«Na minha infância, antes de saber ler, ouvi recitar e aprendi de cor um antigo poema tradicional português, chamado Nau Catrineta. Tive
assim a sorte de começar pela tradição oral, a sorte de conhecer o poema antes de conhecer a literatura.
Eu era de facto tão nova que nem sabia que os poemas eram escritos por pessoas, mas julgava que eram consubstanciais ao universo, que
eram a respiração das coisas, o nome deste mundo dito por ele próprio.»
Sophia de Mello Breyner Andresen, Arte Poética V
Índice
Sophia de Mello Breyner Andresen, Arte Poética V..............................1
Índice....................................................................................................2
Introdução............................................................................................3
Literatura infantil..................................................................................4
Biografia e bibliografia da autora.........................................................6
Análise do conto “O Homem”...............................................................9
Valor didáctico do conto “O Homem”.................................................16
Valores possíveis de abordar com o conto:.....................................18
RESPEITO.....................................................................................18
PACIÊNCIA....................................................................................18
CIVISMO.......................................................................................19
GENEROSIDADE............................................................................19
COMPAIXÃO..................................................................................20
Texto narrativo em prosa...................................................................22
Riqueza lexical do conto.....................................................................25
Actividades para trabalhar o conto na sala de aula...........................27
Conclusão...........................................................................................34
ANEXOS........................................................................................36
Bibliografia.........................................................................................40
Internet...........................................................................................40
Introdução
A literatura para crianças e jovens evoluiu bastante desde que
surgiu como género independente, já no século XVIII.
Alguns autores contemporâneos de literatura infantil mais
recentes produzem literatura didáctica destinada a cultivar o desejo
individual do leitor de ler e aprender, bem como a ensinar os jovens a
reflectir sobre o papel do ser humano no universo, fomentar valores.
Este trabalho inserido na disciplina de Literatura para a Infância,
do 3º ano do curso de Professores do 1º Ciclo do Ensino Básico, teve
como objectivo conhecer melhor o mundo da literatura Infantil, e
aprofundar o estudo, no valor didáctico do conto “O Homem” inserido
no livro “Contos Exemplares” de Sophia de Mello Breyner Andresen.
Será exposto também uma breve apresentação sobre o que é
literatura infantil, assim como várias actividades possíveis de
trabalhar o conto na sala de aula.
Literatura infantil
A literatura infantil é por muitos considerado o “parente pobre”
da literatura.
A literatura infantil foi sempre considerada como inferior e em
certa medida desprezada, pela instituição literária, que a considerava
uma literatura secundária, devido ao público-alvo, as crianças.
Quando se fala em literatura infantil, associamo-la
imediatamente às crianças e adolescentes. O que está em parte
errado, pois apesar de ser criada com uma intenção pedagógica e
didáctica, este tipo de literatura tem o poder de cativar todo o tipo de
publico, incluindo os adultos, que encontram nas obras infantis o
prazer da leitura.
A quantidade dos textos literários infantis no mercado livreiro
propicia a criação de diversos públicos-leitores, cada qual com sua
preferência.
È o primeiro tipo de literatura com que a criança entra em
contacto, mesmo antes de nascer, quando a mãe lê para acalmar o
bebé, na creche onde é fomentado o gosto pela leitura, em casa
quando vai para a cama e pede que lhe leiam um livro, até à escola
onde ajudada pelo Plano nacional de leitura, a criança continua a
retirar prazer da leitura de livros.
Hoje deparamo-nos com um crescimento desenfreado de obras,
textos, não só direccionados aos adultos, como também as crianças,
com o intuito de modificar e moldar comportamentos, ao reforçar os
valores sociais vigentes e socialmente tidos a serem assimilados
pelos mais novos.
É nos primeiros anos de vida que uma criança, interioriza o
gosto e hábito da leitura.
Desde os seus primórdios que a literatura infantil, incorpora a
função formadora, ao apresentar modelos de comportamento que a
criança ao ler irá seguir, facilitando a integração da mesma na
sociedade. Por isso encontramos neste tipo de livros, os elementos
família, amigos, pais, avôs, a sociedade num geral.
O livro infantil apresenta uma realidade, com problemas sociais,
políticos e económicos. Não quer dizer por isso que fuja ao lúdico,
pois continua a transmitir emoções, a despertar curiosidade e a
produzir novas experiencias. Por outro lado desempenha uma função
socializadora ao tentar que a criança perceba a realidade que a
envolve.
Apesar desta função, os contos transportam a criança para um
mundo imaginário, onde predomina o sonho, o irreal, o fantástico.
Esta dicotomia entre o real e o sonho, provocam na criança uma
sensibilidade para a imaginação e para o belo, pois a magia do
imaginário é essencial ao desenvolvimento da criança.
Tanto o texto realista como o maravilhoso, cumprem o papel
social, combinam ambas o prazer da leitura. Complementam-se em
conhecimento, leitura e sociedade, pois sem leitura não há formação
correcta de valores, nem conhecimento, nem cidadania. E sem
socialização não pode existir uma sociedade coerente e cumpridora.
Ilustração 1: Retrato de Sophia de Mello Breyner Andresen
Biografia e bibliografia da autora
“Poetisa e contista portuguesa, nasceu no Porto, no seio de uma
família aristocrática, e aí viveu até aos dez anos, altura em que se
mudou para Lisboa. De origem dinamarquesa por parte do pai, a sua
educação decorreu num ambiente católico e culturalmente
privilegiado que influenciou a sua personalidade. Frequentou o curso
de Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa, em consonância com o seu fascínio pelo mundo grego (que a
levou igualmente a viajar pela Grécia e por toda a região
mediterrânica), não tendo todavia chegado a concluí-lo.
Teve uma intervenção política empenhada, opondo-se ao
regime salazarista (foi co-fundadora da Comissão Nacional de Socorro
aos Presos Políticos) e também, após o 25 de Abril, como deputada.
Presidiu ao Centro Nacional de Cultura e à Assembleia Geral da
Associação Portuguesa de Escritores.
