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  • Lngua Portuguesa

    Aulas-Tema de 01 a 07

  • 2OficinaLngua Portuguesa

    AutoraNayara Moreira Santos

    Revisora CrticaJacqueline Barbosa

    2013 Anhanguera EducacionalProibida a reproduo final ou parcial por qualquer meio de impresso, em forma idntica, resumida ou modificada em lngua portuguesa ou qualquer outro idioma.

  • 3 Vice-Presidente Acadmica

    Ana Maria Costa de Souza

    Diretora de Planejamento e Organizao Pedaggica

    Cleide Marly Nebias

    Diretora Adjunta de Inovao e Engenharia Pedaggica Alessandra Cristina Fahl

    Coordenao VirtualCamila Torricelli de Campos

    Suporte TcnicoAline Gonalves TorresPatrcia Taiane Ferreira da SilvaRichard Rodrigues da SilvaWallace Barbosa de Souza

    Gerncia de Design EducacionalRodolfo PineliGabriel ArajoJuliana CristinaFlvia Lopes

    Equipe:Assessoria PedaggicaDaniela Vitor FerreiraEmanuela de OliveiraFbio CavarsanGuilherme NicsioLetcia Martins BuenoMaysa Ferreira Rampim

    Analistas AcadmicasAndiara DiazValquria Maion

    Analista de ProjetosLiliam Silva

    Assessoria Tcnico-AcadmicaJesimiel Duarte Leo

  • 4NDICE

    Introduo............................................................................................................................. 05

    TEMA 01 - Fonologia e OrtografiaTexto e Contexto .................................................................................................................. 07Referncias .......................................................................................................................... 22Saiba Mais ........................................................................................................................... 23

    Tema 02 - MorfologiaTexto e Contexto .................................................................................................................. 25Referncias .......................................................................................................................... 40Saiba Mais ........................................................................................................................... 41

    Tema 03 - Sintaxe Texto e Contexto .................................................................................................................. 43Referncias .......................................................................................................................... 59Saiba Mais ........................................................................................................................... 59

    Tema 04 - Figuras de LinguagemTexto e Contexto .................................................................................................................. 61Referncias .......................................................................................................................... 73Saiba Mais ........................................................................................................................... 74

    Tema 05 - IntertextualidadeTexto e Contexto .................................................................................................................. 77Referncias .......................................................................................................................... 88

    Tema 06 -Sequncias textuaisTexto e Contexto .................................................................................................................. 91Referncias .......................................................................................................................... 103Saiba Mais ........................................................................................................................... 103

    Tema 07 - Ttulo tema 07Texto e Contexto .................................................................................................................. 107Atividade de Autodesenvolvimento ...................................................................................... 120Referncias .......................................................................................................................... 121Saiba Mais ........................................................................................................................... 121

  • 5IntroduoCaro(a) aluno(a),

    A anlise de como a lngua se constitui faz parte dos nossos estudos desde cedo. Contudo, no raro, acabamos passando pela Educao Bsica com a sensao de que conjuntos de definies

    ou formalidade na escrita, de acordo com o contexto em que estamos inseridos. Os meios de comunicao de massa, por exemplo, entendem bem a necessidade de falar ou escrever de modo que atinja seu pblico-alvo. Para ilustrarmos as diferentes formas de utilizao da linguagem, segue um vdeo introdutrio em que as falas dos participantes sugerem diferentes usos e variedades da linguagem. Saber reconhecer e transitar por esses usos e variedades torna-se essencial para a sua jornada acadmica, que est apenas comeando.

    Portanto, o que se pretende nesse curso fazer com que voc possa relembrar algumas questes usualmente trabalhadas na escola, a partir do ponto de vista da prtica, daquilo que mais

    e normas so, no apenas maantes, como tambm inteis para as vrias situaes de comunicao com as quais nos deparamos no nosso dia a dia. E, por no compreendermos a lngua, tendo em vista seus objetivos prticos, acabamos cometendo inadequaes.

    H tempos, tericos da linguagem vm tentando quebrar essa ideia de que preciso estudar conceitos meramente pelo que eles significam. Em outras palavras, no vantajoso sabermos na ponta da lngua, por exemplo, o que uma coordenada sindtica aditiva, se no compreendermos de que modo ela se constitui e sua funo nas prticas de linguagem. Assim, conhecer a fundo a prpria lngua passa a ser mais do que saber de cor um conjunto de normas, trata-se de saber fazer uso dela adequadamente nas mais diferentes manifestaes, tanto escritas quanto faladas.

    Sem perceber, procuramos o tempo inteiro adaptar (ou deveramos procurar adaptar) a nossa fala e o nvel de informalidade

    clique Aqui

    necessitamos para usarmos a lngua de maneira mais satisfatria. Propomos ento, um olhar que ultrapasse as classificaes pelas classificaes, os conceitos pelos conceitos, a norma pela norma. Preparad@?

  • 6TemA

    01:

    Fono

    logia

    e Orto

    grafi

    a

  • 7Fonologia a rea de estudo da gramtica que toma a palavra tendo como ponto de vista a sua constituio sonora. Ou seja, nessa rea que so estudados:

    os fonemas;

    os encontros fonticos;

    as divises silbicas;

    as classificaes da palavra a partir de sua slaba tnica e da quantidade de slabas;

    ortografia: as definies sobre a grafia e a acentuao das palavras etc.

    Para a fonologia, tais estudos no pretendem fazer uma catalogao de regras sem uma perspectiva funcional. Ao contrrio, estudar os sons da lngua tambm prestar ateno nas diferenas intencionais de significado entre um uso e outro.

    A menor unidade sonora na constituio das palavras denominada fonema. Mas por que importante ater-se em pequenos detalhes como os fonemas das palavras? Observe o texto abaixo:

    [...]

    s melhor do que tu.

    No digas nada: s!

    Graa do corpo nu

    Que invisvel se v.

    (PESSOA, Fernando. No digas nada! In: Cancioneiro.

    Disponvel no link: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000003.pdf.

    Acesso em 20/05/2013.)

    TexTo e conTexTo Tema01 - Fonologia e Ortografia

    ndice

  • 8TexTo e conTexTo Tema01 - Fonologia e Ortografia

    Se repararmos os vocbulos tu e nu, veremos que se diferenciam entre si apenas pela presena dos sons diferentes, representados pelas letras t e n. Logo, a simples oposio entre t e n que estabelece a diferena entre os dois vocbulos. Essas unidades sonoras mnimas (/t/, /n/) so os fonemas.

    O mesmo vale para as palavras s e v: apenas a mudana do fonema /s/ por /v/ estabelece a diferena entre os vocbulos. Poetas, aqui muito bem representados por Fernando Pessoa, gostam de fazer uso desses fonemas que, trocados, ganham valor de contraste.

    No exemplo que voc acabou de ver, um fonema representado por uma nica letra.

    Porm, no sempre assim. Alm disso, um mesmo fonema pode ser representado por letras diferentes. Leia o trecho de uma crnica:

    O sonambulismo tem sido aplicado cura de molstias, e ultimamente busca das coisas perdidas e predio do futuro, o que alis a nossa polcia contestou de um modo formal e urbano. Faltava aplic-lo poltica dos Estados; o que acaba de fazer o governo argentino. O governo argentino mandou, por descuido, o oramento ao Senado, devendo mand-lo Cmara; o Senado, no

    Que coisa, no?

    Afinal, qual a diferena entre fonema e letra?

    Fonema: menor unidade sonora capaz de estabelecer distino entre dois vocbulos.

    Letra: representao grfica do fonema.

    O nmero de fonemas e letras em um vocbulo nem sempre coincide. Por exemplo, no vocbulo LIBERDADES temos 10 sons e 10 letras:

    LIBERDADES

    Letras: l-i-b-e-r-d-a-d-e-s

    Fonemas: /l/, /i/, /b/, /e/, /r/, /d/, /a/, /d/, /e/, /s/

    Mas no vocbulo RIQUEZA isso no acontece. Veja:

    RIQUEZA

    Letras: 7 r-i-q-u-e-z-a

    Fonemas: 6 - /r/, /i/, /k/, /e/, /z/, /a/ (observe que as letras QU representam apenas um fonema: /k/)

  • 9menos sonmbulo que o governo, ps o oramento em discusso. A Cmara estranhou esses dois cochilos; mas no podendo ser excluda da virtude sonamblica, muito provvel que adormea tambm, e vote a lei, com os olhos fechados. Resta que os contribuintes, ainda mais sonmbulos do que os dois poderes, paguem a si mesmos os impostos; o que permitir ao governo remeter ento o oramento ao congresso literrio; e, caso este recuse, biblioteca de Alexandria.

    [...]

    (ASSIS, Machado de. Notas semanais. In: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ua000215.pdf. Acesso em 20/05/2013.)

    No incio do texto, j vemos que a palavra SONAMBULISMO possui o fonema /s/ representado duas vezes pela letra S. Porm, releia a passagem:

    [...] o Senado, no menos sonmbulo que o governo, ps o oramento em discusso.

    Aqui, h um exemplo do fonema /s/ representado, mas com uma grafia que no a da letra S sozinha ou em dupla como em SS. Descobriu qual ?

    Isso mesmo:

    Que coisa, no?

    Outras duplas de letras representam o fonema /s/: SC e XC. Assista aos vdeos a seguir para relembrar como eles podem ocorrer em uma palavra:

    clique Aqui clique Aqui - librAs

    http://www.youtube.com/watch?v=FVNeHVBRaLA http://www.youtube.com/watch?v=kVlVAldYBsQ

    ORAMENTO

    O fonema /s/ representado pela letra .

    Devemos estar atentos a essas pegadinhas ao escrevermos as palavras. Muitas vezes, erros ortogrficos acontecem, justamente, pelo fato do mesmo som ser representado de diferentes

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    TexTo e conTexTo

    Que coisa, no?

    H casos em que duas consoantes aparecem juntas, mas no so dgrafos.

    . No trecho que lemos de Machado de Assis h exemplos, como APLICADO, PROVVEL, CONTRIBUINTES e BIBLIOTECA, ALEXANDRIA. A esse tipo de sequncia de duas ou mais consoantes chamamos de encontro consonantal. Nesse caso, como temos fonemas diferentes, ambos devem ser pronunciados. Entretanto, em algumas variedades lingusticas, em funo de fenmenos ligados variao lingustica, um desses fonemas pode no ser pronunciado, o que inclusive pode ser fonte de preconceito, j que h essa variedade lingustica.

    Ateno tambm s palavras como ADEQUADAMENTE, GUA, ESCADA, EXCLUIR, nas quais qu, gu, sc e xc no so dgrafos, pois acabam representando dois sons.

    maneiras. Se voc voltar a ler o trecho inteiro, ver que em duas palavras o fonema /s/ tem outras representaes alm de s, ss e . Sim, so as palavras POLCIA e EXCLUDA.

    Ainda na mesma passagem, as palavras SENADO, MENOS, SONMBULO, PS e DISCUSSO tambm possuem o fonema /s/. Contudo, nas quatro primeiras ele representado pela letra S e na ltima pelas letras SS juntas.

    Teramos ainda, como possibilidade de representao do /s/, o uso do S, como em DESA e Z como em GIZ.

    Concluindo o fonema /s/ pode ser grafado com S, C, X, SS, SC, S, Z, , XC.

