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ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO PARÁCentro Universitário do Estado do Pará (CESUPA)

O PROCESSO DE EXTRADIÇÃO DE CESARE BATTISTI E O PRINCÍPIO DESEPARAÇÃO DOS PODERES

Flávio Sánchez Leão

Belém-PA

Março - 2011

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Flávio Sánchez Leão

O PROCESSO DE EXTRADIÇÃO DE CESARE BATTISTI E O PRINCÍPIO DESEPARAÇÃO DOS PODERES

Monografia apresentada ao Cursode Pós-Graduação Lato Sensu emDireito Processual Penal.

ESCOLA SUPERIOR DAMAGISTRATURA DO ESTADO DOPARÁ.Centro Universitário do Estado doPará (CESUPA).

Orientador: Professor Dr. JorgePinheiro.

Belém-PA

Março - 2011

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ----------------------------------------------------------------------52 EXTRADIÇÃO – CONCEITO E FUNDAMENTOS BÁSICOS ----------6

3 EXTRADIÇÃO E PRISÃO --------------------------------------------------------8

4 EXTRADIÇÃO E REFÚGIO -----------------------------------------------------12

5 EXTRADIÇÃO E O PRESIDENTE DA REPÚBLICA ---------------------33

6 EXTRADIÇÃO E O TRATADO -------------------------------------------------42

7 CONCLUSÃO -----------------------------------------------------------------------44

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS -------------------------------------------46

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1. INTRODUÇÃO.

A presente monografia aborda o pedido de extradição de Cesare

Battisti feito pela República Italiana e que recebeu no Supremo Tribunal

Federal a designação de Extradição nº 1.085 da República Italiana (BRASIL,

2009c).

Battisti pertencia a um grupo de esquerda que optou pela luta

armada na Itália na década de 70. Ele foi acusado e condenado à prisão

perpétua em razão de quatro assassinatos, que, conforme o pedido da Itália,

teriam sido: “ homicídio premeditado do agente penitenciário Antonio Santoro,

fato que aconteceu em Udine em 6 de junho de 1977; homicídio de Pierluigi 

Torregiani, ocorrido em Milão em 16 de fevereiro de 1979; homicídio 

premeditado de Lino Sabbadin, ocorrido em Mestre em 16 de fevereiro de 

1979; homicídio premeditado do agente de Polícia, Andréa Campagna, ocorrido 

em Milão em 19 de abril de 1979 ” .

Tendo-se foragido, Battisti esteve muitos anos na França, onde o ex-

presidente francês François Mitterrand deu asilo político ao italiano. Com a

eleição de Jacques Chirac, Battisti perdeu o asilo e fugiu de novo. Veio pararno Brasil, para quem a Itália pediu sua extradição.

Após ter início o processo de extradição perante o STF, o Ministro da

Justiça, Tarso Genro, concedeu a condição de refugiado ao italiano (BRASIL,

2009). Entretanto, no julgamento da extradição, de forma preliminar, o

Supremo Tribunal Federal declarou a nulidade absoluta do ato do Ministro da

Justiça, afastando o óbice para que se apreciasse o mérito do pedido de

extradição.Por fim, o Supremo Tribunal Federal deferiu a extradição, mas a

maioria dos Ministros fez com que se assentasse no Acórdão que a palavra

final sobre a entrega do extraditando à Itália cabia ao Presidente da República

que não estaria vinculado à decisão do Tribunal, mas teria de se ater aos

termos do tratado assinado com o Estado requerente.

Em decisão tomada no último dia de seu mandato, o ex-presidente

Luiz Inácio Lula da Silva negou a entrega do extraditando, fundamentado adecisão em parecer da Advocacia-Geral da União (BRASIL, 2010b).

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Porém, após a decisão do Executivo, o Ministro Presidente do

Supremo Tribunal Federal, indeferiu o pedido de libertação de Cesare Battisti

(BRASIL, 2011), mandando desarquivar o processo de Extradição nº 1.085 e

remetendo os autos para o relator do caso, o Ministro Gilmar Mendes,

reabrindo a discussão no seio do Supremo Tribunal Federal.

O objetivo do presente trabalho não é discutir se Battisti é inocente

ou culpado das acusações, embora o Italiano negue ter cometido os crimes.

Não é nosso objetivo, nem mesmo, discutir se foram crimes políticos ou

comuns os cometidos. Nossa intenção é apreciar como interfere no processo

de extradição o princípio da separação de poderes. Investigar se a posição

adotada pelo Supremo Tribunal Federal, tanto no que tange a ter declarado

nula a concessão do refúgio pelo Ministro da Justiça, quanto, agora, que não

liberta Cesare Battisti, mesmo após a decisão da Presidência da República,

respeita o princípio fundamental que é a separação dos poderes na República.

2. EXTRADIÇÃO – CONCEITO E FUNDAMENTOS BÁSICOS.

A extradição é o ato pelo qual um Estado entrega um indivíduo,

presente no seu território, acusado de um delito criminal ou já condenado como

criminoso, à justiça de outro Estado, que o reclama e que é competente para

 julgá-lo e, caso já condenado, executar a pena aplicada, permitindo, assim, o

 julgamento de pessoas que cometeram ilícitos e deslocaram-se a outros países

para fugir de julgamento ou execução da pena a que foram condenados.Quanto ao conceito de extradição, vale destacar a acepção de

Francisco Rezek, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal e ex-membro do

Tribunal Internacional de Justiça das Nações Unidas (Corte da Haia), em que

este coloca em relevo o envolvimento do Poder Judiciário  – de ambos os

estados, requerente e requerido (da extradição)  – na solução do pedido,

definindo que:

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extradição é a entrega, por um Estado a outro e a pedido deste, de indivíduo que, em seu território, deve responder a processo penal ou cumprir pena, cuidando-se de uma relação executiva, com envolvimento judiciário de ambos os lados: o governo requerente da extradição só toma essa iniciativa em razão da existência de 

processo penal  – findo ou em curso - ante sua Justiça; e o governo do Estado requerido [...] não goza, em geral, de uma prerrogativa de decidir sobre o atendimento do pedido senão depois de um pronunciamento da Justiça local. (REZEK apud VELLOSO, 2003, p.117)

Em nosso ordenamento jurídico a extradição é abordada na

Constituição Federal (BRASIL, 1988), no Estatuto do Estrangeiro - Lei 6.815/80

(BRASIL, 1980) - e no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal - STF

(BRASIL, 2010).Segundo o art. 22, XV, da Constituição Federal de 1988, compete

privativamente à União legislar sobre extradição. A lei vigente sobre o tema é o

Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/80).

Duas disposições sobre extradição presentes na Constituição

Federal consistem em garantias individuais, sendo, portanto, cláusulas pétreas

que não podem ser sujeitas à emenda (Art. 60, §4º, IV da CF). São os incisos

LI e LII do art. 5º, que dispõem, o primeiro, que nenhum brasileiro será

extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da

naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de

entorpecentes e drogas afins, na forma da lei e, o segundo, que não será

concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião.

O pedido de extradição, geralmente, funda-se num tratado entre os

dois países envolvidos. Em sua ausência, pode ser concedido com base na

reciprocidade, ou seja, no compromisso de que eventual pedido de entrega

posterior do país que atendeu à extradição também será atendido (art. 76 da

Lei 6.815/80).

A competência para processar e julgar originariamente pedidos de

extradição solicitados por Estado estrangeiro é do STF, segundo o art. 102, I,

g, da Constituição Federal de 1988. A concessão depende de prévio

pronunciamento do plenário do STF sobre sua legalidade e procedência, não

cabendo recurso da decisão (art. 83 da Lei 6.815/80).

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Entretanto, dispõe a Constituição Federal, em seu art. 84, VII, que

compete privativamente ao Presidente da República manter relações com

Estados estrangeiros. Donde surge a questão jurídica que aqui será abordada,

pois é ponto polêmico do caso Cesare Battisti, a respeito de que a efetiva

concessão da medida de extradição, com a entrega do estrangeiro, é da

competência exclusiva do Chefe de Estado, limitando-se a decisão do STF à

apreciar a legalidade do pedido. A questão se tornou crucial com a negativa do

ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entregar o extraditando para a Itália.

De antemão é possível afirmar que é impossível a extradição se o

Supremo Tribunal Federal indeferir o pedido, ainda que o Presidente da

República quisesse efetivá-la, sob pena de violação de uma competência da

Excelsa Corte (art. 102, I, g, da Constituição Federal de 1988).

3. EXTRADIÇÃO E PRISÃO.

Segundo o art. 80 da Lei 6.815/80 a extradição será requerida por viadiplomática, ou na falta de agente diplomático, diretamente de governo a

governo. Recebido o pedido, o Ministério das Relações Exteriores o enviará ao

Ministério da Justiça, que o remeterá ao Supremo Tribunal Federal (art. 81 da

Lei 6.815/80).

A prisão que poderia ser ordenada pelo Ministro da Justiça,

conforme previa o mesmo art. 81 da Lei 6.815/80, foi derrogada pela

Constituição Federal de 1988.Ainda dispõe a Lei 6815/80 que “o Mini stério da Justiça ordenará a 

prisão do extraditando, colocando-o à disposição do Supremo Tribunal 

Federal” , porém, promulgada em 1988, a Constituição Federal, ao tratar dos

Direitos e Garantias Fundamentais, assegura “ninguém será preso senão em

flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária 

competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente 

militar, definidos em lei” (CF, art. 5º, inciso LXI).

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A Jurisprudência do STF confirma a revogação do referido dispositivo

em decisão unânime do Tribunal Pleno, em pedido de Habeas Corpus de

extraditando:

Ementa: - Prisão de Extraditando: artigos 80 e 81 da Lei nº 6815/80, de 19.08.1980, alterada pela Lei 6.964, de 09 de 12.1981. [...] O art. 81 da Lei 6815, de 19.08.1980, alterada pela Lei 6964, de 09.12.1981, atribuía ao Ministro da Justiça o poder de decretar a prisão do extraditando. Tal norma ficou, nesse ponto,revogada pelo inciso LXI do art. 5º da Constituição Federal de 1988,em razão do qual, excetuadas as h ipóteses referidas, “ninguém serápreso senão por ordem escrita e fundamentada de autoridade   judiciária competente”. 3. Tal competência passou, então, para oMinistro do Supremo Tribunal Federal, a quem caberá, também,

relatar o pedido de Extradição, conforme decidiu o S.T.F. (RTJ 127/18). [...]. (BRASIL, 1996)

Por outro lado, a prisão do extraditando é condição de

procedibilidade do processo de extradição. É o que se depreende do art. 208

do Regimento Interno do STF: “Não terá andamento o pedido de extradição 

sem que o extraditando seja preso e colocado à disposição do Tribunal”. 

No caso Cesare Battisti, o procedimento inicial foi cumprido e, no

processo de PRISÃO PREVENTIVA PARA EXTRADIÇÃO nº 581 / IT  – ITÁLIA(BRASIL, 2007), o Ministro Celso de Mello proferiu despacho resumindo o

pedido da República Italiana e decretando a prisão preventiva do extraditando:

DECISÃO: O Governo da República Italiana, mediante Nota Verbal regularmente apresentada por sua Missão Diplomática ao Governo brasileiro (fls. 04), requer a decretação da prisão preventiva, para efeitos extradicionais, de Cesare Battisti,condenado, definitivamente, naquele País, pela Corte de Apelações de Milão, à pena de prisão perpétua, com isolamento diurno inicial 

por seis meses (sentenças datadas de 08/04/1991 e de 10/04/1993),pela prática de delitos de homicídio (fls. 04). O suporte jurídico desse pedido de prisão preventiva repousa em tratado bilateral de extradição, celebrado, pelo Brasil e pela República Italiana, em 1989,e incorporado, ao nosso sistema de direito positivo interno, desde a sua promulgação pelo Decreto nº 863/93. Esse Tratado de Extradição autoriza, nos casos de urgência, que qualquer das Altas Partes Contratantes solicite, por meio do seu agente diplomático, a decretação da prisão preventiva da pessoa reclamada (Artigo XIII, n.1). Os fatos delituosos pelos quais o súdito italiano em questão foi condenado satisfazem a exigência imposta pelo postulado da dupla tipicidade. Assinalo, no entanto, considerada a natureza da pena imposta a esse nacional italiano (prisão perpétua), que a 

  jurisprudência hoje prevalecente no Supremo Tribunal Federal orienta-se em sentido assim exposto em decisão emanada do Plenário desta Corte Suprema: "(...) EXTRADIÇÃO E PRISÃO 

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PERPÉTUA: NECESSIDADE DE PRÉVIA COMUTAÇÃO, EM PENATEMPORÁRIA (MÁXIMO DE 30 ANOS), DA PENA DE PRISÃO PERPÉTUA - REVISÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, EM OBEDIÊNCIA À DECLARAÇÃO CONSTITUCIONAL DE DIREITOS (CF, ART. 5º, XLVII, 'b'). - A

extradição somente será deferida pelo Supremo Tribunal Federal,tratando-se de fatos delituosos puníveis com prisão perpétua, se o Estado requerente assumir, formalmente, quanto a ela, perante o Governo brasileiro, o compromisso de comutá-la em pena não superior à duração máxima admitida na lei penal do Brasil (CP, art.75), eis que os pedidos extradicionais - considerado o que dispõe o art. 5º, XLVII, 'b' da Constituição da República, que veda as sanções penais de caráter perpétuo - estão necessariamente sujeitos à autoridade hierárquico-normativa da Lei Fundamental brasileira.Doutrina. Novo entendimento derivado da revisão, pelo Supremo Tribunal Federal, de sua jurisprudência em tema de extradição passiva." (Ext 855/República do Chile, Rel. Min. CELSO DE MELLO,Pleno, "in" Informativo/STF nº 358, de 1º/09/2004) Os ilícitos penais em causa, de outro lado, não parecem incidir nas restrições, que,estabelecidas pela lei brasileira (Lei nº 6.815/80, art. 77) e pelo tratado bilateral existente entre o Brasil e a República Italiana (Artigo III), impediriam, acaso ocorrentes, a efetivação da própria entrega extradicional. Sendo assim, decreto a prisão preventiva de Cesare Battisti (fls. 04) e determino a expedição do respectivo mandado de prisão. A execução dessa ordem judicial, tão logo efetuada, deverá ser comunicada a esta Suprema Corte. 2. Comunique-se o teor deste ato decisório, com o encaminhamento da cópia respectiva, ao Senhor Ministro da Justiça, para efeito de cientificação formal da Missão Diplomática da República Italiana. 3. A presente decisão somente deverá ser publicada, depois de efetivada a prisão do súdito estrangeiro ora reclamado. Brasília, 1º de março de 2007. Ministro CELSO DE MELLO Relator.

