Transcript
  • p. 1-412

    Repositrio autorizado de jurisprudncia do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIA, Registro n 16,Portaria n 12/90.

    Os acrdos selecionados para esta Revista correspondem, na ntegra, s cpias dos originaisobtidas na Secretaria do STJ.

    Repositrio autorizado de jurisprudncia do SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, a partir do dia17.02.2000, conforme Inscrio n 27/00, no Livro de Publicaes Autorizadas daquela Corte.

    Os acordos selecionados para esta Revista correspondem, na ntegra, s cpias obtidas naSecretaria de Documentao do STF.

    Jurisprudncia Mineira Belo Horizonte a. 59 v. 186 jul./set. 2008

    Jurisprudncia Mineirargo Oficial do Tribunal de Justia

    do Estado de Minas Gerais

  • Fotos da Capa:

    Ricardo Arnaldo Malheiros Fiuza - Sobrado em Ouro Preto onde funcionou o antigo Tribunal da Relao

    - Palcio da Justia Rodrigues Campos, sede do Tribunal de Justia de Minas Gerais

    Srgio Faria Daian - Montanhas de Minas GeraisRodrigo Albert - Corte Superior do Tribunal de Justia de Minas Gerais

    Projeto Grfico e Diagramao: ASCOM/CECOVNormalizao Bibliogrfica: EJEF/GEDOC/COBIBTiragem: 400 unidadesDistribuda em todo o territrio nacional

    SuperintendenteDes. Reynaldo Ximenes Carneiro

    Superintendente AAdjuntoDes. Jos Geraldo Saldanha da Fonseca

    Diretora EExecutiva dde DDesenvolvimento dde PPessoasMnica Alexandra de Mendona Terra e Almeida S

    Diretora EExecutiva dde GGesto dda IInformao DDocumentalMaria Cristina Monteiro Ribeiro Cheib

    Gerente dde JJurisprudncia ee PPublicaes TTcnicasRosane Brando Bastos Sales

    Coordenao dde PPublicao ee DDivulgao dde IInformao TTcnicaLcia Maria de Oliveira Mudrik - Coordenadora

    Escola Judicial Des. Edsio Fernandes

    Escola JJudicial DDesembargador EEdsio FFernandesRua GGuajajaras, 440 - 222 aandar - CCentro - EEd. MMirafiori - TTelefone: ((31) 33247-8876630180-1100 - BBelo HHorizonte/MG - BBrasilwww.tjmg.jus.br/ejef - [email protected]

    Nota: Os acrdos deste Tribunal so antecedidos por ttulos padronizados, produzidos pela redao da Revista.

    Enviamos eem ppermuta - EEnviamos een ccanje - NNous eenvoyons een change- IInviamo iin ccambio - WWe ssend iin eexchange - WWir ssenden iin ttausch

    Qualquer parte desta publicao pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    ISSN 0447-11768

    JURISPRUDNCIA MINEIRA, Ano 1 n 1 1950-2008Belo Horizonte, Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais

    Trimestral.ISSN 0447-1768

    1. Direito - Jurisprudncia. 2. Tribunal de Justia. Peridico. I.Minas Gerais. Tribunal de Justia.

    CDU 340.142 (815.1)

    Alexandre Silva HabibCeclia Maria Alves CostaEliana Whately MoreiraJoo Dias de vilaLcia de Ftima CapanemaMaria Clia da SilveiraMaria da Consolao Santos

    Maria Helena DuarteMarisa Martins FerreiraMauro Teles CardosoMyriam Goulart de OliveiraRachel Ribeiro de LimaTadeu Rodrigo RibeiroVera Lcia Camilo GuimaresWolney da Cunha Soares

  • PresidenteDesembargador ORLANDO ADO CARVALHO

    Primeiro Vice-Presidente

    Desembargador CLUDIO RENATO DOS SANTOS COSTA

    Segundo Vice-Presidente

    Desembargador REYNALDO XIMENES CARNEIRO

    Terceiro Vice-Presidente

    Desembargador JARBAS DE CARVALHO LADEIRA FILHO

    Corregedor-Geral de Justia

    Desembargador JOS FRANCISCO BUENO

    Tribunal PPleno

    Desembargadores

    (por ordem de antiguidade em 29/08/2008)

    Tribunal de Justia do Estado de Minas Gerais

    Edelberto Lellis Santiago

    Orlando Ado Carvalho

    Antnio HHlio SSilva

    Cludio Renato dos Santos Costa

    Isalino Romualdo da Silva Lisba

    Srgio Antnio de Resende

    Roney OOliveira

    Reynaldo XXimenes CCarneiro

    Joaquim Herculano RRodrigues

    Mrio Lcio Carreira MMachado

    Jos Tarczio de Almeida MMelo

    Jos AAntonino BBaa BBorges

    Jos Francisco BBueno

    Clio CCsar PPaduani

    Hyparco de Vasconcellos Immesi

    Kildare Gonalves Carvalho

    Mrcia Maria Milanez

    Nilson RReis

    Dorival GGuimares PPereira

    Jarbas de Carvalho Ladeira Filho

    Jos Altivo Brando TTeixeira

    Jos DDomingues FFerreira EEsteves

    Jane Ribeiro Silva

    Antnio Marcos Alvim SSoares

    Eduardo Guimares Andrade

    Antnio CCarlos CCruvinel

    Fernando BBrulio Ribeiro Terra

    Edivaldo GGeorge dos SSantos

    Silas Rodrigues Vieira

    Wander Paulo Marotta Moreira

    Maria EElza de Campos Zettel

    Geraldo AAugusto de Almeida

    Caetano LLevi LLopes

    Luiz Audebert DDelage Filho

    Ernane FFidlis dos Santos

    Jos Nepomuceno da Silva

    Manuel Bravo Saramago

    Belizrio Antnio de LLacerda

    Jos Edgard PPenna AAmorim Pereira

    Jos Carlos Moreira DDiniz

    Paulo CCzar DDias

    Vanessa VVerdolim HHudson AAndrade

    Edilson Olmpio Fernandes

    Geraldo Jos Duarte dde PPaula

    Maria Beatriz Madureira Pinheiro Costa Caires

    Armando FFreire

    Delmival dde AAlmeida CCampos

    Alvimar dde vila

  • Drcio LLopardi MMendes

    Valdez LLeite MMachado

    Alexandre VVictor dde CCarvalho

    Teresa CCristina dda CCunha PPeixoto

    Eduardo Marin dda CCunha

    Maria CCeleste PPorto Teixeira

    Alberto VVilas BBoas Vieira de Sousa

    Jos AAffonso dda CCosta CCrtes

    Antnio AArmando ddos AAnjos

    Jos Geraldo Saldanha dda FFonseca

    Geraldo Domingos CCoelho

    Osmando AAlmeida

    Roberto BBorges dde OOliveira

    Eli LLucas dde MMendona

    Alberto AAluzio PPacheco dde AAndrade

    Francisco KKupidlowski

    Antoninho Vieira dde BBrito

    Guilherme LLuciano BBaeta NNunes

    Maurcio BBarros

    Paulo Roberto Pereira dda SSilva

    Mauro SSoares dde FFreitas

    Ediwal JJos dde MMorais

    Ddimo IInocncio dde PPaula

    Unias SSilva

    Eduardo BBrum Vieira Chaves

    Maria das Graas Silva Albergaria dos Santos

    .... Costa

    Elias CCamilo Sobrinho

    Pedro BBernardes de Oliveira

    Antnio SSrvulo dos Santos

    Francisco Batista dde AAbreu

    Helosa Helena de Ruiz Combat

    Sebastio PPereira dde SSouza

    Selma Maria Marques de Souza

    Jos FFlvio dde AAlmeida

    Tarcsio Jos Martins CCosta

    Evangelina CCastilho DDuarte

    Otvio dde AAbreu PPortes

    Nilo Nivio Lacerda

    Walter PPinto dda RRocha

    Irmar FFerreira CCampos

    Luciano PPinto

    Mrcia DDe PPaoli BBalbino

    Hlcio VValentim de Andrade Filho

    Antnio dde PPdua Oliveira

    Fernando CCaldeira BBrant

    Hilda Maria Prto de Paula Teixeira dda CCosta

    Jos de Anchieta da Mota ee SSilva

    Jos Afrnio VVilela

    Elpdio DDonizetti Nunes

    Fbio MMaia VViani

    Renato MMartins JJacob

    Antnio Lucas PPereira

    Jos AAntnio BBraga

    Maurlio GGabriel Diniz

    Wagner WWilson Ferreira

    Pedro Carlos Bitencourt MMarcondes

    Pedro Coelho Vergara

    Marcelo Guimares Rodrigues

    Adilson LLamounier

    Cludia Regina Guedes Maia

    Jos Nicolau MMasselli

    Judimar Martins Biber Sampaio

    Antnio Generoso Filho

    Fernando Alvarenga Starling

    lvares Cabral dda SSilva

    Fernando Neto Botelho

    Alberto HHenrique Costa de Oliveira

    Marcos LLincoln dos Santos

    Rogrio MMadeiros Garcia de Lima

    Carlos Augusto de Barros LLevenhagen

    Electra Maria de Almeida Benevides

    Eduardo Csar Fortuna GGrion

  • Composio de Cmaras e Grupos - Dias de Sesso

    Primeira CCmara CCvelTeras-feiras

    Segunda CCmara CCvelTeras-feiras

    Primeiro GGrupo dde CCmarasCveis

    1 quarta-feira do ms(Primeira e Segunda Cmaras,

    sob a Presidncia do Des.Roney Oliveira)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Eduardo Guimares Andrade*

    Geraldo AAugusto de Almeida

    Vanessa VVerdolim HHudson AAndrade

    Armando FFreire

    Alberto VVilas BBoas* Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Roney OOliveira*

    Mrio Lcio Carreira MMachado

    Nilson RReis

    Jos Altivo Brando TTeixeira

    Caetano LLevi LLopes

    Terceira CCmara CCvelQuintas-feiras

    Quarta CCmara CCvelQuintas-feiras Segundo GGrupo dde CCmaras

    Cveis

    1 quarta-feira do ms(Terceira e Quarta Cmaras,

    sob a Presidncia do Des. NiloSchalcher Ventura)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Kildare Gonalves Carvalho*Silas Rodrigues Vieira

    Manuel Bravo SaramagoDdimo IInocncio dde PPaula

    Maria das Graas Silva Albergaria dos Santos Costa * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Jos Tarczio de Almeida MMelo*

    Clio CCsar PPaduani

    Luiz Audebert DDelage Filho

    Jos Carlos Moreira DDiniz

    Drcio LLopardi MMendes

    Quinta CCmara CCvelQuintas-feiras

    Sexta CCmara CCvelTeras-feiras

    Terceiro GGrupo dde CCmarasCveis

    3 quarta-feira do ms(Quinta e Sexta Cmaras, soba Presidncia do Des. Dorival

    Guimares Pereira)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Antnio HHlio SSilva

    Dorival GGuimares PPereira*

    Maria EElza de Campos Zettel

    Jos Nepomuceno da Silva

    Mauro SSoares dde FFreitas * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Jos DDomingues FFerreira EEsteves*

    Ernane FFidlis dos Santos

    Edilson Olmpio Fernandes

    Maurcio BBarros

    Antnio SSrvulo dos Santos

    Stima CCmara CCvelTeras-feiras

    Oitava CCmara CCvelQuintas-feiras

    Quarto GGrupo dde CCmarasCveis

    3 quarta-feira do ms(Stima e Oitava Cmaras,

    sob a Presidncia doDes. Alvim Soares)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Antnio Marcos Alvim SSoares*

    Edivaldo GGeorge ddos SSantos

    Wander Paulo Marotta Moreira

    Belizrio Antnio de LLacerda

    Helosa Helena de Ruiz Combat * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Fernando BBrulio Ribeiro Terra*