O ambiente da sua infância reflecte-se em imagens e ambientes
presentes na sua obra, sobretudo nos livros para crianças. Os verões
passados na praia da Granja e os jardins da casa da família
ressurgem em evocações do mar ou de espaços de paz e amplitude.
A civilização grega é igualmente uma presença recorrente nos versos
de Sophia, através da sua crença profunda na união entre os deuses e
a natureza, tal como outra dimensão da religiosidade, provinda da
tradição bíblica e cristã.
A sua actividade literária (e política) pautou-se sempre pelas
ideias de justiça, liberdade e integridade moral. A depuração, o
equilíbrio e a limpidez da linguagem poética, a presença constante da
Natureza, a atenção permanente aos problemas e à tragicidade da
vida humana são reflexos de uma formação clássica, com leituras,
por exemplo, de Homero, durante a juventude. Colaborou nas revistas
Cadernos de Poesia (1940), Távola Redonda (1950) e Árvore (1951) e
conviveu com nomes da literatura como Miguel Torga, Ruy Cinatti e
Jorge de Sena.
Na lírica, estreou-se com Poesia (1944), a que se seguiram Dia
do Mar (1947), Coral (1950), No Tempo Dividido (1954), Mar Novo
(1958), O Cristo Cigano (1961), Livro Sexto (1962, Grande Prémio de
Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores), Geografia (1967),
Dual (1972), O Nome das Coisas (1977, Prémio Teixeira de Pascoaes),
Navegações (1977-82) e Ilhas (1989). Este último voltou a ser
publicado em 1996, numa edição de poemas escolhidos
acompanhada de fotografias de Daniel Blaufuks. Em 1968, foi
publicada uma Antologia e, entre 1990 e 1992, surgiram três volumes
da sua Obra Poética. Seguiram-se os títulos Musa (1994) e O Búzio de
Cós (1997). Colaborou ainda com Júlio Resende na organização de um
livro para a infância e juventude, intitulado Primeiro Livro de Poesia
(1993).
Em prosa, escreveu O Rapaz de Bronze (1956), Contos
Exemplares (1962), Histórias da Terra e do Mar (1984) e os contos
infantis A Fada Oriana (1958), A Menina do Mar (1958), Noite de Natal
(1959), O Cavaleiro da Dinamarca (1964) e A Floresta (1968). É ainda
autora dos ensaios Cecília Meireles (1958), Poesia e Realidade(1960)
e O Nu na Antiguidade Clássica (1975), para além de trabalhos de
tradução de Dante, Shakespeare e Eurípedes.
A sua obra literária encontra-se parcialmente traduzida em
França, Itália e nos Estados Unidos da América. Em 1994 recebeu o
Prémio Vida Literária, da Associação Portuguesa de Escritores e, no
ano seguinte, o Prémio Petrarca, da Associação de Editores Italianos.
O seu valor, como poetisa e figura da cultura portuguesa, foi também
reconhecido através da atribuição do Prémio Camões, em 1999.
Em 2001, foi distinguida com o Prémio Max Jacob de Poesia,
num ano em que o prémio foi excepcionalmente alargado a poetas de
língua estrangeira.
Em Agosto do mesmo ano, foi lançada a antologia poética Mar. Em
Outubro publicou o livro O Colar. Em Dezembro, saiu a obra poética
Orpheu e Eurydice, onde o orphismo está, mais uma vez, presente,
bem como o amor entre Orpheu, símbolo dos poetas, e Eurídice, que
a autora recupera num sentido diverso do instaurado pela tradição
helénica.”1
1 “Obtido de http://www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Sophia+de+Mello+Breyner+Andresen, no dia 18 de Maio de 2008”
Análise do conto “O Homem”
O conto “O homem” insere-se no livro “Contos exemplares” de
Sophia de Mello Breyner Andresen.
A sua estrutura respeita o tradicional esquema narrativo, com
uma introdução, desenvolvimento e conclusão.
O conto começa por localizar o leitor no tempo, com “Era uma
tarde do fim de Novembro, já sem nenhum Outono.” 2, e no espaço “A
cidade erguia as suas paredes de pedras escuras.” 3 Tanto o tempo
como espaço deixam antever algo trágico, sombrio, preparando o
leitor para algum acontecimento fatídico, que possa acontecer no
decorrer da história.
“Os homens caminhavam empurrando-se uns aos outros nos
passeios. Os carros passavam depressa.”4 4, há sem dúvida uma
crítica à cidade, ao ritmo de vida desvairado e pouco social. As
pessoas nas grandes cidades apesar do contacto físico,
especialmente nas filas que vão surgindo constantemente, elas
ignoram-se umas as outra. Ignorando muitas vezes regras sociais de
bom comportamento, assentes em valores.
“O céu estava alto, desolado, cor de frio.”55, o céu não tinha a
cor azul, símbolo de pureza, tranquilidade, ordem, tinha antes uma
“cor de frio” tal como todos os elementos que tinha sob si, as “ (…)
paredes de pedra escura(…)” símbolo do distanciamento entre as
pessoas, os “homens empurrando-se(…)”, nos passeios, esta
descrição do espaço do tempo e do comportamento das pessoas, cria
no leitor uma sensação de vazio, e caos. Vazio pelo não existir de
22 ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos exemplares , 36ª edição. - Braga : Figueirinhas, 2006. P.137.3 Ibidem4 Ibidem5 Ibidem
sentimentos nas pessoas, e caos pela imagem dos carros e pela
multidão correndo para o vazio da cidade.
O tempo, atendendo ao mês que é apresentado “(…) Novembro
(…)”, dá-nos uma imagem de um dia frio, com nuvens no céu, um
tempo sombrio, o que deixa transparecer nas pessoas. O tempo,
espaço e as pessoas representam algo hostil, no inicio do conto.
Nesta primeira parte surgem apenas duas personagens, uma
individual, a narradora, outra colectiva, a multidão.
O desenvolvimento do conto apresenta uma sucessão de
acontecimentos vividos e relembrados pela narradora, fazendo
alternar a narração entre presente e passado.
