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Amazônia: diversidade biológica e história geológica

Marcelo Menin

Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Instituto de Ciências Biológicas

Departamento de Biologia, Av. General Rodrigo Otávio J. Ramos 3000

69077-000, Manaus – AM, [email protected]

Introdução

A América do Sul faz parte da região biogeográfica chamada de região

Neotropical, que se estende do México ao sul do Chile e Argentina. Para se ter idéia,

cerca de 50% das espécies de anfíbios de todo o mundo, entre muitos outros grupos

taxonômicos, ocorrem nessa região, sendo as regiões cobertas por florestas tropicais as

que possuem o maior número total de espécies do planeta. O Brasil é considerado um

dos países megadiversos da região Neotropical, que juntamente com outros 16 países,

abrigam cerca de 70% das espécies de animais e plantas do mundo. Dados do Ministério

do Meio Ambiente (1999) e de Lewinsohn & Prado (2005) (Tabela 1) indicam que entre

esses 17 países, o Brasil está em primeiro lugar no número de plantas (cerca de 49.000

espécies), peixes de água doce (3.000 espécies), mamíferos (540 espécies) e anfíbios

(849 espécies) e terceiro lugar no número de espécies de aves (1.700 espécies) e répteis

(693 espécies). Para grupos ainda não tão bem conhecidos, como os artrópodes, estão

registradas cerca de 118.000 espécies. Além dessa grande diversidade, concentrada

principalmente na Mata Atlântica e na floresta Amazônica, há também uma alta taxa de

endemismo, isto é, um grande número de espécies que só ocorrem em determinadas

regiões. É a combinação de diversidade de espécies e endemismo que coloca o Brasil

em primeiro lugar no ranking dos países megadiversos.

A bacia Amazônia ocupa uma área de aproximadamente 7 milhões de km2 e

está localizada no norte da América do Sul, abrangendo seis países: Brasil, Peru,

Bolívia, Colômbia, Equador e Venezuela. Essa região se destaca pela sua enorme área e

por apresentar um dos índices de diversidade biológica mais elevados do planeta, o que

tem chamado a atenção de cientistas e naturalistas de todo o mundo.

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A floresta Amazônica apresenta uma das biotas mais diversificadas do mundo

(Tabela 1) com cerca de 30.000 espécies de plantas Angiospermas, 1.300 espécies de

aves, 311 espécies de mamíferos, além de uma grande diversidade de outros grupos

animais e vegetais. A bacia Amazônica abriga ainda a maior diversidade de peixes de

água doce do mundo, com cerca de 1.800 espécies conhecidas. Essa diversidade inclui

um grande número de grupos derivados de ancestrais marinhos, como as raias

(Chondrichthyes, família Potamotrygonidae), baiacus ou mamaiacus

(Tetraodontiformes) e linguados ou solhas (Pleuronectiformes).

Tabela 1: Estimativas do número de espécies conhecidas de alguns grupos taxonômicos

para o Brasil e para a Amazônia brasileira (exceções informadas). Fonte: Lewinsohn

(2005), SBH (2009), com modificações e atualizações. Para os grupos

Chondrichthyes e Osteichthyes foram consideradas somente as espécies de água

doce.

Grupo Taxonômico Brasil Amazônia

Briófitas 3.125 700 (região Amazônica)

Pteridófitas 1.200 – 1.400 ~ 300 (bacia Amazônica)

Gimnospermas 14 – 16 9 – 10

Angiospermas 55.000 – 60.000 ~ 30.000

Arachnida ~ 7.500 1.592 (região Amazônica)

Myriapoda 270 423 (região Amazônica)

Chondrichthyes 17 13

Osteichthyes 2.106 1.800

Amphibia 849 232

Reptilia 708 273

Aves 1.696 1.300

Mammalia 541 311

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Apesar da imensa diversidade de espécies encontrada na Amazônia, acredita-se

que exista uma outra imensa quantidade de espécies ainda desconhecidas. Algumas

estimativas para peixes indicam que pelo menos 3.000 espécies ocorram na região, mas

somente 1.800 espécies estão descritas. Se para os vertebrados, como os peixes, esse

número pode dobrar, imagine para os invertebrados como os artrópodes, que são os

mais diversos entre todos os animais. Esse grande desconhecimento da diversidade

biológica da região ocorre por diversos fatores. A imensa área coberta pela floresta

Amazônica com lugares de difícil acesso, os custos associados ao trabalho necessário

para gerar conhecimento científico nessas áreas e o pequeno número de pesquisadores

na região, são fatores que restringem as pesquisas ao eixo Manaus-Belém,

acompanhando o curso dos grandes rios. Há a necessidade de investimentos maciços na

região, com a formação e a fixação de pesquisadores, incentivo ao desenvolvimento

científico e tecnológico, e a expansão dos principais centros de pesquisa da região.

Por que existem tantas espécies na região Neotropical?

Diversas teorias foram formuladas para explicar a grande diversidade de

espécies que ocorrem nessa região. No entanto, dois tipos de respostas podem ser

considerados: fatores ecológicos e fatores históricos. Ecologicamente, a principal razão

para a grande diversidade biológica é a grande diversidade de habitats, desde o deserto

árido na costa do Pacífico no Chile e Peru até as florestas tropicais no norte e leste da

América do Sul, América Central e sul do México. Entre esses extremos, existem muito

habitats intermediários. Os fatores históricos estão associados com eventos de

especiação ao longo do tempo, gerados por mudanças ambientais, especialmente

climáticas, ou pela formação de barreiras geográficas naturais.

A compreensão dessa grande diversidade de espécies passa, necessariamente,

pela compreensão dos padrões da diversidade biológica ao redor do planeta. Em geral, a

latitude e a altitude explicam a variação na diversidade: áreas mais próximas ao equador

são mais ricas em espécies que áreas localizadas em grandes latitudes; áreas mais altas

possuem menos espécies que áreas mais baixas. Fatores ambientais ou ecológicos como

clima, idade e produtividade também ajudam a explicar a distribuição das espécies.

Além disso, fatores históricos como mudanças ambientais geradas por alterações

climáticas são importantes para entender como surgiu a grande diversidade de espécies

em regiões tropicais.

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Estudos ecológicos indicam que diversos fatores abióticos podem influenciar a

distribuição das espécies hoje em dia, tais como: clima, topografia, solos e hidrografia.

Os fatores topográficos influenciam diretamente as características do solo e,

conseqüentemente, a estrutura e dinâmica da floresta. Essas variações na estrutura e

composição da floresta em gradientes topográficos geram uma grande variedade de

microhabitats, que podem afetar diretamente a distribuição e número de indivíduos das

populações dentro das comunidades animais. A topografia, o clima e a vegetação são

geralmente considerados os fatores mais importantes que determinam a distribuição de

diversos grupos animais em uma macroescala espacial. Em uma escala espacial menor,

a estrutura da vegetação, o solo e a cobertura de liteira influenciam a distribuição de

diversas espécies de anuros (Amphibia, Anura). Os habitats que são estruturalmente

mais simples, como campinas e capoeiras jovens, comparadas com áreas de floresta,

podem conter poucas espécies, de forma que a riqueza local de espécies está também

associada com a diversidade estrutural dos habitats.

Para entender a grande diversidade de espécies da Amazônia é necessário

compreender um pouco da história geológica dessa região, além da distribuição

geográfica das espécies, objetivo da ciência chamada Biogeografia. Muitas teorias

utilizam dados geológicos para explicar a distribuição das espécies e os possíveis

mecanismos de especiação que podem ter ocorrido durante eventos geológicos distintos.

