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" GEORGE ANDRADE SODRÉ
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, ~: DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
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COMISSÃO EXOClfllV AI)() PLANO I)A t.A VOURA CACAUBIRA - CEPLAC Órgão Vinculado ao Afinistério da AgricoJtum
Pn::siJeute: Íris Rezende Machado, Ministn) da Agricultura; Vicc-Presidenlc: Nmnir Salek, Diretor da CACE X ; Sccretário-Genl: JoaquiIn Cardoso Filho; Secrethio-(JcraJ-Adjw,w: José Carlos Silnões Peixoto, llíreio Isnlar Santana Ferreira, Carlos Augusto Farias I\lves: (~oorcJeDadores Regionais: Carlos Viannn Dias da Silva, Hennínio ~laja R(~cha.
SÉRIE I)IDÁ1'1ICA
Publicação editada pelo Dcpartll111t!Bto de Educação da CEPLAC- DEPED cor)) ohjetivo didático- pedagógico de divnlguf trab,tlhos t&~nicos de assuntos relacionados às disdpHnas de ,,:ursos profissionalizantes de Agropecuária, Agrinlcnsura, Tecnologia de Alinlentos e Econonlia Donléstica, para nprimoraIuento do processo ensjno-aprcndizagcJn dos estuJnntes da.~ Ef\1ARC's - Escolas tv1édias de Agropecuária Regional da CEP,lAAC.
Oiefe do DeptU1amCnto: AItenidcs CaJdeir.:l f\..1oreau; Ctk-:fe-Adjunto: Raitnundo Bonfhn dos Santos; Administradores das liMARC's: Márcio Luiz dos Santos, Uruçuca; Honaldo Costa Argolo, Itapetinga; Jonildo G. L. Moraes, Valença; Joaquhll Ranlalho Souza, Teixeira de Freitas.
Endereço: Departatnento de Educação da CEPLAC; Caixa Postal, 7; CEP: 45600, ItahunaBahia.
Sodré, George Andrade Minhocas: biologia, comportatnento e sistemas
de criação. llhéus, BA, Brasil, CEPLAC/DE-
PED, 1988. 24 p. (CEPLAC/DEPED, Série Didática, 6) Inclui bibliografta.
1. ~1inhoca. I. Título
o CDD 639.7546
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( / CEPLAC -, -',,--- -----: o C()~1ISSÃ() EXE(:UTIVA I)() PLAN() I)A LA V()UI{A (~A(:AUEIRA
Vinculada ao Ministério da Agricultura
l)EPARTAMEN'I'C) 1)1: EI)U(~A~'Ã() EMAR(: - Jtapetinga
MINHOCAS: BIOLOGIA, COMPORTAMENTO E SISTEMAS DE CRIAÇÃO
George Andrade Sodré
ILJ-IÉUS - BAI~JA - BRASIL 1988
•
íNDICE
Apresentação ........................................ 03 Introdução .•.........................•.............. 05 Biologia e comportamento das minhocas . . . . . . . . . . . • . . . . . . . . . . . 06 Reprodução das minhocas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 08 Espécies ..................................•........ 10 Importância agronômica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • . . . . • . . . . . . . . 12 Criação em valas . . . . . . . .. . . . . . . . . . • . . . . . • . . • . . . . . . • . . . . 16 Criação em Canteiros . . . . . . . . . • . . . • . . . . . . • . . . . • • • . . . . . . . 18 Criação em tonéis de cimento . . . • . . • • . • . . . . . . . . . . . . . . • • • . . • 19 Vermicompostagem .•..•.....•••.........••••••••••.•.• 20
Inimigos naturais das minhocas . . . . . . . . . . . . . . . . • . . • . • • • • • • • • 21 Determinação prática de umidades e temperatura usadas nos diferentes
sistemas de criação de minhocas . . . . • . • • . . . . . . • . • • • • • • . • . . . . 21 Considerações finais ....••....••..•.••... '. • . . . . . . • • . . . . . . 22
Referências bibliográficas . . . . . . • • . • . . • . . • • • . • • • • . . • . . . . . . . 22
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APRESENTAÇÃO
Bovinos, equlnos, aves, coelhos etc. são espécies conhecidas de anirnais cria
dos em cativeiros por todo o planeta. Entretanto, existe um tipo de pecuária especial chamada de vennicultura ou minhocultura que pode ser considerada a rnenor de todas as criações conhecidas. Trata ~se da criação de minhocas. Mas qual seria o objetivo de tal criação e por que se fazer um estudo sobre criaçãü de minhocas? Este trabalho pretende informar e abrir carninho pôra urna aúvidade agropecuária executada já há muitos anos ern pa íses da EuropéL l~sía, América do Norte e também em algunlas regiões brasileiras; justificando-< se devido a falta de material bibliográfico no que se refere à Biologia, comportamento e técnica de criação de minhocas.
Não seda impossível imaginar que a Região Cacaueira, tradicionalmente con
sumidora de fertil izantes qu{m icos, passasse também a produzir biofertilizantes
ou hÚnllJS de minhoca, que seria utilizado na fertilização das áreas onde se cultiva o cacau e outras culturas ou ainda para criação de aves, coelhos e peixes. Este inforrnativo, presta-se a alunos, agricultores, técnicos e outros que tenham interesse por esta extraordinária espécie animal r pois apesar do pouco reconhecimento que lhe é dado, tem a capacidade de preservar e fertilizar . o solo, suporte indispensável ao crescimento e desenvolvimento dos vegetais e animais da terra.
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Altenides Caldeira Moreau Chefe de Departamento
Minhocas: Biologia, Comportamento e Sistemas de Criação
.. George Andrade Sodré
INTRODUÇÃO
A inlportância da minhoca como aninlal que leva vida no solo foi recor1hecida desde os tempos mais remotos da história do homenl. Para se ter uma idéia veja ~
rT10S então: No Antigo Egito os Faraós puniam corn a nl0rte quern se atrevesse a matar
minhocas; A Rainha Cleópatra, fanl0sa por sua beleza, mandou gravar em pedra na parede de uma pirâmide, um agradecirnento especial do povo egípcio às minhocas, pois sabiam da suprema capacíddde do animal para transformar em húmus toneladas de matéria orgânica, depositadas às fllargens do Rio Nilo, em conseqüência dos seus transbordamentos periódicos. Os gregos também souberam reconhecer o valor da minhoca e Aristóteles, eminente cientista da antiguidade, cognominou as minhocas de "INTESTINO DO MUNDO" por sua ação transformadora e melhoradora de materiais orgânicos através do húmus liberado em suas excreções.