    Quando duas letras representam um nico fonema, elas so chamadas de dgrafos. Exemplos de dgrafos RR, SS, CH, QU E GU (antes de E e I)

    Slaba tnica: a intensidade em jogoLeia em voz alta as palavras a seguir:

    MILHES HERI SPERO POSSVEL RPIDO BURGUS

    Quando pronunciamos uma palavra, podemos notar que uma slaba se sobressai, parecendo mais forte do que as demais. Esse pedao da palavra pronunciado com mais intensidade chamado de slaba tnica. Veja abaixo as slabas tnicas das

    Tema01 - Fonologia e Ortografia

  • 11

    palavras que voc leu acima:

    MILHES HERI SPERO POSSVEL RPIDO BURGUS

    Reconhecer a slaba tnica das palavras bastante til quando bate aquela dvida sobre onde acentuar. Mas ateno! Todas as slabas tnicas recebem acento grfico? No. E a que mora o perigo.

    QUESTO 01

    Leia o conjunto de palavras abaixo e marque a opo em que estejam elencadas suas respectivas slabas tnicas:

    MADEIRA LMPADA ESPAO ILUSO LIQUIDIFICADOR PRINCESA RETRATO

    a) ma lm pa i qui sa tra

    b) dei lm pa so dor ce tra

    c) dei da es i dor prin to

    d) ra da o lu ca ce re

    e) ma pa es i fi sa to

    Acentuao grfica: como acentuamos (ou no!) as palavras

    Voc deve ter percebido que a slaba tnica pode aparecer em diferentes lugares da palavra. Dependendo de sua posio, as palavras recebem uma classificao. Vamos relembr-las.

    Classificao Posio da slaba tnicaOxtona ltimaParoxtona PenltimaProparoxtona Antepenltima

    Por que importante saber se uma palavra oxtona, paroxtona ou proparoxtona? Oras, quando tiver dvidas se a slaba tnica de determinada palavra acentuada ou no, vale conhecer alguns conceitos relativos a essas classificaes.

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    QUESTO 02

    Esto elencados abaixo certos conceitos sobre a classificao das palavras dependendo da posio de sua slaba tnica. Eles so essenciais para que no tenhamos mais dvidas sobre a acentuao das palavras. Leia-os com ateno:

    I. Palavras oxtonas terminadas em a(s), e(s), o(s), em(ens) sempre so acentuadas.

    II. Palavras paroxtonas terminadas em ditongo sempre recebem acento.

    III. Todas as palavras proparoxtonas so acentuadas.

    IV. Paroxtonas terminadas em a(s), e(s), o(s), em(ens) nunca so acentuadas.

    Agora leia as frases abaixo e assinale a opo em que a palavra circulada em cada frase sirva respectivamente de exemplo para cada conceito.

    a)

    I. Ele enfrentou muitos obstculos para chegar at aqui.

    II. Vlei meu esporte favorito!

    III. Perdi a liquidao porque fui o ltimo a chegar.

    IV. Coloque o capuz do casaco, pois est muito frio l fora.

    b)

    I. Meu bichinho de estimao adora cafun.

    II. Os sabis fazem uma festa no stio do meu av.

    III. Os automveis tm de respeitar o espao das ciclovias.

    IV. As paredes tm ouvidos.

    Tema01 - Fonologia e Ortografia

    TexTo e conTexTo

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    c)

    I. O Brasil exporta guaran para o mundo inteiro.

    II. A minha srie de TV favorita est na ltima temporada.

    III. O pssaro cantou a noite inteira.

    IV. Na minha rua no h sequer um poste de luz funcionando.

    Ortografia: no to estranha quanto parece

    Observe o trecho abaixo:

    A Lingoagem e figura do entendimento [...] os bos falo virtudes e os maliiosos maldades [...] sab falar os q/ tedas cousas: porq/ das cousas nam as palavras e no das palavras as cousas.

    (Ferno de Oliveira, autor da primeira gramtica da lngua portuguesa em 1536)

    Por mais estranho que parea, era assim que a lngua portuguesa era escrita nessa poca. Como podemos notar, algumas palavras hoje so escritas de maneira diferente.

    Voc teve dificuldade em ler o trecho ou foi to fcil quanto ler qualquer coisa nos dias atuais? Se voc sentiu dificuldade e/ou teve de ler mais devagar, voc no est sozinho. Isso porque no estamos acostumados com essa ortografia, o que acaba atrapalhando mesmo a leitura. Veja como esse trecho seria escrito hoje:

    A linguagem figura do entendimento [...]. Os bons falam virtudes e os maliciosos, maldades [...]. Sabem falar os que entendem as coisas: porque das coisas nascem as palavras, e no das palavras as coisas.

    Ficou mais compreensvel? Voc sentiu na pele agora a funo da ortografia: tornar a escrita mais uniformizada, para que todos possam compreend-la. Quando nos deparamos com muitos erros ortogrficos ou com uma ortografia mais antiga, nossa leitura fica mais lenta e difcil.

    Porm, os primeiros usurios da lngua portuguesa passaram por muitos sufocos, at chegar concluso de que era preciso estipular certas regras de escrita. At o sculo XVI, os textos em lngua portuguesa eram escritos pelo sistema fontico, ou seja, eram baseados

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    na pronncia das palavras. Tendo em vista as variedades que aparecem nas nossas falas quanto pronncia (dependendo da regio do Brasil que vivemos, por exemplo), voc pode imaginar a baguna que era.

    Aps o sculo XVI, passou-se a utilizar o sistema etimolgico, em que as palavras eram escritas de acordo com a forma original que elas tinham no latim. por isso que, at hoje, podemos ter diferentes letras que representam o mesmo fonema, como j vimos anteriormente. Isso acontece porque essas palavras, de certa forma, carregam resqucios de sua grafia em latim.

    Se voc tem dvidas quanto grafia de algumas palavras de vez em quando, saiba que isso absolutamente normal. Isso porque ns temos regularidades e irregularidades ortogrficas. Em alguns casos, a norma ortogrfica nos permite saber qual letra ser a correta em determinada palavra. Porm, s vezes, no h uma norma por trs do uso correto. Nesses casos, s conseguimos tirar a dvida memorizando e consultando o dicionrio. importante que voc compreenda que essas regras no so naturais: a grafia das palavras sempre uma conveno, ou seja, algo que definido socialmente.

    Tanto a ortografia um acordo social que passamos recentemente por uma mudana na grafia de algumas palavras de lngua portuguesa. Voc se lembra quando o Novo Acordo Ortogrfico foi firmado?

    Assista a vdeo-aula a seguir para relembrar a questo poltica por trs do acordo e algumas das novas regras bsicas:

    Por vezes, a grafia de algumas palavras suscita dvidas, mesmo depois de termos sado da escola. Afinal, como lidar com palavras que so pronunciadas e/ou escritas da mesma maneira ou que so

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    Web Aula 1 O Novo Acordo Ortogrfico: o que muda?

    muito parecidas, mas que tm sentidos completamente diferentes? Vamos entender um pouco melhor esses casos logo abaixo.

    Homonmia e paronmia: o que so esses conceitos?

    Tema01 - Fonologia e Ortografia

    TexTo e conTexTo

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    QUESTO 03

    Voc j deve ter se deparado com palavras que so pronunciadas e escritas do mesmo modo, mas que tm sentidos absolutamente diferentes. Veja as frases abaixo:

    O pai de Murilo ocupa um timo posto na empresa onde ele trabalha.

    Levamos o maior susto no posto ao abastecermos o carro ontem.

    De acordo com as frases que voc leu, em qual das situaes abaixo podemos encontrar o pai de Murilo?

    a)

    b)

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    Tendo em vista que a palavra POSTO tem dois sentidos, ainda que seja pronunciada e escrita da mesma maneira, descobrimos qual o sentido em que ela est sendo empregada pelo contexto que foi dado.

    QUESTO 04

    O que voc acha de relembrarmos mais algumas dessas palavras? Leia as frases abaixo, selecionando qual o significado da palavra em cada questo:

    Quando eu era pequena, minha me vivia reclamando da baguna do meu quarto.

    a) Aposento da casa b) Nmero ordinal

    Todo dia aps almoar ele senta no banco da praa para descansar um pouco.

    c) Instituio financeira d) Local onde se senta

    Eu at gostei do palet, mas a manga ficou curta demais, voc no acha?

    e) Parte da roupa que envolve os braos f) Fruta

    Como nos exemplos que vimos, h palavras em nossa lngua que, apesar de terem significados diferentes, tm a mesma pronncia e a mesma grafia. Essas palavras so chamadas de homnimas homgrafas.

    Mas ser que toda palavra que possui a mesma pronncia tem tambm a mesma grafia?

    QUESTO 05

    Leia as frases abaixo e selecione a palavra que seria mais adequada para ocupar o espao em branco. Caso tenha dvidas (tanto nessa atividade quanto na vida), no hesite em

    Tema01 - Fonologia e Ortografia

    TexTo e conTexTo

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    consultar o dicionrio!

    Bolo de cenoura sem __________ de chocolate por cima no tem graa.

    a) Cauda b) Calda

    Antnio foi o __________ colocado na natao.

    c) Sexto d) Cesto

    Espero que voc se __________ melhor depois da cirurgia.

    e) Sinta f) Cinta

    As palavras que voc viu acima tambm tm significados diferentes e a mesma pronncia. Porm, ao contrrio dos homnimos homgrafos, elas no so escritas da mesma maneira. Por isso elas so chamadas de homnimas hetergrafas.

    Agora leia as duas frases abaixo:

    A lenda do cavaleiro sem cabea amedronta a cidade

    Por ser um cavalheiro, Maurcio era admirado por todos

    Em ambas as frases, temos exemplos de palavras que so muito semelhantes uma com a outra: CAVALEIRO e CAVALHEIRO. Porm, se voc tentar pronunci-las em voz alta, ver que elas no s tm grafias diferentes como tambm pronncias diferentes. A essas palavras que so semelhantes, mas que possuam grafia, pronncia e significados diferentes, denominamos parnimas.

    O caso das homnimas MAL e MAU

    O emprego de MAL ou MAU uma questo que acompanha a todos ns em algum momento da vida.

    Observe o trecho da letra abaixo:

    [...]

    E voc que est me ouvindo

    Quer saber o que est havendo

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    Com as flores do meu quintal?

    O amor-perfeito, traindo

    A sempre-viva, morrendo

    E a rosa, cheirando mal

    [...]

    HOLANDA, Chico Buarque. Agora falando srio. Chico Buarque de Hollanda N 4. CBD/Philips - 1970

    Nesse caso, a palavra MAL foi empregada no sentido da m situao em que a rosa se encontra. A verdade que essa palavra pode ser usada com diferentes sentidos. Veja:

    O grande mal do Brasil so os polticos corruptos que saem impunes.

    MAL: aquilo ou aquele que prejudica, que atrapalha.

    O paciente est mal, praticamente nas ltimas.

    MAL: em pssimo estado de sade, enfermidade.

    Mal a me virava as costas, ele quebrava alguma coisa.

    MAL: est indicando tempo, tem mais ou menos o mesmo sentido de assim que.

    Ela agiu mal quando saiu gritando da sala de reunio.

    MAL: est indicando o modo como ela agiu, equivalente a de modo errado.

    E a palavra MAU? Que sentidos ela pode ter?

    Nas revistas em quadrinhos de super-heris, sempre h um homem mau.

    MAU: o mesmo que ruim, perverso.

    Temos de votar conscientemente para no acabarmos elegendo um mau poltico.

    Tema01 - Fonologia e Ortografia

    TexTo e conTexTo

  • 19

    MAU: que revela falta de competncia, no exerce bem suas funes.

    Esse um mau momento para discutirmos a relao.