    Jos Edgard PPenna AAmorim Pereira

    Teresa CCristina dda CCunha PPeixoto

    Elias CCamilo Sobrinho

    Fernando Neto Botelho

  • Nona CCmara CCvelTeras-feiras

    Dcima CCmara CCvelTeras-feiras

    Quinto GGrupo dde CCmarasCveis

    2 tera-feira do ms(Nona e Dcima Cmaras,

    sob a Presidncia doDes. Osmando Almeida)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Osmando AAlmeida*

    Pedro BBernardes de Oliveira

    Tarcsio Jos Martins CCosta

    Jos AAntnio BBraga

    Antnio Generoso FFilho * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Roberto BBorges dde OOliveira

    Alberto AAluzio PPacheco dde AAndrade

    Paulo Roberto Pereira dda SSilva*

    lvares Cabral dda SSilva

    Marcos LLincoln dos Santos

    Dcima PPrimeira CCmara CCvelQuartas-feiras

    Dcima SSegunda CCmara CCvelQuartas-feiras

    Sexto GGrupo dde CCmarasCveis

    3 quarta-feira do ms(Dcima Primeira e Dcima

    Segunda Cmaras, sob a Pre-sidncia do Des. Duarte de

    Paula)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Geraldo Jos Duarte dde PPaula*

    Selma Maria Marques de Souza

    Fernando CCaldeira BBrant

    Jos Afrnio VVilela

    Marcelo Guimares Rodrigues* Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Alvimar dde vila

    Jos Geraldo Saldanha dda FFonseca

    Geraldo Domingos CCoelho*

    Jos FFlvio dde AAlmeida

    Nilo Nvio Lacerda

    Dcima TTerceira CCmara CCvelQuintas-feiras

    Dcima QQuarta CCmara CCvelQuintas-feiras Stimo GGrupo dde CCmaras

    Cveis

    2 quinta-feira do ms(Dcima Terceira e Dcima

    Quarta Cmaras, sob aPresidncia do Des. Valdez

    Leite Machado)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Francisco KKupidlowski*

    Cludia Regina Guedes Maia

    Jos Nicolau MMasselli

    Alberto HHenrique Costa de Oliveira

    Carlos Augusto de Barros LLevenhagen* Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Valdez LLeite MMachado*

    Evangelina CCastilho DDuarte

    Antnio dde PPdua Oliveira

    Hilda Maria Prto de Paula Teixeira dda CCosta

    Rogrio MMedeiros Garcia de Lima

    Dcima QQuinta CCmara CCvelQuintas-feiras

    Dcima SSexta CCmara CCvelQuartas-feiras

    Oitavo GGrupo dde CCmarasCveis

    3 quinta-feira do ms(Dcima Quinta e Dcima

    Sexta Cmaras, sob aPresidncia do Des. JosAffonso da Costa Crtes)

    - Horrio: 13 horas -

    Desembargadores

    Srgio Antnio Resende

    Jos AAffonso dda CCosta CCrtes*

    Jos de Anchieta da Mota ee SSilva

    Maurlio GGabriel Diniz

    Electra Maria de Almeida Benevides* Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Francisco Batista dde AAbreu*

    Sebastio PPereira dde SSouza

    Otvio dde AAbreu PPortes

    Wagner WWilson Ferreira

    Pedro Carlos Bitencourt MMarcondes

  • Desembargadores

    Eduardo Marin dda CCunha*

    Irmar FFerreira CCampos

    Luciano PPinto

    Mrcia DDe PPaoli BBalbino

    Antnio Lucas PPereira

    Dcima SStima CCmara CCvelQuintas-feiras

    Primeira CCmara CCriminalTeras-feiras

    Segunda CCmara CCriminalQuintas-feiras

    Terceira CCmara CCriminalTeras-feiras

    Desembargadores

    Edelberto Lellis Santiago

    Mrcia Maria Milanez Carneiro

    Eduardo BBrum Vieira Chaves

    Judimar Martins Biber Sampaio

    Fernando Alvarenga Starling*

    Desembargadores

    Joaquim Herculano RRodrigues*

    Jos AAntonino BBaa BBorges

    Hyparco de Vasconcellos Immesi

    Maria Beatriz Madureira Pinheiro CostaCaires

    Antoninho Vieira dde BBrito

    Desembargadores

    Jane Ribeiro Silva

    Antnio CCarlos CCruvinel

    Paulo CCzar DDias

    Antnio AArmando ddos AAnjos*

    Eduardo Csar Fortuna GGrion

    * Presidente da Cmara

    Primeiro GGrupo dde CCmaras CCriminais (2 segunda-feira do ms) - Horrio: 13 horas

    Primeira, Segunda e Terceira Cmaras, sob a Presidncia do Des. Edelberto Santiago

    Segundo GGrupo dde CCmaras CCriminais (1 tera-feira do ms) - Horrio: 13 horas

    Quarta e Quinta Cmaras, sob a Presidncia do Des. Delmival de Almeida Campos

    * Presidente da Cmara

    Desembargadores

    Delmival dde AAlmeida CCampos

    Eli LLucas dde MMendona*

    Ediwal JJos dde MMorais

    Walter PPinto dda RRocha

    Renato MMartins JJacob

    Desembargadores

    Alexandre VVictor dde CCarvalho

    Maria CCeleste PPorto Teixeira

    Hlcio VValentim de Andrade Filho*

    Pedro Coelho Vergara

    Adilson LLamounier

    Quarta CCmara CCriminalQuartas-feiras

    Quinta CCmara CCriminalTeras-feiras

    Desembargadores

    Guilherme LLuciano BBaeta NNunes*

    Unias SSilva

    Elpdio DDonizetti Nunes

    Fbio MMaia VViani

    Nono GGrupo dde CCmarasCveis

    1 Quinta-feira do ms(Dcima Stima e DcimaOitava Cmaras, sob a

    Presidncia do Des. EduardoMarin da Cunha)

    - Horrio: 13 horas -

    * Presidente da Cmara

    Dcima OOitava CCmara CCvelTeras-feiras

  • Corte Superior (Sesses nas segundas e quartas quartas-feiras do ms - Horrio: 13 horas)

    Desembargadores

    Procurador-Geral de Justia: Dr. Jarbas Soares Jnior

    Conselho da Magistratura (Sesso na primeira segunda-feira do ms) - Horrio: 14 horas

    Desembargadores

    Orlando Ado CarvalhoPresidente

    Claudio Renato dos Santos CostaPrimeiro Vice-Presidente

    Reynaldo XXimenes CCarneiroSegundo Vice-Presidente

    Jos FFrancisco BBuenoCorregedor-Geral de Justia

    Jarbas de Carvalho LadeiraTerceiro Vice-Presidente

    Silas Rodrigues Vieira

    Wander Paulo Marotta Moreira

    Maria EElza de Campos Zettel

    Geraldo AAugusto de Almeida

    Caetano LLevi LLopes

    Edelberto Lellis Santiago

    Orlando Ado CarvalhoPresidente

    Antnio HHlio SSilva

    Cludio Renato dos Santos CostaPrimeiro Vice-Presidente

    Srgio Antnio de Resende

    Roney OOliveira

    Reynaldo XXimenes CarneiroSegundo Vice-Presidente

    Joaquim Herculano RRodrigues

    Mrio Lcio Carreira MMachado

    Jos Tarczio de Almeida MMeloPresidente do TRE

    Jos AAntonino BBaa BBorges

    Vice-Presidente e Corregedor do TRE

    Jos FFrancisco BBuenoCorregedor-Geral de Justia

    Clio CCsar PPaduaniVice-Corregedor-Geral de Justia

    Hyparco de Vasconcellos Immesi

    Kildare GGonalves CCarvalho

    Dorival GGuimares PPereira

    Jarbas de Carvalho Ladeira FilhoTerceiro Vice-Presidente

    Jos Altivo Brando TTeixeira

    Jos DDomingues FFerreira EEsteves

    Antnio Marcos Alvim SSoares

    Antnio CCarlos CCruvinel

    Fernando BBrulio Ribeiro Terra

    Geraldo Jos Duarte dde PPaula

    Alvimar dde vila

  • Comisso de Divulgao e Jurisprudncia(em 21.05.2008)

    Desembargadores

    Reynaldo Ximenes Carneiro - Presidente

    Ddimo Inocncio de Paula - 1, 2 e 3 Cveis

    Jos Domingues Ferreira Esteves - 4, 5 e 6 Cveis

    Helosa Helena de Ruiz Combat - 7 e 8 Cveis

    Paulo Roberto Pereira da Silva - 9, 10 e 11 Cveis

    Antnio de Pdua Oliveira - 12, 13, 14 e 15 Cveis

    Sebastio Pereira de Souza - 16, 17 e 18 Cveis

    Beatriz Pinheiro Caires - 1, 2 e 3 Criminais

    Maria Celeste Porto Teixeira - 4 e 5 Criminais

  • SUMRIO

    MEMRIA DO JUDICIRIO MINEIRO

    Desembargador Gouva Rios - Nota biogrfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

    As constituies brasileiras e o patrimnio - Nota histrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

    DOUTRINA

    Direito, economia e corrupo - Rogrio Medeiros Garcia de Lima . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

    Anlise normativo-teleolgica do Projeto Novos Rumos na Execuo Penal, do Tribunal de Justia do Estadode Minas Gerais, luz dos direitos humanos internacionais - Carlos Frederico Braga da Silva . . . . . . . . 30

    As alteraes do rito dos crimes de competncia do Tribunal do Jri e o devido processo legal -Thiago Colnago Cabral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

    Breves consideraes sobre as reformas no CPP - Daniel Csar Boaventura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

    O contraditrio e a prova no processo penal: breves comentrios Lei 11.690, de 2008 -Haroldo Pimenta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43

    Reflexes sobre a ab-rogao do inciso I, art. 5, da Lei 1.533/51 pela Constituio Federal -Gustavo Angelim Chaves Corra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49

    TRIBUNAL DE JUSTIA DE MINAS GERAIS

    Corte Superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

    Jurisprudncia Cvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

    Jurisprudncia Criminal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281

    Superior Tribunal de Justia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 371

    Supremo Tribunal Federal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 379

    ndice Numrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 383

    ndice Alfabtico e Remissivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 387

  • Mem

    ria

    do

    Judi

    cir

    io M

    inei

    ro

    DESEMBARGADOR JOS LUCIANO GOUVA RIOS

  • Mem

    ria

    do

    Judi

    cir

    io M

    inei

    ro

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 13-17, jul./set. 2008 15

    NOTA BIOGRFICA*

    DDEESSEEMMBBAARRGGAADDOORR GGOOUUVVAA RRIIOOSS

    Jos Luciano Gouva Rios, mineiro de PousoAlegre, nasceu em 27 de julho de 1945. Era filho doDesembargador Jos da Costa Rios Filho e de GuiomarGouva Rios e casado com Eula Marina de SouzaGouva Rios.

    Bacharelou-se em Direito pela Faculdade deDireito da Universidade Federal de Minas Gerais em1968, turma do GAT-64.

    Aprovado em 3 lugar em concurso pblico para aMagistratura, foi nomeado Juiz de Direito da Comarcade Buenpolis em 22 de janeiro de 1974. Foi promovi-do, por antiguidade, para a Comarca de Paracatu, em14 de junho de 1979. Em 30 de abril de 1981, pro-movido por antiguidade, transferiu-se para Par deMinas, onde assumiu o exerccio no dia 14 de maio. Porantiguidade foi promovido, em 1 junho de 1988, parao cargo de Juiz de Direito da 9 Vara Criminal de BeloHorizonte.

    Em 19 de maro de 1998, foi promovido, por anti-guidade, ao cargo de Juiz do extinto Tribunal de Alada,passando a integrar a 1 Cmara Cvel, da qual foiPresidente, sendo tambm Superintendente da Comissode Licitao e Diviso de Compras e Contratos.

    Em 27 de janeiro de 2004, tambm por antiguida-de, atingiu o grau mximo de sua carreira, promovidoao cargo de Desembargador do Tribunal de Justia doEstado de Minas Gerais, compondo a 1 Cmara Cvel.Aposentou-se, a pedido, em 1 de fevereiro de 2006.