Mas foi, sem dúvida alguma, o consagrado naturalista inglês, Char ~es Darwin,
que, dedicando nlU ;tos anos, de seus estudos a estes vermes, enfeixou nurn livro
em 1881, conhecimentos curiosos e inlportantes sobre a Biologia e a Relação en
tre Minhoca e a Agricultura. Dizia Oarwin: "É de extraordinária beleza e importância a tarefa vital real izada por estes seres ao seio da terra, comendo e humifi
cando continuamente toda sorte de materiais orgânicos. Admirava~se também
com a capacidade que eles têrn de poder apanhar pequenos resíduos encontrados
na superf ície do solo e os transportar para a abertura de suas tocas sem contudo introduzir ern suas galerias objetos corn maior dimensão que o diâmetro do canal aberto no solo. Não seria portanto nenhum absurdo afirmar·se que a nlinhoca é o precursor do arado, visto que muito antes da invenção deste implemento agr ícola elas já realizavam o trabalho de revolvimento do solo resultando em melhorias
na sua estrutura física.
Sabe-se que a grande maioria dos solos agricultáveis do mundo podem ser
recuperados por meio das minhocas e que para tanto a quantidade desses animais
seria gigantesca. Conscientes dessa realidade países como Estados Unidos, Japão
e Itália estão produzindo milhões de minhocas com esta finalidade. Para se ter uma idéia a I tál ia, urn país com dimensões territoriais menores do que o Estado
de São Paulo, possui hoje, pelo menos uns 150 mil criadores de minhoca. No Brasil, segundo o professor F. Fernandes "corre-se o risco de ser taxado de louco
,. Eng lJ Agr6nomo, CEPLACIOEPED - EMARC - Itapetinga/BA
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ou de cair no ridículo e ser tratado com ironia por alguns, quando se procura falar e exaltar a inlportância das minhocas para a agricultura". MesrllO diante da afirmativa do professor Fernandes já existenl no Brasil grandes criadores como é o caso do agricultol paulista Lino Morganli que resolveu abandonar os 3.500 bovinos que criava na sua fazenda ern Itu- São Paulo e passou a criar minhocas sendo hoje uln dos rTlais bern sucedidos criadores do Brasil, a ponto da Revista Globo Rural Ano I n <? 1 de outubro de 1985 dedicar uma reportagem especial sobre o trabalho desse criador. Outra experiência bem sucedida vern acontecendo ern Divinópolis, cidade mineira perto de 8elo Horizonte, onde a Prefeitura está criando fllinhocas brasileiras e aproveitando o hú,nus na horta cornunitária
da cidade.
BIOLOGIA E COMPORTAMENTO DAS MINHOCAS
A minhoca pertence ao Phylum al1nelida ou .anelídios; é considerada um verme anelado, tendo o seu corpo dividido ern anéis ou segnlentos; cada anelou segrnento do corpo é charnado de METÁMERO: o termo originou-se do tipo de segmentação observado nos anelídlos que se chama METAMERIA. O número de anéis varia de acordo com a espécie e idade do anirnal. Cientificamente as minhocas são denominadas oligoquetas (olygochaetas), do Grego Oligos ~ poucos e chaeta = cerda. Cada cerda é Ulll fino bastão situado na superfície do corpo e que serve como ponto de apoio do anínlal durante a sua 10COlllOção. O deslocarnento das minhocas é pro'l1ovido pela contração dos segmentos do seu corpo, apoiando-se nas cerdas que servern conlO ganas de fixação e apoio; é por isso que ao tentarmos reti rar à força \ rn inhocas parcialrnente expostas na sa í da de suas galerias é muito freqüente parti -Ias pois que se valem das cerdas para resistir à tração exercida. Os nlúsculos da rninhoca são poderosos; acionando-os, ela consegue cavar ga ler i as rnesrno enl aryi la e erl1 ter, as bern compactadas, podendo adrninistrar o seu cor po tornando-se rnais fín~ ou mais grossa conforme a necessi-dade do mornento. '
Embora de aspecto aparentemente sirllples, a rninhoca é anatomicamente muito nlais complexa do Que aparenta; te"l unla organização f ísica perfeita e adequada ao meio ambiente interior do solo onde se desloca COfTl surpreendente desembaraço. São animais palCül"nente dotados de órgãos dos sentidos. Não ouvern, não têm dentes, possuern olfato muito fraco e não apresentam olhos, que não lhe fazeol falta nos locais escuros e úmidos por onde tran~ita. Na pele do dorso existem cavidades ou poros denominados C'ELOMAS que são revestidos por um Ifquido que funciona como esqueleto hidrostático permitindo contrações musculares, auxiliando a movimentação do animal e garantindo a estabilidade das parede$ dos canais que são abertos no solo agindo como agente címentante. De acordo com MEINICHE. C, liA pele é úmida em parte pelo muco secretado por células glandulares e epiteliais e pelo líquido celomático eliminado
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através dos poros e em parte pela própria um idade da te" a" . I sto talvez expli
que o porquê das minhocas não se desenvolverem bern em clirna árido, onde a
precipitação pluviométrica é inferior a 370 mil ímeHos por ano. Quando chove
rnuito e o chão fica encharcado, as minhocas saern para a superfície; não devido
à presença excessiva de áçJua mas sirn pela falta de oxigênio e pelo normal aumen
to de gás carbônico el irninado pelos fnilhões de rnicroorganisrnos que o solo
abriga. , O sisterlld digestivo de uma minhoca é do tipo cornpleto. Trata -se de um tubo
retilíneo, localizado na parte central do COlpO e constituído por:
a) BOCA. A cavidade bucal é bordeada por urna ~Jrande quantidade de cílios e
apresenta lábios bem visíveis. Próxirno à boca a rninhoca possui glândulas calcífe
ras, cuja secre<;ão neutraliza a acidez dos .natel iais orgânicos hurnificados dando
caracterís1icas neutras (pH.7) ao matf'tídl f!Xlletado.
b) FARINGE. Funcionando corno urna bOfnba de sucção dos alirnentos.
c) ES6FAGO. Pennite a passayenl do nlaterial ingerido.
d) PAPO. Sua função é armazenar os alirnentos.
e) MOE LA. Tritura os alirllentos coro poderosas contrações funcionando co-
rno se fosse urn rnoinho.
f) INTESTINO. Onde acontece a absorção dos alimentos.
g) ÂNUS. Or if ício por onde são liber ados os restos da digestão.
