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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR

CAMPUS DE JI-PARANÁ

DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA E ESTATÍSTICA – DME

BAIXO RENDIMENTO DOS ALUNOS 6º ANO NA DISCIPLINA DE

MATEMÁTICA EM UMA ESCOLA PÚBICA DE JI-PARANÁ: FALTA DE

MOTIVAÇÃO?

NEI ARAÚJO SILVA

Ji-Paraná – RO

Junho de 2014

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA – UNIR

CAMPUS DE JI-PARANÁ

DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA E ESTATÍSTICA – DME

BAIXO RENDIMENTO DOS ALUNOS 6º ANO NA DISCIPLINA DE

MATEMÁTICA EM UMA ESCOLA PÚBICA DE JI-PARANÁ: FALTA DE

MOTIVAÇÃO?

NEI ARAÚJO SILVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

comissão julgadora da Universidade Federal de

Rondônia – UNIR Campus de Ji-Paraná, como parte

dos requisitos para obtenção do título de Licenciado

em Matemática, sob a orientação do professor Ms.

Enoque da Silva Reis.

Ji-Paraná

Junho de 2014

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Silva, Nei Araújo

S586b 2014

Baixo rendimento dos alunos 6º ano na disciplina de matemática em uma escola pública de Ji-Paraná: falta de motivação ? / Nei Araújo Silva; orientador, Enoque da Silva Reis. -- Ji-Paraná, 2014

27f. : 30 cm Trabalho de conclusão do curso de Licenciatura em

Matemática. – Universidade Federal de Rondônia, 2014 Inclui referências 1. Matemática – Estudo e ensino. 2. Educação –

Rondônia. 3. Professores – Formação. I. Reis, Enoque da Silva. II. Universidade Federal de Rondônia. III. Titulo

CDU 51:371.26

Bibliotecária: Marlene da Silva Modesto Deguchi CRB 11/ 601

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AGRADECIMENTOS

A minha esposa e meus dois filhos que me apoiaram, e que foram muito importantes ao

longo de todos esses anos.

Aos meus pais, (em memória) cujo amor e constante dedicação me incentivaram para que

eu prosseguisse os estudos.

Ao meu orientador de Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) Professor Ms. Enoque da

Silva Reis, minha gratidão por sua ajuda e paciência, pois sem ele não seria possível a

realização deste trabalho.

A todos os professores do curso de Licenciatura em Matemática, em especial ao Professor

Marlos de Albuquerque e a professora Marcia que acompanharam bem de perto o

desenvolvimento da pesquisa, meus sinceros agradecimentos por tudo o que aprendi.

Enfim, a todos vocês muito obrigado!

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RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso busca analisar o histórico de notas do 4º, 5º e 6º anos de 8

(oito) alunos na disciplina de Matemática do Ensino Fundamental da Escola Estadual de Ensino

Fundamental e Médio 31 de Março, situada no município de Jí-Paraná – RO. De forma que as fontes

utilizadas foram os documentos oficiais dessa escola. Quanto ao procedimento da pesquisa é de caráter

bibliográfico e qualitativo. De princípio, buscamos relatar um pouco a história de vida do pesquisador que

nesse momento introdutório se manifesta em primeira pessoa para ressaltar a importância da afetividade

que de certa forma serviu como uma fonte de inspiração para o desenvolvimento desta pesquisa. Em

seguida, descreveremos a estrutura do Ensino Fundamental por acreditamos que esta fase da educação é

indispensável para que o aluno possa prosseguir a sua caminhada até o Ensino Superior e certamente a Pós-

graduação. Propomos ainda, trazer à tona uma discussão a respeito do quanto é importante a motivação,

além de abordar a respeito das teorias do condicionamento e as teorias cognitivistas no desenvolvimento

desta pesquisa. Para tanto, com este trabalho buscamos propiciar ao campo educacional, reflexões que

poderão contribuir com o desenvolvimento do ensino e aprendizagem dos alunos do 6º ano do Ensino

Fundamental na disciplina de Matemática. Após o levantamento das notas dos alunos observados,

percebemos que existe um declínio das mesmas, e tal baixa de rendimento nos remeteu a concluir que a

transição dos alunos do quinto para o sexto ano, ou seja, a transição do ensino de matemática aplicado por

um pedagogo para o ensino desenvolvido por um licenciado em matemática, é um dos fatores que se

apresenta como causa da falta de motivação referente a disciplina em questão.

Palavras-Chave: Baixo rendimento. Reflexos. Desmotivação. Sexto ano.

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LISTA DE TABELAS

Descrição Pág.

Tabela 01- Organização do Ensino Fundamental (LDBN 9394/96) 18

Tabela 02 - Indicadores educacionais da escola 31 de Março – 2013 (dados

cedidos pela secretária da escola, Programa Gescolar)

42

Tabela 03- Quadro de notas dos alunos do 6º ano da escola 31 de Março (dados

cedidos pela Secretária da Escola)

44

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LISTA DE FIGURAS

Descrição Pág

Imagem 01- Foto da Fachada da Escola 31 de março. Acervo do autor data 04/06/2014 39

Imagem 02- Foto das dependências da Escola 31 de março. Acervo do autor data

04/06/2014

39

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LISTA DE SIGLAS

UNIR – Universidade Federal de Rondônia.

PUC – Pontifícia Universidade Católica.

PNE – Plano Nacional de Educação.

ABE - Associação Brasileira de Educação.

LDBN - Lei de Diretrizes e Bases Nacionais.

PLE - Plano Nacional de Educação.

PCNS – Parâmetros Curriculares Nacionais.

CNE – Conselho Nacional de Educação.

CEB – Câmara de Educação Básica.

E.E.E.F - Escola Estadual de Ensino Fundamental.

MEC – Ministério da Educação.

SEDUC – Secretaria de Estado da Educação de Rondônia.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11

2 A IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO ALIADA À

AFETIVIDADE NO INÍCIO DA MINHA APRENDIZAGEM .............................. 12

3 BREVE HISTÓRICO DO ENSINO FUNDAMENTAL ................................... 15

3.1 Avanços legais para o Ensino Fundamental ....................................................... 17

3.2 Relevância e qualidade do Ensino Fundamental ................................................ 18

4 A IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO NO CONTEXTO

ESCOLAR ..................................................................................................................... 24

4.1 A importância do professor na sala de aula ........................................................ 26

4.2 A influência das teorias da psicologia na prática pedagógica ............................ 30

4.2.1 Teorias de Aprendizagem ................................................................................... 33

4.2.2 Motivação: elemento fundamental da aprendizagem na visão da psicologia .....35

5 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA ................................................................. 37

6 ANÁLISE DOS DADOS ....................................................................................... 39

6.1 A Escola 31 de Março ......................................................................................... 39

6.2 Projeto Político Pedagógico e Regimento Interno da Escola 31 de Março ........41

6.3 Descrição do 6º ano do Ensino Fundamental analisado nesta pesquisa ............. 42

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 49

8 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 50

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1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa analisa e descreve o rendimento de 8 (oito) alunos do 6ª ano do

Ensino Fundamental na disciplina de matemática na escola pública 31 de Março situada

no Município de Jí-Paraná RO. Tal rendimento está caracterizado a partir de suas notas

referente ao 4ª, 5ª e 6ª anos, com um enfoque nas notas apresentadas no último ano citado

a fim de analisar o que ocorre na transição do 5º para o 6º ano, visto que, nessa passagem

observa-se inicialmente o trabalho do pedagogo e posteriormente o trabalho do professor

licenciado em Matemática.

Nessa perspectiva de análise, divide-se o trabalho em quatro capítulos, sendo que

o primeiro capítulo relata um pouco das experiências vividas pelo pesquisador, que de

certa forma influenciaram o desenvolvimento desta pesquisa, pois, “a convivência com

meu professor das séries iniciais que despertou em mim um grande desejo de estudar,

razão pela qual penso que aquela motivação foi elemento fundamental para alimentar

minha vontade de um dia ser acadêmico em uma universidade”.

No segundo capítulo, descreveremos algumas características importantes do

Ensino Fundamental que acreditamos ser extremamente relevantes para que o aluno possa

progredir em seus estudos. É inato no ser humano o desejo de aprender, como dizia alguns

filósofos gregos, “o conhecimento é a única coisa que ninguém pode lhe tirar”. Portanto,

acreditamos que no consciente ou no subconsciente de cada aluno da escola, motivados

ou desmotivados, exista aquele desejo de conhecimento, sem o qual terão dificuldades

em usufruí-lo.

Para concretizar esta pesquisa, no terceiro capítulo abordaremos o referencial

teórico, sendo que para isto, buscaremos descrever a importância da motivação no ensino

aprendizagem e as situações avessas na falta dela. A luz da psicologia, adentraremos sobre

as teorias de motivação e aprendizagem respaldada nas obras de Ana Mercês Bahia Bock,

Odair Furtado, Maria de Lourdes Trassi Teixeira e de Claudino Pilleti e outros autores

necessários para compreendermos que existem vários fatores que podem estar

interligados com a aprendizagem dos alunos.

No quarto capítulo tratamos da análise, que sob o olhar das notas de 8 (oito) alunos

do 4º, 5º e 6º anos, analisamos se realmente a transição das séries iniciais pode ser ou não,

um dos fatores que promove a desmotivação na aula de Matemática.

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2 A IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO ALIADA À

AFETIVIDADE NO INÍCIO DA MINHA APRENDIZAGEM

As primeiras lembranças que tenho quando comecei a estudar, são de uma escola

que era na casa da professora Dona Ieda, periferia de Salvador, Capital da Bahia e do

banquinho de madeira que essa professora carregava, pois a mesma não tinha lugar para

se sentar. De forma que essa professora já alertava que somente os estudos proporcionam

dignidade ao ser humano. Nesta época, em 1985, eu tinha sete anos de idade. No mesmo

ano, sem concluir a 1ª série (2º ano nos dias atuais) minha família e eu mudamos para o

interior da Bahia, e logo que chegamos retornei meus estudos em uma pequena escola

local.

Com a imigração incentivada pelo Governo Federal nas décadas de 70 e 80 para

a Região Norte do país, meus pais, influenciados pelo desejo de possuir terra, vieram se

estabelecer na zona rural de Pimenta Bueno, Município de Rondônia. Novamente voltei

a estudar, demorando assim três anos na 1ª série. No entanto, se para muitos repetir o ano

é um problema, para mim foi diferente, pois ainda na primeira série conseguia resolver

problemas de matemática do 4º ano (antiga 3ª série), e foi nesse contexto que comecei

despertou em mim o gosto pela disciplina de Matemática.

Nos quatro anos que passei cursando as séries iniciais pude perceber que a

afetividade trazida pelo professor para a sala de aula, foi despertando gradualmente meu

desejo de aprender. De acordo com Siqueira, Neto e Florêncio (2011) a afetividade

também exerce forte influência no cognitivo, pois quando uma criança sente-se amada,

querida, respeitada pelo professor que demostra tal atitude, com certeza este aluno sentirá

desejo em aprender.

Segundo os autores citados acima, a afetividade deve se fazer presente nas salas

de aula, que precisa desenvolver uma educação emocional, melhorando as condições do

aluno em aprender, pois os mesmos terão suas necessidades atendidas pelo professor, que

procura utilizar este espaço para o aprendizado do aluno. Saltini (2008, p. 100) afirma

que:

A inter-relação do professor com o grupo dos alunos e com cada um em

particular é constante, se dá o tempo todo, seja na sala ou no pátio, e é em função

dessa proximidade afetiva que se dá a interação com os objetos e a construção

de um conhecimento altamente envolvente. Essa inter-relação é o fio condutor,

o suporte afetivo do conhecimento.

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O professor que me acompanhou no interior da cidade de Pimenta Bueno até o

término das séries iniciais trazia essas características citadas por Saltini, homem muito

inteligente e motivador, tanto em sala de aula quanto fora dela, sempre nos orientava a

continuar os estudos, mesmos com as situações difíceis que passávamos. Naquela época,

as escolas rurais ofereciam apenas até a 4ª série.

