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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU CENTRO DE CINCIAS SOCIAIS APLICADAS PROGRAMA DE PS GRADUAO EM ADMINISTRAO

ANLISE DAS MOTIVAES, DO POTENCIAL EMPREENDEDOR E O INTRAEMPREENDEDORISMO NA REDE FEMININA DE COMBATE AO CNCER DE SANTA CATARINA

JAISON ADEMIR SEVEGNANI

BLUMENAU 2010

JAISON ADEMIR SEVEGNANI

ANLISE DAS MOTIVAES, DO POTENCIAL EMPREENDEDOR DAS PRESIDENTES E O INTRAEMPREENDEDORISMO NA REDE FEMININA DE COMBATE AO CNCER DE SANTA CATARINA

Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Administrao do Centro de Cincias Sociais Aplicadas, do Centro de Cincias Sociais Aplicadas, da Fundao Universidade Regional de Blumenau, como requisito parcial para a obteno do grau de Mestre em Administrao. Profa. Dra. Marianne Hoeltgebaum Orientadora

BLUMENAU 2010

ANLISE DAS MOTIVAES, DO POTENCIAL EMPREENDEDOR DAS PRESIDENTES E O INTRAEMPREENDEDORISMO NA REDE FEMININA DE COMBATE AO CNCER DE SANTA CATARINA

POR JAISON ADEMIR SEVEGNANI

Dissertao de Mestrado aprovada para obteno do grau de Mestre em Administrao, pela Banca examinadora formada por:

Presidente: Membro: Membro: Membro:

________________________________________________ Prof. Dra. Marianne Hoeltgebaum orientadora, FURB ________________________________________________ Prof. Dra. Denise Del Pra Netto Machado, FURB ________________________________________________ Prof. Dra. Maria Jos Barbosa de Souza, UNIVALI ________________________________________________ Prof. Dra. Marialva Tomio Dreher, FURB

_________________________________________ Coordenadora do PPGAD: Prof. Dra. Maria Jos Domingues, FURB

BLUMENAU,04 DE MARO DE 2010.

Dedico este trabalho minha famlia e a meus antepassados que foram professores.

AGRADECIMENTOS

Agradeo em primeiro lugar a Deus que iluminou meus caminhos e me deu muita fora para que chegasse at aqui. A meus pais que sempre acreditaram em mim, sendo meus eternos incentivadores, privando-se muitas vezes, de seus desejos em favor dos meus. minha esposa Sheila pela compreenso e apoio nos estudos e nos momentos em que fiquei ausente. Aos meus amigos do PPGAD-FURB, eternas prolas, as secretrias e a todos demais amigos pessoais que com energia e alegria sempre me apoiaram. A todos amigos das instituies na qual trabalho e trabalhei como professor, em especial, CEAVI/UDESC e SENAC de Blumenau. minha orientadora Dra. Marianne Hoeltgebaum, que abraou a idia e acreditou em mim tornando possvel a realizao deste sonho. professora Denise Del Pra Netto Machado, que como uma me sempre me ouviu e ajudou, demonstrando que a vida vai alm dos livros. Aos demais professores pelo apoio aos desafios propostos. todas as damas de rosa da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina por sua dedicao e paixo de empreender em favor da vida do prximo.

RESUMO

As sociedades atualmente esto passando por grandes mudanas e um dos setores que est ganhando grande importncia e destaque nas mesmas so as organizaes do terceiro setor, devido a seus resultados frente a seus enormes desafios, evidenciando-se a pessoa do empreendedor e sua administrao. Diante do exposto, esta pesquisa norteou os seguintes aspectos; identificar quais as motivaes, qual o potencial empreendedor das presidentes da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina mensurando tambm o nvel de intraempreendedorismo na rede na percepo das mesmas. Para o alcance do que fora proposto, a populao para este estudo foi composta por 58 presidentes da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina; porm as presidentes que atenderam positivamente as questes e compuseram a amostra da pesquisa composta de 51 (cinqenta e uma) presidentes. A pesquisa foi dividida em quatro etapas: foi adotado um questionrio, onde foram transcritas informaes sobre a caracterizao do entrevistado e do empreendimento. Na segunda etapa, investigou-se a motivao empreendedora de acordo com o modelo de mensurao desenvolvido por Kuratko, Hornsby, Naffiger (1997). Na terceira etapa, utilizou-se um modelo para mensurar o potencial empreendedor das presidentes de acordo com o modelo de Carland, Carland e Hoy (1992). Na quarta etapa para a identificao do nvel do intraempreendedorismo por meio do instrumento que foi desenvolvido por Goosen, Coning e Smit (2002). Os dados obtidos por meio dos instrumentos foram organizados e tabulados no software LHStat com a aplicao de estatstica descritiva e multivariada (mapas fatoriais, correlaes e rvore de deciso). Conclui-se que, para que a organizao possa crescer frente a seus desafios faz-se necessrio ter gestoras com esprito empreendedor desenvolvido e com intraempreendedorismo evidenciado em sua estrutura. Por meio dos resultados obtidos foi possvel verificar que os motivos que levam as presidentes a empreender na organizao so principalmente motivadores intrnsecos, que so relacionados diretamente ao sua satisfao pessoal e a enfrentar desafios. Quanto ao potencial empreendedor foi identificado como potencial meso-empreendedor na mdia geral da rede. Quanto ao nvel de intraempreendedorismo foi possvel identificar um nvel mdio de intraempreendedorismo na mdia geral, sendo que a regio do vale do Itaja teve a maior mdia. Outra constatao foi que quanto maior o nvel de intraempreendedorismo dentro das regies da rede, menor foi o potencial encontrado nas presidentes das mesmas. Palavraschave: Motivao Intraempreendedorismo. empreendedora. Potencial empreendedor.

ABSTRACT The companies are currently going through major changes and a sector that is gaining great importance and these are highlighted in the third sector organizations, due to its record against its enormous challenges, demonstrating the person of the entrepreneur and his administration. In this light, this research has guided the following, identify the motivations, which the entrepreneurial potential of the Presidents of the Network of Women Against Cancer Santa Catarina also measuring the level of intraempreendedorismo network in the perception of them. For the scope of what was proposed in this study population was composed of 58 presidents of the Women's Network for Cancer Control in Santa Catarina, but the president responded positively to the issues and comprised the study sample comprised 51 (fifty-one ) presidents. The research was divided into four stages: a questionnaire was used, which were transcribed information on the characterization of the interviewee and the enterprise. In the second step, we investigated the entrepreneurial motivation in accordance with the measurement model developed by Kuratko, Hornsby, Naffiger (1997). In the third step, we used a model to measure the entrepreneurial potential of the presidents according to the model of Carland, Carland and Hoy (1992). In the fourth step to identify the level of intraempreendedorismo through the instrument developed by Goosen, Coning and Smit (2002). The data obtained using the instruments were organized and displayed in the software LHStat "with the application of descriptive statistics and multivariate (maps factor, correlation and decision tree). We conclude that, for the organization to grow in the face of its challenges it is necessary to have managers with an entrepreneurial spirit developed and intraempreendedorismo evidenced in its structure. Through the results was possible that the reasons why the presidents to be taken in the organization are primarily intrinsic motivators, which are directly related to personal satisfaction and challenges. The entrepreneurial potential has been identified as potential average-enterpriser in the average overall network. The level intraempreendedorismo was possible to identify an average intraempreendedorismo general average, and the valley of Itaja had the highest average. It also found that the higher the level of intraempreendedorismo within regions of the network, the lower the potential found in the Presidents them. Keywords: Entrepreneurial Motivation. Global Entrepreneurship. Intrapreneurship.

LISTA DE FIGURAS Figura 01 Figura 02 Figura 03 Figura 04 Figura 05 Figura 06 Figura 07 Figura 08 Figura 09 Figura 10 Figura 11 Figura 12 Figura 13 Porcentagem da amostra por regio ...................................................... Idade das presidentes....... ..................................................................... Nvel de instruo das presidentes......................................................... Estado civil das presidentes................................................................... Quantidade de presidentes que possuem filhos..................................... Tempo de voluntariado das presidentes na rede.................................... Quantidade de presidentes que j tiveram algum tipo de cncer........... Quantidade de presidentes que j tiveram algum tipo de cncer na famlia.................................................................................................... Quantidade das presidentes que possuem outra ocupao.................... Mdias das motivaes por regio........................................................ Mapa fatorial das 4 motivaes entre as 5 regies................................ Mdia geral e por regio do potencial empreendedor das presidentes.. Pontuao mdia individual por regio e geral das questes de mensurao do potencial empreendedor................................................ Pontuao mdia individual por regio das questes de mensurao do nvel de intraempreendedorismo....................................................... rvore de deciso da relao entre as variveis.................................... Mapa fatorial das relaes entre as variveis da motivao, potencial empreendedor e intraempreendedorismo............................................... 60 61 62 62 63 64 64 65 65 69 70 71 72 75 85 86

Figura 14 Figura 15 Figura 16 -

LISTA DE TABELAS Tabela 01 Tabela 02 Tabela 03 Tabela 04 Tabela 05 Tabela 06 Nmero de voluntrios na rede.............................................................. Mdias das motivaes ........................................... Mdias, medianas e moda por regio das motivaes........................... Correlaes entre as motivaes .......................................................... Mdia do nvel de intraempreendedorrismo geral e por regio............. Resultado geral e por regio das mdias das questes do nvel do intraempreendedorismo ........................................................................ Correlaes entre as variveis de motivao, potencial empreendedor e intraempreendedorismo....................................................................... 60 61 63 66 69 70 82

Tabela 07 -

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Quadro 02 Quadro 03 Quadro 04 Quadro 05 Quadro 06 Quadro 07 -

Necessidades dos empreendedores conforme McClelland.................... Necessidades dos empreendedores conforme Birley e Westhead......... Necessidades dos empreendedores conforme Kuratko, Hornsby e Naffziger ............................................................................................... Caractersticas e atributos do potencial empreendedor conforme Carland .................................................................................................. Elementos do intraempreendedorismo ................................................. Fatores que favorecem o crescimento do Terceiro Setor....................... Definio estrutural-operacional que caracteriza o Terceiro Setor ......