    Foi membro da Comisso Supervisora dos JuizadosEspeciais Cveis e Criminais do Estado de Minas Geraise, no Magistrio, ministrou aulas de Prtica de SentenaCriminal nos cursos A. Carvalho, Judicare e Praetorium.

    Faleceu em 31 de maio de 2006. Na homenagempor ocasio de sua aposentadoria, prestada pela 1Cmara Cvel, realizada em 17 de janeiro de 2006, oDesembargador Mrcio Antnio Abreu Corra deMarins, ento Presidente daquela Cmara, assim semanifestou: bem verdade que voc no deixar nuncao convvio do Tribunal de Justia, porque pea impres-cindvel, pelo que voc foi, pelo que voc fez, pela suaatuao brilhante aqui. O Tribunal jamais o esquecer,como no esqueceu seu pai.

    O Desembargador Gouva Rios, em seu discursode despedida, proferiu as seguintes palavras:

    Neste egrgio Tribunal de Justia, como de resto nos demaislocais onde exerci minha funo jurisdicional, muito aprendie vivenciei, convivendo com grandes magistrados, com elesdividindo as angstias e a enorme dificuldade na busca damelhor soluo para os dramas e problemas de terceiros, naincessante busca de uma Justia que se emociona, e decujos olhos vertem lgrimas; no por ser cega, mas pelaangstia de no poder ser mais justa.

    RReeffeerrnncciiaass

    RIOS, Eula Marina de Souza Gouva; RIOS, Rodrigo deSouza Gouva. Desembargador Jos Luciano GouvaRios. Belo Horizonte, 2006. No publicado.

    TRIBUNAL DE JUSTIA DE MINAS GERAIS. Lista deDesembargadores. Belo Horizonte. Disponvel em:. Acesso em: 28 jun. 2005.

    TRIBUNAL DE JUSTIA DE MINAS GERAIS. Arquivo deprovimento de comarcas da Magistratura de MinasGerais. Belo Horizonte.

    TRIBUNAL DE JUSTIA DE MINAS GERAIS. Notataquigrfica de homenagem prestada pela 1 CmaraCvel. Belo Horizonte. 17.01.2006.

    MEMRIA DO JUDICIRIO MINEIRO

    ________________________

    * Autoria: Andra Vanessa da Costa Val e Shirley Ker Soares Carvalho, sob a superviso do Desembargador Hlio Costa, Superintendente da Memria doJudicirio Mineiro, em 12.03.2009.

    . . .

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 13-17, jul./set. 200816

    NOTA HISTRICA

    As constituies brasileiras e o patrimnio *

    No ano de 2008, comemoraram-se os 20 anos depromulgao da Constituio da Repblica Federativado Brasil, a Constituio Cidad. Cumprindo com assuas atribuies de preservao, conservao, pesquisae informao de acontecimentos histricos relevantes,esta Memria do Judicirio Mineiro, Mejud, tambmesteve presente nas atividades realizadas em comemo-rao a essa data to importante, atravs da exposioConstituies Brasileiras.

    A pesquisa para a formatao da referidaexposio buscou descobrir em qual perodo o patrim-nio histrico, artstico e cultural brasileiro foi contempladono marco jurdico estruturante do Pas em suas diversasformulaes ao longo de nossa histria.

    Sabe-se que Constituio o

    [...] conjunto das leis fundamentais que rege a vida de umanao, geralmente elaborado e votado por um congresso derepresentantes do povo, e que regula as relaes entre go-vernantes e governados, traando limites entre os Poderes edeclarando os direitos e garantias individuais; carta constitu-cional, carta magna, lei bsica, lei maior. a lei mxima, qual todas as outras leis devem ajustar-se.

    Por sua vez,

    [...] a palavra patrimnio tem conotao jurdica e vem dolatim patrimonium, significando herana paterna, legado. Anoo de patrimnio histrico, tal como a entendemos hoje,s adquire consistncia a partir do sculo XIX, quando ahistria, influenciada pelo movimento positivista, ganha sta-tus de cincia, incorporada que foi s cincias sociais [...]. Oconceito de patrimnio histrico, portanto, contempor-neo ao de nao e se relaciona ao processo de construoda nacionalidade.

    No Brasil, a noo de importncia da preservaodo patrimnio histrico, artstico e cultural foi sendoconstruda ao longo do tempo. A primeira Carta Magnaque regulamenta o assunto a de 1934, influenciadapelo movimento europeu do ps-guerra, quando ospases, destrudos pelo conflito, acordaram para aemergncia de reconstruir a sua memria coletiva. Aquesto da preservao foi plenamente contemplada naConstituio de 1988, como se pode depreender dosbreves histricos a seguir relatados.

    Na primeira Constituio brasileira, a ConstituioPoltica do Imprio do Brasil, outorgada por D. Pedro I,no h normas que contemplem o Patrimnio Artstico.

    A segunda, a Constituio da Repblica dosEstados Unidos do Brasil, promulgada no dia 24 defevereiro de 1891, apresenta dispositivos de proteo ainventos e direitos autorais. Entretanto, no cita mo-numentos, bens culturais ou materiais.

    A primeira constituio que contm dispositivoatribuindo ao Estado deveres de proteo ao patrimnio a Constituio da Repblica dos Estados Unidos doBrasil, promulgada em 16 de julho de 1934.

    O texto constitucional diz, em seu Captulo II, daEducao e da Cultura, art. 148, que:

    Cabe Unio, aos Estados e Municpios favorecer e animaro desenvolvimento das cincias, das artes, das letras e dacultura em geral, proteger os objetos de interesse histrico eo patrimnio artstico do pas, bem como prestar assistnciaao trabalhador intelectual.

    A questo da preservao abordada pelaprimeira vez na Constituio de 1937, promulgada peloento Presidente da Repblica Getlio Vargas, no dia 10de novembro de 1937. No Captulo da Educao e daCultura, segundo o art. 134:

    Os monumentos histricos, artsticos e naturais, assim comoas paisagens ou os locais particularmente dotados pelanatureza gozam da proteo e dos cuidados especiais daNao, dos Estados e dos Municpios. Os atentados contraeles cometidos sero equiparados aos cometidos contra opatrimnio nacional.

    Em 30 de novembro de 1937, o governo assinouo Decreto-Lei n 25, instrumento legal que orientaria ostrabalhos na rea de preservao. Esse decreto instituiuo tombamento e criou o Sphan - Servio do PatrimnioHistrico e Artstico Nacional, instituio subordinada aoMinistrio da Cultura, com competncia legal para asquestes de proteo ao patrimnio.

    A defesa do patrimnio foi assim estabelecida naConstituio dos Estados Unidos do Brasil, promulgadano dia 18 de setembro de 1946:

    Art. 175. As obras, monumentos e documentos de valorhistrico e artstico, bem como os monumentos naturais, aspaisagens e os locais adotados de particular beleza ficamsob a proteo do poder pblico.

    A sexta carta brasileira, a Constituio daRepblica Federativa do Brasil, outorgada peloCongresso Nacional em 24 de janeiro de 1967, sob ainfluncia do Comando Revolucionrio de 64, determi-na, no art. 172, pargrafo nico, no que se refere pro-teo ao patrimnio, o que se segue:

    ________________________

    * Escrita por Andra Vanessa da Costa Val e Tnia Mara Caador (sob a superviso do Des. Hlio Costa, Superintendente da Memria do Judicirio Mineiro).

  • Mem

    ria

    do

    Judi

    cir

    io M

    inei

    ro

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 13-17, jul./set. 2008 17

    Art. 172. O amparo cultura dever do Estado.Pargrafo nico. Ficam sob a proteo especial do PoderPblico os documentos, as obras e os locais de valor histri-co ou artstico, os monumentos e as paisagens naturaisnotveis, bem como as jazidas arqueolgicas.

    H que se ressaltar que a Emenda Constitucional n1, de 17 de outubro de 1969, repete esse artigo em suatotalidade.

    A conduta poltica que contempla o patrimnio cul-tural em toda a sua amplitude e complexidade ser encon-trada somente na Constituio da Repblica Federativa doBrasil, promulgada em 5 de outubro de 1988 pelaAssemblia Nacional Constituinte, que teve como presi-dente o saudoso Deputado Ulysses Guimares.

    O texto constitucional abrange no s os bens denatureza material de valor artstico e histrico, mas tam-bm o patrimnio imaterial ou intangvel. Nele, so va-lorizadas as formas de expresso e os modos de criar,fazer e viver, como se pode depreender da transcrioabaixo:

    Art. 216. Constituem patrimnio cultural brasileiro os bensde natureza material e imaterial tomados individualmente ouem conjunto, portadores de referncia identidade, ao, memria dos diferentes grupos formadores da sociedadebrasileira, nos quais se incluem:I - as formas de expresso;II - os modos de criar, fazer e viver;III - as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas;IV - as obras, objetos, documentos, edificaes de demaisespaos destinados s manifestaes artstico-culturais;V - os conjuntos urbanos e stios de valor histrico, paisagsti-co, artstico arqueolgico, paleontolgico, ecolgico e cien-tfico. 1 O Poder Pblico, com a colaborao da comunidade,promover e proteger o patrimnio cultural brasileiro, pormeio de inventrios, registros, vigilncia, tombamento edesapropriao, e de outras formas de acautelamento epreservao. 2 Cabem administrao pblica, na forma da lei, agesto da documentao governamental e as providnciaspara franquear sua consulta a quantos dela necessitem. 3 A lei estabelecer incentivos para a produo e o co-nhecimento de bens e valores culturais. 4 Os danos e ameaas ao patrimnio cultural seropunidos na forma da lei. 5 Ficam tombados todos os documentos e os stios deten-tores de reminiscncias histricas dos antigos quilombos. 6 facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular afundo estadual de fomento cultura at cinco dcimos porcento de sua receita tributria lquida, para o financiamentode programas e projetos culturais, vedada a aplicao des-ses recursos no pagamento de:I - despesas com pessoal e encargos sociais;II - servio da dvida;III - qualquer outra despesa corrente no vinculada direta-mente aos investimentos ou aes apoiados.

    A Constituio Cidad, cumprindo o seu destino,no poderia deixar de tratar de assunto de to grandeimportncia como o patrimnio, que representa, segun-do Fonseca (1997), [...] o conjunto de bens de valorcultural que passaram a ser propriedade da nao, ouseja, do conjunto de todos os cidados.

    No que se refere exposio realizada pela Mejud,permitimo-nos apropriar das palavras proferidas pelaMinistra Ellen Gracie, quando da abertura oficial daexposio As Constituies Brasileiras, promovida peloSupremo Tribunal Federal:

    [...] sobremaneira revelador que o faamos ressaltando omarco jurdico estruturante do Pas, em suas diversas formu-laes, ao longo de nossa histria. Nossa inteno a dedemonstrar de forma muito didtica a correspondncia entrecada poca da vida nacional e sua respectiva regra regente.A Constituio um documento jurdico-poltico porexcelncia. E, se poltica a arte do possvel, esse documen-to, que conforma as instituies, define suas competncias efuncionamento e, sobretudo, estabelece as salvaguardas deque dispe o cidado contra a atuao do Estado todo-poderoso, guarda uma necessria correlao com a quadrahistrica em que surge e vigora. Da a importncia de tornarconhecido o contexto de cada qual. Por isso, visitar estaexposio corresponde a percorrer a histria brasileira emsua evoluo.

    RReeffeerrnncciiaass

    BRASIL. Constituio (1988). Constituio da RepblicaFederativa do Brasil: Texto constitucional promulgado em5 de outubro de 1988, com as alteraes adotadaspelas Emendas Constitucionais nos 1/92 a 56/2007 epelas Emendas Constitucionais de Reviso nos 1 a 6/94.Braslia: Senado Federal, Subsecretaria de EdiesTcnicas, 2008. 464p.

    GANDELMAN, Slvia Regina Dain. Acervos culturais eacesso ao pblico - Questes jurdicas.. Disponvelem:. Acesso em: 09 mar. 2009.

    HOUAIS, Antnio. Dicionrio da Lngua Portuguesa.Brasil. Instituto Antnio Houais: Objetiva. Disponvel em:. Acesso em: 09 mar. 2009.