Aspecto que foi mantido é que a prisão do extraditando será

conservada ao longo de todo o processo, em cumprimento ao estabelecido no

parágrafo único, do art. 84 da lei 6.815/80: “A prisão perdurará até o julgamento

final do Supremo Tribunal Federal, não sendo admitidas a liberdade vigiada, a 

prisão domiciliar, nem a prisão- albergue” . Sendo assim, desde a data de sua

prisão pela Polícia Federal, no Rio de janeiro, em 18 de março de 2007, CesareBattisti vem sendo mantido encarcerado.

O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal dispõe no mesmo

sentido em seu art. 213, in verbis : “O extraditando permanecerá na prisão, à

disposição do Tribunal, até o julgamento final” .

Da letra da lei se deduz, consequentemente, que não haveria

constrangimento ilegal por excesso de prazo na prisão quando se tratar de

pedido de extradição. Entretanto, o STF já deu interpretação diversa a esta

questão em julgados seus.

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O Tribunal, no julgamento do Habeas Corpus  91.657-SP, por

maioria, deferiu o pedido em favor de nacional colombiano, acusado da

suposta prática dos crimes de lavagem de dinheiro e associação para o tráfico

internacional de entorpecentes, a fim de que aguarde solto o julgamento da

extradição contra ele formulada pelo Governo do Panamá, com a condição de

que entregasse seu passaporte ao STF.

Verifiquemos excertos da ementa:

Habeas corpus. 1. Pedido de revogação de prisão preventiva para extradição (PPE). [...] 5. Alegação de desnecessidade da PPE. A custódia subsiste há quase quatro meses 

e inexiste contra o paciente sentença de condenação nos autos do processo instaurado no Panamá. 6. PPE. Apesar de sua especificidade e da necessidade das devidas cautelas em caso de relaxamento ou concessão de liberdade provisória, é desproporcional o tratamento que vem sendo dado ao instituto.Necessidade de observância, também na PPE, dos requisitos do art.312 do CPP, sob pena de expor o extraditando a situação de desigualdade em relação aos nacionais que respondem a processos criminais no Brasil. 7. A PPE deve ser analisada caso a caso, e a ela deve ser atribuído limite temporal, compatível com o princípio da proporcionalidade; e, ainda, que esteja em consonância com os valores supremos assegurados pelo Estado Constitucional, que compartilha com as demais entidades soberanas, em contextos 

internacionais e supranacionais, o dever de efetiva proteção dos direitos humanos. 8. O Pacto de San José da Costa Rica proclama a liberdade provisória como direito fundamental da pessoa humana (Art. 7º,5). 9. A prisão é medida excepcional em nosso Estado de Direito e não pode ser utilizada como meio generalizado de limitação das liberdades dos cidadãos (Art. 5º, LXVI). Inexiste razão, tanto com base na CF/88, quanto nos tratados internacionais com relação ao respeito aos direitos humanos e a dignidade da pessoa humana,para que tal entendimento não seja também aplicado às PPE´s. 10.Ordem deferida para que o paciente aguarde em liberdade o   julgamento da Extradição no 1091/Panamá. Precedentes: Ext. no 1008/Colômbia, Rel. DJ 17.8.2007; Ext 791/Portugal, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 23.10.2000; AC n. 70/RS, Rel. Min. Sepúlveda 

Pertence, DJ de 12.3.2004; Ext-QO. no 1054/EUA, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 14.9.2007. (BRASIL, 2008)

Vemos que o STF estendeu aos casos de prisão preventiva para

extradição a necessidade observância dos requisitos da prisão preventiva

comum, previstos no artigo 312 do Código de Processo Penal, bem como

afirmou a necessidade de ser observado limite temporal, reconhecendo a

possibilidade ocorrência de excesso de prazo na prisão.

É certo que, no julgado acima, não havia sentença condenatória noPanamá, o Estado requerente. Não é o caso de Cesare Battisti, que já possui

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sentença de prisão perpétua proferida contra si. Entretanto, o extraditando já se

encontra preso há quase 04 anos e, agora, o Presidente da República indeferiu

o seu pedido de extradição, mas, ainda assim, o Presidente do STF se recusou

a colocá-lo em liberdade.

Entendemos que, frente à probabilidade jurídica razoável de não se

efetivar a extradição, tendo em vista a decisão do Presidente da República, o

indeferimento do pedido de alvará de soltura feito pelo Ministro Cezar Peluso

extrapola os limites da proporcionalidade e razoabilidade, valendo-se de forma

absoluta da norma de direito acerca da prisão para extradição que já vem

sendo contestada pela doutrina, como se vê do excerto de MIRANDA (2007, p.

573) o qual afirma que “A necessidade, a razoabilidade, a proporcionalidade a

proibição do excesso e do abuso devem servir de escudo para limitar o 

absolutismo, como se vê na atual legislação pátria sobre a custódia cautelar 

em casos de extradição” .

4. EXTRADIÇÃO E REFÚGIO

Em janeiro de 2009, o Ministro da Justiça brasileiro, Tarso Genro,

concedeu o status de refugiado político a Battisti, em pedido formulado por este

ao Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), decisão esta proferida no

processo de pedido de refúgio nº. 08000.011373/2008-83 (BRASIL, 2009).

Inicialmente, o CONARE negou o pedido de Battisti, porém, julgando

recurso do extraditando, o Ministro da Justiça declarou o status de refugiado,sob o argumento de temor fundado de perseguição por motivo de opinião

política, que é fundamento para a concessão de refúgio, conforme o art. 1º, I,

da Lei nº 9.474/97 (BRASIL, 1997), que dispõe: “Art. 1º Será reconhecido como

refugiado todo indivíduo que: I - devido a fundados temores de perseguição por 

motivos de raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas 

encontre-se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira 

acolher- se à proteção de tal país” .

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Na decisão do Ministro da Justiça, este já deixava subtendido, a

nosso ver, que não estava adentrando no mérito de serem ou não políticos os

crimes supostamente cometidos por Cesare Battisti, mas que não poderia

deixar de considerar o passado revolucionário do extraditando em sua decisão,

passado este que seria a causa de todo a persecutio que vinha lhe impingindo

durante anos o Estado Italiano e que seria razão, na origem, do fundado temor

de perseguição em razão de opiniões políticas. Para melhor apreciarmos se

assim foi ou não, reproduzimos trechos da decisão concessiva do refúgio:

30. Não resta a menor dúvida, independentemente da 

avaliação de que os crimes imputados ao recorrente sejam considerados de caráter político ou não   – aliás inaceitáveis, em qualquer hipótese, do ponto de vista do humanismo democrático  – de que é fato irrefutável a participação política do Recorrente, o seu envolvimento político insurrecional e a pretensão, sua e de seu grupo, de instituir um poder soberano “fora do ordenamento”. Ou seja, de constituí-lo pela via revolucionária através da afronta política e militar ao Estado de Direito italiano, aliás, motivos estes que levaram o presidente Mitterrand a acolher o recorrente e vários militantes da extrema esquerda italianos na mesma situação.

(...)36. Por motivos políticos o Recorrente envolveu-se em 

organizações ilegais criminalmente perseguidas no Estado 

requerente. Por motivos políticos foi abrigado na França e também por motivos políticos, originários de decisão política do Estado Francês, decidiu, mais tarde, voltar a fugir. Enxergou o Recorrente,ainda, razões políticas para os reiterados pedidos de extradição Itália-França, bem como para a concessão da extradição, que,conforme o Recorrente, estariam vinculadas à situação eleitoral francesa. O elemento subjetivo do “fundado temor de perseguição” necessário para o reconhecimento da condição de refugiado está, portanto, claramente configurado .

(...)39. É bom que reste claro que o caráter humanitário, que 

também é princípio da proteção internacional da pessoa humana,perpassa o refúgio, implicando o princípio in dubio pro reo:  na 

dúvida, a decisão de reconhecimento deverá inclinar-se a favor do solicitante do refúgio .(...)44. Por conseqüência, há duvida razoável sobre os fatos 

que, segundo o Recorrente, fundamentam seu temor de perseguição.

45. Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao recurso para reconhecer a condição de REFUGIADO a CESARE BATTISTI, nos termos do art. 1º, inc. I, da Lei nº. 9.474/97.

Desde já é importante frisar que a decisão do Ministro da Justiça

reformando o entendimento do CONARE nada teve de ilegal com relação aoprocedimento previsto em lei, pois dispõe a Lei 9.474/97 (BRASIL, 1997): “Art.

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29. No caso de decisão negativa, esta deverá ser fundamentada na notificação 

ao solicitante, cabendo direito de recurso ao Ministro de Estado da Justiça, no 

 prazo de quinze dias, contados do recebimento da notificação” . Na verdade se

trata do simples direito de ampla defesa que se traduz no direito ao recurso da

esfera administrativa, o que não é nada de espantoso – a palavra final cabe ao

Ministro da Justiça na esfera administrativa. Por outro lado, esta decisão do

Ministro se torna irrecorrível na esfera administrativa, conforme a mesma Lei:

“Art. 31. A decisão do Ministro de Estado da Justiça não será passível de 

recurso, devendo ser notificada ao CONARE, para ciência do solicitante, e ao 

Departamento de Polícia Federal, para as providências devidas”. 

Ante de adentar na análise da decisão do STF no caso de Cesare

Battisti, devemos definir alguns conceitos sobre o que seja o refúgio.

O refúgio é um instituto originário da Declaração Universal dos

Direitos Humanos (ONU, 1948), aprovada na Assembleia Geral das Nações

Unidas em 10 de dezembro de 1948. De acordo com o art. 14 dessa

declaração, “Toda pessoa, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e

de gozar de asilo em outros países” . A proteção internacional dos refugiados

tem origem na Convenção de Genebra relativa ao Estatuto dos Refugiados(ONU, 1951), de 28 de julho de 1951, em vigor no Brasil por força do Decreto

nº 50.215/1961 (BRASIL, 1961). O art. 1º da Convenção de 1951 considera

como refugiado toda pessoa que “em virtude dos eventos ocorridos antes de 1º 

de janeiro de 1951 e devido a fundado temor de perseguição por motivos de 

raça, religião, nacionalidade, participação em determinado grupo social ou 

opiniões políticas, está fora do país de sua nacionalidade, e não pode, ou, em 

razão de tais temores, não queira valer-se da proteção desse país; ou que, por carecer de nacionalidade e estar fora do país onde antes possuía sua 

residência habitual não possua ou, por causa de tais temores ou de razões que 

não sejam de mera conveniência pessoal, não queira regressar a ele” .

Da forma como aprovada, a Convenção estabeleceu limite temporal

e geográfico, limitando sua aplicação aos acontecimentos anteriores a 1951 e

aos refugiados europeus, vítimas da II Guerra Mundial. Mas, com o Protocolo

sobre o Estatuto dos Refugiados de 1967 (ONU, 1967), suprimiram-se asreferidas limitações, mantendo-se o conceito de refugiado que se tornou

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universal, podendo ser aplicado nas demais regiões do planeta e em qualquer

tempo. O Protocolo de 1967 foi aderido pelo Brasil em 1972 através do Decreto

nº 70.946 (BRASIL, 1972).