“Eu caminhava no passeio, depressa.”, tal qual a multidão, sem
tempo para apreciar a vida, até que “A certa altura encontrei-me
atrás de um homem muito pobremente vestido que levava ao colo
uma criança loira, uma daquelas crianças cuja beleza quase não se
pode descrever. É a beleza de uma madrugada de Verão, a beleza de
uma rosa, a beleza do orvalho, unidas à incrível beleza de uma
inocência humana.”, duas novas personagens que surgem,
contrastando com a multidão. Percebemos o nível social pela
descrição da narradora, mas o que sobressaiu, não foi a condição
financeira mas sim a beleza da criança.
“Mas o homem caminhava muito devagar e eu, levada pelo
movimento da cidade, passei à sua frente.” (p.137)66
“Foi então que vi o homem. Imediatamente parei. Era um
homem extraordinariamente belo, que devia ter trinta anos e em cujo
rosto estavam inscritos a miséria, o abandono, a solidão. O seu fato,
que tendo perdido a cor tinha ficado verde, deixava adivinhar um
corpo comido pela fome. O cabelo era castanho-claro, apartado ao
meio, ligeiramente comprido. A barba por cortar há muitos dias
6 Ibidem
crescia em ponta. Estreitamente esculpida pela pobreza, a cara
mostrava o belo desenho dos ossos. Mas mais belos do que tudo
eram os olhos, os olhos claros, luminosos de solidão e de doçura. No
próprio instante em que eu o vi, o homem levantou a cabeça para o
céu.”
Após esta descrição de novas personagens a acção da historia
desacelera, “(…) criando uma dilatação temporal traduzida pela
precisão de um instante em que a narradora contempla, fascinada, a
beleza do homem(…)” 7. Isto é a narradora para o tempo da história
para contar mais pormenorizadamente aquele instante em que viu o
homem. O ritmo frenético que se vivia é bruscamente desacelerado.
A descrição é quase poética. “A poética do olhar determina a
vigência do retrato que é descrito de forma essencialmente estática e
determinado por uma visualização que põe em evidência a
luminosidade, a cor, a forma, a dimensão da personagem, apontando
tanto para as características físicas como para as notações sociais.” 8
Apesar de toda a miséria que exibia, a descrição não tem outro
efeito no leitor, senão a da magnificência da figura do homem.
A curta descrição com que a narradora inicia o conto esbate
com a longa e pormenorizada descrição da beleza do homem, que
mostram claramente uma temporalidade suspensa.
“A narradora começa por assinalar a globalidade da emoção
provocada pela visão de uma beleza (…) (p.56)9, e de forma
progressiva vai completando o retrato com referências aos
olhos “(…) mais belos do que tudo eram os olhos, os olhos belos
7 Ibidem8 Apontamentos Europa-América, (1990) Explicam Sophia de Mello Breyner-Contos Exemplares.Colecção, Apontamentos Europa-América, Número 31.9 Ibidem
claros, luminosos(…)”10. Qualificando características físicas com
sentimentais, claros-solidão e luminosos-docura.
Olhos esses, que nunca se cruzaram com os da narradora, “O
homem não me olhava.”11
“No próprio instante em que eu o vi, o homem levantou a
cabeça para o céu”12, em sinal de desespero, contrastante com
a indiferença da multidão que passa por ele e o ignora. Olhou
par ao céu, em busca de uma resposta. Quantas vezes, não
temos dúvidas, quantas vezes não pedimos ajuda ao céu, mas
sem a mínima esperança de obter uma resposta. A luz emitida
por ele, é para nós uma tentativa, da parte do céu, de
responder, de comunicar. “Era um céu alto, sem resposta, cor
de frio.”13.
“O espaço aberto designa apenas uma ausência: a falta de
solidariedade, de justiça, de harmonia.”14
Esta atitude do homem, mostra o desespero, em procurar o
céu, tentando escapar à triste e pobre vida que levava na terra.
“Quis fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Era como se a
sua solidão estivesse para além de todos os meus gestos, como se
ela o envolvesse e o separasse de mim e fosse tarde de mais para
qualquer palavra e já nada tivesse remédio.”15 , note-se aqui o
desespero da narradora em querer ajudar.
“Agora eu penso no que podia ter feito”16
10 ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos exemplares , 36ª edição. - Braga : Figueirinhas, 2006. P.138.11 Ibidem12 ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos exemplares , 36ª edição. - Braga : Figueirinhas, 2006. P.138.13 Ibidem14 Apontamentos Europa-América, (1990) Explicam Sophia de Mello Breyner-Contos Exemplares.Colecção, Apontamentos Europa-América, Número 31. P.57.
15 ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos exemplares , 36ª edição. - Braga : Figueirinhas, 2006. P.138-139.16 Ibidem. P.139.
Dois tempos paralelos aqui apresentados, o passado “quis” e o
presente “agora”. “ (…)tempo passado em que é vivida a
contemplação e o tempo do presente em que a memoria reactiva a
recordação(…)”17
E enquanto ia sendo empurrada pela multidão para longe do
homem, apercebeu-se que afinal conhecia-o “ (…) havia alguma coisa
ou alguém que eu reconhecia.” 18 Fez uma leitura das suas memórias,
e uma frase a assolou «Pai, pai, por que me abandonas-te?», esta
frase associada à descrição física do cabelo castanho-claro meio
comprido; a barba por cortar; o corpo magro; olhos belos e claros; de
trinta e poucos anos e extraordinariamente belo, todas estas
características aliadas à frase fizeram com que a narradora subisse
novamente o passeio, contra a multidão, lutou para chegar
novamente ao pé daquele misterioso e belo homem.
É sem dúvida uma alusão a Cristo quando caminhava para o
purgatório e já na cruz olhou para o céu cheio de dor e sofrimento e
disse: «Pai, pai, por que me abandonas-te?».
É a partir desta constatação que na narradora, cresce o desejo
em recuperar o tempo que perdido em hesitações, que verificamos
um aceleramento do ritmo na história.
Por fim, com a conclusão o leitor assistirá ao desfecho trágico.
