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  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental

    LAUDO TCNICO PERICIAL

    LTPA 023/2007 PRC 09/07

    AVALIAO DO ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL

    (EIA) DA USINA VALE VERDE EMPREENDIMENTOS

    AGRCOLAS, MUNICPIO DE GOIATUBA

    1. INTRODUO

    Por determinao da Promotora de Justia Miryam Belle Moraes da Silva,

    Coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministrio

    Pblico do Estado de Gois, em atendimento requisio do Promotor de Justia Rodrigo

    S Patrcio, da Comarca de Goiatuba, o Perito Ambiental subscrito, depois de realizar

    vistoria in loco, apresenta o seu laudo.

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental 2. OBJETIVOS

    Realizar avaliao do EIA/RIMA do empreendimento Vale Verde Empreendimentos

    Agrcolas Ltda,

    3. ANLISE E DISCUSSES

    O Estude de Impacto Ambiental (EIA) e seu Relatrio de Impacto Ambiental

    (RIMA) foi elaborado pela empresa DBO Engenharia Ltda. Ao Ministrio Pblico foi

    encaminhado apenas o EIA.

    No captulo 3 do EIA apresentada a localizao do empreendimento.

    Informa que a indstria ser instalada em uma gleba de 50 hectares (ha) da

    Fazenda Conquista, situada margem esquerda da rodovia GO-210, sentido Goiatuba-

    Porteiro.

    O EIA informa que tal rea est inserida na sub-bacia do crrego DAntas, afluente

    do ribeiro Bom Sucesso e, segundo o EIA afluente da margem esquerda do rio dos

    Bois, todos contribuintes do rio Paranaba. (EIA, p. 16).

    No entanto, a figura 5 (EIA, p. 73) mostra o ribeiro Bom Sucesso desaguando no

    rio Santa Brbara. Esta figura apresenta tamanho extremamente inadequado, incluindo

    rea ilustrada, o que torna a leitura da bacia hidrogrfica extremamente prejudicada. De

    qualquer forma, pelo pouco que se pode ver na referida figura fica evidenciado a primeira

    omisso do referido EIA, ao ignorar (no texto) o rio Santa Brbara, no qual o ribeiro

    Bom Sucesso desgua, segundo a figura 5 do EIA, sendo o rio Santa Brbara, portanto, o

    rio a desaguar no rio dos Bois depois de receber as guas do ribeiro Bom Sucesso.

    Como a figura no permite uma adequada leitura da regio, fica a dvida: quem

    tributrio de quem?

    Da forma que foi feita, fica comprometido o cumprimento do artigo 5 da

    Resoluo CONAMA n 01/1986, o qual determina:

    Artigo 5 - O estudo de impacto ambiental, alm de atender legislao, em especial os

    princpios e objetivos expressos na Lei de Poltica Nacional do Meio Ambiente, obedecer s

    seguintes diretrizes gerais:

    I - Contemplar todas as alternativas tecnolgicas e de localizao de projeto, confrontando-as

    com a hiptese de no execuo do projeto;

    II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de

    implantao e operao da atividade ;

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    III - Definir os limites da rea geogrfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada rea de influncia do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrogrfica na qual se localiza; (Res. CONAMA n 01/1986) (grifamos)

    A atividade da empresa a produo de lcool e acar-cristal, a partir do

    processamento da cana-de-acar. E para que isso ocorra imprescindvel que se plante

    cana-de-acar (e em grande quantidade), portanto o plantio da cana inerente e

    imprescindvel operao da empresa. Assim, descabido de qualquer lgica no

    considerar no EIA as reas plantadas, e todos os impactos relacionados ao

    plantio, irrigao e colheita da cana.

    Outra omisso, ainda na localizao, a proximidade de outras cidades, como

    Porteiro. H referncia apenas cidade de Goiatuba, sede do Municpio onde insere-se o

    empreendimento, mas uma das mais afastadas da rea da Fazenda Conquista.

    A figura 01 (p. 17) traz um recorte do Mapa Rodovirio do Estado de Gois, em

    uma escala, e tamanho, que dificulta a adequada visualizao da regio e das distncias

    entre a rea e cidades e povoados/distritos prximos. Assim, esta figura totalmente

    intil.

    Na referida figura h, tambm, um croqui, onde so identificados os povoados de

    Santo Antnio (distante 8Km da Faz. Conquista), Venda Seca (20Km) e So Domingos

    (40Km). A sede do Municpio de Goiatuba dista 59Km da Faz. Conquista.

    Demais municpios e distritos so ignorados.

    Quanto presena de outras usinas, este empreendimento estar distante apenas

    25Km da Usina Fortaleza (Mun. de Porteiro), e 28Km da Usina Goiasa (Mun. de

    Goiatuba e outra prevista para o Mun. de Itumbiara).

    Na verdade, para Itumbiara, alm de grande quantidade de reas j plantadas

    com cana para a Usina Alvorada (de Minas Gerais), esto previstos mais seis

    empreendimentos, destacando-se nova unidade da Goiasa, e a Usina Panorama, que foi

    inaugurada recentemente.

    Esta proximidade leva ao sinergismo dos impactos destes empreendimentos, tanto

    dos impactos ambientais, quanto dos impactos sociais. E em nenhum dos casos, o EIA

    trata desta problemtica.

    O item 3.2 Natureza e porte mostra que o objetivo do empreendimento em tela

    a produo de acar-cristal e lcool etlico a partir da cana-deacar. O

    processamento inicial de cana-de-acar ser de 1 milho de toneladas (no define

    quanto de cada produto, acar e lcool, ser produzido) evoluindo at 3 milhes de

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    Percia Ambiental toneladas de cana-de-acar processada (sem ser definido em quantos anos ser

    atingida esta produo).

    No item 3.3 Objetivos e importncia do empreendimento (p. 18) o EIA informa

    que

    A lavoura de cana-de-acar ser implantada atravs da converso de outras

    culturas tradicionais na regio como soja, milho e algodo e de pastagens, algumas

    das quais degradadas, no representando insero de novas reas produtivas, isto

    , sem necessidades de desmatamentos para o cultivo da matria prima para a

    indstria. (EIA, p. 18).

    Nenhuma anlise das perdas geradas para estes setores feita pelo EIA.

    O EIA trata da questo como que se quisesse dar a impresso que haver apenas

    um processo de parar o plantio de soja, milho e algodo e de criao de gado,

    substituindo estas atividades pelo plantio de cana-de-acar.

    Esta no a verdade.

    O que ocorrer a migrao do plantio de soja, milho, algodo entre outras

    culturas, assim como da pecuria, para reas mais baratas, ainda no atrativas para o

    cultivo da cana. Muitas destas reas com vegetao nativa.

    Deve-se lembrar que os grandes produtores rurais so, normalmente,

    arrendatrios (e no proprietrios) das terras. Assim, iro continuar produzindo soja,

    milho, algodo ou outras culturas, em novas reas.

    muito provvel que nenhuma rea ser desmatada para o plantio de cana na

    regio. Mas muito provvel que novas reas sero desmatadas, seja para a agricultura

    ou a pecuria deslocadas.

    Ainda na pgina 18 o EIA revela uma grande deficincia do empreendimento, qual

    seja, a co-gerao de energia eltrica a partir da queima do bagao de cana somente

    ser implantada em um futuro indefinido.

    Diante da grande quantidade de empreendimentos de usinas de lcool e acar

    querendo se instalar em Gois, imprescindvel que se priorize aqueles que pretendam

    se instalar j de forma a mais eficiente possvel, ou seja, imprescindivelmente a imediata

    implantao de sistema de co-gerao de energia eltrica a partir da queima do bagao

    da cana-de-acar.

    A implantao de inmera usinas hidreltricas em Gois tem trazido ao Estado

    uma significativa depauperao da qualidade ambiental. As usinas de lcool e acar so

    grandes consumidores de energia eltrica e, tambm, responsveis por grandes impactos

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    Percia Ambiental ambientais. A co-gerao de energia pelas usinas de lcool e acar, com a queima do

    bagao uma forma de maximizar os pontos positivos destes empreendimentos, ao

    mesmo tempo em que pode contribuir para a reduo na implantao de Pequenas

    Centrais Hidreltricas (PCHs), empreendimentos que geram imensos impactos

    ambientais e, via de regra, no geram energia no perodo de seca exatamente na

    poca em que as usinas sucro-alcooleiras podem gerar energia.

    No item 3.5 (p. 20) o EIA trata da Mo-de-obra e regime de funcionamento,

    onde informa sobre o perodo de operao do empreendimento

    Na etapa final de implantao, este perodo ser de 227 dias com eficincia de

    tempo aproveitado de 90%. Disso resultam aproximadamente 180 dias de

    operao efetiva durante 24 horas por dia, divididas em trs turnos fixos de 8

    horas cada um. No perodo de entressafra (novembro a abril), a Unidade estar em

    processo de manuteno. (EIA, p. 20, grifamos)

    Neste item chama a ateno os clculos feitos, onde 90% de 227 dado como

    180 (o correto so 204). Deve-se considerar, no entanto, que a operao da empresa se

    dar durante os 227 dias informados (mais frente ser mostrada a contradio desta

    informao).

    Com relao gerao de empregos, chama a ateno a quantidade que informa-

    se que sero gerados:

    1. Fase de Implantao:

    - 300 trabalhadores diretos, que trabalharo na montagem da usina;

    2. Fase de Operao:

    - 1900 trabalhadores:

    - 80 na administrao;

    - 320 na indstria;

    - 1500 na rea agrcola.

    Este grande quantitativo na rea agrcola deve-se ao fato da empresa propor a

    mecanizao de apenas 30% de sua rea plantada a extenso desta rea (plantada)

    no dada com preciso pelo EIA.

    Embora neste item no seja tratado, a produo de cana ser de responsabilidade

    dos produtores rurais, que formaram uma cooperativa com este fim. Deve-se destacar

    que este processo favorece o descumprimento da legislao trabalhista e ambiental.

    Outra questo que no pode ser esquecida que est nas plantaes de cana-de-acar

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    e nas carvoarias a quase totalidade dos casos de mo-de-obra escrava no Brasil. O EIA

    nada trata desta questo.

    No item 3.7.1 Cultura Agrcola (EIA, p. 23) consta que a previso de produo e

    previso de crescimento do empreendimento de:

    - 1 milho de toneladas de cana para a safra de 2008;

    - 1,5 milho de toneladas de cana para a safra de 2009;

    - 1,9 milho de toneladas de cana para a safra de 2010;

    - 2,4 milhes de toneladas de cana para a safra de 2011, e

    - 3 milhes de toneladas para o horizonte no definido quando.

    Rapidamente o EIA informa que o empreendimento envolver o plantio de

    36.000 hectares de cana-de-acar (...) em regime de parceria, arrendamento ou

    simples fornecimento, sem maiores detalhes atravs do EIA.

