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o REGISTRO CARTOGRÁFICO DOS FATOS GEOMÓRFICOSE A QUESTÃO DA TAXONOMIA DO RELEVO

Jurandyr Luciano Sancbes Ro~(*)

Assim sendo, o primeiro fato que deve estar

permanentemente em alerta nos estudiosos da

geomorfologia é que as formas do relevo de diferentestamanhos têm explicação genética e são i,nterrelacionada~e interdependente.~às demais COmponentesda niltureza,Asuperfície terrestre, que se compõe por formas de relevode diferentes tamanhos ou taxon~, de diferentes idades e

processos genéticos distintos, é portanto dinâmica, aindaque os olhos humanos não consigam captar isso. Adinamicidade das formas do relevo apresenta velocidadesdiferenciadas, mostrando-se ora mais estável, ora mais

instável. Tal comportamento depende à~vezes, de fatoresnaturais e outras de interferências dos homens. A~

mudanças climáticas espontâneas ou induzidas pelohomem alteram a intensidade da dinâmica geomórfica. Osmovimentos da crosta terrestre, como os abalos sísmicos,

falhamentos e erupções vulcânicas também interferem nadinâmica do relevo. É entretanto o homem, o maior

predador da natureza, e consequentemente, o ser animalque mais se julga capaz de alterar e controlar os ambientesnaturais. A história da humanidade demonstra claramente

que esse domínio do natural pelo homem, têm se reveladona verdade em uma intensa, inescrupulosa e desordenada

regional,atendem a~necessidades político-administrativase funcionam como instrumento de apoio técnico aos maisdiversos interesses políticos e sociais.

Assim sendo, o entendimento do relevo e sua~ca, passa obrigatoriamente pela compreensão do- 'onamento e da interrelação entre os demais

ponentes naturais (águas, solos, sub-solo, clima ertura vegetal), e isto é de significativo interesse aojamento físico-territoria1. Planejamento que deve

em conta as potencialidades dos recursos e as::agilidades dos ambientes naturais, bem como a~idade tecnológica, o nível sócio-cultural e os::t!CUI'SOS econômicos da população atingida.

1- INTRODUÇÃO

Este trabalho visa passar aos interessados emorfologia e em análise ambiental espacializada,

!::ZtmIll84çõese orientações experimentadas e amadurecidasngo de vários anos no Laboratório de Geomorfologia

- Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia,_tras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

:!::n objetivo direto de fornecer aos futuros estudiosos da'plina um dos vários caminhos que podem serdos nas pesquisas das ciências da terra, onde a

_ morfologia se inclue. Neste caso especificamente aupação é dar direção a uma geomorfologia que tem

~ bases conceituais nas ciências da terra, mas fortes

os com as ciências humanas, à medida que pode~ ir como suporte para entendimento dos ambientes

's, onde as sociedades humanas se estrutUl'am,

m os recursos para a sobrevivência e organizam ofísico-territorial.

Deste modo, os estudos geomorfológicos enlbientais, quer sejam eles detalhados ou de âmbito

(.) Professor Doutor do Departamento de Geografia daFaculdade de Filosofia, Letras e Ciências HumanaslUSP

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apropnaçao dos recursos naturais. É evidente acontradição entre a natureza e as sociedades humanas, não

se podendo neg~r que o crescimento demográfico e oavanço tecnológico tem contribuido cada vez mais paraacentuar essa contradição. É fato também notório que oshomens exigem cada vez mais recursos naturais parasuprir as necessidades básicas e as necessidades criadaspelo incentivo ao consumo. Certamente é possível edesejável que tal voracidade seja administrada econtrolada através de medidas legais, educacionais e atémesmo penalizações aos transgressores. Cabe ao homem,como ser social, consciente e dotado de maior capacidadede raciocínio, saber planejar o uso dos recursos danatureza sem transformar a terra em um planeta onde os

seres humanos não possam subsistir com boa qualidade devida.

Neste trabalho, a preocupação básica é nortear aexecução de estudos técnicos de caráter geomorfológicoengajado ao planejamento sócio-econômico e ambientalcom a utilização de imagens de radar e satélites e ocontrole sistemático de campo. Tem como fim a geraçãode uma cartografia geomorfológica integrada de leituradireta e que subsidie o planejamento ambiental emespaços físico-territoriais de diferentes dimensões. Porisso serão discutidos sinteticamente alguns fundamentosteórico-metodológicos que emba,>am os estudos e osprocedimentos técnico-operacionais de gabinete e decampo. A preocupação portanto é orientar a prOdução deuma carta geomorfológica integrada e cujas informaçõestenham sido controlada,> pelas observações e medidassistemáticas de campo e gabinete.

2 - OS FUNDAMENTOS TEÓRICO.METODOLÓGICOS: UMA PROPOSTA

TAXONÔMICA

É preciso desde o inície esclarecer que há umadiferença nítida entre metodologia e as técnicas paraexecução do trabalho. A metodologia está diretamente

atrelada à fúndamentação teórica e se define por nortear a

~

pesquisa, enquanto a,>técnicas são os meios para gerar os

trabalhos e atingir com isso os objetivos. Assim sendo, ametodologia determina a linha a seguir, é a espinha dorsal,enquanto as técnicas são as ferramentas para execução dastarefas da pesquisa.

A fundamentação teórica-metodológica, que sepropõe para trabalhar a pesquisa geomorfológica têm suasraízes na concepção de Walter PencK (1953) que definiucom clareza as forças geradoras das formas do relevoterrestre. Penck percebeu que o entendimento das atuaisformas de relevo da superfície 'da terra são produtos doantagonismo das forças motoras dos processos endógenose exógenos, ou seja, da ação das forças emanadas dointerior da crosta terrestre. de um lado e das forçasimpulsionadas através da atmosfera pela ação climática,atual e do passado, de outro. As forças endógenas,seguindo os princípios de W. Penck, se revelam de doismodos distintos através da estrutura da crosta terrestre.

Uma das revelações é através do processo ativo,comandado pela dinâmica da crosta terrestre - os abalossísmicos, o vulcanismo, os dobramentos, os afundamentose soerguimentos das plataformas, falhamentos e fraturasque têm explicação hoje na teoria da tectônica de placas.A segunda revelação se processa de modo imperceptívelatravés da resistência ao desgaste que a litologia e seuarranjo estrutural oferece a ação dos processos exógenosou de erosão. Neste ca,>oé uma açào pa,>sivaconstante,porém desigual, face ao maior ou menor grau de resitênciada litologia.