Cunha (2008) ressalta a importância do professor saber realizar uma boa aula,

pois, essa, precisa ser uma rica experiência de aprendizado de maneira que deixe marcas

positivas na vida do aluno. Portanto, recebi do professor no decorrer de quatro anos de

estudo uma grande motivação que ajudou no desenvolvimento da minha aprendizagem,

conforme Fita (2003, p 29):

A própria pessoa do professor pode ser uma fonte de motivação

importantíssima. O tipo de relação que estabelecemos com os alunos pode

gerar uma confiança e um aumento da atenção que são condições

indispensáveis para aprendizagem.

Mediante as situações que vivenciei na minha infância como aluno, uma das mais

importantes, acredito que seja justamente aquela motivação acompanhada de afetividade

do professor, que proporcionou para mim grande enriquecimento, tanto para minha vida

pessoal quanto para minha carreira profissional. Para Saltini (2008, p. 92) “a educação é

uma arte. Não é uma mera profissão ser educador. Manipulamos a educação com as duas

mãos, a do afeto e as leis das regras”.

Meus pais, (em memória) provavelmente pelas grandes dificuldades que passaram

por falta de estudos, já que os dois eram analfabetos, se esforçaram muito para que todos

os seus filhos estudassem. Por esta razão compraram uma pequena casa na cidade de

Pimenta Bueno, para continuarmos os estudos. Assim, com o término das séries inicias,

nos estabelecemos na zona urbana, e foi quando iniciei a 5ª série do Ensino Fundamental.

De forma que minha experiência como estudante na cidade, em uma Escola

Estadual de Ensino Fundamental e Médio me fez deparar com algumas situações

conflitantes, como por exemplo, a quantidade de matérias, livros e professores que

daquele momento em diante passaram a fazer parte da minha vida como estudante. Porém,

o que mais me comoveu interiormente foi à relação de afetividade com os professores

que era totalmente diferente daquela vivida na escola do interior. Pude perceber que

muitos professores, por alguma razão, eram desprovidos de elementos que resgata o gosto

do aluno em estudar, em contrapartida ao que Cunha (2008, p. 91) diz:

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Em razão do conhecimento prévio do conteúdo, o professor possui o domínio

da matéria e, por conseguinte, sabe como promover o aprendizado dos seus

alunos. Entretanto, além disso, ele ama o que faz. O seu amor provoca o amor

na classe, como resultado, há fixação do que fio ensinado. A essa pedagogia

podemos chamar de afetiva.

Essa pedagogia afetiva, segundo Siqueira, Neto e Florêncio (2011) é uma linha

que os professores deveriam seguir em sala de aula, demonstrando afeto, sensibilidade

respeito, responsabilidade e principalmente compromisso com o que faz. Com isso, é

possível constatar boa receptividade dos alunos em querer aprender o que está sendo

transmitido por parte do professor. Se por um lado alguns professores não traziam essas

características, por outro lado outros se encaixavam nelas, de modo que neste contexto

conclui o Ensino Fundamental.

Continuei os estudos na mesma escola, observando que as características dos

professores do ensino médio não foram muito diferentes das dos anos anteriores, Aliás,

os docentes do ensino médio, daquela escola, eram a maioria do Ensino Fundamental.

Apesar de ter realizado o ensino médio com êxito, por alguma razão, talvez por falta de

motivação dos professores do ensino médio, só fui dar seguimento aos estudos onze anos

depois, razão pela qual tive algumas dificuldades nos primeiros períodos do curso de

Licenciatura em Matemática.

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3 BREVE HISTÓRICO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Devido ao contraste que ainda existe entre as leis que regem a educação e a prática

na escola, buscamos apresentar neste capítulo exatamente nessa ordem um breve histórico

do Ensino Fundamental no Brasil na intenção de deixar claro ao leitor o desenvolvimento

da educação brasileira até os dias atuais, tão logo, destacamos também os avanços legais

para o Ensino Fundamental no Brasil assim como a relevância e qualidade desse ensino.

Para compreender a atual conjuntura do Ensino Fundamental no Brasil, bem

como, sua relevância na formação de alunos e alunas é necessário conhecer sua trajetória

e os aspectos que delineiam seus avanços legais.

O estabelecimento de uma política educacional estatal ocorreu somente no final

do período imperialista e no início da República. Antes disso, durante o Brasil colônia

(entre 1500 e 1822) a educação era pautada no domínio dos portugueses sobre a

população indígena e os negros escravos. A política educacional existente, no âmbito da

sociedade civil, era controlada pela igreja católica através dos trabalhos realizados pelos

padres jesuítas. A esse respeito Sodré (1994, p.34) relata que “O ensino jesuítico, [...],

tornava-se possível porque não perturbava a estrutura vigente, subordinava-se aos

imperativos do meio social, marchava paralelo a ele”. Contudo, os jesuítas foram

expulsos pelo Marquês de Pombal no ano 1759 quando este percebeu que o sistema

jesuítico não atendia mais aos interesses da Coroa.

Após o período colonial e durante o império que durou até 1889, a sociedade era

mantida numa estrutura de classes e a educação por sua vez, não só reproduzia a ideologia

como também essa estrutura, e de acordo com Ghiraldelli Júnior (2006) o número de

escola e professores era insuficiente e não havia uma organização mínima para a educação

nacional.

Com a proclamação da República que aconteceu em 1889, buscou-se uma

estrutura para o quadro da educação brasileira. Contudo, não houve sucesso e Ghiraldelli

Júnior (2006) afirma que em 1920 o ensino público não era prioridade do governo e 75%

da população em idade escolar ou mais se encontrava analfabeta. A educação era vista

como meio de ascensão social e prestígio. Romanelli (1983) relata que os estratos que

detinham o poder econômico e político usavam a educação como instrumento para

distinguir classes.

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Em 1930 houve a criação do Ministério da Educação e Saúde e no ano de 1932,

foi publicado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, assinado por grandes

intelectuais da época o documento defendia uma educação pública e gratuita, que

contemplasse a todos e que fosse promovida pelo Estado.

Com a promulgação da Constituição de 1934 alguns ideais libertários defendidos

pelos educadores da Associação Brasileira de Educação – ABE tornaram-se preceitos

constitucionais e esses preceitos também foram frutos do Manifesto dos Pioneiros da

Educação Nova. Assim, no Artigo 150, parágrafo único, "a" e "b" estabelecia que "ensino

primário integral e gratuito e de frequência obrigatória extensivo aos adultos e tendências

à gratuidade do ensino ulterior ao primário, a fim de o tornar mais acessível".

Dessa forma, através dessa Constituição foi determinada a gratuidade e

obrigatoriedade do ensino primário assim como a definição de que a União e os

Municípios aplicassem nunca menos de 10% (dez por cento) das rendas de impostos à

educação e para os Estados e Distrito Federal a porcentagem era de 20% (vinte por cento).

Entretanto, o caráter democrático da Constituição de 1934 foi confinado, a mesma

foi substituída por uma Constituição outorgada em 1937 que embora continuasse

mantendo o ensino primário gratuito e obrigatório foi muito restritiva quanto à educação.

Entre os anos de 1942 e 1946 foram criadas diversas Leis Orgânicas do Ensino,

dentre elas, a Lei Orgânica do Ensino Primário que traçava diretrizes para o ensino

primário em todo o país. De modo que conforme Romanelli (1992), nesse período, esse

nível de ensino ficou compreendido assim: ensino primário fundamental, destinado a

crianças de 7 (sete) a 12 (doze) anos, subdivididas em primário elementar (de 4 anos);

primário complementar (de 1 ano); ensino primário supletivo (de 2 anos) para

adolescentes e adultos que não receberam esse nível de educação na idade adequada.

Romanelli (1992, p.163) descreve que na prática “o ensino primário fundamental

acabou por resumir-se no ensino primário elementar, por falta de condições objetivas de

funcionamento do ensino complementar”.

Após o golpe militar, o ensino primário e secundário foi reformado pelo governo

e por meio da Lei de Diretrizes e Bases de Nº 5.692/1971 foi criado o ensino de 1º grau

com duração de 08 (oito anos) anos.

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3.1 Avanços legais para o Ensino Fundamental

Com o fim do regime militar foi estabelecida a Constituição da República de 1988,

a chamada constituição cidadã, que trouxe novos rumos à educação. A Constituição de

1988 deu uma nova nomenclatura ao ensino de 1º grau que passou a ser Ensino

Fundamental. Essas mudanças constam no Artigo 208: “o dever do Estado com a

educação será efetivado mediante a garantia de: I – Ensino Fundamental, obrigatório e

gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso na idade própria”.

No primeiro parágrafo do artigo 208 a Constituição de 1988 determina que o

direito ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. Brandão (2007, p.33)

explica que esse é o direito de qualquer cidadão brasileiro “exigir vagas suficientes para

que ocorra efetivamente o acesso ao Ensino Fundamental”.

Após oito anos de publicação da Constituição de 1988, é promulgada a Nova Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9.394/1996 doravante LDBN, que é

resultado de um intenso processo de diálogo, com a participação de diferentes entidades

da sociedade que buscavam a garantia de um ensino público gratuito.

Em relação ao Ensino Fundamental, a LDBN 9394/96, em seu artigo 32

determinava que: o Ensino Fundamental, com duração mínima de oito anos, obrigatório

e gratuito na escola pública, terá por objetivo, a formação básica do cidadão, mediante:

I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o

pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia,

das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a

aquisição de conhecimentos, habilidades e a formação de atitudes e valores;

IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade humana

e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.

Através das Leis 11.114 de 2005 e 11.724 de 2006 o Ensino Fundamental foi

ampliado para nove anos, iniciando-se aos 06 (seis) anos de idade. Com a Emenda

Constitucional Nº 59 de 2009, a LDB passou por novas mudanças, e assim, a

obrigatoriedade escolar que era restrita ao Ensino Fundamental passou a ser de 04 (quatro)

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anos de idade até aos 17 (dezessete) anos, o que incluiu também e educação infantil na

educação básica. O cumprimento dessa mudança tem um prazo até o de 2016 para ser

efetivada.

A ampliação do Ensino Fundamental de 08 (oito) para 09 (nove) anos é uma das

metas do Plano Nacional de Educação – PNE que possuem objetivos e metas para cada

nível de educação. De acordo com o PNE essa ampliação é para “Oferecer maiores

oportunidades de aprendizagem no período de escolarização obrigatória e assegurar que,

ingressando mais cedo no sistema de ensino, as crianças prossigam nos estudos,

alcançando maior nível de escolaridade”. (Brasil, 2001, p.21).

3.2 Relevância e qualidade do Ensino Fundamental

Atualmente, o acesso ao Ensino Fundamental é direito de todos, conforme

estabelece a Constituição Federal (1988). No entanto, a obrigatoriedade do acesso ao

Ensino Fundamental não significa que todas as crianças estão sendo assistidas com uma

educação de qualidade, já que além do acesso é necessário garantir um ensino que

possibilite uma formação crítica e autônoma. Tendo em vista, que alunos e alunas

adquirem no Ensino Fundamental experiências significativas que irão repercutir por toda

sua formação. De forma que assegurar gratuidade e obrigatoriedade é apenas o início do

processo.

A esse respeito, as Diretrizes Curriculares para Educação Básica problematizam

que:

Se essa etapa de ensino, sendo um direito fundamental, é direito do cidadão,

uma vez que constitui uma garantia mínima de formação para a vida pessoal,

social e política. É dever do Estado, dos sistemas de ensino e das escolas

assegurarem que todos a ela tenham acesso e que a cursem integralmente,

chegando até à conclusão do processo de escolarização que lhe corresponde.

Além disso, todos têm o direito de obter o domínio dos conhecimentos

escolares previstos para essa etapa e de adquirir os valores, atitudes e

habilidades derivadas desses conteúdos e das interações que ocorrem no

processo educativo. (BRASIL, 2013, p.106)

Desse modo, é necessário que Estado e Munícipio tenham como preocupação

primária promover o aprendizado de alunos e alunas, levá-los à emancipação para se

situarem como sujeitos históricos na sociedade.

