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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
MULHERES E CRIANÇAS ENCARCERADAS: UM ESTUDO JURÍDICO-SOCIAL
SOBRE A EXPERIÊNCIA DA MATERNIDADE NO SISTEMA PRISIONAL DO RIO DE
JANEIRO
Luciana Boiteux de Figueiredo Rodrigues1
Maíra Costa Fernandes2
Aline Cruvello Pancieri34
Resumo: Verificando-se o alto crescimento de mulheres presas e as questões humanas e sociais daí
decorrentes, além das complexas relações entre prisão e gênero, a investigação teve por foco a
realidade carcerária de mulheres em situação de maternidade no Rio de Janeiro. A experimentação
da gravidez, do parto e da maternidade na prisão é um dos aspectos mais perversos da repressiva
política de drogas, sendo o crime de tráfico o que mais encarcera mulheres grávidas e mães. Elas
recebem dupla punição: além da privação da liberdade, são privadas da convivência com seus
filhos, dos quais são responsáveis financeiramente e sofrem estigmas por serem criminosas,
mulheres e mães que praticam crimes. Em abril de 2016, foram entrevistadas 41 mulheres nos dois
espaços destinados a elas no Complexo Penitenciário do RJ, sendo 17 mulheres recém paridas na
Unidade Materno Infantil e 24 grávidas no Presídio Talavera Bruce. O questionário semiestruturado
buscava informações sobre o crime que respondiam, situação familiar e profissional anteriormente à
prisão, condições de aprisionamento, acesso a serviços de saúde, pré-natal, o momento do parto e
após, e as expectativas para o futuro. O marco teórico da investigação é a Criminologia Crítica
Feminista.
Palavras-chave: Mulheres Presas; Mães no cárcere; Direitos Humanos; Gênero
A questão das mulheres encarceradas, especialmente daquelas que experimentam a gravidez
e o nascimento de seus filhos na prisão, constitui um dos aspectos mais perversos da opção por uma
política criminal repressiva, que tem como base a pena privativa de liberdade. Se a situação das
mulheres presas já configura uma dupla sanção, por ser ela estigmatizada como “criminosa” e ainda
mais como “mulher criminosa”, que desviou dos papeis submissos destinados a mulheres e ousou
violar a lei dos homens numa sociedade patriarcal, no caso de grávidas e de mães de filhos
pequenos, estas ainda recebem mais uma punição: além da privação da liberdade e do estigma, são
também privadas da convivência com seus filhos, com todas as consequências sociais que decorrem
desse distanciamento.
1 Mestre em Direito da Cidade (UERJ/2000) e Doutora em Direito Penal (USP/2006). Professora Associada I, em
dedicação exclusiva, de Direito Penal e Criminologia da Faculdade Nacional de Direito (UFRJ). Bolsista de
Produtividade em Pesquisa nível 2 do CNPQ, coordenadora do Grupo de Pesquisas em Política de Drogas e Direitos
Humanos da mesma Instituição, pesquisadora associada ao Laboratório de Direitos Humanos da UFRJ e Professora do
Corpo Permanente do PPGD/UFRJ. 2 Mestranda em Direito, Programa de Pós Graduação em Direito da UFRJ, Advogada Criminal no Rio de Janeiro 3 Mestre em Direito, Programa de Pós Graduação em Direito da UFRJ. Pesquisadora do Laboratório de Direitos
Humanos da UFRJ. 4 O trabalho original é também de autoria de Luciana Peluzio Chernichiaro, Mestre em Direito, Programa de Pós
Graduação em Direito da UFRJ. Pesquisadora do Laboratório de Direitos Humanos da UFRJ.
