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Monografia: Usucapião

UJN

2007

INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho consiste em comentar a aplicação do instituto do usucapiãoem suas

várias espécies, mediante os institutos legais. Não é nossa vontade exaurir o assunto, mas sim,

que este trabalho sirva para dar início a outras pesquisas sobre o tema, já que o Novo Código

Civil traz substanciais mudanças perante a legislação anterior.

O que ocorre hoje é que o usucapião é um instituto que faz parte da teoria geral do direito,

que tem espécies próprias do direito provado e outras específicas do direito público, como é o

caso do direito urbanístico. O usucapião é a aquisição do domínio pela posse prolongada, na

forma da lei, tendo como objetivo acabar com a incerteza da propriedade, assim como

assegurar a paz social pelo reconhecimento da propriedade com relação àquela pessoa que de

longa data é o seu possuidor.

É farta a doutrina que se aprofundam no usucapião de bem imóvel, e aqueles que ao tentaremexaminar os dois, sempre discorrem muito mais sobre os bens imóveis do que os móveis. Os

doutrinadores pesquisados afirmam que os dispositivos legais visam garantir o pleno

ordenamento das funções sociais, além de garantir o bem estar de seus habitantes e regular

todas as espécies de usucapião, inclusive o constitucional.

A metodologia a ser utilizada será a pesquisa bibliográfica onde buscaremos conhecimentos

embasados nas vozes dos doutrinadores.

O presente trabalho está assim dividido: no primeiro capítulo relata-se a origem histórica e o

conceito de usucapião. No segundo capítulo discorreremos sobre o usucapião e suas espécies

no Direito Brasileiro, não obstante nos atermos a quatro espécies e seus requisitos que, a

nosso ver, dará uma visão geral do que a ser o usucapião. Em sequência, no terceiro capítulo

falaremos sobre a prescrição no Direito Civil e no quarto e último capítulo, esclareceremos os

procedimentos jurídicos, ou seja, a Ação e a Sentença.

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Com isso, esperamos contribuir, como dissemos na inicial, para que outros estudos sejam

iniciados sobre o tema e que possamos com o nosso trabalho oferecer a abertura para muitos

outros que, com certeza, virão.

1. USUCAPIÃO

1.1 ORIGEM HISTÓRICA

O usucapião é segundo José Carlos Moreira Alves em seu livro Direito Romano (1999, p. 311-6)

um instituto antiqüíssimo, anterior a Lei das Tábuas (450 A.C que já apontava a posse durante

determinado tempo como requisito indispensável). O direito romano aprimorou a usucapião

(nas fases pré-clássica, clássica e pós-clássica), fundando seus elementos caracterizadores que

vigoram até os dias atuais.

O fator primordial no Direito Romano, para a aquisição do domínio foi o tempo. Nas leis das XII

Tábuas os prazos eram determinados: dois anos para os imóveis e um ano para os móveis.

Mais tarde, segundo Pedro Nunes, Justiano (Rei bárbaro Bizantino em Constantinopla - Ano

534 - d.C), dilatou-se para dez anos para os bens imóveis entre presentes e vinte anos entre

ausentes (regras da ionge temporis praescriptio). (1997, p. 5)

O usucapião em princípio era direito exclusivo dos cidadãos romanos eleitores em Romaexcluindo os peregrinos, porém, a expansão geográfica de Roma nos vastos territórios forada

Itália, em locais povoados pelos peregrinos, o instituto ao usucapião lhes foi estendido

reconhecido em justo título e boa-fé para proteção as suas posses. O imperador Teodósio

introduziu uma nova instituição de caráter extintivo: praescnpno longissimi lempons, a

prescrição como meio extintivo das ações.

Caracteriza-se pelo surgimento de duas instituições jurídicas. Uma de caráter geral para

extinguir as ações e outra de maior aquisição, representada pelo antigo usucapião. Esta visão

monista foi transportada para o Código Civil que regulava a prescrição e usucapião de formaunitária. No entanto prevalece uma fusão entre as duas teorias, sendo o usucapião uma força

criadora e extintiva, visão dualista assim entendida por Clóvis Beviláqua.

Justiano, rei bizantino em 534, de acordo com Aldyr dias Vianna, divulga "As Institutas

(Teodora-Francis Févre) ao usucapião do direito romano estendeu a prescrição de longa

duração, que passou a denominar-se de prescrição aquisitiva", (1983, p. 5-6). Verifica-se a

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identidade vocabular pela qual a praescriptio tanto serviu para a prescrição do direito de ação

pelo decurso de tempo, como para a aquisição da propriedade o que origina a discussão para o

direito moderno pelo surgimento de dois critérios: o monista e o dualista.

O critério monista seria a prescrição extintiva enquanto o critério dualista seria a prescriçãoaquisitiva. A maioria das legislações modernas segue a corrente dualista porque entendem que

o usucapião tem vida própria, com contornos peculiares e é autônomo, apesar de não perder

afinidade com a prescrição. Segundo Vianna, comparando a prescrição extintiva e a prescrição

aquisitiva. Depara-se com uma tríplice diversidade: de objeto, de condições e de efeitos. A

prescrição extintiva tem por objeto as ações estendendo-se a sua aplicação, a todos os setores

tanto no direito civil, como no direito comercial. (1983, p.7-8).

Suas condições elementares são: a inércia e o tempo. O efeito é de extinguir as ações. O que

não acontece com o usucapião, também chamado de prescrição aquisitiva, que tem por objetoa propriedade, circunscrevendo-se ao direito das coisas, na esfera unicamente do direito civil

sem projeção no direito comercial. Também são condições elementares do usucapião a posse

e o tempo acompanhado úe tusto iituio e boa te (usucapião ordinário). O efeito e a aquisição

do domínio.