O Ministério da Educação publicou o documento Ensino Fundamental de Nove

Anos - Orientações Gerais (Brasil 2004), onde diz que a universalização do Ensino

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Fundamental “requer planejamento e diretrizes norteadoras para atendimento integral da

criança em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social, além de metas para a

expansão do atendimento, com garantia de qualidade” (Brasil, 2004, p. 15). Esse

documento ressalta ainda, as determinações da LDBN 9394/96 em que no artigo 23

incentiva a criatividade e insiste na flexibilidade da organização da educação básica,

portanto:

A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais,

ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não seriados, com

base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de

organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o

recomendar. (BRASIL, 2004, p.15)

Tendo em vista que o artigo 23 da LDBN 9394/96 possibilita múltiplas

possibilidades de organização, o documento acima mencionado orienta/sugere uma

nomenclatura comum, conforme a tabela abaixo:

Tabela 01- Organização do Ensino Fundamental (LDBN 9394/96)

ENSINO FUNDAMENTAL

ANOS INICIAIS ANOS FINAIS

1º ano 2º ano 3ºano 4ºano 5ºano 6ºano 7ºano 8ºano 9ºano

Contudo, a nomenclatura é apenas uma sugestão, o mais relevante é que cada

escola desenvolva um trabalho no Ensino Fundamental que possibilite a formação de

cidadãos críticos e conscientes. As Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica

atestam que:

Os alunos do Ensino Fundamental regular são crianças e adolescentes de faixas

etárias cujo desenvolvimento está marcado por interesses próprios, relacionado

aos seus aspectos físico, emocional, social e cognitivo. [...]exige da escola o

conhecimento da realidade em que vivem os alunos, pois a compreensão do

seu universo cultural é imprescindível para que a ação pedagógica seja

pertinente. (BRASIL, 2013, p.110).

Como parte dos documentos que norteiam o trabalho desenvolvido para o Ensino

Fundamental e compreendendo também as complexidades que envolvem a prática

educativa, já que devem abranger todos os aspectos do indivíduo, foram lançados os

Parâmetros Curriculares Nacionais – doravante PCNS, documentos que atuam como um

referencial para a renovação e a reelaboração da proposta curricular, sendo que também

reforça a importância de cada escola estabelecer seu projeto educacional.

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Os PCNS são documentos bem abrangentes e podem ser utilizados com objetivos

diferentes e adequados à realidade de cada escola, dada a forma como são organizados.

De acordo com Ferraz (2001, p.77) auxiliam “incentivando a discussão pedagógica nas

escolas e servindo de material de reflexão para a prática dos professores”.

Para o Ensino Fundamental são seis documentos referentes às áreas de

conhecimento de Língua Portuguesa, Matemática, Ciências Naturais, História, Geografia,

Arte e Educação Física. E mais três Volumes com seis documentos referentes aos Temas

Transversais: o primeiro volume traz o documento de apresentação desses Temas que

explica e justifica a proposta dos Temas Transversais e de Ética; no segundo, encontram-

se os documentos de Pluralidade Cultural e Orientação Sexual e no terceiro os de Meio

Ambiente e Saúde. Quando foram publicados em 1997, os PCNS dividiam-se em dois

ciclos. Sendo o 1º ciclo (1ª a 4ª série) e 2º ciclo (5ª a 8ª série).

Embora, os PCNS ofereçam diversos norteamentos e propostas curriculares para

o Ensino Fundamental, estes devem ser um ponto de partida apenas, pois a qualidade do

ensino consiste na capacidade de todos os atores envolvidos na escola. A partir da

realidade e das necessidades da comunidade em que atuam, assim, é necessário elaborar

através do projeto pedagógico, propostas curriculares que venham enriquecer os

conhecimentos de alunos e alunas. Consoante a isso Kramer acentua que:

Uma proposta pedagógica expressa sempre os valores que a constituem, e

precisa estar intimamente ligada à realidade a que se dirige, explicitando seus

objetivos de pensar criticamente essa realidade, enfrentando seus mais agudos

problemas [...] Uma proposta pedagógica precisa ser construída com a

participação efetiva de todos os sujeitos – crianças e adultos, alunos,

professores e profissionais não-docentes, família e população geral- , levando

em conta suas necessidades, especificidades, realidade. Isto aponta, ainda, para

a impossibilidade de uma proposta única, posto que a realidade é múltipla,

contraditória. (KRAMER, 1997, p.21)

Neste contexto, a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais pretende-se criar

condições, nas escolas, que permitam aos nossos jovens ter acesso ao conjunto de

conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos como necessários ao exercício da

cidadania, sem, contudo deixar de respeitar as diversidades regionais, culturais, e políticas

existentes no país.

Desse modo, a qualidade de educação para o Ensino Fundamental envolve

diversos aspectos, que vão depender principalmente da instituição educativa, da forma

que se elabora o currículo, e se suas nuances são compartilhadas entre seus pares.

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Assim, os PCNS propõem que na buscar pela qualidade do Ensino Fundamental,

seja considerado um conjunto de fatores que vão desde a formação inicial dos docentes à

disponibilidade de instrumentos que vão tornar possível a implantação de uma proposta

pedagógica que emergirá dos anseios e necessidades de uma dada realidade, sendo que o

objetivo primordial é trazer aprendizagem significativa aos discentes.

É necessária, neste contexto, uma proposta educacional que tenha em vista a

qualidade da formação a ser oferecida aos estudantes. Nesse sentido, o que a

sociedade demanda atualmente é um ensino de qualidade o que, no contexto

desta proposta, se expressa como a possibilidade do sistema educacional vir a

propor uma prática educativa adequada às necessidades sociais, políticas,

econômicas e culturais da realidade brasileira, que considere os interesses e

motivações de todos os alunos e garanta todas as aprendizagens essenciais para

a formação de cidadãos autônomos, críticos e participativos, capazes de atuar

com competência, dignidade e responsabilidade na sociedade em que vivem.

(BRASIL, 1997, p. 11)

Sendo assim, é necessário um intenso engajamento de todos os envolvidos na

educação, desde as instâncias superiores que promovem as políticas públicas da

educação, até chegar ao indivíduo, seja educadora, educador, e/ou qualquer profissional,

desde que esteja comprometido em reinventar formas de proporcionar um Ensino

Fundamental de qualidade aos estudantes. Os PCNS, nesse ínterim é uma ferramenta que

permite à escola formular uma proposta pedagógica que possibilite a forma integral de

alunos e alunas.

A educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa - espírito

e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal,

espiritualidade. Todo ser humano deve ser preparado [...] para elaborar

pensamentos autônomos e críticos e para formular os seus próprios juízos de

valor, de modo a poder decidir, por si mesmo, como agir nas diferentes

circunstâncias da vida. (DELORS, 2000. p. 99)

Essas demandas promulgadas são de nível nacional, entretanto, Estado e

Município têm alguns decretos, que são feitos baseados nas leis Federais, que trazem às

suas redes de ensino características específicas.

O estado de Rondônia, através da Secretaria de Educação publicou o documento

Referencial Curricular para o Ensino Fundamental (2012), feito para subsidiar a escola

na constituição de ações educacionais num processo de interlocução que compartilha e

explicita os valores capazes de atender às reais necessidades dos estudantes. O

Referencial Curricular de Rondônia diz que:

Page 22: Nei Araújo Silva

22

A construção deste Referencial Curricular tem como principais objetivos:

contribuir com a inclusão escolar de toda a população estudantil, o acesso ao

conhecimento com equidade, propiciar condições de permanecia e sucesso na

escola; melhorar a qualidade do processo ensino aprendizagem; fornecer

informações e orientações sobre estratégias pedagógicas e contemplar as

especificidades regionais. (2013, p. 9).

O Referencial visa ainda, o desenvolvimento de competências e habilidades dos

educandos. Com base nos estudos de Moretto (2004,) o Referencial explica que a

competência não é algo que se alcança, e sim algo que, se desenvolve em conjunto com

o indivíduo. As habilidades se constituem de linguagens, conhecimentos, atitudes e

saberes adquiridos que, mobilizados, permitem a manifestação da competência.

Assim, de acordo com o referido documento, a partir do disposto nas normas para

a Educação Básica, é imprescindível considerar as dimensões do educar e cuidar que são

indissociáveis, buscando recuperar para a função social desse nível de educação, a sua

centralidade, ou seja, o educando. O documento Referencial Curricular de Rondônia

propõe também que:

No Ensino Fundamental, acolher significa cuidar e educar, como forma de

garantir a aprendizagem dos conteúdos curriculares, para que o aluno

desenvolva interesses e sensibilidades que lhe permitam usufruir dos bens

culturais disponíveis na comunidade, na sua cidade ou na sociedade em geral,

e que lhe possibilite, ainda, sentir-se como coprodutor desses bens. (2013,

p.11).

Ao se referir a necessidade de considerar as peculiaridades regionais, não quer

dizer que o alunado vai ficar apenas em sua realidade e isolado somente em seu entorno,

pois é a partir da realidade do aluno que se vão ampliar os horizontes da aprendizagem.

A Resolução CNE/CEB nº 7, de 14 de dezembro de 2010 em sua página 34, que

institui Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos,

no Artigo 5º, determina: “a educação ao proporcionar o desenvolvimento do potencial

humano, permite o exercício dos direitos civis, políticos, sociais e do direito à diferença,

sendo ela mesma um direito social, e possibilita a formação cidadã e o usufruto dos bens

sociais e culturais”.

A escola deve preparar o aluno para a vida e o Ensino Fundamental é um fator de

extrema importância nessa formação, pois é no Ensino Fundamental que se desenvolvem

habilidades e competências essenciais para o exercício da cidadania. De forma que um

cidadão com uma formação integral, plena e coerente tem todos os instrumentos para

promover transformações na comunidade em que vive e é consciente de sua posição na

sociedade.

Page 23: Nei Araújo Silva

23

Sendo assim, é primordial que a escola desenvolva um Projeto Pedagógico

pautado no diálogo, na compreensão, no respeito às diferenças, considerando os direitos

de alunos e alunas a um Ensino Fundamental de qualidade, no qual tenha espaço para a

interdisciplinaridade e a transversalidade.

O objetivo da interdisciplinaridade é, portanto, o de promover a superação da

visão restrita do mundo e a compreensão da complexidade da realidade, ao

mesmo tempo resgatando a centralidade do homem na realidade e na produção

do conhecimento, de modo a permitir ao mesmo tempo uma melhor

compreensão da realidade e do homem como o ser determinante e

determinado. (LÜCK, 1994, p. 18)

Atualmente, para o Ensino Fundamental os Temas Transversais devem ser

conteúdos educacionais que permitam aos alunos e alunas reflexões sobre ética, meio

ambiente, trânsito, entre outros aspectos da vida social.

Desse modo, a realidade vivida e o conhecimento sistemático são indissociáveis,

esses novos avanços vão muito além das questões aqui levantadas, é necessário que

educadores e educadoras, se apossem de instrumentos significativos que vão possibilitar

o acesso à pesquisa, ao conhecimento das novas tecnologias, a ética e ainda,

responsabilidade no trato com os iguais. É uma infinidade de possibilidades que além da

universalização do Ensino Fundamental vão permitir que exista uma qualidade

significativa nessa etapa da educação.

Page 24: Nei Araújo Silva

24

4 A IMPORTÂNCIA DA MOTIVAÇÃO NO CONTEXTO

ESCOLAR

Neste capítulo, o leitor irá se deparar com o relato da importância da motivação no

contexto escolar, destacando que infelizmente, o Ensino Fundamental não está superando

as metas indicadas pelo MEC, o que nos levou a observar e descrever a importância do

professor em sala de aula, pois é fácil verificar que este, é sem dúvida o percussor do

processo de ensino aprendizagem na escola. Para finalizar este capítulo, descrevemos

algumas ideias acerca das teorias da psicologia na prática pedagógica, assim, como teorias

de aprendizagem, propomos algumas orientações que podem contribuir para que haja

motivação em sala de aula.

