Levantamento e Análise das Densidades de Drenagens das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe
JhonatanLaszlo Manoel
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
Faculdade de Ciência e Tecnologia – PresidentePrudente
Introdução
Com o desenvolvimento tecnológico por todo mundo, principalmente industrial,
a formação de grandes metrópoles e megalópoles, a busca pela água se tornou
incrivelmente necessária, em que um futuro próximo, poderá assistir-se a debates
mundiais e conflitos pela busca e disponibilidade deste bem.
Mas a necessidade pela busca de água não é um fenômeno que irá (ou já vem se
constituindo) nos dias atuais, a intromissão nos ambientes fluviais e em sua dinâmica
vem de épocas remotas, onde a consolidação e também a decadência de uma
determinada sociedade foi dada por sua disponibilidade hídrica e seus avanços
tecnológicos.
Apesar de todos os avanços tecnológicos para a obtenção e utilização dos
recursos hídricos, a degradação dos cursos d’água só tende a aumentar. Pesquisadores
como Drew (1994, apud Rocha, 2010), referem-se a esta questão que com o
desenvolvimento da agricultura e da sociedade organizada sempre esteve vinculado ao
controle da água, especialmente para irrigação. As civilizações do Egito e da China,
assim como da Índia e da Mesopotâmia, chamam-se civilizações hidráulicas. Sua
ascensão e queda estão intimamente relacionadas ao uso e abuso da água.
A intromissão no ciclo Hidrológico tem continuado até o presente. Com o
avanço da tecnologia, o grau de interferência aumentou de maneira assustadora.
Atualmente, são poucos os sistemas de drenagem, no mundo inteiro, que tem caráter
inteiramente natural. Embora o controle dos sistemas hidrológicos seja maior nos paíse
desenvolvidos, as modificações inadvertidas nestes sistemas são universais, em geral
função do modelo de apropriação da natureza do homem contemporâneo (DREW,
1994).
Mas não só o uso e abuso da água de esse recurso tão importante para a
humanidade, mas sim práticas desenfreadas de exploração dos recursos naturais para o
abastecimento da humanidade, isto é muito bem evidenciado por Rocha (2009)
Atualmente é reconhecido que o desflorestamento, as práticas de uso da terra
agrícola e urbana, a utilização da água do lençol freático para o abastecimento e
irrigação, além da construção de grandes barramentos para o abastecimento e
principalmente para a geração de energia, somadas, geram um efeito bola-de-neve e tem
contribuído para alterações no ciclo hidrológico e frequentemente no regime hidrológico
dos rios.
Além deste, outros aspectos relacionados à drenagem entram em desiquilíbrio,
como os ecossistemas terrestres e aquáticos e a dinâmica erosiva-deposicional nas
vertentes e nos canais fluviais. Tendo em vista a intensa apropriação dos recursos
fluviais pelo homem, existe uma crescente necessidade de predizer os impactos
associados ao manejo dos corpos de água, identificar metas a serem atingidas para
manter a biota fluvial e os adequados valores sociais e de serviços associados com o
ecossistema fluvial (ROCHA, 2009).
Com isso a importância dos estudos dos ambientes fluviais e principalmente das
bacias hidrográficas, o principal objeto de estudo deste trabalho, torna-se um fator de
sê-la analisado com muita cautela, para que sirva de embasamento para órgãos de
proteção e manejo.
A densidade de drenagem corresponde a divisão entre o comprimento médio dos
canais fluviais em uma dada bacia hidrográfica com a área total da mesma podendo ser
caracterizada por grosseira, média ou fina, variando de acordo com a litologia, cobertura
vegetal e a quantidade de precipitações da área a ser analisada. A densidade de
drenagem é reconhecidamente, uma das variáveis mais importantes para a análise
morfométrica das bacias de drenagem, representando o grau de dissecação topográfica,
em paisagens elaboradas pela atuação fluvial, ou expressando a quantidade disponível
de canais para o escoamento e o controle exercido pelas estruturas geológicas
(CHRISTOFOLETTI, 1981).
Objetivos
Levantar, análisar e comparar as diferentes densidades de drenagens e a sua
distribuição nas bacias hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe.
Metodologia
Os valores das densidades de drenagens, das bacias hidrográficas estudados,
tiveram seus valores extraídos conforme JORGE & UEHARA (1998 p. 106), descrita a
seguir.
D = Σl
A
Onde:
d = densidade de drenagem;
Σl = somatório de todos os comprimentos (l) de cursos d’água constituídos na
bacia;
A = área da bacia em questão.
Para a vetorização dos canais fluvias, compilação e espacialização dos dados de
densidade de drenagem, foi utilizado o software de mapeamento ArcGis 10.0.