Segundo Pedro Nunes, "O usucapião se subordina a uma necessidade de ordem social e

econômica, a um imperativo de caráter público e para o bem público a fim de que algumas

coisas não ficassem por muito tempo em domínio incerto [...]". (1997, p. 6). O usucapião é ao

mesmo tempo força criadora e extintiva

1.2. CONCEITO

A definição clássica adotada pêlos juristas nacionais, segundo Pedro Nunes em sua obra Do

Usucapião (1997, p. 4-5), é de Modestino na definição romana Usucapio est adjectio dominii

per continuationem possessionis temporis lege definit. Significa modo derivado de adquirir o

domínio da coisa pela sua posse continuada durante certo lapso de tempo, com o concurso e

requisitos que a Lei estabelece para esse fim. Portanto, Usucapião (de usu capere - tomar pelo

uso).

Lenine Nequete (1983, p. 5), complementa afirmando que o usucapião não é apenas um modo

de aquisição de um direito de propriedade, mas, também, de outros direitos reais, passives de

serem objeto de posse continuada. O usucapião é uma forma de aquisição da propriedade que

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depende não só da posse qualificada, mas também do decurso de tempo. Por extinção de

direitos observam-se dois institutos: a prescrição e a decadência.

O usucapião é uma forma originária de aquisição da propriedade, por conseguinte do

nascimento de uma relação direita entre o sujeito e a coisa. Por ser causa autônoma, por si sópassa a gerar título constitutivo da propriedade.

É segundo Nunes, o domínio da coisa que se apóia principalmente na negligência ou

prolongada inércia do seu proprietário com o não uso delas. "[...] A perda ocorre quando o

dono da coisa manifesta expressa ou tacitamente, a intenção de não mais tê-la como sua; ou

não a ocupa, ou a deixa por incúria ou negligência, inteiramente ao abandono, por longo

espaço de tempo". (1997 p. 14-5).

Caracteriza uma forma de aquisição de natureza originária, pois o adquirente não sucede

 juridicamente o proprietário. O usucapião é um modo de aquisição de propriedade assim

como de transferência de propriedade.

Como define também, o civilista português Menezes Cordeiro (1979, p. 467), da Universidade

de Lisboa, a usucapião é "a constituição, facultada ao possuidor, do direito real

correspondente à sua posse, desde que esta, dotada de certas características, se tenha

mantido pelo lapso de tempo determinado na lei". O usucapião é uma forma de aquisição da

propriedade que depende não só da posse qualificada, mas também do decurso de tempo. Porextinção de direitos observam-se dois institutos: a prescrição e a decadência.

Não bastasse, a jurista Maria Helena Diniz, em seu livro Curso de Direito Civil Brasileiro, pelo

usucapião define:

O legislador permite que uma determinada situação de fato, que, sem ser molestada, se

alongou por certo intervalo de tempo previsto em lei, se transforme em uma situação jurídica,

atribuindo-se assim juridicidade a situações fáticas que amadurecem com o tempo. A posse éfato objetivo, e o tempo, a força que opera a transformação do fato em direito. O fundamento

desse instituto é garantir a estabilidade e segurança da propriedade, fixando um prazo, além

do qual não se podem mais levantar dúvidas ou contestações a respeito e sanar a ausência de

título do possuidor, bem como os vícios intrínsecos do título que esse mesmo possuidor,

porventura, tiver. (DINIZ, 2002, p. 144)

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Modernamente, têm convergido os autores em destacar mais o cunho social desse instituto.

Através dele, segundo tais doutrinadores, atinge-se o bem comum, pois à coletividade

interessa que se dê à coisa usucapienda o uso mais adequado, seja mediante o seu cultivo, a

sua utilização como morada, a sua conservação, etc. Desta forma todos sairiam contemplados,

cumprindo a propriedade a sua função social, entre nós, constitucionalmente exigida. (CF,

artigo 170, III. 5 XXIII).

Com a usucapião, portanto, a lei procura fazer justiça, na medida em que protege aquele que

faz boa utilização do bem, não protegendo aquele que com sua inércia não utilizou o bem ou

não se opôs a sua utilização por outra pessoa.

Todavia, como se percebe o direito brasileiro não prevê apenas a posse (poder de fato) e o

tempo como requisitos necessários à usucapião. Capacidade do possuidor, qualidades da coisa

a ser usucapida, boa-fé (ignorância dos obstáculos que impedem a regular transmissão dapropriedade) e justo título (título que contenha algum vício ou irregularidade que o impede de

ser instrumento apto para promover a transmissão da propriedade; suanoção está ligada a de

boa-fé) são outros requisitos que tanto o Código Civil de 1916 quanto o de 2002 estabelecem

para esta forma de aquisição da propriedade.

Maria Helena Diniz entende ainda que a Usucapião também fosse um instituo híbrido - de

perda e, ao mesmo tempo, de aquisição da propriedade. Segundo Maria Helena.

 

Entendemos que a usucapião é, concomitantemente, uma energia criadora e extintiva.

Extintiva porque redunda na perda da propriedade por parte daquele que dela se desobriga

pelo decurso do tempo. Aquisitiva porque ele leva à apropriação da coisa pela posse

prolongada. (DINIZ, 2002, p. 143-144)

2. USUCAPIÃO E SUAS ESPÉCIES NO DIREITO BRASILEIRO

Depois de 26 anos de tramitação no Congresso Nacional, o Novo Código Civil Brasileiro entrouem vigor em 11 de Janeiro de 2003. A nova legislação traz alterações significativas para a visa

dos cidadãos brasileiros. Contando com 2.046 artigos, o novo Código Civil dedica artigos aos

usucapião, com mudanças em prazos para que o ocupante passe a proprietário.