Visando dar cumprimento à Convenção dos Refugiados de 1951 e ao

Protocolo de 1967, o Brasil promulgou a Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997

(BRASIL, 1997), que passou a ser o Estatuto dos Refugiados no Brasil. Esta

Lei dispõe: “Art. 1º Será r econhecido como refugiado todo indivíduo que: I - 

devido a fundados temores de perseguição por motivos de raça, religião,

nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre-se fora de seu país 

de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se à proteção de tal país; 

II - não tendo nacionalidade e estando fora do país onde antes teve sua 

residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em função das 

circunstâncias descritas no inciso anterior; III - devido a grave e generalizada 

violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país de nacionalidade 

para buscar refúgio em outro país. Art. 2º Os efeitos da condição dos 

refugiados serão extensivos ao cônjuge, aos ascendentes e descendentes,

assim como aos demais membros do grupo familiar que do refugiado 

dependerem economicamente, desde que se encontrem em território nacional” .Neste ponto da análise é importante abordar a questão relativa à

interpretação de que o refúgio concedido ao extraditando, na verdade, teria se

tratado de asilo político concedido de forma dissimulada. Tal interpretação foi

apresentada em um parecer do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal,

Carlos Velloso, para o Governo italiano, no qual o parecerista advoga que a

concessão do refúgio, da forma como ocorreu, dissimulando a concessão de

um asilo político, não impediria a extradição, pois o Supremo Tribunal Federal  já havia se manifestado em casos similares no qual o asilo não havia sido

considerado impedimento para a extradição.

Vejamos trecho do parecer:

XI. O caso Battisti: asilo ou refúgio?  82. Assim posta a questão, verifica-se, da leitura da 

decisão do Senhor Ministro da Justiça, que S.Exa., o que se diz com o maior respeito, embora tenha invocado a condição de refugiado para Cesare Battisti, o que lhe concedeu, na realidade, vimos de ver,

retro, foi o asilo político, deliberando com ampla discricionariedade,quando o ato de concessão de refúgio constitui ato vinculado.

(...)

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XII. Conclusão: resposta aos quesitos. (...)1.1.O Supremo Tribunal Federal, no julgamento da 

Extradição 232- Cuba, Relator o Ministro Victor Nunes, decidiu que “aconcessão de asilo diplomático ou territorial não impede, só por si,

extradição, cuja procedência é apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, e não pelo governo.” Na Extrad ição 524-Paraguai, Relator o Ministro Celso de Mello, o Supremo Tribunal decidiu que “não háincompatibilidade absoluta entre o instituto do asilo político e o da extradição passiva, na exata medida em que o Supremo Tribunal Federal não está vinculado ao juízo formulado pelo Poder Executivo da concessão administrativa daquele benefício regido pelo Direito das Gentes. Disso decorre que a condição jurídica de asilado político não suprime, só por si, a possibilidade de o Estado brasileiro conceder, presentes e satisfeitas as condições constitucionais e legais que a autorizam, a extradição que lhe haja sido requerida. O estrangeiro asilado no Brasil só não será passível de extradição quando o fato ensejador do pedido assumir a qualificação de crime político ou de opinião ou as circunstâncias subjacentes à ação do Estado requerente demonstrarem a configuração de inaceitável extradição política disfarçada.”  

1.2. Tratando-se, pois, de asilo político, duas respeitáveis decisões do Supremo Tribunal Federal são no sentido de que a concessão daquele benefício não impede a extradição. No caso sob exame, conforme vimos, tem-se, na verdade, concessão de asilo político sob color de refúgio. Se o Supremo Tribunal Federal,examinando o ato ministerial, concluir dessa forma, correta seria a aplicação, no caso, do entendimento dos acórdãos das Extradições 232-Cuba e 524-Paraguai. Em termos processuais ortodoxos,melhor seria a adoção, aqui, da interpretação conforme: porque, no caso concreto, é possível a afirmativa de que ocorreria asilo disfarçado, então a interpretação do art. 33 da Lei 9.474, de 1997, a ser adotada, no caso, seria aquela conferida aos casos de asilo político nas Extradições 232-Cuba e 524-Paraguai.

Para melhor entender a polêmica, é necessário discorrer sobre o

conceito jurídico de asilo político.

A concessão de asilo político é princípio fundamental conforme

dispõe a Constituição Federal (BRASIL, 1988): “Art. 4° A República Federativa

do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: (...) X  – concessão de asilo político”. 

O Professor José Afonso da Silva esclarece doutrinariamente o que

seja asilo político:

O asilo político consiste no recebimento de estrangeiros no território nacional, a seu pedido, sem os requisitos de ingresso,para evitar punição ou perseguição no seu país de origem por delito de natureza política ou ideológica. Cabe ao Estado asilante a classificação da natureza do delito e dos motivos da perseguição. É 

razoável que assim seja, porque a tendência do Estado do asilado é a de negar a natureza política do delito imputado e dos motivos da perseguição, para considerá-la comum.

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A Constituição prevê a concessão do asilo político, sem restrições, considerado como um dos princípios que regem as relações internacionais da República Federativa do Brasil. (grifei)(SILVA, 2005, p. 340) 

É importante ressaltar que o instituto do asilo é característico da

América Latina, onde se originou, não sendo aplicado em outros pontos do

globo, conforme esclarece Luiz Paulo Teles Ferreira Barreto, ex-ministro da

 justiça:

O conceito jurídico de asilo na América Latina é originário do Tratado de Direito Penal Internacional de Montevidéu,de 1889, que dedica um capítulo ao tema.

Inúmeras outras convenções ocorreram no continente sobre o asilo, tais como: 

- Convenção sobre Asilo Assinada na VI Conferência Pan-americana de Havana, em 1928; 

- Convenção sobre Asilo Político, VII Conferência Internacional Americana de Montevidéu, em 1933; 

- Tratado sobre Asilo e Refúgio Político de Montevidéu,em 1939; e 

- Convenção sobre Asilo Diplomático, X Conferência Interamericana de Caracas, em 1954.

O asilo diplomático, assim, é instituto característico da América Latina. É certo, contudo, que outros países praticam o asilo diplomático esporadicamente, não o reconhecendo, todavia, como instituto de Direito Internacional.

Esporádicos casos de asilo diplomático ainda ocorreram na Europa, nos séculos XIX e XX, em proteção a criminosos políticos, geralmente sob intensos protestos dos países de onde se originavam as perseguições. Isso fez com que o instituto praticamente deixasse de existir no continente.

Já na América Latina, o asilo diplomático sempre foi amplamente praticado, provavelmente por causa da constante instabilidade política na região, com sucessivas revoluções,havendo, assim, a necessidade de se conceder proteção aos chamados criminosos políticos. (BARRETO, 2006) 

A interpretação a que se chega é que os legisladores que produziram

a lei nº 9474/97 usam ―refúgio‖ como sinônimo de ―asilo‖, se aproximando mais

do conceito europeu acerca das duas ideias, sendo que a lei estabelece uma

previsão factual bem determinada para conceder a proteção. Ou seja, o

importante é verificar se o fato concreto apresentado pelo requerente do refúgio

se adequa à previsão legal que torna possível conceder o direito ao

estrangeiro, chame-se este direito de ―refúgio‖, ―asilo‖ ou de qualquer outra

maneira.

Nenhuma outra lei brasileira define o que venha ser o asilo político,sendo o instituto citado no Estatuto dos Estrangeiros (BRASIL, 1980), nos

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artigos 28 e 29 que se utilizam o termo ―asilado‖ como se este estivesse

implicitamente definido. Na alínea ―c‖, inc. I, do art. 55, fala -se do ―asilado ou

refugiado como tal admitido no Brasil‖, não traçando a lei nenhum d iferencial

entre os dois institutos.

Chegamos à conclusão que refúgio e asilo político são institutos

  jurídicos relacionados, sendo que a concessão do refúgio, da maneira como

previsto na lei nº 9.474/97 (BRASIL, 1997), encontra amparo constitucional na

concessão de asilo político como princípio regente de nossas relações

internacionais.

Em suma, o fato é que a concessão do status de refugiado pelo

Ministro da Justiça traduziu-se na concessão de asilo político a Cesare Battisti,

não se podendo discordar do ex-ministro Carlos Velloso neste ponto.

Entretanto, o que se quer ponderar é que as extradições passivas

232, requerida por Cuba (BRASIL, 1961b), e 524, requerida por Paraguai

(BRASIL, 1990), nas quais os relatores afirmam que a concessão

de asilo (que, atualmente, equivale a refúgio) não é suficiente para obstar a

extradição, foram julgadas em 1969, a extradição 232, e em outubro de 1990, a

extradição 524, bem antes, portanto, da lei nº 9474/97. Este fato o ex-ministronão ponderou em seu parecer encomendado pela Republica Italiana.

Entrementes, com a entrada em vigor no ordenamento brasileiro do

da Lei 9.474/97, a solicitação do refúgio suspende o curso do pedido de

extradição até sua decisão definitiva (art. 34 da Lei n° 9.474/1997) enquanto

que a concessão do refúgio obsta o seguimento de pedido de extradição

fundado nos mesmos fatos (art. 33 da Lei n° 9.474/1997).

Assim vinha decidindo o Supremo Tribunal Federal, como no caso dopedido de extradição do general paraguaio, Lino Oviedo, onde a Corte

esclareceu a necessidade de suspensão do processo de extradição a partir de

que feito o pedido de refúgio e deixou claro que reconhecimento da condição

de refugiado deveria obstar o seguimento de qualquer pedido de extradição:

EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. PRISÃO PARA FINS DE EXTRADIÇÃO.

PEDIDO DE REFÚGIO, PERANTE O MINISTÉRIO DA JUSTIÇA: SUSPENSÃO DO PROCESSO EXTRADICIONAL, SEM DIREITO,PORÉM, DO EXTRADITANDO, À PRISÃO DOMICILIAR.

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INTERPRETAÇÃO DOS ARTIGOS 34 E 22 DA LEI N° 9.474, DE 22.07.1997, EM FACE DO ART. 84 DO ESTATUTO DO ESTRANGEIRO. "HABEAS CORPUS". 1. Dispõe o art. 34 da Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997, que define mecanismos para a implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina 

outras providências: "Art. 34. A solicitação de refúgio suspenderá,até decisão definitiva, qualquer processo de extradição pendente, em fase administrativa ou judicial, baseado nos fatos que fundamentaram a concessão de refúgio." E o art. 22: "Enquanto estiver pendente o processo relativo à solicitação de refúgio, ao peticionário será aplicável a legislação sobre estrangeiros,respeitadas as disposições específicas contidas nesta Lei." 2. E o Estatuto do Estrangeiro (Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980,modificada pela Lei nº 6.964, de 9 de dezembro de 1981), regula a extradição do estrangeiro e sua prisão para tal fim (artigos 76 a 94).E no art. 84 esclarece: "Art. 84. Efetivada a prisão do extraditando (artigo 81), o pedido será encaminhado ao Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. A prisão perdurará até o julgamento final do Supremo Tribunal Federal, não sendo admitidas a liberdade vigiada, a prisão domiciliar, nem a prisão albergue." Atento a essa expressa disposição, o Supremo Tribunal Federal tem reiteradamente recusado, durante o processo de extradição, a liberdade vigiada, a prisão domiciliar e a prisão albergue. 3. E não há, na Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997, qualquer disposição no sentido de propiciar tais benefícios, sendo certo que, nos termos do artigo 33, somente o reconhecimento da condição de refugiado obstará o seguimento de qualquer pedido de extradição baseado nos fatos que fundamentaram a concessão do refúgio. Assim, se vier a ser indeferido o pedido de refúgio, nada obsta o prosseguimento do processo extraditório, para o qual é indispensável a manutenção do extraditando, na prisão, sempre sem direito à liberdade vigiada, à prisão domiciliar e à prisão albergue. 4. Não se vislumbrando, assim,qualquer ilegalidade na prisão questionada, inclusive enquanto se processa, no Ministério da Justiça, o pedido de refúgio, é de se indeferir o pedido de "Habeas Corpus", cassada, em conseqüência,a medida liminar, devendo, pois, o extraditando ser reencaminhado à prisão em que se encontrava, à disposição desta Corte. 5. "H.C." indeferido, cassada a liminar. Decisão unânime. (BRASIL, 2001b)

No caso Cesare Battisti, uma parte deste entendimento foi aplicado e

foi suspenso o andamento do pedido de extradição, mantendo-se o

extraditando preso. Entretanto, posteriormente, como veremos, o STF acaboupor não acatar a decisão do Ministro da Justiça quanto ao reconhecimento da

sua condição de refugiado e o processo de extradição teve seguimento com o

deferimento do pedido da República Italiana pela Suprema Corte.

O Supremo Tribunal Federal deliberou, por maioria, na Extradição

1.085 da República Italiana (BRASIL, 2009c), e assim ficou ementada a

decisão no que tange à questão do refúgio condido pelo Ministro da Justiça:

1. EXTRADIÇÃO. Passiva. Refúgio ao extraditando.Fato excludente do pedido. Concessão no curso do processo,

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pelo Ministro da Justiça, em recurso administrativo. Ato administrativo vinculado. Questão sobre sua existência jurídica,validade e eficácia. Cognição oficial ou provocada, no   julgamento da causa, a título de preliminar de mérito.Admissibilidade. Desnecessidade de ajuizamento de mandado de segurança ou outro remédio jurídico, para esse fim, Questão conhecida. Votos vencidos. Alcance do art. 102, inc. I, alínea "g", da CF. Aplicação do art. 3º do CPC. Questão sobre existência  jurídica, validez e eficácia de ato administrativo que conceda refúgio ao extraditando é matéria preliminar inerente à cognição do mérito do processo de extradição e, como tal, deve ser conhecida de ofício ou mediante provocação de interessado jurídico na causa. 