A ação exógena é também de atuação constante etambém diferencial, tanto no espaço quanto no tempo,face às características climática,>locais, regionais e zonaise às mudanças climática,>.O processo de meteorização,erosão e transporte da ba,>erochosa, se exerce tanto pelaação mecânica da água, do vento, da variação térmicacomo pela ação química da água, que transforma mineraisprimários em secundários e simultâneamente esculpe asformas do relevo.

Tendo como princípio teórico os processosendógenos e exógenos como geradores das formas

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, médias e pequenas do relevo terrestre,~-:i:~jmIOV (1946) e Mecerjakov (1968) desenvolveram

itos de morfoestrutura e morfoescultura. Ac;sim

relevo terrestre pertence a uma determinada

que o sustenta e mostra um aspecto esculturalmrrente da ação do tipo climático atual e pretérito

u e atua nessa estrútura. Deste modo a

::::r::::~~trutura e a morfoescultura definem situações

: .cas, produtos da ação dinâmica dos processos•óe os e exógenos. A noção de morfoescultura não

ser confundida com a de morfoclimática, pois

.o a primeira é um produto da ação climática sobre

determinada estrutura, a segunda se define por~s morfogenéticos comandados por um

minado tipo climático. Assim sendo pode-se definira morfoescultura é fruto de ações climáticas

quentes e a morfoclimática é o tipo de agente'tico atuante em uma determinada época.

Dentro desta concepção, os domínios ou zonasrfoclimáticas atuais não são obrigatoriamente

.. cidentes.· com as unidades morfoesculturais

_. ntificáveis na superfície terrestre. Isto se deve a dois

_ tivos: primeiro porque as unidades morfoesculturais- são produtos somente da ação climática atual, mas

bém dos climas do passado; segundo porque as.dades morfoesculturais refletem a influência da

. rsidade de resistência da litologia, e seu respectivo

arranjo estrutural, sobre a qual foi esculpida. Deste modo,em uma determinada unidade morfoestrutural pode-seter uma ou mais unidades morfoesculturais que refletemas diversidades litológicac;da estrutura, os tipos climáticosque atuaram no passado e os que atuam no presente.Tomando como exemplo concreto a morfoestrutura dabacia sedimentar do Paraná, pode-se encontrar nelavárias unidades morfoesculturais. De imediato já se tem,baseando-se na interpretação genética, dois níveis de

entendimento. O primeiro, que se caracteriza por umtaxon màior ou seja, a morfoestrutura da bàciasedimentar que pelas suas características estruturais

define um determinado padrão de formas grandes do

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relevo. O segundo, definido por um taxon menor sã~ asunidades morfoesculturais, geradac;pela ação climática ao

longo do tempo geológico, no seio da .morfoestrutura.Assim em uma unidade morfoestrutural como a da bacia

do Paraná pode-se ter várias unidadesmorfoesculturaisc.om.o p.or exempl.o depressões periféricas, depressões

m.onoclinais, planalt.os em patamares intermediários,

planalt.os e eb.apªqac;,de.superfícies de cimeira, planaltoresiduais entre outr.os. Todac; essac; unidades

morfoesculturais podem pertencer a uma mesma zona oudomínio morfoclimático atual. Daí fica claro que asunidades m.orfoesculturais identificadac; nesta

morf.oestrutura (Bacia do Paraná), não tem relaçãogenética em sua totalidade com as características

climáticas atuais. Entretanto, ao pac;sar-se para aidentificação e análise de um terceiro taxon (de dimenc;ão

inferior), ~.eJL.Unidad~A~.p.,ªºrºes de Formas

S~el~~9t~§, do}~~I~~Q,..2~_0~~J~.a9rÕeSge.TjpQsJIQ.ftelevo

'q~e é~nde qspro,ce~sj:?l}Uorfo,climátic~satuais.cOmeçama ser mais facilmente notados. Estes Padrões de Formas

'""" .. ~" .,." _.- . :;.

Semelhantes, sã.oconjuntos de formac;menores d.orelev.o,que apresentam distinções de aparência entre si em funçã.o

da rugosidade topográfica' ou índice de dissecação dorelev.o,bem como do formato dos t.op.os,vertentes e valesde cada padrão existente. Pode:se ter várias Unidades dePadrões de F.ormas Semelhantes em cada Unidade

M.orfoescultural. Avançand.o n.o raciocínio d.os níveis .outaxons d.o relev.o terrestre chega-se a pelo menos outrostrês tax.onsde dimensões espaciais menores - ac;f.ormasderelev.o,as vertentes, as f.ormasatuais (ravinas, v.oç.or.ocase

cicatrizes de deslizamentos, terracetes de pis.otei.o,entre.outr.os).

.""." formas de relevo individualizadas dentro de cada

Unidade de Padrão de F.ormac;Semelhantes, correspondea.o.4QTaxon na ordem decrescente. Ac;formac;de relevo

desta categ.oriatanto podem ser as de agradação tais com.o

as planícies fluviais, terraços fluviais ou. marinh.os,planícies marinhas, planícies lacuc;tresentre outros ou asde denudação resultantes do desgac;te er.osivo, com.o

colinas, m.orr.os,cristas, enfim, formac;c.omtopos planos,

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aguçados ou convexos. Assim uma unidade de Padrão deFormas Semelhantes constitue-se por grande número deformas de relevo do 4Q taxon, todas semelhantes entre si

tanto na morfologia quanto na morfometria, ou seja, noformato, no tamanho, bem como na idade.

o 511 Taxon na ordem decrescente são as vertentes

ou setores das vertentes pertencentes a cada uma dasformas individualizadas do relevo. As vertentes de cada

tipologia de forma são geneticamente distintas, e cada umdos setores destas vertentes também mostram-se

diferentes. Como exemplo, tornando-se a forma de umacolina ou de um morro, os diversos setores apresentamcaracterísticas geométricas, genéticas e dinâmicas bem

distintas. O topo e a parte superior da vertente podem, porexemplo, ter formato retilíneo e a base côncava. Ao

mesmo tempo esses setores podem apresentar inclinações

diversas que também ajudam a definir as suascaracterísticas.

