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Levantamentos geológicos no Túnel do Rossio

Geological survey of the Rossio tunnel

Almeida, I.M.1,2, Almeida, L.1, Gonçalves, J.1, Lains, J.1, Pinto, S.1, Azeredo, A.C.1,2,

Cabral, J.1,3, Cabral, M.C.1,2 e Marques, F.1,2 1 Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa 2 Centro de Geologia da Universidade de Lisboa 3 Laboratório de Tectonofísica e Tectónica Experimental, IDL [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected];

[email protected]; [email protected]; [email protected]; [email protected]

SUMÁRIO A convite da REFER - Rede Ferroviária Nacional, uma equipa de geólogos da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa está a acompanhar a reabilitação do Túnel do Rossio. Os trabalhos em curso incluem a substituição de grande parte do revestimento centenário, permitindo assim a observação do maciço geológico. Neste trabalho apresenta-se uma síntese da metodologia adoptada na recolha e tratamento da informação.

Palavras-chave: Túnel do Rossio; Choffat; Geologia; Lisboa

SUMMARY By commission of the National Railway Company - REFER, a team of geologists of the Faculty of Sciences of the University of Lisbon is performing a survey of the Rossio tunnel rock mass outcrops exposed during the engineering works in course, that include the rebuilding of a large part of the mostly more than one century old revetment. This paper addresses the methods used in data collection and processing in this project.

Key-words: Rossio tunnel; Choffat; Geology; Lisbon

Introdução O Túnel do Rossio, construído no final do século XIX, foi alvo ao longo dos tempos de diversas intervenções de conservação e manutenção [1]. Em Outubro de 2004 foi suspensa a circulação ferroviária por questões relacionadas com a segurança. Após a avaliação de vários cenários de intervenção, foi elaborado um projecto integrando diversas acções de reabilitação e beneficiação. O projecto realizado prevê, entre outras, a intervenção estrutural nas zonas degradadas com remoção e reconstrução de revestimentos e a construção em toda a extensão de uma plataforma de via em betão. A escavação do túnel no século XIX foi acompanhada por Paul Choffat, que em 1889 publicou um trabalho de referência, descrevendo as principais observações e conclusões sobre a Geologia do Túnel do Rossio [2]. As intervenções planeadas para esta fase permitirão, passados mais

de 100 anos, tornar de novo possível a observação do maciço rochoso em grande parte do traçado. A Rede Ferroviária Nacional (REFER), consciente da importância da oportunidade, solicitou a colaboração da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL). Para a realização deste trabalho foi criada uma equipa de 4 geólogos, contratados como bolseiros para efectuar o levantamento geológico no túnel, e 5 investigadores de diferentes especialidades, com a coordenação geral de I. Moitinho de Almeida. Considerando que as metodologias de estudo e os tempos de execução dos trabalhos de investigação a desenvolver são distintos, subdividiu-se o trabalho em duas fases: (1) acompanhamento das intervenções, com cartografia e amostragem sistemática; (2) estudo da amostragem e da informação recolhida. No âmbito do Protocolo estabelecido entre a REFER e a FCUL foi

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adjudicada a realização da 1ª fase, mantendo-se a perspectiva de continuação dos trabalhos na 2ª fase. Os trabalhos de levantamento geológico de acompanhamento das escavações, desenvolvidos pela equipa da FCUL, tiveram início em Setembro de 2005, prevendo-se que estejam concluídos em Agosto de 2006.