    NORTHFLEET, Ellen Gracie. Discurso da Ministra EllenGracie, Presidente do Supremo Tribunal Federal, na aber-tura oficial da exposio As Constituies Brasileiras [24de maio de 2007]. Disponvel em: . Acesso em: 09 mar. 2009.

    . . .

  • Dout

    rina

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 19-50, jul./set. 2008 19

    Direito, economia e corrupo

    Rogrio Medeiros Garcia de Lima**

    J tivemos ocasio de refletir sobre os reflexos dopensamento neoliberal no Direito Contemporneo(LIMA, 2004, p. 9-17).

    O chamado Estado Liberal, paradigma constitucio-nal surgido no sculo XVIII, teve como pedra angular oprincpio da legalidade (SARAIVA, 1983, p. 8-11). Eracalcado na teoria dos trs poderes de Montesquieu.Intentava coibir o arbtrio dos governantes e oferecersegurana jurdica aos governados. O Estado legalmentecontido denominado Estado de Direito.

    Consolidada a Revoluo Industrial, emergiramnecessidades sociais expostas pelos sucessivos movimen-tos socialistas. Demonstravam no bastar ao ser humanoo atributo da liberdade. preciso conferir a ele condiessocioeconmicas dignificantes da pessoa humana.

    Diante da crise econmica do primeiro Ps-guerra,o Estado teve de assumir papel ativo. Premido pelasociedade, tornou-se agente econmico, instalou inds-trias, ampliou servios, gerou empregos e financioudiversas atividades. Intermediou a porfia entre podereconmico e misria, assumindo a defesa dos trabalha-dores, em face dos patres, e dos consumidores, em facede empresrios.

    Desde as Constituies Mexicana, de 1917, e deWeimar, de 1919, os textos constitucionais incorporaramcompromissos de desenvolvimento da sociedade e valo-rizao dos indivduos socialmente inferiorizados. OEstado abandonou o papel no intervencionista e assu-miu postura de agente do desenvolvimento e da justiasocial (SUNDFELD, 1997, p. 50-54). o denominadoEstado Social.

    Prosseguiu a evoluo dos paradigmas at culmi-nar no Estado Democrtico de Direito. Superada a faseinicial, paulatinamente o Estado de Direito incorporouinstrumentos democrticos e permitiu a participao dopovo no exerccio do poder. Manteve o projeto inicial decontrolar o Estado. Dessarte, o Estado Democrtico deDireito aquele: a) criado e regulado por uma Consti-tuio; b) onde os agentes pblicos fundamentais soeleitos e renovados periodicamente pelo povo e respon-dem pelo cumprimento de seus deveres; c) onde o poderpoltico repartido entre o povo e rgos estatais inde-pendentes e harmnicos, que se controlam uns aos ou-tros; d) onde a lei, produzida pelo Legislativo, neces-

    sariamente observada pelos demais Poderes; e e) ondeos cidados, sendo titulares de direitos, inclusive polti-cos, podem op-los ao prprio Estado.

    Paralelamente a esses paradigmas de organizaopoltica do Estado, fala-se tambm nos direitos de pri-meira gerao (individuais), direitos de segunda gerao(coletivos e sociais) e direitos de terceira gerao (difusos,compreendendo os direitos ambientais, do consumidor econgneres).

    O historiador britnico Eric Hobsbawm (1995) con-siderou breve o sculo XX. Comeou somente em 1914,at quando foram mantidas as mesmas caractersticashistrico-polticas dominantes no sculo XIX. Terminouem 1989, com a queda do Muro de Berlim. A partir deento, aceleraram-se mudanas radicais e se constituiunovo estgio na Histria Contempornea.

    Fala-se em crise da ps-modernidade (MARQUES,1999, p. 91). Operam-se mudanas legislativas, polti-cas e sociais. Os europeus denominam esse momento dequeda, rompimento ou ruptura. o fim de uma era eo incio de algo novo, ainda no identificado: ps-modernidade. Entraram em crise os ideais da Era Moder-na, concretizados na Revoluo Francesa. Liberdade,igualdade e fraternidade no se realizaram para todos enem so hoje considerados realmente realizveis.Desconfia-se da fora e suficincia do Direito para servirde paradigma organizao das sociedades demo-crticas. Viceja o capitalismo neoliberal, bastante agres-sivo e com perversos efeitos de excluso social.

    Nos anos 1980, o chamado Welfare State, quecombinava democracia liberal na poltica com dirigismoeconmico estatal, cedeu espao ao novo liberalismo.Foram questionadas as polticas de benefcio social atento praticadas. Estados Unidos e Inglaterra, sob osgovernos de Ronald Reagan e Margaret Thatcher, res-pectivamente, lideraram a implantao de uma novapoltica econmica. Assentava-se precipuamente nosconceitos liberais: Estado mnimo, desregulamentaodo trabalho, privatizaes, funcionamento do mercado,sem interferncia estatal, e cortes nos benefcios sociais.

    Norberto Bobbio, grande pensador contempo-rneo, sintetizou (1995, p. 87-89):

    Por neoliberalismo se entende hoje, principalmente, umadoutrina econmica conseqente, da qual o liberalismopoltico apenas um modo de realizao, nem semprenecessrio; ou, em outros termos, uma defesa intransigenteda liberdade econmica, da qual a liberdade poltica ape-nas um corolrio. [...] Na formulao hoje mais corrente, oliberalismo a doutrina do Estado mnimo (o minimal statedos anglo-saxes).

    DOUTRINA

    _________________________

    ** Desembargador do Tribunal de Justia de Minas Gerais. Doutor em Direito Administrativo pela UFMG. Professor universitrio e da Escola JudicialDesembargador Edsio Fernandes - TJMG.

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 19-50, jul./set. 200820

    No Brasil, Roberto Campos foi arauto do resgatedo iderio liberal (1996):

    A esperana que nos resta um choque de liberalismo,atravs de desregulamentao e de privatizao. Governopequeno, impostos baixos, liberdade empresarial, respeitoaos direitos de propriedade, fidelidade aos contratos, aber-tura a capitais estrangeiros, prioridade para a educaobsica - eis as caractersticas do Estado desejvel: o Estadojardineiro.

    Mudando a ideologia dominante, muda a formade se conceber o Estado e a Administrao Pblica. Nose quer mais o Estado prestador de servios, mas, segun-do Maria Sylvia Zanella Di Pietro (1997, p. 11-12).

    Quer-se o Estado que estimula, que ajuda, que subsidia ainiciativa privada; quer-se a democratizao da Administra-o Pblica pela participao dos cidados nos rgos dedeliberao e de consulta e pela colaborao entre pblicoe privado na realizao das atividades administrativas doEstado; quer-se a diminuio do tamanho do Estado paraque a atuao do particular ganhe espao; quer-se a parce-ria entre o pblico e o privado para substituir-se aAdministrao Pblica dos atos unilaterais, a AdministraoPblica autoritria, verticalizada, hierarquizada.

    Nos Estados Unidos, a nova ideologia consolidou-se. Curiosamente, na ptria do New Deal, conjunto dereformas econmicas e sociais implantadas pelo Presi-dente Franklin Delano Roosevelt, aps a crise de 1929,abrangendo a interveno do Estado na economia evrias medidas de cunho social, inclusive para a conten-o do desemprego.

    Em agosto de 1996, o Presidente norte-americanoBill Clinton anunciou a reforma da assistncia oficial aospobres, pondo termo poltica social implantada com oNew Deal. Proclamou o fim do Welfare State, conside-rando-o falido (Jornal do Brasil, 02.08.1996).

    Ao lado do triunfo neoliberal, propaga-se a globa-lizao, consistente na

    mundializao da economia, mediante a internacionalizaodos mercados de insumo, consumo e financeiro, rompendocom as fronteiras geogrficas clssicas e limitando crescen-temente a execuo das polticas cambial, monetria e tri-butria dos Estados nacionais (FARIA, 1996, p. 10).

    Com invulgar franqueza, John Kenneth Galbraithsalientou no ser a globalizao um conceito srio.Inventado pelos americanos, dissimula a sua poltica deentrada econmica nos outros pases (Folha de SoPaulo, 03.11.1997).

    Essa nova ordem internacional, uma ordem sobre-tudo econmica, mas tambm poltica, despreza os va-lores sociais e humanitrios. Significa economia globali-zada e desemprego incessantemente gerado (CASTRO,1996, p. 134). um desgnio de perpetuidade do statuquo de dominao, como parte da estratgia mesma de

    formulao do futuro em proveito das hegemoniassupranacionais j esboadas no presente (BONAVIDES,1996).

    A Constituio de 1988, saudada por UlyssesGuimares como cidad, foi impiedosamente retalhadapara assegurar uma controvertida governabilidade.Celso Antnio Bandeira de Mello condenou acerbamen-te o desmantelamento das instituies polticas estabele-cidas juridicamente. Processa-se mediante o desfazimen-to da Constituio da Repblica, democraticamente pro-mulgada, o aniquilamento dos direitos fundamentais,conquistados ao longo de embates histricos, e o com-prometimento da prpria dignidade humana (Jornal doAdvogado, OAB-MG, janeiro de 1998):

    Imperialismo, hoje, chama-se globalizao, queda de fron-teiras, destruio da economia nacional, cujo resultado oagravamento da misria, em funo do bem-estar de umgrupo. No se pode aceitar isso com submisso.

    Alain Touraine (1998) proclama j ser hora de ele-ger como prioridade sair do liberalismo e no entrarnele. Parece no haver mais sistema poltico capaz deadministrar os problemas sociais. De um lado, o Estadose submete aos ditames da economia internacional; deoutro, crescem os protestos por alterao de rumos.Amplia-se o vazio, preenchido pelo caos e pela violn-cia. A prioridade reconstruir o sistema poltico e aban-donar a perigosa idia de que os mercados podem re-gular a si mesmos. Essa idia, do ponto de vista poltico, gravemente insatisfatria. O desemprego em massa, aqueda do nvel de vida, para muitos, e o aumento dasdesigualdades, no so apenas variveis econmicas.So, sobretudo, vidas e sofrimentos.

    O Brasil um pas com notria desigualdade social.No obstante, no limiar da dcada 1990, o ento presi-dente Fernando Collor de Melo aderiu incondicionalmenteao modelo neoliberal. Fernando Henrique Cardoso, seusucessor, consolidou-o em seus dois mandatos. Conse-qentemente, o pas teve uma dcada perdida, com es-tagnao econmica, desemprego e endividamento exter-no e interno. Estropiado, chegou ao sculo XXI.

    De modo surpreendente, o governo do presidenteLuiz Incio Lula da Silva, a despeito do discurso vigorosa-mente contrrio do combativo Partido dos Trabalhadores(PT), manteve a poltica econmica calcada na busca dosupervit primrio. No obstante o bem-sucedido pro-grama social Bolsa Famlia, permanecem intocados osaltos ndices de analfabetismo, desemprego e problemassanitrios. S para exemplificar.

    Nessa quadra de insucessos, verificamos que pas-sou a ser cobrado tambm do Poder Judicirio o com-promisso com a dita governabilidade do pas. conceitofluido, porque deriva das concepes subjetivas dos go-vernantes de momento.

  • Dout

    rina

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 19-50, jul./set. 2008 21

    Contudo, a princpio o juiz deve estar subordinadoaos princpios democrticos (AGUIAR JNIOR, 1998).Responde, perante a sociedade, pelo exerccio da suafuno. Esta, como as demais funes do Estado, meiode realizao dos valores fundamentais socialmente con-sagrados. No Estado democrtico, o juiz assume o com-promisso de exercer o poder estatal de acordo com osprincpios orientadores do ordenamento jurdico, do qualderivou sua investidura no cargo e de onde lhe advm afora da deciso.

    O notvel Georges Ripert j assinalava haver a

    regra moral impregnado o mundo jurdico (2002, p. 24):

    preciso inquietarmo-nos com os sentimentos que fazemagir os assuntos de direito, proteger os que esto de boa-f,castigar os que agem por malcia, m-f, perseguir a fraudee mesmo o pensamento fraudulento. [...]O dever de no fazer mal injustamente aos outros o fun-damento do princpio da responsabilidade civil; o dever dese no enriquecer custa dos outros, a fonte da ao doenriquecimento sem causa.