A nlinhoca alilllenta-se de detritos veyetais, éJnirnais e microorganisnlos; possui
digestão extracelular que é feita pur enlirnas fabricadas nas células glandulares
da parede intestinal. O rnater ial digerido é absorvido por vasos sangu íneos si
tuados no intestino e os restos são eliminados pelo ânus. As minhocas são mui
to vorazes engolindo grande quantidade de alimentos por dia (quantidade
igual a seu peso) e degetando eOl rnédia de cada vez u 01 terço da capacidade
de seu intestino. ()s excrenl~ntos são depositados na superf ície do solo, for
mándo rnon1 ículos de formas caracter ísticas os quais receben1 o nome de copró
litos (efll inylês "CASTING"). Os coprólitos contém nutrientes de plantas em
maior concentração que o material que lhe originou; isto acontece devido ao fato
do coprólito estar agora rnisturado com a matéria orgânica e mais as secreções
intestinais e urinárias; o coprólito é o próprio húnlus da minhoca. É importante
ressaltar que este húmus é um tipo de material e o esterco de animais outro
tipo; variam então no que se refere à textura, pH, teor de umidade e quantidade
de nutrientes.
O sistema circulató, io das minhocas é do tipo fechado, ou seja, o sangue só
circula no inter íor dos vasos sangüíneos. Na região dorsal do corpo pode ser
visto externarnente por transparência, um vaso longitudinal dorsal localizado so
bre o intestino; na regíão ventral há dois vasos longitudinais ventrais. Entre os
dorsais e ventrais, há vasos circulares, que dado ao seu grande poder de contra
ção, são denominados corações laterais (são ao todo cinco pares). O sangue é
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constituído por um plaSl11a I íquido contendo amebócitos incolores anucleados. A hemoglobina, pigmento respiratório, encontra-se dissolvido no plasrna e dá cor vernlelha ao sangue; este pigmento é responsável pela condução do oxigênio absorvido ou do gás carbônico eliminado pela epiderme. As minhocas são anirnais pecilotérmlcos (de sangue " frio) e a respiração é feita pela pele (cutânea);' a troca de gases dá-se pela superfície do corpo, para isso é, contudo, importan te que a superfície do corpo esteja umedecida, u que faci lita a difusão dos gases.
As minhocas desempenham atitudes que levanl a crer nurna atividade cerebral conl vestígios de inteligência; o sistenla nervoso é lormado por gânglios cerebrais e por uma cadeia nervosa central. A sensibilidade está a cargo das células sensoriais da epiderme que respondenl a estírnulos de ordeln luminosa, mecânica,ténnica e qu írnica.
As excreções são feitas por estruturas denominadas nefrídios, dispostos em un) par por segrnento; cada nefr ídio é envolvido por uma estrutura denominada novelo de capilares, o que lhe pernlite retirar excreções diretamente do sangue.
Uma interessantíssima faculdade muito desenvolvida que possuem todas as minhocas é a de poder regenerar boa parte do corpo quando perdem-na por aci dente. Essa faculdade é apresentada em grau mais acentaudo no extremo posterior do corpo do animal, onde grande núrnero de segmentos pode ' facilmente regenerar-se. Segundo F. Fernandes "se cortadas em du~s partes)a anterior sobrevive porém não procria".
O geotropismo positivo - tendência de se aprofundar verticalmente - é característico entre as minhocas. Outra tendência natural é a tigmotaxia positiva, ou seja, entrarem em contato com objetos juntos às paredes de suas galerias subterrâneas. A aversão à luz, principalmente às radiações ultra-violeta é chamada fototaxia negativa; diz-se então que as minhocas sofrem de fotofobia e que portanto são lucífugas temem ~ presença de luz, sendo que para observá-Ias é preciso usar luz infra-vernlelha, que não as perturba. Quanto rnenos pigmentadas mais avessas serão à intensidade luminosa.
REPRODUÇÃO DAS MINHOCAS
São vermes hermafroditas ou monoícos, pois possuem os dois aparelhos reprodutores, feminino e masculino em um mesmo indivíduo; todavia, as minhocas não se autofecundam; para haver fecundação é necessário que duas minhocas se justaponham, realizando numa cópula recíproca a perfJ1uta de espermatozóides. O aparelho reprodutor masculino apresenta dois pares de testículos, localizados ventralmente na região anterior do corpo. O aparelho reprodutor feminino apresenta dois ovários, localizados no metâmero anterior ao clitelo. O cl ítelo é uma área localizada na parte dianteira do animal apresentando coloração esbran quiçada e muito parecida com um gomo entumecido. A reprodução dá-se pois
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BOCA ----___ cíLIOS
CEFlDAS -:. ---"
,
____ ()fiIFíCIO FEMININ()
-- CUTELO
... -fts ... e
Figura 1 - Biologia, Comportamento e Sistemas de Criação.
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pOl fecundação cruzada entre dois indiv íduos que se unern pela região do clitelo,
tI ocando espernlatolóides; após a troca os aninlais se separarn.
