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1 edio 2009
L533d Leite Jnior, Alcides DominguesDesenvolvimento e mudanas no estado brasileiro / Alcides Domingues Leite Jnior.
2. ed. reimp. Florianpolis : Departamento de Cincias da Administrao / UFSC, 2012.88p. : il.
Especializao Mdulo BsicoInclui bibliografiaISBN: 978-85-61608-83-5
1. Histria do Brasil. 2. Brasil Histria Repblica Velha, 1889-1930. 3. Brasil Poltica e governo. 4. Partidos polticos Brasil. 5. Educao a distncia. I. Coordenao deAperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Brasil). II. Universidade Aberta do Brasil. III. Ttulo.
CDU: 981
Catalogao na publicao por: Onlia Silva Guimares CRB-14/071
DESENVOLVIMENTO DE RECURSOS DIDTICOSUniversidade Federal de Santa Catarina
METODOLOGIA PARA EDUCAO A DISTNCIAUniversidade Federal de Mato Grosso
AUTOR DO CONTEDOAlcides Domingues Leite Jnior
PRESIDNCIA DA REPBLICA
MINISTRIO DA EDUCAO
COORDENAO DE APERFEIOAMENTO DE PESSOAL DE NVEL SUPERIOR CAPES
DIRETORIA DE EDUCAO A DISTNCIA
EQUIPE TCNICA
Coordenador do Projeto Alexandre Marino Costa
Coordenao de Produo de Recursos Didticos Denise Aparecida Bunn
Capa Alexandre Noronha
Ilustrao Igor Baranenko
Projeto Grfico e Editorao Annye Cristiny Tessaro
Reviso Textual Sergio Luiz Meira
Crditos da imagem da capa: extrada do banco de imagens Stock.xchng sob direitos livres para uso de imagem.
SUMRIO
Apresentao.................................................................................................... 7
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
Introduo...................................................................................... 11
O Setor Pblico e a Repblica Velha (1889-1930)............................................... 12
Primeiro Perodo: incio da Repblica Velha................................... 13
Segundo Perodo: os governos da Repblica Oligrquica e a poltica dos
governadores................................................................................... 16
A Era Vargas............................................................................................ 19
A Organizao do Estado.................................................................... 22
O Estado Desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek................................... 26
O Plano de Metas............................................................................. 27
O Regime Militar e as Reformas de Estado........................................................... 29
Governo Castello Branco............................................................................. 30
Os Governos Costa e Silva e Mdici............................................................. 33
O Governo Geisel............................................................................ 37
O Governo Figueiredo............................................................................. 41
A Herana do Regime Militar......................................................................... 47
6Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
Unidade 2 Da Nova Repblica at os Dias Atuais
Introduo..................................................................................................... 53
A Eleio de Tancredo Neves e o Governo Sarney................................................ 54
Os Governos Collor e Itamar Franco..................................................................... 58
O Primeiro Governo Fernando Henrique Cardoso................................................ 63
O Segundo Governo Fernando Henrique Cardoso................................................ 68
O Primeiro Governo Lula............................................................................. 73
O Segundo Governo Lula..................................................................................... 81
Referncias.................................................................................................... 87
Minicurrculo.................................................................................................... 88
7Mdulo Bsico
Apresentao
APRESENTAO
Ol! Caro estudante!
Voc est iniciando a disciplina Desenvolvimento eMudanas no Estado Brasileiro, que tem como propsito analisar oprocesso de construo da estrutura de Estado no Brasil, daProclamao da Repblica at os dias atuais. A disciplina permitirque voc identifique o resultado de um processo cumulativo demudanas, que teve incio na primeira metade do sculo XX.Processo que, ao contrrio do ocorrido na maioria dos pasesdesenvolvidos, no contou com rupturas traumticas, mas com aincorporao da ordem anterior pela estrutura estabelecida.
O conhecimento da mecnica de transformao do Estadobrasileiro, desde a Proclamao da Repblica at hoje, fundamental para que voc entenda a estrutura vigente, com seuspontos fortes e suas limitaes. O estudo da administrao pblicabrasileira deve levar em conta as caractersticas peculiares da culturanacional, de forma a evitar anlises comparativas imprecisas eprecipitadas. Tratar objetos desiguais de forma apropriada podecausar mais trabalho de pesquisa e estudo mais aprofundado, noentanto, o nico meio para conhecer melhor a atual estrutura deEstado brasileiro, sem incorrer nos erros primrios contidos namaioria das anlises superficiais, apresentadas por veculos deinformao de massa, aos quais os estudantes brasileiros tm acesso.
Desta forma, a disciplina Desenvolvimento e Mudanas noEstado Brasileiro, oferecida a voc, aluno do curso a distncia deps-graduao em Administrao Pblica, aborda a evoluo doaparato de Estado no Brasil, desde o incio da Repblica, quandoo Estado brasileiro ainda era incipiente, at os dias atuais, quando
8Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
o modelo de Estado em nosso pas j se encontra bem definido ebastante desenvolvido, em comparao com os demais pases comestgio de desenvolvimento similar. A disciplina abordar aindatodos os setores importantes para o estabelecimento de uma aode Estado em benefcio dos cidados e do prprio desenvolvimentodo pas. Sendo assim, analisaremos tambm a implantao do atualEstado de Direito, com a evoluo dos indicadores sociais, daestabilidade monetria, da universalizao das polticas pblicas,da consolidao da democracia de massas, da previsibilidade doarcabouo legal e do fortalecimento do ambiente de negcios.
Certamente, agora ficou mais claro de que trata a disciplinaDesenvolvimento e Mudanas no Estado Brasi leiro e suaimportncia na sua formao acadmica e profissional. Sem apretenso de esgotar o assunto, o texto disponibilizado a seguir noo isenta da necessidade de recorrer a outras fontes disponveis empublicaes impressas ou oferecidas por outros meios de difuso.
Este texto objetiva capacit-lo no apaixonante caminho doconhecimento da histria recente do Brasil. Esperamos que vocgoste dos assuntos tratados nesta disciplina, pois a arte de aprender muito mais eficaz na medida em que o processo de aprendizado realizado com satisfao. Bons estudos!
Professor Alcides Leite.
9Mdulo Bsico
Apresentao
UNIDADE 1
OBJETIVOS ESPECFICOS DE APRENDIZAGEM
Ao finalizar esta Unidade, voc dever ser capaz de:
f Reconhecer e enumerar as principais mudanas estruturaisocorridas no Estado brasileiro, desde a Proclamao da Repblica
at o fim do Regime Militar;
f Identificar as causas e consequncias das principais mudanasestruturais ocorridas no Estado brasileiro; e
f Validar, com um juzo crtico, os clichs comuns dos ambientesacadmicos e jornalsticos brasileiros.
DA REPBLICA VELHA ATO FIM DO REGIME MILITAR
10Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
11Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
INTRODUO
Nesta primeira Unidade da disciplina Desenvolvimento emudanas no Estado Brasileiro, vamos percorrer o perodo que vaidesde a Proclamao da Repblica at o final do Regime Militarem 1985. Vamos comear?
Iniciaremos nosso estudo a partir da Proclamao daRepblica, pois o Estado brasileiro, sob o ponto de vista de formaoda sua identidade independente, nasceu propriamente com aProclamao da Repblica. O perodo do Imprio, emboraimportante para a formao da infraestrutura econmica e socialdo pas, pouco contribuiu para a estruturao da base administrativae poltica que o pas construiu ao longo do tempo.
Durante o perodo analisado foi implantada a base doModerno Estado Brasileiro. A construo da Administrao Direta,durante a Era Vargas, e da Administrao Indireta, durante osgovernos Castello Branco e Costa e Silva, alm da formulao eimplantao das polticas de Previdncia Pblica e dos Planos deDesenvolvimento Econmico, compuseram o quadro detransformaes estruturais da ao do Estado no processo dedesenvolvimento do pas.
O entendimento da lgica dessas mudanas de fundamentalimportncia para que voc tenha uma anlise crtica a respeito dosavanos ocorridos e das conquistas alcanadas pelo Estado Brasileirorumo construo de uma estrutura capaz de sustentar o processode insero do Brasil no rol dos pases em desenvolvimento.
Temos certeza de que, muito do que aqui ser tratado, vocj estudou no Ensino Mdio e/ou na Graduao. Contudo,esperamos contribuir para que voc adquira uma viso de conjuntonecessria ao entendimento do carter contnuo e incremental dasprincipais evolues ocorridas no perodo analisado.
12Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
v
A maioria dos
presidentes da Repblica
Velha comearam a
carreira profissional
como advogados e
promotores pblicos. Em
geral, os presidentes da
Repblica Velha
entraram na poltica,
apoiados por lderes
polticos locais (os
Coronis).
O SETOR PBLICO E A REPBLICAVELHA (1889-1930)
O perodo conhecido como Repblica Velha durou de 1889at 1930. Este perodo denominado ainda de Repblica dosBacharis e Repblica Manica, uma vez que todos ospresidentes civis da poca eram bacharis em direito e quase todosmembros da maonaria.
Mas, voc sabe por que esse perodo foi chamado de Repblica
Velha?
Historicamente, este perodo chamado de Repblica Velhaem contraposio ao perodo ps-revoluo de 1930, que vistocomo um marco na histria da Repblica, uma vez que gerougrandes transformaes que voc ver ao longo do texto.
Podemos dividir a Repblica Velha, para facilitar nossadiscusso temtica, em dois perodos. So eles:
X o primeiro: de 1889 a 1894, chamado Repblica daEspada, foi o perodo dominado pelos militares; eX o segundo: de 1895 a 1930, chamado de RepblicaOligrquica, foi o perodo dominado pelos Presidentesdos Estados.
A seguir, analisaremos cada um desses perodos da Repblica
Velha.
13Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
PRIMEIRO PERODO: INCIO DA REPBLICA VELHA
Com a vitria do movimento republicano liderado pelosoficiais do exrcito, foi estabelecido um governo provisrio chefiadopelo Marechal Deodoro da Fonseca. Durante o governo provisrio, foi:
X decretada a separao entre Estado e Igreja;X concedida a nacionalidade a to-dos os imigrantes residentes noBrasil;X nomeados os governadores paraas provncias, que se transfor-maram em estados;X criada a bandeira nacional como lema positivista, ordem e pro-gresso; eX banida a famlia real do territ-rio brasileiro, que s retornou em1922, aps o falecimento daPrincesa Isabel, herdeira do tro-no brasileiro.
Mas foi no incio de 1890 quecomearam as discusses para a elaboraoda nova Consti tuio, que acabouvigorando durante toda a Repblica Velha.A promulgao da Constituio aconteceuem 24 de fevereiro de 1891.