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Diante dessa realidade, o objetivo geral da pesquisa foi o de investigar a situação de
mulheres em situação de maternidade5 submetidas à experiência traumática do cárcere vivida por
elas nas unidades femininas no sistema penitenciário do Rio de Janeiro, como o Talavera Bruce
(TB), que abriga as presas grávidas do estado, e a Unidade Materno-Infantil (UMI), para onde as
presas puérperas são transferidas logo após o nascimento de seus filhos recém nascidos até a
separação entre eles por volta de seis meses depois. A escolha do Rio de Janeiro como cenário de
investigação se justifica por ser este o estado brasileiro com maior percentual de mulheres presas
(10,5%) da população penitenciária segundo o Infopen Mulher 2014, superior inclusive à média
nacional de 6,4%6, além de ser o local de residência das pesquisadoras. Na pesquisa de campo, o
questionário semiestruturado foi respondido por 41 mulheres em situação de maternidade (sendo
vinte e quatro grávidas presas na penitenciária Talavera Bruce e dezessete mulheres puérperas na
Unidade Materno Infantil (UMI), nos meses de julho e agosto de 2015.
É importante ressaltar que no momento da realização da pesquisa havia 18 mulheres recém
paridas com seus filhos na UMI (das quais 17 foram entrevistadas)7 e 26 mulheres grávidas no
Talavera Bruce (das quais 24 foram entrevistadas)8. Portanto, só não foram entrevistadas 3
mulheres do total da população que se pretendeu investigar, uma vez que a administração
penitenciária tem por praxe localizar as mulheres do estado do RJ nessa condição nestas unidades
pesquisadas.
Destaque-se que, à época das entrevistas, estava em vigor a redação original do artigo 318,
IV, do CPP9, e a prisão domiciliar era admitida somente aos casos com gravidez de risco ou
gravidez avançada a partir do sétimo mês de gestação.
Os marcos teóricos da investigação são a Criminologia Crítica de A. Baratta e Lola Anyar
de Castro e a Criminologia Feminista de Elena Larrauri, Carmen Hein e Vera Regina Andrade. Na
perspectiva feminista interceccional, Angela Davis, Sueli Carneiro e Kimberle Crenshaw. As
5 Esta nomenclatura será utilizada em referência às mulheres que acabaram de dar à luz e àquelas que se encontram na
unidade prisional com seus filhos, logo após o parto. 6 Segundo o Infopen Mulher 2014, os maiores estados brasileiros em termos de população carcerária feminina são: RJ
(10,5%), RR (8,8%), MS (8,7%) e SP (6,9%). 7 Uma delas afirmou que se encontrava em depressão e que, por este motivo, negou a entrevista. As agentes e a diretora
da Unidade confirmaram que a referida presa passava por problemas de saúde mental. 8 As duas mulheres não entrevistadas estavam em fase final de gestação e, por este motivo, encontravam-se fora da
unidade para diligencias médicas. Esta informação foi dada pelas agentes da unidade. 9 A nova lei de prisões domiciliares, Lei n. 13.257, publicada no dia 09 de março de 2016, alterou o
art. 318 do Código de Processo Penal, para expandir a possibilidade de substituição da prisão domiciliar de mulheres
com filhos até doze anos, ampliando esse direito que até então só podia ser usufruído pela mulher gestante em risco
ou acima do sétimo mês de gravidez.
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relações de gênero e as opressões estruturais a que são submetidas as mulheres presas – em sua
grande parte negras e pardas, pobres e mães solteiras – é o ponto de partida de nossa análise.
O tema das mulheres encarceradas no Brasil e as respectivas questões relacionadas ao
gênero foram, e ainda são, de certa forma, negligenciados ao largo de muitos anos, não só devido ao
fato de as mulheres representarem a minoria da população carcerária brasileira mas também por
conta do preconceito e invisibilidade a que estão submetidas as presidiarias.
Porém, nos meios acadêmicos, esta temática ganhou maior relevo em pesquisas e
publicações desde a década de 80, devendo ser citados os pioneiros trabalhos de Lemgruber (1999),
Musumeci e Ingenfritz (2002) no Brasil. Mais recentemente, Cherniccharo (2014) e Arguello e
Muraro (2015), e Giacomello no México (2013) também se dedicaram ao tema. Sobre a
maternidade na prisão, Santa Rita (2006) e Angotti e Braga (2015) realizaram investigações
importantes que serviram de inspiração para esse trabalho.