24 25 25 31 35 42 43

LISTA DE SIGLAS CD- ROM - compact disc read only memory CEI Carland Entrepreurship Index ESFL Entidades Sem Fins Lucrativos FURB- Fundao Universidade Regional de Blumenau LHSTAT- Software Estatstico ONG Organizao No Governamental ONGs- Organizaes No Governamentais SEBRAE - Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas SOFTEX - Sociedade Brasileira para Exportao de Softwares RFCC - Rede Feminina de Combate ao Cncer RFCCSC Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina RFCCnacional - Rede Feminina de Combate ao Cncer Nacional TS- Terceiro Setor

SUMRIO

1 1.1 1.2 1.3 1.3.1 1.3.2 1.4 1.5 2 2.1 2.2 2.3 2.4 2.4.1 2.4.2 2.4.3 2.5 2.5.1 2.6 3 3.1 3.2 3.3 3.4 3.5 4 4.1 4.2 4.3 4.4 4.4.1 4.4.2 4.4.3 4.4.4 4.4.5 4.4.6 4.4.7 4.4.8 4.4.9 4.4.10

INTRODUO.................................................................................... PROBLEMA DE PEQUISA..................... ........................................... QUESTO DE PESQUISA.................................................................. OBJETIVOS............................... .......................................................... Geral........................................................................................................ Especfico............................................................................................... JUSTIFICATIVA PARA O TEMA ...................................................... ESTRUTURA........................................................................................ REVISO DA LITERATURA.. ......................................................... EMPREENDEDORISMO..................................................................... MOTIVAES EMPREENDEDORAS............................................... POTENCIAL EMPREENDEDOR........................................................ INTRAEMPREENDEDORISMO......................................................... Inovao................................................................................................. Proatividade............................................................................................ Influncia da interna administrao........................................................ TERCEIRO SETOR............................................................................... Organizaes no governamentais.......................................................... MOTIVAO, POTENCIAL EMPREENDEDOR E O INTRAEMPREENDEDORISMO NO TERCEIRO SETOR................. MTODO DE PESQUISA................................................................... POPULAO E AMOSTRA................................................................ CARACTERIZAO DO AMBIENTE DA PESQUISA.................... EMPREENDEDORISMO..................................................................... PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANLISE DE DADOS........... LIMITAES DA PESQUISA............................................................. ANLISE DOS RESULTADOS ........................................................ PERFIL DA AMOSTRA........................................................................ MOTIVAES EMPREENDEDORAS................................................ POTENCIAL EMPREENDEDOR ......................................................... INTRAEMPREENDEDORIMO.............................................................. Quanto ao lanamento de novos produtos e servios............................... Quanto intensidade das mudanas nos produtos e servios.................. A administrao da organizao da nfase pesquisa e desenvolvimento e a inovaes................................................................ Quanto a postura da organizao como competidora e pioneirismo........ Quanto a postura adotada ao agir contra aos competidores..................... Quanto postura da organizao ao assumir riscos relacionados a projetos..................................................................................................... Quanto ao comportamento da organizao ao explorar oportunidades.... Quanto a postura da organizao ao confrontar incertezas...................... Se atividades empreendedoras so inclusas nas metas da organizao.... Quanto a existncia de sistemas que desenvolvem a inovao na organizao...............................................................................................

14 16 17 17 17 18 18 19 20 20 22 27 32 36 38 38 40 44 45 50 50 51 53 57 58 60 60 67 71 75 76 77 77 78 78 79 79 79 80 80

4.4.11 4.4.12 4.4.13 4.4.14 4.4.15 4.4.16 4.4.17 4.4.18 4.5 4.5.1 4.5.2 5 5.1

Na organizao a inovao recompensada............................................ Se a organizao faz reservas para o desenvolvimento de novas idias e projetos..................................................................................................... As equipes e grupos de trabalho comunicam-se bem nesta organizao. A alta administrao aceita sugestes dos trabalhadores......................... Se h uma liberdade (autonomia) para que os trabalhadores................... Os trabalhadores so incentivados a resolverem problemas criativamente............................................................................................ A alta administrao suporta projetos e novas idias............................... Nesta organizao os trabalhadores tm poder de deciso....................... RELAES ENTRE AS VARIVEIS .................................................. rvore de deciso..................................................................................... Mapa fatorial das relaes entre as variveis........................................... CONCLUSES...................................................................................... RECOMENDAES PARA TRABALHOS FUTUROS....................... REFERNCIAS..................................................................................... ANEXOS................................................................................................. APNDICES.............................................................................................

81 81 82 82 83 83 17 18 85 85 86 88 91 92104 112

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INTRODUO As sociedades atualmente esto passando por grandes mudanas e um dos setores que est

ganhando grande importncia e destaque nas mesmas so as organizaes do terceiro setor, devido aos desafios por elas enfrentados e vencidos. O autor Peter Drucker (1997) foi o grande precursor e expoente do campo de estudos da administrao moderna que inicialmente evidenciou a importncia da administrao no terceiro setor, defendendo estas organizaes como sendo as mais bem administradas, citando instituies americanas como, por exemplo, os escoteiros. Entretanto, ele morreu em 2005, deixando uma lacuna nesta rea de estudo. As organizaes do terceiro setor surgem por meio da iniciativa de pessoas ou grupos como forma de realizar atividades de interesse social, buscando gerar valores por meio de aes em parceria com o poder pblico, como forma de atender a deficincias no solucionadas por ele. Esta iniciativa no encontrada somente ao se criar a organizao, mas sim permanece como um aspecto que permeia todas suas atividades. Os gestores e colaboradores da organizao so voluntrios e seus funcionrios, quando existem, por muitas vezes faz horas extras sem ganhar nada a mais, seus financiadores, entre eles o governo doam dinheiro exatamente para a realizao desta misso. Por muito tempo as organizaes do terceiro setor no reconheciam a gesto como uma ferramenta para a realizao de suas atividades, o termo gerenciar no era aceito, era considerado um palavro nas organizaes sem fins lucrativos. A necessidade de gerncia significava negcios e lucros e as organizaes do terceiro setor no eram empresas, na sua maioria seus gestores acreditavam que no necessitavam de gerncia, pois no tinham o lucro como resultado esperado. O crescimento tanto no tamanho, como na complexidade, quanto na importncia destas organizaes dentro da sociedade mudaram essa viso, como o caso das Organizaes No Governamentais (ONGs), onde a sua gesto exige ser bem administrada e ser transparente para obter os benefcios de parcerias com o governo e reconhecimento da sociedade. Exigindo-se dessas organizaes uma gesto eficaz de seus recursos e um controle efetivo de suas atividades.

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Neste contexto o empreendedorismo surge em meio a esse novo modelo de organizao, como um importante impulsionador e um agente de mudanas inovadoras, focando o bem estar social como resultado de suas aes e realizaes. Desta forma os indivduos passam a contribuir e tambm a se voluntariar em prol destas organizaes, por motivaes diversas. Assim, a motivao impulsiona os mesmos ao encontro de seus objetivos, quaisquer que sejam, entretanto a motivao para empreender, no so as mesmas para cada pessoa, inmeras variveis fazem a diferena, como as suas caractersticas, o seu perfil e as suas necessidades. As pessoas so diferentes na iniciativa pessoal, na sua capacidade de gerenciamento, no seu desejo por autonomia e na disposio para assumir riscos. Estas diferenas influenciam na sua busca por novos desafios e tratando-se em gerir organizaes, ficam diretamente relacionadas suas escolhas e decises tomadas. Esta motivao pode estar relacionada com as suas caractersticas empreendedoras e o seu potencial empreendedor. Pesquisas afirmam que as suas atitudes, habilidades interpessoais e seu processo de cognio pessoal podem ser desenvolvidos durante a vida, ou seja, seu potencial empreendedor pode ser incentivado a qualquer tempo ou circunstncia nas pessoas. Por tanto se defende que todos os indivduos podem ser empreendedoras, ms, possuem tendncias empreendedoras que variam em sua intensidade. Entretanto, para que uma organizao se desenvolva, no basta apenas motivao das pessoas e suas potencialidades empreendedoras, caso no exista um ambiente que promova estas caractersticas e permita a sua disseminao em toda estrutura. Neste cenrio, dentro das organizaes o intraempreendedorismo uma alternativa para os indivduos com potencial para empreender, mas que preferem, em vez de iniciar seu prprio negcio, empreender dentro da empresa ou organizao onde trabalham. O intraempreendedorismo uma possibilidade para as pessoas, com esprito

empreendedor, que trabalham em organizaes ou empresas, desenvolverem inovaes e atuarem em benefcio de sua empregadora e ainda indo de encontro a sua realizao pessoal e profissional ao mesmo tempo. Neste contexto, torna-se importante identificar as motivaes e as potencialidades

empreendedoras das presidentes da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina, assim como verificar mais profundamente o nvel de intraempreendedorismo na Rede Feminina

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de Combate ao Cncer de Santa Catarina. Esta discusso terica enfatizar o papel das gestoras nesta organizao, contudo numa abordagem gerencial sem focar a problemtica de gnero. As organizaes do terceiro setor, podem dar bons exemplos de gesto para organizaes com fins lucrativos, em razo da determinao de seus gestores e colaboradores em virtude da sua fora de vontade em tornar suas organizaes sustentveis e em favor de deficincias onde o setor pblico no atua de maneira eficiente. Ressalta-se assim, a importncia do estudo, que analisou a Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina, que iniciou suas atividades em 1961, como uma entidade sem fins lucrativos e com o objetivo inicial de atender, por meio de um grupo de voluntrias, os doentes dos hospitais da cidade de Florianpolis. Desde ento, vem crescendo e se expandindo por todo estado catarinense, a Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina conta ainda com o ttulo de utilidade pblica. Desta forma a Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina vem prestando um relevante trabalho, demonstrando a sociedade e ao poder pblico a importncia da preveno do cncer, principalmente do colo de tero e de mama, promovendo ainda apoio psicolgico, palestras e campanhas de preveno.

1.1

PROBLEMA DE PESQUISA As organizaes do terceiro setor podem ser consideradas as organizaes mais bem

administradas no mundo (DRUCKER, 1997), entretanto sofrem imensas dificuldades por causa de suas caractersticas, j que no fazem reservas de capital e contam na sua maioria com colaboradores voluntrios (CANTON 2002; DAVID, 2004; MATTIELLO 2008). Ressalta-se que nestas organizaes seus dirigentes normalmente no recebem recompensas financeiras e precisam ter habilidades de gesto e motivaes ainda maiores que outros tipos de organizaes. Entretanto ainda existem poucas pesquisas estudando as mesmas (DRUCKER, 1997; HUDSON, 1999; PRINGLE; THOMPSON, 2000; TACHIZAWA, 2002; DAVID, 2004; MATTIELLO, 2008). Sendo escassas ainda as pesquisas que tratam da realidade das ONGs, em especfico quanto a estudos relacionados aos seus dirigentes, suas motivaes, suas potencialidades como empreendedores e a percepo dos mesmos quanto ao desenvolvimento do intraempreendedorismo em seu meio.