O processo histórico escolar do Brasil segundo os dados de pesquisas, como a de

Sousa apud. Franco (1994) evidenciam que o sistema de ensino não tem atingido as suas

metas, as denúncias são bem conhecidas e por isso a sociedade está se conscientizando

da magnitude e complexidade do problema. Segundo a autora, pesquisadora da PUC, que

aborda na sua obra a extensão dos desníveis e dos desequilíbrios que se instalam no ensino

brasileiro, os modelos de avaliação, a maioria deles importados dos países desenvolvidos,

ainda que norteiem a prática pedagógica no âmbito da escola e da sala de aula, não é

suficiente para trazer à tona o real entendimento acerca do conhecimento do aluno. Por

esta razão a autora afirma ainda que:

Daí a necessidade de aprofundar as análises dos pressupostos subjacentes ás

diferentes modalidades da ação educativa, uma vez que essas análises podem

contribuir para uma opção mais consciente no que diz a respeito à organização

da estrutura curricular, à sistemática de avaliação por se adotada, e,

principalmente, funcionam como parâmetros para julgamento da relevância

social dos conteúdos e para a obtenção de um conhecimento mais realista

acerca do aluno. Sousa apud. Franco (1994, p. 13).

O Ministério da Educação vem buscando alternativas para melhorar o

Sistema Educacional, instituições e pesquisadores têm proposto projetos e programas

diretamente ligados à Educação, entretanto a execução de tais programas não tem trazido

desenvolvimento à área, e muito menos conseguido desvendar as questões que impedem

o desenvolvimento do aprendizado na maioria das escolas públicas do Brasil.

A percepção da fragilidade na educação tem levado vários autores como, por

exemplo, Piletti (1993) e Bzneck (2009) a se debruçarem sobre o assunto. Com frequência

os projetos e programas consideram o todo, no entanto, o todo não pode ser considerado

Page 25: Nei Araújo Silva

25

senão por partes, razão pela qual alguns fatores subjetivos como a motivação e a

afetividade não são aprofundados nas escolas. Esses fatores estão intrinsicamente ligados

ao contexto educacional, e de acordo com esses autores, podem alavancar a aprendizagem

dos alunos. De forma que ao longo deste trabalho, é perceptível que muitos autores

concordam em um ponto, não existem aprendizado sem motivação.

Quando se fala de motivação o nosso cognitivo articula várias situações interiores,

sem, contudo, definir claramente o que a palavra no seu sentido original quer dizer. Para

darmos uma resposta a essas indagações, analisaremos a palavra motivação citada acima,

na visão de Bzuneck (2009, p. 9) que diz:

[...] uma ideia sugestiva sobre motivação, normalmente aplicável a qualquer

tipo de atividade humana, é fornecida pela própria origem etimológica da

palavra, que vem do verbo latino movere, cujo tempo supino motum e o

substantivo motivum, do latim tardio, deram origem ao nosso termo

semanticamente aproximado, que é motivo. Assim, genericamente, a

motivação, ou o motivo, é aquilo que move uma pessoa ou que a põe em ação

ou a faz mudar o curso. (Itálico nosso)

A qualidade e a intensidade do envolvimento nas aprendizagens dependem da

motivação, Bzuneck (2009) legitima que no aluno, a motivação é considerada como

determinante talvez principal do êxito e da qualidade da aprendizagem escolar. Já Fita

(2003) acredita que a motivação é um conjunto de variáveis sejam contextuais ou

pessoais, que ativam a conduta e a orientam em determinado sentido visando alcançar um

objetivo.

Para Huertas (2001) a motivação é definida como um processo psicológico, ou

seja, ela é proporcionada por meio dos componentes afetivos e emocionais. Todavia são

vários os atributos que influenciam na motivação da pessoa, para o autor, ela vai surgindo

no campo da subjetividade a partir das características de cada indivíduo, visto que estes

possuem diferentes metas, expectativas e formas de visualizar a vida.

Para Barbosa (2005, p. 21) “a origem da motivação é o desejo de satisfação de

necessidades e um conjunto de fatores que determinam a conduta de um indivíduo”.

Assim, entendemos que a motivação é um comportamento que vai surgido interiormente

e que remete a satisfação das mesmas; ou seja, é a busca da satisfação de desejos que

precisam de respostas imediatas.

Para se compreender com maior clareza, outros conceitos vêm sendo estudados e

abordados como os fatores extrínsecos e intrínsecos, quanto ao que se refere a motivação

e o caminho que esta permeia. O fator intrínseco está diretamente ligado à ação interior

que aflora em cada indivíduo para sua própria satisfação. Bzuneck, (2004) afirma que a

Page 26: Nei Araújo Silva

26

motivação intrínseca é inata e natural dos seres humanos para envolver o interesse

individual e exercitar suas capacidades, buscando e alcançando desafios.

Já o fator extrínseco diz respeito a fatores estimulantes externos, como elogios,

prêmios, etc. Segundo Huertas (2001), quando a finalidade da ação, a meta e o propósito

têm a ver com as situações externas, com uma promessa de um benefício exterior, se fala

de motivação extrínseca. No contexto geral a motivação extrínseca é muito utilizada na

sociedade.

Como podemos observar, o conceito de motivação é amplo e abrange as diversas

áreas da vida de uma pessoa, da sociedade, etc. Por essa razão, em meio a este paradoxo

de conceitos da motivação, duas situações serão importantes para esse momento,

motivação extrínseca e intrínseca voltadas no campo da aprendizagem. Esses dois fatores

estudados se enquadram com maior clareza no campo da psicologia, que será abordada

posteriormente nas teorias da motivação e da aprendizagem. Todavia, as formas que se

compreendem esses fatores citados acima são vistas na abordagem cognitivista. Na

perspectiva de Braghirolli (1995, p.103), ‘as teorias cognitivistas reconhecem que o

comportamento e seu resultado dependerão tanto das escolhas conscientes do indivíduo,

como dos acontecimentos do meio sobre os quais não têm controle e que atuam sobre

ele”. Por esta razão que muitos estudos ressaltam que o segredo motivacional do

aprendizado escolar está em conseguir conciliar a motivação intrínseca e extrínseca dos

alunos.

4.1 A importância do professor na sala de aula

Com este trabalho, a intenção não é criticar os professores que ao longo de suas

vidas se dedicaram a profissão e de certa forma deram sua contribuição para a sociedade.

No entanto, como o avanço tecnológico das últimas décadas, houve consequentemente

uma mudança no convívio social, e muitas práticas que se utilizavam nas escolas parecem

que já não funcionam mais.

De modo que vivemos em uma sociedade globalizada, os alunos de hoje são

totalmente diferentes de outrora, mas, a escola na sua maioria continua agindo da mesma

maneira, ou seja, com as características tradicionais. Talvez seja justamente essa

resistência em mudar que faz com que fique cada vez mais difícil ensinar ao aluno, pois

é como se o professor falasse uma linguagem e o aluno outra, em virtude disso, vem o

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27

desinteresse pela aula e provavelmente a falta de motivação. Sobre isso Lima (2000, p.41)

afirma que:

[...] a falta de uma boa administração do tempo, planejamentos deficientes, a

sobrecarga de trabalho, a falta de envolvimento com os alunos, entre outras

variáveis a que estão sujeitos, conduzem à apresentação de respostas de

manutenção de situação atual, a falta de iniciativa, de interesse pela mudança

e não engajamento efetivo em qualquer inovação.

Há muito tempo tem aparecido o questionamento sobre a falta de motivação,

porque o aluno de hoje não tem mais aquele interesse em aprender, especificamente na

disciplina de matemática? O que mudou na sociedade para que haja essa postura dos

alunos? Como os professores devem agir diante da falta de motivação? São algumas

questões que precisam ser discutidas em âmbito social, mas principalmente nas escolas e

universidades, pois na visão de muitos autores, a motivação é o caminho para o

desenvolvimento e aprendizado dos alunos, como esclarece Pilleti (1993, pag. 63):

A motivação é fator fundamental da aprendizagem. Sem motivação não há

aprendizagem. Pode ocorrer aprendizagem sem professor, sem livro, sem

escola e sem outra porção de outros recursos. Mas mesmos que existam todos

esses recursos favoráveis, se não houver motivação não haverá aprendizagem.

Mediante essas realidades, para que o professor desenvolva um bom trabalho, é

imprescindível que ele dentre os outros elementos fundamentais, como o uso da

tecnologia em sala de aula, tenha conhecimento prévio e domínio dos conteúdos, conheça

no mínimo um pouco sobre motivação e a importância desta no desenvolvimento do

processo de ensino/aprendizagem. Nesse sentido, Pozo (2002) traz que a motivação deve

ser considerada como um requisito, uma condição prévia da aprendizagem, ou seja, para

o autor não basta somente conhecer, mais aplicá-la.

Podemos também considerar que é de suma importância estar revendo as

circunstâncias da falta de motivação, pois este fato quase que totalmente prejudica o dia-

a-dia em uma sala de aula, pois desestrutura as aulas quando os alunos não participam.

Se o objetivo do ensino é fazer com que o aluno realmente aprenda os conteúdos, de forma

alguma se pode deixar que alguns fatores que podem ser melhorados prejudiquem o

aprendizado.

Ao analisarmos estas considerações sobre motivação à aprendizagem, somos

levados a nos perguntar o que realmente é um aluno motivado, ou seja, quais

características e atitudes podem ser observadas. O conceito de aluno

motivado/desmotivado descrito por Bzuneck (2009, p. 11) diz que:

Page 28: Nei Araújo Silva

28

Em sala de aula, os efeitos imediatos da motivação do aluno consistem em ele

envolver-se ativamente nas tarefas pertinentes ao processo de aprendizagem, o

que implica em ele ter escolhido esse curso de ação, entre outros possíveis e ao

seu alcance. Tal envolvimento consiste na aplicação de esforço no processo de

aprender e com a persistência exigida para cada tarefa. Como consequência,

denomina-se desmotivado (e este é um conceito puramente descritivo) o aluno

que não investir seus recursos pessoais, ou seja, que não aplicar esforço, fazendo

apenas o mínimo, ou se desistir facilmente quando as tarefas lhe parecerem um

pouco mais exigentes.

Para isso, é importante que o professor conheça seus alunos e suas

particularidades, pois o que pode ser interessante para um, pode não ser para o outro. Por

isso, Marinho e Fiorelli (2005) afirmam que os mesmos estímulos e estratégias quando

aplicados a diferentes pessoas ainda que em situações praticamente idênticas, conduzem

a diferentes resultados. Carvalho, Pereira e Ferreira (2007, p. 10) na visão de (FITA

2003), enfatizam que:

Para o professor compreender o que motiva os alunos, é necessário que o

mesmo estude o contexto da aprendizagem, das individualidades dos alunos,

bem como suas ideias prévias e tire conclusões que estejam comtempladas em

seu planejamento de ensino. Assim o professor tem a possibilidade de

selecionar os conteúdos que despertem o interesse dos alunos, aqueles para os

quais eles se sintam mais motivados a aprender.

Segundo Guimarães (2001) é perceptível o interesse dos alunos em desenvolver

atividades que lhe são atribuídas recompensas, como por exemplo, elogios.

Acompanhada dessas atividades, é importante que o professor traga em sua metodologia,

assuntos que de uma forma ou de outra despertem o interesse do aluno, pois, de acordo

com Leite (2007, p. 36):

É mais fácil aprender o que nos interessa. Sem motivação o aluno não presta

atenção, não participa, não faz as tarefas. Ou até faz, mas preocupados

simplesmente em corresponder à expectativa do professor, sem interesse em

aprender.