Esse crescimento do interesse sobre o tema se dá sobretudo em razão do aumento acelerado
do encarceramento feminino nos últimos anos. Se entre 2000 e 2014 a população carcerária
masculina cresceu 220,20%, a feminina cresceu 567,4% neste mesmo período. Segundo o DEPEN,
as mulheres presas no Brasil somavam 37.380 em junho de 2014 no Brasil, num total de 542.04310
pessoas privadas de liberdade, ou seja: elas representam 6,4% da população prisional do país. Por
sua vez, o Rio de Janeiro, segundo essa mesma fonte, possui 4.139 mulheres presas, tendo tido um
crescimento de 271% no número de mulheres presas no estado do RJ entre 2007-2014, enquanto
que o número de homens presos cresceu apenas 62% (Fonte: Infopen Mulheres, 2014).11
Em termos gerais, a grande maioria das mulheres no Brasil está presa em regime fechado
(44,7%), sendo que 22,5% estão em semiaberto, o percentual de presas cautelares alcança 36,1%,
50% delas são jovens entre 18 e 29 anos e 57% são solteiras, 26% estão em união estável e apenas
9% são casadas. A grande maioria delas está cumprindo penas de até 8 anos (54%), sendo mais
concentrado esse percentual entre 4 e 8 anos (35%) (Infopen Mulher 2014). Em relação à raça, 68%
são negras (enquanto que a população negra é de 51% na população em geral) sendo esse percentual
ainda maior no Rio de Janeiro, onde 86% das presas são mulheres negras, muito superior à média
10 Informação constante da página 12 do Infopen Mulher 2014, que exclui os presos das penitenciárias federais. 11 No que tange à questão da maternidade no cárcere, vale destacar que, apesar do esforço do DEPEN em organizar o
INFOPEN Mulheres, recém lançado em novembro de 2015 com dados de junho de 2014, ainda não há no país um
banco de dados que ofereça referências seguras e minuciosas sobre o número preciso de mulheres presas por crimes em
todos os estados, suas características demográficas nem o número de mães e de presas grávidas no sistema penitenciário
nacional, menos ainda sobre questões tão caras como a guarda dos filhos e a responsabilidade pelo sustento financeiro
dos filhos e do lar.
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nacional. Em relação ao tipo de delito pelo qual as mulheres estão presas no Brasil, assim como na
América Latina (Boiteux 2015) e em quase todo o mundo (ICPS 2015), tráfico de drogas é o delito
mais representativo.
O exponencial aumento do encarceramento feminino nos últimos anos está diretamente
relacionado ao tráfico de drogas – 58% das mulheres estão presas por este crime no Brasil, segundo
o Infopen Mulher (2014), que indica dados de jun/2014, percentual que, posteriormente, com a
edição do Infopen de dez/2014, foi ampliado para 63%.
A respeito da mulher encarcerada por tráfico, seu perfil é ainda mais vulnerável do que o
dos homens, estando elas ainda mais suscetíveis à seletividade do sistema punitivo formal por
ocuparem posições mais vulneráveis e descartáveis. A inserção delas na rede do tráfico de drogas se
dá de maneira eminentemente subalterna, como é o caso da mulher na qualidade de “mula” ou
“correios humanos”12 ou mesmo aquela que pratica atividade de tráfico em sua casa. Na realidade,
estrutura do tráfico de drogas obedece a uma lógica similar à do mercado formal no sentido de
haver uma divisão sexual do trabalho que reforça os estereótipos sociais. Há uma designação
prioritária aos homens ao espaço produtivo e as mulheres o espaço reprodutivo, e consequentemente
uma maior valorização das funções masculinas. A qualidade do trabalho desempenhado, o grau de
prestígio e a remuneração são diferenças marcantes entre as ocupações femininas e masculinas no
tráfico, estruturando toda a base da desigualdade de gênero que também se percebe no mercado de
trabalho (Chernicharo 2014).