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1.2

QUESTO DE PESQUISA Ressalta-se que no Brasil no foi encontrado em monografias, dissertaes, teses, artigos,

livros ou em quaisquer materiais de divulgao de estudos especficos, temas relacionados as motivaes, o potencial empreendedor das presidentes da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina e o nvel do intraempreendedorismo neste meio. Portanto perguntam-se, quais so as motivaes, qual o potencial empreendedor das presidentes e qual o nvel de intraempreendedorismo na Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina? Desta forma, as questes de pesquisa deste estudo foram: - Quais so as motivaes empreendedoras das presidentes em atuar na Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina? - Qual o potencial empreendedor das presidentes da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina? - Qual o nvel do intraempreendedorismo percebido pelas presidentes da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina? Com base nestes trs questionamentos, apresentam-se os objetivos da pesquisa.

1.3

OBJETIVOS A seguir enunciam-se o objetivo geral e objetivos especficos de pesquisa.

1.3.1

Geral

Analisar quais as motivaes, qual o potencial empreendedor das presidentes e qual o nvel de intraempreendedorismo da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina?

1.3.2

Especficos

a) identificar as motivaes empreendedoras das presidentes da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina; b) identificar o potencial empreendedor das presidentes da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina;

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c) identificar o nvel intraempreendedorismo segundo a percepo das presidentes da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina.

1.4

JUSTIFICATIVA PARA ESTUDO DO TEMA Esta pesquisa torna-se relevante na medida em que pretende contribuir para a produo de

conhecimento sobre gnero no aporte do empreendedorismo, outra, talvez a principal razo para o estudo, deve-se ao fato de divulgar a importncia da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina para sociedade, por sua tradio e reconhecimento por seus trabalhos em todo estado catarinense. Para a organizao pesquisada, a mesma poderia ser melhor gestionada com um maior conhecimento sobre suas presidentes fazendo assim ainda um diagnostico individual quanto s motivaes e potencialidades e da organizao, sobre a tica de se conhecer exemplos de outras regies. A sociedade ganha quando organizaes do terceiro setor so bem administradas e desenvolvidas alcanando assim seus objetivos de forma eficiente. Entretanto, faltam nmeros a respeito do seu universo, principalmente necessidades e experincias, assim como o que motiva as pessoas a empreenderem por meio dela, qual seu potencial empreendedor e qual o nvel de intraempreendedorismo em seu meio. Para o nosso grupo de Pesquisa em Empreendedorismo, Inovao e Competitividade, dando continuidade a estudos anteriores dentro da mesma linha, citando-se Debastiani (2003); Faito (2005); Mazzotti (2008), entretanto em outros setores da economia. Para a academia o estudo de grande relevncia, pois so inexistentes as pesquisas sobre as presidentes da Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina, em especfico quanto as suas motivaes e potencialidades empreendedoras e ainda sobre a evidenciao do intraempreendedorismo na Rede.

1.5

ESTRUTURA DO TRABALHO A dissertao foi estruturada de forma a conceituar os tpicos principais, referenciando

sua contribuio para todo o desenvolvimento do trabalho. Servindo como base, para a soluo do problema da pesquisa.

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No captulo 1, foram apresentados o tema e o problema, a justificativa da pesquisa e o objetivo geral e especfico a serem alcanados e ainda a prpria estrutura do projeto de pesquisa. A reviso da literatura foi descrita no captulo 2, onde foi apresentada a literatura acerca do empreendedorismo, de motivaes empreendedoras, do potencial empreendedor, do intraempreendedorismo, do terceiro setor, e de todas variveis relacionadas entre si, que fundamenta e d suporte ao assunto em estudo; O terceiro captulo contm o delineamento metodolgico desta pesquisa. Constam nessa etapa a definio da pesquisa, o mtodo, a populao e a amostra do estudo, e os procedimentos de coleta e de anlise dos dados. No captulo 4, foram apresentados os resultados da pesquisa e as anlises das motivaes, do potencial empreendedor das presidentes e o nvel de intraempreendedorismo na Rede Feminina de Combate ao Cncer de Santa Catarina. O captulo 5 apresenta- se a concluso, uma sntese dos argumentos usados, detalhando cada um dos objetivos e como foram alcanados dentro do contexto da dissertao.

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2

REVISO DE LITERATURA Neste captulo foram discutidos e descritos alguns conceitos que norteiam o tema em

estudo para que seja possvel o alcance dos objetivos da pesquisa e as respostas ao problema formulado. A reviso de literatura est composta de subttulos, sendo que a primeiro descreve sobre empreendedorismo, a segundo sobre as motivaes empreendedoras, a terceira as potencialidades empreendedoras, a quarta sobre o intraempreendedorismo, a quinta sobre o terceiro setor, focando as ONGs e por ltimo fala-se da relao das motivaes, potencialidades e do

intraempreendedorismo no terceiro setor.

2.1

EMPREENDEDORISMO

O estudo do empreendedorismo um campo relativamente novo, para Filion e Dolabela (2000) pode existir uma espcie de euforia em torno do empreendedorismo, no se trata, de uma moda, mas de uma evoluo e de uma transformao profunda de conceber o ser humano, evidenciando o homo entrepreneurius. O empreendedorismo envolve qualquer forma de inovao que tenha uma relao com a prosperidade da empresa. Um empreendedor tanto pode ser uma pessoa que inicie sua prpria empresa, como algum comprometido com a inovao em empresas j constitudas (SCHUMPETER, 1982). Historicamente o empreendedor (entrepreneur) foi identificado pelos economistas na Frana, eram as pessoas que no contexto da poca pesquisavam as organizaes, e empregaram o termo como um elemento compreenso do desenvolvimento econmico. Dentre eles, identificase Cantillon, um banqueiro, em busca de oportunidades de negcios, preocupado com o correto gerenciamento de negcios e a obteno de rendimentos otimizados em detrimento ao capital investido. Outro expoente foi o economista Say, considerado como pai do empreendedorismo (FILION, 1999). Atualmente o empreendedorismo consiste em criar ou renovar um sistema organizacional que freqentemente inclui a oferta de um bem ou de um servio e ser completado por um conjunto de papis conexos que permitem ao sistema de empreendimento existir e se

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desenvolver, dentre estes, os papis administrativos e estratgicos ocupam um lugar de primeira ordem (FILION; LIMA, 2009). Vrios aspectos costumam ser relacionados a esta tendncia: a busca por realizao, liberdade de expresso, autonomia de trabalho; a ausncia de protecionismo, satisfao pessoal; inovao e desenvolvimento econmico por meio da gerao de novas solues; criao de redes de pequenas empresas; capacidade de transformar idias em realidade; liberdade de escolha; a vontade de trilhar seu prprio caminho; buscar estratgias, de proporcionar desenvolvimento econmico, atitude e foco, entre outros. (PINCHOT; PELMANN 2004; DORNELAS, 2008; HISRICH e PETERS, 2009; FILION e LIMA, 2009; WADHWA et al, 2009). Ao revisar a literatura sobre o empreendedorismo, Kornijezuk (2004) concluiu que mais de 50% dos autores revisados citavam a inovao, a busca de oportunidades, a criatividade e a propenso a correr riscos como caractersticas tpicas do perfil empreendedor, num total de quarenta e nove possveis caractersticas identificadas, revelando a complexidade do fenmeno empreendedor. No contexto do empreendedorismo surge o empreendedor, seu ator principal, ele quem por meio de suas atitudes, caractersticas e comportamentos d vida a esse movimento, delineando um perfil do mesmo. Tratando-se de Brasil, o movimento do empreendedorismo comeou a ser difundido na a partir da dcada de 90, com o surgimento de entidades como o Servio Brasileiro de Apoio s Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e Sociedade Brasileira para Exportao de Softwares (SOFTEX). Nos perodos anteriores, os ambientes polticos e econmicos do pas no eram favorveis e havia pouca oferta de informao para auxili-los na jornada empreendedora (DOLABELA, 1999; BESSONE, 2000). H algum tempo, o empreendedorismo pode ser direcionado em vrias reas, em pesquisa realizada em 1992, Welsch (GUIMARES, 2004) identificou 27 enfoques diferentes nos estudos sobre o empreendedorismo, destacando os principais temas como as caractersticas comportamentais e gerenciais dos empreendedores; as oportunidades de desenvolvimentos de pequenos negcios; rgos de apoio; e o ensino do empreendedorismo. Atualmente o termo empreendedorismo relativo a uma diversidade de atores empreendedores, como aqueles atores interessados no empreendedorismo social, no empreendedorismo sem fim lucrativo e outros atores que desempenham papis empreendedores

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em ambientes organizacionais e nos demais contextos de negcios, prefervel se referir s oportunidades que esto na base do processo empreendedor como oportunidades

empreendedoras. Estas oportunidades incluem oportunidades de negcios assim como oportunidades de expresso empreendedora em uma grande variedade de contextos, sejam eles empresariais, governamentais, sem fins lucrativos ou outros (FILION; LIMA,2009). O objetivo deste estudo foca, portanto vrtices do empreendedorismo, no

empreendedorismo social e o no intraempreendedorismo no terceiro setor, que sero abordados em sees posteriores.

2.2

MOTIVAES EMPREENDEDORAS

Moscovici (1996) afirma que a motivao humana constante, infinita, flutuante e complexa, onde o indivduo um conjunto organizado e integrado. Moscovici (1996) ainda afirma que o indivduo como um todo se motiva, e no apenas parte dele, e a satisfao, consequentemente, atingem o indivduo por completo. Lezana et al (2001) acreditam que os indivduos so motivados pelas necessidades somadas s oportunidades para satisfaz-las, assim procuram-nas para alcanar seus objetivos. Segundo Debastiani (2003), a motivao cumpre o papel de ativar e dirigir o comportamento humano. Neste contexto, ter bons motivos uma das premissas que pode mobilizar as pessoas a atingirem seus objetivos, ou seja, estimular e impulsionar as pessoas a tomarem atitudes em prol de seus sonhos, de sua auto- realizao. A motivao no diferente para o empreendedor, entretanto este est diariamente inserido num contexto ainda mais complexo e permeado por mudanas cada vez mais constantes. Sugerindo-se que o empreendedor ento, deva ser a pea chave de uma organizao, pois, por meio de suas caractersticas comportamentais, suas potencialidades, seus valores, sua cultura, suas motivaes e realizaes, so capazes de influenciar diretamente os resultados de uma organizao, podendo determinar o sucesso ou fracasso da mesma ( FILION, 1999; FILION e LIMA, 2009; HISRICH e PETERS, 2009). Ainda de uma forma generalizada a motivao humana acontece seguindo alguns

princpios: (PUENTE, 1982)