2. EXTRADIÇÃO. Passiva. Refúgio ao extraditando.Concessão no curso do processo, pelo Ministro da Justiça. Ato administrativo vinculado. Não correspondência entre os motivos declarados e o suporte fático da hipótese legal invocada como causa autorizadora da concessão de refúgio.Contraste, ademais, com norma legal proibitiva de reconhecimento dessa condição. Nulidade absoluta pronunciada. Ineficácia jurídica consequente. Preliminar acolhida. Votos vencidos. Inteligência dos arts. 1º, inc. I, e 3º,inc. III, da Lei nº 9.474/97, art. 1-F do Decreto nº 50.215/61(Estatuto dos Refugiados), art. 1º, inc. I, da Lei nº 8.072/90, art.168, § único, do CC, e art. 5º, inc. XL, da CF. Eventual nulidade absoluta do ato administrativo que concede refúgio ao extraditando deve ser pronunciada, mediante provocação ou de ofício, no processo de extradição.

(...)4. EXTRADIÇÃO. Passiva. Executória. Pedido 

fundado em sentenças definitivas condenatórias por quatro homicídios. Crimes comuns. Refúgio concedido ao extraditando. Decisão administrativa baseada em motivação formal de justo receio de perseguição política. Inconsistência.Sentenças proferidas em processos que respeitaram todas as garantias constitucionais do réu. Ausência absoluta de prova de risco atual de perseguição. Mera resistência à necessidade de execução das penas. Preliminar repelida. Voto vencido.Interpretação do art. 1º, inc. I, da Lei nº 9.474/97. Aplicação do item 56 do Manual do Alto Comissariado das Nações Unidas - ACNUR. Não caracteriza a hipótese legal de concessão de refúgio,consistente em fundado receio de perseguição política, o pedido de extradição para regular execução de sentenças definitivas de condenação por crimes comuns, proferidas com observância do 

devido processo legal, quando não há prova de nenhum fato capaz de justificar receio atual de desrespeito às garantias constitucionais do condenado.

Como se pode verificar na ementa, o Supremo Tribunal Federal

apreciou - como preliminar e sem necessidade de que o ato fosse combatido

mediante mandado de segurança - a validade do ato de concessão de refúgio

concedido ao extraditando pelo Ministro da Justiça. A Corte Suprema acabou

por declarar a nulidade absoluta do ato, afirmando que se tratava de um ato

administrativo vinculado e que o Ministro da Justiça utilizou de motivos na suafundamentação que não correspondiam aos fatos que teriam realmente

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ocorrido na Itália. Em suma, na apreciação da preliminar, já houve

manifestação da maioria no sentido de que os crimes cometidos haviam sido

crimes comuns e não crimes políticos, e mais, que teriam sido crimes

hediondos, o que incidiria na causa impeditiva da concessão do refúgio prevista

no art. 3º, inc. III, da Lei nº 9.474/97. 

Todo esse preâmbulo foi necessário com o fim de afastar a

incidência do art. 33 da Lei 9.747/97 que, permanecendo a higidez do ato de

concessão de refúgio, impedia o prosseguimento do processo de extradição.

Assim diz a Lei:

Art. 33. O reconhecimento da condição de refugiado obstará o seguimento de qualquer pedido de extradição baseado nos fatos que fundamentaram a concessão de refúgio.

No voto do Relator da Extradição 1.085 (BRASIL, 2009c), o Ministro

Cezar Peluso, este afirmou que a autoridade administrativa, o Ministro da

Justiça, havia utilizado como motivação para a concessão do refúgio a

alegação de que os crimes pelos quais havia sido o extraditando condenado na

Itália seriam crimes políticos e não crimes comuns, invadindo, assim, a

competência que seria atribuída exclusivamente ao Supremo Tribunal Federal.

Asseverou, no seu voto, o Ministro Relator:

Uma das vertentes mais expressivas dessa necessidade  jurídica, no caso, está em investigar e decidir se o refúgio foi, ou não,concedido sob motivação, aberta ou disfarçada, de que os mesmos fatos, tidos no processo de extradição como crimes comuns por que foi o extraditando formalmente condenado, não seriam crimes comuns, mas políticos! Dizer, a autoridade administrativa, com estas ou outras palavras, para, como motivação necessária ex vi legis,

  justificar o ato concessivo de refúgio, que seriam políticos, e não,comuns, tais delitos, significaria evidentíssima e censurável invasão da competência constitucional da Suprema Corte.

De fato, a Constituição Federal de 1988 prevê como competência

exclusiva do Supremo Tribunal Federal o julgamento do pedido de extradição:

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: 

I - processar e julgar, originariamente: (...)g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro; 

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Levando em conta que é garantia fundamental prevista na mesma

Constituição de 1988, no seu art. 5º, inc. LII, que a extradição não será

concedida quando se tratar de crime político ou de opinião, a Lei 6.815/80,

previu no seu art. 77, §2º, a competência exclusiva do STF para apreciar o

caráter da infração:

Art. 77. Não se concederá a extradição quando: (...)VII - o fato constituir crime político; e (...)§ 2º Caberá, exclusivamente, ao Supremo Tribunal 

Federal, a apreciação do caráter da infração.

Entretanto, antes de avaliarmos o caráter dos crimes atribuídos a

Battisti, pois houve Ministros que os consideraram como crimes políticos ao

votarem sobre o mérito do pedido de extradição, iremos nos deter na análise

relativa à questão de saber se o refúgio concedido pelo Ministro da Justiça

impedia o prosseguimento do pedido de extradição ou se o Supremo Tribunal

Federal poderia, como o fez, declarar a nulidade do ato do Ministro da Justiça e

afastá-lo, julgando o mérito do pedido de extradição e deferindo o pedido de

República Italiana.

Havia no Supremo Tribunal Federal um paradigma que até então se

aplicava. Era o julgamento da Extradição 1.008 (BRASIL, 2007b), na qual a

Colômbia pedia a extradição do Padre Olivério Medina, que era membro das

Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). A pedido do governo

colombiano, Medina foi capturado, em 24 de agosto de 2005, pela Polícia

Federal Brasileira em ação conjunta com a Interpol. Em seguida o governo

colombiano pediu a sua extradição a fim de responder por acusação de prática

de homicídio com fins terroristas e outros crimes. Após isto, o Comitê Nacional

para Refugiados, em decisão histórica, concedeu o status de refugiado político

ao guerrilheiro e, em março de 2007, o Supremo Tribunal Federal negou o

pedido de extradição de Medina feito pelo governo da Colômbia justificando

que o STF não poderia extraditar uma pessoa em condição de refugiado

político.

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Tendo sido designado para relatar o Acórdão o Ministro Sepúlveda,

assim ficou ementada a Extradição 1.008:

Extradição: Colômbia: crimes relacionados à participação do extraditando - então sacerdote da Igreja Católica - em ação militar das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC). Questão de ordem. Reconhecimento do status de refugiado do extraditando, por decisão do comitê nacional para refugiados - CONARE: pertinência temática entre a motivação do deferimento do refúgio e o objeto do pedido de extradição: aplicação da Lei 9.474/97, art. 33 (Estatuto do Refugiado), cuja constitucionalidade é reconhecida: ausência de violação do princípio constitucional da separação dos poderes. 1. De acordo com o art. 33 da L. 9474/97, o reconhecimento administrativo da condição de refugiado, enquanto dure, é elisiva, por definição, da extradição que tenha implicações 

com os motivos do seu deferimento. 2. É válida a lei que reserva ao Poder Executivo - a quem incumbe, por atribuição constitucional, a competência para tomar decisões que tenham reflexos no plano das relações internacionais do Estado - o poder privativo de conceder asilo ou refúgio. 3. A circunstância de o prejuízo do processo advir de ato de um outro Poder - desde que compreendido na esfera de sua competência - não significa invasão da área do Poder Judiciário.4. Pedido de extradição não conhecido, extinto o processo, sem   julgamento do mérito e determinada a soltura do extraditando. 5.Caso em que de qualquer sorte, incidiria a proibição constitucional da extradição por crime político, na qual se compreende a prática de eventuais crimes contra a pessoa ou contra o patrimônio no contexto de um fato de rebelião de motivação política (Ext. 493).

Neste julgamento, a Corte Suprema, além de decidir sobre a

constitucionalidade do art. 33 da Lei 9.474/97, afirmou, nas palavras do

Ministro Sepúlveda Pertence, autor do voto vencedor:

“o deferimento do refúgio é questão de competênciapolítica do Poder Executivo, condutor das relações internacionais do  país”. 

Tal entendimento harmoniza-se com a percepção de que a

extradição é mecanismo inerente às relações internacionais travadas entre

Estados soberanos que, para tanto, celebram tratados entre si. Sendo assim, a

competência para tratar do assunto é do Poder Executivo, em conformidade

sistemática com a Constituição Federal de 1988, que prevê no seu art. 84, inc.

VII e VIII:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: 

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(...)VII - manter relações com Estados estrangeiros e 

acreditar seus representantes diplomáticos; VIII - celebrar tratados, convenções e atos 

internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; 

Dessa forma, é necessário perquirir se, em vez de ter sido o Ministro

da Justiça que invadiu a competência do Supremo Tribunal Federal ao,

supostamente, qualificar como crimes políticos os atribuídos ao extraditando,

não teria sido o STF que invadiu a competência política do Poder Executivo ao

cassar o refúgio em um processo de extradição no qual sequer a União Federal

era parte.

Tão forte é o conteúdo da norma prevista no art. 34 da Lei 9.474/97que o próprio Supremo Tribunal Federal, ao julgar a Extradição nº 785

(BRASIL, 2001), mesmo depois de julgada a extradição pelo plenário do

Tribunal, suspendeu o processo reconhecendo a natureza elisiva da norma.

Assim ficou redigido o Acórdão na referida Extradição:

EXTRADIÇÃO. QUESTÃO DE ORDEM. PEDIDO DE REFÚGIO. SUSPENSÃO DO PROCESSO. LEI Nº 9.474/97, ART.

34. Questão de ordem resolvida no sentido de que o pedido de refúgio, formulado após o julgamento de mérito da extradição,produz o efeito de suspender o processo, mesmo quando já publicado o acórdão, impedindo o transcurso do prazo recursal.

Verificamos que o STF suspendeu o processo após ter julgado o

mérito da extradição. O que significa dizer que apreciou todos os requisitos do

deferimento, inclusive se os crimes imputados eram de natureza política ou

não. Ainda assim, mesmo reconhecendo como procedente o pedido do México,

que era o requerente no pedido de extradição em tela, suspendeu o processo aespera de que fosse decido o pedido de refúgio. Se a Suprema Corte estava

convencida de que todos os pressupostos da extradição estavam presentes

naquele caso, não seria o caso de impedir a suspensão do processo,

antecipando-se à decisão do CONARE e, desde logo, afirmando que o caso já

estava julgado e que o refúgio não poderia ser concedido? Evidente que o

Supremo Tribunal Federal não poderia agir assim, pois estaria suprimindo

competência que era exclusiva do Executivo, que é a de apreciar o pedido deconcessão do refúgio.

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E mais inconcebível, ainda, seria o Supremo Tribunal Federal, após o

refúgio ser concedido, neste exemplo que temos em tela, voltar a se reunir para

complementar o Acórdão já publicado, declarando eivado de nulidade o refúgio

possivelmente concedido para afastar a incidência do art. 33 da Lei 9.474/97 e

impor a extradição em vez de extinguir o processo como determina a norma.

Se assim fosse possível, preferível seria se declarar inconstitucional

os art. 33 e 34 da Lei 9.747/97 e admitir que o pedido de refúgio deveria ser

dirigido diretamente ao Supremo Tribunal Federal, que seria competente para

apreciá-lo desde o início, seja de forma isolada seja em processo conexo com

o pedido de extradição.

Nada disso é coerente e nem mesmo se harmoniza com o princípio

constitucional da separação de poderes e com a previsão constitucional de que

é do Executivo a competência para manter relações internacionais com os

Estados estrangeiros.

Na decisão do Supremo Tribunal Federal, a maioria indicou que a

decisão de concessão de refúgio no curso do processo, pelo Ministro da

Justiça, em recurso administrativo, seria ato administrativo vinculado. Passível,

portanto, de ser revisto pelo judiciário.Entretanto, há indicativo claro de que o ato do Ministro da Justiça

seja discricionário. Trata-se do art. 29 da Lei 9.747/97, que trata do recurso

administrativo quando a decisão do CONARE for negativa do pedido de

refúgio, in verbis :

Art. 29. No caso de decisão negativa, esta deverá ser fundamentada na notificação ao solicitante, cabendo direito de 

recurso ao Ministro de Estado da Justiça, no prazo de quinze dias,contados do recebimento da notificação.

