem de base para definirmos quem irá ter sucesso;
4. Nem todas as crianças são talentos, caso contrário não haveria forma de predizer ou explicar diferenças no desempenho;
5. O talento é específico de um domínio.
Também no Futebol existem talentos, ou pelo menos diferenças de
desempenho, mas qual será a importância do talento no caminho para a
excelência? O estudo realizado por Helsen, Hodges, Van Winckel & Starkes,
(2000) sugere que, o que treinadores cedo consideram como talento, é no fim
de contas avanço maturacional. Existe ainda um outro factor associado ao
indivíduo, que queremos referir, nomeadamente, a sua ambição, entendida
como a vontade de ser melhor, de se superar.
Os factores que de seguida iremos aflorar poderão suscitar controvérsia
na altura de os relacionar com o indivíduo, treino, jogo ou treinador. No entanto,
julgamos que todos estão interligados, ora vejamos. O treino abarca a
construção de uma cultura de jogo, capacidade psicológica e condição física
por parte do jogador. É igualmente no treino que este melhora o seu
desempenho na tentativa de se superar, para que no jogo esteja ao mais alto
nível, com consistência. O jogo, além de um espaço onde o jogador pode
28 João Cunha
manifestar as suas potencialidades, é sem dúvida um momento de grande
aprendizagem e refinamento. Cabe ao treinador implementar a sua
metodologia, influenciando as acções do indivíduo no jogo. Logo, um treinador
de qualidade leva à melhoria das capacidades do jogador, e vice-versa, uma
vez que, em qualquer processo de ensino-aprendizagem tanto o aluno aprende
com o professor, como o professor aprende com o aluno. Tal como uma boa
estrada ajuda na performance automóvel, também no Futebol a existência de
bons equipamentos para a prática tem a sua cota parte no caminho para a
excelência.
Como conceito mais abrangente, que engloba o treino, o jogo e o
treinador, encontramos a prática, que deverá ser de qualidade e em quantidade
Ericsson et al. (1993). Por qualidade entendemos a construção de exercícios
adequados ao indivíduo, a correcção do erro com a emissão de feedbacks e
posteriores oportunidades para refinar a execução de determinada acção,
sempre com a supervisão do treinador. A quantidade de prática está estimada
em 10 anos ou 10000 horas (Simon & Chase, 1973; Bloom, 1985; Ericsson et
al. 1993; Starkes et al., 1996). São o número de horas de prática diária e a data
de início da prática que permitem alcançar tais valores. Como demonstram
Helsen et al. (1998), os jogadores da selecção belga de Futebol, aos vinte anos
de idade contavam já com 15 de prática, tendo completado um total de 9332
horas, após 18 anos de prática.
A equipa e os seus jogadores jogam à imagem e semelhança do que
treinam (Leal & Quinta, 2001). Ao que Vingada (1989) acrescenta ser através
do treino que as equipas e os jogadores criam a sua própria identidade. Como
foi visto anteriormente, o treino está em consonância com o “jogar” pretendido.
Se o objectivo final é o jogo, treinar tem que ser jogando (Faria, 2003).
Guilherme Oliveira (1991) reforça a ideia ao defender que, se o jogo é o
espelho do treino, então para o jogo ser Jogo o treino tem que ser jogo.
Neste sentido, importa pensar na organização de todo o processo de
treino. Mesquita (2000) defende que o treinador deverá organizar o processo
de ensino-aprendizagem de modo a contemplar o seu planeamento, realização
e avaliação (ver Quadro 3), bem como a estruturação e organização do
processo de instrução (preparação da matéria de ensino, ou seja, dos
conteúdos de treino).
João Cunha 29
Para Mesquita (2000) o planeamento visa delinear o que vai ser
realizado (com base na análise daquilo que tem, perspectivar onde pretende
chegar), como (estabelecer a metodologia e os meios a utilizar no processo,
contemplando a possibilidade de que realizar ajustes) e quem o deve efectuar. Quadro 3 – As funções do treinador (Mesquita, 2000).
PLANEAR
•Fixação de Objectivos; •Selecção de Conteúdos.
REALIZAR
•Exercícios Utilizados; •Gestão do Treino; •Comunicação com os Atletas.
AVALIAR
•Análise dos resultados obtidos (de formação e de competição); •Comparação (controlo).
Cabe ao treinador a responsabilidade de estruturar e organizar todo o
processo de treino, utilizando um conjunto de exercícios que lhes permitam
definir, direccionar e modificar o processo de formação e desenvolvimento dos
jogadores (Castelo, 1996). O exercício assume um papel determinante na
formação do jogador (Queiroz, 1986; Castelo, 1996; Mesquita, 2000). Neles o
treinador coloca as suas ideias, servindo de base à melhoria do rendimento da
equipa, que depende directamente da qualidade e, em última instância, da
eficácia do próprio exercício. No seguimento desta ideia, Castelo (2003) refere
que o aspecto nuclear de qualquer processo de planificação e organização na
preparação competitiva dos jogadores ou das equipas, nos seus diferentes
níveis, é alicerçado na prática sistemática de um conjunto de exercícios de
treino de carácter dinâmico e inovador. Aquilo a que Le Moigne (1990)
designou de “Modelação Sistémica”, ou seja, uma interacção (treino) muito
forte (sistémica) entre o sujeito e o objecto.
Através desta prática sistemática, o indivíduo deve ser capaz de cumprir
com os princípios de jogo (ofensivos/defensivos), respeitando o regulamento e
recorrendo a diversos meios (factores, ver quadro 4), utilizá-los dentro de um
30 João Cunha
determinado contexto de jogo (Garganta & Pinto, 1998). Quadro 4 – Relação dos Factores do Ataque e da Defesa (Queiroz, 1983)
FACTORES
ATAQUE DEFESA
ACÇÕES INDIVIDUAIS: TÉCNICAS DE REMATE, PASSE, CONDUÇÃO, RECEPÇÃO CONTROLAM E DOMÍNIO, DRBLE, FINTA E SIMULAÇÃO, DESMARCAÇÃO, LANÇ. LINHA LATERAL E PRINCÍPIOS OFENSIVOS; ACÇÕES COLECTIVAS (ELEMENTARES): DESMARCAÇÕES, COMBINAÇÕES, PRINCÍPIOS OFENSIVOS, PERMUTAS, COMPENSAÇÕES E DESDOBRAMENTOS, ESQUEMAS TÁCTICOS; ACÇÕES COLECTIVAS (ELEMENTARES): TAREFAS E FUNÇÕES, ESQUEMAS TÁCTICOS, CIRCULAÇÕES TÁCTICAS, SISTEMAS TÁCTICOS, MÉTODOS DE JOGO OFENSIVO: ATAQUE ORGANIZADO E CONTRA-ATAQUE.
ACÇÕES INDIVIDUAIS: TÉCNICAS DE DESARME, INTERCEPÇÃO, MARCAÇÃO E DO GUARDA-REDES; ACÇÕES COLECTIVAS (ELEMENTARES): MARCAÇÕES, PRINCÍPIOS DEFENSIVOS, COMPENSAÇÕES, DOBRAS E MÉTODOS DE DEFESA; ACÇÕES COLECTIVAS (ELEMENTARES):
TAREFAS E FUNÇÕES, SISTEMAS TÁCTICOS, MÉTODOS DE JOGO DEFENSIVO: DEFESA ZONA, DEFESA MISTA E DEFESA INDIVIDUAL.
O jogo facilita a criação de estruturas organizadoras (1X1, 2X1, 3X3, …),
às quais se dá o nome de “Formas”. Estas estruturas são designadas por
Formas, fundamentais se incluem a finalização ou complementares se isso
não acontecer (Garganta & Pinto, 1998). Os mesmos autores referem que ao
criar uma situação de ensino do jogo devemos optar pelo uso de Formas
fundamentais, de complexidade crescente e respeitando três constantes
essenciais:
1. Relação de oposição, onde as fases de ataque e defesa coabitam;
2. Indivisibilidade dos factores de jogo;
3. Finalização.
O jogador deve ter condições de ensaio e erro, para que com o auxílio
dos feedbacks possa refinar as suas habilidades e melhorar capacidades. Esta
prática orientada conjuga os esforços do indivíduo e do treinador, na busca da
excelência em todos os domínios do jogo.
João Cunha 31
33.. OOBBJJEECCTTIIVVOOSS EE HHIIPPÓÓTTEESSEESS
33..11 OOBBJJEECCTTIIVVOO GGEERRAALL
• Aferir e comparar a percepção dos jogadores sobre qual a importância
dos factores do treino na sua formação, e a percepção dos treinadores quanto
ao grau de importância dos factores do treino, na formação de um jogador de
Excelência em Futebol.