    No possvel saber se os 36.000 ha sero necessrios para a produo de 1

    milho de toneladas de cana ou se suficientes para a produo dos 3 milhes de

    toneladas de cana. Tambm no informa se nesses 36.000 ha j est inclusa a rea para

    renovao anual que gira, normalmente, em torno de 20% do total da rea.

    Considerando-se a produtividade mdia nacional de 68,7 toneladas de cana por

    hectare (conforme MACEDO et al., 2004, citado por OMETTO et al., 20051), para a

    produo de 3 milhes de toneladas de cana seriam necessrios 43.668,12 ha, aos quais

    ainda deve-se somar as reas de renovao dos plantios, alm das reas inseridas nas

    propriedades rurais impedidas de uso, como reas de Preservao Permanente e

    Reservas Legais. O EIA no informa qual a produo mdia da regio, da o uso da mdia

    nacional.

    Informa, ainda, que foi adotado o uso de Tecnologia convencional e testada,

    porm de alta eficincia. Provavelmente esta eficincia refere-se apenas ao aspecto

    financeiro, visto que quanto eficincia ambiental, o uso proposto de fogo para 70% da

    produo algo totalmente incompatvel a uma mnima responsabilidade ambiental.

    Nenhuma usina de lcool pode argumentar qualquer preocupao ambiental tendo

    em suas propostas a meta de queimar 70% de sua produo de cana, ao mesmo tempo

    em que no contempla a co-gerao de enrgia.

    1 OMETTO, A.R., et al. Mapeamento de potenciais de impactos ambientais da queima de cana-de-acar no Braasil. Anais XII Simp. Bras. Sens. Remoto, Goinia, 16-21 abril 2005, INPE, p. 2297-2299. Disponvel em .

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    A queima da cana indicada, ainda, como forma de controle de pragas, como

    visto no item 3.7.1.6 Controle de Pragas (EIA, p. 27) onde a cigarrinha-da-cana

    (Manharva fibriolata sic [o correto Mahanarva fimbriolata (Stl, 1854)]) identificada

    como a principal praga da cana-de-acar. O EIA aponta como alternativa mais

    econmica para o seu controle (...) a queima da plantao antes da colheita,

    dispensando-se a aplicao de inseticidas.. Esta indicao levanta suspeita at sobre a

    inteno de se realizar a queima para apenas 70% da rea plantada, pois no

    indicada nenhum outro mtodo de combate a esta praga para a rea que, teoricamente,

    ter corte mecanizado portanto sem queima.

    A extenso da rea que inicialmente estar sujeita ao corte mecanizado est

    definida no item 3.7.1.7 Queima, colheita e operaes ps-colheita (EIA, p. 28), onde o

    EIA afirma que A VALE VERDE GOIATUBA adotar inicialmente colheita mecanizada de

    cana crua em 30% dos canaviais, com aumento gradativo do percentual de cana picada a

    cada ano. No h um cronograma com o percentual a ser incrementado a cada ano nas

    reas de corte mecanizado.

    Com relao pretenso do empreendedor em fazer uso da queima da cana,

    interessante destacar as concluses da tese de doutorado do mdico Marcos Abdo

    Arabex, Avaliao dos efeitos do material particulado proveniente da queima da

    plantao da cana-de-acar sobre a morbidade respiratria na populao de Araraquara

    SP, da Universidade de So Paulo:

    O estudo conclui que:

    1. H uma associao causal entre o material particulado decorrente da queima

    de plantaes de cana-de-acar e um indicador de morbidade respiratria

    na cidade de Araraquara.

    2. A relao entre poluio atmosfrica e efeitos sobre a sade da populao

    mostrou ter um efeito agudo aps curto perodo de exposio, com um

    tempo de defasagem de dois dias.

    3. A associao causal dose-dependente. (ARABEX, 2001)2

    Outro trabalho que merece ateno o que foi desenvolvido por pesquisadores da

    UNESP/Araraquara e da Universidade de Birmingham. PATERLINI et al. (2006)3

    Mostraram que a queima da cana contribui para aumento significativo da concentrao

    de material particulado na atmosfera, principalmente das partculas finas (aquelas com

    2 Disponvel em: .

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    dimetros menores que 2,5m), exatamente as partculas associadas a doenas respiratrias. Conforme resultados destes pesquisadores, a mdia de partculas totais

    de 40,57m m-3 na poca da safra e 18,96m m-3 na entressafra e para partculas finas (MP2,0) a mdia de 28,11m m-3 na safra e 13,7m m-3 na entressafra. Os autores ainda chamam a ateno para o fato que:

    Considerando-se que a nica mudana significativa de atividade que ocorre no

    perodo a queima da palha e que mudanas climticas apenas no so suficientes

    para explicar mudanas no MP [material particulado], acreditamos ser esta

    atividade a principal causa desta variao (PATERLINI et al., 2006).

    Por fim, os autores concluem que:

    (...) a queima da cana resulta em contribuio significativa na constituio do MP

    [material particulado] atmosfrico da regio central do Estado de So Paulo,

    aumentando mais de 100% a concentrao de partculas em todas as faixas de

    tamanho inclusive partculas finas que so potencialmente perigosas ao homem.

    (PATERLINI et al., 2006).

    Estes dois trabalhos so suficientes para mostrar os malefcios sade humana

    (alm dos danos ao meio ambiente) causados pela queima da cana-de-acar.

    Deve-se destacar, ainda, que todos os custeios de diagnstico e tratamento das

    doenas causadas populao pelas atividades das usinas sucro-alcooleiras, recaem

    sobre o poder pblico (municipal e estadual).

    Quando o EIA trata de questes como preparo do solo (p. 24), calagem e

    adubao qumica (p. 25), irrigao (p. 25), adubao orgnica com subprodutos do

    processamento industrial (p. 26), plantio (p. 27), controle de pragas e ervas

    daninhas (p. 27), queima, colheita e operaes ps-colheita (p. 28) e transporte (p.

    28), fica evidenciada que totalmente incongruente considerar como objeto do EIA

    apenas a rea da indstria.

    como considerar no EIA de uma usina hidreltrica apenas a rea destinada

    instalao da casa de fora, desconsiderando a rea do reservatrio. Assim como na

    usina hidreltrica os grandes impactos ambientais e sociais no esto na reduzida rea

    destinada casa de fora, mas na rea do reservatrio e seus arredores, incluindo as

    cidades e distritos prximos (podendo estender-se em muitos quilmetros alm deste), o

    parque industrial da usina sucro-alcooleira o menor dos problemas. A problemtica

    mesmo, refere-se rea plantada, aos municpios que iro abrigar a mo-de-obra vinda

    3 PATERLINI, W.C., et al. O impacto da queima da cana-de-acar na formao do material particulado na atmosfera da regio central do Estado de So Paulo. Reunio Anual da Soc. Bras. Qumica, 29. Resumos. Disponvel em:

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    de fora, e estas devem, obrigatoriamente, ser objetos do EIA/RIMA e tratadas como

    AID. Em no sendo, o EIA torna-se um documento falso, incapaz de revelar os

    problemas que sero advindos daquela atividade.

    No item 3.7.3 Sistema de guas (EIA, p. 40) informa que a captao ser de at

    720m3/h (ou 200 l/s), feita no crrego DAntas, com licena e outorga. Entretanto no

    apresenta o histrico da vazo deste crrego informaes imprescindveis para se

    saber se o referido crrego comporta tamanha demanda.

    Os processos e destinao da gua na industria so quantificados sem, no

    entanto, informar se j considerada a produo mxima da empresa (3 milhes de

    toneladas de cana-de-acar) ou a produo inicial (de 1 milho de ton).

    O mesmo vale para a gerao de resduos slidos (p. 41):

    - sobra de bagao: estimado em 50 t/h,

    - torta de filtro: estimada em 10 t/h,

    - cinzas e fuligens da gua de lavagem dos gases da caldeira: 5 t/h,

    - terra proveniente da gua de lavagem de cana: estimada em 5 t/h.

    No h explicao para estes valores, apenas so citados, sem nenhuma

    referncia a como se chegou aos mesmos.

    O EIA reconhece que haver sobra significativa de bagao (EIA, p. 42), e sugere

    que:

    (...) pode-se pensar em utilizar este bagao para a produo de vapor visando

    excedentes de energia eltrica para venda no futuro. Outra forma proceder

    venda do bagao para outras empresas na regio. (EIA, p. 42)

    A sugesto de venda do bagao para outras empresas da regio feita sem

    nenhum indicador de mercado e econmico. Ou seja, apontada uma possibilidade de

    destinao sem garantia de viabilidade executiva. Impondo-se a obrigatoriedade de

    imediata implantao da co-gerao de energia eltrica, pela queima do bagao da cana,

    garante-se adequada destinao a este resduo (bagao da cana).

    A quantificao de efluentes lquidos a serem gerados pelo empreendimento

    carece da mesma falta de informao no EIA: estes valores referem-se ao

    processamento de 1 milho de toneladas de cana ou 3 milhes de toneladas de cana-de-

    acar processadas?

    .

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    Excedente da gua de lavagem de cana, estimada em 1.680 t/h (variando de 1.635 a

    1.707 t/h);

    guas residurias, estimadas em 64,1 t/h (variando de 58,5 a 69,7 t/h);

    Vinhaa, estimada em 200 t/h (variando de 150 a 250 t/h). (EIA, pp. 42-3).

    H uma tabela (Quadro 04, p. 43) onde mostrado que o fator relacionado com a

    variao na produo dos trs efluentes lquidos est relacionado com o MIX (percentual

    de acar). No h, no entanto, nenhuma referncia ao volume de cana-de-acar

    processada. Mais uma vez, omite-se se estes valores referem-se ao processamento de 1

    milho de ton de cana ou a 3 milhes de toneladas.

    Embora seja comum (apesar de totalmente errada) a propositura de se

    implantar sistemas para se trabalhar com valores mdios, deve-se implantar, na

    verdade, sistema para os valores mximos, visto que em algum momento (mesmo que

    seja em menor espao de tempo) haver aquela produo mxima. Assim, para a

    produo de vinhaa deve-se considerar o Mix de 40% de acar (aceitando-se os ndices

    apresentados no Quadro 04, EIA p. 43), enquanto para guas residurias e excedente de

    gua de lavagem de cana deve-se considerar o maior ndice de mix acar (60%). E,

    ainda, deve-se dimensionar o sistema para o processamento de 3 milhes de toneladas

    de cana-de-acar. Alm disso, deve-se considerar as contribuies pluviomtricas ao(s)

    sistema(s).

    Voltando-se ao item 3.7 do EIA, observa-se que, como no h informao de

    quanto de acar e/ou lcool ser produzido pela empresa (para cada ano), mas apenas

    do crescimento da quantidade de cana processada (iniciando-se com 1 milho de ton e

    chegando a 3 milhes de ton), percebe-se que a quantificao de efluentes lquidos

    apresentada totalmente desprovida de valor real. Ainda, o Quadro 04 no informa com

    qual quantidade de cana so feitas as contas (1 milho de ton ou 3 milhes de ton).