E necessário esclarecer que a decisão do CONARE, no caso Cesare

Battisti, se deu por diferença de um voto, o voto de desempate, no sentido de

indeferir o pedido de refúgio. O que demonstra o quanto foram acirrados os

debates. Como se pode dizer, então, que o Ministro da Justiça, exercendo a

competência revisora que lhe foi atribuída por lei, não poderia chegar à decisão

diferente, sob pena de eventual desvio de finalidade ou, até mesmo, abuso depoder? Chegar a tal conclusão seria tolher o direito do requerente do refúgio ao

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duplo grau de exame de seu pedido que é a regra garantida na Lei, o que,

inclusive, corresponde à garantia do devido processo legal.

Ao atuar como revisor, o Ministro da Justiça nada mais faz do que

exercer os elementos de discricionariedade do ato recursal, sem que o fato de

chegar à conclusão diversa do colegiado do CONARE signifique invalidação do

 juízo político administrativo revisor. Cremos que a lei, prevendo a possibilidade

de revisão da decisão acerca do refúgio, deixa clara a possibilidade de mais de

um entendimento em cada caso no âmbito da esfera administrativa. Ou seja,

deixa aberta a possibilidade de haver mais de um entendimento sobre o mérito

do pedido de refúgio.

O que não conseguimos vislumbrar é a possibilidade do Judiciário se

imiscuir na competência do Poder Executivo como se fosse uma terceira

instância administrativa do processo de refúgio e adentar no mérito da decisão

que, mais do que administrativa, é político administrativa.

Essencial é relembrar que a República Italiana impetrou mandado de

segurança contra o ato do Ministro de Estado da Justiça que havia concedido o

refúgio. Em razão da conexão com a extradição que estava em curso, o

Supremo Tribunal Federal era competente para apreciar, também, o mandadode segurança (o qual acabou sendo julgado prejudicado em razão de que os

Ministros apreciaram a matéria sobre que ele versava – a concessão do refúgio

 – como preliminar no processo de extradição).

Neste Mandado de Segurança, o Procurador-Geral da República,

Antônio Fernando e Silva de Souza, preferiu Parecer (BRASIL, 2009b)

afirmando que, por se tratar de ato político, nem mesmo o Supremo Tribunal

Federal poderia rever o juízo de mérito firmado pelo Ministro da Justiça, aindaque discordasse da interpretação dada ao conjunto de fatos ou em relação aos

fundamentos adotados na decisão. No seu entendimento, a anulação do ato

constituiria violação ao princípio constitucional da Separação dos Poderes,

visto que questões atinentes à política internacional competem única e

exclusivamente ao Poder Executivo.

Vejamos excertos do Parecer no que interessa ao tema:

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54. Tampouco é legítimo o controle in casu da valoração da autoridade decisória sobre os fatos e circunstâncias que lhe deram a convicção de que o postulante ao refúgio estava a sofrer perseguição política.

55. Não se trata de desvio de poder ou de seu abuso,

nem de aplicar-se a tese dos motivos determinantes, de modo a avaliar se o Ministro da Justiça fez juízo certo ou errado a respeito dos fatos, especialmente porque não se cuidava de processo sancionatório ou de criação de privilégio descabido, mas de intento de promoção dos direitos humanos. E estes, como síntese dos valores comuns ocidentais, devem-se impor diante dos motivos persecutórios, quaisquer que sejam, como, aliás, tem sido a tônica dessa Corte.

A Corte Suprema não se comportou como garantidora dos direitos

humanos que, em ultima ratio , é o motivo pelo qual foi chamada pelo poder

Constituinte para intervir nos processos de extradição. Pelo contrário, o

Supremo abandona a sua tradição garantista dos direitos fundamentais para

passar a ser, não só o julgador, mas o acusador do extraditando Cesare

Battisti. Toda a interpretação feita pelo Tribunal acerca do ato do Ministro da

Justiça acabou por se reverter em prejuízo do extraditando.

Mais adiante, o Parquet  faz considerações acerca do direito que

afirmava ter o Estado italiano:

69. Já se disse que o ato do Executivo não pode sofrer o qualificativo de ilegalidade ou abusividade. Tão pouco violou algum direito líquido e certo da República da Itália. E não o fez, porque não há um tal direito em relação à própria revisão do refúgio e tampouco em relação ao pedido de extradição. Quer-se, em ambos os pedidos,o imediato e o remoto, imiscuir-se no mérito administrativo e político do Governo brasileiro, invertendo, a um só tempo, o princípio da soberania nacional e o sistema de proteção dos direitos humanos consagrado no País. 

Não nos passou despercebido, quando da análise de todo o Acórdãodo processo de extradição, que a perspectiva levantada pelo Procurador-Geral

da República, de que não havia direito líquido e certo a ser protegido, tornou

provável a inferência de que não teria sucesso o mandado de segurança.

Motivo que nos leva a crer que, prevendo o insucesso da ação mandamental, a

maioria dos Ministros que tendiam a deferir a extradição, resolveu prescindir de

seu julgamento e apreciou a questão da concessão do refúgio como preliminar

do processo de extradição, ainda que a União Federal, a quem o Ministro da

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Justiça representava na prática do ato de concessão do refúgio, não fosse

parte no referido processo.

Sobre tal atropelo processual, manifestou-se o Ministro Marco Aurélio

no seu voto - vencido - proferido na extradição 1.085:

É de ressaltar que o ato do Ministro de Estado da Justiça, reconhecendo a condição de refugiado ao extraditando, foi praticado depois da apresentação do pedido de extradição. Então, o advogado do Governo da Itália impetrou mandado de segurança - apontando a referida autoridade brasileira como coatora   – para atacar o refúgio formalizado. Em outras palavras, o pedido de invalidação do refúgio não poderia estar compreendido no pleito de extradição porque, sob o ângulo temporal, o objeto surgiu após o início da tramitação deste processo.

Interpretando o raciocínio do Ministro Marco Aurélio: o que houve foi

um julgamento extra petita que não oportunizou nem a ampla defesa do

extraditando e nem a participação da União Federal em processo no qual se

invalidou ato do Ministro de Estado da Justiça.

Voltando a analisar a manifestação do Procurador-Geral da

República, verificamos que o Custos Legis  alertou sobre a necessidade de

preservar a soberania do Estado brasileiro:

70. Ao ingressar com o pedido junto a mais alta Corte  judiciária brasileira, a Itália tenta extrair dela uma determinação que,com mero expediente e roupagem jurídica, visa a negar a subsistência de uma decisão de Estado, posto que é o Executivo, na pessoal do Presidente da República ou de autoridades por ele acreditada, a instância de soberania constitucionalmente responsável pela adoção da política exterior e pelo estabelecimento das relações internacionais. De modo reflexo, portanto, visa a contrariar ato de soberania que outra coisa não é do que, no plano 

exterior, ser tratado com igual respeito, consideração e independência pelos poderes estrangeiros, impondo-se,internamente, sua qualidade de poder constitucional supremo. 

Agindo da forma como procedeu, o Supremo Tribunal Federal

prestigiou Estado estrangeiro em detrimento da soberania do Estado brasileiro,

que é precedente muito mais grave do que toda a discussão acerca do caso

específico de Cesare Battisti. Mais importante do que se apreciar se o

extraditando havia cometido crime político ou crime hediondo comum, era o

Supremo Tribunal Federal preservar o princípio da independência dos poderes

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e a soberania do Estado brasileiro representado pelo Executivo frente ao

Estado italiano.

O Procurador-Geral da República, em seguida, explicita o princípio

do favor rei que deveria nortear a decisão acerca do pedido de refúgio:

71. Ao mesmo tempo, o pedido atenta contra o sistema de proteção dos direitos humanos que tem no asilo e no refúgio dois elementos importantes, centrais mesmos, para conferir tutela a pessoas estrangeiras que se encontrem em situações excepcionais,de risco ou de perseguição, inclusive por atividades políticas,segundo o juízo de conveniência do Estado brasileiro. Não se deve nunca deixar de aplicar, em casos como esse, o princípio da interpretação mais benéfica aos direitos humanos. O que, a toda evidência, beneficia o refugiado e não a Itália. 

Da forma como foi indicada pelo Procurador-Geral da República,

havia agido o Ministro da Justiça, o qual asseverou na sua decisão que iria

aplicar o princípio in dubio pro reo , afirmando: “na dúvida, a decisão de

reconhecimento deverá inclinar- se a favor do solicitante do refúgio” .

Por fim, o Procurador-Geral da República não deixou margem de

dúvidas acerca do caráter político discricionário do ato de concessão do

refúgio, afirmando que nem mesmo eventual discordância em relaçãointerpretação dos fatos feita pelo Ministro da Justiça autorizaria a anulação do

ato político, pois tal procedimento constituiria violação do princípio

constitucional da separação de poderes:

76. No mais, mantenho a posição que expus nos autos da Extradição nº 1.085 e reitero que a análise do ato de concessão de refúgio deve-se restringir a verificar a ocorrência da pertinência temática entre a motivação do deferimento do refúgio e o objeto do 

pedido de extradição.77. Nesse diapasão, ao compulsar os documentos 

 juntados pelas partes, confirmo que não há duvida de que a decisão do Ministro da Justiça, concessiva do status de refugiado ao extraditando, teve em consideração o mesmo conjunto fático e   jurídico que serviu de suporte ao pedido de extradição formulado pela ora Impetrante.

78. Inclusive, entendo que eventual discordância da interpretação que foi dada ao referido conjunto de fatos pelo Ministro da Justiça ou em relação aos fundamentos adotados em sua decisão não autorizam a anulação do ato político.

79. Em outros termos, a análise do mérito da presente impugnação, sem que se atente para a natureza jurídica política do ato questionado, constituirá uma violação ao princípio constitucional da Separação de Poderes, pois as discussões que versam sobre 

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questões atinentes à política internacional competem única e exclusivamente ao Poder Executivo.

80. A independência e a harmonia, fundamentos da Separação de Poderes, dizem respeito justamente ao livre exercício por cada Poder do Estado das atribuições que lhes são próprias.

A prevalecer o novo entendimento aplicado pelo Supremo Tribunal

Federal no caso Cesare Battisti, nos permitimos, embora não seja o melhor

método, levantar suposições hipotéticas, apenas com o fim de aclarar a

situação de insegurança jurídica que parece ter sido instalada.

Assim sendo, digamos que um prisioneiro de nacionalidade iraquiana

lograsse êxito em fugir da prisão americana de Guantánamo na ilha de Cuba.

Vamos admitir que, após a fuga, o iraquiano conseguisse chegar a territóriobrasileiro e, aqui chegando, solicitasse o reconhecimento da condição de

refugiado, pedido este que fosse atendido pelo Executivo brasileiro através do

CONARE, ou mesmo, mediante recurso ao Ministro da Justiça.

Concomitantemente, os Estados Unidos da América teria pedido a extradição

do fugitivo, alegando se tratar de criminoso que teria cometido atos de

terrorismo.

Está estampado para a comunidade internacional que a prisão militarde Guantánamo é, no mínimo, suspeita de ser local onde os prisioneiros têm

desrespeitados os direitos fundamentais que uma pessoa presa deveria

preservar. Há denúncias de que, neste lugar, se admite torturas e humilhações

físicas e psicológicas em total desrespeito à Convenção de Genebra, tendo por

lá passado, no mínimo, 600 prisioneiros sem acusação formada, sem processo

constituído e, obviamente, sem direito a julgamento. Estas denúncias são de

conhecimento de toda a comunidade internacional, porém - somente para quenão se alegue ausência de fontes - basta consultar o New York Times (TIMES,

2011) em recente matéria onde, além resumir todas as denúncias que grupos

de defesa dos direitos humanos têm trazido à tona, se relata que o próprio

Presidente Barak Obama parece ter fracassado em sua promessa de fechar a

prisão militar, promessa que fez logo que assumiu a Presidência dos Estados

Unidos da América.

Pois bem, voltemos a nossa hipótese. Instalado o litígio entre o

fugitivo iraquiano e os Estado Unidos da América através do pedido de

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extradição, a quem caberia dizer se o Estado requerente vem sendo conivente

com o desrespeito aos direitos humanos dentro de sua prisão de Guantánamo?

Ao Poder Executivo ou ao Supremo Tribunal Federal?

Se o Ministro da Justiça, ao conceder o refúgio, fizesse avaliação de

que era bastante provável que o fugitivo iraquiano não teria respeitados seus

direitos fundamentais, como o direito ao devido processo legal, à ampla defesa

e, até mesmo, à integridade física, caso devolvido para a prisão de

Guantánamo, é evidente que se trataria de uma interpretação eminente política

sobre dado da realidade. Mas essa é a única maneira que poderia ser. A

análise da conjuntura que se faça sobre dados da realidade de um país que

requer a extradição é reflexo da linha política ideológica que o governo que

estiver no poder siga em seu programa. O Brasil poderia interpretar de uma

forma e, por exemplo, a Inglaterra poderia interpretar de forma totalmente

diferente dados da realidade sobre a prisão de Guantánamo. A interpretação e

a decisão que advenha dela é política.

