ANA LETÍCIA DE SOUZA CARVALHO
LIMBO PREVIDENCIÁRIO: SITUAÇÃO DOS EMPREGADOS E RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR E
DO INSS.
CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO
ARAÇATUBA
2019
ANA LETÍCIA DE SOUZA CARVALHO
LIMBO PREVIDENCIÁRIO:
SITUAÇÃO DOS EMPREGADOS E RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR E
DO INSS.
Trabalho de conclusão de Curso apresentado como requisito
parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito à Banca
Examinadora do Centro Universitário Toledo, sob orientação da
Profª Flávia Elaine Soaras Ferreira Lombardi
CENTRO UNIVERSITÁRIO TOLEDO
ARAÇATUBA
2019
Ana Letícia de Souza Carvalho
LIMBO PREVIDENCIÁRIO: SITUAÇÃO DOS EMPREGADOS E
RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR E DO INSS.
Trabalho de conclusão de Curso apresentado como requisito
parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito à Banca
Examinadora do Centro Universitário Toledo, sob orientação da
Profª Flávia Elaine Soaras Ferreira Lombardi
Aprovado em 16 de abril de 2019
BANCA EXAMINADORA
Profª Flávia Elaine Soaras Ferreira Lombardi
Profª Camila Paula de Barros Gomes
Profª Leiliane Rodrigues da Silva Emoto
Centro Universitário Toledo
DEDICATÓRIA
Aos meu pais, por me ensinarem sobre a dedicação e foça para
concretizar meus sonhos, e por sempre acreditarem na minha
capacidade.
A Deus, pelo sustento.
AGRADECIMENTOS
A minha família, pelo suporte e apoio em todos os meus passos.
A Deus, pelo sustento e pela fé.
A esta instituição e seu corpo docente.
RESUMO
A presente pesquisa trata da responsabilidade civil do empregador que impede o retorno do
empregado ao trabalho, após alta médica conferida pela previdência social, quando da
interrupção da percepção do benefício do empregado que ainda se encontra inapto ao
trabalho. A problemática abordada é a situação de limbo jurídico previdenciário-trabalhista
em que se encontra o trabalhador. Para que haja resposta, deve-se estudar as hipóteses de
suspensão e interrupção do contrato de trabalho sob o viés do ordenamento jurídico brasileiro,
assim como também se deve observar as temáticas como o limbo jurídico previdenciário-
trabalhista, possibilidade de responsabilidade do empregador e da previdência social, e os
parâmetros indenizatórios. Dessa forma, a abordagem desta pesquisa é realizada com cunho
bibliográfico e documental, sendo seu objetivo uma pesquisa exploratória. Para sua
construção, foram usadas análises doutrinárias, legais e jurisprudenciais, com intuito de
demonstrar que a situação de limbo jurídico previdenciário-trabalhista não deve ser admitida.
Ademais, serão expostas possibilidades jurídicas para empregado e empregador na seara
judicial.
Palavras-chave: Limbo jurídico previdenciário-trabalhista; Responsabilidade; Possibilidades
jurídicas na seara judicial.
ABSTRACT
The present research deals with the civil responsibility of the employer that prevents the
return of the employee to work, after medical discharge conferred by the Social Security,
when the perception of the benefit of the employee, who’s still unable to work. The problem
addressed is the situation of social security-labor limb in which the worker is. In order to have
an answer, one must study the hypotheses of suspension and interruption of the employment
contract under the bias of the Brazilian legal system, as well as the issues such as the social
security-labor limb, the liability of the employer and the social security, and the indemnity
parameters. In this way, the approach of this research is carried out with bibliographic and
documentary character, being its objective an exploratory research. For its construction, were
used doctrinal, legal and jurisprudential analyzes, in order to demonstrate that the situation of
social security-labor law should not be allowed. In addition, legal possibilities will be exposed
for employee and employer in the judicial sector
Keywords: social security-labor legal limbo; Responsibility; Legal possibilities in the
judiciary.
LISTA DE ABREVIATURAS
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil
INSS – Instituto Nacional do Seguro Social
TRT – Tribunal Regional do Trabalho
TST – Tribunal Superior do Trabalho
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
I PREVIDÊNCIA SOCIAL ................................................................................................... 12
1.1 Evolução histórica ......................................................................................................................................... 12
1.1.1 Previdência social no mundo ........................................................................................................................ 12
1.1.2 Previdência social no Brasil ......................................................................................................................... 14
1.2 Conceito de Previdência Social ..................................................................................................................... 15
II HIPÓTESES DE SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO CONTRATO DE
TRABALHO ........................................................................................................................... 18
2.1 Relação de emprego ....................................................................................................................................... 18
2.2Empregado........................................................................................................................................................19
2.3 Hipóteses de suspensão contratual ............................................................................................................... 19
2.4 Hipóteses de interrupção contratual ............................................................................................................ 25
2.5 Perícia médica no INSS e na empresa empregadora .................................................................................. 26
III - LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO ................................................................... 29
3.1 Limbo jurídico previdenciário trabalhistas e possibilidades jurídicas ..................................................... 29
3.2 Responsabilidade civil do empregador ........................................................................................................ 44
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 49
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 51
10
INTRODUÇÃO
A presente pesquisa visa expor uma situação recorrente de diversos empregados
brasileiros, prejudicados em razão de divergência de duas partes de seu contrato de trabalho e
de sua relação com a previdência social, qual seja a do limbo jurídico previdenciário
trabalhista.
Estudaremos, aqui, quais as razões que causam tal situação, e, segundos os Tribunais
do Trabalho, de quem é a responsabilidade pelos danos causados a estes trabalhadores no
período do supracitado limbo.
Previamente, podemos entender o limbo jurídico previdenciário trabalhista como o
empregado que, após período recebendo auxílio previdenciário, em razão de doença ou
acidente, no momento em que recebe alta previdenciária, tem seu retorno ao trabalho negado
pelo empregador, pois este considera inapto para exercer suas atividades laborais.
Será abordado, também, se há possibilidade de responsabilização da previdência
social, pois esta interrompe a percepção do benefício pelo empregado automaticamente, por
―alta programada‖ em razão do prazo para percepção, sem exame prévio para verificação de
aptidão ao retorno de suas atividades laborais, assim como serão estudadas quais as
possibilidades de resolução do conflito na seara judicial, por meio de estudos de casos
concretos.
A problemática pontuada será verificada no decorrer desta pesquisa, sendo certo que o
ordenamento jurídico deverá estabelecer uma solução em que o empregado não fique
prejudicado, por ser parte vulnerável da relação.
Iniciaremos o estudo do limbo jurídico pela evolução histórica da previdência social,
no Brasil e no mundo, para que se entenda a relevância deste direito e garantia fundamental.
Estudaremos, ainda, o que é uma relação de trabalho e a figura do empregado, além do estudo
das hipóteses de suspensão e interrupção do trabalho que geram direito à percepção de
benefício previdenciário.
Além disso, será abordada, de forma rápida e resumida, como se dá a perícia médica
feita pela Previdência Social, assim como a perícia médica realizada pelo empregador
particular.
Por fim, será pontuada a problemática principal, sendo esta o limbo previdenciário
trabalhista, sendo explicado como este se dá, suas razões e consequências, tanto para o
empregador, e principalmente para o empregado, por ser figura vulnerável na relação.
11
A exposição da presente temática se faz necessária pois se trata de ocorrência
corriqueira no cenário de muitos brasileiros, atingindo de forma negativa suas vidas e de suas
famílias, devendo receber atenção especial do judiciário, que tem atuado de forma bastante
positiva para estes trabalhadores.
A metodologia utilizada para esta pesquisa é a monográfica, utilizado o método
fenomenológico, uma vez que se baseia em comparações dos casos concretos, para atingir
uma generalização sobre o tema.
12
I PREVIDÊNCIA SOCIAL
1.1 Evolução histórica
1.1.1 Previdência social no mundo
Segundo pontua Marisa Ferreira Santos (2017), a criação da seguridade social se fez
necessária em razão da evolução socioeconômica, que acentua as desigualdades na sociedade.
Com a preocupação de suprir o sustento, o homem, em situação de carência econômica,
precisava de amparo do Estado, o que levou à busca pela instrumentalização da proteção
contra necessidades sociais.
Em um primeiro momento, em 1601, na Inglaterra, uma forma de caridade realizada e
organizada, principalmente, pela igreja e solidariedade dos demais cidadãos. Posteriormente,
o Estado transformou tal assistência pública em auxilio, fixando a Poor Law Act (Lei dos
pobres). No brasil, esta assistência foi prevista pela Constituição de 1824, que garantia os
socorros públicos (TSUTIYA, 2013).
Em 1883, na Alemanha, surgiu o conceito de seguro social, com a Lei Bismark, que
instituiu o seguro-doença aos trabalhadores. O seguro foi estendido à seguro de vida, contra
invalidez, danos e acidentes. Anteriormente à Lei de Bismark, o seguro decorria de contrato
facultativo, e dependia de pagamento de prestações, sendo privilégio de parte da população. A
partir de 1883, passou a ser visto como obrigatoriedade do Estado aos vulneráveis
economicamente. A seguridade social passou a ser, portanto, direito subjetivo do trabalhador
(ANDRADE, LEITÃO, 2012; HOMCI, 2009).
Nas palavras de Andre Studart Leitão (2016, p. 31):
Foi nesse cenário de enorme pressão social que surgiram as primeiras manifestações
normativas de caráter previdenciário. Em 1883, instituiu-se, na Alemanha de Otto
von Bismarck, o seguro-doença e, em seguida, o seguro de acidente do trabalho
(1884), o de invalidez (1889) e o de velhice (1889). Segundo a doutrina majoritária,
trata-se do marco inicial da previdência social no mundo.
Após o México, em sua Constituição de 1917 tratou da seguridade social como
garantia constitucional (NOLASCO, s.d.).
13
Porém, esta sistemática de seguro social não resistiu às consequências da Primeira
Guerra Mundial, em razão da cobertura para o grande número de prejudicados. Em 1919, com
o Tratado de Versalhes, foi implantado um Regime Universal de Justiça Social. Após a
Guerra, foi fundada a Repartição Internacional do Trabalho. Nas palavras de Marisa Ferreira
Santos, (2017, p. 33), assim se desenvolveu:
Foi, então, fundado o Bureau International Du Travail (BIT) — Repartição
Internacional do Trabalho — que realizou a 1ª Conferência Internacional do
Trabalho, à qual se atribui o desenvolvimento da previdência social e sua
implantação em todas as nações do mundo civilizado.
Dessa conferência resultou a primeira Recomendação para o seguro-desemprego. A
3ª Conferência (1921) recomendou a extensão do seguro social aos trabalhadores da
agricultura. A 10ª Conferência (1927) estendeu as demais Convenções e
Recomendações sobre o seguro-doença aos trabalhadores da indústria, do comércio
e da agricultura.
Posteriormente, em conferências futuras, os seguros foram estendidos à velhice,
invalidez e morte, assim como ficou regulamentado o seguro contra o desemprego.
Em 1942, no Reino Unido, fora elaborado, pela Comissão dos Problemas de
Reconstrução, presidida por Willian Beverigde, o Plano Beverigde. O plano possuía foco em
amparar os afetados pelas consequências da Segunda Guerra Mundial, existindo a necessidade
de proteção social que alcançasse todas as pessoas em necessidade, e não só resguardar os
trabalhadores. Desta forma, surgiu o conceito de Seguridade Social, destacado o papel do
Estado, que por meio de políticas públicas, deveria garantir a proteção social (ANDRADE e
LEITÃO, 2012; TSUTIYA, 2013).
Segundo Marisa Ferreira Santos (2017), da conferência da OIT, em 1944, resultou a
Declaração da Filadélfia, unificando os sistemas do seguro social, e estendendo a proteção a
todos os trabalhadores (rurais e autônomos) e suas famílias.
Em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos reconheceu a seguridade
social como direito de qualquer pessoa, como pontua André Studart Leitão (2016).
Posteriormente, em 1952, na 35ª Conferência Internacional do Trabalho, da OIT, foi
aprovada a convenção nº 102, a qual, segundo Marisa Ferreira Santos (2004, apud SANTOS,
2017, p. 35):
―A Convenção n. 102 é o resultado de estudos de especialistas da OIT, que, de
início, tiveram a incumbência de elaborar um convênio que tivesse duas secções:
uma que estabelecesse uma norma mínima, um standard de seguridade social; e
outra, uma norma superior, que desse proteção a todas as necessidades. O objetivo
do estabelecimento desses dois tipos de normas era viabilizar a participação de um
grande número de Estados, que ficariam comprometidos em implantar os padrões
14
mínimos de seguridade social, sem, contudo, descuidarem-se de seguir o exemplo de
países mais avançados no implemento de modernas técnicas de proteção social.
Entretanto, a norma superior foi separada e sua aprovação fico ou sem definição de
prazo, restando aprovada a norma mínima pela Convenção n. 102.‖ (Marisa Ferreira
dos Santos, O princípio da seletividade das prestações de seguridade social. São
Paulo: LTr, 2004, p. 15)
1.1.2 Previdência social no Brasil
Segundo Marisa Ferreira Santos, no cenário brasileiro, o conceito de previdência
surgiu de forma abstrata e genérica, como ―socorros públicos‖, na constituição de 1824.
Apesar de disposto no texto legal, foi concebido como um ―direito inútil‖, pois, como pontua
Lincoln Nolasco, os cidadãos não tinham meios para exigi-lo.
Em seguida, no ano de 1888, a primeira legislação específica de Direito Previdenciário
concedeu aposentadoria aos empregados dos correios, com a edição do Decreto 9.912-A, de
março do referido ano, além da criação dos Caixas de Socorros, nas estradas de ferro, pela Lei
3.397 (HOMCI, 2009).
Flávia Cristina Moura de Andrade e André Studart Leitão (2012) pontuam que,
posteriormente, a primeira Constituição Federal (Constituição Republicana), em 1891,
reconheceu como direito a aposentadoria dos funcionários públicos em razão de invalidez. A
aposentadoria concedida não dependia de contribuição por parte do funcionário público,
sendo totalmente custeada pelo Estado.