Em nosso ordenamento jurídico, existem quatro espécies de usucapião de bens imóveis:

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a) A usucapião ordinária (artigo 1.242, CC/02), b) A usucapião extraordinária (artigo 1.238 do

CC/02);

c) A usucapião especial rural (artigo 191, CF/88 e artigo 1.239 do CC/02);

d) A usucapião especial urbana (artigo 183, CF/88 e artigo 1.240, CC/02), cujas espécies

passaremos a comentar em seguida.

2.1 USUCAPIÃO ORDINÁRIO

O efeito no usucapião ordinário de acordo com o artigo 1.242 do novo Código Civil é a

aquisição do domínio por tempo mínimo determinado, sem interrupção devidamente

comprovada, sendo ainda utilizada com boa-fé.

A posse de boa-fé, portanto, "requer a ausência de culpa, devendo, pois, o possuidor

empregar todos os meios necessários [...] para certificar-se da legitimidade de sua posse".

(VENOSA, 2003, p. 75).

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e

incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.

Vale dizer que se a posse for exercida mansa e pacificamente, sem qualquer interrupção, como

se dono fosse, não se manifestando por qualquer forma o proprietário, com justo título e boa-

fé, pelo prazo de 10 anos, pode, através de sentença judicial, requer titularidade da prova. O

que aqui se vê de novo é que, se o imóvel foi adquirido onerosamente com registro cancelado,

havendo realização de investimentos de interesse econômico e social, ou tenha-lhe servido de

moradia o prazo diminui para 5 anos. (§ único do artigo 1.242)

2.1.1 Os requisitos do usucapião ordinário

a) Posse: Artigo 1196 a 1237. Ela deve ser contínua e incontestada, exercida com animus

domini (intenção de ter a coisa para si, de exercer sobre ela o direito de propriedade), durante

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o lapso prescricional determinado por lei. Deve ser mansa e pacífica não podendo ser

clandestino, nem violento ou precário. Com isso fica excluída mera detenção de posse. "A

posse deve ser mansa e pacífica, isto é, exercida sem contestação de quem tenha legítimo

interesse, ou melhor, do proprietário contra quem se pretende usucapir." (DINIZ, 2002, p. 151)

b) Decurso de Prazo: o prazo varia de espécie a espécie (artigos 1238 a 1242, CC e 9° e 10 da

Lei 10257/01). É requisito essencial para toda usucapião. "Qualquer que seja o usucapião, é

indispensável que a posse se estenda ininterruptamente por todo o tempo exigido em lei, e

que o prazo se conte por dias e não por horas." (PEREIRA, 2003, p. 141)

 

O artigo 1.238 do CC exige lapso de tempo por 15 anos desde que a posse ocorra sem

interrupção, nem oposição e possuir como seu o imóvel independentemente de título de boa-

fé e a sentença servirá de título para o Registro de Imóveis. O único do mesmo artigo reduz o

prazo a dez anos se o possuidor reside no imóvel habitualmente ou realizado obras ou serviçosde caráter produtivo. O possuidor pode acrescentar sua posse à do seu antecessor, contando

que ambas sejam contínuas e pacíficas e da combinação de ambos dá-se a accessio

possessiones. (Acesso possessório)

c) Justo Título: de acordo com o artigo 1201, CC, é aquele empregado como "fato gerador do

qual a posse deriva [...]. Configura estado de aparência que permite concluir estar o sujeito

gozando de boa posse". (VENOSA, 2003, p. 78)

Ainda comenta Venosa (2003, p. 197) que "é uma causa jurídica, porém, seria melhor a lei

denomina-la de 'título hábil'".

O artigo 1.260 trata do fato gerador da posse. Nem sempre é um título. Pois, um título

apresentado deverá ter sua eficácia decidida no processo. Justo título é

 

todo ato ou negócio jurídico que em tese possa transferir a propriedade, e que só não

produziu efeito por estar contaminado por algum vício. São vícios e defeitos

ignorados pelo adquirente. O usucapião ordinário tem a qualidade de sanar o defeito.

 

d) Boa Fé e Má fé: O justo título exterioriza-se e ganha solidez na boa-fé.

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Aquele que sabe possuir de forma violenta, clandestina ou precária não tem justo título.

Percebe-se, que Justo Título e Boa-fé é um binômio. Ambos estão interligados, são

cumulativos, a falta de um inviabiliza o outro. (VENOSA, 2003, p. 197).

Os artigos 1.216 e 1.217 do Código Civil valorizam e dignificam o usucapiente. É possivelmente

ser o mais importante dos requisitos do usucapião ordinário. Aquele que ignora o vício ou

obstáculo que lhe impede a aquisição da coisa é possuidor de boa-fé. Por ignorância resulta a

convicção de que a possui legitimamente. A ciência do vício que impede o domínio da

propriedade pelo usucapiente descaracteriza a boa a fé, no entanto a superveniência da má-fé

depois de consumado o lapso aquisitivo não obsta a aquisição do domínio.

2.2. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIO

"Não é imprescindível que o usucapiente exerça por si mesmo e por todo o tempo de sua

duração os atos possessórios [...]. Consideram-se [...] legítimos os atos praticados por

intermédio de prepostos, agregados ou empregados". (PEREIRA, 2003, p. 145)

 

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um

imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer

ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de

Registro de Imóveis.

Segundo Renato Ribeiro (2004, p. 4), em seu artigo Direito das Coisas: principais modificações,

afirma que o prazo que era de 20 anos, passa a ser de 15 anos, sendo que no usucapião

extraordinário não há exigências de título, se há boa-fé ou não, "sendo necessário apenas o

decurso de tempo. Decorrido o tempo, obtém-se a possibilidade de se obter sentença judicial

para usucapir o imóvel". A inovação trazida para esta espécie, segundo Ribeiro, está na

redução do prazo para 10 anos se o possuidor realizou no imóvel obras ou serviços de caráter

produtivo ou o utilizou como moradia habitual.