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- suas aes tem orientao para o futuro. A maioria dos objetos de desejo no est presente no momento em que estes so desejados. O comportamento humano baseado em projetos que influenciam suas decises; - existe uma tendncia a realizar potencialidades e aplicar a sua experincia e conhecimentos adquiridos com o passar da vida. - existe a necessidade de aceitao positiva de suas aes, ou seja, esse processo desencadeia a busca da perfeio ou excelncia dos mesmos; - tudo o que no de acordo sua com a cultura e princpios considerado ameaa e pode desmotiva- lo. Segundo Farrell (1993), a capacitao dos indivduos depende de suas motivaes, por meio do conhecimento, experincias e trabalhos realizados, transformadas por algumas prticas que transformam e influenciam a dedicao, como amar o que se faz, compartilhar sucessos e fracassos, e liderar dando exemplo aos demais. A motivao elevada pode ser alcanada por todas as pessoas, o que reprime, muitas vezes, o ambiente de trabalho em que as pessoas se encontram, pois no as estimulam. Pessoas desmotivadas causam problemas, que dizem respeito qualidade, mau atendimento aos clientes, faltas ao trabalho e conflitos no ambiente de trabalho (MEIRELES, HARB, 2002). A motivao para empreender, no a mesma para cada indivduo, inmeras variveis fazem a diferena, como suas as caractersticas, o seu perfil e as suas necessidades. Diferem na sua iniciativa pessoal, na capacidade de gerenciamento, no desejo por autonomia e na disposio para assumir riscos, que afetam a busca por novos desafios em gerir organizaes e esto diretamente relacionados motivao empreendedora (KURATKO, HORNSBY, NAFFZIGER, 1997) Uma sociedade que propicie um nvel elevado de realizao pessoal, produzir um maior nmero de gestores e colaboradores satisfeitos, os quais, por sua vez, daro origem a um desenvolvimento econmico sustentvel (McCLELLAND, 1972). Tratando-se de fatores desmotivadores em organizaes pode-se evidenciar: a politicagem dentro da organizao; a falta de transparncia das informaes; burocracia em demasia,

trabalhos desorientados; reunies improdutivas; mudanas desnecessrias; competio interna excessiva; desonestidade; hipocrisia; assimetria de informao; injustias; propostas

desencorajadoras; crticas excessivas; subutilizao de recursos humanos; tolerncia ao

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desempenho inferior; incapacidade da gerncia; falta de comprometimento, tdio do trabalho de m vontade (SPITZER, 1997) De acordo com McClelland (1972) e a sua teoria dos motivos humanos, as necessidades so aprendidas e adquiridas socialmente por meio da interao com o meio e se classificam por necessidades de realizao, afiliao e "poder, conforme o quadro 1:Necessidade de realizao So indivduos orientados para tarefas, procuram continuamente a excelncia, apreciam desafios significativos e satisfazem-se ao complet-los, determinam metas realistas e monitoram seu progresso em direo a elas. So pessoas motivadas pelo xito. Nas mulheres, o nvel de realizao est associado aceitao social, enquanto que nos homens, est relacionado com o nvel de inteligncia e liderana. Outras particularidades interferem no nvel de realizao, como a classe econmica, onde o nvel de realizao maior na classe mdia. Aprendem rpido e correm riscos apenas moderados. So criativas e inovadoras. Necessidade de afiliao Ocorre quando h alguma evidncia sobre a preocupao em estabelecer, mantiver ou restabelecer relaes emocionais positivas com outras pessoas. Os empreendedores cultivam a cordialidade e o afeto em suas relaes, preferem o trabalho em equipe ao trabalho individual. As pessoas com baixa motivao no se preocupam com os seus resultados e sim o que se pensa dela. Por outro lado, as pessoas com motivao para a realizao de seu trabalho querem saber qual o resultado do seu trabalho, necessitam de feedback. As pessoas com alta motivao para a realizao so pouco motivadas por vantagens salariais. A necessidade de poder Apresentam esta necessidade aqueles que apreciam exercer influncia sobre as decises e comportamentos dos outros, fazendo com que as pessoas atuem de uma maneira diferente do convencional, utilizando-se da dominao (poder institucional) ou do seu carisma (poder pessoal). Gostam de competir, e vencer e ainda de estar no controle das situaes. Quadro1 : Necessidades dos empreendedores conforme McClelland Fonte: Adaptado de McClelland (1972)

Um dos principais aspectos desta teoria a afirmao de que estas trs necessidades so adquiridas por meio das experincias de vida das pessoas, ou seja, pode ser desenvolvidas ou ensinadas, o que permite aos indivduos desenvolverem suas caractersticas e habilidades (McCLELLAND,1972). Com o mesmo interesse, Birley e Westhead (1992) estudaram as necessidades mais comuns dos empreendedores, por meio de uma pesquisa, entrevistaram cerca de 1.000 empresrios de 11 pases. Birley e Westhead (1992) apresentam estas necessidades como sendo basicamente de cinco tipos como pode observar- se no quadro 2:

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Necessidade de aprovao

Envolve aspectos como a possibilidade de alcanar uma alta posio na sociedade, ser respeitado por amigos e ser reconhecido por suas conquistas. O empreendedor necessita de liberdade para trabalhar e controlar o seu tempo, ter autonomia e liberdade para iniciativa. Esta necessidade evidencia certa dificuldade na obedincia de regras e normas impostas por outras pessoas ou pela organizao. Significa a busca constante de novos conhecimentos e habilidades, sendo facilmente identificvel em indivduos que esto sempre buscando o novo em suas vidas. Relaciona-se com a autopreservao, que consiste em proteger-se de perigos fsicos ou psicolgicos, reais ou imaginrios. Empreendedores procuram constantemente aperfeioar seus desempenhos e realizaes, resolvendo situaes que signifiquem desafios sua capacidade.

Necessidade de independncia

Necessidade de desenvolvimento pessoal

Necessidade de segurana

Necessidade de auto-realizao

Quadro 2: Necessidades dos empreendedores conforme Birley e Westhead Fonte: Adaptado de Birley e Westhead (1992)

Ainda tratando de necessidades Kuratko, Hornsby e Naffziger (1997), afirmam que os indivduos iniciam suas atividades empreendedoras por meio de incentivos, que lhes motivam, muitos causados por suas necessidades. Kuratko, Hornsby e Naffziger (1997) salientam ainda que a sua motivao, com o seu comportamento direcionado aos objetivos e a percepo de que o sucesso vir por conseqncia, so fatores importantes nesse processo empreendedor. Essa motivao dos empreendedores surge por meio das necessidades, como se observa no quadro 3:Necessidade de autonomia e independncia Manter liberdade pessoal, segurana pessoal, no ter chefes, controlar o destino profissional. Assegurar o futuro dos membros da famlia, construir um negcio para passar adiante (herdeiros). Acumular riqueza pessoal, aumentar ganho, aumentar oportunidade de ganho. Ganhar reconhecimento pblico, enfrentar desafios, diverso no trabalho, crescimento pessoal, provar que pode fazer isso.

Necessidade de segurana familiar

Necessidades extrnsecas Necessidades intrnsecas

Quadro 3: Necessidades dos empreendedores conforme Kuratko, Hornsby e Naffziger Fonte: Adaptadode Kuratko, Hornsby e Naffziger (1997)

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Para Drucker, (1987) o esprito empreendedor uma prtica e uma disciplina, e como tal, pode ser aprendido e sistematizado, entretanto quem o motiva pode ser as suas necessidades e as oportunidades. Ainda Drucker, (1987) afirma que no se trata de aspectos psicolgicos da personalidade empreendedora, mas das atitudes e comportamentos que o empreendedor deve ter. Neste contexto, verifica-se uma coerncia entre a motivao empreendedora, descrita em palavras diferentes pelos autores McClelland (1972), Kuratko, Hornsby e Naffziger (1997) e Longenecker, Moore e Petty (1997) evidenciando-se o modelo de Kuratko; Hornsby e Naffziger (1997). Segundo Kuratko, Hornsby e Naffziger (1997), o instrumento dividido em quatro partes: - autonomia e independncia: manter liberdade pessoal, segurana pessoal, no ter chefes, controlar o destino profissional; - segurana familiar: assegurar o futuro dos membros da famlia, construir um negcio para passar adiante (herdeiros); ganho; - intrnsecas: ganhar reconhecimento pblico, enfrentar desafios, diverso no trabalho, crescimento pessoal, provar que pode fazer isso. O instrumento desenvolvido eficiente para mensurao da motivao empreendedora e contribui para o melhor entendimento do motivao do empreendedor para atingir seus resultados (KURATKO, HORNSBY E NAFFZIGER,1997). extrnsecas: acumular riqueza pessoal, aumentar ganho, aumentar oportunidade de

2.3

POTENCIAL EMPREENDEDOR O potencial empreendedor pode ser mensurado nas pessoas, conforme sua predisposio a

encarar seus desafios os indivduos por meio de suas caractersticas, perfil e valores podem demonstrar seu potencial empreendedor. Pessoa com maior potencial empreendedor desenvolvido podem estar mais bem preparadas para iniciar, gerir e at mesmo trabalhar como orientador para novos negcios (GIMENEZ; INACIO JUNIOR, 2002) Apesar do imenso interesse em saber como novos empreendimentos ou como o potencial influencia em sua administrao, no so numerosas as obras nesta rea (KRUEGER,1997).

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Entretanto como referncia pode-se citar estudos recentes de Mendes (2005), Munhon (2007), Veit e Gonalves Filho (2008) que relacionam o tema potencial empreendedor a diversos setores da economia. Por tanto, o interesse pelo tema tem aumentado. Um dos precursores desta linha de pesquisa foi o psiclogo David McClelland, que atrelou a necessidade e a realizao do indivduo s caractersticas do empreendedor (SANTOS,2005). Assim, ao se conhecer a mente do empreendedor, como ele pensa, age, executa e transforma a sua histria abstrata em fato real, por meio de estudos aplicados, ser possvel criar atributos que permitam identificar semelhanas e diferenas entre os empreendedores, estabelecendo ndices que, quando analisados e comparados, contribuiro para a criao de parmetros de anlise e interpretao do potencial empreendedor (TIMMONS, 1989). O potencial empreendedor das pessoas permeado por suas atitudes, onde a potencialidade empreendedora diferente entre as pessoas de modo a constituir caractersticas marcantes quando bem evidenciadas (SCHUMPETER,1982).Conforme Filion (1999) no se pode ainda avaliar um indivduo e afirmar, com certeza, que o mesmo vai ser bem-sucedido enquanto empreendedor ou no. Mas pode-se dizer se esse indivduo tem as caractersticas mais comumente encontradas nos empreendedores. Nas palavras do autor:Embora nenhum perfil cientfico tenha sido traado, as pesquisas tm sido fonte de vrias linhas mestras para futuros empreendedores, ajudando-os a situarem-se melhor. A pesquisa sobre empreendedores bem sucedidos...permite aos empreendedores em potencial e aos empreendedores de fato identificarem as caractersticas que devem ser aperfeioadas para obteno de sucesso. (FILION, 1999, p.10)

