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NEI SILVEIRA DE ALMEIDA

O ELO PERDIDO

UMA ABORDAGEM SOBRE A EDUCAÇÃO FAMILIAR QUE, SEGUNDO O AUTOR, NOS ÚLTIMOS 25 A 30

ANOS PERDEU-SE ENTRE AS MUDANÇAS DE COSTUMES PROMOVIDAS NO MUNDO

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BIOGRAFIA DO AUTOR

Brasileiro, 62 anos, viveu e vive neste País e fez parte da geração dos anos 60, denominada a “geração de ouro”, que transformou consideràvelmente os costumes. Presenciou os efeitos destas transformações e convenceu-se que a forma desorganizada como essas transformações aconteceram trouxeram conseqüências imprevistas à sociedade brasileira, sobretudo ocasionando um processo de inversão de valores nas relações pais e filhos. Editou um livro O AMOR QUE FICOU, em 2007, propondo a adoção de um novo modelo educacional para o País e embora tenha merecido elogios discretos de âmbito individual por parte de algumas personalidades dos meios educacionais, jornalísticos e de vários profissionais de outros segmentos, sofreu um enorme descaso por parte da imprensa, da área educacional e entidades correlatas. Assistiu a instauração de um regime de Ditadura Militar no País que de forma desastrosa destruiu com uma cultura de disseminação, formação e aglutinação de idéias e que legou ao seu povo o medo de expressar-se e a incomoda condição de apatia e conformismo. Assistiu a retoma da “democracia” comandada por um bando de politiqueiros profissionais que se instalaram no poder e mergulharam o País em um mar de corrupções, falcatruas, cambalachos e maracutaias, instituindo cargas tributárias elevadíssimas, levando instituições à falência, distribuindo esmolas políticos eleitoreiras produtoras de parasitas, deixando seu povo mal assistido nas áreas da saúde, segurança e educação, bem como mantendo a população mergulhada em um obscurantismo providencial às suas manobras político eleitoreiras. Bem, Nei Silveira de Almeida é natural de Santo Dumont/MG, cursou escola técnica de mecânica e faculdade de ciências econômicas. É aposentado, casado pela segunda vez e mora em Belo Horizonte/MG.

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O ELO PERDIDO

DEDICATÓRIA: Dedico esse livro à minha filha Maura Corrêa de Almeida Pedagoga, formada pela UFMG, e que diversas vezes comentou comigo sobre a importância do aluno que chega à escola tendo recebido adequadamente os primeiros referenciais educacionais advindos da base familiar.

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O ELO PERDIDO “O que afoga as boas sementes não é o mato, mas a negligencia do camponês.” (Confúcio – Filosofo chinês)

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INDICE

PARTE DISCRIMINAÇÃO PÁG.

INTRODUÇÃO 6

1 NOS TEMPOS EM QUE “FICAR” ERA PARA SEMPRE

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2 O QUE ERA PARA SER 28

LIMITES 33

FILHOS – IÇAMI TIBA 35

CAZUZA- FILME 37

BILL GATES 39

UMA BREVE AULA DE SELEÇÃO DE PESSOAL

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TENHO VERGONHA DE MIM 45

MATÉRIAS JORNALÍSTICAS 46

COMENTÁRIOS DO AUTOR 49

3 RETRATOS DE UM PAÍS 50

AUXÍLIO RECLUSÃO 52

IMPUNIDADE 54

PLANO DE SAÚDE DOS SENADORES 56

MADRASTA PÁTRIA VIL 60

O QUE VEM DE FORA 62

SOU REACIONÁRIO 65

COMENTÁRIOS DO AUTOR 69

4 O MUNDO À MINHA FRENTE 70

ANÁLISE, DISCUSSÃO E REFLEXÃO 75

5 NÃO SE PODE GENERALIZAR 80

CONCURSO DE REDAÇÃO 82

CONCLUSÃO 84

ADENDO – UM NOVO MODELO EDUCACIONAL

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INTRODUÇÃO “Ser mestre não é resolver tudo com afirmações, nem dar lições para que os outros aprendam, etc; ser mestre é verdadeiramente ser discípulo.” (Kierkegaard – Teólogo e filósofo dinamarquês)

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O ELO PERDIDO INTRODUÇÃO A rigidez dos costumes levou toda uma geração a levantar-se e voltar-se contra aquilo que denominavam de castração. E, utilizaram-se da música e da moda para rebelarem-se. Surgiram as bandas de rock-and-roll com suas músicas irreverentes, com seus figurantes trajando-se de forma diferente dos costumeiros ternos e gravatas que os componentes de conjuntos e orquestras tradicionais ostentavam. Os cabelos desciam até os ombros, partes do corpo se mostravam desnudas e surgiam as primeiras tatuagens. Os fãs e admiradores começavam a copiá-los na maneira de se vestirem e aprendiam nas letras os primeiros gritos de liberdade. Os jovens da época ansiavam libertar-se do julgo dos pais que consideravam rigorosos em demasia. Enquanto isso surgia a minissaia que colocava por terra as longas saias que desciam até o meio das canelas das mulheres, protegidas pelas famosas meias três quartos que cobriam o restante das pernas femininas. Pernas à mostra sem o uso das meias e metade das coxas em evidência, as moças demonstravam sua rebeldia embaladas pelas canções que cada vez mais ecoavam mundo afora. No princípio houve muito confronto entre pais e filhos, mas os segundos não se curvavam fàcilmente, insurgindo-se com veemência. Muitos pais resistiam duramente, enquanto alguns cediam rendendo-se mesmo depois de muita insistência. Era o início dos anos 60, uma década de muitas transformações e mudanças no mundo. Marcada por avanços tecnológicos e retrocessos na política internacional. Período de muitos conflitos, regimes ditatoriais e incertezas quanto aos rumos do mundo. Em Terras Brasileiras instaurava-se uma ditadura militar que perdurou até os meados dos anos oitenta,

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ocasião em que artistas, cantores, compositores, bem como profissionais da imprensa, foram perseguidos e muitos banidos do solo pátrio. Aqueles que prevaleceram foram submetidos a uma censura rigorosa que acabou por não só calar a voz, mas destruir com a cultura da insurreição. Hoje esses instrumentos de formação de opiniões, de aglutinação de idéias acham-se fragmentados e desarticulados, movidos pela cultura do medo e da repressão que não se desfez depois da queda do regime. Enquanto isso as gerações dos anos 60 e 70 avançavam na sua proposta de quebrar à cultura da “castração dos costumes”, e também tornavam-se adultos e prestes a constituir famílias, prometendo que seus filhos jamais seriam vítimas das rígidas imposições a que estiveram submetidos, tanto no seio familiar, como no âmbito das escolas. Contudo, esse processo se deu de uma forma desorganizada, sem o mínimo estabelecimento de padrões e normas, cada qual adotando critérios próprios que o que se deu foi uma total inversão de valores nas relações pais e filhos, onde os filhos passaram a se impor rìgidamente e a se prevalecerem de forma intransigente, acintosa e ameaçadora sobre seus pais. E a maioria chega hoje à escola desprovida de um referencial de educação suficientemente capaz de sofrerem a incursão à vida de forma eficaz e inequívoca, e com pais impondo aos educadores cobranças, intransigências e às vezes até ameaças, chegando-se ao cúmulo da adoção de uma política de vida fácil para o estudante onde independente do seu aproveitamento o mesmo avança indistintamente as etapas seguintes. É preciso resgatar esse ELO PERDIDO da sociedade brasileira, restaurar valores que se deterioraram pelo equívoco cometido. Lógico que dentro de novos padrões, pois os tempos mudaram, a realidade do mundo mudou, as pessoas mudaram. Mas, para isso há de se analisar, refletir, discutir. Reunir diversos segmentos da sociedade, estabelecer um consenso em torno do assunto. Usar artifícios de aglutinação e formação de idéias eficazes para disseminar uma proposta que venha atender esses objetivos. Escrevi esse livro com o intuito de apresentar essa

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proposta, estimular a reflexão e provocar essa discussão. Por isso, convido aos senhores leitores acompanharem as argumentações que se seguem.

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PARTE 1

NOS TEMPOS EM QUE “FICAR” ERA PARA SEMPRE “Quando uma criança se comporta mal, é quase sempre erro de quem a educa.” (Eva Ibbotson- Escritora e novelista britânica)

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PARTE 1 NOS TEMPOS EM QUE “FICAR” ERA PARA SEMPRE

Eu pertenço àquela geração que atingiu a adolescência nos anos 60. ou melhor, transitou da puberdade para a adolescência quando efervesciam no mundo as bandas de rock-and-roll com seus protestos contra os costumes castradores da liberdade juvenil e contra a Guerra do Vietnã. Os hippies com o seu movimento fundamentado no lema “Paz e Amor”, desfilavam em solo norte-americano o seu protesto contra o consumismo, sua aversão contra uma guerra estúpida onde morriam seus compatriotas no limiar da mocidade, ecoando cânticos de liberdade e enveredando perigosamente pelos caminhos das drogas. EEUU e URSS enfrentavam-se na corrida espacial e na Guerra Fria, disputando palmo a palmo a hegemonia mundial com suas ideologias e sistemas sócio-político-econômicos decorrentes. Vivendo então, em uma cidade de porte médio no interior de Minas Gerais, pertencendo a uma família de classe média, eu era exatamente o filho do meio de uma prole de cinco, cujo pai era um bancário e a mãe uma professora de nível primário, que jamais exerceu a profissão. Papai era um homem rígido e exigia de nós, seus filhos, o irrestrito cumprimento de obrigações. Além de freqüentarmos assiduamente a escola, tínhamos regras e tarefas bem definidas como, cumprir rigorosamente os horários de refeições, cuidar da organização e limpeza de nossos quartos e pertences pessoais, respeito aos mais velhos, não fazer uso de palavras de baixo calão, manter regularmente a higiene bucal e corporal, arrumar a cama ao levantar e chegar em casa, ao final da tarde ou à noite, no horário pré-determinado, cujos horários variavam em função da idade. Minhas tarefas residiam em ficar à disposição e atender prontamente à mamãe para as eventuais compras

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na quitanda, padaria ou mercearia, entre às 13 e 15 h, e enxugar as vasilhas do jantar, que eram lavadas por ela e minha irmã, dois anos mais velha. Mamãe controlava a ida e volta da escola, as tarefas escolares e os boletins. Era ela quem reportava a papai o andamento escolar de cada um. A disciplina do dia à dia era fiscalizada por ela, que além dessas missões de controle, também cuidava da organização e limpeza da casa, assim como da alimentação. Tinha uma empregada doméstica como auxiliar, mas papai não admitia que outra pessoa se ocupasse da preparação alimentar, não fosse ela. Exímia cozinheira, descendente de italianos, mamãe foi criada em uma cidadezinha do interior mineiro e tinha uma docilidade ímpar, embora enérgica e de pulso firme na condução de suas atribuições domésticas. Nós valorizávamos muito nossos pais. Reconhecíamos o quanto se empenhavam com nosso bem estar, conforto e educação. Todos os filhos matriculados em boas escolas, bem vestidos, bem alimentados e sendo cuidados com muito zelo. Freqüentávamos constantemente o dentista, éramos assistidos por médicos ao primeiro sinal de alerta e desfrutávamos de lazeres com regularidade. Muitas vezes, eu me perguntava como meu pai dava conta de cumprir com tantas despesas sem jamais reclamar. Enquanto mamãe levantava da cama com o dia ainda escuro, preparava nosso café matinal, acordava docemente a cada um, ajudava a organizar o material escolar, preparava nossa merenda, fiscalizava os uniformes, levava os mais novos até a porta da escola, cuidava do preparo do almoço, acompanhava as tarefas escolares de cada um, bordava, costurava, orientava os banhos, preparava o jantar e lavava as vasilhas, para então poder sentar-se à beira do rádio, e algum tempo depois frente à TV, para ouvir (na primeira era) ou assistir(na segunda) à sua novelinha. E, só depois que o último estivesse sob as cobertas, é que se dirigia ao seu quarto, sem manifestar qualquer sinal de descontentamento. Quantas vezes vi mamãe levantar-se em meio à madrugada ante o choro de um, a tosse de outro e o resmungo de outro mais. Sentinela,enfermeira,

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curandeira, encorajadora, confortadora. Era mamãe quem distribuía as chineladas, os tapas nos traseiros e os puxões de orelhas. Papai não levantava as mãos para nós, salvo uma única vez em que distribuiu belas palmadas no traseiro de meu irmão mais velho, por algo que ele não havia feito e sim eu, em cujo dia urinei nas calças para lhe confessar ter sido eu o autor do delito. Todavia, o seu tom de voz, o seu franzir de sobrancelhas e o seu olhar, eram muito mais doloridos, nos faziam tremer do primeiro ao último fio de cabelo, nos gelavam a alma e nos deixavam inertes, apavorados e envergonhados. Ele sabia punir com maestria. Impunha-nos um castigo, dependendo da gravidade da arte feita, que consistia em um determinado período sem poder sair de casa, salvo para ir à escola ou cumprir alguma obrigação autorizada por ele. Isso significava ausência das peladas, do cinema, das festinhas e das paquerinhas. Além do mais, a semanada ficava suspensa naquele período. Mas o pior é que durante a fase que compreendia o castigo, ele só falava o estritamente necessário, ficava sério, carrancudo, não tocava seu violão, não solfejava a sua flauta transversal e nem mergulhava os olhos sobre os livros, as suas verdadeiras paixões. Aquilo era de cortar o coração. Quando estava por findar o castigo imposto, ele nos sentava à sua frente, olhos nos olhos, e de forma séria e sensata falava o quanto tinha sido difícil para ele tomar aquela atitude, revelando o quanto havia ficado decepcionado com a gente, porque havia imputado a punição e esclarecendo que tinha sido muito mais uma atitude de amor já que seu intuito era fazer de nós homens dignos e honrados, e aquele período de reclusão era uma forma de nos levar à reflexão e uma oportunidade de nos corrigirmos.

Para finalizar, enfatizava que um dia iríamos entender exatamente as razões que o haviam levado a ser tão rígido, naquele momento. Só a partir de então o brilho de seus olhos voltava a reluzir e os acordes de seu violão novamente enchiam o cair da noite de melodias. Quando me tornei pai, eu já havia compreendido isso há muito tempo, já sabia o

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grande pai que havia tido e agradecia a Deus por ter me mandado para aquele lar. Eu fui seu filho mais rebelde, o mais indisciplinado, o mais irresponsável. Fui eu o mais castigado, o que sentou-se mais vezes à sua frente e que teve de olhar mais fundo dentro de seus olhos. Meu grupinho de amigos pouco se diferenciava de mim. Por pequenas margens de idade, que variavam entre poucos meses ou no máximo de um a dois anos, pela constituição numérica da família, pela profissão dos pais e pelo fato de que alguns, em menor quantidade, tinham mães que trabalhavam fora. Os costumes familiares eram os mesmos, pais severos, mães controladoras e regimes disciplinares austeros. Acompanhávamos os fatos do País e do cenário mundial com atenção. Apareceram os Beatles, os Rolling Stones e outras bandas. Martin Luther King lutava contra a segregação racial nos EEUU. Nikita Kurschev na URSS, Marechal Tito na Iugoslávia, Fidel Castro em Cuba, Máo Tsé Tung na China, buscavam consolidar o socialismo e o comunismo. O homem pisava na Lua, John F. Kennedy foi assassinado em Dallas. Surgia a minissaia e as adolescentes subiam as barras das saias quando chegavam às ruas e as desciam para retornarem às suas casas. Morriam Janis Joplin e Jimmy Hendrix por overdose, espantando o mundo. Entre amigos acompanhávamos e discutíamos o mundo lá fora, enquanto a Ditadura Militar instalava-se em solo pátrio. Devorávamos os jornais e as revistas especializadas. Eram muitos acontecimentos em curto espaço de tempo. Procurávamos nos informar, nos atualizar, formar opiniões, mas eram nos esclarecimentos de nossos pais que nos pautávamos e que defendíamos pontos de vistas enfaticamente, depositando em seus conhecimentos a confiança irrestrita. Papai era um dos mais liberais entre os pais de nossa turma. Ele conversava conosco, seus filhos, sobre os fatos e acontecimentos do mundo e do País, e salientava sempre que preferia que aprendêssemos em casa o que as ruas pudessem nos ensinar mal. Orientava-nos sobre as questões políticas, financeiras e sociais, falava de sexualidade (com reservas), e sobre tudo o que era dito em