Para a bacia Amazônica, os fatores históricos que provavelmente afetam a distribuição

das espécies estão ligados à evolução geológica da bacia, como por exemplo, o

soerguimento dos Andes, as introgressões marinhas e as mudanças associadas aos

cursos dos rios.

Bacia Amazônica: características gerais

A planície Amazônica está localizada entre o Escudo das Guianas ao norte e o

escudo Brasileiro, ao sul, sendo delimitada a oeste pela cordilheira dos Andes e a leste,

deságua no oceano Atlântico. A bacia Amazônica abriga o sistema fluvial mais extenso

e de maior massa líquida do planeta e é coberta pela maior floresta pluvial tropical. A

bacia Amazônica abrange uma área de aproximadamente 7 milhões de km2 de área de

drenagem, das quais 58% localizam-se no Brasil, 16% no Peru, 10% na Bolívia e o

restante na Colômbia, Equador e Venezuela. O rio Amazonas descarrega, em média,

175.000 m /segundo, o que corresponde à cerca de 20% da entrada de água doce nos 3

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oceanos do mundo. Ele é considerado o maior rio do mundo, tanto em comprimento

quanto em volume de água.

Os dados apresentados a seguir são baseados principalmente nas descrições de

Sioli (1991). O clima na bacia Amazônica é permanentemente quente e úmido,

apresentando variações diurnas de temperatura do ar maiores que as variações anuais. A

temperatura média é de aproximadamente 30° C durante a estação seca e 26° C durante

a estação chuvosa. Um importante fenômeno que causa significativa variação da

temperatura, algumas vezes com consequências ecológicas importantes é a "friagem",

que ocorre quando uma massa polar alcança a parte central e oeste da Amazônia,

podendo a temperatura atingir 10° C.

A alta taxa de precipitação registrada em toda a bacia – com um volume médio

de 2.200 mm/ano – contribui para a existência de uma densa rede de igarapés e

pequenos rios. Aproximadamente metade da precipitação total provém do oceano

Atlântico, trazida pelos ventos e a outra metade deriva da evapotranspiração da

vegetação existente na própria bacia. As chuvas locais aumentam consideravelmente as

descargas dos sistemas fluviais de menor porte. Porém, exercem pequena influência

imediata sobre o nível de água dos rios maiores, que varia de 10 a 20 metros

anualmente, de acordo com a área de captação.

As chuvas na Amazônia não estão distribuídas uniformemente, variando entre

2.000 e 3.600 mm. As áreas com menores taxas de precipitação encontram-se no sul e

leste da Amazônia, com uma área que se estende do norte até além do médio e baixo rio

Amazonas, onde as precipitações podem ficar abaixo de 2.000 mm. As áreas no

noroeste da Amazônia podem atingir precipitações anuais que alcançam 3.600 mm.

A subida e a descida anual das águas é uma resposta à distribuição das chuvas,

que é bastante heterogênea na região Amazônica, apresentando duas estações bem

definidas: uma estação seca e uma estação chuvosa. A estação chuvosa inicia-se na

parte oeste da bacia Amazônica e se dirige progressivamente para leste, na maior parte,

entre os meses de novembro e maio. A região apresenta ainda uma defasagem de

precipitação entre as partes sul e norte; esta variação faz com que os afluentes vindos do

sul atinjam os picos de inundação alguns meses antes dos afluentes vindos do norte.

Rios da Amazônia

Segundo Sioli (1991) os tipos de rios conhecidos para a Amazônia são os rios de

água branca (água barrenta), água clara e água preta. Os rios de águas barrentas, como

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os rios Purus e Juruá, têm sua origem nas áreas de terras altas, em sua maior parte nos

Andes. Toda a bacia amazônica ocidental, principalmente na sua porção sudoeste, é

formada por sedimentos provenientes da costa de intemperismo dos Andes. As

nascentes dos rios de águas claras provêm dos escudos das Guianas e Brasileiro. Esses

rios como, por exemplo, o rio Tapajós, transportam maiores quantidades de material em

suspensão no período chuvoso. Já os rios de água preta, como o rio Negro, são pobres

em partículas suspensas devido a um relevo pouco movimentado em suas cabeceiras e

solos que não fornecem quantidades de material fino, transportável em suspensão.

Embora rochas pré-cambrianas constituam uma das principais características do

embasamento geológico da Amazônia com rios de águas pretas ou águas claras, este

tipo de rocha na superfície é praticamente ausente na Amazônia ocidental.

Durante o período glacial o nível do mar estava aproximadamente 100 metros

abaixo do atual. O declive e a correnteza dos rios da Amazônia era maior. Dessa forma,

esses rios escavaram vales nos sedimentos terciários da formação Barreiras, do baixo e

médio vale do Amazonas. Com o término do período glacial e a consequente elevação

do nível do mar, houve um represamento da água dos rios até dentro da Amazônia

Central, levando ao afogamento de seus vales. Essas características permitem inferir

sobre a origem da morfologia atual dos rios amazônicos.

Formação geológica da Amazônia

A descrição abaixo cobre a formação da bacia Amazônica a partir do início do

Cretáceo (Tabela 2), e é baseada principalmente nos seguintes estudos: Hoorn (1993,

1994), Lundberg e colaboradores (1998), Rossetti & Toledo (2007) e Aleixo & Rossetti

(2007). Grande parte da diversificação dos peixes de água doce e outros organismos

aquáticos é atribuída às mudanças nos rios e bacias de drenagem da América do Sul

ocorridas durante o final do Cretáceo e início do Cenozóico. Dados geológicos sobre

modelos de mudanças na paisagem permitem discutir a origem, evolução e mecanismos

que regulam a diversidade biológica da Amazônia nos dias atuais. Essa abordagem

permite ainda formular estratégias para conservação de espécies e ecossistemas. A

ausência de uma visão geral mais precisa sobre os dados geológicos da Amazônia

ocorre devido ao seu imenso tamanho, a cobertura vegetal e o difícil acesso em muitas

áreas.

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Tabela 2: Eras, períodos e épocas geológicos e principais eventos biológicos em cada período.

Era Período Época Tempo aproximado desde

o início (em milhões de anos

antes do presente)

Principais eventos

Quaternário Pleistoceno 1,7 Primeiros humanos modernos; extinção de mamíferos grandes no Novo Mundo e Austrália; extinção de aves carnívoras não voadoras

Plioceno 5,2 Primeiros hominídeos eretos; grandes carnívoros

Mioceno 23 Primeiros macacos do Velho Mundo; mamíferos pastadores em abundância

Oligoceno 36 Primeiros macacos do Novo Mundo

Eoceno 57 Primeiros cavalos, baleias, morcegos, macacos; radiação de famílias de mamíferos placentários

Cenozóica

Terciário

Paleoceno 66 Aves gigantes, predadoras; primeiros prossímios Cretáceo 144 Primeiras angiospermas; dominância de dinossauros e répteis

marinhos, seguida de extinção; radiação de marsupiais e mamíferos placentários; declínio das gimnospermas

Mesozóica

Jurássico 210 Primeiras aves; abundância de dinossauros; vegetação formada principalmente por coníferas e outras gimnospermas

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Triássico 245 Primeiros dinossauros; primeiros mamíferos verdadeiros; pterossauros, crocodilos, répteis marinhos, lepidosssauros, anfíbios anuros e peixes teleósteos

Permiano 286 Radiação dos amniotas; répteis semelhantes a mamíferos; extinção em massa no final do período