Constituio de 1891
Inspirada na Consti tuioAmericana, a Constituio de 1891 teve como principais autores:Prudente de Morais e Rui Barbosa. Seu texto era fortemente
Prudente de Morais (18411902)
Prudente Jos de Morais e Bar-
ros formou-se em Direito na
capital paulista. Em 1876 ade-
riu ao Partido Republicano
Paulista. Foi trs vezes depu-
tado da agremiao na Assembleia Provin-
cial e uma vez na Assembleia-Geral do Im-
prio. Votou a favor da libertao dos escra-
vos com mais de 65 anos. Foi governador da
provncia de So Paulo at 1890. Foi eleito
por voto direto para a sucesso de Floriano
Peixoto. Fonte: .
Acesso em: 17 jul. 2009.
Rui Barbosa (18491923)
Formado em Direito. Engajou-
se numa campanha em defesa
das eleies diretas e da abo-
lio da escravatura. Com a Re-
pblica, tornou-se vice-chefe do governo pro-
visrio. Tambm escreveu o projeto da Carta
Constitucional da Repblica. Como jornalis-
ta, escreveu para diversos rgos. Fonte:
. Acesso em: 17
jul. 2009.
Saiba mais
14Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
descentralizador, dando grande autonomia aos municpios e aosestados. O regime de governo escolhido foi o presidencialismo e osmembros dos poderes Legislativo e Executivo passaram a ser eleitospelo voto popular direto.
O mandato do presidente da Repblica foi estipulado emquatro anos, sem direito reeleio para o mandato imediatamenteseguinte, sem, contudo, haver impedimentos para um mandatoposterior. O mesmo valia para o vice-presidente. No caso de morte,renncia ou impedimento do presidente, o vice assumiria apenasat serem realizadas novas votaes, no precisando ficar at quefosse completado o respectivo quadrinio, como ocorre atualmente.No entanto, como no havia prazo para a realizao de novaseleies, se houvesse acordo poltico o vice poderia terminar omandato.
Quanto s regras eleitorais, ficou determinado que o votocontinuaria a descoberto (no secreto) a assinatura da cdulapelo eleitor tornou-se obrigatria e foi decretado o fim do votocensitrio, que definia o eleitor por sua renda, embora aindacontinuassem excludos do direito ao voto os analfabetos, asmulheres, os religiosos sujeitos obedincia eclesistica e osindigentes.
Alm disso foi reservado ao Congresso Nacional aregulamentao do sistema para as eleies de cargos polticosfederais, e s assembleias estaduais a regulamentao para aseleies estaduais e municipais. O voto distrital permaneceu com aeleio de trs deputados para cada distrito eleitoral do pas.
Nesta poca o monoplio de registros civis passou ao Estado,sendo criados os cartrios para os registros de nascimento,casamento e morte. O Estado tambm assumiu, de forma definitiva,as rdeas da educao, instituindo vrias escolas pblicas de ensinofundamental e intermedirio, principalmente nas cidades maisimportantes do pas.
Alm disso, a Consti tuio garantia a l iberdade deassociao e de reunio sem armas, assegurava aos acusados amplo
15Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
direito de defesa, abolia as penas de gals, de banimento judicial ede morte, institua o habeas-corpus e as garantias de magistraturaaos juzes federais.
Governos Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto
Com a promulgao da Constituio, Deodoro da Fonsecapassou a ser presidente constitucionalmente eleito pelo CongressoNacional, com mandato at 15 de novembro de 1894. Porm, devido crise gerada pela poltica econmica do governo, Deodororenunciou presidncia em 23 de novembro de 1891 e o vice-presidente Floriano Peixoto assumiu o poder at 1894.
Governo Prudente de Morais
Este foi um perodo detransio entre a Repblica da Espadae a Repblica Oligrquica, governadopor Prudente de Morais, primeiro civila assumir a Presidncia da Repblica,e no qual os militares tinham aindabastante poder poltico. Somente como desgaste sofrido com a Guerra dosCanudos e o assassinato do ministroda Guerra, foi que os militares seafastaram do poder, voltando polticasomente entre 1910 e 1914, no governodo Marechal Hermes da Fonseca, e nomovimento denominado tenentismoocorrido no incio do ano de 1920.
Neste perodo tenentista oExrcito brasileiro enfrentou grandes dificuldades faltavamarmamentos, cavalos, medicamentos e instruo para a tropa. Ossoldos permaneciam baixos e o governo no fazia meno de
Guerra dos Canudos
Revolta social que teve incio na
Bahia em novembro de 1896 e ter-
minou em outubro de 1897. O con-
flito foi l iderado pelo beato Ant-
nio Conselheiro. Devido enorme
proporo que o movimento adqui-
riu, o governo da Bahia no conse-
guiu segurar a revolta, e pediu a interferncia da
Repblica. O massacre foi tamanho que no esca-
param idosos, mulheres e crianas. Eucl ides da
Cunha, em seu livro Os Sertes, eternizou este movi-
mento que evidenciou a importncia da luta social
na histria de nosso pas. Fonte: . Acesso em: 15 jul. 2009.
Saiba mais
vA pena de gal sujeita oscriminosos a cumprirempena de trabalhos
forados em
embarcaes de velas,
remando sob a coero
de castigos corporais.
16Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
aument-los. Esta situao afetava particularmente os tenentes.Neste quadro de crescente insatisfao eclodiram diversosmovimentos militares. A presena significativa de tenentes naconduo desses movimentos deu origem ao termo tenentismo.
Os principais movimentos tenentistas da dcada de 1920foram os 18 do Forte, os levantes de 1924, e a Coluna Prestes.As propostas polticas dos tenentes, de uma maneira geral, sevinculavam ao nacionalismo e centralizao poltica, opondo-seao domnio poltico de Minas Gerais e So Paulo. Entre outrasreformas, os tenentistas defendiam o voto secreto, a independnciado Poder Judicirio e um Estado mais forte. Assim, podemos afirmarque, de fato, a Repblica Oligrquica s se consolidou em 1898,com a posse do segundo presidente civil, Campos Salles.
SEGUNDO PERODO: OS GOVERNOS DA REPBLICA
OLIGRQUICA E A POLTICA DOS GOVERNADORES
O Presidente Campos Sales consolidou uma caractersticapeculiar da poltica brasileira durante a Repblica Oligrquica: aPoltica dos Estados, conhecida tambm como Poltica dosGovernadores. De acordo com essa obra de engenharia poltica,o poder federal passou a no interferir na poltica dos estados eestes no interferiam na poltica dos municpios, garantindo-lhes aautonomia poltica. O Presidente da Repblica apoiava os atos dospresidentes estaduais, como a escolha dos sucessores dessespresidentes de estados, e, em troca, os governadores davam apoioe suporte ao governo federal, colaborando com a eleio decandidatos para o Congresso Nacional.
A Pol t ica dos Estados signif icava, na verdade, aimpossibilidade da oposio assumir o poder, uma vez que osrepresentantes populares eram escolhidos mediante pactos entre o
v
O Presidente da
Repblica era escolhido
atravs de um acordo
nacional entre os
presidentes dos estados.
17Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
governo federal e as elites estaduais, legitimadas por eleies poucoconfiveis, sem espao para candidatos independentes. Nesta pocaera a Comisso de Verificao de Poderes do Congresso Nacionalo rgo encarregado de fiscalizar o sistema eleitoral. Esta Comissodificilmente ratificava parlamentares eleitos que no apoiassem aPoltica dos Estados.
Voc sabe quem era o responsvel em organizar a vida poltica,
diretamente no contato com a populao, nos municpios?
Este perodo foi marcado pelo coronelismo. Quemorganizava a vida polt ica, diretamente no contato com apopulao, nos municpios era a figura carismtica do coronel.O coronel, apesar do nome, era um lder civil, comumente umfazendeiro que dominava a poltica local. Ele era o nico elo entrea populao e o poder estatal. O coronel garantia os votos locaisdo presidente do Estado, em troca do apoio do governador sualiderana poltica no seu municpio.
Durante a Repblica Oligrquica houve diversas revoltas,tais como: a Revolta da Vacina, a Revolta da Chibata, a Guerra doContestado, a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, o MovimentoTenentista e a Revoluo de 1930, que colocou um fim neste perodohistrico, e ser alvo de nossa anlise mais adiante.
No campo da economia, foi um perodo de modernizao,com grandes surtos de industrializao, como o ocorrido durante aPrimeira Guerra Mundial. Porm a economia continuou dominadapela cultura do caf at a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque,em 1929. Foi neste perodo que ocorreram tambm as primeirasgreves, com o crescimento de movimentos anarquistas e comunistasnos grandes centros urbanos do pas.
18Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
A Revoluo de 1930 e o fim da Repblica Velha
As eleies presidenciais de1930 foram vencidas, pela contagemoficial, pelo candidato Jlio Prestes,presidente de So Paulo, que tinha oapoio do presidente Washington Lus.Contudo, a oposio, no aceitou aderrota de Getlio Vargas e iniciou aRevoluo de 1930. Esta revoluo,que t inha como l deres Getl ioVargas, Antnio Carlos Ribeiro deAndrada (ex-presidente de MinasGerais) e tenentes, comeou em 3 deoutubro de 1930, sem enfrentargrande resistncia, uma vez que arepulsa ao modelo liberal-oligrquico
da Velha Repblica h muito vinha crescendo e ganhando apoiode vrios presidentes de Estado fora do eixo So Paulo/MinasGerais.
Em 3 de novembro de 1930, Getlio Vargas toma
posse como presidente da Repblica, pondo fim
Repblica Velha.
Contudo importante destacarmos que foi a crise de 1929,que arruinou a maioria dos fazendeiros de caf, que deu condiespolticas para a vitria de Vargas na Revoluo de 30. Esta criseeconmica atingiu os EUA, se estendeu por todo o mundo capitalistae terminou apenas com a Segunda Guerra Mundial. Este perodo derecesso econmica causou altas taxas de desemprego, quedasdrsticas do produto interno bruto, com grande queda na produoindustrial, no preo das aes, e em praticamente todos os indicadoresde atividade econmica, em diversos pases no mundo.
Jlio Prestes de Albuquerque (18821946)
Cursou Direito de So Paulo. Em 1909,
foi eleito deputado estadual e por cin-
co legislaturas seguintes. Em 1927, as-
sumiu o governo do Estado de So Pau-
lo e depois, em 1929, foi indicado por
Washington Luis como candidato do
governo sucesso presidencial, concorrendo con-
tra Getlio Vargas. Prestes no chegou a tomar pos-
se, pois foi impedido pela Revoluo de 1930, a qual
levou Getlio Vargas ao poder. Exi lado na Europa,
Jlio Prestes regressou ao Brasil em 1934, afastan-
do-se da poltica. Fonte: .
Acesso em: 15 jul. 2009.
