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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

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MULHERES EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR

SOB RISCO DE MORTE: REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE

RUPTURA DO CICLO DE VIOLÊNCIA, EM TERESINA-PI

Ianara Silva Evangelista1

Resumo: A violência doméstica e familiar contra as mulheres é um grave problema universal que

atinge milhares de mulheres, de diversas formas, sendo permeada por aspectos que conformam as

relações entre os sexos e que propiciam para a mulher uma situação de vulnerabilidade ou risco de

violência. O enfrentamento da violência exige uma articulação entre os diversos segmentos da

sociedade, ou seja, dos poderes executivos, legislativos e judiciários, dos movimentos sociais e a

sociedade em geral. Muitas vezes quando o tema da violência contra as mulheres é abordado, fica

explícito o discurso da mulher como vítima de violência, porém, o tema do empoderamento das

mulheres ainda não tomou sentido e significado para que elas possam romper o ciclo de violência e,

consequentemente, encontrarem alternativas para a reconstrução e ressignificação de suas vidas. Esta

investigação se propõe a compreender como essas mulheres que foram atendidas pela Casa Abrigo

“Mulher Viva” conseguiram romper com o ciclo de violência, considerando que são processos

cíclicos bem complexos, cheios de idas e vindas. Contudo, este trabalho tem como proposição

também dar "voz" a essas mulheres que foram silenciadas e que, finalmente, estão conseguindo

ressignificar suas vidas, deixando de ser aquelas de quem se fala e passam a ser aquelas que falam

por si mesmas, a partir de suas trajetórias de vidas, vivências, percepções de mundo e, sobretudo,

perspectivas de futuro.

Palavras-chave: Gênero. Violência Doméstica. Ciclo de Violência. Rota Crítica.

INTRODUÇÃO

O fenômeno da violência doméstica e familiar contra as mulheres, geralmente manifestado no

âmbito privado, sempre me tocou provocando reflexões em torno da complexidade de interpretar os

seguintes questionamentos: Como diz que ama e bate? Como diz que ama e mata? Vem à minha

memória, as denúncias do movimento feminista, na década de 70, quando ecoaram o bordão “quem

ama, não mata”2, em alusão aos crimes que aconteciam com mulheres no âmbito doméstico.

Conforme dados do Mapa da Violência 20153, um dado expressivo é com relação ao local

onde ocorre a agressão, tendo em vista que o local mais frequente para o assassinato das mulheres

acontece em seus domicílios, enquanto 27,1% das mortes foram de mulheres, 10,1% das mortes foram

de homens. Entretanto, o local mais frequente de agressão para ambos os sexos é a via pública, onde

31,2% representa o feminino e 48,2% representa o masculino (WAISELFISZ, 2015).

1 Discente do Programa de Pós-Graduação em Sociologia (PPGS), Nível Mestrado, da Universidade Federal do Piauí

(UFPI), Teresina-PI, Brasil. E-mail para contato: [email protected] 2 Um caso emblemático de violência contra as mulheres, desse período, é o caso Doca Street, que assassinou Ângela

Diniz, onde a defesa alegou o crime ter sido cometido em nome da legítima defesa da honra e o júri absolveu. 3 Homicídio de Mulheres no Brasil, com os dados entre 2003 e 2013.

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A violência atinge as mulheres em grande parte do mundo e, no Piauí, não é diferente,

considerando os dados da pesquisa citada acima, o Estado do Piauí teve 32 mortes em 2003 e, após

10 anos, teve um salto para 47 homicídios. O aumento em números absolutos foi de 46,9%. Enquanto

na capital, em 2003 foram 13 mulheres mortas e, em 2013 foram 24 mulheres assassinadas, ou seja,

entre 2003 e 2013, as mortes de mulheres aumentaram 84,6% (WAISELFISZ, 2015).