A diferença, segundo Ribeiro (2004, p. 4), entre o usucapião ordinário e extraordinário é a

exigência do justo título e boa-fé no primeiro e dispensando esses elementos no segundo

acrescentando lapso de tempo maior. Regulado pelo artigo 1.238 do Código Civil, no Código

anterior era o lapso temporal de vinte anos (antigo artigo 50-CC) agora diminuído para 15

(quinze) anos nos seguintes termos:

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2.2.1 Requisitos do Usucapião Extraordinário

a) Posse: Artigos 1196 a 1237. Deve ser exercida com animus domini (vontade de possuir)

durante o prazo legal, ininterruptamente e sem sofrer oposição ou contestação de quem quer

que seja. Basta que alguém possua como seu, um bem, durante certo lapso de tempo, para

que lhe adquira a propriedade.

b) Decurso de Prazo: Segundo Ribeiro (2004, p. 5) a posse contínua por 15 (quinze) anos não

interrompido e sem impugnação. Situação a perdurar pacificamente por 15 anos ininterruptos,

ou por 10 anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel sua moradia habitual, ou nele

realizado obras ou serviços de caráter produtivo,

c) Sentença: O Juiz reconhecerá a situação jurídica preexistente e vai certificar a existência do

direito do possuidor que se tornou proprietário. Ribeiro (2004, p. 3), o domínio não lhe é

conferido pela decisão judicial, mas sim pela posse sem oposição e pelo decurso de tempo. A

sentença é o título para a transcrição no registro competente. "É um requisito regulador da

situação jurídica do imóvel. Com o registro da sentença a situação do imóvel estará pacificada

com relação a terceiros, surgindo o efeito erga homnes, podendo o imóvel ser alienado ou

hipotecado."

Neste contexto, "antes da sentença o possuidor reúne em mãos todos os pressupostos e

requisitos para adquirir o domínio. Mas, [...] o usucapiente tem apenas uma expectativa de

direito". Silvio Rodrigues entende que esta sentença é constitutiva, "de modo que, no meu

entender, e contrariamente ao que pensa a maioria dos escritores, a sentença [...] tem caráter

constitutivo, e não meramente declaratório". (2003, p. 113)

d) Presunção de título de boa-fé, segundo Ribeiro (p. 3-4) a "expressão excluída do artigo 50

do CC Lei 3.071 de 01.01.1916, no qual, a sentença seria proclamada independente de título

de boa-fé".

O novo Código Civil deixou de observar a questão do justo título valendo-se unicamente da

posse continuada, do decurso de prazo, pela moradia ou cuidados com o imóvel no seu uso e

conservação.

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2.3 USUCAPIÃO ESPECIAL URBANO - USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL

A Constituição Federal de 1988, no artigo 183 abre espaço para o chamado usucapião

constitucional, que entrou para o Novo Código Civil sob os artigos n° 1.239 a 1.241. Na

Constituição Federal prescreve in verbis:

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquenta metros

quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia

ou de sua família, adquirir-lhe-á para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio,

desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.

 

§ 1° O título de domínio e a concessão de uso serão conferidas ao homem ou à mulher,ou a

ambos, independentemente do estado civil.

§ 2° Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

 

§ 3° Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

 

No Novo Código Civil prescreve in verbis:

Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua,

por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a

cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua

moradia, adquirir-lhe-á propriedade.

Art. 1.240. Aquele que possuir como sua, área urbana de até duzentos e cinquenta metros

quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia

ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel

urbano ou rural.

§ 1° O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a

ambos, independentemente do estado civil.

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§ 2° O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor

mais de uma vez.

Art. 1.241. Poderá o possuidor requerer ao Juiz seja declarada adquirida, mediante usucapião,

a propriedade do imóvel.

§ único. A declaração obtida na forma deste artigo constituirá titulo hábil para o registro no

Cartório de Registro de Imóveis.

E, por fim, o Estatuto da Cidade, Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, também dispondo sobre

usucapião, traz uma nova modalidade, qual seja: usucapião especial de imóvel urbano, em

seus artigos 9° a 14.

Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupados por

população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem

oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são

susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que não sejam proprietários de outro

imóvel urbano ou rural.

Nessa linha de raciocínio, Maria Helena Diniz (2002, p. 178), expõe o seguinte pensamento:

"Trata-se, de uma inovação substancial do Código Civil, fundada na função social dapropriedade, que dá proteção especial à posse-trabalho, isto é, à posse traduzida em trabalho

criado." O artigo 183 da Constituição Federal em vigor e mais recente o Novo Código Civil

disciplinam essa modalidade de usucapião, assemelhando-se muito ao usucapião

extraordinário, porém diferindo-se pelo lapso temporal reduzido a cinco anos.

2.3.1 Requisitos do Usucapião Especial Urbano

a) Posse: animus domini -o usucapiente tem intenção de dono - como se fosse seu dono. Deveser Ininterrupta, incontestável pelo prazo de cinco anos. A posse só será interrompida se uma

ação contestadora for julgada procedente. A cesse deve ser justa sem os vícios da violência,

clandestinidade e precariedade. O usucapiente deve residir na área de forma permanente. Não

pode obter o usucapião se o uso da área estiver destinado para o comércio ou modelos afins,

caso em que, utilizará o usucapião ordinário ou extraordinário dentro dos requisitos

obrigatórios. A posse deve ser pessoal desde o início admitindo-se apenas o sucessor universal.