Após d tecundaçá'o dos óvulos, forméHn ·se os ovos que são protegidos por urna
calnada .nucosa ger ada pela secreção de certas glându las; essa canlada vai se
enrijecendo, dando corpo a uma espécie de estrutura denominada ooteca ou
casulo, no interior da qual os ovos to,a"l depositados . A etapa seguinte ca.acte
fiza -se pelo desprendimento I do casulo que sendo liberado pela minhoca é
depositado nu solo; de cada ovo feclJ ndado, desenvolve·se um animal, não haven
do fases larvárias. Os ovos receUefll o florne especial de CONCON e eclodem den
tro de vinte a tr inta dias I iberando até vinte vernles por casulo. Ouarenta dias
após il eclosão dos ovos as nlinhucas já entrarn na fase de rnaturidade, podendo
se reprodulir apesar de que o estado adulto só será alcançado aos cento e oitenta
dias. O tempo rnédio de vida dd Illinhoca é de dois a quatro anos,' algumas espé
cies, cOlno a Eisenia foetida, che~ja,n a viver dezesseis anos . As m inhacas geral ·
mente uti lizan1 do tato que é rnuit·o desenvolvido na procura de sernelhan1es
reprodutivos, O acasalamento das n1 illhocas OCOI re quase sernpre à noite quando
elas vêm à superfície do solo; aliás, estinlar proliferação de rninhocas é muito
difícil pois depende da ocorréncia sinlultânea de vários fatores destacando-se
principalrnentc: a espécie, o clinla, pH do rneio, terTlperatura e disponibilidade de
alimentos. Observou·se que P-In ternperaturas n1u;to frias próximas a zero grau a
população tende a diminuir sellsivelnlcnte devido à quase paréjlisação do seu nle
tabolismo e que na falta de urnidade podenl vir a rnorrer devido ao agravarnento
das condições respi, atórias.
ESPÉCIES
At.uahnente existern classificadas UfTl número ern torno de 8.000 espécies de
Illinhocas, que habitarn quase todas as regiões do Globo Terrestre, desde os arTl
bientes rnarinhos, salobros, até as rarefeitas altitudes de 9.000 f H do Evereste. Enl
certos arnbientes poluítJos e normalmente proibitivos para a sobrevivência da
maioria dos seres, encontr am-se espécies singulares que se adapl anl à saturação
de OOT de até 100 mg/kg, ou à elevada presença de vinhoto das usinas de açú
car, até meSfl10 aos teor~s de ácido su If ídrico despejado CUfll os resíduos indus
triais de certas indústrias têx teis. Algumas espécies, segundo parece, eram pecu
liares e específicas de determinadas regiões do Globo; entretan10 foram sendo
disseminadas por todos os continentes, misturadas às plantas tran~portadas. Ou t,.as selecionadas para programas dirigidos de aclimatação, hoje pr oliferaln enl
quase todo o planeta; é o caso da Pherethima, oriunda da Ásia e do Havaí e que a
esta altura é encontrada em todo Continente Americano, do Norte éiO Su t.
Certas espécies mal alcançam uns poucos milímetros de corflp";fn~nto corno a
Marionina pituca, brasileira; porém há minhocas consideradas gigantes e que po-
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de", cllflqar a dois rnetr os de cornpt ílnento, como a Rhinoari/os fafner e Rhinó
lIri/l/::> a/ata conhecidas conlO MinhoclJ<;us. No rnunicípio de Ibirá - São Paulo,
é enconll tida a (;rossosco!e .\ ihirae, corTl cel ca de 50 cent í.lleHos ern média.
SU9lJIHfu () plofessol E . Klehl "a~ IJ,ínhocas fJodern S(H agrupadas de acordo
corn ~)lId color açfio, vel fllellla e cinzenta. Do grupo píglnentado de vermelho
desttJciJfJl se a ;llinhoca vellnelha LUfnhricus rube/lus e a nlinhoca de esterco
ou rnintl<)ca fétída Eisenia {oetida; du ~J'lJpO cínzento,a minhoca do carl\p~ Alio·· lophora caliginosa. "Destas cítadas J a Eisenia fóetida} apelidada corno verrnelha
da Cdlífór niéJ é d rllais estudilda, pesquísada e CI iada ern todo o rnundo; são
assirn CUlltH~cidilS pois foi na Califórnia, E U. A., que, por volta de 1930,desen
volveu se urn projeto pai a Cf iação elTl ('Jl iv(~i,.o objetivando Iungevidilde, bons
índic(~s de H~pr odução belll COllhJ a pt OdlH;:â'O de húrnus. Urna olinhoca verrnelha da Califórnia adulta nlede 12 centlrnetlus, pOlélll, chega a 22 cent{rnettos quan
do esticddo dO nláxinlO; possui dlarnt:lf() ,nédio de 3,5 mil írnetros, variando sua
espessura, Inilis fina parte poste, iUI do cur po, engrossando na parte anterior. Sua ternperilluféJ corpórea é de 19,2 graus centígrados; noutros países, chcfJa a pesar no n.áxirno 1 gran'éJ, entretanto nu B, dsil, chegou SH a pesar urlla corn 1 granla
e quatrocentos. A rninhoca vernlf~ltla da Califórnia nansfornr(1)díétt iarllen1e, 60%
do seu peso cru ,natéria orqanica (húrnus) e apenas 40% reserva pala sua sobre
vivência _
() g,and(~ interesse dos criauores pelas calrfo.nianas, deve-se ao fato de que
esta espécie é a rnaís produtivéi entre as flllnhucíJs trabalhadas (tTan~tOtrna rnais
,apidarnente a ntatér ia orgânica), o seu te,"po de Vida é fllais longo (erll fl)édia
16 anus), alérn disso, reproduz-se rapida,nente pl incipaltflcnle na presença de
bastante Il1alérla orgânica e boas condições de terJlperalura e urnidade. 1.000
destas rJlirattucü!> aduhüs, p,.odulefll outras 200000 rninhocilS adultas e 800.000
casulos e ovus por ano. Elll dois anos este núnHHO se eleva à espantosa cifra de
urn bilhão de rninhocas, cdsulos e ovos. Ao rneSIHO tefflpo cru que se .nu I tipli · calll rapitJé.u nen te
As rninhocas b. asilei r as rendern rnenos ern terrnos de produt ividade quando compariJdas às californianas, possuern pele rnenos resistente e vivenl enl rné
dia 3 anos, o l.Ju~ não dírn inu í a inlportância agr o"ôlllica das espécies flae io
nais. Para se ter urna idéia o Departarnento de Zooloyia da lJniversidade de
São Paulo, através dos trabalhos do professor Gilberto Richi, estudou até o
momento 835 espécies de rninhocas brasileiras; o p' otessor acredita que, rnes
mo sendo mais lentas a preferência do ct iadol deve r ecair sobre as espécies
nativas urna vez que espécies exóticas podenl causar algunl tlJJO de desequil;
brio ecolóyico, porque será sernpre um elernento esll éU lho ao arnbiente flat ivo.
