Marcos Cordeiro
Sibele Cintian
Um Contrato, uma Lei , um Amor
Primeira Edição
Piracicaba 2012 PerSe
PerSe
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Sibele Cintian
Marcos Cordeiro
O inicio de tudo
Deitado em sua poltrona assistindo televisão na sala do
apartamento 4 do edifício Oásis, o oficial de cartório
Jonathan Ribeiro escuta dois estampidos. Após um longo
silêncio com a luz apagada ele aproveita os troncos de um
coqueiro que fica bem enfrente a sua janela para um olhar
cuidadoso. Na certeza que o algoz já tinha ido embora,
Jonathan aproveita a luz da calçada e encontra um corpo
estirado no chão, era 3:05 de um sábado chuvoso na
esquina das ruas São José e Vergueiros situadas no centro
de Piracicaba.
Um vizinho que também ouviu os disparos ecoar na noite
chuvosa acionou a policia militar através do telefone 190
que após 10 segundos apareceu e cuidou do isolamento
daquele local para que possíveis pistas sobreviventes às
enxurradas e ao grande nível de água despejada do céu
não fossem adulteradas.
Era grande a presença da população que já se aglomerava
com guarda-chuvas,sombrinhas e capas O sargento
Camargo pediu para o Copom acionar o delegado
plantonista do 1º distrito policial da cidade, situado na Rua
São José alguns quarteirões do local do homicídio. Depois
de minutos uma viatura encostou trazendo dois peritos, o
delegado Rubens,o investigador Rangel com dez anos de
profissão, sendo seis deles trabalhado na capital paulista e
a novata Patrícia Lemos Camargo recém saída da
academia da Policia Civil. Olhando seu rostinho meigo,
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sua fala macia e seus 1,80 de altura, cabelos cacheados cor
de mel e olhos enverdejados, pessoas desavisadas
identificariam a moça como uma modelo.
No entanto a policia era tradição mantida na família e
começada com sua avó, passando pelo pai, promotor de
justiça aposentado Joel Camargo, um mineiro de nascença
e piracicabano por profissão.
O policial Rangel era um investigador que já havia
acostumado com a rotina do seu trabalho,
perseguições,prisões e tiroteios seguidos de mortos. Até
agora ele estava em vantagem, só os criminosos morreram
no confronto. Com 45 anos de idade, 1.67 de altura, 59k,
eram o investigador-chefe do departamento de homicídios
localizado no 1º distrito policial e homem de confiança do
delegado Raul Gonzáles.
O primeiro contato com uma vitima de homicídio deixou
a investigadora chocada por se tratar de um jovem de 23
anos conhecido por policiais que faziam segurança para
seu pai, empresário bem conceituado na cidade, dono de
três usinas de álcool que formavam o conglomerado Ouro
Branco Indústrias Alcooleiras. O crime foi considerado
estranho porque segundo os policiais o jovem Leu
Custódio não tinha envolvimento com drogas, traficantes
ou agiotas, pelo contrário, estava cursando jornalismo na
USPIRA uma faculdade situada no centro da cidade a três
quadras de onde ele morreu com um tiro certeiro partido
de um revólver automático ponto - 40 a queima roupa que
atingiu o coração do jovem.
Eram 4h05min da madrugada quando a perícia acabou o
trabalho no local, agora sob o olhar de pouquíssimas
pessoas, os curiosos já havia se recolhido para dentro de
suas casas, inclusive o oficial do cartório.
Após reunião na sala três do 1º distrito onde estava
presente o delegado, os investigadores e os peritos, ficou
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decidida a linha de investigação descrita nos autos como
latrocínio, roubo seguido de morte. Entre as pessoas que
prestaram depoimentos estava Jonathan Ribeiro que após
responder várias perguntas foi liberado. Quando os
investigadores já estavam encerrando aquele trabalho, ás
9:00 da manhã, entrou pela porta do 1º distrito uma
senhora aparentando ter 40 anos,1.90m de altura, loira
com olhos verdes impetrados em uns óculos de sol
Strinkbers.