O viés hierarquizado do tráfico de drogas, no qual as mulheres assumem funções de menor
complexidade, muitas vezes, vinculadas ao ambiente privado e doméstico é uma realidade que se
estende para além do Brasil, manifestando-se na maior parte dos países latino americanos (Moura,
2005, Giacomello, 2013, Escobar 1991, Del Olmo, 1996, Boiteux 2015). Por mais que possa existir
alguma mulher em alguma posição mais alta no comando no tráfico, isto é excepcional. O universo
do tráfico é machista e reproduz as relações de poder da sociedade patriarcal, na qual as mulheres
são tornadas objetos e levadas às posições mais descartáveis e dispensáveis.
Dessa forma, o tráfico de drogas passou a constituir uma estratégia de sobrevivência das
mulheres, mostrando-se, em muitos casos, como uma das poucas atividades laborais acessíveis para
aquelas que precisam sustentar seus filhos e são as mantenedoras do lar. Tal predominância da
12 São denominadas “mulas” as pessoas que transportam drogas no interior de seus corpos, clandestinamente, de um
país para outro (gíria).
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mulher no mercado informal de trabalho agrava o processo conhecido como feminização da
pobreza (Del Olmo, 1996:15), que leva em conta não só os acirrados índices de pobreza entre as
mulheres (ainda maior se comparados aos homens), como também o aumento dos lares chefiados
por elas. Este processo indica que as mulheres vêm se tornando, ao longo do tempo, mais pobres do
que os homens. E não há como pensar em encarceramento de mulheres sem levar em conta a
seletividade do sistema penal e o fato de que elas são pobres e negras.
Por outro lado, o impacto da prisão na vida de mães e filhos é sem dúvida uma das facetas
mais perversas do cárcere. No Brasil, insuficientes políticas públicas não efetivam integralmente
direitos de presas mães ou das crianças nascidas na prisão, nem mesmo os que estão previstos em
lei. As mulheres acabam por receber dupla punição: são privadas da liberdade e da convivência com
seus filhos.
Além disso, a grande maioria dos estabelecimentos penais não estão adequados para
mulheres, muito menos para grávidas e mães, ainda que hajam dispositivos previstos na
Constituição, direitos positivados na e na Lei de Execuções Penais (n. 7.210/84, alterada pela Lei n.
11.942/09) e normativas internacionais da ONU (Regras de Bangkok), que asseguram o direito ao
acompanhamento médico no pré-natal, no parto e ao recém-nascido, a reserva de espaços que
possam ser usados como berçários e a garantia à amamentação por pelo menos seis meses, além de
acesso a creche para crianças maiores de seis meses e menores de sete anos, se o/a responsável por
elas estiver preso/a. O último levantamento penitenciário do DEPEN (2014) indica a intenção de
incluir o número de filhos das pessoas privadas de liberdade. No entanto, poucas unidades
prisionais informaram esse dado.13
De todo modo, diante dos dados existentes, seis em cada dez pessoas privadas de liberdade
têm filhos. Tal número diz respeito às pessoas em geral, sem recorte de gênero.
Com estas considerações, passamos à apresentação e análise dos dados, e os resultados da
pesquisa de forma resumida.
Nas unidades pesquisadas é possível afirmar que grande parte das mulheres (44%) é jovem,
entre 18 e 22 anos, 34% tem entre 23 e 27 anos e 7% estão na faixa etária entre 33 e 40 anos. A
13 Cerca de 88% dos estabelecimentos não souberam informar. Uma vez que a grande maioria das unidades não prestou
tal informação, não se pode considerar que a amostragem utilizada condiz com a realidade. Nem mesmo o INFOPEN
Mulheres conseguiu trazer tal especificação, que é extremamente relevante para a elaboração de políticas públicas.
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maioria das entrevistadas se declararam pardas (41%) e pretas (37%), totalizando 78%, sendo que
17% se consideravam brancas e 5% de cor amarela.14
Segundo últimos dados do DEPEN, duas em cada três pessoas presas no Brasil são negras, o
que significa que 67% da população prisional é negra. Já na população brasileira em geral, esta
proporção é significativamente menor, cerca de 51%. Esta tendência é apresentada tanto na
população prisional feminina quanto na masculina. De acordo com os últimos dados sobre a
população feminina, 68% de mulheres presas se declaram negras, sendo que, no Rio de Janeiro,
esse percentual sobe para 86% de negras e 14% de brancas (Infopen Mulheres 2014).