Saiba mais
19Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
A ERA VARGAS
Considerado por muitos, como opersonagem brasileiro mais influente dosculo XX, Getlio Dornelles Vargas em1929 candidatou-se presidncia daRepblica na chapa oposicionista daAliana Liberal. Derrotado, chefiou omovimento revolucionrio de 1930, pormeio do qual assumiu o GovernoProvisrio. Em 1934, foi eleito presidente,de forma indireta, com mandato at 1938.Em 1937 instaurou o Estado Novo,determinou o fechamento do Congresso,outorgou uma nova Constituio, que lhe conferiu o controle dospoderes Legislativo e Judicirio, e determinou o fechamento dospartidos polticos.
Com o fim da Segunda Guerra em 1945, as presses emprol da redemocratizao ficaram mais fortes, e ento Vargas foideposto em 29 de outubro de 1945, por um movimento militarliderado por generais que compunham o seu prprio ministrio.Afastado do poder, Vargas foi para sua fazenda em So Borja, noRio Grande do Sul. Mas, nas eleies para a Assembleia NacionalConstituinte de 1946, foi eleito senador por dois estados e deputadofederal por sete estados. Nas eleies presidenciais de 1950, Vargas eleito presidente da repblica com ampla margem de votos.
No segundo perodo, o seu governo foi marcado pelaretomada da orientao nacionalista, cuja expresso maior foi aluta para a implantao do monoplio estatal sobre o petrleo, coma criao da Petrobrs, e pela progressiva radicalizao poltica.
Getlio Dornelles Vargas (18821954)
Foi o presidente que mais tempo
governou o Brasi l , durante dois
mandatos. De origem gacha (nas-
ceu na cidade de So Borja), Vargas
foi presidente do Brasil entre os anos
de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954. Entre 1937 e 1945
instalou a fase de ditadura, o chamado Estado
Novo. Fonte: . Acesso em: 18 jul. 2009.
Saiba mais
20Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
v
O Cdigo Eleitoral foi
publicado em fevereiro
de 1932 e um novo
interventor foi nomeado
para So Paulo, o civil e
paulista Pedro de Toledo.
Vargas enfrentava oposio cer rada por par te da UnioDemocrtica Nacional UDN, em especial do jornalista CarlosLacerda, proprietrio do jornal carioca Tribuna da Imprensa,situao que o leva ao suicdio em 1954.
Assim podemos observar que durante os 20 anos de poder,Vargas imprimiu profundas transformaes no sistema poltico,econmico e administrativo brasileiro. Tal foi a importncia dasduas passagens de Getlio Vargas pelo governo que, ainda hoje, oslivros de histria referem-se a esse perodo como a Era Vargas.
O primeiro perodo, de 1930 a 1945, foi marcado pordiferentes fases. Tendo sido derrotado na eleio para presidenteda Repblica em 1930, Getlio liderou um movimento que derrubouo governo de Washington Lus e assumiu o poder, em 3 de novembrode 1930.
Aps este perodo tivemos a Revoluo Constitucionalistade 1932 iniciada em So Paulo que durou trs meses, de julhoa outubro de 1932. Esta Revoluo foi consequncia da campanhaconstitucionalista iniciada em 1931. No final de 1931 e incio de1932, Vargas procurou conter as crticas organizando uma comissoencarregada de organizar o novo Cdigo Eleitoral.
Os sinais de trgua emitidos por Vargas, no entanto, noapaziguaram os nimos e neste cenrio tivemos a formao daFrente nica Paulista (FUP), cujos principais lemas eram aconstitucionalizao do pas e a autonomia de So Paulo. Mas, noincio de 1932, com a morte de quatro estudantes paulistas emconfronto com foras legais, foi criado o movimento MMDC iniciaisdos nomes dos estudantes mortos, Miragaia, Martins, Drusio eCamargo. O episdio foi o estopim da Revoluo de 1932.
Em 9 de julho o movimento revolucionrio ganhou as ruasda capital e do interior de So Paulo. A revoluo teve apoio dediversos setores da sociedade paulista. Pegaram em armasintelectuais, industriais, estudantes e outros segmentos das camadasmdias, polticos ligados Repblica Velha ou ao PartidoDemocrtico. A luta armada dos constitucionalistas ficou restritaao estado de So Paulo. Isolados, os paulistas no tiveram condiesde manter por muito tempo a revoluo. Em outubro de 1932assinaram a rendio.
21Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
Aps esta revolta dos paulistas contra o governo Vargas que foi redigida a Constituio de 1934, que manteve Vargas nopoder at 1938, quando ento foram realizadas novas eleies.
Em 1937, Getlio institui o Estado-Novo; fechou o
Congresso; dissolveu os partidos polticos; e passou
a governar de modo ditatorial at o final da Segunda
Guerra Mundial, em 1945.
Retirado do poder por um golpemilitar, que convocou uma AssembleiaConstituinte e promoveu eleies gerais em1946, Getlio volta como candidato em1950, e se elege presidente da Repblica.Este segundo perodo de Vargas foi de 1950a 1954, quando dramaticamente ele sesuicidou, com um tiro no corao, dentro dopalcio do governo, no dia 24 de agosto,aps se ver confrontado com a eminnciada renncia ou deposio na reunioministerial realizada na madrugada de 23para 24 de agosto. Vargas deixou escritauma carta-testamento, em que acusava osinimigos da nao como os responsveis porseu suicdio.
As transformaes no campo poltico,econmico, social e cultural, promovidas porGetlio Vargas esto bem resumidas no textodo Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contemporneado Brasil (CPDOC), da Fundao Getlio Vargas.
No plano poltico, a Revoluo de 1930 produziu um mo-
vimento de centralizao que transferiu o poder dos esta-
dos da federao para o governo central, o qual passou a
Suicdio de Vargas
Foi o atentado rea-
lizado contra Carlos
Lacerda no incio de
agosto de 1954, no
qual foi morto o
major-aviador Ru-
bem Florentino Vaz,
que desencadeou a
crise final do gover-
no Vargas, pelo
envolvimento da
sua guarda pessoal no episdio. Para a in-
vestigao do atentado, foi instaurado um
inqurito policial-militar, pelo Ministrio da
Aeronutica. Fonte: . Acesso em: 18 jul. 2009.
Saiba mais
22Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
assumir papel crescente na sociedade e na economia.
No plano econmico, teve lugar um intenso movimento de
industrializao e urbanizao que, nos anos 50, se fez
acompanhar de polticas deliberadas de desenvolvimento.
O processo de modernizao envolveu um Estado capaz
de agir sobre setores da economia e a criao de diferentes
rgos para a implementao das novas polticas. No pla-
no social, foi criado o Ministrio da Justia, assim como a
Justia do Trabalho, para atuar nas relaes entre o capi-
tal e o trabalho. A ao do Estado, regulando as ativida-
des profissionais e a estrutura sindical com o imposto ni-
co, permaneceu como legado da Era Vargas. No plano
cultural, o governo criou instituies que atuaram nos cam-
pos da educao formal, do teatro, da msica, do livro, do
rdio, do cinema, do patrimnio cultural, da imprensa.
Abriu espao para a crescente participao dos intelectu-
ais no projeto de construo de uma identidade nacional.
Pretendeu modernizar, resgatando as tradies nacionais atra-
vs da ao do Estado no campo da cultura Disponvel em:
. Acesso em: 15 jul. 2009.
A ORGANIZAO DO ESTADO
Getlio Vargas organizou oaparelho do Estado seguindo o mo-delo burocrtico weberiano. Nestemodelo de departamentalizao, pro-posto por Max Weber, a estrutura ad-ministrativa era ocupada por funcio-nrios recrutados via concurso pbli-co e promovidos meritocraticamente.Esta foi uma das marcas daprofissionalizao da administraopblica sendo adotada pela maioriados pases desenvolvidos.
Maximillian Carl Emil Weber (1864 1920)
Socilogo, historiador e poltico ale-
mo que, junto com Karl Marx e mile
Durkheim, foi considerado um dos
fundadores da sociologia e dos estu-
dos comparados sobre cultura e reli-
gio. Para Weber, o ncleo da anli-
se social consistia na interdependncia entre reli-
gio, economia e sociedade. Fonte: . Acesso em: 15 jul. 2009.
Saiba mais
22
23Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
E no Brasil, voc sabe quando e como foi implantado o modelo
burocrtico?
No Brasil, o incio do modelo burocrtico ocorreu durante oprimeiro perodo do governo Vargas, por meio de uma linhaautoritria-modernizadora. O vcuo, deixado pela poltica liberal-democrtica excludente da Velha Repblica, foi preenchido pelapoltica centralizadora, porm modernizante e includente de GetlioVargas, que criou o Ministrio do Trabalho, Indstria e Comrcio eo Ministrio da Educao e Sade em 1930, a Universidade doBrasil e o Servio do Patrimnio Histrico Nacional em 1937, almdo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica em 1938.
Para organizar a seleo e treinamento do funcionalismopblico, foi criado, em 1938, o Departamento Administrativo doServio Pblico (DASP), que implantou o Estatuto dos FuncionriosPblicos Civis da Unio, algo at ento inexistente no pas.
Outro aspecto que sofreu vrios avanos no governo deVargas diz respeito s polticas trabalhistas. Conhea a seguir algunsdesses aspectos:
X aprovao, em 1931, da Lei de Sindicalizao, queestabeleceu a unicidade sindical (apenas um sindicatopor categoria e por base territorial);X implantao, em 1932, da jornada de trabalho de 8horas (concedida aos comercirios e aos industririos),das frias remuneradas (concedidas aos bancrios eindustririos) e da carteira de trabalho, que deu acessoaos direitos trabalhistas e previdencirios;X criao, em 1933, dos Institutos de Aposentadoria ePenses, precursores do INSS;X fundao, em 1939, da Justia do Trabalho; eX instituio, em 1940, do Salrio Mnimo.
24Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
Para organizar o processo eleitoral, em 1932, foi aprovadoo Cdigo Eleitoral, que estendeu o direito de voto s mulheres,implantou o sistema de voto secreto, alm de criar a Justia Eleitoral.
J na rea econmica, o governo Vargas deu forte impulso industrializao do pas, principalmente no setor de base. Em1941, foi criada a Companhia Siderrgica Nacional e, em 1942, aCompanhia Vale do Rio Doce. No segundo governo Vargas, foramcriados ainda o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico(BNDE) em 1952 e a Petrobrs em 1953.
Durante o perodo de 1931 a 1954, que abrangeu dois
governos: Vargas e Dutra, a inflao anual mdia do
pas foi de 9,17% e o crescimento anual mdio do PIB
foi de 5,31%. Nmeros importantes, tendo em vista
que a maioria dos pases do mundo sofreu forte
impacto da quebra da Bolsa de Nova Iorque, em 1929,
e da Segunda Guerra Mundial, que durou de 1939 a
1945.