    No demais repetir que todos os sistemas de conteno/tratamento de

    efluentes devem estar dimensionados para os valores mximos.

    Para cada litro de lcool so produzidos de 10 litros a 18 litros de vinhaa (SILVA

    et al., 2007)4. Uma tonelada de cana produz aproximadamente 113 litros de lcool, o

    que resulta em 2.034 litros de vinhaa, considerando-se uma produo de 18 litros de

    vinhaa por litro de lcool. Se considerarmos que a produo ser somente de lcool,

    com 1 milho de toneladas de cana tem-se 113 milhes de litros de lcool, com produo

    4 SILVA, M.A.S. et al. Uso de vinhaa e impactos nas propriedades do solo e lenol fretico. Rev. Bras. Eng. Agr. E Ambiental, v. 11, n.1, p.108-114, 2007.

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    Percia Ambiental de 2,034 bilhes de litros de vinhaa. Com 50% da cana destinada produo de lcool,

    sero produzidos 1,017 bilho de litros de vinhaa.

    Segundo SILVA et al. (2007)4 a

    (...) vinhaa caracterizada como efluente de destilarias com alto poder poluente

    e alto valor fertilizante; o poder poluente, cerca de cem vezes maior que o do

    esgoto domstico, decorre da sua riqueza em matria orgnica, baixo pH,

    elevada corrosividade e altos ndices de demanda bioqumica de oxignio (DBO),

    alm de elevada temperatura na sada dos destiladores; considerada altamente

    nociva fauna, flora, microfauna e microflora das guas doces (SILVA et al.,

    2007) (grifamos)

    Diante destes dados fica evidente a necessria preciso na quantificao e

    destinao deste poluente.

    No item Emisses atmosfricas e rudo (EIA, p. 43) informa que est prevista a

    instalao de um lavador de gases, via mida com eficincia aproximada de 97%. e,

    ainda, que os efluentes gerados neste processo sero enviados para tanques de

    sedimentao, e da para caixa de guas residurias e posterior uso na fertirrigao. Para

    a cinza mida, informado que a mesma ser destinada lavoura (sem maiores

    detalhes).

    Afirma, ainda, que:

    (...) ser estabelecido um controle dirio, atravs da anlise da cor dos gases da

    chamin e um controle mensal atravs de anlise de emisso de CO2, CO e Nox

    para monitoramento das emisses. (EIA, p. 43)

    Contradizendo a afirmao feita na p. 20, onde o EIA afirma que a empresa teria

    aproximadamente 180 dias de operao efetiva durante 24 horas por dia, no ltimo

    pargrafo da p. 43 l-se:

    No que tange s fontes de rudos e vibraes gerados pelo funcionamento da

    indstria, estes equipamentos estaro em operao 24 horas por dia durante

    os 227 dias de safra. (EIA, p. 43, grifamos)

    O Quadro 06 (EIA, p. 44) apresenta uma relao de insumos que sero

    consumidos pela indstria, com o processamento de 2,4 milhes de toneladas de cana, e

    produo de 3.739.919 sacos de acar e 123.829 m3 de lcool.

    A relao de insumos contidas neste quadro deveria compor tabelas diferentes

    para cada produo prevista (ou seja, quantidade de insumos para 1 milho de tca, 1,5,

    1,9, 2,4 e 3 milhes tca). Se que h a inteno verdadeira da empresa em iniciar sua

    11

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    Percia Ambiental produo com o processamento anual de 1 milho de toneladas de cana, com o aumento

    gradativo apresentado no item 3.7.1 (EIA, p. 23).

    O Quadro 07 (EIA, pp. 45-52) relaciona os equipamentos necessrios para

    atender demanda de processamento de 2,4 milhes de toneladas de cana por ano, o

    que estimado em 440 t/h. Com este quantitativo o EIA informa que sero produzidos

    10.000 sacos de acar/dia, 300m3 de lcool hidratado/dia e 100m3 de lcool anidro/dia

    (EIA, p. 45).

    Aqui fica evidenciada a dificuldade do EIA em apresentar dados corretos

    (principalmente no que se refere a dados quantitativos).

    Veja que o EIA (na p. 44) informa que sero processadas pela empresa 2,4

    milhes de toneladas de cana/ano (tca), com produo de 123.829m3 de lcool e

    3.739.919 sacos de acar. Logo em seguida o EIA afirma que com o processamento das

    mesmas 2,4 milhes de tca sero produzidos 10.000 sacos de acar/dia e 400m3 de

    lcool/dia. Como foi informado pelo EIA que a empresa ir trabalhar:

    - 180 dias com regime de 24 horas por dia (EIA, p. 20);

    - 227 dias com regime de 24 horas por dia (EIA, p. 44).

    (Alis, qual a informao verdadeira??)

    Se considerarmos 180 dias, teremos apenas 1.800.000 sacos de acar.

    Considerando-se 227, sero produzidos 2.270.000 sacos de acar/ano. Ambos, valores

    bem inferiores aos 3.739.919 sacos informados pelo prprio EIA na p. 44.

    Para os valores de lcool, temos os mesmos problemas, agravados pela variao

    (para mais) que ocorrer na produo de vinhaa.

    Como evidente que 180 dias de operao efetiva durante 24 horas por dia

    (EIA, p. 20) uma informao falsa (evidenciada pelo prprio EIA na p. 44), sero feitos

    novos clculos apenas para os 227 dias.

    Se sero produzidos 123.829m3 de lcool em 227 dias, a mdia diria de

    545,5m3 de lcool/dia e no apenas 400m3/dia.

    No entanto, se forem produzidos apenas 400m3 de lcool/dia, para a produo de

    123.829m3 de lcool/ano, sero necessrios 309,5 dias com regime de 24 horas.

    QUAIS SO OS VALORES VERDADEIROS?

    Assim, 400m3 lcool/dia x 227 = 90.800m3 lcool/ano, ou 33.029m3 de lcool a

    menos que o valor de 123.829m3 informados na p. 44 do EIA.

    Esta diferena representa 594.522m3 de vinhaa/ano que so ignorados.

    12

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    Percia Ambiental

    Considerando-se que MEDINA & BRINHOLI (1998)5 obtiveram bons resultados no

    aumento da produtividade, nmero e tamanho dos colmos e concentrao de sacarose,

    com aplicao de 45m3/ha de vinhaa, associada aplicao de calcrio e gesso, aquela

    quantidade de vinhaa desconsiderada pelo EIA, seria suficiente para irrigar 13.211,6 ha.

    Se considerarmos os valores indicados por CASARINI (1989)6, 150m3/ha/ano, a mesma

    quantidade de vinhaa desconsiderada pelo EIA ser suficiente para irrigar 3.963,48 ha.

    Considerando-se a produo de 400m3/dia de lcool, e tendo-se 18 l de vinhaa

    por litro de lcool produzido, tem-se 7.200m3 de vinhaa produzidos por dia, ou

    300m3/hora. Na p. 43 o EIA refere-se produo mxima de 250 t/h. Esta quantidade

    (250 t/h) de vinhaa produzida a partir da produo de 400m3 de lcool equivaleria

    gerao de 1 ton de vinhaa para cada 1,6m3 de lcool produzido, ou para cada m3 de

    lcool, teria a gerao de 0,625 ton de vinhaa. As estimativas mais otimistas

    consideram como sendo a produo mnima de 10 litros de vinhaa para cada litro de

    lcool produzido. Assim, este quantitativo apresentado no EIA totalmente falso.

    O EIA no informa a densidade da vinhaa (o EIA sempre informa os valores da

    vinhaa em toneladas), o que impede a converso de litros para toneladas. Esta

    converso permitiria aferir os valores apresentados no EIA. Entretanto, se considerarmos

    que a densidade da vinhaa seja igual a 1g/cm3 (a mesma da gua), teramos, para os

    300m3/h de vinhaa (conforme os clculos apresentados acima), 300 t/h, valor bem

    superior ao valor mximo informado pelo EIA de 250 t/h.

    Considerando-se que para a produo de 123.829m3 de lcool/ano, em 227 dias

    de trabalho, ser necessrio que se produza 545,5m3 de lcool/dia, a verdadeira

    produo de vinhaa ser de 9.819m3 de vinhaa/dia ou 409m3 vinhaa/hora.

    Desprezando-se a quantidade de dias trabalhados, e considerando apenas o valor

    total apresentado da produo anual de lcool, 123.829m3, e considerando-se uma

    gerao de 18 litros de vinhaa/litro de lcool produzido (conforme SILVA et al., 2007),

    sero produzidos 2.228.922m3 de vinhaa por ano. Se adotarmos os mesmos valores

    adotados por MEDINA & BRINHOLI (1998), esta vinhaa ser suficiente para ser aplicada

    em 49.531,6 ha rea bem maior que a indicada pelo EIA como a que ser utilizada pela

    empresa.

    5 MEDINA, C.C.; BRINHOLI, O. Uso de resduos agroindustriais nas pradues de cana-de-acar, acar e lcool. Pesquisa Agropecuria Brasileira, Braslia - DF, v. 33, n. 11, p. 1821-1825, 1998. 6 CASARINI, D.C.P. Efeito da fertirrigao com vinhaa nas propriedades qumicas e microbiolgicas do solo em um sistema de disposio de efluentes industrial. USP/So Carlos: 1989. Tese.

    13

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    Percia Ambiental

    A real e precisa quantidade de vinhaa que ser produzida extremamente

    importante, assim como a extenso total, real e precisa, das reas a serem plantadas, e,

    ainda, as caractersticas fsico-qumicas do solo de cada rea.

    Hoje todos os empreendimentos sucro-alcooleiros, e seus EIAs, apresentam

    como destino para toda vinhaa gerada no processo industrial a fertirrigao quase

    sempre afirmam que a quantidade de vinhaa que ser gerada no ser suficiente para

    irrigar todas as reas plantadas. O EIA em tela no diferente:

    Cabe destacar que o volume de vinhaa a ser disponibilizado para ferti-irrigao

    ser insuficiente para as reas de culturas agrcolas prprias. A demanda ser

    complementada por processos de irrigao. (EIA, p. 26)

    Entretanto, muitos estudos tm mostrado que a fertirrigao pode causar srios

    danos ao solo e ao lenol fretico, alm do forte odor que pode comprometer a qualidade

    de vida da populao, quando aplicado em reas prximas zona urbana.

    A prpria irrigao simples (apenas gua) j tem-se revelado como

    potencialmente causadora de danos ambientais.