A rninhoca brasileira rllais conhecida é provavelflH~flte a chafnada IIMI NH()
CA LOUCA", IIMINHOCA BRAVA", "BAILAHINA" ou "MINIHJCA DE
PESCADOR"; os nornes caracteristicos deve'Tlse ao falo de que ao se. ar ran -
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cada do solo, fica pulando e retorcendo-se toda; pertence ao gênero das phere
tl1imas,"é UIJléJ minhoca unl pouco mais gross\:.t e de coloração 1l1ais escura do que a vernlelha da Califórnia, sendo que a espécie de maior destaque é a Pherethi
fna hawavalJa. Ouando o objetivo da criação é alirnentação de rãs, as espécies Pherefhi,na
diffigens e PherethÍlna huperensis são as mais procuradas pelos lônicultores, devido a sua robustez, grande adaptabilidade e coloração tendente ao Vern"lC
lho, caracte. ísticas que as tornarn alvo id(!al para o glutonismo das lãs. SeHundo F. Fernandes "seja qual tor a espécie de minhoca, todas elas po
denl ser utilizadas para diversas finalidades, além de recondicionar e enriquecer os solos a9" ícolas~ corno isca · para peixe, na alinlentação direta de rãs e aves,
no fabrico de rações para aflilnais, na produção de húmus ou corno fonte de
pl olel'na e rnuilas outras final idades",
IMPORTÂNCIA AGRONOMICA
A rninhoca trabalha cavando yaler ias no solo ou no composto organlco e
afastando e consolidando as paredes do canal, ou então, engolindo partículas e moendo-as no tubo digestivo pelo efei to de contrações; havendo terra junto
com a matéria orgânica os gr ãozinhos de areia terão função abrasiva, ajudando
a triturar o alimento; as m-inhocas são oníveras, alimentando-se tanto de restos vegetais como de animais; comern tolhas, sépalas, ~r'amos, bichinhos, con-
( . chinhas de moluscos terrestres, pedacinhos de ossos e até mesmo outras m inho-cas menores; são pois animais canibais. O material que realmente predomina
na dieta das rn inhacas é a nlatéria orgânica tanto na forma de estercos como na forma de cornpostos previamente fer mentados, desde que não sejam muito ácidos ou corn cheiro pronunciado.,
Perfurando o solo e fornlando galerias as minhocas melhoram consideravelmente as própriedades físicas dos solos. Os desmoronamentos das velhas galerias provocam movimentos constantes na terra vegetal, se bem que lentos, atritando ao mesnlO tempo uma parede contra a outra; por conseguinte, novas superf ícies são continuarnente expostas à ação do ácido carbônico e do ácido
húmico existente no solo, contribuindo para a decomposição das rochas. As galerias que geralmente penetram no solo perpendicularmente, ~tingen1 a profundidade de 1,5 a 1,8 metros e contribuem por sua vez, eficazmente, para a drenagem da água das chuvas : Ievando-a~ para as camadas profundas; as galerias permitem ao ar atmosférico atingir o solo mais profundamente; elas facilitam muito a descida das raízes de tamanho moderado; estas rarzes, insinuando· se pe
los canais, vão absorvendo o material humoso que as reveste e facilnlente atingem as profundidades do solo; as galerias permitem a absorção e retenção das
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águas de chuvas, favorecendo o desenvolvilnento da flora bacteriana pela aeração, aUIlH~l1tando o poder nitr iticante dos solos.
Hesultados dt! pesquisas fllostfilrn que a pUI usidade do solo aumenta graças
às rninllocas, de 57,1 a 59,8%; a per rneabilidade para a água aunlenta de 2,9 li· tros pUI 10 hOI üs, para 74 litros; aurnenlo da pellllHalJilidade ao ar de unla vez e 'lleia e duas veles e alJrnento do conteúdo de bactér ias nitrificanles ern cinco
vezes nlais1se cornparado cOln o solo original. . _ • Ao InCSlno terllpo que se rnultiplicam rapidanlente as minhocas vão produ·
zindo uln pl ecioso hÚlfllJS pela contínua ingestão e excreção de rnateríal olgâni
co (unido , Este hÚnllJS produzido pelas minhocas revelou -se rico ern bactét ias aeróbicas, nitrobactérías, clost. idiurn e rnuitos outros ,nicroo,.yan;slTlos e enzi ·
rllas que facilitarn ~ assírnilaçãu d~ nutrientes pelas laíles das plantas. Unla análise desse húnlus ,cvelou 30 a 50% a ,na is de .llalé, ia orgânica, cinco veles f'llais nitrogênio, duas vezes rnais cálcio, duas vezes rnais nlagnésio, sete vezes mais fósforo e onze vezes nlais rico e,n potássio quando comparado conl a Cél
.nada nalul ai do solo; possui urnidade em torno de 50% e pH 7, ou seja, não tern acidel, resultado da açfio de glândulas calcíferas existentes pr 6xirno à boca da nlinhoca que neutraliza a ação dos ácidos orgânicos hUrTlificados. O húrnus da fTl ~nhoca apresenta alta capacidade de tr oca catiônica (eTC).
A conlposição do húmus, enl geral, varia de acordo com o material utílilado para alimentar as minhocas. DanlOS a seguir e con10 orientação, o reSlJ itado de
Uflla análise do hú,nus.
ELEMENTOS:
Unidade pH Cinzas Matéria orgânica Húmus total Nitrogênio An idrido fosfórico
Óxido de potássio
Car bono tOlal
Cálcio
Magnésio Ferro em pp fTl
Manganês ell} PP m Cobre ero pp m Boro enl pp rn
% DO PRODUTO NATURAL
54,76 7,9
27,79 17,45 6,80 0,76 1,24 1,80 3,22 1,18 0,40
210,40 77,30 12,40 3,10
Extra(do do livro: Criação de Minhocas -- Autor - Márcio Infante Vieira.