33..22 OOBBJJEECCTTIIVVOOSS EESSPPEECCÍÍFFIICCOOSS
• Objectivo 1: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre
a importância dos domínios da excelência na formação de um jogador de
excelência em Futebol;
• Objectivo 1.1: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores,
sobre a importância das categorias (princípios ofensivos, princípios defensivos,
habilidades técnicas, conhecimento táctico, tomada de decisão, motivação do
jogador, comportamento do jogador no grupo, objectivos a alcançar, agilidade e
condição física), na respectiva faixa etária, para a formação de jogadores de
futebol de excelência;
• Objectivo 2: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre
a importância da forma de desenvolvimento das categorias do objectivo 1.1
para a formação de jogadores de futebol de excelência;
• Objectivo 3: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre
a importância dos factores do jogo (habilidade natural, prática, ambição, cultura
da jogo, capacidade psicológica, equipamentos, consistência, sorte, condição
física, entrar em competições e qualidade do treinador) para a formação de
jogadores de futebol de excelência;
• Objectivo 4: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre
a importância do número médio de horas de prática diária necessárias para a
formação de jogadores de futebol de excelência;
• Objectivo 5: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre
a importância do número médio de treinos semanais necessários para a
32 João Cunha
formação de jogadores de futebol de excelência;
• Objectivo 6: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre
a idade com que um indivíduo deve iniciar sua prática do Futebol para poder
alcançar a excelência;
• Objectivo 7: Comparar a percepção, entre jogadores e treinadores, sobre
número de anos necessários para poder alcançar a excelência em Futebol;
33..33 HHIIPPÓÓTTEESSEESS
• Hipótese 1: Jogadores e treinadores apresentam idêntica percepção
sobre a importância dos domínios da excelência na formação de um jogador de
excelência em Futebol;
• Hipótese 1.1: Jogadores e treinadores apresentam idêntica percepção
sobre a importância das categorias (princípios ofensivos, princípios defensivos,
habilidades técnicas, conhecimento táctico, tomada de decisão, motivação do
jogador, comportamento do jogador no grupo, objectivos a alcançar, agilidade e
condição física), na respectiva faixa etária, para a formação de jogadores de
futebol de excelência;
• Hipótese 2: Jogadores e treinadores apresentam idêntica percepção
sobre a importância da forma de desenvolvimento das categorias do objectivo
1.1 para a formação de jogadores de futebol de excelência;
• Hipótese 3: Jogadores e treinadores apresentam idêntica percepção
sobre a importância dos factores do jogo (habilidade natural, prática, ambição,
cultura da jogo, capacidade psicológica, equipamentos, consistência, sorte,
condição física, entrar em competições e qualidade do treinador) para a
formação de jogadores de futebol de excelência;
• Hipótese 4: Jogadores e treinadores apresentam idêntica percepção
sobre a importância do número médio de horas de prática diária necessárias
para a formação de jogadores de futebol de excelência;
• Hipótese 5:Jogadores e treinadores apresentam idêntica percepção
sobre a importância do número médio de treinos semanais necessários para a
formação de jogadores de futebol de excelência;
• Hipótese 6:Jogadores e treinadores apresentam idêntica percepção
João Cunha 33
sobre a idade com que um indivíduo deve iniciar sua prática do Futebol para
poder alcançar a excelência;
• Hipótese 7:Jogadores e treinadores apresentam idêntica percepção
sobre número de anos necessários para poder alcançar a excelência em
Futebol;
34 João Cunha
João Cunha 35
44.. MMAATTEERRIIAALL EE MMÉÉTTOODDOOSS
44..11 DDEESSCCRRIIÇÇÃÃOO EE CCAARRAACCTTEERRIIZZAAÇÇÃÃOO DDAA AAMMOOSSTTRRAA
A amostra é constituída por 62 indivíduos (ver Figura 3), dos quais 31
jogadores pertencentes ao F.C. do Porto e ao Vitória Sport Clube, e 31
treinadores pertencentes aos diversos escalões dos seguintes clubes: A.A. de
Coimbra, Boavista F.C., F.C. Porto, Leixões S.C., S.C. Salgueiros, S.C.
Senhora da Hora, U.D. Oliveirense e Vitória S. C.
Os jogadores possuem uma média de idades de 25,32 anos, e os
treinadores de 32,71 anos. O tempo de prática para jogadores é em média de
14,68 anos e para treinadores de 8,16 anos.
05
101520253035
Distribuição da Amostra
Treinadores 31 32,71 8,16
Jogadores 31 25,32 14,68
N Média Idades Média Anos de Prática
Figura 3 – Distribuição da Amostra
Do universo de jogadores inquiridos (ver Quadro 5) encontraram-se, 5
(16,2%) guarda-redes, 8 (25,8%) defesas, 9 (29%) médios e 9 (29%)
avançados. Há a salientar o facto de 77,4% (24) não possuírem qualquer título
internacional, 12,9% (4) terem ganho um título, e três possuírem,
respectivamente, 2, 3 e 8 títulos.
Quanto aos títulos nacionais, encontramos 45,2% (14) dos jogadores
sem qualquer título e 22,6% (7) com um título.
Ao nível das internacionalizações verificamos que 32,3% (10) dos
jogadores nunca esteve presente nas selecções nacionais, e que por outro lado
32,3% dos inquiridos possui 20 ou mais chamadas a representar o país.
36 João Cunha
Quadro 5 – Caracterização do grupo amostral “jogadores”. JOGADORES
Guarda – Redes 5
Defesa 8
Médio 9 Posição
Avançado 9
Média 25,32 Idade
Min-Máx [18-37]
Média 14,68 Anos de Prática
Min-Máx [6-24]
Títulos Internacionais [0-8]
Títulos Nacionais [0-22]
Épocas como Profissional [1-19]
Internacionalizações [0-86]
Entre os treinadores (ver Quadro 6) inquiridos, 19 (61,3%) ocupavam o
cargo de treinador principal e 12 (38,7%) de treinador adjunto1. Verificou-se
que em termos de formação académica 18 (58,1%) são licenciados, 5 (16,2%)
concluíram o 12º ano, 4 (12,9%) concluíram o 9º ano, 3 possuem Mestrado e 1
Doutoramento. No que diz respeito aos cursos de treinadores, ministrados
pelas associações do país, grande parte dos treinadores (90,3%) possui os
níveis 1 (13; 41,9%) ou 2 (15; 48,5%), 1 (3,2%) possui o nível 3 e 2 (6,4%)
possuem o nível 4.De notar que 90,3% (28) nunca conquistou qualquer título
nacional, e 96,8% (30) não possui qualquer título internacional.
Quadro 6 – Caracterização do grupo amostral “treinadores”.
TREINADORES
Treinador Principal 19 Cargo
Treinador Adjunto 12
Média 32,71 Idade
Min-Máx [23-57]
9º Ano 4
12º Ano 5
Formação Académica
Licenciado 18
1 Preparadores físicos e treinadores de guarda-redes foram considerados treinadores adjuntos.
João Cunha 37
Mestrado 3
Doutorado 1
Nível 1 13
Nível 2 15
Nível 3 1 Curso de Treinador
Nível 4 2
Média 8,16 Anos de Prática
Min-Máx [2-27]
Títulos Internacionais [0-1]
Títulos Nacionais [0-5]
44..22 IINNSSTTRRUUMMEENNTTOOSS
Foram aplicados dois questionários, um para jogadores e outro para
treinadores, sobre a percepção da importância dos factores que levam à
Excelência em Futebol, elaborados e validados na FADEUP, com uma escala
de Lickert de cinco pontos. Foram ainda utilizadas questões onde o inquirido
deveria optar por uma das opções de reposta.
O questionário para jogadores de Futebol (ver Anexo 1) procurou aferir
qual a importância atribuída aos factores, durante o processo de formação, que
os terão conduzido ao nível de Excelência. Por sua vez, aos treinadores (ver
Anexo 2) as questões foram colocadas no sentido de perceber quais os
factores considerados mais importantes, durante o processo de formação, para
que um indivíduo atinja a Excelência em Futebol.
44..33 PPRROOCCEEDDIIMMEENNTTOOSS EESSTTAATTÍÍSSTTIICCOOSS
Os questionários foram analisados e os dados tratados estatisticamente
através do programa SPSS versão 15.0.
Foram utilizadas as frequências de resposta para caracterizar os dois
grupos que compõem a amostra.
O teste Chi-Quadrado, com o cruzamento de tabelas, foi utilizado para
comparar respostas e verificar a existência de diferenças estatisticamente
significativas entre jogadores e treinadores. Utilizamos o teste Chi-Quadrado,
38 João Cunha
para medidas não paramétricas, a fim de encontrarmos diferenças com
significado estatístico intra-grupo.
João Cunha 39
55.. AAPPRREESSEENNTTAAÇÇÃÃOO EE DDIISSCCUUSSSSÃÃOO DDOOSS RREESSUULLTTAADDOOSS
Neste ponto do trabalho foram analisadas as opiniões expressas através
dos questionários. A Excelência no desporto é um tema que tem levado os
investigadores a uma constante busca de informações. O conhecimento
relativo ao como e quando estimular o indivíduo, para que este se torne de
Excelência, tem abrangido inúmeras áreas do desporto, mas, no entanto, ainda
não é possível encontrar na literatura referências significativas relacionando a
formação e o alcançar da Excelência em Futebol, daí que muita da informação
recolhida não possa ser comparada com outros estudos, específicos desta
área.
OBJECTIVO 1: COMPARAR A PERCEPÇÃO, ENTRE JOGADORES E TREINADORES, SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS DOMÍNIOS DA EXPERTISE NA FORMAÇÃO DE UM JOGADOR DE EXCELÊNCIA EM FUTEBOL;
Os dados recolhidos (ver Figura 4) apontam diferenças na percepção
sobre a importância dos diferentes domínios da expertise, entre jogadores e
treinadores, embora essas diferenças apenas possuam significado estatístico
ao nível táctico-cognitivo e ao nível técnico.