Movida pela intenção de ajudar o homem-cristo (comparação a
Cristo), a narradora “Voltei para trás. Subi contra a corrente o rio da
multidão. Temi tê-lo perdido.”19
17 Apontamentos Europa-América, (1990) Explicam Sophia de Mello Breyner-Contos Exemplares.Colecção, Apontamentos Europa-América, Número 31. P.5818 ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos exemplares , 36ª edição. - Braga : Figueirinhas, 2006. P.13919 Ibidem. P.140
Porém, quando se aproximou o seu olhar vislumbrou o homem
ainda a olhar para o céu e com a criança ao colo. Correu ainda mais,
empurrando a multidão e quando estava próxima dele, vê-o cair no
chão, da sua boca escorria agora sangue e nos seus olhos e a sua
expressão era a mesma “(…)expressão de infinita paciência.”20
A cor azul do céu, cor da vida, dá agora espaço à cor vermelha,
do sangue, da morte.
O objectivo de estabelecer comunicação com o homem, torna-
se infrutífera mais uma vez, a multidão cerca o homem deixando a
narradora fora do círculo. O homem que sofrera no meio dos homens
morrera num círculo formado pela multidão.
“Do ponto de vista simbólico, o centro não pode ser
considerado como um elemento simplesmente estático. Trata-se
antes do lugar de onde parte um movimento que vai da unidade para
a multiplicidade, do interior para o exterior, do temporal (Homem)
para o eterno (Deus).”21
A narradora ainda tentou lutar contra a multidão e entrar, mas
quando o conseguiu a ambulância tinha já levado o homem, e a
criança desaparecido. Numa visão mais simbólica, o homem tinha já
ressuscitado.
No final o leitor constata que além da leitura factual, existe um
leitura alegórica e simbólica, que surge com uma clara intenção de
denunciar a injustiça dos dias de hoje com a cometida com Cristo. Da
20 ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos exemplares , 36ª edição. - Braga : Figueirinhas, 2006. P.14121 Apontamentos Europa-América, (1990) Explicam Sophia de Mello Breyner-Contos Exemplares.Colecção, Apontamentos Europa-América, Número 31. P.60
cegueira dos homens em verem uma vida de esperança e compaixão.
E termina com a fé, característica de Sophia. “Muitos anos passaram.
O homem certamente morreu. Mas continua ao nosso lado. Pelas
ruas.” 22
22 ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos exemplares , 36ª edição. - Braga : Figueirinhas, 2006. P.141
Valor didáctico do conto “O Homem”
Sophia de Mello Breyner Andresen é por muitos, considerada
uma das figuras maiores da literatura portuguesa contemporânea.
A sua obra, reparte-se em prosa, poesia e ensaio, e têm como
destinatários preferenciais tanto o público infantil como o adulto.
Os seus textos narrativos de potencial recepção infantil
caracterizam-se por serem protagonizados preferencialmente por
personagens infantis capazes de encarnarem uma áurea de perfeição
e de originalidade que as liga umbilicalmente à natureza, mas
também ao Bem e à Arte.
Os heróis dos seus contos e os sujeitos poéticos dos seus
poemas ilustram, pois, alguns dos principais motes que norteiam a
poética de Sophia de Mello Breyner Andresen e que têm a ver com a
demanda da Perfeição e Pureza originais, com a Justiça e da Verdade
como valores absolutos e universais, ocupando, nessa busca, a Poesia
(em sentido lato) o papel de bordão e de amparo, mas também de
espada que acompanhará aquele que a ousar empreender.
O livro Contos Exemplares não é excepção, nele podem-se
encontrar contos com valor riquíssimo em valores e lições de moral.
A escrita de Sophia aborda, com grande rigor e clareza, temas
um quanto ou tanto complicados, como vida e morte; valores; o ser
homem.
O homem é um ser social e necessita por isso dos outros desde
o nascimento até ao fim da vida. E se a relação com os outros falhar,
quando são crianças, não serão seres sociais completos, a sua
dimensão social básica para se desenvolver depende dessa
interacção.
A maioria dos valores está conectada com a convivência entre
seres.
“Embora nestas últimas décadas tenha estado na moda falar de
educação de valores, o conceito é tão antigo como a própria
educação. Os seres humanos não podem educar-se, se não for com
base em valores (…)”23, regras de bom comportamento, e deve-se
mostrar isso mesmo às crianças desde a mais tenra idade, mostrar-
lhes o que está certo ou errado, bom e mau, atendendo no entanto à
ética de cada um.
Ninguém impõe valores, mas os adultos necessitam promove-
los cada vez mais junto das crianças, para que percebam a sua
importância, e recebam uma educação equilibrada.
A análise do conto na sala de aula poderia tornar-se uma mais-
valia para os alunos, visto ser um belo conto, com implicações sociais
e humanas.
Pode-se trabalhar o conto tendo em conta os valores e as
situações desagradáveis que são vivenciadas pelo homem e pela
narradora, e assim trabalhar o conto tendo em vista a interiorização e
apreensão de valores, tendo em vista alguns objectivos como:
Fomentar a autonomia e a responsabilidade, dentro de um
espírito democrático de participação activa.
Aprofundar o conhecimento de si próprio e do outro,
desenvolvendo atitudes de auto – estima.
Promover uma educação para a cidadania e multiculturalidade,
valorizando a diferença e o respeito pelo outro.
“A escola deve apoiar-se nas experiências vividas pela criança no seio
da família e crescer gradualmente para fora da vida familiar, deve
partir das actividades que a criança vivência em casa e continuá-las…
23 Pujol i Pons, E., Gonzalez, I., (2003) Valores para a Convivência, Marina
Editores.P.6
É tarefa da escola aprofundar e alargar os valores da criança
previamente desenvolvidos no contexto da família”.
John Dewey, 1897
Valores possíveis de abordar com o conto:
RESPEITO
Com o valor do respeito, o professor posso expor à criança que
é preciso agir, tendo sempre atenção ao facto de nós, seres humanos,
não estarmos sozinhos no mundo. As atitudes que tomarmos terão
eco nos outros. Por exemplo, a multidão que se atropelava no
passeio, é um acto que mostra o não respeito uns pelos outros.