Em 1923, foi implantada a Lei Eloy Chaves (Decreto n. 4.682, de 24 de janeiro de
1923), que determinou a criação de um Caixa de Aposentadoria e Pensões para os
funcionários ferroviários, considerada marco inicial da Previdência Social no Brasil, pois a
partir dela surgiram diversos outros caixas de contribuição (EDUARDO, EDUARDO, 2016).
A Constituição de 1934 foi a primeira a prever o sistema previdenciário custeado por
três partes, como conhecido atualmente: Estado, empregados e empregadores contribuem
(tríplice forma de custeio), sendo as contribuições obrigatórias (HOMCI, 2009; ANDRADE,
LEITÃO, 2012).
Segundo Lincoln Nolasco, em 1946, a Carta magna previu a obrigatoriedade de o
empregador assegurar o empregado contra os acidentes de trabalho (NOLASCO, s.d.).
15
Em seguida, no ano de 1960, fora editada a Lei Orgânica da Previdência Social (nº
3.807/1960), responsável por unificar todos os dispositivos infraconstitucionais em um só
texto, servido de norte ao sistema da seguridade social (LEITÃO, 2016).
Arthur Homci (2009) e Augusto Massayuki (2013) pontuam que a Constituição de
1967, por sua vez, inseriu no texto constitucional a proteção contra o desemprego e o salário-
família, trazendo à Carta Magna o que antes se tratava de legislação infraconstitucional, com
o advento da Emenda nº 01 de 1969. Houve, também, a unificação dos institutos, por meio da
criação do INPS (Instituto Nacional da Previdência Social). Além disso, foi introduzido no
texto constitucional a obrigatoriedade de discriminar a fonte do custeio dos seguros criados.
De acordo com Marisa Ferreira Santos (2017) e Andre Studart Leitão (2016), na
Constituição Federal de 1988, a seguridade social tomou forma em seu artigo 6º, dispondo da
seguridade social como um direito social, composta pelo direito à saúde, assistência social, a
previdência social, e a assistência aos desamparados, dentre outros.
Por sua vez, o artigo 194 do texto supramencionado dispõe que a seguridade social é
um conjunto de ações de iniciativa da sociedade e dos Poderes Públicos, para assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social. Por este dispositivo, é de fácil
visualização que a seguridade social é composta por três direitos: a saúde, previdência e
assistência social (SANTOS, 2017).
Por fim, diversas legislações infraconstitucionais foram criadas para regular a
Previdência Social, criando, dentre outras coisas, o INSS (Instituto Nacional do Seguro
Social), além de legislar sobre a previdência dos funcionários públicos, e fazer menção à
previdência privada como forma de complementação (NOLASCO, s.d.; ANDRADE,
LEITÃO, 2012).
1.2 Conceito de Previdência Social
De acordo com Italo Romano Eduardo e Jeane Tavares Aragão (2016, p. 21), a
Previdência Social pode ser compreendida como ―um conjunto integrado de ações de
iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, para assegurar os direitos relativos à saúde, à
previdência e à assistência social‖. Tais direitos estão disciplinados no artigo 194 da Carta
Magna.
16
Os Direitos Sociais estão incluídos no rol de direitos fundamentais e, portanto, o
Estado deve agir diante de problemas sociais, tais como a desigualdade econômica e social
(CASTRO, LAZZARI, 2017).
Para Marisa Ferreira Santos (2017), a Previdência Social se trata de normas de
proteção social, garantindo o bem-estar e reduzindo as desigualdades, com fundamento na
solidariedade, e se destinam a proporcionar uma sobrevivência digna aos indivíduos que se
encontram doentes, inválidos, desempregados, ou que, diante de outras razões, não tenham
condições de prover seu sustento ou de sua família.
Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari (2017) pontuam que o seguro
social é um modo de intervenção estatal na economia e nas relações privadas, sendo sua
função assegurar o bem comum da sociedade. De tal forma, discorrem:
Nesse sentido, impõe-se afirmar que concordamos seja necessária a intervenção
estatal, uma vez que, conforme a própria doutrina internacional preconiza, o Estado
utiliza a regulamentação e a prestação de serviços no campo previdenciário para
fazer frente às falhas do mercado, no que tange aos ingressos jubilatórios ³, ou seja, a
fim de garantir um regime que trate isonomicamente a todos os trabalhadores –
garantia esta não concedida por um regime de previdência puramente privada -,
permitindo o acesso universal aos meios previdenciários.
Segundo Italo Romano e Jeane Tavares (2016), a seguridade possui caráter universal,
ou seja, deve abranger toda e qualquer situação social que gere necessidade de proteção ao
indivíduo. Além disso, deverá atender qualquer pessoa, sem distinções. Apesar deste caráter, a
previdência possui caráter contributivo, devendo ser paga contribuição para usufruir de seus
serviços.
Se trata, portanto, de seguro compulsório, pois todo trabalhador deve contribuir com a
previdência social, assim como os empregadores e o Poder Público. O caráter contributivo e
de filiação obrigatória estão previstos no texto constitucional, em seu artigo 201 (2015,
Ministério da Economia).
Para Andre Studart Leitão (2016), a Previdência Social muito se assemelha com os
contratos de seguro privado, onde, na pretensão de usufruir do serviço de asseguradora, diante
de determinados eventos, o sujeito paga uma contraprestação. Desta forma, o autor dispõe
(201, p. 52):
O Seguro Social é muito semelhante ao seguro privado. A lógica da relação é
praticamente a mesma. Para garantir a cobertura em face de determinados eventos
sociais (morte, invalidez, doença, maternidade, idade avançada, etc.), o sujeito deve
efetuar o pagamento de um montante (chamado de contribuição previdenciária) ao
Regime Geral de Previdência Social (RGPS)
17
Por sua vez, a Seguridade Social é financiada, segundo o artigo 194 do Decreto nº
3.048/199, e o artigo 195, da Constituição Federal, ―por toda a sociedade, de forma direita e
indireta, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios e de contribuições sociais.‖. Portanto, como pontua Marisa Ferreira
Santos, o financiamento do sistema é de responsabilidade de toda a sociedade. Isso porque a
desigualdade social é problema social que atinge a todos. De tal forma, a supracitada autora
(2017, p. 37) dispõe que, ―Para ter direito subjetivo à proteção da previdência social, é
necessário ser segurado, isto é, contribuir para o custeio do sistema‖.
O órgão responsável pelo controle e administração da previdência social é o INSS
(Instituto Nacional do Seguro Social), sendo Autarquia Federal, e que, segundo Andre Studart
Leitão (2016, p. 52):
Finalmente, o INSS é Autarquia Federal que tem por finalidade promover o
reconhecimento, pela Previdência Social, de direito ao recebimento de benefícios
por ela administrados, assegurando agilidade, comodidade aos seus usuários e
ampliação do controle social (art. 1º do Regime Interno do INSS, aprovado pela
Portaria MPS n. 296/2009. Criado em 1990 pela Lei n. 8.029/90, resultou da fusão
do INPS (Instituto Nacional de Previdência Social), com o IAPAS (Instituto de
Administração Financeira da Previdência Social).
A previdência social é organizada, segundo o Ministério da Economia (2015), em três
regimes distintos e independentes entre si, sendo estes: o Regime Geral (RGPS – de caráter
contributivo e filiação obrigatória, sendo contribuintes os empregados, empregadores,
autônomos, domésticos, contribuintes individuais e trabalhadores rurais); Regime Próprio
(RPPS – para os servidores públicos, sendo compulsório, excluídos do grupo os empregados
das empresas públicas, agentes político, servidores detentores de cargo de confiança e os
temporários, e todos aqueles filiados ao RGPS); e, por fim, o Regime Complementar (RPC –
facultativo e autônomo, não vinculado ao RGPS).
Assim sendo, como pontuam Castro e Lazzari (2018), a previdência social e composta
por mais de um regime jurídico, sendo que o RGPS é contributivo e abarca o maior número
de indivíduos.
Demonstrada a origem do direito fundamental à segurança social e o conceito de
Previdência Social para os dias atuais no cenário brasileiro, passa-se ao estudo das hipóteses
de cabimento dos seguros sociais, com foco naqueles onde há suspensão temporária do
serviço.
18
II HIPÓTESES DE SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DO CONTRATO
DE TRABALHO
2.1 Relação de emprego
Segundo a CLT, em seu artigo 442, ―Contrato individual de trabalho é o acordo tácito
ou expresso, correspondente à relação de emprego‖. Esta relação se caracteriza pelo nexo
entre empregado e empregador, baseada na prestação pessoal de serviço de forma não
eventual, com subordinação e pagamento do salário pela prestação do serviço.
A relação de emprego pode ser conceituada, conforme Carla Romar (2018, p.129):
A relação de emprego é uma espécie de relação de trabalho, que se baseia no nexo
entre empregador e empregado, caracterizado pela prestação pessoal de serviços, de
forma não eventual e subordinada, mediante o pagamento de salário.
Nas palavras de Sérgio Pinto Martins (2018, p. 77):
O contrato de trabalho é, por conseguinte, um pacto de atividade, pois não se
contrata um resultado. Deve haver continuidade na prestação de serviços, que
deverão ser remunerados e dirigidos por aquele que obtém a referida prestação.
Nota-se a existência de um acordo de vontades, caracterizando a autonomia privada
das partes.
Observa-se, portanto, que as características da relação de emprego são:
a) A pessoalidade, existente para que aquela pessoa física preste pessoalmente os
serviços para qual fora contratada;
b) A subordinação, que permite ao empregador dirigir e fiscalizar a prestação do
serviço, assim como punir o empregado;
c) A onerosidade, vez que para que haja prestação de serviços, se faz necessária
contraprestação pecuniária, sendo, desta forma, vantagem recíproca as partes;
d) A habitualidade, exigindo que o serviço seja prestado de forma não eventual, ou
seja, as obrigações se prolongam no tempo, de forma rotineira.
Análise feita, passa-se a discutição da figura do empregado.
19
2.2 Empregado
A figura do empregado está disciplinada no artigo 3º da CLT, basicamente, como toda
pessoa física que, mediante subordinação e contraprestação, oferece seus serviços a outrem,
de forma habitual, sendo disciplinada na parte final do artigo 2º da CLT a necessidade da
pessoalidade na prestação dos serviços. É, portanto, aquele que presta os serviços na relação
de emprego.
Para a maior parte dos doutrinadores, dentre eles Sérgio Pinto Martins (2018) e Carla
Romar (2018), o requisito da pessoalidade se vê cumprido pela repetição dos serviços a
mesmo empregador, diariamente. Quer dizer que aquele contratado deve executar os serviços,
sendo que sua substituição apenas se dará pelo empregador ou com o consenso deste, de
pedido do empregado para tanto.
Dessa forma, não significa dizer que o trabalhador presta serviços de forma
personalíssima (só por ele pode ser prestado, sob pena de extinção do contrato).
Além do mais, para ser empregado, o sujeito deve ser capaz, entendida a capacidade
como, segundo Carla Romar (2018, p.192)
Capacidade é a aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações e para exercer por si
ou por outrem os atos da vida civil. Decorre da aquisição da personalidade e é
prevista no art. 1º do Código Civil, que assim estabelece: ―Toda pessoa é capaz de
direitos e deveres na ordem civil‖.
Para Sérgio Pinto (2018, p. 90), para se caracterizar a figura do empregado, se faz
necessário: ―São cinco os requisitos a verificar para efeito de se constatar a condição de
empregado: a) pessoa física; b) não eventualidade na prestação de serviços; c) dependência; d)
pagamento de salário; e) prestação pessoal de serviços.‖
Assim, verificados tais requisitos, se faz presente a figura do empregado na relação de
emprego.
2. 3 Hipóteses de suspensão contratual
20
De acordo com a doutrina e jurisprudência trabalhista, em regra, durante a suspensão
do contrato de trabalho não há prestação de serviços pelo empregado, assim como não há
contraprestação a ser paga pelo empregador, além de que, no período de suspensão, o tempo
de trabalho não será computado.
Nas palavras de Maurício Godinho Delgado (2017, p 1203), a suspensão contratual
pode ser explicada como:
A suspensão contratual é a sustação temporária dos principais efeitos do contrato de
trabalho no tocante às partes, em virtude de um fato juridicamente relevante, sem
ruptura, contudo, do vínculo contratual formado. É a sustação ampliada e recíproca
de efeitos contratuais, preservado, porém, o vínculo entre as partes.
Nas palavras de Sérgio Martins (2018, p. 162): ―Ocorre suspensão do contrato de
trabalho, para a maioria dos autores, quando a empresa não deve pagar salários, nem contar o
tempo de serviço do empregado que estiver afastado.‖
De acordo com o entendimento de Vólia Bonfim Cassar (2017) forma geral, é um
período em que o contrato não será executado, havendo paralização das principais cláusulas
contratuais.
Além disso, conforme pontuado pela doutrina, durante a suspensão, não pode haver
demissão imotivada do empregado. Nada impede, porém, que o contrato por prazo
determinado tenha fim, pois há morte natural do contrato. O que se impede é a demissão
imotivada do empregado em razão da suspensão. Há também a possibilidade de demissão,
durante a suspensão, por justa causa.
A suspensão deve se dar nas formas expressas em lei, não podendo ser estipulada por
empregado e empregador, pois haveria prejuízo ao empregado, que não receberia a
remuneração. Sobre esta estipulação da suspensão contratual, Vólia Cassar (2017, p. 972):
As partes não podem estipular a suspensão do contrato fora dos casos expressamente
previstos em lei, pois isto prejudica o empregado que fica o período sem receber
salários, salvo se foi por ele expressamente requerido e em seu benefício. Portanto,
as ―licenças sem vencimentos‖ impostas por alguns empregadores aos seus
empregados, situação muito comum com professores universitários, são nulas de
pleno direito, podendo o empregado aplicar a justa causa ao empregador por
descumprimento grosseiro do contrato – art. 483, d, da CLT (não dar trabalho)
Da cessação da suspensão, o empregado terá o prazo de 30 dias para retornar às suas
atividades laborais, implicando em justa causa para demissão caso o trabalhador não
compareça à empresa em tal prazo.
21
São hipóteses de suspensão contratual, pontuadas por inúmeros doutrinadores:
I) Serviço militar obrigatório: Segundo os doutrinadores Vólia Cassar, Renato
Saraiva e Rafael Souto, o serviço militar obrigatório leva à suspensão contratual pois, neste
período, o empregado não receberá ônus salarial.