Esse dado coloca a capital em penúltimo lugar, entre as capitais brasileiras com menos taxas

de homicídios de mulheres, mas não se pode deixar de considerar também que muitos casos de

assassinatos de mulheres não são registrados como feminicídio4, como bem diz Wânia Pasinato

(2011) sobre um dos maiores desafios para a realização de pesquisas sobre as taxas das mortes de

mulheres “é a falta de informações oficiais sobre essas mortes. As estatísticas da polícia e do

Judiciário não trazem [...] informações sobre o sexo das vítimas, o que torna difícil isolar as mortes

de mulheres no conjunto de homicídios” (p. 222).

O tema da violência contra as mulheres, desde a graduação em Ciências Sociais, fez parte das

minhas leituras teóricas e experiência empírica como pesquisadora, mas também como profissional,

atuando na gestão das políticas públicas para as mulheres. Percebe-se que, na maioria das vezes,

quando o tema da violência contra as mulheres é abordado, fica evidente o discurso delas como

vítimas de violência. Porém, o discurso de empoderamento e rompimento com o ciclo de violência,

reconstrução e ressignificação de suas vidas ainda não é tão frequente.

Neste sentido, esta investigação apresenta a seguinte problemática: como se dá o processo de

ruptura da violência doméstica e familiar das mulheres que passaram pela rota crítica, particularmente

aquelas que fizeram o desligamento do serviço de abrigamento, ou seja, por meio da Casa Abrigo

“Mulher Viva”, tendo em vista que as sujeitas da pesquisa são mulheres que conseguiram romper

com a violência.

A referida pesquisa pretende trazer à tona experiências de mulheres que estavam inseridas na

rota crítica do serviço especializado e que conseguiram romper o ciclo da violência, de forma a

aprofundar o debate sobre a violência contra as mulheres a partir do agenciamento e empoderamento

feminino nessa trajetória, partindo do pressuposto de que as mulheres também detêm micropoderes

nessas relações violentas de gênero, deste modo, quando enfrentam e resistem, se empoderam na

busca pela ruptura do ciclo da violência, haja vista que onde há poder, há também resistência.

4 A partir de março de 2015, a Lei 13.104/2015 alterou o Código Penal Brasileiro e incluiu o feminicídio como

circunstância qualificadora do crime de homicídio, sendo entendida quando a morte de uma mulher é decorrente de

violência doméstica e familiar ou quando instigada por menosprezo ou discriminação à condição de mulher. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13104.htm > . Acesso em: 01 set. 2015

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VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Nos estudos das Ciências Sociais e para o entendimento da violência contra mulheres, o

gênero tem sido usado como categoria de análise e é fundamentado como construção social que uma

dada cultura estabelece em relação a homens e mulheres, ou como define Scott (1995), é um

“elemento constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre os sexos” e é

também “uma forma primária de dar significado às relações de poder” (SCOTT, 1995, p. 86), sendo,

portanto, “um meio de decodificar o sentido e de compreender as relações complexas entre diversas

formas de interação humana” (SCOTT, 1995, p. 89).

Ressalta-se, porém, que o conceito de gênero é amplo, e engloba tanto a violência de homens

contra mulheres quanto a de mulheres contra homens (SAFFIOTI, 2004). A violência de gênero pode

ser praticada “por um homem contra outro, por uma mulher contra outra”, no entanto, o “vetor mais

amplamente difundido da violência de gênero caminha no sentido homem contra mulher, tendo a

falocracia como caldo da cultura” (SAFFIOTI, 2004, p. 71). As estatísticas demonstram que grande

parte é cometida por homens contra mulheres (STREY, 2004). A violência doméstica costuma ser

empregada como sinônimo de violência familiar e também de violência de gênero.

A violência contra a mulher é uma manifestação das relações de poder historicamente

desiguais entre mulheres e homens, que tem conduzido a “dominação da mulher pelo homem,

discriminação do homem contra a mulher, provocando impedimentos contra o seu pleno

desenvolvimento” (TAVARES e PEREIRA, 2007, p. 13). É a violência que “incide, abrange e

acontece com as pessoas em função do gênero ao qual pertencem”. É um produto histórico e social

(STREY, 2004). Trata-se de um problema mundial ligado ao poder, privilégios e controle masculinos.