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casa recomendava discrição nas conversas porta afora. Não havia assunto, de que natureza fosse, que papai não demonstrasse relativo conhecimento, e nos estimulava constantemente a dedicarmos aos livros parte de nosso tempo, colocando à nossa disposição sua invejável e numerosa biblioteca que cultivava desde os tempos de mocidade .E foram durante os períodos de castigo que me aprofundei em devorá-los e adquirir enorme intimidade com eles. Alguns de meus amigos reclamavam de seus pais e da falta de diálogos com eles, e citavam o meu como um pai aberto e amigo. Invariavelmente, durante o jantar que era servido pontualmente às 18 h, ao qual papai não permitia atrasos e ausências, é que se discutiam os assuntos relativos à família, ditadas as normas dos bons costumes e eram permitidas as perguntas que suscitavam dúvidas ou o desconhecimento que tínhamos sobre qualquer assunto. Podia-se perguntar qualquer coisa e as respostas soavam inequivocamente, sem subterfúgios e sem rodeios, seguidas de comentários esclarecedores, salvo aquelas sobre sexualidade, que eram tratadas com reservas ou posteriormente, à parte com mamãe, no caso de minha irmã; ou com papai, em grupo com os rapazes ou individualmente, conforme as circunstâncias. Eram nessas conversas que papai nos transmitia os valores da honestidade, da integridade, da moral e da ética. Durante a semana, em razão da diversidade de entradas e saídas de escola e de trabalho, raramente nos reuníamos no mesmo horário de almoço. Entretanto, aos almoços de sábados e domingos estávamos todos presentes, e estes se diferenciavam não só pelo cardápio, que apresentava pratos especiais, como pela descontração. Nesses dias, papai contava casos de sua infância, da adolescência e da então atualidade. Falava com orgulho de seus pais, irmãos e amigos.Tinha sempre uma piada nova pra contar, ria, sorria e nos perguntava o que havíamos feito durante a semana. Interpelava um, outro e ainda outro, até ouvir o que cada um tinha pra contar. Mamãe não deixava por menos, a todo instante tinha alguma coisa pra

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dizer. Os casos de que mais gostava de narrar eram os de seu avô, um velho italiano sisudo e autoritário, mas de imenso coração. Fora um dos fundadores da pequena cidade do interior mineiro onde viviam e a que chegou ao final do século XIX com esposa e alguns de seus filhos, outros já nasceram por ali. Liderou a política local do então distrito de um município vizinho, lutou pela sua emancipação, era comerciante, tornou-se delegado de polícia e um dos principais manda-chuvas do lugar. Narrava sobre seu pai, um farmacêutico que falecera prematuramente e falido, cuja falência, segundo o que se constatou, ocorrera em razão das demasiadas concessões de crédito à população pobre e carente, deixando sua mãe com seis filhos menores, o que a obrigou desdobrar-se em inúmeras atividades para sustentá-los e educá-los. Fazia tortas, doces e salgados para bares e festas, tornou-se a agente local dos Correios e Telégrafos e do único posto telefônico da cidade. Ouvíamos os casos de cada um, contávamos os nossos, ríamos, nos divertíamos, às vezes nos emocionávamos, respirávamos e sentíamos-nos família. Assim terminávamos uma semana e iniciávamos a outra.

Era mamãe quem fiscalizava nossas roupas, verificava os nossos cabelos e olhava se nossos sapatos estavam limpos, quando saíamos rumo ao cinema, a um passeio e às festinhas de finais de semana. Enquanto percorria os olhos sobre nossa indumentária ou percebia o asseio pessoal, ia fazendo as recomendações sobre o comportamento, a educação e os princípios. Para nós, os rapazes, que éramos quatro, alertava sobre o respeito às moças, nos lembrando sempre que tínhamos uma irmã dentro de casa. E terminava por dizer que nossa boa apresentação e bom comportamento eram exigências das quais ela não abria mãos, pois se nos apresentássemos e/ou nos comportássemos mal, certamente as pessoas iriam se referir à vergonha que eram os filhos de Dona Beatriz, seu nome; e se fizéssemos boa figura com certeza seríamos elogiados como os filhos do Sr. Ivan, o nome de meu pai. Quando meu irmão mais velho completou dezoito anos, ganhou a chave de casa, e aquilo

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me causou uma revolta porque me achava no mesmo direito, embora acabasse de fazer apenas quatorze primaveras. Esse descontentamento, lógico, ficou apenas embutido em meu âmago, revelado na rebeldia em chegar sistematicamente após às 21 h, horário limite que papai havia fixado para minha permanência na rua, enquanto meus colegas tinham um horário um pouco mais flexível: 22 h. Isso gerou um conflito entre papai e eu, e tanto bati o pé que ele resolveu me liberar até as 22 h , mas que eu continuei a atravessar de duas à três vezes por semana. Depois de várias admoestações e ameaças de não me abrir a porta quando excedesse o horário, chegou o dia em que isso aconteceu. Ele não só não abriu a porta, como proibiu que alguém o fizesse.Minha solução foi bater à porta de meu vizinho e amigo, Chiquinho, que morava com sua tia velha e surda, pois seus pais residiam em uma fazenda e ele viera para a casa da tal tia para freqüentar a escola. No dia seguinte, fiquei escondido atrás de um muro, de uma casa próxima à nossa, esperando papai sair para trabalhar, e após fazê-lo, cheguei em casa com as roupas em desalinho, amassadas e sujas, os cabelos atrapalhados, os olhos vermelhos(fiquei cerca de meia-hora esfregando-os com as mãos), trêmulo e relatando uma suposta perseguição, por dois marginais, que me obrigou esconder em um matagal de um terreno baldio, onde passara a noite ao relento. Mamãe me abraçou e chorou. Ordenou-me tomar um banho, lanchar e repousar. Quando papai chegou, trancaram-se em seu quarto e por lá permaneceram por quase uma hora. Foi assim que me safei, daquela vez, de mais um castigo e que me possibilitou a promessa de ganhar a chave de casa quando completasse dezesseis anos, mediante um acordo que até lá não merecesse mais nenhum castigo e que cumprisse irrepreensivelmente os horários fixados pelas normas da casa. O que não aconteceu, cuja bendita chave só conquistei após haver dado baixa do exército. Meus atos de rebeldia se manifestavam de muitas outras formas e os conflitos com papai eram freqüentes . Ele foi muito duro comigo em diversas ocasiões, em outras seu coração amolecia e me passava a mão na cabeça, mas jamais perdeu o controle e a autoridade sobre mim. Eu aprontava tanto, que cheguei ao

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cúmulo de perder o ano letivo justamente na última série, do então, ginasial. Sem maiores cerimônias comuniquei a ele, no início do ano subseqüente, que iria descansar da escola naquele período. Pois bem, no outro dia ao retornar do trabalho sentou-me à sua frente e me ordenou que procurasse o Sr. José do Monte, na Gráfica Manchester, de propriedade do mesmo, onde eu iria trabalhar à partir do dia seguinte, pois lá em casa quem não estivesse estudando teria de trabalhar para pagar a cama, a comida e a roupa lavada. Entre outras determinações, comunicou que minha semanada estava suspensa até retornar aos estudos e que a minha contribuição para as despesas fora fixada em 70% de minha remuneração na gráfica. Isso significava que os 30% com os quais iria ficar representavam menos da metade da somatória mensal de minha semanada, me obrigando a reduzir despesas pessoais e me privando de muitos prazeres do consumismo juvenil. Comecei na gráfica como aprendiz de compositor de chapas, que era uma das funções mais específicas e técnicas da empresa. Com o passar do tempo eu ia sendo despromovido. Passei a impressor, auxiliar de guilhotinista, bloquista, até que um dia , um tal de Sr. Mattos, o gerente do estabelecimento empurrou-me uma bicicleta, daquelas com uma roda menor e uma carregadeira na frente, dizendo -me que a partir daquela data eu iria fazer as entregas de pedidos aos clientes. Eram pacotes e pacotes de impressos, distâncias enormes e uma entrega atrás da outra. No fim do dia eu estava exaurido pelo cansaço, as pernas doloridas e uma sonolência tão imensa, que mal chegava em casa tomava um banho, jantava e mergulhava na cama, da qual só saia ao amanhecer para voltar àquela jornada exaustiva e fatigante, só me restando os domingos para recuperar as energias perdidas. Foi nessa época que tive o contato direto com a marmita, que levava debaixo do braço para o trabalho, e passei a conhecer a chapa de aquecimento, onde 30 a 40 minutos antes do horário do almoço os funcionários as depositavam “pra esquentar a bóia”. Era uma chapa de latão apoiada sobre duas colunas paralelas de tijolos, e que sob a mesma encontravam-se dois tubos galvanizados

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cheios de furos, acoplados a uma mangueira de plástico, que por sua vez embocava--se em um botijão de gás. Josué, o subgerente, é quem controlava a chapa de aquecimento. E, sentado a um canto do pátio externo da gráfica, eu devorava a comidinha preparada cuidadosamente por mamãe, ouvindo as queixas e lamúrias dos demais empregados, sobre a falta de dinheiro, as dificuldades em suprir suas necessidades e de suas famílias. Ali, um falava da mulher doente e da dificuldade para obter os medicamentos nos postos de saúde, outro falava das prestações das roupas que comprara e que estavam em atraso, enquanto um outro mais dizia não saber como ia encomendar a confecção dos óculos para o filho mais novo, a quem levara ao oftalmologista, filho da patroa de sua esposa, que lhe concedera um desconto na consulta, por caridade. Muitas vezes via alguns deles lacrimejando durante o turno de trabalho e outros saírem ao final do expediente rumo aos botecos para afogarem suas mágoas nos copos de bebidas. Mal acabou agosto, tive uma conversa franca com papai, relatando os fatos por mim vividos e presenciados naquela gráfica, informando-lhe que retornaria aos estudos no próximo ano. Mediante essa conversa e minha decisão, ele me autorizou a pedir demissão do emprego e restabeleceu minha semanada, ao mesmo tempo em que programou aulas particulares diárias com ele para revisão das matérias do ano perdido, dedicando-me todas as noites duas horas de acompanhamento e deixando uma carga de exercícios que me ocupavam considerável parte do dia seguinte, cujos exercícios ele corrigia em minha presença na noite imediatamente posterior. Quando dei baixa do exército, onde permanecera por dez meses e alguns dias, ele me convidou para tomarmos uma cerveja em um bar perto de nossa casa. Neste dia me contou que minhas despromoções haviam sido combinadas com seu amigo, o dono da gráfica, e que a intenção em me empregar naquela estabelecimento era para tomar contato com a verdadeira realidade da vida e adquirir a consciência que sem estudos o homem fica condicionado a uma situação de dificuldades e privações. E ainda, neste dia, relatou-me que quando meu

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irmão mais velho estava prestes a alistar-se no Exército Brasileiro, acorrera a um outro amigo seu, um coronel da ativa, intercedendo em favor de facilitar sua dispensa, já que ele, meu irmão, iria cumprir naquele ano o estágio curricular da escola técnica que estava cursando. Ao mesmo tempo me confidenciou que recorrera ao mesmo amigo, o tal coronel, para que eu fosse incorporado a todo custo, de preferência em uma unidade onde fosse exigido o máximo rigor de disciplina. E foi assim que fui dar com os meus costados em um regimento de infantaria do Exército Brasileiro Hoje, me lembro que amaldiçoei todos os dias, a cada dia que lá dentro passei, acreditando que estava perdendo um ano de minha vida, e somente algum tempo depois passei a agradecer todos os dias em que lá permanecera, pois não demorou muito para que eu entendesse o quanto havia ganho por toda a minha existência, reconhecendo que aquela fora a melhor escola que freqüentei em toda a minha vida.

Papai faleceu aos 70 anos de idade, quando faltava apenas um para comemorar junto à mamãe as suas Bodas de Ouro. Nesse período de convívio assistimos, algumas vezes, a uma ou outra discussão por coisas banais. Algumas vezes, um ou outro, ou os dois, de cara fechada, sem se dirigirem a palavra, mas esses períodos de intempéries não duravam mais que um dia ou dois. Logo os víamos sorrindo, pronunciando palavras de mútuo carinho e se desdobrando em atenções recíprocas. Embora papai se revelasse muito mais temperamental, aquelas pequenas desavenças não nos preocupavam, pois sabíamos que tudo era da boca pra fora, no íntimo conhecíamos o seu imenso coração e o enorme sentimento que nutria por mamãe e vice-versa. Mamãe nos deixou doze anos mais tarde, em um Natal, coincidentemente o único em que conseguira reunir todos os quatro filhos vivos, pois havíamos perdido quatro anos antes o nosso irmão caçula. Ela faleceu, repentinamente, devido um infarto quatro dias depois de uma consulta ao cardiologista, que mencionara estar a sua pressão arterial assemelhada a de um jovem de 18 anos.

Éramos uma família feliz, unida e coesa.

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Isso ficava evidente nas épocas de festividades, sobretudo Natal, que era divertido e farto. O movimento dos presentes começava em outubro. Papai fazia tudo com critério e antecipação, deplorava a mania nacional da última hora.. As guloseimas e quitutes natalinos começavam a ser preparados com quinze dias de antecedência, iniciando pelas compras, passando pela confecção dos não perecíveis como, doces, bombons, compotas, panetones, etc; culminando com um dia antes no preparo dos condimentos e acessórios, para finalmente começarmos a aspirar o aroma dos cozidos e assados que exalavam da cozinha, tentadores. no derradeiro dia. Aos maiores de dezoito anos o vinho era permitido com moderação e aos menores os sucos e refrigerantes. Uma hora antes das badaladas da meia-noite, que sinalizavam o início da ceia, mamãe reunia-nos em uma corrente circular a mãos dadas em meio à sala de visitas, recitava uma mensagem de Natal e dirigia uma oração que repetíamos em coro. Imediatamente entoávamos em uníssono a infalível e insubstituível “Noite Feliz”. Findo este ritual, papai distribuía os presentes, abraçávamos-nos e beijávamos-nos entre desejos mil, aguardando as badaladas para o início da ceia. Fartávamos-nos entre risos, alegrias e contentamentos. Papai e mamãe contavam histórias dos Natais de suas infâncias, revelando as saudades dos tempos em que se reuniam com seus pais e irmãos em igual alegria. Do mesmo modo adentrávamos o Ano Novo, passávamos pela Páscoa, comemorávamos os dias das mães e dos pais, e os aniversários em família.

Em nossas reuniões familiares a música sempre esteve presente, ora pelos clássicos, ora pelas românticas serestas, vezes outra pelo samba ou pelo chorinho, tudo dependendo do momento ou da época. E, quando manifestações musicais como o rock, o twist e o chá-chá-chá começaram a fazer sucesso nas paradas musicais, papai deu a cada um de nós o equivalente ao preço comercial de cinco LP's (os antigos LP's de vinil) para que à nossa livre escolha adquiríssemos as músicas de nossas preferências. E foi assim que Elvis Presley, Bill

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Halley, Neal Sedaka, Beatles, Rolling Stones, Chubby Checker, Little Richard, Ritchie Vallens, Celli Campelo, Ronnie Cord e tantos outros adentraram-se ao nosso lar misturando-se à Beethoven, Bach, Tchaikovsky, Chopin, Nat King Cole, Frank Sinatra, Ray Conniff, Paul Muriat, Connie Francis, Bert Kaempfert, Maysa Matarazzo, Nelson Gonçalves, Sílvio Caldas, Orlando Silva, entre tantos outros, tornando o nosso acervo musical em um dos mais variados e ecléticos de nossa rua e bairro, dando-nos também a certeza que as opções de escolhas em nosso lar eram respeitadas e que a liberdade de opinião era um valor que se prezava em casa.

Naquela época eram muito comuns as comemorações caseiras de aniversários, para as quais se convidavam parentes, amigos, vizinhos e colegas de escola, e jamais alguém que não fosse convidado comparecia. A figura do “penetra” inexistia. Caso houvesse algum primo ou amigo em visita à casa de algum convidado, a autorização para levá-lo era quase uma exigência irrestrita. Ninguém se comportava mal, não se destruíam pertences da residência do aniversariante e o respeito entre anfitriões e convidados era irrepreensível. À cada festinha em nossa rua ou em rua próxima a nossa casa, uma das primeiras providências a serem tomadas era o empréstimo de vários de nossos discos, que retornavam absolutamente, um a um, sem arranhões e com suas capas intactas. Eram nessas festinhas que surgiam os primeiros flertes, o dançar de rostos colados e os primeiros “pegar na mão”. O primeiro beijo viria depois de algum tempo, ou no escurinho do cinema ou frente ao portão da pretendida. Eu sou do tempo em que quando um homem dizia para uma mulher que queria ficar com ela, subentendia-se FICAR PARA SEMPRE, que a conquista de um coração se dava por valores muito mais significativos do que os materiais e amar era entregar a alma, jamais o sinônimo de uma mera transa.