A grande maioria (82%) das mulheres entrevistadas afirmaram ser solteira, 12,2% das
mulheres se disseram casada sem papel, enquanto 2,4% se declararam casada e 2,4% separadas. Em
relação às unidades, na UMI, que abriga as grávidas, todas as mulheres eram solteiras, diferente do
Talavera Bruce.
A maioria das mulheres entrevistadas (75,6%) afirmou possuir o ensino fundamental
incompleto, enquanto que 4,9% tinham completado o ensino fundamental; 14,6% tinham o ensino
médio incompleto e 4,9% afirmaram ter o ensino médio completo. Nenhuma delas tinha cursado ou
concluído curso superior. Perguntamos se elas sabiam ler e escrever (90,2% disseram sim, 9,8%,
não); se tinham aprendido somar e subtrair (82,9% disseram sim, 17,15%, não). Todas tinham
frequentado a escola, mas apenas 4,9% disseram estar estudando na época em que foi presa.
Do total de 41 mulheres apenas duas disseram ter concluído a escola. Com relação às
demais, perguntamos os motivos que as fizeram parar de estudar, tendo a maioria delas (33%) dito
ter deixado a escola “porque não queria mais estudar”. A pouca motivação e a ideia de que a
frequência na escola não traria boas perspectivas foram motivos muito citados pelas entrevistadas.
O segundo maior motivo alegado para parar de frequentar a escola, foi gravidez: 25,6% citaram a
questão da maternidade como limitador da possibilidade de estudar. Outras questões foram
casamento (7,7%), problemas familiares (7,7%), cuidado da casa e dos filhos (7,7%), trabalho
(5,1%) e prisão (5,1%).
Sobre ocupação laboral, 51,2% estavam trabalhando na época em que foram presas,
enquanto 48,8% não. Das que estavam trabalhando 85,7% (21) afirmaram não ter carteira assinada,
enquanto 14,3% ocupavam empregos formais antes da prisão. Sobre os tipos de trabalhos que
realizavam, as repostas foram bastante variadas: “lanchonete”, “manicure”, “costura”, dentre outras.
14 O método utilizado foi o da auto declaração, de acordo com o IBGE.
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Percebe-se que, no geral, elas estavam envolvidas com trabalhos de baixa remuneração e sem
perspectivas de crescimento e “realização profissional”.
Em relação ao sustento do lar, a maioria das mulheres (22%) afirmou que, antes de ser
presa, era responsável junto ao companheiro, sendo que 19,5% delas disseram serem as únicas
responsáveis pelo sustento do lar antes da prisão. 17% eram sustentadas por suas mães.
Das 41 mulheres entrevistadas, a grande maioria (75,6%) afirmou ter algum parente preso,
das quais 46,3% tinham maridos ou companheiros presos. No Talavera Bruce, metade das mulheres
tinham seus maridos ou companheiros presos, enquanto na UMI eram 41,2%. Embora num primeiro
momento estes resultados possam atrelar a atividade ilícita de mulheres a seus maridos, análises mais
aprofundadas15 indicam que não se pode relacionar diretamente tais ocorrências e que no crime de tráfico
de drogas a entrada destas mulheres se explica mais por questões econômicas, de estratégias de
sobrevivência e de fuga da invisibilidade social16, do que de possíveis “paixões” ou “amores bandidos”.
Estas últimas ideias, divulgadas na mídia corporativa, embora se façam presentes num viés transversal,
não dão conta da situação da maioria das mulheres presas. Além de reforçarem estereótipos de gênero,
em nada contribuem para políticas públicas e preventivas que diminuam o processo de encarceramento
de mulheres. Quando perguntamos o tipo de crime pelo qual seus maridos/companheiros estavam presos,
a maioria (52,6%) delas afirmou ser por tráfico de drogas. Outros crimes como roubo (15,8%), furto
(5,3%) e extorsão (5,3%) também apareceram, além da combinação entre tráfico de drogas, associação e
roubo (5,3%).