Esta hipótese de suspensão se encontra disciplinada no art. 472, da CLT.
Carla Romar complementa, ainda, que apesar da suspensão do contrato, alguns efeitos
deste serão mantidos, como a contagem do tempo de serviço, computo do período de trabalho,
antes do afastamento para serviço militar; e a obrigatoriedade do empregado de manter o
depósito do FGTS.
II) Encargos civis públicos: pelos ensinamentos de Vólia Cassar, quando há
designação ou eleição de um empregado para cargo público faz suspender o contrato, exceto
se houver lei ou ajuste em contrário.
Segundo Rafael Souto e Renato Saraiva, esse afastamento esse afastamento não gera
motivo para rescisão ou alteração do contrato.
III) Mandato Sindical (art. 543, §2º, da CLT): Como bem explicado por Carla
Romar e Vólia Cassar, há situação em que o empregado consegue desempenhar sua função no
sindicado e na empresa, sem a necessidade de suspender ou interromper o contrato de
trabalho.
Porém, não raras vezes, quando eleito dirigente sindical, o contrato de trabalho ficará
suspenso pela incompatibilidade de horário com seu trabalho. Nesse caso, não comparecerá a
empresa, e nem perceberá salários.
Sob a perspectiva destes doutrinadores, a suspensão pode, também, ser parcial. Ocorre
que o comparecimento ao sindicato se dê de forma intercalado, ficando o contrato suspenso,
nesse acaso, apenas pelos dias ou horas que o empregado não se encontrar na empresa.
Necessário cientificar o empregador das ausências, sob pena de justa causa.
Além disso, será considerado como interrupção contratual, pelo art. 473, inciso XI da
CLT, quando o empregado estiver representando a entidade sindical em reunião oficial de
organismo internacional do qual o Brasil seja membro.
IV) Suspensão disciplinar: segundo Vólia Cassar, é punição ao empregado que
praticar falta de média gravidade, segundo o art. 474 da CLT, tendo duração máxima de 30
dias, sob pena de extinção do contrato sem justa causa. Durante esse período, o empregado
não recebe salários.
V) Suspensão do estável para responder a inquérito judicial: Segundo a doutrina
trabalhista, é faculdade legal do empregador suspender o contrato de trabalho no curso do
22
inquérito judicial, de acordo com o art. 494 da CLT. Poderá demitir o empregado estável,
portanto, somente quando da procedência da acusação.
Caso o empregador suspenda o contrato, de acordo com a súmula nº 403 do STF, terá
o prazo de 30 dias para ajuizar o inquérito e, não o fazendo, quando o empregado retornar ao
emprego, deve rever os salários do período. Isso por que o prazo é decadencial.
Do trânsito em julgado da sentença, que se improcedente, há o retorno do empregado à
atividade laboral, e o período em que ficou afastado passa a ser considerado de interrupção,
sendo devido ao empregado os salários que a ele não foram pagos no período de afastamento.
Caso seja julgado procedente, o contrato será extinto com a sentença, considerado o
tempo de afastamento como suspensão contratual.
VI) Diretor eleito de S/A: Segundo a Súmula 269 do TST, ao ser eleito diretor de
S/A, há suspensão do contrato. De acordo com Vólia Cassar, isso ocorre, pois, o diretor da
S/A é quem administra, gere e comanda a sociedade. Deixa de ser subordinado a empresa, e
passa a comandá-la.
Nas palavras de Renato Saraiva e Rafael Souto (2018, p.155)
o empregado eleito diretor de S.A. tem seu contrato de emprego suspenso, salvo se
permanecer a subordinação jurídica inerente à relação de emprego, hipótese em que
o contrato de trabalho continuará produzindo seus regulares efeitos, conforme
entendimento consubstanciado na Súmula 269 do TST;
VII) Greve (Lei nº 7.783/89): o art. 7º da Lei nº 7.783/89 prevê a suspensão do
contrato durante o período de greve, quando não haverá prestação de serviço e
contraprestação.
Porém, segundo os ensinamentos de Vólia Cassar, se determinado no julgamento do
dissídio que o empregador deve pagar os salários, ou se esse o faz espontaneamente, o período
é de interrupção, e não de suspensão.
VIII) Auxílio-doença e afastamento por acidente:
Para a maioria da doutrina trabalhista, o afastamento em razão de doença ou acidente
se trata de hipótese de suspensão contratual, sendo que havendo afastamento por esses
motivos, nos 15 primeiros dias há interrupção contratual, vez que o empregador é responsável
por remunerar o empregado. Haverá a suspensão do contrato a partir do 16º dia do acidente de
trabalho ou da doença, sendo devido o auxílio pela Previdência Social, além de que o
empregado continua obrigado ao depósito do FGTS. Além disso é computado para todos os
fins o tempo de serviço do período de suspensão.
23
O auxílio-doença é hipótese de suspensão do contrato de trabalho e, com base nos
artigos 59 e 60 da Lei nº 8.213/91 c/c o art. 476 da CLT, a doença que acarretar o afastamento
do empregado pode fazer com que, nos 15 primeiros dias de afastamento, haja interrupção do
contrato e, a partir do 16º, haja suspensão contratual, de modo que não haverá mais
contraprestação paga pelo empregador, sendo devido ao INSS disponibilizar a percepção do
auxílio-doença (benefício previdenciário).
Portanto, ―é um benefício concedido ao segurado impedido de trabalhar por doença ou
acidente, ou por prescrição médica‖ (CASSAR, 2018).
O auxílio doença depende de carência de 12 meses, salvo se decorrente de acidente de
trabalho, hipótese em que não há carência.
O art. 75 do Decreto nº 3.048/99 dispõe:
Art. 75 - Durante os primeiros 15 dias consecutivos de afastamento da atividade por
motivo de doença, incumbe à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário.
§ 1º Cabe à empresa que dispuser de serviço médico próprio ou em convênio o
exame médico e o abono das faltas correspondentes aos primeiros 15 dias de
afastamento.
§ 2º Quando a incapacidade ultrapassar 15 dias consecutivos, o segurado será
encaminhado à perícia médica do Instituto Nacional do Seguro Social.
§ 3º Se concedido novo benefício decorrente da mesma doença dentro de 60 dias
contados da cessação do benefício anterior, a empresa fica desobrigada do
pagamento relativo aos 15 primeiros dias de afastamento, prorrogando-se o
benefício anterior e descontando-se os dias trabalhados, se for o caso.
§ 4º Se o segurado empregado, por motivo de doença, afastar-se do trabalho durante
15 dias, retornando à atividade no décimo sexto dia, e se dela voltar a se afastar
dentro de 60 dias desse retorno, fará jus ao auxílio-doença a partir da data do novo
afastamento.
§ 5º Na hipótese do § 4º, se o retorno à atividade tiver ocorrido antes de 1511
dias do
afastamento, o segurado fará jus ao auxílio-doença a partir do dia seguinte ao que
completar aquele período.
Para a doutrina e jurisprudência, a doença será comprovada por meio de atestado
médico, emitido por médico da empresa ou convênio, e por médico da Previdência Social,
credenciado ao SUS, Sesc, Sesi. Se não existirem, empregado pode escolher médico
particular.
Destaca, ainda, que não será devido o auxílio-doença ao segurado que, da filiação ao
RGPS, já for portador da doença que justificaria a concessão do benefício. Porém, se a
incapacidade perdurar, havendo sua progressão ou agravamento, fará jus ao benefício. Desta
forma, não há impedimento à filiação ao RGPS por doença cujo o agravamento é progressivo,
não havendo, assim, impedimento para concessão dos benefícios por incapacidade.
Porém, tal concessão é vedada quando do reingresso do segurado ao RGPS, que
possua doença preexistente a este, sendo disciplinado pela Súmula n.º 53 da TNU: ―Não há
24
direito a auxílio-doença ou a aposentadoria por invalidez quando a incapacidade para o
trabalho é preexistente ao reingresso do segurado no Regime Geral de Previdência Social‖.
Segundo a Súmula nº 72 da TNU, o empregado pode receber o benefício pelo período
em que esteve trabalhando e recebendo salário, caso comprovada sua incapacidade para as
atividades habituais na época em que prestou serviços.
O art. 76 do Decreto n.º 3.048/1999 disciplina que o INSS deve processar o benefício
de ofício, assim que obtiver ciência da incapacidade do empregado. Porém, a Previdência
Social entende que o benefício apenas será concedido após provado por atestado e perícia
médica realizada pela própria Previdência, retirando o caráter imediato da concessão do
benefício.
IX) Aposentadoria por invalidez: De acordo com o art. 475 da CLT: ―O empregado
que for aposentado por invalidez terá suspenso o seu contrato de trabalho durante o prazo
fixado pelas leis de previdência social para a efetivação do benefício.‖
A aposentadoria por invalidez é, portanto, uma aposentadoria provisória. Em relação
ao seu prazo máximo de duração, a jurisprudência trabalhista entendeu que o prazo de
suspensão é igual ao da aposentadoria por invalidez, mesmo que superior a cinco anos. Após
o prazo, o trabalhador retorna às atividades laborais.
X) Faltas injustificadas: no entendimento de Renato Saraiva e Rafael Souto (2018)
―as faltas injustificadas ao serviço configuram hipótese de suspensão do contrato do trabalho,
não fazendo jus o obreiro à remuneração do dia da ausência como também perdendo a
remuneração do repouso semanal‖
XI) Afastamento por até seis meses: Dispõe o art. 9º, § 2º, II, da Lei nº 11.340/2006,
que a mulher em situação de violência doméstica poderá ser afastada do ambiente de trabalho,
por até seis meses, não sendo devidos salários por este período. Por este motivo se considera
suspensão contratual.
XII) Trabalho intermitente: O trabalhador intermitente presta seus serviços de forma
que terá períodos de trabalho e de inatividade. Os períodos de inatividade são considerados
como suspensão do contrato, pois não há prestação de serviço ou contraprestação. Além do
mais, o tempo de serviço desse período não será computado para qualquer fim, assim como
não se recolhe o período do FGTS.
XIII) Suspensão para curso: De acordo com o art. 476-A da CLT:
O contrato de trabalho poderá ser suspenso, por um período de dois a cinco meses,
para participação do empregado em curso ou programa de qualificação profissional
oferecido pelo empregador, com duração equivalente à suspensão contratual,
25
mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho e aquiescência
formal do empregado, observado o disposto no art. 471 desta Consolidação
Desta forma, é possível a suspensão do contrato para participação do empregado em
curso profissionalizante, oferecido pelo empregador. A suspensão terá a mesma duração do
curso e, caso não haja curso ministrado no período em que o contrato ficou suspenso, será
devido ao empregado o pagamento dos salários, pois descaracterizada a suspensão, além de
multa.
Segundo Sérgio Pinto Martins (2018) o contrato não pode ser suspenso mais de uma
vez pelo mesmo motivo no período de 16 meses.
Analisadas as hipóteses, se faz claro o entendimento sobre a suspensão contratual,
sendo aquela que interrompe as cláusulas do contrato, onde o empregado não prestará
serviços, assim como o empregador não deverá contraprestação neste período de afastamento.
2.4 Hipóteses de interrupção contratual
Ocorre a interrupção do contrato de trabalho quando o empregado deixa de prestar
seus serviços e continua recebendo salário do empregador. Durante o afastamento, será
computado o tempo de serviço do trabalhador.
Nas palavras de Sérgio Pinto Martins (2018), durante o afastamento do empregado por
interrupção, se faz necessário o pagamento dos salários, e a contagem do tempo de serviço.
Segundo Maurício Godinho (2018, p. 1203)
a interrupção contratual é a sustação temporária da principal obrigação do
empregado no contrato de trabalho (prestação de trabalho e disponibilidade perante
o empregador), em virtude de um fato juridicamente relevante, mantidas em vigor
todas as demais cláusulas contratuais
As hipóteses legais de interrupção contratual estão dispostas no artigo 473 da CLT,
denominadas por Vólia Cassar (2017) como ausências legais. Sérgio pinto Martins (2018), as
pontua como sendo:
- Afastamento em razão de falecimento do cônjuge, ascendente, descente, irmão ou
pessoa sua dependência econômica, por até dois dias;
- em razão de casamento, por até três dias;
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- nascimento do filho, por um dia;
- doação de sangue, por um dia, em cada 12 meses de trabalho;
- alistamento eleitoral, por até dois dias;
- nos dias comprovados para realização de exame vestibular;
- comparecimento do empregado ao juízo, pelo tempo que necessitar;
- comparecimento do representante sindical a reunião oficial de organismo
internacional do qual o Brasil faça parte, pelo tempo que se fizer necessário;
- acompanhamento de consultas médicas da gestante esposa ou companheira, por até
dois dias;
- acompanhamento do filho de até seis anos a consultas médicas, por um dia;
- no período que precisar cumprir as exigências do serviço militar.
Além dessas hipóteses, se faz possível o afastamento do empregado em razão de
férias, sendo tipificado como interrupção contratual, também, os 15 primeiros dias do
afastamento por acidente de trabalho ou auxílio doença, a licença-maternidade e paternidade.
A licença-maternidade está prevista no artigo 7º, inciso XVIII da Constituição Federal.
Segundo Carla Romar (2018, p 538):
Durante a licença-maternidade, a empregada se afasta do trabalho, mas tem direito à
remuneração integral. Todos os demais efeitos do contrato são verificados, como,
por exemplo, a contagem do tempo de serviço para todos os fins e a efetivação pelo
empregador dos depósitos do FGTS na conta vinculada da trabalhadora.
Há previsão na CLT, em seu artigo 395, do afastamento da empregada que sofrer
aborto espontâneo, por duas semanas, recebendo salário neste período.
2.5 Perícia médica no INSS e na empresa empregadora
Do afastamento do empregado em razão de doença ou acidente de trabalho, para que
seja considerado inapto ao trabalho, é necessário que se faça perícia médica para
comprovação de tal situação. O Regulamento da Previdência Social (Decreto 3048/99) traz
como deverá ser realizada a perícia médica.