Como voc pode observar foi nos governos Vargas quesurgiram as bases para a modernizao econmica, poltica eadministrativa do pas. Mais importante, porm, do que essasrealizaes, afirmam Srgio Besserman Vianna e Andr Villela, foia incorporao, pela primeira vez na histria brasileira, do povo(classe trabalhadora) como agente poltico relevante. Esse fato ao mesmo tempo indito e auspicioso imprimiu nova dinmicaao processo poltico do ps-guerra, permitindo importantes avanosna construo da democracia no pas.
Assim podemos afirmar que, independente das virtudes edefeitos pessoais e da ao poltica desenvolvida por Getlio Vargas,sua passagem pelo comando do setor pblico brasileiro estabeleceuum verdadeiro divisor de tempo. O Brasil foi um antes de Vargas epassou a ser outro depois de Vargas.
24
25Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
Nesse sentido, veja a seguir as principais marcas da EraVargas.
X Organizao do Estado com a criao do Ministriodo Trabalho e da Educao, do IBGE e daUniversidade do Brasil.X Aprovao da Lei de Sindicalizao.X Implantao da jornada de trabalho de 8 horas.X Criao das frias remuneradas.X Implantao da carteira de trabalho.X Construo dos Institutos de Aposentadoria e Penses.X Criao da Justia do Trabalho.X Instituio do Salrio Mnimo.X Aprovao do Cdigo Eleitoral, do voto feminino e dovoto secreto.X Criao da Justia Eleitoral.X Fundao da Companhia Siderrgica Nacional.X Criao da Companhia Vale do Rio Doce.X Concepo do Banco Nacional de DesenvolvimentoEconmico (BNDE).X Criao da Petrobrs em 1953.
26Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
O ESTADO DESENVOLVIMENTISTA DEJUSCELINO KUBITSCHEK
Em plena vigncia dademocracia, resultado daConstituio de 1946, JuscelinoKubitschek (JK) foi eleitoPresidente da Repblica no finalde 1955 e tomou posse em 31 dejaneiro de 1956. O novopresidente criou uma agendaprogressista baseada numprograma de obras pblicas,denominada de Plano de Metas.
Durante o governo de JKo PIB brasileiro cresceu 47,5%, o que correspondia a uma mdiaanual de 8,08%. Contudo, este bom desempenho da economia foiacompanhado de um forte crescimento da inflao e de umdescontrole das contas pblicas. Diante deste cenrio, no final dogoverno, a inflao anual ultrapassou 30% e o dficit pblico superou25% das receitas.
Alm do crescimento econmico, o governo de JK promoveuuma forte mudana na estrutura produtiva do pas. No incio dogoverno JK, o setor agropecurio era responsvel por 23,5% doPIB e o setor industrial por 25,6% do PIB. Ao fim do governo, aparticipao do setor industrial no PIB tinha subido para 32,2% ea do setor agropecurio havia recuado para 17,8%. Esses nmerosmostravam que o Brasil passou por um forte processo deindustrializao, durante os cinco anos de governo JK.
Juscelino Kubitschek de Oliveira (1902-1976)
Nascido em Minas Gerais, foi eleito depu-
tado federal e realizou obras de remodela-
o da capital. Posteriormente foi governa-
dor em Minas Gerais. Venceu a eleio para
presidente da Repblica na coligao PSD-
PTB com o famoso slogan Cinquenta anos em cinco. Um
de seus principais feitos foi a construo de Braslia e a
instituio do Distrito Federal. Seu governo foi marcado
por mudanas sociais e culturais. Fonte: . Acesso em: 20 jul. 2009.
Saiba mais
27Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
O modelo que deu sustentao aocrescimento do setor industrial foi aquele propostopelos membros da Escola Cepalina, qual seja:
X industrializao via substituio deimportaes, com financiamentoexterno e forte presena do setorpblico.
No Brasil, o rgo que melhor incorporouo pensamento da Escola Cepalina foi o InstitutoSuperior de Estudos Brasileiros (ISEB), criado emjulho de 1955. A proposta nacional-desenvolvimentista, defendida pelo ISEB, foiamplamente utilizada nos discursos de JK. Umadas propostas do ISEB, incorporada pelo governo,foi a criao da Superintendncia doDesenvolvimento do Nordeste (Sudene) emdezembro de 1959.
O PLANO DE METAS
Como vimos, o lema do governo JK era 50 anos de progressoem 5 anos de realizaes. Para pr em prtica este lema, o governoimplantou o Plano de Metas, que consistia num conjunto de 30objetivos, abrangendo os setores de energia, transporte, indstriade base, alimentao e educao. A construo de Braslia tornou-se um objetivo parte, por deciso pessoal do presidente daRepblica.
A maior contribuio do Plano de Metas foi na rea doplanejamento. Com um cronograma rigoroso e umacompanhamento sistemtico, a maioria das aes propostas peloPlano foi realizada com bastante sucesso.
Cepal
Comisso Econmica para a Amrica
Latina e o Caribe, organizao que reu-
niu grandes nomes do pensamento
desenvolvimentista latino-americano,
pensamento no qual postulava que a
industrializao deveria ser o princi-
pal caminho para superao do
subdesenvolvimento dos pases da Am-
rica Latina. Fonte: . Acesso em: 15 jul. 2009.
Sudene
uma autarquia especial, administra-
tiva e financeiramente autnoma, in-
tegrante do Sistema de Planejamento
e de Oramento Federal, criada pela
Lei Complementar n. 125, de 3/1/2007,
com sede na cidade de Recife, Estado
de Pernambuco, e vinculada ao Minis-
trio da Integrao Nacional. Fonte:
. Acesso
em: 15 jul. 2009.
Saiba mais
28Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
O Conselho tinha autonomia de deciso suficiente paraviabilizar a execuo dos projetos, que contava com gruposexecutivos independentes para realizar os contatos com o setorprivado. O mais conhecido desses grupos foi o Grupo Executivo daIndstria Automobilstica (GEIA).
Mas, ser que o Plano de metas foi s sucesso? O que voc
sabe a respeito deste Plano?
No que diz respeito ao planejamento executivo do Plano deMetas alcanamos o sucesso. Contudo no que se refere ao seufinanciamento tivemos grandes problemas com o oramento daUnio, j que o financiamento dos projetos fora previsto para sercusteado em: 50% pelo oramento da Unio, 35% pela iniciativaprivada e 15% por meio de agncias de crdito governamentais,no entanto, a participao financeira da iniciativa privada foipequena, deixando para o Estado a responsabilidade pela grandemaioria dos recursos despendidos.
O desconserto financeiro do setor pblico, durante o governode JK, acabou sendo um dos principais responsveis pela criseeconmica que o pas viveu durante os governos de Jnio e JooGoulart, que culminou com o golpe militar de 1964.
29Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
O REGIME MILITAR E ASREFORMAS DE ESTADO
A instabilidade poltica, com arenncia de Jnio Quadros em agosto de1961 e a posse de Joo Goulart, somadaaos altos ndices de inflao e estagnaodo crescimento econmico, compuseramo caldo de cultura que alimentou o Golpede Estado de 1964.
Este golpe, j vinha sendo tentadodesde o segundo governo de GetlioVargas. O suicdio de Vargas, ocrescimento econmico no perodoJuscelino Kubitschek, a eleio de JnioQuadros, com apoio da UnioDemocrtica Nacional (UDN) (partido decentro-direita), a opo parlamentaristano incio do governo Joo Goulart e aampla vitria do presidencialismo noplebiscito de 63, de certa forma,acabaram adiando o golpe militar.
Durante os dois primeiros anos doperodo Jnio/Jango, ainda sob os efeitosdo Plano de Metas de JK, o crescimentodo PIB foi bastante significativo: 8,6% em1961 e 6,6% em 1962. No entanto, em1963, a estagnao econmica aparece,
Jnio da Silva Quadros (19171992)
Foi vereador, deputado estadual,
prefeito de So Paulo e governador.
Em sua primeira disputa pela pre-
feitura paulista, conquistou grande
popularidade ao usar uma vassou-
ra como smbolo da limpeza que prometia fazer
nos rgos pblicos. Tomou posse em janeiro
de 1961, mas renunciou sete meses depois, ale-
gando sofrer presso de foras terrveis. Em
1964, teve seus direitos polticos cassados pelo
Regime Mi l itar. Fonte: . Acesso em: 20 jul. 2009.
Joo Goulart
Foi deputado estadual, federal e li-
cenciou-se do mandato para assu-
mir a Secretaria do Interior e Justia
do Rio Grande do Sul. Foi Ministro
do Trabalho, Indstria e Comrcio do
governo de Getlio Vargas. Participou do gover-
no de JK como vice-presidente e ocupou a presi-
dncia do Senado. Tornou-se presidente aps a
renncia de Jnio Quadros. Acusado de comu-
nista , foi deposto pelo golpe militar de 1964.
Fonte: . Acesso em:
20 jul. 2009.
Saiba mais
29
30Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
com um crescimento do PIB de apenas 0,6%, algo indito na histriado pas at ento.
Quanto inflao, a situao foi ainda mais negativa. Em1961 o ndice geral de preos registrou aumento de 34,7%, em 1962subiu para 50,1% e em 1963 chegou a 78,4%.
GOVERNO CASTELLO BRANCO
O primeiro presidente do regime militar foio marechal Humberto de Alencar Castello Branco,que ficou no poder de 15 de abril de 1964 a 15de maro de 1967.
A prioridade do governo Castello Brancofoi o ajuste das contas pblicas e o controle dainflao, que chegava a 80% ao ano. A equipeeconmica do governo foi liderada pelos ministrosda fazenda Octvio Gouveia de Bulhes e peloministro do planejamento Roberto Campos, querealizaram profundas reformas na rea fiscal efinanceira e criaram o Plano de Ao Econmicado Governo (PAEG).
O diagnstico da inflao feito pelosministros da rea econmica t inha clara
orientao monetarista.
Voc sabe do que se trata essa teoria monetarista?
Essa uma teoria econmica que defende ser possvel mantera estabil idade de uma economia atravs da uti l izao deinstrumentos monetrios, como quantidade de moeda emcirculao, taxa de juros, compra e venda de ttulos pblicos e
Castello Branco (18971967)
Foi o primeiro presiden-
te do regime militar. Du-
rante seu mandato fo-
ram abolidos todos os
partidos polt icos da
poca e criados a Arena
e o MDB, que se tornaram os nicos
partidos polticos brasileiros at 1979.
Castelo Branco e seus aliados tinham
como plano colocar ordem na casa e,
depois de pouco tempo, restabelecer a
democracia. Fonte: . Acesso em: 15 jul. 2009.