Quando questionadas sobre a existência de alguma prisão anterior, 70% das mulheres
responderam negativamente, no sentido de não terem sido presas antes. De igual modo, isso se deu
nas unidades visitadas: 75% das mulheres entrevistadas no Talavera Bruce asseveraram que não
foram presas antes, sendo 64,7% o percentual de mulheres que fizeram tal afirmação na UMI.
Assim, tem-se que a maior parte das entrevistadas se declarou ré primária, como já indicaram outras
investigações sobre o tema que a maioria das mulheres encarceradas no Brasil era primária (72%).17
A esmagadora maioria das entrevistadas eram presas provisórias: 73,2% delas ainda estavam
aguardando a sentença. A maior parte das presas provisórias estava grávida no Talavera Bruce,
conforme declararam 83,3% nesta unidade, ao passo que 58,8% proferiram tal afirmação na UMI.
15 Sobre esta análise, ver ANGOTTI (2012), MOURA (2005), TORRES ANGARITA (2007). 16 Sobre Tráfico de Drogas e estratégia de visibilidade social, ver BARCINSKI (2012). 17 Relatório Mulheres Encarceradas no Brasil, 2007. Disponível em:
http://www.asbrad.com.br/conte%C3%BAdo/relat%C3%B3rio_oea.pdf
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Este alarmante dado sobre a grande quantidade de presas provisórias dentre as grávidas e as que
acabaram de dar a luz enquanto presas no Rio de Janeiro é superior ao dado nacional geral revelado
pelo relatório do Infopen 2014 de que 41% dos presos nacionais são presos provisórios, e muito
maior ainda do que o percentual geral de presas provisórias dentre as mulheres no país, que seria de
30% de acordo com os dados divulgados.
Por isso, é de suma importância chamar a atenção sobre a não aplicação a estas mulheres das
medidas cautelares trazidas pela Lei n. 12.403/11, sobretudo no que toca ao inciso IV do artigo 318
do Código de Processo Penal, o qual prevê a substituição da prisão preventiva pela prisão domiciliar
para gestantes a partir do sétimo mês de gravidez. Isto porque encontramos diversas mulheres que
foram presas com a gravidez avançada e tiveram sua prisão preventiva sumariamente decretada.
Percebe-se com isso claro desrespeito ao princípio constitucional da presunção de inocência.
Sobre o tempo de condenação, dentre as onze presas que tinham sido condenadas, a maior
parte delas receberam penas entre 5 a 9 anos, 33,3% foram receberam penas de até 4 anos enquanto
que 22,2% cumpriam pena entre 10 e 12 anos.
Sobre o crime pelo qual respondem, a maior parte delas (46,3%) alegou estar sendo
processada, ou ter sido condenada, somente pelo crime de tráfico de drogas. No Talavera Bruce,
especificamente, 70,9% das entrevistadas estavam respondendo por crimes relacionados ao tráfico
de drogas (tráfico e associação) e na UMI esse percentual chegou a 58,8%.
Quando perguntamos sobre a função ocupada por elas no tráfico, a maioria declarou ter
ocupado a função de mula (33,3% das entrevistadas). Em geral, elas cumpriam funções de baixo
escalão na rede do tráfico, sendo que 39% afirmaram terem sido presas em casa, ao passo que
36,6% disseram que a prisão ocorreu na rua. No universo pesquisado, foram poucas as mulheres
que declararam que a sua prisão se deu entrando no presídio, o que só ocorreu em 14,6% dos casos.