Domínios da Expertise
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Táctico-Cognitivo
Fisiológico Psicológico Técnico
Muito Importante
Importante
MediananmenteImportante
Figura 4 – Nível de Importância atribuída aos Domínio das Expertise
Para os treinadores, os domínios: táctico-cognitivo (87,1%), psicológico
(77,4%) e técnico (71,0%) são considerados muito importantes para a
formação do jogador. Também num estudo recente (Gonçalves, 2005) os
treinadores atribuem maior importância ao domínio táctico, técnico e
40 João Cunha
psicológico. É de notar uma maior dispersão na atribuição da importância
referente ao domínio fisiológico, tendo sido considerado por 10 treinadores
(32,3) muito importante, por 11 (35,5%) importante, e por 8 (25,8%)
medianamente importante. Embora a maior percentagem de respostas se
encontre no nível importante, não encontramos diferenças estatisticamente
significativas, intra-grupo. Castelo (1994), considera que o jogador da
actualidade opera inúmeras acções mentais complexas, assentes em acções
motoras (técnico-tácticas) com um sentido e um objectivo, o que consolida a
opinião expressa pelos treinadores inquiridos. Também Pinto (1996), defende
que a táctica desempenha um papel fundamental, por ser entendida como um
factor integrador e simultaneamente condicionador de todos os outros
(fisiológicos, técnicos e psicológicos), o que corrobora a maior percentagem de
respostas atribuídas ao domínio táctico-cognitivo. Por parte dos jogadores
verificou-se uma menor concentração das respostas quanto à importância dos
domínios em geral. No entanto, estas quedaram-se, maioritariamente, pelo
nível importante nos domínios táctico-cognitivo, fisiológico e técnico. O domínio
psicológico foi considerado muito importante para 16 (51,6%) dos jogadores. O
facto de os jogadores percepcionarem o domínio psicológico, como tendo sido
o mais importante para terem alcançado a Excelência em Futebol pode estar
relacionado com a constante pressão a que estão sujeitos, ao longo de toda a
carreira. Desde restrições pessoais, até à mais do que angustiante “luta” por
um lugar no onze inicial. Esta ideia é reforçada por Jensen (2002, in Guilherme
Oliveira, 2004), para quem as acções do jogador se encontram adjudicadas à
sua capacidade psicológica e controlo emocional, atribuindo às emoções uma
influência poderosíssima na aprendizagem através da ajuda na construção de
significados, na canalização da motivação e no comportamento cognitivo.
OBJECTIVO 1.1: COMPARAR A PERCEPÇÃO, ENTRE JOGADORES E TREINADORES, SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS CATEGORIAS (PRINCÍPIOS OFENSIVOS, PRINCÍPIOS DEFENSIVOS, HABILIDADES TÉCNICAS, CONHECIMENTO TÁCTICO, TOMADA DE DECISÃO, MOTIVAÇÃO DO JOGADOR, COMPORTAMENTO DO JOGADOR NO GRUPO, OBJECTIVOS A ALCANÇAR, AGILIDADE E CONDIÇÃO FÍSICA), NA RESPECTIVA FAIXA ETÁRIA, PARA A FORMAÇÃO DE JOGADORES DE FUTEBOL DE EXCELÊNCIA;
Seguidamente observam-se os níveis de importância atribuídos por
João Cunha 41
jogadores e treinadores às diversas categorias, nos diferentes intervalos etários,
para a formação de um jogador de Excelência. Estas categorias provêm dos
quatro domínios da Expertise, e são uma tentativa de os entender mais
especificamente. Para tal, são apresentados os níveis de importância, que
reuniram maior percentagem de respostas.
Verificamos na categoria “Princípios Ofensivos” (ver Quadro 7) uma
relação directa entre o grau de importância, atribuído pelos jogadores, e o
aumento da idade na formação, ou seja, à medida que avançamos nos
intervalos etários, aumenta também o grau de importância associado ao seu
contributo na formação dos jogadores. Inicia-se no nível pouco importante, para
os 8-9 anos e termina no muito importante para os 18-22 anos.
Quadro 7 – Nível de importância atribuída aos Princípios Ofensivos.
CATEGORIA INDIVÍDUOS 8-9 ANOS 10-13 ANOS 14-17 ANOS 18-22 ANOS
Jogador Pouco Imp. (35,5%)
Med. Imp. (45,2%)
Imp. (51,6%)
Mt. Imp. (64,5%) Princípios
Ofensivos Treinador Mt. Imp.
(35,5%) Mt. Imp. (45,2%)
Mt. Imp. (67,7%)
Mt. Imp. (96,8%)
Para os treinadores (ver Figura 5) o domínio dos princípios ofensivos é
considerado muito importante em todo o processo de formação do jogador,
tendo a percentagem de respostas acompanhado o aumento da idade dos
indivíduos.
Príncipios Ofensivos
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
8 a 9 Anos 10 a 13Anos
14 a 17Anos
18 a 22Anos
Muito ImportanteImportanteMed. ImportantePouco ImportanteNada Importante
Figura 5 – Nível de importância atribuída aos Princípios Ofensivos.
42 João Cunha
Podemos dizer com 95% de confiança, nos três escalões mais velhos, e
90% no escalão 8-9 anos, que as diferenças entre jogadores e treinadores
possuem significado estatístico.
Quanto aos “Princípios Defensivos” (ver Quadro 8) verificamos
novamente, por parte dos treinadores, a atribuição do nível muito importante
em todos os escalões, com um igual aumento da percentagem de resposta,
nas idades mais elevadas. Quadro 8 – Nível de importância atribuída aos Princípios Defensivos.
CATEGORIA INDIVÍDUOS 8-9 ANOS 10-13 ANOS 14-17 ANOS 18-22 ANOS
Jogador Pouco Imp. (41,3%)
Med. Imp. (45,2%)
Imp. (51,6%)
Mt. Imp. (61,3%) Princípios
Defensivos Treinador Mt. Imp.
(32,3%) Mt. Imp. (41,9%)
Mt. Imp. (71,0%)
Mt. Imp. (96,8%)
Neste sentido, Vingada (1989) considera que nenhum jogador será
completamente eficaz se não aprender os princípios fundamentais, inerentes
ao ataque e à defesa. Para os jogadores observamos um aumento progressivo
da importância percebida para os princípios defensivos (ver Figura 6). Em
todos eles os resultados apresentam diferenças com significado estatístico.
Princípios Defensivos
0%20%40%60%80%
100%
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
8 a 9 Anos 10 a 13Anos
14 a 17Anos
18 a 22Anos
Muito ImportanteImportanteMed. ImportantePouco ImportanteNada Importante
Figura 6 – Nível de importância atribuída aos Princípios Defensivos.
Se para os jogadores os princípios ofensivos e defensivos começam a
ser importantes, apenas a partir dos 14 anos, para os treinadores estes
João Cunha 43
princípios são considerados muito importantes desde bem cedo.
A existência de regras e princípios que orientem a equipa são um
pressuposto fundamental na implementação do modelo de jogo do treinador
(Dias, 2005; Freitas, 2004; Oliveira et al., 2006). Para Oliveira et al. (2006) são
os princípios de jogo que fazem aparecer com regularidade a coordenação
colectiva e que emprestam a organização à equipa. Com base nesta ideia
(Queiroz, 1983; Garganta & Pinto, 1998; Faria, 1999; Carvalhal, 2001)
podemos entender a extrema importância atribuída, por treinadores, aos
princípios ofensivos e defensivos na formação do jogador. No entanto, esta
ideia não é acompanhada por jogadores, o que pode ser um ponto a considerar
no processo de formação.
As “Habilidades Técnicas” (ver Quadro 9) são entendidas, para os
jogadores, como importantes entre os 8 e os 17 anos, e muito importantes no
intervalo 18-22 anos. Uma vez mais, os treinadores percepcionam esta
categoria como muito importante em todo o processo de formação do jogador.
Para os escalões 8-9 e 10-13 anos as diferenças entre a percepção dos
jogadores e treinadores apresentam significado estatístico, se bem que para
este último existam 9 jogadores (29,0%) a considerar muito importante a
categoria em questão, o que mostra uma divisão entre o nível importante e
muito importante. Quadro 9 – Nível de importância atribuída às Habilidades Técnicas.
CATEGORIA INDIVÍDUOS 8-9 ANOS 10-13 ANOS 14-17 ANOS 18-22 ANOS
Jogador Imp. (32,3%) Imp. (35,5%) Imp.
(58,1%) Mt. Imp. (58,1%) Habilidades
Técnicas Treinador Mt. Imp.
(61,3%) Mt. Imp. (64,5%)
Mt. Imp. (58,6%)
Mt. Imp. (61,3%)
É inevitável comparar estes resultados com os obtidos para as
categorias anteriores, do ponto de vista dos jogadores, uma vez que estes
atribuem maior importância, em idades precoces (8 a 13 anos), às habilidades
técnicas (ver Figuras 7) do que aos princípios de jogo. Talvez os jogadores
considerem que não poderão estar tão preocupados com os princípios de jogo,
sem terem resolvido a questão “relação com bola”, tal como assume Rink et al.
44 João Cunha
(1996), para quem um menor domínio técnico pode limitar a expressão de uma
adequada tomada de decisão.
Habilidades Técnicas
0%
20%
40%
60%
80%Jo
gado
r
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
8 a 9 Anos 10 a 13Anos
14 a 17Anos
18 a 22Anos
Muito Importante
Importante
Med. Importante
PoucoImportanteNada Importante
Figura 7 – Nível de importância atribuída às Habilidades Técnicas.
Os jogadores inquiridos atribuíram menor importância, à categoria
“Conhecimento Táctico” (ver Figura 9), para os escalões mais baixos (8-9 e 10-
13 anos). No escalão 14-17 anos, 16 (51,6%) indivíduos consideraram
importante e no escalão 18-22 anos, 23 (74,2%) dos 31 inquiridos classificaram
o conhecimento táctico como muito importante na sua “caminhada” até à
excelência. Vinte dos treinadores (51,6%) atribuíram o nível muito importante
para o intervalo 14-17, tendo a totalidade dos inquiridos (100%) indicado o nível
de muito importante para o intervalo 18-22 anos. Quadro 10 – Nível de importância atribuída ao Conhecimento Táctico.
CATEGORIA INDIVÍDUOS 8-9 ANOS 10-13 ANOS 14-17 ANOS 18-22 ANOS
Jogador Pouco Imp. (32,3%)
Med. Imp. (38,7%)
Imp. (51,6%)
Mt. Imp. (74,2%) Conhecimento
Táctico Treinador Med. Imp.
(29,0%) Imp. (41,9%) Mt. Imp. (64.5%)
Mt. Imp. (100%)
Sendo esta a categoria que mais contribui para a distinção entre
praticante e experto, entenda-se a cultura táctica como a característica que
melhor distingue os expertos dos restantes jogadores (Frade, 2005 citado por
Costa, 2006), por permitir que estes encarem o jogo e ajam em função do
mesmo. Encontramos diferenças com significado estatístico nos intervalos de
João Cunha 45
idades 14-17 e 18-22, sendo que para as idades mais baixas as diferenças não
possuem significado estatístico (ver Quadro 10).