Saiba mais
31Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
depsitos compulsrios. Os principais defensores do monetarismoso os economistas da Escola de Chicago, liderados por MiltonFriedman. Suas ideias so associadas ao liberalismo econmicocom adoo do livre mercado e menor presena possvel do setorpblico na economia.
O excesso de dficit pblico e os reajustes salariaisconcedidos pelo governo anterior eram identificados como asprincipais causas do aumento dos preos. Para combater a inflao,o PAEG props um programa de ajuste fiscal rigoroso, com aumentodas receitas e reduo das despesas pblicas e um controle rgidode emisso de moeda. Para conter a expanso dos salrios, o planorecomendou reajustes vinculados ao aumento da produtividade.
Quanto s reformas estruturais, o governo realizou profundasmudanas nos sistemas tributrio, financeiro, trabalhista eprevidencirio do pas. Conhea a seguir as principais medidas:
X criao do Fundo de Garantia por Tempo de Servio FGTS , que substituiu o modelo de estabilidade noemprego, vigente at ento. Alm de flexibilizar omercado de trabalho, o FGTS acabou se tornandouma importante fonte de recursos para o financiamentohabitacional;X unificao do sistema de Previdncia, sob um regimegeral, administrado pelo governo federal;X criao do Imposto sobre Servio ISS arrecadadopela esfera municipal, do Imposto sobre Circulaode Mercadoria ICM pela esfera estadual e doImposto sob Produtos Industrializados IPI pelaesfera federal;X permisso do pagamento dos tributos por meio da redebancria, o que faci l i tou a operao para oscontribuintes e ajudou bastante na fiscalizao dopagamento e na ampliao da base tributria; eX criao do Fundo de Participao de Estados eMunicpios, para garantir a distribuio, aos estados
32Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
e municpios, de parte dos tributos arrecadados pelaUnio.
Todas essas medidas contriburam para um aumentoexpressivo da arrecadao tributria no pas, que passou de 16%do PIB em 1963 para 21% em 1967.
A reforma do sistema financeiro foi baseada na legislaonorte-americana, que criou o sistema de instituies especializadas,ou seja, um tipo de instituio para cada tipo de atividadefinanceira. Como frutos desta reforma tivemos:
X os bancos comerciais;X os bancos de investimentos;X o sistema financeiro da habitao;X as sociedades de crdito, financiamento e investimento;X as corretoras e distribuidoras de valores;X o Conselho Monetrio Nacional, rgo mximo doSistema Financeiro Nacional; eX o Banco Central do Brasil, com a funo de executar apoltica monetria e supervisionar o sistema financeironacional, substituindo a antiga Superintendncia daMoeda e do Crdito (SUMOC).
Para incentivar a poupana, principal fonte de recursos paraos investimentos produtivos, e garantir a arrecadao fiscal, ogoverno criou as Obrigaes Reajustveis do Tesouro Nacional(ORTN), que garantia ao poupador retornos reais (descontada ainflao) em suas aplicaes financeiras e mantinha atualizadosos tributos recolhidos pelo setor pblico.
Foi implantado tambm o Sistema Financeiro de Habitao(SFH) que tinha, como principal agente, o Banco Nacional daHabitao (BNH). Alm do BNH, compunham o SFH as CaixasEconmicas, as Sociedades de Crdito Imobilirio e as Associaesde Poupana e Emprstimo.v
A principal fonte de
recursos do BNH era a
receita proveniente, a
fundo perdido, de 1% da
folha de pagamento dos
funcionrios com
carteira assinada. O
governo tambm
incentivou a captao de
recursos externos pelo
setor privado.
33Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
Para incentivar e disciplinar o mercado de capitais foisancionada, em julho de 1965, a Lei do Mercado de Capitais, quedefiniu as funes do Conselho Monetrio Nacional e do BancoCentral na regulao e fiscalizao deste mercado.
Na rea agrria foi aprovado, em novembro de 1964, oEstatuto da Terra, que tinha como base a funo social dapropriedade, disciplinava os direitos e obrigaes relativas propriedade rural para fins de reforma agrria e de execuo dapoltica de produo agrcola.
Durante o governo Castello Branco, o PIB cresceu a umamdia anual de 4,2% e a inflao, no final do mandato, ficou emtorno de 40%. Embora os resultados do PIBe da inflao tenham sido piores do que osperodos de Vargas e de JK, as reformasestruturais, real izadas pela equipeeconmica do governo, permitiram ajustaras contas pblicas, controlar o processoinf lacionrio, organizar o sistemafinanceiro, atrair poupana interna eexterna, condies necessrias para aexpanso da economia nos governos deCosta e Silva e Mdici, perodo conhecidocomo Milagre Econmico Brasileiro.
OS GOVERNOS COSTA E SILVA E MDICI
O perodo de grande crescimento da economia brasileira,tambm chamado de Milagre Econmico Brasileiro, comeou nogoverno Arthur da Costa e Silva, que vai de 15 de maro de 1967 a31 de agosto de 1969, quando, devido a problemas de sade, deixaa presidncia nas mos de um colgio formado por trs membros:General Aurlio Lyra Tavares, Almirante Augusto HermannRademaker e Brigadeiro Mrcio de Souza e Mello, comandantes
Artur da Costa e Silva (1899-1969)
Foi o segundo presidente do Re-
gime Militar. No seu governo teve
incio o perodo mais duro da Di-
tadura Militar, com a promulgao
do Ato Institucional n. 5, que fe-
chou o Congresso Nacional, cas-
sou polticos e institucionalizou a represso.
Fonte: . Acesso em:
15 jul. 2009.
Saiba mais
34Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
das Foras Armadas. Esta Junta Militar transfereo poder para o General Emlio GarrastazuMdici que governou de 30 de outubro de 1969at 15 de maro de 1974.
Durante estes sete anos, do incio dogoverno Costa e Silva ao final do governo Mdici,o PIB do pas cresceu 96,37%, o que equivale auma mdia anual de 10,12%. A inflao, medidapelo ndice geral de preos IGP , foi de 257%ou mdia anual de 19,93%. Embora a inflaono possa ser considerada pequena, a maioriados economistas a considerou satisfatria,diante do grande crescimento da economia. Nomesmo perodo, o PIB mundial cresceu 37,35%,equivalente a 4,64% ao ano. O PIB do Brasilcresceu, por tanto, velocidade de 2,18comparado ao PIB mundial. Estes resultadosjustificam a alcunha de milagre dada pelosanalistas econmicos.
Por ironia da histria, o perodo de maiorcrescimento da economia brasileira ocorreu emmeio ao endurecimento do regime militar emrelao s liberdades polticas e de manifestao.Durante os governos Costa e Silva e Mdici, foirealizada a maioria das prises, torturas eassassinatos de opositores do regime militar. Seno campo econmico a situao era boa, nocampo poltico o pas passava por um perodoque deixa tristes lembranas. O crescimentoeconmico, embora tenha melhorado a vida daspessoas, contribuiu para o aumento daconcentrao de renda, que ainda hoje umdos principais problemas do pas.
No governo Costa e Silva, a equipeeconmica foi liderada pelo jovem professor da
USP, Antonio Delfim Netto, que implantou o Plano Estratgico de
Emlio Garrastazu Mdici
Nasceu no Rio Grande do
Sul. Estudou no Colgio Mili-
tar e seguiu carreira no Exr-
cito. Apoiou a Revoluo de
30 e foi contrrio posse de
Joo Goulart em 1961. Em 1967 sucedeu
a Golbery do Couto e Silva na chefia do
Servio Nacional de Informaes SNI.
Em 1969 foi presidente da Repblica. No
seu governo houve o conhecido mila-
gre brasileiro. Por, ao final de seu go-
verno j se fazia sentir a falncia do mi-
lagre econmico, a partir de 1973, com
a crise internacional do petrleo. Fon-
te: . Acesso
em: 16 jul. 2009.
Antnio Delfim Netto
Professor emrito da
Faculdade de Economia
e Administrao da USP.
Participou do Grupo de
Planejamento do gover-
nador de So Paulo Carvalho Pinto e do
Conselho do Fundo de Expanso da In-
dstria de Base de So Paulo. Foi secre-
trio de Fazenda em So Paulo, no go-
verno Laudo Natel, Ministro da Fazenda
nos governos Costa e Si lva e Mdici e
Ministro da Agricultura e do Planejamen-
to no governo Figueiredo, alm de em-
baixador do Brasi l na Frana. Fonte:
. Acesso em:
20 jul. 2009.
Saiba mais
35Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
Desenvolvimento (PED). O PED dava prioridade estabilizaoda inflao e ao incentivo ao crescimento do PIB. Para impulsionaras exportaes foram adotadas diversas minidesvalorizaes damoeda nacional.
No campo administrativo, um importante passo foi dado:Ainda no final do governo Castello Branco, mas j sob influnciado grupo militar que assumiria o poder nos governos Costa e Silvae Mdici, foi criada, por meio do decreto-lei n. 200/67, aadministrao indireta, com autarquias, empresas pblicas,empresas de economia mista e fundaes. Essas novas instituiestinham maior autonomia em relao administrao direta, presaa amarras burocrticas tpicas da administrao pblica. Atravsdas estatais, foi possvel contratar profissionais de destaque no setorprivado e agilizar os procedimentos administrativos e financeiros,condio necessria para atender s necessidades impostas pelavelocidade do crescimento econmico. Nesta poca surgiram aEmbraer, a Telebrs, a Embrapa e a Embratel, dentre outras estatais,e tambm foi executado o Plano de Integrao Nacional, que levou construo das rodovias Santarm-Cuiab e Perimetral Norte,da Ferrovia do Ao e da ponte Rio-Niteri. O Plano de IntegraoNacional fazia parte do primeiro Plano Nacional deDesenvolvimento, o I PND, que tinha como marca registrada, almdos grandes projetos de integrao nacional, a expanso dasfronteiras do desenvolvimento.
No campo social, foi criado o Plano de Integrao Social(PIS) e o Programa de Assistncia Rural (PRORURAL), que previabenefcios de aposentadoria e o aumento dos servios de sadeaos trabalhadores rurais. Tambm foi feita uma grande campanhade alfabetizao de adultos, por meio do Movimento Brasileiro deAlfabetizao (MOBRAL), e foi promovida a ampliao dasunidades federais de ensino superior.
Como no governo Juscelino Kubitschek, o modelo econmicoimplantado no perodo foi de vis desenvolvimentista, baseado nasubstituio de importaes, com financiamento internacional,liderado pela ao do Estado. O acesso a recursos externos foifacilitado pela alta liquidez e pelas baixas taxas de juros do mercado
36Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
internacional. Durante o perodo, a dvida externa brasileira passoude US$ 3,4 bilhes para US$ 14,9 bilhes, um crescimento de maisde 300%.