Dados sobre violência também foram encontrados. A maioria das entrevistadas (51,2%)
afirmou ter algum parente assassinado, sendo que tio (23,8%) e irmão (19%) foram as respostas
mais citadas. Do total de mulheres entrevistadas, 41,5% afirmaram terem sido vítimas de crime ou
violência, como: agressão física (35,3%) e violência doméstica (23,5%). Estupro (11,8%), tentativa
de estupro (11,8%), atingida por tiro (11,8%) e briga com marido (5,9%) também foram citados. Na
UMI, a maioria das mulheres (52,9%) disse ter sido vítima de algum crime ou violência, enquanto
no Talavera Bruce este número é menor, 33,3%. Na UMI, agressão (44,4%) foi a principal violência
citada, enquanto no Talavera Bruce, a principal resposta foi violência doméstica (50%)
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A maioria das entrevistadas (65,9%) afirmou não receber visitas na prisão. Daquelas que
recebem visitas (34,1%), a mãe foi citada pela maioria delas (50%) como quem as visita. A
referência a marido ou companheiro apareceu em segundo lugar (14,3%). As 27 mulheres que
afirmaram não receber visitas citaram como motivos: família morar longe (18,5%) e falta de
carteirinha (18,5%). Entre as unidades, enquanto no Talavera Bruce a maioria das grávidas (79,2%)
disse não receber visitas, na UMI esta porcentagem em relação às puérperas foi menor, 47,1%. O
abandono das mulheres presas por suas famílias e companheiros/maridos é uma das questões mais
dramáticas, ainda mais se estão grávidas ou acabaram de ter filhos.18
Observou-se do total que 31,7% das entrevistadas tinham dois filhos, enquanto 26,8%
tinham três filhos. No Talavera Bruce a maior parte das mulheres disse possuir três filhos (25%), ao
passo que na UMI a maioria delas afirmou ter dois filhos (47,1%), sendo que a maior parte dos
filhos foram registrados no nome do pai (61%). A maioria das entrevistadas afirmou ser a avó quem
cuida dos seus filhos (70,3%) enquanto que apenas 10,8% das presas alegaram que os filhos estão
extramuros com os pais. Conforme se verificou em ambas as unidades visitadas, a maior parte das
entrevistadas afirmou que, após o nascimento, o filho ficará com a avó (61%). Frise-se que apenas
7,3% alegaram que a criança permaneceria com o companheiro e 2,4% afirmaram que o filho ficará
com o pai. Tal dado reflete o ranço de uma sociedade patriarcal em que as funções reprodutivas e,
respectivamente, de maternidade, são atribuídas quase que estritamente às mulheres.
Outro importante dado diz respeito à oportunidade de entrar em contato com os filhos no
momento em que se deu a prisão em flagrante na delegacia: 68% das mulheres alegaram que não
lhes foi concedido este direito. A falta de concessão, ou ainda, de tornar possível a efetivação do
direito de entrar em contato com a família no momento em que se efetuou a prisão viola a regra n. 2
de Bangkok, que garante à mulher tomar as providências necessárias em relação aos seus filhos
antes do ingresso no sistema prisional.
Importantes questões sobre saúde também foram formuladas. 31,7% delas afirmaram que já
tinham algum tipo de problema de saúde física ou mental antes da prisão, tais como hipertensão,
anemia e depressão, embora estes dados, muito esparsos, não sejam expressivos. 24,4% afirmaram
ter contraído algum problema de saúde física ou mental após a prisão. A depressão apareceu na
maioria das respostas, relatada por 5 das 10 mulheres.
18 Abandono, a pena mais sofrida de mulheres nas prisões do Rio, 31/05/2015. Disponível em:
http://oglobo.globo.com/rio/abandono-pena-mais-sofrida-de-mulheres-nas-prisoes-do-rio116313782#ixzz3oIgYpLzX
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Das 41 mulheres entrevistadas nas duas unidades, 13 afirmaram que necessitam de
medicamentos regulares. Destas, mais da metade (53,8%) afirmam não receber medicamentos
adequadamente, enquanto que 38,5% consideraram adequado o fornecimento e 7,7% não
sabem/não responderam. Dentre as unidades, é possível perceber significativa diferença nas
respostas das presas: enquanto na UMI a maioria (60%, das 5 mulheres que disseram precisar de
medicamentos) afirmou que a distribuição de medicamentos era adequada, no Talavera Bruce esta
proporção se inverte: das 8 mulheres que indicaram a necessidade de medicamentos, a maioria
(75%) disse não recebê-los de maneira adequada.
