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LUGARES DE MEMÓRIA E CULTURA VISUAL ESCOLAR: REFLEXÕES
SOBRE AS FOTOGRAFIAS DO MEMORIAL DO COLÉGIO SEVIGNÉ
RITA MAGUETA
PPGEDU / UFRGS
Introdução
Este estudo é parte da pesquisa em andamento para elaboração da dissertação de
mestrado no Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul. Deste modo, aponta questões relevantes ao entendimento do objeto da
pesquisa, as fotografias do acervo do memorial do Colégio Sevigné, em Porto
Alegre/RS, e em especial do álbum de primeira eucaristia, escolhido como corpus visual
da pesquisa. Projetam-se com isso, fomentar um arcabouço teórico-metodológico ligado
as possibilidades de trabalho de dissertação de mestrado.
Tem como idéia inicial a discussão sobre os museus escolares realizando para
isso alguns apontamentos. Isso porque, ao longo do século XIX e XX, esses locais
foram sendo transformados em lugares de memória, passando assim de local de ensino
à, também, um local de preservação do patrimônio educacional. É nesta discussão que
se propõe a diferenciação entre museus e memoriais, comumente entendidos como
instituições com as mesmas funções.
Contudo, além dos museus, esta pesquisa deseja lançar um olhar acerca dos
estudos no campo da cultura visual numa tentativa de articular seus pressupostos às
investigações acerca da visualidade em âmbito escolar, expressas através de uniformes,
cartazes, desenhos, fotografias, entre outras possibilidades visuais.
Nesta perspectiva, o acervo do Memorial do Colégio Sevigné tem como pano de
fundo tais discussões. Assim, o objetivo deste artigo é compreender a formação do
acervo do memorial, ensaiando com isso, a identificação das principais temáticas
visuais presente nos álbuns fotográficos da instituição.
Lugares de memória escolar
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O cenário de pesquisas a respeito da história da educação indica o avanço de
interesse acadêmico nessa perspectiva social. Muitas delas partem de artefatos culturais,
salvaguardados em locais favoráveis à sua conservação, seja em instituições ou através
de guarda particular. Contudo, em sua origem, as análises acerca da educação não
tinham essa pauta.
Felgueiras (2011), amparada nos pressupostos de Durkhein, entende que o
estudo do passado é uma forma de conhecer a realidade educativa em sua pluralidade.
Neste início de estudos sobre os sistemas educativos, a autora indica que
Para Durkheim, a história da educação justificava-se no currículo das escolas
de formação de professores exatamente porque providenciava a informação
sobre os sistemas de ensino ao longo do tempo e permitia analisar a função
destes como elementos de coesão social e nacional. (FERGUEIRAS, 2011,
p.69).
Neste momento inicial, a história da educação estava influenciada pela
sociologia da educação. Naquela época, a cultura material escolar ainda não era vista
como documento de interesse pelos pesquisadores, sendo considerada apenas a
documentação arquivística (FELGUEIRAS, 2011). A atualidade, porém, evidencia a
modificação deste panorama, tanto na história quanto na historia da educação, com a
ampliação de temáticas e de documentos. Nessa gama de novos interesses de pesquisa
entram os museus escolares. Deste modo, torna-se oportuno identificar os principais
tipos de instituições que foram criadas ao longo dos últimos séculos, algumas de suas
características aliando a elas suas delimitações contemporâneas.
Os museus de educação estão relacionados ao contexto das exposições
universais do século XIX (BASTOS, 2002; FELGUEIRAS, 2011; VIDAL, 2012).