    Estaremos retornando ao glido dogma pacta suntservanda? Clusulas contratuais devem ser cumpridas,mesmo quando propiciem enriquecimento injusto a umadas partes?

    Consoante Carlos Alberto Bittar (1991, p. 25-26),a Constituio de 1988 acompanhou a evoluoprocessada no Direito Privado, tanto ao nvel doutrinrio,quanto jurisprudencial. Agasalhou solues adotadasnacional e internacionalmente, inclusive pelos pasesmais desenvolvidos:

    Na tnica da prevalncia dos valores morais, institutos pr-prios clssicos, doutrinrios, ou jurisprudenciais, coman-daro a resposta do ordenamento jurdico a leses havidasnas relaes privadas. Figuras como a reviso judicial doscontratos, o desfazimento de contratos face leso, o con-trole administrativo de atividades, sero utilizadas com fre-qncia, e conceitos como o abuso de direito, a citada lesoe o enriquecimento ilcito ganharo explicitao no novoCdigo, em defesa de pessoas, de categorias, de consumi-dores, individual ou coletivamente considerados, dentreinmeras outras aplicaes possveis. [...]O destaque dos elementos sociais impregnar o DireitoPrivado de conotaes prprias, eliminando os resquciosainda existentes do individualismo e do formalismo jurdico,para submeter o Estado brasileiro a uma ordem baseada emvalores reais e atuais, em que a justia social o fim ltimoda norma, equilibrando-se mais os diferentes interesses porelas regidos, luz de uma ao estatal efetiva, inclusive coma instituio de prestaes positivas e concretas por parte doPoder Pblico para a fruio pela sociedade dos direitosassegurados.

    Miguel Reale, um dos responsveis pela elabo-rao do novo Cdigo Civil, sublinhava a diferena entreo Cdigo de 1916, elaborado para um pas predomi-nantemente rural, e o Cdigo de 2002, projetado parauma sociedade na qual prevalece o sentido da vida

    urbana. Passamos do individualismo e do formalismo doprimeiro, para o sentido socializante do segundo. Fica-mos mais atentos s mutaes sociais, numa composi-o eqitativa de liberdade e igualdade. Alm disso, superado o apego a solues estritamente jurdicas, re-conhecendo-se o papel que na sociedade contem-pornea voltam a desempenhar os valores ticos, a fim deque possa haver real concreo jurdica. Socialidade e eti-cidade condicionam os preceitos do novo Cdigo Civil,atendendo-se s exigncias de boa-f e probidade, em umordenamento constitudo por normas abertas, suscetveisde permanente atualizao. Reale perorou (2002):

    O que importa verificar que o novo Cdigo Civil vem aten-der sociedade brasileira, no tocante s suas aspiraes enecessidades essenciais. [...] indispensvel, porm, ajustaros processos hermenuticos aos parmetros da nova codifi-cao. [...] Nada seria mais prejudicial do que interpretar onovo Cdigo Civil com a mentalidade formalista e abstrataque predominou na compreenso da codificao por elesubstituda.

    Evocamos clebres decises do Superior Tribunalde Justia:

    O Cdigo de Defesa do Consumidor veio amparar a partemais fraca nas relaes jurdicas. Nenhuma deciso judicialpode amparar o enriquecimento sem justa causa. Toda deci-so h que ser justa (Recurso Especial n 90.366-MG, Minis-tro Luiz Vicente Cernicchiaro, publicao da Escola JudicialDesembargador Edsio Fernandes, Tribunal de Justia deMinas Gerais, Dirio do Judicirio - MG, 13.06.1997).

    Civil. Locao. Aluguel. Reviso. A clusula pacta sunt ser-vanda no absoluta. Cumpre considerar tambm a clusu-la rebus sic stantibus. Significativa modificao ftica dascondies da poca do contrato autoriza rever as clusulas.Busca-se, assim, evitar o seu enriquecimento sem causa(Recurso Especial n 35.506-0-RS, Min. Vicente Cernicchiaro,DJU de 28.03.1994).

    A antiga parmia - o contrato faz lei entre as partes - hoje,devido ao sentido social da norma jurdica, precisa ser anali-sada cum granis salis. O aresto afrontado foi sensvel a esseaspecto. Tanto assim, fundamenta: a previso contratualno tem assim valor absoluto e nem poderes de superar ojusto. Os princpios da autonomia da vontade e da obriga-toriedade das convenes sofrem limitaes impostas pelaidia de ordem pblica. [...] Ou, em outras palavras, dentroda moderna tendncia social do direito, aquele que semostra fraco, ainda que por culpa prpria, tem direito de serprotegido (MONTEIRO, Washington de Barros. Curso deDireito Civil. 16. ed. 4 vol., p. 204-205).

    A atividade do juiz no pode ser discricionria enem neutra (AGUIAR JNIOR, 1998). Deve ser exercidaem considerao a regras e princpios, implcitos eexplcitos, adotados pelo sistema. A deciso, ainda queinovadora, deve manter coerncia com o ordenamentojurdico vigente, para que este no perca sua identidade.

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 19-50, jul./set. 200822

    O sistema jurdico de um Estado democrtico permiteliberdade decisria, nas condies acima referidas.Espera do juiz, a quem garante independncia institu-cional e funcional, a utilizao dessa liberdade para arealizao dos seus valores. Por isso, o magistrado temresponsabilidade social.

    Em voto lapidar, o Ministro Slvio de FigueiredoTeixeira sublinhou:

    O jurista, salientava Pontes de Miranda em esclio aoCdigo de 1939 XII/23, h de interpretar as leis com oesprito ao nvel do seu tempo, isto , mergulhado na vivarealidade ambiente, e no acorrentado a algo do passado,nem perdido em alguma paragem, mesmo provvel, do dis-tante futuro. Para cada causa nova o juiz deve aplicar a lei,ensina Ripert (Les forces cratives du droit, p. 392), con-siderando que ela uma norma atual, muito embora saibaque ela muita vez tem longo passado; deve levar em contao estado de coisas existentes no momento em que ela deveser aplicada, pois somente assim assegura o progresso doDireito, um progresso razovel para uma evoluo lenta(Superior Tribunal de Justia, Recurso Especial n. 196-RS,Rel. Min. Slvio de Figueiredo Teixeira, in Revista dosTribunais, vol. 651, janeiro de 1990, p. 170-173).

    De outro ngulo, no mundo contemporneo - in-clusive em nosso pas - surgem cada vez maiores tensesentre o Direito e a Economia. Segundo Giorgio DelVecchio, as consideraes meramente econmicas re-presentam apenas um dos aspectos da realidade, a qual,em concreto, sempre mais alguma coisa do que eco-nmica (1952, p. 229 e 258):

    O direito, como princpio universal de operar, domina, coma moral, todas as aes humanas e, portanto, tambm asque tendem satisfao das necessidades e aquisio dosbens materiais. Domina todos os motivos humanos e, por-tanto, tambm os de natureza egostica e utilitria. Numapalavra, o direito domina a Economia.

    O renomado constitucionalista alemo Peter Hberletambm crtico da subordinao do Direito ao merca-do (2006, p. 113-114):

    A economizao de quase todos os domnios da vida, pro-pagando-se largamente, (mercado mundial) igualmenteum desafio. H de servir de ajuda, aqui, a noo de que osmercados tm um significado apenas instrumental. Ohomem a medida de todas as coisas, no o mercado, queno possui um fim em si prprio; o capitalismo tem de serdomado (Grfin Dnhoff), por muito criativo que possa sero mercado, como procedimento de descoberta (F. A. vonHayek).A preveno dos riscos conduz ao perigo de uma teoria dainsuficincia do sistema, leva ao renascimento de um pensa-mento radicado na idia do estado de exceo, como foitpico e fatdico no perodo final de Weimar.A conservao do Estado Social, positivado em tantasconstituies mais recentes, num tempo economicamentedifcil, mais um desafio, que est para ficar (limites da pri-vatizao?).

    Entretanto, o fenmeno da globalizao econmi-ca faz com que os mercados globalizados obstem acapacidade dos governos nacionais de condicionar poli-ticamente o ciclo econmico. crescente a integraodos sistemas financeiros e econmicos, em escala glo-bal. Aumenta a capacidade dos movimentos mundiais decapital de condicionar as posturas internas. No soapenas as economias nacionais que se inserem nas fron-teiras dos estados, pois os estados tambm esto inseri-dos nos mercados. O peso determinante dos processoseconmicos - em particular os financeiros - transformou osatores econmicos transnacionais em poderosos competi-dores dos estados nacionais. So transpostas barreirascomerciais e abertos novos mercados. Aos atores polticosreserva-se somente a tarefa de recriar, em nvel global, astradicionais garantias de segurana jurdica prpria do

    direito privado nacional (GREBLO, 2005, p. 30-32).Nesse contexto, cabe aos magistrados analisar cada

    caso em suas circunstncias peculiares. No podemdesprezar o impacto macroeconmico das suas decises.O economista Armando Castelar, do Instituto de PesquisaEconmica Aplicada (IPEA), sustentou que abalam o mer-cado de crdito a ineficincia do Poder Judicirio e asdecises judiciais causadoras de insegurana jurdica(Folha de So Paulo, 19.02.2003). Igualmente, argumen-ta Fbio Ulhoa Coelho (2006, p. 86):

    A instabilidade do marco institucional manifesta-se porvrios modos. Um deles a jurisprudncia desconforme aotexto legal. Se a lei diz x, mas sua aplicao pelo Judicirioimplica no-x, os investimentos se retraem. O investidorbusca outros lugares para empregar seu dinheiro; lugaresem que ele tem certeza das regras do jogo e pode calcularo tamanho do risco (que sempre existe em qualquer emprei-tada econmica). Numa economia globalizada, ele os en-contra com facilidade. Tanto o investidor estrangeiro comeaa evitar o pas com marco institucional instvel, como onacional passa a considerar outros pases como alternativamelhor para seus investimentos.

    A magistratura brasileira tem-se confrontado com atenso entre a justia e a segurana jurdica ou a estabi-lidade econmica. O ministro Luiz Fux, do Superior Tri-bunal de Justia, refletiu:

    Se ns oferecemos uma justia caridosa, se ns oferecemosuma justia paternalista, se ns oferecemos uma justia sur-preendente que se contrape segurana jurdica prometi-da pela Constituio Federal, evidentemente que isso afastao capital estrangeiro, como afasta o capital das grandes cor-poraes. o que sucede com o no-cumprimento de trata-dos, o no-cumprimento de laudos arbitrais convencionadospreviamente... Isso, segundo a Corte Especial, aumenta oque se denomina Risco Brasil (Impacto das decises judiciaisna concesso de transportes. Revista ENM, n 5, p. 12).

    Para ilustrar, a tormentosa questo das tarifas de ser-vios de telefonia tem despertado a ateno dos juristas.

  • Dout

    rina

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 19-50, jul./set. 2008 23

    Em se tratando de contrato administrativo de concesso,aplica-se a regra da manuteno do equilbrio econmi-co-financeiro:

    O equilbrio econmico-financeiro ou equao econmico-financeira a relao que se estabelece, no momento dacelebrao do contrato, entre o encargo assumido pelo con-tratado e a contraprestao assegurada pela Administrao.Preferimos falar em contraprestao assegurada e no devi-da pela Administrao, porque nem sempre ela que paga;em determinados contratos, o usurio do servio pblicoque paga a prestao por meio de tarifa; o que ocorre noscontratos de concesso de servio pblico (DI PIETRO,Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 15. ed. Atlas,2003, p. 263, grifos no original).