Mais adiante, veremos que a opo de aumento doendividamento externo, que na poca era muito vantajosa, dadasas condies do mercado financeiro internacional e o retorno obtidocom os investimentos realizados, tornou-se um pesadelo para aeconomia brasileira. O aumento dos juros internacionais e a fortedependncia da importao de petrleo, que disparou de preo apsas crises de 1973 e 1979, levaram o Brasil a uma situao deinsolvncia em relao aos seus compromissos financeiros externos.
Como j dissemos, o perodo do milagre econmico tevecomo base as reformas e ajustes executados durante o governoCastello Branco, alm de uma poltica monetria e fiscal expansivao perodo de 1968 a 1973, de certa forma, beneficiou-se dasdificuldades da fase anterior. A percepo da ineficcia da polticaeconmica em curso, no sentido de promover a retomada docrescimento, levou o governo Costa e Silva a afrouxar a polticamonetria a partir de 1967 e a lanar o PED em meados de 1968.O PED foi um plano nitidamente mais desenvolvimentista do que oPAEG, prevendo a continuidade do combate inflao, masacompanhado de investimentos privados. claro, porm, que ofato de a inflao j ter sido significativamente reduzida nos anosanteriores facilitou a adoo de um plano dessa natureza em 1968,bem como a manuteno dessa linha de ao no governo Mdici(HERMANN et al., 2005).
37Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
O GOVERNO GEISEL
Aps a primeira crise do petrleo, queelevou o preo do produto de cerca de US$ 2para o patamar de US$ 12, assume aPresidncia da Repblica o general ErnestoGeisel, que governou de maro de 1974 a marode 1979. Representante da l inha maisprogressista das Foras Armadas, Geisel tratoude dar continuidade ao programa dedesenvolvimento econmico dos governosanteriores, porm com aceno para o processode distenso no campo poltico. Mesmo em meioa uma profunda crise econmica internacional,o novo governo no reduziu o volume deinvestimentos e gastos pblicos. O processo,conhecido como Crescimento Forado, trouxegrandes avanos para a economia brasileira,porm, com custos que levaram ao desequilbriodas contas pblicas e disparada da dvida externa.
A primeira crise do petrleo ocorreu em 1973 em protestopelo apoio prestado pelos Estados Unidos a Israel durante a Guerrado Yom Kippur. Na ocasio os pases rabes organizados naOrganizao dos Pases Exportadores de Petrleo aumentaram opreo do produto em mais de 300%.
No governo Geisel, o pas cresceu 38,29%, equivalente auma mdia de 6,7% ao ano. A inflao acumulada nos cinco anosfoi de 398%, uma mdia de 38% ao ano. A dvida externa brutapassou de US$ 14,9 bilhes, no incio do governo, para US$ 52,2bilhes no final. Um crescimento de 250%.
Ernesto Geisel (1907-1996)
Em 1969 assumiu a dire-
o da Petrobrs e, cinco
anos depois, a Presidn-
cia da Repblica. Em seu
governo enfrentou o f im do chamado
milagre econmico. Em 1977 decretou o
Pacote de Abril, que aumentou o man-
dato presidencial de cinco para seis
anos, alm de manter eleies indire-
tas para governador. Termina seu man-
dato enviando ao Congresso a emenda
constitucional que acaba com o Ato
Institucional n. 5. Fonte: . Acesso em: 20 jul. 2009.
Saiba mais
38Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
Brasil sob crescimento forado nome dado pelo
economista Antonio Barros de Castro poltica
econmica do governo Geisel, que ao invs de
desacelerar o crescimento econmico como
consequncia da Crise do Petrleo, continuou mantendo
um ritmo acelerado de investimentos. Isso acabou
deteriorando bastante as contas pblicas brasileiras.
O comando da equipe econmica foi dado ao engenheiro eprofessor de economia, Mario Henrique Simonsen, que assumiu oMinistrio da Fazenda, e a Joo Paulo dos Reis Velloso, quecontinuou frente do Ministrio do Planejamento.
Como instrumento de planejamento, foi implantado oSegundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), que deunfase ao investimento em indstria de base e busca de autonomiana produo de insumos industriais.
J na rea energtica foram iniciados:
X a prospeco de petrleo em guas martimasprofundas;X o Programa Nuclear;X o Pr-lcool; eX a construo de hidroeltricas, como Itaipu e Tucuru.
Assim, podemos afirmar que a expanso do setor siderrgico,do setor petroqumico e do setor de bens de capitais tambm fizeramparte das prioridades do II PND.
No governo Geisel, a potncia instalada de energia eltricacresceu 65%, a produo de petrleo 44%, a capacidade dasrefinarias 73%, a produo de ao 70%, de alumnio 78%, de produtospetroqumicos 117%, de fertilizantes 395% e de celulose 83%.
O Pr-lcool foi implementado, por meio de decreto, em 14de novembro de 1975, com o objetivo de desenvolver uma fonte de
39Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
energia alternativa. O projeto contou com a colaborao depesquisadores ligados ao setor universitrio e ao governo federal.A Usina Nuclear de Angra dos Reis foi construda aps a assinaturado acordo com a Alemanha, para o fornecimento de 10 reatoresnucleares, em 1976. Embora tenha gerado muita polmica, emrelao ao seu custo, ao tipo de tecnologia implantada e aoverdadeiro destino dos investimentos realizados, o programa nuclearbrasileiro acabou contribuindo para o complemento da matrizenergtica nacional. J o temor de que a tecnologia nuclear fosseutilizada para fins militares, preocupao manifestada pelasautoridades dos Estados Unidos e de vrios pases latino-americanos, no procedia, uma vez que para tal objetivo eranecessrio ainda percorrer um longo caminho, si tuaopraticamente impossvel, dadas as condies financeiras etecnolgicas do pas naquela poca.
A Companhia Siderrgica de Tubaro foi fundada em junhode 1976 e representou importante complemento para a produoda Companhia Siderrgica Nacional (CSN). Na poca, o Brasilcomeou a implantar um importante parque siderrgico que, maistarde, se transformaria em significativa fonte de exportao e desuprimento para o mercado interno. Na rea petroqumica, em1972, foi inaugurada a Refinaria do Planalto (Replan), em Paulnia,regio de Campinas. A Replan, maior refinaria brasileira, tinhaimportncia estratgica, uma vez que servia para abastecer o maiormercado consumidor do pas, o estado de So Paulo. A hidroeltricade Tucuru teve sua construo iniciada em 1976. Embora tambmenvolta em polmica, principalmente em relao aos impactosambientais, Tucuru serviu para suprir de energia as regies Nortee Nordeste, que tinham dficit de fornecimento energtico paraalimentar seus processos de crescimento. A Hidreltrica de Itaipu,maior usina hidreltrica do mundo em gerao de energia, comeoua ser construda em janeiro de 1975.
vDe fato, os custos deimplantao doprograma foram
bastante elevados e a
tecnologia escolhida era
tida como obsoleta pela
maioria dos
especialistas da rea.
40Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
A usina hidreltrica de Trs Gargantas, na China, a
maior em capacidade instalada, mas o regime hdrico
do Rio Yangtz no permite seu pleno aproveitamento
durante o ano todo.
No perodo Geisel foi promovido substancial aumento dooramento do BNDE, via incorporao dos fundos do PIS/PASEP.O enfoque dado s empresas nacionais fez com que a poltica definanciamento oferecida a estas empresas, pelos agentes pblicos,garantisse o refinanciamento da parcela correspondente correomonetria dos emprstimos que excedesse a 20% de juros ao ano.Tambm foi praticada a poltica de lucro zero para as agncias definanciamento estatais, a fim de reduzir a taxa de juros praticada.Foi implantado tambm um programa de incentivo nacionalizaodas indstrias de base, com incentivo fiscal, reduo de juros eacesso a crdito, condicionados ao grau de nacionalizao dasindstrias. Como meio de promover o desenvolvimento do setorprivado foi feita a reformulao da Lei das Sociedades Annimas,em 15/12/1976, e a criao da Comisso de Valores Mobilirios,em 7/12/1976.
Conforme afirma Souza e Castro (1985), o II PND, elaboradosob a orientao de Joo Paulo dos Reis Velloso, ministro doPlanejamento, foi a mais ampla e articulada experincia brasileirade planejamento aps o Plano de Metas. Partindo da avaliao deque a crise e os transtornos da economia mundial eram passageirose de que as condies de financiamento eram favorveis, o II PNDpropunha uma fuga para frente, assumindo os riscos de aumentarprovisoriamente os dficits comerciais e a dvida externa, masconstruindo uma estrutura industrial avanada que permitiriasuperar conjuntamente a crise e o subdesenvolvimento. Em vez deajuste macroeconmico recessivo, conforme aconselharia asabedoria econmica convencional, o II PND propunha umatransformao estrutural. Geisel, ao promover sistemtica eobsessivamente as indstrias pesadas, conseguiu que o Brasil
41Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
completasse a fase difcil da industrializao, em que as escalas deproduo so enormes e a densidade tecnolgica elevada.
Os resultados das medidas governamentais de incentivo indstria, durante o governo Geisel, aparecem claramente nosindicadores de crescimento setorial. Durante o perodo de 19741979, o PIB industrial cresceu 45,5%, enquanto o PIB do setoragropecurio cresceu 26,46%. Esta forte expanso do setor industrialfoi garantida por uma taxa anual mdia de investimento de 22,4%do PIB, ndice bastante superior quele praticado historicamenteno pas. guisa de comparao, o investimento anual mdio doperodo de 1947 a 1973 foi de 16,14%.
O GOVERNO FIGUEIREDO
Em maro de 1979assume o governo federal JooBaptista de Oliveira Figueiredo,o quinto e ltimo presidente doregime militar (desconsiderandoo rpido interregno de governoda junta militar, entre 31 deagosto e 30 de outubro de1969).
O governo Figueiredo foimarcado, por um lado, pelaabertura poltica, e por outro,pela crise econmica. Em 28 deagosto de 1979, o Presidente da Repblica assina a lei n. 6.683,que concede a anistia a todos que tiveram seus direitos polticossuspensos durante o regime militar. O artigo primeiro desta lei diz:
concedida anistia a todos quantos, no perodo compre-
endido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de
Joo Baptista de Oliveira Figueiredo (19181999)
No perodo do Regime Militar de 1964, foi
encarregado de chefiar a seo carioca do
SNI (Servio Nacional de Informaes), ins-
trumento de represso poltica da ditadura
instalada no pas. Em 1974 chegou a chefe
nacional do SNI. Foi eleito presidente da
Repblica em 1978. Em seu governo, em 1982, realizaram-se
as primeiras eleies diretas para governador de estado
desde 1965. Foi sucedido na presidncia por Jos Sarney,
vice de Tancredo Neves. Fonte:
Acesso em: 20 jul. 2009.