Mostrar as crianças que não devemos empurrar os outros, não é
correcto. É preciso criar comportamentos adequados. Ao tentarmos
implantar a pratica do respeito, é fundamental não cair em extremos,
explicar à criança que tudo se quer com equilíbrio. A falta de respeito
pode levar à descortesia, à insolência; à grosseria e a intromissão, o
excesso de respeito pode levar ao medo e receio.
Trabalhar com a criança, exemplificando não só a situação do
conto, como outra do seu quotidiano, podendo enumerar essas
mesmas situações.
PACIÊNCIA
Ter paciência é saber esperar com calma. É aparentemente
fácil, mas difícil de praticar, mais ainda para crianças.
As crianças não costumam ter este valor muito desenvolvido.
Impacientam-se, protestam, é dever dos encarregados de educação e
professores, ir mostrando à criança que precisa esperar, ter
esperança, não podemos atender a todos os pedidos das crianças. Os
seus pedidos não têm de ser todos obrigatoriamente satisfeitos,
mostrar que nem sempre podem ter o que querem, não naquele
imediato. E mais importante ainda, a criança não pode tirar partido da
sua raiva.
No conto, tanto as pessoas como os carros iam velozes,
impacientes. Questionar as crianças sobre esses comportamentos,
ouvir as suas opiniões, e se necessário socorrer-se de provérbios
como “Quanto mais depressa, mais devagar”.
CIVISMO
Civismo é uma manifestação de respeito pelos outros. É um
conjunto de regras e normas relacionadas com a convivência, que
tendem a evitar incómodos entre os seres sociais. Adultos e crianças
devem comportar-se de forma correcta, em todos os locias, tanto no
supermercado, como no circo, no cinema, na rua, no café, na escola,
no trabalho, e outros sítios públicos.
Quando os usos e costumes são ignorados, cria-se um
desconforto e uma sensação de mal-estar, nas pessoas que
ouvem vêem. Questionar por exemplo as crianças sobre se está
certo deitar lixo para o meio da rua, ou então se forem num
autocarro e estiver um idoso ou mulher grávida de pé, o que
fariam. Questões simples que a criança ao reflectir interioriza
valores essenciais de bom comportamento. Outra situação que
se prendem com o civismo é não ter vergonha com as nossas
origens, dizer “Eu sou a Beatriz e sou filha do João, o taxista.”,
saber apresentar dignamente os pais ou familiares. O homem
do conto era um mendigo, mas o que mais chamou atenção da
narradora, foi a beleza da sua pessoa, elevando as
características físicas e não sociais.
GENEROSIDADE
Para falar deste valor com as crianças, o professor pode dar
alguns exemplos, enunciando atitudes correctas de generosidade:
Visitarmos e conversarmos com os nossos avós, regularmente;
Emprestar um brinquedo ao colega que não pode ter um igual;
Oferecer alguns brinquedos de que não gostamos mais, a
meninos que não têm.
Ajudar os pais nas tarefas domésticas;
No conto o homem ia pobremente vestido e possivelmente com
fome, se as crianças se encontrassem na rua com um homem
parecido, o que fariam elas. Colocar os alunos em situações, desta
forma será mais fácil a interiorização dos valores sociais.
Chamar atenção de que não devemos ignorar as pessoas, olhar
para toda a gente, e tentar ajudar, independentemente do que os
outros digam. A narradora arrependeu-se de não ter ido ajudar o
homem isto porque se deixou levar pela “corrente da multidão”,
aproveitar todas as ocasiões, porque dar um pouco de generosidade é
algo correcto.
Ser generoso é dar gestos, palavras e silêncios. Apresentar as
crianças alguns gestos, palavras e silêncios, que mostram igualmente
generosidade:
Gestos:
Cumprimentar sempre as pessoas Olhar com um sorriso Dar afectos Ajuda amável
Palavras:
Suaves Elogios Alento Dialogo
Silêncios:
Ouvir os outros Esperar com os outros Acompanhar alguém
COMPAIXÃO
Para as crianças interiorizarem melhor o valor da compaixão, o
primeiro passo é que a criança conheça bem as suas emoções. A
educação da compaixão começa quando as crianças aprendem a
reconhecer os próprios sentimentos, ter consciência delas.
Depois, mais uma vez coloca-las em situações, de forma a
testar o valor. No conto “O Homem”, de Sophia de Mello Breyner, a
única personagem a ter compaixão pelo homem e criança é a
narradora., todas as outras, ignoram o homem e o seu estado.
A autora não precisou de chorar, para transmitir o sentimento
de compaixão pelo homem. Mostrou este valor ao parar no meio do
passeio, parar na corrente de multidão e reparar, olhar o homem com
a criança nos braços.
No processo de aprendizagem dos valores é essencial que a
criança primeiro conheça os seus sentimentos, valores, espírito
crítico, usos e costumes, a partir daí ela pode avançar na escala de
valores.
E sempre que ela demonstrar uma atitude correcta com base
nos valores, é fundamental que professor e encarregados de
educação estejam atentos e gratifiquem as atitudes, da mesma forma
se fizer o contrario, é necessário que a criança ouça uma reprimenda,
tomando consciência do correcto e errado.
Texto narrativo em prosa
O conto de Sophia de Mello Breyner, O Homem, é um conto
escrito em prosa, um género narrativo, o seu discurso não é
versificado nem rimado.
Narrar é contar os acontecimentos, as historias ou experiencias
que se vivem.
Vários são os elementos que constituem uma narrativa, são eles
o narrador; a acção; o espaço; o tempo; a estrutura narrativa e os
recursos expressivos.
A autora escolheu e utilizou termos próprios e meios de
expressão adequados, criando por isso um texto com excelente
qualidade, no que toca à sua escrita em prosa. Para ter ritmo e
harmonia não precisou de obedecer a imperativos métricos muito
refinados. “ É a beleza de uma madrugada de Verão, a beleza de uma
rosa, a beleza do orvalho, unidas à incrível beleza de uma inocência
humana.” 24, note-se nesta frase, a repetição estratégica da palavra
“beleza”, assim como a entoação dada pela pontuação.