O sexto taxon, corresponde às formas menores

produzidas pelos processos erosivos atuais ou pordepósitos atuais. Assim, são exemplos as voçorocas,ravinas, cicatrizes de deslizamentos, bancos de

sedimentação atual, assoreamentos, terracetes de pisoteio,frutos dos processos morfogenéticos atuais e quase sempreinduzidos pelo homem. Pode-se citar ainda as formasantrópicas como corte, aterros, desmontes de morros entreoutros.

Com os vários taxons ou categorias de formas derelevo definidos, pode-se com maior facilidadeoperacionalizar uma pesquisa geomorfológica tendo como

apoio a cartografia das formas do relevo de diferentestamanhos.

A questão da taxonomia. e a representaçãocartográfica do relevo tem sempre revelado grandedificuldade de solução face a natureza do fenômeno a serrepresentado. As formas são tridimensionais, bem como

de diferentes formatos, tamanhos, gêneses e idades.

Diante disto, tem-se muitas propostas de representação dorelevo, mas todas demonstram grande dificuldade paraatender as determinações da União Geográfica

Internacional, quais sejam as de que as CartasGeomorfológicas devem representar as formas de relevonos aspectos morfológicos (morfográfica), morfométricas,morfocronológicos e morfogenéticos. Quase sempre asrepresentações valorizam alguns aspectos em detrimento

de outros e não raro as cartas geomorfológicas setransformam em verdadeiros documentos de utilidade

inócua, face as dificuldades de leitura e de decodificaçãodas informações nelas contidas. Outro fato de grandecomplexidade é discernir os níveis de representação dosfatos geomórficos em função da dimensão deles e da

escala de representação escolhida. É incompat!vel porexemplo, a representação espacializada dos setores devertentes para escalas médias e pequenas como 1:50.000,1:100.000, 1:250.000,1:500.000. Os setores de vertentes

só se tomam passíveis de cartografação em escalasgrandes tipo 1:25.000, 1:10.000, 1:5.000. Demek (1967)preocupado com esta questão propôs três níveis derepresentação cartográfica para escalas grandes ou de

detalhe, que se configuram nos três taxons por ele assimdefinidos, em ordem crescente:

1Q taxon - de menor dimensão espacial chamou de

"Superfícies Geneticamente Homogêneas;

2Q taxon - de dimensão intermediária chamou de

"Formas do Relevo";

311 taxon - de dimensão maior denominou de "Tiposde Relevo".

Tal proposta é de significativo valor para acartografia geomorfológica de esCalas de detalhe tipo1:5.000, 1:10.000, mas mostra-se deficiente quandodeseja-se representar áreas maiores e mais complexas, quetendem a apresentar maior diversidade de categorias deformas.

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_ tão da representação gráfica das formas do

pode ser tratada de modo a negligenciar a

=::s:;;;:±::si:-o ou taxonoinia destas. Isto se justifica, antes

- :Ja Ou, pelo fato de que os diferentes tamanhos de

~- ão diretamente associad?s à cronologia e à~_ ?ara facilitar o entendimento, torna-se o mes~o

;::::::=::::J' bacia sedimentar do Paraná. A morfoestrutura~-dimentar do Paraná é a forma de relevo maior ­

o lugar corno 12 taxon. Sua história genética e

o mais antiga,; do que as Unidades

M=::::e;;cuiturais esculpidas no seu interior.

~ uanto a gênese da bacia sedjmentar associa-se a::=!::::=:!éça-' o de urna sequência de depósitos marinhos e

- ntais que se estendem desde o Paleozóico ao

l'.Zmzo']ico, as Unidades Morfoesculturais foram geradas a

do Cenozóico com a epirogenia da plataformaericana. Assim as Unidades Morfoesculturais

=:1 m a um taxon inferior, ou seja, ao 22 Taxon. Esse

-r o taxon têm sua gênese relacionada com osos erosivos ou denudacionais do Cenozóico. Assim

as unidades morfoesculturais, corno a Depressão

~_ ':érica Paulista ou o Segundo Planalto Paranaenseoutros, são de dimensões bem inferiores à totalidade

.::=. acia sedimentar e têm, idade também bem menor.tanto, as Unidades Morfoesculturais não são

_.::.~~atoriamente homogêneas em toda sua extensão. Ao!Ornar corno exemplo a Depressão Periférica Paulista

~.' ca-se que esta apresenta características morfológicas

= e morfometria diferentes ao longo de sua extensão..: ga-se portanto ao 32 taxon ou ordem de grandeza que

-~ pode definir corno Unidades Morfológicas, Unidades

.• Tipos de Relevo ou Padrões de Formas Semelhantes.

-;'0 formas de relevo que observadas de avião, emge,!1S"de radar ou satélite mostram o mesmo aspecto

'::"10nômico quanto a rugosidade' topográfica ou.. secação do relevo.

As Unidades de Padrões de Formas Semelhantes ou

as Unidades Morfológicas retratam um determinadoaspecto fisionômico que decorre das influências dos

processos erosivos mais recentes, ou seja, posteriores a

aqueles que se encarregaram de esculpir depressões,planaltos de níveis intermediários, entre outros. São

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unidades que apresentam dimensões de áreas menores,

idades mais recentes e processos erosivos que favorecem a

dissecação do relevo. Esta Uddade pode ser relacionada

com o que Demek (1967) chamou de Tipos de Relevo.

o 42 taxon refere-se a cada uma d,Ls formas de

relevo contidas nas Unidades Moffo\ógicas ou de Padrõesde Formas Semelhantes. Embora as Unidades de Padrões

de Formas Semelhantes possam ser classificadas dentro deurna mesma categoria em escalas médias e pequenas. ao

se processar urna análise de maior detalhe e cartografaçáoem escala grande, vai se perceber yue cada urna delas têm

aspectos fisionômicos próprios embora pertençam à

mesma família. Assim sendo. dois morros que façam partede urna mesma Unidade Morfológica. Unidade de Padrão

de Formas Semelhantes. na realidade têm w,pectos

fisionômicos e genéticos ligeiramente diferenciados. 0.2­taxon está representado pelos tipos de vertentes contidasem cada urna das formas de relevo. Os setores de

. vertentes, quer sejam eles convexos. retilíneos, planos,

aguçados, abruptos. côncavos, são dimensões menores do

relevo. Assim sendo, são de gênese e idade mais recentes.