Segundo Coll (2004), a crença tradicional é que a motivação é própria de cada um,

que o aluno é responsável por seu pouco interesse pela aprendizagem. Todavia, as teorias

mais atuais apontam que condições externas podem influenciar direta ou indiretamente na

motivação do aluno:

[...] os motivos de um aluno são um produto da interação dele com os diferentes

contextos em que está presente o sentido da aprendizagem escolar. Essa

responsabilidade da escola e dos professores não pode fazer com que se

esqueça de que a motivação é moldada em contextos não escolares, como a

família, a classe social e a cultura. (COLL, 2004, p. 129)

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29

De acordo com Lira (2013, p. 05) baseada na abordagem comportamentalista de

Skinnir ele ressalta que:

É de responsabilidade de o professor assegurar a aquisição do comportamento.

Os comportamentos desejados dos alunos serão instalados e mantidos por

condicionantes e reforçadores arbitrários, tais como: elogios, graus, notas,

prêmios, reconhecimentos do mestre e dos colegas, prestígio, etc., os quais, por

sua vez, estão associados com uma outra classe de reforçadores mais remotos e

generalizados, tais como: o diploma, as vantagens da futura profissão, a

aprovação final no curso, possibilidade de ascensão social, monetária, status,

prestígio da profissão, etc.

Para que os alunos se sintam motivados em sala de aula é imprescindível a

participação do professor. Contudo, é importante ressaltar que uma das maiores

dificuldades dos professores é envolver os alunos em atividades de aprendizagem. Às

vezes é mais prático e cômodo permanecer com a mesma prática do que buscar novos

desafios. É evidente, que muitas vezes a escola não possui infraestrutura nem materiais

necessários para o bom desenvolvimento do trabalho docente, entretanto, Ripplinger e

Brancher (2006) afirmam que:

[...] vale ressaltar que, para fugir do método tradicional de ensino, não

precisamos grandes inovações e recursos financeiros, basta apenas preparar a

aula de uma maneira diferente, sequenciando os conteúdos, procurando

relacioná-los com o conhecimento cognitivo prévio dos alunos e com

condições contextualizadas, etc.

Se por um lado a crença tradicional segundo Coll (2004) diz que a motivação é

própria de cada um, e que o aluno é responsável por seu pouco interesse pela

aprendizagem, por outro lado, autores como Skinnir, Guimarões e Braghirolli afirmam

categoricamente que a motivação mesmo que parta do próprio sujeito está estritamente

ligada às relações que este estabelece com o meio exterior. Mediante este pressuposto

Luna (2008) afirma:

A falta de motivação é causada por características pessoais do aluno e o

contexto da escola. O medo o fracasso e a forma de encará-lo; a falta de clareza

sobre os objetivos da aprendizagem; e a não satisfação das expectativas são

alguns dos motivos de ordem pessoal. Além deles existem a influência dos

pais, colegas e grupos sociais, mais as experiências anteriores de cada um.

Junte-se a isso o ambiente da escola e da sala de aula para o desenvolvimento

das atividades, como a organização, a interação com o professor e a avaliação.

É aí que o educador pode intervir.

Observando essas realidades, é comum encontrar nas escolas alunos

desmotivados, que segundo os autores citados acima, mediante as circunstâncias foram

influenciados por alguma situação, entretanto, os professores também estão desmotivados

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30

em sua atividade por conta desses alunos. Por isso, Tapia e Fita (2003, p. 88) afirmam

que:

[...] se o professor não está motivado, se não exerce de forma satisfatória sua

profissão, é muito difícil que seja capaz de comunicar a seus alunos

entusiasmo, interesse pelas tarefas escolares; é definitivamente, muito difícil

que seja capaz de motivá-los.

Em face dessas situações, o trabalho em equipe pelos professores de uma mesma

escola, a troca de experiências, definição de perspectivas de intervenção devem ser

considerados fundamentais na prática da docência. Todavia, não há receitas prontas, o

professor deve procurar aprender a partir da própria experiência, sendo coerente consigo

próprio.

4.2 A influência das teorias da psicologia na prática pedagógica

Buscando compreender o andamento da aprendizagem na escola de hoje, podemos

observar dentre as práticas pedagógicas, que os professores talvez até mesmo sem

entendê-las, foram influenciados por algumas teorias que ao longo dos tempos permearam

o ambiente educacional. Lembramos que o objetivo não é fazer um estudo sobre essas

teorias, mas trazer à tona uma pequena discussão que acreditamos influenciar diretamente

na motivação dos alunos.

A saber, segundo Darsie (1999, p. 9): "Toda prática educativa traz em si uma teoria

do conhecimento. Esta é uma afirmação incontestável e mais incontestável ainda quando

referida à prática educativa escolar". Partindo desse pressuposto, buscamos discutir as

concepções de aprendizagem que ao longo do tempo serviram de base às práticas

pedagógicas, que são inerentes a tal discussão.

De forma que a psicologia, depois de ter ganhado forma a partir do século XX, pode

ser considerada como a mola propulsora do estudo do comportamento humano, que

consequentemente serviu de base fundamental na aplicação de métodos nas escolas,

buscando alcançar êxito na aprendizagem dos alunos. As três mais importantes tendências

teóricas da Psicologia deste século são consideradas por inúmeros autores como sendo o

Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanálise. Todavia abordaremos apenas o behaviorismo que

mais se destacou no campo da aprendizagem educacional, enquanto que a Gestalt e

Psicanálise pendeu mais para o lado do desenvolvimento humano.

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31

O Behaviorismo, segundo Bock, furtado e Teixeira (1997) nasceu com americano

John Broadus Watson (1878-1958), e teve seu desenvolvimento nos Estados Unidos, em

função de suas aplicações práticas tornou-se importante por ter definido o fato

psicológico, de modo concreto, a partir da noção de comportamento. De acordo com os

autores citados acima, Watson também defendia uma perspectiva funcionalista para a

Psicologia, isto é, o comportamento deveria ser estudado como função de certas variáveis

do meio. Certos estímulos levam o organismo a dar determinadas respostas e isso ocorre

porque os organismos se ajustam aos seus ambientes por meio de equipamentos

hereditários e pela formação de hábitos.

Portanto, o Behaviorismo dedica-se ao estudo das interações entre o indivíduo e o

ambiente, entre as ações do indivíduo (suas respostas) e o ambiente (as estimulações).

De acordo com relatos históricos o behaviorismo se expandiu a partir da análise

experimental do comportamento realizado por Skinner, que sucedeu Watson. Seus

estudos influenciaram vários psicólogos de outros países, inclusive o Brasil. O

comportamento operante denominado por Skinner, segundo os autores citados acima

dizem que “abrange um leque amplo da atividade humana — dos comportamentos do

bebê de balbuciar, de agarrar objetos e de olhar os enfeites do berço aos mais sofisticados,

apresentados pelo adulto”.

O comportamento operante reafirmado por Keller segundo Bock, Furtado e

Teixeira (1997, p. 48):

Inclui todos os movimentos de um organismo dos quais se possa dizer que, em

algum momento, têm efeito sobre ou fazem algo ao mundo em redor. O

comportamento operante opera sobre o mundo, por assim dizer, quer direta,

quer indiretamente.

Em suma, o behaviorismo se fundamenta a partir de experimentos que foram

realizados tantos em animais como seres humanos que lhes permitiram fazer afirmações

sobre o que chamaram de leis comportamentais. Ressalta Bock, Furtado e Teixeira (1997

p. 49) que:

Neste caso de comportamento operante, o que propicia a aprendizagem dos

comportamentos é a ação do organismo sobre o meio e o efeito dela resultante

— a satisfação de alguma necessidade, ou seja, a aprendizagem está na relação

entre uma ação e seu efeito.

De acordo com os autores esse estímulo reforçador é chamado de reforço.

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32

Todavia, Skinner demostrou através dos experimentos que o reforço pode ser positivo ou

negativo, em outras palavras, podemos dizer que o reforço positivo busca oferecer

satisfação interior, enquanto que o reforço negativo busca a retirada de algo indesejável.

Podemos observar que o behaviorismo foi muito utilizado nas escolas como meio

para o desenvolvimento da aprendizagem. Consequentemente os autores citados acima

afirmam, ao contrário do que muitos pensavam “não se pode, a priori, definir um evento

como reforçador. A função reforçadora de um evento ambiental qualquer só é definida

por sua função sobre o comportamento do indivíduo”.

Frente a esse conceito, os resultados esperados dessa prática, quando utilizada na

escola nem sempre teve êxito, logo buscou-se resolver o problema por outro caminho, o

reforço de punição. Segundo esse pensamento, que foi utilizado por muito tempo nas

escolas, à eliminação do comportamento punido só é definitiva se a punição for

extremamente intensa, razão pela qual essas práticas foram fortemente questionadas,

como relata Bock, Furtado e Teixeira (1997, p. 54):

As práticas punitivas correntes na Educação foram questionadas pelo

Behaviorismo — obrigava-se o aluno ajoelhar-se no milho, a fazer inúmeras

cópias de um mesmo texto, a receber “reguadas”, a ficar isolado etc. Os

behavioristas, respaldados por crítica feita por Skinner e outros autores,

propuseram a substituição definitiva das práticas punitivas por procedimentos de

instalação de comportamentos desejáveis.

Frente a essas práticas que no passado moldaram por um tempo o ensino, circula-

se ainda nos dias de hoje tais pensamentos que o aluno precisa ser “castigado para manter

a disciplina”. É claro que devido às críticas a esse tipo de comportamento como foi citado

acima, esses fatores não aparecem mais explicitamente, porém isoladamente os boatos

circulam ainda nos bastidores das escolas.

Como consequência da corrente empirista, que deu origem ao Behaviorismo,

Neves e Damiani (1997, p. 03) evidencia que:

O processo ensino-aprendizagem é centrado no professor, que organiza as

informações do meio externo que deverão ser internalizadas pelos alunos,

sendo esses apenas receptores de informações e do seu armazenamento na

memória. O modelo de ensino é fechado, acabado, livresco, no qual a noção

de conhecimento consiste no acúmulo de fatos e informações isoladas, imerso

em simbolismos, quadros cheios de cálculos e fórmulas ou definições a serem

memorizadas sem significado real, numa concepção de memória

associacionista/empirista, em que fatos são armazenados por associação e,

quando necessário, recuperados. Há uma preocupação excessiva em organizar

o ensino, baseando-se na idéia de que "ensinando bem" o aluno aprende. Todo

o conhecimento está fora do sujeito, portanto, no professor e nos livros. O

aluno é um recipiente vazio onde é necessário "despejar" o conhecimento.

Page 33: Nei Araújo Silva

33

De acordo com as autoras citadas acima, baseada nas ideias de Becker (1993, p.

04), nas aulas fundadas nessa concepção:

O professor fala e o aluno escuta; o professor dita e o aluno cópia; o professor

decide o que fazer e o aluno executa; o professor ensina e o aluno aprende.

Mas por que o professor age assim? Porque ele acredita que o conhecimento

pode ser transmitido para o aluno. Ele acredita no mito da transmissão do

conhecimento, enquanto forma ou estrutura, não só enquanto conteúdo. Isso

ocorre porque ele se baseia naquela concepção epistemológica que subjaz a sua

prática, segundo a qual o indivíduo, ao nascer, nada tem em termos de

conhecimento: é uma folha de papel em branco, ou, conforme já referido, uma

tábula rasa.

As autoras ressaltam ainda que essas considerações esclarecem,

consequentemente, o fracasso das ações pedagógicas oriunda da concepção empirista de

aprendizagem, as quais silenciam os alunos, submetendo a autoridade do saber dos

professores e das normas ditatoriais da instituição.

Esse conceito positivista de aprendizagem que acabamos de verificar é

inteiramente refutado, por outras correntes psicológicas, como a psicologia da gestalt, que

segundo (GIUSTA, 1985) faz extrema oposição ao atomismo behaviorista.