Nos quinze primeiros dias de afastamento, a empresa empregadora é responsável pelo
pagamento dos salários do empregado afastado, devendo realizar a perícia por médico
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contratado ou por convênio particular, que concederá a alta médica. Desta forma, dispõe o
artigo 75, do Decreto 3048/99: ―Durante os primeiros quinze dias consecutivos de
afastamento da atividade por motivo de doença, incumbe à empresa pagar ao segurado
empregado o seu salário. (Redação dada pelo Decreto nº 3.265, de 1999)‖ (Brasil, online).
Passados os primeiros quinze dias, se mantida a condição de inaptidão do empregado
afastado, este deixará de perceber os salários pagos pelo empregado, e começará a receber
benefício da Previdência Social. Esta, por sua vez, realizará perícia médica para verificação
da inaptidão ao trabalho do empegado. Neste sentido, dispõe o §2º do artigo 75, do Decreto
3048/99 (Brasil, online):
Quando a incapacidade ultrapassar quinze dias consecutivos, o segurado será
encaminhado à perícia médica do INSS, que o submeterá à avaliação pericial por
profissional médico integrante de seus quadros ou, na hipótese do art. 75-B, de
órgãos e entidades públicos que integrem o Sistema Único de Saúde - SUS,
ressalvados os casos em que for admitido o reconhecimento da incapacidade pela
recepção da documentação médica do segurado, conforme previsto no art. 75-A.
(Redação dada pelo Decreto nº 8.691, de 2016)
Caso haja impossibilidade de realização da perícia, dispõe o artigo 60, §5º da Lei
8.213/91, segundo João Lazzari (2018, p 375):
nos casos de impossibilidade de realização de perícia médica pelo órgão ou setor
próprio competente (do INSS), assim como de efetiva incapacidade física ou técnica
de implementação das atividades e de atendimento adequado à clientela da
previdência social, o INSS poderá, sem ônus para os segurados, celebrar, nos termos
do regulamento, convênios, termos de execução descentralizada, termos de fomento
ou de colaboração, contratos não onerosos ou acordos de cooperação técnica para
realização de perícia médica, por delegação ou simples cooperação técnica, sob sua
coordenação e supervisão, ―com órgãos e entidades públicos ou que integrem o
Sistema Único de Saúde (SUS)‖. Os demais incisos propostos para o referido
parágrafo foram vetados pela Presidência da República.
Segundo o Regulamento da Previdência social, por seu artigo 75-A, será aceito o
atestado médico reconhecendo a incapacidade laboral, e por consequência havendo a
liberação do benefício, expedido pelo médico do próprio Instituto Nacional da Seguridade
Social, quanto de médico contratado pelo segurado, nos casos de pedido de prorrogação do
benefício ou concessão inicial do mesmo, quando o segurado estiver internado em unidade de
saúde.
Porém, o texto do §4º do mesmo artigo dispõe que apesar de tal permissão, nada
impede que o INSS possa requisitar exame médico do empregado afastado, a qualquer tempo,
para verificação da incapacidade.
28
Segundo João Lazzari (2018) pela leitura do §1º, artigo 75 do regulamento, a perícia
médica poderá ser realizada nas unidades da Previdência social ou do SUS (sistema único de
saúde).
Além disso, é necessário que a Previdência Social permita ao empregado produzir
provas em face do resultado da perícia médica, não podendo decidir quanto a existência ou
não da incapacidade sem que isso se realize.
De acordo com o § 6.º do art. 75 do Decreto n.º 3.048/99, o prazo indicado pelo
médico que realizou a perícia como sendo o necessário para o afastamento deve ser respeitado
pelo empregado e pelo empregador, no caso de retorno ao labor, mesmo que não tenha sido
realizada perícia médica pelo INSS. Dessa forma, findo o prazo do afastamento por
incapacidade, o trabalhador é considero apto ao retorno do labor, ainda que não tenha sido
feita a perícia pela Previdência Social.
Por fim, ―caso o empregado não concorde com o resultado da perícia, poderá
apresentar requerimento de reconsideração, recurso administrativo, ou ingressar judicialmente
com uma ação previdenciária contra o INSS‖ (DO CARMO; KAWAGOE, s.d.).
29
III - LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO
3.1 Limbo jurídico previdenciário trabalhistas e possibilidades jurídicas
Como pontuado anteriormente, para obter a concessão do auxílio-doença, o
empregado necessita se enquadrar nos requisitos do artigo 59 da Lei 8.213/9, quais sejam:
cumprimento do período de carência, ser segurado, e estar incapacitado para a execução de
seu trabalho habitual por mais de 15 dias.
Como o auxílio doença se trata de benefício temporário, o empregado-segurado
submete-se a diversas perícias (DE ANGELIS, 2014), até que receba alta da previdência,
deixando de receber a benesse e podendo retornar às suas atividades laborativas.
O doutrinador Lazzari (2018) nos ensina que, caso o empregado não concorde com a
alta do INSS, poderá declarar ao empregador a sua inaptidão ao trabalho, passando por
consulta em médico assistente. Caso o laudo confirme a inaptidão do empregado, este pode
pleitear a continuação do auxílio-doença, ou a concessão do benefício, se baseado em nova
doença. Pode ocorrer, ainda, do empregado se sentir apto ao trabalho, e ser impedido de
retornar às suas atividades laborais pela empresa empregadora, mesmo com o alta do INSS.
Neste caso, o trabalhador deveria ajuizar ação de reintegração de função contra o empregador,
e pleitear o pagamento dos salários do período entra a alta previdenciária e o efetivo retorno.
Outro cenário possível proveniente da alta previdência é o ―limbo previdenciário‖, o
que é, para Najinara e Thiago (2018), a situação em que se encontra o empregado que, após
período percebendo auxílio da Previdência Social, afastado de suas atividades laborais e sem
receber salários do empregador (portanto, com seu contrato suspenso), deixa de receber o
auxílio, por ser considerado apto ao labor. Porém, ao voltar para a empresa, feito reexame por
médico contratado por esta, fica confirmado que a incapacidade ainda persiste.
O ―limbo previdenciário‖ também pode ocorrer por que o INSS, por vezes, concede
alta baseada no tempo em que o trabalhador ficou afastado do labor recebendo o auxílio,
denominada tal ocorrência como ―alta programada‖, por Lazzari (2018).
Nesses casos, o empregado encontra-se no limbo jurídico previdenciário trabalhista,
ou seja, sem perceber benefício da previdência social, ou salário da empresa, situação
inadmissível, por gerar prejuízo à subsistência do trabalhador e de se sua família, se houver.
30
Diante desta situação, o trabalhador não presta serviços, assim como não há
contraprestação a ser paga pelo empregador. De tal forma, o empregado fica sem receber
qualquer salário ou auxílio, tendo prejudicada a sua capacidade de subsistência, e, segundo
Juliano de Angelis (2014) ―sendo assim, a parte mais sensível na relação, fica desguarnecida‖.
Importante ressaltar que o termo ―limbo previdenciário‖ é de criação doutrinária, vez
que a lei não o prevê ou disciplina.
Enfim, levando em conta o todo mencionado anteriormente, observa-se que,
primeiramente, há o afastamento do empregado de suas atividades habituais, enquanto recebe
auxílio previdenciário, em razão de doença ou acidente de trabalho.
Em segundo lugar, fica claro que durante esse período de afastamento, há suspensão
do contrato de trabalho (não há prestação de serviços e contraprestação).
João Lazzari (2018) aponta que a partir do momento que o empregado recebe alta da
Previdência, a responsabilidade dos pagamentos de seu salário é do empregador, pois há o fim
do período de inaptidão do trabalhador, havendo, portanto, o fim da responsabilidade do
Instituto Nacional do Seguro Social de fornecer o benefício.
Pelo exposto, entendemos como limbo previdenciário a situação do trabalhador que,
após receber alta do INSS (e, portanto, tendo cessado seu benefício temporário), fica
impedido de retornar ao seu labor pelo empregador (pois constata persistir a situação de
doença), não percebendo salários. O trabalhador brasileiro, portanto, fica totalmente
desprotegido, vulnerável e a própria sorte.
Considerações feitas, analisaremos as posições do judiciário e seus órgãos
competentes, para conhecimento da questão.
LIMBO PREVIDENCIÁRIO TRABALHISTA. ALTA PREVIDENCIÁRIA.
SALÁRIOS DEVIDOS. Como é cediço o contrato de trabalho é suspenso com a
concessão do benefício previdenciário e retoma seus efeitos com a cessação do
benefício, de modo que cessada a suspensão do contrato de trabalho por alta
previdenciária, retomam sua eficácia as obrigações contratuais. Assim, se a
interrupção da prestação de serviços se dá por imposição do empregador que,
diferentemente do Órgão Previdenciário, não disponibiliza função compatível para
a empregada, como no presente caso, é certo que os pagamentos dos salários
devem ser mantidos, ante o afastamento por iniciativa do empregador e
ausente a concessão de benefício previdenciário, tendo em vista que o
trabalhador não pode ficar sem meios de sobrevivência por divergência de
entendimentos entre o empregador e o Órgão Previdenciário em situação
obscura que a doutrina e a jurisprudência atuais denominam de "limbo
previdenciário trabalhista". (TRT-2 - RO: 00004727520125020203 SP
00004727520125020203 A28, Relator: ÁLVARO ALVES NÔGA, Data de
Julgamento: 24/09/2015, 17ª TURMA, Data de Publicação: 06/10/2015). (grifo
nosso).
31
PAGAMENTO DOS SALÁRIOS DO PERÍODO DE AFASTAMENTO POR
MOTIVO DE SAÚDE NO QUAL O DIREITO AO BENEFÍCIO JUNTO AO
INSS NÃO É RECONHECIDO. RESPONSABILIDADE DO EMPREGADOR.
Os efeitos das decisões divergentes entre a empresa e o INSS quanto à aptidão do
empregado para o trabalho não podem ser meramente transferidos a ele, sob pena
de impor-se ao empregado situação de total insegurança e de desprovimento dos
meios para sua subsistência, em nítida afronta ao princípio da dignidade da pessoa
constitucionalmente assegurado. Invocada a responsabilidade social das
empresas e a função social do contrato como respaldo à atribuição de
responsabilidade da empregadora. (TRT-4 - RO: 00002909420125040733 RS
0000290-94.2012.5.04.0733, Relator: BEATRIZ RENCK, Data de Julgamento:
21/08/2013, 3ª Vara do Trabalho de Santa Cruz do Sul). (grifo nosso).
LIMBO JURÍDICO TRABALHISTA PREVIDENCIÁRIO. CARACTERIZAÇÃO.
EFEITOS NAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS. SALÁRIOS DEVIDOS PELO
EMPREGADOR. Caracteriza-se ―limbo jurídico trabalhista previdenciário‖ a
situação jurídica na qual o empregado, que teve suspensos os efeitos do seu contrato
de trabalho, por força de auxílio-doença concedido pelo INSS, vem a receber, em
momento posterior, alta previdenciária da autarquia federal, com a cessação do
pagamento do benefício, por ser considerado apto ao trabalho, sem obter, contudo, o
mesmo reconhecimento de tal aptidão pelo setor de medicina do empregador, que o
impede de retornar às suas atividades laborais. Resulta de tal situação a falta de
percepção de salários e de importes relativos ao benefício cessado, ficando o
trabalhador sem renda para sua subsistência no interregno em que não solvido o
impasse. Em tal quadro, porque afastada a causa suspensiva do pacto
trabalhista, o decidido pela autarquia previdenciária acerca da aptidão laboral
do empregado se impõe em face do entendimento contrário do setor médico da
empregadora, por se tratar de ato administrativo dotado de presunção de
veracidade, cujos efeitos infletem na esfera jurídica de todos interessados
enquanto não elididos por outra decisão proferida no âmbito administrativo do
órgão autárquico ou em provimento judicial. Assim, ante a ausência de óbice à
produção dos efeitos do pacto laboral e da decisão previdenciária pela alta
médica da parte autora, cabe à reclamada atender a sua obrigação de manter o
pagamento dos salários correspondentes aos períodos do aludido limbo jurídico
a que ficou submetido o trabalhador nos termos reconhecidos na sentença (TRT
12, Ac. Proc. 0000805-31.2016.5.12.0034, 6ª Câmara, Rel. Des. Trab. Ligia Maria
Teixeira Gouvêa, julg. 04.09.2017). (grifo nosso).
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. CESSAÇÃO. RETORNO AO EMPREGO.
SALÁRIOS DEVIDOS. NATUREZA. O empregado que deixa de receber auxílio
doença por obter alta previdenciária, em decorrência da cessação da incapacidade
anteriormente diagnosticada, tem direito de retornar ao trabalho. Obstando
que o trabalhador reassuma suas atribuições e não tentando readaptá-lo no
serviço, o empregador assume os riscos, independentemente da existência de
pedido de revisão da decisão administrativa ou da tramitação de processo judicial
ajuizado, pelo empregado, contra o órgão da previdência social. São devidos os
salários do período, cujos valores mantém a natureza remuneratória e sobre eles
incidem os encargos na forma da lei. (TRT-4 - RO: 00013641620115040121 RS
0001364-16.2011.5.04.0121, Relator: JOÃO PEDRO SILVESTRIN, Data de
Julgamento: 14/03/2013, 1ª Vara do Trabalho de Rio Grande). (grifo nosso)
Pelos julgados acima expostos, fica claro o entendimento de que, uma vez suspensa a
benesse do segurado-empregado por alta previdenciária, sem que haja determinação judicial
de restabelecimento do benefício, é obrigação do empregador aceitar o trabalhador na
empresa, sendo devidos seus salários.
32
Além disso, é de responsabilidade total do empregador o pagamento dos salários
durante o período em que o empregado se encontrou no limbo previdenciário. Isso ocorre por
que a empresa contratante assume os riscos do negócio, sendo sua responsabilidade a
readaptação do trabalhador em seu serviço. Ademais, entende-se que a simples transferência
do problema para o empregador fere o princípio da dignidade humana e o direito social ao
trabalho, colocando a parte mais vulnerável em situação de risco quanto a sua subsistência e
de sua família.
Para Juliano De Angelis, uma justificativa para tal decisão se dá em razão da
presunção relativa de veracidade do ato administrativo.
No mesmo sentido, podemos observar a decisão do Tribunal Superior do Trabalhado:
RECURSO DE REVISTA DA RECLAMADA. INTERPOSIÇÃO NA VIGÊNCIA
DA LEI Nº 13.015/2014. O recurso de revista foi interposto na vigência da Lei
13.015/2014. RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO.