Logo, não seria correto o Supremo Tribunal Federal declarar a

nulidade do ato político de concessão do refúgio alegando, entre outras

considerações, por exemplo, que o “os Estados Unidos da América eram o

bastião da democracia no mundo ocidental e que não passavam de suposições 

sem respaldo na realidade fática as interpretações do Ministro da Justiça sobre 

a violação dos direitos humanos fundamentais em Guantánamo” , já que estaria

a Suprema Corte fazendo, também, interpretação política para dados da

realidade e não é essa sua função constitucional.

Evidente que a Supremo Tribunal Federal não se arriscaria a tanto,

pois tem consciência que só cabe ao Poder Executivo e ao governo eleito tratardas relações políticas internacionais com Estado estrangeiro, sendo que

desautorizar ou nulificar o ato do Ministro da Justiça em tal hipótese, o qual,

certamente, não o teria praticado sem aquiescência do Presidente da

República, seria intromissão na competência do Executivo e grave desrespeito

ao princípio da separação dos poderes.

Não vemos diferença fundamental entre a nossa hipótese do fugitivo

iraquiano e o caso de Cesare Battisti.

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Para finalizar, e mudando o eixo da discussão, devemos abordar que

a decisão do Supremo Tribunal Federal assevera, por outro lado, que havia

contraste entre o ato concessivo do refúgio com norma legal proibitiva de

reconhecimento dessa condição de refugiado, que seria o art. 3º, III, da Lei nº

9.474/97, in verbis :

Art. 3º Não se beneficiarão da condição de refugiado os indivíduos que: 

(...)III - tenham cometido crime contra a paz, crime de 

guerra, crime contra a humanidade, crime hediondo , participado de atos terroristas ou tráfico de drogas. (g.n)

Entretanto, os crimes pelos quais Cesare Battisti foi condenadodatam de 1977 e 1979, sendo que a Lei 8.072/90, que define quais seriam os

crimes hediondos, data de 1990. A se considerar o dispositivo legal como

impeditivo do reconhecimento da condição de refugiado estaria se violando

pelo menos duas garantias fundamentais previstas no art. 5º da Constituição

Federal de 1988:

XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal; 

XL - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; 

Foi dessa maneira que se posicionou, por exemplo, a Ministra

Cármen Lúcia em seu voto na Extradição 1.085:

“Os crimes pelos quais foi condenado Cesare Battisti na

Justiça Italiana datam de 1977 e 1979, e a lei que considera hediondos alguns crimes, dentre os quais tipos que podem ser tidos como de igual natureza daqueles praticados ou imputados ao extraditando refugiado, data de 1990  – Lei nº 8.072 -, pelo que,naquela qualificação, não se poderiam incluir as práticas imputadas ao cidadão italiano, neste caso, uma reformatio in pejus ”. 

Em nosso entendimento, considerando toda a análise feita, não

restou fundamento que seja razoável na decisão do Supremo Tribunal Federal

declarando a nulidade do ato do Ministro de Estado da Justiça que concedeu o

refúgio ao Cesare Battisti.

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5. EXTRADIÇÃO E O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

A Constituição Federal de 1988 é bem clara e objetiva quando

estabelece:

Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: 

(...)

VII - manter relações com Estados estrangeiros e acreditar seus representantes diplomáticos; VIII - celebrar tratados, convenções e atos 

internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional; (...)XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira,

autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional; 

XX - celebrar a paz, autorizado ou com o referendo do Congresso Nacional; 

Deve ser entendido que, em termos de decisões de âmbitointernacional que se colocam no relacionamento entre os Estados, o Brasil é

representado pelo Poder Executivo, que tem na chefia suprema o Presidente

da República.

O procedimento a ser adotado no curso do processo de extradição é

previsto na Lei 8.615/80 (Estatuto do Estrangeiro), a qual prevê uma fase

posterior ao julgamento e deferimento do pedido de extradição pelo Supremo

Tribunal Federal.Dispõe a Lei:

Art. 86. Concedida a extradição, será o fato comunicado através do Ministério das Relações Exteriores à Missão Diplomática do Estado requerente que, no prazo de sessenta dias da comunicação, deverá retirar o extraditando do território nacional.(Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)

Art. 87. Se o Estado requerente não retirar o extraditando do território nacional no prazo do artigo anterior, será 

ele posto em liberdade, sem prejuízo de responder a processo de expulsão, se o motivo da extradição o recomendar. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)

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(...)

Art. 89. Quando o extraditando estiver sendo processado, ou tiver sido condenado, no Brasil, por crime punível 

com pena privativa de liberdade, a extradição será executada somente depois da conclusão do processo ou do cumprimento da pena, ressalvado, entretanto, o disposto no artigo 67. (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)

Parágrafo único. A entrega do extraditando ficará igualmente adiada se a efetivação da medida puser em risco a sua vida por causa de enfermidade grave comprovada por laudo médico oficial.

Art. 90. O Governo poderá entregar o extraditando ainda que responda a processo ou esteja condenado por contravenção.(Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)

Art. 91. Não será efetivada a entrega sem que o Estado requerente assuma o compromisso: (Renumerado pela Lei nº 6.964,de 09/12/81)

I - de não ser o extraditando preso nem processado por fatos anteriores ao pedido; 

II - de computar o tempo de prisão que, no Brasil, foi imposta por força da extradição; 

III - de comutar em pena privativa de liberdade a pena corporal ou de morte, ressalvados, quanto à última, os casos em que a lei brasileira permitir a sua aplicação; 

IV - de não ser o extraditando entregue, sem consentimento do Brasil, a outro Estado que o reclame; e 

V - de não considerar qualquer motivo político, para agravar a pena.

Todos os artigos de Lei reproduzidos acima dizem respeito à entrega

do extraditando e não geram dúvida alguma nos casos em que o Poder

Executivo esteja concorde com a necessária entrega do extraditando ao Estado

estrangeiro. Basta seguir o procedimento previsto na Lei e, logo, o estrangeiro

estará no interior do avião que o levará ao cárcere.

Entretanto, o problema surge - como ocorreu no caso de Cesare

Battisti - quando o Poder Executivo, já expressando sua vontade diretamente

pela pessoa do Presidente da República, entenda que a extradição não deva

ser efetivada.

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A própria Lei 6.815/80 já prevê de forma expressa alguns casos em

que a extradição poderá ser postergada ou recusada. São os casos previstos

no artigo 89 e seu parágrafo único, quando a extradição será postergada, e no

artigo 91, quando a entrega não será efetivada. Nesta fase, não há

controvérsia de que a única autoridade competente para decidir, por exemplo,

se a extradição será postergada em razão do estado de saúde do extraditando

é o Presidente da República. Da mesma forma como é o Presidente da

República a autoridade competente para decidir que não entregará o

extraditando em razão, por exemplo, de que o Estado estrangeiro não se

comprometeu a comutar a pena de morte porque não manifestava vontade

política para tanto ou porque a sua legislação não permitisse a sua comutação.

Nestes casos, evidentemente, estando ultrapassada a fase judicial do processo

de extradição, jamais o processo voltaria ao STF para que os ministros se

manifestassem sobre estes aspectos. Neste ponto não há controvérsia: a

autoridade competente é o Presidente da República.

No caso de Cesare Battisti não foi nenhuma destas hipóteses legais

que fundamentaram a decisão do ex-presidente da república. Em decisão

publicada no Diário Oficial da União de 31 de dezembro de 2010, o ex-presidente Lula negou a extradição fundamentando-se em parecer da

Advocacia-Geral da União (BRASIL, 2010b), que opinava da seguinte forma:

170. Opina-se, assim, pela não autorização da extradição de Cesare Battisti para a Itália, com base no permissivo da letra f do número 1 do art. 3 do Tratado de Extradição celebrado entre Brasil e Itália, porquanto, do modo como aqui argumentado, há ponderáveis razões para se supor que o extraditando seja submetido a agravamento de sua situação, por motivo de condição pessoal,dado seu passado, marcado por atividade política de intensidade relevante. Todos os elementos fáticos que envolvem a situação indicam que tais preocupações são absolutamente plausíveis,  justificando-se a negativa da extradição, nos termos do tratado celebrado entre Brasil e Itália.

Ou seja, o ex-presidente da república fundamentou-se

exclusivamente no próprio Tratado de Extradição existente entre Brasil e Itália

para denegar a entrega do extraditando. E dispõe o referido Tratado (BRASIL,

1993):

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ARTIGO 3 

Casos de Recusa de Extradição 

1. A extradição não será concedida: 

(...)

f) se a Parte requerida tiver razões ponderáveis para supor que a pessoa reclamada será submetida a atos de perseguição e discriminação por motivo de raça, religião, sexo,nacionalidade, língua, opinião política, condição social ou pessoal; ou que sua situação possa ser agravada pó um dos elementos antes mencionados ; (grifo nosso)

Entretanto, com a negativa de extradição, instalou-se a celeuma de

que havia sido desrespeitada a decisão do Supremo Tribunal Federal, o qualhavia decidido pelo deferimento da extradição.

Para bom entendimento da polêmica é necessário que se reproduza

trecho da ementa do Acórdão da Extradição nº 1.085 no que tange à

vinculação do Presidente da República à decisão do STF:

8. EXTRADIÇÃO. Passiva. Executória. Deferimento do pedido. Execução. Entrega do extraditando ao Estado requerente.

Submissão absoluta ou discricionariedade do Presidente da República quanto à eficácia do acórdão do Supremo Tribunal Federal. Não reconhecimento. Obrigação apenas de agir nos termos do Tratado celebrado com o Estado requerente. Resultado proclamado à vista de quatro votos que declaravam obrigatória a entrega do extraditando e de um voto que se limitava a exigir observância do Tratado. Quatro votos vencidos que davam pelo caráter discricionário do ato do Presidente da República. Decretada a extradição pelo Supremo Tribunal Federal, deve o Presidente da República observar os termos do Tratado celebrado com o Estado requerente, quanto à entrega do extraditando.

Da leitura da Ementa se extrai que o Presidente da República nãoficou vinculado à decisão do Supremo Tribunal Federal, não tendo ficado,

portanto, obrigado a entregar Cesare Battisti à República Italiana, embora

tenha ficado obrigado a observar os termos do tratado celebrado com a Itália

no momento de decidir sobre a entrega do extraditando.

Nosso intento será demonstrar que a margem de ação do Presidente

da República é muito maior do que lhe foi conferida no julgamento da

Extradição nº 1.085. No momento de decidir sobre a entrega do extraditando,exerce atividade plenamente discricionária.

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A extradição faz parte do rol de atos praticados com pertinência às

relações internacionais do país com outros Estados. Já verificamos que é ao

Presidente da República que cabe a última palavra em matéria de relações

internacional, conforme os incisos do art. 84 da Constituição Federal de 1988

citados no início deste tópico. A decisão de entregar ou não o estrangeiro é ato

político que se situa na esfera exclusiva e discricionária do Chefe de Estado.

Esse entendimento não é novidade no Direito Brasileiro. José

Frederico Marques, um dos mais ecléticos juristas do nosso país, já afirmava

em passagem clássica:

Não é o Judiciário quem concede a extradição. Este ato é do Executivo, como órgão do Estado incumbido de o representar nas relações com o exterior. Como Galdino Siqueira ensina, a extradição é negócio internacional e põe em contacto dois Estados,pelo que só o poder executivo, poder ativo, de ação e funcionamento contínuo, e que representa a nação nas relações exteriores, é que pode solicitá-la ou concedê-la. (MARQUES, 1954, p. 288)

Assim vinha decidindo o Supremo Tribunal Federal, como no julgado

da Extradição nº 1.114 da República do Chile (BRASIL, 2008), cuja relatora foi

a Ministra Cármen Lúcia, em que o tribunal decidiu, por unanimidade, daseguinte forma:

(...) 3. O Supremo Tribunal limita-se a analisar a legalidade e a procedência do pedido de extradição (Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, art. 207; Constituição da República, art. 102, Inc. I, alínea g; e Lei n. 6.815/80, art. 83): indeferido o pedido, deixa-se de constituir o título jurídico sem o qual o Presidente da República não pode efetivar a extradição; se deferida, a entrega do súdito ao Estado requerente fica a critério discricionário do Presidente da República. 4. Extradição deferida,nos termos do voto da Relatora.

Do julgado acima se extrai importante lição: o Presidente da

República não pode efetivar a extradição se o STF indeferir o pedido. E, aí,

reside a importância e o motivo da participação da Suprema Corte no processo

de extradição. Ela se faz presente para garantir os direitos do estrangeiro

submetido ao processo de extradição frente à pretensão do Estado requerente

com a qual esteja em concordância o Estado brasileiro. Por outro lado, sedeferida a extradição pelo Supremo Tribunal Federal, a entrega do estrangeiro

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fica a critério discricionário do Presidente da República. Ou seja, a

interpretação que faz do instituto e sua aplicação visa garantir, em todas as

hipóteses, os direitos fundamentais do ser humano. Não poderia deixar de ser

assim já que o direito extradicional é ramo do direito processual penal onde

toda a interpretação deve ser favorável ao réu.