É evidente que os processos erosivos ou de

esculturação operantes no momento atual se manifestam

ao longo das vertentes. A dinâmica atual do relevo melhor

se manifesta nas vertentes e é portanto neste taxon que o

homem pode melhor perceber e atuar junto aos processos

morfogenéticos, pois a vertente é o resultado da

morfogenêse ou morfodinâmica viva, presente, atual. É ao

nível da vertente que confunde-se o estudo da dinâmica do

relevo e os problemas relativos à erosão de solos, que na

verdade fazem parte de uma mesma realidade.

O sexto taxon que se refere à'l formas de relevo

ainda menores, são geradas ao longo das vertentes porprocessos geomórficos atuais, e principalmente por

indução antrópica. A erosão que degrada os solos, ao

mesmo tempo esculpe o relevo, criando pequenas formascorno sulcos, ravinas. voçoroca'l, cicatrizes de

. deslizamentos, que se desenvolvem ao longo das vertentes° por ação das águas pluviais. Essas formas são totalmente

induzidas pela interferência da ação humana no ambiente

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natural gerando absoluto desequilíbrio, tornando oambiente in~tável do ponto de vista morfodinâmico.

Pequenos depósitos aluvionares na base dac; vertentes,bancos de assoreamento nos leitos fluviais, mac; também

formas pequena~ do relevo se enquadram no sexto taxon(FIGURA 1).

1

PEAlFEAlCA1

.-., ..,.,....Orvani"" JwoncIyfL 5 R_

FOflMAS EM MORROS

A1FORMAS -DE RELÊVO

TIPOS DE VERTENTES

UNIDADES MORFOESCULTURAIS

FORMAS DE PROCESSOS ATUAIS"AVINA' - VOÇOROCAS • CICAT"IZE' DE Df;SLIZAMfNros

LJ6.

~

•......- "-

~

BACIA SEDIMENTAR • UNIDADE MORFOESTRUTURAL

51 TAXON

21 TAXON

4! TAXON

l' TAXON

:/\i /""\~-_.._-y \.

'-"r=I-""-

,.--~nj(J ~

PLANAL'Ttl [ •• PATAMaR PLAWAL.TO E CH"'AOA.S OE CIMEIRA OEPRESSIo

I li Ir3' TAXON - UNIDADES MORFOLÓGICAS OU DE PADRõES DE FORMAS SEMELHANTESII , M0ll10 I I

i....,.~-II'~~,.,~.u ,.~"." 11"".~ EMCU.S I r:;J•... ~

~': I~·

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É importante ressaltar que tal proposlçao de

classificação pude taxonomia apoia-se fundamentalmente

no aspecto fisionômico ou seja no formato.das formas derelevo de diferentes tamanhos. Entretanto, deve-se frisar

também que o aspecto fisionômico é reflexo de

determinada influência de ordem genética e ao mesmo

tempo indicador de uma determinada idade. Assim, a

taxonomia proposta ba<;eada na fisionomia das formas é

antes de tudo uma proposta que têm ~r base a genêse e a

idade desta<;. Deste modo, pode-se afirmar que, quanto

maior a dimensão da forma maior é a sua idade e quanto

menor a dimen<;ão, menor idade ela têm. O que não se

pode é estabelecer com rigidez o tamanho da forma

medida em Km2, com o tempo geológico e histórico

edido em anos e a gênese associada a apenas um

determinado processo.

Esta proposta taxonômica tem a preocupação de

resolver um antigo problema não solucionado pelas

propostas de classificação dos fatos geomorfológicos de

Cailleux- Tricart (1965) e o esquema geral de classificâção

o relevo da terra de Mecerjakov (1968), que não

nseguiram definir concretamente a relação de sua<;

?IOpostas com a cartografação das forma<; do relevo

realmente identificadas ao se executar a cartografação

geomorfológica.· Tanto a classificação de Cailleux- Tricart

quanto a de Mecerjakov procuram dar aos diversos

anhos e tipos de formas uma dimensão espacial em

Km2. Ao mesmo tempo Cailleux-Tricart (op cii)

:videncia a relação dos tipos de formas e tamanhos

tas com a idade ou seja, quanto maior o tamanho

23

(exten<;ão) da forma, maior é a idade da mesma.

Mecerjakov (op cit) estabelece a relação de tamanho com

elementos estruturais de um lado e esculturais de outro,

procurando evidenciar que as formas do relevo têm

influência estrutural independente da dimen<;ão espacial

dela<;. A primeira dificuldade nestas classificações é a

relação intrín<;eca de tipos de forma<; com dimen<;ão

espacial em Km2, embora haja ligeira associação destes

fatos, não é possível estabelecer relação rígida. O segundo

grande e principal problema está na dificuldade de se

trabalhar com esses fatos geomorfológicos a nível da

. pesquisa e cartografação, haja visto que não se con<;egue,

estabelecer uma relação direta de correspondência entre os

taxon<;propostos e a realidade do terreno.

O que amba<; classificações têm de positivo é que

'procuram mostrar que existe diferentes orden<; de

grandeza das formas do relevo e que esta<;grandeza<; têm

relação com a<; idades das formas e com os tipos de

processos atuantes. A<;sim, a classificação que ora se

,propõe é calcada fundamentalmente no aspecto

fisionômico que cada tamanho de forma de relevo

apresenta, não interessando a rigidez da exten<;ào em Km2,

mas sim. o significado morfogenéticô e as influênciasestruturais e esculturais no modelado. Como são as

estruturas que fornecem as características principais das

formas do relevo, toda identificação e classificação do

relevo, têm como ponto de partida a morfoestrutura sobre

a qual a<;forma<; de diferentes tamanhos estão esculpida<;,

conforme mostra o quadro a seguir.