De acordo com Bourdieu, as relações de gênero são relações de poder, tendo em vista que, “o

princípio masculino é tomado como medida de todas as coisas” (BOURDIEU, 2011, p. 23). Isto é, a

forma em que a sociedade está organizada, por meio da divisão dos gêneros relacionais onde “as

diferenças visíveis entre os órgãos sexuais masculino e feminino são uma construção social que

encontra seu princípio nos princípios de divisão da razão androcêntrica, ela própria fundamentada na

divisão dos estatutos sociais atribuídos ao homem e à mulher" (BOURDIEU, 2011, p. 24) que também

legitima as relações de dominação por meio do corpo e da linguagem.

De tal modo, a violência contra as mulheres exige ações articuladas e integradas para que seja

garantida a execução de ações preventivas, da assistência e de combate mais eficazes. Logo, as

mulheres têm conseguido conquistar e garantir seus direitos, por meio de orientações da Rede de

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Atendimento, das suas relações interpessoais que as encorajaram a quebrar o silêncio e a denunciar

para sair do ciclo da violência.

Entretanto, os serviços institucionais especializados que eram para lhes dá segurança e

proteção, possuem infraestrutura inadequada, despreparo no atendimento, ausência de profissionais

capacitados e qualificados para lidar com os casos de violência doméstica e familiar, sendo que,

reproduzem algumas atitudes e práticas discriminatórias (MENEGHEL et al, 2011; SAGOT, 2000;

SILVEIRA, 2006; BONETTI, PINHEIRO e FERREIRA, 2016).

CICLO DE VIOLÊNCIA: ENTRE IDAS E VINDAS

A teoria do ciclo de violência é enunciada pela psicóloga americana e feminista Lenore

Walker, para explicar como acontece a dinâmica da violência nas relações conjugais, as dificuldades

das mulheres para romper com essa relação violenta e como essa violência é produzida e reproduzida

(ROCHA, 2007).

Segundo Walker, o ciclo de violência é constituído de três fases: 1) a construção da tensão no

relacionamento: caracterizada pelos xingamentos, injúrias, ameaças, insultos, humilhação,

provocações mútuas; 2) a explosão da violência – descontrole e destruição: o agressor passa a agredir

fisicamente a vítima; 3) a lua-de-mel – arrependimento do(a) agressor(a): o agressor se arrepende do

que fez, diz que que ama, pede desculpa, diz que não vai mais agredi-la, as promessas são mútuas,

ocorrendo assim, uma idealização do parceiro e a negação da vivência de violência (SOARES, 2005).

Este ciclo se caracteriza pela sua continuidade, tornando-se repetitivo, ou seja, a sua repetição

sucessiva durante longos meses e/ou anos, podendo ser menores as fases de tensão e arrependimento,

porém, é mais intenso com a fase violenta, com agressões físicas rotineiras, podendo terminar em

uma lesão física grave ou feminicídio.

Neste sentido, muitas são as dificuldades e limitações para as mulheres romperem com o ciclo

de violência, considerando que elas têm uma relação afetiva e emocional com o agressor; medo de

sofrer uma violência mais grave; vergonha do que a sociedade vai pensar ou dizer; medo de prejudicar

o agressor e os/as filhos/as; não querem que o pai de seus/suas filhos/as vá preso; se sentem culpadas

e/ou responsáveis pelas violências que sofrem; carregam um sentimento de fracasso e culpa na

escolha do parceiro idealizado; não possuem condições financeiras para mudar o rumo de sua vida;

sentem, perdem a identidade, a autoestima.

Na busca de ajuda para a ruptura do ciclo de violência, a mulher quando procura os serviços

institucionais especializados, geralmente, o seu primeiro acesso se dá por meio do registro do boletim

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de ocorrência numa Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher buscando, assim,

resolutividade para o problema e, na maioria das vezes, ela se depara com a construção do processo

da rota crítica.