13
Segundo F. Fernandes "a presença de fninhocas nos solos agrícolas é unla in dlcacão de sua fertilidade. Nos solos agrícolas 1l1al Inanejados, que perderarn a vida e 1icanl estéreis flunCd se encontranl rninhoca5~ as plantas que crescenl erll solos fertilizados C0l11 húrnus dH minhocas, são fllíHS fortes, mais sadias, 1l1aís ,esístentes ao ataque de pragas e doenças e têln sabor mais acentuado. O solo fica
talnbénl corno as plantas, rnenos suscel ívelà invasão pOI insetos daníllhos e elltetlllidades. TutJo isso senl 1alar na sua principal função que é dar vida ao
solo". O qUiHJro abaixo derllonstla o alHl1en10 de feltilidade de um solo quando tra
billhado corn húnlus de rnillf10Ci:L
1'1 i Ali ti (1l1~)
M.()(!I,J Ca (mg)
My (rnu)
K (pprn)
So lo a" tf~S de culoca r t IlJfnus. 5,7 O, 1 5,5 2,1 0,7 260 2
Solo depois de COIOCéll o tllJnlUS.
Ganho atribu ído ao 1lt'JlllUS
enl pel centauern.
6,2 0,0 6,5
18
Fonte: I,dolrnativo da SS Hú.nus --- Rio de Janeiro. NI.()l}~ - Mé.ttéria Orgânica ern percenla~Jern.
3,1 1,0 328 6,5
47,6 42,8 26,1 225
A rninhoca é U'll verdadeiro lIarado vivo" que substi tui eonl vantagens o arado mecânico. Pode-se dizer que lia nlinhoca é o arado mais antigo que existe na face da terra", Na Austfália diz ·se sempre que: Uquantos quilogramas de rninhocas um !hectare' de solo pastoril contiver, tantos quilogramas de ovinos o pasto suportará". FaZelTI esta relação direta, porque as minhocas rllelhoram substancialmente a produtividade do solo. São igualrnente capazes de transportar à superfície a argila lixiviada para horizontes mais baixos rnelhorando assinl a textura superficial do solo.
A quantidade de rnaterial que as minhocas trazenl à superfície é extraordinária. Foi exatamente esse fato que impressionou o naturalista inglês Charles Darwin, levando-o pacientefTlente a observar as nlinhocas, recolhendo seus dejetos, pesando-os e calculando a quantidade produzida em áreas determinadas. Em nlU itas Regiões da Inglaterra Oarwin concluiu que de 15 a 40 toneladas de terra das ca.nadas profundas, por hectare em um ano, serianl trazidas na superfície
14
pelas ntinhocas e d(~p()sitadas ao lado da abertura das galerias. Darwin avaliou
tarnbénl que as nlinhoeas podem for 11Iar ern 10 anos de atividade, uma carnada
de solo inteirarnente novo ~~ tértil, na superfície da terra, conl cerca de 2,5 a 3,5 cenl {.netros de espessu r a Convérll ,ecorrJar, neste paI ticu lar, que a nat ureza leva
de 100 a 400 dnos pata 10JJllar Ulnét carnada de 1 centíllletto de solo féttil a
pal1ir do Inatel ial JHifllitivo (Rocha Ma1riz) .
Por causa da sensibilidade da rninhoca e eln deconéncid de fatores arnbieJ,tais,
existe grande variação nas quantidades encon 'tradas nos diferentes solosjcakula
se essa véHjéJ~:ão en ti e 1 a flOO espécies por rnetro quadr ado o que siqllit íca di7et que ern urn hectare pode se enconlléH de 10_000 a 5 .000.000 de indivíduos.
A qUéHltidilde de hú,nU5 de minhoca d ~er utilizada depende dt~ vár íos fato,es
dentre os quais desldcdrn se : eSfH~cie il St~r ddubada (ciclo cultural), disponibilida
de do fnalerial, época e forrnd de iJplit:a~;U() A tabela abaixo e a seguil suqt?tP
quantidades que podenl se, 'Jldild(hj~ de acnnJo COfll a cultura que se quer
adubar.
ClJLTUJ~A
Cit,us
tiur t illl(,: a~ d(.!
foi "d, l tj~Ju ' 'fies
CapllHJlr d
S () J d, J--e i JíH )
Milho
Plilntds de 111 tel ir)!, Sei/li
bafllt>dl dS, A vencüs, etc.
Pl ANTIO SULCO OBS ----~---. ,- _. _ . _,- -----_.-
300 d !J()(J!J p/c IJ
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10Ü<Jfcovd ou 600u/nl2 de can teir o.
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ru dil áreé.J ,nistu r ar cf éJ te, r a
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1 d1, bky p/ pé dIJlIH,'lltan(fo 30'7'0 t ()( tos os anos .
I a l,bku p/ pé alH1H!rl tíHHJO 30% todos os il.H)S.
L{JOq p/ va~() de 4 veles éHJ ano au ' ~H'! J f1len lando ]0°1"
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FOllte: I d/(!IHJa Sdlllu Antonio n. J.
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SISTEMAS DE CRIAÇÃO
Existenl varlos sisternas ou fonnas de SH criaI minhocas em cativeiro; na
escolha do sisterllil ideal deve ·se observar alguns aspectos tais como: objetivo
da criação, se produção de húrllus, de nlinhocas ou de arnbos, se é voltada para cOlllercialização de matrizes; disponibilidade de recursos do criador etc. Quelll se propuser a criar minhocas deverá tornar providências par a que o rlleio
ambiente apresente condições altalneflte favoráveis no que se refere à rnovi,nen tação, à aeração, urnidificação e existência de alimento nas proporções e quanti
dades necessárias. Os ambientes nitrogenados são altanlente benéficos para esses oligoquetas; a
acidez pronunciada é urn dos fatores que inlpedem o desenvolvinlento das
nlinhocas,· o pH ideal para o seu desenvolvirTlento vai de 5,0 a 7,5} portanto
regiões ' mu i to ácidas ou inversarnen te básicas não são adequadas.