Conhecimento Táctico
0%
20%
40%
60%
80%
100%Jo
gado
r
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
8 a 9 Anos 10 a 13Anos
14 a 17Anos
18 a 22Anos
Muito ImportanteImportanteMed. ImportantePouco ImportanteNada Importante
Figura 8 – Nível de importância atribuída ao Conhecimento Táctico.
Verificamos na revisão da literatura que a técnica está relacionada com
a táctica, servindo a primeira como veículo de expressão da outra (Garganta &
Pinto, 1998). Também Guilherme Oliveira (2004) acrescenta no que se refere à
cultura táctica (aspecto central da qualidade de um jogador e da sua
capacidade de evolução), que também esta se relaciona com os aspectos
técnicos, porque não há táctico isolado. No entanto, o nível de importância
atribuído por treinadores difere intra e inter categorias.
De notar o facto de jogadores e treinadores estarem de acordo quanto à
baixa importância do conhecimento táctico no escalão 8-9 anos (ver Figura 8),
o que é contrário à importância observada na literatura (Rink et al., 1996;
Garganta, 1997; Guilherme Oliveira, 1999; Vieira, 2003; Guilherme Oliveira,
2004). Também aqui podemos encontrar uma justificação, utilizando as
palavras de Guilherme Oliveira (2004), onde reconhece uma superior cultura
táctica, em jogadores de formação de outros países, talvez derivada de uma
melhor estruturação do processo de formação nesses países, em relação aos
jogadores portugueses. Atenta ainda para a necessidade de nos preocuparmos
em formar jogadores inteligentes e com grande capacidade de adaptação a
46 João Cunha
diversos modelos de jogo.
Na categoria “Tomada de Decisão”, a última das pertencentes ao
domínio táctico-cognitivo, voltamos a encontrar um aumento crescente de
importância atribuída pelos jogadores, enquanto que para os treinadores o
crescimento é na frequência da resposta, dentro do nível muito importante (ver
Figura 9). Estas diferenças possuem significado estatístico e mostram, uma vez
mais, que os treinadores conferem maior importância à tomada de decisão,
seja qual for a idade do indivíduo (ver Quadro 11).
Quadro 11 – Nível de importância atribuída à Tomada de Decisão
CATEGORIA INDIVÍDUOS 8-9 ANOS 10-13 ANOS 14-17 ANOS 18-22 ANOS
Jogador Pouco ou Med. Imp. (25,8% +
25,8%) Med. Imp. (45,2%)
Imp. (48,4%)
Mt. Imp. (64,5%) Tomada
de Decisão
Treinador Mt. Imp. (45,2%) Mt. Imp. (54,8%)
Mt. Imp. (74,2%)
Mt. Imp. (93,5%)
Já verificamos anteriormente, que existe uma relação entre
conhecimento e tomada de decisão, ou seja, a finalidade do raciocínio é a
decisão, e como tal procuramos sempre a melhor resposta para um
determinado estímulo.
Tomada de Decisão
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
8 a 9 Anos 10 a 13Anos
14 a 17Anos
18 a 22Anos
Muito ImportanteImportanteMed. ImportantePouco ImportanteNada Importante
Figura 9 – Nível de importância atribuída à Tomada de Decisão
Neste sentido, raciocinar e decidir implicam que o decisor possua um
João Cunha 47
conhecimento da situação, das opções de reposta e das resultantes dessas
acções. Inclui também a necessidade do jogador ser portador de uma
estratégia de jogo (princípios), de onde resultarão inferências válidas
modeladoras de uma resposta adequada (Damásio, 1995).
A categoria “Motivação do Jogador” é aquela onde jogadores e
treinadores estão de acordo quanto ao grau de importância que assume na
formação de um jogador de excelência (ver Quadro 12). Quadro 12 – Nível de importância atribuída à Motivação do Jogador.
CATEGORIA INDIVÍDUOS 8-9 ANOS 10-13 ANOS 14-17 ANOS 18-22 ANOS
Jogador Mt. Imp. (32,3%)
Mt. Imp. (38,7%)
Mt. Imp. (61,3%)
Mt. Imp. (74,2%) Motivação do
Jogador Treinador Mt. Imp.
(64,5%) Mt. Imp. (67,7%)
Mt. Imp. (80,6%)
Mt. Imp. (93,5%)
Embora existam diferenças nas percentagens de resposta, as mesmas
não possuem significado estatístico, e em todos os intervalos é atribuído o nível
mais elevado de importância (ver Figura 10). Verificamos que a motivação do
jogador é um dos factores a que os jogadores atribuem maior importância, o
que é congruente com os valores registados para o domínio psicológico.
Motivação do Jogador
0%20%40%60%80%
100%
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
8 a 9 Anos 10 a 13Anos
14 a 17Anos
18 a 22Anos
Muito ImportanteImportanteMed. ImportantePouco ImportanteNada Importante
Figura 10 – Nível de importância atribuída à Motivação do Jogador.
No caso do futebol, podemos perceber imediatamente quais poderão ser
48 João Cunha
os factores de motivação intrínseca e extrínseca. Por um lado, a vontade de ser
o melhor, do prazer de jogar e o gosto pelo jogo, e por outro, o reconhecimento
do seu nível exibicional, por parte do treinador, colegas, do país e do mundo do
Futebol, bem como os prémios associados às vitórias nas diferentes
competições.
Também na categoria “Comportamento do Jogador no Grupo” existe
acordo na importância cedida por jogadores e treinadores (ver Quadro 13).
Quadro 13 – Nível de importância atribuída ao Comportamento do Jogador no Grupo.
CATEGORIA INDIVÍDUOS 8-9 ANOS 10-13 ANOS 14-17 ANOS 18-22 ANOS
Jogador Mt. Imp. (35,5%)
Mt. Imp. (38,7%)
Mt. Imp. (51,6%)
Mt. Imp. (74,2%) Comportamento
do Jogador no Grupo
Treinador Mt. Imp. (51,6%)
Mt. Imp. (58,1%)
Mt. Imp. (77,4%)
Mt. Imp. (90,3%)
As diferenças percentuais entre respostas não possuem significado
estatístico, e encontramos aqui uma segunda categoria percepcionada como
muito importante na formação de jogador de excelência, que também integra o
domínio psicológico.
Comportamento do Jogador no Grupo
0%
20%
40%60%
80%
100%
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
8 a 9 Anos 10 a 13Anos
14 a 17Anos
18 a 22Anos
Muito ImportanteImportanteMed. ImportantePouco ImportanteNada Importante
Figura 11 – Nível de importância atribuída ao Comportamento do Jogador no Grupo.
A forma como os jogadores se relacionam pode mesmo ser
preponderante para o sucesso desportivo da equipa. Quando uma equipa é
coesa os atletas tendem a ser mais cooperativos e a ser amigos entre si,
João Cunha 49
enquanto que numa equipa menos coesa os atletas tendem a agir mais
individualmente do que em grupo (Fonseca, 1995). Cabe ao treinador conhecer
a estrutura psicológica da equipa, controlando-a de modo a aumentar o seu
rendimento operacional (Cunha, 1983). Podemos encontrar um paralelo entre a
importância atribuída ao comportamento do jogador no grupo (ver Figura 11),
por treinadores e jogadores, e a afirmação de Palmi (1997, citado por Fonseca
& Alves, 2000), para quem a criação da equipa como um grupo é conseguida
eliminando a individualidade (Eu), e enfatizando o Nós.
No que concerne à categoria “Objectivos a Alcançar” verificamos que os
jogadores lhe atribuem menor importância que os treinadores nos escalões 8-9
e 10-13 anos, embora as diferenças não possuam significado estatístico (ver
Quadro. Quadro 14 – Nível de importância atribuída aos Objectivos a Alcançar.
O mesmo não se verifica nas idades mais elevadas, onde podemos
afirmar que jogadores e treinadores percepcionam a categoria como sendo
muito importante na formação de um jogador de Futebol de Excelência (ver
Figura 12).
Objectivos a Alcançar
0%20%40%60%80%
100%
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
8 a 9 Anos 10 a 13Anos
14 a 17Anos
18 a 22Anos
Muito ImportanteImportanteMed. ImportantePouco ImportanteNada Importante
Figura 12 – Nível de importância atribuída aos Objectivos a Alcançar.
CATEGORIA INDIVÍDUOS 8-9 ANOS 10-13 ANOS 14-17 ANOS 18-22 ANOS
Jogador Med. Imp. (29,0%)
Med. Imp. Ou Imp. (32,3% + 32,3%)
Mt. Imp. (51,6%)
Mt. Imp. (67,7%) Objectivos a
Alcançar Treinador Mt. Imp.
(25,8%) Mt. Imp. (35,5%) Mt. Imp. (54,8%)
Mt. Imp. (80,6%)
50 João Cunha
O modo como jogadores e treinadores percepcionam a importância
desta categoria (Agilidade), na formação de um jogador, apresenta
semelhanças com as pertencentes ao domínio táctico e cognitivo, ou seja, um
crescendo na importância percebida do lado dos jogadores e a atribuição do
nível muito importante a todos os escalões do período de formação, por parte
dos treinadores (ver Quadro 15).
Quadro 15 – Nível de importância atribuída à Agilidade.
CATEGORIA INDIVÍDUOS 8-9 ANOS 10-13 ANOS 14-17 ANOS 18-22 ANOS
Jogador Med. Imp. ou Imp. (29,0% + 29,0%) Imp. (38,7%) Imp.
(48,4%) Mt. Imp. (51,6%)
Agilidade
Treinador Mt. Imp. (45,2%) Mt. Imp. (51,6%)
Mt. Imp. (54,8%)
Mt. Imp. (61,3%)
Uma vez mais, é de notar um maior desacordo nos grupos mais jovens,
onde encontramos diferenças com significado estatístico. O mesmo não se
verifica nos dois escalões mais velhos, onde não existem diferenças com
significado estatístico, na importância imputada à categoria em questão (ver
Figura 13).