    MAU: inconveniente, inoportuno.

    QUESTO 06

    Selecione abaixo a frase em que o emprego de MAL ou MAU est incorreto:

    a) Os agrotxicos so o mal do sculo.

    b) Em mudanas de temperatura, a rinite um mal que atinge muita gente.

    c) Ele fez muito mau em pegar o primeiro avio e desistir de tudo.

    d) Ela no se preocupava com o fato das pessoas comentarem sobre seus maus modos.

    Que coisa, no?

    Um critrio prtico para tirar a dvida quando tiver de escrever MAU ou MAL que a palavra MAU s usada quando for possvel troc-la por BOM e a palavra MAL usado quando for possvel troc-la por BEM. Ou seja, MAU ser sempre um adjetivo, enquanto que MAL ser sempre um advrbio.

    Exemplo:

    Ele um mau msico.

    Ele um bom msico.

    QUESTO 07

    Selecione a alternativa a seguir que tenha, respectivamente, as palavras faltantes nas frases.

    I. No h bem que sempre dure, nem h _____ que nunca acabe.

    II. Um _____ governador causa ao povo um _____ irreparvel.

  • 20

    III. No faz _____ que ele fale _____ de mim, pois eu sei que ele um _____-educado.

    IV. Vilma est sempre de _____ humor, por isso _____ chega ao trabalho e j comea a xingar todo mundo pelas costas.

    a) mal mal mau mal mal mal mau mau

    b) mal mau mal mal mal mal mau mal

    c) mau mau mal mau mal mal mau mau

    d) mau mal mal mau mau mal mal mal

    Porqu, por qu, por que, porque... Afinal, quando usar um e outro?

    Os variados porqus da lngua portuguesa suscitam dvidas por onde passam. Porm, entender a funo de cada um deles torna mais fcil o emprego na nossa escrita. Veja abaixo:

    Por que

    Essa grafia utilizada em dois casos:

    I. Quando, aps o seu uso, fica subentendida a palavra razo ou motivo.

    Exemplo: Por que voc no veio ontem? (Por que [razo/motivo] voc no veio ontem?)

    II. Quando facilmente substituvel pela expresso pelo qual e suas variaes.

    Exemplo: O fracasso por que passamos no nos abateu. (O fracasso pelo qual passamos no nos abateu)

    Por qu

    Tema01 - Fonologia e Ortografia

    TexTo e conTexTo

  • 21

    Essa grafia utilizada apenas no final das frases.

    Exemplo: Voc no vestiu a roupa que eu te dei por qu?

    Porque

    Essa grafia utilizada em afirmaes e em respostas, geralmente podendo ser substitudo por pois ou como.

    Exemplo: No fui festa porque fiquei gripado.

    Porqu

    Essa grafia sempre precedida de artigo ou pronome e empregada com sentido aproximado de razo ou motivo.

    Ningum sabia o porqu dela estar to triste.

    So muitos os porqus para ela estar to triste.

    Veja como, no ltimo exemplo, possvel que a palavra porqu fique no plural.

    QUESTO 08

    Leia as frases abaixo e selecione a opo em que os respectivos usos dos porqus esto corretos:

    I. __________ nascemos para amar, se vamos morrer? / __________ morrer, se amamos? (Carlos Drummond de Andrade)

    II. __________ sendo Curi um incurvel romntico, noivava frequentemente. (Jorge Amado)

    III. Ai de ti, Copacabana, __________ eu j fiz o sinal bem claro de que chegada a vspera de teu dia [...]. (Rubem Braga)

    IV. Ningum capaz de entender os __________ da vida.

    a) porque por que porque porqu por qus

  • 22

    b) por que porque por que por qu por qus

    c) porque por que por que porque porqus

    d) por que por que porque porque porqus

    refernciAs

    CASTILHO, Ataliba T. de. Nova Gramtica do portugus brasileiro. So Paulo: Contexto, 2010.

    EDIES SM. Ser Protagonista Gramtica Volume https://docs.google.com/file/d/0B1lfOtr2UH-

    EZWlNTmd3TnJWS3M/edit nico. So Paulo: Edies SM, 2010.

    Tema01 - Fonologia e Ortografia

    TexTo e conTexTo

  • 23

    sAibA m A i s

    Assista ao vdeo abaixo para mais informaes sobre o uso dos porqus.

    clique Aqui

    http://www.youtube.com/watch?v=nrBf5zhRFlk

    Assista ao vdeo abaixo para mais informaes sobre uso de mau e mal.

    clique Aqui

    http://www.youtube.com/watch?v=hwynBEFBgsg

    LEDUR, Paulo Flvio. Guia prtico da Nova Ortografia: as Mudanas do Acordo Ortogrfico. Disponvel em: http://books.google.com.br/books?id=JldFNOmIWIAC&pg=PP1&lpg=PP1&ots=z3gfiqlqp7&dq=nova+ortografia&hl=pt-BR . Acesso em: 28 jun. 2013.

  • 24

    TemA

    02:

    morfo

    logia

  • 25

    Nos estudos da Morfologia, so focalizados os constituintes das palavras, isto , trata-se de uma parte da gramtica que estuda a estrutura e a formao das palavras. Se voltarmos para a origem da palavra Morfologia, com a juno do grego morph (forma) + logos (estudo), podemos notar que sua funo est intrinsecamente ligada a sua prpria formao. Alis, esse tipo de anlise histrica tambm faz parte da Morfologia. Veja abaixo seus objetivos mais gerais:

    estudar a estrutura da palavra para identificar os elementos que a constituem;

    descobrir o mecanismo lingustico que deu origem palavra, ou seja, seu processo de formao;

    estabelecer a que classe gramatical a palavra pertence;

    analisar as possveis flexes (variaes) que uma palavra pode ter.

    Voc j ouviu falar de um personagem chamado Odorico Paraguau? Ele ficou famoso na novela O Bem Amado por inventar palavras com muita desenvoltura. Observe uma de suas prolas:

    Vamos dar uma salva de palmas a esta figura trepidante e dinamitosa que foi o seu Non.

    Veja que o personagem criou um neologismo, isto , uma palavra nova: dinamitosa. Se procurarmos no dicionrio tradicional, onde so encontradas as palavras oficiais da

    lngua, certamente essa no estar presente. Porm, ainda que no haja um verbete oficial que explique o sentido dela, possvel, a partir dos elementos significativos mnimos, saber o que

    TexTo e conTexTo Tema02 - morfologia

    ndice

    Que coisa, no?

    Odorico Paraguau foi um personagem cmico criado pelo dramaturgo e romancista Dias Gomes (1922 1999) nos anos 70, fazendo parte da novela O Bem Amado. Era autoritrio e dado a demagogias. Atuao at hoje lembrada de Rolando Boldrin, o primeiro ator a dar vida a Odorico na TV.

    elegante

    melhor

    mximopara

    diferente,

    viver

    palavrasque

    nose

    pensar

    trabalho

  • 26

    Odorico quis dizer.

    dinam(i) t os(o) a

    elemento indicador de fora, potncia, relaciona-se a dinamite)

    (elemento de ligao, para facilitar a pronncia)

    (elemento formador de adjetivo)

    (elemento indicador do gnero feminino, concordando com o substantivo figura)

    Assim, podemos afirmar que essa palavra formada por quatro elementos significativos mnimos, que, juntos, formam seu significado. Uma figura dinamitosa, portanto, seria uma pessoa vigorosa, intensa, cheia de energia.

    As menores unidades de sentido que se combinam para formar uma palavra so chamadas de morfemas.

    Processo de formao de palavras: como nossos vocbulos surgem?

    Quer saber de um fato curioso? Segundo os grandes dicionrios de lngua portuguesa, ns temos por volta de 400.000 palavras na nossa lngua, sem contar as inmeras palavras tcnicas e cientficas que temos e os dicionrios comuns no abarcam. No viu como isso pode ser interessante? Pois tente imaginar ento a quantidade de palavras que nascem e morrem na histria da lngua portuguesa!

    De modo geral, compreender o processo de formao de palavras importante por trs motivos:

    para (re)conhecermos melhor seus significados;

    para conseguirmos perceber com que intencionalidade algumas palavras so usadas em determinada prtica de linguagem (em um bate-papo com amigos, no noticirio, no anncio publicitrio...);

    para refletirmos sobre o modo como as palavras vm e vo, do uso na fala e na escrita.

    TexTo e conTexTo Tema02 - morfologia

  • 27

    A fim de saber como esse processo formador ocorre na lngua portuguesa, clique na Web Aula abaixo.

    Como vimos na Web Aula, a palavra pode ser primitiva, derivada ou composta. As palavras derivadas dividem-se em cinco subgrupos:

    Derivao imprpria

    Processo de deslocamento no qual uma palavra transferida de sua classe gramatical usual para outra classe sem alterao da forma. Ex: Vejamos a palavra jantar como parte de certa classe gramatical:

    Para voc jantar naquele restaurante, s fazendo reserva. (jantar = verbo)

    Agora observe outra frase:

    O jantar saiu tarde porque o restaurante estava lotado. (jantar = substantivo)

    Derivao prefixal

    Acrscimo de um prefixo em uma palavra primitiva ou radical. Ex: infeliz (in + feliz)

    Derivao sufixal

    Acrscimo de um sufixo em uma palavra primitiva ou radical. Ex: menininha (menin inha)

    Derivao parassinttica

    Acrscimo simultneo de um prefixo e de um sufixo a um radical. Ex: entristecer (en + trist + ecer)

    clique Aqui

    Web Aula 2 Como surgem as palavras na lngua portu-guesa?

    Que coisa, no?

    Nem toda palavra com acrscimo de prefixo e sufixo parassinttica. Para ter certeza, retire o prefixo ou o sufixo. Se a palavra mantiver algum sentido com um ou outro, trata-se apenas de uma derivao prefixal e sufixal. J se ela no mantiver sentido nenhum, a sim ser parassinttica. Veja os exemplos:

    Imparcialmente: Existe imparcial e parcialmente. Logo, uma derivada prefixal e sufixal.

    Desalmado: No existe desalm(a), nem almado. Portanto, uma derivada parassinttica.

  • 28

    Derivao regressiva

    Processo que origina sobretudo substantivos de ao, com o acrscimo das vogais a, e ou o ao radical de algum verbo. Ex:

    Combater (verbo no infinitivo)

    combat (radical) + e (vogal) = combate (derivado regressivo)

    J as palavras compostas so divididas em:

    Composio por justaposio

    As palavras que se unem no sofrem alterao e continuam a ser usadas separadamente da mesma forma como antes da composio. Ex: passatempo (passa + tempo)

    Composio por aglutinaoAo menos uma das palavras que se unem sofre alterao na pronncia e/ou na grafia. Ex: aguardente (gua + ardente)

    QUESTO 01

    Leia o texto abaixo, observando as palavras em negrito. Em seguida, selecione qual alternativa indica incorretamente o processo de formao da palavra:

    Seu passatempo era assoviar uma cano depois de todo aquele vaivm de discusses no corredor. No queria mais ser infeliz com todos os ataques do chefe.

    a) passatempo derivao parassinttica

    b) vaivm composio por justaposio

    TexTo e conTexTo Tema02 - morfologia

  • 29

    c) corredor derivao por sufixao

    d) infeliz derivao por prefixao

    e) ataques formao regressiva

    QUESTO 02

    Leia a seguinte manchete de jornal:

    O EMPATE DO PALMEIRAS SIGNIFICOU UM AVANO NA PROCURA DE INGRESSOS PARA O CAMPEONATO

    Quais palavras na manchete indicam uma derivao regressiva?

    a) significou procura ingressos

    b) empate avano procura

    c) campeonato empate levou

    d) ingressos avano para

    e) empate significou campeonato

    Que coisa, no?

