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Veículo: O Globo - Caderno: Economia - Seção: - Assunto: Política - Página: 18 -Publicação: 10/01/20URL Original:

MPF denuncia 29 e pede reparação de R$ 16 bilhõespor prejuízos a fundos de pensão em sondas do pré-salMPF denuncia 29 e pede reparação de R$ 16 bilhões porprejuízos a fundos de pensão em sondas do pré-salOperação Greenfield aponta crimes de gestão temerária de ex-gestores dos fundos da Petrobras, Caixa, Vale e Banco do BrasilO Ministério Público Federal apresentou denúncia contra 29 envolvidos em fraudes no aporte de recursos milionários dosfundos de pensão da Caixa (Funcef), Petrobras (Petros), Banco do Brasil (Previ) e Vale (Valia) na empresa Sete Brasil,responsável pela construção de sondas para exploração do petróleo na camada pré-sal.Na denúncia, a Força-Tarefa Greenfield calcula que o prejuízo aos aposentados foi de R$ 5,5 bilhões e solicita a reparação novalor do triplo desse prejuízo, que chega a R$ 16,5 bilhões. A denúncia envolve ex-dirigentes de fundos de pensão, entre elesEsteves Colnago, ex-ministro do Planejamento que atualmente é assessor especial do mininistro da Economia, Paulo Guedes.Crise internacional:Governo planeja usar royalties extras para conter impacto da alta do petróleo no preço da gasolina

É o maior caso já denunciado pela Greenfield, força-tarefa da Procuradoria da República no Distrito Federal que apurainvestimentos fraudulentos dos fundos de pensão, com prejuízos aos seus aposentados. De acordo com a denúncia, o governofederal, à época comandado pelo então presidente Lula, usou sua influência política no comando dos fundos de pensão para queeles aportassem recursos milionários na Sete Brasil ignorando os riscos do investimento, assumindo a possibilidade de prejuízospara os pensionistas.Os maiores aportes vieram da Petros e da Funcef, que colocaram cerca de R$ 1 bilhão na Sete Brasil.Prejuízos:Petros pede à Justiça para atuar como assistente de acusação do MPF em processos da GreenfieldNo rol dos denunciados estão os ex-presidentes da Petros Luis Carlos Alonso e Carlos Fernando Costa, o ex-presidente da FuncefCarlos Alberto Caser e o ex-presidente da Previ Ricardo Flores, além de ex-diretores desses fundos e da Valia, o fundo de pensãoda Vale. Todos são acusados do crime de gestão temerária, por terem permitido os investimentos sem as cautelas necessárias.Gestão eficiente:Governo exige que diretoria de fundos de pensão seja escolhida em processo seletivo"Para que avançasse o desejo criminoso de constituir nova companhia na qual pudessem ser praticados os mesmos desvios edelitos verificados na Petrobras, era necessário garantir investidores certos que aceitassem aplicar recursos bilionários, empouco tempo, sem maiores cuidados e diligência, sem muita cautela e sem preocupação real com o cumprimento dos deveresfiduciários esperados dos gestores de capitais de terceiros. Tais investidores (vítimas preferenciais), no caso, são os maioresfundos de pensão do Brasil", diz trecho da denúncia, assinada pelos procuradores Cláudio Drewes José de Siqueira e SaraMoreira, coordenadores da Força-Tarefa Greenfield.

Assessor de Guedes entre os denunciadosOutro dos 29 denunciados é Esteves Pedro Colnago Júnior, que era secretário especial Adjunto do ministro da Economia PauloGuedes e nesta quinta-feira foi nomeado assessor do gabinete de Guedes. Ex-membro do Conselho Deliberativo da Funcef, eletambém é acusado de gestão temerária por ter participado de uma reunião que aprovou novos aportes na Sete Brasil. Colnagofoi ministro do Planejamento no governo de Michel Temer."Como bem apontou a Previc em seu relatório do auto de infração nº 6/2018, de forma absurda, os conselheiros aquidenunciados (do Conselho Deliberativo da Funcef) aprovaram o investimento de mais de um bilhão de reais no FIP Sondas semsequer examinar o mérito do investimento, deixando para 'momento posterior' a 'apresentação' sobre o fundo", aponta adenúncia, sobre a atuação de Colnago e outros conselheiros.Sob nova direção: Intervenção no Postalis acaba, e Correios nomeiam general para presidir fundo de pensãoO GLOBO procurou os citados, mas até agora apenas Ricardo Flores respondeu. em nota, o ex-presidente da Previ disse que oinvestimento na Fip Sondas foi aprovado em decisão colegiada da Previ, amparado em consistentes pareceres técnicos. " Éimportante ressaltar que a prudência e o zelo da Previ nessas análises já haviam sido reconhecidos no Relatório Final da CPI dosFundos de Pensão e em relatório conjunto da própria Operação Greenfield com a Polícia Federal, ambos públicos e disponíveisna Internet".Flores afirma ainda que deixou a função de presidente da Previ em maio de 2012. " Lamento o entendimento equivocado doMinistério Público Federal e permaneço à disposição das autoridades para todos os esclarecimentos que se fizerem necessários".A denúncia faz referência à delação do ex-ministro petista Antonio Palocci. "Conforme esclarece o colaborador Antonio Palocci