Agilidade
0%
20%
40%
60%
80%
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
8 a 9 Anos 10 a 13Anos
14 a 17Anos
18 a 22Anos
Muito ImportanteImportanteMed. ImportantePouco ImportanteNada Importante
Figura 13 – Nível de importância atribuída à Agilidade.
Por fim, a categoria “Condição Física” é percepcionada como
medianamente importante nos escalões iniciais (8-9; 10-13), existindo 9 dos
treinadores que a consideram pouco importante entre os 10 e os 13 anos de
João Cunha 51
idade (ver Quadro 16).
Nos escalões mais velhos tanto jogadores como treinadores
percepcionam a “condição física” como muito importante, à excepção dos
jogadores que atribuem o nível de importante para o escalão 14-17 anos.
Quadro 16 – Nível de importância atribuída à Condição Física.
CATEGORIA INDIVÍDUOS 8-9 ANOS 10-13 ANOS 14-17 ANOS 18-22 ANOS
Jogador Med. Imp. (29,0%)
Med. Imp. (41,9%) Imp. (58,1%) Mt. Imp.
(74,2%) Condição
Física Treinador Med. Imp.
(29,0%) Pouco ou Med. Imp. (29,0% +
29,0%) Mt. Imp. (45,2%) Mt. Imp.
(67,7%)
Para idades entre 18-22 anos existe correlação (99% de confiança) entre
o grau de importância desta variável e da variável domínio fisiológico.
Condição Física
0%
20%
40%
60%
80%
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
8 a 9 Anos 10 a 13Anos
14 a 17Anos
18 a 22Anos
Muito ImportanteImportanteMed. ImportantePouco ImportanteNada Importante
Figura 14 – Nível de importância atribuída à Agilidade.
Estes resultados condizem com a menor importância atribuída ao
domínio fisiológico, por jogadores e treinadores, tal como atenta a literatura
(Garganta, 1997; Reilly et al., 2000; Janelle & Hillman, 2003). Garganta (1999)
explica que a capacidade de previsão permite que um indivíduo, mesmo sendo
mais “lento” do que outro, do ponto de vista neuromuscular, possa chegar
primeiro a uma zona do campo, por ter antecipado a situação. Por tal motivo é
referido por vários autores (Pinto, 1996; Garganta, 1997; Garganta & Pinto,
52 João Cunha
1998; Carvalhal, 2001; Guilherme Oliveira, 2004) ser a táctica o “farol” do que
guia ao rendimento, tenda no domínio fisiológico mais uma forma de se
manifestar.
OBJECTIVO 2: COMPARAR A PERCEPÇÃO, ENTRE JOGADORES E TREINADORES, SOBRE A IMPORTÂNCIA DA FORMA DE DESENVOLVIMENTO DAS CATEGORIAS DO OBJECTIVO 1.1 PARA A FORMAÇÃO DE JOGADORES DE FUTEBOL DE EXCELÊNCIA;
Não é o treino que torna as coisas perfeitas, mas o perfeito treino que
nos leva à perfeição (Leal & Quinta, 2001). Os mesmos autores esclarecem
que o treino perfeito é aquele que privilegia a especificidade do futebol, tal
como para Mourinho, para quem treinar é operacionalizar a sua ideia de jogo
(Oliveira, Amieiro, Barreto & Resende, 2006).
Quadro 17 – Nível de importância atribuída às diferentes formas de desenvolvimento das categorias do objectivo 1.1.
FORMAS DE TREINO INDIVÍDUOS NÍVEL DE IMPORTÂNCIA SIG.
Jogador Mt. Imp. (22,6%) Imp. (41,9,6%) Med. Imp. (32,3%) Analítico
Treinador Med. Imp. (16,1%) Pouco Imp. (25,8%) Nada Imp. (41,9%) , 000
Jogador Imp. (58,1%) Med. Imp. (29,0%) Pouco Imp. (6,5%) Jogos Reduzidos Treinador Mt. Imp. (67,7%) Imp. (25,8%) Med. Imp. (6,5%)
, 000
Jogador Mt. Imp. (25,8%) Imp. (45,2%) Med. Imp. (22,6%) Jogo Formal
Treinador Mt. Imp. (19,4%) Imp. (22,6%) Med. Imp. (35,5%) , 127
Jogador Mt. Imp. (38,7%) Imp. (51,6%) Med. Imp. (6,5%) No Terreno de Jogo Treinador Mt. Imp. (77,4%) Imp. (16,1%) Med. Imp. (3,2%)
, 017
Jogador Imp. (16,1%) Med. Imp. (48,4%) Pouco Imp. (19,4%) Fora do Terreno de
Jogo Treinador Med. Imp. (19,4%) Pouco Imp. (19,4%) Nada Imp. (54,8%) , 000
Partindo desta concepção de treino e observando os dados
apresentados no Quadro 17, podemos constatar que as diferenças entre a
percepção dos jogadores e treinadores, é estatisticamente significativa, para
todas as questões, excepção feita ao jogo formal.
A Figura 15 mostra que os jogadores consideram importantes, todas as
formas de treino, exceptuando fora do terreno de jogo, onde atribuem uma
importância mediana. Já os treinadores diferem em muito da opinião dos
seus ”súbditos”, considerando o treino fora do terreno de jogo nada importante,
o jogo formal medianamente importante e classificando os jogos reduzidos e o
treino dentro do terreno de jogo como muito importantes.
João Cunha 53
Formas de Treino
0%20%40%60%80%
100%
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Analítico JogosReduzidos
JogoFormal
NoTerrenode Jogo
Fora doTerrenode Jogo
Muito ImportanteImportanteMed. ImportantePouco ImportanteNada Importante
Figura 15 – Nível de importância atribuída às diferentes formas de desenvolvimento das categorias do objectivo 1.1.
Estas diferenças podem ser entendidas, do lado dos jogadores, pela
formação a que foram sujeitos à 15 anos atrás, o que pode indicar a exposição
a uma concepção de treino algo diferente da que actualmente é defendida por
treinadores, isto se pensarmos que a média dos anos de prática dos jogadores,
desta amostra, é de 14, 68 anos.
OBJECTIVO 3: COMPARAR A PERCEPÇÃO, ENTRE JOGADORES E TREINADORES, SOBRE A IMPORTÂNCIA DOS FACTORES (HABILIDADE NATURAL, PRÁTICA, AMBIÇÃO, CULTURA DA JOGO, CAPACIDADE PSICOLÓGICA, EQUIPAMENTOS, CONSISTÊNCIA, SORTE, CONDIÇÃO FÍSICA, ENTRAR EM COMPETIÇÕES E QUALIDADE DO TREINADOR) PARA A FORMAÇÃO DE JOGADORES DE FUTEBOL DE EXCELÊNCIA;
Ao analisar o quadro 18, encontramos uma hierarquia distinta entre o
grupo de jogadores e treinadores. É certo que apenas em duas delas
verificamos diferenças com significado estatístico, para um intervalo de
confiança de 99%, nomeadamente no factor “prática” e no factor “cultura de
jogo”. No entanto, se alargarmos o nosso intervalo de confiança até aos 90%,
encontraremos diferenças estatisticamente significativas nos factores
“consistência”, “sorte” e “condição física”. Para os jogadores (ver Figuras 16 e
17), é a ambição (ser melhor) que surge no topo, seguida da entrada em competições e da capacidade psicológica, juntamente com a qualidade do treinador esta última sempre a ocupar os lugares cimeiros na importância
54 João Cunha
atribuída pelos mesmos.
O primeiro lugar ocupado pelo factor “ambição”, vai ao encontro da
opinião expressa por patinadores, num estudo realizado por Starkes, J., Deakin,
J. Allard, F., Hodges, N. & Hayes, A. (1996). Já o factor entrar em competições,
apresenta um resultado completamente oposto ao observado nesse mesmo
estudo. Enquanto que aqui, os jogadores consideram a entrada em
competições, como o segundo factor mais importante, os patinadores
colocaram este mesmo aspecto em penúltimo lugar.
Quadro 18 – Nível de importância atribuída aos diferentes factores relacionados com o alcançar da excelência.
FACTORES INDIVÍDUOS NÍVEL DE IMPORTÂNCIA SIG.
Jogador Mt. Imp. (25,8%) Imp. (54,8%) Med. Imp. (16,1%) Habilidade Natural Treinador Mt. Imp. (25,8%) Imp. (48,4%) Med. Imp. (16,1%)
, 771
Jogador Mt. Imp. (45,2%) Imp. (45,2%) Med. Imp. (9,7%) Prática (Qualidade e Quantidade) Treinador Mt. Imp. (83,9%) Imp. (16,1%) Med. Imp. (0,0%)
, 004
Jogador Mt. Imp. (67,7%) Imp. (29,0%) Med. Imp. (3,2%) Ambição (Ser melhor) Treinador Mt. Imp. (64,5%) Imp. (35,5%) Med. Imp. (0,0%)
, 542
Jogador Mt. Imp. (29,0%) Imp. (54,8%) Med. Imp. (12,9%) Cultura de Jogo
Treinador Mt. Imp. (74,2%) Imp. (25,8%) Med. Imp. (0,0%) , 002
Jogador Mt. Imp. (51,6%) Imp. (35,5%) Med. Imp. (16,1%) Capacidade Psicológica Treinador Mt. Imp. (71,0%) Imp. (22,6%) Med. Imp. (6,5%)
, 386
Jogador Mt. Imp. (22,6%) Imp. (16,1%) Med. Imp. (48,4%) Equipamentos (Instalações, …) Treinador Mt. Imp. (29,0%) Imp. (22,6%) Med. Imp. (32,3%)
, 786
Jogador Mt. Imp. (32,3%) Imp. (51,6%) Med. Imp. (16,1%) Consistência (no
desempenho) Treinador Mt. Imp. (61,3%) Imp. (29,0%) Med. Imp. (9,7%) , 072
Jogador Mt. Imp. (19,4%) Imp. (32,3%) Med. Imp. (32,3%) Sorte
Treinador Mt. Imp. (12,9%) Med. Imp. (35,5%) Nada. Imp. (32,3%) , 058
Jogador Mt. Imp. (48,4%) Imp. (45,2%) Med. Imp. (6,5%) Condição Física
Treinador Mt. Imp. (29,0%) Imp. (35,5%) Med. Imp. (25,8%) , 076
Jogador Mt. Imp. (54,8%) Imp. (35,5%) Med. Imp. (9,7%) Entrar em Competições Treinador Mt. Imp. (64,5%) Imp. (22,6%) Med. Imp. (12,9%)
, 529
Jogador Mt. Imp. (51,6%) Imp. (35,5%) Med. Imp. (9,7%) Qualidade do Treinador Treinador Mt. Imp. (71,0%) Imp. (29,0%) Med. Imp. (0,0%)
, 161
Também no factor “prática” (ver Figura 16) encontramos discrepância de
opinião. Para os patinadores a prática surge como o terceiro factor mais
importante, enquanto que os jogadores a colocam no sexto lugar, embora este
João Cunha 55
resultado tenha duas interpretações.