    Bernardo (s.d.)7 chama a ateno para a gravidade deste problema:

    Existem muitas evidncias no mundo de reas, que aps os benefcios iniciais da

    irrigao, tm-se tornado imprprias agricultura. Apesar de seus imensos

    benefcios, ela tem criado impactos ambientais adversos ao solo, disponibilidade e

    qualidade da gua, sade pblica, fauna e flora, e, em alguns casos, chegando

    a prejudicar s condies scio-econmicas da populao local. (Bernardo, s.d., p.

    1)

    e, mais frente, salienta que A irrigao no Brasil, infelizmente, ainda no est

    sendo praticada com boa eficincia. (Bernardo, s.d., p. 2, grifamos).

    Ainda segundo este autor, o ciclo de desenvolvimento da cana dividido em

    quatro estgios:

    1. germinao e emergncia: 1 ms;

    2. perfilhamento e estabelecimento da cultura: 2 a 3 meses;

    3. desenvolvimento da cultura: 6 a 7 meses;

    4. maturao: 2 meses.

    Sendo os dois primeiros estgios (de 3 a 4 meses) os mais crticos ao dficit

    hdrico, ou seja, so os perodos em que se deve fazer a irrigao e/ou fertirrigao.

    7 Bernardo, S. Manejo da irrigao na cana-de-acar. Disponvel em: .

    14

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    Percia Ambiental

    No stio eletrnico do Jornal da Cana8 encontra-se uma reportagem que divulga o

    lanamento de um piv adequado/resistente para aplicao da vinhaa da cana, onde

    pode-se constatar o risco da aplicao inadequada deste efluente na lavoura:

    A aplicao de vinhaa nas lavouras de cana-de-acar uma prtica comum mas

    que ainda no havia sido viabilizada por meio dos pivs de irrigao, em funo

    do alto poder corrosivo do produto. (Jornal da Cana, 18/05/2006, grifamos)

    LYRA et al. (2003)9 realizando experimentos para avaliar a qualidade do lenol

    fretico em reas de fertirrigao com vinhaa, no Municpio de Ipojuca, Pernambuco,

    com 19 poos de monitoramento, apresenta os seguintes resultados:

    Como a avaliao de gua engloba uma srie de parmetros a serem

    contemplados com as devidas concentraes permitidas pela legislao, o impacto

    sobre a qualidade de gua do lenol fretico foi consideravelmente minimizado,

    mas no o suficiente para garantir o atendimento a todas as exigncias dos

    parmetros ambientais.

    O comportamento dos poos de monitoramento em cada classe de solo

    sofreu influncia da classe textural, da quantidade de matria orgnica no solo, da

    quantidade de efluente fertirrigado e residual e da direo de fluxo das guas

    subterrneas. (LYRA et al., 2003:531) (grifamos).

    E dentre as concluses apresentadas, destaque para a seguinte:

    4. A aplicao de vinhaa na fertirrigao de canaviais, apesar de minimizar seu

    potencial poluidor, no garante o atendimento a todos os parmetros de qualidade

    exigidos pelo CONAMA para rios Classe 2, afetando a qualidade da gua do lenol

    fretico (...) (LYRA et al., 2003:531).

    Nas reas estudadas por LYRA et al. (2003), a quantidade de vinhaa aplicada foi

    de 300m3/ha/ano.

    CASARINI (1989)10 avaliando os efeitos da fertirrigao nas propriedades qumicas

    e microbiolgicas do solo, em reas com taxas de aplicao de 150m3/ha/ano e

    600m3/ha/ano de vinhaa, concluiu que os melhores resultados (melhoria da qualidade

    do solo para o cultivo da cana) foram obtidos nas reas submetidas aplicao de

    150m3/ha/ano.

    8 Jornal da Cana. Lindsay lana piv para aplicar vinhaa na cana. 18/05/2006. Disponvel em: 9 LYRA, M.R.C.C. et al. Toposseqncia de solos fertirrigados com vinhaa: contribuio para a qualidade das guas do lenol fretico. Rev. bras. eng. agrc. ambient. vol. 7, n 3. Campina Grande sept./dec. 2003. Disponvel em: . 10 loc. cit.

    15

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    Percia Ambiental

    Estes dois trabalhos, mais o de MEDINA & BRINHOLI (1998)11 citado

    anteriormente, mostram que para cada rea h variaes significativas na quantidade de

    vinhaa que poder ser aplicada sem causar danos ao solo. E esta quantidade s ser

    definida a partir de estudos detalhados das caractersticas do solo das reas plantadas.

    Como o EIA no faz esta anlise, no pode dar preciso na adequada destinao da

    vinhaa gerada pela indstria.

    A quantificao dada apenas para a irrigao, sendo que no informado se o

    valor referido est incluso o valor da fertirrigao.

    No item 3.7.1.3 Irrigao (EIA, pp. 25-6) o EIA informa que:

    O plantio da cultura e cana-de-acar feito em duas pocas, uma das quais

    coincide com o perodo de seca na regio. Por isso, torna-se necessria a irrigao

    denominada de salvamento, que ser feita em 30% da rea plantada. Da rea

    total de cana-de-acar 36 mil hectares, tem-se uma previso de uma rea total

    irrigada da ordem de 10 mil hectares.

    A lmina bruta a ser aplicada de 60 mm. (...) No perodo seco, a demanda por gua

    alta, pois a evapotranspirao elevada, mas a aplicao proposta dever ser

    suficiente para atender s necessidades da cultura.

    O valor estimado (60mm) corresponde a 600m3/ha, o que representar um

    volume de 6 milhes de m3 para os 10 mil hectares informados. Entretanto, se

    considerarmos que este ndice de 30% no explicado, apenas indicado, pode-se supor

    que o mesmo chegue a 50%, ou seja, sero 18 mil hectares (e no 10 mil), o que

    elevaria o consumo de gua para 10,8 milhes de m3. Isto considerando-se que sejam

    apenas 36.000 ha, visto que, como j foi abordado anteriormente, no h detalhes

    para a extenso da rea.

    No item 7.1.1.4 Impactos sobre os recursos hdricos e o solo (EIA, p. 276) o EIA

    chama a ateno para o risco de contaminao do solo, mas no vai alm da informao:

    Existe a possibilidade de alterao da qualidade das guas subterrneas nas reas

    plantadas com cana-de-acar, tendo em vista que o resduo lquido do processo

    industrial lanado diretamente no solo, servindo como adubo.

    Informa, ainda, sobre a possibilidade de contaminao das guas superficiais:

    Tambm poder ocorrer a alterao da qualidade das guas superficiais, pelo

    mesmo motivo acima exposto, caso o resduo lquido atinja os cursos dgua. (EIA,

    p. 276).

    E, na pgina seguinte, mostra que este risco agravado pela situao das matas ciliares:

    11 loc. cit.

    16

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    Percia Ambiental

    A rea encontra-se com a cobertura vegetal natural descaracterizada, com o solo

    sendo utilizado para plantio de soja e pastagens. A vegetao ciliar encontra-se

    bastante degradada. (EIA, p. 277).

    Voltando-se ao item 3.7.4.2 Efluentes lquidos (EIA, p. 43), onde o EIA faz a

    referncia aos efluentes domsticos gerados pela Unidade Industrial e das estruturas de

    apoio, que estimado em 40m3/dia, considerando apenas 400 pessoas.

    E as previstas 1500 pessoas que estaro trabalhando no campo? Se

    considerarmos que as 400 pessoas da unidade industrial iro gerar 40m3/dia de

    efluentes, 1500 pessoas, na mesma proporo, iro gerar 150m3/dia de efluentes. O EIA

    no prev nenhuma destinao a estes efluentes na verdade ignora sua gerao.

    Diante do que foi posto, fica evidente que todos os valores quantitativos para a

    gerao de:

    - sobra de bagao (50 t/h);

    - torta de filtro (10 t/h);

    - cinzas e fuligens da gua de lavagem dos gases da caldeira (5 t/h);

    - terra proveniente da gua de lavagem de cana (5 t/h);

    - gua de lavagem de cana (1.680 t/h: variando de 1.635 a 1.707 t/h);

    - guas residurias (64,1 t/h: 58,5 a 69,7 t/h);

    - vinhaa (200 t/h: 150 a 250 t/h);

    - alm de CO2, CO e Nox que no so sequer estimados;

    so totalmente desprovidos de qualquer confiabilidade. E assim sendo, todos os

    programas para controle e monitoramento destes resduos so comprometidos, visto que

    destinam-se ao tratamento de quantidade muito aqum do que realmente ser gerado.

    Destaque para a gerao de vinhaa.

    O item 5 do EIA trata da Metodologia adotada. Destaca-se a seguir alguns sub-

    itens:

    5.2 reas de Influncia (EIA, p. 72): Neste item so definidas as rea de

    Influncia Direta (AID) e rea de Influncia Indireta (AII) do empreendimento. Como j

    foi abordado neste Laudo Pericial (p. 02), trata-se de uma interpretao totalmente

    errada, pois a produo de acar e lcool, a partir da cana-de-acar, no pode ser

    dissociada do plantio da referida cana.

    17

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    Percia Ambiental Como tambm j foi mostrado neste Laudo, mesmo que se considerasse como

    AID a rea pretendida pelo EIA, a delimitao da AII estaria errada. Portanto, o EIA no

    atende legislao quanto identificao e anlise da rea de Influncia do

    empreendimento.

    A j citada figura 5 do EIA (p. 73), de tamanho e abrangncia totalmente

    inadequados, em nada contribui para uma identificao adequada da rea. A escala da

    figura adequada, mas a mesma deveria ter tamanho mnimo de 60cm x 80cm, o que

    implicaria em maior rea de abrangncia, que por sua vez permitiria melhor visualizao

    da regio, proximidade das sedes dos municpios, vilas, distritos, alm dos cursos

    dgua. Figura to importante, com recorte e tamanho to inadequados, s pode

    significar a inteno de dificultar a anlise da regio, por parte de quem avalia o EIA.

    Na p. 72, o EIA explicita como rea de Influncia Direta (AID) apenas os 50 ha da

    Fazenda Conquista, onde ser instalado o parque industrial:

    A AID est totalmente inserida na Fazenda Conquista. Esta concepo

    de AID se aplica aos fatores ambientais dos meios fsico, bitico e

    socioeconmico (EIA, p. 72).

    Entretanto, logo em seguida, na p. 74, traz uma informao diferente:

    rea de Influncia Direta (AID), constituda pelo entorno imediato ao

    empreendimento, composta pelos estabelecimentos rurais vizinhos que recebero

    impactos diretos e imediatos, tanto na fase de instalao, quanto de operao, e

    pelo Municpio de Goiatuba em cujo territrio se localiza o empreendimento e,

    conseqentemente, onde se incidir impactos diretos, negativos ou positivos. A

    sede urbana dista cerca de 60 km do empreendimento. Outros ncleos urbanos

    dentro do municpio de Goiatuba, no entanto, poder ser tambm diretamente

    impactados, como os distritos de Venda Seca e Marcianpolis, distantes cerca de 20

    quilmetros, do futuro local da indstria.

    rea de Influncia Indireta (AII) composta, ainda, pelos municpios de Jovinia e

    Vicentinpolis, abrangidos pelo raio de 25 km do empreendimento, considerados

    economicamente viveis para a produo da matria prima, a cana-de-acar. As

    sedes destes dois municpios distam entre 20 e 22 quilmetros do local, portanto

    provvel que suas sedes municipais sejam impactadas. (EIA, p. 74).