Filho, tanto Petrobras e CEF, quanto suas patrocinadas Petros e Funcef atuavam sob o comando do governo federal, a queminteressa o investimento na Sete Brasil", diz trecho do documento.Um dos exemplos da negligência dos ex-gestores citado na denúncia diz respeito ao áudio de uma reunião da Funcef na qualforam aprovados aportes na Sete Brasil. "Escutando o áudio da reunião do Conselho Deliberativo da Funcef referente à Ata nº377, nota-se, sem lugar a dúvidas, que os conselheiros aqui acusados referendaram o investimento de mais um bilhão de reaisna Sete Brasil sem realizar qualquer discussão e sem embasamento técnico, com negligência assustadora, como se estivessemtratando de um tema qualquer sem a menor repercussão no patrimônio da Funcef e na futura vida econômica de seusparticipantes", aponta a denúncia.Economia brasileira:PIB do Brasil deve terminar a década como o 9º maior do mundo, atrás de Reino Unido, Itália e ÍndiaA Sete Brasil foi concebida durante o governo Lula para cuidar da construção de 28 sondas que serviriam à Petrobras naexploração do petróleo na camada pré-sal. Durante a Operação Lava-Jato, foi descoberto que essa nova empresa tambémcaptava propina para partidos políticos em troca dos contratos das sondas. A investigação referente aos crimes contra os fundosde pensão na Sete Brasil ficaram sob responsabilidade da Operação Greenfield, deflagrada em setembro de 2016.A acusação está na 10ª Vara da Justiça Federal em Brasília. Caberá ao juiz Vallisney de Oliveira decidir sobre a abertura dadenúncia. Os procuradores solicitaram que o caso seja desmembrado em seis ações penais diferentes, cada uma focando emum núcleo relacionado a cada um dos fundos de pensão."Por todo o exposto, o Ministério Público Federal requer que seja recebida a peça acusatória, sejam os acusados citados pararesponder por escrito à acusação, na forma do art. 396 do CPP, e, ao final, seja julgada procedente a presente ação penal, com ajusta condenação dos oras denunciados, inclusive à reparação econômica e moral das vítimas, no montante equivalente aotriplo do valor do prejuízo causado pelos investimentos no FIP Sondas (atualizado pela SELIC), considerando a necessidade de: (i)devolução do produto do crime; (ii) reparação do dano moral coletivo gerado às vítimas do crime; (iii) reparação do dano socialdifuso gerado; (iv) imposição da multa legal. O valor das reparações devem ainda ser atualizados pela SELIC até a data doefetivo pagamento", conclui a denúncia.

Outro ladoA Petros disse que está comprometida com a gestão responsável dos recursos e que está contribuindo nas investigações."A Petros está comprometida com as melhores práticas de governança e responsabilidade na administração dos recursos dosparticipantes. Neste contexto, vem colaborando de forma irrestrita com a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e demaisórgãos competentes, seguindo procedimento adotado desde o início das investigações nos fundos de pensão (...). a Petrosingressou com requerimentos na 22ª Vara da Justiça Federal, em Brasília, para atuar como assistente do MPF em processos deimprobidade administrativa movidos pelo órgão contra ex-gestores por atos ilegais que tenham causado prejuízos à Fundação –todos envolvendo ativos investigados pela Operação Greenfield", disse a Petros, por nota.Em nota divulgada pelo Ministério da Economia, Colnago afirmou que está à disposição para esclarecimentos. “O chefe daAssessoria Especial de Relações Institucionais do Ministério da Economia, Esteves Colnago, está à disposição da força-tarefa daGreenfield, do Ministério Público Federal, para prestar os esclarecimentos relacionados à gestão dos fundos de pensão. Oassessor esclarece que todas as atividades exercidas como membro do Conselho Deliberativo do Fundação dos EconomiáriosFederais (Funcef) ocorreram em consonância com o regimento interno e demais normas legais. Cabe lembrar que encontra-seem tramitação na Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) processo no âmbito administrativo desemelhante teor, no qual Esteves Colnago já apresentou sua defesa”, diz a nota.Em nota, a Valia afirmou que "a decisão de investir no projeto FIP Sondas, com uma participação de apenas 2,56% do capital,seguiu rigorosamente o trâmite em todos os fóruns de assessoramento da fundação e foi fundamentada por vários aspectostécnicos, como a excelente expectativa de retorno e o promissor cenário do setor de óleo e gás naquele momento".A defesa do ex-presidente da Funcef Carlos Caser afirmou que só irá se manifestar após ter acesso aos autos. Os demais citadosainda não responderam.