A mulher foi encaminhada até os investigadores Patrícia e
Rangel que após ouvir um depoimento preliminar pediram
a presença do delegado Raul e a testemunha repetiu toda
história. Era a dona da loja de jóias com ponto na Rua
Boa Morte n° 1022.
Segundo a comerciante o jovem Léu costumava passar
pela loja uma vez por semana porque tinha encomendado
um anel de prata enfeitado por um diamante pequeno,
porém de valor considerável.
O anel seria presente de aniversário para sua noiva.
-Todos os dias que ele parava na loja seu carro Vectra
2011 placa LCT 1235 ficava estacionado na rua D. Pedro I
sob os cuidados do flanelinha José Roberto. Homem pardo
de 1.65 aparentando 28 anos de idade. Diferente dos
outros dias, desta vez Léu não estava com trocados no
bolso e por isso deixou de dar a gorjeta ao flanelinha que
ficou enfurecido e disparou palavras ofensivas enquanto o
rapaz estava abrindo a porta do carro.
Ainda segundo o depoimento de Lia
Spolidoro Mendes, Beto gritou saber onde o jovem
estudava e que ia acertar as contas com ele. Os
investigadores sedentos por resolver o caso abriram o
arquivo com fotos de pessoas detidas naquele distrito e
após reconhecimento da senhora Spolidoro Mendes viu-se
que o denunciado tinha cumprido pena de seis anos na
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penitenciaria de Hortolândia pelo crime de extorsão. A
vitima foi um comerciante casado e bem conceituado na
cidade que mantinha caso com um travesti vizinho do
flanelinha.
O caso foi abafado na imprensa local devido o
comerciante ser um grande patrocinador dos veículos de
imprensa e também um lucrativo doador das obras
assistenciais da administração municipal. Para Bertão na
época com 19 anos de idade sobrou a condenação, o
travesti ganhou algum dinheiro e foi despachado para sua
cidade natal. O antecedente criminal do flanelinha serviu
de base para o pedido de sua prisão preventiva, decretada
pelo promotor de justiça Joel Gaspar da vara criminal de
Piracicaba.
Entre o cheiro e a chuva
Era um sábado chuvoso, o relógio da Igreja Metodista
marcava 10:30horas o flanelinha estava segurando o
guarda-chuva com a mão direita e com a esquerda fazia
uma seqüência de gestos pra trás e pro lado.
Estacionava ali um Ford KA 2000 cor vinho, zero
quilômetros, com uma mulher negra estilo patricinha ao
volante, óculos cobrindo os olhos e parte do rosto. Antes
de descer apoiou no asfalto molhado os dois pés
sustentados por uma sandália com salto Luiz xv que
deixava mais rígidas as batatas das pernas sedutoramente
torneadas,Roberto segurava a porta do carro, pasmo com a
beleza na sua frente.
Do interior do carro saiu um metro e setenta equilibrados
em pernas grossas e torneadas com um penteado a altura
da nuca, lábios carnudos e um batom cor de terra discreto
mas insinuante . O perfume deixou no ar um aroma de
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erva tirada da Mata Atlântica. Ajudando estacionar carros
e segurando a porta para madames, mulheres
perfumadas,vestidas como se fossem a uma festa, Bertão
já conseguia diferenciar um perfume do outro. Como o
Selvagem perfume feito na Amazônia produzido
manualmente pelos povos Ikaretê e utilizado pelas
madames nos mais reservados coitos, em motéis luxuosos
da cidade.
Impossível não perguntar o nome de tão linda e jovem
garota :
- Qual é o nome da princesa?!
- Sibele Cintian.
- Ummm!
Quando a moça entrou na loja,o flanela sentiu um peso em
sua costa e uma ponta gelada em sua nuca, ficou
pressionado contra o chão sobre os dois joelhos . O detido
inclinou um pouco a cabeça e pôde observar um38 cano
curto segurado por punhos delicados porém
rígidos.Percebeu que era uma prisão.
Para ele sem motivo. Mas uma prisão.
Deu uma olhadinha por entre as pernas da policial Patrícia
Camargo e ficou apreciando Sibele terminar de cruzar a
porta giratória e entrar na Jóia Rara Beleza.