Estudos sugerem que existem caractersticas, maneiras de agir e pensar que favorecem o surgimento de pessoas com maior esprito empreendedor, capazes de obter xito em um mesmo negcio onde outros fracassaram, atingir o sucesso em reas para as quais no se formaram na escola, ou com as quais no estiveram diretamente associados durante a maior parte de suas vidas. Esse diferencial o chamado potencial empreendedor (CIELO, 2001). Krueger e Brazeal (1994) utilizaram a perspectiva psicolgica e social para conceituar e testar a noo do potencial empreendedor. J Krueger (1997), acredita que um ambiente

favorvel e as percepes das pessoas que conduzem crenas e atitudes de empreendedores potenciais. Segundo o autor, influenciam o ambiente a opinio de familiares e amigos; suas

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prprias competncias, a aprovao da sociedade de suas ideias e sua autoconfiana para atingir seus objetivos. Na mesma linha Baron e Markman (2000) a respeito do tema fizeram questionamentos, sobre como pode-se diferenciar confiantemente e constantemente os empreendedores de outras pessoas, ou o que diferencia os fundadores empresariais de outros que no comeam uma empresa. Procurando resposta para essas perguntas, alguns estudos direcionados a fatores

ambientais, apontam que as pessoas se tornam empreendedoras por causa dos baixos custos das oportunidades (AMIT; GLOSTEN; MULLER, 1993). O esprito empreendedor pode emergir em todas as pessoas, ou seja, o empreendedor em potencial pode ser homem ou mulher e de qualquer raa ou nacionalidade (HISRICH; PETERS, 2009). Para Carland, Carland e Hoy (1996), no se trata de um indivduo ser ou no empreendedor, mas de situ-lo dentro de um continuum de pessoas mais ou menos empreendedoras. Segundo os autores, dentro deste continuum, observa-se pessoas com maior ou menor presena dos traos de personalidade, propenso inovao, propenso ao risco e propenso postura estratgica. J Palich e Bagby (1992) estudaram os empreendedores na tica da psicologia cognitiva e concluram que os empreendedores no se diferenciam dos no empreendedores, no sentido de que os primeiros procurariam mais situaes de risco, mas sim, no sentido de que analisam mais situaes como tendo mais foras que fraquezas, mais oportunidades que ameaas e mais chances de ganho do que de perda. No mesmo contexto, Shaver (1995) tambm pesquisou tanto as caractersticas psicolgicas como cognitivas, e por meio de sua pesquisa afirma que as atitudes, habilidades interpessoais e processo de cognio pessoal podem ser aprendidos durante a vida do empreendedor, ou seja, seu potencial empreendedor pode ser incentivado. Para Bouchikhi (1993) a personalidade do empreendedor e as caractersticas estruturais do ambiente no podem sozinhas, determinar o resultado do processo empreendedor. Por tanto um olhar multidimensional do fenmeno empreendedor comea a receber uma maior ateno dos pesquisadores em busca de respostas. (PAIVA JUNIOR, 2004). Neste contexto, os autores que atuam sob esta perspectiva so Carland, Carland e Hoy (1992) e Gimenez e Incio Junior (2002) que procuraram desenvolver uma abordagem holstica,

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considerando traos individuais, caractersticas do futuro empreendimento e fatores ambientais, no desprezando a importncia do empreendedorismo na cena econmica, e ainda considerando que todos os indivduos podem ser empreendedores, defendem portanto que todos tm

tendncias empreendedoras que variam apenas em intensidade (CARLAND, CARLAND; HOY, 1992; GIMENEZ; INCIO JUNIOR, 2002) Outra influencia so fatores externos, como o ambiente scio-econmico, tecnolgico, as necessidades dos mercados e a prpria cultura influenciam no potencial empreendedor das pessoas (GIMENEZ; INCIO JUNIOR, 2002). Solymossy e Hisrich (2000) tambm defendem a ideia, pois ao pesquisarem fatores de sucesso das organizaes, eles evidenciaram que a vida da organizao requer diferentes habilidades de seus dirigentes, que influenciam os processos estratgicos, tecnolgicos, bem como a utilizao de rede de relaes, onde chamaram esta perspectiva de multidimensional. Considerando o empreendedorismo como uma complexa funo de fatores individuais e ambientais, as caractersticas nem sempre podero ser encontradas em todos os empreendedores e em todas as situaes, porque este tipo de indivduo no faz parte de um grupo homogneo (KETS de VRIES, 1985; STEWART et al.,2003). Gimenez e Incio Jnior (2002) vem o empreendedor ligado diretamente a experincias, oportunidades, capacidades e as suas habilidades criativas, resultando em bens tangveis e intangveis revestidos de valor econmico e que, na combinao dos recursos sua disposio e, em funo das interaes destes fatores, est inerente a varivel risco. Quanto ao Brasil pode- se citar pelo menos, seis obstculos ao desenvolvimento do potencial empreendedor: falta autoconfiana; falta de confiana que existe entre os brasileiros; abordagens prprias ao Brasil, identificadas com as caractersticas culturais; disciplina; necessidade de compartilhamento e excesso de burocracia (FILION, 1999) Alm destes, h outros trs fatores, que inibem o surgimento de novos empreendedores, como: imagem social, disposio para assumir riscos e o capital social (DEGEN, 1989). Ainda referindo-se ao ambiente mais hostil para o desenvolvimento do

empreendedorismo, aponta-se a famlia e a escola como facilitadora deste processo. (DOLABELA, 1999). Muitos pesquisadores vm trabalhando com intudo de desenvolver e melhorar instrumentos para mensurar o potencial empreendedor (CARLAND; CARLAND; HOY, 1992;

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DORNELAS, 2008; GIMENEZ; INCIO JUNIOR, 2002; KRISTIANSEN; INDARTI, 2004, HISRICH; PETERS, 2009) Neste contexto, Dornelas (2001) apresentou um teste com dez questes dicotmicas do tipo sim-no. As questes consideram temas como assumir responsabilidades, habilidade de comunicao, persuaso, criatividade, ganhar dinheiro, experincia anterior, riscos, cumprimento de horrio e outros. Hisrich e Peters (2009) tambm propem um teste para medio do potencial empreendedor composto por vinte questes dicotmicas do tipo sim-no. Nele so abordadas questes sobre capacidade de visualizao de um projeto realizado, comportamento de liderana, comunicao, condies fsicas do indivduo, disponibilidade de recursos financeiros e conhecimento na rea do negcio pretendido. Hisrich e Peters (2009) ressaltam que muitos empreendedores acreditam que a paixo pela idia e o desejo de conseguir sucesso so os ingredientes mais importantes para sua realizao. J no estudo realizado por Kristiansen e Indarti (2004), foram consideradas como caractersticas empreendedoras a inteno empresarial, a necessidade de realizao, a busca por informao, o lcus de controle e a eficcia prpria. Na mesma linha e ainda podendo ser um precursor nesta linha de pesquisa Carland (1996) e sua equipe de pesquisadores identificaram trs caractersticas maiores da personalidade empreendedora como: a propenso a assumir riscos, a preferncia pela inovao e pela criatividade e a necessidade de realizao. Esses trs fatores integrados, identificados na pesquisa CEI Carland Entrepreneurship Index compem o perfil do empreendedor por ele percebido. Sua compreenso tem fundamentado a construo de pesquisas sobre o potencial empreendedor e esta sendo replicado em vrios pases (CARLAND, 1996). Por meio do estudo evidenciou-se que o empreendedorismo uma integrao de cinco elementos: necessidade de realizao, criatividade, propenso inovao, ao risco e postura estratgica, relacionada como a busca de oportunidade ( CARLAND; CARLAND; HOY, 1992). Partindo do instrumento de Carland, Carland e Hoy (1992), Gimenez e Incio Jr. (2002) verificaram a confiabilidade e a validade da verso em portugus do instrumento de mensurao do potencial empreendedor a partir do Carland Entrepreneurship Index CEI. Este instrumento

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composto por 33 questes de escolha forada, onde o entrevistado escolhe uma entre as duas afirmativas de cada questo. Segundo Gimenez e Incio Jr. (2002), eles foram os primeiros a aplicar o instrumento no Brasil e afirmam que a avaliao de uma vasta literatura levou os autores do CEI a concluir que o empreendedorismo uma juno de, principalmente, quatro elementos, que so os traos de personalidade, postura estratgica, propenso ao risco e a propenso inovao. Ainda para Gimenez e Incio Jr. (2002), os trabalhos que os autores do CEI tem feito durante os anos sugerem que a tendncia empreendedora mais bem explicada quando olhada por meio de um continuum e esses quatro elementos utilizados por Carland e seus colaboradores so de grande consenso na literatura. A maior ou menor presena desses elementos em um indivduo coloca-o, segundo a escala do CEI, contidos em trs faixas: Micro-Empreendedor, MesoEmpreendedor e Macro-Empreendedor O quadro 4 apresenta um resumo dos atributos gerais do empreendedor, segundo Carland (1992), para cada faixa de pontuao no CEI.Micro-Empreendedor Est disposto apenas a correr os riscos necessrios para garantir o emprego da famlia e a renda familiar. Ele v importncia nos seus negcios, mas no se deixa ser consumido por eles. No encontrado em ambientes incorporados porque tem nos seus negcios a chave para sua liberdade. No persegue o crescimento exorbitante. Logo que os negcios puderem oferecer um padro de vida satisfatrio, opera desse modo sem inteno de mudar. O sucesso medido pela liberdade. No se arrisca com inovaes, pois prefere a segurana de tcnicas conhecidas e experimentadas. Seus sonhos so de liberdade, de feriado e de tempos com a famlia. Est interessado nos lucros e no crescimento, mas no se deixa ser consumido pelos negcios. Pode ser encontrado em ambientes incorporados. Persegue o lucro e o crescimento at um ponto satisfatrio quando, ento, desloca o foco para fora do negcio. capaz de inovar, embora prefira produtos estabelecidos, servios e procedimentos conhecidos. Seus sonhos so de reconhecimento, de avano, de riqueza e admirao.

Meso-Empreendedor

Pode ser encontrado em ambientes incorporados. O sucesso medido em termos de crescimento e de lucros. Quer dominar o mercado. criativo e inovador. Constantemente encontra maneiras novas de traduzir seus sonhos em: produtos novos, mercados novos, indstrias novas, novas medidas de crescimento, novos desafios etc. Seus sonhos so de criar, de mudar e fazer o mundo diferente. Quadro 4 Caractersticas e atributos do potencial empreendedor conforme Carland (1992) Fonte: Adaptado de Carland (1992).

Macro-Empreendedor

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Quanto diferena entre as trs faixas, explicam Gimenez e Incio Jr. (2002) que um Macro-Empreendedor ver seu negcio como um meio de mudar as organizaes e tornar-se uma fora dominante, um referencial de um grande mercado. Para este, o sucesso medido em termos do crescimento de seus negcios. Um Micro-Empreendedor, por outro lado, cria um negcio que no foca o crescimento, mas que uma referncia em sua cidade ou comunidade. J o Meso-Empreendedor persegue seus objetivos a nveis satisfatrios, apostando no que j existe e ainda focando mais o reconhecimento dos outros. Veit e Gonalves Filho (2008) lembram que quanto maior o potencial do empreendedor, melhores podem ser as chances de evoluo e sucesso do empreendimento.