RECUSA DA EMPRESA EM READMITIR O EMPREGADO
CONSIDERADO APTO PARA O RETORNO AO TRABALHO PELO INSS.
ÔNUS DA PROVA. 1 – A recorrente não demonstra as circunstancias que
identifiquem ou assemelhem a tese assentada no acórdão recorrido e o aresto citado
nas razões recursais, pelo que não foi atendido os requisitos do art. 896, § 8º, da
CLT, no particular. No mais, foram atendidos os requisitos do art. 896, § 1º-A, I, II e
III, da CLT, introduzidos pela Lei nº 13.015/2014. 2 – as premissas fáticas
registradas pelo TRT foram as seguintes: a) a reclamante usufruiu benefício
previdenciário auxílio doença nos períodos de 8/11/2010 a 3/1/2011 e de
2/9/2011 a 31/12/2011; b) não retornou ao trabalho após as altas
previdenciárias; c) foi encaminhada diversas vezes ao INSS pela empresa, por
entender que estava inapta ao trabalho; c) o INSS considerava a reclamante
apta para o retorno ao trabalho e indeferia novos benefícios. 3 – Quanto ao ônus
da prova, consta do acórdão que os requerimentos de beneficio por incapacidade por
motivo de doença encaminhados à Previdência Social pela empresa geram
presunção de veracidade da tese da inicial, de que a reclamada impediu o retorno
da reclamante a suas atividades laborais após a alta previdenciária, por
considerá-la inapta ao trabalho. Entendeu o TRT configurada a hipótese de
descumprimento da empregadora das obrigações do contrato de trabalho que
justifica a sua rescisão indireta. Por outro lado, não consta ter sido comprovado
pela reclamada nenhum fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do
reclamante. Assim, não há como se reconhecer violação dos arts. 818 da CLT e 333
do CPC. 4 – Com efeito, restou configurado o descumprimento da empregadora
de suas obrigações contratuais, haja vista o não pagamento dos salários e
demais direitos por mais de dois anos após a alta previdenciária do reclamante
(à exceção dos períodos de gozo do auxílio doença), o que enseja a rescisão
indireta do contrato de trabalho, ao teor do art. 483 da CLT. 5 – No caso, competia
à empregadora, na dúvida quanto à aptidão do empregado ao exercício de suas
antigas funções, atribuir-lhe outras atividades compatíveis com a sua nova
condição. Recusar o retorno do empregado e encaminhá-lo reiteradamente ao
INSS, já havia se manifestado pela aptidão física, deixa desprotegido o
trabalhador, que não recebe o auxílio doença pela previdência social nem os
salários pelo empregador, e muito menos as verbas rescisórias. 6 – Não se olvide
que a Constituição Federal, no seu art. 1º, III, prevê expressamente o principio da
dignidade da pessoa humana, o qual orienta todos os direitos fundamentais. Além
disso, a Convenção nº 161 da OIT impõe, como princípio de uma política nacional,
―a adaptação do trabalho às capacidades dos trabalhadores, levando em conta seu
33
estado de sanidade física e mental‖. 7 – Recurso de revista de que não se conhece
(RR – 694-91.2013.5.04.0384, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, Data de
julgamento: 03/02/2016, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 12/02/2016). (grifo
nosso)
Pela análise do julgado acima exposto, compreende-se que o TST se posicionou no
sentido de responsabilização da empresa empregadora. Isso por que o empregador, a partir do
momento em que o empregado segurado deixa de receber o benefício temporário, passa a ser
a responsável pela remuneração do trabalhador, uma vez que o contrato de trabalho volta a
viger. Além disso, a presunção de veracidade do documento da autarquia federal se sobrepõe
a qualquer documento produzido no setor privado.
Quanto ao pagamento dos salários devidos ao trabalhador, a jurisprudência tem
entendido que, enquanto este esteve afastado injustamente de suas atividades laborais, é de
obrigação do empregador o pagamento das remunerações. Isso se justifica, por vezes, com
base na omissão ilícita do empregador, de não permitir o retorno do trabalhador ao seu posto
laboral, por entender de forma diferente do Órgão Previdenciário, o que gera, também, dano
imaterial, havendo necessidade de indenização por danos morais.
A jurisprudência se posicionou, inclusive, no sentido de a empresa reestabelecer o
empregado em sua atividade, mesmo com a existência de laudo atestando a inaptidão, e
recorrer da decisão do INSS que liberou aquele trabalhador para o labor. Isso para que não
haja qualquer prejuízo do obreiro, pois este é parte vulnerável da relação jurídica que não
deve ficar sem amparo.
A remuneração do empregado sempre será devida pelo empregador, inclusive
enquanto o recurso está em trâmite, pois o empregado está sob responsabilidade do
empregador. Neste sentido, os Tribunais Regionais do Trabalho:
RECURSO ORDINÁRIO. AUXÍLIO DOENÇA. SUSPENSÃO DO CONTRATO
DE TRABALHO. ALTA DO ÓRGÃO PREVIDENCIÁRIO. NOVO
AFASTAMENTO MÉDICO DETERMINADO PELA EMPRESA. LIMBO
JURÍDICO LABORAL PREVIDENCIÁRIO. PAGAMENO DE SALÁRIOS
DEVIDO. A responsabilidade pelo pagamento dos salários, de período em que o
empregado não goza auxílio previdenciário e é afastado do trabalho, por
recomendação de médica da própria empresa, é do empregador, devendo ele
recorrer da decisão do INSS que concede alta médica, para efeito de
ressarcimento, ao invés de deixar o laborista sem quaisquer meios de subsistência,
diante de quadro indefinido em relação ao seu contrato de trabalho (TRT-1 – RO:
0011198750145010071 RJ, Relator: RELATOR, data de julgamento: 17/02/2016,
Sexta Turma, Data de Publicação: 01/03/2016). (grifo nosso)
RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE. LIMBO PREVIDENCIÁRIO.
SALÁRIOS NO PERÍODO DA ALTA E DA INAPTIDÃO CONSTATADA PELO
MÉDICO DA EMPRESA. Na hipótese de divergência entre a conclusão do
34
médico perito do INSS e empregador sobre a aptidão do empregado para a
retomada do posto de trabalho, prevalece a decisão da autarquia
previdenciária, e decorrência da manifesta presunção de legitimidade e
veracidade, devendo ser imputado à empresa a responsabilidade pelo pagamento
dos salários. Recurso ordinário da empregada provido, no aspecto (TRT-4 – RO:
0020118320175040030. Data de julgamento: 29/10/2018. 9ª Turma) (grifo nosso)
DOENÇA OCUPACIONAL. ALTA PREVIDENCIÁRIA. AUSÊNCIA DE
REINTEGRAÇÃO. LIMBO PREVIDENCIÁRIO. A postura da demandada
posicionou o autor no que se convencionou chamar de ―limbo previdenciário‖, no
qual o trabalhador, após a alta previdenciária, não foi reintegrado à empresa nem
recebeu o pagamento dos salários relativos ao período. Nestas situações, a
jurisprudência trabalhista assenta que o empregado não poderá ser privado de
sua remuneração, a qual deve ser adimplida pelo empregador. Precedentes do
TSTS. (Processo: RO – 0000608-74.2015.06.0003, Redator: Maria do Carmo
Vrejao Richlin. Data de Julgamento:31/05/2017, Segunda Turma, Data de
assinatura: 31/05/2017) (TRT-6 – RO: 00006087420155060003, Data de
Julgamento: 31/05/2017, Segunda Turma) (grifo nosso).
BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO NEGADO. RETORNO DO EMPREGADO AO
TRABALHO. EFEITOS PECUNIÁRIOS – Somente a concessão do benefício
previdenciário é que afasta a responsabilidade da empresa pelo pagamento dos
salários de seu empregado, já que, enquanto o trabalhador aguarda a resposta do
órgão previdenciário, permanece à disposição de seu empregador (inteligência do
art. 4º da CLT). (TRT3, 1ª Turma, 00076-2013-095-03-00-9 RO, Publicação
17/7/2013). (grifo nosso)
REMUNERAÇÃO APÓS A ALTA PREVIDENCIÁRIA. É devida a
remuneração da empregada que, após a alta do benefício previdenciário de
auxílio-doença, se reapresenta ao trabalho e é impedida de assumir a sua
função pelo empregador, ainda que embasado em parecer do serviço médico
deste. Prevalência, sob o ponto de vista médico, da conclusão do órgão
previdenciário a respeito da aptidão da empregada para retornar ao emprego, não
podendo esta ficar sem a percepção do salário que é necessário à sua subsistência.
Recurso ordinário da reclamante provido no aspecto. (TRT-4 - RO:
00007402820105040015 RS 0000740-28.2010.5.04.0015, Relator: WILSON
CARVALHO DIAS, Data de Julgamento: 06/09/2012, 15ª Vara do Trabalho de
Porto Alegre). (grifo nosso).
ALTA MÉDICA PERANTE O INSS – TRABALHADOR CONSIDERADO
INAPTO PARA O TRABALHO PELO MÉDICO DA EMPRESA – LIMBO
JURÍDICO TRABALHISTA-PREVIDENCIÁRIO – ARTIGO 476, CLT –
CONTRATO DE TRABALHO VIGENTE – OBRIGAÇÃO DE PAGAR
SALÁRIOS MANTIDA – De acordo com o Artigo 476 da CLT, o afastamento do
trabalhador do posto de trabalho com percepção de benefício previdenciário em
razão de doença constitui suspensão do contrato de trabalho. Com a alta médica e
cessação do benefício, é certo que o contrato volta a produzir os seus efeitos
regulares, dentre os quais a obrigação de pagar salários. No caso concreto, após
a alta médica, a empregadora considerou o obreiro inapto para retornar ao
posto de trabalho em razão das doenças apresentadas. Assim, configurou-se a
lamentável situação que a jurisprudência denominou “limbo jurídico
trabalhista-previdenciário”. Isto é, o trabalhador é considerado apto pela autarquia
previdenciária, deixando de receber benefício; E inapto pelo empregador, deixando
de receber salário. Diante desse quadro, a melhor interpretação é no sentido de que
uma vez cessado o afastamento previdenciário não pode o empregador
simplesmente se recusar a receber o trabalhador de volta ao posto. Deve, isto
35
sim, providenciar atividade que seja compatível com as limitações apontadas
até que ocorra novo afastamento, caso devido. Poderia a empresa, ainda, recorrer
da decisão do INSS e comprovar que o trabalhador realmente não possui condições
para o labor. O que não se admite é que o contrato de trabalho continue vigente
e, concomitantemente, o obreiro seja privado do salário. FONTE: (TRT 02ª R. –
RO 20120075401 – (20130023269) – 4ª T. – Rel. Juiz Paulo Sérgio Jakutis –
DOE/SP 01.06.2013). (TRT – 1 – RO: 00011789420135010512 RJ, Data de
julgamento: 08/03/2016, Primeira Turma, Data de Publicação: 19/03/2016). (grifo
nosso).
INCAPACIDADE LABORATIVA. LER/DORT. EMPREGADA
CONSIDERADA APTA PELO INSS E INAPTA PELO MÉDICO DA
EMPRESA. NÃO-RECEBIMENTO DE SALÁRIO OU DO BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. ART. 1º, III E IV
C/C ART. 170 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. DANO MORAL E
MATERIAL. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO EMPREGADOR.
OMISSÃO VOLUNTÁRIA. COMPROVAÇÃO. DEFERIMENTO. Não se pode
olvidar que fundamento basilar da República Federativa do Brasil a dignidade da
pessoa humana e os valores sociais do trabalho (art. 1º, incisos III e IV da CF).
Ademais, a valorização do trabalho humano, sobre que é fundada a ordem
econômica, tem o fim de assegurar a todos existência digna, conforme os ditames
da justiça social (art. 170 da CF). Neste caso, o ato ilícito e a culpa do reclamado
pelo dano moral e material decorrem da omissão voluntária em não conduzir
a reclamante à função compatível com sua capacidade laborativa, custeando
seus salários enquanto negado o benefício previdenciário e, ainda, em não
emitir nova CAT, buscando no Órgão competente o restabelecimento do
auxílio-doença acidentário. Assim, o nexo de causalidade entre a omissão
ilícita da empresa reclamada e a lesão imaterial e material suportada pela
reclamante é evidente, pois não há dúvida de que – tomando-se em
consideração a percepção do homem médio – na situação de total desamparo
vivenciada pelo autora, permanecendo dez meses sem receber o auxílio
previdenciário, porque considerada apta ao trabalho pelo INSS, e sem
perceber seus vencimentos, porque não aceito o retorno ao trabalho pela
empresa, sem ter como prover a si e à sua família e diante da indefinição do
quadro narrado; a dor pessoa, o sofrimento íntimo, o abalo psíquico e o
constrangimento tornam-se patentes. (TRT -14 – RO: 68220084011400 RO
00682.2008.401.14.00. Relator: JUIZ FEDERAL DO TRABALHO
CONVODADO SHIKOU SADAHIRO, Data de julgamento: 26/08/2009,
PRIMEIRA TURMA, Data de Publicação: DETRT12 N.0160, de 28/08/2009).
(grifo nosso).
LIMBO PREVIDENCIÁRIO. SALÁRIOS DO PERÍODO. O empregador
responde pelo adimplemento dos salários do período em que o empregado
compareceu ao trabalho após a alta previdenciária e esteve à disposição da
empresa (art. 4º da CLT), incumbindo à empregadora submetê-lo a exame para
retomada de atividades. Configurada situação que enseja o dever de reparação,
cumpre a manutenção da sentença, no aspecto (TRT-4 – RO:
00205015920175040304. Data de julgamento: 08/11/2018, 11ª Turma). (grifo
nosso).