O policial algemou suas mãos por trás da costa e forçando
o joelho direito nela, colocou Roberto em pé e encostado
na parede. Enquanto Rubens revistava o flanelinha com a
retaguarda armada da policial Camargo, a viatura 03 do
Departamento de Homicídios de Piracicaba estacionou na
rua D. Pedro I ao lado da loja de jóias e o flanelinha foi
colocado na parte de traz do carro.
No passado, Berto havia resistido muito a determinadas
prisões feita a mando do João comerciante. Lutava
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incansavelmente com os policiais que recebiam propina e
agrados para importuná-lo, mas quando derrubava um,
apareciam mais quatro,mais cinco e mais dez, seu fim era
sempre a tortura na última sala do corredor silencioso do1º
DP. Cansado de apanhar sem levar vantagem parou de
resistir à prisão.
Outros comerciantes, trabalhadores, trabalhadoras do
comércio além das mulheres perfumadas a quem ele
atendia com capricho,perceberam o tamanho da injustiça,
do abuso de poder da policia e do comerciante perseguidor
e intimaram –o a parar com as armações ou ele seria
denunciado.
Naquele sábado, as pessoas do comércio existente entre as
ruas Boa Morte e D. Pedro I assistiram extasiadas à prisão
do flanelinha. Todos perguntavam o que ele tinha a ver
com o crime da madrugada passada, afinal só podia se
tratar daquilo, porque o delegado Raul havia dado uma
entrevista no jornal televisivo da cidade afirmando que
tinha um suspeito de ser o assassino do jovem Leu
Custódio. A viatura saiu em alta velocidade com as sirenes
ligadas , desceu a Rua Ipiranga entrou na Rua Alferes José
Caetano e desceu a rua S. José em direção ao Primeiro
Distrito Policial. Entrando pela porta principal do distrito
Bertão já percebeu que a conversa não seria nada amigável
quando o investigador Rubens atingiu seu RIM com um
soco potente e uma imposição veemente dizendo:
– Vai confessar tudo, né?! Sem fazer a policia perder
tempo?!A única resposta foi um gemido estridente Ai!Ai!
que Bertão soltou com a força necessária para ser ouvido
por alguns cidadãos mas como em um desfiladeiro sua voz
ganhou força e depois foi se dissipando por entre os
corredores da delegacia. O gemido alto não surtiu efeito
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algum. O suspeito foi colocado próximo do delegado Raul
Mendes que começou perguntando :
-Nome ?
- José Roberto da Silva,respondeu o flanelinha.
- Idade?
- 28 anos tornou a responder assim como respondeu a
pergunta sobre onde morava, se era casado ou solteiro.
Mas as duas últimas respostas causaram espanto e risos do
delegado,do escrivão e dos investigadores. Perguntada sua
profissão ele respondeu que era flanelinha e perguntado
por que matou o jovem Leu Custódio, Betão assustado,
disse não ter matado ninguém. Após o riso irônico dos
policiais o suspeito recebeu um tapa na orelha esquerda. O
detido já prenunciava o que estava por vir.
Quem olhava para a linda Sibele Cintian Sousa Besário
logo pensava se tratar de mais uma filhinha mimada do
papai e da mamãe,ou então diria que ela era uma alpinista
social que conseguia tudo o que queria.
Aqueles que tiveram a primeira impressão acertaram. A
família Besário era só mimo para a menina que agora
havia se transformado em uma profissional competente.
Quem optou pela segunda hipótese errou feio. A discrição
profissional foi herdada dos pais, o operador de máquinas
Samuel Besário e a diarista Marlene Souza Besário. A
advogada cursou todas as séries da vida escolar na escola
pública.
A E.E.Profº Paulo Freire no bairro Campos periferia
situada na região leste da cidade. Apesar de ser uma escola
precária devido à falta de investimento pelo governo
estadual, os professores seguiam uma metodologia
humanista como pedagogia escolar, e além dos conteúdos
diários os alunos e alunas da escola que pretendiam fazer
o curso superior tinham aulas complementares gratuitas.
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Entre os duzentos estudantes da manhã, Sibele e mais
cinco alunos continuaram estudando o período integral.