O narrador é claramente participante, intervém e conhece toda
a historia, é uma das personagens. “Eu caminhava no passeio,
depressa.”; “Foi então que vi o homem”25.
As personagens, são seres imaginários ou reais que participam
na história, temos personagens principais, ou protagonistas, e as
personagens secundárias. Cada uma delas é caracterizada através do
seu retrato físico e psicológico.
A acção, ou enredo da historia, mostra os acontecimentos que
vão ser narrados e como se desenrolam, a vida na cidade, o momento
24 ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos exemplares , 36ª edição. - Braga : Figueirinhas, 2006. P.13725 Ibidem. P.137
em que a narradora viu o homem, a tentativa de o ajudar, entre
outros.
O espaço onde se desenrola a acção, passa-se na cidade “A
cidade erguia as suas paredes de pedras escuras.” 26. O tempo em
que decorrem os acontecimentos “Era uma tarde do fim de
Novembro, já sem nenhum Outono.” 27
Outro elemento do texto narrativo em prosa, é a estrutura do
texto, com o inicio ou introdução, que vai desde “Era uma tarde do
fim de Novembro, já sem nenhum Outono” 28, até “Eu caminhava no
passeio, depressa.”29
O desenvolvimento que apresenta os eventos ocorridos, desde
“A certa altura encontrei-me atrás de um homem muito pobremente
vestido que levava ao colo uma criança loira, uma daquelas crianças
cuja beleza quase não se pode descrever.” 30, até E os céus parecem
desertos e vazios sobre as cidades escuras.”31
O final ou desfecho vão desde “Voltei para trás.”32 , até “Mas
continua ao nosso lado. Pelas ruas.”33
Encontram-se as três partes da narrativa sendo por isso uma
narrativa aberta.
A nível de recursos expressivos, verificamos a personificação,
“O céu estava alto, desolado, cor de frio.”34 , o céu não tem
características humanas, não poderia estar desolado.
26 Ibidem. P.13727 Ibidem. P.13728 Ibidem. P.13729 Ibidem. P.13730 Ibidem. P.13731 Ibidem. P.14032 Ibidem. P.14033 Ibidem. P.14134 Ibidem. P.137
Anáfora, “É a beleza de uma madrugada de Verão, a beleza de
uma rosa, a beleza do orvalho, unidas à incrível beleza de uma
inocência humana.”35 , a repetição da palavra “beleza”.
A gradação, quando descreve a beleza da criança, a narradora
vai descrevendo a beleza de forma decrescente, Verão-rosa-orvalho-
inocencia humana, “É a beleza de uma madrugada de Verão, a beleza
de uma rosa, a beleza do orvalho, unidas à incrível beleza de uma
inocência humana.”36 .
Imagem, através das cores, da descrição do espaço, do tempo e
das personagens, o leitor cria uma imagem, como se de um filme se
tratasse.
Por fim a adjectivação, é sem dúvida o recurso expressivo com
maior incidência, pedras escuras; alto; cor de frio; depressa;
pobremente vestido; belo; verde; comido; castanho-claro; comprido;
sozinho, entre muitos outros adjectivos.
Encontramos a presença de vários tipos de frase neste conto,
declarativa e interrogativa. Interrogativa, “Era uma tarde do fim de
Novembro, já sem nenhum Outono”37, aqui a narradora informa-nos e
descreve o tempo da história, utilizando apenas a marca do ponto
final.
Frases interrogativas, a narradora formula uma questão, “Como
contar o seu gesto?”38; “-Pai, Pai, por que me abandonaste?”39,
verifica-se uma entoação ascendente e a marca da interrogação.
Esta escolha nos tipos de frases, resulta da função da natureza
da mensagem, que a narradora pretendeu transmitir.
35 ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos exemplares , 36ª edição. - Braga : Figueirinhas, 2006. P.13736 Ibidem. P.13737 Ibidem. P.13738 Ibidem. P.13839 Ibidem. P.140
Riqueza lexical do conto
“A prosa de Sophia destinada a crianças, cuja harmonia no
plano rítmico é por de mais evidente, produz um efeito quase
encantatório, sendo as obsessivas enumerações presentes na sua
prosa servidas pela sábia combinação de nome e adjectivo e por uma
sintaxe peculiar que recorre com frequência a estruturas de tipo
anafórico, ao polissíndeto e ao assíndeto. Das imagens emana uma
sensibilidade que encontra paralelo num discurso fluente, marcado
por aliterações e assonâncias, cujo léxico (obsessivo) se reporta
sobretudo ao mundo natural, fixando-se nos elementos ligados à
água, à terra, ao ar e ao fogo. Se, no plano sintáctico, esse discurso
procura quase sempre ir ao encontro da limitada competência
linguística do seu destinatário extratextual – a criança –, nunca
resvala para a facilidade; antes encontra, em certas estruturas
frásicas e textuais aparentemente elementares, o modo mais
adequado de exprimir a beleza do mundo, a complexidade dos
sentimentos e das fantasias pessoais. “40
A linguagem neste conto, não é do mais simples, no entanto é
de uma extrema beleza, pela simbologia das palavras.
É importante que a criança gradualmente tenha acesso a um
tipo de texto, e de linguagem mais abstracta, e com mensagens
ocultas, de forma a evoluir na compreensão e entendimento do que
lê.
A autora consegue neste conto, O Homem, estabelecer uma
mensagem poética e social.
Apresenta-nos o “homem”, que poderá significar o homem
terreno que busca a felicidade, como não encontra para, não se deixa
levar pela corrente social para o vazio, escolhe antes suplicar ao céu
40 Obtido de: http://derivadaspalavras.blogspot.com/2006/12/sophia-de-mello-breyner-andresen-e-sua.html, no dia 25 de Maio de 2008”
(o divino, o eterno), a narradora refere que dos céus não obteve
resposta pois tal como o resto da cidade estava “frio”.
Por outro lado podemos ser levados a pensar que o céu
respondeu, pois pouco depois da suplica do homem, ele cai morto no
chão, talvez o céu tenha respondido levando-o para uma vida eterna.