Acredito que esse processo de inversão de valores e referenciais humanos são o resultado de uma somatória de fatos e acontecimentos que incidiram sobre o ambiente familiar. O desenvolvimento feminino que cada vez

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mais reduziu o tempo de permanência da mulher em suas funções domésticas, lhe concedeu a desvinculação da submissão e das relações de dependência ao marido. A forma desorganizada como as gerações dos anos 60 e 70 lutaram e conquistaram mudanças, sem diretrizes bem definidas e sem o devido controle e estabelecimento de limites. Os avanços tecnológicos e a forma como eles foram colocados à disponibilidade da sociedade, sobretudo da juventude. Essas evoluções científicas acabaram por substituir a participação dos pais, pela falta de tempo para o convívio familiar em razão dos compromissos profissionais e da luta pela sobrevivência em um país marcado pelos desajustes e desequilíbrios sócio-político-econômicos, mecanizando em demasia os jovens em formação, subtraindo-lhes o desenvolvimento de valores e referenciais dentro de um processo natural associado à sensibilidade. Nesta era de informática, quando o homem dispõe de um universo virtual à sua inteira disposição, fico me perguntando para onde ele caminhará. Às vezes me preocupo, pois percebo que quanto mais avança a tecnologia, mais retrocede a sensibilidade. Aí, aprofundo-me nas divagações e questionamentos. Em alguns momentos chego a pensar o quanto me foi benéfico ter vindo ao mundo na era do rádio de válvulas, da velha vitrola d e bolachas de 78 RPM e sem TV. Enquanto a TV ganhava o mundo, aquela de seletor de canais rotativo, em P&B e válvulas, eu brincava de cabra cega, pique bandeira, soltava pipas e nadava pelado nas lagoas e regatos. Enquanto o rádio de válvulas era substituído pelo rádio de placas eletrônicas, eu ia ao circo ver os palhaços, malabaristas e bailarinas; ao parque de diversões andar de roda gigante, trem fantasma e montanha russa; e às quermesses das igrejas, jogar argolas, atirar ao alvo e bolas de meia nas pirâmides de latas. E, enquanto as antigas vitrolas davam lugar às eletrolas de discos de vinil em 33.1/2 RPM, com doze ou mais faixas, eu roubava beijinhos no escurinho do cinema, caminhava de mãos dadas em volta das pracinhas e corria deliciosamente os olhos por sobre os livros, suspirando e deleitando-me em romances, dramas, ficções,

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histórias e poemas. Sim, corri pelos matos, subi em árvores, bati peladas, brinquei de roda, pulei fogueiras. Fiz serenatas, contei e recontei estrelas. Despertei sentimentos e os nutri também, apaixonadamente, enquanto o mundo à minha volta ingressava e avançava na era da eletrônica e, posteriormente, da informática. Quando comecei a acessar gradativamente os benefícios gerados pela escalada da tecnologia, estava enraizado e arraigado pelas emoções, fisgadas e instaladas pela inigualável construtora da alma, a sensibilidade. Vieram tantas evoluções e as alcancei com essa alma lapidada e esse coração transbordando sensações. Por isso acho que é preciso fazer o homem entender que jamais desassocie a sensibilidade da inteligência, a emoção da tecnologia. Que antes de aprofundar seus filhos no mundo mecânico e eletrônico , deva conduzi-los pelo infinito da alma, pelos caminhos das artes e pelo traçado dos livros, aos sons das batidas do coração, à carícia dos ventos soprados ao rosto nas manhãs iluminadas, tão generosamente ofertadas pela natureza. Quando deixei para trás minha cidade, em busca de meu espaço profissional em outra que me oferecia condições para tal, os anos 70 estavam às portas. Lembro-me que da minha turma de bairro, que era o mais populoso da cidade, daquela parte adjacente à rua onde morava, conviviam com assiduidade cerca de duzentos ou mais adolescentes, entre moças e rapazes. Deste universo somente o Henriquinho, cuja mãe ficara viúva prematuramente e vivia com um amante, um sujeito boêmio e beberrão, que durante o dia perambulava pelos bares do bairro e à noite a espancava sistematicamente; e o Alberto, filho de uma mulher desquitada, cujo amante era um caminhoneiro, que aparecia quando muito dois finais de semana por mês; não pertenciam a famílias constituídas pela estrutura do casamento e do convívio regular que este propiciava. Hoje, em um universo de mesmas proporções,o número de adolescentes dentro desta mesma condição de estrutura familiar estão em significativa menor quantidade e aqueles que vivem fora do lar estruturado e regularmente constituído estão em quantidade muito maior.

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Naqueles tempos, quando ainda não havia o divórcio, a mulher desquitada era vista com maus olhos, discriminada e ridicularizada. A que se aventurava a ter um amante, essa então era uma “sacrílega”. O homossexualismo existia, mas feroz e igualmente discriminado, dentro de uma discrição quase que absoluta. E foram contra esses tipos de tabus e preconceitos, que a minha geração se lançou em protesto e buscou desmistificar, mas em contra partida não soube estabelecer limites para a liberdade de conquistas alcançadas e o resultado é essa degeneração em que estamos mergulhados. Entre as reivindicações dos adolescentes daquela época, uma das mais enfatizadas era o estabelecimento do diálogo franco e aberto entre pais e filhos, mas o que era para ser construtivo e esclarecedor, acabou por se tornar um conflito de difícil solução e voltou a ser unilateral, só que da forma inversa. Hoje os filhos se interpõem aos pais, ditam as regras, se opõem aos seus conselhos e orientações, agem por conta própria e os julgam uns ignorantes que nada sabem, desprezando suas experiências e conhecimentos. Foi daí que surgiram novos termos como “babaca”, “CDF”, “mané” e tantos outros depreciativos. E agir com sensatez, exercer preceitos de moral elevada, praticar uma conduta ética e cumprir irrepreensivelmente com deveres e obrigações passou a ser vergonhoso, garantir rótulos inusitados e alijar muitos jovens do convívio com os grupinhos e rodas dos pseudo-pretensos espertos, os “massas”, os “legais”.

Esses “massas” e/ou “legais”, que pensam que tudo sabem, mas na realidade sabem muito pouco, no curso dos últimos 25 a 30 anos acabaram por constituir uma considerável parte da sociedade brasileira mal formada e mal informada, mergulhada no obscurantismo, e resultaram em uma enorme fração desta mesma sociedade sem a devida capacidade de organização, participação e intervenção no contexto sócio-político-econômico do País. Compõem, certamente, uma grande parte dos desempregados, igualmente de uma sociedade cuja distribuição de rendas e riquezas é altamente

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desequilibrada e desproporcional, amargando uma carga tributária elevadíssima, cujo retorno é infinitamente aquém à contribuição em segurança, educação e saúde. Assiste inerte e impotente a uma administração pública incompetente e corrupta, e ao crescimento acelerado e progressivo da criminalidade e violência, das quais é potencial vítima e nem mesmo tem a consciência e a exata dimensão de que é indiretamente o agente desse quadro insuportável e absurdo. Provavelmente, os “babacas”, os “CDF‟s” e os “manés”, sejam a minoria que conquistou melhores condições no contexto sócio-econômico, mas que se encontra penalizada pelos efeitos ocasionados, em primeiro lugar pela incapacidade geral de organização da sociedade, e em segundo lugar porque ser honesto, digno e honrado neste País, confere muito mais desmerecimentos do que merecimentos.

Evidentemente, que os resultados dessa condição caótica e assustadora que vive a Nação, não advêm total e absolutamente da decadência da base educacional familiar. Existem outras razões, mas a fragilização desse referencial certamente contribuiu significativamente. Por isso, estou levantando essa discussão, dando este depoimento pessoal e colocando em evidência a minha crítica. Em seguida estou colhendo depoimentos de profissionais especializados e outros, de pais das mais variadas condições sócio-econômicas e conjugais, bem como de jovens universitários, do ensino médio e fundamental, para que procedam suas análises, dêem seus depoimentos, opinem, sugiram, participem. O objetivo é colocar o tema em discussão, com a expectativa de tirar conclusões que permitam, quem sabe, definir diretrizes capazes de estabelecerem um projeto eficaz e orientador para a reintegração deste elo ao contexto social nacional. Dentro de novos moldes, que seja, pois os tempos mudaram, a realidade do mundo mudou, o País mudou, os costumes mudaram, valores mudaram, e o intuito não é criar leis e normas, mas gerar um processo de conscientização.

Nas próximas partes constarão os

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depoimentos, análises e opiniões de pessoas que se predispuseram a dar sua colaboração, para que sejam igualmente analisadas e discutidas, permitindo uma evolução do processo e a formação de uma corrente nacional sobre o tema, talvez um primeiro passo para a reconstituição e reintegração desse ELO PERDIDO.

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PARTE 2

O QUE ERA PRA SER Nesta gestão de conflitos, o pior não é a imaturidade em lidar com os conflitos, mas a tentativa de sufocá-los.” (Renata Corrêa de Almeida – Socióloga brasileira)

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PARTE 2 O QUE ERA PARA SER Evidentemente, que os resultados dessa condição caótica e assustadora que vive a Nação, não advêm total e absolutamente da decadência da base educacional familiar. Existem outras razões, mas a fragilização desse referencial certamente contribuiu significativamente.

Era meu objetivo levantar essa discussão, dando este depoimento pessoal e colocando em evidência a minha crítica. Em seguida colheria depoimentos de profissionais especializados e outros; de pais das mais variadas condições sócio-econômicas e conjugais; bem como de jovens universitários, do ensino médio e fundamental; para que procedessem suas análises, dessem seus depoimentos, opinassem, sugerissem, participassem. O objetivo era colocar o tema em discussão, com a expectativa de tirar conclusões que permitissem, quem sabe, definir diretrizes capazes de estabelecerem um projeto eficaz e orientador para a reintegração deste elo ao contexto social nacional. Dentro de novos moldes, que seja, pois os tempos mudaram, a realidade do mundo mudou, o País mudou, os costumes mudaram, valores mudaram, e o intuito não é criar leis e normas, mas gerar um processo de conscientização.

Entretanto, quando comecei a buscar esses depoimentos, deparei-me com situações das mais variadas formas. Muitos entenderam o objetivo e se predispuseram a colaborar emitindo pareceres conforme sua análise e visão do proposto. Contudo, houve muita gente que fez questionamentos das mais variadas formas, muitas delas surpreendentes. Posso destacar:

1) Aqueles que demonstraram um enorme receio em opinar, muito mais por insegurança pessoal que qualquer outra coisa.

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2) Aqueles que demonstraram um grande receio em opinar pela posição que ocupam no cenário educacional, temendo represálias por parte daqueles a quem direta ou indiretamente estão subordinados.

3) Aqueles que discordaram absolutamente com a minha proposição e abordagem, e que não entenderam que discordar também fazia parte do processo e forneceria elementos importantíssimos para as devidas reflexões e discussões sobre o assunto, enriqueceria a temática. Acredito que aí existe um misto de insegurança também com a própria posição.

4) Aqueles conservadores tradicionalistas que estão acomodados em posições que lhes propiciam uma pequena parcela de poder(chamados também de “pequenas autoridades”) e têm um verdadeiro pavor de mudanças, acreditando que elas ameaçam a sua posição.

5) Aqueles comprometidos com o poder constituído e que sabem que a manutenção desse obscurantismo nacional lhes permite cômoda ocupação desse espaço dentro do poder, e que manter a Nação nessa condição é propício aos seus anseios.

Bem, eu não queria abrir mãos do meu objetivo e tive que mudar o projeto deste livro, pois acredito que esse ELO PERDIDO é um fator de enorme responsabilidade no processo de inversão de valores a que a sociedade brasileira está acometida, dificulta o processo educacional escolar e tem gerado uma sociedade cada vez mais destituída do suficiente conhecimento para o exercício da vida e da cidadania dentro de padrões morais e éticos irrepreensíveis.

Portanto, tomei a decisão de mudar a dinâmica de abordagem, buscando outros artifícios que passo a discorrer, acrescentando que tenho recebido inúmeras críticas, sendo rotulado de reacionário e sofrendo um descaso bastante acentuado. Contudo, estou decidido a prosseguir não vou me

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render sob hipótese alguma, convicto de que estou no caminho certo, e o simples fato de perceber que estou incomodando já me dá essa certeza, assim como inúmeras opiniões favoráveis me motivam acentuadamente. Outrossim, firmo-me na minha própria consciência que tentei contribuir para a busca de novos caminhos para a Nação.

Aqueles que não admitem que profissionais de outra área que não seja a educacional opinem a respeito do assunto, deveriam refletir que eu como todo e qualquer cidadão passou por várias escolas e viveu o processo educacional, portanto, mesmo que desconheça as técnicas e as teorias decorrentes, vivenciou o processo, participou efetivamente do mesmo. Talvez não domine a terminologia referente à metodologias de ensino, mas identificou os benefícios e as deficiências da aplicação na vida prática daquilo que a escola lhe forneceu, e o percebe de maneira geral na sociedade da qual faz parte. Acrescento, inclusive, que a vida é constituída de várias outras escolas além da institucional, e que muitas delas ensinam muito mais e servem como referenciais análogos, citando a própria vida como uma dessas escolas.

Gostaria de chamar a atenção para alguns aspectos interessantes, pois em meu livro O AMOR QUE FICOU, onde proponho a adoção de um novo modelo educacional para o País, mesmo que enfatizasse no próprio livro que minha proposta se referia a modelo educacional e não à metodologia de ensino, percebi em comentários de algumas pessoas que muitos não estavam diferenciando adequadamente uma coisa da outra, portanto vou apresentar abaixo algumas definições importantes para ao acompanhamento adequado de minha exposição:

Processo:

Um processo é um ambiente de execução que consiste em um segmento de instruções.

Sistema

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Um sistema é um conjunto de elementos diferentes com atributos e funções específicas que podem interagir entre eles e com ambiente externo, em forma organizada.

Modelo

É um referencial, um padrão a ser seguido.

Metodologia

A Metodologia é o estudo dos métodos. Ou então as etapas a seguir num determinado processo. Tem como finalidade captar e analisar as características dos vários métodos disponíveis, avaliar suas capacidades, potencialidades, limitações ou distorções e criticar os pressupostos ou as implicações de sua utilização. Além de ser uma disciplina que estuda os métodos, a metodologia é também considerada uma forma de conduzir a pesquisa ou um conjunto de regras para ensino de ciência e arte.

Portanto, quando eu me referir a processo, sistema, metodologia e modelo é dentro do sentido acima definido.

Dentre as opiniões contrárias ao tema deste livro, encontra-se a de um psicólogo que ao ler a primeira parte do mesmo que era o referencial para que se dessem os pareceres, negou-se veementemente a emitir o seu, bem como demonstrou sua enorme insatisfação sobre a proposta do tema aludindo de forma grosseira que não compactuava com o autoritarismo e que não iria participar de um retrocesso da conquista duramente alcançada pela sociedade brasileira nas relações familiares. E, mesmo que eu explicasse que pareceres contrários devidamente argumentados enriqueceriam a análise e a discussão, o mesmo continuou negando sua participação de forma acentuadamente hostil.

Não me cabe aqui apontar nomes de pessoas, e não

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o farei, nem nesse caso ou outro qualquer a que me refira, mas apenas dar o devido enfoque ao fato, reservando-me apenas o direito de fazer meu comentário sobre o mesmo. E, nesse caso , tenho a comentar que quando discordo de uma coisa eu apresento, clara e explicitamente, os argumentos que me levam a esta posição, o que não foi o caso deste profissional, que com essa atitude intempestiva demonstrou que nem ele próprio tinha certeza de sua posição, caso contrário a teria defendido com argumentações convincentes em um relato oficial. E acrescento ainda que, existem bons e maus profissionais em todas as categorias e que uma opinião isolada não representa a de todos os profissionais de uma mesma área, como veremos mais adiante nas abordagens seguintes.

O que era pra ser está sendo substituído por depoimentos dados através de textos publicado amplamente ou enunciados por personalidades várias em conferências, simpósios ou similares, e que retratam opiniões que servem como referenciais de análises, reflexões e discussões sobre a tema principal deste livro, a Educação Familiar, sua importância e função dentro da sociedade.

Estou acrescentando esse material com a devida referência de autoria, seja no corpo do texto ou no rodapé das

páginas onde estão sendo retratados.

LIMITES

Texto de Mônica Monastério – Madrid/Espanha

Somos a primeira geração de pais decididos a não repetir com os filhos os mesmos erros de nossos progenitores. E com esforço abolimos os abusos do passado. Somos os pais mais dedicados e compreensivos. Mas, por outro lado, os mais bobos e inseguros que houve na história. O grave é que estamos lidando com crianças mais “espertas”, ousadas e mais poderosas do que nunca!

