laboratórios urbanosateliê IIartes gráficas eba ufmg
prof. amir brito, brígida campbell,jalver bethônico
adriana januário, luciana diniz, luiç caixote, naiara rocha, pierre fonseca.
julho, 2010 belo horizonte
evista desenvolvida para a disciplina Atelie II do curso de Artes Visuais da Escola de Belas Artes da UFMG. A revista
reúne registros dos trabalhos desenvolvidos pelos alunos durante o terceiro módulo da disciplina que propõe ações de intervenção no espaço urbano. Também apresenta reflexões acerca dos trabalhos desenvolvidos em diálogo com o contexto social e a produção de arte na contemporaneidade.
R
I nspirado na Internacional Situacionista, que lutava contra a alienação, a passividade da sociedade, a não-participação e a
monotonia da vida cotidiana, este trabalho faz uma crítica à idéia que se tem do tempo sempre associado a dinheiro, mercadoria, produção e consumo, e busca a valorização do tempo livre. No sistema capitalista não existe a possibilidade de tempo perdido, pois isso corresponde à perda de lucro. Trabalha-se cada vez mais, com cada vez menos tempo para o descanso e o lazer. Com isso a vida torna-se automatizada, setorizada. Sofremos com a doença da pressa. Vivemos mais rápido, mas não melhor do que antes. A intervenção, cuja proposta surgiu após derivas pelo centro da cidade, foi realizada em duas etapas: distribuição de panfletos na avenida Afonso Pena (o que permitiu um contato com o “público alvo” e a observação de suas várias reações) e colagem de adesivos (compostos por pictogramas e frases de efeito, com o lema “Desacelere”) em pontos de ônibus e no interior dos coletivos. O objetivo de ambos é levar as pessoas a se tornarem conscientes e livres da mecanização que atinge nossa era, com a certeza de que a transformação da vida cotidiana começa com sua observação, pois, como disse Bertolt Brecht: “apenas as lições da realidade podem nos ensinar como transformar a realidade”.
laboratóriosurbanos
luíç caixote
pessoas que andam a pé têm uma vantagem sobre as que estão nos carros: não possuem capô. Assim podem
olhar mais livremente para o céu, porém, não o fazem. Usam do corre-corre e da pressa danada como desculpa. Não percebem, ou talvez não se dão a perceber, que na confusão diária podem espiar o infinito azul enquanto esperam o sinal se abrir, o ônibus chegar ou mesmo quando estão presas no trânsito. Na maioria das vezes as pessoas precisam de ajuda para verem o que já está diante de seus olhos, e pequenos estímulos nos momentos de espera fazem bem essa função de ajuda. Seguindo por essa linha de pensamento “Uma espiadela, por favor!” é um pedido de atenção à paisagem. O trabalho se caracteriza por imagens instaladas em pontos de ônibus e em semáforos que, através da interação entre as fotografias de prédios (impotentes sob o teto azulado) e as frases (pequenos versos), motivam às pessoas observarem mais vezes o céu.
As
Para morar, andar, sair, chegar a algum lugar ou a lugar algum. A cidade é o que fazemos dela.
É inquestionável que somos reflexo do ambiente em que vivemos e vice-versa. A iniciativa de alterar o olhar, um pouco que seja e usar o comum para construir o incomum é atitude mais árdua do que parece. A verdade é que estamos acomodados numa realidade que só questionamos até certa área de segurança confortável. A maneira de lidar com as pessoas, as histórias, os objetos é atitude já delineada e por mais que nos atente alterá-las de certo modo, ainda somos reféns de uma tradição imposta pela cultura e pelo sistema.
A mídia faz seu papel. Estica cada vez mais a corda que nos separa de uma visão mais sensível da sociedade. As matérias são normalmente sensacionalistas e distorcidas. E já estão tão incorporadas no nosso cotidiano que já falamos e pensamos como os textos dos tablóides.
P
Mas como seria olhar para os objetos vulgares de maneira diferenciada, dar-lhes significados ou romper com a barreira da realidade aceitável? O projeto objetos a deriva testa essa realidade. Qual a reação a um estímulo diferenciado em relação a essa “verdade” absorvida de maneira invisível?
A proposta foi plantar matérias sutilmente absurdas no corpo de tablóides sensacionalistas e relacioná-las a objetos vulgares de lugares comuns do dia-a-dia.
Inicialmente alavancada por indignação quanto a violência incorporada pela sociedade, percebi que o projeto foi também um ato de violência, sutil, mas talvez necessário. A constatação vem de uma observação igualmente sutil. Em menos de uma semana, no local da intervenção as mesmas pessoas, os mesmos cartazes, as mesmas placas, a mesma estrutura estabelecida. Mas as intervenções já não estavam mais lá. Nenhum vestígio encontrado. Talvez mais um ato de violência igualmente cruel a um ataque contra a concepção já tão arraigada naqueles que por ali transitam. A cidade é reflexo da sociedade, dos que olham e não enxergam, e dos que enxergam através do olhar.