Factores associados à formação do Jogador
0%
20%
40%
60%
80%
100%Jo
gado
r
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
HabilidadeNatural
Prática Ambição Cultura deJogo
CapacidadePsicológica
Muito ImportanteImportante
Med. ImportantePouco Importante
Nada Importante
Figura 16 – Nível de importância atribuída aos diferentes factores relacionados com o alcançar da excelência.
Em primeiro lugar porque ao somarmos as percentagens do nível muito
importante e importante, encontramos 90,4% das respostas dadas por
jogadores, e por outro lado, o facto de estes poderem considerar que o treino
não consegue ser tão importante quanto a competição em si, e daí votarem a
entrada em competições como a segunda mais importante, para alcançarem a
excelência.
Para os treinadores, como seria de esperar, é a prática (ver figura 16) a
surgir no topo da tabela, e quando dizemos que é de esperar, estamos a
referir-nos ao facto de ser o meio pelo qual o treinador induz as alterações,
melhoramentos, afinações no jogar da equipa, e onde este pode directamente
influenciar o processo de formação do jogador, para o poder conduzir à
excelência. Cabe ao treinador orientá-los no sentido de evitar que os jogadores
se concentrem apenas nas coisas que fazem bem, impedindo que o nível da
prática evolua (Starkes, 2000). Logo de seguida, encontramos o factor ”cultura de jogo” (ver figura 16), que é considerado muito importante para que o
jogador consiga participar e integrar qualquer organização.
56 João Cunha
Factores associados à formação do Jogador
0%
20%
40%
60%
80%
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
Joga
dor
Trei
nado
r
EquipamentosConsistência Sorte CondiçãoFísica
Entrar emCompetições
Qualidadedo
Treinador
Muito ImportanteImportanteMed. ImportantePouco ImportanteNada Importante
Figura 17 – Nível de importância atribuída aos diferentes factores relacionados com o alcançar da excelência.
Segundo Pinto (1996), este deve possuir uma cultura táctica sólida e
alargada, independentemente da cultura organizacional, que lhe permita
ultrapassar, de modo eficaz, os problemas gerados pela natureza aleatória do
jogo. No terceiro lugar surgem “qualidade do treinador” (ver figura 17) e
“capacidade psicológica” (ver figura 16). Se comparado com os resultados
do estudo entre treinadores e patinadores, de Starkes, J., Deakin, J. Allard, F.,
Hodges, N. & Hayes, A. (1996), verificamos que em ambos, os factores prática
e qualidade dos treinadores ocupam um dos três primeiros lugares, e que o
factor capacidade psicológica, que para nós surge em terceiro lugar, ocupa o
penúltimo lugar para os treinadores de patinagem.
OBJECTIVO 4: COMPARAR A PERCEPÇÃO, ENTRE JOGADORES E TREINADORES, SOBRE A IMPORTÂNCIA DO NÚMERO MÉDIO DE HORAS DE PRÁTICA DIÁRIA NECESSÁRIAS PARA A FORMAÇÃO DE JOGADORES DE FUTEBOL DE EXCELÊNCIA;
Pode-se constatar, no Quadro 19, que existe consenso entre as
respostas de treinadores e jogadores quanto ao número de horas de prática
diária no clube, ou seja, há uma relação entre aquilo que os jogadores
percepcionam ter sido importante durante a sua formação e o que os
treinadores consideram que deve ser realizado para que um jogador alcance a
excelência em Futebol. Já ao nível do número de horas de prática na rua,
encontramos diferenças estatisticamente significativas, uma vez que os
João Cunha 57
jogadores afirmam terem dispendido entre 3-4 horas de prática diária,
enquanto que os treinadores consideram serem necessárias apenas 1-2 horas diárias.
Quadro 19 – Número de horas de prática diária para alcançar a excelência.
CATEGORIA INDIVÍDUOS 1-2 HORAS 3-4 HORAS 5-6 HORAS7 OU MAIS
HORAS Jogador 71,0% 25,8% 0,0% 3,2% No Clube
Treinador 74,2% 16,1% 6,5% 3,2% Jogador 19,4% 25,8% 16,1% 3,2% Na Rua
Treinador 48,4% 22,6% 6,5% 3,2%
Esta diferença pode justificar-se pela escassez de espaços disponíveis,
hoje em dia, para a prática do futebol de rua, e também pelo facto de as
crianças terem o dia cada vez mais preenchido com actividades na escola, o
que retira tempo para os jovens se agruparem na “rua” e desenvolverem o seu
Futebol.
Se somarmos o número de horas de prática no clube e na rua, com
maior frequência de respostas, para jogadores, resulta uma média de 4 a 6
horas de prática diária, o que comparado com os resultados do estudo sobre
patinadores (6 a 9 horas diárias) mostra uma potencial diferença de 2 a 5 horas,
por dia.
OBJECTIVO 5: COMPARAR A PERCEPÇÃO, ENTRE JOGADORES E TREINADORES, SOBRE A IMPORTÂNCIA DO NÚMERO MÉDIO DE TREINOS SEMANAIS NECESSÁRIOS PARA A FORMAÇÃO DE JOGADORES DE FUTEBOL DE EXCELÊNCIA;
Quando se perguntou a cerca do número médio de treinos semanais,
35,5% dos jogadores revelaram terem efectuado entre 5 e 6 treinos semanais (ver Quadro 20), o que está de acordo com a percepção dos
treinadores, bem como com o estudo sobre patinadores onde é mencionado
que estes realizavam 6 sessões semanais.
Quadro 20 – Número de treinos semanais para alcançar a excelência.
INDIVÍDUOS 1-2 TREINOS
3-4 TREINOS
5-6 TREINOS
7-8 TREINOS
MAIS DE 8 TREINOS
Jogador 9,7% 22,6% 35,5% 22,6% 9,7%
Treinador 0,0% 38,7% 51,6% 9,7% 0,0%
Se multiplicarmos o número de treinos semanais pelo número de horas
58 João Cunha
de prática diária, vem que, um jogador para alcançar a excelência em futebol
deve praticar entre 24 a 36 horas semanais, o que comparado com lutadores
internacionais (46h), violinistas (50,6h) e pianistas (56,75h), (Starkes, J.,
Deakin, J. Allard, F., Hodges, N. & Hayes, A., 1996), se encontra pelo menos
dez horas abaixo do realizado por estes.
OBJECTIVO 6: COMPARAR A PERCEPÇÃO, ENTRE JOGADORES E TREINADORES, SOBRE A IDADE COM QUE UM INDIVÍDUO DEVE INICIAR SUA PRÁTICA DO FUTEBOL PARA PODER ALCANÇAR A EXCELÊNCIA;
Vários são os autores (Bompa, 1995; Lima, 1999; Marques & Oliveira,
2001; Pacheco, 2001), que referem as idades entre os 6 e os 12 anos, como
óptimas para a iniciação desportiva, o que coincide com os valores
apresentados na tabela anterior, onde podemos verificar que 38,7% dos
jogadores iniciou a sua prática, no clube, entre os 9 e os 10 anos, e 32,3%
afirmam ter iniciado a prática do Futebol de rua entre os 4 e os 6 anos de
idade (ver Quadro 21). Quadro 21 – Local e Idade com que o indivíduo deve iniciar a sua prática.
CATEGORIA INDIVÍDUOS ATÉ AOS 4 ANOS 4-6 ANOS 7-8 ANOS 9-10
ANOS 11-12 ANOS
13 EM DIANTE
Jogador 0,0% 6,5% 22,6% 38,7% 9,7% 22,6% No Clube Treinador 6,5% 19,4% 32,3% 22,6% 6,5% 9,7% Jogador 19,4% 32,3% 29,0% 6,5% 0,0% 0,0% Na Rua
Treinador 45,2% 22,6% 6,5% 9,7% 0,0% 0,0%
Encontramos semelhanças entre os dados recolhidos e a idade referida
por Lucho Gonzalez (7 anos) (in Fonseca, 2006: CV), actual jogador do F.C. do
Porto, para se ter iniciado no futebol de rua. É de salientar o facto de 7 dos 31
jogadores inquiridos, afirmar ter iniciado a sua prática orientada, depois dos 13
anos. Também Anderson (in Fonseca, 2006: LIX), actualmente jogador do
Manchester United, indica ter iniciado a sua prática sistematizada por volta do
13, 14 anos, acrescentando que aos 9, 10 anos a criança pode aprender, mas
com maior dificuldade. Para ele o futebol de rua surgiu por volta dos 5
anos…”logo depois de ter começado a caminhar”.