Sendo assim podemos ver o homem como analogia a Cristo que
morreu entre os homens, para salvar os homens, ou de um homem,
tal como todos nós, que sofre no silencio, ignorado pela sociedade,
apenas porque é diferente, pobre.
A criança, personagem típica na obra de Sophia de Mello
Breyner, aparece aqui descrita pela sua beleza, é comparada à
madrugada de Verão, ao tempo bom, à calma, ao calor; ao orvalho
essencial para a flora renascer; rosa, símbolo do amor e paixão, do
sentimento; e a inocência humana, característica maior das crianças.
A linguagem utilizada pela autora é de fácil apropriação pelas
crianças, que captam a autenticidade da mensagem transmitida nos
vários contos.
Sophia dá-nos, neste conto, tal como todos os outros, a
conhecer melhor o mundo e a humanidade a um nível de exigência
ética e poética, na plenitude da sua personalidade aberta, captando a
essência das coisas, e principalmente a essência do homem.
Actividades para trabalhar o conto na sala de aula
As actividades aqui apresentadas, são meros exemplos, não estando
por isso organizadas sequencialmente.
Actividade 1Leitura do conto
Descrição da actividade:
O professor lê o título da conto a trabalhar, “O Homem”.
Questiona-os «Com este título de que é que falara o conto».
Reflectem sobre o título e levantam hipóteses.
Procede-se à leitura do conto por parte do professor, seguido da
leitura de um aluno, em voz alta.
È feita então, uma apreciação critica pelos colegas segundo
parâmetros de:
-entoação
-ritmo
-articulação das palavras
Actividade 2Caça ao erro
Descrição da actividade:
O professor escreve numa folha, frases do conto “O Homem”
recheada de erros ortográficos ou de conteúdo.
Divide-se a turma em equipas e cada uma tem uma caneta com
cor diferente, para sublinhar os erros no texto.
O professor entrega a folha a uma das equipas que terá de
descobrir os erros das frases em 2 minutos, e sublinha-los, se
não conseguir, as outras equipas têm oportunidade de tentar.
Ganham pontos por cada erro sublinhado.
Actividade 3Resumo do conto
Descrição da actividade:
O professor pede a alguns alunos que contem, resumidamente
a história do conto.
Actividade 4Descrever uma imagem do conto através de gestos
Descrição da actividade:
O professor escreve em cartões várias palavras sobre o conto,
que impliquem movimento.
Divide-se a turma em equipas.
Um elemento de um grupo tira um dos cartões e lê as palavras.
Terá de fazer gestos e expressões, até que os colegas
adivinhem qual as palavras em questão.(Ex: homem com
criança ao colo; Homem olha para o céu; levado(a) pela
multidão; caminhava lentamente)
Os colegas podem dizer várias palavras até acertar.
Se não conseguirem dentro de um tempo-limite, a equipa do
elemento que está a fazer gestos ganha um ponto. E vai um
elemento de outra equipa fazer o mesmo exercício, e assim
sucessivamente.
Actividade 5Escolha múltipla
Descrição da actividade:
Divide-se a turma em equipas de 4 ou 5 elementos.
O professor pede a um aluno que venha ao quadro para apontar
as respostas das diversas equipas.
São feitas várias as questões e as equipas só têm 10 segundos
para pensar, tendo posteriormente que preencher numa folha à
frente do número das questões (1,2,3,4,5,6,7,8,9,10) a reposta
correcta (A ou B ou C).
Se algum elemento olhar ou fizer qualquer tipo de batota a
equipa perde 2 pontos.
Passados os 10 segundos o aluno aponta no quadro as
respostas das equipas.
No final o professor colocará um acetato com as respostas
correctas das questões, para os alunos observarem.
No final contam-se as respostas correctas de cada equipa e
ganha(m) a(s) equipa(s) que mais pontos obtiver(em).
Actividade 6Ficha de leitura
O meu nome é __________________________________________
Hoje é dia____________________
Li um livro…
Que se chama__________________________________________
1. Dados bibliográficos
Autor: ________________________________________
Editora: _________________________
2. Dados sobre a obra
Género: poesia, teatro, conto. (Sublinha o género correcto)
Tema principal: ____________________
Personagens principais: ______________________________________________________
Lugar onde se passa a acção: ____________________________
Tempo da acção: ____________________________________
EU…
…gostei de ler a história …não gostei de ler a história
Vou aconselhar a um colega para o ler:
Sim Não
Actividade 7Ficha 1 (cf anexos)
Actividade 8Ditado
Descrição da actividade:
O professor procederá novamente à leitura pausada do texto “
O Homem”,para a realização de um ditado por parte dos
alunos.
Actividade 9Desenho livre
Descrição da actividade:
É pedido aos alunos que desenhem livremente o episódio que
mais gostaram na história, dando-lhe um título sugestivo.
No final da actividade, vão ao quadro e mostram aos colegas,
explicando o desenho assim como a preferência da sua escolha.
Serão afixados posteriormente todos os desenhos na parede da
sala.
Actividade 10Os valores
Descrição das actividades:
Enumerar alguns valores presentes no conto “O Homem”,
(respeito; civismo; dialogo; tolerância; compaixão;
generosidade; alegria)
Discutir sobre estes valores
o Noção de valores
o Importância
o Quais os valores de cada criança
o Devemos seguir ou não os valores
o Debater situações onde as pessoas desrespeitam os
valores
o Enumerar os valores numa escala (qual o menos e mais
importante para as crianças).
Actividade 11Ditado corrida
Descrição da actividade:
O professor coloca espalhados pela sala, vários excertos do
livro “ O Homem”. Os alunos são divididos em grupos de 2.
Enquanto um aluno se prepara para escrever, o outro tem de ir
ler o texto e vir a correr dizer ao outro, que vai reescrever o que
o colega lhe ditar.
O grupo que terminar em primeiro ganha 20 pontos, por cada
erro encontrado é retirado um ponto.
Actividade 12Um final diferente
Descrição da actividade:
Seria pedido aos alunos que reescrevessem um final diferente
para a história do conto “O Homem”.