Segundo Felgueiras (2011) os museus de educação foram os primeiros, sendo os
museus escolares, mais populares. Em suas palavras a autora explica que
Os primeiros procuravam ser vitrinas das novidades e saberes produzidos no
campo educativo, desde teorias e métodos de ensino, livros, coleções de
materiais Os primeiros procuravam ser vitrinas das novidades e saberes
produzidos no campo educativo, desde teorias e métodos de ensino, livros,
coleções de materiais (alguns para estudos experimentais em educação),
mobiliário e normas de higiene. Por sua vez, os museus escolares (coleções
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de materiais sobre ciências da natureza, adequados às lições de coisas e
podendo incluir dados etnográficos e de geografia humana), pensados para as
escolas, deram origem a orientações didáticas e à produção editorial de
quadros parietais impressos como a conjuntos de frascos com amostras
diversas: sementes, minérios, rochas, pequenos animais embalsamados.
(FELGUEIRAS, 2011, p. 71).
A partir da elucidação acima, podemos diferenciar dois tipos distintos de
instituição, um ligado as novidades pedagógicas e outro ligado ao método lição das
coisas. Nesse sentido, os museus escolares são entendidos por Poggiani (2011, p. 1)
como “[...] instrumento facilitador da aprendizagem”. Já Petry (2011, p.1), informa que
“os museus escolares dos séculos XIX e XX ocupavam-se da temática escolar, da
recolha e organização de material para o ensino dos escolares, mas não da guarda da sua
memória”.
Como antigo local onde ocorria o aprimoramento de professores e a divulgação
de novas metodologias, atualmente o museu escolar “tem a função, principalmente na
dimensão da conservação do patrimônio e da memória escolar" (POGGIANI, 2011,
p.1). Refletindo sobre as transformações ocorridas nesses locais, relacionando-os as
mudanças no sistema de ensino nas décadas de 1960 e 1970, Felgueiras (2005) afirma
que “os museus aparecem como os lugares privilegiados para a recolha, a conservação,
o estudo e a exposição desses artefatos do passado educacional”. Isso demonstra que,
entre outros aspectos, entram em voga as noções de patrimônio e de memória.
Nesse entendimento, os lugares de memória, segundo Nora (1993) são lugares
ao mesmo tempo materiais, funcionais e simbólicos, portanto, investidos por uma aura
simbólica. Para existirem, é necessário que exista a priori uma “vontade de memória”
(NORA, 1993, p. 22). Há nessa existência um jogo entre os domínios da memória e a
história, sendo que nessa “mistura, é a memória que dita e a história que escreve”
(NORA, 1993, p. 24).
Nesse âmago de discussão acerca dos museus, é interessante perceber a
diferença entre estes e os memoriais, ambos entendidos como lugares de memória. A
intenção é contribuir para além da definição do senso comum que, segundo Barcellos
(1999), tratam memoriais e museus como a mesma coisa. O dicionário de conceitos
chave da museologia anuncia que “O termo ‘museu’ tanto pode designar a instituição
quanto o estabelecimento, ou o lugar geralmente concebido para realizar a seleção, o
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estudo e a apresentação de testemunhos materiais e imateriais do Homem e do seu
meio” (DESVALLÉES et. al, 2013, p. 64).
Quanto ao memorial, Barcellos (1999) afirma que “[...] ao que tudo indica, é
em memorialis a raiz de memorial, com os significados de registro que auxilia a
memória”. Completa que o memorial sacraliza uma memória. Para isso, o trabalho
dessa local centra-se na organização da memória da instituição a que se refere, devendo
ater-se a este fim institucional.
Grosso modo, ambos são locais de aguarda do passado, contudo, enquanto os
museus têm a função de estudo, pesquisa e divulgação os memoriais têm como funções
a celebração de uma memória institucional, sem o compromisso com a disseminação do
conhecimento. Apesar disso, a proposta deste artigo é trazer a tona esta diferença,
abrindo espaço para a discussão, mas também para o entendimento do memorial do
Colégio Sevigné, instituição analisada a seguir.