    O colendo Superior Tribunal de Justia assentou:

    Administrativo. Recurso especial. Servio de telefonia.Discriminao de pulsos excedentes. No-obrigatoriedade.Relao de consumo. Cobrana de assinatura bsica men-sal. Natureza jurdica: tarifa. Prestao do servio. Exignciade licitao. Edital de desestatizao das empresas federaisde telecomunicaes MC/BNDES n. 01/98 contemplando apermisso da cobrana da tarifa de assinatura bsica.Contrato de concesso que autoriza a mesma exigncia.Resolues n. 42/04 e 85/98, da Anatel, admitindo acobrana. Disposio na Lei n. 8.987/95. Poltica tarifria.Lei 9.472/97. Ausncia de ofensa a normas e princpios doCdigo de Defesa do Consumidor. Precedentes da Corteadmitindo o pagamento de tarifa mnima em casos defornecimento de gua. Legalidade da cobrana de assina-tura bsica de telefonia.1. A Corte Especial, na questo de ordem no Ag 845.784/DF, entre partes Brasil Telecom S.A. (agravante) e ZenonLuiz Ribeiro (agravado), resolveu, em 18.04.2007, que, emse tratando de aes envolvendo questionamentos sobre acobrana mensal de assinatura bsica residencial e de pul-sos excedentes, em servios de telefonia, por serem preospblicos, a competncia para processar e julgar os feitos da Primeira Seo, independentemente de a Anatel partici-par ou no da lide.2. A Primeira Turma, apreciando a matria discriminao depulsos excedentes e ligaes de telefone fixo para celular noREsp 925.523/MG, em sesso realizada em data de07/08/2007, unanimidade, exarou o entendimento de queas empresas que exploram os servios concedidos de tele-comunicaes no estavam obrigadas a discriminar todos ospulsos nas contas telefnicas, especialmente os alm dafranquia, bem como as ligaes de telefone fixo para celu-lar, at o dia 01 de janeiro de 2006, quando entrou em vigoro Decreto n. 4.733/2003, art. 7. A partir dessa data, odetalhamento s se tornou obrigatrio quando houvessepedido do consumidor com custo sob sua responsabilidade.3. A tarifa, valor pago pelo consumidor por servio pblicovoluntrio que lhe prestado, deve ser fixada por autoriza-o legal.4. A prestao de servio pblico no obrigatrio por empre-sa concessionria remunerada por tarifa.5. A remunerao tarifria tem seu fundamento jurdico no art.175, pargrafo nico, inciso III, da Constituio Federal, peloque a poltica adotada para a sua cobrana depende de lei.6. O art. 2, II, da Lei n. 8.987/95, que regulamenta o art.175 da CF, ao disciplinar o regime de concesso e permis-

    so da prestao de servios pblicos, exige que o negciojurdico bilateral (contrato) a ser firmado entre o poder con-cedente e a pessoa jurdica concessionria seja, obrigatoria-mente, precedido de licitao, na modalidade de concorrncia.7. Os participantes do procedimento licitatrio, por ocasioda apresentao de suas propostas, devem indicar o valor eos tipos das tarifas que iro cobrar dos usurios pelos servi-os prestados.8. As tarifas fixadas pelos proponentes servem como um doscritrios para a escolha da empresa vencedora do certame,sendo elemento contributivo para se determinar a viabilidadeda concesso e estabelecer o que necessrio ao equilbrioeconmico-financeiro do empreendimento.9. O artigo 9 da Lei n. 8.987, de 1995, determina que atarifa do servio pblico concedido ser fixada pelo preo daproposta vencedora da licitao ....10. No contrato de concesso firmado entre a conces-sionria e o poder concedente, h clusula expressa refle-tindo o constante no Edital de Licitao, contemplando odireito de a concessionria exigir do usurio o pagamentomensal da tarifa de assinatura bsica.11. A permisso da cobrana da tarifa mencionada constounas condies expressas no Edital de Desestatizao dasEmpresas Federais de Telecomunicaes (Edital MC/BNDESn. 01/98) para que as empresas interessadas, com basenessa autorizao, efetuassem as suas propostas.12. As disposies do Edital de Licitao foram, portanto,necessariamente consideradas pelas empresas licitantes naelaborao de suas propostas.13. No contrato de concesso firmado entre a conces-sionria e o poder concedente, h clusula expressa afir-mando que, para manuteno do direito de uso, as presta-doras esto autorizadas a cobrar tarifa de assinatura,segundo tabela fixada pelo rgo competente. Estabelece,ainda, que a tarifa de assinatura inclui uma franquia de 90pulsos.14. Em face do panorama supra descrito, a cobrana da tari-fa de assinatura mensal legal e contratualmente prevista.15. A tarifa mensal de assinatura bsica, incluindo o direitodo consumidor a uma franquia de 90 pulsos, alm de serlegal e contratual, justifica-se pela necessidade de a conces-sionria manter disponibilizado o servio de telefonia aoassinante, de modo contnuo e ininterrupto, o que lhe exigedispndios financeiros para garantir a sua eficincia.16. No h ilegalidade na Resoluo n. 85, de 30.12.1998,da Anatel, ao definir: XXI - Tarifa ou Preo de Assinatura -valor de trato sucessivo pago pelo assinante prestadora,durante toda a prestao do servio, nos termos do contratode prestao de servio, dando-lhe direito fruio contnuado servio.17. A Resoluo n. 42/05 da Anatel estabelece, ainda, quepara manuteno do direito de uso, caso aplicvel, asConcessionrias esto autorizadas a cobrar tarifa de assi-natura mensal, segundo tabela fixada.18. A cobrana mensal de assinatura bsica est amparadapelo art. 93, VII, da Lei n 9.472, de 16.07.1997, que aautoriza desde que prevista no Edital e no contrato de con-cesso, como o caso dos autos.19. A obrigao de o usurio pagar tarifa mensal pela assi-natura do servio decorre da poltica tarifria instituda porlei, sendo que a Anatel pode fix-la, por ser a reguladora dosetor, tudo amparado no que consta expressamente no con-trato de concesso, com respaldo no art. 103, 3 e 4,da Lei n. 9.472, de 16.07.1997.20. O fato de existir cobrana mensal de assinatura, noservio de telefonia, sem que chamadas sejam feitas, no

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 19-50, jul./set. 200824

    constitui abuso proibido pelo Cdigo de Defesa do Con-sumidor, por, primeiramente, haver amparo legal e, emsegundo lugar, tratar-se de servio que, necessariamente, disponibilizado, de modo contnuo e ininterrupto, aosusurios.21. O conceito de abusividade no Cdigo de Defesa doConsumidor envolve cobrana ilcita, excessiva, possibilita-dora de vantagem desproporcional e incompatvel com osprincpios da boa-f e da eqidade, valores negativos nopresentes na situao em exame.22. O STJ tem permitido, com relao ao servio de con-sumo de gua, a cobrana mensal de tarifa mnima, cujanatureza jurdica a mesma da ora discutida, a qual garanteao assinante o uso de, no mximo, 90 pulsos, sem nenhumacrscimo ao valor mensal. O consumidor s pagar pelosservios utilizados que ultrapassarem essa quantificao.23. Precedentes do STJ garantindo o pagamento de tarifamnima: REsp 759.362/RJ, Rel. Min. Eliana Calmon, DJ29/06/2006; REsp 416.383/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, DJ23/09/2002; REsp 209.067/RJ, Rel. Min. Humberto Gomesde Barros, DJ 08/05/2000; REsp 214.758/RJ, Rel. Min.Humberto Gomes de Barros, DJ 02/05/2000; REsp 150.137/MG, Rel. Min. Garcia Vieira, DJ 27/04/1998, entreoutros. Idem do STF: RE 207.609/DF, deciso da relatoria doMinistro Nri da Silveira, DJ 19/05/1999.24. Precedentes do STJ sobre tarifa de assinatura bsica emservio de telefonia: MC 10235/PR, Rel. Min. Teori Zavascki,Primeira Turma, DJ 01.08.2005; REsp 911.802/PR, Rel. Min.Jos Delgado, Primeira Seo.25. Artigos do Cdigo de Defesa do Consumidor que noso violados com a cobrana mensal da tarifa de assinaturabsica nos servios de telefonia e ao negar pedido do con-sumidor para a concessionria discriminar as ligaes locais.26. Recurso especial no provido por ser legtima e legal acobrana mensal da tarifa acima identificada e pela impos-sibilidade de a empresa de telefonia, s suas expensas, pro-ceder ao detalhamento das ligaes efetuadas (SuperiorTribunal de Justia, Recurso Especial n 979.220-RS, Min.Jos Delgado, DJU de 26.11.2007).

    Posteriormente, a mais alta Corte infraconstitucio-nal brasileira editou duas smulas sobre o tema versado:

    legtima a cobrana de tarifa bsica pelo uso dos serviosde telefonia fixa (Enunciado da Smula n 356 do STJ).

    A pedido do assinante, que responder pelos custos, obri-gatria, a partir de 1 de janeiro de 2006, a discriminaode pulsos excedentes e ligaes de telefonia fixa para celular(Enunciado da Smula n 357 do STJ).

    Ainda como exemplo, a jurisprudncia dos TribunaisSuperiores ptrios sedimentou a tormentosa matria doscontratos bancrios:

    A norma do pargrafo 3 do artigo 192 da Constituio,revogada pela Emenda Constitucional 40/2003, que limita-va a taxa de juros reais a 12% ao ano, tinha sua aplicabili-dade condicionada edio de lei complementar(Enunciado da Smula Vinculante n 7 do Supremo TribunalFederal).

    As disposies do Dec. 22.626/33 no se aplicam s taxasde juros e aos outros encargos cobrados nas operaes

    realizadas por instituies pblicas ou privadas que integramo sistema financeiro nacional (Enunciado da Smula n 596do Supremo Tribunal Federal).

    As empresas administradoras de carto de crdito so insti-tuies financeiras e, por isso, os juros remuneratrios porelas cobrados no sofrem as limitaes da Lei de Usura(Enunciado da Smula n 283 do Superior Tribunal deJustia).

    A limitao dos juros taxa de 12% ao ano, estabelecidapela Lei de Usura (Decreto n 22.626/33), no se aplica soperaes realizadas por instituies integrantes do SistemaFinanceiro Nacional, salvo excees legais (Superior Tribunalde Justia, Recurso Especial n 164.890-RS, Min. CsarAsfor Rocha, DJU de 28.09.1998).

    Direito bancrio. Agravo no recurso especial. Contrato deabertura de crdito. Juros remuneratrios. Comisso de per-manncia. Capitalizao dos juros. Descaracterizao damora.- No se aplica o limite da taxa de juros remuneratrios aoscontratos celebrados com as instituies integrantes doSistema Financeiro Nacional, salvo nas hipteses excep-cionadas pela legislao especfica e pela jurisprudncia.Precedentes.- Por fora do art. 5 da MP 2.170-36, possvel a capita-lizao mensal dos juros nas operaes realizadas por insti-tuies integrantes do Sistema Financeiro Nacional, desdeque pactuada nos contratos bancrios celebrados aps 31de maro de 2000, data da publicao da primeira medidaprovisria com previso dessa clusula (art. 5 da MP1.963/2000). Precedentes. Esta Corte j pacificou oentendimento no sentido da aplicabilidade do Cdigo deDefesa do Consumidor aos contratos de mtuo (Smula297/STJ). Precedentes (AgRg REsp 630.957/RS e REsp505.152/RS).

    Igualmente consolidado que, nos contratos firmados porinstituies integrantes do Sistema Financeiro Nacional,anteriormente edio da MP 1.963-17/2000, de 31 demaro de 2000 (atualmente reeditada sob o n 2.170-36/2001), ainda que expressamente pactuada, vedada acapitalizao dos juros, somente admitida nos casos previs-tos em lei, quais sejam nas cdulas de crdito rural, comer-cial e industrial, inocorrentes, na presente hiptese (art. 4do Decreto n 22.626/33 e Smula n 121-STF). In casu,conforme asseverado na contestao, o contrato de aberturade crdito foi firmado em 09 de maio de 1996, o que impos-sibilita a aplicabilidade do disposto na citada medida pro-visria. Precedentes (AgRg REsp nos 702.524/RS e 523.007/RS) (Superior Tribunal de Justia, Agravo Regimental noAgravo n 511.316-CE, Min. Jorge Scartezzini, DJU de21.11.2005).