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Parece que em nossa tentativa de sermos os pais que queríamos ser, passamos de um extremo ao outro. Assim, somos a última geração de filhos que obedeceram a seus pais e a primeira geração de pais que obedecem a seus filhos. Os últimos que tivemos medo dos pais e os primeiros que tememos os filhos. Os últimos que cresceram sob o mando dos pais e os primeiros que vivem sobe o julgo dos filhos. E, o que é pior, os últimos que respeitamos os nossos pais e os primeiros que aceitamos que nossos filhos os faltem ao respeito. À medida que o permissível, substituiu o autoritarismo, os termos das relações familiares mudou de forma radical para o bem e para o mal. Com efeito, antes se considerava um bom pai, aquele cujos filhos se comportavam bem, e os tratavam com o devido respeito. E, bons filhos, as crianças que eram formais, e veneravam seus pais, mas à medida em que as fronteiras hierárquicas entre nós e nossos filhos foram se desvanecendo, Hoje, os bons pais são aqueles que conseguem que seus filhos os amem, ainda que pouco os respeitem. E são os filhos, quem agora, esperam respeito de seus pais, pretendendo de tal maneira que respeitem as suas idéias, seus gostos, suas preferências e sua forma de agir e viver. E que além disso, os patrocinem no que manifestam para tal fim. Quer dizer, os papéis se inverteram, agora são os pais que têm que agradar a seus filhos para “ganhá-los” e não o inverso como no passado. Isto explica o esforço que fazem tantos pais e mães para serem os melhores amigos e “darem tudo” a seus filhos. Dizem que os extremos se atraem. Se o autoritarismo do passado encheu os filhos de medo de seus pais, a debilidade do presente preenche-os de medo e menosprezo ao nos verem tão débeis e perdidos como eles. Os filhos precisam perceber que durante a infância estamos frente à sua vidas, como líderes capazes de sujeitá-los quando não os podemos conter e de guiá-los enquanto não sabem para onde vão. É assim que evitaremos que as novas gerações se afoguem no

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descontrole e tédio no qual está afundando uma sociedade que parece ir à deriva, sem parâmetros nem destino. Se o autoritarismo suplanta, o permissível sufoca . Apenas uma atitude firme, respeitosa, lhes permitirá confiar em nossa idoneidade para governar suas vidas enquanto forem menores, porque vamos à frente liderando-os e não atrás, carregando-os rendidos às suas vontades. Os limites abrigam o indivíduo com amor ilimitado e profundo respeito.

FILHOS – IÇAMI TIBA

Palestra ministrada pelo médico psiquiatra Dr. Içami Tiba, em Curitiba, 23/07/09. Em pesquisa realizada em março de 2006, pelo IBOPE, os entrevistados colocaram o Dr. Içami Tiba como terceiro autor de referência e admiração.

1º- lugar: Sigmund Freud

2º- lugar: Gustav Jung

3º- Lugar: Içami Tiba

1. A educação não pode ser delegada à escola. Aluno é transitório. Filho é para sempre. 2. O quarto não é lugar para fazer criança cumprir castigo. Não se pode castigar com internet, som, tv, etc... 3. Educar significa punir as condutas derivadas de um comportamento errôneo. Queimou índio pataxó, a pena (condenação judicial) deve ser passar o dia todo em hospital de queimados. 4. É preciso confrontar o que o filho conta com a verdade real. Se falar que professor o xingou, tem que ir até a escola e ouvir

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o outro lado, além das testemunhas. 5. Informação é diferente de conhecimento. O ato de conhecer vem após o ato de ser informado de alguma coisa. Não são todos que conhecem. Conhecer camisinha e não usar significa que não se tem o conhecimento da prevenção que a camisinha proporciona. 6. A autoridade deve ser compartilhada entre os pais. Ambos devem mandar. Não podem sucumbir aos desejos da criança. Criança não quer comer? Então a criança deve aguardar até a próxima refeição que a família fará. A criança não pode alterar as regras da casa. A mãe NÃO PODE interferir nas regras ditadas pelo pai (e nas punições também) e vice-versa. Se o pai determinar que não haverá um passeio, a mãe não pode interferir. Tem que respeitar sob pena de criar um delinqüente. 7. A criança deve ser capaz de explicar aos pais a matéria que estudou e na qual será testada. Não pode simplesmente repetir, decorado. Tem que entender. 8. É preciso transmitir aos filhos a idéia de que temos de produzir o máximo que podemos. Isto porque na vida não podemos aceitar a média exigida pelo colégio: não podemos dar 70% de nós, ou seja, não podemos tirar 7,0. 9. Se o pai ficar nervoso porque o filho aprontou alguma coisa, não deve alterar a voz. Deve dizer que está nervoso e, por isso, não quer discussão até ficar calmo. A calmaria, deve o pai dizer, virá em 2, 3, 4 dias. Enquanto isso, o videogame, as saídas, a balada, ficarão suspensas, até ele se acalmar e aplicar o devido castigo. 10. Se o filho não aprendeu ganhando, tem que aprender perdendo. 11. Não pode prometer presente pelo sucesso que é sua obrigação. Tirar nota boa é obrigação. Não xingar avós é

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obrigação. Ser polido é obrigação. Passar no vestibular é obrigação. Se ganhou o carro após o vestibular, ele o perderá se for mal na faculdade. 12. Se a mãe engolir sapos do filho, ele pensará que a sociedade terá que engolir também. 13. Videogames são um perigo: os pais têm que explicar como é a realidade, mostrar que na vida real não existem 'vidas' e sim uma única vida. Não dá para morrer e reviver. Não dá para apostar tudo, apertar o botão e zerar a dívida. 14. O erro mais freqüente na educação do filho é colocá-lo no topo da casa. O filho não pode ser a razão de viver de um casal. O filho é um dos elementos. O casal tem que deixá-lo, no máximo, no mesmo nível que eles. A sociedade pagará o preço quando alguém é educado achando-se o centro do universo. 15. Filhos drogados são aqueles que sempre estiveram no topo da família. 16. Cair na conversa do filho é criar um marginal. Filho não pode dar palpite em coisa de adulto. Se ele quiser opinar sobre qual deve ser a geladeira, terá que mostrar qual é o consumo (kwh) da que ele indicar. Se quiser dizer como deve ser a nova casa, tem que dizer quanto isso (seus supostos luxos) incrementará o gasto final. 17. Dinheiro 'a rodo' para o filho é prejudicial. Mesmo que os

pais o tenham, precisam controlar e ensinar a gastar. CAZUZA – FILME Texto de Karla Christine, psicóloga clínica após assistir o filme CAZUZA 'Fui ver o filme Cazuza há alguns dias e me

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depare i com uma coisa estarrecedora. As pessoas estão cultivando ídolos errados. Como podemos cultivar um ídolo como Cazuza? Concordo que suas letras são muito tocantes, mas reverenciar um marginal como ele, é, no mínimo, inadmissível. Marginal, sim, pois Cazuza foi uma pessoa que viveu à margem da sociedade, pelo menos uma sociedade que tentamos construir (ao menos eu) com conceitos de certo e errado. No filme, vi um rapaz mimado, filhinho de papai que nunca precisou trabalhar para conseguir nada, já tinha tudo nas mãos. A mãe vivia para satisfazer as suas vontades e loucuras. O pai preferiu se afastar das suas responsabilidades e deixou a vida correr solta. São esses pais que devemos ter como exemplo? Cazuza só começou a gravar porque o pai era diretor de uma grande gravadora... Existem vários talentos que não são revelados por falta de oportunidade ou por não terem algum conhecido importante. Cazuza era um traficante, como sua mãe revela no livro, admitiu que ele trouxe drogas da Inglaterra, um verdadeiro criminoso. Concordo com o juiz Siro Darlan quando ele diz que a única diferença entre Cazuza e Fernandinho Beira-Mar é que um nasceu na zona sul e outro não. Fiquei horrorizada com o culto que fizeram a esse rapaz, principalmente por minha filha adolescente ter visto o filme. Precisei conversar muito para que ela não começasse a pensar que usar drogas, participar de bacanais, beber até cair e outras coisas, fossem certas, já que foi isso que o filme mostrou. Porque não são feitos filmes de pessoas realmente importantes que tenham algo de bom para essa juventude já

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tão transviada? Será que ser correto não dá Ibope, não rende bilheteria? Como ensina o comercial da Fiat, precisamos rever nossos conceitos, só assim teremos um mundo melhor. Devo lembrar aos pais que a morte de Cazuza foi conseqüência da educação errônea a que foi submetido. Será que Cazuza teria morrido do mesmo jeito se tivesse tido pais que dissessem NÃO quando necessário? Lembrem-se, dizer NÃO é a prova mais difícil de amor. Não deixem seus filhos à revelia para que não precisem se arrepender mais tarde. A principal função dos pais é educar.. Não se preocupem em ser 'amigos' de seus filhos. Eduque-os e mais tarde eles verão que você foi a pessoa que mais os amou e foi, é, e sempre será, o seu melhor amigo, pois amigo não diz SIM sempre.'

BILL GATES Conselhos dados por Bill Gates em uma conferência Aqui estão alguns conselhos que Bill Gates recentemente ditou em uma conferência em uma escola secundária sobre 11 coisas que estudantes não aprenderiam em uma escola. Ele fala sobre com o a “política educacional de vida fácil para as crianças” tem criado uma geração sem conceito de realidade, e como essa política tem levado as pessoas a falharem em suas vidas posteriores à escola. Muito conciso, todos esperavam quem ele fosse fazer um discurso de uma hora ou mais, ele falou por 5 minutos, foi aplaudido por mais de 10 minutos sem parar, agradeceu e foi embora em seu helicóptero a jato. Regra 1: A vida não é fácil, acostume-se com isso.

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Regra 2: O mundo não está preocupado com sua auto-estima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele ANTES de sentir-se bem com você mesmo. Regra 3: Você não ganhará R$ 20.000,00 por mês assim que sair da escola. Você não será vice-presidente de uma empresa, com telefone à disposição, antes que você tenha conseguido comprar o seu próprio carro e telefone. Regra 4: Se você achaque seu professor é rude, espere até ter um Chefe. Ele não terá pena de você. Regra 5: Vender jornais velhos ou trabalhar durante as férias não está abaixo de sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de oportunidade. Regra 6: Se você fracassar não é culpa de seus pais. Então não lamente seus erros, aprenda com eles. Regra 7: Antes de você nascer, seus pais não eram críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são “ridículos”. Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração de seus pais, tente limpar o seu próprio quarto. Regra 8: Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim, em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece absolutamente com NADA na vida real. Se pisar na bola, está despedido, RUA!!! Faça certo da primeira vez. Regra 9: A vida não é dividida em semestres. Você não terá os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no final de cada período.

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Regra 10: Televisão NÃO é vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar. Regra 11: Seja legal com os CDF‟s (aqueles estudantes que os demais julgam uns babacas). Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar PARA um deles.

BILL GATES Dono da maior fortuna pessoal do mundo, e da Microsoft, a única empresa que enfrentou e venceu a Big Blue (IBM) desde a sua fundação em meados de 1900... A empresa que construiu o primeiro Cérebro Eletrônico (computador) do mundo. UMA BREVE AULA DE SELEÇÃO DE PESSOAL. (ANÔNIMO) “Um jovem de nível acadêmico excelente, candidatou-se à posição de gerente de uma grande empresa. Passou a primeira entrevista e o diretor fez a última entrevista e tomou a última decisão.

O diretor descobriu através do currículo que as suas realizações acadêmicas eram excelentes em todo o percurso, desde o secundário até à pesquisa da pós-graduação e não havia um ano em que não tivesse pontuado com nota máxima.

O diretor perguntou, "Tiveste alguma bolsa na escola?" o jovem respondeu, "nenhuma".

O diretor perguntou, "Foi o teu pai que pagou as tuas mensalidades ?"

o jovem respondeu, "O meu pai faleceu quando tinha apenas um ano, foi a minha mãe quem pagou as minhas mensalidades."

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O diretor perguntou, "Onde trabalha a tua mãe?" e o jovem respondeu,

"A minha mãe lava roupa."

O diretor pediu que o jovem lhe mostrasse as suas mãos. O jovem mostrou um par de mãos macias e perfeitas.

O diretor perguntou, "Alguma vez ajudaste a tua mãe a lavar as roupas?", o jovem respondeu, "Nunca, a minha mãe sempre quis que eu estudasse e lesse mais livros. Além disso, a minha mãe lava a roupa mais depressa do que eu."

O diretor disse, "Eu tenho um pedido. Hoje, quando voltares, vais e limpas as mãos da tua mãe, e depois vens ver-me amanhã de manhã."

O jovem sentiu que a hipótese de obter o emprego era alta. Quando chegou a casa, pediu feliz à mãe que o deixasse limpar as suas mãos. A mãe achou estranho, estava feliz, mas com um misto de sentimentos e mostrou as suas mãos ao filho.

O jovem limpou lentamente as mãos da mãe. Uma lágrima escorreu-lhe enquanto o fazia. Era a primeira vez que reparava que as mãos da mãe estavam muito enrugadas, e havia demasiadas contusões nas suas mãos.

Algumas eram tão dolorosas que a mãe se queixava quando limpas com água.

Esta era a primeira vez que o jovem percebia que este par de mãos que lavavam roupa todo o dia tinham-lhe pago as mensalidades. As contusões nas mãos da mãe eram o preço a pagar pela sua graduação, excelência acadêmica e o seu futuro.

Após acabar de limpar as mãos da mãe, o jovem silenciosamente lavou as restantes roupas pela sua mãe.

Nessa noite, mãe e filho falaram por um longo tempo.

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Na manhã seguinte, o jovem foi ao gabinete do diretor.

O diretor percebeu as lágrimas nos o lhos do jovem e perguntou,

"Diz-me, o que fizeste e aprendeste ontem em tua casa?"

O jovem respondeu, "Eu limpei as mãos da minha mãe, e ainda acabei

de lavar as roupas que sobraram."

O diretor pediu, "Por favor diz-me o que sentiste."

O jovem disse "Primeiro, agora sei o que é dar valor. Sem a minha

mãe, não haveria um eu com sucesso hoje. Segundo, ao trabalhar e

ajudar a minha mãe, só agora percebi a dificuldade e dureza que é ter algo pronto. Em terceiro, agora aprecio a importância e valor de uma relação familiar."

O diretor disse, "Isto é o que eu procuro para um gerente. Eu quero recrutar alguém que saiba apreciar a ajuda dos outros, uma pessoa que conheça o sofrimento dos outros para terem as coisas feitas, e uma pessoa que não coloque o dinheiro como o seu único objetivo na vida.

Estás contratado."

Mais tarde, este jovem trabalhou arduamente e recebeu o respeito dos seus subordinados. Todos os empregados trabalhavam diligentemente e como equipe. O desempenho da empresa melhorou tremendamente.

Uma criança que foi protegida e teve habitualmente tudo o que quis, vai desenvolver- se mentalmente e vai sempre colocar-se em primeiro.

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Vai ignorar os esforços dos seus pais, e quando começar a trabalhar,

vai assumir que toda a gente o deve ouvir e quando se tornar gerente,nunca vai saber o sofrimento dos seus empregados e vais sempre culpar os outros. Para este tipo de pessoas, que podem ser boas academicamente, podem ser bem sucedidas por um bocado, mas eventualmente não vão sentir a sensação de objetivo atingido. Vão resmungar, estar cheios de ódio e lutar por mais. Se somos esse tipo de pais, estamos realmente a mostrar amor ou estamos a destruir o nosso filho?

Pode deixar o seu filho viver numa grande casa, comer boas refeições, aprender piano e ver televisão num grande plasma. Mas quando cortar a relva, por favor deixe-o experienciar isso. Depois da refeição, deixe-o lavar o seu prato juntamente com os seus irmãos e irmãs. Isto não é porque não tem dinheiro para contratar uma empregada, mas porque o quer amar como deve de ser. Quer que ele entenda que não interessa o quão ricos os seus pais são, um dia ele vai envelhecer, tal como a mãe daquele jovem.

A coisa mais importante que os seus filhos devem entender é a apreciar o esforço e experiência da dificuldade e aprendizagem da habilidade de trabalhar com os outros para fazer as coisas.

Quais são as pessoas que ficaram com mãos enrugadas por mim?

O valor de nossos pais...

"Quando o mundo diz, 'Desista', a esperança sussurra, 'Tente uma vez mais'." (Anônimo – extraído da Internet onde foi amplamente divulgado)

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TENHO VERGONHA DE MIM Poema de Cleide Canton, professora e poetisa, amplamente divulgado na Internet Sinto vergonha de mim… por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra. Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o “eu” feliz a qualquer custo, buscando a tal “felicidade” em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo. Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos “floreios” para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre “contestar”, voltar atrás e mudar o futuro. Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer… Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro !

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MATÉRIAS JORNALÍSTICAS Matéria publicada no Jornal SUPER NOTÍCIAS/BH – 27/06/2007

FALTA LIMITE Na manhã do último sábado, a empregada doméstica Sirlei Dias Carvalho, de 32 anos, foi assaltada e covardemente agredida, inclusive com pontapés na cabeça, num ponto de ônibus na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. O crime chamou atenção principalmente pelo perfil dos agressores: cinco jovens de classe média,sendo quatro universitários. Mas o que faz pessoas que têm acesso à educação e saúde de qualidade cometerem um crime brutal? Para especialistas a falta de limites impostos pelos pais e até a certeza da impunidade podem ser a resposta à pergunta. Ludovico Carvalho, pai de Rubens Arruda, de 19 anos, disse anteontem que considera o filho uma criança. Para especialistas, ele pode estar perpetuando a falta de limites, que provavelmente não soube impor ao filho. “A função do pai basicamente é orientar e limitar os excessos. Este pai não está vendo o filho como uma pessoa capaz de conviver”, analisou Maria José Gontijo Salum, psicanalista e membro do Instituto da Criança e Adolescente (ICA) da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Na avaliação de Márcia Stengel, psicóloga e especialista me adolescência, se os jovens não encontrarem punição na família, devem encontrar na lei. MARCOS D’PAULA/AGÊNCIA O ESTADO – 24/06/2007

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Matéria publicada no Jornal SUPER NOTÍCIAS/BH – 28/06/2007

AGRESSÕES COMEÇAM DENTRO DE CASA Registros da Delegacia de Mulheres de Belo Horizonte mostram que é comum jovens de classe média alta baterem nas mães Depois de apanhar do filho pela décima vez, a mãe, uma psicóloga de um bairro de classe média alta de Belo Horizonte, procurou a Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher para dar queixa da última agressão. Chegou à delegacia na presença do agressor, o filho de 24 anos. Na sala da delegada titular, a mãe estava disposta a entregar o filho para que ele respondesse criminalmente. A policial puxou a ficha do agressor no computador e verificou que havia contra ele um mandado de prisão por outro espancamento, denunciado pela irmã. A delegada determinou a detenção ali mesmo, mas a mãe pediu para que tudo fosse esquecido. O relato da ocorrência registrada na delegacia da Capital mostra que as agressões físicas cometidas por jovens de classe média alta acontecem também dentro de casa. Na última segunda-feira, o caso da doméstica Sirley Dias Carvalho, de 32 anos, agredida no Rio d Janeiro, causou indignação em muitas pessoas. Ela teria sido confundida com uma prostituta por cinco jovens e foi espancada. Segundo a delegada Silvana Fiorilo Rocha, titular da Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher de Belo Horizonte, nos casos de mães que apanham dos filhos, a situação é ainda mais complicada porque elas acabam recuando. EM 2006, A DELEGACIA RECEBEU 7.005 PEDIDOS DE PROVIDÊNCIA

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Adendo à mesma matéria:

SINAL DE DELINQUÊNCIA A tendência para a delinqüência em sua fase inicial pode ser percebida em adolescentes de 12 e 13 anos. O auge é alcançado aos 18 anos e o fim aos 26 anos, quando eles desistem ou morrem. A afirmação é do pesquisador Daniel Cerqueira, integrante do Gruo de Estudo de Violência do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que há nove anos estuda a criminalidade, violência e as políticas públicas de segurança no País. Ele explica que o crime em algumas fases da vida é fruto de um processo de abstração infantil, gerada quando os pais não impõem limites aos filhos. “Toda vez que seu filho transgredir alguma norma precisa receber punição proporcional para saber que existem regras.” A coordenadora do setor de psicologia da Delegacia Especializada em Crimes contra a Mulher, Silvane Vasconcellos, acredita que a agressão dentro de casa é uma herança cultural, modificada nos dias de hoje de acordo com a estrutura de cada família.

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COMENTÁRIOS DO AUTOR Com base nos comentários acima, percebe-se que as opiniões de várias pessoas, inclusive de um psicólogo e um psiquiatra, são compatíveis às deste autor, que a Educação Familiar é de fundamental importância na formação de uma sociedade, bem como ela sofreu uma significativa fragilização no curso dos últimos anos, com conseqüências negativas à sociedade, inclusive mais preocupante ainda em um País como o nosso onde é claramente perceptível que seu povo está aprofundado em um obscurantismo providencial à uma administração pública corrupta e incompetente. Enquanto a escola se encontra impossibilitada de preparar e formar o individuo para o exercício da cidadania com o suficiente embasamento ético-moral, com o conhecimento dos princípios que regem a economia, a política e a sociedade; e com a capacidade de se organizar, participar e intervir da vida nacional, porque o poder constituído não fornece as condições para tal, mas, sobretudo, porque sua ação está prejudicada pela

deterioração do primeiro referencial de educação: a familiar.

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PARTE 3

RETRATOS DE UM PAÍS

“Tenho me esforçado por não rir das ações humanas, por não deplorá-las e nem odiá-las, mas por entendê-las.” (Spinoza – Filósofo Holandês)

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PARTE 3 RETRATOS DE UM PAÍS Ser chamado de reacionário, ser considerado alguém que se mete onde não foi chamado, ser boicotado pela imprensa, sofrer todas as formas de descasos possíveis confere-me muito orgulho diante do quadro assustador de um País de raríssimas oportunidades, onde a justiça privilegia bandidos, onde os homens públicos recebem propinas, amplamente divulgado através de filmagens realizadas por câmeras ocultas e têm a cara de pau de negarem, onde todas as formas de corrupção são acobertadas por aqueles que deviam estar defendendo o uso devido do dinheiro e do patrimônio público com investimentos nas áreas da saúde, da segurança e, sobretudo, da educação. Resta-me rir da figura ridícula de uma presidente de uma associação de profissionais de Pedagogia, que disfarçou sua inconfundível voz de taquara rachada ao atender-me ao telefone, e se identificou como uma outra pessoa para desvencilhar-se de mim. Tenho pena da maioria dos profissionais de imprensa deste País, porque lutaram muito para concluir uma faculdade de jornalismo e têm que se render às imposições do poder constituído, dos jogos de interesse dos poderosos porque senão não sobrevivem. E têm que produzir jornalecos a preços populares, porque o povo não lê jornal, não tem dinheiro pra comprar e são atraídos para esses pasquins de 2ª categoria através de páginas policiais sensacionalistas, futebol, mulher pelada e resumos de novelas, tendo a coragem de se intitularem “formadores de opinião”. Tenho pena de você, povo brasileiro, que vive na linha da pobreza, iludido com propagandas ilusórias, pela arte e o poder do marketing, que lhes vende um retrato de um País maravilhoso, cheio de oportunidades, de administrações públicas irrepreensíveis e de governantes trabalhadores honrados e dignos. Enquanto você recebe essa esmola político-eleitoreira, morre nas filas dos ambulatórios

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médicos e hospitais, mendiga medicamentos nos postos de saúde, sofre todas as formas de violência, despenca morro abaixo nas ocasiões das chuvas; e vive o sonho das Olimpíadas, da Copa do Mundo e dos benefícios do pré-sal, cujos beneficiados serão sempre os mesmos, os corruptos, os governantes que você vai eleger iludido pelas esmolas providenciais que você recebe, que vão viajar para a Europa, para os Estados Unidos, pelos paraísos caribenhos com suas famílias e amigos, vão usufruir de mordomias, de cartões de crédito, de moradias luxuosas e gabinetes infestados de parentes, amigos e amantes. Tenho pena de vocês professores, pedagogos, que recebem essa miséria de salário e têm que compactuar com o que lhes é imposto, aprovar alunos que não tiveram o aproveitamento exigido, suportar esses pais arrogantes que não souberam educar seus filhos, a lhes cobrar, criticar e exigir. E o que é pior aturar esses meninos rebeldes, insubordinados e, muitos deles, a lhe ameaçar de todas as formas e maneiras. Estou errado sim, Dr. Psicólogo, o senhor é que está certo. Nossa sociedade fez conquistas preciosas, avançamos consideravelmente, temos filhos educadíssimos e preparados para chegar à escola e receber os ensinamentos teóricos e práticos que vão lhes conceder a capacidade do exercício da cidadania, de usufruírem de toda as oportunidades que este País ostenta orgulhosamente, pelo exercício de uma administração pública que tem feito desta Nação, um povo próspero, saudável e bem assistido em todos os sentidos. E, para melhor exemplificar isso vamos acompanhar algumas matérias, textos e outros referenciais que estou intitulando RETRATOS DE UM PAÍS:

AUXÍLIO RECLUSÃO Amplamente divulgado na Internet em 2009 AUXÍLIO RECLUSÃO!

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Inacreditável! Quem tiver dúvida acesse a portaria mencionada na mensagem!

VOCÊS SABIAM DO AUXÍLIO RECLUSÃO?

Bandido com 5 filhos, além de comer e beber nas costas de quem trabalha e comandar o crime de dentro das prisões, ainda recebe auxilio de R$ 3.763,55. Qual pai de família com 5 filhos recebe um salário suado igual??? QUE PAÍS É ESSE?

VOCÊS SABIAM DO AUXÍLIO RECLUSÃO? (... e vamos lá pessoal... não deixem de cantar o Hino Nacional, pelo menos 15 vezes ao dia...) Vocês sabiam que todo presidiário com filhos tem uma bolsa que, a partir de 1/2/2009 é de R$ 752,12, por filho para sustentar a família, já que o coitadinho não pode trabalhar para sustentar os filhos por estar preso. Mais que um salário mínimo que muita gente por aí rala pra conseguir e manter uma família inteira! Ah, tá duvidando?!?! (Portaria nº 48, de 12/2/2009, do INSS) - CONFIRA NO SITE http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=22) (Auxílio-reclusão)

Pergunta que não quer calar 1 : Por acaso os filhos do sujeito que foi morto pelo coitadinho que está preso recebe uma bolsa de R$752,12 para seu sustento? Pergunta que não quer calar 2 : Já viu algum defensor dos direitos humanos defendendo esta bolsa para os filhos das vítimas? É por essa e outras que a criminalidade não diminui... Ela dá lucro!

ESTE É MAIS UM DOS ABSURDOS QUE PROTEGEM OS BANDIDOS. TEMOS QUE NOS PROTEGER COM GRADES, ALARMES E AFINS, ENQUANTO OS BANDIDOS ANDAM LIVREMENTE PELAS RUAS, E, AINDA COM PROTEÇAO

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DOS DIREITOS HUMANOS.

PRECISAMOS FAZER ALGUMA COISA, É MUITO DESCASO COM O CIDADÃO TRABALHADOR, QUE PAGA POR TODA ESTA IMORALIDADE, TEMOS QUE ACABAR COM ESSA POUCA VERGONHA.

IMAGINE SÓ SE NÓS TRABALHADORES TIVESSEMOS ESSES DIREITOS.

NESSE PAÍSINHO SÓ TEM VALOR SE FOR MARGINAL.

AFINAL... QUE PAÍS É ESSE?

IMPUNIDADE

Amplamente divulgado na Internet em 2009

DA IMPUNIDADE: Justiça neste País é para rico Cadeia é para pobre

Lembram do cantor Alexandre Pires? Atropelou, fugiu do local do acidente sem prestar socorro à vítima, que veio a falecer, mas foi absolvido por "falta de provas" pela nossa justiça. Ou será injustiça?

Lembram do Jogador Edmundo? Usando seu carro importado, matou e mutilou, mas continua solto aguardando ser julgado pela justiça. Ou será injustiça?

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Lembram do jogador Guilherme? Passou a noite na farra, lotou seu carro de prostitutas, amigos e cervejas, matou um inocente. Mentiu dizendo que não era o motorista, com certeza para escapar do exame toxicológico, mas continua solto por ordem da justiça. Ou será injustiça?

Lembram do cantor Renner? Dirigindo com velocidade acima do permitindo, matou duas pessoas inocentes. Mas continua solto aguardando julgamento por ordem da justiça. Ou será injustiça?

Lembram do cantor Belo? Conversando por telefone com um traficante de drogas, acertou fazer um empréstimo para o mesmo traficante poder abastecer a favela de pó, ou "tecido fino", em troca receberia um fuzil AR15, ou tênis AR. Está solto por força de um habeas-corpus, concedido gentilmente pela justiça. Ou será injustiça?

Lembram do ex-senador Jader Barbalho? Acusado de desviar milhões de reais da extinta SUDAM, teve seu mandato cassado pelo seus pares. Hoje é deputado federal, continua solto aguardando julgamento pela justiça.

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Ou será injustiça?

Lembram do roubo do TRT paulista? O chefe da quadrilha era o juiz Lalau, que hoje encontra-se descansando em prisão domiciliar. "Numa bela mansão". O restante da quadrilha foi absolvida em sentença dada em véspera de final de copa do Mundo. O juiz responsável pelo processo era Casem Mazloum, acusado de diversos crimes pelo ministério público, mas que continua solto aguardando julgamento pela justiça. Ou será injustiça?

PLANO DE SAÚDE DOS SENADORES

Amplamente divulgado na Internet em 2009

O fantástico Plano de Saúde Vitalício dos senadores

Eugênia Lopes e Rosa Costa Fonte: O Estado de São Paulo (26.04.09)

Basta passar seis meses como Senador para ter garantido, sem nada mais pagar, um plano de saúde familiar vitalício que consome por ano R$ 17 milhões.

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O pior e que com um plano de saúde desses e a despreocupação com a vida, tornam os senadores, como esse aí, quase imortais, não morrem nunca, se perpetuam no planeta, causando despesas eternas aos cofres públicos

Esse é o melhor plano de Saúde familiar do mundo, um custo benefício sem precedentes: uma cobertura total, desde o começo, sem preocupações com doenças preexistentes, sem limites de idade e nenhum custo, para o resto da vida, que se alonga pelas facilidades com o atendimento médico e custa ainda mais ao contribuinte. A matéria de Eugênia Lopes e Rosa Costa no Estadão de hoje, põe a descoberto mais um exagerado beneficio que o senhores senadores e senadoras se autopremiara a pesar nas costas de todos os brasileiros: Os 310 ex-senadores e seus familiares pensionistas custam pelo menos R$ 9 milhões por ano, cerca de R$ 32 mil por parlamentar aposentado. Detalhe: para se tornar um ex-senador e ter direito a usar pelo resto da vida o sistema de saúde bancado pelos cofres públicos é preciso ocupar o cargo por apenas seis meses. Antes de 1995, a mordomia era ainda maior: bastava ter ficado na suplência por apenas um dia. No total, os 81 senadores da ativa e os 310 ex-senadores e seus pensionistas usufruem de um sistema privilegiado de saúde que consome cerca de R$ 17 milhões por ano. Os parlamentares da ativa e seus familiares não têm limite de despesas com saúde: em 2008, gastaram cerca de R$ 7 milhões - R$ 80 mil por senador. No ano passado, os gastos globais do Senado com saúde para parlamentares e servidores foram de R$ 70 milhões. O Senado não divulga, no entanto, o valor dessas despesas apenas com senadores. O diretor-geral, Alexandre Gazineo, alega que precisa de "tempo" para obter esses dados.

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O Estado apurou que, em 2008, o Senado gastou cerca de R$ 53 milhões com a saúde de 18 mil servidores efetivos e comissionados, entre ativos e inativos. Ao contrário dos senadores, que não descontam um tostão para ter todas as despesas de saúde pagas, os servidores em atividade e inativos têm descontados, em média, R$ 260 por mês. O custo de cada servidor ao ano é de cerca de R$ 3 mil.