Por ser de família simples a então aluna Besário dividiu
sua adolescência entre as aulas no período normal, aulas
complementares e a faxina na casa da família Cintra. Seu
Cintra como era chamado, na verdade foi registrado como
Maurílio Cintra Júnior nome herdado do pai o advogado
criminalista Maurílio Cintra. Foi trabalhando na casa dos
Cintra, inicialmente substituindo sua mãe como faxineira e
cozinheira que Sibele conheceu e tomou gosto pelo direito
penal.
Seu Maurílio um homem bem apessoado na faixa dos 58
anos, estatura médio-alta,cabelos grisalhos, percebeu a
curiosidade da faxineira que ficava horas parada no seu
escritório pendurada na vassoura observando seu trabalho.
Aquela situação deixava a esposa do advogado com a
pulga atrás da orelha, ela comentou que estava pensando
em dispensar a empregada que já então apresentava uma
beleza insinuante.
O advogado não entendeu porque, no entanto não
questionou a esposa. Bem perto de escurecer Sibele estava
olhando o sol avermelhado sumindo no horizonte quando
ouviu um chamado:
- Hei menina!Venha cá!.Quando virou para ver quem
estava chamando avistou dona Laura Cintra fazendo gesto
com a mão pedindo a ela que se aproximasse. Conforme a
empregada foi se aproximando a patroa disse:
– Eu e meu marido não vamos mais precisar dos seus
serviços. Vamos subir para acertar seu dia de trabalho e
depois você vem receber o restante. Naquele momento o
lindo horizonte vermelho do final da tarde foi substituído
por nuvens carregadas com raios em seu interior. Não
demoraram, as lágrimas desceram em grande quantidade...
A senhora Cintra sem entender nada, considerou as
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lágrimas um exagero. Pediu para Sibele enxugar o rosto
que não era pra tanto.
Quando estava pegando o dinheiro da mão da patroa a
moça perguntou:
-Dona Laura, eu fiz alguma coisa errada ?
A patroa respondeu:
– Olha menina você trabalha bem, mas eu não estou
gostando nada de vê-la plantada em pé no escritório do
meu marido. Inteligente que era, Sibele logo percebeu a
situação.
Dona Laura uma senhora muito bonita e distinta no auge
dos seus 60 anos estava tendo uma crise de ciúmes. Para
contornar a situação Sibele tratou de explicar a situação :
– Dona Laura eu fico parada no escritório do seu Cintra
observando como ele trabalha. Já estou terminando o
ensino médio e já decidi que vou prestar vestibular pro
curso de direito,então fico prestando atenção no seu
Maurílio trabalhar para ver se é isso que realmente quero.
Com um olhar surpreso e sensibilizado a patroa disse
emocionada com os olhos lacrimejando :
– Há menina! Eu vi você crescer correndo dentro desta
casa, ocupando os espaços da filha que eu e o velho não
tivemos.
Nós gostamos muito de você e da sua família. O Cintra vai
ficar muito feliz em saber que vai ter alguém para honrar o
seu legado.
Mas como eu disse amanhã nós não precisamos mais dos
seus serviços de doméstica, Sibele tentou argumentar –
Mas dona Laura ..., no mesmo instante a patroa completou
: – A partir de amanhã sua função nesta casa vai ser a de
secretária. A jovem soltou um grito de alegria e abraçou
dona Laura como ela abraçava sua mãe todos os dias de
manhã, juntamente com seu pai, quando eles saíam para
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trabalhar. Quando seu Cintra foi avisado ele concordou
sem pestanejar e sentiu a mesma alegria que dona Laura.
Naquele momento eles recordaram juntos, da filha que
perderam no parto e das várias outras tentativas de
gravidez em vão, testemunhada e confortada pelas
palavras de dona Marlene Souza Besário a mãe de Sibele.
Quando todos assustaram já haviam passados dez anos,
seu Maurílio estava com 68 anos , Laura com 70 mas
ambos ainda desfrutavam de uma saúde invejável. A
doutora advogada Sibele Cintian Besário era solicitada
para prestar serviços jurídicos na área criminal,cível e
trabalhista, atuando com energia e disposição para vencer
os casos que defendia. Como advogada, hora estava do
lado dos poderosos da cidade noutra estava do lado do
restante da sociedade piracicabana.