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OUAJ)ROIIKPLIrICADO DA Ct.U&[PICAçiO DO ULaVO

1. TAXON I 2. TA"OM J O T•.•. ON

IUNIDADES HOltPOB6T1tUTUIlAIS I UIIID-'DES MOU'OIESCULTURAIS I UNIDADES HOItPOL6cICM; OU

I PADRÕES D! FORMAS SEMl:LHAKT!S

4g TAXOtl

I FORMAS INDIVIDUALIZADAS I

~II TAXO'"

TI POS DE VERTENTES

60 TAXON

, POR.KA:S LINE.AJU'.:S OU AREOlARES ,

I R.!CENT~S

IExemplo A

lI-Modelado I Estruturas dobrada ••• ta-I Planaltos •.• err •• alon- • Padr-õea de Iorma8 em

I llIorliaada. ou nlo. confi-I q.d •• , depr ••• 6e. anticU- I CrI .• ta., morros e eerrae

I qurada. em cinturOea oro-I n•.i. e ainclinai. e lIerras I

I clinaia por llIovillM!lntaç60 1 abriram a. depre •• ões,

I cru. tal , .planaraJll topo. e deixarlllTl I1 1orm •• residuais altaB

IJ-_Cronolo9i •.1 Diterente. idade.-dobra- I Idade. diver.a. com te8- I Idade-tases alternadas

'l-Hodelado • Cr18tll8 monocl1nal!:! d'~ I Tlp08 dn vertente" a todos I E8teB t1pOS de 10rmae ocorrem I

• borda8 de Ilntlcl1nAu f.' I os_pAdrOos de formA. • em l.')(joe oe tlpoe de vertentes I• aba. d(O:sll"lcllnall; tllOI- I 1-l"IochuadU dOI setoree de I 1- MCY.1elados: ravin&lI,voçoro- I

I PaleO-He.ozOico e Ceno- I no. topo. planos e alto. e I talveguea noPlei8toconol

I ca8, C'lcatC1:Zoea de dealiZoa-

• 1-Céneee. "'ele- entrOplcaI RaVlnae: J'reterenc1almente nael

re"t 111 noa. e conve- I

I voxoa e h I .scarpas

I ros 11101ados ou nAo 11::. I veTtenttl8 :

I interlor da8 deprellaÕSIl • A)plano, blconvexCl, C)C(ln-

I anticllnais I cavo, d)ret111neo, elpatll- 1

• D1•• ecaçAo qeneral1.'l:ada I lIIarefl planos, flpatarnaTo:H!

I COfl\desgaste da8 verten- I em clU'llpe, gl patamarell con-l

J ]-Gene6e

I aecaa, ulllidaltl com incielo d08 I )-Cronologlal Pleistoceno/Holocono

• PrOC081108 e~cu.lturalll porI d1.secllç6c

, re.iduais

I E.culturaçlo por cicl08

I •• ntoa do Pr._C61llbriano, I temunhoe pr6-Cenoz6ic08

I partir de baciall geo •• in-1 ero.lvo. diver.os que

, gênico.

I Dobramento. qerado. a12-Gênese

• zOlco. I na •• uper11cl.e. do ever8Ao I Holoceno.

Exemplo B

lI-Modelado I plataformas ou cr4tone I Oepr ••• oee mllrqinai. a~ I Padrbee de fonnao om coli- I 2- Genellf'6

• com ou .em cobertura ee- I bacia •• ed1.••••n~8rel - .er- I nall b81JII;lI.SCO(llvll,lee pouco

I di_ntar e ocorrência de 1 ra •• planalto. r081.duala • entalha..d08 nall depres8601-

I intrueOee-.uperficiel - 1 de cobertur. de plataforma I tnorroll altos e muito dl •• eca­

I aplanada. antigas o ["e1e-1 o planalto. elll 4rea8 de 1n-1 dOI nOI plAnaltos.

I Setore8 plar.o, patalllAr-e5 I VOÇ"orocas: PreteT8nClIümente I

, planoo-utndéncia A intl1- I nas vertentes retlllnoao,

I trlllçAo ~'6gua, ellpe88amen- I patarnar-ee vertente8 concavae 1

tO do 8010 e tr"clll acAo me-' ClcAtrlzel de Deol.1.:tamentoe:

lI-Modelado I Colinae com diLerente6 I cánlca da aqua. Prevalece ai NIIS vertentes eecarpadae e12-Gênese

I voe reeiduai ••

I Zstruturas cOlllplexa.

I tru.õep e vulcanlsmo ant.1qol

I r.:.culturaçlo da. depree- • prOC.880B eocullura1o por 1 tamanhol I açlo qulmlca e er081.0 laml-I retl1.1neae. Secundariamente

I ciclo. oroaivos

12-CeneseI que .0frer6JII t •••• de 1IIe-1 .Oos lIIarginai. por exumaçAoI d1.88ecaçAo qenoral1zada

• tUlorfiul.o ••• qmati.tIIo e I atrav •• da oro.lo da CObeT-l

I tura .edimentar e expo.içlol

I da. euperflcul" de everoAo I

I geraçAo concomitante dOB

I planaltoll r •• idullis

IJ-Cronologial Idade. diver.ae-no Pré. I Idad.e-Depre81l0ee aoertas • InCl.lAo dos tAJvequ08 IIU

I c6IIlbriano IIlédio o into- I no CenoZoóico exumando IU-- • 1'1eutoceno-HoJ.oceno

I Dl.8ecaçAo com deagaete I nar, daa vertente6

'1-"::rono1.og1al Ple10toceno!H01octtnc:

I nal convexlLB, dependendo da II decllvldede e da 1nteneidade I

I e volutlle da'l chuvas

I pertlcies IIplllnadllB antlgaol

I (Pré·Cambr1anOI

'Exemplo C

lI-Modelado I Bacia •• edimentar.8 I Depre8.õee peri1éricas, I PAdrõea d~ tormaa em coli-I Setorel: Convexos, retil1- I 3-1dade: proceS8oa eroe1VOI

I neoo, patamare8 em rampas I Atuale al80c1a~oa a lnadequa_ l

I •• plas COCllestrutura. hO-1 d.pr ••• Õ8. embutidaB, ple- I nA. de tOpo8 convexos e co- li-Modelado I Colinas de topos conve- • TendênCla A mene-r- infl1tra-' d08 manejos e usos dOI

I rizontai. ou pouco incli-I nalto. eM patLlllareB, chapa-I llnaa amplall de tOp08 planoe 1-.00 e colinas de toPO!! I ç6'..>, e A ellC04lllento oUPer- I .oe naturalS

I rllVlnas e voçoroCall

I e8coamento concentrlldo,

• ero.Ao mecinlcll com aulcofl,;

I Setor concavo-tendenclA li I

I Setor e8cllrpado-tendencia ÃI

I de81izamentoe e de.morona":

I ment.e"

I entAlha.ment.o dos vales I altoe (> concent.rada nol'l

1 planos e amplo. I tJ.cial ditu.o pae8ando 11.