Em “A rota crítica das mulheres afetadas pela violência intrafamiliar na América Latina”5,

Montserrat Sagot (2000)6 busca compreender o processo da rota crítica seguida pelas mulheres

maiores de 15 anos afetadas pela violência intrafamiliar e quais os fatores que influenciavam esse

processo. Nesta pesquisa, Sagot conceitua a rota crítica afirmando que

[...] es un proceso que se construye a partir de la secuencia de decisiones tomadas y acciones

ejecutadas por las mujeres afectadas por la violencia intrafamiliar y las respuestas

encontradas en su búsqueda de soluciones. Este es un proceso iterativo constituido tanto por

los factores impulsores e inhibidores relacionados con las mujeres afectadas y las acciones

emprendidas por éstas, como por la respuesta social encontrada, lo que a su vez se convierte

en una parte determinante de la ruta crítica. En ese sentido, con el concepto de ruta crítica se

reconstruye la lógica de las decisiones, acciones y reacciones de las mujeres afectadas, así

como la de los factores que intervienen en ese proceso. (SAGOT, 2000, p.89)

Em outras palavras, a rota crítica é entendida como um complexo emaranhado de atitudes e

decisões tomadas pelas mulheres em situação de violência e as respostas encontradas na busca por

apoio. O caminho percorrido desde o episódio da violência até a procura pela ajuda institucional é

muito extenso, sendo influenciado por vários fatores impulsionadores e inibidores (internos e

externos) para o início de uma rota de superação e rompimento é o momento em que essas mulheres

decidem romper com o silêncio em relação a situação de violência doméstica e familiar vivenciada.

Os estudos sobre o atendimento nas instituições especializadas têm mostrado que quando a

denúncia chega nos serviços especializados (ou não-especializados) contra a violência doméstica e

familiar contra a mulher, esses serviços nem sempre estão preparados para o atendimento, seja no

tocante a escuta não qualificada dos(as) profissionais e/ou na precariedade estrutural fazendo com

que sofram uma revitimização da violência (SAGOT, 2000; BRUHN & LARA, 2016; SILVEIRA,

2006).

De acordo com Dutra, Prates, Nakamura e Vilela (2013), os estudos sobre as rotas percorridas

pelas mulheres, em busca de sair do ciclo de violência, identificam muitas dificuldades nesse

5 Texto original em espanhol: La ruta crítica de las mujeres afectadas por la violencia intrafamiliar em América Latina

(SAGOT, 2000). 6 É um estudo pioneiro, realizado na década de 1980, que objetivou investigar o trajeto percorrido pelas mulheres para

romper com a violência em dez países latino-americanos, que são: Belice, Bolívia, Costa Rica, Equador, El Salvador,

Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e Perú. As entrevistas foram realizadas nas organizações governamentais

(saúde, jurídico-legal e educativo) e nas organizações não-governamentais (organizações das comunidades de bases, ONG

de Mulheres e Instituições da Igreja). A seleção das localidades contemplou uma grande diversidade em termos de área

geográfica, cultural, idioma e características sócio-demográficas. A característica em comum que une todas essas

localidades é que eles definiram a reforma para a saúde em todos os países.

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rompimento tais como, a falta de apoio, a revitimizacão e a atitude preconceituosa e ineficiente por

parte das pessoas que deveriam acolhê-las, além dos seus sentimentos de vergonha, culpa e pressões.

Dentre as situações que dificultam o rompimento, estão o medo, a culpa, a vergonha, as

pressões familiares, as limitações materiais e a ineficácia institucional, compreendendo as

atitudes negativas dos operadores, a burocracia, a falta de orientação, a revitimização.

(MENEGHEL et al., 2011, p. 749)

Assim, se percebe as falhas na elaboração e formulação dessas políticas públicas para

mulheres e na criação de propostas que as fortaleçam efetivamente para a superação da violência

doméstica e familiar. Entretanto, mesmo com essas limitações, muitas mulheres conseguiram romper

com a violência e reconstruíram suas vidas, livres das agressões, seja por meio de orientação

institucional (Serviços da Rede Especializada), ou por meio de suas relações interpessoais, a exemplo

dos familiares, amigos/as, vizinhos/as, etc.