A telllperéitura ideal para criação está na faixa compreendida entre 180 C e 270 C; a umidade variando de 30 a 50% e pro1P,ção contra radiação solar; no que
se refere à alimentação, podenlos dizer que as rninhocas preferem conlO alimento básico qualquer tipo de esterco o qual deve ser curtido para evitar ferrnentação que elevaria a temperatura do nleio e retirada a urina que sendo ácida prejudicaria a minhoca. T~rn-se observado que as nlelhol es produções acontecern quando
são uti lizados estercos de bovi nos ou de eqüinos; o esterco de gali nha deve ser
usado corn cautela urna vez que se aquece corn faci I idade e rapidez causando
desequil íbrio de temper atura. Outros restos orgân icos desde que tenham sido
fermentados, tanlbénl poderão ser utilizados na alirnentação; a exemplo citam~se: restos orgânicos de cozi nha, como: verduras, cascas de ovos, borra de café,
cascas de frutas e derTlais Rrodutos biodegradáveis, até mesmo papel de jornal picado ou ,not'do enl liquidificador pode ser usado na dieta das minhocas. Entre tanto, devem se. evitados materiais excessivarnente ácidos ou então usá-los misturados conl calcário com o intuito de reduzir a acidez.
Existem verdadeiras rações que podem ser preparadas para alimentar minho
cas em cativeiro; lUlla das utilizadas é composta percentualrnente dos seguintes materiais: 30% de serrapílheira (restos vegetais decompostos das árvores de matas junto com um pouco de terra), 10% de serragem (pó de serra), 40% de
esterco bovino curtido, 5% de farinha de peixe, 2 a 5% de açúcar mascavo
(açúcar preto) dissolvido em água, completando os 10% restantes com unla
mistura de soro de leite dissolvido em água a 50(~.
CRIAÇÃO EM VALAS
Este tipo de instalação tem sido utilizado por ranicultores paranaenses, que criam minhocas objetivando principalmente a ai imentação de rãs ern regi-
16
me de confinanlento. As características de construção das valas são as seguin·
tes:
-- Procura-se unl terreno seco, ou nlelhor, enl local onde ao ser cavado não brote água.
-- Abre-se uma vala com 40 centímetros de profundidade a 1,3 metros de largura e 5 ou 10 rnetros de conlprimento.
- Coloca-se pedra britada ou cascalho, numa altura de 10 cent ímetro, e de· pois coloca-se Uma fina carnada de areia para cobrir os espaços vazios entre as
pedras e permitir uma boa drenagenl da vala.
- Construir laterais corn tijolos de barro ou tábuas berTl assentadas, de tal
forma que impeça a fuga das rninhocas.
- Circunda-se a vala conl unl cordão de terra elevada a firn de evitar a invasão pelas águas das enxurradas.
- Ao lado dessa elevação de terra protetora, abre-se urna valeta rasa com 5 a
10 centinletros de profundidade para captar água de chuvas.
- Depois do enchimento cobre-se a vala com folhas de bananeira, coqueiro
ou de outras plantas que tenharn folhas bem largas e avantajadas. Isto nlanterá escuro o ambiente superior da vala, além de conservá ~ la fresca.
A criação em valas apresenta certos inconvenientes no que se ref::lre à rnão··
de-obra para construção e custo do investimento; entretanto, não deve ser
descartada unla vez que os criadores do Paraná já utilizam este método a alguns
anos com bastante sucesso.
l ) I \ « , «, - Pedra
[_l~l=O - Tijolos
Ç-:A.l't!:t:,) - Esterco
1,Oa 1,3m
pedra + areia
x Xx.xXXX - CotJertura com palhas de baflana ou coqueiro .
Figura 2 - Vista em corte de urna vala para críação de minhocas.
17
CRIAÇÃO EM CANTEIROS
Este é o sisterna de criação mais cornumente ernpregado, tanto por criadores europeus corno pelos brasileiros. A criação em canteiros é utilizada em criató· , ias que visanl a produção de húmus e de minhocas para cOrllercialização, sendo também opção daqueles que criam apenas para fertilizar as suas lavouras. Os canteiros pQssuern as seguintes características:
- Construção cOln tijolos unidos por urna massa de barro que lhe serve de
liga. Com uma pequena declividade para escoarTlento do excesso de água.
- A altura de 30 centínletros, 1 nletro de largura e 5 ou 10 metros de
comprirnento.
- Na base dos canteiros coloca-se uma camada de pedra br itada, recobrindo
a com cimento com Ufll leve declive de modo que perrnita a drenagem eficiente
do excesso de água. - Um canteiro de 10 nletros deve ser dividido em q'uatro partes: a primeira é
menor corn apenas 1 metro quadrado. Nessa parte o criador faz a seleção de matrizes. As outras partes devern ter 3 metros de comprinlento cada.
- Cada canteiro de 10 111etros consome 2,5 toneladas de esterco curtido, sendo a mesma quantidade consunlida quando a criação é feita em valas.
- Para povoar os canteiros corn minhocas o criador deve colocar 2 litros em cada divisão de 3 metros. Na divisão menor, a de 1 rnetro, usada para seleção de
matrizes, coloca-se apenas 1 litro de minhocas, totalizando 7 litros. Observe-se
que são consideradas como rnatrizes, as rninhocas rllaiores e mais fortes que são selecionadas para povoar novos canteiros" É a partir da seleção de matrizes que o criador pode ter aunlentada inúmeras vezes a quantidade com que iniciou
a cliação.
O,JO
Figura 3 - Desenho em perspectiva de um canteiro de criação.
18
- F inalmente os canteiros são cobertos com folhas ou capim seco, para evitar
radiação solar direta, tal corno na criação ern valas.
Apesar de ser a técnica de criação rllais utilizada, alguns criadores tecem co
mentários negativos sobre este tipo de sislelna, argumentando a ocorrência de
fuga das nlatrizes e que os canteiros perrnitern a entrada de predadores (inimigos
natur ais); observou-se no entanto que essas perdas não chegam a prejudica~ o sucesso da criação . .
CRIAÇÃO EM TONÉIS DE CIMENTO
É tarnbém un1a opção para se criar rninhor:as enl cativeiro. Esta técnica foi de
senvolvida por urna ernpresa que conlercíalí/a húrllus de minhoca, localizada no
Estado do Rio de Janeiro. Utilizando-se anéis de cirnento (comumente usados
para poços), com diâmetro de 1 metro e altura de 50 centínletros. Imaginava-se
que o cinlento seria prejudicial à vida das rninhocas; os trabalhos até então dp.
senvolvidos permiterll concluir que, quanc10 os anéis são bem lavados (antes do povoarnento), não se registram casos de rl)ortes dos aninlais. Para enchimento
dos anéis, observe-se as segu intes etapas:
0,5 rnetro
1 llIet ro .