    A comisso de permanncia e a correo monetria soinacumulveis (Enunciado da Smula n 30 do SuperiorTribunal de Justia).

    No potestativa a clusula contratual que prev a comis-so de permanncia, calculada pela taxa mdia de mercadoapurada pelo Banco Central do Brasil, limitada taxa docontrato (Enunciado da Smula n 294 do Superior Tribunalde Justia).

  • Dout

    rina

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 19-50, jul./set. 2008 25

    Os juros remuneratrios, no cumulveis com a comisso depermanncia, so devidos no perodo de inadimplncia, taxa mdia do mercado estipulada pelo Banco Central doBrasil, limitada ao percentual contratado (Enunciado daSmula n 296 do Superior Tribunal de Justia).

    Direito processual civil. Agravo no recurso especial. Aorevisional. Comisso de permanncia. Compensao/repetio de indbito. - admitida a incidncia da comissode permanncia, aps o vencimento do dbito, desde quepactuada e no cumulada com juros remuneratrios, cor-reo monetria, juros moratrios, e/ou multa contratual.Precedentes (Superior Tribunal de Justia, Agravo Regimentalno Recurso Especial n 990.053-RS, Min. Nancy Andrighi,DJU de 25.02.2008).

    No se perca de vista que a Reforma do Judicirio(Emenda Constitucional n 45/2006) estabeleceu o efei-to vinculante das smulas de decises do SupremoTribunal Federal, ao acrescentar o artigo 103-A e par-grafos ao texto da Carta de 1988. Posteriormente, oCongresso Nacional editou a Lei Federal n 11.417, de19 de dezembro de 2006, a qual regulamentou o novodispositivo constitucional e disciplinou a edio, revisoe cancelamento de enunciado de smula vinculante peloSupremo Tribunal Federal.

    O culto Desembargador paulista Jos RenatoNalini (2004) vislumbra a adoo do instituto comoexpressa reao do constituinte derivado aparenteinsolubilidade do problema das lides repetidas, as quaistomam ao juiz brasileiro tempo precioso, por ele subtra-do ao conhecimento de questes novas. Um trabalhorepetitivo, artesanal, hoje de cpia digitalizada e contidanos acervos eletrnicos, sem nenhuma criatividade:

    A rigor, a utilizao da smula liberaria a comunidade jurdi-ca do enfrentamento de questes idnticas e j decididas. Asmula no ferramenta de libertao do juiz. tentativa deobviar a necessidade de repetio de processos idnticos eque j mereceram apreciao do Judicirio. Parece contra-senso reiterar pedido j formulado, percorrer todas as instn-cias e suas vicissitudes, com a exata pr-cincia de qual sero resultado final.As teses sumuladas sero apenas aquelas emblemticas,originadas de questes quais as tributrias, fiscais ou previ-dencirias e de potencialidade multiplicadora de lides.Questes insuscetveis de interpretao objetiva e prximaao consenso, quais as criminais e de famlia, nunca seroobjeto de smula. H de confiar no discernimento daSuprema Corte, que se utilizar com parcimnia da atri-buio sumular.No todo e qualquer tema que merecer sumulao. Antesdisso, muitos juzes e tribunais j tero se debruado e semanifestado sobre a questo posta em juzo (grifei).

    Miguel Reale (1980, p. 141-142) distinguiu osordenamentos jurdicos de tradio romanstica (naeslatinas e germnicas) e de tradio anglo-americana(common law). Os primeiros caracterizam-se pelo prima-do do processo legislativo, com atribuio de valor

    secundrio s demais fontes do direito. A tradio latinaou continental (civil law) acentuou-se especialmente apsa Revoluo Francesa, quando a lei passou a ser consi-derada a nica expresso autntica da Nao, da von-tade geral, tal como verificamos na obra de Jean-Jacques Rousseau, O contrato social. Ao lado dessatradio, que exagera e exacerba o elemento legislativo,temos a tradio dos povos anglo-saxes, nos quais oDireito se revela muito mais pelos usos e costumes e pelajurisdio do que pelo trabalho abstrato e genrico dosparlamentos. Trata-se, mais propriamente, de um Direitomisto, costumeiro e jurisprudencial. Se, na Inglaterra, hnecessidade de saber-se o que lcito em matria civil oucomercial, no h um Cdigo de Comrcio ou Civil queo diga, atravs de um ato de manifestao legislativa. ODireito , ao contrrio, coordenado e consolidado emprecedentes judiciais, isto , segundo uma srie de deci-ses baseadas em usos e costumes prvios. J o Direitoem vigor nas Naes latinas e latino-americanas, assimcomo tambm na restante Europa continental, funda-se,primordialmente, em enunciados normativos elaboradosatravs de rgos legislativos prprios. Conclua Reale:

    Seria absurdo pretender saber qual dos dois sistemas omais perfeito, visto como no h Direito ideal seno emfuno da ndole e da experincia histrica de cada povo. Sealardearmos as vantagens da certeza legal, podem os adep-tos do common law invocar a maior fidelidade dos usos ecostumes s aspiraes imediatas do povo. Na realidade,so expresses culturais diversas que, nos ltimos anos, tmsido objeto de influncias recprocas, pois, enquanto as nor-mas legais ganham cada vez mais importncia no regime docommon law, por sua vez, os precedentes judiciais desem-penham papel sempre mais relevante no Direito de tradioromanstica (grifei).

    Igualmente, o processualista Jos Carlos BarbosaMoreira (2003, p. 53-63) salienta que as diferenasentre os sistemas civil law e common law tendem a setornar menos salientes do que j foram. Assistimos suaprogressiva aproximao. A influncia recproca tende ase intensificar na esteira do fenmeno globalizao.

    O efeito vinculante de decises de tribunais superio-res j fora reconhecido, na prtica, pela jurisprudncia.O aresto, que cito, aplica-se analogicamente ao casosob exame:

    O juiz deve negar liminar quando, em lides semelhantes, oSTF tem suspendido a eficcia de liminares concedidas. Seriaquase uma deslealdade para com a parte o juiz incutir-lheesperanas infundadas (Superior Tribunal de Justia, RecursoOrdinrio em Mandado de Segurana n 8.793-PB, Min.Humberto Gomes de Barros, DJU de 02.03.1998).

    No obstante a torrencial jurisprudncia favorvels instituies financeiras, h espao para realizao dajustia nos casos concretos, como revelam arestos abaixocolacionados:

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 19-50, jul./set. 200826

    Ao cautelar. Liminar prevista. Demonstrao do possvelcomprometimento da medida. Concesso parcial. Descontoem conta corrente destinada a depsito de salrio. Limi-tao. Liminar para retirada do nome do agravante doscadastros de restrio ao crdito. Inadimplncia comprova-da. Depsito da parte incontroversa da dvida ou cauoidnea.- Somente diante da demonstrao do fumus boni iuris e do

    periculum in mora, que se justifica a concesso da liminar.- Pelo princpio da dignidade da pessoa humana deve-selimitar o desconto de parcela na conta do devedor para aquitao de dbitos, a fim de preservar o direito vida, ali-mentao e sade.- Pode o credor efetuar o desconto das parcelas em dbito,automaticamente, na conta corrente do devedor, at o limitede 30% do que o mesmo aufere (Tribunal de Justia deMinas Gerais, Agravo n 1.0145.07.408829-8/001, Des.Cludia Maia, j. em 06.09.2007).

    Agravo de instrumento. Revisional de clusulas contratuais.Banco. Reteno de salrio para satisfao de crditos.Parcial provimento. - vlido o desconto em conta correntedo devedor, de prestaes contratadas. razovel, outros-sim, que tal desconto no exceda a trinta por cento, quandoalcana benefcio de salrio do cliente, lembrando-se ocarter alimentar que reveste a verba em apreo (Tribunal deJustia de Minas Gerais, Agravo de Instrumento n 1.0024.06.987398-2/001, Des. Pedro Bernardes, j. em 06.06.2006).

    Agravo de instrumento. Emprstimo bancrio. Parcelas.Desconto. Conta corrente. Salrio. Razoabilidade. - Noobstante a legalidade da clusula que prev a cobrana dopagamento por meio de desconto na conta corrente daagravada, mister se faz a limitao do dbito ao percentualde 30% da remunerao ali depositada a ttulo de salrio,sob pena de se inviabilizar a sobrevivncia do devedor, o queatentaria contra o princpio da dignidade da pessoa humana(Tribunal de Justia de Minas Gerais, Agravo de Instrumenton. 2.0000.00.520240-0/000, Des. Renato Martins Jacob,j. em 06.10.2005).

    Enfim, a tenso entre Direito e Economia torna an-gustiante o cotidiano do juiz contemporneo. Dever en-frent-la com o sopeso dos interesses individuais e macro-econmicos envolvidos em cada caso. Se for prefervelque prevalea a segurana jurdica sobre interesses dos in-divduos litigantes, assim decidir. Do contrrio, farprevalecer a justia sobre os interesses macroeconmicos.

    Em sntese, trata-se de julgamento tico. WillDurant discorria sobre tica (2000, p. 61-62):

    Todas as concepes morais giram em torno do bem geral.A moralidade comea com associao, interdependncia eorganizao. A vida em sociedade requer a concesso deuma parte da soberania do indivduo ordem comum; e anorma de conduta acaba se tornando o bem-estar do grupo.A natureza assim o quer, e o seu julgamento sempre defi-nitivo; um grupo sobrevive, em concorrncia ou conflito comum grupo, segundo sua unidade e seu poder, segundo acapacidade de seus membros de cooperarem para finscomuns. E que melhor cooperao poderia haver do queaquela em que cada qual estivesse fazendo aquilo que me-lhor sabe fazer? Este o objetivo da organizao que todasociedade deve perseguir, para que tenha vida.

    Conforme Giovanni Reale (1994, p. 405),Aristteles subordinou a tica poltica:

    Nessa subordinao da tica poltica, incidiu clara e deter-minadamente a doutrina platnica que amplamente ilus-tramos, a qual, como sabemos, dava forma paradigmtica concepo tipicamente helnica, que entendia o homem uni-camente como cidado e punha a Cidade completamenteacima da famlia e do homem individual: o indivduo existiaem funo da Cidade e no a Cidade em funo do indiv-duo. Diz expressamente Aristteles: Se, de fato, idntico obem para o indivduo e para a cidade, parece mais impor-tante e mais perfeito escolher e defender o bem da cidade, certo que o bem desejvel mesmo quando diz respeito sa uma pessoa, porm mais belo e mais divino quando serefere a um povo e s cidades.

    sempre atual a lcida advertncia do saudosopoltico, filsofo e jurista Andr Franco Montoro(MARCLIO et al., 1997, p. 14):

    Quiseram construir um mundo sem tica. E a iluso se trans-formou em desespero. No campo do direito, da economia,da poltica, da cincia e da tecnologia, as grandes expecta-tivas de um sucesso pretensamente neutro, alheio aos valoresticos e humanos, tiveram resultado desalentador e muitasvezes trgico.

    Por derradeiro, a lastimvel realidade brasileira,marcada por corrupo e impunidade, influencia negati-vamente a estabilidade econmica. O economista norte-americano James Robert apontou a queda do Brasil noranking de liberdade econmica (revista Veja, 03.09.2008, p. 20):

    Saiu do que chamamos de moderadamente livre para umaeconomia majoritariamente no livre. Os dois fatores queempurram o pas para baixo so a corrupo e a falta deliberdade financeira [...]. As leis brasileiras so pouco recep-tivas aos investimentos estrangeiros. O pas precisa melhoraras leis de investimento, reduzir as restries moedaestrangeira e facilitar a vida dos empresrios estrangeirosque queiram operar no pas.