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b) Área: quanto à área urbana é admitida somente até 250 metros quadrados, entendendo se

que o limite mínimo deverá estar em consonância com a legislação municipal e diretórios do

Registro de Imóveis.

c) Único imóvel: não pode o usucapiente ser proprietário de outro imóvel quer seja urbano ou

rural. Dirimir dúvidas quanto à situação da área se é ou não urbana deve ser observado o

critério da localização que se acha inserido no Capítulo II da Constituição Federal artigo 182 e

segs. Da Política Urbana.

2.4 USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL OU AGRÁRIO

Alencar Mello Proença em sua obra Direito Agrário (1999, p. 101) que, invocando Del Vecchio,

repete a expressão que o verdadeiro embrião do Direito

Agrário está posto "desde as épocas mais remotas".

Expõe Proença, "que no Brasil, o primeiro projeto de Código foi apresentado ao Congresso

Nacional pelo Dr. Joaquim Luís Osório, em 1914, tomando o n° 259, tendo inclusive, tramitado

parcialmente por aquela casa legislativa". (1999, p. 102-5)

Em 1964, surge a Emenda Constitucional n° 10, de 9 de novembro desse ano, e que alterou o

artigo 5°, inciso XV, letra "a" da Constituição Federal, para incluir o direito Agrário como um

dos ramos do Direito de competência privativa da união para legislar. Em 30 de novembro de

1964, houve a promulgação da Lei n° 4.504, o Estatuto da Terra.

 

O Código Civil Brasileiro de 1916, o manteve nos seus artigos 550 a 553, passando por várias

reformas constitucionais e, com o advento da Lei n° 6969/81 foi recriado o usucapião ruralcom área de 25 hectares, reduzindo o prazo para 5 anos.

 

Art. 1°. Todo aquele que, não sendo proprietário rural nem urbano, possuir como sua, por 5

(cinco) anos ininterruptos, sem oposição, área rural contínua, não excedente de 25 (vinte e

cinco) hectares, e a houver tornado produtiva com seu trabalho e nela tiver sua morada,

adquirir-lhe-á o domínio, independentemente de justo título e boa-fé, podendo requerer ao

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 juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para transcrição no Registro de

Imóveis.

Parágrafo único. Prevalecerá à área do módulo rural aplicável à espécie, na forma da legislação

especificasse aquele for superior a 25 (vinte e cinco) hectares.

Quanto à abrangência das terras por esta lei há regras específicas sobre terras devolutas como

também áreas de segurança nacional, conforme os artigos 2° e 3° abaixo transcritos:

Art. 2° - A usucapião especial, a que se refere esta Lei, abrange as terras particulares e as terras

devolutas, em geral, sem prejuízo de outros direitos conferidos ao posseiro, pelo Estatuto da

Terra ou pelas leis que dispõem sobre processo discriminatório de terras devolutas.

 

Art. 3° - A usucapião especial não ocorrerá nas áreas indispensáveis à segurança nacional, nas

terras habitadas por silvícolas, nem nas áreas de interesse ecológico, consideradas como tais

as reservas biológicas ou florestais e os parques nacionais, estaduais ou municipais, assim

declarados pelo Poder Executivo, assegurada aos atuais ocupantes à preferência para

assentamento em outras regiões, pelo órgão competente.

Parágrafo único. O Poder Executivo, ouvido o Conselho de Segurança Nacional, especificará,

mediante decreto, no prazo de 90 (noventa) dias, contados da publicação desta Lei, as áreasindispensáveis à segurança nacional, insuscetíveis de usucapião.

 

Vale dizer que a Constituição Federal em vigor elevou o seu tamanho para 50 hectares,

mantendo o prazo quinquenal. Em seu artigo 191 e § único, reza seis condições para limitar

sua interpretação, que são:

1 - O benefício se dirige a não proprietário de imóvel urbano ou rural.

2 - Tem que ser área exclusivamente rural, usando o critério da localização.

 

3 - Não pode a área ser mais superior a 50 hectares e deve ser contínua, não se aceitando a

soma de áreas.

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4 - Devendo ser área produtiva por seu trabalho ou de sua família por ocasião do pedido de

usucapião.

5 - A residência no local deve ser permanente e o beneficiário deverá estar vinculado

diretamente ao imóvel rural.

6 - Não se pode requerer usucapião rural de imóvel públicos, sejam quais forem.

3. PRESCRIÇÃO NO DIREITO CIVIL BRASILEIRO

O instituto da prescrição, segundo Maria Helena Diniz (2002, p. 245), é uma forma de limitar

no tempo o exercício do direito de ação, estabelecendo um prazo para ser exercido, uma vez

que não interessa ao Direito proteger perpetuamente o titular de uma ação, se este não

demonstra interesse em utilizá-la. É uma maneira, portanto, de proporcionar solidez às

relações jurídicas, as quais não podem ficar, sem limites no tempo, na dependência do

exercício de um determinado direito para se consolidarem. Logo, a prescrição tem como

principal objetivo a satisfação de um interesse social, "penalizando" aqueles que, por

negligência ou falta de interesse, não exercitaram seus direitos dentro do prazo determinado,

extinguindo as ações que os protegem.

Dada à necessidade de se tornar jurídica as situações que se estendem por muito tempo, à

prescrição está diretamente relacionada ao tempo.

Perante o Novo Código Civil Brasileiro - Título IV - Da Prescrição e da Decadência - Capítulo l -

Da Prescrição - Seção l - disciplina o instituto da Prescrição nos artigos 189-206. No Capítulo II -

Da Decadência - dos artigos 207-211. O artigo n° 207, da decadência, prescreve in verbis:

Art. 207. Salvo disposição legal em contrário, não se aplicam à decadência as normas que

impedem, suspendem ou interrompem a prescrição.