2.4

INTRAEMPREENDEDORISMO Segundo Guimares (2005) na maioria das pesquisas existentes sobre empreendedorismo

corporativo, dentre os principais assuntos tratados, foram relacionados aos benefcios do processo do empreendedorismo corporativo nas organizaes (ZAHRA; COVIN, 1995), na consistncia da definio do fenmeno no campo de estudo do empreendedorismo corporativo (SHARMA; CHRISMAN, 1999), nos atributos necessrios para a organizao analisada ser considerada empreendedora (MILLER, 1983) e no papel do indivduo empreendedor como responsvel pelo processo nas organizaes empreendedoras de sucesso (GREENWOOD; BRUSH; HART, 1999). Por tanto, na literatura pode-se encontrar como conceito associado ao empreendedorismo corporativo, o intraempreendedorismo, empreendedorismo interno ou Corporate Entrepeneurship ou Intrapreneurship (DORNELAS, 2008). Dentro das organizaes, o intraempreendedorismo ou empreendedorismo corporativo como tambm e conhecido, uma forma para incentivar as pessoas com potencial para empreender, mas que preferem, em vez de iniciar seu prprio negcio, empreender dentro da empresa ou organizao onde trabalham (PINCHOT III,1989; FILION, 1999; PINCHOT; PELMANN 2004). O intraempreendedorismo surge como uma possibilidade para pessoas, com esprito empreendedor, que trabalham em empresas ou instituies, atuarem em benefcio de sua empregadora e de forma auto-realizvel ao mesmo tempo (PINCHOT III,1989; FILION, 1999; PINCHOT; PELMANN 2004).

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Corroborando Dornelas (2008) define o intraempreendedorismo como o processo pelo qual um indivduo ou um grupo de indivduos, associado a uma organizao existente, cria uma nova organizao ou instiga a renovao ou inovao dentro da organizao existente. Nesta pesquisa e para seus fins acadmicos foi adotado o termo intraempreendedorismo, entretanto no foi desconsiderado contribuies de autores que utilizam outros termos associados ao mesmo tema. O estudo do intraempreendedorismo foi inicialmente evidenciado com a obra de Pinchot III (1989), denominada de Intraempreendedorismo, publicada em meados da dcada de 1980, que desencadeou o aumento do interesse no empreendedorismo dentro das organizaes empresas sugerindo que, nas grandes organizaes, no era suficiente somente o investimento em pesquisa e desenvolvimento, elas deveriam tambm desenvolver um clima no qual os empregados seriam estimulados e encorajados a desenvolver inovaes, para transformao em novos negcios de crescimento rpido, dentro da estrutura corporativa j existente. Estudando como se estabelecia o processo das inovaes dentro das organizaes, Pinchot III (1989) constatou que a estagnao era o resultado quase inevitvel dos sistemas de anlise e controle. Examinando inovaes bem sucedidas em grandes empresas, ele por meio de sua observao identificou comportamentos empreendedores em alguns colaboradores. Estes colaboradores atuavam como agentes de mudanas em suas organizaes, melhorando processos e criando novas oportunidades de negcio. Assim, Pinchot III (1989) os denominou de empreendedores intracorporativos ou intraempreendedores (intrapreneurs). Pinchot III (1989) e Pinchot e Pellman (2004) concordam que o intraempreendedor como a pessoa que, mesmo sem deixar a organizao em que atua, realiza atos de criao ou inovao tpicos dos empreendedores tendo iniciativa em suas tarefas. Eles propem idias novas e valiosas que eles so capazes de desenvolver, em um ambiente cultural favorvel. Os intraempreendedores so visionrios; tm necessidade de agir; so dedicados; estabelecem metas; estabelecem altos padres internos; superam erros e fracassos; administram riscos; e possuem lealdade em seus negcios (PINCHOT III, 1989; PINCHOT; PELMANN 2004). Conforme Zahra (1991) e Zahra e Covin (1995), por muitos anos o

intraempreendedorismo foi visto apenas como um palpite de executivos sobre como revitalizar organizaes e melhorar seu desempenho financeiro.

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A prtica hoje no mais criticada, sendo que o intraempreendedorismo reconhecido como uma estratgia de renovao, crescimento e sustentabilidade das organizaes (THORNBERRY, 2001, FILION 2004, PINCHOT; PELMANN 2004, BULUT; ALPKAN, 2006; HISRICH; PETERS, 2009). Atualmente, principalmente as grandes empresas esto encorajando o empreendedorismo corporativo porque devido ao tamanho e sua malha burocrtica e hierrquica, possuem dificuldades em implementar inovaes, crescimento e criao de valor. O empreendedorismo corporativo pode ser evidenciado como a um conjunto de atividades, atitudes e comportamentos que podem dar vida nova organizao, podendo ser visto como uma maneira incomum de administrar (THORNBERRY, 2001; FILION 2004; HISRICH; PETERS, 2009). Conceitualmente o intraempreendedorismo pode ser definido como uma referncia a intenes de comportamento que renunciam a hbitos e privilegiam novas formas de trabalho dentro das organizaes, revelando um processo de descobertas e aproveitamento de oportunidades que criam valor para a organizao, desenvolvendo novos conhecimentos e compartilhando-os, baseados no capital humano de todos os funcionrios, resultando em vantagens competitivas (PINCHOT III, 1989; ANTONCIC, 2001; ANTONCIC; HISRICH, 2003; PINCHOT; PELMANN, 2004; DESS et al, 2003; FILION, 2004; HISRICH; PETERS, 2009) Saber aproveitar as boas idias e as atitudes das equipes de trabalho tornou-se primordial para manter as organizaes competitivas, necessitando-se assim mobilizar o talento e o potencial empreendedor de todos os seus colaboradores, podendo maximizar os resultados. Os intraempreendedores sabem usar informaes, criatividade, parcerias e conhecimentos que esto disponveis a qualquer pessoa para produzir algo novo. O intraempreendedor procura expandir o domnio da organizao em competncia e em oportunidades correspondentes, a partir de novas combinaes de recursos gerados internamente (STONER; FREMANN, 1999). Pode se ressaltar ainda que intraempreendedor muitas vezes seja forado a encontrar o sucesso entre pessoas que no esto preparadas para ajud-lo, ou seja, inovam na organizao sem o seu apoio (CORNWALL; PERLMAN, 1990). Portanto a ao intraempreendedora deveria ser adotada e principalmente incentivada por administradores visionrios, na busca do progresso da organizao, neste contexto o intraempreendedor preocupa-se com a forma e meios que a organizao deve utilizar para atingir

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seus objetivos, enquanto que a administrao tradicional preocupa-se somente com trabalho que precisa ser feito (FILION, 2004). A perspectiva intraempreendedora se inicia com uma projeo um futuro bem definido e, ento, volta para o presente, com a inteno de modific-la para adaptar-se viso. A perspectiva tradicional comea com o presente e, ento, olha para frente, para um futuro repleto de incertezas, com a esperana de manter a empresa de modo semelhante ao presente (GERBER, 2004). Para Bulut e Alpkan (2006), um clima empreendedor no ambiente de trabalho instiga os funcionrios a desenvolver idias, oferecer suporte em projetos, participar de decises estratgicas, um comportamento mais autnomo, melhor realocao de recursos e tolerncia a assumir riscos. De acordo com Goosen, De Coning e Smit (2002) diversos pontos de vista sobre intraempreendedorismo resultou no que pode ser descrito por eles como um modelo clssico de mensurao do intraempreendedorismo, este modelo contm como principais elementos de plano de fundo a inovao, a auto-renovao e a proatividade, formando o intrapreneurial construt que esto brevemente resumidos a seguir no quadro 5:Elementos Equipes empreendedoras Liberdade e empowerment Executivos incentivadores Confiana e estilo de administrao Descrio Empreendedorismo praticado quando h um ambiente de equipe. O empowerment (poder de deciso) acontece em ambientes onde existe uma medida de liberdade. A alta administrao deve apoiar e patrocinar os intraempreendedores Os intraempreendedores deveriam ser confiantes e estarem inseridos em um ambiente no penalizador. Os estilos de administrao deveriam promover o intraemprendedorismo. O feedback e promoo de idias deveriam ser constantes. Os intraempreendedores e o trabalho deles deveriam ser reconhecidos e recompensados. Recursos precisariam ser compartilhados Promoo da criatividade e inovao. Introduo de um sistema de investimentos focados no intraempreendedorismo Introduo de novas idias na organizao Deveria ser promovido um ambiente positivo estimulando o sucesso.

Comunicaes e feedback Recompensas e reconhecimento Compartilhamento Criatividade e inovao Intracapital Sangue novo Promoo do sucesso Quadro 5: Elementos do Intraempreendedorismo Fonte: Adaptado de Goosen, De Coning e Smit (2002).

Conforme Goosen, De Coning e Smit (2002) este conjunto de elementos constri trs fatores chaves, que representam trs aspectos organizacionais que caracterizam o

intraempreendedorismo. Segundo o autor o primeiro o fator inovao, que representa as

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dimenses das linhas de produto, mudana de produtos e liderana de pesquisa e liderana no mercado. O segundo fator representa proatividade que resulta em tcnicas novas, postura competitiva, tendncia a correr riscos, coragem ambiental e estilo de tomada de deciso. O terceiro fator chave resultante da influncia interna da administrao, especialmente em suas estruturas, processos e relaes, representam as dimenses de metas, sistemas de criatividade, sistemas de recompensas, sistemas de desenvolvimento internos, comunicaes eficientes, contribuio do pessoal, liberdade de intraempreender, cultura de resoluo de problemas, estmulo competio intraempreendedora e delegao de poder (GOOSEN; DE CONING; SMIT, 2002). Dois desses fatores, proatividade e inovao, foram consideradas como relativos aos aspectos externos da organizao. Esses fatores foram extrados do ENTRESCALE elaborado por Knight (1997) (GOOSEN; DE CONING; SMIT, 2002). O terceiro fator principal diz respeito s posturas gerenciais e foca nos aspectos internos organizao. Sendo que o objetivo principal do estudo de Goosen, De Coning e Smit (2002) a identificao de fatores que conduzem e sustentam o modelo clssico de intraempreendedorismo.