Do total de mulheres entrevistadas, a maioria (61%) afirmou já ter precisado de atendimento
médico na prisão. Este atendimento, segundo 58,5% das mulheres, é feito a pedido, ou seja,
mediante comunicação às agentes. Em relação ao especialista/médico, a maioria das entrevistadas
(36,6%) afirmou ter sido atendida por enfermeira, 17,15% por médico ginecologista e 14,6% por
clínico geral. 29,3% das mulheres não responderam a esta pergunta.
A maioria das mulheres entrevistadas (53,7%) afirmou não receber atendimento
ginecológico, enquanto que 26,8% não responderam a esta questão. 14,6% das mulheres disseram
que receberam a pedido. 70,7% afirmaram terem feito os exames de pré-natal parcialmente, 17,1%
afirmaram não ter feito, 9,8% afirmaram ter feito completo e 2,4% não responderam à questão.19
Nas unidades consultadas, a maioria das respostas, 64,7% na UMI e 75% no Talavera Bruce,
indicaram a realização parcial de tais exames.
Ao final, quando perguntadas sobre o que desejam fazer ao sair do cárcere, falaram do
desejo de cuidar dos filhos, de ter uma casa, de estudar e trabalhar. Tais aspirações, comuns a
quaisquer pessoas, vieram acompanhadas de frases, como: “ficar quietinha e cuidar dos filhos”;
“botar os dentes e cuidar dos filhos”; “arrumar um serviço para ser outra pessoa”. Diversas falas
expressam o grau de repressão em seus corpos e em suas vidas, tanto pelo cárcere, quanto pelo
patriarcado: “sair dessa vida, ter alguma dignidade, esse lugar não serve nem pra bicho”; “ser
alguém, né? Aqui a gente é bicho, não é gente”.
A junção dessas características revela um perfil muito particular: as mulheres em situação de
maternidade no Rio de Janeiro no período estudado são, em sua maioria, jovens (entre 18 e 22
anos), consideram-se pardas e pretas, possuem baixa taxa de escolaridade, estavam inseridas, no
19 Consideramos que receberam o pré-natal completo, aquelas mulheres que fizeram exames de sangue, de urina e
ultrassonografia.
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momento de sua prisão, em empregos precarizados e no mercado informal sem carteira assinada,
eram solteiras, únicas ou também responsáveis pelo sustento do lar junto do companheiro.
Respondiam pelo delito de tráfico, eram presas primárias e estavam em prisão provisória. Elas tem
experiências de vida anterior de muita violência, são mães e solteiras. E não precisavam estar
presas, pois a maior parte delas deveria estar respondendo ao processo em liberdade.
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Women and children imprisoned: a socio legal study on maternity experience in the rio de
janeiro penitentiary system
Abstract: Considering the high growth of women imprisonment and its human and social
consequences, in addition to the complex relationships between prison and gender, the investigation
focused on the prison situation of women in maternity situations in Rio de Janeiro. The
experimentation of pregnancy, childbirth and maternity in prison is one of the most perverse aspects
of repressive drug policy, with trafficking being the crime that most incarcerate pregnant women
and mothers. They receive double punishment: in addition to deprivation of liberty, they are
deprived of the coexistence with their children, of whom they are financially responsible and suffer
stigma because they are criminals, women and mothers who commit crimes. In April 2016, 41
women were interviewed in the two spaces assigned to them in the Penitentiary Complex of RJ,
with 17 women newly born in the Maternal and Child Unit and 24 pregnant women in the Talavera
Bruce Prison. The semi-structured questionnaire sought information on the crime they were
responding to, family and professional situation prior to imprisonment, conditions of imprisonment,
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access to health services, prenatal care, the moment of delivery and after, and expectations for the
future. The theoretical framework of research is Feminist Critical Criminology.
Keywords: Women Incarcerated; Mothers in Prison; Human Rights; Genre