Carbonífero 354 Grande radiação de insetos; radiação dos tetrápodes anaminiotas e aparecimento dos primeiros amniotas; grandes florestas de coníferas

Devoniano 407 Primeiros tetrápodes terrestre; primeiros peixes co nadadeiras raiadas e nadadeiras lobadas

Siluriano 440 Peixes com mandíbula; primeiros invertebrados terrestres

Ordoviciano 505 Primeiros vertebrados (peixes sem maxilas); primeiras plantas terrestres; abundância de invertebrados marinhos

Paleozóica

Cambriano 540 Radiação explosiva de animais. Primeiros cordados, moluscos com conchas; trilobitas

(Proterozóico) 2.500 Formação das grandes massas continentais. Primeiros organismos eucariontes surgem há cerca de 2 bilhões de anos

(Arqueano) 4.600 Formação da Terra

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O núcleo da Placa da América do Sul é formado por dois grandes escudos

cristalinos do Pré-Cambriano: o escudo das Guianas e o escudo Brasileiro, cujas idades

estão entre 2,6 a 0,5 bilhões de anos (Figura 1). Os escudos cratônicos são parte da

crosta terrestre, relativamente estáveis e pouco deformados em longos períodos de

tempo. O escudo das Guianas compreende grande parte da superfície das Guianas, sul

da Venezuela, sudeste da Colômbia e norte do Brasil. O escudo Brasileiro ocupa grande

parte da superfície central e sudeste do Brasil. Essas áreas são recortadas por depressões

que servem como locais de depósito de sedimentos desde aproximadamente 500

milhões de anos antes do presente (A.P.). Essas depressões são representadas pelas

bacias sedimentares dos rios Amazonas, Solimões e Acre e são definidas por arcos

estruturais. Dessa forma, a bacia do Amazonas consiste de uma área alongada no

sentido leste-oeste com aproximadamente 500.000 km2, com 2.500 km de comprimento

e 500 km de largura, limitada pelos arcos de Gurupá ao leste e Purus, a oeste. A bacia

do rio Solimões tem aproximadamente 600.000 km2, sendo formada nas adjacências da

bacia do Amazonas entre os arcos do Purus e Iquitos (no Peru). A bacia do rio Acre está

localizada a oeste do arco de Iquitos.

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Figura 1: Características topográficas e geológicas da América do Sul: rede

hidrográfica, escudos cristalinos (Escudo das Guianas e Brasileiro), Cordilheira dos

Andes, Arcos Estruturais (barras negras). (Modificado de Lundberg et al., 1998).

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Entre os Andes e os escudos cristalinos ocorrem os arcos estruturais que limitam

bacias intracratônicas (Figura 1). Esse termo inclui características topográficas de várias

origens que são barreiras reais ou potenciais de sistemas de drenagem. São formados a

partir de compressões ocorridas dentro de uma placa tectônica. Diversos arcos

estruturais foram identificados na América do Sul, sendo que 12 ocorrem na bacia

Amazônica. São eles: Gurupá, Monte Alegre, Purus, Carauari, El Baul, Auraca, Vaupés,

Iquitos, Marañon, Serra do Moa, Jutaí, Fitzcaraldo e Michicola, sendo este último no

limite sudoeste entre a bacia Amazônica e a bacia Paraná-Paraguai.

Durante o Paleozóico, a América do Sul estava ligada à África e a bacia

Amazônica encontrava-se coberta por um mar aberto para o Pacífico. Há cerca de 112

milhões de anos A.P., no início do Cretáceo, a América do Sul e a África começaram a

se separar e a dividir a Gondwana, uma massa de terra que incluía também partes do sul

da Ásia, Antártida e Austrália. O oceano Atlântico começou a se formar a oeste e

separou a América do Sul da África. O continente sul americano tem permanecido num

estado de compressão oeste-leste do qual os Andes são o principal resultado. Diversos

registros geológicos de incursões marinhas ocorreram desde a separação dos dois

continentes. Registros existem para o final do Cretáceo (70 milhões de anos A.P.), final

do Paleoceno e início do Eoceno (55 milhões de anos A.P.), final do Eoceno (40

milhões de anos A.P.) e no início e meio do Mioceno (15 a 20 milhões de anos A.P.).

Há cerca de 90 milhões de anos, a separação entre a América do Sul e a África se

completou, abrindo o oceano Atlântico. Com o soerguimento da margem continental

oeste da América do Sul, a direção das drenagens mudou no sentido oeste para leste,

chegando ao Atlântico, devido ao bloqueio do sistema fluvial para o Pacífico.

Aproximadamente, no mesmo período, houve uma transgressão marinha devido a um

aumento no nível do mar. Essa transgressão alcançou a região leste da bacia onde hoje

encontramos os Llanos, estabelecendo condições marinhas completas sobre grande

parte do que hoje é a Colômbia.

Ainda durante o Paleozóico, a bacia sedimentar Amazônica passou por um longo

período de erosão, seguido de uma fase de magmatismo intenso e movimentos

tectônicos. Um novo depósito sedimentar se originou, formando a Formação Alter do

Chão entre o meio e final do Cretáceo, que possui depósitos de origem marinha. Nesse

período, as drenagens fluíam no sentido oeste, pois os Andes estavam somente nos

estágios iniciais de formação e, conseqüentemente, os canais dos rios descarregavam

seus sedimentos diretamente no oceano Pacífico. No fim do Cretáceo e início do

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Terciário, ocorreu uma regressão marinha, que provavelmente expôs grandes áreas da

Amazônia ao desenvolvimento de uma ampla superfície de erosão.

Os eventos geológicos mais estudados na região Amazônica descrevem fatos

que ocorreram ao longo do Mioceno (entre 5 e 25 milhões A.P.). Esses eventos, que

ocorreram no oeste e noroeste da Amazônia, trazem dados sobre a penetração do oceano

Pacífico e caribenho no interior da Amazônia, o soerguimento dos Andes e a formação

do atual sistema de drenagem da bacia Amazônica.

Durante o Mioceno, a América do Sul sofreu profundas mudanças na topografia,

ambiente e padrões de drenagem dos rios. Uma combinação de mudanças no nível do

mar e tectônica levou a profundas ingressões marinhas na porção superior da bacia

Amazônica. Essas ingressões marinhas são documentadas pela presença de fósseis de

moluscos e copépodas (Crustacea). A presença de áreas de pântanos, lagos e rios com

diferentes salinidades poderiam ter sido ideais para o isolamento de peixes marinhos em

habitats progressivamente dessalinizados. A divergência entre as raias de água doce e

seus parentes marinhos mais proximamente relacionados poderiam ter ocorrido durante

o Mioceno. A distribuição dos parentes marinhos mais próximos das raias de água doce

inclui o Caribe, que é uma fonte proposta de incursões marinhas, entre 15 e 23 milhões

de anos A.P.

O sistema fluvial durante o início do Mioceno drenava no sentido leste-oeste

transportando sedimentos originários do escudo das Guianas. Incursões marinhas

podem ter alcançado a região por meio do “proto-Orinoco” e de um portal

provavelmente localizado na região oeste dos Andes. Durante o Mioceno médio, a

deposição dos sedimentos foi alterada para o sentido oeste-leste devido ao soerguimento

da cordilheira dos Andes. Um sistema fluvio-lacustre com influência estuarina devido à

continuidade das incursões marinhas através da conexão com o mar do Caribe foi

estabelecido nesse período. Entre o final do Mioceno e início do Plioceno a conexão

entre a Amazônia e o mar do Caribe deve ter sido fechada devido ao soerguimento dos

Andes dando origem ao atual sistema de deposição de sedimentos e da rede

hidrográfica, coincidindo com uma queda do nível do mar globalmente.