E não precisam nem trabalhar: O senador Mão Santa preside a sessão para ninguém. A foto é de uma sexta-feira, 24 de abril de 2009 - 13h03, horário de sessão. As sexta-feiras não há mais senadores em Brasília, chegam na terça e abandonam o senado e Brasília na quinta a noite, no mais tardar, a está altura já estão em casa, ou em Nova Iorque, Miami, Paris, Londres... (Foto: Antonio Cruz/Abr)

Para este ano, a previsão feita no Orçamento estabeleceu R$ 61 milhões para arcar com a saúde dos senadores e servidores. Na quinta-feira, o Senado anunciou contingenciamento de R$ 25 milhões nas despesas médicas e odontológicas. Ou seja: o orçamento de 2009 deverá ficar em R$ 36 milhões. A área técnica do Senado está convicta de que o corte recairá integralmente sobre a saúde dos servidores. Os senadores continuarão com as despesas ilimitadas. Técnicos começaram a fazer estudo para compensar o corte no orçamento deste ano no plano de saúde dos servidores. Uma das hipóteses é aumentar a contribuição dos funcionários. Atualmente, existem 262 servidores e funcionários comissionados em tratamento de câncer à custa do Senado. Diante do anúncio de contingenciamento, 18 famílias procuraram a direção do Senado nas últimas 24 horas para saber se serão atingidas com o corte de gastos. O pagamento das despesas médicas de senadores, ex-

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senadores e dependentes é regulamentado pelo Ato nº 9, de 8 de junho de 1995. A norma prevê que o Senado arca com todas as despesas dos senadores, sem limites. Estabelece até o pagamento de cirurgias e tratamento médico no exterior. Tudo tem de ser autorizado pela Mesa Diretora, que raramente nega o pedido de gastos médicos. O limite de R$ 32 mil de gastos anuais para ex-senadores, aliás, é frequentemente ignorado. É o caso, por exemplo, do ex-senador Reginaldo Duarte (PSDB-CE) - ele recebeu R$ 45.029,02 de ressarcimento em gastos médicos, em fevereiro deste ano.

Só o senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL), (fotos)já colocou no plano de saúde vitalício familiar do senado, seus dois primos: o primeiro suplente, senador Euclydes Affonso de Mello Neto (PTB-AL) e a segunda suplente Ada Mercedes de Mello Marques Luz (PTB-AL), que assumem alternativamente nas ausências do primo ilustre. Euclydes já está garantido, Ada precisa de mais alguns meses de suplência, mas vai chegar lá, podem ter certeza. Além dos senadores e ex-senadores, a regalia de atendimento médico vitalício também é estendida aos servidores que ocuparem o cargo de diretor-geral e secretário-geral da Mesa. Essa mordomia, criada em 2000, beneficia hoje Agaciel Maia, que deixou o cargo em março por não ter registrado em seu nome a casa onde mora, avaliada em R$ 5 milhões. Outro favorecido é Raimundo Carreiro, hoje ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). Esse mesmo senado aprovou, por emenda constitucional, os funcionários públicos já em gozo de aposentadoria a passarem a contribuir com 11% de taxa previdenciária.Quem mandou não ser senador?

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PÁTRIA MADRASTA VIL Redação vencedora do concurso da Unesco – Tema: Como vencer a pobreza e a desigualdade – de autoria da estudante carioca Clarice Zeitel Vianna Silva da UFRJ ´Universidade Federal do Rio de Janeiro REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA VENCE CONCURSO DA UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES

Abundância de inexistência é a pura verdade inverídica. Parabéns para a estudante carioca. Imperdível para amantes da língua portuguesa, e claro também para Professores. Isso é o que eu chamo de jeito mágico de juntar palavras simples para formar belas frases. REDAÇÃO DE ESTUDANTE CARIOCA VENCE CONCURSO DA UNESCO COM 50.000 PARTICIPANTES

Tema:'Como vencer a pobreza e a desigualdade'

Por Clarice Zeitel Vianna Silva UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro - Rio de Janeiro - RJ

'PÁTRIA MADRASTA VIL'

Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios?? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL. Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade. O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada

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- e friamente sistematizada - de contradições. Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil. A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica. E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição! É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem! A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão. Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso? Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil. Afinal, de que serve um governo que não administra? De que

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serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona? Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos... Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho? Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade'. A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da Unesco.

O QUE VEM DE FORA

Carta de uma portuguesa à Maitê Proença, que pelo texto explica

Maitê Proença (o que tem de bonita tem de chata e pedante) disse no programa "Saia Justa" umas gracinhas sobre a inteligência dos portugueses, O programa passa em Portugal e causou um grande mal estar lá na terrinha. Uma portuguesa deu-lhe a merecida resposta. E AGORA??? Vale ler!! Exma. Senhora: Foi com indignação que vi a „peça cômica‟ que fez em Portugal

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e passou no programa Saia Justa em que participa. Não que me espante que o tenha feito – está à altura da imagem que há muito tenho de si, pelo que me tem sido dado ver pelos seus desempenhos – mas sim pelo facto da TV Globo ter permitido que tal ignorância fosse para o ar. Só para que possa, se conseguir, ficar um pouco mais esclarecida: . A „vilazinha‟ de Sintra é patrimônio da Humanidade, classificada pela UNESCO e unanimemente reconhecida como uma das mais belas e bem preservadas cidades históricas do mundo; · Em Portugal, onde existem pessoas que olham para o mouse do seu computador como se de uma capivara se tratasse, foi onde foi inventado o serviço pré-pago de telefones móveis (os celulares) – não existia nenhum no mundo que sequer se aproximasse e foi também o que inventou o sistema de passagem nas portagens (pedágios, se preferir), sem ter que parar – quando passar por alguma, sem ter que ficar na fila, lembre-se que deve isso aos portugueses. É um dos países do Mundo com maior taxa de penetração de computadores e serviços de internet em ambiente doméstico.É o único país do mundo onde TODAS as crianças que freqüentam a escola têm acesso directo a um computador (no próprio estabelecimento de ensino) – e em Portugal TODAS as crianças vão à escola.. Muitas delas até têm um computador próprio, para seu uso exclusivo, oferecido ou parcialmente financiado pelo Ministério da Educação – já ouviu falar do Magalhães? É natural que não... mas saiba que é uma criação nossa, que está a ser adquirida por outros países.Recomendo-o vivamente – é muito simples e adequado para quem tem poucos conhecimentos de informática. Somos tão inovadores em matéria de utilização de tecnologia informática e web nas escolas, que o nosso caso foi

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recomendado por especialista americanos, como exemplo a seguir, a Barack Obama, que é só o Presidente dos Estados Unidos – ao Sr. Lula da Silva tal não seria oportuno, porque ele considera que a Escola não é determinante no sucesso das pessoas (e, no Brasil, a julgar pelo próprio, tem toda a razão) . A internet à velocidade de 1 Mega, em Portugal há muito que é considerada obsoleta – eu percebo que não entenda porquê, porque no Brasil é hoje anunciada como o grande factor diferenciador a transmissão por cabo que já não nos interessa. Já estamos noutra – estamos entre os países do mundo com a rede de fibra óptica mais desenvolvida. E nesse contexto 1 Mega é mesmo uma brincadeira. · O ditador a que se refere – o Salazar – governou, infelizmente, „mais de 20 anos‟, mas para a próxima, para ser mais precisa, diga que foram 48 (INFELIZMENTE, é mais o dobro de 20). Ainda assim, e apesar do muito dano que nos causou a sua governação, nós, portugueses, conseguimos em 35 anos reduzir praticamente a ZERO a taxa de analfabetos e baixar para cifras irrisórias o nível de mortalidade infantil e de mulheres no parto onde estamos entre os melhores do mundo. Criar uma rede viária que é das mais avançadas do mundo – em Portugal, sem exceder os limites de velocidade e sem correr risco de vida, fazemos 300 km em duas horas e meia (daria tanto jeito que no Brasil também fosse assim!). Melhorar muito o nível de vida das pessoas, promovendo salários e condições de trabalhos condignos. Temos ainda muito para fazer nesta matéria, mas já não temos pessoas fechadas em elevadores, cuja função é apenas carregar no botão do andar pretendido – cada um de nós sabe como fazê-lo e aproveitamos as pessoas para trabalhos mais estimulantes e úteis; também já não temos trabalhadores agrícolas em regime de escravatura – cada pessoa aqui tem um salário, não trabalha a troco de um prato de comida.. Colocar-nos na vanguarda mundial das energias renováveis, menos poluentes, mais preservadoras do planeta; enquanto uns continuam a escavar petróleo, nós estamos a instalar o maior parque de energia eólica do mundo (é a

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energia produzida a partir do vento). Poderia também explicar-lhe quem foi Camões, Fernando Pessoa, etc., cujos túmulos viu no Mosteiro dos Jerónimos, mas eles merecem muito mais. Ah!, já agora, deixe-me dizer-lhe também que num ponto estou muito de acordo consigo: temos muito pouco sentido de humor. É verdade. Não acharíamos graça nenhuma se tivéssemos deputados a receber mesada para votarem num certo sentido, não nos divertiria muito se encontrassem dirigentes políticos com dinheiro na cueca, não nos faria rir ter senadores a construir palácios megalômanos à conta de sobre-facturação do Estado, não encontramos piada quando os políticos favorecem familiares e usam o seu poder em benefício próprio. Ficaríamos, pelo contrário, tão furiosos, que os colocaríamos na cadeia. Veja só – quanta falta de humor! Mas, pelo contrário, fazem-me rir as sessões plenárias do senado brasileiro. Aqui em Portugal, e estou certa que em toda a Europa, tal daria um excelente programa de humor. Que estranho não é?! Para terminar só uma sugestão: deixe o humor para quem no Brasil o sabe fazer com competência (e há humoristas muito bons no Brasil). Como alternativa, não sei o que lhe sugerir, porque ainda não a vi fazer nada que verdadeiramente me indicasse talento... Peço desculpa por não poder contribuir. Mafalda Carvalho

SOU REACIONÁRIO

Texto de autoria desconhecida e amplamente divulgado na Internet em 2009

POR QUE SOU REACIONÁRIO?

Sou Reacionário. Não gosto dos sem terra e de todos os outro sem.

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Dizem que isto é ser reacionário, mas não gosto de vê-los invadindo fazendas, indústrias, supermercados, Congresso Nacional, Assembléias Legislativas, Câmaras de Vereadores, Palácios do Executivo, parando ruas e estradas, ocupando linhas de trens, quebrando repartições públicas, tentando parar o lento progresso do Brasil. Sou Reacionário. Não gosto dos congressistas que aprovam a demarcação de áreas indígenas nas fronteiras de nosso país, maiores do que muitos países europeus, para meia dúzia de índios aculturados e (muito bem) preparados no exterior, para formar uma nação ou várias, desmembradas do Brasil. Sou Reacionário. Não gosto de índios insuflados por interesses obscuros parando explanação de engenheiros de estatais com facões, para parar o lento andar do progresso na construção de usinas hidrelétricas para geração de energia que tanto necessitamos (já tivemos apagões e teremos outros se não agilizarmos as novas construções). Sou Reacionário. Não gosto de bufões que gritam contra governos estrangeiros e vendem petróleo a eles. Não gosto de cocaleiros que estatizam empresas brasileiras sem o devido ressarcimento dos investimentos feitos em seus países. Não gosto de esquerdistas eleitos em seus países, que querem discutir contratos firmados há mais de 30 anos, em hidrelétricas construídas com dinheiro tomado emprestado pelo Brasil, e, que nós estamos pagando com juros altíssimos. Sou reacionário. Não gosto de governantes frouxos que não tomam atitudes enérgicas para impedir a espoliação de nossos investimentos externos, que compram aviões de empresas estrangeiras em detrimento das nacionais. Não gosto de governantes semi-analfabetos que acham que instrução e

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educação não são importantes para o povo. Não gosto de governantes que pouco trabalharam na vida, aposentados como perseguidos políticos, tendo ficado menos de 24 horas detidos, que cortam o próprio dedo para conseguir indenização e que moram ou moraram em casas emprestadas por 'compadres'... Sou Reacionário. Não acredito em cotas para negros e índios. Dizem que sou racista. Mas para mim racista é quem julga negros e índios incapazes de competir com os brancos em pé de igualdade. Eu acho que a cor da pele não pode servir de pretexto para discriminar, mas também não devia ser fonte para privilégios imerecidos, provocando cenas ridículas de brancos querendo se passar por negros... Sou Reacionário. Não gosto da farta distribuição de Bolsas tipo Família, vale gás, vale isso, vale aquilo, que na realidade são moedas de troca nas eleições, para que certos partidos políticos com seu filiados corruptos, possam se perpetuar no poder. Tudo com o dinheiro arrecadado com os excorchantes impostos que pago e não há Saúde(vejam os péssimos hospitais e suas filas nas madrugadas), nem Educação de qualidade (vejam os resultados do Enem). Sou Reacionário. Não gosto das bases de sustentação de governos eleitos de forma minoritária, com loteamento de cargos públicos e desvios de dinheiro público para partidos e seus filiados, como nos casos do mensalão e Detran. Sou Reacionário. Hoje não se pode mais deixar os filhos trabalharem com idade inferior a 18 anos, mas pode deixá-los fazer sexo em casa com o(a) namorado(a), sair nas festinhas e 'raves' e para beber e consumir drogas. Podem roubar e até mesmo matar, sem serem devidamente punidos pelas faltas (somente medidas sócio-educativas) cometidas, e, com 21

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anos já estão de novo na rua para cometerem novos crimes. Estou velho. Não quero ouvir mais notícias de pessoas morrendo de dengue. Tapo os ouvidos e fecho os olhos mas continuo a ouvir e ver. Não quero saber de crianças sendo arrastadas em carros por bandidos, crianças adotadas sendo maltratadas pelos pais adotivos, velhos jogados (ou amontoados) em asilos, ou de uma menininha jogada pela janela em plena flor de idade. Meu coração não tem mais força para sentir emoções.

Estou mais velho que o Oscar Niemeyer. Ele ainda acredita em comunismo, coisa que deixou de existir. Eu não acredito em nada. Estou cansado de quererem me culpar por não ser pobre, por ter casa, carros e outros bens, todos adquiridos com honestidade e muito trabalho (mais de 12 horas por dia, seis dias por semana), por ser amado por minha mulher . Nada mais me comove...nem os lucros exorbitantes do Bancos financiadores de campanhas espúrias.

Estou bem envelhecido!!! Bem, sou um brasileiro 'Reacionário', indignado com as sacanagens e roubalheiras deste país.

E você ???

PENSE !!!

O melhor da Democracia não é eleger os melhores, é derrotar os corruptos, os demagogos, os mentirosos, que são maioria.

* AUTOR DESCONHECIDO

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COMENTÁRIOS

Não me senti ofendido quando o senhor me chamou de reacionário, Sr. Psicólogo, até porque o senhor desconhece o sentido exato do termo. Fiquei foi perplexo diante de sua inabilidade em lidar com a questão, porque não dizer da sua covardia em se furtar em discordar através de um registro. E se ser reacionário é ter pontos de vista contrários a essa balbúrdia sócio-político-econômica , ocasionada pelo obscurantismo propositalmente imposto à uma nação, e ter aversão a essa inconsistência da educação familiar a que a sociedade atual está mergulhada, sou reacionário sim, com muito orgulho.

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PARTE 4

O MUNDO À MINHA FRENTE Nesta minha viagem pela vida, para criticar vi muitos, para fazer vi muito poucos. (Do autor)

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PARTE 4 O MUNDO À MINHA FRENTE

Enquanto arrumava as malas, meus pensamentos

desfilavam pela mente. Tinha uma enorme expectativa com a possibilidade de uma nova vida. O mundo abria suas portas para mim. Dali em diante eram minhas as decisões. Era a liberdade de ser eu. Não eram apenas as roupas que compunham a minha bagagem, eram sonhos, ideais, objetivos. Eram, também, referenciais, valores e ensinamentos. Eu estava pronto!

Havia recebido um telegrama de importante empresa multinacional, sediada em São Paulo, comunicando a minha aprovação nos testes de avaliação, lá realizados, e convocando-me à apresentação para o cumprimento do estágio técnico curricular que ofereciam para estudantes concludentes da 3ª série do curso de mecânica. Estava eufórico com a oportunidade, entusiasmado com a perspectiva do início de vida profissional, ansioso pelo ingresso em uma nova etapa de vida, a da autonomia pessoal. Contudo, de certa forma apreensivo, pois doravante teria que tomar decisões, assumir responsabilidades, conduzir-me pelas próprias pernas.

Repentinamente, veio à minha mente o dia em que mamãe me deixou pela primeira vez à porta do jardim de infância. Eu tinha 5 anos de idade. Largou a minha mão e entregou-a àquela moça bonita e risonha. Meus olhos marejavam, e ao olhar para trás, vi seu vulto, embaçado pelas lágrimas, distanciando-se até sumir de foco. Engoli seco e obedeci ao convite carinhosamente feito pela mocinha, que agora segurava minha mão, conduzindo-me ao pátio interno da escola onde havia dezenas de outras crianças. Algumas riam, brincavam, pulavam; outras, como eu, estavam tristes e lacrimejantes. Nos primeiros dias, a cena se repetia, mas de um certo tempo em diante eu me soltava da mão de mamãe e corria alegremente em direção ao pátio, onde buscava o grupo de coleguinhas com os quais havia me identificado.