Numa folha A4( cnft anexos, ficha 2) entregue pelo professor os
alunos continuariam a história de forma a dar-lhe um final
diferente.
Actividade 13Verbos
Descrição da actividade:
Lendo novamente o conto, os alunos terão de retirar todos os
verbos lá presentes.
Depois de todos terem realizado esta actividade, um aluno vai
ao quadro apontando os verbos à medida que os alunos os vão
dizendo.
Actividade 14Descrever o tempo
Descrição da actividade:
Tendo em conta a frase do conto “Era uma tarde do fim de
Novembro, já sem nenhum Outono.”, é pedido aos alunos que
descrevem oralmente, o tempo que estaria, tendo em conta a
frase.
Na discussão, o professor introduziria o tema das alterações
climáticas, que se têm verificado na nossa cidade, no nosso
país e no mundo.
Conclusão
Na temática que foi apresentada foi escolhido um conto de
Sophia pela sua beleza textual e sentimental.
O conto apresentado “O Homem” apesar da sua profunda
conotação religiosa, foi intencional da minha parte, não abordar muito
essa temática. Visto que hoje existe uma grande multiculturalidade
nas escolas portuguesas, para isso servi-me dos valores também nele
sugeridos.
Contar histórias foi, é e será sempre uma necessidade profunda do
ser humano.
É algo essencial para a formação da criança em relação a si
mesma e ao mundo à sua volta.
Voluntariamente ou não, cada autor acaba por fazer eco dos
valores, ideologias, modos de vida, formas de encarar a educação e a
infância.
É o primeiro tipo de literatura com que a criança entra em
contacto, por isso é necessária uma adequação dos temas e palavras
a usar.
Os significados simbólicos dos contos estão ligados aos eternos
dilemas que o homem enfrenta ao longo de seu amadurecimento
emocional.
É durante essa fase que surge a necessidade da criança em
defender sua vontade e sua independência em relação ao poder dos
pais ou à rivalidade com os irmãos ou amigos.
O que as crianças encontram nos contos são, na verdade,
categorias de valor que são perenes. O que muda é apenas o
conteúdo rotulado de bom ou mau, certo ou errado.
“Combinando fantasia e intervenção social, maravilhoso e
recriação histórica, com um lirismo muito particular que resulta
de uma contemplação atenta e delicada da natureza na qual os
sentidos se revelam especialmente apurados, os Contos de
Sophia de Mello Breyner Andresen fazem dela uma das autoras
de referência do panorama literário português para a
infância.”41
“Contos Exemplares (…) contar historias e historias exemplares,
nestes tempos de literatura (…) Fazer exemplares estes contos,
quando certa literatura up to date se quer situar fora da moral e dos
valores (…)”42
“A muitos agradaria decerto pôr em lição do oficio da Palavra,
por exemplo aquele conto «O Homem», no qual através desse facto
banal (!) presenciado numa rua central do Porto, «dum homem muito
pobremente vestido que levava ao colo uma criança loira…a beleza
de uma madrugada de Verão, a beleza de uma rosa, a beleza do
orvalho, unidas à incrível beleza de uma inocência humana», homem
cuja cara «escorria sofrimento, resignação, espanto e pergunta», nos
aparece e se agiganta no mistério da sua agonia, o Filho do Homem
interrogando o céu: -Pai, Pai, porque me abandonaste?»43
41 “Obtido de : http://195.23.38.178/casadaleitura/portalbeta/bo/documentos/vo_sophia_a_C.pdf, no dia 27 de Maio de 2008”42 ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos exemplares , 36ª edição. - Braga : Figueirinhas, 2006. P.1343 Ibidem. P.35-36
Os contos de Sophia são intemporais no que toca à sua
mensagem, tal como os valores sociais.
ANEXOS
Data:
4ºAno
Avaliação:
Nome:
Ficha 1
1- Sopa de palavras
Encontra na vertical ou horizontal as seguintes palavras:
Novembro
Cidade
Homem
Multidão
Criança
Frio
2- Conjuga-me
Conjuga o verbo “ver” nos seguintes tempos:
Presente do Indicativo
Eu
Tu
Ele
Nós
Vós
Eles
N O V E M B R O X W
P T U L U N F A A Q
C P M R T E R V N R
I M M U L T I D Ã O
D C F N H B O P T R
A C R I A N Ç E L J
D D L I B Ç P V V E
E V T G H O M E M G
Pretérito Perfeito
Eu
Tu
Ele
Nós
Vós
Eles
3- Frases incompletas
Completa as seguintes frases, completando-as com as palavras
correctas:
Estranho; Passar; Olhava; Penso; Homem; Passaram;
Ruas; Certamente
A multidão não parava de ____________.
O homem não me _________________.
Agora eu _________ no que podia ter feito.
Então compreendi por que é que o _____________ que eu deixara para
trás não era um _____________.
Muitos anos _________. O homem _______________ morreu. Mas
continua ao nosso lado. Pelas _______.
Ficha 2
Um final diferente
“O Homem”
O meu Nome______________ Data _________________
Então a multidão dispersou-se e eu fiquei no meio do passeio,
caminhando para a frente, levada pelo movimento da cidade…
Bibliografia
ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner, Contos exemplares , 36ª
edição. - Braga : Figueirinhas, 2006.
Apontamentos Europa-América, (1990) Explicam Sophia de
Mello Breyner-Contos Exemplares.Colecção, Apontamentos
Europa-América, Número 31.
Departamento de Educação Básica. (2001), Organização
curricular e programas Ensino Básico - 1.º Ciclo, 3.ª edição.
Mem Martins. Editorial do Ministério da Educação
Pujol i Pons, E., Gonzalez, I., (2003) Valores para a Convivência,
Marina Editores.
REBELO, D., MARQUES, M.J. e COSTA, M.L. (2OOO).
Fundamentos da didáctica da língua materna. Lisboa:
Universidade Aberta.
Internet
Sites:
http://195.23.38.178/casadaleitura/portalbeta/bo/documentos/ot_sophia_jagomes_a.pdf
www.exames.org/index.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=670 -
http://www.instituto-camoes.pt/cvc/figuras/smellobreyner.html