    Ignora os Municpios de Porteiro (cuja sede est distante aproximadamente

    35Km), Bom Jesus de Gois (com sede distante aproximadamente 30Km, mas cuja

    divisa com o municpio de Goiatuba distando apenas cerca de 8Km da Fazenda

    Conquista), Maurilndia (a divisa do municpio dista aprox. 37Km da Faz. Conquista),

    18

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    Percia Ambiental Panam (com divisa de municpio com Goiatuba distante aprox. 40Km da Faz. Conquista)

    e o municpio de Quirinpolis, com sede municipal distante cerca de 80Km, mas com

    divisa (com municpio de Bom Jesus de Gois) distante da Faz. Conquista apenas 37Km.

    Entretanto, quando da convenincia do empreendimento, o EIA considera como

    rea de influncia at os municpios de Parana, Itumbiara e Morrinhos (EIA, p. 90)

    figura 08 Precipitao mensal na rea de influncia indireta e Quadro 14 Anomalias

    pluviomtricas na rea de influncia.

    Metodologia

    No item 5.3.1. Meio Fsico (EIA, p. 75): informa que a caracterizao climtica

    regional apoiou-se em cinco estaes pluviomtricas existentes na rea (grifamos).

    Relaciona estas estaes no Quadro 10 (p. 76), onde observa-se que todas encontram-se

    fora do municpio de Goiatuba (Fig. 01 deste Laudo).

    Item 5.3.2. Meio Bitico: Aqui informa que o esforo amostral para

    levantamento dos vertebrados terrestres foi de duas campanhas, com total de cinco dias

    (EIA, p. 78), sem especificar as datas. Deve-se lembrar que qualquer trabalho de

    caracterizao ambiental, seja da fauna, flora ou qualidade das guas s capaz de

    conferir qualquer confiabilidade se for feito em pelo menos duas estaes do ano (para a

    regio dos Cerrados, estaes seca e chuvosa).

    A caracterizao da ictiofauna foi feita em apenas trs dias de campo (EIA p. 79).

    No informa se em apenas uma campanha (muito provavelmente).

    Diagnstico ambiental (EIA, item 6, p. 85)

    Neste item so abordados os diferentes temas, divididos em sub-itens. A seguir

    destaca-se alguns.

    Deve-se chamara a ateno para as figuras: na figura 13 o rio Santa Brbara (da

    Fig. 05) identificado como Ribeiro Santa Brbara, na figura 20 volta a ser denominado

    Rio Santa Brbara ou seja, as figuras no contribuem para a leitura e compreenso de

    como a regio, quais so os rios e ribeires existentes e quem tributrio de quem.

    Flora (EIA, item 6.2.1, p. 135)

    Falta uma figura que mostre a rea de influncia do empreendimento imagem

    de satlite na escala 1:10.000 , a qual permitiria visualizar bem a situao das matas

    19

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    Percia Ambiental ciliares, remanescentes vegetais, destacando-se as reservas legais. Naturalmente esta

    figura deveria ser impressa em tamanho bem maior que as figuras contidas no EIA.

    O levantamento florstico foi feito apenas nos 50 ha da Fazenda Conquista

    (6.2.1.2 Flora ao longo da AID, EIA, p. 137). Este levantamento deveria ser feito ao

    longo da rea de Influncia Indireta, e no apenas da AID naturalmente no em toda a

    extenso da rea, mas em pontos amostrais em quantidade suficiente para fornecer

    subsdios para se ter uma boa leitura da espcies ocorrentes na regio.

    Os resultados destes levantamentos so apresentados atravs de tabelas com a

    relao de espcies para cada fitofisionomia (Quadros 28 a 33, pp. 142-4), falta, porm,

    uma tabela com a relao de todas as espcies ocorrentes e identificadas na regio, visto

    que as tabelas supra-citadas no permitem esta leitura, visto que muitas espcies

    ocorrem em mais de uma fitofisionomia. Assim, os resultados apresentados no

    permitem ao leitor/avaliador saber quantas espcies foram identificadas para a regio.

    Este levantamento florstico importante/imprescindvel para os trabalhos de

    recomposio de vegetao. Da a importncia da adequada identificao e um

    levantamento mais abrangente.

    A importncia de um preciso levantamento florstico est diretamente associada

    aos programas de recomposio das matas ciliares e reservas legais. Sem um amplo

    levantamento florstico, corre-se o risco de se fazer a recomposio da vegetao de

    diversas reas utilizando-se um nmero insignificante de espcies vegetais.

    Fauna (EIA, item 6.2.2, p. 145)

    interessante que neste item faz-se uma caracterizao do bioma cerrado muito

    melhor do que a do item flora, o qual deveria trazer esta caracterizao. De qualquer

    forma, o mesmo tema sendo tratado em dois itens diferentes do EIA mostra certa falta

    de interao entre as equipes de cada tema do EIA.

    Chama a ateno, ainda, a diversidade de espcies da fauna identificadas para a

    regio, contrastando com os resultados dos levantamentos florsticos.

    No item 6.2.2.2.10 Comunidade do perifton e bentnica a figura 36 (p. 189)

    traz em sua legenda a referncia data de amostragem: setembro/2006. Esta a nica

    referncia data de trabalhos de campo. No possvel, portanto, saber se nesta data

    foram feitas todas as demais campanhas (fauna e flora). De qualquer forma, setembro

    caracteriza o perodo de seca, assim no h campanhas para caracterizao do perodo

    chuvoso. E a variao das condies/caractersticas da qualidade das guas so

    20

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    Percia Ambiental extremamente diferentes nas duas estaes, assim, uma amostragem de uma estao

    no retrata a realidade.

    Meio scioeconmico (EIA, item 6.3, p. 206)

    Este item deve ser objeto de avaliao por parte da Percia em Servio Social do

    Ministrio Pblico. Aqui destaca-se apenas alguns pontos.

    Com relao anlise dos impactos sociais, no explica porque considera os

    municpios de Jovinia e Vicentinpolis, e ignora os municpios de Porteiro, Castelndia,

    Bom Jesus de Gois, alm dos distritos vizinhos.

    Na discusso sobre Patrimnio Cultural e Turismo, o EIA vergonhosamente

    transcreve reportagens do jornal Dirio da Manh. O objetivo de um Estudo de Impacto

    Ambiental muito maior do que apenas transcrever reportagens de jornal.

    Avaliao dos Impactos Ambientais (EIA, item 7, p. 271)

    Mostrando que no se sustenta a proposta de se fazer o EIA apenas do parque

    industrial, o prprio EIA no consegue manter esta proposta. Esta incoerncia

    explicitada na p. 271:

    (...) O tratamento dos impactos ser considerado nas duas principais fases do

    empreendimento: a de implantao e a de funcionamento ou operao.

    (...)

    Na fase de operao foram incorporadas todas as atividades de

    desenvolvimento agrcola, do preparo do solo at a colheita e

    armazenamento do produto, enquanto na Unidade Industrial estaria iniciando o

    processo de produo at o tratamento de efluentes e resduos finais. Todas essas

    aes passariam por manuteno preventiva, tanto na indstria como no setor

    agrcola. (EIA, p. 271) (grifamos)

    Distante disto, volta-se a questionar o EIA da Unidade Industrial, quando

    deveria ser de todo o processo de produo do acar e do lcool, o que,

    imprescindivelmente englobar as reas a serem plantadas e onde se instalar o parque

    industrial.

    No item 7.1.1.1.1 Eroso elica o EIA classifica este problema como impacto

    efetivo, adverso, fraco, indireto, imediato, temporrio, irreversvel, local e de pequena

    condio de mitigao e o considera apenas na fase de implantao. Deve-se lembrar

    21

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental que todas as reas plantadas, com intervalos de cinco anos, tm suas plantaes

    renovadas ou seja, este impacto cclico, repetindo-se sempre que houver renovao

    da cultura via de regra, 20% do total da rea plantada a cada ano tem suas culturas

    renovadas.

    No item 7.1.1.2.1 Impactos decorrentes da atividade agrcola, novamente

    reforando a incoerncia de se ignorar as reas plantadas como reas de influncia direta

    do empreendimento, o EIA afirma:

    (...) na implantao das atividades agrcolas que ocorrem diferentes

    modalidades de movimentao de terras, e onde os impactos de maior

    manifestao sobre o solo ocorrem. (EIA, p. 273, grifamos)

    Ainda neste item o EIA trata da abertura de canais para transporte da vinhaa,

    mas nenhuma referncia faz a como sero estes canais provavelmente como tm sido

    feitos tradicionalmente, sem nenhuma proteo. Deve-se garantir que estes canais sejam

    todos revestidos com manta de Polietileno de Alta Densidade (PEAD) de 1mm, assim

    como os tanques onde sero armazenadas.

    Chama a ateno, ainda, para os cuidados necessrios para a adequada aplicao

    de agrotxicos.

    O item 7.1.2.1.4. Seqestro de carbono trata de uma questo que todos os

    empreendimentos de usinas de lcool e acar insistentemente apresentam como grande

    vantagem deste tipo de empreendimento: o seqestro de carbono.

    Deve-se deixar claro que todo o processo do lcool (do plantio da cana at a

    queima deste combustvel nos veculos automotres) no contribui para aumento da

    concentrao de carbono na atmosfera, mas tambm no contribui para sua reduo.

    Todo carbono seqestrado durante o crescimento da cana devolvido atmosfera em

    diferentes etapas dos processos de produo e consumo o seqestro apenas

    temporrio. A vantagem significativa em relao ao petrleo que este ltimo traz para

    a atmosfera carbono que estava armazenado a grandes profundidades do solo ou sub-

    solo ocenico.

    No item 7.1.2.2 Impactos sobre o solo na operao da atividade agrcola (EIA,

    p. 280), afirma-se que

    O uso da queima da cana antes da colheita prtica corriqueira (...) No entanto,

    esta prtica destri a matria orgnica do solo, suprimi (sic) os insetos teis,

    elimina os microorganismos do solo e causa volatilizao de elementos essenciais

    s plantas. Tambm h produo de fuligem que pode provocar irritao no

    22

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental

    aparelho respiratrio e liberao de monxido de carbono, que altamente txico.