A densidade de drenagem está estreitamente relacionada com os índices de
dissecação e das próprias vertentes, por ser um dos fatores preponderantes da teoria do
Ciclo Geográfico proposta por Davis, que influenciou profundamente a Geomorfologia
até a primeira metade do século XX.
Na figura 1, Lima (2006) apresenta um ensaio de um bloco diagrama
explicitando como se da a evolução do ciclo da erosão fluvial e da própria densidade de
drenagem, na qual o estágio jovem tipifica-se por vales em "V" com processo de erosão
ativo e interflúvios tabulares (A); O estágio maduro retrata-se por elevada densidade de
drenagem, com vales profundos em “VU” ou “ÜV”, com interflúvios estreitos e
arredondados (B). O estágio senil apresenta baixa densidade de drenagem, extensas
planícies de inundação, meandros, alguns dos quais, abandonados (C). No
rejuvenescimento (D), as feições do terreno passam a mostrar características do estágio
jovem (Hamblin& Howard, 1977).
Figura 1 – Ciclo da Erosão Fluvial segundo Hamblim e Howard (1997).
Os resultados da equação da densidade de drenagem D = Σl/A foram agrupados
em cinco classes diferentes, sendo elas pobre, regular, boa, muito boa e
excecionalmente bem drenadas, na qual permitem fazer as análises e tirar as primeiras
conclusões a respeito do modelo terrestre. Abaixo seguem os agrupamentos em
classes para a realização das análises.
Quadro 2. Classificação da densidade de drenagem Carvalho (2007).
Bacias com drenagem pobre
Bacias com drenagem regular
Bacias com drenagem boa
Bacia com drenagem muito boa
Dd< 0,5 km/km2
0,5 <Dd< 1,5 km/km2
1,5 <Dd< 2,5 km/km2
2,5 <Dd< 3.5 km/km2
Bacia excepcionalmente bem drenadas Dd< 3,5 km/km2
Resultados
A densidade de drenagem, como os demais parâmetros morfométricos
conseguem esboçar o estágio evolutivo do relevo e também do sistema de drenagem,
no qual este fenômeno é o resultado de uma interface, que é a essência das formas do
modelado terrestre, a interação clima e geologia.
Com isto, a densidade de drenagem exprime a relação com alguns fatores
climáticos, geológicos e também pedológicos, como a porosidade e permeabilidade
dos solos, litologia e por fim, condições e variabilidade dos eventos pluviométricos em
uma dada região geográfica.
Corrêa (1997) destaca que, para a geomorfologia, a importância dos estudos
hidrológicos reside em reconhecer, localizar e quantificar o fluxo de água nas encostas,
de onde se podem definir os gradientes topográficos e, portanto, o próprio relevo.
Para tanto, precisa-se, primeiramente, definir as bases climáticas e geológicas da área
em estudo.
Em uma dada região climática, o comportamento hidrológico das rochas
repercute na densidade de drenagem. Nas rochas onde a infiltração encontra maior
dificuldade há condições melhores para o escoamento superficial, gerando
dificuldades para a esculturação dos canais, como entre as rochas clásticas de
granulação fina, e, como consequência, densidade e drenagem mais elevada. O
contrário ocorre com as rochas de granulometria grossa (Christofoletti, 1981).
Deste modo, rochas e solos (principalmente solos com cobertura vegetal) com
maior porosidade e permeabilidade, são propensos à infiltração das águas advindas da
pluviosidade, diminuindo a quantidade do escoamento superficial e assim, a
diminuição da densidade de drenagem de uma determinada região geográfica.
Carvalho et al. (2007) ressalta que a densidade de drenagem é uma boa
indicação do grau de desenvolvimento de um sistema de drenagem. Expressa a relação
entre o comprimento total dos cursos d’água (sejam eles efêmeros, intermitentes ou
perenes) de uma bacia e a sua área total.
Com a aplicação da metodologia proposta, foram encontrados apenas dois
índices de densidade de drenagem ao longo das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí
e Peixe, sendo densidade de drenagem pobre e regular, mostrando a alta porosidade
dos solos e do embasamento rochoso que ás recobre.
Em números gerais, a Bacia Hidrográfica do Rio do Peixe, apresentou valores de
densidade de drenagem pobre (0,461), por outro lado, a Bacia Hidrográfica do Rio
Aguapeí exibiu valores um pouco mais elevados, caracterizando-se como uma bacia
hidrográfica com densidade de drenagem média (0,531). Já em relação ao somatório
das duas bacias hidrográficas analisadas, os índices de densidade de drenagem
apresentaram valores de densidade pobre (0,468).