Para 32,3% dos treinadores, um indivíduo para se tornar de elite, deve
iniciar a sua prática orientada entre os 7 e os 8 anos de idade, e para 45,2% as
vivências de rua devem ter inicio até aos 4 anos. Para Carlos Carvalhal (in
João Cunha 59
Fonseca, 2006: XXIII), é fundamental que isto aconteça, apresentando o caso
da filha que frequenta um colégio desde os 3 anos, o qual tem espaço para que
possam jogar Futebol. A sua filha tem agora 12 anos e dois dos seus colegas,
que a acompanharam desde então, foram contratados pelo Sporting. Já para
Rui Pacheco (in Fonseca, 2006: XXXV) até aos 6 anos de idade a criança
encontra-se numa fase muito egocêntrica, onde se centram muito neles e na
bola, não estando preparados para o jogo colectivo, nem para se inserirem
num grupo, podendo, no entanto, experimentar situações de aprendizagem
motora.
OBJECTIVO 7: COMPARAR A PERCEPÇÃO, ENTRE JOGADORES E TREINADORES, SOBRE NÚMERO DE ANOS NECESSÁRIOS PARA PODER ALCANÇAR A EXCELÊNCIA EM FUTEBOL;
De acordo com a “regra dos 10 anos”, a estadia durante 10 anos ao
mais alto nível de treino, é a exigência mínima para se alcançar a Excelência.
Esta regra foi verificada na Música (Ericsson, Krampe & Tesh-Romer, 1993;
Hayes, 1981; Sosniak, 1985), na Matemática (Gustin, 1985), na Natação
(Kalinowski, 1985), no Atletismo (Wallingord, 1975) e no Ténis (Monsaas, 1985).
Quadro 22 – Número de anos para alcançar a excelência. INDIVÍDUOS 8 ANOS 9 ANOS 10 ANOS 11 ANOS 12 ANOS
Jogador 6,5% 12,9% 25,8% 3,2% 0,0%
Treinador 3,2% 3,2% 32,3% 3,2% 12,9%
Como se pode constatar (ver Quadro 22), também 8 (25,8%) dos
jogadores inquiridos indicam ter demorado 10 anos e 4 (12,9 %) a alcançar a
excelência em Futebol. Por seu lado, também 10 (32,3%) dos treinadores
considera serem necessários 10 anos para que um jogador se torne de
excelência. Nos questionários que foram passados surgiram registos escritos,
única e exclusivamente nesta pergunta, que serviam como complemento à
resposta indicada. Nuns pudemos ler “ainda hoje procuro a excelência” ou
“ainda não atingi”, sendo estes casos de dois jogadores, um com 18 anos de
prática e o outro com 86 internacionalizações, e noutros “depende!”, neste caso
um treinador com o curso de 4º nível e 25 anos de prática.
Embora a literatura e os resultados obtidos nos indiquem os 10 anos
60 João Cunha
como o tempo necessário para alcançar a Excelência, não nos podemos
esquecer que nada é auto-suficiente e que, por isso, não basta praticar Futebol
durante 10 anos para se ter a certeza que seremos expertos nesta área.
João Cunha 61
66.. CCOONNCCLLUUSSÕÕEESS
“Eram partidas de 14 contra 13 e onde quase não existiam regras”
Lucho Gonzalez (in Fonseca, 2006)
“…o treino é uma coisa séria, que visa melhorar
as tuas qualidades, os teus defeitos e erros.”
Anderson (in Fonseca, 2006)
Foi no sentido de clarificar os caminhos para a Excelência em Futebol,
que desenvolvemos este trabalho, dando especial atenção à percepção acerca
dos factores relacionados com o treino.
Partindo da literatura consultada, constata-se que a excelência
desportiva deve ser alcançada nos domínios cognitivo (táctico-estratégico;
percepção/tomada de decisão), fisiológico, emocional (psicológico) e técnico.
No entanto verifica-se que a importância atribuída aos diferentes domínios não
é igual. Os jogadores consideraram o domínio psicológico (51,6%) como o mais
importante para alcançarem o nível de excelência, enquanto que os treinadores
atribuíram ao domínio cognitivo (87,1%), a maior importância para seguir tal
trajecto. Encontramos acordo entre jogadores e treinadores, para os domínios
fisiológico (importante) e emocional (muito importante). O domínio que mereceu
menor importância, da parte de jogadores (importante, 45,2%) e treinadores
(importante, 35,5%), foi o fisiológico, ou seja,
Quanto às sub-categorias dos domínios acima referidos, pudemos
verificar que apenas as habilidades técnicas, motivação do jogador e
comportamento do jogador no grupo apresentam homogeneidade quanto à
importância atribuída (importante ou muito importante) ao longo dos anos de
formação para ambos os grupos (jogadores e treinadores).
Também de notar, que no escalão etário 18-22 Anos, todas as
categorias foram percepcionadas como muito importantes, entre jogadores e
treinadores.
No escalão imediatamente anterior (14-17 anos), são atribuídos níveis
de importância elevados (importante ou muito importante) a todas as categorias
62 João Cunha
por parte dos dois grupos inquiridos.
Para as idades 8-9 anos e 10-13 anos jogadores e treinadores
percepcionam como muito importante as categorias motivação do jogador e
comportamento do jogador no grupo. Nas restantes categorias verificamos
acordo quanto à condição física (medianamente importante), e uma
aproximação na opinião relativa às habilidades técnicas, consideradas
importantes pelos jogadores e muito importantes pelos treinadores.
Quanto às formas de desenvolvimento das categorias referidas
anteriormente, há concordância, entre jogadores e treinadores, na hora de
classificar como muito importante a utilização dos jogos reduzidos para esse
efeito. Embora existam diferenças com significado estatístico, jogadores
apontam como importante e treinadores como muito importante a utilização do
terreno de jogo. Para os treinadores não é nada importante o treino analítico
nem o recurso a espaços fora do terreno de jogo, na estruturação do treino.
Quando se pergunta aos jogadores qual o factor que mais contribuiu
(muito importante) para que chegassem ao patamar de excelência, a maior
percentagem de resposta caiu sobre a ambição (67,7%, ser melhor), seguida
da entrada em competições (54,8%), da capacidade psicológica (51,6%) e
qualidade do treinador (51,6%), os dois factores com menor importância
atribuída foram a sorte (importante, 32,3%) e equipamentos (medianamente
Importante, 48,4%) respectivamente. Já os treinadores, e como seria de
esperar, consideraram a prática (83,9%, qualidade e quantidade) a mais
importante, atribuindo o segundo posto à cultura de jogo (74,2%), seguida da
qualidade do treinador (71,0%) e capacidade psicológica (71,0%), como havia
acontecido com os jogadores. No final, surgem também a sorte (medianamente
importante, 35,5%) e os equipamentos (medianamente importante, 32,3%),
como os que menos contribuem para alcançar o nível de excelência.
Com base na “regra dos 10 anos” recolhemos informação acerca do
número de horas de prática diária, no clube e na rua, de onde se registou uma
média de 4 a 6 horas, indicada por jogadores e por treinadores. Quanto ao
número de sessões de treino registamos uma média de 5 a 6 por semana, o
que cruzado com o número de horas de prática diária indica uma média de 20
João Cunha 63
a 36 horas semanais.
A idade apresentada para o início da prática deliberada, por jogadores
cifra-se nos 9-10 anos (38,7%), embora sem grande diferença para os
intervalos 7-8 anos (22,6%) e mais de 13 anos (22,6%). Os treinadores elegem
o escalão 7-8 anos (32,3%), como o mais indicado, seguido do escalão 9-10
anos (22,6%), ou seja, podemos aglutinar os intervalos e formar um mais
alargado, tal como surge na literatura, entre os 7 e os 10 anos de idade.
O início do “futebol de rua” é apontado, por jogadores, para idades entre
os 4-6 anos (32,3%), e 7-8 anos (29,0%) de idade. Os treinadores consideram
que as crianças devem iniciar o seu contacto com o jogo até aos 4 anos de
idade (45,2%), defendendo o princípio de “quanto mais cedo melhor”.
Por último, à pergunta, “quantos anos são necessários para alcançar a
excelência?”, jogadores (25,8%) e treinadores (32,3%) concordaram ao
indicarem os 10 anos como o tempo necessário para um jogador alcançar a
excelência em Futebol.
Em síntese, pode concluir-se que:
• Na formação de um jogador de excelência todos os domínios são
importantes, destacando-se, no entanto, o domínio táctico-cognitvo (treinadores)
e o domínio psicológico (jogadores);
• Até aos 13 anos de idade as habilidades técnicas são percepcionadas
como tendo maior importância do que os princípios ofensivos/defensivos, o
conhecimento táctico e a tomada de decisão;
• O domínio psicológico (motivação do jogador e comportamento do
jogador no grupo) é considerado muito importante em todo o processo de
formação do indivíduo;
• A partir dos 14 anos de idade todos os domínios são considerados
importantes na formação de um jogador de excelência;
• O treino no terreno de jogo e nomeadamente os jogos reduzidos são
apontados como os mais importantes para a formação do indivíduo;
• É percepcionado como muito importante, para que um indivíduo possa
64 João Cunha
alcançar a excelência, ser sujeito a uma prática deliberada, ter ambição em ser
melhor, possuir uma boa capacidade psicológica, entrar em competições e
trabalhar com um treinador de qualidade;
• A prática não orientada deverá iniciar-se entre os 4 – 6 anos de idade;
• A prática deliberada deverá iniciar-se entre os 7 – 10 anos de idade;
• O indivíduo deve despender entre 4 a 6 horas diárias, 5 a 6 vezes por semana, dividido entre o clube e a “rua”;
• Se todos os requisitos, anteriormente referidos, forem contemplados o
indivíduo demorará cerca de 10 anos para alcançar a Excelência.