Cultura Visual escolar
A captura de luz em papel fotossensível através de uma máquina - a fotografia -
produz o que Flusser define como imagens, que são “[...] superfícies que pretendem
representar algo. Na maioria dos casos, algo que se encontra lá fora no espaço e no
tempo” (FLUSSER, 2002, p.7). Esta distância da representação faz da fotografia uma
fonte em potencial aos estudos históricos. Nesse panorama, dar a ver uma coisa ausente,
segundo Chartier, compreende a concepção de representação. Em suas palavras, o autor
explica que “[...], a representação é instrumento de um conhecimento mediato que faz
ver um objeto ausente através de sua substituição por uma imagem capaz de o
reconstituir em memória e de o figurar tal como ele é” (CHARTIER, 2002, p. 20). A
fotografia neste caso, não é, mas representa algo passado.
Pesquisas que utilizam fotografias como documentos demonstram a pertinência
dos estudos da cultura visual, relacionada diretamente a quantidade de imagens
produzidas e utilizadas pela sociedade contemporânea (MENESES, 2003; FISCHMAN,
2003, 2006). As novas tecnologias - entre elas a fotografia digital - os meios de
comunicação, de certo modo, contribuíram ao alargamento desse fenômeno. Monteiro
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(2008) propõe uma mirada a alguns autores que investigam estes acontecimentos, os
quais admitem que vivemos “[...] um pictorial turn ou um visual turn, dado o papel do
visual e da visualização no contexto atual [...]”. Igualmente, Fischman (2006) acredita
que neste panorama, é importante entender a simultaneidade social e individual de uma
fotografia.
Contudo, o termo cultura visual não alude apenas às imagens fotográficas. Nas
palavras de Monteiro (2008, p. 170)
Os estudos sobre cultura visual problematizam a forma como os diversos
tipos de imagens perpassam a vida social cotidiana (a visualidade de uma
época), relacionando as técnicas de produção e circulação das imagens à(s)
forma(s) de se visualizar os diferentes grupos e espaços sociais (os padrões
de visualidade), propondo um olhar sobre o mundo (a visão), mediando a
nossa compreensão da realidade e inspirando modelos de ação social (os
regimes de visualidade).
Nas diferentes formas de estudo da produção visual de uma sociedade, encontra-
se a escola e sua gama de imagens, logo, passíveis de análise.
Fischman e Cruder (2003) indicam como desafio aos pesquisadores das imagens
seu conteúdo político e possibilidade de manipulação. Nesse sentido, acreditam que no
campo da educação, as imagens têm formado a própria idéia de educação, pois se
tornaram componente de percepção, avaliação e popularização dessas instituições. O
autor argumenta ainda a respeito da necessidade de ferramentas e metodologias para a
compreensão das fotografias escolares, vistas a partir de seu contexto - as escolas – e o
rol de rupturas e mudanças pela qual passam.
Na conjuntura visual escolar, encontramos uniformes, cartazes, mapas, globos,
fotografias, ilustrações, entre outras formas de representação da escola enquanto
instituição e lugar de práticas. Collelldemont (2010) ao discorrer sobre a memória visual
de escolas na Catalunha, em uma análise ao longo do século XX, aponta seis formas de
representação gráfica que permitem aproximar sua consciência pedagógica e social.
Define, assim, imagens como vestígio, como documento, como proposta, como
referente, como recuperação de proposta e como demonstração de uma realidade.
Pautada nessas análises escolares, Collelldemont (2010) relaciona os estudos da
memória visual da educação - suas formas de criação, difusão e percepção - aos estudos
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da cultura visual. Conhecer a forma como a escola se representa, segundo a autora, é
uma maneira de termos a consciência pedagógica e social de um determinado contexto.
Assim, aponta a evocação da memória como a capacidade da imagem de incorrer a
recordações, dividindo-a em subjetiva e intersubjetiva. Explica que a memória subjetiva
induz a uma narrativa de cunho particular, tendo a imagem como parte da vida expressa
numa vivência. Ao passo que a intersubjetiva tem potencial de incorporar em muitas
pessoas sua própria narração escolar, ou seja, permite identificação com aqueles que
tiverem vivência similar na infância, provocando possibilidade de voltar a ser presente
por um instante (COLLELLDEMONT, 2010).