Uma nova fase tectônica surgiu durante o Mioceno, como reflexo da reativação

dos Andes, favorecendo a formação de uma grande bacia lacustre a partir do

fechamento da conexão com o oceano Pacífico, registrada na Formação Solimões. Um

aumento no nível do mar ocorreu durante o início ao meio do Mioceno e é registrado

nas formações Barreiras e Pirabas. Depósitos estuarinos são encontrados a

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aproximadamente 200 km dentro do continente em relação ao limite atual da costa. No

final do Mioceno houve uma fase de erosão, com alternância entre estações secas e

úmidas bem definidas devido ao clima relativamente mais árido do que hoje em dia.

Fósseis de jacarés de grande porte do gênero Purussaurus (que apresentava

aproximadamente 15 m de comprimento), tartarugas, peixes e mamíferos, além de

registros palinológicos, são datados do final do Mioceno e indicam que o ambiente da

época era formado por uma grande bacia inundada, com lagos rasos e pântanos.

Após o período de recuo do mar, uma nova fase de sedimentação é registrada

entre o Plioceno e Pleistoceno. Uma grande quantidade de sedimentos provenientes dos

Andes foi depositada no noroeste e oeste da Amazônia entre o médio e final do Plioceno

e, provavelmente, o paleo-ambiente foi dominado por rios, lagos e brejos com

predomínio de palmeiras, capins e outras herbáceas flutuantes. Essa paisagem teve

influência marinha que pode ser comprovada por estudos palinológicos que detectaram

pólen fossilizado de Rhizophora, que é típico de áreas de mangue, além de

foraminíferos (Protista, Filo Granuloreticulosa), moluscos e peixes de origem marinha

nos sedimentos. Essa região provavelmente ocupava mais de 500 km de extensão e era

preenchida por pântanos, lagos e rios com diferentes níveis de salinidade devido às

conexões com o mar do Caribe. Existem evidências da presença de lagos permanentes

denominados de “Lago Pebas”. Esta fase é representada pelas formações Içá e Pós-

Barreiras. Após essas deposições, nenhum registro sedimentar é encontrado até o final

do Pleistoceno.

A principal elevação dos Andes ocorreu nos últimos 15 milhões de anos, quando

a placa continental Sul-americana colidiu com a placa de Nazca (Figura 2). A placa de

Nazca deslizou sob a placa Sul-Americana, empurrando a zona de contato para cima.

Aparentemente, existem evidências de que o rio Amazonas corria em direção noroeste,

para a região do Caribe, o que é agora o sistema do Orinoco. Há cerca de 10 milhões de

anos, durante o Plioceno, o rio Amazonas escavou seu atual curso em direção ao leste,

entre os planaltos do Brasil e das Guianas, desaguando no oceano Atlântico. Há cerca

de 18.000 anos, o nível do mar era aproximadamente entre 100 a 130 metros mais

baixo. Os rios fluíam mais rapidamente escavando os leitos e as paredes de seus vales.

O rio Amazonas também foi profundamente escavado durante períodos glaciais.

Posteriormente, os sedimentos andinos transportados formaram suas áreas inundáveis e

elevaram o nível de seu leito. Atualmente, a profundidade média do rio Amazonas

durante a cheia é de 30 a 50 m, sendo raras áreas com profundidades superiores a 100

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m, que provavelmente são canyons fósseis formandos durante os períodos glaciais do

Pleistoceno. As massas líquidas retidas ficaram represadas, formando um sistema

aparentemente pouco estável de rios e lagos, com a formação de sedimentos de água

doce atingindo até 300 m de espessura, que constituem a formação Barreiras ou Alter do

Chão.

Figura 2: Placas Tectônicas. (Modificado de Lundberg et al., 1998).

Esses diversos eventos geológicos ocorridos durante o Mioceno e o Pleistoceno

podem ter influenciado diversos cenários de diversificação da avifauna amazônica.

Outros estudos moleculares com mamíferos inferiram que muitas espécies modernas

podem ter suas origens durante o Plioceno. Durante esse período, ocorreram muitas

mudanças significativas nas condições ambientais ao redor do mundo. Houve também o

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surgimento do ístmo do Panamá, conectando a América do Norte com a América do

Sul. Isto levou a uma troca de grupos de animais entre esses dois continentes, com a

conseqüente diversificação de alguns grupos e extinção de outros. Por exemplo,

membros de 12 ou 13 famílias de aves não passeriformes da América do Norte

chegaram até a América do Sul quando a ponte de terra apareceu no Panamá; o número

de famílias de mamíferos terrestres na América do Sul aumentou de 32 para 39 após a

conexão. Da mesma forma, a família Plethodontidae, representada por salamandras

norte americanas que não possuem pulmões, chegou na América do Sul e hoje é

representada nessa região por um gênero (Bolitoglossa) com algumas espécies. Sapos

da família Leptodactylidae e Brachycephalidae fizeram o caminho inverso e hoje, cerca

de sete espécies dessas famílias ocorrem no México e sul dos Estados Unidos. O

processo de conexão foi acompanhado por uma tendência mundial na aridez, com a

expansão das savanas em substituição às florestas e a conseqüente mudança na

composição da fauna com o aparecimento de grupos de mamíferos de grande porte

associados com áreas abertas na Amazônia ocidental. As evidências fósseis são

representadas principalmente por mamíferos pastadores de grande porte encontrados no

estado do Acre, como preguiças gigantes do gênero Eremotherium, camelídeos do

gênero Palaeolama, gliptodontes (animais semelhantes a tatus) e mastodontes do gênero

Haplomastodon. Mudanças ambientais drásticas como a substituição de um grande lago

(início ao médio Mioceno) por um sistema fluvial em canais pode ter levado a um

profundo impacto nos padrões das comunidades bióticas da região, com a expansão da

distribuição de espécies terrestres enquanto limitava a distribuição das espécies

aquáticas às áreas fluviais. Esse rearranjo, com mudanças climáticas, tectônicas e

paleoambientais, possivelmente proporcionou mudanças no ambiente, isolando

populações em manchas de habitat e promoveu uma série de eventos de especiação

simultâneos.

Informações geológicas recentes indicam que os principais sistemas de rios da

Amazônia limitam compartimentos tectônicos com unidades sedimentares distintas.

Segundo esses estudos, embora os rios possam parecer como importantes limites

biogeográficos, a causa da vicariância poderia estar, na verdade, relacionada

diretamente às diferenças na evolução da paisagem de compartimentos tectônicos

individuais. Áreas com atividade tectônica e sedimentar mais intensas são mais

propensas a desenvolver alterações no ambiente e induzir o aparecimento de grupos

bióticos endêmicos. A diferenciação de espécies pode não ser controlada pela

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localização dos rios, mas por características geomorfológicas, sedimentológicas e

pedológicas particulares de cada compartimento tectônico. Esse modelo geológico,

juntamente com outros mecanismos de especiação conhecidos, poderia ser considerado

em estudos sobre a diversidade da Amazônia.