I Di.lIecaç60 com d.8gaete I concentTluo na baeo, ten- I

• da. v.rtente. atravél do 1 dêncla a or08.8.0 larn.1.nar n081

12-Cenes('

! '-CTcnoloqlll1 ple1stoceno!Holoceno I trecholl da ba~xII vertente I

I com vales de entalharnento

I variAdo, nada. na direçlo da. bor-I d •• ell borda. de bacie,

, da. I pl.nalto. re.iduais

I (PaleozOico.HeeoZoÓico e I .obretudo no Neogeno-res- •

I C.nozÓicO) t saltando oe planal"toe nas I1 bordao de baC1.a8

I P'or:mada. por 1009a. ta.e.1 Proce •• os ero.ivo. circun-·I Proce880a esculturaill por

I alternada. de .ediMentll- I denudacionlll de.encad.Ado. I di88ecaç60 general1.Z11de

I çlo marinha e continental I a partir da epirogimeee

I pós-cret4ceo por tues cU-.

I lD4ticas alternadas eecaa! 1

I timidao na. 6re.e trop1cais 1

I l-cronologia' Diterenteo idades-ao I Idade,,-abertura da. depr8s-' Inci8Ao doa vales no

I longo do FenerozOico J 868. ao longo do cenozÓico • Ple1Btoceno!Holocenc

12_Geneae

.........-_ -..•..... _ _ .._----- ------ ---------------------------- ------ -------- --------- -------_. --- ----- ------- ---------

Page 9: Jurandyr Ross 1992

25

representava padrões de formas diversos e tentou-se

agrupá-Ios ...por superfícies ou níveis a1timétricos,acreditando-se. na relação intrín'ieca entre níveis

topográficos e superfície.'i de aplanamento. Na segunda

fa'ie manteve-se essa concepção mas alterou-se de modo

slgnificàtivo o modo de identificar os padrões de fonnasacrescentando além de letras símbolos, números arábicos

que indicavam a dimen'ião interfluvial média e o grau deentalhamento médio dos vales, apoiados em uma matriz

de índices de dissecação· do relevo. Na terceira faSc

manteve-se o mesmo tipo de tratamento para os padrões

de forma 'i ma~ incorporou-se a concepção de UnidadesGeomorfológica'i, in'ipirada na proposta metodológica de

Ab'Saber (1969). A quarta fa'ie procurou dar um

tratamento mais genético à'i formas de relevo

cartografada'i, incorporando-se a concepção de Unidades

Morfoestruturais, Unidades Geomorfológica'ie. Padrõcs de

Formas Homogêneas, in'ipiradaem Tricart (1965).

proposta est<Í teoricamente embasada noe Penck(1953) relativo ao~. processos

e exógenos. nos conceitos formulados ·por"":::!:i:=xJlv(l946) e Mecerjakov( 1968) sobre

t ra e morfoes<.:ultura e na experiência em

geomorfológicapara escalas médi<Ls e

elaboradas com imagen'i de radar e satélite emW1:;?:2:wento sistemático do Projeto Radambra'iil e

. ente no Laboratório de Geomorfologia. do_'er::2illento de Geografia da Faculdade de Filosofia.

Ciências Humana'i da Universidade de São Paulo.

- - 19uns anos desenvolve-se ensélios de cartografiél

.':-ológica como programa de treinamento a é1lunos

J - OS PROCEDIMENTOS TÉCNICOS EPERACIONAIS DA CARTOGRAFAÇÃO

A cartografação dos fatosgeomorfológicos alrélvésde sensóres como o radar e satélite no Brasil têm

executados basicamente para escala'i· médias

- .000, 1:100.000) e pequena'i (1 :250.000, 1:500.000 e

.000). Mapeamentos. sistemáticos fowm geradosI:z:;kalnlente pelo Projeto Radambra'iil para todo o

lÓriO nacional e pelo In~tituto de Pesquisaslógicas - IPT(1981) para o estado de São Paulo,

:e outros menos divulgados. Estes dois trabalhos

caram metodologia'i distinta'i, apoiando-se no sen'ior

r. O procedimento técnicooperacional para ambos os- alhos foi o de identificação visual dos diversos

rões de formas semelhantes, que se definem pelo

to fisionômico da rugosidade topográfica ou das~ -erentes inten'iidades dos padrões de dissecação do

_evo. A'isim sendo, a base da cartografação têm sido a

ntificação e batismo de "mancha'i" de padrões de"rmas de relevo semelhantes entre si. No - âmbito

todológico, o IPT In'itituto de Pesquisas

-=-e~nológicas. utilizou o chamado "Sistema de Relevos"

. icado anteriormente no mapeamento sistemático da

trália, enquanto o Projeto Radambrasil desenvolveu

Jatro metodologias ao· :longo dos quinze anos de

'vidades, na tentativa de aprimorar a qualidade da8formação cartografada. Na fa'ie inicial a cartografação

A cartografia geomorfológica ressente-se dadificuldade de encontrar adequado modelo de·

representação gráfica, existindo uma diversidade de

propostas metodológicas, que valorizam sempre umdeterminado elemento do relevo. A'i cartas francesas. bem

como a proposta por Tricart (1965), ressaltam a

representação da morfogênese através de símbolospontuais e lineares, e o modelí,ldo é indicado pela'i curvas

de nível. Outros tipos de represent.1ção valorizam níveismorfológicosassociando às superfícies de erosão, dadosmorfométricos como declividades de vertentes,

informações morfológica'i com formas e tipos de relevo.