    Existem ainda outros trs processos de formao de palavras:

    Sigla: palavra que formada pelas letras iniciais de outras. Ex: CBF (Confederao Brasileira de Futebol)

    Onomatopeia: palavra que imita um som. Ex: miau, tic-tac, atchim.

    Hibridismo: palavra que veio da juno de elementos de outros idiomas. Ex: tele (grego) + viso (latim) = televiso.

    Principais classes de palavras: como se classifica o qu

    A linguagem verbal acontece na prtica com o uso das palavras. Quando essas palavras se juntam para compor o texto, tanto falado quanto escrito, elas adquirem determinados significados: podem indicar caractersticas de algo ou algum, nomear os seres, esclarecer a quantidade de seres ou objetos referidos etc.

    Partindo dessas significaes, as classes de palavras dividem-se em dez, podendo ser variveis ou invariveis:

  • 30

    PALAVRAS VARIVEIS PALAVRAS INVARIVEISSubstantivo (pode variar em gnero, nmero e grau)

    Advrbio

    Verbo (pode variar em nmero e pessoa) ConjunoAdjetivo (pode variar em gnero, nmero e grau) Preposio

    Numeral (pode variar em gnero e nmero)

    Interjeio

    Artigo (varia em gnero e nmero)Pronome (varia em nmero, gnero e pessoa)

    Nesta oficina, retomaremos brevemente os conceitos de artigo, preposio, substantivo, adjetivo, verbo e advrbio

    QUESTO 03

    Leia as frases observando as palavras em negrito:

    1 - Durante a campanha eleitoral, o candidato props o pacto pela educao.

    2 - Durante uma campanha eleitoral, um candidato props um pacto pela educao.

    Agora imagine que as frases acima tenham sido noticiadas por um reprter na televiso. Em que situao, ou seja, em que contexto ele teria empregado a frase 1? E a frase 2?

    a) Na frase 1, o ncora do jornal est falando de um candidato especfico que props um pacto determinado pela educao. J na frase 2, subentende-se que o telespectador j saiba que candidato e a que situao o reprter se refere.

    b) Tanto na frase 1 quanto na frase 2 subentende-se que o telespectador no saiba nada ainda sobre o que o reprter est noticiando, muito menos de que eleio e que candidato

    TexTo e conTexTo Tema02 - morfologia

  • 31

    ele se refere.

    c) Tanto na frase 1 quanto na frase 2 subentende-se que o telespectador j saiba o contexto, o assunto e o candidato ao qual o reprter se refere.

    d) Na frase 1, o telespectador j deve saber, antecipadamente, a respeito de que eleio, de que candidato e de qual pacto pela educao o reprter est falando. J na frase 2, o sentido mais genrico, vago, indefinido.

    As palavras em negrito nas frases que voc leu acima so chamadas de artigo. O artigo a palavra colocada antes do substantivo para determin-lo, seja de modo mais particular, individual (definido, como o, a, os, as), seja de modo mais geral, vago (indefinido, como um, uma, uns, umas).

    Porm, podemos afirmar que o artigo faz mais do que isso. Alm de generalizar ou especificar determinado substantivo, ele pode produzir outros efeitos de sentido. Por que importante saber isso? Ora, a escolha do artigo denuncia (e muito!) o que ns e os outros querem destacar e que efeito causar.

    No geral, os artigos podem indicar:

    Intensificao

    Clculo aproximado

    Familiaridade/intimidade

    Depreciao

    Indefinio

    QUESTO 04

    Leia as frases abaixo e preste ateno nos artigos destacados. Analisando os efeitos de sentido produzidos por eles, assinale quais deles indicam:

  • 32

    ( ) 1 - Passamos um frio to intenso na ponte! A - Intensificao( ) 2 - Faz uns dez anos que eu no o vejo. B - Clculo aproximado( ) 3 - Umas mes fizeram um lindo discurso. C - Familiaridade/intimidade( ) 4 - Tivemos um trabalho para preparar o bolo! D - Depreciao( ) 5 - O Machado de Assis escreveu Dom Casmurro.

    E - Indefinio

    ( ) 6 - Temos uns trs quilmetros ainda a percorrer.( ) 7 - Aquele garoto s mais um na minha vida.

    ( ) 8 - Uns alunos organizaram a festa junina.( ) 9 - Hoje s mais um dia de trabalho.( ) 10 - O Joo no chegou a tempo no aeroporto.

    Outro conceito importante, sobretudo para o nosso trabalho com regncia mais adiante, o de preposio. Voc se lembra de sua funo? Observe a frase abaixo:

    Todas as viagens de Jlia foram feitas em terras brasileiras

    A palavra DE relaciona viagens e Jlia indica uma ideia de posse. J a palavra EM relaciona feitas e terras, indicando ideia de lugar. As palavras DE e EM so exemplos comuns de preposio, ou seja, de palavras invariveis que ligam duas outras palavras, estabelecendo entre elas certas relaes de sentido e de dependncia.

    Se observarmos as principais preposies e as relaes mais comuns de sentido que elas podem estabelecer, podemos ter a seguinte tabela:

    TexTo e conTexTo Tema02 - morfologia

  • 33

    Preposio Relaes de sentido Exemplos

    a

    Tempo

    Modo

    Distncia

    Lugar

    vinda do governador, fez-se barulho.

    Aqui as coisas s podem ser ditas a meia voz.

    Ele trabalha a duas quadras de casa.

    Ele curtia as frias ao sol.

    com

    Companhia

    Causa

    Instrumento

    Oposio

    Modo

    Terminei o trabalho com a ajuda de amigos.

    Com sua distncia, acabei me entristecendo.

    Ela s era capaz de pensar com o computador.

    Hoje o jogo decisivo com Flamengo e Vasco.

    Todos olhavam para ele com medo.

    de

    Lugar

    Assunto

    Causa

    Tempo

    Voltei ontem de Manaus.

    Na reunio, falamos de voc.

    Joana morreu de anorexia.

    De manh, sou incapaz de acordar bem-humorado.

  • 34

    Preposio Relaes de sentido Exemplos

    em

    Tempo

    Modo

    Lugar

    Em uma hora quero voc pronto!

    A professora pediu que ficssemos em silncio.

    Ele nunca quis morar em So Paulo.

    paraFinalidade

    Lugar (de destino)

    Todos esto te esperando para a festa.

    Ainda volto para Trancoso.

    por

    Lugar (por onde)

    Tempo

    Causa

    A trilha que fizemos passava por cachoeiras.

    Ela viveu por dois anos em So Mateus.

    Por ser idoso, permitia-se viajar.

    sobreLugar

    Assunto

    A mesa quase caiu sobre o cachorro.

    Pode ficar tranquila, no falamos sobre voc.

    TexTo e conTexTo Tema02 - morfologia

  • 35

    QUESTO 05

    Na frase Maria Antnia se aborrece com a cobrana sobre a sua participao nas Olimpadas, a preposio em negrito estabelece a relao de:

    a) Companhia

    b) Modo

    c) Meio

    d) Consequncia

    e) Causa

    Agora d uma olhada ao seu redor: o que voc v? Quantas coisas e/ou pessoas esto diante de seus olhos? Voc consegue nome-las? Uma estante, uma parede, uma lmpada, uma criana? O que voc sente olhando para essas coisas/pessoas? Alegria? Desespero? Amor? O crtico j dizia:

    O poder de nomear significava para os antigos hebreus dar s coisas a sua verdadeira natureza, ou reconhec-la. Esse poder o fundamento da linguagem e, por extenso, o fundamento da poesia.

    BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. So Paulo: Cultrix, 1983.

    Basicamente, tudo o que vemos, sentimos e imaginamos tem nome. A esses nomes classificamos

    como substantivos.

    Contudo, no basta para a linguagem verbal nomear as coisas e os seres. Veja a frase:

    Veio o vento frio, e depois o temporal noturno, e depois da lenta chuva que passou toda a manh caindo e ainda voltou algumas vezes durante o dia, a cidade entardeceu [...].

    BRAGA, Rubem. O mato. In: A traio das elegantes. Rio de Janeiro: Record, 2008. 7 ed. p. 20.

    No bastou para o cronista dizer que o vento veio, precisou dizer que ele estava frio. No bastou falar sobre o temporal, precisava dizer que era noturno. Tambm no foi de seu

    Que coisa, no?

    Alfredo Bosi, nascido em 1936, um dos imortais da Academia Brasileira de Letras. Professor universitrio, crtico e historiador literrio, escreveu dezenas de livros sobre a literatura brasileira, sua grande paixo, ganhando tambm diversos prmios por elas.

  • 36

    interesse dizer apenas da chuva que passou, afinal, o leitor devia saber tambm que ela foi lenta. Todos ns sentimos necessidade de expressar as caractersticas, as qualidades ou o estado daquilo que vemos, sentimos e imaginamos. As palavras que possuem essa funo so chamadas de adjetivos.

    Apesar de sempre se referirem ao substantivo, os adjetivos no tm de estar obrigatoriamente ao lado deste. Eles podem estar relativamente distantes, separados por outra(s) palavra(s). Por exemplo:

    O esportista ficou feliz com a medalha nas Olimpadas.

    Adjetivo que caracteriza o substantivo esportista.

    Que coisa, no?

    Ateno! A classe gramatical de uma palavra muitas vezes no fixa. Ela depende das relaes que estabelece com as outras. Veja:

    chuva local (chuva = substantivo; local = adjetivo)

    local perigoso (local = substantivo; perigoso = adjetivo)

    Se voc ainda acha que classificar as palavras coisa chata, que ningum alm de gramticos se importa com isso, leia o trecho abaixo, escrito por um homem que foi advogado, jornalista, radialista, escritor, professor e poltico brasileiro (ufa!):

    [...] Proponho como exerccio uma atitude de troca. [...] Onde se l sofrer leia-se feliar (por que a felicidade no tem verbo?). [...] Fica inventado o verbo feliar para dar existncia, ao, vida, movimento, liberdade, felicidade, da mesma forma que o sofrimento tem o verbo sofrer para espalh-lo entre os homens. [...] Curiosa e masoquista a vida. O verbo sofrer complicado. Feliar simples. Por que conjugar o sofrer?

    TVOLA, Artur da. Algum que j no fui. Rio de Janei-ro: Nova Fronteira, 1985.

    TexTo e conTexTo Tema02 - morfologia

  • 37

    De modo literrio, o escritor reflete sobre o prprio conceito de verbo, ou seja, a palavra que exprime um fato (que pode ser, grosso modo, relativo a uma ao, estado ou fenmeno) e localiza-o no tempo (passado, presente, futuro...). Portanto, no toa que no texto acima temos o verbo relacionado vida, ao movimento. Afinal, ele representa o que acontece.

    Mas da mesma forma que o local (substantivo) pode ser perigoso (adjetivo) ou bonito (adjetivo), o homem (substantivo) pode ser inteligente (adjetivo) ou horroroso (adjetivo), pode-se abrir (verbo) vagarosamente uma porta ou abri-la repentinamente. Pode-se andar (verbo) devagar ou depressa.

    Leia as frases abaixo:

    O Rodolfo trabalha pouco.

    O Rodolfo trabalha muito.