Muitas vezes eram pessoas pobres que por ficarem
desempregadas corriam o risco de perder a casa
financiada, hora eram traficantes presos em
flagrante,mulheres espancadas e ameaçadas pelos
respectivos maridos,mães que precisavam tirar seu filho
jovem da cadeia, trabalhadores que eram explorados pelo
patrão e depois despedidos sem justa causa.
No entanto o último caso defendido pela advogada
rendeu-lhe prestigio na cidade e no Estado de São Paulo.
Ela ganhou na Justiça em última instância o direito da
Usina Ouro Branco explorar a produção e a
comercialização do Etanol juntamente com outras grandes
usinas nacionais de grande porte que tinham conseguido o
direito de monopolizar a produção em 2000 através do
projeto de lei votado na Assembléia Legislativa de São
Paulo. Desde então o caso vinha sendo defendido pelo
advogado Maurílio Cintra que passou a procuração para
sua assistente Sibele Cintian, aposentando-se da profissão.
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Naquele sábado chuvoso de 2011 a linda jovem advogada
estava afim de ficar mais linda ainda. A Jóia Rara Beleza
além de jóias caras e cobiçadas de estilistas famosos como
Neverbian Dantas, Morrise Lapejan e outros, oferecia um
salão de beleza completo com os serviços do estilista de
cabelos mais famoso da cidade e região, o egocêntrico
porém eficiente Coltram e da esteticista não menos
solicitada Sofia. Depois de duas horas dentro da loja, após
muita fofoca porque ela não era de ferro, a advogada saiu
com o penteado e a maquiagem usada pela Top-Model
número um no ranking das modelos internacionais, para
completar sua beleza comprou um colar de ouro enfeitado
por pequenas pedras de ametistas. Apesar da chuva o dia
para Sibele Cintian estava perfeito e para melhorar faltava
a triunfante volta ao carro onde com certeza sua beleza
seria novamente elogiada por aquele cavaleiro, mesmo
sendo ele um simples flanelinha.
Parecendo ouvir uma música tocada num saxofone ela
flutuava no ar, fazendo seus pés relar minimamente no
chão, o ventinho deixado pela chuva comandava
delicadamente o balanço do seu cabelo que ainda
continuava na altura da nuca que agora apresentava
discretamente o desenho de um cisne tatuado no pescoço
fino e delicado. Quando Sibele Cintian virou a esquina da
loja o sorriso até então expresso no seu rosto deu lugar a
uma feição de contrariada ao observar que seu mais novo
admirador não estava esperando para segurar a porta
novamente.
A moça fez um beicinho de decepção entrou no carro
colocou o cinto de segurança, ligou o som e seguiu em
direção ao condomínio Terras dos Sonhos um conforto
conquistado após bons serviços prestados a seus clientes
ricos .
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A Mansão
Sua residência era uma das que chamava mais a atenção
de quem passava pelo lado de fora dos muros do
residencial.A frente da casa era decorada com pilares
estilo romano clássico e o abrigo foi construído em forma
de pirâmide sendo que por detrás mas ligado a ele subia
um sobrado com as dimensões de um casarão colonial
comportando janelas largas de madeiras envernizadas. O
acesso ao interior da casa dava-se através de uma porta
rolante de vidro esverdeado preso em madeiras de
primeira qualidade também envernizadas.Na porta o
visitante encontrava um tapete persa com o dizer Bem
Vindo escrito em letras grandes e uma sala digna de filmes
hollywoodianos, além de quadros de artistas europeus e
brasileiros fixados nas paredes parecendo ter nascidos
junto com a mansão azul. Para andar pela casa era preciso
tempo e para sair dela era preciso muita força de vontade,
de tão linda e confortável os pés dos visitantes pareciam
grudar no chão.
O fundo da residência parecia uma ilha com cascatas e
coqueiros artificiais mas em plena harmonia com o
ambiente, a piscina tinha o fundo decorado com desenhos
de sereias pintadas em cores que davam um tom azulado
para a água.