    Diante do exposto as conseqncias ambientais da queima da cana traduzem-se

    em impacto efetivo, adverso, acentuado, direto, imediato, cclico, reversvel, local e

    de mdias possibilidades de mitigao. (EIA, p. 281)

    incompreensvel ver que o EIA reconhece boa parte da adversidade dos danos

    causados pela queima da cana e, ainda assim, manter a proposta de queima de 70% da

    rea plantada. algo extremamente incoerente.

    No entanto, ao contrrio do que afirma o EIA, a destruio da fauna vai muito

    alm da supresso de insetos e eliminao de microorganismos do solo. Mamferos de

    grande porte (como tamandus, lobo-guar e at veados) so encontrados carbonizados

    nos canaviais, alm de muitas espcies de aves que ali fazem seus ninhos.

    No item 7.2.1.1 Impactos decorrentes da implantao da atividade agrcola

    (EIA, p. 282), o EIA evidencia o dficit de reas com vegetao nativa para a regio,

    destacando as reas de Preservao Permanente (APPs).

    Chama a ateno, tambm, para a supresso destes remanescentes de APPs

    para formao de represas para garantir a irrigao das plantaes de cana.

    Deve-se destacar que a SEMARH exige o construo de barramentos para liberar

    projetos de irrigao, assim em todas as propriedades onde sero feitos o plantio de

    cana haver supresso de vegetao ciliar por conta da formao dos barramentos

    (reservatrios). Como o EIA trata apenas da rea da bacia do ribeiro Bom Sucesso, fica

    evidenciado que a grande parte das fazendas que sero objeto do plantio de cana no

    tm suas reas caracterizadas quanto s condies ambientais, assim este impacto no

    possvel de ser dimensionado com preciso (mnima que seja) o que imprescindvel.

    Como os levantamentos florsticos foram restritos AID, no ser possvel, a

    partir do EIA, a elaborao de projetos de recomposio das APPs com a indicao de

    nmero significativo de espcies e de ocorrncia local.

    Item 7.2.2.2.1 Efeitos sobre o ecossistema terrestre, aborda superficialmente o

    impactos sobre a fauna terrestre.

    Deve-se destacar que, alm do citado neste tpico, a substituio de outras

    culturas pela cana, suprime da fauna fonte de alimento, visto que muitas culturas servem

    de alimento para muitas espcies da fauna (destacando-se aves), como a cana no

    propicia esta oferta de alimento, haver um impacto significativo que no

    adequadamente avaliado pelo EIA.

    23

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental Outro problema a queima, que provoca grande mortandade de animais, que se

    abrigam no meio dos canaviais, visto que se estes no oferecem alimento, permitem que

    muitos animais ali se alojem. comum encontrar grandes animais mortos aps a

    queima.

    No item 7.2.2.2.2 Efeitos sobre o ecossistema aqutico (p. 285) o EIA trata de

    vrios riscos, mas ignora outro problema extremamente significativo: a implantao das

    barragens ir impedir a migrao da ictiofauna. Como esta foi apenas parcialmente

    levantada, no possvel, a partir de dados do EIA, avaliar a extenso deste impacto.

    Item 6.2.2.4.1 Caracterizao ambiental dos pontos de amostragem, destaque

    para o seguinte trecho do EIA:

    Hoje, em geral, todas as fitofisionomias, inclusive as matas ciliares, esto bastante

    alteradas e pouco podem cumprir a importante funo de barreira natural para o

    aporte de materiais aos cursos dgua. (EIA, p. 196)

    Esta constatao para a reas no entorno da Fazenda Conquista, mas muito

    provavelmente revela a situao de toda a bacia (o que pode ser parcialmente observado

    na figura 5). Assim, imprescindvel que se determine a imediata implantao de projeto

    de recuperao de todas as APPs das fazendas que promovero o plantio de cana (ou

    que j o fazem), alm da rea da Fazenda Conquista.

    importante destacar que esta empresa pertence ao grupo proprietrio da Vale

    Verde de Itapaci, onde j foi constatado uma srie de problemas, como:

    - plantio em 100% da rea de algumas propriedades rurais (no respeitando

    a rea da Reserva Legal);

    - plantio em rea de Preservao Permanente;

    - plantio e queima dentro das reas de segurana das redes eltricas da

    CELG, promovendo prejuzos coletividade, visto que danificam a rede de

    distribuio de energia;

    Programas (item 9, p. 311)

    So apresentados 13 programas, a seguir comentados.

    01. Programa de Prospeco arqueolgica:

    24

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental indicado apenas para a rea da Fazenda Conquista, onde ser instalado o

    parque industrial. Entretanto, deve-se estender a todas as reas onde sero feitos

    plantios de cana, visto que muitos stios arqueolgicos so destrudos pela agricultura

    que estranhamente nunca foi obrigada realizao de avaliaes de seus impactos scio-

    econmico-ambientais.

    02. Programa Controle ambiental de implantao

    2.1 Emisses atmosfricas e rudos

    2.2 Controle de eroso e sedimentao

    2.3 Controle de resduos, efluentes e produtos qumicos

    Neste programa assume o compromisso de instalar imediatamente uma estao

    meteorolgica.

    Deve explicitar quais anlises iro compor o Monitoramento peridico de

    qualidade de guas superficiais (EIA, p. 313) e quantos sero e onde estaro localizados

    os pontos de amostragem devem, necessariamente, contemplar, alm da rea da

    indstria, as reas plantadas. Deve-se, ainda, exigir uma periodicidade bimestral para

    tais anlises durante a instalao do parque industrial, e trimestral a partir da operao

    do empreendimento. Nas reas plantadas apenas trimestral.

    Deve-se contemplar, ainda, anlise das guas subterrneas.

    Informa que os resduos slidos domsticos sero encaminhados para aterros

    sanitrios (EIA, p. 313), entretanto no existem aterros sanitrios na regio, e

    considerando-se que as indstrias devem dar a devida destinao aos seus resduos,

    deve-se exigir que a empresa instale em sua rea (Fazenda Conquista) um aterro

    sanitrio para seu uso exclusivo, ou colabore com o poder pblico municipal para a

    instalao, operao e manuteno de um aterro sanitrio para o municpio.

    03. Programa Controle de paralisaes de obras da unidade industrial

    Provavelmente no ser necessrio ser executado. Trata-se de um programa

    preventivo, que visa mais a minimizar prejuzos financeiros ao empreendedor

    (protegendo as infra-estruturas j instaladas) do que garantir proteo e recuperao

    ambiental.

    04. Programa Controle ambiental de operao

    3.1 Emisses atmosfricas e rudos

    3.2 Controle de eroso e sedimentao

    25

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental

    3.3 Controle de resduos, efluentes, subprodutos e produtos qumicos

    Idntico ao Programa Controle ambiental de implantao, a ser executado durante

    a operao do empreendimento. Aplica-se todas as recomendaes apresentadas ao

    programa supra-citado, destacando-se a necessria abrangncia das reas plantadas.

    Ainda, deve-se inserir um cadastro de todas as propriedades rurais onde haver

    plantio de cana para este empreendimento. Este cadastro deve ser feito em base digital,

    georeferenciada, com detalhamento de:

    - Identificao da propriedade rural;

    - tamanho da propriedade rural;

    - tamanho da rea plantada;

    - nmero da matrcula da reserva legal e tamanho desta;

    - localizao georeferenciada da reserva legal;

    - identificao de todos os corpos hdricos existentes na propriedade;

    - existncia/quantidade/localizao georeferenciada de barramento(s) na

    propriedade;

    - condies das reas de preservao permanente da propriedade;

    - topografia da rea plantada;

    - variedade de cana plantada nesta propriedade;

    - poca prevista para colheita desta propriedade.

    05. Programa Sade e segurana ocupacional

    Mais do que apenas Manter equipamentos de primeiros socorros, e pessoal

    interno habilitado para prest-los (EIA, p. 317), deve-se manter ambulncia a postos

    nas frentes de trabalho, com equipe tcnica (enfermeiro ou tcnico em enfermagem) a

    postos.

    Tambm deve ser analisado pelo Servio Social do MP.

    06. Programa Assistncia e comunicao social

    Deve ser analisado pela Percia em Servio Social do Ministrio Pblico.

    07. Programa Articulao institucional

    Deve ser analisado pela Percia em Servio Social do Ministrio Pblico.

    08. Programa Ambiental para a capacitao de tcnicos

    26

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental Apesar do ttulo, o programa voltado para os trabalhadores em geral.

    Entretanto, deveria sim haver um sub-programa especial de formao de profissionais

    para serem referncias nas diferentes frentes de trabalho, destacando-se aqueles

    trabalhadores com forte liderana natural independentemente do grau de escolaridade.

    Deve-se destacar, ainda, que este programa deve ter seus resultados avaliados

    por uma empresa terceirizada (auditoria) visando garantir seus resultados. Isto se

    justifica pelo fato de em muitos empreendimentos (independentemente do setor) haver

    este programa e ser constatado que o mesmo no conseguiu fazer com que os

    trabalhadores incorporassem em sua rotina a prtica que era esperada a partir da

    execuo deste programa.

    09. Programa Educao ambiental

    Voltado para as comunidades locais, deve ter abrangncia tanto s escolas das

    cidades, quanto s rurais caso existam. E deve contemplar todos os municpios

    envolvidos com o empreendimento (do parque industrial e com reas utilizadas para

    produo de cana para o empreendimento em tela).

    10. Programa Recuperao florestal

    Este programa imprescindvel, entretanto seu sucesso depende de eficiente e

    amplo levantamento das espcies ocorrentes no local, visto que o objetivo no o de

    reflorestamento, mas de recomposio da vegetao nativa (o que so aes

    totalmente diferentes).

    Apresenta uma tabela com a relao de 19 espcies (EIA, p. 324), onde informa

    que Das espcies listadas (sic) seguir, sero algumas utilizadas (grifamos). No se

    justifica apresentar uma lista de espcies onde se tem o propsito de se utilizar apenas

    algumas espcies da lista. A seguir faz-se uma discusso sobre as espcies apresentadas

    para este programa.

    Nesta tabela so listadas apenas duas espcies que constam nos quadros 28 a 33

    (EIA, pp. 142-4), so:

    - sangra dgua (Croton urucurana Baill.) e

    - gameleira-branca (Ficus hispida Roxb. ex Wall.).

    Oito espcies da tabela da p. 324, tem o mesmo nome popular de espcies que

    constam nos quadros 28 a 33, mas so identificadas com nomes cientficos diferentes. A

    tabela 01 mostra esta diferena:

    27

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental Tab. 01: Relao das espcies cujos nomes populares coincidem, mas divergem os nomes cientficos, de espcies listadas no EIA

    Nome popular Nome cientfico que consta na tabela da p. 324 do EIA

    Nome cientfico que consta nos quadros 28 a 33 do EIA

    Angelim-morcego Andira cuiabensis (sic) Andira fraxinifolia

    Pata-de-vaca Bauhinia sp. Bauhinia longifolia

    Maria-mole Dendropanax cuneatum Dendropanax sp.