4.2.1 Teorias de Aprendizagem

Historicamente, podemos perceber que a psicologia influenciou diretamente o

andamento da aprendizagem. Todavia, o conceito de aprendizagem para a psicologia não

é tão simples assim. Ao observamos um professor que faz um discurso cientifico sobre

um determinado assunto e depois demostra algumas formas no quadro, faz os alunos

copiarem e responder uma quantidade de exercícios, podemos fazer uma indagação: será

que ouve aprendizagem? Qual o limite da aprendizagem? Qual a participação do aprendiz

no processo? Qual a natureza da aprendizagem? Há ou não motivação subjacente ao

processo?

Os estudiosos buscando trazer soluções teceram ao longo do tempo alguns

caminhos chamados de teorias de aprendizagem. Sendo assim, existe um número bastante

grande de teorias da aprendizagem. No entanto, essas teorias poderiam ser genericamente

reunidas em duas categorias: as teorias do condicionamento e as teorias cognitivistas. De

acordo com Bock, furtado e Teixeira, (1997) as teorias do condicionamento definem a

aprendizagem pelas suas consequências comportamentais e enfatizam as condições

ambientais como forças propulsoras da aprendizagem, ou seja, a aprendizagem é a

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34

conexão entre o estímulo e a resposta.

Já as teorias cognitivistas definem a aprendizagem como um processo de relação

do sujeito com o mundo externo e que tem consequências no plano da organização interna

do conhecimento (organização cognitiva). Segundo as autoras Bock, Furtado e Teixeira,

(1997), baseada na concepção de Ausubel, diz que as teorias cognitivistas estão

fundamentadas em:

Aprender é um processo que se dá no decorrer da vida, permitindo-nos adquirir

algo novo em qualquer idade. Masini, que se enquadra neste grupo, diz que a

aprendizagem é um elemento que provém de uma comunicação com o mundo

e se acumula sob a forma de uma riqueza de conteúdos cognitivos. É o processo

de organização de informações e integração do material pela estrutura

cognitiva. O indivíduo adquire, assim, um número crescente de novas ações

como forma de inserção em seu meio. (1997, p. 115).

Dentre esses dois conjuntos de conceitos, alguns pesquisadores desenvolveram

teorias sobre o ensino, procurando discutir e sistematizar o processo de organização das

condições para a aprendizagem. Jerome Bruner foi um dos que contribuiu para esse

pensamento que de certa forma influenciou diretamente no processo aprendizagem nas

escolas. Bock, Furtado e Teixeira (1997, p. 119) falando sobre Bruner dizem que:

Bruner concebeu o processo de aprendizagem como “captar as relações entre

os fatos”, adquirindo novas informações, transformando-as e transferindo-as

para novas situações. Partindo daí, ele formulou uma teoria de ensino.

Assim, para Bruner, os especialistas nas disciplinas devem auxiliar a estruturar o

conteúdo de ensino a partir do e essencial da matéria buscando conceitos mais gerais para

os particulares, aumentando gradativamente a complexidade das informações. Segundo

as autoras citadas acima, (1997, p. 119): Bruner propõe aos professores que:

Para que isto seja possível, é necessário que o professor apresente a matéria à

criança em termos da visualização que ela tem das coisas. Isto é, a criança

poderá aprender qualquer coisa, se a linguagem do professor lhe for acessível

e se seus conhecimentos anteriores lhe possibilitarem a compreensão do novo

conteúdo. O trabalho do professor é um verdadeiro trabalho de tradução: da

linguagem da ciência para a linguagem da criança.

Para as autoras, a aprendizagem na visão de Bruner não acontece de uma maneira

isolada, mas em uma atitude de investigação. Ele sugere que os professores utilizem o

método da descoberta como método básico do trabalho educacional. O aprendiz tem

plenas condições de percorrer o caminho da descoberta científica, investigando, fazendo

perguntas, experimentando e descobrindo. Todavia o professor e a peça fundamental

Page 35: Nei Araújo Silva

35

desse quebra-cabeça. Além do mais para que esse processo ocorra o professor precisa

conhecer o aluno profundamente. Bock, Furtado e Teixeira (1997, p. 119) complementa

o pensamento de Bruner afirmando que:

Bruner e Piaget podem auxiliar muito o professor na organização de seu

ensino, mas será sempre necessário que o professor conheça a realidade de vida

de seu aluno — sua classe social, suas experiências de vida, suas dificuldades,

a realidade de sua família etc. — para que o programa possa ter algum

significado e importância para ele; isto é, não basta conhecer teoricamente o

educando, é preciso conhecê-lo concretamente.

Desse modo, é preferível que o professor estabeleça continuamente uma boa

relação com os alunos, uma relação de companheirismo que contribua com a cooperação

dos alunos nas atividades que se propõem. Às vezes é necessário até que os alunos

participem das escolhas dos conteúdos estreitando os laços de amizade dos alunos com o

professor, para que estes participem ativamente no processo de aprendizagem. Essa pode

ser uma alternativa de sucesso na busca por motivação.

4.2.2 Motivação: elemento fundamental da aprendizagem na visão da

psicologia

Para a psicologia a motivação é considerada um assunto de grande complexidade.

Os criadores das teorias da aprendizagem acreditam que a motivação é o ponto de

ancoragem para o aprendizado. Mediante vários fatores, o tripé da motivação segundo

esses pensadores são: o ambiente, as forças internas e o objeto. Bock, Furtado e Teixeira

(1997, p. 121) explicam que:

A motivação é, portanto, o processo que mobiliza o organismo para a ação, a

partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o objeto

de satisfação. Isso significa que, na base da motivação, está sempre um

organismo que apresenta uma necessidade, um desejo, uma intenção, um

interesse, uma vontade ou uma predisposição para agir. Na motivação está

também incluído o ambiente que estimula o organismo e que oferece o objeto

de satisfação. E, por fim, na motivação está incluído o objeto que aparece como

a possibilidade de satisfação da necessidade.

Confrontando esta teoria com a prática, talvez seja esta a maior preocupação que

o ensino tem tido a de criar condições tais, que aluno “fique a fim” de aprender. Pois

segundo esta teoria precisa haver uma necessidade ou desejo, e o objeto precisa surgir

como solução para a necessidade. É daí que surge o desafio: criar a necessidade e

apresentar um objeto adequado para satisfação do aluno. Frente a essas premissas resolver

Page 36: Nei Araújo Silva

36

o problema é sem dúvida à tarefa mais difícil que o professor enfrenta. Por esta razão, as

autoras orientam algumas situações importantes que poderão ajudar para que haja

motivação na sala de aula. São elas:

a) O trabalho educacional parta sempre das necessidades que o aluno já

traz, introduzindo ou associando a elas outros conteúdos ou motivos;

b) Outra possibilidade, não excludente, é criar outros interesses no aluno.

Propiciando a descoberta. Bruner é defensor desta proposta. O aluno deve ser

desafiado, para que deseje saber, e uma forma de criar este interesse é dar a ele

a possibilidade de descobrir.

c) Desenvolver nos alunos uma atitude de investigação, uma atitude que

garanta o desejo mais duradouro de saber, de querer saber sempre. Desejar

saber deve passar a ser um estilo de vida. Essa atitude pode ser desenvolvida

com atividades muito simples, que começam pelo incentivo à observação da

realidade próxima ao aluno — sua vida cotidiana —, os objetos que fazem

parte de seu mundo físico e social. Essas observações sistematizadas vão gerar

dúvidas (por que as coisas são como são?), e aí é preciso investigar, descobrir.

Falar ao aluno sempre numa linguagem acessível, de fácil compreensão.

d) Os exercícios e tarefas deverão ter um grau adequado de

Complexidade. Motivar o aluno é um dos desafios do trabalho educacional.

Tarefas muito difíceis que geram fracasso, e tarefas fáceis que não desafiam,

levam à perda do interesse. O aluno não “fica a fim”.

e) Compreender a utilidade do que se está aprendendo é também

fundamental. Não é difícil para o professor estar sempre retomando em suas

aulas a importância e utilidade que o conhecimento tem e poderá ter para o

aluno. Somos sempre “a fim” de aprender coisas que são úteis e têm sentido

para nossa vida. Bock, Furtado e Teixeira (1997, p. 122). (Destaque, a, b, d, e,

nosso).

Mediante qualquer orientação é sempre um desafio para o professor proporcionar

ao aluno o desejo de aprender. Segundo Freire (1997) não há ensino sem pesquisa e

pesquisa sem ensino, portanto, independente do conhecimento que se tem o importante é

sempre buscar a “novidade” que prenderá a atenção do aluno, motivando-o para a

aprendizagem.

Page 37: Nei Araújo Silva

37

5 PROCEDIMENTOS DA PESQUISA

O presente trabalho é de caráter bibliográfico e qualitativo, no qual, está baseada

a análise documental, onde, segundo Lüdke e André (2008), podem-se revelar diferentes

aspectos do tema em questão, além de ser uma fonte rica e fornecer evidências que

fundamentam as afirmações do pesquisador.

Para tal pesquisa destacamos nosso entendimento a respeito de documento que

conforme o Dicionário Michaelis digital esclarece, refere-se ao escrito ou objeto que serve

de testemunho ou até mesmo prova, e tais elementos constituem de informação, por outro

lado, conforme Moroz et all (2006 p.79) “ [...] vários registros podem ser utilizados como

documentos: registros políticos [...] registros administrativos, [...], etc.” ainda nas

palavras de Moroz et all (2006 p.80) “ Os registros podem ser utilizados como fonte

confiável de dados, desde que alguns cuidados sejam tomados, como por exemplo,

certificar-se de que os documentos sejam autênticos [...].”

Conforme citado no parágrafo anterior, podemos a partir do entendimento da

escrita de Moroz classificar nossa fonte de dados como documentos, haja vista, que tais

dados são oriundos de registros administrativos, de forma que nossa coleta de dados foi

fundamentada nos diários de classe da Escola 31 de Março.

Para o desenvolvimento desta pesquisa, em relação ao que se refere à coleta dos

dados, daremos os seguintes passos: em primeiro lugar, identificar os alunos que foram

matriculados na escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio 31 de Março que

cursaram nessa mesma instituição o 4º, 5º e 6º anos. Nota-se novamente a necessidade de

realizar esta identificação a partir dos documentos oficiais da escola, ou seja, estamos

diante de uma etapa documental realizada nos diários dos respectivos anos, na intenção

de encontrar os alunos que constituem a intersecção nas respectivas turmas.

Em segundo lugar, buscamos junto à secretaria da escola, as notas finais da

disciplina de matemática dos alunos identificados no processo anterior. De posse dessas

notas inicia-se o processo de análise, identificando inicialmente se elas são constantes,

crescentes ou decrescentes, com o intuito de verificar se as notas oriundas do sexto ano,

que estamos considerando − o ano de transição das series iniciais do Ensino Fundamental

para as séries finais do Ensino Fundamental − pode ser ou não, um dos fatores que faz os

alunos investigados se sentirem desmotivados na aula de matemática.

Após a coleta desses dados, ou seja, as notas dos alunos que compõe esta pesquisa,

Page 38: Nei Araújo Silva

38

com o intuito de avançar alguns passos em nossa análise, fato que acreditamos ser

fundamental para a concretização deste trabalho. Indagamos que tais elementos seguem

no capítulo seguinte. Antecipo ao leitor que a análise estudada adiante apresentará um

caminho reflexivo, proporcionando a cada um a visão da à importância ou não ao fator

motivação no processo de ensino e aprendizagem de matemática.

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39

6 ANÁLISE DOS DADOS

Nesse capítulo, iremos desenvolver nossa análise, sendo que para isto, destinamos

três subtítulos. No primeiro, destacamos o porquê da escolha da Escola 31 de Março,

algumas de suas características e inserimos cinco fotos para que o leitor possa visualizar

a realidade estrutural da escola em questão. No segundo, descrevemos alguns pontos

relevantes de dois documentos intitulados Projeto Político Pedagógico e Regimento

Interno, para possibilitar o entendimento dos procedimentos adotado nesse ambiente

escolar. Já no último subtítulo, abordaremos a descrição do 6º ano do Ensino

Fundamental, analisando as notas de 8 (oito) alunos que estudaram o 4º, 5º e 6º anos nessa

instituição.