Um mini bar com balcão de mármore italiano e assentos
giratórios completavam o espaço onde estava situada a
churrasqueira e o freezer abarrotado de champanhe de
primeira linha, cervejas, frutas e outros tipos de
comestíveis, além de refrigerantes.
A mansão era habitada por Sibele, seus pais e a fiel
escudeira dona Adelaide, uma senhora de 63 anos que
cuidou da advogada quando esta ainda era menina.
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Quando dona Marlene trabalhava duro na casa dos
Cintras e seu Samuel trabalhava na fábrica de tecidos Seda
Fina. Adê era uma mulher jovem de vinte e nove anos que
tinha acabado de chegar em Piracicaba após ter saído de
Minas Gerais,mas especificamente de São João da Ponte.
Ela saiu do interior daquele Estado junto com uma filha
pequena e com o marido em busca de trabalho e
tratamento médico. Com o tempo o marido adoeceu e
acabou falecendo.
A filha casou e foi morar no Rio de Janeiro, elas
mantinham contato através de telefonemas e reencontros
nas festas de final do ano quando a filha e os netos de
dona Adelaide juntamente com o genro vinham passar o
natal e o ano novo com ela.
Essa rotina foi seguida durante cinco anos até que em um
domingo a policia carioca invadiu o morro do Aterro a
procura de traficantes e na troca de tiros acabou atingindo-
os. A partir daquele momento de grande sofrimento dona
Adelaide sentiu-se sozinha no mundo chegando tentar um
suicídio que foi impedido pela senhora Besário, Adê foi
morar em três cômodos no fundo da casa daqueles que
agora eram e seria até a morte a sua única família.
Na noite do sábado de 11 de Março de 2011 a Mansão
Azul estava repleta de convidados, pessoas influentes da
área jurídica, alguns empresários e parentes de Sibele. Era
seu aniversário mas como exigia sua vaidade feminina não
havia a tradicional velinha para ser apagada pois esta
denunciaria quantas primaveras a advogada estava
comemorando. A reunião andava no ritmo adequado para
a maioria dos convidados, uma banda de jazz tocava em
cima de um palco erguido para a festa, garçons e
garçonetes serviam nas mesas decoradas com toalhas de
seda fina em tom azulado e verde. Para gerenciar o
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trabalho a advogada mais famosa do momento contratou
uma empresa especializada e se dedicou somente em
mostrar sua beleza realçada por uma hora na banheira
cheia de pétalas de rosa e um perfume especial de grife
francesa.
O último passo para tornar-se a mulher mais linda da festa
foi colocar em seu pescoço o colar de ouro decorado com
ametistas. Nesse momento ela pensou pela primeira vez
naquele homem abrindo a porta do carro perguntando seu
nome.
Após um breve delírio Sibele Cintian desceu a escada da
sua mansão até o último degrau onde seu pai lhe estendeu
a mão e a acompanhou até o local da festa com os braços
intercalados no dela. No caminho ele lembrava do quanto
ela lutou por aquele momento. Como qualquer filha
consciente da importância que a família teve em sua vida a
advogada sorriu dizendo que eles tinham grande parte da
culpa por aquele sonho estar sendo realizado.
Depois da entrada triunfal a aniversariante sentou-se com
sua família e os primos mais próximos, num determinado
momento o senhor Cintra chamou a advogada para
apresentá-la a um convidado de peso. Durante o
andamento do processo instaurado pela Usina Ouro
Branco a advogada Sibele Cintian Besário conheceu
através do corpo jurídico alguns acionistas majoritários,
no entanto o encontro que ela ia ter era com o herdeiro do
fundador da Corporação, doutor Sebastião Custódio que
havia falecido há três meses com 90 anos de idade. O
herdeiro era Thomas Custodio.
O senhor Maurílio Cintra encarregou-se da apresentação
dizendo:
- Seu Thomas essa é Sibele Cintian a grande advogada de
quem lhe falei. O homem aparentava ter mais ou menos
1,50metros de altura e aproximadamente 40K, era bem