Saiba mais
42Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
1979, cometeram crimes polticos ou conexo com estes,
crimes eleitorais, aos que tiveram seus direitos polticos
suspensos e aos servidores da Administrao Direta e Indi-
reta, de Fundaes vinculadas ao poder pblico, aos Servi-
dores dos Poderes Legislativo e Judicirio, aos Militares e
aos dirigentes e representantes sindicais, punidos com fun-
damento em Atos Institucionais e Complementares.
Com a Lei de Anistia, retornam ao pas os principais lderespolticos de oposio ao regime militar, e inicia-se um perodo dereorganizao partidria e de construo dos mecanismos detransio para o Estado de Direito, que somente vem a se concretizarcom a promulgao da nova Constituio, em 1988.
No campo econmico, a situao se agravou quando, emmeados de 1979, explodiu a Revoluo Iraniana, com a deposiodo X Reza Pahlevi, aliado do Ocidente, e assumiu o poder AiatolKhomeini, inimigo declarado dos Estados Unidos. A Revoluo noIr provocou uma disparada nos preos do petrleo, que passou deUS$ 12 para cerca de US$ 40 o barril, uma vez que ocorreu umasbita reduo da produo petrolfera dos dois pases, grandesprodutores.
A crise deflagrada pelo segundo choque do petrleo atingeem cheio a economia brasileira. O processo de industrializao,ocorrido nas ltimas dcadas, gerou um forte crescimento doconsumo de petrleo. Como a produo domstica no conseguiuacompanhar a velocidade do consumo, a importao de petrleocontinuou a crescer. O aumento do volume importado, somado aoaumento do preo do produto, fez com que os custos com aimportao de leo bruto subissem estratosfericamente. Conformemostra a Tabela 1, as despesas com importao do produto subiramcerca de setenta e cinco vezes entre 1967 e 1981, e quatro vezesentre 1974 e 1981.
v
Ocorreu durante a crise
poltica no Ir, quando os
Aiatols depuseram o X
Reza Pahlevi. Aps a
Revoluo Iraniana,
comeou a Guerra Ir-
Iraque, na qual foram
mortos mais de um
milho de soldados de
ambos os pases.
43Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
Tabela 1: Custo da importao de petrleo aps as duas crises mundiais
ANO
1967
1974
1981
CONSUMO(MIL M)
20.688
47.333
60.370
IMPORTAO(MILHES DE BARRIS)
77
237
306
PREO(US$/BARRIL)
1,80
11,58
34,28
DESPESAS COM IMPORTA-O (US$ MILHES)
139
2.744
10.490
Fonte: Economia Brasileira Contempornea
No mbito internacional, a escalada do preo do petrleogerou forte impacto em toda a economia mundial. Como a maioriados pases desenvolvidos dependia da importao do produto paraalimentar sua estrutura produtiva, o aumento dos preosdesequilibrou a balana comercial e pressionou a inflao dessespases. Para fazer frente a esses problemas, seus respectivos BancosCentrais elevaram drasticamente as taxas de juros, encarecendo ocrdito e o custo do servio da dvida externa brasileira.
A Figura 1, a seguir, mostra o comportamento da taxa dejuros do mercado londrino, referncia para emprst imosinternacionais, durante a ocorrncia das crises do petrleo de 1973e 1979.
Figura 1: Taxas de juros Libor (% a.a.)Fonte: Banco Central do Brasil
44Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
O aumento das importaes e o crescimento do custo dadvida externa acabaram levando a economia brasileira a um estadode insolvncia em suas contas externas, com altos dficits noBalano de Pagamentos (registro do fluxo de recursos entre o pase o exterior), baixo volume de reserva em moeda estrangeira eaumento assustador da dvida externa, como podemos verificar nosgrficos seguintes.
Somente no perodo entre 1979 e 1983, o dficit em Balanode Pagamentos chegou a mais de US$ 10 bilhes, e as reservas emmoedas estrangeiras recuaram de US$ 12 bilhes, no final de 1978,para US$ 4,5 bilhes, no final de 1983. Neste mesmo perodo advida externa passou de US$ 52 bilhes para US$ 94 bilhes, umaumento de US$ 42 bilhes ou de 81%. Para entender melhor,observe as Figuras 2, 3 e 4.
Figura 2: Balano de pagamentos (US$ milhes)Fonte: Banco Central do Brasil
45Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
Figura 3: Reserva em Moeda Estrangeira (US$ milhes)Fonte: Banco Central do Brasil
Figura 4: Dvida externa bruta (US$ milhes)Fonte: Banco Central do Brasil
Para enfrentar a situao, no havia outra sada senoreduzir fortemente o ritmo de crescimento da economia. Em 1979 e1980, o crescimento do PIB ainda foi elevado, devido inrciaprovocada pela elevada taxa de investimentos do governo anterior.No entanto, entre 1980 e 1983, o pas passa por uma situao derecesso jamais vista at ento. J no ano de 1984, a economiarecupera em parte seu ritmo de crescimento e o PIB cresceu 5,5%.
v
O crescimento do PIB foi,
respectivamente, de 6,8%
e 9,2%. Em 1981, 1982 e
1983 o resultado foi de -
4,3%, 0,8% e -2,9%.
46Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
*Movimento das direitas
maior movimento de
massas da histria do
Brasil. Comeou no final
de 1983 e culminou com
a reprovao no Con-
gresso Nacional da
Emenda Constitucional
proposta pelo deputado
Dante de Oliveira que
introduzia o sistema de
eleio direta para Pre-
sidente da Repblica. A
Constituio da poca
prescrevia o sistema de
eleio indireta, via Co-
lgio Eleitoral, onde so-
mente os parlamenta-
res e outros poucos in-
dicados poderiam votar.
Fonte: Elaborado pelo
autor.
Assim, podemos identi f icar que a mdia anual docrescimento do PIB durante o governo Figueiredo foi de 2,21%, amenor j ocorrida num governo durante a histria da Repblica.Quanto inflao, os nmeros foram igualmente decepcionantes.Em 1979, o ndice geral de preos chegou a 54,4%, em 1980 subiupara 90,4%. Em 1981, 1982 e 1983 ultrapassou os trs dgitos,com 100,5%, 101,0% e 131,5%, respectivamente. J em 1984, ainflao anual alcanou 201,7%.
O baixo crescimento do PIB e os elevados ndices de inflaoaumentaram ainda mais o clima de insatisfao contra o regimemilitar. No segundo semestre de 1983, comea a ganhar corpo omaior movimento de massas da histria do pas, o movimentodas Diretas*, que tinha como ponto de referncia a propostade emenda constitucional, que tramitava no Congresso, de iniciativado deputado de Mato Grosso, Dante de Oliveira.
Desgastado e ressentido, o presidente Figueiredo se nega apassar a faixa presidencial a seu sucessor, o vice-presidente eleitoJos Sarney (que substitua o presidente eleito Tancredo Neves, queestava hospitalizado), alegando que o protocolo impedia que umpresidente passasse a faixa a um vice-presidente em exerccio.Independente da fora da interpretao protocolar, ficou namemria do povo a imagem de um presidente que deixou o palciodo governo pela porta dos fundos. Este gesto de Figueiredosimbolizou a agonia do regime militar, que perdurou por 21 anosno comando poltico do pas.
47Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
A HERANA DO REGIME MILITAR
Embora tenha transformado as estruturas produtiva efinanceira do pas, com forte investimento em infraestrutura,implantao de um parque industr ial diversi f icado edesenvolvimento de um promissor mercado de capitais, o regimemilitar deixou um passivo que levou muito tempo para serequacionado.
A elevada dvida externa, somada ao descontroleinflacionrio, comps um quadro de dificuldades que monopolizouas agendas poltica e econmica do pas durante a segunda metadeda dcada de 1980 e a primeira metade da dcada de 1990. Talsituao s comeou a se reverter aps o Plano Real, no governoItamar Franco.
48Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
ResumindoNesta primeira Unidade voc viu que, entre 1889 a
1985, perodo de 96 anos, foi construdo no Brasil um
arcabouo estatal capaz de colocar a economia brasileira
entre as 10 maiores do mundo. Neste perodo, passamos
pela Repblica Velha, com um modelo liberal-oligrquico,
com grande liberdade de organizao em nvel regional e
fragilidade na ao do governo central. A economia baseada
na exportao de caf conferiu aos estados de So Paulo e
Minas Gerais grande importncia poltica, com suas lideran-
as se revezando no comando poltico do pas.
Vimos ainda que aps a Revoluo de 1930 o comando
poltico-administrativo do pas foi transferido para o gover-
no federal, que adotou uma poltica de vis centralista e
modernizadora. Neste perodo foram elaborados a estrutu-
ra trabalhista, o sistema burocrtico da administrao dire-
ta e o modelo de investimentos em infraestrutura e desen-
volvimento da indstria de base, todos fundamentais para a
modernizao da economia e do Estado brasileiro.
Estudamos tambm que durante o governo de Jusceli-
no Kubitschek foi implantado o modelo desenvolvimentista,
baseado sobretudo nas ideias dos economistas Raul Prebisch
e Celso Furtado e que neste governo o pas se abriu aos investi-
mentos estrangeiros, com destaque para a indstria automobi-
lstica instalada na regio metropolitana de So Paulo.
49Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
Outro tpico estudado foi o regime militar, que durou
21 anos, no qual o Brasil vivenciou a reestruturao do siste-
ma financeiro nacional e o ajuste macroeconmico do go-
verno Castello Branco, o Milagre Econmico durante os
governos Costa e Silva e Mdici, o chamado Crescimento
Forado durante o governo Geisel e a decadncia econmi-
ca com estagnao e inflao, consequncias das duas crises
do petrleo, durante o governo Figueiredo.
Por fim verificamos que mesmo com um legado de
ineficincia da administrao burocrtica, desequilbrio das
contas pblicas, alta concentrao de renda e debilidade das
instituies democrticas, o Brasil avanou bastante neste
quase um sculo de Repblica. De um pas predominante-
mente rural com economia monoexportadora, o pas trans-
formou-se numa economia plural e urbana.
50Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
Atividades de aprendizagem
Confira se voc teve bom entendimento do que tratamos
nesta Unidade realizando as atividades propostas a seguir.
Caso tenha dificuldades, faa uma releitura cuidadosa dos
conceitos ainda no entendidos ou, se necessrio, entre
em contato com seu tutor.
1. Descreva os modelos poltico e econmico predominantes no pe-
rodo da Repblica Velha.
2. Voc sabe dizer quais as principais medidas implantadas durante
os dois perodos de presidncia de Getlio Vargas?
3. Voc sabe o que significava o lema do governo JK, 50 anos em 5?
Explique as medidas que justificam este lema.