Figura 4 - Desenho de 11m anel de criação.
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tela de nylon
Tira dü borracha
inclinação
Colocação dos anéis na posição vertical (com a boca para cima).
-. Cirnentação do fundo do anel (até 5 centímetros) ern forma de funil,
para que hajam Quedas laterais. _. Colocação pe 2 drenos feitos com canos de PVC nas laterais inferiores,
para facilitar a drenagem do excesso de água. --- Para evita. a fuga de matrizes, as pontas dos drenos e a boca do anel devem
ser cobertas com telas plásticas de cor branca e amarradas com tiras de borracha. ,._. Para enchinlento do anelo criador deverá observar os itens a seguir:
a) Coloca-se a prirlleira camada de esterco curtido COfll aproximadamente 10 ctn.
b) Sobre esta carnada despeja-se 1 litro de matrizes (rninhocas selecionadas).
c) Coloca-se a segunda canlada de esterco curt;do com aproximadamente
30cm.
d) Cobre-se este nlaterial COlll capim seco até a boca do anel. Cada anel con
some aproximadamente 400 kg de esterco. Ao compararmos o sisteméi de anel
com o de canteiro, conclui-se que são necessários 6 anéis para obter o
mesmo rendimento de um canteiro.
VERMICOMPOSTAGEM
Dá-se o nOfne de vermicornpostagem à tecnologia que utiliza minhocas pa
ra digerir a matéria orgânica, provocando sua degradação. A vermicompostagem
teve in ício através de observações feitas por agricu Itores que notavam a presen
ça de minhocas em locais úmidos onde se acumulavam grandes quantidades de
resíduos orgânicos. Segundo a professora Christa Knapper: liA vermícomposta
gem nada mais é do que o preparo de um composto orgânico auxiliado por minhocas pertencentes aos gêneros Eisenia e Pheretima".
As minhocas do gênero Eisenia devern ser introduzidas no material compostado quando a temper atura do composto estiver estável e as do gênero Pheretima
quando o composto estiver pronto em termos de decomposição. Recomenda-se
cerca de mil minhocas para cada 2 m 2 de área pelo composto.
Os mais diversos materiais podem ser usados na compostagem. Citamos como
exemplo:
Casqueiros de cacau (envelhecidos).
Palhas secas (diyersas).
Restos de frutas e verduras.
Folhas e ramas de mandioca.
F olhas de bananeira.
A montagem da pilha e preparo do composto deve obedecer à seguinte se
qüência:
20
1 .... Urna carnada do material corn 20 centínletros de espessura, seguida de out, a carnada de esterco anirnal COrll apr ox irnadarnente 5 centínletros.
2 A alt ura total do cOlnposto não deve ultrapassar 2,0 rnetros, e a largura 3,0 rnet, os. () cornprirnento dependerá da disponibilidade do rnaterial.
3 Após a nlontagern da pilha deve·se efetuar uma cobertura com palhas de bananeirét, coqueiro ou de outras plantas que tenham folhas heln largas.
4 () cOfnposto deve ser nlolhado fr eqüentemente a firrl de rTlanter ~ umida-de ern to, no de 40 a 60%.
5--- Deve se virar o cornposto a cada 35 dias para aumentar o nível de aeração da pilha,
6· Dependendo do mate. ial utilizado e do manejo que é dado ao composto, a estabil ilação (final da COrTlpOSlauern) ocorrerá entre 110 e 140 dias após a nlont agerll da pi lha.
INIMIGOS NATURAIS DAS MINHOCAS
A rninhoca é considerada como urna espécie anirnal que não tem nenhum órgão de defesa contra inimigos naturais o que aumenta sua vulnerabil idade diante dos seus predadores. Corno principais inimigos destacarnos as sanguessugas, cen topéias, fornligas, pássaros, ratos, sapos e rãs.
Quando criadas nos minhocários, encontranl-se protegidas de fllUitos dos seus inimigos. Consideramos as centopéias e forrrligas, principalmente as lava-pés, como os principais inimigos das minhocas criadas em cativeiro. O controle das centopéias consiste na catação manual, urna vez que inexistem produtos específicos para erradicá-Ias. Para formigas aconselha-se a aplicação de produ tos fOrJnicidas para erradicar forrnigueiros próximos aos canteiros.
DETERMINAÇÃO PRÁTICA DE UMIDADE E TEMPERATURA, USADA NOS DIFERENTES SISTEMAS DE CRIAÇÃO DE MINHOCAS
Sendo a umidade e a temperatura dois pontos determinantes no sucesso da criação, deve-se ter sempre o cuidado de verificar se está havendo variações, pois sabe·se que condições adversas podem provocar desequil íbrios que levarn à rnorte das rninhocas. Par a rTledir a tenlperatura ut iliza-se urn termô,netro apropriado de aproximadarnente 20 centímetros, que é introduzido na massa orgânica, permitindo a leitura direta na coluna de mercúrio. Caso a temperatura encontre-se acima da faixa nOJ nlal, deve-se fazer então, regas nlais freqüentes; os aumentos de temperatura devern ·se quase sempre a má curtição do esterco; para medir a umidade espreme-se LJ.n punhado de substrato na palrna da mão, estando boa quando observa-se o escorrimento de um pouco d'água entre os dedos; no caso de faltar umidade, o problema é resolvido conl a adição de água, feita com um simples regador.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredita-se que no futuro, as minhocas serão um dos principais insumos da agricultura, já que a elevação dos custos de produção, sobretudo dos fertil izantes químicos, far"á com que o agricultor se veja obrigado a produzir adubos em sua propriedade, mesmo;. utilizando o adubo químico apenas para completar a falta no húmus em termos quantitativos.
Na década de 60, o uso demasiado de fertilizantes químicos acabou por influir na qualidade dos vinhos produzidos por países da Europa. Esses vinhos estavam perdendo o que se chama de UBouquet"; há dez anos a Itália reverteu esta situação utilizando o húmus produzido pelas minhocas e hoje voltou a elevar a qualidade dos seus vinhos.
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22
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