A cartografação geomorfológica deve mapear

ioncretamente o que se vê e não o que se deduz da análisegeomorfológica, portanto em primeiro plano os mapasgeomorfológicos devem representar os diferentestamanhos de forma'i de relevo, dentro da· escala

compatível. Em primeiro plano deve-se representa~as

formas de diferentes tamanhos e em planos secundários. a

representação da morfometria, morfogênese e

morfocronologia. que têm vínculo direto com a tipologia

da'i formas. Deve-se aplicar para a cartografiageomorfológica os mesmo.'i princípios adotados para a

cartografia de solos e de geologia, onde representa-se o

Page 10: Jurandyr Ross 1992

26

que estes temas têm de concreto, ou seja os tipos de solos

e as formações rochosa", para a' seguir dar outras

informações relativas à idade, à gênese e à" demaiscaracterísticas de um modo descritivo no corpo da

legenda. A sobrecarga de informações com .manchas,ornamentos, símbolos lineares contida" no interior dos

mapas os tornam muito ricos, entretanto extremamentedifícies de serem utilizados.

iIOs ensaios técnicos e metodológicos desenvolvidos

no Laboratório de Geomorfologia do Departamento deGeografia da Universidade de São Paulo, nos últimos

anos, vêm procurando outros caminhos para acartografação e análise geomorfológica. utilizando

imagen" de radar em escala" 1:250.000 e 1:100.000 e

fotografia" aéreas de escalas grandes (1 :10.000 e

1:25.000). Muitos mapas foram gerados artesanalmentepelos alunos estagiários. O acesso a outras propostas

metodológicas como as de Demek (1967), Ba"enina,

Aristarchova, Luka"ov (1972) e Mecerjakov (1968) emassociação . com a experiência acumulada em

mapeamentos com imagens de radar e fotografias aéreas,.chegou-se a alguma" outra" soluções tanto à nível

metodológico quanto técnico, contidas em Ross(1990).

A 'cartografação e análise geomorfológic~ seguemos pressupostos da metodologia descrita no item anterior,obedecendo aos níveis·taxonÔmicos. '

O primeiro taxon que representa maior extenc;ão emárea e que corresponde às Unidades Morfoestruturais éidentificado na imagem de radar e controlado pelotrabalho de campo ou ainda por carta" geológica" de boa

q~lidade. Na representação cartográfica cada Unidade

Morfoestrutural é identificada por urna família de cor, porexemplo, os vários ton" d~ azul.

O segundo taxon, o que se refere às UnidadesMorfoesculturais contida" em cada Unidade

Morfoestrutural, é do mesmo modo identificado na

imagem de radar e controlado com a investigaçã,o .pecampo. Estas unidades recebem identificação pelos ton"de uma determinada família de cor. Deste modo, se a cor

azul indica, por exemplo, a morfoestrutura da bacia do

Paraná, os diversps ,ton" de azul indicarão as UnidadesMorfoesculturais como Planaltos em Patamares, Planaltos

Residuais, Depressões Periféricas, Depressões Embutidas, ,entre outros.

O ' terceiro taxon representa a" UnidadeS

Morfológica" ou dos Padrões de Formas Semelhantes, queestão contida" na" Unidades Morfoesculturais. Os Padrões

de Forma" Semelhantes, correspondem às unidades emmanchas de menor extensão territorial e se definem por

conjuntos de tipologias de formas que guardam entre sielevado grau de semelhança, quanto ao tamanho de cadaforma e o a"pecfo fisionômico. Esses padrões se

caracterizam por diferentes inten"idades de dissecação do

relevo por influência dos canais de drenagem temporáriose perenes. Esses Padrões de Formas Semelhantes são

identificados por conjuntos de letras, símbolos,

acompanhados de um conjunto de algarismos arábicos. Os'

padrões de forma" podem ser de duas linhagens genética",as chamada" formas de, acumulação, representadas por.'planícies de diferentes gêneses (marinha, fluvial, lacustre)"

e as formas de denuãação, ou seja, esculpida" pelo ,desgaste erosivo, como ~orros, colinas, serra", formas'

aplanadas, entre outra". Nesta Unidade estabelece-se

dados morfométricos, que podem ser de diferentes tipos.

Entre estes estão a den"idade de drenagem, asdeclividades médias das vertentes, densidade de crênulas

ou da matriz dos índices de dissecação do relevo. Este

último contempla as informações da dimensão interfluvialmédia, nas colunas horizontais e entalhamento médio dos

vales nas colunas verticais, conforme ·segue.

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MATRIZDOS ÍNDICES D~ DISSECAÇÃODORELEVO

MUITO t GRANDE(2) 1 MÉDIA (3) IPEQUENA(4) 1 MUITO

I< .H)O"-;;;.I

1 PEQUENA(5) 1

> l..S-<J'Õ 1

dimensão interfluvialt GRANDE(1) t

.J.. '):t E/O1 média

Za s de

I,

1514131211__J:'to Fraco (1)

~ vales a a a

c:'asses) 7,(},f ). O }06' d S-------~----------------------------------------------------------------------------------------1

< de 10m)

-------------------------------------------------------------------------------------------------1

~aco (2) 21 22 23 24 25

(10 a 20m)

-------------------------------------------------------------------------------------------------1

,

!".édio (3) 31 32 33 34 35

(20 a 40m) ·1

:-------------~-----------------------------------------------------------------------------------1

Forte (4)

(40 a 80 m)

41 42 43 44 45

OBS : p;"ra escalas'mediàs e pEiqii~rié:~"(1 :i50~000';" 1: 1~0.• OO~; ,"face a d:i.~ic'~ldad~ de se '~s'tabel'~~~r" ,-i·; ,;.;, . - • _ ,'7 ••••. ...' •. ;.."..,' • -,.!. ~ " -. '. ., :: ,.'. ~~ -'.' t... J . l'~;;'?!. ,.,..' ;,:.t

as classes de' den51ctade de 'drehâgem"," 'utilíZa-se, a dimensão i.nter,fl,uvial média, .cujo!, val,<,>.J;E!s(.. ;iii l'"" • -'. .; •• " .' • ; ':' ~ •• ,'. .:' _,". '- _; •• :: ., • I • t:: • I" .• _.- ,- ; •• '. ,.... •• • '. • ••• 1 ,~;#' , ' •. -1;.;

são inversamente 'p'r'opo"rêionais;' ou" ãêjâ, ..qual.lt~; ~!l.~?r a" !Í.~~,sid~~e de .d~~nage~'<,~~nor, a,'U ~:;

dimensão interfluvialmédia. Quanto ao indice de;. ~i!,~s~.caçã~" :9 .,~en~,":;;Y.ll.l,0f.:'}?méFic.~.é,:ll'.;i\.,',;f"di~se~ação'~:Íliais "'fraCài' 'ou ··;~éja '11 e o 'maior valor numérico é a dissecação mais

.- L-f'orte/~ou- se.j'a.:, 55l-" ..;. "'o •• ~ •.:'_i~~ ." :.~ ~,ii i::'

". ",. r,".,, ";. "; " :-.:c' ,} ~

a (.;fomia,"de televoaH ''represerttada ~,têffi.·i;dimen~ãointerfl uv'ial médi'a:que:: oscila· uO'dntervalo,)!def,300: iá -.100,metros.