Os tribunais muito têm se utilizado, também, do fundamento da disposição do
empregado ao empregador, presente no artigo 4º da CLT, que dispõe: ―Considera-se como de
serviço efetivo o período em que o empregado esteja à disposição do empregador, aguardando
ou executando ordens, salvo disposição especial expressamente consignada‖, além de
36
entenderem que a responsabilidade do empregador quanto aos pagamentos só deixa de existir
por suspensão contratual, no caso de recebimento do benefício pelo trabalhador. Sob esses
fundamentos, observa-se:
LIMBO PREVIDENCIÁRIO TRABALHISTA. A partir do momento em que a
reclamada, através de exame médico, considera a trabalhadora inapta para o
trabalho, apesar de decisão em sentido contrário do INSS, sem interpor recurso, na
forma do art. 76-A do Decreto 3.048/99, deve arcar com o pagamento dos salários
do período do afastamento, com base no artigo 4º, caput, da CLT, pois a
reclamante esta à sua disposição, até a data em que esta afirmou não ter interesse
no retorno ao trabalho. (TRT-1 – RO: 01017613320175010226 RJ, Relator:
ALVARO LUIZ CARVALHO MOREIRA, Data de Julgamento: 27/11/2018,
Gabinete do Desembargador Alvaro Luiz Carvalho Moreira, Data de Publicação:
12/12/2018) (grifo nosso).
LIMBO PREVIDENCIÁRIO. Apenas a concessão do benefício previdenciário
afasta a responsabilidade da empresa pelo pagamento dos salários do
empregado. não estando o contrato de trabalho suspenso e considerando o
empregador que o empregado não tem condições para o labor, cabe-lhe o
encaminhamento ao órgão previdenciário para novo afastamento, pagando-lhe
os salários enquanto não considerado apto ou ainda enquanto não renovado o
benefício previdenciário. (TRT-1- RO: 01000264420175010038 RJ. Relator:
CELIO JUACABA CAVALCANTE. Data de Julgamento: 16/05/2018,
Gabinete do Desembargador Célio Juaçaba Cavalcante, Data de Publicação:
07/06/2018) (grifo nosso)
Como justificativa para o pagamento dos salários devidos, o Tribunal Regional do
Trabalho da 6ª Região se utilizou do fundamento do caráter alimentar do salário, sendo que
o empregado não deve, de forma alguma, ser prejudicado em razão da sua não percepção.
Assim:
RECURSO ORDIÁRIO OBREIRO. LIMBO PREVIDENCIÁRIO. AUSÊNCIA
DE PAGAMENTO DE SALÁRIOS E DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
DANOS MORAIS. Quando o órgão previdenciário não prorroga ou não concede
novo benefício previdenciário, mas, não se comprova higidez física e mental do
trabalhador, para que este retorne ao trabalho, permanece a obrigação da empresa,
de efetuar o pagamento dos salários, já que o obreiro não pode permanecer no
limbo, sem percepção de salários e sem receber benefício previdenciário.
Deve-se levar em consideração o caráter alimentar do salário, na forma
prevista no art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal, bem como a dignidade
da pessoa humana e o valor social do trabalho, previstos no art. 1º, incisos III
e IV, da Lei Maior. Recurso obreiro provido, no particular. (Processo: RO –
0000678-57.2017.5.06.0412, Redator: Maria Clara Saboya Albuquerque
Bernardino, Data de julgamento: 15/10/2018, Terceira Turma, Data de assinatura:
25/10/2018) (TRT-6 – RO: 0000678572015060412. Data de Julgamento:
15/10/2018, Terceira Turma). (grifo nosso).
37
O Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região utilizou como fundamento para
concessão dos salários devidos no período de limbo previdenciário, o fato do risco da
atividade a empresa empregadora, que não pode ser transferido ao obreiro. De tal forma,
observa-se:
LIMBO PREVIDENCIÁRIO TRABALHISTA. O limbo previdenciário trabalhista
consiste numa situação anômala, pois o laborista fica sem receber salário ou
benefício previdenciário. Ocorre que não há amparo legal para o não
pagamento dos salários do período após a alta previdenciária por parte da
empregadora, já que, cessado o benefício previdenciário, o contrato do
trabalhador encontrava-se em pleno vigor, não se podendo olvidar que os
riscos da atividade econômica pertencem ao empregador (arts. 2º, 4º e 467,
CLT). (TRT-3 – RO: 00119153120155030028 0011915-31.2015.5.03.0028.
Relator: Adriana Goulart de Sena Orsini, Décima Primeira Turma). (grifo nosso).
Da mesma forma, o Tribunal Superior do Trabalho tem pacificado entendimento no
sentido de responsabilizar o empregador pelos salários devidos no período em que o obreiro
se encontrou desamparado, no limbo jurídico. Isso porque, como veremos abaixo, há
presunção de veracidade de documento produzido pela autarquia federal (INSS), sendo que
o particular não se sobrepõe a ele. Assim, vejamos:
LIMBO PREVIDENCIÁROP TRABALHISTA. ALTA PREVIDENCIÁRIA.
SALÁRIOS DEVIDOS. Como é cediço o contrato de trabalho é suspenso com a
concessão do benefício, de modo que cessada a suspensão do contrato de trabalho
por alta previdenciária, as obrigações contratuais retomam sua eficácia. Assim, se
a interrupção da prestação de serviços se dá por imposição do empregador
que, diferentemente do Órgão previdenciário, considera a empregada inapta
para o trabalho, como no presente caso, é certo que os pagamentos dos
salários devem ser mantidos, ante o afastamento por iniciativa do
empregador e ausente a concessão de benefício previdenciário, tenho em vista
que o trabalhador não pode ficar sem meios de sobrevivência por divergência
de entendimento entre o empregador e o Órgão Previdenciário, em situação
obscura que a doutrina e a jurisprudência atuais denominam “limbo
previdenciário trabalhista‖ (TRT-1 – RO: 001020454201501009 RJ, Relator:
RELATOR, Data de Julgamento: 27/06/2016, Terceira Turma, Data de
Publicação: 08/07/2016).(grifo nosso).
RESPONSABILIDADE POR SALÁRIOS DE EMPREGADO CONSIDERADO
INAPTO PELA EMPRESA APÓS ALTA PREVIDENCIÁRIA É DO
EMPREGADOR. TRT/SP – Alta médica do INSS. Recusa do trabalhador pela
empresa. Impossibilidade Data de Publicação da decisão – 27/10/2010.
PREVIDÊNCIA SOCIAL. Auxílio-doença. Alta médica do INSS. Recusa do
trabalhador pela empresa. Impossibilidade. A alta média é um ato administrativo e
este goza de presunção de boa-fé e correção. Não pode o particular (empregador)
descumprir o ato administrativo e impedir o acesso da trabalhadora ao trabalho e
respectivos salários. Se a empresa entende que não deve receber o empregado
nas suas dependências porque ainda está doente, deve questionar a alta
médica no Juízo competente. E, até obter decisão favorável, deve pagar os
salários do período. O que não se admite é que, diante da alta do INSS, com a
cessação do benefício previdenciário e a recusa do empregador e ausência de
38
salários, o empregado fique à própria sorte, sem obter sua subsistência de qualquer
dos lados. Recurso ordinário não provido. (TRT/SP – 00585200831202007 – RO –
Ac. 3ªT 20101083593 – Rel. ANTERO ARANTES MARTINS – DOE 27/10/2010
Além do mais, considerou como ilícita a conduta da empresa de não readmitir o
empregado após alta previdenciária. Afastou, também, a tese de abandono do emprego
alegada pelo empregador. Neste sentido, podemos observar:
CONTROVÉRSIA ACERCA DA CONDIÇÃO DE SAÚDE DO EMPREGADO
PARA O TRABALHO. SUSPENSÃO DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO.
INAPTIDÃO CONSTATADA PELO SEMAL – SERVIÇOS MÉDICOS DE
AVALIAÇÃO DA SAÚDE LTDA. 1. O TRT não analisou a controvérsia em vista
da distribuição do ônus da prova. Ileso o art. 818 da CLT. 2. Não há como
acolher a tese de abandono de empego, porque o TRT, mediante análise do
conjunto probatório, concluiu que o reclamante entra a alta do INSS e a
despedida fez várias tentativas de reassumir suas funções junto ao
condomínio, sem sucesso. Portanto, fica afastada a alegada contrariedade da
Súmula nº 32 do TST. 3. A divergência de teses não ficou demonstrada, incidindo
a Súmula nº 296 do TST. Agravo de instrumento a que se nega provimento. (TST,
AIRR – 565-04.2010.5.05.0016, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, Data
de Julgamento: 31/10/2012, 6ª Turma, Data de Publicação: 09/11/2012). (grifo
nosso)
AGRAVO DE INSTRUMENO EM RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO
REGIONAL PUBLICADO NA VIGÊNCIA DA LEI 13.015/2014. ANTES DA
LEI 13.467/2017. CESSAÇÃO DO AUXÍLIO DOENÇA. EMPREGADO
CONSIDERAO APTO AO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES PELA EMPESA.
IMPEDIMENTO DE RETORNO. APTIDÃO RECONHECIDA PELA
PREVIDÊNCIA SOCIAL. ATO ILÍCITO. ALTA PREVIDENCIÁRIA. Diante do
que restou consignado pelo Tribunal Regional, o INSS atestou a aptidão da
empregada para o trabalho, cessando o benefício previdenciário e gerando a
obrigação de a empregadora receber a empregada com quem ainda mantinha
o vínculo empregatício, até então suspenso. A empregadora, contudo, deixou
de cumprir tal obrigação com base em parecer médico da empresa, por meio
do qual afirmou-se que a autora não estaria apta para exercer suas funções.
Registrou, ainda, que a empregada ―Procurou obter a reforma da decisão
previdenciária, não obtendo sucesso nas vias eleitas. Durante todo esse período
continuou sem receber salários e muito menos benefício previdenciário.” (pág.
359). No presente caso, a conduta da empresa em não readmitir a empregada e
deixar de pagar os salários, mesmo após a alta pelo INSS, por não considera-
la apta para o trabalho, é ilícita, na medida em que a empregada que volta a
trabalhar deve ser recepcionada para, apenas após o recebimento do atestado
médico encaminhado pela empresa ou mesmo da confirmação da CAT, ter o
seu afastamento com o recebimento do benefício previdenciário . De outro
modo, fica a empregada desprotegida, pela previdência social, que não reconhece
o direito ao afastamento, como também pela empresa, que não lhe paga os salários
e não procede a sua adaptação, em face da doença que determinou o afastamento.
Competia à empresa, na dúvida, quanto á possibilidade de a empregada
exercer as suas funções, atribuir-lhe outras atividades compatíveis com sua
situação física e não simplesmente recusar o retorno encaminhando-a
novamente ao INSS, que já havia se manifestado pela sua aptidão física. Por outro lado, é entendimento pacífico nesta Corte Superior que o ato do órgão
da previdência goza de presunção da veracidade, de maneira que o atestado
do profissional médico da empresa não se sobrepõe ao ato administrativo,
cabendo a quem interessar desafiar a presunção. Precedentes. Assim, o
39
empregador é responsável pelo pagamento dos salários referentes ao período
em que o reclamante esteve de alta médica do INSS, não merecendo reparos o
acórdão recorrido. Óbice do art. 896, §7º, da CLT e da Súmula 333/TST. Agravo
de instrumento conhecido e provido. (TST – AIRR: 10000555320155020445,
Relator: Alexandre de Souza Agra Belmonte, Data de Julgamento: 21/11/2018, 3ª
Turma, Data de Publicação: DEJT 23/11/2018).
Alguns dos Tribunais Regionais do Trabalho reconheceram o direito da empregada
de receber indenização por danos morais, em razão do constrangimento causado pela não
percepção dos salários, como podemos observar na decisão que se segue:
Extraído de: Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região. Empresa que impediu
retorno do trabalhador após alta médica é condenada a pagar indenização. Um
trabalhador procurou a Justiça do Trabalho alegando que, após 18 anos de serviços
prestados na mesma empresa, passou a sofrer de doença ocupacional, equipara ao
acidente de trabalho, e, depois de um período licenciado, quando já havia recebido
alta do INSS, a empregadora impediu seu retorno ao emprego, deixando-o
abandonado à própria sorte. Sem receber salários, nem beneficio previdenciário, o
empregado buscou judicialmente a reintegração no emprego e a condenação da
sua empregadora e da empresa onde ele realizava serviços de jardinagem ao
pagamento de indenização por dano materiais e morais. A reclamação foi
analisada pela Juíza do trabalho substituta Natália Azevedo Sena, na 2ª Vara do
Trabalho de Divinópolis. A magistrada deu razão ao empregado, deferindo os seus
pedidos. No caso, o reclamante permaneceu afastado do trabalho, em torno de oito
meses, recebendo auxílio doença acidentário. Ao ter alta, a empregadora impediu
seu retorno ao trabalho. O empregado solicitou a prorrogação do benefício junto
ao INSS, mas o requerimento foi negado, o que levou a propor ação na Justiça
Federal, cujo resultado foi a improcedência do pedido. A defesa não negou o
ocorrido, mas insistiu na tese de que o médico da empresa considerou o
reclamante inapto para o trabalho, por isso, a volta às atividades profissionais não
foi autorizada. Foi realizada perícia durante o processo e o médico constatou que o
empregado perdeu 50% da capacidade para o trabalho. A magistrada chamou a
atenção para a função social da empresa, de modo que, se o INSS concluiu que o
empregado estava apto para o trabalho, a empregadora tinha o dever de permitir o
seu retorno, ainda que em função distinta, compatível com a redução sofrida na
capacidade para trabalhar. Isso porque, conforme esclareceu, a análise da aptidão é
realizada com base na atividade exercida antes do afastamento. Assim, o
empregado pode estar inapto para uma função, mas plenamente capaz para outra.
―Tanto é que o art. 89 da Lei 8213/91 assegura a realização profissional do
trabalhador cuja capacidade laborativa tenha sido reduzida”, ressaltou. No
entretanto, a empregadora, em vez de promover a reabilitação do autor, já que o
contrato de emprego estava ativo, preferiu deixa-lo à margem do mercado de
trabalho, sem qualquer meio de subsistência. Essa conduta, na visão da julgadora,
demonstra, por si só, o descaso da reclamada com a vida, a saúde e a dignidade de
um empregado que lhe dedicou tantos anos de serviço. Por ter a ré descumprido
a sua obrigação, a julgadora condenou a empresa a pagar ao trabalhador os
salários, férias, gratificações natalinas e FGTS, desde a alta pelo INSS, em
fevereiro de 2010 até que ele seja readaptado em função condizente com a sua
capacidade, sob pena de multa diária de R$80.000,00. Considerando que a
empregadora do reclamante mantinha um contrato de terceirização de serviços de
jardinagem com uma metalúrgica, que se beneficiou da mão de obra do autor, a
magistrada entendeu que essa empresa é responsável solidária pelas verbas
trabalhistas deferidas, principalmente porque o empregado adquiriu doença
relacionada ao trabalho. Contudo, ambas as empresas apresentaram recurso e o
Tribunal de Minas, que além de reduzir o valor da indenização por danos morais
40
para R$10.000,00, decidiu que a metalúrgica pe responsável, sim, pela
condenação, mas de forma subsidiária, ou seja, só pagará os valores, se a principal
devedora não quitar a dívida (RO: 0001064-87.2010.5.03.0098). (grifo nosso).