Portanto, cabe ao pesquisador apreender as fontes visuais; dentro do campo da
cultura visual; presentes em arquivos, museus escolares e pedagógicos; para o fomento
da Historia da Educação em diferentes ângulos e focos até então estudados.
Acervo do colégio Sevigné
No panorama escolar local, o Colégio Sevigné, localizado no centro da cidade de
Porto Alegre/RS, figura como um dos representantes históricos na educação feminina e
formação de professoras. Criado em 1900, pelo casal Octavio Courteilh -Agente
Consular, vinculado ao Ministério de Instrução Pública e de Belas-Artes da França- e
sua esposa a senhora Emmeline Courteilh (WERLE, 2008). Com o sucesso da
instituição, as religiosas da congregação de São José, também de origem francesa,
foram convidadas como colaboradoras, em 1904 (WERLE, 2008). No entanto, dois
anos após, com o retorno do casal Courteilh à França, a congregação passou
definitivamente à administração do colégio.
Estes contornos básicos sobre a história da instituição nos direcionam ao
entendimento de seu acervo que abriga grande quantidade de objetos que pertenceram
ao cotidiano escolar, administrativo e religioso do colégio. Enfatiza-se, entre os objetos
as carteiras escolares, globos, livros, cartilhas, cadernetas de alunos, flâmulas, troféus,
medalhas, canetas tinteiro, mata-borrão, escrivaninha, telefone e outros utilizados pelas
gestoras e demais responsáveis pela direção da escola, ou seja, artefatos de uso
administrativo. Também, encontram-se bíblias, imagens e quadros de figuras religiosas,
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túnicas, estola, cálices, enfim, objetos litúrgicos que caracterizam a relação da
instituição com a igreja católica. Esta classificação foi realizada a partir de observação
visual no acervo, contudo mostrou-se limitada, pois excluem uma série de objetos em
menor quantidade, como os objetos de uso médico, da época em que havia atendimento
às alunas na instituição, e a louçaria, utilizadas pelas irmãs e internas no cotidiano do
internato.
Nessa reunião, se destacam as fotografias com imagens avulsas e álbuns, no
período compreendido de 1910 até 2000. Entre as temáticas visualizadas, as imagens
representam atividades escolares: passeios, atividades educativas internas e externas,
tanto da sala de aula, quanto da escola. Mostram eventos como formaturas, primeira
eucaristia, mas também as instalações da instituição.
Os álbuns fotográficos ao lado das chamadas vistas urbanas são expoentes da
cultura fotográfica do século XIX. Acerca dos álbuns impressos,
[...] a produção fotográfica de unidades avulsas, de álbuns ou de coletâneas
impressas abrangia um espectro ilimitado de atividades, especialmente
urbanas, e que davam a medida da capacidade da fotografia em documentar
eventos de natureza social ou individual, em instrumentalizar as áreas
científicas, carentes de meios de acesso a fenômenos fora do alcance direto
dos sentidos, as áreas administrativas, ávidas por otimizar funções
organizativas e coercitivas, ou ainda em possibilitar a reprodução e
divulgação maciça de qualquer tipologia de objetos. (CARVALHO, et al.,
1994, p. 253).
Como representante desse contexto, no acervo do Memorial do Sevigné existe um
álbum impresso com fotografias de Virgílio Calegari sobre a cidade de Porto Alegre.
Além disso, a narrativa visual proporcionada pelo álbum, relacionada à organização
seqüencial das fotografias, é outro fator fundamental a ser destacado. (CARVALHO;
LIMA, 1997). Contudo, os álbuns fotográficos da instituição se diferenciam dessa
tipologia, por serem em sua maioria artesanais, organizados por alunas, religiosas da
instituição, mas também durante a própria intervenção e organização do acervo. Apesar
disso, contribuem a análise da cultura visual da educação e cidade de Porto Alegre.