-8i;'(1' ma'trii'foi inspiràda; nÓS'ttrlbaltibsJ"do;'Piõjelo'.- ambra~il com modifiéâções'·'na"'disp()siçã~'dos·

~untos numéricos tanto para a coluna horizontal comoa verticaL Na colunà de dimen~ão interfluvial média,

valores mais altos dos interflúvios estão à esquerd~ty.' ! ,:J~~sa matriz' tem a vantagem da melhorrtanto diminuem para a direita. Nas coluna~ verticais os representação dos índices de Dissecação do Relevo. assim

" arismos arábicos crescem do topo para a base da quanto maior for o valor numérico expresso pelo conjunto(riz, ,::·ou" seja," ,do ;menor·.:para d)' maior. grau:, ::de dos <;Iois algarismos. arábicos, .maior' é a: disseeação, e,

::-ntalhainento:'Tomando-sé'umexemplo,· b: do' conjunto yice-versa. Ror exemplo, ,o :conjunto' ,de algariSmos 2.1uméric()' 23' '-'0 número 2' refere;.;se ao 'érttalhamento do representa um menor índice 'de dissecação do réleva que o

:ale tipo Fraco (de 10 a 20 m) e o núméro 3'sigriifica que conjunto dos algarismos 2.3 (vejamatriz).

Page 12: Jurandyr Ross 1992

28

A,> Unidades Morfológicas ou dos Padrões deFormas Semelhantes são identificadas por um conjunto dealgarismos arábicos extraídüsda Matriz dos Índices deDissecação do Relevo. As letras símbolos são de duasnatureza,> genéticas - a,> forma,> agradacionais(acumulação) e a,> formas denudacionais (erosão) A,>forma,> Agradacionais recebem a primeira letra maiú,>culaA (de agradação) <tcompanhadas de outras duas letrasminú,>cula,> que determinam a génese e processo degeração da forma de agradação, por exemplo Apf - A deagradação ou acumulação: p de planície e f de fluvial.Outras formas de. agradação possíveis são as planíciesmarinhas (Apqt). planícies lacustres (Apl), áreas planas deinundação por dificuldade de escoa.mento (Api) e as degêneses mista,>. A'> formas de Agradação não recebem osalgarismos arábicos, pois esta'> não apresentám.dissecação por erosão.

A,>forma,> Denudacionais (D) são acompanhada,> deoutra letra minú'>cula que indicil a morfologia do topo daforma individualizada que é reflexo do processomorfogenético que gerou tal forma. A,> formas podemapresentar características de topos aguçados (a), convexos

(c). tabulares (t) ou absolutamente planos (p). Deste modo,os conjuntos de formas denudacionais são batizados pelosconjuntos Da. Dc. Dt e Dp ou outras combinações queapareçam ao se executar o mapeamenlo. Esses conjuntosde, algarismos arábicos extraídos da matriz dos índices dedissecação. como exemplo o conjunto DCJ2, significaforma denudacional de topo convexo com entalhamentode vale de índice 3 (20 a 40 metros) e dimen,>ãointertluvial de tamanho grande-2 (700 a.1500 metros).

O quarto taxon é representado pelas formasindividualizada,> e que neste caso é indicada no conjunto.Deste modo a Unidade Morfológica ou de Padrão deFormas Semelhantes tipo DC3J con,>titue-se por forma,> detopos arredondados ou convexos e vales entalhados queindividualmente se caracterizam por colinas. A,>sim a '

forma individualizada é uma colina de topo convexo comdeterminadas características de tamanho, inclinação dasvertentes e gerada por erosão de ambiente climáticoquente e úmido e que faz parte de um conjunto maior queé o Padrão de Forma Semelhante. " >

O quinto taxon refere-se às partes da,> formas dorelevo ou seja da,> vertentes. Este taxon só pode sertotalmente representado cartograficamente quando setrabalha com fotografia,> aéreas em escalas grandes ou dedetalhe como 1:25.000,1 :10.000, 1:5.000. Nestes casos as

vertentes são ident\ficadalipor seus diversos setores, queindicam determinada'> caracterLltticalt genéticalt. Assim, os.setores de vertentes 'podem ser tipo escarpada (Ve),convexa (Vc), retilínealt (Vr), concava (Vcc), empatamares planos (Vpp), em patamares inclinados (Vpi),topos convexos (Tc), topos planos (Tp) entre outras quepossam ser encontradalt. Para mapeamentos em escalasmédias tipo 1:50.000, 1:100.000 e 1:250.000 as vertentesnão podem ser' representadas de modo espacializado.Nestes casos utiliza-se símbolos lineares ou pontuais,indicando os tipo.'>de vertentes. .

O sexto taxo" corresponde à••pequenas formas derelevo que se desenvolvem por interferéncia antrópica aolongo das vertentes. São forma •• geradas pelos processoserosivos e acumulativos atuais. Nestes ca ••os destacam-s~as ravinas, voçorocas. deslizamenlos, corrida.. de lama,

pequenos depósitos aluvionares de indução antrópica,bancos de a••soreamento, eiltre outros. '

A representação cartográfica <kstas formas de

relevo só pode ser efetuada em escalas grandes, onde é

possível cartografar detalhes' dos fatos geomórficos

identificados em fotos aérea ••ou no campo. Não é possível.cartografar, até o momenio, no Brasil, fatos desta natureza

utilizando-se imagen ••'de radar ou mesmo de satélites nas

escalas disponíveis atualmente.

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