PERCURSO METODOLÓGICO

Considerando que esta investigação tem como objetivo geral compreender como se processa

a ruptura das mulheres em relação a violência na trajetória percorrida na rota crítica e que se pretende

apreender a produção de sentido dos seus discursos, com a finalidade de saber sobre os fatores de

influência e inibição e as estratégias utilizadas por elas nessa trajetória, a metodologia é, então, de

natureza qualitativa, que consiste “em descrições detalhadas de situações com o objetivo de

compreender os indivíduos em seus próprios termos (GOLDENBERG, 2011, p. 53).

O método qualitativo “fornece uma compreensão profunda de certos fenômenos sociais

apoiados no pressuposto da maior relevância do aspecto subjetivo da ação social face à configuração

das estruturas societais” (HAGUETTE, 2000, p. 59). Visa “abordar o mundo 'lá fora' (e não em

contextos especializados de pesquisa, como os laboratórios) e entender, descrever e, às vezes, explicar

os fenômenos sociais de dentro de diversas maneiras diferentes" (ANGROSINO, 2009, p. 08).

É importante situar que nessa pesquisa me coloco na posição de feminista embasada numa

epistemologia feminista ou num projeto feminista de ciência, compreendendo a necessidade de uma

teoria feminista do conhecimento entendendo que “não há dúvidas de que o modo feminista de pensar

rompe com os modelos hierárquicos de funcionamento da ciência e com vários dos pressupostos da

pesquisa científica” (RAGO, 1998, p. 06).

Neste sentido, reitero que nessa investigação considerarei o que Bourdieu (2015) chamou de

objetivação e não objetividade no sentido integral e puro do termo, visto que há por parte dessa

pesquisadora uma intenção de desconstrução do gênero, um interesse epistemológico e, sobretudo,

uma posição e prática político-científica marcada com a intenção de dar voz às mulheres que foram

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silenciadas no decorrer da história e são silenciadas todos os dias por viverem situações de violência

doméstica e familiar. Ao modo de Rago,

é na luta pela visibilidade da “questão feminina”, pela conquista e ampliação dos seus direitos

específicos, pelo fortalecimento da identidade da mulher, que nasce um contradiscurso

feminista e que se constitui um campo feminista do conhecimento. É a partir de uma luta

política que nasce uma linguagem feminista. (RAGO, 1998, p. 05)

Há que se ressaltar que a pesquisa bibliográfica sobre o tema em discussão, compreenderá

todo o percurso de investigação e auxiliará no entendimento dos principais conteúdos teóricos e

metodológicos, em seus conceitos e categorias analíticas abordadas, a saber, feminismo, gênero,

violência de gênero, políticas para mulheres em situação de violência, rota crítica, com o objetivo de

fundamentar e tornar consistente esse trabalho.

A operacionalização desta pesquisa está dividida em três etapas, a primeira consiste na

realização de um levantamento de informações sobre o campo de pesquisa, “concebido como lugar

efetivo do trabalho dos pesquisadores, é essencialmente o lugar dinâmico e dialético no qual se

elabora uma pratica científica que constrói objetos de conhecimento” (BRUYNE; HERMAN;

SCHOUTHEETE, 1977, p. 28). O portal de entrada dessa pesquisadora em campo para produção de

dados será a Casa Abrigo “Mulher Viva”, localizada em Teresina-PI, onde através do intermédio

dessa instituição irei identificar 10 (dez) mulheres, maiores de 18 anos, que foram atendidas pela Casa

Abrigo “Mulher Viva”, no intervalo de tempo de 2012 a 2016, que já se desligaram do serviço de

abrigamento e que tenham disponibilidade de narrar suas trajetórias na busca pela superação da

violência doméstica e familiar.

Na segunda etapa, prevista para ser realizada após o contato e informações obtidas na Casa

Abrigo, iniciarei junto as participantes da pesquisa (mulheres que passaram pelo serviço de

abrigamento), entrevistas individuais em profundidade (MINAYO, 2011; GASKELL, 2002), que

serão orientadas por um roteiro de questões semi-estruturadas, considerando que já se tem

conhecimento sobre o assunto e sobre certas questões que se quer investigar em campo.

Utilizarei a técnica da entrevista, considerando ser essa a mais adequada para ser aplicada

nesse estudo, visto que permite captar em maiores detalhes o conteúdo das falas das entrevistadas.