    Mamoninha Dilodendron bipinnatum Esenbeckia febrifuga

    Gameleira Ficus sp. Ficus gardneriana

    Pau-pombo Tapirira guianensis Hirtella ciliata

    Aoita-cavalo Luehea paniculata Luehea speciosa

    Aroeira Lithraea brasiliensis Myracroduom urundeuva

    Andira cuyabensis Benth., conhecida como morcego ou angelim-do-cerrado (entre

    outros nomes) chega a 6 metros de altura no mximo, enquanto Andira fraxinifolia

    Benth. (popularmente denominada de angelim-doce, angelim-rosa, angelim-do-mato e

    pau-de-morcego mas no angelim-morcego) alcana 12m de altura. Alm da altura

    divergem nas reas de ocorrncia, aspectos de flores, frutos, sementes e caule.

    Dilodendron bipinnatum Radkl. pertence famlia Sapindaceae, e conhecida

    popularmente como maria-pobre, farinha-seca, mamona-pobre, puta-pobre, entre outros

    nomes. Esenbeckia febrifuga (St. Hill.) A. Juss. ex Mart. pertence famlia Rutaceae, e

    seus nomes populares mais comuns so crumarim, mamoninha-do-mato, mamoninha,

    entre outros.

    Tapirira guianensis Aubl. (pertencente famlia Anacardiaceae) tem como nomes

    populares tapiriri, copiva, peito-de-pombo, fruto-de-pombo e pau-pombo entre outros.

    Ocorrem em ambientes de solo mido, como as matas ciliares e de galeria.

    Hirtella ciliata Mart. & Zucc. (pertencente famlia Chrysobalanaceae) popularmente

    conhecida como pau-pombo, choro, murtinha entre outros nomes. Ocorre apenas em

    solos bem drenados portanto, nunca em mata ciliar ou mata de galeria.

    Luehea paniculata Mart. conhecida como aoita-cavalo, espcie de solos bem

    drenados. Luehea speciosa Willd. nome invalidado, sinonmia, de Luehea divaricata

    Mart. ou seja, no existe L. speciosa Willd. Considerando-se Luehea divaricata Mart.,

    esta espcie conhecida como aoita-cavalo-mido, e tpica de matas ciliares e de

    galeria.

    28

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental Lithraea brasiliensis March. conhecida popularmente como bugreiro, aroiera-

    braba, aroiera, aroeira-negra, tem ocorrncia bastante ampla em Santa Catarina, Rio

    Grande do Sul e no Alto Uruguai. Myracrodruon urundeuva Fr. All. a famosa aroeira

    (tambm conhecida por aroeira-do-campo, aroeira-da-serra), de Gois e Mato Grosso, a

    quem antigamente as pessoas do interior diziam que dura at acabar e mais cem anos.

    espcie de terrenos secos e rochosos, bem drenados, portanto longe de corpos dgua.

    Ambas as espcies pertencem famlia Anacardiaceae, porm divergem bastante tanto

    no porte, folhas, flores, frutos e distribuio geogrfica.

    Constam, ainda, na tabela da p. 324, nove espcies que no so listadas nos

    quadros 28 a 33 do EIA:

    1. Angico (Anadenanthera peregrina (L.) Speg.) - ocorre sempre em solos bem

    drenados.

    2. Antrio (Anthurium sp)

    3. Landi (Calophyllum brasiliense Camb.)

    4. Canela-branca (Ocotea sp)

    5. Pimenta-longa (Piper aduncum L.)

    6. Canzileiro (Platypodia elegans sic Platipodium elegans Vogel.

    7. Goiaba-dgua (Psidium guianense Pers.)

    8. Chich (Sterculia striata St. Hill. et Naud.) espcie de solos bem drenados

    9. Guariroba (Syagrus oleraceae (sic) Syagrus oleracea (Mart.) Becc.) espcie de

    solos bem drenados

    Alm destas 19 espcies listadas na referida tabela, o EIA (p. 324) relaciona mais

    seis espcies a serem includas. Estranha o fato de serem citadas a parte e no

    constarem na referida tabela.

    1. Schinus terebinthifolius Raddi (aroeira-mansa, blsamo, cambu)

    2. Eugenia uniflora L. (pitanga)

    3. Psidium catleianum (sic) Psidium cattleianum Sabine (ara)

    4. Vitex megapotamica (Spreng.) Mold. nome invlido, sinonmia de Vitex montevidensis

    Cham. (tarum)

    5. Luehea divaricata Mart. como j foi mostrado acima o nome correto para o citado

    Luehea speciosa Willd. que consta na tabela da pgina 324. Este caso especfico

    explicita que para o autor desta parte do EIA, trata-se de duas espcies distintas,

    visto que cita ambas para o plantio.

    6. Cupania vernalis Cambess. (camboat)

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  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental

    Todos estes erros mostrados so tpicos de trabalhos feitos a partir de consulta

    bibliogrfica e por quem no especialista em botnica. Para um botnico, so erros

    primrios, mas que comprometem toda a qualidade do trabalho.

    Estes erros so suficientes para invalidar todo a parte botnica deste EIA

    e , naturalmente, o Programa de Recuperao Florestal.

    Como o EIA indica reas para soltura de animais, estas reas devem ter suas

    condies ambientais avaliadas e, conforme resultados desta avaliao, devero ser

    objetos de recuperao (ou incremento) de sua vegetao, visando melhor adensamento

    vegetal, aumento da disponibilidade de alimentos para os animais que ali sero soltos.

    11. Programa Monitoramento e preservao da fauna

    Para este programa deve-se explicitar algumas recomendaes:

    1. deve ser estendido no apenas rea da Fazenda Conquista, mas

    verdadeira rea de Influncia Direta do empreendimento, o que,

    naturalmente, implica na Faz. Conquista mais todas as fazendas onde haver

    plantio de cana para a Vale Verde Goiatuba;

    2. deve iniciar antes da entrada em operao do empreendimento;

    3. deve se estender enquanto durar as atividades do empreendimento;

    4. deve haver um sub-programa especial para as reas onde for (se for)

    permitida a queima da cana, visando minimizar a morte de animais durante

    este processo. Este sub-programa dever, ainda, constar de um levantamento

    quali e quantitativo das espcies mortas por esta prtica.

    5. Deve ser sub-dividido em reas: aves, ictiofauna, mamferos, rpteis e

    anfbios.

    12. Programa Responsabilidade scioambiental

    Deve ser analisado pela Percia em Servio Social do Ministrio Pblico.

    13. Programa Gesto ambiental de transporte

    Trata-se de um programa que visa combater um problema srio provocado pelo

    transporte de cana. Deve-se garantir a sua fiel execuo, com indicao dos locais onde

    sero instalados todos os pontos de paradas obrigatrias.

    30

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental

    Embora o EIA apresente uma srie de programas para compensar os danos

    causados pela implantao e operao do empreendimento em tela, deve-se destacar

    que isto no garantia de os mesmos serem capazes de garantir efetivamente os

    resultados pretendidos, principalmente considerando-se as falhas apontadas neste Laudo

    na parte de diagnstico do EIA.

    E, ainda, preciso chamar a ateno, de forma muito especial, para o trabalho de

    PIACENTE (2005)12. Trata-se de uma dissertao de mestrado na rea de Economia,

    desenvolvida na UNICAMP, onde o autor destaca os principais impactos gerados pelas

    indstrias de lcool e acar:

    (...) a reduo da biodiversidade pela ocupao extensiva das lavouras; a

    contaminao das guas e do solo pela aplicao de agroqumicos e resduos; a

    emisso de fuligem e gases txicos na queima; e o consumo intensivo de gua. (p.

    155).

    Chamando a ateno para a regio de Piracicaba (SP) o autor destaca:

    (...) por se tratar de uma das regies canavieiras mais tradicionais do pas, essa

    agroindstria tem colaborado significativamente para a sua degradao ambiental,

    acumulando durante anos graves passivos.

    No difcil fazer essa constatao, poluio de mananciais, desmatamento e

    queimadas so exemplos atuais. (p. 156)

    No mesmo pargrafo o autor chama a ateno para o comportamento de tais indstrias:

    (...) pouco se tem visto de aes concretas desse setor a fim de minimizar

    esses impactos ou de se adequar ambientalmente. Muito pelo contrrio, nesse

    trabalho concluiu que, o setor canavieiro se apresenta pouco reativo e muitas vezes

    margem do cumprimento das legislaes ambientais desse pas. (p. 156,

    grifamos)

    e, ainda:

    Atualmente, ostentar um SGA certificado ou no, visto como um diferencial

    competitivo, uma vez que a preocupao com o meio ambiente passou a ser vista

    como uma vantagem comercial importante. Alm de possibilitar a reduo de custos,

    fomentando a adoo de novas tecnologias, que permite a reduo do consumo de

    insumos e do desperdcio nos processos de produo.

    12 PIACENTE, F.J. Agroindstria canavieira e o sistema de gesto ambiental: o caso das usinas localizadas nas bacias hidrogrficas dos rios Piracicaba, Capivari e Jundia. Campinas/SP, Inst. Economia/Unicamp, 2005. Dissertao mestrado. Disponvel em: .

    31

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental

    Trata-se de um instrumento de marketing que atesta ao pblico alvo e a outros

    interessados que o sistema gerencial da empresa possui um adequado desempenho,

    pois est respeitando as normas impostas por ele.

    E continua:

    (...) o SGA est sendo utilizado como uma ferramenta comercial focado na

    ampliao de mercados.

    Na p. 57:

    Uma outra constatao importante, e que refora as crticas quanto a esse

    sistema, diz respeito fundamentalmente aos passivos deixados historicamente por

    essas usinas. A pesquisa realizada deixou evidente que as usinas localizadas nas

    bacias [dos rios Piracicaba, Capivari e Jundia] vem sistematicamente

    descumprindo suas obrigaes quanto s legislaes ambientais, principalmente no

    tocante a obrigatoriedade das reas de Preservao Permanente e de Reserva

    Legal. fato que a expanso canavieira nos perodos de prosperidade do setor foi

    responsvel pela destruio de florestas e que o processo de recomposio dessas

    reas ainda no levado a srio pelos usineiros.

    Na p. 159 o autor chama a ateno para a norma tcnica P.4231 da CETESB, que

    disciplina a aplicao da vinhaa na fertirrigao, destacando as recomendaes para

    readequao dos tanques de depsitos de vinhaa, impermeabilizao dos canais de

    escoamento, entre outros..

    O Anexo I deste Laudo traz a citada norma tcnica da CETESB, P4.231,

    homologada pela Deciso de Diretoria 35, de 09 de maro de 2005, da Companhia de

    Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB).

    Destacamos, a seguir, algumas das exigncias desta norma:

    5. Critrios e Procedimentos para o Armazenamento, Transporte e Aplicao no

    Solo

    (...)