A função preponderante de garantia dos direitos fundamentais que

exerce o Supremo Tribunal Federal é enfatizada pelo Ministro Joaquim

Barbosa no seu voto contrário à extradição no processo de Cesare Battisti (Ext.

nº 1.058), tendo afirmado o Ministro:

Portanto, este Supremo tribunal Federal não tem prerrogativas próprias a defender em matéria extradicional. Sua intervenção se traduz em garantia criada pelo nosso sistema jurídico para proteger o extraditando. Na nossa sistemática, o poder executivo não pode entregar alguém a um Estado estrangeiro se este Supremo Tribunal Federal disser que a entrega é ilegal. Mas, na situação inversa, isto é, se o Executivo, que é o órgão titular das relações internacionais do nosso País, decidir comunicar ao Estado estrangeiro que não procederá à entrega da pessoa procurada,fazendo uso do princípio da soberania que rege as relações internacionais, não poderá o Supremo Tribunal Federal forçar o executivo a extraditar a pessoa. Não poderá por dois motivos essenciais. Em primeiro lugar, porque não tem competência para tanto. Em segundo lugar, porque, como já disse, a intervenção do Tribunal no processo de extradição se dá em benefício do extraditando. É uma garantia a ele outorgada pelo nosso ordenamento jurídico. Assim, seria juridicamente inconcebível que o órgão jurisdicional, cuja intervenção no processo de extradição foi concebida como uma garantia em prol do extraditando, subvertendo totalmente o papel que lhe é reservado nessa matéria pela Constituição, dirigisse suas armas contra a pessoa objeto da proteção constitucional, para determinar coercitivamente a efetivação da extradição que o órgão titular das relações internacionais do país,competente para a matéria, não mais pretendesse efetivar.

Seria uma enorme incongruência jurídica! 

Ressaltando que, embora tenha julgado procedente o pedido de

extradição, o Ministro Carlos Britto votou pela preservação da

discricionariedade política e soberania do Presidente da República, se faz

necessário reproduzir trecho da sua intervenção no julgamento:

Ministro Carlos Britto: “Mas, parece-me, Ministra, que o Judiciário, assim como 

não desrespeita a soberania do País estrangeiro, não pode desrespeitar a soberania do Presidente da República, que é Chefe de Estado e representante privativo, protagonista privativo das 

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relações internacionais do Brasil. Aí surge a pergunta: e para que serve o Poder Judiciário, porque o processo extradicional passa pelo Crivo do Supremo Tribunal Federal? É porque o Supremo Tribunal Federal entra nesse processo, nesse circuito para efetivar um dos   princípios do inciso II do artigo 4º: „prevalência dos direitos

humanos‟. Só se justifica a presença a presença do Poder 

Judiciário num processo extradicional, sabido que a extradição é um instituto de Direito Internacional, porque incide no círculo das relações internacionais do Brasil esse princípio do respeito aos direitos humanos”. 

Ou seja, este poder que detém o Presidente da República  – de

decidir não entregar o estrangeiro ainda que o STF tenha se manifestado pela

procedência da extradição – nada mais é do que a expressão de soberania do

Estado, princípio fundamental que disciplina as relações internacionais entre os

Estados soberanos, matéria que compete privativamente ao Presidente da

República tratar (art. 84, VII, da CF).

Não é despiciendo relembrar a redação contida no art. 2º da

Constituição Federal de 1988: “São Poderes da União, independentes e 

harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário” . Atento a ele, o

Ministro Marco Aurélio, no julgamento da Extradição nº 1.085, manifestou-se

sobre as consequências que poderiam advir da incursão do Judiciário sobre a

competência privativa do Presidente da República. Afirmou o Ministro:

Eis a visão que retrata o sistema de freios e contrapesos próprios a um Estado Democrático, evitando a concentração de poder, aquela que adviria de entender-se pela abertura de campo amplo à atuação do Judiciário, à atuação do Supremo, que tem a última palavra sobre o alcance da Carta Federal - devendo a Corte,nessa prática, guardar absoluta fidelidade, atuar com deferência, sob pena de vingar a babel, chegando-se à pior das ditaduras, a do 

Judiciário. O fato de não haver, na estrutura desse Poder, um órgão que possa rever as decisões deste Tribunal não pode levá-lo,legitimamente, a esse temido extremo. Óptica diversa implica consagrar o critério de plantão, com a quebra do sistema constitucional, sendo as consequências imprevisíveis.

(...)É esse o enquadramento a ser observado. Agora 

mesmo, na França, em 28 de janeiro de 2009, houve o deferimento da extradição da nacional italiana Marina Petrella, e o Executivo francês, em vez de entregá-la ao Governo da Itália, deferiu-lhe o asilo. O enfoque, sob o ângulo nacional, não pode ser outro, sob pena de o Judiciário pátrio manietar o Presidente da República,olvidando princípio básico  – o da Separação de Poderes  – ferindo de 

morte a harmonia a eles inerente.

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Entendemos que Poder Judiciário não possui legitimidade

democrática para interferir nos rumos políticos traçados pelo Executivo em

matéria de relações internacionais. E isto pelo simples fato de que quem foi

eleito para tomar decisões políticas frente a Estados estrangeiros em nome do

Brasil foi o Presidente da República e não os Ministros do Supremo Tribunal

Federal. A prevalecer tal postura, caminha-se, hoje, a passos largos, em

direção ao que o Ministro Marco Aurélio chamou de ditadura do judiciário e que

Loewenstein, filósofo alemão que se exilou do regime nazista em Nova Iorque,

chamou de ― judiciocracia‖ (LOEWENSTEIN, 1970, p. 325, tradução nossa): 

... a intervenção dos tribunais pode levar a apagar as fronteiras entre a administração de justiça e a política. Os detentores do poder, politicamente responsáveis  – governo e parlamento  –,estão expostos à tentação de levar ante o tribunal um conflito político. Os juízes, por sua parte, estão obrigados a substituir as decisões dos responsáveis detentores do poder por seus juízos políticos, camuflados em forma de sentença judicial. Instalar um tribunal como árbitro supremo do processo de poder  – e este é o núcleo da «judicialização da política»  – transformaria em último termo, o sistema governamental em um domínio dos juízes ou em uma «judiciocracia».

(...)Se se outorga o direito aos tribunais de frustrar uma 

decisão política do governo e do parlamento, ameaça o perigo de que, bem a decisão do tribunal não seja respeitada  –, com prejuízo para o Estado de Direito  –, ou bem que a decisão política do governo seja substituída por um ato judicial que, embora revestido jurídico- constitucionalmente, não é, no fundo, se não um ato político de pessoas que não têm nenhum mandato democrático para levar a cabo esta função.1 

E, parece-nos, que exatamente o quadro desenhado por Karl

Loewenstein é o que se apresenta após o julgamento do pedido de Extradição

de Cesare Battisti.

1 ... la intervención de los tribunales puede conducir a borrar las fronteras entre la

administración de justicia y la política. Los detentadores del poder, políticamente responsables—gobierno y parlamento—, están expuestos a la tentación de llevar ante el tribunal un conflictopolítico. Los jueces, por su parte, están obligados a sustituir las decisiones de los responsablesdetentadores del poder por sus juicios políticos, camuflados en forma de sentencia judicial.Instalar un tribunal como arbitro supremo del proceso del poder —y éste es el núcleo de la«judicialización de la política»—, transformaría, en último término, el sistema gubernamental enun dominio de los jueces o en una «judiciocracia». (...) Si se otorga el derecho a los tribunalesde frustrar una decisión política del gobierno y del parlamento, amenaza el peligro de que, bienla decisión del tribunal no sea respetada —con perjuicio para el Estado de derecho—, o bien

que la decisión política del gobierno sea sustituida por un acto judicial que, aunque revestido jurídico-constitucionalmente, no es, en el fondo, sino un acto político de personas que no tienenningún mandato democrático para llevar a cabo esta función. 

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O Presidente da República negou-se a efetivar a entrega do

estrangeiro e fundamentou a decisão em dispositivo do tratado. Deve ser

novamente ressaltado que, embora não tenha sido sufragado o entendimento

de que a discricionariedade do Presidente era ilimitada, mas sim mitigada em

função de deveria observar, quanto ao ato de entrega, os termos do tratado,

entendemos que o Chefe de Governo assim procedeu, pois a decisão está

expressamente fundamentada no art. 3, 1, f , do tratado de extradição.

Entretanto, o Ministro Cesar Peluso, durante o recesso do Judiciário,

indeferiu o pedido da defesa que requeria alvará de soltura do extraditando,

proferindo despacho (BRASIL, 2011), nos seguintes termos:

6. Como transparece através do dilatado parecer, nãodeparei, para além das declarações colhidas aos jornais italianos,com descrição nem menção de nenhum ato ou fato específico enovo, que, não considerado pelo acórdão, pudesse representar, coma nitidez exigida pela natureza singular e restrita deste juízo prévio esumário, razão ou “razões ponderáveis para supor que a pessoareclamada será submetida a atos de perseguição e discriminação por motivo de raça, religião, sexo, nacionalidade, língua, opinião política, condição social ou pessoal; ou que sua situação possa ser agravada por um dos elementos antes mencionados” (fls. 4329). Nãotenho como, nesta estima superficial, provisória e de exceção, ver,provada, causa convencional autônoma que impusesse libertaçãoimediata do ora requerente.

E remeteu os autos ao Relator, o Ministro Gilmar Mendes,

permanecendo Cesare Battisti preso.

Mas, afinal, a quem cabia, segundo os termos do próprio Acordão,

interpretar o tratado e decidir sobre a entrega ou não do extraditando, ao

Presidente da República ou ao Supremo Tribunal Federal? O que acontece se

a Corte Suprema, mais uma vez imiscuindo-se na competência política daPresidência da República, resolve determinar a extradição? Ordenará, agora,

para a Presidenta da República, Dilma Roussef, que entregue o estrangeiro

para Itália? Sob pena de que sanção irá o STF fazer tal determinação à

Presidenta da República? Ou permitirá, o próprio STF, que agentes

estrangeiros do Governo Italiano adentrem no território nacional  – mesmo sem

nenhuma autorização do Executivo – para levarem embora Cesare Battisti?

Está instalada a Babel a que se referiu o Ministro Marco Aurélio econfigurado o cenário previsto por Loewenstein: ou bem o Supremo Tribunal

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não conseguirá fazer cumprir a sua possível determinação de entrega do

estrangeiro para a República Italiana, ou bem a decisão política do Governo

será substituída por um ato judicial que, no final das contas, por ter sido

praticado por juízes sem nenhum mandato para o praticarem, se assemelha à

violação da soberania política do Brasil perante o Governo Italiano.

6. EXTRADIÇÃO E O TRATADO.

Entendemos e defendemos que a discricionariedade do Presidente

da República no momento de decidir sobre a entrega do extraditando é ampla,

conforme vimos no tópico anterior.

Entretanto, como na ementa do Acordão do Supremo Tribunal

Federal ficou asseverado que o Chefe de Estado deveria observar os termos

do tratado no momento da decisão, passaremos a demonstrar que não foi

desrespeitado nem o tratado e nem a decisão da Suprema Corte.

A maioria dos Ministros do Supremo Tribunal Federal manifestou-seno sentido de que o Presidente da República era titular, na hipótese, de uma

competência de natureza política, não estando vinculado à decisão proferida

pelo Judiciário. Quatro Ministros (Marco Aurélio, Carlos Britto, Joaquim

Barbosa e Cármen Lúcia) entenderam que o Presidente da República teria

discricionariedade para decidir sobre a entrega do extraditando, enquanto o

Ministro Eros Grau votou no sentido de que a competência do Chefe do

Executivo era de natureza política, mas deveria observar o Tratado deExtradição celebrado entre Brasil e Itália.

Vejamos excerto do voto que demonstra a posição do Ministro Eros

Grau (BRASIL, 2009c):

Tem-se bem claro, aí, que o Supremo Tribunal Federalautoriza, ou não, a extradição. Há de fazê-lo, para autorizar ou nãoautorizar a extradição, observadas as regras do tratado e as leis.Mas quem defere ou recusa a extradição é o Presidente da

República, a quem incumbe manter relações com Estadosestrangeiros (art. 84, VII da Constituição), presentando a soberanianacional [veja-se os incisos XVIII, XIX e XX desse mesmo artigo 84].

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(...) Daí que o Presidente da República está ou nãoobrigado a deferir extradição autorizada pelo tribunal nos termos doTratado.

(...) Pode recusá-la em algumas hipóteses que,seguramente, fora de qualquer dúvida, não são examinadas, nem

examináveis, pelo tribunal, as descritas na alínea f do seu Artigo 3.1.Tanto é assim que o Artigo 14.1 dispõe que a recusa da extradiçãopela Parte requerida --- e a ―Parte requerida‖, repito, é presentadapelo Presidente da República --- ―mesmo parcial, deverá ser motivada‖. 

Pois esse Artigo 3.1, alínea f do tratado estabelece que aextradição não será concedida se a Parte requerida tiver razõesponderáveis para supor que sua situação [isto é, da pessoareclamada] ―possa ser agravada‖ – vale dizer, afetada  – mercê decondição pessoal. A Parte requerida [isto é, o Presidente daRepública] poderá, nessa hipótese, não conceder a extradição.