Ter optado pelo tipo semiestruturado visa possibilitar certa flexibilidade do conteúdo dos relatos, por

parte das entrevistadas como dessa entrevistadora, que pode vir a considerar e inserir algumas falas

que não estão diretamente relacionadas ao assunto investigado, mas que julgar importantes para

análise. Ir ao campo com certa flexibilidade no nível de estruturação, permite também certo

detalhamento do conteúdo das falas, no que se refere as questões levantadas, de outro modo

“conseguir detalhes muito mais ricos a respeito de experiências pessoais, decisões e sequência das

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ações, com perguntas indagadoras a motivações, em um contexto de informação detalhada sobre

circunstâncias particulares da pessoa” (GASKELL, 2002, p 78) onde a pesquisadora “deve ter em

mente que cada questão precisa estar relacionada aos objetivos de seu estudo” (GOLDENBERG,

2011, p. 86).

Farei uso também da técnica da observação participante em dois momentos. O primeiro

ocorrerá a partir da conversa com funcionárias da Casa Abrigo (Coordenadora e uma Educadora

Social) a respeito do processo de abrigamento das mulheres, oportunidade em que se observará a

dinâmica desse contexto institucional, sua estrutura, funcionamento e atividades direcionadas às

abrigadas. O segundo momento de observação, será realizado quando da realização das entrevistas

com as referidas mulheres, a fim de perceber além das suas falas outros elementos que possam

reforçar e/ou complementar os seus discursos e que possam estar presentes na postura corporal,

impostação da voz, gestos, símbolos, enfim, auxiliando para uma maior compreensão e sentido dos

discursos.

Dessa maneira, a observação “se resume a uma importante técnica de coleta de dados,

empreendida em situações especiais e cujo sucesso depende de certos requisitos que a distingue das

técnicas convencionais de coleta de dados, tais como o questionário e a entrevista” (HAGUETTE,

2000, p. 69). De acordo com Minayo (2011), a observação participante pode ser definida também

como “um processo pelo qual um pesquisador se coloca como observador de uma situação social,

com a finalidade de realizar uma investigação científica” (MINAYO, 2011, p. 70), num sentido

prático. Farei uso do diário de campo em todo o processo de pesquisa “[...], anotando as próprias

impressões, as mudanças acontecidas, os obstáculos e as surpresas do processo de pesquisa”

(TERRAGNI, 2005, p. 150).

A terceira etapa desta pesquisa, inclui o trabalho pós-campo, ou seja, a transcrição e

categorização das falas das entrevistadas visando a análise ou produção de dados. A transcrição será

realizada na íntegra, tomando notas no diário de campo das ideias que vierem à mente em termos dos

prováveis indicadores, categorias e indícios de prováveis análises e resultados. O tratamento analítico

utilizado na produção de dados será realizado por meio da análise de discurso, abordagem teórico-

metodológica da produção de sentidos das práticas discursivas sobre o processo de rompimento do

ciclo de violência pelas mulheres.

Assim, para compreender as práticas discursivas, considerando as permanências e as rupturas

no ciclo de vida vivida, utilizarei a técnica da construção de mapas de associação de ideias que tem

como objetivo “sistematizar o processo de análises das práticas discursivas em busca dos aspectos

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formais da construção linguística” [...] constituindo-se “instrumentos de visualização que têm um

duplo objetivo: dar subsídios ao processo de interpretação e facilitar a comunicação dos passos

subjacentes ao processo interpretativo” (SPINK e LIMA, 2000, p. 107).

Partindo desse tratamento analítico, cada entrevista será analisada individualmente,

organizada através de “uma tabela com um número de colunas correspondente às categorias a serem

utilizadas” [...] transferindo “o conteúdo do texto para as colunas, respeitando a sequência do diálogo”

(SPINK e LIMA, 2000, p. 108). Com o quadro pronto, em efeito escada, farei a leitura vertical e

horizontal, construindo as formas discursivas num processo de interanimação, verificando e

refletindo sobre os objetivos da pesquisa. As anotações do diário de campo também são analisadas

juntamente com as informações advindas das entrevistas no sentido de contraposição, confirmação

ou complementação das entrevistas.