João Cunha 65
77.. SSUUGGEESSTTÕÕEESS PPAARRAA FFUUTTUURROOSS EESSTTUUDDOOSS
Como afirma Castelo (1994) pretende-se que o processo de intervenção
(treino) decorra cada vez mais da reflexão metódica e organizada da análise do
conteúdo do jogo, por isso considera-se importante que a investigação
esclareça:
• Se os domínios percebidos como mais importantes são alvo de maior
atenção durante o tempo de prática deliberada;
• Se existe relação entre a posição que se ocupa em campo, durante o
processo de formação e o alcançar da excelência nessa mesma posição;
• Se o salto pubertário pode ser uma referência temporal para o aumento
da complexidade/exigência táctica, a que o indivíduo é sujeito no processo de
formação;
• Se para uma amostra de dimensão superior, se confirmam os resultados
encontrados no presente estudo.
66 João Cunha
João Cunha 67
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74 João Cunha
João Cunha 75
AANNEEXXOOSS
LXXVI João Cunha
Exmo. Sr. ou Sr.ª:
No âmbito do 5º Ano de licenciatura em Desporto e Educação Física,
estamos a realizar um estudo subordinado ao tema “A Excelência em Futebol”,
para o qual pedimos a sua colaboração.
A literatura científica considera que um indivíduo com muitos anos de experiência, várias horas de prática e com resultados consistentes ao mais alto nível, numa dada área, pode ser reconhecido como praticante de
excelência nessa área.
Pretendemos saber quais os factores que considera terem sido mais
importantes, para que se tornasse um jogador de Excelência em Futebol.
Agradecendo antecipadamente a sua participação neste estudo,
disponibilizamo-nos para qualquer eventual esclarecimento.
O Orientando O Orientador
(João Cunha) (Júlio Garganta)
João Cunha LXXVII
Questionário Jogador
1. Idade 2. Anos de Prática
3. Posição ____________________ 4. Nº. Títulos Internacionais
5. Nº. Títulos Nacionais 6. Épocas como Profissional
7. Nº. Internacionalizações
Coloque um círculo (O) na opção pretendida. A correspondência será: 1 –
Nada Importante; 2 – Pouco Importante; 3 – Medianamente Importante; 4 –
Importante; 5 – Muito Importante;
8. Qual a importância dos seguintes domínios, na sua formação em Futebol?
8.1 Domínio Táctico-Cognitivo 1 2 3 4 5 8.2 Domínio Fisiológico 1 2 3 4 5 8.3 Domínio Psicológico 1 2 3 4 5 8.4 Domínio Técnico 1 2 3 4 5
9. Quão importantes foram os seguintes aspectos do jogo, para que se tornasse um jogador de Excelência?
8-9 Anos 10-13 Anos 14-17 Anos 17-22 Anos
9.1 Princípios Ofensivos 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.2 Princípios Defensivos 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.3 Habilidades Técnicas 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.4 Conhecimento Táctico 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.5 Tomada de Decisão 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.6 Motivação do Jogador 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.7 Comportamento do Jogador no Grupo 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.8 Objectivos a alcançar 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.9 Agilidade 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.10 Condição Física 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
LXXVIII João Cunha
10. De que forma foi mais importante, para a sua formação, desenvolver os aspectos referidos em 9?
10.1 Táctica/Técnica/Físico/Psicológico em separado 1 2 3 4 5 10.2 Jogos reduzidos (1X1, 2X1, …, 7X7, etc.) 1 2 3 4 5 10.3 Jogo Formal (11X11) 1 2 3 4 5 10.4 No terreno de jogo 1 2 3 4 5 10.5 Fora do terreno de jogo (ginásio, parques) 1 2 3 4 5
11. Qual o grau de importância que atribui aos seguintes factores, para se ter tornado um jogador de Excelência?
11.1 Habilidade natural (já nasceu consigo) 1 2 3 4 5
11.2 Prática (qualidade e quantidade) 1 2 3 4 5
11.3 Ambição (ser melhor) 1 2 3 4 5
11.4 Cultura de jogo (conhecimento do jogo) 1 2 3 4 5
11.5 Capacidade psicológica 1 2 3 4 5
11.6 Equipamentos (instalações, material, etc.) 1 2 3 4 5
11.7 Consistência (no desempenho) 1 2 3 4 5
11.8 Sorte 1 2 3 4 5
11.9 Condição Física 1 2 3 4 5
11.10 Entrar em Competições 1 2 3 4 5
11.11 Qualidade do Treinador 1 2 3 4 5
Coloque uma cruz (X) na opção de resposta seleccionada.
12. Qual o número médio de horas de prática diária durante a sua formação em Futebol?
No Clube Na “Rua” 12.1 1-2 Horas 12.2 3-4 Horas 12.3 5-6 Horas 12.4 7 Horas ou mais
13. Qual o número médio de treinos semanais durante a sua formação em Futebol?
13.1 1-2 Treinos 13.2 3-4 Treinos 13.3 5-6 Treinos 13.4 7-8 Treinos 13.5 Mais de 8 treinos
João Cunha LXXIX
14. Com que idade iniciou a sua prática, para se poder tornar um jogador de Excelência?
No Clube Na “Rua” 14.1 Até aos 4 anos 14.2 4-6 Anos 14.3 7-8 Anos 14.4 9-10 Anos 14.5 11-12 Anos 14.6 13 em diante
Indique por favor:
15. Quantos anos levou a atingir a Excelência?
Muito Obrigado!
LXXX João Cunha
Exmo. Sr. ou Sr.ª:
No âmbito do 5º Ano de licenciatura em Desporto e Educação Física,
estamos a realizar um estudo subordinado ao tema “A Excelência em Futebol”,
para o qual pedimos a sua colaboração.
A literatura científica considera que um indivíduo com muitos anos de experiência, várias horas de prática e com resultados consistentes ao mais alto nível numa dada área, pode ser reconhecido como praticante de
excelência nessa área.
Para compreender melhor o que levou um futebolista a tornar-se
excelente e, portanto, a produzir resultados consistentes e ao mais alto nível, pretende-se identificar os factores, que o treinador de formação
considera serem mais importantes, para que um jovem alcance a Excelência
em Futebol.
Agradecendo antecipadamente a sua participação neste estudo,
disponibilizamo-nos para qualquer eventual esclarecimento.
O Orientando O Orientador
(João Cunha) (Júlio Garganta)
João Cunha LXXXI
Questionário Treinador
1. Idade 2. Formação Académica ____________
3. Curso de Treinador (Nível) 4. Anos de Prática
5. Cargo _____________________ 6. Nº. de Títulos Nacionais
7. Nº. de Títulos Internacionais
Coloque um círculo (O) na opção pretendida. A correspondência será: 1 –
Nada Importante; 2 – Pouco Importante; 3 – Medianamente Importante; 4 –
Importante; 5 – Muito Importante;
8. Qual a importância dos seguintes domínios do Jogo, na formação de um jogador de Excelência em Futebol?
8.1 Domínio Táctico-Cognitivo 1 2 3 4 5 8.2 Domínio Fisiológico 1 2 3 4 5 8.3 Domínio Psicológico 1 2 3 4 5 8.4 Domínio Técnico 1 2 3 4 5
9. Qual a importância atribuída aos seguintes aspectos do jogo, para que um jogador se torne de Excelência?
8-9 Anos 10-13 Anos 14-17 Anos 17-22 Anos
9.1 Princípios Ofensivos 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.2 Princípios Defensivos 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.3 Habilidades Técnicas 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.4 Conhecimento Táctico 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.5 Tomada de Decisão 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.6 Motivação do Jogador 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.7 Comportamento do Jogador no Grupo 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.8 Objectivos a alcançar 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.9 Agilidade 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
9.10 Condição Física 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
LXXXII João Cunha
10. Como desenvolver os aspectos referidos em 9?
10.1 Táctica/Técnica/Físico/Psicológico em separado 1 2 3 4 510.2 Jogos reduzidos (1X1, 2X1, …, 7X7, etc.) 1 2 3 4 510.3 Jogo Formal (11X11) 1 2 3 4 510.4 No terreno de jogo 1 2 3 4 510.5 Fora do terreno de jogo (ginásio, parques) 1 2 3 4 5
11. Qual o grau de importância dos seguintes factores, na formação de um jogador de Excelência?
11.1 Habilidade natural (já nasceu consigo) 1 2 3 4 5 11.2 Prática (qualidade e quantidade) 1 2 3 4 5 11.3 Ambição (ser melhor) 1 2 3 4 5 11.4 Cultura de jogo (conhecimento do jogo) 1 2 3 4 5 11.5 Capacidade psicológica 1 2 3 4 5 11.6 Equipamentos (instalações, material, etc.) 1 2 3 4 5 11.7 Consistência (no desempenho) 1 2 3 4 5 11.8 Sorte 1 2 3 4 5 11.9 Condição Física 1 2 3 4 5 11.10 Entrar em Competições 1 2 3 4 5 11.11 Qualidade do Treinador 1 2 3 4 5
Coloque uma cruz (X) na opção de resposta seleccionada.
12. Qual o número médio de horas de prática diária necessário para a formação de um jogador de Excelência?
No Clube Na “Rua” 12.1 1-2 Horas 12.2 3-4 Horas 12.3 5-6 Horas 12.4 7 Horas ou mais
13. Qual o número médio de treinos semanais necessário para a formação de um jogador de Excelência?
13.1 1-2 Treinos 13.2 3-4 Treinos 13.3 5-6 Treinos 13.4 7-8 Treinos 13.5 Mais de 8 treinos
João Cunha LXXXIII
14. Com que idade e onde deve o indivíduo iniciar a sua prática, para se poder tornar um jogador de Excelência?
No Clube Na “Rua” 14.1 Até aos 4 anos 14.2 4-6 Anos 14.3 7-8 Anos 14.4 9-10 Anos 14.5 11-12 Anos 14.6 13 em diante
Indique por favor:
15. Quantos anos lhe parecem necessários para um jogador se tornar de Excelência?
Muito Obrigado!