2.4.1 Inovao Segundo Schumpeter (1982) a inovao seria o fenmeno fundamental que provocaria mudanas e desajustes no ciclo econmico. Para o autor, produzir a inovao e principalmente assegurar a implementao destas inovaes nos processos produtivos, era o papel exercido por aqueles que ele chamou ento de empreendedores (SCHUMPETER, 1982). Da mesma forma o intraempreendedorismo um impulsionador ao processo de inovao. Segundo Antoncic (2001), o intra-empreendedorismo pode ser definido pelo seu contedo, ou seja, pelas suas dimenses baseadas no conceito de inovao criado por Schumpeter (1982). Segundo Pinchot e Pellmann (2004, p.20), toda inovao, pequena ou grande, requer uma dose de coragem, certa viso e o desejo de comprometer e fazer acontecer. A persistncia desmedida e a imaginao prtica do intraempreendedor so essenciais para o sucesso de qualquer idia nova. Dessa maneira, Antoncic (2001) ainda define a atitude intra-empreendedora como a determinao em busca da soluo nova ou criativa para desafiar e confrontar as velhas prticas

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da empresa, incluindo o desenvolvimento e a melhoria de velho ou novo produto, servio, mercado, tcnica de administrao e tecnologias para desempenhar as funes organizacionais, assim como mudanas em estratgias, nas suas organizaes e na forma com que a empresa lida com os competidores num mbito mais amplo. Ainda de acordo com Antoncic (2001) o intraempreendedorismo refere-se a um processo interno de uma empresa existente, independente do seu tamanho, e lida no somente com novos negcios, mas tambm com outras atividades e orientaes inovadoras. Os intraempreendedores so todos os sonhadores que realizam, so aqueles que assumem a responsabilidade pela criao de inovaes de qualquer espcie dentro de uma organizao, cabe a ele transformar uma idia em uma realidade lucrativa (PINCHOT III,1989). J Zahra (1995) aborda duas dimenses em sua definio do intra-empreendedorismo: o foco na inovao e criao de negcios e a renovao estratgica. A primeira dimenso inclui o compromisso da empresa em construir novos produtos ou processos, criando novos mercados ou expandindo os j existentes. A segunda dimenso, renovao estratgica, a revitalizao das operaes, mudando o escopo do negcio ou a sua abordagem competitiva. Para Pryor e Shays (1993), o intraempreendedorismo a criao de um ambiente permeado pela inovao, que empreendedores de sucesso, pode florescer de forma a transformar pessoas comuns em que assumem responsabilidades e papis dentro da empresa,

promovendo resultados e inovaes. Neste contexto, Peter Drucker (1987) afirma que foi por meio do intraempreendedorismo que surgiram os bloquinhos de papel com base em cola no permanente Post it da 3 M, e o microcomputador PC da IBM.. o caso tambm do automvel Mustang, da FORD, desenvolvido por seu diretor Lee Iaccoca e sua equipe (Pinchott III,1989). Atitudes inovadoras permitem com que as organizaes se adaptem mais facilmente s mudanas de mercado, criando novas solues, unindo foras e operando em rede, favorecendo o seu desenvolvimento (VAN DER ZEE; STRIKWERDA, 2000). A competitividade das organizaes depende, em grande parte, de sua capacidade de se adequar s oscilaes do ambiente em que esto inseridas. Esta adequao pode ser definida pelas estratgias de atuao e pela capacidade de absorver e implementar as informaes e inovaes surgidas no ambiente (MACHADO, 2008).

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Neste sentido, Hisrich e Peters (2009) enfatizam que uma teoria de crescimento econmico coloca a inovao como o fator mais importante, sendo seu maior impulsionador. 2.4.2 Proatividade A proatividade pode resultar em tcnicas novas, postura competitiva, tendncia a correr riscos, coragem ambiental e estilo de tomada de deciso (GOOSEN; DE CONING; SMIT, 2002). Desta forma o empreendedorismo corporativo tem sido reconhecido como potencialmente vivel para a promoo e sustentao da competitividade da corporao (LUMPKIN; DESS, 1996). Rauch e Frese (2000) mostraram que existem diferenas entre empreendedores e gestores e que existe uma correlao positiva entre proatividade e sucesso, apesar de pequena. Becherer e Maurer (1999) indicaram que a disposio proativa est relacionada com o empreendedorismo uma vez que a proatividade reflete a orientao individual para o meio, para a ao: uma pessoa mais proativa capta oportunidades e adota uma abordagem mais agressiva frente ao mercado. Tratando-se de mensurar a proatividade, a escala da proatividade tem potencial para fornecer novos dados na relao proatividade- empreendedorismo, no entanto os estudos empricos so escassos. (CRANT, 1996) Pode-se considerar proatividade um processo que permite a renovao organizacional. Assim, o processo organizacional tem duas dimenses distintas, porm relacionadas: a primeira envolve os aspectos de inovao e de risco, mediante a criao estratgica de novos negcios pelo desenvolvimento de mercados empreendendo produtos, processos, tecnologias e inovaes administrativas; e a segunda dimenso envolve as renovaes de atividades que aumentam a habilidade das organizaes para competir e assumir riscos (MILLER, 1983).

2.4.3 Influncia interna da Administrao. Conforme Pinchot e Pellman (2004) e Dornelas (2008) o intra-empreendedorismo representa o um caminho promissor para todas as organizaes, promovendo a interao entre gestores e colaboradores estimulando ainda o desenvolvimento da organizao e o processo de inovao. Neste contexto, possvel delimitar alguns elementos culturais necessrios ao fomento da atividade empreendedora dentro da organizao como tolerncia ao erro, sistema de recompensa

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que privilegie aes empreendedoras, disponibilidade de recursos para alocao em projetos e sistema de autoridade e responsabilidade horizontalizadas (SHANE, 1993). Para Evans e Russel (1989) o comportamento criativo dos membros da organizao representa o fator- chave na resposta s mudanas e abre espao para que a organizao promova inovaes. A criatividade deve ser estimulada por meio da liberdade, sendo fundamentais os estmulos do ambiente em que o intraempreendedor est inserido (PINCHOT III, 1989). O autor ainda afirma que necessrio oferecer ao indivduo a liberdade na explorao das suas idias criativas em benefcio da organizao. Um modelo de gesto que permite a cada funcionrio se desenvolver, adquirir informaes relevantes ao negcio, tomar decises e tomar iniciativas d muito mais possibilidade e vazo inovao do que o modelo tradicional, orientado para a centralizao das decises e pelo peso da hierarquia corporativa (HASHIMOTO, 2006). Sugere-se ento, que uma organizao intra-empreendedora comporta-se como uma organizao que consegue recuperar o esprito empreendedor presente em seus tempos ureos de infncia, poca em que era mais criativa, dinmica, ousada, gil, flexvel, proativa e realizadora (HASHIMOTO, 2006). Ainda para Hashimoto (2006) deve- se aproveitar os benefcios que a burocracia trouxe para as organizaes, para torn-las mais organizadas e administrveis, aproveitando ao mesmo tempo seu aprendizado em outras iniciativas, como descentralizao, terceirizao, fuso e downsizing. A organizao intra-empreendedora aproveita o melhor dos dois mundos,

mantendo sempre vivo o desafio de se reinventar e de se adaptar continuamente para no entrar no estgio da velhice (HASHIMOTO, 2006, p. 52-53). Para Hartman (2006) necessrio que a viso e a misso, alm dos referenciais estratgicos e competitivos da organizao, inclusive objetivos, os padres de relacionamento com os clientes e os programas de incentivo, sejam comunicados e disseminados entre os empregados, melhorando o processo decisrio. Neste cenrio, o comportamento intra-empreendedor se consolida por meio dos instrumentos de gesto de pessoas, que envolve carreira, promoo, os incentivos, recompensas e reconhecimentos motivacionais entre outros. (HISRICH; PETERS, 2009),

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Da mesma forma, Bulut e Alpkan (2006), afirmam que um clima empreendedor no ambiente de trabalho instiga os funcionrios a desenvolver idias, oferecer suporte em projetos, participar de decises estratgicas, promovendo um comportamento mais autnomo, melhorando a realocao de recursos e tolerncia a assumir riscos. Ainda sugere-se a participao dos lderes neste processo, Rossi, Brown e Bass, (2000) e Benedetti e Carvalho (2006) afirmando que as lideranas tanto podem incentivar como inibir a criatividade das pessoas, o que impacta no processo de inovao, evidenciando, portanto, a relao entre os fenmenos da inovao e da criatividade. Da mesma forma Bruno- Faria e Alencar (1996) lembram que incentivos criatividade no ambiente de trabalho so representados por: suporte organizacional da chefia e dos colegas de trabalho; estrutura organizacional; liberdade e autonomia; salrio e benefcios; ambiente fsico; e comunicao e participao. Pode-se concluir, conforme relata Dornelas (2008), que o comportamento empreendedor ou a cultura empreendedora tm uma razo de ser e uma motivao para serem utilizados na organizao.

2.5 TERCEIRO SETOR

O desenvolvimento econmico da sociedade tem criado lacunas e demandas na sociedade as quais os governos no tm conseguido atender de forma adequada. Neste contexto, a sociedade procura oferecer a sua contribuio visando suprir essa lacuna e assim surgem as organizaes do chamado terceiro setor, com vrias denominaes e um objetivo comum: possibilitar aes sociais que venham a melhorar e transformar a realidade dos pblicos em prol dos quais se propuserem a trabalhar (SALAMON, 1998). O terceiro setor (TS), composto por organizaes sem fins lucrativos, cujos objetivos principais so as aes sociais, vem crescendo a cada ano, principalmente pelo fato de que o setor pblico no consegue atender adequadamente a demandas sociais (TEODSIO, 2003). O termo terceiro setor pressupe a idia de outros setores, como o primeiro setor, representado pelo Estado, e o segundo setor, composto pelo mercado, idia essa oriunda da economia clssica (ZAPE, 2007).