    Apenas o uso do verbo trabalhar nos indica que sim, o Rodolfo trabalha. Porm, voc deve ter observado que a mudana de uma simples palavra por outra aps o verbo foi o suficiente para alterar nossa perspectiva sobre o quanto Rodolfo trabalha. A essas palavras que se relacionam com o verbo para indicar as circunstncias (no caso, de intensidade) em que ocorre o fato verbal, chamamos de advrbios.

    Por vezes, essa circunstncia no dada somente por uma palavra, mas sim por vrias. Veja:

    O Rodolfo trabalha sem nenhuma vontade.

    O conjunto de palavras que representa a circunstncia (no caso, de modo) que Rodolfo trabalha nesse caso sem nenhuma vontade. A essa ideia complementar do verbo denominamos locuo adverbial.

    Na tabela abaixo, voc confere alguns advrbios e locues adverbiais classificados de acordo com o sentido que possuem:

    Classificao Advrbios e/ou locues adverbiais mais usadasAfirmao sim, sem dvida, realmente, certamente

    Dvida eventualmente, talvezIntensidade to, demais, quase, pouco, muito, bastante

    Lugar perto, longe, aqui, l, por dentro, por foraModo bem, mal, assim, s pressas, rapidamente

    Negao no, de modo algumTempo sempre, nunca, brevemente, de vez em quando, de dia, noite

  • 38

    Para responder as questes 6, 7 e 8, leia o texto a seguir. Voc ver que ele possui algumas palavras inventadas:

    O caso da cerupeta lidoiosa

    Durante uma assuleo em homenagem aos deduentes do Brasil, no meio de todas aquelas pessoas que asselavam, umas mais vemelantemente do que outras, belejando honatudamente as faixas e as prozaidaes nas fachadas dos prdios, belejei uma cerupeta lodoiosa, com as patas manchadas de raboi. Ela parecia nofecada. Mesmo de longe, eu conseguia tulir seus lamentos, ento guli s pressas em sua direo para por-la.

    Enquanto eu gulia entre os asselentes, gritando, pedindo licena, belejei um garado muito veloz indo em direo a cerupeta, mais lidoiosa do que nunca, apesar de todo aquele raboi. Tentei o mximo que pude, mas o garado chegou primeiro e, com uma de suas quatro rodas, assuleou em cima da j minha mexada cerupeta, que nunca mais latiu.

    QUESTO 06

    Qual o grande conflito do texto?

    a) Um motorista perde o controle do carro e atropela uma senhora de muletas que via de longe a passeata.

    b) Uma pessoa v uma cadela machucada no meio de uma passeata e no consegue resgat-la, pois um carro a atropela.

    c) Uma pessoa escuta o som de uma pomba com a asa machucada cada no cho, mas antes que consiga resgat-la, algum pisa nela.

    d) Uma criana v um cachorro machucado no meio da cerimnia de posse do novo prefeito e decide peg-lo para criar.

    TexTo e conTexTo Tema02 - morfologia

  • 39

    QUESTO 07

    I. Embora algumas palavras do texto tenham sido inventadas, elas possuem semelhanas em relao a palavras existentes em Portugus, de forma que possvel saber a que classe gramatical as palavras inventadas pertenceriam se existissem na lngua portuguesa. Escolha a alternativa que possua apenas os substantivos inventados do texto. Se necessrio, volte ao texto para ver a palavra no contexto em que aparece.

    a) cerupeta - assuleo - deduentes - prozaidaes - raboi - asselentes garado

    b) belejar - tulir - gulir - porar assuleo assuler honatudamente

    c) raboi - asselentes garado - lodoiosa - nofecada mexada - deduentes

    d) assuleo - deduentes - prozaidaes raboi mexada - tulir gulir

    II. Escolha a alternativa que possua apenas os adjetivos inventados do texto:

    a) lodoiosa - asselentes garado raboi

    b) deduentes prozaidaes - nofecada teraldo

    c) deduentes - gulir porar mexada

    d) lodoiosa - nofecada - teraldo mexada

    QUESTO 08

    I. Escolha a alternativa que possua apenas os verbos do texto:

    a) deduentes - prozaidaes - raboi - asselentes - garado

    b) belejar - tulir - gulir - porar assuler

    c) honatudamente belejar asselentes garado assuler

    d) raboi tulir cerupeta porar assuler

    II. Escolha a alternativa que possua apenas os advrbios do texto:

    a) cerupeta raboi

  • 40

    b) asselente teraldo

    c) vemelantemente honutadamente

    d) prozaidaes garado

    refernciAs

    BASILIO, Margarida. Formao e classes de palavras no portugus do Brasil. So Paulo: Contexto, 2004.

    PILLA, da Helosa. Os Neologismos do Portugus e a Face Social da Lngua. Porto Alegre: AGE, 2002.

    TexTo e conTexTo Tema02 - morfologia

  • 41

    sAibA m A i s

    O Bem Amado (filme nacional) Diretor: Guel ArraesAno: 2010Gnero: Comdia dramtica

    Marco Nanini d vida ao poltico corrupto que sonha com a inaugurao de um cemitrio numa cidade fictcia chamada Sucupira. A verso cinematogrfica para o texto de Dias Gomes, que j foi novela de sucesso nos anos 70, estreou nos cinemas em 2010.

    Trailer disponvel em:

    https://www.youtube.com/watch?v=ChmKFr1TQT8.

    Acesso em: 27 jun. 2013.

    clique Aqui

  • 42

    TemA

    03:

    sinta

    xe

  • 43

    Selecionarmos adequadamente as palavras que fazem parte de nossas produes de textos (inclusive orais!), muito importante para conseguirmos transitar entre diversas prticas de comunicao. Ns selecionamos as palavras que usamos na nossa fala e escrita o tempo todo, ainda que no pensemos a respeito.

    Porm, ao falarmos e escrevermos fazemos mais do que isso: ns tambm temos a capacidade de combinar essas palavras. Essas combinaes, por sua vez, partem de regras gramaticais prprias de cada idioma. Ao conjunto de regras de combinao das palavras denominamos sintaxe.

    De modo geral, a sintaxe constituda de quatro partes. Cada um deles faz determinado tipo de anlise. Veja s:

    Anlise sinttica: trata-se do estudo das funes de palavras que so combinadas para formar oraes, bem como analisa a classificao das oraes que so combinadas para formar perodos.

    Sintaxe de concordncia: reflete sobre as flexes que os nomes exibem na forma para serem ajustados uns aos outros e as flexes que os verbos apresentam para serem ajustados ao sujeito da orao.

    Sintaxe de regncia: estuda as relaes de dependncia entre os nomes e seus complementos e entre os verbos e seus complementos.

    Sintaxe de colocao: observa a ordem em que as palavras so disponibilizadas na orao.

    Nessa oficina, teremos um olhar mais atento s sintaxes de concordncia e regncia.

    Concordncia nominal e concordncia verbal: ajustando as palavras entre si

    Imagine a seguinte situao:

    Voc est fazendo uma viagem de carro pelo estado. A ideia sair explorando diferentes cidades. Em uma delas, voc decide conhecer o circo local. Ao chegar, repara na lona deteriorada e na roupa gasta do palhao que distribui os ingressos. Na entrada, h um letreiro caindo aos pedaos que diz:

    TexTo e conTexTo Tema03 - sintaxe

    ndice

  • 44

    OS PALHAOS DO CIRCO DA GERTRUDE ESPERAM POR VOC EM MAIS UMA NOITE BOMBSTICA!

    Tente ler em voz alta a frase acima. O tempo e a falta de manuteno fizeram-na perder algumas letras, o que causa estranhamento, pois as palavras acabam no combinando entre si.

    Por isso (e pela segurana das pessoas que frequentam esse circo!), o letreiro deveria ser arrumado, no mesmo? Se as palavras estivessem inteiras:

    O artigo O seria OS para se ajustar ao substantivo PALHAOS, que est no plural.

    O verbo ESPERA seria ESPERAM para se ajustar com o ncleo do sujeito da orao, que o substantivo PALHAOS.

    O artigo UM seria UMA para se ajustar ao substantivo NOITE, que feminino.

    O adjetivo BOMBSTICA ganharia um A e no um O para se ajustar com NOITE, que um substantivo feminino.

    No 1 e no 3 caso, os ajustes acontecem entre os nomes e as palavras que os acompanham artigos, adjetivos etc. A adaptao (ou ajuste) das palavras que acompanham os nomes chama-se concordncia nominal.

    J no 2 caso, o ajuste acontece entre o verbo e o ncleo do sujeito da orao. Tal adaptao denominada concordncia verbal.

    TexTo e conTexTo Tema03 - sintaxe

  • 45

    Sabermos que concordar as palavras entre si importante para que consigamos nos comunicar em situaes em que variedades de prestgio da lngua sejam necessrias, sobretudo, nas que envolvem os gneros escritos: escrita de uma proposta para o chefe, escrita de um currculo, de uma carta de reclamao para a empresa que entregou a geladeira com defeito etc.

    Basicamente, as regras para as concordncias nominal e verbal so as seguintes:

    REGRA DE CONCORDNCIA NOMINAL

    REGRA DE CONCORDNCIA VERBAL

    Palavras variveis que se referem ao substantivo podem concordar com ele em gnero (masculino/feminino) e nmero (singular/plural). Ou seja, os artigos, numerais, pronomes e adjetivos concordam em gnero e nmero com o substantivo.

    O verbo deve concordar com o ncleo do sujeito da orao em pessoa (1, 2 ou 3) e nmero (singular/plural).

    Que coisa, no?

    Voc cresceu ouvindo que menino fala obrigado e menina fala obrigada para agradecer, mas at hoje no sabe por qu? A palavra obrigado possui valor adjetivo. Como adjetivo varivel, ele tem de combinar com o nome a que se refere (no caso, a pessoa que faz o agradecimento!).

    Ateno para alguns dos casos em que a concordncia nominal pode gerar dvidas:

    As palavras anexo e incluso tambm possuem valor adjetivo, por isso concordam com o substantivo a que se referem. Ex: Eu enviarei anexos ao e-mail os pedidos. (anexos combina com o substantivo pedidos)

    A palavra meio tanto pode ser numeral (no sentido de metade) quanto advrbio (no sentido de um pouco). Numeral varivel e, portanto, concorda com a palavra a que se refere. J o advrbio invarivel. Ex: Faz meia (meia = metade) hora que a minha me est meio (meio = advrbio) estranha.

    QUESTO 01

    Imagine que seu professor tenha passado a seguinte atividade:

    Leia as frases abaixo e reescreva-as substituindo as palavras em negrito pelas que esto entre parnteses, observando as possveis mudanas na concordncia nominal e verbal.

    Todas as manifestaes populares foram criticadas pelo governo. (abaixo-assinados/deputada)

    Famlias japonesas esto preocupadas com a comida depois de terremoto. (O povo/alimentos)

  • 46

    Os descontos j esto inclusos no boleto. (taxas)

    Sandro ficou meio irritado com o comportamento do namorado da Paula na festa. (Julia)

    A seguir esto as respostas de diversos alunos. Qual das alternativas no possui inadequaes quanto concordncia das palavras do ponto de vista da gramtica normativa em nenhuma das frases?

    a) Todas as abaixo-assinados populares foram criticadas pela deputada.

    O povo japons est preocupado com os alimentos depois de terremoto.

    As taxas j esto inclusa no boleto.

    Julia ficou meio irritada com o comportamento do namorado da Paula na festa.

    b) Todos os abaixo-assinados populares foram criticados pela deputada.

    O povo japons esto preocupado com alimentos depois de terremoto.

    As taxas j esto inclusas no boleto.