4. Destaque as principais aes do governo Castello Branco na rea
da reforma macroeconmica e de estruturao do sistema finan-
ceiro nacional.
5. Descreva o perodo denominado Milagre Econmico Brasileiro,
mostrando quais foram as principais razes para sua ocorrncia e
as consequncias positivas e negativas geradas pelo modelo eco-
nmico aplicado neste perodo.
6. O que voc entende em relao ao termo Crescimento Forado, fruto
da poltica econmica do governo Geisel? Justifique sua resposta.
7. Quais as principais causas e consequncias da decadncia do regime
militar no Brasil, situao ocorrida durante o governo Figueiredo?
Mdulo Bsico
Unidade 1 Da Repblica Velha at o fim do Regime Militar
UNIDADE 2
OBJETIVOS ESPECFICOS DE APRENDIZAGEM
Ao finalizar esta Unidade, voc dever ser capaz de:
f Identificar as principais mudanas ocorridas no Estado brasileiro,do fim do Regime Militar at os dias atuais no Brasil;
f Situar a reconquista da democracia no pas; ef Tomar conhecimento dos avanos econmicos e administrativos,
como o equilbrio monetrio, os avanos no controle das contas
pblicas e na universalizao dos programas sociais.
DA NOVA REPBLICA ATOS DIAS ATUAIS
52Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
53Mdulo Bsico
Unidade 2 Da Nova Repblica at os Dias Atuais
INTRODUO
Vamos nesta segunda Unidade, da disciplina Desenvolvimentoe Mudanas no Estado Brasileiro, estudar o perodo que vai desde oincio do processo de democratizao do Brasil, em meados dadcada de 1980, at os dias atuais.
Neste perodo foram fortalecidas as bases do moderno Estadode Direito com liberdade de expresso, democracia de massas,incluso social e abertura econmica, condies que, de modogeral, o pas experimenta atualmente.
Neste processo, teve grande importncia a promulgao daConstituio de 1988, as eleies diretas para todos os nveis degoverno, a modernizao do aparelho de Estado, a expanso daspolticas pblicas e a construo de uma rede de proteo socialque atende ao universo da populao carente.
As dcadas de 1980 e 1990, consideradas, sob o prisma docrescimento econmico, como dcadas perdidas, foram de grandeimportncia para a consolidao dos avanos no processo deconstruo do atual Estado Nacional.
Durante este perodo, costuma-se dizer que o Brasil cresceupara dentro, fortalecendo as razes que suportaro a expanso daimportncia da nao brasileira junto a uma nova ordem poltico-econmica que se vislumbra para o perodo ps-crise econmica atual.
54Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
A ELEIO DE TANCREDO NEVESE O GOVERNO SARNEY
Com a rejeio, na Cmara dosDeputados, em abril de 1984, daproposta de emenda constitucional queautorizava a realizao de eleiesdiretas para Presidente da Repblica,o Partido do Movimento DemocrticoBrasileiro (PMDB), principal partido daoposio, lana a candidatura, aocolgio eleitoral, do governador deMinas Gerais, Tancredo Neves.
A vitria, na conveno dopartido governista, da candidatura
presidencial de Paulo Maluf, leva os principais lderes a deixarem opar tido, formarem a Frente Liberal e passarem a apoiar acandidatura de Tancredo. Com apoio de parte substancial do partidodo governo e de toda a oposio, com exceo do PT, Tancredo eleito presidente da Repblica, de forma indireta, em 15 de janeirode 1985, tendo como vice Jos Sarney, representante da FrenteLiberal. No entanto, na vspera da posse como presidente, Tancredoadoeceu e foi levado s pressas para o Hospital de Base de Braslia,onde sofreu sua primeira cirurgia.
Diante deste cenrio Jos Sarney assumiu a Presidncia em15 de maro, aguardando o restabelecimento de Tancredo. Mas,devido s complicaes cirrgicas ocorridas, o estado de sade deTancredo se agravou, vindo ele a falecer em So Paulo no dia 21 deabril (na mesma data da morte de Tiradentes), aos 75 anos.
Tancredo de Almeida Neves (19101985)
Formado em Direito, exerceu cargos
de ministro da Justia e Negcios In-
teriores, diretor do Banco de Crdito
Real de Minas Gerais e da Carteira
de Redescontos do Banco do Brasil.
Em 1961 foi nomeado primeiro-minis-
tro do governo de Jango. Fundou o Partido Popular e
elegeu-se governador de Minas Gerais. Fonte:
. Acesso em: 21 jul. 2009.
Saiba mais
v
Em meio a um clima de
comoo nacional Jos
Sarney assumiu como
Presidente da Repblica.
Antes disso foi
presidente do partido
que dava sustentao ao
regime militar, o PDS.
55Mdulo Bsico
Unidade 2 Da Nova Repblica at os Dias Atuais
Jos Sarney enfrentou, desde o primeiro dia de governo, umasituao econmica crtica, com inflao galopante e dificuldadede negociao da dvida externa.
Para fazer frente inflao, que chegava a 15% ao ms, em
fevereiro de 1986, voc sabe qual medida foi adotada por este
governo?
Foi criado o Plano Cruzado um programa heterodoxo decongelamento de preos e salrios e troca de moeda. No incio oPlano Cruzado foi um retumbante sucesso. O congelamento dospreos eliminou a corroso do poder de compra da populao, querespondeu com aumento do consumo, impulsionando a atividadeeconmica do pas. Porm, devido a diversos fatores, como:
X a exploso da demanda, no acompanhada do aumentocorrespondente da oferta;X a dificuldade de ampliar a produo, situao comumno curto prazo;X a baixa disponibilidade de importao, consequnciada poltica de substituio de importaes, vigentedurante muitos anos no pas; eX a resistncia dos produtores ao congelamento de preos,o que desestabilizou o fornecimento de alimentos ebens de consumo bsicos e levou escassez deprodutos e cobrana de gio no comrcio.
O Plano Cruzado acabou sendo minado, o que levou ogoverno criao, em novembro de 1995, do Plano Cruzado II.No entanto, assim como o plano original, seu sucessor tambmfracassou em pouco tempo, levando consigo o apoio popular aogoverno.
56Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
Com o fim do Plano Cruzado, o ministro da Fazenda DlsonFunaro foi substitudo pelo economista Luis Carlos Bresser Pereira,que implanta um plano de estabilizao composto de medidasortodoxas tais como:
X aumento dos juros; eX reajuste de tarifas e reduo de gastos pblicos.E medidas heterodoxas como: congelamento de preos e
salrios.
Embora mais completo e melhor elaborado do que o PlanoCruzado, o Plano Bresser tambm teve vida curta, durando poucosmeses. A descrena popular, poca, praticamente impedia aeficcia de qualquer plano de estabilizao que dependesse, paraseu sucesso, do comportamento do consumidor. No incio de 1988,Bresser Pereira pede demisso e substitudo por Malson daNbrega, funcionrio de carreira do Banco do Brasil.
Aps tentar aplicar uma poltica gradualista de controleinflacionrio, com medidas ortodoxas, Malson se v obrigado areeditar, ainda que parcialmente, as experincias heterodoxas decongelamento de preos e salrios.
Ento no incio de 1989 foi implantado o Plano Vero, queiria se arrastar at o final do governo Sarney, que acabou entregandopara o seu sucessor um pas com inflao mensal de 80%, ou seja,um estado de hiperinflao.
Ainda durante a vigncia do Plano Cruzado I, so eleitos osdeputados e senadores para compor a Assembleia NacionalConstituinte, rgo responsvel pela redao de uma novaConstituio para o pas. Aps vrios meses de debates, disputaspolticas e rduo trabalho das comisses temticas, o trabalho doscongressistas foi concludo, e a stima Constituio Brasileira promulgada em 5 de outubro de 1988.
J sob as regras impostas pela nova Constituio, convocada a eleio direta para presidente da Repblica, a serrealizada em primeiro turno em 15 de novembro de 1989 e emsegundo turno em 17 de dezembro do mesmo ano.
57Mdulo Bsico
Unidade 2 Da Nova Repblica at os Dias Atuais
Durante os cinco anos de governo Sarney, o PIB do pascresceu 23,66%, dando uma mdia anual de 4,34%. Podemosconsiderar este crescimento como sendo bastante elevado, dadasas condies inflacionrias e a frustrao popular com o fracassodos planos de estabilizao. A inflao anual mdia do perodo foide 507%, o que j configurava uma situao de total descontroledos preos.
58Especializao em Gesto Pblica
Desenvolvimento e Mudanas no Estado Brasileiro
OS GOVERNOS COLLOR EITAMAR FRANCO
Como previsto, em 15 de novembro realizado o primeiro turno das eleiespresidenciais, a primeira eleio direta paraPresidente da Repblica desde 1960. Apulverizao das candidaturas do blocogovernista e da oposio propiciou ocrescimento do candidato Fernando Collorde Mello, governador de Alagoas. Jovem,dinmico, vigoroso, com um discursoconsiderado moderno, prometendo umarevoluo no servio pblico, comprivatizaes, abertura econmica eeliminao dos altos salrios (dos chamadosmarajs), fatores que, somados a umacompetente campanha no rdio e na
televiso, fizeram Collor alcanar cerca de 30% dos votos vlidos,ficando frente do segundo colocado, o candidato do PT, LuisIncio Lula da Silva, que obteve 17% dos votos vlidos.
No segundo turno, realizado em 17 de dezembro, aps umacampanha acirrada, Collor eleito presidente da Repblica com53% dos votos, contra 47% de Lula.
Em 15 de maro de 1990, com a inflao fora do controle,Collor assume a presidncia e edita uma srie de medidas que,segundo ele mesmo declarou, deixaria a esquerda perplexa e adireita indignada.
Fernando Afonso Collor de Mello
Foi deputado federal e governa-
dor de Alagoas. Em 1989 derrotou
Lus Incio Lula da Silva, tornan-
do-se Presidente da Repblica.
Sua gesto foi marcada por es-
cndalos e suspeitas de corrupo. Em 1992,
foi afastado temporariamente da presidn-
cia da Repblica, em decorrncia da abertu-
ra do processo de impeachment. Renunciou
ao cargo em 1992 ficando em seu lugar o vice-
presidente, Itamar Franco. Fonte: . Acesso em: 21 jul. 2009.
Saiba mais
59Mdulo Bsico
Unidade 2 Da Nova Repblica at os Dias Atuais
Voc lembra algumas destas medidas? Vamos recordar?
Neste perodo tivemos o Plano Collor como sendo uma dasmedidas econmicas de combate inflao que mudou a moedado pas, liberou o cmbio, congelou os preos e salrios e reteve,por um prazo de 18 meses, todos os depsitos e aplicaesfinanceiras, que ultrapassavam a Cr$ 50.000,00 (equivale