(...) Aqui se trata de requisitos de caráter puramentesubjetivos da Parte requerida, de conteúdo indeterminado, que nãose pode contestar. Exatamente o que a doutrina chama de ―conceitoindeterminado‖. 

Nesses limites, nos termos do Tratado, o Presidente daRepública deferirá, ou não, a extradição autorizada pelo tribunal,sem que com isso esteja a desafiar sua decisão.

Esse ponto é muito importante estabelecer porque otratado é que abre a possibilidade de a extradição ser recusada, semque isso – eu digo e insisto  – represente, da parte do Presidente daRepública, qualquer desafio à decisão do Tribunal.

Voto nesse sentido. O que obriga o Presidente daRepública é o Tratado de Extradição celebrado entre o Brasil e aItália, aprovado pelo decreto 863/93. Retorno ao voto de VictorNunes Leal: ―Mesmo que o Tribunal consinta na extradição --- porser regular o pedido ---,‖ a obrigação, do Executivo, de efetivá-la, ―sóexiste nos limites do direito convencional‖. 

E, neste caso, a mim parece que o Presidente daRepública pode perfeitamente, sem desafiar a decisão do SupremoTribunal, decidir no sentido do que dispõe o art. 3º do Tratado,recusando a extradição. Depende única e exclusivamente doPresidente da República.

O dispositivo mencionado foi justamente aquele empregado pelo

Presidente da República para fundamentar sua decisão, o art. 3, 1, f , do tratado

de extradição. E a fundamentação em que se apoiou a decisão dava motivosde sobra para se supor que a situação pessoal do extraditando pudesse ser

agravada em razão de, no mínimo, ter sido militante de esquerda nos ―anos de

chumbo‖ e em razão dos pronunciamentos da imprensa e do Governo Italiano

acerca do caso.

E, aqui, não custa repetir o dispositivo do Tratado (BRASIL, 1993)

que fundamentou a decisão do Executivo:

ARTIGO 3 

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Casos de Recusa de Extradição 

1. A extradição não será concedida: 

(...)

f) se a Parte requerida tiver razões ponderáveis para supor que a pessoa reclamada será submetida a atos de perseguição e discriminação por motivo de raça, religião, sexo,nacionalidade, língua, opinião política, condição social ou pessoal; ou que sua situação possa ser agravada pó um dos elementos antes mencionados ; (grifo nosso)

Como se pode intuir, razões para supor que uma determinada

circunstância política pode afetar a condição do extraditando não são conceitos

matemáticos. Tratando-se de uma avaliação política acerca de circunstâncias

igualmente políticas, tal avaliação não poderá ser revista pelo Judiciário, como

explicitado no voto do Ministro Eros Grau, o qual asseverou, sobre a

extradição, que o Presidente da República “ pode recusá-la em algumas 

hipóteses que, seguramente, fora de qualquer dúvida, não são examinadas,

nem examináveis, pelo tribunal, as descritas na alínea f do seu Artigo 3.1.” .

Portanto, se a decisão foi tomada com base nos termos do Tratado,

não cabe ao Supremo Tribunal Federal reapreciar o seu mérito, sob pena de se

violar o princípio da separação dos Poderes.

7. CONCLUSÃO

Como medida cautelar, a prisão para fins de extradição existeapenas para garantir eventual entrega do extraditando. Nesse sentido, a Lei no

6.815/80 dispõe que o extraditando deve ficar preso, à disposição do Supremo

Tribunal Federal, até o julgamento final do processo de extradição: “ art. 84: 

Efetivada a prisão do extraditando (artigo 81), o pedido será encaminhado ao 

Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. A prisão perdurará até o 

 julgamento final do Supremo Tribunal Federal, não sendo admitidas a liberdade 

vigiada, a prisão domiciliar, nem a prisão albergue”. 

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Uma vez que já houve o trânsito em julgado da decisão final e até

mesmo o arquivamento dos autos do processo de Extradição nº 1.085, e

considerando que o Presidente da República entendeu pela não entrega do

extraditando, não há mais fundamento jurídico para manutenção da prisão que

é uma medida cautelar.

Há de se verificar que a própria Lei 6.815/80 até mesmo proíbe um

novo pedido de extradição e, em consequência, da prisão cautelar que a

acompanharia, conforme o seguinte dispositivo da referida Lei: “ art. 88: Negada 

a extradição, não se admitirá novo pedido basead o no mesmo fato”. 

Resta alertar que, no caso Cesare Battisti, o que se está discutindo

extrapolou os limites da simples apreciação dos direitos do extraditando no

caso específico. O que está em pauta, considerando a recalcitrância em manter

Battisti preso para extraditá-lo, é o próprio respeito ao princípio da separação

de poderes.

A manifestação da Defesa do extraditando, através do Advogado

Luís Roberto Barroso, publicada no Jornal do Brasil, acerca da decisão do

Ministro Cezar Peluso é incisiva (CARNEIRO, 2011):

A manifestação do Presidente do Supremo, sempre como devido e merecido respeito (afirmação que é sincera e nãomeramente protocolar), constitui uma espécie de golpe de Estado,disfunção da qual o país acreditava já ter se libertado. Não está em  jogo o acerto ou desacerto político da decisão do Presidente daRepública, mas sua competência para praticá-la. Trata-se de ato desoberania, praticado pela autoridade constitucionalmentecompetente, que está sendo descumprido e, pior que tudo, diante demanifestações em tom impróprio e ofensivo da República italiana. Demais a mais, as declarações das autoridades italianas após adecisão do Presidente Lula, as passeatas e as sugestões publicadas

na imprensa de que Cesare Battisti deveria ser seqüestrado no Brasile levado à força para a Itália, apenas confirmam o acerto da decisãopresidencial. Em uma democracia, deve-se respeitar as decisões judiciais e presidenciais, mesmo quando não se concorde com elas.

Concluímos que cada vez mais o Judiciário, um poder não eleito,

intervém na política. Alguém duvidaria de tal alegação se, algum dia, se venha

contestar a nomeação de um ministro de Estado, por inepto, por exemplo?

Como ficarão a separação dos Poderes e o respeito à escolha, pelo povo, dos

seus dirigentes, se o Judiciário não tiver limites para o exame das decisões doExecutivo?

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Caso prevaleça a Visão do Ministro Cezar Peluso e da minoria que o

acompanhou em voto no qual retirava a competência político-constitucional do

Presidente da República, o STF estará chamando a si competências que não

lhe cabem, prerrogativas do Executivo brasileiro, na condução da política

externa. Ao tentar invadir a área da política externa, reservada pela

Constituição ao Executivo, o Judiciário força uma situação ilegítima, capaz de

gerar uma crise institucional.

Por fim, não esqueçamos que uma das maiores vergonhas da

história política do Brasil foi produzida pelo STF. Em 1936, a Corte negou

habeas-corpus em favor da militante comunista Olga Benário, mulher do líder

brasileiro Luis Carlos Prestes, que estava grávida (BRASIL, 1936). Os ministros

sabiam que a negação resultaria na entrega da prisioneira a Hitler, com toda

probabilidade de ser executada, o que acabou por ocorrer. O que se espera é

que a Corte Suprema não vá reincidir e mais uma vez entrar de forma negativa

para os livros de história.

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRETO, Luiz Paulo Teles F. Das Diferenças Entre os Institutos Jurídicos

do Asilo e do Refúgio. Set. 2006. Disponível em

<www.migrante.org.br/Asilo%20e%20Refugio%20diferencas.doc> Acesso em

07 mar. 2011.

BRASIL. Advocacia Geral da União. Parecer AGU/AG-17/2010. Consultor da

União: Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy. 28 dez. 2010b. Disponível em <  

http://www.agu.gov.br/sistemas/site/TemplateImagemTextoThumb.aspx?idConteudo=1

52830&id_site=3> Acesso em 12 mar. 2011.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, de 05 de

outubro de 1988. Diário Oficial da União, Brasília, 05 out. 1988.

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47

BRASIL. Decreto nº 50.215, de 28 de janeiro de 1961. Promulga a

Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados, concluída em Genebra,

em 28 de julho de 1951. Diário Oficial da União, Brasília, 30 jan. 1961.

BRASIL. Decreto nº 70.946, de 7 de agosto de 1972. Promulga o Protocolo

sobre o Estatuto dos Refugiados. Diário Oficial da União, Brasília, 08 ago.

1972.

BRASIL. Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980. Define a situação jurídica do

estrangeiro no Brasil, cria o Conselho Nacional de Imigração. Diário Oficial

da União, Brasília, 21 ago. 1980.

BRASIL. Lei nº 9.474, de 22 de julho de 1997. Define mecanismos para a

implementação do Estatuto dos Refugiados de 1951, e determina outras

providências. Diário Oficial da União, Brasília, 23 jul. 1997.

BRASIL, Ministério da Justiça. Recurso. Negativa. Condição de Refugiado.

Carência de Pressupostos. Pedido de refúgio nº. 08000.011373/2008-83.Ministro de Estado da Justiça: Tarso Genro. Decidido em 13 jan. 2009. Brasília,

DF, 2009. Disponível em <

http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJBB799FA1ITEMID75E95EB54E964885A2

EFB1B344255A24PTBRNN.htm>. Acesso em 09 fev. 2011.

BRASIL. Ministério Público Federal. Parecer nº 6192-PGR-AF. Procurador-

Geral da República: Antônio Fernando e Silva de Souza, 04 mai. 2009b.Disponível em <http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias/noticias-do-

site/copy_of_pdfs/MS%20_7875_Ext_1085_Cease_Batisti.pdf/view>. Acesso em: 17

mar. 2011

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos

Jurídicos. Decreto nº 863, de 09 jul. 1993.  Promulga o Tratado de

Extradição, entre a República Federativa do Brasil e a República Italiana,de 17 de outubro de 1989. Diário Oficial da União, Brasília, 12 jul. 1993.

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BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus nº 26.155. Relator

Ministro Bento de Faria. Julgado em 17 jun. 1936. Publicado em Revista

Jurisprudência, v. XXX/252/253. Disponível na Internet em < 

http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/sobreStfConhecaStfJulgamentoHistorico/anexo/HC2

6155.pdf >. Acesso em 20 mar. 2011.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Ext 232 segunda / CA  – CUBA

SEGUNDA EXTRADIÇÃO. Relator Min. VICTOR NUNES. Julgamento em 09

out. 1961b. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicado no DJ 17 dez. 1962.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Ext 524 / REPÚBLICA DO PARAGUAI

EXTRADIÇÃO. Relator Min. CELSO DE MELLO. Julgamento em 31 out. 1990.

Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicado: PP-02200 do DJ 08-03-1991.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus. HC 73256 / SP. Relator

Min. SYDNEY SANCHES. Julgamento em 10 abr. 1996. Órgão Julgador:

Tribunal Pleno. Publicado: p-50161 do DJ 13 dez. 1996.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Ext 785 QO-QO / ME - MÉXICO

SEGUNDA QUEST.ORD. EM EXTRADIÇÃO. Relator Min. NÉRI DA

SILVEIRA. Julgado em 13 set. 2001. Órgão Julgador: Tribunal Pleno.

Publicação: DJ 14-11-2003 PP-00013

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus. HC 81127 / DF.Paciente: Lino César Oviedo Silva; impetrantes: José Carlos Fonseca e outros;

coator: relator da ext. nº 794. Relator Min. SYDNEY SANCHES. Julgamento

em 28 nov. 2001b. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicado: p-00005 do DJ

29 jun. 2003.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Pedido de prisão para extradição. PPE

581, Relator Min. CELSO DE MELLO. Julgado em 01 mar. 2007. Publicado: p-00127 do DJ 13 abr. 2007.

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BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Ext 1008 / CB - COLÔMBIA

EXTRADIÇÃO. Relator Min. GILMAR MENDES. Relator p/ Acórdão: Min.

SEPÚLVEDA PERTENCE. Julgado em 21 mar. 2007b. Órgão Julgador:

Tribunal Pleno. Publicação: DJe-082, divulgado em 16 ago. 2007 e publicado

em 17 ago. 2007.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Habeas Corpus. HC 91657/SP, Relator

Min. GILMAR MENDES, julgado em 13 set. 2007c. Órgão Julgador: Tribunal

Pleno. Publicação no DJe-047, divulgado em 13-03-2008, publicado em 14

mar. 2008.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ext 1114 / REPÚBLICA DO CHILE

EXTRADIÇÃO. Relatora Min. CÁRMEN LÚCIA. Julgado em 12 jun. 2008.

Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação: DJe-157, divulgado em 21 ago.

2008 e publicado em 22 ago. 2008.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Ext 1085 / REPÚBLICA ITALIANAEXTRADIÇÃO. Relator Min. CEZAR PELUSO. Julgado em 16 dez. 2009c.

Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Publicação: DJe-067, divulgado em 15 abr.

2010 e publicado em 16 abr. 2010.

BRASIL, Supremo Tribunal Federal. Regimento Interno: [atualizado até

dezembro de 2010] - consolidado e atualizado até maio de 2002 por Eugênia

Vitória Ribas. Brasília: STF, 2010.

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