    5.1.6 Estar afastada, no mnimo, 1.000 (um mil) metros dos ncleos populacionais

    compreendidos na rea do permetro urbanos. Essa distncia (...) poder (...) ser

    ampliada quando as condies ambientais, incluindo as climticas, exigirem tal

    ampliao.

    5.1.7. Estar afastada, no mnimo, 50 (cinqenta) metros das reas de Proteo

    Permanente APP, e com proteo por terraos de segurana.

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    5.1.8 A profundidade do nvel dgua do aqfero livre, no momento da aplicao

    de vinhaa deve ser, no mnimo, de 1,5m (um metro e cinqenta centmetros)

    conforme a Norma NBR 7229 Projeto, Construo e Operao de Sistemas de

    Tanques Spticos, da ABNT (...).

    (...)

    Embora os usineiros apregoem que a aplicao da vinhaa no solo, a fertirrigao,

    no gere nenhum problema, o rigor da norma P4.231 mostra que h um grande risco de

    contaminao sim, tanto do solo quanto do lenol fretico. Assim, independente de haver

    legislao em Gois que trate do tema, deve-se exigir o cumprimento daquela norma,

    visto que trata-se de uma norma estritamente tcnica, para todas as reas onde se

    pretende fazer a fertirrigao.

    5. CONCLUSES

    Ao longo deste Laudo mostrou-se a incoerncia em se tratar no EIA/RIMA de

    qualquer usina de lcool, apenas da rea onde ser instalada a indstria. No caso da Vale

    Verde Empreedimentos Agrcolas de Goiatuba, seu parque industrial estar em uma rea

    de 50 ha, enquanto sero utilizados 36.000 ha para o plantio de cana (embora no se

    saiba e o EIA no fornece subsdios para se esclarecer esta questo se sero

    apenas estes 36.000 ha ou haver aumento da rea plantada, visto que prevista a

    triplicao da produo inicial, embora sem data definida).

    Outro problema, extremamente grave, observado no EIA, a total ignorncia dos

    demais empreendimentos de usinas de lcool e acar existentes (j em operao e/ou

    em implantao) e previstos para a regio. Ou seja, nenhuma avaliao dos efeitos

    cumulativos e sinrgicos entre tantos empreendimentos para a mesma regio, avaliado

    pelo EIA em tela. totalmente diferente os impactos provocados por um nico

    empreendimento em uma regio da situao observada atualmente na regio, qual seja,

    a insero de novos empreendimentos onde j existem outros empreendimentos do

    mesmo setor. Haver um gradativo aumento dos impactos scio-econmicos e

    ambientais que o EIA ignora totalmente.

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    Segundo LANNA (apud OLIVEIRA, 2003)13, Tudo o que se conhece o passado e

    tudo o que importa no processo decisrio o futuro, em assim sendo, fica evidente que

    a real e precisa caracterizao da regio, com a identificao, tambm precisa, dos

    potenciais impactos a serem causados pelo empreendimento, e a interao e soma

    destes impactos com os provocados pelos empreendimentos do mesmo setor j

    existentes e previstos para a regio, so imprescindveis para se poder buscar a

    implantao de medidas que visem minimizar os impactos negativos advindos com o

    referido empreendimento.

    Dentro desta tica, o EIA no cumpre sua funo.

    6. RECOMENDAES

    O EIA deve ser refeito, contemplando todos os problemas apontados ao

    longo deste Laudo e, ainda:

    - estabelecer tamanho adequado para mapas e imagens de satlite. Isto

    influi no apenas a escala, mas a rea abrangida pela figura. O tamanho

    deve ser de no mnimo 60cm x 80cm ou valor proporcional ao formato do

    mapa ou da imagem de satlite;

    - levantamento do histrico de ocorrncias de doenas respiratrias em

    todos os municpios (sedes e vizinhos) s fazendas onde haver plantio de

    cana. Dever constar, tambm, neste levantamento pesquisa aos hospitais

    de Goinia, visto ser comum o encaminhamento de pessoas do interior

    capital para tratamento. Este levantamento visa mostrar se estes casos

    sofrero aumento caso seja permitida a queima da cana.

    Para o empreendimento, deve-se exigir, quando de sua implantao, que:

    - a imediata implantao do sistema de co-gerao de energia, a partir da

    queima do bagao da cana-de-acar;

    - todos os canais de conduo da vinhaa devero ser revestidos com manta

    de PEAD (polietileno de alta densidade) de 1mm;

    - todas as propriedades onde se pretende plantar cana apresentem:

    1. comprovante de averbao da reserva legal;

    13 OLIVEIRA, L.C.K. O Papel do Monitoramento e da Previso de Vazes no Gerenciamento de Bacias Hidrogrficas. COPPE/UFRJ, Dissertao M.Sc., Engenharia Civil, 2003.

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    2. planta da rea da fazenda, sobreposta em imagem de satlite com

    resoluo suficiente para visualizar crregos, app, reserva legal, sedes,

    reas cultivadas (escala 1:10.000);

    3. planta topogrfica;

    4. condies das reas de preservao permanente;

    5. programa de recuperao das APPs (quando for o caso);

    6. programa de recuperao da Reserva Legal (quando for o caso).

    Este o parecer, contendo trinta e seis (36) laudas, todas rubricadas, um

    apndice com uma (01) figura e um (01) Anexo, e ao final assinado pelo Perito

    Ambiental.

    Percia Tcnica Ambiental, Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio

    Ambiente, do Ministrio Pblico do Estado de Gois, aos dezesseis (16) de maio de 2007.

    Rogrio Csar

    Perito Ambiental

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    Percia Ambiental

    Fig. 01: Municpios prximos ao empreendimento Vale Verde Goiatuba, mostrando a proximidade de um vrios aglomerados urbanos, proximidade com limites de municpios e a localizao das estaes meteorolgicas nenhuma dentro do Municpio de Goiatuba.

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    Percia Ambiental

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    Percia Ambiental Id: 2464

    Autor: Casarini, Dorothy Carmen Pinatti.

    Ttulo: Efeito da fertirrigaao com vinhaa na propriedades qumicas e microbiolgicas do solo em um sistema

    de disposiao de efluentes industrial.

    Fonte: Sao Carlos; s.n; 1989. 192 p.

    Idioma: Pt.

    Tese: Apresentada a Universidade de Sao Paulo. Escola de Engenharia de Sao Carlos para obteno do grau de

    Doutor em Hidrulica e Saneamento.

    Resumo: Foram avaliados os efeitos da aplicaao da vinhaa nas propriedades qumicas e microbiolgicas de

    um solo Vermelho-Amarelo, textura mdia, que esteve sob o cultivo de cana-de-acar durante os ltimos dez

    anos, tendo recebido at o incio do perodo experimental fertilizantes industrializados. O experimento foi

    conduzido em canteiros no campo, onde foram efetuados dois tratamentos caracterizados pelas taxas de

    aplicaao de vinhaa de 150 m3/ha e 600 m3/ha. De cada tratamento, bem como do canteiro testemunho, as

    amostras de solos coletadas nas profundidades 0-15 cm e 15-30 cm, foram transferidas para posterior anlise

    em laboratrio. Em relaao de vinhaa no solo, provoca um aumento no pH, no teor de ctions Ca2+, Mg2+ e

    K+ e de nitrognio total. Em relaao ao potssio, ocurreu uma lixiviaao no perfil do solo, mostrando ser mais

    adequada a taxa de aplicaao de vinhaa de 150 m3/ha. O teor de carbono do solo nao aumentou

    significativamente. Foi verificado, em relaao aos microrganismos totais do solo, um efeito estimulante sobre as

    bactrias para as duas taxas de aplicaao de vinhaa estudadas. Fungos foram estimulados em ambas taxas de

    aplicaao, prem, s na superfcie. Observou-se uma inibiao na populaao dos actinomicetos, para ambas as

    taxas de aplicaao, e ambas as profundidades, retornando a valores normais no final da descomposiao do

    resduo. Os microrganismos amonificantes, nao se qualificaram com indicadores dos efeitos da vinhaa nas

    propriedades microbiolgicas do solo. A vinhaa causou em ambas as taxas de aplicaao, em ambas as

    profundidades, uma inibiao aos microrganismos celulticos aerbios e um pequeno efeito estimulatrio aos

    celulticos anaerbios. Os efeitos da aplicaao da vinhaa, nas propriedades qumicas e microbiolgicas do solo,

    sao contundentes e passageiros, com exceao da lixiviaao de potssio. Em locais onde a vinhaa esteja sendo

    aplicada com a presena da cana planta, a taxa de aplicaao deve ser definida, considerando-se o teor de

    potssio, outros locais, tais como, rea de sacrifcio, lagoas de armazenamento e canais de distribuiao, os

    mecanismos em relaao ao nitrato, requerem um monitoramento mais especfico.

    Descritores: Efluentes Industriais

    Indstria do lcool

    Uso de guas Residuais

    Irrigao (Agricultura)

    Poluio do Solo

    Anlise do Solo

    Qumica do Solo

    -Controle

    Responsvel: CETESB

    USP-EESC

    http://bases.bireme.br/cgi-

    bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=REPIDISCA&lang=p&nextAction=lnk&exp

    rSearch=2464&indexSearch=ID

  • Ministrio Pblico do Estado de Gois Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente

    Percia Ambiental Os Estudos Ambientais Sobre a Fertiirrigao da Vinhaa no Solo e na gua Subterrnea, nfase na EDR - Ribeiro Preto

    Prof. Sueli Y. Pereira IG

    Linha de Pesquisa: Meio Ambiente (aterros, recursos hdricos, poluio, limpeza urbana).

    Palavras Chave: gua Subterrnea, Vinhaa, Entreposto de Destinao de Resduos, Ribeiro Preto.

    Objetivo: A proposta apresenta como objetivo principal a elaborao de um modelo de gesto hdrico-

    ambiental para a regio agrcola de Ribeiro Preto, visando proporcionar solues. Para o alcance

    desse objetivo maior, elaboraram-se objetivos especficos de acordo com cada rea de conhecimento

    envolvido. So eles:

    Desenvolver uma anlise ambiental de todo o meio fsico e scio-econmico, visando o entendimento da dinmica da regio, apresentando diversos cenrios.

    Caracterizar a influncia das atividades agrcolas (em especial as sucro-alcooleiras) na dinmica do meio fsico e humano.

    Executar estudos complementares e de detalhe para avaliao do comportamento de contaminantes de fontes agrcolas no solo e na gua subterrnea.

    Desenvolver metodologias de integrao de dados, por meio de estudos multidisciplinares e interdisciplinares.

    Avaliar, adaptar e/ou desenvolver metodologias de gesto ambiental em reas de grande desenvolvimento agrcola.

    Criao de um banco de dados informatizados, de atualizao contnua. Fornecer subsdio