Agora ali estava eu, prestes a largar as mãos, desta vez

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não de mamãe, mas de toda a minha família, do meu lar, sabendo que não retornaria mais ao final da tarde.

É assim a vida. Para deixar-me pela primeira vez à porta da escola, mamãe conversara muito comigo nos dias anteriores e durante todo o trajeto, no dia derradeiro. Garantira que ao final da tarde estaria lá, frente ao portão, a me esperar para voltarmos para casa. Foram inúmeras explicações, recomendações e esclarecimentos.

E ali estava eu novamente. Desta vez, malas às mãos, e uma nova série de explicações, recomendações e esclarecimentos. Só que desta vez, ninguém me conduzia pela mão e a entregava à outra. Já não era a porta de uma escola, mas a de um táxi. Enfim, era a porta do mundo que se abria à minha frente. Apenas o que tornava a primeira ocasião exatamente igual à segunda, era que eu havia sido preparado para dar o passo inicial. Mais naturalmente, na primeira; e a custo de muito sacrifício e empenho, na segunda. Tanto na primeira quanto na segunda ocasião, os referenciais ditados pela família se faziam presentes, mas na segunda, esses referenciais estavam reforçados por aqueles que recebera nas escolas. Eu estava pronto!

Quando o táxi fez a curva para entrar na próxima rua eu, que virara para trás, vi perderem-se as imagens de meus pais que o acompanhavam de mãos dadas. Doravante, sabia, eu era o resultado do somatório das minhas próprias conceituações e aquelas que no curso do tempo a mim foram construídas pela família e as escolas que freqüentara. Eu estava pronto!

A década de 70 representou a consolidação de muitas conquistas alcançadas pela revolução dos costumes desencadeada nos anos 60. A sociedade já aceitava, com menos restrições, os cabelos compridos, as saias acima dos joelhos, o homossexualismo, a mulher desquitada e o diálogo mais aberto entre pais e filhos. Os pais já restringiam menos os namoros precoces de seus filhos, sobretudo das moças. Os jovens permaneciam mais tempo nas ruas e passaram a voltar mais tarde para casa. Os adolescentes dos anos 60 tornavam-se adultos, adentravam-se à vida profissional e rumavam aceleradamente ao casamento. A mulher alcançava conquistas

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significativas. Buscava romper barreiras que a limitavam no campo profissional através de novas alternativas escolares, freqüentando cursos profissionalizantes, fazendo opções universitárias antes exclusivas aos homens. Arriscava atingir novas independências, como por exemplo, colocar-se aos volantes automotivos, sentar-se sozinha nos bares e fumar em público; que nada mais representavam uma simbologia de liberdade.

Em um universo em transformações, longe da família e dos amigos de adolescência, em uma outra cidade, totalmente estranha para mim, eu enfrentava essas mudanças que ocorriam em ritmo acelerado, abrindo espaços no meio social de um centro sócio-econômico mais evoluído. Novos amigos, novos relacionamentos sociais, novas namoradas, um não (?) tempo. Algumas barreiras quebradas, uma maior liberdade sexual, diálogos mais abertos, sobretudo com o universo feminino. Entretanto, passei a perceber laços de amizade menos coesos, relações afetivas mais superficiais, crescente aumento do egoísmo pessoal e o crescimento dos interesses materiais em detrimento de valores afetivos.

Algumas regras passaram por grandes transformações. Os períodos de namoro e noivado, entre casais, reduziram-se consideravelmente. As relações de mútuo conhecimento e sedimentação de sentimentos ocorriam com maior brevidade, e os casais que outrora sofreram restrições, alardeavam que suas relações com seus filhos seriam mais abertas e espontâneas, que jamais submeter-nos-iam aos processos de castrações pelo qual passaram. Muitos revelavam que seus filhos jamais sofreriam pressões e imposições disciplinares tão rígidas como as que estiveram sujeitos nas escolas.

Eu resisti um pouco mais que muitos de meus amigos e colegas de adolescência, cuja maioria casou-se de 4 a 5 anos antes de mim. E já os via, muito antes de me casar, sendo alvo de birras, pirraças e o enfrentamento daqueles pedacinhos de gente de 3, 4 e 5 anos de idade, assustadoramente. Também vi muito desses casamentos precoces começarem a se desfazer em muito pouco tempo.

Assisti a mulher aumentando sua participação no mercado de trabalho e conquistando espaços que antes não

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ocupara. Mas, a vi aumentando o seu tempo de ausência do lar, deixando seus filhos em mãos descompromissadas com a construção de seus valores. Como a vi também deflagrar uma verdadeira guerra dos sexos, querendo igualar-se ao homem e inúmeras cometendo o equívoco de a ele se assemelhar exatamente naquilo que ele tinha de mais medíocre.

No começo do século XXI somos uma sociedade que amarga a incompetência que 2 a 3 gerações conduziram um processo de mudanças e transformações de costumes, sem se organizar, sem impor limites, deixando que o estabelecimento de reversão de valores e referenciais ocorressem descontroladamente.

O mundo à minha frente sofria transformações impulsionadas pelas mudanças dos costumes de forma descontrolada, pelo avanço tecnológico que deu ao homem um maior acesso e muito mais agilidade às informações, mas de forma desorganizada e por muitas mudanças no cenário sócio-político legando ao povo do meu País uma apatia e uma alienação que o transformou num fantoche à mercê desses politiqueiros profissionais que abundam em falcatruas, maracutaias e cambalachos de toda sorte, mergulhados em processos de corrupções das mais variadas maneiras, razão pela qual pouco se importam com um padrão de ensino suficientemente capaz de dar ao indivíduo o conhecimento pleno, pois desta forma mantêm-se no poder sem ser incomodados.

Não era este o mundo que eu queria pra mim e meus filhos. O mundo com o qual sonhara estava cada vez mais distante. A vida nos leva de roldão e quando damos conta da realidade as coisas já assumiram dimensões incontroláveis. É preciso parar, pensar, conscientizar-se, analisar, refletir e discutir. Eu não sou o dono da verdade e nem retenho a capacidade para elaborar um plano a ser posto em prática. É preciso que diversos segmentos da sociedade se reúnam em torno de uma discussão e analisar se é realmente isso que aconteceu e está acontecendo, bem como definir diretrizes

capazes de resgatar esse ELO PERDIDO.

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ANÁLISE, DISCUSSÃO E REFLEXÃO

Algumas pessoas me perguntaram qual a razão de eu coletar pareceres, depoimentos e opiniões a respeito do tema em abordagem neste livro.

Acho que todos, mesmo aqueles que não perguntaram merecem uma resposta.

Quando alguém toma arbitrariamente alguma decisão, sobre determinada questão para um grupo de pessoas, seja lá qual seja a questão, será que tomou a decisão correta? Será que todo o grupo ficou satisfeito? Estavam todos de acordo? A decisão não deveria ter sido avaliada, discutida e consensada?

Em toda e qualquer questão existem pontos de vistas diferentes, variadas maneiras de se enxergar os problemas, inúmeras formas de avaliação e, dependendo dos caminhos a se tomar, conseqüências e resultados diferentes.

Daí a razão de haver escolhido esse modelo, pois o objetivo é suscitar discussões em torno do assunto, ouvir opiniões e pontos de vistas sob vários enfoques; provocar e adotarem-se diretrizes mais homogêneas possíveis.

Gosto em pautar-me na ilustração, ela é bem mais elucidativa:

Dª Eny, nossa professora de 4ª série B do então curso primário (falo do ano de 1961) pretendia estimular-nos à leitura. Em razão disso, propôs-nos a criação de um grêmio literário em nossa escola. Recebemos a idéia com muito entusiasmo, alguns eufóricos, até. No dia seguinte, leu em voz alta para toda a classe, o que a professora da 4 ª série A já havia o feito, o estatuto do grêmio literário que uma outra professora da escola vizinha à nossa havia lhes fornecido em cópia. Leigos no assunto, acatamos imediatamente aquele modelo de estatuto para ver adotado em nosso próprio grêmio literário. Prontamente, sugeriu que escolhêssemos um nome, utilizando um autor de língua portuguesa para aquele fim, dizendo que a 4ª série A já havia proposto um conhecido escritor, sem referi-lo, obviamente. Foi quando Maria Alice, nossa colega de turma, uma das alunas de destaque, levantou-se e dedo indicador em

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riste pronunciou enfaticamente: - Machado de Assis. - Muito bem, Maria Alice. - bradou Dª Eny, continuando -

coincide com a escolha da turma A. Quando parecia que tudo estava resolvido, o colega que

se sentava à minha esquerda, o José Carlos, cutucou-me perguntando:

- Quem é Machado de Assis? Antes mesmo que tentasse lhe responder, o pouco que

sabia, fomos interpelados por Dª Eny: - Que cochicho é esse aí? José Carlos prontamente respondeu: - Mas eu nem conheço esse cara! Dª Eny ficou inerte por algum momento, deixando

transparecer que se pusera a refletir. Depois de alguns segundos convocou Luciana, a presidente de classe, à substituí-la por minutos e saiu apressada, retornando com um certo ar entre misterioso e de satisfação. E, preservando em seu rosto este semblante, confidenciou-nos que na turma A o Machado de Assis era tão desconhecido como o era para nós. Em seguida suspendeu o assunto prometendo reabri-lo na aula do dia seguinte.

E foi assim que, ela e Dª Irene, a professora da turma A, resolveram no intervalo dessas duas aulas que a escolha se daria no prazo de 45 dias corridos, período em que alguns livros de autores da língua portuguesa seriam disponibilizados aos alunos das duas classes. Semanalmente cada dois ( 3ªs e 6ªs) discutidos em aula, sendo que na duas últimas semanas grupos de 6 alunos distribuídos pelas duas turmas, apresentariam um trabalho contendo a biografia daqueles escritores, cujos trabalhos seriam lidos em classe pelo representante de cada grupo.

No 45º dia foi feita a votação, oportunidade em que os 72 alunos das duas turmas votaram individual e secretamente. Autor escolhido: Monteiro Lobato.

Transcorridos esses 45 dias pudemos conhecer Euclides da Cunha, Guimarães Rosa, Bernardo Guimarães, José de Alencar, Monteiro Lobato, Machado de Assis; assim como lemos e discutimos: Os Sertões, Grande Sertão:

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Veredas, A Escrava Isaura, O Guarani, O Sítio do Pica-pau Amarelo, e Dom Casmurro.

E o que é melhor, sem atribuir deméritos a qualquer um

deles, escolhemos com muita propriedade um nome em um processo que concedeu ao vencedor uma vitória marcada pelo equilíbrio, pois, Monteiro Lobato ganhou por apenas 2 votos, cabendo um empate entre três concorrentes no 2º lugar, e empate entre dois concorrentes classificados em terceiro lugar com apenas um voto de diferença em relação ao 2º lugar. Devo ressaltar que três autores ficaram em último lugar com apenas um voto cada, e Machado de Assis ficou em penúltimo, junto com aqueles que ficaram em 3º lugar.

A sistemática agradou tanto que até o final daquele ano letivo várias obras de vários autores enriqueceram nossas aulas da língua pátria e nos estimularam sobremaneira à leitura e interpretação de textos.

Neste episódio eu aprendi que para se encontrar caminhos, certezas e escolhas, é fundamental abrir discussões, provocar reflexões, promover debates, analisar propostas e sugestões, proceder simulações, certificar-se de possíveis conseqüências e resultados, proceder escolhas e definir objetivos.

E, para reforçar e confirmar essa metodologia, busco um acontecimentos muito interessante, ocorrido quando eu cursava a 2ª série do antigo ginasial.

Em uma aula de Ciências Físicas e Biológicas nosso professor da matéria que usava a prova mensal e um trabalho pertinente ao assunto do período em curso, dividiu a classe de 35 alunos em 7 grupos de 5 componentes, abrindo o tema ESTADOS DA MATÉRIA.

Reunimo-nos, Lúcio, Bernadete, Paulo César, Clarice e eu, e nos colocamos a distribuir as responsabilidades. Paulo César se prontificou a fazer o levantamento da matéria na Biblioteca Pública Municipal juntamente com Lúcio. Eu iria datilografar o trabalho, já que meu pai tinha uma máquina portátil em plenas condições de uso. Bernadete e Clarice iriam cuidar das ilustrações, ou seja, recortariam gravuras de revistas ou desenhariam manualmente aquilo que não encontrarem em

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publicações impressas, e da confecção da capa e encadernação interna.

Quando, Paulo César e eu, que nos adiantáramos em definir as diretrizes impondo-as ao nosso bel prazer, começávamos a definir um cronograma de execução, fomos interrompidos por Bernadete que em um tom de voz áspero, revelou toda a sua insatisfação:

- Não concordo com NADA DISSO! Ficamos estáticos e boquiabertos. Aquela lourinha

franzina, de voz serena e pausada, transformara-se em um vulcão. Sua pele alva ficou vermelha, seus olhos pareciam soltar faíscas e seus lábios moviam-se aceleradamente, enquanto sua voz irritada e estridente manifestava seu descontentamento com as decisões tomadas.

Procuramos, todos, acalmá-la e nos colocamos a escutá-la, agora em tom normal, mas eloqüente:

- Eu acho que todos devemos participar de todas as etapas. Devemos cada qual fazer a sua pesquisa, avaliarmos em conjunto as matérias levantadas, escolhermos as melhores e mais abrangentes. Assim como cada um de nós coletaremos as ilustrações e dividiremos as tarefas de datilografia. Você tem a máquina - apontou-me o dedo - mas alguém de nós deve datilografar melhor e com mais rapidez. Aquele que tiver mais habilidade manual certamente se incumbirá da capa e da encadernação. Desta forma, todos vamos conhecer a matéria, juntos vamos discuti-la e escolher a melhor forma de demonstrá-la. Esse é o objetivo do trabalho. Os pontos obtidos serão o seu resultado, os meios utilizados para alcançá-los é que nos fornecerão o conhecimento pleno da matéria. Eu quero fazer os pontos, entretanto eles não terão razão se eu não atingir o aprendizado através da pesquisa, da discussão e da escolha.

Aquela mocinha que, juntamente com Paulo César, eu estava inconscientemente subestimando, fazendo prevalecer uma autoridade que eu nem mesmo soubera conquistar, acabara de me dar inúmeras lições que me serviriam para o resto da vida, sendo a principal delas:

Toda e qualquer questão que envolve um grupo de pessoas, uma comunidade ou uma sociedade deve passar por

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uma processo de investigação, análise, discussão e reflexão, a fim de se obter o consenso e definir decisões ou linhas de ações.

Portanto, este livro, naquele modelo, objetivava colocar um tema em destaque, submetê-lo ao parecer de vários profissionais, estudantes, dos mais variados níveis e membros de famílias das mais variadas classes e, por fim, disponibilizá-lo à sociedade e às escolas para que fosse analisado, discutido e refletido. Que através dele muitos pudessem encontrar diretrizes dentro de seus lares, na escola e na sociedade. Contudo, antes mesmo que eu conseguisse os pareceres pretendidos, já esbarrei na incompreensão, na crítica e na intransigência daqueles que não sabem ouvir e dos comprometidos com mais diversas formas de submissão. Razão pela qual mudei a dinâmica de abordagem para esta que apresento agora, esperando que seja mais elucidativa e apresente a minha proposta de forma mais clara e objetiva.