A dimensão da importância dos álbuns na instituição pode ser entendida através
do livro de memória da comunidade educativa publicado na comemoração do
centenário institucional. O relato de uma aluna, a respeito do evento de formatura,
revela que uma turma, na década de 1930, decidiu não confeccionar o tradicional
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quadro de formatura doado à escola - estrutura em madeira com retrato de formandas,
paraninfos e homenageados. Optaram pela confecção de álbuns de retratos, em que cada
aluna ficaria com sua recordação, sendo seguidas nos anos posteriores por outras turmas
de formandas.
Porém, entre esses artefatos fotográficos, em um primeiro olhar ao acervo,
destacou-se um álbum de fotografias de primeira eucaristia, que consiste em retratos de
catequizandas, em sua maioria, datados nas décadas de 1940 e 1950. Entre os retratados,
muitas alunas da instituição, mas também meninos, em meio a uma escola na época
ainda exclusivamente feminina. Tal situação está ligada a abertura do sacramento à
comunidade porto-alegrense, não apenas às alunas do colégio. Fazem parte também
algumas imagens do coletivo das crianças na capela da instituição e vistas totais da
capela. Totalizam 69 fotografias em preto e branco e evidenciam atributos como poses,
vestuários, mobiliários que faziam parte da cultura religiosa, mas também da própria
cultura fotográfica dos eventos de primeira comunhão. A maioria das imagens apresenta
o nome da retratada e o ano de evento. Em muitas fotografias a presença de marcas dos
fotógrafos, como assinatura, carimbo, nome em relevo. Destacam-se, entre eles: Foto
Elétrica, Foto Brasil, Foto Azenha, Foto Avila, Foto Czamanski, Foto Popular, Vitória e
Azevedo Dutra.
Esses documentos, entre eles os álbuns fotográficos, foram produzidos e
recolhidos na instituição e salvaguardados no memorial formando seu acervo. O estudo
dos álbuns, entendidos como séries fotográficas, tem por objetivo verificar a presença
de padrões visuais em fotografias escolares. Sobre os padrões temático-visuais,
Carvalho e Lima (1997) entendem que são destacados pela recorrência, ou mesmo pela
relação de dependência que estabelecem com outros atributos, constituindo, dessa
forma, conjuntos distintos, a partir do exame, identificação e quantificação das variáveis
de diferentes unidades fotográficas. Utilizou-se apenas a expressão padrões visuais, pois
no caso desta pesquisa, a temática está unificada em torno do evento primeira eucaristia.
Nas palavras de Carvalho e Lima (1997, p. 57): “neste contexto, os padrões serão
entendidos como categorias abstratas que organizam uma classe de fenômeno
recorrente”.
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No entanto, houve, também, a tentativa de compreender a forma como foi
constituído o acervo do memorial do colégio. Para isso, analisou-se a documentação
encontrada na instituição. Percebeu-se que a comemoração do centenário, nos anos
2000, impulsionou a organização desse espaço de memória. Apesar de ser costume da
instituição a comemoração do aniversário do colégio - como exemplo os folders de
comemorações anteriores – foi durante a década de 1990 que ocorreram as principais
ações de recolha e organização do acervo disperso pela instituição. Deste modo, o
memorial diferencia-se dos museus escolares do final do século XIX e início do século
XX, abordados anteriormente, na medida em que seu projeto está ligado à guarda da
memória, e não a formação discente ou mesmo questões pedagógicas de sua época.
Entre a documentação encontrada sobre o memorial destaca-se o projeto 'Memória
Sevigné', de autoria da museóloga funcionária da instituição na época Maria da Graça
Aquere Aikin. Nele observa-se o início da organização do espaço. Datado de novembro
de 1991, apresenta concepções de museu, museologia e memória, vislumbrando as
formas de aquisição do acervo, a necessidade de entrevistas de história oral, bem como
outros recursos, entre elas as financeiras.