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Porm, existem alguns tericos que divergem dessa classificao, seja pelo motivo de acreditarem que a sociedade tenha surgido antes do Estado e do mercado, assumindo dessa maneira a denominao de Primeiro Setor (RIFKIN, 2005); seja por acreditarem que essa denominao poderia ser confundida com setor tercirio (COELHO, 2003); ou, ainda, por no compartilharem de uma diviso da realidade social em setores (MONTAN, 2005). Mesmo com contradies, existem os defensores da terminologia do terceiro setor, contrapondo-se lgica do Estado e do mercado, referindo-se a organizaes no-lucrativas e no-governamentais (TACHIZAWA 2002, COELHO, 2003; CARDOSO, 2005; SALAMON, 2005; KISIL, 2005); instituies de caridade e religiosas (FERNANDES, 1994); atividades filantrpicas (FERNANDES, 1994; SZAZI, 2003; MARTINELLI, 2005); e aes voluntrias (COELHO, 2003; KISIL, 2005). Com base nesses autores, o terceiro setor se contrape ao Estado e ao mercado, e existe uma identificao com outra forma de redistribuio de riqueza, diferente da adotada pelos outros setores, uma vez que a lgica seguida outra, baseada no altrusmo, na reciprocidade, nas concepes morais, religiosas, entre outros (ZAPE, 2007). O terceiro setor configura-se como um campo de pesquisa recente e cujo conceito objeto de intenso debate, porque os seus conceitos variam conforme a nfase dada a seus elementos ou as suas caractersticas do terceiro setor, tais como: diferenciao dos outros setores e abrangncia ou organizaes que o compem (ZAPE, 2007). Para Tachizawa (2002) a captao de recursos um dos maiores desafios das organizaes do Terceiro Setor, devido crescente escassez de recursos e o aumento da competitividade para obterem-se fundos, as organizaes necessitam se aprimorar e inovar as formas de captao de recursos e gesto. Corroborando Silva (2008) concorda e afirma que as organizaes do terceiro setor hoje, esto enfrentando ainda um desafio bastante grave no que diz respeito a sua sobrevivncia como um todo, que o desafio da sua sustentabilidade. As organizaes do Terceiro Setor que almejam sucesso esto cada vez mais prximas das organizaes privadas e pblicas com relao sua forma de agirem, elas necessitam utilizar tcnicas como: definir uma orientao, ter foco, normatizar processos, servios, planejamento, acompanhamento e a avaliao dos resultados. Tudo isso para sobreviverem ao competitivo

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mercado e romper os laos com o amadorismo e informalidades que as acompanhavam at tal mudana (MARTINS et al, 2006). Nos ltimos anos houve uma grande expanso e uma diversificao das organizaes do terceiro setor. Este crescimento parece ter origem por meio de trs presses distintas conforme observa- se no quadro 6:De baixo Por meio dos movimentos populares espontneos, onde as pessoas, por si prprias, se organizam para melhorar suas condies de vida ou para buscar seus direitos bsicos. Por meio dos incentivos das igrejas (por exemplo, a Igreja Catlica que a partir dos anos de 1950 na Amrica Latina criou vrios movimentos e entidades para auxiliar os pobres das reas rural e urbana), e de instituies voluntrias privadas e agncias de apoio. (A partir das dcadas de 60 e 70, muitas instituies voluntrias dos Estados Unidos, Canad e Europa que ajudam os pases pobres, mudaram o foco para o empowerment, ao invs da ajuda humanitria tradicional, para evitar o assistencialismo e criar condies de autosustentao). Por meio das polticas governamentais. Ronald Reagan e Margaret Thatcher adotaram a estratgia de apoio s organizaes voluntrias para reduzir os gastos sociais de seus governos.

De fora

De cima

Quadro 6 Fatores que favorecem o crescimento do Terceiro Setor Fonte : Salamon (1998, pg. 7- 8):

Conforme Cardoso (2005), o terceiro setor uma proposta experimental social, uma tentativa de trabalho conjunto que pretende reunir instituies muito diversas. O sucesso dessa experimentao no depende somente desses atores, mas tambm da democratizao das instituies que regulam a vida social e da redefinio de seus objetivos em prol da eqidade, da justia social e de uma nova proposta de relao do Estado com a sociedade civil. Falconer e Vilela (2001) defendem que o terceiro setor pode ser conceituado como aquele que representa o conjunto de iniciativas da sociedade civil organizada, com base na ao voluntria e sem fins lucrativos. Para Salamon (2005), o terceiro setor um conjunto de valores que privilegia a iniciativa individual, a auto-expresso, a solidariedade e a ajuda mtua que rene uma fora econmica considervel, tanto em pases industrializados quanto, cada vez mais, nos pases em desenvolvimento, o que parece necessrio para a democracia e muito til para o progresso econmico.

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A falta de consenso quanto a uma definio stricto sensu, segundo, faz com que o mesmo seja visto como um termo amplo, abarcando organizaes com diferentes objetivos, tamanhos e escopos (MOTA; CKAGNARAROFF; AMARAL, 2007). Salamon e Anheier (1997) propuseram uma definio estrutural-operacional que caracterizam o terceiro setor de forma ampla. Assim, os autores definem as organizaes do terceiro setor como aquelas que so formais, privadas, no-distributivas de lucro, autnomas e voluntrias, conforme se observa no quadro 7:Formas Formais Definio So representadas por aquelas que tm algum grau de institucionalizao, o que no implica ser legalizada. Reunies regulares, regras de procedimentos ou algum nvel de organizao caracterizam essa formalidade; So aquelas que no podem fazer parte do Governo nem so dirigidas predominantemente por membros do Governo. Podem gerar lucro, mas no podem distribu-lo entre os membros. Os lucros devem ser investidos na misso da organizao, no distribudos entre seus donos ou dirigentes. Representam organizaes que devem ter seus prprios procedimentos de governana e no devem ser controladas por entidades externas Devem envolver algum grau de participao voluntria, nem que seja apenas no nvel de direo.

Privadas No-distributivas de Lucro

Autnomas

Voluntrias

Quadro 7 Definio estrutural-operacional que caracteriza o Terceiro Setor Fonte : Adaptado de Salamon e Anheier (1997)

Com tantos conceitos e terminologias caracterizando diferentes tipos de organizaes, difcil perceber o real impacto social causado por esse setor. Mas tambm haveria o risco de, segundo Landim (2002), ao tentar unificar toda essa diversidade de organizaes, homogeneizar e despolitizar um campo onde h, naturalmente, conflito e diversidade de interesses e objetivos, dificultando a legitimao de cada entidade. De acordo com Zape (2007), no existe clareza suficiente sobre o conceito e abrangncia do terceiro setor, porque estes variam conforme a nfase dada a cada um dos elementos ou caractersticas. Essa terminologia confunde, pois permite em um mesmo espao a atuao de organizaes com estrutura, lgica e finalidade distintas, abrangendo em um mesmo espao e sob a mesma denominao organizaes que vo desde as tradicionais filantrpicas at as modernas OSCIPs (ZAPE, 2007, p. 3). Fernandes (1994) concorda com a idia de que existem segmentos diferentes dentro do terceiro setor, porm relacionados entre si que apontam para quatro principais segmentos, que

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so: as formas tradicionais de ajuda mtua; os movimentos sociais e as associaes civis; as ONGs; e a filantropia empresarial. Neste estudo em especfico em virtude do foco da pesquisa e da organizao estudada ser apenas detalhado com alguma profundidade o segmento ONGs.

2.5.1 Organizaes no Governamentais As ONGs se organizam a partir de certa permanncia organizacional, sendo organizaes privadas, mas com fins pbicos, devem ser sem fins lucrativos para os seus membros, autogovernadas, via estatuto prprio e o seu quadro diretivo deve ser de participao voluntria. (TASCHIZAWA, 2002). As responsabilidades das ONGs permeiam as mediaes de crter educacional, informacional e poltico por princpios no-partidrios; prestam assessoria tcnica, de pesquisa e educacional; prestam servios de assistncia, concedem apoio material e logstico; e fazem articulaes de experincias, via debates. (SHERER-WARREN, 2001) Os resultados de suas aes so voltados a um pblico-alvo ou a segmentos da sociedade civil, tais como movimentos populares, comunidades carentes, enfermos, entre outros, buscando desencadear processos educacionais de capacitao, objetivando a construo de uma cidadania plena (SHERER-WARREN, 2001, p. 164). Para Trude, Araujo e Rodrigues (2007), o que afirmar a identidade peculiar de uma ONG, diferenciando-a das demais organizaes, incluindo aquelas do mesmo universo social, a caracterizao de suas atividades- fim, representado pelas atividades que como no representam interesses particulares de grupos especficos, trabalha com causas que so abordadas universalmente. Todas as instituies denominadas como ONGs, embora no tenham uma lei prpria, como mencionados anteriormente podem ser legalmente reconhecidos como entidades de natureza privada e sem fins lucrativos, podendo ser associaes ou fundaes. Essas organizaes podem obter determinados ttulos ou qualificaes, como o ttulo de utilidade pblica ou a qualificao como organizao da sociedade civil de interesse pblico (FERREIRA, 2005). Para Canton (2002) as ONGs so semelhantes a empresas, pois exigem gerenciamento, parcerias, possuem clientes, recursos tcnicos e humanos, pblicos-alvo entre outros para assegurar sua existncia.

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As ONGs podem se transformar em redes, dando continuidade em suas

atividades

promovendo suas aes em diferentes lugares, trocando assim experincias e unindo foras. Para Oliveira (2002) o conceito de rede vem se constituindo, sobretudo nas duas ltimas dcadas, em uma alternativa prtica de estrutura organizacional, cujas caractersticas possibilitam atender as necessidades de descentralizao (de poder e de informao), flexibilidade, conectividade e cooperao. Capra (2002) afirma que onde possa existir vida, existem redes. Devido ao seu arranjo estrutural, a organizao em rede favorece a integrao horizontal de todos os participantes facilitando o surgimento de mltiplos lderes, oferecendo autonomia de poder de deciso a todos os voluntrios e integrantes, um nivelamento de responsabilidade entre os agentes, a promoo da livre circulao de informaes, o favorecimento do engajamento consciente de todos nas aes, e a promoo do trabalho em equipe. (COMINI, G; LIN, F. K; TYSZLER, 2004)

2.6 MOTIVAO, POTENCIAL EMPREENDEDOR E INTRAEMPREENDEDORISMO NO TERCEIRO SETOR

Apesar dos estudos de empreendedorismo terem nascido como uma funo econmica (SCHUMPETER, 1982), a ampliao desta viso sugere tambm uma dimenso social (DRUCKER, 1997). Para Filion e Lima (2009) a comunidade cientfica envolvida nas cincias sociais aplicadas comeou a se interessar pelo empreendedorismo organizacional h algumas dcadas mas afirmam existir poucos estudos sobre o empreendedorismo social, poltico, ecolgico e outros, so campos que esto em emergncia. Peter Drucker ressalta no seu livro Inovao e Esprito Empreendedor, dois pontos importantes na discusso sobre o empreendedorismo: primeiro, iniciar um negcio no necessrio ou suficiente para o empreendedorismo; segundo, o empreendedorismo nem sempre requer finalidade de lucro (DRUCKER, 1987). Dessa forma, ao longo das ltimas dcadas, as denominadas organizaes sem fins lucrativos recorrentemente tm se utilizado das ferramentas gerenciais associadas escola do empreendedorismo, o que possibilitou a emergncia de uma nova conceituao nesta rea de

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conhecimento: o empreendedorismo social (SILVA, H. 2008). E com isso tem buscado focar suas foras naquilo na qual so melhores (BOSCHEE, 2009). David (2004) afirma que o empreendedorismo tradicional, ou econmico, est voltado para gerao de novos negcios, j o empreendedorismo social est orientado por uma misso social, por meio de um conjunto de inovaes que a organizao pratica e desenvolve para a soluo de suas questes sociais. Segundo Capra (2002) os empre