Trabalhos desenvolvidos De acordo com o projecto, os trabalhos de reabilitação e beneficiação são realizados em troços de largura variável, da ordem de 2 a 3 metros, nos calcários, e inferior a 1 metro, nas formações menos resistentes. Os trabalhos desenvolvem-se em várias frentes em simultâneo, 24 horas por dia, com apenas 2 pausas por mês. Os trabalhos a realizar em cada troço são agrupados em dois tipos principais. A intervenção estrutural nas zonas degradadas, numa extensão de 1.238m considera o desmonte por troços do revestimento e a construção de uma secção fechada em betão armado e a construção, em toda a extensão de 2.613m do Túnel, de uma plataforma de via contínua em betão [1]. Tendo em conta as condições de trabalho, o acompanhamento é realizado por 2 equipas de dois geólogos, que alternam o trabalho no Túnel com o trabalho de gabinete. O acompanhamento no Túnel é efectuado imediatamente após a finalização da escavação e antes do início da projecção de betão, observando-se e registando-se sistematicamente um conjunto de aspectos. Para sistematizar e organizar o trabalho de levantamento foi preparada uma ficha de registo de informação que inclui a localização, cartografia dos hasteais, abóboda e soleira, localização das fotografias e da amostragem. Cada uma das fichas, correspondendo a uma janela de observação, é numerada sequencialmente e referida nos perfis interpretativos pelo respectivo número. Entre o início dos trabalhos no túnel, a 16 de Setembro, e o final de Dezembro de 2005 foram realizadas 106 fichas, 2950 fotografias e colhidas 294 amostras [3]. O tempo de observação de cada janela e a quantidade de dados e de amostras recolhidas dependem muito das condições de observação e das litologias que vão sendo atravessadas. De Campolide para o Rossio, o Túnel atravessa as seguintes formações: (1) km 1+500 a 2+600 - formações do Cenomaniano; (2) km 1+000 a 0+900 - Complexo Vulcânico de Lisboa; (3) km 0+900 à boca do Rossio - formações miocénicas. Na fig.1, representando a cartografia geológica superficial, assinalam-se os troços onde, segundo o projecto, a construção de uma secção fechada em betão armado, exigindo a escavação do maciço, poderá permitir a observação de toda a secção. Nos restantes troços será apenas possível observar a soleira.

Simultâneamente com os trabalhos no Túnel tem vindo a realizar-se em gabinete o tratamento das fotografias e das fichas descritivas, que constituem o elemento principal da Base de Dados Geológicos. As amostras recolhidas são catalogadas e seleccionadas em número muito restrito para, numa abordagem prévia, permitir uma caracterização petrológica e análise do potencial conteúdo paleontológico.

Fig.1: Túnel do Rossio: Cartografia geológica: A –

2cC ; B – 3

cC ; C – β ; D –φ ; E - 1IM ; F - 1

IIM (adaptado de [4]). Traçado do Túnel: a branco – troços com escavação da secção; a preto – troços com intervenção apenas na soleira.

No total de cerca de 220 m, correspondentes aos troços completados nesta fase, a informação recolhida foi tratada, permitindo construir as respectivas colunas litostratigráficas e compará-las com as descrições de Choffat [2], tratar os dados da fracturação observada, e elaborar alguns perfis geológicos interpretativos. Nas fig.2 e fig.3 apresenta-se, como exemplo da metodologia utilizada, uma ficha descritiva e um dos perfis geológicos interpretativos, elaborado com base nas observações efectuadas e registadas nas fichas de observação, complementado com o registo fotográfico.

Agradecimentos Os autores agradecem à REFER o convite e o apoio à realização deste trabalho.

Referências Bibliográficas [1] REFER (2005) Túnel do Rossio, Caderno de Informação, Outubro de 2005 (www.refer.pt). [2] Choffat, P. (1889) Etude Géologique du Tunnel du Rocio. Contribution à la connaissance du sous-sol de Lisbonne. Commission des Travaux Géologiques du Portugal. [3] Almeida, I. (2006) Intervenção no acompanhamento dos trabalhos no Túnel do Rossio, Relatório Intercalar, Janeiro 2006 (não publicado). [4] Almeida, F. (1986) Carta Geológica do Concelho de Lisboa, Serviços Geológicos de Portugal.

A CB E D FRossio

Campolide

0 500m

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Fig.2: Exemplo de ficha de registo dos levantamentos no Túnel do Rossio (frente e verso).

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Fig. 3: Exemplo de perfil geológico interpretativo (redução ≈ 0,3x), elaborado com base nas fichas de observação e complementado com o registo fotográfico.


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