    Com efeito, desde o Descobrimento, enraizou-se noBrasil o patrimonialismo. Srgio Buarque de Holandadestacava no clssico Razes do Brasil (1976, p. 105-106):

    No era fcil aos detentores das posies pblicas deresponsabilidade [...] compreenderem a distino fundamen-tal entre os domnios do privado e do pblico. Assim, eles secaracterizam justamente pelo que separa o funcionrio pa-trimonial do puro burocrata conforme a definio de MaxWeber. Para o funcionrio patrimonial, a prpria gestopoltica apresenta-se como assunto de seu interesse particu-lar; as funes, os empregos e os benefcios que delesaufere, relacionam-se a direitos pessoais do funcionrio eno a interesses objetivos, como sucede no verdadeiroEstado burocrtico, em que prevalecem a especializao dasfunes e o esforo para que se assegurem garantias jurdi-cas aos cidados. A escolha dos homens que iro exercerfunes pblicas faz-se de acordo com a confiana pessoalque meream os candidatos, e muito menos de acordo com

  • Dout

    rina

    Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 19-50, jul./set. 2008 27

    as suas capacidades prprias. Falta a tudo a ordenaoimpessoal que caracteriza a vida do Estado burocrtico.

    As elites econmicas e polticas se apropriaram doEstado, em detrimento da cidadania. Por cidado, desig-namos o indivduo na posse dos seus direitos polticos.Cidadania a manifestao das prerrogativas polticasque um indivduo tem no Estado Democrtico. Consiste,portanto, na expresso da qualidade de cidado e nodireito de fazer valer as prerrogativas que defluem doregime democrtico (BASTOS, 1994, p. 19-20). Nasbia reflexo de Jos Murilo de Carvalho (1995, p. 10-11), cidadania tambm a sensao de pertencer a umacomunidade, de participar de valores comuns, de umahistria comum e de experincias comuns.

    Nos pases latino-americanos, o desenvolvimentoda cidadania no seguiu o modelo ingls. No Brasilcolonial, escravido e latifndio no eram slidos alicer-ces para a formao de futuros cidados. Nem a Inde-pendncia propiciou a conquista imediata dos direitos decidadania. A herana colonial fora bastante negativa. Oprocesso de emancipao, bastante suave, no permitiuqualquer mudana radical. Apesar das expectativas,poucas coisas mudaram com a Proclamao da Repbli-ca em 1889. Na Primeira Repblica, governaram oligar-quias estaduais (CARVALHO, 1995, p. 10-31).

    Em contraponto, Joaquim Nabuco considerava aInglaterra, ainda no sculo 19, o pas mais livre domundo. Em sua clssica obra Minha formao (1981,p. 85), elogiou a postura da Cmara dos Comuns de sesintonizar com as oscilaes do sentimento pblico. Emuito admirava a autoridade dos juzes britnicos:

    Somente na Inglaterra, pode-se dizer, h juzes [...]. S h umpas no mundo em que o juiz mais forte do que ospoderosos: a Inglaterra. O juiz sobreleva famlia real, aristocracia, ao dinheiro, e, o que mais que tudo, imprensa, opinio. [...] O Marqus de Salsbury e o Duquede Westminster esto certos de que diante do juiz so iguaisao mais humilde de sua criadagem. Esta a maior impressode liberdade que fica da Inglaterra. O sentimento de igual-dade de direitos, ou de pessoa, na mais extrema desigual-dade de fortuna e condio, o fundo da dignidade anglo-saxnica (grifei).

    No olvidemos a postura contempornea daUnio Europia, ao adotar rgidos critrios institucionaispara admisso de pases-membros. Ao admitir aRomnia e a Bulgria em seu seio, a Comisso Europiasaudou a conquista histrica, mas apontou problemaspersistentes, principalmente em termos de luta contra acorrupo e independncia do Judicirio, sobre os quaisos dois pases devero prestar contas a cada seis meses(Folha de So Paulo, 31.12.2006, caderno Mundo).

    O Brasil, mesmo com a notvel evoluo socialverificada no decorrer do sculo 20, chegou Assemblia Constituinte de 1987 com enorme dbito

    histrico a resgatar. O desafio era instituir o controle doEstado pelo povo e assegurar a plena cidadania a todos(PINHEIRO, 1985, p. 55 e 68).

    Em dado momento histrico, contudo, passamos anos portar como se estivssemos na Sucia. Verbi gratia,orgulhosamente poderamos apontar o Enunciado daSmula Vinculante n 11 do Supremo Tribunal Federal:

    S lcito o uso de algemas em caso de resistncia e de fun-dado receio de fuga ou de perigo integridade fsica prpriaou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada aexcepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidadedisciplinar civil e penal do agente ou da autoridade e de nu-lidade da priso ou do ato processual a que se refere, semprejuzo da responsabilidade civil do Estado.

    Reportar-nos-amos tambm festejada deciso doSuperior Tribunal de Justia, a qual anulou intercep-taes telefnicas, no curso de investigaes feitas pelaPolcia Federal contra grupo empresarial do Paran. Oprocesso j continha sentena de mrito, mas os autosretornaram Vara Federal de origem para o MinistrioPblico excluir da denncia referncias s provas colhi-das ilicitamente. Tudo porque a lei fixa prazo de quinzedias para as escutas telefnicas, mas as escutas do casojulgado foram prorrogadas, sem justificativa razovel,por mais de dois anos. Conforme o voto do Relator, seh normas de opostas inspiraes ideolgicas, como aConstituio e a lei que autoriza a escuta telefnica, asoluo deve ser a favor da liberdade: inviolvel odireito vida, liberdade, intimidade, vida privada(Superior Tribunal de Justia, Habeas Corpus n 76.686-PR, Relator Min. Nilson Naves; fonte: Notcias do Supe-rior Tribunal de Justia, (Disponvel em: . Acesso em: 09 set. 2008).

    O preclaro Ministro Gilmar Ferreira Mendes,Presidente do Supremo Tribunal Federal, apontou a exis-tncia de um Estado de medo no Brasil e pregou ocontrole das escutas telefnicas (Folha de So Paulo,05.08.2008, caderno Brasil). Na seqncia, o egrgioConselho Nacional de Justia percebeu que os magis-trados brasileiros, sobretudo os de primeiro grau, so osinfratores que mais amedrontam a sociedade brasileira.Adotaram a ousada prtica de autorizar escutas telefni-cas. Por isso, o CNJ inusitadamente invadiu a seara juris-dicional e baixou resoluo destinada a monitorar asquebras de sigilos de ligaes telefnicas em todo o pas(jornal Estado de Minas, 10.09.2008, p. 4).

    O Ministro Mendes tambm criticou as varas judi-cirias especializadas em lavagem de dinheiro, por eleconsideradas redutos parajurdicos geridos a seis mos,por delegados de polcia, procuradores e magistrados.Aderindo a essa histrica cruzada constitucionalista, advo-gados pregaram a extino daquelas varas (jornal OEstado de S. Paulo, 12.09.2008, caderno Nacional).

    Em dissonncia, o Juiz federal Srgio Fernandesobtemperou (Folha de So Paulo, 12.09.2008, cadernoBrasil):

  • Jurisp. Mineira, Belo Horizonte, a. 59, n 186, p. 19-50, jul./set. 200828

    At ontem, as capas de revistas diziam que o Brasil era o pasda impunidade. Agora, falam que o Brasil um Estado poli-cial. Tenho a sensao de que perdi alguma coisa, de quedormi cinco anos e no vi essa transformao.

    Referir-nos-amos, ao cabo, clebre deciso doTribunal Superior Eleitoral, segundo a qual candidatosque so rus podem disputar as eleies municipais de2008. Para o culto ministro Eros Grau, o Poder Judi-cirio no pode, na ausncia de lei complementar, esta-belecer critrios de avaliao da vida pregressa de can-didatos para o fim de definir situaes de inelegibili-dade. Vencido, o Presidente do TSE, Ministro CarlosAyres Britto, obtemperou que deve ser estabelecida umacondio para elegibilidade de todos os candidatos,para se exigir. Conforme Britto, o detentor de poder temgarantias como a inviolabilidade material, imunidadeprocessual e foro especial que o submetem a maioresexigncias: A Constituio no exigiria do exercente docargo um padro de moralidade que j no fosse a natu-ral continuao de uma vida pregressa tambm pautadapor valores ticos (Fonte: Notcias do Supremo TribunalFederal. Disponvel em: . Acessoem: 10 jun. 2008). Por nove votos a dois, o SupremoTribunal Federal corroborou esse entendimento e enfatizoua garantia constitucional da presuno da inocncia(Fonte: Notcias do Supremo Tribunal Federal, argio dedescumprimento de Preceito Fundamental n 144-DF, Min.Celso de Mello, j. em 06.08.2008. Disponvel em: . Acesso em: 06 ago.2008).

    Todos os exemplos apontados so paradigmticos.No entanto, algum cidado brasileiro, ignaro das garan-tias constitucionais, poderia formular estas indagaes:Qual a contrapartida para to firme defesa de garantiasindividuais? Passaremos a viver em um pas muito maisseguro e incorruptvel? Vamos ter menos crimes de cola-rinho branco? O Judicirio ser mais eficaz?

    Deveras. Criada para coibir a corrupo no pas, aLei de Improbidade Administrativa (Lei Federal n 8.429/1992) tornou-se smbolo da impunidade. Apenascerca de 7% das autoridades processadas por impro-bidade foram condenadas. Em quinze anos, a maioriadas 14 mil aes de improbidade, ajuizadas nos tri-bunais de todo o pas, ainda no recebeu sentena. Noscrimes do mercado financeiro, o ndice de condenaono passa de 5% (jornal O Globo, 17.06.2007).

    Responsvel pelo julgamento das maiores autori-dades do pas, o Supremo Tribunal Federal instaurou,desde 1968 (ano em que os dados passaram a estardisponveis), 137 processos criminais contra deputados,senadores, ministros e presidentes da Repblica. Todavia,desde ento, no se condenou um deles sequer. Asacusaes abrangem desvio de verbas pblicas, evasode divisas e at homicdios. H processos que tramitarampor mais de uma dcada, sem concluso (jornal OGlobo, 18.06.2007).

    O jornal Folha de So Paulo (Currais do Crime,01.08.2008, editorial) reportou-se ao domnio de trafi-cantes e milcias como ameaa ao direito dos eleitoresdo Rio de Janeiro, nas eleies municipais de 2008:

    [Em uma] comunidade carioca, indivduos armados impedi-ram que jornalistas circulassem livremente, enquanto acom-panhavam a passagem de um candidato prefeitura pelolocal. Fotgrafos foram obrigados a apagar as imagens quetraziam gravadas em suas cmeras. [...] Cumpre indagarqual o papel dos prprios partidos polticos, que admitemsem o menor problema candidatos com extensa ficha crimi-nal e histrico notrio de colaborao com o crime organiza-do (grifei).

    Em suma, no se nega o avano da democraciabrasileira. As instituies republicanas esto se fortale-cendo paulatinamente e se destaca o papel do PoderJudicirio na garantia do Estado de Direito. H prenn-cio de grande desenvolvimento econmico nos prximosanos, em decorrncia da descoberta de fartas reservaspetrolferas no mar territorial brasileiro. No entanto, acaminhada ser longa at atingirmos a plenitude de umasocial-democracia. Nesse aspecto, os Poderes constitu-dos, inclusive o Judicirio, tm enorme passivo a res-gatar com a sociedade brasileira.

    Para concluir este ensaio, recorro clssicareflexo de Rudolf von Ihering (1980, p. 94-95), bastanteapropriada realidade brasileira:

    Qualquer norma que se torne injusta aos olhos do povo,qualquer instituio que provoque seu dio, causa prejuzoao sentimento de justia, e por isso mesmo solapa as ener-gias da nao. Representa um pecado contra a idia do di-reito, cujas conseqncias acabam por atingir o prprioEstado. [] Nem mesmo o sentimento de justia mais vi-goroso resiste por muito tempo a um sistema jurdico defei-tuoso: acaba embotando, definhando, degenerando.

    RReeffeerrnncciiaass bbiibblliiooggrrffiiccaass

    AGUIAR JNIOR, Ruy Rosado de. Responsabilidade pol-tica e social dos juzes nas democracias modernas. Revistados Tribunais, So Paulo, v. 751, p. 35-50, maio 1998.

    BASTOS, Celso Ribeiro. Dicionrio de direito constitu-cional. So Paulo: Saraiva, 1994