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PARTE 5

NÃO SE PODE GENERALIZAR “Ainda que tivesse de ficar só, não trocaria minha liberdade de pensar por um trono.” (Lord Byron – Escritor e poeta inglês)

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PARTE 5 NÃO SE PODE GENERALIZAR Evidentemente não se pode generalizar, como uma lei da vida tem nos ensinado. Nem toda a sociedade encontra-se nesse processo de reversão de valores no que se refere à educação familiar. Existem famílias onde as relações pais e filhos consistem no respeito mútuo, na identificação de deveres e direitos, onde existe o diálogo dentro de padrões menos rígidos que aos anteriores à revolução de costumes dos anos 60/70, famílias essas cujos filhos chegam às escolas em condições de se capacitarem para a vida e dão as respostas esperadas, tornando-se geralmente alunos brilhantes e, consequentemente, bem sucedidos em suas incursões pós-escola. São com esses exemplos, com essas famílias, com esses pais e filhos, que devemos buscar os referenciais para tentarmos a homogeneização para a sociedade brasileira, encontrarmos os parâmetros para a definição de padrões que nos permitam tornamo-nos uma sociedade capaz do exercício da cidadania, capaz de contribuirmos de forma altamente positiva para a erradicação do obscurantismo em que a Nação encontra-se aprofundada, e que em condições de organização nos capacite a participar do processo sócio-político-econômico com propriedade, com conhecimento e venhamos proceder as mudanças que o País tanto precisa nesse cenário, e passe a oferecer as oportunidades ao povo brasileiro, um desenvolvimento sócio-econômico condizente com os nossos potenciais, com uma melhor distribuição de riquezas e que conduzamos o processo político nacional dentro de padrões éticos e morais irrepreensíveis. Se não soubermos enxergar isso, se não tivermos a humildade de reconhecermos que somos um povo apático e alienado do processo sócio-político por infinitas razões, pelos referenciais que perdemos motivados por fenômenos políticos e sociais ocorridos nos últimos 30 anos e que nos

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acostumamos a assistir a tudo que nos é empurrado goela abaixo, sem esboçarmos qualquer reação, salvo mínimas manifestações isoladas e que consequentemente produzem o mínimo de efeito, continuaremos a viver em um País que ocupa posição de destaque entre as maiores economias do mundo, cujas riquezas estão nas mãos de pouquíssimos e cuja imensa parcela da população vive de esmolas propositalmente concedidas com objetivos político-eleitoreiros, mergulhada na miséria, mal assistida em todos os aspectos; e outra grande parcela pagando altos tributos com o suor de seu trabalho honesto, para sustentar um mar de corrupções, de enriquecimentos ilícitos e roubalheira desenfreada. Temos bons filhos, sim. Famílias exemplares, sim. Aqueles poucos que tiveram a oportunidade de se desenvolverem no exercício da prática da cidadania de forma irrepreensível, dentro de padrões éticos e morais elevados, que dão exemplos, sustentam a economia produtivamente sem o retorno compatível, que clamam justiça social, mas que muito pouco podem fazer, porque não encontram uma base, um suporte para o desencadeamento de uma reação, porque somos uma sociedade alienada, desunida, egoísta em torno de nossos objetivos individuais. Procuram dar sua contribuição, mas através de clamores isolados, que todos batem palmas, mas que ninguém toma uma posição e começa a aglutinar opiniões em torno de um objetivo nacional de reação. Vejam por exemplo:

CONCURSO DE REDAÇÃO Na cidade de Joinville, Santa Catarina, houve um concurso de redação na rede municipal de ensino. O título recomendado foi “Daí pão a quem tem fome.” O primeiro lugar foi conquistado por uma menina de apenas quatorze anos de idade. Ela se inspirou na letra de nosso Hino Nacional, que demonstra que os brasileiros verde-amarelos precisam perceber o verdadeiro sentido de patriotismo. Leiam o que escreveu essa jovem. É uma demonstração

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pura de amor à Pátria e uma lição a tantos brasileiros que já não sabem mais o que é este sentimento cívico... “Certa noite, ao entrar em minha sala de aula, vi num mapa-mundi o nosso Brasil chorar. O que houve, meu Brasil brasileiro? Perguntei-lhe! E ele, espreguiçando-se em seu berço esplêndido, esparramado e verdejante sobre a América do Sul, respondeu chorando, com suas lágrimas amazônicas: Estou sofrendo... Vejam o que estão fazendo comigo... Antes, os meus bosques tinham mais flores e meus seios mais amores... Meu povo era heróico e seus brados retumbantes. O sol da liberdade era mais fúlgido e brilhava no céu a todo instante... Onde anda a liberdade, onde estão os braços forte? Eu era a Pátria amada. Idolatrada... Havia paz no futuro e glórias no passado... Nenhum filho meu fugia à luta... Eu era a terra adorada e dos filhos deste solo a mãe gentil... Eu era gigante pela própria natureza, que hoje devastam e queimam, sem nenhum homem de coragem que ás margens plácidas de algum riachinho, tenha a coragem de gritar mais alto para libertar-me desses novos tiranos que ousam roubar o verde louro de minha flâmula... Eu, não suportando as chorosas queixas do Brasil, fui para o jardim. Era noite e pude ver a imagem do Cruzeiro que resplandece no lábaro que o nosso País ostenta estrelado. Pensei... Conseguiremos salvar esse País sem braços fortes? Pensei mais... Quem nos devolverá a grandeza que a Pátria nos traz? Voltei à sala, mas encontrei o mapa silencioso como uma criança dormindo em seu berço esplêndido...”

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CONCLUSÃO

“O semeador depois de realizar a tarefa deixa a semente germinar.” (Goethe – Poeta, dramaturgo e escritor alemão)

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CONCLUSÃO A minha convicção que o caminho para as mudanças que o País necessita encontra-se fundamentada na Educação é irretocável e imutável. Mesmo que o meu livro O AMOR QUE FICOU não tenha alcançado os resultados que minhas expectativas exigiam, não me desencorajei, já que eu tenho uma opinião a respeito disso. Mas, confesso que cheguei a desanimar-me quando começaram a surgir as críticas inicias ao ELO PERDIDO, ao buscar os primeiros depoimentos e pareceres. Contudo, veio a minha mente uma história que me foi contada por um diretor de uma escola quando o visitei para apresentar-lhe o livro O AMOR QUE FICOU, e encontrei na lembrança dessa história a motivação necessária para prosseguir meu intento idealista. Contou-me ele que um viajante chegou a uma pequena cidade do interior para executar um trabalho junto a um determinado cliente do local, trabalho esse que exigiu sua presença por alguns dias naquela cidade. Todos os dias esse viajante tinha de cumprir pela manhã um determinado trajeto que o levava do hotel onde se hospedara até o estabelecimento de seu cliente, passando por uma praça pública onde invariàvelmente um indivíduo proferia um eloqüente discurso sem que houvesse qualquer espectador a escutá-lo. As pessoas limitavam-se a transitar pelo local, sem ao menos por uma questão de segundos levantassem os olhos àquele orador entusiasmado ou mesmo se detivessem por qualquer instante a ouvi-lo. Tal fato não só chamara a atenção daquele viajante, como o deixara muito curioso. E no dia que antecedia a sua despedida do local, pois estava prestes a terminar o seu compromisso com o cliente que o levara até lá, resolveu aproximar-se do insistente orador e perguntar-lhe porque teimava tanto em sua oratória apesar de todo descaso que lhe era conferido. E escutou dele o seguinte: - “Jamais desistirei do meu discurso, porque o dia em que o fizer eles me terão vencido.” Por isso estou aqui, insistindo com o meu ideal e jamais

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me curvarei diante de qualquer dificuldade. Considero-me realizado no meu propósito. E carrego comigo a certeza que procuro fazer a minha parte obedecendo meu espírito de patriotismo antes de tudo e nunca me renderei desta condição. Considere que as mudanças em nossos tempos ocorrem em uma velocidade cada vez mais acelerada, muito diferente do que acontecia nos séculos anteriores. Se a população mundial levou 16 séculos para dobrar, em tempos atuais isso poderá ocorrer em menos de 1 século; se a máquina de datilografia levou quase 60 anos para passar de meramente mecânica para elétrica, hoje um computador em questão de meses torna-se obsoleto. Façamos uma reflexão de como transformações ocorrem ràpidamente nas sociedades e perguntemos em quanto tempo um povo estacionado no tempo, alienado e apático, que assiste inerte a uma administração pública incapaz, incompetente e corrupta, irá sucumbir desastrosamente. Enquanto acreditarmos quer o pré-sal irá nos transformar em potência mundial, sem prepararmos o cidadão do futuro para uma nova realidade dentro de um processo de evolução acelerado, ele acabará por beneficiar os mesmos que hoje se fartam desse mar de corrupções. Enquanto não estabelecermos o regaste das relações pais e filhos para darmos ao cidadão do futuro o imprescindível para sua sobrevivência pautada em valores significativamente consistentes, estaremos assistindo ao naufrágio de toda uma Nação, e nos veremos muito mais miseráveis em curtíssimo espaço de tempo entre os países mais empobrecidos do planeta. Gostaria de ser lembrado, em algum momento futuro, como alguém que não estacionou em um processo de alienação, que não se curvou às críticas e acabou por contribuir para que o País se insurgisse de uma situação incomoda e preocupante, acordando de uma condição de inércia comodista e saltando para um processo de ações que o permitiram acompanhar os rápidos avanços sociais, tecnológicos e econômicos do mundo; do que ser lembrado como alguém que clamou e não foi ouvido; ou pior ainda, como alguém que sequer clamou

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UM NOVO MODELO EDUCACIONAL Eu esperava uma resposta aos anseios da proposta contida em meu livro O AMOR QUE FICOU sobre a necessidade de adoção de um novo modelo educacional para o País. Minha expectativa é que a proposta gerasse uma reflexão, não só da Área da Educação, como de diversos segmentos da sociedade e o assunto fosse colocado em discussão, propiciando assim a elaboração de diretrizes para um novo projeto educacional. Não me cabe aqui analisar e questionar as causas do que posso chamar de desprezo à proposta, e nem mesmo gerar uma polêmica em torno do assunto. Prefiro admitir que faltou à proposta um definição mais clara de minhas expectativas para esse novo modelo. Acredito que o estabelecimento de parâmetros possam fornecer referencias maiores de reflexão, avaliação e desenvolvimento de idéias para um melhor definição de um novo modelo. Por isso passo a expor meus sentimentos esperando poder contribuir mais especificamente e, finalmente, gerar a necessidade da reflexão e discussão a respeito. No meu ponto de vista, a partir do ensino médio, haveria de se incluir 4 novas matérias ao programa curricular: Filosofia, Literatura, OSPE(Organização Social, Política e Econômica) e Educação Física. FILOSOFIA – A Filosofia á a ciência dos princípios de das causas, é a área de estudos que envolve a investigação, análise, discussão, formação e reflexão das idéias. A inserção da filosofia no programa educacional, já a partir do ensino médio com ênfase, sobretudo à metafísica e à axiologia, seria de fundamental importância na formação moral e ética de nossos jovens. Explicando melhor, a temática da ética e da moralidade humana, e de construção de valores pessoais socialmente justificados não tem sido muito valorizada em

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nossa sociedade e até mesmo na estrutura de nossas escolas. De maneira indireta, consciente ou inconsciente, as escolas trabalham valores em seus alunos e alunas, mas isso vem sendo feito de forma desarticulada, incipiente e, de fato, com base nos valores de cada grupo ou de cada professor. Isso se torna problemático, já que os valores de determinado grupo ou de um determinado indivíduo podem não estar de acordo com os interesses gerais da sociedade. É o caso, por exemplo, da defesa de valores discriminatórios por parte de algumas pessoas. Portanto, o estabelecimento da matéria Filosofia no programa do ensino médio, exigiria levar à comunidade escolar, reflexões e propostas de trabalho que ajudem seus participantes a compreender os pressupostos da ética e da moral, e a construir, dentro da comunidade escolar, o que vem sendo chamado de valores universalmente desejáveis. Ou seja, reconhece-se que existem alguns valores, como a democracia, a justiça, e aquelas presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos, que, apesar de não deverem ser impostos a toda e qualquer cultura existente no planeta, para nós brasileiros são desejáveis e devem ser universalizados no contexto social. Para isso há de se desenvolver ações visando atingir dois objetivos: 1. Compreender os fundamentos da ética e da moralidade, como os seus princípios e normas podem ser trabalhados no cotidiano das escolas e da comunidade.

2. Compreender e introduzir no dia-a-dia das escolas o trabalho sistemático e intencional sobre valores desejados por nossa sociedade. Neste segundo objetivo, o programa deve assumir a existência de alguns valores desejáveis em nossa sociedade e cultura neste momento histórico e tão difícil que o País atravessa. Democracia, justiça, solidariedade, cidadania, igualdade de oportunidades e respeito às diferenças são alguns desses valores desejáveis pela sociedade brasileira e

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devem ser alvo das atenções do programa. Há de se acrescentar que o aprofundamento em estudos de valores como a cidadania se faz essencialmente necessário, já que a cidadania indica a posição política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa tem e pode exercer. “A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá a pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de um povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social.” (Dalmo Dallari-Direitos Humanos e Cidadania). No Brasil, de uma forma geral, não sabemos o que é exercer a cidadania, achamos que é votar, pagar impostos (da forma como nos são impostos), apanhar calado, “engolir sapos”, acostumar às injustiças, dar um “jeitinho” para tudo, acreditar que direitos não estão associados à deveres, pensar que Deus é brasileiro e se as coisas estão como estão é por vontade D' Ele. O que tem caracterizado a ausência da organização, da participação e da intervenção da sociedade nos destinos do País tem sido exatamente a falta de conhecimento específico, e um programa educacional introduzindo a Filosofia é que permitiria ao jovem em formação, de todas as classes e de todos os níveis adquirir essa capacidade. LITERATURA – A adoção da Literatura como uma matéria específica, e não como um capítulo dentro da matéria da Língua Pátria irá permitir um aprofundamento maior à contribuição que ela dá ao jovem em formação no seu desenvolvimento como cidadão, trazendo benefícios incalculáveis. O que temos notado em nossa sociedade é que a leitura não se constituiu em um hábito, e conseqüentemente, os benefícios gerados por ela estão ausentes da formação do povo brasileiro. O desenvolvimento da capacidade de interpretação, o desenvolvimento de valores desejáveis à sociedade, a assimilação ortográfica e gramatical, a história, a geografia, enfim todos os ensinamentos que a

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Literatura propicia elevaria a capacitação do jovem em formação e poderia constituir-se em importante aliada não só da base filosófica requerida, mas do aspecto sociológico, político e econômico exigidos. OSPE – A introdução de uma matéria, que poderia também um desdobramento, uma parte que tratasse da Sociologia e Política; outra que tratasse das noções básicas da Economia; é tudo aquilo que faltou ao povo brasileiro em seu processo de formação e que o tem tornado um alienado do processo sócio-político-econômico do País, e conseqüentemente o mantém no mais absoluto obscurantismo, incapaz de se organizar, participar e intervir na vida nacional. Podendo até se afirmar que foi o que gerou homens públicos tão incapacitados no exercício de suas funções. Prefiro a definição de Sociologia como “todo grupo ou agregado social que vive submetido às mesmas leis e cujas instituições fundamentais são determinadas por padrões culturais comuns”. Por isso, a matéria exerceria fundamental importância no desenvolvimento do sentimento coletivo, da solidariedade social e do espírito de cooperação nos indivíduos associados, tirando do povo brasileiro esse espírito de individualismo a que se acostumou e o impede de se associar e se organizar em defesa dos interesses comuns da Nação. No que tange à Política, não deveria abordar apenas a política nacional, mas a história política universal, desde os primórdios da civilização até os nossos dias. Deixar de ser tratada como um capítulo ligeiramente pincelado dentro do conteúdo da matéria História, para adquirir um status de um importante estudo no contexto sócio-político-econômico. Rever sim, a história política brasileira, recontá-la acrescida da crítica aos equívocos cometidos, desmistificar os falsos heroísmos construídos na ignorância e desinformação da sociedade brasileira, enfim, investigar a realidade de sua trajetória. E, no que se refere à Economia, definir as noções e conceitos básicos que regem sua

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contribuição a administração de um país, de uma nação. Fazer entender ao jovem em formação como funciona a gestão econômica, seu processo de desenvolvimento e como é administrada. Qual a sua participação dentro da Economia Nacional como cidadão do futuro. Os tributos que vai pagar, como ele participaria com contribuinte desde a hora em que se levanta até a hora em que vai dormir, quais os retornos que deveria exigir da administração pública. Como esse dinheiro é arrecadado, como é distribuído, O que é distribuição de riquezas, porque existe um desequilíbrio tão acentuado no País, o que deveria ser feito para equilibrá-la, de que forma ele, como cidadão, poderia contribuir para isso. O que é economia interna e economia externa. Enfim, dar ao jovem em formação um embasamento, um conhecimento que nunca foi dado antes. EDUCAÇÃO FÍSICA – Rever e reformular a Educação Física. Desde o ensino fundamental até o último ano da Universidade. Sua contribuição ao desenvolvimento do jovem em formação é importantíssimo e inquestionável, e tem sido tratada com um descaso indescritível. Há de se reformulá-la radicalmente, instituindo uma nova conceituação para sua prática em todas as escolas e todos os níveis de escolaridade. Depois dessa reformulação, instituir a competição entre escolas, cidades e estados, com a organização de torneios estudantis e universitários, campeonatos municipais e estaduais; observando-se que nos países de primeiro mundo a base das equipes participantes dos Jogos Olímpicos (e tantas outras competições compatíveis) é universitária, e começa o seu desenvolvimento no colégio básico. Sem deixar de mencionar, inclusive que a prática da Educação Física é uma inquestionável construtora de valores no indivíduo. “Mens sana, corpore sano.” CONSIDERAÇÕES FINAIS – Ainda que a proposta indique as inserções à partir do ensino médio, há de se criar um programa introdutório/preparatório a partir do ensino fundamental. Nei Silveira de Almeida

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