6.1 A Escola 31 de Março

A escolha da escola 31 de Março para o desenvolvimento deste trabalho se

justifica devido algumas situações, sendo assim, para melhor entendimento destacamos

duas delas: a primeira, trata-se da localização da mesma, já que está localizada próxima

a minha residência (eu pesquisador), assim, tratamos este ponto como relevante, pois,

consideramos o fator de localização próxima como um elemento positivo, uma vez que

tal proximidade possibilita conhecer melhor a comunidade e consequentemente o aluno

matriculado dessa instituição que é parte dessa comunidade. A segunda situação, é o fato

de que sou (eu pesquisador) funcionário efetivo da Escola 31 de Março, de maneira que

novamente tratamos esse fator como positivo, pois, como funcionário acredito ter acesso

mais facilmente e atestar fidedignidade dos documentos necessários para o

desenvolvimento desta pesquisa.

A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio 31 de Março, tem sua

localização na Rua Vinicius de Moraes nº 1147 – Bairro São Pedro. Sua fundação está

sob o decreto nº 877 e foi inaugurada no dia 13 de setembro de 1978. A referida

instituição, recebeu o nome de “31 de Março” para homenagear o fato político ocorrido

no dia 31 de março de 1964, conhecido como a “Revolução de 64”, quando as forças

militares assumiram o Comando Político Econômico da Nação Brasileira.

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Imagem 01- Foto da Fachada da Escola 31 de março. Acervo do autor data 04/06/2014

Atualmente a escola conta com 10 salas de aulas, sendo uma sala de direção, uma

sala de apoio pedagógica, uma sala para secretaria, uma sala de professores, uma sala da

equipe de apoio, uma sala de contabilidade, uma sala de informática, uma sala de vídeo,

uma sala para biblioteca, uma cozinha e ainda uma quadra poliesportiva.

Imagem 02- Foto das dependências da Escola 31 de março. (Superior esquerda – Sala de Informática;

superior direita Sala de Aula; Inferior esquerda – Sala de Vídeo; inferior direita – Biblioteca). Acervo do

autor data 04/06/2014.

Page 41: Nei Araújo Silva

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As salas de aulas da escola têm de quatro a cinco ventiladores, mas, às vezes, não

funcionam todos. Quando surgem pequenos problemas nos ventiladores mais continuam

funcionando provocam fortes ruídos e os alunos tem que suportar o tremendo barulho que

eles causam até serem substituídos. Com o clima quente da região norte e a falta de ar-

condicionado se vê muita reclamação por parte dos alunos e professores.

As modalidades atendidas pela escola são: o Ensino Fundamental − com duração

de 09 anos − sendo do 1º ao 5º ano no período matutino e 6º ao 9º ano no período

vespertino; o Ensino Médio Regular no período vespertino e o Projeto Seriado Semestral

no período noturno. A média de alunos é de 200 (duzentos) a 250 (duzentos e cinquenta)

por turno, com exceção ao período noturno que não ultrapassa 180 (cento e oitenta)

alunos.

6.2 Projeto Político Pedagógico e Regimento Interno da Escola 31 de

Março

De acordo com o Projeto Político Pedagógico da Escola 31 de Março, as

autoridades: Diretora, Vice-diretora, Coordenação Pedagógica, e Orientadores

Educacionais, viram-se na obrigação de elaborar um Projeto Pedagógico Escolar, a fim

de verificar os aspectos não conhecidos da realidade escolar, avaliar o seu trabalho e

solucionar as deficiências existentes. Este documento derivou-se de um trabalho coletivo

que teve a participação da comunidade escolar, isto é, professores, equipe técnica,

administrativa, educativa, alunos e pais ou responsáveis.

Quanto a proposta pedagógica escolar, está fundamentada em princípios que

Page 42: Nei Araújo Silva

42

norteiam a Educação Nacional conforme a Constituição Federal de 1988 e a Constituição

do Estado de Rondônia/LDB 9394/1996.

De forma que o projeto político pedagógico escolar é um documento que tem

como objetivo principal nortear todo o processo pedagógico escolar, no planejamento das

ações pedagógicas, nos seus diversos aspectos e dimensões, conforme o local no qual a

escola está inserida, para melhorar a qualidade e a eficiência do ensino aprendizagem dos

alunos.

Passamos agora, a descrever o Regimento Interno da Escola 31 de Março que foi

homologado no dia 15 de fevereiro de 2013 por Daniel Gláucio Gomes de Oliveira,

Secretário Adjunto da SEDUC (Secretaria de Estado da Educação de Rondônia)

constando 78 (setenta e oito), páginas das quais foram divididas em VI (seis) títulos, de

maneira que os títulos foram divididos em capítulos e os capítulos subdivididos em

seções. O presente Regimento interno da Escola visa regulamentar a estrutura

administrativa, didático-pedagógica e disciplinar, como rege o artigo 1º (primeiro).

Haja vista que a estrutura desse documento foi elaborada pela diretora, vice-

diretora, coordenação pedagógica, associação de pais e professores e com a colaboração

de alguns membros da sociedade local. O regimento está embasado na Constituição

Federal do Brasil de 1988, pois o mesmo se trata das observações e cumprimento das leis,

ressaltando periodicamente a importância dos direitos e dos deveres de todos que, por

alguma razão, tem um vínculo com essa Entidade Escolar.

6.3 Descrição do 6º ano do Ensino Fundamental analisado nesta pesquisa

Como foi relatado no início, agora em outras palavras, o objetivo deste trabalho é

analisar a partir das notas dos alunos, sé é possível verificar se há desmotivação no aluno

quando ele passa do 5º ano para o 6º ano do Ensino Fundamental. É importante ressaltar

que de maneira geral no contexto educacional a nota é utilizada como parâmetro para

progressão ou retenção do aluno. Partindo deste pressuposto, associado ao que disseram

os autores em relação a motivação, podemos concluir que se o aluno está motivado,

certamente o aprendizado se perpetua de forma mais articulada, e é natural que alcance

notas boas, caso contrário, às notas serão ruins. Desconsiderando outros fatores inerentes

a aprendizagem, podemos observar que se as notas do aluno estão decrescendo, pode-se

julgar que está havendo desmotivação e desinteresse na aprendizagem por parte do

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43

mesmo.

De acordo com o procedimento do Ensino Fundamental das séries iniciais, ou seja,

do 1º ao 5º ano, o aluno tem um único professor para todas as matérias no decorrer de

todo o ano. É natural que no decorrer do ano o aluno crie laços de afetividade com o

professor que terá maior facilidade em ensiná-lo, e consequentemente o aluno maior

facilidade em aprender. Por outro lado, quando o aluno passa para o 6º ano, se depara

com uma variedade de matérias e vários professores, assim, por essa razão, pode ser que

haja desmotivação.

Empiricamente, a maioria dos pedagogos que trabalham com o Ensino

Fundamental afirma que essa transição afeta o desenvolvimento da aprendizagem dos

alunos. Todavia, fica evidente ao observamos a taxa de aprovação e reprovação da escola

31 de Março na tabela 02 a seguir que, há um défice de aprendizagem, mostrando assim,

na linguagem deste trabalho, a falta de motivação.

Tabela 02 - Indicadores Educacionais da Escola 31 de Março – 2013 (dados cedidos pela secretária da

escola, Programa Gescolar)

1º a 5º 6ºa 9º Ensino Médio

Alunos por Turma (média) 27 35 34

Docentes com Curso Superior (%) 100% 100% 100%

Taxa de Aprovação (%) – Ano: 2013 94,7% 71,7% 83,3%

Taxa de Reprovação (%) – Ano: 2013 5,3% %28,3 16,7%

Taxa de Abandono (%) – Ano: 2013 1,3 % 4,6% 2,0%

Distorção Idade/Série (%) – Ano: 2013 27% 30% 6,9%

Ao olharmos os dados da tabela 02- Indicadores educacionais da Escola 31 de

Março, destacamos três fatores de análise: O primeiro trata-se de observar que do 6º ao

9º anos a taxa de reprovação foi 23% acima da taxa de reprovação do 1º ao 5º anos, ou

seja, se considerarmos 100 (cem) alunos matriculados nas séries finais (6º ao 9º) cerca

de 28 (vinte e oito) reprovaram, enquanto, se consideramos 100 (cem) matriculados na

séries iniciais (1º ao 5º) apenas 5 (cinco) reprovaram, isso nos leva a concluir que o índice

de reprovação das séries finais é quase 5 (cinco) vezes maior que o índice de reprovação

das séries iniciais.

O segundo fator nos remete a taxa de abandono que indica cerca 4,6% nas séries

finais (6º ao 9º) do Ensino Fundamental, ou seja, mais que o triplo de desistência em

relação as séries iniciais. O terceiro fator destaca, a quantidade média de alunos por turma.

Enquanto, nas séries finais (6º ao 9º) tem-se uma média de 35 (trinta e cinco) alunos e nas

séries iniciais (1º ao 5º) somente 27 (vinte e sete), ou seja, cerca de 29% a mais de alunos

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em sala de aula nas séries finais.

Diante destes três destaques, inicialmente com o índice de reprovação, levando

em consideração que na educação brasileira o fator responsável pela aprovação ou

reprovação é justamente o rendimento nas notas de cada aluno. Em seguida, o índice de

abandono que trata justamente da desistência do aluno na escola, fator este que pode ou

não estar relacionada ao seu rendimento de notas. E por fim, a quantidade de alunos em

sala, que pode influenciar no rendimento. Dessa forma, voltamos a questionar, o baixo

rendimento dos alunos do 6° ano na disciplina de Matemática: Falta de motivação?

Passamos então a discutir a questão acima citada, e para isso, destacamos que a

escola 31 de Março em comparação com as outras escolas do município de Ji-paraná é

considerada pequena, e por esta razão só tem uma sala do 6º ano que será estudado nesta

pesquisa. Devido a necessidade de obter as médias das notas do aluno durante todo o ano

para fundamentar a pesquisa, buscamos dados na turma do 6º ano de 2013, uma vez que

a turma do ano vigente não tinha notas médias dos alunos lançadas na secretária.

A turma observada do 6º ano possui 25 (vinte e cinco) alunos, sendo 11 (onze) do

sexo masculino e 14 (catorze) do sexo feminino. Todavia, desses 25 (vinte e cinco) alunos

só foi possível estudar 8 (oito), sendo 4 (quatro) do sexo masculino e 4 (quatro) do sexo

feminino. A razão pela qual foram escolhidos esses 8 (oito) alunos, foi devido ao fato de

que precisávamos encontrar os mesmos alunos que cursaram o 4º, 5º e 6º anos do Ensino

Fundamental. De forma que para explicar melhor, na turma do 4º ano, 5 (cinco) alunos

foram transferidos e um desistente. Quando esses alunos do 4º ano passaram para o 5º

ano, novamente 5 (cinco) alunos foram transferidos. Em seguida na passagem do 5º ano

para o 6º ano, dois foram transferidos, um desistente e dois reprovados. Em resumo, dos

25 (vinte e cinco) alunos do 6º ano, apenas 8 (oito) alunos estiveram em todas as três

turmas mencionadas acima, ou seja, não foi possível conseguir as notas em sequência de

todos os alunos do 4º, 5º e 6º ano, ficando no final apenas com 8 (oito).