DANO MORAL. LIMBO PREVIDENCIÁRIO DANO MORAL. LIMBO
PREVIDENCIÁRIO DANO MORAL. LIMBO PREVIDENCIÁRIO -. Não se
admite, por infringir a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CRFB/88), o
direito fundamental ao trabalho (arts. 1º, IV, e 170, caput da CRFB/88) e a própria
função social do contrato (art. 421 do CC) que um trabalhador seja submetido a
uma situação de estar sem trabalho, sem salário e sem benefício previdenciário,
cabendo revelar que o abuso de direito é um ato ilícito, na forma do art. 187 do
CC. O dano moral decorre de ofensa aos chamados direitos da personalidade,
que são os direitos subjetivos absolutos, incorpóreos e extrapatrimoniais,
correspondentes aos atributos físicos, intelectuais e morais da pessoa .
RELATOR: DESEMBARGADOR MARCELO ANTERO DE CARVALHO.
RECORRENTE: AUTO VIAÇÃO 1001 LTDA. RECORRIDO: JORDIELI DA
SILVA LIMA. RELATÓRIO. (TRT-1 -RO: 00007214820125010431. Relator:
Marcelo Antero de Carvalho, Data de Julgamento: 21/09/2016, Décima Turma,
Data de Publicação: 29/09/2016) (grifo nosso)
Outros Tribunais Regionais do Trabalho também consideraram o direito ao
recebimento de danos morais ao empregado, por entender que o obreiro, no período de
limbo jurídico, fica sem meios para a própria sobrevivência. Segue as decisões:
LIMBO JURÍDICO PREVIDENCIÁRIO TRABALHISTA.
RESPONSABILIADE DO EMPREGADOR PELOS SALÁRIOS E DEMAIS
VANTAGENS DECORRENTES DO VÍNCULO DE EMPREGO. DANO À
MORAL. Após a alta médica do INSS, a suspensão do pacto laboral deixa de
existir, voltando o contrato em tela a produzir todos os seus efeitos. Se o
empregador impede o retorno ao labor, deve tal situação ser vista como se o
empregado estivesse à disposição da empresa esperando ordens, onde o tempo de
trabalho deve ser contado e os salários e demais vantagens decorrentes o vinculo
de emprego quitados pelo empregador, nos termos do art. 4º da CLT. Além disso,
o mero fato de ensejar ao trabalhador a famosa situação de ―limbo jurídico
previdenciário trabalhista‖ – quando o empregado recebe alta do INSS, porém
ainda está inapto para o labor segundo a empresa – configura o dano à moral,
posto que o trabalhador fica à mercê da própria sorte, sem meios para a
própria sobrevivência e de seus dependentes. (TRT-2 – RO:
00018981120135020261 SP 0001898112013502061 A28, Relator: MAURILIO
DE PAIVA DIAS, Data de Julgamento: 03/03/2015, 5ª TURMA, Data de
Publicação: 09/03/2015). (grifo nosso).
LIMBO PREVIDENCIÁRIO. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. É
devida indenização por danos morais, quando constatado que o empregador
deixa seu empregado desamparado, sem receber salários, vivendo intensa
apreensão quanto ao cumprimento da regularidade de suas obrigações, bem
como do seu sustento e da sua família. Tal circunstância é suficiente para
ensejar sofrimento ensejador de reparação por dano moral. Recurso provido
no particular. (Processo: RO – 00281-22.2017.5.06.0016. Redator: Milton
Gouveia da Silva Filho. Data de julgamento: 03/10/2018, Terceira Turma. Data da
assinatura: 04/10/2018). (grifo nosso).
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LIMBO PREVIDENCIÁRIO TRABALHISTA. DANOS MORAIS. É devida
indenização por danos morais, quando constatado que o empregador deixa
seu empregado desemparado, sem receber salários, vivendo intensa
apreensão quanto ao cumprimento da regularidade de suas obrigações, bem
como do seu sustento e da sua família. Tal circunstância é suficiente para
ensejar sofrimento ensejador de reparação por dano moral. (TRT-3 – RO:
00107185420155030056 0010718-54.2015.5.03.0056. Relator: Manoel Barbosa
da Silva, Quinta Turma). (grifo nosso)
No mesmo sentido, o TST vem reconhecendo o direito do empregado a receber
danos morais em razão da recusa do empregador ao retorno nas atividades laborais,
reconhecendo, assim, a responsabilidade civil da empresa empregadora. Neste sentido:
RECURSO DE REVISTA – PRELIMINAR DE NULIDADE – NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL Ante a ausência de indicação de violação aos
arts. 832 da CLCT, 458 do CPC ou 93, IX, da Constituição, aplica-se o óbice da
Orientação Jurisprudencial nº 115 da SBDI-1. DANOS MATERIAIS E MORAIS
– BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO NEGADO AO EMPREGADO –
INAPTIDÃO PARA O TRABALHO – RESPONSABILIADE DO
EMPREGADOR PELO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS após a alta
previdenciária, e consequente fim do período de suspensão do contrato de
trabalho, a regra impositiva de pagamento de salários volta a ter eficácia,
ainda que a empresa, contrariando as conclusões da Previdência Social,
considere o empregado inapto ao trabalho. Com efeito, deve o empregador
responder pelo pagamento dos salários devidos no período em que o empregado
esteve à disposição da empresa (art. 4º da CLT), sobretudo diante do seu
comparecimento para retorno ao trabalho. Estão configurados os elementos que
ensejam o dever de reparação, nos termos da teoria da responsabilidade
subjetiva: o dano moral (sofrimento psicológico decorrente da privação total
de rendimentos por longo período), o nexo de causalidade (dano relacionado
com a eficácia do contrato de trabalho) e a culpa (omissão patronal no
tocante ao pagamento dos salários). HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS 1. O
pedido de indenização por danos morais e materiais, com fundamento na
equivocada cessação do pagamento de salários, nitidamente decorre de relação de
emprego, o que torna indevidos os honorários advocatícios pela mera
sucumbência, nos termos do item III, da Súmula nº 219 e da Instrução Normativa
nº 27/2005 ambos do TST. 2. Ao deferir os honorários independentemente dos
requisitos do artigo 14 da Lei nº 5.584/70, o Tribunal a quo contrariou a Súmula nº
219 do TST. Recurso de Revista conhecido parcialmente e provido. (TST – RR:
1429002820105170011 142900- 28.2010.5.17.0011, Relator: João Pedro
Silvestrin, Data de Julgamento: 20/11/2013, 8ª Turma, Data de Publicação: DEJT
22/11/2013) (grifo nosso)
Ademais, justificou tal responsabilidade no direito à dignidade humana, e no dever
do empregador de readequar a atividade ao trabalhador, em razão de doença ou acidente
sofridos. Desta forma, vejamos:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. PROCESSO SOB A
ÉGIDE DA LEI 13.015/2014. 1. NÃO ACEITAÇÃO DO TRABALHO DA
OBREIRA APÓS A ALTA PREVIDENCIÁRIA. RECUSA INJUSTIFICADA
DA EMPREGADORA. ENCERRAMENTO DA SUSPENSÃO DO CONTRATO
DE TRABALHO. PAGAMENTO DOS SALÁRIOS. CABIMENTO 2.
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IMPEDIMENTO DO RETORNO AO TRABALHO, RESPONSABILIDADE
CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. O Tribunal Regional do
Trabalho, após sopesar as provas dos autos, concluiu que houve recusa
injustificada da Reclamada em aceitar o labor da Obreira após a alta
previdenciária. Segundo consta na decisão recorrida, ao término do beneficio
previdenciário, a Autora foi considerada apta pelo INSS e compareceu ao serviço
médico da Reclamada, que a considerou inapta. Nesse contexto, o Regional
considerou ter havido o encerramento da suspensão do contrato de trabalho,
continuando ele a produzir todos os seus efeitos, inclusive remuneratórios
(pagamento de salários até o efetivo retorno ao trabalho) deferindo à
Reclamante, ainda, uma indenização pelo dano moral sofrido. A decisão
recorrida se harmoniza com a ordem jurídica atual, despontando nítido o caráter
precursor do direito à dignidade humana (1º, III, da CF) sobre todo o sistema
constitucional. O texto celetista, concretizando os primados constitucionais
ligados à saúde no meio ambiente laboral (art. 6º, 7º, XXII, XXVIII, 196, 200,
VIII, CF), estipula obrigação do empregador na prevenção de doenças
ocupacionais (art. 157). Ademais, a Convenção nº 161 da OIT impõe, como
princípio de uma política nacional, ―a adaptação do trabalho às capacidades dos
trabalhadores, levando em conta seu estado de sanidade física e mental.‖ Registre-
se, por oportuno, ser desnecessário que a Reclamante se submeta a processo de
reabilitação profissional, junto ao INSS, para fins de readequação no trabalho.
Dessa forma, cabe ao empregador, na incerteza quanto à aptidão da
Reclamante para o exercício de suas funções, realocá-la em atividade
compatível com suas limitações físicas, e não puramente recusar seu retorno
ao trabalho, isso porque, segundo o ordenamento jurídico pátrio, o
empregador também é responsável pela manutenção e respeito aos direitos
fundamentais do empregado, devendo zelar pela afirmação de sua dignidade
e integração no contexto social – e a readequação de suas funções no processo
produtivo da empresa faz parte deste mister. Julgados desta Corte. Agravo de
instrumento desprovido. (TST – AIRR: 8131820135020090, Relator: Mauricio
Goldinho Delgado, Data de Julgamento: 22/30/2017, 3ª Turma, Data de
Publicação: DEJT 24/03/2017). (grifo nosso).
RECURSO DE REVISTA 1 – CESSAÇÃO DO BENEFÍCIO
PREVIDENCIÁRIO. PERMANÊNCIA DA INCAPACIDADE LABORAL.
IMPOSSIBILIDADE DE RETORNO AO TRABALHO. RESPONSABILIADDE
DA EMPRESA PELO PAGAMENTO DOS SALÁRIOS. O entendimento
adotado pela Corte de origem está de acordo com a iterativa, notória e atual
jurisprudência desta Corte, a qual se firmou no sentido de que a recusa do
empregador em aceitar o retorno do empregado após a alta previdenciária,
em razão de considerá-la inapta ao trabalho, não afasta o dever de pagamento
dos salários correspondentes, pois diante da presunção de veracidade do ato
administrativo do INSS que atesta a aptidão do empregado para o labor,
cessando o benefício previdenciário, cabe ao empregador receber o obreiro,
realocando-o em atividades compatíveis com sua limitação funcional, até
eventual revisão da decisão tomada pelo órgão previdenciário. Precedentes.
Recurso de revista não conhecido. 2 – INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
VALOR (R$ 10.000,00). REDUÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. No tema, a
reclamada pretende a redução do valor da indenização por danos morais
decorrentes da ausência de pagamento dos salários ao autor após a alta
previdenciária, fixado em R$ 10.000,00. Contudo, de acordo com a jurisprudência
desta Corte, a revisão do valor da indenização somente é possível quando a
importância se mostrar nitidamente exorbitante ou irrisória, o que não se observo
nos autos, em que a indenização por danos morais foi arbitrada com razoabilidade
e proporcionalidade. Recurso de revista não conhecido. 3 – HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. REQUISITOS. No caso dos autos, o reclamante, embora
beneficiário da justiça gratuita, não se encontra assistido por advogado
credenciado junto ao sindicato de sua categoria profissional. Deste modo, não se
encontram satisfeitos todos os requisitos necessários ao deferimento da parcela em
43
questão. Aplicação da Súmula 219, I, do TST. Recurso de revista conhecido e
provido. (TST – RR: 13757220125020442, Relator: Delaíde Miranda Arantes,
Data de Julgamento: 21/08/2018, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT
31/08/2018). (grifo nosso).
Pela análise das decisões acima expostas, constata-se que a jurisprudência atual tem
reconhecido a situação de limbo jurídico previdenciário trabalhista, pacificando entendido
que a responsabilidade pelos pagamentos dos salários devidos ao empregado é do
empregador nos casos de limbo judiciário, sendo devido ao empregado os salários pelo
tempo em que ficou à disposição do empregador, além de danos morais, pelo tempo em que
não percebeu as remunerações devidas.
Os tribunais, tanto os regionais, quanto o superior, tem entendido, também, que há
responsabilização por danos morais ao empregado, pois a não percepção dos salários
enquanto vigente o contrato de trabalho demonstra a falta de interesse dos empregados para
com seus funcionários, que ficam sem condições de prover seu próprio sustento (e de sua
família, se houver), configurando ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana, este
garantia fundamental, que não pode ser violada.
Além disso, os tribunais afastam a responsabilidade do INSS, em primeiro momento,
por se tratar de Autarquia Federal, possuindo seus documentos uma presunção relativa de
veracidade, o que significa dizer que os papéis produzidos no meio particular não se
sobrepõem aos produzidos pela administração pública. Desta forma, se o INSS entende que
o trabalhador está apto ao retorno de suas atividades laborais, mesmo que tenha sua
capacidade reduzida, é dever da empresa empregadora permitir que o empregado retome sua
função, ou que seja inserido em função compatível com a sua capacidade.
Uma alternativa para o empregador seria de ajuizar ação perante o INSS,
contestando o atestado de alta médica e, ainda que o fizesse, no período em que a ação
estivesse correndo, possuiria a responsabilidade de aceitar o empregado em sua função.