    Julia ficou meia irritada com o comportamento do namorado da Paula na festa.

    c) Todos os abaixo-assinados populares foram criticados pela deputada.

    O povo japons est preocupado com alimentos depois de terremoto.

    As taxas j esto inclusas no boleto.

    Julia ficou meio irritada com o comportamento do namorado da Paula na festa.

    d) Todos os abaixo-assinados popular foi criticado pela deputada.

    O povo japons est preocupado com alimentos depois de terremoto.

    As taxa j esto inclusas no boleto.

    Julia ficou meio irritada com o comportamento do namorado da Paula na festa.

    TexTo e conTexTo Tema 03 - sintaxe

  • 47

    Regncia nominal e regncia verbal: os tais regentes e os regidos

    Do ponto de vista sinttico, as relaes existentes entre nomes e seus complementos e entre verbos e seus complementos so absolutamente necessrias para a prpria organizao sinttica da lngua. Tais relaes so chamadas de regncia. A regncia pressupe que h certa INTERDEPENDNCIA entre as palavras que se combinam para formar enunciados. Faz sentido, no? Com isso, ela estabelece uma relao entre um termo principal (o regente) e um termo que lhe complementar (o regido).

    Mas afinal, como essa relao acontece na prtica? Observe a frase abaixo:

    Voc sentiu falta de alguma palavra nela?

    Como voc pode notar, est faltando uma preposio - DE, PARA, SEM etc. - que regida pelo nome LIVRE (quem livre, livre de algo/algum ou livre para algo/algum ou livre sem algo/algum etc). Essa preposio vincula a palavra LIVRE palavra VOC, conferindo diferentes sentidos orao. No exemplo dado, pode significar ficar longe de algum/se separar Estou livre de voc! ou Estou livre sem voc! ou, ao contrrio, pode significar se aproximar/ter a inteno de ficar com algum Estou livre para voc!

  • 48

    A relao estabelecida entre o nome e o termo (pode ser uma palavra ou expresso), que lhe serve de complemento, denominada regncia nominal. Essa relao acontece

    sempre por meio de uma preposio.

    CLIQUE AQUI para consultar a lista de alguns nomes e as preposies que mais usualmente eles exigem.

    J a relao entre os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e indiretos) denominada regncia verbal. Porm, isso depende da classificao dos verbos.

    Quanto regncia, os verbos podem ser:

    Transitivos diretos: Eu comprei um sapato na liquidao.

    Veja que o verbo comprar precisa de complemento, afinal, quem compra, compra alguma coisa. Porm, no precisa de preposio. O complemento (no caso, um sapato na liquidao) sem preposio denominado objeto direto.

    Transitivos indiretos: A Maria no gosta de filmes antigos.

    Aqui o verbo gostar tambm precisa de complemento, pois quem gosta, gosta de algo/algum. Mas, ao contrrio do verbo comprar, ele precisa de preposio. O complemento de filmes antigos, por apresentar a preposio de,

    TexTo e conTexTo Tema 03 - sintaxe

    Que coisa, no?

    Nem todos os verbos precisam de complemento. Ex: A vil da novela morreu.

    Morrer um exemplo de verbo intransitivo, ou seja, que no necessariamente exige complementao, pois possui sentido completo. Porm, nada impede que, para j dar conta da curiosidade alheia que sempre est presente nessas ocasies, a pessoa que fala uma frase como essa j d alguma indicao de modo, lugar, tempo etc. sobre a morte da vil. Ela poderia dizer: A vil da novela morreu de repente no meio da pista de dana. Tendo em vista que de repente tem relao com o tempo da morte da vil, esta expresso denominada locuo adverbial de tempo e no meio da pista de dana seria o lugar em que ela morreu, sendo, portanto, uma locuo adverbial de lugar.

  • 49

    considerado objeto indireto.

    QUESTO 02

    Indique abaixo a alternativa que torna correta a regncia nominal, do ponto de vista do uso de uma variedade culta da lngua:

    Ele est apto ___ fazer o trabalho, j que foi um dos primeiros ___ pesquisar estes fenmenos em nossa rea. Estou convencido ___ que os demais deveriam ser adeptos ___ seu engajamento.

    a) em a de a

    b) por a com sobre

    c) por a por para

    d) a a de de

    QUESTO 03

    I. Observe as duas imagens abaixo:

    Imagem 01)

  • 50

    Imagem 02)

    Agora associe as ilustraes s frases que as descrevem:

    ( ) A criana agradou o pai.

    ( ) A criana agradou ao pai.

    II. Se, ao invs de mostrar o boletim para o pai, a criana tivesse mostrado para a me (ou seja, se fosse a me a pessoa a quem se quer agradar), teramos:

    a) A criana agradou a me, pois basta trocar o artigo o pelo artigo a para fazer a concordncia.

    b) A criana agradou me, pois teramos nesse caso a (preposio) + a (artigo), o que indicado pelo uso da crase .

    Como voc deve ter percebido, caso trocssemos a palavra pai por me, o artigo

    TexTo e conTexTo Tema 03 - sintaxe

  • 51

    passaria para o gnero feminino. Assim, teramos preposio a + artigo a. Dessa fuso que resulta a crase: A criana agradou me. Voc aprender mais sobre a crase a seguir.

    Crase: o mistrio desvendado

    H diferena de sentido entre as duas manchetes de jornal abaixo?

    Manchete 01

    DURANTE REUNIO DO SINDICATO, O PRESIDENTE BATE A PORTA ENFURECIDO.

    Manchete 02

    DURANTE REUNIO DO SINDICATO, O PRESIDENTE BATE PORTA ENFURECIDO.

    Se voc respondeu que sim, acertou. A crase tem um papel bastante significativo na nossa lngua e uma estreita relao com a regncia de nomes e de verbos, sendo muitas vezes fundamental para diferenciao de sentidos em uma frase. Nos exemplos acima, enquanto que na primeira manchete visualizamos o presidente fechando a porta com fora, na segunda, a porta o lugar em que o presidente est batendo, provavelmente para entrar.

    Assista a Web Aula a seguir para entender mais a fundo a funo da crase e como us-la.

    Web Aula 3 Entendendo os principais usos da crase

    clique Aqui

  • 52

    QUESTO 04

    Leia as frases a seguir, substitua o termo destacado pelo termo entre parnteses e observe em qual das opes obrigatrio o uso da crase:

    a) Os turistas no reconheceram o lugar. (regio)

    b) Entregarei os convites ao Joo na portaria. (Maria)

    c) Ao meio-dia estarei em casa para assistir ao jogo. (quinze horas)

    d) Ningum est destinado a desistir. (vencer)

    e) Ele no foi ao Rio de Janeiro? (Madrid)

    QUESTO 05

    Escolha a alternativa que completa as devidas lacunas do texto a seguir:

    [...]

    Estes furtos eram feitos com todas ___ cautelas e sempre coroados do melhor sucesso, graas ___ circunstncia de que nesse tempo ___ polcia no se mostrava muito por aquelas alturas. Joo Romo observava durante o dia quais ___ obras em que ficava material para o dia seguinte, e ___ noite l estava ele rente, mais ___ Bertoleza [amante de Joo Romo], a removerem tbuas, tijolos, telhas, sacos de cal, para o meio da rua, com tamanha habilidade que se no ouvia vislumbre de rumor. [...]

    AZEVEDO, Alusio. O Cortio. In: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000003.pdf. Acesso em 21/05/2013.

    a) as a as a

    b) s a s a

    c) as a s a a

    TexTo e conTexTo Tema 03 - sintaxe

  • 53

    d) s a as a

    e) as a a as a

    QUESTO 06

    Observe o contexto em cada opo e escolha qual a frase que melhor se aplica a ele:

    As pessoas que acabaram de entrar na faculdade andam muito por toda a cidade para procurar emprego.

    ( ) Frase 1 Os recm-graduandos correm a cidade em busca de emprego.

    ( ) Frase 2 Os recm-graduandos correm cidade em busca de emprego.

    Os pais de Isabela no param de procurar por ela.

    ( ) Frase 1 Continuou a procura de Isabela.

    ( ) Frase 2 Continuou procura de Isabela.

    As crianas, mesmo depois de muito insistir, no conseguiram tomar o sorvete antes do almoo na casa dos avs.

    ( ) Frase 1 Ficou a vontade entre os netos.

    ( ) Frase 1 Ficou vontade entre os netos.

    O filho chega em casa de mansinho e sem fazer barulho depois de passar o dia inteiro na rua.

    ( ) Frase 1 Veio noite sem que dssemos conta.

    ( ) Frase 1 Veio a noite sem que dssemos conta.

  • 54

    QUESTO 07

    Selecione a alternativa em que teria de haver obrigatoriamente o uso da crase:

    a) Jack Kerouac preferiu a estrada ao conforto de casa.

    b) Amigos de Jack Kerouac chamaram a ele para se juntar ao grupo.

    c) Jack Kerouac foi um homem a frente de seu tempo.

    d) Ele dirigiu-se logo para a rodovia mais prxima.

    QUESTO 08

    Em qual alternativa abaixo o uso da crase est incorreto?

    a) Assassino em srie preso por ameaa sociedade.

    b) proporo que eu envelhecia, sentia-me mais jovem.

    Sabe quem foi Jack Kerouac?

    Jack Kerouac (1922 1969) foi um escritor norte-americano da gerao beat que, como vlvula de escape da Grande Depresso americana, celebrava o hedonismo e a criatividade espontnea a partir da experincia vivida. Seu livro mais famoso, Ontheroad P na estrada, foi baseado em viagens que o autor fez pelo pas.

    c) Ele obedeceu voz da razo.

    d) Assim que eu cheguei, visitei regio.

    TexTo e conTexTo Tema 03 - sintaxe

  • 55

    Vrgula: sim, ela existe (para o nosso alvio!)

    Que atire a primeira pedra quem nunca se viu na dvida sobre o uso ou no da vrgula ao escrever. Afinal, ela empregada de maneiras diversas e os deslizes que nos acostumamos a ler por a tambm no ajudam.

    Por vezes, sua ausncia ou presena pode mudar o sentido de uma frase. Duvida?

    No irei estudar hoje.

    No, irei estudar hoje.

    Viu como uma vrgula pode mudar completamente os seus planos para hoje em relao aos estudos?

    O uso desse sinal de pontuao se torna mais simples se refletirmos sobre as funes que ele pode ter e a lgica geral que rege seu uso.

    Uma orao em ordem direta em portugus escrita da seguinte forma:

    SUJEITO + VERBO + COMPLEMENTOS + ADJUNTOS

    (CARLOS) (COMPROU) (UM CARRO) (NA FEIRA DE AUTOMVEIS DE VALINHOS)

    Quando dizemos uma nica orao em ordem direta, como nos exemplos anteriores, no precisamos usar a vrgula.

    Quando fazemos alguma inverso nessa ordem direta ou quando intercalamos alguma coisa entre os elementos que constituem essa ordem direta que a vrgula aparece:

    Na feira de automveis de Valinhos, Carlos comprou um carro.

    Carlos comprou, na feira de automveis de Valinhos, um carro.

    Carlos comprou um carro, um Fiat Brava, na feira de automveis de Valinhos.

    Veremos a seguir as principais regras para o uso da vrgula. Voc vai ver que algumas

    Sujeito Verbo Complemento Adjunto Adverbial de Lugar

  • 56

    dessas regras decorrem dessa lgica geral.