Com base em ampla bibliografia Maria Helena Diniz no seu Código Civil Anotado, (2002, p.

1.149), elabora comentário de que a decadência não é confundível com a prescrição. A

decadência significa a perda do direito do exercício naquele prazo fixado, portanto, se

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extingue. A prescrição por sua vez extingue a ação desaparecendo, portanto, "o direito por ela

tutelado que não tinha tempo determinado para ser exercido".

Ainda, Maria Helena Diniz (2002, p. 1.145), afirma que conforme os artigos 210 e 211 do CC, "o

prazo decadencial pode ser estabelecido pela lei ou pela vontade unilateral ou bilateral, e oprescricional é fixado por lei para o exercício da ação que protege um direito".

A decadência corre contra todos não admitindo sua suspensão ou interrupção em favor

daqueles contra os quais não corre a prescrição, com exceção por exemplo, do caso do artigo

n° 198, l (CC, art. 208), e do art. 26, § 2°, da Lei n. 8.078/90: a prescrição pode ser suspensa,

interrompida ou impedida pelas causas legais. A decadência decorrente de prazo legal pode

ser considerada e julgada de ofício pelo Juiz, independentemente de argüição do interessado;

a prescrição das ações patrimoniais não pode ser, ex oficio decretada pelo órgão judicante. A

decadência oriunda de prazo prefixado por lei não poderá ser renunciada pelas partes nemantes nem depois de consumada (CC, art. 209); já a prescrição, após sua consumação, poderá

ser renunciada pelo prescribente.

A prescrição é aquisitiva quando uma pessoa pode incorporar ao seu patrimônio determinado

direito do qual desfruta há um longo tempo. Este tipo de prescrição trata-se da usucapião.

Silvio de Salvo Venosa entende que o termo Prescrição Aquisitiva pode ser usado como

sinônimo de Usucapião Por dois motivos: a) etimologicamente, a palavra tem sua origem nolatim. Entendendo-se "usu" como uso e "capio" com sentido de aquisição, captura, tomada.

Destarte, aquisição pelo uso designaria o instituto; b) a contrario sensu, a prescrição

propriamente dita, seria a perda do direito, enquanto que a aquisição pelo uso ou Usucapião a

"aquisição do direito de propriedade". (VENOSA, 2003, p. 191)

Quanto à prescrição extintiva é aquela que, se alguém deixa de reclamar, de postular uma

ação reclamando determinado direito seu durante um longo e certo prazo de tempo, acaba

perdendo a possibilidade de reclamar.

3.1 CAPACIDADE DO ADQUIRENTE

a) Pessoais: Qualidades necessárias atribuídas às pessoas da relação possessória: o possuidor e

o proprietário. A capacidade é adjetivo cobrado do possuidor e não é cobrado em relação ao

que sofre os efeitos do usucapião. Não é permitido alegar usucapião dentre outros casos,

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entre cônjuges, na constância do casamento; entre ascendentes e descendentes durante o

Poder Familiar; entre tutelados e seus tutores, ou curadores, durante a tutela e curatela; aos

que se acharem servindo na Armada, e no Exército nacionais em tempo de guerra.

Assim, segundo Renato Afonso Gonçalves em seu artigo O novo Código Civil e a usucapiãopublicado em 11.01.2003, afirma que o possuidor da coisa tem que ser capaz para os atos da

vida civil, reunindo qualidade para usucapir, significando então que deverá ter a mesma

capacidade para ser proprietário.

Prescreve o artigo 1.244 do novo Código Civil que aplicam-se ao usucapião as mesmas causas

impeditivas, suspensivas e interruptivas da prescrição aplicáveis

ao devedor na relação jurídica obrigacional, e previstas nos artigos 197 a 202 do novo CódigoCivil.

Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das causas que

obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais também se aplicam à usucapião.

 

Ainda, Renato Afonso Gonçalves, esclarece que:

Tal mandamento se deve ao fato de que a usucapião é caracterizada pela prescrição aquisitiva,

que para alguns doutrinadores é sinônimo do instituto em exame. Assim, a guisa de

exemplificação, o marido não pode querer usucapir bemda esposa enquanto perdurar a

sociedade conjugal, ou o filho querer usucapir o bem do pai enquanto vigorar o poder familiar,

ou ainda alguém querer usucapir bem de quem está servindo às Forças Armadas em tempo de

guerra. Também não poderá ser usucapido bem de propriedade de pessoa com idade inferior

a 16 anos. (2003, p. 1)

Portanto, há a necessidade da coisa poder ser usucapida, o que não se pode falar em usucapiro ar, mar, ou seja, coisas do bem comum que são da natureza, como também os bens públicos

não podem ser objeto de usucapião.

b) Reais: Segundo Pereira (1999, p. 02-3) "No direito real existe um sujeito ativo, titular do

direito, e há uma relação jurídica, que não se estabelece com a coisa, pois que esta é o objeto

do direito, mas tem a faculdade de opô-la erga omnes", (para todos), aqui o que ocorre é um

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estabelecimento de uma relação jurídica entre o sujeito ativo e o sujeito passivo, o que explica

Pereira "uma relação jurídica em que é sujeito ativo o titular do direito real, e sujeito passivo a

generalidade anônima dos indivíduos [...]".

Não se pode usucapir as coisas legalmente consideradas inalienáveis, previstas no Código CivilBrasileiro, assim são os bens de família; imóveis dotais; bens de menores sob Poder Familiar ou

tutela; bens sujeitos à curatela, imóveis gravados com cláusula de inalienabilidade, cláusula de

eficácia real pelo registro com efeito erga onmes. Só poderão ser adquiridos por usucapião

aqueles que forem direitos reais e que recaiam sobre bens prescritíveis.