Ademais, quando da alta previdenciária, o contrato de trabalho não está mais
suspenso, voltando a viger com todas as suas cláusulas, sendo responsabilidade do
empregador cumpri-las. Desta forma, deverá pagar os salários devidos ao trabalhador, sendo
inadmissível que, diante do atestado de inaptidão do médico contratado da empresa, deixa o
obreiro à própria sorte. Desta feita, temos a inadmissão e ilicitude da prática do limbo jurídico
previdenciário trabalhista por parte da empresa empregadora, que obsta o retorno do
empregado por considerações próprias.
44
3.2 Responsabilidade civil do empregador
Como pudemos observar no tópico anterior, a responsabilidade fora atribuída ao
empregador, sendo esta responsabilidade civil e objetiva. Importante mencionar, portanto, do
que se trata tal responsabilidade.
A concepção de responsabilidade vem do direito romano. Segundo Carlos Robertos
Gonçalves (2018), se aplicava a Lei de Talião, de forma bruta e imediata, e não pautada em
culpa. Aquele causador do dano era obrigado a repará-lo.
Segundo Venosa (2018, p. 462), a justificativa para tal forma de responsabilidade é a
natureza humana, de tal forma que explica:
o princípio é da natureza humana, qual seja, reagir a qualquer mal injusto perpetrado
contra a pessoa, a família ou o grupo social. A sociedade primitiva reagia com a
violência. O homem de todas as épocas também o faria, não fosse reprimido pelo
ordenamento jurídico.
Posteriormente, surge a autocomposição, onde ficava à critério da vítima receber as
vantagens econômicas, consequência do dano que sofrera, ou não. Segundo Carlos Roberto
Gonçalves, ainda assim, não se falava em culpa.
Sucede a Lei de Talião a composição tarifada, onde se impunha a autocomposição
baseada em tarifas. Fixava os preços para os casos concretos. É reflexo contra a vingança
privada, onde toma forma a composição obrigatória (LIMA, 1999, apud FIGUEIREDO,
2017).
No seguimento histórico, o que se sucede é a Lex Aquila, onde se passou a
desenvolver o conceito de culpa, sendo que até a culpa mais leve deveria ser punida
(AZEVEDO, 2008, 246, apud TARTUCE, 2018 ).
A Lex Aquilia é considerada como marco para a evolução da responsabilidade civil,
uma vez que não se limitava apenas a fixar quais atos eram ilícitos, mas também sobre a
responsabilização de indenizar o dano causado, considerando a culpa. (LIMA, 1999, p. 30/34,
apud FIGUEIREDO, 2017).
Posteriormente, Tartuce (2018) ensina que, com o Direito Francês, surge o conceito de
responsabilidade pautada na conduta do agente, o dano causado, o nexo de causalidade e a
culpa em sentido amplo (dolo e culpa em sentido estrito).
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Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2018), fora desta concepção de responsabilidade
que surgiu a definição de culpa, a ser inserida nos ordenamentos jurídicos de todo o mundo.
Posteriormente, no Direito Português, se deslumbrava as Ordenações do Reino, que
confundia o conceito de reparação, pena e multa e, segundo Figueiredo (2017), isso resultava
em decisões conflituosas, que prejudicava uma ou todas as partes envolvidas.
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves (2018), o que se segue é o Direito
Brasileiro, com o advento do Código Criminal de 1930, considerado civil e criminal, e que
previa, baseado em justiça e equidade, a reparação natural ou indenizatória do dano, a
reparação de forma integral, juros reparatórios, solidariedade, transmissibilidade do dever de
reparar, entre outros. A reparação era condicionada à condenação criminal.
Após, com o advento do Código Civil de 1916, passou a ser considerada a culpa do
agente para sua condenação. Isso porque o mencionado Código, em seu art. 159, previa a
necessidade de demonstração de ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência para
que houvesse o dever de reparar o dano.
Surgiu, entretanto, a teoria do risco, onde se preocupava com a demonstração da culpa
do agente, prevendo, porém, algumas situações onde a mesma era presumida, sendo o autor
responsável por indenizar o dano causado independentemente de demonstrada sua culpa.
Segundo Tartuce (2018), tal teoria era aplicada para responsabilizar determinadas atividades
em relação à coletividade.
Finalmente, de acordo com Venosa (2018), o Código Civil de 2002 consagrou, em seu
artigo 927, parágrafo único, a responsabilidade objetiva, sem deixar de lado a possibilidade de
responsabilização do agente baseada em sua culpa. Sobre a temática, Carlos Roberto
Gonçalves (2018, p. 30) dispõe:
No regime anterior, as atividades perigosas eram somente aquelas assim definidas
em lei especial. As que não o fossem, enquadravam-se na norma geral do Código
Civil, que consagrava a responsabilidade subjetiva. O referido parágrafo único do
art. 927 do novo diploma, além de não revogar as leis especiais existentes, e de
ressalvar as que vierem a ser promulgadas, permite que a jurisprudência considere
determinadas atividades já existentes, ou que vierem a existir, como perigosas ou de
risco.
Sob a evolução histórica, pode-se observar que o Direito sempre combateu a prática de
atos ilícitos, havendo evolução no modo como lida com tais atos. Demonstrada a origem da
responsabilidade civil, podemos vislumbrar o que aponta nosso atual texto legal (Código
Civil) acerca de tal responsabilidade.
46
Desta forma, Código Civil disciplina a responsabilidade civil em seu título IX,
disposta a obrigação de indenizar no primeiro capítulo. Por ordem do artigo 927 do mesmo
código, haverá dever de reparar o dano, independentemente de culpa, aquele que, mediante
prática de ato ilícito, causar dano a outrem. O parágrafo único do referido artigo dispõe, ainda,
que haverá o dever de indenizar nos casos especificados em lei, e quando a natureza da
atividade desenvolvida pelo autor do dano configurar risco aos direitos alheios. O que se
conclui da leitura de tal dispositivo, portanto, é que a obrigação de indenizar se pauta na
responsabilidade objetiva, ou seja, não se faz necessária a prova de culpa.
Caio Mário da Silva Pereira (2018) pontua que a ideia da reparação mais ampla do que
a de ato ilícito, e se o agente gera dever de ressarcir como consequência de seu ato, podem
haver casos de indenização não baseados em condutas ilícitas. É o que pontua o Código Civil,
ao dispor sobre
De tal forma, além de se preocupar com a reparação do dano patrimonial, o Código
Civil também se preocupou com os danos causados à moral do indivíduo, pois, segundo
Carlos Roberto Gonçalves (2018), as vítimas de ofensas morais não podem estar
desprotegidas.
Por sua vez, o artigo 196 do Código Civil complementa o 927, uma vez que qualifica o
ato ilícito do qual se refere, sendo: ―Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito.” Desta forma, a responsabilidade pressupõe a violação de um direito e um
dano causado.
Venosa (2018) conceitua a responsabilidade, em primeiro momento, de forma simples,
ensinando que qualquer atividade que prejudique a outrem, gera responsabilidade ou dever
indenizatório. É responsável toda pessoa que tiver de arcar com as consequências de uma
ação, de um fato ou negócio danoso. Significa dizer que qualquer ato humano pode gerar o
dever de indenizar.
Segundo Flávio Tartuce (2018, p. 333), sob uma perspectiva mais técnica, voltada aos
contratos: ―A responsabilidade civil surge em face do descumprimento obrigacional, pela
desobediência de uma regra estabelecida em um contrato, ou por deixar determinada pessoa
de observar um preceito normativo que regula a vida.‖. Desta forma, a responsabilidade civil
surge quando uma das partes de um contrato quebra suas normas, causando danos ao outro.
De acordo com Carlos Roberto Gonçalves (2018, p 19), a responsabilidade tem o
objetivo de reparar o dano causado, trazendo de volta o equilíbrio ao contrato entre as partes,
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definindo, portanto, que a ―responsabilidade exprime ideia de restauração de equilíbrio, de
contraprestação, de reparação de dano‖.
Caio Mario da Silva pereira ensina que o dever de indenizar pode surgir de um dano
causado à moral ou ao patrimônio, reforçado tal entendimento por Venosa (2018), que diz ser
possível a responsabilização, também, pelo dano social, religioso ou ético. Desta forma,
notório que uma ação ofensiva à outrem, de qualquer ordem, possa gerar o dever de indenizar.
Dispõe Carlos Roberto Gonçalves (2018, p. 20), sobre a indenização por danos
decorrentes de inobservância do direito:
O campo da moral é mais amplo do que o do direito, pois só se cogita da
responsabilidade jurídica quando há prejuízo. Esta só se revela quando ocorre
infração da norma jurídica que acarrete dano ao indivíduo ou à coletividade. Neste
caso, o autor da lesão será obrigado a recompor o direito atingido, reparando em
espécie ou em pecúnia o mal causado.
Ou seja, a responsabilidade por ato jurídico só será devida de forma indenizatória caso
gere prejuízo a outra parte. Se o caso, o autor da lesão deverá reparar o dano, em espécie ou
pecúnia.
Com base nestas conceituações, aplicadas a problemática em foco, qual seja o limbo
jurídico previdenciário trabalhista, pode-se entender que o empregador fica responsável pelos
danos causados ao empregado, uma vez que há quebra contratual, uma das razões que gera
indenização a outrem.
Como a situação apresentada não é tipificada em lei específica, necessário o uso da
doutrina e jurisprudência para o alcançar consenso em relação ao tema. Ficou demonstrado,
no tópico anterior, que a jurisprudência brasileira, de acordo com os Tribunais do Trabalho, se
utilizou do artigo 927 do Código Civil para responsabilizar o empregador pelo dano causado
ao empregado, uma vez que sua conduta decorre de ato ilícito e culpa (uma vez que há quebra
contratual, retirando do trabalhador as percepções de seus salários, além do impedimento para
laborar).
Sob estes fundamentos, o Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região decidiu
em favor do pagamento dos salários ao obreiro, como podemos observar:
LIMPO PREVIDENCIÁRIO. CULPA PATRONAL. REPARAÇÕES MATERIAL
E MORAL DEVIDAS. Constatada a culpa patronal pela situação de ―limbo
previdenciário‖ a que esteve o sujeito empregado, justificam-se as reparações
material e moral, sendo esta com fundamento nos artigos 186 e 937, do Código
Civil e artigo 5º, incisos V e X, da CRFB. (TRT-1 – RO: 01013046020165010541.
Relator: THEOCRITO BORGES DOS SANTOS FILHO. Data de Julgamento:
28/06/2017. Sétima Turma. Data de Publicação: 13/07/2017) (grifo nosso).
48
Posto isso, demonstrada fica a razão dos doutos tribunais em responsabilizar os
empregadores pela situação de limbo jurídico em que se encontram os empregados.
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa teve como finalidade principal a exposição de casos recorrentes
do judiciário brasileiro, onde trabalhadores se encontram desamparados, em situação de limbo
judiciário previdenciário-trabalhista.
Ao longo das análises feitas sobre as decisões dos Tribunais Regionais do Trabalho e
do Tribunal Superior do Trabalho, vislumbrou-se que a jurisprudência é pacífica quanto à
responsabilidade da empresa empregadora, quando esta ignora (ou não aceita) a alta
previdenciária concedida ao empregado, e obsta seu retorno às atividades laborais.
Razão se faz de responsabilizar o empregador pois, quando o empregado recebe alta
previdenciária, o contrato de trabalho retoma seus efeitos, e o empregado fica sob
responsabilidade da empresa empregadora, de tal forma que esta não pode abandonar seu
obreiro, deixando-o sem qualquer amparo econômico para prover sua subsistência.
O empregador deve, neste caso, pagar os salários devidos durante o período em que o
trabalhador ficou sob sua disposição, impedido de laborar.
Além de ter sido reconhecida, por vezes, o direito de indenização por danos morais.
Este se justifica no princípio da dignidade da pessoa humana, uma vez que o empregado
permanece, por longo período, sem receber as remunerações que lhe são devidas, sem
condições de prover seu sustento (e de sua família, se o caso), sem mencionar o
constrangimento causado àquele sem qualquer poderio econômico.
Não se entende pela responsabilidade da Autarquia Federal (INSS), pelo menos em
primeiro momento, pois seus atos possuem presunção de veracidade relativa. Como é relativa,
pode-se fazer prova em contrário, pacificado o entendimento que quem deve produzir tal
prova é o empregador, e não o empregado.
De tal modo, o Código Civil apresenta justificativa, também, para a responsabilização
do empregador nestes casos, como visto anteriormente. Pode-se dizer, portanto, que há
embasamento doutrinário, jurisprudencial e normativo (ainda que de forma genérica), para as
decisões expostas em questão.
A problemática acerca da responsabilidade nos dias atuais, portanto, ficou pacificada
por meio da jurisprudência, decisões parecidas ou iguais sobre o tema, que sopesaram, entre
outras coisas, a vulnerabilidade das partes, o dano causado as mesmas, e maior facilidade de
produção de provas em sentido contrário à Previdência Social.
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Apesar dos entendimentos pacíficos atualmente, não existe, ainda, legislação à
respeito do limbo jurídico, o que se faz necessário, para que haja mais segurança ao obreiro,
uma vez que, apesar do processo trabalhista ser mais simples e menos demorado, o
empregado sofre com a demora nas decisões, o que poderia ser evitado caso a prática do
limbo previdenciário se tornasse ilegal, e não apenas ilícita. Em razão da falta de legislação
específica sobre o tema, as normas aplicadas pelos tribunais para a solução de tal conflito são
as constitucionais e infraconstitucionais, baseadas, também, em direitos e garantias
fundamentais.
Em face das considerações prestadas até o presente o momento, percebe-se que a
resposta para a problemática fora atingida, uma vez que o judiciário brasileiro tem
demonstrado entendimento pacífico, como já mencionado, nos casos de limbo judiciário,
havendo responsabilidade do empregador para com os encargos trabalhistas do empregado,
assim como o dever de retorno do trabalhador a sua função, ou a função compatível à sua
incapacidade proveniente da doença ou acidente que gerou a benesse.
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REFERÊNCIAS
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São Paulo : Saraiva, 2012. – (Coleção saberes do direito ; 45)
ANGELIS, Juliano de. O emp egado em s uação de “l mbo p e denc o” Conteúdo
Jurídico, dezembro, 2014. Disponível em:
<http://www.conteudojuridico.com.br/?artigos&ver=2.51096&seo=1>
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Senado, 1988.
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm
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