Figura 3 – Mapa do grau das densidades de drenagens nas Bacias Hidrográficas dos Rios Agupeí e Peixe
No contexto geológico, as Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe é em
sua maioria constituída pelos arenitos da Formação Adamantina do Grupo Bauru, onde
as mesmas são rochas que apresentam um alto grau de porosidade, na qual facilitam o
processo de infiltração da água, assim apresentando subordinação as litologias existem
nas bacias hidrográficas.
Os dados obtidos tiveram uma variação dos índices de densidade de drenagem
que variaram de 0,22 até 1,44, onde os valores mais altos foram encontrados nas
pequenas sub-bacias hidrográficas inseridas na área de estudo.
Outro importante fator a se destacar que apesar de não ser um dos vieses de
escopo deste trabalho, é a importância dos tipos de solos inseridos em uma dada região
geográfica de estudo, mas que tem importância fundamental juntamente com o
embasamento e o regime pluviométrico.
Fazendo um pequeno apanhado geral dos tipos de solos das Bacias Hidrográficas
dos Rios Aguapeí e Peixe, são compostos basicamente em sua totalidade por argissolos
e latossolos com textura arenosa-média que facilitam a infiltração das águas pluviais,
logo assim diminuindo a densidade de drenagem da área de estudo.
Há também cursos fluviais das Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe
que não foram classificados, sendo os mesmo cursos não classificados no mapa dos
padrões de drenagens da área de estudo, onde não há confluência de outros cursos
fluviais para que haja um adensamento mínimo para a classificação dos respectivos.
Em suma, a densidade de drenagem torna-se uma ferramenta para o
planejamento e manejo de cursos d’água, por mostrar as escassezes e abundância de
uma dada bacia hidrográfica ou qualquer outra região que seja necessário a busca por
recursos fluviais, mas sempre levando em consideração a questão da escala a serem
feitas os levantamentos dos dados, na qual mapas com escalas reduzidas “escondem”
detalhes e levam a uma subavaliação do comprimento total dos cursos d’água.
Considerações Finais
A densidade de drenagem, por fim, é um fator que pode revelar o grau de
disponibilidade hídrica, infiltração das águas em um determinado tipo de solo, a
densidade da cobertura vegetal e finalmente o grau de resistência dos extratos rochosos
de certa região geográfica, ou seja, a atuação e a intensidade de processos erosivos. A
resistência das rochas é o fator mais importante neste trabalho.
Assim, com esta forte resistência à incisão hídrica, a instalação de redes de
drenagem é dificultada, tornando a região um com drenagem muito pobre em relação ao
comprimento dos canais e à área drenada.
O fato é que as Bacias Hidrográficas dos Rios Aguapeí e Peixe, não possuem
uma drenagem alta ou muito alta, fator que pode ser explicado primeiramente, pela
composição pedológica destas bacias, que possuem em grande parte delas, solos
arenosos que facilitam a infiltração. Já a cobertura vegetal, outro fator determinante para
a densidade de drenagem tornaria necessários estudos sobre o uso e ocupação do solo
nesta área de estudo, e juntamente com composições rochosas que apresentam uma
grande resistência aos processos erosivos.
Referências
CHRISTOFOLETTI, A. Geomorfologia fluvial – São Paulo: Edgard Blucher: FAPESP,
1981, 313 p.
CARVALHO, D. F.; SILVA, L. D. B.; Hidrologia – Cap. 3: Bacia Hidrográfica.
Disponível em:
http://www.ufrrj.br/institutos/it/deng/leonardo/downloads/APOSTILA/HIDRO-Cap3-
BH.pdf Acessado em: 05 de novembro de 2014.
CORRÊA, A.C.B. 1997. Mapeamento geomorfológico de detalhe do maciço da Serra
da
Baixa Verde, Pernambuco: estudo da relação entre a compartimentação geomorfológica
e a distribuição dos sistemas geoambientais. Recife. Dissertação de Mestrado –
Universidade Federal de Pernambuco. 183p
DREW, D. Processos interativos homem-meio ambiente. Bertrand Brasil. 3a. ed. Rio de
Janeiro. 1994.
JORGE, F. N.; e UEHARA, K. Águas de Superfície. In: OLIVEIRA, A. M. S.; BRITO,
S.Nertan A. Geologia de engenharia. São Paulo: Associação Brasileira de Geologia de
Engenharia, 1998.
LIMA, M. I. C. Análise de drenagem e seu significado geológico-geomorfológico,
Belém, Pará, UFPA, 2006, 222.
ROCHA, P. C.. Indicadores de Alteração Hidrológica no Alto Rio Paraná: Intervenções
Humanas e Implicações na Dinâmica do Ambiente Fluvial. Sociedade & natureza
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ROCHA, P. C.. Os processos geomórficos e o estado de equilíbrio fluvial no alto rio
Paraná, centro-sul do Brasil. Geosul (UFSC), v. 24, p. 153-176, 2009.