Apesar da grande quantidade de estudos sobre os depósitos do Terciário e

Quaternário encontrados na Amazônia, há muitas questões não respondidas sobre a

reconstrução da história geológica da Amazônia e muitas diferentes interpretações sobre

dados geológicos disponíveis, principalmente durante o Mioceno. Isso ocorre devido ao

grande tamanho da área, ausência de um grande volume de estudos sistemáticos,

dificuldades de acesso a determinadas áreas e ao limitado e descontinuo número de

áreas expostas que inclui principalmente barrancos de rios. Mesmo com essas

limitações, a reconstrução da evolução dos depósitos do Terciário e Quaternário na

Amazônia é de grande relevância, pois esses períodos presenciaram a evolução de

grande parte da biodiversidade moderna da Amazônia. A Amazônia tem uma história

geológica complexa, com formações de diferentes idades, composição e história em

diferentes partes da bacia. Os escudos Brasileiro e das Guianas são compostos por

rochas antigas dos períodos Paleozóico e Pré-Cambriano, e a bacia sedimentar mais

recente ocorre na Amazônia ocidental. Enquanto a porção leste dos escudos Brasileiro e

das Guianas (da cidade de Manaus em direção à leste) permaneceu estável desde o final

do Cretáceo, com erosão, mas com deposição limitada de sedimentos, a Amazônia

ocidental possui uma história sedimentar mais dinâmica. É bem conhecido que um

grande sistema de lagos foi estabelecido na Amazônia ocidental durante o Mioceno, o

que é evidenciado nas formações Solimões/Pebas. Este lago evoluiu para um sistema

fluvial que é registrado na formação Içá, no Plio-Pleistoceno. Essa unidade, juntamente

com quatro outras sucessões sedimentares fluviais no final do Quaternário até o

Holoceno, cobrem grande parte da Amazônia ocidental brasileira. O tectonismo também

teve um papel fundamental nas mudanças da paisagem na Amazônia ocidental,

fechando o sistema lacustre no Mioceno e estabelecendo o sistema fluvial

provavelmente como visto hoje em dia, no final do período Pleistoceno. Na Amazônia

Central e Oriental os impactos dessas mudanças na paisagem foram concentradas ao

longo das antigas bacias intracratônicas da Amazônia, onde se desenvolveu a formação

atual das planícies de inundação do baixo rio Amazonas. Nesse sentido, as evidências

sugerem que diferentes áreas da Amazônia experimentaram diferentes taxas de

mudanças na paisagem, com a Amazônia ocidental sendo a área com maior dinâmica. E

Page 17: Manaus, xx de julho de 2007

essas diferenças na formação geológica dessas áreas também têm influenciado os

padrões de diversificação de algumas linhagens de aves modernas, como sugerido por

Aleixo & Rossetti (2007).

Hipóteses sobre a origem da diversidade biológica da Amazônia

Existem diversas hipóteses sobre a origem da diversidade de plantas e animais

da Amazônia, embora os eventos históricos que produziram a alta diversidade de

espécies de muitos grupos taxonômicos permaneçam controversos. Muitas explicações

são focadas no isolamento geográfico de populações mas, muitas vezes, a interpretação

dos mesmos dados tem levado a conclusões completamente opostas. Segundo Nores

(2000), Haffer (2001) e Borges (2007), entre as hipóteses mais importantes estão

aquelas que destacam a importância dos gradientes ecológicos na geração de espécies

simpátricas, a estabilidade ao longo do tempo, as perturbações intermediárias, a

existência de refúgios florestais durante o período Pleistoceno, a influência do sistema

hidrográfico na diversificação da biota, os arcos geológicos espalhados pela bacia

Amazônica como indicadores de processos de vicariância, o papel biogeográfico dos

mares e lagos salobros que invadiram a bacia Amazônica em diversos períodos

geológicos com a formação de ilhas e a pressão de predadores. Não é objetivo desse

material esgotar as discussões sobre a diversificação da biota amazônica, mas somente

apresentar algumas das teorias mais usadas para explicá-la. O texto abaixo é baseado

principalmente nos artigos de Nores (2000), Haffer (2001) e Borges (2007).

A primeira hipótese para explicar a distribuição de espécies na Amazônia é a de

que os rios servem como barreiras para a dispersão (hipótese de Rios; Figura 3D) e foi

proposta por Alfred Russel Wallace em 1852, após sua viagem pela bacia Amazônica.

Essa hipótese foi desenvolvida por Sick em 1967 com base em estudos de aves

Amazônicas. Segundo essa hipótese, populações ancestrais de animais foram divididas

em subpopulações e isoladas quando a rede dos grandes rios amazônicos se formou

durante o final do Terciário e início do Quaternário. Numerosas espécies supostamente

possuíam uma grande distribuição ininterrupta em regiões de floresta contínua, que

ainda não eram transpassadas pelos grandes rios. Quando os sistemas atuais de rios se

desenvolveram, muitas populações, especialmente aquelas que habitavam o interior da

floresta se tornaram separadas sofrendo processos de especiação em margens opostas

dos rios. Existem evidências a favor dessa hipótese por meio do registro de distribuição

Page 18: Manaus, xx de julho de 2007

de espécies de Primatas e, principalmente, de Aves, onde várias espécies aparentadas

(de um mesmo gênero ou subespécies) se substituem em margens opostas dos grandes

tributários da bacia Amazônica, como os rios Negro, Madeira e o Solimões/Amazonas.

Entretanto, a capacidade de um rio separar populações animais varia o longo do seu

canal. Os canais dos rios são mais estreitos nas cabeceiras do que na foz, o que

permitiria o contato entre populações no alto curso dos rios, além do que há formação

de ilhas e meandros que permitiram a transposição de uma margem para a outra.

Figura 3: Modelos de especiação propostos para a Amazônia. (Modificado de Haffer,

2001). A-C: Hipóteses Paleogeográficas. A – Modelo das Ilhas; cruzes indicam os

escudos das Guianas e Brasileiro, área tracejada indicam os Andes. B – Modelo dos

Page 19: Manaus, xx de julho de 2007

Arcos Estruturais; barras sólidas e pontilhadas indicam alguns arcos da Amazônia. C –

Modelo de Lago; áreas pontilhadas estão abaixo de 100 m sob o nível do mar, áreas

tracejadas estão acima de 200 m do nível do mar. D – Hipótese de Rios; setas indicam a

dispersão da fauna nas cabeceiras dos rios, linha pontilhada indica os limites da floresta.

E – Hipótese do Refúgio-rios; símbolos indicam diferentes áreas de refúgio entre os

cursos dos grandes rios.

Outra hipótese para explicar a grande diversidade de espécies da Amazônia foi

proposta pelo ornitólogo J. Haffer em 1969 e por P. Vanzolini & E. Williams em 1970 .

Essa hipótese foi chamada de Refúgios do Pleistoceno (Figura 4) e considera mudanças

na cobertura da floresta durante variações climáticas. Segundo Haffer, durante períodos

mais secos do Pleistoceno, a floresta recuava, formando refúgios de florestas em setores

mais úmidos da bacia isolados por savanas e durante os períodos mais úmidos, havia

uma expansão das florestas e uma reconexão desses fragmentos isolados Essas

oscilações de climas secos e úmidos ocorreram durante o Quaternário e novas espécies

podem ter surgido nesses refúgios isolados devido à fragmentação de populações e a

especiação alopátrica. Como Haffer é ornitólogo, sua hipótese foi baseada na

distribuição de espécies de aves na Amazônia, e os refúgios foram inferidos a partir de

áreas com alto endemismo e alta pluviosidade. Haffer definiu grandes unidades

biogeográficas da América do Sul, o que permitiu a definição das áreas de endemismos

e a geração de hipóteses sobre mecanismos de especiação. Estudos posteriores

definiram diversas dessas áreas de endemismo, sendo as principais da Amazônia:

Belém, Xingu, Tapajós, Rondônia, Inambari, Napo, Imeri, Pantepui, Guiana e Rio

Negro, esta última recentemente identificada por Borges (2007). Algumas dessas áreas

de endemismo como Napo e Inambari são consistentes com dados de endemismo para

outros grupos de vertebrados.