Nessa visão, segundo Cordeiro (1979, p. 225-7), os direitos reais se caracterizam pela

existência de apenas dois elementos: o titular e a coisa. Para que aquele possa desfrutar desta

não há necessidade de qualquer intervenção ou intermediação por parte de terceiros, ao

contrário do que ocorre nos direitos pessoais, em que, ademais, existem três elementos: osujeito ativo, o sujeito passivo e a prestação.

c) Formais: Os elementos necessários são a posse; o lapso temporal e a sentença judicial,

provando os atos possessórios e sua prática, sem desleixo, ou abandono da coisa possuída

indicando posse contínua ou ininterrupta. Deve provar que a posse foi exercida sem

interrupção do proprietário ou legitimo interessado demonstrando que além de continua

também foi mansa e pacífica.

Para que se tenha uma posse ad usucapionem (requisito formal), é necessário que a exerça

com animus domini, com vontade de possuir como se fosse dono, ainda que de má-fé, não

bastando a posse ad interdicta. A posse deverá ser justa, isto quer dizer sem vícios da

violência, clandestinidade ou precariedade, nos termos dos artigos 1.200 e 1.242 do Código

Civil de 2002.

4. PROCEDIMENTOS JURÍDICOS

4.1 DA AÇÃO DE USUCAPIÃO

A ação de usucapião é de natureza declaratória de direito preexistente, a aquisição de um

domínio ou de um direito real pelo usucapião. É a razão do artigo 941 do CPC que a ação

compete ao possuidor que se declare, nos termos da Lei, o domínio do imóvel ou servidão

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predial. Da simples leitura do artigo 941 já se verifica que a natureza jurídica da tutela

 jurisdicional pleiteada na ação de usucapião é declaratória. In verbis:

Art. 941. Compete a ação de usucapião ao possuidor para que se declare, nos termos da lei, o

domínio do imóvel ou a servidão predial.

Caio Mário da Silva Pereira, também assevera que "a sentença proferida na ação de usucapião

tem natureza declaratória". (2002, p. 146)

A ação de usucapião, segundo Pinto (1991, p. 144) não tem como finalidade "constituir um

direito" para o autor. Na verdade, adquire-se o domínio do bem pela usucapião, uma vez

preenchido os requisitos legais ligados à posse e transcorrido o lapso temporal exigido pela lei.

A sentença proferida na ação de usucapião apenas reconhece, com força de coisa julgada, odomínio preexistente do autor sobre o bem objeto da prescrição aquisitiva.

A transcrição da sentença de usucapião no registro de imóveis, portanto, segundo Pinto (1991,

p. 144-5), não transfere a propriedade ao usucapiente, como ocorre na transcrição de título

decorrente de negócio jurídico intervivos, ela apenas dá "publicidade ao ato judicial

declaratório".

O usucapião pode ser interpretado como defesa, porém não servirá de Título para transcrição

no Registro de Imóveis, o que só é possível conseguido o usucapião por ação própria. Só a

sentença conseguida no processo de usucapião tem eficácia "erga omnes" (contra todos),

declaração do domínio ou direito real.

O artigo 942 do CPC trás os requisitos da petição inicial da ação de usucapião de terras

particulares com a redação conferida pela Lei 8.951 de

31/12/1994:

Art. 942. O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e juntando planta do

imóvel, requererá a citação daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel usucapiendo,

bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais

interessados, observado quanto ao prazo o disposto no inciso IV do art. 232.

 

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Poderá usufruir a prerrogativa conferida pelo artigo 95 por competente o foro da situação da

coisa, e que trata do domicílio do réu. A qualificação completa do usucapindo obedece ao

disposto no artigo 282 inciso II, do CPC:

Art. 282. Os nomes, prenomes, estado civil, profissão, domicílio e residência do autor e do réu.

O autor tem que reunir os requisitos do CC, artigo 1.238, e o réu aquele cujo nome esteja

transcrito o imóvel usucapiendo. Ainda o inciso III do artigo 282 do CPC determina que a

petição inicial deva indicar "o fato e os fundamentos jurídicos do pedido". Já o artigo 942 do

CPC refere-se apenas ao "fundamento do pedido". Os fatos no usucapião são a posse e as

circunstâncias que a acompanham, sua origem, caracteres, o tempo que exerce e o tipo de

usucapião que pretende. No pedido e suas especificações deverá o autor indicar o objeto

usucapido, que é o pedido mediato sendo o pedido imediato a tutela jurisdicional pretendida

que, que no caso do usucapião é declaratória.

 

Quanto ao Valor da Causa (artigo 282, V, do CPC) deve ser o valor de mercado do objeto

usucapiendo.

Deverá a petição inicial trazer as provas que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos

alegados (artigo 282, VI) indicação meramente genérica.

De suma importância é o requerimento de citação do réu (artigo 282, VII). São réus certos na

Ação de Usucapião aqueles em cujos nomes estiver registrado o imóvel a se usucapir, os

confinantes do imóvel e o possuidor atual, se este último não for o autor.

 

Pelo artigo 241, incisos l ao V do Código de Processo Civil começa a correr o prazo:

I - Quando a citação ou intimação for pelo Correio, da data de juntada aos autos do aviso de

recebimento;

II - Quando a citação ou intimação for por Oficial de Justiça, da data de juntada aos autos do

mandato cumprido;

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III - Quando houver vários réus, da data de juntada aos autos do último viso de recebimento

ou mandado citatório cumprido.

IV - Quando o ato se realizar em cumprimento de carta de ordem, precatória ou rogatória, da

data de sua juntada aos autos devidamente cumprida;

 

V - Quando a citação for por Edital, finda a dilação assinada pelo Juiz.