Com o intuito de facilitar a visibilidade das notas e observar o rendimento

mensurado, a partir das mesmas foram constantes, crescentes ou decrescentes, nos dando

assim, a possibilidade de destacar se esse rendimento pode ser um dos fatores que

desmotivam os alunos dessa série, assim, inserimos a tabela 03 que segue:

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Tabela 03- Quadro de notas dos alunos do 6º ano da escola 31 de Março (dados cedidos pela Secretária da

Escola)

Nº Nome fictício 4º ano 5º ano 6º ano

01 Maria 6,1 6,0 6,5

02 Josefa 8,5 8,1 7,0

03 Tereza 8,0 8,4 7,6

04 João 6,3 6,8 6,5

05 Pedro 7,6 8,3 6,6

06 Manoel 6,1 7,6 5,1

07 Joaquim 9,1 9,6 9,6

08 Vicente 6,2 7,4 7,3

Média 7,2 7,7 7,0

De acordo com os dados da Tabela 03- Quadro de notas dos alunos do 6º ano da

escola 31 de Março, podemos observar que a aluna Maria, por razões desconhecidas,

termina as séries iniciais com notas: 6,1 seguida de 6,0, todavia, termina o 6º ano com

meio ponto a mais que nos anos anteriores. Mesmo que ela mostre um crescimento de

meio ponto, não podemos garantir que esse crescimento continue nos próximos anos do

Ensino Fundamental. Por conseguinte, podemos observar que a nota 6,5 atribuída à aluna

não faz com que ela seja julgada reprovada, no entanto, é considerada no campo

educacional uma nota baixa.

Tendo como base a ideia de Bzuneck (2009), que a motivação intrínseca nasce

com o ser humano que, se aflora com o intuito de hesitar suas capacidades buscando

sempre novos desafios. Tal crescimento tendo como base a aluna Maria, poderá ser

instigado pela comunidade educacional (professor, coordenador, diretor), na intenção de

dar continuidade ao crescimento, uma vez que ela já possui uma motivação interior. Ainda

podemos destacar os dizeres de Huertas (2001): que se o aluno não for envolvido com a

motivação extrínseca, como por exemplo, elogios, prêmios etc., o aluno tende a ir

automaticamente perdendo o ânimo para estudar. Sendo assim, olhando para a realidade

da aluna Maria observamos a necessidade de se aplicar o que Hurtas (2001) diz, ou seja,

que faltou esse envolvimento para despertar o gosto da aprendizagem, uma vez que os

estudos revelam que o segredo motivacional está em conciliar a motivação intrínseca e

extrínseca dos alunos.

A segunda aluna Josefa (Tabela 03), no 4º ano tem sua nota igual a 8,5 e no 5º ano

8,1, porém quando termina o 6º ano sua nota obtida é igual a 7,0. Nesse caso, cabem

algumas indagações: o que deve ter acontecido no decorrer dos anos que afetou essa aluna

a ponto de decrescer 1,5 pontos? Será que houve pouca motivação? Será que os conteúdos

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ministrados não tiveram uma sequência lógica para ela? De forma que na intenção de se

aproximar ao entendimento de uma possível resposta para tais questionamentos

recorremos a Bzuneck (2009), por afirmar que em sala de aula, os efeitos imediatos da

motivação do aluno consistem em ele envolver-se ativamente nas tarefas pertinentes ao

processo de aprendizagem. Baseado nessa afirmação pode-se imaginar que para essa

aluna faltou esse envolvimento, e tal falta de envolvimento nos leva a observar que um

dos fatores para o baixo rendimento, trata-se do défice ou a diminuição da motivação, que

por sua vez, pode ter sido causada justamente pela ausência de uma sequência lógica dos

conteúdos para a aluna.

Quando olhamos para Tereza, terceira aluna da (Tabela 03), percebemos que o

desempenho educacional era crescente e quando foi para o 6º ano houve um declínio.

Sendo que na escala de 0 a 10, como são utilizadas as notas na escola, talvez essa

regressão do 5º ano para o 6º ano para essa aluna não cause muitos danos, todavia, se essa

regressão continuar nos anos seguintes, pode ser prejudicial ao seu processo de

aprendizagem.

Já no término das séries inicias podemos observar que houve bom desempenho da

aluna, como consta as suas notas de 8,0 no 4º ano e 8,4 no 5º ano. Atenuante a isso, para

que o aluno não perca a motivação Bzuneck (2009) propõe que o próprio aluno se esforce

no processo de aprender com persistência especificamente quando as tarefas parecerem

ser mais exigentes. Considerando que a disciplina de matemática para a maioria dos

alunos tem se tornado o “bicho papão”, o professor pode interferir trazendo em sua

metodologia assuntos que despertem o interesse dos alunos, como relata Guimarães

(2001). Desse modo, alunos como Tereza tende a manter-se motivados em aprender, pois

Leite (2007) complementa que é muito mais prazeroso aprender aquilo que nos interessa.

O aluno João, segundo os dados da (Tabela 03), tem sua nota considerada baixa,

já que o limite para que o aluno passe de um ano para o outro deve ser igual ou superior

a seis. Dentre os oito alunos estudados fica evidente que esse é o que tem obtido notas

mais baixas nos seguintes anos 4º, 5º e 6º ano. Mediante esse fato, o que podemos indagar

sobre o desempenho desse aluno? A psicologia tem ajudado a responder perguntas desse

tipo e tem direcionado alguns caminhos, por meio das teorias de aprendizagem. Segundo

alguns autores como, por exemplo, Bock, Furtado e Teixeira (1997) baseado nos estudos

de Jerome Bruner − criador da teoria de ensino − definem que a motivação, dentre outros

elementos, é a mola propulsora da aprendizagem. Contudo, quando a prática pedagógica

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47

está apoiada apenas pela prática tradicional, na qual segundo Becker (1993) não há

relação entre docente e discente, já que apenas o professor é o detentor do saber, os alunos

terão dificuldades no campo motivacional. Essa relação entre professor e aluno é

fundamental para que o aluno aprenda e consequentemente melhore suas notas. Por

conseguinte, Ripplinger e Brancher (2006) afirmam que para esta relação acontecer, é

importante o professor levar em consideração o conhecimento cognitivo prévio dos

alunos, ministrando os conteúdos a partir desse princípio e, às vezes, o próprio aluno pode

participar das escolhas dos conteúdos.

Outra situação relevante, acontece quando analisamos o aluno Pedro que no 4º

ano tem sua nota igual a 7,6, e quando passa para o 5º ano, sua nota sobe para 8,3 e

posteriormente no 6º ano sua nota diminui para 6,6. Não é possível encontrar aqui o

elemento causador que levou esse aluno a regredir, todavia, não podemos negar que

possivelmente houve desmotivação do aluno em aprender. O contraste do baixo

rendimento do aluno Pedro do 5º ano para 6º ano precisa ser discutido entre pais e

professores e nas reuniões que tratam desse assunto, pois genericamente podemos

verificar que esse procedimento está acontecendo com outros alunos, como consta a

(Tabela 03), especificamente quando saem das séries inicias para as séries finais do

Ensino Fundamental.

Segundo os dados do aluno Manoel, suas notas foram: 6,1 no 4º ano, depois 7,6

no 5º ano e, igualmente o aluno João, sua nota diminui para 5,1 no 6º ano, com uma

diferença: considerando sua média é reprovado. Assim, situações como esta, permeiam o

ambiente escolar e o aluno passa a ser observado como se ele fosse totalmente responsável

por sua falta de interesse em estudar, apoiando-se na crença tradicional de que o aluno é

responsável pela própria motivação. Por outro lado, os cognitivistas, como por exemplo,

Skinnir, Guimarões e Braghirolli observam que a motivação mesmo que parta do próprio

sujeito, está estritamente relacionada às relações que este estabelece com o meio exterior,

logo, podemos averiguar que o aluno estudado, que no 5º ano teve nota acima da média,

reprovou no 6º ano, foi de certa forma influenciado por alguma situação que lhe causou

falta de motivação. Como esclarece Luna (2008) a falta de motivação é causada por

características pessoais do aluno e também no contexto da escola. Para a autora é aí que

o educador pode intervir.

O aluno Joaquim dentre os outros estudados, foi o que teve maior desempenho na

aprendizagem. Podemos constatar tal efeito a partir de suas notas 9,1 no 4º ano, 9,6 no 5º

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48

ano e 9,6 no 6º ano. Situações como esta pode gerar duas vertentes: a primeira é que

muitos se apoiam nesses fatores para afirmar o velho discurso, “por que fulano aprende e

ciclano não? Porque não tem interesse em aprender”, ou seja, é mais fácil culpar o aluno

do que fazer uma autoavaliação. Por outro lado, a segunda situação advém de Marinho e

Fiorelli (2005) afirmando que, uma prática pedagógica serve para uns alunos e para outros

não. Logo, (FITA 2003) enfatizam que o professor precisa conhecer as particularidades

de cada aluno, considerando-as ao elaborar seu planejamento de ensino. Os estudos desses

autores poderão servir de propostas, no intuito de proporcionar a motivação, fator

fundamental para diminuir o baixo rendimento das notas dos alunos na disciplina de

matemática.

O último aluno estudado, intitulado Vicente, tem sua nota no 4º ano 6,2 que é

considerada baixa, pois está muito próxima ao limite atual que é considerada 6,0. No

entanto, ao passar para o 5º ano sua nota aumenta para 7,4 e no 6º ano permanece

praticamente estável com 7,3, isso nos mostra que mesmo havendo aumento da nota na

transição do quarto para o quinto ano, sua passagem para o sexto remete um

decrescimento, considerado pouco, porém visível.

De modo geral, a média das notas dos 8 (oito) alunos estudados como mostra a

tabela é 7,2 no o 4º ano, 7,7 no 5º ano e 7,0 no 6º ano. Podemos ver que quando os alunos

passam do 4º para o 5º ano, a média cresce, contudo, quando passa para o 6º ano, a média

diminui. Considerando, esses fatores, e analisando o que diz os autores nos quais esta

pesquisa foi baseada, podemos observar que de certa forma está havendo falta de

motivação, quando os alunos passam do 5º para o 6º ano. Essa afirmação tem fundamento,

se olhamos para os reflexos que a falta de motivação ocasiona, que nesse caso é a queda

frequente das notas dos alunos na disciplina de matemática.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como objetivo geral dessa pesquisa é refletir acerca da falta de motivação dos

alunos matriculados no 6º ano na disciplina de Matemática do Ensino Fundamental na

Escola Estadual 31 Março, observando diretamente o baixo rendimento em suas notas.

Para tal análise elencamos algumas considerações a seguir: a primeira, é que ao longo

deste trabalho, buscamos proporcionar ao leitor uma visão do procedimento do ensino no

Brasil, mediante fatos históricos comprovando que foi dada pouca importância a

educação, confirmando o que diz Ghiraldelli Júnior (2006) que em 1920 o ensino público

não era prioridade do governo e 75% da população em idade escolar ou mais se

encontrava analfabeta. Podemos observar também que existe ainda um grande contraste

quando se refere às leis que regem o ensino brasileiro e a efetiva prática existente no país.

A segunda consideração, é que diante da problemática aqui questionada,

observamos que para a psicologia a motivação é o elemento fundamental da

aprendizagem. Verificamos também, de modo geral, que as teorias do condicionamento

e as teorias cognitivistas serviram como apoio às práticas pedagógicas.

Como terceira deferência, tendo em vista as notas dos alunos do 4º, 5º e 6º ano do

Ensino Fundamental na disciplina de matemática, relatamos alguns reflexos concernentes

à falta de motivação. Ao analisarmos a média dos três anos decorrentes dos alunos,

verificamos que quando eles passam do 5º para o 6º ano, há uma defasagem de suas notas:

de 7,7 para 7,0, ou seja, há um baixo rendimento no sexto ano se comparado com o quinto

ano. Tal defasagem tem como um dos pontos negativos o acarretamento da falta de

motivação.

Por fim, destacamos que a transição dos alunos matriculados nos anos inicias, para

os anos finais do Ensino Fundamental, em que o primeiro tem como responsável em sala,

um único professor e o segundo um professor para cada disciplina, ocasiona um baixo

rendimento se comparada nota por nota, assim, podemos relatar que um dos fatores

responsáveis por tal fato, é a falta ou a diminuição da motivação. Logo, como afirmamos

a motivação ou nesse caso a falta dela é um dos fatores existentes, de maneira que

deixamos nesse momento a proposta para que o leitor busque pesquisar qual ou quais os

outros fatores possivelmente afetaram esse rendimento nessa transição.

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