Essa hipótese também foi utilizada para explicar a distribuição de outros grupos

biológicos como plantas, lagartos, anfíbios, mamíferos fósseis, entre outros, por

diversos estudos realizados por diferentes pesquisadores. Existe uma certa sobreposição

nas áreas consideradas como refúgios em cada um desses estudos (Figura 4). Outras

evidências a favor dessa hipótese são a presença de paleodunas, fósseis de pólen de

plantas de savanas e a presença de minerais, como o feldspato em sedimentos,

indicando a presença de áreas abertas. No entanto, outros estudos contestam a hipótese

dos refúgios, entre elas, a constatação de que os centros de endemismos de plantas são,

Page 20: Manaus, xx de julho de 2007

na verdade, artefatos de amostragem, isto é, a maior parte das amostras de plantas

depositadas em coleções científicas provém de poucas áreas estudadas, geralmente

localizadas nas margens de grandes rios e próximas às cidades. Outros trabalhos

indicam também que diversos taxa atuais de anfíbios, mamíferos e aves sofreram

diferenciações há cerca de 3-4 e 25 milhões de anos, portanto, antes do período

Pleistoceno.

Figura 4: Mapa com áreas de endemismos para diferentes grupos taxonômicos,

fornecendo evidências da Hipótese dos Refúgios Pleistocênicos. (Modificado de Haffer

& Prance, 2002).

Page 21: Manaus, xx de julho de 2007

Uma terceira hipótese é a do Refúgio-rios (Figura 3E) que foi proposta por

Ayres & Clutton-Brock em 1992, com base em estudos de padrões de distribuição de

primatas. Essa hipótese combina aspectos dos rios como barreiras e também a hipótese

dos refúgios Pleistocênicos, postulando que populações de animais e plantas foram

isolados em semi-refúgios pela combinação dos amplos baixos cursos de alguns rios

amazônicos e por áreas inapropriadas nas regiões das cabeceiras do norte e sul da

Amazônia que foram mais ou menos desflorestadas durante períodos de climas secos.

Essas áreas teriam sido cobertas por savanas durante esses períodos secos, quando as

florestas sofreram retração devido à precipitação reduzida. Essa hipótese não pode ser

incluída na mesma hipótese de Rios, pois os efeitos de mudanças climáticas e

vegetacionais repetidas não são requisitos para a última hipótese, enquanto os efeitos de

tais mudanças são parte essencial da hipótese do Refúgio-rios (e também da hipótese

dos Refúgios Pleistocênicos).

Uma quarta hipótese é a de estabilidade ao longo do tempo que foi proposta por

Sanders em 1968, e implica que ambientes que não possuem flutuações significativas

nas condições físicas teriam uma baixa taxa de extinções. Ao longo do tempo, novas

espécies continuariam evoluindo; a taxa de especiação poderia ser maior que a taxa de

extinção, resultando no acúmulo de uma grande diversidade. Segundo o autor, a floresta

Amazônica e outras florestas tropicais poderiam ser comparadas ao oceano profundo:

lugares com umidade e calor estáveis ao longo do ano, nos quais as taxas de extinção

podem ser raras. Esta hipótese de estabilidade ambiental, no entanto, contrasta com a

grande instabilidade geológica na região descrita acima onde lagos salobros se

formaram, drenagens extensas se modificaram, cadeias de montanhas soergueram-se e

espaços abertos podem ter ocupado significativas porções da Amazônia.

Contrariando a hipótese anterior, a hipótese de perturbação intermediária

proposta independentemente por Connell em 1978, a partir de estudos em florestas

tropicais e recifes de corais, e por Hubbel em 1979, com base em estudos de árvores

tropicais, sustenta que a alta diversidade não é encontrada onde o clima é estável, mas

onde perturbações são freqüentes o suficiente para manter grande parte da região em um

estado de não-equilíbrio. Nas florestas tropicais, que estão sujeitas a perturbações

severas e freqüentes (tempestades, inundações, fogo e outras perturbações), o equilíbrio

pode nunca ser atingido. Essas perturbações periodicamente eliminam muitos

indivíduos das espécies dominantes, abrindo oportunidade para outras espécies se

estabelecerem.

Page 22: Manaus, xx de julho de 2007

A hipótese de Densidade do Dossel, proposta por Cowling e colaboradores em

2001, sugere repetidas reduções ou aumentos na densidade do dossel da floresta em

grandes áreas durante ciclos glaciais e interglaciais. Alterações no microclima do dossel

foram provavelmente causadas pelo frio, aridez e baixa concentração de CO2 levando a

mudanças individuais na distribuição de espécies de animais e plantas. Essa hipótese se

aplica não somente para o Pleistoceno, mas também para os períodos iniciais do

Cenozóico, pois as florestas tropicais foram independentemente influenciadas pela

diminuição no CO2 atmosférico, temperatura e precipitação no planeta. Essa hipótese

não é muito diferente da hipótese dos Refúgios. Ambos os modelos propõe que

mudanças em larga escala na vegetação ocorreram durante períodos de mudanças

climáticas (precipitação, temperatura, CO2) levando a uma expansão das florestas secas

(savanas) causando a separação de populações e levando à especiação, e se referem não

somente ao Pleistoceno mas também a períodos geológicos anteriores.

A hipótese de Museu, proposta por Fjeldså em 1994, postula que processos de

especiação ocorreram em habitats localizados em áreas estáveis em montanhas, ao redor

da periferia da Amazônia devido a flutuações climáticas sem mudanças vegetacionais

expressivas. Posteriormente, houve a expansão da distribuição dessas novas espécies

para as terras baixas da Amazônia . Nessa hipótese não há a necessidade da formação de

barreiras de vegetação aberta (savana) para explicar o isolamento das populações de

animais nesses “bolsões” de habitats nas montanhas.

Outra hipótese é a de Perturbação-Vicariância (ou Distúrbio-Vicariância)

proposta por Colinvaux em 1993. Ela se refere somente ao Pleistoceno e afirma que as

causas das mudanças na vegetação durante esse período foram o resfriamento e a

redução do dióxido de carbono e não a aridez. Durante períodos glaciais, as espécies

animais presumivelmente viviam em terras baixas da Amazônia, entre 100 e 300 metros

acima do nível do mar atual, onde a temperatura poderia ser até seis graus mais baixa do

que hoje em dia. Essas regiões constituem um limite entre as terras altas e as terras

baixas, onde a distribuição e a abundância das espécies oscilaram ao longo do período

Pleistoceno, como resultado da invasão e contra-invasão de espécies. Muitas interações

entre os invasores foram competitivas, o que favoreceu o isolamento das espécies.

A hipótese da perturbação nos rios, proposta por Salo e colaboradores em

1986, foi baseada em estudos de dinâmica dos rios na Amazônia ocidental, assumindo

que perturbações em grande escala nas florestas e a sucessão primária na vegetação

foram causados por erosões laterais e mudanças nos canais dos rios. Segundo essa

Page 23: Manaus, xx de julho de 2007

hipótese, devido à sua contribuição para as perturbações e variações na estrutura da

floresta, a dinâmica dos rios pode ser a causa principal da diversidade de espécies na

Amazônia ocidental.