O artigo 944 do CPC torna obrigatória a intervenção do Ministério Público. Intervindo como

fiscal da lei, terá vista dos autos depois das partes, sendo intimado em todos os atos

processuais. Poderá junta documentos e certidões, produzir prova em audiência, (artigo 83

CPC)

Quanto à intervenção do Ministério Público, o artigo 84 do CPC reza:

Art. 84. Quando a lei considerar obrigatória a intervenção do Ministério Público, a parte

promover-lhe-á intimação sob pena de nulidade do processo.

Estabelece o artigo 499 do CPC que o Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim

no processo que é parte, como naqueles que oficiou como fiscal da Lei. Atuando como parte

poderá interpor ação rescisória em qualquer dos casos do artigo 485 do CPC.

4.2 DA SENTENÇA

É necessário, segundo os doutrinadores que exista uma sentença para levar o imóvel, objeto

de Usucapião, a registro no Cartório de Registro de Imóveis, de acordo com o que consta no

artigo 1.238 do Código Civil, além dos requisitos temporalidade, boa fé, justo título, posse

mansa e pacífica:

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um

imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer

ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de

Registro de Imóveis.

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Nesse contexto, Rodrigues, (2003, p. 113) assim se manifesta: "antes da sentença o possuidor

reúne em mãos todos os pressupostos e requisitos para adquirir o domínio. Mas, [...] o

usucapiente tem apenas uma expectativa de direito". E também assevera Rodrigues, que a

sentença tem "caráter constitutivo e não meramente declaratório".

Também nesse sentido se manifesta Caio Mário da Silva Pereira (2002, p. 146), que assevera

ser a sentença proferida na ação de usucapião de natureza declaratória. O usucapiente

requererá ao juiz que declare situação jurídica preexistente, sendo necessária apenas para

certificar a existência do direito do possuidor que se tornou proprietário. A decisão judicial não

lhe confere o domino porque este resulta da posse sem oposição e do decurso do tempo, isto

é, da

convergência dos elementos que conduzem ao usucapião.

 

A sentença serve de título para a transcrição no registro competente, que também é mero

requisito regularizador da situação jurídica do imóvel:

Art. 945. A sentença, que julgar procedente a ação, será transcrita, mediante mandado, no

registro de imóveis, satisfeitas as obrigações fiscais.

Com o registro da sentença, terá o titular a situação do imóvel pacificada com relação a

terceiros. É o título de transcrição no Registro de Imóveis por força do artigo 1.238, do Código

Civil já citado acima e artigo 945 do CPC.

5. CONCLUSÃO

O objetivo deste trabalho não foi esgotar a análise do Instituto do Usucapião de Imóveis, masapenas traçar algumas linhas que possam influenciar na sua compreensão a partir de um

estudo bibliográfico. Podemos sintetizar que o usucapião é instrumento notadamente social,

visando a atender a um reclamo social pela gestão democrática do espaço urbano. É um

instrumentalizador do exercício da democracia participativa. O Instituto tem por intenção

eliminar do meio urbano o falso domínio que não é cumprimento de função social.

 

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Entendemos que o usucapião é uma forma originária de aquisição da propriedade. Há também

outros direitos reais previstos na lei geral civil no artigo

1.225 do CC, sendo todos passíveis de apropriação material sempre em observação aos

dispositivos legais.

Quanto à posse do imóvel, deve ser sempre pacífica e contínua, obedecendo ao lapso

temporal sem que ache oposição de terceiros quer seja ou não com título legal. Há também

que se configurar a necessidade para a moradia singular ou familiar que não deverá ter

qualquer outra propriedade. Os bens públicos ficam fora por serem insusceptíveis do

usucapião.

O Usucapião, numa visão genérica dos estudiosos é um dos mais importantes Institutos jurídicos de proteção ao direito à propriedade. Uma propriedade que realmente cumpre sua

função social, porque além de fixar o homem, mantém a terra produtiva, seja no sentido de

morada da família ou mesmo no cultivo diversificado de bens alimentares e industriais. Da

morada da família, vem a estabilidade do núcleo social, a contribuição com impostos para

melhoria geral, e o cuidado com a terra agrária, mais alimentos e matéria prima tão

necessários a toda sociedade.

Não temos dúvida em afirmar que a propriedade atenderá a sua função social (artigo 5° XXIII

da Constituição). E essa função será atendida na medida em que for a propriedade utilizadaracionalmente, sendo, por isso mesmo, censurado o abandono. A transferência da

propriedade do verdadeiro e relapso proprietário para o proprietário aparente e diligente

configura uma espécie de expropriação forçada. Quem é dono tem o dever de zelar do que é

seu.

O crescimento populacional esparrama por toda parte a insuficiência de espaço/terra e o

usucapião cumpre sua função social, ainda com mais repercussão nos últimos tempos, quando

os sem terra levantam suas bandeiras, de forma violenta buscam equilibrar uma utópica

igualdade social, dependente de votos e atos políticos e interesseiros, já o usucapião, basta

apenas a declaração judicial que um sem terra acaba sendo premiado por seu trabalho e

merecimento.

Com o estudo realizado, entendemos que o usucapião é um Instituto que incentiva a utilização

da propriedade por aquele que realmente está cuidando dela. O usucapião transfere uma

situação de fato para uma situação de direito. Dá estabilidade e segurança à propriedade.

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Também, a conclusão que deve ser feita é no sentido de que as figuras de usucapião previstas

nos diplomas legais foram alguns dos instrumentos jurídicos escolhidos pelo legislador para

promover a efetivação de valores constitucionais, entre eles, a dignidade da pessoa humana.

 

6. BIBLIOGRAFIA

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