O livro utilizado como diário do processo de organização do memorial é outra
fonte de informações ao procedimento de reunião, guarda e conservação de documentos
e objetos da história do colégio. Esses registros sistemáticos tiveram início em 1999
descrito até o ano de 2002. Refere-se constantemente ao trabalho de identificação de
fotografias bem como empréstimo e cópia de imagens. Mas, em nenhum dos
documentos consultados, a maneira pelas quais as fotografias foram copiadas é
informada, se analógica ou digitalmente, por exemplo. Indica também o recebimento de
fotografias, citando seus doadores, contudo não foi localizado, até o momento, nenhum
termo de doação no acervo da instituição, apesar de apontada a existência deste tipo de
documento no citado diário. A catalogação de álbuns também fora identificada nas
ações, bem como a contagem de fotografias como forma de quantificar os álbuns e sua
montagem. Fichas de fotografias foram elaboradas e preenchidas sendo as fotografias
avulsas colocadas em envelopes, pastas e arquivo de aço.
A partir do que foi exporto até o momento, entende-se que as ações de
organização do memorial, tiveram como objetivo a celebração do centenário da
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instituição. Isto porque, a própria inauguração do espaço de memória ocorreu na semana
de comemoração junto a outras ações comemorativas. Neste sentido, entende-se que o
processo de reunião e intervenção no acervo, se analisado com outros critérios, está
relacionado à trama da memória e história, proporcionando compreender que materiais
do passado foram escolhidos para sobreviver ao presente.
CONCLUSÃO
As contribuições da história cultural para o campo da história da educação
fomentaram o panorama de pesquisas, principalmente se considerarmos a conjuntura de
análise da cultura escolar. As investigações a partir de fotografias e acervos
museológicos, nessa medida, também foram incrementadas. Partindo dessa perspectiva,
esta pesquisa apresentava como premissa abordar museus e memoriais de educação e
fotografia, ambos com sua gênese no século XIX, contudo analisados aqui, também, em
sua contemporaneidade. A presença de estudos que versam sobre a cultura visual
escolar, contudo, está sendo incrementada em âmbito acadêmico na medida em que
mais pesquisas propõem discussões e metodologias. Vislumbrando este cenário, esta
pesquisa tinha como proposta articular o campo da cultura visual no espaço escolar,
promovendo um olhar direcionado ao acervo fotográfico do Colégio Sevigné.
Já sobre os padrões visuais presentes nas fotografias, entende-se que nos
auxiliam na compreensão das representações presentes nas imagens, entre elas das
escolas, ou seja, o entendimento do simbólico frente à ausência de seu referente. No
entanto, esta pesquisa encontra-se em construção, assim, o conhecimento aqui elencado
é provisório e de certa forma elementar, e o aprofundamento destas questões está
relacionado ao aprofundamento das pesquisas para a dissertação. Deste modo, optou-se
por apresentar o objeto empírico da pesquisa, o álbum de retratos de primeira eucaristia,
sendo sua análise a ser realizada com o andamento da dissertação.
Como dito anteriormente, percebeu-se que a temática em pesquisas na história da
educação tem se avolumado com o passar dos anos, tendo os museus do século XIX e o
início do XX como as principais motes de estudos. Contudo, há um conhecimento a ser
construído acerca dos lugares de memória escolar, principalmente na cidade de Porto
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Alegre. Isto porque existem inúmeras instituições escolares que salvaguardam suas
memórias, em diferentes acervos.
A partir do que foi exposto, conclui-se que o acervo museológico, e
principalmente fotográfico de uma instituição escolar, permite um diálogo com o
cotidiano, com os hábitos, tendo como foco a educação. Assim, o estudo de um acervo
escolar possibilita, entre muitos outros aspectos, a construção da memória institucional,
da comunidade, o reconhecimento de técnicas fotográficas, os atores, os fotógrafos, as
metodologias pedagógicas empregadas, o contexto sócio cultural da época. Deste modo,
esta pesquisa não esgota as possibilidades, principalmente no que tange aos padrões
visuais da instituição, pelo contrário, entende-se como uma primeira aproximação.
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