Outra hipótese é a da pressão de predadores criada por Paine em 1966 a partir

de estudos de padrões de diversidade de organismos marinhos que vivem em rochas

intertidais. A idéia é que a diversidade local de espécies está relacionada com o número

e eficiência de predadores, prevenindo a monopolização de um recurso limitante por

uma única espécie, reduzindo a disponibilidade de recursos para outras espécies da

comunidade. Onde os predadores estavam ausentes ou foram removidos

experimentalmente, espécies dominantes excluíram outras espécies, levando o sistema a

se tornar menos diverso.

A hipótese da diferenciação parapátrica ou dos Gradientes Ecológicos,

postulada por Endler em 1977, afirma que a diversidade da Amazônia é o resultado das

condições atuais que permitem o desenvolvimento de variação ao longo do gradiente

ambiental sem separação de populações. Isto leva a processos de diferenciação

parapátrica, e não alopátrica, onde fortes gradientes promovem diferenciação

populacional, devido a adaptações locais a pressões seletivas.

A hipótese Paleogeográfica (Figuras 3 A-C) pode ser dividida em três modelos:

(a) modelo das Ilhas, (b) modelo dos arcos e (c) modelo do Lago.

O modelo de Ilhas (Figura 3A) é um dos mais recentes e foi proposto por Nores

em 1999, baseado nos padrões de distribuição de aves. Durante o aumento no nível do

mar em cerca de 100 metros no Quaternário e final do Terciário, a floresta Amazônica

se tornou fragmentada em numerosas ilhas e arquipélagos em terras mais altas, onde

plantas e animais se diferenciaram por especiação alopátrica durante períodos de

isolamento geográfico. Presume-se que as terras altas da Venezuela e Guianas ficaram

temporariamente separadas durante este período e alguns arquipélagos se formaram na

Amazônica Central. A floresta isolada pelas transgressões marinhas sofreu um processo

de re-expansão quando o nível do mar baixou e os animais se dispersaram. De acordo

com a topografia atual, um aumento de 100 metros no nível do mar poderia produzir

transgressões marinhas do oceano Atlântico através dos rios Amazonas, Orinoco e

Branco. A grande área formada entre os rios Solimões e Negro e no baixo rio Branco

poderiam ser completamente cobertas pelo mar.

O modelo de diferenciação das espécies baseado na presença de arcos

estruturais (Figura 3B), que são elevações positivas do relevo, foi proposto por Patton

Page 24: Manaus, xx de julho de 2007

& Silva em 2001. Segundo esse modelo a presença dos arcos estruturais conectando os

escudos das Guianas e do Brasil, seriam delimitadores de sub-bacias geológicas e,

portanto, de zonas ecológicas diferentes. No entanto, estudos geológicos indicam que

esses arcos estruturais constituem-se em feições antigas do Paleozóico e do Mesozóico,

que foram soterradas por sedimentos depositados a partir do Cretáceo e Terciário.

Portanto, a formação de zonas biogeográficas com base na presença desses arcos não é

uma boa hipótese para explicar a diversidade da bacia, pois essas estruturas não

representariam barreiras para a sedimentação durante o período Cenozóico.

O modelo de Lago (Figura 3C), proposto por Marroig & Cerqueira em 1997, é

baseado na premissa que parte da Amazônia foi coberta por um grande lago ou lagoa no

fim do Terciário (Plioceno), e sucessivamente partes menores da Amazônia foram

cobertas durante uma série de transgressões marinhas devido ao aumento do nível do

mar durante o Quaternário. A floresta ficaria restrita às regiões periféricas da bacia

Amazônica, separando populações em ilhas de floresta. Uma variação desse modelo foi

proposta por Frailey e colaboradores em 1988, postulando que um grande lago (Lago

Amazonas) existiu na Amazônia em períodos recentes, isolando populações animais em

manchas de floresta localizadas nas margens irregulares desse lago. Essa hipótese foi

modificada posteriormente atribuindo a formação desse lago ao aumento no nível do

mar há cerca de 2,5 milhões de anos, que teria funcionado como uma represa.

E por fim, a hipótese hidrogeológica, proposta por Montoya-Burgos em 2003,

postula que ocorreram eventos de captura de cabeceiras de rios e rotas de dispersão

ocorreram devido a mudanças na morfologia dos rios. Nesse processo pode ocorrer

troca de fauna entre as bacias que antes estavam isoladas. Portanto, espécies diferentes

mas proximamente relacionadas, ou as mesmas espécies poderiam ocorrer em

cabeceiras contíguas ligadas por rotas de dispersão atuais ou históricas.

Para espécies de peixes de água doce, aparentemente os eventos ocorridos no

Plioceno e Pleistoceno não têm relação com a criação de uma alta diversidade. A

hipótese dos Refúgios Pleistocênicos aparentemente tem pouca influência sobre a

diversificação de peixes de água doce. Provavelmente, eventos de especiação de peixes

estão relacionados com os efeitos das transgressões marinhas, com alguns clados de

peixes de água doce derivados de grupos marinhos (exemplos: raias –

Potamotrygonidae; pescadas – Perciformes, Sciaenidae); com a formação do Lago

Valencia e isolamento de rios durante o período Pleistoceno, devido o nível do mar estar

mais alto e com mudanças nos sistemas de drenagem. Aparentemente, quatro das

Page 25: Manaus, xx de julho de 2007

hipóteses contribuíram para a formação da ictiofauna Amazônica: a hipótese das ilhas

(diferenciação alopátrica em terras altas com o posterior acúmulo nas terras baixas), a

hipótese paleogeográfica (diferenciação alopátrica a partir da presença dos arcos

estruturais), a hipótese dos rios (fragmentação da biota após o estabelecimento final dos

canais principais dos rios da América do Sul) e a hidrogeológica (especiação alopátrica

após dispersão resultando de eventos de captura de cabeceiras ou conexões temporais

entre drenagens).

Hubert & Reno (2006) sugerem que a distribuição de peixes Characiformes é

consistente com a hipótese da presença de arcos estruturais atuando como o principal

evento promovendo especiação alopátrica entre os rios Amazonas, Orinoco e Paraná,

além da fragmentação marinha que fracionou os sistemas dos rios em pelo menos oito

refúgios de água doce. A origem das áreas de endemismo para peixes pode ser atribuída

principalmente ao soerguimento dos paleoarcos e a persistência de água doce entre áreas

de terras emersas durante a transgressão marinha nos períodos Mioceno e Paleoceno.

Os diferentes modelos evolutivos propostos pelos diversos pesquisadores para

explicar a origem das espécies na Amazônia enfatizam os efeitos biogeográficos de

movimentos tectônicos e formação de montanhas, os rios como barreiras efetivas, as

mudanças na composição e distribuição de comunidades de animais e plantas devido a

flutuações climáticas e na vegetação durante o Cenozóico, os efeitos dos gradientes

ambientais, ou a combinação desses fatores, que resultaram no isolamento geográfico e

especiação de populações animais. Somente a hipótese dos gradientes é baseada no

modelo de especiação parapátrica; todas as outras hipóteses são baseadas em especiação

alopátrica.

O debate sobre a diversificação da biota Amazônica está longe de ser

completamente resolvido. É muito difícil estabelecer um fator único para entender a

distribuição dos diversos grupos da biota existentes na Amazônia. A complexidade de

hábitats da bacia Amazônica produz uma grande heterogeneidade ambiental na região

que, conseqüentemente, se reflete na alta diversidade de espécies. Além disso, sabe-se

que diferentes grupos biológicos, animais e vegetais, possuem diferentes taxas de

especiação e respondem de forma diferenciada às mudanças que ocorrem no ambiente e

que podem afetar os padrões de diversidade. Estudos recentes indicam que os ciclos

glaciais do período Quaternário e as consequentes mudanças na floresta exerceram um

papel pequeno na origem de muitas espécies que habitam a Amazônia hoje em dia.