    Para isso, vamos dividir essas regras em dois subgrupos:

    USO DA VRGULA ENTRE OS TERMOS DE UMA MESMA ORAO

    USO DA VRGULA ENTRE ORAES

    Para separar os ncleos de um termo

    Ex: Minha me j morou em So Paulo, em Ubatuba, em Santa Catarina e em Curitiba.

    No exemplo acima, vemos a vrgula separar os vrios ncleos de um adjunto adverbial de lugar. Ou separar elementos coordenados em uma numerao:

    Exemplo:

    Impulso (Em 143 caracteres)

    No pensou duas vezes. Pegou uma muda de roupa, os documentos guardados, seu livro de cabaceira, o lbum duplo dos Mamonas Assassinas e deu um novo rumo para sua vida: casou.

    Entre oraes coordenadas

    Exemplo:

    Impulso 2 (Em 83 caracteres)

    Colocou um vestido curto, equilibrou uma rosa no cabelo, passou batom vermelho, saiu para danar.

    No exemplo acima, vemos a vrgula separar trs oraes independentes uma da outra do ponto de vista sinttico.

    Que coisa, no?

    Por isso que se diz que no se pode colocar vrgula entre sujeito e predicado, entre verbos e complemento, entre nomes e seus adjuntos.

    TexTo e conTexTo Tema 03 - sintaxe

  • 57

    USO DA VRGULA ENTRE OS TERMOS DE UMA MESMA ORAO

    USO DA VRGULA ENTRE ORAES

    Para isolar o aposto

    Ex: Meus dois irmos, Joo e Jos, chegaram hoje de Natal.

    No exemplo acima, vemos as vrgulas empregadas para destacarem o aposto do restante da orao.

    Entre a orao principal e uma orao subordinada adjetiva explicativa

    Ex: Ela justificou o atraso com o trnsito, que fica mais fcil dele acreditar.

    Perceba que a vrgula empregada depois da orao principal e antes de iniciar a orao subordinada adjetiva explicativa, que amplifica informaes da antecedente.

    Outro exemplo:

    Mandei um email pro meu irmo, que est passando frias em Buenos Aires, pedindo que volte imediatamente.

    Veja que, nesse caso, a orao subordinada adjetiva explicativa est no meio da orao principal. Logo, ela separada por duas vrgulas.

    Para isolar adjuntos adverbiais deslocados

    Ex: Com muito pesar, ele arrumou as malas para partir.

    Quando o adjunto adverbial deslocado para o comeo ou para o meio da orao, fica separado pela vrgula. No exemplo acima, vemos o adjunto adverbial deslocado para o incio da orao. Portanto, vrgula nele!

    Entre uma orao subordinada adverbial e a orao principal

    Ex: Quando ele chegou, as crianas correram para abra-lo.

    Veja que a vrgula se coloca entre a orao subordinada adverbial que, nesse caso, temporal e a orao principal.

  • 58

    USO DA VRGULA ENTRE OS TERMOS DE UMA MESMA ORAO

    USO DA VRGULA ENTRE ORAES

    Para isolar certas expresses explicativas

    Ex: Venha at minha casa na sexta, ou melhor, no sbado.

    Expresses que usamos no meio da orao para explicar uma ideia, retificar, continuar ou concluir o que dizemos devem ficar entre vrgulas, assim como a expresso ou melhor no exemplo acima. Outras expresses desse tipo podem ser: alis, alm disso, por exemplo, a saber etc.

    Para isolar o vocativo

    Ex: Voc devia entender, sua teimosinha, que eu amo voc.

    No exemplo acima, vemos as vrgulas isolarem o vocativo.

    TexTo e conTexTo Tema 03 - sintaxe

  • 59

    refernciAs

    CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramtica do portugus brasileiro. So Paulo: Contexto, 2010.

    sAibA m A i s

    SCHERRE, Maria Marta Pereira et al. O papel do tipo de verbo na concordncia verbal no Portugus Brasileiro. DELTA. Vol. 23. So Paulo, 2007. In:

    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-44502007000300012. Acesso em 28 mai. 2013.

  • 60

    TemA

    04:

    figur

    as de

    ling

    uage

    m

  • 61

    Se voc j teve contato com quaisquer textos literrios, saber que a literatura um campo vasto para brincadeiras com a linguagem. Os escritores acabam sendo verdadeiros malabaristas da lngua, pois, com um sistema que todos usam, eles procuram justamente o uso potico, sensvel diversidade de significados que podemos criar na escrita e na fala.

    Observemos as duas frases abaixo:

    Os noivos, j meio bbados de cerveja, cantam grandes clssicos da msica popular brasileira em frente ao espelho e bailam para os convidados.

    No espelho do crrego bailam borboletas bbadas de sol.(Carlos Drummond de Andrade)

    No 1 exemplo, as palavras em negrito esto empregadas em seu sentido usual, comum. Ainda que seja apenas uma frase retirada de seu contexto, podemos entender o uso da palavra bbados como pessoas que esto sob efeito de bebida alcolica, espelho como um objeto metalizado que reflete imagens e, por fim, bailam como o ato de danar, movimentar o corpo obedecendo a um ritmo musical.

    J no trecho de Carlos Drummond de Andrade, o trabalho potico faz-nos ressignificar essas mesmas palavras. Por tratar-se de um espelho do crrego, sabemos que a palavra espelho no est a empregada no sentido de um objeto metalizado que reflete imagens, mas sim no sentido de uma superfcie de gua to limpa e brilhante que reflete as borboletas acima dela. Tambm as palavras bailam e bbadas no so usadas no mesmo sentido usual que definimos no pargrafo anterior. No trecho de Drummond, bailam e bbadas referem-se ao voo brando e, ao mesmo tempo, desorientado das borboletas.

    Quando usamos as palavras no seu sentido literal, comum, usual ou, como alguns dizem, de dicionrio, dizemos que elas foram empregadas em seu sentido denotativo.

    TexTo e conTexTo Tema04 - figuras de linguagem

    ndice

  • 62

    J se usamos as palavras no seu sentido figurado, dependente de um contexto especfico, como o poeta Drummond o fez, dizemos que elas foram empregadas em seu sentido conotativo ou figurado.

    Porm, um engano pensar que o sentido conotativo das palavras pode ser explorado apenas na literatura. Ou voc nunca falou ou nunca ouviu ningum dizer em contexto mais informal que est bbado de sono? O sentido figurado da lngua est por todos os cantos, em diferentes prticas de linguagem e faz parte da vida de todos ns. Ele pode ser encontrado desde em um anncio publicitrio at na fala de sua av, contando um causo de quando ela era mais moa. Portanto, se voc pensa que apenas escritores literrios fazem uso disso, est na hora de prestar mais ateno ao que ouve ou l.

    O sentido conotativo pode ser construdo de diferentes maneiras, as possibilidades so variadas. Esse conjunto de recursos expressivos denominado figuras de linguagem.

    Para que estud-las? Independente da carreira que voc escolheu, ter compreenso das principais caractersticas referentes s figuras de linguagem pode ser til para apropriar-se melhor de textos diversos (literrios, publicitrios, jornalsticos etc.), tornando-nos aptos a reconhecer os significados das palavras e os sentidos que podem adquirir em diferentes contextos e tambm a produzir textos em que haja necessidade de expressar-se de forma diferente da comum. Ainda que no seu trabalho voc no tenha de produzir textos (o que muito raro, se no impossvel, tendo em vista que aqui estamos falando tanto de texto escrito quanto de oral), fundamental que voc reconhea figuras de linguagem usadas nos vrios textos com os quais voc tem contato.

    TexTo e conTexTo Tema 04 - figuras de linguagem

  • 63

    Web Aula 4 Figuras de linguagem

    clique Aqui

    QUESTO 01

    Leia o trecho do conto Minha gente, de Guimares Rosa.

    [...] eram os patinhos novos, que decerto tinham matado o tempo, dentro dos ovos, estudando a teoria da natao. E, no ptio, um turbilho de asas e bicos revoluteava e se embaralhava, rodeando a preta, que jogava os ltimos punhados de milho [...]

    ROSA, Guimares. Sagarana. Rio de Janeiro: Jos Olympio. 1972.

    O emprego da palavra em destaque produz uma:

    a) Metonmia

    b) Ironia

    c) Hiprbole

    d) Metfora

    e) Onomatopeia

  • 64

    QUESTO 02

    Leia com ateno os seguintes versos:

    Eu vejo as pernas de loua

    Da moa que passa e eu no posso pegar

    T me guardando pra quando o carnaval chegar

    (Chico Buarque)

    Nesse trecho h uma metfora. Ela ocorre em:

    a) pernas de loua

    b) moa que passa

    c) no posso pegar

    d) t me guardando

    e) o carnaval chegar

    TexTo e conTexTo Tema 04 - figuras de linguagem

  • 65

    Podemos dividir as figuras de linguagem em dois grandes grupos:

    1 GRUPO

    Figuras que tm sua fora expressiva no contedo semntico ou no aspecto sonoro das palavras. As principais so:

    2 GRUPO

    Figuras que so construdas com variaes da estrutura sinttica das frases. As principais so:

    Metfora ElipseMetonmia Pleonasmo

    Ironia PolissndetoHiprbole Anfora

    Personificao (prosopopeia) Anacoluto

    Onomatopeia

    Comparao

    CatacreseAntteseEufemismo

    GradaoAliterao

    Comparao

    Imagine que Pedro tenha chegado em seu primeiro dia de trabalho em uma empresa nova e, aps algumas horas, tenha dito a um colega:

    Pedro poderia ter dito apenas Eu estou perdido, mas essa maneira de se expressar seria muito simples, muito comum. Por isso, para intensificar sua desorientao, ele buscou algo que, por ser uma expresso que supe um peixe em um ambiente estranho ao seu, fosse semelhante sua dificuldade de adaptao, criando, assim, uma comparao.

  • 66

    A comparao consiste em estabelecer uma relao de semelhana entre dois seres ou fatos, fornecendo a um deles uma ou mais caractersticas presentes no outro. A comparao possui muita semelhana com a metfora. No entanto, na comparao comum a utilizao de palavras que estabeleam uma conexo, como por exemplo: como, tal, assim, qual, parecia, entre outras.

    Catacrese

    Observe a seguinte frase:

    A perna da mesa est desnivelada, pegue um livro para eu colocar embaixo dela.

    No sentido denotativo, perna significa determinado rgo do corpo. Porm, no exemplo acima, essa mesma palavra passou a ter um sentido figurado, j que mesa no possui realmente pernas. Costumamos chamar de perna a parte da mesa que a apoia ao cho. Portanto, trata-se de uma catacrese.

    A catacrese consiste em denominar algo (um objeto, uma ao etc.) usando impropriamente certa palavra, por no haver outra mais adequada.

    Anttese

    Leia os versos a seguir:

    A pobreza do eu

    a opulncia do mundo

    [...]

    A incerteza de tudo

    na certeza de nada.

    (Carlos Drummond de Andrade)

    TexTo e conTexTo Tema 04 - figuras de linguagem

  • 67

    Nas duas estrofes acima, a expressividade est centrada no uso de palavras que possuem significados opostos: pobreza X opulncia e incerteza X certeza. Porm, essas palavras no apenas se opem, como tambm se reforam, ganham um sentido mais marcado devido presena de sua contrariedade. Ao uso de palavras opostas denominamos anttese.

    A anttese consiste no uso de palavras ou expresses de significados contrrios, com a inteno de destacar a fora expressiva de cada uma delas.