Devido a relevância social desta investigação, irei buscar atingir o máximo de benefícios, por

meio dos resultados da pesquisa, assim como, o mínimo de danos e riscos, utilizando procedimentos

que assegurem a confidencialidade e a privacidade de todas as informações coletadas, tendo em vista

que esta investigação empregará técnicas que não realiza nenhuma intervenção, modificação

intencional ou que seja invasiva na realidade social dos indivíduos que participam da pesquisa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do fenômeno da violência doméstica e familiar, várias ações vêm se desenvolvendo no

sentido de tornar visível o tema da violência contra as mulheres, tendo sido protagonizado pelo

Movimento de Mulheres e Movimento Feminista no Brasil e mundo afora, e as políticas existentes

no âmbito do poder público é fruto de toda essa mobilização social. O percurso seguido pelas

mulheres para a garantia de direitos é longo, no entanto, também é longa a persistência e luta das

mulheres na busca do reconhecimento de sua cidadania.

Acredita-se que essas mulheres que estão na rota crítica, possuem trajetórias complexas que

foram trilhadas nos mais diversos serviços especializados e não-especializados, entretanto a escolha

por essas mulheres que fizeram parte do serviço de abrigamento e atualmente se encontram

desligadas, deve-se ao fato desse serviço estar supostamente no final da reta de rompimento das

mulheres em relação a violência sofrida, ou seja, supostamente uma das portas de saída.

No entanto, mesmo com todas as limitações, é possível perceber a partir das primeiras

imersões no campo de pesquisa que muitas mulheres conseguiram romper com a violência e

reconstruíram suas vidas, seja por meio de orientação institucional (Serviços da Rede Especializada),

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seja por meio de suas relações interpessoais, como por exemplo, os familiares, amigos/as, vizinhos/as,

etc.

Mediante o exposto e considerando que este trabalho de investigação é fruto do meu projeto

de pesquisa do Mestrado em Sociologia da Universidade Federal do Piauí, infelizmente ainda não

possuo resultados, pois esta pesquisa está em andamento. Todavia, este trabalho se apresenta numa

perspectiva de expor algumas reflexões teóricas sobre os estudos de gênero, violência doméstica e

familiar e, em especial, sobre as rotas críticas, os ciclos de violência e sua ruptura.

Contudo, esta investigação tem como proposição também dar "voz" a essas mulheres que

foram silenciadas e que finalmente estão conseguindo ressignificar suas vidas, reconquistando suas

identidades, reconhecendo-se como protagonistas na retomada de seus caminhos. Assim, as mulheres

deixam de ser aquelas de quem se fala e passam a ser aquelas que falam por si mesmas, a partir de

suas trajetórias de vidas, vivências, percepções de mundo e, sobretudo, perspectivas de futuro.

REFERÊNCIAS

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Women in situations of domestic and family violence at risk of death: reflections on the process

of breaking the cycle of violence in teresina-pi

Abstract: Domestic and family violence against women is a serious universal problem that affects

thousands of women in a variety of ways. It is permeated by aspects that shape the relations between

the sexes and which provide women with a situation of vulnerability or risk of violence. The

confrontation of violence requires a link between the various segments of society, that is, the

executive, legislative and judicial branches, social movements and society in general. Often when the

theme of violence against women is addressed, the discourse of women as a victim of violence

becomes explicit, but the issue of women's empowerment has not yet made sense and meaning so that

they can break the cycle of violence and, consequently, find alternatives for the reconstruction and

resignification of their lives. This research intends to understand how these women who were treated

by Casa Abrigo "Mulher Viva" managed to break the cycle of violence, considering that they are very

complex cyclical processes, full of comings and goings. However, this work has as a proposal also to

give "voice" to these women who have been silenced and who, finally, are being able to resignify

their lives, being no longer those of whom one speaks and they become the ones that speak for

themselves, from of their trajectories of lives, experiences, perceptions of the world and, above all,

perspectives of the future.

Keywords: Gender, Domestic violence, Cycle of violence, Reconstruction.


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