Existem ainda muitas áreas não exploradas na região, o que leva a subestimativas da

Page 26: Manaus, xx de julho de 2007

distribuição geográfica de cada espécie e do número de espécies em cada grupo

taxonômico, criando grandes falhas na interpretação global dos dados de distribuição da

maioria das espécies.

Proposta de atividade: debate

A Amazônia possui uma das biotas mais diversificadas do mundo. Apesar de já

sabermos disso há muito tempo, uma grande parte dessa biota ainda é desconhecida da

ciência. Esse desconhecimento se dá principalmente pela grande extensão da área, pela

dificuldade de acesso em muitas regiões no interior da Amazônia, pela falta de

pesquisadores e pelos ainda poucos (apesar de crescentes) investimentos em centros de

pesquisa na região. Há uma necessidade urgente de se conhecer a biodiversidade da

Amazônia frente aos processos de mudança do uso de uso e cobertura, principalmente

via desmatamento, e perda de diversidade biológica (Figura 5). Além disso, a

valorização e a conservação da biodiversidade da Amazônia requerem inicialmente uma

avaliação de sua composição, distribuição e potencialidades. Essa avaliação é urgente,

diante do avanço do desmatamento das florestas tropicais na Amazônia legal brasileira

(Figura 6): dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE indicam que, em

média, foram desmatados 18.500 km2/ano nos últimos vinte anos (PRODES, 2008).

Dessa forma surgem diversas questões, para as quais os biólogos, políticos e o

próprio cidadão comum têm que encontrar respostas:

De que forma o conhecimento científico sobre a origem geológica da bacia

Amazônica e as hipóteses sobre sua diversidade podem ajudar a preservar a floresta?

Como mitigar os efeitos da devastação da Amazônia e preservar sua imensa

diversidade?

Como conciliar o desenvolvimento da região e a preservação da floresta?

Como melhorar o conhecimento científico da Amazônia e transferir esse

conhecimento para a população local?

O nosso compromisso com a preservação da floresta deve ser um compromisso

ético, pois a história da Amazônia é muito mais antiga que a própria presença humana

na região e nunca mais, em nenhum tempo e lugar, essa história irá se repetir.

Page 27: Manaus, xx de julho de 2007

Figura 5: O saium-de-coleira (Saguinus bicolor), uma espécie de primata endêmica da

região de Manaus, e ameaçada de extinção (Categoria “criticamente em perigo”). (Foto:

Marcelo Gordo).

Page 28: Manaus, xx de julho de 2007

Figura 6: Fotos aéreas de áreas desmatadas e queimadas na região da Amazônia

ocidental, estado do Acre. (Fonte: www.map-amazonia.net/gtpqueimadas).

Page 29: Manaus, xx de julho de 2007

Agradecimentos

Agradeço a coordenação do curso de Licenciatura em Biologia, modalidade a

Distância da Universidade Federal do Amazonas pelo convite para produzir esse

material; a M.Sc. Sumaia S. Vasconcelos (Instituto Nacional de Pesquisas da

Amazônia), Dra. Denise C. Rossa-Feres (Universidade Estadual Paulista) e Dr. Sérgio

H. Borges (Fundação Vitória Amazônica) pelas críticas e pelas sugestões; a Dra.

Cristina M. Bührnheim (UFAM / Universidade do Estado do Amazonas), Dra. Dilce F.

Rossetti (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e M.Sc. Fernando P. Mendonça

(Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) pelo fornecimento de artigos e livros

usados na produção desse material; ao M.Sc. Marcelo Gordo (UFAM) pela foto do

saium-de-coleira.

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Glossário

Page 32: Manaus, xx de julho de 2007

Biogeografia: é a ciência que estuda a distribuição geográfica dos seres vivos, procurando entender

padrões de organização espacial e processos que resultaram em tais padrões. É uma ciência

multidisciplinar que relaciona informações de diversas outras ciências como geografia, biologia,

climatologia, geologia, ecologia e evolução.

Biota: conjunto de plantas, animais e microrganismos de uma determinada região ou área biogeográfica.

Capoeira: estágio arbustivo formado depois de corte e fogo.

Clado: linhagem filogenética que se origina de um táxon ancestral comum, incluindo todos os

descendentes.

Diversidade Biológica: O termo diversidade biológica, ou biodiversidade, segundo a Convenção sobre

Diversidade Biológica, pode ser definido como “a variabilidade entre organismos vivos de qualquer

origem incluindo, entre outros, ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos, e os

complexos ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre

espécies e de ecossistemas”.

Escudos cristalinos ou núcleos cratônicos: são rochas magmáticas e metamórficas muito antigas do Pré-

Cambriano e da era Paleozóica, modificadas por grande desgaste devido a um intenso processo erosivo.

Especiação: mecanismo evolutivo que leva a formação de espécies.

Especiação alopátrica: processo de formação de espécies a partir de um isolamento geográfico completo.

Especiação parapátrica: processo de formação de espécies isoladas reprodutivamente, pela divergência

inicial de populações em alopatria imperfeita, seguida ou acompanhada por um ajuste de distribuição que

deixa as populações separadas, contíguas e incompatíveis entre si.

Fanerógamas: plantas com estruturais denominadas de flores, que são com órgãos reprodutores facilmente

observáveis. Representada pelas Gimnospermas e Angiospermas.

Fator abiótico: aquele que caracteriza as propriedades físicas e químicas da biosfera.

Friagem: fenômeno climático caracterizado pela queda brusca de temperatura e ventos razoavelmente

frios. Ocorre na Amazônia Ocidental entre os meses de maio e agosto.

Ingressão ou transgressão marinha: é o avanço dos mares sobre terras emersas continentais como

conseqüência de elevação do nível do mar.

Page 33: Manaus, xx de julho de 2007

Intemperismo: consiste na alteração das rochas ao entrar em contato com a água, o ar, as mudanças de

temperatura e os organismos vivos.

Intertidal: nome dado ao ambiente marinho compreendido entre as linhas de maré-baixa e maré-alta.

Ístmo: uma porção de terra estreita cercada por água em dois lados e que conecta duas grandes extensões

de terra.

Liteira: camada formada por folhas caídas, ramos, caules, cascas e frutos depositados sobre o solo em

florestas.

Palinologia: estudo da constituição, estrutura e dispersão do pólen e esporos, incluindo os exemplares

fossilizados.

Pré-Cambriano: nome tradicional que se dá ao conjunto dos éons anteriores ao Fanerozóico: o

Proterozóico, o Arqueano e o Hadenao. Está compreendido entre o aparecimento da Terra, há cerca de

4,5 bilhões de anos, até o surgimento de uma larga quantidade de fósseis, que marca o início do período

Cambriano da era Paleozóica do éon Fanerozóico, há cerca de 540 milhões de anos atrás.

Simpatria: ocorrência de duas ou mais espécies em uma determinada área geográfica, com sobreposição

total ou parcial de suas distribuições geográficas.

Sistema Anastomosado: sistema de rios formado por múltiplos canais com alta sinuosidade.

Taxa: plural de táxon.

Táxon: qualquer unidade taxonômica, tal como uma família, um gênero ou uma espécie particulares.

Vicariância: processo de subdivisão de uma linhagem evolutiva em elementos vicariantes por uma

barreira geográfica.


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