    Eufemismo

    Imagine que a seguinte frase fosse ttulo de um artigo de opinio de um grande jornal da cidade:

    Polticos faltaram com a verdade nas ltimas eleies

    Veja que, na frase, procura-se suavizar, tornar menos chocante e dramtica a conduta dos polticos. Dizer que polticos faltaram com a verdade mais moderado do que afirmar que polticos mentiram. A essa figura de linguagem denominamos eufemismo.

    O eufemismo consiste em uma figura por meio da qual se suaviza, torna menos chocante palavras ou expresses que so normalmente desagradveis, constrangedoras ou dolorosas.

    Gradao

    Leia o texto abaixo, prestando ateno nas palavras e expresses destacadas.

    Seu Irineu pisou no prego e esvaziou. Apanhou um resfriado, do resfriado passou pneumonia, da pneumonia passou ao estado de coma e do estado de coma no passou mais.

    Stanislaw Ponte Preta. A vontade do falecido. In: ___________. O melhor de Stanislaw Ponte Pre-ta, Rio de Janeiro: Jos Olympio. 1997.

    Observe que, gradativamente, o estado de sade de Seu Irineu ia se agravando e se intensificando. O escritor utilizou um recurso expressivo denominado gradao.

    A gradao consiste em uma srie de palavras ou expresses em que o sentido vai se intensificando continuamente.

  • 68

    Aliterao

    Leia o verso a seguir:

    A gente almoa e se coa e se roa e s se vicia!

    (Chico Buarque)

    Uma leitura em voz alta denuncia um aspecto curioso desse verso: a sonoridade. A repetio de um mesmo som consonantal, representado pelas letras , s e c, reala a musicalidade, constituindo uma figura denominada aliterao.

    A aliterao consiste em repetir um mesmo som consonantal em uma srie de palavras para criar um efeito expressivo de sonoridade.

    QUESTO 03

    Identifique a figura de linguagem presente no trecho a seguir:

    Com seu colar de coral,

    Carolina,

    Corre por entre as colunas

    da colina.

    (Ceclia Meireles)

    a) Gradao

    b) Ironia

    c) Aliterao

    d) Eufemismo

    TexTo e conTexTo Tema 04 - figuras de linguagem

  • 69

    e) Hiprbole

    QUESTO 04

    Assinale a opo que NO apresenta sentido figurado:

    a) Dona Joelma puxou o tapete da amiga.

    b) A perna do jogador ficou inchada depois da coliso.

    c) Vou contar essas moedas pela centsima vez!

    d) Eu comi como um boi faminto no almoo.

    QUESTO 05

    No texto abaixo ocorrem diversos recursos expressivos. Selecione a alternativa na qual dois desses recursos estejam corretamente identificados.

    Ele l, ela acol. possvel que dois pombinhos vivam em cidades distintas e continuem sendo namorados?

    a) Hiprbole Aliterao

    b) Anttese Metfora

    c) Metonmia Onomatopeia

    d) Metfora Hiprbole

    e) Metonmia Gradao

    QUESTO 06

    Imagine que voc esteja dentro do elevador de seu prdio e v um informativo no espelho:

    Ateno! Proibido levar cachorros para a rea de lazer, principalmente para fazerem suas necessidades fisiolgicas na grama.

    Nesse texto ocorre a seguinte figura de linguagem:

  • 70

    a) Metfora

    b) Hiprbole

    c) Anttese

    d) Ironia

    e) Eufemismo

    QUESTO 07

    Em qual dos exemplos abaixo ocorre onomatopeia?

    a) Minha vida uma colcha de retalhos, todos da mesma cor. (Mrio Quintana)

    b) Muitos espectadores riram, como se estivessem assistindo a uma farsa. (Rubem Braga)

    c) E quanto ia acontecendo, os cheiros se armavam em cima do co [...] (Paulo Mendes Campos)

    d) Ouo o tique-taque do relgio: apresso-me ento. (Clarice Lispector)

    e) Nos seus beijos de fogo h tanta vida... (Castro Alves)

    J no 2 grupo, temos como principais figuras de linguagem:

    Elipse

    Leia a frase abaixo, deixada em um bilhete na porta de um apartamento:

    Se chegar depois das duas, casa trancada.

    Observe que algumas palavras foram omitidas, mas podem ser facilmente recuperadas pelo leitor.

    TexTo e conTexTo Tema 04 - figuras de linguagem

  • 71

    Com todas as palavras, a frase poderia ficar assim:

    Se [voc] chegar depois das duas [horas], [a] casa [estar] trancada.

    Com essas omisses, a frase no bilhete produziu uma figura denominada elipse.

    A elipse consiste na omisso de um termo que o contexto permite ao leitor ou ouvinte identificar com certa facilidade.

    Pleonasmo

    Leia os seguintes versos:

    Chovia uma triste chuva de resignao

    Como contraste e consolo ao calor tempestuoso da noite

    (Manuel Bandeira)

    No primeiro verso, o poeta utiliza a palavra chuva para repetir a ideia j expressa anteriormente pelo verbo chover. Essa figura de linguagem denominada pleonasmo.

    O pleonasmo consiste em intensificar o significado de um elemento do texto por meio de uma redundncia, isto , da repetio de uma ideia j expressa por esse elemento.

    Polissndeto

    Observe o texto abaixo:

    Comeu e trabalhou e bebeu e dormiu e acordou para comear um novo dia.

    Voc deve ter observado a repetio da conjuno e que consegue dar certo ritmo de continuidade, de fluidez, sugerindo o prprio cotidiano do sujeito. A essa repetio da conjuno chamamos de polissndeto.

    O polissndeto consiste no emprego repetitivo da conjuno (as mais utilizadas para esses fins so e e nem) entre as oraes de um perodo ou entre os termos de uma mesma orao.

    Anfora

    Leia os versos abaixo:

  • 72

    Ilha cheia de graa

    Ilha cheia de pssaros

    Ilha cheia de luz(Cassiano Ricardo)

    Com o intuito de dar maior destaque a palavra ilha, o poeta repete-a no incio de cada verso. A esse recurso expressivo denominamos anfora.

    A anfora consiste na repetio de uma palavra ou expresso no incio de uma srie de oraes ou versos.

    Anacoluto

    Imagine uma discusso entre dois amigos:

    Voc no planeja nada, assim fica difcil viajarmos juntos.

    Essa sua mania, suas preocupaes com planos me irritam!

    Repare que, no ltimo dilogo, o termo Essa sua mania ficou solto na frase, no exercendo nenhuma funo sinttica (no sujeito, nem objeto, nem mesmo adjunto adverbial etc.). A essa figura de linguagem denomina-se anacoluto.

    O anacoluto ocorre quando a frase sofre uma desarticulao repentina em sua estrutura e, em consequncia disso, passa a apresentar um termo sem funo sinttica.

    QUESTO 08

    Leia o trecho abaixo:

    Vo chegando as burguesinhas pobres,

    TexTo e conTexTo Tema 04 - figuras de linguagem

  • 73

    E as criadas das burguesinhas ricas,

    E mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.

    (Manuel Bandeira)

    Que figura de linguagem aparece nesses versos?

    a) Anfora

    b) Polissndeto

    c) Pleonasmo

    d) Hiprbole

    e) Metonmia

    QUESTO 09

    Em qual das alternativas abaixo NO ocorre uma elipse?

    a) Escorregou na pista sem querer.

    b) Ela dormiu at s onze.

    c) A tarde fosse mais tranquila, no teramos tanta preocupao no trabalho.

    d) A morena levou acessrios lindos para a festa de So Joo.

    refernciAs

    CASTILHO, Ataliba T. de. Nova gramtica do portugus brasileiro. So Paulo: Contexto, 2010.

    ILARI, Rodolfo. Linguagem figurada: processos analgicos. In: _____________. Introduo semntica brincando com a gramtica. So Paulo: Contexto, 2006. 6. ed. pp. 108-113.

  • 74

    Tema 04 - figuras de linguagem

    Observe as figuras de linguagem existentes nas campanhas publicitrias analisadas no livro abaixo:

    ht tp: / /books.google.com.br/books?id=-b-1rPUKV5kC&pr intsec=frontcover&hl=pt-BR&authuser=0&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 27 jun. 2013.

    sAibA m A i s

  • 75

  • 76

    TemA

    05:

    inter

    text

    ualid

    ade

  • 77

    Leia o poema abaixo:

    Minha terra tem palmeiras,

    Onde canta o Sabi;

    As aves, que aqui gorjeiam,

    No gorjeiam como l.

    Nosso cu tem mais estrelas,

    Nossas vrzeas tm mais flores,

    Nossos bosques tm mais vida,

    Nossa vida mais amores.

    Em cismar, sozinho, noite,

    Mais prazer encontro eu l;

    Minha terra tem palmeiras,

    Onde canta o Sabi.

    Minha terra tem primores,

    Que tais no encontro eu c;

    Em cismar sozinho, noite,

    Mais prazer encontro eu l;

    TexTo e conTexTo Tema05 - intertextualidade

    ndice

  • 78

    Minha terra tem palmeiras,

    Onde canta o Sabi.

    No permita Deus que eu morra,

    Sem que volte para l;

    Sem que desfrute os primores

    Que no encontro por c;

    Sem quinda aviste as palmeiras,

    Onde canta o Sabi.

    (DIAS, Gonalves. Cano do Exlio. Domnio Pblico.)

    Cano do Exlio, de Gonalves Dias, considerado um dos poemas mais conhecidos da lngua portuguesa. Como voc deve ter percebido, o texto traz certo saudosismo de algum em relao ao seu pas. Ele est distante, tendo uma viso bastante romntica de sua ptria, que se encontra muito longe dali. Parece que tudo em sua terra natal melhor e mais bonito do que em qualquer outro lugar do mundo. Esse saudosismo e nacionalismo no se do toa: o poema foi escrito durante o tempo que o autor brasileiro viveu em Coimbra, uma cidade portuguesa, mais precisamente em 1843. Por ter se tornado uma produo to marcante da cultura brasileira, hoje em dia esse poema amplamente exibido e analisado em livros didticos e de crtica literria. No s isso, ele serviu como fonte de inspirao para outros tantos produtos artstico-literrios de diversos outros autores, com incontveis recriaes na literatura e na msica, sobretudo na poca do Modernismo. At mesmo o Hino Nacional Brasileiro tomou emprestado dois de seus versos: Nossos bosques tm mais vida,/ Nossa vida, mais amores.

    Agora vejamos o trecho de poema abaixo:

    TexTo e conTexTo Tema 05 - intertextualidade

  • 79

    [...]

    Chega!

    Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.

    Minha boca procura a Cano do Exlio.

    Como era mesmo a Cano do Exlio?

    Eu to esquecido de minha terra...

    Ai terra que tem palmeiras

    onde canta o sabi!

    (ANDRADE, Carlos Drummond de. Europa, Frana e Bahia. In: ______________. Alguma poesia. So Paulo: Companhia das Letras, 2013.)

    Como voc deve ter percebido, o poema Europa, Frana e Bahia, do poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade, publicado pela primeira vez em 1930 em um livro do autor, claramente dialoga com a obra de Gonalves Dias, ainda que tenhamos lido apenas um trecho dele.

    No caso, Drummond conserva o sentido dado por Dias, afinal, ele tambm demonstra certo saudosismo de sua terra natal e, por isso, dialoga com a Cano do Exlio. como se o saudosismo de Drummond se intensificasse tomando emprestada a saudade que Dias sentia, fazendo referncia a ela. A esse dilogo entre obras d-se o nome de intertextualidade.

    A intertextualidade pode ser definida como um dilogo ou cruzamento entre textos. Esse dilogo pressupe um amplo e complexo universo cultural, que implica a identificao e o